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ANÁLISE

MATEMÁTICA

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Destch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
ACESSE AQUI
Dr. Rodrigo André Schulz O SEU LIVRO
NA VERSÃO

Dra. Simone Francisco Ruiz DIGITAL!


EXPEDIENTE

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional
Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo
Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard

FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Antoneli da Silva Ramos C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Projeto Gráfico e Capa Núcleo de Educação a Distância. DESTCH, Denise Trevisoli;
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho CRAVEIRO, Irene Magalhães; KATO, Lilian Akemi; SCHULZ,
Rodrigo André; RUIZ, Simone Francisco.
e Thayla Guimarães
Editoração Análise Matemática.
Denise Trevisoli Destch, Irene Magalhães Craveiro, Lilian Akemi
Matheus Silva de Souza
Kato, Rodrigo André Schulz, Simone Francisco Ruiz.
Design Educacional
Ivana Cunha Martins
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Revisão Textual 226 p.
Nágela Neves da Costa “Graduação - EaD”.
Ilustração 1. Análise 2. Matemática 3. Cálculo Diferencial. EaD. I. Título.
André Azevedo
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 510.7
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-65-5615-022-2

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

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BOAS-VINDAS

Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-


balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de Tudo isso para honrarmos a nossa mis-

qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-

versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-

Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- mento, formando profissionais cidadãos

sional, emocional e espiritual. que contribuam para o desenvolvimento


de uma sociedade justa e solidária.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje,
temos mais de 100 mil estudantes espalhados
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e
em mais de 500 polos de educação a distância
espalhados por todos os estados do Brasil e,
também, no exterior, com dezenas de cursos
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.

A rapidez do mundo moderno exige dos edu-


cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter, pelo menos,
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos,
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino
presencial e a distância.

Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Dra. Denise Trevisoli Destch


Doutorado em Matemática Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2016).
Mestrado em Matemática Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2011).
Graduação em Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Atual-
mente, é professora adjunta da Universidade Federal do Paraná - Setor Palotina.

http://lattes.cnpq.br/0550447189661842

Dra. Irene Magalhães Craveiro


Pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (2015). Doutorado em Ma-
temática pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Mestrado em Matemática
pela Universidade Estadual de São Paulo (1999). Graduação em Matemática pela
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (1996). Atualmente, é professora da
Universidade Federal da Grande Dourados.

http://lattes.cnpq.br/3816000897725516

Dra. Lilian Akemi Kato


Doutorado em Matemática Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2004).
Mestrado em Matemática pela Universidade de São Paulo (1996). Graduação em
Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (1992). Atualmente, é professora
do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá.

http://lattes.cnpq.br/6356641105245996
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Dr. Rodrigo André Schulz


Doutorado em Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2014). Mestra-
do em Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2008). Graduação em
Matemática pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2005). Atualmente, é
professor adjunto da Universidade Federal do Paraná - Setor Palotina.

http://lattes.cnpq.br/3138448810046000

Dra. Simone Francisco Ruiz


Doutorado em Matemática Pura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(2017). Mestrado em Matemática Pura pela Universidade Estadual de Maringá (2013).
Graduação em Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Atualmen-
te, é professora adjunta da Universidade Federal do Paraná - Setor Palotina.

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A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA

ANÁLISE MATEMÁTICA

Seja bem-vindo(a)!

Prezado(a) acadêmico(a), é com muita satisfação que elaboramos este livro. Ele apresenta os
conceitos básicos da Análise Matemática unidimensional, a partir dos temas estudados em
Cálculo Diferencial, em uma variável real.

Nossa principal preocupação, inicialmente, foi descrever, cuidadosamente, os conceitos, teo-


remas e propriedades de cada um dos conteúdos propostos, com as devidas demonstrações
e justificativas, a fim de que você possa desenvolver as habilidades técnicas de demonstração,
utilizadas na Matemática.

Esta abordagem lógico-formal bem como a habilidade no trato com as definições, as proposi-
ções e as demonstrações são fundamentais ao futuro professor de Matemática, pois constituem
o alicerce lógico fundamental de toda Matemática.

Desse modo, na Unidade 1, exploraremos a representação de conjuntos e funções, utilizada,


sistematicamente, nos próximos tópicos.

Na Unidade 2, apresentaremos as propriedades do corpo ordenado completo dos números


reais, os conceitos de sequências, o limite de uma sequência e suas propriedades, a definição
de série numérica e os conceitos de convergência e divergência.

Nas outras unidades, discutiremos o limite, a continuidade e a diferenciabilidade e integrabi-


lidade de funções reais de uma variável real. O estudo dessas unidades requer uma revisão
desses temas, já vistos na disciplina de Cálculo Diferencial, o que facilitará a compreensão dos
resultados apresentados. Recomendamos, portanto, que você tenha seu livro de Cálculo em
mãos para consulta de exemplos e exercícios.

Para melhor aproveitamento deste material, orientamos que a leitura do livro seja bastante
minuciosa, com atenção aos passos indicados nas demonstrações e resoluções de exercícios.
Se preciso, leia várias vezes cada resultado apresentado, redigindo, com suas palavras, as de-
monstrações apresentadas, abstraindo a essência de cada teorema. É importante, também,
que você tire suas dúvidas com os professores mediadores, até sentir-se confiante para fazer
os exercícios indicados e, então, seguir para a aula seguinte.

Para todos os acadêmicos, desejamos um ótimo estudo, com muita garra, dedicação e, conse-
quentemente, muito sucesso.
ÍCONES
pensando juntos

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e


transformar. Aproveite este momento!

explorando ideias

Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco


mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos.

quadro-resumo

No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida


para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos.

conceituando

Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.

conecte-se

Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes


online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor.

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CONTEÚDO

PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
10 UNIDADE 02
58
NOÇÕES NÚMEROS REAIS,
PRELIMINARES SEQUÊNCIAS E SÉRIES

UNIDADE 03
112 UNIDADE 04
150
LIMITE E DERIVADAS
CONTINUIDADE

UNIDADE 05
185 FECHAMENTO
218
INTEGRAIS CONCLUSÃO GERAL
1
NOÇÕES
PRELIMINARES

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Destch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Conjuntos • Par ordenado e
Produto cartesiano • Funções • Números inteiros • Números racionais • Conjuntos finitos, infinitos e
enumeráveis.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Desenvolver habilidades para trabalhar com a linguagem da teoria de conjuntos • Compreender o
conceito de produto cartesiano como um conjunto de pares ordenados • Introduzir a noção de funções
e suas propriedades básicas • Apresentar o conjunto dos números inteiros e desenvolver habilidades
para aplicar os Princípios da Boa Ordem e de Indução • Apresentar o conjunto dos números racionais
• Definir e identificar conjuntos finitos, infinitos e numeráveis.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), você poderá consultar alguns dicionários de Lín-


gua Portuguesa e se deparar com o sinônimo da palavra conjunto: cole-
ção, reunião de objetos de mesma natureza, aglomeração, classe, sistema,
lista ou agrupamento. Neste caso, substituiu-se, apenas, uma palavra por
outra, sem definir o que quer que seja. Para definir um conceito mate-
mático, temos que justificá-lo por meio de outros conceitos conhecidos.
Podemos definir um número par, por exemplo, da seguinte forma: um
número inteiro múltiplo de dois. Nesta definição, utilizamos dois con-
ceitos conhecidos: número inteiro e múltiplo de dois.
Com este exemplo, ilustramos que, para estabelecer um conceito
matemático, precisamos de outro preestabelecido; para esse conceito
anterior, precisamos, ainda, de outro anterior. Dessa forma, é preciso
estabelecer o primeiro de todos os conceitos, que não é baseado por
conceitos anteriores e não pode ser definido. Como o estudo de um
conteúdo matemático parte de algumas premissas, temos que adotar,
sem definir, os primeiros conceitos, chamados de ideias primitivas ou
entes primitivos.
Na teoria dos conjuntos, três noções são adotadas sem definição, ou
seja, são consideradas ideias primitivas: conjunto, elemento e pertinên-
cia entre elemento e conjunto.
Nesta unidade, introduziremos a noção de conjuntos, estes nos for-
necem a linguagem para o tratamento de funções e de outros conceitos
matemáticos, que abordaremos nas unidades posteriores. Definiremos
a relação de inclusão e as seguintes operações entre conjuntos: inter-
seção, união e diferença. Também estabeleceremos o complementar de
um conjunto, aplicações, imagem direta e imagem inversa de conjunto.
Apresentaremos, na sequência, os conjuntos dos números inteiros e dos
racionais, juntamente com suas propriedades, e perceberemos que, para
definir conjuntos finitos, podemos usar uma aplicação bijetora entre
conjuntos, pois, se um conjunto é infinito, então, ele admite uma bijeção
com o conjunto numérico dos inteiros positivos. Também apresenta-
remos a definição de par ordenado, produto cartesiano e funções de
maneira mais formal. Posteriormente, definiremos o que é uma Boa Or-
denação, o Princípio de Indução e definiremosconjuntos enumeráveis.
1
UNIDADE 1

CONJUNTOS

De maneira geral, podemos pensar o conjunto como um agrupamento de objetos


que satisfazem uma mesma propriedade. A partir de 1874, Georg Cantor (1845-
1918) ficou famoso por provocar uma revolução na Matemática, ao desenvolver a
Teoria dos Conjuntos. Na teoria matemática, estabelecida por Cantor (1874), “con-
junto” significa uma coleção de objetos dentro de um todo, ou seja, um conjun-
to é formado por objetos, chamados elementos. O conjunto de apartamentos, por
exemplo, em determinado prédio ou condomínio, os elementos em questão são:
apartamentos nesse condomínio. Outro exemplo seria o conjunto formado por salas
de aula, em determinado bloco da faculdade. Ainda, se olharmos para cada sala de
aula desse bloco, podemos considerar o conjunto das carteiras dentro dessa sala.
A relação entre um objeto e um conjunto é a relação de pertinência. Quando
um elemento x é um dos elementos de um conjunto A , dizemos que x pertence
a A e denotamos por x ∈ A, caso contrário, dizemos que x não pertence a A
e denotamos por x ∉ A.
Uma característica da Matemática é o uso de notações para expressar ideias
e conceitos. É muito importante para o seu desenvolvimento matemático apri-
morar a capacidade de compreender e de se expressar usando esses símbolos.
No parágrafo anterior, apresentamos os símbolos da relação de pertinência. Na
sequência, descreveremos outras notações que serão utilizadas com frequência.

12
Definição 1.1: sejam A e B conjuntos. Dizemos que A é parte de B ou A

UNICESUMAR
está contido em B ou, ainda, B contém A e denotamos por A ⊂ B, se todo
elemento de A é elemento de B . Ou seja,
A  B  (x)( x  A  x  B ).

Neste caso, dizemos que A é um subconjunto de B .

Definição 1.2: sejam A e B conjuntos, dizemos que A é igual a B , e indicamos


por A = B se, e somente se, A ⊂ B e B ⊂ A .
A negação de A ⊂ B, ou seja, A não é subconjunto de B , que indicamos
por A  B , equivale dizer que existe, pelo menos, um elemento de A que não
pertence a B . Se A ⊂ B e A ≠ B, denotamos por A  B, e dizemos que A é
um subconjunto próprio de B .
Muitos conjuntos não são definidos por meio da enumeração de cada um
dos seus elementos. Uma maneira usual de definir conjunto é por meio de uma
propriedade P . Por exemplo, se X é um conjunto formado por brasileiros, a
propriedade P descreve se um cidadão em questão é brasileiro: se x é brasileiro,
então, x satisfaz a propriedade P e vice-versa, se x satisfaz a propriedade P ,
então, x é brasileiro. Denotamos por

X   x ; x satisfaz P .

Se definirmos um conjunto E como o conjunto dos habitantes da Terra, então,


podemos escrever X como X   x  E; x satisfaz P . O conjunto E é cha-
mado conjunto fundamental.
Às vezes, nenhum elemento de um certo conjunto fundamental E satisfaz
determinada propriedade P . Nesse caso, temos um conjunto sem elementos. O
conjunto que não possui elemento algum chamamos conjunto vazio e denotamos
por ∅ .
Proposição 1.1: o conjunto vazio é um subconjunto de qualquer conjunto.
Demonstração: se A é um conjunto qualquer, então, temos duas possibili-
dades:   A ou   A. Caso   A , então, existe um x  , tal que x ∉ A
, o que não é possível, pois, por definição, o conjunto ∅ não possui elemento
algum. Portanto,   A.
Proposição 1.2: sejam A , B e C conjuntos. Se A ⊂ B e B ⊂ C , então,
A⊂C.
13
Demonstração: demonstraremos que, para todo x ∈ A , temos que x ∈ C . Se
UNIDADE 1

x ∈ A , então, x ∈ B , pois A ⊂ B . Como B ⊂ C , então, x ∈ C . Portanto, mostra-


mos que A ⊂ C .

Dado um conjunto A , a coleção de todos os subconjuntos de A , indicada por ( A),


é chamada de conjunto das partes de A . Usamos a notação ( A)   X ; X  A .
Temos que ( A) nunca é vazio, pois   ( A) e A ∈ ( A).
A seguir, temos um exemplo de construção dos conjuntos das partes.
Exemplo 1.1: sejam A  0, 1, a e B   x, y,{x},{x, y} . Determine as
partes de A, ( A) e as partes de B , ( B).
Temos que:

( A)  , A,{0},{1},{a},{0, 1},{0, a},{1, a} .


( B)  {, B,{x},{ y},{{x}},{{x, y}},{x, y},{x,{x}},{x,{x, y}},{ y, {x}},{ y,{x, y}},
{{x},{x, y}},{x, y,{x}},{x, y,{x, y}},{x,{x}, {x, y}},{{x},{x, y}, y}}.
Observe: { x } e { x, y } são elementos do conjunto B .

explorando Ideias

Os diagramas de Venn são, também, utilizados para representar relações entre conjuntos.
Esses diagramas foram criados pelo matemático inglês John Venn e facilitam a visuali-
zação das relações de união e interseção entre conjuntos. Esses diagramas podem ser
bastante úteis para resolver problemas envolvendo organização de dados. No link dispo-
nível a seguir, você encontrará alguns exemplos de problemas, extraídos de vestibulares e
concursos, que podem ser resolvidos usando os diagramas de Venn.Acesse: https://blog.
professorferretto.com.br/subconjuntos-e-conjunto-das-partes/
Fonte: os autores.

Operações entre conjuntos

Dada uma coleção de conjuntos qualquer, admitiremos a existência de um con-


junto cujos elementos pertencem a, pelo menos, um dos conjuntos dessa coleção.
Esse conjunto é chamado união dos conjuntos da coleção. Em particular, quando
esta coleção tem apenas dois conjuntos, definimos da seguinte maneira:
14
Definição 1.3: sejam A e B conjuntos. Cha-

UNICESUMAR
mamos a união de A e B , e indicamos por A ∪ B
o conjunto formado pelos elementos que perten-
cem a A ou a B . Em símbolos,

A  B   x; x  A ou x  B .

Observe que a união de dois conjuntos é um novo conjun-


to cujos elementos são aqueles que pertencem a, pelo menos,
um dos conjuntos.
Segue, diretamente, da definição da operação de união entre conjuntos:
Propriedades da união: sejam A , B e C conjuntos. Temos que:

i. A    A;
ii. A  A  A;
iii. A  ( A  B) e B  ( A  B);
iv. A  B  B  A;
v. ( A  B)  C  A  ( B  C ).

Definição 1.4: sejam A e B conjuntos. Chamamos a interseção de A e B , e


indicamos, por A ∩ B, o conjunto formado pelos elementos que pertencem a
A e a B . Ou seja,

A  B   x; x  A e x  B .

No caso particular em que A  B  , dizemos que os conjuntos A e B são


disjuntos.
Observe que a interseção de dois conjuntos é um novo conjunto formado
apenas pelos elementos que pertencem aos dois conjuntos.
Consideremos os conjuntos A = {m, n, o, p} e B = {q, r , s} , formados por
letras do alfabeto. Observamos que A  B   e, portanto, A e B são disjuntos.
Por outro lado, se considerarmos o conjunto C = {m, p, a, b, c, d }, temos que
A  C  {m, p}, e, neste caso, A e C não são conjuntos disjuntos.
Segue, diretamente da definição da operação de interseção entre conjuntos,
os seguintes resultados:
15
Propriedades da interseção: sejam A , B e C conjuntos. Temos que:
i. A    ;
UNIDADE 1

ii. A  A  A;
iii. A  B  A e A  B  B;
iv. A  B  B  A;
v. ( A  B)  C  A  ( B  C ).

Definição 1.5: sejam A e B conjuntos. A diferença de um conjunto A em


relação ao conjunto B , que indicamos por A − B, é o conjunto formado pelos
elementos que pertencem a A e não pertencem a B . Ou seja,

A  B   x; x  A e x  B .

Consideremos os conjuntos A = {m, n, o, p} e B = {m, p, q, r , s, a, b, c, d } , for-


mados por letras do alfabeto. Observamos que A  B  {o, n}.
Quando B ⊂ A , chamamos a diferença do conjunto A em relação ao con-
junto B de complementar de B em A e indicamos por A ( B).
Segue, diretamente da definição da operação de diferença entre conjuntos:
Propriedades da diferença: sejam A e B conjuntos. Temos que;
i. A    A .
ii. A  A   .
iii. Se A  B   , então, A  B  A e B  A  B;
iv. A ()  A;
v. A ( A)  .

Exemplo 1.2: verifique se a afirmação é falsa ou verdadeira: sejam A , B e C


conjuntos quaisquer. Se A  C  A  B, então, B = C.
A afirmação é falsa. Vejamos o seguinte contraexemplo: considere os con-
juntos A = {a, b, c} , B = {c, d } e C = {a, c, d }. Neste caso,
A  B  {a, b, c, d }  A  C , mas B ≠ C.

conceituando

Provamos, por meio de um contraexemplo, que a afirmação dada no Exemplo 1.2 não
é verdadeira. Reflita o caso similar do Exemplo 1.2 para a operação de interseção, ou
seja, verifique se a propriedade é verdadeira: se A B A C, então, B  C , para
quaisquer conjuntos A, B e C .
16 Fonte: os autores.
2
PAR ORDENADO E

UNICESUMAR
PRODUTO
CARTESIANO

Um par ordenado (a, b) é um par de objetos matemáticos cuja ordem de ocor-


rência destes objetos é significante. Mais precisamente, podemos defini-lo da
seguinte forma.
Definição 1.6: dados dois elementos x e y , o par ordenado de x e y , de-
notado por ( x, y ), com primeira coordenada x e segunda coordenada y , é o
conjunto ( x, y )   x ,  x, y.
De acordo com a Definição 1.6, podemos observar que:

( x, y )   x ,  x, y   y ,  x, y  ( y, x).

Dessa forma, destacamos que a ordem, neste caso, tem importância, o que justi-
fica o nome par ordenado. No par ordenado, a primeira coordenada é chamada
abcissa, e a segunda, ordenada.
Proposição 1.3: Considere os elementos a, b, c e d . Então,
( a , b )  ( c, d )  a  c e b  d .

Demonstração: (⇒) Suponha que (a, b) = (c, d ). Segue da definição que


a , a, b  c , c, d . Dessa forma, faremos duas considerações:
a  c e a, b  c, d  ou a  c, d  e a, b  c. Do primeiro caso,
17
concluímos que a = c e b = d . Do segundo caso, temos a= c= d e a= b= c.
UNIDADE 1

Logo, a= b= c = d e, daí, concluímos a = c e b = d . Portanto, segue o resultado.


(⇐) Reciprocamente, suponha que a = c e b = d , temos que:

a  c e b  d  a  c e b  d   a, b  a  b  c  d   c, d  .

Assim a , a, b  c , c, d .


Portanto, (a, b) = (c, d ).

Definição 1.7: considere dois conjuntos A e B . O produto cartesiano de A e


B é o conjunto A × B , formado por todos os pares ordenados (a, b) , tais que
a ∈ A e b ∈ B. Ou seja, A  B  (a, b); a  A e b  B .
A  B  (0, x), (0, y ), (0, z ), (1, x), (1, y ), (1, z ) .

Exemplo 1.3: sejam A  0, 1 e B   x, y, z . Então:

A  B  (0, x), (0, y ), (0, z ), (1, x), (1, y ), (1, z ) .

Observação: segue da definição de produto cartesiano que:


( x, y )  A  B  x  A ou y  B.

Considere um conjunto qualquer A e seja B  . Temos que A  B  A  


que, por definição, é o conjunto formado pelos pares (a, b), tal que a ∈ A e
b ∈ B . No entanto, como B  , temos que B não possui elemento algum.
Portanto, não existe par (a, b)  A   e, consequentemente, A   . Ana-
logamente,   A  .

18
3

UNICESUMAR
FUNÇÕES

Em sua trajetória como estudante, você já deve ter percebido que o estudo de
funções matemáticas é um dos mais importantes e, historicamente, relevantes
para a construção de toda a ciência. Abordaremos, aqui, portanto, os conceitos
relacionados a esse estudo, fazendo uso do formalismo matemático necessário
para a compreensão dos demais conceitos.
Definição 1.8: sejam A e B conjuntos não vazios. Uma função f de A
em B é uma lei f ,que associa a cada elemento a ∈ A um único elemento
y = f ( x), com y ∈ B. Uma função é simbolizada por:
f: A→ B
x  f ( x).

O conjunto A é chamado domínio da função f , o conjunto B é o contradomí-


nio de , f e f ( x) é a imagem de x por f . Também é comum usarmos o termo
“aplicação” como sinônimo de função.
Não devemos confundir f com f ( x) , pois f é a função e f ( x) é o valor
que a função assume em determinado ponto x do seu domínio.
Para saber se uma regra matemática é uma função, devemos verificar duas
condições:
i. Não deve haver exceções. Sendo A o domínio de f , a regra deve forne-
cer f ( x) para todo x ∈ A .
19
ii. Não deve haver ambiguidades. Para todo x ∈ A , a regra deve fazer um
UNIDADE 1

único f ( x) corresponder x em B .

Uma maneira prática de verificar essas condições é a seguinte:


Definida uma lei f de um conjunto A em um conjunto B , para certificar-
mos que essa lei define uma função f : A → B , mostramos a seguinte implicação
lógica:
a, b A; se a b então f (a ) f (b).

Se X ⊂ A, então, definimos a imagem direta de X por f como o seguinte


subconjunto de B :
f ( X )  { y  B; y  f ( x) para algum x  X }.

Em particular, quando X = A, f ( A) , é denominado conjunto imagem de


f.
Quando Y ⊂ B, definimos a imagem inversa de Y por f como sendo o
seguinte subconjunto de A :

f 1 (Y )  {x  A; f ( x)  Y }.

Exemplo 1.4: sejam A  0, 1, 2, 3, 4 , B  0, 1, 5 e f : A → B, definida por


f=
(0) f=
(1) 0 e f= (2) f= (3) 1, f (4) = 5 .

Temos que f ({0, 1})  {0} e f 1 ({0, 5})  {x  A; f ( x)  {0, 5}}  {0, 1, 4}.
Vejamos, agora, como classificar as funções quanto à injetividade, sobrejeti-
vidade e bijetividade.
Definição 1.9: seja f : A → B uma função. Dizemos que f é injetora ou
injetiva se, para quaisquer a, b ∈ A , tais que f (a ) = f (b), então, a = b.
Definição 1.10: seja f : A → B é uma função. Dizemos que f é sobrejetora
ou sobrejetiva se f ( A) = B, ou seja, se para cada b ∈ B existe a ∈ A, tal que
b = f (a ).
Definição 1.11: seja f : A → B uma função. Dizemos que f é bijetora ou
bijetiva ou, ainda, uma bijeção, se f é injetora e sobrejetora.
A igualdade de funções, por sua vez, é definida da seguinte forma:
Definição 1.12: sejam f : A → B e g : A → B funções. Dizemos que f é
igual a g se, e somente se, f ( x)  g ( x), x  A.
20
Ou seja, para que aconteça a igualdade entre funções, elas devem ter o mesmo

UNICESUMAR
domínio, o mesmo contradomínio e a mesma lei de formação.
Exemplo 1.5: sejam os conjuntos A = {1, 2, 3, 4, 5} e B = {a, b, c, d } e
a aplicação f de A em B , tal que f (1) a=
= , f (2) b= , f (3) c=
, f ( 4) d e
f (5) = c . Temos que f é sobrejetora, pois f ( A) = B. No entanto f não é
injetora, pois f (3)= c= f (5) e 3 ≠ 5 .
Proposição 1.4: seja f : A → B, uma função sobrejetora. Então, para todo
Z ⊂ B, tem-se que f ( f 1 ( Z ))  Z .
Demonstração: de fato, por definição,

f 1 ( Z )  {x  A; f ( x)  Z ;} e f ( f 1 ( Z ))  { y  B; y  f ( x) e x  f 1 ( Z )}.

Seja y  f ( f 1 ( Z )). Logo, y ∈ B e y = f ( x), com x  f 1 ( Z ). Como


x  f 1 ( Z ), então, y  f ( x)  Z . Portanto, f ( f 1 ( Z ))  Z . Reciprocamente,
suponha y ∈ Z . Como y ∈ Z e f : A → B é sobrejetora, temos que existe x ∈ A,
tal que y = f ( x). Temos que y  f ( x)  Z , e isso implica que x  f 1 ( Z ). Logo,
y  f ( x)  f ( f 1 ( Z )) , ou seja, Z  f ( f 1 ( Z )) . Portanto, f ( f 1 ( Z ))  Z .

pensando juntos

Validamos a Proposição 1.4, por meio da definição de igualdade de conjuntos, da defini-


ção de imagem direta e inversa de conjuntos e do conceito de função sobrejetora. Caso
excluíssemos a hipótese de que a função é sobrejetora, qual lado das inclusões continua-
ria verdadeira?

Exemplo 1.6: sejam X e A conjuntos não vazios, tais que X ⊂ A. A função


i : X → A definida por i ( x) = x, para todo x ∈ X é chamada de inclusão. Te-
mos que i é sempre injetiva, porém é sobrejetiva apenas no caso em que X = A.
Quando X = A, denotamos a inclusão por id A : A → A cuja lei de formação é
id A ( x) = x , e id A é chamada função identidade de A . Claramente, temos que
id A é sobrejetiva e injetiva.
Exemplo 1.7: sejam f : X → Y uma função e A ⊂ X . Temos que
f | A: A → Y , definida por f | A ( x)  f ( x), x  A , também é uma função, cha-
mada restrição de f a A . Observe que, se é f injetiva , então, f | A é injetiva.

21
UNIDADE 1

explorando Ideias

Duas funções f e g podem ser combinadas de maneira que possamos obter novas funções,
f
tais como f + g , f – g , f . g e . Estas funções são obtidas de forma similar ao que fazemos
g
quando somamos, subtraímos, multiplicamos e dividimos números reais, cuidando, sem-
pre, da maneira de definir o domínio das funções obtidas destas combinações.
Fonte: os autores.

Composição de funções e função inversa

Conforme citado no último “Explorando ideias”, é possível definir as operações


de soma, subtração, multiplicação e divisão entre funções. Outra combinação
que pode ser feita é a composição de funções. Suponha que existam funções f
e g em que o domínio da função g é igual ao contradomínio da função f .
Neste caso, é possível criar uma função g  f , chamada função composta, a qual
relaciona, diretamente, os elementos do domínio da função f aos elementos do
contradomínio da função g .
Definição 1.13: sejam f : A → B e g : B → C funções tais que o domínio
de g coincide com o contradomínio de f . Definimos como função composta
g  f : A → C por
( g  f )( x)  g ( f ( x)), x  A.

Observe que a função g  f consiste em aplicar, primeiro, f e, depois, g .

Dadas as funções f : A → B, g : B → C e h : C → D , sabemos que a compo-


sição de funções é associativa. De fato, para todo x ∈ A, temos que

 h   g  f   ( x)  h  g  f ( x)   h  g ( f ( x))   h  g  f ( x)    h  g   f  (xx).

Desta forma, podemos fazer a composição entre f , g e h , nesta ordem, de dois


modos, que são h  ( g  f ) e (h  g )  f . Estas duas maneiras de compor funções
conduzem ao mesmo resultado. Portanto, h  ( g  f ) = (h  g )  f .
Em geral, basta que a imagem f ( A) da função f esteja contida no domínio
da g para que a definição de g  f : A → C faça sentido.
22
UNICESUMAR
pensando juntos

Dissemos, anteriormente, que a composição de funções é associativa, ou seja, se conside-


ramos as funções f, g e h definidas de maneira adequada para realizar a composição, vale
a igualdade h  ( g  f )  (h  g )  f . É possível afirmar, também, que a composição de
funções é comutativa, ou seja, sempre vale que f g  g f para quaisquer funções f
e g que possam ser compostas?

Veremos, nos próximos dois exemplos, que a composição de funções preserva as


propriedades de injetividade e sobrejetividade.
Exemplo 1.8: sejam f : A → B e g : B → C funções injetoras. Então,
g  f : A → C é injetora.
De fato, sejam x1 , x2 ∈ A, tais que g  f ( x1 ) = g  f ( x2 ). Queremos provar que
x1 = x2 . Segue da definição que g= ( f ( x1 )) g=
 f ( x1 ) g  f ( x2 ) = g ( f ( x2 )) .
Como g é injetora, temos que f ( x1 ) = f ( x2 ). Mas f também é injetora, e, por-
tanto, x1 = x2 .
Exemplo 1.9: sejam f : A → B, g : B → C funções sobrejetoras. Então,
g  f : A → C é sobrejetora.
De fato, dado z ∈ C , queremos provar que existe x ∈ A tal que g  f ( x) = z.
Como g : B → C é sobrejetora e z ∈ C , existe y ∈ B tal que g ( y ) = z. Também
do fato de que f : A → B é sobrejetora e y ∈ B, existe x ∈ A, tal que y = f ( x).
Logo,= z g= ( y ) g ( f ( x)) = g  f ( x).
Segue, dos Exemplos 1.8 e 1.9, que a composição de duas funções bijetoras é,
também, uma função bijetora.
Dadas as funções f : A → B e g : B → A , dizemos que g é uma inversa à
esquerda de f , quando g  f ( x) = x para todo x ∈ A .
Veremos, na próxima proposição, que uma função f : A → B possui inversa
à esquerda se, e somente se, for injetiva.
Proposição 1.5: seja f : A → B uma função. Existe g : B → A, tal que
( g  f )( x)  x, x  A se, e somente se, f : A → B é injetora.
Demonstração: ( ⇒ ) de fato, suponha a existência de uma função g tal
que ( g  f )( x)  x, x  A . Queremos provar que f : A → B é injetora. Para
isso, sejam x1 , x2 ∈ A, tais que f ( x1 ) = f ( x2 ) . Observe que

x1   g  f  ( x1 )  g  f ( x1 )   g  f ( x2 )    g  f  ( x2 )  x2 .

23
Portanto, f é injetora.
UNIDADE 1

( ⇐ ) Reciprocamente, suponha que f : A → B é injetora, então, cada


y ∈ f ( A) determina um único x ∈ A, tal que y = f ( x). Defina g : B → A
da seguinte forma:= g ( y ) x= , se y f ( x) e g ( y )  a, se y  f ( A), em que a
é um elemento qualquer fixado de A . Observe que a função g não é única e
depende das escolhas de a ∈ A , no caso, em y ∉ f ( A). Desta forma, temos que:
( g  f )( x)  g ( f ( x))  g ( y )  x, x  A. Portanto, segue o resultado.

Dadas as funções f : A → B e g : B → A , dizemos que g é uma inversa à


direita de f quando f  g ( y ) = y para todo y ∈ B .
A próxima proposição nos mostra que uma função f : A → B possui inversa
à direita se, e somente se, é sobrejetiva.
Proposição 1.6: Seja f : A → B uma função. Existe g : B → A, tal que
( f  g )( y )  y, y  B, se, e somente se, f : A → B é sobrejetiva.
Demonstração: ( ⇒ ) de fato, suponha a existência da função g , tal que,
( f  g )( y )  y, y  B. Temos que y  ( f  g )( y )  f ( g ( y )), y  B, ou seja,
para todo y ∈ B, existe x  g ( y )  A, =
tal que y (= f  g )( y ) f ( g ( y )) = f ( x).
Portanto, f é sobrejetiva.
( ⇐ ) Reciprocamente, suponha que f : A → B é sobrejetiva. Então, para
cada y em B , é possível escolher, pelo menos, um x ∈ A, tal que y = f ( x).
Vamos fixar um x para cada y . Tome g ( y ) = x , isso define uma função
g : B → A, tal que f ( g ( y )) = y. 

A próxima proposição nos mostra que se f possui uma inversa à direita e uma
inversa à esquerda, então, elas são iguais.
Proposição 1.7: seja f : A → B uma função. Se existem g : B → A e
h : B → A, tal que ( f  g )( y )  y, y  B e (h  f )( x)  x, x  A, então,
g = h.

24
Demonstração: de fato, como h : B → A e g : B → A são tais que

UNICESUMAR
(h  f )( x)  x, x  A e ( f  g )( y )  y, y  B, então, podemos escrever
h  f = id A e f  g = id B . Além disso,

g ( y )   id A  g  ( y )    h  f   g  ( y )   h   f  g   ( y )   h  id B  ( y )  h( y ), y  B.

Portanto, segue o resultado.


Chamamos uma função g : B → A de inversa da função f : A → B quando
g é a inversa à esquerda e à direita de f . Em outras palavras, temos a definição
seguinte.
Definição 1.14: sejam A e B conjuntos não vazios e f : A → B , uma
função. Dizemos que g : B → A é inversa de f ou que f é uma função
inversível s.e

 g  f  ( x )  x, x  A e  f  g  ( y )  y, y  B

Escrevemos f 1 : B  A para indicar a inversa de f : A → B . Veremos, na


próxima proposição, que uma função f : A → B possui inversa se, e somente
se, for bijetiva.
Proposição 1.8: seja f : A → B uma função. Existe g : B → A, tal que
( g  f )( x)  x, x  A e ( f  g )( y )  y, y  B, se, e somente se, f : A → B
for bijetora.
Demonstração: ( ⇒ ) segue, diretamente, das Proposições 1.5, 1.6 e 1.7.

25
4
NÚMEROS
UNIDADE 1

INTEIROS

Apesar da noção de número real existir anteriormente ao século XIX, foi em


meados desse século que os matemáticos começaram a sentir necessidade
de uma fundamentação rigorosa dos diferentes sistemas numéricos. É inte-
ressante ressaltar que a sistematização dos diferentes conjuntos numéricos
ocorreu na ordem inversa do seu desenvolvimento histórico pelo homem, ou
seja, enquanto, historicamente, surgiram as noções de número natural, inteiro,
racional, irracional, real e complexo, nesta ordem, a sistematização matemá-
tica desses conjuntos ocorreu da seguinte forma: primeiro, organizaram-se
os números complexos, depois, os números reais, os racionais, os inteiros, e
finalmente, os números naturais.
Não faremos, aqui, um estudo sistemático dos conjuntos numéricos em ques-
tão, mas abordaremos esses conjuntos sem nos preocuparmos em descrever a
evolução do conceito de número inteiro, nem tentar explicar sua natureza. Como
em tudo há, sempre, um ponto de partida, admitiremos o conjunto dos números
naturais,   {1, 2, 3, }, o número 0 (zero) e o conjunto dos números intei-
ros ,   {, 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3, }, juntamente, com as operações de adição e
multiplicação em . Esta abordagem será, essencialmente, axiomática, ou seja, a
partir de uma lista, razoavelmente pequena, de propriedades básicas dos números
inteiros, obteremos as demais propriedades. Da mesma forma, abordaremos o
conjunto dos números racionais e reais.
26
Um estudo mais aprofundado da construção dos conjuntos numéricos é feito

UNICESUMAR
por Milies (2003). Ele faz um tratamento completo da construção do conjunto
dos números reais, iniciando com a construção dos números naturais a partir
de três axiomas, conhecidos como axiomas de Peano. O conjunto dos inteiros é
construído a partir dos naturais, por meio de uma relação de equivalência de-
finida nesse conjunto. Da mesma forma, o conjunto dos racionais é construído,
definindo um relação de equivalência em . Em seguida, faz-se a construção
dos números reais.
Os números inteiros ou apenas inteiros são: , 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3,  cujo
conjunto denota-se por . O conjunto dos inteiros  , munido das operações
de adição, denotada por (+), e multiplicação, por (.), possui propriedades funda-
mentais, estas enumeramos a seguir. Para isto, sejam a , b e c números inteiros
quaisquer, então, são válidas as seguintes propriedades:

a) a  b  b  a, a, b  ;

b) a.b  b.a, a, b  ;

c) a  (b  c)  (a  b)  c, a, b, c  ;

d) a.(b.c)  (a.b).c, a, b, c  ;

e) a  0  a, a  ;

f) a.1  a, a  ;

g) a  a  0, a  ;

h) a  a.(1), a  ;

i) a.(b  c)  a.b  a.c, a, b, c  ;

j) 0.a  0, a  ;

k) a.b  0,  a  0 ou b = 0 .

27
Também existe uma relação de ordem entre os inteiros, representada por <, que
UNIDADE 1

lemos: menor do que, e esta relação satisfaz;

l) a  0, a  0 ou 0  a;

m) a  b e b  c  a  c.

n) a  b  a  c  b  c, c  .

o) a  b e 0  c  a.c  b.c;

p) a  b e c  0  b.c  a.c;

Outra notação para relação de ordem menor do que (<) é b > a, que lemos: b
maior do que a , e que significa a < b. Tambémapontaremos, de modo abreviado,
a ≤ b para indicar que a < b ou a = b . Em símbolos, a  b  a  b ou a  b.
Com o mesmo significado, escreve-se b ≥ a, que lemos: b maior ou igual do que
a . Outra notação usada: a ≤ b ≤ c e significa que a ≤ b e b ≤ c.
Dessas 16 propriedades, podemos deduzir outras propriedades no conjunto
dos inteiros. Mas, antes disso, queremos destacar alguns subconjuntos dos intei-
ros, e estes recebem um nome particular:
i. O conjunto dos inteiros não nulos, denotado por * , este pode ser defi-
nido pela propriedade: *  {x  ; x  0};
ii. O conjunto dos inteiros não negativos, denotado por  + , este pode ser
definido pela propriedade:    {x  ; x  0};
iii. O conjunto dos inteiros não positivos, denotado por  − , este pode ser
definido pela propriedade:    {x  ; x  0};
iv. O conjunto dos inteiros positivos, denotado por *+ , este pode ser definido
pela propriedade: *  {x  ; x  0};
v. O conjunto dos inteiros negativos, denotado por *− , este pode ser defi-
nido pela propriedade: *  {x  ; x  0}.

Os inteiros positivos também são denominados números naturais, ou seja,


*  .
Em alguns livros, você pode encontrar que 0 ∈  e, em outros, que 0 ∉  . Esta é
uma questão de abordagem e comodidade, dependendo dos objetivos de cada texto.
28
Boa Ordenação e Princípio da

UNICESUMAR
Indução

O Princípio da Boa Ordem será


abordado, neste texto, como
axioma, e o usaremos para
demonstrar o princípio de in-
dução. O Princípio da Boa Ordem
permite alinhar, sequencialmente,
os elementos do conjunto, partindo do
menor elemento que está no conjunto, o seu elemento mínimo.
O Princípio de Indução é um método de demonstração que pode ser usado
para validar determinada afirmação para todos os números inteiros não negativos
ou em subconjuntos dos números naturais. Neste método, primeiro, provamos
que a afirmação é verdadeira para um valor inicial n0    , e, em seguida, su-
pondo que o processo anterior é válido, devemos provar o processo posterior.
Com isso, todo o processo é validado a partir do valor inicial n0 . O teorema do
Princípio de Indução Finita, que apresentaremos nesta aula, é um dos axiomas
de Peano, apesar de ser um axioma em alguns contextos, no nosso caso, este será
um resultado que validaremos, usando o Princípio da Boa Ordem.
Definição 1.15: seja A ⊂  e A  . Dizemos que A é limitado inferior-
mente, se existir algum inteiro k ∈ , tal que, para todo x ∈ A, temos k ≤ x.
Quando k ∈ A, dizemos que k é o elemento mínimo de A e denotamos por
k = min A.
Exemplos:
1. A  {x  3t ; t   e x  34}. Temos que minA  33;
2. B  {x  ; x  83}. Temos que minB  82;
3. C  {x  3t ; t   e x  33}. Temos que minC = 36;
4. D  {x  3t  1; t   e x  34}. Temos que minD = 37;
5. E  {x  3t  2; t   e x  74}. Temos que minE = 77;
6. min = 1.

Princípio da Boa Ordem: todo subconjunto não vazio dos inteiros não nega-
tivos possui elemento mínimo. Em símbolos:
A    e A    a  A; a  x, x  A.

29
Proposição 1.9: seja A    e A  . Se existe a ∈ A , tal que a = min A,
UNIDADE 1

então, a é único.
Demonstração: sejam a, b ∈ A tal que a = min A e b = min A.
a  min A  a  A e a  x, x  A . (1)
b  min A  b  A e b  x, x  A. (2)

Fazendo x = b em (1), obtemos, em particular, a ≤ b e, fazendo x = a em (2),


temos b ≤ a. Logo, a = b.

Definição 1.16: chama-se módulo de um número inteiro e se denota por | a | o


seguinte número inteiro não negativo:

a se a  0
| a |  .
a se a  0

Ou seja, | a | max{a, a}, em que max{a, −a} denota o maior número dentre
os inteiros a, −a.
Exemplo 1.10: | 6 | max{6, (6)}  6.
Dado a ∈  , seguem, direto da definição, os seguintes resultados:

1. | a | 0  a  0;

2. | a |≥ 0;

3. | a || a |;

4. a ≤| a |;

5. a | a |;

6. | a |= a2 ;

7. Dado um inteiro r > 0, | a | r  r  a  r.

30
Proposição 1.10: dados a, b ∈  com b ≠ 0, então, existe s ∈ , tal que a  s  b .

UNICESUMAR
Demonstração: se a < b, tome s = 1 e observe que a < s.b. Suponha a ≥ b.
Como b ≠ 0, então, dividiremos a demonstração em dois casos.
Caso I: se b > 0, então, b ≥ 1. Agora, multiplicaremos a inequação b ≥ 1 por
|a|, temos | a | b ≥| a | .1 ≥ a. Dessa forma, | a | b ≥ a. Somando b em | a | b ≥ a ,
temos | a | b  b  a  b, ou seja, (| a | 1)b  a  b. Como b > 0, então, a  b  a.
Dessa forma, (| a | 1)b  a. Tome s | a | 1   e observe que sb > a.
Caso II : se b < 0, então, b  0. Como b  0 , então, segue do Caso I, que
existe n ∈ , tal que n(b)  a, ou seja, (n)b  a. Tome s  n  (| a | 1)  .
Portanto, segue o resultado.

Proposição 1.11: Todo conjunto não vazio de inteiros limitado, inferiormente,


tem elemento mínimo.
Demonstração: seja A ⊂ , tal que A   , um conjunto limitado in-
feriormente. Como A é limitado inferiormente, então, existe k ∈ , tal que
k  x, x  A. Se k ∈ A, então, k = min A , e a proposição está demonstrada.
Se k ∉ A, então, considere S  {x  k ; x  A} e observe x  k  0, para todo
x ∈ A. Logo, S    e S  , pois A  . Dessa forma, segue do Princípio da
Boa Ordem que existe s ∈ S , tal que s = minS . Como s ∈ S , então, s  a  k ,
tal que a ∈ A. Se a não for o elemento mínimo de A , então, existem b < a, tal
que b = min A, assim, b  k  a  k  s e b  k  S , absurdo, pois s = minS .

Proposição 1.12: dados a, b ∈  e b ≠ 0 , então, a é múltiplo de b ou se encontra


entre dois múltiplos consecutivos. Ou seja, para cada par de inteiros a, b , existe
um inteiro q , tal que

qb  a  (q  1)b, se b > 0 e qb  a  (q  1)b , se b < 0 .

