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FREDERICO CELESTINO BARBOSA

GESTÃO D A PRODUÇÃO EM

FOCO

UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA


VOLUME V

EDITORA CONHECIMENTO LIVRE


Frederico Celestino Barbosa

Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

5ª ed.

Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre
Piracanjuba-GO
Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre

5ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico Celestino


B238G Gestão da produção em foco: uma abordagem holística
/ Frederico Celestino Barbosa. – Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre, 2020
552 f.: il
DOI: 10.37423/2020.edcl92
ISBN: 978-65-5898-023-0
Modo de acesso: World Wide Web
Incluir Bibliografia
1. produtividade 2. competitividade 3. gestão-da-produção 4. gestão-industrial-e-de-serviços 5.
engenharia-de-produção I. Barbosa, Frederico Celestino II. Título

CDU: 620

https://doi.org/10.37423/2020.edcl92

O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus
respectivos autores.
EDITORA CONHECIMENTO LIVRE

Corpo Editorial

Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa

Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto

MSc. Anderson Reis de Sousa

MSc. Frederico Celestino Barbosa

MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo

MSc. Plínio Ferreira Pires

Editora Conhecimento Livre


Piracanjuba-GO
2020
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 9
TRANSPORTE COLABORATIVO MARÍTIMO: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO MÉTODO
SYSTEM DYNAMICS APLICADA À INDÚSTRIA MANUFATUREIRA
Vanina Macowski Durski Silva
Antônio Sérgio Coelho
Antônio Galvão Novaes
DOI 10.37423/200902591

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 26
A RELEVÂNCIA DO MARKETING PESSOAL PARA A INSERÇÃO DOS ACADÊMICOS DO
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DO POLO UAB NO MERCADO DE TRABALHO
Luiz Gustavo de Matos
Adriano Mesquita Soares
Luiz Henrique Domingues
Daniel Hernando Prieto Herrera
João Luiz Kovaleski
DOI 10.37423/200902594

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 45
RELAÇÃO DOS GASTOS PÚBLICOS COM EDUCAÇÃO E OS ROYALTIES DE ITAIPU NOS
MUNICÍPIOS DO OESTE DO PARANÁ
Andressa Bender
Daiane Aparecida Fappi
Idair Edson Marcello
DOI 10.37423/200902658

CAPÍTULO 4 .......................................................................................................... 60
A CONTRIBUIÇÃO DO DOCENTE DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO COMO FACILITADOR
NA EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Mario Fernando de Mello
Amanda Barbosa dos Santos
Jéssica Weber de Quadros
Alberto de Souza Schmid
Ederson Anhaia Moraes (in memoria)
DOI 10.37423/200902666

CAPÍTULO 5 .......................................................................................................... 75
MELHORIA DA QUALIDADE DO PROCESSO PRODUTIVO EM UMA INDÚSTRIA DE
ARTEFATOS DE BORRACHA DE SILICONE, DECORRENTE DA SILICOSE EM
TRABALHADORES
Rafaela Rodrigues Caldas da Cruz
Wagner Costa Botelho
Renata Maciel Botelho
DOI 10.37423/200902669

SUMÁRIO
CAPÍTULO 6 .......................................................................................................... 89
O USO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA MITIGAR OS PROBLEMAS DE SOLDA DE
ARCO SUBMERSA AUMENTANDO SUA QUALIDADE
Jadir Perpétuo dos Santos
Everton Ferreira de Oliveira
DOI 10.37423/200902672

CAPÍTULO 7 .......................................................................................................... 102


O FUNDO VERDE E AMARELO COMO INSTRUMENTO DE INTERCÂMBIO DE INOVAÇÕES
TECNOLÓGICAS APLICADO AO MODELO DA TRÍPLICE HÉLICE.
JÚLIO CÉZAR DE ALMEIDA PEREIRA
ADRIANA VALÉRIA SARACENI
DOI 10.37423/200902684

CAPÍTULO 8 .......................................................................................................... 117


MODULARIZAÇÃO DE PRODUTOS E SEUS EFEITOS NOS AMBIENTES DE PRODUÇÃO
Vittorio Venturini Gelain
Luciane Calabria
Flavia Manica Siviero
Cesar Pandolfi
Clauber André Ferasso
Alexandre José Baumgaertner Filho
DOI 10.37423/200902692

CAPÍTULO 9 .......................................................................................................... 194


USO DO MODELO DE REFERÊNCIA TRAVO FRACTAL PARA MELHORIA DO PROCESSO DE
FABRICAÇÃO DE PAPEL KRAFT
Aldo Braghini Junior
Paulo Roberto Sékula
Isabel Cristina Moretti
Alexandre de Castro Alves
DOI 10.37423/200902694

CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 209


FERRAMENTAS PARA MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE PROCESSOS
Paulo Sérgio Parangaba Ignacio
Flavio Trojan
João Luiz Kovaleski
DOI 10.37423/200902697

SUMÁRIO
CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 228
APLICAÇÃO DO MÉTODO FMEA PARA ANÁLISE DE FALHAS DO PROCESSO DE
FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR
Patricia de Castro Sousa
William Douglas Paes Coelho
DOI 10.37423/200902703

CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 246


INFLUÊNCIA DOS INDICADORES FINANCEIROS NA AVALIAÇÃO DE RATINGS
Edilson Bacinello
Cíntia Rosina Flores
Gleimiria Batista da Costa
Josmar Almeida Flores
Marlene Valério dos Santos Arenas
DOI 10.37423/200902705

CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 264


RESPONSABILIDADE SOCIAL ANALISADA SOB O ENFOQUE ESTRATÉGICO
Edilson Bacinello
Cíntia Rosina Flores
Gleimiria Batista da Costa
Josmar Almeida Flores
Marlene Valério dos Santos Arenas
DOI 10.37423/200902706

CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 281


ANÁLISE DA VIDA ECONÔMICA DA FROTA BRASILEIRA DE CAMINHÕES
Elaine Radel
Daylyne Maerla Gomes Lima Sandoval
Paula Rayssa Pereira
Susan Cariny Carvalho Machado
Sérgio Ronaldo Granemann
DOI 10.37423/200902707

CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 299


TOMADA DE DECISÃO EM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
Rosimeiri Naomi Nagamatsu
Marcelo Capre Dias
Josiany Oenning
Lívia Laura Matté
DOI 10.37423/200902709

SUMÁRIO
CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 313
FATORES QUE INFLUENCIAM A CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS
Lidiana Zocche
Sandra Elisa Kunrath
Istefani Carísio de Paula
Vera Lúcia Milani Martins
DOI 10.37423/200902711

CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 327


ANÁLISE DO IMPACTO GERADO NA ESTRUTURA DE CUSTOS DE UMA EMPRESA DO RAMO
DE POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRA DE VIDRO AO SE ADQUIRIR UMA MÁQUINA
Wilson de Paula
DOI 10.37423/200902715

CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 346


AMBIENTE LABORAL EM UMA EMPRESA COM DE GESTÃO DE ECONOMIA DE COMUNHÃO.
Suely da Silva Carreira
Ana Maria Bencciveni Franzoni
Manoel Francisco Carreira
DOI 10.37423/200902718

CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 361


UM PANORAMA DAS INDÚSTRIAS DE RESINAS TERMOPLÁSTICAS VIRGENS E
RECICLÁVEIS NO BRASIL
Karoline Fiori
Claudelino Martins Dias Junior
DOI 10.37423/200902724

CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 381


PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS DE ALUMÍNIO POR MEIO DA
PROGRAMAÇÃO LINEAR
Evandro Paulo Merlo
Gilson Adamczuk Oliveira
Dayse Regina Batistus
José Donizetti de Lima
Janecler Amorin Colombo
DOI 10.37423/200902728

SUMÁRIO
CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 398
COMPARAÇÃO ENTRE AS ALTERNATIVAS PORTUÁRIAS UTILIZADAS NA EXPORTAÇÃO DA
SOJA BRASILEIRA COM DESTINO À CHINA
Cleibson Aparecido de Almeida
João Cardoso Neto
Samuel de Lima Junior
Robson Seleme
Sonia Isoldi Gama Müller
DOI 10.37423/200902729

CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 415


ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO ETANOL NO BRASIL: UMA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE
BOX & JENKINS
Stefane Dias Rodrigues
Virginia Thomasi
Roselaine Ruviaro Zanini
Julio Cezar Mairesse Siluk
DOI 10.37423/200902730

CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 430


PROPOSTA PARA SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE REMANUFATURA DE PRODUTOS
REJEITADOS NO CD DE UMA EMPRESA IMPORTADORA DE ELETRODOMÉSTICOS
Ademir José Demétrio
Claiton Emilio do Amaral
Emerson José Corazza
Gilson João dos Santos
Luiz Carlos da Silva Junior
Marcos Francisco Ietka
Renato Cristofolini
Rosalvo Medeiros
DOI 10.37423/200902733

CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 448


MELHORIAS NAS ÁREAS DE ARMAZENAMENTO E EXPEDIÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
UMA MULTINACIONAL DO SETOR ALIMENTÍCIO
Nilton dos Santos Portugal
Ana Cláudia Oliveira Eugenio
Gustavo Rabelo Garcia
Lucas Rosa Paiva
Roger Antônio Rodrigues
DOI 10.37423/200902755

SUMÁRIO
CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 466
UTILIZANDO TRIZ NA CONCEPÇÃO DE UM CARRO DE PAPELÃO
Antonio Costa Gomes Filho
Luciene Oliveira Cruz
Fernando Antonio Forcellini
DOI 10.37423/200902769

CAPÍTULO 26 .......................................................................................................... 484


ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E AÇÃO COLETIVA: MERCADO MADEIREIRO E ESTRATÉGIA
ORGANIZACIONAL
Marcos Cieslak
Gelson Menon
Carlos Alberto Marçal Gonzaga
DOI 10.37423/200902790

CAPÍTULO 27 .......................................................................................................... 498


GESTÃO DO CONHECIMENTO: UMA ABORDAGEM PRELIMINAR PARA CONSTRUÇÃO DE
MODELO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PRIVADA
ANDREIA MARQUES MACIEL DE CARVALHO
DOI 10.37423/200902814

CAPÍTULO 28 .......................................................................................................... 516


INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE E ARMAZENAGEM DA SOJA NO ESTADO
DO MARANHÃO - BRASIL
Ricardo Niehues Buss
Glécio Machado Siqueira
DOI 10.37423/200902830

CAPÍTULO 29 .......................................................................................................... 534


AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL DO DF: +BIKE
Ailson Gomes da Silva Júnior
Leonardo Rocha Gonçalves da Silva
Aldery Silveira Júnior
DOI 10.37423/201002967

SUMÁRIO
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 1
10.37423/200902591

TRANSPORTE COLABORATIVO MARÍTIMO: UMA


ANÁLISE SOB A ÓTICA DO MÉTODO SYSTEM
DYNAMICS APLICADA À INDÚSTRIA
MANUFATUREIRA

Vanina Macowski Durski Silva Universidade Federal de Santa Catarina

Antônio Sérgio Coelho Universidade Federal de Santa Catarina

Antônio Galvão Novaes Universidade Federal de Santa Catarina


Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar um modelo que analise os efeitos sistêmicos da
política de colaboração entre indústrias manufatureiras que utilizam o transporte marítimo para a
exportação. Pesquisou-se sobre a era da Logística Colaborativa e a Gestão do Transporte Colaborativo
e, foram realizadas entrevistas com empresários e especialistas de modo a validar a proposta de
estudo, além de obter dados para inserção no modelo. Posteriormente, foi realizado um estudo sobre
os métodos Agent Based Modeling and Simulation e System Dynamics. O modelo proposto utilizando-
se do SD contribuiu para a análise dos efeitos sistêmicos da política de colaboração entre indústrias
manufatureiras, as quais se unindo fortalecem o poder de barganha sobre os armadores marítimos,
influenciando na redução do preço de frete marítimo. Este trabalho contribuiu para o entendimento
da importância de se adotar uma abordagem interdisciplinar para lidar com os problemas do
transporte marítimo.

