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MATEMÁTICA
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Destch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
ACESSE AQUI
Dr. Rodrigo André Schulz O SEU LIVRO
NA VERSÃO
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi
FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Antoneli da Silva Ramos C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Projeto Gráfico e Capa Núcleo de Educação a Distância. DESTCH, Denise Trevisoli;
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho CRAVEIRO, Irene Magalhães; KATO, Lilian Akemi; SCHULZ,
Rodrigo André; RUIZ, Simone Francisco.
e Thayla Guimarães
Editoração Análise Matemática.
Denise Trevisoli Destch, Irene Magalhães Craveiro, Lilian Akemi
Matheus Silva de Souza
Kato, Rodrigo André Schulz, Simone Francisco Ruiz.
Design Educacional
Ivana Cunha Martins
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Revisão Textual 226 p.
Nágela Neves da Costa “Graduação - EaD”.
Ilustração 1. Análise 2. Matemática 3. Cálculo Diferencial. EaD. I. Título.
André Azevedo
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 510.7
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-65-5615-022-2
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-
versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-
Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
http://lattes.cnpq.br/0550447189661842
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http://lattes.cnpq.br/3454520003811932
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA
ANÁLISE MATEMÁTICA
Seja bem-vindo(a)!
Prezado(a) acadêmico(a), é com muita satisfação que elaboramos este livro. Ele apresenta os
conceitos básicos da Análise Matemática unidimensional, a partir dos temas estudados em
Cálculo Diferencial, em uma variável real.
Esta abordagem lógico-formal bem como a habilidade no trato com as definições, as proposi-
ções e as demonstrações são fundamentais ao futuro professor de Matemática, pois constituem
o alicerce lógico fundamental de toda Matemática.
Para melhor aproveitamento deste material, orientamos que a leitura do livro seja bastante
minuciosa, com atenção aos passos indicados nas demonstrações e resoluções de exercícios.
Se preciso, leia várias vezes cada resultado apresentado, redigindo, com suas palavras, as de-
monstrações apresentadas, abstraindo a essência de cada teorema. É importante, também,
que você tire suas dúvidas com os professores mediadores, até sentir-se confiante para fazer
os exercícios indicados e, então, seguir para a aula seguinte.
Para todos os acadêmicos, desejamos um ótimo estudo, com muita garra, dedicação e, conse-
quentemente, muito sucesso.
ÍCONES
pensando juntos
explorando ideias
quadro-resumo
conceituando
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conecte-se
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
10 UNIDADE 02
58
NOÇÕES NÚMEROS REAIS,
PRELIMINARES SEQUÊNCIAS E SÉRIES
UNIDADE 03
112 UNIDADE 04
150
LIMITE E DERIVADAS
CONTINUIDADE
UNIDADE 05
185 FECHAMENTO
218
INTEGRAIS CONCLUSÃO GERAL
1
NOÇÕES
PRELIMINARES
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Destch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Conjuntos • Par ordenado e
Produto cartesiano • Funções • Números inteiros • Números racionais • Conjuntos finitos, infinitos e
enumeráveis.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Desenvolver habilidades para trabalhar com a linguagem da teoria de conjuntos • Compreender o
conceito de produto cartesiano como um conjunto de pares ordenados • Introduzir a noção de funções
e suas propriedades básicas • Apresentar o conjunto dos números inteiros e desenvolver habilidades
para aplicar os Princípios da Boa Ordem e de Indução • Apresentar o conjunto dos números racionais
• Definir e identificar conjuntos finitos, infinitos e numeráveis.
INTRODUÇÃO
CONJUNTOS
12
Definição 1.1: sejam A e B conjuntos. Dizemos que A é parte de B ou A
UNICESUMAR
está contido em B ou, ainda, B contém A e denotamos por A ⊂ B, se todo
elemento de A é elemento de B . Ou seja,
A B (x)( x A x B ).
X x ; x satisfaz P .
explorando Ideias
Os diagramas de Venn são, também, utilizados para representar relações entre conjuntos.
Esses diagramas foram criados pelo matemático inglês John Venn e facilitam a visuali-
zação das relações de união e interseção entre conjuntos. Esses diagramas podem ser
bastante úteis para resolver problemas envolvendo organização de dados. No link dispo-
nível a seguir, você encontrará alguns exemplos de problemas, extraídos de vestibulares e
concursos, que podem ser resolvidos usando os diagramas de Venn.Acesse: https://blog.
professorferretto.com.br/subconjuntos-e-conjunto-das-partes/
Fonte: os autores.
UNICESUMAR
mamos a união de A e B , e indicamos por A ∪ B
o conjunto formado pelos elementos que perten-
cem a A ou a B . Em símbolos,
A B x; x A ou x B .
i. A A;
ii. A A A;
iii. A ( A B) e B ( A B);
iv. A B B A;
v. ( A B) C A ( B C ).
A B x; x A e x B .
ii. A A A;
iii. A B A e A B B;
iv. A B B A;
v. ( A B) C A ( B C ).
A B x; x A e x B .
conceituando
Provamos, por meio de um contraexemplo, que a afirmação dada no Exemplo 1.2 não
é verdadeira. Reflita o caso similar do Exemplo 1.2 para a operação de interseção, ou
seja, verifique se a propriedade é verdadeira: se A B A C, então, B C , para
quaisquer conjuntos A, B e C .
16 Fonte: os autores.
2
PAR ORDENADO E
UNICESUMAR
PRODUTO
CARTESIANO
Dessa forma, destacamos que a ordem, neste caso, tem importância, o que justi-
fica o nome par ordenado. No par ordenado, a primeira coordenada é chamada
abcissa, e a segunda, ordenada.
Proposição 1.3: Considere os elementos a, b, c e d . Então,
( a , b ) ( c, d ) a c e b d .
18
3
UNICESUMAR
FUNÇÕES
Em sua trajetória como estudante, você já deve ter percebido que o estudo de
funções matemáticas é um dos mais importantes e, historicamente, relevantes
para a construção de toda a ciência. Abordaremos, aqui, portanto, os conceitos
relacionados a esse estudo, fazendo uso do formalismo matemático necessário
para a compreensão dos demais conceitos.
Definição 1.8: sejam A e B conjuntos não vazios. Uma função f de A
em B é uma lei f ,que associa a cada elemento a ∈ A um único elemento
y = f ( x), com y ∈ B. Uma função é simbolizada por:
f: A→ B
x f ( x).
único f ( x) corresponder x em B .
f 1 (Y ) {x A; f ( x) Y }.
Temos que f ({0, 1}) {0} e f 1 ({0, 5}) {x A; f ( x) {0, 5}} {0, 1, 4}.
Vejamos, agora, como classificar as funções quanto à injetividade, sobrejeti-
vidade e bijetividade.
Definição 1.9: seja f : A → B uma função. Dizemos que f é injetora ou
injetiva se, para quaisquer a, b ∈ A , tais que f (a ) = f (b), então, a = b.
Definição 1.10: seja f : A → B é uma função. Dizemos que f é sobrejetora
ou sobrejetiva se f ( A) = B, ou seja, se para cada b ∈ B existe a ∈ A, tal que
b = f (a ).
Definição 1.11: seja f : A → B uma função. Dizemos que f é bijetora ou
bijetiva ou, ainda, uma bijeção, se f é injetora e sobrejetora.
A igualdade de funções, por sua vez, é definida da seguinte forma:
Definição 1.12: sejam f : A → B e g : A → B funções. Dizemos que f é
igual a g se, e somente se, f ( x) g ( x), x A.
20
Ou seja, para que aconteça a igualdade entre funções, elas devem ter o mesmo
UNICESUMAR
domínio, o mesmo contradomínio e a mesma lei de formação.
Exemplo 1.5: sejam os conjuntos A = {1, 2, 3, 4, 5} e B = {a, b, c, d } e
a aplicação f de A em B , tal que f (1) a=
= , f (2) b= , f (3) c=
, f ( 4) d e
f (5) = c . Temos que f é sobrejetora, pois f ( A) = B. No entanto f não é
injetora, pois f (3)= c= f (5) e 3 ≠ 5 .
Proposição 1.4: seja f : A → B, uma função sobrejetora. Então, para todo
Z ⊂ B, tem-se que f ( f 1 ( Z )) Z .
Demonstração: de fato, por definição,
f 1 ( Z ) {x A; f ( x) Z ;} e f ( f 1 ( Z )) { y B; y f ( x) e x f 1 ( Z )}.
pensando juntos
21
UNIDADE 1
explorando Ideias
Duas funções f e g podem ser combinadas de maneira que possamos obter novas funções,
f
tais como f + g , f – g , f . g e . Estas funções são obtidas de forma similar ao que fazemos
g
quando somamos, subtraímos, multiplicamos e dividimos números reais, cuidando, sem-
pre, da maneira de definir o domínio das funções obtidas destas combinações.
Fonte: os autores.
x1 g f ( x1 ) g f ( x1 ) g f ( x2 ) g f ( x2 ) x2 .
23
Portanto, f é injetora.
UNIDADE 1
A próxima proposição nos mostra que se f possui uma inversa à direita e uma
inversa à esquerda, então, elas são iguais.
Proposição 1.7: seja f : A → B uma função. Se existem g : B → A e
h : B → A, tal que ( f g )( y ) y, y B e (h f )( x) x, x A, então,
g = h.
24
Demonstração: de fato, como h : B → A e g : B → A são tais que
UNICESUMAR
(h f )( x) x, x A e ( f g )( y ) y, y B, então, podemos escrever
h f = id A e f g = id B . Além disso,
g ( y ) id A g ( y ) h f g ( y ) h f g ( y ) h id B ( y ) h( y ), y B.
Chamamos uma função g : B → A de inversa da função f : A → B quando
g é a inversa à esquerda e à direita de f . Em outras palavras, temos a definição
seguinte.
Definição 1.14: sejam A e B conjuntos não vazios e f : A → B , uma
função. Dizemos que g : B → A é inversa de f ou que f é uma função
inversível s.e
g f ( x ) x, x A e f g ( y ) y, y B
25
4
NÚMEROS
UNIDADE 1
INTEIROS
UNICESUMAR
por Milies (2003). Ele faz um tratamento completo da construção do conjunto
dos números reais, iniciando com a construção dos números naturais a partir
de três axiomas, conhecidos como axiomas de Peano. O conjunto dos inteiros é
construído a partir dos naturais, por meio de uma relação de equivalência de-
finida nesse conjunto. Da mesma forma, o conjunto dos racionais é construído,
definindo um relação de equivalência em . Em seguida, faz-se a construção
dos números reais.
Os números inteiros ou apenas inteiros são: , 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3, cujo
conjunto denota-se por . O conjunto dos inteiros , munido das operações
de adição, denotada por (+), e multiplicação, por (.), possui propriedades funda-
mentais, estas enumeramos a seguir. Para isto, sejam a , b e c números inteiros
quaisquer, então, são válidas as seguintes propriedades:
a) a b b a, a, b ;
c) a (b c) (a b) c, a, b, c ;
e) a 0 a, a ;
f) a.1 a, a ;
g) a a 0, a ;
h) a a.(1), a ;
j) 0.a 0, a ;
k) a.b 0, a 0 ou b = 0 .
27
Também existe uma relação de ordem entre os inteiros, representada por <, que
UNIDADE 1
l) a 0, a 0 ou 0 a;
m) a b e b c a c.
n) a b a c b c, c .
o) a b e 0 c a.c b.c;
p) a b e c 0 b.c a.c;
Outra notação para relação de ordem menor do que (<) é b > a, que lemos: b
maior do que a , e que significa a < b. Tambémapontaremos, de modo abreviado,
a ≤ b para indicar que a < b ou a = b . Em símbolos, a b a b ou a b.
Com o mesmo significado, escreve-se b ≥ a, que lemos: b maior ou igual do que
a . Outra notação usada: a ≤ b ≤ c e significa que a ≤ b e b ≤ c.
Dessas 16 propriedades, podemos deduzir outras propriedades no conjunto
dos inteiros. Mas, antes disso, queremos destacar alguns subconjuntos dos intei-
ros, e estes recebem um nome particular:
i. O conjunto dos inteiros não nulos, denotado por * , este pode ser defi-
nido pela propriedade: * {x ; x 0};
ii. O conjunto dos inteiros não negativos, denotado por + , este pode ser
definido pela propriedade: {x ; x 0};
iii. O conjunto dos inteiros não positivos, denotado por − , este pode ser
definido pela propriedade: {x ; x 0};
iv. O conjunto dos inteiros positivos, denotado por *+ , este pode ser definido
pela propriedade: * {x ; x 0};
v. O conjunto dos inteiros negativos, denotado por *− , este pode ser defi-
nido pela propriedade: * {x ; x 0}.
UNICESUMAR
Indução
Princípio da Boa Ordem: todo subconjunto não vazio dos inteiros não nega-
tivos possui elemento mínimo. Em símbolos:
A e A a A; a x, x A.
29
Proposição 1.9: seja A e A . Se existe a ∈ A , tal que a = min A,
UNIDADE 1
então, a é único.
Demonstração: sejam a, b ∈ A tal que a = min A e b = min A.
a min A a A e a x, x A . (1)
b min A b A e b x, x A. (2)
a se a 0
| a | .
a se a 0
Ou seja, | a | max{a, a}, em que max{a, −a} denota o maior número dentre
os inteiros a, −a.
Exemplo 1.10: | 6 | max{6, (6)} 6.
Dado a ∈ , seguem, direto da definição, os seguintes resultados:
1. | a | 0 a 0;
2. | a |≥ 0;
3. | a || a |;
4. a ≤| a |;
5. a | a |;
6. | a |= a2 ;
30
Proposição 1.10: dados a, b ∈ com b ≠ 0, então, existe s ∈ , tal que a s b .
UNICESUMAR
Demonstração: se a < b, tome s = 1 e observe que a < s.b. Suponha a ≥ b.
Como b ≠ 0, então, dividiremos a demonstração em dois casos.
Caso I: se b > 0, então, b ≥ 1. Agora, multiplicaremos a inequação b ≥ 1 por
|a|, temos | a | b ≥| a | .1 ≥ a. Dessa forma, | a | b ≥ a. Somando b em | a | b ≥ a ,
temos | a | b b a b, ou seja, (| a | 1)b a b. Como b > 0, então, a b a.
Dessa forma, (| a | 1)b a. Tome s | a | 1 e observe que sb > a.
Caso II : se b < 0, então, b 0. Como b 0 , então, segue do Caso I, que
existe n ∈ , tal que n(b) a, ou seja, (n)b a. Tome s n (| a | 1) .
Portanto, segue o resultado.
Não faremos a demonstração da Proposição 1.12, mas ela nos auxiliará na de-
monstração da seguinte proposição.
Proposição 1.13: dados a, b ∈ com b > 0 , existe um único par de inteiros
q e r , tais que a bq r , com 0 r b .
31
Demonstração: aplicaremos a Proposição 1.12 para o par de inteiros a e
UNIDADE 1
i. 0 ∈ B;
ii. k B k 1 B .
Então, B .
32
Segue deste teorema que, sendo n0 um número natural e P (n) , uma sentença
UNICESUMAR
aberta em n ; n n0 , tal que:
P (n0 ) é verdadeira;
P(k ) P(k 1) para todo k ≥ n0 .
Então, P (n) é verdade para todo n ≥ n0 .
n(n 1)
Exemplo 1.11: prove que 1 2 3 n , n .
2
De fato,
1(1 1)
a) P(1) é verdadeira, pois 1 ;
2
k (k 1)
b) Suponha que P (k ) é verdadeira, isto é, 1 2 3 k .
2
Somando k +1 a ambos os membros da igualdade, obtemos:
k (k 1)
1 2 3 k (k 1) (k 1) , o que implica em:
2
2(k 1) k (k 1)
1 2 3 k (k 1) . Logo,
2 2
(k 1)(k 2)
1 2 3 k (k 1) . Portanto, P (k +1) é verdadeira. Se-
2
gue do Princípio de Indução Matemática que P (n) é verdadeira para todo n ≥ 1.
33
5
NÚMEROS
UNIDADE 1
RACIONAIS
2 1 1
unitárias, por exemplo, a fração era decomposta por mais .
5 3 15
Muitos fatos sobre o conceito de frações aparecem no Papiro de Rhind, tam-
bém conhecido como Papiro Ahmes. Um deles é o conceito de fração dado como
razão entre dois comprimentos. Durante a construção das pirâmides, os egípcios
perceberam que era fundamental manter a inclinação constante das faces de
uma dada pirâmide que estava em construção. Eles se preocupavam com o afas-
tamento horizontal de uma reta oblíqua em relação ao eixo vertical, para cada
34
variação de unidade de altura, essa inclinação (chamada seqt pelos egípcios) era
UNICESUMAR
dada como o quociente do afastamento horizontal pelo vertical. Neste contexto, a
unidade de medidas era o cúbito, quando medido em mãos, um sétimo do cúbito.
Observe que, naturalmente, para estabelecer razões desse tipo, era necessário fa-
zer comparações, por exemplo, o comprimento horizontal e a unidade de medida
(cúbito), o comprimento vertical e a unidade de medida. Quando trabalhamos
com conceito de fração, comparamos, sempre, grandezas de mesmas espécies,
e daí, é necessário escolher uma unidade padrão de mesma espécie. Quando
dizemos que a grandeza é de mesma espécie, comparamos comprimento com
comprimento, área com área, volume com volume, peso com peso etc.
Ainda hoje, comparamos grandezas, pois estamos, sempre, medindo algo.
Mas o que é medir? Nada mais é do que fazer uma comparação. Quando meço
o comprimento da altura de um prédio, por exemplo, 30 metros, na verdade,
comparo o comprimento desse prédio com um padrão de comprimento cha-
mado Metro, então, o meu prédio é 30 vezes maior do que o comprimento de
algo chamado “metro”. Já que medir é comparar, quando quisermos medir algo,
podemos comparar com qualquer coisa. Assim, posso dizer que eu tenho uma
altura de 11 palmos (da minha mão direita).
Por exemplo, podemos medir os segmentos AB e CD, dados na figura,
logo, a seguir, usando, como padrão de comprimento, o segmento. EF, Para
isso, denotaremos, respectivamente, os comprimentos desses segmentos por , AB
CD e EF , e observaremos que A B é 8× EF , e que CD é 5× EF. Usando a
notação atual, escrevemos:
AB 8 EF 8
.
CD 5 EF 5
A B
E F
C D
AB m EF m
.
CD n EF n
No caso particular em que n = 1, temos que: CD = EF
AB m EF m
m.
CD EF 1
Observe que podemos usar uma diversidade de outros segmentos de medida EF .
A representação fracionária de um número racional é dada por meio de dois
m
inteiros m e n , com n diferente de zero, que é comum denotar por , que
n
pode ser interpretado como uma, duas, três, quatro etc. partes de um todo, divi-
2
dido em número de partes iguais. Por exemplo, o símbolo é associado a duas
3
4
partes de certo todo particionado em três partes iguais. E é um todo mais uma
3
parte do todo, dividido em três partes iguais. Denotaremos o conjunto dos racio-
m
nais por , formado por todos os pares de inteiros m , n da forma , tal que
n
n ≠ 0 . Iniciaremos com os racionais do tipo p , em que q = 1 . Tais números
q
p
racionais são identificados com o inteiro p = , e, com certo abuso de lingua-
⊂ 1
gem, dizemos que .
Uma forma de representar, geometricamente, o conjunto dos racionais é
construir uma reta numerada, considerando o zero como origem e o número 1
em algum lugar dessa reta, tome como unidade de medida a distância entre 0
e 1 , que denotamos por u . Nesta reta, distinguimos dois sentidos de percurso:
o de 0 para 1 , e o de 1 para 0 . Para fazer distinção entre esses dois sentidos, é
usual denominar um deles de positivo (de 0 para 1), e outro, de negativo de (1
para 0), sendo que o número zero é marco inicial, ou seja, a origem. A partir de 0,
36
no sentido positivo, marcamos o segmento unitário de comprimento u ≠ 0, cuja
UNICESUMAR
extremidade representa o número inteiro 1. Os números inteiros são colocados
na reta da seguinte forma: para cada n positivo, a partir de zero, marcamos um
segmento de medida nu u u u , no sentido positivo, cuja extremidade
representa n , e marcamos um segmento de medida nu no sentido negativo,
cuja extremidade representa −n , com isso, para cada inteiro n , existe um ponto
dessa reta associado a ele.
