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Frederico Celestino Barbosa

Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

4ª ed.

Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre
Piracanjuba-GO
Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre

4ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico Celestino


B238A Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
/ Frederico Celestino Barbosa. – Piracanjuba-GO

Editora Conhecimento Livre, 2020


382 f.: il
DOI: 10.37423/2020.edcl185
ISBN: 978-65-89145-27-1
Modo de acesso: World Wide Web
Incluir Bibliografia
1. agropecurária 2. meio-ambiente 3. sustentabilidade I. Barbosa, Frederico Celestino II. Título

CDU: 630

https://doi.org/10.37423/2020.edcl185

O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus
respectivos autores.
EDITORA CONHECIMENTO LIVRE

Corpo Editorial

Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa

Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto

MSc. Anderson Reis de Sousa

MSc. Frederico Celestino Barbosa

MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo

MSc. Plínio Ferreira Pires

Editora Conhecimento Livre


Piracanjuba-GO
2020
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 8
CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO DE FLORESTAS ENERGÉTICAS NO BRASIL: UMA
PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA
Francisco Igo Leite Soares
Thiago Almeida Vieira
Victória Miranda Machado
Markel Adriel Sousa Farias
Glauce Vitor da Silva
DOI 10.37423/201203333

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 35
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NAS MINERAÇÕES DE
PEQUENA ESCALA: UM ESTUDO PRELIMINAR
Ricardo Bezerra de Oliveira
Luciana Turatti
Jane Márcia Mazzarino
DOI 10.37423/201203338

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 45
EFEITOS DA ÁGUA TRATADA MAGNETICAMENTE EM SEMENTES DE MAMONA ( RICINIUS
COMMUS L.)
Dogivan Costa
Leila Cristiane Souza e Silva
Fábio Henrique Silva Sales
DOI 10.37423/201203339

CAPÍTULO 4 .......................................................................................................... 52
PRÓTESE ARTICULADA EM CADELA AMPUTADA
Raíssa de Araújo Moraes Matos
DOI 10.37423/201203346

SUMÁRIO
CAPÍTULO 5 .......................................................................................................... 63
DIFERENÇAS ENTRE AS RESPOSTAS DE CONFORTO AMBIENTAL OCASIONADAS POR
DADOS COLETADOS NO LOCAL DA PRODUÇÃO E AGÊNCIAS OFICIAIS
Rodrigo Couto Santos
Luciano Oliveira Geisenhoff
Ana Laura Fialho de Araujo
Douglas Romeu da Costa
Alceu Pedrotti
Staël Caroline Rego Ribeiro da Silva
Tainara Regina Cerutti Torres
Stephany Lillian Silveira França
Mamadou Cellou Abdoulaye Diallo
José Limirio Ricardo de Sousa
DOI 10.37423/201203352

CAPÍTULO 6 .......................................................................................................... 69
IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS OCUPACIONAIS EM UMA ASSOCIAÇÃO DE MULHERES
ARTESÃS NO MÉDIO SERTÃO MARANHENSE
Diego Lima Matos
Kassio Kristian de Sousa Carvalho
DOI 10.37423/201203366

CAPÍTULO 7 .......................................................................................................... 82
ANÁLISE QUANTITATIVA DA EXPRESSÃO PAGAMENTO POR SERVIÇO AMBIENTAL NO
PERÍODO DE 2005 A 2014
Cleidinaldo de Jesus Barbosa
Francis Lee Ribeiro
Antônio Marcos de Queiroz
Flávia Rezende Campos
DOI 10.37423/201203384

CAPÍTULO 8 .......................................................................................................... 97
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA SUINOCULTURA
Giselle Mari Speck
DOI 10.37423/201203408

SUMÁRIO
CAPÍTULO 9 .......................................................................................................... 113
PSA POR DESMATAMENTO EVITADO: PROPOSTA DE ESTIMAÇÃO DO CUSTO DE
OPORTUNIDADE DO USO DO SOLO PARA PECUÁRIA NO MATO GROSSO
Vanessa da Paixão Alves
Abner Vilhena de Carvalho
Jarsen Luis Castro Guimarães
Juarez Bezerra Galvão
Mario Tanaka Filho
Ednéa do Nascimento Carvalho
Rodolfo Maduro Almeida
Joao Roberto Pinto Feitosa
DOI 10.37423/201203414

CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 136


RELAÇÕES ENTRE ESTILO DE VIDA E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: UM ESTUDO
COM OS PROFISSIONAIS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS DO INSTITUTO FEDERAL BAIANO
Claudiney André Leite Pereira
DOI 10.37423/201203415

CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 151


SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE TERMISTORES COM COEFICIENTE DE TEMPERATURA
NEGATIVO A BASE DE CO3O4 E ESTIMAÇÃO DAS CURVAS DC VIA REDE NEURAL
Italo Gusmão Fernandes
Lucius Vinicius Rocha Machado
Lucilene Ferreira Mouzinho
Eliude Trovão Moraes
Ronaldo Ribeiro Correa
DOI 10.37423/201203417

CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 163


DETERMINAÇÃO DA PREVALÊNCIA PARASITOLÓGICA EM EQUINOS DA RAÇA CRIOULO
CRIADOS EM PASTAGENS NO ESTADO DE TOCANTINS
Clauber Rosanova
Geovanne Ferreira Rebouças
Walter Augusto dos Santos Marinho
Paulo Vitor Divino Xavier de Freitas
Douglas Messias Lamounier Camargos Rezende
Marilia Gomes Ismar
Mírian das Mercês Pereira da Silva
Daniela Barbosa de Macedo
DOI 10.37423/201203427

SUMÁRIO
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 170
AVALIAÇÃO DE DIFERENTES DOSES DE ADUBO ORGANOMINERAL NO
DESENVOLVIMENTO DE MUDAS DE EUCALIPTO
Marco Antônio Vieira e Silva
DOI 10.37423/201203457

CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 183


ANÁLISE DOS HÁBITOS ALIMENTARES DOS DISCENTES DO ENSINO MÉDIO DO INSTITUTO
FEDERAL DO PIAUÍ E DO COLÉGIO ESTADUAL ZACARIAS DE GÓIS, EM TERESINA PIAUÍ
Alane Sousa de Sá
Ícaro Fillipe de Araújo Castro
Adriana Rocha da Silva
Emmanuel Wassermann Moraes e Luz
DOI 10.37423/201203458

CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 191


OS SISTEMAS PRODUTIVOS DO MUNICÍPIO DE XAPURI –AC
Paulo Eduardo Ferlini Teixeira
Milton Euclides da Silva
João Oliveira da Silva
Thiego de Araújo Silva
DOI 10.37423/201203466

CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 201


SISTEMAS DE CONTROLE PARA DETECÇÃO DE FALHAS EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS
LÍQUIDOS PETROQUÍMICOS
Michael Jamesson Almeida Nunes
Lucilene Ferreira Mouzinho
Eliúde Trovçao Moraes
Lucius Vinicius R. Machado Filho
Lucius Vinicius R. Machado
DOI 10.37423/201203468

CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 217


DOSES DE FERTILIZANTE FOLIAR A BASE DE ZINCO SOBRE A GERMINAÇÃO DE
SEMENTES DE MILHO
Weslei Da Silva
PRISCILA RAIANE ASSUNÇÃO DE ANDRADE
DANIELA SILVA SOUZA
DOI 10.37423/201203469

SUMÁRIO
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 230
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA TERMAL DE CIPÓ-BA:
POTENCIALIDADES CRENOTERÁPICAS
Joseína Moutinho Tavares
Walter Gabriel Neves Cruz
DOI 10.37423/201203475

CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 299


CONDIÇÕES HIGIENICO-SANITÁRIAS DOS LOCAIS E DAS COMIDAS DE RUA VENDIDAS NO
MUNICIPIO DE AÇAILÂNDIA – MA
TATIANA OLIVEIRA DOS SANTOS LEAL
FABIANA DE OLIVEIRA PEREIRA
MARIA LUDMILLA SILVA DE OLIVEIRA
NATHALIA NUNES LEITE
DOI 10.37423/201203476

CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 307


AVALIAÇÃO DO EFEITO CARCINOGÊNICO E ANTICARCINOGÊNICO DE LEONURUS
SIBIRICUS EM DROSOPHILA MELANOGASTER
Maria Laura de Deus Caixeta
Rosiane Gomes Silva Oliveira
DOI 10.37423/201203487

CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 321


CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA DE RESÍDUOS DE QUARTZITOS PARA
UTILIZAÇÃO EM REVESTIMENTO CERÂMICO
Marcondes Mendes de Souza
Franciné Alves da Costa
Mauro Froes Meyer
Luciana Jeannie Dantas Bezerra Mendes
DOI 10.37423/201203489

CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 333


ASPECTOS GEOGRÁFICOS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS EM NATAL/RN
Leon Karlos Ferreira Nunes
Nayara Priscila Xavier
DOI 10.37423/201203490

SUMÁRIO
CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 341
ESTUDO DAS PROPRIEDADES ESTRUTURAIS, VIBRACIONAIS E TÉRMICAS DE POLÍMEROS
E HIDROXIAPATITA
Eduardo da Silva Gomes
João Ferreira da Silva Neto
Emanuel Victor de Oliveira Sousa
Fernando Mendes
Ana Angélica Mathias Macêdo
DOI 10.37423/201203511

CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 357


CRIAÇÃO INTENSIVA DO CAMARÃO LITOPENAEUS SCHMITTI COM DIFERENTES
DENSIDADES DE ESTOCAGEM E TEMPERATURA
Michelle Midori Sena Fugimura
Helaine dos Reis Flor
Thaís Chaves Castelo-Branco
Andrea Bambozzi Fernandes
Lidia Miyako Yoshii Oshiro
DOI 10.37423/210103531

CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 371


ABORDAGEM SISTÊMICA1: FUNCIONAMENTO DE UM ESTABELECIMENTO AGRÍCOLA NO
ASSENTAMENTO ABRIL VERMELHO - PARÁ.
Miriam Lima Rodrigues Dias
Wagner Luiz Nascimento do Nascimento
Mauricio Ricardo de Paula Dias
Acenet Andrade da Silva
Tatiane Calandrino da Mata
Arnaldo Pantoja da Costa
Eloisa Lorenzetti
DOI 10.37423/210103540

SUMÁRIO
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 1
10.37423/201203333

CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO DE FLORESTAS


ENERGÉTICAS NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA
TEÓRICO-METODOLÓGICA

Francisco Igo Leite Soares Universidade Federal do Oeste do Pará

Thiago Almeida Vieira Universidade Federal do Oeste do Pará

Victória Miranda Machado Universidade Federal do Oeste do Pará

Markel Adriel Sousa Farias Universidade Federal do Oeste do Pará

Glauce Vitor da Silva Uniersidade Federal do Oeste do Pará


Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Resumo: Nas últimas décadas, é perceptível o avanço das pautas relacionadas à qualidade de vida e
às questões ambientais, como é o caso da busca por fontes energéticas limpas e renováveis, através
de florestas energéticas, por exemplo. Essas florestas constituem uma importante fonte de biomassa
florestal, que juntamente com outras são responsáveis por quase 10% da matriz energética nacional.
A biomassa engloba matéria vegetal proveniente da fotossíntese e os seus derivados, tais como, os
resíduos florestais e agrícolas, resíduos animais e a matéria orgânica contida nos resíduos industriais,
domésticos, dentre outros. Assim sendo, este trabalho tem por desiderato, evidenciar de forma
genérica a composição de custos para implantação de uma floresta energética. Metodologicamente,
consiste em uma pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico com o apoio de materiais publicados e
disponibilizados na internet, através de periódicos especializados. Os resultados obtidos evidenciaram
a estrutura dos custos de produção, que são influenciados por fatores como tipo de espécie,
espaçamento, adubação, inseticidas, etc., e, ainda pela região onde o cultivo será realizado.

Palavras-chave: Florestas Energéticas. Custos de Implantação. Biomassa

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

1. INTRODUÇÃO

O conceito de florestas energéticas teve sua gênese na década de 1980, referindo-se a plantações com
alta densidade e curta rotação, cujo objetivo é produzir o maior volume possível no menor espaço de
tempo. Sua implementação, além de contribuir com o reflorestamento em áreas degradadas, ameniza
o impacto sobre as florestas naturais, através da produção de biomassa florestal, como a lenha e o
carvão.
O Brasil apresenta muitas vantagens na produção florestal, principalmente devido à sua extensão
territorial com disponibilidade de área para plantio, clima adequado, extensas áreas mecanizáveis,
disponibilidade de mão de obra a custos acessíveis, empresas especializadas e estruturadas, bem
como, investimentos públicos e privados em pesquisa e inovação. Todos estes fatores contribuem,
para que as florestas energéticas brasileiras apresentem as maiores taxas de produtividade do planeta.
Dados do Balanço Energético Nacional indicam que a lenha e carvão são componentes significativos
na matriz energética brasileira. O consumo de energia de origem florestal na forma de lenha e carvão,
no ano de 2018, foi equivalente a 9,5% da oferta total de energia disponível no país (BRASIL, 2018).
Embora o consumo de lenha para geração de energia doméstica seja tradicionalmente um dos
principais usos do produto, nota-se que as indústrias de papel e celulose, cerâmica, siderúrgica a
carvão vegetal e agroindústria, dentre outras, têm pressionado o crescimento do volume consumido
de lenha de florestas plantadas (ABRAF, 2013).
Existem várias espécies que compõe essa cadeia produtiva de florestas energéticas, no entanto,
muitos estudos apontam o eucalipto como uma das espécies mais propícias a produção da biomassa,
por apresentar vantagens como adaptação a vários tipos de solos e condições ambientais, conforme
região e espécie, altos índices de produtividade e boas características energéticas (densidade básica e
poder calorífico).
Dentre as ações do governo brasileiro com vistas à diversificação da matriz energética nacional,
destaca‑se o Projeto de Lei n. 3.529/2012, que instituirá a política nacional de geração de energia
elétrica a partir da biomassa, estabelecendo a obrigatoriedade da contratação da bioenergia na
composição da geração elétrica nacional. Neste sentido, novos sistemas de produção serão delineados
para atender a essa demanda.
Para Osaki (2012), um sistema de produção pode ser compreendido, como um método pelo qual as
organizações transformam o insumo/recurso (input) em produto final (output), tanto para o produto
físico (bens) como para serviços. Assim, o sistema de produção é a maneira de organização para a

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

operação de produção, adotando uma sequência lógica em todo o processo produtivo, desde a
compra da matéria prima até a saída do produto final.
Do ponto de vista econômico, estudos precisam ser realizados com vistas a analisar qual o menor custo
para a implantação de uma floresta que esteja associada a inovadores sistemas energéticos de curta
rotação, considerando aspectos, tais como espaçamento, manejo e condução adequados, sem
prejudicar o incremento de biomassa produzida (LEMOS, 2014).
Os sistemas de custeio apresentados neste trabalho representam uma perspectiva genérica de
apuração, por não se tratar de um estudo de caso específico. Portanto, para que o custeamento possa
ensejar a realidade, faz-se necessário considerar questões essenciais, como o tipo de espécie a ser
cultivada, e, sobretudo, o recorte geográfico da produção que é afetado drasticamente por questões
logísticas que afetam diretamente a composição dos custos.
Assim, busca-se responder ao seguinte questionamento: quais os componentes de custos para a
implantação de florestas energéticas no Brasil?
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico com o apoio de
materiais publicados que retratam estudos de casos sobre análise econômico-financeira de florestas
energéticas no Brasil com enfoque na produção do eucalipto.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. FLORESTA ENERGÉTICA CONVENCIONAL E FLORESTA ENERGÉTICA ADENSADA

O processo de desenvolvimento humano tem uma relação intima com o aumento do consumo
energético e com o uso racional das variadas fontes de energia. Nesse caso, a lenha sempre contribuiu
historicamente com tal desenvolvimento, visto que foi a primeira fonte energética usada para aquecer
alimentos (ELOY et al., 2015).
Farias e Sellito (2011) complementam que essas primeiras necessidades do ser humano quanto à
alimentação, iluminação noturna e aquecimento, foram quem desencadearam a descoberta e posse
sob o fogo, assim como o crescimento da agricultura e pecuária.
Com o passar dos tempos, esse material tem sido utilizado de maneira ampla, tornando-se
indubitavelmente a alternativa que mais representa a singularidade do Brasil, colaborando na geração
de energia térmica, mecânica e elétrica (SOARES et al., 2006). Com isso, a humanidade mudou
negativamente o seu habitat, vivendo em função de arrecadação de riquezas financeiras em
detrimento das riquezas naturais (DIAS, 2011). Para Rossato et al., (2016) a principal influencia para a

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

humanidade acerca da geração de energia, deu-se a partir da intensificação das indústrias na


Revolução Industrial.
Sabe-se que a necessidade por energia no mundo está longe de ser suprida, por essa razão, estima-se
que entre os anos 1990 e 2020, o consumo de energia subirá quase 60%, ocorrendo principalmente
nos países em desenvolvimento (PINOTTI, 2016).
A matriz energética é composta por dois pilares: as fontes de energias não renováveis, consideradas
finitas e que não se produzem naturalmente, a exemplo petróleo, carvão, gás natural e combustíveis
nucleares (FILIPPO FILHO, 2018); já as fontes renováveis estão presentes desde que o mundo é mundo,
possuindo potencial significativo, pois podem ser exploradas com baixas consequências ambientais
(PINOTTI, 2016), a exemplo energia solar, eólica, hídrica, a biomassa e etc.
Para Moura (2002) as fontes de energia convencionais ou tradicionais (petróleo, gás natural,
hidroeletricidade, carvão mineral, energia nuclear, lenha e carvão vegetal), causam grande impacto
na natureza (como a deliberação dos gases do efeito estufa) e ainda são muito utilizadas por serem
rentáveis, mesmo com o alto investimento sobre elas.
Nesse sentido, as florestas energéticas têm como objetivo evitar ameaças de desmatamento para com
as florestas naturais. Logo, o reflorestamento para uso energético detém um papel fundamental na
utilização de terras que foram danificadas. Ademais, elas cooperam também para a distribuição de
biomassa florestal, lenha e carvão de origem vegetal (SEBRAE, 2020).
A fonte de energia advinda do uso de biomassa florestal representa uma tendência característica do
Brasil. O mesmo possui destaque mundial em se tratando de produção de florestas plantadas. Assim,
de acordo o Sebrae (2020) o mesmo detém em um nível superior, o conhecimento técnico e científico
na área da silvicultura que, aliados à oferta de terras e às condições de solo e clima, viabilizam uma
produção crescente de biomassa florestal para o futuro.
“O Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de celulose, posicionando a silvicultura
nacional em destaque. Integram esta lista, além dos brasileiros, Estados Unidos, China, Canadá e
Suécia” (MENDES, TREICHEL & BELING, 2016).
Para Marangon (2015) o setor florestal possui grande significância para a sociedade brasileira, porque
trás grandes contribuições nos eixos econômicos, sociais e ambientais mensuradas por meio da
avaliação de alguns indicadores como: a totalidade das florestas plantadas, o valor bruto da produção,
formação de impostos, o valor das exportações, geração de empregos e os investimentos voltados
para a responsabilidade social e ambiental.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Baseado nos dados divulgados pela Indústria Brasileira de Árvores – (IBA, 2019) a área total de árvores
plantadas no Brasil em 2018 foi de 7,83 milhões de hectares. Os dados apontaram ainda que, desse
total, as plantações de eucalipto ocuparam 5,7 milhões de hectares, enquanto que as áreas com pinus
somaram 1,6 milhão de hectares, e as demais espécies como seringueira, acácia, teca e paricá,
representam cerca de 590 mil hectares.
“Em âmbito estadual, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande
do Sul, Espírito Santo e Paraná detinham 83,6% dos plantios do gênero Eucalyptus” (ABRAF, 2013, p.
44)
O gênero Eucalyptus chegou ao Brasil por volta do século XIX, em que os registros apontam que as
primeiras árvores foram plantadas em 1825, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Nesse período, o
eucalipto teria sido plantado com o propósito de ornamentar e/ou servir de quebra-vento, dado seu
ótimo desenvolvimento. Em escala econômica, o eucalipto teve marco a partir do trabalho do
agrônomo silvicultor Edmundo Navarro de Andrade, após o estudo de várias espécies nativas
(SANTOS, 2016).
Consoante a Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável – (ABIB, 2020) a
expressão “florestas energéticas” é usada para referir-se a plantações silviculturais que contém
espécies exóticas como o eucalipto, por exemplo, e também para o manejo de florestas nativas. Assim,
elas podem ser definidas como plantações arbóreas de curta duração com grande potencial de fonte
energética. A conduta de manejo destas florestas vai de acordo com o cultivo de gramíneas, em
talhões adensados, que são colhidos em intervalos de 3 a 4 anos.
O adensamento florestal caracteriza-se na introdução de espécies no estágio inicial de sucessão
(espécie de cobertura) nos locais que apresentam falhas de regeneração natural, a fim de proporcionar
rapidez na cobertura do solo por meio de espécies nativas, aumentando assim a possibilidade de haver
uma regeneração natural que suprima espécies indesejáveis (EMBRAPA, 2020).
A Embrapa (2020) afirma ainda que esse preenchimento pode ser efetuado através de espécies
pioneiras de rápido crescimento e boa cobertura, realizadas por meio de semeadura direta ou plantio
de mudas. Agregando tais espécies, obtêm-se melhorias no estado do solo e aumento na variedade
das áreas que se encontram distantes de remanescentes de vegetação nativa.
Segundo a classificação do Programa Nacional de Florestas (PNF), do Ministério do Meio Ambiente,
citado pelo Sebrae (2020), as cadeias produtivas referentes as florestas nativas e plantadas são
“chapas e compensados, óleos e resinas; fármacos; cosméticos; alimentos; carvão, lenha e energia;
papel e celulose; madeira e móveis.”

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Quanto à questão dos custos agrícolas referentes às atividades rurais, Marion (2007, p. 15) apresenta-
os como “todos os gastos identificáveis direta ou indiretamente com a cultura”. Logo, referem-se à
preparação de solo, plantio, adubação, tratamento fitossanitário, irrigação, cultivo manual, cultivo
mecânico, cultivo químico, raleação e desbaste, poda, colheita e outras como eliminação de plantas
doentes, secagem etc (SANTOS, MARION & SEGATTI, 2002).

- Preparo de solo: entende-se por limpeza, roçada, correção do solo, gradeação,


aração, drenagem.
- Plantio: pode ser exemplificado como alinhamento, confecção de canteiro,
coveamento, bem como marcação, da distribuição de mudas, semeadura,
plantio, replantio.
- Adubação: pode ser de cova, de solo, foliar e de cobertura.
- Tratamento fitossanitário: consiste no controle de formigas, tratamentos de
solo e de semente, e, transporte de água.
- Irrigação: é a própria irrigação e o transporte de água.
- Cultivo manual: definido como a capina, a roçada e a limpeza.
- Cultivo mecânico: define-se como a gradeação, roçada mecânica, aração e
limpeza mecânica.
- Cultivo químico: envolve a aplicação de herbicidas.
- Raleação e desbaste: é a própria raleação e a desbrota.
- Poda: na formação, na frutificação e poda de limpeza.
- Colheita: abrange a distribuição de caixa, a própria colheita, o transporte até
o ponto de carga, a embalagem (sacos, caixas, barbantes), carregamento de
caminhão e transporte de caminhão até os silos ou a fábrica. (BARTH et al.,
2012, p. 7 apud SANTOS, MARION & SEGATTI, 2002)

2. 2. COMO IMPLANTAR UMA FLORESTA ENERGÉTICA?

Primeiramente, para implantar uma floresta, deve-se dar atenção quanto à origem dos materiais
energéticos, sementes ou mudas que serão usados. Este fator é de grande importância visto que, se o
material não for de qualidade, poderá comprometer o sucesso da plantação. Para tanto, com o fito de
assegurar a qualidade, a aquisição precisa ser feita em estabelecimentos credenciados onde irão
obter-se os produtos adequados com as condições locais e sua finalidade (SILVA & ANGELI, 2006).
Consoante Ávila & Besteer (2017) para a obtenção de bons resultados, é importante realizar estudos
de viabilidade econômica, ambiental e social. Assim, análises de custos somadas a estudos de
rendimentos operacionais são essenciais, buscando um planejamento de produção, a partir da
minimização dos custos e à maximização do rendimento das atividades, que tornarão o projeto
exequível economicamente.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

As metodologias utilizadas para a implementação e o sistema de manejo da


floresta são os outros fatores que estão diretamente relacionados com o
sucesso da plantação, sendo assim importante realiza-las de acordo com as
características locais e com a finalidade, preferencialmente, com a orientação
de profissional habilitado. (SILVA & ANGELI, 2006, p. 1).
Com base nisso, o gênero Eucalyptus representa uma alternativa em potencial para a implantação de
florestas que possuem fins energéticos, por conta dos grandes índices de produtividade e
características energéticas, como a densidade da madeira e poder calorifico (CORTEZ, 2008).
O tempo para o corte do eucalipto segue conforme sua finalidade. Para a construção civil, o prazo é
de dois ou três anos. Já na lenha, carvão e madeira, ocorrem após o quarto ano. Na utilização como
matéria prima para a fabricação de móveis, o tempo de desenvolvimento é acima de dez anos, de
acordo com o manejo dado a floresta. Por fim, para a produção de celulose, o corte é feito entre seis
e oito anos. (LIMA FILHO, AGUIAR & TORRES, 2014).
Além disso, algumas medidas de controle e minimização de fatores de degradação ambiental devem
ser tomadas, dentre os quais o fogo, o pastoreio de animais e as formigas cortadeiras. A estratégia
escolhida deve vir acompanhada, sempre que possível, do uso de boas práticas agrícolas a fim de
garantir a conservação do solo e da água. Ademais, deve-se realizar um monitoramento, o qual
indicará se a técnica escolhida foi adequada e se está bem conduzida. (EMBRAPA, 2020)
O Brasil faz parte dos poucos países em que existem florestas energéticas em larga escala, o motivo é
a excelência na produtividade dessas florestas. Com o passar dos anos, o setor florestal evoluiu
tecnologicamente, e como resultado houve o aperfeiçoamento das técnicas de implantação, manejo
e exploração (VIDAL & HORA, 2011).
A implantação de florestas energéticas que visam exclusivamente à geração de eletricidade por meio
da biomassa, colabora com um cenário ambiental ainda mais sustentável, uma vez que o sistema
produtivo faz o aproveitamento da madeira dando retorno dos resíduos culturais como galhos, folhas
e ponteiros diretamente para o solo (MULLER, 2015).

2.3. CUSTOS COM PREPARO DO SOLO

De acordo com a Agência Embrapa de Informação Tecnológica – (AGEITEC, 2020) o preparo do solo
para plantio do eucalipto varia basicamente de acordo com o relevo, com o tipo de solo e com a
vegetação de maior predominância na área a ser plantada. É ainda uma operação que se executa
quando surge a necessidade de diminuir o efeito da compactação do solo ocasionado pelas operações
de colheita mecanizada e de limpeza do terreno.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Ainda nesse aspecto, quanto maior a profundidade de preparo do solo, maior


o seu custo. O sentido do preparo do solo por qualquer implemento deve ser
sempre contrário ao declive, de preferência seguindo curvas de nível marcadas
na área. Solos com profundidade efetiva reduzida (pela presença de rocha ou
do lençol freático) devem ser evitados, porque têm sido evidenciados como
uma das maiores restrições ao pleno crescimento das plantas (AGEITEC, 2020).

2. 4. COMBATE AS FORMIGAS

As formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex, popularmente conhecidas como saúvas e
quenquéns, são consideradas as maiores pragas de florestas plantadas de pínus e eucalipto
(EMBRAPA, 2011). Os prejuízos nas plantações do eucalipto ocorrem nos primeiros dois anos após o
plantio e podem ocasionar a mortalidade das plantas, caso o ataque ocorra nos primeiros três meses
(AGEITEC, 2020).
O controle de formigas cortadeiras é feito a partir do uso de iscas granuladas. Estas compreendem um
substrato misturado com um princípio ativo sintético, em pellets (BOARETTO & FORTI, 1997).
Existem duas formas de controle: a sistemática, em que é feita a distribuição de iscas formicidas em
locais de mesma distância entre si, de modo a cobrir toda a área que irá ser tratada; e a localizada,
consiste no despejo das iscas somente em locais específicos, nos quais podem ser encontrados ninhos
ou plantas atacadas (REIS FILHO et al., 2015).
Efetuar o combate a formigas é fundamental, pois elas podem ser um fator limitante ao
desenvolvimento da plantação, causando perdas como, por exemplo, a diminuição do crescimento
das árvores e também da resistência a outras pragas florestais (EMBRAPA, 2011).
Os prejuízos ocorrem principalmente durante os primeiros seis meses de idade
dos plantios, quando o desfolhamento causado pelas formigas pode provocar a
morte das plantas. O maior problema ocorre em plantios em áreas
anteriormente ocupadas por pastagens, devido à alta quantidade de ninhos de
quenquéns. Neste caso, em plantios de eucalipto, por exemplo, o ataque das
formigas pode causar a mortalidade de até 70% das plantas nos primeiros 30
dias de idade. (EMBRAPA, 2011)
Contudo, o manejo certo dos plantios junto a um monitoramento é fundamental para o sucesso deste
controle. Neste contexto, o conhecimento da espécie de formigas e das características do solo,
vegetação, clima, etc; uma prévia inspeção das áreas antes do preparo do solo; a localização dos
pontos de ataque e determinação dos pontos críticos a serem controlados para que se consiga
direcionar os combates pós plantio, são estratégias que ajudam na redução dos danos causados pelas
formigas cortadeiras em plantações de eucalipto (AGEITEC, 2020).

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

2. 5. CUSTOS COM MUDAS CLONAIS

Os melhores volumes de produtividade estão diretamente ligados ao investimento em mudas e


adubação. Todavia, a composição de custos de uma floresta adensada são os mesmos de um plantio
convencional, com a diferença de um maior valor gasto com o plantio, devido a maior quantidade de
mudas empregadas (GUERRA, GARCIA e SPINELLI 2012).
Como relatado anteriormente, as mudas são extremamente suscetíveis às formigas e o controle das
colônias desta praga é necessário no primeiro ano do plantio, com atenção especial ao primeiro mês
após o plantio. Depois de um ou dois anos, as florestas chegarão à fase de manutenção e, assim, são
realizadas, caso necessário, novas aplicações (ZANETTI et al., 2014).
Outro fator a ser considerado na produção de clones é a adubação, que geralmente é feita após um
mês de plantio e em períodos maiores (um ano, seis meses) a depender de fatores como a fertilidade
do solo. Os custos com adubação impactam diretamente no custo total da produção de mudas.
Seguindo a tendência de países como Estados Unidos, Canadá, Suécia, Espanha, Itália, Reino Unido,
dentre outros, tem-se investido cada vez mais em sistemas de biomassa energética, com alta
produtividade, curto ciclo reprodutivo, fácil propagação vegetativa, ampla base genética, e
possibilidade de rebrota após múltiplas colheitas.

2.6. CUSTOS COM HERBICIDA E APLICAÇÃO

Na concepção de Machado et al. (2014), espaçamentos mais amplos de plantios em espécies florestais
com copas permitem maior infiltração da radiação solar que possibilita a competitividade e o
crescimento de espécies forrageiras, favorecendo uma maior infestação de plantas daninhas.
Sendo assim, o controle da “matocompetição” é fundamental para atingir níveis satisfatórios de
produção nesses sistemas. Para Machado et al. (2014) um dos herbicidas mais utilizados no controle
de plantas daninhas na cultura do eucalipto, por exemplo, é o glyphosate, por exercer bom controle
de grande número de espécies daninhas mono e dicotiledôneas, perenes e anuais.
Para se calcular o custo de aplicação de herbicidas são utilizadas as variáveis de insumos “herbicidas e
mão de obra”, conforme evidenciado na tabela abaixo:

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Tabela 1: Exemplo de Apuração de Custos de Aplicação de herbicida


Insumos Unidade Uso por Preço Custo
ha por Und por ha
Herbicida Litros A B AxB
Mão de Horas C C CxD
Obra trabalhadas
TOTAL AxB +
CxD
Fonte: Autor (2020)

2.7. CAPINA MANUAL E MECANIZADA

A capina manual é um método tradicional que consiste em manter as árvores livres da competição das
gramíneas nas pequenas e médias propriedades. No entanto, ela apresenta um menor rendimento se
comparada com outras formas de controle (IBF, c2020).
De acordo com a Embrapa (2003) a capina manual por meio da enxada é um meio altamente eficiente
no controle de plantas daninhas. Mas, devido aos altos custos com diárias da mão-de-obra braçal, a
mesma deixou de ser um tipo de controle econômico, todavia, ainda representa grande importância
em várias regiões do Brasil.
Geralmente, a limpeza manual é realizada em regiões de declividade acentuada, em pequenas áreas
ou locais onde não é permitida a mecanização. Através dela se faz a eliminação da vegetação próxima
ao solo e, para isso, são utilizadas foices ou enxadas (PAIVA, SILVA & SILVA, 2008). Trindade et al.,
(2012) salientam que a recomendação para essa prática é de um raio 17 mínimo de 60 cm entorno da
planta, devendo ser feita com muito cuidado para não atingi-la.
As capinas são executadas antes de outras condutas de manejo, como podas e adubação e favorecem
o combate às formigas e amenizam o risco de incêndios nos plantios. Elas também podem ser
realizadas mecanicamente com enxadas rotativas tracionadas por trator. Estas devem ser praticadas
com especial cuidado nos plantios jovens, para evitar a ocorrência de danos nas mudas (EMBRAPA,
2019).
Quanto às capinas mecanizadas, podem ser feitas por meio de: roçada tratorizada, que equivale a uma
roçadeira acoplada ao trator, efetuada quando a vegetação estiver superior a 30 cm para limpeza da
área; destocagem, feita com trator de esteira, devendo ser realizado no momento em que a vegetação

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

for arbórea, já que serão retirados os tocos com raízes; capina química tratorizada, através da
colocação de defensivos em área total mecanizável, também é feita com trator acoplado (IBF, c2020).

2.8. CUSTOS COM ADUBO E ADUBAÇÃO

Em consonância com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais – Ipef (2005), a adubação se remete
ao aumento da disponibilidade de nutrientes, principalmente nas primeiras fases de desenvolvimento
da floresta, corrigindo deficiências presentes no solo ou na planta. Essa é uma atividade de grande
importância para o crescimento das árvores e para a sustentabilidade do ecossistema florestal pela
extensão dos ciclos de corte, pois devolve parte dos nutrientes exportados com a colheita.
A adubação é um processo que se realiza em duas etapas. A mesma é feita antes ou no momento do
plantio. Por exemplo, em solo com médio teor de fósforo e baixo de potássio, o recomendado são
quantidades de 180g por cova. Na adubação de plantio é utilizado o adubo fosfatado (70g de
superfosfato simples por cova) e em cobertura. Depois de passados 30 a 40 dias do plantio, é aplicado
o nitrogênio (50g de sulfato de amônia por cova) e o potássio (60 g de cloreto de potássio por cova)
(EMBRAPA, 2019).
Existe também a adubação de arranque, que é a técnica que fornece os nutrientes necessários para o
arranque das mudas, realizado em até 20 dias após o plantio, com aplicação de 100 a 120g de adubo
na lateral da planta e; adubação de cobertura, que consiste na operação de distribuição dos nutrientes
considerados essenciais para o crescimento das plantas nos meses iniciais de vida. Para tanto, a análise
do solo é crucial para conhecer suas verdadeiras necessidades (SILVA, 2011).
A prática de adubação gera custos para o produtor, pois se necessita da aquisição dos insumos e
contratação de mão de obra para a sua aplicação, o que compreende aproximadamente a 35% do
valor total da implantação (adubação completa), fator este que leva muitos produtores a dúvida sobre
adubar ou não o plantio florestal (IPEF, 2005).

2.9. CUSTOS COM PLANTIO E TRATOS CULTURAIS

O procedimento do plantio pode ser feito de forma manual, mecanizado ou semimecanizado.


Incialmente se estabelece o preparo do solo, o qual deverá considerar o espaçamento a serem
adotados, os tipos e frequências das ações referentes ao manejo, os tratos culturais e a adubação a
ser aplicada (SISTEMA DE PRODUÇÃO EMBRAPA, 2020).

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Em geral, o plantio é realizado no inicio do ano e durante as épocas chuvosas, porém, em


determinados locais o mesmo é executado no decorrer do ano todo, sendo operada com a irrigação a
base de gel hidratado (PAIVA, SILVA & SILVA, 2008).
No campo, para se obter sucesso com o plantio é necessário usar técnicas adequadas, como escolher
a espécie correta, fazer a limpeza da área e preparação do solo, escolher o método de plantio mais
conveniente e realizar no momento certo o controle de pragas, doenças e tratos culturais (EMBRAPA,
2019).
Acerca dos custos, em uma pesquisa realizada na zona rural da cidade de Sengés, Paraná, acerca de
uma plantação de florestas com a espécie de árvore Pinus Taeda, foi identificado que a mensuração
dos custos totais dos insumos como formicidas, plantio e replantio para a implantação da referida
floresta, foi de R$18.503,45. E, os custos relacionados aos tratos culturais somados resultaram em um
valor de R$ 20.700,60 (MIRANDA, 2016).

2.10. CUSTOS DE COLHEITA E TRANSPORTE FLORESTAL

A definição de colheita florestal consiste de acordo com Machado, Silva e Pereira (2014) em um
conjunto de operações executadas, que tem o objetivo de preparar e levar a madeira até o local de
transporte, utilizando técnicas e padrões estabelecidos, a fim de transformá-la em produto final. Os
autores salientam ainda que a colheita florestal é constituída pelas fases de corte, extração e
carregamento. Para Parise (2005)

...a intensificação do processo de mecanização da colheita florestal resultou em


vários benefícios para as empresas que atuam no setor, dentre os quais pode-
se citar a redução da necessidade de mão-de-obra; maior produtividade;
melhor qualidade; possibilidade de operação durante 24 horas mesmo em
condições climáticas adversas; maior eficiência; redução dos impactos
ambientais etc.

Um estudo feito no sul do Espírito Santo (Alegre, Divino de São Lourenço e Jerônimo Monteiro) revelou
os custos de produção, colheita e transporte de madeira de eucalipto provenientes do Programa
Produtor Florestal. A respeito da fase de colheita se obteve um custo médio de R$ 8,39 por m³,
relacionadas a ela, as atividades que representaram os maiores custos, foram as de corte com a
atuação de 61,86%, o carregamento com 17,28% e, por último o tombamento com 20,86% do total da
atividade (SILVA, 2012).
A ordem de participação destes custos na fase de colheita pode ser
compreendida, pois os custos referentes ao corte são os mais altos devido ao
fato deste ser realizado de forma semi-mecanizada com o uso de motosserra.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

A operação de carregamento vem em segundo lugar, devido à dificuldade de


carregamento dos caminhões, pois em todas as áreas onde foram coletados os
dados, esta atividade foi realizada manualmente. Segundo os operários e
prestadores de serviço, a madeira recém-cortada possui alto teor de água, e
aliada ao peso da madeira está a altura da carroceria dos caminhões, o que
aumenta muito o esforço por parte dos operários que realizam tal atividade.
Devido a estes fatores o custo de carregamento foi superior ao custo de
tombamento, que por sua vez é realizado rolando ou tombando as toras de
madeira no sentido do declive, tendo em vista que todos os povoamentos onde
foram coletados os dados estavam em áreas com declividade acentuada, o que
facilitou esta atividade. (SILVA, 2012, p. 32).

Contudo, o processo de transporte que consiste no translado da madeira até no ponto de venda é
cobrado por metro cúbico transportado, e o custo varia em função da carga e distância percorrida e
do tipo de estrada (chão batido e asfalto). Um parâmetro que pode ser utilizado é o custo unitário da
quilometragem até o destino final.

2.11. PREÇOS DE VENDA DA LENHA

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea (2017) o Sistema


Agroindustrial Florestal (SAG-Florestal), chamado também de cadeia produtiva florestal, possui
importante proporção para a economia brasileira.
Além disso, o Brasil lidera a produção mundial de carvão vegetal, que tem como principal matéria-
prima o gênero Eucalyptus (relacionadas a questões ambientais, de produtividade e econômicas), com
isso, o carvão fabricado é de boa qualidade e possui baixo custo (EMATER, 2019).
A Cepea (2017) também mostra dados do último relatório da IBÁ (Indústria Brasileira de Árvores, a
principal associação deste SAG), os quais apontaram que o segmento vinculado às florestas plantadas
do SAG, gerou PIB de R$ 69,1 bilhões no ano de 2015, equivalente a 1,15% do PIB brasileiro do mesmo
ano. Tal grupo exportou US$ 9 bilhões em 2015, equivalentes a 4,7% das vendas externas totais do
setor.
Nos últimos anos o preço do metro cúbico stereo de lenha para o produtor tem oscilado entre R$
50,00 e R$ 60,00 para a lenha e entre R$ 100,00 e R$ 120,00 para as toras. Utilizaram-se valores médios
praticados de R$ 55,00 para o metro cúbico stereo da lenha e R$ 110,00 para a tora (BENDLIN et al.,
2019).
Os preços apresentados constituem uma estimativa de comercialização da lenha e das toras que deve
levar em consideração a espécie que deu origem à biomassa, o recorte regional, bem como a questão
logística envolvida. Ainda, é importante destacar que os preços podem variar dependendo da oferta
da produção brasileira.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

2.12. PRINCIPAIS NOMENCLATURAS DOS CUSTOS

Muitas das nomenclaturas dos sistemas de custos são comumente usadas de forma inadequada,
quando terminologias são utilizadas como sinônimos. Neste sentido, é salutar destacar, esses
conceitos podem ser mutáveis a considerar o escopo empresarial (indústria, comércio ou prestação
de serviços) e a ocorrência dos fatos.
Ademais, não se pode abordar a questão conceitual dos custos, sem conhecer o significado de receitas
que difere substancialmente de lucro. Martins (2018) descreve que receita, corresponde de forma
geral, aos recursos oriundos da venda de mercadorias ou prestação de serviços, podendo ocorrer
ainda, de outras formas. O lucro ou prejuízo só será obtido, quando todos os custos ou despesas foram
subtraídos das receitas.
Para Lima (2014) o conceito de gasto é o mais genérico dessas classificações. Pode ser compreendido
como todo sacrifício/esforço para aquisição de um bem ou serviço, que quando é pago no ato é
caracterizado como um desembolso e quando a ser pago no futuro é classificado como dívida.
Por desembolso entendemos como todo recurso (dinheiro) que sai do Caixa para um pagamento.
Assim, todo desembolso de certa forma é um gasto, mas nem todo gasto é um desembolso. Por
exemplo, uma dívida contraída hoje, no futuro passará a ser entendida como desembolso, quando for
paga.
No arcabouço das nomenclaturas de custos ainda temos as perdas. Esses gastos involuntários são
decorrentes de situações anormais, involuntárias, como a ocorrência de um incêndio, ou roubos, por
exemplo.
Já os ativos para Marion (2015), são definidos como os bens e direitos de uma pessoa ou empresa.
Constitui um termo básico para expressar os bens, valores, créditos, direitos e assemelhados que, num
determinado momento, formam o patrimônio juntamente com os passivos que são as dívidas no curto
e no longo prazo. Quando o objetivo de um gasto é trazer benefícios futuros ou ter potencial para
gerar receitas, ele é denominado de investimento. Como investimentos são classificados como ativos,
é comum denominar tais gastos simplesmente de ativos.
Ademais, temos os custos de oportunidade que constitui o custo de algo em termos de uma
oportunidade renunciada, ou seja, benefícios que poderiam ser obtidos em uma opção de
investimento alternativa. Na agricultura, o custo de oportunidade da opção pelo uso da terra, com o
plantio, por exemplo, é o dinheiro que se deixa de ganhar com arrendamento.
E por fim, os custos operacionais podem ser definidos como todos os custos que exigem desembolso
monetário, além de incluir a depreciação (a perda de valor dos bens materiais ao longo do anos).

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

2.13. IDENTIFICAÇÃO DOS CUSTOS

Os custos recebem identificação para que atendam a finalidade e se tornem passiveis de análise.
Genericamente os conceitos de custos e despesas diferem considerando o escopo da atividade seja
industrial, prestação de serviços ou comercial.
De forma objetiva, na indústria serão classificados como custos, todos os gastos envolvidos direta ou
indiretamente na produção. Na atividade de prestação de serviços, os custos são todos os gastos
referentes à mão de obra, e, por fim, na atividade comercial é compreendido como custos todo valor
referente à aquisição de mercadorias para revenda. Todos os demais gastos serão classificados como
despesas.
Na concepção de Megliorini (2012), existem duas classificações básicas aplicadas respectivamente
quanto à apuração, que são diretas ou indiretas, e quanto ao volume produzido, que podem ser
denominados de variáveis ou fixos.

2.13.1 CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS

Os custos diretos são de fácil identificação e são apropriados fielmente à unidade responsável pela
geração daquele gasto, compreendem os gastos com materiais diretos, mão de obra direta ou
qualquer custo que possa ser aplicado diretamente no produto ou serviço. São aqueles que podemos
identificar como pertencendo a este ou aquele produto, pois há como mensurar quanto pertence a
cada um, de forma objetiva e direta (PAGLIATO, 2014).
Martins (2018) assegura que alguns custos podem ser diretamente apropriados aos produtos,
bastando haver uma medida de consumo (quilogramas de materiais consumidos, embalagens
utilizadas, horas de mão de obra utilizada e até força consumida). Esses são os custos diretamente
imputados ao produto, ou seja, os custos diretos não precisam de rateio para alocação, pois são
mensuráveis de forma objetiva, atribuído diretamente a um determinado produto ou departamento.
Os custos indiretos são aqueles que não estão apropriados diretamente a um determinado produto
ou serviço, ocorrem no processo de produção de vários produtos ou na realização de vários serviços
devido a isso e necessário a utilização de rateios para fazer a distribuição para cada produto
(PADOVEZE, 2010).
Dessa forma os custos indiretos são os que se utilizam de rateios para sua locação, por exemplo, a
mão de obra indireta que é representada pelo trabalho nos departamentos auxiliares ou prestadores

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

de serviços e que não são mensuráveis em nenhum produto ou serviço executado e materiais indiretos
que são materiais empregados nas atividades auxiliares de produção.

2.13.2 CUSTOS FIXOS E CUSTOS VARIÁVEIS

Ao contrário do que se difundem os custos e despesas fixas, não são aqueles que ocorrem
repetidamente todos os meses. Segundo Santos (2010), alguns gastos independem da quantidade
produzida ou vendida. Um aumento ou redução nessa quantidade deixa inalterados esses gastos, e
por este motivo são denominados custos fixos. Um exemplo clássico desse tipo de custos é o aluguel,
que independente do volume produzido ou vendido, permanece inalterado.
Assim, entende-se que os custos fixos são aqueles que não incorrem em alterações com base no
volume que for determinado a produzir, são exemplos de custos fixos, salários da administração,
segurança e vigilância, etc.
De acordo com Martins (2018), “os custos variáveis são aqueles cujos valores se alteram em função
do volume de produção da empresa”. Assim sendo, mesmo ocorrendo todo mês, esses
custos/despesas se alteram conforme aumento ou diminuição da produção.
Neste sentido, os custos variáveis ficam definidos como aqueles que sofreram mudanças em relação
ao volume que a empresa produzir, são exemplos desse tipo de custos os materiais diretos e a mão de
obra direta. A título ilustrativo, o quadro abaixo traz uma perspectiva de custos, com base nas
atividades da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (2010), a saber:
Quadro 1: Estrutura de Custos da Conab (2010)
Operações
Insumos
CUSTOS Mão de Obra
CUSTO TOTAL VARIÁVEIS Despesas
Administrativas
Depreciação de
Máquinas
CUSTOS FIXOS
Juros e Seguros das
Máquinas
Remuneração Capital
Fixo

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Remuneração da
Terra
Fonte: Lemos (2014)

2.14 MÉTODOS DE CUSTEIO

Os métodos de custeio são procedimentos indispensáveis para a produção de informações no


processo decisório, mas para isso é necessário que cada organização conheça o método de custeio
que melhor se adequa a sua necessidade.
Para Abbas, Gonçalves e Leocine (2012) os métodos de custeio têm utilidade para definir o valor do
produto de custeio, diminuir os custos, aperfeiçoar os processos, evitar desperdícios, e decidir como
melhor gerir a linha de produção de determinado produto. Entre os métodos mais utilizados estão o
custeio por absorção, o custeio variável, o custeio baseado em atividades (ABC) e o método das seções
homogêneas (RKW).

Diante disso percebe-se que conhecer detalhadamente o custo apropriado a cada produto ou serviço
é fundamental, pois possibilita ao gestor decidir quais as melhores alternativas naquele momento para
continuidade das operações da organização.
Dentre os métodos de custeio existem várias classificações, o custeio por absorção, custeio variável e
custeio por atividades ou Activity Based Costing ABC, são as principais classificações, os demais são
diferenciados de acordo com a natureza dos custos.

2.14.1 CUSTEIO POR ABSORÇÃO

De acordo com Wernke (2017) o custeio por absorção é o método mais apropriado para fins contábeis,
aceito pela legislação, por ensejar e avaliar realmente os custos dos produtos, pois é nesse método
onde os produtos absorvem todos os custos do processo de fabricação, sejam eles fixos, variáveis,
diretos ou indiretos.

Assim sendo, os gestores utilizam-se dessa ferramenta a fim de encontrar informações mais enxutas
sobre os gastos gerados pelas atividades da empresa, de modo que venha a facilitar sua interpretação
dos dados e possibilite quanto à medida que venham a tomar para que se tenha continuidade no
mercado.

2.14.2 CUSTEIO VARIÁVEL

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Nesse tipo de método de custeio, somente os custos variáveis usados na produção de um produto ou
serviço são atribuídos a eles. No custeio variável somente os custos variáveis ou diretos são alocados,
enquanto os indiretos são lançados como despesa no resultado do período, permitindo dessa forma,
observar quais os custos variáveis dos produtos e o volume de unidades necessárias para que a
empresa possa cobrir seus custos fixos e ainda obter lucro.

Com base nessas informações, verifica-se que no método de custeio variável, não se utiliza de rateios
para alocar os custos ao produto ou serviço, pelo de fato de somente os custos considerados variáveis
serem alocados aos produtos ou serviços, os custos fixos nesse sistema de custeio são avaliados como
despesas do período, esses são alocados diretamente ao resultado, caso contrário poderiam gerar
uma distorção no resultado.

2.14.3 CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES - ACTIVITY BASED COSTING (ABC)

O custeio baseado em atividades ou Activity Based Costing (ABC), para Kliemann (2013), visa às
atividades envolvidas em cada processo das empresas, não fazendo distinção entre custos diretos ou
indiretos, mas sim ao gasto total das atividades responsáveis pelo consumo dos recursos, ou seja, o
custeio não é realizado por produto e sim por atividade, identificando assim os causadores dos custos.
O que importa no custeio por atividade é o custo da atividade, e os direcionadores de custos (cost
drivers) evidenciarão a carga de custos que cada produto consumiu de cada atividade.

Portanto, o custeio baseado em atividades diferencia-se dos outros dois tipos de custeios, pois aloca
os custos incorridos as atividades relacionadas com a produção, mas se assemelha ainda com os
mesmo pelo motivo de ser também considerado um instrumento que tem por finalidade fornece
informações gerenciais.

2.15. MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO

A margem de contribuição é caracterizada pela diferença entre a receita e a soma de custos e despesas
variáveis, evidenciando o valor que cada unidade produzida, proporciona de sobra à empresa entre a
sua receita e o custo que de fato tenha provocado.
Para Martins (2018), “a margem de contribuição é a diferença entre o preço de venda e o custo variável
de cada produto”. Portanto pode-se observar a seguinte formula pela qual se pode calcular a margem
de contribuição;
MC= Preço de venda – (custos variáveis + Despesas variáveis)

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

Neste sentido, destaca-se que o cálculo da margem de contribuição é realizado através da subtração
dos custos e despesas variáveis do preço de venda. Consiste em uma importante ferramenta de
gestão, propiciando rapidamente o estudo e identificação das variáveis que estão afetando o lucro de
um determinado produto.

2.16. PONTO DE EQUILÍBRIO

O ponto de equilíbrio é outra ferramenta que deve receber um tratamento apropriado, pois se trata
do valor ou a quantidade que a empresa precisa vender para cobrir o custo das mercadorias vendidas,
as despesas variáveis e as despesas fixas (PADOVEZE, 2010).
Assim sendo, o ponto de equilíbrio representa o nível de volume de vendas ou a receita necessária
para que a empresa iguale os seus gastos totais (Custos e Despesas) e a partir daí, possa obter a
lucratividade. O ponto de equilíbrio poderá ser determinado tanto em quantidade quanto em receita
total.
Gráfico 1: Gráfico do Ponto de Equilíbrio

Fonte: Martins (2018)

A partir do gráfico verifica-se que o ponto de equilíbrio acontece no ponto onde a linha dos custos e
despesas totais se encontram com a linha das receitas totais, não ocasionando nem lucro nem
prejuízo. Antes desse ponto, tem-se a área de prejuízos porque a linha dos custos e despesas totais
está acima da linha da receita total e depois do encontro dessas linhas chega se a área de lucro.
Para Martins (2018) o ponto de equilíbrio pode ser calculado através da seguinte equação básica:

Custos + Despesas Fixas


Ponto de Equilíbrio =
Margem de Contribuição Unitária

Sendo assim, o ponto de equilíbrio pode ser considerado como um instrumento, que compreende a
uma situação pela qual determinado montante de receita é suficiente para cobertura de todos os

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

custos e despesas variáveis ou fixas. Essa ferramenta é fundamental para apoio aos gestores na
tomada de decisão a partir dela os mesmos poderão fazer planejamentos para a empresa em curto
prazo.

2.17. VALOR PRESENTE LÍQUIDO – VPL

O VPL é um indicador econômico-financeiro que tem por finalidade calcular o valor presente de uma
sucessão de pagamentos futuros, deduzindo uma taxa de custo de capital. Esse cálculo é necessário,
considerando que o dinheiro que receberemos no futuro não terá o mesmo valor que o dinheiro possui
no tempo presente.
Para Bona (2019), apesar do VPL ser calculado por meio de planilhas de Microsoft Excel ou calculadoras
científicas, é necessário conhecer sua fórmula para entender a sua importância. Deve-se destacar que
a fórmula é uma ligação entre os principais componentes de um investimento, quais sejam: o fluxo de
caixa (FC), o tempo do investimento (j) e a taxa de desconto (i). Assim, temos:

VPL = FC0 + FC1/(1+i)^(j+1) + FC2/(1+i)^(j+2) + … + FCn/(1+i)^(j+n)

Com base nesses cálculos, é possível o investidor avaliar se o seu investimento terá rentabilidade ou
não, ou seja, se presentará (des)valorização diante das taxas de inflação. Em um cenário de crise
econômica, como o que estamos vivenciando atualmente, é fundamental garantir a rentabilidade real
de um investimento.

3. CONCLUSÕES

Com base no descrito, percebe-se que o uso da biomassa florestal como insumo energético é uma
tendência global e vem despertando interesse tanto de países em desenvolvimento, como é caso do
Brasil, e de países desenvolvidos e industrializados.
O potencial de oferta das energias renováveis, incluindo a biomassa florestal, excede a demanda atual
projetada mundialmente. Neste sentido, o desafio passa a se constituir na utilização de uma parcela
quantitativa desse potencial, com vistas aos serviços energéticos necessários de forma rentável e
ambientalmente correta.
Suas vantagens vão para além da manutenção dos ecossistemas, evidenciando uma excelente relação
custo/benefício, contribuindo para a geração de empregos em toda cadeia produtiva, e, sobretudo,
reduzindo a emissão de gases do efeito estufa, por ser bem menos poluente que outras fontes de

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

energia como petróleo e carvão. Considerando a alta produtividade das florestas no Brasil e alta
produção de resíduos, políticas voltadas para o uso da biomassa podem ter resultados melhores que
o esperado.
Sendo assim, a análise dos custos está intimamente relacionada à composição de custos de todo
processo produtivo que pode ser mais ou menos impactado conforme a espécie e a região de cultivo.
Todavia, o arcabouço teórico pode auxiliar os empreendedores na reflexão sobre o processo de
tomada de decisões de manejo florestal adequado para a produção de energia.
Portanto, as florestas energéticas vêm se consolidando cada vez mais como uma alternativa viável
econômica e ambientalmente, pois auxilia na maximização da utilização dos mais diversos resíduos
(principalmente da madeira) e na diminuição do impacto no uso de florestas nativas, constituindo-se
dessa forma, uma alternativa sustentável para a cadeia produtiva.

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Custos De Implantação De Florestas Energéticas No Brasil: Uma Perspectiva Teórico-Metodológica

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Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 2
10.37423/201203338

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DAS CONDIÇÕES


DE TRABALHO NAS MINERAÇÕES DE PEQUENA
ESCALA: UM ESTUDO PRELIMINAR

Ricardo Bezerra de Oliveira INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,


CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO -
IFMA
Luciana Turatti UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI -
UNIVATES

Jane Márcia Mazzarino UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI -


UNIVATES
Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

Resumo: A mineração é uma das atividades empresariais mais rentáveis para a economia mundial.
esse modelo de desenvolvimento insustentável tem gerado impactos socioambientais para os
trabalhadores, desterritorializando a comunidade local e devastando o meio ambiente. A auto
exploração e a sobrecarga de trabalho são condições adversas que impactam a atividade laboral de
mineração. O labor minerário é caracterizado pela precariedade das condições de trabalho. O objetivo
deste trabalho é analisar os principais impactos socioambientais das condições de trabalho nas
mineradoras de pequena escala. Recorreremos a uma pesquisa bibliográfica e, de forma qualitativa,
com uma abordagem do materialismo histórico-dialético. Constatou-se que a mineração em pequena
escala, ainda que artesanal, diminui a qualidade ambiental, polui o solo e os recursos hídricos,
extirpando a vegetação e reduzindo a biodiversidade local.

Palavras-Chave: Laboral; Garimpeiros; Sustentabilidade; Cidadania. Direitos.

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

INTRODUÇÃO

A atividade de mineração é uma das atividades empresariais mais rentáveis e lucrativas para a
economia mundial, pois muitos produtos e serviços que são comercializados em escala global
dependem desses minérios que são retirados do solo e do subsolo como matéria prima para o
processo de produção.

Entretanto, segundo Melek et al. (2017), essas atividades de extração de minérios arrancam – da mãe
Terra - recursos naturais não renováveis, instalam-se em áreas de proteção ambiental poluindo o solo,
a água, o ar e contribuindo para a diminuição da qualidade ambiental e da biodiversidade local.

Com relação a impactos nas condições de trabalho, destaca-se, inicialmente, a auto exploração, o
excesso e a sobrecarga de trabalho – vislumbradas em Han (2015) – que são suportadas pelos
trabalhadores no ambiente da mineração, gerando desgaste físico, estresse e fadiga muscular.

Além disso, do ponto de vista sociocultural, essa atividade econômica acaba por desterritorializar de
forma progressiva, abrupta e violenta– em prol dos interesses econômicos e capitalistas – as
comunidades tradicionais que ali vivem e que depositam na Terra seu repertório histórico-cultural,
sua memória e suas emoções perceptivas locais. Essas comunidades tradicionais são vistas – pelos
detentores dos meios de produção – como periféricas e sem valor, como alerta Dussel (2016).

Ainda convém lembrar que o meio ambiente do trabalho – em que estão situados os trabalhadores da
mineração - sofre grandes impactos em razão da precarização de seus contratos no que tange às
condições ambientais e estruturais dos trabalhadores nesses espaços e territórios, e da flexibilização
das regras relacionadas à saúde e segurança do trabalho.

Diante disso, segundo Silva e Andrade (2017), como forma de minimização dos impactos
socioambientais, faz-se necessário problematizar - de forma crítica e dialógica – a fim de se alcançar
o interesse público e difuso de toda a sociedade, a possibilidade de se ressignificar a mineração na
perspectiva da sustentabilidade, gerando menos impactos ecológicos para estas e futuras gerações.
Diante da conjuntura político-social apresentada, o objetivo deste trabalho é analisar, de forma
preliminar, os principais impactos socioambientais das condições de trabalho nas mineradoras de
pequena escala no meio ambiente do trabalho, identificando as violações à dignidade, à cidadania
laboral e à saúde do trabalhador.

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

METODOLOGIA

O presente estudo é do tipo descritivo, pois no transcorrer do trabalho fizemos uma caracterização
dos impactos socioambientais, conforme lições de Gil (2002). Para tanto, recorreremos a uma
pesquisa bibliográfica e de forma qualitativa iremos discorrer sobre essas questões. O método de
abordagem e a leitura dos dados coletados será feita na perspectiva dialética, em razão das relações
laborais e conflituosas que ocorrem nas minerações.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O meio ambiente de trabalho ecologicamente equilibrado – previsto no artigo 225, caput, e 200, inciso
VIII da Carta Magna Verde de 1988 – é um direito social, fundamental e indisponível. Entretanto, o
trabalho nas minerações, de uma forma geral, é considerado como penoso (as condições laborais
impostas reduzem a dignidade humana, a integridade física e mental dos trabalhadores) por conta da
precarização dos meios físicos e instrumentais de trabalho e por, ainda, ser perigoso (devido ao risco
extremo de explosões, deslizamentos de rochas e contaminações); riscos ambientais, sociais e
estruturais que ameaçam, diariamente, o direito à vida de muitos trabalhadores nas minerações.

Segundo Lasmar (2019), as mineradoras de pequeno porte ou escala representam 73% das empresas
mineradoras do Brasil, e, muitas vezes, são caracterizadas por condições negativas e adversas de
trabalho: seus trabalhadores não possuírem registro contratual, ou são privados – a partir da
informalidade - de determinados direitos trabalhistas e de condições mais favoráveis de trabalho, a
que teriam direito. Segundo o autor, as mineradoras de pequena escala são responsáveis por apenas
25% do total de empregos formais na atividade mineral.

Nessa linha, conforme Han (2015), o ambiente laboral torna-se uma caixa d’água vazia e sem vida. A
flexibilização e a desregulamentação, observada em Avritzer (2002), são marcas iniciais dos contratos
de trabalho dos empregados do minério, impactando no registro, na remuneração e na negação de
vários direitos sociais e ambientais.

Seguindo, ainda, as lições de Lasmar (2019), os principais produtos dessas mineradoras de pequena
escala são a argila, gemas, magnesita, calcário dentre outros. Infelizmente, os frutos dessa atividade
produtiva são usufruídos apenas pelos diretores e empregadores, socializando-se os riscos e
privatizando-se os lucros e resultados.

As atividades nas mineradoras de pequena escala são caracterizadas, também, pela falta ou limitação
tecnológica, pela ausência de recursos operacionais e de pessoal – e pelo uso ou processo de trabalho

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

ser, em certa medida, artesanal - resultando num alto impacto ambiental (com relação a acidentes de
trabalho) e em maiores dificuldades para a completude e para a saúde dos contratos de trabalho
(como o contato direto do trabalhador com os produtos extraídos e com maquinários pesados e
cortantes).

Do ponto de vista jurídico-laboral, a atividade e a extração de minérios poderá se dar-se pela indústria
(de grande, média e pequena escala) ou pelos garimpos (espaços de trabalhos caracterizados por
precárias condições de trabalho, pela ausência de equipamentos de proteção individuais, por métodos
artesanais e por altos índices de acidente do trabalho).

O meio ambiente do trabalho nas atividades de mineração é caracterizado, também, por ser uma área
de alto risco para acidentes laborais e para desastres ambientais, em razão da omissão e da
inexistência, quase que latente, dos órgãos e autoridades em matéria de saúde e segurança do
trabalho, “reduzindo-se ao máximo os encargos trabalhistas.” (Emília et al., 2013).

Além da exigência de constante esforço físico por parte dos garimpeiros, no carregamento de
materiais e de rochas extraídas, o perigo das explosões e de deslizamento/desabamento de rochas é
frequente e tem causado inúmeros acidentes de trabalho. O modelo neocolonial, analisado por Dussel
(2016) – marcado também pela exposição de trabalhadores a riscos ambientais na busca de novas
riquezas naturais, num processo de semi-escravidão, na maioria das vezes, é um impacto social geral
que se registra nessa atividade. Os garimpeiros e trabalhadores informais das minerações são,
portanto, sujeitos escravizados pelo desempenho e pela produção para, segundo Han (2015),
trabalhar cada vez mais e produzir mais, em troca de ínfimas remunerações e contraprestações
alimentares.

A atividade de regulação – com legislações e normativas – tentam preservar os direitos e garantias


sociais e trabalhistas dos obreiros que estão – diariamente – submetidos a riscos ambientais, a riscos
sociais e de saúde, na atividade de mineração.

Existe um esforço contínuo – em se exigir do Estado e das instituições de justiça - a responsabilização


dos empregadores pelos danos decorrentes da atividade de mineração e que atingem, por via reflexa,
o meio ambiente.

O direito social à participação sindical e de serem ouvidos nas instâncias de poder, acaba sendo
prejudicado por conta do isolamento laboral a que os garimpeiros estão, diariamente, submetidos, o
que prejudica, seguindo as lições de Vieira (2001), a construção de uma rede de conexão e de zonas d

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

enfrentamento por melhores condições de trabalho, como, também, o direito à uma cidadania laboral
e participativa.

Esses trabalhadores isolam-se da família, do mundo e dos processos contemplativos da natureza, pois
a veem, muitas vezes, como que, exclusivamente, um objeto de valor econômico, por conta das
imposições laborais e de seus empregadores. A experimentação dos processos educativos da
natureza, nesse contexto, de acordo com os estudos de Godoy (2007), fornecerá – aos garimpeiros e
aos trabalhadores que lidam com a terra – um novo substrato de ressignificação ecológica,
melhorando a relação de reciprocidade ambiental.

Nesse contexto, os trabalhadores das minas são sujeitos “multitarefas” (HAN, 2015), pois precisam
explodir, implodir, carregar, armazenar, separar e transportar os minérios e achados. A poluição
sonora também é um fator impactante das condições adversas de trabalho a que os obreiros de
mineração são expostos, devido ao “ruído intenso, à sensações de atordoamento, cansaço, dores de
cabeça, além de problemas osteomusculares e respiratórios” (Melek et al., 2017, p. 115).

A par disso – como impacto socioafetivo - ainda podemos destacar as consequências advindas da
ausência do convívio destes trabalhadores com o seu ambiente familiar, por passarem vários dias
acampados próximos ao local de trabalho, e por sentirem-se isolados e afastados de vínculos
emocionais, desencadeando-se, com isso, sofrimento, com impactos adversos para a sua saúde
mental, os levando a quadros de depressão progressiva ou estresse.

A força de trabalho – do obreiro em minérios - é vendida, pois, como uma mercadoria barata,
conforme se depreende em Avritzer (2002). Os trabalhadores garimpeiros, tornam-se – por conta dos
fatores exigentes de produção - verdadeiros animais trabalhadores, como delineia Han (2015), pois,
nessa perspectiva, o trabalho acaba desnudando a vida socioafetiva e familiar desses obreiros.

De acordo com Fornasier e Tondo (2017) – como forma de combater esse quadro brutal - os excluídos
e vitimizados, através da união e da ressignificação de seus modos e processos de trabalho, precisam
estar engajados e comprometidos nas trincheiras de luta, em busca de um pensamento de resistência
cidadã, libertando o pensamento colonial, na conquista de novas e melhores condições de trabalho.

Ainda convém destacar outros impactos ambientais que atingem o meio ambiente natural –
destacados por Araujo, Olivieiri e Fernandes (2014), como as devastações e comprometimento
nutricional do solo, desmatamentos, contaminação dos lençóis freáticos, dispersão de metais e
extinção gradativa da fauna e da flora, prejudicando, com isso, a qualidade de vida e retirando os

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40
Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

meios de subsistência das comunidades tradicionais ali situadas, formadas por camponeses, indígenas,
quilombolas e pequenos produtores rurais, formando um quadro desolador de extinção do passivo
ambiental e ecológico.

CONCLUSÕES

Conforme Silva e Andrade (2017), do ponto de vista do impacto ao meio ambiente natural, a atividade
nas mineradoras de pequena escala são potencialmente degradadoras do espaço ambiental –
diminuindo a qualidade ambiental, extirpando a vegetação e poluindo os recursos hídricos – em
elevado grau de devastação. É perceptível que os trabalhadores no garimpo e nas minas não possuem,
de fato e de direito, a “realização das necessidades e aspirações cotidianas do cidadão: educação,
transporte, saúde e trabalho digno” (FORNASIER E TONDO, 2017).

Além disso, conforme Vieira (1999), a desigualdade social e sua operabilidade causa impactos para os
membros mais fragilizados da sociedade, pois o modelo liberal econômico está centrado na figura do
indivíduo produtor e na sua liberdade de trabalhar, em detrimento de sua segurança, vida e dignidade
laboral, desconsiderando-se com isso o trabalhador da mineração como sujeito detentor de
necessidades, desejos, direito e garantias.

Uma maior participação e engajamento socioambiental das mineradoras (enquanto ato de


responsabilidade sócio ambiental), das entidades de defesa sindical e dos órgãos de fiscalização do
trabalho - na busca de melhores condições laborais e na conquista, perante o Estado, de políticas de
saúde no trabalho.

Convém lembrar ainda que se faz necessário a melhoria da comunicação oral e escrita no ambiente
de trabalho, no sentido de que os trabalhadores da mineração conheçam seus direitos, garantias e
vantagens sociais, a fim de que possam lutar por um regime de trabalho mais sustentável e,
ecologicamente, justo. A construção de uma ecocidadania ambiental, conforme Soffiati (2011),
também deve se fazer presente nos ambientes conflituosos da mineração, com “mobilização e
conscientização da classe trabalhadora” (GODOY, JESUS E DUARTE, 2013).

Melhorias, também, no modo de produzir, na adequação e na aquisição de novos EPI’S – como


obrigação legal e humanitária do Empregador - podem impactar positivamente nas condições adversas
de trabalho.

O meio ambiente do trabalho protegido e ecologicamente equilibrado, segundo Rodrigues (2019),


precisa ser uma conquista e uma realidade para todos os trabalhadores do garimpo, enquanto direito

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

fundamental e social, capaz de minorar – com sua efetivação - as distorções e impactos ambientais
sentidos e percebidos pelos garimpeiros e demais trabalhadores informais da atividade mineradora.

O Direito à vida, ao bem-estar e a uma biosfera saudável – no contexto socioambiental das minerações
- só poderá ser alcançado, conforme lições de Soffiati (2011), com o respeito à natureza, à Terra e
com medidas eficientes de preservação, pois os recursos naturais minerais são finitos e as
necessidades do homem são, muitas vezes, insustentáveis e ilimitadas.

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Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

REFERÊNCIAS

ARAUJO, E. R.. OLIVIEIRI, R. D.. FERNANDES, Francisco Rego. Atividade mineradora gera riqueza e
impactos negativos nas comunidades e no meio ambiente. Disponível em:

< http://verbetes.cetem.gov.br/verbetes/Texto.aspx?p=7&s=3> . Acesso em 26 de mai. de 2020.

AVRITZER, L. Em busca de um padrão de cidadania mundial. Disponível em:

< https://www.scielo.br/pdf/ln/n55-56/a02n5556.pdf>. Acesso em 26 de mai. de 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10 de jun. de 2020.

DUSSEL, E. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação.


Disponível em:

< https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922016000100051&script=sci_arttext> . Acesso em


26 de mai. de 2020.

FORNASIER, M. de O. TONDO, A. L.. A cidadania na América Latina e a filosofia da libertação:


observações sobre o pensamento de Enrique Dussel. Disponível em:

< http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/196> .
Acesso em 26 de mai. de 2020.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GODOY, E. da S. JESUS, Luciano Nascimento de. DUARTE, Suely do Pilar. O processo de precarização
do trabalho na mineração e a atuação do sindicato metabase dos inconfidentes do município de
Mariana-MG. In: III Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais. 2013. Anais do Cress 6ª Região. Belo
Horizonte: Cress 6ª Região, 2013. p. 1-13. Disponível em:

<https://www.encontrodesaberes.ufop.br/exibir_trabalho.php?id=3905> . Acesso em 27 de mai. de


2020.

GODOY, A. Conservar docilidades ou experimentar intensidades. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/225726928/2008-Conservar-Docilidades-Ou-Experimentar-
Intensidades2007> . Acesso em 26 de mai. de 2020.