Palavras chave: Logística, Transporte marítimo colaborativo, System Dynamics, Simulação.

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

1. INTRODUÇÃO

A gestão da cadeia de suprimentos atua na coordenação das múltiplas relações ocorrentes na cadeia,
isto é, nas redes de organizações envolvidas em criar serviços e produtos ao consumidor final. De
acordo com Novaes (2007), quando se fala em cadeia de suprimentos se pensa imediatamente no
fluxo de materiais formado por insumos, componentes e produtos acabados. Esses fluxos entre os
participantes da cadeia de suprimentos historicamente apresentam conflitos nos canais de
negociação. Observa-se que cada elo busca minimizar seus custos individuais, o que normalmente não
converge ao ótimo global da cadeia de suprimentos (Seifert, 2003). Dessa forma, no intuito de reduzir
custos, aumentar eficiências e obter vantagens competitivas, verifica-se que as empresas estão sendo
forçadas a repensar seus procedimentos, a utilizar técnicas de reengenharia e redefinir os
relacionamentos e os modelos de suas cadeias de suprimentos. É neste contexto que emergiu o
conceito global CPFR - Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (Planejamento, Previsão
e Reabastecimento Colaborativo), no fim da década de 90. Esse conceito expressa a integração dos
diversos participantes da cadeia de suprimentos, de modo a garantir aumento nas vendas,
alinhamento inter-organizacional, eficiência operacional e administrativa. Posto isso, um dos campos
de aplicação do CPFR se dá no transporte, recebendo a denominação de CTM - Collaborative
Transportation Management (Gestão do Transporte Colaborativo). Observa-se que há um consenso
entre os especialistas de que essa ferramenta apresenta um grande potencial para auxiliar nas
reduções de custos e riscos, aumento no desempenho de serviço e capacidade, bem como na
obtenção de uma cadeia de suprimentos mais dinâmica (Seifert, 2003; Tacla, 2003).

Neste contexto, percebeu-se uma lacuna ainda a ser explorada no que se refere à pesquisa para a
resolução do problema de transporte colaborativo de cargas por parte das indústrias de manufatura
utilizando-se do modal aquaviário. Assim sendo, este artigo tem como objetivo apresentar um modelo
que analise os efeitos sistêmicos da política de colaboração entre indústrias manufatureiras que
utilizam o transporte marítimo para a exportação, levando em consideração os principais parâmetros
estratégicos e operacionais envolvidos nessa operação.

1.1 MÉTODO DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO

A escolha do método foi iniciada com uma análise das diferentes possíveis abordagens para o
problema proposto, através da revisão da literatura e determinação do objeto de estudo e, a partir
daí concluiu-se que a abordagem mais adequada ao problema seria a do experimento através da

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

modelagem. Após a modelagem do problema e realizadas simulações, o objeto de estudo foi validado
levando à algumas conclusões e recomendações para estudos futuros.

Este artigo é composto de 6 seções, incluindo esta introdutória. No item 2 são apresentados alguns
conceitos sobre a logística colaborativa e a gestão do transporte colaborativa. No item 3 é apresentado
o mecanismo para a realização da exportação de produtos manufaturados através do transporte
marítimo. No item 4 tem-se o modelo proposto para a análise do problema de transporte colaborativo
e no item 5 apresentam-se os resultados da análise. Por fim, o item 6 apresenta algumas considerações
finais e sugestões para continuidade do trabalho.

2. LOGÍSTICA COLABORATIVA E O SISTEMA DE GESTÃO DO TRANSPORTE COLABORATIVO

Desde a introdução do conceito de ECR - Efficient Consumer Response (Resposta Eficiente ao


Consumidor) em meados de 1993, os participantes da cadeia têm tentado olhar além do seu próprio
negócio de modo a tornar realidade o conceito de ECR, com todos os envolvidos trabalhando juntos
através principalmente das redes de comunicações formadas pelo EDI (Silva et al., 2009). De acordo
com pesquisa de Tacla (2003) não existe na literatura documento em abundância que ratifique o
surgimento da fase da “logística colaborativa”, mas é possível encontrar material denominando-a
como a “nova onda”. Iniciativas e trabalhos recentes apresentados em diversos congressos de renome,
como a conferência do POMS - Production and Operations Management Society, do ano de 2008 já
apresentam essa abordagem como um passo adiante na evolução do conceito de SCM. A iniciativa
mais forte a conceituar a Logística Colaborativa chama-se “CPFR” (Collaborative Planning, Forecasting
and Replenishment) e pode ser vista como uma tentativa que almeja aumentar o fluxo de caixa e
melhorar a performance dos retornos sobre os investimentos, além de melhorar a gestão do fluxo dos
bens desde os produtores até os consumidores finais.

Similar ao CPFR, o Transporte Colaborativo envolve informações e fluxos de processos de fornecedores


e compradores que colaboram juntamente com transportadores ou 3PL’s para prover efetiva e
eficiente entrega do carregamento. Conceitualmente as empresas podem ingressar no sistema de
Transporte Colaborativo com ou sem o emprego do CPFR. Os processos de negócios mais geralmente
associados com a colaboração da cadeia de suprimentos são aqueles envolvidos em CPFR. Entretanto,
o Transporte Colaborativo tem sido referenciado como o “elo perdido” da execução da cadeia de
suprimentos colaborativa. Sem a habilidade de desenvolver previsões efetivas de carregamento, as
previsões de ordens que foram desenvolvidas pelo CPFR poderiam ser atendidas sem acuracidade; no

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

entanto, o Transporte Colaborativo provê o próximo passo crítico após a geração de ordens via o CPFR
(Sutherland, 2003). Ver Silva et al. (2009) para maiores informações sobre como implementar o CTM.

Apesar da temática sobre transporte colaborativo ser relativamente nova, alguns trabalhos
preliminares já a propuseram de maneira mais teórica (Gomber et al. (1997), Schönberger (2005),
Bloos e Kopfer (2009)) e outros, de maneira mais aplicada, utilizando-se da programação matemática
e simulação (Carnieri et al. (1983), Tacla (2003), Giesen et al. (2007), Novaes et al. (2009) e Silva et al.
(2010-a, 2010-b, 2011-a, 2011-b, 2011-c).

3. MECANISMO PARA REALIZAÇÃO DO TRANSPORTE MARÍTIMO NO CASO DA EXPORTAÇÃO DE


PRODUTOS MANUFATURADOS

Conforme apresentado por Silva et al. (2011-b), seguindo-se o fluxo em azul na Figura 1 a negociação
se inicia através da indústria de manufatura (1) a qual pode atuar isoladamente sendo responsável por
todos os arranjos através da cadeia de distribuição. Nesta situação a indústria manufatureira contrata
o transportador terrestre (4) para transferir os produtos manufaturados da indústria ao porto. Há
também a possibilidade ou, em muitos casos, a necessidade de primeiramente transferir os produtos
manufaturados a um armazém (3) para manter um estoque que pode ser útil para resolver problemas
de entregas rápidas ou para reter a carga até o momento em que todas as burocracias para exportar
estão resolvidas. A indústria também é responsável por escolher o porto de origem a ser utilizado e
ao mesmo tempo ela deve negociar com os armadores (7) o preço do frete marítimo.

Os fretes podem ser cotados como básicos, neste caso, comportando adicionais como taxas e
sobretaxas. Neste estágio é comum contratar um NVOCC (6). Este agente é responsável por gerenciar
a demanda de diversas indústrias por transporte marítimo de modo a negociar diretamente com os
armadores o preço do frete e a disponibilidade de navios aos destinos dos produtos manufaturados
das indústrias. No lado do destino há outra necessidade por parte das indústrias manufatureiras em
relação à definição do porto de destino (8) a ser utilizado, que deve ser o mais apropriado de modo a
entregar os produtos aos clientes (11).

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

Figura 1: Etapas do mecanismo de exportação

Fonte: Silva et al. (2011-a).

Dando seqüência no fluxo de exportação, para efetuar as entregas as indústrias manufatureiras devem
também contratar transportadores terrestres (10) para transportar seus produtos a armazéns
intermediários (9) ou aos destinos finais no país destino. O fluxo em vermelho na Figura 1 é quase o
mesmo que o fluxo azul exceto pelo fato que há a presença do freight forwarder (2). Neste caso a
indústria manufatureira contrata este agente para ser o responsável por contratar e controlar todos
os estágios da cadeia de distribuição. Esta é normalmente uma prática adotada por pequenas e médias
indústrias que não possuem expertise em tal processo e portanto, o freight forwarder, quem gerencia
a demanda de diversas indústrias por transporte marítimo, pode ser ágil na negociação.

4. MODELAGEM DO PROBLEMA DE TRANSPORTE COLABORATIVO

Dentre as metodologias de experimento, a modelagem foi escolhida para este trabalho e a técnica
computacional adotada foi a simulação. Posto isso, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre
o método de simulação Agent based Modeling and Simulation (ABMS), analisadas suas principais
características e aplicações bem como iniciado o processo de modelagem do problema de estudo.
Posteriormente, em discussão com especialistas e pesquisadores, foi levantada a hipótese de utilizar
o método de simulação System Dynamics (SD) para a modelagem do problema de transporte
colaborativo e novo levantamento bibliográfico foi realizado, bem como analisadas as possíveis
aplicações e limitações do mesmo.

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

Assim, baseando-se em resultados preliminares já realizados com ambos os métodos por Silva et al.
(2010 -a, 2010 -b; 2011 -a; 2011 -b), optou-se pela continuidade da modelagem do problema de
transporte colaborativo deste artigo através do método SD. A opção por este método em detrimento
ao método ABMS, foi conseqüência de dois fatores principais. O primeiro deles foi o fato do problema
em estudo ser marcado pela complexidade dinâmica onde as ações de alguns agentes provocam
reações em outros agentes. O segundo fator foi da necessidade de simular quantitativamente as
políticas propostas para que pudesse ser avaliado o seu impacto nas metas dos agentes envolvidos.

O surgimento do SD deu-se em função de lidar com problemas caracterizados pela complexidade


dinâmica, isto é, sistemas onde as ações de um determinado agente geram reações em outros agentes,
também chamado de feedbacks (Sanches, 2009). Conceitualmente, o conceito de feedback é o cerne
da abordagem do System Dynamics. Intuitivamente, um loop de feedback existe quando uma
informação resultante de alguma ação percorre o sistema e eventualmente retorna de alguma
maneira a seu ponto de origem, potencialmente influenciando uma ação futura. Se a tendência do
loop é reforçar a ação inicial, é chamado de positivo ou de reforço; se a tendência é opor-se à ação
inicial, é chamado de negativo ou de balanço. O sinal do loop é chamado de polaridade (Sterman,
2000).

Na continuidade deste trabalho, durante os anos de 2010 e de 2011 foram realizadas entrevistas
empresários brasileiros, de diversos ramos (Weg, Votorantim, Stanley Black & Decker, Tigre, Tupy,
Brasmar, Log-In, dentre outras), cujo objetivo principal desse contato foi obter informações sobre o
mecanismo de exportação praticado no mercado, verificar quais os principais agentes envolvidos
neste processo e, especular se já há indícios de colaboração na realização do transporte marítimo e
como os empresários brasileiros avaliam a possibilidade de adoção do CTM em suas operações. Além
disso, buscou-se compreender melhor as práticas adotadas no mercado, para então modelar-se o
problema de estudo, semelhante às práticas reais adotadas.