Não faremos a demonstração da Proposição 1.12, mas ela nos auxiliará na de-
monstração da seguinte proposição.
Proposição 1.13: dados a, b ∈  com b > 0 , existe um único par de inteiros
q e r , tais que a  bq  r , com 0  r  b .
31
Demonstração: aplicaremos a Proposição 1.12 para o par de inteiros a e
UNIDADE 1

b . Assim, existe q ∈  , tal que qb  a  (q  1)b . Logo, 0  a  qb e a  qb  b


. Dessa forma, considerando r  a  qb , vemos que a  bq  r , com 0  r  b .
Resta provar a unicidade. Para isso, suponha que exista outro par de inteiros
q1 e r1 satisfazendo a  bq1  r1 com 0  r1  b . Como bq1  r1  a  bq  r ,
então, qb  r  (q1b  r1)  0 , ou seja, | b(q  q1) || r1  r | . Desta forma, temos
que b | (q  q1) || r1  r | , o que implica que | r1 − r | é múltiplo de b . Mas
0 | r1  r | b implica que | r1  r | 0 e, consequentemente, r = r1 . Sendo
r = r1 , temos que q = q1 .

Teorema 1.1: Princípio de Indução Finita (PIF)

Seja B um subconjunto dos inteiros não negativos. Se B satisfaz:

i. 0 ∈ B;
ii. k  B  k  1  B .

Então, B    .

Demonstração: considere o seguinte conjunto: F  n    ; n  B . Queremos


provar que F é vazio. Se F   , então, segue do Princípio da Boa Ordem e da
Proposição 1.13 que existe c ∈ F , tal que c = mim F é o elemento mínimo
do conjunto F . Como c ∈ F e c = mim F temos, da hipótese i), que c > 0.
Como c > 0, então, c ≥ 1. Dessa forma, temos c −1 que não pertence a F (pois
c = mim F ). Dessa forma, c  1  F , então, c  1  B. Segue da hipótese ii)
que, se c  1  0 e c  1  B, então, (c  1)  1  c  B, que é uma contradição.
Portanto, F  .

32
Segue deste teorema que, sendo n0 um número natural e P (n) , uma sentença

UNICESUMAR
aberta em n    ; n  n0  , tal que:

P (n0 ) é verdadeira;
P(k )  P(k 1) para todo k ≥ n0 .
Então, P (n) é verdade para todo n ≥ n0 .
n(n  1)
Exemplo 1.11: prove que 1  2  3    n  , n  .
2

De fato,
1(1  1)
a) P(1) é verdadeira, pois 1  ;
2

k (k  1)
b) Suponha que P (k ) é verdadeira, isto é, 1  2  3    k  .
2
Somando k +1 a ambos os membros da igualdade, obtemos:
k (k  1)
1  2  3    k  (k  1)  (k  1)  , o que implica em:
2
2(k  1) k (k  1)
1  2  3    k  (k  1)   . Logo,
2 2
(k  1)(k  2)
1  2  3    k  (k  1)  . Portanto, P (k +1) é verdadeira. Se-
2
gue do Princípio de Indução Matemática que P (n) é verdadeira para todo n ≥ 1.

33
5
NÚMEROS
UNIDADE 1

RACIONAIS

Um dos pensamentos mais antigos em Matemática é a ideia de número, não


podemos, todavia, dizer, com precisão, quando este conceito se estabeleceu. An-
tes da formalização do conceito de número racional, o número fracionário era
associado a uma parte de um objeto, que podia ser fragmentado em diversas
partes, e o número, à soma das diversas partes desse objeto. Consta que, no An-
tigo Egito, as partes estavam limitadas a partes de algum comprimento, objeto ou
quantidade, desse modo, elas, ou seja, as frações, tinham o numerador 1. Os egíp-
cios consideravam uma parte do todo e, a partir daí, obtinham outras frações,
por meia dessas. Estas frações eram as mais usadas para decompor em frações
mais gerais, na literatura, elas são chamadas de frações unitárias. Para os egípcios,
era necessário expressar determinada fração como soma de partes, ou de frações

2 1 1
unitárias, por exemplo, a fração era decomposta por mais .
5 3 15
Muitos fatos sobre o conceito de frações aparecem no Papiro de Rhind, tam-
bém conhecido como Papiro Ahmes. Um deles é o conceito de fração dado como
razão entre dois comprimentos. Durante a construção das pirâmides, os egípcios
perceberam que era fundamental manter a inclinação constante das faces de
uma dada pirâmide que estava em construção. Eles se preocupavam com o afas-
tamento horizontal de uma reta oblíqua em relação ao eixo vertical, para cada
34
variação de unidade de altura, essa inclinação (chamada seqt pelos egípcios) era

UNICESUMAR
dada como o quociente do afastamento horizontal pelo vertical. Neste contexto, a
unidade de medidas era o cúbito, quando medido em mãos, um sétimo do cúbito.
Observe que, naturalmente, para estabelecer razões desse tipo, era necessário fa-
zer comparações, por exemplo, o comprimento horizontal e a unidade de medida
(cúbito), o comprimento vertical e a unidade de medida. Quando trabalhamos
com conceito de fração, comparamos, sempre, grandezas de mesmas espécies,
e daí, é necessário escolher uma unidade padrão de mesma espécie. Quando
dizemos que a grandeza é de mesma espécie, comparamos comprimento com
comprimento, área com área, volume com volume, peso com peso etc.
Ainda hoje, comparamos grandezas, pois estamos, sempre, medindo algo.
Mas o que é medir? Nada mais é do que fazer uma comparação. Quando meço
o comprimento da altura de um prédio, por exemplo, 30 metros, na verdade,
comparo o comprimento desse prédio com um padrão de comprimento cha-
mado Metro, então, o meu prédio é 30 vezes maior do que o comprimento de
algo chamado “metro”. Já que medir é comparar, quando quisermos medir algo,
podemos comparar com qualquer coisa. Assim, posso dizer que eu tenho uma
altura de 11 palmos (da minha mão direita).
Por exemplo, podemos medir os segmentos AB e CD, dados na figura,
logo, a seguir, usando, como padrão de comprimento, o segmento. EF, Para
isso, denotaremos, respectivamente, os comprimentos desses segmentos por , AB
CD e EF , e observaremos que A B é 8× EF , e que CD é 5× EF. Usando a
notação atual, escrevemos:
AB 8  EF 8
  .
CD 5  EF 5

A B

E F
C D

Figura 1 - Segmento comensurável 1 / Fonte: os autores.


35
Definição 1.17: dados dois segmentos AB e CD, cujos comprimentos são AB
UNIDADE 1

e CD , respectivamente. Dizemos que AB e CD são comensuráveis se existem


inteiros positivos m e n e um segmento EF de comprimento EF , tais que,
AB  m  EF e CD  n  EF , ou seja,

AB m  EF m
  .
CD n  EF n
No caso particular em que n = 1, temos que: CD = EF
AB m  EF m
   m.
CD EF 1
Observe que podemos usar uma diversidade de outros segmentos de medida EF .
A representação fracionária de um número racional é dada por meio de dois
m
inteiros m e n , com n diferente de zero, que é comum denotar por , que
n
pode ser interpretado como uma, duas, três, quatro etc. partes de um todo, divi-

2
dido em número de partes iguais. Por exemplo, o símbolo é associado a duas
3
4
partes de certo todo particionado em três partes iguais. E é um todo mais uma
3
parte do todo, dividido em três partes iguais. Denotaremos o conjunto dos racio-
m
nais por  , formado por todos os pares de inteiros m , n da forma , tal que
n
n ≠ 0 . Iniciaremos com os racionais do tipo p , em que q = 1 . Tais números
q
p
racionais são identificados com o inteiro p = , e, com certo abuso de lingua-
⊂ 1
gem, dizemos que .
Uma forma de representar, geometricamente, o conjunto dos racionais  é
construir uma reta numerada, considerando o zero como origem e o número 1
em algum lugar dessa reta, tome como unidade de medida a distância entre 0
e 1 , que denotamos por u . Nesta reta, distinguimos dois sentidos de percurso:
o de 0 para 1 , e o de 1 para 0 . Para fazer distinção entre esses dois sentidos, é
usual denominar um deles de positivo (de 0 para 1), e outro, de negativo de (1
para 0), sendo que o número zero é marco inicial, ou seja, a origem. A partir de 0,
36
no sentido positivo, marcamos o segmento unitário de comprimento u ≠ 0, cuja

UNICESUMAR
extremidade representa o número inteiro 1. Os números inteiros são colocados
na reta da seguinte forma: para cada n positivo, a partir de zero, marcamos um
segmento de medida nu  u  u    u , no sentido positivo, cuja extremidade
representa n , e marcamos um segmento de medida nu no sentido negativo,
cuja extremidade representa −n , com isso, para cada inteiro n , existe um ponto
dessa reta associado a ele.
Para representar um racional cujo denominador é b , devemos dividir cada
segmento unitário, ou seja, os segmentos contido na reta cujas extremidades são
n e n +1 , com n inteiro em b partes iguais. Em particular, se b = 3 , represen-
tamos, na reta, todos os racionais, cujo denominador é igual a 3, por exemplo,
1 −1 6 4
, , , ,... etc. Fazendo esse procedimento para todo b ≠ 0 , temos que, para
3 3 3 3
a
todo racional ,existe um ponto nessa reta que construímos associado a ele.
b
Além disso, podemos obter uma classe de racionais associados a um mesmo
ponto dessa reta, esses números racionais são chamados equivalentes, por exem-
4 2 3 1 k
plo, = = = = , em que k ≠ 0. Os racionais equivalentes podem ser
16 8 12 4 4 k
escritos de maneiras diferentes, entretanto, representam a mesma parte de um
a c a c
todo. Dados e dois números racionais,   a.d  b.c .
b d b d
O conjunto dos racionais satisfaz as seguintes propriedades: para quaisquer
a, b, c ∈ , temos:
i) a  b  b  a e a.b = b.a , a, b  ;

ii) a  (b  c)  (a  b)  c , e a.(b.c) = (a.b).c , a, b, c  ;

0
iii) existe 0 = tal que a  0  a, a  ;
1

1
iv) existe 1 = ,tal que a.1  1, a  ;
1
v) dado x ∈  existe  x  , ,tal que x  ( x)  0;

37
UNIDADE 1

1 1
vi) dado x  0, x   existe x   , tal que x.x 1  1;
x

vii) a.(b  c)  a.b  a.c, a, b, c  ;

O conjunto dos racionais tem ordem total cujas operações definidas por adição
e multiplicação são compatíveis com essa ordem. Além disso, a ordem de  é
uma extensão da ordem do conjunto dos números inteiros.
Em , temos que a diferença entre dois inteiros consecutivos é sempre igual a
1, ou seja, para todo n ∈  , a distância entre n e n +1 é igual a 1. A ordem natural
dos inteiros:   4  3  2  1  0  1  2  3  4  
Usamos a seguinte notação para comparar dois números racionais x , y :
x  y  x  y ou x  y.

m m
Proposição 1.14: para cada racional , existe k ∈  , tal que k   k 1.
n n
Demonstração: aplicaremos a Proposição 1.13 para o par de inteiros m e
n , em que n ≠ 0 . Sem perda de generalidade, observe que podemos considerar

m m
n > 0 , pois, se n < 0 ,observemos que  com n  0 . Logo, existem úni-
n n
m r
cos q, r ∈ , tais que m  nq  r , com 0  r  n. Temos que x   q  e
n n

r m r
0  1. Assim, como n > 0, então, q  x   q   q 1. Tomando
n n n
k = q e temos que k  x  k 1 e segue o resultado.

38
UNICESUMAR
a
Dado um número racional qualquer , podemos escolher um representante
b
a
para , de maneira que a e b são primos entre si, ou seja, ambos não têm fator
b
comum ( MDC(a, b) = 1 ), em que MDC denota o Máximo Divisor Comum. O
MDC entre dois inteiros a e b é o maior divisor comum entre a e b . Segue da
definição que

MDC (b, a )  MDC (a, b)  MDC (a, b)  MDC (a, b)  MDC (a, b).

a
Um número racional da forma , tal que a e b , primos entre si, é chamado
b
de fração irredutível.
p 
Proposição 1.15:    ; p, q  , q  0 e MDC ( p, q )  1 .
q 
p 
Demonstração: é claro que  ; p, q  , q  0 e MDC ( p, q )  1  .
q 
p
Reciprocamente, considere x  =
  . Se d MDC(
= p, q ) 1, então:
q
p 
x   ; p, q  , q  0 e MDC ( p, q )  1 .
q 
Caso contrário, d > 1 , além disso, existem k , s ∈ , tais que, p = dk e q = ds.
p dk k
x
Dessa forma, temos que: = = = e o MDC(k , s ) = 1. Portanto,
q ds s
p 
x   ; p, q  , q  0 e MDC ( p, q )  1 .
q 

39
a
Os números racionais costumam ser representados por ,em que a, b ∈ , com
UNIDADE 1

b
b ≠ 0 e esta representação é única se tomarmos as frações na forma irredutível
e com denominadores positivos.
A conversão de uma fração ordinária em decimal se faz por meio da
divisão do numerador, conforme ilustrado no exemplo a seguir.

a 41
Exemplo 1.12: seja = . Ao escrevermos a representação decimal de
b 20
a 41
, temos que = 2, 05.
b 20
O próximo resultado nos fornece condições necessárias e suficientes para que
um número racional tenha uma representação decimal finita.
a
Proposição 1.16: um número racional, na forma irredutível , possui uma
b
representação decimal finita se, e somente se, os fatores primos de b forem 2 ou 5.
Definição 1.18: uma dízima periódica é uma representação decimal da
forma m, a1a2  an , , em que m é um inteiro não negativo e ai são dígitos
(ai ∈ {0, 1, 2, 3, , 9}) para i = 1, 2, 3, , na qual, após um número finito de
dígitos, aparece um bloco de dígitos (chamado período) com a propriedade
que, a partir desse, a lista de dígitos é constituída, exclusivamente, pela repetição
sucessiva deste bloco.
Denotamos m, a1a2  an   m, a1a2  as as 1  an , em que as +1  an é o
bloco de dígitos que se repete. Por exemplo, 2, 34512121212 = 2, 34512.
Exemplo 1.13: 0, 4444 … é um dízima periódica de período 4 e
0, 23574747474  é uma dízima periódica de período 74.
Fazendo x  0, 444  temos que 10 x  4, 4444 , ou seja,
10 x  4  0, 444 . Dessa forma, 10 x  4  x, isto é, 9 x = 4, e daí concluímos

4 4
que x = e uma representação decimal para é 0, 444 ….
9 9

40
6
CONJUNTOS FINITOS,

UNICESUMAR
INFINITOS E
ENUMERÁVEIS

Para facilitar a compreensão dos demais conceitos que serão, aqui, abordados, é
necessário distinguir, quanto ao número de elementos, três tipos de conjuntos:
os finitos, os infinitos e os enumeráveis.
Dado k ∈ , vamos definir o conjunto I k formado pelos naturais de 1 até
k , isto é, I k  1, 2, 3, , k .
Definição 1.19: um conjunto X é finito quando é vazio ou existe k ∈  e
f : I k → X , tal que f é bijeção.
Denotamos por x1 = f (1), x2 = f (2), x3  f (3), , xn  f (n) e
X  {x1 , x2 , , xn }.
A bijeção f chama-se uma contagem dos elementos de X , e o número k
chama-se número de elementos ou número cardinal do conjunto X , e denota-
mos por k = card ( X ).
Exemplo 1.14: para cada n ∈ , o conjunto I n é finito e possui n elementos.
De fato, tome a função f : I n → I n , tal que f ( x) = x. Ou seja, f é a função
identidade no conjunto I n .
Exemplo 1.15: sejam X , Y conjuntos quaisquer e f : X → Y bijeção. En-
tão, X é finito ⇔ Y é finito. Além disso, card ( X ) = card (Y ).
De fato, X é finito se, e somente se, existir k ∈  e uma função g : I k → X ,
tal que g é bijeção. Temos que F : I k → Y , definida F ( x) = f  g ( x) . Como f e
g são bijeções, então, F é bijeção e segue que Y é finito e card (Y ) = k . Recipro-
41
camente, suponha que Y é finito. Então, existe k ∈  e uma bijeção h : I k → Y .
UNIDADE 1

Sendo f : X → Y bijeção existe f 1 : Y  X bijeção. Desse modo, considere


G  f 1  h : I k  X e G é bijeção. Portanto, X é finito e card (Y ) = card ( X ).

Teorema 1.2: seja A ⊂ I n . Se existir uma bijeção f : I n → A, então, A = I n .

Demonstração: faremos a prova por indução sobre n . Para n = 1, temos


que A  I1  {1}. Então, A   ou A = I1. Como f : I1 → A é bijeção, temos
que A  . Logo, A = I1.
Por hipótese de indução, se B ⊂ I n e existe uma bijeção f : I n → B, en-
tão, B = I n . Queremos provar que, se existem certo A  I n1 e uma bijeção
f : I n1  A, então, A  I n1.
De fato, seja A  I n1 e suponha que existe uma bijeção f : I n1  A. Con-
sidere a ∈ A, tal que a  f (n  1). Se A  {a}  I n , então, h : I n  A  {a},
definida por h( x) = f ( x) , é uma bijeção. Assim, por hipótese de indução, temos
que A  {a}  I n . Observe que: I n1  ( A  {a})  {a}  A. Caso A −{a}  I n ,
então, existe x  A {a}, tal que x ∉ I n . Logo, x  n 1. Como f é bijeção e
n  1  A  {a}, então, existe p  I n1 , tal que f ( p )  n 1.
Agora, definiremos a seguinte bijeção: g : I n1  A, tal que g ( x) = f ( x) ,se
x ≠ p e x  n 1, g ( p ) = a e g (n  1)  n  1. A restrição de g a I n é uma bijeção
g |I n : I n  A  {n 1}e, evidentemente, A  {n  1}  I n Então, segue da hipótese de
induçãoque A  {n  1}  I n . Logo, I n1  I n  {n  1}  ( A  {n  1})  {n  1}  A.

Corolário 1.1: seja X um conjunto, tal que f : I m → X e g : I n → X são


bijeções. Então, m = n .
Demonstração: suponha por absurdo que m ≠ n e, sem perda de generalida-
de, podemos assumir que n < m. Como n < m, temos que I n  I m . Dessa forma,
existe g 1 : X  I n e g −1 é bijeção. Além disso, g 1  f : I m  I n é bijeção, e
isso contradiz o Teorema 1.2. Portanto, m = n.

42
Corolário 1.2: seja X um conjunto finito. Se f : X → X é injetiva, então, f

UNICESUMAR
é sobrejetiva.
Demonstração: suponha que X é finito e X  . Logo, existe uma bijeção
j : I n → X . Como j é bijeção, então, existe uma bijeção j 1 : X  I n . Além
disso, j( I n ) = X e j 1 ( X )  I n .

Considere a composição j 1  f  j : I n  I n , conforme diagrama a seguir:

Se f é injetiva, então, j 1  f  j : I n  I n é injetiva. Fazendo


g  (j 1  f ) : X  I n e A = g ( X ), temos que g : X → A, é bijeção. Como
A ⊂ I n e g j : I n → A é bijeção. Observe o diagrama.

Assim, pelo Teorema 1.2 que A = I n . Dessa forma, I n  A  (j 1  f )( X ), logo,


j( I n ) = f ( X ). Como j( I n ) = X , então, X = f ( X ) e f é sobrejetiva.

Corolário 1.3: sejam X e Y conjuntos, tal que X é finito. Se Y ⊂ X e


f : X → Y é bijeção, então, Y = X .
Demonstração: se X é finito e X   , então, existe uma bijeção
j : I n → X tal que j( I n ) = X e f (X ) = Y. Façamos
1 j A → X j
A  j (Y )  {x  I n ; j ( x)  Y }  I n . Seja A| : a função restrita a
A .Observe que j | A ( A)  j (j 1 (Y ))  Y , pois j , em particular, é sobrejetiva.
Dessa forma, podemos definir g : A → Y , tal que g ( x) = j | A ( x) e, claramente,
g é uma bijeção.

43
Dessa forma, obtemos uma bijeção de A ⊂ I n para I n . Como os conjuntos
UNIDADE 1

são finitos, temos que A = I n . Observe que

I n  A  j 1 (Y )  j ( I n )  j (j 1 (Y ))  Y .

Como j( I n ) = X , segue que X = Y .

Proposição 1.17: se X é finito e X   , então, a  X , X −{a} é finito.


Demonstração: de fato, X finito implica que existe f : I n → X bijetora.
Se n = 1, então, X  {a}  . Suponha n > 1, e seja a ∈ X . Se f (n) = a, con-
sidere a aplicação t : I n1  X  {a} definida por t ( x) = f ( x) e observe que
t é bijeção. Logo, X −{a} é finito. Se f (n) ≠ a, então, existe p ∈ X , tal que
f (n) = p e s ∈ I n , com f ( s ) = a . Dessa forma, defina a bijeção g : I n → X ,
tal que g ( x) = f ( x) , se x ≠ n e x ≠ s, g ( s ) = p e g (n) = a. Agora, considere a
bijeção l : I n1  X  {a}, definida por l ( x) = g ( x) . Assim, novamente, teremos
que X −{a} é finito.

Teorema 1.3: todo subconjunto de um conjunto finito é finito.


Demonstração: provaremos que se X é finito e Y ⊂ X , então, Y é finito.
A prova será feita por indução sobre a cardinalidade de X . Se card ( X )= n= 1,
então, X = {x1} e os subconjuntos de X são X , portanto, finitos. Suponha que
o resultado é válido para todo conjunto de cardinalidade n . Seja X , tal que
card ( X )  n 1. Queremos provar que dado Y ⊂ X , Y é finito. Segue da de-
finição que card ( X )  n 1, então, existe uma bijeção f : I n1  X . Se X = Y
, não há nada para demonstrar. Suponha que Y  X e, assim, existe a ∈ X , tal
que a ∉ Y . Dessa forma, temos Y  X {a} e card ( X  {a})  n , por hipótese
de indução, Y é finito.

Definição 1.20: um conjunto X ⊂  é limitado se existe p ∈ , tal que


x  p, x  X .
44
Corolário 1.4: seja X ⊂ . Então, X é finito se, e somente se, X for limi-

UNICESUMAR
tado.
Demonstração: suponha X finito e escreva X  {x1 , x2 , , xn }. Tome
p  x1  x2  xn e observe que x  p, x  X . Logo, X é limitado. Recipro-
camente, suponha que X é limitado, ou seja, existe p ∈ , tal que x ≤ p, para
todo x ∈ X . Considere o conjunto I p  {1, 2, 3, , p} e observe que X ⊂ I p .
Como I p é finito e X ⊂ I p , segue que X é finito.

Definição 1.21: um conjunto X é infinito quando X não é finito, ou seja,


X   , e seja qual for n ∈ , não existe bijeção f : I n → X .
Exemplo 1.16: o conjunto dos números naturais é infinito.
De fato, seja qual for n ∈ , n > 1 e f : I n →  , tome
p  f (1)  f (2)  f (n). Temos que p ∈  e p ∉ f ( I n ). Logo, f não é
sobrejetiva e, portanto,  é infinito.
Teorema 1.4: seja X conjunto. Se X é infinito, então, existe uma função
injetiva f :  → X .
Demonstração: de fato, como X  , podemos considerar x1 ∈ X . Faça
f (1) = x1 e P1 = X . Considere P2  X {x1} e observe P2  , pois X é infi-
nito. Dessa forma, seja x2 ∈ P2 e faça f (2) = x2 e P3  X {x1 , x2 } , observe que
P3  . Analogamente, considere Pn  X  {x1 , x2 , , xn1} e veja que Pn  ,
pois X é infinito. Seja xn ∈ Pn e defina f (n) = xn , isto é,
f: X
n  xn , xn  Pn .

Provemos que f é injetiva. Para isso, sejam m, n ∈  , tais que m ≠ n. Como m ≠ n,


então, m > n ou m < n. Suponha, sem perda de generalidade, que m < n. Temos
que xm  Pm  X  {x1 , x2 ,, xm1}e xn  Pn  X  {x1 , x2 ,, xm1 , xm ,, xn1}.
Logo, xm ∉ Pn e f (m)  xm  xn  f (n). Portanto, f é injetiva.

Os conjuntos infinitos podem ser caracterizados por meio do seguinte resultado:


Corolário 1.5: seja X um conjunto. O conjunto X é infinito se, e somente
se, existe Y  X e j : X → Y bijeção.
45
Demonstração: suponha que X é infinito, então, existe uma função injetiva
UNIDADE 1

f :  → X com f (n) = xn e f ()  {x1 , x2 ,  xn , }.Defina g : f ()  {x1}  X


por g ( xn )  g ( xn1 ) , n  1, 2, 3, . Em seguida, considere Y  X {x1} e defina
g ( x) , se x f () {x1}
j : X → Y por. ϕ( x)
x, caso contrário

É claro que j é sobrejetiva. Mostremos a injetividade. Sejam x, y ∈ X , com


x ≠ y , temos que mostrar que j ( x) ≠ j ( y ) e, para isso, são três casos a consi-
derar:
■ Caso 1: se x, y  f ()  {x1} , então, digamos
que x = xi e y = x j com i ≠ j pois x ≠ y . Logo,
j ( x)  j ( xi )  g ( xi )  xi 1  x j 1  g ( x j )  j ( x j )  j ( y ), ou seja,
j ( x) ≠ j ( y ) .
■ Caso 2: se x, y  f ()  {x1} , então, j ( x)  x  y  j ( y ) , ou seja,
j ( x) ≠ j ( y ) .
■ Caso 3: se x  f ()  {x1} e y  f ()  {x1} , então, j( x) ∈ f () e
j( y ) ∉ f () . Logo, j ( x) ≠ j ( y ) .

Assim, em qualquer caso, temos que j ( x) ≠ j ( y ) , o que mostra a injetividade.


Reciprocamente, suponha, por absurdo, que X é finito. Como existe Y  X e
j : X → Y bijeção, pelo Corolário 1.3, segue que X = Y , o que é um absurdo,
pois Y  X .

Exemplo 1.17: seja   {z  2 x; x  } o conjunto dos pares. Temos que  é


infinito. De fato, considerando Y  { y  4 x; x  } , temos que Y  P . Defina a
bijeção j :  → Y , por j( z ) = 2 z . Para todo y ∈ Y , y = 4.x , para algum x ∈ 
e j(= 2 x) 2= .2 x 4 x = y. Portanto, j é sobrejetora. Sejam z1 , z2 ∈  , tais que
j ( z1 ) = j ( z2 ). Logo, 2 z1 = 2 z2 e, consequentemente, z1 = z2 e j é injetiva. Por-
tanto,  é infinito.

Exemplo 1.18: seja X  { y  3 x ; x  }. Temos que X é infinito.


Após definir os conjuntos finitos e infinitos, estamos aptos a apresentar o
conceito de conjuntos enumeráveis.

46
Definição 1.22: um conjunto X é enumerável quando X é finito ou existe

UNICESUMAR
uma bijeção f :  → X . Neste caso, f denomina-se enumeração dos elementos
de X .
Exemplo 1.19: o conjunto dos números naturais é enumerável, pois definida
por f (n) = n é bijeção.
Exemplo 1.20: o conjunto dos números naturais pares X =  é enumerável,
pois j :  → , definida por j( x) = 2 x é bijeção.
Exemplo 1.21: o conjunto dos números inteiros X =  é enumerável, pois
j :  → , definida por

 n
 , se n é par
2
ϕ ( n ) = 
− n −1 , se n é ímpar
 2

é bijeção.

De fato, sejam x1 , x2 ∈ , tal que j ( x1 ) = j ( x2 ). Temos que x1 e x2 tem a


mesma paridade, pois j ( x1 ) = j ( x2 ) . Logo, x1 e x2 tem o mesmo final.
x1 x2
Se x1 , x2 são pares, então, j ( x1 ) = j ( x2 ) implica que = , ou seja,
2 2
x1 = x2 . Se x1 , x2 são ímpares, então, j ( x1 ) = j ( x2 ) implica que:
x1  1 x 1
   2 , ou seja, x1 = x2 . Em ambos os casos, temos que j é injetiva.
2 2
Para provar a sobrejetividade, seja y ∈ . Logo, y > 0 ou y ≤ 0. Se y > 0,
2y
j( x) f=
tome x  2 y   e observe que = (2 y ) = y. Se y ≤ 0 , tome
2

(2 y  1)  1
x  2 y  1   e veja que f ( x)  f (2 y  1)    y. Portanto, j
2
é sobrejetiva. Portanto, j :  →  é bijeção, de onde segue que  é enumerável.

47
Teorema 1.5: todo subconjunto X ⊂  é enumerável.
UNIDADE 1

Demonstração: de fato, se X é finito, por definição, X é enumerável. Dessa


forma, suporemos X infinito. Logo, X   e X ⊂ . Segue do Princípio da
Boa Ordem que existe x1 ∈ X , tal que x1 = min( X ). Faça B1 = X . Agora, faça
B2  X {x1} e veja B2   . Então, existe x2 = min( B2 ). Da mesma forma,
existe x3 = min( B3 ), em que B3  X {x1 , x2 }.
Definiremos por indução uma bijeção f :  → X da seguinte for-
ma: x1 = f (1), x2  f (2), x3  f (3), , xn = f (n), em que xn = min( Bn )
e Bn  X  {x1 , x2 ,, xn1}. Provemos que f é bijeção. Sejam a, b ∈ ,
tais que a ≠ b. Suponha, sem perda de generalidade, a < b. Temos que
xa  Ba  X  {x1 , x2 , , xa 1} e xb  Bb  X  {x1 , x2 , , xa 1 , xa , , xb1}.
Logo, xa ≠ xb e f (a ) ≠ f (b) , f é injetiva.
Temos que f ()  X  X  f ()  . Suponha, por absur-
do, que X  f ()  , ou seja, existe x  X  f (). Por construção,
B1  B2  B3    Bn  . Como f (n) = xn , com xn ∈ Bn , para todo ,
n ∈  temos que x > f (n), para todo n ∈  e, assim, concluímos que f () é li-
mitado, o que é uma contradição, pois f :  → f () é bijetiva e  é infinito, o
que implica que f () é infinito. Portanto, f () = X e f é sobrejetiva. Como
f :  → X é bijeção, temos que X é enumerável, como queríamos demonstrar.

Corolário 1.6: se f : X → Y é injetiva e Y é enumerável, então, X é enumerável.


Demonstração: por hipótese f : X → Y é injetiva. Então, t : X → f ( X ) ,
definida por t ( x) = f ( x) , é bijetiva. Sendo Y enumerável, temos que Y é finito
ou existe f :  → Y bijetora.
Caso Y seja finito, temos que f ( X ) ⊂ Y e, portanto, f ( X ) é finito.
Mas, como t : X → f ( X ) é bijeção, concluímos que X é finito. Logo, X é
enumerável.
Caso exista f :  → Y bijeção, temos que f 1 :Y   e, como f ( X ) ⊂ Y
, temos que f 1 ( f ( X ))   . Pelo Teorema 1.5 segue que f −1 ( f ( X )) é enu-
merável. Sendo f −1 ( f ( X )) enumerável, por definição, existe uma bijeção
s : f 1 ( f ( X ))   . Defina y : X →  por ψ ( x)  ( s  φ 1  f )( x) e observe
que y é uma bijeção. Logo, X é enumerável.


48
Perceba que o corolário anterior nos garante que todo subconjunto de um

UNICESUMAR
conjunto enumerável é enumerável. De fato, quando X ⊂ Y e Y é enume-
rável, concluímos que X é enumerável, pois a função inclusão i : X → Y é
sempre injetiva. Dessa forma, segue do Corolário 1.6 o resultado.
Corolário 1.7: se f : X → Y é sobrejetiva e X é enumerável, então, Y
é enumerável.
Demonstração: com efeito, como f : X → Y é sobrejetiva, então, para
cada y ∈ Y , existe x ∈ X , tal que y = f ( x). Dessa forma, para cada y ∈ Y ,
escolheremos um único x ∈ X , tal que y = f ( x) , e definiremos g : Y → X
com g ( y ) = x, se f ( x) = y.
Observe que f=  g ( y ) f=
( g ( y )) f ( x) = y. Temos que g é injeti-
va, pois, se para quaisquer y1 , y2 ∈ Y , tal que g ( y1 ) = g ( y2 ), temos que
f ( g ( y1 )) = f ( g ( y2 )). Logo, y1 = y2 . Como g : Y → X é injetiva e X é
enumerável, segue do Corolário 1.6 que Y é enumerável.

Definição 1.23: dados dois conjuntos quaisquer X e Y . Dizemos que X e Y


têm o mesmo número cardinal se existe uma bijeção f : X → Y . Neste caso, es-
crevemos card ( X ) = card (Y ) . Além disso, dizemos que card ( X ) < card (Y )
, se existe f : X → Y injetiva e não existe função sobrejetiva de X em Y .
Observe que dois conjuntos finitos têm o mesmo número cardinal se, e
somente se, possuírem o mesmo número de elementos.
Exemplo 1.22: temos que j :  → , definida por j( x) = 2 x , é bijeção.
Logo,
card () = card ().

Exemplo 1.23: temos que j :  → , definida por:


n
, se n é par
ϕ(n) 2
é bijeção. Logo, card () = card ().
n 1
, se n é ímpar
2

49
Exemplo 1.24: seja n ∈ . Temos que card ( I n ) < card (). De fato, é claro que
UNIDADE 1

existe f : I n →  injetiva, basta considerar a função inclusão. Além disso, para


qualquer que seja j, j : I n →  , esta função não pode ser sobrejetiva. Para ver
isso, tome p  j (1)  j (2)  j (n). Veja que p ∈  e p ∉j( I n ). Logo, j
não é sobrejetiva. Portanto, card ( I n ) < card ().

explorando Ideias

Depois dos Elementos de Euclides, 300 a. C., poucos matemáticos influenciaram tanto o
modo de apresentar a Matemática quanto Georg Cantor (1845-1918). Cantor nasceu na
Rússia e cresceu na Alemanha. Ao estudar séries trigonométricas, deparou-se com certas
questões da Análise Matemática que o levaram a criar a Teoria dos Conjuntos e toda a
teoria sobre infinito. Na época de Cantor, os matemáticos conservadores desprezavam os
estudos sobre os números irracionais, o conceito de infinito e tudo o que se relacionava
a eles. Em particular, Leopold Kronecker (1823-1891), professor de Cantor, liderava uma
campanha contra esses estudos e contra seu próprio ex-aluno. O conflito acadêmico fez
com que a entrada de Cantor em círculos de mais altos níveis da Matemática fosse bar-
rada. Pessoalmente, Cantor acreditava que existiam vários níveis de infinito. O mais alto
deles, o Absoluto e inatingível, era o próprio Deus.
Mais informações sobre este matemático, você encontrará acessando os links, a seguir.
https://impa.br/noticias/georg-cantor-1845-1918-pai-do-infinito-e-do-icm/
https://www.somatematica.com.br/biograf/cantor.php
Fonte: os autores.

50
CONSIDERAÇÕES FINAIS

UNICESUMAR
Nesta unidade, introduzimos, de maneira breve, a linguagem de conjuntos
e funções, utilizada, sistematicamente, nas unidades seguintes. Como dito
no início desta unidade, o uso de notações para expressar ideias e conceitos
é uma característica da Matemática, por isso, émuito importante para o seu
desenvolvimento matemático aprimorar a capacidade de compreender e se
expressar, usando esses símbolos. Uma vez que essa é a linguagem natural
da Matemática no ambiente acadêmico, imaginamos que você já tenha certa
familiaridade com este tipo de escrita.
Também abordamos os conjuntos finitos, infinitos e enumeráveis, apresen-
tando critérios que permitem classificar conjuntos quanto a estes conceitos,
pois saber distinguir conjuntos quanto ao número de elementos é essencial
para a compreensão de outros conceitos, abordados no decorrer deste livro.
No estudo de conjuntos finitos, infinitos e enumeráveis, é essencial o concei-
to de função, o objeto matemático básico do Cálculo Diferencial e Integral.
Neste sentido, tratamos de funções de maneira breve, destacando apenas as
propriedades básicas, utilizadas no decorrer deste texto, tais como injetivi-
dade, bijetividade, sobrejetividade, composição de funções e função inversa.
Apresentamos o conjunto dos números inteiros e dos racionais, descre-
vemos alguns resultados e enfatizamos suas nomenclaturas e representações.
Tratamos, também, do Princípio da Boa Ordem e do Princípio de Indução
Finita. O Princípio da Boa Ordem foi apresentado como axioma e utilizado
para demonstrar o Princípio de Indução. Este é um método de demonstra-
ção que pode ser usado para validar determinada afirmação para todos os
números inteiros não negativos ou em subconjuntos dos números naturais.
Embora tenhamos explorado poucas propriedades dos conjuntos numéricos,
deixamos a sugestão para que você pesquise mais sobre eles. Este é um tema
muito amplo e pode ser um bom assunto para projetos acadêmicos ou tra-
balhos de conclusão de curso.
Esta unidade foi elaborada com o intuito de facilitar sua compreensão a
respeito dos demais conceitos, que apresentaremos a partir de agora. Espera-
mos que os assuntos, nesta primeira unidade, possam auxiliá-lo no decorrer
do livro. E, sempre que for necessário, não hesite em retomar algum tópico
que, aqui, tratamos.

51
na prática

1. Prove que X se e Y são conjuntos quaisquer, então,


X  Y  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ) .

2. Prove que, Xse e Y são conjuntos quaisquer, então.


( X  X  Y )  (Y  X  Y )   .

3. Em relação ao conteúdo estudado neste livro, considere as seguintes afirmações:

I - Considere os conjuntos A  a  6t ; t   e B  b  3t ; t   . Temos


que A ⊂ B .
II - Sejam f : X → Y e g :Y → Z funções. Se g f é bijeção, então, f e g
são bijetores.
III - Para todo x ∈  , temos que x 2 ≥ 0.
1 1
IV - Sejam a, b ∈  tais que a, b > 0 . Se a > b , então, < .
a b
É correto o que se diz em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

52
na prática

4. Com base no conteúdo estudado neste livro, prove por indução:

1 1 1 n 1
a)      , para todo n >1 .
1 2 2  3 (n  1)  n n
b) 10n -1 é divisível por 9, para todo n ∈  .

5. Com base no conteúdo estudado neste livro, prove as afirmações a seguir:

a) Sejam X e Y conjuntos finitos disjuntos. Então,


card ( X  Y )  card ( X )  card (Y ) .
b) Sejam X e Y conjuntos finitos, tais que Y ⊂ X e X é finito. Então,
card ( X  Y )  card ( X )  card (Y ).
c) Sejam X e Y conjuntos finitos. Então,
card ( X  Y )  card ( X )  card (Y )  card ( X  Y ) .

53
aprimore-se

FANTASIA MATEMÁTICA

Uma maneira ilustrativa de representar o problema do infinito na Matemática pode


ser apresentada com a charada do Hotel Infinito, ou Grande Hotel Georg Cantor.
Nesta charada, imagine que alguém chega à recepção de um hotel e solicite uma
vaga. O gerente, prontamente, diz que não há mais quartos disponíveis, pois, ape-
sar de existirem infinitos quartos, todos estão ocupados. Existe, no entanto, uma
maneira de obter uma vaga no hotel. Uma das alternativas pensadas pelo gerente
do hotel para solucionar o problema foi a seguinte: deslocar o hóspede do primei-
ro quarto para o segundo; o hóspede do segundo quarto, por sua vez, deveria ser
deslocado para o terceiro. Naturalmente, o do terceiro quarto seria deslocado para
o quarto de número 4 e, assim, sucessivamente, infinitas vezes. Desta forma, ne-
nhum hóspede ficaria sem quarto, pois existem infinitos deles e o problema estaria
resolvido.
A seguir, descrevemos uma das formas como a narrativa desta charada é apre-
sentada:
O Grande Hotel Georg Cantor tinha uma infinidade de quartos, numerados con-
secutivamente, um para cada número natural. Todos eram igualmente confortáveis.
Em um fim de semana prolongado, o hotel estava com seus quartos todos ocupa-
dos, quando chega um viajante. A recepcionista vai, logo, dizendo:
— Sinto muito, mas não há vagas.

54
aprimore-se

Ouvindo isto, o gerente interveio:


— Podemos abrigar o cavalheiro, sim senhora.
E ordena:
— Transfira o hóspede do quarto 1 para o quarto 2, passe o do quarto 2 para o
quarto 3 e, assim, por diante. Quem estiver no quarto n , mude para o quarto n +1.
Isto manterá todos alojados e deixará disponível o quarto 1 para o recém-chegado.
Logo depois, chegou um ônibus com 30 passageiros, todos querendo hospeda-
gem. A recepcionista, tendo aprendido a lição, removeu o hóspede do quarto n
para o quarto n + 30 e acolheu, assim, todos os passageiros do ônibus. Mas ficou
sem saber o que fazer quando, horas depois, chegou um trem com uma infinidade
de passageiros. Desesperada, apelou para o gerente que, prontamente, resolveu o
problema, dizendo:
— Passe cada hóspede do quarto n para o quarto 2n . Isto deixará vago todos
os quartos de número ímpar, nestes colocaremos os novos hóspedes.
— Pensando melhor, mude quem está no quarto n para o quarto 3n . Os novos
hóspedes, ponha-os nos quartos de número 3n + 2 . Deixaremos vagos os quartos
de número 3n + 1 . Assim, sobrarão, ainda, infinitos quartos vazios, e eu poderei ter
sossego por algum tempo.

Fonte: adaptado de Lima et al. (2016).

55
eu recomendo!

livro

Apologia da História ou Ofício do Historiador


Autor: Marc Léopold Benjamin Bloch
Editora: Zahar
Sinopse: Bloch escreveu as ideias deste livro enquanto era pri-
sioneiro de guerra. Mais tarde, foi fuzilado pelos nazistas. Não
pôde concluir o último dos cinco capítulos que compõem esta
obra, mas nem por isso ele perdeu seu valor em mostrar o ver-
dadeiro trabalho de um historiador, que legitima a História como ciência e define
métodos, objetivos e práticas. Nesta obra, o autor defende a chamada “História
Problema’’, na qual se produz uma historiografia analítica e problematizadora, ao
invés de um conto a partir de uma visão positivista do autor. Com isso, defende a
história como uma ciência que busca um diálogo entre todas as áreas, mostrando
que estas não são estanques e independentes umas das outras.