Para representar um racional cujo denominador é b , devemos dividir cada
segmento unitário, ou seja, os segmentos contido na reta cujas extremidades são
n e n +1 , com n inteiro em b partes iguais. Em particular, se b = 3 , represen-
tamos, na reta, todos os racionais, cujo denominador é igual a 3, por exemplo,
1 −1 6 4
, , , ,... etc. Fazendo esse procedimento para todo b ≠ 0 , temos que, para
3 3 3 3
a
todo racional ,existe um ponto nessa reta que construímos associado a ele.
b
Além disso, podemos obter uma classe de racionais associados a um mesmo
ponto dessa reta, esses números racionais são chamados equivalentes, por exem-
4 2 3 1 k
plo, = = = = , em que k ≠ 0. Os racionais equivalentes podem ser
16 8 12 4 4 k
escritos de maneiras diferentes, entretanto, representam a mesma parte de um
a c a c
todo. Dados e dois números racionais, a.d b.c .
b d b d
O conjunto dos racionais satisfaz as seguintes propriedades: para quaisquer
a, b, c ∈ , temos:
i) a b b a e a.b = b.a , a, b ;
0
iii) existe 0 = tal que a 0 a, a ;
1
1
iv) existe 1 = ,tal que a.1 1, a ;
1
v) dado x ∈ existe x , ,tal que x ( x) 0;
37
UNIDADE 1
1 1
vi) dado x 0, x existe x , tal que x.x 1 1;
x
O conjunto dos racionais tem ordem total cujas operações definidas por adição
e multiplicação são compatíveis com essa ordem. Além disso, a ordem de é
uma extensão da ordem do conjunto dos números inteiros.
Em , temos que a diferença entre dois inteiros consecutivos é sempre igual a
1, ou seja, para todo n ∈ , a distância entre n e n +1 é igual a 1. A ordem natural
dos inteiros: 4 3 2 1 0 1 2 3 4
Usamos a seguinte notação para comparar dois números racionais x , y :
x y x y ou x y.
m m
Proposição 1.14: para cada racional , existe k ∈ , tal que k k 1.
n n
Demonstração: aplicaremos a Proposição 1.13 para o par de inteiros m e
n , em que n ≠ 0 . Sem perda de generalidade, observe que podemos considerar
m m
n > 0 , pois, se n < 0 ,observemos que com n 0 . Logo, existem úni-
n n
m r
cos q, r ∈ , tais que m nq r , com 0 r n. Temos que x q e
n n
r m r
0 1. Assim, como n > 0, então, q x q q 1. Tomando
n n n
k = q e temos que k x k 1 e segue o resultado.
38
UNICESUMAR
a
Dado um número racional qualquer , podemos escolher um representante
b
a
para , de maneira que a e b são primos entre si, ou seja, ambos não têm fator
b
comum ( MDC(a, b) = 1 ), em que MDC denota o Máximo Divisor Comum. O
MDC entre dois inteiros a e b é o maior divisor comum entre a e b . Segue da
definição que
MDC (b, a ) MDC (a, b) MDC (a, b) MDC (a, b) MDC (a, b).
a
Um número racional da forma , tal que a e b , primos entre si, é chamado
b
de fração irredutível.
p
Proposição 1.15: ; p, q , q 0 e MDC ( p, q ) 1 .
q
p
Demonstração: é claro que ; p, q , q 0 e MDC ( p, q ) 1 .
q
p
Reciprocamente, considere x =
. Se d MDC(
= p, q ) 1, então:
q
p
x ; p, q , q 0 e MDC ( p, q ) 1 .
q
Caso contrário, d > 1 , além disso, existem k , s ∈ , tais que, p = dk e q = ds.
p dk k
x
Dessa forma, temos que: = = = e o MDC(k , s ) = 1. Portanto,
q ds s
p
x ; p, q , q 0 e MDC ( p, q ) 1 .
q
39
a
Os números racionais costumam ser representados por ,em que a, b ∈ , com
UNIDADE 1
b
b ≠ 0 e esta representação é única se tomarmos as frações na forma irredutível
e com denominadores positivos.
A conversão de uma fração ordinária em decimal se faz por meio da
divisão do numerador, conforme ilustrado no exemplo a seguir.
a 41
Exemplo 1.12: seja = . Ao escrevermos a representação decimal de
b 20
a 41
, temos que = 2, 05.
b 20
O próximo resultado nos fornece condições necessárias e suficientes para que
um número racional tenha uma representação decimal finita.
a
Proposição 1.16: um número racional, na forma irredutível , possui uma
b
representação decimal finita se, e somente se, os fatores primos de b forem 2 ou 5.
Definição 1.18: uma dízima periódica é uma representação decimal da
forma m, a1a2 an , , em que m é um inteiro não negativo e ai são dígitos
(ai ∈ {0, 1, 2, 3, , 9}) para i = 1, 2, 3, , na qual, após um número finito de
dígitos, aparece um bloco de dígitos (chamado período) com a propriedade
que, a partir desse, a lista de dígitos é constituída, exclusivamente, pela repetição
sucessiva deste bloco.
Denotamos m, a1a2 an m, a1a2 as as 1 an , em que as +1 an é o
bloco de dígitos que se repete. Por exemplo, 2, 34512121212 = 2, 34512.
Exemplo 1.13: 0, 4444 … é um dízima periódica de período 4 e
0, 23574747474 é uma dízima periódica de período 74.
Fazendo x 0, 444 temos que 10 x 4, 4444 , ou seja,
10 x 4 0, 444 . Dessa forma, 10 x 4 x, isto é, 9 x = 4, e daí concluímos
4 4
que x = e uma representação decimal para é 0, 444 ….
9 9
40
6
CONJUNTOS FINITOS,
UNICESUMAR
INFINITOS E
ENUMERÁVEIS
Para facilitar a compreensão dos demais conceitos que serão, aqui, abordados, é
necessário distinguir, quanto ao número de elementos, três tipos de conjuntos:
os finitos, os infinitos e os enumeráveis.
Dado k ∈ , vamos definir o conjunto I k formado pelos naturais de 1 até
k , isto é, I k 1, 2, 3, , k .
Definição 1.19: um conjunto X é finito quando é vazio ou existe k ∈ e
f : I k → X , tal que f é bijeção.
Denotamos por x1 = f (1), x2 = f (2), x3 f (3), , xn f (n) e
X {x1 , x2 , , xn }.
A bijeção f chama-se uma contagem dos elementos de X , e o número k
chama-se número de elementos ou número cardinal do conjunto X , e denota-
mos por k = card ( X ).
Exemplo 1.14: para cada n ∈ , o conjunto I n é finito e possui n elementos.
De fato, tome a função f : I n → I n , tal que f ( x) = x. Ou seja, f é a função
identidade no conjunto I n .
Exemplo 1.15: sejam X , Y conjuntos quaisquer e f : X → Y bijeção. En-
tão, X é finito ⇔ Y é finito. Além disso, card ( X ) = card (Y ).
De fato, X é finito se, e somente se, existir k ∈ e uma função g : I k → X ,
tal que g é bijeção. Temos que F : I k → Y , definida F ( x) = f g ( x) . Como f e
g são bijeções, então, F é bijeção e segue que Y é finito e card (Y ) = k . Recipro-
41
camente, suponha que Y é finito. Então, existe k ∈ e uma bijeção h : I k → Y .
UNIDADE 1
42
Corolário 1.2: seja X um conjunto finito. Se f : X → X é injetiva, então, f
UNICESUMAR
é sobrejetiva.
Demonstração: suponha que X é finito e X . Logo, existe uma bijeção
j : I n → X . Como j é bijeção, então, existe uma bijeção j 1 : X I n . Além
disso, j( I n ) = X e j 1 ( X ) I n .
43
Dessa forma, obtemos uma bijeção de A ⊂ I n para I n . Como os conjuntos
UNIDADE 1
I n A j 1 (Y ) j ( I n ) j (j 1 (Y )) Y .
UNICESUMAR
tado.
Demonstração: suponha X finito e escreva X {x1 , x2 , , xn }. Tome
p x1 x2 xn e observe que x p, x X . Logo, X é limitado. Recipro-
camente, suponha que X é limitado, ou seja, existe p ∈ , tal que x ≤ p, para
todo x ∈ X . Considere o conjunto I p {1, 2, 3, , p} e observe que X ⊂ I p .
Como I p é finito e X ⊂ I p , segue que X é finito.
46
Definição 1.22: um conjunto X é enumerável quando X é finito ou existe
UNICESUMAR
uma bijeção f : → X . Neste caso, f denomina-se enumeração dos elementos
de X .
Exemplo 1.19: o conjunto dos números naturais é enumerável, pois definida
por f (n) = n é bijeção.
Exemplo 1.20: o conjunto dos números naturais pares X = é enumerável,
pois j : → , definida por j( x) = 2 x é bijeção.
Exemplo 1.21: o conjunto dos números inteiros X = é enumerável, pois
j : → , definida por
n
, se n é par
2
ϕ ( n ) =
− n −1 , se n é ímpar
2
é bijeção.
(2 y 1) 1
x 2 y 1 e veja que f ( x) f (2 y 1) y. Portanto, j
2
é sobrejetiva. Portanto, j : → é bijeção, de onde segue que é enumerável.
47
Teorema 1.5: todo subconjunto X ⊂ é enumerável.
UNIDADE 1
48
Perceba que o corolário anterior nos garante que todo subconjunto de um
UNICESUMAR
conjunto enumerável é enumerável. De fato, quando X ⊂ Y e Y é enume-
rável, concluímos que X é enumerável, pois a função inclusão i : X → Y é
sempre injetiva. Dessa forma, segue do Corolário 1.6 o resultado.
Corolário 1.7: se f : X → Y é sobrejetiva e X é enumerável, então, Y
é enumerável.
Demonstração: com efeito, como f : X → Y é sobrejetiva, então, para
cada y ∈ Y , existe x ∈ X , tal que y = f ( x). Dessa forma, para cada y ∈ Y ,
escolheremos um único x ∈ X , tal que y = f ( x) , e definiremos g : Y → X
com g ( y ) = x, se f ( x) = y.
Observe que f= g ( y ) f=
( g ( y )) f ( x) = y. Temos que g é injeti-
va, pois, se para quaisquer y1 , y2 ∈ Y , tal que g ( y1 ) = g ( y2 ), temos que
f ( g ( y1 )) = f ( g ( y2 )). Logo, y1 = y2 . Como g : Y → X é injetiva e X é
enumerável, segue do Corolário 1.6 que Y é enumerável.
49
Exemplo 1.24: seja n ∈ . Temos que card ( I n ) < card (). De fato, é claro que
UNIDADE 1
explorando Ideias
Depois dos Elementos de Euclides, 300 a. C., poucos matemáticos influenciaram tanto o
modo de apresentar a Matemática quanto Georg Cantor (1845-1918). Cantor nasceu na
Rússia e cresceu na Alemanha. Ao estudar séries trigonométricas, deparou-se com certas
questões da Análise Matemática que o levaram a criar a Teoria dos Conjuntos e toda a
teoria sobre infinito. Na época de Cantor, os matemáticos conservadores desprezavam os
estudos sobre os números irracionais, o conceito de infinito e tudo o que se relacionava
a eles. Em particular, Leopold Kronecker (1823-1891), professor de Cantor, liderava uma
campanha contra esses estudos e contra seu próprio ex-aluno. O conflito acadêmico fez
com que a entrada de Cantor em círculos de mais altos níveis da Matemática fosse bar-
rada. Pessoalmente, Cantor acreditava que existiam vários níveis de infinito. O mais alto
deles, o Absoluto e inatingível, era o próprio Deus.
Mais informações sobre este matemático, você encontrará acessando os links, a seguir.
https://impa.br/noticias/georg-cantor-1845-1918-pai-do-infinito-e-do-icm/
https://www.somatematica.com.br/biograf/cantor.php
Fonte: os autores.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNICESUMAR
Nesta unidade, introduzimos, de maneira breve, a linguagem de conjuntos
e funções, utilizada, sistematicamente, nas unidades seguintes. Como dito
no início desta unidade, o uso de notações para expressar ideias e conceitos
é uma característica da Matemática, por isso, émuito importante para o seu
desenvolvimento matemático aprimorar a capacidade de compreender e se
expressar, usando esses símbolos. Uma vez que essa é a linguagem natural
da Matemática no ambiente acadêmico, imaginamos que você já tenha certa
familiaridade com este tipo de escrita.
Também abordamos os conjuntos finitos, infinitos e enumeráveis, apresen-
tando critérios que permitem classificar conjuntos quanto a estes conceitos,
pois saber distinguir conjuntos quanto ao número de elementos é essencial
para a compreensão de outros conceitos, abordados no decorrer deste livro.
No estudo de conjuntos finitos, infinitos e enumeráveis, é essencial o concei-
to de função, o objeto matemático básico do Cálculo Diferencial e Integral.
Neste sentido, tratamos de funções de maneira breve, destacando apenas as
propriedades básicas, utilizadas no decorrer deste texto, tais como injetivi-
dade, bijetividade, sobrejetividade, composição de funções e função inversa.
Apresentamos o conjunto dos números inteiros e dos racionais, descre-
vemos alguns resultados e enfatizamos suas nomenclaturas e representações.
Tratamos, também, do Princípio da Boa Ordem e do Princípio de Indução
Finita. O Princípio da Boa Ordem foi apresentado como axioma e utilizado
para demonstrar o Princípio de Indução. Este é um método de demonstra-
ção que pode ser usado para validar determinada afirmação para todos os
números inteiros não negativos ou em subconjuntos dos números naturais.
Embora tenhamos explorado poucas propriedades dos conjuntos numéricos,
deixamos a sugestão para que você pesquise mais sobre eles. Este é um tema
muito amplo e pode ser um bom assunto para projetos acadêmicos ou tra-
balhos de conclusão de curso.
Esta unidade foi elaborada com o intuito de facilitar sua compreensão a
respeito dos demais conceitos, que apresentaremos a partir de agora. Espera-
mos que os assuntos, nesta primeira unidade, possam auxiliá-lo no decorrer
do livro. E, sempre que for necessário, não hesite em retomar algum tópico
que, aqui, tratamos.
51
na prática
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
52
na prática
1 1 1 n 1
a) , para todo n >1 .
1 2 2 3 (n 1) n n
b) 10n -1 é divisível por 9, para todo n ∈ .
53
aprimore-se
FANTASIA MATEMÁTICA
54
aprimore-se
55
eu recomendo!
livro
56
eu recomendo!
filme
Enigma
Ano: 2001
Sinopse: em março de 1943, a equipe de elite dos decodificadores
da Inglaterra tem uma responsabilidade monumental: decifrar o
Enigma, um código ultrasseguro utilizado pelos nazistas para en-
viar mensagens aos seus submarinos. O desafio fica ainda maior
quando se sabe que uma grande esquadra de navios mercantis
está prestes a cruzar o Atlântico e cerca de dez mil homens corre-
rão perigo caso a localização dos submarinos alemães não seja logo descoberta,
o que apenas poderá ocorrer quando o Enigma for decifrado. Para liderar este
trabalho é chamado Tom Jericho (Dougray Scott), um gênio da matemática que
consegue realizar tarefas consideradas impossíveis pelos especialistas. Porém,
ao mesmo tempo em que Jericho se envolve cada vez mais com a decodificação
do Enigma, ele precisa atentar-se à sua namorada Claire (Saffron Burrows), uma
sedutora e misteriosa mulher que pode estar trabalhando como espiã para os
alemães.
conecte-se
57
2
NÚMEROS REAIS,
SEQUÊNCIAS
E SÉRIES
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Números reais • Sequências • Séries.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar as propriedades do corpo ordenado completo dos números reais • Compreender os con-
ceitos de sequências e de limite de uma sequência, sequência limitada e ilimitada, com as suas res-
pectivas propriedades • Compreender a definição de série numérica e os conceitos de convergência
e divergência.
INTRODUÇÃO
UNICESUMAR
NÚMEROS REAIS
UNICESUMAR
corpo numérico em seu livro Über die Theorieder Ganzen Zahlen algebraischen,
trazendo grandes contribuições para o campo da álgebra, especialmente, para
a teoria dos números algébricos, nos fundamentos dos números reais e para a
teoria de anéis, em sua obra mais famosa, intitulada Corte de Dedekind. Desta
forma, é natural que a primeira seção desta unidade seja dedicada a apresentar
o conceito de corpo ordenado.
Corpo ordenado
y 0 y ( x x) y x ( x y ) x ( x z ) ( x x) z 0 z z .
ii) Segue de (i), basta tomar z = 0 .
iii) Segue de (i), basta tomar z x .
iv) Segue de (iii), que se x y 0 , então, x ( x) .
64
Proposição 2.3: os axiomas da multiplicação implicam as seguintes propriedades:
UNICESUMAR
i) Se x ≠ 0 e x y x z , então, y = z .
ii) Se x ≠ 0 e x y x , então, y = 1 .
iii) Se x ≠ 0 e x y 1 , então, y = 1 / x .
1 1
iv) Se x ≠ 0 , então, ( x ) x .
i) 0 x = 0 .
ii) Se x ≠ 0 e y ≠ 0 , então, x y 0 .
iii) ( x) y ( x y ) x ( y ) .
iv) ( x) ( y ) x y .
Demonstração:
i) Como 0 x 0 x (0 0) x 0 x , temos, pela Proposição 1.1 (I), que
0 x 0 .
ii) Assuma x ≠ 0 e y ≠ 0 , com x y 0 , segue de (I), que
1 1 1 1
1 x y 0 0 . Temos, assim, uma contradição.
y x y x
Portanto, xy ≠ 0 .
iii) Provaremos a primeira igualdade e deixaremos a segunda para você.
Como ( x) y x y ( x x) y 0 y 0 , segue da Proposição 1.1,
item III, que ( x) y ( x y ) .
iv) Utilizando III e a Proposição 1.1, item IV, temos que
( x) ( y ) ( x ( y )) ( x y ) x y .
65
Agora que já apresentamos o conceito de corpo, podemos esclarecer o que é um
UNIDADE 2
corpo ordenado.
Definição 2.2: um corpo ordenado é um corpo C que contém um subcon-
junto P , denominando o conjunto dos elementos positivos de C , satisfazendo
às seguintes propriedades.
i) A soma e o produto de elementos positivos são positivos.
Se x, y ∈ P , então, x y P e x y P .
ii) Dado x ∈ C , então, uma, e somente uma, das três possibilidades ocorre:
ou x ∈ P , ou x P , ou x = 0 .
pensando juntos
Vimos no Exemplo 2.1 que o conjunto dos números racionais é um corpo. Mais que isso,
podemos afirmar que é um corpo ordenado. Neste caso, qual seria o conjunto P des-
crito na Definição 2.2?
Números reais
conecte-se
Veja no vídeo como podemos mostrar que o conjunto dos números Racio-
nais é enumerável.
O conjunto dos números reais, denotado por , é um corpo munido das ope-
rações de adição, denotada por (+), e multiplicação, por (.). Desse modo, satisfaz
todas as propriedades da Definição 2.1. Mais especificamente, são válidas:
66
Propriedade 2.1: a b e a.b , a, b .
UNICESUMAR
Propriedade 2.2: a b b a e a.b b.a, a, b .
Propriedade 2.3:
a (b c) (a b) c, e a.(b.c) (a.b).c, a, b, c .
Propriedade 2.4: existe 0 , tal que a 0 a, a .
Propriedade 2.5: existe 1 , tal que a 1 1 a a, a .
Propriedade 2.6: dado x ∈ , existe x , tal que x ( x) 0.
1 1
Propriedade 2.7: dado x 0, x , existe x , tal que x.x 1 1.
x
Propriedade 2.8: a.(b c) a.b a.c, a, b, c .
