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EPIDEMIOLOGIA NA

EDUCAÇÃO FÍSICA

PROFESSORES
Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco
Dr. Diego Augusto Santos Silva

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NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


SILVA, Diego Augusto Santos; BRUSCO, Eliane Cristina de Andrade
Gonçalves.
Epidemiologia na Educação Física. Diego Augusto Santos Silva; Eliane
Cristina de Andrade Gonçalves Brusco.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2021.
202 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1.Epidemiologia 2.Educação 3.Física EaD. I. Título.

ISBN 978-65-5615-226-4 CDD - 22ª Ed. 614.4


Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia
Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine,
Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
Fukushima, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva,
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki
Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração
Lucas Pinna Silveira Lima, Designer Educacional Rossana Costa Giani, Revisão Textual Cintia Prezoto
Ferreira, Ilustração André Azevedo, Fotos Shutterstock.
2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
com princípios éticos e profissionalismo, não somente entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
de tudo, para gerar uma conversão integral das soluções inteligentes para as necessidades de todos.
pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: Para continuar relevante, a instituição de educação
intelectual, profissional, emocional e espiritual. precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de coragem e compromisso com a qualidade. Por
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e do ensino presencial e a distância.
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
espalhados por todos os estados do Brasil e, também, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
no exterior, com dezenas de cursos de graduação e do conhecimento, formando profissionais cidadãos
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros que contribuam para o desenvolvimento de uma
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. sociedade justa e solidária.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores

Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco


Doutora e Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Ca-
tarina - UFSC. Especialista em Anatomia e Histologia Humana e graduada em
Educação Física, ambas pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Atual-
mente, é Professora no Centro Universitário de Maringá - Unicesumar (Educa-
ção a Distância). Revisora de diferentes periódicos nacionais e internacionais.
Tem experiência na área de Educação Física e Saúde Pública, com ênfase em
cineantropometria e atividade física e saúde, atuando, principalmente, no tema
relacionado a fatores de risco à saúde.

Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/4282923137916528>.

Dr. Diego Augusto Santos Silva


Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe. Mestrado
e Doutorado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Pós-Doutorado no Children’s Hospital of Eastern Ontario Research Institute,
Department of Pediatrics, University of Ottawa, Canadá. Professor Visitante
no Children’s Hospital of Eastern Ontario Research Institute, Department of
Pediatrics, University of Ottawa, Canadá. Professor Visitante no Departamento
de Saúde Pública e Doenças Infecciosas da Sapienza University of Roma, Itália.
Servidor público federal no cargo de Professor Associado, lotado no Departa-
mento de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor
Permanente (orientador de mestrado, doutorado e supervisor de pós-doutorado)
do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de
Santa Catarina. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/8188066843033561


apresentação do material

Epidemiologia na Educação Física


Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco e Dr. Diego Augusto Santos Silva

Olá discente, seja bem-vindo(a) a nossa jornada acadêmica sobre a Epidemiologia


na Atividade Física. É um prazer imenso ter você aqui! Esta obra foi escrita com
muito carinho, reunindo e apresentando os principais conteúdos que abrangem
a epidemiologia e a relação que ela tem com a atividade física. Você acha mesmo
que a Epidemiologia se relaciona com a Atividade Física? Já parou para pensar
nisso? Se a resposta for “sim”, de qual maneira será que isso acontece? Como
você acha que a atividade física pode contribuir com os dados epidemiológicos?
Para responder a todos esses questionamentos, dividimos esta obra em cinco
unidades, as quais abrangem desde o conceito tradicional de Epidemiologia, até
como o profissional de Educação Física deve atuar no âmbito da saúde pública.
Portanto, em um primeiro momento, abordaremos temas como a história da
Epidemiologia, os conceitos de Epidemiologia que encontramos na literatura, o
conceito de saúde, os indicadores de saúde e as medidas epidemiológicas que
nos proporcionam avaliar as doenças e agravos à saúde da população. Após
você ter aprendido sobre essas temáticas, abordaremos sobre os padrões de
adoecimento da população. Então, você fará uma viagem ao passado e conhecerá
os tipos de transições, demográfica e epidemiológica, que a sociedade passou
e, digamos que ainda passa atualmente.
Você perceberá que esses processos possibilitaram o aparecimento de
doenças e agravos à saúde, como o caso da inatividade física, agravo que tam-
bém será discutido, apresentando os padrões da prática de atividade física
no mundo. Em um terceiro momento, você será direcionado a conhecer as
evidências científicas que permeiam os estudos de associação entre atividade
física e diferentes marcadores de saúde. Isso te proporcionará entender que a
atividade física, de fato, auxilia na prevenção e na promoção de saúde. Inclusive,
nesta mesma unidade, apresentaremos os Programas de Promoção da atividade
física em saúde pública.
Após você ter acesso a esse conteúdo, abordaremos um pouco sobre a his-
tória do nosso sistema de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), destacando
seus princípios e diretrizes. Além disso, discutiremos sobre o Núcleo de Apoio
à Saúde da Família, a Estratégia Saúde da Família e a Atenção em Saúde. Você
apresentação do material

verá quão amplo este assunto é! Para finalizar nossa jornada acadêmica, espe-
cificaremos a abordagem sobre a Atenção Primária à Saúde, abrangendo seus
conceitos e diretrizes, bem como a Política Nacional de Promoção da Saúde.
Aqui, de fato, você sairá sabendo a diferença entre a prevenção e a promoção
da saúde (assim eu espero!).
Ainda, conhecerá sobre a atuação dos profissionais na promoção da saúde,
especialmente o profissional de Educação Física, destacando a necessidade de
uma formação continuada para garantir saúde e bem-estar para toda a popu-
lação. Eu desejo que sua jornada seja leve, dinâmica e repleta de novos saberes
e conhecimentos. Divirta-se! Bons estudos!

Bons estudos!
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
INDICADORES E MEDIDAS EPIDEMIOLÓGICAS: PREVA- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
LÊNCIA, INCIDÊNCIA, MORBIDADE E MORTALIDADE 130 Uma breve história
14 Breve história do dos serviços de saúde
surgimento da epidemiologia 135 Sistema Único
19 Epidemiologia, de Saúde (SUS)
atividade física e saúde 142 Núcleo Ampliado de
21 Indicadores e medidas Saúde da Família (NASF-AB)
epidemiológicas
UNIDADE V
UNIDADE II PROMOÇÃO DA SAÚDE E
PADRÕES DE ADOECIMENTO ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL
DA POPULAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
54 Padrões de adoecimento 160 Atenção primária à saúde:
da população prevenção e promoção da saúde
69 Atividade física: definições e 170 Política Nacional de
padrões na população Promoção da Saúde
174 Atuação do profissional na
UNIDADE III Promoção da Saúde
ATIVIDADE FÍSICA, PROGRAMAS
EM SAÚDE PÚBLICA E
MARCADORES DE SAÚDE
90 Relação da atividade física
com marcadores de saúde
94 Atividade física e todas as causas
de mortalidade na população
112 Programas de promoção da
atividade física em saúde pública
INDICADORES E MEDIDAS EPIDEMI-
OLÓGICAS: PREVALÊNCIA, INCIDÊNCIA,
MORBIDADE E MORTALIDADE

Professora Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Breve história do surgimento da Epidemiologia
• Epidemiologia, atividade física e saúde
• Indicadores e Medidas epidemiológicas

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar, brevemente, a trajetória histórica da epidemiologia.
• Discutir sobre os conceitos da epidemiologia, da atividade física, da saúde e
a relação entre essas.
• Apresentar os indicadores e medidas de frequência.
unidade

I
INTRODUÇÃO

O
lá caro (a) aluno(a), espero que você esteja bem e preparado
para iniciarmos nossos estudos que irão abordar este primei-
ro ensaio. Esta unidade será dividida em três tópicos, os quais
tratarão sobre a história da epidemiologia, a relação entre a
epidemiologia e o conceito de saúde e atividade física e os indicadores e
medidas epidemiológicas existentes.
Desta forma, primeiramente, será resgatado, de forma sucinta, o sur-
gimento da epidemiologia, apresentando os relatos históricos e os estudos
que permearam a difusão das pesquisas epidemiológicas. Nesse sentido,
veremos quem foram os pioneiros e quais foram as pesquisas mais im-
portantes neste campo. Na sequência, conheceremos sobre os conceitos
referentes à epidemiologia.
Você notará que o conceito de epidemiologia pode abranger um
grande campo. Além disso, aprofundaremos um pouco sobre a relação
que existe entre epidemiologia e atividade física. Assim, poderemos com-
preender as características de cada uma e como elas caminham juntas.
Após, serão apresentados os indicadores e medidas de frequência.
Você notará que este tópico será dividido em vários outros, isso por-
que você poderá conhecer especificamente as medidas de frequência co-
nhecidas como prevalência e incidência, bem como quando você deverá
utilizar cada uma delas.
Além disso, você poderá ler sobre os diferentes indicadores de saú-
de e notará que eles podem ser embasados em indicadores de saúde de
mortalidade e indicadores de saúde de morbidade, encerrando, assim,
o nosso primeiro tópico. Todos os fatores abordados nesta unidade nos
darão subsídios para os nossos próximos encontros. Não deixe de fazer
suas anotações, destacando os pontos primordiais. Desejo bons estudos!


Breve história do
surgimento da epidemiologia

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

Antes de aprendermos sobre os indicadores e tipos de perceber que a maioria das vezes que o termo “doença”
medidas epidemiológicas mais utilizadas, é importante for mencionado, ele estará acompanhado de “agravo à
que saibamos, de fato, o que é, onde nasceu e como se saúde”, porque não necessariamente a epidemiologia
fundamentou a epidemiologia. Ela está relacionada ao trata apenas das doenças, mas também de agravos à
estudo da distribuição das doenças nas populações e dos saúde, como o caso da inatividade física.
fatores que influenciam ou determinam essa distribui- A área de atuação da epidemiologia é sempre des-
ção, passando por três eixos fundamentais e associados: tinada à população humana, ou seja, os estudos epide-
a Clínica, a Estatística e a Medicina Social. Portanto, a miológicos são realizados com indivíduos, que podem
epidemiologia parte do pressuposto de que as doenças, ser definidos em termos sociodemográficos. Assim, ge-
as moléstias ou até mesmo a ausência de doença não ralmente a população de um estudo epidemiológico é
ocorrem ao acaso em uma população. O que determina determinada pela área ou país em um certo período de
as doenças ou agravos à saúde podem estar lincados a tempo. Isso forma a base para a definição de subgrupo
fatores genéticos, resultantes de exposição a perigos am- que constituirá o estudo, separados por sexo, faixa etária,
bientais, a exposição a algumas atividades de trabalho etnia ou outros fatores. É importante frisar que as estru-
ou atividades cotidianas e até mesmo pela forma como a turas populacionais variam conforme a área geográfica e
sociedade se organiza. o tempo. Isso deve ser levado em consideração nas análi-
A epidemiologia foi definida por Last (2001) como ses epidemiológicas, por exemplo: um grupo de pessoas
o estudo da distribuição e dos determinantes de eventos sedentárias ou um grupo de atletas pode constituir uma
ou estados relacionados à saúde em populações espe- unidade de estudo.
cíficas e sua aplicação na prevenção e no controle dos Diferentemente da clínica que estuda o processo
problemas de saúde. Portanto, ela é uma ciência que saúde-doença nos sujeitos que objetiva especificamente
estuda o processo saúde-doença na população huma- o tratamento e a cura de casos isolados, a epidemiologia
na, analisando a distribuição e os fatores determinantes se preocupa com o processo de ocorrência de doenças,
das enfermidades, danos à saúde e eventos associados mortes, quaisquer outros agravos e situações de risco à
à saúde coletiva, propondo medidas específicas de pre- saúde, seja propriamente na comunidade, ou em grupos
venção, controle e erradicação da doença e fornecendo dessa, com a finalidade de propor estratégias que melho-
indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, à rem o nível de saúde das pessoas que compõem essa co-
administração e à avaliação das ações de saúde (ROU- munidade. Para você entender a diferença entre o diag-
QUAYROL; SILVA, 2013). nóstico clínico, ou seja, especificamente o atendimento
Isso demonstra a inter-relação da epidemiologia, de casos isolados, e o diagnóstico comunitário de saúde
não apenas com o estado de doença ou morte, mas (aquele que possibilita o conhecimento do processo saú-
também com a melhoria dos indicadores de saúde e de-doença na comunidade), analise a Figura 1, a seguir:
a maneira de como promover saúde. Assim, você irá

15


Descrição da Imagem: A Figura 1 é composta por um quadro que consta a diferença das características de um diagnóstico clínico para um diagnós-
tico comunitário, como objetivos, informações necessárias, tipo de diagnóstico, plano de ações e avaliação. A primeira linha do quadro possui duas
imagens. A imagem da coluna esquerda é composta por um médico em atendimento individual ao paciente. Nessa coluna, apresenta o diagnóstico
clínico. Tem como objetivo curar a doença ou agravo à saúde do indivíduo (prevenção da saúde), as informações necessárias deste diagnóstico são
histórico clínico, exames físicos e exames complementares. O tipo de diagnóstico é individual. Tem o tratamento e/ou a reabilitação como plano de
ações e, por último, a avaliação, que é o acompanhamento clínico (melhora da saúde/cura da doença ou agravo).
A coluna da direita apresenta uma imagem que consta várias pessoas, demonstrando ser uma comunidade. Nessa coluna está o diagnóstico co-
munitário. Tem como objetivo melhorar o nível da saúde da comunidade (promoção da saúde). Dados gerais sobre a população, doenças/agravos
à saúde existentes, casos de morte e serviços de saúde são as informações necessárias desse diagnóstico. Como o nome já diz, é um diagnóstico
comunitário. O plano de ações são problemas de saúde coletiva que sejam prioritários e mudanças no estado de saúde da população é a avaliação.

Diagnóstico Clínico Diagnóstico comunitário


Curar a doença ou agravo à saúde Melhorar o nível da saúde da comunidade
Objetivos do indivíduo (prevenção da saúde) (promoção da saúde)

• Dados gerais sobre a população


• Histórico clínico
Informações • Exames físicos
• Doenças/agravos à saúde existentes
necessárias • Casos de morte
• Exames complementares
• Serviços de saúde

Tipos de Diagnóstico comunitário


Diagnóstico individual
diagnóstico

Plano de ações Tratamento/reabilitação Problemas de saúde coletiva que sejam prioritários

Acompanhamento clínico (melhora


Avaliação da saúde/cura da doença Mudanças no estado de saúde da população
ou agravo)

Figura 1 - Diferenças entre diagnóstico clínico e diagnóstico comunitário / Fonte: adaptada de Vaughan e Morrow ((1992, p. 184).

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EDUCAÇÃO FÍSICA

RELATOS HISTÓRICOS DA EPIDEMIOLOGIA básico, muito semelhante às condições de vida atuais


da maioria das cidades de países de classe baixa. Nesta
Na Grécia Antiga, Asclépio era cultuado como o deus época, foi consolidada a primeira era da epidemiolo-
da Medicina (tanto que representa até hoje o símbolo da gia moderna baseada no “miasma”. Este termo da teoria
profissão médica e da farmácia) e tinha duas filhas cha- miasmática defendia que as doenças eram adquiridas
madas Panacéia e Higéia, que representavam o antago- por meio de emanações ambientais provenientes do
nismo entre a medicina individual e a medicina coletiva. solo, do ar ou da água.
A primeira filha retratava a medicina curativa, prática A década de 50 foi determinante para a epidemiolo-
terapêutica baseada em intervenções sobre pessoas do- gia devido aos achados do inglês John Snow. Em 1954, ele
entes, por meio de encantamentos e uso de medicamen- descobriu que o risco de contrair cólera em Londres esta-
tos. A segunda, era adorada por quem considerava a saú- va relacionado ao consumo de água de uma determinada
de como resultado de uma harmonia entre o homem e o companhia, impulsionando outras novas grandes desco-
ambiente, buscando promover essa harmonia por meio bertas epidemiológicas. Além de John Snow, William Farr,
de ações preventivas e que mantinham o perfeito equilí- na Inglaterra, e Louis René Villermé, na França, também
brio entre os elementos: água, ar, fogo e terra (MEDRO- se destacaram com seus achados relacionados à área da
NHO, 2009). Podemos observar, então, o surgimento da epidemiologia (ALMEIDA FILHO, 2003).
medicina individual e da medicina coletiva.
A maioria dos textos que abordam sobre as raízes CONCEITUANDO
históricas da epidemiologia afirmam que ela se originou
há mais de 2000 anos com os estudos de Hipócrates. Isso O inglês John Snow identificou o local de mo-
porque os escritos hipocráticos sobre as epidemias e en- radia de cada pessoa que morreu por cólera
fermidades antecipam o chamado raciocínio epidemio- em Londres, entre os anos de 1848-1849 e
1853-1854. Ele notou que existia uma asso-
lógico, ou seja, já demonstravam discernimento sobre o ciação entre a origem da água utilizada para
que seria, futuramente, a epidemiologia, confirmando que beber e as mortes ocorridas. A partir de en-
fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças. tão, Snow iniciou a comparação do núme-
ro de casos de óbitos por cólera em áreas
Na Roma Antiga, a principal contribuição para a epi- abastecidas por diferentes companhias de
demiologia foi o início de um registro compulsório de fornecimento de água e identificou que a taxa
nascimentos e óbitos registrado pelo Imperador conheci- de morte foi mais alta entre as pessoas que
consumiam água fornecida pela companhia
do como Marco Aurélio, que mais tarde seria conhecido Southwark. Assim, o inglês construiu a teoria
como “estatísticas vitais” (um tipo de indicador de saúde). sobre a transmissão das doenças infecciosas
O século XIX é conhecido como o período em que em geral e sugeriu que a cólera era dissemi-
nada por meio da água contaminada. O fato
se estabeleceram as bases históricas da moderna epi- proporcionou a melhoria no suprimento de
demiologia, isso porque, como consequência da revo- água, mesmo anteriormente a descoberta do
lução industrial, as cidades cresciam e as condições da microrganismo causador da cólera. Ademais,
seu estudo contribuiu diretamente sobre as
vida humana pioravam. A maioria das pessoas vivia em políticas públicas de saúde.
ambientes extremamente poluídos e sem saneamento

17


EXPLORANDO IDEIAS

Os estudos de Snow foram apenas uma parte de uma O estudo caso-controle é caracterizado por
série abrangente de investigações que incluiu o exame ser um tipo de estudo observacional que se
de processos químicos, biológicos, físicos, políticos e so- inicia com a seleção de um grupo de pessoas
portadoras de uma determinada doença, (que
ciais, como o estudo de Louis Pasteur, no final do sécu- são classificados como os “casos”) e um outro
lo XIX. Ele demonstrou que os organismos vivos eram grupo de pessoas que não sofrem dessa doença
agentes de epidemias, como a tuberculose e a leptospi- (que serão classificados como os “controles”). O
objetivo principal desse tipo de estudo é identi-
rose. Portanto, esse período ficou conhecido como a era ficar características específicas que ocorrem em
das doenças infecciosas causadas por “germes”. maior ou menor frequência entre os “casos” do
Em meados do século XX, surge a era das doen- que entre os “controles”. Em contrapartida, os
estudos de coorte são estudos de caráter ob-
ças crônicas degenerativas. Os estudos de caso-contro- servacional, ou seja, a situação dos participantes
le e coorte sobre câncer pulmonar e a relação com o em relação à exposição de interesse (podendo
consumo de cigarro, e as pesquisas preliminares sobre ser, por exemplo, o sedentarismo) determina
sua seleção para o estudo. As pessoas são mo-
doença arterial coronariana, que estabeleceram o há- nitoradas durante toda a duração do estudo
bito de fumar e o colesterol como fatores de risco para para avaliar a incidência do desfecho.
seu desenvolvimento, demonstraram a força deste tipo
de método de estudo. Entre vários epidemiologistas
da época, os britânicos Jeremy Morris, Richard Doll E então você deve estar se perguntando, “tudo bem, mas
e Thomas McKeown se destacaram com seus achados o que isso tem a ver com a atividade física?”. Eu vou ex-
(MEDRONHO, 2009). plicar para você no próximo tópico.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

Epidemiologia,
atividade física e saúde
Nós já aprendemos sobre o conceito e o significado de
epidemiologia. Agora é importante sabermos sobre a mas, como danças, esportes, atividades laborais, deslo-
atividade física e a saúde, para então entendermos a re- camentos, jogos e exercícios físicos. Você irá aprender
lação que existe entre elas. mais afundo sobre as definições e padrões da atividade
Você com certeza já leu sobre a definição de ativi- física da população na Unidade 2.
dade física, que é qualquer movimento corporal, pro- O conceito de saúde é descrito como multiplicidade
duzido pela musculatura esquelética e que resulta em de aspectos do comportamento humano direcionados a
gasto energético. Assim, é importante destacar que a um estado de completo bem estar físico, mental e social.
atividade física pode ir além, abordando componen- Portanto, saúde vai muito além de ausência de doenças.
tes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural Ela é uma condição humana com dimensões física, so-
e comportamental e pode ser praticada de várias for- cial e psicológica (SILVA; SCHRAIBER; MOTA, 2019).

19


padrão demográfico e no perfil de doenças e mortali-


dade da população, caracterizando-se como processos
de transição demográfica, transição epidemiológica e
transição nutricional, padrões que serão analisados mais
afundo nos próximos capítulos.
A transição epidemiológica envolve uma evolução
gradual dos problemas relacionados à saúde, os quais
determinam mudanças nas taxas populacionais, ou seja,
alta morbidade e mortalidade por doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) em detrimento das doenças in-
fecciosas e parasitárias. No Brasil, essa transição pode
ser observada a partir dos anos 80, com o predomínio
das causas de óbito por DCNT em comparação com as
doenças infecciosas e parasitárias.
Podemos usar esse mesmo período dos anos 80 no
A relação epidemiologia, atividade física e saúde teve Brasil, para caracterizarmos a transição demográfica.
início em meados do século XX - a era epidemiológica Nessa época, o número de idosos (acima de 80 anos) au-
das doenças crônicas degenerativas citada anteriormen- mentou devido à queda da taxa de mortalidade e da fe-
te. Isso porque os achados dos estudos sobre as doenças cundidade no país. Com o acréscimo do envelhecimen-
identificaram (e continuam identificando) que o se- to populacional, houve um aumento da probabilidade
dentarismo é um fator determinante de agravos à saú- de manifestação das DCNT.
de. Esse momento coincide com a chamada transição A transição nutricional abrange os processos de
epidemiológica, que foi a inversão das causas de mor- transição demográfica e epidemiológica. Essa transição é
te. As pessoas deixaram de morrer apenas por doenças caracterizada por modificações constantes e sequenciais
infecciosas e começaram a adoecer por doenças cardio- no padrão nutricional da população devido às transfor-
vasculares. Assim, ocorreram modificações drásticas no mações sociais, demográficas, econômicas e sanitárias.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

Indicadores e medidas
epidemiológicas

Você deve ter notado que falamos, anteriormente, sobre cessário saber o tamanho da população ou grupo que
taxas de mortalidade, morbidade e outros indicadores deu origem aos casos e em que período de tempo o fato
de saúde. Descreveremos sobre essas medidas de frequ- aconteceu. Portanto, são utilizadas medidas relativas que
ência e indicadores de saúde mais utilizados na área da relacionam o número de casos da doença ou agravo à
epidemiologia, para que você possa entender cada um saúde com a população ou grupo.
e, ao assistir alguma reportagem sobre medidas epide- Em geral, existem três medidas matemáticas básicas
miológicas ou ler uma pesquisa e se deparar com algum que podem ser utilizadas para expressar a relação entre
indicador de saúde, já saberá sobre o que se trata. o número de casos da doença ou agravo com a popula-
A forma mais básica de se determinar a frequência ção ou grupo de origem: a razão, a proporção e a taxa
de uma doença ou agravo à saúde é por meio da simples (KLEINBAUM; KUPPER; MORGENSTERN, 1982).
contagem das pessoas afetadas. Contudo, para a área da A razão é a simples divisão de uma quantidade pela
epidemiologia, essa forma pouco informa sobre a popu- outra e não há necessidade de relação em denominador
lação de referência. Em estudos epidemiológicos, é ne- e numerador.

21


Portanto, é um termo geral em que acaba por in- demonstrado que os três termos (razão, taxa e propor-
cluir outras medidas, como proporção, porcenta- ção) representam medidas distintas. Assim, é muito im-
gem e taxa. A medida matemática conhecida como portante que fique bem claro para você a diferença entre
proporção caracteriza-se como um tipo de razão cada um deles, para que não haja erros de interpretações
em que há necessidade de relação entre o nume- em estudos epidemiológicos futuros que você for realizar.
rador e o denominador. A taxa é um tipo especial O uso de sinônimo não acontece apenas com as me-
de razão, em que o denominador obrigatoriamente didas matemáticas citadas anteriormente. Isso também
será composto por uma medida de tempo (HEN- acontece com os termos indicador e índice, portanto, é
NEKENS; BURING, 1987). necessário caracterizá-los. Indicador é uma medida que
Observa-se, na literatura médica, o termo taxa, bem reflete uma característica ou aspecto particular, geral-
como os termos coeficiente e índice, sendo usados de mente não sujeitos à observação direta, ou seja, inclui
maneira sinônima e referindo-se tanto a razões como apenas um aspecto relativo ao que se deseja medir. Um
proporções, ou taxas propriamente ditas. Contudo, foi indicador de saúde tem como objetivo refletir a situação

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

de saúde de um sujeito ou de uma população, como a lência, como o caso do diabetes - ou alta incidência e
medida da pressão arterial, a avaliação do próprio esta- baixa prevalência - como um resfriado comum. O res-
do de saúde, assim como o nível de atividade física. No friado ocorre mais frequentemente do que o diabetes,
âmbito populacional, os coeficientes de mortalidade são mas por um curto período de tempo, enquanto que o
um dos exemplos de indicadores de saúde, os quais se- diabetes é menos frequente, porém demanda um longo
rão abordados mais adiante. período. Outras medidas muito utilizadas na área da
Um índice, por sua vez, condensa em uma única epidemiologia e da saúde pública, como as de morta-
medida diferentes dimensões do atributo de interesse. lidade, letalidade e sobrevida, podem ser entendidas
Os escores gerados por meio dos instrumentos para ava- como variações do conceito de incidência. Entendere-
liação da qualidade de vida relacionada à saúde, que en- mos um pouco mais sobre prevalência e incidência e
globam múltiplos itens relacionados com uma ou mais mortalidade mais adiante.
dimensões, é um exemplo. Além deste, o índice de de- A expressão matemática das medidas de frequên-
senvolvimento humano (IDH) também pode ser citado. cia de doenças/agravos à saúde é diversa e depende do
conceito epidemiológico subjacente, assim como de
MEDIDAS DE FREQUÊNCIA algumas características das populações a que se refere.
Essas expressões podem ser apresentadas como frequ-
As medidas de frequência são definidas a partir de dois ências absolutas ou relativas. As frequências relativas são
conceitos epidemiológicos fundamentais designados as mais comuns, sendo fundamentais quando o objetivo
de prevalência e incidência. A prevalência expressa o do estudo é comparar frequências de ocorrência de pro-
número de casos existentes de uma determinada do- blemas de saúde entre duas populações ao longo de um
ença ou fator estudado em um determinado momento. mesmo período e/ou em uma mesma população, po-
Incidência refere-se à frequência com que novos casos rém, em momentos diferentes. Independentemente da
de uma doença surgem dentro de um intervalo de tem- medida de frequência utilizada, é importante enfatizar
po (MEDRONHO, 2009). que deve necessariamente estar referida às dimensões
A relação entre prevalência e incidência varia entre do espaço, da população e do tempo.
as doenças ou agravos. Uma mesma doença ou agravo A seguir, discutiremos sobre os conceitos das medi-
à saúde pode apresentar baixa incidência e alta preva- das de frequência e os indicadores de saúde.

23


Prevalência

Prevalência pode ser definida como a frequência de ca- Para que você possa entender melhor, podemos dizer
sos existentes de uma determinada doença ou agravo à que os casos prevalentes são aqueles indivíduos que ado-
saúde, em uma determinada população e em um dado eceram ou obtiveram o agravo em algum momento do
momento. Portanto, pode-se considerar que esta medi- passado (casos antigos) conjuntamente com possíveis ca-
da de frequência possibilita a determinação do número sos “novos” (e que estão vivos quando é realizada a obser-
total de casos existentes, identificados como casos pre- vação). Então, podemos pensar no conceito de prevalên-
valentes de uma doença ou agravo à saúde em um perí- cia como uma fotografia, na qual registramos a fração de
odo de tempo e população específica, ou seja, trata-se do indivíduos doentes ou com algum agravo à saúde, naquele
total de casos existentes, desconsiderando se são casos instante de tempo. Consequentemente, é uma medida de
novos ou não. Diante disso, a prevalência é tratada como frequência estática em relação ao processo dinâmico do
um indicador da magnitude da presença de uma doença adoecimento, pois os indivíduos componentes da amos-
ou agravo à saúde na população. tra que se deseja estudar são observados uma única vez.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os estudos de prevalência são os estudos descriti- alta taxa de incidência não implica necessariamente em
vos populacionais mais propagados em epidemiologia, altas proporções de prevalência, particularmente quan-
caracterizados como estudo transversal. Estes também do a duração do problema de saúde em questão é curta
permitem investigar associações entre fatores de risco e (SZKLO; NIETO, 2000). É o que acontece com algumas
doença, porém é necessário frisar que este tipo de deline- doenças infecciosas agudas, em que os pacientes acome-
amento não é o mais eficiente para se estudar causalida- tidos evoluem para a cura ou óbito, em um curto perí-
de, mas assim podem ser classificados como analíticos. odo de tempo. Portanto, mesmo apresentando elevados
A taxa de prevalência pode ser estimada pela fór- níveis de incidência nos períodos epidêmicos, os casos
mula: de doenças como dengue se mantêm por pouco tempo
e, assim, não podem ser devidamente detectados nos es-
tudos de prevalência instantânea.
Número de pessoas com o evento de
interesse (infecção, doença, agravo à saúde) Em contrapartida, altas proporções de prevalência
P= x 100 podem se sobrepor a baixos níveis de incidência, quan-
População sob o risco de apresentar o evento do a duração do agravo é longa, como as doenças crôni-
de interesse em determinado período de tempo
cas degenerativas. Por exemplo, por mais que os casos
novos de esclerose múltipla, que surgem a cada intervalo
de tempo, sejam poucos, os pacientes podem sobreviver
A população do numerador destina-se ao número de por um longo período, sendo possível identificá-los du-
pessoas que durante a observação obteve ou já obtinha rante um estudo transversal.
a doença ou agravo à saúde. A população apresentada
no denominador, ou seja, àquela que está sob risco de Incidência
adoecer, designa-se à população do estudo.
É importante frisarmos que existem diferentes tipos Do ponto de vista epidemiológico, há grande interesse
de medidas de prevalência. O tipo citado anteriormente em identificar especificamente quantos novos casos de
é conhecido como prevalência pontual. Portanto, todas uma doença ou agravo à saúde surgem em uma mesma
as vezes que você observar o termo prevalência e ele não população durante um período de tempo. Mais especi-
for especificado, faz-se, então, referência à medida deno- ficamente, é importante conhecer quantos novos casos
minada de prevalência pontual. A prevalência pontual, surgem de uma população que está em risco de sofrer
ou também chamada de prevalência instantânea, mede a uma determinada doença ou agravo à saúde, isso é, um
frequência de uma doença ou problema de saúde em um indicador da velocidade de mudança do processo dinâ-
dado instante de tempo. Essa é a medida mais utilizada mico de saúde e doença de uma população. Assim, inci-
nos estudos epidemiológicos seccionais ou transversais. dência caracteriza-se como a frequência de casos novos
A prevalência de uma doença ou agravo à saú- de uma determinada doença ou agravo num determina-
de é determinada pela sua incidência e duração, assim do período de tempo, advindos de uma população sob
como pelos movimentos migratórios. Portanto, quanto risco de adoecimento no início da observação. Portanto,
mais elevada a incidência e/ou a duração da doença ou trata-se da ocorrência do primeiro episódio da doença
agravo, maior será a sua prevalência. Entretanto, uma ou agravo à saúde em questão. Este caso é, necessaria-

25


mente, relacionado a doenças infecciosas que deman- ou entre diferentes períodos. Os 124 milhões de jovens
dam imunidade permanente e de algumas doenças crô- obesos no mundo notificados no mesmo período teriam
nicas, como o diabetes mellitus (MEDRONHO, 2009). um significado epidemiológico diferente se referidos à
Em determinadas circunstâncias, pode-se computar metade da população mundial; ou se referidos a um pe-
múltiplas ocorrências de uma doença em uma mesma ríodo mais curto, como entre 1975 e 2010.
pessoa, ao longo de um intervalo de tempo. Esta me- A taxa de incidência é a expressão da frequência
dida é caracterizada como incidência total e pode ser com que surjam novos casos de uma doença ou agravo à
utilizada em estudos de doenças agudas, na ausência de saúde, por unidade de tempo e relacionada ao tamanho
imunidade adquirida ou até mesmo na identificação de de uma determinada população em questão. Assim, ela é
doenças não infecciosas, como o caso do infarto agudo calculada como a razão entre o número de casos novos
do miocárdio (ROTHMAN; GREENLAND, 1998). da doença ou agravo à saúde e o total de pessoa/tempo
A incidência de um agravo qualquer pode ser medi- gerado a partir da população de estudo acompanhada.
da ou estimada por meio de maneiras diferentes. A mais A taxa de incidência pode ser estimada pela fórmula:
simples é o número de casos incidentes, geralmente de-
nominados incidência. Por exemplo, entre 1975 e 2016
Número de casos novos da doença/agravo
foram notificados, aproximadamente, 124 milhões de à saúde em uma população durante
crianças e adolescentes (de 5 a 19 anos) com obesidade um intervalo de tempo
I= x 105
ao redor do mundo (NCD RISK FACTOR COLLABO-
Número de pessoas sucessíveis ao risco da
RATION, 2017). Trata-se de uma medida adimensional, doença/agravo à saúde durante o
cujos valores possíveis variam de zero a infinito. Contu- referido intervalo de tempo

do, o tamanho da população sob risco de adoecimento


determina o limite máximo possível do número de ca-
sos incidentes. Ainda assim, nota-se que a referência a A taxa é expressa em relação a uma determinada quan-
uma população e período determinados se faz presente, tidade de pessoas-ano de exposição ao risco de ado-
mesmo que indiretamente, neste caso, o período de tem- ecimento, representada pela estimativa da população
po (1975 a 2016) e a população (população mundial de (geralmente residentes ou habitantes de determinadas
crianças e adolescentes). cidades) e período em questão, assumida a premissa da
Devo esclarecer que, embora o cálculo da incidên- estabilidade. Note que há uma multiplicação (x 105) na
cia pareça ser simples – e você verá isso mais adiante fórmula, a qual permite a inferência do resultado sobre a
– o número de casos incidentes, por si só, não permite quantia de 100.000 habitantes.
comparações da incidência entre diferentes populações

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando deve-se usar a prevalência e quando


deve-se usar a incidência?
lares ou fatores de risco à saúde, a determinação da pre-
A escolha entre o uso da incidência ou prevalência de- valência é mais indicada. Por isso que dificilmente você
pende de alguns fatores. Geralmente, quando tratamos verá estudos relatando a incidência da inatividade física,
de doenças agudas, pesquisas etiológicas, estudos de sedentarismo ou obesidade, por exemplo. A prevalência
prognóstico (aqueles estudos que tratam de questões clí- também é mais utilizada quando o assunto se refere ao
nicas de um modo semelhante aos estudos de coorte em planejamento e administração de serviços.
relação ao desfecho de doenças) ou análise da eficácia Ilustrei uma representação gráfica para que você
de ações terapêuticas e preventivas, a incidência é mais consiga observar a diferença entre as medidas de preva-
utilizada. Para doenças crônicas, como as cardiovascu- lência e incidência.

27


Descrição da Imagem: A Figura 2 é uma representação gráfica de um estudo hipotético sobre uma doença que foi analisada entre os dias 01 de
janeiro a 31 de dezembro. Na data de 01 de janeiro, há uma linha na vertical representando o início do estudo; e em 31 de dezembro, há outra linha
na vertical representando o final do estudo. Dentre essas duas linhas estão dispostas as pessoas que já tinham a doença ou que adquiriram a doença
durante esse período, representando graficamente a diferença entre prevalência e incidência.

01 de Janeiro 31 de Dezembro

Legenda:

Início da doença
Duração da doença
Término da doença
População: 100 pacientes
Casos incidentes: 6
Casos prevalentes: 11
Coeficiente de incidência: 7 por 100 pacientes
Coeficiente de prevalência: 11 por 100 pacientes

Figura 2 - Representação gráfica de casos da doença “X” (início, desenvolvimento e fim) de 01 de janeiro a 31 de dezembro em um
grupo de 100 pacientes internados em um hospital “Y” / Fonte: a autora.

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vamos observar a Figura 2. Nota-se que, no dia 01 de Quando relacionada a todas as causas, é denominada de
janeiro, cinco pacientes de uma mesma clínica hipotéti- mortalidade geral, diferente do termo letalidade, que se
ca tinha a doença “X”. Assim, a prevalência dessa doença refere à uma medida de mortalidade restrita aos sujeitos
“X”, no dia 01 de janeiro, é de 5/100, que é igual a 0,05. que apresentam um determinado problema de saúde.
Esse valor também pode ser expresso em percentual, o
qual representaria 5% do grupo de pacientes. CONCEITUANDO

Durante o período de 01 de janeiro a 31 de dezem-


bro, ocorreram seis novos casos da doença/agravo. Con- A letalidade expressa a frequência de óbitos
siderando que entre os 100 pacientes da clínica, cinco já por uma doença ou agravo à saúde “x” entre
haviam desenvolvido a doença/agravo “X” no início do os próprios indivíduos que apresentam essa
determinada doença ou agravo à saúde “x”.
estudo, então, somente 95 estavam em risco de desenvol-
ver a doença. Portanto, a incidência cumulativa da do-
ença “X” nesse hospital deve ser calculada como sendo
EXPLORANDO IDEIAS
5/95, que resultaria em 0,053, ou, 5,3% ao ano.

INDICADORES DE SAÚDE BASEADOS EM É importante que você entenda que a magni-


MEDIDAS DE MORTALIDADE tude da mortalidade por uma doença ou agra-
vo à saúde em uma determinada população é
dependente da letalidade e da incidência. Por
A mortalidade pode ser caracterizada como um caso exemplo, uma doença altamente letal, porém
rara, apresentará baixa mortalidade. O mesmo
particular do conceito de incidência, quando o evento
fato ocorrerá caso a incidência seja alta, porém a
de interesse é a morte e não o adoecimento. Portanto, letalidade baixa, e quando ambas forem baixas.
essa medida pode ser referida a um problema de saú- Em contrapartida, quando a mortalidade é alta,
a letalidade e a incidência também serão altas.
de específico, por exemplo o câncer de mama, ou a um
grupo de problemas, como as doenças cardiovasculares.