HAN, B.C. Sociedade do cansaço. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

LASMAR, J. V. Mineração em pequena escala. Minas Jr Consultoria Mineral. 18 jul. 2019. Disponível
em: < https://www.minasjr.com.br/mineracao-em-pequena-escala/> . Acesso em 26 de mai. de 2020.

MELEK, T. et al. Condições de trabalho numa mineradora: o olhar de trabalhadores e de profissionais


da saúde e segurança. International Journal on Working Conditions. v.1, n.13, p. 105-122, 2017.
Disponível em: https://www.minasjr.com.br/mineracao-em-pequena-escala/. Acesso em 26 de mai.
de 2020.

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43
Impactos Socioambientais Das Condições De Trabalho Nas Minerações De Pequena Escala: Um Estudo Preliminar

RODRIGUES, M. A. Direito ambiental esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

SILVA, M. L. ANDRADE, M. C. Os impactos ambientais da atividade mineradora. Disponível em: <


https://www.uninter.com/cadernosuninter/index.php/meioAmbiente/article/view/541> . Acesso em
26 de mai. de 2020.

SOFIATII, A. Fundamentos filosóficos e históricos para o exercício da ecocidadania e da ecoeducação.


In Educação Ambiental. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

VIEIRA, L. Cidadania global e estado nacional. Disponível em:

< https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581999000300001> . Acesso em


26 de mai. de 2020.

_____________. Notas sobre o conceito de cidadania. Disponível em:

< https://www.anpocs.com/index.php/bib-pt/bib-51/519-notas-sobre-o-conceito-de-cidadania/file>
. Acesso em 26 de mai. de 2020.

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44
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 3
10.37423/201203339

EFEITOS DA ÁGUA TRATADA MAGNETICAMENTE


EM SEMENTES DE MAMONA ( RICINIUS COMMUS
L.)

Dogivan Costa Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão

Leila Cristiane Souza e Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão

Fábio Henrique Silva Sales Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão
Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

Resumo: O presente trabalho, realizado no Laboratório de Física do Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia do Maranhão ( IFMA ), Campus São Luís - Monte Castelo, apresenta um estudo
experimental baseado na aplicação de campo magnético da ordem de militeslas gerado por um ímã
permanente no processo de ganho de massa por água em sementes de mamona (Ricinius communis
L.). Este campo magnético foi aplicado na água durante trinta minutos. As sementes submetidas ao
campo magnético (grupo teste) absorveram mais água que sementes sem campo magnético aplicado
(grupo controle). Na presença de campo magnético, a água sofre alterações nos íons da mesma,
transformando-a mais branda, assim facilitando sua absorção pela semente da mamona e por fim
acelerando sua germinação.

Palavras–chave: Campo Magnético; Sementes de Mamona; Germinação.

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Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, fala-se em desenvolvimento auto-sustentável, utilizar os recursos do meio de forma


consciente e preservar para que as futuras gerações ainda possam usufruir deles; entre suas metas
destacam-se: a preservação de recursos minerais, animes, vegetais, além de recursos de áreas
devastadas pela ação do ambiente ou até mesmo pela ação antrópica. Nos últimos anos, a importância
econômica e social da mamona tem crescido, demandando pesquisas relacionadas com sua
propagação via sementes. A avaliação da qualidade das sementes é de fundamental importância no
sistema de produção e provoca reflexos diretos na produtividade agrícola [1-4].

A irrigação como prática agrícola, a priori, propicia garantia de produção e possibilidade de índices
superiores de produtividade, tanto nas safras como nas entressafras. A irrigação convencional
representa a aplicação de água ao solo ou outro substrato no qual se desenvolve a agricultura [5-10].

Como quaisquer agrotecnologias, a irrigação deve estar integrada a outras tecnologias igualmente
necessárias para a obtenção de índices superiores de produtividade. Como consequência dos avanços
das agrotecnologias, principalmente nas áreas de fertilidade, manejo e melhoramento genético, os
principais fatores limitantes da produção agrícola são o estresse hídrico e o excesso de água no solo
durante as fases do biociclo de desenvolvimento da planta. A irrigação combinado com a drenagem
são as soluções práticas disponíveis nesse cenário agronômico de exigência de produtividade
competitiva [11].

A irrigação magnética incorpora todo “know how” e designer tecnológico da irrigação convencional e
acrescente um diferencial, que é a indução da transferência de prótons na ponte-de-hidrogênio na
molécula de água quando submetida a um campo magnético estático externo. A água tratada
magneticamente afeta o fenômeno de troca iônica como decorrência da redistribuição de cargas
espaciais nas micelas coloidais do solo e também das mudanças espaciais das cargas nas argilas [11].

A água é constituída de moléculas polares que respondem ao campo magnético externo via dipolo
elétrico. Assim, no equilíbrio tem-se gravitando em redor de cada íon uma camada ou cluster de água
de densidade diferente da água pura não magnetizada. Para grande maioria dos solos, quanto menor
for o “diâmetro” do íon e maior a quantidade de carga presente no íon, na solução aquosa
magnetizada, maior será o número de hidratação. A interação predominante nesse fenômeno é de
natureza eletrostática [11].

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Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

Essas diversas utilidades comerciais e pesquisas científicas na área agrícola de irrigação magnética
motivaram e levaram a criação e desenvolvimento deste projeto, que possua vez busca a
potencialização da semente da mamona através da força gerada pelo campo magnético, de maneira
sustentável e eficaz.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O método experimental utilizado no projeto foi o hipotético dedutivo, baseados nas hipóteses já
investigada por outros pesquisadores, recentemente, sobre a real eficácia da água tratada
magneticamente para o seu uso na agricultura, mais precisamente na irrigação magnética de vegetais,
sem causar dano algum a planta, desde a germinação da semente.

Inicialmente, foram selecionados 20 grupos de 40 sementes, sendo que cada grupo teve a sua massa
medida inicialmente através de uma balança digital. Dez experimentos foram realizados, sendo que
para cada experimento, 40 sementes de mamona foram colocadas em um becker de vidro com água,
e por trinta minutos essas sementes foram submetidas a uma campo magnético gerado por um ímã
permanente, colocado embaixo do becker. Outras 40 sementes também foram colocadas em outro
becker com água, mas sem a presença do campo do ímã, formando assim o grupo controle. Após os
trinta minutos, todas as sementes dos grupos teste e controle foram colocadas em uma peneira,
durante cinco minutos, para a retiragem da água em excesso nas sementes. Após esta etapa as massas
do grupo teste e controle foram medidas novamente na balança e comparadas às medidas das massas
dessas sementes antes da realização do experimento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os resultados obtidos para as medidas antes e depois das sementes submetidas à
ação do campo magnético gerado pelo ímã colocado abaixo do recipiente com água. Sob a ação do
campo podemos observar que cada grupo de 40 sementes ganha aproximadamente 0,002 gramas a
mais que o grupo controle. Isso pode parecer muito pouco, mas para o processo de aceleração da
germinação da semente, devido a uma maior absorção de água pelo vegetal, isso é um grande ganho.
O que só endossa as pesquisas que afirmam que a água torna-se mais fina na presença de campo
magnético. Se ele fica mais fina, então fica mais rápido o fluxo de água na semente vegetal.

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Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

Tabela 1 – Medidas de ganho de massa das sementes do grupo teste e controle.

6. CONCLUSÕES

A água tratada magneticamente pode potencializar as sementes mamona, assim como a água possui
papel relevante na germinação das sementes, pois na presença de campo magnético, a água fica mais
fina e leve, fluindo mais facilmente pela célula vegetal. Entretanto, o excesso de água poderá
prejudicar a germinação da planta.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao grupo de Pesquisa em Ensino de Física do IFMA Campus São Luís-Monte Castelo, pelo
apoio a este projeto.

Agradecemos ao Departamento de Física do IFMA Campus São Luís - Monte Castelo, por ter cedido o
espaço físico de um de seus laboratórios de pesquisa em Física Aplicada, equipamentos e materiais,
para a realização deste trabalho.

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Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

Agradecemos ao IFMA/CNPq pela bolsa de Iniciação Científica concedida ao estudante e também


autor deste trabalho, Dogivan Costa.

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Efeitos Da Água Tratada Magneticamente Em Sementes De Mamona ( Ricinius Commus L.)

REFERÊNCIAS

[1] AWAD, Marcel. CASTRO Paulo R.C. Introdução à fisiologia vegetal, Ed. Nobel, São Paulo, 1983.

[2] BRALEWSKI T.W. Effect of Magnetic Disk ADR-4 On Germination of Lecttuce (Lactuca sativa L.)
Seeds. Buletinul USAMV-CN,p.1-6, 2004.

[3] CARDOSO, M. O. (coord.) Hortaliças não-convencionais da Amazônia. Brasília: Embrapa-SPI:


Manaus: Embrapa-CPAA.1997.150p..

[4] FERRI, Mário Guimarães e vários outros autores. Fisiologia Vegetal, EPU: Ed. Da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1979.

[5] HALLIDAY, David, RESNICK, Robert., WALKER, Jearl. Fundamentos de Física. v.3, 8ª ed. Editora LTC.,
Rio de Janeiro, 2009.

[6] HENEINE, Ibrahim Felippe. Biofísica Básica. 2ª ed. Editora ATHENEU. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, 1996.

[7] LOPES, Sônia Godoy Bueno Carvalho. Bio - volume 2 - Introdução ao estudo dos seres vivos / Sônia
Godoy Bueno Carvalho Lopes – 1. Ed. – Saraiva, São Paulo, 2002.

[8] SALES, F. H. S., SANTOS, D. G., PADILHA, L. L. A influência do campo magnético na germinação dos
vegetais. Holos (Natal. Online), v. 1, p. 22-30, 2010.

[9] SALES, F. H. S., SANTOS, D. G., PADILHA, L. L. A influência do campo magnético na germinação de
vegetais. Cadernos Temáticos (Impresso), v. 21, p. 24-28, 2010.

[10] SALES, F. H. S.; LOPES, J. T., COSTA, I. S.; SANTOS, D. G. ; PADILHA, L. L. . A Influência do Campo
Magnético na Germinação e no Crescimento de Vegetais. Revista Pindorama, v. 1, p. 1-15, 2010.

[11] LOPES, G. N. ET AL. Irrigação magnética. Agro@mbiente, v. 1, p. 1-08, 2007.

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Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 4
10.37423/201203346

PRÓTESE ARTICULADA EM CADELA AMPUTADA

Raíssa de Araújo Moraes Matos CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE


MINAS
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

Resumo: As tecnologias existentes no mundo atual estão cada vez mais avançadas, nos deparamos
todos os dias com centenas de novos produtos que tem por objetivo facilitar, entreter e dinamizar a
vida das pessoas. Um dos pontos que vem crescendo cada vez mais são as próteses humanas,
encontra-se no mercado desde próteses rústicas até mesmo próteses que devolvem o movimento e a
sensação de tato do membro amputado. Porém essa realidade ainda não chegou ao mercado pet, que
vem crescendo muito movimentando bilhões de reais todos os anos, sendo também um dos únicos
setores que não foram afetados pela crise atual do país. Este crescimento se deve a vários fatores,
como crescimento econômico, mudança da mentalidade e constituição familiar, além de uma
mudança de valores mundiais, com isso, a necessidade por novos produtos que satisfaçam esse
mercado é cada vez maior. O objetivo deste trabalho foi criar uma prótese articulada para uma cadela,
SRD e sem idade definida, com peso de 3,7 kg, que foi resgatada pela atual proprietária Carmem Lúcia
Pinto de Barros, proprietária da Clínica Veterinária e Pet Shop Isgarzerim, localizado no município de
Carmo do Paranaíba, MG. O animal apresentou firmeza ao apoiar o peso sobre a prótese, porém ao
se locomover ainda é instabilidade, acredita-se que isto se deve ao fato do animal não possuir nenhum
osso abaixo do coxal no membro esquerdo, impossibilitando assim um melhor encaixe do produto.

Palavras chave: cão amputado, mercado pet, prótese articulada.

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53
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

1. INTRODUÇÃO

O mercado pet vem aumentando de forma considerável, isso se deve a vários fatores, como o aumento
do poder aquisitivo da população, a mudança no âmbito social, a transformação do modelo familiar e
até mesmo aos incentivos e preocupações mundiais (ELIZEIRE, 2013).

De acordo com um artigo da revista “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”, observa-se que apesar
da crise econômica que o país vem enfrentando, o mercado pet é um dos únicos que não foram
afetados, ao contrário, está em crescimento e expansão, movimentando bilhões de reais todos os
anos, não sendo registrada nenhuma queda desde sua ascensão (PEGN.GLOBO, 2016).

Para se ter uma ideia da força do mercado pet no país, de acordo com o projeto setorial integrado Pet
Brasil, em parceria com a Abimpet e a Apex-Brasil, só em 2015 a indústria pet teve um faturamento
de mais de 18 bilhões de reais, evidenciando um aumento de 7,6% em comparação com 2014. O Brasil
fica atrás apenas dos EUA e do Reino Unido quando se avalia os gastos com produtos para animais.
Além disso, o Brasil é o quarto país que mais tem animais de estimação no mundo, com 132,4 milhões
de animais de estimação, sendo que, os gastos com estes animais atingiram, em 2015, 0,37% do PIB
nacional, sendo superior até mesmo aos produtos elétricos, eletrônicos e automação em geral (APEX-
BRASIL, 2015).

Mas há um motivo para as pessoas investirem seu dinheiro em animas de estimação, e o principal
motivo é emocional, pode-se observar que há cada vez mais um processo de humanização dos animais
domésticos, e este processo está diretamente ligado a expansão dos produtos destinados a este tipo
de consumidor. Levando este comportamento em consideração, há maneiras de traçar metas e
investir em diversos ramos o mercado pet (ELIZEIRE, 2013).

Porém, apesar do grande consumo no setor pet, ainda não há investimento tecnológico suficiente na
área, e o que há ainda é muito caro e inacessível. Muitas vezes os produtos existentes no mercado não
são corretos para sanar o problema do animal, ou são muito rústicos e sem refinamento.

Objetivou-se com este estudo avaliar a prótese articulada em cão amputado, observando-se também
o desenvolvimento, coordenação e acomodação do cão com a prótese, verificar se há aceitação do
produto por parte do animal ou se o mesmo apresenta dificuldade de locomoção. Outro ponto
importante deste trabalho é incentivar o contato e cooperação ente diferentes cursos dentro da
faculdade, mostrando que essa interação é de fundamental importância para o mercado de trabalho,

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Prótese Articulada Em Cadela Amputada

além de proporcionar grandes projetos e descobertas mesmo no período de faculdade, guiando o


estudante para diferentes áreas do conhecimento.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em conformidade as normas estabelecidas pelo Comitê de Ética do uso de
Animais (CEUA) do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) (Parecer favorável: 118/17) e
após prévia autorização dos responsáveis.

O presente estudo foi realizado em uma Clínica Veterinária e Pet Shop, localizada no município de
Carmo do Paranaíba, MG, no período de outubro/2016 e setembro/2017.

Nesse trabalho, utilizou-se a metodologia de estudo de caso, sendo que a propriedade estudada foi
escolhida devido a cooperação da proprietária, além de docilidade e porte do animal.

A cadela escolhida foi vítima de um atropelamento e teve seu membro amputado na altura da
articulação coxofemoral, sendo assim perdeu todo e qualquer movimento do membro posterior
esquerdo, impossibilitando uma fácil acomodação da prótese.

Por decorrência desse procedimento, foi necessário a criação de um colete que proporcionasse uma
maior segurança e uma forma de acoplar a prótese, além de assegurar uma possível melhor
performance da articulação.

Logo após foi feita a prótese em si utilizando de materiais reciclados, como madeirite que foi
descartado e também pneu de bicicleta, apesar de serem materiais sem custo, cada um tinha sua
função específica, o madeirite era leve e facilmente modelado e o pneu tinha a função antiderrapante
e também garantia uma forma de amortecimento a partir do peso do animal, ou seja, se acomodava
de acordo com a dinâmica do animal.

2.1. LOCAL DO ESTUDO

Este estudo foi realizado no Centro Clinico Veterinário de Patos de Minas, localizado na via de acesso
à escola agrícola, próximo à AV. Afonso Queiroz, bairro Boa Vista, no perímetro rural de Patos de
Minas, MG. No Centro Universitário de Patos de Minas, localizado na Rua Major Gote, número 808,
bairro Caiçaras, na cidade de Patos de Minas, MG, e no FabLab da UNIPAM, também localizado dentro
do Centro Universitário.

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55
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

Figura 1- A- Centro Clínico Veterinário de Patos de Minas, MG. B- Localização Centro Clínico
Veterinário de Patos de Minas, MG.

Fonte:
(A)https://www.google.com.br/maps/uv/(B)https://www.google.com.br/maps/place/Centro+Cl%C3
%ADnico+Veterin%C3%A1rio+Unipam/

2.2. LEVANTAMENTOS E ESTUDOS REALIZADOS

Primeiramente foi realizado os estudos e análises de próteses existentes hoje no mercado, assim
proporcionou ser possível analisar os erros e acertos na confecção destas. Estes estudos foram
realizados através de pesquisas em artigos publicados nas áreas de Medicina humana, Medicina
Veterinária, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica e Engenharia de
Produção.

Logo após, o comportamento e formas de movimento do aparelho locomotor de cães de diversas


idades e tamanho foi analisado, este estudo se mostrou essencial, pois assim pôde-se criar uma
articulação mecânica que imite os movimentos das articulações naturais do animal. Este estudo foi
realizado através de vídeos encontrados na internet e palpação de cães do Centro Clinica Veterinário.

Concluídas as análises referentes ao sistema locomotor do cão, chegou a etapa de procura de algum
animal que teve o membro amputado para servir de estudo para o teste. Então o contato com o
proprietário do animal foi feito para que este disponibilizasse o cão para análise.

2.3. ANIMAIS UTILIZADOS

O cão encontrado foi uma cadela, SRD, de pelagem preta e caramelo, peso 3,7 kg, de nome Lininha,
com idade também indefinida, pois esta era moradora de rua. O animal foi vítima de um
atropelamento e encaminhada para a Clínica Veterinária e Pet Shop Isgarzerim.

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Prótese Articulada Em Cadela Amputada

Figura 3- (C) Localização da Clínica Veterinária e Pet Shop Isgarzerim em Carmo do Paranaíba, MG.
(D) Cartão de visita da Clínica Veterinária e Pet Shop Isgarzerim. (E e F) Visão do membro esquerdo
amputado.

Fonte: (C) https://www.google.com.br/url?sa./(D, E, F) - Arquivo pessoal.

A cirurgia foi realizada na altura da articulação coxofemoral retirando todo o fêmur não restando
nenhum tipo de movimentação para o membro acometido, o que fez a confecção da prótese se tornar
um grande desafio.

2.4. CONFECÇÃO DA PRÓTESE

Para a confecção da prótese o primeiro passo foi criar um colete para fixar a prótese e dar mais
segurança à cadela, sendo que este é regulável e se adapta as diferentes medidas. Este protótipo não
foi feito com os materiais da prótese final, mas com materiais menos resistentes, porém com a
tecnologia aplicada à prótese permanente.

O objetivo foi verificar as articulações em si e também o comportamento da cadela, assim sendo, os


problemas encontrados poderão ser corrigidos, o produto poderá ser refinado e melhor adaptado.

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Prótese Articulada Em Cadela Amputada

Figura 7- (G), (H) coleta das medidas da cadela.

Fonte: (G), (H)- Arquivo pessoal.

Sendo assim um dos pontos avaliados foi a forma que a prótese será feita para que esta possa dar a
propulsão ao restante do produto, fazendo assim com que o animal possa realmente ter estabilidade
e andar.

Figura 9- (I)- articulações e ossos do esqueleto de cão.

Fonte:(I)

https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=
0ahUKEwi3wZaehLTWAhVMkpAKHYP1DhIQjRwIBw&url.

6
58
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

As análises foram feitas de forma visual, através da tentativa e erro, verificando o comportamento do
animal e também se as articulações dão a sustentação e agilidade que o cão precisa.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

Primeiramente foi colocado o colete no animal, este tinha o objetivo de dar maior segurança à cadela
e também servir de apoio para a prótese. Como já esperado, quando a cadela sentiu o produto
demonstrou estranhamento e até mesmo desconforto, porém foi se adaptando aos poucos, colocando
o seu peso sobre a prótese até ganhar mais segurança, sendo assim começou a arriscar os primeiros
passos.

A articulação teve a função de proporcionar o movimento que o animal tinha antes de perder todo o
membro, por isso foi colocada como articulação da patela, sendo que assim, quando a cadela
impulsionasse o quadril para frente, esta articulação a ajudaria a dar impulso deslocando o membro.

Contudo, a prótese se mostrou eficiente quando o animal apoiou seu peso, mas na medida em que
este tentava se movimentar, ela não se encaixou adequadamente se soltando do membro e
desequilibrando a cadela, foram feitas várias tentativas e anotados os pontos de erros e acertos, para
que assim um melhor protótipo pudesse ser construído à base do primeiro.

Figura 10- (J) Prótese recém colocada no animal. (K) Cadela tentando se movimentar com a prótese.
(L e M) Cadela apoiando o peso na prótese.

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Prótese Articulada Em Cadela Amputada

Fonte: (J, K, L e M) Arquivo pessoal.

Isso se deve ao fato que como não existem muitas possibilidades de próteses animais no mercado, os
veterinários acabam optando por amputar o membro acometido completamente, é a forma correta,
sendo que alguns resquícios poderiam significar danos ao animal, porém, para este trabalho esse fator
se tornou um agravante, pois não foi possível prender o produto de forma eficaz.

Como afirma Maria Rita Kehl (2001), o corpo vem a ser um conjunto de órgãos, de reflexos e de
inúmeras sensações imerso em um universo discursivo que tanto designa, como valoriza e desvaloriza.
Nele se inscrevem ritmos, velocidades, acelerações e desacelerações, territórios geográficos e
imaginários, como recebe também extensões mecânicas, intervenções estéticas e médicas.

Portanto, a associação de tecnologias entre a medicina e a engenharia, por meio da Robótica Assistida,
auxilia no desenvolvimento de aparelhos que podem funcionar como ferramenta para que deficientes
motores possam ter uma maior qualidade de vida.

Novas pesquisas prometem restaurar a sensação de tato por meio de próteses totalmente integradas
ao corpo de amputados. Esses equipamentos foram testados em pacientes reais, e provaram que a
eficiência deles apenas melhora com o tempo de uso. Os braços mecânicos do futuro ficam conectados
a ossos e ao sistema neuromotor do usuário, dando mais liberdade de movimento e podendo ser
usados para todo tipo de tarefas (MACHADO, 2014).

Contudo, as próteses mais comuns nesse meio são destinadas aos cães, a perda do membro se deve
por vários motivos, que vão desde acidentes até alguma patologia que comprometa o osso ao ponto
de este ter que ser retirado. Pode-se ver essa pratica em um trabalho descrito em que um cão com
osteossarcoma apendicular teve o terço médio do fêmur amputado e recebeu uma prótese completa

8
60
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

da parte perdida. Esta prótese foi feita e aço, apresentando três componentes articulados, mantendo
os movimentos semelhantes a articulação do joelho (FERRIGNO et al., 2008).

No Brasil as práticas ortopédicas para animais ainda são pouco difundidas, se restringindo a pessoas
com algum interesse na área, ou por necessidade ao ver algum animal. Estas pessoas utilizam materiais
rústicos como madeira, canos, borracha, couro e outros produtos para construir o aparato. Há também
pessoas de ONGs que acabam produzindo estes itens por necessidade de algum animal que se
encontra no abrigo. Existem algumas empresas que fabricam em séries ou por encomenda alguns
carrinhos para cães com problemas neurológicos. Porém ainda há necessidade deste ramo se
desenvolver mais, o mercado se mostra promissor para este tipo de investimento, necessitando agora
de profissionais que se dediquem a isso (CARDONA, 2004).

4. CONCLUSÕES

Este protótipo é apenas um passo no desenvolvimento de novos produtos que podem auxiliar na
melhor condição de vida de muitos animais que sofreram alguma patologia ou trauma e por
conseguinte perderam seus membros. Por ser um projeto novo, não existem relatos para comparação,
o que faz com que este processo seja mais demorado, necessitando de vários testes até se chegar a
um produto final que possa atender de forma satisfatória as necessidades de nossos clientes e
proprietários.

Esta tecnologia pode abrir caminhos para novas descobertas em várias áreas, juntando a engenharia
e a veterinária, sendo benéfica para ambas as áreas. Devemos sempre estar nos aperfeiçoando, pois,
o novo sempre chega, e nada melhor do que fazer parte das descobertas que trarão vantagens tanto
para animais, proprietários, veterinários e outros profissionais da área.

Esta pesquisa tem suas limitações, pois não existem parâmetros comparativos, pesquisas ou relatos
em que possa ter uma base ou alguma noção de acertos e erros, sendo este teste o primeiro
comparativo existente para o desenvolvimento.

9
61
Prótese Articulada Em Cadela Amputada

REFERÊNCIAS

CARDONA, R. O. C. Prótese ortopédica modificada em um equino submetido à amputação distal do


membro pélvico. 2004. Monografia (especialização) - Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
Ciências Rurais, Curso de Especialização em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, RS, 2004.
Disponível em: <http://manancial.ufsm.br/1/1325>. Acesso em: 22/03/2017.

ELIZEIRA, M. B. Expansão do mercado pet e a importância do marketing na medicina veterinária. 2013.


Trabalho de Conclusão de Curso – Área de Concentração: Medicina Veterinária. UFRGS, Porto Alegre.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/80759>. Acesso em: 22/03/2017.

FERRIGNO, C. R. A.; CAMPOS, A. G.; STOPIGLIA, A. J.; FANTONI, D. T. Prótese total articulada de joelho
utilizada no tratamento de osteossarcoma apendicular em cão. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 8,
p.2379-2382, nov., 2008.

KEHL, M. R. Contracapa. In: SANT'ANNA, Denise B. Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade
contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.

MACHADO, R. Novos braços mecânicos aumentam liberdade de movimento. Saúde Plena. 2014.
Disponível

em: <http://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/10/14/noticias-saude,191376/novos-bracos-
mecanicos-aumentam-liberdade-de-movimento.shtml>. Acesso em: 15/04/2017

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62
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 5
10.37423/201203352

DIFERENÇAS ENTRE AS RESPOSTAS DE


CONFORTO AMBIENTAL OCASIONADAS POR
DADOS COLETADOS NO LOCAL DA PRODUÇÃO
E AGÊNCIAS OFICIAIS

Rodrigo Couto Santos Universidade Federal da Grande Dourados

Luciano Oliveira Geisenhoff Universidade Federal da Grande Dourados

Ana Laura Fialho de Araujo Universidade Federal da Grande Dourados

Douglas Romeu da Costa Universidade Federal do Sergipe

Alceu Pedrotti Universidade Federal do Sergipe

Staël Caroline Rego Ribeiro da Silva Universidade Federal da Grande Dourados

Tainara Regina Cerutti Torres Universidade Federal da Grande Dourados

Stephany Lillian Silveira França Universidade Federal da Grande Dourados

Mamadou Cellou Abdoulaye Diallo Universidade Federal da Grande Dourados

José Limirio Ricardo de Sousa Universidade Federal da Grande Dourados


Diferenças Entre As Respostas De Conforto Ambiental Ocasionadas Por Dados Coletados No Local Da Produção E Agências Oficiais

Resumo: Em galpões para produção animal não automatizados é comum a mensuração de dados
utilizando coletas manuais, sujeito a erros. Outra forma de avaliação ambiental na agropecuária é o
uso de banco de dados disponíveis na Internet, de estações meteorológicas regionais, nem sempre
próximas às instalações onde estão os animais. Assim, foi objetivo deste trabalho comparar dados
climáticos mensurados próximos a um galpão para produção avícola e comparar com informações
coletadas via Rede, de uma estação meteorológica oficial local. Foram coletados dados de
temperatura e umidade relativa em um galpão avícola na Universidade Federal da Grande Dourados
e pela Internet, da estação do INMET em Dourados - MS, distanciados 15 km um do outro. Com as
informações, foi calculada a Entalpia para comparação entre os locais. Ao final concluiu-se que os
dados obtidos pela internet, no site do INMET demonstraram um ambiente diferente do local onde
está o galpão avícola, evidenciando a necessidade de equipamentos de monitoramento ambiental
local para uma produção mais sustentável.

Palavras-Chave: Meio ambiente, monitoramento ambiental, produção avícola sustentável.

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64
Diferenças Entre As Respostas De Conforto Ambiental Ocasionadas Por Dados Coletados No Local Da Produção E Agências Oficiais

1. INTRODUÇÃO
Considerando que fatores ambientais como temperatura e umidade influenciam na produção animal,
estes devem ser observados com o máximo de precisão possível, para evitar tomadas de decisões
baseadas em dados distorcidos (NAWAB et al., 2018).

A atual diversificação agropecuária do Brasil faz com que um sistema produtivo seja sustentável se
levar em consideração sua importância regional e influência ambiental que pode ocasionar e receber
pelos fatores climáticos de exposição, tornando este ambiente de exposição importante para a
tomada de decisões (PIEDRA-BONILLA et al., 2020).

Em sistemas agropecuários não automatizados é comum a mensuração de dados utilizando coletas


manuais normalmente feitas em intervalos pré-definidos, que além de não utilizarem equipamentos
certificados ainda inserem o erro da observação humana nas coletas, gerando resposta menos
sustentáveis.

Outra forma de avaliação ambiental é a tomada de decisão baseadas em banco de dados coletados
pela internet, disponibilizados por estações meteorológicas oficiais locais, nem sempre próximas às
instalações onde estão alojados os animais. Assim, foi objetivo deste trabalho comparar dados
climáticos mensurados próximos a um galpão para produção avícola a informações coletadas via
internet, disponibilizadas por uma agência meteorológica oficial.

2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no município de Dourados – MS com coletas de dados de temperatura (T)
e umidade relativa do ar (UR) em um galpão avícola com coordenadas Lon 54º,59' W; Lat 22º,14' S, Alt
463 metros, e dados adquiridos pela Rede (Internet) da estação do INMET de Dourados, Lon 54º,59'
O; Lat 22º,14' S, Alt 463 metros. A distância entre o galpão avícola e a estação do INMET é de 15 km.

O galpão é utilizado para produção de aves de postura, tem 8 metros de comprimento e 6 metros de
largura, orientação L-O, com 250 aves. Foram escolhidos sete dias aleatórios de verão (janeiro/ 2019),
com características climáticas semelhantes, sendo que nos mesmos dias se registrou as informações
disponibilizadas pelo site do INMET (http://www.inmet.gov.br/).

Para a aquisição de dados no galpão foram realizadas leituras manuais de temperatura (T) e umidade
relativa do ar (UR) a cada duas horas, no intervalo de 05h às 19h. As medidas foram realizadas nos
locais indicados na Figura 1. Para leitura das informações foi usado um medidor de Stress Térmico,
modelo WBGT-8778.

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Diferenças Entre As Respostas De Conforto Ambiental Ocasionadas Por Dados Coletados No Local Da Produção E Agências Oficiais

Coletados T e UR foi possível calcular a Entalpia (H) utilizando-se a Equação 1 proposta por BARBOSA
FILHO et al. (2007).

H = (6,7 + 0,243 * Ta + {UR/100 * 〖10〗^((7,5 * Ta)/(273,3+Ta))}) * 4,18 (1)

em que

H – Entalpia, KJ/Kg ar seco;

Ta – temperatura do bulbo seco, ºC, e

UR – Umidade Relativa do ar, %.

Figura 1. Esquema do galpão com localização dos pontos de coletas de dados, sem escala.

Os valores de H para a condição local e valores obtidos pela Internet foram comparados com o teste
T de Student a 5% de probabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados mensurados no galpão e site do INMET foi possível gerar a Figura 2, sendo possível
visualizar o perfil de H médio no decorrer das horas de observação.

Figura 2. Médias da Entalpia (H) em função das horas dos dias para os diferentes métodos de coleta
de dados e pontos de observação.

3
66
Diferenças Entre As Respostas De Conforto Ambiental Ocasionadas Por Dados Coletados No Local Da Produção E Agências Oficiais

É possível observar na Figura 2 que para o instrumento localizado a Leste a curva de H é maior no
amanhecer, em decorrência da exposição direta do equipamento ao sol, diminuindo até o final do dia.
Curva oposta ocorre com dados mensurados do lado Oeste, devido ao sol poente. Se consideradas
informações no interior do galpão a curva se mantém com valores elevados e constantes. Moraes
(1999), testou tipos de coberturas e suas associações onde demonstrou que valores mínimos de
temperatura ocorrem no início e final do dia e máximo por volta das 15h, corroborando com a Figura
2.

Analisando a Figura 2, é possível verificar também um comportamento diferente entre as curvas dos
dados do INMET e coletas convencionais “in loco”. Isso pode ser explicado pelo fato de que a coleta
manual está em um microambiente diferente da estação do INMET e os dados são mensurados apenas
a cada 2h, sujeitos a variações externas, como rajadas de vento, nuvens, além do erro humano. Para
evitar essas distorções Santos et al. (2016) sugerem que produtores adquiram uma miniestação
meteorológica para ser instalada na granja e realizem mensurações contínuas no local da produção.

4. CONCLUSÃO
A medição manual é mais sujeita a erros sugerindo automação dos sistemas de mensuração de dados.
Os dados obtidos pela rede, no site do INMET demonstraram um ambiente diferente do local onde
está o galpão avícola, evidenciando a necessidade de monitoramento ambiental local com
equipamentos automaticos de mensuração contínua.

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67
Diferenças Entre As Respostas De Conforto Ambiental Ocasionadas Por Dados Coletados No Local Da Produção E Agências Oficiais

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA FILHO, J. A.; SILVA, I.J.; SILVA, M. A.; SILVA, C. J. Avaliação dos comportamentos de aves
poedeiras utilizando sequência de imagens. Engenharia Agrícola, v.27, p.93-99, 2007.

MORAES, S. R. P. Conforto térmico em modelos reduzidos de galpões avícolas, para diferentes


coberturas, durante o Verão. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa (UFV), 73p.1999. Dissertação
(Mestrado em Construções Rurais e Ambiência - DEA). 1999.

NAWAB, A; IBTISHAM, F; LI, G; KIESER, B; WU, J; LIU, W; ZHAO, Y; NAWAB, Y; LI, K; XIAO, M; AN, L.
Heat stress in poultry production: Mitigation strategies to overcome the future challenges facing the
global poultry industry, Journal of Thermal Biology, v.78, p.131-139, 2018.

PIEDRA-BONILLA, E. B.; BRAGA, C.; BRAGA, M. J. Diversificação agropecuária: conceitos e estatísticas


no Brasil. Revista de Economia e Agronegócio, v.18, n.2, p.1-28, 2020.

SANTOS, R.C.; BATTILANI, M.; SILVA, N.C.; REIS, J.G.M.; MARTINS, E.A.S.; PAULA, M.O. Avaliação
Ambiental para produção avícola na região de Dourados-MG. Ambiência e Engenharia na Produção
Sustentável: Condições de Clima Quente e Temperado. 1ed., Viçosa: SUPREMA, v. 1, p. 84-95, 2016.

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Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 6
10.37423/201203366

IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS OCUPACIONAIS


EM UMA ASSOCIAÇÃO DE MULHERES ARTESÃS
NO MÉDIO SERTÃO MARANHENSE

Diego Lima Matos Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão – IFMA

Kassio Kristian de Sousa Carvalho Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão – IFMA
Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
Resumo: A demanda do mercado por produtos artesanais tem levado a um ritmo mais forte na
geração desses produtos, principalmente aqueles relacionados ao bordado e renda. Nesse cenário, há
a necessidade da adaptação constante, mais intensamente nas questões relacionadas à segurança do
trabalho, visto que está ainda é um fator determinante no ambiente organizacional, familiar e
nacional. Logo, o objetivo desse trabalho é identificar os principais riscos ocupacionais existentes em
uma associação de mulheres artesãs no Médio Sertão Maranhense. Assim, identificou-se como as
prováveis causas de doenças ocupacionais o grande número de agentes ergonômicos presentes no
ambiente de trabalho.

Palavras–chave: Associações, Artesãs, Bordado, Segurança Ocupacional, Ergonomia.

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
1. INTRODUÇÃO

A Indústria Têxtil, no Brasil, é considerada como o marco da Indústria do Vestuário, com suas primeiras
fábricas iniciando sua produção nos estados do Maranhão, Pernambuco e Bahia, logo depois da
Independência. Atualmente, a Industria do Vestuário tem como característica ser um ramo de
atividade composto por vários estabelecimentos, em grande parte, micro e pequenas empresas, com
baixo investimento tecnológico e que se utilizam de mão de obra, em geral, com baixa escolaridade e
pagam, respectivamente, baixos salários, além de absorver um grande número de mulheres
(BARRETO, 2000).

Assim, o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em seu Relatório de
Mercado de 2008, compara a atividade de artesanato (da tipologia bordado e renda) com a Indústria
Têxtil/Vestuário, pois, aparentemente, esse ramo da indústria é o que mais se aproxima da atividade
supracitada devido ao produto final de ambas serem semelhantes (cama, mesa e banho).

No geral o artesanato pode ser dividido em dois grupos: o artesanato de subsistência e o artesanato
de mercado. O artesanato de subsistência é aquele em que o trabalhador usa seu ofício apenas para
seu sustento e o de seus familiares, não se utilizando de meios mais elaborados para incrementar a
produção e a comercialização do produto fruto da atividade artesanal. Já o artesanato de mercado
parte da motivação de aperfeiçoar modelos mais adequados ao mercado, tornando-o mais
competitivo, rentável e produtivo, administrado por artesãos qualificados, mantendo e preservando
sua característica mais básica e interessante que é a de expressão da arte popular (SEBRAE, 2008).

Então, o artesanato (seja ele de qualquer tipo) é um tipo de trabalho e, como tal, apresenta riscos de
acidentes e doenças ocupacionais. Assim, do ponto de vista prevencionista, acidente do trabalho é a
ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, de
que resulte ou possa resultar em lesão pessoal. Nesse contexto encontra-se incluído também o
conceito legal de acidente, ou seja, aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (SALIBA, 2008).

Ressalta-se ainda que existem falhas atribuídas ao erro humano ou fator humano e que são difíceis de
serem detectadas e controladas, pois o comportamento humano nunca é constante. Desse modo, os
erros humanos classificam-se pelo nível de atuação do organismo como, por exemplo, os erros de
percepção, erros de decisão e erros de ação. Porém, existem condições propícias para que o ser
humano “falhe”, podendo levar a erros graves. Entre essas condições podem citar-se a falta de

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
treinamento, instruções confusas, monotonia, fadiga, posto de trabalho inadequado, desorganização
do trabalho entre outros (IIDA, 2003).

Desse modo, identificar os riscos é estudar um objeto visando identificar perigos e analisar os
respectivos riscos. Tal objeto pode ser um sistema, local, organização, processo, atividade, tarefa ou
intervenção. Logo, existe a possibilidade de se dividir sistemas em subsistemas, operações e atividades
em etapas, processos, etc. Assim, a metodologia de análise de riscos consiste em dividir os sistemas e
identificar perigos e analisar riscos em cada objeto desses sistemas e, para isso, existem as chamadas

Técnicas de Análise de Risco tais como APP, HAZOP, AMFE, Árvores de Falhas, etc., além de Lista de
Checagem (CARDELA, 2008).

Logo, a identificação de riscos passíveis de afetar a saúde e segurança dos trabalhadores é possível
através das técnicas identificação de riscos, que podem ser dedutivas ou indutivas. Tanto a técnica
dedutiva quanto a indutiva pode ser qualitativas como quantitativas. As técnicas dedutivas têm como
ponto de partida o perigo ou não-conformidades de processo, seguindo para as causas e
conseqüências com o objetivo de propor medidas mitigadoras. Já as técnicas indutivas avaliam os
prováveis efeitos de um evento desejado iniciando de um cenário problemático permitindo avaliar
causas e conseqüências, propondo assim ações corretivas. As técnicas dedutivas, do tipo qualitativas,
possuem boa parte das informações obtidas em conhecimentos adquiridos pelo envolvidos no
processo analisado, não sendo determinado o grau de severidade dos mesmos, optando a análise por
uma atitude conservadora ou pessimista em relação a esta classificação. (CALIXTO, 2006).

Fazendo-se uma relação entre os ramos de atividade e a incidência de acidentes, as Atividades de


Associações de Defesa de Direitos Sociais (código CNAE - 94.30), onde em geral os artesãos se unem
para exercer seu ofício, teve registrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), somente em
2010, um total de 5.396 casos de acidentes, enquanto a Indústria têxtil e de artigos do vestuário
apresentou um número de 24.310 registros de acidentes também no mesmo ano. Já a quantidade de
acidentes com mulheres no Brasil somente em 2010 foi de 198.747 casos (INSS, 2010).

No ano de 2009 o INSS identificou que as partes do corpo com maior incidência de acidentes típicos
foram os dedos e as mãos (exceto punho ou dedos) com, respectivamente, 30,7% e 8,8%. Nas doenças
do trabalho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, o dorso (inclusive músculos dorsais,
coluna e medula espinhal) e os membros superiores (não informado), com 19,3%, 13,1% e 9,5%,
respectivamente (INSS, 2010).

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
A grande concentração de municípios com ocorrência em diversos tipos de artesanato está na região
nordeste do Brasil, onde, no caso do estado do Maranhão (com seus 217 municípios), há a ocorrência
da cultura da atividade do artesanato em 19 municípios e, dentre estes, apenas 5 têm a ocorrência do
ramo de rendas e bordados (SEBRAE, 2008).

Nesse contexto, encontra-se a Associação de Mulheres Agulha Criativa, localizada em São João dos
Patos - MA, que produz diversos produtos, de cama, mesa e banho, por artesãs associadas da referida
organização. Assim, buscou-se identificar e analisar os principais riscos ocupacionais e seus respectivos
agentes no ofício dessas mulheres, ou seja, a partir da atividade de bordado, renda e tecelagem.
Ressalta-se que a escolha de tal grupo se deve ao considerado número de acidentes no setor de
Associações e da Indústria Têxtil, além daqueles que também acometem diversas mulheres no país.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Esse estudo é do tipo descritivo e observacional, com informações primárias coletadas em uma
associação de artesãs do município de São João dos Patos – MA e dados comparativos secundários a
partir de bibliografia especializada na área. Foram analisados a relação entre as atividades, o
ambiente, os postos de trabalho os postos de trabalho e os respectivos riscos ocupacionais.

Localizada no sudeste do estado do Maranhão (região conhecida também como “Médio Sertão
Maranhense”), conforme imagem abaixo, o município de São João dos Patos apresenta uma
população de cerca de 24.000 habitantes e uma área territorial de, aproximadamente, 1.500 km2
(IBGE, 2012).

A Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC) existe desde 1992, com sede própria, e é uma
organização sem fins lucrativos que visa contribuir para o desenvolvimento de mulheres ligadas a
atividade de artesanato no município de São João dos Patos - MA, mais especificamente aquelas
relacionadas ao bordado. Atualmente, encontram-se associadas à AMAC 15 mulheres que são
genericamente denominadas “bordadeiras”.

Os dados coletados,foram obtidos através de visitas à AMAC, entrevistas informais e registro de


imagens, que descrevem o ambiente e as condições de trabalho. A identificação dos riscos,
propriamente dita, realizada de forma qualitativa, foi feita segundo o que determina a Norma
Regulamentadora n° 05 - CIPA (NR-05) e Norma Regulamentadora n° 17 - ERGONOMIA (NR-17) do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) (BRASIL, 2012).

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
Para a compilação das informações utilizou-se a técnica de identificação de riscos, do tipo dedutivo-
qualitativa, denominada “Lista de Checagem”, objetivando relacionar a atividade executada, o local, o
pessoal envolvido, os materiais utilizados e os respectivos riscos e agentes associados a cada atividade.

A amostra foi composta por 15 artesãs e a primeira avaliação foi em forma de entrevista, para
obtenção dos dados pessoais das associadas (nome, idade, tempo de trabalho na empresa e na função
exercida, jornada de trabalho e realização de hora extra ou trabalhos em casa, além de relatos de
dores ou problemas de saúde).

Na coleta pró-ativa dos dados para a categorização dos riscos o estudo abordou as seguintes: físicos,
químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Dentro de cada uma desses, existe a caracterização
de cada agente, de acordo com o que foi observado na AMAC e nas conversas com as artesãs.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste tópico serão apresentados os principais resultados e as respectivas discussões, a respeito dos
riscos e agentes ocupacionais, dos materiais e equipamentos, do método/organização e do posto de
trabalho.

O trabalho realizado na AMAC se dá por meio de 2 encontros semanais, durante o turno vespertino.
No entanto, parte do trabalho realizado pelas artesãs são feitos em suas próprias residências e, as
vezes, contando com a ajuda de familiares para a compra de materiais ou pequenos auxílios como
troca de linhas, lubrificação de ferramentas, etc.

As atividades principais realizadas nas dependências da AMAC são três: ponto-cruz e crochê (manuais),
bordado e acabamento com o auxílio de máquinas de costura e tecelagem.

As atividades secundárias são: lavagem/limpeza dos produtos acabados, desamassar os materiais


(com ferro de passar e “goma de tapioca”) e armazenagem de equipamentos, insumos, matérias-
primas e produtos acabados. A limpeza do ambiente de trabalho é realizada pelas próprias artesãs em
regime de revezamento. Outra atividade executada no imóvel da AMAC é o cultivo de hortaliças, onde
os tratos culturais são dados também pelas artesãs.

Os principais produtos acabados, vendidos ou encomendados, produzidos pela AMAC são: jogos
americanos (conjunto de guardanapos, panos de bandeja, centros de mesa e de balcão), trilhos de
mesa, toalhas de rosto/corpo, toalhas de mesa, redes, almofadas, etc. Ressalta-se que muito
raramente se produz peças para o vestuário.

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense

Figura 1 – Produtos oriundos das atividades realizadas na AMAC pelas artesãs.

a) Estrutura física

A estrutura física da AMA, é composta por paredes claras (cor branca) e com várias janelas (e 2 portas
em cada) tanto na salão principal (para bordado à mão) quanto na sala de máquinas e do tear. Tal
estrutura, e o modo como são utilizadas (portas e janelas abertas), facilitam a entrada de ar, para a
melhoria do conforto ambiental (diminuição da temperatura), e a chegada de iluminação natural,
proporcionando ampla iluminação e economia de energia elétrica. No entanto, ressalta-se que seria
interessante a adoção de uma iluminação artificial suplementar mais adequada na sala de máquinas e
do tear, pois lá as lâmpadas utilizadas são incandescentes de baixa intensidade luminosa, podendo
levar as artesãs a forçar demais o uso da visão. Observa-se também a presença de alguns fios expostos
na sala de máquinas e do tear, que podem ocasionar choque elétrico caso entrem em contato com as
artesãs expostas.

b) Equipamentos e máquinas

As artesãs utilizam os seguintes materiais nas suas principais atividades: agulhas, linhas, tesoura e
tecido; 3 máquinas de bordar mecânica (c/pedal), 1 máquina de costura (elétrica) e 1 máquina
overlock; 1 Tear. Há somente uma grande mesa no centro do salão principal que é utilizada para a

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
colocação de objetos a serem manipulados imediatamente. As artesãs ao utilizarem as máquinas de
costura não utilizam nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI), como protetores auriculares.

Os principais equipamentos perfuro-cortantes utilizados são a agulha (comum e da máquina) e a


tesoura.

c) Método de trabalho

Quanto ao método de trabalho, as artesãs podem alternar suas atividades como, por exemplo, bordar,
cuidar da horta, usar a máquina de costura, cortar tecido e limpar o ambiente.

No entanto, na realização de uma das atividades principais (bordado e crochê), observa-se que as
artesãs realizam movimentos repetitivos dos ombros, braços, punhos, mãos e dedos, em função da
demanda e da exigência dos componentes acionais dos equipamentos. Essas atividades realizadas na
AMAC, juntamente com aquelas feitas em casa, levam a repetitividade dos movimentos dos membros
superiores, o que pode resultar em doenças ocupacionais.

d) Posto de trabalho

Um dos fatores que contribui para uma postura inadequada é o fato do mobiliário não ser regulável,
ou seja, não possui ajuste de acordo com as dimensões de cada artesã, principalmente as cadeiras
(que, na verdade, são cadeiras de madeira, do tipo “escolar”, com somente 1 apoio para o membro
superior direito) utilizadas para o bordado não ser alcochoado que, de acordo com Iida (1990), pode
favorecer o aumento de pressões sobre os tecidos e estruturas ósseas, levando a um desconforto
postural.

No uso das máquinas de costura a artesã inclina a coluna por falta de ajustes no mobiliário, já que a
tarefa exige extrema precisão. A postura adotada por pelas artesãs, tanto no bordado quanto na
máquina de costura, é tipicamente sentada, com os ombros elevados (somente com apoio do membro
superior direito) e flexão da região cervical, para visualização da qualidade do bordado.

Ainda no uso das máquinas de costura, observou-se pouco espaço livre para a acomodação das pernas
das artesãs, o que pode ser causado também pelas dimensões inadequadas do assento em relação a
altura da bancada, proporcionando um leve desconforto e levando a, até mesmo, um aumento de
pressão nos tecidos moles, entre o assento e as tuberosidades isquiáticas, proporcionando uma
diminuição da circulação.

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
Na utilização do tear identificou-se a adoção de uma postura curvada sobre a frente do tear, e o uso
de força, tanto dos membros superiores (para movimentação das peças de madeira) quanto dos
membros inferiores (para a troca da posição dos fios). Observou-se ainda que o tear utiliza-se de uma
adaptação de 2 placas de madeira que servem como “pedais” pelas artesãs. Essas placas de madeiras
são presas por cordas que, a qualquer momento, podem se desprender e cair sobre os pés das artesãs,
podendo ocasionar acidentes.

e) Questões legais

A AMAC possui inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), tendo como uma de suas
atividades cadastradas na referida inscrição a “Atividades de organizações associativas ligadas à
cultura e à arte” com o código da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) “94.93-6”.
Tal código CNAE é considerado como Grau de Risco 1, em uma escala que vai de 1 a 4 (para fins de
dimensionamento de SESMT), de acordo com a Norma Regulamentadora n 04 (NR-04) que trata dos
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT).

Ou seja, pela NR-04 a AMAC não teria como iniciar seu SESMT pois a quantidade de associadas (15)
não atinge o mínimo necessário para a contratação de um técnico de segurança do trabalho que é a
partir de 501 empregados. Assim como a AMAC somente elegeria membros para uma Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) se, de acordo com a Norma Regulamentadora n 05 (NR-05),
CIPA, tivesse a partir de 301 associados, pois o CNAE da AMAC se enquadra no grupo C-29 da NR-05.

No entanto, mesmo que a AMAC não se enquadre para a composição de CIPA, é pertinente a
designação de uma artesã, ou grupos de artesãs, designadas pela presidente, com o objetivo de
promover a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho.

Em conversa com as associadas, descobriu-se também que elas desconheciam a Classificação


Brasileira de Ocupações (CBO) que é um documento que retrata a realidade das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro e apresenta as mais variadas atividades profissionais, sem diferenciar
as profissões regulamentadas com aquelas de livre realização. Logo, ao apresentá-las ao CBO, elas se
identificaram com a família ocupacional denominada “Artesão” (código CBO 7911) que apresentam
subdivisões que se assemelham às atividades executadas na AMAC, tais como: bordador, crocheteiro,
rendeiro, tecelão e tricoteiro.

f) Identificação dos Riscos

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
A seguir, são apontadas as características de cada setor, as funções dos trabalhadores, as atividades
realizadas e os principais riscos e agentes ocupacionais observados nas 3 atividades mais relevantes
executadas na AMAC.

Tabela 1 – Relação das atividades principais realizadas na AMAC e sua relação com o local, os
trabalhadores, materiais e os respectivos riscos e agentes ocupacionais

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense

4. CONCLUSÕES

A partir da análise dos resultados encontrados, constatou-se que o ofício das artesãs da AMAC
apresenta, nos riscos ergonômicos, uma grande variedade de agentes ocipacionais que podem
provocar diversos problemas. Assim, a manutenção, por um longo tempo, na posição sentada, exige
umademanda maior do sistema muscular e esquelético e, conseqüentemente, movimentos de
sobrecarga para a coluna vertebral, além do excesso de movimentação de um dos membros
superiores (na movimentação de linhas e agulhas) e estática de outro (para segurar o tecido), e da
demanda visual necessária para a precisão nos bordados, prodendo provocar várias doenças
ocupacionais.

Com relação ao ambiente de trabalho, estrutura física e condições de conforto ambiental, verificou-
se que a AMAC apresenta, aparentemente, um local adequado para a realização dos trabalhos das
artesãs. No caso dos postos de trabalho, apenas o mobiliário, principalmente as cadeiras, não é muito
adequado, visto que não são reguláveis e nem próprios às atividades exercidas no local.

É interessante a continuidade dos estudos na área de higiene ocupacional, segurança do trabalho e


ergonomia na AMAC, principalmente, aqueles que se voltarem para a avaliação quantitativa dos níveis
de conforto ambiental, dimensionamento dos postos de trabalho e estrutura física e identificação dos
riscos ocupacionais pela técnica de Mapa de Riscos.

Fatores como a jornada de trabalho, as pausas insuficientes, as inadequações do ambiente, a


mecanização das tarefas e a falta de instrução quanto ao uso dos mobiliários e ferramentas, podem
interferir no rendimento profissional e podem contribuir para o aparecimento de doenças
relacionadas as atividades laborais.

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
Perceptivelmente, a implantação de políticas de capacitação dessas artesãs, através do acesso a
educação (regular ou de cursos de curta, média ou longa duração) e a tecnologia podem melhorar a
qualidade de vida, além de oferecer meios para incrementar a qualidade dos serviços, processos e
produtos, gerando maior eficiência e rentabilidade.

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Identificação Dos Riscos Ocupacionais Em Uma Associação De Mulheres Artesãs No Médio

Sertão Maranhense
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81
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 7
10.37423/201203384

ANÁLISE QUANTITATIVA DA EXPRESSÃO


PAGAMENTO POR SERVIÇO AMBIENTAL NO
PERÍODO DE 2005 A 2014

Cleidinaldo de Jesus Barbosa Universidade Federal de Goiás

Francis Lee Ribeiro Universidade Federal de Goiás

Antônio Marcos de Queiroz Universidade Federal de Goiás

Flávia Rezende Campos Universidade Federal de Goiás


Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Resumo: O instrumento econômico de pagamento por serviço ambiental, apesar ter surgido somente
recentemente, tem despertado grande interesse nas ciências nos últimos anos. O objetivo deste trabalho foi fazer
uma análise quantitativa temporal, a partir de uma abordagem cienciométrica do termo pagamento por serviço
ambiental, desde o seu surgimento até o ano de 2014. Assim, foi realizado um levantamento a partir da rotina
General Search do sítio do Thomson Institute for Scientific Information (ISI) de trabalhos que continham os termos
payments for environmental services no título. Identificou-se 111 trabalhos publicados no período de 2005 à
2014, sendo que a maior parte 53,6% dos trabalhos foram desenvolvidos por autores de apenas duas
nacionalidades, sendo 39,1% dos Estados Unidos (EUA) e 14,5% do Brasil. A grande maioria dos trabalhos foram
publicados na forma de artigos (87,39%). O trabalho mais relevante, ao considerar o número de vezes em que foi
citado, foi o de Engel et al que foi publicado no ano de 2008 e citado trezentas e noventa e uma vezes (391). Ao
considerar este trabalho, o segundo, Pagiola et al (2005), o terceiro, Wunder et al (2008), e o quarto, Wunder
(2007), trabalhos mais citados observou-se que estas obras, conjuntamente, obtiveram mais de mil citações
(1094).

Palavras-chave: Pagamento por serviço ambiental, serviço ambiental, cienciometria.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

1. INTRODUÇÃO

O ano de 2005 representou um divisor de águas ao registrar o surgimento e escalada internacional da


discussão a respeito de um importante instrumento econômico de política ambiental, o pagamento
por serviços ambientais (PSA) ou ecossistêmicos (PSE), que vem atraindo cada vez mais atenção como
Sommerville et al (2010), Petheram; Campbell (2010), Pascual et al (2010), Vatn (2010), Muradian et
al (2010), Wendland et al (2010), Mcafee; Shapiro (2010), Kosoy; Corbera (2010), Farley; Costanza
(2010), Redford; Adams (2009), Turpie et al (2008), Corbera et al (2009), Bulte et al (2008), Kosoy et al
(2008), Engel et al (2008), Jack et al (2008), Wunder et al (2008), Pagiola (2008), Wunder (2008),
Ferraro (2008), Wuenscher et al (2008), Pagiola et al (2008), Zilberman et al (2008), Wunder; Alban
(2008), Asquith et al (2008), Kosoy (2007), Sanchez-Azofeifa et al (2007), Wunder (2007), Wunder
(2006), Pagiola et al (2005).

A despeito do crescente interesse por pagamentos por serviços ambientais, há pouquíssimos esforços
voltados a analisar sua definição. A definição de pagamentos por serviços ambientais (PSA-puros)
mundialmente reconhecida como convencional ou alicerçada nas premissas do mainstream
econômico é a apresentada por Wunder (2005, p. 3). O autor define pagamentos por serviços
ambientais como.

1. uma transação voluntária na qual


2. um serviço ambiental bem definido
3. está sendo “comprado” por um (no mínimo) comprador do serviço
4. de um (no mínimo) provedor do serviço ambiental
5. se, e somente se, o provedor do serviço assegura a prestação do serviço
(condicionalidade).

Esta definição apresenta elementos que permitem a constituição de mercados para os serviços
ambientais, conforme propõe a economia neoclássica. Têm-se a indicação de agentes que ofertam e
outros que demandam um determinado serviço. Nesta linha, observa-se a existência da oferta,
realizada pelos provedores de serviços ambientais, a demanda, proveniente dos agentes beneficiários
destes serviços e do serviço a ser transacionado, materializado nos serviços ambientais.

A proposta de pagamentos por serviços ambientais citada acima está alinhada com a definição de
instrumentos econômicos de política ambiental, proposta pela economia neoclássica. Nesta linha,
apresentam-se como um instrumento voltado a reconhecer e estimular, a partir de pagamentos, os
provedores de serviços ambientais. Um dos fatores que vem colaborando para a consolidação do

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

instrumento econômico de pagamento por serviço ambiental como um instrumento da política


ambiental e como um campo específico da economia ambiental foram as pesquisas na área, que
evidenciaram, a partir da produção científica, a importância deste assunto-tema.

Silva (2004) reconhece que um dos mecanismos empregados mais importantes para a disseminação
dos resultados dos esforços dos pesquisadores é a publicação dos resultados das pesquisas em meios
científicos como os periódicos. Neste sentido, é relevante avaliar quantitativamente dados sobre a
produção científica, a fim de demarcar o surgimento de novos assuntos-tema, assim como, a
consolidação da informação científica como o pagamento por serviço ambiental.

Existem, sobretudo, quatro áreas principais em que as técnicas quantitativas de avaliação da


informação podem ser enquadradas, como a cienciometria, a bibliometria, a informetria e
webometria (VANTI, 2002). Estas se propõem a mensurar a disseminação do conhecimento científico,
assim como, o fluxo de informações sob diferentes aspectos e enfoques. Nesta linha, conforme
observou Macias-Chapula (1998), a produção do conhecimento constitui a essência da pesquisa e a
literatura científica conforma um de seus componentes. Assim, de acordo com Velho (1990) a análise
cienciométrica consiste em levantar, apresentar e analisar a atividade científica a partir de técnicas da
estatística.

Conforme explicitado por Macias-Chapula (1998, p. 134), a análise cienciométrica pode ser definida
como sendo:

[...] um estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina


ou atividade econômica. A cienciometria é um segmento da sociologia da
ciência, sendo aplicada no desenvolvimento de políticas científicas. Envolve
estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação.

De acordo com Alberguini (1999) a importância da análise cienciométrica deve-se ao aprimoramento


das publicações científicas que tendem para bibliotecas virtuais, que facilitam o acesso às publicações.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é realizar uma análise cienciométrica do instrumento de
pagamento por serviço ambiental desde às primeiras publicações até o ano de 2014. Assim, não
constitui objetivo discutir as tendências de pesquisa nesta área, assim como propostas específicas
relacionadas ao instrumento de pagamento por serviço ambiental.

2. METODOLOGIA

Para a realização da análise cienciométrica utilizou-se a produção bibliográfica como indicador por
meio da rotina General Search do sítio do Thomson Institute for Scientific Information (ISI) (ISI WEB OF

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

KNOWLEDGE, 2014). A escolha do Thomson ISI deve-se à abrangência quanto ao número de


publicações e qualidade dos periódicos (LIMA-RIBEIRO et al, 2007; GUIMARÃES; PINTO, 2005).
Realizou-se a busca de todas as publicações que citavam a expressão payments for environmental
services no título. Nenhuma variação da expressão acima foi utilizada para pesquisa nesta base, sendo
utilizada apenas a forma composta da expressão, já que, em separados, os termos indicam uma
variedade enorme de discussões que não estão diretamente relacionadas com o assunto-tema, não
se enquadrando, portanto, no escopo deste estudo.

Nesta linha, obteve-se os seguintes dados: (i) ano de publicação do artigo; (ii) quantitativo de
publicação por autor; (iii) tipo de documento publicado (artigo, revisão, carta, notas, resumos em anais
e eventos, material editorial, correções; (iv) periódico em que o artigo foi publicado; (v) área disciplinar
do artigo e (vi) número de citações do artigo.

A pesquisa foi realizada inicialmente, em 2013 e atualizada em 2014 para obtenção das publicações
que ocorreram no período não contemplado pelo levantamento inicial. Assim, o último levantamento
foi realizado entre os dias 10 e 20 de dezembro de 2014 e buscou-se, inicialmente, trabalhos
publicados até o ano de 2014. Todavia, o período do levantamento foi alterado por ausência de
publicações antes do ano 2000. Observou-se somente uma (01) publicação neste ano e nenhuma
publicação no período de 2001 à 2004, o que implicou em um novo período de análise que foi de 2005
à 2014.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento realizado, conforme figura 1, identificou 111 trabalhos publicados no período 1 de


2005 a 2014 que continham os termos payments for environmental services no título. Ao considerar
o país onde o autor principal trabalha, identificou-se que os trabalhos foram publicados por 30 países.
No entanto, 53,6% dos trabalhos foram desenvolvidos por autores de apenas duas (02)
nacionalidades, sendo 39,1% dos EUA e 14,5% do Brasil. Dois trabalhos não apresentaram a origem
do local em que os principais autores trabalham.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Figura 1 - Número de trabalhos publicados que continham os termos payments for environmental
services no título, no período de 2005 a 2014.

De acordo com os dados presentes na figura 1, nota-se que o interesse por esse tema é recente e
começou a aparecer por meio de relevantes publicações a partir do ano de 2005. Neste ano, houve
somente uma (01) publicação que discute as possibilidades de modelos de pagamentos por serviços
ambientais, a partir de dados da América Latina, de contribuir para a redução da pobreza (PAGIOLA et
al, 2005). Este trabalho foi citado duzentas e quarenta e seis (246) vezes.

O ano de 2008 foi o ano que apresentou o maior número de trabalhos que discutem pagamentos por
serviços ambientais, com um total de 22 trabalhos publicados. Por ser um tema novo, este vem
despertando o interesse dos pesquisadores e, observa-se que a partir de 2008, houve no mínimo oito
(08) publicações por ano e, no último ano de análise (2014), registrou-se quinze (15) trabalhos
publicados.

Os trabalhos foram publicados por 255 autores. Destes, 215 autores obtiveram uma (01) publicação e
vinte e sete (27) autores apresentaram dois (02) trabalhos. A figura 2 apresenta treze (13) autores que
publicaram no mínimo três (03) trabalhos no período de análise.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Figura 2 - Autores que publicaram, no mínimo três (3) trabalhos que continham as palavras
payments for environmental services, no período de 2005 a 2014.

Mesmo que se reconheça a relevância do número de trabalhos publicados pelos autores,


apresentados a partir da figura 2, destacam-se os autores Wunder S. e Pagiola S. que publicaram cada
um onze (11) e oito (8) trabalhos, respectivamente. Dos onze (11) trabalhos apresentados por Wunder
todos foram citados no mínimo quatro (04) vezes e, há trabalhos com quase quatrocentas (400)
citações. O interessante é que, por meio da análise dos dados, percebe-se uma forte parceria ente os
dois autores que mais publicaram, Wunder e Pagiola.

Os trabalhos que foram publicados no período de 2005 a 2014 e que apresentavam os termos
payments for environmental services no título podem ser classificados por: artigos, conferência,
revisão de livro e revisão, conforme figura 3. A grande maioria dos trabalhos pesquisados foram
apresentados na forma de artigos (96).

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Obs.: Identificou-se uma (01) correção (nome do autor) que foi denominado de artigo. Os trabalhos
classificados como revisão de capítulos e livros foram reunidos em revisão de livro.

Figura 3 - Tipos de documentos que apresentaram os termos payments for environmental services
no título, no período de 2005 a 2014.

Conforme exposto pela figura 3, foram identificados nove (9) trabalhos provenientes de conferências,
seis (6) de revisão de livros, quatro (4) frutos de revisão. Além disso, houve a preocupação de levantar
os locais (fonte) em que estes trabalhos foram publicados. A figura 4 sintetiza essas informações.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Obs.: EE = Ecological Economics; FPE = Forest Policy and Economics; CB = Conservation Biology; ES =
Ecology and Society; EDE = Environment and Development Economics; EC = Environmental
Conservation; G = Geoforum; WD = World Development; DC = Development and Change; EAC =
European Review of Agricultural Economics; IBF = Iforest Biogeosciences and Forestry; JEM = Journal
of Environmental Management; LUP = Land Use Policy; SNR = Society Natural Resources.

Figura 4 - Principais periódicos que publicaram, no mínimo dois (02) trabalhos que continham os
termos payments for environmental services no título, no período de 2005 a 2014.

Ao considerar as fontes onde os trabalhos foram publicados, identificou-se 50 periódicos (revistas,


livros, série de livros, etc.) que apresentaram no mínimo um (01) trabalho que continha os termos
payments for environmental services no título. Na figura 4 buscou-se apresentar somente os
periódicos que publicaram no mínimo dois (02) trabalhos no período de análise. Dentre estes
periódicos o grande destaque deve-se à revista americana Ecological Economics que sozinha foi
responsável por 20% de todas as publicações levantadas no período de 2005 a 2014.

A busca registrou a existência de 21 áreas disciplinar em que os trabalhos foram publicados, conforme
figura 5. Devido à impraticabilidade da apresentação de todas as áreas, optou-se por expor somente
as áreas que registraram, no mínimo, duas (2) publicações que continham os termos payments for
environmental services no título.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Figura 5 - Principais áreas disciplinar que apresentaram no mínimo dois (2) trabalhos que
continham os termos payments for environmental services no título, no período de 2005 a 2014.

A análise dos dados permite afirmar que alguns trabalhos foram considerados em mais de uma área
disciplinar. No entanto, as áreas de Environmental Sciences Ecology e Business Economics se destacam
com sessenta e nove (69) e trinta e oito (38) trabalhos publicados, respectivamente.

Quando se analisou a relevância dos trabalhos por meio do número de citações, conforme exposto na
figura 6, identificou-se vinte (20) trabalhos que obtiveram mais de 30 citações no período de análise.
Constitui-se uma tarefa difícil destacar alguns trabalhos diante de uma seleção de obras que
receberam no mínimo trinta (30) citações. Dentre estes, os trabalhos de Engel et al (2008), Pagiola et
al (2005), Wunder et al (2008) e Wunder (2007) conjuntamente foram citados mais de mil vezes
(1.094). Desta lista, o primeiro colocado, conforme exposto, foi citado trezentas e noventa e uma vezes
(391). No entanto, torna-se relevante destacar que este trabalho foi elaborado pelos autores dos três
primeiros trabalhos mais citados. Do mesmo modo, o trabalho de Wunder et al (2008), terceiro
colocado, foi citado duzentas e quarenta e duas vezes (242) e têm como autores os mesmos dos três
primeiros trabalhos mais citados.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

Figura 6 - Trabalhos que continham os termos payments for environmental services no título e
com mais de trinta (30) citações, no período de 2005 a 2014.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa utilizou-se os periódicos indexados no ISI e somente considerou-se a presença da


expressão payment environmental services no título. Dessa forma, ao desconsiderar pesquisas que
continham essa expressão no resumo e/ou nas palavras-chave, reconhece-se que alguns trabalhos
importantes podem não ter sido identificados.

Pesquisadores de diversas nacionalidades vêm discutindo pagamento por serviços ambientais e,


conforme observado por Peters (1991) o grande interesse pelos estudiosos por um tema pode ser
considerado como um dos principais indicadores da relevância do tema. Além disso, observou-se que
essa discussão não se restringe somente aos países desenvolvidos e que é crescente o número de
pesquisadores de países em desenvolvimento, como o Brasil, interessados no tema.

Conforme Salvador et al (2003) a forma de expressão científica reconhecida como predominante no


meio científico é o artigo. No que tange à forma de expressão científica, esse tema confirma essa
predominância devido a alta frequência deste tipo de documento. Por outro lado, de acordo com King
(2004) há várias formas de se avaliar a qualidade da pesquisa científica, mas poucas têm se mostrado
eficientes. Nesta linha, a relevância de um trabalho pode ser expressa em termos da utilidade para a

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

comunidade científica, podendo ser indicada pelo números de vezes que foi citado. Conforme
observou Strehl (2002) na maioria das vezes é possível mensurar a qualidade de uma pesquisa
científica pelo número de vezes em que foi citada. Assim, o trabalho de Engel et al (2008) pode ser
considerado de elevada qualidade.

A análise cienciométria em pagamento por serviço ambiental permite afirmar que este assunto-tema
é recente e vem despertando o interesse de muitos pesquisadores, fato esse explicitado, inclusive,
pelo grande número de trabalhos publicados ao longo dos nove (09) anos de análise.

Todavia, apesar do pouco tempo de emergência do assunto-tema, seria interessante levantar os


principais assuntos abordados por estas publicações. Nesta linha, como sugestões de novas pesquisas,
poder-se-ia classificar as publicações como propostas teóricas-metodológica, aplicações, etc. Quanto
às do tipo aplicações, evidenciar o tipo de aplicação por meio da identificação campo, cidade, tipo de
serviço ambiental contemplado, etc.

Neste contexto, as reflexões sobre cienciometria em pagamento por serviço ambiental permitiram
analisar a produção mundial sobre pagamento por serviço ambiental e oferecer subsídios para que
novas pesquisas sejam realizadas nessa área. Assim, o levantamento e sistematização destes dados
permitiram apresentar o estado da arte em pagamento por serviço ambiental.

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Análise Quantitativa Da Expressão Pagamento Por Serviço Ambiental No Período De 2005 A 2014

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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96
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 8
10.37423/201203408

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA


SUINOCULTURA

Giselle Mari Speck -


Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

Resumo: A suinocultura é uma atividade muito importante para o Brasil, particularmente na região
Sul, gerando emprego e renda para a população local. No entanto, pouco se conhece sobre os riscos
ocupacionais a que os trabalhadores estão expostos nestes ambientes. Diante deste contexto, o
estudo objetivou descrever as condições do ambiente de trabalho encontradas no setor de terminação
de suínos em uma unidade de produção familiar na região Oeste do Estado de Santa Catarina, através
da caracterização do setor, verificando suas condições de funcionamento, sendo ainda identificados
os riscos ocupacionais existentes, bem como a percepção dos agricultores em relação à atividade.
Foram realizadas observações in loco, entrevistas, questionários e avaliações posturais pelo método
REBA (Rapid Entire Body Assessment). As atividades realizadas envolvem esforço físico prolongado,
posturas inadequadas, cargas excessivas, além de movimentos repetitivos. Além disso, os resultados
apontam para a necessidade de mudanças no ambiente de trabalho para minimizar os riscos
ergonômicos em procedimentos de assistência e no ambiente laboral, além de treinamento,
conscientização de práticas seguras aos trabalhadores rurais.

Palavras-chave: Ergonomia, agricultura familiar, suinocultura, segurança do trabalho.

