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Oliveira
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Prof. Me. Ney Stival
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Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não Diagramação:
vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Revisão Textual:
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica Gabriela de Castro Pereira
e profissional, refletindo diretamente em nossa Letícia Toniete Izeppe Bisconcim
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Luana Ramos Rocha
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente
e busca por tecnologia, informação e conheci- Produção Audiovisual:
mento advindos de profissionais que possuam Heber Acuña Berger
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Leonardo Mateus Gusmão Lopes
cia no mercado de trabalho. Márcio Alexandre Júnior Lara
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA: PATOLOGIA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 5
1 - ADAPTAÇÕES DO CRESCIMENTO E DIFERENCIAÇÃO CELULAR ................................................................... 6
1.1. ATROFIA ............................................................................................................................................................... 6
1.2. HIPERTROFIA ..................................................................................................................................................... 7
1.3. HIPERPLASIA ..................................................................................................................................................... 8
1.4. METAPLASIA ...................................................................................................................................................... 8
2 - LESÃO CELULAR ................................................................................................................................................... 9
2.1. CAUSAS DE LESÃO CELULAR ............................................................................................................................ 9
2.2. MECANISMOS DE LESÃO CELULAR ............................................................................................................... 10
2.2.1. DEPLEÇÃO DE ATP .......................................................................................................................................... 11
2.2.2. INFLUXO DE CÁLCIO ..................................................................................................................................... 12
3 - ACÚMULO DE RADICAIS LIVRES (ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO) ..................................................... 13
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3.1. DEGENERAÇÕES ............................................................................................................................................... 14
3.1.1. DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA ......................................................................................................................... 15
3.1.2. DEGENERAÇÃO HIALINA .............................................................................................................................. 15
4 - DEGENERAÇÃO MUCOIDE ................................................................................................................................ 15
5 - ESTEATOSE ........................................................................................................................................................ 15
6 - LIPIDOSES ........................................................................................................................................................... 17
7 - GLICOGENOSES ................................................................................................................................................... 17
8 - MUCOPOLISSACARIDOSES .............................................................................................................................. 18
9 - MORTE CELULAR ............................................................................................................................................... 18
9.1. NECROSE .......................................................................................................................................................... 19
9.1.1. ASPECTOS MORFOLÓGICOS MICROSCÓPICOS ......................................................................................... 19
9.1.2. NECROSE POR COAGULAÇÃO OU NECROSE ISQUÊMICA ........................................................................ 19
9.1.3. NECROSE POR LIQUEFAÇÃO ........................................................................................................................ 19
9.1.4. NECROSE CASEOSA ...................................................................................................................................... 20
9.1.5. NECROSE GORDUROSA ................................................................................................................................ 20
10 - EVOLUÇÃO ........................................................................................................................................................ 20
10.1. APOPTOSE ........................................................................................................................................................ 21
10.2. APOPTOSE EM SITUAÇÕES FISIOLÓGICAS ................................................................................................. 21
10.3. APOPTOSE EM CONDIÇÕES PATOLÓGICAS ................................................................................................ 21
10.4. ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DA APOPTOSE .......................................................................................... 22
10.5. MECANISMOS DA APOPTOSE ..................................................................................................................... 22
10.5.1. VIA INTRÍNSECA DA APOPTOSE ................................................................................................................ 22
10.5.2. VIA EXTRÍNSECA DA APOPTOSE ............................................................................................................... 23
10.5.3. A FASE DE EXECUÇÃO DA APOPTOSE ...................................................................................................... 24
10.5.4. REMOÇÃO DAS CÉLULAS MORTAS ........................................................................................................... 24
11 - DISTÚRBIOS ASSOCIADOS À APOPTOSE DESREGULADA ........................................................................... 24
11.1. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS À APOPTOSE DEFEITUOSA E AUMENTO DA SOBREVIDA CELULAR (FALTA
DE APOPTOSE) ........................................................................................................................................................ 24
11.2. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS AO AUMENTO DE APOPTOSE E MORTE CELULAR EXCESSIVA ................. 25
12 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................ 25
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Analisando a etiologia da palavra, a patologia é o estudo (logos) das doenças (pathos), e
pode ser definida, mais especificamente, como “o estudo das alterações estruturais, bioquímicas
e funcionais na células, tecidos e órgãos que fundamentam a doença” (KUMAR et al., p. 5, 2010).
Dessa forma, nessa disciplina discutiremos lesões comuns à diferentes doenças, abordando suas
etiologias (causas), seus mecanismos de desenvolvimento (patogenia ou patogênese) e suas
alterações morfológicas e funcionais.
Na prática, toda doença se inicia com alterações moleculares, funcionais ou estruturais nas
células. Assim, iniciaremos nossa abordagem de patologia, com o estudo das causas, mecanismos
e correlações morfológicas e bioquímicas das lesões celulares.
A homeostasia é conhecida como um estado em que as células se encontram capazes de
realizar suas atividades metabólicas e fisiológicas em equilíbrio. Porém, alguns estresses podem
fazer com que essas células se adaptem, permitindo que elas continuem vivas e funcionais. Essas
adaptações consistem em diminuição (atrofia) ou aumento (hipertrofia) do tamanho e atividade
funcional das células, aumento do número (hiperplasia) ou mudança de fenótipo (metaplasia).
O que caracteriza essas adaptações é que quando o estresse é eliminado, a célula retorna ao seu
estado original, sem sofrer danos.
Caso a célula sofra um estresse ou receba um estímulo lesivo e não seja capaz de se adaptar,
PATOLOGIA | UNIDADE 1
ela pode sofrer mudanças metabólicas e morfológicas em seus constituintes, que constituem uma
lesão celular. Quando esses estímulos são leves e temporários, é caracterizada uma lesão celular
reversível, em que a célula ainda pode retornar ao estado normal. Porém, se esses estímulos
forem intensos, progressivos e acontecerem por um período prolongado, pode acontecer uma
lesão irreversível e finalmente a morte celular (Figura 1).
Nessa unidade, abordaremos como as células respondem ao estresse e estímulos tóxicos, os
mecanismos e consequências das várias formas de lesão, incluindo lesões reversíveis, irreversíveis
e morte celular.
Figura 1 - Etapas da resposta celular ao estresse e estímulos nocivos. Fonte: Kumar et al. (2016).
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ENSINO A DISTÂNCIA
1.1. Atrofia
A atrofia celular pode ser definida como a diminuição do tamanho e do número de células,
que pode levar à diminuição do tamanho e função de um órgão. A atrofia pode ser fisiológica,
quando acontece durante o desenvolvimento normal de um indivíduo, como por exemplo após o
parto, em que o útero da mulher reduz o seu tamanho. Porém, também pode ser patológica, que
pode acontecer em decorrência de diferentes causas, como:
• Redução da carga de trabalho: Esse tipo de atrofia também é conhecido como atrofia
por desuso, em que as células de um órgão ou tecido diminuem de tamanho, como uma
forma de economia de energia por não estarem sendo usadas. Por exemplo: quando ocorre
PATOLOGIA | UNIDADE 1
uma fratura óssea e um braço precisa ser imobilizado com gesso, após a retirada do gesso
é possível verificar que aquele membro está bem mais fino que o outro (que não estava
engessado), devido à uma atrofia dos músculos esqueléticos. Essa atrofia é reversível,
assim que o músculo voltar a ser usado as células retornam ao seu estado anterior.
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ENSINO A DISTÂNCIA
• Pressão: A compressão de um tecido também pode levar à atrofia. Nesses casos a atrofia
está intimamente relacionada à diminuição do fluxo sanguíneo causada pela compressão
de vasos sanguíneos. Um exemplo dessa situação é o desenvolvimento de tumores
benignos, que durante o seu crescimento podem comprimir vasos sanguíneos e causar a
atrofia de tecidos circunjacentes.
Para que a célula tenha seu tamanho reduzido, acontece a diminuição da síntese de
proteínas e o aumento da degradação das proteínas que já estão dentro da célula. O processo de
degradação das próprias proteínas acontece, principalmente, pela via ubiquitina-proteossoma,
em que as causas mencionadas anteriormente podem levar à ligação da ubiquitina às proteínas
presentes no interior das células, ativando o proteossoma e, consequentemente, a degradação.
Normalmente, na atrofia também acontece um aumento da autofagia, que é um processo em
que as células que tiveram seu aporte de nutrientes comprometido digerem seus próprios
componentes, por meio da ação das enzimas dos lisossomos.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
Em condições que demonstrem atrofia significativa, como no envelhecimento e
em algumas doenças degenerativas, as células acumulam um pigmento carac-
terístico, chamado de lipofuscina ou pigmento do desgaste. Microscopicamente
a lipofuscina aparece como um pigmento citoplasmático, frequentemente peri-
nuclear, finamente granular e castanho amarelado. A lipofuscina não é nociva à
célula e às suas funções.
1.2. Hipertrofia
A hipertrofia é caracterizada pelo aumento do tamanho das células, o que resulta em
um aumento do tamanho do órgão. A célula aumenta de tamanho em decorrência do aumento
da síntese dos componentes estruturais, especialmente proteínas. Vale lembrar que o órgão que
sofreu hipertrofia apresenta apenas células maiores e não uma maior quantidade de células.
Na hipertrofia, ao contrário da atrofia, existe um aumento da produção de proteínas
celulares. Esse aumento de produção pode ser, então, estimulado por diversas vias, como a
estimulação mecânica decorrente do aumento do trabalho ou pela ação de fatores de crescimento.
Esse aumento de produção de proteínas e, consequentemente, do tamanho da célula pode
acontecer em decorrência de estímulos fisiológicos ou patológicos. Um caso em que a hipertrofia
é fisiológica, é durante a gravidez, quando o útero aumenta drasticamente de tamanho,
especialmente pelo aumento do tamanho das células que sofreram maior estimulação hormonal,
portanto, maior produção de componentes estruturais. Já um exemplo de hipertrofia patológica,
é a que acontece no músculo cardíaco, decorrente da hipertensão arterial, em que o coração
precisa aumentar sua carga de trabalho para bombear o sangue através dos vasos, levando ao
aumento do tamanho das células e, consequentemente, do órgão.
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ENSINO A DISTÂNCIA
1.3. Hiperplasia
A hiperplasia é o aumento do número de células e, consequente, aumento do tamanho
do órgão. Nem todos os órgãos são capazes de sofrer hiperplasia, uma vez que ela acontece em
células que possuem a capacidade de divisão celular, o que é mais comum em órgãos considerados
glandulares. O aumento do número de células, também, pode ser decorrente de processos
fisiológicos ou patológicos. A hiperplasia é resultado da proliferação de células maduras induzidas
por fatores de crescimento ou a partir de células-tronco teciduais.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
decorrência de aumento dos hormônios androgênios. É muito comum algumas pessoas
relacionarem hiperplasia com neoplasias (tumores), porém na hiperplasia não existe
nenhuma disfunção ou mutação que comprometa o controle da divisão celular, que é
o que acontece nos tumores. Vale ressaltar que a hiperplasia regride caso a estimulação
hormonal diminua.
1.4. Metaplasia
A metaplasia é uma adaptação celular, em que um tipo celular diferenciado (maduro)
é substituído por outro tipo celular diferenciado (maduro), em que, normalmente, este último
apresenta maior resistência a estresses.
Um exemplo bastante comum de metaplasia é aquela em que células colunares são
substituídas por células escamosas. Ela acontece, por exemplo, no útero feminino, em que com o
passar do tempo e com a presença de alguns estresses, como utilização de hormônios, infecções,
alterações de pH, as células colunares endocervicais vão sendo substituídas por células escamosas
estratificadas, que são mais resistentes. Outro exemplo é o caso dos fumantes, em que as células
normais da traqueia, que são colunares e ciliadas, são substituídas por células escamosas,
que são mais resistentes às agressões causadas pelas substâncias tóxicas presentes no cigarro.
Porém, a metaplasia não é de todo boa, visto que muitas vezes as novas células não conseguem
desempenhar as mesmas funções da célula anterior. Como por exemplo no caso dos fumantes,
em que as novas células não conferem a mesma proteção contra infecções (produção de muco
e proteção mecânica dos cílios) que as células ciliadas conferiam. Além disso, as influências que
favorecem o desenvolvimento de metaplasia, caso não cessem, podem iniciar uma transformação
maligna, o que pode levar ao desenvolvimento de um câncer.
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2 - LESÃO CELULAR
Uma vez que as células sofrem estresse excessivo, que não conseguem se adaptar, ou são
expostas a agentes capazes de causar danos à sua estrutura, ocorre uma lesão celular. Essa lesão
pode ser reversível ou irreversível.
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• Lesão irreversível. Caso o estímulo nocivo permaneça, a lesão pode se tornar irreversível
e a célula pode evoluir para a morte celular. Existem dois tipos de morte celular, necrose
e apoptose, que se diferem em morfologia e mecanismos, e suas particularidades serão
abordadas mais à frente nessa unidade.
• Agentes químicos e drogas: Existem inúmeras substâncias químicas que podem causar
lesão, sejam elas lícitas ou ilícitas. Substâncias como cianeto, arsênico, inseticidas e
herbicidas já são reconhecidos como substâncias tóxicas capazes de causar algum mal.