29


Semelhante à medida de frequência incidência, estu-


M
dada anteriormente, a mortalidade pode ser medida CGM= x 1.000
P
por meio de taxas ou proporções. A interpretação da
taxa e da proporção de mortalidade é parecida com
as medidas de incidência. A diferença é que substi- Em que: M representa o número de mortes; e P representa
tuímos o evento do adoecimento pela morte. a quantidade de pessoas da população, durante o estudo.
Os indicadores de saúde baseados em dados Vou te dar um exemplo, utilizando a equação
sobre mortalidade são classificados em dois tipos anterior, para que você possa entender melhor o
(WHO, 1957): indicadores globais - como coefi- cálculo. Suponha que no ano de 2018 tenham sido
ciente geral de mortalidade, razão de mortalidade registrados 900.000 óbitos em todo o Brasil e, em
proporcional (ou índice de Swaroop e Uemura) e a 1º de julho deste mesmo ano, a população brasilei-
esperança de vida ao nascer; e os específicos - como ra era constituída de 190.000.000. Considerando a
os coeficientes de mortalidade infantil e de mortali- equação anterior, o CGM relativo ao Brasil no ano
dade por doenças transmissíveis. de 2018 foi cerca de 4,7 óbitos por 1.000 habitantes.
Primeiramente, serão apresentados os indicado- Assim, o CGM expressa o risco de morte na popu-
res baseados em medidas de frequência, no caso, o lação brasileira em 2018: para cada 1.000 habitantes,
coeficiente geral de mortalidade, e aqueles baseados cerca de 4,7 faleceram neste ano.
em informações relativas à causa da morte e à ida- Um dos benefícios de se utilizar o CGM é a pos-
de ou o período da vida em que o óbito ocorre. Em sibilidade de relacionar o nível de saúde de diferen-
seguida, são apresentados os indicadores expressos tes áreas no tempo, por meio de dados mais fide-
segundo unidades de tempo de vida. dignos do que aqueles que compõem os coeficientes
específicos, geralmente mais difíceis de serem ob-
Coeficiente Geral de Mortalidade tidos. Esse fato é devido à facilidade do cálculo do
CGM, requerendo apenas o conhecimento do nú-
O coeficiente geral de mortalidade, aqui denomina- mero de óbitos ocorridos em uma população em um
do de “CGM”, também conhecido como taxa bruta de determinado ano, sem a necessidade de informações
mortalidade, refere-se a toda uma população, ou seja, específicas adicionais, como o sexo ou a idade dos
é o quociente entre o total de óbitos e a população sujeitos falecidos ou, até mesmo, a causa da morte.
de uma área, em um determinado período de tempo. É importante destacar que o CGM está sujeito
A população no denominador do CGM é referida ao a erros que podem incidir no seu numerador e/ou
período em questão. É importante deixar claro que, no seu denominador, subestimando ou superesti-
aqui, há uma pressuposição que a distribuição de mando os valores. No numerador, a subenumeração
nascimentos, óbitos e migrações é homogênea. Ge- de óbitos, ou seja, valores abaixo do real, são encon-
ralmente, o valor final resultante da equação é mul- tradas frequentemente em áreas menos desenvol-
tiplicado por 1.000. Assim, o CGM por uma doença/ vidas devido, principalmente, às falhas no registro
agravo à saúde é estimado pela equação: de óbitos. Entre os anos de 1997 e 2001, por exem-

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

plo, estimou-se um subregistro de óbitos no Brasil os valores do CGM sejam inferiores a seis óbitos por
em torno de 18%, chegando a 26% no Norte e 34% 1.000 habitantes-ano, é necessário considerar a pou-
no Nordeste, ambas regiões menos desenvolvidas ca fidedignidade dos dados coletados, especialmente
quando comparadas às outras do país (LAURENTI; a possibilidade de sub-registro de óbitos.
MELLO; GOTLIEB, 2005).
A subenumeração de óbitos pode estar relacio- PENSANDO JUNTOS
nada a erros no registro de dados, como o local de
residência, levando a uma evasão de mortes, os quais Será que é possível comparar CGM’s em di-
deixam de ser considerados no cômputo do CGM ferentes populações? Quando o uso do CGM
de suas respectivas populações de origem. Caso não for objetivando comparações, é necessário
muito cautela na interpretação e divulgação
corrigida, a subestimação de óbitos proporcionará a dos resultados, uma vez que o seu valor é de-
subestimação do CGM (RIPSA, 2002). pendente da composição da população por
Em contrapartida à evasão, é possível que haja idade, por sexo e por outras características
relacionadas ao risco de morte. Além disso, a
uma invasão de óbitos erroneamente classificados estrutura etária da população influi nos valores
como de residentes em uma determinada localidade. do CGM, portanto, este corresponde a uma
É o caso de localidades com maior oferta de serviços média ponderada dos coeficientes específicos
por faixas etárias, em que os fatores de ponde-
de saúde, pois tendem a atender a demanda da assis- ração correspondem às proporções de sujeitos
tência médica provenientes de outras áreas. Esse fato em cada grupo etário, em relação à população
possibilita a superestimação dos valores de CGM. geral. Assim, o CGM, em sua forma bruta, não
deve ser empregado em comparações entre
Em relação ao denominador, a fonte principal de populações com faixas etárias diferentes.
erro é decorrente das estimativas incorretas dos con-
tingentes populacionais, principalmente nos perío-
dos de anos censitários, ou seja, os anos em que são Indicadores de Mortalidade segundo a Causa
realizados censos a fim de obter informações de di- de Óbito
versos fatores sobre aquela determinada população.
Esses erros se tornam ainda mais prováveis de ocor- Você já se perguntou como vem se comportando
rer quanto maiores forem as mudanças na dinâmica a mortalidade por infarto no Estado do Paraná
populacional, à medida que aumenta o tempo trans- nos últimos 20 anos? E sobre a frequência de óbi-
corrido desde a realização do último censo. Quan- tos causados pelas doenças coronarianas? Será que
do os contingentes populacionais são subestimados, esta é homogênea nas diferentes regiões do Brasil?
o CGM será superestimado. Em contrapartida, no Do que se morre mais atualmente no país: de do-
caso das estimativas populacionais estiverem acima enças infecciosas ou cardiovasculares? As respostas
da realidade, o CGM será subestimado (LAUREN- a todas essas perguntas anteriores dependem das
TI; MELLO; GOTLIEB, 2005). medidas de mortalidade segundo a causa, basean-
Para quaisquer populações, é esperado que o va- do-se no conceito de causa morte, o qual é definido
lor do CGM varie entre 6 e 10 óbitos por mil habitan- como aquelas doenças, estados mórbidos ou lesões
tes (LAURENTI; MELLO; GOTLIEB, 2005). Caso que conduziram à morte e às circunstâncias do aci-

31


dente ou da violência que produziu estas lesões (WHO,


1993). É importante identificar corretamente o conceito
de causa de morte, pois a uniformização desta definição
e da classificação das causas de morte são necessárias
para fins comparativos das estatísticas de mortalidade.
A mortalidade, pode ser analisada por meio de três
maneiras distintas: por causa específica - por exemplo, hi-
pertensão arterial; por agrupamento de causas afins - por
exemplo, doenças isquêmicas do coração; e grandes agru-
pamentos de causas, como doenças do aparelho cardiovas-
cular (MEDRONHO, 2009).
Você sabe como é feita a determinação da causa de
morte? A causa básica é realizada a partir das informa-
ções sobre as causas da morte registradas no atestado de
óbito. Causa básica de morte é descrita como a doença
ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patoló-
gicos que conduziram diretamente à morte. Ela também
pode ser definida como as circunstâncias do acidente ou
da violência que produziu a lesão fatal (WHO, 1993). As
demais causas preenchidas pelo médico no atestado de
óbito irão formar o conjunto das causas associadas.
Principalmente para a área da saúde, como é o caso da
Educação Física, é de extrema importância aplicar a me-
todologia das causas múltiplas de morte, ou seja, analisar
não apenas a mortalidade segundo a causa básica (morrer
por uma doença ou agravo específico), mas também co-
nhecer as complicações da causa básica e as causas asso-
ciadas declaradas no atestado de óbito (morrer com uma
doença). Isso é essencial, principalmente quando relacio-
nado à análise das doenças crônicas não transmissíveis
(LAURENTI; MELLO; GOTLIEB, 2004), uma vez que
auxilia no desenvolvimento de pesquisas para possíveis
ações relacionadas à melhoria no estilo e hábitos de vida.
Além do número absoluto de óbitos, a mortalidade
segundo a causa pode ser analisada a partir de frequên-
cias relativas, como taxas e proporções.

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: A figura 3 apresenta os exemplos de indicadores de mortalidade por causa do óbito. Dentre elas estão a taxa de mortalidade
por causa do óbito, mortalidade materna, mortalidade por causas mal definidas e mortalidade proporcional segundo a causa do óbito.

Taxa de
mortalidade
por causa
do óbito

Mortalidade Indicadores
proporcional de mortalidade Mortalidade
segundo a causa por causa do óbito materna
do óbito

Mortalidade
por causas
mal definidas

Figura 3 - Exemplos de indicadores de mortalidade por causa do óbito / Fonte: a autora.

Mortalidade segundo a Idade e os Períodos da Vida

Os indicadores específicos por idade ou relativos a determinados períodos da vida são os mais conhecidos
indicadores de mortalidade e considerados mais importantes no quesito de comparabilidade internacional.

33


Descrição da Imagem: A imagem da figura 4 apresenta os indicadores de mortalidade segundo a idade e os períodos da vida. São cinco indicadores:
mortalidade infantil, mortalidade fetal, mortalidade perinatal, mortalidade em menores de cinco anos de idade e mortalidade proporcional com 50
anos ou mais de idade.

Mortalidade
infantil

Mortalidade
proporcional Mortalidade
com 50 anos ou fetal
mais de idade
Mortalidade
segundo a idade
e os períodos
da vida

Mortalidade
em menores Mortalidade
de cinco anos perinatal
de idade

Figura 4 - Exemplos de indicadores de mortalidade segundo a idade e os períodos da vida / Fonte: a autora.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

Basicamente, a mortalidade infantil se refere aos óbitos Indicadores baseados em medidas de tempo de
ocorridos ao longo do primeiro ano de vida, antes mes- vida
mo da criança completar 1 ano de idade. Geralmente, a
mortalidade infantil é medida por meio da taxa de mor- Os indicadores expressos até aqui abrangem a dimensão
talidade infantil. Contudo, ela também pode ser avaliada da frequência com que ocorrem os óbitos. Um outro con-
pela proporção de óbitos de menores de um ano de vida, junto de medidas incorpora, além da dimensão da frequ-
com relação ao total de óbitos registrados em uma deter- ência, a do tempo de vida. Assim, para esses indicadores, a
minada área e período. idade em que as mortes ocorrem é o fator principal.
A mortalidade fetal é caracterizada pela inexistência de Dois indicadores baseados em medidas do tempo
qualquer sinal de vida, seja respiração, pulsação do cordão de vida são amplamente utilizados em estudos epide-
umbilical, batimentos cardíacos ou movimentos efetivos miológicos relacionados à saúde: a expectativa de vida
dos músculos de contração voluntária (WHO, 1995). e os anos potenciais de vida perdidos. O primeiro des-
A mortalidade perinatal se destina a um indicador tina-se à medida do número esperado de anos a serem
de saúde materno-infantil. Esse indicador possibilita vividos, em média, pelos sujeitos que compõem uma de-
a identificação das condições de saúde reprodutiva e terminada população. Esse indicador é amplamente re-
da qualidade da assistência pré-natal, parto e neonatal conhecido como um bom indicativo de saúde. O segun-
(FONSECA; COUTINHO, 2004). do, nomeado como anos potenciais de vida perdidos,
A taxa de mortalidade é caracterizada como a razão expressa o efeito das mortes ocorridas precocemente em
entre o número de óbitos em menores de cinco anos relação à duração esperada da vida. Tem como objeti-
de idade e o total de nascidos vivos. Essa taxa é relati- vo, permitir a comparação da importância relativa das
vamente recente e foi criada basicamente porque, até o diferentes causas de óbitos (ROMEDER; McWHINNIE,
início da década de 80, a mortalidade de crianças de 0 a 1988), subsidiando a definição de prioridades no âmbito
4 anos de idade vinha sendo expressa pela mortalidade da saúde pública.
infantil e a mortalidade de 1 a 4 anos. Entretanto, existia
diferença entre os denominadores (nascidos vivos para INDICADORES DE SAÚDE BASEADOS EM
a mortalidade infantil e população de 1 a 4 anos de idade MEDIDAS DE MORBIDADE
para a mortalidade de 1 a 4 anos).
Por fim, a mortalidade proporcional com 50 anos ou A morbidade pode ser definida como qualquer afasta-
mais de idade, também conhecida como razão de mor- mento de um estado de bem-estar psicológico ou fisio-
talidade proporcional, destina-se à proporção de óbitos lógico, averiguado de forma subjetiva ou direta (LAST,
de indivíduos com idade igual ou maior que 50 anos, 1988). Portanto, ela identifica as causas que determinam
em relação ao total de óbitos. Por exemplo, se a taxa de o adoecer. Assim, as pesquisas sobre os dados de morbi-
mortalidade proporcional com 50 anos ou mais de idade dade são fundamentais para as análises de causa/efeito
for igual a 80%, significa dizer que quatro em cada cinco das doenças (FRANCO LAÉRCIO; COSTA, 2011).
óbitos ocorridos foram de sujeitos com idade igual ou Quando relacionado ao nível do organismo, o con-
maior que 50 anos. ceito de doença diz respeito a uma disfunção de natu-

35


reza fisiológica ou psicológica (FORATTINI, 1992) e é pendentemente de sua evolução, ou seja, cura, morte ou
caracterizada por ao menos dois dos três critérios a se- periodicidade da doença (FORATTINI, 1992). Portanto,
guir: um agente etiológico reconhecido, um conjunto de observa-se que a mortalidade é incluída na definição de
sinais e sintomas, e alterações anatômicas consistentes morbidade. Assim, os estudos da morbidade, a partir de
(PEREIRA, 1995). dados sobre mortalidade, acabam por ser incompletos e
Quando relacionamos morbidade ao nível indivi- parciais (com exclusão daqueles casos de doenças/agra-
dual, o conceito passa a ser voltado à enfermidade, rela- vos altamente letais). Considerando que os indicadores
tivo à percepção da anormalidade no estado de saúde do de saúde baseados em medidas de mortalidade foram
próprio indivíduo. A enfermidade é caracterizada por apresentados anteriormente neste capítulo, falaremos
queixas, pelo incômodo ou sofrimento, físico ou mental, nesta seção sobre indicadores de morbidade referentes
ou por qualquer outro motivo que faça com o que sujei- aos problemas de saúde não fatais e suas consequências,
to se preocupe com a saúde. particularmente, relacionados à atividade física.
Em âmbito social, o entendimento de morbidade é Os indicadores de morbidade consistem essencial-
expressado pelas atitudes e comportamentos assumidos mente em medidas de prevalência e incidência, já des-
pelos sujeitos ao se perceberem doentes ou enfermos. As- critas anteriormente neste capítulo. Contudo, recente-
sim, a morbidade neste campo corresponde ao conceito de mente, os indicadores baseados em medidas do tempo
anormalidade e é medida por fatores de ordem cultural, re- vida (utilizados em análise de mortalidade) fazem parte
lacionados aos juízos de valor próprios de cada sociedade das diferentes dimensões do conceito de morbidade.
ou grupo social. Um exemplo é a pessoa se afastar do tra- Os indicadores de morbidade são utilizados para
balho devido a um problema de saúde, havendo uma mu- comparações que envolvem diferentes populações e/
dança relacionada a um papel social da pessoa acometida. ou períodos, expressando a magnitude da ocorrência de
Identificando os três níveis citados anteriormente, doenças/agravos nas populações e servindo para a ava-
entende-se que a expressão da morbidade pode se dar liação de programas e serviços de saúde.
por meio das suas diferentes dimensões (organismo, in-
dividual e social) simultaneamente, ou de forma sepa- Indicadores para avaliação das consequências
rada. Para que você entenda melhor: uma pessoa pode de problemas de saúde não fatais
estar doente, mais ainda na fase pré-clínica da história
natural da doença e, assim, não se sentir enferma e nem Considerando a crescente tendência a problemas de saú-
expressar qualquer anormalidade. Em contrapartida, de de natureza crônica, as pesquisas têm voltado à aten-
um sujeito pode manifestar incômodo sem que seja ção para o desenvolvimento de estudos referente ao fato.
diagnosticada qualquer doença. Ademais, mesmo do- Assim, vários modelos teóricos serviram como referência
ente e enfermo, o indivíduo pode não manifestar cer- para a concepção de indicadores que avaliassem as conse-
tos comportamentos sociais esperados, mantendo, por quências dos problemas de saúde não fatais, destacando-se
exemplo, suas atividades laborais inalteradas. o modelo biomédico, o modelo da OMS, o modelo utilita-
O conceito mais genérico de morbidade e comu- rista e o da qualidade de vida (COSTA, 2006). Segue um
mente utilizado em epidemiologia é a medida da fre- infográfico de alguns indicadores voltados para a avaliação
quência de determinada doença/agravo à saúde, inde- das consequências dos problemas de saúde não fatais.

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: A imagem da figura 5 apresenta os indicadores voltados para a avaliação das consequências dos problemas de saúde não
fatais. Da esquerda para a direita, aparece o modelo biomédico que restringe a aspectos anatômicos, bioquímicos e fisiológicos, baseando-se em
diagnósticos. O segundo é o modelo da Organização Mundial da Saúde com condições decorrentes da doença descritas como sequência linear:
doença - deficiência - incapacidade - desvantagem. O terceiro é o modelo utilitarista que é voltado para análises de custo-efetividade e custo-utilidade,
aplicadas à avaliação de projetos e investimentos na área da saúde. E por último o modelo de qualidade de vida que expressam as preferências pelo
tempo vivido em cada estado de saúde, servindo como fatores de ajuste em relação ao tempo de vida com plena saúde.

INDICADORES VOLTADOS PARA A AVALIAÇÃO DAS


CONSEQUÊNCIAS DOS PROBLEMAS DE SAÚDE NÃO-FATAIS

MODELO BIOMÉDICO MODELO DA MODELO MODELO DE QUALIDADE


Restringe a aspectos ORGANIZAÇÃO UTILITARISTA DE VIDA
anatômicos, bioquímicos e MUNDIAL DA SAÚDE Voltado para análises Expressam as preferências
fisiológicos, baseando-se Condições decorrentes de custo-efetividade e pelo tempo vivido em
em diagnósticos. da doença descritas custo-utilidade, cada estado de saúde,
como sequência linear: aplicadas à avaliação servindo como fatores de
doença > deficiência > de projetos e ajuste em relação ao
investimentos na área tempo de vida com plena
incapacidade >
saúde.
desvantagem. da saúde.

Figura 5 - Exemplos de indicadores voltados para a avaliação das consequências dos problemas de saúde não fatais / Fonte: a autora.

Focaremos, nesta seção, na medida de avaliação de- vida (OLIVEIRA, 2004). Um conceito amplo e muito
nominada qualidade de vida, considerando que esta é utilizado é o da Organização Mundial da Saúde (WHO,
uma medida muito utilizada nos estudos relacionados à 1995), que afirma que a qualidade de vida é a percepção
Educação Física. Conceituar a qualidade de vida é algo do indivíduo sobre a sua própria posição na vida, rela-
complexo, uma vez que a expressão apresenta vários sig- cionada ao âmbito cultural de vivência e em relação aos
nificados e envolve conhecimentos, valores, percepções objetivos e expectativas próprias. O conceito de quali-
e experiências diversas. dade de vida relacionado à saúde, para Patrick e Erick-
Saúde, bem-estar e nível funcional são termos ge- son (1993), relaciona-se ao valor atribuído à duração da
ralmente utilizados como sinônimos de qualidade de vida, modificado em função de deficiências, percepções,

37


estados funcionais e oportunidades sociais, os quais ou bem-estar e a percepção do estado de saúde. Domí-
são influenciados pela ocorrência de doenças, agravos, nios secundários, ou adicionais, acabam por ser consi-
intervenções ou políticas públicas. Portanto, o termo derados de acordo com o objetivo do estudo, incluindo
qualidade de vida se refere ao impacto do estado de saú- entre outros fatores, a atividade sexual, o sono, a identifi-
de na função ou na habilidade do sujeito e à percepção cação de sintomas, fatores relacionados à religiosidade e
de bem-estar nos domínios físicos, mentais e sociais da espiritualidade (OLIVEIRA, 2004).
vida (OLIVEIRA, 2004). O Quadro 1 mostra os domínios e respectivas face-
A mensuração dos níveis de qualidade de vida rela- tas abordados no instrumento de avaliação da qualidade
cionada à saúde é realizada por meio de instrumentos de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL
que abrangem diferentes dimensões ou domínios, com- - World Health Organization Quality of life) na versão
postos por uma quantidade variada de itens. As respos- abreviada (WHOQOL - Bref), desenvolvido para ava-
tas relacionadas a essas questões geram escores que po- liação da qualidade de vida em diferentes contextos so-
dem ser considerados globais ou específicos para cada cioculturais. É importante frisar que, para cada domínio
domínio, resultando em índices agregados ou perfis de abordado no instrumento, os escores mais baixos repre-
qualidade de vida relacionada à saúde. sentam as avaliações menos favoráveis da qualidade de
Os domínios primários da qualidade de vida rela- vida, ou seja, quanto mais baixo o escore, menor será a
cionada à saúde são os da atividade física, atividade psi- avaliação dada para aquele domínio.
cológica, atividade social, grau de satisfação com a vida

Descrição de quadro: O Quadro 1 representa os domínios e facetas incluídos no instrumento WHOQOL-Bref para avaliação da qualidade de vida.
São 4 domínios e 4 facetas. O domínio físico é representado por dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida
cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho. O domínio psicológico apresenta sentimentos positivos, pensar,
aprender, memória e concentração, autoestima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos, espiritualidade/religião/crenças pessoais. O
domínio das relações sociais é representado por relações pessoais, suporte (apoio) social e atividade sexual. E por último segurança física e proteção,
ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidades de adquirir novas informações e ha-
bilidades, participação em, e oportunidades de recreação/lazer, ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) e transporte que são representados
pelo domínio do meio ambiente.

Domínios Facetas

• Dor e desconforto
• Energia e fadiga
• Sono e repouso
Físico • Mobilidade
• Atividades da vida cotidiana
• Dependência de medicação ou de tratamentos
• Capacidade de trabalho

• Sentimentos positivos
• Pensar, aprender, memória e concentração
• Autoestima
Psicológico
• Imagem corporal e aparência
• Sentimentos negativos
• Espiritualidade/religião/crenças pessoais

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Relações pessoais
Relações sociais • Suporte (apoio) social
• Atividade sexual

• Segurança física e proteção


• Ambiente no lar
• Recursos financeiros
• Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade
Meio ambiente
• Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades
• Participação em, e oportunidades de recreação/lazer
• Ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima)
• Transporte
Quadro 1 - Domínios e facetas incluídos no instrumento WHOQOL-Bref para avaliação da qualidade de vida
Fonte: Moreno et al. (2003, p. 2587).

CONECTE-SE

O WHOQOL-100 (versão inicial) é um instrumento de avaliação da qualidade de vida criado pela Or-
ganização Mundial da Saúde, em que consiste em 100 perguntas referentes a seis domínios, físico,
psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade/religiosidade/
crenças pessoais. A necessidade de um instrumento mais curto, mas que preservasse as características
satisfatórias, fez com que o grupo de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde desenvolvesse
uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref. Para você ter acesso a ambos instrumentos,
basta acessar o site https://www.ufrgs.br/qualidep/qualidade-de-vida/projeto-whoqol-100

É importante que o desenvolvimento de instrumentos aspectos negativos relacionados às consequências dos


para avaliação da qualidade de vida seja muito crite- problemas de saúde não fatais. Os outros modelos, por
rioso, focando nos diferentes aspectos relacionados à sua vez, permitem abordagens dos aspectos tanto positi-
validade da aferição da qualidade de vida. Igualmente, vos como negativos do conceito de saúde.
a adaptação transcultural destes instrumentos requer
o desenvolvimento de estudos específicos, baseando- Indicadores para avaliação das limitações e
-se em rígidos protocolos de investigação (REICHE- restrições da atividade física
NHEIM; MORAES, 2002).
Ambos modelos, o biomédico e o da Organização Analisar a dimensão da atividade física é fundamental
Mundial da Saúde, descritos na Figura 5, particularmen- na avaliação das consequências dos agravos e doenças
te em sua versão inicial baseada na Classificação Inter- crônicas. Isso porque é crescente a tendência ao envelhe-
nacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens cimento populacional e à falta de movimentação física,
- CIDID (WHO, 1980), caracterizam-se pelo enfoque de extremamente prejudicial à saúde. Assim, cresce grada-

39


tivamente o desenvolvimento de pesquisas e estudos ba- lhor, as atividades instrumentais da vida diária tem foco
seados em medidas de disfunção ou incapacidade física. na habilidade da pessoa, ou seja, habilidades complexas
Os primeiros indicadores de deficiências físicas fo- necessárias para se viver de maneira independente, isso
ram baseados em medidas geradas a partir de avaliações envolve o viver em seu próprio meio, compreendendo as
clínicas padronizadas. Assim, dois fatos impulsionaram limitações que existem no quesito, por exemplo, de co-
o desenvolvimento de medidas para avaliação de inca- zinhar, fazer os trabalhos domésticos, tomar remédios,
pacidades funcionais, primeiro o fato de as deficiências cozinhar e fazer compras (COSTA, 2006).
não apresentarem relação clara com as necessidades de Existem alguns indicadores que podem ser baseados
saúde. Segundo pela importância progressiva dada à nas escalas das atividades da vida diária ou nas escalas das
independência funcional de pacientes que são de pro- atividades instrumentais da vida diária. Um exemplo são
gramas de reabilitação. Diante disso, os métodos de ava- as medidas de prevalência de incapacidade de desenvol-
liação passaram a incorporar as atividades passíveis de ver ao menos uma das atividades avaliadas, um tipo de
desenvolvimento por uma pessoa, considerando a sua indicador muito utilizado em estudos de base populacio-
capacidade física. As escalas de avaliação das atividades nal sobre avaliação funcional de idosos (PATRICK; ERI-
diárias da vida e das atividades instrumentais diárias da CKSON, 1993). Outros tipos de indicadores são aqueles
vida são exemplos desses métodos. baseados em medidas genéricas de limitações e restrições
As atividades da vida diária caracterizam-se pelos das atividades (BARBOTTE et al., 2001).
cuidados pessoais, como alimentar-se, vestir-se, tomar
banho, movimentar-se em casa (SADANA, 2002), ou CONCEITUANDO
seja, aquelas em que a execução depende da habilidade
física e cognitiva da pessoa. As atividades instrumentais Entende-se por limitações das atividades a
da vida diária acabam por ser um segmento das ativida- redução por longo prazo da capacidade de
des da vida diária, incluindo, assim, além das habilidades uma pessoa desenvolver as atividades espe-
radas para os sujeitos da mesma faixa etária,
físicas, a avaliação da (re)integração dos sujeitos acome- ou seja, os papéis sociais ou atividades princi-
tidos ao meio social. pais. O conceito das restrições das atividades,
As escalas de avaliação das atividades instrumentais refere-se à redução das atividades abaixo da
capacidade de um sujeito, em um prazo rela-
da vida diária permitiram a avaliação de incapacidades tivamente curto (PATRICK; ERICKSON, 1993).
consideradas de baixo grau, geralmente encontradas na
população em geral. Para que você consiga entender me-

40
considerações finais

Prezado(a) aluno(a), concluímos aqui a sua primeira jornada ao universo da epidemiologia


da atividade física. Se realizarmos um breve resgate dos conteúdos abordados, você notará
que nossa primeira conversa se referiu à contextualização histórica da epidemiologia. Pode-
mos entender como se deu a inserção da epidemiologia por meio das primeiras pesquisas
realizadas. Neste contexto, vimos que os estudos de John Snow, William Farr e Louis René
Villermé contribuíram grandemente para o campo epidemiológico.
Podemos ainda entender e discutir sobre o conceito da epidemiologia e a relação desta
com a saúde e, assim, consequentemente, com a atividade física. Vimos que essa relação se
deu devido às pesquisas que identificaram o sedentarismo como um fator determinante
para o desenvolvimento de doenças e agravos à saúde.
Você pôde ler também sobre a transição epidemiológica, caracterizada pela inversão das
causas de morte, em que anteriormente as pessoas vinham a óbito por doenças infecciosas e,
então, começaram a adoecer por doenças de caráter cardiovascular. Para finalizar o conteúdo,
foi abordado sobre os indicadores e medidas de frequência. Estudamos sobre os conceitos
de prevalência e incidência e quando devemos utilizar cada uma destas.
Você pôde notar que se trata de conceitos diferentes, em que prevalência se destina à
frequência de casos existentes de uma determinada doença ou agravo à saúde, e incidência
são os casos novos que surgem dessa determinada doença. Referente aos indicadores de saúde,
vimos que estes podem ser baseados em duas vertentes. A primeira foi sobre os indicadores
de saúde baseados em medidas de mortalidade. A segunda foi sobre os indicadores de saúde
baseados em medidas de morbidade.
Você percebeu que existem diferentes indicadores e que estes podem fornecer infor-
mações distintas, mas que, muitas vezes, complementam-se entre si. Portanto, com essas
considerações, encerramos este nosso primeiro encontro. Até o próximo!

41
atividades de estudo

1. Suponha que em 01/01/2019 existiam 2.700 casos de câncer de mama em trata-


mento na cidade de Maringá, no estado do Paraná. Durante o passar do ano, fo-
ram notificados 960 casos novos de câncer, e 830 pacientes obtiveram alta por
cura. Todos os pacientes foram tratados por meio do tratamento aqui nomeado
como “x”, que teve duração de seis meses. A população residente em Maringá,
no ano de 2019, era de cerca de 450.000 habitantes.
Considerando as informações, calcule a prevalência de câncer de mama no
início e no final de 2019 e a taxa de incidência de câncer de mama em 2019 na
referida cidade.

2. A epidemiologia é uma área da ciência que estuda o processo saúde-doença


na população humana, analisando a distribuição e os fatores que determinam
a enfermidade. Considerando o exposto, assinale (V) para as afirmativas ver-
dadeiras e (F) para as falsas.
( ) A epidemiologia se baseia nos fatores clínicos individuais do processo de
saúde.
( ) Por meio dos estudos epidemiológicos, é possível prevenir, controlar e, poste-
riormente, tratar possíveis doenças ou agravos à saúde do indivíduo.
( ) Curar a doença é um dos objetivos do diagnóstico clínico, o qual faz parte
das premissas da epidemiologia.
( ) As descobertas epidemiológicas sobre as doenças crônicas degenerativas
foram fundamentais para o maior entendimento sobre a tríade epidemiolo-
gia, saúde e atividade física.

A sequência correta é:

a. V, V, F, V.
b. F, V, F, V.
c. F, F, V, F.
d. V, F, F, F.

e. V, V, V, F.

3. Suponha que você deseja realizar um estudo para identificar o coeficiente ge-
ral de mortalidade do Brasil e dos EUA, no ano de 2017. Após pesquisa realiza-
da nas bases de dados populacionais, você obteve as seguintes informações:

42
atividades de estudo

Brasil Estados Unidos


Faixa etária População Óbitos População Óbitos
0 a 4 anos 25.984.067 109.799 24.766.167 43.540
5 a 19 anos 57.543.281 53.098 62.227.678 29.750
20 a 44 anos 78.344.055 181.908 112.339.058 191.877
45 a 64 anos 23.976.685 209.860 54.888.345 426.067
65 anos ou mais 22.367.760 412.076 39.430.909 2.256.230

Total 208.215.848 966.741 293.652.157 2.947.464

Com as informações compostas no quadro, calcule o coeficiente geral de mor-


talidade (por mil habitantes) para o Brasil e para os EUA no ano de 2017 e
interprete os resultados.

4. Os indicadores de saúde permitem a análise de fatores relacionados à morta-


lidade e a morbidade. Especificamente sobre a mortalidade, existem os indi-
cadores de mortalidade segundo a idade e os períodos da vida. Considerando
o exposto, associe os números às devidas lacunas.

1. Mortalidade infantil.
2. Mortalidade fetal.
3. Mortalidade perinatal.
4. Mortalidade em menores de cinco anos de idade.

5. Mortalidade proporcional com 50 anos ou mais.

( ) Permite identificar as condições de saúde da reprodução humana.


( ) Caracterizado pela inexistência para qualquer sinal de vida.
( ) Proporção de óbitos ocorridos no primeiro ano de vida.
( ) razão da mortalidade de indivíduos de meia idade ou mais.

( ) Proporção de óbitos nos primeiros anos de vida.

A sequência correta é:

a. 5, 2, 3, 1, 4.
b. 4, 3, 2, 1, 5.
c. 3, 2, 1, 5, 4.
d. 2, 1, 3, 5, 4.

e. 1, 2, 3, 5, 4.

43
atividades de estudo

5. Os indicadores voltados para a avaliação das consequências dos problemas


de saúde não fatais são fundamentais para analisar os problemas de saúde de
natureza crônica. Para tanto, foram criados alguns modelos teóricos que ser-
viram como referência para a concepção desses indicadores. Considerando o
exposto, avalie as afirmativas.

I. O modelo biomédico foi criado a fim de avaliar projetos e investimentos volta-


dos para a saúde.
II. O modelo da Organização Mundial da Saúde se associa à prevenção de do-
enças.
III. O modelo de qualidade de vida é voltado para a promoção da saúde.

As afirmativas corretas são:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.

e. I e III, apenas.

44
LEITURA
COMPLEMENTAR

Um artigo recentemente publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia descreve sobre


a prevalência e a incidência de um vírus que causou uma verdadeira pandemia em todo
o mundo, o coronavírus 2019 (COVID-19). Intitulado como “Medidas de frequência: cal-
culando prevalência e incidência na era do COVID-19”, o manuscrito descreve sobre a
doença e apresenta valiosas informações sobre a prevalência e a incidência.

Medidas de frequência: calculando prevalência e incidência na era do


COVID-19

Por Marcia Margaret Menezes Pizzichini, Cecilia Maria Patino, Juliana Carvalho Ferreira

Cenário prático

A doença coronavírus 2019 (COVID-19), causada pelo coronavírus denominado SARS-


-CoV-2, tornou-se uma pandemia apesar dos esforços globais para impedir sua propa-
gação. O primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil foi relatado em 26 de feverei-
ro de 2020. Até 11 de maio de 2020, um total de 168.331 brasileiros tinham diagnóstico
confirmado de COVID-19, dos quais 89.429 (53,1%) ainda estavam infectados, 67.384
(40%) estavam curados e 11.519 (6,8%) foram a óbito. O número de novos casos em 11
de maio foi de 5.632, e a incidência relatada foi de 80,1/100.000 habitantes 1.

Medidas de morbidade e mortalidade do COVID-19

Contar os números de casos leves a graves e assintomáticos de COVID-19 é essencial


para descrever e interpretar as respostas epidêmicas locais. Nesse cenário, estimativas
repetidas de prevalência e incidência informam as tendências de trajetória da doença e
orientam o processo de tomada de decisões relacionadas às medidas de controle e de
alocação de recursos.2
Prevalência é definida como a proporção de uma população que tem a doença em um
determinado momento (Tabela 1). Estudos transversais são comumente utilizados para
realizar estudos de prevalência porque examinam a doença em um determinado mo-
mento. A prevalência de casos confirmados de COVID-19 em 11 de maio foi de 0,08%,

45
LEITURA
COMPLEMENTAR

estimada como o número de casos de COVID-19 naquele dia dividido pela população em
risco (população brasileira).1 Como as medidas de prevalência incluem tanto os novos ca-
sos e os casos existentes, elas não fornecem uma imagem completa da história natural da
doença. Além disso, o cálculo da prevalência da COVID-19 no Brasil em 11 de maio pode
não ser preciso, pois os dados relatados pelo Ministério da Saúde do Brasil não incluem
uma testagem ampla para SARS-CoV-2 em todo o espectro da gravidade da doença; portan-
to, o número de casos relatados provavelmente representa aqueles mais graves (uma vez
que a maioria dos testes foi realizada em indivíduos sintomáticos e não na população em
geral) e, como consequência, subestimando a prevalência real da doença.

Medidas Definições Como calcular Equações Resultados


Casos existentes da
doença em um de-
Casos de COVID-19
terminado momento 168.331 ÷
Prevalência em 11 de maio ÷ 0,08%
dividido pela popula- 210 mi
População em risco
ção em risco de ter a
doença
Novos casos da doen-
ça em uma população
Novos casos de CO-
definida durante um
VID-19 em um dia ÷ 5.632 ÷
Incidência período específico 2,7/100.000
População em risco 209.837.301
(um dia, por exemplo)
em 11 de maioa
dividido pela popula-
ção em risco

Legenda:
mi: milhões (população brasileira).
a
: População brasileira menos o número total de casos confirmados em 11 de maio.

Quadro 1 - Incidência e prevalência do COVID-19 em 11 de maio de 2020 no Brasil (1)

Incidência é uma medida da ocorrência de novos casos durante um período especificado


em uma população em risco de ter a doença. Enquanto a prevalência se refere a casos
novos e casos existentes da doença, a incidência enfoca apenas os casos novos (Quadro
1). Para estimar a incidência, todos os indivíduos no denominador (população em risco)

46
LEITURA
COMPLEMENTAR

devem ter o potencial de estar no numerador (aqueles que desenvolvem a doença). As es-
timativas de incidência requerem acompanhamento longitudinal (por exemplo, em horas,
dias ou anos). O desenho do estudo de escolha é estudo de coorte envolvendo indivíduos
em risco de desenvolver a doença, sem a doença na inclusão, e que são acompanhados ao
longo do tempo e avaliados em relação ao desenvolvimento da doença. Finalmente, a inci-
dência também depende da frequência da doença, da definição dos casos e da população
em risco. No cenário brasileiro, a incidência de casos confirmados de COVID-19 em 11 de
maio foi de 2,7/100.000 habitantes em risco (Quadro 1).

Pontos-chave para interpretar estimativas de prevalência e incidência

Definições precisas de casos e não casos são essenciais para definir prevalência e incidência.
As estimativas de prevalência e incidência podem ser enganosas se o número de casos for
subestimado devido a barreiras no acesso a informações sobre o diagnóstico e as práticas
de cuidados de saúde ou se apenas pacientes com doença grave forem submetidos a testes
diagnósticos.
O momento das estimativas de prevalência e incidência deve ser levado em consideração
ao interpretar essas medidas. Por exemplo, as estimativas podem ser mais baixas no início
de um surto quando comparadas com a epidemia posteriormente.

Referências:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde [homepage on the Inter-


net]. Brasília: Ministério da Saúde; c2020 [cited 2020 May 11]. COVID-19 Painel Coronavírus.
Available from: https:// covid.saude.gov.br

2. Lipsitch M, Hayden F.G, Cowling .BJ, Leung G.M. How to maintain surveillance for novel
influenza A H1N1 when there are too many cases to count. Lancet. 2009;374(9696):1209-
1211. https://doi.org/10.1016/ S0140-6736(09)61377-5.

Fonte: Pizzichini, Patino e Ferreira (2020, on-line).

47
material complementar

Indicação para Ler

Epidemiologia & Saúde: Fundamento, Métodos, Aplicações


Naomar de Almeida Filho, Maurício L. Barreto
Editora: Guanabara Koogan
Sinopse: o livro foi elaborado com o objetivo de explorar a Epidemiologia median-
te a articulação dos seus aspectos teórico-metodológicos – etapas de produção do
conhecimento sistemático e validado – e tecnológicos – aplicação do conhecimen-
to –, distribuídos em quatro planos: níveis de determinação, etapas do ciclo vital,
grupos de problemas de saúde e aplicações a sistemas de saúde. Desse modo,
busca-se revelar a Epidemiologia como um campo disciplinar próprio, já reconhe-
cido como gerador de conhecimentos e tecnologias capazes de subsidiar avanços
concretos na situação social de saúde.

Indicação para Assistir

Resident Evil - O Hóspede Maldito


Ano: 2002
Sinopse: um terrível vírus é criminosamente solto nas dependências da Umbrella
Corporation, a mais poderosa empresa do mundo, que secretamente desenvolve
pesquisas biológicas. Infectados, seus funcionários são transformados em zumbis,
e Alice é chamada para averiguar os acontecimentos.

48
gabarito

1.
Início de 2019
P = (2.700 casos / 450.000 habitantes) x 100 =
0,06% ou 6 casos por 10.000 habitantes

Final de 2019
P = [(2.700 + 960 – 830) casos / 450.000 habi-
tantes] x 100 = 0,6 ou 6 casos por 10.000 ha-
bitantes.

Incidência (taxa de incidência)


I = [960/(450.000 – 2.700)] x 105 = 214,62 casos
por 100.000 pessoas-ano.
2. B.
3.
Brasil:
CGM = (M÷P) x 1.000
CGM = (966.741 ÷ 208.215.848) x 1.000
CGM = 4,64 por 1.000 habitantes.