Mais que um corpo, o conjunto dos números reais pode ser classificado como um
corpo ordenado. De fato, considere o subconjunto próprio . Claramente,
+ satisfaz às seguintes propriedades:
i) Dados x, y , tem-se que: x y e x y , ou seja, + é
fechado em relação à adição e à multiplicação.
ii) Dados x ∈ , ocorre, exatamente, um dos três casos: ou x = 0 ou x
ou x , sendo 0 o elemento neutro da adição.
67
Como supomos, o conjunto dos números reais é representado por pontos de
UNIDADE 2
uma reta, chamada de reta real, então, a relação x < y , isso significa que o ponto
x está à esquerda de y .
Outra notação para a relação de ordem menor do que (<) é b > a , que lemos: b
maior do que a , e que significa a < b. Tambémapontaremos, de modo abreviado,
a ≤ b para indicar que a < b ou a = b . Em símbolos, a b a b ou a b.
Com o mesmo significado, escreve-se b ≥ a , que lemos: b igual ou maior do que
a . Outra notação usada: a ≤ b ≤ c e significa que a ≤ b e b ≤ c.
*
A Propriedade 2.9 permite definir os subconjuntos dos números reais ,
+ , − , *+ , *− da mesma forma como definimos os subconjuntos dos nú-
meros inteiros. Segue, da Propriedade 2.9, que dados quaisquer x, y ∈ , temos
que x ≤ y e y ≤ x se, e só se, x = y.
Segue da Propriedade 2.8 que x.0 = 0, para todo x ∈ . De fato,
x 0 x (0 0) x 0 x 0 , somando ( x 0) , em ambos lados desta igualda-
de, temos ( x 0) x 0 ( x 0) ( x 0 x 0) (( x 0) x 0) x 0 .. Logo,
0 0 x 0 , ou seja, 0 x 0 .
2
Exemplo 2.2: para todo x ∈ , vale que x ≥ 0. De fato, se x ≥ 0, então,
x2 x x x 0 0 . Se x < 0, então, x2 x x x 0 0 .
Também, na Propriedade 2.8 está a justificativa das regras de sinais, ou seja, para
quaisquer x, y ∈ , temos que x ( y ) ( x) y ( x y ) e ( x) ( y ) x y.
De fato, ( x) y x y ( x x) y 0 y 0 e ( x) y ( x y ) . Da mesma
forma, verifica-se que x ( y ) ( x y ) . Já para provar que ( x) ( y ) x y ,
basta observar que ( x).( y ) [ x.( y )] [( x. y )] [( x. y )] x. y.
1 1
Exemplo 2.3: sejam x, y ∈ , tais que 0 < x < y. Então, < . De fato,
y x
x y 1 1
observe que . Sendo x y 0 e x. y > 0, segue o resultado.
xy y x
n
Exemplo 2.4: sejam n ∈ e x ∈ , com x 1. Então, (1 x) 1 nx.
De fato, a prova será feita por indução sobre n . É claro que, para n = 1, temos
(1 x)1 1 1 x . Suponha que (1 x) n 1 nx, para algum n ≥ 1. Como
(1 x) n 1 nx e 1 x 0, então, (1 x) n (1 x) (1 nx)(1 x).
Dessa forma,
68
n
provando que (1 x) 1 nx, n . O resultado dado no Exemplo 2.4 é
UNICESUMAR
chamado de Desigualdade de Bernoulli.
Dados dois elementos a e b da reta, tal que a < b , temos que existem subcon-
juntos de , denominados intervalos, cujos extremos são a e b . Tais intervalos
são definidos da seguinte forma:
a) Intervalo aberto de extremos a e b é o conjunto:
(a, b) ]a, b[ {x ; x a e x b} {x ; a x b} .
b) Intervalo fechado de extremos a e b é o conjunto:
[a, b] {x ; x a e x b} {x ; a x b} .
c) Intervalo fechado à esquerda ou aberto à direita de extremos a e b é
o conjunto: [a, b) [a, b[ {x ; x a e x b} {x ; a x b} .
d) Intervalo fechado à direita ou aberto à esquerda de extremos a e b é
o conjunto: (a, b] ]a, b] {x ; x a e x b} {x ; a x b} .
[a,b]
[ a, b] a b
[a,b]
[a,b]
]a,b[
a b
a bb
]a,b[
]a, b[
[a,b[
a b
]a,b[
aa bb
[a,b[
[a,b[ a b
]a,b]
[a, b[ aa b
b
]a,b]
a b
] ]a,b]
- ∞,b[ a b 69
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[
] - ∞,b[
b
b
]a,b[
[a,b] a bb
]a,b[
[a,b] a bb
]a,b[
[a,b[
aa bbb
[a,b[
]a,b[
aa b
[a,b[
]a,b[
aa
UNIDADE 2
]a,b] bb
[a,b[
]a, b] a b
]a,b] aa
[a,b[ b
b
]a,b]
] - ∞,b[ aa b
b
] ]a,b]
- ∞,b[ a b
b
] ]a,b]
, b[
- ]∞,b[ a b
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[ b
b
] - ∞,b[
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[
]a,+∞[
] , b ]
]a,+∞[ a b
] - ∞,b[
]a,+∞[
- ∞,b[
]]a,+∞[ a b
]a,+∞[ a b
]a,+∞[ a
[a, [
]a,+∞[ aa
]a,+∞[
aa
]a,+∞[
]a,+∞[ a
]a, [ a
a se a 0
| a | .
a se a 0
Ou seja, | a | max{a, a}, em que max{a, −a} denota o maior número real
entre a, −a.
Exemplo: 2 2.
UNICESUMAR
x e y . Além disso, | x − y | é a distância do ponto x ao ponto y .
A próxima proposição caracteriza os elementos do intervalo (a d , a d ),
como os pontos da reta cuja distância do ponto a é menor do que d .
Proposição 2.5: sejam a, x,d ∈ , com d > 0 . Então,
| x a | d a d x a d.
n
Temos que, para todo n ∈ , 1. Afirmamos que supX = 1. De fato, a
n 1
n
propriedade I segue do fato que 1. Considere c < 1 . Então, devemos mos-
n 1
n c
trar que existe n0 , tal que c 0 . Para isso, basta tomar n0 e observar
n0 1 1 c
n
que c 0 1 , o que prova a propriedade II. Logo, supX = 1.
n0 1
Exemplo 2.9: o conjunto dos números naturais ⊂ é limitado inferior-
mente. Não é, entretanto, limitado superiormente e, consequentemente, não é
limitado. De fato, é limitado, inferiormente, por 0. Verificaremos que não
é limitado superiormente. Suponhamos por absurdo, que seja limitado supe-
riormente e seja c = sup. Como c = sup, então, c −1 não é cota superior de
e c 1 c . Dessa forma, existe n ∈ , tal que c 1 n, ou seja, c n 1 e
n 1 , o que é uma contradição com c = sup. Portanto, não é limitado.
72
UNICESUMAR
1
Exemplo 2.10: seja X ; n . Prove que inf X = 0.
n
É claro que 0 é cota inferior de X . Verificaremos que 0 é a maior das cotas
inferiores. Seja c , como ⊂ não é limitado superiormente, então, exis-
1 1
te n ∈ tal que n > , ou seja, < c. Dessa forma, para todo c > 0, temos que
c n
c não é cota inferior de X . Portanto, inf X = 0.
Dados os números reais a e b , tais que 0 < a < b, segue do Exemplo 2.10 que
a 1
existe n ∈ , tal que n a b . De fato, como
b
> 0 e inf n ; n 0 , en-
1 a
tão, existe n ∈ , tal que < , ou seja, n a b.
n b
Nesta unidade, definimos o conceito matemático de ínfimo de um subconjunto
1
de números reais limitado inferiormente. Dessa forma, se X n ; n , exis-
2
te o ínfimo de X ? Se a resposta é afirmativa, qual seria esse valor? Como você
usaria a Desigualdade de Bernoulli e o fato de que o conjunto dos números naturais
⊂ não é limitado superiormente para validar sua conjectura?
Exemplo 2.11: sejam a, b ∈ , tais que a < b. Então, existe r ∈ , tal que
a < r < b.
De fato, considere c b a 0 e suponha b > 0 . Como o não é limitado
1 2
superiormente e , > 0 são números reais, então, existem s1 , s2 ∈ , tais que
c b
1 2 1 2
< s1 e < s2 . Faça m = max{s1 , s2 } e observe que m > e m > .
c b c b
1 b 1
Temos que 0 < < < b , então, existe k ∈ tal que k b, ou seja,
m 2 m
k > mb. Como mb > 2, então, k > 2. Segue do Princípio da Boa Ordem que
73
UNIDADE 2
1 1 1
existe h ∈ , tal que h min{k ; k . b}. Então, h b e (h 1) b,
m m m
h 1 h h 1
ou seja, b . Agora, verificaremos que a. De fato, suponha,
m m m
h 1
por absurdo, que a. Dessa forma,
m
h 1 h 1 1 1
c ba b b bb = e isto contradiz o fato
m m m m m
1 h 1 h 1
que m > . Portanto, a. Tome r e observe que a < r < b.
c m m
Se b ≤ 0, temos que a < 0. Observe que b a e a 0, então segue, do
caso anterior, que existe q ∈ , tal que b q a, ou seja, r q é racional
e a < r < b.
Quando dizemos que o corpo ordenado é completo, significa que
satisfaz a seguinte propriedade: todo conjunto X ⊂ não vazio e limitado in-
feriormente possui ínfimo, ou seja, existe b ∈ , tal que b = inf X . Observe que
se nos limitamos a , então, não podemos garantir a validade desta proprieda-
de. Este fato relaciona-se à inexistência de raízes quadradas de alguns números
racionais. O exemplo a seguir deixará esta afirmação mais clara.
2
Exemplo 2.12: seja X x ; x 0 e x 2 . Vamos verificar que
X ⊂ não tem ínfimo em .
Note que X , visto como subconjunto de , possui ínfimo, pois é limitado,
inferiormente, pelo 0. Entretanto, temos que inf ( X ) ∉ . De fato, se b = inf ( X )
2 2 2
e b = 2, então, b ∉ . Mostraremos que as desigualdades b > 2 e b < 2 não
2
ocorrem e, portanto, a única possibilidade é b = 2 .
2 2 2b 1
Se b < 2, então, 2 b 0. Para todo n ∈ , tal que n , ou seja,
2 b2
2b 1
2 b2 , temos que
n
2
1 2 2b 1 2b 1 2b 1 2
b b 2 b2 b2 b 2 b 2 2.
n n n n n n
74
UNICESUMAR
1 2b 1
Dessa forma, b + é cota inferior de X , para todo n e b não
n 2 b2
pode ser o ínfimo de X .
2 2
Agora, suponha b > 2, ou seja, b 2 0. Para todo n ∈ , tal que
2b
n temos que
b2 2
1 2b 1 2b
(b )2 b2 2 b2 b2 2 b2 2
n n n n
1 1
Como b b para todo n ∈ , então, existe r ∈ , tal que b r b.
n n
2 2
Logo,assim 2 < r < b . Logo, temos uma contradição do fato de que b = inf ( X ).
Teorema 2.1: considere os intervalos I1 I 2 I n I n1 , tais
que I n = [an , bn ], com an , bn ∈ e an < bn para todo n ∈ . Então, existe
c ∈ , tal que c ∈ I n para todo n ∈ .
Demonstração: de fato, como I1 I 2 I n I n1 , então,
a1 a2 an bn b2 b1.
Exemplo 2.13: dado I = [a, b] e x0 ∈ , existe [c, d ] ⊂ [a, b] tal que x0 ∉[c, d ].
3a b a 3b
De fato, se x0 ∉ (a, b) , então, tome c ed . Caso x0 ∈ (a, b) ,
4 4
3a x0 a 3 x0
então, tome c ed .
4 4
75
Teorema 2.2: o conjunto dos números reais não é enumerável.
UNIDADE 2
Segue do Teorema 2.2 que não existe f : → sobrejetiva. É claro que existe
uma função de em injetiva, basta considerar a função inclusão. Dessa
forma, temos que card () < card ().
Corolário 2.1: o intervalo ] −1, 1[ não é enumerável.
Demonstração: vamos provar que a função f : (1, 1) definida por
x
f ( x) ,é uma bijeção. De fato, sejam x1 , x2 ∈ , tais que f ( x1 ) = f ( x2 ).
1 | x |
x1 x2
Ou seja, . Uma vez que 1 | x1 | 0 e 1 | x2 | 0 , então,
1 | x1 | 1 | x2 |
x1 , x2 ≥ 0 ou x1 , x2 < 0 .
Temos que:
x1 x2
x1 (1 | x2 |) x2 (1 | x1 |)
1 | x1 | 1 | x2 |
x1 x1 | x2 | x2 | x1 | x2
x1 x2 x1 | x2 | | x1 | x2 0
76
UNICESUMAR
y y y
1 | y | 1 | y | 1 | y |
f ( x) y,
y | y| 1 | y | | y |
1 | | 1
1 | y | 1 | y | 1 | y |
Segue do Corolário 2.2 que card (] 1, 1[) card (]a, b[). Podemos escrever
[a, b] ]a, b[{a, b} e se [ a , b ] é enumerável, então, ] a , b [ seria enumerável,
o que é uma contradição. Dessa forma, todo intervalo da reta não é enumerável.
Da mesma forma, podemos escrever ( ). Se − fosse enu-
merável, então, seria enumerável, e este fato contradiz o Teorema 2.2. Portanto,
concluímos que o conjunto dos números irracionais não é enumerável.
Um fato interessante que podemos extrair destes resultados é o seguinte: todo
intervalo I , I = [a, b] ou I =]a, b[ (com a < b ) da reta contém números irra-
cionais. Se I contém somente racionais, então, I ⊂ , logo, I é enumerável, o
que é uma contradição.
77
2
UNIDADE 2
SEQUÊNCIAS
r
Exemplo 2.14: seja a sequência R : → , definida por R(n) , em
2n1
r r r
que r ∈ e r > 0. Assim, a sequência R R1 , R2 , R3 , R4 , r , , , , .
2 4 8
Exemplo 2.15: considere a sequência x : → , definida por x(n) = n.
Assim,
UNICESUMAR
Exemplo 2.17: considere a sequência z : → , definida por z (n) 2n 1.
Assim,
1
Exemplo 2.18: seja a sequência w : → , definida por w(n) = . Temos que
n
1 1 1
w w1 , w2 , w3 , w4 , 1, , , , .
2 3 4
Exemplo 2.19: seja a sequência c : → , definida por c(n) = k , em que k é
uma constante real. Assim,
c c1 , c2 , c3 , c4 , k , k , k , k , .
r r r
i) r , , , , com r > 0 .
2 4 8
1 1 1
ii) 1, , , , .
2 3 4
iii) k , k , k , k , com k ∈ .
i) (1, 2, 3, 4, 5,) .
ii) 2, 4, 6, 8,10, .
1 1 1 1
III - 1, , , , , é monótona decrescente.
2 3 4 5
IV - 1, 1, 2, 2, 3, 3, 4, 4, é monótona não decrescente.
1 1 1 1 1 1
V - 1, 1, , , , , , , é monótona não crescente.
2 2 3 3 4 4
Quando eliminamos um ou vários termos de dada sequência, obtemos uma nova
sequência que chamamos de subsequência da sequência. Por exemplo, a sequên-
cia dos números pares positivos é uma subsequência da sequência dos núme-
ros naturais. Também são subsequência dos naturais a sequência dos números
ímpares positivos, a sequência dos números primos, a sequência dos múltiplos
positivos de 3.
Definição 2.11: uma subsequência x ' de uma sequência x = ( xn ) é uma res-
trição de x em um subconjunto infinito ' {n1 n2 n3 nk } .
Denotamos x ' ( xnk ) k , ou ( xn1 , xn2 , xn3 , …, xnk , …), ou ainda, x ' ( xn ) n ' .
80
Exemplo 2.23: descrevemos as seguintes subsequências de
UNICESUMAR
1
(an ) (1) n 1 :
n
1
I - (a2 n ) 1 .
2n
1
II - (a4 n ) 1 .
4n
1
III - (a2 n1 ) 1 .
2n 1
1
IV - (a4 n1 ) 1 .
4n 1
O interesse principal desta seção é o estudo de uma classe de sequências que são
chamadas sequências convergentes. Em termos intuitivos, uma sequência (an )
é convergente se, à medida que o índice n cresce, o elemento an torna-se, cada
vez mais, próximo de um certo número L , chamado limite da sequência (an ).
A proximidade entre an e L é medida pelo valor absoluto da diferença
entre esses dois números, isto é, | an − L | . Dessa forma, dizer que an se torna,
arbitrariamente, próximo de L , significa dizer que | an − L | torna-se inferior a
qualquer número positivo por menor que seja, desde que façamos o índice n
suficientemente grande. Ou seja,
Definição 2.12: dizemos que uma sequência ( xn ) converge para o número
real L se, para cada , > 0 existe n0 ∈ , tal que | xn L | sempre que n > n0 .
Dizemos que L é limite da sequência ( xn ) e denotamos por: lim xn L ou
n
lim xn = L, ou, ainda, xn → L. Simbolicamente,
lim xn L 0, n0 ; n n0 | xn L | .
1
Exemplo 2.24: considere a sequência (an ) . Temos que an → 0.
n
1
De fato, dado > 0 , tome n0 ∈ o menor inteiro, tal que n0 ≥ e observe:
1 1 1 1
para todo n > n0 , temos que n > . Logo, < . Portanto, 0 ,
n n n
sempre que n > n0 . Assim, an → 0.
n
Exemplo 2.25: considere a sequência ( xn ) . Temos que xn → 1.
n 1
1
De fato, dado > 0 , tome n0 o menor inteiro positivo, tal que n0 1 e
1
observe que, para todo n > n0 , temos que n 1. Note que
1 1 n 1 1
n 1 1 . Portanto, 1 , sempre que
n n 1 n 1 n 1
n > n0 . Logo, xn → 1.
É importante observar, na definição de limite de uma sequência que, uma
vez dado o número > 0 , esse número permanece fixo. A determinação de n0
depende do particular que se considere, de forma que, mudando o , deve-se
mudar, também, o n0 . Ou seja, o valor do pode ser dado arbitrariamente, mas,
uma vez prescrito, não pode ser mudado até a determinação de n0 .
A Proposição 2.6 vem confirmar que o limite de uma sequência convergente
é único.
Proposição 2.6: sejam (an ) uma sequência convergente e L1 , L2 ∈ . Se
an → L1 e an → L2 , então, L1 = L2 .
Demonstração: suponha, por absurdo, que L1 ≠ L2 e considere
| L1 L2 |
0 . Como an → L1 , então, existe n1 ∈ , tal que, para todo
2
n > n1 , temos que | an L1 | . Da mesma forma, como an → L2 , então, dado
| L1 L2 |
0 , existe n2 ∈ , tal que, para todo n > n2 , temos que
2
| an L2 | . Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que, para todo n > n0 , temos:
82
| an L2 | e | an L2 | . Dessa forma,
UNICESUMAR
| L1 L2 || xn xn L1 L2 || ( xn L2 ) ( xn L1 ) || xn L1 | | xn L2 | 2 | L1 L1 | .
83
A recíproca da Proposição 2.8 não é válida, ou seja, existem sequências limitadas
UNIDADE 2
n 1
que não são convergentes. Por exemplo, a sequência xn (1) é limitada pelos
números reais -1 e 1 e não é convergente. Segue, também, da última proposição,
que as sequências não limitadas são divergentes, basta considerar a contrapositiva
da Proposição 3.3.
n
Exemplo 2.27: a sequência ( xn ) 2 não é convergente.
pensando juntos
ii) lim( xn yn ) a b.
iii) lim( xn yn ) a b .
x a
iv) lim n se b ≠ 0.
84 yn b
Demonstração:
UNICESUMAR
I - Como lim xn = a e lim yn = b, então, dado > 0 existem n1 e n2 ∈ ,
tais que | xn a | , sempre que n > n1 e | yn b | , sempre que
2 2
n > n2 . Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que:
| ( xn yn ) (a b) || ( xn a ) ( yn b) || xn a | | yn b | ,
2 2
xn yn a b xn yn xnb xnb a b
xn yn b b xn a
M b ,
2M 2 b 1
2|b| |b| 1
sempre que n > n0 . Como 1, então, . Dessa
2 | b | 1 2 | b | 1 2
forma, xn yn a b M |b| , sempre que
2M 2 | b | 1 2 2
n > n0 . Portanto, lim( xn . yn ) = a.b.