Porém, simples substâncias, como sal e açúcar, em excesso, são frequentemente agentes
de lesão celular. Podemos incluir aqui, também, as drogas sociais, como o álcool e os
medicamentos.
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e, consequentemente, lesões celulares.
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Figura 2 - Consequências morfológicas e funcionais da diminuição do ATP na célula. RE: retículo endoplasmático.
Fonte: Kumar et al. (2016).
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Figura 3 - Papel do aumento do cálcio citosólico nas lesões celulares. Fonte: Kumar et al. (2010).
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remoção, causa um excesso de radicais livres que é conhecido como estresse oxidativo (Figura
4). O estresse oxidativo é ligado a diversos processos patológicos, incluindo o envelhecimento, as
lesões celulares, o câncer e, até mesmo, doenças degenerativas, como o Alzheimer.
Figura 4 - Papel das espécies reativas de oxigênio (ERO) na lesão celular. Fonte: Kumar et al. (2010).
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ENSINO A DISTÂNCIA
Os efeitos patológicos das ERO estão intimamente relacionados com as substâncias com
as quais eles reagem:
• Oxidação de ácidos nucleicos: Os radicais livres causam oxidação do DNA, o que pode
ocasionar em mutações ou quebra do material genético. O que pode estar intimamente
relacionado ao envelhecimento e à transformação maligna das células. A instabilidade dos
radicais livres, como o superóxido, faz com que a sua decomposição também aconteça
facilmente. Além disso, as células desenvolveram diversos mecanismos de remoção de
radicais livres, como:
PATOLOGIA | UNIDADE 1
• Proteínas que se ligam aos íons ferro e cobre: O ferro e o cobre podem favorecer
a formação de radicais livres, uma vez que doam ou aceitam elétrons livres durante
reações intracelulares. Dessa forma, proteínas de armazenamento e transporte como a
transferrina, ferritina, ceruloplasmina, se ligam aos íons livres, diminuindo a formação
das ERO.
3.1. Degenerações
As degenerações podem ser definidas como “lesão celular reversível secundária a alterações
bioquímicas que resultam em acúmulo de substâncias no interior das células” (BRASILEIRO
FILHO, 2014, p. 87).
Essas degenerações são classificadas de acordo com a natureza da substância acumulada.
Dessa forma, podemos dividi-las em: degeneração por acúmulo de eletrólitos e água (degeneração
hidrópica); degeneração por acúmulo de proteínas (degeneração hialina e degeneração mucoide);
degeneração por acúmulo de lipídios (esteatose e lipidoses); degeneração por acúmulo de
carboidratos (glicogenoses e mucopolissacaridoses).
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4 - DEGENERAÇÃO MUCOIDE
PATOLOGIA | UNIDADE 1
Pode acontecer em decorrência da superprodução de muco, especialmente no
trato digestivo e respiratório ou devido a produção exagerada de mucinas em adenomas e
adenocarcinomas.
5 - ESTEATOSE
A esteatose é o acúmulo anormal de triglicerídeos no interior das células. O órgão mais
comumente associado à essa degeneração é o fígado, uma vez que ele é o principal órgão envolvido
no metabolismo lipídico, mas também pode acontecer no coração, rins, entre outros órgãos. A
esteatose acontece devido à interferência dos agentes lesivos no metabolismo dos lipídeos, como:
aumento da síntese de ácidos graxos decorrente de lipólise ou ingestão excessiva; produção de
ácidos graxos a partir do excesso de Acetil coA; redução da utilização de triglicerídeos para a
síntese de lipídeos complexos, devido à carência de fatores nitrogenados e de ATP; menor formação
de lipoproteínas por deficiência na síntese de apoproteínas, os quais podem ser visualizados na
Figura 5. Entre as causas mais comuns de esteatose, podemos citar o abuso de álcool, a obesidade,
a desnutrição proteico-calórica e a ação de substâncias hepatotóxicas.
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PATOLOGIA | UNIDADE 1
Figura 5 - Possíveis mecanismos de acúmulo de triglicerídeos no fígado. Fonte: Kumar et al. (2016).
• Esteatose por abuso de álcool: O consumo excessivo de álcool é uma das causas mais
comuns de esteatose hepática. O álcool, quando metabolizado, produz acetaldeído,
essa substância, em excesso, é tóxica tanto para as mitocôndrias quanto para o retículo
endoplasmático, o que compromete a metabolização de substâncias tóxicas e também
a produção de proteínas. Esses danos favorecem o acúmulo de triglicerídeos, uma vez
que eles deixam de ser utilizados na produção de outras substâncias que necessitam
de proteínas. Ao mesmo tempo, existe um aumento de ácido acético e Acetil CoA. O
excesso de Acetil CoA promove a síntese de ácidos graxos, o que aumenta ainda mais a
quantidade de triglicerídeos e faz com que eles se acumulem nas células. Além disso, a
esteatose induzida pelo abuso de álcool é frequentemente agravada pela desnutrição que,
muitas vezes, acompanha o alcoólatra crônico.
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PATOLOGIA | UNIDADE 1
6 - LIPIDOSES
Nas lipidoses, ocorre o acúmulo de lipídeos, especialmente colesterol. Esse acúmulo pode
acontecer em diversos locais e recebe nomes específicos:
7 - GLICOGENOSES
São doenças genéticas, caracterizadas pelo acúmulo de glicogênio nas células, e,
normalmente, acontece devido a deficiência de enzimas que participam do seu processo de
degradação. Esse acúmulo é visto especialmente nas células do fígado, rins, músculos esqueléticos
e coração.
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ENSINO A DISTÂNCIA
8 - MUCOPOLISSACARIDOSES
Acontecem devido a deficiências enzimáticas e podem apresentar características diferentes
dependendo da enzima que está em falta. Sintomas comuns à maioria das mucopolissacaridoses
são: anormalidades no esqueleto, artérias e válvulas cardíacas, retardamento mental e opacificação
da córnea.
9 - MORTE CELULAR
Como visto anteriormente, quando as células não são capazes de se adaptar a um estresse,
elas podem sofrer uma lesão. A lesão celular pode ser reversível ou irreversível, dependendo da
natureza do agente agressor e da intensidade e duração da agressão. A morte celular, dessa forma,
é o resultado de uma lesão irreversível.
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Figura 6 - Alterações morfológicas da lesão celular que resultam em necrose e apoptose. Fonte: Kumar et al. (2010).
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ENSINO A DISTÂNCIA
A morte celular pode acontecer por necrose ou por apoptose. Quando a morte acontece
e é seguida de autólise, ou seja, degradação enzimática dos componentes celulares por enzimas
produzidas pela própria célula liberadas pelo lisossomo, recebe o nome de necrose. Já quando a
célula sofre contração, condensação da sua estrutura, fragmenta-se e é fagocitada por macrófagos
ou células vizinhas e não sofre o processo de autólise, recebe o nome de apoptose (Figura 6).
9.1. Necrose
O aspecto morfológico da necrose resulta da digestão enzimática sofrida pelas células.
Quando a lesão sofrida pela célula é suficiente para interromper as funções vitais (produção de
energia, comprometimento das sínteses celulares), os lisossomos perdem a capacidade de conter
as enzimas no seu interior e essas são liberadas para o citosol e, dessa forma, iniciam a autólise.
Os lisossomos possuem enzimas capazes de digerir praticamente todos os substratos celulares e
é da ação dessas enzimas que resultam as alterações morfológicas observadas após a morte da
célula.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
evolução, toma aspecto granuloso e tende a formar massas amorfas, devido à mistura do material
citoplasmático decorrente do rompimento das membranas. As alterações nucleares podem
aparecer em três padrões, todos devido à degradação inespecífica do DNA.
Quando o núcleo aparece intensamente basófilo, condensado e com tamanho bem menor
que o normal, recebe o nome de picnose. A digestão da cromatina pode fazer a afinidade tintorial
desaparecer, caracterizando a cariólise. E, por último, o núcleo pode se fragmentar e dispersar no
citoplasma, fenômeno chamado de cariorrexe.
Basicamente, qualquer agente lesivo pode causar necrose, porém, o aspecto da lesão varia
de acordo com a causa. A necrose dos tecidos possui vários padrões morfológicos distintos, cujo
reconhecimento fornece pistas sobre a causa básica.
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ENSINO A DISTÂNCIA
10 - EVOLUÇÃO
Dependendo do tipo de tecido acometido, do órgão e da extensão da área a necrose pode
seguir diferentes caminhos.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
reabsorvidos e fatores de crescimento liberados pelas células vizinhas e por leucócitos induzem a
multiplicação de células. Caso o estroma tenha sido pouco alterado há regeneração completa do
tecido. Caso a área de necrose seja extensa, ocorre a regeneração, porém a arquitetura do órgão
tende a ficar distorcida.
- Cicatrização: Processo em que o tecido que sofreu necrose é substituído por tecido
conjuntivo cicatricial. Os restos celulares são fagocitados e células endoteliais e fibroblastos
surgem e ocupam o espaço antes pertencente ao tecido necrosado.
- Encistamento: Quando o tecido necrótico não pode ser reabsorvido, por ser muito
volumoso ou por que a migração de leucócitos é impedida, a reação inflamatória acontecerá na
periferia da lesão. Ocorre então o encistamento da área de necrose que será, então, absorvida
lentamente.
- Eliminação: Caso o local que sofreu necrose tenha comunicação com o meio externo, esse
material é eliminado, originando, assim, uma cavidade. Esse processo é comum na tuberculose,
em que o material da necrose caseosa é eliminado pelos brônquios e forma as chamadas cavernas
tuberculosas.
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10.1. Apoptose
A apoptose é uma via de morte celular também conhecida por morte programada, uma
vez que ela é estimulada a acionar mecanismos que culminam com a sua morte. Diferentemente
da necrose, as células em apoptose não sofrem autólise, elas se quebram em fragmentos, também
chamados de corpos apoptóticos, que contém porções de núcleo e citoplasma. Esses fragmentos
são, então, fagocitados rapidamente, sem que ocorra o extravasamento do conteúdo celular, não
havendo, dessa forma, reação inflamatória no hospedeiro.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
• Involução de tecidos hormônio-dependentes: Um bom exemplo é o das glândulas
mamárias, terminada a fase de lactação as células que haviam se proliferado e secretado
leite entram em apoptose e restam apenas as células dos ductos mamários.
• Morte de células que já tenham cumprido seu papel: Por exemplo, os neutrófilos após
o término da resposta inflamatória. Eles sofrem apoptose pois já foram provados dos
sinais de sobrevivência.
• Lesão de DNA: Radiação, hipóxia ou drogas citotóxicas podem lesar o DNA diretamente
ou por meio da produção de radicais livres. Caso os mecanismos de reparo não consigam
ser efetivos, a célula dispara os sinais que induzem a apoptose. É melhor a célula ser
eliminada do que arriscar manter uma célula que possa ter sofrido mutações que podem
progredir para uma transformação maligna.
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ENSINO A DISTÂNCIA
PATOLOGIA | UNIDADE 1
intrínseca (mitocondrial) e pela via extrínseca (por receptores). Elas são ativadas por diferentes
estímulos, porém convergem para a ativação das caspases, que são os mediadores da morte
celular, como podemos ver na Figura 7.
Uma revisão interessante a respeito das diferentes vias de apoptose pode ser vis-
ta no vídeo: Vias da apoptose (Legendado).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FuRFpYnY1aE>.
Acesso em 24 set. 2018.
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ENSINO A DISTÂNCIA
PATOLOGIA | UNIDADE 1
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ENSINO A DISTÂNCIA
Ele é expresso por células T, que reconhecem antígenos próprios (utilizados para eliminar
linfócitos autorreatores) e alguns linfócitos T citotóxicos. Quando receptor e ligante se unem
formam um sítio de ligação para uma proteína que contém um domínio de morte, denominada
FADD. A FADD, liga-se a uma forma inativa da caspase-8 ou caspase-10 (em humanos). Essas
caspases ativadas, acionam, então, caspases efetoras 3, 6 e 7, responsáveis pela ativação de
proteases. Além disso, a ativação da caspase-8 origina, através da clivagem de BH3, um fragmento
que se liga às proteínas Bcl-2 e Bcl-x, alterando a permeabilidade da mitocôndria e favorecendo
a saída de citocromo c para o citosol e, consequente, a ativação da caspase-9. Portanto, a ativação
da caspase-8 também aciona o mecanismo mitocondrial de apoptose.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
10.5.4. Remoção das células mortas
As células que estão sofrendo apoptose produzem fatores solúveis que recrutam os
fagócitos. Alguns corpos apoptóticos expressam proteínas que também são reconhecidas pelos
fagócitos ou podem estar revestidos de anticorpos naturais e proteínas do sistema complemento,
que são reconhecidos pelos fagócitos. Esse processo é muito rápido e eficiente, as células mortas
desaparecem dentro de minutos e a inflamação é ausente.
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ENSINO A DISTÂNCIA
Diversas doenças vêm sendo associadas à apoptose desregulada, seja pela falta
dela ou excesso. Maiores informações e detalhes sobre a apoptose podem ser
observados no texto de FERRARI, C.K.B.: Apoptose: A importância da maquinaria
de morte celular no controle e na patogênese de doenças. Revista de Ciências
Médicas, Campinas, 2000, p. 21-31.