56
eu recomendo!

filme

Enigma
Ano: 2001
Sinopse: em março de 1943, a equipe de elite dos decodificadores
da Inglaterra tem uma responsabilidade monumental: decifrar o
Enigma, um código ultrasseguro utilizado pelos nazistas para en-
viar mensagens aos seus submarinos. O desafio fica ainda maior
quando se sabe que uma grande esquadra de navios mercantis
está prestes a cruzar o Atlântico e cerca de dez mil homens corre-
rão perigo caso a localização dos submarinos alemães não seja logo descoberta,
o que apenas poderá ocorrer quando o Enigma for decifrado. Para liderar este
trabalho é chamado Tom Jericho (Dougray Scott), um gênio da matemática que
consegue realizar tarefas consideradas impossíveis pelos especialistas. Porém,
ao mesmo tempo em que Jericho se envolve cada vez mais com a decodificação
do Enigma, ele precisa atentar-se à sua namorada Claire (Saffron Burrows), uma
sedutora e misteriosa mulher que pode estar trabalhando como espiã para os
alemães.

conecte-se

Um interessante documentário produzido pelo History Channel conta a história


do número 1. Disponível no link a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=3rijdn6L9sQ

57
2
NÚMEROS REAIS,
SEQUÊNCIAS
E SÉRIES

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Números reais • Sequências • Séries.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar as propriedades do corpo ordenado completo dos números reais • Compreender os con-
ceitos de sequências e de limite de uma sequência, sequência limitada e ilimitada, com as suas res-
pectivas propriedades • Compreender a definição de série numérica e os conceitos de convergência
e divergência.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), uma sequência é um tipo especial de função cujo


domínio é o conjunto dos números naturais, o contradomínio é o conjunto
dos números reais, e a imagem é um subconjunto dos números reais. De-
notamos a sequência por  x1 , x2 , , xn , , cada número xn é chamado
de um termo da sequência.
Os termos de uma sequência podem ser definidos, segundo o
valor do índice n ou de forma recorrente, dependendo dos termos
anteriores. Os termos de uma progressão geométrica ou aritmética
fornecem um exemplo de sequência.
Um aspecto importante das sequências é o conceito de conver-
gência, isto é, se os termos da sequência se aproximam ou não de
algum número real, à medida que aumentamos o valor de seu índice.
Isto definiremos, de forma precisa, nesta unidade.
Um segundo conceito que trabalharemos, aqui, é o conceito das
séries numéricas, pois são de grande importância na Matemática,
uma vez que possibilitam modelar, matematicamente, alguns pro-
cessos discretos e infinitos.
De forma bem superficial, podemos dizer que uma série deve
fornecer-nos a soma dos infinitos termos de uma sequência. A ideia
do cálculo dessa soma consiste em construir uma nova sequência,
somando um termo de cada vez, e verificar se esta nova sequência
converge ou não.
Antes da fundamentação do estudo de séries, o cálculo de uma
soma com infinitas parcelas intrigava os matemáticos, pois conduzia
a situações paradoxais. Um deles é o paradoxo de Zenão de Eleia,
caracterizado pelo fato de não poder executar um número infinito de
passos em um tempo finito. Quando se descobriu que séries infinitas
convergem para valores finitos, o paradoxo perdeu a força, uma vez
que não é mais necessário um tempo infinito para executar uma soma
de infinitas parcelas.
INTRODUÇÃO

Nesta unidade, apresentaremos, portanto, o conjunto dos núme-


ros reais, explorando a sua representação geométrica, e as diversas
propriedades referentes a esse conjunto, extensões das propriedades
dos números racionais, que admitiremos como axiomas.
Em seguida, definiremos alguns subconjuntos especiais da reta,
chamados intervalos, e exploraremos os conceitos de ínfimo e su-
premo de um subconjunto, o que permitirá validar a inexistência de
números racionais cujo quadrado vale 2.
Na sequência, abordaremos as definições de sequências e séries
de números reais, acrescentando suas respectivas propriedades, por
exemplo, os critérios de convergência de tais sequências e séries. Além
disso, abordaremos exemplos de alguns números decimais que po-
dem ser representados por meio de somas infinitas.
1

UNICESUMAR
NÚMEROS REAIS

Agora que conhecemos o contexto dos números racionais, queremos convidá-


-lo(a) a continuar em nossa jornada de estudos, por isso, propomos a seguinte
a
reflexão: dado um ponto da reta, é possível encontrar um número racional
b
associado a este ponto? Esta questão, no século V a. C., representou uma derrota
para os pitagóricos. A origem histórica da necessidade da construção dos nú-
meros racionais relaciona-se à dificuldade de natureza geométrica: como obter
a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo isósceles cujos catetos têm
uma unidade de medida?
2 2 2
O Teorema de Pitágoras nos garante que h  c1  c2 , sendo h a hipotenusa,
c1 e c2 , os catetos de um triângulo retângulo. Em particular, se c=
1 c=2 1 , então,
2
h = 2e e, neste caso, denotamos a medida desse segmento por h = 2, número
esse desconhecido pelos pitagóricos. Por mais que existam infinitos racionais entre
quaisquer dois outros racionais, ou seja, dados a , b racionais com a ≤ b , sempre,
existe c  a  b com a ≤ c ≤ b, esses números não cobrem a reta numérica toda,
2
ou seja, nem todo ponto P da reta corresponde a um racional. O número h cor-
responde ao ponto P da reta, obtido por meio do traço de uma circunferência,
centrada em 0 de raio igual à hipotenusa h, que está na interseção da reta com
essa circunferência. Este fato colabora para a existência de um número que não é
a
racional, ou seja, esse número não pode ser escrito como uma fração .
b
Neste contexto, começamos a apresentar o seguinte resultado.
61
Proposição 2.1: 2 não é racional.
UNIDADE 2

Demonstração: faremos a prova por redução ao absurdo. Ou seja, suporemos


a
que h = 2 é um número racional. Podemos supor que h = , com a e b
b
2 a2
2 h=
primos entre si. Então, = 2
. Logo, 2b2 = a2 e a2 é par. Temos que a é
b
2
par, pois, caso contrário, se a é ímpar, então, a é ímpar, e isto contradiz o fato
2 2 2
de a ser par. Como a é par, então, existe k ∈ , tal que a = 2k . Logo, a = 4 k .
2 2 2 2 2 2 2
Uma vez que 2b = a e a = 4 k , temos b = 2k e concluímos que b é par
e, com isso, b é par. Portanto, a e b são divisíveis por dois, o que é um absurdo,
pois a e b são primos entre si. Dessa forma, h não é racional.

Chamamos de número irracional a abcissa x de um ponto P da reta, caso x


não seja um número racional. A Proposição 2.1 garante a existência de pontos na
reta cuja abcissa não pertence ao conjunto dos números racionais . Dessa forma,
consideraremos um conjunto numérico mais amplo que o conjunto dos racionais
e cujos elementos estejam em correspondência bijetora com os pontos da reta. A
esse conjunto denotamos por  e denominamos conjuntos dos números reais. Um
elemento x ∈  é se, e só se, x é racional ou x é irracional. Observe que os números
naturais e os números inteiros são casos particulares de números racionais, de forma
que, quando dizemos que um número é racional, fica aberta a possibilidade de ele
ser um número inteiro (positivo ou negativo) ou, simplesmente, um número natural.
Não nos aprofundaremos na construção dos números reais, pois não faz parte
do objetivo deste curso. Para os interessados em estudar a construção dos conjuntos
numéricos, sugerimos que veja a obra de Milies (2003). O que faremos para o con-
junto de números reais é uma apresentação de várias propriedades a respeito desse
conjunto e estes fatos serão admitidos como axiomas, ou seja, não serão demonstra-
dos. A partir desses fatos, deduziremos diversas consequências, demonstradas como
teoremas. Esses axiomas apresentam o conjunto dos números reais como um corpo
ordenado completo (HEFEZ, 2010). Mas, se considerarmos os reais apenas como a
união dos racionais com os irracionais, deixamos de apresentar fatos importantes,
por exemplo, de que as propriedades dos reais são consequências diretas do fato
de este conjunto ser um corpo ordenado e completo.
62
O matemático alemão Richard Dedekind (1831-1916) definiu a noção de

UNICESUMAR
corpo numérico em seu livro Über die Theorieder Ganzen Zahlen algebraischen,
trazendo grandes contribuições para o campo da álgebra, especialmente, para
a teoria dos números algébricos, nos fundamentos dos números reais e para a
teoria de anéis, em sua obra mais famosa, intitulada Corte de Dedekind. Desta
forma, é natural que a primeira seção desta unidade seja dedicada a apresentar
o conceito de corpo ordenado.

Corpo ordenado

Definição 2.1: um corpo é um conjunto não vazio C , munido de duas opera-


ções, denominadas adição e multiplicação, que satisfazem os axiomas de corpo
(A), (M) e (D), que são:
(A) Axiomas da adição:
A1) Se x, y ∈ C , então, a soma x  y  C .
A2) Associatividade: quaisquer que sejam x, y, z ∈ C , tem-se que
( x  y)  z  x  ( y  z) .
A3) Comutatividade: quaisquer que sejam x, y ∈ C , tem-se que
x y  y x.
A4) Elemento neutro: existe 0 ∈C , chamado zero ou elemento neu-
tro, tal que x  0  x .
A5) Simétrico: todo elemento x ∈ C possui um simétrico  x  C ,
tal que x  ( x)  0 .

(M) Axiomas da multiplicação:


M1) Se x, y ∈ C , então, o produto x  y  C .
M2) Associatividade: quaisquer que sejam x, y, z ∈ C , tem-se que
( x  y)  z  x  ( y  z) .
M3) Comutatividade: quaisquer que sejam x, y ∈ C , tem-se que
x y  yx .
M4) Elemento neutro: existe 1∈C , denominado um, tal que 1 ≠ 0
e satisfaz x  1  x .
M5) Inverso: todo elemento x ∈ C , com x ≠ 0 , possui um inverso
x 1  C , tal que x  x 1  1 .
63
(D) Axioma da distributividade:
UNIDADE 2

D1) Quaisquer que sejam x, y , z ∈ C , tem-se que


x  ( y  z)  x  y  x  z .

Uma vez que todo elemento de um corpo possui um simétrico, dados x, y ∈ C


, podemos definir a operação de subtração ( x, y )  x − y . Observe que
x − y , denominada diferença entre x e y , nada mais é do que x  ( y ) . De
−1
maneira análoga, se y ≠ 0 , então, existe o simétrico y de y e podemos
1
definir a multiplicação x  y , que pode ser indicada, também, por x / y
e denominada o quociente de x por y . Temos definida, assim, a operação
( x, y )  x / y , para todo x e y ≠ 0 em C , que é denominada divisão.
Exemplo 2.1: o conjunto dos números racionais é um corpo. Observe que
os axiomas de corpo são satisfeitos em  com as operações usuais de adição e
multiplicação.
Proposição 2.2: os axiomas da adição implicam as seguintes propriedades:
i) Se x  y  x  z , então, y = z .
ii) Se x  y  x , então, y = 0 .
iii) Se x  y  0 , então, y   x .
iv) ( x)  x .

A propriedade (i) é chamada de lei de cancelamento. Decorre da propriedade


(ii), que o 0 (zero) é único.
Demonstração:
i) Se x  y  x  z , então, segue dos axiomas da adição que

y  0  y  ( x  x)  y   x  ( x  y )   x  ( x  z )  ( x  x)  z  0  z  z .
ii) Segue de (i), basta tomar z = 0 .
iii) Segue de (i), basta tomar z   x .
iv) Segue de (iii), que se  x  y  0 , então,  x  ( x) .

64
Proposição 2.3: os axiomas da multiplicação implicam as seguintes propriedades:

UNICESUMAR
i) Se x ≠ 0 e x  y  x  z , então, y = z .
ii) Se x ≠ 0 e x  y  x , então, y = 1 .
iii) Se x ≠ 0 e x  y  1 , então, y = 1 / x .
1 1
iv) Se x ≠ 0 , então, ( x )  x .

A propriedade (i) é chamada de lei do corte. Decorre da propriedade (ii), que o 1


(um) é único. A demonstração destas propriedades é similar à demonstração das
propriedades que seguem dos axiomas da adição. Deixamos esta tarefa para você.
Proposição 2.4: os axiomas de corpo implicam as seguintes propriedades:
Sejam x, y, z ∈ C

i) 0 x = 0 .
ii) Se x ≠ 0 e y ≠ 0 , então, x  y  0 .
iii) ( x)  y  ( x  y )  x  ( y ) .
iv) ( x)  ( y )  x  y .

Demonstração:
i) Como 0  x  0  x  (0  0)  x  0  x , temos, pela Proposição 1.1 (I), que
0 x  0 .
ii) Assuma x ≠ 0 e y ≠ 0 , com x  y  0 , segue de (I), que
1 1 1 1
1        x  y        0  0 . Temos, assim, uma contradição.
 y x  y x
Portanto, xy ≠ 0 .
iii) Provaremos a primeira igualdade e deixaremos a segunda para você.
Como ( x)  y  x  y  ( x  x)  y  0  y  0 , segue da Proposição 1.1,
item III, que ( x)  y  ( x  y ) .
iv) Utilizando III e a Proposição 1.1, item IV, temos que
( x)  ( y )  ( x  ( y ))  ( x  y )  x  y .

65
Agora que já apresentamos o conceito de corpo, podemos esclarecer o que é um
UNIDADE 2

corpo ordenado.
Definição 2.2: um corpo ordenado é um corpo C que contém um subcon-
junto P , denominando o conjunto dos elementos positivos de C , satisfazendo
às seguintes propriedades.
i) A soma e o produto de elementos positivos são positivos.
Se x, y ∈ P , então, x  y  P e x  y  P .
ii) Dado x ∈ C , então, uma, e somente uma, das três possibilidades ocorre:
ou x ∈ P , ou  x  P , ou x = 0 .

Indicamos por −P o conjunto dos elementos −x tais que x ∈ P . Os elementos


de −P chamam-se negativos. Observe que C  P  ( P)  0 , e os conjuntos
P , −P e 0 são dois a dois disjuntos.

pensando juntos

Vimos no Exemplo 2.1 que o conjunto dos números racionais é um corpo. Mais que isso,
podemos afirmar que  é um corpo ordenado. Neste caso, qual seria o conjunto P des-
crito na Definição 2.2?

Números reais

conecte-se

Veja no vídeo como podemos mostrar que o conjunto dos números Racio-
nais é enumerável.

O conjunto dos números reais, denotado por  , é um corpo munido das ope-
rações de adição, denotada por (+), e multiplicação, por (.). Desse modo, satisfaz
todas as propriedades da Definição 2.1. Mais especificamente, são válidas:
66
Propriedade 2.1: a  b   e a.b  , a, b  .

UNICESUMAR
Propriedade 2.2: a  b  b  a e a.b  b.a, a, b  .
Propriedade 2.3:
a  (b  c)  (a  b)  c, e a.(b.c)  (a.b).c, a, b, c  .
Propriedade 2.4: existe 0 , tal que a  0  a, a  .
Propriedade 2.5: existe 1 , tal que a  1  1  a  a, a  .
Propriedade 2.6: dado x ∈  , existe  x  , tal que x  ( x)  0.

1 1
Propriedade 2.7: dado x  0, x   , existe x   , tal que x.x 1  1.
x
Propriedade 2.8: a.(b  c)  a.b  a.c, a, b, c  .

Mais que um corpo, o conjunto dos números reais pode ser classificado como um
corpo ordenado. De fato, considere o subconjunto próprio     . Claramente,
 + satisfaz às seguintes propriedades:
i) Dados x, y    , tem-se que: x  y    e x  y    , ou seja,  + é
fechado em relação à adição e à multiplicação.
ii) Dados x ∈  , ocorre, exatamente, um dos três casos: ou x = 0 ou x   
ou  x    , sendo 0 o elemento neutro da adição.

Ou seja, o subconjunto  + satisfaz às condições descritas na Definição 2.2, o


que mostra que  é um corpo ordenado.
Definição 2.3: sejam a e b elementos de um corpo ordenado C , munido
das operações adição (+ ) e multiplicação (⋅) , e P ⊂ C , um subconjunto que
satisfaz às propriedades da Definição 2.1. Dizemos que a é menor do que b , e
denotamos por a < b , quando b  a  P . Além disso, dizemos que a é maior
do que b e denotamos por a > b , quando a  b  P . As relações a < b e a > b
são chamadas relações de ordem no corpo C .
A relação de ordem a < b em um corpo possui algumas propriedades, as
quais estudaremos apenas no corpo dos reais.
Propriedade 2.9: dado a ∈ , então, a = 0, a < 0 ou 0 < a .
Propriedade 2.10: sejam a, b ∈  . Se a < b e b < c , então, a < c .
Propriedade 2.11: sejam a, b ∈ . Se a < b, então, a  c  b  c, c  .
Propriedade 2.12: sejam a, b ∈ . Se a < b e 0 < c , então, a.c < b.c.
Propriedade 2.13: sejam a, b ∈ . Se a < b e c < 0, então, b.c < a.c.

67
Como supomos, o conjunto dos números reais é representado por pontos de
UNIDADE 2

uma reta, chamada de reta real, então, a relação x < y , isso significa que o ponto
x está à esquerda de y .
Outra notação para a relação de ordem menor do que (<) é b > a , que lemos: b
maior do que a , e que significa a < b. Tambémapontaremos, de modo abreviado,
a ≤ b para indicar que a < b ou a = b . Em símbolos, a  b  a  b ou a  b.
Com o mesmo significado, escreve-se b ≥ a , que lemos: b igual ou maior do que
a . Outra notação usada: a ≤ b ≤ c e significa que a ≤ b e b ≤ c.
*
A Propriedade 2.9 permite definir os subconjuntos dos números reais  ,
 + ,  − , *+ , *− da mesma forma como definimos os subconjuntos dos nú-
meros inteiros. Segue, da Propriedade 2.9, que dados quaisquer x, y ∈  , temos
que x ≤ y e y ≤ x se, e só se, x = y.
Segue da Propriedade 2.8 que x.0 = 0, para todo x ∈ . De fato,
x  0  x  (0  0)  x  0  x  0 , somando ( x  0) , em ambos lados desta igualda-
de, temos ( x  0)  x  0  ( x  0)  ( x  0  x  0)  (( x  0)  x  0)  x  0 .. Logo,
0  0  x  0 , ou seja, 0  x  0 .
2
Exemplo 2.2: para todo x ∈  , vale que x ≥ 0. De fato, se x ≥ 0, então,
x2  x  x  x  0  0 . Se x < 0, então, x2  x  x  x  0  0 .
Também, na Propriedade 2.8 está a justificativa das regras de sinais, ou seja, para
quaisquer x, y ∈ , temos que x  ( y )  ( x)  y  ( x  y ) e ( x)  ( y )  x  y.
De fato, ( x)  y  x  y  ( x  x)  y  0  y  0 e ( x)  y  ( x  y ) . Da mesma
forma, verifica-se que x  ( y )  ( x  y ) . Já para provar que ( x)  ( y )  x  y ,
basta observar que ( x).( y )  [ x.( y )]  [( x. y )]  [( x. y )]  x. y.
1 1
Exemplo 2.3: sejam x, y ∈  , tais que 0 < x < y. Então, < . De fato,
y x
x y 1 1
observe que   . Sendo x  y  0 e x. y > 0, segue o resultado.
xy y x
n
Exemplo 2.4: sejam n ∈  e x ∈ , com x  1. Então, (1  x)  1  nx.
De fato, a prova será feita por indução sobre n . É claro que, para n = 1, temos
(1  x)1  1  1  x . Suponha que (1  x) n  1  nx, para algum n ≥ 1. Como
(1  x) n  1  nx e 1  x  0, então, (1  x) n (1  x)  (1  nx)(1  x).
Dessa forma,

(1  x) n1  (1  x) n (1  x)  (1  nx)(1  x)  1  nx  x  nx2  1  (n  1) x  nx2  1  (n  1) x,

68
n
provando que (1  x)  1  nx, n  . O resultado dado no Exemplo 2.4 é

UNICESUMAR
chamado de Desigualdade de Bernoulli.

Intervalos abertos, fechados, supremo e ínfimo

Dados dois elementos a e b da reta, tal que a < b , temos que existem subcon-
juntos de  , denominados intervalos, cujos extremos são a e b . Tais intervalos
são definidos da seguinte forma:
a) Intervalo aberto de extremos a e b é o conjunto:
(a, b) ]a, b[ {x  ; x  a e x  b}  {x  ; a  x  b} .
b) Intervalo fechado de extremos a e b é o conjunto:
[a, b]  {x  ; x  a e x  b}  {x  ; a  x  b} .
c) Intervalo fechado à esquerda ou aberto à direita de extremos a e b é
o conjunto: [a, b)  [a, b[ {x  ; x  a e x  b}  {x  ; a  x  b} .
d) Intervalo fechado à direita ou aberto à esquerda de extremos a e b é
o conjunto: (a, b] ]a, b]  {x  ; x  a e x  b}  {x  ; a  x  b} .

Os intervalos apresentados são limitados. Veremos, agora, como definir os inter-


valos ilimitados:
a) (, a ) ]  , a[ {x  ; x  a} .
b) (, a ]  {x  ; x  a} .
c) (a, ) ]a, [ {x  ; x  a} .
d) [a, )  [a, [ {x  ; x  a} .
e) (, ) ]  , [ .

A representação gráfica de cada intervalo é dada da seguinte forma:

[a,b]
[ a, b] a b
[a,b]
[a,b]
]a,b[
a b
a bb
]a,b[
]a, b[
[a,b[
a b
]a,b[
aa bb
[a,b[
[a,b[ a b
]a,b]
[a, b[ aa b
b
]a,b]
a b
] ]a,b]
- ∞,b[ a b 69
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[
] - ∞,b[
b
b
]a,b[
[a,b] a bb
]a,b[
[a,b] a bb
]a,b[
[a,b[
aa bbb
[a,b[
]a,b[
aa b
[a,b[
]a,b[
aa
UNIDADE 2

]a,b] bb
[a,b[
]a, b] a b
]a,b] aa
[a,b[ b
b
]a,b]
] - ∞,b[ aa b
b
] ]a,b]
- ∞,b[ a b
b
] ]a,b]
 , b[
- ]∞,b[ a b
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[ b
b
] - ∞,b[
] - ∞,b[ b
] - ∞,b[
]a,+∞[
]  , b ]
]a,+∞[ a b
] - ∞,b[
]a,+∞[
- ∞,b[
]]a,+∞[ a b
]a,+∞[ a b
]a,+∞[ a
[a, [
]a,+∞[ aa
]a,+∞[
aa
]a,+∞[
]a,+∞[ a
]a, [ a

Tabela 2 - Representação gráfica / Fonte: os autores.

Na Unidade 1, definimos o conceito de módulo no conjunto dos números intei-


ros. Agora, estenderemos este conceito para os números reais.
Definição 2.4: chama-se módulo de um número real a , e denotamos por
| a | , o seguinte número real não negativo:

a se a  0
| a |  .
a se a  0
Ou seja, | a | max{a, a}, em que max{a, −a} denota o maior número real
entre a, −a.

Exemplo:  2  2.

Seguem, direto da definição, os seguintes resultados: para todo a ∈ , temos:


i) | a | 0  a  0 .
ii) | a |≥ 0 .
iii) | a || a | .
iv) a ≤| a | .
v) a | a | .
2
vi) | a |= a .
vii) Dado um número real r  0,| a | r  r  a  r .
70
Os intervalos da reta de extremos x e y são segmentos de reta de extremos

UNICESUMAR
x e y . Além disso, | x − y | é a distância do ponto x ao ponto y .
A próxima proposição caracteriza os elementos do intervalo (a  d , a  d ),
como os pontos da reta cuja distância do ponto a é menor do que d .
Proposição 2.5: sejam a, x,d ∈  , com d > 0 . Então,
| x  a | d  a  d  x  a  d.

Demonstração: temos que | x  a | max  x  a, ( x  a ) . Dessa forma, temos


| x  a | d ⇔ x  a  d e ( x  a )  d ,

ou seja, x  a  d e x  a  d. Somando a em ambos os lados, te-


mos que x  d  a e d  a  x , ou seja, d  a  x  d  a. Portanto,
| x  a | d  a  d  x  a  d.

Perceba que as ideias e propriedades apresentadas, até agora, sobre o conjun-


to dos números reais, não permitem diferenciar  de , ambos formam um
corpo ordenado. O próximo passo é descrever uma propriedade em  que não
é satisfeita em . Essa propriedade caracteriza  como um corpo ordenado
completo. Para isso, introduziremos alguns conceitos e resultados.
Definição 2.5: um conjunto X ⊂  é dito limitado superiormente quando
existe b ∈  , tal que x ≤ b, para todo x ∈ X . O número real b é denominado
de cota superior de X . Da mesma forma, dizemos que X ⊂  é limitado in-
feriormente quando existe a ∈  , tal que a ≤ x, para todo x ∈ X . O número
real a é denominado cota inferior de X . Quando X é limitado superiormente
e inferiormente, então, dizemos apenas que X é limitado.
Exemplo 2.5: o subconjunto dos números reais formado por todos os nú-
2
meros x , tal que x < 2 , é limitado.
 2

De fato, se X  x  ; x  2 , então, X é limitado inferiormente por − 2
e, superiormente, por 2 .
Definição 2.6: seja X ⊂  ,tal que X   e X é limitado superiormente.
Definimos o supremo de X , e denotamos por supX , a menor das cotas supe-
riores de X . Em outras palavras, b ∈  é o supremo de X se:
i) b for cota superior de X .
ii) Se c ∈  for cota superior de X , então, b ≤ c.
71
Exemplo 2.6: seja X o conjunto formado pelos números racionais maiores que 0
UNIDADE 2

e menores que 1, ou seja, X   x   | 0  x  1 . Temos que todo racional maior


ou igual a 1 é cota superior de X e supX = 1 .
Exemplo 2.7: seja X ⊂  definido por X   x   | 0  x  1 . Então,
supX = 1 .
Os Exemplos 2.6 e 2.7 nos mostram que o supremo de um conjunto, quando
existe, pode pertencer ou não ao conjunto.
Definição 2.7: seja X ⊂  ,tal que X   e X ,é limitado inferiormente.
Definimos o ínfimo de X e denotamos por inf X a maior das cotas inferiores
de X , em outras palavras, a ∈  é o ínfimo de X se:
i) a for cota inferior de X .
ii) Se c ∈  for uma cota inferior de X , então, c ≤ a.

A propriedade II, da Definição 2.6, é equivalente a: se c < b, então, existe x ∈ X , tal


que c < x . Assim como a propriedade II, da Definição 2.7, é equivalente a: se a < c,
então, existe x ∈ X , tal que x < c.
Exemplo 2.8: determine o supremo do conjunto:
1 2 3 n
X  {0, , , , , , ,}.
2 3 4 n 1

n
Temos que, para todo n ∈ ,  1. Afirmamos que supX = 1. De fato, a
n 1
n
propriedade I segue do fato que  1. Considere c < 1 . Então, devemos mos-
n 1
n c
trar que existe n0 , tal que c  0 . Para isso, basta tomar n0  e observar
n0  1 1 c
n
que c  0  1 , o que prova a propriedade II. Logo, supX = 1.
n0  1
Exemplo 2.9: o conjunto dos números naturais  ⊂  é limitado inferior-
mente. Não é, entretanto, limitado superiormente e, consequentemente, não é
limitado. De fato,  é limitado, inferiormente, por 0. Verificaremos que  não
é limitado superiormente. Suponhamos por absurdo, que  seja limitado supe-
riormente e seja c = sup. Como c = sup, então, c −1 não é cota superior de
 e c  1  c . Dessa forma, existe n ∈  , tal que c  1  n, ou seja, c  n 1 e
n  1   , o que é uma contradição com c = sup. Portanto,  não é limitado.
72
UNICESUMAR
1 
Exemplo 2.10: seja X   ; n    . Prove que inf X = 0.
n 
É claro que 0 é cota inferior de X . Verificaremos que 0 é a maior das cotas


inferiores. Seja c    , como  ⊂  não é limitado superiormente, então, exis-
1 1
te n ∈  tal que n > , ou seja, < c. Dessa forma, para todo c > 0, temos que
c n
c não é cota inferior de X . Portanto, inf X = 0. 

Dados os números reais a e b , tais que 0 < a < b, segue do Exemplo 2.10 que
a 1 
existe n ∈ , tal que n  a  b . De fato, como
b
> 0 e inf   n ; n      0 , en-
 
1 a
tão, existe n ∈ , tal que < , ou seja, n  a  b.
n b
Nesta unidade, definimos o conceito matemático de ínfimo de um subconjunto

 1 
de números reais limitado inferiormente. Dessa forma, se X   n ; n    , exis-
 2 
te o ínfimo de X ? Se a resposta é afirmativa, qual seria esse valor? Como você
usaria a Desigualdade de Bernoulli e o fato de que o conjunto dos números naturais
 ⊂  não é limitado superiormente para validar sua conjectura?
Exemplo 2.11: sejam a, b ∈ , tais que a < b. Então, existe r ∈ , tal que
a < r < b.
De fato, considere c  b  a  0 e suponha b > 0 . Como o  não é limitado
1 2
superiormente e , > 0 são números reais, então, existem s1 , s2 ∈  , tais que
c b
1 2 1 2
< s1 e < s2 . Faça m = max{s1 , s2 } e observe que m > e m > .
c b c b
1 b 1
Temos que 0 < < < b , então, existe k ∈  tal que k   b, ou seja,
m 2 m
k > mb. Como mb > 2, então, k > 2. Segue do Princípio da Boa Ordem que

73
UNIDADE 2

1 1 1
existe h ∈  , tal que h  min{k  ; k . b}. Então, h   b e (h  1)   b,
m m m
h 1 h h 1
ou seja,  b  . Agora, verificaremos que  a. De fato, suponha,
m m m
h 1
por absurdo, que  a. Dessa forma,
m
h 1 h 1 1 1
c ba b b   bb = e isto contradiz o fato
m m m m m
1 h 1 h 1
que m > . Portanto,  a. Tome r    e observe que a < r < b.
c m m
Se b ≤ 0, temos que a < 0. Observe que b  a e a  0, então segue, do
caso anterior, que existe q ∈ , tal que b  q  a, ou seja, r  q é racional
e a < r < b.
Quando dizemos que o corpo ordenado  é completo, significa que 
satisfaz a seguinte propriedade: todo conjunto X ⊂  não vazio e limitado in-
feriormente possui ínfimo, ou seja, existe b ∈ , tal que b = inf X . Observe que
se nos limitamos a , então, não podemos garantir a validade desta proprieda-
de. Este fato relaciona-se à inexistência de raízes quadradas de alguns números
racionais. O exemplo a seguir deixará esta afirmação mais clara.
 2

Exemplo 2.12: seja X  x  ; x  0 e x  2 . Vamos verificar que
X ⊂  não tem ínfimo em .
Note que X , visto como subconjunto de  , possui ínfimo, pois é limitado,
inferiormente, pelo 0. Entretanto, temos que inf ( X ) ∉ . De fato, se b = inf ( X )
2 2 2
e b = 2, então, b ∉ . Mostraremos que as desigualdades b > 2 e b < 2 não
2
ocorrem e, portanto, a única possibilidade é b = 2 .

2 2 2b  1
Se b < 2, então, 2  b  0. Para todo n ∈  , tal que n  , ou seja,
2  b2
2b  1
2  b2  , temos que
n
2
 1 2 2b 1 2b 1 2b  1 2
 b   b   2  b2    b2   b  2  b 2  2.
 n n n n n n

74
UNICESUMAR
1 2b  1
Dessa forma, b + é cota inferior de X , para todo n  e b não
n 2  b2
pode ser o ínfimo de X .

2 2
Agora, suponha b > 2, ou seja, b  2  0. Para todo n ∈ , tal que
2b
n temos que
b2  2

1 2b 1 2b
(b  )2  b2   2  b2   b2  2  b2  2
n n n n

1 1
Como b   b para todo n ∈ , então, existe r ∈ , tal que b   r  b.
n n
2 2
Logo,assim 2 < r < b . Logo, temos uma contradição do fato de que b = inf ( X ).
Teorema 2.1: considere os intervalos I1  I 2    I n  I n1  , tais
que I n = [an , bn ], com an , bn ∈  e an < bn para todo n ∈ . Então, existe
c ∈ , tal que c ∈ I n para todo n ∈ .
Demonstração: de fato, como I1  I 2    I n  I n1  , então,

a1  a2    an    bn    b2  b1.

Considere o conjunto A  {ai ; i  }. Temos que A é limitado superiormente


por b1 e A   . Então, seja c ∈ , tal que c = sup A. É claro que an ≤ c para
todo n ∈ . Como cada bn é cota superior de A , então, c ≤ bn para todo n ∈ .
Logo, c ∈[an , bn ], para todo n ∈ .

Exemplo 2.13: dado I = [a, b] e x0 ∈  , existe [c, d ] ⊂ [a, b] tal que x0 ∉[c, d ].
3a  b a  3b
De fato, se x0 ∉ (a, b) , então, tome c  ed . Caso x0 ∈ (a, b) ,
4 4
3a  x0 a  3 x0
então, tome c  ed .
4 4
75
Teorema 2.2: o conjunto dos números reais não é enumerável.
UNIDADE 2

Demonstração: seja uma função f :  → , e faça f (n) = xn , n  1, 2, .


Observe que X  f ()  {x1 , x2 , , xn , } . Provaremos que f não é sobreje-
tiva, ou seja, existe c ∈ , tal que c ∉ f ().
Considere, agora, um intervalo I1 = [a1 , b1 ], com a1 < b1 e x1 ∉ I1. Segue do
Exemplo 2.13, que existe I 2 ⊂ I1 , tal que x2 ∉ I 2 . Da mesma forma, existe I 3 ⊂ I 2 ,
tal que x3 ∉ I 3 e, assim, indutivamente, obtemos: I1  I 2    I n  I n1  ,
com xi ∉ I i . Segue, do Teorema 2.1, que existe c ∈ , tal que c ∈ I n , para todo
n ∈ . Logo, c ∉ f () e f não é sobrejetiva.

Segue do Teorema 2.2 que não existe f :  →  sobrejetiva. É claro que existe
uma função de  em  injetiva, basta considerar a função inclusão. Dessa
forma, temos que card () < card ().
Corolário 2.1: o intervalo ] −1, 1[ não é enumerável.
Demonstração: vamos provar que a função f :   (1, 1) definida por
x
f ( x)  ,é uma bijeção. De fato, sejam x1 , x2 ∈ , tais que f ( x1 ) = f ( x2 ).
1 | x |
x1 x2
Ou seja,  . Uma vez que 1 | x1 | 0 e 1 | x2 | 0 , então,
1 | x1 | 1 | x2 |
x1 , x2 ≥ 0 ou x1 , x2 < 0 .

Temos que:

x1 x2
  x1 (1 | x2 |)  x2 (1 | x1 |)
1 | x1 | 1 | x2 |
 x1  x1 | x2 | x2  | x1 | x2
 x1  x2   x1 | x2 |  | x1 | x2  0

pois x1 , x2 ≥ 0 ou x1 , x2 < 0. Logo, x1 = x2 e f é injetiva. Agora, provaremos


y
que f é sobrejetiva. Para isso, dado y  (1, 1), tome x  e observe que
1 | y |

76
UNICESUMAR
y y y
1 | y | 1 | y | 1 | y |
f ( x)     y,
y | y| 1 | y |  | y |
1 | | 1
1 | y | 1 | y | 1 | y |

o que prova a sobrejetividade de f . Portanto, f é bijeção.

O Corolário 2.1 mostra que card [(1, 1)]  card () .

Corolário 2.2: dados a, b ∈ , com a < b. O intervalo ] a , b [ não é enumerável.


Demonstração: considere a função f :]  1, 1[]a, b[ definida por
1
f ( x)  [(b  a ) x  (a  b)]. De fato, f é uma bijeção, pois, claramente, f é
2
2y  a b
injetiva. Observe que dado y ∈]a, b[ tome x  , com x ]  1, 1[ e
ba
temos que f ( x) = y e f é sobrejetiva.

Segue do Corolário 2.2 que card (]  1, 1[)  card (]a, b[). Podemos escrever
[a, b] ]a, b[{a, b} e se [ a , b ] é enumerável, então, ] a , b [ seria enumerável,
o que é uma contradição. Dessa forma, todo intervalo da reta não é enumerável.
Da mesma forma, podemos escrever     (  ). Se  −  fosse enu-
merável, então,  seria enumerável, e este fato contradiz o Teorema 2.2. Portanto,
concluímos que o conjunto dos números irracionais não é enumerável.
Um fato interessante que podemos extrair destes resultados é o seguinte: todo
intervalo I , I = [a, b] ou I =]a, b[ (com a < b ) da reta contém números irra-
cionais. Se I contém somente racionais, então, I ⊂ , logo, I é enumerável, o
que é uma contradição.

77
2
UNIDADE 2

SEQUÊNCIAS

Definição 2.8: uma sequência de números reais a1 , a2 ,…, an , …, em que cada ai


é chamado de termo da sequência, é uma função a :  → , tal que a (n) = an . O
número n é chamado de índice e an é o n − ésimo termo da sequência, ou termo
geral da sequência.
Escrevemos (a1 , a2 , …, an , …) ou, ainda, (an ) , para denotar a sequência a .
Queremos ressaltar que existe diferença entre o conjunto dos elementos que for-
mam a sequência an , representado por an ; n   e a sequência (an ). Por exem-
plo, an  (1) , (an )  (1, 1, 1, 1, ) e an ; n    {1, 1}.
n 1

r
Exemplo 2.14: seja a sequência R :  → , definida por R(n)  , em
2n1
 r r r 
que r ∈  e r > 0. Assim, a sequência R   R1 , R2 , R3 , R4 ,   r , , , ,  .
 2 4 8 
Exemplo 2.15: considere a sequência x :  → , definida por x(n) = n.
Assim,

x   x1 , x2 , x3 , x4 ,  1, 2, 3, 4, 5, .

Exemplo 2.16: seja a sequência y :  → , definida por y (n) = 2n. Temos,


então,
78
y   y1 , y2 , y3 , y4 ,   2, 4, 6, 8, 10, .

UNICESUMAR
Exemplo 2.17: considere a sequência z :  → , definida por z (n)  2n  1.
Assim,

z   z1 , z2 , z3 , z4 ,  1, 3, 5, 7, 9, .

1
Exemplo 2.18: seja a sequência w :  → , definida por w(n) = . Temos que
n

 1 1 1 
w   w1 , w2 , w3 , w4 ,   1, , , ,  .
 2 3 4 
Exemplo 2.19: seja a sequência c :  → , definida por c(n) = k , em que k é
uma constante real. Assim,

c   c1 , c2 , c3 , c4 ,   k , k , k , k , .

A sequência c é chamada sequência constante.

Definição 2.9: seja ( xn ) uma sequência de números reais. Dizemos que ( xn )


é limitada se existe k ∈ , k > 0, tal que | xn |≤ k para todo n ∈ .
Quando uma sequência ( xn ) não é limitada, dizemos que ( xn ) é ilimita-
da. Uma sequência diz-se limitada superiormente quando existe b ∈  , tal que
xn ≤ b, para todo n ∈ . Dizemos que ( xn ) é limitada inferiormente se existe
c ∈  , tal que c ≤ xn para todo n ∈ . Claramente, uma ( xn ) sequência é limi-
tada se, e somente se, ( xn ) é limitada inferiormente e superiormente.
Exemplo 2.20: são sequências limitadas:

 r r r 
i)  r , , , ,  com r > 0 .
 2 4 8 

 1 1 1 
ii)  1, , , ,  .
 2 3 4 
iii)  k , k , k , k , com k ∈  .

iv) 1, 1, 1, 1, .


79
Exemplo 2.21: são sequências ilimitadas:
UNIDADE 2

i) (1, 2, 3, 4, 5,) .

ii)  2, 4, 6, 8,10, .

iii) 1, 3, 5, 7, 9, .

iv) 1, 4, 9, 16, 25, .

Definição 2.10: Dizemos que uma sequência ( xn ) é crescente se


x1  x2    xn   e decrescente se x1  x2  x3    xn  . Dizemos
que uma sequência ( xn ) é não decrescente se x1  x2    xn   e não
crescente se x1  x2  x3    xn  . Uma sequência que satisfaz qualquer
uma dessas propriedades é chamada de sequência monótona.
Exemplo 2.22:

I - 1, 2, 3, 4, 5, é monótona crescente.

II - 1, 1, 1, 1, 1, não é monótona.

 1 1 1 1 
III -  1, , , , ,  é monótona decrescente.
 2 3 4 5 
IV - 1, 1, 2, 2, 3, 3, 4, 4, é monótona não decrescente.

 1 1 1 1 1 1 
V -  1, 1, , , , , , ,  é monótona não crescente.
 2 2 3 3 4 4 
Quando eliminamos um ou vários termos de dada sequência, obtemos uma nova
sequência que chamamos de subsequência da sequência. Por exemplo, a sequên-
cia dos números pares positivos é uma subsequência da sequência dos núme-
ros naturais. Também são subsequência dos naturais a sequência dos números
ímpares positivos, a sequência dos números primos, a sequência dos múltiplos
positivos de 3.
Definição 2.11: uma subsequência x ' de uma sequência x = ( xn ) é uma res-
trição de x em um subconjunto infinito  '  {n1  n2  n3    nk  }  .
Denotamos x '  ( xnk ) k , ou ( xn1 , xn2 , xn3 , …, xnk , …), ou ainda, x '  ( xn ) n ' .

80
Exemplo 2.23: descrevemos as seguintes subsequências de

UNICESUMAR
 1
(an )  (1) n  1   :
 n

 1 
I - (a2 n )   1  .
 2n 

 1 
II - (a4 n )   1  .
 4n 

 1 
III - (a2 n1 )    1  .
 2n  1 

 1 
IV - (a4 n1 )    1  .
 4n  1 

Limite de uma sequência

O interesse principal desta seção é o estudo de uma classe de sequências que são
chamadas sequências convergentes. Em termos intuitivos, uma sequência (an )
é convergente se, à medida que o índice n cresce, o elemento an torna-se, cada
vez mais, próximo de um certo número L , chamado limite da sequência (an ).
A proximidade entre an e L é medida pelo valor absoluto da diferença
entre esses dois números, isto é, | an − L | . Dessa forma, dizer que an se torna,
arbitrariamente, próximo de L , significa dizer que | an − L | torna-se inferior a
qualquer número positivo  por menor que seja, desde que façamos o índice n
suficientemente grande. Ou seja,
Definição 2.12: dizemos que uma sequência ( xn ) converge para o número
real L se, para cada ,  > 0 existe n0 ∈ , tal que | xn  L |  sempre que n > n0 .
Dizemos que L é limite da sequência ( xn ) e denotamos por: lim xn  L ou
n
lim xn = L, ou, ainda, xn → L. Simbolicamente,

lim xn  L    0, n0  ; n  n0 | xn  L | .

Quando a sequência ( xn ) não é convergente, dizemos que ( xn ) é divergente.


81
UNIDADE 2

1
Exemplo 2.24: considere a sequência (an )    . Temos que an → 0.
n
1
De fato, dado  > 0 , tome n0 ∈  o menor inteiro, tal que n0 ≥ e observe:

1 1 1 1
para todo n > n0 , temos que n > . Logo, < . Portanto,  0   ,
 n n n
sempre que n > n0 . Assim, an → 0.

 n 
Exemplo 2.25: considere a sequência ( xn )    . Temos que xn → 1.
 n 1 
1
De fato, dado  > 0 , tome n0 o menor inteiro positivo, tal que n0   1 e

1
observe que, para todo n > n0 , temos que n   1. Note que

1 1 n 1 1
n  1   1  . Portanto, 1    , sempre que
 n n 1 n 1 n 1
n > n0 . Logo, xn → 1.
É importante observar, na definição de limite de uma sequência que, uma
vez dado o número  > 0 , esse número permanece fixo. A determinação de n0
depende do  particular que se considere, de forma que, mudando o  , deve-se
mudar, também, o n0 . Ou seja, o valor do  pode ser dado arbitrariamente, mas,
uma vez prescrito, não pode ser mudado até a determinação de n0 .
A Proposição 2.6 vem confirmar que o limite de uma sequência convergente
é único.
Proposição 2.6: sejam (an ) uma sequência convergente e L1 , L2 ∈ . Se
an → L1 e an → L2 , então, L1 = L2 .
Demonstração: suponha, por absurdo, que L1 ≠ L2 e considere
| L1  L2 |
0 . Como an → L1 , então, existe n1 ∈ , tal que, para todo
2
n > n1 , temos que | an  L1 | . Da mesma forma, como an → L2 , então, dado

| L1  L2 |
0 , existe n2 ∈ , tal que, para todo n > n2 , temos que
2
| an  L2 | . Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que, para todo n > n0 , temos:
82
| an  L2 |  e | an  L2 | . Dessa forma,

UNICESUMAR
| L1  L2 || xn  xn  L1  L2 || ( xn  L2 )  ( xn  L1 ) || xn  L1 |  | xn  L2 |     2 | L1  L1 | .

Ou seja | L1  L2 || L1  L2 |, o que é um absurdo. Portanto, L1 = L2 .