1
98
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

INTRODUÇÃO

A agricultura é um setor onde se concentra um grande volume de trabalhadores expostos a numerosos


riscos de acidentes e doenças do trabalho. O trabalho agrícola tem características particulares como a
multiplicidade de tarefas, a exigência de esforço físico no transcorrer da jornada de trabalho, e a
exposição a intempéries climáticas e também a necessidade da adoção de posturas de
constrangimento físico (ABRAHÃO et al., 2015). As associações destes fatores de risco ocupacionais
favorecem a perda da integridade da saúde e também levam a alterações no desempenho funcional
do agricultor, distúrbios posturais compensatórios e a curto ou longo prazo podem levar ao
afastamento do trabalho (Fathallah, 2010; SPECK et al., 2016). Estas características desfavoráveis do
trabalho agrícola são também abordadas por IIDA e BUARQUE (2016) que afirma que o trabalho
agrícola apresenta um conjunto de riscos ocupacionais de gravidades variáveis.

A inadequação dos equipamentos de proteção individual utilizados na agricultura é um fator relevante


na precarização das condições de trabalho. Segundo Osborne et al. (2012), a agricultura é o segmento
econômico com a mais alta prevalência de problemas osteomusculares. A movimentação manual de
cargas, a flexão acentuada de tronco com alta frequência e por longos períodos e o trabalho repetitivo
de membros superiores foram identificados por Fathallah (2010) como os fatores de risco prevalentes
no trabalho agrícola e geradores dos distúrbios osteomusculares.

Ainda no contexto de trabalho rural, uma atividade considerada de alto rico para a saúde do
trabalhador é a pecuária. Estudos internacionais apontam para riscos relacionados às lesões
ocasionadas pelos animais, à exposição dos trabalhadores à emissão de gases, ruídos e radiações, aos
fatores de sobrecarga física de trabalho, especialmente ligados aos processos que envolvem o manejo
dos animais (SAMPAIO et al., 2010).

A suinocultura é uma das atividades da agropecuária mais difundida e produzida no mundo.


Atualmente, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de produção e exportação mundial de carne
suína, com 3,88% da produção global, atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos. Os
Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul são os maiores produtores nacionais. Juntos,
os três Estados são responsáveis por 66% da produção nacional e quase que pela totalidade das
exportações de carne suína, sendo a região de maior destaque o Estado de Santa Catarina (EMBRAPA,
2019).

2
99
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

A maior parte da produção nacional é coordenada pela agroindústria de forma integrada. A produção
integrada compreende o fornecimento por parte da indústria processadora de insumos e tecnologia,
bem como métodos e procedimentos de trabalho aos cooperados, no caso os agricultores (EPAGRI,
2014).

A maioria das propriedades de suínos brasileiras apresentam o sistema de confinamento, onde o


ambiente interno que estes animais e trabalhadores estão inseridos é composto por fatores físicos,
químicos e biológicos, que incluem o ambiente aéreo, luz, ruído e componentes construtivos. Em
alguns casos, devido ao sistema de manejo adotado, estes componentes podem atingir níveis
prejudiciais, sendo, então, considerados como os principais fatores de risco para a saúde dos
tratadores (CARVALHO et al., 2011). Além disso, durante o manejo de um galpão, os trabalhadores
podem executar atividades que demandam força e geram posturas inadequadas. De acordo com IIDA
e BUARQUE (2016), posturas desfavoráveis provocam um aumento de fadiga no trabalhador e podem
ocasionar lesões musculoesqueléticas.

Existe uma constante preocupação em garantir que as instalações de suínos forneçam ambiente
saudável para os animais e trabalhadores, sendo este um fator agregador de valor aos produtos. Este
e outros fatores acima mencionados são alguns desafios apresentados a ergonomia em vista da
diversidade e pluralidade de tarefas que esta atividade apresenta. De acordo com Iida e Buarque
(2016), os objetivos práticos da ergonomia são a segurança, satisfação e o bem-estar dos
trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. Um trabalho de ergonomia deve
preocupar-se com a qualidade de vida do trabalhador, com o envelhecimento funcional precoce
relacionado a fatores estressantes.

Dentro deste contexto de melhorias, verifica-se que, atualmente, os novos galpões suínos instalados
no Brasil são dotados de sistemas de abastecimento de ração automáticos, que têm como objetivo
melhorar o processo de distribuição de ração de forma uniforme, reduzir o desperdício e minimizar o
esforço feito pelos tratadores. No entanto, existem ainda galpões antigos equipados com comedouros
manuais ou tubulares que demandam maior tempo para o preenchimento total e que exigem grande
esforço por parte dos trabalhadores, que necessitam, num período rápido, abastecer todos os
comedouros a partir do uso de baldes e tração de diversos carrinhos de mão cheios de ração que
chegam a pesar até 200 kg (CARVALHO et al., 2011). Assim, torna-se necessário estabelecer uma
abordagem planejada e específica, para a intervenção da inspeção do trabalho em diferentes
empresas ou setores da atividade econômica e a implantação de programas de ergonomia e

3
100
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

adequação das atividades de acordo com as normas de segurança do trabalho, de acordo com o
Ministério do Trabalho e Emprego.

Apesar da importância econômica da suinocultura no Brasil, principalmente na região Sul do país e do


crescimento constante desta atividade no meio rural, poucos são os estudos acerca da ergonomia e
condições de trabalho na agricultura familiar, evidenciando ainda mais a necessidade da realização de
um detalhado direcionamento de informações a serem aplicadas no setor. Diante disso, este estudo
objetivou descrever as condições do ambiente de trabalho encontradas no setor de terminação de
suínos em uma unidade de produção familiar, através da caracterização do setor, verificando suas
condições de funcionamento, sendo ainda identificados os riscos ocupacionais existentes, bem como
a percepção dos agricultores em relação à atividade.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi qualitativa do tipo exploratória pautada na pesquisa bibliográfica e em um estudo de


campo. O presente estudo foi realizado no município de Ponte Serrada (26° 52′ 19″ S, 52° 0′ 57″ O),
região Oeste do Estado de Santa Catarina. Esse estudo teve como enfoque os agricultores familiares
pertencentes aos grupos produtivos de pequeno porte do Estado de Santa Catarina que tivessem
como produção a suinocultura, além das formas de gestão destas propriedades, as etapas do ciclo de
trabalho e os fatores que representam riscos de acidentes e doenças ocupacionais para os agricultores.
Ao todo participaram desse estudo 17 trabalhadores, sendo todos visitados em suas propriedades.

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisas
Oncológicas (CEPON) sob o parecer nº 875.771. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) foi assinado por cada participante antes de responder aos questionários.

PROCESSO PRODUTIVO E CARACTERIZAÇÃO DO SETOR

As instalações para terminação de suínos possuem orientação leste-oeste, pé-direito de 3,30 m,


cobertura de telha metálica com 9% de inclinação, totalmente aberta nas laterais e formada por baias
com lâmina d´água no fundo. As dimensões dos galpões eram de 101,1 m x 16,4 m e 72,40 m x 14,8 m
e as baias tinham aproximadamente 6,25 m x 5,80 m. Os galpões alojavam em torno de 580 animais
com peso médio de 90 kg, e paisagismo circundante formado por grama. Os fechamentos laterais
eram de alvenaria, na altura de 1,30 m, com blocos vazados e com cortinas com fechamento duplo.
Em cada baia, havia um comedouro manual, um bebedouro tipo chupeta. O bebedouro do tipo
chupeta duplo era regulado conforme a altura dos animais. Cada galpão possuía duas baias auxiliares

4
101
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

(ou baias - hospital) para necessidade de algum tratamento específico dos animais. As propriedades
conseguem realizar 2,5 ciclos por ano, ou seja, os animais permanecem aproximadamente 140 dias
nesta fase de engorda. Com base nisso, percebe-se que, em relação ao número de suínos, a área dos
galpões mostrou-se satisfatória, tendo, inclusive, condições de comportar mais animais.

A rotina de trabalho inicia-se por volta das sete da manhã com o arraçoamento destes animais. A ração
fornecida é retirada de um silo com capacidade para 18 toneladas com auxilio de um carrinho e
disposta nas baias manualmente através de baldes (10 a 15L), três vezes ao dia, no início das
atividades, por volta das 7 h 30 min, no início da tarde, por volta das 13 h e ao final do dia, por volta
das 17 h 30 min. Duas vezes na semana os corredores destes galpões são varridos para a melhor
higienização do ambiente. Todos os dias, a partir das 13h, após a abertura do tampão para alimentação
dos animais, as baias são limpas com a utilização de uma vassoura larga a fim de reduzir as excretas
dos animais e o material resultante é depositado nas calhas externas laterais dos galpões (canal de
manejo de dejetos). Uma vez por semana estas calhas externas são higienizadas e o esterco resultante
disposto em um biodigestor. Este esterco é aproveitado nas lavouras de milho e outras culturas para
autoconsumo da propriedade. Toda a rotina da terminação de suínos dura aproximadamente 3 horas
ao dia subdividido em três períodos. As propriedades possuem também outras produções como a
bovinocultura de leite e a silagem para alimentação dos animais.

Anexo aos galpões existe um depósito onde ficam armazenados os insumos para a produção. Este
depósito é de madeira com uma área de aproximadamente 40 m2 composto de uma porta e uma
janela e compreende duas funções: a primeira é a produção de ração e o maquinário utilizado na
produção: misturador, peletizador, triturador e balança, e a segunda é a deposição de ferramentas
manuais utilizadas em todo o processo produtivo.

QUESTIONÁRIOS

A coleta de dados foi focada na identificação dos sintomas musculoesqueléticos associados ao


desenvolvimento do trabalho associado a suinocultura. Especificamente para a identificação das
queixas de dor e/ou desconforto corporal foi utilizado o questionário nórdico de sintomas
osteomusculares (QNSO) (Pinheiro; Trócoli, Carvalho, 2002). Este instrumento é composto por um
mapa corporal dividido em diversas regiões anatômicas (cervical, ombros, cotovelos, antebraços,
punhos/mãos/dedos, região dorsal, região lombar, quadris e coxas, joelhos, tornozelos/pés), devendo
o respondente relatar a ocorrência de sintomas osteomusculares (como dor, formigamento e

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102
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

dormência) nas diferentes regiões corporais. Para esse estudo foi solicitado aos trabalhadores à
referência dos sete dias anteriores à aplicação do instrumento considerando cada uma das regiões
corporais.

Além do questionário nórdico, foram aplicados questionários que continham perguntas a respeito de
condições sociodemográficas (idade, gênero, estado civil, escolaridade); história ocupacional; jornada
de trabalho; demanda física e psicossocial no trabalho; satisfação no trabalho e atividade física de
lazer. Para a análise das entrevistas utilizou-se técnicas de interpretação por meio da categorização
dos conteúdos, identificação de possíveis recorrências e análise dos significados (GUERRA, 2012).
Como ferramentas de apoio utilizou-se os softwares Excel e Léxica Survey (Sphinx Brasil), além do
Contador de Palavras e Processador Linguístico de Corpus (Insite). Com relação à técnica de
observação, foi realizada a observação in loco, descrevendo tudo o que foi visualizado durante as
visitas aos locais de trabalho. Em geral, as observações validam o resultado de outras técnicas e, por
meio da confrontação dessas informações, que foram evidenciados os pontos críticos do setor (MAIA
e RODRIGUES, 2012).

AVALIAÇÃO POSTURAL

Para as avaliações das posturas foi utilizada uma câmera de vídeo (SX500 IS Canon) para a captura de
imagem e filmagem das atividades dos agricultores. As análises indicadas no presente estudo enfocam
principalmente os pontos de maiores problemas na realização das atividades e que se associem de
alguma maneira as queixas relatadas pelos trabalhadores. A atividade de preenchimento de ração nos
comedouros manuais foi escolhida para as avaliações, pois apresentou mais queixas de acordo com
os agricultores, e que através das observações constatou-se que a atividade apresenta maior
probabilidade de ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos.

Para a identificação das atividades dos trabalhadores foi utilizada a análise da atividade proposta por
Guerín et al. (2001). Além disso, de acordo com os dados da literatura se buscou realizar associação
entre as atividades desenvolvidas, as queixas dos trabalhadores e os fatores fisiológicos enfrentados
na rotina de trabalho.

Para a análise postural foi utilizado o método Rapid Entire Boby Assessment (REBA) (HIGNETT e
McATAMNEY, 2000). Este método permite a análise conjunta das posições dos membros de todo o
corpo humano, a carga ou força, o tipo de aperto ou de atividade muscular desenvolvida pelo
trabalhador durante a atividade, apontando a avaliação final da postura. Segundo os autores, esta

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103
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

metodologia refere-se à interface homem-carga, relacionando os fatores de carga dinâmica e


estáticas, cuja finalidade é analisar postura perceptível aos riscos musculoesqueléticos, apresentando
similaridade com o método RULA, sendo dirigido às análises dos membros superiores com
movimentos repetitivos (HIGNETT e McATAMNEY, 2000).

VARIÁVEIS AMBIENTAIS

Para a coleta de dados do ambiente térmico, foi utilizado um termômetro digital de IBUTG (Índice de
Bulbo Úmido e Termômetro de Globo) da marca Wibget, modelo RSS-214 e para a medição dos níveis
de pressão sonora foi utilizado o decibelímetro Instrutherm DEC-460. O aparelho foi posicionado no
centro geométrico de cada galpão, na altura correspondente à média do tórax dos trabalhadores e
programado para registrar as temperaturas de bulbo seco, bulbo úmido e globo negro e foi calculado
de acordo como a equação adequada para avaliação de ambientes internos (com carga solar), de
acordo com o estabelecido pela NR-15, anexo no 03 (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As observações realizadas no campo permitiram conhecer e descrever alguns aspectos da organização


do trabalho na suinocultura, que se mostrou marcada pela gestão e diretrizes de qualidade de
produtividade da empresa integradora, e também pelas características da agricultura familiar,
atuando no modo pelo qual as atividades são organizadas no cotidiano de trabalho.

Os suinocultores não possuem vínculo trabalhista formal com a empresa integradora, portanto,
direitos e benefícios como férias, folgas, horas extras, proteção sindical, entre outros, não são
praticados. O pagamento pelo trabalho realizado ocorre no final do ciclo produtivo (a cada quatro
meses) e o resultado financeiro depende de indicadores de qualidade e de produtividade, tais como:
conversão alimentar, taxa de mortalidade e peso da carcaça do animal.

O processo produtivo na suinocultura é organizado em três etapas: Iniciação, Crechário e Terminação.


O grupo de Iniciação é responsável por gerar novos suínos e por entregá-los após o desmame ao grupo
de Crechários. Neste grupo, os animais permanecem em desenvolvimento até atingirem um peso
médio de 23 kg, momento no qual são encaminhados para o terceiro e último grupo. Na Terminação
os suínos engordam e ao final do ciclo são entregues à agroindústria. Os participantes desta pesquisa
eram todos Terminadores.

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104
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

Em relação as variáveis ambientais, o ruído do ambiente de trabalho nos galpões de terminação de


suínos, embora seja variável, não ultrapassou 85 dB(A) para uma jornada de trabalho. Na composição
da dose diária o nível de pressão sonora está abaixo do nível de ação, desobrigando a exigência do uso
de protetor auricular. Este estudo corrobora com Sampaio et al. (2010) onde os níveis de ruído gerados
pelos animais na terminação foi, em média, de 73 dB(A), estando de acordo com os limites de
tolerância estabelecido pela norma NR-15 (2011). Apesar disto, 29,41% dos agricultores relataram
incomodo com este parâmetro.

A temperatura do ambiente é um fator fundamental tanto para que o animal tenha alta taxa de ganho
de peso, pois não há desvio de energia para manter a temperatura corporal na zona de
termoneutralidade como para o trabalhador estar em situação de conforto térmico. O trabalho em
condições climáticas desfavoráveis produz fadiga, extenuação física e nervosa, diminuição do
rendimento, aumento nos erros e acidentes, além de expor o organismo a diversas enfermidades
dependendo do tempo de permanência no local de trabalho (IIDA e BUARQUE, 2016). Nos galpões
estudados os valores de IBUTG estiveram abaixo do limite máximo estabelecido pela Norma, o que
permite supor que os tratadores não estão expostos a esforço físico nesses galpões, durante essa
época do ano (outono) permanecendo em média 25,6oC corroborando com o encontrado por Sampaio
et al., (2010). Além disso, as características construtivas destas instalações e o uso menos frequente
da cortina para controle térmico proporcionam maior ventilação natural interna e consequentemente
menos irritação com os particulados oriundos da excreção destes animais e poeiras da ração para os
agricultores.

A análise do questionário sociodemográfico e ocupacional demonstrou de maneira geral que, os


indivíduos que trabalham na agricultura familiar nesta região representaram populações abaixo de 50
anos, ou seja, considerados jovens e em plena capacidade de realização de trabalho. No presente
estudo, a média de idade encontrada foi de 38,55 ± 12,83 anos para homens e 48,87 ± 12,49 anos para
mulheres. Quanto ao tempo de desempenho na atual atividade, 100% dos agricultores relataram
desempenhar a função desde os 9-10 anos de idade.

Ainda em relação ao perfil dos trabalhadores, ressalta-se que a maioria são casados (70,59%). Grande
parte das famílias entrevistadas possui apenas dois filhos. Isto reflete uma tendência nacional de
diminuição do número de filhos por família. Em relação ao grau de escolaridade, a maioria dos
agricultores apresentaram baixo grau de escolaridade (Ensino Fundamental Incompleto) (82,35%) e

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105
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

apenas três apresentaram Ensino Superior Incompleto (17,65%). Este estudo corrobora com Freitas e
Garcia (2012) em que os trabalhadores são em sua maioria casados e possuem baixa alfabetização.

Dos entrevistados, 35,29% praticavam alguma atividade física ou de lazer como futebol e corrida.
Somente 17,64% fazem uso do cigarro, evidenciando a tendência à diminuição de seu uso. Já 82,35%
dos entrevistados fazem uso de bebidas alcoólicas, principalmente nos finais de semana. Quando
questionados acerca de outras atividades profissionais, apenas uma agricultora relatou desempenhar
outra atividade, atuando como professora na região.

Quanto à carga horária diária nas atividades de trabalho constatou-se que 93,48% trabalham dez horas
ou mais diárias e que apenas 6,52% trabalham oito horas por dia nas atividades agrícolas. As famílias
que relataram trabalhar menos de dez horas, são as que possuem mais mão de obra na propriedade.
Esta mão de obra é oriunda de familiares, não existindo, portanto a contratação de funcionários
externos. A longa jornada de trabalho é resultado do trabalho na suinocultura junto às outras
atividades da agricultura como cuidados com gado de leite ou corte, avicultura, produção de
pastagens, cultivo de eucaliptos, cuidados da casa e trabalhos na lavoura. Estes dados corroboram
com os encontrados com trabalhadores da Turquia mostra que estes trabalhadores tem um maior
tempo de atividade de trabalho diária em média de 12,8 horas diárias, porém a maior parte do tempo
às mulheres se dedicam a lida com animais (BUDAKA, 2005). Muitos trabalhadores do meio rural
apresentam apenas pausas para o almoço e não consideram as pausas de trabalho para a recuperação
do sistema musculoesquelético (FERNANDES et al., 2014).

Ao serem questionados sobre a satisfação com o trabalho, grande parte dos agricultores entrevistados
(82,35%) relatou ser uma atividade pesada com elevada carga física de trabalho, porém considerarem
que a agricultura é muito desejada pelas vantagens que oferece (tranquilidade, baixo custo de vida
comparado ao da cidade, contato com a natureza, solidariedade entre os vizinhos, entre outros),
corroborando com o estudo de D'Souza, Karkada e Somayaji (2013).

Durante o acompanhamento das atividades constatou-se uma grande diversidade de tarefas fato
amplamente abordado pela literatura e apontado pelos autores como sendo uma das grandes
dificuldades na adequação das condições de trabalho ao trabalhador rural. Abrahão et al. (2015)
chamam a atenção para a grande variabilidade de cultivos; mas apontam a carência de apoio e suporte
técnico, a não adequação do ferramental e a falta de tecnologia adequada como um dos grandes
problemas do setor rural o que segundo este, os fatores mencionados direcionam os trabalhadores
agrícolas a trabalhar na base da tentativa e erro.

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106
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

Dos entrevistados, 47,05% mencionaram ter recebido algum treinamento por parte da empresa ou
assistência técnica em relação às atividades que atualmente desenvolvem. Segundo relatos dos
agricultores, os treinamentos se relacionam as boas práticas de manejo dos animais, à prevenção de
riscos de acidentes e doenças ocupacionais, ao manuseio de ferramentas e equipamentos e utilização
correta de equipamentos de segurança. Estes aspectos também foram identificados no estudo de
Speck et al. (2016) na avicultura e Guertler et al. (2016) e Speck et al. (2017) na suinocultura. Quando
questionados sobre o nível de percepção de riscos no ambiente de trabalho, 52,94% responderam ser
boa e apenas 11,76% definiram como regular. O restante dos entrevistados não soube responder a
este questionamento.

Sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), todos os trabalhadores visitados utilizam
botas de borracha antiderrapantes, luvas, chapéu e roupas de proteção (jaleco) para manejo dos
animais. Em relação ao uso de máquinas ou equipamentos que causam vibração, 58,82% dos
entrevistados relataram utilizar trator, colheitadeira, carretão, plantadeira, motosserra e roçadeira na
jornada de trabalho.

Em relação à segurança do trabalho, 70,59% disseram que já sofreram acidentes de trabalho do tipo
cortes com ferramentas e mordidas de animais. O trabalho com animais de grande porte foi
considerado um risco de acidente, visto que, se estes animais estiverem em situação de estresse ou
se houver falha no manejo, o agricultor pode estar em risco. Por isso, a Norma Regulamentadora 31
indica que, em todas as etapas dos processos de trabalhos com animais, devem ser disponibilizadas
aos trabalhadores informações sobre formas corretas e locais adequados de aproximação, contato e
imobilização (BRASIL, 2005).

De acordo com os dados do QNSO, observa-se que as maiores áreas de desconforto relatadas pelos
trabalhadores ombros, onde 64,71% dos entrevistados apresentaram desconforto nessas áreas, a
zona corporal seguinte com maior prevalência de desconforto foi à parte superior das costas
correspondendo a 35,29%, seguidas de quadril/coxas, parte inferior das costas e pescoço com 23,53%
de taxa de prevalência e por último as zonas tornozelo/pés e joelhos com 11,76%.

Durante a jornada de trabalho no setor de terminação de suínos, todas as atividades são realizadas
em pé, atingindo os membros inferiores, os quais suportam de 33 a 40% do peso do corpo humano. A
manutenção desta postura por longos períodos podem causar dentre outros problemas, dores e
varizes (IIDA e BUARQUE, 2016). Para Evangelista et al. (2012), o tempo de manutenção de uma
postura deve ser o mais breve possível, pois seus efeitos, eventualmente nocivos, dependem do tempo

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Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

durante o qual ela será mantida. Contudo, o mesmo autor salienta que a escolha da postura em pé
está justificada nos casos em que a tarefa exija operações frequentes em vários locais de trabalho,
fisicamente separados. Conforme a legislação vigente que trata das atividades da agricultura, a Norma
Regulamentadora NR-31 preconiza que que as atividades que forem realizadas necessariamente em
pé, devem ser garantidas pausas para descanso. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular
estática ou dinâmica devem ser incluídas pausas para descanso e outras medidas que preservem a
saúde do trabalhador (BRASIL, 2005).

Nos galpões das propriedades, o sistema de alimentação era manual, a carga física de trabalho foi
classificada como moderadamente pesada corroborando com Carvalho et al. (2011) e Evangelista et
al. (2012). Nestes galpões, os trabalhadores são responsáveis por abastecer os comedouros com o
auxílio de baldes de plásticos (10 a 15 litros) e carrinho próprio para carregar ração. Para realizar o
abastecimento dos comedouros manuais, os trabalhadores fazem uso de carrinhos que pesam em
média 200 kg.

Como a atividade de trabalho da fase de terminação na suinocultura envolve inúmeras posturas


(estáticas e dinâmicas), foram observadas e registradas as posturas executadas com maior frequência
por estes trabalhadores (postura do tronco, do pescoço, das pernas, dos ombros, do antebraço e dos
punhos), a carga/força que o trabalhador exercia em determinada postura, o fator determinante da
postura e a fase do trabalho conforme a Figura 1.

FIGURA 1: Atividades de limpeza das baías e arraçoamento.

Para análises mais detalhadas das atividades dos suinocultores, durante as tarefas, de arraçoamento
e limpeza das baias, foram obtidos os seguintes resultados, conforme a Tabela 1.

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108
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

Tabela 1: Categoria de ação em função do conjunto de posturas – REBA (entrevistas, questionários e


avaliações posturais pelo método REBA (Rapid Entire Body Assessment).

Atividade Pontuação e Nível de

Ação

Deslocamento do carrinho do silo até os galpões 9 – Risco alto

Levantamento e transporte de galões com ração para colocação nas 8 - Risco alto

baias 6 - Risco médio

Verificação da sanidade dos animais 6 - Risco médio

Limpeza das baias e canaletas externas 5 - Risco médio

Higienização dos equipamentos e utensílios

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Um importante potencializador da sobrecarga física de trabalho é a saída dos filhos de casa ou as


pequenas configurações familiares, que geram falta de mão de obra e também a ausência de um
sucesso para manter os negócios da família. A problemática da saída dos filhos de casa na agricultura
familiar também foi identificada em estudos anteriores (REED et al., 2012). Esta situação torna o
trabalho um processo mecanicamente estressante, envolvendo um alto custo energético, devido à
tensão contínua exercida sobre os músculos dos braços e das costas durante o transporte dos pesos.
Estas condições podem provocar fadiga, dores corporais, dentre outros, os quais podem acarretar
afastamento do trabalho por doenças ocupacionais, como a lombalgia (MAIA E RODRIGUES, 2012).
Tais observações confirmam que as atividades em propriedades de terminação de suínos são de
moderado risco visto que os agricultores possuem pausas através da realização de outras atividades,
ou seja, com alternância de posturas ao longo do dia.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos mostram a necessidade de mudanças no setor de terminação de suínos, de


forma a melhorar a relação homem x trabalho. A escassez de estudos brasileiros entre trabalhadores
familiares e a suinocultura reforça a necessidade de novos estudos acerca dos riscos ocupacionais
através da mensuração dos fatores ambientais como temperatura, ventilação, incidência de radiação

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109
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

solar, ruídos e vibrações dos equipamentos utilizados. Isso reforça a ideia de que os ambientes de
trabalho devem ser projetados pensando não só nas características técnicas relativas à construção,
mas também na atividade a ser realizada, no tempo de permanência no posto de trabalho e,
principalmente, nas características do trabalhador.

Para futuros estudos, sugere-se a utilização de metodologias que possam evidenciar a causalidade
entre exposições ocupacionais e problemas relacionados. Diante dos riscos ergonômicos identificados,
faz-se necessário a adoção de medidas que visem controlar os agentes que podem causar danos e
prejudicar a saúde dos trabalhadores e demais frequentadores dos setores das atividades suinícolas.

As medidas adotadas para a prevenção podem variar entre as mais simples, desde orientações sobre
saúde e segurança, sinalização em locais de risco e aquisição de melhores equipamentos de proteção
individual, até mudanças mais complexas, como alterações na estrutura física das instalações. Por fim,
sugere-se que seja realizado com os agricultores treinamentos periódicos sobre ergonomia, segurança
do trabalho, riscos, prevenção de incêndios, o que irá orientá-los sobre como exercer suas funções de
maneira que preservem sua saúde, formando, assim, pessoas mais conscientes e criando um ambiente
de trabalho mais seguro e saudável.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração das famílias do município de Ponte Serrada, mais


especificamente da linha Baía Baixa pelas preciosas informações e pelo tempo disponibilizado para as
entrevistas.

13
110
Avaliação Das Condições De Trabalho Na Suinocultura

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15
112
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 9
10.37423/201203414

PSA POR DESMATAMENTO EVITADO:


PROPOSTA DE ESTIMAÇÃO DO CUSTO DE
OPORTUNIDADE DO USO DO SOLO PARA
PECUÁRIA NO MATO GROSSO

Vanessa da Paixão Alves Universidade Federal do Pará

Abner Vilhena de Carvalho Universidade Federal do Oeste do Pará

Jarsen Luis Castro Guimarães Universidade Federal do Oeste do Pará

Juarez Bezerra Galvão Universidade Federal do Oeste do Pará

Mario Tanaka Filho Universidade Federal do Oeste do Pará

Ednéa do Nascimento Carvalho Universidade Federal do Oeste do Pará

Rodolfo Maduro Almeida Universidade Federal do Oeste do Pará

Joao Roberto Pinto Feitosa Universidade Federal do Oeste do Pará


PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Resumo: O mecanismo de redução de emissões provenientes do desmatamento e degradação


florestal (REDD) foi um tema que ganhou mais relevância a partir da Conferência das Nações Unidas
sobre Mudança Climática (COP 13), realizada em 2007 em Bali. A partir de então, este se tornou o
tema central das negociações entre as partes, que chegaram a um acordo sobre o REDD+ em 2010
realizado em Cancun (COP 16), onde o REDD passou a envolver a conservação, a administração
sustentável de florestas e o aumento do estoque de carbono. A ideia básica do REDD é recompensar
financeiramente os países dispostos e em condições de reduzir as emissões por desmatamento.
Cogita-se que sistemas estaduais estejam considerando outras opções para o financiamento de suas
ações de REDD+ pelo uso de incentivos positivos como tributos e pagamentos por serviços ambientais
(PSAs). No caso do Estado do Mato Grosso com altas taxas de desmatamento induzidas, sobretudo,
pela expansão da pecuária, a implementação de esquemas de PSAs como mecanismos financeiros
para incentivar a redução de emissões de carbono por desmatamento surge como uma possibilidade
de reverter esse quadro. Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho é estimar o custo do carbono
suficiente para compensar o custo de oportunidade do uso da terra em regiões onde ocorre uma
grande perda dos benefícios dos serviços ambientais devido ao desmatamento. O objetivo específico
é investigar se os níveis de preço da tonelada de carbono em termos de rentabilidade compensam a
preservação da floresta do ponto de vista privado em caso de implementação de PSA na região. Esta
estimativa toma por base o cenário recente da pecuária no estado do Mato Grosso, assim, é pertinente
o levantamento da rentabilidade desta atividade como uma proxy do custo de oportunidade do uso
da terra associado as emissões de carbono pelo desmatamento.

Palavras-chave: desmatamento, pagamento por serviços ambientais, expansão da pecuária.

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

1. INTRODUÇÃO

As políticas de incentivo fiscais do governo entre as décadas de 60 e 80 contribuíram para a expansão


da pecuária na Amazônia. Neste período a pecuária tornou-se uma atividade expressiva usada como
um instrumento de ocupação territorial que nasce das estratégias intervencionistas de
desenvolvimento regional criadas pelo Estado no contexto do planejamento nacional, onde havia o
intuito de modernização do setor produtivo do país através da substituição de importações. Para
tanto, o capital monopolista (externo e interno) tornou-se a base dos recursos usados pelo Estado
para promover essa modernização (SILVA, 2010). Em um primeiro momento a Amazônia será inserida
neste contexto e planejamento a nível regional, mas devido à desigualdade de formação econômica
brasileira. Assim, a política de modernização, a nível nacional, vai se concentrar nos setores os quais
havia uma pré-disposição para a modernização (atividades agrícolas localizadas no Centro-sul).

Em termos de um aspecto geopolítico norteador das políticas regionais nesse período, havia a intenção
de ocupação regional e, nesse sentido, a pecuária era uma das atividades prioritárias do governo. De
acordo com Silva (1982), apud Silva (2010), a “atividade pecuária pode ser interpretada como uma
expressão histórica de ocupação da fronteira”, visto que, a ocupação das terras na Amazônia
funcionava como uma garantia de reserva de valor anterior ao processo de produção com a finalidade
precípua da posse da propriedade privada da terra. Quanto a isso, a derrubada e queimada da mata
para a formação da pastagem e posterior ocupação de bovinos propiciava uma rápida e eficiente
forma de posse da terra (RIVERO; JAYME JR, 2008). Esses aspectos serviram de justificativa para o
acesso a estímulos governamentais, tais como incentivos fiscais e creditícios subsidiados, que
impulsionaram a propagação da bovinocultura na região. O principal instrumento de incentivo a
atividade foi a Lei nº 5.174, de 1966, a qual garantia à pessoas jurídicas brasileiras o desconto de até
5% do imposto de renda devido desde que seus investimentos se destinassem a projetos na Amazônia
Legal e aprovados pela Sudam.

Dos investimentos projetados para o setor pecuário, cerca de 90% do total concentravam- se nos
estados do Mato Grosso e do Pará, tendo o primeiro mais de 60% desses investimentos. Além das
vantagens obtidas com a existência de terras baratas e abundantes havia a clara a preferência
locacional dos proprietários de projetos pecuários por terras próximas aos novos sistemas rodoviários
inter-regionais (rodovias Belém-Brasília, Transamazônica e Santarém-Cuiabá). Por conta disso, a partir
da década de 1980 o que se observa é um deslocamento da pecuária das regiões Sul e Sudeste para a
região amazônica.

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Nos anos recentes, a pecuária bovina é a forma de uso do solo mais importante em todos os estados
da Amazônia, sendo responsável pelo aumento do desmatamento nos anos 2000. Essa atividade, em
geral, apresenta crescimento em todos esses estados, tornando a criação de gado a atividade
econômica de maior impacto em toda a região (BARRETO et al., 2005). Essa nova dinâmica do
desmatamento representa, consequentemente, maior emissão de gases de efeito estufa, uma vez
que, o carbono existente no ecossistema de pastagem, após dez anos de uso, é de apenas 10% do
encontrado na floresta original. Assim, cerca de 160 toneladas de carbono são liberadas para a
atmosfera quando há conversão de florestas em pastagens, contribuindo para o aquecimento global
e possíveis efeitos sobre a biodiversidade regional (UHL; BEZERRA; MARTINI, 1997).

Nesse sentido, a partir da revisão bibliográfica sobre a dinâmica de uso do solo na região do
levantamento de dados sobre a rentabilidade da pecuária bovina no estado do Mato Grosso, este
artigo tem por objetivo estimar o custo de oportunidade do uso da terra associado às emissões de
carbono pelo desmatamento provocado, sobretudo, pela expansão da pecuária. Através do principio
do custo de oportunidade assume-se a hipótese de que alternativas de preservação ambiental geram
benefícios que são pelo menos iguais aos benefícios (rendas) renunciados. Esta inferência é
fundamental para dar suporte à ações de REDD+ que visam a mitigação o desmatamento.

Além desta introdução, este artigo encontra-se dividido em 5 seções. A segunda seção trata da
dinâmica do desmatamento na Amazônia, enfatizando a papel do Estado do Mato Grosso nesse
processo, a terceira seção discorre a respeito do REDD e dos programas de Pagamentos por Serviços
Ambientais, a quarta seção trata do referencial teórico, descreve os procedimentos metodológicos e
os resultados alcançados com a pesquisa e por fim, a quinta e ultima seção faz as considerações finais
sobre a pesquisa aqui desenvolvida.

2. DINÂMICA DO DESMATAMENTO A PARTIR DO USO DO SOLO NA AMAZÔNIA

Segundo os dados do projeto TerraClass da Embrapa e Inpe gerados com base na área de
desflorestamento do projeto PRODES1 (Projeto de Mapeamento de Desflorestamento), para o ano de
2008, a área da Amazônia Legal destinada à pecuária bovina já chegava a 44,7 milhões de hectares,
atingindo em 2010 o valor de 45,9 milhões de hectares (INPE, 2010). Desse modo, os resultados do
mapeamento do TerraClass para o ano de 2010 indicam que as áreas de pastagens continuam com o
maior percentual nas áreas desflorestadas e incluem as classes: pasto limpo, pasto sujo, regeneração
com pasto e pasto com o solo exposto, ocupando 66% do total das áreas desflorestadas. A agricultura

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

anual2 4 é responsável por 5,4% do total de áreas desflorestadas (cerca de 4 milhões de hectares). Os
gráficos 1 a seguir resume os resultados referentes às frequências relativas dos diferentes usos e
coberturas da terra nos desflorestamentos para o ano de 2009.

Os resultados do projeto também apontam para um aumento das áreas de vegetação secundária
(áreas desflorestadas previamente que estão em fase de regeneração) de cerca de 22% (16,6 milhões
de hectares) em 2010, diferente dos 21% (15 milhões hectares) do total das áreas desflorestadas até
2008.

Gráfico 1 – Desflorestamento

Fonte: Embrapa/Inpe (2009). Elaborado pelos autores

O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou continuamente desde 1991 devido a vários fatores
econômicas. As mudanças observadas nas últimas duas décadas incluem um pico no desmatamento
em 1995, resultado do Plano Real, e uma queda em 2005, resultado de taxas de câmbio desfavoráveis
para exportações, combinado com a “operação Curupira” para conter a exploração de madeira ilegal
em Mato Grosso, junto com a criação de reservas e uma área interditada no Pará após o assassinato
de Dorothy Stang (FEARNSIDE, 2006).

O aumento do desmatamento observado no final de 2007, associado ao aumento dos preços do gado
e da soja, levou o governo a intensificar as medidas como intuito de reduzir o desmatamento, entre
elas estavam: o embargo de licenciamento de desmatamentos em 36 municípios com maior área
desmatada e com maiores taxas de desmatamento recentes (Decreto nº 6.321/07); o embargo de
áreas ilegalmente desmatadas, podendo haver sanções a compradores de produtos oriundos dessas

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

áreas como frigoríficos, madeireiras e processadoras de grãos (Instrução Normativa nº 01/2008 do


MMA); e a campanha de fiscalização “Operação Arco de Fogo” apreendeu bens em algumas
localidades, como 23 mil metros cúbicos de tora em Tailândia, no leste do Pará, e 3.046 cabeças de
gado na Estação Ecológica da Terra do Meio, no Pará (este gado foi leiloado em agosto de 2008), entre
outras medidas. Estas medidas demonstram ter sido eficazes, uma vez que, o desmatamento
apresentou queda de 6% no período de agosto de 2007 a julho de 2008, e a maior queda (71%) foi
observada em julho de 2008 (BARRETO; PEREIRA; ARIMA, 2008).

Sobre as taxas de desmatamento nos anos 2000, os dados detalhados pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) apontam uma média das estimativas das taxas anuais de desmatamento na
Amazônia no período de 2000 a 2012 de 14.970 Km² (INPE, 2013). Contudo, o desmatamento teve
queda significativa entre 2006 e 2012, com uma média de 9,2 mil Km². Em 2012 registrou-se a menor
taxa de desmatamento na Amazônia: 4,7 mil Km² (SANTOS; PEREIRA; VERISSÍMO, 2013), porém, em
2013, o desmatamento voltou a subir apresentando uma taxa de 5,8 mil Km², dessa forma, houve uma
interrupção da tendência de queda observada desde 2009 (Gráfico 2) (INPE, 2013).

Gráfico 2 - Taxa de Desmatamento Anual na Amazônia Legal

Fonte: Inpe/Prodes (2013), disponível em: http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php. Elaborado


pelos autores.

Entre os Estados da Amazônia Legal o desmatamento ocorre principalmente no Pará (41%), Mato
Grosso (20%) e Rondônia (16%) (Gráfico 3).

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Gráfico 3 - Taxa de Desmatamento Anual nos estados da Amazônia Legal

Fonte: Inpe/Prodes (2013), disponível em: http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php. Elaborado


pelos autores.

Nota-se que na região as atividades que mais desmatam são aquelas relacionadas com a pecuária, à
soja e as madeireiras (MARQUES, 2010). Acerca dos municípios situados nas novas fronteiras de
desmatamento e ocupação, observa-se que a exploração de madeira predatória e a pecuária extensiva
são as principais atividades econômicas presentes na região (CELENTANO; VERÍSSIMO, 2007).Acerca
da extensão das propriedades, a parte norte do Mato Grosso e muito das partes sul e leste do Pará
são predominantemente ocupadas por grandes fazendas de pecuária. Em regiões do Pará como em
Novo Repartimento, onde há focos de desmatamento, os pequenos agricultores apresentam-se como
os principais agentes de devastação. Assim como em Rondônia e ao longo da rodovia Transamazônica
no Pará e no Amazonas. No entanto, regionalmente, o que impera são as fazendas grandes e médias
(MARGULIS, 2003; FEARNSIDE, 2006).

Os anúncios de projetos de construção e melhoria de rodovias, tais como a reconstrução das rodovias
BR-163 (Cuiabá-Santarém) e a BR-319 (Manaus-Porto Velho), leva a uma corrida especulativa da posse
de terra, com “grileiros” que esperam lucrar com o rápido aumento do preço da terra assim que as
obras das rodovias estejam concluídas. Logo, o crescimento continuo de obras de infraestrutura de
transporte representa uma perspectiva de níveis mais altos de desmatamento futuro. Aliado a esses
fatores, a atividade pecuária de corte na Amazônia Oriental3 apresenta taxas de retorno, acima de
10%, superiores às da pecuária nas regiões tradicionais do país. Nesse sentido, a redução da perda de

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

floresta representa uma oportunidade, haja vista que, a maior parte do desmatamento é provocada
por pastagens pouco produtivas, desse modo, uma redução significativa na taxa de desmatamento
representaria um custo de oportunidade pequeno para a economia nacional (FEARNSIDE, 2006).

Nesse sentido, existe uma percepção equivocada, no que se refere aos agentes responsáveis pelo
desmatamento, na avaliação dos benefícios econômicos e sociais do processo, implicando em falhas
nas políticas públicas voltadas para a região. Durante algum tempo se disseminou a crença da
existência de uma correlação positiva muito forte entre pobreza e destruição ambiental, portanto, a
solução para a redução da pressão sobre a floresta seria afastar os “pobres” do acesso a ela. No
entanto, como afirma Wunder (2001, apud RIVERO; JAIME JR., 2008), está visão é simplista e estática.
Segundo o autor, existe uma pobreza histórica que não tem relação direta com a dinâmica atual de
destruição da floresta e a pobreza que combinada a outros fatores como o crescimento populacional
e a apropriação de terras contribuem para o auto-reforço da degradação florestal. Enfim, com base
nisso, as políticas públicas com intuito de mitigação do impacto ambiental/desmatamento na
Amazônia, principalmente nas sub-regiões que mais contribuem para esse problema, devem
reconhecer a existência de trade-offs no processo de desmatamento quanto à avaliação sobre os
custos e benefícios sociais proporcionadas pelas atividades econômicas como a pecuária extensiva.

2.1. A ATIVIDADE PECUÁRIA: HISTÓRICO, TENDÊNCIAS E IMPACTOS AMBIENTAIS

Segundo Mahar (1978), apud Silva (2010), existem três modelos de pecuária praticados na Amazônia,
dois modelos anteriores aos projetos da Sudam que são: (i) primeiro modelo denominado de
“superextensivo tradicional” presente nos estados do Amapá, do Roraima, do Amazonas e no nordeste
do Pará, praticado em áreas desfavoráveis à pecuária, mas que era incentivado pela demanda dos
mercados de Belém e Manaus, (ii) segundo modelo, “extensivo tradicional”, praticado nos estados do
Acre, de Rondônia, centro e norte do Pará, e partes do nordeste de Mato Grosso e Goiás, regiões mais
propicias a formação de pastagens artificiais e a criação do gado, e (iii) modelo “extensivo
modernizador”, o qual recaiu a maior parte dos projetos da Sudam, é adotado em fazendas localizadas
em geral no leste e sudeste do Pará, norte de Mato Grosso e Goiás, e oeste do Maranhão (Imperatriz).
Estas regiões tendem a especializar-se na produção de carne e usam tipos de gados (raças indianas,
principalmente Gir e Nelore) muito superiores aos outros dois primeiros modelos citados.

Piketty et al., (2004) aponta três fatores que contribuíram para que na Amazônia Oriental se
configurasse como um ambiente favorável a expansão da pecuária, especialmente no Pará e no Mato

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Grosso: (i) eficiência e adaptação do sistema forrageiro baseado na pastagem Brachiaria brizantha,
vulgarmente chamada de “braquiarão”. Esse tipo de pastagem possui uma adaptação singular às
características extensivas da pecuária da região; (ii) existência de financiamentos públicos, nas
décadas de 1970 e 1980, em particular via sistema Finam/Sudam e, a partir da década de 1990, por
recursos disponibilizados pelo Fundo Constitucional do Norte (FNO) do Basa; e (iii) a experiência
agropecuária do produtor que acredita na atividade para quebrar o ciclo da pobreza.

Sobre o investimento estatal através dos incentivos fiscais via Sudam e Basa, Marques (2010) afirma
que esses foram constantes até o início dos anos 1990 quando se observa uma queda desses
incentivos e a busca da grande produção agropecuária por outras fontes de financiamento. Uma
tendência que foi marcada pelo maior investimento do BDNES em frigoríficos brasileiros, visando
transformar o Brasil em campeão mundial de exportação de carne bovina. Em prol desses estímulos
ao crescimento dos grandes frigoríficos nacionais, em 2008, o banco destinou metade do total de
crédito industrial para às indústrias frigoríficas, cujas instalações apresentavam grande expansão nos
estados do Pará e do Mato Grosso.

O gado produzido na Amazônia é comercializado vivo ou como carne (em 2006, o boi vivo e a carne
somaram 10% do total da produção da região exportada para o exterior). Entre 2000 e 2006, o estado
do Mato Grosso foi o principal exportador, tendo maior peso no crescimento das exportações da
região, isso se deveu a um maior controle da febre aftosa nos principais polos produtores. Nesse
período, os principais importadores de carne foram os europeus e sul-americanos, que consumiram
respectivamente 54% e 35% do volume total de carne exportado, a União Européia comprou 48% do
volume total exportado (BARRETO; PEREIRA; ARIMA, 2008).

Com base nos dados do Anualpec4 (2012), estimou-se que a produção média de carne, entre 2007 e
2011, a partir do gado da Amazônia Legal fica em torno de 30% do total produzido no Brasil (em 2011,
17,8% da produção nacional de carne foi exportada e 82,7% foi consumida internamente). Os estados
com maior participação na produção de carne bovina na Amazônia são: o Mato Grosso (31%); Pará
(22%); Rondônia (18%) e Tocantins (12%)5 .

A política governamental de estímulo a esta produção foi acompanhada não apenas da expansão do
rebanho, mas, também da área aberta para pastagens e da própria degradação ambiental. É notório
afirmar que o aumento do rebanho está diretamente associado à degradação da floresta amazônica.
Dentro dessa lógica, a atividade tornou-se um dos principais condutores do desmatamento e

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

conversor de florestas em pastos, tornando-se a forma predominante de desmatamento na Amazônia


(RIVERO et al., 2009).

Além dos efeitos diretos e indiretos da atividade pecuária sobre o desmatamento, outros fatores são
sustentados por Fearnside (2006), como a lógica de desmatar para manter a posse da terra e defendê-
la de posseiros ou da expropriação do governo (como terra devoluta); as formas de desmatamento
que servem para fins de lavagem de dinheiro, particularmente quando os fundos são derivados de
fontes ilegais, como tráfico de drogas, corrupção, venda de áreas roubadas ou evasão de impostos; e
a perda da cobertura vegetal “oficial” induzida pelo governo, como é o caso das inundações causadas
pelas barragens hidroelétricas.

Atualmente, a pecuária faz parte da paisagem tanto nas áreas de colonização recente quanto nas mais
antigas configurando-se como o uso da terra preferido entre pequenos agricultores e grandes
proprietários (UHL; BEZERRA; MARTINI, 1997). Estudos revelam que, o rebanho cresceu 11%
anualmente desde 1997, atingindo o número de 33 milhões em 2004, esse crescimento é apontado
como causa do aumento do desmatamento observado nos anos de 2002, 2003 e 2004. Isso se deve a
fenômenos como o progresso na erradicação da febre aftosa, desvalorização do Real, surgimento da
doença da vaca louca na Europa e melhorias no sistema de produção de carne (NEPSTAD; STICKLER;
ALMEIDA, 2006).

Em 2012, o efetivo de rebanho bovino presente na Amazônia Legal atingiu 77,6 milhões de cabeças
(Gráfico 4) (IBGE, 2013). Em 2011, os maiores rebanhos estavam no Mato Grosso (29,3 milhões de
cabeças), Pará (18,3 milhões de cabeças) e Rondônia (12,2 milhões de cabeças). Esses Estados também
possuem as maiores rendas brutas da região em 2011, Mato Grosso com R$ 3,9 bilhões (31% da renda
total), Para com R$ 2,9 bilhões (22%) e Rondônia com R$ 2,3 bilhões (18%) (Tabela 1 e Gráfico 5).

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Gráfico 4 - Evolução do Efetivo de Rebanho Bovino na Amazônia Legal entre 1980 e 2012.

Fonte: IBGE (2013). Elaborado pelos autores.

Tabela 1 – Evolução da Renda Bruta da Pecuária de Corte na Amazônia entre os anos de 2000 e
2011

Renda bruta da pecuária de corte em milhões de reais


Estados 2000 2004 2007 2010 2011
Rondônia 1.008,22 1.511,56 1.464,36 2.151,03 2.257,08
Acre 179,19 203,11 208,36 326,19 430,20
Amazonas 259,45 271,65 231,47 522,06 517,86
Roraima 80,28 78,45 68,02 132,83 137,01
Pará 1.178,15 1.689,86 1.759,32 2.678,32 2.869,13
Amapá 47,73 24,00 14,34 23,59 29,91
Tocantins 1.059,09 1.073,17 907,81 1.280,73 1.552,63
Maranhão 551,53 665,77 634,30 1.056,65 1.151,93
Mato Grosso 3.273,81 3.396,42 2.784,18 3.719,82 3.944,53
Amazônia Legal 7.637,45 8.914,00 8.072,16 11.891,22 12.890,28
Fonte: ANUALPEC/FNP (2012). Elaborado pelos autores.
a
A renda bruta atualizada para valores monetários de 2011 pelo IGP-DI (FGV) é igual a produção de carne bovina
(arroba equivalente a carcaça) multiplicada pelo preço médio da arroba de boi gordo cobrado em onze regiões
representativas da Amazônia (municípios de Barra do Garça, Cáceres, Cuiabá e Colider no Estado de Mato
Grosso; Marabá, Redenção e Paragominas no Pará; Araguaína e Gurupi no Tocantins; Rondônia e Açailândia no
Maranhão.
b
Foram considerados apenas os municípios do Estado do Maranhão que pertencem a Amazônia Legal.

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
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Gráfico 5 – Porcentagem de Participação dos Estados da Amazônia na Renda Bruta da Pecuária de

Corte em 2011.

Fonte: ANUALPEC/FNP (2012). Elaborado pelos autores.

Apesar de o rebanho bovino ter uma maior importância em termos de efetivo animal na Amazônia,
outros rebanhos, como o suíno, o caprino e o ovino, também se destacam. O efetivo de rebanho suíno,
entre 1990 e 2011, apresentou uma queda de 7,8 milhões, em 1990, para 4,8 milhões em 2011, ou
seja, houve uma redução de 3 milhões de cabeças. Não obstante, o efetivo de rebanho de caprinos e
ovinos vem apresentando um crescimento notável desde 1996 (1 milhão de cabeças), atingindo 1,9
milhões em 2011 (SANTOS; PEREIRA; VERÍSSIMO, 2013).

3. DISCUSSÃO SOBRE REDD+ E PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

O mecanismo de redução de emissões provenientes do desmatamento e degradação florestal (REDD)


foi um tema que ganhou mais relevância a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança
Climática (COP 13), realizada em 2007 em Bali. A partir de então, este se tornou o tema central das
negociações entre as partes, que chegaram a um acordo REDD+ em 2010 realizado em Cancun (COP
16), onde o REDD passou a envolver a conservação, a administração sustentável de florestas e o
aumento do estoque de carbono.

A ideia básica do REDD é recompensar financeiramente os países dispostos e em condições de reduzir


as emissões por desmatamento. No Brasil, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, criado em 2008,
e a Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei n. 12.187 e Decreto n. 7.390/2010), aprovada em
2009 detalham ações e metas necessárias para cumprir o compromisso voluntário nacional de redução

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

de 36,1% a 38,9% das emissões de gases de efeito estufa. Um dos objetivos propostos pelo plano é a
redução sustentada das taxas de desmatamento na Amazônia, alcançando o desmatamento ilegal
zero, assim como a eliminação da perda líquida de cobertura vegetal. Para o futuro, a meta do governo
é reduzir 80% do desmatamento em relação à média observada do período de 1996 a 2005 até 2020.

A criação de um sistema nacional de REDD+ também deve levar em consideração o marco legal
nacional vigente, algumas dessas leis e políticas são imprescindíveis não apenas para a redução do
desmatamento, mas também para a promoção do uso sustentável dos recursos naturais na Amazônia.
Entre elas estão: o Código Florestal, Lei nº 4.771/1965; Terras indígenas, Título III do Estatuto do Índio,
Lei nº 6.0001/1973 e Art. 231 da Constituição Federal de 1988; Fundo Amazônia, Decreto nº
6.527/2008, etc (PAVAN; CENAMO, 2012).

Os estados mais avançados em níveis de regulamentação são Acre, Amazonas e Mato Grosso, com
legislações implementadas ou em construção. Os principais instrumentos técnicos previstos nos
marcos legais dos estados são: inventários florestais para quantificar o estoque de carbono presente
nas florestas; linha de base para REDD+ que visa estabelecer o cenário de referência para as reduções
de emissões estaduais, entre outros. Além desses instrumentos, são previstos o uso de ferramentas
de valoração de ativos ambientais que servem de incentivo para o uso sustentável de serviços
ambientais de modo geral.

A cerca dos instrumentos econômico-financeiros, os recursos do orçamento estadual, acordos


bilaterais e a geração de créditos de serviços ambientais/REDD+ são apontados, pela maioria dos
estados, como fontes no âmbito do setor público. Além disso, existem outras fontes potenciais como
royalties de empreendimentos hidrelétricos, minerários e petrolíferos. Esses incentivos permitiriam a
capitação de recursos estaduais e federais ligados à compensação econômica para ações do setor
florestal. No que tange ao setor privado, a maioria dos estados apontam como instrumentos
econômicos para potenciais estratégias de fomento, a geração de créditos de serviços ambientais e o
uso de incentivos positivos.

Atualmente, não existe um mercado compensatório para ações de REDD+ no contexto da UNFCCC. No
mercado voluntário de carbono, foram desenvolvidas metodologias para projetos ou programas
subnacionais por organizações independentes, como Verified Carbon Standard (VCS). Alguns estados
amazônicos pretendem participar de um Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) visando
ofertar créditos compensatórios a outros estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

Além desses, cogita-se que sistemas estaduais estejam considerando outras opções para o
financiamento de suas ações de REDD+ pelo uso de incentivos positivos como tributos e pagamentos
por serviços ambientais. Nos estados do Mato Grosso e Rondônia discutem a possibilidade de diminuir
a carga tributária de agentes sociais que adotem boas práticas ambientais. Outra iniciativa prevista
pelo estado do Amazonas é a desoneração de reserva legal por meio de pagamento por serviços
ambientais (PSAs) beneficiando proprietários de terras que apoiem projetos de serviços ambientais.

Os Pagamentos por Serviços Ambientais são mecanismos baseados no mercado que tem por
finalidade transformar valores externos e não comercializados em termos de serviços ambientais em
incentivos financeiros reais a moradores locais responsáveis pela provisão de tais serviços
(WÜNSCHER; ENGEL; WUNDER, 2008; ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008). Esses mecanismos além de
auxiliarem na preservação do meio ambiente contribuem para o desenvolvimento econômico, pois
são importantes na geração de renda aos seus beneficiários (FASIABEN et al., 2009).

Primeiramente, sobre a estrutura de negociação por transações voluntárias, o esquema de PSA


distingue-se de medidas de comando e controle. Desse modo, se pressupõe que os potenciais
provedores dos serviços ambientais tenham reais escolhas sobre o uso da terra (WUNDER, 2005). Do
outro lado da negociação, um comprador potencial pode ser qualquer pessoa física ou jurídica que
tenha disposição a pagar pelo serviço ambiental. Entre os possíveis pagadores estão às empresas
privadas, setor público e Organizações Não-Governamentais – ONGs nacionais e internacionais, entre
outros.

Outra forma de distinguir os tipos de compradores é: entre PSA privados, onde há um financiamento
direto pelos usuários do serviço e, através de PSA públicos, os quais há como mediador, ou melhor,
como comprador o Estado, representando os usuários de serviços ambientais (WUNDER et al., 2009;
FARIA, 2013). Um exemplo deste último é o que acontece em Costa Rica, um dos primeiros países a
implementar esquemas de PSA, o qual o governo é considerado o comprador principal, mesmo que
parte dos recursos venha do exterior. Neste caso, a transação é mediada por um fundo nacional.

Assim, existem duas formas pelas quais moradores locais podem se beneficiar através de esquemas
de PSA: (i) mediante a venda de serviços ambientais (benefícios diretos) e (ii) mediante impactos
positivos no meio ambiente ou na economia local (benefícios indiretos). Com relação ao segundo
critério, o serviço ambiental deve ser bem definido por meio de medidas (estoque de carbono em
toneladas) ou cobertura de uso do solo capaz de fornecer aquele serviço (florestas conservadas
fornecem água potável). A clareza na definição desses objetos de negociação depende do

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

conhecimento firmado em base científica e não em crenças populares a respeito dos mesmos. Dessa
maneira, uma fraca sustentação científica em relação aos serviços fornecidos em termos tangíveis
torna o esquema de PSA inconsistente, gerando dúvidas por parte dos compradores quanto à
racionalidade do sistema, podendo acarretar em abandono dos pagamentos pelos compradores.

Uma discussão a respeito das causas do desmatamento na Amazônia também deve ser abordada em
qualquer estudo sobre PSA, pois ela serve de base para justificar a criação dos mesmos. Outro aspecto
relevante a se pensar a respeito da eficiência de esquemas de PSA é se esta ação implica em um
aumento na provisão de um serviço ambiental em comparação com um cenário hipotético sem o PSA
(adicionalidade). A adicionalidade é uma questão que foi muito debatida no que tange aos status de
florestas em Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto, admitindo-se
apenas o reflorestamento e florestamento para a elegibilidade dos créditos de carbono, não incluído
florestas protegidas que desapareceriam sem os esquemas de PSA (WUNDER et al., 2009). Nesse
sentido, vários estudos vêm demonstrando a efetividade da criação de reservas para a redução de
desmatamento quando comparadas a outras áreas, porém a pouca capacidade de monitoramento e
enforcement nessas áreas abre espaço para a discussão sobre a viabilidade das estratégias de criação
de reservas para a conservação de florestas no longo prazo (NEPSTAD et al., 2009).

Por isso, é fundamental o estudo dos cenários de referência, admitindo as implicações da presença e
ausência dos esquemas de PSA na região. Os estudos sobre políticas baseadas em cenários que lidam
com incertezas atreladas aos custos, assim como aqueles relativos a impactos sociais e econômicos a
partir do gerenciamento de serviços ambientais são fundamentais para orientar melhores políticas
ambientais (BÖRNER; VOSTI, 2013). Esta tarefa torna-se um desafio para os elaboradores de propostas
de PSA (WUNDER et al., 2009).

4. INTERPRETAÇÃO TEÓRICA DO CUSTO SOCIAL DO DESMATAMENT

A questão ambiental foi tratada originalmente de duas maneiras distintas pela Economia Ambiental
Neoclássica: pela economia da poluição e pela economia dos recursos naturais. Os danos ambientais,
definidos por esta teoria como externalidades negativas, surgem da dicotomia de custos que faz com
que a quantidade efetiva de poluição seja maior que a quantidade socialmente ótima, em que os
benefícios líquidos da sociedade são máximos (MORAIS, 2009).

Nesse sentido, o valor econômico dos recursos ambientais geralmente não é observável no mercado
via sistema de preços capaz de refletir seu custo de oportunidade. Isso acontece por que a maioria dos

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PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
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ativos ambientais não tem substitutos e a inexistência de sinalização de “preços” para seus serviços
distorce a percepção dos agentes econômicos, induzindo as falhas de mercado que prejudicam a
alocação eficiente desses recursos, evidenciando uma “divergência entre os custos privados e sociais”
(PEARCE, 1976; MARQUES; COMUNE, 1995, p. 634; KHAN, 2005).

No entanto, os recursos ambientais têm atributos de consumo associados ao seu uso e à sua existência
que afetam tanto a produção de bens e serviços privados como diretamente o consumo dos
indivíduos. Desse modo, é comum na literatura a desagregação do valor econômico total do recurso
ambiental (VET) em valores de uso (VU) e de não-uso (VNU).

O valor de uso pode ser por sua vez, desagregado em: valor de uso direto (VUD), quando se utiliza
atualmente um recurso, por exemplo, na forma de extração, visitação ou outra atividade de produção
ou consumo direto; valor de uso indireto (VUI), quando o benefício atual do recurso deriva-se
indiretamente das funções ecossistêmicas e; valor de opção (VO), valor de usos diretos e indiretos que
poderão potencialmente existir em futuro próximo. O valor de não-uso (ou valor passivo) representa
o valor de existência (VE), dissociado do uso (embora represente consumo ambiental), ele vêm de uma
posição moral, cultural, ética ou altruísta relacionado aos direitos de existência de espécies não-
humanas ou preservação de outras riquezas naturais, independente de uso atual ou futuro para o
indivíduo. Assim, uma expressão para o valor econômico total (VET) seria a seguinte:

VET = (VUD + VUI + VO) + VE (1)

Com base nessa interpretação, como chama atenção Pearce (1998), danos ambientais a exemplo do
desmatamento existe a combinação de três “falhas econômicas”: falha de intervenção do governo,
falha no mercado local e falha no mercado global. Por esta ótica, entende-se que a alta rentabilidade
da atividade produtiva local está diretamente ligada à abertura de estradas, visto que, estas viabilizam
a exploração de novas terras, diminuindo os custos de conversão de florestas para outros usos, por
exemplo, para expansão da fronteira agrícola. Evidentemente, se estas atividades não fossem
rentáveis (do ponto de vista privado) as rodovias construídas não levariam ao aumento do
desmatamento. Portanto, como conclui Ferreira et. al. 2005, se a existência de áreas protegidas
funciona como um fator inibidor do desmatamento, a proximidade com as estradas tem uma relação
direta como o mesmo.

Nesse sentido, é correto afirmar que, apesar da infraestrutura rodoviária, além de outros subsídios ou
créditos do governo, tornar as atividades mais lucrativas elas exercem uma pressão ainda maior sobre
a perda de florestas, significando custos ambientais, medidos local, nacional e global, tão altos que os

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benefícios marginais privados não os compensam, implicando em perdas de bem-estar social as


pessoas de forma geral. Assim, apesar dos custos sociais do desmatamento envolver graus de
incertezas em função da dificuldade de mensuração dos dados, há inúmeras perdas em termos dos
chamados “serviços ambientais”, tais como: expansão de terras sujeita àdesertificação, destruição da
biodiversidade – o valor de existência da perda irrecuperável de espécies animais e vegetais e o
sequestro de carbono.

As preferências por benefícios ou por evitar perdas são baseadas nos valores que os consumidores
atribuem aos bens. A máxima disposição a pagar (DAP) pode ser considerada uma expressão desses
valores. Assim como, a mínima disposição a aceitar (DAA) é a quantia de dinheiro necessária para
compensar um indivíduo pela renúncia de um benefício ou por um custo sofrido, e esta reflete o valor
de tal benefício ou perda (MARKANDYA et al. 2002).

4.1 METODOLOGIA DE ESTIMAÇÃO DO CUSTO DE OPORTUNIDADE DO DESMATAMENTO

A rentabilidade corrente da pecuária bovina é calculada através dos fluxos monetários resultantes da
venda da produção pecuária menos os custos de produção, além da rentabilidade de capital baseada
no preço da terra do tipo pastagem. As receitas e custos da pecuária de corte foram obtidos através
dos dados publicados no Anuário Estatístico da Pecuária (ANUALPEC, 2004 - 2012) para os anos entre
2003 a 2011. Primeiramente, a receita bruta de produção da pecuária de corte foi calculada a partir
da multiplicação das toneladas equivalente a carcaça pelo preço médio de venda do boi em reais por
toneladas referentes aos municípios: Barra do Garças, Cáceres, Cuiabá e Colider, do estado do Mato
Grosso.

Os custos de produção são referentes aos sistemas de criação extensivo, intensivo e semi- intensivo
de gado da raça nelore. De posse dos dados, se obteve a receita líquida por hectare, considerando o
total de áreas de pastagem segundo a classificação de uso do solo definida pelo INPE (2010), somando
o valor estimado do preço do hectare de pastagem. A tabela 2 a seguir demonstra o resultado das
estimativas.

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Tabela 2. Estimativa da receita da pecuária no Estado do Mato Grosso (2003 – 2011)

Estimativa da Receita da Pecuária (R$/há) entre 2003 e 2011


Item 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Receita Líquida 2,09 1,63 1,20 1,05 0,78 2,56 1,36 1,61 1,89
Preço da terra 2.246,77 2.152,39 1.803,56 1.727,63 1.947,40 1.878,96 2.059,85 2.010,44 2.555,92
Total 2.248,86 2.154,02 1.804,76 1.728,68 1.948,18 1.881,52 2.061,22 2.012,05 2.557,81
Fonte: Elaborado pelos autores.

Para o cálculo do valor potencial monetário do sequestro de carbono, primeiramente, estimou-se o


estoque líquido da biomassa de carbono para o estado do Mato Grosso baseado no estudo de Saatchi
et al (2007), levando em conta as emissões de CO2 entre os anos 2003 e 2011 (INPE, 2013), por último,
multiplicou-se esses ao preço pago pela tonelada de carbono no mesmo período no mercado da
Chicago Climate Exchange – CCX (Bolsa do Clima de Chicago). As estimativas dos custos incorridos por
demandantes de crédito de carbono em termos do estoque líquido 6 8 de CO2 estimado para o estado
do Mato Grosso estão reunidos na tabela 3 a seguir.

Tabela 3. Estimativa do custo do carbono para o Estado do Mato Grosso (2003 – 2011)

Estimativas de estoque Custo do Carbono (R$/tCO2/ha)


Líquido de CO2 (t/há) 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
549,47 2.653,95 3.956,20 3.230,90 6.346,41 2.439,66 2.280,31 181,33 49,45 43,96
732,97 3.540,26 5.277,40 4.309,88 8.465,83 3.254,40 3.041,84 241,88 65,97 58,64
916,47 4.426,56 6.598,60 5.388,86 10.585,26 4.069,14 3.803,36 302,44 82,48 73,32
Fonte: Elaborado pelos autores.

A pesquisa fez o levantamento dos dados entre os anos 2003 e 2011 e verificou que a partir de 2008
o preço pago pelo crédito de carbono na Bolsa do Clima de Chicago diminuiu de R$ 4,15/tCO2 para R$
0,08. Essa queda nos preços pode ser explicada pela crise financeira internacional e pela expectativa
de inclusão de projetos de REDD no mercado regulatório (PEREITA et al, 2010).

Em contrapartida, a rentabilidade da pecuária mostrou-se superior ao custo do carbono calculado a


partir de 2009. De acordo com a série histórica, a rentabilidade da pecuária estimada aumentou de R$
1,8 mil/há em 2008 para R$ 2,5 mil em 2011. Enquanto que o custo do carbono estimado,
considerando o estoque líquido de 150tC/há, reduziu de R$ 2,2/ha em 2008 para cerca de R$ 43/há
em 2011.

No que tange apenas a receita líquida média de venda da pecuária, sem levar em conta a apreciação
da terra, entre 2003-2011 foi igual a R$ 1,5/há, o que sugere que o custo de oportunidade do

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desmatamento devido ao uso do solo para a atividade produtiva é bem pequeno se comparado ao
benefício monetário do estoque de carbono com a criação de programas de PSAs.

Por fim, após a mensuração dos valores calculou-se o Valor Presente Líquido (VPL) a fim de se avaliar
os mesmos em um horizonte de tempo de 40 anos a uma taxa de desconto social de 2% a.a,
considerando a taxa de crescimento do consumo per capita mundial nos anos 2000 segundo estudo
realizado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2011).

A escolha para esta taxa fundamenta-se no padrão de fórmula para o desconto do consumo futuro
igual a:

d = σ + μg (2)
Onde: d é a taxa de desconto social; σ é a taxa de preferência temporal pura; μ é a elasticidade da
função utilidade de consumo marginal e; g é a taxa de crescimento do consumo per capita.

Dessa forma, se a função utilidade é logarítmica, logo μ = 1. Além disso, assume-se que a taxa de
preferência tende a zero quando a sociedade prioriza o consumo das gerações futuras, então d=g.
Assim, a taxa de desconto será igual a taxa de crescimento do consumo per capita (PEARCE, 1993,
p.58). Dessa forma, sociedades que se importam mais com o crescimento do consumo atual imporão
valores maiores para a taxa de desconto, enquanto as economias preocupadas em investir hoje para
maior consumo no futuro tendem a impor valores menores para esta taxa (MARGULIS, 1990).

As estimativas se limitaram a algumas parcelas de valor para as quais foi possível a quantificação
monetária com base nos preços praticados via mercado. Com base nisso, assume-se que as rendas
provenientes da atividade produtiva estão associadas à derrubada da floresta, uma vez que esta é
apontada pela literatura como propulsora da externalidade ambiental mais devastadora na região que
é o desmatamento. Em contrapartida, o preço potencial pago pelo crédito de carbono estimado,
admitindo o estoque líquido de carbono presente na região, está associada à preservação da floresta
em caso de implementação de programas de PSAs.

Nesse sentido, as parcelas estimadas foram relativas ao valor de uso direto (VUD) associado ao uso do
solo como pastagem para a atividade pecuária que em termos de valor presente líquido (VPL) somam
R$ 103,7 mil, enquanto que o valor de uso indireto (VUI) associado à função ecossistêmica da floresta
como reservatório de carbono somam R$ 1,8 mil; R$ 2,4 mil e R$ 2,9 mil, respectivamente com base
nas estimativas do estoque líquido de carbono (549,47; 732,97 e 916,47 tC/há).

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O valor presente líquido corresponde ao somatório dos fluxos de rendimentos esperados para cada
período (n = 1, 2,..., 29), trazidos para valores do período zero, por uma taxa de desconto equivalente
a taxa 2%, somado aos valores estimados (rentabilidade da pecuária e custo do carbono) tomando o
ano de 2011 como o inicial e o ano 2040 como o final.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A máxima disposição a pagar e a mínima disposição a aceitar indicam em termos monetárias as


mudanças de bem-estar sofridas pelos consumidores dado o trade-off entre atividades tradicionais de
uso do solo que implicam em desmatamento e atividades alternativas de baixo impacto ambiental.
Com base nisso é correto afirmar que a máxima disposição a pagar (DAP) pelo dano causado pelo
desmatamento é pelo menos igual ao valor de uso direto (VUD) estimado para o uso da terra para a
pecuária, e a mínima disposição a aceitar (DAC) como compensação pelo dano sofrido é no máximo
igual ao valor de uso indireto (VUI) estimado para preço do estoque de carbono. Dito de outra forma,
pelo princípio de custo de oportunidade, assume-se a hipótese de que alternativas de preservação
ambiental geram benefícios que são pelo menos iguais aos benefícios renunciados.

De acordo com esta teoria, em linhas gerais, através dos resultados alcançados com a pesquisa, pode-
se concluir que a compensação financeira através da criação de esquemas de PSAs no estado do Mato
Grosso são altamente competitivos para altos índices de preços pagos pela tCO2 comercializados
internacionalmente para fins de mitigação do desmatamento provocado, sobretudo, por atividades
tradicionais de uso do solo na região de estudo. Os valores monetários estimados sugerem que
reduções nas taxas de desmatamento/emissões de CO2 na Amazônia representariam uma
oportunidade de ganhos de bem-estar que compensariam o custo de oportunidade do desmatamento
em virtude do atual modelo de dinâmica econômica, o qual acaba por se traduzir em perdas de bens
e serviços providos pela floresta, entre eles o serviço de sequestro de carbono.