Disponível em: <http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/ciencias-
medicas/article/viewFile/1338/1312>.
PATOLOGIA | UNIDADE 1
12 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com essa primeira unidade pudemos visualizar que nosso organismo trabalha de forma
organizada e possui diversos mecanismos para evitar problemas e danos maiores. Entendemos
como nossas células reagem aos mais diversos estímulos e que o tempo de duração, o tipo de
estímulo e a estrutura celular danificada podem causar diferentes consequências e reações.
Em estresses diferentes, que podem envolver falta de oxigênio e irrigação sanguínea,
mudanças de temperatura, sobrecarga de trabalho, entre outros, a primeira resposta do nosso
organismo é tentar adaptar nossas células para a nova realidade, alterando seu tamanho, forma
ou número. Quando essa adaptação não é possível, ocorrem as lesões celulares e, dependendo
da intensidade e do tempo, podem ser reversíveis ou irreversíveis, sendo que estas últimas
correspondem à morte celular.
A morte celular, especialmente a apoptose, é muito importante para o funcionamento
normal do nosso corpo, uma vez que é através dela que muitas células que não estão mais
correspondendo às necessidades são eliminadas.
Compreender os mecanismos de adaptação, lesão e morte celular serão fundamentais
para o entendimento das abordagens dos processos patológicos que serão estudados nas próximas
unidades.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA: PATOLOGIA
INFLAMAÇÃO AGUDA E
CRÔNICA
PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 28
1 - INFLAMAÇÃO AGUDA ......................................................................................................................................... 29
1.1. REAÇÕES DOS VASOS SANGUÍNEOS NA INFLAMAÇÃO AGUDA ................................................................. 29
1.2. REAÇÕES CELULARES DA INFLAMAÇÃO AGUDA ......................................................................................... 31
1.3. RESOLUÇÃO DA INFLAMAÇÃO AGUDA .......................................................................................................... 34
1.4. MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO .................................................................................................................... 34
1.4.1. HISTAMINA E SEROTONINA ......................................................................................................................... 35
1.4.2. DERIVADOS DO ÁCIDO ARAQUIDÔNICO ..................................................................................................... 35
1.4.3. FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS (PAF) .................................................................................................... 38
1.4.4. ÓXIDO NÍTRICO (NO) .................................................................................................................................... 38
1.4.5. CITOCINAS E QUIMIOCINAS ........................................................................................................................ 38
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1.4.6. IL-1 E A TNF .................................................................................................................................................... 38
1.4.7. SISTEMA COMPLEMENTO ........................................................................................................................... 39
1.4.8. SISTEMAS DE COAGULAÇÃO E DAS CININAS ........................................................................................... 40
1.5. RESULTADOS DA INFLAMAÇÃO AGUDA ........................................................................................................ 40
2 - INFLAMAÇÃO CRÔNICA .................................................................................................................................... 41
2.1. MACRÓFAGOS NA INFLAMAÇÃO CRÔNICA ................................................................................................... 41
2.2. INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA .................................................................................................................. 43
3 - EFEITOS SISTÊMICOS DA INFLAMAÇÃO ....................................................................................................... 43
4 - CURA POR REPARO, FORMAÇÃO DE CICATRIZ E FIBROSE ......................................................................... 44
4.1. FORMAÇÃO DO COÁGULO SANGUÍNEO ......................................................................................................... 45
4.2. FORMAÇÃO DO TECIDO DE GRANULAÇÃO ................................................................................................... 45
4.3. PROLIFERAÇÃO CELULAR E DEPOSIÇÃO DE COLÁGENO ........................................................................... 45
4.4. FORMAÇÃO DA CICATRIZ ................................................................................................................................ 46
4.5. CONTRAÇÃO DA FERIDA ................................................................................................................................ 46
4.6. REMODELAMENTO DO TECIDO CONJUNTIVO ............................................................................................. 46
4.7. FATORES LOCAIS E SISTÊMICOS QUE INFLUENCIAM A CURA DE FERIDAS ........................................... 46
4.8. ASPECTOS PATOLÓGICOS DO REPARO ........................................................................................................ 47
4.9. FIBROSE ........................................................................................................................................................... 48
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................ 49
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
A inflamação é uma resposta do hospedeiro, com a intenção de eliminar, neutralizar ou
diluir possíveis agentes estranhos. Em sua essência, é uma resposta totalmente protetora, visando
acabar com a causa inicial do dano, como, também, com as possíveis consequências desses
danos. Sem as reações inflamatórias, infecções pelos mais diversos microrganismos passariam
despercebidas, feridas dificilmente cicatrizariam e danos teciduais nunca seriam reparados.
As respostas inflamatórias não são tão simples quanto parecem e envolvem diversos
mecanismos e ações, que incluem reações vasculares, celulares e a liberação de uma infinidade
de mediadores químicos. As reações inflamatórias podem ser agudas ou crônicas, dependendo
do estímulo lesivo, da duração e da efetividade de reações iniciais.
Resumidamente, uma inflamação aguda é uma reação rápida e de curta duração, porém
bastante intensa. Ela envolve alterações vasculares e celulares. Caso a resposta aguda falhe ela
pode evoluir para a inflamação crônica, que é de longa duração, podendo durar muitos anos e
apresenta por característica principal a presença de células mononucleares.
Nesta unidade descreveremos os eventos e mediadores relacionados a inflamação aguda
e suas possíveis consequências. Em seguida, veremos como funciona a inflamação crônica e suas
principais características. Uma vez que o processo de eliminação de agentes nocivos através da
inflamação, muitas vezes, causa danos ao próprio tecido, finalizaremos descrevendo as principais
PATOLOGIA | UNIDADE 2
etapas da cura por reparo, formação de cicatriz ou fibrose, suas possíveis complicações e
características.
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ENSINO A DISTÂNCIA
1 - INFLAMAÇÃO AGUDA
A inflamação aguda é uma resposta rápida do hospedeiro, que possui como finalidade
levar proteínas e células do plasma até o tecido que está sofrendo a injúria. Essa resposta pode ser
desencadeada pelos mais diversos estímulos:
• Necrose tecidual: Como visto na unidade anterior, uma das características da necrose
é a presença de reação inflamatória. Essa reação pode ser desencadeada por diversas
moléculas liberadas pelas células necróticas, como: ácido úrico, ATP e, até mesmo, o
próprio DNA, quando é liberado no citoplasma.
• Corpos estranhos: Sujeiras, pedaços de madeira, fios de sutura etc. são capazes de
iniciar uma resposta inflamatória tanto pela injúria causada pelo trauma, quanto pela
eventual contaminação microbiana existente nessas substâncias.
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• Reações imunes: A reação imunológica do próprio indivíduo é capaz de causar danos
aos tecidos. Essas reações podem ser direcionadas a antígenos próprios, como nos casos
de doenças autoimunes ou reações excessivas contra microrganismos. Nessas doenças, a
reação inflamatória é a principal responsável pelos danos aos tecidos.
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ENSINO A DISTÂNCIA
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Figura 1 - Mecanismos de transudação e exsudação. Fonte: Kumar et al. (2010).
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ENSINO A DISTÂNCIA
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selectinas P e E e resíduos de carboidratos em glicoproteínas do glicocálice (PSGL-1,
CD-34, Mad-CAM, Gly-CAM). Os macrófagos teciduais, mastócitos e células endoteliais
que encontram os agentes injuriantes respondem secretando várias citocinas, incluindo
fator de necrose tumoral (TNF), interleucina-1 e quimiocinas, as quais agem nas células
endoteliais de vênulas e capilares, estimulando a expressão de moléculas de adesão. Os
leucócitos expressam L-selectina e ligantes para selectinas P e E e se ligam às moléculas
complementares no endotélio. Essas interações possuem baixa afinidade, o que faz com
que os leucócitos se liguem e desliguem sucessivas vezes com a ação do fluxo sanguíneo,
o que caracteriza o rolamento.
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em direção à parede vascular. Moléculas presentes nas junções intercelulares também
estão envolvidas na migração e incluem a CD-31, também conhecida como PECAM-1.
Os leucócitos atravessam o espaço interendotelial aderidos às células endoteliais por meio
da ligação integrinas-CD-31 e, quando terminam de atravessar, as CD-31 vão se unindo
atrás como um “zíper”.
• Migração até o tecido lesado: Após sair da circulação, os leucócitos migram para o
tecido lesado, o que recebe o nome de quimiotaxia. Esse processo depende da liberação
de substâncias quimiotáticas, as quais orientam o movimento das células através de
um gradiente de concentração. A medida que os leucócitos avançam, o gradiente de
concentração do quimiotático aumenta. As substâncias quimiotáticas podem ser trazidas
pelo próprio agente inflamatório, ou seja, exógenas, ou endógenas, quando geradas
no foco da inflamação. Os principais agentes endógenos são produtos da ativação do
complemento, substância P, leucotrienos, citocinas e quimiocinas. O tipo de célula ou
de infiltrado varia de acordo com o tipo de estímulo e idade da resposta inflamatória.
Nas primeiras 24 horas da inflamação aguda predominam os neutrófilos e esses são
substituídos posteriormente por monócitos. Os neutrófilos, além de responderem
mais rápido as quimiocinas, são mais numerosos no sangue, por isso surgem mais
precocemente, porém possuem meia vida curta e entram em apoptose em, no máximo,
48 horas. Já os monócitos sobrevivem por mais tempo e podem se proliferar nos tecidos,
dessa forma, são as células predominantes da inflamação crônica, a qual será abordada
adiante nesse material.
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ENSINO A DISTÂNCIA
Diversos receptores presentes nos leucócitos são responsáveis pela ingestão dos
microrganismos, entre eles receptores de manose, receptores limpadores e receptores para várias
opsoninas. Os receptores de manose, por exemplo, ligam-se a resíduos de manose e fucose,
que são encontrados tipicamente em células microbiana, e não em células de mamíferos, o que
impede que células próprias sejam reconhecidas e fagocitadas. As principais opsoninas, ou seja,
substâncias capazes de sinalizar uma partícula como alvo da ingestão (opsonização), são os
anticorpos IgG, o produto da quebra de C3b do complemento e certas lectinas (especialmente a
lectina ligante de manana).
Após a ligação entre receptor e partícula, extensões do citoplasma dos leucócitos são
lançadas e fluem ao redor da partícula, até se fechar e formar um vacúolo chamado de fagossomo.
Durante esse processo, os lisossomos se aproximam do fagossomo e despejam nele seu conteúdo.
Uma vez que o vacúolo ainda não está totalmente fechado, pode acontecer o extravasamento de
parte das enzimas lisossômicas, o que pode explicar lesões teciduais frequentes em regiões onde
acontece a fagocitose. A fusão entre fagossomo e lisossomo recebe o nome de fagolisossomo, e
pode ser inibida por substâncias produzidas por alguns microrganismos patogênicos que, assim,
conseguem escapar da morte.
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A morte microbiana ou a eliminação de células necróticas no interior do fagócito pode
acontecer de diversas formas, mas é executada largamente por espécies reativas de oxigênio
(ERO) e espécies reativas de nitrogênio, derivadas do NO. A geração dos ERO é resultado da
ativação de um componente conhecido como fagócito oxidase. O NADPH reduz o oxigênio a
ânion superóxido. O superóxido origina H2O2 e O2 por ação da superóxido desmutase (SOD),
abundante no citoplasma dos fagócitos. Como a membrana do fagolisossomo é impermeável à
SOD, a reação fica restrita aos agentes lesivos e as organelas da própria célula estão protegidas.
Esse processo é conhecido como explosão respiratória e seus efeitos microbicidas estão
relacionados a: (1) superóxido que produz lesão por peroxidação ao atuar diretamente sobre os
microrganismos; (2) H2O2 é um agente oxidante e pode matar bactérias diretamente na presença
de ácido ascórbico; (3) produção de hipo-halitos dentro do fagossomo que desnatura proteínas
por oxidação de carboidratos.
O NO também participa da morte microbiana, ao reagir com o superóxido forma um
radical livre altamente reativo, o peroxinitrito. Eles atacam e danificam lipídeos, proteínas e
ácidos nucleicos dos microrganismos.
Substâncias contidas nos grânulos dos leucócitos também podem levar a morte
microbiana. Enzimas como a elastase e substâncias como as defensinas, catelicidinas, lisozima,
lactoferrina, proteína básica principal e proteína bactericida que aumenta a permeabilidade estão
presentes nesses grânulos e também são importantes auxiliares, especialmente contra bactérias.
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atuando especialmente nos fenômenos vasculares. A síntese dessas substâncias ativa,
também, fatores de transcrição que induzem a expressão de substâncias importantes na
síntese de lipoxinas e resolvinas, que são importantes mediadores anti-inflamatórios.
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constitutiva amplamente expressa e é responsável pela produção de tromboxano (TXA2) (potente
agregador plaquetário e mediador de trombose) por plaquetas, macrófagos e outros leucócitos.
Por sua vez, a COX-2 é uma enzima indutível produzida no local da inflamação, cujo principal
produto é a prostaglandina E2 (responsável por vários efeitos pró-inflamatórios, incluindo febre,
dor e reações vasculares).
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Figura 3 - Visão geral da síntese de eicosanoides. Fonte: Kumar et al. (2010).