Proposição 2.7: se uma sequência (an ) converge para o limite L ∈ , então,


qualquer subsequência (ank ) de (an ) também converge para L .
Demonstração: como an → L , então, dado  > 0 , existe N ∈  , tal que,
para todo n > N , temos que | an  L | . Seja (ank ) uma sequência de (an ).
Temos que  '  {n1  n2    nk , }   é o conjunto de índices da sub-
sequência. Como  ' ⊂  é infinito, então,  ' ⊂  é ilimitado. Dessa forma,
existe nk0 ∈  ', tal que nk0 > N . Logo, para todo nk > nk0 > N , temos que
| ank  L | . Portanto, ank → L.

Exemplo 2.26: a sequência ( xn )  (1)


n 1
 
não é convergente.
De fato,temos que 2 n
( a )  ( 1, 1, 1,  ) e 2 n  1 e (a2 n1 )  (1, 1, 1, 1,),
a
com a2 n1  1. Logo, existem duas subsequências de (an ), cujos limites são
distintos. Logo, (an ) é divergente.
A proposição, a seguir, estabelece uma relação entre as sequências conver-
gentes e limitadas.
Proposição 2.8: toda sequência convergente é limitada.
Demonstração: seja (an ) uma sequência convergente, ou seja, existe um
único L ∈ , tal que an → L. Dessa forma, dado  = 1 , existe n0 ∈ , tal que
| an  L | 1 , sempre que n > n0 . Logo, para todo n > n0 , temos que
L  1  an  L  1. Sejam a  max{a1 , a2 , , an0 , L  1, L  1} e
 
b  min a1 , a2 , , an0 , L  1, L  1 , observe que, b ≤ an ≤ a , para todo n ∈ .
Portanto, (an ) é limitada.

83
A recíproca da Proposição 2.8 não é válida, ou seja, existem sequências limitadas
UNIDADE 2

n 1
que não são convergentes. Por exemplo, a sequência xn  (1) é limitada pelos
números reais -1 e 1 e não é convergente. Segue, também, da última proposição,
que as sequências não limitadas são divergentes, basta considerar a contrapositiva
da Proposição 3.3.

n
 
Exemplo 2.27: a sequência ( xn )  2 não é convergente.

De fato, basta provarmos ( xn )   2  não é limitada superiormente. Logo,


n

não é limitada e, portanto, da Proposição 2.8, segue que ( xn ) é não convergente.


Dado c > 0, c ∈ , tome n0 o menor inteiro positivo, tal que n0  c  1. Segue,
n n
da Desigualdade de Bernoulli, que 2 0  (1  1) 0  1  n0  1  c  1  c. Portan-
to, ( xn ) não é limitada e ( xn ) é divergente.

pensando juntos

Dado a  , tal que a  1, podemos afirmar que a sequência (a n ) é divergente? Se a


resposta é afirmativa, como você usaria a Desigualdade de Bernoulli e o fato de que o con-
junto dos números naturais não é limitado superiormente para provar que a sequência
n diverge? E, se converge, como seria a prova desse fato?
(a )

Exemplo 2.28: sejam ( xn ), tal que xn → L e A, B ∈  com A < L < B. Então,


existe n0 ∈ , tal que A < xn < B, para todo n > n0 .
De fato, tome   min L  A, B  L  0 . Como xn → L, existe n0 ∈  ,
tal que para todo n > n0 , temos que L    xn  L  . Dessa forma,
xn  L    L  ( L  A)  A e xn  L    L  B  L  B,
sempre que n > n0 . Ou seja, A < xn < B, sempre que n > n0 .
Teorema 2.3: se lim xn = a e lim yn = b, então:
i) lim( xn  yn )  a  b.

ii) lim( xn  yn )  a  b.

iii) lim( xn  yn )  a  b .
 x  a
iv) lim  n   se b ≠ 0.
84  yn  b
Demonstração:

UNICESUMAR
I - Como lim xn = a e lim yn = b, então, dado  > 0 existem n1 e n2 ∈ ,
 
tais que | xn  a | , sempre que n > n1 e | yn  b | , sempre que
2 2
n > n2 . Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que:
 
| ( xn  yn )  (a  b) || ( xn  a )  ( yn  b) || xn  a |  | yn  b |   ,
2 2

sempre que n > n0 . Portanto, lim( xn  yn )  a  b.


II - A prova é análoga ao item I.
III - Como toda sequência convergente é limitada, então, existe M > 0 tal
que | an |≤ M para todo n ∈ . Temos que lim xn = a e lim yn = b,

assim, dado  > 0 , existem n1 e n2 ∈ , tais que | xn  a | ,
2 | b | 1

sempre que n > n1 e | yn  b | , sempre que n > n2 . Tome
2M
n0 = max{n1 , n2 } e observe que:

xn  yn  a  b   xn yn  xnb    xnb  a  b 
 xn yn  b  b xn  a
 
M b ,
2M 2 b 1

2|b| |b| 1
sempre que n > n0 . Como  1, então,  . Dessa
2 | b | 1 2 | b | 1 2
   
forma, xn  yn  a  b  M  |b|     , sempre que
2M 2 | b | 1 2 2
n > n0 . Portanto, lim( xn . yn ) = a.b.

1 1 x 1
Vamos provar que → , pois, uma vez que podemos escrever n = xn ,
yn b yn yn
x 1 1 a
=
segue de III que lim n lim = xn a = .
yn yn b b
|b| 3|b|
Como lim yn = b e <| b |< , então, segue do Exemplo 2.28 que exis-
2 2
|b| 3|b|
te n1 ∈  e, para todo n > n1 , temos que <| yn |< . Dessa desigualda-
2 2 85
UNIDADE 2

1 2
de, observamos que, para todo n > n1 , yn ≠ 0 e < . Como lim yn = b ,
| yn | | b |

| b |2 
então, dado  > 0 existe n2 ∈ , tal que | yn  b | , sempre que n > n2 .
2
Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que:
2
1 1 | yn  b | 1 b  2
   yn  b    , sempre que n > n0 . Portan-
yn b | yn b | yn b 2 b2
to, 1 → 1 .
yn b


A próxima proposição fornece um critério de convergência para sequências e
permite concluir que uma sequência ( xn ) converge, mesmo sem conhecer o
seu limite.
Proposição 2.9: toda sequência monótona e limitada é convergente.
Demonstração: seja ( xn ) uma sequência monótona e limitada. Suporemos
que ( xn ) é não decrescente, ou seja, X  {x1  x2  x3    xn  }. Tome
a = sup X e provemos que a = lim xn . Dado  > 0, como a    a , então, a − 
não é cota superior do conjunto X . Logo, existe n0 ∈ , tal que a    xn0 .
Sendo a sequência monótona não decrescente, então, para todo n > n0 , temos
que xn ≥ xn0 . Assim, a    xn0  xn  a  a   . Portanto, a    xn  a  ,
sempre que n > n0 . Portanto, lim xn = a. Caso a sequência ( xn ) seja crescente,
a prova é análoga. Suponha, agora, que a sequência ( xn ) é monótona não cres-
cente, ou seja, X  {x1  x2  x3    xn  }. Tome b = inf X e provemos
que lim xn = b. De fato, dado  > 0, temos que b    b, sendo b = inf X , en-
tão, existe n0 ∈ , tal que b  xn0  b  . Portanto, b    b  xn  xn0  b  ,
sempre que n > n0 e lim xn = b. Caso a sequência ( xn ) seja decrescente, a prova
é análoga.

86
Segue, da Proposição 2.9, que toda sequência divergente e monótona é ilimitada.

UNICESUMAR
De fato, suponha, por absurdo, que a sequência seja limitada, logo, esta sequência
é monótona e limitada, dessa forma, concluímos que tal sequência é convergente,
gerando uma contradição, pois, por hipótese, a sequência é divergente.
 2n 
Exemplo 2.29: se n   , então, ( xn ) é convergente. De fato, vamos
( x ) 
 n! 
provar que ( xn ) é limitada e crescente e, desta forma, seguirá, da Proposição 2.9,
que a sequência em questão é convergente.
n
Segue do Exemplo 1.14, item II, que 2 ≤ 2.n !, para todo n ∈ . Observe
2n
que este exemplo é equivalente a afirmar que 0   2 para todo n ∈ , ou
n!
seja, a sequência ( xn ) é limitada inferiormente por 0 e, superiormente, por 2,
portanto, limitada. Agora, provaremos que ( xn ) é não crescente. De fato,
2n 2n1
  2n  n  1!  2n1 n !  2n (n  1)n !  2n2n !  (n  1)  2.
n!  n  1!
Logo, ( xn ) é monótona e limitada e, portanto, convergente.
n
Exemplo 2.30: para todo real a com 0 < a < 1 , temos que a → 0.
n
Provaremos que ( xn ) = (a ) é limitada e decrescente e, desta forma, segue,
n
da Proposição 2.9, que a xn → a, em que a  inf {a ; n  }.
 n
  2 3

Note que se X  a ; n    a, a , a , , , então, inf X = 0 . De fato,
mostremos que 0 é uma cota inferior e que, além disso, é a maior das cotas infe-
riores. Para ver isso, observe que

n
a) 0  a  0  a , para todo n ∈ ;
n
1 1 1 1
b) a  1   1  d  0;  1  d  n     (1  d ) n .
a a a a
n
Assim, segue, da Desigualdade de Bernoulli, que: (1  d )  1  nd . Logo
1 1 c 1
 1  nd . Dado  > 0 , defina c = . Assim, tome n0 , tal que n0  , isto
an  d
c −1
é, n0 é o menor inteiro, que é maior ou igual a . Observe que
d
87
UNIDADE 2

1 c 1 1 1 1
 1  n0 d  1  d  1  c  1  c  , ou seja, n < . Logo, a n0 < .
a n0 d  a0 
n
Assim, para todo  > 0 , existe n0 ∈ , tal que a 0 < .
Temos, então, que a = 0 e, portanto, segue o resultado. Como 0 < a < 1, en-
n n n n
tão, a > 0 para todo n ∈  e a < 1 e a > 0, implica que a.a < 1.a , ou seja,
a n1  a n . Desta forma, ( xn ) é decrescente. Além disso, para todo n ∈  temos
n 1 n n
que 0  a  a  a  1 . Logo, ( xn ) é limitada. Portanto, a → 0.

3
SÉRIES
NUMÉRICAS

Até aqui, sabemos, por meio da operação de adição de números reais, somar um
número finito de números reais, ou seja, temos um número finito de parcelas na
soma. Queremos estender o conceito de adição para uma infinidade de números
reais e atribuir significado a esta soma de infinitas parcelas. Somas com infinitas
parcelas são chamadas de séries. Seja ( xn ) uma sequência de números reais. A
partir de ( xn ) , vamos construir a sequência ( sn ) da seguinte forma: s1 = x1 ;
s2  x1  x2 ; s3  x1  x2  x3 ; s4  x1  x2  x3  x4 ; ... ; sn  x1  x2  xn .
88
A sequência ( sn ) é chamada de série. Os números reais x1 , x2 , …, xn , … são

UNICESUMAR
chamados termos da série, e os números reais s1 , s2 , …, sn , … são chamados

somas parciais ou reduzidas da série. Denotamos a série como  xn , e xn é
n1

chamado termo geral da série.


Se existir o limite s  lim sn  lim( x1  x2  xn ) , diremos que a série
 
 xn é convergente e escrevemos s   xn  x1  x2  xn . . Se a se-
n0 n 1

quência das reduzidas não convergir, diremos que a série  xn é divergente.
n1

Fazendo xn  an1 , temos que x1 = a0 , x2 = a1 , x3 = a2 ,e, assim em diante.


 
Logo, podemos escrever  xn   an . De agora em diante, denotaremos uma
n 1 n 0


série por  xn  x0  x1  x2 .
n0

Exemplo 2.31:

1 1 1
1. Prove que a série  2n  1  2  4  é convergente.
n0
1 1 1
A soma parcial da série sn  1     n . Multiplique sn por , então:
2 2 2

1 1 1 1 1 1 1 1
sn      n  n1 . Observe que sn  sn  sn  1  n1 , ou seja,
2 2 4 2 2 2 2 2
1
1  n1
2  1 
sn   2  1  n1  .
1  2 
2

 1   1  1
Logo, lim sn  lim 2  1  n1   2 lim  1  n1   2  2 lim n1  2  2.0  2 ,
 2   2  2
1
pois n1  0.
2 89
UNIDADE 2


1 1 1
2. Prove que a série  10n  1  10  102  é convergente e que
n0

1 1 1 10
 10n  1  10  102    9 .
n0

1 1 1
A soma parcial da série é sn  1     n . Multiplique sn por ,
10 10 10

1 1 1 1 1
então, sn   2  n  n1 . Observe que
10 10 10 10 10
1
1
9 1 1 10n1  10  1  1  .
sn  sn  sn  1  n1 , ou seja, sn 
10 10 10 9 9  10n1 
10

10  1  10 1
Logo, lim sn  lim  1  n1   , pois n1  0.
9  10  9 10

2
3. Seja x  0, 22222 . Temos que x = , de fato, podemos escrever:
9

2 2 2 2 1 1 
0, 22222   0, 2  0, 02  0, 002     2  3    1   2  
10 10 10 10  10 10 
2  1 2 10 2
 
10 n0 10 n
 .  .
10 9 9

No exemplo 2.31, exibimos uma fórmula para as somas parciais sn da série,


facilitando o cálculo do lim sn . Entretanto, nem sempre, é possível explicitar
as somas parciais sn , por meio de uma fórmula que dependa de n e facilite o
cálculo do limite, ou concluir que não existe o limite quando n tende a infinito.
Dessa forma, precisamos determinar critérios para decidir se uma série é con-
vergente ou divergente. 
1
Exemplo 2.32: prove que a série  é convergente e calcule sua soma.
n 1 n( n  1)

90
UNICESUMAR
1 1 1
De fato, podemos escrever   . Temos que
n(n  1) n n  1
n n
1 1 1   1 1 1 1 1 1 1  1
sn        1                  1 .
k 1 n ( n  1) k 1  n n  1   2   2 3   3 4   n n  1  n 1


 1  1 1
Logo, lim sn  lim  1    1  lim  1 . Portanto,   1.
 n 1 n 1 n 1 n ( n  1)

1 1 1 1
Definição 2.13: a série   1        é chamada série har-
mônica. n1 n 2 3 n

1
Exemplo 2.33: prove que a série harmônica n é divergente.
n1

A prova será feita por absurdo. Suponha que a série seja convergente, isto é,
existe s ∈  , tal que
 
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
s  1               1          s
n 1 n 2 3 4 5 6 2 2 4 4 6 6 2 3 n 1 n


1
Ou seja, s > s , o que é um absurdo. Portanto, série harmônica n é divergente.
n1

Teorema 2.4: seja c ∈  uma constante não nula.



I - Se a série  an é convergente e a sua soma é igual s , então, a série
n0

 can também será convergente e a sua soma será igual c ⋅ s .
n 0
 
II - Se a série  an é divergente, então,  can é divergente.
n0 n 0

Demonstração: basta observar que a convergência ou a divergência de uma série


relaciona-se à convergência ou à divergência de uma sequência. Logo, a demons-
tração segue, diretamente, das propriedades de limite de sequências numéricas.

91
UNIDADE 2


Definição 2.14: a série ba n  b  ba  ba2  ba3  ba n  , sendo
n 0

b ≠ 0 , é chamada série geométrica de razão a .


Proposição 2.10: a série geométrica

 ba n  b  ba  ba2  ba3    ba n  , em que b ≠ 0 é convergente,
n 0

desde que | a |< 1.



Demonstração: seja ( sn ) as somas parciais da série  an . Temos que
n0

sn  1  a  a2  a3   a n e a  sn  a  a2  a3    a  a n n 1
. Dessa forma,
1  a n1
sn  asn  1  a n1 , ou seja, sn 
1 a

1
1 a
1  a n1 
1

1 a 1 a

1 n1
a .

n1 1
Como a  0, pois | a |< 1, então, lim sn  . Temos que a sequência
1 a
 
das somas parciais de  ba é bsn , então, segue do Teorema 2.3, que  ba n
n

n 0 n 0

b
é convergente e  ba 
n
.
n 0 1  a

 
Teorema 2.5: sejam  an e  bn séries convergentes com somas s e t , res-
n0 n0

pectivamente. Então:

I -  (an  bn ) é convergente e a sua soma é igual s + t;
n 0


II -  (an  bn ) é convergente e a sua soma é igual s − t;
n 0

Demonstração: provaremos o item I. O item II é análogo. Sejam sn e tn , as

92
UNICESUMAR
 
somas parciais das séries  an e  bn , respectivamente. Temos que lim sn = s
n0 n0


e lim tn = t. Observe que a n-ésima soma parcial de  (an  bn ) é igual a
n 0

sn + tn . Logo, lim( sn  tn )  s  t e  (an  bn ) é convergente.
n 0



Proposição 2.11: se  an é convergente, então, nlim

an  0.
n0


Demonstração: como  an é convergente, então, a sequência formada pela
n0

somas parciais dessa série é convergente, ou seja, lim sn  s. Logo, ( sn−1 ) é uma
n

subsequência de ( sn ) e lim sn1  s. Podemos escrever sn  sn1  an e


n

0  s  s  lim sn  lim sn1  lim ( sn  sn1 )  lim an .Portanto, lim an  0.


n n n n n



n2  1
Exemplo 2.34: prove que a série  n2
é divergente. De fato, podemos es-
n 1

n2  1 1 n2  1  1 
crever  1 e lim  lim  1  2   1  0. Logo, segue, da Pro-
n2 n2 n2  n 


n2  1
posição 2.11, que  n2
é divergente.
n 0

Observe que a recíproca da Proposição 2.11 não é válida, pois a série harmô-
1
nica é divergente, e o lim  0.
n n

93
UNIDADE 2

pensando juntos

Se lim an 0, o que podemos afirmar acerca da convergência ou divergência da série


n

an?
n 0

Critérios de convergência de séries numéricas



Dada uma série  an de termos não negativos. Se ( sn ) é a sequência das somas
0

parciais dessa série, temos que


sn  a0  a1    an  a0  a1    an  an1  sn1 , pois an1  0. Temos
que a sequência ( sn ) é monótona e pode ocorrer de ( sn ) ser limitada e daí a série
é convergente, ou ( sn ) ser ilimitada e daí a série é divergente. Observe que ( sn )
não pode ser divergente e oscilante, pois sn  sn1. Esta observação importante
nos conduz ao próximo teorema, denominado critério da comparação.
 
Teorema 2.6: sejam  an e  bn séries de termos não negativos. Se
n0 n0

existem c > 0 e n0 ∈ , tal que para todo n > n0 , temos 0 ≤ an ≤ cbn , então:
 
I - Se  bn é convergente, então,  an é convergente.
n0 n0

 
II - Se  an é divergente, então,  bn é divergente.
n0 n0

Demonstração:

De fato, sem perda de generalidade, suporemos que 0 ≤ an ≤ cbn , para todo


 
n ∈ . Sejam ( sn ) e (tn ) as somas parciais das séries  an e  bn , respecti-
n0 n0

vamente. Podemos escrever sn  sn1  an e tn  tn1  bn e, além disso, sn  sn1



e tn  tn1 , pois an , bn ≥ 0. Logo, sn e tn são monótonas. Por hipótese,  bn
94 n0
é convergente e, consequentemente, (tn ) é convergente e, portanto, limitada.

UNICESUMAR
Como 0 ≤ an ≤ cbn , então, 0 ≤ sn ≤ ctn . Sendo (ctn ) limitada, concluímos que
( sn ) é limitada. Portanto, ( sn ) é monótona e limitada, logo, convergente. Por-

tanto,  an é convergente.
n0

Por hipótese, se  an é divergente e, além disso, as somas parciais dessa
n0

série ( sn ) têm a propriedade que sn  sn1  an  sn1 , ou seja,


s1 ≤ s2 ≤ s3 ≤  ≤ sn ≤  . Dessa forma, concluímos que ( sn ) é ilimitada, pois
( sn ) é monótona e divergente. Como 0 ≤ sn ≤ ctn e ( sn ) é ilimitada, então, (tn )

é ilimitada. Portanto,  bn é divergente.
n0



1
Exemplo 2.35: prove que a série  n2 é convergente. De fato, podemos escre-
n1
 
1 1
ver  n2  1  2
2 2
. Para todo n > 1 , temos que n  n  n  n(n  1) . Logo,
n 1 n 2 n


1 1 1
0
n2

n(n  1)
. Provemos que série  n(n  1) é convergente, e o exemplo
n 2

 
1 1
seguirá do Teorema 2.6, item I. De fato,    . Segue do
n 2 n( n  1) m 1 m( m  1)

 
1 1
Exemplo 2.32 que  é convergente. Portanto,  2 é convergente.
m 1 m( m  1) n1 n

 
Proposição 2.12: seja  bn uma série de termos positivos, tal que  bn é
n0 n0

convergente. Considere (an ) uma sequência de números reais não negativos. Se


a  
a sequência  n  é limitada, então,  an é convergente.
 bn  n0
95
UNIDADE 2

a  a
Demonstração: de fato, sendo  n  limitada, existe c > 0 , tal que n ≤ c
 bn  bn
para todo n ∈  . Segue daí que 0 ≤ an ≤ cbn , para todo n ∈  . Como, por hi-
 
pótese,  bn é convergente, então, segue do critério da comparação que  an
n0 n0

é convergente.

Séries alternadas

As séries infinitas que abordaremos, agora, são formadas de termos que são ne-
gativos ou positivos. Discutiremos uma classe de séries cujos termos são, alterna-
damente, positivos e negativos. Tais séries são chamadas séries alternadas.
Definição 2.15: se an > 0 para todo n natural, então, as séries

 (1)n1a n  a1  a2  a3  a4    (1)n1 an  
n 1

e

 (1)n a n  a1  a2  a3    (1)n an  
n 1

são chamadas séries alternadas.



1
Exemplo 2.36: a série  (1)n1 n descreve uma série alternada.
n 1

O teste de Leibniz ou critério de Leibniz, proposto por Gottfried Leibniz, é um


método para determinar a convergência para uma classe de séries alternadas,
resumido no teorema a seguir.
Teorema 2.7: se (an ) é uma sequência monótona não crescente, tal que

an ≥ 0 e an → 0 , então,  (1)n1a n é uma série convergente.
n 1
96
n 1
Demonstração: de fato, temos que sn  a1  a2    (1) an

UNICESUMAR
e, então, s2 n  s2 n2  a2 n1  a2 n e s2 n1  s2 n1  a2 n  a2 n1 . Como
a2 n1  a2 n  0 , pois (an ) é monótona não crescente, temos que
s2 n  s2 n2  (a2 n1  a2 n )  s2 n2 . Assim, concluímos que ( s2 n ) forma uma
sequência não decrescente. Também, temos que a2 n  a2 n1  0 , pois (an ) é
monótona não crescente. Dessa forma, s2 n1  s2 n1  (a2 n  a2 n1 )  s2 n1,
ou seja, ( s2 n+1 ) forma uma sequência monótona não crescente. Além disso,
s2 n  s2 n1  a2 n ou seja, s2 n1  s2 n  a2 n  0 e, com isso, concluímos que
s2  s4  c   s2 n    s2 n1    s3  s1 e temos que ( s2 n ) e ( s2 n−1 )
são limitadas.
Como ( s2 n ) e ( s2 n+1 ) são monótonas e limitadas, então, existe lim s2 n e
lim s2 n−1 . Dessa forma, lim s2 n1  lim s2 n  lim( s2 n1  s2 n )  lim a2 n  0 e

temos que lim s2 n1  lim s2 n . Logo, sn converge. Portanto,  (1)n1a n é
convergente. n 1



1 1
Exemplo 2.37: na série  (1)n1 n , tome an = n e observe que essa série
n 1

satisfaz às condições do critério de Leibniz. Logo, tal série é convergente.



2 2
Exemplo 2.38: na série  (1)n1 3n , tome an = 3n e observe que essa
n 1

série satisfaz às condições do critério de Leibniz. Logo, tal série é convergente.

Convergência absoluta: testes da raiz e da razão



Se todos os termos de uma série  an forem substituídos pelos seus valores
n0

absolutos e a série resultante  |an | for convergente, então, dizemos que a série
n 0

dada, inicialmente, é absolutamente convergente. Ou seja:

97
UNIDADE 2


Definição 2.16: dizemos que a série  an é absolutamente convergente se
n0

 |an | for convergente.
n 0

2
Exemplo 2.39: a série  (1)n1 3n é absolutamente convergente, pois
n 0
2 2
| an | (1) n1  e
3n 3n
 
   
2 2 2  1 1  1 3
 |an |  3n  2  3  32     2 1  3  32      2  1   2 2  3 .
n 0 n 0 1 
 3


1
Exemplo 2.40: a série  (1)n1 n não é absolutamente convergente, pois
n 1

 
1 1 1
| an | (1) n1  e
n n
 |an |  é a série harmônica que é divergente.
n 0 n 0 n

Quando os sinais dos termos de uma série não apresentam regularidade na


ocorrência de sinais positivo ou negativo, então, o conceito de convergência abso-
luta pode ajudar nestes casos para decidir a convergência de tal série. O próximo
teorema mostra que a convergência absoluta implica a convergência.
 
Teorema 2.8: se  an é absolutamente convergente, então,  an é con-
vergente. n0 n0

Demonstração: de fato, vamos definir


 pn  an se an  0 qn  an se an  0
 e .
 pn  0 se an  0  qn  0 se an  0

 an  0 se an  0
Observe que pn  qn   . Dessa forma, por definição,
an  0 se an  0


0 ≤ pn ≤| an | e 0 ≤ qn ≤| an | . Como 0 ≤ pn ≤| an | , 0 ≤ qn ≤| an | e  |an | é
n 0
98
UNICESUMAR
 
convergente, então, segue, do critério da comparação, que  pn e  qn são
n0 n0

convergentes. Temos que an  pn  qn para todo n ∈  . Dessa forma,


     
 an   ( pn  qn )   pn   qn . Como  pn e  qn são convergen-
n 0 n 0 n 0 n 0 n0 n0


tes, então,  an é convergente.
n0

 np 
cos   
 5 
Exemplo 2.41: prove que a série  é convergente.
n 1 n2

 np 
cos  
 5 
De fato, fazendo an  e lembrando que | cos ( x) |≤ 1 para todo
n2
 np 
cos   
 5   1 1
x ∈  , temos que | an |
n2 n2
, para todo n ∈  e  2
é conver-
n0 n

 np 
 cos  
 5 
gente. Então, segue do critério de comparação que  n2
é convergente
n 1

e, consequentemente, absolutamente convergente. Portanto, segue do Teorema

 np 
 cos  
 5 
2.8, que  n2
converge.
n 1

O próximo teorema estabelece outro critério de convergência que chamamos


de critério da razão.
Teorema 2.9: seja an ≠ 0 , para todo n ∈  . Se existe c ∈  , tal que

99
UNIDADE 2


an1 a
an
 c  1 (em particular, n1  c  1 ), então,
an
 an é absolutamente
n0

convergente.
an1
Demonstração: por hipótese, an ≠ 0 , e existe c ∈  , tal que  c  1.
an
Assim,
an1 c n1 | a | c n1 |a | |a |
 c  n  n1  n  nn11  nn .
an c | an | c c c
|a | |a |
Fazendo xn1  nn11 e xn = nn , temos que 0  xn1  xn e, dessa forma,
c c
|a |
( xn ) é monótona decrescente e limitada. Como ( xn )   nn  é limitada e
 c 
 
 c n é convergente, pois 0 < c < 1 , segue, da Proposição 2.12, que  |an | é
n0 n 0


convergente. Portanto,  an é absolutamente convergente.
n0



Teorema 2.10: seja  an uma série infinita, tal que an ≠ 0 . Então:
n0


an1
I - Se lim
n an
 L  1 , então,  an é absolutamente convergente.
n0

an1 a a
II - Se lim  L  1 ou lim n1   ou, ainda, n1  1 , então,
n an n an an


 an é divergente.
n0

an1
III - Se lim  1 , nenhuma conclusão quanto à convergência pode ser
n an
100 tirada do teste.
Demonstração:

UNICESUMAR
I - É um caso particular do Teorema 2.9. De fato, se 0  L  1 , então, exis-
te c  L, c   , tal que 0  L  c  1 , dessa forma, existe um n0 ∈  ,
an1
tal que  c, n  n0 .
an

an1
II - Como  1 , então, | an1 || an | para todo n ∈  . Assim, concluí-
an
mos que (| an |) é monótona crescente. Se (| an |) é limitada, então,
| an |→ a em que a  sup{| an |; n  } . Temos que a > 0 , pois an ≠ 0
para todo n ∈  . Como a > 0 e lim an = a , segue, da Proposição 2.11,

que  |an | é divergente. Se (| an |) é ilimitada, então, (| an |) divergen-
n 0


te e, novamente, segue, da Proposição 2.11, que  an é divergente.
n0


1
III - A série harmônica n é divergente e
n1

1
an1 n n
 n 1  e 1.
an 1 n 1 n 1
n


1
Por outro lado, a série  n2 é convergente e
n1

1
an1 (n  1)2 n2 n n n2
   . e, dessa forma, 1.
an 1 (n  1)2 n  1 n  1 (n  1)2
n2

101
an

Exemplo 2.42: prove que a série  é convergente.
UNIDADE 2

n 0 n !

an a n1 an1 a n1 n !


De fato, fazendo an  e an1  , temos que  . ,
n! (n  1)! an (n  1)! a n
a a a a
ou seja, n1  . Logo, lim n1  lim  0 . Assim, segue do critério
an n 1 n an n n  1
 n
a
da razão que a série  é convergente.
n 0 n !

O teste que validaremos, a seguir, é conveniente em casos em que o termo


geral da série é uma potência de n . Tal teste é chamado de critério da raiz e sua
prova é similar à demonstração do critério da razão.

Teorema 2.11: se existem c ∈  e n0 ∈  , tais que n | an |  c  1 para todo



n > n0 , então,  an é absolutamente convergente.
n0

Demonstração: por hipótese, temos que n | an |  c  1 , sempre que n > n0 .


n
Sendo assim, n | an |  c | an | c , n  n0 .

Temos  cn é convergente, pois 0  c  1 . Dessa forma, segue do critério
n0
 
da comparação que  |an | é convergente. Ou seja,  an é absolutamente con-
vergente. n 0 n0

102

Teorema 2.12: seja  an uma série infinita, tal que an ≠ 0 . Então:

UNICESUMAR
n0

I - Se lim n | an |  L  1 , então,
n
 an é absolutamente convergente.
n0

II - Se lim n | an |  L  1 ou lim n | an |   ou, ainda, n | an | > 1 , então,


n n

 an é divergente.
n0

Se lim n | an |  1 nenhuma conclusão quanto à convergência pode ser ti-


n
rada do teste.

Demonstração:
É um caso particular do teorema 2.11, pois se 0  L  1 , então, exis-
te c  L, c   , tal que 0  L  c  1 , dessa forma, existe um n0 ∈  , tal que
n | a |  c, n  n .
n 0
Observe que L > 1 , então, existe c ∈  , tal que, 1  c  L  0 . Dessa forma,
existe n0 ∈  , tal que c < n | an | , sempre que n  n0 , n   . Assim,

n|a
n |  c | an | c n , para todo n  n0 .

Como c > 1 , então, a série  cn é divergente. Dessa forma, segue do critério
n0

de comparação que  an é divergente.
n0

1 é divergente e, além disso, n | a | = 1 e n n → 1 .
A série harmônica n n
n
n1 n 
1
Assim, n | an | → 1 . Por outro lado, a série  2 é convergente e
n1 n
1
n=an = n n .n n e n n → 1 . Logo, n | an | → 1 .
n 2
n

103
UNIDADE 2

explorando Ideias

A origem das séries infinitas


A primeira série infinita presente na História da Matemática é uma série geométrica oriunda
do cálculo da área da parábola feito por Arquimedes. Somente 1500 anos mais tarde, no
século XIV, as séries infinitas voltam a aparecer em um estudo de cinemática (ou fenômeno
do movimento) de um grupo de Matemáticos da Universidade Oxford. Em conexão com essa
reaparição, Nicole Oresme descobriu que o termo geral de uma série pode tender a zero, sem
que a série seja convergente. Entretanto, só no século XVII, com o desenvolvimento do Cál-
culo, é que foi percebida a possibilidade de representar funções, usando série de potências.
Fonte: Ávila (2003).


an
Exemplo 2.43: seja a > 0 . Prove que a série  nn é convergente.
n0
an a
De fato, fazendo an = , temos que n an = . Logo,
nn n
a
lim n an  lim  0  1 . Dessa forma, segue, do critério da raiz, que a série
n n n
 n
a
 n! é convergente.
n 0

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, vimos que um aspecto importante das sequências é o conceito


de convergência. Do ponto de vista intuitivo, a convergência é um ponto x da
reta em que todos os outros pontos xn tornam-se, arbitrariamente, próximos
dele. Também vimos que uma sequência é um exemplo de função, sendo que
o domínio e o contradomínio são conjuntos particulares, a saber, conjuntos
dos números naturais e reais, respectivamente.
Diversas propriedades das sequências foram demonstradas e ilustradas,
por meio de exemplos, levando você a refletir sobre as atividades sugeridas
na atividade de autoestudo. Dessa forma, é interessante estudar os exemplos
e relacioná-los com suas propriedades.

104
Um resultado interessante que vimos, inerente ao conceito de sequência,

UNICESUMAR
é: toda sequência monótona e limitada é convergente. Neste caso, não precisa-
mos exibir o número x , para qual os pontos xn convergem. Basta analisarmos
se essa sequência tem a propriedade de ser monótona e limitada.
Também abordamos o conceito de série numérica e ressaltamos a im-
portância de distinguir uma sequência de uma série de uma sequência. A
primeira é uma lista de números reais indexadas pelos números naturais,
enquanto que as séries são definidas por meio de uma sequência de pontos
(an ) na reta, com n variando no conjunto dos números naturais, e a série
é a sequência ( sn ) , sendo que sn são as somas parciais de an , definidas da
forma s1 = a1 , s2  a1  a2 ,..., sn  a1  a2  ...  an .
Em geral, no estudo das sequências das somas parciais de uma série, nem
sempre é possível estabelecer uma fórmula para as somas parciais sn , como
fizemos nos exemplos que envolvem a série geométrica, dificultando, na maio-
ria dos casos, decidir se dada série é convergente ou divergente. Dessa forma,
abordamos diversos resultados que permitem decidir se dada série é conver-
gente ou divergente, sem dizer para onde converge tal soma. Tais resultados
foram chamados critérios de convergência.
Os critérios de convergência que vimos foram: critério da comparação, cri-
tério da raiz e da razão, que são familiares a você, pois se tratam de resultados
já vistos, anteriormente, na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral. Dessa
forma, você pode recorrer a um livro de Cálculo para auxiliá-lo em alguns
itens da atividade de autoestudo.
Também desenvolvemos o critério de Leibniz, sendo que este é válido para
uma classe de séries cujos termos alternam os sinais entre positivos e negati-
vos. Entretanto, este critério se limita a essa classe de séries, não abrangendo
todas as séries. Assim, apresentamos o conceito de convergência absoluta, que
permite decidir a convergência ou divergência de uma série, no caso geral.

105
na prática

1. Com base no conteúdo estudado. considere as seguintes afirmações:

I - Se xn → a , yn → b e xn < yn para todo n ∈  , então, a < b .


II - Toda sequência limitada é convergente.
III - Se xn → a , yn =| xn | para todo n ∈  , então, yn →| a | .
IV - Se | xn |→| a | , então, xn → a .

É correto o que se diz em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) III, apenas.

2. Mostre que, se xn → 0 e ( yn ) é limitada, então, zn → 0 , com zn  xn  yn .

3. Mostre que xn → a se, e somente se, ( xn  a )  0 .

4. Mostre que, se xn → a , yn → a e xn ≤ zn ≤ yn para todo n∈ , então,


zn → a .

5. Sejam a∈ com a>0, tal que xn → a Prove que existe n0 ∈  , tal que
xn > 0 para todo n > n0 .

6. Sejama, b ∈  , tais que xn → a e yn → b . Prove que, se xn < yn para todo


n ∈  , então, a ≤ b .

106
aprimore-se

O NÚMERO e

Um importante exemplo da sequência monótona é a sequência que considerare-


mos a seguir, e que define o número e , base dos logaritmos naturais. Este número
surgiu na Matemática, pela primeira vez, no início do século XVIII, na consideração
de um problema de juros compostos, instantaneamente. Neste contexto, ele é defi-
n
 1
nido mediante o limite e  lim  1   .Trata-se de uma forma indeterminada do
 n
∞ 1
1 + tende, decrescen-
tipo 1 , pois, enquanto o expoente tende a infinito, a base
n
temente, a 1. Provaremos, aqui, que a sequência que define e é crescente e limita-
da, portanto, tem limite. Pela fórmula do binômio de Newton,
nn n
 1 n 1 n(n  1) (n  [r  1]) 1
an   1       r  1    r 
 n r 0  r  n r 1 r ! n

n
1  1   2   r 1 
 1   1    1    1   (1)
r
r 1 ! n  n   n 

Substituindo n por n +1 nesta última expressão, obtemos:


n 1
1 1  2   r 1 
an1  1   1   1    1  
r 1 r !  n  1   n  1   n 1 
Ao desprezarmos o último termo desta última somatória, somaremos até r = n,
como em (1), observando, ainda, que cada fator entre parênteses que aí aparece, é
maior do que os fatores correspondentes em (1), concluímos que an1  an , pro-
vando que a sequência (an ) é, efetivamente, crescente. Para provar que ela é limi-
tada, basta observar que cada parênteses que aparece em (1) é menor do que 1, de
sorte que, sendo n >1,

107
aprimore-se

n
1 1 1 1 1 1
(2) an    2      2   2    n1  3
r 1 r ! 2! n! 2 2 2
Sendo crescente e limitada, (an ) tem limite, que é o número e . Fica claro, tam-
bém, que esse número está compreendido entre 2 e 3. Em seguida, provaremos

 1 1
que: e  lim  2      . Para isso, supondo m > n , (1) permite escrever:
 2! n! 

m
1 1  2   r 1 
am  1    1    1    1  
r 1 r !  m   m   m 

n
1  1   2   r 1 
1   1    1    1  .
r
r 1 ! n  n   n 
Fazendo m   obtemos (observe que o sinal “>” deveria passar a ser “ ≥ “ , no
entanto, como n é arbitrário, continua valendo a desigualdade estrita):
n
1 1 1
e  1   2   
r 1 r ! 2! n!
Agora, fazemos n   , resulta em:

 1 1
e  lim  2    (3)
 2! n! 
Por outro lado, fazendo n em (2), obtemos:

 1 1
e  lim  2   
 2! n! 
e destas duas últimas desigualdades, segue o resultado anunciado em (3). Final-
n
 1
mente, provaremos que e  lim  1   . Para isso, introduzimos m  n 1 e
notamos que
 n

108
aprimore-se

1 n 1 1 1 1
1    
n n n / (n  1) (m  1) / m 1  1
m

n n m
 1  1  1  1
1    1    1   1  
 n  m  m  m
e esta última expressão tende a e , quando fazemos m tender a infinito (o que
também equivale a fazer n tender a infinito). Em vista disso, podemos escrever:
n
 1
e  lim  1   .
n  n
Fonte: adaptado de Ávila (2003).

UM POUCO DE HISTÓRIA

A primeira vez em que se tem notícia do aparecimento da ideia de limite, foi por
volta de 450 a.C. com os paradoxos de Zenão de Eleia. Em seguida, foi Eudoxo
de Cnido (século IV a.C.) e, posteriormente, Arquimedes de Siracusa (287-212
a.C.) que utilizaram o chamado método de exaustão que, para calcular a área
ou o volume de uma região, nela inscreviam uma sequência infinita de figuras
de áreas ou volumes conhecidos e tal que a soma das áreas ou dos volumes
dessas figuras tendiam à área ou ao volume da região. É essa noção de tender
que está por trás do conceito de limite.
No século XVII, vários matemáticos desenvolveram métodos algébricos para
encontrar retas tangentes a determinadas curvas. Em cada um desses métodos,
o conceito de limite era utilizado, sem ser formulado explicitamente. Isaac New-
ton (1641-1727), em Principia Mathematica, foi o primeiro a reconhecer, em certo
sentido, a necessidade do limite. No início do Livro I do Princípia, ele tenta dar uma
formulação precisa para o conceito de limite. Por outro lado, Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646-1716) que, juntamente com Newton, é considerado um dos criadores

109
aprimore-se

do Cálculo Diferencial e Integral, no seu tratamento do cálculo de áreas por meio da


uniformização do método de exaustão, fazia uso da noção de somas de infinitési-
mos, ou seja, somas de séries.
Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783) foi o único matemático da sua época que
reconheceu a centralidade do limite no Cálculo e afirmou que a definição apropria-
da do conceito de derivada requer, primeiramente, a compreensão de limite para o
qual propôs uma definição.
Em 1812, Carl Friedrich Gauss (1777-1855) deu o primeiro tratamento rigoroso
para a noção de convergência de sequências e séries, ao realizar o estudo da série
hipergeométrica, embora não utilizasse a terminologia de limite.
Finalmente, Augustin-Louis Cauchy (1789-1857), um dos grandes matemáticos
franceses da primeira metade do século XIX, formulou as noções modernas de limi-
te, continuidade e convergência de séries, obtendo resultados que marcaram uma
nova era para a Análise Matemática. No século XIX, por obra de Abel, Weierstrass,
Riemann e outros, desenvolveu-se a teoria das funções analíticas, que faz uso de
séries polinomiais convergentes para representar a importante classe das funções
analíticas.

Fonte: adaptado de Muniz Neto (2015).