19
132
PSA Por Desmatamento Evitado: Proposta De Estimação Do Custo De Oportunidade Do Uso Do Solo Para Pecuária No Mato
Grosso

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22
135
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 10
10.37423/201203415

RELAÇÕES ENTRE ESTILO DE VIDA E


QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: UM
ESTUDO COM OS PROFISSIONAIS TÉCNICOS
ADMINISTRATIVOS DO INSTITUTO FEDERAL
BAIANO

Claudiney André Leite Pereira INSTITUTO FEDERAL BAIANO


Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Resumo: Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Bahia e teve como objetivo investigar se existe relação entre o estilo de vida e a qualidade de vida no
trabalho dos profissionais técnicos administrativos do Instituto Federal Baiano do Campus Santa Inês.
Como instrumento de coleta de dados para a qualidade de vida no trabalho, utilizamos o questionário
de Walton que considera os seguintes itens na sua análise: compensação justa e adequada, condições
de trabalho seguras e saudáveis, uso e desenvolvimento das capacidades humanas, oportunidade de
crescimento e segurança, integração social na organização, constitucionalismo na organização,
trabalho e espaço total na vida do indivíduo e relevância social do trabalho. Já o modelo proposto por
Nahas (2000), na análise do perfil do Estilo de Vida Individual (PEVI), avalia as características
nutricionais, o controle do estresse, os níveis de atividade física habitual, os comportamentos
preventivos e a qualidade dos relacionamentos. Tais instrumentos foram aplicados, simultaneamente,
para 20 servidores técnico-administrativos, dos quais 75% tinham 0 a 5 anos de serviço; 20%, 11 a 15
anos de serviço; e 5%, 6 a 10 anos de serviço. Quanto ao tratamento estatístico, utilizamos o
coeficiente de correlação de Sperman, para avaliarmos a associação entre a QVT e o PEVI. Concluímos
que não existe uma correlação entre a QVT e o PEVI – resultado que foi de encontro a outros estudos
sobre este tema deixando clara a necessidade de um olhar cada vez mais ampliado quando se quer
discutir a satisfação do trabalhador no ambiente laboral.

Palavras-chave: estilo de vida, qualidade de vida, trabalho.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

1 INTRODUÇÃO

No que se refere ao termo Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ainda não existe um conceito definido.
Conforme nos indica Limongi-França (2009, p. 34): “tem-se constatado certa confusão sobre os
significados teóricos e técnicos do conceito de QVT, o que poderia conduzir, simplesmente, a outro
modismo nas empresas”.

Por sua vez, a QVT tem sido muito discutida nas últimas décadas. A origem disto é que o mercado de
trabalho exige, cada vez mais, do trabalhador uma ampla gama de conhecimentos que não se limitam
apenas à natureza específica da função exercida por este no seu posto de trabalho, na medida em que
também se dirige à sua habilidade cognitiva de se adequar, o máximo possível, às mudanças
tecnológicas do mundo moderno.

Quando pensamos em QVT, não podemos nos limitar apenas ao ambiente do trabalho, mas também
à vida deste trabalhador no seu cotidiano social. Eis por que, dentro desta perspectiva, achamos
importante considerar o estilo de vida do trabalhador.

Nahas (2000, p. 52) entende que estilo de vida tem uma grande influência na qualidade de vida do
indivíduo, ele elencou alguns elementos aos quais chamou de pentáculo do bem-estar, através do qual
considera que; as características nutricionais, o controle do estresse, os níveis de atividade física
habitual, os comportamentos preventivos e a qualidade dos relacionamentos servem de referência
para diagnosticarmos o perfil do estilo de vida individual (PEVI).

A nossa pesquisa irá tomar como referência, para análise da QVT, o questionário do Walton (1975),
autor que considera oito categorias conceituais como importantes para a QVT: compensação justa e
adequada; condições de trabalho seguras e saudáveis; uso e desenvolvimento das capacidades
humanas; oportunidade de crescimento e segurança; integração social na organização;
constitucionalismo na organização; trabalho e espaço total na vida do indivíduo; e relevância social do
trabalho.

No estudo do perfil do estilo de vida, utilizaremos o pentáculo do bem-estar de Nahas (2000). Para
tanto, aplicaremos um questionário por meio do qual investigaremos aspectos relevantes para a vida
do trabalhador fora do ambiente do trabalho.

Nossa pesquisa foi realizada no Campus Santa Inês, que faz parte do Instituto Federal Baiano. Campus
que está localizado no município de Santa Inês, cidade do interior baiano que fica a 290 km da capital
e conta com 10.5642 habitantes.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Temos como objetivo principal identificar se existe relação entre o estilo de vida e a qualidade de vida
no trabalho dos profissionais técnico-administrativos do Instituto Federal Baiano do Campus Santa
Inês, para, assim, podermos contribuir com a ampliação das discussões referentes à Qualidade de Vida
no Trabalho e fornecer mais um instrumento teórico de consulta para implantação de programas de
qualidade de vida no trabalho no IFBAIANO..

Com este estudo, pretendemos contribuir com as discussões sobre QVT, já que a motivação é pauta
de boa parte das reuniões e palestras das corporações neste início de século e por entendermos que
buscar a satisfação do trabalhador é condição sine qua non quando se pensa em produtividade.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 AMOSTRA

Este estudo envolveu 20 servidores técnico-administrativos do Campus Santa Inês, no total de 50


servidores, sendo que boa parte destes servidores têm pouco tempo de serviço na instituição (ver
Figura 1).

Figura-1 tempo de serviço dos servidores.

Entre os entrevistados, 75% têm 0 a 5 anos de serviço; 20%, 11 a 15 anos de serviço; e 5%, 6 a 10 anos
de serviço. Vale ressaltar que a maioria dos servidores é oriunda dos últimos concursos públicos, isso
porque o IFBAINO3 , por ser uma instituição em expansão, acabou gerando a necessidade de novas
contratações para o Campus Santa Inês. Estes servidores trabalham 08h00min por dia e têm, neste
grupo pesquisado, profissionais de diversas áreas, como: psicologia, medicina veterinária, pedagogia,

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

administração, auxiliar de escritório etc. Nesta instituição de ensino, os servidores são divididos em
duas classes: técnico-administrativos ou docentes.

2.2 INSTRUMENTOS

Como indicados da PEVI, utilizamos o questionário do Nahas, no qual ele trabalha com 5 categorias
para diagnosticar a qualidade e os cuidados que o indivíduo tem com sua saúde (ver Tabela 1). Para
cada categoria avaliada, há três perguntas que o entrevistado tem que responder e as respostas são
pontuadas de acordo com uma escala que vai de 0 a 3 (ver Tabela 2).

Tabela 2. Indicadores do questionário de PEVI.


0 Absolutamente não faz parte do seu estilo de vida
1 Às vezes corresponde ao seu comportamento
2 Quase sempre verdadeiro no seu comportamento
3 A afirmação é sempre verdadeira no seu dia a dia; faz parte do seu estilo de vida.
Fonte: Nahas, M.V. 2001, p56
Para avaliar a percepção dos entrevistados sobre a QVT, usamos o questionário do Walton, onde ele
estabelece oito categorias que envolvem o indivíduo no ambiente de trabalho (ver Tabela 3). Dentro
de cada categoria avaliada, existe um conjunto de perguntas que podem variar de 3 a 6 perguntas; nas
quais o indivíduo tem que indicar uma pontuação que pode variar de 1 a 7 (ver Tabela 4).

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Tabela 3. Critérios de QVT avaliados.


Critério. 1. Compensação adequada e justa
Critério 2. Condições de trabalho
Critério 3. Uso e desenvolvimento de capacidades.
Critério 4. Oportunidade de crescimento e segurança
Critério 5. Integração social na organização
Critério 6. Constitucionalismo
Critério 7. O trabalho e o espaço total de vida
Critério 8. Relevância social do trabalho na vida
Fonte: adaptado de Walton, 1973.
Tabela 4. Indicadores do questionário de QVT.
1 Totalmente Insatisfeito
2 Muito Insatisfeito
3 Insatisfeito
4 Moderadamente Satisfeito
5 Satisfeito
6 Muito Satisfeito
7 Totalmente Satisfeito.
Fonte: Walton, 1973.

2.3 PROCEDIMENTOS ÉTICOS.

Nosso projeto de pesquisa foi submetido à análise do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto
Mantenedor de Ensino Superior (CEP/IMES), tendo sido aprovado na íntegra em reunião plenária
realizada no dia 13 de dezembro de 2010, com o protocolo de nº. 3101.

2.4 COLETA DE DADOS.

Todos os questionários foram entregues, simultaneamente, aos servidores junto com uma carta que
explicava sobre os objetivos da pesquisa e o tema; além disso, acrescentamos o Termo de
Consentimento.

O recolhimento dos questionários aconteceu ao longo de duas semanas, tempo suficiente para que
fossem respondidos com calma. E, durante este período, ficamos à disposição dos entrevistados para
retirarmos qualquer dúvida.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

Para o tratamento estatístico, utilizamos o teste de shapiro wilk para diagnosticar se havia ou não
normalidade entre as variáveis, sendo encontrado um wcal de 0,94, ou seja, não há normalidade. Em
seguida utilizamos o coeficiente de correlação de Sperman , que pode variar entre -1 e 1; sendo que,
quanto mais próximo estiver destes extremos, maior será a associação entre as variáveis. O sinal
negativo da correlação significa que as variáveis variam em sentido contrário, isto é, as categorias mais
elevadas de uma variável estão associadas a categorias mais baixas da outra variável.5

3.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS SUJEITOS PESQUISADOS

O campus Santa Inês, conhecido como Escola Agrotécnica Federal de Santa Inês-BA, criada pela Lei nº.
8.670, é uma instituição que oferece Educação Básica, Profissional e Tecnológica. O campus conta com
uma área de 166 hectares e está situado no município de Santa Inês, na Região Sudoeste do estado da
Bahia, Território de Identidade do Vale do Jiquiriçá, inserida na Bacia Hidrográfica do Rio do Jiquiriçá,
localizada na rodovia BR 420, km 73.6 (ver foto 1 e 2)

Boa parte dos seus funcionários técnico-administrativos moram em região próxima à escola. Nas
cidades do interior, o custo de vida é mais baixo em relação aos grandes centros, mas esta instituição,
por ser uma unidade federal, tem seus salários com valores iguais a qualquer região do país.

Diante deste contexto, para entendermos como se dá a relação do homem – meio ambiente –
trabalho, do ponto de vista da QVT e do PEVI, faz-se necessário compreendermos o conceito de
representações sociais.

As representações sociais se manifestam em palavras, sentimentos e condutas


e se institucionalizam, portanto, podem e devem ser analisadas a partir da
compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais... Mesmo sabendo
que ela traduz um comportamento fragmentário e se limita a certos aspectos
da experiência existencial, freqüentemente contraditória, possui graus diversos
de claridade e de nitidez em relação à realidade. Fruto das contradições que
permeiam o dia-a-dia dos grupos sociais e sua expressão marca o entendimento
deles com seus pares, seus contrários e com as instituições. (MINAYO, 1995,
p.108).

Considerando que nós somos frutos das nossas relações e da nossa convivência, profissional,
emocional, afetiva e social com nossos pares, é claro que a percepção que teremos do nosso trabalho
e da nossa vida irá sofrer influências destes determinantes.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

A satisfação no ambiente de trabalho tem origem principalmente no sentido que ele traz para nós,
pois procuramos, a todo o momento, contemplar nossas ambições e perspectivas de vida no nosso
trabalho, na medida em que é lá onde passamos boa parte da juventude e das nossas horas do dia.

O trabalho deve ser realizado segundo as regras do dever e do saber viver em


sociedade e deveria ser inspirado pelos valores morais, éticos e espirituais.
Examinar as regras e os valores que subentendem as práticas sociais e
organizacionais que envolvem o trabalho pode parecer supérfluo para alguns,
mas isso é inevitável em um contexto de diversidade cultural e de promoção
das liberdades individuais. (MORIN, 2002, p. 75)

O trabalho não é somente ganhar a vida, representa para o individuo a possibilidade de realizações
materiais e pessoais, neste ambiente as pessoas procuram ser reconhecidas não apenas não apenas
por suas técnicas laborais, mas conviver em um ambiente agradável e de respeito mutuo. “Desse
ponto de vista não ter trabalho é um drama, mas ter um trabalho no qual as possibilidades de
investimento pessoal são exíguas não deixa de ter consequências graves” (Guérin, 2001, p.18).

Foto 1.

Foto da entrada principal da escola

Foto 2

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Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Foto área do Campus Santa Inês.

3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.2.1 PERFIL DO ESTILO DE VIDA INDIVIDUAL

De acordo com o perfil do estilo de vida dos servidores pesquisados, observamos que, no aspecto da
nutrição, eles apresentam, no limiar, o que foi considerada uma boa alimentação diária. Em relação à
atividade física, apresentaram-se no nível abaixo da expectativa para um indivíduo que se preocupa
com a sua forma física. E, já no comportamento preventivo, observamos que os entrevistados se
preocupam com algumas questões mais próximas de se desenvolver alguma doença e com possível
futuro comprometimento da saúde.

Estas características são típicas dos moradores de regiões pequenas do interior do país, onde a busca
por serviço médico é considerada de vital importância para a saúde, muito mais do que adotar uma
postura preventiva através de hábitos saudáveis como praticar uma atividade física regular e uma
alimentação equilibrada.

No que tange aos relacionamentos sociais, apresentaram-se no nível mais próximo do esperado e,
finalmente, em relação ao controle do estresse, sentimos que há alguns aspectos que precisam ser
controlados. Por se tratar de uma instituição federal o nível de exigência do trabalhar não segue
necessariamente os valores culturais da região, a natureza do trabalho é a mesma que em qualquer
cidade do país.

Na análise destes dados, devemos levar em consideração a região em que estas pessoas vivem. Como
já foi citado, por se tratar de um campus que se localiza em uma cidade pequena do interior baiano,
seus habitantes têm hábitos culturais peculiares a esta realidade, como o consumo excessivo de carne
vermelha, o hábito de jantar uma refeição bem calórica à noite e, geralmente, estas pessoas não têm
o costume de praticar exercícios regularmente.

Observamos que o comportamento preventivo foi o item que apresentou uma melhor pontuação,
talvez por associarem saúde só com ausência de doença e questões como pressão arterial, fumo,
álcool e colesterol alto já fazem parte do senso comum como fatores de risco para uma cardiopatia.

Quanto ao relacionamento social, vimos uma pontuação acima da média, o que só reforça o aspecto
acolhedor e solícito do homem do interior, as pessoas dão muito valor aos amigos e familiares. Já
quando se trata do controle do estresse, vimos que o resultado encontrado ficou abaixo do esperado,

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

o que, de certa forma, é uma surpresa já que a vida no interior é mais tranquila em relação aos grandes
centros. Talvez seja o nível de exigência do trabalho que, independentemente da região, requer tempo
determinado no cumprimento das tarefas (ver Figura 2).

Figura 2. Perfil do estilo de vida dos entrevistados

3.2.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Manter um grupo de pessoas trabalhando e motivadas sempre foi um grande problema para as
empresas. Conflitos pessoais, perspectivas diferentes de vida e relações interpessoais são alguns dos
fatores que contribuem para uma difícil relação do homem no ambiente laboral. Somando-se a isto,
há a competitividade no mercado.

O ambiente competitivo em que as empresas estão inseridas faz com que


muitos gestores não detenham suas atenções quanto ao ambiente de trabalho
oferecido a seus empregados e, consequentemente, não percebam os danos a
que estão expondo seus funcionários em seu meio de trabalho, ao meio
ambiente e às comunidades. ( ARAÚJO, SANTOS e MAFRA, 2006, p. 1):

O ambiente de trabalho mudou muito, tomando-se como referência o séc. XIX (período em que houve
a chamada Revolução Industrial), quando as fábricas se constituíam de ambientes insalubres e os
trabalhadores exerciam movimentos repetitivos e com poucas horas de descanso, muitas vezes por
um salário7 que só servia para a sua sobrevivência.

Um dos marcos teórico dessa época foi à publicação da Teoria da Administração Científica de Frederik
Taylor, onde fica implícita a mecanização do homem no trabalho.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Vale ressaltar que a característica mais marcante do Taylorismo foi o


parcelamento, a fragmentação do trabalho, ou seja, o homem não precisava
mais dominar ou conhecer toda a técnica de produção, pois cabia a ele somente
uma parte, um fragmento de todo processo produtivo. (FIGUEIREDO, 2005,
p.25)

Hoje os desafios são outros. Com o advento da tecnologia, o mundo, nos últimos 50 anos, teve uma
rápida evolução, o que acarretou um forte impacto no modo de produção das diversas áreas do
trabalho. Capacitação, capital humano, empreendedorismo são algumas das palavras que estão na
pauta do dia no mundo do trabalho e todas elas têm como foco habilitar o trabalhador para lidar com
as constantes mudanças no ambiente de trabalho.

O mundo do trabalho encontra-se, portanto, sob um processo de


reestruturação produtiva e organizacional, cujas inflexões apontam para o
esgotamento do modelo taylorista-fordista, estabelecendo novos cenários
produtivos. Essa reestruturação pode ser identificada pela transformação das
estruturas e estratégias empresariais, que alteram as formas de organização,
gestão e controle do trabalho, que resultam em novas formas de
competitividade, com repercussões no âmbito administrativo e operacional.
Elas se manifestam pelas alterações na natureza do trabalho, inclusive
aumentando sua densidade, o ritmo e a ampliação da jornada de trabalho; na
co-habitação da “velha” organização do trabalho com tecnologias
supostamente “modernizadoras”. (ABRAHÃO e PINHO, 2002, p.2)

Diante destas questões, observamos, com a nossa pesquisa, que os nossos entrevistados apresentam
um nível de satisfação acima da média dentro do que foi avaliado em nosso questionário (ver Figura
3).

Figura 3- Componentes avaliados da qualidade de vida no trabalho.

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Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Sabemos que a qualidade de vida no trabalho não reflete apenas a vida do indivíduo na empresa, pois,
como afirma Kanaane (2009, p.57): “A expressão qualidade de vida no trabalho pode ter várias
interpretações, que representam uma variável que não afirma nem nega as condições em que vivem
os empregados de uma empresa” [grifo do autor].

No Brasil, quando falamos em salários e condições de trabalho, geralmente o serviço público federal
é o que apresenta melhores perspectivas para o trabalhador. Aliado a isso, quando se mora em uma
cidade pequena, longe do estresse, da violência e das “tentações” de consumo (shopping, grandes
eventos, roupas) das grandes cidades, temos mais tranquilidade e absorvemos, com mais facilidade,
as adversidades do mundo do trabalho.

Para Guérin (2001, p. 73) “A relação entre o trabalho e a saúde não se interpreta unicamente através
dos efeitos diretos das solicitações enfrentadas durante o trabalho” o trabalhador se envolve
completamente na sua atividade onde estão presentes a sua personalidade e sua historia “Toda
pessoa é um complexo biopsicossocial, isto é, tem potencialidades biológicas, psicológicas e sociais
que respondem simultaneamente às condições de vida.” França (2009, p.28)

Talvez seja por isso que nossos entrevistados tendem a considerar a sua QVT de maneira
relativamente satisfatória, onde todos os elementos avaliados apresentaram valores acima da média.
(ver Figura 3).

3.2.3 RELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E ESTILO DE VIDA

A fim de verificarmos o nível de associação e variação entre a QVT e o PEVI, identificamos como
coeficiente de Sperman o valor equivalente a -0,13; o que nos leva a entender que não existe uma
relação direta entre as variáveis, ou seja, não podemos afirmar que quanto melhor o estilo de vida
maior será a QVT.

Observamos que, quando analisamos separadamente a QVT e o PEVI (ver figura 4), 85% dos servidores
consideram positiva a sua qualidade de vida no trabalho e 50% apresentam um estilo de vida positivo.

Fica claro que existe um nível bom de satisfação no trabalho, mas quanto ao estilo de vida ainda tem
alguns elementos que precisam ser melhorados.

Quando verificamos a QVT e o PEVI em conjunto, tivemos apenas 45% dos servidores apresentando
esses dados de forma positiva (ver Figura 4). Isto deixa claro que esta relação não é tão direta quanto
se imagina.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Figura 4 percepção dos entrevistados sobre o perfil do estilo de vida individual e a qualidade de
viada individual.

Individualmente poucos servidores apresentaram uma QVT negativa, apenas 15%, já em relação ao
estilo de vida este valor sobe para 50%.

Diante destes dados observamos que a QVT e PEVI são variáveis que não seguem necessariamente
uma lógica linear, alguns estudos podem apresentar outros valores, já que são temas amplos. Mas o
que consideramos de fundamental importância é que para entender o homem no ambiente de
trabalho devemos ter um olhar ampliando diante de todos os aspectos que compõem este sujeito na
sociedade.

4. CONCLUSÕES

Ao analisarmos a vida do indivíduo no trabalho, não podemos nos limitar apenas ao que acontece no
ambiente da sua atividade laboral, já que o corpo do homem no trabalho é reflexo de todo um
complexo que envolve a sua vida social, pessoal e profissional.

Talvez pelo fato deste estudo ter sido realizado em um município pequeno, onde o custo de vida é
baixo, e por estes servidores terem um salário que lhes permite um padrão de vida mais confortável,
eles estejam satisfeitos com o ambiente de trabalho.Não é por acaso que a Integração Social na
organização foi o item analisado na QVT (ver figura 3) que apresentou um melhor resultado. Além
disso, neste quesito, observamos igualdade de oportunidades, relacionamento e senso comunitário.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

Quanto ao estilo de vida, os itens nutrição, atividade física e controle do estresse foram os que
apresentaram o pior resultado, o que pode ser fruto de falta de informação sobre a importância destes
elementos para promoção da saúde, ou seja, cuidados preventivos que não se limitam apenas a visitas
ao médico.

Concluímos que para compreendermos o homem no trabalho, é necessária uma leitura mais ampla
sobre as questões que interagem com este indivíduo no seu lado social, pessoal e motivacional.

Podemos considerar que o estudo do homem no ambiente laboral é de fundamental importância não
só para produtividade como para a saúde do trabalhador e que este tema requer contribuição de mais
estudos, para que possamos, cada vez mais, entender melhor a complexidade que é hoje o mundo do
trabalho. O nosso desafio é buscar elementos que promovam ao trabalhador mais motivação com sua
atividade profissional, afinal passaremos os melhores anos das nossas vidas no local de trabalho.

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Relações Entre Estilo De Vida E Qualidade De Vida No Trabalho: Um Estudo Com Os Profissionais Técnicos Administrativos Do
Instituto Federal Baiano – Campus Santa Inês

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trabalhador docente: associação entre estilo de vida e qualidade de vida no trabalho de professores
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WALTON, R. E. Quality of working life: what is it? Slow Management Review, v.15, n.1, p. 11-21, 1973.

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Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 11
10.37423/201203417

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE TERMISTORES


COM COEFICIENTE DE TEMPERATURA
NEGATIVO A BASE DE CO3O4 E ESTIMAÇÃO DAS
CURVAS DC VIA REDE NEURAL

Italo Gusmão Fernandes Instituto Federal do Maranhão

Lucius Vinicius Rocha Machado Instituto Federal da Paraíba

Lucilene Ferreira Mouzinho Instituto Federal do Maranhão

Eliude Trovão Moraes Instituto Federal do Maranhão

Ronaldo Ribeiro Correa Instituto Federal do Maranhão


Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

Resumo: O Termistor com coeficiente negativo de temperatura NTC foi processado por um moinho Spex,
variando-se a concentração de Al2O3w nos óxidos, calcinada a 1100 °C para formação das fases desejadas, depois
compactada a 120 MPa em moldes de 10 mm2 de diâmetro e espessura 3 mm, sinterizada a 1200 °C. As fases
foram identificadas por meio da técnica de difração de raios X. Análises de espectroscopia por energia dispersiva
EDS foram feitas, para verificação qualitativa da composição química das amostras. E por meio de uma
caracterização elétrica de forma indireta, obteve-se as curvas DC dos NTC, com resistividade variando de 1016
Ω.cm a 5150 Ω.cm, a sensibilidade β ficou no intervalo de 1560 K a 1679 K e a energia de ativação Ea no intervalo
de 0,13 eV a 0,15 eV. Uma estimação das curvas DC do NTC foi realizada via Rede Neural com um erro máximo
de 1%.

Palavras–chave: Cerâmicas Avançadas, Rede Neural, Termistores NTC.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

1. INTRODUÇÃO

As cerâmicas eletrônicas tipo NTC são largamente utilizadas, para medição de temperatura ou como elemento
de controle nos eletroeletrônicos.

Os termistores do tipo NTC apresentam a diminuição da resistência elétrica com o aumento da temperatura de
forma exponencial. Estas cerâmicas são sintetizadas com materiais classificados como semicondutores do tipo
óxidos metálicos ou sulfetos (Scarrt,1960). As composições típicas de óxidos são: óxidos de cobalto, óxidos de
níquel, óxidos de ferro e óxidos de manganês que apresentam uma estrutura do tipo espinélio. A fórmula típica
do espinélio é AB2O4, onde os cátions do elemento A preenchem os interstícios do sitio A com forma tetraédrica,
enquanto que os cátions do elemento B preenchem os sítios B com forma octaédrica (Willian,2002). A
condutividade nesta estrutura é interpretada como saltos de portadores dentro dos sítios disponíveis, chamado
de hopping (Hrovat et al.,2006). Pode-se também apresentar a forma do espinélio invertido, onde todos os
cátions do elemento A mais a metade dos cátions do elemento B ocupam o sítio octaédrico, enquanto a outra
metade dos cátions do elemento B ocupa o sítio tetraédrico (Shackelford, 2008).

Segundo BRAGA, as redes neuronais são sistemas paralelos distribuídos compostos por unidades de
processamento simples (nodos) que calculam determinadas funções matemáticas (não- lineares). Já em HAYKIN,
tem-se que as redes neurais são máquinas projetadas para modelar a maneira como o cérebro realiza uma tarefa
particular ou função de interesse; a rede é normalmente implementada utilizando-se componentes eletrônicos
ou é simulada por programação em um computador digital. O uso das redes neurais oferece as seguintes
propriedades úteis e capacidades: não-linearidade, mapeamento de E/S, adaptabilidade, resposta a evidência,
informação contextual, tolerância a falhas, implementação em VLSI, uniformidade de análise e projeto e analogia
neurobiológica.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Neste trabalho, a cerâmica eletronica foi processada: por um moinho Spex, variando-se a
concentração de Al2O3 nos óxidos, conforme a seguinte estequiometria NiCo3Al2xO(3x+5) onde x
variou nos valores de x= 0,0; 0,6 e 1,0 denominadas A ,B e C, calcinada a 1100 °C para formação das
fases desejadas, depois compactada a 120 MPa em moldes de 10 mm2 de diâmetro e espessura 3 mm
e sinterizada a 1200 °C num forno resistivo, Linn Elektro Therm com um patamar de 4 h, com razão de
aquecimento de 10 °C/min. As fases foram identificadas por meio da técnica de difração de raios X
que foram feitas em um difratômetro, Rigaku Rint 2000 com anodo rotatório de Cu. Análises de
espectroscopia por energia dispersiva de raios X, EDS, foram feitas nas pastilhas fraturadas, para

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

verificação qualitativa da composição química das amostras que foram previamente recoberta com
uma camada fina de carbono, para fornecer um caminho condutor sobre a amostra. O instrumento
utilizado nestas análises foi o Field Emission Scanning Electron Microscope, modelo: JSM-7500F marca
JEOL. E por meio de uma caracterização elétrica em corrente contínua de forma indireta foram obtidas
as curvas DC dos NTC, esta caracterização foi realizada com a utilização de uma fonte de corrente
constante, montada no laboratório conforme a Figura 1. Mediu-se a diferença de potencial da amostra
em relação a temperatura por meio de um forno resistivo, INTI FTR – 1100 com patamar de 10 min. e
taxa de aquecimento 10 °C/min. para o levantamento das curvas de resistividades entre 25 °C a 200
°C.

Figura 1 - Diagrama esquemático da fonte de corrente constante aplicada a um termistor R(T).

A diferença de potencial (ddp) foi medida com um multímetro digital da Homis Controle e
Instrumentação Ltda. e com a utilização das equações (1), (2) e (3), foram obtidas as resistividades de
cada amostra.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

A rede neural, Figura 2, foi utilizada para estimação das curvas do NTC, com a topologia back
propagation, onde os pesos foram auto ajustados, para a obtenção da curva real do termistor.

Figura 2 - Fluxograma do algoritimo de caracterização por RNA do NTC.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 3 tem-se os difratogramas das amostras A, B e C

Figura 3- Difratogamas das amostras A (azul), B (vermelho) e C (preto) calcinada a 1100 °C.

Como todos os difratogramas ilustrados na Figura 3 têm o mesmo comportamento, observa-se a


formação das fases espinélios, e das fases NiO e CoO, para todas as amostras. Estes espinélios
formados podem ter as seguintes configurações NiCo2O4, CoCoAl2O4, e NiAlCoO4. Nas Figuras 4-6 têm-
se as análises de EDS desta composição, grãos típicos das amostras foram escolhidos aleatoriamente.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

Figura 4 - Análise por EDS da amostra A sinterizada a1200 °C no ponto um.

Figura 5 - Análise por EDS da amostra B sinterizada a1200 °C no ponto dois. .

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

Figura 6 - Análise por EDS da amostra C sinterizada a1200 °C no ponto um.

Pode-se verificar no ponto um da Figura 4, no ponto dois da Figura 5 e no ponto um da Figura 6, os


elementos químicos Co, Ni, e O; Co, Ni, Al e O; e Co, Al e O, respectivamente, vindo a corroborar com
o difratrograma que sugeriu a formação de fases do tipo espinélios com estes elementos químicos.

Nas Figuras 7-9 tem-se as curvas das resistividades elétrica das amostras A, B e C medida de forma
indireta, bem como, as curvas estimadas via rede neural para as mesmas amostras.

Figura 7 – Resistividade elétrica em função da temperatura para a amostra A sinterizada a 1200 °C.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

Figura 8 - Resistividade elétrica em função da temperatura para a amostra B sinterizada a 1200 °C.

Figura 9 -Resistividade elétrica em função da temperatura para a amostra C sinterizada a 1200 °C.

Analisando estas curvas, verifica-se que o comportamento semicondutor foi verificado em todas as
amostras sinterizadas a 1200 °C, e que a rede neural estimou os parâmetros da equação (C) com
aproximação de 1%, bem como, corrigiu alguns dados medidos erroneamente, conforme comparação
das curvas.

Na Tabela 1 têm-se os valores da resistividade, da sensibilidade β e da energia de ativação para estas


cerâmicas semicondutoras.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

Tabela 1 valores da resistividade, sensibilidade β e da energia de ativação E a obtidos para as amostras


sinterizada a 1200 °C.

Baseados nos valores lidos na Tabela 1, verifica-se que com o aumento de Al2O3 nas composições, os
valores das resistividades aumentam e que as energias de ativação ficaram dentro do intervalo 0,01
eV a 0,4 eV, indicando que a condução nas cerâmicas semicondutoras com comportamento termistor,
se deu predominantemente por hopping . Já os valores de _ ficaram no limite inferior da faixa do _
aceito para estas cerâmicas com características termistoras.

4. CONCLUSÕES

As análises dos difratogramas comprovaram o surgimento das novas fases, que apareceram na
microestrutura e foram corroboradas por meio do EDS, três fases com a estrutura do espinélio foram
identificadas, CoNiCoO4,CoCoAlO4 e NiAlCoO4.

Verificou-se nas micrografias eletrônicas por emissão de campo que com aumento de Al2O3 fez com
que os tamanhos médios dos grãos diminuíssem, influenciando diretamente nas propriedades
elétricas das amostras, sugerindo que a condução foi feita pelos grãos.

Os dados da Tabela 1 comprovaram o comportamento termistor das amostras, pela avaliação do β


obtido, bem como do processo de condução, que foi estabelecido para as cerâmicas semicondutoras,
através dos valores da energia de ativação Ea, estas conduções baseadas no hopping foi constatadas
pelos valores das energias de ativação, que se encontraram entre 0,13 eV e 0,15 eV.

Todas as amostras tiveram comportamento de cerâmica semicondutora do tipo Termistor NTC e suas
propriedades elétricas foram influenciadas tanto, micro estruturalmente, quanto estruturalmente.
Nas figuras 7-9 confirma-se a proximidade entre as curvas reais (RNA) e medidas, o que prova a
veracidade do NTC.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos ao CNPq, ao Instituto Federal de Educação, ciência e Tecnologia do Maranhão-


Campus Monte Castelo, Departamento de Eletro Eletronica.

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Síntese E Caracterização De Termistores Com Coeficiente De Temperatura Negativo A Base De Co3o4 E Estimação Das Curvas DC
Via Rede Neural

REFERÊNCIAS

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162
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 12
10.37423/201203427

DETERMINAÇÃO DA PREVALÊNCIA
PARASITOLÓGICA EM EQUINOS DA RAÇA
CRIOULO CRIADOS EM PASTAGENS NO ESTADO
DE TOCANTINS

Clauber Rosanova Instituto Federal de Tocantins

Geovanne Ferreira Rebouças Instituto Federal de Mato Grosso/


Universidade Federal de Goiás

Walter Augusto dos Santos Marinho Instituto Federal de Mato Grosso/


Universidade Federal de Mato Grosso

Paulo Vitor Divino Xavier de Freitas Universidade Estadual de Goiás/


Universidade Federal de Goiás

Douglas Messias Lamounier Camargos Rezende Universidade Federal de Goiás

Marilia Gomes Ismar Universidade Federal de Goiás

Mírian das Mercês Pereira da Silva Faculdade Católica de Tocantins

Daniela Barbosa de Macedo Instituto Federal de Tocantins


Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

Resumo: O cavalo apresenta papel de destaque na história da humanidade, entretanto, por vezes,
esses equinos são manejados sem assistência técnica adequada, sofrendo com diversos problemas,
entre eles as parasitoses. Atualmente é grande a preocupação dos profissionais de saúde animal no
controle de enfermidades parasitárias, dentre elas verminoses que acometem os equinos. Os cavalos
Crioulos têm como características a rusticidade, devido à seleção natural no campo, a funcionalidade,
a docilidade, vivacidade e a coragem, características selecionadas durante décadas para melhorar o
trabalho na pecuária. Foram utilizados 30 animais neste estudo, seu escore corporal e outros
parâmetros foram analisados, assim como a contagem de ovos de parasitas de amostra fecal. Para a
coleta das fezes dos animais, precedeu-se a contagem de ovos por grama (OPG) pelo método de
McMaster. Foram determinadas 100% de infecção nos animais, portanto, a ausência de ovos não foi
encontrada em nenhuma amostra. Ovos de estrongilideos foram encontrados em 95% dos animais
contaminados, sempre associados aos trichostrongilídeos. Essa condição pode ser causada pelo
péssimo manejo nutricional e a falta de um programa de controle estratégico a que esses animais não
são submetidos. Necessita-se, urgentemente de melhorias no manejo sanitário e de programas de
controle parasitário para esses animais.

Palavras–chave: cavalos, helmintos, parasitas, verminose.

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Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

1. INTRODUÇÃO

Atualmente é grande a preocupação dos profissionais de saúde animal no controle de enfermidades


parasitárias, dentre elas verminoses que acometem os equinos. Esta espécie possui inúmeros
parasitos que estão presentes nas pastagens praticamente o ano todo e mesmo com um trabalho
preventivo, muitos cavalos são infectados, tornando-se um potencial disseminador destes vermes,
principalmente se a infestação for assintomática (FOZ FILHO, 1999).

As infecções parasitárias expõem os equinos a uma grande diversidade de agentes etiológicos,


dificilmente ocorrendo mono infecções. Os principais parasitas de equídeos são os estrôngilos
(Strongylus vulgaris, S. equinus e S. edentatus), cyathostominos, Parascaris equorum, Strongyloides
westeri, Trichostrongylus axei e Oxyuris equi, (MOLENTO, 2005).

Segundo Ogbourne (1978), as doenças parasitárias podem prejudicar o rendimento dos cavalos visto
que os parasitas competem pelo alimento, causam irritação, hemorragias intestinais, quadros
anêmicos, transmissão de doenças, cólica e outros danos à saúde, apresentando maior severidade,
conforme maior grau de infecção do animal. Entretanto, mesmo infecções leves podem afetar o
desenvolvimento e desempenho dos cavalos. Os tipos de manejos e os diferentes ambientes de
criação dos equinos favorecem a grande incidência de infecções parasitárias, já nas primeiras semanas
de vida.

A fauna parasitária é vasta e compreende várias famílias/gêneros distintas, entre elas: os pequenos
estrôngilos ou cyathostominos: Cyathostomum spp., Cylicostephanus spp., Cylicostephanus spp., os
grandes estrôngilos: Strongylus vulgaris, S. equinus, S. edentatus e ainda, Parascaris equorum, Oxyuris
equi, Strongyloides westeri, Trichostrongylus axei, Gasterophilus spp., Habronema spp., Dictyocaulus
arnfield, Anoplocephala spp (MOLENTO, 2005). Conforme Barbosa et al. (2001) os cyathostominos são
os parasitas mais prevalentes em animais jovens (12 a 14 meses) e adultos (acima de 60 meses).
Entretanto a distribuição das espécies tem grande variação nestes faixas etárias. Strongylus ssp é
considerado um dos helmintos mais patogênicos para equinos, principalmente na sua forma imatura
em decorrência das lesões que determina no seu processo de migrações pelo sistema arterial
mesentérico responsáveis por severos casos de cólicas. O Oxyuris equi é um parasito do intestino
grosso de equinos. As fêmeas migram até o ânus do hospedeiro na época da ovipostura, soltam um
fluído viscoso acinzentado contendo grande número de ovos que se aderem na região perianal
(ANDERSON, 1992).

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165
Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

O objetivo deste trabalho foi descrever os principais parasitas intestinais de ocorrência em equinos da
raça Crioulo criados em pastagens no estado de Tocantins, Brasil.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na Estância Cruzeiro do Sul, no estado de Tocantins, município de Dois Irmãos,
região Norte brasileiro, caracterizado por vegetação de transição entre Cerrado e Floresta Amazônica,
sob clima tropical, com duas estações climáticas bem definidas com precipitações no inverno e seca
no verão. As análises do experimento foram conduzidas no laboratório de doenças parasitárias, do
curso de Zootecnia, da Faculdade Católica do Tocantins.

Foram coletadas amostras de fezes diretamente da ampola retal de 30 cavalos puros, da raça Crioulo,
criados em sistemas de pastagens, no mês de maio de 2012, no início da época seca e sob pastagens
de baixa qualidade. Sendo utilizados cinco reprodutores adultos, dez potros de até dois anos de idade,
oito éguas adultas paridas e amamentando e sete éguas adultas gestantes, todos os animais utilizados
eram de raça pura e registrados na ABCCC – Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos.

Para a coleta das fezes dos animais, precedeu-se a contagem de ovos por grama (OPG) pelo método
de McMaster descrito por Urquhart. et. al (1998). Para a utilização do método foi utilizado dois gramas
de fezes de cada animal. A vantagem dessa técnica é que não requer nenhum equipamento de alta
tecnologia e permite quantificar o número de parasitas eliminados pelo hospedeiro.

Os cavalos passaram por exame físico e amostras de fezes foram coletadas. No exame físico, o escore
nutricional foi avaliado de 1 a 5 (1 = caquético, 2 =magro, 3 = normal, 4 = acima de peso, 5 = obeso) e
variações entre graus. Foi realizada a contagem de ovos por grama de fezes (GORDON; WHITLOCK,
1939).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram alta incidência de parasitismo (100%) entre os cavalos examinados,


sendo que nenhuma das amostras deixou de apresentar infecção parasitária. Entretanto, o
proprietário dos animais, afirmou que não efetuava o tratamento antiparasitário com regularidade ou
com orientação e planejamento técnico, pelo menos não de forma preventiva, apenas de forma
curativa ou paliativa, ou ainda em épocas pré-determinadas de acordo com a estação do ano e não
com os resultados de exames clínicos ou com as condições nutricionais e fisiológicas e ou estágios
reprodutivos dos animais. Esse fato sugere a necessidade de um acompanhamento parasitológico

3
166
Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

constante, a fim de evitar que tais parasitas passem despercebidos nos exames de rotina e acabem
causando transtornos agudos.

A falta de rotação de piquetes nas pastagens e a alta carga animal por área propiciam a reinfestação
parasitária dos animais, bem como a não alternância dos princípios ativos dos vermífugos utilizados
faz com que ocorra resistência destes parasitas aos medicamentos utilizados. Notou-se a alternância
de marcas comerciais e nomes comerciais de antiparasitários, porém não de princípios ativos. Ocorreu
maior prevalência de infecções por Estrongilídeos (95%), sempre associado aos Trichostrongylus. A
média de OPG foi de 1.925 ovos/g de fezes. É um número alto, levando-se em conta que nem todos
os animais eram adultos.

As categorias mais afetadas e com maiores médias de OPG, aproximadamente 600 ovos/g de fezes,
foram as éguas prenhes e os potros ao sobre ano, que são as categorias com maior exigência
nutricional e que estavam em pior condição de escore corporal devido a gestação avançada no caso
das éguas e a recém desmama no caso dos potros. A categoria animal menos afetada foi a de potros
mamando, com médias de 67 ovos/g de fezes, fato que se explica pela baixa ingestão de pastagens e
de alimentos sólidos, consequentemente com menores chances de contaminação. As éguas paridas e
os reprodutores apresentaram resultados dentro da normalidade e bom escore corporal, ressalta- se
que essas categorias recebem suplementação alimentar no cocho e manejo diferenciado pelo seu alto
valor agregado e valor reprodutivo, tendo provavelmente recebido manejo profilático diferenciado.

A nutrição inadequada e a baixa qualidade das pastagens devido à época seca do ano pode ter sido
um fator importante para uma depressão no sistema imunológico e as altas infestações parasitárias.
Os animais com escore corporal 1,

2 ou 3 apresentaram maiores médias de OPG, respectivamente, havendo correlação significativa entre


a OPG e diferenças entre o estado nutricional dos animais.

4. CONCLUSÕES

Existe significativo comprometimento do desempenho dos animais, em suas diferentes categorias e


sexos, provocados pelo alto grau de parasitose intestinal. O controle sanitário dos animais é
ineficiente. Precisa-se fazer uma educação sanitária correspondente junto aos produtores,
conscientizando-os das medidas de controle parasitológico.

A pouca informação técnica de manejo nutricional e sanitária é um dos indicativos da falha no controle
dos endoparasitas nos equinos da raça Crioulo criados em sistema de pastagens no Tocantins. Sugere-

4
167
Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

se a implantação de trabalhos posteriores, baseados nos dados coletados, que informe, conscientize
e oriente sobre a metodologia correta do controle da verminose equina em parceria com instituições
de ensino e pesquisa.

AGRADECIMENTOS

Ao IFTO e a FACTO pela disponibilização de recursos humanos e de infra estrutura necessária a


condução dos trabalhos, a Estância Cruzeiro do Sul pela disponibilização dos animais e de material de
coleta e aos acadêmicos do curso de Zootecnia da Faculdade Católica do Tocantins pela organização e
tabulação dos dados.

5
168
Determinação Da Prevalência Parasitológica Em Equinos Da Raça Crioulo Criados Em Pastagens No Estado De Tocantins

REFERÊNCIAS

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bred horses from São Paulo State, Londrina, Seminário de Ciências Agrárias, v.22, p.21-26, 2001.

FERRARO, C.C. et al. Prevalência Parasitolóigica de cavalos carroceiros em Curitiba, Paraná. Revista
Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 17, supl. 1, p. 175-177, 2008.

FOZ FILHO, R. A importância clinica dos pequenos estrôngilos. Revista Saúde Eqüina, n° 11. 1999.

6
169
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 13
10.37423/201203457

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES DOSES DE ADUBO


ORGANOMINERAL NO DESENVOLVIMENTO DE
MUDAS DE EUCALIPTO

Marco Antônio Vieira e Silva CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE


MINAS
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

Resumo: O Gênero Eucalyptus com mais de 500 espécies é o mais plantado no mundo. Em torno de
90 países usam este gênero em plantios comerciais. O grande interesse em plantar eucalipto decorre
dos seguintes atributos inerentes a este gênero: rápido crescimento, baixa exigência nutricional,
forma do tronco e baixa incidência de pragas e doenças. Desse modo o presente trabalho teve como
objetivo avaliar o crescimento de mudas de eucalipto em resposta a diferentes doses de adubo
organomineral originado de compostos orgânicos. O estudo foi realizado no Viveiro de Mudas do
Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Patos de Minas, mantido sob sombrite e irrigado diariamente.
Foi utilizado delineamento de blocos casualizado (DBC) com cinco doses de adubo organomineral
misturadas e valores menores de P<0,05 foram considerados significantes. Aos 90 dias, após a
semeadura, foi feita avaliação de altura de planta, volume de raiz e a massa de matéria seca das
mudas. Os resultados mostraram que a dose de adubo organomineral esta diretamente relacionada
com as variáveis analisadas, onde altas doses inibem o crescimento das plantas. Além disso, dentre as
doses testadas a faixa de 50-100 kg/ha-1foi considerada a melhor faixa para a promoção de
crescimento radicular, massa seca e altura da parte aérea.Nós podemos concluir que a adubação
organomineral é extremamente importante na cultura do eucalipto, entretanto altas doses inibem o
crescimento das plantas.

Palavras – chave: Compostos orgânicos, promoção de crescimento, inibição.

1
171
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

1. INTRODUÇÃO

A madeira é uma das matérias mais apreciadas pelo homem desde os primórdios da humanidade,
principalmente no Brasil, terra que possui espécies com características excepcionais que se encaixam
em diversas aplicações. Mas a exploração predatória restringiu o acesso a essa preciosa matéria-
prima. Para suprir essa demanda vieram as madeiras de plantio florestal que, por meio de muita
pesquisa, alcançaram qualidade similar nativa brasileira. Entre as alternativas está o eucalipto que tem
como característica espécies de alta produtividade, crescimento rápido, ciclo reduzido, e alta
flexibilidade as condições climáticas (REVISTA REFERENCIA PRODUTOS DE MADEIRA, 2014).

O plantio do eucalipto é, portanto, uma boa solução para diminuir a pressão sobre as florestas nativas,
viabilizando a produção de madeira para atender as necessidades da sociedade em bases sustentáveis
(MORAIS, 2010). Para atingir um alto padrão de qualidade nas florestas, vários fatores devem ser
considerados, sendo um dos principais a qualidade das mudas utilizadas no plantio, apresentando se
bem desenvolvidas, robustas, livre de doenças e pragas, resistentes ao estresse do transplante,
assegurando boa adaptação e crescimento após o plantio (ROCHA, 2013).

A produção de mudas em recipientes como tubetes é o sistema mais utilizado, principalmente por
permitir a melhor qualidade, devido ao melhor controle da nutrição e a proteção das raízes contra os
danos mecânicos e a desidratação, além de propiciar o manejo mais adequado no viveiro, no
transporte, na distribuição e plantio (GOMES, 2013).

A escolha do recipiente determina todo o manejo do viveiro, o tipo de sistema de irrigação a ser
utilizado e sua capacidade de produção anual. Os tubetes plásticos, dentre os que podem ser utilizados
na produção de mudas de eucalipto e são considerados os recipientes de melhor aceitação no
mercado atualmente. Apresentam como vantagens o uso racional da área do viveiro, permitindo o
acondicionamento de um número grande de mudas, a possibilidade de automatização do sistema de
produção de mudas, desde o enchimento destes até a semeadura e expedição das bandejas para a
área de germinação (WENDLING & FERRARI, 2008).

Silva & Stein(2008) ressalta que os métodos, as doses e as épocas de incorporação de adubos nos
substratos de cultivo devem ser bastante criteriosas, pois além de garantir o bom crescimento e
qualidade das mudas, a adubação é o principal meio que se tem para “segurar” ou “adiantar” o
crescimento das mesmas no viveiro. As aplicações deverão ser feitas no final da tarde ou ao

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172
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

amanhecer que são seguidas de leves irrigações para diluir ou remover os resíduos de adubos que
ficam depositados sobre as folhas.

As adubações de cobertura devem ser realizadas de 7 a 10 dias. A primeira deve ser feita de 15 a 20
dias pós-emergência. A época de aplicação das demais poderá ser melhor determinada pelo
responsável ao observar as taxas de crescimento e as mudanças de coloração das mudas (SILVA &
STEIN, 2008).

Para tanto, visando a importância da utilização de adubos organominerais para o bom


desenvolvimento de mudas de eucalipto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a influência
de doses de adubo organomineral no crescimento de mudas de eucalipto. Bem como monitorar o
desenvolvimento das plantas como altura de planta, volume de raiz e a massa de matéria seca da parte
aérea e do sistema radicular das mudas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido de maio a agosto de 2017, no IEF (Instituto Etadual de Florestas) de Patos
de Minas. O plantio foi realizado no dia 17 de maio de 2017. Foram utilizadas sementes de
Eucalyptusurograndis adquiridas no viveiro de mudas do Instituto Estadual de Florestas (I. E. F.). As
plantas foram cultivadas em substrato estéril mais a mistura de 4 doses de adubo organomineral
misturados ao substrato mais um controle (Tabela 1) cada tratamento era composto por 20
repetições. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados (DBC). Para as análises
foi tulizado o software estatístico Sisvar (Fereira, 2008) e valores menores de P<0,05 foram
considerados significantes.

Tabela 1: Tratamentos utilizados para condução do experimento.

Tratamento Dose
T1 Controle (somente substrato)
T2 50 kg/ha-1 = 1,25 g/ tubete
T3 100 kg/ha-1 = 2,5 g/ tubete
T4 150 kg/ha-1 = 3,75 g/ tubete
T5 200 kg/ha-1 = 5 g/ tubete

O substrato usado foi um produto obtido através de Turfa de Sphagno, vermiculita expandida e cascas
de arroz torrefada, A dose de adubo organomineral para cada tratamento foi estipulada através do

3
173
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

volume em cm³ de cada tubete. O adubo organomineral usado foi o composto orgânico farelado da
Vitória Fertilizantes de Patos de Minas-MG com uma proporção de NPK de 01-15-25, com 50 % de
umidade PH 6,0.O teste foi conduzido em viveiro com sombrites e as mudas foram irrigadas 3 vezes
ao dia desde o plantio até o dia das avaliações, os tubetes foram dispostos em suportes de ferro
suspensos com dimensões de 40 X 40 cm, com uma área de 160 cm² sendo que a área total onde se
realizou o experimento foi de 800cm², com capacidade para 20 mudas semeadas diretamente nos
substratos dos tubetes com a mistura do adubo.

Após 25 dias após o plantio foi realizado o desbaste deixando somente uma planta por tubete
justamente para evitar competição e não influenciar nos resultados das análises.Aos 90 dias, após a
semeadura, foi feita avaliação do volume de raízes, altura de plantas, e o peso da massa de matéria
seca da parte aérea e do sistema radicular das mudas.

A altura de cada planta foi mensurada a partir do colo da raiz até a ponta da última folha
completamente desenvolvida medidas com uma régua de 50 cm. Assim, foi possível calcular o
crescimento total (cm) de cada planta.

Para a avaliação do sistema radicular, retiravam-se cuidadosamente as plantas dos tubetes e o excesso
de substrato foi retirado em água corrente. Logo após, o volume de raiz foi medido em uma proveta
com 50 ml de água, a planta foi inserida na proveta e depois contabilizado o volume de água que a
planta elevou, a partir disso foi mensurado o volume de raiz de cada planta.

A análise de massa seca das mudas foi realizado no Laboratório NUFEP, pertencente ao UNIPAM
(Centro Universitário de Patos de Minas) com a ajuda dos colaboradores do laboratório. Desse modo,
para calcular o peso de massa seca das mudas, foi usado uma estufa com uma temperatura de 60 °C
durante 72h. Após a secagem em estufa as avaliações foram feitas com o peso total de cada planta (g)
e esses dados foram inseridos em tabela. Este teste foi realizado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização do teste de regressão para determinar o grau das equações, observou-se que, o
efeito das doses do adubo organomineral sobre as variáveis altura, volume de raiz e peso da matéria
seca das plantas. Os resultados da análise de variância foram significativos (P<0,05). A análise de
variância para altura esta presente na tabela 2, o coeficiente de variação (CV) para esta variável foi de
20,15%, esse CV é considerado baixo, mostrando que os dados são homogêneos.

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174
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

Tabela 2: Tabela de Análise de Variância (ANAVA).

Gráfico 1 apresenta análise de regressão para altura de plantas em relação a dose de adubo
organomineral. O modelo de regressão adotado foi o polinomial quadrático, sendo a equação da reta
dada por ŷ= -0.0002x2 + 0.0249x + 8.7089. O coeficiente de determinação (R2) obtido foi de 0.8444,
ou seja 84,44% da variação da altura pode ser explicado pelas diferentes doses de adubo
organomineral utilizando. De acordo com a equação estimada da reta as doses indicadas para se obter
plantas mais altas esta entre 50-100kg/ha-1.

Dentre as doses testadas a dose de 50 kg/ha-1 se destacou com plantas maiores. A altura média das
plantas para esse tratamento foi de aproximadamente 10cm. É possível observar que com o aumento
da dose ocorre o decréscimo da altura. De acordo com Albuquerque et al. (2010) altos níveis de
adubação são capazes de influenciar negativamente o crescimento de plantas, ocorrendo assim o
fenômeno de travamento. A cultura do eucalipto possui baixa exigência nutricional, sendo esse uma
das vantagens de seu cultivo. Sendo assim necessita de baixas doses de adubação e apresenta bom
desempenho mesmo em solos de baixa fertilidade (MOURA; GUIMARÃES, 2003).

A altura é um importante parâmetro avaliado no cultivo de eucalipto, pois esta diretamente


relacionada com a produtividade. Assim árvores com altura elevada tendem a possuir um maior
diâmetro da altura do peito (DAP) e consequentemente maior produção de Madeira. Além da dose de
adubo vários fatores podem influenciar na altura de planta, dentre eles se destacam a genéticas das
plantas e o solo VIVEIRO SANTA ROSA, (2017). Entretanto, o R2 da equação polinomial quadrática
mostrou que a dose de adubo influenciou de forma significativa a altura.

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

Gráfico 1: Análise de regressão para o efeito das doses de Adubo Organomineralna Altura de Plantas
em mudas de Eucalyptusurograndis.

Tabela 3 mostra aos resultados da análise de variância para o volume de raiz (p<0,05), bem como o CV
para a variável em questão. O CV é considerado bom, pois esta abaixo de 25% indicando homogeneíze
dos dados analisados.

Tabela 3: Tabela de Análise de Variância (ANAVA).

Gráfico 2 apresenta análise de regressão para volume de raiz em relação a dose de adubo
organomineral. O modelo de regressão adotado foi o polinomial quadrático, a equação estimada
obtida foi ŷ= -0.000023x2 + 0.0036x + 1.015. Essa variável apresentou excelente coeficiente de
determinação (R2=0.972), assim 97,20% da variação do volume de raiz pode ser explicado pelas
diferentes doses de adubo organomineral. O R2 mostrou o quão a dose de adubo influenciou no
volume de raíz. De acordo com a equação estimada da reta as doses indicadas para se obter plantas
com maior volume de raiz esta entre 50-100kg/ha-1. Dentre as doses testadas a 100 kg/ha-1 se destacou
plantas com maior volume de raiz. Sendo que o volume médio de raiz desse tratamento foi de 1,18

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

cm3. É possível observar que com o acréscimo de dose ocorre a redução de volume de raiz assim como
o observado na altura.

Gráfico 2: Análise de regressão para o efeito das doses de Adubo Organomineral noVolume de Raiz
em mudas de Eucalyptusurograndis.

O volume de raiz esta diretamente relacionado com o desenvolvimento das plantas, pois é através das
raízes que os micronutrientes são absorvidos e assimilados. Sendo assim, este parâmetro pode ser um
indicador da qualidade fisiológicas de plantas em geral (TANAKAet al., 1997). Osmontet al. (2007)
descrevem que além de permitir a absorção de água e nutrientes para planta as raízes também
permitem a ancoragem e fixação do vegetal ao solo.De acordo com Barrosoet al. (2000) plantas com
volume de raiz elevado se desenvolvem de forma satisfatória sob condições de estresse, como por
exemplo estresse hídrico e déficit de nutrientes. Desse modo a altura de parte área e produtividade
do eucalipto esta relacionados a uma ótima atividade do sistema radicular.

A dose de adubos como os organominerais são extremamente importantes no desenvolvimento


radicular, pois eles fornecem os nutrientes necessários para o crescimento da planta. Entretanto,
elevadas concentrações de compostos presentes nesses adubos podem inibir o crescimento radicular
ocasionando a diminuição no crescimento da parte aérea da uma. O impacto negativo no
desenvolvimento pode estar ligado ao desequilíbrio fito-hormonal conforme citado por Solari et al.
(2006).A relação de comprimento de parte aérea e volume de raiz e observada de forma clara quando
comparado os Gráficos 1 e 2. É possível perceber que nas doses elevadas de adubo organomineral

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

ocorreu redução em ambas variáveis. Sendo a assim, observando ambos os gráficos pode-se inferir
que doses ideal de adubo de até 100kg/ha-1 promovem maior crescimento radicular favorecendo
assim o desenvolvimento da parte área.

A análise de variância para massa seca são representados na Tabela 4, os resultados da análise
significativos (P<0,05). O CV da variável em questão foi elevado (55,09%), isto mostra a elevada
dispersão dos valores em relação à média.

Tabela 4: Tabela de Análise de Variância (ANAVA).

Gráfico 3 apresenta análise de regressão para massa seca em relação as doses de adubo
organomineral. O modelo de regressão utilizado foi o polinomial quadrático, sendo a equação da retaŷ
= -0.00000803x2 + 0.0009x + 0.3251. Essa variável apresentou elevado coeficiente de determinação
(R2=0.9180), desse modo 91,80% da variação na massa seca pode ser explicado pelas diferentes doses
de adubo organomineral. Além disso, oR2 mostrou que a dose de adubo organomineral influencia
diretamente na massa seca. De acordo com a equação estimada da reta as doses indicadas para se
obter plantas com maior peso de massa secas esta entre 50-100kg/ha-1. Dentre as doses testadas a 50
kg/ha-1 se destacou plantas com maior peso de massa seca. Sendo que o peso médio de massa seca
desse tratamento foi de 0.3745 g. É possível observar que com o aumento de dose ocorre a decréscimo
significativo no peso de massa seca.

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

Gráfico 3: Análise de regressão para o efeito das doses de Adubo Organomineral no peso de Massa
Seca em mudas de Eucalyptusurograndis.

Massa seca esta diretamente relacionada com a capacidade de absorver nutrientes do solo, assim do
ponto de vista nutricional o volume de raiz é um parâmetro crucial para absorção de nutrientes para
posterior produção de biomassa(FURLANI et al., 1990). Sabe-se que a o sistema radicularinfluencia o
crescimento da planta e a aquisição de nutrientes. Por isso, plantas com sistema radicular mais fino e
fasciculado exploram um maior volume de solo, o que facilita a aquisição do nutriente, principalmente
sob condições de limitada disponibilidade no solo (FÖSHE et al., 1991).

O aumento de massa seca devido a um sistema radicular mais eficientefoi constatada por Ribeiro et al
(2010). No ensaio em casa de vegetaçãoem um município de Minas Gerais eles observaram que o
aumento da densidade do solo diminuiu o rendimento de massa seca produzida pelo
Eucalyptusurograndis, por afetar negativamente o desenvolvimento do sistema radicular, porém, esse
decréscimo foi revertido pelo aumento da dose de P aplicada associado a adubo orgânico.

Souza (1994) destaca que os principais fatores que influenciam no aumento de massa seca, sãoa
geometria e distribuição radicular, modificações químicas na rizosfera, presença de micorrizas,
tolerância a condições extremas de pH e taxa de absorção de nutrientes e água.Além disso, a produção
de massa seca total seguiu o mesmo comportamento quadrático verificado para o volume de raiz e
altura de planta isso mostra a relação direta das variáveis analisadas.

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

4. CONCLUSÃO

Diante dos resultados obtidos é possível concluir que a dose de adubo organomineral influenciou
significativamente a altura de planta, o volume de raiz e a massa seca. Também foi contatado que as
variáveis estão relacionadas e seguem o mesmo modelo de regressão quadrática. Além disso, doses
acima de 100kg/ha-1 afetam o desenvolvimento das plantas de eucalipto (Eucalyptusurograndis)
comprometendo o seu sistema radicular e consequentemente influenciando negativamente a altura
de planta e massa seca.

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Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MORAIS, G. S., (2010) – A Produção de Eucalipto no Brasil: Benefícios para o meio ambiente .
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qualidade de nativa. Madeira Nobre e Sustentável. Editora Jota. Ano 06, nº 27, p. 3, dezembro de 2014

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11
181
Avaliação De Diferentes Doses De Adubo Organomineral No Desenvolvimento De Mudas De Eucalipto (Eucalyptusurograndis)

VIVEIRO SANTA ROSA, (2017) – Mudas de Pinus e Eucalipto Disponível em: www.
viveirosantarosa..eng.br/. Acesso em: 05 de Sep. de 2017.

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182
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 14
10.37423/201203458

ANÁLISE DOS HÁBITOS ALIMENTARES DOS


DISCENTES DO ENSINO MÉDIO DO INSTITUTO
FEDERAL DO PIAUÍ E DO COLÉGIO ESTADUAL
ZACARIAS DE GÓIS, EM TERESINA PIAUÍ

Alane Sousa de Sá Instituto Federal do Piauí

Ícaro Fillipe de Araújo Castro Instituto Federal do Piauí

Adriana Rocha da Silva Instituto Federal do Piauí

Emmanuel Wassermann Moraes e Luz Instituto Federal do Piauí


Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

Resumo: Com o surgimento das redes de fast-food a alimentação, principalmente dos jovens, foi cada
vez mais aderindo a essa novidade e assim ocorreu o aumento no número de jovens e crianças obesas
e com problemas cardiovasculares. Este artigo tem como objetivo principal conhecer a vida dos jovens
teresinense, estudantes da Modalidade Ensino Médio de duas escolas tradicionais da rede pública de
ensino em relação a seus hábitos alimentares, e como está sendo o papel da escola na formação desses
alunos a possuírem e conhecerem como e qual é a melhor alimentação que beneficie principalmente
a saúde dos mesmos. E com o estudo percebeu-se uma extrema falta de cuidado com o corpo, pois
uma grande parte dos entrevistados, afirmaram seus hábitos alimentares como saudáveis,
demonstrando que alguns ainda não sabem diferenciar comida saudável da não saudável, pois se
alimentam durante a semana fora de casa, muitos dentro da instituição de ensino, por ter que estudar
o dia todo e não terem como voltar em casa para almoçar, muitas vezes trocando o almoço por lanches
rápidos e nada saudáveis.

Palavras–chave: Alimentação Saudável, doenças, hábitos alimentares.

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184
Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

INTRODUÇÃO

O modelo alimentar seguido pelos adolescentes ultimamente deve ser considerado de extrema
importância, principalmente quando associado a seu crescimento e desenvolvimento. E com o
surgimento das redes de fast-food, e de sua grande distribuição, a alimentação principalmente de
estudantes, que estuda longe de casa, ficou a mercê desse tipo de comida, mesmo conhecedores das
conseqüências desse tipo de alimentação, mas devido a alguns fatores, estes se vêem obrigados a
seguir um modelo, mesmo que errado de alimentação, sobretudo na hora do lanche.

Quando falamos em alimentação saudável, não devemos pensar apenas em quantidade, mas também
em qualidade. Essa preocupação previne o aparecimento de doenças causadas tanto pela falta quanto
pelo excesso de alimentos, como por exemplo: Obesidade, Bulimia, Anorexia e Doenças
Cardiovasculares. Uma alimentação é saudável , quando atende todas as exigências do corpo, ou seja,
não está abaixo nem acima das necessidades do nosso organismo em relação a nutrientes e energia.
E uma boa alimentação está adequada para o bom funcionamento do corpo quando esta se apresenta
variada, equilibrada, suficiente, acessível, colorida e segura.

A má alimentação é a causa de várias doenças existentes hoje, sendo que essas doenças aparecem
devido à grande quantidade ou a pouca quantidade de determinados alimentos. Um exemplo de
doença relacionada com a falta de alimentos é a anorexia nervosa que caracteriza-se por uma restrição
alimentar severa da qual resultam complicações que conduzem a uma significante morbidez biológica,
psicológica e social e que, por vezes, pode até conduzir à própria morte ( TORRES e GUERRA, 2003), e
os mais afetados são as jovens do sexo feminino. E uma doença caracterizada pelo excesso de
alimentos é a obesidade que por definição caracteriza-se por um excesso de gordura na composição
corporal, que se traduz, quantitativamente, na relação desequilibrada entre a estatura e o peso, de
acordo com os padrões de referência, e na presença de valores de pregas cutâneas superiores ao
esperado para a idade (VIANA, 2002).

Segundo Viana (2002), mudanças no estilo de vida, principalmente relacionadas a mudanças na


alimentação, são difíceis de conseguir devida consequentemente as interações do estilo de vida com
diversos outros aspectos do quotidiano e principalmente da vida urbana por ser um tanto conturbada:
falta de tempo, falta de tranqüilidade, ansiedade e o difícil acesso a padrões de comportamento e de
consumo mais satisfatórios do ponto de vista da saúde.

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Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

A alimentação também está inteiramente ligada à saúde e estética do físico do ser humano. Para uma
prática de exercícios físicos saudáveis ao corpo, precisa-se possuir o hábito de se alimentar bem. E
acredita-se que a educação é o processo pelo qual nos tornamos o que somos, e que pelo
procedimento do ensino-aprendizagem que constitui-nos como indivíduos, portanto, o que vem a ser
ensinado na escola é de suma importância para mostrar tanto as crianças quanto aos adolescentes, a
importância de uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos ou esportes. Segundo
Oliveira, Brasil e Taddei, (2008), uma das grandes responsabilidades que a escola possui é a
alimentação de seus alunos, inclusive das creches, pois o ao alimentar adequadamente uma criança,
permitirá a ela desenvolver uma saúde intelectual e física, diminuindo, ou evitando, também, o
aparecimento de distúrbios e deficiências nutricionais.

Este artigo tem como objetivo principal conhecer a vida dos jovens teresinense, estudantes da
Modalidade Ensino Médio de duas escolas tradicionais da rede pública de ensino em relação a seus
hábitos alimentares, e como está sendo o papel da escola na formação desses alunos a possuírem e
conhecerem como e qual é a melhor alimentação que beneficie principalmente a saúde dos mesmos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este artigo buscou fazer descrições qualitativas do seu objeto de estudo, visto que não se preocupa
com o que é certo ou errado e tem como preocupação primeira a compreensão da lógica que permeia
a prática que se dá na realidade (MINAYO, 1999).

Ela envolve assuntos que estão presentes nas relações cotidianas entre todos os jovens. Para isso,
foram feitas vinte entrevistas, (Dez com alunos do Liceu e dez com alunos do IFPI) com os alunos que
lá estavam e foram escolhidos aleatoriamente, entre os corredores das instituições de ensino, durante
o intervalo das aulas.

Para a realização da coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: questionário com
questões relacionadas à identificação do indivíduo, e questões abertas sobre a alimentação dos jovens
entrevistados.

O questionário foi dividido em 8 perguntas: relacionando questões objetivas e subjetivas, as quais


buscaram avaliar como está a alimentação dos alunos das escolas Liceu Piauiense e Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia do Piauí.

Depois de aplicados os questionários, os resultados obtidos foram avaliados e transformados em


textos dissertativos, a fim de facilitar o entendimento do leitor.

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Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados são divididos em duas partes, a primeira apresenta o resultado dos alunos do IFPI e a
segunda do Liceu Piauiense.

Os alunos do IFPI, ao serem perguntados se eles cuidam do seu corpo, 50% responderam que sim e as
respostas referentes aos cuidados que tem com o corpo são: a prática de esportes, boa alimentação,
higiene pessoal e os outros não responderam, já os alunos do Liceu Piauiense, 40% respondeu que
sim, e estes relataram que os cuidados que têm com o corpo são: a prática de esportes, boa
alimentação e os outros responderam nenhum. Isso mostra que os adolescentes não se preocupam
tanto com a saúde do seu corpo, justificando-se pela falta de tempo para manter os cuidados que
exigem tempo como a pratica de atividades físicas.

Indagando sobre o que e quando os alunos comem quando não estão em casa, 100% dos entrevistados
disseram que comem na rua às vezes, quando não podem ir comer em casa, principalmente por que
passam o dia na Escola e 50% deles relatou que acham sua alimentação saudável. A principal
justificativa citada pelos adolescentes para não se alimentarem melhor - a falta de tempo - é
semelhantes às encontradas em outros estudos, como no estudo de Feijó et. al.(1997), que ressaltou
que seus entrevistados não se referiram à dificuldade financeira e sim a falta de tempo como o
principal motivo para não ter uma alimentação mais adequada e Borges e Filho(2004), em seu artigo
relatou que entre os diversos fatores que influenciam a rotina alimentar dos alunos, o tempo foi um
dos mais citados dentre outros, principalmente no café da manhã.

Na questão que relacionava a má alimentação e a falta de exercícios físicos podendo prejudicá-los em


algum aspecto, 50% dos alunos do IFPI relataram que sim e citaram como aspectos prejudiciais:
principalmente a saúde, em relação às doenças tais como; diabetes, obesidade e doenças cardíacas,
além de causar desatenção na hora dos estudos, contudo, 90% dos entrevistados disseram conhecer
os benefícios de uma boa alimentação e de uma prática regular de exercícios físicos. Já 90% dos alunos
do Liceu Piauiense relataram que sim, e estes afirmaram que a falta de exercícios físicos e a má
alimentação pode sim prejudicá-los e citaram como aspectos prejudiciais: o corpo não funciona tão
bem, quanto o de um praticante de atividades físicas, prejudica na hora dos estudos, causam doenças,
sedentarismo, glicose baixa, obesidade, problemas do coração, além de prejudicar a estética corporal.
60% dos alunos mostram desconhecer os benefícios de uma boa alimentação e de uma prática regular
de exercícios físicos, mas sabem quais malefícios a falta dessa prática pode vir a acarretar para a sua
saúde.

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Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

Os alunos mostram-se conhecedores das doenças que a má alimentação causa, mas por falta de
tempo, falta de recursos e até mesmo por não gostar muito de frutas e verduras, preferindo as
comidas rápidas, mantém sua alimentação sem se preocupar muito com o futuro da saúde, pode-se
também perceber que não falta informação sobre o assunto, mas sim força de vontade de manter a
alimentação adequada e a falta de uma cultura alimentar saudável que deve ser transmitida desde
cedo em casa, para que mesmo o aluno na rua, procure se alimentar adequadamente. No trabalho de
Toral, et. al (2009), também fala sobre o assunto que desde cedo, a criança é envolvida em uma série
de rituais que culminam com a internalização de um padrão alimentar. Este processo é acompanhado
e estimulado por adultos afetivamente poderosos, o que confere ao comportamento alimentar um
poder sentimental duradouro, o qual, por sua vez, se estende para as outras fases do desenvolvimento
humano, incluindo a adolescência. Dessa forma, pode-se inferir que a escolha de um dado alimento
em uma dada circunstância está repleta de significados, desejos, valores, atitudes e símbolos que
repousam em uma esfera das representações sociais, as quais podem não ter sido contempladas em
sua totalidade neste estudo.

Metade dos alunos entrevistados do Instituto Federal responderam que o almoço que consome na
escola é saudável e 60% disseram que a escola difunde como essencial a boa prática alimentar,
orientando os alunos a respeito da alimentação. Mas a merenda que estes consomem é vendida na
porta da escola, suco ou refrigerante e salgados, como empadas, cochinhas, bomba, pão com queijo
e presunto consumidos quase todos os dias, o que pode sim, vir a prejudicá-los. Em seu trabalho
Borges e Filho (2004) afirmam que a instabilidade quanto aos horários de estudos e por terem que
muitas vezes ter que passar o dia na escola, os obriga a comer fora, em estabelecimentos ao redor das
escolas ou na própria instituição, o que acontece com os Alunos do IFPI já que na Instituição em
questão, na época da pesquisa não havia uma lanchonete. Já 60% dos alunos entrevistados do Liceu
Piauiense encontrou-se que a merenda consumida na escola não é saudável, e 70% dos entrevistados
também disseram que a escola não possui acompanhamento de nutricionista.

Assim como no estudo de Toral, et AL (2009), também se identificou que o acesso facilitado a
alimentos de baixo valor nutricional e a qualidade da alimentação servida dentro do ambiente escolar
foram citados como empecilhos para a adoção de uma alimentação saudável.