Os leucotrienos também são derivados do AA, porém são gerados através da enzima
5-lipoxigenase (5-LO). A 5-LO converte o AA a ácido-hidroxieicosatetraenoico, que é o
precursor dos leucotrienos. Eles são secretados, principalmente, pelos leucócitos e atuam como
quimioatraentes para outros leucócitos, além de possuírem efeitos vasculares.
O LTB4 é um dos mais potentes fatores quimiotáticos e possui ação fundamental no
início da inflamação. Esse LT promove a passagem dos neutrófilos para o local da inflamação,
ativa essas células e promove degranulação. O LTB4 estimula a liberação de diversas proteínas
antimicrobianas, além de recrutar outras células, como monócitos/macrófagos e precursores de
mastócitos.
As lipoxinas também são geradas a partir do AA, pela via da lipoxigenase, mas, ao
contrário dos outros derivados vistos até agora (prostaglandinas e leucotrienos), elas são
consideradas mediadores anti-inflamatórios ou inibidores da inflamação. Entre suas principais
ações encontram-se a capacidade de inibir o recrutamento de leucócitos e os componentes
celulares da inflamação.
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COX-2, fosfolipase A2, citocinas pró-inflamatórias e NO.
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de outros tipos celulares (na Tabela 1 podemos observar as principais citocinas da inflamação
aguda e suas funções). Entre as principais citocinas podemos citar a interleucina-1 (IL-1) e o fator
de necrose tumoral (TNF), que terão suas atividades descritas com mais detalhes.
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Figura 4 - Ativação e funções do sistema complemento. Fonte: Kumar et al. (2010).
O sistema complemento pode ser ativado por três diferentes vias: via clássica, via da
lectina e via alternativa. A via clássica é, também, conhecida como “anticorpo-dependente” e é
disparada pela fixação de C1 ao anticorpo. A ligação de C1 ativa novas enzimas que clivam C4
em C4b e C4a. A ligação de C4b a C2 formam a C3 convertase, que leva à clivagem de C3 em
múltiplos peptídeos ativos. A via da lectina é semelhante a via clássica, porém não utiliza C1,
mas, sim, uma lectina ligante de manose para o reconhecimento de substâncias estranhas, como
consequência também desencadeiam a ligação entre C4b e C2, gerando C3-convertase. Já na via
alternativa, a cascata é ativada por moléculas presentes na superfície bacteriana, por exemplo. O
importante é que independentemente da via, todas levam à formação de C3-convertase.
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Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5mmzDyrL-Ng>.
Acesso em 25 set. 2018.
• Cura pela substituição do tecido conjuntivo: Esse resultado acontece quando os danos
aos tecidos foram grandes demais para serem reparados totalmente ou ocorreram em
tecidos incapazes de serem regenerados. Nesses casos, ocorre o crescimento do tecido
conjuntivo para as áreas de lesão, convertendo-se em um tecido fibroso. Assim sendo,
o primeiro passo é a instalação de uma reação inflamatória, cujo exsudato de células
fagocitárias reabsorve o sangue extravasado e o tecido danificado. Em seguida, há
proliferação fibroblástica e endotelial, formando, assim, a cicatriz ou tecido conjuntivo
cicatricial. Posteriormente, esse tecido sofre remodelação, resultando em diminuição do
volume da cicatriz.
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• Evolução para inflamação crônica: Uma inflamação crônica pode ser decorrente de
uma inflamação aguda malsucedida, em que houve a persistência do agente injuriante ou
pode, em algumas situações, ser crônica desde o início.
2 - INFLAMAÇÃO CRÔNICA
A inflamação crônica é aquela que tem uma duração prolongada, que pode variar de
poucas semanas a vários anos, em que o processo de eliminação do agente agressor, a injúria
tecidual e as tentativas de reparo acontecem simultaneamente. Uma inflamação crônica pode
surgir em diferentes situações:
PATOLOGIA | UNIDADE 2
e desreguladas contra alguns microrganismos ou contra agentes ambientais comuns,
causando doenças alérgicas, como a asma.
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Figura 5 - Papéis dos macrófagos na inflamação crônica. Fonte: Kumar et al. (2010).
No sangue eles são os monócitos e nos tecidos, os macrófagos. Vários órgãos possuem
populações específicas de macrófagos com denominações específicas (fígado: células de Kupffer;
pulmão: macrófagos alveolares; tecido conectivo: histiócitos; cérebro: micróglia). Os produtos
dos macrófagos são responsáveis tanto pela eliminação do agente agressor quando para iniciar o
processo de reparo, além de serem os principais responsáveis pela injúria tecidual da inflamação
crônica. Outras células também estão envolvidas na inflamação crônica, como os linfócitos,
plasmócitos, eosinófilos e mastócitos.
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vez mais inertes, com a finalidade de evitar que induzam inflamação e fibrose.
Já os granulomas imunes são causados por agentes que possuem a capacidade de induzir
resposta imune mediada por células. Nesse tipo de granuloma, os macrófagos englobam antígenos
das proteínas estranhas, as processam e fazem a apresentação aos linfócitos T, causando a sua
ativação. Os linfócitos produzem substâncias que ativam outros linfócitos (IL-2) e substâncias
importantes na ativação dos macrófagos e na sua transformação em células epitelioides ou células
gigantes (IFN-γ). Pode ocorrer necrose típica no interior dos granulomas, de acordo com a
etiologia. No granuloma tuberculoso, por exemplo, ocorre a necrose caseosa. Esses granulomas
evoluem para a cura por fibrose, em que as células produzem citocinas que induzem a síntese
de proteínas da matriz extracelular, levando à deposição de colágeno, formando cicatrizes que,
normalmente, apresentam formatos circulares.
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• Aumento de volume dos linfonodos: O aumento dos linfonodos acontece tanto pela
liberação de antígenos pelos agentes inflamatórios que são levados aos linfonodos, onde
promovem uma reação imune com proliferação celular, ou quando o agente etiológico
é de natureza infecciosa e chega aos linfonodos, produzindo uma reação inflamatória,
caracterizando o inchaço.
PATOLOGIA | UNIDADE 2
• Outras respostas: Podemos incluir, também, como manifestações da inflamação o
pulso e a pressão sanguínea aumentados, suor diminuído, principalmente por causa
do direcionamento do fluxo de sangue para os vasos profundos; tremores, calafrios,
anorexia, sonolência e mal-estar, provavelmente, são resultado da ação de citocinas em
células cerebrais.
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são bastante permeáveis, o que normalmente faz com que esse novo tecido apresente edema
em decorrência do extravasamento de líquido e proteínas plasmáticas. Com o passar do tempo,
o tecido de granulação começa a invadir o espaço da incisão. Em feridas de cura por segunda
intenção a quantidade de tecido de granulação será bem maior, uma vez que ele é diretamente
proporcional ao defeito criado no tecido e a intensidade da inflamação.
A angiogênese corresponde a produção de novos capilares. Esse processo pode acontecer
de duas formas, a partir do “brotamento” de vasos pré-existentes ou por recrutamento de células
progenitoras endoteliais da medula óssea. As células endoteliais são ativadas pelos estímulos da
lesão e migram para o local da ferida, estimuladas por fatores de crescimento, como o fator de
crescimento vascular endotelial (VEGF). Os novos “brotos” formam pequenos canais tubulares
que, com o tempo, se diferenciam na circulação madura. Esses novos capilares permitem
o extravasamento de líquido devido sua alta permeabilidade, o que denota a característica
edematosa das lesões.
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processo envolve mudanças da organização do colágeno, a partir das ligações cruzadas do colágeno
fibrilar tipo III, organizado em pequenos feixes paralelos. Embora a ferida nunca atinja a força
tênsil pré-lesão, ela pode alcançar 75% da força original com maturação e contração contínuas.
Durante esse processo, a degradação é mediada por metaloproteinases de matriz (MMP) e é
equilibrada pelo inibidor tecidual de metaloproteinase (TIMP).
• Infecção: É a causa local que mais interfere na cicatrização, pois resultará em lesão e
inflamação por um tempo muito prolongado.
• Corpos estranhos: Fragmentos de aço, vidro e, até mesmo, osso são obstáculos para a
cicatrização, retardando-a.
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• Tamanho, localização e tipo de ferida: Feridas pequenas e que tiveram pouca perda
celular, como visto anteriormente, demoram mais para cicatrizar. Feridas que acontecem
em regiões bastante vascularizadas, como a face, por exemplo, tendem a cicatrizar mais
rápido.
• Metabolismo: Doenças que afetam o corpo como um todo podem, também, retardar a
cicatrização. O diabetes melito é o principal exemplo em que os pacientes apresentam uma
dificuldade muito grande de cicatrização, devido, principalmente, ao comprometimento
vascular que é frequente. A neuropatia diabética também prejudica a cicatrização, devido
à redução de estímulos inflamatórios liberados por terminações nervosas.
PATOLOGIA | UNIDADE 2
também inibem a síntese de colágeno, retardando a cicatrização.
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Figura 6 - Queloide com seus contornos elevados e irregulares. Fonte: Reisner et al. (2016).
PATOLOGIA | UNIDADE 2
após queimaduras graves e podem comprometer o movimento do membro afetado.
4.9. Fibrose
A fibrose é definida, segundo Brasileiro Filho (2014, p. 127), como “condições em que há
aumento do estroma conjuntivo de um órgão decorrente de: (a) cicatrização de lesão prévia; (b)
processo reacional em que a produção de MEC não está relacionada com o processo reparativo”.
Nos locais onde acontece a fibrose, muitas vezes podem ser observados problemas funcionais.
Em relação aos tipos de lesão que levam a fibrose, aquelas que se originam de processos
cicatriciais por lesões traumáticas ou inflamatórias são bastante frequentes, porém se restringem
à região atingida pela inflamação. Fibroses por lesões sistematizadas, tendem a ser difusas e
comprometer grande parte ou o órgão todo. Especialmente nesses casos, o órgão pode sofrer
modificações drásticas de sua arquitetura, o que leva alterações funcionais.
Durante muito tempo a fibrose foi considerada algo irreversível, porém ela pode involuir
ou até mesmo desaparecer caso o estímulo responsável pelo aparecimento da fibrose deixe de
existir. A involução depende de fatores fibrolíticos, caso o estímulo desapareça, metaloproteases
podem iniciar a completa degradação da matriz.
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ENSINO A DISTÂNCIA
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA: PATOLOGIA
DISFUNÇÕES
HEMODINÂMICAS
PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 52
1 - EDEMA ................................................................................................................................................................. 53
1.1. EDEMA GENERALIZADO ................................................................................................................................... 54
1.2. EDEMA LOCALIZADO ........................................................................................................................................ 55
2 - HIPEREMIA ....................................................................................................................................................... 55
3 - HEMORRAGIA ................................................................................................................................................... 56
3.1. DIÁTESE HEMORRÁGICA ................................................................................................................................. 57
4 - HEMOSTASIA E TROMBOSE ............................................................................................................................ 58
4.1. HEMOSTASIA NORMAL .................................................................................................................................. 58
4.1.1. ENDOTÉLIO .................................................................................................................................................... 60
4.1.2. PLAQUETAS ................................................................................................................................................... 60
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4.1.3. CASCATA DE COAGULAÇÃO .......................................................................................................................... 61
4.2. TROMBOSE ...................................................................................................................................................... 62
4.2.1. LESÃO ENDOTELIAL ..................................................................................................................................... 62
4.2.2. ALTERAÇÕES NO FLUXO SANGUÍNEO ....................................................................................................... 63
4.2.3. HIPERCOAGULABILIDADE .......................................................................................................................... 63
4.2.4. ASPECTOS MORFOLÓGICOS ....................................................................................................................... 64
4.2.5. EVOLUÇÃO E CONSEQUÊNCIAS .................................................................................................................. 64
4.2.6. COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA ...................................................................................... 65
5 - EMBOLIA ............................................................................................................................................................ 66
5.1. EMBOLIA PULMONAR .................................................................................................................................... 66
5.2. EMBOLIA DE LÍQUIDO AMNIÓTICO ............................................................................................................... 66
5.3. EMBOLIA GASOSA ........................................................................................................................................... 67
5.4. EMBOLIA GORDUROSA .................................................................................................................................. 67
6 - INFARTO ............................................................................................................................................................. 67
6.1. FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NO DESENVOLVIMENTO DE UM INFARTO ................................... 69
6.2. REPERFUSÃO .................................................................................................................................................. 69
7 - CHOQUE ............................................................................................................................................................. 70
7.1. FASES HEMODINÂMICAS DO CHOQUE ......................................................................................................... 73
8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................ 74
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares lideram o ranking de causas de morte em vários lugares do
mundo, inclusive no Brasil. Podemos incluir em doenças cardiovasculares, aquelas que afetem o
coração, os vasos sanguíneos e o próprio sangue.
Nessa unidade abordaremos as principais características do funcionamento normal
do organismo e também as alterações que acontecem no desenvolvimento de doenças. Cada
distúrbio que afete o equilíbrio hemodinâmico do organismo será abordado de forma separada
para melhor entendimento, porém, vale ressaltar que em muitas situações mais de uma das
alterações abordadas nessa unidade acontecem ao mesmo tempo.