1 1 x 1
Vamos provar que → , pois, uma vez que podemos escrever n = xn ,
yn b yn yn
x 1 1 a
=
segue de III que lim n lim = xn a = .
yn yn b b
|b| 3|b|
Como lim yn = b e <| b |< , então, segue do Exemplo 2.28 que exis-
2 2
|b| 3|b|
te n1 ∈ e, para todo n > n1 , temos que <| yn |< . Dessa desigualda-
2 2 85
UNIDADE 2
1 2
de, observamos que, para todo n > n1 , yn ≠ 0 e < . Como lim yn = b ,
| yn | | b |
| b |2
então, dado > 0 existe n2 ∈ , tal que | yn b | , sempre que n > n2 .
2
Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que:
2
1 1 | yn b | 1 b 2
yn b , sempre que n > n0 . Portan-
yn b | yn b | yn b 2 b2
to, 1 → 1 .
yn b
A próxima proposição fornece um critério de convergência para sequências e
permite concluir que uma sequência ( xn ) converge, mesmo sem conhecer o
seu limite.
Proposição 2.9: toda sequência monótona e limitada é convergente.
Demonstração: seja ( xn ) uma sequência monótona e limitada. Suporemos
que ( xn ) é não decrescente, ou seja, X {x1 x2 x3 xn }. Tome
a = sup X e provemos que a = lim xn . Dado > 0, como a a , então, a −
não é cota superior do conjunto X . Logo, existe n0 ∈ , tal que a xn0 .
Sendo a sequência monótona não decrescente, então, para todo n > n0 , temos
que xn ≥ xn0 . Assim, a xn0 xn a a . Portanto, a xn a ,
sempre que n > n0 . Portanto, lim xn = a. Caso a sequência ( xn ) seja crescente,
a prova é análoga. Suponha, agora, que a sequência ( xn ) é monótona não cres-
cente, ou seja, X {x1 x2 x3 xn }. Tome b = inf X e provemos
que lim xn = b. De fato, dado > 0, temos que b b, sendo b = inf X , en-
tão, existe n0 ∈ , tal que b xn0 b . Portanto, b b xn xn0 b ,
sempre que n > n0 e lim xn = b. Caso a sequência ( xn ) seja decrescente, a prova
é análoga.
86
Segue, da Proposição 2.9, que toda sequência divergente e monótona é ilimitada.
UNICESUMAR
De fato, suponha, por absurdo, que a sequência seja limitada, logo, esta sequência
é monótona e limitada, dessa forma, concluímos que tal sequência é convergente,
gerando uma contradição, pois, por hipótese, a sequência é divergente.
2n
Exemplo 2.29: se n , então, ( xn ) é convergente. De fato, vamos
( x )
n!
provar que ( xn ) é limitada e crescente e, desta forma, seguirá, da Proposição 2.9,
que a sequência em questão é convergente.
n
Segue do Exemplo 1.14, item II, que 2 ≤ 2.n !, para todo n ∈ . Observe
2n
que este exemplo é equivalente a afirmar que 0 2 para todo n ∈ , ou
n!
seja, a sequência ( xn ) é limitada inferiormente por 0 e, superiormente, por 2,
portanto, limitada. Agora, provaremos que ( xn ) é não crescente. De fato,
2n 2n1
2n n 1! 2n1 n ! 2n (n 1)n ! 2n2n ! (n 1) 2.
n! n 1!
Logo, ( xn ) é monótona e limitada e, portanto, convergente.
n
Exemplo 2.30: para todo real a com 0 < a < 1 , temos que a → 0.
n
Provaremos que ( xn ) = (a ) é limitada e decrescente e, desta forma, segue,
n
da Proposição 2.9, que a xn → a, em que a inf {a ; n }.
n
2 3
Note que se X a ; n a, a , a , , , então, inf X = 0 . De fato,
mostremos que 0 é uma cota inferior e que, além disso, é a maior das cotas infe-
riores. Para ver isso, observe que
n
a) 0 a 0 a , para todo n ∈ ;
n
1 1 1 1
b) a 1 1 d 0; 1 d n (1 d ) n .
a a a a
n
Assim, segue, da Desigualdade de Bernoulli, que: (1 d ) 1 nd . Logo
1 1 c 1
1 nd . Dado > 0 , defina c = . Assim, tome n0 , tal que n0 , isto
an d
c −1
é, n0 é o menor inteiro, que é maior ou igual a . Observe que
d
87
UNIDADE 2
1 c 1 1 1 1
1 n0 d 1 d 1 c 1 c , ou seja, n < . Logo, a n0 < .
a n0 d a0
n
Assim, para todo > 0 , existe n0 ∈ , tal que a 0 < .
Temos, então, que a = 0 e, portanto, segue o resultado. Como 0 < a < 1, en-
n n n n
tão, a > 0 para todo n ∈ e a < 1 e a > 0, implica que a.a < 1.a , ou seja,
a n1 a n . Desta forma, ( xn ) é decrescente. Além disso, para todo n ∈ temos
n 1 n n
que 0 a a a 1 . Logo, ( xn ) é limitada. Portanto, a → 0.
3
SÉRIES
NUMÉRICAS
Até aqui, sabemos, por meio da operação de adição de números reais, somar um
número finito de números reais, ou seja, temos um número finito de parcelas na
soma. Queremos estender o conceito de adição para uma infinidade de números
reais e atribuir significado a esta soma de infinitas parcelas. Somas com infinitas
parcelas são chamadas de séries. Seja ( xn ) uma sequência de números reais. A
partir de ( xn ) , vamos construir a sequência ( sn ) da seguinte forma: s1 = x1 ;
s2 x1 x2 ; s3 x1 x2 x3 ; s4 x1 x2 x3 x4 ; ... ; sn x1 x2 xn .
88
A sequência ( sn ) é chamada de série. Os números reais x1 , x2 , …, xn , … são
UNICESUMAR
chamados termos da série, e os números reais s1 , s2 , …, sn , … são chamados
somas parciais ou reduzidas da série. Denotamos a série como xn , e xn é
n1
série por xn x0 x1 x2 .
n0
Exemplo 2.31:
1 1 1
1. Prove que a série 2n 1 2 4 é convergente.
n0
1 1 1
A soma parcial da série sn 1 n . Multiplique sn por , então:
2 2 2
1 1 1 1 1 1 1 1
sn n n1 . Observe que sn sn sn 1 n1 , ou seja,
2 2 4 2 2 2 2 2
1
1 n1
2 1
sn 2 1 n1 .
1 2
2
1 1 1
Logo, lim sn lim 2 1 n1 2 lim 1 n1 2 2 lim n1 2 2.0 2 ,
2 2 2
1
pois n1 0.
2 89
UNIDADE 2
1 1 1
2. Prove que a série 10n 1 10 102 é convergente e que
n0
1 1 1 10
10n 1 10 102 9 .
n0
1 1 1
A soma parcial da série é sn 1 n . Multiplique sn por ,
10 10 10
1 1 1 1 1
então, sn 2 n n1 . Observe que
10 10 10 10 10
1
1
9 1 1 10n1 10 1 1 .
sn sn sn 1 n1 , ou seja, sn
10 10 10 9 9 10n1
10
10 1 10 1
Logo, lim sn lim 1 n1 , pois n1 0.
9 10 9 10
2
3. Seja x 0, 22222 . Temos que x = , de fato, podemos escrever:
9
2 2 2 2 1 1
0, 22222 0, 2 0, 02 0, 002 2 3 1 2
10 10 10 10 10 10
2 1 2 10 2
10 n0 10 n
. .
10 9 9
90
UNICESUMAR
1 1 1
De fato, podemos escrever . Temos que
n(n 1) n n 1
n n
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
sn 1 1 .
k 1 n ( n 1) k 1 n n 1 2 2 3 3 4 n n 1 n 1
1 1 1
Logo, lim sn lim 1 1 lim 1 . Portanto, 1.
n 1 n 1 n 1 n ( n 1)
1 1 1 1
Definição 2.13: a série 1 é chamada série har-
mônica. n1 n 2 3 n
1
Exemplo 2.33: prove que a série harmônica n é divergente.
n1
A prova será feita por absurdo. Suponha que a série seja convergente, isto é,
existe s ∈ , tal que
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
s 1 1 s
n 1 n 2 3 4 5 6 2 2 4 4 6 6 2 3 n 1 n
1
Ou seja, s > s , o que é um absurdo. Portanto, série harmônica n é divergente.
n1
91
UNIDADE 2
Definição 2.14: a série ba n b ba ba2 ba3 ba n , sendo
n 0
sn 1 a a2 a3 a n e a sn a a2 a3 a a n n 1
. Dessa forma,
1 a n1
sn asn 1 a n1 , ou seja, sn
1 a
1
1 a
1 a n1
1
1 a 1 a
1 n1
a .
n1 1
Como a 0, pois | a |< 1, então, lim sn . Temos que a sequência
1 a
das somas parciais de ba é bsn , então, segue do Teorema 2.3, que ba n
n
n 0 n 0
b
é convergente e ba
n
.
n 0 1 a
Teorema 2.5: sejam an e bn séries convergentes com somas s e t , res-
n0 n0
pectivamente. Então:
I - (an bn ) é convergente e a sua soma é igual s + t;
n 0
II - (an bn ) é convergente e a sua soma é igual s − t;
n 0
92
UNICESUMAR
somas parciais das séries an e bn , respectivamente. Temos que lim sn = s
n0 n0
e lim tn = t. Observe que a n-ésima soma parcial de (an bn ) é igual a
n 0
sn + tn . Logo, lim( sn tn ) s t e (an bn ) é convergente.
n 0
Proposição 2.11: se an é convergente, então, nlim
an 0.
n0
Demonstração: como an é convergente, então, a sequência formada pela
n0
somas parciais dessa série é convergente, ou seja, lim sn s. Logo, ( sn−1 ) é uma
n
n2 1
Exemplo 2.34: prove que a série n2
é divergente. De fato, podemos es-
n 1
n2 1 1 n2 1 1
crever 1 e lim lim 1 2 1 0. Logo, segue, da Pro-
n2 n2 n2 n
n2 1
posição 2.11, que n2
é divergente.
n 0
Observe que a recíproca da Proposição 2.11 não é válida, pois a série harmô-
1
nica é divergente, e o lim 0.
n n
93
UNIDADE 2
pensando juntos
an?
n 0
existem c > 0 e n0 ∈ , tal que para todo n > n0 , temos 0 ≤ an ≤ cbn , então:
I - Se bn é convergente, então, an é convergente.
n0 n0
II - Se an é divergente, então, bn é divergente.
n0 n0
Demonstração:
UNICESUMAR
Como 0 ≤ an ≤ cbn , então, 0 ≤ sn ≤ ctn . Sendo (ctn ) limitada, concluímos que
( sn ) é limitada. Portanto, ( sn ) é monótona e limitada, logo, convergente. Por-
tanto, an é convergente.
n0
Por hipótese, se an é divergente e, além disso, as somas parciais dessa
n0
1
Exemplo 2.35: prove que a série n2 é convergente. De fato, podemos escre-
n1
1 1
ver n2 1 2
2 2
. Para todo n > 1 , temos que n n n n(n 1) . Logo,
n 1 n 2 n
1 1 1
0
n2
n(n 1)
. Provemos que série n(n 1) é convergente, e o exemplo
n 2
1 1
seguirá do Teorema 2.6, item I. De fato, . Segue do
n 2 n( n 1) m 1 m( m 1)
1 1
Exemplo 2.32 que é convergente. Portanto, 2 é convergente.
m 1 m( m 1) n1 n
Proposição 2.12: seja bn uma série de termos positivos, tal que bn é
n0 n0
a a
Demonstração: de fato, sendo n limitada, existe c > 0 , tal que n ≤ c
bn bn
para todo n ∈ . Segue daí que 0 ≤ an ≤ cbn , para todo n ∈ . Como, por hi-
pótese, bn é convergente, então, segue do critério da comparação que an
n0 n0
é convergente.
Séries alternadas
As séries infinitas que abordaremos, agora, são formadas de termos que são ne-
gativos ou positivos. Discutiremos uma classe de séries cujos termos são, alterna-
damente, positivos e negativos. Tais séries são chamadas séries alternadas.
Definição 2.15: se an > 0 para todo n natural, então, as séries
(1)n1a n a1 a2 a3 a4 (1)n1 an
n 1
e
(1)n a n a1 a2 a3 (1)n an
n 1
UNICESUMAR
e, então, s2 n s2 n2 a2 n1 a2 n e s2 n1 s2 n1 a2 n a2 n1 . Como
a2 n1 a2 n 0 , pois (an ) é monótona não crescente, temos que
s2 n s2 n2 (a2 n1 a2 n ) s2 n2 . Assim, concluímos que ( s2 n ) forma uma
sequência não decrescente. Também, temos que a2 n a2 n1 0 , pois (an ) é
monótona não crescente. Dessa forma, s2 n1 s2 n1 (a2 n a2 n1 ) s2 n1,
ou seja, ( s2 n+1 ) forma uma sequência monótona não crescente. Além disso,
s2 n s2 n1 a2 n ou seja, s2 n1 s2 n a2 n 0 e, com isso, concluímos que
s2 s4 c s2 n s2 n1 s3 s1 e temos que ( s2 n ) e ( s2 n−1 )
são limitadas.
Como ( s2 n ) e ( s2 n+1 ) são monótonas e limitadas, então, existe lim s2 n e
lim s2 n−1 . Dessa forma, lim s2 n1 lim s2 n lim( s2 n1 s2 n ) lim a2 n 0 e
temos que lim s2 n1 lim s2 n . Logo, sn converge. Portanto, (1)n1a n é
convergente. n 1
1 1
Exemplo 2.37: na série (1)n1 n , tome an = n e observe que essa série
n 1
97
UNIDADE 2
Definição 2.16: dizemos que a série an é absolutamente convergente se
n0
|an | for convergente.
n 0
2
Exemplo 2.39: a série (1)n1 3n é absolutamente convergente, pois
n 0
2 2
| an | (1) n1 e
3n 3n
2 2 2 1 1 1 3
|an | 3n 2 3 32 2 1 3 32 2 1 2 2 3 .
n 0 n 0 1
3
1
Exemplo 2.40: a série (1)n1 n não é absolutamente convergente, pois
n 1
1 1 1
| an | (1) n1 e
n n
|an | é a série harmônica que é divergente.
n 0 n 0 n
an 0 se an 0
Observe que pn qn . Dessa forma, por definição,
an 0 se an 0
0 ≤ pn ≤| an | e 0 ≤ qn ≤| an | . Como 0 ≤ pn ≤| an | , 0 ≤ qn ≤| an | e |an | é
n 0
98
UNICESUMAR
convergente, então, segue, do critério da comparação, que pn e qn são
n0 n0
tes, então, an é convergente.
n0
np
cos
5
Exemplo 2.41: prove que a série é convergente.
n 1 n2
np
cos
5
De fato, fazendo an e lembrando que | cos ( x) |≤ 1 para todo
n2
np
cos
5 1 1
x ∈ , temos que | an |
n2 n2
, para todo n ∈ e 2
é conver-
n0 n
np
cos
5
gente. Então, segue do critério de comparação que n2
é convergente
n 1
np
cos
5
2.8, que n2
converge.
n 1
99
UNIDADE 2
an1 a
an
c 1 (em particular, n1 c 1 ), então,
an
an é absolutamente
n0
convergente.
an1
Demonstração: por hipótese, an ≠ 0 , e existe c ∈ , tal que c 1.
an
Assim,
an1 c n1 | a | c n1 |a | |a |
c n n1 n nn11 nn .
an c | an | c c c
|a | |a |
Fazendo xn1 nn11 e xn = nn , temos que 0 xn1 xn e, dessa forma,
c c
|a |
( xn ) é monótona decrescente e limitada. Como ( xn ) nn é limitada e
c
c n é convergente, pois 0 < c < 1 , segue, da Proposição 2.12, que |an | é
n0 n 0
convergente. Portanto, an é absolutamente convergente.
n0
Teorema 2.10: seja an uma série infinita, tal que an ≠ 0 . Então:
n0
an1
I - Se lim
n an
L 1 , então, an é absolutamente convergente.
n0
an1 a a
II - Se lim L 1 ou lim n1 ou, ainda, n1 1 , então,
n an n an an
an é divergente.
n0
an1
III - Se lim 1 , nenhuma conclusão quanto à convergência pode ser
n an
100 tirada do teste.
Demonstração:
UNICESUMAR
I - É um caso particular do Teorema 2.9. De fato, se 0 L 1 , então, exis-
te c L, c , tal que 0 L c 1 , dessa forma, existe um n0 ∈ ,
an1
tal que c, n n0 .
an
an1
II - Como 1 , então, | an1 || an | para todo n ∈ . Assim, concluí-
an
mos que (| an |) é monótona crescente. Se (| an |) é limitada, então,
| an |→ a em que a sup{| an |; n } . Temos que a > 0 , pois an ≠ 0
para todo n ∈ . Como a > 0 e lim an = a , segue, da Proposição 2.11,
que |an | é divergente. Se (| an |) é ilimitada, então, (| an |) divergen-
n 0
te e, novamente, segue, da Proposição 2.11, que an é divergente.
n0
1
III - A série harmônica n é divergente e
n1
1
an1 n n
n 1 e 1.
an 1 n 1 n 1
n
1
Por outro lado, a série n2 é convergente e
n1
1
an1 (n 1)2 n2 n n n2
. e, dessa forma, 1.
an 1 (n 1)2 n 1 n 1 (n 1)2
n2
101
an
Exemplo 2.42: prove que a série é convergente.
UNIDADE 2
n 0 n !
102
Teorema 2.12: seja an uma série infinita, tal que an ≠ 0 . Então:
UNICESUMAR
n0
I - Se lim n | an | L 1 , então,
n
an é absolutamente convergente.
n0
Demonstração:
É um caso particular do teorema 2.11, pois se 0 L 1 , então, exis-
te c L, c , tal que 0 L c 1 , dessa forma, existe um n0 ∈ , tal que
n | a | c, n n .
n 0
Observe que L > 1 , então, existe c ∈ , tal que, 1 c L 0 . Dessa forma,
existe n0 ∈ , tal que c < n | an | , sempre que n n0 , n . Assim,
n|a
n | c | an | c n , para todo n n0 .
Como c > 1 , então, a série cn é divergente. Dessa forma, segue do critério
n0
de comparação que an é divergente.
n0
1 é divergente e, além disso, n | a | = 1 e n n → 1 .
A série harmônica n n
n
n1 n
1
Assim, n | an | → 1 . Por outro lado, a série 2 é convergente e
n1 n
1
n=an = n n .n n e n n → 1 . Logo, n | an | → 1 .
n 2
n
103
UNIDADE 2
explorando Ideias
an
Exemplo 2.43: seja a > 0 . Prove que a série nn é convergente.
n0
an a
De fato, fazendo an = , temos que n an = . Logo,
nn n
a
lim n an lim 0 1 . Dessa forma, segue, do critério da raiz, que a série
n n n
n
a
n! é convergente.
n 0
CONSIDERAÇÕES FINAIS
104
Um resultado interessante que vimos, inerente ao conceito de sequência,
UNICESUMAR
é: toda sequência monótona e limitada é convergente. Neste caso, não precisa-
mos exibir o número x , para qual os pontos xn convergem. Basta analisarmos
se essa sequência tem a propriedade de ser monótona e limitada.
Também abordamos o conceito de série numérica e ressaltamos a im-
portância de distinguir uma sequência de uma série de uma sequência. A
primeira é uma lista de números reais indexadas pelos números naturais,
enquanto que as séries são definidas por meio de uma sequência de pontos
(an ) na reta, com n variando no conjunto dos números naturais, e a série
é a sequência ( sn ) , sendo que sn são as somas parciais de an , definidas da
forma s1 = a1 , s2 a1 a2 ,..., sn a1 a2 ... an .