110
eu recomendo!

livro

Uma breve história do infinito: dos paradoxos de Zenão ao


universo quântico
Autor: Richard Morris
Editora: Zahar
Sinopse: há, aproximadamente, 2.500 anos, ao propor seu famo-
so paradoxo, envolvendo Aquiles e a Tartaruga, o filósofo Zenão
de Eleia tocou no cerne de um dos mais duradouros e enigmáti-
cos problemas da ciência: como definir o infinito? Desde então, nossos maiores filóso-
fos naturais, lógicos, matemáticos e cientistas, de Aristóteles a Stephen Hawking, são
aturdidos e provocados pelo tema. O aclamado autor de livros de divulgação científica
Richard Morris nos guia em uma fascinante e divertida viagem por meio da história,
esclarecendo os esforços feitos, até hoje, para se compreender o conceito de infinito.
Reconstituindo essa busca, mostra-nos como cada novo confronto com a infinidade
provocou o avanço da física e da matemática. Nesse trajeto, encontramos personali-
dades como Galileu e Newton, Tycho Brahe e Giordano Bruno, além dos gigantes da
física moderna: Planck, Einstein, Bohr, Feynman, Hawking e muitos outros.

filme

O homem que viu o infinito


Ano: 2016
Sinopse: uma verdadeira história de amizade que mudou a mate-
mática para sempre. Em 1913, Ramanujan, um gênio da matemática
autodidata da Índia, viaja para a o Colégio Trinity, na Universidade
de Cambridge, aproximando-se de seu mentor, o excêntrico profes-
sor GH Hardy, e luta para mostrar ao mundo o brilhantismo de sua
mente.

conecte-se

Paradoxos de Zenão de Eleia


Este vídeo apresenta uma sátira, usando um dos famosos paradoxos de Zenão de Eleia
que viveu, aproximadamente, entre os anos de 480 a.C. e 430 a.C. Você verá, acessando
o link a seguir, como a ideia de limite de sequência perturbou os filósofos antigos.
https://www.youtube.com/watch?v=fDNAPkckL3g

111
3
LIMITE E
CONTINUIDADE

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Noções topológicas • Limites de
funções • Funções contínuas • Funções contínuas em intervalos compactos.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Distinguir os conceitos de ponto aderente e ponto de acumulação. Propiciar, por meio de exemplos,
o entendimento das definições de conjuntos abertos, fechados e compactos • Entender o conceito de
limite e acontinuidade de funções reais de uma variável. Caracterizar o conceito de limite e acontinui-
dade de funções reais de uma variável, por meio de sequências de números reais • Identificar pontos de
descontinuidade ou de continuidade de uma função real de uma variável • Analisar o comportamento
de funções de uma função real de uma variável definidas em conjuntos compactos.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), os primórdios da ideia de limite aparecem, de forma intuiti-


va, no cálculo de áreas e volumes por estudiosos da Grécia Antiga. Arquimedes e
Eudoxo não formularam, explicitamente, o conceito de limite, mas estes conceitos
estavam implícitos no “método da exaustão” usado por eles. Séculos depois, Ca-
valieri usa, novamente, esta ideia, cujo nome dado foi: métodos dos indivisíveis.
Historicamente, o conceito de limite é posterior ao conceito de derivada. A
origem da derivada encontra-se em problemas de tangência, ou seja, problemas
que consistiam em determinar a reta tangente em um ponto P da curva. Eucli-
des havia, anteriormente, estudado problemas desta natureza, quando constatou
que a reta tangente, em um ponto P de um círculo, tem a propriedade de ser
perpendicular ao raio desse círculo. As ideias de Euclides, registradas nos Itáli-
co, inspiraram diversos matemáticos no século XVII, como Descartes, Fermat
e Leibniz que contribuíram para o desenvolvimento do Cálculo Diferencial.
Os trabalhos de Leibniz, por sua vez, nessa linha de estudo, foram fortemente
criticados pelos matemáticos, pois apresentavam falhas na estrutura lógica de
suas demonstrações. Esse impasse, entretanto, foi resolvido com a formalização
da teoria de limites, a partir do século XIX.
O objetivo principal desta unidade, portanto, é estudar o comportamento
de uma classe de funções. Estas denominamos funções reais cujos domínio
e a imagem são o conjunto dos números reais, ou subconjuntos destes. Para
entender como essas funções se comportam em uma vizinhança de um pon-
to x0 , tal que x0 não precisa ser um elemento do domínio dessas funções,
vamos definir o conceito de limite, que nos informa como se comportam as
imagens dos valores de x no domínio das funções, quando esses valores se
aproximam arbitrariamente, de x0 .
Iniciamos a unidade com a apresentação de conjuntos abertos, fechados
e vizinhança de um ponto, para, então, definirmos pontos de acumulação e
conjuntos compactos. Em seguida, abordaremos as definições de limite de
funções reais de uma variável e, em seguida, listaremos e provaremos diversas
propriedades inerentes a este conceito. Um dos principais resultados que esta-
beleceremos permite caracterizar O limite, por meio de sequência convergen-
tes, que vimos na Unidade 2. Este resultado será de grande importância para
validar exemplos de inexistência de limite de funções em determinado ponto.
O próximo passo será definir função contínua em um ponto x0 , por meio do
conceito de limite, enumerar e provar algumas propriedades.
1
NOÇÕES
UNIDADE 3

TOPOLÓGICAS

Nesta aula, abordaremos algumas noções topológicas referentes a subconjuntos


de  , com objetivo de dar suporte para desenvolver os conceitos de limite e con-
tinuidade. A linguagem que adotaremos é a geométrica, usaremos a palavra ponto
para indicar o número real x , e reta para indicar o conjunto dos números reais, .

Conjuntos abertos e conjuntos fechados

A motivação para os estudos de conjuntos abertos e fechados é bem exemplifi-


cado por Lima(2004b, p. 162-163):


[...] seja a um número real maior que 2. Então para todo x ∈  sufi-
cientemente próximo de a ainda se tem x > 2 . Isto, é se deslocarmos
a um pouquinho para a esquerda (ou, evidentemente para a direita)
obteremos ainda um número maior do que 2. Já o mesmo não ocorre
quando tomamos um número racional r e o olhamos como número
racional. Deslocando-o um pouco para qualquer dos lados, podemos

114
encontrar um número irracional. Assim enquanto a propriedade de ser

UNICESUMAR
> 2 é estável (pequenos deslocamentos não a destroem), a proprie-
dade de ser irracional é instável. Os conjuntos definidos por meio de
propriedades estáveis são chamados de aberto.

Definição 3.1: sejam X ⊂ , e a ∈ . Dizemos que a é ponto interior ao


conjunto X se existe  > 0 , tal que (a  , a   )  X . O conjunto dos pontos
interiores ao conjunto X chama-se interior do conjunto X e denotamos por

int ( X ) {x X ; x é ponto interior }.


a
X
a-ε a+ε

Observe que o interior de qualquer conjunto formado por números reais está
contido no próprio conjunto, isto é, int( X )  X , X   . De fato, considere
X   e seja x ∈int( X ) , então,   0 , tal que x  ( x  , x   )  X . Portan-
to, x ∈ X , ou seja, int( X ) ⊂ X . Agora, seja X   . Suponha, por absurdo, que
existe a  int  . Dessa forma,   0 , tal que a  (a  , a   )   . Absurdo!
Portanto, int     .
Agora, veja outro resultado sobre interior de conjuntos: se X ⊂ Y ⊂  , en-
tão, int ( X ) ⊂ int (Y ) . Com efeito, dado x ∈int( X ) , temos que   0 , tal que
( x  , x   )  X . Por outro lado, X ⊂ Y , consequentemente, ( x  , x   )  Y .
Dessa forma, x ∈int(Y ) . Ou seja, int ( X ) ⊂ int (Y ) .
Quando a ∈int( X ) , dizemos que o conjunto X é uma vizinhança do ponto
a.
Exemplo 3.1: o interior de  é vazio, porque nenhum intervalo aberto pode
ser formado apenas por números racionais.
De fato, suponha, por absurdo, que existe x ∈int() . Logo, existe  > 0 , tal
que ( x  , x   )  int () . Mas existem irracionais em ( x  , x   ) , contradi-
ção! Então, int()   . Analogamente, int(  )   .

115
UNIDADE 3

explorando Ideias

No exemplo anterior, afirmamos que se x   e ε  0, existem irracionais no intervalo


( x ε, x ε) . Isso é válido, pois entre quaisquer dois números racionais sempre existe
um número irracional.
1 1
De fato, se consideramos o intervalo (0, 1), temos que é irracional e  (0, 1) .
2 2
Agora, considere um intervalo qualquer ( a, b) com a, b  . Então, b a 0 e vale
que .
1 1 1
0 1 0 (b a ) (b a ) 1 (b a ) a a (b a ) b
2 2 2
1 1
Assim, a (b a ) (a, b) e a (b a ) é um número irracional, pois é a
2 2

soma de um número racional com outro irracional.


Fonte: os autores.

Definição 3.2: dizemos que X ⊂  é um conjunto aberto em  , se int( X ) = X .


Observe que um conjunto X ⊂  só pode deixar de ser aberto se existir
um x ∈ X , tal que x não seja ponto interior. Como não existe ponto algum no
conjunto ∅ somos obrigados a admitir que ∅ é aberto em .
Exemplo 3.2: seja X ]1, [. Para todo a > 1 , temos que a ∈int( X ).
a 1
De fato, tome  > 0, tal que   a  1 , por exemplo,   e observe que
2
]a  , a  [ X . Portanto, X ]1, [ int ( X ) e X é aberto.
Temos que 1 não é ponto interior de X , pois, para todo  > 0, (1  , 1   )
não está contido em X .
Ao usarmos raciocínio análogo no Exemplo 3.2, prova-se que dados a, b ∈  ,
os conjuntos ]  , b[ e ]a, ∞[ são abertos. Além disso ]  , [  é aberto.
Exemplo 3.3: seja X  [1, [. Para todo a > 1 , temos que a ∈int( X ). De
fato, tome  > 0, tal que   a  1 e observe que ]a  , a  [ X . Temos que 1
não é ponto interior de X , pois, para todo  > 0, (1  , 1   ) não está contido
em X . Portanto, ]1, [ int ( X )  X e X não é aberto.
Exemplo 3.4: sejam a, b ∈  com a < b. Então, X =]a, b[ é aberto.

116
De fato, para todo a < x < b tome   min{x  a, b  x} e observe que  > 0

UNICESUMAR
e ( x  , x   ) ]a, b[. Portanto, ]a, b[⊂ int ( X ) e int( X ) = X .
Teorema 3.1: seja Al , com l ∈ L. Se Al é aberto para todo l ∈ L, então,
X   Al é aberto.
lL

Demonstração: segue da definição que int( X ) ⊂ X . Seja x ∈ X .

x  X  x   Al  l0  L; x  Al0 .
lL

Como x ∈ Al0 e Al0 são abertos, então, existe  > 0, tal que ( x  , x   )  Al0 .
Dessa forma,

( x  , x   )  Al0   Al  X .
lL

Logo, x ∈int( X ) e X é aberto.


Fazendo A1 ]  , b[ e A2 ]a, [, então, o Teorema 3.1 garante que
]  , b[]a, [ é aberto para todo a, b ∈ . Também segue, do Teorema 3.1,
que o conjunto dos números reais é aberto. De fato, tome L = , l = n e
An ]  n, n[ . Temos que An é aberto para todo n ∈  e ∪ An  .
n

Exemplo 3.5: sejam A, B ⊂  conjuntos abertos. Então, A ∩ B é aberto.


De fato, segue da definição int( A  B)  A  B. Seja x  A  B , então,
x ∈ A e x ∈ B . Como A e B são abertos, temos que existem 1 , 2 > 0, tais que
( x  1 , x  1 )  A e ( x  2 , x  2 )  B. Tome  = min{1 , 2 } e observe que

( x  , x   )  ( x  1 , x  1 )  A e ( x  , x   )  ( x  2 , x  2 )  B.

Portanto, ( x  , x   )  A  B, ou seja, x  int( A  B ) e A ∩ B é aberto.


Definição 3.3: dizemos que x ∈  é ponto aderente a um conjunto X ⊂  ,
quando existe uma sequência ( xn ) ⊂ X tal que lim xn = x .
X
x ...x4 x 3 x2 x1

117
Exemplo 3.6: todo ponto x E X é ponto aderente a X.
UNIDADE 3

De fato, considere a sequência constante xn  x  X , n   . Temos que


lim xn = x e, portanto, x é aderente a X .
Veja, no próximo exemplo, que um ponto pode ser aderente a um conjunto
sem que pertença a ele.
Exemplo 3.7: o ponto a é aderente a (a, b) .

 1
De fato, a sequência  a   para n , suficientemente grande, está contida
 n
 1 
em (a, b) e lim  a    a .
 n
Analogamente, b é aderente a (a, b) .
O próximo resultado nos fornece uma equivalência da definição de ponto
aderente.
Teorema 3.2: um ponto a ∈  é aderente ao conjunto X ⊂  se, e somente
se, para todo  > 0 , tem-se X  (a  , a   )  .
Demonstração: pela definição, se a é aderente a X , então, existe ( xn ) ⊂ X
com a = lim xn . Dado  > 0 , para n , suficientemente grande, temos que
xn  (a  , a   ) . Portanto, X  (a  , a   )   . Reciprocamente, se dado
 > 0 , temos X  (a  , a   )   , então, para todo n ∈  , existe n ∈ X , tal

 1 1
que xn   a  , a   . Portanto, lim xn = a .
 n n

Exemplo 3.8: sejam X ⊂  um conjunto limitado inferiormente. Então,


a = inf ( X ) é ponto aderente a X .
De fato, dado  > 0, temos que a  a  . Como a  a   e a = inf ( X ) ,
então, existe x ∈ X , tal que a  x  a  . Portanto, (a  , a   )  X  .
Exemplo 3.9: sejam Y ⊂  um conjunto limitado superiormente. Então,
b = supY é ponto aderente a Y .
De fato, para todo  > 0, temos que b    b. Como b    b e b = sup(Y ) ,
então, existe x ∈ Y , tal que b    x  b. Portanto, (b  , b   )  Y  .
Definição 3.4: seja X ⊂ . Chamamos fecho de X , e denotamos por X , o
conjunto dos pontos aderentes a X , isto é, o conjunto

118
X {x  : x é ponto aderente a X }

UNICESUMAR
é o fecho do conjunto X .
Segue da definição que a ∉ X se, e somente se, existe  > 0 , tal que
(a  , a   )  X  . Também observe que se a ∈ X , então, para todo  > 0,
temos que (a  , a   )  X   , isto é, a ∈ X . Logo, X ⊂ X .
Exemplo 3.10: o fecho de (a, b) é [a, b] , isto é, (a, b) = [a, b] .
Este exemplo segue do fato de que (a, b) ⊂ [a, b] e do Exemplo 3.7.
Definição 3.5: dizemos que X é fechado quando X = X .
Como já sabemos que X  X , X   , então, para provar que X é fecha-
do, basta mostrar que X ⊆ X .
Teorema 3.3: um conjunto X ⊂  é fechado se, e somente se, seu comple-
mentar  − X é aberto.

Demonstração: suponha que X é fechado, logo, X = X . Temos que


int(  X )    X . Vamos provar que   X  int(  X ). De fato,

x    X  x  X  X  x  X    0;(a  , a   )  X  .

Logo, (a  , a   )    X , assim,   X  int(  X ). Portanto,  − X


é aberto. Reciprocamente, suponha que A    X é aberto. Temos que
X ⊂ X . Agora, provemos que X ⊂ X . De fato, seja a ∈ X e suponha que
a ∉ X . Então, a ∈  − X . Como  − X é aberto, então, existe  > 0 , tal que
(a  , a   )    X . Dessa forma, existe  > 0, tal que (a  , a   )  X  
e, consequentemente, a ∉ X . Contradição, portanto, para todo a ∈ X , temos
que a ∈ X . Logo, X = X e X é fechado.

Corolário 3.1: um conjunto A ⊂  é aberto em  se, e somente se,  − A é


fechado em .
Demonstração: segue direto do Teorema 3.3.

119
Existem conjuntos que são abertos e fechados, simultaneamente, conforme ve-
UNIDADE 3

remos no próximo exemplo.


Exemplo 3.11: os conjuntos  e ∅ são abertos e fechados simultaneamente.
De fato, vimos que tanto o conjunto  como o conjunto ∅ são abertos.
Como  é o complementar de ∅ , temos que  é fechado. Da mesma forma
como ∅ é o complementar de  , temos que o conjunto ∅ é fechado.
Corolário 3.2:
a) A interseção de conjuntos fechados é um conjunto fechado, isto é,

b) seja Fl , com l ∈ L. Se Fl é fechado para todo l ∈ L, então, X   Fl


é fechado. lL

A união finita de conjuntos fechados é um conjunto fechado, isto é, sejam


F1 , F2 ,..., Fn ⊂  fechados em , então, a união F1 ∪ F2 ... ∪ Fn é fechado em .
Demonstração: este resultado é uma aplicação direta do Teorema 3.3, com-
binado com as propriedades de união e intersecção de conjuntos, as chamadas
leis de Morgan.

Exemplo 3.12: dados a, b ∈  com a < b. Então, X = [a, b] é fechado.


De fato,   X ]  , a[]b, [ é aberto.
Exemplo 3.13: dados a, b ∈ . Então, X  [a, [ e Y ]  , b] são fe-
chados.
De fato,   X ]  , a[ e   Y ]b, [ e ambos são abertos.
Exemplo 3.14: X  [1, 1[ não é fechado, pois 1∉ X e 1∈ X , além disso,
[1, 1]  X  X . Também, X não é aberto, pois int( X ) ]  1, 1[ X .
Teorema 3.4: o fecho de um conjunto X ⊂  é um conjunto fechado.
Demonstração: seja x    X . Então, x ∉ X e pelo Teorema 3.2,
  0 : X  ( x  , x   )   . Assim, ( x  , x   )    X e temos que x é
ponto interior de X . Como para todo ponto x    X , temos que x é ponto
interior, então,  − X é aberto e, portanto, pelo Teorema 3.3, X é fechado.

120
Pontos de acumulação e conjuntos compactos

UNICESUMAR
Definição 3.6: um ponto a ∈  é chamado de ponto de acumulação do con-
junto X ⊂  , se dado  > 0 , tem-se ( X  {a})  (a  , a   )   , ou seja, se
todo intervalo (a  , a   ) contém algum ponto x ∈ X diferente de a .
O conjunto dos pontos de acumulação de X é representado pela notação

X ' {x ; x é ponto de ção de X }.

1 
Exemplo 3.15: prove que 0 é ponto de acumulação de X   ; n    .
n 
Dado  > 0, observe que  ⊂  não é limitado superiormente. Assim, exis-
1 1
te n ∈ , talque n > , ouseja, 0 < < .Portanto, ( X  {0})  (0  , 0   )  
 n
e 0 é ponto de acumulação de X .
Proposição 3.1: dados X ⊂  e a ∈  . Então, a é ponto de acumulação
de X se, e somente se, existe uma sequência de pontos de X diferentes de a
cujo limite é a . Simbolicamente:

a é ponto de ção de X xn X {a}, n ; xn a.

Demonstração: suponha que a ∈  é ponto de acumulação de X . Dessa forma,


dado  = 1, temos que ( X  {a})  (a  1, a  1)   , ou seja, existe x1  X {a}
1
e x1  (a  1, a  1). Da mesma forma, tomando  = , temos que
2
1 1
( X  {a})  (a  , a  )  , e, consequentemente, existe x2  X {a} e
2 2
1 1 1
x2  (a  , a  ). Em geral, para cada n ∈ , podemos considerar  = e
2 2 n
1 1
teremos que ( X  {a})  (a  , a  )  , ou seja, existe xn  X {a} e
n n
1 1
xn  (a  , a  ). Portanto, existe ( xn ), tal que xn  X {a} e
n n
1 1 1 1
a   xn  a  . Temos que lim a   lim a   a. Assim, segue do
n n n n n n 121
Exercício 4 da atividade de estudo da Unidade 2 que lim xn  a.
UNIDADE 3

n

Reciprocamente, suponha que existe xn  X {a}, tal que xn → a. Dado


 > 0 , como xn → a, então, existe n0 ∈ , tal que para todo n > n0 , temos que
| xn  a | .
Para todo n > n0 , temos que

| xn  a |   a    xn  a    xn  (a  , a   ).

Como xn  X {a}, então, xn   X  {a}  (a  , a   )  .

Definição 3.7: dizemos que X ⊂  é um conjunto compacto se, e somente se,


X é limitado e fechado.
Exemplo 3.16: prove que X = [0, 1] é compacto.
De fato, já vimos que todo intervalo [a, b] , com a < b é fechado. É claro
que X é limitado, inferiormente, por 0 e, superiormente, por 1, logo, limitado.
Portanto, X é compacto.
1 
Exemplo 3.17: o conjunto X   ; n    não é compacto. Temos que X é
n  por 1, logo, limitado. Entretanto,
limitado, inferiormente, por 0 e, superiormente,
X não é fechado, pois 0 ∉ X e 0 ∈ X .
Teorema 3.5: um conjunto X ⊂  é compacto se, e somente se, toda se-
quência em X possui uma subsequência que converge para um ponto x ∈ X .
Demonstração: (⇒) seja X um conjunto compacto. Dada ( xn ) ⊂ X , como

122
X é limitado, então, ( xn ) é limitada. Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, ( xn )

UNICESUMAR
possui uma subsequência ( xnk ) ⊂ X convergente. Digamos, lim xnk  x . Como
k 
X é fechado, temos que x  X  X .
   Por contraposição, suponha que X não é compacto, então, X não é
limitado ou não é fechado.
Se X não é limitado, temos que dado n ∈  , existe xn ∈ X , tal que n <| xn | .
Portanto, toda subsequência de ( xn ) é ilimitada e segue da Proposição 2.8 que toda
subsequência de ( xn ) é divergente.
Agora, se X não é fechado, então, existe x ∈ X , tal que x ∉ X . Ou seja,
( xn )  X , tal que lim xn  x  X . Dessa forma, pela Proposição 2.7, temos
que toda subsequência de ( xn ) converge para x .

explorando Ideias

Um resultado interessante envolve os conjuntos compactos. Em cursos mais avançados,


apresenta-se como definição de conjunto compacto: “Um conjunto X é compacto se toda
cobertura aberta de X possui uma subcobertura finita”.
O que vem a ser uma cobertura aberta de X? Uma família de conjuntos abertos cuja união
contém o conjunto X. A princípio, essa família pode ter uma infinidade de conjuntos, mas
o conjunto X será compacto se for possível obter uma quantidade finita de elementos da
família dada cuja união, ainda, contém X.
O resultado apresentado é conhecido como Teorema de Borel-Lebsegue e será útil na
demonstração do Teorema de Lebesgue, presente na Unidade 5.
Fonte: os autores.

123
2
LIMITE DE
UNIDADE 3

FUNÇÕES

Vamos, agora, estender o conceito de limite de uma sequência para limite de fun-
ções reais de uma variável. Enquanto em sequências, o limite, sempre, é estudado
quando n   , para funções, substituiremos ∞ por um ponto de acumulação
do domínio da função. O limite de uma função nos informa como se compor-
tam as imagens dos valores de x no domínio da função, quando estes valores se
aproximam, arbitrariamente, do ponto de acumulação a .
Definição 3.8: sejam X ⊂  um conjunto de números reais, uma função
f : X →  e a um ponto de acumulação de X . Dizemos que L ∈  é limite
de f ( x) , quando x tende para a , e denotamos por lim f ( x)  L, quando, para
x a
todo  > 0 , existe um d > 0, tal que, para todo x ∈ X , com 0 | x  a | d , temos
que | f ( x)  L | . Ou seja,

lim f ( x)  L    0, d  0 ; 0 | x  a | d  | f ( x)  L | .
x a

A condição 0 | x  a | implica que x ≠ a. Dessa forma, a variável x não pode


assumir o valor a . Além disso, o valor de f (a ) , caso exista, não importa quando
se quer determinar L na Definição 3.8. Isso reforça que, realmente, interessa-nos
o comportamento de f ( x) em uma vizinhança do ponto a .
Dizer que o limite de f ( x) , quando x tende a a , não é igual a L , é equi-
valente a negar que se tem lim f ( x)  L, ou seja, significa que existe  > 0, tal
x a
que, para qualquer d > 0 , existe um ponto x no domínio da f com | x  a | d
e | f ( x)  L | .
124
Exemplo 3.18: seja f :   {5}   definida por f ( x)  x  5. Mostre que

UNICESUMAR
lim f ( x)  0.
x5
De fato, dado  > 0 tome d =  e observe que, para todo x    {5} , tal que
| x  5 | d  , temos que | f ( x)  0 || x  5  0 || x  5 | d  . Segue da defi-
nição que lim f ( x)  0.
x5

Exemplo 3.19: seja f :  →  definida por f ( x)  4 x  5. Mostre que


lim f ( x)  7.
x3
De fato, dado  > 0 , desejamos provar que | f ( x)  7 |  sempre que
| x  3 | d .
Devemos encontrar o número positivo d . Para isso, observe que:

f ( x)  7  (4 x  5)  7  4 x  12  4 x  3

Assim, desejamos provar que 4 | x  3 |  , sempre que | x  3 | d .


Dessa forma, o termo que dificulta a determinação de d é o número 4. Caso
este número, que, em outros exemplos, poderia ser uma expressão algébrica, não
estivesse na desigualdade anterior, poderíamos escolher, simplesmente, d =  .

Mas, no caso deste exemplo, tome d = . Assim, se x    {3} é tal que
 4
| x  3 | d  . Então,
4

0 | x  3 |  4 | x  3 |  | 4 x  12 |  | f ( x)  7 || 4 x  5  7 || 4 x  12 | .
4

Segue da definição que lim f ( x)  7.


x3

Podemos generalizar os exemplos anteriores para uma função f ( x)  ax  b .


Veja o próximo exemplo:
Exemplo 3.20: seja f :  →  definida por f ( x)  ax  b, com a ≠ 0 .
Mostre que lim f ( x)  ax0  b  f ( x0 ).
x x0
 
De fato, dado  > 0 , tome d = e seja x ∈  , tal que 0 | x  x0 | d  .
|a| |a|
Assim,

| x  x0 | | a || x  x0 |  | ax  ax0  b  b |  | f ( x)  f ( x0 ) | .
|a|

125
Segue da definição que lim f ( x)  f ( x0 ).
UNIDADE 3

x x0

Veja, na proposição, a seguir, que o limite de um módulo é o módulo do limite.


Proposição 3.2: se lim f ( x)  L , então, lim | f ( x) || L | .
x y x y

Demonstração: de fato, dado  > 0 , existe d > 0 , tal que, para todo x ∈ X
com 0 | x  y | d , tem-se:

f ( x)  L  f ( x)  L  .

A verificação da desigualdade anterior fica como exercício. Logo, lim | f ( x) || L | .


x y

A recíproca da proposição anterior não é verdadeira. Podemos verificar, consi-


derando a função f :  →  definida por:
 1, se x  0
f ( x)  
1, se x< 0
Temos que
lim | f ( x) | lim 1  1 | 1 |,
x0 x0

mas lim f ( x)  1 , pois para valores de x próximos de 0, sempre, podemos


x0
encontrar números para os quais f assume o valor −1 .
O teorema a seguirpermite caracterizar limite de função real de uma variável,
por meio de sequências convergentes.
Teorema 3.6: sejam X ⊂ , f : X → , e a ∈  um ponto de acumulação
de X , então,

lim f ( x)  L  ( xn ) ; xn  X  {a}, n  , xn  a  f ( xn )  L.
x a

Demonstração: suponha que lim f ( x)  L. Seja xn  X {a}, tal que xn → a.


x a
Queremos provar f ( xn ) → L. Para isso, seja  > 0. Por hipótese, lim f ( x)  L,
x a
então, para este  > 0 , podemos obter d > 0 , de tal forma que, para todo x ∈ X
com 0 | x  a | d , tenhamos | f ( x)  L | .
Como xn → a, então, para este d > 0, existe n0 ∈ , tal que, para todo
126
n ∈  , com n > n0 , temos que | xn  a | d. Observe que xn  X {a} e, desta

UNICESUMAR
forma, 0 | xn  a | d . Assim, | f ( xn )  L | . Portanto, f ( xn ) → L.
Reciprocamente, suponha, por absurdo, que o limite f ( x) , quando x tende a
a , não é igual a L . Dessa forma, existe  > 0 , de modo que, para d1 = 1 existe
1
x1   a  1, a  1   X  {a} e | f ( x1 )  L | . Da mesma forma, para d2 = ,
2
 1 1 
existe x2   a  , a     X  {a} e | f ( x2 )  L | . Em geral, para cada
 2 2
1  1 1
n ∈  faça dn = e temos que existe xn   a  , a     X  {a} e
n  n n
| f ( xn )  L | .
Portanto, construímos uma sequência ( xn ), com xn  X {a} para todo
1 1 1 1
n ∈ , tal que a   xn  a  . Como lim a   lim a   a, então,
n n n n n n
lim xn  a.
n
Dessa forma, | f ( xn )  L |  e xn → a, e isso é uma contradição.

1
Exemplo 3.21: seja f ( x)  cos   , x ≠ 0. Prove que não existe lim f ( x).
x x→0
1
De fato, seja xn = , com n ∈ . Temos que xn → 0 e
2np
2
f ( xn )  cos  2np   1  1. Agora, considere yn  , com n ∈ . Te-
(4 n  1)p
 p
mos que yn → 0 e f ( yn )  cos  2np    0  0. Segue do Teorema 3.6 que
 2
não existe lim f ( x).
x→0
0, se x é racional
Exemplo 3.22: seja f :  →  definida por f ( x) .
1, se x é irracional
Prove que, para todo a ∈  , não existe o lim f ( x). De fato, seja a ∈ .
x →a

Considere o intervalo (a  1, a  1). Segue do Exemplo 2.10 da Unidade 2, que


existe r1 ∈ , tal que a  1  r1  a  1 . Da mesma forma, existe r2 ∈ , tal que
127
1 1
a   r2  a  . Seguindo este raciocínio, sucessivamente, temos que existe
UNIDADE 3

2 2
1 1
rn ∈ , tal que a   rn  a  . Dessa forma, temos uma sequência de pon-
n n
1 1 1 1
tos racionais (rn ), tal que a   rn  a  . Como a   a e a   a,
n n n n
então, rn → a. Temos que f (rn )  0  0.
Por outro lado, segue do exercício 4, item b) da Unidade 2, que existe
s1    , tal que a  1  s1  a  1. Da mesma forma, existe s2    , tal

1 1 1 1
que a   s2  a  . Em geral, existe sn    , tal que a   sn  a  .
2 2 n n
Dessa forma, temos uma sequência de pontos irracionais ( sn ), tal que
1 1 1 1
a  sn  a  . Como a   a e a   a, então sn → a. Temos que
n n n n
f ( sn )  1  1. Portanto, encontramos duas sequência (rn ) e ( sn ) tais que
sn , rn → a, com f (rn ) → 0 e f ( sn ) → 1. Portanto, segue do Teorema 3.6 que
não existe lim f ( x).
x →a

O Teorema 3.6, juntamente com a unicidade e as propriedades operatórias


de limite de sequências de números reais, vistos na Unidade 2, permite validar a
unicidade do limite de uma função de números reais de uma variável e as pro-
priedades operatórias de limites dessas funções.
Corolário 3.3 (Unicidade do limite): sejam X ⊂ , f : X → , e a ∈ 
ponto de acumulação de X .
Se lim f ( x)  L e lim f ( x)  M , então, L = M .
x a x a

Demonstração: suponha que lim f ( x)  L e lim f ( x)  M .


x a x a

Considere xn  X {a}, tal que xn → a e lim f ( x)  L . Então, segue do


x a
Teorema 3.6 que f ( xn ) → L. Da mesma forma, seja xn  X {a}, tal que
xn → a e lim f ( x)  M . Então, segue do Teorema 3.6 que f ( xn ) → M . Como
x a

f ( xn ) → L e f ( xn ) → M , então, segue da Proposição 2.6 que L = M .

128 
Teorema 3.7: sejam X ⊂  , a ∈ X ' e f , g : X →  . Considere que

UNICESUMAR
lim f ( x)  L e lim g ( x)  M .
x a x a

Se L < M , então, existe >0, tal que, para todo x∈ X,


0 | x  a | d  f ( x)  g ( x) .

M L LM
Demonstração: seja    0 . Então, L     M   . Como
2 2
lim f ( x)  L e lim g ( x)  M , então, existem d1 , d2 > 0 , tais que para todo
x a x a

x ∈ X com 0 | x  y | d1 , temos | f ( x)  L |  e, para todo x ∈ X com


0 | x  y | d2 , temos: | g ( x)  m | e .
Tome d  min {d1 , d2 }  0 , então, x∈ X com
0 | x  a | d  f ( x)  ( L  , L   ) , e g ( x)  ( M  , M   ) . Dessa forma,

LM
f ( x)   g ( x) .
2

Teorema 3.8 (Teorema do Sanduíche): sejam X ⊂  , a ∈ X ' e


f , g , h : X → . Se f ( x) ≤ g ( x) ≤ h( x) , para todo x ∈ X com x ≠ a , e se,
além disso, tivermos:

lim f ( x)  lim h( x)  L,
x a x a

Então, lim g ( x)  L .
x a

Demonstração: dado  > 0 , existem d1 > 0 e d2 > 0 , tais que para x ∈ X ,

0 | x  a | d1  L    f ( x)  L  

0 | x  a | d2  L  ε  h( x)  L  ε
129
Seja d  min {d1 , d2 }  0 , então,
UNIDADE 3

0 | x  a | d  L    f ( x)  g ( x)  h( x)  L  

Dessa forma, temos que lim g ( x)  L .


x a

Corolário 3.4: sejam X ⊂ , f , g : X → , e a ∈  ponto de acumulação de


X . Se lim f ( x)  L e lim g ( x)  M , então:
x a x a

a) lim ( f ( x)  g ( x))  L  M .
x a

b) lim  f ( x).g ( x)   L.M .


x a
 f ( x)  L
c) lim    , se M ≠ 0.
x a  g ( x )  M

Este corolário nos diz que:


I - O limite de uma soma é a soma dos limites.
II - O limite de um produto é o produto dos limites.
III - O limite de uma divisão é a divisão dos limites, caso o denominador seja
não-nulo, sempre que os limites relatados existirem.

Demonstração: suponha que lim f ( x)  L e lim g ( x)  M . Considere qualquer


x a x a

sequência de pontos xn  X {a}, tal que xn → a. Segue do Teorema 3.6, que

f ( xn ) → L e g ( xn ) → M .

Logo, para qualquer sequência de pontos xn  X {a}, tal que xn → a, te-


mos que L  M  lim f ( xn )  lim g ( xn ) e segue do Teorema 2.3, item I, que
n x

M  L  lim  f ( xn )  g ( xn )). Portanto, lim ( f ( x)  g ( x))  L  M .


x x a
Da mesma forma, para qualquer sequência de pontos xn  X {a}, tal que

xn → a, temos que L.M  lim f ( xn ). lim g ( xn ) e segue do Teorema 2.3, item


n x
130
III que M .L  lim  f ( xn ).g ( xn )). Portanto, lim  f ( x).g ( x))  L.M .

UNICESUMAR
x x a

Para qualquer sequência de pontos xn  X {a}, tal que xn → a, temos


lim f ( xn ) f ( xn )
L n L
que  e segue do Teorema 2.3, item IV, que  lim .
M lim g ( xn ) M x g ( xn )
x

f ( x) L
Portanto, lim  .
x a g ( x) M

Quando lim g ( x) existe e para todo x  X , f ( x)  k (função constante), então:


x →a

lim f ( x)  g ( x)  lim k  g ( x)  lim k  lim g ( x)  k  lim g ( x)


x a x a x a x a x a

Além disso, quando lim f ( x) e lim g ( x) existem, então, os itens I e II do Co-


x →a x →a
rolário 3.4 nos garantem que:

lim f ( x)  g ( x)  lim f ( x)  ( g ( x))  lim f ( x)  lim ( g ( x))  lim f ( x)  lim g ( x)


x a x a x a x a x a x a

Limites laterais

Definição 3.9: sejam X ⊂  um conjunto de números reais. Dizemos que


a ∈  é ponto de acumulação à direita para X se existe ( xn ), com xn > a e
xn ∈ X para todo n ∈  , tal que xn → a. Da mesma forma, dizemos que a
ponto de acumulação à esquerda se, e somente se, existe ( yn ), com yn < a e
yn ∈ X para todo n ∈  tal que yn → a.
Segue da Definição 3.9 que a ∈  é ponto de acumulação à direita se, e so-
mente se, para todo  > 0 temos que (a, a   )  X  .
De fato, segue da definição de ponto de acumulação à direita para X que
existe xn ∈ X , com xn > a para todo n ∈  , tal que xn → a. Seja  > 0 e con-
sidere o intervalo (a, a +  ). Como xn → a, então, existe n0 ∈ , tal que para
todo n > n0 , | xn  a | . Mas | xn  a |   a    xn  a  .
131
Logo, para todo n > n0 , temos que a  xn  a  , e assim (a, a   )  X  .
UNIDADE 3

Reciprocamente, suponha que, para todo  > 0 , tem-se que (a, a   )  X  .


Então, dado  = 1, X  (a, a  1)  , ou seja, existe x1 ∈ X e x1  (a, a  1).
1  1
Da mesma forma, tome  = , X   a, a    , ou seja, existe x2 ∈ X
2  2
 1 
e x2   a, a   .
 2
1  1
Em geral, para cada n ∈ , tome  = , X   a, a    , ou seja, exis-
n  n
 1 
te xn ∈ X e xn   a, a   .
 n
1
Portanto, existe ( xn ), tal que xn ∈ X e a  xn  a  .
n
 1 
Temos que lim a  lim  a    a. Assim, lim xn  a. Portanto, a é
n n  n n

ponto de acumulação, à direita, para X .

De forma análoga, prova-se que a ∈  é o ponto de acumulação, à esquerda,


se, e somente se, para todo  > 0 temos que (a  , a )  X  .
Observe que, dado a ∈  e X ⊂ , se a é ponto de acumulação à esquerda
e à direita, então, a é dito ponto de acumulação.
De fato, se a é ponto de acumulação à direita e à esquerda, temos que existem
xn > a e yn < a com xn , yn → a, xn , yn  X , n  .
Defina a sequência ( zn ), z2 n1  xn e z2 n = yn . Temos que zn → a e
zn  X {a}. Portanto, segue da Proposição 3.1 que a é ponto de acumulação
de X .

 1 1 
Exemplo 3.23: seja X  1, , , ,  . Temos que 0 é ponto de acumulação,
 2 3 
1
à direita, pois existe xn = com xn ∈ X e xn > 0, para todo n ∈  e xn → 0.
n
Por outro lado, 0 não é ponto de acumulação à esquerda, pois não é possí-
vel exibir um sequência de pontos yn < 0 com yn ∈ X , para todo n ∈  com
yn → 0.

 1   n 1 
Exemplo 3.24: seja X  1  ; n      ; n    . Temos que −1
132
 n   n 
1
é ponto de acumulação, à esquerda, pois existe yn  1  com yn ∈ X e

UNICESUMAR
n
yn  1, para todo n ∈  e yn  1.
Por outro lado, -1 não é ponto de acumulação à direita, pois não é possível
exibir um sequência de pontos yn  1 com yn ∈ X , para todo n ∈  com
yn  1.
Definição 3.10: sejam f : X →  com X ⊂  e a um ponto de acumu-
lação, à direita, para X . Dizemos que L ∈  é limite lateral à direita de f ( x)
quando x tende a a e, denotamos por lim f ( x)  L, se, para todo  > 0,
x a
existe d > 0 , tal que

a  x  a  d , implica que | f ( x)  L |  .

Definição 3.11: sejam f : X →  com X ⊂  e a um ponto de acumulação,


à esquerda, para X . Dizemos que L ∈  é limite lateral à esquerda de f ( x) ,
quando x tende a a e, denotamos por lim f ( x)  L, se, para todo  > 0, existe
x a
d > 0 , tal que:

a  d  x  a implica que | f ( x)  L |  .

Teorema 3.9: sejam X ⊂ , f : X → , e a ∈  ponto de acumulação,


à direita e à esquerda, de X . Então, lim f ( x)  L, se, e somente se, f admite
x a

limites laterais à direita e à esquerda de a e lim f ( x)  lim f ( x)  L .


x a x a

Demonstração: suponha que lim f ( x)  L. Seja  > 0.


x a

lim f ( x)  L  para   0,  d  0 ; 0 | x  a | d  | f ( x)  L | .
x a

Temos que:
0 | x  a | d  x  a e a  d  x  a  d.

Em particular, se a  x  a  d, implica que | f ( x)  L | , assim, temos


lim f ( x)  L.
x a 

Da mesma forma, temosque a  d  x  a, implica que | f ( x)  L | , e,


assim, temos lim f ( x)  L.
x a
133
Reciprocamente, seja  > 0. Sendo lim f ( x)  lim f ( x)  L, então, segue
UNIDADE 3

x a x a

das Definições 3.10 e 3.11, que existem d1 > 0 e d2 > 0 tais que:

a  x  a  d1  | f ( x)  L |  e a  d2  x  a  | f ( x)  L | .

Tome d = min{d1 , d2 } e observe que, para todo x ∈ X , tal que a  d  x  a  d,


temos que:

a  d2  a  d  x  a  | f ( x)  L | .

Também, temos que:


a  x  a  d  a  d1  | f ( x)  L | .

Portanto, a  d  x  a  d | f ( x)  L |  e, assim, lim f ( x)  L.


x a

Teorema 3.10: sejam X ⊂  , f : X →  e a ∈  ponto de acumulação


à direita para X , então:

lim f ( x)  L  ( xn ); xn  X , xn  a n   e xn  a  f ( xn )  L..
x a 

Demonstração: suponha que lim f ( x)  L e seja xn ∈ X , tal que xn > a e


x a

xn → a. Queremos provar que f ( xn ) → L. Para isso, seja  > 0. Por hipótese,


lim f ( x)  L, então, para este  > 0 , podemos obter d > 0 , de tal forma que,

x a

para todo x ∈ X com a  x  a  d , temos | f ( x)  L | .


Como xn → a, então, para este d > 0, existe n0 ∈ , tal que para todo n ∈ 
com n > n0 , temos que | xn  a | d. Observe que xn ∈ X e a  xn  a  d. Em
particular, | f ( xn )  L | . Portanto, f ( xn ) → L.

134
Reciprocamente, considere uma sequência ( xn ) , tal que xn ∈ X com xn > a,

UNICESUMAR
n   e xn  a  f ( xn )  L. Suponha, por absurdo, que o limite de f ( x) ,
quando x tende a a não é igual a L . Dessa forma, para d1 = 1 existe
1
x1  (a, a  1)  X e | f ( x1 )  L | . Da mesma forma, para d2 = 2 existe
 1
x2   a, a    X e | f ( x2 )  L | .
 2
1  1
Em geral,para cada n ∈  ,faça dn = ,e temos que existe xn   a, a    X
n  n
e f ( xn )  L  . Portanto, construímos uma sequência ( xn ), com xn ∈ X para
1 1
todo n ∈ , tal que a  xn  a  . Como lim a  lim a   a, então,
n n n n
lim xn  a. Dessa forma, f ( xn )  L   e xn → a, o que é uma contradição.
n

De forma análoga ao Teorema 3.10, prova-se o seguinte resultado:


Teorema 3.11: sejam X ⊂ , f : X → , e a ∈  um ponto de acumu-
lação à esquerda para X . Então:

lim f ( x)  L  ( xn ) ; xn  X e xn  a  n  , xn  a  f ( xn )  L.
x a 

Exemplo 3.25: seja f :  → , definida por f ( x) =| x | .


Temos que lim f ( x)  0 e o lim f ( x)  0. Segue do Teorema 3.9 que
x0 x0

existe lim f ( x)  0.
x0
| x|
Exemplo 3.26: seja f :   {0}  , definida por f ( x) = . Temos que
x
lim f ( x)  1 e o lim f ( x)  1. Segue do Teorema 3.9 que não existe
x0 
x0

lim f ( x).
x→0

135
UNIDADE 3

pensando juntos

No exemplo 3.22, define-se uma função real, f :    cuja lei de formação é:

0, se x é racional
f ( x)
1, se x é irracional
e, além disso, faz-se a prova de que não existe lim f ( x), dado a  . Fazendo a leitu-
x a
ra dessa prova, como você produziria a prova da não existência do seguinte limite lateral
à direita: lim f ( x), dado a  . E no caso do limite lateral à esquerda? Ou seja, existe
x a

lim f ( x), dado a   ?


x a

3
FUNÇÃO
CONTÍNUA

Dizemos que uma função f : X →  é contínua no ponto a ∈ X , quando é


possível tornar f ( x) , arbitrariamente, próxima de f (a ) , desde que se tome x ,
arbitrariamente, próximo de a . Mais precisamente, temos a seguinte definição:
Definição 3.12 (Continuidade no Ponto): sejam f : X →  e a ∈ X . Di-
zemos que f é contínua no ponto a se, dado  > 0 , existe d > 0 , tal que x  X
com | x  a | d , tem-se | f ( x)  f (a ) |  .
136
Dizemos que f é descontínua em a , se f não é contínua em a .

UNICESUMAR
Ao contrário da definição de limite, só faz sentido perguntar se f é contínua
no ponto a , se a ∈ X . Não é necessário que a seja ponto de acumulação de X .
Veja que o número positivo d depende de  e a , ou seja, d = d (, a ) . Além
disso, na Definição 3.12 , só importa o que ocorre em X  (a  d , a  d ) . Por este
fato, dizemos que a continuidade em um determinado ponto é um conceito local.
Definição 3.13 (Continuidade): seja f : X →  . Dizemos que f é uma
função contínua em X , ou simplesmente, contínua, se f é contínua em cada
ponto de X . Caso contrário, dizemos que f é descontínua em X , ou somente
descontínua.
Exemplo 3.27: toda função constante é contínua.
De fato, seja f : X →  definida por f ( x) = k , para algum k ∈  . Então,
dados y ∈ X e  > 0 , tomando d  1  0 , temos que:

x  X com | x  y | 1 , tem-se | f ( x)  f ( y ) || k  k | 0  ,

ou seja, f é contínua em y ∈ X . Como y é arbitrário, então, f é contínua.