EUA:
CGM = (M÷P)x 1.000
CGM = (2.947.464 ÷ 293.652.157) x 1.000
CGM = 10,03 por 1.000 habitantes.
4. C.
5. C.

49
PADRÕES DE ADOECIMENTO
DA POPULAÇÃO

Professora Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Padrões de adoecimento da população
• Atividade física: definições e padrões na população

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os padrões de adoecimento da população e identificar
os indicadores de saúde na transição demográfica e na transição
epidemiológica.
• Discutir sobre os conceitos, definições e apresentar os padrões da
atividade física na população.
unidade

II
INTRODUÇÃO

S
eja bem-vindo ao segundo tópico da nossa jornada acadêmica
sobre a Epidemiologia da Educação Física. Eu espero que você
tenha realmente aprendido o conteúdo que foi trabalhado na
unidade anterior, pois foi a partir dele que construí os tópicos
que abordam este nosso segundo encontro.
Quero que você termine a leitura desta Unidade 2 aprendendo sobre
dois principais conteúdos. O primeiro conteúdo trabalhado será sobre os
padrões de adoecimento da população. Mas como assim Professora, pa-
drões de adoecimento da população? Isso mesmo! Se formos analisar “epi-
demiologicamente”, a população adoece devido a alguns fatores que cha-
maremos aqui de “transições”.
Lendo sobre o conteúdo abordado nesta unidade, você notará que a
população passou (e posso dizer que continua e continuará passando)
por duas transições: a transição demográfica e a transição epidemioló-
gica. Esses dois processos possibilitaram o aparecimento e desenvolvi-
mento de algumas doenças específicas, fazendo com que a população
adoecesse. Além disso, você perceberá que cada uma dessas “transições”
apresenta indicadores de diferentes tipos, os quais nos permitem analisar
precocemente o desenvolvimento de possíveis doenças e agravos à saúde,
incluindo a inatividade física.
Portanto, aqui, também abordarei sobre as definições da atividade fí-
sica e quais são os padrões de prática da atividade física na população. As-
sim, você finaliza a leitura conseguindo identificar as populações que mais
praticam, bem como aquelas que menos praticam atividade física. Tenho
certeza que você terá grandes surpresas ao finalizar este nosso tópico.
Portanto, desejo uma ótima e proveitosa leitura!


Padrões de adoecimento
da população
54
EDUCAÇÃO FÍSICA

PADRÕES DE ADOECIMENTO DA Transição demográfica


POPULAÇÃO
Atualmente, estima-se que a população mundial - que
Na unidade anterior, você teve um breve contato sobre os representa o total de humanos vivendo no planeta Ter-
termos relacionados à transição demográfica e transição ra - chegou a 7,7 bilhões de pessoas. Para atingir esse
epidemiológica. Pois então, agora, para que você consiga número em 200.000 anos, a taxa média de crescimento
entender melhor sobre os padrões de adoecimento da anual deveria ter sido em torno de 0,011% ao ano, ou
população, analisaremos a fundo o que de fato significa seja, 11 seres humanos a mais ao ano a cada 1.000 ha-
e como se deu essas transições. Isso porque, a transição bitantes na terra (BAVEL, 2013). Contudo, sabe-se que
demográfica e epidemiológica está intimamente relacio- essa proporção é incorreta, pois a população cresceu em
nada com os padrões de adoecimento da população. ritmos diferentes ao longo de todo período histórico.
Para iniciarmos, vamos analisar o que significa a Aproximadamente 8 mil anos antes da Era Cristã,
palavra “transição”. Ela vem do latim “transitione” e tem período em que a caça e a agricultura eram a sobrevi-
como significado atos, efeitos ou modos de passar lenta- vência da população, o mundo era composto por cerca
mente de um lugar, estado ou assunto para o outro. Por- de 8 milhões de habitantes (BERQUÓ, 1980). No ano
tanto, esse termo remete à noção de passagem, trajeto ou I d.C., esse número subiu para 300 milhões. Passados
trajetória, sobressaindo a ideia de movimento. 1237 anos, os 300 milhões foram duplicados e, por volta
Quando relacionamos o termo “transição” com a de 1750, a população mundial atingia os 800 milhões de
saúde pública, agrega-se, então, diferentes movimentos habitantes. No início do século 19, o número de 1 bilhão
que percorrem a história da população humana. As- de pessoas foi alcançado pela primeira vez na história.
sim, nesta unidade, será focado sobre o fenômeno nos Posteriormente, o crescimento acelerou e o número
contextos demográfico e epidemiológico, visando apre- de 2 bilhões de pessoas foi superado (1920). Em 1950,
sentar alguns movimentos transicionais ocorridos nas a população chegou a 2.536.431 habitantes. Em 2000,
populações humanas de uma forma geral e também no a população mundial era de 6.085.572 habitantes (um
Brasil, destacando-se os processos conceituados como crescimento de 2,5 vezes em 50 anos), com estimativa
transição demográfica e transição epidemiológica. de um total de 10.875.394 para o ano de 2100 (NAÇÕES
UNIDAS, 2019). A Figura 1 apresenta uma estimativa da
tendência geral de crescimento populacional no mundo
do ano de 1950 ao ano 2100.

55


Descrição da Imagem: A figura 1 apresenta um gráfico sobre o crescimento histórico da população mundial desde o ano de
1950 a 2100. A linha crescente em azul destaca que, em 1950, a população mundial era, em média, de 2,5 bilhões de pessoas,
aumentando no ano de 1975 para, aproximadamente, 4 bilhões. No ano de 2000, o mundo era habitado por cerca de 6 bilhões
de pessoas. A expectativa é que em 2025 a população ultrapasse 8 bilhões de habitantes e inicie uma tendência a estagnação
de crescimento populacional, mantendo-se por volta de 11 bilhões de pessoas ao final da curva (ano de 2110).

POPULAÇÃO TOTAL
13

12

11
Medium variant
POPULAÇÃO TOTAL (BILHÕES)

5 Intervalo de previsão de 95%

1950 1975 2000 2025 2050 2075 2100


Ano

Figura 1 - Crescimento histórico da população mundial desde o ano de 1950


Fonte: adaptado das Nações Unidas (2019)

Apesar do aparente crescimento populacional gradativo desde do ano I d.C., é importante frisar
que foi a partir do século XVIII que ocorreu um incremento acelerado na população mundial, em
um ritmo e dimensão diversos de todas as épocas históricas anteriores. Isso porque, nesse período
de universalização do capitalismo industrial, ocorreu o desenvolvimento das forças produtivas que
foi desencadeada pelo advento do capitalismo industrial, e o modelo de sociedade por ele gerado.
Esse processo possibilitou o crescimento da população e da riqueza, o desenvolvimento da ciência
moderna e da técnica, com um maior domínio sobre a natureza, incluindo as doenças, epidemias e
a própria fecundidade humana, ocasionando transformações culturais profundas nas sociedades,
refletindo sobre a natalidade, a mortalidade e o ritmo de crescimento populacional.

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

O surgimento da teoria da transição demográfica se deu no século XX, com base nas modifica-
ções observadas no continente europeu. Procurava relacionar as transformações demográficas, par-
ticularmente os coeficientes de natalidade e mortalidade, com o processo de industrialização. Assim,
em diversas etapas do desenvolvimento da sociedade pré e pós-industrial, poderiam ser identifica-
dos particulares comportamentos da mortalidade e natalidade, com reflexos no tamanho e compo-
sição da população. Foram identificados três períodos principais nesse processo de transição clássico
(Figura 2), que tomou a industrialização como ponto de referência (MEDRONHO, 2009):

Descrição da Imagem: A Figura 2 apresenta três imagens distintas que caracterizam os três períodos principais do processo
de transição. Na primeira imagem, o desenho demonstra um crescimento populacional lento, contendo um máximo de 3 pes-
soas, caracterizando a fase pré-industrial. Na segunda imagem, o desenho é composto por várias pessoas, demonstrando um
crescimento populacional intenso, característica da fase de industrialização. O último desenho é composto por grupos distintos
com a mesma quantidade de pessoas, o que demonstra um crescimento populacional estável ou regressivo. Esse fato é uma
característica da fase da consolidação da sociedade industrial.

FASE PRÉ-INDUSTRIAL
Crescimento populacional lento

FASE DE INDUSTRIALIZAÇÃO
Crescimento populacional intenso

FASE DA CONSOLIDAÇÃO DA SOCIEDADE INDUSTRIAL


Crescimento populacional estável ou regressivo

Figura 2 - Fases de transição populacional durante o período de industrialização / Fonte: a autora

57


A teoria da transição demográfica foi considerada como passagem de um contexto populacional onde prevale-
um modelo, o qual possibilitou a explicação das diver- cem altos coeficientes de natalidade e mortalidade ou
sas mudanças demográficas no decorrer da história. onde esses coeficientes alcançam valores extremamente
Isso porque observou-se que as altas taxas de fecundi- reduzidos (MEDRONHO, 2009).
dade mundial eram encontradas nas populações rurais, Você notou que apresentei, anteriormente, três fases
não industriais, em que o número elevado de filhos se que caracterizaram as mudanças populacionais durante
associava a uma maior mão de obra. Contrariamente, o processo de industrialização. Entretanto, esquemati-
era encontrado, neste mesmo cenário, taxas elevadas de camente, para Thompson (1929), o modelo da transição
mortalidade, ou seja, quanto maior a industrialização e demográfica demonstra que uma sociedade passa, em
a urbanização, menores eram as taxas de fecundidade. termos demográficos, por quatro fases ou estágios, antes
Então, nesta passagem de contextos populacionais, foi de se postular como uma sociedade pós industrial. Preste
conceituado a transição demográfica. Portanto, o con- atenção na figura 3, a seguir, que você irá entender como
ceito da transição demográfica é caracterizado como a funcionou essas fases.

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: A Figura 3 é composta por uma pirâmide invertida, iniciando pela fase 1. A fase 1 é típica das sociedades pré-industriais. Esta
fase caracteriza-se por coeficientes de natalidade e mortalidade (principalmente a mortalidade infantil) muito altos, acarretando em um crescimento
populacional lento. Perpetuou desde as origens da humanidade até meados do século XVIII, período da Revolução Industrial e de suas transforma-
ções. A fase 2 é própria dos países em processo de industrialização, esta fase é conhecida como intermediária. O coeficiente de mortalidade reduz
drasticamente, porém o coeficiente de natalidade continua elevado, gerando aumento populacional. Logo abaixo da fase 2 na pirâmide, encontra-se
a fase 3. Nesta, o coeficiente de natalidade começa a decair, conjuntamente com o decréscimo do coeficiente da mortalidade iniciada na fase 2.
Portanto, o crescimento demográfico aqui continua sendo alto. A característica mais importante é o envelhecimento populacional. Por fim, a última
fase - 4 - ao final da pirâmide invertida, é caracterizada pelas sociedades pós-industriais. Também conhecida como fase da modernidade ou fase da
pós-transição, aqui, encontra-se os coeficientes de natalidade e mortalidade reduzidos e consequentemente o crescimento populacional volta a entrar
em equilíbrio. A estabilização é representada pela aproximação dos níveis de fecundidade com os de reposição, gerando aumento da expectativa
de vida e envelhecimento da população geral, principalmente devido a participação das mulheres.

Figura 3 - Fases da transição demográfica / Fonte: adaptada de Medronho (2009).

59


Indicadores de Transição demográfica CONCEITUANDO

Neste tópico, veremos sobre alguns dos indicadores que Entende-se por crescimento vegetativo a di-
ilustram o processo de transição demográfica no Brasil. ferença entre os coeficientes de natalidade e
Digo no Brasil porque cada localidade apresenta uma de mortalidade em um determinado período.
Portanto, refere-se ao crescimento popula-
determinada transição demográfica e, portanto, indi- cional em um território com base no número
cadores específicos para a caracterização. Os principais de pessoas que nasceram em um período es-
indicadores relacionados à transição demográfica no pecífico em comparação com o número de
falecimentos. Isso indica a expansão natural
Brasil são: os coeficientes de fecundidade, natalidade, da população em um dado local. Identificar o
mortalidade geral e infantil, a taxa de crescimento po- crescimento vegetativo de uma população é
pulacional e os indicadores relacionados ao envelheci- importante, pois possibilita verificar a capa-
cidade desta população de se manter está-
mento da população - esperança de vida ao nascer, idade vel, expandir-se ou reduzir, numericamente.
mediana e estrutura por idade e sexo. Na Europa, por exemplo, as baixas taxas de
A fecundidade indica o desempenho reprodutivo crescimento vegetativo e as elevadas taxas de
migração permeiam previsões relacionadas às
efetivo de um grupo de mulheres que já completaram mudanças no perfil étnico da população futura.
o período reprodutivo (período compreendido entre 15
e 49 anos completos), em uma determinada população,
referindo-se ao número médio de filhos por mulher, ou A mortalidade geral é caracterizada pela probabilidade de
seja, é uma estimativa do número médio de filhos que morrer em uma certa população. O coeficiente é calcu-
uma mulher teria até os 49 anos completos (CAVENA- lado por meio da divisão do número total de óbitos pela
GHI; CABELLA, 2014). mesma população. Em geral, também é expresso na base
A natalidade, conjuntamente com a mortalidade, 1.000. O coeficiente de mortalidade infantil indica a pro-
determina o crescimento vegetativo de uma popula- babilidade de morrer antes de completar um ano de vida.
ção. Ela indica a relação entre o número de nascimen- O cálculo se dá pela divisão do número de óbitos em me-
tos com referência à população total. Portanto, o coefi- nores de um ano pelos nascidos vivos da mesma popula-
ciente geral da natalidade representa a frequência com ção e período. Em geral, também é expresso na base 1.000.
que ocorrem os nascimentos em uma determinada po- A taxa de crescimento populacional é determinada
pulação. O cálculo é a divisão do número de nascidos pelo percentual de aumento médio anual da população
vivos de um determinado período e local, pela popula- residente em uma localidade e período. Assim, é impor-
ção específica deste mesmo local e período. Em geral, é tante frisar que a taxa de crescimento é influenciada di-
expresso na base 1.000. retamente pela dinâmica da natalidade e da mortalidade.

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

O conceito do envelhecimento demográfico ou en- co nos grandes centros da economia mundial (ARAÚ-
velhecimento da população é o acúmulo progressivo JO, 2012). Essas mudanças aconteceram devido a dois
de maiores contingentes populacionais nas faixas etá- principais fatores. O primeiro fator condicionante foram
rias mais avançadas. Assim, pode-se caracterizar pela as alterações associadas à estrutura etária da população,
queda da fecundidade, a qual levaria a uma diminuição ocasionadas durante o processo de transição demográ-
gradativa das faixas etárias mais jovens e consequente fica, conforme visto anteriormente. O segundo fator se
envelhecimento populacional, especialmente associada deu pelas alterações de longa duração nos padrões de
a baixos níveis de mortalidade. morbidade e mortalidade, ocorrendo assim a substitui-
A idade mediana é literalmente a idade que separa a ção gradual das doenças infecciosas e parasitárias e das
distribuição etária em dois blocos de 50% cada. A espe- deficiências nutricionais pelas doenças crônico-degene-
rança de vida ao nascer destina-se ao número médio de rativas e aquelas relacionadas a causas externas, como
anos de vida esperados para um recém-nascido, manti- vimos na Unidade I.
do o padrão de mortalidade existente na população em Assim, a transição epidemiológica pode ser carac-
questão, em determinado período e espaço geográfico terizada como as mudanças ocorridas no tempo nos
(BRASIL, 2008). As pirâmides populacionais são resul- padrões de mortalidade e morbidade da população em
tado da observação de uma população com relação à questão que, geralmente, ocorrem concomitantemente
idade e ao sexo. Essas pirâmides etárias sofrem estrei- com transformações demográficas, sociais e econômi-
tamento de base com relação à densidade de população cas (OMRAM, 2001). A passagem desse processo acopla
jovem ou idosa (MARTINS et al., 2018). três mudanças básicas: a substituição das doenças para-
sitárias e infecciosas para as doenças crônico-degenera-
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA tivas, o deslocamento da carga de morbi-mortalidade
de grupos mais jovens para grupos mais idosos e a mu-
Devido ao desenvolvimento industrial, por volta de 1950 dança do predomínio da mortalidade para a morbidade
iniciaram grandes modificações no perfil epidemiológi- (SCHRAMM et al., 2004).

TRANSIÇÃO
EPIDEMIOLÓGICA

61


Considerando as mudanças básicas vinculadas à grandes pandemias e epidemias, havendo uma melhoria
transição epidemiológica citadas, Lerner (1973) afirma do padrão de vida, com um aumento da esperança de
que o conceito ou a definição da transição epidemioló- vida para 40 a 50 anos de idade. Isso porque ocorreu um
gica deve ser amplo, como transição da saúde, que inclui decréscimo constante dos coeficientes de mortalidade.
elementos das concepções e comportamentos sociais, o Na “Era das Doenças Degenerativas e das Provoca-
que corresponde aos aspectos básicos da saúde nas di- das pelo Homem” houve uma redução ou estabilização
ferentes populações. Para Schramm et al. (2004), enten- da mortalidade em níveis baixos, devido à queda relativa
de-se como transição epidemiológica as transformações da importância das doenças infecciosas e parasitárias, e
nos padrões de morbidade, mortalidade e invalidez, as também pelo fato das doenças crônico-degenerativas e
quais caracterizam uma população específica e ocorrem as causas externas se tornarem cada vez mais frequentes.
conjuntamente com outras transformações, sociais, de- Nesse período, houve a descoberta dos agentes etioló-
mográficas e econômicas. gicos, antibióticos e vacinas. Além disso, ocorreu uma
A teoria da transição epidemiológica foi proposta acentuada queda da fecundidade, proporcionando o
por Abdel Omran no ano de 1971. Ele apresentou pos- aumento da expectativa de vida, a qual ultrapassou os
síveis respostas às importantes e complexas mudanças 50 anos de idade, tendendo com o tempo para idades
na saúde das populações nos países industrializados em acima dos 70 anos. Essa Era se estendeu da Revolução
diferentes períodos históricos, partindo da premissa de Industrial até o período contemporâneo.
que as sociedades apresentavam mudanças regulares no As melhorias nas condições de vida se iniciaram
perfil de mortalidade e no padrão de doenças. durante o decorrer do século XX, devido basicamente à
Omran (1971) propôs três grandes eras para a tran- ampliação das ações de saneamento urbano, a melhoria
sição epidemiológica, as quais resumem, de certa forma, nas condições de nutrição, o desenvolvimento de novas
a transição demográfica durante o período da industria- tecnologias direcionadas à saúde e o aumento do grau
lização: a “Era da Pestilência e da Fome”, a “Era do Declí- de escolaridade. Contudo, é necessário afirmar que os
nio das Pandemias” e a “Era das Doenças Degenerativas padrões de saúde não obedecem aos mesmos parâme-
e das Provocadas pelo Homem”. tros em diferentes regiões.
A “Era da Pestilência e da Fome” foi caracterizada A transição epidemiológica no Brasil não segue o
por uma mortalidade elevada, predominando a desnu- mesmo modelo dos países industrializados e grandes
trição, as doenças infecciosas e parasitárias. Nesta Era centros do capitalismo, porque a substituição das doen-
que se estendeu até o final da Idade Média, a fecundida- ças infecciosas e parasitárias por doenças crônico-de-
de era alta e os coeficientes de natalidade apresentavam generativas foi (e continua sendo) diferente. Observa-
níveis moderados ou elevados, levando a uma expectati- -se uma transição prolongada e polarizada, de doenças
va de vida abaixo dos 30 anos de idade. infecciosas e parasitárias juntamente com o aumento
A “Era do Declínio das Pandemias” iniciou-se no das doenças crônico-degenerativas e causas externas. A
período da Renascença e se estendeu até o início da reintrodução de processos infecciosos, como a cólera, a
Revolução Industrial. Apesar das doenças infecciosas e malária, a tuberculose e a dengue, mostra uma nature-
parasitárias continuarem a ser uma das principais cau- za que não segue uma direção constante. Entre os anos
sas de morte, observa-se uma redução progressiva das de 2010 e 2017 foram notificados 10.578.337 casos de

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

adoecimento por doenças infecciosas e parasitárias, cor- íses. Assim, para Medronho (2009), alguns indicadores
respondendo a uma taxa bruta de 5.218,72 casos por podem responder à transição-popularização epidemio-
100.000 habitantes. A dengue foi responsável por quase lógica especificamente no Brasil:
70% dos adoecimentos (SOUZA, 2020).
Além disso, novas doenças continuam a surgir de for-
ma sem precedentes, como a COVID-19 - doença respi-
ratória aguda causada pelo coronavírus da síndrome res-
piratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), em que teve seu
primeiro caso reportado em 31 de dezembro de 2019 (OR-
GANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2019).
O Brasil é um exemplo a ser dado para esse processo
de polarização epidemiológica, segundo Araújo (2012),
porque há uma certa equivalência nas altas taxas de in-
cidências de doenças infecciosas e parasitárias e as altas
taxas de morbidade e mortalidade por doenças crôni-
co-degenerativas e os constantes níveis diferentes de
grupos sociais. Apesar do declínio da morbimortalidade
desde a década de 60, as doenças infecciosas e parasitá-
rias ainda persistem (WHO, 2017).
O fato se apresenta como um indicador indireto de
que as doenças infecciosas e parasitárias continuam a
apresentar um papel relevante em termos de morbidade,
evidenciando a persistência de uma situação de polari-
zação epidemiológica no país. Diferentes aspectos estão
associados a esse contexto. Discrepâncias econômicas e
sociais, processo migratório para grandes cidades e pro-
blemas ambientais são alguns dos exemplos (SOUZA,
2020). Todo esse processo, bem como a maneira heterogê-
nea como ele vem ocorrendo nas diversas regiões do país,
decorrente das desigualdades sociais e econômicas, tor-
na-se um grande e complexo desafio para a saúde pública.

Indicadores da Transição Epidemiológica no


Brasil

Como dito no tópico passado, a transição epidemiológi-


ca aconteceu (e acontece) de maneira diferente nos pa-

63


Descrição da Imagem: A imagem da figura 4 apresenta os exemplos de seis indicadores da transição-polarização epidemiológica no Brasil, segundo
Medronho (2009). Os seis indicadores estão divididos em três linhas, duas colunas e em pares. Começando da esquerda para a direita, é apresentado
a transição da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias para outros agravos e ao lado a Era das persistências - predominância das doenças
infecciosas e parasitárias. Abaixo segue o perfil das causas de internação e as doenças infecciosas persistentes, emergentes e reemergentes. Por
último, finalizamos com a transição nutricional e a transição desigual.

Transição da
mortalidade por Era das Persistências -
doenças infecciosas Predominância das
e parasitárias para doenças infecciosas
outros agravos e parasitárias

Doenças infecciosas
Perfil das
persistentes,
causas de
emergentes e
internação
reemergentes

Transição Transição
nutricional desigual

Figura 4 - Exemplos de indicadores da transição-polarização epidemiológica no Brasil, segundo Medronho (2009) / Fonte: a autora.

A caracterização da “Era das pestilências - Predominância leishmaniose e doença de Chagas (descoberta em 1909).
das doenças Infecciosas e Parasitárias” é equivalente a “Era A mortalidade proporcional por causas, pela dispo-
da Pestilência e da Fome” defendida por Omram (1971). nibilidade de uma longa série histórica de dados desde
Nesse período, prevaleciam-se, principalmente, a febre a década de 30, representa um dos indicadores que me-
amarela e doenças como a malária, ancilostomose, tu- lhor evidenciam as mudanças dos contextos epidemio-
berculose, hanseníase, tracoma, esquistossomose, cólera, lógicos brasileiros. Esse indicador está representado na

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4 como “Transição da mortalidade por doenças O perfil das causas de internação é outro indicador
infecciosas e parasitárias para outros agravos”. Nessa que pode ser utilizado para ilustrar o processo de tran-
transição, destaca-se a tendência da redução da morta- sição epidemiológica do Brasil. De certa forma, a des-
lidade por doenças infecciosas e parasitárias, com o au- crição das principais causas de internação confirmam,
mento correspondente das doenças crônico-degenerati- em termos de morbidade, as evidências apresentadas em
vas e das causas externas, como acidentes e violências. relação ao perfil de mortalidade.

Descrição da Imagem: A Figura 5 apresenta graficamente a proporção das internações segundo cinco grupos de causas no Brasil, no período de
maio de 2020. As cinco causas são representadas no gráfico por barras horizontais de cores distintas. A cor azul escuro representa as causas exter-
nas de internação. A cor amarela representa as doenças do aparelho respiratório. A cinza é caracterizada pelas doenças do aparelho circulatório.
As internações devido a doenças infecciosas e parasitárias está destacada na cor azul claro. A cor laranja expressa as neoplasias (tumores). Assim,
percebe-se graficamente que as causas externas é a maior causa de internação em comparação com as outras, seguido das doenças infecciosas
e parasitárias e após as doenças do aparelho circulatório. Em quarto lugar das maiores causas de internação no Brasil em maio de 2020, foram as
neoplasias (tumores). Por fim, as que menos causaram internação foram as doenças do aparelho respiratório.

Figura 5 - Proporção das internações segundo cinco grupos de causas no Brasil, no período de maio de 2020
Fonte: a autora

A Figura 5 mostra o grupo das cinco principais causas de contramos as doenças infecciosas e parasitárias seguidas
internação no período de maio de 2020 (último período das doenças do aparelho circulatório. Em quarto lugar,
disponível pelo DATASUS), no Brasil. Observa-se que as observa-se as neoplasias e, por fim, o gráfico apresenta as
doenças por causas externas representaram o primeiro doenças do aparelho respiratório como a quinta posição
grupo de causas de internações. Em segundo lugar, en- do perfil das causas de internações hospitalares no Brasil.

65


No sentido de orientar as ações de controle, o Mi- saúde no país, a diferença dessas tendências propicia a
nistério da Saúde classificou as doenças infecciosas e persistência ou, até mesmo, a ampliação das desigualda-
parasitárias em três grupos: as doenças com tendência des regionais. Esse fato representa o indicador intitulado
decrescente, as com quadro de persistência, as emergen- como “Transição desigual”, da Figura 4.
tes e reemergentes, representando o indicador “doenças A polarização epidemiológica geográfica e a per-
infecciosas persistentes, emergentes e reemergentes no sistência das desigualdades demonstram-se evidentes
Brasil”, constante na Figura 4. quando analisamos a mortalidade proporcional por
As doenças com tendência decrescente são aquelas causas nas diferentes regiões do Brasil (Figura 6). Assim,
que apresentam reduções drásticas nos coeficientes de em 2018, as regiões mais ricas e desenvolvidas do Brasil
incidência, como as doenças imunopreveníveis - varí- apresentaram a maior participação no grupo de óbitos
ola, poliomielite, sarampo, raiva, tétano, rubéola, entre devidos a doenças do aparelho circulatório e neoplasias,
outras. Essas doenças foram controladas pelo Programa consideradas as doenças da modernidade (região Su-
Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973. deste - doenças do aparelho circulatório: 27,91%; região
Entre as doenças caracterizadas com tendência Sul - neoplasias: 21,19%).
de persistência incluem-se a malária, a tuberculose, as Nas regiões mais pobres, como o Norte, as doenças
leishmanioses visceral e tegumentar, a esquistossomose, do aparelho circulatório e as neoplasias foram relati-
a doença de Chagas, a febre amarela silvestre e as hepati- vamente menores (respectivamente 22,84% e 13,80%).
tes virais (B e C), dentre outras. Algumas dessas doenças No Nordeste, a prevalência das doenças do aparelho
ainda apresentam níveis elevados de incidência. circulatório foi muito similar às regiões mais ricas
No caso das doenças emergentes e reemergentes, a (27,26%). Contudo, para as neoplasias, a taxa foi signi-
partir do início da década de 80, algumas doenças infec- ficativamente menor (14,67%) quando comparadas às
ciosas e parasitárias passaram a ser registradas ou foram regiões mais desenvolvidas.
reintroduzidas no país, como o caso da Aids, em 1980, e A região Centro-oeste apresentou uma tendência
da dengue, em 1982. de mortalidade semelhante à da região Nordeste, com
O Brasil apresenta uma situação contraditória con- maiores prevalências de mortalidade para doenças do
siderando a existência de indicadores econômicos em aparelho circulatório (26,65%), neoplasias (17,09%),
níveis incompatíveis com os dos seus indicadores so- causas externas de morbidade e mortalidade (14,79%)
ciais, incluindo-se os de saúde, por exemplo, os coefi- e doenças do aparelho respiratório (11,23%), respecti-
cientes de mortalidade infantil e a expectativa de vida vamente. A região em que a mortalidade por causas ex-
ao nascer (MEDRONHO, 2009). Mesmo observando ternas de morbidade e mortalidade se apresentou mais
uma tendência de melhoria de alguns indicadores de elevado foi a região Norte (18,23%).

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: A Figura 6 descreve a mortalidade proporcional por quatro causas de óbitos nas regiões do Brasil, em 2018. As causas de
óbito estão distribuídas em colunas de acordo com a região brasileira, representadas da esquerda para a direita pela região norte, região nordeste,
sudeste, sul e, por último, a centro-oeste. As doenças do aparelho circulatório estão representadas pela cor verde claro. As neoplasias estão repre-
sentadas pela cor laranja. A cor azul escuro caracteriza os óbitos por causas externas de morbidade e mortalidade. Por fim, as doenças do aparelho
respiratório são apresentadas em verde escuro. O gráfico demonstra que em todas as regiões (norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste), a maior
prevalência de óbitos foi devido às doenças do aparelho circulatório, representando 22,84% das mortes na região norte; 27,26% na região nordeste;
27,91% na região sudeste; 26,81% na região sul; e 26,65% na região centro-oeste. Quando analisamos separadamente as regiões, a segunda maior
causa de mortes na região norte foi devido às causas externas de morbidade e mortalidade (18,23%). A terceira maior causa foi pelas neoplasias
(13,80%), seguido das doenças do aparelho respiratório (10,25%). Na região Nordeste, a segunda maior prevalência de morte foi devido às neoplasias
(14,67%), seguido das causas externas de morbidade e mortalidade (14,30%) e das doenças do aparelho respiratório (10,47%). Na região Sudeste, a
segunda maior causa de óbitos foi pelas neoplasias (tumores), representando 18,02%. Em terceiro lugar, tem-se as doenças do aparelho respiratório
(12,76%) e, por fim, as causas externas de morbidade e mortalidade (8,81%). A região Sul foi semelhante à região Sudeste, tendo a segunda, terceira
e quarta causas de óbitos as neoplasias (tumores) (21,19%), as doenças do aparelho respiratório (12,00%) e as causas externas de morbidade e
mortalidade (10,19%), respectivamente. Por fim, em segundo lugar morreram mais pessoas devido às neoplasias na região centro-oeste (17,09%),
seguido das causas externas de morbidade e mortalidade (14,79%) e das doenças do aparelho respiratório (11,23%).

Figura 6 - Mortalidade proporcional por quatro causas de óbitos nas regiões do Brasil, 2018 / Fonte: a autora.

67


A transição nutricional pode ser definida como um fe- alimentos industrializados e, até mesmo, a realização
nômeno caracterizado por grandes modificações no das refeições fora do lar, em restaurantes, pensões e fas-
padrão de nutrição e consumo da população devido às t-foods (MENDONÇA; ANJOS, 2004), provocando o
modificações da ingestão alimentar, como consequência aumento do consumo de alimentos ricos em calorias,
de mudanças econômicas, sociais e demográficas (OR- como açúcares e ácidos graxos e, em contrapartida, uma
GANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2000). redução nas frutas, verduras e legumes.
No Brasil, principalmente nos últimos 50 anos, ocorre- Concomitantemente às mudanças nos padrões ali-
ram inúmeras alterações na qualidade e na quantidade mentares, observou-se drástica redução do nível de ati-
dos alimentos, juntamente com mudanças no estilo de vidade física. Muitos fatores podem explicar este fato,
vida. Isso porque inverteram-se as ocupações demográ- como a distribuição das ocupações setoriais (agricultura
ficas do espaço físico. De uma população basicamente para indústria), o aumento do número de trabalhos com
rural, em torno de 66%, passamos à condição de um país redução do esforço físico ocupacional devido ao desen-
urbano, com mais de 80% das pessoas habitando as cida- volvimento tecnológico, modificações nas atividades de
des (PATARRA, 2000). lazer, priorizando atividades com comportamento se-
A inserção da mulher no mercado de trabalho, prin- dentário (videogame, computador, celular e televisão).
cipalmente na década de 70, foi outro fator que influen- Como consequência, ocorreram alterações no padrão
ciou a transição nutricional. Perde-se a figura da mulher alimentar da população e diminuição excessiva na prá-
“dona do lar”, “cuidadora” e a “responsável” pelos afazeres tica de atividades físicas, ocasionando a transição nutri-
domésticos. Isso pode ser considerado como um dos cional, ou seja, alterações no perfil de saúde da popula-
fatores que transformaram a qualidade da alimentação, ção brasileira, trazendo consigo elevadas prevalências de
considerando que a mulher não dispõe de tanto tempo sobrepeso e obesidade (COUTINHO et al., 2008).
para preparar as refeições com qualidade, optando por

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

Atividade física: definições


e padrões na população

69


CONTEXTUALIZANDO A ATIVIDADE a.C. que estabeleceram uma tradição de manutenção de


FÍSICA uma saúde, digamos que positiva, por meio do que eles
chamavam de “regime”, que seria a combinação de uma
A atividade física está ligada à saúde e à longevidade, alimentação saúde com a prática regular de exercícios
desde os tempos mais antigos. Os primeiros registros físicos (HARDMAN; STENSEL, 2009).
de exercícios programados realizados com o objeti- A definição da atividade física caracteriza-se como
vo de promoção da saúde foram encontrados na Chi- qualquer tipo de movimento corporal produzido pelos
na, por volta de 2.500 a.C. Contudo, foram os médicos músculos, resultando num dispêndio energético maior
gregos do final do quinto e do início do quarto século que os registrados durante o repouso (CASPERSEN;

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

POWELL; CHRISTERSO, 1985). Incluem-se atividades todo o mundo, juntamente com o Centro de Prevenção
da vida diária (banhar-se, vestir-se), atividades realiza- de Doenças (CDC) e outros órgãos americanos, emiti-
das no trabalho (andar, levantar, carregar objetos) e ati- ram publicações que marcaram a história da atividade
vidades de lazer (exercitar-se, praticar esportes, dançar). física e saúde. O objetivo principal desses relatórios foi
As atividades podem ser classificadas de acordo esclarecer para os profissionais da saúde e para o público
com a intensidade: leve (até 2,9 METS), moderada (3- em geral sobre a quantidade e intensidade da atividade
5,9 METS) e vigorosa (≥ 6METS) (AINSWORTH et al., física necessária para aprimorar a saúde, diminuir as
2000). É possível também analisar o comportamento chances de desenvolvimento de morbidades e diminuir
relacionado à atividade física em função dos domínios a mortalidade precoce (PATE et al., 1995). Além disso,
que ela apresenta: lazer (tempo livre), trabalho (ocupa- esses documentos relataram sobre a relação dose-res-
cional), afazeres domésticos e deslocamento (transporte posta entre atividade física e saúde.
a pé ou de bicicleta). Em 1995, Colégio Americano de Medicina do Es-
As formas mais comuns de atividade física do ser porte e o Centro de Prevenção de Doenças apresen-
humano podem ser divididas em atividades de trabalho taram as recomendações em que enfatizava que todo
e atividades de lazer (NAHAS, 1997). Esta distinção auxi- adulto norte-americano deveria acumular 30 minutos
lia no aprimoramento dos estudos epidemiológicos, pelo ou mais de atividade física moderada, preferencialmen-
fato que as evidências sugerem diferentes formas de ativi- te todos os dias da semana (PATE et al., 1995). O ob-
dade física associadas a diferentes aspectos da saúde. jetivo da recomendação foi aumentar a conscientização
pública sobre a importância dos benefícios relacionados
EXPLORANDO IDEIAS à saúde da atividade física de intensidade moderada. De
lá pra cá, algumas atualizações foram realizadas, especi-
A sigla MET vem do inglês “metabolic equivalent ficando ainda mais as recomendações.
intensity level”, ou simplesmente, equivalente Atualmente, as recomendações do Colégio Ame-
metabólico. Essa unidade mede a intensidade ricano de Medicina do Esporte direciona que todos os
em múltiplos da taxa metabólica de repouso,
representado pelo consumo máximo de oxigê- adultos saudáveis, com idade entre 18 e 65 anos, devem
nio (VO2) de, aproximadamente, 3,5 ml/kg/min. realizar atividades físicas aeróbicas de intensidade mo-
Portanto, representa o número de vezes pelo derada, por pelo menos 30 minutos, com frequência mí-
qual o metabolismo de repouso foi multiplicado
durante uma atividade. Por exemplo, tarefas nima de cinco dias na semana, ou atividades aeróbicas
domésticas leves exigem cerca de 2,5 METs; de intensidade vigorosa por no mínimo 20 minutos três
uma caminhada muito rápida (a 6,4 km/h) exige vezes por semana. Além disso, todo adulto deve realizar
cerca de 4 METs.
atividades específicas para o fortalecimento muscu-
Fonte: adaptado de Ainsworth et al. (2000). lar, com exercícios de força e resistência por, no míni-
mo, dois dias na semana (AMERICAN COLLEGE OF
SPORTS MEDICINE, 2018).
Há mais de 20 anos, o Colégio Americano de Medici- As recomendações globais da prática de atividade
na do Esporte (American College of Sports Medicine - física também foram documentadas pela Organização
ACSM) - uma das diretrizes amplamente adotadas em Mundial da Saúde e são adotadas por diversos países. O

71


órgão orienta que adultos (18 a 64 anos) pratiquem pelo menos 150 minutos por semana
de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos por semana de atividade física
de intensidade vigorosa, em sessões de pelo menos 10 minutos de duração (WHO, 2010).
Independentemete do cumprimento de uma recomendação ou outra, os benefícios
da prática regular de atividade física estão muito bem evidenciados na literatura e incluem
menor risco de complicações cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes e diferentes
tipos de câncer. Além disso, a atividade física tem efeitos positivos sobre a saúde mental
e auxilia na manutenção de um peso corporal saudável (INTERNATIONAL SOCIETY
FOR PHYSICAL ACTIVITY AND HEALTH, 2017).

PADRÕES DE ATIVIDADE FÍSICA DA POPULAÇÃO

Apesar da extensa literatura sobre os inúmeros benefícios da prática regular de ativida-


de física, uma em cada quatro pessoas no mundo não pratica atividade física suficiente
(GUTHOLD et al., 2018).
Esse fato é preocupante, pois segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO,
2010), a inatividade física está associada fortemente com os índices de mortalidade
precoce. Além disso, ela é considerada o quarto maior fator de risco para a mortalida-
de prematura por todas as causas e pode ser responsável por 7% de diabetes do tipo 2;
6% da carga de doença cardíaca coronária; 10% de câncer de mama; e 10% de câncer
de cólon. No mais, se a inatividade física diminuísse em cerca de 25%, mais de 1,3 mi-
lhão de mortes prematuras poderiam ser evitadas por ano em todo o mundo (WHO,
2010) (Figura 7).

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: Na figura 7 consta uma ilustração de uma mulher grávida e contém os dados sobre a inatividade física. A informação des-
creve que a inatividade física é considerada o quarto maior fator de risco para a mortalidade prematura por todas as causas e pode ser responsável
por 7% de diabetes do tipo 2; 6% da carga de doença cardíaca coronária; 10% de câncer de mama; e 10% de câncer de cólon. Se a inatividade física
diminuísse em cerca de 25%, mais de 1,3 milhão de mortes prematuras poderiam ser evitadas por ano em todo o mundo (WHO, 2010).