Em geral, no estudo das sequências das somas parciais de uma série, nem
sempre é possível estabelecer uma fórmula para as somas parciais sn , como
fizemos nos exemplos que envolvem a série geométrica, dificultando, na maio-
ria dos casos, decidir se dada série é convergente ou divergente. Dessa forma,
abordamos diversos resultados que permitem decidir se dada série é conver-
gente ou divergente, sem dizer para onde converge tal soma. Tais resultados
foram chamados critérios de convergência.
Os critérios de convergência que vimos foram: critério da comparação, cri-
tério da raiz e da razão, que são familiares a você, pois se tratam de resultados
já vistos, anteriormente, na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral. Dessa
forma, você pode recorrer a um livro de Cálculo para auxiliá-lo em alguns
itens da atividade de autoestudo.
Também desenvolvemos o critério de Leibniz, sendo que este é válido para
uma classe de séries cujos termos alternam os sinais entre positivos e negati-
vos. Entretanto, este critério se limita a essa classe de séries, não abrangendo
todas as séries. Assim, apresentamos o conceito de convergência absoluta, que
permite decidir a convergência ou divergência de uma série, no caso geral.
105
na prática
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) III, apenas.
5. Sejam a∈ com a>0, tal que xn → a Prove que existe n0 ∈ , tal que
xn > 0 para todo n > n0 .
106
aprimore-se
O NÚMERO e
n
1 1 2 r 1
1 1 1 1 (1)
r
r 1 ! n n n
107
aprimore-se
n
1 1 1 1 1 1
(2) an 2 2 2 n1 3
r 1 r ! 2! n! 2 2 2
Sendo crescente e limitada, (an ) tem limite, que é o número e . Fica claro, tam-
bém, que esse número está compreendido entre 2 e 3. Em seguida, provaremos
1 1
que: e lim 2 . Para isso, supondo m > n , (1) permite escrever:
2! n!
m
1 1 2 r 1
am 1 1 1 1
r 1 r ! m m m
n
1 1 2 r 1
1 1 1 1 .
r
r 1 ! n n n
Fazendo m obtemos (observe que o sinal “>” deveria passar a ser “ ≥ “ , no
entanto, como n é arbitrário, continua valendo a desigualdade estrita):
n
1 1 1
e 1 2
r 1 r ! 2! n!
Agora, fazemos n , resulta em:
1 1
e lim 2 (3)
2! n!
Por outro lado, fazendo n em (2), obtemos:
1 1
e lim 2
2! n!
e destas duas últimas desigualdades, segue o resultado anunciado em (3). Final-
n
1
mente, provaremos que e lim 1 . Para isso, introduzimos m n 1 e
notamos que
n
108
aprimore-se
1 n 1 1 1 1
1
n n n / (n 1) (m 1) / m 1 1
m
n n m
1 1 1 1
1 1 1 1
n m m m
e esta última expressão tende a e , quando fazemos m tender a infinito (o que
também equivale a fazer n tender a infinito). Em vista disso, podemos escrever:
n
1
e lim 1 .
n n
Fonte: adaptado de Ávila (2003).
UM POUCO DE HISTÓRIA
A primeira vez em que se tem notícia do aparecimento da ideia de limite, foi por
volta de 450 a.C. com os paradoxos de Zenão de Eleia. Em seguida, foi Eudoxo
de Cnido (século IV a.C.) e, posteriormente, Arquimedes de Siracusa (287-212
a.C.) que utilizaram o chamado método de exaustão que, para calcular a área
ou o volume de uma região, nela inscreviam uma sequência infinita de figuras
de áreas ou volumes conhecidos e tal que a soma das áreas ou dos volumes
dessas figuras tendiam à área ou ao volume da região. É essa noção de tender
que está por trás do conceito de limite.
No século XVII, vários matemáticos desenvolveram métodos algébricos para
encontrar retas tangentes a determinadas curvas. Em cada um desses métodos,
o conceito de limite era utilizado, sem ser formulado explicitamente. Isaac New-
ton (1641-1727), em Principia Mathematica, foi o primeiro a reconhecer, em certo
sentido, a necessidade do limite. No início do Livro I do Princípia, ele tenta dar uma
formulação precisa para o conceito de limite. Por outro lado, Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646-1716) que, juntamente com Newton, é considerado um dos criadores
109
aprimore-se
110
eu recomendo!
livro
filme
conecte-se
111
3
LIMITE E
CONTINUIDADE
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Noções topológicas • Limites de
funções • Funções contínuas • Funções contínuas em intervalos compactos.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Distinguir os conceitos de ponto aderente e ponto de acumulação. Propiciar, por meio de exemplos,
o entendimento das definições de conjuntos abertos, fechados e compactos • Entender o conceito de
limite e acontinuidade de funções reais de uma variável. Caracterizar o conceito de limite e acontinui-
dade de funções reais de uma variável, por meio de sequências de números reais • Identificar pontos de
descontinuidade ou de continuidade de uma função real de uma variável • Analisar o comportamento
de funções de uma função real de uma variável definidas em conjuntos compactos.
INTRODUÇÃO
TOPOLÓGICAS
“
[...] seja a um número real maior que 2. Então para todo x ∈ sufi-
cientemente próximo de a ainda se tem x > 2 . Isto, é se deslocarmos
a um pouquinho para a esquerda (ou, evidentemente para a direita)
obteremos ainda um número maior do que 2. Já o mesmo não ocorre
quando tomamos um número racional r e o olhamos como número
racional. Deslocando-o um pouco para qualquer dos lados, podemos
114
encontrar um número irracional. Assim enquanto a propriedade de ser
UNICESUMAR
> 2 é estável (pequenos deslocamentos não a destroem), a proprie-
dade de ser irracional é instável. Os conjuntos definidos por meio de
propriedades estáveis são chamados de aberto.
Observe que o interior de qualquer conjunto formado por números reais está
contido no próprio conjunto, isto é, int( X ) X , X . De fato, considere
X e seja x ∈int( X ) , então, 0 , tal que x ( x , x ) X . Portan-
to, x ∈ X , ou seja, int( X ) ⊂ X . Agora, seja X . Suponha, por absurdo, que
existe a int . Dessa forma, 0 , tal que a (a , a ) . Absurdo!
Portanto, int .
Agora, veja outro resultado sobre interior de conjuntos: se X ⊂ Y ⊂ , en-
tão, int ( X ) ⊂ int (Y ) . Com efeito, dado x ∈int( X ) , temos que 0 , tal que
( x , x ) X . Por outro lado, X ⊂ Y , consequentemente, ( x , x ) Y .
Dessa forma, x ∈int(Y ) . Ou seja, int ( X ) ⊂ int (Y ) .
Quando a ∈int( X ) , dizemos que o conjunto X é uma vizinhança do ponto
a.
Exemplo 3.1: o interior de é vazio, porque nenhum intervalo aberto pode
ser formado apenas por números racionais.
De fato, suponha, por absurdo, que existe x ∈int() . Logo, existe > 0 , tal
que ( x , x ) int () . Mas existem irracionais em ( x , x ) , contradi-
ção! Então, int() . Analogamente, int( ) .
115
UNIDADE 3
explorando Ideias
116
De fato, para todo a < x < b tome min{x a, b x} e observe que > 0
UNICESUMAR
e ( x , x ) ]a, b[. Portanto, ]a, b[⊂ int ( X ) e int( X ) = X .
Teorema 3.1: seja Al , com l ∈ L. Se Al é aberto para todo l ∈ L, então,
X Al é aberto.
lL
x X x Al l0 L; x Al0 .
lL
Como x ∈ Al0 e Al0 são abertos, então, existe > 0, tal que ( x , x ) Al0 .
Dessa forma,
( x , x ) Al0 Al X .
lL
( x , x ) ( x 1 , x 1 ) A e ( x , x ) ( x 2 , x 2 ) B.
117
Exemplo 3.6: todo ponto x E X é ponto aderente a X.
UNIDADE 3
1
De fato, a sequência a para n , suficientemente grande, está contida
n
1
em (a, b) e lim a a .
n
Analogamente, b é aderente a (a, b) .
O próximo resultado nos fornece uma equivalência da definição de ponto
aderente.
Teorema 3.2: um ponto a ∈ é aderente ao conjunto X ⊂ se, e somente
se, para todo > 0 , tem-se X (a , a ) .
Demonstração: pela definição, se a é aderente a X , então, existe ( xn ) ⊂ X
com a = lim xn . Dado > 0 , para n , suficientemente grande, temos que
xn (a , a ) . Portanto, X (a , a ) . Reciprocamente, se dado
> 0 , temos X (a , a ) , então, para todo n ∈ , existe n ∈ X , tal
1 1
que xn a , a . Portanto, lim xn = a .
n n
118
X {x : x é ponto aderente a X }
UNICESUMAR
é o fecho do conjunto X .
Segue da definição que a ∉ X se, e somente se, existe > 0 , tal que
(a , a ) X . Também observe que se a ∈ X , então, para todo > 0,
temos que (a , a ) X , isto é, a ∈ X . Logo, X ⊂ X .
Exemplo 3.10: o fecho de (a, b) é [a, b] , isto é, (a, b) = [a, b] .
Este exemplo segue do fato de que (a, b) ⊂ [a, b] e do Exemplo 3.7.
Definição 3.5: dizemos que X é fechado quando X = X .
Como já sabemos que X X , X , então, para provar que X é fecha-
do, basta mostrar que X ⊆ X .
Teorema 3.3: um conjunto X ⊂ é fechado se, e somente se, seu comple-
mentar − X é aberto.
x X x X X x X 0;(a , a ) X .
119
Existem conjuntos que são abertos e fechados, simultaneamente, conforme ve-
UNIDADE 3
120
Pontos de acumulação e conjuntos compactos
UNICESUMAR
Definição 3.6: um ponto a ∈ é chamado de ponto de acumulação do con-
junto X ⊂ , se dado > 0 , tem-se ( X {a}) (a , a ) , ou seja, se
todo intervalo (a , a ) contém algum ponto x ∈ X diferente de a .
O conjunto dos pontos de acumulação de X é representado pela notação
1
Exemplo 3.15: prove que 0 é ponto de acumulação de X ; n .
n
Dado > 0, observe que ⊂ não é limitado superiormente. Assim, exis-
1 1
te n ∈ , talque n > , ouseja, 0 < < .Portanto, ( X {0}) (0 , 0 )
n
e 0 é ponto de acumulação de X .
Proposição 3.1: dados X ⊂ e a ∈ . Então, a é ponto de acumulação
de X se, e somente se, existe uma sequência de pontos de X diferentes de a
cujo limite é a . Simbolicamente:
n
| xn a | a xn a xn (a , a ).
122
X é limitado, então, ( xn ) é limitada. Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, ( xn )
UNICESUMAR
possui uma subsequência ( xnk ) ⊂ X convergente. Digamos, lim xnk x . Como
k
X é fechado, temos que x X X .
Por contraposição, suponha que X não é compacto, então, X não é
limitado ou não é fechado.
Se X não é limitado, temos que dado n ∈ , existe xn ∈ X , tal que n <| xn | .
Portanto, toda subsequência de ( xn ) é ilimitada e segue da Proposição 2.8 que toda
subsequência de ( xn ) é divergente.
Agora, se X não é fechado, então, existe x ∈ X , tal que x ∉ X . Ou seja,
( xn ) X , tal que lim xn x X . Dessa forma, pela Proposição 2.7, temos
que toda subsequência de ( xn ) converge para x .
explorando Ideias
123
2
LIMITE DE
UNIDADE 3
FUNÇÕES
Vamos, agora, estender o conceito de limite de uma sequência para limite de fun-
ções reais de uma variável. Enquanto em sequências, o limite, sempre, é estudado
quando n , para funções, substituiremos ∞ por um ponto de acumulação
do domínio da função. O limite de uma função nos informa como se compor-
tam as imagens dos valores de x no domínio da função, quando estes valores se
aproximam, arbitrariamente, do ponto de acumulação a .
Definição 3.8: sejam X ⊂ um conjunto de números reais, uma função
f : X → e a um ponto de acumulação de X . Dizemos que L ∈ é limite
de f ( x) , quando x tende para a , e denotamos por lim f ( x) L, quando, para
x a
todo > 0 , existe um d > 0, tal que, para todo x ∈ X , com 0 | x a | d , temos
que | f ( x) L | . Ou seja,
lim f ( x) L 0, d 0 ; 0 | x a | d | f ( x) L | .
x a
UNICESUMAR
lim f ( x) 0.
x5
De fato, dado > 0 tome d = e observe que, para todo x {5} , tal que
| x 5 | d , temos que | f ( x) 0 || x 5 0 || x 5 | d . Segue da defi-
nição que lim f ( x) 0.
x5
f ( x) 7 (4 x 5) 7 4 x 12 4 x 3
125
Segue da definição que lim f ( x) f ( x0 ).
UNIDADE 3
x x0
Demonstração: de fato, dado > 0 , existe d > 0 , tal que, para todo x ∈ X
com 0 | x y | d , tem-se:
f ( x) L f ( x) L .
lim f ( x) L ( xn ) ; xn X {a}, n , xn a f ( xn ) L.
x a
UNICESUMAR
forma, 0 | xn a | d . Assim, | f ( xn ) L | . Portanto, f ( xn ) → L.
Reciprocamente, suponha, por absurdo, que o limite f ( x) , quando x tende a
a , não é igual a L . Dessa forma, existe > 0 , de modo que, para d1 = 1 existe
1
x1 a 1, a 1 X {a} e | f ( x1 ) L | . Da mesma forma, para d2 = ,
2
1 1
existe x2 a , a X {a} e | f ( x2 ) L | . Em geral, para cada
2 2
1 1 1
n ∈ faça dn = e temos que existe xn a , a X {a} e
n n n
| f ( xn ) L | .
Portanto, construímos uma sequência ( xn ), com xn X {a} para todo
1 1 1 1
n ∈ , tal que a xn a . Como lim a lim a a, então,
n n n n n n
lim xn a.
n
Dessa forma, | f ( xn ) L | e xn → a, e isso é uma contradição.
1
Exemplo 3.21: seja f ( x) cos , x ≠ 0. Prove que não existe lim f ( x).
x x→0
1
De fato, seja xn = , com n ∈ . Temos que xn → 0 e
2np
2
f ( xn ) cos 2np 1 1. Agora, considere yn , com n ∈ . Te-
(4 n 1)p
p
mos que yn → 0 e f ( yn ) cos 2np 0 0. Segue do Teorema 3.6 que
2
não existe lim f ( x).
x→0
0, se x é racional
Exemplo 3.22: seja f : → definida por f ( x) .
1, se x é irracional
Prove que, para todo a ∈ , não existe o lim f ( x). De fato, seja a ∈ .
x →a
2 2
1 1
rn ∈ , tal que a rn a . Dessa forma, temos uma sequência de pon-
n n
1 1 1 1
tos racionais (rn ), tal que a rn a . Como a a e a a,
n n n n
então, rn → a. Temos que f (rn ) 0 0.
Por outro lado, segue do exercício 4, item b) da Unidade 2, que existe
s1 , tal que a 1 s1 a 1. Da mesma forma, existe s2 , tal
1 1 1 1
que a s2 a . Em geral, existe sn , tal que a sn a .
2 2 n n
Dessa forma, temos uma sequência de pontos irracionais ( sn ), tal que
1 1 1 1
a sn a . Como a a e a a, então sn → a. Temos que
n n n n
f ( sn ) 1 1. Portanto, encontramos duas sequência (rn ) e ( sn ) tais que
sn , rn → a, com f (rn ) → 0 e f ( sn ) → 1. Portanto, segue do Teorema 3.6 que
não existe lim f ( x).
x →a
128
Teorema 3.7: sejam X ⊂ , a ∈ X ' e f , g : X → . Considere que
UNICESUMAR
lim f ( x) L e lim g ( x) M .
x a x a
M L LM
Demonstração: seja 0 . Então, L M . Como
2 2
lim f ( x) L e lim g ( x) M , então, existem d1 , d2 > 0 , tais que para todo
x a x a
LM
f ( x) g ( x) .
2
lim f ( x) lim h( x) L,
x a x a
Então, lim g ( x) L .
x a
0 | x a | d1 L f ( x) L
0 | x a | d2 L ε h( x) L ε
129
Seja d min {d1 , d2 } 0 , então,
UNIDADE 3
0 | x a | d L f ( x) g ( x) h( x) L
a) lim ( f ( x) g ( x)) L M .
x a
f ( xn ) → L e g ( xn ) → M .
UNICESUMAR
x x a
f ( x) L
Portanto, lim .
x a g ( x) M
Limites laterais
1 1
Exemplo 3.23: seja X 1, , , , . Temos que 0 é ponto de acumulação,
2 3
1
à direita, pois existe xn = com xn ∈ X e xn > 0, para todo n ∈ e xn → 0.
n
Por outro lado, 0 não é ponto de acumulação à esquerda, pois não é possí-
vel exibir um sequência de pontos yn < 0 com yn ∈ X , para todo n ∈ com
yn → 0.
1 n 1
Exemplo 3.24: seja X 1 ; n ; n . Temos que −1
132
n n
1
é ponto de acumulação, à esquerda, pois existe yn 1 com yn ∈ X e
UNICESUMAR
n
yn 1, para todo n ∈ e yn 1.
Por outro lado, -1 não é ponto de acumulação à direita, pois não é possível
exibir um sequência de pontos yn 1 com yn ∈ X , para todo n ∈ com
yn 1.
Definição 3.10: sejam f : X → com X ⊂ e a um ponto de acumu-
lação, à direita, para X . Dizemos que L ∈ é limite lateral à direita de f ( x)
quando x tende a a e, denotamos por lim f ( x) L, se, para todo > 0,
x a
existe d > 0 , tal que
a x a d , implica que | f ( x) L | .
a d x a implica que | f ( x) L | .
lim f ( x) L para 0, d 0 ; 0 | x a | d | f ( x) L | .
x a
Temos que:
0 | x a | d x a e a d x a d.
x a x a
das Definições 3.10 e 3.11, que existem d1 > 0 e d2 > 0 tais que:
a x a d1 | f ( x) L | e a d2 x a | f ( x) L | .
a d2 a d x a | f ( x) L | .
lim f ( x) L ( xn ); xn X , xn a n e xn a f ( xn ) L..
x a
134
Reciprocamente, considere uma sequência ( xn ) , tal que xn ∈ X com xn > a,
UNICESUMAR
n e xn a f ( xn ) L. Suponha, por absurdo, que o limite de f ( x) ,
quando x tende a a não é igual a L . Dessa forma, para d1 = 1 existe
1
x1 (a, a 1) X e | f ( x1 ) L | . Da mesma forma, para d2 = 2 existe
1
x2 a, a X e | f ( x2 ) L | .
2
1 1
Em geral,para cada n ∈ ,faça dn = ,e temos que existe xn a, a X
n n
e f ( xn ) L . Portanto, construímos uma sequência ( xn ), com xn ∈ X para
1 1
todo n ∈ , tal que a xn a . Como lim a lim a a, então,
n n n n
lim xn a. Dessa forma, f ( xn ) L e xn → a, o que é uma contradição.
n
lim f ( x) L ( xn ) ; xn X e xn a n , xn a f ( xn ) L.
x a
existe lim f ( x) 0.
x0
| x|
Exemplo 3.26: seja f : {0} , definida por f ( x) = . Temos que
x
lim f ( x) 1 e o lim f ( x) 1. Segue do Teorema 3.9 que não existe
x0
x0
lim f ( x).
x→0
135
UNIDADE 3
pensando juntos
0, se x é racional
f ( x)
1, se x é irracional
e, além disso, faz-se a prova de que não existe lim f ( x), dado a . Fazendo a leitu-
x a
ra dessa prova, como você produziria a prova da não existência do seguinte limite lateral
à direita: lim f ( x), dado a . E no caso do limite lateral à esquerda? Ou seja, existe
x a
3
FUNÇÃO
CONTÍNUA
UNICESUMAR
Ao contrário da definição de limite, só faz sentido perguntar se f é contínua
no ponto a , se a ∈ X . Não é necessário que a seja ponto de acumulação de X .