4.1COMPORTAMENTO DAS INDÚSTRIAS

O porto de partida da modelagem se deu utilizando-se do software Vensim® da empresa Ventana

Systems, Inc. (versão DSS), ao se modelar através de um diagrama de estoque-fluxo, o comportamento


das indústrias. O número acumulado de indústrias na colaboração ( Ind ) é expresso pelo número inicial
de indústrias (Ind(t0)) somado à integração da taxa de variação de indústrias ( I ) no tempo, conforme
a equação (1):

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

A variável I é expressa pelo número de ingresso de novas indústrias (ini) e o número de desistência de
indústrias (di) no tempo t, conforme a equação (2):

A variável ini varia de acordo com a razão de lucro (ral) obtida num determinado tempo t. Por ral
entende-se a relação entre o preço de frete colaborativo ( Pref ) obtido e valor de frete mínimo
praticado no mercado ao negociá-lo individualmente:

Assim, tem-se que:

ou seja, se a razão de lucro for superior a 1, o preço de frete da colaboração é superior ao preço de
frete individual a ser obtido pela indústria e, portanto não é viável o ingresso da uma nova indústria
na colaboração.

O número esperado de di varia também em função da ral: se ral ≤ 0.58então di ≥ 0 senão,

Ou seja, à medida que ral aumenta torna-se inviável às indústrias manterem-se na colaboração.

Seguindo o princípio de que os preços praticados não crescem infinitamente, para Ind >100 , Pref =55,
e em caso contrário será alterado conforme a equação (6):

4.2 COMPORTAMENTO DOS NAVIOS

O número de navios (Nav) é expresso pelo número inicial de navios (Nav(t0)) somado à integração da
taxa de variação de navios ( J ) no tempo, conforme a equação (7):

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

A variável J é expressa pelo número de ingresso de novos navios (inn) e o número de desistência de
navios (dn) no tempo t, conforme a equação (8):

A variável inn varia de acordo com Pref . Desse modo se Pref < 30 (valor adotado aleatoriamente),
então inn = 0 , ou seja, nenhum navio tem interesse em ingressar no sistema; porém quando Pref ≥30,
o número de ingresso de navios no sistema ocorrerá de acordo com a equação (9):

O valor esperado de dn será nulo quando Pref>80 e irá aumentar à medida que Pref é reduzido, pois
ao armador (representando a oferta) torna-se cada vez menos atrativa a permanência no mercado à
medida que o preço é reduzido, influenciando a desistência, ou retirada de navios disponíveis no
mercado, no intuito de reduzir a oferta e aumentar o preço de frete novamente. Assim, o valor
esperado de dn é dado por:

Por fim, a curva de oferta define-se a partir do preço de frete, que é resultante do número de navios
ofertados no mercado. Sendo assim, para Nav <1, Pref =50 e em caso contrário:

4.3 COLABORAÇÃO DAS INDÚSTRIAS E DISPONIBILIDADE DE NAVIOS EM FUNÇÃO DO PREÇO DE


FRETE MARÍTIMO

Dando continuidade na proposta de Silva et al. (2011-b), que considera isoladamente o


comportamento das indústrias e o comportamento da disponibilidade de navios, foi modelado um
digrama de estoque-fluxo que permite analisar simultaneamente o comportamento do sistema de
oferta-demanda de navios afetando a colaboração entre as indústrias manufatureiras. Como uma
variável do tipo estoque é alterada apenas pelos fluxos de entrada e de saída (Sterman, 2000),
consideraram-se como fluxos de entrada, a taxa de demanda (tdem) e a taxa de interesse de oferta

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

(tof), representando a demanda e oferta, respectivamente. A tdem expressa o número de indústrias


(Ind) existentes num dado período, porém este valor é convertido em número de navios (Nav), a fim
de tratar de uma mesma unidade na análise. Dessa forma, tdem =Ind 3,33e tof =Nav . Ver Figura 2.
Neste diagrama proposto a variável dn assume os seguintes valores, conforme a equação (12):

Esta relação indica que se a taxa de oferta for maior ou igual à taxa de demanda num dado período de
tempo t, 2 unidades de navios deixarão o sistema, no intuito de tentar reduzir o preço de frete. Em
caso contrário, quando a taxa de demanda for superior à taxa de oferta, apenas 1 navio deixa o sistema
(pois considerou-se que sempre pode haver algum desistente devido a outros interesses, mesmo até
quando o negócio é viável).
Além destas considerações, Pref é expressa pelo valor inicial do preço de frete (Pref(t0)) somado à
integração da taxa de variação do valor do frete (M ) no tempo, conforme a equação (13):

onde, a variável M é regulada por tof e tdem, conforme a equação (14):

Deste modo, se a oferta for superior à demanda num determinado tempo t, o preço de frete sofrerá
uma redução em seu valor, em caso contrário, o preço de frete sofrerá um aumento, no intuito de
equilibrar o mercado, buscando-se a condição onde tof = tdem.

9
18
Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

Figura 2: Diagrama de estoque-fluxo das indústrias e navios


Fonte: do autor.

4.4 CAPACIDADE DO HINTERLAND

De acordo com Novaes et al. (2012) as áreas portuárias ocasionalmente sofrem com diversos
problemas críticos que contribuem para os altos custos logísticos, sendo que um desses problemas é
a falta de capacidade portuária. Assim, considerando que as operações de transporte marítimo
envolvem também a necessidade de uma área (pátio) disponível no porto para recebimento e
armazenamento de contêineres, conhecida como hinterland, buscou-se incluir tal variável no modelo.
Sendo assim, Capacidade hinterland, foi modelada como sendo uma variável do tipo estoque,
identificada por CapHin :
Assim, CapHin é expressa pelo valor inicial da capacidade do hinterland (CapHin(t0 ) ) somada à
integração da taxa amp no tempo, conforme a equação (15):

Onde a variável amp (ampliação de área) é expressa, num primeiro momento como:

Na concepção de Manne (1961, 1967) a expansão da capacidade consiste do processo de adição de


instalações no decorrer do tempo de modo a satisfazer a demanda crescente, sendo que as decisões

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19
Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

sobre expansão da capacidade geralmente resultam em um “forte” investimento de capital. Assim,


calcula-se o VPL - Valor Presente Líquido dos investimentos, segundo equação dada por Casarotto e
Kopittke (2010). De acordo com Novaes et al. (2012), uma característica importante da maioria dos
problemas de capacidade é o reconhecimento de economias de escala; ou seja, grandes instalações
geralmente custam menos por unidade produzida do que as pequenas instalações. Neste sentido o
termo “curva de aprendizagem” (Couto e Teixeira, 2005) é utilizada, conforme a expressão
matemática:

Onde I1 é o valor do custo de construção da primeira unidade, Im é o valor do investimento na m-ésima


unidade, e θ é a elasticidade do custo de construção em relação ao número de unidades construídas
em sequência.

4.5 INCENTIVO À EXPORTAÇÃO

No Brasil o comércio exterior tem sido pouco utilizado como fator pró-ativo da estratégia do
desenvolvimento e, sendo assim, decidiu-se incluir no modelo proposto, uma variável auxiliar que
represente o incentivo ao aumento das exportações, denominada incentivo à exportação ( incexp ) a
fim de avaliar o impacto gerado pelas indústrias ingressantes no sistema de transporte colaborativo.
Desta maneira, a inserção da variável incexp se dá à variável ini ,expressa pela equação (4), que por
sua vez passa a ser definida como:

4.6 IMPACTO DA INDÚSTRIA MARÍTIMA

Ao se modelar o comportamento colaborativo das indústrias em relação ao transporte marítimo, não


se pode deixar de considerar o impacto que a indústria marítima pode gerar sobre tal sistema. O valor
da discrepância existente na frota marítima, discrep , pode ser interpretado como sendo a diferença
entre tdem e tof:

A variável discrep tem o papel de informar o valor do número de encomendas de navios ( encnav ) a
serem realizadas por período de tempo. Portanto:

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

A variável encnav é definida como sendo um fluxo de entrada alimentador da variável Cartec. Está, na
condição de variável do tipo estoque, representa a carteira de encomendas e construção existente;
ou seja, o número acumulado de navios que estão em construção a cada instante; que também é
influenciada pelo fluxo de saída de entrega de navios ( entnav ). A equação (21) define Cartec:

Sendo 0 Cartec(t ) , o valor inicial dessa carteira e Z , a taxa de variação (no tempo) dos navios em
construção. A variável Z é expressa pela diferença entre o número de encomendas de navios e o
número de entrega de navios no tempo t, conforme a equação (22):

Por se tratar a construção de navios, um trabalho moroso (tempo médio de construção, tmc), deve-se
considerar a existência de um atraso entre o momento da encomenda de um navio e o momento de
entrega do mesmo, e a variável entnav pode ser equacionada como:

Sendo que além de ser um fluxo de saída de Cartec, também é reconhecida como sendo um fluxo de
entrada da variável Nav , anteriormente definida no item 0. Esta, por sua vez, também é influenciada
pelo fluxo de saída de demolição de navios ( demnav ), o qual representa a taxa com que são demolidos
navios em cada período de tempo t . Para critério de simplificação do problema, são desconsiderados
os motivos pelos quais ocorrem as demolições e adota-se demnav =Nav*0.05 ; ou seja, a taxa de
demolição adotada é de 5% do valor dos navios existentes.
Posto isso, o novo valor de Nav, anteriormente expresso pela equação (7), é dado por:

Ou seja, o maior valor entre 0 e a diferença entre a entrega, o ingresso, a desistência e a demolição de
navios.

5. RESULTADOS

Para avaliar o comportamento do modelo proposto, construiu-se um estudo com dados empíricos. A
análise do problema em estudo prestou-se para demonstrar a funcionalidade do modelo e também
avaliá-lo em relação à sensibilidade de suas variáveis. Quanto aos resultados obtidos com a simulação

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

pode-se assumir que foram satisfatórios, pois permitiram gerar conclusões sobre o comportamento
do sistema de transporte colaborativo marítimo. As conclusões obtidas são as seguintes:
 À medida que o valor do preço de frete se eleva, eleva-se o número de ingresso de novas
indústrias no mercado, uma vez que os armadores desejam maximizar suas receitas, oriundas
do afretamento de navios e, portanto, poucos navios abandonam o sistema e quando a razão
entre a taxa de interesse de oferta e a taxa de demanda for maior ou igual a 1, a desistência de
navios passa a ser maior.
 O excesso de oferta de navios no mercado faz com que o preço de frete seja reduzido, uma vez
que as indústrias em colaboração têm maior poder na negociação do valor do mesmo.
 O preço de frete, portanto reduz-se até o ponto em que começam a faltar navios no mercado,
quando a razão entre a taxa de interesse de oferta e a taxa de demanda for menor que 1, e
então os armadores começam a aumentar novamente o valor do preço de frete, repetindo-se
o ciclo ao longo do tempo, até que se alcance o ponto de equilíbrio.
 A capacidade do hinterland precisa ser adequada à demanda existente e sempre é preciso uma
análise de viabilidade de investimento, no intuito de se determinar o melhor retorno financeiro
(melhor VPL); levando-se em conta o instante ( t ) a ser investido, bem como, as quantidades
de ampliações a serem realizadas de modo a obter ganhos com economia de escala.
 No decorrer de um estudo sobre transporte é preciso atentar para a possibilidade de
surgimento de outras variáveis exógenas, que na grande maioria das vezes desregulam o
sistema. No caso analisado a variável de incentivo à exportação, contribui para o ingresso de
novas indústrias, elevando bruscamente a taxa de demanda. Isso faz com que o gap entre a
taxa de demanda e a taxa de interesse de oferta se eleve, acarretando acréscimos no preço de
frete. Além disso, um incentivo à exportação ocasiona congestionamento na área do
hinterland, necessitando de nova ampliação da capacidade, que não havia sido considerada no
plano original.
 A indústria marítima busca reduzir a discrepância de frota ao suprir a demanda existente por
navios. Realizam-se encomendas de construção de navios e à medida que o tempo avança,
inicia-se a entrega dos mesmos. Como o tempo de construção de um navio adotado é de 16,7
meses, há um atraso entre o instante da encomenda e o instante da entrega. Os navios
entregues fazem parte do estoque de navios disponíveis e interferem diretamente na taxa de
interesse de oferta de navios. Quando a taxa de interesse de oferta é superior à taxa de
demanda, o preço de frete reduz-se e praticamente cessa a taxa de ingresso de novos navios.