A INATIVIDADE FÍSICA É CONSIDERADA O 4º MAIOR


FATOR DE RISCO PARA A MORTALIDADE PREMATURA
E pode ser responsável por:
7% de diabetes do tipo 2
6% da carga de doença cardíaca coronária
10% de cãncer de mama
10% de cãncer de cólon
No mais, se a inatividade física diminuísse em cerca
de 25%, mais de 1,3 milhão de mortes prematuras
poderiam ser evitadas por ano em todo o mundo
(WHO, 2010).

Figura 7 - Inatividade física é o quarto maior fator de risco para a mortalidade prematura

A prevalência da inatividade física varia consideravel- pé para carro), aumento do uso de tecnologia (televisão,
mente a depender da localidade. Em alguns países, os ní- vídeo game, computador e celular) e urbanização.
veis de atividade física podem ser influenciados por va- Os pesquisadores da Organização Mundial da Saú-
lores culturais, sendo que, em algumas regiões, meninas, de realizaram estudo de impacto global sobre os níveis
mulheres, idosos, grupos desfavorecidos, pessoas com da prática de atividade física de 168 países, represen-
deficiência ou doenças crônicas apresentam menores tando 96% da população mundial. Essa pesquisa nos
oportunidades de acesso aos programas e lugares para possibilita o embasamento sobre os padrões da ativi-
a prática de atividade física (WHO, 2018). Além disso, dade física em toda a população (GUTHOLD et al.,
estimativas afirmam que os níveis de atividade física po- 2018). O estudo é o primeiro a apresentar as tendências
dem chegar a 70% em alguns países (GUTHOLD et al., da prática insuficiente de atividade física, de acordo
2018), devido à mudança dos padrões de transporte (a com as regiões globais.

73


Analisando dados da inatividade física global de 2001 a 2016, observa-se uma diminuição insigni-
ficante da prática insuficiente de atividade física no mundo todo. A prevalência global de inatividade
física, em 2001, era de 28,5%. No ano de 2016, houve diminuição de apenas um ponto percentual
(27,5%) (GUTHOLD et al., 2018), conforme demonstrado na Tabela 1.

Descrição da Imagem: A Tabela 1 apresenta a prevalência da atividade física praticada de forma insuficiente no ano de 2016
em países de todo o mundo. Esta tabela está distribuída em quatro colunas e 10 linhas. A primeira coluna, da esquerda para a
direita, encontra-se os países do estudo, sendo distribuída como: total dos países; Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África;
Europa Central e Oriental; Leste e Sudeste da Ásia; Ásia-Pacífico de renda alta; Países Ocidentais de renda alta/América Latina e
Caribe; Oceania; Sul da Ásia; e África Subsaariana. Na segunda coluna, apresenta-se o percentual total de indivíduos insuficien-
temente ativos. A terceira coluna é destacada pelo percentual de homens insuficientemente ativos e a última coluna tem-se o
percentual de mulheres insuficientemente ativas. Assim, a tabela demonstra que do total de países, 27,5% dos indivíduos são
insuficientemente ativos. Quando estratificado por sexo, 23,4% dos homens e 31,7% das mulheres são insuficientemente ativos.
Quando analisamos a Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África, 32,8% da população total são insuficientemente ativos,
sendo que 25,9% dos homens e 39,9% das mulheres não praticam atividade física suficiente. Para a Europa Central e Oriental,
23,4% da população não pratica atividade física de forma suficiente. Quando estratificado por sexo, 22,0% dos homens e 24,7%
das mulheres são insuficientemente ativos, respectivamente. No Leste e Sudeste da Ásia, a proporção total de insuficientemente
ativos é de 17,3%, sendo 17,6% dos homens e 16,9% das mulheres. Na região da Ásia-Pacífico de renda exclusivamente alta,
35,7%, 33,0% e 38,3% da população total, dos homens e das mulheres, são insuficientemente ativos, respectivamente. Cerca
de 36,8% da população dos Países Ocidentais de renda alta não praticam suficientemente atividade física, sendo 31,2% dos
homens e 42,3% das mulheres. A América Latina e o Caribe foram os locais em que apresentaram maior prevalência de prática
insuficiente de atividade física, sendo 39,1% para a população total e 34,3% e 43,7% dos homens e mulheres, respectivamente.
Em contrapartida, a Oceania apresentou as menores prevalências para a população total (16,3%). Total de 12,3% dos homens e
20,3% das mulheres eram insuficientemente ativos. No Sul da Ásia, encontramos 33,0% dos indivíduos inativos, sendo que 23,5%
são homens e 43,0% são mulheres. Por fim, a África Subsaariana possui 21,4% da população inativa e 17,9% dos homens e 24,8%
das mulheres considerados insuficientemente ativos.

Percentual total de indi- Percentual de ho- Percentual de mu-


víduos insuficientemen- mens insuficiente- lheres insuficiente-
te ativos mente ativos mente ativas
Total dos países 27,5% 23,4% 31,7%
Ásia Central, Oriente
32,8% 25,9% 39,9%
Médio e Norte da África
Europa Central e
23,4% 22,0% 24,7%
Oriental
Leste e Sudeste da Ásia 17,3% 17,6% 16,9%
Ásia-Pacífico de renda
35,7% 33,0% 38,3%
alta
Países Ocidentais de
36,8% 31,2% 42,3%
renda alta
América Latina e Caribe 39,1% 34,3% 43,7%
Oceania 16,3% 12,3% 20,3%
Sul da Ásia 33,0% 23,5% 43,0%
África Subsaariana 21,4% 17,9% 24,8%

Tabela 1 - Prevalência da atividade física insuficiente no ano de 2016 / Fonte: adaptada de Guthold et al. (2018).

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando analisamos as tendências globais estratifica-


das por sexo, os dados comprovam que as mulheres
geralmente são menos ativas que os homens. Em 2001,
31,5% das mulheres praticavam atividade física de for-
ma insuficiente. Em 2016, essa prevalência se manteve
praticamente igual (31,7%). Os homens, no ano de 2001,
25,5% não praticavam atividade física de acordo com as
recomendações para a saúde. Em 2016, essa prevalência
diminui para 23,4% (GUTHOLD et al., 2018).
A Oceania foi a região que apresentou o menor
percentual (16,3%) de prática de atividade física in-
suficiente, ou seja, os habitantes desta região são mais
ativos fisicamente. Em contrapartida, a América Latina
e o Caribe são os locais que praticam menos ativida-
de física ou quase nada, sendo que, aproximadamente,
quatro em cada 10 latinos (39,1%) e caribenhos não
praticam atividade física de forma suficiente (Tabela 1)
(GUTHOLD et al., 2018).

75


Descrição da Imagem: A Figura 8 apresenta o mapa mundial da prevalência da prática insuficiente de atividade física, primeiramente dos homens
e depois das mulheres. Os países estão diferenciados por cores. Em ambas imagens, os países destacados em amarelo claro apresentam uma
prevalência de prática insuficiente de atividade física menor que 20%. Os países pintados em cor amarelo forte têm prevalência de 20,0 a 29,9% de
prática insuficiente de atividade física. Os locais destacados em rosa apresentam prevalência entre 30,0 a 39,9%. A prevalência para os países de cor
laranja é de 40,0 a 49,9%. Para aquelas regiões destacadas em vermelho escuro, a prevalência de prática insuficiente de atividade física é maior ou
igual a 50,0%. Os países que estão destacados em cinza não possuem dados. Nota-se que de 40,0 a 49,9% dos homens brasileiros praticam atividade
física de forma insuficiente. Para os Estados Unidos da América, Japão, Colômbia, Argentina e Portugal, entre 30,0 a 39,9% dos homens não praticam
atividade física suficientemente. A prevalência da prática insuficiente de atividade física dos homens no Equador, Chile, México, Canadá, Espanha,
Índia, África do Sul e Austrália é de 20,0 a 29,9%. A China e a Rússia são os locais que apresentaram menores prevalências de prática insuficiente
de atividade física para o sexo masculino, estando abaixo dos 20%. Dos países citados anteriormente, as mulheres brasileiras são as mais inativas
fisicamente, estando com prevalência igual ou maior a 50%. As mulheres dos Estados Unidos da América, Argentina, Índia, África do Sul, Portugal
e Colômbia apresentaram prevalência entre 40,0 a 49,9%. Em seguida, com prevalência de atividade física insuficiente entre 30,0 a 39,9% estão as
mulheres do México, Austrália, Canadá, Japão e Espanha. O Equador e o Chile apresentaram prevalência de 20,0 a 29,9% das mulheres inativas fisi-
camente. Por fim, novamente a China e a Rússia foram os países que apresentam menores prevalências de prática insuficiente de atividade física,
também para as mulheres, estando abaixo de 20,0%.

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 8 - Mapa mundial da prática insuficiente de atividade física: a) Mapa dos homens, e b) Mapa das mulheres
Fonte: Guthold et al. (2018, p. 1083).

Dentre os países da América Latina e Caribe, o Brasil De acordo com todos esses dados sobre prevalên-
é o que apresenta a maior prevalência total de ativida- cia da prática de atividade física insuficiente, é extrema-
de física insuficiente, com 47%. Quando analisamos o mente necessário o desenvolvimento de políticas e ações
mapa mundial da prática de atividade física insuficien- públicas para estimular as populações à prática regular
te (Figura 8), percebemos que essa prevalência é ain- de atividade física, independentemente dos domínios
da maior para as mulheres, ultrapassando os 50%. Em que a englobam (tempo livre, ocupacional, afazeres do-
comparação com todas as outras regiões, a prevalência mésticos ou deslocamento). Melhorias na infraestrutura
total do Brasil perde apenas para Kuwait - Ásia Ociden- de pistas de caminhadas, ciclismo e o desenvolvimento
tal (67,0%) e Samoa Americana - Oceania (53,4%). Em de programas de saúde que incentivem a prática regular
contrapartida, o país que apresenta a menor população de atividade física são fundamentais para o aumento da
insuficientemente ativa é o Uganda, na África, com 5,5% saúde populacional.
(GUTHOLD et al., 2018).

77
considerações finais

Chegamos ao final da nossa segunda Unidade. Aqui, pudemos transcorrer sobre os con-
teúdos que abordam os processos e mudanças populacionais e que acabam por acometer
em doenças e agravos à saúde das pessoas. Assim, discorremos sobre a dinâmica do cres-
cimento da população decorrente da revolução industrial, que foi a chamada transição
demográfica. Após discutido sobre a transição demográfica, conhecemos sobre as fases
que a compõe e alguns dos indicadores que nos permitem avaliá-la.
A fecundidade, a natalidade e a mortalidade foram alguns dos indicadores que estuda-
mos relacionados a essa teoria. Pudemos perceber que além da transição demográfica,
houveram grandes modificações nos padrões de morbidade e mortalidade da sociedade,
caracterizando a chamada transição epidemiológica, a qual é dividida em três fases: a
“Era da Pestilência e da Fome”, a “Era do Declínio das Pandemias” e a “Era das Doenças
Degenerativas e das Provocadas pelo Homem”, cada uma com suas particularidades.
Essas fases nos auxiliaram a entender os padrões de adoecimento da população.
Após esses aprendizados, iniciamos nossos conteúdos voltados à área da atividade física,
aprendendo sobre as definições, conceitos e como a população tem praticado atividade
física atualmente. Você percebeu que, infelizmente, muitos países ainda estão em falta
no que diz respeito à prática regular de atividade física e o Brasil é um deles. Esse fato
é muito prejudicial, uma vez que a atividade física proporciona inúmeros benefícios à
saúde e à prevenção de inúmeras doenças. Portanto, é preciso incentivo e promoção
de programas públicos que possibilitem a prática regular de atividade física para que
possamos ter uma população realmente considerada saudável. Assim, finalizo aqui este
nosso encontro e aguardo você no próximo!

78
atividades de estudo

1. O gráfico a seguir representa a transição demográfica vivenciada pelo Brasil


durante o processo de industrialização. Ao analisá-lo, você pode notar que
três diferentes padrões do crescimento populacional são percebidos durante
o decorrer do tempo. Assim, cite e caracterize respectivamente esses três di-
ferentes processos.

Transição demográfica

P
o
p
u
l
a
ç
ã
o

Tempo

2. Analise o gráfico e as afirmativas que o descrevem.

Tempo
Taxa de natalidade Taxa de mortalidade

79
atividades de estudo

I. O círculo representado pela cor vermelha apresenta as mesmas característi-


cas do círculo amarelo. Ambos respondem à fase 3 da transição demográfica
postulada por Thompson (1929).
II. O círculo representado pela cor preta apresenta as características da fase 1
da transição demográfica defendida por Thompson (1929), ou seja, altas taxas
de natalidade e mortalidade.
III. O círculo rosa pode expressar a fase 2 da transição demográfica de Thompson
(1929), em que o coeficiente de mortalidade se reduz, mas o coeficiente de
natalidade se mantém constante.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e III, apenas.

e. II e III, apenas.

3. Com relação à transição epidemiológica e demográfica, analise as afirmativas:

I. A transição epidemiológica é dependente da transição demográfica, uma vez


que é afetada pelas mudanças no processo do crescimento populacional e da
urbanização.
II. No Brasil, a diferença da proporção de doenças crônico-degenerativas para
as doenças infecciosas e parasitárias é drástica, predominando as doenças
crônicas.
III. As diferentes regiões brasileiras não afetam o processo saúde-doença, pois o
processo epidemiológico é o mesmo para todo o país.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas,
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.

e. I e III, apenas.

80
atividades de estudo

4. Sobre a prática regular de atividade física na população, assinale a afirmativa


correta.

a. O Brasil é considerado um país suficientemente ativo.


b. O México apresenta maior percentual de prática insuficiente de atividade físi-
ca, independente do sexo.
c. Os japoneses apresentam um dos menores índices de inatividade física.
d. A prática de atividade física é influenciada pela renda e é diferente a depender
do sexo.
e. Um em cada 10 espanhóis não pratica atividade física de forma suficiente.

5. A atividade física está intimamente relacionada com a epidemiologia, uma vez


que o sedentarismo é um indicador de morbidade. Assim, assinale as alterna-
tivas com (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas sobre a atividade física:

( ) O tipo de movimentação que a pessoa realiza pode ser elencado em algum


dos domínios que compõem a atividade física.
( ) É possível avaliar a intensidade da atividade física analisando o equivalente
metabólico.
( ) Uma pessoa que pratica atividades de intensidade vigorosa por 20 minutos,
três vezes na semana, é considerada uma pessoa ativa fisicamente.
( ) A atividade física pode ser dividida em cinco domínios: lazer, transporte, afa-
zeres domésticos, atividades realizadas no trabalho e exercícios físicos pro-
gramados.

A sequência correta das afirmativas é, respectivamente:

a. V, F, V, F.
b. F, F, V, F.
c. V, V, F, F.
d. V, V, V, F.
e. F, V, V, F.

81
LEITURA
COMPLEMENTAR

A atividade física insuficiente é uma das principais causas de risco para a morte precoce
em todo o mundo. É o principal fator que predispõe às doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), como: doenças cardiovasculares, cânceres e diabetes. As pessoas insatisfatoriamen-
te ativas têm de 20% a 30% de risco aumentado de morte em comparação com pessoas efeti-
vamente ativas. As evidências científicas têm mostrado os benefícios da atividade física tanto
para a saúde física quanto mental, mas, ainda assim, o alcance da meta para esta prática está
bem abaixo do esperado em todo o mundo, sendo que um em cada cinco adultos não pratica
atividade física suficiente, o que tem se tornando um desafio para a saúde pública [...].

Dada a importância da atividade física para a saúde pública, o Brasil tem desenvolvido,
desde 2006, a mensuração deste desempenho para o enfrentamento das DCNT por meio
do sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inqué-
rito Telefônico, conhecido como Vigitel. Esse sistema dispõe de fatores que determinam os
riscos e proteção para doenças crônicas, entre eles, a prática de atividade física em todos
os domínios, para todas as capitais e o Distrito Federal, o que torna o Brasil um dos poucos
países de renda média e baixa a apresentar dados nacionais sobre essa atividade [...].
Sendo assim, Ide, Martins e Segri (2020) realizaram um estudo para analisar a tendência
dos diferentes domínios da atividade física, de acordo com o sexo, faixa etária e escolarida-
de no Brasil, no período de 2006 a 2016 [...].

Os resultados gerais encontrados apontaram tendência crescente para prática de atividade


física no lazer dos homens, das mulheres e quando a amostra foi analisada na sua totali-
dade. No ano de 2006, 14,9% da população adulta brasileira praticava atividade física no
lazer. Já no ano de 2016, 10 anos depois, esse número subiu para 20,8%, apresentando um
aumento anual de 3,6%. Quando a atividade física foi analisada no domínio deslocamento,
as análises se mostraram estacionárias, ou seja, não houve uma diferença significativa na
tendência anual para a amostra analisada na sua totalidade e quando estratificada por
sexo. Em relação a atividade física no trabalho, os homens apresentaram tendência anual
decrescente (-0,6%), demonstrando que, a cada ano, menos homens se movimentam fisica-
mente no trabalho. Para a atividade física no trabalho doméstico, o estudo apresentou uma
tendência decrescente para o sexo feminino (-1,9%), ou seja, as mulheres também estão se
movimentando menos quando o assunto é a realização dos afazeres de casa.

82
LEITURA
COMPLEMENTAR

A tendência anual crescente da prática de atividade física no lazer analisada no artigo é um


resultado bom, o que demonstra que as pessoas podem estar tomando consciência dos
benefícios que o exercício físico traz ao corpo. Porém, se fizermos uma conta básica ana-
lisando a prevalência da prática de atividade física no lazer no ano de 2006, notamos que
apenas duas a cada 10 pessoas praticam atividade física de forma suficiente. Essa prevalên-
cia ainda é baixa se considerarmos os inúmeros fatores de risco à saúde relacionados ao
sedentarismo. Portanto, é importante continuar estimulando a prática de atividade física.
[...]

Existem, no Brasil, programas como o Agita São Paulo que têm como objetivo aumentar
o conhecimento sobre os benefícios e também o nível de atividade física da população,
sendo incentivada em todos os domínios por meio de ações estratégicas, como eventos,
reunião de colegiado, treinamento de multiplicadores, mostra de boas práticas, entre ou-
tras. Outro programa é a Academia da Saúde, instituída em 2011, para todos os municípios
brasileiros e que tem como objetivo promover práticas corporais e atividade física, incenti-
vo à alimentação saudável, educação em saúde, entre outros. [...]

Outra estratégia que tem sido aplicada é o plano de ação mundial da Organização Mundial
da Saúde (OMS) sobre atividade física e saúde 2018-2030, com a temática: “pessoas mais
ativas para um mundo mais saudável”. Esse plano de ação aponta como os países podem
diminuir, em 15% até 2030, a inatividade física em adultos e adolescentes, visando uma so-
ciedade mais ativa, por meio da melhoria dos ambientes e oportunidades para a prática de
atividade física. Especificamente no Brasil, existem ações setoriais e intersetoriais voltadas
para a prevenção e o controle das doenças crônicas, sendo denominado Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT, para o período de 2011-2022.

Fonte: Ide, Martins e Segri (2020).

83
material complementar

Indicação para Ler

Epidemiologia
Roberto Medronho e Colaboradores
Editora: Atheneu
Sinopse: este livro contém 37 capítulos distribuídos em cinco seções: a primeira
seção apresenta os conceitos fundamentais para a compreensão da Epidemiolo-
gia; a segunda detalha o método epidemiológico; a terceira mostra a contribuição
da estatística para a Epidemiologia; a quarta apresenta diversos tópicos relevan-
tes e atuais para a área; e a quinta seção expõe alguns conceitos avançados em
Epidemiologia.

Indicação para Assistir

Contágio
Ano: 2011
Sinopse: pouco depois de voltar de uma viagem de negócios, Beth Emhoff mor-
re de uma suposta gripe. Enquanto a epidemia mortal se espalha, os médicos
precisam identificar o vírus para conseguir combatê-lo e acabar com o pânico da
população.

Indicação para Acessar

A evolução da população humana foi muito bem demonstrada por um vídeo elaborado pelo Museu
de História Natural norte-americano. O período demonstrado no vídeo vai desde o surgimento do
Homo Sapiens até os dias atuais.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=PUwmA3Q0_OE&feature=emb_title.

84
gabarito

1. Os processos apresentados no gráfico são


caracterizados pelas três fases de transição
vivenciadas no período da Revolução Indus-
trial: a fase pré-industrial, a fase de industria-
lização e a fase da consolidação da sociedade
industrial, respectivamente. A justificativa é
que o gráfico apresenta, inicialmente, uma
leve tendência de crescimento populacional,
fato que caracteriza a fase pré-industrial.
Após esse período, nota-se um crescimento
intenso da população, o que ocorreu na fase
da industrialização. Por fim, percebe-se uma
estagnação do crescimento população, enfa-
tizando que se trata da fase da consolidação
da sociedade industrial.
2. B.
3. A.
4. D.
5. D.

85
ATIVIDADE FÍSICA, PROGRAMAS
EM SAÚDE PÚBLICA E
MARCADORES DE SAÚDE

Professor Dr. Diego Augusto Santos Silva

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Relação da atividade física com marcadores de saúde
• Atividade física e todas as causas de mortalidade na população
• Programas de Promoção da Atividade Física em Saúde Pública

Objetivos de Aprendizagem
• Proporcionar que o aluno compreenda a relação da atividade física com
marcadores de saúde da população.
• Descrever estudos de associação entre atividade física e todas as causas
de mortalidade, atividade física e câncer, atividade física e diabetes mellitus
tipo 2, atividade física e doenças cardiovasculares.
• Proporcionar que o aluno entenda o que são Programas de Promoção da
Atividade Física em Saúde Pública e descrever exemplos de Programas de
Promoção da Atividade Física em Saúde Pública.
unidade

III
INTRODUÇÃO

C
aro(a) aluno(a), seja bem-vindo a essa nova unidade de apren-
dizagem. O seu envolvimento durante essa unidade é funda-
mental para um melhor aproveitamento do conteúdo. Dessa
vez, é importante que você entenda que o comportamento hu-
mano é influenciado por mudanças sociais, econômicas e culturais que
ocorrem com o passar do tempo. Diversos fatores contribuem para dimi-
nuição dos níveis de atividade física e do aumento do tempo diário em
atividades sedentárias, por exemplo, o processo de urbanização, o avanço
tecnológico e os meios de comunicação que ganham cada vez mais espa-
ço nos dias atuais.
Para o seu conhecimento nesta unidade, é importante que entenda
que a atividade física é um comportamento complexo e multidimensio-
nal, o qual envolve movimento humano e que resulta em atributos fisio-
lógicos que inclui gasto de energia e aumento na aptidão física.
Diariamente, você verifica várias informações nos meios de comu-
nicação reportando a relevância da prática de atividade física para a
saúde. As evidências sobre essa área deixam claro que a atividade física
regular é importante para todas as faixas etárias e traz benefícios à saú-
de física, mental e social das populações. Por essa razão, é importante
que você compreenda que há diversos estudos que testaram a associa-
ção entre atividade física e diversos marcadores de saúde, evidenciando
que a atividade física regular pode prevenir e auxiliar no tratamento de
algumas enfermidades.
Promover atividades físicas para a população é um desafio, pois, além
dos aspectos de quantidade e intensidade preconizados pelas organiza-
ções de saúde, aspectos de qualidade dos tipos de atividades propostas
devem ser levados em consideração para auxiliar no desenvolvimento e
no gosto pela atividade física.
Dessa forma, esta unidade tem como objetivo geral propiciar que o alu-
no assimile as evidências científicas advindas dos estudos de associação
entre atividade física e diferentes marcadores de saúde para que possa en-
tender como a atividade física auxilia na prevenção e no tratamento dessas
enfermidades e que você compreenda o que são Programas de Promoção
da atividade física em saúde pública. Esses conhecimentos permitirão que
você seja ator de promoção de atividade física na população.


Relação da atividade física


com marcadores de saúde

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em crianças e adolescentes de cinco a 17 anos de idade, mana (WHO, 2010). Para idosos (com idade de 65 anos
recomenda-se que a atividade física seja praticada dia- ou mais), recomenda-se 150 minutos por semana de ati-
riamente, em intensidade de moderada a vigorosa, com vidades físicas de intensidade moderada, ou ao menos
duração de pelo menos 60 minutos (WHO, 2010). Es- 75 minutos de atividades físicas de intensidade vigorosa,
sas atividades devem ser diversificadas, respeitando-se ou o equivalente da combinação de atividades físicas de
o nível de desenvolvimento motor e cognitivo no qual intensidade moderada a vigorosa (WHO, 2010).
a criança e o jovem se encontram (WHO, 2010). Para Para benefícios adicionais, os idosos devem aumentar
adultos (de 18 a 64 anos de idade), recomenda-se 150 as atividades de intensidade moderada para 300 minutos
minutos por semana de atividades físicas de intensidade por semana. Além disso, os idosos com baixa mobilidade
moderada, ou ao menos 75 minutos de atividades físicas devem trabalhar o equilíbrio corporal por, no mínimo,
de intensidade vigorosa, ou o equivalente da combina- três vezes por semana. Ademais, eles devem se engajar em
ção de atividades físicas de intensidade moderada a vi- atividades físicas de força muscular, que envolve grandes
gorosa (WHO, 2010). grupamentos musculares, ao menos duas vezes por sema-
Para benefícios adicionais, os adultos devem aumen- na (WHO, 2010). Todas essas recomendações são impor-
tar as atividades de intensidade moderada para 300 mi- tantes para prevenir doenças e agravos não transmissíveis
nutos por semana. Além disso, atividades físicas de força à saúde e aumentar a expectativa de vida das pessoas. Na
muscular, que envolva grandes grupamentos muscula- Figura 1, encontram-se exemplos de atividades físicas,
res, devem ser realizadas ao menos duas vezes por se- conforme as diferentes intensidades:

Descrição da Imagem: a Figura 1 mostra os exemplos de atividades físicas de diferentes intensidades: leve, moderada e vigorosa. Para intensidade
leve, por exemplo, caminhar em ritmo lento; atividades como cozinhar em pé; digitar na posição de pé. Para intensidade moderada, a caminhada
em ritmo rápido; varrer a casa; jardinagem e limpeza do jardim; e o exemplo da intensidade vigorosa são corrida; exercícios de ginástica aeróbica;
carregar caixas pesadas subindo escadas; cortar grama com cortador manual.

ATIVIDADE FÍSICA / INTENSIDADE

LEVE MODERADA VIGOROSA

- CAMINHAR EM RITMO - CAMINHADA EM RITMO - CORRIDA


LENTO RÁPIDO - EXERCÍCIOS DE
- ATIVIDADES COMO - VARRER A CASA GINÁSTICA AERÓBICA
- JARDINAGEM - CARREGAR CAIXAS
COZINHAR EM PÉ
PESADAS SUBINDO
- DIGITAR NA POSIÇÃO - LIMPEZA DO JARDIM
ESCADAS
DE PÉ - CORTAR GRAMA COM
CORTADOR MANUAL

Figura 1 - Exemplos de atividades físicas de diferentes intensidades / Fonte: o autor.

91


Descrição do quadro: o Quadro 1 apresenta os benefícios da prá-


EXPLORANDO IDEIAS
tica de atividade física em diferentes faixas etárias desde crianças,
adolescentes, adultos e idosos. A prática regular de exercício para as
crianças e os adolescentes são necessários para a melhora da saúde
óssea, do estado nutricional, da condição cardiorrespiratória e aptidão
Você sabia como são determinadas as intensi- muscular, da saúde cardíaca e metabólica e da cognição, além disso
dades da atividade física? Elas correspondem à reduz o risco de depressão. Para adultos e idosos, a prática regular da
taxa de gasto energético requerida para a reali- atividade física diminui o risco de todas as causas de mortalidade, de
mortalidade cardiovascular, de doenças cardiovasculares, de diabetes
zação da atividade física. Ela pode ser mensura- mellitus, de alguns tipos de cânceres e do risco de demência, além
da nas seguintes unidades: METS (equivalente disso melhora o sono, reduz e controla o ganho de peso corporal,
metabólico), quilocalorias, joules ou consumo melhora a saúde óssea, da função física e diminui o risco de quedas.

de oxigênio. A unidade mais utilizada nas reco-


mendações de atividade física são os METs. A Crianças e adolescentes
partir dos METS, podem-se classificar as ativi-
dades físicas em três intensidades: 1) atividade Melhora da saúde óssea
física de intensidade leve (de 1,6 a < 3,0 METs); 2) Melhora do estado nutricional
atividade física de intensidade moderada (de 3,0
a < 6,0 METs); 3) atividade física de intensidade Melhora da condição cardiorrespiratória e aptidão
vigorosa (de ≥ 6,0 METs). muscular
Melhora da saúde cardíaca e metabólica
Melhora da cognição
As recomendações de atividade física foram traçadas Reduz o risco de depressão
com intuito de as pessoas se beneficiarem da prática de Adultos e idosos
atividade física, ou seja, praticando o mínimo recomen- Diminuição do risco de todas as causas de mortali-
dado de atividade física, as pessoas podem se prevenir dade
contra doenças e agravos não transmissíveis à saúde e Diminuição do risco de mortalidade cardiovascular
evitar a mortalidade precoce. Quanto mais atividade Diminuição do risco de doenças cardiovasculares
física se pratica, melhor para a saúde! Nesse sentido, Diminuição do risco de diabetes mellitus
atender as recomendações em atividade física significa
Diminuição do risco de alguns tipos de cânceres
que as pessoas terão melhores marcadores de saúde. As-
Diminuição do risco de demência
sim, vamos nos mexer diariamente! No Quadro 1, en-
Melhora do sono
contram-se resumidamente os benefícios da prática de
Redução e controle do ganho de peso corporal
atividade física em diferentes faixas etárias.
Melhora da saúde óssea
Melhora da função física
Diminuição do risco de quedas

Quadro 1 - Benefícios da prática regular de atividade física em


marcadores de saúde de crianças, adolescentes, adultos e ido-
sos / Fonte: adaptado de U.S. Department of Health and Human
Services (2018)

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

93


Atividade física e todas as causas


de mortalidade na população

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

Expectativa de
Muitos estudos têm demonstrado redução da mortali-
vida (idade em Sexo
dade precoce e morbidade nas pessoas que praticam ati- anos)
vidade física de forma regular (BOUCHARD; BLAIR;
Feminino Masculino
HASKELL, 2012). Essas análises focaram em duas di-
mensões da atividade física (atividade física no tempo Afeganistão 58,2 55,2

de lazer e atividade física ocupacional). Desde então, Albânia 76,7 70,4


vários estudos prospectivos de coorte sobre atividade
física versus inatividade foram realizados e publicados, Alemanha 81,9 75,2
tendo vários indicadores de saúde como desfecho (cân-
Angola 68,3 64,1
cer, diabetes, acidente vascular encefálico etc.).
Para entender o papel da atividade física na preven- Argentina 77,5 71,1
ção da mortalidade precoce, é importante compreender
Bélgica 82,3 75,6
que cada pessoa que nasce tem uma expectativa de vida,
que significa quantos anos em média essa pessoa irá vi- Bolívia 73,4 67,8
ver. O cálculo de expectativa de vida leva em considera-
ção o país e as condições de vida da localidade em que Brasil 76,1 69,8

a pessoa nasce. Assim, diferentes países têm diferentes Canadá 82,2 75,5
anos de expectativa de vida. Em geral, quanto mais de-
Chile 78,7 72,2
senvolvido é o país, melhores são as condições de vida e
mais anos de vida a pessoa terá para viver. O Quadro 2 Colômbia 75,0 68,9
apresenta a expectativa de vida ao nascer dos residentes
em diferentes países no ano de 2017 (INSTITUTE FOR China 77,3 71,0

HEALTH METRICS AND EVALUATION, 2017). Dinamarca 83,2 76,4

Descrição do quadro: o Quadro 2 apresenta a expectativa de vida ao República Domini-


73,7 68,0
nascer (idade em anos) em diferentes países no ano de 2017. O Brasil cana
tem uma média de 76,1 para o feminino e 69,8 para o masculino.
Outros países, como Afeganistão, consta uma média de 58,2 para o
feminino e 55,2 masculino; a Albânia 76,7 feminino e 70,4 masculino; Equador 75,0 68,9
a Alemanha 81,9 feminino e 75,2 masculino; a Angola feminino 68,3 e
64,1 masculino; a Argentina feminino 77,5 e 71,1 masculino; a Bélgica
feminino 82,3 e 75,6 masculino; a Bolívia feminino 73,4 e 67,8 mascu-
Etiópia 61,3 58,2
lino; o Canadá feminino 82,2 e 75,5 masculino; o Chile feminino 78,7
Estados Unidos da
e 72,2 masculino; a Colômbia feminino 75,0 e 68,9 masculino; a China 81,8 75,1
feminino 77,3 e 71,0 masculino; a Dinamarca 83,2 feminino e 76,4 América
masculino; a República Dominicana 73,7 feminino e 68,0 masculino; o
Equador 75,0 feminino e 68,9 masculino; Etiópia 61,3 feminino e 58,2 Finlândia 82,6 75,8
masculino; os Estados Unidos da América com 81,8 feminino e 75,1
masculino; a Finlândia 82,6 feminino e 75,8 masculino; a França com
81,8 feminino e 75,1 masculino; a Grécia 80,5 feminino e 73,8 mascu- França 81,8 75,1
lino; Gana com 71,5 feminino e 66,5 masculino; a Islândia com 82,8
feminino e 76,1 masculino; a Índia com 72,1 feminino e 66,9 masculino; Grécia 80,5 73,8
a Itália com 81,3 feminino e 74,6 masculino; o Japão com 81,8 feminino
e 75,1 masculino; a Noruega com 82,9 feminino e 76,2 masculino; a
Nigéria com 69,9 feminino e 65,3 masculino; e por fim, o Reino Unido Gana 71,5 66,5
com 81,3 feminino e 74,6 masculino.

95


Islândia 82,8 76,1

Índia 72,1 66,9

Itália 81,3 74,6

Japão 81,8 75,1

Noruega 82,9 76,2

Nigéria 69,9 65,3

Reino Unido 81,3 74,6

Quadro 2 - Expectativa de vida ao nascer (idade em anos) em


diferentes países / Fonte: o autor

A prática de atividade física regular ajudará a pessoa


a atingir a expectativa de vida daquela determinada
localidade. Por outro lado, pessoas que não praticam
atividade física de forma regular tendem a morrer pre-
cocemente, ou seja, morrem antes de atingir os anos
estimados para a expectativa de vida (BOUCHARD;
BLAIR; HASKELL, 2012). As causas dessas mortes
precoces podem ser diversas, por exemplo, doenças
infecto contagiosas, doenças e agravos crônicos não
transmissíveis (doenças cardiovasculares, hipertensão ca e saúde para as recomendações de prática de ativida-
arterial, diabetes, câncer, acidente vascular cerebral, de física para a população Norte-Americana informou
doenças respiratórias etc.), e também causas violentas que das evidências cumulativas de 73 estudos publica-
(como assassinatos e acidentes de trânsito). dos após 1996, o comitê relatou que 67 estudos encon-
A prática de atividade física regular não tem nenhu- traram uma relação inversa significativa entre atividade
ma relação com as causas violentas e nem evidências su- física e taxas de mortalidade por todas as causas (BOU-
ficientes de relação com as doenças infectocontagiosas. CHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
As evidências científicas são consistentes em informar O risco relativo mediano (RR) comparando os in-
que a prática de atividade física diminui a mortalidade divíduos mais ativos com os menos ativos foi de 0,69
precoce e a morbidade em decorrência das doenças e em todos os estudos, indicando uma redução de 31% no
agravos crônicos não transmissíveis. risco com a atividade física. Isso foi semelhante para ho-
Em 2008, o quadro de especialistas responsável por mens (RR mediano = 0,71) e mulheres (RR mediano =
determinar as evidências da inter-relação atividade físi- 0,67) e para estudos em que ambos os sexos foram anali-

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

indicativos de uma relação inversa dose-resposta (BOU-


CHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).

CONECTE-SE

Para identificar as principais evidências de


atividade física e saúde, você pode acessar o
site da Organização Mundial da Saúde: https://
www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/
physical-activity.

ATIVIDADE FÍSICA E OBESIDADE

A obesidade é um fator de risco principal para mortali-


dade prematura e inúmeras condições crônicas de saúde
que reduzem a qualidade de vida geral. A prevalência da
obesidade aumentou para proporções epidêmicas nos
países desenvolvidos e em desenvolvimento nas últimas
duas a três décadas, e essa condição afeta praticamen-
te todas as idades, raças e grupos socioeconômicos em
sados j​untos (RR mediano = 0,68). Associações inversas ambos os sexos. A obesidade reflete um balanço energé-
foram observadas para pessoas com idade < 65 anos e tico positivo contínuo, que é acompanhado por ganho
para aqueles com 65 anos ou mais. de peso prejudicial e está associado à inatividade física
Adicionalmente, um estudo de metanálise, com 38 (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
pesquisas publicadas em 2009, relatou achados essen- Algumas estimativas sugerem que, até 2030, mais
cialmente similares, observando que homens altamente de três bilhões de pessoas estarão com sobrepeso ou
ativos apresentavam 22% (RR: 0,78; intervalo de confian- obesidade (KELLY et al., 2008). Em muitos países,
ça de 95%, IC: 0,72-0,84) menor risco de mortalidade governos e agências de saúde estão promovendo for-
por todas as causas em comparação com homens pouco temente a prática de atividade física regular como um
ativos, enquanto mulheres altamente ativas tinham um meio de impedir o acúmulo de gordura que leva ao ga-
risco 31% menor (RR: 0,69; IC 95%: 0,53-0,90). Enquan- nho de peso e à obesidade.
to isso, homens e mulheres moderadamente ativos apre- Em termos conceituais, a obesidade é uma condição
sentaram riscos 19% e 24% menores, respectivamente, de acúmulo excessivo de gordura que pode prejudicar a

97


saúde. A doença subjacente reflete um balanço energéti- obesidade são comumente avaliados na pesquisa e na
co positivo contínuo, que é acompanhado por um ganho clínica, usando o índice de massa corporal (IMC), um
de peso indesejável. O balanço energético está associado simples índice de massa corporal pela estatura (IMC =
ao quanto de energia é ingerida, em geral por meio de massa corporal (kg) / estatura (m)2). O sistema de classi-
alimentos, e o quanto de energia está sendo gasta pelo ficação de IMC globalmente aceito para adultos é mos-
organismo. Quando o balanço energético é positivo, trado na Figura 2 (WHO, 1998).
quer dizer que o organismo está ingerindo mais ener- Esse sistema de classificação é baseado nas relações
gia do que gastando. Por outro lado, quando o balanço entre IMC, mortalidade e doenças crônicas. Obser-
energético é negativo, quer dizer que o organismo está ve que os valores do IMC são independentes da idade
gastando mais energia do que ingerindo (BOUCHARD; e são os mesmos para homens e mulheres. Os valores
BLAIR; HASKELL, 2012). correspondentes ao sobrepeso e a obesidade estão mais
No entanto, o grau de excesso de gordura, sua distri- associados ao surgimento de outras doenças, como as
buição no corpo e as consequências associadas à saúde cardiovasculares, câncer, diabetes etc.
variam consideravelmente entre os obesos. Sobrepeso e

Descrição da Imagem: A Figura 2 apresenta sete pesos com seus valores e sua classificação do índice de massa corporal (IMC) para pessoas adultas.
Começando da esquerda para a direita, temos o baixo peso que deve ser menor que 18,5 kg/m²; para peso normal, o IMC deve ser de 18,5 kg/m² a
24,9 kg/m²; o sobrepeso de um adulto deve ser maior ou igual a 25,0; para a pré-obesidade varia entre 25,0 kg/m² a 29,9 kg/m²; para a obesidade
grau um de 30 kg/m² a 34,9 kg/m²; obesidade grau dois de 35,0 kg/m² a 39,9 kg/m²; e, por fim, para a obesidade grau três maior ou igual a 40,0 kg/m².