No próximo exemplo, mostraremos que toda sequência de números reais é
uma função contínua em n ∈ N .

Exemplo 3.28: considere uma função f :  →  . Mostrar que f é contí-


nua em n ∈  , qualquer que seja a definição de f .
1
De fato, dado  > 0 , escolha d   0 . Assim, n   temos:
2
 n 1 n 1 
 ,   n
 2 2 

1  n 1 n 1 
Com isso, m   com | m  n | , tem-se m   ,    . Logo,
2  2 2 
m = n . Consequentemente, | x(m)  x(n) || x(n)  x(n) | 0   .

Teorema 3.12: seja f : X →  uma função definida em X . Então, f é


contínua em a ∈ X se, e somente se, para qualquer sequência ( xn ) ⊂ X com
lim xn = a , tem-se lim f ( xn ) = f (a ) .

137
Demonstração:    suponha que f é contínua em a ∈ X . Seja ( xn ) ⊂ X
UNIDADE 3

com lim xn = a . Dado  > 0 , existe d > 0 , tal que:


x  X com | x  a | d , temos que | f ( x)  f (a ) |  .
Como lim xn = a , então, existe n0 ∈  , tal que, para todo n = n0 , temos que
| xn  a | d .
Dessa forma, para todo n = n0 , concluímos que | f ( xn )  f (a ) |  , ou seja,
lim f ( xn ) = f (a ) .
   Por contradição, suponha que f é descontínua em a ∈ X .
Dessa forma, existe um número  > 0 tal que, para qualquer que seja o nú-
mero d > 0 , existe xd ∈ X satisfazendo

| xd  a | d e | f ( xd )  f (a ) |  .

1 1
Assim, fazendo d = 1, , , , com n ∈  , temos que existe ( xn ) ⊂ X , tal que:
2 n
1
0 | xn  a | e | f ( xn )  f (a ) |  .
n
Pelo Teorema do Sanduíche, temos que lim xn = a , então, por hipótese, temos
que lim f ( xn ) = f (a ) , o que implica que 0  lim | f ( xn )  f (a ) |  ,ou seja,
 ≤ 0 , o que é um absurdo! Dessa forma, f é contínua em a .

pensando juntos

Segue do Teorema 3.12, juntamente com o Teorema 3.6, que, se a é um ponto de acumulação
de X , então, f : X   é contínua em a se, somente se, lim f ( x) f (a ) . Pense nisso!
x a

Não é esta a definição de função contínua que você encontrou nos seus livros de Cálculo?

138
Teorema 3.13: sejam X ⊂ , e a ∈ X um ponto de acumulação de X . Se

UNICESUMAR
f e g são contínuas em a , então:
I - f  g : X   definida por ( f  g )( x)  f ( x)  g ( x), x  X é con-
tínua em a .
II - f  g : X   definida por ( f .g )( x)  f ( x).g ( x), x  X é contínua
em a .
f f f ( x)
III - : X → , com g ( x)  0, x  X , definidapor ( x)  , x  X
g g g ( x)
é contínua em a .

Demonstração: (I) sejam f , g : X →  funções contínuas em a ∈ X . En-


tão, pelo Teorema 3.12, temos que ( xn )  X , tal que lim xn = a , temos que
lim f ( xn ) = f (a ) e lim g ( xn ) = g (a ) .
Dessa forma, utilizando as propriedades de limite de sequências, temos:.
lim  f  g   ( xn )  lim  f ( xn )  g ( xn ) 
 lim f ( xn )  lim g ( xn )
 f (a)  g (a)
 ( f  g )(a )

Assim, segue do Teorema 3.12 que f + g é contínua em a ∈ X . A demonstração


dos itens II e III segue de forma análoga.

Podemos generalizar os itens I e II do Teorema 3.13 para uma quantidade finita


de funções. Em outras palavras, se f1 , f2 ,..., f n são contínuas em um a , então,
f1 + f2 + ... + f n e f1 ⋅ f2 ⋅ ... ⋅ f n também são contínuas em a .
Além disso, utilizando o item III do Teorema 3.13, temos que se f : X → 
é contínua em a ∈ X , então, c  f : X   , com c ∈  constante, também é
contínua. Isto se deve ao fato de que toda função constante é contínua.
Da mesma forma, se f , g : X →  são contínuas em a ∈ X , então,
f  g : X   também o é, pois f  g  f  ( g ) .

139
Exemplo 3.29: toda função linear é contínua, ou seja, f :  → , definida por
UNIDADE 3

f ( x)  ax  b é contínua.
De fato, seja x0 ∈ . Temos que ( xn )   , tal que lim xn = x0 , temos que
lim f ( xn ) = f ( x0 ) . Logo, f é contínua.
Segue, das propriedades de funções contínuas e do Teorema 3.13, que toda
função polinomial p :  →  é contínua. Também, toda função racional
p( x)
f ( x) = , em que p , q são polinômios e q ( x) ≠ 0 , é contínua em seu
q( x)
domínio D( f )   x  ; g ( x)  0 .
Podemos obter funções, a partir de funções dadas por meio da composição
de funções. O próximo resultado nos garante que a composição de funções pre-
serva a continuidade.
Teorema 3.14: sejam f : X → , contínua em a ∈ X e g : Y →  con-
tínua em b  f (a )  Y com f ( X ) ⊂ Y , tal que g  f : X →  está definida.
Então, g  f é contínua em a .
Demonstração: de fato, seja  > 0 . Como g é contínua em b = f (a ),
então, para  > 0, existe h > 0 , tal que y ∈ Y , com 0 | y  b | h , temos que
| g ( y )  g (b) | . Também, por hipótese, f é contínua em a . Então, para h > 0,
existe d > 0, tal que, x ∈ X , com 0 | x  a | d implica que | f ( x)  f (a ) | h.
Dessa forma, x ∈ X , com 0 | x  a | d temos que 0 | y  b || f ( x)  f (a ) | h ,
e implica que | g ( f ( x))  g ( f (a )) || g ( y )  g (b) | . Portanto,
lim ( g  f )( x)  ( g  f )(a ).
x a

Proposição 3.3: sejam f : X → , contínua em x0 ∈ X e l ∈ . Se f ( x0 ) < l ,


então, existe d > 0, tal que f ( x) < l , para todo x  ( x0  d , x0  d )  X .
Demonstração: seja f contínua em x0 ∈ X . Então, dado
  l  f ( x0 )  0, existe d > 0, tal que x  X , 0 | x  x0 | d implica
| f ( x)  f ( x0 ) | . Dessa forma, para todo x  ( x0  d , x0  d ), temos que
f ( x)  f ( x0 ) | f ( x)  f ( x0 ) |   l  f ( x0 ). Portanto, ( x0  d , x0  d ), im-
plica f ( x) < l.

140
Funções contínuas em intervalos

UNICESUMAR
Uma função é contínua num intervalo ] a , b [, se, e somente se, f for contínua
em todos os pontos do intervalo ] a , b [. Uma função f é contínua num inter-
valo [ a , b ] se, e somente se, for contínua em todos os pontos de ] a , b [ e, além
disso, os seguintes limites laterais existem lim f ( x)  f (a ) e lim f ( x)  f (b).
x a xb

Exemplo 3.30: seja f :[6, 6]   definida por:

 x  3 se  6  x  3

 3 se  3  x  0
 2
 x se 0  x  6

Temos que lim f ( x)  f (6) e lim f ( x)  f (6). Observe, também,


x6 x6

lim f ( x)  3 e lim f ( x)  0 . Dessa forma, não existe o lim f ( x) e, assim,


x3 
x3 x3

f não é contínua em x  3. De forma análoga, vemos que não existe lim f ( x)
x→0

e f não é contínua em x = 0. Com estas observações temos, por exemplo, que


f é contínua no intervalo [−6, −3[ , mas não é contínua em [−6, −3]; f é con-
tínua em ]-3, 0[ e não é continua em 3 0 , 3, 0 , 6, 0 , 6, 0 , 6, 6 .
O próximo teorema que apresentaremos é o Teorema do Valor Intermediário
(TVI), um resultado muito importante no estudo de funções contínuas definidas
em intervalos limitados e fechados.
Teorema 3.15 (Teorema do Valor Intermediário): seja f :[a, b] → 
contínua. Se f (a ) < d < f (b), então, existe c ∈]a, b[ , tal que f (c) = d .
Demonstração: de fato, considere S  {x  [a, b]; f ( x)  d }.Temos S ⊂ [a, b]
e, dessa forma, S é limitado. Além disso S  , pois x  a  S . Como S é limita-
do, superiormente, então, existe c ∈ , tal que c = supS . Seja xn  S , n  , tal
que xn → c. Como xn ∈ S , para todo n ∈  , então, f ( xn ) ≤ d , para todo n ∈ .
Como xn → c e xn < b, para todo n ∈ , temos que c ≤ b. De forma análoga,
concluímos que a ≤ c. Sendo f contínua em [a, b] , com c ∈[a, b] e xn → c,
então, f ( xn ) → f (c).

141
Assim, f ( xn ) → f (c) e f ( xn ) < d , para todo n ∈ , e, consequentemen-
UNIDADE 3

te, f (c) ≤ d . Dessa forma, temos que f (c) = d ou f (c) < d . Se f (c) < d ,
então, segue da Proposição 3.3 que existe d > 0, tal que f ( x) < d , para todo
x  (c  d , c  d ). Observe que se c ∈[a, b], então, existe w ∈[a, b], tal que
w  (c, c  d )  (c  d , c  d ). Dessa forma, f ( w) < d . Como w ∈[a, b] e
f ( w) < d , então, w ∈ S , com c < w. Com isso, temos uma contradição, pois
c ≥ x para todo x ∈ S . Portanto, f (c) = d .

Uma interpretação geométrica para o Teorema do Valor Intermediário é dada


pela figura a seguir:

Exemplo 3.31: considere a função polinomial p :  →  dada por

p ( x)  2 x3  5 x2  6 .

Utilizando o Teorema do Valor Intermediário, vamos mostrar que p possui uma


raiz em (−1, 1) . De fato, como p(1)  1  0 e p(1)  3  0 , segue do TVI que
existe a  (1, 1) , tal que p (a ) = 0 , ou seja, existe, ao menos, uma raiz de p em
(−1, 1) .

142
UNICESUMAR
explorando Ideias

O Teorema do Valor Intermediário


O Teorema do Valor Intermediário tem importantes aplicações, tanto de natureza teórica
como prática. Além disso, tem uma visualização geométrica muito evidente. Em linguagem
corrente, ele afirma que o gráfico de uma função contínua definida em um intervalo, ao
passar de um lado a outro do eixo x , necessariamente, tem que cortar este eixo. Até o final
do século XVIII, esse resultado foi aceito como evidente, sem que ninguém pensasse em
demonstrá-lo, uma atitude muito de acordo com o espírito da época. Foi Bolzano o primeiro
matemático a fazer uma tentativa séria de demonstrar esse teorema, de maneira puramen-
te analítica, em um trabalho de 1817, trabalho este que, mais tarde, seria visto como um dos
marcos principais do início do rigor na análise das primeiras décadas do século XIX.
Fonte: Ávila (2006).

4
FUNÇÕES CONTÍNUAS EM
CONJUNTOS
COMPACTOS

Nesta aula, enunciaremos e demonstraremos o Teorema de Weierstrass. Para co-


meçar, provaremos que toda função contínua transforma um conjunto compacto
em outro conjunto compacto.
Teorema 3.16: seja f : X →  uma função contínua, com X ⊂  com-
pacto. Então, f ( X ) ⊂  é compacto.
143
Demonstração: seja ( yn ) ⊂ f ( X ) . Provaremos que ( yn ) possui uma sub-
UNIDADE 3

sequência que converge para um ponto de f ( X ) .


Como X é compacto, dada ( xn ) ⊂ X , pelo Teorema 3.5, existe ( xnk ) sub-
sequência de ( xn ) , tal que lim xnk  x  X .
k 
Considere ( xn ) ⊂ X , tal que f ( xn ) = yn , n   . Como f é contínua,
então, segue do Teorema 3.12 que

lim ynk  lim f ( xnk )  f ( x)  f ( X ) .


k  k 

Dessa forma, ( ynk ) é uma subsequência de ( yn ) que converge para f ( x) ∈ f ( X ) .


Portanto, usando novamente o Teorema 3.5, temos que f ( X ) é compacto.

Como consequência do Teorema 3.16, temos que se f : X →  é contínua, onde


X é compacto, então, f é limitada, ou seja, f ( X ) é limitado.
Teorema 3.17 (Teorema de Weierstrass): seja f : X →  uma função con-
tínua definida em um compacto X ⊂  . Então, existem a, b ∈ X , tais que

f (a ) ≤ f ( x) ≤ f (b) , x  X .

Demonstração: como f : X →  é contínua e X ⊂  é compacto, temos, pelo


Teorema 3.16, que f ( X ) ⊂  é compacto e, portanto f ( X ) , é fechado. Assim,
temos que

inf f ( X ) , sup f ( X )  f ( X )  f ( X ) .

Dessa forma, existem a, b ∈ X tais que

inf f ( X ) = f (a ) e sup f ( X ) = f (b) .

Portanto, segue, das definições de ínfimo e supremo, que

f (a )  f ( x)  f (b), x  X .


144
Geometricamente, temos:

UNICESUMAR
pensando juntos

O Teorema de Weierstrass nos mostra que toda função contínua, definida em um com-
pacto, atinge um valor máximo e um valor mínimo.

Exemplo 3.32: a função f : (0, 1) →  dada por f ( x)  x, x  (0, 1) , é contí-


nua e f ((0, 1)) = (0, 1) . Ou seja, f é limitada.
Mas como o intervalo (0, 1) não possui um mínimo, então, não existe
a ∈ (0, 1) , tal que a  f (a )  f ( x)  x , x  (0, 1) .
Da mesma forma, não existe b ∈ (0, 1) , tal que b  f (b)  f ( x)  x ,
x  (0, 1) .
Isto contradiz o Teorema de Weierstrass? Não, pois (0, 1) não é compacto.

145
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 3

Nesta unidade, você pôde aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito


de limite de funções reais de uma variável, a partir daqueles já aprendidos
no Cálculo Diferencial e Integral I.
O conceito de limite, dentro da Análise Matemática, extrapola sua apli-
cação na caracterização de funções contínuas, por exemplo, adentrando em
outros campos da Matemática Pura com aplicações em diversas áreas do
conhecimento, em especial, na Física, por meio das noções de convergência
e divergência.
A noção intuitiva do limite de funções data do século XVIII e tem como
base a noção de que o valor de uma função f em determinado valor x ,
ou seja, f ( x) tende para um número real L quando x se aproxima de um
valor a. Ou ainda, isso significa dizer que, quanto mais x se aproxima de a
no domínio, o valor f ( x) se aproxima de L no contradomínio. Por isso, a
importância dos conceitos sobre proximidade vistos nas unidades anteriores.
Nesse contexto, apresentamos o conceito de limite, inicialmente, por meio
da Definição 3.8, seguida de diversos exemplos por meio dos quais você pôde
compreender como essa definição se aplica em diversos limites de funções
já conhecidos do Cálculo I. Na sequência, o Teorema 3.6 apresenta outra
forma de concebermos esse limite, recorrendo aos conceitos de limite de
sequências de números reais, estudados na Unidade 3. Essa formulação torna
mais fáceis algumas demonstrações das propriedades de limite, da existência
e da unicidade do limite de determinada função bem como verificar se uma
função é contínua em certo ponto do seu domínio.
Desse modo, pudemos, finalmente, explorar o conceito de continuida-
de, juntamente com as suas propriedades, observando que a continuidade é
um fenômeno local. Além disso, enunciamos e demostramos o Teorema do
Valor Intermediário cuja interpretação geométrica é bastante conhecida do
Cálculo I com várias aplicações.

146
na prática

1. Sejam f , g : X →  , M > 0, e a ponto de acumulação de X , tais que


lim g ( x)  0 , e existe d2 > 0 com | f ( x) |< M para todo x  (a  d2 , a  d2 ).
x a

Prove que lim g ( x) f ( x)  0 .


x a

1
2. Sobre o limite: lim x2 sen   . É correto afirmar que:
x0  x

a) O limite não existe.


b) O limite é zero.
c) O limite é 1.
d) O limite é −1 .
e) O limite é ∞.

3. Sejam f , g , h : X →  e a ponto de acumulação de X , tais que


lim f ( x)  lim g ( x)  L. Prove que se existe d1 > 0, tal que f ( x) ≤ h( x) ≤ g ( x)
x a x a

, para todo x  (a  d1 , a  d1 ), com x ≠ a, então, lim h( x)  L.


x a

4. Sejam f , g : X →  contínuas no ponto a ∈ X , com f (a ) < g (a ). Prove que


existe d > 0, tal que f ( x) < g ( x) para todo x  (a  d , a  d )  X .

5. Sejam f :X → e a ponto de acumulação de X . Prove que:

lim f ( x)  L  lim | f ( x) || L | .


x a x a

6. Considere uma função f :X → e a ∈ X ' , e suponha que lim f ( x)  L e


x a

A < L < B . Mostre que existe d >0, tal que A < f ( x) < B , para todo
x  X  (a  d , a  d ) .

147
aprimore-se

UM POUCO DE HISTÓRIA

A primeira vez em que se tem notícia do aparecimento da ideia de limite, foi por volta de
450 a.C. com os paradoxos de Zenão de Eleia. Em seguida, foi Eudoxo de Cnido (século
IV a.C.) e, posteriormente, Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) que utilizaram o cha-
mado método de exaustão que, para calcular a área ou o volume de uma região, nela
inscreviam uma sequência infinita de figuras de áreas ou volumes conhecidos e tal que
a soma das áreas ou dos volumes dessas figuras tendiam à área ou volume da região.
É essa noção de tender que está por trás do conceito de limite.
No século XVII, vários matemáticos desenvolveram métodos algébricos para encon-
trar retas tangentes a determinadas curvas. Em cada um desses métodos, o conceito
de limite era utilizado, sem ser formulado explicitamente. Isaac Newton (1641-1727),
em Principia Mathematica, foi o primeiro a reconhecer, em certo sentido, a necessidade
do limite. No início do Livro I do Principia Mathematica, ele tenta dar uma formulação
precisa para o conceito de limite. Por outro lado, Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716),
que juntamente com Newton é considerado um dos criadores do Cálculo Diferencial e
Integral, no seu tratamento do cálculo de áreas por meio da uniformização do método
de exaustão, fazia uso da noção de somas de infinitésimos, ou seja, somas de séries.
Jean le Rond d’Alembert (1717-1783) foi o único matemático da sua época que re-
conheceu a centralidade do limite no Cálculo e afirmou que a definição apropriada do
conceito de derivada requer primeiramente a compreensão de limite para o qual pro-
pôs uma definição.
Em 1812, Carl Friedrich Gauss (1777-1855) deu o primeiro tratamento rigoroso para
a noção de convergência de sequências e séries, ao realizar o estudo da série hipergeo-
métrica, embora não utilizasse a terminologia de limite.
Finalmente, Augustin-Louis Cauchy (1789-1857), um dos grandes matemáticos fran-
ceses da primeira metade do século XIX, formulou as noções modernas de limite, con-
tinuidade e convergência de séries, obtendo resultados que marcaram uma nova era
para a Análise Matemática. No século XIX, por obra de Abel, Weierstrass, Riemann e ou-
tros, foi desenvolvida a teoria das funções analíticas, que faz uso de séries polinomiais
convergentes para representar a importante classe das funções analíticas.
Fonte: Muniz Neto (2015).

148
eu recomendo!

livro

A música dos números primos: a história de um problema


não resolvido na matemática
Autor: Marcus du Sautoy
Editora: Zahar
Sinopse: o mistério dos números primos passou a ser considerado
o maior problema matemático de todos os tempos. Em meados do
século XIX, o alemão Bernhard Riemann formulou uma hipótese: é
possível uma harmonia entre esses números primos, à semelhança da harmonia musical.
A partir de então, as mentes mais ambiciosas da matemática embarcaram nesta procura
que parece não ter fim. Atualmente, estipulou-se o prêmio de um milhão de dólares para
quem provar a hipótese. O relato deste verdadeiro Santo Graal da matemática, feito pelo
brilhante professor de Oxford, Marcus du Sautoy, também pesquisador da Royal Society,
aparece pontilhado de casos interessantes e retratos pitorescos dos personagens que,
desde Euclides, envolveram-se neste estranho mistério. Esta obra recebeu, em 2005, um
prêmio da Academia de Ciência de Göttingen, da Alemanha, e um na Itália, para o livro de
matemática mais lido no país.

filme

The Number 23
Ano: 2007
Sinopse: Walter Sparrow (Jim Carrey) é um simplório pai de família,
que ganhou um livro de presente de sua esposa, Agatha (Virginia
Madsen). Chamado O Número 23’, o livro narra a obsessão de um
homem com este número e como isto modifica sua vida. Ao lê-lo,
Walter reconhece várias de suas passagens, como situações que ele
próprio viveu. Aos poucos, ele nota a presença do número 23 em
seu passado e, também, no presente, tornando-se, cada vez mais, paranoico. O livro ter-
mina com uma morte brutal, Walter, desse modo, teme tornar-se um assassino.

conecte-se

No vídeo disponível, por meio do link a seguir, você poderá entender um pouco como os
diversos matemáticos colaboraram para o desenvolvimento da matemática, principal-
mente, no que diz respeito aos conceitos do Cálculo Diferencial e Integral.
https://www.youtube.com/watch?v=7wX5mya9wWw&t=90s

149
4
DERIVADAS

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Derivadas em um ponto • Regras
operacionais e Regra da Cadeia • O teorema do Valor Médio de Lagrange • Aplicações da derivada no
estudo de funções.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

x
Entender o conceito de derivada de uma função f em ponto 0 do seu domínio • Caracterizar as
fórmulas das funções elementares f que são deriváveis em seu domínio e compreender a derivada
da composição de funções • Apresentar o Teorema do Valor Médio e alguns resultados que são conse-
quências dele • Estudar algumas aplicações da Derivada no estudo de funções.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), esta unidade é dedicada ao estudo da de-


rivada de funções reais de uma variável real. O conceito de derivada
está, intimamente, ligado à concepção de reta tangente de uma curva
em um ponto. Esta questão foi discutida pelos gregos na Antiguidade
Clássica como o tratado das “tangências’’, conhecido nos dias de hoje
como o Problema de Apolônio. Arquimedes e Apolônio se apoiavam na
geometria para determinar tangentes a parábolas e elipse. O conceito de
tangente a uma curva em um ponto desenvolveu-se ao longo da história,
adquirindo uma forma mais consistente a partir do século XVIII.
Grandes matemáticos contribuíram com o desenvolvimento do Cál-
culo Diferencial, em grande parte, motivados em resolver problemas de
Astronomia e Física. Newton explorou o estudo do movimento de cor-
pos, por meio de curvas. Nesse sentido, uma partícula em movimento
descreve uma curva em um sistema de coordenadas.
A reta tangente fornece uma compreensão geométrica da derivada.
A origem da derivada encontra-se nos problemas geométricos clássicos
de tangência, ou seja, problemas cujo objetivo era determinar quando
uma reta intercepta uma curva dada, em um único ponto.
O objetivo principal desta unidade é estudar o comportamento de
uma classe de funções, que denominamos funções reais, cujos domínio
e imagem estão contidos no conjunto dos números reais. Para entender
como essa função se comporta na vizinhança de um ponto x0 , que não
precisa ser um elemento do domínio dessa função, definiremos o con-
ceito de limite, que nos informa como se comportam as imagens dos
valores de x no domínio da função, quando estes valores se aproximam
arbitrariamente de x0 .
Nesta unidade, abordaremos a definição de derivada, juntamente
com a sua intepretação geométrica, como coeficiente angular da reta
tangente a uma curva em ponto. Em seguida, validaremos suas princi-
pais propriedades.
1
DERIVADA EM
UNIDADE 4

UM PONTO:
Definição e Propriedades

Dos cursos de Cálculo, sabemos que a derivada representa a inclinação da reta


tangente ao gráfico de uma função. A motivação geométrica de sua definição vem
do fato de que a reta tangente ao gráfico de uma função f , em um ponto a ,
pode ser obtida como o limite das inclinações das retas secantes a f nos pontos
x e a , quando x se aproxima de a .

y=f(x)

secante
f(x)

tangente

f(a)

a x

152
f ( x)  f (a)
Observe que a inclinação da reta secante é dada por m  ,

UNICESUMAR
xa
e a inclinação da reta tangente pode ser obtida, calculando o limite:
f ( x)  f (a)
lim .
x a xa
Embora exista uma interpretação geométrica para a derivada, o desenvolvimento
lógico do nosso texto pode seguir sem ela. Entretanto, sempre é bom imaginar,
graficamente, cada resultado apresentado. Desse modo, o limite dado em é um dos
limites mais importantes da matemática, conforme apresenta a seguinte definição.
Definição 4.1: Sejam X ⊂  um conjunto de números reais, f : X → 
e a ∈ X , um ponto de acumulação de X . O limite, que denotamos por f '(a ),
dado por
f ( x)  f (a) f ( a  h)  f ( a )
lim  lim  f (a ),
x a xa h0 h
caso exista, é chamado de derivada da função f no ponto a . Quando f '(a )
existir, dizemos que f é diferenciável ou derivável no ponto a . Se para todo
ponto x ∈ X , x é ponto de acumulação de X e existe f '( x) , então, dizemos
que f : X →  é derivável ou diferenciável no conjunto X .

pensando juntos

Você observou que, na definição anterior, temos dois limites para definir a derivada de
uma função f ? Na verdade, esses limites são iguais e isso pode ser visto a partir da mu-
dança de variável h x a. Pense nisso!

Notação: para representar a derivada de f no ponto a , são equivalentes as


seguintes notações:
d df
f (a )  f (a)   D f (a)
dx dx x a

A seguir, vejamos alguns exemplos de como determinar a derivada de uma fun-


ção, usando a definição anterior.
153
2
Exemplo 4.1: Seja f :  → , definida por f ( x)  x  2. Calcule a deri-
UNIDADE 4

vada de f no ponto x = 2.

f ( x)  f (2) x2  2  2 x2  4 ( x  2)( x  2)
f '(2)  lim  lim  lim  lim  lim ( x  2)  4.
x2 x 2 x2 x 2 x2 x  2 x2 x 2 x2

Exemplo 4.2 (Derivada de uma função constante): Seja f :  → , definida


por f ( x) = c, em que c é constante. Calcule f '( x), para todo x ∈ .
De fato, para todo x ∈ X ,
f ( x  h)  f ( x ) cc
f ( x)  lim  lim  0.
h0 h h0 h

Exemplo 4.3 (Derivada de uma função afim): Seja f :  → , definida por


f ( x)  ax  b, com a e b reais. Calcule f ′( x) , para todo x ∈  .
De fato, para todo x ∈ ,

f ( x  h)  f ( x ) a ( x  h)  b  (ax  b) ax  ah  b  ax  b ah
f ( x)  lim  lim  lim  lim  a.
h0 h h0 h h0 h h0 h

A partir deste exemplo, vemos, facilmente, que se f é uma função constante,


então, sua derivada é igual a zero, simplesmente, considerando a = 0 no exemplo
anterior.
Exemplo 4.4 (Derivada de uma função polinomial): Sejam f :  → 
n
e n ∈  com f definida por f ( x) = x . Calcule f '( x) para todo x ∈ .
De fato, para todo x ∈ ,
f ( x  h)  f ( x ) ( x  h) n  x n
f '( x)  lim  lim .
h0 h h0 h
Segue do Teorema Binomial,

n 2 n  n1 n2  n  k nk 1 


   n  n1
( x  h) n  x n  h n    x k h nk    x h  x  x  h  h    x h
n n n 1
  nx h.
k 1  k   n  1   k 1  k  

154
Dessa forma,

UNICESUMAR
 n 2 n 
 
h  h n1    x k h nk 1   nx n1h
 
k 1  k   n 2 n 
 
f '( x)  lim    lim  h n1    x k h nk 1   nx n1  nx n1
 
h0 h h0
 k 1  k  

o que mostra o desejado.


Agora, consideremos que f : X →  seja derivável no ponto a  X  X  .
Então, pela definição de derivada, sabemos que
f ( a  h)  f ( a )
f (a )  lim
h0 h
ou ainda,
f ( a  h)  f ( a )
lim  f (a )  0.
h0 h
A expressão anterior, ainda, pode ser reescrita como
f (a  h)  f (a ) f (a ).h
lim  0.
h0 h
Agora, motivados por essa relação, se definirmos

r (h)  f (a  h)  f (a )  f (a ).h

sabemos que
r ( h)
lim  0.
h0 h

Por outro lado, se existe c ∈  , tal que

f (a  h)  f (a )  c.h  r (h)

r ( h)
quando a  h  X e quando r (h) têm a propriedade de lim  0 , então,
h0 h
isolando r (h) na expressão anterior, obtemos:

r (h)  f (a  h)  f (a )  c.h.
155
Se dividirmos por h e tomarmos o limite quando h tende a zero, vemos que
UNIDADE 4

r ( h) f ( a  h)  f ( a )  c  h f ( a  h)  f ( a ) c  h
0  lim  lim  lim 
h0 h h0 h h0 h h
ou seja,
f ( a  h)  f ( a )
c  lim
h0 h
Pela definição de derivada segue que c  f (a ) .
Em resumo, a essa discussão demonstra o seguinte teorema:
Teorema 4.1: Seja f : X →  e a  X  X  . A função f é derivável em a
se, e somente se, existe c ∈  , tal que

f (a  h)  f (a )  c.h  r (h)

r ( h)
sempre que a  h  X e lim  0 . Sendo f derivável em a , vale que
h0 h
c  f (a ) .
Além disso, do teorema anterior, observe que f ser derivável em a  X  X ' ,
equivale a dizer que existe uma função a satisfazendo

f (a  h)  f (a )  [ f '(a )  a (h)].h com lim a (h)  0 .


h0

Para satisfazer a expressão anterior, basta definir a para todo h , tal que a  h  X
da seguinte maneira:
r ( h) f ( a  h)  f ( a )
a(h)    f '(a ) se h ≠ 0
h h
e a(h) = 0 se h = 0 . Com esta definição, observe que a função a é contínua
em h = 0 .
Observação 4.1: em resumo, das considerações anteriores, concluímos que
a existência da derivada f '(a ) equivale à continuidade da função a em 0 .
Essa observação nos fornece uma caracterização de função derivável que
será usada para a demonstração da Regra da Cadeia, presente na próxima aula.
O próximo resultado nos diz que uma função é contínua nos pontos em que é
derivável. Este fato é dado pelo teorema a seguir e é, geralmente, utilizado na demons-
tração do Teorema Fundamental do Cálculo que relaciona derivadas com integrais.
156
Teorema 4.2:sejam X ⊂  , a ∈ X um ponto de acumulação de X . Se f

UNICESUMAR
é derivável em a , então, f é contínua em a .
Demonstração: Suponha que f é derivável em a ∈ X . Dessa forma, existe
f ( x)  f (a )
f '(a ) e f '(a )  lim . Para todo x ∈ X , x ≠ a, podemos escrever:
x a xa
f ( x)  f (a)
f ( x)  f (a)  ( x  a ).
xa
Fazendo,
f ( x)  f (a) f ( x)  f (a )
lim f ( x)  f (a )  lim ( x  a )  lim lim ( x  a )  f '(a ).0  0.
x a x a xa x a xa x a

Logo, lim f ( x)  f (a )  0, ou seja, lim f ( x)  f (a ). Portanto, f é contínua


x a x a
em a

Por outro lado, a recíproca do último teorema não é verdadeira,conforme mostra


o exemplo a seguir.
Exemplo 4.5: Sejam f :  → , definida por f ( x) =| x | . Temos que f é
contínua em x = 0, entretanto, f não é derivável em x = 0. Pois,
f (0  h)  f (0) |h|
lim  lim .
h0 h h0 h

Temos que lim  1 e lim  1 . Logo, não existe f '(0) e, portanto, f não é
h0 h0

derivável em x = 0.
Exemplo 4.6 (Regra de L’Hôpital): Uma das mais comuns aplicações de
derivada nos cursos de cálculo se trata da Regra de L’Hôpital. Ela diz que
f ( x) f (a )
lim 
x a g ( x) g (a )
quando lim f ( x)  f (a )  0  g (a )  lim g ( x) e g (a )  0 . Para sua demons-
x a x a
tração, basta observar que

f ( x)  f (a) f ( x)  f (a)
lim
f ( x) xa xa f (a )
lim  lim  x a  .
x a g ( x ) x a g ( x )  g ( a ) g ( x)  g (a ) g (a )
lim 157
xa x a xa
2
REGRAS OPERACIONAIS E
UNIDADE 4

REGRA DA CADEIA

Para calcular a derivada de uma função derivável em um ponto do seu domínio,


podemos, sempre, recorrer à definição de derivada e efetuar tal cálculo, caso a de-
rivada exista naquele ponto.Recorrer, entretanto, sempre, à definição pode tornar
oneroso o cálculo da derivada. Dessa forma, vejamos algumas regras operacionais
de derivada que visam facilitar esse cálculo.
Teorema 4.3: sejam X ⊂ , a ∈ X um ponto de acumulação de X e
f , g : X → , funções deriváveis em a . Então:
I - f  g : X  , definida por ( f  g )( x)  f ( x)  g ( x), x  X é de-
rivável em a . Além disso, ( f  g ) '(a )  f '(a )  g '(a );
II - kf : X → , definida por (kf )( x)  kf ( x), x  X é derivável em a .
Além disso, (kf ) '(a ) = kf '(a );
III - f .g : X → , definida por ( f .g )( x)  f ( x).g ( x), x  X é derivável
em a . Além disso, ( f .g ) '(a )  f '(a ).g (a )  f (a ).g '(a);
f
IV - : Y → , com Y  {x  X ; g ( x)  0} , definida por
g
f f ( x)
( x)  , x  Y é derivável em a , desde que g (a ) ≠ 0 . Além
g g ( x)
 f  f '(a ).g (a )  f (a ).g '(a )
disso,   '(a )  2
.
g  
g ( a )
158
Demonstração:

UNICESUMAR
Por hipótese,
f ( x)  f (a) g ( x)  g (a)
f '(a )  lim e g '(a )  lim .
x a xa x a xa
Sendo f e g deriváveis em x = a , então, segue do Teorema 4.2 que, f e g
são contínuas em x = a, ou seja, lim f ( x)  f (a ) e lim g ( x)  g (a ). Assim,
x a x a
temos:
I -

( f  g )( x)  ( f  g )(a) f ( x)  g ( x)  f (a )  g (a )
( f  g ) '(a )  lim  lim
x a xa x a xa
f ( x)  f (a) g ( x)  g (a)
 lim  lim  f '(a )  g '(a ).
x a xa x a xa
II -

(k . f )( x)  (k . f )(a ) kf ( x)  kf (a ) k ( f ( x)  f (a ))
(kf ) (a )  lim  lim  lim
x a xa x a xa x a xa
f ( x)  f (a)
 k lim  kf '(a ).
x a xa
III -
( f .g )( x)  ( f .g )(a) f ( x).g ( x)  f (a ).g (a )
( f .g )(a )  lim  lim
x a xa x a xa
f ( x).g ( x)  f (a ).g (a )  f ( x).g (a )  f ( x).g (a )
 lim
x a xa
f ( x)  f (a) g ( x)  g (a)
 lim .g ( a )  . f ( x)
x a xa xa
f ( x)  f (a) g ( x)  g (a)
 lim  lim g (a )  lim  lim f ( x)
x a xa x a x a xa x a
 f '(a )  g (a )  g '(a )  f (a ).
IV - Podemos escrever:
 f   f 
 g  ( x)   g  (a)
    1  f ( x)  f (a) g ( x)  g (a) 
  .g ( a )  . f (a)  .
xa g ( x) g (a)  xa xa 
159
Portanto,
UNIDADE 4

 f   f 
'  g  ( x)   g  (a)
 f     
  (a )  xlim
g a xa
1   f ( x)  f (a)   g ( x)  g (a)  
 lim   lim    g (a )  lim    f (a) 
x a g ( x ) g ( a )  x a  xa  x a  xa  
1
   f '(a ) g (a)  f (a ) g '(a ) 
g (a) g (a)
f '(a )  g (a )  f (a )  g '(a)
 .
 g (a)2
Isto encerra a demonstração.

pensando juntos

No Exemplo 4.4, deduzimos uma fórmula para derivada de f ( x )  x n , para todo n  0.


n
Dada g ( x ) x , em que n  0 e x  0, obtenha uma fórmula para a derivada da fun-
ção g, usando as regras operacionais dadas no teorema anterior.

Sabemos que a equação geral de uma reta que passa pelo ponto (a, b) e tem
coeficiente angular m , é dada por

y  b  m( x  a ).

Por outro lado, sabemos que a derivada f '(a ) de uma função f no ponto a
fornece o coeficiente angular da reta tangente à curva de equação y = f ( x) .
Assim, a equação da reta tangente à curva y = f ( x) , no ponto (a, f (a )) , é
dada por

y  f (a )  f '(a ).( x  a )
160
tangente

UNICESUMAR
f(x) y=f(x)

f(a)

a x

2
Exemplo 4.7: Considere a curva C definida por y = x , x ∈[0, 6]. Encontre a
equação da reta tangente à curva C no ponto P = (5, 25).
2
Para isso, observe que a derivada da função f ( x) = x é f '( x) = 2 x . Desta
forma,= m f= '(5) 10 e a equação da reta tangente é y  25  10( x  5) , ou
melhor, y  10 x  25 .
Além das regras operacionais vistas anteriormente destaca-se a Regra da
Cadeia dada pelo teorema a seguir. Essencialmente, a Regra da Cadeia facilita o
cálculo de derivadas de funções compostas. Para sua demonstração, utilizaremos
o Teorema 4.1, que caracteriza as funções deriváveis.
Teorema 4.4 (Regra da Cadeia): sejam X ⊂ , Y ⊂ , f : X → ,
g : Y → , com a ∈ X um ponto de acumulação de X e b ∈ Y um ponto de
acumulação de Y , sendo que b = f (a ) e f ( X ) ⊂ Y . Se f é derivável em a
e g é derivável em b , então, g  f : X →  é derivável em x = a . Além disso,
( g  f ) '(a )  g '  f (a )   f '(a ).
Demonstração:
Como f é derivável em a , pelo Observação 4.1, temos que

f (a  h)  f (a )   f '(a )  a (h)   h

com lim a (h)  0 e a é contínua em h = 0 . Analogamente, como g é derivável


h0

em b , temos que

g (b  k )  g (b)   g '(b)  b (k )   k ,
161
com lim b (k )  0 e b é contínua em k = 0 .
UNIDADE 4

k 0

Assim, definindo

k  f ( a  h)  f ( a )

temos que

k   f '(a )  a (h)   h e f (a  h)  b  k .

Desta forma,

( g  f )(a  h)  g  f (a  h)   g (b  k )  g (b)   g '(b)  β (k ) k


 g (b)  g '(b).k  β (k ).k
 g (b)  g '(b)  f '(a )  α (h) .h  β  f (a  h)  f (a )    f '(a )  α (h)   h
 g (b)  g '(b) f '(a )  h  g '(b)  α (h)  h  β  f (a  h)  f (a )    f '(a )  α (h)   h
 
 
 g  b    g '  b   f '  a   g '  b   α  h   β  f  a  h   f  a     f '  a   α  h    h

 :η  h  
 

Definindo η (h)  g '(b)  α (h)  β  f (a  h)  f (a )    f '(a )  α (h)  , a expres-


são anterior pode ser reescrita como

( g  f )(a  h)  g (b)   g '(b)  f '(a )  h (h)   h

Ou ainda,

( g  f )(a  h)  g (b)   g '  f (a )  . f '(a )  h (h)   h .

Sendo f contínua em a , e como a e b são contínuas em 0, segue que a fun-


ção h definida, anteriormente, também é contínua em 0 e, consequentemente,
lim h (h)  0 . Logo, em virtude da Observação 4.1 e da expressão anterior, resulta
h0
que a composta g  f é derivável em a e sua derivada é g '( f (a )). f '(a ) .

162
3 32
Exemplo 4.8: sejam h :  → , definida por h( x)  ( x  2 x  1) . Calcule

UNICESUMAR
h '( x).
que h( x) (=
Observe = g  f )( x) g ( f ( x)) em que

f ( x)  x3  2 x  1 e g ( x) = x32

2 31 3 31
Assim, f '( x)  3 x  2 , g '( x) = 32 x e g '( f ( x))  32( x  2 x  1) . Pelo
Teorema 4.4, segue que

h '( x)  ( g  f ) '( x)  g '  f ( x)  . f '( x)  32( x3  2 x  1)31.(3 x2  2) .

3
O TEOREMA DO
VALOR MÉDIO
de Lagrange

Definição 4.2: Dizemos que uma função f : X →  tem um máxi-


mo local em c ∈ X , se existe um d > 0 , tal que f (c) ≥ f ( x) para todo
x  X   c  d , c  d . Semelhantemente, dizemos que uma função f : X → 
tem um mínimo local em c ∈ X , se existe um d > 0 , tal que f (c) ≤ f ( x) para
todo x  X   c  d , c  d  . Quando f tem um máximo ou mínimo local em
c , dizemos que f tem um extremo local em c .
163
Teorema 4.5: Considere uma função f definida no intervalo de extremos a e
UNIDADE 4

b , a < b . Se f tem um extremo local em c ∈ (a, b) e f é derivável em c , então,


f '(c) = 0 .
Demonstração:faremos a demonstração para o caso de f ter um máximo
local em c . A demonstração para mínimo local é análoga. Se f tem um máxi-
mo local em c , então, a Definição 4.2 nos garante que existe d > 0 de modo que

f (c) ≥ f ( x) para todo x  X  (c  d , c  d ) ,

ou ainda,

f (c)  f ( x)  0 para todo x  X  (c  d , c  d ) .

Como c é um ponto interior do intervalo (a, b) podemos, se necessário, res-


tringir o valor de d dado anteriormente, de modo que

a  c d  c  c d  b .

Se c  d  x  c , então,
f (c )  f ( x )
0
cx
uma vez que c  x  0 e f (c)  f ( x)  0 .
Por outro lado, se c  x  c  d , então,
f (c )  f ( x )
0,
cx
uma vez que c  x  0 e f (c)  f ( x)  0 .
Das desigualdades descritas, segue que:
f (c )  f ( x ) f (c )  f ( x )
lim  0 e lim 0
x c  cx x c  cx
Como f é derivável em c , sabemos que o limite
f (c )  f ( x )
lim
x c cx
164
existe e, neste caso, os limites laterais existem e são iguais. Assim, a única possi-

UNICESUMAR
bilidade é que se tenha
f (c )  f ( x )
f '(c)  lim 0
x c cx
o que encerra da demonstração.

4 2
Exemplo 4.9: a função f ( x)  x  2 x tem um máximo local em x = 0 , e
3
mínimos locais em x  1 e x = 1 . Observe que f '( x)  4 x  4 x se anula nos
extremos locais, conforme garante o último teorema.

y
y=x 4 -2x 2

-1 1
x

-1
Observação 4.2: a recíproca do teorema anterior não é verdadeira, isto é, se
f '(c) = 0 , não quer dizer que f tenha um máximo ou mínimo local em c . Essa
3 2
situação é, facilmente, ilustrada pela função f ( x) = x . Veja que f '( x) = 3 x
, ou seja, f '(0) = 0 , mas a função f não tem máximo, nem mínimo local em
x = 0 , conforme pode ser visto no gráfico a seguir.