Veja que o número positivo d depende de e a , ou seja, d = d (, a ) . Além
disso, na Definição 3.12 , só importa o que ocorre em X (a d , a d ) . Por este
fato, dizemos que a continuidade em um determinado ponto é um conceito local.
Definição 3.13 (Continuidade): seja f : X → . Dizemos que f é uma
função contínua em X , ou simplesmente, contínua, se f é contínua em cada
ponto de X . Caso contrário, dizemos que f é descontínua em X , ou somente
descontínua.
Exemplo 3.27: toda função constante é contínua.
De fato, seja f : X → definida por f ( x) = k , para algum k ∈ . Então,
dados y ∈ X e > 0 , tomando d 1 0 , temos que:
1 n 1 n 1
Com isso, m com | m n | , tem-se m , . Logo,
2 2 2
m = n . Consequentemente, | x(m) x(n) || x(n) x(n) | 0 .
137
Demonstração: suponha que f é contínua em a ∈ X . Seja ( xn ) ⊂ X
UNIDADE 3
| xd a | d e | f ( xd ) f (a ) | .
1 1
Assim, fazendo d = 1, , , , com n ∈ , temos que existe ( xn ) ⊂ X , tal que:
2 n
1
0 | xn a | e | f ( xn ) f (a ) | .
n
Pelo Teorema do Sanduíche, temos que lim xn = a , então, por hipótese, temos
que lim f ( xn ) = f (a ) , o que implica que 0 lim | f ( xn ) f (a ) | ,ou seja,
≤ 0 , o que é um absurdo! Dessa forma, f é contínua em a .
pensando juntos
Segue do Teorema 3.12, juntamente com o Teorema 3.6, que, se a é um ponto de acumulação
de X , então, f : X é contínua em a se, somente se, lim f ( x) f (a ) . Pense nisso!
x a
Não é esta a definição de função contínua que você encontrou nos seus livros de Cálculo?
138
Teorema 3.13: sejam X ⊂ , e a ∈ X um ponto de acumulação de X . Se
UNICESUMAR
f e g são contínuas em a , então:
I - f g : X definida por ( f g )( x) f ( x) g ( x), x X é con-
tínua em a .
II - f g : X definida por ( f .g )( x) f ( x).g ( x), x X é contínua
em a .
f f f ( x)
III - : X → , com g ( x) 0, x X , definidapor ( x) , x X
g g g ( x)
é contínua em a .
139
Exemplo 3.29: toda função linear é contínua, ou seja, f : → , definida por
UNIDADE 3
f ( x) ax b é contínua.
De fato, seja x0 ∈ . Temos que ( xn ) , tal que lim xn = x0 , temos que
lim f ( xn ) = f ( x0 ) . Logo, f é contínua.
Segue, das propriedades de funções contínuas e do Teorema 3.13, que toda
função polinomial p : → é contínua. Também, toda função racional
p( x)
f ( x) = , em que p , q são polinômios e q ( x) ≠ 0 , é contínua em seu
q( x)
domínio D( f ) x ; g ( x) 0 .
Podemos obter funções, a partir de funções dadas por meio da composição
de funções. O próximo resultado nos garante que a composição de funções pre-
serva a continuidade.
Teorema 3.14: sejam f : X → , contínua em a ∈ X e g : Y → con-
tínua em b f (a ) Y com f ( X ) ⊂ Y , tal que g f : X → está definida.
Então, g f é contínua em a .
Demonstração: de fato, seja > 0 . Como g é contínua em b = f (a ),
então, para > 0, existe h > 0 , tal que y ∈ Y , com 0 | y b | h , temos que
| g ( y ) g (b) | . Também, por hipótese, f é contínua em a . Então, para h > 0,
existe d > 0, tal que, x ∈ X , com 0 | x a | d implica que | f ( x) f (a ) | h.
Dessa forma, x ∈ X , com 0 | x a | d temos que 0 | y b || f ( x) f (a ) | h ,
e implica que | g ( f ( x)) g ( f (a )) || g ( y ) g (b) | . Portanto,
lim ( g f )( x) ( g f )(a ).
x a
140
Funções contínuas em intervalos
UNICESUMAR
Uma função é contínua num intervalo ] a , b [, se, e somente se, f for contínua
em todos os pontos do intervalo ] a , b [. Uma função f é contínua num inter-
valo [ a , b ] se, e somente se, for contínua em todos os pontos de ] a , b [ e, além
disso, os seguintes limites laterais existem lim f ( x) f (a ) e lim f ( x) f (b).
x a xb
x 3 se 6 x 3
3 se 3 x 0
2
x se 0 x 6
f não é contínua em x 3. De forma análoga, vemos que não existe lim f ( x)
x→0
141
Assim, f ( xn ) → f (c) e f ( xn ) < d , para todo n ∈ , e, consequentemen-
UNIDADE 3
te, f (c) ≤ d . Dessa forma, temos que f (c) = d ou f (c) < d . Se f (c) < d ,
então, segue da Proposição 3.3 que existe d > 0, tal que f ( x) < d , para todo
x (c d , c d ). Observe que se c ∈[a, b], então, existe w ∈[a, b], tal que
w (c, c d ) (c d , c d ). Dessa forma, f ( w) < d . Como w ∈[a, b] e
f ( w) < d , então, w ∈ S , com c < w. Com isso, temos uma contradição, pois
c ≥ x para todo x ∈ S . Portanto, f (c) = d .
p ( x) 2 x3 5 x2 6 .
142
UNICESUMAR
explorando Ideias
4
FUNÇÕES CONTÍNUAS EM
CONJUNTOS
COMPACTOS
f (a ) ≤ f ( x) ≤ f (b) , x X .
inf f ( X ) , sup f ( X ) f ( X ) f ( X ) .
f (a ) f ( x) f (b), x X .
144
Geometricamente, temos:
UNICESUMAR
pensando juntos
O Teorema de Weierstrass nos mostra que toda função contínua, definida em um com-
pacto, atinge um valor máximo e um valor mínimo.
145
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 3
146
na prática
1
2. Sobre o limite: lim x2 sen . É correto afirmar que:
x0 x
A < L < B . Mostre que existe d >0, tal que A < f ( x) < B , para todo
x X (a d , a d ) .
147
aprimore-se
UM POUCO DE HISTÓRIA
A primeira vez em que se tem notícia do aparecimento da ideia de limite, foi por volta de
450 a.C. com os paradoxos de Zenão de Eleia. Em seguida, foi Eudoxo de Cnido (século
IV a.C.) e, posteriormente, Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) que utilizaram o cha-
mado método de exaustão que, para calcular a área ou o volume de uma região, nela
inscreviam uma sequência infinita de figuras de áreas ou volumes conhecidos e tal que
a soma das áreas ou dos volumes dessas figuras tendiam à área ou volume da região.
É essa noção de tender que está por trás do conceito de limite.
No século XVII, vários matemáticos desenvolveram métodos algébricos para encon-
trar retas tangentes a determinadas curvas. Em cada um desses métodos, o conceito
de limite era utilizado, sem ser formulado explicitamente. Isaac Newton (1641-1727),
em Principia Mathematica, foi o primeiro a reconhecer, em certo sentido, a necessidade
do limite. No início do Livro I do Principia Mathematica, ele tenta dar uma formulação
precisa para o conceito de limite. Por outro lado, Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716),
que juntamente com Newton é considerado um dos criadores do Cálculo Diferencial e
Integral, no seu tratamento do cálculo de áreas por meio da uniformização do método
de exaustão, fazia uso da noção de somas de infinitésimos, ou seja, somas de séries.
Jean le Rond d’Alembert (1717-1783) foi o único matemático da sua época que re-
conheceu a centralidade do limite no Cálculo e afirmou que a definição apropriada do
conceito de derivada requer primeiramente a compreensão de limite para o qual pro-
pôs uma definição.
Em 1812, Carl Friedrich Gauss (1777-1855) deu o primeiro tratamento rigoroso para
a noção de convergência de sequências e séries, ao realizar o estudo da série hipergeo-
métrica, embora não utilizasse a terminologia de limite.
Finalmente, Augustin-Louis Cauchy (1789-1857), um dos grandes matemáticos fran-
ceses da primeira metade do século XIX, formulou as noções modernas de limite, con-
tinuidade e convergência de séries, obtendo resultados que marcaram uma nova era
para a Análise Matemática. No século XIX, por obra de Abel, Weierstrass, Riemann e ou-
tros, foi desenvolvida a teoria das funções analíticas, que faz uso de séries polinomiais
convergentes para representar a importante classe das funções analíticas.
Fonte: Muniz Neto (2015).
148
eu recomendo!
livro
filme
The Number 23
Ano: 2007
Sinopse: Walter Sparrow (Jim Carrey) é um simplório pai de família,
que ganhou um livro de presente de sua esposa, Agatha (Virginia
Madsen). Chamado O Número 23’, o livro narra a obsessão de um
homem com este número e como isto modifica sua vida. Ao lê-lo,
Walter reconhece várias de suas passagens, como situações que ele
próprio viveu. Aos poucos, ele nota a presença do número 23 em
seu passado e, também, no presente, tornando-se, cada vez mais, paranoico. O livro ter-
mina com uma morte brutal, Walter, desse modo, teme tornar-se um assassino.
conecte-se
No vídeo disponível, por meio do link a seguir, você poderá entender um pouco como os
diversos matemáticos colaboraram para o desenvolvimento da matemática, principal-
mente, no que diz respeito aos conceitos do Cálculo Diferencial e Integral.
https://www.youtube.com/watch?v=7wX5mya9wWw&t=90s
149
4
DERIVADAS
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Derivadas em um ponto • Regras
operacionais e Regra da Cadeia • O teorema do Valor Médio de Lagrange • Aplicações da derivada no
estudo de funções.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
x
Entender o conceito de derivada de uma função f em ponto 0 do seu domínio • Caracterizar as
fórmulas das funções elementares f que são deriváveis em seu domínio e compreender a derivada
da composição de funções • Apresentar o Teorema do Valor Médio e alguns resultados que são conse-
quências dele • Estudar algumas aplicações da Derivada no estudo de funções.
INTRODUÇÃO
UM PONTO:
Definição e Propriedades
y=f(x)
secante
f(x)
tangente
f(a)
a x
152
f ( x) f (a)
Observe que a inclinação da reta secante é dada por m ,
UNICESUMAR
xa
e a inclinação da reta tangente pode ser obtida, calculando o limite:
f ( x) f (a)
lim .
x a xa
Embora exista uma interpretação geométrica para a derivada, o desenvolvimento
lógico do nosso texto pode seguir sem ela. Entretanto, sempre é bom imaginar,
graficamente, cada resultado apresentado. Desse modo, o limite dado em é um dos
limites mais importantes da matemática, conforme apresenta a seguinte definição.
Definição 4.1: Sejam X ⊂ um conjunto de números reais, f : X →
e a ∈ X , um ponto de acumulação de X . O limite, que denotamos por f '(a ),
dado por
f ( x) f (a) f ( a h) f ( a )
lim lim f (a ),
x a xa h0 h
caso exista, é chamado de derivada da função f no ponto a . Quando f '(a )
existir, dizemos que f é diferenciável ou derivável no ponto a . Se para todo
ponto x ∈ X , x é ponto de acumulação de X e existe f '( x) , então, dizemos
que f : X → é derivável ou diferenciável no conjunto X .
pensando juntos
Você observou que, na definição anterior, temos dois limites para definir a derivada de
uma função f ? Na verdade, esses limites são iguais e isso pode ser visto a partir da mu-
dança de variável h x a. Pense nisso!
vada de f no ponto x = 2.
f ( x) f (2) x2 2 2 x2 4 ( x 2)( x 2)
f '(2) lim lim lim lim lim ( x 2) 4.
x2 x 2 x2 x 2 x2 x 2 x2 x 2 x2
f ( x h) f ( x ) a ( x h) b (ax b) ax ah b ax b ah
f ( x) lim lim lim lim a.
h0 h h0 h h0 h h0 h
154
Dessa forma,
UNICESUMAR
n 2 n
h h n1 x k h nk 1 nx n1h
k 1 k n 2 n
f '( x) lim lim h n1 x k h nk 1 nx n1 nx n1
h0 h h0
k 1 k
sabemos que
r ( h)
lim 0.
h0 h
f (a h) f (a ) c.h r (h)
r ( h)
quando a h X e quando r (h) têm a propriedade de lim 0 , então,
h0 h
isolando r (h) na expressão anterior, obtemos:
r (h) f (a h) f (a ) c.h.
155
Se dividirmos por h e tomarmos o limite quando h tende a zero, vemos que
UNIDADE 4
r ( h) f ( a h) f ( a ) c h f ( a h) f ( a ) c h
0 lim lim lim
h0 h h0 h h0 h h
ou seja,
f ( a h) f ( a )
c lim
h0 h
Pela definição de derivada segue que c f (a ) .
Em resumo, a essa discussão demonstra o seguinte teorema:
Teorema 4.1: Seja f : X → e a X X . A função f é derivável em a
se, e somente se, existe c ∈ , tal que
f (a h) f (a ) c.h r (h)
r ( h)
sempre que a h X e lim 0 . Sendo f derivável em a , vale que
h0 h
c f (a ) .
Além disso, do teorema anterior, observe que f ser derivável em a X X ' ,
equivale a dizer que existe uma função a satisfazendo
Para satisfazer a expressão anterior, basta definir a para todo h , tal que a h X
da seguinte maneira:
r ( h) f ( a h) f ( a )
a(h) f '(a ) se h ≠ 0
h h
e a(h) = 0 se h = 0 . Com esta definição, observe que a função a é contínua
em h = 0 .
Observação 4.1: em resumo, das considerações anteriores, concluímos que
a existência da derivada f '(a ) equivale à continuidade da função a em 0 .
Essa observação nos fornece uma caracterização de função derivável que
será usada para a demonstração da Regra da Cadeia, presente na próxima aula.
O próximo resultado nos diz que uma função é contínua nos pontos em que é
derivável. Este fato é dado pelo teorema a seguir e é, geralmente, utilizado na demons-
tração do Teorema Fundamental do Cálculo que relaciona derivadas com integrais.
156
Teorema 4.2:sejam X ⊂ , a ∈ X um ponto de acumulação de X . Se f
UNICESUMAR
é derivável em a , então, f é contínua em a .
Demonstração: Suponha que f é derivável em a ∈ X . Dessa forma, existe
f ( x) f (a )
f '(a ) e f '(a ) lim . Para todo x ∈ X , x ≠ a, podemos escrever:
x a xa
f ( x) f (a)
f ( x) f (a) ( x a ).
xa
Fazendo,
f ( x) f (a) f ( x) f (a )
lim f ( x) f (a ) lim ( x a ) lim lim ( x a ) f '(a ).0 0.
x a x a xa x a xa x a
Temos que lim 1 e lim 1 . Logo, não existe f '(0) e, portanto, f não é
h0 h0
derivável em x = 0.
Exemplo 4.6 (Regra de L’Hôpital): Uma das mais comuns aplicações de
derivada nos cursos de cálculo se trata da Regra de L’Hôpital. Ela diz que
f ( x) f (a )
lim
x a g ( x) g (a )
quando lim f ( x) f (a ) 0 g (a ) lim g ( x) e g (a ) 0 . Para sua demons-
x a x a
tração, basta observar que
f ( x) f (a) f ( x) f (a)
lim
f ( x) xa xa f (a )
lim lim x a .
x a g ( x ) x a g ( x ) g ( a ) g ( x) g (a ) g (a )
lim 157
xa x a xa
2
REGRAS OPERACIONAIS E
UNIDADE 4
REGRA DA CADEIA
UNICESUMAR
Por hipótese,
f ( x) f (a) g ( x) g (a)
f '(a ) lim e g '(a ) lim .
x a xa x a xa
Sendo f e g deriváveis em x = a , então, segue do Teorema 4.2 que, f e g
são contínuas em x = a, ou seja, lim f ( x) f (a ) e lim g ( x) g (a ). Assim,
x a x a
temos:
I -
( f g )( x) ( f g )(a) f ( x) g ( x) f (a ) g (a )
( f g ) '(a ) lim lim
x a xa x a xa
f ( x) f (a) g ( x) g (a)
lim lim f '(a ) g '(a ).
x a xa x a xa
II -
(k . f )( x) (k . f )(a ) kf ( x) kf (a ) k ( f ( x) f (a ))
(kf ) (a ) lim lim lim
x a xa x a xa x a xa
f ( x) f (a)
k lim kf '(a ).
x a xa
III -
( f .g )( x) ( f .g )(a) f ( x).g ( x) f (a ).g (a )
( f .g )(a ) lim lim
x a xa x a xa
f ( x).g ( x) f (a ).g (a ) f ( x).g (a ) f ( x).g (a )
lim
x a xa
f ( x) f (a) g ( x) g (a)
lim .g ( a ) . f ( x)
x a xa xa
f ( x) f (a) g ( x) g (a)
lim lim g (a ) lim lim f ( x)
x a xa x a x a xa x a
f '(a ) g (a ) g '(a ) f (a ).
IV - Podemos escrever:
f f
g ( x) g (a)
1 f ( x) f (a) g ( x) g (a)
.g ( a ) . f (a) .
xa g ( x) g (a) xa xa
159
Portanto,
UNIDADE 4
f f
' g ( x) g (a)
f
(a ) xlim
g a xa
1 f ( x) f (a) g ( x) g (a)
lim lim g (a ) lim f (a)
x a g ( x ) g ( a ) x a xa x a xa
1
f '(a ) g (a) f (a ) g '(a )
g (a) g (a)
f '(a ) g (a ) f (a ) g '(a)
.
g (a)2
Isto encerra a demonstração.
pensando juntos
Sabemos que a equação geral de uma reta que passa pelo ponto (a, b) e tem
coeficiente angular m , é dada por
y b m( x a ).
Por outro lado, sabemos que a derivada f '(a ) de uma função f no ponto a
fornece o coeficiente angular da reta tangente à curva de equação y = f ( x) .
Assim, a equação da reta tangente à curva y = f ( x) , no ponto (a, f (a )) , é
dada por
y f (a ) f '(a ).( x a )
160
tangente
UNICESUMAR
f(x) y=f(x)
f(a)
a x
2
Exemplo 4.7: Considere a curva C definida por y = x , x ∈[0, 6]. Encontre a
equação da reta tangente à curva C no ponto P = (5, 25).
2
Para isso, observe que a derivada da função f ( x) = x é f '( x) = 2 x . Desta
forma,= m f= '(5) 10 e a equação da reta tangente é y 25 10( x 5) , ou
melhor, y 10 x 25 .
Além das regras operacionais vistas anteriormente destaca-se a Regra da
Cadeia dada pelo teorema a seguir. Essencialmente, a Regra da Cadeia facilita o
cálculo de derivadas de funções compostas. Para sua demonstração, utilizaremos
o Teorema 4.1, que caracteriza as funções deriváveis.
Teorema 4.4 (Regra da Cadeia): sejam X ⊂ , Y ⊂ , f : X → ,
g : Y → , com a ∈ X um ponto de acumulação de X e b ∈ Y um ponto de
acumulação de Y , sendo que b = f (a ) e f ( X ) ⊂ Y . Se f é derivável em a
e g é derivável em b , então, g f : X → é derivável em x = a . Além disso,
( g f ) '(a ) g ' f (a ) f '(a ).
Demonstração:
Como f é derivável em a , pelo Observação 4.1, temos que
f (a h) f (a ) f '(a ) a (h) h
em b , temos que
g (b k ) g (b) g '(b) b (k ) k ,
161
com lim b (k ) 0 e b é contínua em k = 0 .
UNIDADE 4
k 0
Assim, definindo
k f ( a h) f ( a )
temos que
k f '(a ) a (h) h e f (a h) b k .
Desta forma,
Ou ainda,
162
3 32
Exemplo 4.8: sejam h : → , definida por h( x) ( x 2 x 1) . Calcule
UNICESUMAR
h '( x).
que h( x) (=
Observe = g f )( x) g ( f ( x)) em que
f ( x) x3 2 x 1 e g ( x) = x32
2 31 3 31
Assim, f '( x) 3 x 2 , g '( x) = 32 x e g '( f ( x)) 32( x 2 x 1) . Pelo
Teorema 4.4, segue que
3
O TEOREMA DO
VALOR MÉDIO
de Lagrange
ou ainda,
a c d c c d b .