Baixo peso Peso normal Sobrepeso Pré-obesidade Obesidade grau I Obesidade grau II Obesidade grau III
<18,5 18,5 – 24,9 ≥ 25,0 25,0 – 29,9 30 – 34,9 35,0 – 39,9 ≥ 40,0

Figura 2 - Valores e classificação do índice de massa corporal (IMC) para pessoas adultas / Fonte: adaptada de Who (1998)

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além do IMC, a circunferência da cintura pode ser usa- Risco aumentado em


Condição de Saúde
indivíduos obesos
da como um simples marcador antropométrico de so-
brepeso e obesidade. Atualmente, não há consenso sobre Mortalidade prematura +
quais limiares de circunferência da cintura devem ser
usados para denotar um aumento do risco à saúde. Os Doença arterial coronariana ++
pontos de corte mais usados em homens adultos são ≥
94 cm, o que indica um risco moderadamente aumen- Acidente vascular encefálico +

tado de complicações relacionadas à obesidade, e ≥ 102 Hipertensão arterial sistê-


++
cm, que denota um risco substancialmente aumentado mica
de complicações relacionadas à obesidade. Para mulhe-
Embolia Pulmonar +++
res, esses valores são ≥ 80 cm, o que indica um risco mo-
deradamente aumentado de complicações relacionadas Diabetes mellitus tipo 2 ++++
à obesidade, e ≥ 88 cm, que denota um risco substan-
cialmente aumentado de complicações relacionadas à Câncer colorretal +
obesidade (WHO, 1998).
O sobrepeso e obesidade são os principais fatores de Câncer de mama +

risco para mortalidade prematura e inúmeras condições


Câncer nos rins ++
crônicas de saúde que reduzem a qualidade de vida geral.
No Quadro 3, encontram-se o risco de morbidade e mor- Câncer no pâncreas ++
talidade que a obesidade causa para determinadas situa-
ções de saúde (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012). Asma +

Descrição do quadro: O Quadro 3 apresenta riscos à saúde em indiví-


Osteoartrite +++
duos obesos. Estes riscos podemos destacar mortalidade prematura,
doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, hipertensão
arterial sistêmica, embolia Pulmonar, diabetes mellitus tipo 2, câncer
colorretal, câncer de mama, câncer nos rins, câncer no pâncreas, asma, Quadro 3 - Risco à saúde em indivíduos obesos / Fonte: o autor
osteoartrite e o risco aumentado em indivíduos obesos. Para riscos
de, aproximadamente, 25% a 50%: mortalidade prematura, acidente Notas: + risco aumentado de aproximadamente 25% a 50%; ++
vascular encefálico, câncer de mama, câncer colorretal e asma. Para
risco aumentado de, aproximadamente, 200%; +++ risco au-
Riscos de, aproximadamente, 200%: câncer nos rins, câncer no pân-
creas, hipertensão arterial sistêmica e doença arterial coronariana. mentado de, aproximadamente, 350%; ++++ risco aumentado
Doenças como osteoartrite e embolia pulmonar são para risco aumen- de, aproximadamente, 400%.
tado de, aproximadamente, 350%, e o risco de 400% para a doença de
diabetes mellitus tipo 2.

99


A obesidade resulta de um desequilíbrio crônico de Há várias explicações possíveis para essa inconsistência.
energia, pelo qual a ingestão excede o gasto. Assim, a Entre esses, estão os problemas metodológicos e técni-
hipótese de que a inatividade física tenha contribuí- cos do relato de atividade física e ingestão de alimentos
do para a epidemia da obesidade é bastante razoável. que podem ter mudado ao longo do tempo. Outro fator a
No entanto, as contribuições relativas da inatividade considerar é o aumento da conscientização da população
física versus consumo alimentar à epidemia de obe- sobre os benefícios à saúde da atividade física.
sidade não são claras e são difíceis de avaliar devido Nos últimos anos, aumentou o conhecimento de
a mudanças temporais na maneira como esses com- que atividades como caminhar “contam” como atividade
portamentos foram medidos em pesquisas de saúde. física, enquanto que no passado, as pessoas entendiam
As informações ecológicas obtidas no nível popu- apenas que atividades vigorosas, como corrida ou nata-
lacional sugerem que, entre 1970 e 2000, a ingestão de ção, “contavam” como atividade física. A explicação mais
energia permaneceu relativamente estável em crianças e provável, no entanto, é que as tendências da população
jovens dos Estados Unidos e aumentou ligeiramente em na participação em atividades físicas se concentraram
adultos (BRIEFEL; JOHNSON, 2004). Durante o mesmo apenas na atividade física durante os períodos de lazer
período, a atividade física no período de lazer diminuiu e, portanto, não são sensíveis a quaisquer mudanças que
em crianças e jovens e aumentou em adultos (KNUTH; ocorreram nos níveis de atividade física fora do lazer.
HALLAL, 2009). Esses dados ecológicos não são con- Isso é essencial, porque a atividade física no lazer repre-
gruentes com o grande aumento na prevalência de obe- senta uma pequena proporção do dia (<1 hora/dia) para
sidade adulta e infantil que ocorreu nas últimas décadas. a maioria das pessoas na maioria dos países do mundo e,

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

consequentemente, uma pequena proporção da produ- ambientais. Do ponto de vista da saúde pública, determi-
ção diária total de energia. Assim, quando consideramos nantes modificáveis do câncer são importantes porque
a obesidade, também é necessário levar em considera- esses fatores são passíveis de mudança. Um determinan-
ção o gasto de energia durante o restante do dia. te, ou fator de risco, que recebeu muita atenção recente-
O papel independente da atividade física como es- mente e é o foco deste capítulo, é a atividade física.
tratégia de tratamento para a obesidade tem recebido Embora os mecanismos exatos que explicam a me-
considerável atenção. Revisões iniciais da literatura nor incidência de câncer entre as pessoas fisicamente
sugeriram que a redução no peso corporal (1 – 2 kg) ativas sejam desconhecidos, várias categorias amplas de
associada à atividade física de forma isolada (ou seja, mecanismos plausíveis foram propostas para explicar
sem nenhuma restrição calórica) era bem pequena e, por que homens e mulheres fisicamente ativos podem
portanto, a atividade física na ausência de restrição ca- estar em menor risco de desenvolver câncer (BOU-
lórica não era uma estratégia particularmente útil para CHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
o tratamento da obesidade (NATIONAL INSTITU-
TES OF HEALTH NATIONAL HEART LUNG AND
BLOOD INSTITUTE, 1998).
Posteriormente, investigação cuidadosa dos estudos
sobre prática de atividade física e obesidade revelou que,
na maioria dos casos, poucos dos primeiros estudos fei-
tos sobre o tema prescrevem um programa de exercícios
físicos que seria esperado que levasse a uma significa-
tiva perda de peso (ROSS; JANSSEN, 2001), sobretudo,
porque não se preocupavam com o tipo, a freqUência
e intensidade da atividade física. Por outro lado, em
estudos nos quais os programas de exercícios prescritos
resultaram em um balanço energético negativo
significativo, a perda de peso foi substancial (ROSS;
JANSSEN, 2001). Em outras palavras, a perda de peso
está positivamente relacionada ao volume de atividade
física realizada, quanto mais tempo de atividade física
por dia, mais chances o sujeito tem de perder peso!

ATIVIDADE FÍSICA E CÂNCER

Câncer é considerado a segunda maior causa de morta-


lidade no mundo, ficando atrás apenas das doenças car-
diovasculares. O câncer é de origem multifatorial, com
contribuições provenientes de componentes genéticos e

101


Um desses mecanismos biológicos tem a ver com os hor-


mônios sexuais. Esses hormônios têm poderosos efeitos
mitogênicos (i.e, que provoca a divisão celular) e proli-
ferativos e são importantes no desenvolvimento de cân-
ceres reprodutivos. Os pesquisadores propuseram que a
atividade física reduz o risco de desenvolver câncer de
mama por meio dos efeitos na função menstrual e nos
níveis de hormônios sexuais femininos. As meninas que
praticam atividade física de forma regular tendem a ter a
menarca em idades mais velhas se comparadas às meni-
nas que não praticam atividades físicas de forma regular
e, também, são mais propensas a ter ciclos anovulatórios,
ou seja, quando os ovários não liberam um óvulo durante
um ciclo menstrual. Esses efeitos podem diminuir o
risco de câncer de mama, porque a idade mais avançada
da menarca está associada a menor incidência de cân-
cer de mama, enquanto os ciclos anovulatórios estão
associados a níveis mais baixos do hormônio estrogênio
(BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
A atividade física também tem sido associada a al-
terações nos hormônios esteroides sexuais femininos
em mulheres adultas. Entre as mulheres adultas na pré
e pós-menopausa, níveis mais altos de atividade físi-
ca foram correlacionados com níveis mais baixos dos
hormônios estrogênios e progesterona. Além disso, fo-
ram observadas concentrações aumentadas de globuli-
na de ligação ao hormônio sexual em mulheres fisica-
mente ativas. Essas globulinas se ligam aos estrógenos
na circulação, levando a concentrações mais baixas dos
hormônios ativos livres. Tais mudanças nos níveis de
estrogênio com atividade física também podem dimi-
nuir o risco de desenvolver câncer de endométrio entre
mulheres fisicamente ativas, porque níveis mais altos do
hormônio estrogênio estão relacionados a maior inci-
dência de câncer de endométrio (BOUCHARD; BLAIR;
HASKELL, 2012).

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

103


Nos homens, foi estudada a relação entre atividade pertrigliceridemia e níveis mais elevados de fatores de
física e as concentrações dos hormônios androgênios crescimento semelhantes à insulina. Esses fatores têm
para explicar o risco de câncer de próstata. Embora os sido implicados na etiologia de vários tipos de câncer,
níveis dos hormônios androgênios possam ser aguda- como câncer de mama, próstata e cólon. Assim, isso
mente elevados após uma sessão de exercício aeróbio, os pode representar uma terceira via pela qual a atividade
níveis em repouso parecem mais baixos, dentro da faixa física tem o potencial de influenciar o desenvolvimento
fisiológica, naqueles homens fisicamente ativos em com- do câncer (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
paração com homens que não são ativos fisicamente. A Outro mecanismo biológico que pode explicar a in-
quantidade de atividade física associada aos níveis mais ter-relação atividade física e câncer é o estado de infla-
baixos dos hormônios androgênios é alta (por exem- mação do organismo. Várias doenças inflamatórias crô-
plo, corredores de maratona de elite) e, ainda, não está nicas aumentam o risco de câncer. Por exemplo, pessoas
claro se níveis mais moderados de atividade física po- com doença inflamatória intestinal têm maior risco de
dem diminuir os níveis desses hormônios androgênios. câncer colorretal, enquanto aquelas com hepatite crôni-
Nesse sentido, mais pesquisas precisam ser realizadas ca têm maior risco de câncer hepatocelular. Níveis ele-
para explicar esse mecanismo (BOUCHARD; BLAIR; vados de marcadores inflamatórios, como a proteína C
HASKELL, 2012). reativa (PCR), e níveis reduzidos de marcadores anti-in-
Outro mecanismo biológico pelo qual a prática flamatórios, como a adiponectina, têm sido associados
de atividade física pode influenciar no menor risco de a um risco aumentado de câncer. A atividade física está
câncer é por meio da influência na massa corporal e na associada a um estado inflamatório reduzido e isso tam-
gordura corporal. Como a prática de atividade física re- bém pode ser resultado da diminuição da adiposidade
gular está associada a menores quantidades de gordura (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
corporal, ela pode reduzir o risco de desenvolver vários Outro mecanismo comumente citado para menores
cânceres relacionados com a obesidade, como o câncer taxas de câncer de cólon, especificamente entre pesso-
de mama na pós-menopausa, câncer endometrial e cân- as fisicamente ativas, refere-se à mudança no tempo de
cer colorretal. Entre as mulheres obesas na pós-meno- trânsito intestinal. Foi proposto que a atividade física
pausa, comparadas às mulheres com peso normal, os acelera o tempo de trânsito no cólon, diminuindo a ex-
níveis do hormônio estrogênio são mais altos porque o posição a agentes cancerígenos, ou promotores no fluxo
tecido adiposo pode converter precursores de estrogê- fecal. No entanto, embora alguns estudos tenham mos-
nio no próprio hormônio estrogênio. Dessa forma, esses trado um tempo de trânsito mais rápido entre pessoas
níveis mais altos de estrogênio aumentam o risco dos fisicamente ativas, nem todos os estudos apoiaram esse
cânceres reprodutivos feminino (BOUCHARD; BLAIR; achado (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
HASKELL, 2012). Finalmente, a atividade física pode reduzir o risco
As pessoas que são fisicamente ativas apresentam de desenvolver câncer, aprimorando o sistema imunoló-
maior probabilidade de perder gordura abdominal se gico inato, responsável pela regulação da suscetibilidade
comparadas às pessoas que não são fisicamente ativas. ao desenvolvimento do câncer. Em geral, as evidências
A obesidade, em especial a obesidade abdominal, está disponíveis sugerem que níveis moderados de atividade
associada à resistência à insulina, hiperinsulinemia, hi- física podem melhorar o sistema imunológico. No en-

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

tanto, exercícios prolongados e intensos (por exemplo, Maior quantidade de atividade


Tipo de câncer
correr uma maratona) podem ter o efeito oposto, levan- física diminui o risco de câncer
do a um período temporário de imunossupressão que
dura dias a até duas semanas.
Bexiga
O Quadro 4 apresenta as principais conclusões so-
bre a inter-relação da atividade física com alguns tipos
Mama
de câncer (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
Observe que, para alguns tipos de câncer, ainda não Colón
há evidência científica suficiente para afirmar que a
atividade física é capaz de preveni-lo. Dessa forma, os Evidência forte
Endometrial
tipos de câncer que estão com ‘Evidência forte’, significa
que a prática de atividade física regular é capaz de pre- Esôfago
veni-los. Para aqueles tipos de câncer em que há ‘Evi-
Gástrico
dência moderada’, significa que a prática de atividade
física pode prevenir em alguma magnitude tais tipos
Renal
de câncer. Para aqueles que têm ‘Evidência limitada’ ou
‘Evidência insuficiente’ maior quantidade de estudos se Pulmão Evidência moderada
faz necessário para poder afirmar se a atividade física
regular pode preveni-los. Hematológico

CONECTE-SE Cabeça e pescoço

Ovário Evidência limitada


Para aprender mais sobre os diferentes tipos
de câncer, obter dados epidemiológicos do
Pâncreas
Brasil, visite o site do Instituto Nacional de
Câncer do Ministério da Saúde: https://www.
inca.gov.br/ Próstata

Cérebro Evidência Insuficiente

Descrição da Imagem: O Quadro 4 apresenta os níveis de evidência Quadro 4 - Nível de evidência da inter-relação entre atividade
da inter-relação entre atividade física e alguns tipos de câncer. Para
câncer de bexiga, de mama, de cólon, do endométrio, do esôfago,
física e alguns tipos de câncer / Fonte: o autor
gástrico e renal têm fortes evidências de que que quanto maior a
quantidade de atividades físicas, menores são as chances desses tipos
de cânceres. Para o câncer de pulmão, temos uma evidência mode-
rada. Para câncer hematológico, de cabeça e pescoço, de ovário, do
pâncreas e da próstata, as evidências entre as menores chances de
surgimento desses tipos de cânceres com a prática de atividade física
são limitados e, por fim, ainda há evidências insuficiente sobre a in-
ter-relação atividade física e câncer cerebral.

105


ATIVIDADE FÍSICA E DIABETES MELLITUS TIPO 2

Descrição da Imagem: a Figura 3 apresenta o corpo humano e as partes onde se dão as complicações da diabetes mellitus. Esta doença está
relacionada com doenças cerebrovasculares, danos renais permanentes, infecções nos pés e nas mãos, retinopatia e cegueira, ataque cardíaco e
neuropatia periférica.

Doença
cerebrovascular Retinopatia
e cegueira

Dano renal
permanente Ataque cardíaco

Neuropatia periférica
Infecção nos mãos e pés
pés e mãos

Figura 3 - Complicações da diabetes mellitus

O diabetes mellitus é uma doença crônica que engloba dução insuficiente de insulina ou de uma resposta ina-
um grupo heterogêneo de distúrbios. O distúrbio endó- dequada dos órgãos aos níveis circulantes de insulina.
crino é o mais comum e afeta vários órgãos e funções Alguns dos sintomas mais característicos associados ao
do corpo, causando sérias complicações à saúde, como aparecimento do diabetes é a micção frequente, sede ex-
a insuficiência renal, doenças cardíacas, danos cerebrais, cessiva, perda de peso inexplicada e fadiga.
acidente vascular encefálico e cegueira. A diabetes melli- O diabetes é comumente diagnosticado quando
tus se dá quando o corpo não pode controlar o nível de o nível de glicose no sangue é igual ou superior a 126
glicose na circulação sanguínea em decorrência da pro- mg/dl ou 7,0 mmol/L após jejum noturno ou quando

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

o nível de glicose no sangue excede 200 mg/dl 2h após lina no sangue diminuem drasticamente ou até desapa-
um teste de tolerância à glicose oral padronizado. Foram recem. Nessa situação, injeções regulares de insulina se
definidos três tipos principais de diabetes: diabetes tipo tornam necessárias para sustentar a vida do indivíduo.
1, diabetes tipo 2 e diabetes gestacional (BOUCHARD; O diabetes tipo 2, diferentemente do tipo 1, é um
BLAIR; HASKELL, 2012). distúrbio metabólico no qual os níveis de insulina po-
dem ser normais, elevados (hiperinsulinemia) ou até
CONCEITUANDO diminuídos (hipoinsulinemia). Entretanto, nesse tipo de
diabetes, a hiperinsulinemia caracteriza a maioria dos
A insulina é um hormônio produzido pelo pacientes. Pelo menos nos estágios iniciais, a maioria
pâncreas e tem como função metabolizar a das pessoas com diabetes tipo 2 pode produzir insulina,
glicose (açúcar no sangue) para produção de mas não pode usá-la efetivamente. Dois componentes
energia. Ela atua como uma “chave”, abrindo
as “fechaduras” das células do corpo, para principais atuam nessa patologia: disfunção das células
que a glicose entre e seja usada para gerar β pancreáticas, na qual essas células gradualmente não
energia. produzem insulina adequadamente em resposta aos
Fonte: adaptado de Bouchard, Blair e Haskell (2012). níveis circulantes de glicose no sangue, ou resistência à
insulina, na qual tecidos sensíveis à insulina, como mús-
culo esquelético, gordura e fígado se tornam, em certa
medida, sem sensibilidade à insulina.
A resistência à insulina parece preceder e, pelo me-
nos em parte, ser responsável pela disfunção das células
β pancreáticas. O início do diabetes tipo 2 geralmente
ocorre com o avanço da idade, mas, devido a fatores do
estilo de vida, como a nutrição e prática de atividade físi-
ca insuficiente está acometendo cada vez mais indivídu-
os mais jovens (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
O diabetes tipo 2 é causado, principalmente, por
uma combinação de três situações anormais no organis-
mo: (1) diminuição da secreção de insulina pelas célu-
las β pancreáticas, (2) resistência à insulina nos tecidos
periféricos, e (3) aumento da produção de glicose no fí-
gado. É amplamente aceito que a resistência à insulina
No diabetes tipo 1, que é um distúrbio autoimune, as desempenha um papel central na patogênese do diabe-
células responsáveis pela liberação de insulina, as célu- tes tipo 2. O termo resistência à insulina se refere à res-
las β pancreáticas, são erroneamente reconhecidas pelo posta subnormal a uma dada concentração de insulina
sistema imunológico como “estranhas” e seletivamente pelos principais órgãos do corpo sensíveis à insulina, ou
destruídas. Como resultado, as células β pancreáticas seja, músculo esquelético, fígado e tecido adiposo. Des-
são eliminadas do corpo, e os níveis circulantes de insu- sa forma, se o músculo esquelético está envolvido nessa

107


situação, o exercício físico tem papel fundamental para citotóxicos de altas concentrações de glicose no sangue
controle desse tipo de diabetes. (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012).
Quando o sujeito se alimenta, um nível adequado Para manter a homeostase da glicose no corpo, é
de insulina é liberado nas refeições, mas seu efeito (dis- necessária a coordenação de três eventos metabólicos
posição da glicose) é prejudicado. Após um período de diferentes: 1) secreção adequada de insulina pelas cé-
resistência à insulina compensada, a tolerância à glicose lulas β pancreáticas; 2) supressão da produção hepática
diminuída eventualmente se desenvolve apesar das con- de glicose; e 3) estimulação da captação de glicose pelos
centrações elevadas de insulina. Finalmente, após a ma- tecidos sensíveis à insulina, principalmente os músculos.
nutenção de um estado hiperinsulinêmico ao longo do Durante um período agudo de exercícios, a crescen-
tempo, a falha das células β pancreáticas resulta em dimi- te necessidade de combustível metabólico é atendida
nuição da secreção de insulina. Isso leva ao aparecimento pelo aumento da utilização de carboidratos e gorduras
de diabetes mellitus tipo 2, quando a resistência à insulina no músculo esquelético. A glicose é retirada do sangue
e a função das células β comprometidas ocorrem simulta- para os músculos esqueléticos que funcionam por meio
neamente, resultando em hiperglicemia em jejum. de transportadores de glicose. Em pessoas que não têm
Além da influência de alguns fatores genéticos im- diabetes, a menos que o exercício seja de duração extre-
portantes, a resistência à insulina é uma característica mamente longa, as concentrações de glicose no sangue
comum de indivíduos obesos - principalmente quando o não diminuem consideravelmente. Este é o caso porque
excesso de gordura está concentrado na região abdominal a produção de glicose no fígado é precisamente compa-
(ou seja, adiposidade central) - e particularmente em in- tível com a captação de glicose no músculo e porque a
divíduos pouco ativos fisicamente. De fato, um mecanis- secreção de insulina pelas células β do pâncreas é reduzi-
mo primário que causa resistência à insulina é o ganho de da em resposta a níveis mais baixos de glicose no sangue.
peso que se intensifica com os baixos níveis de atividade Em pessoas com diabetes mellitus tipo 2 com hiper-
física e aumento do comportamento sedentário. glicemia moderada e resistentes à insulina, as concentra-
Os indivíduos que são diagnosticados com diabetes ções de glicose ainda podem ser efetivamente diminuí-
mellitus tipo 2 mostram uma redução acentuada na se- das com atividade física de intensidade moderada, um
creção precoce de insulina (ou seja, a fase de secreção importante benefício para a saúde do paciente diabético.
de insulina que ocorre imediatamente após a ingestão), Conforme definido anteriormente, a resistência à
uma consequência do mau funcionamento das células insulina é a incapacidade dos tecidos-alvos periféricos
β pancreáticas. Os mecanismos moleculares e de sina- (especialmente músculo, tecido adiposo e fígado) de
lização detalhados subjacentes a esse defeito ainda não responder adequadamente às concentrações circulantes
estão totalmente esclarecidos. No entanto, sabe-se que normais de insulina. A resistência à insulina pode ser
a progressão na deterioração da função das células β encontrada em pacientes mais de uma década antes do
leva muito tempo, portanto, quando o diabetes mellitus aparecimento do diabetes e é o melhor preditor para o
tipo 2 é diagnosticado, a disfunção das células β pode desenvolvimento posterior da doença.
estar ocorrendo há mais de uma década. O aumento Um tratamento para melhorar a resistência à insulina
do estado hiperglicêmico característico desse distúrbio é a prática regular de atividade física. Uma única sessão de
metabólico é exacerbado em longo prazo pelos efeitos exercício físico pode aumentar o transporte e o metabo-

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

lismo da glicose no músculo esquelético e também pode CONECTE-SE


ter efeitos profundos no metabolismo do glicogênio. Es-
sas alterações metabólicas ocorrem no músculo esquelé- Para aprender mais sobre o diabetes mellitus
tico e podem melhorar a homeostase da glicose em pesso- e obter dados científicos sobre a doença, visite
as com resistência à insulina. Além disso, essas alterações o site da Sociedade Brasileira de Diabetes:
https://www.diabetes.org.br/
metabólicas podem ser responsáveis pela capacidade da
atividade física de prevenir ou retardar o aparecimento do
diabetes mellitus tipo 2. Nesse sentido, a prática frequen-
te de atividade física é capaz de auxiliar no tratamento e ATIVIDADE FÍSICA E DOENÇAS CARDIO-
na prevenção do diabetes mellitus tipo 2 (BOUCHARD; VASCULARES
BLAIR; HASKELL, 2012).
Os benefícios terapêuticos da prática regular de As doenças cardiovasculares – incluindo doença isquê-
atividade física no tratamento da diabetes mellitus mica do coração, infarto agudo do miocárdio, hiperten-
tipo 2 são reconhecidos há muito tempo. Em 1919, são arterial sistêmica, febre reumática, defeitos cardíacos
foi relatado que o exercício físico diminui as concen- congênitos, insuficiência cardíaca congestiva e doença
trações de glicose no sangue e melhorou a tolerância vascular periférica – são as principais causas de morte
à glicose em pacientes diabéticos. Na edição de 1935 em homens e mulheres em países industrializados. Em
de The Treatment of Diabetes Mellitus, o exercício geral, as manifestações clínicas das doenças cardiovas-
físico era recomendado no tratamento diário do dia- culares têm início a partir da meia-idade e se intensifica
betes (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2012). com o avanço da idade. No entanto, evidência científica

109


confirma que as doenças cardiovasculares se iniciam na ença oriunda da disfunção endotelial e de inflamação.
infância, de modo que os tecidos que envolvem as coro- Essa inflamação causa liberação de substâncias anticoa-
nárias são afetados desde a infância no processo infla- gulantes que prejudicam as funções do coração e podem
matório (FORD, 2003). acarretar vasoconstrição, trombose e inflamação aguda
A patogênese mais encontrada nas doenças cardio- e crônica (SANTOS et al., 2008).
vasculares é a aterosclerose. Ela é considerada uma do-

O mecanismo biológico pelo qual a prática de atividade repouso. As alterações na resistência periférica total, por
física regular diminui as chances de adquirir hiperten- sua vez, são principalmente mediadas por alterações no
são arterial sistêmica pode ser raciocinado da seguinte diâmetro dos vasos sanguíneos. Várias alterações neu-
forma: a pressão arterial sanguínea é determinada pelo rais e locais ocorrem em resposta à participação crônica
débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo co- da atividade física que reduz o estado vasoconstritivo da
ração) e pela resistência periférica total dos vasos san- musculatura periférica e, ao fazê-lo, diminui a resistên-
guíneos (determinada pela viscosidade do sangue e o cia periférica total e a pressão arterial sanguínea (SAN-
comprimento dos vasos sanguíneos). TOS et al., 2008).
As reduções no débito cardíaco não ocorrem após o Existem vários mecanismos biológicos plausíveis
treinamento físico, indicando que uma redução na resis- pelos quais a atividade física reduz o risco de doença
tência periférica total é o principal mecanismo pelo qual isquêmica do coração, acidente vascular encefálico e
a atividade física reduz a pressão arterial sanguínea em doença vascular periférica. Esses mecanismos são se-

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

melhantes para essas três formas de doença. A atividade efeito antitrombótico (por exemplo, reduz a coagulação
física reduz a pressão arterial sanguínea como demons- do sangue), o que reduz ainda mais o risco de eventos
trado no parágrafo anterior, melhora o perfil lipídico do cardíacos e cerebrovasculares adversos (BOUCHARD;
sangue (por exemplo, diminui os triglicerídeos, aumenta BLAIR; HASKELL, 2012).
a lipoproteína de alta densidade ou o colesterol “bom”) e
diminui a inflamação sistêmica (por exemplo, diminui CONECTE-SE
os níveis sanguíneos de proteína C reativa [PCR]) e, ao
fazê-lo, diminui os danos e a aterosclerose dos vasos san- Para aprender mais sobre as doenças car-
guíneos cardíacos, cerebrais e periféricos. diovasculares e obter dados científicos so-
A atividade física também melhora a função endote- bre essas doenças visite o site da Sociedade
Brasileira de Cardiologia: https://www.portal.
lial (por exemplo, melhora as propriedades de vasodila- cardiol.br/
tação e vasoconstrição dos vasos sanguíneos) e tem um

111


Programas de promoção da
atividade física em saúde pública

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

A saúde pública é um campo multidisciplinar, cujo ob- de vida, destacam-se as melhorias na saúde pública. As
jetivo é promover a saúde da população por meio de realizações em saúde pública que são responsáveis por ​​
esforços comunitários organizados (ASCHENGRAU; melhorias na saúde e na expectativa de vida incluem o
SEAGE, 2020). Ao contrário da medicina, que se con- uso rotineiro de vacinas para doenças infecciosas, me-
centra principalmente no tratamento de doenças em in- lhorias na segurança de veículos automotores e locais
divíduos, a saúde pública se concentra na prevenção de de trabalho, controle de doenças infecciosas por meio
doenças na população/comunidade. de melhorias no saneamento básico e saúde (ASCHEN-
As principais atividades de saúde pública incluem a GRAU; SEAGE, 2020).
avaliação do estado de saúde da população, o diagnósti- As atividades do sistema de saúde pública em pes-
co dos problemas, a busca pelas causas desses problemas quisa, educação e implementação de programas torna-
e o desenvolvimento de soluções para eles. As soluções ram essas realizações possíveis. Esse sistema inclui agên-
geralmente envolvem intervenções no nível da comuni- cias federais, estaduais e municipais, além de instituições
dade que controlam ou impedem a causa do problema. acadêmicas. Esse complexo conjunto de instituições
Por exemplo, as intervenções de saúde pública incluem somente alcança o sucesso em saúde pública por meio
o estabelecimento de programas educacionais para de- de ações políticas e ganhos em conhecimento científico.
sencorajar os adolescentes de fumar, a implementação Dessa forma, a política entra no processo de saúde pú-
de programas de triagem para a detecção precoce do blica quando as agências advogam por recursos, desen-
câncer e a aprovação de leis que exigem que motoristas volvem políticas e planos para melhorar a saúde de uma
e passageiros de automóveis usem cintos de segurança comunidade e trabalham para garantir que serviços
(ASCHENGRAU; SEAGE, 2020). necessários para a proteção da saúde pública estejam à
Infelizmente, é difícil reconhecer as realizações em disposição de todos. A ação política é necessária porque
saúde pública, porque é difícil identificar pessoas que o governo geralmente tem a responsabilidade de desen-
foram poupadas de doenças por meio de ações em saú- volver as atividades necessárias para proteger a saúde
de pública. Por esse motivo, o campo da Saúde Pública pública e promover a saúde da população (ASCHEN-
recebeu menos atenção e menos recursos do que o cam- GRAU; SEAGE, 2020).
po da Medicina. No entanto, a Saúde Pública tem um Para que você compreenda melhor o que vem a ser
efeito maior na saúde das populações do que a medicina. a Saúde Pública em si e para que entenda o que vem a
Por exemplo, desde a virada do século XX, a expectati- ser Programas de Promoção de Atividade Física em Saú-
va média de vida das pessoas vem aumentando. Entre de Pública, o Quadro 5 apresenta as diferenças entre os
outros fatores, para esse aumento na expectativa média campos de pesquisa Básica, Clínica e em Saúde Pública.

113


Descrição do quadro: O Quadro 5 apresenta as características de diferentes tipos de pesquisa. São descritas informações sobre os seguintes tipos
de pesquisa: Pesquisa básica, Pesquisa Clínica e Pesquisa em Saúde Pública. As características descritas são as seguintes: o que e quem é estudado
em cada tipo de pesquisa; os objetivos de cada um dos tipos de pesquisa; e exemplos para cada um dos tipos de pesquisa. Na Pesquisa Básica são
estudados as células, os tecidos e animais em laboratórios. O objetivo da Pesquisa Básica é entender os mecanismos de doenças e os efeitos de
substâncias tóxicas. Alguns exemplos de Pesquisa Básica são a toxicologia e a imunologia. Na Pesquisa Clínica, são estudados os pacientes com
diagnóstico de doença(s). O objetivo da Pesquisa Clínica é a melhora no diagnóstico e no tratamento de doenças. Alguns exemplos de Pesquisa Clínica
são a pediatria e a medicina interna. Na Pesquisa em Saúde Pública, são estudadas as populações e comunidades. O objetivo da Pesquisa em Saúde
Pública é a prevenção de doenças e promoção da saúde. Alguns exemplos da Pesquisa em Saúde Pública são a epidemiologia e saúde ambiental.

Pesquisa em Saúde Pú-


Característica Pesquisa Básica Pesquisa Clínica
blica

O que e quem é Células, tecidos, animais em Pacientes com diagnóstico de Populações ou comunida-
estudado laboratórios. doença(s). des.

Entendendo os mecanis-
Objetivos da pes- Melhora no diagnóstico e no Prevenção de doenças e
mos de doenças e os efei-
quisa tratamento de doenças. promoção da saúde.
tos de substâncias tóxicas.

Epidemiologia, saúde
Exemplos Toxicologia, imunologia. Pediatria, Medicina interna.
ambiental.

Quadro 5 - Características das pesquisas Básicas, Clínicas e em Saúde Pública / Fonte: adaptado de Aschengrau e Seage (2020, p. 5)

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

Como a Saúde Pública diz respeito a comunidades e po- Em 2008, o Ministério da Saúde do Brasil retomou
pulações, o sistema de saúde do Brasil – Sistema Único as ações de comunicação social para a prática de ativida-
de Saúde – é um dos meios pelo qual tais Programas de de física em termos comunitários, desta vez atrelada ao
Promoção de Atividade Física podem chegar às popu- tema do Dia Mundial da Saúde. Em 2011, o Ministro da
lações. As ações de promoção de atividades físicas em Saúde do Brasil lançou o Programa Academia da Saúde,
Saúde Pública perpassam pela Política Nacional de Pro- que é gerenciado pelo Ministério da Saúde do Brasil até
moção da Saúde. Contudo, antes da publicação da Políti- os dias atuais (BENEDETTI et al., 2014).
ca Nacional de Promoção da Saúde, o governo do Brasil O programa Academia da Saúde é uma estratégia de
divulgou, em 2002, a ação chamada Hiperdia, que tinha promoção e produção do cuidado com a saúde, a partir
o propósito de acompanhar pacientes com diagnóstico da implantação de espaços públicos. O objetivo desse
de diabetes e hipertensão (BENEDETTI et al., 2014). programa é promover práticas corporais e atividade fí-
No ano de 2003, foi lançada a Estratégia Mundial so- sica, promoção da alimentação saudável, educação em
bre Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde que saúde, entre outros, além de contribuir para a produção
teve alcance em todo o mundo. Com esse lançamento, o do cuidado e de modos de vida saudáveis e sustentáveis
tema que envolvia a atividade física e promoção da saúde da população. Para tanto, o Programa promove a im-
foi colocado como prioridade para a saúde das popula- plantação de polos do Academia da Saúde, que são espa-
ções. A importância dessas recomendações internacio- ços públicos dotados de infraestrutura, equipamentos e
nais fez com que o Brasil, por meio do Ministério da Saú- profissionais qualificados (BRASIL, 2020).
de, coloca-se a atividade física em evidência. Em 2006, a O Programa Academia da Saúde é para toda a popu-
Política Nacional de Promoção da Saúde foi publicada lação e tem como ação o entendimento de que a saúde
e os repasses financeiros referentes a essa política foram integral do usuário do sistema de saúde deve ser atingida
destinados a Estados e Municípios para que valorizassem nas perspectivas de realização de práticas corporais, ativi-
ações de atividade física no Sistema Único de Saúde do dades físicas e alimentação saudável. Além disso, os espa-
Brasil (BOUCHARD; BLAIR; HASKELL, 2014). ços do programa são também destinados a ações culturais
O Brasil lançou, em 2007, o Plano Nacional de Ativi- para o melhor uso da população (BRASIL, 2020).
dade Física que previa, dentre outras coisas, a dissemina- Um tema que ainda carece de mais aprofundamento
ção do tema atividade física e saúde junto à população, são os Programas de Promoção de Atividade Física em
por meio de projetos e campanhas de incentivo à prática termos de Saúde Pública para crianças e adolescentes. O
de atividade física em todas as idades. No ano de 2011, projeto de pesquisa intitulado Report Card Brazil tem
o Brasil atualizou esse plano e publicou mais uma ree- como objetivo mapear os programas existentes para esse
dição (BENEDETTI et al., 2014). Todas essas ações di- público no Brasil. Esse indicador trata sobre estratégias
zem respeito à promoção de atividade física em termos e investimentos governamentais para a promoção da
de saúde pública, pois estabelece uma relação entre os atividade física de crianças e adolescentes. No Brasil,
setores políticos, de saúde e da população. há algumas iniciativas para crianças e adolescentes que
podem ser destacadas no Quadro 6.

115


Descrição do quadro: O Quadro 6 apresenta o nome dos programas do Governo do Brasil até 2018 que tratavam, em alguma instância, da promoção
da atividade física em crianças e adolescentes. Nesse quadro está o ano de criação dos programas, o ministério brasileiro responsável pelo programa,
o objetivo principal do programa e a dimensão do programa. O primeiro programa citado se chama Centros de Artes e Esportes Unificados, que foi
criado em 2011, e é de responsabilidade do Ministério da Cultura, tem como objetivo principal integrar em um mesmo espaço programas e ações
culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à
violência e de inclusão digital, e abrange a dimensão de infraestrutura física. O segundo programa citado se chama Forças no Esporte, que foi criado
em 2003, é de responsabilidade do Ministério da Defesa, e tem como objetivo principal democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte e pro-
mover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, oferecendo atividades esportivas educacionais, lazer e atividades complementares, e
abrange a dimensão de infraestrutura física e de pessoal. O terceiro programa citado é o Mais Educação, que foi criado em 2007, é de responsabilidade
do Ministério da Educação, não apresenta informação do objetivo principal e também não apresenta informação sobre a dimensão que abrange.
O quarto programa citado se chama Segundo Tempo, que foi criado em 2003, é de responsabilidade do Ministério do Esporte, tem como principal
objetivo democratizar o acesso de crianças e adolescentes aos conteúdos das práticas corporais por meio do esporte educacional de qualidade, e
abrange a dimensão de infraestrutura de pessoal, material esportivo e uniforme. O quinto programa citado é o Esporte e Lazer da Cidade, que foi
criado em 2011, é de responsabilidade do Ministério do Esporte, tem como objetivo principal democratizar o lazer e o esporte recreativo, e abrange
a dimensão de infraestrutura de pessoal. O sexto programa citado se chama Centro de Iniciação ao Esporte, que foi criado em 2013, é de responsabi-
lidade do Ministério do Esporte, tem como objetivo principal ampliar a oferta de infraestrutura de equipamento público esportivo qualificado, incen-
tivando a iniciação esportiva em territórios de vulnerabilidade social das grandes cidades brasileiras, e abrange a dimensão de infraestrutura física.
O sétimo programa citado se chama- Academia de Saúde, que foi criado em 2011, é de responsabilidade do Ministério da Saúde, tem como objetivo
principal promover práticas corporais e atividade física, promoção da alimentação saudável, educação em saúde, entre outros, além de contribuir
para a produção do cuidado e de modos de vida saudáveis e sustentáveis da população, e abrange a dimensão de infraestrutura física e de pessoal.

Ano de
Programa Ministério Objetivo principal Dimensão
Criação

Integrar num mesmo espaço progra-


mas e ações culturais, práticas esporti-
Centros de Artes
vas e de lazer, formação e qualificação
e Esportes Unifi- 2011 Cultura Infraestrutura física
para o mercado de trabalho, serviços
cados
socioassistenciais, políticas de preven-
ção à violência e de inclusão digital.

Democratizar o acesso à prática e


à cultura do esporte e promover o
Forças no Es- desenvolvimento integral de crianças Infraestrutura física e
2003 Defesa
porte e adolescentes, oferecendo atividades de pessoal.
esportivas educacionais, lazer e ativida-
des complementares.

Mais Educação 2007 Educação Não informado Não informado

Democratizar o acesso de crianças


Infraestrutura de pes-
e adolescentes aos conteúdos das
Segundo Tempo 2003 Esporte soal, material esporti-
práticas corporais por meio do esporte
vo e uniforme.
educacional de qualidade.

Esporte e Lazer Democratizar o lazer e o esporte recre- Infraestrutura de


2011 Esporte
da Cidade ativo. pessoal.

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ampliar a oferta de infraestrutura de


equipamento público esportivo qualifi-
Centro de Inicia-
2013 Esporte cado, incentivando a iniciação esportiva Infraestrutura física.
ção ao Esporte
em territórios de vulnerabilidade social
das grandes cidades brasileiras.