Os alunos de ambas as Escolas relataram que as mesmas não difundem de maneira alguma, como
essencial a boa prática alimentar, e isso pode ser observado na hora do intervalo, pois o lanche
vendido em ambas instituições são salgados e refrigerantes. No estudo de Gellar et. al.(2007) ,o

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Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

ambiente escolar também foi descrito como o local de maior exposição a alimentos pouco saudáveis.
E cabe com o reconhecimento dessa situação a necessidade de serem estabelecidas condições
propícias em âmbito nacional para a adoção de práticas alimentares nas escolas públicas de ensino,
visando à saúde do alunado.

6. CONCLUSÕES

Este artigo procurou avaliar a qualidade alimentar dos alunos da escola Liceu Piauiense e IFPI do
município de Teresina, Piauí. Mediante resultados encontrados, pode-se concluir que boa parte dos
alunos não estão preocupados com seu corpo e nem com sua saúde, visto que não se alimentam de
forma adequada e nem gostam de praticar exercícios físicos regularmente.

A pesquisa mostrou que a participação da escola nesse processo da educação alimentar, deixa muito
a desejar, já que os alunos do liceu piauiense relataram não haver nutricionista na escola, ou se há
eles desconhecem. E outro fator mais preocupante é em relação a falta de merenda saudável nas
escolas, onde os alunos para se alimentarem saem do seu local de estudo e se alimentam de forma
inadequada, nos vendedores de salgados nas calçadas, como no caso do Instituto Federal do Piauí.

Observa-se também que a maioria dos alunos entrevistados conhece a importância de uma boa
alimentação e de atividades físicas regulares. Também sabem dos males causados pela ausência das
mesmas e ainda assim não cultivam práticas saudáveis com seu próprio corpo.

Embora possam apresentar limitações por tratar-se de uma pequena amostragem escolar, evidências
acumuladas mediante desenvolvimento do presente estudo sugerem que os adolescentes não estão
sendo estimulados de maneira adequada quanto à prática de atividade física e a uma alimentação
saudável que venha a repercutir favoravelmente na saúde do mesmo.

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Análise Dos Hábitos Alimentares Dos Discentes Do Ensino Médio Do Instituto Federal Do Piauí E Do Colégio Estadual Zacarias De
Góis, Em Teresina Piauí

REFERÊNCIAS

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2004

FEIJÓ, R.B., SUKSTER, E.B., FRIEDRICH, L., FIALHO, L., DZIEKANIAK, K.S., CHRISTINI, P.W., MACHADO,
L.R., GOMES, K.V., CARDOSO, I.H. Estudo de hábitos alimentares em uma amostra de estudantes
secundaristas de Por to Alegre. Pediatr ia (São Paulo), v.19, n.4, p.257-262, 1997.

GELLAR LA, Schrader K, Nansel TR. Healthy eating practices: perceptions, facilitators, and barriers
among youth with diabetes. Diabetes Educ 2007; 33:671-9.

MINAYO, M.C.S. Ciência, técnica e arte o desafio da pesquisa social. In: MINAYO, M.C.S (org.) Pesquisa
social: teoria, método e criatividade. 11. Ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1999. P.9-29.

OLIVEIRA MN, Brasil ALD, Taddei JAAC. Avaliação das condições higiênico-sanitárias das cozinhas de
creches públicas e filantrópicas. Ciência Saúde Coletiva. 2008; 13(3):1051-60.

TORAL, Natacha; CONTI, Maria Aparecida and SLATER, Betzabeth. A alimentação saudável na ótica dos
adolescentes:percepções e barreiras à sua implementação e características esperadas em materiais
educativos. Cad. Saúde Pública[online]. 2009, vol.25, n.11, pp. 2386-2394. ISSN 0102-311X.

TORRES, Sandra e GUERRA, Marina Prista. A construção de um instrumento de avaliação das emoções
para a anorexia nervosa. Psic., Saúde & Doenças, jul. 2003, vol.4, no.1, p.97-110. ISSN 1645-0086.

VIANA, Victor. Psicologia, sáude e nutrição: contributo para o estudo do comportamento alimentar.
Aná. Psicológica, nov. 2002, vol.20, no.4, p.611-624. ISSN 0870-8231.

MORO, M. M. Dicas para escrever artigos científicos. Disponível

em: <http://www.cs.ucr.edu/~mirella/Dicas.html> Acesso em: 12 fev 2007.

7
190
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 15
10.37423/201203466

OS SISTEMAS PRODUTIVOS DO MUNICÍPIO DE


XAPURI –AC

Paulo Eduardo Ferlini Teixeira INSTITUTO FEDERAL DO MATO GROSSO


DO SUL

Milton Euclides da Silva INSTITUTO FEDERAL DO ACRE

João Oliveira da Silva INSTITUTO FEDERAL DO ACRE

Thiego de Araújo Silva INSTITUTO FEDERAL DO ACRE


Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

Resumo: Este trabalho tem como objetivo diagnosticar os sistemas produtivos existentes no município
Xapuri-AC. pesquisa realizada é do tipo estudo caso e exploratória. Foi utilizado questionários semi-
estruturados, em uma população de conveniência. No cenário produtivo nacional ao longo dos ciclos
econômicos a agricultura alcançou papel de destaque dentre os principais geradores de riquezas e
desenvolvimento social além de forma efetiva de contribuir com a produção de alimentos. Apesar de
acanhada, a produção agrícola xapuriense tem grade potencial tendo em vista a grande área de
cultivável e com baixa taxa de utilização. Precisa de pesquisas mais aplicadas para destrinchar os dados
e ter mais precisão na realidade do estado. Uma proposta de futuros trabalhos são os estudos dos
sistemas produtivos de Xapuri e mais precisamente do Acre.

Palavras–chave: Sistemas Produtivos, Sustentabilidade, Xapuri..

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192
Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

1. INTRODUÇÃO

O município de Xapuri é um dos mais importantes municípios do Acre e foi fundado em 23 de outubro
de 1912. Tem uma tradição de luta que vai da revolução acreana ao internacional ambientalismo de
Chico Mendes. O nome da cidade deriva da tribo dos Xapurys. Sua economia é basicamente voltada
para o setor primário. Atualmente vive uma tendência para a industrialização de produtos da floresta
(borracha, castanha e madeira). No município existe incidência de gipsita, matéria prima do gesso e
do giz (MDA, 2007).

Segundo o mesmo relatório, área total do município é de 5.347 Km², que equivale a 30,3% do território
e 3,25 da área total de estado. A sede do município está situada ás margens do Rio Acre e em sua
confluência com o Rio Xapuri, distante da capital Rio Branco a 188 Km. As coordenadas geográficas
são: 10º39(06 de latitude sul e 68º30(16 de longitude oeste de Greenwich. O município faz fronteira
ao norte com o município de Rio Branco; ao sul com o município de Epitaciolândia e República da
Bolívia; ao leste com o município de Capixaba; e, a oeste com os municípios de Brasiléia e
Epitaciolândia.

As formas organizativas presentes no município aglutinam-se principalmente no setor de atividades


produtivas rurais: Associações de Produtores Rurais, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri –
STR, Cooperativa Agroextrativista de Xapuri – CAEX, Associação dos Moradores Produtores da Reserva
Extrativista Chico Mendes – AMOPREX e Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente – CONDESMA. Existem ainda outras, como a Associação Comercial de Xapuri e Associação
de Moradores de Bairro, entre outras. É importante destacar, que é pouco representativa a
participação das mulheres nos processos organizativos.

Os Pólos Agroflorestais surgem propostas em 1993, em Rio Branco, Acre, que visava assentar as
famílias de ex-seringueiros e ex-agricultores, que moravam nas periferias das cidades, em áreas
irregulares ou de risco, bem como desempregados, que estivessem dispostos a voltar a produzir no
meio rural, em áreas desapropriadas nas proximidades das vias de circulação com fácil trafegabilidade
(rodovias federais e estaduais). Vale notar, que a partir do ano 2000, os Pólos Agroflorestais foram
implantados em várias regiões do Estado do Acre, MACIEL, (2010).

Segundo o mesmo autor, esse novo modo de reforma agrária implantado em Rio Branco apresenta-
se como uma forma viável de desenvolvimento rural sustentável? Trabalha-se com a hipótese de que
tanto o aspecto socioeconômico quanto o ambiental foram beneficiados com a introdução desta

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Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

política de assentamento. No tocante ao aspecto socioeconômico percebe-se alguma melhoria nas


condições de vida das famílias assentadas. Estas famílias, que antes residiam na área periférica da
cidade, voltaram a habitar o meio rural e às atividades produtivas a que estavam acostumadas, com
perspectiva de geração de renda. Com relação ao aspecto ambiental, pode-se dizer que este também
foi beneficiado, pois as áreas em que foram implantados os Pólos Agroflorestais eram antigas
pastagens em estado de degradação. Porém, com a inserção dos consórcios, previstos nos sistemas
agroflorestais, as referidas áreas estavam sendo recuperadas e utilizadas em diversos tipos de cultivos
produtivos.

Em uma análise da produção de leite do município teve se uma conclusão que o crescimento
acentuado do número de vacas ordenhadas e da produção de leite, a partir de 1998, coincide com o
estabelecimento pelo Governo do Estado de políticas consistentes de apoio à pecuária bovina, com
ênfase para a pecuária de leite, desenvolvida predominantemente pelos pequenos produtores (MDA,
2007), sendo uma viabilidade de renda para os moradores do pólo.

Em 2004, Xapuri foi o município com maior produtividade de leite (894 l/vaca/ano), sendo 26%
superior à média do Estado. Merecem destaque os municípios de Xapuri, Assis Brasil, Brasiléia e
Epitaciolândia que, embora mais distantes dos centros urbanos mais desenvolvidos e com maior custo
de aquisição de insumos, apresentaram produtividade de leite de superior a media do Estado. Os
municípios de Senador Guiomard, Capixaba, Acrelândia e Plácido de Castro também obtiveram
produtividade de leite acima da média do Estado em 2004 (MDA, 2007).

Dentre as informações com uma concepção pré-estabelecida e sem um mapeamento real do que está
acontecendo nos pólos município, este trabalho vem para esclarecer o que se produz no município e
onde estão localizados estes setores produtivos. Com esse mapeamento, pode-se aumentar as
políticas públicas direcionadas para a realidade dos pólos agroflorestais I e II do município.

A partir desta realidade, precisa-se saber o que se produz realmente é produzido nos pólos
agroflorestais do município, quem produz e para onde destina dos pólos. Este trabalho tem como
objetivo diagnosticar os sistemas produtivos existentes no município Xapuri-AC.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa realizada é do tipo estudo caso e exploratória. Foi utilizado questionários semi-
estruturados, em uma população de conveniência. Para Marques (2004), estudo de caso é um tipo de
estudo intensivo sobre um fato, fenômeno ou situação particular de um determinado sujeito. O

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Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

objetivo maior do método é explicar a verdade sobre o objeto de estudo e não alcançar grandes
generalizações.

Para Collis e Hussey (2005), trata-se de um exame extensivo de um exemplo único de um fenômeno.
A unidade de análise é o tipo de caso ao qual, as variáveis ou o problema da pesquisa se referem, e
sobre o qual se coletam e analisam os dados. Esta abordagem implica em uma única unidade de
análise, e envolve reunir informações detalhadas sobre o caso, geralmente durante um longo tempo,
tendo em vista obter um conhecimento aprofundado.

O mesmo autor infere que o estudo de caso apresenta alguns pontos fracos, como a dificuldade de
negociação, acesso as organizações adequadas e o processo de pesquisa, que pode levar tempo,
dificuldade em tomar decisões sobre as delimitações de seu estudo, entre outras.

Creswell (2007) complementa que o pesquisador explora em profundidade o caso a ser pesquisado,
que são agrupados por tempo e atividade, sendo a coleta de dados feita durante um tempo
prolongado.

A coleta de dados foi realizada por meio de documentação direta (entrevistas) e indireta (bibliografia,
documentos).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No cenário produtivo nacional ao longo dos ciclos econômicos a agricultura alcançou papel de
destaque dentre os principais geradores de riquezas e desenvolvimento social além de forma efetiva
de contribuir com a produção de alimentos. Apesar de acanhada, a produção agrícola xapuriense tem
grade potencial tendo em vista a grande área de cultivável e com baixa taxa de utilização.

SegundoDenardi, (2001), entendida como o tipo de agricultura que envolve representa ao mesmo
tempo uma unidade de produção e consumo que possibilita a produção e a reprodução social ; além
desses fatores, a organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação-FAO em conjunto
com o instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria-INCRA dizem que para haver agricultura
familiar é necessário que os institutos de trabalho pertençam à família com possibilidade de sucessão.

Apesar de sua importância inquestionável da agricultura familiar na economia xapuriense apresenta


baixos índices de desenvolvimento socioeconômico, onde boa parte de seus trabalhadores e
produtores rurais vivem em situação de indigência. A pobreza e a desigualdade no meio rural
estimulam cada vez mais o êxodo rural, o que acaba por agravar as condições de vida na cidade.

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Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

E ainda o desenvolvimento econômico impõe grandes desafios na maior parte das propriedades
familiares, enquanto a competição imposta pelo mercado globalizado é cada vez maior, gerando assim
uma necessidade de diminuição nos custos de produção e uma maior eficiência logística, pelo o outro
lado estimula o mercado consumidor a exigir produtos diferenciados e com um alto padrão de
qualidade.

A entrada dos agricultores familiares no mercado globalizado impõe grandes desafios em relação aos
aspectos produtivos tecnológicos e ainda a eficiência gerencial das propriedades. Todas essas
exigências devem levar em consideração especificidades da agricultura familiar, sejam elas
relacionadas aos aspectos proprietários, de gerenciamento da produção e relacionadas também às
interações dos proprietários-trabalhadores rurais no meio familiar e com a comunidade (TEDESCO,
2001). Nas condições politicas e econômicas atuais não se esperam que os mercados atuem no
segmento da agricultura familiar, é imprescindível compatibilizar metodologias adequadas de
intervenção social com instrumentos gerenciais e de marketing eficientes coso um objetivo seja
aumentar efetivamente a renda dos agricultores familiares em uma economia de mercado.

E ainda existe a dificuldade de locomoção por parte dos produtores, graças ao sucateamento dos
ramais e escassez de assistência por parte dos governantes. O que acaba por encarecer a produção
com a dificuldade de escoação da cultura.

A falta de políticas publica que incentivem o desenvolvimento da agricultura seja ela familiar ou não,
alguns alegam que “a nova teoria de nossos governantes é se for dado o devido suporte (estradas em
boas condições) levaria ao aumento do desmatamento, pois propiciaria um crescimento da pecuária
o que não é bem verdade”.

O Sistema Agroflorestal (SAF), também conhecido como Agroflorestal compreende num sistema que
alia culturas agrícolas com culturas florestais provenientes da agrossilvicultura.

O SAF utiliza a sucessão natural da flora nativa para fortalecimento do terreno em que se pratica
o trabalho agrícola. O Sistema Agroflorestal utiliza técnicas tradicionais de antigos povos de várias
regiões do mundo, acrescentando pesquisas, implementação científica de técnicas provenientes da
“eco fisiologia” de espécies vegetais com a fauna nativa.

Não compreende numa reconstrução da mata nativa, mas uma mescla de espécies nativas com
espécies de interesse econômico num processo de reprodução em espaço e tempo seguindo a
sucessão ecológica em áreas novas e antes deterioradas. O Sistema Agroflorestal

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196
Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

exige conhecimento e pesquisa sobre o solo, fauna, flora, ecofisiologia, sucessão ecológica e
fitossanidade de uma determinada área.

É uma forma de produção sustentável perante a demanda de grande exploração exercida por
produtores em áreas florestais que não fazem o uso de técnicas adequadas. O SAF proporciona um
retorno em longo prazo, introduz espécies nativas, posteriormente espécies frutíferas semi-perenes,
perenes e madeiráveis e consonância com a fauna da região.

A produtividade e os produtos que são explorados no município estão dispostos nas tabelas 1, 2 e 3
conforme disposição abaixo no texto.

Tabela 1 – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura no município de Xapuri - AC

Produtos Quantidade produzida Valor da produção em


R$
Açaí fruto 30 t. 15 000
Castanha-do-pará 2061 t. 1 648 000
Borrachas - havia - látex coagulado 53 t. 154 000
Madeiras - madeira em tora 18400 M³ 699 000
Madeiras – carvão vegetal 17 t. 9 000
Madeiras lenha 13 480 M³ 135 000
FONTE: IBGE, 2009.

Os produtos oriundos da extração vegetal e da silvicultura são oriundo da floresta. Os moradores da


florestas utilizam esses produtos fazendo coleta e usando como sustento de sua família. O Acre é um
estado que investe em tecnologias florestais para fixar os moradores na floresta, local de origem, e
fazer o desenvolvimento sustentável destas áreas. A extração madeireira é originária do manejo
florestal, maneira sustentável de utilização de madeira.

Tabela 2 – Rebanhos explorados no município de Xapuri – AC

Tipo de criação Quantidade


Bovinos- efetivo dos rebanhos 186 916 cabeças
Equinos-efetivo dos rebanhos 5 201 cabeças
Bubalinos - efetivo dos rebanhos 68 cabeças
Asininos - efetivo dos rebanhos 35 cabeças
Muares efetivo dos rebanhos 542 cabeças
Suíno efetivo dos rebanhos 6 171 cabeças
Vacas ordenhadas 9 800 cabeças

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Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

Caprinos efetivo do rebanho 671 cabeças


Ovinos efetivo rebanhos 2951 cabeças
Galos, frangos, frangas e pintos 48 580 cabeças
Galinhas 22 750 cabeças
Leite de vaca - produção 4 116 000 litros
Ovos de galinha - produção 81 000 dúzias
FONTE: IBGE, 2009.

O município de Xapuri foi considerado a maior bacia leiteira do estado do Acre. Devida ao um
problema com uma empresa de laticínios, que deixou de pagar produtores, assim ocorreu um declínio
da produção no município. Os produtores acabaram se especializando em confecção de queijos,
porém não cumprem as exigências da vigilância sanitária. A exploração de bovinos de corte é a maior
exploração animal do município, com um efetivo de 186.916 animais. Existem vários tipos de
produtores, sendo os pequenos produtores com maior representatividade no município. Já os
eqüinos, somente utilizado para trabalho em propriedades rurais de gado de corte.

Tabela 3 – Produção Agrícola Permanente no Município de Xapuri – AC.

Tipo Quantidade Valor da produção em R$


Produzida

Abacate 15 toneladas 14 000


Banana(cacho) 595 toneladas 107 000
Borracha (látex coagulado) 5 toneladas 14 000
Café (em grão) 10 toneladas 31 000
Coco-da-baía 10 000 frutos 9 000

Laranja 42 toneladas 25 000


Limão 32 toneladas 16 000
Mamão 72 toneladas 58 000
Manga 20 tonelada 2 000
Maracujá 20 toneladas 20 000
Tangerina 28 toneladas 15 000
FONTE: IBGE, 2009.

A produção agrícola permanente do município é concentrada em pólos agroflorestais. Estes pólos são
tipo assentamento de famílias, para a exploração agroflorestal. Xapuri possui 4 pólos extrativistas,
contendo aproximadamente 25 famílias em dada pólo. Os principais produtos explorados são
frutíferas, feijão e criação de animais de pequeno e grande porte.

7
198
Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

6. CONCLUSÕES

O trabalho cumpriu a primeira etapa. Foi feita o levantamento bibliográfico do projeto. A segunda
etapa é o trabalho de campo, mais empírico. A segunda etapa é a coleta primária dos dados dos
sistemas produtivos de Xapuri. Com a pesquisa bibliográfico percebeu-se que o estado do Acre não
possui relatórios exatos de produtividade e as secretarias não publicam relatórios de produtividade
dos municípios. Os dados são muito genéricos e baseados no censo do IBGE. Precisa de pesquisas mais
aplicadas para destrinchar os dados e ter mais precisão na realidade do estado. Uma proposta de
futuros trabalhos são os estudos dos sistemas produtivos de Xapuri e mais precisamente do Acre.

8
199
Os Sistemas Produtivos Do Município De Xapuri –AC

REFERÊNCIAS

DENARDI, R. A. ET al. Fatores que afetam o desenvolvimento local em pequenos municípios do Estado
do Paraná. Curitiba: Emater/PR, 2006.

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9
200
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 16
10.37423/201203468

SISTEMAS DE CONTROLE PARA DETECÇÃO DE


FALHAS EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS
LÍQUIDOS PETROQUÍMICOS

Michael Jamesson Almeida Nunes Instituto Federal do Maranhão

Lucilene Ferreira Mouzinho Instituto Federal do Maranhão

Eliúde Trovçao Moraes Instituto Federal do Maranhão

Lucius Vinicius R. Machado Filho Universidade de Aveiro

Lucius Vinicius R. Machado Instituto Federal da Paraíba


Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Resumo: O abastecimento de combustíveis líquidos petroquímicos requer muita segurança de forma em geral,
desde o carregamento dos caminhões transportadores, qualidade e confiabilidade destes materiais dentro das
normas padronizadas, até ao armazenamento nos postos de combustíveis destinados à venda destes produtos
petroquímicos. Porém, dentre as mais diversas formas de segurança da manipulação dessas substâncias
químicas, tem-se uma problemática quanto ao abastecimento nos devidos postos de combustíveis. O motorista
no ato de armazenamento do combustível pode inserir o líquido incorreto no tanque destinado a outro tipo de
combustível, contaminando assim este tanque.

Esta “contaminação” ocorre por vários motivos, como por exemplo, a desatenção do responsável pelo
abastecimento, causado muitas das vezes por crises de sonolências geradas pelo longo período de viagens dos
transportadores, ausência de sinais indicativos nos tanques sobre os tipos de combustíveis a serem devidamente
armazenados, entre outros. Sendo que, uma vez que o combustível é inserido no tanque de armazenamento
incorreto, como por exemplo, armazenar Diesel nos tanques de Gasolina ou Etanol, tem-se a “contaminação”
propriamente dita. Como consequência, o combustível na bomba de abastecimento sairá incorreto, e uma vez
que este evento acontece, produz-se um enorme transtorno aos usuários e aos administradores responsáveis
pelo posto de combustíveis. Tais falhas afetam financeiramente o proprietário, pois o posto terá suas atividades
interrompidas por um longo prazo de tempo até que seja realizado o processo de descontaminação desse tanque
mediante a remoção do líquido incorreto. Além da remoção desse líquido, tem-se ainda a manutenção do tanque
que, por sua vez, possui custo muitíssimo elevado.

Este trabalho teve por finalidade a implementação e comparação entre dois sistemas de controle capazes de
detectar se o tipo de combustível petroquímico a ser inserido no tanque corresponde ao combustível selecionado.
O sistema completo é composto por sensores, “laser” constituído por “led” de alta potência e de feixes de luz
branca, ledes sinalizadores de cores verde e vermelha, displays lcd 16x2 e alarmes (buzzers).

A atuação dos sensores e do “laser” de espectro de luz branca consiste na detecção dos combustíveis através do
nível de intensidade da frequência ou da resistência de luminosidade por ondas eletromagnéticas dos líquidos no
ato do abastecimento e emite um sinal sonoro (alarme) e visual (display), caso o abastecimento esteja incorreto,
conforme definido na programação da placa de controle. Dessa forma, com a ativação do alarme, o responsável
pelo abastecimento do tanque, que normalmente é o próprio motorista, não realiza o abastecimento. O sistema
de segurança e proteção desenvolvido mostrou-se bastante eficaz.

Palavras-chave: combustíveis petroquímicos, contaminação, sensores.

1
202
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

I. INTRODUÇÃO

Na eletrônica digital existem dispositivos variados com inúmeras funcionalidades distintas, como por exemplo, os
sensores, microcontroladores, e vários circuitos integrados. Logo, dentre os mais diversos tipos de sensores, este
trabalho estará apresentando as aplicações, especificações, e as funcionalidades ópticas dos sensores de cor
TCS3200 e do LDR em suas totalidades através de testes, os quais serão adaptados em dois sistemas comparativos
e distintos de controle compostos pelo sensor de cor TCS3200 propriamente dito para a aferição de
luminosidades que serão frequências analisadas em unidades de medidas dadas em Hertz (Hz) e pelo sensor LDR
que realizará uma aferição através da sua resistência dada em unidades de OHM (Ω) conforme a intensidade de
luminosidade, duas plataformas de prototipagem eletrônica Open-source (Arduíno UNO) programadas para
controlar os reconhecimentos dos líquidos petroquímicos convertendo os sinais analógicos em digitais, e um
notebook com o software Arduíno para compilar as programações destas placas de controle que serão
transferidas via Porta Serial USB, e os resultados, conforme as definições dos códigos fontes das programações,
serão perfeitamente visualizados em dois distintos displays lcd 16x2 e a utilização de ledes.

II. MÉTODOS

Inicialmente, foi realizada uma abordagem dos diversos tipos de combustíveis utilizados no Brasil, especificando
aqueles utilizados em aplicações para veículos automotores. Paralelamente, foi realizado o levantamento dos
tipos de sensores mais adequados para a obtenção das grandezas físicas em análise e as métricas de desempenho
do hardware, juntamente com os sensores, para reconhecer os combustíveis líquidos petroquímicos (Gasolina,
Diesel e Etanol) em tempo real. Realizou-se um estudo da Norma Regulamentadora 20 (NR20), além de analisar
as incertezas das medidas obtidas pelos sensores e realizar uma análise gráfica por meio da ferramenta
computacional Excel. Em seguida, foi realizada a implementação do sistema de detecção ideal para validação do
projeto.

A. SENSORES TCS3200 E LDR

Foram escolhidos dois tipos de sensores: o sensor de cor TCS3200 e o LDR. O TCS3200 é um sensor de
reconhecimento de cor, ele detecta níveis de luz RGB (red, green e blue ou vermelho, verde e azul) dos corpos de
provas, convertendo em sinais elétricos que são recebidos pelo Arduino UNO. No Arduino, esses sinais analógicos
são convertidos para sinais digitais e realizando o processamento através de pulsos de ondas quadradas dadas
em Hertz (Hz). O sensor LDR (Light Dependent Resistor) é um sensor de luminosidade cuja resistência varia de
acordo com a intensidade da luz. Quanto mais luz incidir sobre o componente, menor é a resistência. Este sensor

2
203
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

é bastante utilizado em projetos envolvendo Arduino. No Arduino, os sinais analógicos recebidos são convertidos
para sinais digitais e realizando o processamento através de pulsos de ondas quadradas dadas em OHM (Ω).

O sistema completo para medição da luminosidade dos corpos de provas usando o TCS3200 e o LDR é ilustrado
na Figura 1.

Figura 1. Diagrama em blocos do sistema de controle.

B. TABELAS COMPARATIVAS DAS FREQUÊNCIAS E RESISTÊNCIAS MÉDIAS DOS MATERIAIS


ESTUDADOS

Nas Figuras 2 e 3 encontram-se os valores dos intervalos médios e de confiabilidade obtidos a partir das medições
realizadas por cada um dos sensores utilizados para cada tipo de material: gasolina aditiva, etanol, diesel e gasolina
S-50.

3
204
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 2. Frequência analisada para o sensor TCS3200.

Figura 3. Frequência analisada para o sensor LDR.

E, na Figura 4 é ilustrado o fluxograma do sistema de controle usando o LDR.

4
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 4. Fluxograma do sistema de controle.

III. ARQUITETURA DO SISTEMA PROPOSTO

O sistema implementado é ilustrado na Figura 5. O hardware principal do sistema de controle consiste no Arduino
UNO processador ATmega328, sensor LDR, buzzer, led e display.

5
206
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 5. Sistema experimental via LDR.

IV. PARTES ESTRUTURAIS DO PROTÓTIPO

Nas Figuras 6 e 7 são ilustrados os estágios das projeções estruturais do protótipo realizado em autocad 3D.

6
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 6. Isometrica SW.

7
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 7. Isometrica SW.

V. PROTÓTIPO DO SISTEMA COMPLETO

Após a fase inicial dos testes, procedeu-se ao desenvolvimento do protótipo. Foi simulado um posto de
abastecimento com todos os itens necessários para as operações de abastecimento e com a proposta de
adaptação do sistema de detecção de falhas, Figura 8. O primeiro passo foi projetar uma estrutura que possuísse
uma região semelhante aos procedimento utilizado pelo motorista de caminhão no ato de abastecimento dos
tanques nos postos de combustíveis (topo da figura); na parte intermediária, constam o dispositivo de detecção
composto pelo sensor, intercalado no tubo metálico, a área de inserção de um painel de controle e operações de
abastecimento; a simulação dos tanques de armazenamento de combustível são ilustradas na parte inferior da
figura. Tem-se ainda toda a estrutura onde foram fixados os componentes, condutos e conexões de PVC. Os tubos
por onde passam os combustíveis são de ferro galvanizado e os frascos de alumínio utilizados foram adaptados a
registros metálicos para controlar o fluxo dos combustíveis, todos devidamente vedados com cola específica para
metais. Na parte superior foi necessário um vão que possui duas funções:

✓ segurança – em casos de incêndio, há a interrupção no escoamento dos gases dos resíduos da pressão interna
no tubo;

8
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

✓ controle da pressão atmosférica - pois uma vez fechado, a pressão interna fica muito reduzida , ou mesma
extinta.

O painel eletrônico, Figura 9, localizado na região central do protótipo, do lado direito da unidade de detecção,
também foi devidamente isolado, com chave seletora liga/desliga do sistema, luzes indicadoras e botões de
controle. O painel possui dispositivos de segurança internos para evitar o risco de incêndio.

Uma unidade de detecção foi instalada dentro do painel eletrônico, totalmente sem contato com os
combustíveis, evitando assim o risco de possível incêndio. A unidade de detecção também possui um controle de
fluxo e válvula de segurança.

9
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 8. Protótipo completo do sistema.

10
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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Figura 9. Painel eletrônico.

A parte inferior da estrutura foi destinada aos contêineres que simulam tanques de armazenamento de
combustível. São compostos por tubulações, frascos e registros de controle de metal devidamente vedados
contra possíveis vazamentos e suas respectivas válvulas solenóides de controle de acordo com cada tipo de
combustível a ser inserido.

VI. ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS

Após a realização dos testes com os dois sensores escolhidos, TCS3200 e o LDR, verificou-se por meio dos
resultados que o sistema testado com o sensor de cor TCS3200 conseguiu fazer o reconhecimento dos
combustíveis e apresentou resultados completamente satisfatórios e provas de funcionamento. Porém, a faixa
de confiabilidade do sensor TCS3200 é bastante ampla, o custo desse tipo de sensor é alto quando comparado
ao LDR, seu manuseio é mais complexo que o LDR, possui menor tempo de reconhecimento e apresenta níveis
de frequência bem distintos, impedindo a estabilidade dos valores confiáveis, apesar de ter reconhecido cada um
dos tipos de material. Na etapa de testes com o sensor LDR, os resultados indicaram boa precisão e acurácia em
suas operações em relação à calibração das resistências de cada produto petroquímico analisado, Figuras 10 e 11.

11
212
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

Este tipo de sensor foi eficaz para o sistema de controle desenvolvido, razão pela qual este sensor foi escolhido
para o protótipo final.

Figura 10. Análise gráfica das frequências dos tipos de combustíveis utilizados mediante o sensor TCS3200.

Figura 11. Análise gráfica das médias das resistências em Ohm (Ω) dos tipos de combustíveis utilizados mediante
o sensor LDR.

VII. CONCLUSÃO

Por meio da análise comparativa dos testes realizados com os sensores TCS3200 e a mini fotocélula LDR, verificou-
se que ambos os sensores podem ser utilizados para a aplicação. Porém, o LDR se mostrou mais viável para esta
aplicação de reconhecimento dos combustíveis líquidos petroquímicos devido a sua exatidão, precisão, tempo de
reconhecimento bastante rápido, facilidade de manuseio, intervalo de confiabilidade elevado, segurança e
baixíssimo custo benefício, em relação ao sensor de cor TCS3200.

O sistema para detecção de falhas no abastecimento de postos de combustível promove melhorias em termos
de segurança, meio ambiente e economia. Com a utilização do sistema, o uso seguro do abastecimento no tanque

12
213
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

específico pode evitar danos ao meio ambiente, pois ocorrendo uma falha, o tanque necessita ser interditado e o
líquido nele é jogado fora. A utilização desse sistema traz benefícios econômicos para proprietários de postos e
usuários finais, garantindo que eles abasteçam no tanque já predefinido para o tipo de combustível e evitem a
interdição quando ocorrer uma falha.

Por meio do uso da plataforma de microcontrolador Arduino, o sistema foi projetado para detectar
automaticamente a falha nos tanques de abastecimento das estações. Os resultados obtidos com o protótipo
desenvolvido são satisfatórios e o sistema é uma alternativa segura e econômica para a melhoria do
abastecimento automático em postos, além de contribuir com a redução dos impactos ambientais que este tipo
de material produz no meio ambiente quando descartado de maneira inadequada.

13
214
Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

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Sistemas De Controle Para Detecção De Falhas Em Postos De Combustíveis Líquidos Petroquímicos

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216
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 17
10.37423/201203469

DOSES DE FERTILIZANTE FOLIAR A BASE DE


ZINCO SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES
DE MILHO

Weslei Da Silva Unipam

PRISCILA RAIANE ASSUNÇÃO DE ANDRADE Unipam

DANIELA SILVA SOUZA UNIPAM


Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

Resumo: O tratamento de sementes com zinco contribui para a germinação das sementes e a
qualidade das plântulas de milho. Objetivou-se avaliar o efeito de doses de fertilizante foliar a base de
zinco na germinação de sementes de milho. O experimento foi conduzido no Centro de Pesquisa em
Sementes e Plantas Daninhas do Centro Universitário de Patos de Minas e avaliou-se cinco doses de
fertilizante foliar Zintrac (mL de produto para cada 20 kg de sementes) no tratamento de sementes de
milho, sendo: T1 (0,0); T2 (75,00); T3 (150,00); T4 (225,00) e T5 (300,00). O ensaio foi conduzido em
delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições de cinquenta sementes para cada
tratamento. As varáveis-respostas obtidas foram porcentagem de germinação, comprimento, massa
fresca e massa seca de parte aérea e raiz. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância a
1% de significância e à análise de regressão e ao teste de Tukey com uso do software estatístico
SISVAR®. A porcentagem de germinação não variou entre os tratamentos e o comprimento da parte
aérea foi maior nos tratamentos T2, T4 e T5. O maior comprimento de raiz ocorreu no T2 enquanto
que os maiores valores de massa fresca de parte aérea e massa fresca de raiz foram obtidos no T5 e
T4, respectivamente. Independente da dose, o uso de zinco no tratamento de sementes proporcionou
maiores valores de massa seca de parte aérea e raiz em relação ao tratamento controle (T1). As médias
obtidas para as variáveis massa fresca de parte aérea e massa seca de raiz se ajustaram ao modelo
matemático cúbico e as médias de massa seca de parte aérea se ajustaram ao modelo matemático
quadrático. Concluiu-se que não há efeito das doses 75, 150, 225 e 300 mL de fertilizante foliar a base
de zinco sobre a porcentagem de germinação. O tratamento de sementes com zinco contribuiu para
plântulas de milho com comprimento, massa fresca e massa seca de raiz e parte aérea superiores em
comparação aquelas originadas de sementes não tratadas.

Palavras-chaves: micronutriente; porcentagem de germinação; plântulas; Zea mays L.

1
218
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays L.) destaca-se como uma das culturas de maior relevância econômica no Brasil e
caracteriza-se pela grande adaptabilidade à diferentes regiões e pelo elevado potencial de produção
(ROSA et al., 2012). O Brasil destaca-se entre os maiores produtores mundiais de milho, sendo que em
2018, a produção brasileira desse cereal só foi inferior a obtida pelos Estados Unidos e a China,
primeiro e segundo maiores produtores (FAO, 2018). No Brasil, a cultura do milho apresenta-se
distribuída em todo o território nacional (ROSA et al., 2012) e para que o país se mantenha competitivo
no mercado mundial de carnes, incrementos gradativos na produção de milho tem ocorrido ao longo
dos últimos anos (CALDARELLI; BACCHI, 2012).
Neste cenário, tecnologias capazes de aumentar a produtividade da cultura tem sido cada vez mais
requeridas (AGUIAR et al., 2018), sendo que o emprego de métodos e tecnologias capazes de agregar
valor às sementes tem se tornado prática cada vez mais comum. O uso de fungicidas, inseticidas e
polímeros tem afetado diretamente o desempenho da cultura do milho, o que faz com que a maior
parte das sementes produzidas e comercializadas sejam tratadas industrialmente. O tratamento
industrial confere segurança ao produtor rural e maior praticidade durante a etapa de semeadura
(FREITAS, 2016).
De modo geral, o tratamento de sementes tem como objetivo a incorporação de compostos ou
substâncias, dentre esses agentes biológicos, nutrientes, hormônios, produtos fitossanitários e
polímeros, que proporcionem desempenho superior das sementes e das plântulas (TAYLOR;
SALANENKA, 2012). Quando o tratamento de sementes é feito com nutrientes, o objetivo principal é
fornecer teores adequados desses nutrientes aos vegetais, principalmente quando esses estão em
baixos teores no solo e quando o nível desses na semente é reduzido (FAROOQ; WAHID; SIDDIQUE,
2012). É o que ocorre com o zinco, micronutriente cujo fornecimento na quantidade adequada é
indispensável para as plantas completem seu ciclo de desenvolvimento e que tem sido encontrado em
níveis inferiores a faixa ideal para desenvolvimento das plantas na maioria dos solos brasileiros. Essa
deficiência tem sido atribuída tanto ao uso intensivo desse elemento sem que haja reposição
adequada quanto aos processos de gênese do solo (VAZQUEZ et al., 2016).
A aplicação de zinco tem sido realizada, especialmente, a partir do tratamento de sementes, prática
relevante para o suprimento das exigências nutricionais durante a fase inicial de desenvolvimento
vegetal (VAZQUEZ et al., 2016; DIAS et al., 2014). No tratamento de sementes, os componentes
aplicados são absorvidos via estruturas da semente e a partir da raiz primária e do coleóptilo (DIAS et
al., 2014), o que é interessante pois as plântulas não conseguem absorver do solo grandes quantidades

2
219
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

de zinco devido à ausência de um sistema radicular bem desenvolvido e eficiente. Além disso, essas
ainda não apresentam área foliar suficiente para que esse nutriente seja eficientemente absorvido via
aplicações de pulverização. Assim, o tratamento de sementes com zinco é considerado um método
eficaz na disponibilização e absorção desse nutriente durante as fases iniciais de crescimento das
plantas (TUNES et al., 2012).
Para que o zinco seja disponibilizado às sementes pode se realizar a imersão dessas em uma solução
que possua esse elemento ou recobrir essas estruturas biológicas com esse nutriente (FAROOQ;
WAHID; SIDDIQUE, 2012). Como vantagem do tratamento de sementes com zinco, destaca-se a maior
uniformidade de aplicação, o que resulta em redução nos custos envolvidos na aplicação dos mesmos,
além de culminar no melhor aproveitamento desses pelas plantas (VAZQUEZ et al., 2016). O zinco têm
sido relatado como um elemento que atua sobre a germinação das sementes promovendo alterações
de ordem bioquímica que resultam na aceleração do processo germinativo e consequente redução no
tempo necessário para o crescimento da radícula (LEMES et al., 2017). Contudo, a germinação de
sementes de milho com uso de óxido e sulfato como fontes de zinco não foi afetada em estudo
realizado por Santos et al. (2019). Além disso, tem se relatado aumento de produtividade de milho e
maior valor nutricional em grãos de milho obtidos a partir de plantas oriundas de sementes tratadas
com zinco (FREITAS, 2016).
Embora o zinco tenha sido muito empregado no tratamento de sementes de milho dada a alta
demanda da cultura por esse micronutriente e o baixo teor desse nos solos brasileiros, as informações
sobre o efeito deste elemento sobre o potencial fisiológico das sementes tradadas são consideradas
incipientes (FREITAS, 2016). Também se verifica escassez de informações relacionadas ao efeito das
doses de zinco sobre a germinação de sementes de milho, o que torna relevante a realização de
estudos científicos que permitam melhor elucidação sobre a resposta das sementes ao uso desse
micronutriente no tratamento de sementes. Portanto, objetivou-se avaliar o efeito de doses de
fertilizante foliar a base de zinco na germinação de sementes de milho.

METODOLOGIA

O experimento foi conduzido no Centro de Pesquisa em Sementes e Plantas Daninhas do Centro


Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) durante o mês de outubro de 2019. As sementes de milho
utilizadas foram da cultivar Supremo Viptera 3, a qual apresenta ciclo precoce (SYNGENTA, 2019).
O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado (DIC), sendo avaliadas cinco
doses do fertilizante foliar Zintrac, o qual apesenta composição de 1% de nitrogênio e 40% de zinco.

3
220
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

Para cada dose foram adotadas quatro repetições de cinquenta sementes de milho e os tratamentos
avaliados estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Diferentes doses de Zintrac no tratamento de sementes de milho. Centro Universitário de


Patos de Minas, Patos de Minas-MG, 2020.
Tratamentos Dose de Zintrac (mL/20 kg de sementes)

T1 0,00

T2 75,00

T3 150,00

T4 225,00

T5 300,00

As sementes de milho foram tratadas nas doses propostas em cada um dos tratamentos em sacos
plásticos. A homogeneização do produto sobre as sementes foi realizada a partir da agitação manual
dos sacos plásticos contendo as sementes por dois minutos. O tratamento T1 foi adotado como
controle e consistiu na não realização do tratamento de sementes.
Após a realização do tratamento de sementes, foi realizado o teste de germinação, segundo
estabelecido na Regras para Análise de Sementes (RAS). Realizou-se a determinação da massa do papel
germitest em uma balança analítica e, posteriormente, o papel foi umedecido com água destilada,
sendo a quantidade de água correspondente a duas vezes e meia a massa do papel. Durante a
implantação do teste de germinação, as sementes foram dispostas em duas folhas de papel germitest
umedecido com água e cobertas com uma folha, sendo confeccionados rolos de papel. Em cada rolo
foram dispostas cinquenta sementes de milho. Os rolos confeccionados foram dispostos em câmara
de germinação a 25 °C por sete dias (BRASIL, 2009).
Sete dias após a implantação do teste de germinação, procedeu-se a determinação da porcentagem
de germinação (% GERM), conforme a fórmula proposta por Labouriau e Valadares (1976): G= (N/A) x
100, sendo G= porcentagem de germinação; N= número de sementes germinadas e A= número total
de sementes colocadas para germinar. Além disso, realizou-se a avaliação do comprimento da raiz
(COMPR) e da parte aérea das plântulas normais de milho (COMPA). Para determinação do
comprimento, dez plântulas de milho para cada tratamento foram analisadas, sendo o comprimento
determinado com uso de uma régua graduada em centímetros (GUEDES et al., 2009). O comprimento
das dez plântulas foi usado para obtenção de uma média por tratamento.

4
221
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

Para avaliação de massa fresca e massa seca, mensurou-se a massa de dez plântulas para obtenção de
uma média representativa do tratamento e destacou-se a raiz da parte aérea com auxílio de um bisturi.
Para as variáveis massa fresca da parte aérea (MFPA) e massa fresca da raiz (MFR), a massa fresca foi
mensurada em balança analítica (LABEGALINI; DAMIÃO; ANDRADE, 2016). A avaliação da massa seca
da raiz (MSR) e da parte aérea (MSPA) das plântulas foi realizada conforme metodologia proposta por
Nakagawa (1999), sendo que a raiz foi destacada da parte aérea com uso de um bisturi. Em seguida,
essas estruturas vegetativas foram acondicionadas separadamente em sacos de papel Kraft.
Posteriormente, os sacos de papel contendo as sementes foram acondicionados em estufa de
secagem a 80 °C por 24 horas, sendo a massa determinada em uma balança analítica. Os resultados
obtidos foram expressos em gramas por plântula, visto que se obteve a média da massa de dez
plântulas em cada um dos tratamentos.
Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância a 1% de significância e as médias foram
submetidas a análise de regressão e ao teste de Tukey com uso do software estatístico SISVAR®
(FERREIRA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A porcentagem de germinação variou entre 99% e 100%, não sendo verificada diferença estatística
entre o tratamento controle e as doses de Zintrac testadas no presente estudo (Tabela 1). Em todos
os tratamentos verificou-se porcentagem de germinação condizente com a legislação vigente no
Brasil. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para sementes
de grandes culturas a germinação não pode ser inferior a 80% (BRASIL, 2009).

Tabela 1. Efeito das doses de zinco sobre a porcentagem de germinação, comprimento de parte aérea,
comprimento de raiz, massa fresca de parte aérea, massa fresca de raiz, massa seca de parte aérea e
massa seca de raiz na cultura do milho. Centro Universitário de Patos de Minas, Minas Gerais, 2020.
D Variáveis-resposta
oses de
Zintrac
% CO CO M M M M
(mL/20
GERM MPA MPR FPA FR SPA SR
kg de
sementes)

0, 100 1,7 3,9 1, 1, 0, 0,


00 ,000 a 40 c 41 c 479 b 359 c 164 b 077 b

5
222
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

75 99, 5,1 11, 1, 1, 0, 0,


,00 000 a 00 a 390 a 249 c 699 b 282 a 235 a

15 100 3,1 4,6 1, 1, 0, 0,


0,00 ,000 a 00 b 90 c 082 d 206 d 251 a 196 a

22 99, 5,2 5,4 1, 1, 0, 0,


5,00 500 a 60 a 60 bc 478 b 967 a 329 a 188 a

30 100 4,6 6,9 1, 1, 0, 0,


0,00 ,000 a 40 a 70 b 553 a 116 e 284 a 233 a

C 1,0 16, 24, 4, 3, 14 16


V (%) 00 770 260 090 730 ,000 ,690

D 2,1 0,8 2,0 0, 0, 0, 0,


MS 84 46 01 071 070 080 068

Er 0,5 0,2 0,4 0, 0, 0, 0,


ro-padrão 00 10 98 018 017 018 015

Fonte: Dados da pesquisa (2020)


É importante mencionar que o uso de zinco no tratamento de sementes não causou prejuízos a
germinação das sementes, o que também foi verificado por Dias (2013) que constatou que o uso de
zinco no tratamento de sementes de milho e posterior armazenamento dessas por um período de oito
meses não prejudicou nem vigor nem a germinação (DIAS, 2013). Diante disso, pode se considerar que
mesmo após o armazenamento, o tratamento das sementes com zinco não afeta negativamente o
potencial fisiológico dessas. Assim, o processo de armazenamento parece não resultar em perda da
garantia de qualidade das sementes que posteriormente serão comercializadas (FREITAS, 2016).
Embora a aplicação de concentrações maiores de micronutrientes no tratamento de sementes tenha
sido considerada prejudicial ao potencial fisiológico dessas devido a ocorrência de fitotoxidade, as
doses de zinco avaliadas nesse estudo não contribuíram para efeitos adversos ao processo germinativo
(ZHANG et al., 2015). No entanto, deve se analisar criteriosamente a aplicação de doses maiores de
micronutrientes, pois quando aplicados em quantidades excessivas, os metais pesados usados no
tratamento das sementes pode agravar a deterioração devido alterações na respiração celular
(STANKOVIC et al., 2011). E uma vez que as sementes de milho são comercializadas em função do
peso, a fitotoxidade deve ser evitada, sobretudo quando se utiliza sementes de menores tamanhos.
No tratamento de sementes de milho, a dose aplicada é a mesma tanto em sementes menores quanto

6
223
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

maiores, uma vez que a dose do produto é definida em função da demanda de micronutrientes pela
cultura por hectare, sem considerar que pode haver variações na massa individual das sementes
tratadas. Desse modo, tem se efeitos mais expressivos de fitotoxidade em sementes de menor
tamanho na cultura do milho (ZHANG et al., 2015; LEE et al., 2010).
Os maiores valores de comprimento da parte aérea foram observados nas doses 75, 225 e 300 mL de
Zintrac em 20 kg de sementes, as quais foram estatisticamente iguais. O menor comprimento da parte
aérea foi observado no tratamento controle, o qual consistiu em sementes não tratadas com Zintrac.
Em relação ao comprimento da raiz, o maior comprimento ocorreu no tratamento correspondente ao
tratamento de sementes na dose 75 mL de Zintrac em 20 kg de sementes.
Dörr et al. (2017) também verificaram efeito positivo do tratamento de sementes sobre o
comprimento de parte aérea e comprimento de raiz. Os resultados observados podem ter ocorrido
porque o zinco está envolvido no processo de síntese enzimática, sobretudo de proteinases,
desidrogenases e peptidades, e no metabolismo de carboidrato. Desse modo, esse elemento contribui
para que haja maior liberação de energia para os vegetais, o que resulta no maior crescimento das
plantas como resultado da decomposição de moléculas complexas em moléculas simples (CHERIF et
al., 2010; DÖRR et al., 2017).
Maiores valores de comprimento radicular em plântulas oriundas de sementes tratadas com zinco em
comparação a plântulas obtidas de sementes não tratadas podem ter relação com o papel do zinco na
síntese do aminoácido triptofano, o qual atua induzindo a produção de hormônios nos tecidos
vegetais. Um dos hormônios induzidos pelo triptofano é a auxina, composto relevante no processo de
alongamento celular e diferenciação de células na raiz (OVERVOORDE; FUKAKI; BEECKMAN, 2010).
A maior massa fresca da parte aérea ocorreu no T5 que correspondeu ao tratamento de sementes
com 300 mL de Zintrac e o maior valor de massa fresca da raiz foi verificado no T4, em que as sementes
foram tratadas com 225 mL de Zintrac. De acordo com Vazquez et al. (2016), a sensibilidade dos
vegetais à deficiência de zinco varia em função da espécie de planta, sendo o milho considerada uma
espécie que apresenta grande sensibilidade à deficiência desse elemento. Rosolem e Franco (2000),
no entanto, afirmam que a sensibilidade do sistema radicular de plantas de milho à deficiência de
zinco é considerada baixa. Nesse estudo observou-se que na ausência desse nutriente, como ocorreu
no tratamento controle, a raiz desenvolve-se menos que quando o zinco é disponibilizado via
tratamento de sementes, demonstrando que as plântulas respondem a aplicação de zinco via
tratamento de sementes e apresentam valores superiores de massa fresca tanto de raiz quanto de
parte aérea, sobretudo com uso de doses maiores (225 e 300 mL de Zintrac).

7
224
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

No tratamento controle constatou-se massa seca da parte aérea e massa seca de raiz inferiores aos
demais tratamentos avaliados, não sendo verificada diferença estatística significativa entre as
diferentes doses de Zintrac. Assim como nesse estudo, Dörr et al. (2017) verificaram que o tratamento
de sementes de milho com zinco resulta em maior teor de matéria seca de raiz e de parte aérea em
plântulas. A maior massa seca de raiz e de parte aérea em função da aplicação de zinco pode decorrer
do maior crescimento inicial das plântulas na presença desse micronutriente, o qual está ligado aos
processos de expansão e divisão celular, assim como crescimento das células, os quais ocorrem tanto
na germinação quanto no desenvolvimento inicial das plântulas (NONOGAKI; BASSEL; BEWLEY, 2010).
As médias obtidas para as variáveis-resposta comprimento de raiz, comprimento de parte aérea e
massa fresca de raiz não se ajustaram aos modelos matemáticos testados na análise de regressão.
Para massa fresca de parte aérea verificou-se ajuste das médias ao modelo matemático cúbico, sendo
que na dose 300 mL/20 kg de sementes de Zintrac verificou-se a maior média (1,553 g) para essa
variável (Figura 1).

1,8
1,6
1,553
1,479 1,478
1,4
Massa seca de raiz (g)

1,2 1,249
1,082
1
0,8
0,6
y = -8E-08x3 + 5E-05x2 - 0,0076x + 1,4988
0,4 R² = 0,823
0,2
0
0,000 50,000 100,000 150,000 200,000 250,000 300,000 350,000
Doses de Zintrac (mL/20 kg de sementes)

Figura 1. Modelo de regressão com ajuste das médias obtidas para a variável-resposta massa fresca
de parte aérea de plântulas de milho. Centro Universitário de Patos de Minas, Minas Gerais, 2020.

Quanto à variável massa seca de raiz verificou-se ajuste das médias ao modelo matemático cúbico,
sendo que na dose 75 mL/20 kg de sementes de Zintrac verificou-se a maior média (0,235 g) para essa
variável (Figura 2).

8
225
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

0,25
0,235 0,233

0,2 0,196
0,188
Massa seca de raiz (g)
0,15

0,1
0,077 y = 5E-08x3 - 2E-05x2 + 0,0035x + 0,0799
0,05 R² = 0,9635

0
0,000 50,000 100,000 150,000 200,000 250,000 300,000 350,000
Doses de Zintrac (mL/20 kg de sementes)

Figura 2. Modelo de regressão com ajuste das médias obtidas para a variável-resposta massa seca de
raiz de plântulas de milho. Centro Universitário de Patos de Minas, Minas Gerais, 2020.

Para massa seca de parte aérea verificou-se ajuste das médias ao modelo matemático quadrático,
sendo que na dose 225 mL/20 kg de sementes de Zintrac verificou-se a maior média (0,329 g) para
essa variável (Figura 3).

0,35
0,329
0,3
0,282 0,284
Massa seca de raiz (g)

0,25 0,251

0,2
0,164
0,15

0,1
y = -3E-06x2 + 0,0012x + 0,1736
0,05 R² = 0,7683

0
0,000 50,000 100,000 150,000 200,000 250,000 300,000 350,000
Doses de Zintrac (mL/20 kg de sementes)

Figura 3. Modelo de regressão com ajuste das médias obtidas para a variável-resposta massa seca de
raiz de plântulas de milho. Centro Universitário de Patos de Minas, Minas Gerais, 2020.
Tanto a massa fresca quanto a massa seca de parte aérea mostraram-se superiores nas duas maiores
doses de zinco testadas (225 e 300 mL de Zintrac), demonstrando efeito positivo de doses maiores
sobre os valores de massa. Já a massa seca de raiz foi superior na dose 75 mL de Zintrac. Destaca-se
que há variações na resposta à aplicação de zinco no tratamento de sementes em função da cultivar

9
226
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

utilizada e dos lotes de sementes de uma mesma cultivar, demonstrando que diferentes fatores
genéticos podem exercer influência no processo de absorção desse elemento pelas sementes e
plântulas recém-emergidas (LEMES et al., 2017), o que pode estar relacionado às diferentes respostas
de plântulas de milho em função das diferentes doses testadas nesse estudo em comparação a outros
abordando essa temática.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que não há efeito das doses 75, 150, 225 e 300 mL de fertilizante foliar a base de zinco
sobre a porcentagem de germinação de sementes de milho tratadas, mas o uso de zinco no tratamento
de sementes contribuiu para plântulas de milho com comprimento, massa fresca e massa seca de raiz
e parte aérea superiores em comparação àquelas originadas de sementes não tratadas.

10
227
Doses De Fertilizante Foliar A Base De Zinco Sobre A Germinação De Sementes De Milho

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12
229
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 18
10.37423/201203475

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DA


ÁGUA TERMAL DE CIPÓ-BA: POTENCIALIDADES
CRENOTERÁPICAS

Joseína Moutinho Tavares Instituto Federal da Bahia

Walter Gabriel Neves Cruz Instituto Federal da Bahia


Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Resumo: Dentre tantos tipos de água, temos as termais, que são definidas como aquelas em que a
temperatura, na fonte, excede em 5ºC, no mínimo, a temperatura média da região. De origem
subterrânea profunda, essas águas apresentam características que são diferentes das fontes comuns,
tal como a concentração elevada de sais minerais, a temperatura “morna” própria, os aspectos
bacteriológicos e o suposto poder terapêutico. A depender da presença de diferentes oligoelementos,
observam-se diferentes propriedades médicas. Historicamente, as águas da instância hidromineral de
Cipó-BA representam características que indicam um recurso mineral potencialmente valioso para a
população local no tocante à exploração econômica, cultural e turística. Nesse contexto, destaca-se a
importância de um levantamento das características químicas da água com o fim de avaliar o potencial
crenoterápico das fontes, partindo da comparação de seus aspectos com os de outras fontes
hidrominerais presente na literatura médica. Entre setembro de 2016 e janeiro de 2017, este estudo
analisou os principais BACS (biologically active componentes and situations) a partir da coleta e análise
de quatro pontos no município, para prospectar suas propriedades de interesse: pH, temperatura,
STD, dureza, alcalinidade, teor de HCO3-, Ca, Mg, Cl -, SO4-2, Ba, Fe, Mn e Li. Compararam-se os
resultados com relatos de caso, testes em cobaias e ensaios clínicos presentes na compilação
bibliográfica. As águas foram classificadas de acordo com legislações, tal como o Código de Águas
Minerais, do decreto-lei nº 7841/1945, além disso, a potabilidade foi analisada pelos parâmetros
estabelecidos pela Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde e pela resolução nº 396/2008 do
CONAMA. Os resultados obtidos indicaram que as águas termais de Cipó classificam-se, com pouca
diferenciação entre um ponto e outro, como hiperssalinas, cloretadas, cálcicas, magnesianas,
ferromanganíferas, e gasocarbônicas A contaminação por coliformes no ponto B revelou a
necessidade de ações corretivas neste local. Embora constatadas como não potáveis devido ao alto
teor de Bário, o seu uso terapêutico dentro de certos limites de exposição é seguro e permite o
aproveitamento do grande potencial crenoterápico notado, que inclui o tratamento de doenças
dermatológicas, gástricas, reumatológicas, cardiovasculares, psíquicas e entre outras.

Palavras-chave: Crenoterapia. Análise de água mineral. Águas termais. Estância hidromineral de Cipó-
BA. Termalismo.

1
231
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

1. INTRODUÇÃO

A água é uma substância indispensável para a vida e para o equilíbrio ecológico. Não apenas em
questões biogeoquímicas ela é fundamental; socialmente, a água cumpre também importantes
funções no abastecimento público, no setor industrial, agropecuário, energético e até mesmo no lazer
da humanidade. Dada à crescente ameaça da escassez, a água constitui, atualmente, uma das
principais preocupações mundiais no que diz respeito aos seus usos preponderantes e à sua
manutenção como um bem de todos, em quantidade e qualidade adequadas.

O baixo peso molecular, a forte polarização da ligação entre hidrogênio e oxigênio e as suas interações
intermoleculares fizeram da água um “solvente universal”, sendo capaz de dissolver um extenso
número de substâncias. Como a sua presença se estende por todo um planeta diverso, das
profundezas subterrâneas até as nuvens, de climas quentes até continentes gélidos, as águas, sendo
bons solventes, são também bastante diversificadas (SCURACCHIO, 2010).

Dentre tantos tipos de água, temos as termais, ou hidrotermais. As águas termais são definidas como
aquelas em que a temperatura, na fonte, excede em 5ºC, no mínimo, a temperatura média da região.
De origem subterrânea profunda, essas águas apresentam características que são diferentes das
fontes comuns, tal como a concentração elevada de sais minerais, a temperatura “morna” própria, os
aspectos bacteriológicos e o suposto poder terapêutico. A principal diferença entre águas termais e
águas de nascente ou de poços superficiais é o tempo de residência no subsolo: já que a profundidade
dos reservatórios termais é maior que os reservatórios superficiais, o tempo de infiltração por entre
as rochas também é maior, possibilitando a dissolução dos minerais e sua transformação em íons de
forma lenta e potencializada. Como a água penetra na malha rochosa subterrânea poucos centímetros
por ano, é bem provável que, antes de retornar à superfície, ela tenha circulado debaixo da terra, até
2000 m de profundidade, durante mais de 5000 anos, dependendo da profundidade do reservatório
(STRACI, 2014).

Sabe-se que é possível estabelecer uma relação entre a litologia inerente a essas formações geológicas
e a composição química das águas subterrâneas, visto que as características das águas subterrâneas
estão diretamente relacionadas às variações na composição e nos teores de minérios presentes no
subsolo, assim como a profundidade em que é encontrada. Isso ocorre pelo fato da água se comportar
como bom solvente, tornando-a um reflexo da formação geológica ali presente. Por exemplo, uma
instância hidromineral na qual a água tem teor considerável de Ferro (Fe+2 ou Fe+3), é um indicativo

2
232
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

de que naquela região há minerais portadores de Fe, como magnetita, biotita, pirita, e piroxênio
(PINTO, 2006).

Os diferentes tipos de água termal (Tabela 1) são classificados de acordo com a natureza e a
quantidade de íons solvatados. Os mais relevantes são: Na+, K+, Mg+2, Ca+2, Fe+2, Fe+3, Zn+2, F-, HCO3-,
CO3-2, SO4-2, Cl- e Br-. Outros elementos também podem estar presentes: Cu, Sr, Al, S, P e Cr.

Tabela 1: Classificação básica de águas termais

Fonte: Adaptado de CARVALHO e RAMOS, 2010.

A depender da presença de diferentes oligoelementos, observam-se diferentes propriedades


supostamente terapêuticas. O uso das águas termais para tratamento de saúde é um procedimento
dos mais antigos, utilizado desde o apogeu da Grécia Antiga. Foi descrita por Heródoto (450 a.C.),
autor do primeiro estudo termal. Enquanto que o termalismo compreende as diferentes maneiras de
utilização da água mineral e sua aplicação em tratamentos de saúde, ligados ao imaginário e tradições
populares locais, a crenoterapia consiste na indicação e uso de águas minerais com finalidade
terapêutica atuando de maneira complementar aos demais tratamentos de saúde. No Brasil, a partir

3
233
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

da década de 1990, a Medicina Termal passou a ter uma abordagem coletiva, incentivando o chamado
“turismo saúde”, dada a existência de várias fontes minerais em todo País. Considerada terapia
complementar, o Ministério da Saúde a incluiu entre as Práticas Integrativas e Medicinas
Complementares do Sistema Único de Saúde – SUS (ALMEIDA, 2011). Não existem estudos sobre qual
a correlação específica do poder terapêutico com as características físico-químicas, como a
concentração dos minerais presentes, temperatura, pH, turbidez, etc. Porém, existem evidências
sobre os efeitos dos banhos e da ingestão das águas minerais em diversos tipos de doença,
principalmente relacionados à doenças de pele, do sistema musculoesquelético e digestório (AMARAL,
2010).

Até meados do século XX o turismo termal era uma atividade de destaque na cidade de Cipó-BA (figura
1), e este foi responsável pelo crescimento da cidade e pela emancipação do município nos anos 30.
Atualmente, o turismo termal local encontra-se em decadência, restando penas o lazer oferecido pelas
fontes que jorram na praça central da cidade, fato explicado pela ocidentalização e modernização da
medicina, juntamente com a recente descrença e ceticismo dos tratamentos alternativos (SANTOS e
SILVA, 2012).

Figura 2: Localização do município de Cipó, na Bahia.


Fonte: Adaptado de Wikimaps.

1.1. JUSTIFICATIVA

As características crenoterápicas historicamente atribuídas às águas da instância hidromineral de


Cipó-BA indicam um recurso mineral potencialmente valioso para a população local no tocante à
exploração econômica, cultural e turística. O hidrotermalismo, ou seja, a utilização das águas termais
para lazer ou para saúde é uma atividade que se encontra em crescimento no país. O turismo de lazer,

4
234
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

utilizando as águas minerais e termais, tem mudado a vocação turística de diversos municípios
brasileiros (STRACI, 2014). Infelizmente, Cipó segue uma tendência contrária.

É nesse contexto que reside o problema de que a população local detém poucos conhecimentos
científicos e do potencial estratégico dos seus recursos aquáticos, visto que os últimos estudos
químicos sobre a água foram feitos na primeira metade do século XX e apresentam pouca
confiabilidade.

Como a água é ingerida in natura, sem nenhum tipo de tratamento comum, é necessário ter certeza
de que os aspectos físico-químicos estão dentro dos parâmetros seguros, indicados pela portaria nº
2914/2011 do Ministério da Saúde que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao
controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e
enquadrá-la na resolução nª396/2008 do CONAMA, que dispõe sobre águas subterrâneas. Nesse
sentido, é de fundamental importância que se estude as propriedades físico-químicas da água mineral
das fontes do município de Cipó-BA, além de avaliar o potencial crenoterápico das fontes, partindo da
comparação de seus aspectos com os de outras fontes hidrominerais presente na literatura médica.

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

- Analisar as propriedades físicas e químicas da água termomineral subterrânea do município de Cipó-


BA para avaliar o potencial crenoterápico de suas fontes.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Questionar e investigar a suposta terapia termal a partir da relação entre os dados


experimentais obtidos sobre a água termal com dados da pesquisa bibliográfica.

 Classificar a água termal de Cipó a partir dos dados obtidos e comparar com os parâmetros
legais da portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde e a resolução do CONAMA nª396/2008,
partindo da identificação e quantificação dos principais íons presentes, determinação do pH,
alcalinidade, condutividade, temperatura na fonte, dureza, sólidos dissolvidos, aspectos
microbiológicos e outros indicadores de qualidade da água.

 Aprimorar conhecimentos acerca de técnicas analíticas, como titrimetria, espectroscopia no


UV-VIS, técnicas eletroanalíticas e utilização do ICP-OES.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA, GEOLÓGICA E GEOQUÍMICA

3.1.1. ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende as fontes termais do município de Cipó. A cidade está localizada a 240
km da capital do estado, Salvador, na mesorregião do nordeste baiano e tem 16.860 habitantes (IBGE,
2011). Na atualidade, a cidade apresenta pequeno fluxo turístico representado principalmente pelos
moradores da região. As fontes termais estão restritas essencialmente a dois pontos na cidade: na
praça Juraci Magalhães e no parque pau-ferro.

O clima da região é semiárido com chuvas escassas e calor intenso. Situa-se a 132 m acima do nível
marítimo, em espaço de depressão, sobre os tabuleiros nordestinos. A vegetação é tipicamente de
caatinga em sua maior parte e com algumas poucas plantas do cerrado espalhadas ao longo do
território. A cidade é percorrida pelo Rio Itapicuru, composto por águas que variam de cristalina a
amarronzada em função de várias nascentes termais que se brotam pelo seu percurso. Essa natureza
e paisagem estão hoje muito alteradas pela ação antrópica (TELES, 2007).

A descoberta das águas termais data do século XVIII, contudo a utilização das fontes termais se inicia
somente no início do século XIX com a construção de casas para banhos por famílias poderosas.
Genésio Salles, médico e pesquisador, após receber, em concorrência pública, a concessão do uso das
águas de Cipó, montou um serviço de assistência médica e construiu um moderno balneário,
composto de uma piscina térmica (a primeira do Brasil) e demais instalações. Desde então, a
crenoterapia de cipó foi expandida e incentivada, com destaque para a inauguração do Grande Hotel
por Getúlio Vargas. Em função da exploração das águas quentes para fins medicinais, a cidade de Cipó
foi erguendo objetos na paisagem ligados a prática do turismo termal. A representatividade do
termalismo no espaço cipoense construiu a identificação cultural da cidade como o lugar das águas da
cura (TELES e TRUFEM, 2009).

3.1.2. ASPECTOS GEOLÓGICOS DA ÁREA DE ESTUDO

As águas termais têm a sua origem na precipitação atmosférica que, infiltrando-se em profundidade
ao longo de acidentes geológicos tectônicos vai adquirindo características físico-químicas peculiares
em função da composição mineralógica das formações geológicas por onde circula. Dessa forma, as
condições químicas das águas termais são determinadas pela relação entre água e rocha. Geralmente

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

quando se fala da composição química da água, tem-se em mente a análise química para verificar
apenas as suas propriedades. Porém, como são diversos os processos que ocorrem na interação
água/litologia, entender um sistema hidrogeológico é adquirir uma visão mais ampla dessas
propriedades, bem como explicações e hipóteses para elas. (MARQUES et al, 2012).

As fontes termais do município de Cipó-BA localizam-se sobre um manto rochoso sedimentar datado
da era paleozoica-mezosóica (éon fanerozóico), de sequência sedimentar clasto-carbonáticas,
descritos pela Figura 2 (CARVALHO e RAMOS, 2010).

Figura 3: Litologia da macrorregião de Cipó-BA, expondo os principais tipos de leitos geológicos.


Fonte: Adaptado de CARVALHO e RAMOS, 2010
No levantamento da geodiversidade do estado da Bahia, feito pelo CPRM - Serviço Geológico do Brasil,
presente na obra de Carvalho e Ramos (2010), existem diversos domínios geológicos subdivididos em
unidades geológico-ambientais agrupados de acordo as principais características litológicas (de solo),
topográficas, de relevo e outras variáveis físicas. Quanto à área estudada, de acordo com a localização
geográfica e observações práticas, pode-se enquadrá-la nos seguintes domínios:

 Domínio dos sedimentos indiferenciados cenozoicos relacionados ao retrabalhamento de


outras rochas (Figura 3): são terrenos detentores de aquíferos granulares, de porosidade
primária alta, de elevada permeabilidade em terrenos onde predominam os sedimentos
arenosos. Por isso, são boas zonas de recarga ou estoque temporário para aquíferos
subjacentes.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Figura 4: Distribuição do domínio dos sedimentos indiferenciados cenozoicos relacionados ao


retrabalhamento de outras rochas no estado da Bahia.
Fonte: Adaptado de CARVALHO e RAMOS, 2010.
 Domínio dos sedimentos cenozoicos carbonáticos, pouco a moderadamente consolidados,
associados a tabuleiros (Figura 4): tem capacidade de média a alta favorabilidade
hidrogeológica, isto é, sua organização estrutural favorece a formação de aquíferos. Tem grande
permeabilidade em função da grande razão areia/argila: a água subterrânea é, em geral, de boa
qualidade química e apresenta, em alguns locais, elevados teores de ferro. Sendo um domínio
carbonático, nas rochas calcárias as águas subterrâneas se armazenam e circulam através de
cavidades formadas pela dissolução dos carbonatos.

Figura 5: Distribuição do domínio dos sedimentos cenozoicos carbonáticos, pouco a moderadamente


consolidados, associados a tabuleiros, no estado da Bahia. Fonte: Adaptado de CARVALHO e RAMOS,
2010.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

 Domínio das sequências vulcanossedimentares tipo greenstone belt, arqueano ao


mesoproterozoico (Figura 5): Neste tipo de formação há o predomínio de aquíferos do tipo
fissural, nos quais o armazenamento das águas subterrâneas se dá em fraturas e falhas. A sua
configuração litoestrutural é favorável à existência de importantes armadilhas hidrogeológicas
relacionadas a mudanças de litologias de comportamentos hidrodinâmicos contrastantes.
Onde há predomínio de relevos acidentados, as águas superficiais escoam muito rapidamente,
favorecendo a infiltração e a recarga das águas subterrâneas. Pode haver elevados teores de
ferro nas águas subterrâneas associados às formações ferríferas. Mesmo com características
sedimentares, pode apresentar formações metamórficas cristalinas.

Figura 6: Distribuição do domínio das sequências vulcanossedimentares tipo greenstone belt do


Itapicuru, arqueano ao mesoproterozoico, no estado da Bahia. Fonte: Adaptado de CARVALHO e
RAMOS, 2010.
Sabe-se ainda que o solo da região é caracterizado por um manto de siltitos e argilitos de alta
porosidade e pouca permeabilidade intercalado com um leito arenoso com detritos não consolidados,
com sedimentos à base de quartzo, muito permeável. A partir destas informações e dos domínios
enquadrados, pode-se observar que a combinação de vários fatores geológicos favorece a formação
de aquíferos profundos e o termalismo das águas. Na sequência vulcanossedimentar cenozoica, típica
da região, há predomínio de armadilhas hidrogeológicas que favorecem aquíferos confinados
(pressurizados) fissurais ou de falhas em um leito impermeável. A grande superfície plana rodeada de
tabuleiros rochosos e com solo arenoso bastante permeável, mesmo que intercalada com porções

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

argilosas de alta porosidade e difícil infiltração, a faz uma boa área de recarga para os aquíferos, desde
os mais profundos aos rasos, a partir das águas pluviais (SILVA JÚNIOR e CAETANO, 2016).

As águas subterrâneas são a parte com menor mobilidade no ciclo hidrológico. Enquanto o volume
total da água atmosférica é substituído a cada 9 dias, dos mares e oceanos ocorre em média a cada
2.000 anos e das águas subterrâneas a cada 8.000 anos. Sua taxa de movimentação em níveis rasos é
de 1 a 1.000 metros por ano e em níveis com profundidades de 1.000 a 2.000 metros cai para 0,1 a
0,0001 metros/ano; para fins de comparação, a mobilidade em rios é em média de 5 km/hora
(LAZZERINI, 2013).