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

A redução do preço de frete é condição ideal para que novas indústrias ingressem na
colaboração, elevando a taxa de demanda acima da taxa de interesse de oferta. Tal condição
atua na elevação do preço de frete e no ingresso de novos navios, além de acionar a indústria
marítima novamente, repetindo-se o ciclo.

6. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS OBTIDOS

Partindo da simplificação do problema em estudo, o modelo proposto (apesar de adotar relações


empíricas), permitiu a realização de diversas simulações e a compreensão do funcionamento dinâmico
do sistema de transporte colaborativo marítimo. Também foi possível compreender a importância
isolada de cada variável além dos impactos gerados no sistema após a alteração dessas variáveis, o
que se deu através de análises de sensibilidade. Após a realização do levantamento bibliográfico,
pesquisa de campo junto a empresários, modelagem do problema e análise dos resultados numéricos
do comportamento do sistema, identificou-se explicitamente e implicitamente benefícios oriundos do
sistema de transporte colaborativo marítimo: custos administrativos rateados, fretes marítimos
reduzidos, maior free-time de embarque, aumento no prazo para pagamento do frete, maior
influência sobre os transportadores, fluxos constantes de importação e exportação, maior oferta de
serviços por parte dos armadores e terminais, melhoria da área retroportuária, dentre outros.
Uma variedade de assuntos relacionados ao tema deste artigo não foi abordada no decorrer do
trabalho existindo, portanto, diversas oportunidades para a continuidade do mesmo: expandir o
modelo proposto ao incluir os demais agentes participantes na cadeia de exportação marítima,
conforme apresentado na Error! Reference source not found., bem como aprimorar o detalhamento
do comportamento dos mesmos, repetir o estudo após obter maior disponibilidade de dados
quantitativos reais e calibração dos mesmos, efetuar o estudo em outros segmentos de indústrias no
Brasil a fim de compará-los, propor um indicador de colaboração, aperfeiçoar o estudo sobre SD de
modo a gerar melhores análises dos modelos de formação de colaboração. Com isso espera-se que
seja indicada a formação de redes colaborativas no intuito de melhorar a eficiência da logística e o
resultado econômico das empresas, como de fato propõe a abordagem de transporte colaborativo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e Capes, que financiaram este trabalho na forma de bolsa de estudo
e em projetos.

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23
Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

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Transporte Colaborativo Marítimo: Uma Análise Sob A Ótica Do Método System Dynamics Aplicada À Indústria Manufatureira

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25
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 2
10.37423/200902594

A RELEVÂNCIA DO MARKETING PESSOAL PARA


A INSERÇÃO DOS ACADÊMICOS DO CURSO DE
ADMINISTRAÇÃO DO POLO UAB NO MERCADO
DE TRABALHO

Luiz Gustavo de Matos Faculdade de Arapoti

Adriano Mesquita Soares Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Luiz Henrique Domingues Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Daniel Hernando Prieto Herrera Universidade Tecnológica Federal do Paraná

João Luiz Kovaleski Universidade Tecnológica Federal do Paraná


A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Resumo: O presente artigo tem como objetivo descrever a relevância do marketing pessoal para a
inserção no mercado de trabalho dos acadêmicos de administração do Polo Universidade aberta do
Brasil – Jaguariaíva/PR. A metodologia utilizada classifica-se como pesquisa básica, pois gera
conhecimentos sem aplicação prática prevista, de pesquisa qualitativa, pois analisa e apresenta os
dados mais estruturados. A pesquisa exploratória que envolve a pesquisa bibliográfica e estudo de
caso, onde houve a aplicação de um questionário formado por 15 questões fechadas que objetivou-
se para identificar a percepção sobre marketing pessoal dos 23 acadêmicos que os responderam. Que
constatou que há um nivelamento no conhecimento e na percepção do assunto, concluindo que é de
grande relevância para os acadêmicos o marketing pessoal para que eles alcancem seus objetivos e
melhorando sua posição no mercado de trabalho.

Palavras chave: Marketing Pessoal, Empregabilidade, Mercado de Trabalho.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

1. INTRODUÇÃO

Atualmente a busca por emprego segue com um alto padrão de competitividade, há um excesso de
profissionais no mercado de trabalho como: administradores, contadores etc, e não é mais suficiente
ser somente um bom profissional ou ter vários cursos, tem que haver um diferencial para se destacar
dos demais, e o marketing pessoal vem como uma ferramenta indispensável para desenvolver e
melhorar habilidades e competências a fim de trazer benefícios para a carreira profissional. E muitos
desses profissionais buscam uma forma de crescimento profissional e pessoal e acabam utilizando o
marketing pessoal como uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento de sua carreira, visando a
melhora da posição dentro da empresa que trabalha ou na inserção no mercado de trabalho.

Para Hara et al (2006) o marketing pessoal é uma ferramenta de valorização do ser humano em todos
os seus atributos e características. Podemos defini-lo como um conjunto de ações estratégicas que
conduzem à trajetória pessoal e profissional para o sucesso por meio de qualidades inatas ou
adquiridas que aperfeiçoadas, promoverão comportamentos favoráveis à realização dos seus próprios
objetivos.

O estudo justifica-se principalmente para mostrar a relevância que tal ferramenta tem na vida dos
acadêmicos, que ela visa modificar a postura deles perante o mercado de trabalho, pois as empresas
não avaliam apenas a experiência profissional elas vem se preocupando cada vez mais com o perfil do
profissional cobrando aspectos fundamentais como ética, postura e outras habilidades.

O trabalho tem como objetivo avaliar a relevância do marketing pessoal para a inserção no mercado
de trabalho dos acadêmicos de administração do Polo Universidade Aberta do Brasil– Jaguariaíva/PR.
Com isto, pretende-se identificar o nível de conhecimento e a percepção dos acadêmicos sobre
marketing pessoal, quais as dificuldades que eles apresentam e pro fim sugerir ações para que possam
desenvolver o marketing pessoal com conhecimento do assunto.

O presente artigo foi elaborado através da pesquisa exploratória que envolve a pesquisa bibliográfica
que auxiliou na apresentação da parte conceitual, onde busca elucidar o que é marketing pessoal e
suas principais técnicas, onde houve a aplicação de um questionário formado por 15 questões que
objetivou-se para identificar a percepção sobre marketing pessoal dos 23 acadêmicos que os
responderam.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MARKETING PESSOAL

Marketing pessoal é uma ferramenta que o indivíduo usa para ir modificando seu comportamento de
forma coerente, visando sempre sua inserção ou melhorar sua posição no mercado de trabalho. E para
isso o indivíduo precisa desenvolver técnicas para poder divulgar sua imagem, competências e utilizar
os seus contatos para chegar onde almeja.

Segundo Ritossa (2009) devemos entender o marketing pessoal como um conjunto de ações
planejadas que facilitam a obtenção de sucesso pessoal e profissional, seja para conquistar uma nova
posição no mercado, ou para manter à posição atual.

O marketing pessoal, por sua vez, surge como uma ferramenta para alcançar o sucesso profissional
sem se descuidar dos detalhes. Em qualquer local de trabalho têm pessoas que se destacam, alcançam
postos importantes nas empresas e a carreira é pontilhada pelo sucesso. Estas pessoas fazem
marketing pessoal, considerado um fator altamente positivo para o profissional e sua carreira. Cuidar
bem da imagem é garantir e ampliar as oportunidades de crescimento profissional, uma vez que é
fundamental ter uma imagem de pessoa de valor, inteligente, simpática, ética e cooperativa.

Há um monte de histórias de sucesso por ai, pessoas que superaram obstáculos e venceram em suas
vidas pessoais e profissionais, e vem à mente que elas tiveram sorte, sorte de conhecer as pessoas
certas, de estarem nos lugares certos, de fazerem boas escolhas, mas nunca vem à mente que elas
tiveram persistência, determinação e foco de verem as oportunidades e as agarram. Segundo Batista
(2004, p. 38), “quando as pessoas se dedicam aos seus objetivos, ao trabalho ou a outras atividades
do seu dia a dia, é muito mais provável que as oportunidades surjam com mais facilidade, o que
possibilita que as pessoas possam aproveitá-las.”

O marketing pessoal vem para ajudar e incentivar as pessoas, e tem que ser atitudes sinceras e
transparentes, baseadas no seu melhor. A criação de um personagem são detectadas facilmente e só
minam o verdadeiro propósito do marketing pessoal. Para Moura e Lopes (2012) marketing pessoal
precisa ser feito na base da verdade, ética e valores do ambiente onde você quer atuar. Não adianta
você criar um personagem, visando conseguir um emprego, pois pode acontecer de descobrirem que
você não tem a capacidade que demostrou. Marketing pessoal define-se como várias ações e atitudes
que tem como objetivo descobrir o que cada profissional em de melhor para oferecer para o mercado
de trabalho.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Para se desenvolver com eficiência o marketing pessoal, o indivíduo tem que conhecer a si mesmo
muito bem, conhecer o mercado onde deseja entrar e com estas informações antecipar e desenvolver
ações que o levem a se adaptar e superar obstáculos futuramente. Para Marques (2013) marketing
pessoal valoriza o ser humano em todos os seus atributos e características, visa possibilitar a utilização
plena das suas capacidades e potencialidades.

As empresas valorizam muito as habilidades de cada indivíduo, ele tem que ter atitudes, postura que
se encaixe com perfil exigido pela empresa. Uma pessoa que exercita e desenvolve seu marketing
pessoal, pode elevar sua notoriedade. Mas é um trabalho que exige foco, disciplina e paciência, pois
o indivíduo não vai receber o retorno imediatamente este esforço. Para Marques (2013) Crescer e
aparecer nas empresas é ter o cuidado de ir modificando seu comportamento e sua forma de agir.

Para Kwazaqui e Kanaane (2004) marketing pessoal é uma demonstração na medida exata das
competências técnicas, comportamentais e culturais do indivíduo. Para isso o indivíduo precisa utilizar
e desenvolver técnicas para uma maior exposição, e a partir delas traduzir seus valores, competências
e habilidades e a sua capacidade interpessoal e intercultural.

O marketing pessoal vem para auxiliar o indivíduo no desenvolvimento de suas características, ele
busca meios de agregar conhecimentos e informações para se diferenciar na busca por um emprego.
O marketing pessoal se torna uma ferramenta eficiente, que tem por finalidade promover e
desenvolver atitudes que favoreçam o indivíduo no mercado de trabalho.

Para Carvalhal (2005) três são as áreas sujeitas à otimização consciente do indivíduo, conhecido como
“CHA” (Conhecimento, Habilidades e Atitudes). São elas: o conhecimento, o que e por que fazer; as
habilidades, como fazer; e por fim as atitudes, querer fazer mais e melhor. O conhecimento é o
conjunto de informações adquiridas e colocadas em prática quando o indivíduo precisa. As habilidades
é tudo que o indivíduo vivenciou, aperfeiçoo ao longo de sua vida, e ele utiliza quando precisa
desempenhar alguma tarefa. Atitudes são as formas do indivíduo agir, ele planeja e age desenvolvendo
ações a fim de atingir seus objetivos, isso é a iniciativa em alcançar tudo o que desejou.

Marketing pessoal serve para o indivíduo obter visibilidade, todo profissional quer ser reconhecido. E
o marketing pessoal mostra estratégias de autopromoção, imagem e construção da carreira
profissional.

O marketing pessoal, segundo Junqueira (2008, p.2), é caracterizado como sendo o ato de “divulgar
sua imagem diante das oportunidades para que outros possam integrá-lo em seus planos.”