Promover práticas corporais e atividade


física, promoção da alimentação saudá-
Academia da vel, educação em saúde, entre outros, Infraestrutura física e
2011 Saúde
saúde além de contribuir para a produção do de pessoal.
cuidado e de modos de vida saudáveis
e sustentáveis da população.

Quadro 6 - Programas do Governo do Brasil até 2018 que tratavam, em alguma instância, da promoção da atividade física em crian-
ças e adolescentes / Fonte: adaptado de Silva et al. (2018).

EXPLORANDO IDEIAS

Antes de 2006 não existia no Brasil uma política


Algumas características desses programas se destacam nacional que tivesse como foco a promoção da
(SILVA et al., 2018): 1) nenhum desses programas têm atividade física em termos de Saúde Pública.
Dessa forma, esse campo é recente na área
como objetivo principal a promoção da atividade física da atividade física no Brasil e muito aprofunda-
de crianças e adolescentes, tal objetivo é secundário nes- mento ainda precisa ser dado para encontrar
ses programas; 2) não foi disponibilizado a quantidade melhores estratégias de promoção da atividade
física em termos comunitários. Que tal você
de recursos financeiros que é destinada por cada progra- pensar como a sua comunidade poderia ela-
ma, por ano, para cada estado da federação para que se borar Programas de Promoção da Atividade
pudesse verificar se o investimento em atividade física é Física que sirva para todos?

apropriado; 3) não há informações, nas fontes de consul-


ta, sobre a avaliação da efetividades desses programas no
que concerne à promoção da atividade física de crianças Para isso reflita sobre quais atividades físicas a sua co-
e adolescentes; 4) não há informações sobre o impacto munidade prática com frequência e se essa atividade
desses programas nos níveis de atividade física de crian- pode ser praticada por todos, independentemente do
ças e adolescentes; 5) não há informações sobre o plane- nível econômico e social. Além disso, reflita se o espaço
jamento e/ou perspectivas futuras (investimentos, am- físico existente no seu bairro é apropriado para a ativi-
pliação) desses programas no que concerne à promoção dade. Após essas reflexões, converse com a associação
da atividade física de crianças e adolescentes. Nesse sen- de moradores do seu bairro, com a secretaria de saúde
tido, Programas de Promoção de atividade física efetivos do município e com a imprensa sobre a necessidade de
para crianças e adolescentes do Brasil ainda são escassos. promover atividade física para todos.

117
considerações finais

Nessa unidade, foi informado sobre a relação da prática de atividade física com mar-
cadores de saúde, para tanto foi mostrado que todas as pessoas devem fazer atividades
físicas regulares. A quantidade recomendada de atividade física para trazer benefícios
à saúde varia conforme a faixa etária e todos devem se atentar a isso. Crianças e ado-
lescentes têm recomendações específicas, adultos e idosos também. Dessa forma, ao
trabalhar com cada público em específico, deve-se atentar às recomendações específicas.
A prática regular de atividades físicas evita a mortalidade precoce e o surgimento de
diversas doenças, como a obesidade, o câncer, o diabetes mellitus tipo 2 e as doenças
cardiovasculares. Diversos estudos foram mostrados nesta unidade com evidências
dos benefícios da prática de atividade física. A atividade física pode ser empregada na
prevenção e também como auxílio no tratamento dessas enfermidades, de modo que
ela é essencial no controle desses agravos. Uma das formas de proporcionar atividades
físicas para a população é por meio dos Programas de Promoção de Atividade Física em
Saúde Pública. Esses programas são voltados a toda a população e tem como objetivo
principal educar a população para um estilo de vida ativo e saudável.
No Brasil, diversas iniciativas de Programas de Promoção de Atividade Física em
Saúde Pública foram aplicadas a partir de 2006, de modo que esse marco foi possível
por causa da Política Nacional de Promoção da Saúde. Atualmente, o maior programa
do Brasil de Promoção de Atividade Física em Saúde Pública é a Academia da Saúde,
que é destinado a toda a população.
Apesar do exposto anteriormente, algumas faixas etárias, como as crianças e os ado-
lescentes, dispõem de poucas oportunidades voltadas diretamente a eles, pois os
programas existentes não focam na educação em saúde.

118
atividades de estudo

1. Para entender o papel da atividade física na prevenção da mortalidade pre-


coce e promoção da saúde, é importante compreender que cada pessoa que
nasce tem uma expectativa de vida, que significa quantos anos em média essa
pessoa irá viver. Com base nesse exposto, leia as afimativas a seguir e depois
assinale a alternativa correta.

I. Quanto mais desenvolvido é o país, piores são as condições de vida daquele país.
II. O cálculo de expectativa de vida leva em consideração o país e as condições
de vida da localidade em que a pessoa nasce.
III. A prática de atividade física regular ajudará a pessoa a atingir a expectativa de
vida daquela determinada localidade.
IV. As evidências científicas são consistentes em informar que a prática de ativi-
dade física diminui a mortalidade precoce.

É correto o que se afirma em:

a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

2. A obesidade é um fator de risco principal para mortalidade prematura e inú-


meras condições crônicas de saúde que reduzem a qualidade de vida geral. A
prevalência da obesidade aumentou para proporções epidêmicas nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento nas últimas duas a três décadas, e essa
condição afeta praticamente todas as idades, raças e grupos socioeconômicos
em ambos os sexos. Com base no tema da obesidade, analise as afirmativas
a seguir e depois assinale a alternativa correta.

I. A obesidade é uma condição de acúmulo excessivo de gordura que não prejudica


a saúde.
II. Quando o balanço energético é positivo, quer dizer que o organismo está ingerin-
do mais energia do que gastando.
III. Quando o balanço energético é negativo, quer dizer que o organismo está gas-
tando mais energia do que ingerindo.
IV. A perda de peso não está relacionada ao volume de atividade física realizada.

119
atividades de estudo

É correto o que se afirma em:

a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

3. O câncer é de origem multifatorial, com contribuições provenientes de com-


ponentes genéticos e ambientais. Do ponto de vista da saúde pública, deter-
minantes modificáveis do câncer são importantes porque esses fatores são
passíveis de mudança. Um determinante, ou fator de risco, que recebeu muita
atenção recentemente é a atividade física. Considerando o exposto, marque
(V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as afirmativas falsas.

( ) Câncer é considerado a segunda maior causa de mortalidade no mundo, fi-


cando atrás apenas das doenças cardiovasculares.
( ) A atividade física reduz o risco de desenvolver câncer de mama por meio dos
efeitos na função menstrual e nos níveis de hormônios sexuais femininos.
( ) A atividade física diminui o tempo de trânsito intestinal no cólon, o que reduz
o risco de câncer.

A sequência correta é:

a. V, V, F.
b. F, F, V.
c. V, F, V.
d. F, F, F.
e. V, V, V.

120
atividades de estudo

4. A diabetes mellitus se dá quando o corpo não pode controlar o nível de glicose


na circulação sanguínea em decorrência da produção insuficiente de insulina
ou de uma resposta inadequada dos órgãos aos níveis circulantes de insulina.
Com base no tema da diabetes mellitus, assinale (V) para as afirmativas verda-
deiras e (F) para as afirmativas falsas.

( ) O diabetes mellitus é uma doença infectocontagiosa que engloba um grupo


heterogêneo de distúrbios.
( ) Uma única sessão de exercício físico pode diminuir o transporte e o metabo-
lismo da insulina no músculo esquelético, o que ajuda a controlar o diabetes
mellitus tipo 2.
( ) Durante um período agudo de exercícios, a crescente necessidade de com-
bustível metabólico é atendida pelo aumento da utilização de carboidratos e
gorduras no músculo esquelético.

A sequência correta é:

a. V, V, F.
b. F, F, V.
c. V, F, V.
d. F, F, F.
e. V, V, V.

5. Cite cinco Programas de Promoção de Atividade Física em Saúde Pública para


crianças e adolescentes que existem no Brasil e descreva o objetivo de cada
um deles.

121
LEITURA
COMPLEMENTAR

Um artigo recentemente publicado na Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempe-


nho Humano pelos autores Renata Aparecida Rodrigues de Oliveira, Osvaldo Costa Moreira,
Rômulo José Mota Júnior e João Carlos Bouzas Marins, intitulado como “Associação entre ín-
dice de adiposidade corporal e fatores de risco cardiovasculares em professores” teve como
objetivo investigar a associação entre adiposidade corporal e fatores de risco cardiovascula-
res em professores. Os autores analisaram 495 professores, de ambos os sexos, sendo 324
mulheres e 171 homens. Uma série de avaliações antropométricas foi realizada nos profes-
sores para investigar se eles tinham os níveis de gordura corporal elevados ou não. Do total
da amostra, foi encontrado que 32,1% dos professores tinham adiposidade corporal elevada.
Um dos principais resultados que os autores encontraram foi que os professores que tinham
excesso de gordura corporal, ou seja, obesidade, também tinha níveis elevados de gordura
corporal na região do abdômen, valores de glicose em jejum elevados e o colesterol total
elevado. Esses resultados demonstram que a obesidade é fator de risco para glicose elevada
que tem relação direta com a diabetes mellitus, e com outros fatores de risco cardiovascula-
res, como o colesterol total, que é um dos responsáveis pela aterosclerose.
Como foi visto ao longo da unidade, a atividade física regular auxilia no controle e na pre-
venção de todas essas doenças, como a obesidade, diabetes mellitus e doenças cardiovas-
culares, ou seja, é um fator preponderante para evitar esses agravos à saúde. Dessa manei-
ra, no artigo citado, a prática de atividade física regular é discutida como um dos principais
meios para melhorar a saúde dos professores investigados. Essas atividades físicas podem
ser do tipo aeróbias, de força, ou uma combinação de ambas, desde que sejam praticadas
regularmente.

Fonte: adaptado de Oliveira et al. (2020, online).

122
material complementar

Indicação para Ler

Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida


Carlos Aparecido Zamai
Editora: Paco Editorial
Sinopse: o livro destaca o tema da atividade física relacionada à saúde, focan-
do nos seguintes aspectos: teorias, modelos e determinantes da atividade física
em adultos; Saúde e qualidade de vida de militares; Avaliação da qualidade de
vida em crianças: análise dos instrumentos Kidscreen; O basquete em cadeira de
rodas na qualidade de vida de pessoas com lesão medular; Musculação como
elemento importante para saúde e qualidade de vida de crianças e adolescentes,
entre outros pontos.

123
gabarito

1. D.
2. B.
3. A. jetivo democratizar o acesso de crianças e
4. B. adolescentes aos conteúdos das práticas cor-
porais por meio do esporte educacional de
5. Os programas e os objetivos estão descritos
qualidade.
no Quadro 6:

Programa Esporte e Lazer da Cidade: tem


Programa Centros de Artes e Esportes Unifica-
como objetivo democratizar o lazer e o espor-
dos: tem como objetivo integrar num mesmo
te recreativo.
espaço programas e ações culturais, práticas
esportivas e de lazer, formação e qualificação
para o mercado de trabalho, serviços socioas- Programa Centro de Iniciação ao Esporte: tem
sistenciais, políticas de prevenção à violência e como objetivo ampliar a oferta de infraestru-
de inclusão digital. tura de equipamento público esportivo quali-
ficado, incentivando a iniciação esportiva em
territórios de vulnerabilidade social das gran-
Programa Forças no Esporte: tem como objeti-
des cidades brasileiras.
vo democratizar o acesso à prática e à cultura
do esporte e promover o desenvolvimento in-
tegral de crianças e adolescentes, oferecendo Programa Academia da saúde: tem como ob-
atividades esportivas educacionais, lazer e ati- jetivo promover práticas corporais e atividade
vidades complementares. física, promoção da alimentação saudável,
educação em saúde, entre outros, além de
contribuir para a produção do cuidado e de
Programa Mais Educação: não informado.
modos de vida saudáveis e sustentáveis da
Programa Segundo Tempo: tem como ob-
população.

124
UNIDADE
IV
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

Professora Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Uma breve história dos serviços de saúde
• Sistema Único de Saúde (SUS)
• Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF-AB)

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar uma breve história do surgimento dos Sistemas Públicos da Saúde.
• Identificar os conceitos, princípios e diretrizes que regem o Sistema Único de Saúde.
• Discutir sobre os preceitos e diretrizes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família
(NASF-AB).
unidade

IV
INTRODUÇÃO

S
eja bem-vindo(a) ao nosso quarto encontro sobre a epidemio-
logia na atividade física. O objetivo, aqui, será apresentar um
pouco da história que antecedeu a criação do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Voltaremos lá nos primórdios do século XVIII e passaremos por
toda a história até chegar na criação do SUS. Você irá notar que houve-
ram muitas transformações e reivindicações para que o SUS pudesse ser
o que é hoje. Além disso, discutiremos sobre os princípios e diretrizes
que regem esse sistema brasileiro e o motivo que faz com que ele leve
no nome, o termo “único”.
Para finalizar a temática sobre o SUS, apresentaremos as abordagens
sobre a Estratégia Saúde da Família e a Atenção em Saúde, incluindo seus
níveis de complexidade.
Você perceberá que, dentro de um nível específico de complexidade
da Atenção à Saúde, encontraremos um programa chamado NASF - Nú-
cleo de Apoio à Saúde da Família. Então, discutiremos sobre os conceitos
e preceitos que o regem. Além disso, você conhecerá também um pouco
da história desse programa, de como, quando e o porquê ele foi criado, e,
ao final, você irá identificar o motivo pelo qual abordaremos especifica-
mente sobre este programa neste nosso livro.
Vou te dar um spoiler, o profissional de Educação Física tem grande
representatividade neste programa e faz a diferença na vida dos usuá-
rios. Eu tenho certeza que você terá uma ótima leitura! Desejo, desde
já, bons estudos!


Uma breve história


dos serviços de saúde

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

Antes de discutirmos efetivamente sobre o Sistema Úni- passando a ser considerado lugar onde se procura a cura
co de Saúde (SUS), vamos entender um pouco sobre os para as doenças e frequentado não apenas por pobres,
modelos assistenciais e o serviço público de saúde, uma mas por todas as classes sociais. Então, os hospitais se
vez que os sistemas de saúde, as organizações de saúde e tornaram centro de estudo, aprendizagem e pesquisa,
as formas de interagir são distintas quando observamos entrelaçando a relação hospital-medicina e auxiliando
ao longo da história nas diversas localidades. nos problemas sanitários e na construção de sistemas de
Na Idade Média, os hospitais eram geridos pela igre- saúde (COELHO, 2008).
ja, a qual era responsável pelo cuidado das pessoas ca- Apesar do ambiente hospitalar e a relação hospital-
rentes, órfãos e doentes. Como os hospitais ficavam pró- -medicina fosse semelhante a quase todos os países do
ximos às igrejas, eles recebiam todo tipo de pessoa que ocidente - incluindo os países socialistas - as maneiras
necessitasse de qualquer ajuda, ou seja, os hospitais não de gerenciar esses serviços e disponibilizá-los à popu-
recebiam apenas doentes, mas incapacitados, pobres, pe- lação apresentou grandes variações desde o início do
regrinos, vagabundos, órfãos e idosos (COELHO, 2008). século XX, gerando diferentes modelos assistenciais.
Entre os Séculos XVIII e primeira metade do Sécu- Enquanto nos países socialistas e também na maioria
lo XIX, os hospitais, gradativamente, perderam a gestão dos países europeus se organizaram os modelos assis-
da igreja e passaram a ser gerido pelo Estado. Assim, no tenciais conhecidos como Sistemas Nacionais Públicos
final do século XIX, o hospital começa a realmente se de Saúde, nos Estados Unidos da América e outros paí-
tornar uma organização complexa, deixando de ser um ses expandiu-se o Modelo Liberal Privatista ou também
lugar de abrigo onde os pobres aguardavam a morte, conhecido como Modelo liberal Privado.

131


O modelo assistencial é entendido como diferentes zar médicos e hospitais para a população, aumentando
combinações tecnológicas com finalidades distintas, a procura pelos serviços hospitalares. Em decorrência
como solucionar problemas e atender necessidades e or- disso, até a década de 60, ocorreu um disparo no núme-
ganizar serviços de saúde, considerando sempre o perfil ro de hospitais, leitos hospitalares, funcionários ligados
epidemiológico da comunidade, ou seja, investigando à saúde e número de serviços prestados. Assim, a saúde
as doenças e agravos à saúde (PAIM, 2003). Portanto, é passou a ser um direito pautado constitucionalmente, de
uma forma de organização e articulação entre os dife- responsabilidade do Estado (COELHO, 2008).
rentes recursos físicos, tecnológicos e humanos disponí- Nos anos 70, a junção do aumento da clientela e da
veis para enfrentar e resolver os problemas de saúde de ampliação do acesso aos serviços de saúde ocasionada
uma população (SILVA JUNIOR; ALVES, 2007). pela implementação do direito à saúde como política da
Em termos gerais, o que caracteriza os Sistemas maioria dos países e o aumento dos gastos devido a uma
Nacionais Públicos de Saúde é o fato dele ser universal, medicina hospitalar mais especializada e tecnológica
regulado e financiado pelo aparato estatal. Além disso, resultou em um drástico aumento do gasto com assis-
os serviços são disponibilizados para a população di- tência médica com o passar dos anos. Apesar dos altos
retamente pelo Estado ou por meio da terceirização de custos financeiros advindos com a assistência médica,
profissionais e organizações privadas. Em contraparti- muitas pesquisas demonstravam que os indicadores de
da, no Modelo Liberal Privatista, a população compra saúde não melhoravam na mesma proporção. Assim, a
os serviços de saúde diretamente dos prestadores, por importância, a legitimidade do hospital e o processo de
meio de diferentes tipos de associações, que podem ser especialização médica começaram a ser questionados
desde o mutualismo até de empresas que interligam a no que diz respeito à capacidade de melhorar a qualida-
relação entre os usuários e os serviços, que geralmente de de vida e os indicadores de saúde.
são prestadores privados de assistência à saúde (COE- No fim dos anos 70, a crise dos modelos assistenciais
LHO, 2008). em saúde se aprofunda ainda mais, principalmente devi-
do às insuficiências para suprir as demandas de saúde e
CONCEITUANDO as notícias sobre possíveis desvios de verbas. Justamente
nesse cenário de efervescência marcado por uma per-
Mutualismo é uma relação harmônica entre cepção de cidadania que colocava as questões de saúde
dois grupos que se associam e se beneficiam na agenda política e no centro das discussões, indicati-
dessa interação. No contexto do nosso con- vos de uma Reforma Sanitária Brasileira apareciam.
teúdo, quer dizer uma entidade mútua em
que há contribuição de todos para benefício Articulada entre os anos 70 e 80 no Brasil, o movi-
individual de cada um dos contribuintes. mento da Reforma Sanitária teve como principal ob-
jetivo o reconhecimento da saúde como direito social
que deveria ser garantido pelo Estado. Seu ápice se deu
A amplitude da assistência à saúde a toda a população, com a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde
na maioria dos países, deu-se objetivando disponibili- realizada em 1986, promovida pelo Ministério da Saúde

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

(SILVA; MIRANDA, 2014). Com o tema “Saúde, Direi-


to de Todos, Dever do Estado”, a 8ª conferência contou
com a participação de diferentes setores organizados da
sociedade, como delegados eleitos, representações sindi-
cais, associações de profissionais de saúde, movimentos
populares em saúde, Associação Brasileira de Pós-Gra-
duação em Saúde Coletiva (ABRASCO), entre outros
(NORONHA; LIMA; MACHADO, 2008).

CONCEITUANDO

O movimento da Reforma Sanitária nasceu


no início da década de 70, em um contexto
de luta contra a ditadura. Essa expressão de
Reforma Sanitária foi literalmente utilizada
para se referir ao conjunto de ideia que se
tinha em relação às mudanças e transforma-
ções necessárias à área da saúde. Portanto,
foi um processo de amplas mobilizações da
sociedade brasileira pela redemocratização,
expressando a indignação da sociedade frente
a mercantilização da saúde.

Fonte: adaptado de Arouca (1986).

Três dos principais assuntos abordados na Conferência


de 1989 foram: saúde como direito de cidadania; refor-
mulação do Sistema Nacional de Saúde; e financiamen-
to do setor. O relatório da Conferência determinou que
haveria a necessidade da criação de uma Instituição da
saúde, como direito de cidadania e dever do Estado;
compreensão da determinação social do processo saú-
de-doença; e reorganização do sistema de atenção, com
a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). A Figura 1
demonstra alguns marcos na história do Sistema SUS.

133


Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta uma linha do tempo dos principais acontecimentos que marcaram a história da construção do Siste-
ma Único de Saúde (SUS), iniciando com o ano de 1988, em que a Constituição Brasileira reconhece o direito de acesso universal à saúde a toda a
população, por meio do SUS. No ano de 1989, foi registrado o último caso de poliomielite. Em 1990, as Leis n° 8.080 e n° 8.142 regulamentaram os
serviços, a participação da sociedade e as bases de funcionamento do SUS. Em 1991, houve a estruturação da rede de atenção básica em saúde
com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde. Em 1992, aconteceu a aprovação da Norma Operacional Básica (NOB 01/1992), Programa de
Reorganização dos Serviços de Saúde. No ano de 1993, aconteceu a descentralização e municipalização dos serviços e a extinção do Instituto Nacional
de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Em 1994, houve a estruturação da Saúde da Família com equipes multidisciplinares atuando
nas comunidades. No ano seguinte, 1995, há a regulamentação do Sistema Nacional de Auditoria no âmbito do SUS. Em 1996, temos o acesso
e distribuição de medicamentos aos portadores de HIV/aids e a redefinição do modelo de gestão do SUS que disciplina as relações entre União,
estados municípios e Distrito Federal. Em 1999, houve a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – uma nova etapa no registro e
fiscalização de medicamentos e alimentos e também a Política Nacional dos Medicamentos Genéricos.

Registro do último Leis n. 8.080 e n. 8.142


caso de poliomielite regulamentaram os
1989 serviços, a participação da
sociedade e as bases de Estruturação da Acesso e distribuição de
funcionamento do SUS Saúde da Família medicamentos aos
1990 com equipes portadores de HIV/aids e
multidisciplinares a redefinição do modelo
atuando nas de gestão do SUS que
comunidades disciplina as relações
1994 entre União, estados
municípios e Distrito
1988 1995 Federal
A Constituição Regulamentação 1996
Brasileira reconhece 1991 do Sistema Criação da Agência
o direito de acesso Estruturação da rede 1993 Nacional de Nacional de Saúde
universal à saúde a de atenção básica em Descentralização Auditoria no Suplementar -
toda a população, 1992 âmbito do SUS Regulamentação do
por meio do SUS.
saúde com o Programa de Aprovação da Norma e municipalização setor privado de
Agentes Comunitários Operacional Básica dos serviços e a saúde. 2000
de Saúde (NOB 01/1992), extinção do
Programa de Instituto Nacional
Reorganização dos de Assistência
Serviços de Saúde Médica da 1999
Previdência Social
(Inamps) Criação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) – uma nova etapa no
registro e fiscalização de medicamentos e
alimentos e também a Política Nacional dos
Medicamentos Genéricos

Figura 1 - Marcos na história da construção do Sistema Único de Saúde / Fonte: a autora

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Único
de Saúde (SUS)

135


A 8ª Conferência Nacional de Saúde realizada em março reito à saúde deve se efetivar por meio da implementação
de 1986, em Brasília, foi um marco na história da saúde das políticas de saúde (BRASIL, 1988). Assim, três docu-
pública brasileira. A Conferência consolidou os princí- mentos forneceram as bases para a organização do SUS:
pios prescritos pelo Movimento da Reforma Sanitária, 1. A Constituição Federal, de 5 de outubro de
concretizando um processo democrático em que a pro- 1988.
posta política se enfatizava no conceito abrangente de 2. A Lei Orgânica da Saúde, de 19 de setembro
saúde e no reconhecimento como um direito do cidadão de 1990.
de responsabilidade do Estado (BRASIL, 1998; BECCHI 3. A Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990.
et al., 2013). Esse conceito de direito à saúde e dever do
Estado foi legalizado na Constituição Federal de 1988: Entretanto, antes de você conhecer a fundo sobre o SUS,
“garantido mediante políticas sociais e econômicas que vamos entender como esse sistema funciona. Bom, pri-
visem à redução do risco de doença e de outros agravos, meiramente, sistema pode ser considerado como um
o acesso universal e igualitário às ações e serviços para aglomerado de elementos que estão interrelacionados,
sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, ou seja, interagem-se entre si para desempenhar uma
p. 32), nascendo o Sistema Único de Saúde (SUS). determinada função. No caso do sistema brasileiro, o
O SUS é definido, na Constituição Federal de 1988, SUS, o objetivo é oferecer cuidados de saúde à popula-
como um conjunto de ações e serviços de saúde, organi- ção que visem ações preventivas, curativas, de reabilita-
zado em rede regionalizada e hierarquizada, em que o di- ção e de promoção (SOLHA, 2014). Observe a Figura 2:

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: a Figura 2 apresenta os elementos que compõe o Sistema Único de Saúde (SUS) que tem como objetivo oferecer cuidados
de saúde para a população brasileira. Os elementos são: Recursos financeiros; Infraestrutura física e de equipamentos - Unidade Básica de saúde,
ambulatórios, hospitais, laboratórios, veículos; Assistência à saúde, ensino, pesquisa e vigilância à saúde; recursos humanos - profissionais de saúde,
profissionais de administração e profissionais de apoio.

RECURSOS FINANCEIROS

INFRAESTRUTURA FÍSICA
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E DE EQUIPAMENTOS
RECURSOS HUMANOS
• PROFISSIONAIS DE SAÚDE • UNIDADE BÁSICA
• PROFISSIONAIS DE OBJETIVO: OFERECER CUIDADOS DE SAÚDE
• AMBULATÓRIOS
ADMINISTRAÇÃO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO • HOSPITAIS
• PROFISSIONAIS DE APOIO
BRASILEIRA • LABORATÓRIOS
• VEÍCULOS

ASSISTÊNCIA À SAÚDE
ENSINO
PESQUISA
VIGILÂNCIA À SAÚDE

Figura 2 - Elementos que compõe o Sistema Único de Saúde / Fonte: adaptada de Solha (2014)

O elemento recursos financeiros diz respeito aos ativos O setor da infraestrutura física e de equipamentos
que custeiam monetariamente o funcionamento desse corresponde ao local em que os profissionais atuam e
sistema. Esses recursos provêm do pagamento de impos- os usuários têm acesso aos serviços prestados. O ensi-
tos pela sociedade. Os recursos humanos se destinam ao no e pesquisa são eixos fundamentais que orientam os
conjunto de colaboradores desse sistema, como os pro- serviços do SUS, pois possibilitam o desenvolvimento
fissionais de saúde, os profissionais da área da adminis- de pesquisas sobre saúde, permitindo uma assistência à
tração e os profissionais de apoio. Isso envolve médicos, saúde qualificada. Em relação a vigilância em saúde, esta
enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, é responsável pelas ações de vigilância, prevenção e con-
psicólogos, administradores, auxiliar de limpeza, entre trole de doenças, isto é, a análise da situação de saúde da
tantos outros. população brasileira como um todo.

137


Como todo sistema precisa de regras para garantir O princípio da universalidade é o que garante o acesso
o seu funcionamento, o SUS também possui seus prin- de toda a população aos serviços de saúde, abrangendo
cípios e diretrizes, sendo que os princípios éticos con- todos os níveis de assistência, sem restrição. Esse prin-
duzem o sistema e as diretrizes organizacionais ajudam cípio talvez seja o maior desafio do SUS, o de garantir o
a administrá-lo, possibilitando que os princípios sejam direito à saúde a uma população de mais de 211 milhões
colocados em prática. de habitantes (IBGE, 2020), tornando o Brasil pratica-
Perceba, na Figura 3, os princípios que regem o SUS. mente como o único país do mundo que se propôs en-
frentar tamanho obstáculo.
Descrição da Imagem: A Figura 3 apresenta os três princípios que
regem o SUS e que estão interligados. São eles: universalidade, equi-
A Lei 8.080/1990, em seu artigo 7º, IV, contempla de
dade e integralidade. modo explícito o princípio da equidade, proclamando
a “igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou
privilégios de qualquer natureza” (BRASIL, 1990, on-li-
ne). Isto é, o objetivo desse princípio requer que as ações
e serviços sejam ofertados a todos os cidadãos, de forma
igualitária, sem privilégios ou barreiras.
A integralidade é “entendida como conjunto
Universalidade articulado e contínuo das ações e serviços preventivos
e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema”
(BRASIL, 1990, on-line). Portanto, para que haja inte-
gralidade da assistência à saúde, é necessária a intrínseca
relação entre prevenção, promoção e recuperação, no
que se refere aos cuidados para com os atendidos pelo
Equidade SUS. Além disso, é notório a preocupação não apenas
com a saúde individual, mas também com a saúde co-
letiva. Assim, quando se fala em “complexidade do sis-
tema”, diz respeito não apenas à necessidade de organi-
zação e atenção aos serviços de pequena, média e alta
complexidade (dimensão horizontal), mas também a
percepção da saúde para além do aspecto biológico, isto
Integralidade
é, a importância também do aspecto afetivo, espiritual e
sociocultural (dimensão vertical) (CARVALHO, 2006).
Como o SUS é um sistema nacional que atua em um
país com regiões extremamente diferentes entre si, di-
retrizes foram criadas para garantir um funcionamento
uniforme do sistema em todo o Brasil, as quais devem
Figura 3 - Princípios do SUS / Fonte: a autora ser seguidas por todos os municípios e estados.

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

A descentralização corresponde à distribuição das política nacional de saúde que seja focada em promover
responsabilidades pelas ações e serviços de saúde para os condições de vida saudável para a população, que possi-
municípios, tornando as três esferas (federal, estadual e bilite a prevenção de riscos, doenças e agravos à saúde e
municipal) responsáveis pelo desenvolvimento, pela co- possa garantir um acesso igualitário a todos dos servi-
ordenação, pela implantação e pela avaliação dos progra- ços assistenciais que garantem atenção integral à saúde
mas de saúde (SOLHA, 2014). Isso porque, anteriormen- (BRASIL, 2011).
te, as ações de saúde eram todas centralizadas no nível A atuação do sistema brasileiro abrange um conjun-
federal e então os programas de saúde eram criados e re- to de serviços e ações (CAMPOS et al., 2009), como:
alizados de acordo com o perfil epidemiológico do país • Assistência que integra a atenção básica (primá-
e executados pelos estados e municípios. Contudo, você ria), atenção especializada ambulatorial (secun-
viu, nas unidades anteriores, que o perfil de adoecimento dária) e atenção hospitalar (terciária) nos varia-
e mortalidade é diferente a depender da região. Assim, as dos níveis de complexidade.
estratégias de saúde não estavam sendo específicas. Por- • Vigilância em saúde - inclui vigilância ambiental,
tanto, as ações foram distribuídas a nível federal, estadual vigilância sanitária, vigilância epidemiológica e
e municipal, para que os estados e os municípios pudes- vigilância nutricional.
sem ter a liberdade de definir seus próprios programas, • Assistência terapêutica integral, com destaque
de acordo com a realidade regional, e receberem apoio para a assistência farmacêutica.
técnico e suporte financeiro do nível federal.
• Formulação e execução da política de sangue e a
A regionalização se destina à delimitação de ter-
coordenação das redes de hemocentros.
ritórios para que os gestores locais possam atuar sobre
eles, de forma planejada e organizada. Em determinados • Regulação da prestação de serviços privados de
assistência à saúde.
casos, isso só acontece com a ajuda das Secretarias Es-
taduais de Saúde, que devem apoiar os municípios no • Regulação da formação dos profissionais de saúde.
processo. Para isso, existem algumas comissões especí- • Promoção da saúde em articulação interseto-
ficas, de município, estado e até governo federal, em que rial com outras áreas e órgãos governamentais.
são discutidas as necessidades de saúde da região e as Apoio diagnóstico e de terapia na assistência à
possíveis soluções (SOLHA, 2014). saúde, e nas investigações de interesse da vigilân-
O SUS leva a nomenclatura de “único”, pois seus cia em saúde pública.
princípios e diretrizes regem a organização dos serviços • Definição e implementação de políticas de Ciên-
nas três esferas do governo: federal, estadual e munici- cia e Tecnologia para o setor saúde, incluindo a
pal. Esses princípios demonstram os ideais que regem a definição de normas e padrões para a incorpora-
ção tecnológica.
criação e implementação do SUS e são específicos para
as bases do conceito geral de saúde - que você estudou lá
na Unidade I - e seu reconhecimento como direito (SIL-
VA; MIRANDA, 2014).
O objetivo principal do SUS é criar e executar uma

139


CONECTE-SE A assistência à saúde disponibilizada pelo SUS é dividida


em níveis de Atenção à Saúde. Esses níveis, basicamen-
O SuperSUS é um aplicativo para celular de- te, destinam-se à capacidade que uma unidade de saú-
senvolvido pelo Grupo de pesquisa Saberes de tem para prestar assistência à população. A Atenção
e Práticas em Saúde da Fiocruz, que propor- Primária ou Básica é uma assistência generalista, consi-
ciona a divulgação da rede que compõe o
sistema e as conquistas que envolveram sua derada de baixa complexidade tecnológica e, portanto,
criação. No game, o SUS é um super-herói e tem foco na promoção e prevenção de saúde. A Aten-
precisa superar desafios na rede pública de ção Secundária apresenta um maior nível tecnológico,
saúde. Baixe agora mesmo no seu celular e
divirta-se ao mesmo tempo que você aprende com incorporação de mais especialistas e já passa a ter
sobre o sistema brasileiro de saúde: https:// um nível médio de complexidade. A Atenção Terciária é
supersus.fiocruz.br/ de alto nível tecnológico e alta complexidade, ou seja, é
mais especializada (Figura 4).

Descrição da Imagem: a Figura 4 apresenta os níveis de complexidade da Atenção à Saúde. Nela encontramos uma pirâmide separada por quatro
níveis. Na base da pirâmide consta o primeiro nível que é a Atenção primária. Esta é a porta de entrada do sistema para os níveis superiores de
maior complexidade. Ela é destinada a grupos populacionais situados em uma área de abrangência delimitada - as Unidades de Saúde. O segundo
nível da pirâmide se destina à Atenção Secundária, que são os serviços ambulatoriais, com especialidades clínicas e cirúrgicas, os serviços de apoio
diagnóstico e terapêutico e os serviços de atendimento de urgência e emergência - os Hospitais gerais. O terceiro nível é a Atenção Terciária, sendo
especificamente para os serviços hospitalares de maior complexidade. E, por fim, o último nível da pirâmide que são os serviços hospitalares de
maior complexidade, como hospitais terciários e quaternários de caráter regional, estadual e nacional.

SERVIÇOS HOSPITALARES DE MAIOR


COMPLEXIDADE
Hospitais terciários e quaternários de caráter
regional, estadual e nacional

ATENÇÃO SERVIÇOS HOSPITALARES DE MAIOR


COMPLEXIDADE
TERCIÁRIA

SERVIÇOS AMBULATORIAIS
Serviços ambulatoriais com especialidades
clínicas e cirúrgicas, serviços de apoio
ATENÇÃO SECUNDÁRIA diagnóstico e terapêutico.
Serviços de atendimento de urgência e
emergência - os HOSPITAIS GERAIS

UNIDADES DE SAÚDE
Atenção Primária à grupos populacionais
ATENÇÃO PRIMÁRIA situados em uma área de abrangência
delimitada - as Unidades de Saúde.

PORTA DE ENTRADA
do sistema para os níveis superiores
de maior complexidade. Figura 4 - Níveis de complexidade da Atenção à Saúde
Fonte: adaptada de Lima (2016, on-line).

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

A Atenção Primária à Saúde, ou Atenção Bá-


sica à saúde, é o primeiro nível de atenção em
saúde, é a porta de entrada do SUS. Caracteri-
za-se por ser um conjunto de ações de saúde,
no âmbito individual e coletivo que abrange
a proteção, prevenção e promoção da saúde
(CAMPOS et al., 2009).
A Estratégia Saúde da Família é a vertente
brasileira da Atenção Básica à Saúde, portan-
to, é uma iniciativa criada para implementar e
fortalecer a atenção básica em saúde. Quando
essa estratégia foi criada no Brasil, no ano de
1994, tinha a nomenclatura de Programa Saú-
de da Família e era composta por um médico
generalista, um enfermeiro, dois auxiliares de
enfermagem e de quatro a seis agentes comu-
nitários. Posteriormente, o cirurgião-dentista,
o técnico de saúde dental e o auxiliar de con-
sultório dentário também fizeram parte da
equipe (PINHO et al., 2012).
No ano de 2008, com o objetivo de am-
pliar a abrangência e o escopo das ações da
atenção básica, apoiando a inserção da estra-
tégia de Saúde da Família na rede de serviços
e o processo de territorialização e regionaliza-
ção a partir da atenção básica (BRASIL, 2008),
nasceu o Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), o qual você notará, no próximo tó-
pico, que teve sua nomenclatura atualizada
para Núcleo Ampliado de Saúde da Família e
Atenção Básica (NASF-AB).

141


Núcleo Ampliado de
Saúde da Família (NASF-AB)
142
EDUCAÇÃO FÍSICA

Embora a Estratégia Saúde da Família tenha tido boa Quando relacionado à Atenção Primária à Saúde,
aceitação e expansão, demonstrando resultados positi- este modelo aborda uma estratégia de organização do
vos até internacionalmente (ORGANIZAÇÃO PAN- trabalho em saúde, articulada a partir da necessidade
-AMERICANA DE SAÚDE, 2011), muitos desafios se de ampliar o escopo de atuação da Estratégia Saúde da
encontravam pela frente. Dentre eles: Família, trazendo uma equipe multiprofissional que
irá prestar assistência e cuidados em saúde de forma
[...] o processo em curso de redefinição e qualifi- interdisciplinar, aumentando o potencial de integrali-
cação da atenção básica na ordenação das redes de
dade e de resolutividade dos atendimentos (SANTOS;
atenção e na sua capacidade efetiva de gestão do
cuidado, por meio do aumento do escopo das ações, UCHÔA-FIGUEIREDO; LIMA, 2017).
da ampliação de formatos de equipes, de ações que O modelo do apoio matricial é o principal modelo
auxiliem na expansão da resolutividade e da arti- de cuidados colaborativos no Brasil e, portanto, tem a
culação e suporte com/de outros pontos de atenção finalidade de, a partir da prática integrada à Atenção Pri-
da Rede de atenção à saúde (BRASIL, 2014, p. 15).
mária à Saúde, estimular a construção de saberes, cen-
trando a ação no sujeito e não na doença. Neste aspecto,
Tentando responder a esses objetivos e desafios, o Mi- as especialidades/especificidades adotam um lugar de
nistério da Saúde, em 2008, criou o Núcleo de Apoio à apoio, em contradição a uma lógica fragmentada e hie-
Saúde da Família (NASF) (BRASIL, 2009), para ampliar rárquica de trabalho (CAMPOS; DOMITTI, 2007).
a abrangência e as ações da Atenção Básica e reforçar o Revendo a história de implantação do NASF en-
processo de territorialização e regionalização em saúde. quanto política, a primeira experiência surgiu em julho
Portanto, os NASF’s são uma das principais estruturas de 2005, com os Núcleos de Atenção Integral na Saúde
de apoio matricial às Estratégias de Saúde da Família, da Família (NAISF), formado por quatro modalidades
estabelecendo o papel fundamental de ampliar o escopo de ação em saúde: alimentação/nutrição e atividade fí-
das ações e aumentar a resolutividade dos problemas de sica, saúde mental e reabilitação (BRASIL, 2013). A por-
saúde vivenciados na Atenção Primária à Saúde. taria de criação do NAISF foi reformulada, integrando
De modo a romper com a visão fragmentada tra- novas áreas de atuação e novas diretrizes para organiza-
dicional da atenção à saúde no Brasil, o NASF atua de ção do trabalho.
forma integrada, prestando apoio matricial às equipes Como mencionado anteriormente, o NASF foi cria-
de Saúde da Família. O que seria um modelo matricial? do em 2008 pela Portaria nº 154/08, 14 anos após a cria-
O modelo de apoio matricial é considerado um novo ção da estratégia saúde da família e intenso processo de
modo de produzir saúde, em que, em um processo de discussões e negociações no âmbito federal, influenciado
construção compartilhada, duas ou mais equipes elabo- por algumas experiências municipais, de transformações
ram uma proposta de assistência pedagógica e terapêu- no campo da saúde coletiva e de reivindicações corpo-
tica, como acontece nos consultórios de rua, nas ações a rativas (MELO et al., 2018). Desde então, as estratégias
populações ribeirinhas e fluviais ou no próprio Progra- foram ampliadas para atividade física, práticas corporais,
ma Academia da Saúde (programa que visa a promoção práticas integrativas e complementares, saúde mental, re-
da saúde e produção do cuidado por meio da implanta- abilitação, serviço social, saúde da criança, saúde da mu-
ção de espaços públicos) (BRASIL, 2014). lher e assistência farmacêutica (BRASIL, 2008).