165
y
UNIDADE 4

y=x 3

Algumas vezes, você pode não prestar atenção se, em determinado teorema ou
definição, escrevemos um intervalo aberto ou um intervalo fechado. Pode parecer
que um ponto a mais ou a menos em um intervalo não faça muita diferença. Cui-
dado! Sempre existe um motivo para enunciar um resultado de tal forma, por isso,
é importante que você reflita sobre ele, perguntando-se o porquê daquela forma.
Vejamos a seguinte situação: se f :[a, b] →  tem um extremo local em a
ou b , não quer dizer que a derivada se anule nestes extremos. A função f ( x) = x
para x ∈[0, 1] ilustra bem este fato, pois tem um mínimo em x = 0 e um máximo
em x = 1 .A derivada de f , entretanto, é igual a 1 para todo x ∈[0, 1] . Note que
isso não contraria o teorema anterior, pois 0 e 1 não pertencem ao intervalo
(0, 1) . Esta disciplina é repleta de detalhes como este!
Teorema 4.6 (Teorema de Rolle): seja f :[a, b] →  uma função contínua
em todos os pontos de seu domínio. Se f é derivável no intervalo aberto (a, b)
e f= (a ) f= (b) 0 , então, existe c ∈ (a, b) tal que f '(c) = 0 .
Demonstração: como f é contínua no intervalo fechado [a, b] , pelo Teo-
rema de Weierstrass, seu valor máximo M e seu valor mínimo m são atingidos
em pontos de [a, b] . Isto é, existem x0 e x1 pertencentes à [a, b] tais que

f ( x0 ) = M e f ( x1 ) = m .

166
Se x0 e x1 são os extremos do intervalo [a, b] , então, M = m , o que implica

UNICESUMAR
que f é constante e, consequentemente, f '( x) = 0 para todo x ∈[a, b] . Caso
contrário, pelo menos um dos números x0 ou x1 pertencem a (a, b) . Sem perda
de generalidade, suponha que x0 ∈ (a, b) . Como f tem um extremo relativo
em x0 , segue do teorema anterior que f '( x0 ) = 0 . Assim, basta tomar c = x0 e
o teorema está provado.

Observação 4.3: no Teorema de Rolle, a hipótese de f ser derivável em todo o


intervalo aberto (a, b) é fundamental para garantir a existência de um ponto em
que a derivada se anule, conforme ilustrado, graficamente, a seguir.

y
y=f(x)

Ou seja, a função não constante ilustrada não é derivável nos pontos em que
atinge seus valores extremos.
A seguir, temos o Teorema do Valor Médio, às vezes, também, chamado de
Teorema dos Acréscimos Finitos. Para sua demonstração, usaremos o Teorema
de Rolle, provado anteriormente.
Teorema 4.7 (Teorema do Valor Médio):seja f :[a, b] →  uma função
contínua em todos os pontos de seu domínio. Se f é derivável no intervalo
aberto (a, b) , então, existe c ∈ (a, b) , tal que
f (b)  f (a )
f '(c)  .
ba

167
Demonstração: com o objetivo de aplicar o Teorema de Rolle, a partir da função
UNIDADE 4

f dada, definimos uma função auxiliar g :[a, b] →  , como sendo a reta que
passa pelos pontos  a, f (a )  e  b, f (b)  .

y=g(x)
f(b) y=f(x)

f(a)

a c c´ b x

isto é,
f (b)  f (a )
g ( x)  ( x  a)  f (a)
ba
Agora, observe que função defina por

F ( x)  g ( x)  f ( x)

é contínua em [a, b] , derivável em (a, b) e, além disso, satisfaz F=


(a ) F=
(b) 0 .
Assim, pelo Teorema de Rolle, existe c ∈ (a, b) de modo que F '(c) = 0 . Logo,
f (b)  f (a )
0  F '(c)  g '(c)  f '(c)   f '(c) ,
ba
ou seja,
f (b)  f (a )
f '(c)  ,
ba
como queríamos demonstrar.


168
Exemplo 4.10: qual função cresce mais rápido, exponencial ou polinomial? A

UNICESUMAR
resposta para essa questão é uma simples aplicação do Teorema do Valor Médio.
Considere função exponencial de base a > 1 , f :  →  , definida por

f ( x) = a x .

x
Do Cálculo, sabemos que f '( x) = a .ln a . Assim, tomando x > 0 e aplicando o
Teorema do Valor Médio no intervalo [0, x] , obtemos a existência de um número
c ∈ (0, x) , tal que:

f ( x)  f (0)  f '(c)( x  0) ,

isto é,

a x  1  a c .ln a.( x  0) .

c
Como c > 0 e a > 1 segue que a > 1 . Assim, da expressão anterior, obtemos que

a x  1  x.ln a, x  0 .

Como a desigualdade anterior é válida para todo x > 0 , então, continua verda-
x
deira, quando trocamos x por em que x > 0 e n ∈  . Ou seja, vale que
n +1
x
n x
a 1  1 .ln a
n 1
Da expressão anterior, segue claramente que
x
x
a n1  .ln a .
n 1
Elevando ambos os membros a n +1 , temos que
x n1
ax  .ln a .
(n  1) n1
o que implica em

169
UNIDADE 4

ax x
>
xn A

(n  1) n1
em que A  é uma constante em relação a x . Como
ln a

xn A
0< <
ax x

A
e lim  0 , pelo Teorema do Sanduíche, vem que
x x

xn
lim  0.
x ax
A resposta da nossa questão segue do resultado deste limite. Como este limite é
igual a zero, segue que o denominador cresce muito mais rápido que o numera-
do, quando x   . Isto é, a função exponencial cresce muito mais rápido que
qualquer potência de x .

pensando juntos

A fim de complementar o último exemplo, verifique como é possível mostrar que


P( x)
lim x
0, em que a  1 e P( x) an x n an 1 x n 1
 a1 x a0 é um polinô-
x a
mio de grau n.

Um resultado muito usado, desde os cursos de Cálculo, diz que se a derivada de


uma função é igual a zero, então, a função é constante. Esse resultado deriva do
Teorema do Valor Médio, e é demonstrado a seguir.
Teorema 4.8: seja f : I →  uma função contínua em I e derivável em
int I . Se f '( x) = 0 para todo x ∈int I , então, f é constante em I .
Demonstração: de fato, dados x, y ∈ I , pelo Teorema do Valor Médio exis-
te c ∈int I , entre x e y , tal que

f ( x)  f ( y )  f '(c)( x  y ) .
170
Como f '(c) = 0 , temos que

UNICESUMAR
f ( x )  f ( y )  0( x  y )  0  f ( x )  f ( y )

para quaisquer x, y ∈ I . Logo, f é constante em I , o que mostra o desejado.

Outra consequência do Teorema do Valor Médio é que duas funções, que pos-
suem a mesma derivada, diferem por uma constante, conforme apresenta o pró-
ximo teorema.
Teorema 4.9:sejam f , g : I →  funções contínuas em I e deriváveis
em int I . Se f '( x) = g '( x) , para todo x ∈int I , então, existe c ∈  , tal que
f ( x)  g ( x)  c , para todo x ∈ I .
Demonstração:para demonstrar este resultado, consideremos a função
h : I →  , definida por

h( x )  f ( x )  g ( x ) .

Observe que

h '( x)  f '( x)  g '( x)  0 ,

em virtude da hipótese que f '( x) = g '( x) . Assim, a função h está nas condições
do teorema anterior, isto é, h é constante. Logo, existe c ∈  , tal que

h( x)  c, x  I .

Assim, provém da definição da função h que

f ( x )  g ( x )  h( x )  c
 f ( x)  g ( x)  c

como queríamos demonstrar.


171
Como outra consequência do Teorema do Valor Médio, estabelecemos um
UNIDADE 4

resultado de valor intermediário para derivadas.


Teorema 4.10 (Teorema de Darboux): ssuponha que f :[a, b] →  seja
derivável em todo o seu domínio e que f '(a ) < d < f '(b) para algum d ∈  .
Então, existe c ∈ (a, b) tal que f '(c) = d .
Demonstração: defina g (t )  f (t )  d . t . Note que g , assim definida, é
derivável em [a, b] e

g '(t )  f '(t )  d .

Fazendo t = a vem que

g '(a )  f '(a )  d .

Como f '(a ) < d segue que f '(a )  d  0 e, da expressão a anterior, temos que

g '(a ) < 0 .

Assim, existe t1 ∈ (a, b) , tal que g (t1 ) < g (a ) . Semelhantemente, temos que
g '(b) > 0 e, consequentemente, existe t2 ∈ (a, b) , tal que g (t2 ) < g (b) . Sendo
g derivável e, portanto, contínua no compacto [a, b] , segue do Teorema de
Weierstrass que g atinge seu mínimo em algum ponto c ∈ (a, b) , uma vez
que este não pode ocorrer nos extremos do intervalo, em virtude da existência
de t1 e t2 . Como c ∈ (a, b) e g tem aí um extremo local, segue, pelo Teorema
4.5, que g '(c) = 0 , isto é, f '(c) = d como queríamos demonstrar.

Uma versão análoga do Teorema de Darboux pode ser enunciada com


f '(a ) > f '(b) . Em qualquer caso, este teorema nos diz que f '( x) assume
todos os valores entre f '(a ) e f '(b) .

172
4
APLICAÇÕES DA DERIVADA NO

UNICESUMAR
ESTUDO DE
FUNÇÕES

A seguir, veremos alguns resultados referentes a intervalos de crescimento e decres-


cimento de funções, pontos críticos, máximos e mínimos, envolvendo derivadas.
O primeiro resultado é uma aplicação do Teorema do Valor Médio e diz que
os intervalos de crescimento e decrescimento de uma função podem ser deter-
minados pelo sinal da derivada. Antes deste resultado, porém, definiremos os
conceitos de função crescente e decrescente.
Definição 4.3: considere uma função f : I →  definida em um intervalo
I . Dizemos que:
I - f é crescente em I se f ( x1 ) < f ( x2 ) , sempre que x1 , x2 ∈ I e x1 < x2 .
II - f é decrescente em I se f ( x1 ) > f ( x2 ) , sempre que x1 , x2 ∈ I x1 < x2 .
III - f é não decrescente em I se f ( x1 ) ≤ f ( x2 ) , sempre que x1 , x2 ∈ I e
x1 < x2 .
IV - f é não crescente em I se f ( x1 ) ≥ f ( x2 ) , sempre que x1 , x2 ∈ I e
x1 < x2 .

Teorema 4.11: seja f : (a, b) →  uma função derivável.


I - Se f '( x) > 0 para todo x ∈ (a, b) , então, f é crescente.
II - Se f '( x) ≥ 0 para todo x ∈ (a, b) , então, f é não decrescente.
III - Se f '( x) ≤ 0 para todo x ∈ (a, b) , então, f é não crescente.
IV - Se f '( x) < 0 para todo x ∈ (a, b) , então , f é decrescente.
173
Demonstração: sejam x1 , x2 ∈ (a, b) com x1 < x2 . Pelo Teorema do Valor Mé-
UNIDADE 4

dio, sabemos que existe c ∈ (a, b) , tal que


f ( x2 )  f ( x1 )
 f '(c) ,
x2  x1
isto é,

f ( x2 )  f ( x1 )  f '(c)( x2  x1 ) .

Como x2  x1  0 , as conclusões de cada um desses itens seguem, imediatamente,


do sinal da derivada.

3 2
Exemplo 4.11: considere f :  →  definida por f ( x)  2 x  3 x  12 x  2 .
Sabemos que

f '( x)  6 x2  6 x  12  6( x2  x  2)  6( x  1)( x  2)

Observe que a derivada é contínua. Assim, procuremos os pontos em que


f '( x) = 0 , pois somente nestes pontos é que pode haver uma mudança de sinal
de f '( x) . Observe que

f '( x)  0  6( x  1)( x  2)  0  x  1 ou x  2

Como a derivada se anula em x  1 e x = 2 , ela só pode mudar de sinal nestes


pontos. Em outras palavras, a derivada não muda de sinal em (, 1) , (−1, 2)
e (2, ) . Assim, escolhemos um ponto em cada um destes intervalos e calcu-
lamos f '( x) .
2
■ f '(2)  6(2)  6(2)  12  24  0  f '( x)  0 em (, 1)
2
■ f '(0)  6(0)  6(0)  12  12  0  f '( x)  0 em (1, 2)
2
■ f '(3)  6(3)  6(3)  12  24  0  f '( x)  0 em (2, )

174
Pelo teorema anterior, concluímos que

UNICESUMAR
■ f é crescente em (, 1)
■ f é decrescente em (−1, 2)
■ f é crescente em (, 1)

y
9

y=2x 3 -3x 2 -12+2

2
-1 x

-18

Vimos que a derivada ser positiva ou negativa em um intervalo nos diz se a fun-
ção é crescente ou decrescente nesse intervalo. Mas o que dizer se soubermos que
a derivada é positiva ou negativa, em determinado ponto apenas? Esta questão é
respondida pelo próximo resultado.
175
Teorema 4.12:suponha que f seja uma função definida em um intervalo I
UNIDADE 4

e que seja derivável em x  c  I e que f '(c) ≠ 0 . Então, existe d > 0 , tal que:
I - Se f '(c) > 0 , então, f ( x) < f (c) < f ( y ) sempre que x, y ∈ I e
c d  x  c  y  c d .
II - Se f '(c) < 0 , então, f ( x) > f (c) > f ( y ) sempre que x, y ∈ I e
c d  x  c  y  c d .

Demonstração: Faremos a demonstração do item I e, de modo análogo, seguirá


o item II.
Como f é derivável em c , então, existe o limite
f ( x )  f (c )
lim  f '(c) .
x c xc
Sendo f '(c) > 0 , existe d > 0 , tal que
f ( x )  f (c )
 0 , sempre, que c  d  x  c  d ,
xc
isto é, f ( x) − f (c) tem o mesmo sinal de x − c . Desta forma, se
c  d  x  c  y  c  d , temos:
■ x  c  0  f ( x)  f (c)  0  f ( x)  f (c) e
■ y  c  0  f ( y )  f ( c )  0  f ( y )  f ( c ) .

Dessas desigualdades, segue que

f ( x ) < f (c ) < f ( y ) ,

como queríamos demonstrar.


Ao ler este teorema, você pode ser induzido a pensar que, se uma função tem
derivada positiva em um ponto, então, ela é crescente em um intervalo em torno
deste ponto. Cuidado, o teorema não diz isso! Este resultado diz que se uma
função tem derivada positiva em um ponto c , então, existe uma vizinhança des-
te ponto, na qual todos os valores da função são menores que f (c) para pontos
à esquerda de c , e todos os valores da função são maiores que f (c) , sempre que
tomamos pontos à direita de c . Para verificar isso, observe que a função
176
x 1

UNICESUMAR
2
  x  sen   , se x  0
f ( x)   2 x
 0, se x  0

1
satisfaz f '(0) = , mas em qualquer vizinhança da origem existe uma infinidade de
2
intervalos em que f ora é crescente, ora é decrescente, uma vez que sua derivada
1 1 1
f '( x)   2 x  sen    cos  
2 x x
é ora positiva, ora negativa. Você pode usar um software para fazer o gráfico desta
função e tentar se convencer disso e, depois, tentar provar as afirmações anteriores.
Vimos, no Teorema 4.5, que, se uma função f tem um extremo local em
c ∈ (a, b) e é derivável neste ponto, então, a derivada satisfaz f '(c) = 0 . Isso quer
dizer que os máximos e mínimos locais que ocorrem no interior do domínio de
uma função derivável só podem ocorrer nos pontos em que a derivada é igual a
zero. Por este motivo, temos a seguinte definição:
Definição 4.4: um ponto c ∈ X é um ponto crítico de uma função derivável
f : X →  , quando f '(c) = 0 .
Assim, segue, imediatamente, do Teorema 4.5, que nos pontos localizados no
interior do domínio de uma função derivável, em que haja extremos locais, tem-se
aí um ponto crítico. Por outro lado, os pontos críticos de uma função derivável
são os únicos pontos do interior do intervalo que a função pode ter um máximo
ou mínimo local.
Teorema 4.13: suponha que f : (a, b) →  seja derivável em (a, b) e que
c seja um ponto crítico de f .
I - Se existe d > 0 , tal que f '( x) ≥ 0 para x  (c  d , c) e f '( x) ≤ 0 para
x  (c, c  d ) , então, f tem um máximo local em c .
II - Se existe d > 0 , tal que f '( x) ≤ 0 para x  (c  d , c) e f '( x) ≥ 0 para
x  (c, c  d ) , então, f tem um mínimo local em c .

Demonstração: faremos a demonstração para o item I, e o item II seguirá de


forma análoga.
Como f '( x) ≥ 0 para x  (c  d , c) , pelo Teorema 4.11, segue que f é cres-
cente à esquerda de c . Assim, f ( x) ≤ f (c) para todo x à esquerda de c , isto é,
aqueles pertencentes ao intervalo (c − d , c) . Semelhantemente, como f '( x) ≤ 0
177
para x  (c, c  d ) temos que f (c) ≥ f ( x) para todo x a direita de c . Portan-
UNIDADE 4

to, f (c) ≥ f ( x) para todo x  (c  d , c  d ) , ou seja, f tem um máximo local


em c e isto encerra a demonstração.

3
Exemplo 4.12: observe que a função f ( x)  10 x ( x  1) tem derivada
f '( x)  10 x2  3   x  1  10 x3  1
 10 x3  3  10 x2  3  10 x3


 10 3 x3  3 x2  x3 Logo, seus pontos críticos são x  
3
4
e x = 0.

 10  4 x3  3 x2 

 10  4 x  3   x2

Como a derivada só pode mudar de sinal nos pontos críticos, segue que ela não muda

 3  3 
de sinal dentro dos seguintes intervalos:  ,   ,   , 0  e (0, ∞) . Assim,
 4  4 
basta calcular a derivada em um ponto de cada um destes intervalos para conhecer

 1  15
seu sinal em cada um dos intervalos. Observe que f '(1)  10 , f '     e
 2 2

 3  3 
f '(1) = 70 . Logo, f '( x) ≤ 0 em  ,   e f '( x) ≥ 0 em   , 0  e (0, ∞) .
 4  4 
3
Desta forma, pelo teorema anterior temos um mínimo local em − e o valor míni-
4
 3  135
mo é f       1, 0546875 .
 4 128

178
y

UNICESUMAR
-1 x

-1

explorando Ideias

O cálculo de Newton e Leibiniz


Newton e Leibniz tiveram abordagens diferentes do Cálculo e tomaram caminhos distin-
tos em suas descobertas. Newton tentava resolver problemas na Física e seguiu um cami-
nho mais prático, voltado à solução desses problemas. Leibiniz era um filósofo e tomou
dy
um caminho mais abstrato. Foi Leibniz quem criou a notação para a derivada de y, em
dy
relação a x . Ele imaginava um “triângulo infinitesimal”, formado pelo incremento ∆x e
∆y
o incremento correspondente ∆y . A razão se aproxima do coeficiente angular da
∆x
tangente, quando ∆x  0. Leibiniz via este limite como a divisão de duas quantidades
“infinitesimais”.
Fonte: Muniz Neto (2015).

179
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 4

A questão de determinar a reta tangente em um ponto da curva constituía em


um dos muitos problemas que instigou os pensadores ao longo da história, den-
tre estes, destacamos o Problema de Apolônio, citado nesta unidade. Apolônio
e Arquimedes se apoiavam na geometria para traçar retas tangentes a curvas
particulares, a saber, hipérboles e elipses. Estas ideias foram formalizadas a partir
do século XVII, com grandes contribuições de Newton e Leibniz.
Nesta unidade, introduzimos o conceito de derivada de funções reais de uma
variável. Este conceito é essencial para o Cálculo Diferencial, pois, por meio dele, po-
demos explorar diversas aplicações. A mais simples que elegemos e desenvolvemos,
nesta unidade, é a construção da tangente à curva em um ponto. A construção da
tangente à curva nos fornece uma compreensão geométrica para derivada, entretanto,
outras diversas aplicações podem ser exploradas, como velocidade, aceleração, densi-
dade, crescimento populacional, entre outros, que deixamos como sugestão para você
fazer uma pesquisa do assunto, por exemplo, em um trabalho de conclusão de curso.
Vimos, na Unidade 3, o conceito de continuidade de dada função em um
determinado ponto do seu domínio e que podemos definir o conceito de conti-
nuidade em um subconjunto do seu domínio. As funções deriváveis representam
uma classe de funções contínuas, ou seja, o Teorema 4.2 desta unidade nos per-
mite dizer que as funções deriváveis pertencem à classe das funções contínuas,
entretanto, o exemplo 4.5, garante-nos que nem toda função contínua é derivável.
Também, na Unidade 3, vimos que calcular o limite de certas funções em um
determinado ponto, usando a definição, não é a melhor técnica e, dessa forma,
desenvolvemos propriedades para facilitar esse trabalho. Da mesma forma, cal-
cular a derivada de certas funções, pela definição, pode ser um processo difícil,
Desse modo, enunciamos e provamos nesta unidade, as regras operacionais das
derivadas que permitem derivar uma grande variedade de funções, por meio de
funções mais simples que, facilmente, calculamos pela definição.
Outra propriedade que vimos e permite derivar funções, utilizando funções mais
simples, é a Regra da Cadeia. Tal propriedade estabelece uma fórmula para a derivada
de funções compostas. Vimos, também, resultados extremamente importantes, tais
como o Teorema do Valor Médio, oTeorema de Rolle e o Teorema de Darboux.
Por fim, apresentamos alguns resultados referentes a intervalos de crescimen-
to e decrescimento de funções, pontos críticose máximos e mínimos, envolvendo
derivadas.Destacaram-se, assim, as aplicações de derivadas no estudo de funções.
180
na prática

1. Sejamf , g :  →  deriváveis. Prove que é impossível escrever x = f ( x) g ( x),


em que f= (0) g= (0) 0.

2. Sejam f , g :  →  , tal que g é contínua em x = 0. Se f ( x) = xg ( x) , então,


é correto afirmar que:

a) f não é derivável em x = 0.
b) f é derivável em x = 0 e f '(0) = g (0) .
c) f é derivável em x = 0 e f '(0)   g (0) .
d) f é derivável em x = 0 e f '(0) > g (0) .
e) f é derivável em x = 0 e f '(0) < g (0) .

3. Sejam f : →  bijetora e derivável, tal que f '( f 1 (a )) g  0. Prove que f −1


não é derivável em x = a.

4. O número a é chamado raiz dupla de uma função polinomial f , se


f ( x)  ( x  a )2 g ( x) , para alguma função polinomial g ( x) com g (a ) ≠ 0. Pro-
ve que:se a é raiz dupla de f , então, a é raiz de f e f '.

5. Dada y  f ( x)  x3  2 x2  1. Determine a equação da reta tangente à curva


y  x3  2 x2  1 no ponto P = (1, 2).

181
aprimore-se

A ARITMETIZAÇÃO DA ANÁLISE

Logo no início do desenvolvimento racional da Matemática, há cerca de 25 sé-


culos, surgiu a crença, atribuída a Pitágoras, de que o número é a chave da
explicação dos fenômenos. Mas não tardaria muito para que essa crença fosse
seriamente abalada com a primeira grande crise de fundamentos da Matemá-
tica [...]. Essa crise foi contornada por Eudoxo, ligado à escola de Platão, com
sua “teoria das proporções”, descrita no Livro V dos Elementos de Euclides. Isso
deslocou o eixo dos fundamentos, da Aritmética para a Geometria. E Platão
exprime muito bem essa nova convicção quando ensina que “Deus geometriza
sempre” e manda escrever, no pórtico da Academia, “quem não for geômetra
não entre”. Desde então, e por muitos séculos, a Matemática identifica-se com
a Geometria, tanto assim que, até início do século XX, os matemáticos eram
conhecidos como “geômetras”.
Por isso mesmo, os matemáticos do século XVII, que tanto inovaram e de-
ram origem à nova disciplina do Cálculo, foram, todavia, buscar inspiração em
Euclides e Arquimedes, cujas obras eram então estudadas e admiradas como
modelo mais acabado de rigor. E essa crença em uma possibilidade de funda-
mentação geométrica do Cálculo perdurou até o início do século XIX. Os con-
ceitos de derivada e integral, que tiveram origem nos conceitos de reta tangen-

182
aprimore-se

te, velocidade instantânea e área, preservaram, por muito tempo, suas feições
geométricas. Por uma curiosa coincidência, foi no momento mesmo em que a
Geometria começou a revelar suas falhas de fundamentos, primeiras décadas
do século, foi então que também tiveram início esforçossbem-sucedidos para
fundamentar o Cálculo fora da Geometria. Todos os conceitos básicos de fun-
ção, limite, derivada, integral e convergência seriam agora definidos em termos
de números. Mas se percebe, então, que os próprios números reais carecem de
uma adequada fundamentação, a qual, entretanto, não tarda em ser encontra-
da. Até aquela definição de limite de Cauchy - correta, porém, ainda eivada da
noção espúria de movimento - é agora substituída pela definição puramente nu-
mérica de Weierstrass: f ( x) tem limite L com x tendendo a x0 significa: dado
qualquer >0 existe d > 0 tal que:
0 | x  x0 | d | f ( x)  L | .

Contemplava-se assim um movimento que veio a ser chamado de Aritmetização


da Análise por Felix Klein. Agora a própria Geometria teria de buscar na Aritmé-
tica elementos mais seguros para sua fundamentação. Era, de certo modo, uma
volta a Pitágoras.

Fonte: Ávila (2006).

183
eu recomendo!

livro

Um clássico da matemática: Matemática Lúdica


Autor: Leon Battista Alberti
Editora: Zahar
Sinopse: escrita em meados do século XV, esta obra ilustra uma
convicção característica do Renascimento: a ciência era capaz de
ampliar o domínio do homem sobre a natureza. Ao demonstrar
a possibilidade de medir grandezas, aparentemente, inapreensí-
veis, sem o auxílio de instrumentos e aparelhos, lançando mão apenas de rela-
ções matemáticas, o sábio e artista renascentista Leon Battista Alberti nos brinda
com um singular testemunho de época, que permite reconstituir o tipo de proble-
ma que um homem do século XV enfrentava em seu cotidiano.

filme

A Teoria de Tudo
Ano: 2015
Sinopse: baseado na história de Stephen Hawking, o filme expõe
como o astrofísico fez descobertas relevantes para o mundo da
ciência, inclusive, relacionadas ao tempo. Também retrata seu ro-
mance com Jane Wilde, uma estudante de Cambridge que viria a
se tornar sua esposa. Aos 21 anos de idade, Hawking descobriu
que sofria de uma doença motora degenerativa, mas isso não o
impediu de se tornar um dos maiores cientistas da atualidade.

conecte-se

No vídeo disponível no link, a seguir, você entenderá um pouco mais sobre como
o século XVII viu o nascimento de uma das mais importantes ferramentas mate-
máticas, o cálculo. Matemáticos modernos examinam a contribuição de seus três
inventores: Fermat, Newton e Leibniz.
https://www.youtube.com/watch?v=6HI47rcOiA

184
5
INTEGRAIS

PROFESSORES
Dra. Denise Trevisoli Detsch
Dra. Irene Magalhães Craveiro
Dra. Lilian Akemi Kato
Dr. Rodrigo André Schulz
Dra. Simone Francisco Ruiz

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A origem das integrais • A Inte-
gral de Riemann • Condições suficientes para a integrabilidade • Propriedades da integral • Principais
Teoremas do Cálculo.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender o conceito de integral, segundo Riemann • Estudar condições para que uma função seja
integrável • Explorar propriedades de funções integráveis • Estudar os principais Teoremas do Cálculo
que norteiam o estudo de integrais.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), esta unidade é dedicada ao estudo da


Integral de Riemann. A principal e mais conhecida motivação
para o estudo das integrais tem como objeto de estudo uma fun-
ção f :[a, b] →  , limitada em [a, b] , tal que f ( x) ≥ 0 para todo
x ∈[a, b] . Dessa forma, a questão principal consiste em determinar

a área da região A  ( x, y )   : a  x  b, 0  y  f ( x ) , que nada
2

mais é do que a região do plano cartesiano, formada pelos pontos


compreendidos entre o eixo das abscissas, a curva y = f ( x) e as retas
verticais x = a e x = b . Ao tentar responder ao problema da área, re-
caímos em uma questão mais abrangente: definir, de maneira precisa,
a palavra área. Se, para definir uma tangente, inicialmente, tomamos
aproximações das inclinações de retas secantes e, posteriormente,
tomamos o limite dessas aproximações, para definir a área, podemos
usar uma ideia similar. Mais especificamente, aproximamos a região
A por retângulos e, em seguida, tomamos o limite das áreas desses
retângulos.
O objetivo desta unidade é descrever, de maneira precisa, a constru-
ção da Integral de Riemann. O enfoque não será tratar de técnicas de
integração, mas explorar as principais propriedades que as funções in-
tegráveis devem satisfazer. Neste sentido, definiremos integral superior
e inferior, e relacionaremos estes conceitos à noção de função integrável.
Apresentaremos condições suficientes para a integrabilidade de funções
limitadas, validaremos propriedades de funções integráveis e, por fim,
trataremos do Teorema Fundamental do Cálculo e de importantes re-
sultados imediatos a ele.
1
A ORIGEM DAS

UNICESUMAR
INTEGRAIS

Historicamente, o conceito de integrais começou a ser construído muito antes das


derivadas. As primeiras noções sobre o conceito de integral aparecem nos traba-
lhos de Arquimedes (287-212 a.C.) referentes a áreas de figuras planas, enquanto
o conceito de derivada foi desenvolvido, apenas, no século XVII.
Para calcular a área do círculo, Arquimedes usou o método da exaustão. Este
método consistia em aproximar o círculo por polígonos regulares, inscritos com
um número cada vez maior de lados, com a finalidade de que a área do círculo
seja exaurida pelas áreas dos polígonos.
Observe que, quanto maior o número de lados do polígono regular, mais ele
se aproxima do círculo em que está inscrito.

Figura 1 - Aumento do número de lados do polígono regular inscrito em uma circunferência


Fonte: os autores.

187
Note que a área do polígono inscrito pode
UNIDADE 5

ser calculada somando a área dos triângulos


gerados, a partir dos seus vértices e centro.
Dessa forma, para o caso de um polígono
regular de n lados, inscrito em uma circun-
ferência de raio r , teremos n triângulos de
base b e altura h cuja soma das áreas resul- h r
ta na área Ap do polígono, dada por
b

bh (nb)h Figura 2 - Polígono dividido


Ap n=
= em triângulos inscrito em uma
2 2 circunferência / Fonte: os autores.

h r

nb
Figura 3 - Arranjo dos triângulos inscritos em uma circunferência / Fonte: os autores.

Além disso, observe que a soma das áreas destes n triângulos é igual a área do
triângulo de base nb e altura h .

nb
Figura 4 - Soma das áreas dos triângulos inscritos em uma circunferência / Fonte: os autores.

Como o perímetro nb do polígono se aproxima do comprimento c da circun-


ferência, e a altura h se aproxima do raio r , à medida que n aumenta, a área do
círculo coincide com a área do triângulo de base c e altura r . Isto é, a área Ac
do círculo é dada por
cr
Ac =
2
188
Sabendo que o comprimento da circunferência é dado por c = 2pr , temos que

UNICESUMAR
Ac = pr 2 .

Essa técnica poderia ser usada para qualquer tipo de figura plana, mas seu sucesso
dependeria de se conseguir ou não uma sucessão de figuras planas com áreas
conhecidas, de modo a exaurir a área da figura dada. Essa mesma ideia, usada
por Arquimedes, motivou o aparecimento da integral como conhecemos hoje.
Dos cursos de Cálculo, você deve se lembrar que umas das motivações para
o estudo da integral é a área sob o gráfico de alguma função.

y=f(x)

a b

Figura 5 - Área sob o gráfico de uma função y f x / Fonte: os autores.

A exposição encontrada na maioria dos livros de Cálculo supõe que f :[a, b] → 


é uma função contínua e positiva. Em seguida, particiona-se o intervalo [a, b]
em n subintervalos [ xi −1 , xi ] , i = 1, 2, , n de modo que

a  x0  x1    xn  b

e consideram-se retângulos que aproximam a área sob o gráfico da função em


cada um dos n subintervalos.

189
UNIDADE 5

y=f(x)

f(x*)
i

a x i-1 xi x*i b
xi

Figura 6 - Disposição dos retângulos que aproximam a área sob o gráfico da função
Fonte: os autores.

Assim, tendo a largura do i-ésimo retângulo dada por Dxi  xi  xi 1 e sua altura
*
por f ( xi ) , em que xi é um ponto qualquer escolhido no intervalo [ xi −1 , xi ] , a
*

área sob o gráfico pode ser aproximada por


n
An   f ( xi* )Dxi
i 1

Denotando por D o comprimento do maior dos subintervalos da partição con-


siderada, verifica-se que uma aproximação cada vez melhor para a área é encon-
trada ao fazer D tender a zero. Desta forma,

A  lim
D0
 f ( xi* )Dxi
i

Essa, em geral, é a motivação para se estabelecer a integral definida como:


b
a f ( x) dx  lim
D0
 f ( xi* )Dxi
i

Em essência, temos uma modernização do método usado por Arquimedes, há


mais de 2 mil anos.

190
2
A INTEGRAL DE

UNICESUMAR
RIEMANN

A partir de agora, passaremos a descrever, rigorosamente, a construção da Integral


de Riemann. Não crie falsas expectativas de que você aprenderá, aqui, técnicas
de integração como deve ter visto em cursos de Cálculo. Não! Neste livro, nosso
foco é dizer quando uma função é integrável, ou melhor, que propriedades uma
função precisa ter para ser integrável e não calcular integrais, propriamente ditas.
São situações que não são propícias em um curso de Cálculo, assim como técnicas
de integração não são o objetivo de um curso de Análise.
Bem, começaremos com a construção da integral de Riemann. Considere,
primeiramente, uma função f :[a, b] →  limitada. Logo, existem números
reais m e M , tais que m ≤ f ( x) ≤ M para todo x ∈[a, b] , isto é, f ( x) ∈ [m, M ].
Observe que o intervalo [m, M ] , contendo os valores de f ( x) , x ∈[a, b] ,
tem comprimento mínimo quando escolhemos
m  inf  f ( x); x  [a, b]  inf f
M  sup  f ( x); x  [a, b]  sup f

Dizemos que uma partição P do intervalo [a, b] é um subconjunto finito de pontos

P  to , t1 , , tn   [a, b]

tal que a, b ∈ P . Em geral, para uma partição P , como definida anteriormente,


consideramos que
191
a  t0  t1    tn  b .
UNIDADE 5

O intervalo [ti −1 , ti ] , i = 1, 2, , n , é chamado de i-ésimo intervalo da partição P .


Para cada i = 1, 2, , n indicaremos por mi o ínfimo, e por M i , o supremo
dos valores de f no intervalo [ti −1 , ti ] , isto é,
mi  inf  f ( x); ti 1  x  ti 
M i  sup  f ( x); ti 1  x  ti 

Observe que os mi ’s e M i ’s são finitos, uma vez que f é uma função limitada.
A diferença entre o supremo e o ínfimo de f em um intervalo é chamada
oscilação da função. Assim, a diferença wi  M i  mi é chamada oscilação de f
no intervalo [ti −1 , ti ] .
A soma superior de f em relação à partição P é o número
n
S ( f , P)   M i (ti  ti 1 ) e a soma inferior de f em relação à partição P é o
i 1
n
número s ( f , P)   mi (ti  ti 1 ) .
i 1

Essas somas também são conhecidas como somas de Darboux-Riemann.


Observe que

m(b  a )  s ( f , P )  S ( f , P)  M (b  a)

uma vez que m ≤ mi ≤ M i ≤ M .

y=f(x) y=f(x)

a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b

Figura 7 - Representação das somas superiores e inferiores / Fonte: os autores.

No caso de f ( x) ≥ 0 , a soma superior S ( f , P) fornece uma aproximação por


excesso, e a soma inferior s ( f , P) , uma aproximação por falta da área da região,
compreendida entre o gráfico de f , o eixo-x e as retas x = a e x = b .
192
Dadas duas partições P e Q do intervalo [a, b] , dizemos que Q refina P

UNICESUMAR
quando todos os pontos de P são, também, pontos da partição Q , em outras pala-
vras, quando P ⊂ Q .
Exemplo 5.1: seja P a partição dada por a  t0  t1    tn  b . Ao acres-
centar a essa partição os pontos médios dos intervalos [ti −1 , ti ] , i = 1, 2, , n ,
obteremos uma partição Q que refina P .
Exemplo 5.2: dadas duas partições
P satisfazendo a  t0  t1    tn  b e
Q satisfazendo a  x0  x1    xk  b

então, a união delas, P ∪ Q , refina tanto P como Q . Por outro lado, uma forma
mais simples de se refinar uma partição é incluir um único ponto. Por exemplo,
a partição

Q  {t0 , t 1 , , ti 1 , r , ti , , tn }

é um refinamento de P  {t0 , t 1 , , ti 1 , ti , , tn } .

Teorema 5.1: quando se refina uma partição, a soma superior não aumen-
ta, e a soma inferior não diminui. Isto é: se P ⊂ Q , então, s ( f , P) ≤ s ( f , Q) e
S ( f , Q) ≤ S ( f , P) .
Demonstração: seja P a partição definida por t0 < t1 <  < tn . Como Q é
um refinamento de P , a partição Q é obtida de P pelo acréscimo de uma quan-
tidade finita de pontos. Assim, podemos construir uma sucessão de partições a
partir de P até obter Q de modo que cada elemento dessa sucessão seja obtido
da anterior, pelo acréscimo de um único ponto. Observe que cada elemento des-
sa sucessão é um refinamento do anterior. Dessa forma, basta provar o teorema
para o caso em que Q , é obtida de P , pelo acréscimo de um único ponto. Então,
suponha que Q  {t0 , t 1 , , ti 1 , r , ti , , tn } e satisfaz

t0  t1    ti 1  r  ti    tn .

Sejam mi  sup  f ( x), ti 1  x  ti  , m '  sup  f ( x), ti 1  x  r e


m ''  sup  f ( x), r  x  ti  . Note que mi  m , mi ≤ m '' e
ti  ti 1  (ti  r )  (r  ti 1 ) . Logo,

193
s ( f , Q)  s ( f , P )   m '(r  ti 1 )  m ''(ti  r )   mi  ti  ti 1 
UNIDADE 5

  m ' mi   r  ti 1    m '' mi   ti  r   0
    
0 0

Da expressão anterior, temos que s ( f , P) ≤ s ( f , Q) , como queríamos mostrar.


Analogamente, mostra-se que S ( f , Q) ≤ S ( f , P ) .

Corolário 5.1: dadas duas partições P e Q de  a, b  , e uma função limitada


f :[a, b] →  . Então, s ( f , P) ≤ S ( f , Q) .
Demonstração: de fato, basta observar que P ∪ Q refina P e Q simulta-
neamente. Consequentemente, pelo teorema anterior, temos:

s( f , P)  s( f , P  Q)  S ( f , P  Q)  S ( f , Q) .

A desigualdade s ( f , P) ≤ S ( f , Q) , provada no corolário anterior, nos diz que


as somas inferiores, relativas a qualquer partição de [a, b] , são limitadas, supe-
riormente, por qualquer uma das somas superiores. Isso significa que o conjunto
das somas inferiores, contido em  , é limitado superiormente e, portanto, tem
supremo. Semelhantemente, o conjunto das somas superiores é limitado infe-
riormente e, consequentemente, possui ínfimo. Isso justifica a seguinte definição:
Definição 5.1: considere f :[a, b] →  limitada. Definimos a integral in-
b
ferior, ∫ f ( x) dx , como o supremo das somas inferiores e integral superior,
*b *a

∫ f ( x) dx , o ínfimo das somas superiores. Simbolicamente,


a

b *b

 f ( x) dx  sup s ( f , P ) e
P
 f ( x) dx  inf S ( f , P)
P
*a a

em que o supremo e o ínfimo são tomados, relativamente, a todas as partições do


intervalo [a, b] .
194
Observação: o símbolo * , próximo ao ponto a , na primeira integral, e pró-

UNICESUMAR
ximo ao ponto b , na segunda integral, indicam que a primeira integral é inferior
e a segunda é superior.
Definição 5.2: dizemos que uma função f :[a, b] →  é integrável, quando
a integral superior é igual a integral inferior, isto é,
b *b

 f ( x) dx   f ( x) dx .
*a a

Neste caso, o valor da integral superior e inferior é chamado integral de f e


denotado por
b b
∫a f ( x) dx ou simplesmente por ∫a f .

Da definição anterior, sendo f integrável, temos que


b *b
b
a f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx .
*a a

Exemplo 5.3: a função limitada


1, se x  [0, 1]  
f ( x)  
0, se x  [0, 1]  \
não é integrável, pois qualquer que seja o intervalo da reta, nele sempre existem
números racionais e irracionais. Assim, qualquer que seja a partição de [0, 1] , cada
intervalo dessa partição possuirá números reais e irracionais. Consequentemente,
o supremo de f , em qualquer intervalo da partição, será 1 e o ínfimo será 0 . Isto
implica que, para qualquer partição P , a soma superior será igual a 1 e a soma
inferior será igual a 0 . Portanto, a integral inferior será zero e a superior igual a
1. Logo, f não é integrável.
Exemplo 5.4: a função constante f ( x) = c definida no intervalo [a, b] é in-
b
tegrável e  f ( x) dx  c(b  a ) . De fato, pois, dada uma partição P de [a, b] ,
a
teremos que m = i M=i c . Consequentemente, S ( f , P )  c (b  a ) e
s ( f , P)  c(b  a ) , o que implica que as integrais superior e inferior são ambas
iguais a c(b − a ) , provando o desejado.

195
Com o objetivo de obter uma caracterização de funções integráveis, precisa-
UNIDADE 5

mos do seguinte resultado auxiliar:


Lema 5.1: sejam A, B ⊂  , tais que a ≤ b para todo a ∈ A e para todo
b ∈ B . Então, sup A = inf B se, e somente se, para todo e > 0 dado, existam
a ∈ A e b ∈ B , tais que b  a  e .
Demonstração: (⇒) suponha que sup A = inf B . Então, dado e > 0 existe
a ∈ A , tal que sup A  a  e . Segue da hipótese sup A = inf B que inf B  a  e .
Pela definição de ínfimo, existe b ∈ B , tal que inf B  b  a  e . Assim, b  a  e ,
o que implica que b  a  e .
   Reciprocamente, suponha, por contradição, que sup A ≠ inf B . Como
a ≤ b para todo a ∈ A e, para todo b ∈ B , devemos ter que sup A < inf B . Con-
sidere e  inf B  sup A  0 . Assim, para quaisquer que sejam a ∈ A e b ∈ B ,
temos que b  a  inf B  sup A  e , o que contradiz a hipótese. Isto conclui da
demonstração.

O teorema, a seguir, fornece-nos uma caracterização de funções integráveis.


Teorema 5.2: uma função limitada f :[a, b] →  é integrável se, e so-
mente se, para qualquer e > 0 dado, existe uma partição P de [a, b] , tal que
S ( f , P)  s( f , P)  e .
Demonstração: primeiramente, definimos por A e B os conjuntos das so-
mas inferiores e superiores de f , respectivamente. Simbolicamente,

A s ; s s f , P com P partição de [a, b]

B S ; S S f , P com P partição de [a, b]

Pelo Corolário 5.1, dados a ∈ A e b ∈ B , temos que a ≤ b . Consequentemente,


b *b
sup A ≤ inf B . Observe que sup A   f ( x) dx e inf B   f ( x) dx .
*a a
(⇒) Suponha que f é integrável. Então, as integrais superior e inferior são
iguais, isto é,
b *b
sup A   f ( x) dx   f ( x) dx  inf B ,
196 *a a
ou seja, sup A = inf B . Pelo Lema 5.1, dado e > 0 existem a ∈ A e b ∈ B tais

UNICESUMAR
que b  a  e . Da natureza dos conjuntos A e B , esta última desigualdade nos
diz que existem partições Q e R de [a, b] , tais que

S  f , R  s  f ,Q  e .