4
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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Exercitamos o marketing pessoal para chamar atenção ou despertar interesse em outro indivíduo, a
fim de se divulgar buscando atingir objetivos pessoais ou profissionais. O marketing pessoal se
diferencia do marketing pelo simples fato dele foco no indivíduo, uma forma dele juntar ferramentas
e técnicas para se tornar mais atraente para o mercado de trabalho.

Para Ballback e Slater (1992, p. 21), “você, e apenas você, é responsável por fazer com que os outros,
no mercado de trabalho, saibam aquilo de que você é capaz.” Parte sempre do indivíduo a iniciativa
de se desenvolver, visando uma ampla divulgação de si mesmo. Mas a uma resistência ou a falta de
conhecimento do marketing pessoal por grandes partes dos profissionais. O marketing pessoal usado
corretamente poderá mudar sua vida, ele trará sucesso no meio de trabalho por suas atitudes, será
uma caminho longo com vários obstáculos, derrotas e vitórias, e com muita persistência o indivíduo
chegará aonde planejou.

O desenvolvimento do marketing pessoal vem de nossas escolhas, começa na pesquisa de se


autoconhecer e o mercado de trabalho, vem para auxiliar a superar limitações impostas no dia a dia,
identificar suas competências e debilidades e no aperfeiçoamento de habilidades. Nobrega (2002) fala
que devemos ter algumas premissas para desenvolver o marketing pessoal com equilíbrio, elas são:

 Desenvolver seus talentos, competências e habilidades com disciplina, dedicação e foco;

 Trabalhar a autoconfiança, acreditar em sua capacidade de realização;

 Manter o bom humor, a gentileza e a generosidade para todos os que você se relaciona;

 Cuidar do corpo e mente;

 Sonhar, criar, ser corajoso, ter objetivos e ser feliz.

Júlio (2002), ressalta quais os pontos a serem mais desenvolvidos no marketing pessoal: diagnóstico
do “conheça a ti mesmo”, de forma que reflita sobre suas fraquezas e potencialidades para o mercado
de trabalho; identificar e tipificar os possíveis empregadores; definir a remuneração que pretende
atingir; que setor aspira em trabalhar. Isso auxiliará nas minhas aspirações, tudo o que concentra na
descrição dos objetivos.

O desenvolvimento do marketing pessoal faz com que as pessoas te conheçam, auxilia-o para a
divulgação da sua imagem profissional. O indivíduo ao estar convicto das capacidades que tem, ele
conseguirá chegar onde almeja. Demonstrar confiança e segurança na hora de vender a si próprio é
exigido pra quem quer ascendência profissional. Bordin Filho (2002, p. 67) “condição fundamental

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31
A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

para o profissional se consagrar no futuro é acreditar no seu talento, no seu potencial e nas suas
qualidades.”

Para Hara et al (2006) o marketing pessoal é uma ferramenta de valorização do ser humano em todos
os seus atributos e características. Podemos defini-lo como um conjunto de ações estratégicas que
conduzem à trajetória pessoal e profissional para um feliz sucesso por meio de qualidades inatas ou
adquiridas do indivíduo que, aperfeiçoadas, promoverão comportamentos favoráveis à realização dos
seus próprios objetivos.

O marketing de sucesso começa pelo marketing pessoal, através dele o profissional deverá equacionar
suas dificuldades particulares para buscar o caminho mais adequado para se organizar, e só então se
dedicar ao planejamento estratégico.

A trajetória pessoal e profissional é um patrimônio individual que deve ser gerido com rigor e
competência. A cada dia o marketing pessoal ganha mais importância. A sua capacidade de auxiliar a
inserção de profissionais no mercado é, efetivamente, uma vantagem competitiva.

2.2 PLANEJAMENTO DE CARREIRA

O indivíduo ainda é muito displicente com o rumo que sua carreira tem que tomar, muitos não
planejam suas carreiras por um problema na sua atua realidade e do mercado de trabalho, muitos
escolhem suas carreiras pelo seu primeiro emprego, não que aquilo foi planejado mas foi imposto pela
realidade que vive. Kanter (1997) fala que gostando ou não, mais e mais pessoas verão suas carreiras
delineadas de acordo com a maneira como elas se desenvolvem e se colocam no mercado suas
habilidades e suas ideias e não pela sequência de empregos oferecidos por uma corporação.

Para Dutra (2000) fala que muitos indivíduos ainda resistem naturalmente em relação ao
planejamento de suas carreiras, devido não se conscientizarem que é de sua responsabilidade a
condução da mesma.

Muitos indivíduos vêm planejar uma carreira depois de se inserir em qualquer emprego, dai ele
consegue uma estabilidade financeira e condições de pensarem no seu futuro profissional. A partir
desta estabilidade eles começam a buscar novos horizontes, buscam uma melhor capacitação para
evoluir no seu trabalho ou inserir-se em outra profissão.

Para Tachizawa e Ferreira (2001, p. 197), “planejamento de carreira é um processo contínuo de


interação entre o empregado e a organização visando atender os objetivos e interesses de ambas as

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

partes. ” O indivíduo tem que definir objetivos para ingressar ou manter-se no mercado de trabalho,
e o planejamento de carreira vem com este intuito, ele estabelece metas e um caminho a ser seguido.

Há falta de objetivos trançados pelos profissionais é um dos grandes a serem melhorados, pois muitos
não estabelecem metas a serem atingidas. Para Batista (2004, p.33) “é preciso definir corretamente
onde você deseja chegar ou o que quer alcançar e em seguida elaborar um planejamento para levá-lo
a atingir seus objetivos. ”

O perfil profissional buscando por muitas empresas, é aquele profissional que faz acontecer, busca
novas soluções, gera novos negócios, buscar fazer a diferença para a empresa. Aquele que investe na
sua carreira com cursos, busca sempre estar se aperfeiçoando naquilo de desempenha, vende bem
sua imagem pessoal e a imagem da empresa.

Para Carvalhal (2005), o profissional atual é imprescindível, ter novas habilidades, ser versátil, ter uma
enorme capacidade de relacionar-se com as pessoas e tem liderança. O profissional tem que saber se
adaptar conforme o que lhe exigido, ele tem que desempenha um papel de liderança, sabendo se
relacionar bem com seus chefes, colegas e subordinados, desenvolvendo sempre suas habilidades
buscando sempre agregar conhecimento para a empresa.

Segundo Kwazaqui e Kanaane (2004) o verdadeiro profissional é aquele que tem qualificações
conseguidas pelo esforço pessoal e pelas forças do meio em que vive. É aquele profissional que buscar
uma grande interação com o seu meio, desenvolve suas atividades visando sempre a satisfazer a
empresa e a si mesmo.

O profissional atual tem que entender que ele tem que se adaptar as novas exigências do mercado de
trabalho, investindo cada vez mais na sua carreira. O mercado de trabalho está muito acirrado, há
muitas vagas sobrando. O mercado está exigindo qualificação básica a fim de suprir suas necessidades.
O profissional tem que entender que precisa para se adaptar, estudar visando sempre crescer
profissionalmente.

É imprescindível que o profissional tenha a mente aberta para as mudanças, pois as empresas
precisam estar em constates mudanças para se adaptarem ao mercado, se elas não fazerem isso serão
substituídas facilmente por outra que conseguiu evoluir mais.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

2.3 EMPREGABILIDADE

Segundo Petrucci et al (2011, p. 11), “a empregabilidade é uma recente nomenclatura dada à


capacidade de adequação do profissional às novas necessidades e dinâmica do novo mercado.” O
estudo de Empregabilidade é recente, o termo veio para esclarecer quais as exigências que o mercado
de trabalho impõe para os candidatos há uma vaga. Ter empregabilidade conseguir se estabelecer no
mercado de trabalho independentemente do momento que ele está.

Chiavenato (1999) a empregabilidade é o conjunto de competências e habilidades necessárias para


um indivíduo manter-se em uma empresa. Significa a capacidade de conquistar e de manter um
emprego de maneira firme e valiosa. É a capacidade com que o indivíduo tem de se adaptar as
mudanças da organização, é a flexibilidade que ele tem em lidar com novos processos e atribuições
lhe impostas.

Para Mariotti (1999, p. 173) “a empregabilidade pode ser definida como um conjunto de atributos que
fazem com que os serviços de um indivíduo sejam requisitados esteja ele empregado, desempregado,
ou mesmo sendo empregador, profissional autônomo. ” São atributos que o indivíduo tem que através
deles consegue se inserir-se ou se manter num determinado trabalho. São as formas que ele se torna
atraente para o mercado de trabalho, são as habilidades que demonstra.

Para Malschitzky (2004) cabe a cada indivíduo desenvolver suas habilidades e adquirir cada vez mais
conhecimentos que lhe agregue vantagem competitiva, para obter um diferencial que atraia as
oportunidades de trabalho. O indivíduo tem que buscar constantemente vantagens diante de seus
concorrentes, e o desenvolvimento de habilidades vem como uma grande vantagem perante os
demais.

E deste desenvolvimento o indivíduo tem que incluir a capacidade de ser flexível e inovador, pois o
emprego está cada vez mais se tornando temporários e passageiros. E estas capacidades vão fazer
com que o indivíduo se adapte mais rápido as mudanças. Chiavenato (1999) elenca quais são as bases
da empregabilidade que as empresas requerem de seus profissionais:

 Agregar valor e contribuir para a empresa: a pessoa deve ser valiosa e relevante para a empresa,
a contribuição pessoal é o que determina para o sucesso da empresa.

 Ser responsável: é a pessoa assumir compromisso com a empresa e responder por eles.

 Ter iniciativa pessoal e senso de empreendedor: é a pessoa estar orientado para a ação, para
fazer acontecer e se possível de acordo com as expectativas da empresa.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Estas são bases para que o indivíduo tem que ter para a empresa ver ele como um excelente
profissional que participa ativamente para a busca e desenvolvimento de melhorias da mesma. Assim
a empresa vê o verdadeiro valor que o indivíduo tem a ela, e ele o quanto a empresa o valoriza no
quadro de pessoal. Empregabilidade é a condição de adaptabilidade do indivíduo com as constantes
mudanças no mercado de trabalho, ele continua apto a exercer determinada função.

2.4 MERCADO DE TRABALHO

De acordo com Chiavenato (1999), mercado de trabalho é composto pelas ofertas de oportunidades
de trabalho oferecidas pelas diversas organizações. Toda organização que oferece oportunidades de
trabalho constitui parte integrante de um mercado de trabalho.

Conhecer o mercado de trabalho que está inserido ou que se pretende ingressar, é muito importante.
Para Macedo (1998). Este conhecimento é importante também para os que já trabalham enquanto
estudam e para as pessoas que já saíram da faculdade, estão trabalhando e querem ter uma noção de
como o mercado de trabalho se encontra e de como vem evoluindo ao longo do tempo. O mercado
de trabalho está em uma fase desfavorável, existe uma convergência, entre abundância de dispõem
de vagas e a escassez de oportunidades para estar a procura.

Para Marques (2013) o mercado de trabalho não absorve os profissionais apenas por serem eficientes,
bons trabalhadores, possuírem capital acadêmico ou experiência prática, não que isso não seja
imprescindível para se posicionar no mercado de trabalho.

Há uma discriminação que envolve o mercado de trabalho em geral, há o julgamento do meio que o
indivíduo está inserido e deixam em segundo plano a avaliação da competência e de suas habilidades.
Ehrenberg e Smith (2000) afirmam que existe atualmente discriminação no mercado de trabalho, se
trabalhadores com idênticas características produtivas são tratados diferentemente devido aos grupos
demográficos a que pertencem.