Se c d x c , então,
f (c ) f ( x )
0
cx
uma vez que c x 0 e f (c) f ( x) 0 .
Por outro lado, se c x c d , então,
f (c ) f ( x )
0,
cx
uma vez que c x 0 e f (c) f ( x) 0 .
Das desigualdades descritas, segue que:
f (c ) f ( x ) f (c ) f ( x )
lim 0 e lim 0
x c cx x c cx
Como f é derivável em c , sabemos que o limite
f (c ) f ( x )
lim
x c cx
164
existe e, neste caso, os limites laterais existem e são iguais. Assim, a única possi-
UNICESUMAR
bilidade é que se tenha
f (c ) f ( x )
f '(c) lim 0
x c cx
o que encerra da demonstração.
4 2
Exemplo 4.9: a função f ( x) x 2 x tem um máximo local em x = 0 , e
3
mínimos locais em x 1 e x = 1 . Observe que f '( x) 4 x 4 x se anula nos
extremos locais, conforme garante o último teorema.
y
y=x 4 -2x 2
-1 1
x
-1
Observação 4.2: a recíproca do teorema anterior não é verdadeira, isto é, se
f '(c) = 0 , não quer dizer que f tenha um máximo ou mínimo local em c . Essa
3 2
situação é, facilmente, ilustrada pela função f ( x) = x . Veja que f '( x) = 3 x
, ou seja, f '(0) = 0 , mas a função f não tem máximo, nem mínimo local em
x = 0 , conforme pode ser visto no gráfico a seguir.
165
y
UNIDADE 4
y=x 3
Algumas vezes, você pode não prestar atenção se, em determinado teorema ou
definição, escrevemos um intervalo aberto ou um intervalo fechado. Pode parecer
que um ponto a mais ou a menos em um intervalo não faça muita diferença. Cui-
dado! Sempre existe um motivo para enunciar um resultado de tal forma, por isso,
é importante que você reflita sobre ele, perguntando-se o porquê daquela forma.
Vejamos a seguinte situação: se f :[a, b] → tem um extremo local em a
ou b , não quer dizer que a derivada se anule nestes extremos. A função f ( x) = x
para x ∈[0, 1] ilustra bem este fato, pois tem um mínimo em x = 0 e um máximo
em x = 1 .A derivada de f , entretanto, é igual a 1 para todo x ∈[0, 1] . Note que
isso não contraria o teorema anterior, pois 0 e 1 não pertencem ao intervalo
(0, 1) . Esta disciplina é repleta de detalhes como este!
Teorema 4.6 (Teorema de Rolle): seja f :[a, b] → uma função contínua
em todos os pontos de seu domínio. Se f é derivável no intervalo aberto (a, b)
e f= (a ) f= (b) 0 , então, existe c ∈ (a, b) tal que f '(c) = 0 .
Demonstração: como f é contínua no intervalo fechado [a, b] , pelo Teo-
rema de Weierstrass, seu valor máximo M e seu valor mínimo m são atingidos
em pontos de [a, b] . Isto é, existem x0 e x1 pertencentes à [a, b] tais que
f ( x0 ) = M e f ( x1 ) = m .
166
Se x0 e x1 são os extremos do intervalo [a, b] , então, M = m , o que implica
UNICESUMAR
que f é constante e, consequentemente, f '( x) = 0 para todo x ∈[a, b] . Caso
contrário, pelo menos um dos números x0 ou x1 pertencem a (a, b) . Sem perda
de generalidade, suponha que x0 ∈ (a, b) . Como f tem um extremo relativo
em x0 , segue do teorema anterior que f '( x0 ) = 0 . Assim, basta tomar c = x0 e
o teorema está provado.
y
y=f(x)
Ou seja, a função não constante ilustrada não é derivável nos pontos em que
atinge seus valores extremos.
A seguir, temos o Teorema do Valor Médio, às vezes, também, chamado de
Teorema dos Acréscimos Finitos. Para sua demonstração, usaremos o Teorema
de Rolle, provado anteriormente.
Teorema 4.7 (Teorema do Valor Médio):seja f :[a, b] → uma função
contínua em todos os pontos de seu domínio. Se f é derivável no intervalo
aberto (a, b) , então, existe c ∈ (a, b) , tal que
f (b) f (a )
f '(c) .
ba
167
Demonstração: com o objetivo de aplicar o Teorema de Rolle, a partir da função
UNIDADE 4
f dada, definimos uma função auxiliar g :[a, b] → , como sendo a reta que
passa pelos pontos a, f (a ) e b, f (b) .
y=g(x)
f(b) y=f(x)
f(a)
a c c´ b x
isto é,
f (b) f (a )
g ( x) ( x a) f (a)
ba
Agora, observe que função defina por
F ( x) g ( x) f ( x)
168
Exemplo 4.10: qual função cresce mais rápido, exponencial ou polinomial? A
UNICESUMAR
resposta para essa questão é uma simples aplicação do Teorema do Valor Médio.
Considere função exponencial de base a > 1 , f : → , definida por
f ( x) = a x .
x
Do Cálculo, sabemos que f '( x) = a .ln a . Assim, tomando x > 0 e aplicando o
Teorema do Valor Médio no intervalo [0, x] , obtemos a existência de um número
c ∈ (0, x) , tal que:
f ( x) f (0) f '(c)( x 0) ,
isto é,
a x 1 a c .ln a.( x 0) .
c
Como c > 0 e a > 1 segue que a > 1 . Assim, da expressão anterior, obtemos que
a x 1 x.ln a, x 0 .
Como a desigualdade anterior é válida para todo x > 0 , então, continua verda-
x
deira, quando trocamos x por em que x > 0 e n ∈ . Ou seja, vale que
n +1
x
n x
a 1 1 .ln a
n 1
Da expressão anterior, segue claramente que
x
x
a n1 .ln a .
n 1
Elevando ambos os membros a n +1 , temos que
x n1
ax .ln a .
(n 1) n1
o que implica em
169
UNIDADE 4
ax x
>
xn A
(n 1) n1
em que A é uma constante em relação a x . Como
ln a
xn A
0< <
ax x
A
e lim 0 , pelo Teorema do Sanduíche, vem que
x x
xn
lim 0.
x ax
A resposta da nossa questão segue do resultado deste limite. Como este limite é
igual a zero, segue que o denominador cresce muito mais rápido que o numera-
do, quando x . Isto é, a função exponencial cresce muito mais rápido que
qualquer potência de x .
pensando juntos
f ( x) f ( y ) f '(c)( x y ) .
170
Como f '(c) = 0 , temos que
UNICESUMAR
f ( x ) f ( y ) 0( x y ) 0 f ( x ) f ( y )
Outra consequência do Teorema do Valor Médio é que duas funções, que pos-
suem a mesma derivada, diferem por uma constante, conforme apresenta o pró-
ximo teorema.
Teorema 4.9:sejam f , g : I → funções contínuas em I e deriváveis
em int I . Se f '( x) = g '( x) , para todo x ∈int I , então, existe c ∈ , tal que
f ( x) g ( x) c , para todo x ∈ I .
Demonstração:para demonstrar este resultado, consideremos a função
h : I → , definida por
h( x ) f ( x ) g ( x ) .
Observe que
em virtude da hipótese que f '( x) = g '( x) . Assim, a função h está nas condições
do teorema anterior, isto é, h é constante. Logo, existe c ∈ , tal que
h( x) c, x I .
f ( x ) g ( x ) h( x ) c
f ( x) g ( x) c
171
Como outra consequência do Teorema do Valor Médio, estabelecemos um
UNIDADE 4
g '(t ) f '(t ) d .
g '(a ) f '(a ) d .
Como f '(a ) < d segue que f '(a ) d 0 e, da expressão a anterior, temos que
g '(a ) < 0 .
Assim, existe t1 ∈ (a, b) , tal que g (t1 ) < g (a ) . Semelhantemente, temos que
g '(b) > 0 e, consequentemente, existe t2 ∈ (a, b) , tal que g (t2 ) < g (b) . Sendo
g derivável e, portanto, contínua no compacto [a, b] , segue do Teorema de
Weierstrass que g atinge seu mínimo em algum ponto c ∈ (a, b) , uma vez
que este não pode ocorrer nos extremos do intervalo, em virtude da existência
de t1 e t2 . Como c ∈ (a, b) e g tem aí um extremo local, segue, pelo Teorema
4.5, que g '(c) = 0 , isto é, f '(c) = d como queríamos demonstrar.
172
4
APLICAÇÕES DA DERIVADA NO
UNICESUMAR
ESTUDO DE
FUNÇÕES
f ( x2 ) f ( x1 ) f '(c)( x2 x1 ) .
3 2
Exemplo 4.11: considere f : → definida por f ( x) 2 x 3 x 12 x 2 .
Sabemos que
f '( x) 6 x2 6 x 12 6( x2 x 2) 6( x 1)( x 2)
f '( x) 0 6( x 1)( x 2) 0 x 1 ou x 2
174
Pelo teorema anterior, concluímos que
UNICESUMAR
■ f é crescente em (, 1)
■ f é decrescente em (−1, 2)
■ f é crescente em (, 1)
y
9
2
-1 x
-18
Vimos que a derivada ser positiva ou negativa em um intervalo nos diz se a fun-
ção é crescente ou decrescente nesse intervalo. Mas o que dizer se soubermos que
a derivada é positiva ou negativa, em determinado ponto apenas? Esta questão é
respondida pelo próximo resultado.
175
Teorema 4.12:suponha que f seja uma função definida em um intervalo I
UNIDADE 4
e que seja derivável em x c I e que f '(c) ≠ 0 . Então, existe d > 0 , tal que:
I - Se f '(c) > 0 , então, f ( x) < f (c) < f ( y ) sempre que x, y ∈ I e
c d x c y c d .
II - Se f '(c) < 0 , então, f ( x) > f (c) > f ( y ) sempre que x, y ∈ I e
c d x c y c d .
f ( x ) < f (c ) < f ( y ) ,
Ao ler este teorema, você pode ser induzido a pensar que, se uma função tem
derivada positiva em um ponto, então, ela é crescente em um intervalo em torno
deste ponto. Cuidado, o teorema não diz isso! Este resultado diz que se uma
função tem derivada positiva em um ponto c , então, existe uma vizinhança des-
te ponto, na qual todos os valores da função são menores que f (c) para pontos
à esquerda de c , e todos os valores da função são maiores que f (c) , sempre que
tomamos pontos à direita de c . Para verificar isso, observe que a função
176
x 1
UNICESUMAR
2
x sen , se x 0
f ( x) 2 x
0, se x 0
1
satisfaz f '(0) = , mas em qualquer vizinhança da origem existe uma infinidade de
2
intervalos em que f ora é crescente, ora é decrescente, uma vez que sua derivada
1 1 1
f '( x) 2 x sen cos
2 x x
é ora positiva, ora negativa. Você pode usar um software para fazer o gráfico desta
função e tentar se convencer disso e, depois, tentar provar as afirmações anteriores.
Vimos, no Teorema 4.5, que, se uma função f tem um extremo local em
c ∈ (a, b) e é derivável neste ponto, então, a derivada satisfaz f '(c) = 0 . Isso quer
dizer que os máximos e mínimos locais que ocorrem no interior do domínio de
uma função derivável só podem ocorrer nos pontos em que a derivada é igual a
zero. Por este motivo, temos a seguinte definição:
Definição 4.4: um ponto c ∈ X é um ponto crítico de uma função derivável
f : X → , quando f '(c) = 0 .
Assim, segue, imediatamente, do Teorema 4.5, que nos pontos localizados no
interior do domínio de uma função derivável, em que haja extremos locais, tem-se
aí um ponto crítico. Por outro lado, os pontos críticos de uma função derivável
são os únicos pontos do interior do intervalo que a função pode ter um máximo
ou mínimo local.
Teorema 4.13: suponha que f : (a, b) → seja derivável em (a, b) e que
c seja um ponto crítico de f .
I - Se existe d > 0 , tal que f '( x) ≥ 0 para x (c d , c) e f '( x) ≤ 0 para
x (c, c d ) , então, f tem um máximo local em c .
II - Se existe d > 0 , tal que f '( x) ≤ 0 para x (c d , c) e f '( x) ≥ 0 para
x (c, c d ) , então, f tem um mínimo local em c .
3
Exemplo 4.12: observe que a função f ( x) 10 x ( x 1) tem derivada
f '( x) 10 x2 3 x 1 10 x3 1
10 x3 3 10 x2 3 10 x3
10 3 x3 3 x2 x3 Logo, seus pontos críticos são x
3
4
e x = 0.
10 4 x3 3 x2
10 4 x 3 x2
Como a derivada só pode mudar de sinal nos pontos críticos, segue que ela não muda
3 3
de sinal dentro dos seguintes intervalos: , , , 0 e (0, ∞) . Assim,
4 4
basta calcular a derivada em um ponto de cada um destes intervalos para conhecer
1 15
seu sinal em cada um dos intervalos. Observe que f '(1) 10 , f ' e
2 2
3 3
f '(1) = 70 . Logo, f '( x) ≤ 0 em , e f '( x) ≥ 0 em , 0 e (0, ∞) .
4 4
3
Desta forma, pelo teorema anterior temos um mínimo local em − e o valor míni-
4
3 135
mo é f 1, 0546875 .
4 128
178
y
UNICESUMAR
-1 x
-1
explorando Ideias
179
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 4
a) f não é derivável em x = 0.
b) f é derivável em x = 0 e f '(0) = g (0) .
c) f é derivável em x = 0 e f '(0) g (0) .
d) f é derivável em x = 0 e f '(0) > g (0) .
e) f é derivável em x = 0 e f '(0) < g (0) .
181
aprimore-se
A ARITMETIZAÇÃO DA ANÁLISE
182
aprimore-se
te, velocidade instantânea e área, preservaram, por muito tempo, suas feições
geométricas. Por uma curiosa coincidência, foi no momento mesmo em que a
Geometria começou a revelar suas falhas de fundamentos, primeiras décadas
do século, foi então que também tiveram início esforçossbem-sucedidos para
fundamentar o Cálculo fora da Geometria. Todos os conceitos básicos de fun-
ção, limite, derivada, integral e convergência seriam agora definidos em termos
de números. Mas se percebe, então, que os próprios números reais carecem de
uma adequada fundamentação, a qual, entretanto, não tarda em ser encontra-
da. Até aquela definição de limite de Cauchy - correta, porém, ainda eivada da
noção espúria de movimento - é agora substituída pela definição puramente nu-
mérica de Weierstrass: f ( x) tem limite L com x tendendo a x0 significa: dado
qualquer >0 existe d > 0 tal que:
0 | x x0 | d | f ( x) L | .
183
eu recomendo!
livro
filme
A Teoria de Tudo
Ano: 2015
Sinopse: baseado na história de Stephen Hawking, o filme expõe
como o astrofísico fez descobertas relevantes para o mundo da
ciência, inclusive, relacionadas ao tempo. Também retrata seu ro-
mance com Jane Wilde, uma estudante de Cambridge que viria a
se tornar sua esposa. Aos 21 anos de idade, Hawking descobriu
que sofria de uma doença motora degenerativa, mas isso não o
impediu de se tornar um dos maiores cientistas da atualidade.
conecte-se
No vídeo disponível no link, a seguir, você entenderá um pouco mais sobre como
o século XVII viu o nascimento de uma das mais importantes ferramentas mate-
máticas, o cálculo. Matemáticos modernos examinam a contribuição de seus três
inventores: Fermat, Newton e Leibniz.
https://www.youtube.com/watch?v=6HI47rcOiA
184
5
INTEGRAIS
PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz
PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A origem das integrais • A Inte-
gral de Riemann • Condições suficientes para a integrabilidade • Propriedades da integral • Principais
Teoremas do Cálculo.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender o conceito de integral, segundo Riemann • Estudar condições para que uma função seja
integrável • Explorar propriedades de funções integráveis • Estudar os principais Teoremas do Cálculo
que norteiam o estudo de integrais.
INTRODUÇÃO
UNICESUMAR
INTEGRAIS
187
Note que a área do polígono inscrito pode
UNIDADE 5
h r
nb
Figura 3 - Arranjo dos triângulos inscritos em uma circunferência / Fonte: os autores.
Além disso, observe que a soma das áreas destes n triângulos é igual a área do
triângulo de base nb e altura h .
nb
Figura 4 - Soma das áreas dos triângulos inscritos em uma circunferência / Fonte: os autores.
UNICESUMAR
Ac = pr 2 .
Essa técnica poderia ser usada para qualquer tipo de figura plana, mas seu sucesso
dependeria de se conseguir ou não uma sucessão de figuras planas com áreas
conhecidas, de modo a exaurir a área da figura dada. Essa mesma ideia, usada
por Arquimedes, motivou o aparecimento da integral como conhecemos hoje.
Dos cursos de Cálculo, você deve se lembrar que umas das motivações para
o estudo da integral é a área sob o gráfico de alguma função.
y=f(x)
a b
a x0 x1 xn b
189
UNIDADE 5
y=f(x)
f(x*)
i
a x i-1 xi x*i b
xi
Figura 6 - Disposição dos retângulos que aproximam a área sob o gráfico da função
Fonte: os autores.
Assim, tendo a largura do i-ésimo retângulo dada por Dxi xi xi 1 e sua altura
*
por f ( xi ) , em que xi é um ponto qualquer escolhido no intervalo [ xi −1 , xi ] , a
*
A lim
D0
f ( xi* )Dxi
i
190
2
A INTEGRAL DE
UNICESUMAR
RIEMANN
P to , t1 , , tn [a, b]
Observe que os mi ’s e M i ’s são finitos, uma vez que f é uma função limitada.
A diferença entre o supremo e o ínfimo de f em um intervalo é chamada
oscilação da função. Assim, a diferença wi M i mi é chamada oscilação de f
no intervalo [ti −1 , ti ] .
A soma superior de f em relação à partição P é o número
n
S ( f , P) M i (ti ti 1 ) e a soma inferior de f em relação à partição P é o
i 1
n
número s ( f , P) mi (ti ti 1 ) .
i 1
m(b a ) s ( f , P ) S ( f , P) M (b a)
y=f(x) y=f(x)
a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b
UNICESUMAR
quando todos os pontos de P são, também, pontos da partição Q , em outras pala-
vras, quando P ⊂ Q .
Exemplo 5.1: seja P a partição dada por a t0 t1 tn b . Ao acres-
centar a essa partição os pontos médios dos intervalos [ti −1 , ti ] , i = 1, 2, , n ,
obteremos uma partição Q que refina P .
Exemplo 5.2: dadas duas partições
P satisfazendo a t0 t1 tn b e
Q satisfazendo a x0 x1 xk b
então, a união delas, P ∪ Q , refina tanto P como Q . Por outro lado, uma forma
mais simples de se refinar uma partição é incluir um único ponto. Por exemplo,
a partição
Q {t0 , t 1 , , ti 1 , r , ti , , tn }
é um refinamento de P {t0 , t 1 , , ti 1 , ti , , tn } .
Teorema 5.1: quando se refina uma partição, a soma superior não aumen-
ta, e a soma inferior não diminui. Isto é: se P ⊂ Q , então, s ( f , P) ≤ s ( f , Q) e
S ( f , Q) ≤ S ( f , P) .
Demonstração: seja P a partição definida por t0 < t1 < < tn . Como Q é
um refinamento de P , a partição Q é obtida de P pelo acréscimo de uma quan-
tidade finita de pontos. Assim, podemos construir uma sucessão de partições a
partir de P até obter Q de modo que cada elemento dessa sucessão seja obtido
da anterior, pelo acréscimo de um único ponto. Observe que cada elemento des-
sa sucessão é um refinamento do anterior. Dessa forma, basta provar o teorema
para o caso em que Q , é obtida de P , pelo acréscimo de um único ponto. Então,
suponha que Q {t0 , t 1 , , ti 1 , r , ti , , tn } e satisfaz
t0 t1 ti 1 r ti tn .