143


Com a implantação da Portaria nº 2.488/11, que construções, melhorias tecnológicas e informativas, Te-
abrange a Política Nacional da Atenção Básica, várias lessaúde) e Programa de Melhoria do Acesso e da Quali-
modificações foram impostas no que diz respeito à am- dade e Programa Mais Médicos são alguns dos exemplos
pliação das categorias profissionais que podem ser cre- de expansão da Atenção Básica (MELO et al., 2018).
denciadas. Além disso, os critérios de adesão aos municí- A portaria nº 3.124, de 28 de dezembro de 2012, re-
pios, o número de equipes de saúde da família assistida e define alguns parâmetros no NASF. Houve modificações
alguns outros temas também foram incorporados. Ana- na vinculação das modalidades 1 e 2 e a criação de mais
lisando os 12 anos de implementação do NASF, perce- uma, a modalidade 3, contemplando municípios de pe-
be-se grande crescimento e expansão, fato que incenti- queno porte. Além disso, novos profissionais foram in-
vou também a ampliação da rede de Atenção Primária à corporados às equipes (BRASIL, 2012).
Saúde. Medidas como: incorporação de modalidades de A partir da portaria de 2012, tem-se três modalidades
equipes (equipes ribeirinhas e fluviais e os consultórios de NASF financiados e reconhecidos formalmente pelo
na Rua), implementação do Programa de Requalifica- Ministério da Saúde. O Quadro 1 apresenta a divisão:
ção da Unidade Básica de Saúde (ampliações, reformas,

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: o Quadro 1 apresenta as modalidades do NASF, bem como o número de equipes vinculadas e o total das cargas horárias
profissionais de cada uma. O NASF 1 é composto por cinco a nove equipes, sendo as equipes de Saúde da Família e/ou Equipes de Atenção Básica
para populações específicas (Equipe de consultório nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial). O total das cargas horárias profissionais é de, no mínimo,
200 horas semanais, sendo que cada ocupação deve ter, no mínimo, 20 horas e, no máximo, 80 horas de carga horária semanal. O NASF 2 possui de
três a quatro equipes vinculadas, podendo ser as Equipes de Saúde da Família e/ou Equipes de Atenção Básica para populações específicas (equipe
de consultório nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial). O total das cargas horárias profissionais é de, no mínimo, 120 horas semanais, sendo que cada
ocupação deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 40h de carga horária semanal. Por fim, o NASF 3 possui de uma a duas Equipes de Saúde da Família
e/ou Equipes de Atenção Básica para populações específicas (equipe de consultório nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial) tendo o mínimo de 80 horas
semanais. Cada ocupação deve ter, no mínimo, 20 horas e, no máximo, 40 horas de carga horária semanal.

MODALIDADES NÚMERO DE EQUIPES VINCULADAS TOTAL DAS CARGAS HORÁRIAS PROFISSIONAIS

5a9
Equipes de Saúde da Família e/ou Mínimo 200 horas semanais. Cada ocupação
NASF 1 Equipes de Atenção Básica para popu- deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 80h de
lações específicas (Equipe de consultó- carga horária semanal.
rio nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial)

3a4
Mínimo 120 horas semanais. Cada ocupação
Equipes de Saúde da Família e/ou
deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 40h de
NSAF 2 Equipes de Atenção Básica para popu-
carga horária semanal.
lações específicas (Equipe de consultó-
rio nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial)

1a2
Equipes de Saúde da Família e/ou Mínimo 80 horas semanais. Cada ocupação
NASF 3 Equipes de Atenção Básica para popu- deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 40h de
lações específicas (Equipe de consultó- carga horária semanal.
rio nas ruas, equipe ribeirinha e fluvial)

Quadro 1 - Modalidades do NASF, conforme a Portaria nº 3.124/2012 / Fonte: BRASIL (2020, on-line)

145


Você notou a diferença entre as modalidades 1, 2 e 3 apre- projetos terapêuticos singulares, as ações comuns no ter-
sentadas no Quadro 1? A diferenciação se relaciona com ritório, desenvolvendo o projeto de saúde do território,
a quantidade e tipo de profissional, carga horária e núme- em conjunto com os equipamentos sociais e comunitá-
ro de equipes apoiadas. A composição exata das equipes rios (SANTOS, 2012). As intervenções específicas com
deve ser definida pelos gestores municipais, considerando os usuários, em forma de atendimento individualizado,
as necessidades locais e a disponibilidade de profissionais devem ocorrer em casos claramente específicos (BRA-
de cada uma das ocupações (BRASIL, 2013). SIL, 2009; BRASIL, 2014).
Você deve estar se perguntando, afinal, o que é o O profissional de Educação Física está presente em
NASF então? De acordo com a Política Nacional de quase metade das equipes do NASF, demonstrando uma
Atenção Básica (BRASIL, 2011), os NASF’s são equipes importante representatividade (SANTOS, 2012). Pesquisas
multiprofissionais que são compostas por profissionais que abrangem sobre a inserção do profissional de Educa-
de diferentes profissões que atuam conjuntamente com ção Física no NASF-AB têm evidenciado que as atividades
os profissionais das equipes de Saúde da Família e das estão centradas na formação de grupos educativos para re-
equipes de Atenção Básica para populações específicas alização de atividades físicas (SOUZA; LOCH, 2011).
(Consultórios na Rua, equipes ribeirinhas e fluviais). Con- O profissional de Educação Física que atua no NAS-
tudo, no ano de 2017, após a revisão da Política Nacional da F-AB deve saber coordenar, planejar, realizar treinamen-
Atenção Básica, o NASF teve sua nomenclatura reformu- tos especializados e participar de equipes multidiscipli-
lada, passando a ser nomeado Núcleo Ampliado de Saúde nares e interdisciplinares. Assim, as atividades devem ser
da Família e Atenção Básica (NASF-AB) (BRASIL, 2017). pautadas em: desenvolver ações individuais e coletivas
Uma equipe do NASF-AB pode ser composta pelas que abordem as práticas integrativas e complementa-
seguintes profissões: Assistente social; profissional de res; veicular informação que priorize pela prevenção,
Educação Física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoau- diminuição dos riscos e a proteção à vulnerabilidade,
diólogo; profissional com formação em arte e educação buscando a produção do autocuidado; incentivar a cria-
(arte educador); nutricionista; psicólogo; terapeuta ocu- ção de espaços de inclusão social referentes às práticas
pacional; médico ginecologista/obstetra; médico ho- integrativas e complementares; proporcionar educação
meopata; médico pediatra; médico veterinário; médico permanente em práticas integrativas e complementares,
psiquiatra; médico geriatra; médico internista (clínica juntamente com as equipes de saúde da família, basean-
médica); médico do trabalho; médico acupunturista; do-se na coparticipação, acompanhamento supervisio-
e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional nado e discussão de caso, abordando a educação perma-
graduado na área de saúde com pós-graduação em saú- nente; articular ações, de forma integrada às equipes de
de pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma saúde da família, sobre o conjunto de prioridades locais
dessas áreas (BRASIL, 2014). em saúde que incluam os diversos setores da adminis-
As diretrizes que regem o NASF-AB afirmam que tração pública; colaborar para a ampliação e a valoriza-
os profissionais que compõem as equipes NASF-AB, ção da utilização dos espaços públicos de convivência
conjuntamente com as equipes de Saúde da Família, de- social, com enfoque ao combate da violência; identificar
vem priorizar intervenções interdisciplinares, adotando profissionais e/ou membros da comunidade com poten-
sempre o atendimento compartilhado, a construção de cial para o desenvolvimento do trabalho educativo em

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

práticas integrativas e complementares, em conjunto


com as equipes de saúde da família; capacitar os pro-
fissionais, como os agentes comunitários de saúde, para
atuarem como facilitadores no processo de divulgação
e educação em saúde referente às práticas integrativas e
complementares; promover ações que estejam interliga-
das às práticas integrativas e complementares juntamen-
te com os demais equipamentos públicos presentes no
território (escolas, creches e outros); e realizar atividades
clínicas pertinentes a sua responsabilidade profissional
(BONFIM, 2012).

147
considerações finais

Chegamos ao fim do nosso penúltimo encontro dentro dessa abordagem sobre


saúde pública. Aqui, nós conversamos sobre a história do Sistema Único de Saúde
(SUS) e sobre os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Você pôde notar
que, antes da efetivação do SUS, o processo de saúde passou por inúmeras trans-
formações. Por exemplo, o hospital que vemos atualmente não tinha o mesmo
objetivo no passado. Assim, a implantação do SUS foi um processo que envolveu
a participação efetiva da população. Além disso, você pôde conhecer sobre as
diretrizes e princípios que regem esse sistema, buscando sempre levar saúde para
a população de forma gratuita e de qualidade.
Sabemos que na prática encontramos muitas dificuldades e desafios para que isso
realmente ocorra, mas precisamos pensar que o Brasil, atualmente, possui mais
de 209 milhões de habitantes. Então, dar assistência médica a toda essa população
de forma totalmente gratuita (claro, com os impostos que a população paga), é
uma tarefa árdua. Portanto, precisamos, de fato, valorizar esse serviço que é único.
Depois que conhecemos a história e os princípios do SUS, pudemos aprofundar
nossos conhecimentos em um dos programas que compõem esse sistema, o Núcleo
de Apoio à Saúde da Família (NASF), atualmente chamado de Núcleo Ampliado
de Saúde da Família (NASF-AB). Abordamos sobre as diretrizes desse programa
e como ele atua dentro da Estratégia de Saúde da Família. Além disso, relatamos
sobre os profissionais que compõe as equipes NASF-AB, especialmente sobre o
profissional de Educação Física.
Por fim, discutimos sobre os objetivos deste profissional junto ao NASF-AB e quais
ações são executadas com foco na população. E agora, o que será que abordaremos
no nosso último capítulo do livro? Você tem alguma ideia? Tenho certeza que você
não se arrependerá de ler. Portanto, encontro você daqui a pouco para finalizarmos
a jornada de estudos sobre a epidemiologia da atividade física. Até mais!

148
atividades de estudo

1. A história dos serviços públicos de saúde nos apresenta diferentes fatos, po-
dendo observar que a assistência à saúde nem sempre foi a mesma com o
passar dos anos. Portanto, assinale a alternativa correta sobre a história dos
serviços de saúde.

I. Na antiguidade, a função dos hospitais era abrigar os doentes que não tinham
condições financeiras de ter acesso à saúde, a qual era paga.
II. A Igreja teve grande poder sobre a assistência à saúde na Antiguidade.
III. A organização dos modelos assistenciais em saúde foi semelhante em todos
os países.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I e III, apenas.

2. Ao ler sobre o Sistema Único de Saúde, você notou que ele é regido por dire-
trizes e princípios. Assim, cite e descreva sobre os principais princípios deste
sistema.

3. O Sistema Único de Saúde leva essa nomenclatura, pois:

a. É um sistema considerado público.


b. Abrange vários programas de saúde.
c. É regido pelas três esferas do governo.
d. Apresenta diretrizes únicas.

e. Apresenta princípios únicos.

149
atividades de estudo

4. Sobre a Atenção em Saúde, responda as afirmativas com (V) para as verdadei-


ras e (F) para as falsas.

( ) A Atenção básica é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde e é compos-


to pelas Unidades Básicas de Saúde e pelos Serviços Ambulatoriais.
( ) A Atenção terciária tem maior complexidade quando comparada à atenção
primária e secundária de saúde.
( ) As especialidades clínica e cirúrgicas são abrangidas pela Atenção Secundária.
( ) A Atenção Primária à Saúde tem o objetivo de proteção, promoção e preven-
ção da saúde.

Assinale a alternativa correta:

a. V, V, F, F.
b. F, V, V, F.
c. V, F, V, F.
d. F, V, V, V.
e. V, F, F, F.

5. O NASF é um programa destinado a levar a promoção da saúde para a popula-


ção. Assim, avalie as afirmativas a seguir sobre o NASF e a atual do profissional
de Educação Física.

I. O NASF se baseia no modelo de apoio matricial, estimulando a troca de sabe-


res entre as equipes.
II. Atualmente, o NASF possui 3 modalidades de equipes, sendo que um dos as-
pectos que diferencia uma modalidade da outra é a quantidade de profissionais.
III. O profissional de Educação Física deve saber elaborar e prescrever treinamen-
tos especializados dentro do NASF, podendo ser ações pautadas coletivamen-
te ou individualmente.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.

e. I, II e III.

150
LEITURA
COMPLEMENTAR

Em 28 de janeiro de 2020, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica que acaba com
a obrigatoriedade das equipes multidisciplinares estarem vinculadas ao modelo do Núcleo
Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB). Na prática, significa que os ges-
tores municipais ficam livres para compor essas equipes da forma como quiserem, e não
mais seguindo os parâmetros dessa iniciativa criada para ampliar o trabalho conjunto e
integrado de profissionais de diferentes áreas do conhecimento na Saúde da Família. A mu-
dança foi publicada na Nota Técnica nº 3, do Departamento de Saúde da Família, vinculado
à Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde. O texto diz, ainda, que, a
partir de 2020, o Ministério não realizará mais o credenciamento de NASF-AB (FUNDAÇÃO
OSWALDO CRUZ, 2020).
A nota técnica Nº 3/2020-DESF/SAPS/MS (BRASIL, 2020):

1. ASSUNTO

1.1. Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e Programa


Previne Brasil.

2. ANÁLISE

2.1. Com o novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde


(APS), instituído pelo Programa Previne Brasil por meio da Portaria n° 2.979, de 12
de novembro de 2019, alguns instrumentos normativos foram revogados, dentre os
quais as normas que definem os parâmetros e custeio do Núcleo Ampliado de Saúde
da Família e Atenção Básica (NASF-AB): Seção II do Capítulo II do Anexo XXII da Portaria
de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017; e Seção II do Capítulo I do
Título II da Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.

2.2. Dessa forma, a composição de equipes multiprofissionais deixa de estar vinculada


às tipologias de equipes NASF-AB. Com essa desvinculação, o gestor municipal passa
a ter autonomia para compor suas equipes multiprofissionais, definindo os profissio-
nais, a carga horária e os arranjos de equipe. O gestor municipal pode então cadastrar
esses profissionais diretamente nas equipes de Saúde da Família (eSF) e equipes de
Atenção Primária (eAP), ampliando sua composição mínima. Poderá, ainda, manter
os profissionais cadastrados no SCNES como equipe NASF-AB ou cadastrar os profis-
sionais apenas no estabelecimento de atenção primária sem vinculação a nenhuma
equipe.

151
LEITURA
COMPLEMENTAR

2.3. A revogação das referidas normas também impacta no credenciamento de novas


equipes NASF-AB. A partir de janeiro de 2020, o Ministério da Saúde não realizará
mais o credenciamento de NASF-AB, e as solicitações enviadas até o momento serão
arquivadas.

2.4. Compreendendo que o novo financiamento da APS é focado na pessoa assistida,


nenhum componente deste novo modelo é exclusivo de determinado profissional ou
equipe, pelo contrário, as equipes multiprofissionais são importantes para o desem-
penho da atenção primária do município em todos os componentes. A melhoria dos
indicadores em saúde, por exemplo, está diretamente relacionada à capacidade re-
solutiva das equipes, às ações e serviços que ofertam e aos profissionais que as com-
põem. Dessa forma, quanto mais apropriada for a composição da equipe para resol-
ver os problemas de saúde da população, melhor será o desempenho dessa equipe,
caso ela trabalhe de maneira integrada e efetiva.

2.5. Nesse cenário, diante da responsabilidade de garantir a melhoria e o cumprimen-


to gradual desses indicadores, é importante que a gestão estruture a APS de modo a
promover a atuação articulada entre as diversas categorias profissionais que influen-
ciam qualitativamente todos os serviços da APS. Esse trabalho estruturado deve am-
pliar, de fato, a capacidade de cuidado e incidir sobre a melhoria da situação sanitária
e epidemiológica da população, além de favorecer a vigilância das condições de saúde.

2.6. O novo modelo de financiamento da APS permite ainda que gestores municipais
conheçam melhor as necessidades em saúde da população e sua demanda local com
base no cadastro da população e no resultado dos indicadores, que definem, respec-
tivamente, os valores de repasse da captação ponderada e do pagamento por de-
sempenho. Vale pontuar também que, a partir de 2021, conforme Portaria nº 3.222,
de 10 de dezembro de 2019, haverá um indicador relacionado à atuação de equipes
28/01/2020 SEI/MS - 0013259951 - Nota Técnica https://sei.saude.gov.br/sei/contro-
lador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_docu-
mento=14608557&infra_si… 2/2 mulprofissionais na APS incorporado ao rol de indica-
dores monitorados para o pagamento por desempenho.

2.7. Destaca-se, ainda, que, na transição para o novo modelo de financiamento, não
haverá prejuízo nos valores transferidos para os municípios quando comparados aos
valores repassados anteriormente. Para os municípios que apresentam manutenção

152
LEITURA
COMPLEMENTAR

ou acréscimo de valores, considerando as projeções de repasse com as novas regras


em comparação aos repasses de 2019, esse comparativo já considerou os valores de
2019 referentes aos NASF-AB. Ou seja, quando comparados aos valores repassados
em 2019, incluindo os valores de NASF-AB, os repasses previstos para 2020 são supe-
riores. Já para os municípios que apresentaram decréscimo dos valores com a pros-
pecção das novas regras, a estratégia de transição impede que tenham prejuízos em
relação aos valores de 2019, visto que receberão, ao longo de todo o ano de 2020, o
maior valor entre aqueles transferidos em 2019 para o Piso de Atenção Básica, o que
inclui os valores relativos ao NASF-AB.

3. CONCLUSÃO

3.1. Vale acrescentar que, conforme definido pela Portaria n° 2.979, de 12 de novem-
bro de 2019, que institui o Previne Brasil, em seu Argo 12-N, os gestores municipais
e estaduais têm autonomia na aplicação dos incentivos de custeio federal referente
ao financiamento de que trata o Programa, desde que sejam destinados a ações e
serviços da APS e que se respeite o disposto na Lei Complementar nº 141, de 13 de
janeiro de 2012, e na Lei Orgânica da Saúde. Ou seja, tais recursos de financiamento
de custeio da APS podem ser aplicados pelo gestor municipal no custeio de equipes
multiprofissionais no formato que for mais apropriado às necessidades locais.

Fonte: Brasil (2020, on-line).

153
material complementar

Indicação para Ler

Legislação do SUS: Comentada e esquematizada - Colorido, Revisa-


do, Ampliado e com novos esquemas
Coordenadora e Autora: Natale Oliveira de Souza
Autores: Jakeline Borges e Yara Cardoso Coletto
Editora: Sanar
Sinopse: o livro Legislação do SUS comentada e esquematizada para concursos
e residências - 3 Edição é o livro de cabeceira de todo profissional da saúde no
Brasil. O livro dobrou de tamanho, conta com tudo que você precisa saber, revisar
e praticar! As Leis Orgânicas de Saúde são as leis que regulamentam o Sistema
Único de Saúde (SUS) e, além de ser conteúdo fundamental para qualquer profis-
sional atuante no mercado de trabalho, é assunto certeiro em todos os editais de
concursos e residências. Por meio destas leis, as ações de saúde passaram a ser
regulamentadas em todo o território nacional. Por isso, todos os profissionais que
desejam fazer concursos e residências multiprofissionais em órgãos, cuja atuação
envolve esse sistema, têm de dominar a legislação aplicada ao SUS. Até 25% das
questões de provas destes órgãos são de assuntos da legislação aplicada ao SUS.

154
gabarito

1. B.
2. São 3 principais princípios: princípio da uni-
versalidade, da equidade e da integralidade.
O princípio da universalidade é o que garante
o acesso de toda a população aos serviços de
saúde, abrangendo todos os níveis de assis-
tência, sem restrição. O princípio da equidade
rege que as ações e serviços sejam ofertados
a todos os cidadãos, de forma igualitária, sem
privilégios ou barreiras. O princípio da inte-
gralidade se refere à assistência ampliada,
transformadora, centrada no indivíduo, aten-
dendo todas as suas necessidades.
3. C.
4. D.
5. E.

155
PROMOÇÃO DA SAÚDE E
ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL
DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Professora Dra. Eliane Cristina de Andrade Gonçalves Brusco

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Atenção Primária à Saúde: Prevenção e Promoção da Saúde
• Política Nacional de Promoção da Saúde
• Atuação do Profissional na Promoção da Saúde

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os conceitos e diretrizes da Atenção Primária à Saúde como foco na
promoção da saúde.
• Discutir sobre a Política Nacional de Promoção da Saúde.
• Identificar como o profissional da saúde pode atuar na promoção da saúde, com
enfoque para o profissional de Educação Física.
unidade

V
INTRODUÇÃO

O
lá, aluno(a)! Para finalizarmos nossa jornada de estudos sobre
a epidemiologia na atividade física, iremos aprofundar nossos
conhecimentos sobre a promoção da saúde. Esta unidade será
dividida em três tópicos, os quais tratarão sobre a Atenção
Primária à saúde e os conceitos inerentes a ela. Abordaremos, ainda, so-
bre a Política Nacional de Promoção da Saúde e sobre a atuação do pro-
fissional de saúde nesta área.
Desta forma, primeiramente, iremos refletir sobre a reestruturação
do sistema de saúde a partir da valorização da Atenção Primária voltada
para saúde, definiremos qual o papel deste nível de atenção e as ações
envolvidas. Para a compreensão deste processo, serão conceituados im-
portantes termos, como prevenção em saúde, promoção da saúde, saúde
amplificada e os determinantes de saúde.
Na sequência, conheceremos sobre a principal política criada para
fortalecer a promoção da saúde, trazendo breve histórico e seus objetivos.
Por fim, iremos refletir, a partir desse novo contexto de saúde pública,
como será a atuação para os profissionais de saúde e, especificamente,
qual o papel do profissional de Educação Física nos serviços de saúde.
Para auxiliar nessa compreensão, destacaremos quais as habilidades
esses profissionais precisam desenvolver e quais ferramentas poderão ser
utilizadas durante este processo de aprendizagem. Você irá observar que
este campo de trabalho é dinâmico. Desta forma, a formação para a sua
atuação precisará ser continuada para garantir o serviço de qualidade.
Esta unidade irá, portanto, encerrar a temática proposta para este
livro. Não deixe de fazer suas anotações e, se precisar, retorne aos con-
teúdos das unidades anteriores para relembrar possíveis conhecimentos
primordiais. Desejo bons estudos!


Atenção primária à saúde:


prevenção e promoção da saúde

160
EDUCAÇÃO FÍSICA

Como discutimos, na Unidade 4, sobre os níveis de


Atenção à Saúde (primário, secundário e terciário), nes- forma racional, a tecnologia da atenção secundária e os
ta unidade iremos nos aprofundar no nível de Atenção medicamentos; e aumentar a relação custo-efetividade
Primária à Saúde, que tem como foco ações de preven- dos serviços (STARFIELD, 2002).
ção e promoção da saúde. Dentre os fatores que contribuem para garantir a
Nós vimos, anteriormente, que a Atenção Primária boa relação entre custo e efetividade na Atenção Primá-
à Saúde é considerada a porta de entrada do sistema de ria à Saúde, podemos destacar a presença de uma equipe
saúde, portanto deve ser de fácil acesso para que os de- multidisciplinar que visa trabalhar com visão holística
mais níveis organizacionais do sistema de saúde funcio- (ou seja, considerando aspectos físicos, psicológicos, so-
nem. Dessa forma, espera-se que o primeiro contato, que ciais dos usuários do sistema e de suas famílias e comu-
é realizado com o médico de Atenção Primária, facilite nidade). Além disso, neste nível de atenção, há caráter
a seleção da melhor forma de atenção para os usuários. acessível, que não restringe faixas etárias ou tipos de
Consideramos, então, que a Atenção Primária à Saú- problemas e condições de saúde.
de é a base do sistema, englobando ações mais generalis- Esta acessibilidade deve garantir que, independen-
tas e de baixa complexidade. Neste nível de atendimento, temente do usuário ter uma condição de enfermidade
a atenção é fornecida para todas as novas necessidades que necessite de intervenção imediata (como ocorre na
e problemas, com foco da atenção sobre a pessoa no de- maioria dos casos de pacientes na Atenção Secundária e
correr do tempo e não direcionada para a enfermidade, Terciária), o atendimento multidisciplinar estará dispos-
como ocorre nos demais níveis atenção (secundário e to a prestar assistência continuada àquela pessoa e sua
terciário). família. A partir do exposto, resumidamente, os serviços
O papel da Atenção Primária à Saúde como sistema na Atenção Primária à Saúde devem resolver a maioria
de atenção é oferecer atendimento acessível e aceitável dos problemas de saúde, organizar o atendimento aos
para os pacientes com valores regidos pela dignidade usuários e ser responsável pela saúde desses indivíduos,
humana e solidariedade; assegurar a distribuição equi- ou seja, baseia-se em três funções, resolução, organiza-
tativa de recursos de saúde; integrar e coordenar servi- ção e responsabilização (MENDES, 2011).
ços curativos, paliativos, preventivos e promotores de Para ilustrar o funcionamento e organização da Aten-
saúde; centrar nas pessoas de forma que permita que os ção Primária à Saúde, demonstramos, na Figura 1, as prin-
usuários influenciem os serviços de saúde e assumam cipais diferenças no atendimento quando comparamos a
a responsabilidade por sua própria saúde; controlar, de Atenção Primária ao modelo tradicional de saúde.

161


Descrição da Imagem: A Figura 1 compara os dois modelos (tradicional versus atenção primária) em relação a quatro parâmetros: (1) enfoque, (2)
conteúdo, (3) organização e (4) responsabilidade. No primeiro parâmetro, é citado o enfoque do modelo tradicional que é a doença e a cura versus
a atenção primária que é a saúde, prevenção, atenção e cura. No segundo parâmetro, é citado o conteúdo do modelo tradicional que é o tratamen-
to, atenção por episódio e problemas específicos versus a atenção primária que é a promoção da saúde, a atenção continuada e abrangente. No
terceiro parâmetro, é citada a organização do modelo tradicional, que é composto por especialistas, médicos e com consultório individual versus
a atenção primária que é composta por clínicos gerais, grupos de outros profissionais e atendimento em equipe. No quarto parâmetro, é citada a
responsabilidade do modelo tradicional, que é apenas do setor da saúde, domínio pelo profissional e recepção passiva versus atenção primária que
tem colaboração intersetorial, participação da comunidade e autorresponsabilidade.

MODELO TRADICIONAL ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Enfoque

Doença Saúde

Cura Prevenção, atenção e cura

Conteúdo

Tratamento Promoção da saúde

Atenção por episódio Atenção continuada

Problemas específicos Atenção abrangente

Organização

Especialistas Clínicas gerais

Médicos Grupos de outros profissionais

Consultório individual Equipes

Responsabilidade

Apenas setor de saúde Colaboração intersetorial

Domínio pelo profissional Participação da comunidade

Recepção passiva Autorresponsabilidade

Figura 1 - Da atenção médica primária à atenção primária à saúde / Fonte: adaptada de Vuori (1985)

162
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao analisar as diferenças de atenção à saúde, podemos não conseguem modificar os determinantes desse pro-
refletir o porquê das ações no nível de Atenção Primá- cesso. Por isso, foi preciso pensar em outros caminhos
ria terem recebido maior enfoque no planejamento de para garantir a saúde da população, como o desenvolvi-
ações do sistema de saúde. Um dos fatores que já des- mento de ações de promoção da saúde.
tacamos é que o modelo tradicional necessita de maior A promoção da saúde não é considerada como con-
especialização de atendimento e possui custo mais ele- ceito novo, visto que foi incorporado desde o surgimento
vado ao sistema de saúde e aos indivíduos, tornando-se da medicina preventiva (CAPONI, 2003). A Organiza-
menos acessível (STARFIELD, 2002). ção Mundial da Saúde, no ano de 1978, já lançava o seu
Outro fator de destaque é que os usuários aten- programa “Saúde para todos no ano 2000”, baseado na
didos no nível primário têm múltiplos diagnósticos e prevenção das doenças e na promoção da saúde, pressu-
queixas que não se encaixam em tratamento específico, pondo a participação comunitária, a intersetorialidade
portanto, a atuação neste nível é voltada para ações que para abordar os determinantes sociais das doenças e a
melhorem a qualidade global de vida desse usuário, atuação de equipes multidisciplinares (BRASIL, 2010).
por meio de variedade de serviços ofertado pela equipe Ainda nos anos 70, o Relatório de Lalonde enfatizou
multiprofissional (STARFIELD, 2002). Essa forma de as mudanças propostas nas ações sobre os estilos de vidas
atuação é o que garante equidade (ou seja, atendimen- dos diversos grupos populacionais, em função dos riscos
to de forma mais igualitária), liberando recursos mate- a que se expõem em função de suas escolhas comporta-
riais e financeiros que seriam utilizados para reduzir as mentais. Em 1986, na Conferência de Ottawa, a promo-
disparidades na saúde. ção da saúde surge com enfoque político e técnico para a
compreensão e intervenção sobre o processo de saúde e
PENSANDO JUNTOS doença. Neste contexto, foram consideradas, para melho-
ria da qualidade de vida, o desenvolvimento de políticas
Você consegue perceber de que forma os servi- públicas saudáveis e de ações intersetoriais (BUSS, 2009).
ços prestados pela Atenção Primária contribui Diante do exposto, podemos destacar que, no con-
para redefinir o cenário atual do sistema de texto internacional, o surgimento do enfoque da promo-
saúde? Que tipo de propostas tem sido utili-
zado pelas políticas de saúde para melhorar ção da saúde é caracterizado pela busca de alternativas à
a qualidade dos serviços oferecidos para a crise dos sistemas de saúde, em que as práticas de saúde
população? Refletiremos sobre estas questões existentes não eram suficientes e nem adequadas para
que iremos discutir sobre as ações enfatizadas
na Atenção Primária. acompanhar as modificações sociodemográficas, epi-
demiológicas, políticas e culturais da sociedade. Ainda,
havia a necessidade de controlar os custos crescentes
O processo de saúde-adoecimento da população tem com a assistência exclusivamente médica para o enfren-
mostrado que a saúde depende do contexto histórico tamento dos problemas de saúde, especialmente, das
dos indivíduos, sendo que a forma de organização da doenças crônicas em decorrência do envelhecimento da
produção, do trabalho e da sociedade determinam o es- população (BUSS, 2009).
tado de saúde desses indivíduos (BRASIL, 2010). Nesse Apesar do conceito de promoção da saúde já exis-
sentido, modelos de atenção centrados na enfermidade tir há décadas, houve evolução deste conceito desde a

163


concepção por Henry Sigerist na medicina preventiva. equidade e aumentar a participação social nas políticas
Esta evolução ocorreu em decorrência da ampliação do públicas. No SUS, essas estratégias de promoção de saú-
conceito de saúde e da diversificação de políticas e práti- de são reforçadas a partir da possibilidade de enfatizar os
cas voltadas para a promoção da saúde. No momento de aspectos que determinam o processo saúde e doença no
revalorização da promoção da saúde, o conceito reforçou País (como o desemprego, a falta de saneamento básico, a
as relações entre saúde e condições de vida, valorizando violência, a fome, entre outras) (BRASIL, 2010).
um conjunto de valores (como solidariedade, equidade, Um exemplo desse tipo de atuação é observado
democracia, cidadania, desenvolvimento sustentável, no contexto brasileiro na década de 90, pela incorpo-
entre outros) que combinassem ações envolvendo o Es- ração das “Cidades Saudáveis” (baseadas no modelo
tado, a comunidade, os indivíduos, o sistema de saúde e canadense), no âmbito municipal. Neste modelo, as
parcerias com outras instituições (BUSS, 2009). necessidades de saúde da população eram realizadas
O que observamos neste conceito é o fortalecimen- pela ampliação de ações sociais, reforçando o enfreta-
to da ideia da autonomia dos sujeitos e dos grupos so- mento dos problemas, extrapolando o âmbito de ação
ciais. Esta autonomia é reforçada no sentido de ser um do sistema de saúde, resultando em importante inova-
processo de construção que estimula a livre escolha a ção conceitual e organizacional da promoção da saúde
partir do momento que o ambiente se torna propício (NORONHA et al., 2000).
para facilitar essas escolhas, ou seja, que não incentive a No âmbito nacional, a principal estratégia de mode-
culpabilização dos indivíduos pela condição de saúde, lo organizativo utilizado foi o Programa Saúde da Fa-
visto que essa é dependente dos determinantes sociais, mília (PSF), criado em 1994 (FUHRMANN, 2003). O
econômicos e culturais (que trataremos mais adiante objetivo do PSF era reorganizar a atenção primária no
nesta unidade). País e todo o sistema de saúde. Para tal, cada equipe de
No Brasil, este conceito de promoção da saúde se trabalho (formada, inicialmente, por um médico gene-
torna ainda mais expressivo, em virtude da dimensão ter- ralista, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfer-
ritorial, da diversidade cultural e desigualdades sociais. magem e cinco a seis agentes comunitários de saúde) era
Portanto, quando pensamos em outros caminhos para ga- responsabilizada pela saúde de cerca de mil famílias de
rantir a saúde da população brasileira, tivemos que pensar um território subdividido em microáreas. As famílias
em uma forma de redemocratizar o país e a constituição (consideradas o núcleo central da atenção básica) eram
do sistema de saúde. Neste contexto, a garantia da saúde cadastradas e inscritas por equipe, onde passavam a
implicaria em assegurar o acesso universal e igualitário manter vínculos entre usuários e profissionais de saúde.
dos cidadãos aos serviços de saúde, reduzindo as desi- O processo de trabalho para estas equipes deveria en-
gualdades sociais e regionais, como previsto na Constitui- volver a atenção à saúde, a vigilância, a abordagem dos
ção Federal de 1988 (BRASIL, 2010). grupos com maiores riscos de adoecimento e produção
A promoção da saúde é vista, então, como estratégia da saúde (FUHRMANN, 2003).
de articulação transversal, em que os fatores que colocam O PSF hoje não é considerado como programa, mas
a saúde da população em risco e as diferenças territoriais sim uma estratégia que visa prestar atendimento à saú-
e culturais ganham visibilidade. A partir daí, são cria- de de forma qualificada e resolutiva (por isso, o termo
das estratégias para reduzir as vulnerabilidades, garantir PSF foi substituído por Estratégia Saúde da Família). Em

164
EDUCAÇÃO FÍSICA

2006, o PSF foi consolidado como estratégia prioritária formação científica e de recomendações normativas de
para a reorganização da Atenção Básica. Neste mesmo mudanças de hábitos. Nessas intervenções, são atendi-
período, foi criada a Política Nacional de Promoção da das subpopulações com fatores de risco relacionados ao
Saúde (que será abordada de forma mais aprofundada estilo de vida, tendo maior influência de determinantes
no decorrer desta unidade) (BRASIL, 2018). Conside- sociais da saúde proximais (CNDSS, 2008).
ramos, assim, importante período para a valorização da
promoção da saúde. CONCEITUANDO
O contexto de revalorização da promoção da saúde
e definição como principal estratégia para modificar o A promoção da saúde se define de forma
sistema de saúde deu espaço para a problematização das mais ampla, visto que é direcionada para a
diferenças entre os termos que compunham esse novo melhoria do estado de bem-estar e da qua-
lidade de vida dos indivíduos, além de focar
sistema: a prevenção em saúde e a promoção da saúde. nos macrodeterminantes do processo saú-
Dessa forma, neste momento, iremos reforçar a distin- de-doença e transformá-los na direção da
ção entre esses dois conceitos, pois, assim, compreende- saúde (BUSS, 2009).

remos o contexto das transformações que ocorreram no


discurso de saúde pública.
A melhoria do estado de saúde se dá a partir do fortale-
CONCEITUANDO cimento da capacidade individual e coletiva para lidar
com a multiplicidade dos condicionantes da saúde. O
As ações preventivas se definem como inter- que notamos nas ações de promoção da saúde é que há
venções voltadas a evitar o surgimento de ênfase na transformação das condições de vida e de tra-
doenças específicas, com redução de sua in- balho das pessoas que estejam relacionados aos proble-
cidência e prevalência (ALMEIDA FILHO, 1997).
Neste sentido, quando falamos em prevenção mas de saúde. Portanto, vão além da aplicação técnica e
em saúde, exige ação antecipada a partir do normativa, mas buscam a construção da capacidade de
conhecimento, a fim de tornar menos possível escolha dos indivíduos, bem como a utilização do co-
o progresso de determinada doença.
nhecimento para discernir durante este processo de estí-
mulo à autonomia. Nessas intervenções, o atendimento
se dá para a população total, tendo maior influência dos
Este conceito se fundamenta na epidemiologia, em que determinantes sociais da saúde intermediários e distais
o risco é baseado na probabilidade de ocorrência de um (CNDSS, 2008).
evento, em um determinado período, na população ex- Apesar da diferença entre os conceitos de ações pre-
posta a determinado fator de risco (ALMEIDA FILHO, ventivas e ações de promoção da saúde, observamos que
1997). De forma geral, o objetivo da prevenção é o con- ambos consideram a saúde como componente comple-
trole da transmissão de doenças infecciosas e a redução xo resultante da influência de determinantes sociais, e
do risco de doenças degenerativas ou outros agravos es- que estes são exteriores ao sistema que considera apenas
pecíficos, sendo que, para atingir este objetivo, as ações o tratamento das doenças. A partir dessas considerações,
de prevenção são realizadas a partir de divulgação de in- iremos discutir a ampliação do termo saúde.