Dentro da bacia hidromineral, existem dois tipos quanto à origem da água: o aquífero é alimentado
pelas águas pluviais de infiltração e também pelas águas profundas. Porém, como a chuva é escassa
na região de Cipó, com clima seco, e o tempo necessário para que a infiltração, os processos de
dissolução ocorram e a água atinja o fundo do reservatório é grande, a maior parte das águas termais
locais tem origem antiga, em uma época na qual a precipitação da região era maior, e as características
morfológicas provavelmente eram diferentes das de hoje. Ou ainda, pode-se atestar que a grande
maioria das fontes e nascentes termominerais possui origem meteórica e não juvenil (SZIKSZAY, 1993).

De acordo com Salles (1898), ao discutir precisamente sobre a geologia cipoense:

A origem real das águas está na falha das rochas eruptivas que se projetam
através dos estratos recentes e se revelam nas serras vizinhas (Aporá) e no leito
granítico em que desce o Itapicuru. [...] umas emergem do solo vegetal depois
de percorrerem, em esteira subterrânea, alguma distância horizontal até o
ponto onde afloram. Atesta ainda a sua origem profunda a temperatura das
fontes que vão diminuindo quanto mais elas vão afastando da origem real. (p.
45).
Na área estudada, as águas jorram espontaneamente a partir de fontes. Há vários agentes para a
ascensão da água advinda de uma jazida profunda; geralmente baseiam-se em algum desequilíbrio
energético entre os sistemas superiores, superficiais, e inferiores, nos depósitos e armadilhas dos
aquíferos:

(I) Ação da temperatura: sabe-se que a partir de 4ºC, quanto maior a temperatura, menor a
densidade da água. A diferença de densidade entre água fria e água quente (aquecida pelo
gradiente geotérmico) causa desequilíbrio entre o peso e empuxo de uma porção do fluído
e, em consequência disso, a água quente, que geralmente está localizada em uma porção
mais profunda e, sendo menos densa, tende a ascender.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Além disso, a viscosidade é reduzida se a temperatura é aumentada.

(II) Pressão dinâmica do líquido: Seguindo o princípio de Bernoulli, quando a área de recarga,
isto é, a região na qual a água superficial se infiltra pelo leito rochoso, é mais elevada que a
zona de surgência (a própria fonte), há uma pressão piezométrica ascendente.

(III) Dilatação e vaporização da água: em contato com rochas profundas de alta temperatura, a
água tende a se expandir (variação da densidade) e até mesmo a evaporar. A energia
absorvida nesses processos e a alta pressão interna gerada são responsáveis por empurrar
porções superiores de água, mais frias, para superfície.

(IV) Ação do gás dissolvido: uma grande quantidade de gases dissolvidos também reduz a
densidade da água, além de emulsionar e contribuir para uma maior fluidização da água.

O calor geotérmico é produzido principalmente no manto inferior terrestre, mas pode decorrer em
fases superiores através da combinação de vários mecanismos, dentre os principais (WICANDER e
MONROE, 2009):

(I) Decaimento de elementos radioativos de longa vida, presentes no leito rochoso,


particularmente isótopos do urânio, tório e potássio, transformando energia atômica em
energia térmica;

(II) Segregação vertical geradora das atuais camadas: núcleo, manto e crosta e as constantes
trocas e fluxos caloríficos entre as mesmas;

(III) Compressão adiabática pela deformação de reservatórios pelo movimento tectônico, que
de acordo com a primeira lei da termodinâmica, aumenta a temperatura e pressão interior
do sistema; (IV) Fricção entre placas tectônicas e zonas de falhas, que promove contato com
rochas de diferentes condições térmicas e tem a sua energia cinética transformada em
energia térmica pelo atrito;

(IV) Dissipação da energia rotacional, com a taxa de rotação terrestre decrescendo na escala de
tempo.

Em eras mais recentes, o decaimento radioativo proveniente de material originalmente segregado ao


manto é o mecanismo que produz grande maioria deste calor, contendo como principais: potássio,
tório e urânio. A temperatura estimada no núcleo terrestre é superior a 4500 ºC, diminuindo
gradualmente em direção à superfície, sendo de 1500 a 1200 ºC no manto e de 1000 a 200 ºC na base

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

da crosta continental. O gradiente geotérmico médio na crosta está entre 25 e 30 ºC/km. Três variáveis
controlam a temperatura na litosfera: fluxo térmico superficial médio, produção média de calor crustal
e variações verticais na produção, relacionadas à composição, estrutura e dinâmica geológica. Os
mecanismos de difusão termal incluem a perda de calor do núcleo para o manto, as plumas de
convecção, a perda de calor do manto para crosta e a tectônica de placas. Metade do calor provém do
manto e a outra metade provém do decaimento radioativo na crosta continental somada à dinâmica
das placas na crosta oceânica antiga (LAZZERINI, 2013).

3.1.3. ASPECTOS HIDROGEOQUÍMICOS DAS ÁGUAS TERMAIS

A transformação da água pura das nuvens em água mineral hipersalina é um processo longo no qual
ocorrem vários mecanismos interdependentes de salinização e gaseificação.

Tratando-se de um sistema natural, é importante salientar que, para que as transformações ocorram,
estas devem ser espontâneas, isto é, que nenhuma ação externa seja necessária para que o processo
se inicie ou continue. A transferência de energia só ocorre por meio de potenciais favoráveis. A
espontaneidade não está necessariamente ligada à exotermia das reações e transformações, uma vez
que ocorrem muitos processos endotérmicos no interior dos sistemas geológicos, e sim à tendência
do produto final ser mais desordenado ou aleatório que o estado inicial (aumento de entropia). Este
é o princípio fundamental dos processos energéticos (PETRUCCI et al, 2007).

Inicialmente, a água provinda das chuvas é pura. No entanto, a partir da sua queda e precipitação, as
transformações já começam a ocorrer. N2, Ar, O2, H2, He, Ne, CO2 e CH4, que são os principais gases
da atmosfera, entram em contato com a água e se dissolvem. Porém, a importância dos processos
aéreos na característica final da água subterrânea é ínfima. A dissolução começa desde a superfície,
mas é mais importante na zona de infiltração do solo. O que caracteriza o solo é a presença da matéria
orgânica na parte superior e sais minerais livres. A água tem um papel importante porque ela é o
veículo das dissoluções por hidratação e hidrólise.

O CO2 das águas subterrâneas advém, majoritariamente, das reações químicas de ataque às rochas
e processos biológicos metabólicos ou de 24 decomposição, em especial na superfície rasa do solo, e
não da atmosfera. Tem-se como principal exemplo o ataque às rochas calcárias em meio ácido:

2H+ + CaCO3 → Ca+2 + H2O + CO2 (1.1)

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

A maior fonte de CO2 no solo é produzida pela respiração de microorganismos nos processos de
decomposição da matéria orgânica. O CO2 atmosférico está pouco disponível e, por isso, é pouco
incorporado. Além destas fontes, o CO2 das águas termominerais também pode ser de origem
magmática e metamórfica (SZIKSZAY, 1993). Na figura 6, é apresentado um resumo sobre a origem do
CO2 nas águas subterrâneas.

Figura 7: Origem de CO2 na água subterrânea


Fonte: Adaptado de SZIKSZAY, 1993.
Quanto à origem dos íons, esses são provenientes do contato entre água e rocha, em camadas mais
profundas, que causa a solubilização de sais como também a precipitação dos mesmos nas cavidades
da rocha. Os principais processos nessas transformações são: a dissolução, que é a simples
solubilização de um soluto pela água, a hidrólise, que é uma reação na qual a água é incorporada; e as
reações de oxirredução.

A dissolução dos elementos no manto rochoso também é chamada de lixiviação e é o principal


processo definidor das características da água. Os principais constituintes das águas minerais são os
sais solúveis que ocorrem em quantidades relativamente grandes nas rochas; são os carbonatos,
sulfatos e cloretos que ficam misturados ao conjunto silicoso e com os metais recorrentes. São
simplesmente dissociados em água. Para algumas substâncias menos solúveis, como os carbonatos de
cálcio e magnésio, a dissolução é favorecida pela presença de CO2 na água.

Por outro lado, para os minerais consolidados e insolúveis, a incorporação pode ser feita pela hidrólise,
ou seja, pela transformação química influenciada pelos íons H+ e OH- em outras espécies solúveis. Na
superfície dos silicatos, podem existir valências não satisfeitas, permitindo uma hidratação que pode

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

pôr em solução K+, Na+, Mg+2, Ca2+ e, mais tarde, Si e Al. Há inúmeras reações que descrevem estes
processos para cada mineral; a seguir, têm-se alguns exemplos para lixiviação de feldspatos – que são
as rochas mais comuns da crosta terrestre (SZIKSZAY, 1993):

KAlSi3O8 + 8 H2O → Al(OH)3 + 3 H4SiO4 + K+ + OH- (1.2)

2 NaAlSi3O8 + 2H+ + 9 H2O → Al2Si2O5(OH)4 ↓ + 4H4SiO4 + 2 Na+ (1.3)

CaAl2Si2O8 + 6 H2O + 2 H+2 → Ca+2 + 2 Al(OH)3 + 2 H4SiO4 (1.4)

Há alguns fatores exógenos que regulam a intensidade dos processos de solubilização: o ataque da
água aumenta com a presença de ácidos orgânicos e inorgânicos; também com o aumento da
temperatura; varia de acordo com o pH e com fenômenos de oxidação.

Algumas dessas reações, como a 1.3 e 1.4, são potencializadas pela presença de ácidos que costumam
se formar no processo. O ácido nítrico e nitroso são provenientes de processos de nitrificação ou
fixação do nitrogênio do ar por bactérias, nos primeiros metros de solo; o ácido sulfúrico origina-se da
oxidação de sulfetos e minerais sulfídricos (como pirita, descrita na reação 1.5) e os ácidos orgânicos
são produzidos durante o crescimento das plantas e libertados depois da morte, ou decomposição da
matéria orgânica, que são os ácidos butírico, fórmico, cítrico, tánico, láctico, acético, etc (ZIMBRES,
2002).

2 FeS2 + 7 O2 + 2 H2O → 2FeSO4 + 2 H2SO4 (1.5)

A temperatura mais alta em zona subterrânea que a zona superficial favorece tanto a dissolução
quanto as reações de hidrólise dos minerais. Geralmente, aumentando-se a temperatura, aumenta-se
a solubilidade dos sais – salvo algumas exceções, como o CaCO3 que tem a solubilidade reduzida com
o aumento da temperatura, uma vez que depende da correlação com o CO2 dissolvido (DUARTE,
2009).

A influência do pH é variada e depende da natureza do sal; por exemplo, um pH baixo (<7) favorece a
dissolução de silicatos. Hidrogenossais (ex: HCO3-) e hidroxissais (ex: Al2Si2O5(OH)4) são
especialmente mais sensíveis à essa variável, visto que a presença de H+ e OH- no retículo cristalino
participam do equilíbrio físico-químico seguindo o princípio de Le Chatelier.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

É importante ressaltar que a correlação é recíproca, isto é, assim como o pH influencia na salinização,
a salinização também vai modificando o pH. A geração de sais ácidos e a presença de dióxido de
carbono livre propicia o rebaixamento de pH, enquanto soluções contendo carbonatos, bicarbonatos,
hidróxidos, fosfatos, silicatos ou boratos dissolvidos costumam possuir pH mais básico. Normalmente,
águas de elevadas mineralizações (grande teor de sólidos totais dissolvidos), têm pH elevado
(BREZONIK e ARNOLD, 2011).

Os fenômenos de oxidação são importantes nas zonas atravessadas pelas águas superficiais.
Acontecem principalmente nas camadas superiores, visto a maior quantidade de oxigênio presente
para reação eletroquímica. A oxidação é importante no caso dos sulfetos como a pirita, resultando em
óxido de ferro, que depois pode ser novamente transformado, e ácido sulfúrico, que pode atacar os
calcários com a formação de sulfato e consequente liberação de Ca+2. A oxidação é importante na
magnetita produzindo oxido férrico, íons ferrosos, líticos e manganosos (LAZZERINI, 2013).

O ferro na água subterrânea pode advir de minerais ferro-magnesianos, óxidos, silicatos (FeSiO3) e
sulfetos, enquanto que a presença do manganês se deve a óxidos e hidróxidos tais como homblenda
e biotita. Juntos, estão presentes nas formas insolúveis numa grande quantidade de solos. Na ausência
de oxigênio dissolvido na água subterrânea ou fundo de lagos, eles se apresentam na forma solúvel.
Caso a água contendo as formas reduzidas de ferro e manganês seja exposta ao ar atmosférico, o ferro
e o manganês voltam a se oxidar às suas formas insolúveis (como nas reações 1.6) em porções
superiores dos reservatórios (SCHWARZBACH e MORANDI, 2000):]

FeSiO3 + 2CO2 + 3 H2O ⇌ Fe(HCO3)2 + H4SiO4 (1.6.1)

2 Fe(HCO3)2 + ½ O2 → Fe2O3 ↓ + 4CO2 + 2 H2O (1.6.2)

Sumariamente, o que se pode esperar das solubilizações primárias em geral é o seguinte


comportamento (AULER e SMART, 2003):

(I) Somente os íons Na+, Ca+2 e Mg+2 são massivamente transportados pelas águas, liberados
dos silicatos durante a alteração. O K+ é facilmente retido por adsorção, tendo em visto a
boa compatibilidade com rochas silicáticas.

(II) Certa quantidade de SiO2 sob forma de íons de SiO3-2 ou H4SiO4 pode estar presente com
pH maior que 5. O Al+3 com pH<5 e pH>7,5 pode estar em solução em quantidades muito
reduzidas porque grande parte de Al e Si é fixada para formação das argilas.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

(III) O Fe+2 também está presente em pequenas quantidades; o Fe+3 precipita sob a forma de
hidróxidos em dispersão coloidal.

(IV) O SO4+2 se forma com a oxidação de pirita e outros sulfetos.

(V) O Cl- pode provir da biotita, muscovita, hombienda, apatita ou a partir de sais simples
presentes em grande quantidade nos primeiros metros de solo que são lixiviados.

(VI) A grande parte dos ânions, portanto, será HCO3-, CO3-2 proveniente de CO2 dissolvido,
que, por sua vez, provém de grande parte do solo e de fontes biológicas.

Mesmo que a lixiviação tenha sido completa e que a água tenha percorrido todo seu caminho, há
múltiplos processos modificadores que ainda hão de mudar a composição química da água
subterrânea. Alguns desses processos são (SZIKSZAY, 1993):

(I) Troca iônica: é a troca de íons adsorvidos em proporções estequiométricas por


outro íon adsorvido. Os materiais que se comportam como
adsorventes incluem minerais de argila, hidróxido férrico, oxido de alumínio, substâncias
orgânicas, especialmente húmus e alguns silicatos. As argilas e o humus dão coloides
eletronegativos que são capazes de fixar e trocar cátions, enquanto a alumina,
eletropositiva, fixa e troca ânions. Esse mecanismo natural pode servir tanto para reduzir a
concentração total de sais dissolvidos quando a água já chega dos mantos superficiais
bastante concentrada, quanto para aumentar a concentração em épocas que a água que
chega ao manto rochoso não é tão salina quanto uma vez já foi. Em outras palavras, é um
regulador da salinidade total;

(II) Precipitação: diversas reações de precipitação podem ocorrer, como a 1.6.2, porém, na
maioria das vezes, isso ocorre pela saturação de algum sal no meio. Esse processo tem o
efeito de manter uma certa quantidade máxima de sal dissolvida na água;

(III) Concentração: vale ressaltar que o caminho subterrâneo é heterogêneo, isto é, há


diferentes condições de temperatura, pressão, velocidade de escoamento e infiltração em
diferentes porções do caminho. A circulação diferencial pode criar “porções de água” em
determinadas zonas que hão de se encontrar com outras de propriedades diferentes e se
misturarem.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Ademais, o nível de água termal nos reservatórios e a sua composição não são estáticos, nem
constantes, e varia com: a precipitação ocorrida; a extração de água subterrânea; a variação súbita da
pressão atmosférica; as alterações do regime de escoamento dos rios que recarregam os aquíferos; a
evapotranspiração e os fenômenos biológicos na zona de recarga.

3.2. INDICADORES FÍSICO-QUÍMICOS PARA CONTROLE DE QUALIDADE DA ÁGUA

3.2.1. PARÂMETROS DE POTABILIDADE

As substâncias presentes na água determinam seu conceito de qualidade estando relacionados com
seu uso e características por ela apresentadas. Um conjunto de parâmetros compõe o padrão de
potabilidade, que tornam a água própria para o consumo humano. Esses parâmetros são estabelecidos
pela Portaria nº 2914/2011, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), que estabelece os padrões de
turbidez; de potabilidade para substâncias químicas (inorgânicas, orgânicas, agrotóxicos, cianotoxinas,
desinfetantes e produtos secundários da desinfecção), com valores máximos permitidos (VMP); além
dos padrões de aceitação para o consumo humano de outros parâmetros, como pH, cor, alcalinidade,
e teor máximo de metais pesados.

Os parâmetros mais significativos são:

 Resíduo de evaporação
Os sólidos nas águas correspondem a toda matéria que permanece como resíduo após evaporação da
amostra a uma temperatura pré-estabelecida durante um tempo fixado (STD – Sólidos totais
dissolvidos). É um indicativo do montante de salinização da água.

 Condutividade Elétrica
É a medida do inverso da resistência da condução elétrica que depende das concentrações iônicas e
da temperatura e indica a quantidade de sais existentes, já que os sais dissolvidos e ionizados
presentes na água transformam-na num eletrólito capaz de conduzir corrente elétrica. Juntamente
com o resíduo de evaporação, é um importante indicador da quantidade total de sais na água. Ingerir
águas hipersalinas, como a marítima, que tem teor de sal maior que 0,9%, oferece riscos à saúde por
causa da osmose que retira água das células, causando desidratação (PINTO, 2006).

 Turbidez

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

É a medida da dificuldade de um feixe de luz atravessar certa quantidade de água. É causada por
matérias sólidas em suspensão que refletem/absorvem a luz incidente. Não traz inconvenientes
sanitários diretos, porém a turbidez assumiu também caráter de indicador da qualidade sanitária da
água para consumo humano, pois uma água com alto teor de turbidez, geralmente, está contaminada
com agentes patogênicos (MUNIZ, 2013).

 pH
É a medida da concentração de íons H+ na água. O balanço dos íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-)
determinam quão ácida ou básica a água é.

 Dureza Total
É a propriedade relacionada com a concentração de íons de determinados minerais dissolvidos,
principalmente Cálcio e Magnésio. A dureza é definida também como a dificuldade de uma água em
dissolver sabão pelo efeito desses íons e outros elementos como ferro, manganês, cobre, bário, etc.
Isto ocorre, pois os sais formam precipitados com os ânions da solução de sabão (PINTO, 2006).

 Alcalinidade e Acidez
Alcalinidade é a medida total das substâncias presentes numa água capazes de neutralizarem ácidos,
enquanto que Acidez é a medida total das substâncias capazes de neutralizarem bases. Em ambos os
casos, é a quantidade de substâncias presentes numa água que atuam como tampão. As espécies
inorgânicas do carbono são frequentemente o ânion tamponante dominante nos sistemas de águas
subterrâneas e podem captar ou liberar íons hidrogênio como parte de suas reações de especiação. O
pH, a acidez e a alcalinidade da água são três conceitos intimamente ligados entre si e relacionados
com o equilíbrio múltiplo do sistema carbonato (SCURACCHIO, 2010):

 Teores de espécies químicas


Não se dá muita atenção aos teores máximos individuais de Na+, K+, HCO3-, CO3-2, Cl- e SO4-2 visto
que não representam perigo imediato à saúde humana. Porém, como geralmente estão em grande
quantidade nas águas, principalmente as subterrâneas, toma-se o cuidado em relação à
hiperssalinização da água, a qual sim traz certos riscos (DUARTE, 2010).

18
248
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Vale ressaltar que os teores de cloro são interessantes de se verificar em corpos d’água que passaram
por tratamento de alguma ETA na qual se fez uma cloração para desinfecção microbiológica. No
entanto, este não é o caso das águas termais e fontes turísticas (VALE e HAIE, 2006).

A observação dos teores de Ca e Mg – intimamente ligada à dureza - é importante pois, em grandes


quantidades, esses minerais criam depósitos endurecidos nas tubulações (incrustações) e
infraestruturas da rede de distribuição da água; além de alterar o sabor da água e causar desconforto
gastrointestinal (DUARTE, 2010).

Existem diversos outros metais importantes que geralmente são encontrados na água. Entre eles estão
o ferro, o cromo, o manganês, o cobalto, o níquel, o cobre e o molibdênio, envolvidos em processos
metabólicos que regulam a produção de energia e o bom funcionamento do corpo humano. No
entanto, os metais pesados, elementos de elevada massa molecular, quando absorvidos pelo ser
humano são acumulativos, e se depositam no tecido ósseo e gorduroso ocasionando o deslocamento
de minerais nobres dos ossos e músculos para a circulação. Esse processo pode provocar doenças tais
como anemia, doença renal, distúrbios na reprodução e danos neurológicos, por isso a fiscalização
quanto ao VMP desses elementos é indispensável (TONANI, 2008).

3.2.2. PECULIARIDADES DOS PARÂMETROS PARA ÁGUA TERMAL

As águas termais utilizadas em crenoterapia geralmente não se enquadram nos parâmetros de


potabilidade da portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde - e não necessariamente precisam se
enquadrar. É necessário preocupar-se rigorosamente com a potabilidade de uma fonte apenas se
aquela água será consumida diariamente (2 L por pessoa – ou seja, de forma dietética) por uma
população significante, à longo prazo. Para fins medicinais, turísticos e recreativos, outros critérios
mais brandos devem ser adotados.

No tocante às águas termais, duas jurisdições se destacam: o Código de Águas Minerais, aprovado
mediante decreto-lei nº 7.841/1945; e a resolução do CONAMA nº 396/2008.

O código de Águas Minerais descreve características básicas das estâncias hidrominerais, indica os
procedimentos de fiscalização, pesquisa e lavra; classifica de acordo com a quantidade de espécies
presentes, com a radioatividade e com gases liberados. Além disso, prevê auxílios financeiros para
estas, além do fornecimento de favores em convênios com seus governos estaduais (BRASIL, 1945).
As classificações, obsoletas para as técnicas analíticas atuais, presentes no art. 35 do Código de Águas
Minerais são:

19
249
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

As águas minerais serão classificadas em:

I. Oligominerais, quando, apesar de não atingirem os limites estabelecidos


neste artigo, forem classificadas como minerais pelo inquestionável poder
terapêutico e medicamentoso.
II. Radíferas, quando contiverem substâncias radioativas dissolvidas que lhes
atribuam radioatividade permanente.
III. Alcalino-bicarbonatadas, as que contiverem, por litro, uma quantidade de
compostos alcalinos equivalente, no mínimo, a 0,200 g de bicarbonato de sódio.
IV. Alcalino-terrosas as que contiverem, por litro, uma quantidade de
compostos alcalino-terrosos equivalente no mínimo a 0,120 g do carbonato de
cálcio, distinguindo-se:
a) alcalino-terrosas cálcicas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,048 g de
cationte Ca, sob a forma do bicarbonato de cálcio; b) alcalino-terrosas
magnesianas, as que contiverem, por litro, no mínimo, 0,30 g de cationte Mg,
sob a forma de bicarbonato de magnésio.
V. Sulfatadas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,100 g do. anionte SO4-
2, combinado aos cationtes Na, K e Mg.
VI. Sulfurosas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,001 g do anionte S.
VII. Nitratadas, as que contiverem, por litro, no minimo 0,100 g do anionte NO3-
, de origem mineral.
VII. Cloretadas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,500 g do NaCl (cloreto
de sódio).
IX. Ferruginosas, as que contiverem, por litro, no mínimo 0,500 g do cationte
Fe.
X. Radioativas, as que contiverem radônio em dissolução, obedecendo aos
seguintes limites:
a) fracamente radioativas, as que apresentarem, no mínimo, um teor em
radônio compreendido entre cinco e dez unidades Mache, por litro, a 20º C e
760 mm de Hg de pressão; b) radioativas, as que apresentarem um teor em
radônio compreendido entre dez e 50 unidades Mache por 1itro, a 20º C e 760
mm de Hg de pressão; c) fortemente radioativas, as que possuirem um teor em
radônio superior a 50 unidades Mache, por litro, a 20º C e 760 mm de Hg de
pressão.
XI. Toriativas, as que possuírem um teor em torônio em dissolução, equivalente
em unidades eletrostáticas, a duas unidades Mache por litro, no mínimo.
XII. Carbogasosas, as que contiverem, por litro, 200 ml de gás carbônico livre
dissolvido, a 20º C e 760 mm de Hg de pressão.
A resolução do CONAMA segue os mesmos padrões de valores máximos permitidos (VMP) de
elementos da portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, porém, ressalta que, enquadrando um
corpo d’água na classe 4 da resolução, este fica isento de coerção legal proibitiva, desde que os sólidos
totais dissolvidos (STD) não sejam superiores à 15.000 mg/L e que os metais tóxicos (como Arsênio,
Chumbo, Cromo e etc.) estejam ausentes. Para se enquadrar na classe 4, as águas devem ter as

20
250
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

seguintes características quanto ao fim de utilização: “águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou
porção desses sem alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que somente possam ser
utilizadas, sem tratamento, para o uso preponderante menos restritivo e de formas diferentes ao uso
comum da água”, isto é, não se deve utilizar para irrigação, saneamento básico, dessedentação de
animais e humanos ou para limpeza. O uso recreativo e/ou crenoterapico é livre dentro dos limites de
recomendação médica específica (CONAMA, 2008).

3.3. MEDICINA DA ÁGUA TERMAL

3.3.1. A CULTURA DA CRENOTERAPIA

Os usos terapêuticos das águas e de suas fontes naturais são conhecidos desde os tempos remotos.
Os gregos antigos foram precursores na crenoterapia, seja pelo aspecto mitológico de várias deidades
aquáticas que associavam a saúde com a energia vital da água, ou pela tradição do bem-estar que os
banhos termais traziam. As primeiras farmacopeias mundiais, no século XVIII, prescrevem vários tipos
de águas minerais naturais como eficazes bioativos em aplicações externas e internas, para
tratamentos de diversas doenças. O conhecimento das propriedades terapêuticas das águas evoluiu
desde uma fase mágica ou religiosa, passando por uma utilização de índole higiênica, até uma
perspectiva científica, que ainda hoje se encontra em desenvolvimento (COOPER, 2009).

Em sentido restrito, o tratamento termal provoca um conjunto de efeitos que se obtêm devido à
composição específica da água minero-medicinal coadjuvado pelos efeitos derivados do ambiente
termal, e dos efeitos psicológicos da aplicação das técnicas termais. Os efeitos terapêuticos destas
águas resultam, então, das suas qualidades físicas, químicas e biológicas, via de administração e
técnicas de aplicação. Apesar das várias aplicações terapêuticas e recomendações ao uso de águas
termais na prevenção e/ou tratamento de diversas afeções nas mais diversas áreas, vários estudos
confirmaram a capacidade das águas termais para melhorar especialmente determinadas doenças
cutâneas (PEREIRA, 2015).

No Brasil, apesar de já ser praticada desde a época da Colônia, trazida pelos lusitanos, a crenoterapia
só foi reconhecida oficialmente com o já citado decreto-lei nº 7.841/1945 e culminada com portaria
971/2006 do Ministério da Saúde, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), citando que nosso país dispõe
de recursos naturais e humanos ideais ao desenvolvimento do termalismo social/crenoterapia, cuja
abordagem possui reconhecidas indicações aos usos de águas minerais para tratamentos de saúde.

21
251
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Configurando, assim, como prioridade o aumento da resolutividade, o apoio em pesquisas e


incremento de diferentes abordagens, que auxiliem a melhoria destes serviços, tornando disponíveis
opções preventivas e terapêuticas (BRASIL, 2006).

Em Cipó, o uso medicinal e recreativo das águas termais locais foi responsável pelo crescimento
turístico da região, atraindo visitantes que buscavam não apenas uma viagem qualquer, mas também
um período de tratamento de saúde, de estadia, de cura para variadas enfermidades, e melhoramento
do bem-estar corpóreo como um todo. Havia – e ainda há, embora em menor extensão devido ao
acesso a práticas convencionais de saúde pela população – a crença de que a água termal oferece, por
meio de banhos e ingestões (em cascatas, como na Figura 7), a solução indireta para diversas
enfermidades (TELES e TRUFEM, 2009).

Figura 8: Cascata Termal "Pau-Ferro", ponto de Coleta D


Fonte: Fotografia feita pelo autor
Neste contexto turístico de propaganda, é de se esperar que muitas informações equivocadas sejam
difundidas e tomadas como verdadeiras. Teles (2007, apud SALLES, 1898) expôs uma propaganda da
instância em uma revista da década de 30:

Falar naquele tesouro hidromineral é exaltar com grande justiça uma imensa
riqueza que a natureza escondeu caprichosamente a margem do Itapicuru,
naquele rincão bahiano. Não possue o nosso país um manancial tão formidável,
não só pela estrutura química de suas águas, como ainda pela invulgar vasão de
5 milhões de litros diários, de água quente (39º) radioativas. Proporcionais à
enorme quantidade de água nascente são as suas emanações radioativas e de
gazes raros, como o torium e o atinium, de modo a poderem ser usados do
modo mais eficiente como tratamento emanoterápico.

22
252
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Para além do tom promocional deste trecho, informações físico-químicas eram divulgadas de forma
imprecisa: Lazzerini (p. 321, 2013), ao medir a vazão das águas de Cipó, constatou que era de 83333,3
L/hora, o que significa aproximadamente 2 milhões de litros diários, e não 5 milhões.

Informações médicas também eram e ainda são divulgadas de forma arbitrária, uma vez que não há
determinação científica quanto às informações apresentadas por um cartaz presente na entrada da
piscina termal de Cipó, o qual dizia:

Modo de usar: O uso da água pode ser feito como bebida, em banhos termais,
duchas e queda;
Dose: Beber 1 litro de água termal por dia; tomar três banhos de 10 ou 15
minutos diariamente por 21 dias consecutivos; Contra Indicações: O uso de
bebidas alcoólicas corta o efeito total das águas termais. Problemas cardíacos
e pulmonares requerem consulta médica antes da estação; (CIPÓ, 2017).
Se o que se vê ou que se opina para um objeto da realidade depende tanto das impressões sensíveis
como do conhecimento prévio, das expectativas, dos pré-juízos e do estado interno geral do
observador, conclui-se que toda a observação está carregada teoricamente. Assim, é necessário tomar
cuidado ao se analisar questões encarregadas de tradições e juízos de valor das terapias medicinais
alternativas, nas quais a crenoterapia se inclui (PALACIOS et al, 2003).

3.3.2. EVIDÊNCIAS E CONTROVÉRSIAS DA MEDICINA TERMAL

Uma evidência científica é o conjunto de elementos utilizados para suportar a confirmação ou a


negação de uma determinada teoria ou hipótese científica. O desconhecimento e a escassez de
evidências científicas concretas influenciaram negativamente no reconhecimento da crenoterapia
dentro da comunidade médica. Muitas vezes, os relatos das melhorias sentidas pelos banhistas foram
decorrentes de efeito placebo ou de relaxamento psicológico que tratavam as desordens
psicossomáticas, não podendo ser utilizados como evidências concretas. Além disso, os mecanismos
de ação biológica dos tratamentos de água, especialmente os efeitos especiais reivindicados para as
águas minerais naturais permanecem largamente desconhecidos. Assim, para se provar a eficácia da
crenoterapia como um todo, é necessária uma pesquisa eficaz acerca dos seus efeitos sobre os
parâmetros de saúde do paciente e não uma pesquisa apenas de ensaios clínicos que avaliam o efeito
da crenoterapia isoladamente num sintoma ou em uma enfermidade. A crenoterapia carece também
de testes estatísticos de grande espaço amostral e de testes duplo-cego (AMARAL, 2010).

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253
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Porém, mesmo que atualmente desconheça os mecanismos e resultados específicos da relação água
termal-corpo, a ciência tem alguns registros quanto às formas de administração, indicações, efeitos e
contraindicações da terapia.

As águas termominerais podem ser usadas de diferentes maneiras. As modalidades mais importantes
de administração para a sua utilização são (PEREIRA, 2015; AMARAL, 2010):

 Ingestão: também chamado de hidropinia, visa alterações das funções gastrointestinal,


metabólica, renal e urodinâmica. A substituição e a suplementação de minerais assumem
também importância no tratamento através de hidropinia.

 Banhos: é uma terapia que requer a imersão do corpo ou de partes do corpo na água.
Apresentam efeitos químicos e físicos no corpo e causam efeitos locais na pele, na adsorção
dos ingredientes e/ou na eluição das substâncias da pele, bem como a reações subsequentes
no sistema nervoso, musculoesquelético e endócrino. O contato da pele com a água quente
diminui a tonicidade muscular permitindo a realização de movimentos não tolerados
habitualmente fora de água, ativa o metabolismo, provoca vasodilatação e aumenta o retorno
venoso melhorando a circulação periférica. Concomitantemente, a água quente abranda a
atividade dos órgãos do sistema digestivo, estimula o sistema imunitário, alivia inflamações
articulares, e diminui sensação de dor.

 Inalação: é a aplicação de aerossóis através do trato respiratório. Para este efeito são utilizadas,
as águas minerais naturais e alguns gases naturais (principalmente Radônio, em fontes
radioativas). Inalações podem ter efeitos benéficos sobre a mucosa do trato respiratório e
podem melhorar a função respiratória. Algumas substâncias serão absorvidas após a inalação
e podem induzir efeitos sistêmicos.

As águas termais podem provocar variados efeitos ao nível da pele, como por exemplo, efeitos anti-
inflamatórios, imunoestimulantes e antioxidantes. De acordo com Ferreira (2008), os efeitos cutâneos
derivados da aplicação tópica das águas minero-medicinais, devem-se à interação local entre os
constituintes da água termal e a estrutura da superfície cutânea. A pele, considerada como porta de
entrada tanto para os componentes da água como para os estímulos físicos que aporta, responde às
aplicações de água termal interagindo com a água e os seus constituintes.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Apesar dos mecanismos de ação responsáveis pelos efeitos cutâneos não se encontrarem totalmente
esclarecidos, tudo aponta para que, na sua maioria, estes se devam às características químicas e
específicas de cada água que, em conjunto, atuam sobre os basófilos, os eosinófilos e os mastócitos
da derme. Estudos experimentais demonstraram que alguns oligoelementos (Ferro, Bário, Magnésio,
Cálcio e Manganês) estimulam a migração dos queratinócitos, podendo colaborar na renovação
celular.

Além das aplicações em dermatologia, há registros dos usos em certas áreas do corpo humano e com
significativa eficácia de tratamento da doença em relação a algum grupo de controle, em testes
comparativos de curto espaço amostral.

É necessário salientar que o tipo de água termal utilizada é específico pra cada doença, porém, para
fins de resumo, consideraram-se todos os tipos, numa perspectiva geral.

Tabela 2: Doenças que foram tratadas pela crenoterapia com significativo resultado com registros
em Ferreira (2008) e Torres (2006).

Área sistemática da doença Doenças Forma de administração


Reumatismos crónicos
Doenças reumatológicas e do
degenerativos e inflamatórios,
aparelho locomotor Banhos
não articulares, metabólicos e
psicogênicos;
Processos agudos ou após
Doenças broncopulmonares e
intervenções cirúrgicas, afeções
ORL Inalação e banhos
subagudas ou crónicas e terapia
preventiva;
Síndrome nefrótica, insuficiência
renal aguda e crónica, nefropatia
Doenças renais e urinárias intersticial e de refluxo,
Ingestão e banhos
glomerulonefrite primitiva,
doenças do túbulo renal, infeções
urinárias e litíase urinária;

Doenças gástricas: Dispepsias, úlcera, refluxo


Ingestão por longos períodos
gástrico;

Doenças intestinais e retais: Síndrome do cólon irritável,


Ingestão por longos períodos
Hemorróidas;
Enfermidades metabólicas e Obesidade, diabetes,
endócrinas dislipidemias, hiperuricemia, hipo Ingestão e banhos
e hipertiroidismo;

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255
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Afeções hepatobiliares Hepatites, cirroses, afeções da


Ingestão e banhos
vesícula e vias biliares;

Hemopatias: Anemia ferropênica; Ingestão por longos períodos

Inalação, banhos e ingestão;


Doenças neurológicas e
Distimias, depressão, e ou qualquer tipo de uso que
psiquiátricas
ansiedade generalizada; promova o bem-estar do
usuário
Processos inflamatórios dos
Doenças ginecológicas: genitais internos, formas ligeiras
Ingestão e banhos frequentes
de hipoplasia uterina, alterações
relacionadas com a menopausa;

Processos alérgicos Rinite alérgica e asma brônquica; Inalação, banhos e ingestão

Fonte: Adaptado de TORRES,2006.

Uma visão crítica das evidências destes estudos sugere que, apesar da heterogeneidade considerável
do número dos indivíduos incluídos nas diversas avaliações, existe um efeito benéfico da utilização das
águas termais, que apresentam identidades físico-químicas singulares. A duração do estudo varia de
caso para caso e o período de acompanhamento é variável.

Quanto às contraindicações, o tratamento termal deve ser evitado em algumas situações como, por
exemplo, a gravidez, pacientes com câncer, hemopatias, doença infeciosa evolutiva, graves défices
imunitários, insuficiências diversas (cardíaca, renal, hepática e respiratória), rinite espasmódica,
colesteatoma congênito, hipertensão ou hipotensão aguda e asma grave corticodependente (TORRES,
2006).

3.3.3. COMPONENTES E CONDIÇÕES BIOLOGICAMENTE ATIVAS (BACS)

Como já dito, de acordo com os elementos predominantes, esperam-se ocorrer os principais efeitos
biológicos, fisiológicos, farmacológicos e medicinais do tratamento com água termal. Assim, é de
extrema importância delimitar cada composto ou condição biologicamente ativa – abreviado para
BACS, de acordo com o inglês biologically active compounds and situations – e os seus níveis mínimos
e máximos para que sejam efetivos, no sentido de orientar-se para melhor compreensão dos efeitos
específicos de certos oligoelementos, das condições do banho ou ingestão e da classificação de uma
fonte termal.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

O nível mínimo para um BACS é convencionado como o menor valor encontrado em descrição de seu
ensaio clínico parametrizado para comparação ou com eficácia comprovada. Quando tais ensaios não
existem, o valor mínimo segue o mais comumente citado ou quando a comprovação de eficácia
possuiu metodologia melhor fundamentada e clara. Leva-se em conta também os valores indicados
pela legislação, como aqueles presentes no Código de Águas Minerais, decreto-lei nº 7.841/1945
(LAZZERINI, 2013).

Tabela 3: Classificações e valores mínimos/máximos para os BACS mais comuns das águas termais.

Situação ou composto
Classificação/ Valor mínimo/máximo
biologicamente ativo Faixa de valores
para atividade biológica
(BACS)
(ºC)
Fria < 18,1
Morna 18,2 a 25
Temperatura Hipotermal 25,1 a 32,9
Isotermal 33 a 38,4
Hipertermal 38,5 a 56,9
Geotermal > 56,9

- log [H+]
Antioxidante > 9,0
Alcalino 8,0 a 8,9
pH
Levemente Alcalino 7,2 a 7,9
Neutro 6,0 a 7,1
Ácido < 5,9
mg/L
Levíssima < 50
Oligomineral 51 a 310
STD Mediomineral 311 a 1000
Mineral 1001 a 7500
Isotônica 7501 a 13000
Hipertônica > 13001
g/L
Sem efeitos de terapia registrados < 0,5

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Cloretos Valor mínimo para atividade biológica 1,0


Valor recomendado para atividade
1,4
biológica
mg/L
Bicarbonato
Sem efeitos de terapia registrados < 600

Valor mínimo para atividade biológica 683


mg/L
Sulfatos Valor mínimo para atividade biológica 330
Sulfatadas laxantes > 600
mg/L
Valor mínimo para atividade biológica 0,75
Bário Limite terapêutico máximo. Acima
deste nível oferece riscos 7,3
cardiológicos.
mg/L
Valor mínimo para atividade biológica 0,5
Ferro Água Ferruginosa >1
Valor máximo sugerido por causa da
3
alteração de sabor
mg/L
Lítio
Valor mínimo para atividade biológica 0,7
mg/L
Valor mínimo para atividade biológica 0,06
Se teor de Fe e Mn
Manganês Ferromaganífera
forem superiores à 1
Água com potencialidade
Em torno de 1,5
dermatológica
Não há classificações específicas e a compreensão dos
Cálcio, Sódio,
níveis BACS dessas espécies (conjuntamente) é melhor a
Magnésio e Potássio.
partir dos níveis de STD
Fonte: Adaptado de LAZZERINI, 2013.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Seguindo a recomendação do artigo 22º da portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde de que as


metodologias analíticas para determinação dos parâmetros previstos na legislação devem atender às
normas nacionais ou internacionais mais recentes (BRASIL, 2011), os procedimentos adotados neste
trabalho são aqueles presentes na 20ª edição do Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater (SMWW).

4.1. AMOSTRAGEM

As amostras de água termomineral foram coletadas em quatro pontos no município de Cipó-BA, nos
quais o ponto A, C e D são fontes ao ar livre com água corrente e o ponto B é uma piscina pública. A
coleta foi feita nesses locais por serem os únicos pontos remanescentes com acesso a este tipo de
água na região. Os pontos de coleta estão retratados na Figura 8. A Tabela 4 apresenta as coordenadas
dos pontos de coleta e a sua distribuição geográfica está presente na Figura 9.

Figura 8: Fotos dos respectivos pontos de coleta.


Fonte: Fotografias feitas pelo próprio autor.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 4: Coordenadas geográficas dos pontos de coleta

Coordenadas UTM (m)


Ponto de Coleta
Latitude Longitude
A: Cascata da Praça 11º 5’ 56.134’’ S 38º 30’ 54.864’’ O
B: Piscina 11º 5’ 55.982’’ S 38º 30’ 53.284’’ O
C: Fonte do Grande Hotel 11º 5’ 51.356’’ S 38º 30’ 54.536’’ O
D: Cascata do Pau-Ferro 11º 5’ 32.273’’ S 38º 31’ 31.346’’ O

Fonte: Adaptado de Google


Maps®

Figura 9: Imagens de satélite de Cipó-BA com pontos de coleta marcados em vermelho. ®


As amostras foram coletadas nos dia 25 e 26/09/2016; 04, 05 e 06/01/17 com o frasco diretamente
na queda d’água, no caso de fontes e cascatas, e submersas, no caso da piscina (D). Para análise de
metais, as amostras foram armazenadas em tubo Falcon de 15 mL e preservadas com 1 mL de HNO3
à 1%, seguindo recomendação 1060-1 do SMWW (APHA, 1999). Para análise de coliformes totais e E.
coli, os frascos de vidro utilizados foram esterelizados por autoclave e, na coleta, utilizaram-se luvas
esterelizadas. Para demais análises, as amostras foram armazenadas em garrafas de polietileno de 500
mL. Todos os materiais, com exceção dos utilizados em análise microbiológica, foram previamente

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260
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

lavados em banho de detergente neutro (EXTRAN) por 24 horas e posteriormente em banho de ácido
nítrico à 10%, também por 24 horas, sendo finalmente enxaguados com água ultrapura.

4.2. TEMPERATURA

Para medição da temperatura, utilizou-se um termômetro de mercúrio. No caso dos pontos A, B e C,


as medidas foram feitas diretamente no curso d’água, no entanto, no caso do ponto D, a medida foi
feita na garrafa imediatamente após a coleta.

4.3. PH

Para a determinação do pH, foi utilizado o pHmetro/condutivímetro de bancada 8650 AZ®,


previamente calibrado com soluções tampão de pH 4,00 ± 0,02 e 7,00 ± 0,02. Para a leitura, foram
colocados cerca de 30 mL da amostra em um béquer de 50 mL, apenas para cobrir o eletrodo.

4.4. CONDUTIVIDADE

Para a determinação do pH, foi utilizado o pHmetro/condutivímetro de bancada 8650 AZ®,


previamente calibrado com solução padrão de Cloreto de Potássio de condutividade 1413 ± 7 µS/cm.
Para a leitura, foram colocados cerca de 30 mL da amostra em um béquer de 50 mL, apenas para cobrir
o eletrodo.

4.5. SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS (STD) POR SECAGEM À 180 °C

A determinação dos sólidos totais dissolvidos foi feita segundo o método 2540-C do SMWW, 20ª
edição (APHA, 1999): Um volume conhecido de amostra foi evaporado em forno mulfa à 180 ± 2 ºC
por aproximadamente 1 hora, sendo esfriado em um dessecador e posteriormente pesado em balança
analítica. O teor de STD foi determinado pela razão entre a massa de resíduo e volume de amostra.

4.6. ALCALINIDADE

A determinação da Alcalinidade foi feita segundo o método volumétrico 2320-B do SMWW, 20ª edição
(APHA, 1999).

Em um erlenmeyer de 250 mL, foram colocados 100,0 mL de amostra e três gotas de fenolftaleína.
Dada a ausência de cor rósea em todas as situações, prosseguiu-se adicionando três gotas de
alaranjado de metila, tornando a solução amarela. Com uma solução previamente padronizada de
Ácido Clorídrico (HCl 0,01003 mol/L) em uma bureta de 25 mL, titulou-se até que a solução se tornasse

31
261
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

alaranjada, tal como o branco. O branco foi preparado com 100,0 mL de água destilada e três gotas de
fenolftaleína e alaranjado de metila. As análises foram feitas em triplicata. O teor de HCO3- foi
estimado com base no método 4500- HCO3-do SMWW, com os mesmos dados, porém com diferentes
cálculos.

4.7. DUREZA

Na determinação da Dureza Total utilizou-se o método volumétrico 2340-C do SMWW, 20ª edição
(APHA, 1999). O Manual Prático de Análise de Água (FUNASA, 2004) também norteou a análise,
adicionando a parte da análise da Dureza devido ao Cálcio, juntamente com o método 3500-Ca-B no
SMWW.

Para Dureza Total, foram colocados 100,0 mL de amostra em um erlenmeyer de 250 mL, adicionando,
posteriormente, 2 mL de tampão amoniacal (em pH 10 ± 0,1), 20 gotas de solução aquosa a 3% m/V
de Sulfeto de Sódio (inibidor) e uma pequena porção de negro de eritocromo T. A solução violeta-
rósea foi titulada com EDTA previamente padronizado (0,02033 mol/L) até que a solução se tornasse
azul arroxeada, tal como o branco. O branco foi preparado com 100,0 mL de água destilada, 2 mL de
tampão amoniacal, 20 gotas de inibidor e uma pequena porção de negro de eritocromo T, sendo
titulado até que houvesse mudança de coloração. O volume utilizado para cálculo subtraía o volume
gasto com o branco. As análises foram feitas em triplicata.

Para Dureza devido ao Cálcio, foram colocados 100,0 mL de amostra em um erlenmeyer de 250 mL,
adicionando 1,5 mL de NaOH a 4 mol/L, deixando o pH>12, e uma pequena porção de murexida. A
solução foi titulada com EDTA (0,02033 mol/L) até que a solução se tornasse violeta vivo, tal como o
branco. O branco foi preparado com 100,0 mL de água destilada, 1,5 mL de NaOH a 4mol/L e uma
pequena porção de murexida, sendo titulado até que houvesse mudança de coloração. O volume
utilizado para cálculo subtraía o volume gasto com o branco. As análises foram feitas em triplicata.

4.8. CLORETOS

Na determinação do teor de Cloretos, utilizou-se o método argentométrico 4500-Cl--B do SMWW, 20ª


edição (APHA, 1999).

Em um erlenmeyer de 250 mL, foram colocados 10,0 mL de amostra e o pH foi ajustado entre 7 e 10
com uma gota de NaOH 4 mol/L. Em seguida, adicionou-se 0,5 mL de Cromato de Potássio a 5% m/V.
Com uma solução previamente padronizada de Nitrato de Prata (AgNO3 0,01122 mol/L) em uma

32
262
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

bureta de 50 mL, titulou-se até que a solução turva branca tivesse um precipitado vermelho-tijolo, tal
como o branco. O branco foi preparado com 10,0 mL de água destilada com pH ajustado, uma pequena
porção de CaCO3 e 0,5 mL de Cromato de Potássio a 5%, sendo titulado até que houvesse mudança
de coloração. O volume utilizado para cálculo subtraía o volume gasto com o branco. As análises foram
feitas em triplicata.

4.9. SULFATOS

A determinação do teor de Sulfatos foi feita segundo o método turbidimétrico 4500-SO4-2-E do


SMWW, 20ª edição (APHA, 1999).

Partindo de uma solução padrão de 999,4 mg/L de SO4-2, as soluções para construção da curva
analítica foram preparadas em um balão volumétrico de 100 mL, tal como na tabela 5.

A solução condicionante foi preparada pela adição de 5 mL de Glicerina bidestilada em uma solução
contendo 3 mL de HCl concentrado, 30 mL de água destilada, 10 mL de Etanol PA e 7,5 g de NaCl.

Com os padrões prontos, colocavam-se os 100 mL de solução preparada e 5 mL de solução


condicionante em um erlenmeyer de 250 mL. Em seguida, ao colocar uma pequena porção de BaCl2,
cronometrava-se 60 ± 2 segundos de agitação forte.

Tabela 5: Dados do preparo de soluções para confecção da curva analítica do SO4-2

Volume de solução padrão


Número do Padrão Concentração (mg/L)
utilizado (µL)
1 250 2,50
2 500 5,00
3 1000 9,99
4 1500 14,99
5 2000 19,99
6 2500 24,98

Fonte: Autoria própria

Após o período de agitação, esperava-se 5 ± 0,5 minutos para efetuar a leitura no espectrofotômetro
Lambda XLS (Perkin Elmer®) de caminho ótico de 10 mm, no comprimento de onda de 420 nm. Repetiu-
se o mesmo procedimento para as amostras, porém sem nenhuma diluição, colocando diretamente
100,0 mL.

33
263
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Correções foram feitas com base na subtração da absorbância de uma solução na qual o BaCl2 não era
adicionado (turbidez intrínseca ao sistema). Os brancos foram preparados da mesma forma que os
padrões e a amostra, porém sem sulfatos presentes.

4.10. ANÁLISE DE METAIS POR ICP-OES

A determinação dos metais foi feita segundo o método 3120-B do SMWW, 20ª edição (APHA, 1999),
utilizando um espectrômetro ótico de plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) Varian® 730-ES. Como
já supracitado, após a coleta, as amostras foram acidificadas com 1 mL de HNO 3 à 1% para evitar a
precipitação dos metais. Os padrões foram preparados de acordo com a Tabela 6, que também mostra
o comprimento de onda de detecção utilizado. Os procedimentos de digestão e filtração foram
prescindíveis, já que neste tipo de amostra não são necessários. As configurações do aparelho estão
postas na Tabela 7.

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264
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 6: Dados dos padrões utilizados para confecção da curva analítica dos metais no ICP-OES

Comprimento de onda Concentração dos Padrões (mg/L)*


Metal
de detecção - λ (nm) 1 2 3 4 5 6

Al 392,152 0,025 0,050 0,100 0,250 0,500 1,000


Ag 328,068 0,002 0,004 0,006 0,008 0,010 0,012
Ba 493,408 0,050 0,100 0,200 0,400 0,800 1,000
Be 234,861 0,001 0,002 0,004 0,006 0,008 0,010
Ca 422,673 2,000 5,000 10,00 20,00 30,00 50,00
Cd 214,439 0,001 0,002 0,003 0,005 0,007 0,010
Co 230,786 0,010 0,020 0,030 0,050 0,080 0,100
Cr 267,716 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030
Cu 327,395 0,050 0,100 0,200 0,500 1,000 2,000
Fe 238,204 0,025 0,050 0,100 0,200 0,500 1,000
Li 610,365 0,100 0,250 0,500 1,000 1,500 2,000
Mg 285,213 5,000 10,00 15,00 30,00 40,00 50,00
Mn 257,610 0,005 0,010 0,020 0,040 0,080 0,200
Ni 216,555 0,005 0,010 0,020 0,030 0,050 0,100
Pb 220,353 0,002 0,010 0,020 0,040 0,080 0,100
V 311,837 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030 0,035
Zn 202,548 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100 0,200
Fonte: Autoria própria
*Para Ag, a concentração é dada em µg/L
Tabela 7: Condições experimentais do ICP-OES

Potência do Plasma 1,5 kW


Gás refrigerante (Ar) 6,5 L/min
Gás auxiliar (Ar) 6,5 L/min
Vazão da amostra 2 mL/min
Pressão do nebulizador 3 bar
Número de Replicatas 3
Altura da visão radial 15 mm
Configuração da tocha Axial
Fonte: Autoria própria

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265
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

4.11. COLIFORMES TOTAIS E E. COLI

A pesquisa de coliformes totais/E. coli foi feita segundo o método enzimático 9223-B do SMWW, 20ª
edição (APHA, 1999).

O conteúdo de um blister Colilert ® (Substrato Cromogênico Definido ONPG-MUG) foi adicionado em


um frasco esterilizado com 100 mL de amostra e foi incubado em estufa a 35-37°C por 24 ± 1 horas.

Após esse período foram feitas as leituras, de tal forma que se houvesse a visível coloração amarelada
nos tubos, isso indicava a positividade para coliformes totais, caso o contrário, continuava
transparente. Se positivo, os frascos em seguida eram expostos à luz ultravioleta de 360 nm de
comprimento de onda, se houvesse fluorescência, indicava presença de E. coli.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente, alguns resultados experimentais não se mostraram relevantes no estudo do


termalismo das águas, porém, mesmo assim, são apresentados para fins de complementação da
pesquisa. Os que ficaram abaixo do limite de detecção foram omitidos.

No geral, quanto às características não químicas, foi observado que: os pontos de coleta se localizavam
em área publica e de fácil acesso; em todos eles, percebia-se que, por onde a água passava, esta
deixava uma trilha visível de ferrugem avermelhada em peças metálicas e azulejos; as tubulações
tinham impregnações pastosas de cor marrom; a água tinha “gosto de ferrugem” e, nesses ambientes,
havia um cheiro forte característico. Em todas as coletas, a água desprendia gases, tal como ilustrado
na Figura 10.

Figura 10: Água coletada (Ponto C) liberando bolhas de gás


Fonte: Fotografia feita pelo próprio autor

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266
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Quanto à pesquisa bibliográfica, os ensaios clínicos, teste em cobaias, relatos de caso e outras
informações relevantes foram achados nos bancos de dados Google Scholar, ACS Pub (American
Chemical Society) e PubMed (US National Library of Medicine) com relativo rigor técnico e confiança
científica.

A seguir, os principais resultados desta pesquisa estão apresentados segundo os objetivos propostos
em termos de investigação da qualidade da água e da sua relação com o seu potencial crenoterápico,
sugerido a partir de dados encontrados na bibliografia.

5.1. ANÁLISE DE POTENCIAL CRENOTERÁPICO A PARTIR DOS NÍVEIS BACS

5.1.1. TEMPERATURA

As temperaturas registradas no ato da coleta estão indicadas na tabela 8.

Tabela 8: Resultados experimentais da temperatura das fontes

Fonte: Autoria própria

Os pontos A, B e C se encaixaram na classificação “Isotermal” (33 a 38,4 ºC) enquanto que o ponto D
se encaixa na classificação “Hipotermal” (25,1 a 32,9 ºC), de acordo com as diretrizes da tabela 3 (seção
3.3.3.)

A ação da termalidade de um banho atua por seus efeitos na sensibilidade, permitindo o prazer
sensorial de proporcionar o contato demorado com a água quente. As águas isotermais ou quentes
(com temperatura igual e acima da temperatura normal do corpo, respectivamente) proporciona
influência favorável sobre as dermatoses pruriginosas, afeta a respiração e a atividade do nervo
cardíaco automático e outras doenças psicológicas (LAZZERINI, 2013).

O onsen, como é chamado os banhos termais no extremo oriente (Japão, China e Coréia do Sul), é
recomendado aos seus funcionários pelas empresas locais, pois entendem que isso reduz o estresse
trabalhista, a possibilidade de estafa e ansiedade profissional (GOTO et al, 2012).

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267
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Além disso, foi comprovada a hipótese de que um aumento gradual do volume sanguíneo total seria
acompanhado por uma diminuição também gradual na resistência vascular muscular esquelética e
subcutânea do antebraço, causada pela vasoconstrição das atividades simpáticas e neuroendócrinas
(QUINTELA, 2004).

De acordo com os resultados obtidos, pode-se dizer que a água dos pontos A, B e C apresentam boas
potencialidades crenoterápicas termais. O ponto D, por outro lado, não apresenta potencial
significativo, uma vez que a água se encontra com a mesma temperatura do ambiente e, quanto aos
efeitos terapêuticos gerados pela temperatura, não oferece potencialidades. Há também outras
aplicações associadas a diferentes faixas de temperatura, disponível na Tabela 9.

Tabela 9: Aplicações balneoterápicas de acordo com a temperatura do banho.

Fonte: Quintela, 2004.

Vale ressaltar que todos os pontos se originam a partir de uma única fonte central, porém o D é
bastante afastado do centro da cidade, onde estão o A, B e C. O longo caminho que a água percorre
nas tubulações pode causar perdas térmicas e é uma possível explicação para essa diferença de
temperatura. Com uma variável tão importante para os processos de dissolução dos sais e para o
equilíbrio de outros compostos em água, esperara-se que essa diferença causasse um impacto em
outras variáveis também, no sentido de que o ponto D teria características peculiares.

5.1.2. PH

As medidas de pH registradas no ato da coleta estão indicadas na tabela 10.

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268
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 10: Resultados experimentais do pH nas fontes

Fonte: Autoria própria

Os valores de pH influenciam consideravelmente os fenômenos naturais. Nas águas, direcionam os


processos químicos e bioquímicos, sendo responsáveis pela diferenciação das formas específicas como
ocorrem diversos elementos, o equilíbrio iônico, a solubilização dos sais, o paladar e as indicações
terapêuticas. Assim, devido ao seu poder de potencializar o grau de absorção, biodisponibilidade e
função fisiológica, o pH é um importante indicador BACS, não por agir diretamente no corpo humano,
mas por direcionar e condicionar outros compostos ativos na água.

Os pontos A, B e C se encaixaram na classificação “Neutro” (pH 6,0 a 7,1) enquanto que o ponto D se
encaixa na classificação “Levemente alcalino” (pH 7,2 a 7,9), de acordo com as diretrizes da tabela 3
(seção 3.3.3.).

Quanto ao grupo das águas neutras, A, B e C, o potencial crenoterápico não é bastante claro, uma vez
que esta faixa de pH é aquela na qual muitos fluídos corporais e órgãos se encontram, como o
esquelético (pH 6,89) e o cardíaco (pH 6,92). Porém, realizaram-se alguns experimentos indicando que,
para soluções iônicas carbonatadas, o melhor pH para permeação dos tecidos é exatamente nesta
faixa. Portanto, pode-se dizer que as águas utilizadas para tratamento dermatológico devem
apresentar, preferivelmente, esta faixa de acidez (LAZZERINI, 2013).

Para águas levemente alcalinas (D), experimentos em animais demonstraram que soluções alcalinas
podem liberar estímulo para ativar a atividade motora gástrica ou impedir a secreção de seu hormônio
inibidor, melhorando, assim, todo o processo digestivo e de assimilação dos nutrientes e é por isso
que se recomenda este tipo de água para terapias do trato gastrointestinal (BROWN et al, 1973).

5.1.3. CONDUTIVIDADE E SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS (STD)

Embora a água potável, com raras exceções, não seja a principal fonte alimentar de macro e
micronutrientes para os seres humanos, sua contribuição pode ser importante, devido ao crescente
aumento mundial na deficiência nutricional de diversos minerais que não são oferecidos pela dieta
moderna ou em comunidades pobres; pois constitui opção complementar em dietas especiais para
vegetarianos, lactantes, recém-nascidos, idosos, atletas e mulheres; e porque representa fonte destes

39
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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

ingredientes com potencial de absorção e de biodisponibilidade comparativamente melhor que outros


alimentos, devido à sua forma iônica livre e naturalmente equilibrada. É neste ponto que o BACS
relacionado aos sólidos totais dissolvidos (STD) se destaca (TORRES, 2006). Os resultados para
determinação do resíduo de evaporação - sólidos totais dissolvidos estão indicados na tabela 11.

Tabela 11: Resultados experimentais da determinação de STD nas fontes

Fonte: Autoria própria

Todas as águas encontram-se na categoria “mineral” (1001 – 7500 mg/L), de acordo com as diretrizes
da tabela 3 (seção 3.3.3.). A condutividade foi quantificada como uma medida de apoio ao método de
análise do resíduo de evaporação à 180ºC, uma vez que também está relacionada ao teor de sólidos
totais dissolvidos. De acordo com as medidas obtidas, percebe-se que ambas as variáveis estão
relacionadas e, por essa similaridade, atesta-se para a confiabilidade das mesmas.

De acordo com Torres (2006), foi constatado que na Fonte de Mórahalom (Hungria) contendo 3.949
mg/L de STD, onde através de ensaio clínico comparativo entre esta água e outra com STD<100 mg/L,
com 10 pessoas submetidas a seções com banhos de imersão, se comprovou a redução da atividade
de 4 enzimas: catalase, superóxido dismutase, proteína malondialdeídeo e glutationa peroxidase.

Possui assim, atividade biológica antioxidante e redutora dos radicais livres, porém não se atesta
alguma explicação ou algum mecanismo de ação neste ensaio, o que indica a necessidade de novos
estudos. Como as fontes cipoenses têm aproximadamente o mesmo teor, espera-se que tenham o
mesmo potencial, em especial para o ponto C e em menor intensidade, o ponto D. É interessante o
fato de que, assim como na determinação pH, a fonte D apresenta um resultado destoante dos demais
pontos amostrais, embasando a teoria de que uma pequena mudança na temperatura, como já
supracitado, poderia mudar todas as demais características físico-químicas de forma significativa.
Provavelmente, isso ocorre pelo fato de que a maioria das dissoluções salinas serem desfavorecidas
por uma temperatura menor.

40
270
Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

5.1.4. ALCALINIDADE E BICARBONATOS

Os efeitos crenoterápicos em relação à quantidade de bicarbonato nas águas termais foram os que
mais apresentaram ensaios e estudos na literatura. O íon bicarbonato tem o importante papel de
regular a acidez do corpo por meio do equilíbrio HCO3-/CO2 e está intimamente ligado ao teor de
alcalinidade da água.

O mais promissor foi um estudo que comparou a cicatrização de feridas e úlceras cutâneas em três
grupos de ratos: o primeiro (controle), não recebia nenhum banho diário; o segundo (controle) recebia
banhos diários com água a 42 ºC; o terceiro recebia banhos com água da fonte hipertermal (também
a 42 ºC, com 336 mg/L de HCO3-) de Nagano (Japão). Os resultados demonstraram significativo
aumento na velocidade de cicatrização e a redução da resposta inflamatória, além do aumento da
concentração de enzimas metaloproteinases -3 e -9 no terceiro grupo em relação aos demais (LIANG
et al, 2015). Na figura 12, temos a percepção visual destes resultados.

Figura 12: Fotos representativas do processo de cicatrização em ratos dos três grupos de controle.57
Fonte: Adaptado de Liang et al, 2015.
Em outro caso, ensaios clínicos com a água bicarbonatada alcalina da fonte hidromineral de Uliveto
(Itália) indicaram uma melhora nas funções gástricas, refluxo e de dispepsia (BERTONI et al, 2002).
Esses resultados dialogam com a função gástrica do bicarbonato, que é regular o pH, principalmente
a partir do duodeno, onde é necessário um meio básico para ativar as enzimas digestivas.

Outros estudos demonstraram também que a ingestão prolongada (20 a 30 dias) de água com
alcalinidade acima de 600 mg/L evita diarreias, constipação intestinal e colite. Além disso, em acordo
com as propriedades cicatrizantes verificadas por Liang et al, constatou-se que a ingestão auxilia no
tratamento de lesões hemorrágicas causadas por alimentação estressante, bem como consumo de
bebidas alcoólicas (NASSINI et al, 2010; FORNAI et al, 2008; LAZZERINI, 2013).

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Os resultados para determinação da alcalinidade, o calculado para teor de bicarbonatos estão


dispostos na tabela 12.

Tabela 12: Resultados experimentais da determinação da alcalinidade

Fonte: Autoria própria

Como se observa na tabela, a alcalinidade da água analisada não é tão alta a ponto de se esperar os
efeitos citados na literatura, que na maioria das vezes indicavam valores acima de 600. Porém, no
estudo feito com a água de Nagano, que tinha teores de bicarbonato menores do que 600 mg/L, foi
verificado uma ação crenoterápica. Por esses fatos e outros, duvida-se das potencialidades da água de
Cipó quanto à alcalinidade, uma vez que mais estudos são necessários para indicar de forma precisa o
limiar de concentração em que os efeitos terapêuticos indicados se manifestam, no entanto, os teores
de bicarbonato encontrados foram promissores e indicam a possibilidade de alguma atividade
terapêutica.

Novamente seguindo a tendência dos resultados, os valores foram constantes para A, B e C, enquanto
D tinha os valores mais altos. Isso pode ser explicado pela maior solubilidade do gás carbônico em
águas mais frias, que é transformado em ácido carbônico, posteriormente em íon bicarbonato e,
consequentemente, se relaciona com a alcalinidade.

5.1.5. DUREZA, CÁLCIO E MAGNÉSIO

A dureza está conceitualmente ligada ao teor de Cálcio e Magnésio da água. Na análise feita, a
determinação quantitativa destes elementos foi feita pelo método titrimétrico e pelo método óptico
para garantir confiabilidade experimental. Para análises críticas, considera-se os resultados dados pelo
ICP-OES. Os resultados obtidos estão expostos na tabela 13.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 13: Resultados experimentais da determinação da dureza e teores de Ca e Mg

Fonte: Autoria própria

De acordo com os resultados obtidos, percebe-se que a água termal de Cipó tem elevadíssima dureza
(cerca de 10x o nível recomendado para potabilidade pelo ministério da Saúde).

Existem indícios de que o consumo recorrente de água dura possa causar uma maior incidência de
casos de cálculo renal. Porém, para usos terapêuticos, ou seja, com intervalo de tempo definido e de
curto ou médio prazo, águas com elevada dureza podem ser indicadas, uma vez que em ensaio clínico
foi constatado que as concentrações de colesteróis ruins (total, VLDL e LDL) foram menores e do
colesterol positivo (HDL) maiores para o grupo com água dura, também se observando melhora no
balanço do cálcio no processo digestivo (LAZZERINI, 2013), e é exatamente neste ponto que reside o
potencial crenoterápico.

Além disso, certa atividade biológica benéfica em usos externos de águas duras é citada pelo potencial
bactericida e antioleosidade relacionado à fina película lisa formada sobre a pele e cabelo durante os
banhos. Banhos em águas duras produzem maceração das células epidérmicas, auxiliam na remoção
de substâncias excretadas e diminuem a oleosidade da pele e cabelo (PEREIRA, 2015; FERREIRA, 2016).

No geral, os níveis de Ca e Mg encontrados em Cipó-BA (entre 331 e 595 mg/L de Ca e entre 89 e 190
mg/L de Mg, a depender da fonte) são altos se comparados com outras fontes termais do Brasil, como
Águas de Lindoia-SP (11,1 mg/L de Ca e 4,9 mg/L de Mg), Poços de Caldas-MG (1,1 mg/L de Ca e 0,4
mg/L de Mg) e Tucano-BA (16,0 mg/L de Ca e 7,0 mg/L de Mg), por exemplo (LAZZERINI, 2010).

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Analisando isoladamente o Cálcio, percebe-se algo interessante: a recomendação nutricional de Cálcio


para adultos é 1000 mg/dia (ANVISA, 2004) e o nível médio de Ca nas águas de Cipó é de 500 mg/L
(aproximação grosseira feita a partir dos dados da tabela 12). Assim, considerando que o banhista
beba, por exemplo, um copo de 250 mL de água termal, ele terá ingerido 125 mg de Ca,
correspondendo à 12,5% das necessidades diárias, mostrando-se uma importante fonte nutricional de
Cálcio.

Isso é comparável às principais fontes alimentícias deste macrocátion, como por exemplo, o Leite, que
tem entre 250 e 300 mg em um copo, e espinafre, que tem 150 mg em três colheres de sopa
(SILVESTRE, 2007); entretanto, a fração de cálcio absorvida em águas minerais oscila em média acima
de 35%, sendo superior à do leite (29%) e de preparados farmacêuticos para suplementação cálcica
nutricional (30%) (LAZZERINI, 2013). Além do mais, é esperado que a vitamina D (colecalciferol)
também seja afetada de forma positiva, uma vez que está associada intimamente ao PTH
(paratormônio) no metabolismo de cálcio no corpo humano (SILVA et al, 2008).

Assim como o Ca, percebe-se que o nível de Mg presente na água está em quantidade significativa
para contribuir com o consumo diário necessário deste nutriente. A quantidade diária de Mg
recomendada para um adulto é de 260 mg (ANVISA, 2004) e o nível médio de Mg nas águas de Cipó é
de 140 mg/L (aproximação grosseira feita a partir dos dados da tabela 12), tomando um copo de 250
mL, o banhista teria ingerido 35 mg, isso representaria 13,5% das necessidades diárias de Mg. Também
é comparável às principais fontes alimentícias, como Salmão grelhado, que em um filé de 50 g tem 65
mg de Mg, e espinafre, que tem 80 mg em três colheres de sopa (SILVESTRE, 2007).

Outro efeito biológico em usos terapêuticos tópicos do magnésio contido nas águas termais ou
minerais está na recuperação de dermatite aguda, renovação celular, redução do excesso de
proliferação celular e inibição da síntese de algumas poliaminas em psoríase, efeito anticarcinogênico
e vasodilatação com diminuição da pressão arterial descritos em ensaios clínicos da literatura (NUNES
E TAMURA, 2012).

5.1.6. CLORETOS

Os efeitos na saúde relacionados à ingestão dietética de Cloreto (Cl-) em águas minerais ainda não
estão claros isoladamente. Por vezes, o Cloreto é o principal íon das fontes, contribuindo muito para
o valor de STD, por isso é difícil especificar a sua ação. Os principais efeitos estão descritos, portanto,
na discussão sobre os STD. Os resultados da determinação de cloretos estão postos na tabela 14.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 14: Resultados experimentais da determinação do íon Cloreto

Fonte: Autoria própria

A análise em si não forneceu dados úteis em relação às potencialidades crenoterápicas, porém esta se
mostrou importante para fazer o balanço iônico e ser uma referência numérica para outras análises.

5.1.7. SULFATOS

Assim como o íon cloreto, o sulfato está em significativas quantidades e as vezes suas propriedades
terapêuticas são confundidas com aquelas atribuídas ao STD (mineralização total da água).

Porém, foram descobertas algumas peculiaridades. Banhos em águas sulfatadas possuem


propriedades sedativas em imersões com temperaturas em torno de 40ºC. Porém, não se pode afirmar
se a sonolência se dá ao Sulfato presente na água, ou ao relaxamento psíquico e muscular que o
conforto da água quente causa. Percebeu-se ainda que é eficaz no alívio de problemas articulares,
bem como para contusões, cortes, queimaduras, pressão arterial elevada, endurecimento das artérias
e, assim como o bicarbonato, acelerou a cicatrização de feridas externas, foi eficaz no tratamento de
eczemas e psoríases, melhorou a irrigação local com ações anti-inflamatória, antibacteriana e
antifúngica (LAGUARDA, 2002; MERTZ E LEIKIN, 2004; LAZZERINI, 2013).

O teor de 600 mg/l de SO4-2 é considerado o limite máximo para o risco da ocorrência de diarreias e
também de efeitos indesejáveis em seu paladar, para um copo. Essa propriedade caracteriza algumas
fontes como laxantes e pode até mesmo ser usada propositalmente para tratamento de uma prisão
de ventre, por exemplo (LAZZERINI, 2013).

Os resultados obtidos para Sulfato estão ilustrados na tabela 15.

Tabela 15: Resultados experimentais da determinação do íon Sulfato

Fonte: Autoria própria

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Em relação às potencialidades de saúde, os baixos níveis encontrados não indicam uma possibilidade
clara de efeito. A concentração é muito baixa e nem mesmo o poder laxante seria observado na sua
ingestão.