O mercado de trabalho está muito exigente, sobressaem aqueles que se destacam no meio dos
demais. Ele exigi muito que o indivíduo seja flexível, que tenha um grande grau de adaptabilidade
devido as constantes mudanças no cenário mundial. Para Batista (2004, p.11) “as empresas não são
eternas e nem os seus empregos. Não se engane, não existem mais quaisquer garantias de emprego
por parte das empresas. ”

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa se apresenta como básica, que segundo Prodanov e Freitas (2013) objetiva gerar
conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades
e interesses universais. Portanto, este trabalho buscou gerar conhecimentos sobre a realidade
perceptiva do Marketing Pessoal dos alunos do curso de Administração Pública do Polo UAB
Jaguariaíva/PR, com a finalidade de gerar informações quanto ao desenvolvimento pelos mesmos.

Do ponto de vista de abordagem do problema, esta pesquisa é classificada como qualitativa, para
Prodanov e Freitas (2013) considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto
é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas.

Quanto aos objetivos, esta pesquisa classifica-se como exploratória, que segundo Prodanov e Freitas
(2013) que tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar,
possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa;
orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses. Uma vez que serão verificadas a relação
entre duas variáveis o conhecimento e percepção dos acadêmicos sobre marketing pessoal e o
desenvolvimento do mesmo para auxiliá-los na inserção no mercado de trabalho.

Já em relação aos procedimentos técnicos, esta pesquisa classifica-se como levantamento (survey),
que segundo Prodanov e Freitas (2013) esse tipo de pesquisa ocorre quando envolve a interrogação
direta das pessoas cujo comportamento desejamos conhecer através de algum tipo de questionário.
Em geral, procedemos à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do
problema estudado para, em seguida, obtermos as conclusões correspondentes aos dados coletados.

Quanto à coleta de dados, para Prodanov e Freitas (2013) de modo geral as pesquisas sociais
abrangem um universo de elementos tão grande que se torna impossível considerá-lo em sua
totalidade. Por essa razão, nas pesquisas sociais, é muito frequente trabalhar com uma amostra, ou
seja, com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo. Quando um pesquisador
seleciona uma pequena parte de uma população, espera que ela seja representativa dessa população
que pretende estudar. E população é a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas
características definidas para um determinado estudo.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Desta forma não são pesquisados todos os integrantes da população estudada. Antes selecionamos,
mediante procedimentos estatísticos, uma amostra significativa de todo o universo, que é tomada
como objeto de investigação. As conclusões obtidas a partir dessa amostra são projetadas para a
totalidade do universo. Neste trabalho foi estudado a população de estudantes do curso de
administração pública e utilizou-se a uma amostra de 23 estudantes do Polo UAB-Jaguariaíva/PR para
sua realização.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Segundo a Associação Brasileira de Estágios – ABRES há 7 milhões de estudantes matriculados no


ensino superior no Brasil sendo que 54% são mulheres, 8% a mais do que homens. Sendo que 12% das
mulheres adultas brasileiras têm diploma contra 10% dos homens, mais em relação a exercer a
profissão 91% dos homens conseguem exercer na sua área de formação contra 81% das mulheres.

Tabela 1 – Gênero dos Pesquisados

Fonte: Os autores (2015)

Verificamos que o gênero feminino é predominante entre os pesquisados, está 14% acima da média
masculina, e isso leva a concluir o quanto as mulheres têm optado por realizar o curso de
Administração. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, as proporções
entre homens e mulheres vêm diminuindo paulatinamente, atualmente existem 95,9 homens para
cada 100 mulheres, são 3,9 milhões de mulheres a mais que homens. Em 2000, para cada 100
mulheres, havia 96,9 homens.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Tabela 2 – Faixa Etária

Fonte: Os autores (2015)

Nesta tabela 2 percebe-se que é relativamente normal a faixa etária entre 18 e 20 anos iniciarem ou
estarem realizando atividades acadêmicas, e que consequentemente são as faixas que pareceram
nulas no estudo, porém, um contraste interessante são os acadêmicos com idade a partir de 25 anos,
inclusive com mais de 30 anos o que mostra que não há idade para se iniciar a faculdade, apesar de
ser um número relativamente baixo, algum motivo em especial levou estas pessoas a procurarem por
Administração, como o trabalho, a vontade de estudar ou de se tornar empreendedor.

Gráfico 1 – Marketing Pessoal

Fonte: Os autores (2015)

O gráfico 1 foi organizado em bloco colocando em conjunto todas as perguntas relacionadas a


marketing pessoal. Onde a pergunta um, mostra que 61% dos entrevistados concordam que o

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

marketing pessoal facilita para a obtenção do sucesso pessoal e profissional, pois ele vem para ajudar
e incentivar as pessoas a tomarem atitudes e desenvolver ações com objetivo de descobrir o melhor
que está em si. Na pergunta dois, 65% concordam que o marketing pessoal serve para que o indivíduo
obtenha visibilidade, pois ele mostra estratégias de autopromoção, imagem e construção da carreira,
ajudando assim a despertar o interesse em outros indivíduos e empresas. Na pergunta três, 70% dos
entrevistados concordam que é o próprio indivíduo que demostra o que é capaz de fazer para o
mercado de trabalho, pois parte dele apresentar suas competências e habilidades visando ampliar a
própria divulgação. Na pergunta quatro notou-se que 57% dos entrevistados discordaram que a
maioria dos profissionais tem relutância e receio de aprender a utilizar o marketing pessoal, pois eles
compreendem que o desenvolvimento dele varia de pessoa a pessoa, que umas vão ter mais vontade
de utilizar esta ferramenta para melhorar pontos que precisam, assim alcançando mais visibilidade
com que o outro indivíduo que mostro relutância em utilizá-la. Na pergunta cinco apontou que 70%
dos concordam se o indivíduo estiver convicto da capacidade que tem, ele conseguirá alcançar os
objetivos que planejou. Pois o marketing pessoal é uma ferramenta que valoriza o ser humano em
todos os atributos características, pois através dele que ele deverá equacionar suas dificuldades para
buscar um caminho adequado para promover-se.

Gráfico 2 – Planejamento De Carreira

Fonte: Os autores (2015)

No gráfico 2 pode-se notar que 61% dos entrevistados concordam que planejam suas carreiras depois
de inserir-se no mercado de trabalho, muitos indivíduos resistem naturalmente ao planejamento de
suas carreiras, depois de sua inserção que eles adquirem uma estabilidade financeira, dai que

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

começam a planejar qual a futura profissão que deseja atuar. Na maioria das vezes o indivíduo troca
de profissão anos depois, por ter condições de pagar ou realizar cursos profissionalizantes e de
graduação, e de nada adianta também o indivíduo se esforçar para obter novos conhecimentos se não
puderem utilizá-los efetivamente. No planejamento da carreira há aspectos importantes que
direcionam e facilitam as possibilidades do indivíduo de desenvolver- se profissionalmente, visando
alcançar os próprios objetivos através das atividades desenvolvidas no decorrer da vida pessoal e
profissional.

Gráfico 3 – Empregabilidade

Fonte: Os autores (2015)

Percebe-se no gráfico 3 que 83% dos entrevistados concordam que a empregabilidade é o indivíduo
se estabelecer no mercado independentemente do momento, pois é a capacidade do mesmo de
garantir sua inserção no mercado, mostrando através de suas habilidades a constante adaptação as
mudanças. Pois cada vez mais as empresas aumentam suas exigências, e para aumentar a
empregabilidade o indivíduo tem que se responsabilizar e preocupar com o desenvolvimento para
uma mudança pessoal e profissional. Pois ele tem que estar apto do ponto de vista técnico, gerencial
e intelectual agregando todo este conhecimento para sua vantagem competitiva.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

Gráfico 4 – Mercado de Trabalho

Fonte: Os autores (2015)

No gráfico 4 pode-se observa-se que 65% dos entrevistados concordam que é importante conhecer o
mercado de trabalho, pois este conhecimento é de extrema relevância para que tenha uma noção de
como o mesmo está e como evoluirá ao longo do tempo. Com isto, ele também, pode escolher e
selecionar as empresas que oferecem as melhores oportunidades e maiores salários, pois o mercado
de trabalho oferece espaço para todos, mas é importante que o indivíduo tenha um comportamento
que possibilite ele a perceber a melhor forma de obtê-los sem se autossabotar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo avaliar a relevância do marketing pessoal para a inserção no mercado
de trabalho dos acadêmicos de administração pública do Polo Universidade Aberta do Brasil campus
Jaguariaíva. Pode-se afirmar que os objetivos propostos foram atingidos, além disso, pode-se conhecer
mais sobre a Instituição em estudo e acadêmicos.

Com a pesquisa constatou-se que mais da metade dos acadêmicos são do gênero feminino, que a
maioria dos estudantes tem entre 21 e 30 anos. Ainda constatou um dado positivo, que há um
nivelamento do conhecimento e percepção do assunto em questão, onde os acadêmicos consideram
de grande importância o desenvolvimento e prática do marketing pessoal, que influência diretamente
a vida pessoal e profissional do mesmo.

Conclui-se que o marketing pessoal é de grande relevância para que os acadêmicos alcances todos os
objetivos pré-estabelecidos para sua carreira, e observou que ainda trata-se de um patrimônio

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

individual a ser gerido com rigor e coerência perante as grandes mudanças ocorridas no mercado de
trabalho. E com a utilização desta ferramenta o indivíduo consegue um grande diferencial diante dos
demais.

Apesar das dificuldades encontradas a respeito do tema, por ser um conceito relativamente novo, não
há ainda muitos estudos relacionados com o mesmo. Mas não foi um ponto negativo, pois a cada
momento superava cada um dessas dificuldades à medida que o estudo foi acontecendo.

A realização deste trabalho pode verificar novos fatores a serem estudados futuramente como o
aprofundamento das técnicas utilizadas no marketing pessoal, a elaboração de plano de carreira
pessoal utilizando as técnicas de marketing pessoal e o desenvolvimento do marketing pessoal em
outros cursos da instituição.

Por fim, este estudo demonstrou quanto o marketing pessoal é importante para que o acadêmico
identificasse o nível de conhecimento e percepção diante do assunto, que é de extrema relevância
para que os mesmos construam carreiras promissoras, que mostrou a eles os principais conceitos e
técnicas para serem aplicadas na vida pessoal e profissional. Pois o marketing pessoal é uma
ferramenta que ajuda o indivíduo a construir uma imagem pessoal e profissional que melhor se
encaixe nos objetivos e que conquiste a tão almejada realização pessoal e profissional.

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A Relevância Do Marketing Pessoal Para A Inserção Dos Acadêmicos Do Curso De Administração Do Polo UAB No Mercado De
Trabalho

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Trabalho

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18
44
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 3
10.37423/200902658

RELAÇÃO DOS GASTOS PÚBLICOS COM


EDUCAÇÃO E OS ROYALTIES DE ITAIPU NOS
MUNICÍPIOS DO OESTE DO PARANÁ

Andressa Bender Universidade Paranaense - UNIPAR

Daiane Aparecida Fappi Universidade Paranaense - UNIPAR

Idair Edson Marcello Universidade Paranaense - UNIPAR


Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

Resumo: As contas públicas caracterizam-se pela contabilização das receitas bem como dos gastos
públicos. Por meio de uma correta e eficaz gestão dos recursos públicos cria-se condições para a
promoção e o desenvolvimento pessoal e socioeconômico, garantindo dessa forma o atendimento às
necessidades básicas dos indivíduos, entre elas o acesso à educação básica gratuita e de qualidade.
Desta forma, o presente artigo objetiva analisar as contas públicas e a qualidade da educação básica
nos municípios do Oeste do Paraná tendo como base o ano de 2013, por meio da aplicação da técnica
Análise Envoltória de Dados (DEA). A mesorregião escolhida para este estudo foi o Oeste do Paraná,
sendo possível realizar comparações entre os municípios da mesma por meio dos indicadores
encontrados, além de verificar se os municípios que recebem royalties de Itaipu apresentam-se mais
ou menos eficientes em Educação Básica. Conforme resultados encontrados, apenas quatro dos
cinquenta municípios que compõem esta mesorregião apresentam eficiência máxima em Educação
Básica, sendo eles o município de Foz do Iguaçu, Medianeira, Cascavel e Serranópolis do Iguaçu. Ainda
com relação aos dezesseis municípios beneficiados com recursos advindos dos royalties de Itaipu,
apresentam eficiência máxima apenas os municípios de Foz do Iguaçu e Medianeira, não
representando o incremento de tais recursos vantagens significativas no indicador analisado nos
municípios beneficiados. De forma geral, todos os municípios que compõem a mesorregião apresenta
média e alta eficiência na aplicação de recursos em Educação Básica.