Estudaremos as alterações que compreendem o equilíbrio hídrico e o desequilíbrio,
favorecendo o edema; as alterações que resultam em aumento da quantidade de sangue,
caracterizando as hiperemias; os distúrbios vasculares que resultam em extravasamento de
sangue, que é a hemorragia; as formas de equilíbrio entre os componentes sanguíneos, conhecida
como hemostasia e, também, o seu desequilíbrio, caracterizado especialmente pela trombose e a
embolia; por fim, o infarto, caracterizado pela interrupção do fluxo de sangue e o choque que tem
por característica a hipotensão sistêmica e dificuldade de perfusão dos tecidos.
PATOLOGIA | UNIDADE 3
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ENSINO A DISTÂNCIA
1 - EDEMA
A maior parte do nosso peso corporal magro é composto de água. Parte da água está
localizada intracelularmente e parte nos compartimentos extracelulares. O edema é caracterizado
pelo acúmulo de líquido no interstício ou em cavidades do organismo. Para entendermos como o
edema acontece, primeiramente, precisamos entender como os líquidos corporais se equilibram.
Duas pressões controlam o movimento da água e dos solutos de baixo peso molecular entre
os espaços intravascular e intersticial, a pressão hidrostática vascular e a pressão coloidosmótica
plasmática (também conhecida como pressão osmótica do plasma ou oncótica). A diferença entre
essas pressões é o que movimenta os líquidos. Quando a pressão hidrostática é maior, ocorre a
saída de líquido dos vasos, e quando a pressão coloidosmótica é maior, favorece a entrada de
líquidos para os vasos. Pequenas quantidades de líquidos que sobram no espaço intersticial são
reabsorvidas pelos vasos linfáticos e depois retornam para a circulação. A filtração acontece na
parte arterial e a reabsorção do lado venoso de um mesmo capilar.
Durante a contração do vaso, a pressão hidrostática aumenta, favorecendo a saída de
líquido, o que promove a filtração; logo em sequência ocorre a dilatação, diminuindo a pressão
hidrostática, fazendo com que a pressão coloidosmótica seja maior, favorecendo a reabsorção no
mesmo vaso. Estima-se que os capilares e vênulas reabsorvam cerca de 85% do filtrado e 15%
sejam drenados pelo sistema linfático. Dessa forma, diversos fatores podem levar ao surgimento
do edema, são eles:
PATOLOGIA | UNIDADE 3
• Aumento da pressão hidrostática: Diversos fatores podem levar ao aumento da
pressão hidrostática intravascular, aqui, destacamos a insuficiência cardíaca congestiva e
a obstrução do retorno venoso (trombos, compressão externa dos vasos, imobilização).
Com o aumento da pressão hidrostática, especialmente do lado venoso, ocorre a
diminuição da reabsorção e o sistema linfático não é capaz de reabsorver todo o excedente,
caracterizando, assim, o edema.
• Retenção de sódio e água: O aumento da retenção de sódio faz com que ocorra,
obrigatoriamente, um aumento de água dentro dos vasos. Essa expansão de líquido leva
ao aumento da pressão hidrostática e, também, à diminuição da pressão osmótica, devido
à diluição das proteínas.
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Figura 1 - Eventos que podem levar ao edema generalizado. Fonte: Kumar et.al. (2016).
• Cirrose hepática: Leva a edema por diversos motivos, que incluem a redução da
síntese de proteínas no fígado, dilatação arterial periférica que estimula o sistema renina-
angiotensina-aldosterona e reflexo hepatorrenal que estimula a retenção de sódio pelos
rins.
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trocas gasosas.
2 - HIPEREMIA
A hiperemia consiste no aumento da quantidade de sangue ou do fluxo sanguíneo, em uma
determinada região ou órgão. A hiperemia pode ser ativa, quando o aumento do fluxo sanguíneo é
resultado de dilatação arteriolar. Esta pode ser de origem simpática ou humoral e, como resultado
do intenso fluxo de hemácias e sangue oxigenado nos vasos, a região apresenta-se avermelhada e
muitas vezes com temperatura aumentada. A hiperemia ativa pode ser fisiológica, quando existe
a necessidade de maior irrigação, como ocorre nos músculos esqueléticos durante o exercício
físico, no trato gastrointestinal durante a digestão, no rosto quando a pessoa fica envergonhada.
Porém também pode ser patológica, especialmente durante processos inflamatórios agudos,
como já foi visto na unidade anterior.
Já a hiperemia passiva, que também é conhecida como congestão, decorre na redução da
drenagem venosa. Nesse caso, os tecidos adquirem uma coloração que pode variar do vermelho
escuro ao azul, devido à alta concentração de hemoglobina desoxigenada. A congestão pode
acontecer em decorrência da obstrução de uma veia (compressão, trombose etc.) ou por redução
do retorno venoso, o que acontece na insuficiência cardíaca, por exemplo. Na congestão aguda ou
de curta duração ocorre a distensão dos vasos, já na congestão crônica o impedimento do fluxo
sanguíneo pode levar a lesão tecidual e cicatrização. As congestões mais importantes são as que
acontecem nos pulmões, baço e fígado.
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3 - HEMORRAGIA
Kumar et al. (2010, p. 114) define hemorragia como “o extravasamento de sangue no espaço
extravascular”. A hemorragia pode ser interna, quando o sangue extravasa para cavidades ou para
o interstício, ou externa, quando extravasa para fora do organismo. Além disso, as hemorragias
recebem nomes específicos dependendo da sua localização, como podemos visualizar na Tabela
1.
Nomenclatura Definição
PATOLOGIA | UNIDADE 3
Menorragia Menstruação prolongada ou profusa
Metrorragia Sangramento uterino irregular entre os ciclos
Otorragia Sangramento pelo conduto auditivo externo
Petéquia Sangramento puntiforme (1 a 2mm)
Púrpura Pequenos focos de sangramento (entre 3mm e 1cm)
As hemorragias podem acontecer de duas formas, que são conhecidas como: hemorragia
por rexe e hemorragia por diapedese. A hemorragia por rexe é aquela que acontece devido a
ruptura da parede do vaso e as principais causas são: traumatismos, enfraquecimento da parede
vascular e aumento da pressão sanguínea. Por sua vez, na hemorragia por diapedese não ocorre
o rompimento do vaso e as hemácias saem individualmente através dos espaços entre as células
endoteliais. Como evolução da hemorragia, as hemácias extravasadas podem sofrer lise ou ser
fagocitadas por macrófagos. A hemoglobina liberada nesse processo sofre alguns processos de
transformação que caracterizam as cores de hematomas que podemos observar na pele.
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Por que os hematomas mudam de cor com o passar do tempo? Inicialmente o he-
matoma apresenta-se avermelhado ou arroxeado em decorrência da hemoglobina
desoxigenada que foi liberada, em seguida adquire coloração esverdeada devido
a transformação da hemoglobina em biliverdina, em seguida se transforma em
bilirrubina, que possui coloração amarelada, e em torno de 10 dias depois ele de-
saparece. Paralelamente a esse processo, o ferro liberado é captado pela hemos-
siderina, que pode apresentar-se como grânulos castanhos no interior das células.
PATOLOGIA | UNIDADE 3
Brasileiro Filho (2014, p. 156) define diátese hemorrágica como “a tendência ao
sangramento sem causa aparente ou hemorragia mais intensa ou prolongada após traumatismo”
e ela pode acontecer devido a anormalidades diversas, que incluem a parede vascular, as plaquetas
e os sistemas de coagulação.
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4 - HEMOSTASIA E TROMBOSE
PATOLOGIA | UNIDADE 3
Kumar et al. (2010, p. 115) definem a hemostasia normal como “uma consequência
de um processo altamente regulado que mantém o sangue em um estado líquido nos vasos
normais, mas também permite a formação rápida de um tampão hemostático no local de uma
lesão vascular”. Quando essa hemostasia não funciona como deveria, ocorre a trombose, que é a
formação de coágulos sanguíneos dentro de vasos intactos. Assim como na diátese hemorrágica,
os componentes que envolvem a hemostasia e a trombose são: a parede vascular, as plaquetas e a
cascata de coagulação.
Inicialmente veremos os eventos que compõem a hemostasia normal e como ela é
regulada.
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Além da MEC, o fator tecidual também foi exposto durante a lesão. Esse fator é uma
glicoproteína pró-coagulante, em conjunto com o fator VII dão início à cascata de coagulação,
que gera trombina. A trombina cliva fibrinogênio circulante em fibrina insolúvel, criando uma
rede. Essa segunda sequência é denominada de hemostasia secundária.
A junção da fibrina com a agregação plaquetária dá origem a um tampão permanente e
sólido. Mecanismos contra regulatórios são utilizados para garantir que o tampão se restrinja à
região de lesão.
4.1.1. Endotélio
As células endoteliais são as principais reguladoras da hemostasia. São as atividades
antitrombóticas e pró-trombóticas do endotélio que determinam se ocorre a formação, a
propagação ou a dissolução de um trombo.
Quando não existe nenhuma lesão as células endoteliais previnem a trombose por meio
da liberação de diversas substâncias que bloqueiam a adesão e agregação plaquetárias, inibem a
coagulação e lisam o coágulo.
Quando existe a lesão ou um processo inflamatório as células endoteliais induzem um
estado pró-trombótico. Esse estado permite o contato das plaquetas com a MEC, a adesão que
acontece através de interações com o fator de von Willebrand (vWF) (produto normal das células
endoteliais e essencial para a ligação das plaquetas). Ao ter contato com citocinas inflamatórias
ocorre a síntese do fator tecidual, além disso acontece a inibição da fibrinólise, favorecendo,
assim, a formação de trombos.
PATOLOGIA | UNIDADE 3
4.1.2. Plaquetas
As plaquetas desempenham o papel de formar o tampão hemostático quando ocorre
lesão endotelial. Além disso, sua superfície vai servir para acomodar os fatores de coagulação
ativados. Sua função é dependente de receptores de glicoproteínas, um citoesqueleto contrátil e
dois tipos de grânulos citoplasmáticos. Os grânulos α contém fibrinogênio, fibronectina, fatores
V e VIII, fator plaquetário 4, fator de crescimento derivado de plaquetas e fator de crescimento
transformador-β (TGF-β). Os grânulos densos contêm ADP, ATP, cálcio ionizado, histamina,
serotonina e epinefrina.
Logo após a lesão ocorre, então, a adesão e mudança na conformação, mediada pela
ligação com vWF, que é responsável por ligar os receptores da superfície das plaquetas ao
colágeno exposto. Como já citado anteriormente nessa unidade, pessoas com deficiência no
vWF apresentam tendência ao sangramento. Logo após a adesão, os grânulos são liberados
e, especialmente, os componentes dos grânulos densos serão fundamentais para a ativação
da cascata de coagulação (cálcio) e para a agregação plaquetária (ADP). Durante a agregação
também ocorre a liberação de tromboxano A2 (TxA2), que é um importante estímulo para a
agregação, levando à formação do tampão primário.
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ou no endotélio.
A coagulação pode acontecer por via intrínseca ou extrínseca, sendo que as duas convergem
na clivagem de fator X. A via extrínseca necessita de desencadeador exógeno, fornecido pelos
extratos dos tecidos e é ativada pelo fator tecidual, já via intrínseca necessita apenas da exposição
do fator XII para a superfície trombogênica.
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Uma vez que a cascata foi ativada, ela deve ser restrita ao local da lesão, que é regulado
por meio da ação de anticoagulantes endógenos como: as antitrombinas, que inibem a atividade
da trombina e de outras proteases; as proteínas C e S, que atuam no complexo proteolítico que
inativa os fatores Va e VIIIa; o inibidor da via do fator tecidual (TPPI), que é produzido pelo
próprio endotélio e inativa o complexo fator tecidual-fator VIIa.
4.2. Trombose
Segundo Brasileiro Filho (2014, p. 158) “a trombose é o processo patológico caracterizado
pela solidificação do sangue dentro dos vasos ou do coração, em indivíduo vivo” (Figura 3).
Os trombos podem acontecer tanto em veias quanto em artérias, sendo que os venosos são
compostos, basicamente, por hemácias presas em uma rede de fibrina e algumas plaquetas e
são formados, normalmente, em áreas de estase após a ativação da cascata de coagulação. Já os
arteriais contêm principalmente plaquetas, pouca fibrina e são resultado de lesão endotelial e
fluxo sanguíneo de alta velocidade.
A trombose vai ser o resultado da ativação patológica do processo normal de coagulação
(visto anteriormente) que pode acontecer em decorrência de três alterações que são chamadas de
tríade de Virchow: (1) lesão endotelial; (2) alteração do fluxo sanguíneo (estase ou turbulência);
(3) hipercoagulabilidade sanguínea.
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Figura 3 - Representação esquemática de um trombo. Fonte: Brasileiro Filho (2014).
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4.2.3. Hipercoagulabilidade
A hipercoagulabilidade pode envolver (1) modificações quantitativas ou funcionais das
plaquetas; (2) alterações dos fatores de coagulação que podem ser hereditários (primários) ou
adquiridos (secundários).