Como se nota, diferentemente dos resultados anteriores, não há um padrão comportamental claro
dos valores quanto ao teor de sulfatos, uma vez que estão bastante aleatórios. Pode-se explicar isso
porque a origem dos sulfatos nas águas termominerais se dá a partir da oxidação da pirita, e não da
dissolução de sais misturados no manto rochoso, por exemplo (SZIKSZAY, 1993). Unindo isso ao fato
de que as concentrações encontradas foram baixas, muito inferiores ao coeficiente de solubilidade;
percebeu-se que a temperatura não teve a capacidade de variar tanto o nível de sulfatos, por isso
conclui-se o porquê que o ponto D não destoou tanto dos demais, pelo menos nesse aspecto.

5.1.8. BÁRIO

Aplicações medicinais relacionadas à sua evidente ação do aumento da pressão e dos batimentos
cardíacos foram sugeridas para pacientes cronicamente hipotensos. É necessária atenção especial
nesse quesito, pois excesso de bário no organismo pode causar vômitos, diarreia, dor abdominal e
desalojar (substituir) o potássio das células. Altos níveis de bário associado com uma razão Ca/Mg alta
foram correlacionados com infarto do miocárdio e aumento da pressão arterial (LAZZERINI, 2013).

Em ensaio clínico randomizado na Turquia, avaliou-se a correlação entre os metais ingeridos em água
de abastecimento e algumas variáveis importantes para controle de peso corpóreo e obesidade. Nele,
foi constatado que quanto maior o nível de Ni e Ba, maior é a taxa de metabolismo basal e ganho de
massa (tanto proteica quanto lipídica) do corpo – correlação direta – e quanto maior o nível de Ba,
menor é a reabsorção do Cálcio pelos ossos – correlação inversa. Portanto, é recomendado que os
terapeutas tenham cuidado com pacientes obesos e com osteoporose (CETIN et al, 2016).

Na tabela 16, têm-se os resultados para o cátion Bário.

Tabela 16: Resultados experimentais da determinação do Bário

Fonte: Autoria própria

Considerando que o nível mínimo para atividade biológica do Bário é a partir 0,75 mg/L para banhos
e ingestões dietéticas, os níveis moderados encontrados nas fontes de Cipó são promissores para

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

potencialidades crenoterápicas cardiovasculares em hipotensos. Embora o nível de Níquel encontrado


estivesse abaixo do limite de detecção, impossibilitando uma análise conjunta de ambos elementos,
pode-se esperar também um aumento na atividade anabólica. Por isso, também se indica para
pacientes abaixo do peso e pede-se cuidado especial com hipertensos e obesos.

É importante notar que os valores encontrados encontram-se maiores que o valor máximo permitido
(VMP) pela portaria nº 2914/2011do ministério da Saúde, de 0,7 mg/L.

5.1.9. FERRO

O ferro é responsável pelo transporte de oxigênio no sangue, por intermédio da hemoglobina e está
presente em algumas enzimas de oxidação celular. Suas indicações estão relacionadas a anemias,
estados de debilidade e de descontrole nervoso. Muito se discute ainda sobre qual o nível de
concentração de Fe necessário para terapia termal, já que este elemento está em maior quantidade
nos alimentos e a absorção pela ingestão de água seria muito menor do que aquela que comumente
ocorre nas refeições diárias. Para se ter noção, um adulto precisa de 14 mg/dia, e raramente há mais
que 3 mg/L de Fe em águas termominerais (LAZZERINI, 2013). Porém, não se pode invalidar os
possíveis efeitos com base na comparação entre o que há na água e a recomendação nutricional diária
do nutriente, pois esta apenas considera a matéria que foi ingerida e direcionada para corrente
sanguínea, e não aquela parte que está em contato com a pele ou que foi inalada, que foram para
outros tecidos do corpo.

Em uso externo ou banhos com águas termo minerais, os elementos cobre, manganês e ferro possuem
reconhecido poder de permeação cutânea, sendo indicados contra acne e eczema, se as
concentrações estiverem próximas de 1 mg/L (NUNES E TAMURA, 2012).

Na tabela 17, têm-se os resultados para a análise Ferro.

Tabela 16: Resultados experimentais da determinação do Ferro

Fonte: Autoria própria

De acordo com as diretrizes da tabela 3 (seção 3.3.3.), os pontos A, B e especialmente C se encaixam


na categoria de águas ferruginosas, enquanto que o ponto D não se encaixa, embora esteja em um

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

nível em que algumas propriedades terapêuticas ainda sejam esperadas, assim como as demais, como
a aceleração da cicatrização, redução da oleosidade e tratamento da acne.

Em ambientes aquosos com concentração de Fe acima de 0,1 mg/L e com mais de 0,3 ppm de O2, é
esperado que ferrobactérias cresçam e se proliferem. Também conhecidas como bactérias de ferro,
são bactérias que absorvem a energia de que necessitam para viver e se multiplicam por oxidação do
ferro ferroso dissolvido (Fe+2 → Fe+3). Supõe-se que a água termal de Cipó tem cor amarronzada
(como observado na figura 13), pois o hidróxido férrico resultante é insolúvel, e aparece como
impregnação gelatinosa desta cor, coloidal, que mancha os encanamentos, azulejos e roupa. Essas
bactérias não são patogênicas, embora produzam sabores e odores desagradáveis (bastante
marcantes no entorno das fontes) e apresentem grande potencial corrosivo para tubulações. É por
causa delas também que, às vezes, se observa um “arco-íris” e um brilho oleoso incomum na água
(ANDREWS, 2013).

Figura 13: Vista superior da piscina termal pública (ponto B), com destaque para sua cor tipicamente
marrom e azulejos manchados. Fonte: Prefeitura Municipal de Cipó

5.1.10. MANGANÊS

Os principais efeitos biológicos em usos terapêuticos tópicos do manganês contido nas águas termais
está na renovação celular, cicatrização de feridas, e recuperação da barreira cutânea (LAZZERINI,
2013).

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Em estudo com cultura de células epiteliais especializadas, constatou-se que o Zn, Cu e Mn atuaram
na fisiologia cutânea modulando a inflamação, acelerando o processo de epitelização e a proliferação
de queratinócitos e fibroblastos de uma ferida (TENAUD et al, 2000). Especialmente com os sais de
Manganês (1 mg/L) e Cobre, foi observada uma influência positiva na recuperação da barreira cutânea
por meio da migração acelerada de queratinócitos se comparado com o grupo de controle após 24
horas, como observado na figura 14.

O manganês possui também destacado poder de permeação cutânea, já que se observou que participa
da síntese das macromoléculas dérmicas glicosaminglicanose e tirosinasa, sendo ativador enzimático
e das funções imunológicas (NUNES e TAMURA, 2012).

Figura 12: Cinética da migração de queratinócitos em tecido epitelial aberto, observação


microscópica.
Fonte: Adaptado de Tenaud et al, 2000.
Os resultados obtidos para análise de Mn estão ilustrados na tabela 18.

Tabela 18: Resultados experimentais da determinação do Manganês

Fonte: Autoria própria

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

No geral, os níveis de Mn encontrados em Cipó-BA (entre 0,9 e 2,2 mg/L) são altos se comparados com
outras fontes termais do Brasil, como Águas de São Pedro-SP (0,005 mg/L), Cachoeiras de Macacu-RJ
(0,059 mg/L) e Termópolis-MG (0,007 mg/L), por exemplo (LAZZERINI, 2010). Por isso, assim como no
caso do Cálcio e Magnésio, a ingestão desta água termal oferece uma boa fonte nutricional de
Manganês. A ingestão recomendada de Mn por adultos é de 2,3 mg/dia (ANVISA, 2004) e o nível médio
nas águas de Cipó é de 1,5 mg/L (aproximação grosseira feita a partir dos dados da tabela 17).
Tomando um copo de 250 mL, o banhista teria ingerido 0,375 mg, isso representaria 16,3% das
necessidades diárias de Mn.

A partir das evidências na literatura supracitada e dos valores de concentração encontrados, as


potencialidades crenoterápicas para o Manganês na água mineral de Cipó são aquelas que atuam no
plano cutâneo do corpo, no tocante À cicatrização e proliferação de células basais para novos tecidos
na pele, agindo em conjunto com algumas espécies de mesmo potencial dermatológico, como o
bicarbonato e o ferro. Além disso, dada a quantidade significativa do mineral, o consumo da água pode
constituir uma importante fonte deste micronutriente na dieta.

5.1.11. LÍTIO

O Lítio tem um importante e misterioso papel na medicina tradicional. O Carbonato de Lítio (Li2CO3)
é considerado hoje o mais simples e o mais eficiente agente terapêutico da Psiquiatria, utilizado
largamente em tratamento de transtornos maníaco-depressivos. Inclusive, a sua capacidade
medicamentosa foi descoberta a partir da sua detecção nas águas de várias estações hidrominerais
européias, principalmente francesas, o que levou muitos médicos a atribuir-lhe a eficácia dos
tratamentos em spas que possuíam essas águas. Embora amplamente utilizado em Psiquiatria, ainda
não há consenso sobre seu mecanismo de ação no corpo humano (MASSABNI, 2006).

Pesquisa de ensaio clínico randomizado em 15 participantes que durante oito semanas beberam
apenas água de certa fonte, com 0,68 mg/L de Li, indicou efetiva melhora homeostase nervosa e
capacidade antioxidante, medida pelos níveis séricos de neurotransmissores no cérebro e marcadores
de estresse oxidativo, além de mudanças no humor, cognição e bem-estar declarado pelos
participantes (LAM, 2012).

Em testes com ratos, com ingestão de 0,80 mg de Li aquoso por dia, o Lítio inibiu o FGF 23 (fibroblast
growth factor 23, que é um hormônio indutor do crescimento fibroblástico das células ósseas), o
fosfato e a vitamina D (1,25 (OH)2D3) e, em consequência disso, reduziu a calcificação vascular, ou

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

seja, o depósito de complexos minerais que espessam e tornam as artérias menos elásticas, com futura
melhora do quadro cardiovascular (FAKHRI et al, 2013).

Na tabela 19, têm-se os resultados para análise de Lítio.

Tabela 19: Resultados experimentais da determinação do Lítio

Fonte: Autoria própria

A partir desses dados, observa-se que as águas termais de Cipó apresentam o nível de Lítio um pouco
abaixo daquele que é registrado como terapêutico, de forma que não se pode afirmar ao certo as suas
potencialidades crenoterápicas.

5.1.12. CONCLUSÕES SOBRE AS POTENCIALIDADES CRENOTERÁPICAS

A tabela 20 apresenta o compilado dos resultados experimentais feitos neste estudo, juntamente com
um resumo das conclusões sobre as potencialidades crenoterápicas de cada BACS, deduzidas a partir
da relação entre o relatado na bibliografia e aos níveis encontrados.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 20: Resumo dos dados experimentais e das conclusões obtidas para cada BACS

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

* quando o ponto de coleta não for especificado, a conclusão se refere a todos. Fonte: Autoria
própria

5.2. OUTROS RESULTADOS

5.2.1. PRATA

A ocorrência média de Prata na crosta terrestre é de 0,08 ppm; em solos, entre 0,01 e 0,05 ppm; em
rios, 0,23 µg/L e em águas subterrâneas é de 20 µg/L. A prata ocorre no estado natural em combinação
com outros elementos não-metálicos como Argentita (AgS) e Clorargirita (AgCl). Em meio aquoso
ácido, Ag+ é a forma predominante e em águas cloretadas é esperado que esteja na forma de
complexos. Embora não tenha sido encontrada nenhuma referência sobre a bioatividade da Prata no
organismo, tampouco os possíveis efeitos terápicos, constatou-se que concentrações entre 0,4 a 1
mg/L causaram efeitos tóxicos em peixes por magnificação trófica (bioacumulação) e causaram
alterações nos rins, fígado e baço de ratos (APHA, 1999).

Na tabela 21 encontram-se os resultados da quantificação de Prata.

Tabela 21: Resultados experimentais da determinação da Prata

Fonte: Autoria própria

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Se não houve a possibilidade de indicar algum possível efeito crenoterápico, ao menos se pôde
concluir que há segurança neste quesito, pois a água tem concentração muito abaixo de uma faixa
perigosa para os seres vivos.

5.2.2. COLIFORMES TOTAIS E E. COLI

Apesar de não ser um fator importante para a avaliação da termalidade das águas - visto que a
microbiologia das águas termais é diferente das águas superficiais -, a pesquisa de coliformes totais/E.
coli constitui um importante indicador de qualidade da água por ser capaz de reconhecer
contaminação exógena, como aponta as exigências do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) e a
recorrente prática desta análise em outros trabalhos relacionados à qualidade hídrica (DUARTE, 2010;
MUNIZ, 2013; PINTO, 2006; SCHWARZBACH, 2000; SCURACCHIO, 2010; TONANI, 2008).

Das amostras analisadas, todas estavam isentas de coliformes, com exceção do ponto B, como
constatado pela coloração amarela (figura 15).

Figura 15: Frascos para análises microbiológicas após 24 hrs de incubação, dos quais a cor do frasco B,
no centro, indica presença de coliformes. Frasco A e B estavam incolores, assim como o D que não
estava na foto.
Fonte: Fotografia feita pelo próprio autor.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Ao colocar o frasco B em radiação UV, a fluorescência ainda atestou para presença de E. coli (figura
16).

Dada as características do tipo da água, a principal hipótese para tal resultado é que as bactérias são
provenientes de contaminação externa. O ponto de coleta é uma piscina pública, com média de
visitação de 100 pessoas por dia, como já mostrado na figura 8-B. A higiene local é feita apenas pelo
esvaziamento e, em seguida, pela reposição semanal da água. Nenhum tratamento químico, como
ocorre nas piscinas comuns com a adição de hipoclorito, é feito na piscina. É fácil supor, portanto, que
a contaminação decorre dos banhistas.

Figura 16: Frasco B após 24 hrs de incubação sob radiação UV de 366 nm, com fluorescência
indicando presença de E. coli.
Fonte: Fotografia feita pelo próprio autor.
Para evitar doenças aos usuários, principalmente àqueles que buscam o oposto disso, sugere-se que
o esvaziamento e enchimento da água ocorram duas vezes na semana, ao invés de apenas uma.

5.2.3. INDICADORES ESTATÍSTICOS

O balanço iônico é definido pela equação 1, o que representa erro entre o montante total de meq/L
dos cátions e ânions presentes. O cálculo do balanço iônico foi aplicado em cada amostra para verificar
a concordância de resultados entre as diferentes modalidades de análise (cátions e ânions). O erro do
balanço iônico aceitável compreende ao intervalo entre ± 20 % (PINTO, 2006).

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Na tabela 22, tem-se os resultados do balanço iônico. Os valores de Na + K, foram considerados como
200 mg/L, como indicado por Lazzerini (2013).

Tabela 22: Balanço iônico das análises

Fonte: Feito a partir do software Qualigraf 2017

Percebe-se que em todas as amostras, o erro foi aceitável (<20%), o que indica uma boa totalidade da
análise dos íons, com poucas lacunas.

O diagrama de Piper é frequentemente utilizado para classificação e comparação de distintos grupos


de águas quanto aos cátions e ânions dominantes (PINTO, 2006). O programa Qualigraf 2017 gerou o
diagrama de Piper e mostrou a classificação das amostras segundo esse critério na figura 17.

Essas diagramações são feitas plotando as proporções dos cátions principais (Ca2+, Mg+2, Na+ + K+) e
dos ânions principais (HCO3- , Cl- , SO4-2) em dois diagramas triangulares respectivos, e combinando
as informações dos dois triângulos em um losango situado entre os mesmos, promovendo também
um instrumento visual de rápida caracterização da água estudada para o leitor.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Figura 17: Diagrama de Piper para os pontos de coleta da água de Cipó. 1, amarelo = ponto A. 2, ciano
= o ponto B. 3, em verde = ponto C. 4, em vermelho = ponto D

Fonte: Diagrama confeccionado a partir do programa Qualigraf 2017.

5.3. CLASSIFICAÇÕES DEFINITIVAS

A partir dos dados obtidos, pôde-se classificar a água termal de Cipó quanto aos níveis e características
da água que a legislação brasileira e alguns estudos categorizam.

Em acordo com o Código de Águas Minerais, decreto-lei nº 7841/1945 (BRASIL, 1945), pode-se
categorizar as águas termais de Cipó (em todos os pontos estudados) como: cloretadas, uma vez que
tem mais que 0,5 g/L de Cl-; alcalino-terrosa cálcica, tendo mais que 120 mg/L de HCO3- juntamente
com mais que 48 mg/L de Ca; e gasocarbônica, já que espontaneamente desprende gás (figura 10) e
muito possivelmente é gás carbônico dado as características geoquímicas regionais que sustentam
essa hipótese.

Esta classificação, com poucas diferenças, segue a mesma linha de denominação dada por Carvalho e
Ramos (2010), presente na tabela 1 (seção 1.0). Seguindo esses parâmetros, pode-se classificar a água
termal estudada como hipersalina (STD>1500 mg/L), cloretada ([Cl-]>200 mg/L), cálcica ([Ca+2] >150

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

mg/L), magnesiana ([Mg+2] > 50 mg/L), ferromanganífera ([Fe] e [Mn] > 1 mg/L) e gasocarbônica (pelo
mesmo motivo anterior).

Quanto aos VMP (valores máximos permitidos) para potabilidade do Ministério da Saúde indicados na
portaria nº2914/2011 (BRASIL, 2011) e resolução do CONAMA nº 396/2008, observam-se os seguintes
enquadramentos da tabela 20.

A questão dos coliformes já foi discutida na seção 5.2.2. Quando se trata de parâmetros que
representam riscos à saúde, percebe-se que o Bário é um elemento preocupante, já que está em
quantidades significativamente mais altas (no ponto C, por exemplo, aproximadamente 3x mais) que
o VMP, como indicado na tabela 23. É notável que em quase todos os parâmetros de qualidade
organoléptica, os valores observados ultrapassaram os valores permitidos, de tal forma que isso
explica o porquê do gosto estranho, do odor e cor peculiares. Neste caso, pode-se classificar a água
como não potável.

No entanto, como a portaria indica as condições necessárias para água de abastecimento, isto é,
aquela que toda uma população ingere diariamente, não se pode reprovar, com base em uma cautela
acentuada com o teor de Bário, o consumo pontual por parte dos habitantes e visitantes. As pessoas
que se submetem à terapia costumam permanecer em temporadas, de alguns dias, segundo alguma
recomendação de ingestão leve, não superiores à 1 L por dia. Portanto, com exceção do ponto B
contaminado por agentes patogênicos, não há risco eminente de efeitos negativos no consumo da
água das fontes termais de Cipó, pelo contrário: pois dadas as suas características físico-químicas, há
indícios de efeitos positivos. Há de se convir também que as leves alterações organolépticas são
supérfluas em comparação com o potencial terapêutico que a água pode proporcionar.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

Tabela 23: Comparação entre os resultados encontrados e os VMP da portaria 2914/2011

Fonte: Autoria própria

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos nas análises físico-químicas das águas termominerais de Cipó-BA e
relacionando-os com os conhecimentos adquiridos na pesquisa bibliográfica, pode-se dizer que há um
grande potencial crenoterápico nas águas da região, com pouca diferenciação entre um ponto e outro.

Embora os teores de SO4-2 e Lítio não sugerissem algum efeito possível, os BACS de temperatura, pH,
os STD, a Dureza total, a Alcalinidade, os teores de Ca+2, Mg+2, HCO3-, Cl-, Ba+2, Fe e Mn indicam
possíveis efeitos benéficos à saúde humana por se encaixarem em valores que já foram observados
na literatura como efetivos para certos quadros, que incluem o tratamento de doenças
dermatológicas, gástricas, reumatológicas, cardiovasculares, psíquicas e entre outras. Obviamente,
tudo se trata de plausibilidade e, por isso, para avaliar os reais efeitos terapêuticos das águas, bem
como os mecanismos de ação, novos estudos devem ser feitos.

De acordo com os parâmetros mais recentes, pôde-se classificar a água termal do local de estudo como
hipersalina, cloretada, cálcica, magnesiana, ferromanganífera e gasocarbônica. Em relação aos

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parâmetros de potabilidade, concluiu-se que a água estudada pode não ser considerada como potável,
no entanto, pode-se ser realizada novos testes em outros laboratórios já que o teor de Bário excede o
valor máximo permitido, com destaque ainda para a contaminação por coliformes no ponto B, o que
revela a necessidade de ações corretivas neste local. No entanto, por questões de exposição e forma
de usos peculiares à crenoterapia, entende-se que o uso da água termal nos demais pontos (A, B e C)
não oferece riscos aparentes aos usuários.

Além disso, no decorrer da investigação, foi possível aprimorar os conhecimentos práticos acerca de
técnicas analíticas, como a volumetria, espectrometria no UV-VIS, técnicas eletroanalíticas e
espectroscopia de plasma indutivamente acoplado.

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Características Físicas E Químicas Da Água Termal De Cipó-Ba: Potencialidades Crenoterápicas

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68
298
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 19
10.37423/201203476

CONDIÇÕES HIGIENICO-SANITÁRIAS DOS


LOCAIS E DAS COMIDAS DE RUA VENDIDAS NO
MUNICIPIO DE AÇAILÂNDIA – MA

TATIANA OLIVEIRA DOS SANTOS LEAL INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO-


IFMA

FABIANA DE OLIVEIRA PEREIRA INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO-


IFMA

MARIA LUDMILLA SILVA DE OLIVEIRA INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO-


IFMA

NATHALIA NUNES LEITE INSTITUTO FEDERAL DO MARANHÃO-


IFMA
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

Resumo: Os alimentos de rua estão cada vez mais atrelados à escolha do consumidor sendo que
apresentam aspectos positivos devido a sua importância socioeconômica, cultural e nutricional além
de serem mais baratos e acessíveis à população, e também aspectos negativos no que diz respeito às
questões higiênico-sanitárias. Quando vendidos nas ruas podem representar um problema de saúde
pública, pois muitas vezes são preparados e vendidos sem a adequada higienização, podendo colocar
em risco a saúde do consumidor. A falta de condições adequadas e os descuidos, ou muitas vezes a
ausência de informações das técnicas corretas de higiene, bem como a temperatura de
armazenamento e o tempo de exposição desde a preparação até a comercialização desses produtos e
de seus complementos, soa fatores importantes e fundamentais para a multiplicação de bactérias,
fazendo com que esse alimento possa veicular uma variedade de micro-organismos, deteriorantes e/
ou patogênicos, tornando-se uma preocupação para os consumidores, em função dos riscos das
doenças transmitidas por alimentos, aos quais estão expostos. Com o objetivo de avaliar o grau de
contaminação microbiológica das comidas de rua, foi realizada uma pesquisa de campo onde foram
sondados os principais locais de vendas de alimentos comercializados em vias públicas da cidade de
Açailândia. Foram selecionados 3(três) locais de venda de alimentos, onde coletou-se 3(três) amostras
das comidas comercializadas em cada local de venda, totalizando 9 amostras. Após análises observou-
se que as amostras apresentaram valores de coliformes totais, equivalentes a 77,8% e quanto à
contagem de bactérias mesófilas, 100% delas estavam contaminadas, indicando a necessidade de
melhoria na qualidade higiênica dos manipuladores de alimentos, assim como nos locais de
comercialização desses. Após a obtenção de todos os resultados foram elaboradas palestras
educativas direcionadas aos vendedores com o intuito de alertá-los para os principais e possíveis riscos
para a saúde dos consumidores.

Palavras–chave: alimentos de rua, consumidor, contaminação, manipulador de alimentos

1
300
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

1. INTRODUÇÃO

Alimentos de rua em sua definição são aqueles alimentos e bebidas preparados e/ou vendidos nas
ruas e outros locais públicos, para consumo imediato ou posterior, sem apresentarem, contudo,
etapas adicionais de preparo ou processamento (WHO, 1996; FAO, 1988, 1997a, 1997b). Sendo de
grande importância para a população em geral, porem mais frequentes nas populações de baixa
renda.

Estudos realizados na América latina estimam que, em grandes centros urbanos, entre 25 e 30% do
orçamento familiar são gastos no consumo de alimentos categorizados como comida de rua. O gradual
empobrecimento da população dos países em desenvolvimento fez proliferar o consumo de alimentos
preparados e vendidos em logradouros públicos. Com o aumento do desemprego, a venda de comida
de rua tornou-se para muitos brasileiros, a única oportunidade de trabalho, o que explica e elevado
contingente de vendedores ambulantes. Para muitos consumidores, a comida de rua constitui-se na
melhor forma de alimentar-se fora do lar, principalmente pela praticidade e pelo preço reduzido
desses alimentos. O sucesso do comércio ambulante também pode ser atribuído à isenção de
impostos, à liberdade de escolha dos alimentos a serem comercializados, à flexibilidade no horário de
trabalho e ao baixo capital demandado para a implantação da atividade.

O trabalho de manipulador de alimentos de rua é informal, mas já acarreta um acréscimo de 48


milhões de brasileiros e destes a maioria são crianças e jovens, que tais como os adultos não têm uma
base sobre as condições higiênicas de manipulação de alimentos (PASTORE 2006).

Os alimentos podem se deteriorar por ficar exposto à temperatura ambiente, e pela a ação de micro-
organismo, pois estes estão presentes no ar, onde se multiplicam e se depositam no alimento fazendo-
o com que o alimento se estrague. Além de ingerirmos micro-organismo podemos ingerir cabelo,
saliva, mosca, formiga, entre outros tipos de contaminação, e essas contaminações são mais
encontradas nos alimentos de rua.

É difícil um alimento de rua estar isento de contaminação, mas podem-se evitar possíveis riscos e para
tal existem métodos de conservação de alimentos que evitam a deterioração dos mesmos, o que
previne alterações que podem levar ao apodrecimento do alimento. A forma mais comum e mais
usada para conservar os alimentos é pela refrigeração e congelamento. Esses dois métodos são usados
para quase todos os tipos de alimentos, porém os alimentos de rua não passam por este tipo de
conservação fazendo com que eles, se tornem pontos alvos de ataque para micro-organismos.

2
301
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

As bactérias que causam intoxicações alimentares são difíceis de serem detectadas através da
aparência, cheiro ou gosto dos alimentos. Porém, podem causar a doença em vários graus de
gravidade, variando desde casos leves até casos muito severos ou que coloque em risco a vida dos
consumidores.

Segundo Figueiredo, 2006 as intoxicações são provocadas pela ingestão de quantidades variáveis de
toxinas, formadas em decorrência da intensa proliferação de micro-organismos patogênicos nos
alimentos.

Visto que a maior parte das intoxicações alimentares resulta de manuseio impróprio dos alimentos,
os manipuladores devem seguir os procedimentos de manuseio higiênico dos alimentos durante sua
preparação com relação à escolha de produtos de boa qualidade, cozinhar bem os alimentos,
armazenar cuidadosamente o que não foi consumido, evitar o contato entre alimentos crus e cozidos,
lavar as mãos constantemente, manter o local de manipulação em bom estado e manter os alimentos
fora do alcance de insetos, roedores e animais domésticos, dessa forma observa-se a importância dos
treinamentos e veiculação de informações entre os donos destes estabelecimentos nas vias públicas,
bem como dos consumidores.

No município de Açailândia observa-se um grande número de vendedores ambulantes de alimentos o


que é um dado preocupante no que diz respeito à qualidade higiênico-sanitária dos produtos
vendidos, bem como as condições do local e dos manipuladores que não possuem informações dos
órgãos responsáveis pela fiscalização desses vendedores.

Alguns estudos mostram que mais de 50% das pessoas que já fizeram cursos relacionados à área
alimentícia não colocam seus conhecimentos em prática sobre doenças veiculadas por alimentos.
Portanto observa-se a relevância da pesquisa para a saúde pública e a necessidade de se avaliar as
condições higiênico-sanitárias dos locais de venda e dos alimentos consumidos na rua pelos
consumidores da cidade de Açailândia, através do mapeamento dos principais locais de venda de
alimentos, coleta de amostras de alimentos vendidos nesses locais e análises quanto suas
características microbiológicas, além de alertar os manipuladores e donos dos estabelecimentos
quanto às doenças transmitidas por alimentos e seus riscos para os consumidores.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Realizou-se, primeiramente, uma pesquisa de campo, onde se mapeou os principais locais de vendas
dos alimentos comercializados em vias públicas e consumidos pela população. Foram selecionados

3
302
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

três locais (X, Y e Z) de comercialização de alimentos na cidade de Açailândia e, posteriormente,


verificou-se as condições higiênico-sanitárias desses locais e dos manipuladores dos alimentos
levando-se em conta os principais aspectos de sanidade de acordo com a legislação sanitária, através
de observação. Foram coletadas e analisadas, no Laboratório de Microbiologia do IFMA / Campus
Açailândia, três amostras (A, B e C) compostas de alguns alimentos comercializados em cada um dos
locais da pesquisa e consumidos pela população, totalizando nove amostras a serem analisadas com
o objetivo de calcular o número de micro-organismos (coliformes totais e mesófilos) presentes nessas
amostras. As amostras eram compostas de misturas de vários alimentos prontos para o consumo,
sendo que a amostra A era composta de um suco da polpa de maracujá, a amostra B de uma refeição
(arroz, carne, macarrão e feijão) e a amostra C de um salgado frito com recheio de carne moída. Todas
as amostras foram coletadas de forma asséptica, acondicionadas em sacos plásticos estéreis, lacrados
e identificadas quanto à data de coleta.

As análises microbiológicas foram realizadas segundo a metodologia descrita no Compendium of


Methods for the Microbiological Examination of Foods (VANDERZANT & SPLITTSTOESSER, 1992).

Para tal foi retirada assepticamente uma porção de 25 ml de cada amostra, homogeneizadas
previamente com 225 ml de solução salina (0,85%) e realisadas diluições decimais até 10 -3. Para a
análise de coliformes totais realizou-se uma prova presuntiva que visa detectar a presença de micro-
organismos fermentadores de lactose, especialmente o grupo Coliforme e uma prova confirmatória
que mostra o crescimento da microbiota acompanhante, especialmente as bactérias gram-positivas.

A análise de mesófilos foi realisada por contagem de bactérias aeróbicas mesófilas através do meio de
cultura PCA (Plate Count Agar)

Depois de observar as condições higiênico-sanitarias dos locais pesquisados e os resultados das


análises, foram ministradas palestras educativas com o objetivo de apresentar os dados obtidos nas
análises e alertar os donos desses pontos de venda e seus manipuladores quanto aos perigos de
contaminação dos alimentos e das doenças veiculadas por estes, caso não seja utilizado o mínimo
possível de cuidados no preparo e distribuição dos produtos vendidos na rua.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o levantamento dos dados, observou-se nos principais locais de venda dos alimentos consumidos
pela população na cidade de Açailândia- MA, inúmeros erros por parte dos manipuladores de
alimentos sobre a higiene desses como: a falta do hábito de lavar as mãos, diálogos entre os

4
303
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

funcionários que estavam manipulando alimentos, uso de adornos (brincos, pulseiras, anéis, relógio),
ausência de higiene pessoal e uso de uniformes impróprios para manipulação de alimentos.

As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam os resultados obtidos, após análise microbiológica realizada nas nove
amostras coletadas e comercializadas em três locais (X, Y e Z) da cidade de Açailândia-MA. De acordo
com os resultados, verificou-se que todas as amostras obtiveram valores de coliformes totais variando
de 23 a 1.100 NMP/g ou ml, o que equivale a 77,8%. No que se refere à contagem de bactérias
mesófilas, houve variação de 1,9x102 a 9,2x105 UFC/g ou ml, observando-se a contaminação em 100%
das amostras.

Considerando-se que não existem padrões de comparação para coliformes totais e contagem de
bactérias mesófilas estabelecidos pelas legislações sanitárias em vigor para comida de rua, visto que
as amostras coletadas continham a mistura de vários alimentos comercializados, a análise dos
resultados mostrou que os locais que vendem comida de rua apresentaram índices de coliformes
totais e contagem de bactérias mesófilas insatisfatórios, indicando a necessidade de melhoria na
qualidade higiênica dos manipuladores de alimentos e a estrutura física dos locais. Esses dados são
úteis apenas para avaliar as condições de trabalho e de higiene de cada local.

Tabela 1 - Resultados das análises de contagem de Coliformes Totais em Número Mais Provável por
grama ou ml (NMP/g ou ml) e Bactérias Mesófilas em Unidades Formadoras de Colônias por grama ou
ml (UFC/g ou ml) nas amostras coletadas provenientes do local de venda X de alimentos
comercializados e consumidos pela população de Açailândia/MA.

a= suco da polpa de maracujá; b= refeição; c= salgado frito com recheio de carne moída

Tabela 2 - Resultados das análises de contagem de Coliformes Totais em Número Mais Provável por
grama ou ml (NMP/g ou ml) e Bactérias Mesófilas em Unidades Formadoras de Colônias por grama ou
ml (UFC/g ou ml) nas amostras coletadas provenientes do local de venda Y de alimentos
comercializados e consumidos pela população de Açailândia/MA.

5
304
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

a= suco da polpa de maracujá; b= refeição; c= salgado frito com recheio de carne moída

Tabela 3 - Resultados das análises de contagem de Coliformes Totais em Número Mais Provável por
grama ou ml (NMP/g ou ml) e Bactérias Mesófilas em Unidades Formadoras de Colônias por grama ou
ml (UFC/g ou ml) nas amostras coletadas provenientes do local de venda Z de alimentos
comercializados e consumidos pela população de Açailândia/MA

a= suco da polpa de maracujá; b= refeição; c= salgado frito com recheio de carne moída

6. CONCLUSÕES

Evidenciou-se a falta de capacitação em higiene alimentar dos manipuladores de alimentos nos três
locais de venda de comida de rua pesquisados, provavelmente devido à disponibilidade de água
deficiente e, principalmente, a temperatura de armazenamento da matéria-prima, além da falta de
informações quanto à higiene pessoal por parte dos manipuladores de alimentos. Portanto é
necessário implantar as Boas Práticas de Fabricação, conscientizando os manipuladores de alimentos
sobre os procedimentos de higiene.

A qualidade microbiológica da comida de rua comercializada por ambulantes é um assunto que deve
preocupar órgãos de saúde pública e os consumidores, pois a ocorrência de contaminação destes
alimentos poderá provocar doenças de origem alimentar.

6
305
Condições Higiênico-Sanitárias Dos Locais E Das Comidas De Rua Vendidas No Município De Açailândia – MA

REFERÊNCIAS

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Jog Jakarta, Indonesia. Report. Rome; 1988. ( Food and Nutrition Division, v5, n.9: Regional Office for
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Jog Jakarta, Indonesia. Report. Rome; 1997a.

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FIGUEIREDO, R. M. Coleção Higiene dos Alimentos Vol. 3: As armadilhas de uma cozinha. Barueri:
Editora Manole, 2006.

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PASTORE J. Desemprego e informalidade no Brasil. In: Anais do congresso da Indústria; 2006 Maio 25;
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VANDERZANT, C.: SPLITTSTOESSER, D.F. Compendium of methods for the microbiological examination
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7
306
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 20
10.37423/201203487

AVALIAÇÃO DO EFEITO CARCINOGÊNICO E


ANTICARCINOGÊNICO DE LEONURUS SIBIRICUS
EM DROSOPHILA MELANOGASTER

Maria Laura de Deus Caixeta Centro Universitário de Patos de Minas


(UNIPAM)

Rosiane Gomes Silva Oliveira Centro Universitário de Patos de Minas


(UNIPAM)
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

Resumo: O Leonurus sibiricus é uma planta originária da Ásia, que é conhecida por seus efeitos
antibióticos e anti-inflamatórios. Além desses efeitos, alguns estudos destacam a capacidade de inibir
citocinas como TNF-alfa, bem como causar lesões neoplásicas de glândulas mamárias. Diante disso,
esse trabalho objetivou analisar os efeitos carcinogênicos e anticarcinogênicos do chá da planta L.
sibiricus por meio do teste de detecção de clones de tumores epiteliais (ETT – Epithelial Tumor Test)
em células de Drosophila melanogaster. Comparando as amostras isoladas com o controle negativo,
estas mostraram ausência de efeito carcinogênico, pois não houve aumento significativo de tumores.
Já nas concentrações associadas de L. sibiricus e DXR, comparadas com o controle positivo, os
resultados indicaram que a planta é anticarcinogênica, já que quanto maior a concentração, menor a
frequência de tumores. Conclui-se que o chá de L. sibiricus possui efeito anticarcinogênico, uma vez
que foi capaz de reduzir os danos induzidos pela DXR.

Palavras chave: Anticarcinogênico. Drosophila melanogaster. Mané- turé. Tumor.

1
308
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

1. INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença genética cuja malignização resulta na mutação de genes que controlam a
multiplicação celular. Todo câncer humano resulta de mutações no DNA, tornando- o uma doença
genética comum e abrangente nos últimos tempos (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON 2001).

No desenvolvimento do câncer, as células resultantes saem do seu processo de multiplicação normal


e passam a ter um crescimento desregulado, chamando neoplasia (BORGES-OSÓRIO; ROBINSON
2001). Segundo Willis (2000), “neoplasia é a massa anormal de tecidos, cujo crescimento excede
aquele dos tecidos normais e não está coordenado com ele, persistindo da mesma maneira excessiva
após o término do estímulo que induziu a alteração”.

A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos específicos de cânceres estão


relacionados a múltiplos fatores, incluindo sexo, idade, raça, predisposição genética e exposição a
carcinógenos ambientais. Destes fatores, os ambientais são, provavelmente, os mais importantes.
Além disso, existem os agentes mutagênicos, que podem ser físicos (raios UV e radiação), químicos
(substâncias) e biológicos (vírus e bactérias) (KOIFMAN, 2003).

Nesse contexto, diversas plantas medicinais vem se destacando por conter propriedades benéficas na
luta contra o câncer, tal como o Leonurus sibiricus. De acordo com Nagasawa (1990), a planta possui
propriedades capazes de inibir o crescimento de neoplasias mamárias, indicando um possível efeito
anticarcinogênico.

Todavia, até o momento, não se tem conhecimento de que tenha sido realizado experimentos para
avaliar o potencial carcinogênico e anticarcinogênico do chá da planta L. sibiricus em células de
Drosophila melanogaster. Deste modo, o presente trabalho objetivou avaliar o efeito carcinogênico e
anticarcinogênico do chá da planta Leonurus sibiricus, por meio do teste para detecção de clones de
tumores epiteliais ((ETT – Epithelial Tumor Test)) em células somáticas de Drosophila melanogaster.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. LEONURUS SIBIRICUS

A fitoterapia e o uso de plantas medicinais fazem parte da prática da medicina popular, constituindo
um conjunto de saberes internalizados nos diversos usuários e praticantes, especialmente pela
tradição oral. Trata-se de uma forma eficaz de atendimento primário à saúde, podendo complementar
ao tratamento usualmente empregado, para a população de menor renda ( ELDIN, 2001). Desde o

2
309
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

início da civilização, o uso de plantas não foi destinado somente para a alimentação, mas também para
tratamento e cura de doenças. Dessa forma, o homem sempre buscou na natureza “princípios ativos”
para curar suas dores e males (DI STASI, 1996; ROCHA; ROCHA, 2006).

Dentre as diversas plantas com propriedades medicinais, tem-se o Leonurus sibiricus (Figura 1), mais
conhecido na região do Alto Paranaíba como Mané Turé. Originária da Ásia e muito utilizado na
medicina popular, principalmente na coreana, onde foi chamada também de Motherwort (erva de
mãe), justamente por curar diversas doenças. No Brasil, a L. sibiricus se adaptou muito bem, tanto que
até pode ser considerada uma planta brasileira (CHU et al., 1926; WADT et al., 1996; DUARTE; LOPES,
2005; SHIN et al., 2009 apud SCREMIN, 2009).

A L. sibiricus faz parte da família Lamiaceae, a qual é caracterizada por produzir terpernóides e
substâncias fenólicas com efeitos alelopáticos, com isso algumas das plantas desta família são
consideradas invasoras de plantações (ALMEIDA et al., 2011).

Figura 1- Leonurus sibiricus.

Fonte: Agrolink, acessada janeiro de 2018.

O Mané Turé é popularmente e amplamente utilizado como anti-inflamatória, mas sua atividade sobre
a liberação de citocinas dos mastócitos não está bem elucidada. Shin et al. (2009) investigaram o efeito
anti-inflamatório de Leonurus sibiricus sobre a liberação de citocinas inflamatórias de mastócitos e
observaram a inibição da secreção do fator de necrose tumoral (TNF-alfa) e interleucina (IL-6 e IL8),
provavelmente por inibir a liberação de factor nuclear kappa B (NF-kB).

O NF-kB é um fator de transcrição que foi primeiramente observado em Linfócitos-T, o papel mais
importante desse fator está ligado à capacidade imunológica, na qual regula a expressão de genes
inflamatórios e na defesa contra parasitas (FRANCO, 2010). Nos estudos de Nagasawa (1990), L.
sibiricus obteve sucesso na inibição do crescimento de neoplasias mamárias e neoplasias uterinas em

3
310
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

camundongos, cujo tratamento inibiu fortemente o crescimento de cânceres mamários que se


originaram de nódulos alveolares hiperplásicos.

As propriedades medicinais de L. sibiricus estão presentes em diferentes estruturas da planta. As


folhas combatem reumatismo crônico e possuem atividade antibacteriana, evitando dermatites. As
flores são capazes de combater vômitos e diarréias, além de serem eficientes contra resfriados e
bronquites. As folhas são amplamente utilizadas, também, na China para o pós-parto e hemorragias
(ALMEIDA, 2006).

2.2. DOXORRUBICINA (DXR)

A doxorrubicina (DXR) é um antibiótico citotóxico, da família das antraciclinas, muito utilizado contra
diversos tipos de neoplasias, por ser um ótimo agente antineoplásico, agindo principalmente em
câncer de mama e esôfago (Figura 2) (BOOSER; HORTOBAGYI, 1994). De acordo com Neuwald (2009),
a doxorrubicina tem grandes resultados na medicina veterinária, entretanto, para humanos já foi
comprovado cardiotóxica como principal efeito colateral.

Figura 2 - Estrutura da doxorrubicina

Fonte: Neuwald, 2009.


Com relação ao mecanismo de ação, as antraciclinas apresentam uma estrutura constituída por um
anel tetracíclico ligado a um açúcar que permitem a perda e ganho de elétrons. A estrutura destes
compostos vai ser responsável não só pela sua atividade antineoplásica, mas também pela sua
elevada toxicidade (PEREIRA, 2011). A estrutura química da doxorrubicina irá permitir que ela se
ligue ao DNA, intercalando entre suas bases, impedindo assim, a síntese de DNA ou RNA, o que
interfere na replicação e transcrição. O efeito tóxico dessa substância está diretamente ligado a
inibição da topoisomerase II e a formação de radicais livres e de oxigênio, gerando fenômenos de
stress oxidativo e peroxidação lipídica (PEREIRA, 2011). Devido a isso, a dose a ser administrada
deve ser limitada (MINOTTI et al., 2004).

No tratamento do câncer, a doxorrubicina causa alguns efeitos colaterais como náusea, vômito,

4
311
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

arritmia, febre, diarreia e perda de cabelo (SINGAL, 1998).

Em Drosophila melanogaster a doxorrubicina é empregada como controle positivo no teste de


detecção de clones de tumor epitelial (wts), induzindo a formação de tumores epiteliais por várias
partes do corpo das mosca, conforme comprovado nas pesquisas de Cardoso (2015) e Silva (2017).

2.3. EPITHELIAL TUMOR TEST (ETT)

O teste para detecção de tumor epitelial (Epithelial Tumor Test - ETT) tem por objetivo avaliar a
atividade carcinogênica e anticarcinogênica de diversas substâncias, tais como vinhos, extratos de
plantas, chás, óleos essenciais e etc. ( SIDOROV, 2001). O teste é realizado em células somáticas de
Drosophila melanogaster (Figura 3), um organismo modelo que apresenta resultados relativamente
rápidos, pois possui tempo de geração curto e prole numerosa, bem como pequeno número de
cromossomos, facilidade de manutenção em laboratório e reações metabólicas semelhantes as dos
mamíferos (GRAF et al., 1996).

Figura 3 - Casal de Drosophila; a direita o macho, a seta indica a presença de pente sexual.

Fonte: Laboratório de Citogenética e Mutagênese do Centro Universitário de Patos de Minas –


MG.

De acordo com Griffiths (2006) cerca de 60% dos genes causadores de doenças em humanos e 70%
de genes causadores de câncer, posseum homólogos expressos na Drosophila. Logo, tais
semelhanças fazem dessa mosca um importante organismo modelo para estudo de diversas
doenças tal como o câncer.

Neste contexto, o teste para detecção de tumores epiteliais (ETT) leva em consideração o gene
warts (wts), um supressor de tumoral muito importante para o controle da proliferação celular, bem
como para a morfogênese normal do indivíduo. Esse gene codifica uma proteína com um domínio
de serina/treonina-quinase que é homóloga à proteína humana distrofia miotonica quinase (PK-

5
312
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

MS), visto que muitas quinases estão envolvidas na progressão do ciclo celular, especialmente na
mitose, esse gene se faz importante para estudo de substâncias carcinogênicas (NISHIYAMA et al.,
1999).

Deste modo, o ensaio ETT leva em consideração as células dos discos imaginais das larvas de
Drosophila, um amontoado de células epiteliais, organizadas em apenas uma camada, as quais dão
origem as estruturas epidérmicas das moscas adultas durante o período de metamorfose. (COSTA;
OLIVEIRA; NEPOMUCENO, 2011). Logo, houver deleção do gene wts nas células dos discos
immaginais durante a metamorfose, ocorrerá formação de clones de células grandes e
arredondadas, formando uma espécie de “verrugas” sobre as pernas, asas e corpo da mosca referida
como tumor epitelial (NISHIYAMA et al., 1999).

3. METODOLOGIA

3.1. OBTENÇÃO DO LEONURUS SIBIRICUS

Nessa pesquisa, a planta de L. sibiricus foi adquirida em uma fazenda próxima ao município de Patos
de Minas. Posteriormente, consultando a medicina popular, foi preparado o chá de Mané Turé,
usando 20g planta para cada 500 mL de água. A infusão foi feita usando folhas e flores, por 10 min.
O chá de L. sibiricus foi coado, formando a solução mãe com 40 mg/mL. Em seguida, procedeu-se
com a diluição seriada, deste modo as concentrações utilizadas no procedimento experimental
foram 10, 20 e 40 mg/mL.

3.2. AGENTE QUÍMICO

Adriblastina® RD, do lote de fabricação: 7PL5091, é o nome comercial do cloridrato de


doxorrubicina, utilizado nessa pesquisa como controle positivo, foi diluído em água de osmose
reversa para obtera concentração de 0,4 mM. Cada frasco contém 10mg deste composto
constituído por lactose e metilparabeno (DXR) sob a forma de pó liofilizado. O peso molecular é de
580,0 e a fórmula molecular é C27H29NO11.

A doxorrubicina foi adquirida na Farmácia Universitária do Centro Universitário de Patos de Minas -


UNIPAM.

3.3. EPITHELIAL TUMOR TEST (ETT)

Duas linhagens mutantes de D. melanogaster foram utilizadas para realizar o ensaio ETT: warts (wts,

6
313
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

3-110) e multiple wing hairs (mwh 3-03).

Os estoques são mantidos no Laboratório de Citogenética e Mutagênese do UNIPAM, em frascos de


250 mL contendo o meio de cultura para D. melanogaster, preparado com 820 mL de água; 25g de
fermento (Saccharomyces cerevisiae); 11g de agar, 156g de banana e 1g de nipagin. A temperatura
é mantida em 25º C e umidade a 60% com fotoperíodo de 12 horas.

3.3.1. CRUZAMENTO

O cruzamento foi realizado entre fêmeas virgens wts/TM3, Sb1 com macho mwh/mwh, para
obtenção de larvas heterozigotas wts +/+ mwh.

Após o cruzamento as moscas foram levadas para frascos contendo meio de cultura para postura,
feito de ágar e uma camada de fermento (S. cerevisae) suplementado com glicose. Depois de 8
horas, foi feita a coleta dos ovos e logo em seguida as moscas foram retiradas para o
desenvolvimento dos ovos.

Todos os descendentes desse cruzamento foram tratados com as diferentes concentrações do chá
de Mané-Turé, porém, somente as moscas adultas de pelos finos e longos foram analisadas, ou seja,
as moscas portadoras do balanceador cromossômico (TM3, Sb1) foram descartadas.

3.3.2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Passadas 72 horas, as larvas de terceiro estágio foram lavadas com água corrente e coletadas com
o auxílio de uma peneira de malha fina e distribuídas em frascos, devidamente identificados,
contendo purê de batatas (meio alternativo para Drosophila), umedecidos com as diferentes
concentrações do chá de L. Sibiricus (10, 20 e 40 mg/mL) isoladas ou associadas a doxorrubicina.
Como controle positivo, foi usado doxorrubicina 0,4 mM e como controle negativo, água de osmose
reversa. Nessa etapa, as larvas ficaram expostas aos agentes químicos testados até a fase de pupa
(tratamento crônico de 48h). Decorrido o período de metamorfose, os adultos foram coletados e
armazenados em frascos com álcool 70%.

3.3.3. ANÁLISE DAS MOSCAS

Após transferir as moscas para frascos com álcool 70%, se obteve moscas de pelo longo e curto,
todavia, foram analisadas somente moscas de pelo longo, já que seu fenótipo (wts/mwh), a moscas
de pelo curto e grosso foram descartadas por não possuírem o gene em estudo (TM3/mwh).

7
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Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

A análise foi feita por meio de lupa estereoscópica onde procedeu-se com a contagem de tumores
presentes no corpo das moscas, de acordo com a descrição de Justice (1995). Os resultados foram
registrados em uma planilha padrão expressando a quantidade de tumores observados em cada
seguimento das moscas, tanto nos olhos, como na cabeça, corpo, asas, pernas e halteres.

3.3.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

A frequência de tumores por mosca foi calculada dividindo o total de tumores pelo número de
indivíduos analisados de cada concentração. As diferenças estatísticas entre a frequência de tumor
das concentrações testadas e dos controles (positivo e negativo) foram calculadas utilizando o teste
U, não paramétrico, de Mann-Whitney, empregando o nível de significância p < 0,05.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ensaio ETT foi utilizado neste trabalho com o objetivo de identificar a carcinogenicidade da planta
L. sibiricus. Por isso, foram feitas amostras em diversas concentrações (10, 20 e 40 mg/mL) tanto
isoladas quanto associadas a DXR, além do controle positivo e negativo. Foram analisadas 100
moscas de cada concentração e os resultados desse experimento estão expostos na Tabela 1.

Ao analisar os resultados da frequência de tumores dos indivíduos tratados apenas com o controle
negativo (Tabela 1), observa-se uma frequência de 0,11 tumores por mocas, devido à predisposição
genética da D. melanogaster. Nos indivíduos tratados apenas com o controle positivo é possível
notar uma frequência de 4,77 tumores por mosca, demonstrando que a DXR atua na indução
tumoral. Este efeito também foi comprovado nos estudos de Nepomuceno (2015) e Silva (2011) que
utilizaram a DXR como controle positivo no teste ETT e obtiveram como resultados aumentos
significativos de tumores em D. melanogaster.

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Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

Tabela 1 - Frequência de clones de tumor observados em Drosophila melanogaster, heterozigota


para o gene supressor de tumor wts, tratada com diferentes concentrações de Leonurus sibiricus,
isoladas e associadas ao quimioterápico doxorrubicina (DXR 0,4 mM).
Tratamentos Número de tumores analisados
Número
de moscas Frequência
L. sibiricus DXR Corp
(mg/mL) (mM) analisadas Olho Cabeça Asa o
Perna Halter Total (Nº de
tumores/mosca)
0,0 0,0 100 0 3 2 5 1 0 11 0,11
0,0 0,4 100 4 63 185 166 51 6 477 4,77 *
10 0,0 100 0 1 5 4 2 0 12 0,12
20 0,0 100 0 6 3 6 2 0 17 0,17
40 0,0 100 0 7 3 6 1 0 17 0,17
10 0,4 100 1 11 24 18 5 1 59 0,59**
20 0,4 100 0 10 14 20 3 0 47 0,47**
40 0,4 100 0 12 11 7 9 0 37 0,37**

Diagnóstico estatístico de acordo com o teste de Mann-Whitney. Nível de significância p ≤ 0,05.


* Valor considerado diferente do controle negativo (p < 0,05).
** Valor considerado diferente do controle positivo (DXR 0,4 mM) (p < 0,05). DXR, doxorrubicina.
As amostras isoladas, contendo apenas o chá da planta, não obteve aumentos significativos (p >
0,005) nas frequências de tumores quando comparado com o controle negativo. Portanto, o
Leonurus sibiricus não apresentou efeito carcinogênico. Em contra partida, as frequências tumorais
das concentrações associadas ao controle positivo apresentaram efeito modulador, capazes de
reduzir significativamente (p < 0,05) a frequência de tumores, de tal modo que quanto maior a
concentração, menor a frequência tumoral.

De acordo com Oliveira (2017), o L. sibiricus é composto por leonurina, saponinas, ácidos oléico e
linoléico e principalmente por flavonóides, os quais são fortes antioxidantes. Amado (2011)
complementa que os flavonóides são substâncias antioxidantes capazes de controlar a proliferação
celular e bloquear a oncogênese, por mecanismos que modulam as enzimas metabólicas. Logo, esse
pode ser o motivo pelo qual houve redução na frequência de tumores na presente pesquisa, visto
que, um dos mecanismos de ação da DXR é a geração de radicais livres (MINOTTI et al., 2004). Assim,
substâncias com efeito antioxidantes são potencialmente agentes anticâncer.

Outra hipótese para redução de tumores na presente pesquisa é o possível efeito apoptótico do L.
sibiricus. A apoptose é regulada por um grupos de proteínas da família BCL- 2 que participam
ativamente da regulação dessa via, alguns membros dessa família são chamados de reguladores
antiapoptóticos (Bcl-2, Bcl- XL , Bcl-W, A1 e Mcl-1) e outras são denominadas pró-apoptóticas (Bax,
Bak e Bok). Por isso, quando o DNA entra em contato com radicais livres ou substâncias

9
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Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

cancerígenas, o gene p53 é ativado que consequentemente ativa os fatores pró- apoptóticos
(VANDER, 1999; SIU; ALWAY, 2016). Neste sentido, o Mané-Turé é capaz de ativar esta via pró-
apoptótica, conforme descrito por Sintarek (2016), que comprovou que o extrato de Mané-Turé é
capaz de reduzir a atividade do gene BCL-2 e aumentar a atividade do gene Bax. Assim, ainda de
acordo com o autor, o L. sibiricus é capaz de intervir na fase S e G2 do ciclo celular e desencadear a
apoptose em gliomas de forma significativa.

Em adição, Mao et al. (2015) comprovaram que o cloridrato de leonurina, um composto alcalóide
presente nas plantas Leonurus, possui efeito anticâncer, pois foi capaz de reduzir a proliferação
celular em cultura de células H292 humanas de câncer de pulmão.

Sintarek et al. (2018), demonstraram que o extrato da planta L. sibiricus, modificada geneticamente
para conter altas quantidades de ácido fenólico, foram capazes de ativar vias específicas de
sinalização molecular, interferir significativamente na sobrevivência e proliferação de células de
glioma grau IV e células U87MG, por duas vias: primeiro, por inibição da atividade da PARP (poly
ADP ribose polymerase), que aumenta a susceptibilidade das células aos agentes que danificam o
DNA, possivelmente impedindo a união da quebra da cadeia de DNA; em segundo lugar, diminuindo
a expressão de UHRF1 e DNMT1, influenciando assim a regulação epigenética. De acordo com
autores, a UHRF1 é uma proteína nuclear que desempenha um papel importante no
desenvolvimento do câncer por regulação epigenética e a DNMT1 é uma enzima que interage com
UHRF1, que se acumula em locais danificados por DNA.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas condições experimentais da presente pesquisa, o chá de folhas e flores de L. sibiricus não
apresentou efeito carcinogênico. Pelo contrário, as concentrações associadas apresentaram efeito
anticarcinogênica. Este resultados permite concluir que um dos mecanismos pelos quais houve
redução na frequência de tumores nos indivíduos associados ao quimioterápico DXR, pode estar
relacionado a ativação de vias apoptótica, visto que o L. sibiricus possui muitas atividades nesta via.
Sendo assim, novas pesquisas devem ser conduzidas afim de identificar em quais proporções e em
quais circunstâcias a substância possui efeitos benéficos.

10
317
Avaliação Do Efeito Carcinogênico E Anticarcinogênico De Leonurus Sibiricus EM Drosophila Melanogaster

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13
320
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 21
10.37423/201203489

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA


DE RESÍDUOS DE QUARTZITOS PARA
UTILIZAÇÃO EM REVESTIMENTO CERÂMICO

Marcondes Mendes de Souza Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Rio Grande do Norte.

Franciné Alves da Costa Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Mauro Froes Meyer Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Rio Grande do Norte

Luciana Jeannie Dantas Bezerra Mendes Fundação De Apoio À Pesquisa Do RN


Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

Súmula - Este trabalho tem por objetivo a caracterização química e mineralógica de amostras de
rochas de quartzitos provenientes dos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, visando seu uso
potencial na formulação de peças para revestimento cerâmico. A adoção da alternativa de
aproveitamento desses resíduos poderá não apenas diminuir o impacto ambiental da mineração de
quartzitos, mas também possibilitará a agregação de valor para esses materiais, principalmente, para
uso industrial. Na amostragem foram coletadas cinco amostras de quartzitos com colorações e
tonalidades diferentes denominados de quartzito preto, quartzito verde, quartzito rosa, quartzito
branco e quartzito dourado. Essas amostras foram caracterizadas pelos métodos de análise de
fluorescência de raios X (FRX), e difração de Raios X (DRX). Os resultados indicaram que as amostras
do quartzito dourado e rosa apresentaram a maior concentração de SiO2 (acima de 90,0 %) e a menor
concentração do óxido de ferro (Fe2O3), que foi de 1,36% e 1,61%, respectivamente. Esses quartzitos
apresentam um potencial importante e poderá ser recomendada a realização de ensaios laboratoriais
visando sua utilização como matéria-prima para a formulação de massas cerâmicas.

Palavras chave: Quartzitos; caracterização; resíduos; revestimentos cerâmicos.

1
322
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL:

No âmbito geral, este projeto tem como objetivo principal avaliar a potencialidade do uso de resíduos
de quartzitos oriundos das indústrias da Paraíba, visando sua aplicação como matéria-prima cerâmica
em substituição aos tradicionais minerais como quartzo, feldspato e eventualmente outros minerais
de pegmatitos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Para atingir os objetivos gerais acima, os seguintes objetivos específicos serão alvos na execução dessa
proposta:

1) caracterização física e mineralógica das matérias-primas convencionais e alternativas (resíduos de


quartzitos);

2) caracterização ambiental dos resíduos de acordo com as normas da ABNT;

3) caracterização tecnológica com processamento adequado visando inclusão dos resíduos no


desenvolvimento de massas cerâmicas para aplicações em revestimentos cerâmicos;

4) contribuir para minimizar os impactos ambientais causados pelas mineradoras;

5) estudar as variáveis de processo na formulação da massa cerâmica que apresente melhor resultado
no produto final das peças;

6) comparar as propriedades tecnológicas de peças obtidas com as massas sem e com resíduos.

METODOLOGIA

O processo produtivo da massa cerâmica pode ser observado na Figura 1, que mostra o fluxograma
geral do processo de fabricação, desde a etapa de beneficiamento da matéria-prima, caracterização
da matéria-prima, formação da massa. A formação da massa consiste na mistura, em proporções
determinadas dos ingredientes principais tais como argila, quartzo, e feldspato. A função do resíduo
de quartzito, objetivo principal do trabalho, é substituir parcial, ou totalmente, o quartzo, sem que
isso, acarrete qualquer mudança das propriedades da massa cerâmica. A próxima etapa é a
conformação da massa que consiste na prensagem e colagem, previa à sinterização ou queima, etapa
que é realizada a temperaturas acima de 1.000oC. Com a massa cerâmica preparada, as suas

2
323
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

propriedades físico-mecânicas são determinadas e esses resultados são analisados no intuito de se


avaliar a qualidade do produto final. Conforme foi mencionado, este estudo não contemplou a
realização de todas as etapas do processo de fabricação da cerâmica de revestimento, e focou o estudo
na avaliação da matéria-prima que conduza a tal finalidade.

Figura 1 - Fluxograma geral do processo de fabricação de massas cerâmicas.

Na preparação das amostras para a realização de ensaios laboratoriais foi adotada a seguinte
metodologia. Para cominuição de cada amostra foi pesado cerca de 3 kg de cada material, em seguida
foi colocada em sacos práticos. As amostras foram todas fragmentadas até a obtenção de uma
granulometria adequada para a moagem. Essa etapa foi realizada utilizando-se um moinho de bolas
de laboratório, no qual foi colocado junto ao material a ser moído, a quantidade de 10 bolas de
diâmetro 20 mm e 30 bolas com diâmetro de 12 mm (sendo as bolas de alumina) durante um tempo
de 40 (quarenta) minutos. Ao término da moagem o material foi peneirado até a obtenção de 100%
de material passante na malha de 200#.

Com o material na granulometria adequada iniciou-se a homogeneização e quarteamento de cada


amostra. Nessa etapa, o material foi colocado em uma lona, na qual o material era espalhado aos
poucos de forma gradual e lenta formando uma pilha cônica, em seguida o material foi dividido em 4

3
324
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

(quatro) partes, duas delas, de lados opostos foram retiradas e as outras duas permaneceram para
serem novamente homogeneizadas e quarteadas, esse processo foi repetido 3 (três) vezes.

O material homogeneizado foi dividido em sub-amostras, sendo que de cada uma delas se retirou uma
massa de 5g de que foram destinados para os ensaios e determinações analíticas.

RESULTADOS

O conhecimento da composição química e mineralógica dos quartzitos propiciou valiosos subsídios


para a avaliação de seus usos específicos em cerâmica, quando usados em conjunto com o
conhecimento de suas propriedades físico-químicas. As Tabelas I, II, III, IV e V mostram os resultados
das análises de fluorescência de raios X correspondentes as amostras de quartzito branco, dourado,
preto, rosa e verde, respectivamente.

A Tabela I mostra que o quartzito branco apresenta um teor de SiO2 de 70,72%, enquanto que os
teores de os teores de Al2O3 (12,19 %) e K2O (9,79 %) são bastante significativos. Esse resultado
mostrou que além do quartzo outros minerais, embora em menor proporção, como a mica (moscovita)
e o feldspato (microclínio) encontram-se no quartzito branco (Figura 2). A mica e o feldspato seriam
os responsáveis pelos teores de alumínio e potássio na amostra. Observou-se que, com exceção do
quartzito preto, o quartzito branco possui o menor teor de SiO2 em relação às outras amostras.
Quanto ao ferro, o quartzito branco contém 4,39 % de Fe2O3, teor acima ao apresentado pelo
quartzito rosa (0,98 % - Tabela IV), dourado (0,92 % - Tabela II), e quartzito verde (2,87 % - Tabela V).
No entanto, o teor de ferro do quartzito branco é significativamente inferior ao do quartzito preto
(25,33 % - Tabela III). O teor de ferro bastante significativo no quartzito preto, deve-se principalmente,
à presença de mica biotita (Figura 4). É conhecido que, o teor de ferro, contido no feldspato, ou em
qualquer outro mineral, que componha a formulação da massa cerâmica deve ser minimizado ou
excluído, devido ao que o ferro, influencia na alvura da massa, outorgando-lhe tonalidades escuras,
não desejáveis para fabricação de produtos.

4
325
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

Tabela I – Análise de fluorescência de raios X da amostra de quartzito branco.

Tabela II – Análise de fluorescência de raios X da amostra de quartzito dourado.

Tabela III – Análise de fluorescência de raios X da amostra de quartzito preto.

Das cinco amostras estudadas, o quartzito dourado e o rosa foram as que apresentaram os maiores
teores de SiO2 (acima de 90 % - Tabela II e Tabela IV). Essas amostras possuem também os menores

5
326
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

teores de Fe2O3. Esses quartzitos estão compostos por quartzo, mineral predominante, e por
pequenas proporções de moscovita e feldspatos (microclínio e ortoclásio). Comparando-se a
composição química e mineralógica, o quartzito dourado e o rosa apresentam-se como
potencialmente indicados, em relação aos outros tipos de quartzitos, para serem usados nos ensaios
laboratoriais de preparação da massa cerâmica.

Tabela IV - Análise de fluorescência de raios X da amostra de quartzito rosa.

Tabela V - Análise de fluorescência de raios X da amostra de quartzito verde.

Os difratogramas de DRX de todos os quartzitos analisados (Figura 2 a Figura 6) mostraram que o


quartzo é o principal mineral que os compõe. As micas e os feldspatos encontram-se entre os minerais
que também são importantes na composição desses quartzitos; porém, ocupam um lugar menos
importante em relação ao quartzo. Entre as micas, a mais comum é a moscovita, seguindo a biotita e
a clorita (quartzito preto – Figura 4). Entre os feldspatos se destaca o microclínio, seguindo o ortoclásio
(quartzito rosa – Figura 5), e a albita. O microclínio e o ortoclásio são feldspatos potássicos e a albita
é um feldspato sódico. Nos difratogramas, o quartzo foi identificado através dos seus picos
característicos situados nas posições correspondentes ao ângulo de Brag 2Ө. Em alguns difratogramas
foi observada também a presença de raias de menor intensidade, correspondentes provavelmente a
outros minerais que não puderam ser identificados.

O quartzito branco apresenta essa tonalidade influenciada pelo microclínio, feldspato potássico cuja
coloração varia entre o branco e o bege claro. O quartzito dourado possui essa coloração em

6
327
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

decorrência da moscovita com matizes dourados. O quartzito preto deve sua coloração à presença da
biotita, uma mica escura com alta concentração de ferro. O quartzito rosa apresenta essa tonalidade
em razão do mineral ortoclásio, que possui uma coloração rósea.

Figura 2 - Difratograma de raios X do quartzito branco.

7
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Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

Figura 3 - Difratograma de raios X do quartzito dourado.

Figura 4 - Difratograma de raios X do quartzito preto.

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Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

Figura 5 - Difratograma de raios X do quartzito rosa.

Figura 6 - Difratograma de raios X do quartzito verde.

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330
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

CONCLUSÕES

Os resultados indicaram que as amostras de quartzito dourado e rosa apresentaram a menor


concentração do óxido de ferro (Fe2O3), que foi de 0,92% e 0,98%, respectivamente. Essas mesmas
amostras apresentam também os maiores teores de SiO2, que foi de 91,20% e 91,34%,
respectivamente. O quartzito rosa apresentou na sua composição química uma porcentagem de Al2O3
(4,31%), ligeiramente inferior, em relação ao quartzito dourado Al2O3 (5,02%). Os resultados de DRX
mostraram que o quartzo é o principal mineral que os compõe todos os quartzitos estudados. As micas
e os feldspatos encontram-se entre os minerais que também são importantes na composição desses
quartzitos; porém, ocupam um lugar menos importante em relação ao quartzo. Entre as micas, a mais
comum é a moscovita, seguindo a biotita e a clorita. Entre os feldspatos se destaca o microclínio,
seguindo o ortoclásio, e a albita. O quartzito branco, o preto e o verde, em função dos seus altos teores
de Fe2O3, não se recomendam para a fabricação de cerâmica para revestimento. Enquanto que o
quartzito rosa e o dourado apresentam um potencial importante e poderão ser recomendados em
ensaios laboratoriais como matéria-prima na confecção de revestimento cerâmico.

10
331
Caracterização Química E Mineralógica De Resíduos De Quartzitos Para Utilização Em Revestimento Cerâmico

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11
332
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 22
10.37423/201203490

ASPECTOS GEOGRÁFICOS DAS POLÍTICAS


HABITACIONAIS EM NATAL/RN

Leon Karlos Ferreira Nunes Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Nayara Priscila Xavier Universidade Federal do Rio Grande do Norte


Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

Resumo: Políticas habitacionais são alguns dos temas recorrentes quando se põem em discussão
certos problemas urbanos de ordem social, como o desabrigo, o desemprego, entre outros. Contudo,
há de se lembrar que tais projetos, no Brasil, nunca consistiram, de fato, em políticas de Estado, e
freqüentemente estavam acompanhados de caráter deliberadamente segregacionista. No caso
particular de Natal, esse caráter foi reproduzido desde que a questão habitacional passou a se tornar
uma preocupação pública, em meados do Século XIX. O histórico habitacional da capital do Rio Grande
do Norte, portanto, está intimamente ligado à visão nacional do tema. O presente artigo busca, por
meio de um levantamento bibliográfico, compreender as minúcias por trás dos principais projetos
empreendidos na cidade, contextualizá-los dentro de um grande quadro nacional, analisar as
tendências e, a partir desse conjunto, construir um quadro histórico da sociedade natalense, da
Proclamação da República aos nossos dias. O material aqui exposto é de essencial conteúdo para se
refletir acerca da questão urbana e imobiliária atual, quando Natal já expõe as contradições de uma
metrópole, e para se compreender as inclinações da corrida especulativa, não só em nossa cidade,
mas também em âmbito nacional e, em alguns casos, até mesmo global.

Palavras–chave: Políticas habitacionais, urbanização, espaço, cidade.

1
334
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

INTRODUÇÃO

A questão habitacional natalense está diretamente vinculada à situação nacional, tanto no que tange
às políticas públicas quanto às tendências, mesmo que não oficializadas. Desse modo, toda a visão
nacional é reproduzida localmente; assim ocorreu, por exemplo, com o conceito de déficit
habitacional, que durante bastante tempo foi vista de maneiras distintas. Considerando o Brasil como
um país extremamente contraditório e desigual, é compreensível que esses problemas se perpetuem
à medida que os planos e políticas habitacionais se mantenham descontinuados e fragmentados.

Era deprimente a questão habitacional no Brasil no Século XIX. A abolição da escravatura, que não foi
acompanhada de um processo de inclusão habitacional dos ex-escravos – e dos imigrantes –, acentuou
o problema do déficit da habitação, com grande parte de trabalhadores e desempregados vivendo em
cortiços que se acumulavam. Isso agravava as condições sanitárias já debilitadas, um problema que
não estava claro para a elite administrativa da época, muito afeita às questões estéticas.

Nesse período, as políticas urbanas se resumiam a meras reformas de fachadas, buscando uma
identidade mais europeia. As políticas higienistas também foram promovidas por diversas gestões no
Brasil, ocorrendo, na então capital do País, Rio de Janeiro, o fechamento de cortiços e a proibição
dacriação de outros novos pela administração local. Para abrigar os despejados, o governo incentivou
a construção de vilas operárias, oferecendo vários incentivos na busca de investimentos nesse setor.
Tal pretensão, porém, ficaria no papel até o alvorecer do Século XX.

Nesta pesquisa, abordaremos a questão habitacional sob as seguintes maneiras: num primeiro
momento, exporemos o tema trazendo à tona uma visão geral, notadamente analisando as políticas
federais relacionadas e seus antecedentes. Em seguida, traçaremos um perfil da cidade de Natal pré-
século XX, de como se deu seu crescimento e o surgimento dos principais bairros. Adiante, será
apresentada a maneira como se deram as políticas habitacionais de Natal numa seção compreendida
entre antes e depois de 1970, marco escolhido sob critérios diversos, como a urbanização da cidade,
a centralização das políticas habitacionais nas mãos do Estado, entre outros pontos menos relevantes.
Por fim, exporemos nossas considerações acerca da discussão proposta.

O objetivo deste trabalho é analisar o crescimento de Natal tomando como premissa os conjuntos
habitacionais, buscando compreender os antecedentes desse fenômeno e as suas consequências
atualmente.

2
335
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

2. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia a partir da qual foi desenvolvido esse trabalho envolveu pesquisa in loco, observação
pessoal do território ocupado pelos conjuntos habitacionais e das alterações urbanas que foram
consequência direta ou indireta da instalação desses conjuntos, e, sobretudo, uma análise
bibliográfica e técnica, suficiente para que se pudesse conhecer a atuação dos supermercados como
objetos geográficos particulares à época atual.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Impulsionada pelo limiar do período que recebeu a alcunha de "milagre econômico" e pelo
engajamento do Estado brasileiro numa política de reversão das diferenças regionais provocadas pela
concentração fabril no sudeste, a década de 1970, no Rio Grande do Norte, foi marcada pela
implementação de uma série de projetos governamentais que objetivavam consolidar a infra-
estrutura desenvolvida, em boa parte, no decênio de 1960 e dinamizar a economia do estado
(CASCUDO, 1975).