Palavras-chave: Eficiência; Educação Básica; DEA; Oeste do Paraná; Royalties.

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

INTRODUÇÃO

O Estado do Paraná é considerado um dos Estados mais desenvolvidos do Brasil, apesar de que seus
399 municípios possuem realidades socioeconômicas heterogêneas, apresentando-se em diferentes
fases de desenvolvimento. Alguns destes municípios possuem maior expressão econômica, com altos
índices em indicadores sociais, enquanto outra parte destes não possui grande expressão econômica
nem indicadores sociais satisfatórios. Esta heterogeneidade retrata as desigualdades na condição de
vida da população, representando a divergência na capacidade de geração de excedente econômico
pelos municípios.
Com vista na diminuição da desigualdade entre os municípios paranaenses, conforme Silva, et al (2005,
p.45) faz-se “necessária a aplicação de políticas públicas que ajam no sentido de retirar algumas
regiões da aparente armadilha da pobreza a que estão submetidas” de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado entre todas as regiões e os municípios paranaenses.
Conforme afirmam Martins e Luque (1999), os gastos do setor público devem ser utilizados para
solucionar problemas de ordem básica na sociedade, como investimentos nas áreas de saúde,
educação, segurança, entre outros.
Com relação ao investimentos em educação no Brasil, Arelaro (2004) dispõe sobre a importância de
levar-se em consideração critérios sobre as condições socioeconômicas como também valores
referentes à arrecadações tributárias realizadas pelos municípios, sendo que para a alocação de
recursos públicos destinados para a educação devem ser consideradas as políticas econômicas,
fiscais e tributárias de cada município, cabendo ao governo a decisão do montante de recursos a
serem aplicados em educação.
O presente artigo foi elaborado por meio de revisão literária e um estudo de caso, tendo como objetivo
realizar análise comparativa dos valores dos Gastos Públicos e a qualidade da Educação Básica entre
municípios da região Oeste do Paraná, evidenciando os resultados decorrentes de valores investidos
em educação entre os municípios que recebem e aqueles que não recebem royalties da Usina de
Itaipu.
Para a análise proposta foram utilizados dados variáveis do ano de 2013 publicados pelo IDEB (Índice
de Educação Básica) para alunos do 5º ano, sendo aplicada a Análise Envoltória dos Dados (DEA) para
a análise das variáveis.
Utilizando a DEA, é possível detectar valores referentes à eficiência como também ineficiência entre
os municípios alvos do estudo, de forma a permitir a melhora das variáveis dos municípios ineficientes,
espelhados nas políticas públicas de investimento na educação dos municípios com índices

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

eficientes, bem como a manutenção dos índices pelos municípios tidos como eficientes, além de
conseguir observar se os municípios beneficiados pelos royalties de Itaipu apresentam índices mais
eficientes daqueles municípios que não recebem tal benefício.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Sendo a educação direito subjetivo de cada pessoa, a Constituição Federal de 1988 estabelece que é
direito de todo cidadão o acesso ao ensino público gratuito, do ensino básico ao superior, cabendo
aos municípios o dever do bom uso dos valores dos recursos públicos repassados pelo Estado e pela
União na supervisão e manutenção de programas referentes à educação infantil e ensino fundamental,
como também para a garantia dos demais direitos básicos dos cidadãos.
No ano de 1996, por meio da Emenda Constitucional nº 14 foi criado o FUNDEF (Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), que regulamentou o
funcionamento da educação pública nacional no que se refere ao ensino fundamental. O FUNDEF teve
sua implementação em 1º de janeiro de 1998, data na qual teve início o sistema de redistribuição de
recursos públicos destinados ao ensino fundamental. Vigorou até o ano de 2006, sendo substituído
pelo FUNDEB, deixando resultados bem como ações positivas no tocante à políticas educacionais.
A alocação dos recursos do FUNDEB para cada unidade federativa é feita baseado no número de
matrículas dos alunos na educação básica em cada rede de ensino. Para os municípios, os recursos
deverão ser utilizados em investimentos na educação infantil bem como no ensino fundamental, já os
Estados deverão utilizar tais recursos com o ensino fundamental e médio (PINTO e ADRIÃO, 2006).
Acrescentam Brunet, Bertê e Borges (2008), que, para garantir a eficácia nos gastos públicos em
educação faz-se necessário que o aumento dos gastos apresente resultados proporcionais no que
concerne à qualidade dos resultados apresentados, os quais para sua concretização necessitam de
investimentos de longo prazo. Os gastos com educação devem proporcionar a eficiência e a igualdade
nos sistemas de ensino para que ocorra o processo de aprendizagem dos alunos.

2.1 EFICIÊNCIA

Eficiência é o resultado de ações realizadas que resultam no objetivo esperado. Conforme Ferreira
(2005), a eficiência dá-se por meio das condições de operacionalização de um conjunto, sendo
operacionalizada com a entrada dos recursos, de forma a maximizar as saídas dos mesmos, fazendo
uso dos recursos disponíveis. É função do gestor público zelar pelos recursos públicos bem como
aplicá-los eficientemente de forma a beneficiarem o maior número possível de indivíduos.

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

Como forma de medir a eficiência das instituições públicas compara-se o valor dos resultados das
ações por ela instituídas com o capital orçado para a realização de tal atividade. A avaliação da
eficiência dar-se-á por meio da aplicação dos recursos e o acompanhamento dos gestores públicos de
forma a garantir a eficácia no cumprimento das metas relativas à política social realizada pelo governo
(FRANÇA, 2002).

2.2 CONTAS PÚBLICAS

As contas públicas caracterizam-se pela contabilização das receitas bem como dos gastos públicos,
englobando desde receitas de arrecadação tributária até gastos internos nos mais variados setores,
incluindo o setor de educação. Tais contas, também representam o conjunto de dados e informações
de caráter econômico-financeiro das entidades públicas.
Os gastos públicos referem-se aos valores que são gastos pelos Estados e municípios para custeio das
atividades prestadas à população. O gasto público não implica somente no aumento dos serviços
prestados pelo governo. Conforme Prata (2003) os gastos públicos são o reflexo de investimentos do
governo em várias áreas básicas, como saúde, educação, saneamento básico, entre outras, sendo que
por meio da alocação de recursos para financiar as mesmas é que o governo demonstra a realização
de investimentos em setores prioritários para prestação de serviço e atendimento às necessidades da
população.
Uma eficaz e correta gestão pública é um dos meios de se alcançar o desenvolvimento local, pois por
meio da correta alocação de tais recursos, cria-se condições para a promoção do desenvolvimento
socioeconômico.

2.3 DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

Na concepção de Oliveira (2002), o desenvolvimento resulta do processo de mudanças de ordem


econômica, política, humana e social. O desenvolvimento representa o crescimento adquirido por
meio de resultados positivos na renda e nos produtos adquiridos pelos indivíduos, de forma capaz de
satisfazer as necessidades básicas e de lazer do ser humano.
A desigualdade vem como consequência da má gestão de recursos públicos, sendo que com a alocação
correta de recursos públicos são criadas condições para o desenvolvimento homogêneo e equilibrado
bem como o desenvolvimento socioeconômico da população, do município e do Estado.
A análise do desenvolvimento socioeconômico realizada por meio de indicadores colabora para que
os gestores públicos, na posse de informações da realidade municipal aloquem recursos e invistam de

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

forma correta a fim de melhorar tais indicadores e promover o desenvolvimento da população bem
como dos índices municipais.

3.METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa desenvolvida possui caráter experimental, conforme relata Gil (2008) “a pesquisa
experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes
de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no
objeto”.
A pesquisa ocorreu de forma quantitativa, que segundo Lakatos e Marconi (2009), possibilita mensurar
e relacionar variáveis. Por meio da descrição e análise de indicadores educacionais entre os
municípios, identificou-se aqueles que apresentam alto nível de eficiência bem como baixo nível de
eficiência no que se refere ao valor de recursos públicos investidos em educação, evidenciando os
resultados decorrentes de investimentos nessa área entre os municípios que recebem e aqueles que
não recebem royalties da Usina de Itaipu.
Através de revisão literária, com fontes bibliográficas e documentais e do estudo de caso, efetuou-se
coleta de dados referente ao ano de 2013 para os 50 municípios que compõem a mesorregião Oeste
paranaense, possuindo como base o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), e o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB), sendo aplicada a Análise Envoltória dos Dados (DEA) para a análise das
variáveis.

4.ÁREA DE ESTUDO

O Estado do Paraná é um dos 26 estados brasileiros. Encontra-se situado na Região Sul do país, fazendo
fronteira com os estados de Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do sul, bem como com os países
da Argentina e Paraguai. Possui seu litoral banhado pelas águas do Oceano Atlântico.
A economia do estado do Paraná é a 4º do país, com valor do PIB de 332.837.000,00 correspondente
a 6,26% do PIB nacional no ano de 2013. Possui área territorial de 199.880 km², possuindo 399
municípios divididos em 10 mesorregiões e 39 microrregiões, apresentando como capital a cidade de
Curitiba (IPARDES, 2015).
Conforme classificação feita com base na estrutura produtiva, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no ano de 1976, organizou os 399 municípios paranaenses em 10 (dez) mesorregiões.
Conforme Ipardes (2004, p.4) “as mesorregiões geográficas paranaenses são heterogêneas em termos

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

de composição municipal, populacional, grau de urbanização, dinâmica de crescimento, participação


na renda de economia do Estado e empregabilidade”, o que permite apontar desigualdades bem como
potencialidades inter-regionais.
Dentre as mesorregiões paranaenses, encontra-se a mesorregião Oeste, fonte de estudo deste artigo.
Conforme Ipardes (2003) esta mesorregião abrange uma área correspondente a 11,5% do território
do estado. É composta por 50 (cinquenta) municípios, agrupados em 3 (três) microrregiões,
consideradas núcleos urbanos norteadores da economia das suas microrregiões, são estas:
microrregião de Foz do Iguaçu, microrregião de Cascavel e microrregião de Toledo. A mesorregião
Oeste constitui-se como a terceira área em importância econômica do Estado, conforme Nascimento
e Schroeder (2009).
Os níveis de emprego formal têm se expandido em todos os municípios da mesorregião, sendo que a
mesma possui uma moderna base produtiva na agropecuária, gerando ganhos principalmente no
setor primário.
A mesorregião ainda conta com a Usina de Itaipu, Cataratas do Iguaçu e Parque Nacional do Iguaçu,
propiciando recursos advindos do setor turístico e hoteleiro, sendo que várias prefeituras municipais
contam com uma fonte de recursos extraordinária advinda da distribuição de royalties, principalmente
os resultantes da geração de energia de Itaipu (IPARDES,2004, p. 22 e 23).
Dentro da mesorregião Oeste bem como entre mesorregiões e municípios paranaenses, há grande
diferença no que se refere às questões econômicas e sociais, sendo que alguns municípios destacam-
se pela expressão econômica bem como apresentação de altos índices sociais, enquanto outros
municípios não apresentam resultados satisfatórios em nenhuma das esferas ou em apenas uma
delas. Por meio da análise do desenvolvimento econômico e social, verifica-se a heterogeneidade
entre os municípios paranaenses e as desigualdades na condição de vida da população e na capacidade
de geração de receitas destes.
Com vista na diminuição das desigualdades econômico-sociais apresentadas entre os municípios se
faz necessária a ação de políticas públicas a fim de contornar a situação e garantir o desenvolvimento
equilibrado, eliminando situações de pobreza em que se encontram alguns municípios, por meio de
investimentos em áreas que efetivamente contribuam para a reversão da situação desfavorável, com
vista a diminuir as disparidades socioeconômicas apresentadas entre os municípios, mesorregiões e
Estados brasileiros.