Entre as alterações hereditárias, a mais importante é a chamada mutação de Leiden, que é
uma mutação no gene do fator V. Essa mutação torna o fator V resistente à clivagem e inativação
pela proteína C, uma das moléculas envolvidas na regulação antitrombótica. Essa mutação é
relativamente comum e atinge aproximadamente 2% a 15% dos caucasianos. Os indivíduos que
são heterozigotos para esse gene apresentam aumento de cinco vezes no risco relativo de uma
trombose venosa, já os que são homozigotos tem um aumento de cinquenta vezes.
A protrombina G20210A, que representa a segunda causa mais frequente de trombofilia
hereditária, é associada a níveis aumentados de protrombina e um aumento de três vezes do risco
de trombose.
Níveis aumentados de homocisteína contribuem tanto para o desenvolvimento de
trombose arterial e venosa quanto para a aterosclerose. A homocisteína forma ligações com
diversas proteínas incluindo o fibrinogênio e causam inibição da antitrombina III. Essas alterações
são causadas por deficiência hereditária da cistationina β-sitetase ou por uma variante da enzima
metilenotetraidrofolato redutase, que causa homocisteinemia leve em 5 a 10% dos caucasianos e
das populações do leste asiático.
Causas mais raras incluem as deficiências de anticoagulantes como a antitrombina III,
proteína C e proteína S. Nesses casos, os indivíduos apresentam casos de trombose venosa e
tromboembolismo desde a adolescência.
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Já em artérias menores, os trombos são frequentemente oclusivos e as localizações mais
comuns são as artérias coronárias, cerebrais e femorais. Eles consistem de malha friável de
plaquetas, fibrina, hemácias e leucócitos, apresentando coloração mais esbranquiçada.
A trombose venosa, também conhecida como flebotrombose, é quase sempre oclusiva,
com o trombo formando um logo trajeto na luz do vas. Amiúde, são vermelho-azulados por serem
formados predominantemente por hemácias e fibrina. De forma geral, os trombos sempre ficam
aderidos à parede, além disso, são secos, opacos, friáveis e se fragmentam com certa facilidade.
Os coágulos, diferente dos trombos, são brilhantes, úmidos, elásticos e não aderidos à parede.
• Lise (Dissolução): Quando o sistema fibrinolítico é muito ativo, pode conduzir a uma
rápida diminuição e desaparecimento parcial ou total do trombo. Os trombos recentes
são mais propensos à lise. Já trombos antigos, em que a deposição de fibrina já é bastante
intensa, a lise é mais difícil.
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Esse processo pode ser desencadeado por traumatismos grandes que causam a destruição
de muitas células endoteliais e liberação de tromboplastina na circulação. A CID se inicia com a
ativação do sistema de coagulação, logo em seguida, a trombina é gerada em abundância, o que
promove a transformação de fibrinogênio em fibrina. Pequenas quantidades de fibrina podem
ser lisadas, porém, quando a atividade fibrinolítica se esgota, ocorre a formação de múltiplos
microtrombos, o que pode provocar isquemia e pequenos infartos, além disso, o consumo dos
fatores de coagulação e de plaquetas pode evoluir para um sangramento intenso em diversos
locais (Figura 4).
As manifestações clínicas irão variar de acordo com a quantidade de trombos formados e
dos órgãos comprometidos. Além das manifestações neurológicas diversas, insuficiência renal e
distúrbios respiratórios, o que mais chama a atenção é a diátese hemorrágica, que pode provocar
sangramentos múltiplos, que incluem, especialmente, o trato gastrointestinal e o sistema nervoso.
5 - EMBOLIA
Kumar et al. (2010, p. 125) definem um êmbolo como “uma massa intravascular solta,
sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue para um local distante do seu ponto de
origem”. Na maioria dos casos os êmbolos se originam de trombos e menos comumente podem
originar-se de placas de ateroma ou bolhas de gases. Trombos originados nas veias são levados
aos pulmões e trombos arteriais formam êmbolos que se alojam, principalmente, no cérebro,
PATOLOGIA | UNIDADE 3
intestinos, rins, baço e membros inferiores.
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6 - INFARTO
Brasileiro Filho (2014, p. 169) diz que “infarto consiste em uma área circunscrita de
necrose tecidual causada por isquemia absoluta prolongada por obstrução arterial ou venosa”. Os
infartos são eventos comuns e apresentam extrema importância clínica.
Geralmente os infartos acontecem devido a oclusão arterial trombótica ou embólica,
porém, ocasionalmente, acontecem devido a vasoespasmo local, hemorragias dentro de uma
placa ateromatosa, compressão intrínseca de vasos e torções vasculares. Trombose venosa
dificilmente leva a um infarto, normalmente o resultado é uma congestão, porém os órgãos mais
suscetíveis a esse tipo de infarto são aqueles com uma única veia eferente, como os testículos e
ovários, por exemplo.
Morfologicamente os infartos são classificados pela sua cor e podem ser vermelhos ou
brancos. Os infartos vermelhos acontecem (1) principalmente por oclusões venosas, (2) em
tecidos frouxos em que o sangue pode acumular-se (pulmões), (3) em tecidos com circulação
dupla que permitem o fluxo sanguíneo para a zona necrótica (pulmões e intestino delgado), (4) em
tecidos previamente congestionados por fluxo venoso lento. Já os infartos brancos normalmente
ocorrem (1) devido a oclusões arteriais, (2) em órgãos sólidos com circulação arterial terminal e
onde a densidade limita a penetração de sangue na zona necrótica (coração, baço, rins).
“Os infartos tendem a apresentar um formato de cunha, com o vaso ocluído no ápice e
a periferia do órgão formando a base” (KUMAR et al., 2010, p. 128). Os infartos considerados
brancos, tornam-se progressivamente pálidos e mais bem definidos com o tempo, como podemos
observar na Figura 5.
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Figura 5 - Infarto branco renal. Forma de cunha bem delimitada. Fonte: Kumar et al. (2010).
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irreversíveis em 3 a 4 minutos, quando existe privação do fluxo sanguíneo. Células
miocárdicas também são bastante vulneráveis e morrem dentro de 20 a 30 minutos de
isquemia.
6.2. Reperfusão
Em casos de isquemia, tentar restabelecer a circulação perdida é uma prática importante
para evitar a instalação de um infarto ou pelo menos diminuir os danos. Esse processo é
conhecido como reperfusão e pode ser feito utilizando substâncias trombolíticas, com a intensão
de dissolver o trombo ou através de cirurgias de revascularização.
Embora esses procedimentos possam salvar os tecidos, eles também são conhecidos por
causarem a lesão de reperfusão. As possíveis causas dessas lesões são: (1) a formação excessiva de
radicais livres após a reoxigenação do tecido previamente isquêmico; (2) níveis elevados de Ca+2
que, juntamente com os radicais livres, podem abrir poros das mitocôndrias e prejudicar a síntese
de ATP, o que resulta em necrose ou apoptose.
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7 - CHOQUE
O choque pode ser definido como a condição em que há falência circulatória caracterizada
por queda abrupta na pressão arterial, hipoperfusão generalizada de tecidos e órgãos e hipóxia
celular. Como resultado da hipoperfusão, os tecidos recebem menos oxigênio e nutrientes, o que
faz com que o metabolismo celular mude de aeróbio para anaeróbio. O choque inicialmente é
reversível, porém, caso não seja revertido logo, entra em fase irreversível que é frequentemente
fatal.
De forma geral (com exceção ao choque séptico), o paciente apresenta pele pálida,
extremidades frias, hipotensão arterial, distúrbios do estado de consciência e insuficiência
respiratória e renal. Já no choque séptico, que será abordado com bastantes detalhes mais adiante,
o paciente apresenta-se com pele incialmente rosada, quente e bem irrigada e, somente depois de
algum tempo, surgem os sinais relatados para os outros tipos de choque.
O choque é causado ou por distúrbios na macrocirculação ou por distúrbios na
distribuição do volume sanguíneo. Com base nas causas, podemos dividir os choques em cinco
tipos, que serão abordados logo a seguir, estes possuem um resultado comum, a baixa perfusão
generalizada.
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O vídeo Produção de Vídeo Aula – Choque resume brevemente as principais ca-
racterísticas do choque.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xXcd0GCIMuk>.
Acesso em: 26 set. 2018
• Choque cardiogênico: Tem como causa a falha da bomba cardíaca, ou seja, o coração
torna-se incapaz de bombear o sangue de forma adequada. Essa falha pode acontecer por
danos intrínsecos ao miocárdio, como um infarto, arritmias ventriculares, tamponamento
cardíaco ou pela obstrução do fluxo, como no caso de embolia pulmonar. Em todas essas
situações o débito cardíaco fica bastante reduzido.
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• Choque séptico: O choque séptico é causado, principalmente, por infecções por bactérias
Gram-negativas produtoras de endotoxinas e, menos frequentemente, por bactérias
Gram-positivas, fungos e outras toxinas bacterianas. Essa condição tem índices de
mortalidade de aproximadamente 20% e encontra-se entre as principais causas de morte
nas unidades de terapia intensiva. As infecções liberam diversos mediadores químicos,
o que leva a uma ativação generalizada de leucócitos em uma condição conhecida como
síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). A SIRS é uma resposta exagerada do
organismo a uma agressão. É desencadeada por moléculas encontradas em bactérias, que
são conhecidas como PAMPs. Estas são moléculas liberadas pelo microrganismo após a
sua morte ou presentes na sua própria superfície, que são reconhecidas como algo estranho
pelo organismo. Após esse reconhecimento e ligação a receptores, dá-se início a uma
PATOLOGIA | UNIDADE 3
reação inflamatória, liberando citocinas, derivados do ácido araquidônico, fator ativador
de plaquetas e NO. Quando a quantidade de microrganismos é muito grande, a resposta
inflamatória é mais intensa, com maior liberação de mediadores pró-inflamatórios, o que,
geralmente, vem acompanhado de febre e leucocitose. Esses fatores liberados, além das
próprias substâncias microbianas, ativam as células endoteliais e são responsáveis por um
estado pró-coagulante sistêmico que leva a (1) trombose, (2) aumento da permeabilidade
vascular e (3) vasodilatação. A sepse altera a expressão de inúmeros fatores que favorecem
a coagulação e diminui a produção de fatores anticoagulantes, o que favorece a deposição
de trombos ricos em fibrina nos pequenos vasos por todo o corpo, caracterizando a CID.
A ativação endotelial leva, também, à liberação de substâncias com atividade vasodilatora,
o que diminui a perfusão sanguínea. Ao mesmo tempo, citocinas pró-inflamatórias
promovem resistência à insulina, levando à hiperglicemia. A hiperglicemia diminui a
atividade bactericida pois diminui a atividade dos neutrófilos. A hipotensão sistêmica, o
edema e a trombose de pequenos vasos prejudicam o suprimento de sangue para diversos
órgãos. Os altos níveis de citocinas e mediadores secundários diminuem a contratilidade
miocárdica e, consequentemente, o débito cardíaco. A junção de todos esses fatores pode
levar a falência de múltiplos órgãos o que pode culminar com o óbito. Todos os processos
envolvidos no choque séptico estão resumidos na Figura 7.
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Figura 7 - Principais vias patogênicas no choque. CID, Coagulação vascular disseminada; HMGB1, proteína 1 do
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grupo de alta mobilidade; NO, óxido nítrico; PAF, fator de ativação plaquetário; PAI-1, inibidor do ativador do plas-
minogênio 1; sTNFR, receptor do TNF solúvel; TF, fator tecidual; TFPI, inibidor da via do fator tecidual.
Fonte: Kumar et al. (2010).
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de vasopressina e adrenalina, o que, de forma geral, diminui o fluxo sanguíneo em locais
menos “importantes”, como pele, rins, mesentério, e garantem fluxo sanguíneo normal
no cérebro e coração, órgãos vitais. Esse processo recebe o nome de centralização da
circulação. Com o comprometimento da irrigação periférica, o metabolismo passa a
ser anaeróbio, levando ao aumento da produção de ácido lático e consequentemente
diminuição do pH. (2) Na fase descompensada, essa alteração no metabolismo aeróbio
para anaeróbio é determinante para a evolução do paciente. Quanto maior for a duração
e a intensidade da acidose lática, pior é o prognóstico do paciente. A acidose por períodos
muito longos leva à paralisação da musculatura dos vasos arteriais, o que causa o aumento
da saída de líquido pelas vênulas, agravando a hipovolemia e aumentando a viscosidade
sanguínea. Essas alterações acabam entrando em um círculo vicioso levando, cada vez
mais, a uma maior acidose, maior perda de líquidos, maior viscosidade do sangue, o
que leva a SIRS (vista anteriormente na explicação sobre o choque séptico), culminando
em hipoperfusão generalizada, coagulação intravascular disseminada, sangramentos em
vários órgãos (devido ao consumo dos fatores de coagulação), o que pode resultar em
falência múltipla de órgãos.
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ENSINO A DISTÂNCIA
8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos nessa unidade que as disfunções hemodinâmicas podem envolver os vasos
sanguíneos, o coração e o próprio sangue. A manutenção da hemostasia é muito importante para
que o sangue consiga fluir pelos vasos sanguíneos e para que ele coagule quando for necessário,
evitando uma hemorragia. A perda desse equilíbrio é responsável por algumas das disfunções
vistas, como a trombose e a embolia. Vimos também que o edema pode acontecer em situações
não inflamatórias e que o infarto não acontece só no coração, mas em vários órgãos em que o fluxo
sanguíneo é interrompido e acontece necrose tecidual. Por fim, vimos que diversos estímulos,
quando não controlados a tempo, como a insuficiência cardíaca e as hemorragias, podem levar
o paciente ao choque que, na verdade, é uma hipotensão generalizada que acarreta em falta de
aporte sanguíneo para os órgãos.