165


A reformulação do sistema de saúde


trouxe consigo a necessidade de pensar na
Descrição da tabela: na Tabela 1, são apresentadas oito linhas com os aspectos
saúde no sentido positivo do conceito e não que podem compor a perspectiva mais ampla de saúde, em uma escala de clas-
mais como a definição restrita de ausência sificação de cada uma. Na linha um, está a longevidade, que pode ser classificada
desde expectativa normal de vida até a morte; na linha dois está a atividade, que
de doenças, que reduzia o corpo humano a pode ser classificada desde funcional até incapacitado; na linha três está o des-
conforto, que pode ser classificado desde confortável a desconfortável; na linha
aspectos morfológicos e funcionais. O corpo quatro está a percepção de bem-estar, que pode ser classificada desde satisfeito
até insatisfeito; na linha cinco está a capacidade de recuperação, que pode ser
acabou sendo desconectado de todo o con- classificada desde maior recuperação até menor recuperação; na linha seis está
a vulnerabilidade, que pode ser classificada desde menos vulnerável a mais vul-
junto de relações que constituem os signi- nerável; na linha 7 está o alcance, que pode ser classificado desde alcançado até
ficados da vida (MENDES GONÇALVES, não alcançado; e na linha 8 está a enfermidade, que pode ser classificada desde
nenhuma detectável a múltiplas.
1994). Assim, os termos saúde e doença não
deveriam ser tratados como situações opos-
tas, mas relacionadas entre si, em que se
ESTADO DE SAÚDE / RESULTADO DA ATENÇÃO
move de um polo para o outro de modo di-
nâmico e interdependente, envolvendo todo EXPECTATIVA
LONGEVIDADE MORTE
o aspecto social. NORMAL DE VIDA

Neste sentido, o pensamento científico


buscou ampliar e valorizar a compreensão ATIVIDADE FUNCIONAL INCAPACITADO

da interação entre as partes na direção da


totalidade do ser humano (ROUQUAYROL;
DESCONFORTO CONFORTÁVEL DESCONFORTÁVEL
GURGEL, 2017). Esse bem-estar é caracte-
rizado por polos positivo e negativo, sendo
que a saúde positiva seria o funcionamento PERCEPÇÃO DE SATISFEITO INSATISFEITO
BEM-ESTAR
máximo para atender aos desafios da vida,
enquanto a saúde negativa estaria associada CAPACIDADE DE MAIOR MENOR
RECUPERAÇÃO RECUPERAÇÃO RECUPERAÇÃO
à morbidade e, no extremo, com a mortali-
dade (BOUCHARD et al., 1990). VULNERABILIDADE
MENOS MAIS
VULNERÁVEL VULNERÁVEL
Diante deste novo conceito de saúde am-
pliada, a participação ativa dos sujeitos envolvi-
NÃO
dos é exigida para sua produção, a fim de con- ALCANCE ALCANÇADO ALCANÇADO

tribuir na análise e formulação de ações que


NENHUMA
visem à melhoria da qualidade de vida. Para ENFERMIDADE DETECTÁVEL
MÚLTIPLAS

isso, na prática, novas abordagens para traçar


a saúde da comunidade deverão ser estimula- Tabela 1 - Estado de saúde/resultado da atenção
Fonte: adaptada de Starfield (1974)
das, não considerando apenas as enfermidades
diagnosticadas, mas que considere essa pers-
pectiva mais ampla da saúde (como proposto
pela abordagem da Figura 2).

166
EDUCAÇÃO FÍSICA

O que observamos seria uma proposta de quais com- dos normalmente; e (h) enfermidade – presença de pro-
ponentes deveriam ser considerados para determinar blemas ou patologias físicas ou psíquicas (McDOWELL;
a condição de saúde: (a) longevidade – que seria a ex- NEWELL, 1996).
pectativa de vida; (b) atividade – capacidade de realizar Pelo que vimos neste novo conceito de saúde mais
as atividades diárias; (c) desconforto – dor ou sensações amplo, a saúde de um indivíduo ou população não
que interfiram em suas atividades; (d) percepção de pode ser entendida de forma isolada. Possui, portan-
bem-estar – como a pessoa classifica a própria saúde e o to, a combinação de determinantes genéticos, que são
nível de satisfação; (e) capacidade de recuperação – ca- modificados pelo ambiente e por comportamentos que
pacidade de responder ao estresse físico e psicológico; são culturalmente ou socialmente construídos e, ainda,
(f) vulnerabilidade – características que diminuem a pelo próprio tipo de atenção à saúde que estes indiví-
capacidade de se precaver contra ameaças à saúde; (g) duos recebem, como ilustrado na Figura 2 seguir:
alcance – se os papéis sociais estão sendo desempenha-

Descrição da Imagem: Na Figura 2, temos três círculos, dentro deles estão contidas as três estruturas diferentes, sendo que em um estão contidas
as características culturais e comportamentais da população e dos pacientes, em o outro está o ambiente social e físico, e no outro círculo a prática
médica. Os três círculos se relacionam, apresentando uma intersecção entre eles. As partes em que dois círculos se relacionam são considerados
como processo, e a parte em que os três círculos se relacionam são considerados como resultados.

GENÓTIPO

Características culturais
e comportamentais Ambiente social
da população e físico
e dos pacientes

Prática médica

Atenção (processo) Resultados Estrutura

Figura 2 - Determinantes do estado de saúde / Fonte: Starfield (1973, p. 132)

167


O que isto quer dizer? Podemos dizer que as desigualda- Quando nos aprofundamos nas características cul-
des sociais (nível de educação, oportunidades de traba- turais e o ambiente social e físico destacados anterior-
lho e nível de renda, por exemplo) interferem na quali- mente, podemos observar que existe hierarquia entre
dade de vida e saúde das pessoas. E que, dependendo da esses determinantes de saúde, sendo que os indivíduos
natureza desse ambiente, distintos grupos sociais terão estão na base do modelo, com suas características indivi-
experiências diferentes em relação ao apoio psicossocial, duais de idade, sexo e fatores genéticos (que não podem
condições materiais e opções de comportamentos que ser modificados). Os fatores mais distais são aqueles re-
repercutiram nas situações de saúde, tornando mais ou lacionados aos aspectos sociais, econômicos e políticos,
menos vulneráveis à saúde positiva (WHO, 2008). De considerados como macrodeterminantes, pois têm for-
forma geral, quanto maior a vulnerabilidade do indiví- te influência sobre as demais camadas. Os fatores mais
duo, mais próximo de uma condição de saúde negativa proximais estão relacionados ao estilo de vida, que são
este indivíduo estará. comportamentos adotados individualmente e repercu-
tem diretamente na qualidade da saúde dos indivíduos.

Descrição da Imagem: Na Figura 3, temos um semicírculo que é subdividido em quatro níveis de determinantes sociais. No meio do semicírculo
(que é considerado como uma base), temos os determinantes biológicos (contendo idade, sexo e fatores hereditários); acima deste nível, temos
um arco que representa o estilo de vida dos indivíduos; acima deste nível temos outro arco que são as redes sociais e comunitárias; no arco acima
temos as condições de vida e trabalho (contendo ambiente de trabalho, educação, produção agrícola de alimentos, desemprego, água e esgoto,
serviços sociais de saúde e habitação); e no último arco mais afastado da base, temos as condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais.

CONDIÇÕES DE VIDA
E DE TRABALHO
AMBIENTE
DESEMPREGO
DE TRABALHO

ÁGUA E
ESGOTO
EDUCAÇÃO

SERVIÇOS SOCIAIS
DE SAÚDE
PRODUÇÃO
AGRÍCOLA
DE ALIMENTOS HABITAÇÃO
IDADE, SEXO E
FATORES HEREDITÁRIOS

Figura 3 - Determinantes sociais: modelo de Dahlgren e Whitehead / Fonte: CNDSS (2008, p. 14)

168
EDUCAÇÃO FÍSICA

Considerando todas estas relações


existentes, conseguimos compre-
ender o papel do poder público no
acesso aos serviços de saúde, o qual
deveria criar estratégias para aten-
der as necessidades dessa população
(a partir dos seus determinantes), a
fim de aproximar a saúde para o polo
mais positivo. Assim, a Organização
Mundial da Saúde recomenda que os
serviços de saúde desenvolvam refor-
mas estruturais, integrando ações de
saúde pública na Atenção Primária,
que garanta comunidades mais sau-
dáveis (WHO, 2008), atuando com
ações de promoção da saúde além
dos muros das unidades de saúde,
por exemplo nos espaços em que es-
sas pessoas vivem, trabalham, estu-
dam e se divertem, pois, dessa forma,
estarão ampliando as oportunidades
de escolhas saudáveis dos indivíduos
e sua comunidade. Para atender esta
nova demanda estrutural, a criação
da Política Nacional de Saúde foi in-
troduzida no SUS.

169


Política Nacional de
Promoção da Saúde

170
EDUCAÇÃO FÍSICA

Você viu, no nosso encontro passado, que com a Refor- para rever de fato, como a PNPS, como política pública,
ma Constitucional que possibilitou a criação do SUS, a mobilizou os agentes na busca de sua efetivação práti-
responsabilidade de programar os serviços de saúde ofe- ca. Definiu-se a importância de incluir novos elementos
recidos foi transferida do âmbito federal para os muni- indutores para a sua concretização, como a definição de
cípios. Assim, a partir das definições constitucionais, das temas transversais, a explicitação de valores, de eixos
deliberações das conferências nacionais de saúde, da le- operacionais, da adequação e da atualização dos temas
gislação que regulamenta o SUS e do Plano Nacional de prioritários da política (os quais você verá mais adiante).
Saúde (2004 - 2007), o Ministério da Saúde propôs um Assim, a PNPS veio para estabelecer relação com as
movimento indutor para definição da Política Nacio- demais políticas públicas conquistadas pela população,
nal de Promoção da Saúde (PNPS), representando uma incluindo as relacionadas ao setor Saúde, como: Políti-
tentativa no enfrentamento dos desafios da assistência ca Nacional de Atenção Básica (Pnab), Política Nacional
à saúde (BRASIL, 2006). Assim, em 2006, na Comissão de Alimentação e Nutrição (Pnan), Política Nacional de
Intergestores Tripartite, nasceu a PNPS. Educação Popular em Saúde (Pnep-SUS), Política Nacio-
A PNPS foi instituída pela Portaria MS/GM nº 687, nal de Humanização (HumanizaSUS), Política Nacional
de 30 de março de 2006, e reformulada pela Portaria nº de Gestão Estratégia e Participativa (ParticipaSUS) e Po-
2.446, de 11 de novembro de 2014. Contudo, essa porta- lítica Nacional de Práticas (BRASIL, 2018).
ria de 2014 foi revogada, surgindo a Portaria de Conso- A Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL,
lidação nº 2, de 28 de setembro de 2017, que consolida 2015), que consolida as normas sobre as políticas nacio-
as normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS. nais de saúde do SUS, apresenta os principais objetivos:
Assim, a PNPS ratificou a responsabilidade sobre a am-
pliação e a qualificação de ações de promoção da saú- Objetivo Geral
de nos serviços e na gestão do SUS. A partir de então, o Promover a equidade e a melhoria das condições
programa foi inserido na agenda estratégica dos gestores e dos modos de viver, ampliando a potencialidade
da saúde individual e coletiva e reduzindo vulne-
do SUS e nos Planos Nacionais de Saúde subsequentes,
rabilidades e riscos à saúde decorrentes dos deter-
ampliando as possibilidades das políticas públicas exis- minantes sociais, econômicos, políticos, culturais e
tentes (BRASIL, 2018). ambientais.
Você deve estar se perguntando, por que tantas mo- Objetivos específicos
dificações e retificações nas portarias? Pois então, a ree-
• Estimular a promoção da saúde como parte da
laboração da PNPS aconteceu para estabelecer diálogo integralidade do cuidado na Rede de Atenção
com os novos marcos nacionais e internacionais e, as- à Saúde, articulada às demais redes de proteção
sim, garantir os princípios e as diretrizes do SUS. Além social.
disso, era necessário qualificar e atualizar as ações e os • Contribuir para a adoção de práticas sociais
serviços prestados pelos gestores e pelos trabalhadores e de saúde centradas na equidade, na partici-
pação e no controle social, a fim de reduzir as
do SUS, reformulando o papel do setor Saúde na articu-
desigualdades sistemáticas, injustas e evitáveis,
lação e na indução de outras políticas públicas. Ademais, respeitando as diferenças de classe social, de
observou-se a necessidade de avaliar como a promoção gênero, de orientação sexual e a identidade de
da saúde no SUS vinha sendo realizada nos territórios gênero; entre gerações; étnico-raciais; cultu-

171


rais; territoriais; e relacionadas às pessoas com • Contribuir para a articulação de políticas pú-
deficiências e necessidades especiais. blicas inter e intrassetoriais com as agendas
nacionais e internacionais (BRASIL, 2015, p.
• Favorecer a mobilidade humana e a acessibi-
lidade; o desenvolvimento seguro, saudável e 11 e 12).
sustentável.
• Promover a cultura da paz em comunidades, Em consolidação com as outras políticas, setores gover-
territórios e municípios. namentais e não governamentais e as especificidades
• Apoiar o desenvolvimento de espaços de pro- sanitárias, a PNPS apresenta alguns temas prioritários,
dução social e ambientes saudáveis, favoráveis evidenciados pelas ações de promoção da saúde exe-
ao desenvolvimento humano e ao bem-viver. cutadas desde 2006 e inseridas na primeira versão da
• Valorizar os saberes populares e tradicionais e PNPS, pelas normas e regulamentos vigentes no âmbi-
as práticas integrativas e complementares. to federal e pelos acordos nacionais (Plano Nacional de
• Promover o empoderamento e a capacidade Saúde, pactos interfederativos, planejamento estratégico
para a tomada de decisão, e também a autono- do MS) e internacionais firmados pelo governo brasilei-
mia de sujeitos e de coletividades, por meio do
ro (BRASIL, 2015). Os temas prioritários são:
desenvolvimento de habilidades pessoais e de
competências em promoção e defesa da saúde • Formação e educação permanente: Mobilizar,
e da vida. sensibilizar e promover capacitações para ges-
tores, trabalhadores da Saúde e de outros seto-
• Promover processos de educação, de formação
res para o desenvolvimento de ações de educa-
profissional e de capacitação específicos em
ção em promoção da saúde, a fim de incluí-las
promoção da saúde, de acordo com os princí-
nos espaços de educação permanente.
pios e os valores expressos nesta Política, para
trabalhadores, gestores e cidadãos. • Alimentação adequada e saudável: Promover
ações relativas à alimentação adequada e sau-
• Estabelecer estratégias de comunicação social
dável, visando à promoção da saúde e à segu-
e de mídia direcionadas tanto ao fortalecimen-
rança alimentar e nutricional, contribuindo
to dos princípios e das ações em promoção
com as ações e com as metas de redução da po-
da saúde quanto à defesa de políticas públicas
breza, com a inclusão social e com a garantia
saudáveis.
do direito humano à alimentação adequada e
• Estimular a pesquisa, a produção e a difusão de saudável.
conhecimentos e de estratégias inovadoras no
• Práticas corporais e atividades físicas: Promo-
âmbito das ações de promoção da saúde.
ver ações, aconselhamento e divulgação de
• Promover meios para a inclusão e a qualificação práticas corporais e de atividades físicas, incen-
do registro de atividades de promoção da saúde tivando a melhoria das condições dos espaços
e da equidade nos sistemas de informação e de públicos, considerando a cultura local e incor-
inquéritos, permitindo a análise, o monitora- porando brincadeiras, jogos, danças populares,
mento, a avaliação e o financiamento das ações. entre outras práticas
• Fomentar discussões sobre os modos de con- • Enfrentamento ao uso do tabaco e de seus de-
sumo e de produção que estejam em conflito rivados: Promover, articular e mobilizar ações
de interesses com os princípios e com os va- para redução e controle do uso do tabaco, in-
lores da promoção da saúde e que aumentem cluindo ações educativas, legislativas, econô-
vulnerabilidades e riscos à saúde. micas, ambientais, culturais e sociais.

172
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Enfrentamento do uso abusivo de álcool e de • Promoção do desenvolvimento sustentável:


outras drogas: Promover, articular e mobilizar Promover, mobilizar e articular ações gover-
ações para redução do consumo abusivo de namentais e não governamentais, incluindo o
álcool e de outras drogas, com corresponsabi- setor privado e a sociedade civil, nos diferentes
lização e autonomia da população, incluindo cenários (cidades/municípios, campo, floresta,
ações educativas, legislativas, econômicas, am- águas, bairros, territórios, comunidades, habi-
bientais, culturais e sociais. tações, escolas, igrejas, empresas e outros), per-
mitindo a interação entre saúde, meio ambien-
• Promoção da mobilidade segura: Buscar avan-
te e desenvolvimento sustentável na produção
çar na articulação intersetorial e intrassetorial,
social da saúde, em articulação com os demais
envolvendo a vigilância em saúde, a atenção
temas prioritários ( BRASIL, 2015, p. 22 e 23).
básica e as redes de urgência e emergência
do território na produção do cuidado e na
redução da morbimortalidade decorrente do
trânsito. Orientar ações integradas e interseto-
riais nos territórios, incluindo ações de saúde,
educação, trânsito, fiscalização, ambiente e nos
demais setores envolvidos, além da sociedade,
a fim de definir um planejamento integrado,
parcerias, atribuições, responsabilidades e es-
pecificidades de cada 23 setor para a promoção
da mobilidade segura. Avançar na promoção
de ações educativas, legislativas, econômicas,
ambientais, culturais e sociais, fundamentadas
em informação qualificada e em planejamento
integrado, para que garantam o trânsito seguro,
a redução de morbimortalidade e, consequen-
temente, a paz no trânsito.
• Promoção da cultura da paz e dos direitos hu-
manos: Promover, articular e mobilizar ações
que estimulem a convivência, a solidariedade,
o respeito à vida e o fortalecimento de vínculos.
Desenvolver tecnologias sociais que favoreçam
a mediação de conflitos, o respeito às diversi-
dades e diferenças de gênero e de orientação
sexual e à identidade de gênero, entre gerações,
étnico-raciais, culturais, territoriais, de classe
social e em relação às pessoas com deficiências
e necessidades especiais, garantindo os direi-
tos humanos e as liberdades fundamentais.
Promover a articulação da Rede de Atenção à
Saúde com as demais redes de proteção social,
produzindo informação qualificada e capaz de
gerar intervenções individuais e coletivas, con-
tribuindo para a redução das violências e para
a cultura da paz.

173


Atuação do profissional na
Promoção da Saúde

174
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando falamos, nos tópicos anteriores, so-


INTEGRALIDADE INTERSETORIALIDADE
bre as atualizações que foram necessárias para
que os serviços de saúde evoluíssem, o mes-
mo argumento se refere à atuação dos pro-
fissionais inseridos neste novo ambiente. Se
continuássemos acostumados a profissionais
mais especializados para lidar com o volume
de novas informações, a visão fragmentada
na área da saúde iria permanecer. Diante do
novo cenário do conceito mais amplo da saú-
de e da revalorização de ações de promoção
da saúde, os profissionais com competências
em enfermidades específicas deveriam migrar
A integralidade é A intersetorialidade se
para o conhecimento sobre a saúde geral das caracterizada por vários destina a diferentes
saberes na atenção setores que acabam
pessoas e seu ambiente, se quisessem atuar na individual ou coletiva no enfrentando o mesmo
Atenção Primária à Saúde. mesmo serviço ou linha. risco no mesmo território.
Um profissional da Atenção Primária
deve ser capaz de observar a variedade de pro-
blemas de saúde no decorrer do tempo, dife-
INTEGRALIDADE INTERSETORIALIDADE
rentemente do especialista que atuaria dentro
da sua área de competência mais apropriada
para determinada enfermidade. Essa visão
ampla que o profissional da atenção primária
deve desenvolver está relacionada a alguns
dos princípios inerentes à Atenção Primária
de Saúde, por exemplo, a integralidade e a in-
tersetorialidade (BRASIL, 2018).

Descrição da Imagem: A Figura 4 mostra a diferença en-


tre a integralidade e a intersetorialidade. A integralidade
é caracterizada por vários saberes na atenção individual
ou coletiva no mesmo serviço ou linha. A intersetoriali-
dade se destina a diferentes setores que acabam enfren-
tando o mesmo risco no mesmo território. A integralidade é A intersetorialidade se
caracterizada por vários destina a diferentes
saberes na atenção setores que acabam
individual ou coletiva no enfrentando o mesmo
mesmo serviço ou linha. risco no mesmo território.

Figura 4 - Distinção entre integralidade e intersetorialidade / Fonte: a autora.

175


A integralidade e a intersetorialidade implicam em: (a)


articular estratégias de produção da saúde; (b) ampliar
o diálogo dos profissionais dos serviços de saúde na re-
lação com os usuários, modificando a atenção restrita a
doença e sintomas para o acolhimento de suas condi-
ções de vida e saúde; (c) mobilizar recursos financeiros,
políticos e humanos extrapolando o âmbito da saúde;
(d) articular saberes, linguagens, planejamento e práti-
cas entre diversos setores envolvidos (BRASIL, 2018).
Essas ações alteram os modos de atenção e de ges-
tão dos serviços de saúde. Se prestarmos atenção aos
usuários em sua totalidade (da saúde e seus determi-
nantes), é possível que um bom profissional da saúde
seja capaz de traduzir o que não é aparente e nem dito
em um primeiro contato com este indivíduo. A proxi-
midade adquirida entre os profissionais de saúde da
Atenção Primária e os usuários permite avaliar o papel
dos múltiplos e interativos determinantes da doença e
da saúde. Este fato ocorre em virtude da característica
de atenção continuada, em que se examinam mais pa-
cientes antigos com problemas novos porque eles são
responsáveis pela atenção ao paciente no decorrer do
tempo, e não por um problema específico.
Ademais, quando os setores se relacionam uns aos
outros (saúde, educação, transporte, segurança, entre
outros), é possível organizar dados que se complemen-
tem, visto que dados separados pouco contribuem para
o conhecimento e para a ação eficiente na saúde comu-
nitária, pois é preciso considerar não só o indivíduo, mas
tudo que o cerca, o ambiente que influencia no estado de
saúde desse usuário e comunidade.
Para que a integralidade e a intersetorialidade ocor-
ram neste novo ambiente de saúde, algumas habilidades
precisam ser desenvolvidas pelos profissionais que atua-
rão neste meio. Podemos destacar que esses profissionais
precisam conhecer instrumentos na gestão pública que
o auxiliem, por exemplo, um fluxograma situacional.

176
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: Na Figura 5, são apresentados 4 círculos. Dentro de cada círculo estão descritos os quatro momentos do planejamento
estratégico situacional, estes círculos estão organizados em um formato de círculo maior seguindo uma ordem cronológica entre os momentos 1,
2, 3 e 4. No círculo que está o momento 1 está descrito: explicar como nasce e se desenvolve o problema, explicar a realidade através da apreciação
situacional. No círculo do momento 2 está descrito: fazer planos para atacar as causas do problema mediante operações, conceber o plano através
de apostas. No círculo do momento 3 está descrito: analisar a viabilidade do plano ou verificar o modo de se construir sua viabilidade, definir o que
é possível através da análise estratégica. No círculo do momento 4 está descrito: atacar o problema na prática, realizando as operações planejadas,
utilizar-se do cálculo, ação e correção no dia a dia. Os círculos estabelecem relações entre eles por setas que vão e voltam em todos os sentidos,
remetendo a interpretação de que mesmo que haja uma cronologia no planejamento, os momentos podem ser reavaliados no decorrer do tempo
independente da ordem.

MOMENTO 2:
fazer planos para atacar
as causas do problema
mediante operações,
conceber o plano através
de apostas.

MOMENTO 3:
MOMENTO 1: analisar a viabilidade do
explicar como nasce e se plano ou verificar o modo de
desenvolve o problema, se construir sua viabilidade,
explicar a realidade através definir o que é possível
da apreciação situacional. através da análise
estratégica.

MOMENTO 4:
atacar o problema na prática,
realizando as operações
planejadas, utilizar-se do
cálculo, ação e correção
no dia a dia.

Figura 5 - Planejamento estratégico situacional / Fonte: Rieg e Araújo Filho (2002, p. 165)

Esta ferramenta é utilizada para realizar levantamento Outra habilidade a ser desenvolvida por esses pro-
dos aspectos críticos e, a partir daí, elaborar o plano de fissionais é o treinamento da percepção sensorial (pela
ação (RIEG, 1999). Neste processo, os profissionais des- abordagem da neurolinguística). Neste processo, o pro-
crevem os problemas (apresentando os fatos constata- fissional aprende onde deve focar a atenção e quais for-
dos), quais seriam as possíveis consequências e as causas mas pode utilizar para modificar e ampliar os filtros, a
do problema, para compreender a relação entre estes e fim de observar novos aspectos que antes estavam des-
fazer uma representação gráfica do problema para, en- percebidos (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995). O que
tão, propor estratégias para o planejamento de ação. isso quer dizer? Muitas vezes, os profissionais ficam con-

177


dicionados a observar aquilo que lhe é natural, ou seja,


ele capta as informações a partir da linguagem dos pen-
samentos e das experiências que ele viveu, o que os leva a
prestar mais atenção em algumas coisas do que a outras.
Como essas técnicas e instrumentos exemplifica-
dos acima são novos para estes profissionais, a atuação
na Atenção Primária voltada para a promoção da saúde
deve fazer parte de um processo de qualificação contí-
nua das equipes dos programas de saúde pública, em
que sejam incorporados conteúdos e metodologias que
subsidiem na qualidade do atendimento e superem os
desafios deste novo sistema estrutural de saúde.
Para finalizar esta reflexão acerca da atuação do pro-
fissional de saúde, iremos elencar alguns dos desafios
que são impostos a estes profissionais para que, a partir
do conhecimento, possam planejar ações para enfren-
tá-los (BRASIL, 2018). Um dos desafios colocados por
esse processo diz respeito ao planejamento, organização
e gerenciamento da ação intersetorial que, do ponto de
vista metodológico, apresenta a necessidade de avançar
no aperfeiçoamento dos métodos e técnicas a serem
utilizados no processo de planejamento das ações in-
tersetoriais, tendo em vista maior efetividade e impacto
sobre os problemas e necessidades sociais. Outro desafio
voltado para o aspecto metodológico seria a definição
de um modelo de identificação dos principais riscos à
saúde, com objetivo de estabelecer prioridades locais e
regionais, bem como a definição de agenda de pesquisas
na área de vigilância.
Por fim, construir estratégias para conceber a saúde no
âmbito da atenção básica de forma mais solidária e menos
punitiva, visto que os indivíduos têm as condições de vida
que são impostas (e depende do poder público) e o estilo
de vida individual (que depende da escolha do indivíduo),
portanto, existem limites para que a atuação profissional
não construa práticas autoritárias e prescritivas que, em
vez de produzir autonomia, acabam reduzindo-a.

178
EDUCAÇÃO FÍSICA

ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCA-


ÇÃO FÍSICA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

Diante das habilidades e desafios que abordamos an-


teriormente para a atuação do profissional de saúde de
equipes multidisciplinares da Atenção Primária à Saúde,
iremos refletir agora especificamente a atuação do pro-
fissional de Educação Física.
A implementação da PNPS deixou evidente o papel
fundamental do profissional de Educação Física para a
promoção da saúde (BRASIL, 2010). Assim, além do que
foi abordado, os profissionais precisam compreender e
ampliar visão de Promoção à Saúde, principalmente a
partir do diálogo com os outros profissionais da equipe
e a própria comunidade, os profissionais de Educação
Física devem compreender a atividade física como com-
ponente principal para a promoção da saúde.
Os principais pontos que podemos destacar da
PNPS para atuação específica para a atividade física são:
(a) ofertar práticas de atividade física, como caminha-
das, práticas lúdicas, prescrição de exercícios, esportivas
e de lazer, voltadas para a comunidade; (b) mapear e for-
talecer as ações de práticas de atividade física existentes
nos serviços de atenção básica; (c) inserir a prática de
atividade física nos locais em que não há ações, princi-
palmente para populações mais vulneráveis; (d) estimu-
lar a inclusão de pessoas com deficiências em projetos
de práticas de atividades físicas; (e) promover a interse-
torialidade, principalmente voltadas para melhorias am-
bientais e dos espaços públicos (urbanização dos espa-
ços públicos; criação de ciclovias e pistas de caminhadas;
segurança, outros), com o objetivo de aumentar os níveis
populacionais de atividade física (BRASIL, 2010).
Quando abordamos ações que abrangem a atuação
dos profissionais, é interessante destacar instrumentos
que auxiliem esses profissionais para o planejamento.
Um desses instrumentos é a plataforma “Portal Saúde

179


Baseada em Evidências”, que disponibiliza banco de da- blico que é realizado pelas Secretarias de Saúde. O pro-
dos gratuito, contendo documentos científicos da área cesso conta, no geral, com realização de prova objetiva
de saúde, como fotos, vídeos e outras ferramentas (cal- (composta por conteúdos de conhecimento geral e es-
culadoras médicas e de análise estatística). Esta platafor- pecífico) e prova de título (comprovação de formação
ma está disponível para os profissionais de saúde das 14 continuada como títulos de especialização, mestrado e
profissões regulamentadas no Ministério da Saúde (in- doutorado). A partir de Fevereiro de 2020, o Ministério
cluindo o profissional de Educação Física). do Trabalho incluiu o profissional de Educação Física na
A utilização dessas ferramentas pelos profissionais Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), para atu-
de Educação Física pode garantir melhor atendimento ação permanente na área de saúde, especificamente nos
prestado aos usuários dos serviços de saúde, pois esti- programas de atenção básica do SUS.
mula a tomada de decisão clínica e de gestão baseada em Com essa inclusão, os profissionais de Educação
evidências científicas (com validade interna e externa de Física passam a ter maior clareza no reconhecimento
boa qualidade). Isto quer dizer que, o planejamento será para atuação dentro do SUS, sendo que a partir deste
realizado com base em dados que têm apresentado re- reconhecimento, assim como os outros profissionais de
sultados positivos, e prevê, por exemplo, o tipo de atua- saúde, o profissional de Educação Física passa a ter re-
ções que não têm apresentado os resultados esperados, muneração de acordo com as atividades exercidas espe-
para que sejam analisados com cautela. cíficas às suas competências. As exigências para atuação
Como o profissional de Educação Física faz para requerem que o profissional tenha formação superior
ingressar nesse mercado de trabalho? Para entrada no em Educação Física e registro no Conselho Regional de
SUS, os profissionais devem passar por concurso pú- Educação Física.

180
considerações finais

Prezado(a) aluno(a), concluímos aqui a sua jornada ao universo da promoção da saúde.


Se recordarmos de forma sucinta o que abordamos, você se lembrará, que iniciamos
nos aprofundando sobre o nível da Atenção Primária a Saúde. Pudemos perceber que
o foco neste nível de atenção mudou toda a estrutura de atendimento do sistema de
saúde, em que nós deixamos de olhar para a doença dos usuários e centralizamos o
atendimento para a totalidade do indivíduo, ou seja, sua saúde geral.
Trouxemos, ainda, os principais conceitos que permeiam este novo cenário, como as
diferenças entre os termos prevenção em saúde e promoção de saúde, a definição mais
ampla de saúde e como os determinantes de saúde interferem no processo de saúde-do-
ença, compreendendo que muitos fatores que interferem na saúde não são “tratáveis”.
A partir de todo esse novo contexto de saúde, observamos que novas necessidades sur-
giram, o que exigiu dos profissionais de saúde nova forma de atuação. Os profissionais
tiveram que acompanhar as modificações do sistema, não mais utilizando abordagens
de atenção fragmentada e especializada, mas generalista, integral e humana.
Você teve acesso a algumas ferramentas novas que têm sido utilizadas para auxiliá-lo
nesta formação do profissional voltado para o atendimento à saúde pública. Diante
do que aprendeu, você é capaz de compreender o contexto da promoção da saúde e
como você pode se preparar para atuar nesta área. Portanto, encerramos por aqui
esta unidade, espero que tenha aproveitado este conhecimento que é apenas o início
de sua jornada até a própria prática. Desejo que esta teoria contribua para suas pró-
ximas experiências de atuação!

181
atividades de estudo

1. A atenção Básica faz parte da Rede de Atenção à Saúde, envolvendo pessoas


com doenças crônicas e outros tipos de patologias. Assim, sobre as competên-
cias da Atenção Básica, avalie as afirmativas.

I. Diagnosticar, rastrear e tratar a população de acordo com os protocolos e as


diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
II. Realizar ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças de forma
intersetorial.
III. Prevenir, diagnosticar e tratar precocemente as doenças e suas possíveis
complicações.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I, II e III.

2. A integralidade da atenção básica à saúde é um dos seus princípios. Assim,


uma atenção integral é voltada para:

a. Descentralização, equidade e atenção secundária.


b. Descentralização, equidade e atenção terciária.
c. Cura dos sintomas.
d. Promoção, proteção e recuperação da saúde.
e. Ausência de doenças.

182
atividades de estudo

3. Com relação à Política Nacional de Promoção da Saúde, avalie as afirmativas


como verdadeiras (V) ou falsas (F).

( ) Promover de forma justa e igualitária a assistência à saúde individual e co-


letiva.
( ) Promover espaços e ambientes saudáveis para o bem-estar.
( ) Dar voz à população valorizando as práticas integrativas.
( ) Estimular discussões sobre o modo de consumo e produção relacionados a
promoção da saúde.

A sequência correta é:

a. V, F, F, V.
b. F, V, V, V.
c. V, F, F, F.
d. V, F, V, V.

e. V, V, V, V.

4. Descreva qual a relação entre a Política Nacional de Promoção da Saúde e o


estímulo à prática de atividade física.

5. Apresente detalhadamente como o profissional de Educação Física pode con-


tribuir para a promoção da saúde.

183
LEITURA
COMPLEMENTAR

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), publicou, em 17 de fevereiro de 2020, o re-


conhecimento da categoria do Profissional de Educação Física na área da saúde, por meio
do código 2241-40 (CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES, 2020). Os profissionais
passam então a serem “Profissional de Educação Física na saúde” e passam a integrar, de
forma específica, as equipes dos Programas de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde
(SUS), possibilitando a inclusão na tabela de prestação de serviços do SUS. O Conselho Fe-
deral de Educação Física (CONFEF, 2020) publicou uma nota que diz que:

O CÓDIGO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA SAÚDE FOI CRIADO E INCLUÍ-


DO NA CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO) - 2020.

VITÓRIA DA SOCIEDADE, RECONHECIMENTO DA PROFISSÃO E DO PROFISSIONAL DE


EDUCAÇÃO FÍSICA.

O Sistema CONFEF/CREF tem como uma de suas prioridades de ação o reconhecimen-


to e a legitimação da intervenção do Profissional de Educação Física na Saúde.

A recente publicação do código Permanente do Profissional de Educação Física na Saú-


de (2241-40) na CBO, elaborada pelo Ministério da Economia por solicitação do Minis-
tério da Saúde, representa a mais recente e importante conquista para a consolidação
da atuação profissional na área da saúde.

Os principais significados/benefícios do código Permanente são:

* Favorece a contratação de Profissionais de Educação Física no setor público e priva-


do de saúde

* Consolida o Profissional de Educação Física como integrante de equipe de Saúde

184
LEITURA
COMPLEMENTAR

* Reforça a inserção do Profissional de Educação Física na Saúde

* Fortalece a participação do Profissional de Educação Física no SUS

* Define atividades de competência do Profissional de Educação Física no setor saúde

Acompanhe os principais fatos que contribuíram para essa valorização profissional:

1997 – Reconhecimento do Profissional de Educação Física entre as categorias de pro-


fissionais da Saúde pelo CNS

2008 – Inclusão do Profissional de Educação Física nas Equipes de Saúde da Família do


Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)

2013 - Criação do Código Provisório 2241-E1 pelo Ministério da Saúde

2013 - CNS - Código CBO obrigatório para Profissionais na Academia da Saúde

2013 - Publicação da Lei 12.864, que inclui a atividade física como fator determinante
e condicionante da saúde

2020 - CBO permanente do Profissional de Educação Física na saúde pelo Ministério


da Economia.

Para pesquisar mais sobre o assunto, acesse o código da CBO pelo site: https://www.crefsc.
org.br/ministerio-do-trabalho-inclui-profissional-de-educacao-fisica-na-area-da-saude/

Fonte: adaptado de CONFEF (2020, on-line).

185
material complementar

Indicação para Ler

Saúde da Família - Considerações Teóricas e aplicabilidades


Elisabete Calabuig Chapina Ohara, Raquel Xavier de Souza Saito
Editora: Martinari
Sinopse: este livro surgiu da necessidade de os docentes da disciplina Saúde da
Família e Saúde Coletiva possuírem um material didático baseado no aprofunda-
mento de discussões e na construção de propostas para a atenção à saúde nos
diferentes ciclos de vida, de forma contextualizada e relacionada com as Políticas
de Saúde vigentes. Na construção do livro, os docentes e discentes da Faculdade
Santa Marcelina contribuíram, além dos aspectos relacionados à área da biologia,
também com conteúdos de abordagem socioculturais que influenciam diretamen-
te e modificam as relações familiares e a sua avaliação. Os capítulos propõem uma
reflexão do modelo assistencial instituído, elege como ponto central o estabeleci-
mento do vínculo e a criação de compromisso além de coresponsabilidade entre
os profissionais de saúde e a população. Contém uma proposta de contribuir para
a melhora da qualidade assistencial na Atenção Primária e melhorar a capacidade
resolutiva por meios de ações de promoção e prevenção. Podemos dizer que o ma-
terial sistematizado é capaz de instrumentalizar para a prática com fundamentos
científicos, proporcionando uma visão holística do indivíduo e da família.

186
referências

AINSWORTH, B. E. et al. Compendium of physical activities: an update of activity


codes and MET intensities. Medicine and science in sports and exercise, v. 32, n. 9
Suppl, p. S498, 2000.
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ALMEIDA FILHO, N. Uma breve história da Epidemiologia. In: ROUQUAYROL,
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DF, 1986. p. 35-42.
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197
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198
gabarito

1. E.
2. D.
3. E.
4. Um dos temas prioritários da Política Nacional
de Promoção da Saúde é o estímulo à prática
de atividade física, promovendo ações, acon-
selhamento e divulgação de práticas corporais
e de atividades físicas, incentivando a melho-
ria das condições dos espaços públicos, consi-
derando a cultura local e incorporando brinca-
deiras, jogos, danças populares, entre outras
práticas para a toda a população. Além disso,
a Política Nacional de Promoção da Saúde per-
meia a disponibilidade de ambientes favorá-
veis à prática de atividade física e bem-estar.
5. O profissional de Educação Física proporciona
a promoção de saúde quando oferta e estimu-
la práticas de atividade física, como caminha-
das, práticas lúdicas, prescrição de exercícios,
práticas voltadas ao lazer e que possa abran-
ger toda a comunidade. Além disso, ele pode
atuar no mapeamento e fortalecimento de
ações de práticas de atividade física existentes
nos serviços de atenção básica, como ações
dentro das Unidades Básicas de Saúde ou, até
mesmo, específicas para populações mais vul-
neráveis. No mais, pode-se promover estraté-
gias intersetoriais que voltem a atenção para
melhorias de espaços públicos, como ciclovias
e pistas de caminhadas, que possibilitem uma
prática segura e saudável

199
conclusão geral
É querido(a) aluno(a), chegamos ao final do nosso percurso que buscou o enten-
dimento profundo sobre o tema da Epidemiologia associada à Educação Física.
Você pôde passar por vários caminhos neste processo. Primeiro, aprendeu os
pontos básicos sobre Epidemiologia e os conteúdos que a cercam, conhecendo a
história e o surgimento da área da Epidemiologia e os indicadores que nos possi-
bilitam detectar o desenvolvimento de possíveis doenças ou agravos à saúde. En-
tão, conheceu como as doenças se instalaram na população e quais as mudanças
populacionais afetadas por elas, ocasionando as chamadas transições epidemio-
lógicas e demográficas.
Você notou que a inatividade física é um grande agravo à saúde e está entre
as doenças que afetaram modificações populacionais. Isso porque o comporta-
mento humano é influenciado por mudanças sociais, econômicas e culturais que
ocorrem com o passar do tempo, tornando a atividade física um comportamento
complexo e multidimensional.
Uma vez que a atividade física se enquadra na área da saúde, você foi convi-
dado a entender um pouco sobre a história do Sistema Único de Saúde, o sistema
de saúde brasileiro. Assim, aprofundou-se na história do sistema, em como ele
é regido e quais ações o norteiam. Então, uma vez que atividade física faz parte
da saúde e o SUS é o sistema que nos representa nessa questão, não poderíamos
deixar de discutir sobre o NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família, em que
o profissional de Educação Física está inserido. Você viu quantos profissionais
podem compor o NASF? Você já imaginou o impacto que essa ação multiprofis-
sional fornece em uma população carente de saúde?
Para finalizarmos com chave de ouro, discutimos sobre a Atenção Primária
à Saúde e atuação dos profissionais de saúde, especificamente o profissional de
Educação Física, dentro do Sistema Único de Saúde.
Quanta coisa você aprendeu não é mesmo? Agora você já tem conheci-
mento de sobra para defender com unhas e dentes a atuação do profissional de
Educação Física em todo o ambiente que envolve saúde. Isso porque, nós, pro-
fissionais de Educação Física, levamos saúde por onde quer que passamos, não
apenas a ausência de doenças influencia drasticamente nos padrões de compor-
tamento da população. Portanto, é nosso dever atuarmos com dedicação, res-
ponsabilidade e ética, para que possamos promover saúde e prevenir doenças
da melhor maneira possível.

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