Contudo, apesar de inicialmente terem como escopo o estado como um todo, tais projetos (que
incluíam também o auxílio do capital privado) foram, majoritariamente, sendo refratados para a região
denominada de "Grande Natal", uma vez que essa área, além de estar sofrendo, no período, um
notável crescimento como centro urbano, possuía meios que ensejavam uma dinamização econômica
mais rápida do que em outros locais do estado. Dentre esses meios, podemos destacar, por exemplo,
a existência de um grande volume salarial fixo por parte do funcionalismo público e das repartições
militares, o qual proporcionou o aquecimento do setor da construção civil.

Com os investimentos públicos e privados adensados em Natal, vários setores econômicos da cidade
são instigados – indústria, pesca, turismo, habitação –, engendrando a ampliação da oferta de
empregos formais e elevando a renda local. Como conseqüência, Natal passa a polarizar vários fatores
de atração migratória, os quais, aliados a fatores de repulsão do interior do estado – secas,
mecanização da produção agrícola, crise da agroindústria e ausência de um plano que realmente
contemplasse o agricultor de comunidades carentes –, provocam um inchamento demográfico do
município, que, no transcorrer da década de 1970, aumenta em 63% sua população em relação aos
anos de 1960.

Seguindo a tendência de crescimento do aparelho urbano de Natal, há um relativo melhoramento


infra-estrutural na capital: vias são pavimentadas, as redes de eletricidade e de água encanada são

3
336
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

distendidas, e parques industriais são estimulados. No concernente ao estímulo à indústria no


decorrer da década de 1970, vale fazer, entretanto, uma ressalva: esse setor será impactado
negativamente com o crepúsculo do "milagre econômico" nacional, sendo relegado gradativamente
pelo empresariado em prol do setor terciário, sobretudo do turismo, o que assinalará, mediante
megaprojetos como o da construção da Via Costeira, a elitização do espaço urbano de Natal, na
medida em que tais projetos vislumbravam edificações destinadas a alta burguesia local e estrangeira.
Essa transferência de recursos para o turismo repercute também na questão da habitação em Natal,
diminuindo o número de novos loteamentos, devido à escassez do solo urbano a ser ainda loteado,
mormente na década de 1980.

A subserviência do Estado nacional ao mercado imobiliário a partir do decênio de 1970 se mostra de


forma patente nas políticas de habitação efetivadas em Natal. Os conjuntos habitacionais construídos
em loteamentos seguem a inescrupulosa lógica do mercado de terras, fazendo com que o processo de
segregação espacial ganhe formas concretas.

Os conjuntos são instalados na cidade calcados nos modelos propostos pelo Sistema Financeiro de
Habitação (SFH), isto é, nas COHAB (Companhia de Habitação Popular) e INOCOOP (Instituto de
Orientação às Cooperativas Habitacionais), modelos esses direcionados a categorias sociais
economicamente distintas. A COHAB, em Natal, voltou-se, predominantemente, para terrenos pouco
valorizados, enquanto que o INOCOOP se estabeleceu em terras mais valorizadas, marcando, desse
modo, a divisão, a fragmentação, a dispersão das habitações em áreas nobiliárquicas e áreas
socialmente periféricas. A propósito, é também no bojo desse processo que surgem os primeiros
traços de especulação imobiliária no município, visto que é nesse contexto que se formam os grandes
"vazios urbanos", típicos da engenhosa manobra de supervalorização de terras.

Esse mecanismo de dispersão sócio-espacial ganhou mais vigor em virtude, principalmente, de dois
fatores: a gritante desproporção na distribuição de renda da cidade nos decênios de 1970 e 1980,
como demonstrou Silva (2003, p.81) comentando que "Por comparação, os 10% mais ricos detinham
39,6% da renda total e aos 10% mais pobres restava apenas 1% da renda total"; e a atuação seletiva
do poder público que - abrindo novas vias, reestruturando, urbanizando e implantando serviços em
determinadas áreas em detrimento de outras - favorecia os lucros exponenciais do mercado fundiário
e agravava o desenrolar da formação de guetos na cidade.

Uma amostra da "amigável" relação entre o Estado e o mercado fundiário em Natal é o advento do
conjunto Ponta Negra, construído em 1979. Até então, Ponta Negra era apenas uma praia urbana com

4
337
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

uma população autóctone de pescadores, sem boas áreas de acesso aos bairros principais da cidade.
Mas o INOCOOP, de súbito, se engaja na construção do conjunto, dotando-o de infra-estrutura básica
e pavimentando vias que desobstruíam as dificuldades de acesso. Consequentemente, as terras que
permeavam Ponta Negra e os outros bairros são instantaneamente valorizadas e passam a atrair a
população de média e alta renda. Hoje, essas terras, que englobam o bairro de Capim Macio,
constituem um dos metros quadrados mais caros de Natal.

O resultado de toda essa política habitacional em Natal foi, indubitavelmente, a cristalização da


concentração de renda, de serviços e da fragmentação sócio-espacial da cidade, fragmentação essa
que inicialmente se dava por bairros, e acabou desembocando numa dispersão por zonas
administrativas, sendo as menos favorecidas infra-estruturalmente a Zona Norte e a Zona Oeste.

4. CONCLUSÕES

As irregularidades no solo urbano de Natal são um fato interessante a ser analisado. Parte dessas
irregularidades surgem com a extinção do BNH (Banco Nacional da Habitação), em 1986. A
verticalização, sobretudo na Zona Sul, se acelera a partir dessa época, e as Zonas Norte e Oeste sofrem
um reparcelamento do solo – com o propósito de se adequarem ao poder de compra da população
local. No entanto, esse reloteamento acontece infringindo a legislação federal e municipal. A esse
respeito, a Secretaria Municipal de Urbanismo (SEMURB), mediante alguns arquivos, disponibilizou
dados que abrangem o parcelamento ilegal do solo entre 1946 e 1994. De acordo com esse órgão,
cerca de 31,69% dos loteamentos de Natal são, de alguma forma, transgressores da legislação
urbanística corrente – e isso sem contar as favelas –, sendo que as irregularidades se concentram na
Zona Norte e, surpreendentemente, na Zona Sul. No entanto, vale salientar que a Zona Norte, uma
das áreas mais carentes da cidade, ainda possui o maior índice de irregularidades na ocupação do solo
urbano.

Um dos elementos que contribuem para essa problemática é a falta de uma diferenciação clara, no
Plano Diretor de 1994, entre os diversos espaços de pobreza, como a favela, o loteamento irregular e
a vila. Desse modo, a efetivação de políticas públicas que visam a regularização dos espaços de pobreza
se torna sobremodo superficial, vez que não se define e não se estuda esses espaços de forma idônea.

No que diz respeito especificamente às favelas de Natal, algumas, em meados da década de 1990,
passaram por melhorias em infraestrutura e serviços. Todavia, outras áreas de favela surgiram, e

5
338
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

loteamentos clandestinos e regiões invadidas em loteamentos passaram a se caracterizar como


favelas.

A relação entre espaços de pobreza e a ilegalidade, em Natal, parece estar longe de ser solucionada.
Cada vez mais, é visível a proliferação de loteamentos irregulares em áreas impróprias, sem
preocupações infra-estruturais, principalmente em bairros das Zonas Oeste e Norte. São áreas com
condições sanitárias desumanas e que apresentam dificuldades de acesso a transporte. Atualmente,
embora existam políticas públicas de habitação pautadas no cooperativismo e auxiliadas pela Caixa
Econômica Federal, o que se vê, comumente, são novas invasões de áreas públicas e a ineficiência do
Poder Público em prover um direito constitucional do cidadão: o direito à moradia decente. Enquanto
isso, o déficit habitacional permanece rondando as esquinas e os guetos da Cidade do Sol.

6
339
Aspectos Geográficos Das Políticas Habitacionais Em Natal/RN

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Caliane Christie de Oliveira. Habitação social: origens e produção (Natal, 1889-1964).
Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, 2007.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Atica, 1989.

FELIPE, José L. Elementos da geografia do Rio Grande do Norte. Ed. Universitária Natal, 1996.

LIMA, Pedro de. Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano. Natal: EDUFRN, 2001.

MIRANDA, João Maurício Fernandes de. Evolução urbana de Natal em 400 anos 1599-1999. Natal:
Prefeitura Municipal de Natal, 1999.

RODRIGUES, Arlete Moisés. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo: Contexto, Edusp, 1988.

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. 2.ed.São Paulo: HUCITEC, 1994.

SILVA, Alexsandro Ferreira Cardoso da. Depois das fronteiras: A formação dos espaços de pobreza na
periferia norte de Natal (RN). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
2003.

7
340
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 23
10.37423/201203511

ESTUDO DAS PROPRIEDADES ESTRUTURAIS,


VIBRACIONAIS E TÉRMICAS DE POLÍMEROS E
HIDROXIAPATITA

Eduardo da Silva Gomes Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão - Campus Imperatriz

João Ferreira da Silva Neto Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão - Campus Imperatriz

Emanuel Victor de Oliveira Sousa Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Ceará - Campus Quixadá

Fernando Mendes Politécnico de Coimbra, ESTeSC, DCBL;


Coimbra, Portugal

Ana Angélica Mathias Macêdo Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão - Campus Imperatriz
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

Resumo: O objetivo deste trabalho foi analisar as propriedades estruturais, vibracionais e térmicas de
galactomanana (Gal), das blendas poliméricas galactomanana com quitosana (GMQ) e hidroxiapatita
(HA) para uma possível aplicação em biomaterial, por meio da difração de raios X (DRX), refinamento
pelo método Rietveld, infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), Calorimetria exploratória
diferencial (DSC) e termogravimetria e sua derivada (TG e DTG). Os biomateriais, em especial as
biocerâmicas, vêm sendo usados por milhões de pessoas para reparar, reconstruir e substituir partes
do corpo humano, como: ossos e juntas, bem como para revestimentos ou próteses. A hidroxiapatita
[Ca10(PO4)6(OH)2] possui propriedades de bioatividade, biocompatibilidade e osteocondutividade. A
quitosana é um biopolímero linear policatiônico, amino, derivado do processo de desacetilação da
quitina. Galactomananas são polissacarídeos de reserva constituídas por cadeias lineares de D-
manose, unidas por ligações glicosídicas ß-(1-4), com ramificações de galactose, unidas a unidades de
D-manose da cadeia linear por ligações glicosídicas (1-6). Para a síntese da HA, fez-se uso de hidróxido
de cálcio [Ca (OH)2] e fosfato ácido de cálcio [CaHPO4]. No DRX obteve-se uma fase de HA e os padrões
de difração das amostras Gal e GMQ. Os grupos funcionais de galactomanana, quitosana e HA foram
identificados no FTIR. Na análise térmica foi possível observar as transições térmicas das amostras.
Conclui-se a partir do DRX e o refinamento Rietveld que a metodologia de síntese da HA foi eficaz
devido a obtenção de uma única fase. De acordo com o FTIR as propriedades vibracionais da
galactomanana e quitosana foram preservadas na blenda. Já nas análises térmicas, DSC e TG, a adição
de quitosana à Gal resultou na diminuição de suas temperaturas de degradação.

Palavras-chave: Galactomanana. Quitosana. Hidroxapatita. Infravermelho. Termogravimetria.

1
342
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

1 INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico permitiu que o mercado mundial de biomateriais recebesse grandes


investimentos, devido ao desenvolvimento na área de pesquisas biomédicas para a melhoria da
bioatividade, biocompatibilidade e das propriedades mecânicas dos biomateriais proporcionando
aplicações em engenharia de tecidos (MADHUMATHI et al., 2009). Estima-se que o mercado global de
biomateriais deve chegar a US$ 348,4 bilhões em 2027, registrando uma taxa de crescimento anual de
15,9% de acordo com o relatório da Grand View Research (2020). Segundo o portal O Petróleo (2019),
os investimentos no mercado em biomateriais brasileiro devem chegar acima de US$ 5,18 bilhões em
2022.

Os biomateriais, em especial as biocerâmicas, vêm sendo usados por milhões de pessoas para reparar,
reconstruir e substituir partes do corpo humano, como: ossos e juntas, bem como para revestimentos
ou próteses (KALITA; BHARDWAJ; BHATT, 2007; DAGLILAR; ERKAN, 2007; SOARES, 2005). Biocerâmicas
sintéticas à base de fosfato de cálcio, principal constituinte dos tecidos calcificados (osso, esmalte e
dentina) presente no osso humano em cerca de 65-70%, têm sido amplamente empregadas nas áreas
médica e odontológica, por possuírem semelhança química com o componente inorgânico do tecido
ósseo humano e por possuir alta estabilidade na presença de fluídos biológicos. A hidroxiapatita
[Ca10(PO4)6(OH)2] possui propriedades de bioatividade, biocompatibilidade e osteocondutividade
(SADAT-SHOJAI et al., 2013; NIKPOUR; RABIEE; JAHANSHAHI, 2012).
Um dos usos mais eficientes da HA é como um material híbrido com biopolímeros (MACUVELE et al.,
2017), onde estes podem inferir mudanças nas propriedades da HA. Polímeros são macromoléculas
formadas pela repetição de unidades químicas. Podem ser classificadas em: homopolímeros quando
são originados de uma única unidade repetitiva monomérica e copolímeros quando possuem mais de
uma unidade repetitiva monomérica diferente (DE PAOLI, 2008).
A quitosana, biopolímero linear policatiônico, amino, derivado do processo de desacetilação da
quitina. A quitosana pode funcionar como uma resina trocadora de íons, pois apresenta propriedade
solúvel em ácidos orgânicos e minerais diluídos, porém ela precipita com o valor de pH acima de 6.0.
A quitosana (Fig. 1) possui estrutura formada pela repetição de unidades N-acetil-D- glucosamina ou
2-acetoamido-2deoxi-D-glicose em ligações β (1→4) diluídas (CROISIER; JÉRÔME, 2013), contém
vantagens, como: biodegradabilidade, biocompatibilidade, inércia química e boas propriedades de
formação de filme (THANYACHAROEN et al., 2018). Em virtude disso, a pesquisa por novas aplicações
com o uso da quitosana tem aumentado espontaneamente.

2
343
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

Figura 1. Estrutura química da quitosana


Fonte: o autor

Galactomananas apresentam uma estrutura genérica (Fig. 2), constituídas por cadeias lineares de D-
manose, unidas por ligações glicosídicas ß-(1-4), com ramificações de galactose, unidas a unidades de
D-manose da cadeia linear por ligações glicosídicas (1-6) (KÖK; HILL; MITCHELL, 1999). São
polissacarídeos de reserva presentes em endospermas de sementes, normalmente são catabolisadas
para fornecer energia e esqueletos de carbono da planta, durante a germinação (NOBRE et al., 2018).

Figura 2. Estrutura química da galactomanana


Fonte: o autor

Os biopolímeros citados, adicionados a síntese da HA podem inferir mudanças em suas propriedades.


Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar as propriedades estruturais, vibracionais e térmicas de
galactomanana (Gal), das blendas poliméricas galactomanana com quitosana (GMQ) e hidroxiapatita
(HA) para uma possível aplicação em biomaterial, por meio da difração de raios X (DRX), refinamento
pelo método Rietveld, infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), Calorimetria exploratória
diferencial (DSC) e termogravimetria e sua derivada (TG e DTG).

3
344
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS

Para a síntese da HA, fez-se uso de hidróxido de cálcio [Ca (OH)2] (Vetec 97% com 3% de CaCO3) e o
fosfato ácido de cálcio [CaHPO4] (Aldrich 99%). Já os biopolímeros foram Galactomanana (Gal) e
Quitosana. A Gal foi extraída a partir de sementes de Adenanthera pavonina L. e a quitosana
comercializada pela Sigma/Aldrich.

2.2 MÉTODOS

2.2.1 EXTRAÇÃO E PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE GALACTOMANANA DE ADENANTHERA


PAVONINA L.

O polissacarídeo bruto foi extraído das sementes de Adenanthera pavonina L. Os endospermas foram
extraídos após aquecimento das sementes em água destilada por 30 minutos, seguido de
intumescimento por 24 horas.

Os endospermas foram separados, manualmente, os tegumentos foram retirados e, em seguida, os


endospermas foram separados do embrião e então seco, pulverizado e armazenado sob refrigeração.

A solução de galactomanana (Gal) foi obtida ao solubilizar os endospermas em ácido acético 0,1%, pH
3,0 por 1 h sob agitação mecânica, à temperatura ambiente. A solução foi centrifugada a 10.000 rpm
por 1 h e a matéria seca da suspensão foi determinada por aquecimento a 100 °C.

2.2.2 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO DE QUITOSANA E DA BLENDA DE GALACTOMANANA COM


QUITOSANA

A solução de Quitosana foi obtida por solubilização em solução de ácido acético 0,1% a pH 3,0 durante
24 h sob agitação mecânica à temperatura ambiente. A solução foi centrifugada a 10.000 rpm por 1 h.

Para preparação das blendas poliméricas (GMQ), foram utilizadas as soluções preparadas
anteriormente. O procedimento consistiu na homogeneização das soluções seguida de centrifugação,
à temperatura ambiente.

2.2.3 SÍNTESE DA HIDROXIAPATITA

A síntese dos pós nanocristalinos de Hidroxiapatita realizada pelo processo de reação de estado sólido
em moinho planetário de alta energia. Os reagentes de partida foram moídos em um moinho de bolas

4
345
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

planetário Fritsch Pulverisette 6. Para evitar calor excessivo, a síntese foi realizada em etapas de 30
minutos com pausas de 10 minutos tendo duração total de 20 h. Através de moagem mecânica, foram
produzidos pós nanocristalinos de hidroxiapatita.

A reação química (1) da síntese da hidroxiapatita, segue conforme estequiometria abaixo:

4 Ca(OH ) 2  6 CaHPO4  Ca10 ( PO4 )6 (OH ) 2  6 H 2O (1)

2.2.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS X (DRX)

Os padrões de difração de raios X (XRD) foram determinados por difratômetro da marca Rigaku
modelo DMAXB configurado em geometria do tipo Bragg-Brentano com radiação Cu Kα (40 kV e 25
mA). As análises foram realizadas à temperatura ambiente (27 °C) com intervalo angular de 20-70°(2θ)
a uma taxa de 1°/min.

2.2.5 ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR)

Os espectros de infravermelho da HA, Gal e blenda GMQ foram obtidos utilizando KBr, medindo na
região entre 400 e 4000 cm-1 pelo emprego do espectrômetro SHIMATZU FTIR-283B.

2.2.6 ANÁLISES TÉRMICAS (TG/DTG/DSC)

As análises TG e DTG foram realizadas fazendo uso de analisador térmico SHIMADZU TGA 50H. As
amostras aquecidas em atmosfera inerte de gás nitrogênio a uma razão de aquecimento de 10°C por
min-1. As análises de DSC foram realizadas no analisador térmico Shimadzu, DSC50.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X

O difratograma de raios X da HA sinterizada a 900 °C é apresentado na Figura 3 (a). O padrão de DRX


foi tratado no software X’Pert Highscore. Observou-se que HA assume um padrão definido com
ausência de picos de fases secundárias correspondentes ao óxido de cálcio. Segundo o software, o
padrão experimental assume picos característicos da fase hexagonal da hidroxiapatita conforme o
perfil ICSD 429746 (KAZIN et al., 2016).

A análise qualitativa da fase cristalina da HA foi realizada pelo refinamento Rietveld usando o software
BGMN com interface Profex (DOEBELIN; KLEEBERG, 2015). Na Fig. 3 (b), observa-se que HA apresenta
100% da fase de hidroxiapatita cristalizando em uma estrutura hexagonal de grupo espacial P63/m

5
346
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

com parâmetros de rede a = b = 9.4204(7) Å, c = 6.8823(5) Å, V = 528.9358(5) Å3. Os resultados obtidos


correspondem conforme resultados reportados anteriormente (SILVA et al., 2003; KAZIN et al., 2016).
Os valores de RWP = 15,01%e χ2 = 1,16 são satisfatórios, pois estão dentro da faixa aceitável (SILVA,
2009).

Figura 3. (a) Padrão de difração de raios X da HA. (b) Refinamento Rietveld do padrão de raios X da
HA.

Na análise do difratograma de raios X, tanto da Gal quanto da blenda GMQ mostrados na Figura 4 (a)
e (b) respectivamente, observa-se padrões não definidos, o que mostra que tanto a Gal quanto a
blenda GMQ não apresentam fases cristalinas, logo são amorfas (VENDRUSCOLO et al., 2009; LIMA et
al., 2006). Nota-se que com a adição da quitosana, no caso da blenda, a estrutura amorfa da
galactomanana não se modificou.

Figura 4. (a) Padrão de difração de raios X da Gal. (b) Padrão de raios X da blenda GMQ.

6
347
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

3.2 ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR)

A Figura 5 mostra o espectro de absorção no infravermelho da HA medido na região de 2000 a 400


cm-1. Observa-se que o espectro apresenta bandas características de grupos funcionais do fosfato
(PO43−), carbonato (CO32−) e hidroxila (OH−). Verifica-se que na banda em 1649 cm-1 corresponde ao
grupo OH- livre produzido pela deformação simétrica da molécula de H2O adsorvida no processo de
síntese. As bandas em 1469 cm-1 e 1419 cm-1 são atribuídas ao CO32−. A Banda em 968 cm-1 foi atribuída
ao estiramento simétrico O-P-O.

A banda em 630 cm-1refere-se ao modo de oscilação dos íons OH- da ligação P-OH correspondente a
água adsorvida na superfície. Foi possível observar a presença de absorções em 603 cm-1 e 569 cm-1,
devido aos modos de deformação assimétrica O-P-O. A banda 478 cm-1 refere-se ao P-O. O perfil desse
espectro apresenta concordância com a literatura (YASUKAWA et al., 2012; BHADANG; GROSS, 2004;
SILVA, et al., 2005; XIA; LIAO; ZHAO, 2009; HAYAKAWA, et al., 2009).

Figura 5. Espectroscopia de infravermelho da amostra HA na região de 2000 a 400 cm -1.

Os espectros de absorção no infravermelho da Gal e da blenda GMQ medido na região 3800 cm-1 a
500 cm-1 são apresentados na Figura 6. Observa-se que no espectro da galactomanana de Adenanthera
pavonina L., as bandas em 812 e 871 cm-1 correspondem à presença de unidades de α-D
galactopiranose e unidades de β-D-mannopiranose, respectivamente. A banda 968 cm−1 estar
relacionada à deformação C–OH. Já as absorções em 1024 e 1137 cm−1 mostram bandas que são

7
348
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

comuns em polissacarídeos. A banda de absorção em 2931 cm−1 indicou a presença de grupos C–H. A
banda em 3415 cm−1 caracteriza os grupos OH− dos polissacarídeos (FIGUEIRÓ et al., 2004; WEI et al.,
2007; REIS et al., 2003; SHOBHA et al., 2005; SAVITHA et al., 2006).

O espectro de absorção da blenda GMQ é apresentado na Figura 6. Observa-se bandas


correspondentes ao espectro da Gal. A banda em 1139 cm−1 indica a deformação simétrica do CH3. Em
1525 cm-1 é correspondente à deformação N–H de aminas, enquanto em 1660 cm−1 tem-se a banda
de amida I (ν C=O, δ N–H) devido à grupos acetilados residuais (LIMA et al., 2006; FIGUEIRÓ et al.,
2004).

Figura 7. Espectroscopia de infravermelho da Gal e da blenda GMQ na região de 3800 a 500 cm-1.

3.4 ANÁLISES TÉRMICAS

3.4.1 CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC)

A calorimetria exploratória diferencial (DSC) foi utilizada para a análise das transições térmicas das
amostras HA, Gal e GMQ. Analisando a Figura 8, que apresenta os resultados da análise de DSC da
amostra HA, percebe-se o pico exotérmico em aproximadamente 33 ºC e endotérmico em 53 ºC,
sendo também o ponto de inflexão da curva, pois a partir de 53 ºC apresenta-se crescente até

8
349
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

aproximadamente 500 ºC. De acordo com Sesták e Simon (2012), o pico endotérmico está relacionado
com a perda de água na estrutura do material e o exotérmico com a degradação.

HA
1.0
Fluxo de calor (mW)

0.5

33 ºC

0.0

53 ºC
Exo.
100 200 300 400 500

Temperature (°C)

Figura 8. Curva de DSC da amostra HA

A Figura 9 (a) e (b) apresenta os resultados da análise de DSC das amostras Gal e GMQ,
respectivamente. A amostra Gal (Fig. 9 (a)) apresenta pico endotérmico em aproximadamente 105 ºC
e pico exotérmico em 312 ºC. Contudo, a amostra GMQ (Fig. 9 (b)) exibiu pico endotérmico em 84 ºC
e exotérmico próximo a 290 ºC.

Figura 9. Curva de DSC das amostras Gal (a) e GMQ (b)

Constata-se que a adição de quitosana a amostra Gal resulta na diminuição tanto da temperatura de
desidratação quanto de degradação. Os resultados de DSC para a amostra GMQ foram próximos aos
encontrados por Gomes e colaboradores (2020).

9
350
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

3.4.2 TERMOGRAVIMETRIA (TG/DTG)

Utilizou-se a TG/DTG para verificar a variação de massa em função da temperatura das amostras HA,
Gal e GMQ. A Figura 10 apresenta os resultados de TG para a amostras HA que mostra uma curva
decrescente, mais acentuada na região de 25 – 180 ºC, o que pode estar relacionada com a perda de
água da amostra HA, sendo que a amostra perdeu 3,22% de sua massa total.

HA

100
Perda de massa (%)

m: 3,22 %

98

96
100 200 300 400 500
Temperatura (°C)

Figura 10. Curvas de TG da amostra HA

Os resultados para a derivada da termogravimetria (DTG) da HA estão dispostos na Figura 11. Observa-
se um pico entre 25,97 ºC e 171,1 ºC que observado na TG, que pode estar relacionado com a
desidratação e deterioração da amostra HA. Os resultados de TG/DTG estão comprovados na análise
de DSC.

HA
25,97 °C 171,1 °C
dm/dT

0 100 200 300 400 500


Temperatura (°C)

10
351
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

Figura 11. Curvas de DTG da amostra HA

A Figura 12 possui os resultados de TG para as amostras Gal (Fig. 12 (a)) e GMQ (Fig. 12 (b)). Nos
termogramas de TG de ambas as amostras se observa dois eventos relacionados com a perda de
massa, o primeiro referente a desidratação das amostras e o segundo a degradação dos
polissacarídeos, seguindo até ocorrer uma estabilidade térmica aparente.

Tanto a amostra Gal quanto a GMQ (Fig. 12 (a) e (b)), apresentam curva decrescente em torno de 100
ºC, que está relacionada com desidratação do material. Analisando os termogramas, percebe-se a
amostra Gal apresentou perda de aproximadamente 21,05%, e a amostra GMQ 15,03%, ambas as
variações na faixa de temperatura de 0 a 150 ºC.

A segunda curva, que ocorreu entre 250 e 350 ºC em ambas as amostras, está relacionada com a
degradação. A amostra Gal (Fig. 12 (a)) apresentou perda de aproximadamente 55,17% de sua massa,
já a amostra GMQ (Fig. 12 (b)) 53,85%. A amostra GMQ apresentou menores valores de desidratação
e degradação, o que pode ser explicado pela presença de Quitosana em sua composição.

Figura 12. Curvas de DTG das amostras (a) Gal e (b) GMQ

A Figura 13 (a) e (b) possui os resultados da derivada da termogravimetria (DTG). A amostra Gal (Fig.
13 (a)) apresenta primeiro pico em aproximadamente 49 ºC e a amostra GMQ próximo a 70 ºC e
relaciona-se com a perda de água nas amostras.

11
352
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

Figura 13. Curvas de DTG das amostras (a) Gal e (b) GMQ

O segundo pico nas amostras Gal e GMQ relaciona-se com a degradação dos polissacarídeos,
confirmando os resultados de TG e DSC, com a Gal atingindo estabilidade térmica em 314 ºC e a
amostra GMQ 298,8 ºC.

4 CONCLUSÕES

Após síntese, caracterização e análise dos resultados obtidos, pode-se concluir que a metodologia de
síntese da Hidroxiapatita foi eficaz conformes os resultados obtidos pelo DRX e o refinamento pelo
método de Rietveld e o FTIR. O processo obtenção da blenda GMQ não alteraram as propriedades
vibracionais apresentando bandas caraterísticas tanto da galactomanana quanto da quitosana, pelo
FTIR. A adição de quitosana à Gal resulta na diminuição de suas temperaturas de degradação e a HA.
Sendo assim, verificando possível aplicação dos polímeros em biomateriais.

12
353
Estudo Das Propriedades Estruturais, Vibracionais E Térmicas De Polímeros E Hidroxiapatita

REFERÊNCIAS

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15
356
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 24
10.37423/210103531

CRIAÇÃO INTENSIVA DO CAMARÃO


LITOPENAEUS SCHMITTI COM DIFERENTES
DENSIDADES DE ESTOCAGEM E TEMPERATURA

Michelle Midori Sena Fugimura Universidade Federal do Oeste do Pará

Helaine dos Reis Flor Fundação Instituto de Pesca do Estado do


Rio de Janeiro

Thaís Chaves Castelo-Branco Universidade Federal Rural de Pernambuco

Andrea Bambozzi Fernandes Fundação Instituto de Pesca do Estado do


Rio de Janeiro

Lidia Miyako Yoshii Oshiro Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

Resumo: O camarão branco Litopenaeus schmitti é uma espécie de elevada importância econômica,
porém informações sobre a produção aquícola é ainda incipiente. Portanto, o objetivo do presente
estudo foi avaliar os efeitos da temperatura da água (24 e 26°C) e altas densidades de estocagem (220;
440 e 660 camarões/m2) no desempenho produtivo de juvenis da espécie durante 42 dias. Ao final do
estudo, as variáveis de desempenho zootécnico dos camarões foram calculadas e analisadas
estatisticamente. A interação da temperatura e a densidade de estocagem não afetou
significativamente o desempenho dos camarões, com exceção da produtividade superior no
tratamento com 26º C e densidade de 660 camarões/m² (423,9±36 g/m²). A temperatura de 26°C e a
densidade de 220 camarões/m2 isoladamente apresentaram um efeito positivo na criação de L.
schmitti, promovendo o melhor desempenho zootécnico da espécie. Portanto, conclui-se que a
adoção de até 220 camarões/m² e manutenção da temperatura da água de 26º C são os mais
adequados para o manejo na fase de berçário do camarão L. schmitti em sistemas de produção
abertos.

Palavras chave: Camarão branco. Cultivo intensivo. Desempenho zootécnico.

1
358
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

INTRODUÇÃO

A produção intensiva de camarões tem sido uma estratégia adotada para aumentar a produção na
carcinicultura, na qual é utilizado um sistema transitório de berçário, entre a larvicultura e a engorda.
As criações em sistemas intensivos têm resultado em crescimentos satisfatórios de camarões
peneídeos, utilizando densidades de estocagem entre 300 e 500 camarões/m2, como já observado
para diversas espécies de camarões peneídeos como Litopenaeus vannamei (Wasielesky et al., 2006),
Farfantepenaeus paulensis (Emerenciano et al., 2007) e Penaeus monodon (Arnold et al., 2009).
Portanto, estudos como esses são importantes para o estabelecimento da densidade de estocagem
limite, de acordo com a espécie criada e o sistema de produção adotado.
Dentro deste contexto de produção, a temperatura é considerada um dos principais fatores abióticos
que influencia o crescimento de crustáceos (Hartnoll, 2001). Portanto, a manutenção da temperatura
ideal na criação do camarão peneídeo pode gerar um crescimento mais rápido e melhorar a eficiência
alimentar (Wyban et al., 1995).
Entretanto, a temperatura ideal varia entre as espécies (Staples e Heales, 1991), assim como, várias
espécies de peneídeos são afetadas de forma diferente pelas densidades de estocagem utilizadas e
por isso consideradas como densidade-dependentes (Nga et al., 2005). A relação entre a densidade
de estocagem e a sobrevivência pode sofrer influência de diferentes condições durante a produção,
como a alimentação, temperatura e salinidade (Emmerson e Andrews, 1981). Porém, existem poucos
estudos sobre a influência da interação entre a temperatura e altas densidades de estocagem no
crescimento e sobrevivência do camarão Litopenaeus schmitti (Burkenroad, 1936).
O camarão L. schmitti é considerado um recurso pesqueiro de grande importância comercial em vários
países da América Latina como Cuba, Belize, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Suriname
e Brasil, sendo a maior parte da produção oriunda da pesca extrativista (FAO, 2020). Portanto, esse
camarão conhecido popularmente como branco ou cinza, trata-se de uma espécie nativa de grande
porte, que já foi produzida comercialmente no Brasil. Entretanto, não tem recebido muita atenção
atualmente e com poucas informações científicas relacionadas ao seu crescimento (Galindo et al.,
1992; Martin et al., 2006; Alvarez et al., 2007).
Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar o crescimento de juvenis de L. schmitti criados em
altas densidades de estocagem e diferentes temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

2
359
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

O estudo foi realizado na Estação de Biologia Marinha da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(EBM/UFRRJ) durante 42 dias. Os juvenis de L. schmitti utilizados foram capturados na Baía de
Sepetiba, Rio de Janeiro, Brasil (22° 54 81”S e 43° 49 76”W) e transportados ao laboratório.
Após o período de uma semana de aclimatação, a biometria individual dos juvenis (n=240) foi
realizada, consistindo na aferição do comprimento total (medida da margem anterior do rostro até a
porção distal do telson) e o peso total. Os camarões (0,38±0,09 g e 34,91±2,38 mm), foram estocados
aleatoriamente nas unidades experimentais, que compreenderam recipientes plásticos telados (0,17
m²), acondicionados em tanques com volume útil de 500 L.
O delineamento experimental empregado foi o inteiramente casualizado, com um arranjo fatorial 3x2,
sendo três densidades de estocagem (220; 440 e 660 camarões/m2) e duas temperaturas médias: 24°
C e 26° C. Os tratamentos foram denominados de (1) 220T24, densidade de 220 juvenis/m2 e
temperatura de 24º C; (2) D220T26, densidade de 220 juvenis/m2 e temperatura de 26º C; (3)
D440T24, densidade de 440 juvenis/m2 e temperatura de 24º C; (4) D440T26, densidade de 440
juvenis/m2 e temperatura de 26º C; (5) D660T24, densidade de 660 juvenis/m2 e temperatura de 24º
C e (6) D660T26, densidade de 660 juvenis/m2 e temperatura de 26º C, com quatro repetições cada.
O regime de fotoperíodo natural foi mantido durante todo o experimento. Os tanques receberam
aeração constante e foram preenchidos com água do mar (salinidade média de 33), após tratamento
em filtro biológico e radiação ultravioleta. A troca de água diária nas unidades experimentais foi de
cerca de 30 %. Para a manutenção da temperatura, foi utilizado em cada tanque um aquecedor
elétrico de 200 W com termostato.
Diariamente, no período da manhã foi realizado o monitoramento de fatores abióticos, como a
temperatura da água, oxigênio dissolvido, pH e salinidade. Enquanto, os níveis de amônia, nitrito e
nitrato foram verificados semanalmente.
A alimentação dos camarões consistiu em uma ração comercial (40% de proteína bruta), sendo
dividida em três porções diárias iguais e fornecidas às 8:00, 14:00 e 20:00 h em bandejas plásticas. A
biometria e estimativa de sobrevivência dos camarões L. schmitti de cada unidade experimental foram
realizadas semanalmente durante o período do estudo. Utilizou-se esta biometria semanal dos
camarões para ajustar a taxa de arraçoamento de cada unidade experimental. A taxa de arraçoamento
dos camarões variou de 40% da biomassa no início do período experimental para 15% a partir do 21º
dia, em função da observação do consumo alimentar.

3
360
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

No final do experimento, os camarões foram individualmente secos para aferição do peso e


comprimento total. Para avaliação do desempenho zootécnico dos camarões, os seguintes parâmetros
foram calculados:
Ganho de peso (%) = (peso médio final – peso médio inicial/peso médio inicial) * 100
Ganho de comprimento (%) = (comprimento médio total final – comprimento médio total
inicial/comprimento médio total inicial) * 100
Taxa de crescimento específico (%/dia) = [(peso médio final – peso médio inicial)*100]/dias de
experimento
Fator de condição = [(peso médio final/comprimento médio total³)* 105]
Conversão alimentar aparente = quantidade de ração fornecida (g)/ganho de peso total (g)
Produtividade (g/m2) = biomassa (g)/área de criação utilizada (m²)
Sobrevivência (%) = (número final de camarões/número inicial de camarões)*100
Os dados foram submetidos ao teste de homogeneidade e normalidade, utilizando-se o teste de
Cochran e Shapiro-Wilk, respectivamente. A sobrevivência e todos as variáveis calculadas em
porcentagem foram submetidas à transformação angular (arco seno), mas apenas os dados não
transformados são apresentados no presente estudo. Posteriormente, os resultados foram avaliados
através da Análise de Variância (ANOVA) two-way. As diferenças entre as médias dos tratamentos
foram analisadas através do teste de Tukey e consideradas significativas ao nível de 5%.

RESULTADOS

As médias dos parâmetros abióticos monitorados durante o estudo foram de 33,08±0,76 para
salinidade; 6,98±1,07 mg/L para oxigênio dissolvido e 7,59±0,10 para o pH. Enquanto, as
concentrações médias de amônia total, nitrito e nitrato na água de criação foram de 0,01±0,01 mg/L;
0,32±0,18 mg/L e 0,00 mg/L, respectivamente.
Os níveis ideais dos fatores abióticos na criação de camarões peneídeos apresentam variações entre
as espécies e fases de seu ciclo de vida. Porém, devido à ausência de informações para o camarão L.
schmitti, os níveis considerados adequados para a espécie L. vannamei de: concentração mínima de
4,0 mg/L de oxigênio dissolvido; pH entre 7,5 a 9.0; salinidade entre 12 e 28; temperatura entre 24 e
30 °C, máximo de 0,4 mg/L de nitrito; entre 0,4 e 0,8 mg/L de nitrato e 0,1 a 1 mg/L de amônia total
(Barbieri Júnior e Ostrensky Neto, 2002), foram utilizados em comparação com os encontrados no
presente trabalho. Portanto, os níveis médios dos fatores abióticos, com exceção apenas da

4
361
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

salinidade, durante este estudo permaneceram dentro do considerado adequado para criação L.
schmitti.
Ao final do estudo, os juvenis de L. schmitti apresentaram peso médio final variando entre 0,60 a 0,85
g e comprimento total entre 43,29 a 47,45 mm (Tabela 1).
Apenas efeitos isolados da temperatura e densidade de estocagem foram encontrados sobre o
desempenho zootécnico de L. schmitti no presente estudo, com exceção para a produtividade
(p<0,05). Este parâmetro que foi mais elevado para os camarões criados com a maior densidade de
estocagem e temperatura de 26° C (D660T26).
Tabela 1. Índices zootécnicos (médias ± desvio padrão) de Litopenaeus schmitti (0,38±0,09 g e
34,91±2,38 mm) criados em diferentes densidades de estocagem e temperaturas durante 42 dias.

Índices Tratamentos
D220T24 D220T26 D440T24 D440T26 D660T24 D660T26
Peso final (g) 0,60±0,15 0,70±0,09 0,63±0,06 0,67±0,08 0,70±0,07 0,85±0,08
CTF (mm) 43,29±2,45 45,10±1,87 43,69±1,49 44,95±0,94 45,09±1,67 47,45±0,80
Ganho de peso (%) 83,71±18,1 99,38±28,4 52,17±10,4 62,49±29,7 35,08±9,4 45,23±4,0
GC (%) 28,02±2,95 35,30±12,2 30,51±0,62 36,06±2,92 24,14±3,83 21,31±2,25
TCE (%/dia) 0,65±0,15 0,85±0,17 0,68±0,05 0,73±0,13 0,59±0,13 0,71±0,11
Fator de condição 0,740±0,05 0,757±0,06 0,755±0,04 0,802±0,14 0,766±0,15 0,796±0,03
CAA 2,13±0,19 2,06±0,41 2,69±0,35 2,07±0,45 4,16±0,77 3,45±0,21
PRO (g/m2) 117,4±25a 121,7±36 a 150,0±32a 181,5±37a 267,4±63b 423,9±31c
Sobrevivência (%) 90±11,55 80±16,33 55±12,91 62,50±15 58,33±12,6 76,67±8,61
CTF, comprimento total final; GC, ganho de comprimento; TCE, taxa de crescimento específico; CAA, conversão
alimentar aparente; PRO, produtividade. D220T24, densidade de estocagem de 220 camarões/m2 e
temperatura média de 24 °C; D220T26, densidade de estocagem de 220 camarões/m2 e temperatura média de
26 °C; D440T24, densidade de estocagem de 440 camarões/m2 e temperatura média de 24 °C; D440T26,
densidade de estocagem de 440 camarões/m2 e temperatura média de 26 °C; D660T24, densidade de
estocagem de 660 camarões/m2 e temperatura média de 24 °C; D660T26, densidade de estocagem de 660
camarões/m2 e temperatura média de 26 °C. Índices seguidos de letras diferentes na mesma linha diferem
significativamente pelo Teste de Tukey (p<0,05), com relação à interação da densidade de estocagem e
temperatura

Em relação ao fator temperatura, diferenças estatísticas significativas (p<0,05) na taxa de crescimento


específico, conversão alimentar aparente e produtividade dos camarões foram encontradas (Tabela
2). Pode ser observado que um aumento no ganho de peso de 21,50% na temperatura de 26° C
(69,08±27,66 %) comparado ao obtido com os camarões cultivados na temperatura de 24° C (57±24,67
%). O parâmetro conversão alimentar aparente também apresentou um melhor resultado na maior
temperatura (2,52±2,80), representando uma diminuição de 19% no índice em relação ao obtido na
criação com temperatura de 24º C (2,99±1,05).

5
362
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

Tabela 2. Índices zootécnicos (médias±desvio padrão) de juvenis Litopenaeus schmitti (0,38±0,09 g e


34,91±2,38 mm) criados em duas temperaturas durante 42 dias.
Índices zootécnicos Temperaturas
24ºC 26ºC
Ganho de peso (%) 57±24,67a 69,08±27,66a
Ganho de comprimento (%) 27,33±3,21a 30,92±8,31a
Taxa de crescimento específico (%/dia) 0,64±0,05a 0,76±0,08b
Fator de condição 0,752±0,04a 0,785±0,08a
Conversão alimentar aparente 2,99±1,05b 2,52±0,80a
Produtividade (g/m2) 178,3±78,7a 242,4±160,2b
Sobrevivência (%) 67,78±19,32a 73,05±9,29a
Parâmetros seguidos por letras diferentes na mesma linha diferem significativamente pelo teste de Tukey
(p<0,05).
Alvarez et al. (2007) ao avaliarem o crescimento de juvenis de L. schmitti (0,35 g) obtiveram camarões
com ganho de peso (0,29 a 0,71 g) acima do obtido no presente estudo, porém a conversão alimentar
(2,8 a 7,9) também se apresentou mais elevada. Já em outro estudo com L. schmitti (2,88 g), a
conversão alimentar obtida foi relativamente melhor que a encontrada no presente estudo, com
média de 0,49. No entanto, a sobrevivência (22,22±19,25%) foi significativamente reduzida
comparada a este trabalho (Gonzalez et al., 2007).
Os parâmetros zootécnicos do presente estudo confirmam a importância da temperatura no
crescimento do camarão, corroborando com resultados observados por diversos autores, para
diferentes espécies de camarões peneídeos, como para L. vannamei (Wyban et al., 1995; Magallón
Barajas et al., 2006); para Penaeus semisulcatus (Kumlu et al., 2000), e para Farfantepenaeus
californiensis (Ocampo et al., 2000).
Pós-larvas de F. paulensis criadas em diferentes temperaturas e salinidades, apresentaram maiores
taxas de sobrevivência a 25°C. Porém, não foi observado o efeito significativo da temperatura sobre a
sobrevivência, concordando com o presente estudo (Tsuzuki e Cavalli, 2000).
A relação positiva entre o crescimento e temperatura deve-se ao efeito da temperatura no
metabolismo de pecilotermos, através de sua influência sobre a atividade enzimática. Esse efeito foi
verificado para F. paulensis com um aumento no consumo alimentar devido ao aumento da
temperatura para 26°C (Wasielesky et al., 2003). Também foi verificado que os camarões F.
californiensis criados na temperatura de 19° C apresentaram-se letárgicos com diminuição do

6
363
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

consumo alimentar, absorção de nutrientes e metabolismo em geral, quando comparado com os


animais sempre ativos mantidos a 27° C (Ocampo et al., 2000).
Desta forma, a temperatura ótima pode ser definida como a temperatura em que o camarão cresce
mais rápido e de forma mais eficiente (Wyban et al., 1995). O consumo alimentar aumenta até atingir
a temperatura ótima, porém o aumento acima dessa temperatura afeta negativamente o crescimento
com a diminuição da ingestão de alimento. No presente estudo, dentre as duas temperaturas testadas,
a temperatura de 26°C influenciou positivamente o crescimento dos juvenis de L. schmitti.
Já entre as densidades de estocagem avaliadas, as variáveis ganho de peso, ganho de comprimento, a
conversão alimentar aparente, a produtividade estimada e a sobrevivência de L. schmitti
apresentaram diferenças significativas entre as densidades avaliadas (p<0,05) (Tabela 3). O ganho de
peso de L. schmitti foi aproximadamente 128,4% maior na densidade de 220 camarões/m2
(91,62±11,08 %) do que o verificado para os camarões estocados na densidade de 660 camarões/m2
(40,12±7,18 %). A sobrevivência apresentou a mesma tendência, com o melhor resultado encontrado
na menor densidade de 220 camarões/m2 (85±7,07 %), cerca de 26% maior do que o obtido na
densidade de 660 camarões/m2 (67,50±12,97 %).
Tabela 3. Índices zootécnicos (médias±desvio padrão) de juvenis de Litopenaeus schmitti (0,38±0,09 g
e 34,91±2,38 mm) criados em diferentes densidades de estocagem durante 42 dias.

Índices zootécnicos Densidades de estocagem


220 camarões/m2 440 camarões/m2 660 camarões/m2
Ganho de peso (%) 91,62±11,08b 57,37±7,30a 40,12±7,18a
Ganho de comprimento (%) 31,50±5,15b 33,12±3,92 b
22,75±2,00a
TCE (%/dia) 0,75±0,14a 0,70±0,04 a
0,65±0,08a
Fator de condição 0,747±0,05a 0,779±0,10a 0,781±0,03a
Conversão alimentar aparente 2,09±0,05a 2,38±0,44 a
3,80±0,50b
Produtividade (g/m2) 199,6±33,9a 165,8±23,0a 345,6±111,6b
Sobrevivência (%) 85±7,07b 58,75±5,30 a
67,50±12,97a
TCE, taxa de crescimento especifico. Índices seguidos por letras diferentes na mesma linha diferem
significativamente pelo teste de Tukey (p<0,05).

Além disso, um maior ganho de peso dos camarões (91,62±11,08 %) em relação ao ganho de
comprimento (31,50±5,15 %) foi obtido na densidade de 220 camarões/m². O ganho de peso
(40,12±7,18 %) e de comprimento (22,75 ± 2,00 %) tenderam a seguir um padrão mais proporcional
nos camarões da densidade de 660 camarões/m², em relação às outras avaliadas.
As causas do efeito negativo da densidade de estocagem sobre o crescimento são difíceis de serem
encontradas, devido sua interação com outros fatores como comportamento, qualidade de água,

7
364
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

parâmetros ambientais e alimentação adequada (Moss e Moss, 2004). No presente estudo, o efeito
de interação significativa dos fatores densidade de estocagem e temperatura demonstrou a influência
da temperatura sobre o parâmetro produtividade da criação de L. schmitti nas diferentes densidades
de estocagem. O resultado sugere que a manutenção da temperatura em um nível ideal possa ter
reduzido o estresse causado pelas altas densidades de estocagem. Este fato ressalta a importância da
manutenção da temperatura em um nível ótimo na criação de camarões, como uma estratégia na
busca pelo melhor desempenho dos animais, e consequentemente a maior lucratividade da atividade
aquícola.
A relação negativa entre o aumento da densidade e o crescimento dos juvenis de L. schmitti observada
neste estudo já foi encontrada para esta espécie (Fraga et al., 2002; Márquez et al., 2012) e para outras
de peneídeos, como Litopenaeus setiferus (Palomino et al., 2001); Litopenaeus stylirostris (Martin et
al., 1998); L. vannamei (Moss e Moss, 2004; Decamp et al., 2007); L. setiferus e L. vannamei (Williams
et al., 1996).
O efeito da densidade de estocagem sobre o crescimento de juvenis de L. vannamei (1,79 a 1,92 g) em
sistema sem troca de água foi avaliado e obtido uma menor sobrevivência (44,5±40,8 %) e ganho de
peso (409±32 %) na densidade de 100 camarões/m², comparado com a sobrevivência (94,3±1,2 %) e
ganho de peso (624±190 %) obtido na densidade de 50 indivíduos/m² (Decamp et al., 2007). O
estabelecimento de diferentes densidades de estocagem (50, 200 e 600 indivíduos/m³) na criação de
juvenis de F. chinensis (1,78 g e 5,3 cm de comprimento de carapaça) geraram diferenças significativas
no ganho de peso e de comprimento e sobrevivência nas diferentes densidades, com o desempenho
inferior correspondendo a maior densidade (Li et al., 2006).
O estresse animal provocado pela alta densidade de estocagem é devido a fatores físicos (maior
contato) e/ou químicos (qualidade de água) com um impacto negativo sobre o crescimento e
sobrevivência dos camarões (Nga et al., 2005; Aguilar et al., 2012). Neste estudo, o crescimento de
juvenis de L. schmitti foi limitado pela intensificação, com resultados superiores obtidos nas menores
densidades de estocagem, exceto para a produtividade.
De acordo com Aguilar et al. (2012), a intensificação por si só reduz o crescimento de camarões
peneídeos, entretanto o efeito pode ser mais negativo quando a qualidade de água é afetada. A
qualidade de água durante a produção pode ser afetada pelo acúmulo de ração não consumida, fezes
e amônia excretada na água, gerando efeitos tóxicos aos animais (Ray e Chien, 1992). Porém, como
observado por Martin et al. (1998), no presente estudo o efeito negativo da densidade de estocagem
elevada não pode ser atribuído ao estresse químico (qualidade de água), provavelmente pelo manejo

8
365
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

experimental diário de renovação de água das unidades experimentais garantiu a manutenção


adequada dos parâmetros físicos e químicos da água.
Elevados níveis de danos físicos ocorrem em camarões criados em alta densidade, provavelmente pela
ocorrência de ataques predatórios, especialmente aos indivíduos que recentemente realizaram
processo de muda (Abdussamad e Thampy, 1994). Esse comportamento de canibalismo também foi
observado no presente estudo, e provavelmente contribuiu com a menor sobrevivência de L. schmitti
encontrada na maior densidade utilizada.
A inclusão de substratos artificiais verticais nos tanques pode minimizar o efeito negativo da densidade
na produção das espécies de camarões peneídeos (Moss e Moss, 2004). Portanto, como o camarão L.
schmitti apresenta o hábito de raramente se enterrar em substratos (Penn, 1984), a inclusão de
substrato vertical pode ser uma estratégia em condições de alta densidade com o objetivo de permitir
um refúgio aos animais e então diminuir o estresse nessa situação.
Geralmente, quando o fator de conversão alimentar apresenta valores abaixo de 2 é considerado bom,
e quando elevado pode ser resultado de deficiência nutricional, superalimentação, baixa qualidade de
água ou ainda efeito de alta densidade de estocagem (Van Wyk, 1995). Essa relação positiva entre a
densidade e conversão alimentar foi encontrada no presente estudo, com o maior fator de conversão
alimentar sendo verificado para os camarões criados na densidade de estocagem mais elevada.
A estimativa do fator de condição baseado no crescimento e peso de L. vannamei criados em
diferentes densidades de estocagem (90, 130 e 180 camarões/m2) permitiu verificar que a densidade
teve grande efeito na relação comprimento-peso dos indivíduos (Araneda et al., 2008). Segundo esses
autores, o crescimento alométrico positivo seria ideal para o mercado na comercialização de camarões
inteiros, por possibilitar um número menor de animais para atingir um quilo do produto. Portanto,
determinar a densidade que gere indivíduos com crescimento alométrico positivo seria interessante,
e esses autores encontraram esse tipo de crescimento em camarões criados na menor densidade
testada (90 camarões/m²), concordando com o presente estudo.
Entre os parâmetros zootécnicos avaliados neste estudo somente a produtividade apresentou um
resultado superior com a maior densidade de estocagem. Resultados semelhantes foram encontrados
para o camarão L. schmitti criado em densidades variando entre 8 e 50 camarões/m2 (Fraga et al.,
2002; Márquez et al., 2012). As pós-larvas da espécie apresentaram uma melhor produtividade (2340
kg/ha) quando estocados na densidade de 50 camarões/m² comparado a menor densidade de 8
camarões/m² (463,2 kg/ha) (Márquez et al., 2012). Portanto, apesar do menor desempenho

9
366
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

zootécnico da espécie na densidade mais elevada avaliada nesse estudo, a superior produtividade e
boa sobrevivência pode justificar a criação de L. schmitti em sistema mais intensivo na fase de berçário.

CONCLUSÃO

O desempenho zootécnico dos camarões obtida neste estudo sugere que a espécie apresenta
potencial de produção em sistema intensivo de criação. Entretanto, recomenda-se a adoção de até
220 camarões/m² e temperatura da água de 26º C durante a fase de berçário do camarão L. schmitti
em sistemas de produção abertos, para obtenção de melhor performance produtiva da espécie.

10
367
Criação Intensiva Do Camarão Litopenaeus Schmitti Com Diferentes Densidades De Estocagem E Temperatura

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13
370
Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Capítulo 25
10.37423/210103540

ABORDAGEM SISTÊMICA1: FUNCIONAMENTO DE


UM ESTABELECIMENTO AGRÍCOLA NO
ASSENTAMENTO ABRIL VERMELHO - PARÁ.

Miriam Lima Rodrigues Dias ifpa-castanhal

Wagner Luiz Nascimento do Nascimento ifpa-castanhal

Mauricio Ricardo de Paula Dias ifpa-castanhal

Acenet Andrade da Silva ifpa-castanhal

Tatiane Calandrino da Mata ifpa-castanhal

Arnaldo Pantoja da Costa ifpa-castanhal

Eloisa Lorenzetti Universidade estadual do Oeste do Paraná


Abordagem Sistêmica¹: Funcionamento De Um Estabelecimento Agrícola No Assentamento Abril Vermelho - Pará.

Resumo: O estabelecimento agrícola familiar pode ser caracterizado como uma unidade completa
administrada pela família, abrangendo o sistema de produção e seus subsistemas de cultivo, criação,
extrativismo, beneficiamento e consumo (SCHMITZ & MOTA, 2008). A abordagem sistêmica, neste
trabalho, busca integrar disciplinas, através da exploração cientifica do todo em detrimento de suas
partes. A área de estudo para esta exploração foi o projeto de assentamento Abril Vermelho,
localizado no município de Santa Bárbara, no estado do Pará, no lote de Sra. Maria Jecy e do Sr.
Ribamar. A metodologia aplicada foi através de entrevistas a partir de questionários semi-
estruturados e conversas informais, e também caminhadas transversais nas áreas produtivas do lote.
Entendeu- se que o processo de gestão do lote se dá através da venda dos frutos ao atravessador e
que os sistemas de cultivos ainda são pouco manejados, apesar de ter uma boa rentabilidade. Contudo
o objetivo deste trabalho é analisar o funcionamento do estabelecimento agrícola, com base nas
atividades desenvolvidas, a partir do enfoque sistêmico, buscando compreender o sistema familiar
(comando), o sistema de produção e seus subsistemas.

Palavras–chave: Agricultura; Família; Sistemas.

1
372
Abordagem Sistêmica¹: Funcionamento De Um Estabelecimento Agrícola No Assentamento Abril Vermelho - Pará.

1. INTRODUÇÃO

A teoria geral dos sistemas pode se entendida como integradora de disciplinas, propiciando a
representação dos fenômenos da natureza. Consiste de uma exploração científica do todo, sendo
paradigma para o pensamento sistêmico (CAHETÉ, 2005).

Hart (1979) afirma que um sistema é um arranjo de componentes físicos, um conjunto ou coleção de
coisas, unidos ou relacionados de tal maneira que forma e atua como uma unidade ou um todo. Assim,
o estudo do funcionamento do estabelecimento agrícola como sistema, visa entender as atividades
desenvolvidas de forma holística e não apenas de suas partes.

Neste enfoque sistêmico, o estabelecimento agrícola familiar pode ser caracterizado como uma
unidade complexa administrada pela família, abrangendo desde o sistema de produção (subsistemas
de cultivo, criação, extrativismo, beneficiamento), até o sistema de consumo (SCHMITZ & MOTA,
2008). Devendo, desta forma, ser entendido como um conjunto de ações, o que leva a sua
compreensão de forma sistêmica e não reducionista, ação esta proposta pelo presente trabalho.

O contexto biofísico leva em consideração o espaço físico, as condições, habilidades e tecnologias que
o agricultor possui para transformar o meio. Este desenvolve medidas para intensificar o uso da terra,
bem como proteger, multiplicar e diversificar as opções produtivas, a fim de gerar troca de excedentes
e retorno de capital.

Neste sentido, os estabelecimentos agrícolas caracterizam-se por apresentar fluxos de


funcionamento. Esses fluxos são de energia; entradas e saídas; financeiro e de informações. O fluxo
de energia está relacionado a realização de trabalho no estabelecimento, no lote; o fluxo de entradas
e saídas é caracterizado pelos insumos (entrada) e produtos (saídas); o financeiro representa o capital
de giro ou investimento e o fluxo de informação que trata das trocas de conhecimentos (saberes), este
ultimo pode ser classificado, como um dos, ou o, fluxo de maior relevância deste sistema, pois é neste
que ocorrem as trocas que poderão potencializar ou declinar o sistema do estabelecimento
(UHLMANN, 2002).

Mostrando que a agricultura é mais que um complicado novelo entretecido onde os fios (solo, plantas,
animais, implementos, trabalhadores, matéria prima, influências ambientais) são sustentados e
manipulados pelo agricultor, que forma um núcleo de alocação, produção e consumo de recursos.
Assim, o grupo familiar pode estar organizado por subsistemas com menor ou maior grau de
autonomia, ligados através de laços de sangue, amizades, histórias, tradições e controle coletivo do

2
373
Abordagem Sistêmica¹: Funcionamento De Um Estabelecimento Agrícola No Assentamento Abril Vermelho - Pará.

território. Suas relações econômicas, sociais e políticas também influenciam o sistema de produção
do estabelecimento agrícola, servindo para atenuar os riscos recorrentes de objetivos mal sucedidos.

Portanto o objetivo deste trabalho é analisar o funcionamento do estabelecimento agrícola, com base
nas atividades desenvolvidas, a partir do enfoque sistêmico, buscando compreender o sistema familiar
(comando), o sistema de produção e seus subsistemas, além de, propor atividades práticas para o
desenvolvimento rural do estabelecimento agrícola.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. TÉCNICA APLICADA

O processo metodológico ocorreu no dia 26 de janeiro de 2012, quando foi realizada a visita integrada
ao assentamento. Buscou-se vivenciar a realidade da família, procurando compreender o sistema de
comando (família) e o produtivo e seus subsistemas: de cultivo, criação, extrativismo, beneficiamento
e consumo.

Além disso, foram realizadas entrevista, com o auxilio de questionários semi-estruturados e conversas
informais, caminhadas transversais nas áreas produtivas do lote e observação dos membros da família
e do processo de trabalho na área.

No que diz respeito ao fluxo de informações, a família tem boa relação com a vizinhança, existindo
frequentemente uma troca de trabalho e informação entre os mesmos, diminuindo desta maneira a
dependência da família a insumos externos. A partir da analise compreende-se os principais objetivos
propostos pela família e seus métodos para alcançá-los.

2.2. ÁREA DE ESTUDO

O Projeto de Assentamento Abril vermelho (PA) fica localizado no município de Santa Bárbara (latitude
01º13'25" S,longitude 48º17'40"W ), altitude média de 21 m, região nordeste do Estado do Pará. O PA
está dividido em pólos distintos, sobre o qual foi analisado o Sistema Agrário do pólo III, lote 21,
referente à residência da Sra. Maria Jecy do Sr.Ribamar.

2.3. SISTEMA DE COMANDO – FAMÍLIA

As 800 famílias, do assentamento Abril Vermelho, foram assentadas no ano de 2006. No entanto, essas
famílias a área, no ano de 2004, que pertencia à antiga empresa Dendê Pará S/A (DENPASA), falida no
ano de 2000, e somente dois anos depois o decreto de desapropriação foi emitido pelo Governo

3
374
Abordagem Sistêmica¹: Funcionamento De Um Estabelecimento Agrícola No Assentamento Abril Vermelho - Pará.

Federal para dar origem oficialmente ao assentamento. Estas organizavam- se através do MST
(Movimento Sem Terra), e vieram de três outros acampamentos (“Rosely Nunes”, localizado no
Município de Castanhal, “Rosa Luxemburgo” localizado em São Francisco do Pará e “Iza Cunha”
localizado no município de Santa Izabel do Pará).

A família do estabelecimento em estudo antes de vir para o assentamento morava no município de


Castanhal. Através de informações de amigos a família ficou sabendo que o INCRA iria distribuir lotes
no município de Santa Bárbara, porém, para que as famílias pudessem ter acesso aos lotes seria
preciso que as mesmas tivessem vínculo com o MST. Então, os proprietários do lote buscaram
conhecer melhor o movimento, para isso foi necessário que os mesmos entrassem em um
acampamento “Rosa Luxemburgo”, no município de São Francisco do Pará.

A família é composta por 12 membros. Os dados dos componentes da família estão dispostos na
Tabela1, na qual podemos observar que somente 6 filhos moram no estabelecimento, dos quais
apenas metade ajudam os pais a desenvolver as atividades agrícolas do sistema de produção. Além
dos 6 filhos que moram no lote, outros dois que já são casados também moram no assentamento, ou
seja, possuem seus próprios estabelecimentos.

Tabela1: Dados dos componentes da família

4
375
Abordagem Sistêmica¹: Funcionamento De Um Estabelecimento Agrícola No Assentamento Abril Vermelho - Pará.

Legenda: N.A. = Não Alfabetizado; N.E. = Não Estuda; M = Masculino e F= Feminino;

2.4. SISTEMA DE PRODUÇÃO

2.4.1. SUBSISTEMA DE CULTIVO

A área do lote da família é de 20 ha, 2000 m de comprimento por 1000 m de largura. Sendo que apenas
20% desta área é destinada para os cultivos agrícolas, o que corresponde a 4 ha, e 80% é destinada à
Reserva Legal, conforme Art. 1° do Código Florestal – Lei Federal n° 4771/65:

(...) § 2º. III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou
posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso
sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e
flora nativas.
O subsistema de cultivo do estabelecimento pode ser subdividido em dois tipos: monocultivo e cultivo
consorciado, conforme Figura 1. Dos quais, a produção é destinada para a venda e para o consumo.

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Figura 1: Croqui do estabelecimento agrícola.

Neste buscou- se observar a forma de exploração do meio pela família no trabalho agrícola e também
as transformações observadas historicamente na área produtiva. A família possui uma área (lote) de
20 ha, tendo explorado apenas 20% da mesma, equivalente a 4 há, para produção agrícola.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2. MONOCULTIVO

Neste cultivo a cultura da pupunha (Bactris sp.), foi implantada no ano de 2009, com espaçamento de
5 m entre plantas e 4 m entre fileiras em uma área de 2000 m², 50 m de comprimento por 40 m de
largura, totalizando 100 touceiras cada uma com três plantas. Dentre as espécies cultivadas no lote
esta apresenta maior produtividade e, consequentemente é a cultura que mais contribui para a renda
familiar. No entanto, neste tipo de subsistema apresenta baixa produção devido o plantio ser recente,
quando comparada com os demais tipos de cultivo onde a espécie está implantada há mais tempo. A

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produção média neste cultivo é de 2 cachos/touceira no período da safra, o que corresponde a 10


kg/touceira. E, como algumas plantas estão mais desenvolvidas que outras, a produtividade não é
uniforme, portanto, não pode- se estimar que ao final da safra obtenha-se uma produção de 1000 Kg
nesta área.

3.3. CULTIVO CONSORCIADO

No estabelecimento existem três áreas destinadas à produção consorciada de frutíferas e essências


florestais.

Na primeira são exploradas as espécies pupunha, banana (Musa sp.) e açaí (Euterpe sp.). Os
espaçamentos utilizados foram 4 m por 4m para a banana e o açaí, e 5 m por 5 m para a pupunha.
Nesta área existem alguns problemas relacionados a esses espaçamentos. Devido ao adensamento
das plantas as bananeiras, por exemplo, não se desenvolvem satisfatoriamente. Elas crescem
longitudinalmente, os caules não engrossam e por isso, quando frutificam, não suportam o peso dos
cachos e tombam antes da maturação dos frutos.

A segunda área pode ser caracterizada como Sistema Agroflorestal - SAF2, as espécies cultivadas nesta
área já estavam implantadas quando as famílias foram assentadas, são elas: paricá (Schizolobium sp.),
mogno (Swietenia sp.), ipê (Tabebuia sp.) e pupunha. Os espaçamentos usados são de: 7 m entre linhas
por 6 m para todas as espécies, sendo que o paricá é plantado nas entrelinhas da pupunha e, o mogno
e o ipê, são plantados alternadamente entre as plantas de pupunha. É importante salientar que foi a
partir desta área que foram retiradas as mudas para iniciar o cultivo nas demais áreas quando a família
chegou no lote, além, de mudas de outras espécies que foram trazidas de outros lotes do próprio
assentamento.

E, a terceira área, é bastante recente e foi o local onde os próprios proprietários do estabelecimento
realizaram um teste para verificar se o açaí e o cupuaçu (Theobroma sp.) se desenvolviam melhor.
Foram feitas clareiras na área de mata para fazer sombreamento para essas espécies e no início do
período chuvoso deste ano foram plantadas as sementes pré germinadas de cupuaçu e as mudas de
açaí. E, segundo os proprietários, as plantas se adaptaram melhor nesta área, pois anteriormente eles
haviam realizado o plantio com pouco sombreamento e as plantas não se desenvolveram
satisfatoriamente e algumas morreram.

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3.4. MANEJO DAS ÁREAS DE CULTIVO

O preparo das áreas foi realizado de forma manual, com auxilio de machado, terçado e enxada. A
produtividade das culturas, segundo a proprietária, é garantida apenas pelo manejo da área através
de desbastes das plantas e limpeza das áreas cultivadas, todo o material oriundo desses tratos
culturais é deixado nas entre linhas do plantio, para diminuir a incidência de ervas daninhas e,
consequentemente, reduzir o número de roçagens, promover a reciclagem dos nutrientes e contribuir
na manutenção da umidade do solo. As roçagens são realizadas com auxílio de uma roçadeira manual.

Não é realizado nenhum tipo de adubação porque os proprietários consideram que a produção é boa,
devido os plantios terem sido implantados em solo muito fértil, uma vez que estes anteriormente
eram cobertos com mata.

3.5. FLUXOS DO SUBSISTEMA DE CULTIVO

FLUXO DE TRABALHO

O manejo da área é realizado exclusivamente com mão de obra familiar pelos filhos adolescentes e
pelos pais. E não há um calendário de trabalho onde seja feita uma divisão da mão de obra para os
diversos tipos de cultivo. Além de não haver o controle das horas trabalhadas mensalmente.

 FLUXO DE PRODUTOS

Por não haver o uso de adubos e agrotóxicos em nenhum dos tipos de subsistemas de cultivo, conclui-
se que não há entrada de insumos externos destinados aos cultivos agrícolas.

A saída de produtos se dá principalmente através da colheita da pupunha, cultura mais rentável no


sistema de produção, e do açaí, sendo que este último sai em poucas quantidades.

E dentro dos próprios tipos de subsistema o único fluxo de produto ocorre através dos restos vegetais
que são jogados aleatoriamente nos cultivos mais próximos à residência, os mesmos são ciclados e
servem de adubo para as plantas.

 FLUXO ECONÔMICO / FINANCEIRO

Uma pequena parte da produção é destinada para o consumo interno da família e a maior parte é
vendida para um atravessador de Ananindeua, o qual vai até o estabelecimento buscar a produção
para levar à feira. Em média o quilo da pupunha está custando R$ 2,00 na entre safra a 1,00 na safra.

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Assim também acontece com o açaí, toda a produção é levada para as feiras de Ananindeua e Belém
por atravessadores, e o valor da venda varia de acordo com o período do ano. A produção média de
pupunha na safra e na entre- safra pode variar, segundo a proprietária do lote, de 1 Kg a 500 Kg por
semana. Porém, não pode- se afirmar que a renda semanal seja de R$ 500,00.

Não há um controle com relação ao capital que entra e que sai do sistema. Levando-se em
consideração que as roçagens propiciam melhor desenvolvimento para as plantas e,
consequentemente, maior produtividade ao sistema, a renda da família aumenta. Portanto, por mais
que não haja uma quantificação da produção o retorno obtido com a venda dos produtos do
estabelecimento, pode ser observado através da obtenção de produtos destinados às despesas
familiares como, por exemplo, alimentação e vestuário.

 FLUXO DE INFORMAÇÃO

Devido o proprietário ser oriundo de uma realidade totalmente diferente das práticas exercidas na
agricultura, às informações referentes ao sistema de cultivo implantado no estabelecimento foram
adquiridas ao longo do tempo de acordo com as necessidades de cada tipo de subsistema de cultivo
por meio de vizinhos, já que no assentamento as famílias não têm acesso à assistência técnica.

4. CONCLUSÕES

A partir do exposto no trabalho e observado no estabelecimento agrícola, conclui- se que o mesmo


possui potencial para aumentar a produção através da implantação de novos modelos de subsistemas.
Mas, são necessários ainda, se fazer uma estimativa e criar propostas a curto, longo e médio prazo.

E, podemos citar ainda, uma meta de longo prazo que poderá ser alcançada, através da organização
não só da família do estabelecimento estudado, mas de toda a comunidade, neste caso poderia ser a
comercialização conjunta dos produtos das famílias do assentamento, através das 4 associações
existentes, excluindo então o(s) atravessador (es), além de proporcionar o acesso a crédito para
compra de máquinas e implementos para uso coletivo dos sócios, dessa forma o preparo e manejo
das áreas proporcionaria, consequentemente, melhores produções nos estabelecimentos familiares.

A partir do que foi observado podemos concluir que, as dificuldades encontradas para o aumento da
renda familiar estão diretamente relacionadas a pouca diversidade de produtos e produção, além da
pequena área destinada para produzir.

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5. AGRADECIMENTOS

A família do Sr. Ribamar e da Sra. Jecy pela atenção e espaço cedido para o estudo, ao IFPA- Campus
Castanhal pela oportunidade e incentivo para desenvolvimento de tal, e ao VII CONNEPI pelo espaço
para a defesa desta atividade.

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6. REFERÊNCIAS

CAHETÉ, F. L. S. Sustentabilidade dos sistemas agrícolas: uma análise no contexto da agrodiversidade.


Tese de doutorado. Desenvolvimento Sócio-Ambiental: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, UFPA,
Belém, Pará, Brasil, 2005.

HART, R. D. Agroecossistemas conceitos básicos. P.211.Turrialba: CATIE, 1979.

RODIGHERI, H.R. Rentabilidade econômica comparativa entre plantios florestais e sistemas


agroflorestais com erva-mate, eucalipto e pinus e as culturas do feijão, milho, soja e trigo. Colombo:
EMBRAPA-CNPF, 1997. 36p. (EMBRAPA-CNPF. Circular Técnica, 26).

SCHMITZ, H; MOTA, D. M. Agricultura Familiar: categoria teórica e/ou de ação política?.

Fragmentos de Cultura. v. 18, n. 5/6, p. 435-446, Goiânia, Brasil, 2008.

UHLMANN, G. W. Teoria Geral dos Sistemas: do atomismo ao sistemismo (uma abordagem sintética
das principais vertentes contemporâneas desta Proto-Teoria. Instituto Siegen. Disponível em:
<http://www.institutosiegen.com.br/documento/Teoria%20Geral%20dos %20Sistemas.pdf>, 2002.
Acesso em: 10 de fevereiro de 2012, 9:01 h.

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