PATOLOGIA | UNIDADE 3
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA: PATOLOGIA
NEOPLASIAS
PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 77
1 - NOMENCLATURA ................................................................................................................................................ 78
2 - CARACTERÍSTICAS DAS NEOPLASIAS BENIGNAS E MALIGNAS ................................................................ 79
2.1. DIFERENCIAÇÃO E ANAPLASIA ..................................................................................................................... 80
2.2. TAXA DE CRESCIMENTO TUMORAL ............................................................................................................... 81
2.3. INVASÃO LOCAL .............................................................................................................................................. 82
2.4. METÁSTASES .................................................................................................................................................... 84
2.4.1. VIA LINFÁTICA ............................................................................................................................................... 85
2.4.2. VIA SANGUÍNEA ............................................................................................................................................ 85
2.4.3. OUTRAS VIAS ................................................................................................................................................. 87
2.4.4. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DAS METÁSTASES ..................................................................................... 87
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2.4.5. ASPECTOS CLÍNICOS ................................................................................................................................... 87
3 - EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................................................................... 89
3.1. INCIDÊNCIA ....................................................................................................................................................... 89
3.2. FATORES DE RISCO ........................................................................................................................................ 90
4 - CARCINOGÊNESE ............................................................................................................................................. 92
4.1. ATIVAÇÃO DE ONCOGENES ............................................................................................................................. 92
4.2. INATIVAÇÃO DE GENES SUPRESSORES DE TUMOR ................................................................................... 92
4.3. ALTERAÇÃO NOS GENES QUE REGULAM A APOPTOSE ............................................................................. 93
4.4. INIBIÇÃO DO REPARO DO DNA ...................................................................................................................... 94
5 - AGENTES CARCINOGÊNICOS .......................................................................................................................... 94
5.1. CARCINOGÊNESE QUÍMICA ........................................................................................................................... 96
5.2. CARCINOGÊNESE POR RADIAÇÃO ................................................................................................................ 96
5.2.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ............................................................................................................................ 97
5.2.2. RADIAÇÃO IONIZANTE .................................................................................................................................. 97
5.3. CARCINOGÊNESE BIOLÓGICA ........................................................................................................................ 98
6 - MARCADORES TUMORAIS ............................................................................................................................... 99
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................... 100
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
O câncer já se encontra, hoje, como uma das principais causas de morte em todo mundo.
Por se tratar de uma doença que demora para dar indícios ou sintomas, seu diagnóstico, muitas
vezes, acontece em fases muito avançadas o que compromete o tratamento e, normalmente,
confere um mau prognóstico ao paciente. Além de tudo isso, o câncer é uma doença que mexe de
forma muito intensa com o emocional do paciente e, também, dos familiares e pessoas próximas.
Os tumores, de forma geral, podem ser definidos como um crescimento anormal e
descontrolado. Conhecer as características dos tumores e as formas que eles se desenvolvem
podem contribuir para que a tão esperada cura esteja cada vez mais próxima.
Nesta unidade, iremos discutir as características que determinam a formação e o
crescimento dos tumores, diferenciando o comportamento dos tumores benignos e malignos.
Além disso, veremos quais os fatores que podem influenciar no desenvolvimento de tumores e
quais são seus mecanismos genéticos de formação. Finalizaremos falando a respeito dos principais
agentes carcinogênicos e de que forma eles interagem com as células.
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1 - NOMENCLATURA
Neoplasia, se olharmos o significado real da palavra, é um “crescimento novo”. Os novos
crescimentos também são chamados de neoplasmas, embora a palavra mais utiliza para designar
esses novos crescimentos é tumor.
Um tumor ou um neoplasma pode ser definido, segundo Kumar et al. (2010, p. 260),
como “uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é excessivo e não coordenado com aquele
dos tecidos normais, e persiste da mesma maneira excessiva após a interrupção do estímulo que
originou as alterações”. Apesar de serem um assunto muito recorrente nos dias de hoje, relatos
de doenças conhecidas como câncer ou doenças sem cura já existem desde de centenas de anos
antes de Cristo.
De forma bem simples, os tumores considerados benignos são aqueles que apresentam
características muito parecidas com os tecidos normais, além de permanecerem localizados, não
conseguirem se disseminar e, na maioria das vezes, não levam o paciente à morte. Por sua vez, os
tumores chamados de malignos, também conhecidos como “câncer”, são tumores que possuem a
capacidade de invasão e de se espalharem para locais distantes.
Independentemente de serem benignos ou malignos, os tumores são compostos por dois
componentes básicos: (1) as próprias células tumorais, que constituem o parênquima, e (2) toda
a estrutura que dá suporte à essas células, como os vasos sanguíneos e tecido conjuntivo, que
constituem o estroma.
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• Tumores benignos: De forma geral, a nomenclatura dos tumores benignos é feita
através da adição do sufixo –oma à nomenclatura da célula de origem do tumor. Por
exemplo, um tumor benigno de origem óssea é chamado de osteoma, um que surge nos
tecidos cartilaginosos recebe o nome de condroma. Porém, alguns tumores recebem uma
nomenclatura que não está relacionada à célula de origem, mas, sim, com características
físicas micro e macroscópicas do próprio tumor. Tumores derivados de glândulas,
normalmente, recebem o nome de adenoma e aqueles que possuem uma aparência
verrucosa, com projeções, recebe o nome de papiloma.
• Tumores malignos: Os tumores malignos são divididos entre aqueles que surgem no
tecido mesenquimal e aqueles que surgem no tecido epitelial. Os de origem mesenquimal
recebem a adição da palavra sarcoma (por exemplo, fibrossarcoma, condrossarcoma,
osteossarcoma). Por outro lado, os de origem epitelial recebem o nome de carcinomas
(ex. carcinoma de células escamosas, adenocarcinomas).
• Exceções: Algumas nomenclaturas podem ser usadas tanto para tumores benignos quanto
malignos. Um exemplo são os pólipos que são projeções visíveis na mucosa do intestino ou
do estômago e podem apresentar-se como tumores benignos ou malignos. Os teratomas,
apesar do sufixo –oma, são tumores que, também, podem ser benignos ou malignos e
que apresentam, como característica principal, a presença de células totipotentes, que
podem diferenciar-se em diversos tecidos, fazendo com que os neoplasmas possuam
características dos mais variados tipos de tecido de forma desorganizada, como pedaços
de osso, gordura, pelos e outros tecidos. Outras exceções são os linfomas, seminomas e
melanomas que, apesar da nomenclatura compatível com os tumores benignos, sempre
foram utilizados para designar tumores malignos. Na Tabela 1, podemos encontrar as
formas mais comuns de neoplasias.
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Tecido epitelial
Revestimento Papiloma Carcinoma
Glandular Adenoma Adenocarcinoma
Tecido conjuntivo
Fibroso Fibroma Fibrossarcoma
Mixóide Mixoma Mixossarcoma
Adiposo Lipoma Lipossarcoma
Cartilagem Condroma Condrossarcoma
Vasos sanguíneos Hemangioma Hemangiossarcoma
Vasos linfáticos Linfangioma Linfangiossarcoma
Meninge Meningioma Meningioma maligno
Tecido hemolinfopoiético
Mieloide Leucemia
Linfoide Leucemia, linfomas, mieloma
Tecido Muscular
Liso Leiomioma Leiomiossarcoma
Estriado Rabdomioma Rabdomiossarcoma
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Tecido nervoso
Neuroblasto ou neurônio Ganglioneuroma Ganglioneuroblastoma,
Células gliais neuroblastoma, simpaticogonioma
Neuroepitélio Gliomas
Melanócitos Nevus melanocítico Ependioma
Trofoblastos Mola hidatiforme Melanoma
coriocarcinoma
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A falta de diferenciação ou anaplasia está relacionada com diversas alterações morfológicas
que ajudarão na hora do diagnóstico. Entre essas alterações podemos citar:
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Figura 1 - Ependioma anaplásico. Observa-se núcleos grandes com atipias, pseudoinclusões, nucléolo proeminente
e eosinófilo. Fonte: Departamento de Anatomia Patológica (2018).
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detectada pela maioria dos exames, seu tamanho já é bastante grande ou o tumor já está em fase
avançada do seu ciclo de vida, o que compromete especialmente o tratamento.
O crescimento de um tumor depende de três fatores principais: tempo de duplicação das
células tumorais, fração de células que se encontram no grupo replicativo e taxa de células que
se perdem ou morrem. Caso a quantidade de células que estejam se proliferando ultrapasse a
quantidade de células que estão em morte celular, ocorre o crescimento tumoral (Figura 2).
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Na maioria das vezes, no início do tumor, a grande maioria das células encontra-se no
grupo replicativo. Com o passar do tempo, conforme o tumor continua a crescer, muitas células
deixam esse compartimento e, cada vez mais, passam para a fase não proliferativa do ciclo celular.
Normalmente, isso acontece devido à diminuição da quantidade de nutrientes, necrose, apoptose,
entre outras situações. Dessa forma, quando um tumor se apresenta clinicamente detectável a
maioria das células não está no grupo replicativo, mesmo em tumores de crescimento rápido.
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A taxa de crescimento não é a mesma para todos os tipos de tumores. Em geral, ela está
relacionada com o grau de diferenciação celular, ou seja, tumores bem diferenciados tendem a
apresentar crescimento mais lento que os tumores pouco diferenciados. Porém, em alguns casos,
é possível observar tumores benignos e bem diferenciados apresentando taxas de crescimento
maiores que tumores malignos. Isso se deve ao fato do crescimento não estar apenas relacionado
às características celulares, mas, também, às características do local onde o tumor está instalado,
como a estimulação hormonal e a irrigação sanguínea.
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• Locomoção: A última etapa do processo de invasão também é dependente da ligação e
desligamento entre as células tumorais de diversos receptores. Essa movimentação parece
ser direcionada por meio de citocinas derivadas das próprias células tumorais. Produtos
da clivagem de componentes da matriz e alguns fatores de crescimento também possuem
atividade quimiotática para células tumorais. Além disso, a clivagem proteolítica libera
fatores de crescimento que favorecem a mobilidade das células.
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Figura 3 - Etapas do processo de invasão. Fonte: Kumar et al. (2010).
2.4. Metástases
Segundo Kumar et al. (2016, p. 269) “a metástase é definida pela propagação de um tumor
para áreas que são fisicamente descontínuas com o tumor primário e de forma inequívoca marca
um tumor maligno, pois por definição, neoplasias benignas não formam metástases”. Brasileiro
Filho (2014, p.238) define metástase como
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Observações realizadas no final do século XIX mostraram que certas neoplasias formam
metástases em determinados órgãos, enquanto alguns órgãos, normalmente, não sofrem
metástase, o que demonstra um padrão e não que simplesmente a célula tumoral alcance os vasos
sanguíneos e se desenvolva em qualquer órgão aleatoriamente.
Os tumores podem se disseminar pelas seguintes vias:
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É a via de disseminação típica dos sarcomas, mas também é observada nos carcinomas.
Artérias são menos propensas a esse processo, uma vez que possuem parede mais espessa, quando
comparadas às das veias.
Após penetrarem os vasos sanguíneos, as células tumorais podem ser levadas para
qualquer parte do corpo, embora, como vimos anteriormente, esse processo não é aleatório.
Além disso, o simples fato da célula alcançar a corrente sanguínea não implica em uma metástase
iminente. A imensa maioria das células que atingem a circulação morrem em decorrência de
apoptose, resposta imunológica do hospedeiro, defesa não imunitária e outros fatores.
Ao atingirem a circulação as células tumorais tendem a formar agregados celulares. Além
de se ligarem entre si, as células tumorais podem, também, se ligar a outras células do sangue,
especialmente plaquetas. Essas ligações favorecem a sobrevivência das células tumorais.
O tropismo por regiões específicas, já mencionado nessa unidade, pode estar relacionado
às moléculas de adesão presentes nas células tumorais, as quais só se ligarão caso encontrem seus
receptores no órgão-alvo.
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Quimiocinas que se ligam a receptores presentes nos tumores também apresentam relação
com os órgãos-alvo. Um exemplo são células cancerosas de mama que expressam os receptores
CXCR4 e CCR7, para os quais encontra-se as quimiocinas correspondentes superexpressas nos
tecidos em que os tumores de mama normalmente metastizam.
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Brasileiro Filho (2014, p. 243) classifica os padrões de manifestação das metástases da
seguinte forma:
Toda essa variação não é muito bem esclarecida, pois depende de fatores do hospedeiro,
do próprio tumor e da interação entre o tumor primário e as metástases.
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Figura 5 - Fígado tomado por câncer metastático. Fonte: Kumar et al. (2010).
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Características Benigno Maligno
Quadro 1. Características dos tumores benignos e malignos. Fonte: Kumar et al. (2010).