Tomando P  Q  R , temos um refinamento de Q e R . Pelo Teorema 5.1, segue


que

S  f , P  S  f , R

s  f ,Q  s  f , P

Somando essas duas desigualdades, obtemos

S  f , P  s  f ,Q  S  f , R  s  f , P

isso implica que

S  f , P  s  f , P  S  f , R  s  f ,Q  e

o que prova a primeira afirmação do teorema.

  Reciprocamente, suponha que exista uma partição P , tal que


S ( f , P)  s ( f , P)  e . Isto é, existem a ∈ A e b ∈ B , satisfazendo b  a  e . Pelo
Lema 5.1, segue que sup A = inf B , ou seja, da natureza de A e B , temos que
b *b

 f ( x) dx   f ( x) dx .
*a a

Logo, f é integrável e isto conclui a demonstração.

197
3
CONDIÇÕES SUFICIENTES PARA
UNIDADE 5

A INTEGRABILIDADE

Com o intuito de obter condições suficientes para a integrabilidade de uma fun-


ção limitada f :[a, b] →  , introduzimos a noção de conjunto de medida nula.
Seja I o intervalo de extremos a e b . Supondo que a < b , denotaremos por
| I | b  a o comprimento de I . Dizemos que um conjunto X ⊂  tem medi-
da nula quando, dado e > 0 , é possível obter uma cobertura finita ou infinita
enumerável X ⊂  I k de X , constituída de intervalos abertos I k , tal que a
k

soma de seus comprimentos é  | I k |  e .


Exemplo 5.5: se X ⊂  enumerável. Então, X tem medida nula. De fato,
sendo X enumerável, então, podemos escrever

X  {x1 , x2 , , xk , } .

e
Dado e > 0 , definamos I k o intervalo aberto de comprimento k +1 centrado
em xk . É claro que X ⊂  I k e observe que 2
k
 
e e
 | Ik |   k 1

2
e
k 1 k 1 2

1 e
pois é uma série geométrica de razão com primeiro termo igual a .
198
2 4
Agora, estamos em condições de enunciar um dos teoremas mais importantes

UNICESUMAR
no estudo das integrais, também conhecido como Teorema de Lebesgue.
Teorema 5.3 (Teorema de Lebesgue): considere uma função limitada
f :[a, b] →  . Se o conjunto D dos pontos de descontinuidade de f tem me-
dida nula, então, f é integrável.
Demonstração: como f é limitada, considere M e m o supremo e o ínfi-
mo de f em  a, b  , respectivamente. A oscilação de f em  a, b  é definida por
K  M  m . Como D tem medida nula, dado e > 0 , existem intervalos abertos
e
I1 , …, I k , … tais que  | I k |  e D ⊂  I k . Observe que f é contínua
2K k

para todo x  [a, b]  D . Assim, para cada x  [a, b]  D , existe um intervalo


e
aberto J x , centrado em x para o qual a oscilação de f é menor que
2(b − a )
(a existência desse intervalo é garantida pela Proposição 3.3 da Unidade 3). Des-
sa forma,

[ a , b ]  D  [ a , b ]  D    k Ik    x J x 
isto é, temos uma cobertura de [a, b] por intervalos abertos. Sendo [a, b] com-
pacto, pelo Teorema de Borel-Lebesgue, essa cobertura possui uma subcobertura
finita que representaremos por

[a, b]  I1    I m  J x1   J xn .

Consideremos, agora, a partição P de [a, b] formada pelos pontos a e b e por


cada um dos extremos dos intervalos I1 , …, I m , J x1 , , J xn que pertencem ao
intervalo [a, b] . Denotemos por ta 1 , ta  os intervalos da partição P que estão
contidos no fecho de algum I k , I k , e por tb 1 , tb  os demais intervalos dessa
partição. Da definição dos intervalos I k e ta 1 , ta  concluímos que
ε
  tα  tα1    | I k |  2 K .

199
Como tb 1 , tb  está contido em algum J x e a oscilação de f em cada interva-
UNIDADE 5

e
lo J x é menor que concluímos que a oscilação wb de f em tb 1 , tb 
2(b − a )
e
é, também, menor que . Denotando por M a e ma o supremo e ínfimo
2(b − a )
de f em ta 1 , ta  , temos que:

S ( f , P)  s ( f , P)   wα (tα  tα 1 )   wβ (tβ  tβ 1 )
 
α K β ε

2 (b  a )
ε
 k  (tα  tα 1 )   (tβ  tβ 1 )
α 2(b  a ) β
    
ε (b  a )

2K
ε ε
k  (b  a )
2 K 2(b  a )

Logo, pelo Teorema 5.2, segue que f é integrável, concluindo, assim, a demonstração.

explorando Ideias

A recíproca do Teorema de Lebesgue é verdadeira. Você pode encontrar a demonstração


deste fato no livro Curso de Análise, volume 1, de Elon Lages Lima.
Fonte: os autores.

Corolário 5.2: toda função contínua f :[a, b] →  é integrável.


Demonstração: sendo f contínua no intervalo compacto [a, b] , pelo Teo-
rema de Weierstrass, temos que f é limitada nesse intervalo. Além disso, da
continuidade de f , segue que o conjunto dos seus pontos de descontinuidade
é vazio e, portanto, tem medida nula. Logo, Pelo Teorema de Lebesgue, temos
que f é integrável.


200
Desse corolário, segue que a maioria das funções trabalhadas em um curso de

UNICESUMAR
Cálculo são integráveis.
Exemplo 5.6: dizemos que f :[a, b] →  é uma função escada, quando
existe uma partição P  t0 , t1 , , tn  de [a, b] , de modo que f ( x) = ci , quando
ti 1  x  ti , isto é, f é constante no interior de cada subintervalo da partição,
não importando quais valores a função assume nos extremos dos subintervalos
da partição.

y=f(x)

a t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7 t8 b
Figura 8 - Função escada / Fonte: os autores.

Segue, do Teorema de Lebesgue, que f é integrável.

pensando juntos

Anteriormente, mostramos que a função

1, se x [0, 1]
f ( x)
0, se x [0, 1] \
não é integrável. Pode ser mostrado que o conjunto dos racionais  é enumerável. Por-
que isso não contradiz o Teorema de Lebesgue?

201
4
PROPRIEDADES DA
UNIDADE 5

INTEGRAL

Nesta aula, mostraremos algumas importantes propriedades de funções integrá-


veis. Antes de alcançar nossos objetivos, precisaremos de um resultado auxiliar. O
Lema a seguir nos diz que fixar um ponto no conjunto das partições usadas não
altera o valor da integral superior, nem o valor da integral inferior.
Lema 5.2: sejam f :[a, b] →  limitada, c ∈ (a, b) e P partição de [a, b] ,
então,
b

 f ( x) dx  sup s ( f , P )  sup s  f , P  c e


*a P P

*b

 f ( x) dx  inf s ( f , P)  inf s  f , P  c


P P
a
Demonstração: (I) é claro que s ( f , P )  s  f , P  c para qualquer partição
P de [a, b] . Por um lado, sabemos que
b
sup s  f , P  c   f ( x) dx
P *a

uma vez que, ao calcular o supremo, não consideramos todas as partições de


[a, b] , mas somente aquelas que contêm o ponto c . Por outro lado, como P  c
refina P , temos que s ( f , P)  s  f , P  c . Tomando o supremo, vem que
202
b

UNICESUMAR
 f ( x) dx  sup s ( f , P )  sup s  f , P  c
*a P P

Comparando as desigualdades obtidas, temos o desejado em (I). A demonstração


de (II) é análoga.

Teorema 5.4: se f :[a, b] →  é integrável e c ∈ (a, b) , então, f é integrável


em [a, c] e [c, b] e, além disso,
b c b
a f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx .
a c

Demonstração: sejam Q e R partições de [a, c] e [c, b] , respectivamente. As-


sim, c  Q  R . Pelo Lema anterior,
b

 f ( x) dx  sup s  f , P  c
*a P

 sup s  f , Q  R 
Q R

 sup s  f , Q   sup s  f , R 
Q R
c b
  f ( x) dx   f ( x) dx
*a *c

isto é,
b c b

 f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx .
*a *a *c

Semelhantemente,
*b *c *b

 f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx .
a a c

203
Fazendo a diferença membro a membro destas duas últimas identidades, temos
UNIDADE 5

*b b  *c c   *b b 
 f ( x) dx   f ( x) dx    f ( x) dx   f ( x) dx     f ( x) dx   f ( x) dx 
   
a *a a* a
 c* c

0 0

Observe que o termo da esquerda dessa igualdade é zero, uma vez que f é
integrável e o termo da esquerda é não negativo, pois a integral inferior nunca
ultrapassa a integral superior. Assim, para que a igualdade se verifique, é preciso
que cada termo entre parênteses seja zero, isto é, que as restrições de f sobre
[a, c] e [c, b] sejam integráveis. Neste caso, a identidade
b c b
a f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx
a c

segue, imediatamente, de qualquer uma das identidades anteriores que envolvam


apenas integrais superiores ou, apenas, integrais inferiores, como queríamos de-
monstrar.

O resultado, a seguir, mostra-nos que a integral da soma de duas funções


integráveis é a soma das integrais e cada uma das funções.
Teorema 5.5: sejam f , g :[a, b] →  funções integráveis. Então, f + g é
integrável e
b b b
a f ( x)  g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx .
a a

Demonstração: primeiramente, basta observar que, para qualquer que seja a


partição P do intervalo [a, b] , tem-se:
*b

 f ( x)  g ( x) dx  S ( f  g , P)  S ( f , P)  S ( g , P)
a

Em particular, podemos supor que P  Q  R com Q e R partições de [a, b] .


Como P refina Q e R , temos que

204
S ( f , P) ≤ S ( f , Q) e S ( g , P) ≤ S ( g , R)

UNICESUMAR
e, portanto,
*b

 f ( x)  g ( x) dx  S ( f , Q)  S ( g , R)
a

tomando o supremo com relação a cada uma das partições, obtemos


*b *b *b b b

 f ( x)  g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx
a a a a a

em que a igualdade, na expressão anterior, é proveniente do fato de que f e g


são integráveis.
Semelhantemente, mostramos que
b b b b b

 f ( x)  g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx .
*a *a *a a a

Destas duas últimas desigualdades, segue que f + g é integrável e


b b b

 f ( x)  g ( x) dx   f ( x) dx   g ( x) dx ,
a a a

como queríamos demonstrar.

Teorema 5.6: seja c ∈  e f :[a, b] →  integrável. Então, c. f é integrável e


b b

 c. f ( x) dx  c. f ( x) dx .
a a

Demonstração: caso c = 0 , o resultado é imediato. Então, suponha c ≠ 0 . Con-


sidere uma partição P de [a, b] , tal que

205
e
S ( f , P)  s( f , P)  .
UNIDADE 5

|c|
Não é difícil ver que S (c ⋅ f , P) é igual a c ⋅ S ( f , P ) ou c ⋅ s ( f , P ) , conforme se
tenha c > 0 ou c < 0 , respectivamente. Podemos proceder de forma semelhante
para s (c ⋅ f , P ) . Dessa forma

S (c  f , P)  s (c  f , P) | c |  S ( f , P)  s ( f , P )   e

o que mostra a integrabilidade de c ⋅ f . Assim, para qualquer caso, isto é,

S (c  f , P)  c  S ( f , P ) ou S (cf , P) = cs ( f , P )
b b
temos  c. f ( x) dx  c. f ( x) dx , o que prova o desejado.
a a

Teorema 5.7: sejam f , g :[a, b] →  integráveis. Se f ( x) ≤ g ( x) para todo


x ∈[a, b] , então,
b b

 f ( x) dx   g ( x) dx .
a a
Demonstração: de fato, sendo f ( x) ≤ g ( x) para todo x ∈[a, b] , então, para
qualquer partição P de [a, b] , tem-se

s( f , P) ≤ s( g , P) e S ( f , P) ≤ S ( g , P) .
b b
Consequentemente,  f ( x) dx   g ( x) dx .
a a

Teorema 5.8: seja f :[a, b] →  integrável. Então, | f | é integrável e

b b

 f ( x) dx   f ( x) dx .
a a
206
Demonstração: como

UNICESUMAR
| f ( x) |  | f ( y ) |  f ( x)  f ( y )

para quaisquer x, y ∈ [a, b] , segue que a oscilação de | f | é menor ou igual a


oscilação de f . Dessa forma, para qualquer partição P de [a, b] , temos que:

S | f |, P   s | f |, P   S  f , P   s  f , P  .

Sendo f integrável, da última desigualdade segue a integrabilidade de | f | . As-


sim, da desigualdade

 f ( x)  f ( x)  f ( x) , x  [a, b]

e do Teorema 5.7, obtemos


b b b
  f ( x) dx   f ( x) dx   f ( x) dx
a a a

o que implica
b b

 f ( x) dx   f ( x) dx ,
a a

como queríamos demonstrar.

207
5
PRINCIPAIS TEOREMAS
UNIDADE 5

DO CÁLCULO

Nesta aula, veremos os principais teoremas do Cálculo, relacionados à computa-


ção de integrais. Começaremos com o Teorema Fundamental do Cálculo.
Teorema Fundamental do Cálculo: considere f : I →  um função contí-
nua no intervalo I . Seja F : I →  uma função definida no intervalo I . Então,
são equivalentes as seguintes afirmações:
x
Existe a ∈ I , tal que F ( x)  F (a )   f (t ) dt para todo x ∈ I , ou seja, F
a
é uma integral indefinida de f .

F '( x) = f ( x) , isto é, F é uma primitiva de f .

Demonstração: I ⇒ II: de fato, sejam x0 , h ∈  , tais que x0 ∈ I e x0  h  I .


Mostraremos que F '( x0 ) = f ( x0 ) . De fato, primeiramente, da definição de F temos
que
x0  h x0 x0  h
F ( x0  h)  F ( x0 )  F (a )   f (t ) dt  F (a )   f (t ) dt   f (t ) dt .
a a x0

Além disso, note que


x0  h
h. f ( x0 )   f ( x0 ) dt .
x0

208
Das identidades anteriores, tem-se que

UNICESUMAR
F ( x0  h)  F ( x0 ) 1 x0  h 1 x0  h 1 x0  h
 f ( x0 )   f (t ) dt   f ( x0 ) dt   f (t )  f ( x0 ) dt
h h 0
x h 0
x h x0

Como f é contínua em x0 ∈ I , dado e > 0 , existe d > 0 , tal que para cada
t ∈ I , satisfazendo | t  x0 | d , tem-se | f (t )  f ( x0 ) | e . Então, tomando h
suficientemente pequeno, de modo que 0 <| h |< d , x0  h  I , temos:

F ( x0  h)  F ( x0 ) 1 x0  h 1
h
 f ( x0 ) 
h x
0
f (t )  f ( x0 ) dt   e  h  e ,
   h
e

o que mostra que F '( x0 ) = f ( x0 ) .


(II) ⇒ (I): reciprocamente, suponha que F '( x) = f ( x) para todo x ∈ I .
Considere a ∈ I e uma integral indefinida de f dada por
x
j( x)   f (t ) dt.
a

Seguindo os mesmos passos da demonstração do item anterior, obtemos que


j '( x) = f ( x) , para todo x ∈ I . Assim, as duas funções, F e j têm a mesma
derivada e, portanto, diferem apenas por uma constante C , isto é,

F ( x)  j ( x)  C .

Como j(a ) = 0 , vem que F (a ) = C . Este fato, juntamente, com a última iden-
tidade, vem que
x
F ( x)   f (t ) dt  F (a )
a

o que prova o desejado.

Observe que o Teorema Fundamental do Cálculo fornece uma forma prática de


calcular integrais, reduzindo o problema à busca de uma primitiva da função f ,
b
isto é, se F ' = f , então,  f (t ) dt  F (b)  F (a ) .
a
209
2
Exemplo 5.7: dada a função f ( x)  3 x  7 , sabemos que uma primitiva
UNIDADE 5

3
sua é F ( x)  x  7 x . Assim,
1 2 1
0 3 x  7 dx   f ( x) dx  F (1)  F (0)  [13  7.1]  [03  7.0]  8 .
0

Teorema de Mudança de Variáveis: considere as funções f :[a, b] →  con-


tínua e g :[c, d ] →  com derivada contínua. Se g [c, d ]  [a, b] , então,
d g (d )
c f  g (t )  .g '(t ) dt  g (c) f ( x) dx .

Demonstração: como f é contínua, pelo Teorema Fundamental do Cálculo,


f admite uma primitiva F :[a, b] →  que satisfaz
g (d )
g (c) f ( x) dx  F  g (d )   F  g (c)  .

Por outro lado, da Regra da Cadeia, sabemos que

( F  g ) '(t )  F '  g (t )  .g '(t )  f  g (t )  .g '(t ), t  [c, d ] .

Esta última expressão nos diz que ( F  g )(t ) é uma primitiva de f ( g (t )).g '(t ) .
Pelo Teorema Fundamental do Cálculo,
d
c f  g (t )  .g '(t ) dt  ( F  g )(d ) ( F  g )(c).
Comparando as duas integrais apresentadas nesta demonstraçã,o temos o resul-
tado desejado.

Nos cursos de Cálculo, esse resultado é, muito vezes, lembrado com integração
por substituição e pode ser útil quando, no integrando, temos uma composição
de funções. Faremos um exemplo para relembrá-lo de sua aplicabilidade.

210
1 2t
Exemplo 5.8: calcular 0 t 2  1 dt . Observe que podemos escolher

UNICESUMAR
1
g (t )  t 2  1 . Assim,=
g (0) 1,=
g (1) 2 e g '(t ) = 2t . Tomando F ( x) = temos
x
1 2t
que F  g (t )  .g '(t )  2 .2t  2 . Pelo Teorema de Mudança de Variável,
segue que t 1 t 1

1 2t 21
0 t 2  1 dt  1 x
dx  ln(2)  ln(1)  ln(2).

Teorema de Integração por Partes: considere duas funções f , g :[a, b] → 


que possuem derivadas contínuas. Então,
b b b
a f  x   g '  x  dx  f  x   g  x    f '  x   g  x  dx .
a a

Demonstração: basta observar que a função  f  g  :  a, b    é uma primiti-


va de  f  g ' f ' g  :  a, b    . Integrando esta última sobre o intervalo [a, b]
e usando o Teorema Fundamental do Cálculo, temos o desejado.

x 2
Exemplo 5.9: calcular ∫ xe dx . Neste caso, podemos escolher f ( x) = x e
0
g '( x) = e x . Logo, f '( x) = 1 e g ( x) = e x . Pelo Teorema de Integração por Par-
tes, temos:
2 x 2 2 2 2
0 xe dx  x  e x   1  e x dx  x  e x  e x  2e2  e2  e0  e2  1 .
0 0 0 0

pensando juntos

No exemplo anterior, escolhemos g '( x)  e x e sua primitiva mais simples g ( x)  e x.


Sabemos que uma primitiva mais geral de g ' pode ser escrita como G ( x) e x C . Desse
modo, por que podemos escolher a primitiva mais simples? O que acontece se escolhermos
a primitiva mais geral? Pense nisso!

211
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 5

Apresentar a noção de área quando consideramos regiões como quadrados ou


retângulos é uma tarefa simples. Apresentar esse conceito, no entanto, quando
consideramos regiões com lados curvos, pode não ser tão trivial assim. Se, para
definir uma tangente, inicialmente, tomamos aproximações das inclinações
de retas secantes e, posteriormente, tomamos o limite destas aproximações,
para definir a área de uma região qualquer, podemos raciocinar de maneira
semelhante, isto é, aproximamos a região que se quer determinar a área por
retângulos e, em seguida, tomamos o limite das áreas desses retângulos. Essa foi
a motivação apresentada nesta unidade, antes de definir a Integral de Riemann.
Na sequência, apresentamos, detalhadamente, conceitos primordiais, tais
como a noção de partição, integral superior e integral inferior, que são a base
para definir, rigorosamente, a Integral de Riemann.
Com o objetivo de obter condições suficientes para que uma função li-
mitada f :[a, b] →  seja integrável, introduzimos a noção de conjunto de
medida nula e apresentamos os principais resultados que garantem a integra-
bilidade destas funções, como é o caso do Teorema de Lebesgue. Descrevemos,
também, importantes propriedades que são satisfeitas por funções integráveis.
Por fim, apresentamos o Teorema Fundamental do Cálculo, resultado que
estabelece uma relação entre a diferenciação e a integração. A primeira, sur-
giu do problema da reta tangente, como discutido na Unidade 4, enquanto a
segunda, surgiu do problema da área, como mencionado no início desta uni-
dade. O Teorema Fundamental do Cálculo nos fornece, de maneira precisa,
a relação inversa entre a derivada e a integral e, a partir dele, pode-se obter
importantes resultados e aplicações das integrais.
Apesar do rigor matemático necessário para definir funções integráveis,
esperamos que, ao final desta unidade, você tenha compreendido este conceito
de maneira clara e, além disso, tenha amadurecido o que já sabia do cálculo
diferencial e integral sobre integrabilidade de funções.

212
na prática

1. Considere f :[a, b] →  definida por f ( x) = c , quando a  x  b e f (a) = A .


b
Mostre que f é integrável e que a f ( x) dx  c(b  a ) .

2. Mostre que toda função monótona f :[a, b] →  é integrável.

3. Considere f , g :[a, b] →  contínuas. Mostre que

2
 b f ( x) g ( x) dx   b f ( x)2 dx  b g ( x)2 dx
 a  a a .

4. Considere f :[a, b] →  contínua e α, β : I → [ a, b] deriváveis. Seja


β ( x)
F ( x)   f (t ) dt para todo x∈I . Mostre que F é derivável e que
α( x)

F '( x)  f  β ( x)   β '( x)  f  α ( x)   α '( x) .

b
5. Se f :[a, b] →  é contínua não negativa, mostre que a f ( x) dx  0 .

213
aprimore-se

AS ORIGENS DO CÁLCULO

As ideias do Cálculo surgiram aos poucos, nas obras de vários matemáticos do sé-
culo XVII. Foram amadurecendo gradualmente, adquirindo forma mais acabada nos
trabalhos de Newton e Leibniz. Esses dois sábios vieram mais tarde, na segunda
metade do século, e realizaram independentemente ou do outro, o trabalho de sis-
tematização das ideias e métodos, centrados no chamado “Teorema Fundamental
do Cálculo”.
Isaac Newton nasceu na aldeia de Woolsthorpe, na Inglaterra. Enquanto menino
e jovem Newton não manifestou nada de excepcional em seus estudos. Seu exa-
me de ingresso na Universidade de Cambridge até revelou deficiência em seus co-
nhecimentos de Geometria. Ao terminar os estudos de graduação, a Universidade
fechou-se devido a uma epidemia de peste que grassava por toda parte. Assim,
Newton passou os anos de 1665 e 1666 recolhido em sua aldeia natal. Mais tarde
ele contaria que foram nesses dois anos (“biennium mirabilissimum”) que se sentiu
no auge de sua criatividade, tendo-se dedicado à Matemática e à Filosofia (“Natural
Philosophy”, ou seja, “Ciências Naturais”) mais do que em qualquer outra época des-
de então. Foi nesse período que Newton teve as grandes ideias que o celebrizaram,
em teoria da Gravitação, em Ótica e no Cálculo.
Dotado de uma personalidade complexa, Newton sempre relutou em publicar,
ou mesmo divulgar entre seus pares suas descobertas científicas, aparentemente
por receio de críticas. Segundo Augustus De Morgan, “durante toda a sua vida ele
foi dominado por um temor mórbido de oposição”. Em 1969 Newton foi designado
professor em Cambridge, na cátedra até então ocupada por seu mestre Isaac Bar-
row. Seu livro Princípios Matemáticos de Filosofia Natural (conhecido como Principia,
do título em latim), certamente a maior obra científica de todos os tempos, só foi
publicada em 1687, por insistência de alguns amigos e colegas, dentre eles o astrô-
nomo Edmond Halley, que fez uma revisão completa da obra e pagou os custos de
sua publicação.

214
aprimore-se

O primeiro documento de Newton sobre o Cálculo é um manuscrito de 1666,


que teve circulação muito limitada, tano na época em que foi composto, como
após sua morte. Só recentemente é que foi publicado, como parte da edição das
mais de 5.000 páginas de manuscritos deixados por Newton.
Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu e criou-se num ambiente acadêmico; seu pai e
seu avô materno eram professores universitários. Desde cedo manifestou grande
interesse pelo estudo. Passava longas horas na biblioteca do pai e aos 12 anos de
idade já lia correntemente o Latim e impressionava por sua vasta erudição.
Leibniz era dotado de extraordinária versatilidade. Inicialmente estudou direito
e humanidades, doutorando-se em Filosofia aos 21 anos. Logo em seguida entrou
para o serviço diplomático, e em 1672 seguiu em missão para Paris, onde viveu
durante quatro anos, até 1676. Foi esse um período muito fértil de sua vida intelec-
tual, durante o qual se dedicou seriamente ao estudo da Matemática e concebeu
sua própria versão do Cálculo. Em 1776 retornou à Alemanha, onde se tornou bi-
bliotecário e conselheiro real em Hanover.
Leibniz foi um gênio universal. Sua obra toca praticamente todos os campos do
conhecimento, dominando a vida intelectual e exercendo influência marcante no
pensamento filosófico de seu tempo e a partir de então. Quando em Paris dedi-
cou-se à construção de uma máquina de calcular, observando que “não é digno e
próprio que o intelecto se ocupe com trabalho de cálculo que pode ser efetuado
por máquinas”. Durante toda sua vida se empenhou na procura de uma linguagem
ou “lógica simbólica”, que pudesse padronizar e mecanizar os cálculos numéricos
e os processos do raciocínio suscetíveis de tal mecanização. O que hoje em dia se
passa na Informática com a utilização da lógica simbólica e linguagens formais é,
em certo sentido, uma concretização das antevisões de Leibniz. E foi a feliz escolha
da notação apropriada o fator mais decisivo do sucesso de seu Cálculo sobre o de
Newton.

Fonte: Ávila (2006).

215
eu recomendo!

livro

O Cálculo Diferencial e Integral de Newton e Leibniz


Autor: Angélica Raiz Calábria e Sabrina Helena Bonfim
Editora: Livraria da Física
Sinopse: Isaac Newton (1643-1727) e Gottfried Wilhelm von Leib-
niz (1646-1716), ambos contemporâneos da última metade do sé-
culo XVII, protagonizaram umas das invenções mais importantes
da Matemática no século seguinte: o Cálculo Diferencial e Inte-
gral. Independentemente, desenvolveram conceitos gerais, para Newton, a fluxão
e fluente, para Leibniz, a diferencial e integral. Estes conceitos foram relacionados
com os dois problemas básicos do cálculo, extrema e área. Eles desenvolveram
notações e algoritmos, que permitiram o uso fácil desses conceitos, além de en-
tender e aplicar a relação inversa dos dois conceitos, usando-os na solução de
muitos problemas difíceis e previamente insolúveis. A proposta deste livro, sob o
ponto de vista da História da Matemática, é apresentar uma versão da biografia
destes matemáticos, seguidas de uma discussão de seus trabalhos no tocante
à invenção e ao desenvolvimento do Cálculo Diferencial e Integral de Newton e
Leibniz, mesclada por atividades que levem o leitor a uma reflexão acerca do as-
sunto.

216
eu recomendo!

filme

Estrelas além do tempo


Ano: 2016
Sinopse: Por meio dos cálculos e das ciências exatas, um grupo
de mulheres matemáticas negras desafiou o preconceito arraiga-
do na sociedade norte-americana, na década de 60. O filme conta
a história de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson,
que fizeram parte da Agência Espacial Norte Americana (Nasa). A
função exercida por cada uma delas, em um ambiente marcado
pela segregação racial, causa reflexão em uma sociedade que, ainda, sofre resquí-
cios de racismo e machismo.

conecte-se

No vídeo “O mundo em movimento, Cálculo Diferencial e Integral”, você poderá


entender um pouco mais sobre questões que motivaram importantes matemáti-
cos a desenvolverem o que conhecemos, hoje, como Cálculo Diferencial e Integral.
https://www.youtube.com/watch?v=q9ywLsY36dg

217
conclusão
conclusãogeral
geral

conclusão
conclusão
geral
geral

Prezado(a) acadêmico(a), encerramos este livro, referente à disciplina de Aná-


lise Matemática, com a expectativa de que os conhecimentos, aqui, tratados
possam contribuir para sua formação profissional.
Nesse contexto, preocupamo-nos em apresentar os conceitos básicos da
Análise Matemática. Eles servirão como alicerce para os saberes profissionais
que os futuros professores de Matemática trabalharão.
Esta disciplina constitui um dos pilares do curso de Matemática e objetiva
apresentar aos futuros matemáticos os conceitos e métodos próprios da Mate-
mática Avançada, além de outros estudos mais gerais.
No decorrer do livro, as unidades apresentadas, Noções Preliminares; Nú-
meros Reais, Sequências e Séries; Limite e Continuidade; Derivadas; Integrais
discutiram temas já estudados nas disciplinas de Cálculo. Os conhecimentos
advindos dessa disciplina foram essenciais para a melhor compreensão das
unidades do livro Análise Matemática. Adotou-se, no entanto, uma nova abor-
dagem, ao tratar desses assuntos, imputando mais formalismo e abstração aos
conhecimentos apresentados, durante sua formação acadêmica. Esperamos
que possam contribuir para reflexão de questões da prática pedagógica.
Gostaríamos de salientar que os assuntos abordados neste livro, não foram
esgotados, mas apresentam uma introdução detalhada dos principais tópicos
da Análise Matemática, servindo, assim, como alicerce para outros estudos na
linha de pesquisa da Matemática Pura e Aplicada. Nesse sentido, este material
constitui-se um rico referencial de apoio que deverá ser consultado sempre
que necessário.
Despedimo-nos com votos de que esta base conceitual, aqui, apresenta-
da, seja ampliada muitas vezes e que os frutos desse trabalho sejam bastante
prósperos.

218
218
referências

ÁVILA, G. Análise Matemática para Licenciatura. 3. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006.

ÁVILA, G. S. S. Cálculo das funções de uma variável. v. 1. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

CANTOR, G. Über eine Eigenschaft des Inbegriffes aller reellen algebraischen Zahlen. Journal
für die Reine und Angewandte Mathematik, n. 77, p. 258-262, 1874.

LIMA, E. L. Curso de Análise. v. 1, 11. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2004a.

LIMA, E. L. Análise Real. v. 1. 7. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2004b.

LIMA, E. L.; CARVALHO, P. C. P.; WAGNER, W.; MORGADO, A. C. M. A Matemática do Ensino


Médio. v. 1. 11. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2016.

MILIES, C. P. Números: uma Introdução à Matemática. 3. ed. São Paulo: USP, 2003.

MUNIZ NETO, A. C. Fundamentos de Cálculo. 1. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2015. (Coleção
Profmat).

219
gabarito

UNIDADE 1

1. Sabemos que x  X  Y  x  X ou x  Y . Temos, então, três casos para con-


siderar:

i) Se x∈ X e x ∈Y , então, x  X Y. Logo,


x  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ).
ii) Se x ∉ X e x ∈ Y , então, x  X  Y . Logo, x Y  ( X  Y ) e
x  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ).
iii)Se x ∉ Y e x ∈ X , então, x  X  Y . Logo, x  X  (X Y ) e
x  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ).
Se x  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ), então, x∈ X e Y ou
x  X e x  Y ou x  Y e x  X . Logo, x  X  Y .
Portanto, X  Y  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ).
2. Suponha, por absurdo, que existe x  ( X  X  Y )  (Y  X  Y ). Logo,
x (X  X Y ) e x  (Y  X  Y ), ou seja x ∈ X e x ∈ Y e x  X  Y ,
assim, temos uma contradição. Portanto, ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  .
3. Observe que:

I) Verdadeiro. Seja x ∈ A. x  A  x  6t , para algum t ∈ . Podemos escrever:


x  3(2t ) e, assim, x ∈ B.
II) Falso. Tome X= Z= {1, 4, 9}, Y  {1, 2, 3, 1, 2, 3}, f : X → Y definida
2
por f ( x ) = x e g : Y → Z , definida por g ( x ) = x . Temos que g  f : X → Z ,
( g  f )( x) = x, para todo x ∈ X . Logo g  f é bijetora, entretanto, g : Y → Z ,
não é injetora, pois g (1)  g ( 1) e 1  1.

III) Verdadeiro. Se x ≥ 0, então, x2  x.x  0.x  0. Se x ≤ 0, então,


2
x  x.x  0.x  0.
1 1
IV) Verdadeiro. Temos que > 0, pois a , b > 0. Como a>b e > 0, então,
a.b a.b

1 1 1 1
a. > b. , ou seja, > .
a.b a.b b a
Portanto, a resposta correta é o item c).

1 1 2 1 1
4. a) Para n=2 temos  e  e o resultado é válido. Suponha que
(2  1)2 2 2 2
220
gabarito

1 1 1 n 1
para algum n > 1, tem-se:     . Queremos provar
1 .2 2 . 3 (n  1).n n
que o resultado é válido para n +1 . De fato:

1 1 1 1 n 1 1
      
1 .2 2 . 3 (n  1).n n(n  1) n n(n  1)

(n  1)(n  1)  1 n2  1  1 n2 n
    .
n(n  1) n(n  1) n(n  1) n  1
Logo, o resultado é válido para n +1.
b) Para n = 1 temos que 101  1  9 e 9 é divisível por 9 , logo, o resultado é váli-
do para n = 1. Suponha que a afirmação é válida para algum n ≥ 1 , ou seja, existe
t ∈ , tal que 10n  1  9t. Queremos provar que o resultado é válido para n +1.
De fato,

10n1  1  10n10  1  10n (1  9)  1  10n  9.10n  1  (10n  1)  9.10n  9t  9.110n  9(t  10n )

e 10n1  1 é divisível por 9.


5. a) Caso X   ou Y   , o resultado é trivialmente válido. Vamos supor X  
eY  . Sendo X e Y finitos, então, existem n, m ∈  e bijeções f : I n → X e
g : I m → Y e com isso card( X ) = n e card(Y ) = m. Vamos definir
 f ( x) se 1  x  n
F : I n m  X  Y , tal que F ( x)   . Temos
 g ( x  n) se n  1  x  m  n
que F é uma bijeção e, dessa forma, card ( X  Y )  n  m  card X  cardY .

b) Como Y ⊂ X e X é finito, então, Y é finito e X  Y  X é finito. Te-


mos que Y  ( X  Y )   e X  ( X  Y )  Y , então, segue do item a) que:
card X  card ( X  Y )  cardY , ou seja, card X  cardY  card ( X  Y ) .
c) Podemos escrever: X  Y  ( X  X  Y )  (Y  X  Y )  ( X  Y ) , ou seja,
uma união de conjuntos disjuntos. Segue do item a) e b):

card ( X  Y )  card ( X  X  Y )  card (Y  X  Y )  card ( X  Y ) 


 card ( X )  card ( X  Y )  card (Y )  card ( X  Y )  card ( X  Y ) 
 card ( X )  card (Y )  card ( X  Y ).

221
gabarito

UNIDADE 2

1. Observe que:

1 1 1 1 1
I) Falsa, pois tome xn  e yn = ,  , para todo n ∈  e  0,
1 n 1 n n 1 n n 1
→0 e 0 = 0.
n
II) Falsa. Tome xn  (1) n1 e observe que xn é limitada e divergente.

III) Verdadeira. xn  a  dado   0,  n0   ;  n  n0  | xn  a | .


Observe que | yn  | a |||| xn |  | a ||| xn  a | , desde que n > n0 , para todo
n ∈ .
IV) Falsa. Tome xn  (1) n1 e observe que | xn | 1  1 e xn é divergente.

Portanto, a alternativa correta é a letra E.

2. Seja  > 0. ( yn ) M > 0, tal que | yn |< M , para todo


limitada se, e só se, existe

n ∈ . Como xn → 0, então, para > 0, existe n0 ∈ , tal que, para todo
 M
n > n0 temos | xn || xn  0 | . Dessa forma, para todo n > n0 ,
M 
| zn  0 || xn . yn  0 || xn yn || xn || yn | .M  . Logo zn → 0.
M

3. Seja > 0. Como xn → a, então, para  > 0, existe n0 ∈ , tal que, para todo
n > n0 temos | xn  a | . Dessa forma, para todo n > n0 ,
| ( xn  a )  0 || xn  a | . Logo, ( xn  a )  0. A recíproca se prova de maneira
análoga.

 > 0. ( xn ) → a se, e só se, para  > 0 existe n1 ∈ , tal que | xn  a | . Da


4. Seja
mesma forma, ( yn ) → a se, e só se, para  > 0 existe n2 ∈ , tal que | yn  a | .
Tome n0 = max{n1 , n2 } e observe que para todo n ∈ , com n > n0 temos
a    xn  zn  yn  a  , ou seja, | zn  a | . Portanto, zn → a.
a a 3a
5. Seja  0. Temos que (a  , a   )  ( , ).
2 2 2
a
Como xn → a, então, para  = , existe n0 ∈  tal que para todo n > n0 ,
a 3a 2 a
a     xn  a    . Logo, n  n0  xn   0.
2 2 2

222
gabarito

6. Queremos provar que a ≤ b. Suponha por absurdo que a > b. Logo, temos que
( xn  yn )  a  b  0 e, dessa forma, segue do item 5 que existe n0 ∈ , tal que
xn  yn  0, para todo n > n0 , ou seja, xn > yn para todo n > n0 e isto contradiz
a hipótese de xn < yn , para todo n ∈ . Portanto, a ≤ b.

UNIDADE 3


1. Seja  > 0. Como lim g ( x)  0, então, para , existe d1 > 0, tal que
x a M


0 | x  a | d1 implica que . Tome d  mim d1 , d2  , e
| g ( x) || g ( x)  0 |
M
observe que para 0 | x  a | d implica que

g ( x) f ( x)  0  g ( x) f ( x)  g ( x) f ( x)  M  . Portanto,
lim g ( x) f ( x)  0. M
x a
1 1
2. Temos que sen    1 e lim x2  0. Segue do Exercício 1 que lim x2 sen    0.
x x0 x0 x

Portanto, b é a alternativa correta.

3. Seja  > 0. Como lim f ( x)  L, então, para >0 existe d2 > 0, tal que
x a

0 | x  a | d2 implica que | f ( x)  L | . Da mesma forma, lim g ( x)  L, en-


x a

tão, para  > 0 , existe d3 > 0, tal que 0 | x  a | d3 implica que | g ( x)  L | .


Tome d = mim{d1 , d2 , d3 }, e observe que para 0 | x  a | d implica que
L    f ( x)  h( x)  g ( x)  L  , ou seja, | h( x)  L | . Portanto,
lim h( x)  L.
x a

g (a)  f (a)
4. Seja c e   g (a)  c  c  f (a) . Então >0 e
2
f (a )    g (a )    c . Pela definição de continuidade, existem d1 > 0 e d2 > 0 ,
tais que x∈ X , | x  a | d1  f (a )    f ( x)  c e

223
gabarito

| x  a | d2  c  g ( x)  g (a )   . Seja d o mínimo entre d1 e d2 . Então,


x ∈ X , | x  a | d  f ( x)  c  g ( x) .
5. Seja  > 0. Como lim f ( x)  L, então, para >0 existe d > 0, tal que
x a
0 | x  a | d implica que | f ( x)  L | . Temos que
f ( x )  L  f ( x )  L  , se 0 | x  a | d. Portanto, lim | f ( x) || L | .
x a
6. Tome e  min L  A, B  L  0 . Como lim f ( x)  L , para o número e >0
x a

dado, existed > 0 , tal que | f ( x)  L | e sempre que x ∈ X e 0 | x  a | d .


Isto é,L  e  f ( x)  L  e . Da definição de e > 0 temos que A  L  e e
L  e  B . A  L  e  f ( x)  L  e  B .

UNIDADE 4

1. Suponha, por absurdo, que seja possível escrever x = f ( x) g ( x) para todo x ∈ .


Temos que 1  f '( x ) g ( x )  f ( x ) g '( x ), pois f , g são deriváveis. Em particular,
para x = 0, temos 1  f '(0) g (0)  f (0) g '(0)  0, e com isso obtemos uma con-
tradição.

f (0  h)  f (0) f ( h)  0 hg (h)
2. f '(0)  lim  lim lim  lim g (h)  g (0),
h0 h h0 h h0 h h0
pois g é contínua em x = 0. Portanto, b é a alternativa correta.
3. Suponha, por absurdo, que a inversa da f , f −1 é derivável. Como f é a inversa de
f −1 , então, ( f  f 1 )( x)  x, para todo x ∈ . Segue da regra da cadeia que
( f  f 1 ) '(a )  f '( f 1 (a )).( f 1 ) '(a )  0.( f 1 ) '(a )  0. Por outro lado,
( f  f 1 ) '( x)  1 para todo x ∈ . Em particular, ( f  f 1 ) '(a )  1, e, com isso,
obtemos uma contradição.

4. Suponha que a é raiz dupla de f , ou seja, existe uma função polinomial g , tal que
f ( x)  ( x  a )2 g ( x). Temos que f '( x)  2( x  a ) g ( x)  ( x  a )2 g '( x) e
f '(a )  2(a  a ) g (a)  (a  a )2 g '(a )  0. Logo, a é raiz de f e f '.
5. f '( x)  3 x2  4 x e f '(1)  3  4  7. A equação da reta tangente a y = f ( x) no
ponto P = (1, 2) é: y  2  f '(1)( x  1).

224
gabarito

UNIDADE 5

1. Sem perda de generalidade suponha que c < A . Dada uma partição P = {t0 , t1 , , tn }
de [ a, b] temos que m1 = c , M 1 = A e m = i M=i c para i = 2, 3, , n . Neste
caso, S ( f , P )  s ( f , P )  ( A  c )(t1  t0 ) . Assim, dado e > 0 , podemos tomar
e
uma partição P de modo que t1  t0  e, consequentemente teremos
Ac
S ( f , P)  s ( f , P)  e , mostrando a integrabilidade de f . Por outro lado, como
b
s ( f , P)  c(b  a ) paratodapartição P de [a, b] temosque
b
 f ( x) dx  c(b  a )
b *a
. Como f é integrável vem que a f ( x) dx   f ( x) dx  c(b  a ) .
*a

2. Sem perda de generalidade suponha que f é não decrescente. Assim, dado e >0,
considere uma partição P = {t0 , t1 , , tn } [a, b] , tal que cada subintervalo da
de
e
partição tenha comprimento ti 1  ti  . Como f é não decrescente
f (b)  f (a )
os valores mínimo e máximo de f em [ti −1 , ti ] são dados por f (ti ) e f (ti −1 ) , res-
pectivamente. Desta forma,
n
S ( f , P)  s ( f , P)    f (ti )  f (ti 1 )  ti 1  ti 
i 1
 
e

f (b )  f ( a )
n
e
   f (ti )  f (ti1 )
f (b)  f (a ) i 1
e
   f (b)  f (a ) 
f (b)  f (a )
e
o que mostra que f é integrável.

225
gabarito

3. Basta observar que a integral representa um produto interno no espaço vetorial das fun-
ções contínuas e usar a Desigualdade de Schwarz da Álgebra Linear.
β ( x) α( x)
4. Tome c ∈ ( a, b) . Então, F ( x)   f (t ) dt   f (t ) dt . Defina
c c
x
g ( x)   f (t ) dt . Assim, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, g '( x) = f ( x) .
c
b ( x)
Agora, note que c f (t ) dt  g (b ( x)) e pela regra da cadeia obtemos que

d  b ( x)
 f (t ) dt   g '  b ( x)   b '( x)  f  b ( x)   b '( x) . Derivando F mem-

dx  c 
bro a membro e usando a última identidade (e sua análoga para a( x) ) temos o dese-
jado.

5. Basta observar que para qualquer partição P de [a, b] a soma inferior s ( f , P) nunca
será negativa, pois f é não negativa. Sendo contínua, então, f é integrável e vale que
b
b
0  s( f , P)   f ( x) dx   f ( x) dx .
a
*a

226

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