193
s ( f , Q) s ( f , P ) m '(r ti 1 ) m ''(ti r ) mi ti ti 1
UNIDADE 5
m ' mi r ti 1 m '' mi ti r 0
0 0
s( f , P) s( f , P Q) S ( f , P Q) S ( f , Q) .
b *b
f ( x) dx sup s ( f , P ) e
P
f ( x) dx inf S ( f , P)
P
*a a
UNICESUMAR
ximo ao ponto b , na segunda integral, indicam que a primeira integral é inferior
e a segunda é superior.
Definição 5.2: dizemos que uma função f :[a, b] → é integrável, quando
a integral superior é igual a integral inferior, isto é,
b *b
f ( x) dx f ( x) dx .
*a a
195
Com o objetivo de obter uma caracterização de funções integráveis, precisa-
UNIDADE 5
UNICESUMAR
que b a e . Da natureza dos conjuntos A e B , esta última desigualdade nos
diz que existem partições Q e R de [a, b] , tais que
S f , R s f ,Q e .
S f , P S f , R
s f ,Q s f , P
S f , P s f ,Q S f , R s f , P
S f , P s f , P S f , R s f ,Q e
f ( x) dx f ( x) dx .
*a a
197
3
CONDIÇÕES SUFICIENTES PARA
UNIDADE 5
A INTEGRABILIDADE
X {x1 , x2 , , xk , } .
e
Dado e > 0 , definamos I k o intervalo aberto de comprimento k +1 centrado
em xk . É claro que X ⊂ I k e observe que 2
k
e e
| Ik | k 1
2
e
k 1 k 1 2
1 e
pois é uma série geométrica de razão com primeiro termo igual a .
198
2 4
Agora, estamos em condições de enunciar um dos teoremas mais importantes
UNICESUMAR
no estudo das integrais, também conhecido como Teorema de Lebesgue.
Teorema 5.3 (Teorema de Lebesgue): considere uma função limitada
f :[a, b] → . Se o conjunto D dos pontos de descontinuidade de f tem me-
dida nula, então, f é integrável.
Demonstração: como f é limitada, considere M e m o supremo e o ínfi-
mo de f em a, b , respectivamente. A oscilação de f em a, b é definida por
K M m . Como D tem medida nula, dado e > 0 , existem intervalos abertos
e
I1 , …, I k , … tais que | I k | e D ⊂ I k . Observe que f é contínua
2K k
[ a , b ] D [ a , b ] D k Ik x J x
isto é, temos uma cobertura de [a, b] por intervalos abertos. Sendo [a, b] com-
pacto, pelo Teorema de Borel-Lebesgue, essa cobertura possui uma subcobertura
finita que representaremos por
[a, b] I1 I m J x1 J xn .
199
Como tb 1 , tb está contido em algum J x e a oscilação de f em cada interva-
UNIDADE 5
e
lo J x é menor que concluímos que a oscilação wb de f em tb 1 , tb
2(b − a )
e
é, também, menor que . Denotando por M a e ma o supremo e ínfimo
2(b − a )
de f em ta 1 , ta , temos que:
S ( f , P) s ( f , P) wα (tα tα 1 ) wβ (tβ tβ 1 )
α K β ε
2 (b a )
ε
k (tα tα 1 ) (tβ tβ 1 )
α 2(b a ) β
ε (b a )
2K
ε ε
k (b a )
2 K 2(b a )
ε
Logo, pelo Teorema 5.2, segue que f é integrável, concluindo, assim, a demonstração.
explorando Ideias
200
Desse corolário, segue que a maioria das funções trabalhadas em um curso de
UNICESUMAR
Cálculo são integráveis.
Exemplo 5.6: dizemos que f :[a, b] → é uma função escada, quando
existe uma partição P t0 , t1 , , tn de [a, b] , de modo que f ( x) = ci , quando
ti 1 x ti , isto é, f é constante no interior de cada subintervalo da partição,
não importando quais valores a função assume nos extremos dos subintervalos
da partição.
y=f(x)
a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b
Figura 8 - Função escada / Fonte: os autores.
pensando juntos
1, se x [0, 1]
f ( x)
0, se x [0, 1] \
não é integrável. Pode ser mostrado que o conjunto dos racionais é enumerável. Por-
que isso não contradiz o Teorema de Lebesgue?
201
4
PROPRIEDADES DA
UNIDADE 5
INTEGRAL
*b
UNICESUMAR
f ( x) dx sup s ( f , P ) sup s f , P c
*a P P
f ( x) dx sup s f , P c
*a P
sup s f , Q R
Q R
sup s f , Q sup s f , R
Q R
c b
f ( x) dx f ( x) dx
*a *c
isto é,
b c b
f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx .
*a *a *c
Semelhantemente,
*b *c *b
f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx .
a a c
203
Fazendo a diferença membro a membro destas duas últimas identidades, temos
UNIDADE 5
*b b *c c *b b
f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx
a *a a* a
c* c
0 0
Observe que o termo da esquerda dessa igualdade é zero, uma vez que f é
integrável e o termo da esquerda é não negativo, pois a integral inferior nunca
ultrapassa a integral superior. Assim, para que a igualdade se verifique, é preciso
que cada termo entre parênteses seja zero, isto é, que as restrições de f sobre
[a, c] e [c, b] sejam integráveis. Neste caso, a identidade
b c b
a f ( x) dx f ( x) dx f ( x) dx
a c
f ( x) g ( x) dx S ( f g , P) S ( f , P) S ( g , P)
a
204
S ( f , P) ≤ S ( f , Q) e S ( g , P) ≤ S ( g , R)
UNICESUMAR
e, portanto,
*b
f ( x) g ( x) dx S ( f , Q) S ( g , R)
a
f ( x) g ( x) dx f ( x) dx g ( x) dx f ( x) dx g ( x) dx
a a a a a
f ( x) g ( x) dx f ( x) dx g ( x) dx f ( x) dx g ( x) dx .
*a *a *a a a
f ( x) g ( x) dx f ( x) dx g ( x) dx ,
a a a
c. f ( x) dx c. f ( x) dx .
a a
205
e
S ( f , P) s( f , P) .
UNIDADE 5
|c|
Não é difícil ver que S (c ⋅ f , P) é igual a c ⋅ S ( f , P ) ou c ⋅ s ( f , P ) , conforme se
tenha c > 0 ou c < 0 , respectivamente. Podemos proceder de forma semelhante
para s (c ⋅ f , P ) . Dessa forma
S (c f , P) s (c f , P) | c | S ( f , P) s ( f , P ) e
S (c f , P) c S ( f , P ) ou S (cf , P) = cs ( f , P )
b b
temos c. f ( x) dx c. f ( x) dx , o que prova o desejado.
a a
f ( x) dx g ( x) dx .
a a
Demonstração: de fato, sendo f ( x) ≤ g ( x) para todo x ∈[a, b] , então, para
qualquer partição P de [a, b] , tem-se
s( f , P) ≤ s( g , P) e S ( f , P) ≤ S ( g , P) .
b b
Consequentemente, f ( x) dx g ( x) dx .
a a
b b
f ( x) dx f ( x) dx .
a a
206
Demonstração: como
UNICESUMAR
| f ( x) | | f ( y ) | f ( x) f ( y )
S | f |, P s | f |, P S f , P s f , P .
f ( x) f ( x) f ( x) , x [a, b]
o que implica
b b
f ( x) dx f ( x) dx ,
a a
207
5
PRINCIPAIS TEOREMAS
UNIDADE 5
DO CÁLCULO
208
Das identidades anteriores, tem-se que
UNICESUMAR
F ( x0 h) F ( x0 ) 1 x0 h 1 x0 h 1 x0 h
f ( x0 ) f (t ) dt f ( x0 ) dt f (t ) f ( x0 ) dt
h h 0
x h 0
x h x0
Como f é contínua em x0 ∈ I , dado e > 0 , existe d > 0 , tal que para cada
t ∈ I , satisfazendo | t x0 | d , tem-se | f (t ) f ( x0 ) | e . Então, tomando h
suficientemente pequeno, de modo que 0 <| h |< d , x0 h I , temos:
F ( x0 h) F ( x0 ) 1 x0 h 1
h
f ( x0 )
h x
0
f (t ) f ( x0 ) dt e h e ,
h
e
F ( x) j ( x) C .
Como j(a ) = 0 , vem que F (a ) = C . Este fato, juntamente, com a última iden-
tidade, vem que
x
F ( x) f (t ) dt F (a )
a
3
sua é F ( x) x 7 x . Assim,
1 2 1
0 3 x 7 dx f ( x) dx F (1) F (0) [13 7.1] [03 7.0] 8 .
0
Esta última expressão nos diz que ( F g )(t ) é uma primitiva de f ( g (t )).g '(t ) .
Pelo Teorema Fundamental do Cálculo,
d
c f g (t ) .g '(t ) dt ( F g )(d ) ( F g )(c).
Comparando as duas integrais apresentadas nesta demonstraçã,o temos o resul-
tado desejado.
Nos cursos de Cálculo, esse resultado é, muito vezes, lembrado com integração
por substituição e pode ser útil quando, no integrando, temos uma composição
de funções. Faremos um exemplo para relembrá-lo de sua aplicabilidade.
210
1 2t
Exemplo 5.8: calcular 0 t 2 1 dt . Observe que podemos escolher
UNICESUMAR
1
g (t ) t 2 1 . Assim,=
g (0) 1,=
g (1) 2 e g '(t ) = 2t . Tomando F ( x) = temos
x
1 2t
que F g (t ) .g '(t ) 2 .2t 2 . Pelo Teorema de Mudança de Variável,
segue que t 1 t 1
1 2t 21
0 t 2 1 dt 1 x
dx ln(2) ln(1) ln(2).
x 2
Exemplo 5.9: calcular ∫ xe dx . Neste caso, podemos escolher f ( x) = x e
0
g '( x) = e x . Logo, f '( x) = 1 e g ( x) = e x . Pelo Teorema de Integração por Par-
tes, temos:
2 x 2 2 2 2
0 xe dx x e x 1 e x dx x e x e x 2e2 e2 e0 e2 1 .
0 0 0 0
pensando juntos
211
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 5
212
na prática
2
b f ( x) g ( x) dx b f ( x)2 dx b g ( x)2 dx
a a a .
b
5. Se f :[a, b] → é contínua não negativa, mostre que a f ( x) dx 0 .
213
aprimore-se
AS ORIGENS DO CÁLCULO
As ideias do Cálculo surgiram aos poucos, nas obras de vários matemáticos do sé-
culo XVII. Foram amadurecendo gradualmente, adquirindo forma mais acabada nos
trabalhos de Newton e Leibniz. Esses dois sábios vieram mais tarde, na segunda
metade do século, e realizaram independentemente ou do outro, o trabalho de sis-
tematização das ideias e métodos, centrados no chamado “Teorema Fundamental
do Cálculo”.
Isaac Newton nasceu na aldeia de Woolsthorpe, na Inglaterra. Enquanto menino
e jovem Newton não manifestou nada de excepcional em seus estudos. Seu exa-
me de ingresso na Universidade de Cambridge até revelou deficiência em seus co-
nhecimentos de Geometria. Ao terminar os estudos de graduação, a Universidade
fechou-se devido a uma epidemia de peste que grassava por toda parte. Assim,
Newton passou os anos de 1665 e 1666 recolhido em sua aldeia natal. Mais tarde
ele contaria que foram nesses dois anos (“biennium mirabilissimum”) que se sentiu
no auge de sua criatividade, tendo-se dedicado à Matemática e à Filosofia (“Natural
Philosophy”, ou seja, “Ciências Naturais”) mais do que em qualquer outra época des-
de então. Foi nesse período que Newton teve as grandes ideias que o celebrizaram,
em teoria da Gravitação, em Ótica e no Cálculo.
Dotado de uma personalidade complexa, Newton sempre relutou em publicar,
ou mesmo divulgar entre seus pares suas descobertas científicas, aparentemente
por receio de críticas. Segundo Augustus De Morgan, “durante toda a sua vida ele
foi dominado por um temor mórbido de oposição”. Em 1969 Newton foi designado
professor em Cambridge, na cátedra até então ocupada por seu mestre Isaac Bar-
row. Seu livro Princípios Matemáticos de Filosofia Natural (conhecido como Principia,
do título em latim), certamente a maior obra científica de todos os tempos, só foi
publicada em 1687, por insistência de alguns amigos e colegas, dentre eles o astrô-
nomo Edmond Halley, que fez uma revisão completa da obra e pagou os custos de
sua publicação.
214
aprimore-se
215
eu recomendo!
livro
216
eu recomendo!
filme
conecte-se
217
conclusão
conclusãogeral
geral
conclusão
conclusão
geral
geral
218
218
referências
ÁVILA, G. Análise Matemática para Licenciatura. 3. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.
ÁVILA, G. S. S. Cálculo das funções de uma variável. v. 1. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.
CANTOR, G. Über eine Eigenschaft des Inbegriffes aller reellen algebraischen Zahlen. Journal
für die Reine und Angewandte Mathematik, n. 77, p. 258-262, 1874.
MILIES, C. P. Números: uma Introdução à Matemática. 3. ed. São Paulo: USP, 2003.
MUNIZ NETO, A. C. Fundamentos de Cálculo. 1. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2015. (Coleção
Profmat).
219
gabarito
UNIDADE 1
1 1 1 1
a. > b. , ou seja, > .
a.b a.b b a
Portanto, a resposta correta é o item c).
1 1 2 1 1
4. a) Para n=2 temos e e o resultado é válido. Suponha que
(2 1)2 2 2 2
220
gabarito
1 1 1 n 1
para algum n > 1, tem-se: . Queremos provar
1 .2 2 . 3 (n 1).n n
que o resultado é válido para n +1 . De fato:
1 1 1 1 n 1 1
1 .2 2 . 3 (n 1).n n(n 1) n n(n 1)
(n 1)(n 1) 1 n2 1 1 n2 n
.
n(n 1) n(n 1) n(n 1) n 1
Logo, o resultado é válido para n +1.
b) Para n = 1 temos que 101 1 9 e 9 é divisível por 9 , logo, o resultado é váli-
do para n = 1. Suponha que a afirmação é válida para algum n ≥ 1 , ou seja, existe
t ∈ , tal que 10n 1 9t. Queremos provar que o resultado é válido para n +1.
De fato,
10n1 1 10n10 1 10n (1 9) 1 10n 9.10n 1 (10n 1) 9.10n 9t 9.110n 9(t 10n )
221
gabarito
UNIDADE 2
1. Observe que:
1 1 1 1 1
I) Falsa, pois tome xn e yn = , , para todo n ∈ e 0,
1 n 1 n n 1 n n 1
→0 e 0 = 0.
n
II) Falsa. Tome xn (1) n1 e observe que xn é limitada e divergente.
3. Seja > 0. Como xn → a, então, para > 0, existe n0 ∈ , tal que, para todo
n > n0 temos | xn a | . Dessa forma, para todo n > n0 ,
| ( xn a ) 0 || xn a | . Logo, ( xn a ) 0. A recíproca se prova de maneira
análoga.
222
gabarito
6. Queremos provar que a ≤ b. Suponha por absurdo que a > b. Logo, temos que
( xn yn ) a b 0 e, dessa forma, segue do item 5 que existe n0 ∈ , tal que
xn yn 0, para todo n > n0 , ou seja, xn > yn para todo n > n0 e isto contradiz
a hipótese de xn < yn , para todo n ∈ . Portanto, a ≤ b.
UNIDADE 3
1. Seja > 0. Como lim g ( x) 0, então, para , existe d1 > 0, tal que
x a M
0 | x a | d1 implica que . Tome d mim d1 , d2 , e
| g ( x) || g ( x) 0 |
M
observe que para 0 | x a | d implica que
g ( x) f ( x) 0 g ( x) f ( x) g ( x) f ( x) M . Portanto,
lim g ( x) f ( x) 0. M
x a
1 1
2. Temos que sen 1 e lim x2 0. Segue do Exercício 1 que lim x2 sen 0.
x x0 x0 x
3. Seja > 0. Como lim f ( x) L, então, para >0 existe d2 > 0, tal que
x a
g (a) f (a)
4. Seja c e g (a) c c f (a) . Então >0 e
2
f (a ) g (a ) c . Pela definição de continuidade, existem d1 > 0 e d2 > 0 ,
tais que x∈ X , | x a | d1 f (a ) f ( x) c e
223
gabarito
UNIDADE 4
f (0 h) f (0) f ( h) 0 hg (h)
2. f '(0) lim lim lim lim g (h) g (0),
h0 h h0 h h0 h h0
pois g é contínua em x = 0. Portanto, b é a alternativa correta.
3. Suponha, por absurdo, que a inversa da f , f −1 é derivável. Como f é a inversa de
f −1 , então, ( f f 1 )( x) x, para todo x ∈ . Segue da regra da cadeia que
( f f 1 ) '(a ) f '( f 1 (a )).( f 1 ) '(a ) 0.( f 1 ) '(a ) 0. Por outro lado,
( f f 1 ) '( x) 1 para todo x ∈ . Em particular, ( f f 1 ) '(a ) 1, e, com isso,
obtemos uma contradição.
4. Suponha que a é raiz dupla de f , ou seja, existe uma função polinomial g , tal que
f ( x) ( x a )2 g ( x). Temos que f '( x) 2( x a ) g ( x) ( x a )2 g '( x) e
f '(a ) 2(a a ) g (a) (a a )2 g '(a ) 0. Logo, a é raiz de f e f '.
5. f '( x) 3 x2 4 x e f '(1) 3 4 7. A equação da reta tangente a y = f ( x) no
ponto P = (1, 2) é: y 2 f '(1)( x 1).
224
gabarito
UNIDADE 5
1. Sem perda de generalidade suponha que c < A . Dada uma partição P = {t0 , t1 , , tn }
de [ a, b] temos que m1 = c , M 1 = A e m = i M=i c para i = 2, 3, , n . Neste
caso, S ( f , P ) s ( f , P ) ( A c )(t1 t0 ) . Assim, dado e > 0 , podemos tomar
e
uma partição P de modo que t1 t0 e, consequentemente teremos
Ac
S ( f , P) s ( f , P) e , mostrando a integrabilidade de f . Por outro lado, como
b
s ( f , P) c(b a ) paratodapartição P de [a, b] temosque
b
f ( x) dx c(b a )
b *a
. Como f é integrável vem que a f ( x) dx f ( x) dx c(b a ) .
*a
2. Sem perda de generalidade suponha que f é não decrescente. Assim, dado e >0,
considere uma partição P = {t0 , t1 , , tn } [a, b] , tal que cada subintervalo da
de
e
partição tenha comprimento ti 1 ti . Como f é não decrescente
f (b) f (a )
os valores mínimo e máximo de f em [ti −1 , ti ] são dados por f (ti ) e f (ti −1 ) , res-
pectivamente. Desta forma,
n
S ( f , P) s ( f , P) f (ti ) f (ti 1 ) ti 1 ti
i 1
e
f (b ) f ( a )
n
e
f (ti ) f (ti1 )
f (b) f (a ) i 1
e
f (b) f (a )
f (b) f (a )
e
o que mostra que f é integrável.
225
gabarito
3. Basta observar que a integral representa um produto interno no espaço vetorial das fun-
ções contínuas e usar a Desigualdade de Schwarz da Álgebra Linear.
β ( x) α( x)
4. Tome c ∈ ( a, b) . Então, F ( x) f (t ) dt f (t ) dt . Defina
c c
x
g ( x) f (t ) dt . Assim, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, g '( x) = f ( x) .
c
b ( x)
Agora, note que c f (t ) dt g (b ( x)) e pela regra da cadeia obtemos que
d b ( x)
f (t ) dt g ' b ( x) b '( x) f b ( x) b '( x) . Derivando F mem-
dx c
bro a membro e usando a última identidade (e sua análoga para a( x) ) temos o dese-
jado.
5. Basta observar que para qualquer partição P de [a, b] a soma inferior s ( f , P) nunca
será negativa, pois f é não negativa. Sendo contínua, então, f é integrável e vale que
b
b
0 s( f , P) f ( x) dx f ( x) dx .
a
*a
226