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3 - EPIDEMIOLOGIA
A incidência de câncer não é algo que seja padronizado, ou seja, todos os tipos de
câncer existem na mesma quantidade em todos os lugares do mundo. Alguns tipos de câncer
são comuns em populações de um determinado país, enquanto são raros em outras. Certos
tumores são bastante comuns em crianças, outros acometem especialmente adultos. Todas essas
informações mostram que os fatores ambientais e comportamentais exercem muita influência no
desenvolvimento dessas doenças.
Estudos epidemiológicos envolvendo o câncer são especialmente úteis para se conhecer as
origens da doença e identificar quais populações apresentam maior ou menor risco para o câncer.
Além disso, o conhecimento a respeito da incidência dos diversos tipos de câncer é importante
para que sejam desenvolvidas campanhas de conscientização, prevenção e controle dos fatores
de risco.
3.1. Incidência
O câncer já pode ser considerado, inquestionavelmente um problema de saúde pública,
especialmente nos países em desenvolvimento. Uma estimativa mundial, realizada em 2012,
mostrou que entre os 14 milhões de novos casos estimados, mais de 60% ocorreram em países
em desenvolvimento. Quando se leva em conta a mortalidade, 70% dos óbitos aconteceram
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nesses mesmos países. Os tipos de câncer mais incidentes a nível mundial foram pulmão, mama,
intestino e próstata. Sendo que nos homens os mais frequentes foram pulmão, próstata, intestino,
estômago e fígado. Enquanto em mulheres as maiores taxas visualizadas foram mama, pulmão,
colo do útero e estômago (INCA, 2018).
Quando comparamos os dados de incidência dos países desenvolvidos com os países
em desenvolvimento, o perfil de alguns tipos de câncer se assemelha, porém, nos países em
desenvolvimento ainda prevalecem os cânceres relacionados a condições socioeconômicas
menos favoráveis, como colo do útero e estômago (INCA, 2018).
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para o Brasil,
nos anos de 2018-2019 é de que ocorram cerca de 600 mil novos casos, sendo que desses
aproximadamente 170 mil são câncer de pele não melanoma. O câncer de próstata será o mais
frequente em homens, enquanto o de mama será o mais frequente em mulheres. A distribuição
proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2018 pode ser observada
na Figura 6.
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Figura 6 - Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2018 por sexo, exceto
pele não melanoma. Fonte: INCA (2018).
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RB Retinoblastoma
P16/INK4A Melanoma
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NF1/NF2 Neurofibromatose tipos 1 e 2
Um dos casos mais conhecidos foi o da atriz Angelina Jolie que, ao fazer um mapeamento
genético, descobriu ser portadora de um gene que aumentava a probabilidade de ter um câncer
de mama a níveis bastante elevados. Com base nesses resultados, ela retirou as mamas para
evitar que o câncer se desenvolvesse algum dia. O que deve ser levado em consideração também
é associação entre os fatores genéticos e os fatores ambientais e comportamentais que podem
elevar a chance de desenvolvimento de um tumor.
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4 - CARCINOGÊNESE
A lesão genética é a base da carcinogênese, ou seja, início da transformação ou do
surgimento de células cancerígenas. Essa lesão genética, como visto anteriormente, pode ser
adquirida por ação de agentes ambientais ou pode ser herdada da linhagem germinativa.
As células normais passam por um rigoroso processo de controle dentro do ciclo celular,
que direciona se as células continuarão a proliferação ou se serão direcionadas para a morte
celular programada (apoptose). Qualquer fator que interfira nesse equilíbrio e nesse rigoroso
controle pode desencadear o desenvolvimento de uma neoplasia.
Alguns fatores podem levar ao desenvolvimento de uma neoplasia ou à carcinogênese:
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para que eles estimulem a divisão celular. De forma geral, eles agem de modo contrário aos proto-
oncogenes, aumentando a proliferação celular.
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Figura 7 - O papel da p53 na integridade do genoma. Fonte: Kumar et al. (2010).
Células que tenham sofrido algum tipo de mutação, lesão ou erros durante a replicação
de DNA estimulam a fosforilação da p53. A ativação da p53 atua como estimulante para a ação
de genes de proteínas inibidoras do ciclo celular, o que leva a um bloqueio das células em G1.
Essa parada permite que sistemas de reparo tenham tempo para corrigir eventuais problemas
no DNA, impedindo que ele passe para as próximas gerações celulares. Caso os defeitos não
possam ser corrigidos, a p53 induz a célula à apoptose. Mutações na p53 que façam com que ela
não consiga desempenhar seu papel fazem com que mutações que surjam sejam transmitidas
para as próximas gerações celulares, o que pode ir se acumulando e se tornar suficiente para
desencadear a transformação maligna de uma célula. Defeitos nesse gene são as causas mais
comuns de alterações genéticas em tumores.
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5 - AGENTES CARCINOGÊNICOS
O desenvolvimento de uma neoplasia não acontece pelo simples fato do contato
com a substância potencialmente carcinogênica. Esse processo é complexo e acontece em
etapas. Processos de iniciação, promoção e propagação são visualizados em diversos agentes
carcinogênicos e serão discutidos antes de conhecermos os principais agentes carcinogênicos.
O processo de iniciação pode ser induzido por uma única exposição a um agente
carcinogênico, mesmo que em doses mínimas. Já a promoção necessita de exposições maiores
e mais prolongadas e devem suceder a iniciação. A Figura 8 ilustra as etapas de iniciação e
promoção na gênese de tumores experimentais.
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Figura 8 - Representação esquemática das etapas de iniciação e promoção na gênese de tumores experimentais.
Fonte: Kumar et al. (2010).
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O que podemos observar na Figura 8 é que: (1) a iniciação isoladamente não é capaz de
levar a formação de tumores, mas quando seguida da promoção sim; (2) a iniciação promove
alterações irreversíveis no DNA, ou seja, mesmo que a promoção aconteça muito tempo depois da
iniciação ainda ocorre o desenvolvimento do tumor; (3) a promoção sozinha ou antes na iniciação
não é capaz de produzir um tumor; (4) a promoção é reversível, o que pode ser observado no
grupo 6, em que o espaçamento do tempo entre a aplicação do promotor não levou à formação
de tumores. Apesar desses dados serem experimentais, há evidências de que os tumores humanos
seguem essa mesma sequência.
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hormônios, traumatismos, calor, medicamentos, fenóis, entre outros.
• Progressão: É a etapa do processo que faz com que os tumores sejam mais agressivos
ou invasivos. Normalmente a progressão acontece tanto por influências do hospedeiro
(resposta imunológica principalmente) quanto por modificações que as células
cancerígenas sofrem, que conferem a elas maior capacidade de invasão e malignidade. Essas
modificações são, na verdade, sucessivas mutações, resultado da intensa instabilidade das
células cancerígenas. Com o passar do tempo clones mais agressivos são selecionados, o
que favorece o desenvolvimento de metástases, por exemplo.
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Diversas substâncias químicas já foram classificadas como carcinogênicas, especialmente
por trabalhos realizados em animais. O primeiro registro de relação entre uma substância
química e o câncer foi feito quando Percival Pott, um cirurgião inglês, observou que limpadores
de chaminé, que apresentavam exposição crônica à fuligem, desenvolviam câncer de escroto.
Os carcinógenos químicos são divididos em agentes diretos e agentes indiretos. Os
diretos são agentes alquilantes ou alcilantes que possuem atividade eletrofílica intrínseca, ou
seja, podem provocar câncer diretamente. Os agentes diretos, normalmente, são considerados
carcinógenos fracos. Já os agentes indiretos, classe em que a maioria dos agentes químicos se
encontram, precisam primeiro sofrer modificações químicas dentro do organismo para depois
se tornarem eletrofílicos e ativos. Vias metabólicas são utilizadas para a ativação de agentes, a via
do citocromo p450 está entre as mais importantes. Ao mesmo tempo outras vias podem levar
à inativação dos pró-carcinógenos. Dessa forma, a potência carcinogênica de uma substância
é influenciada tanto pela substância em si quanto pela capacidade do organismo de ativar ou
inativar sua transformação. Tanto agentes diretos ou indiretos, no DNA, causam mutações,
especialmente nos genes RAS e p53.
Entre os diversos agentes químicos podemos citar algumas classes: hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos, aminas aromáticas, azocompostos, alquilantes, nitrosaminas, aflatoxinas,
asbesto, cloreto e vinil e carcinógenos inorgânicos como o arsênico.
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5.2.2. Radiação ionizante
As radiações ionizantes, sejam elas eletromagnéticas (raios x e gama) ou particuladas
(partículas alfa e beta, prótons e nêutrons), são todas carcinogênicas.
Diversas evidências mostram essa ação das radiações: (1) maior incidência de câncer
cutâneo ou leucemias em radiologistas ou operadores de aparelhos de raios X, especialmente
quando ainda não usavam a devida proteção; (2) pessoas que foram expostas excessivamente
aos raios X na infância tem mais chance de desenvolverem leucemias e outros cânceres; (3)
trabalhadores de minas que contém compostos radioativos tem mais chance de desenvolver câncer
broncopulmonar; (4) a aplicação experimental de radiações induz a formação de neoplasias em
diferentes animais.
O poder mutagênico das radiações ionizantes é influenciado por diversos fatores como:
- Tipo de célula alvo: Diferentes tecidos têm sensibilidade variada às radiações. De modo
geral, os tecidos ou células menos diferenciados e com maior taxa de renovação, como a medula
óssea, por exemplo, são mais suscetíveis.
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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0103-40142015000200209>.
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Além disso, proteínas do vírus degradam proteínas p53 e BAX, a primeira já citada
como a guardiã do genoma e está envolvida em diversos controles do ciclo celular, e a
segunda, uma proteína pró-apoptótica. A simples infecção pelo vírus não é certeza do
desenvolvimento do câncer, a interação com outros fatores, como fatores ambientais,
que incluem tabagismo, infecções microbianas, alterações hormonais e outras alterações
genéticas influenciam na progressão para a malignidade.
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A bactérias Helicobacter pylori, causadora de gastrites e úlceras pépticas, é a que vem
sendo, atualmente, classificada como carcinogênica. O seu mecanismo de carcinogênese é muito
parecido com aquele causado pelos vírus das hepatites, descrito anteriormente. O processo
inflamatório, desenvolvido pela infecção por H. pylori, induz a produção de agentes tóxicos para
o material genético. O processo, que se inicia na gastrite crônica e passa pelas fases de atrofia
gástrica, metaplasia, displasia até chegar ao câncer, pode levar muitos anos para acontecer e,
felizmente, só acontece em uma minoria dos pacientes (aproximadamente 3%).
6 - MARCADORES TUMORAIS
O diagnóstico do câncer é difícil, principalmente, porque a doença não dá muitos sinais, a
não ser quando já está em fases mais avançadas. Além dos exames de imagem e genéticos, alguns
exames de rotina podem e devem ser realizados, eles contribuem e muito para o diagnóstico
precoce e melhor prognóstico da doença. Entre os exames de rotina podemos citar, como o mais
famoso, o exame conhecido como preventivo ou exame de Papanicolaou, que nada mais é do
que um esfregaço de células da cérvice e endocérvice do colo uterino feminino, em que se busca,
através da visualização das células, possíveis alterações que possam indicar lesões malignas,
suspeitas ou, até mesmo, a infecção pelo HPV, processo já descrito anteriormente, e que tem forte
relação com o desenvolvimento do câncer de colo de útero.
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O uso de marcadores tumorais também é algo que pode ser feito de rotina. Diversas
substâncias apresentam sua secreção aumentada quando existe a presença de um determinado
tumor. A pesquisa dessas substâncias no sangue não é utilizada como diagnóstico definitivo, mas
sim como uma triagem, detecção precoce e avaliação da efetividade do tratamento. Diversos
marcadores podem ser utilizados, porém o que mais se destaca e que já é usado de forma rotineira
é o PSA (antígeno prostático específico), utilizado na triagem de adenocarcinomas de próstata.
A dosagem do PSA, associada ao exame de toque retal, garante uma eficácia de quase 90% na
detecção dos cânceres de próstata. Além disso, ele é utilizado para a determinação do estágio da
doença e na detecção de recorrência ou metástase.
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Finalizamos o conteúdo da disciplina de Patologia abordando um assunto que tem cada
vez mais importância dentro da saúde, as neoplasias. As doenças e agravos não transmissíveis já
são as principais causas de adoecimento da população e, entre elas, destacam-se principalmente
as doenças cardiovasculares (abordadas na unidade anterior) e o câncer (assunto dessa unidade)
Conhecer os mecanismos pelos quais os tumores se desenvolvem, as principais causas, as
diferenças entre tumores benignos e malignos é fundamental para o entendimento dessa doença
que cada vez atinge mais pessoas e que, muitas vezes, é considerada como uma sentença de morte.
A disciplina de Patologia pode ser considerada uma ponte entre as disciplinas básicas
e as disciplinas profissionalizantes da área da saúde. Dessa forma, entender os mecanismos de
desenvolvimento das doenças é fundamental para o profissional da saúde.
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REFERÊNCIAS
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visão atual. Scientia Medica. Vol. 19, nº 3, p. 135-145, 2009.
KUMAR, V. et al. Robbins & Cotran Patologia: bases patológicas das doenças. 8ª ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010.
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Elsevier, 2016.
REISNER. H. M. Patologia: uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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