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

4.1 MICRORREGIÕES PARANAENSES E A INFLUÊNCIA DOS ROYALTIES DE ITAIPU

Conforme Nascimento e Schroeder (2009), a mesorregião Oeste paranaense possui três municípios
com maiores níveis de crescimento e desenvolvimento, tornando-os núcleos de influência dentro da
mesorregião Oeste, denominadas microrregiões, com polos localizados nas cidades de Foz do Iguaçu,
Cascavel e Toledo.
A microrregião de Foz do Iguaçu é formada por 11 (onze) municípios, enquanto as microrregiões de
Cascavel e Toledo possuem 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) municípios respectivamente (IPARDES,
2006).
Como a criação da Usina Hidrelétrica de Itaipu e a necessidade de reservatório para seu
abastecimento, muitos municípios da mesorregião Oeste paranaense tiveram significativas perdas de
solos férteis, ocasionado na redução da produtividade, consequentemente de rentabilidade e
arrecadação, acabando por reduzir o desenvolvimento tanto natural como econômico de tais
municípios.
Como forma de amenizar os impactos causados pela criação do reservatório, a Usina Hidrelétrica de
Itaipu faz o repasse de royalties aos municípios lindeiros ao reservatório.
“Os royalties são o valor pago ao detentor de uma marca, patente, processo de
produção, produto ou obra original pelos direitos de sua exploração comercial.
Os detentores recebem percentagem das vendas dos produtos produzidos com
o consumo de suas marcas, processos, etc., ou dos lucros obtidos com estas
operações” (Sandoni, 1989, p.386 apud EBERHARDT, 2002, p.25).

O pagamento de royalties aos municípios teve seu início no ano de 1991, sendo tais recursos “(...) uma
compensação financeira a Estados, municípios e órgãos federais pelo aproveitamento hidráulico da
Bacia do Rio Paraná para a geração de energia elétrica” conforme salienta Ribeiro (2005, p.50).
São dezesseis os municípios paranaenses que recebem repasses oriundos dos royalties de Itaipu,
conforme Itaipu (2006):
“No Paraná, os municípios que têm direito aos royalties são: Santa Helena, Foz
do Iguaçu, Itaipulândia, Diamante D’Oeste, Entre Rios do Oeste, Guaíra,
Marechal Cândido Rondon, Medianeira, Mercedes, Missal, Pato Bragado, São
José das Palmeiras, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Terra
Roxa. Também tem direito ao benefício o município de Mundo Novo, no Mato
Grosso do Sul.”

O valor do repasse aos municípios beneficiados pelos royalties da Itaipu Binacional varia mensalmente
conforme a geração de energia mensal comercializada.

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5. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 ANÁLISE ENVOLTÓRIA DOS DADOS (AED)

O método utilizado para medir a eficiência dos municípios do Oeste paranaense foi a Data
Envelopment Analysis (DEA), em português Análise Envoltória dos Dados (AED), que conforme Silva et
al (2010, p.6) é “indicada para avaliar a eficiência do emprego dos recursos dos municípios em seus
diversos serviços prestados” tornando possível a comparação entre organizações que atuam na
mesma área, identificando e comparando seu desempenho, permitindo a identificação das melhores
práticas de políticas bem como salientando importância da mensuração da eficiência de setores como
saúde e educação, sendo tal método capaz de auxiliar no estabelecimento de metas para a melhoria
dos índices dos municípios que apresentam desempenho ineficiente.
Lins e Mesa (2000, apud FARIA et al., 2008) apontam três etapas para a aplicação da DEA, sendo a
primeira a definição e a seleção das unidades produtoras ou tomadoras de decisão (DMUs) para a
análise dos dados, a segunda sendo a seleção de variáveis (inputs- quantidade de recursos utilizados
e outputs – bens produzidos) que se tornam relevantes e apropriadas para estabelecer a relativa
eficiência das DMUs selecionadas, e a terceira, que consiste na aplicação do modelo DEA, com um
maior ou menor nível de sofisticação.
A Análise Envoltória de Dados atribui a cada DMU um valor (escore) de representação relativo de seu
desempenho, que variam entre 0 e 1, ou entre 0 e 100%, onde as unidades eficientes recebem valor
igual a 1 ou 100%.
A definição das DMUs (municípios) ocorreu por meio da coleta de dados dos municípios da
mesorregião Oeste do estado do Paraná, referentes ao ano de 2013. Como forma utilizada para medir
a eficiência da educação básica de tais municípios, utilizou-se de 2 inputs (variáveis): Recursos do
FUNDEB para a Educação Básica per capita e Receita Corrente per capita adicionada a Transferência
de Recursos (federais, estaduais, municipais e de terceiros) per capita no ano de 2013, sendo que o
valor recebido pelo pagamento de royalties por alguns municípios foi classificado como recursos de
terceiros.
Já o output (variável) teve como base dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
de 2013 para alunos de 5º ano do ensino fundamental. O modelo utilizado foi o CCR com orientação
para o input, assumindo proporcionalidade entre variáveis input e output.

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

5.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Conforme Análise Envoltória de Dados realizada, os municípios pesquisados foram classificados como
possuindo nível baixo, médio baixo, médio e alto de desempenho com relação aos resultados
apresentados no IDEB, conforme tabela 01 a seguir:
Tabela 01 – Classificação dos municípios do Oeste paranaense com o IDEB

Classificação Total de Porcentagem


Municípios
0 a 0,4 Baixa - -
0,4 a 0,6 Médio baixo - -
0,6 a 0,8 Médio 29 58%
0,8 a 1 Alto 21 42%
Total - 50 100%

Fonte: Elaborado pelos autores.

Conforme classificação acima constatou-se que dos 50 municípios que compõem a mesorregião Oeste
do Paraná, 21 destes (42%) apresentam-se eficientes, tendo alto desempenho na Educação Básica,
enquanto que os demais 29 municípios (58%) apresentam-se com médio desempenho no que diz
respeito a este mesmo quesito. Nenhum dos municípios analisados apresentaram média baixa nem
baixa eficiência em Educação Básica, não sendo este quesito relevante para a disparidade de
desenvolvimento econômico e social entre tais municípios.
Como já descrito, alguns municípios da mesorregião Oeste recebem incremento de recursos advindos
da distribuição de royalties da Usina de Itaipu, sendo que tais municípios apresentam ao seguinte
classificação de eficiência:
Tabela 02 – Classificação dos municípios do Oeste paranaense que recebem royalties de Itaipu

% dos Total % Municípios que


Municípios
Municípios de Municípios recebem royalties em relação
Eficiência beneficiados com
Beneficiados na mesorregião ao total de municípios da
Royalties
com Royalties oeste mesorregião
Baixa - - - -
Médio
- - - -
Baixo

Média 11 69% 29 38%


Alta 5 31% 21 24%

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

Total 16 100% 50 62%

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme exposto na Tabela acima, constata-se que apesar do recebimento de recursos extras
advindos da distribuição de royalties de Itaipu, em apenas 31% dos municípios beneficiados por esse
recurso tem-se um alto nível de eficiência, o que representa um percentual de apenas 24% do total de
21 municípios da região oeste paranaense que apresentaram alto nível de eficiência em Educação
Básica. O que chama a atenção é o elevado percentual de municípios beneficiados pelos royalties de
Itaipu que apresentam médio desempenho em Educação Básica, representando percentualmente 69%
dos 16 municípios que recebem tal benefício, bem como representam 38% dos 29 municípios que
apresentam médio desempenho em Educação Básica.
Os municípios que recebem royalties de Itaipu possuem níveis de eficiência conforme microrregião,
como consta na Tabela 3 a seguir:
Tabela 03 – Classificação dos municípios do Oeste paranaense conforme microrregião.

Muni M
Total de Efi Pe
Micror cípios unicípios Efi
municípios ciência rcentual
região eficiência eficiência ciência alta
Microrregião média total
média alta
Micror
72 28 10
região de 18 5 13
% % 0%
Cascavel
Micror
52 48 10
região de 21 11 10
% % 0%
Toledo
Micror
45 55 10
região de Foz 11 5 6
% % 0%
do Iguaçu

TOTAL 42 58 10
50 21 29
% % 0%

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme resultados acima expostos, constata-se que a microrregião com maior percentual de
municípios com alta eficiência em Educação Básica é a microrregião de Foz do Iguaçu, apresentando
alta eficiência em 55% dos municípios (6 dos 11 que compõem a microrregião). A microrregião de
Toledo apresenta equilíbrio entre os municípios que possuem média e alta eficiência em Educação

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

Básica (10 dos 21 municípios que compõem a microrregião apresentam alta eficiência). Já a
microrregião de Cascavel apresenta grande disparidade percentual entre os municípios considerados
eficientes daqueles com médio desempenho em Educação Básica, sendo que percentualmente,
apenas 28% apresentam-se com alto desempenho em Educação Básica (5 dos 18 municípios que
compõem a microrregião).

Essa disparidade entre o percentual de municípios da microrregião de Cascavel classificados como


eficientes e com média eficiência em Educação Básica, como hipótese, deve-se a nenhum dos 18
municípios que compõem a microrregião serem beneficiados com royalties de Itaipu, tendo que
aplicar em Educação Básica apenas recursos advindos de transferências de recursos federais, estaduais
e municipais. Apesar disto, o Município de Cascavel apresentou índice 1 de desempenho em Educação
Básica, o que também ocorre com o município de Serranópolis do Iguaçu, município da microrregião
de Foz do Iguaçu, que obteve índice 1, sem incremento de receitas com royalties de Itaipu, o que os
torna os municípios da mesorregião mais eficientes em Educação Básica.

Já em se tratando das microrregiões de Toledo e de Foz do Iguaçu, muitos dos municípios que
compõem essas microrregiões são beneficiados com recursos extras advindos da distribuição de
royalties de Itaipu.
Conforme resultados colhidos e analisados, os municípios que apresentam desempenho máximo em
Educação Básica são os municípios de Foz do Iguaçu e Medianeira, ambos da microrregião de Foz do
Iguaçu, representando desta forma o percentual de 12% dos municípios beneficiados pelos royalties.
Aqueles que não possuem classificação máxima, mas que apresentam alto desempenho em Educação
Básica correspondem a 19% do total dos municípios da mesorregião.
A grande maioria dos municípios que recebem royalties de Itaipu apresentam médio desempenho com
relação à Educação Básica, representando um percentual de 69% do total, o que leva a crer que o
recebimento de receitas extras decorrentes dos royalties de Itaipu não influencia de forma substancial
no desempenho em Educação Básica apresentado pelos municípios da microrregião de Toledo e Foz
do Iguaçu.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo buscou identificar as contas públicas e a qualidade na educação básica nos
municípios do oeste paranaense. Por meio da coleta, processamento e análise dos dados foi possível
realizar comparações entre os municípios desta mesorregião pelos indicadores apresentados, além de

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

verificar se os municípios que recebem royalties de Itaipu apresentam-se mais ou menos eficientes
em relação a Educação Básica.
Os resultados permitiram identificar as contas públicas e a eficiência dos municípios do Oeste do
Paraná quanto à Educação Básica no ano de 2013, além de indicarem as limitações da administração
pública na alocação dos recursos e demonstrar que grande parte dos municípios apresentam-se
eficientes no que se refere à Educação Básica.
Dentre os 50 municípios que compõem a mesorregião Oeste, 42% destes são classificados como
eficientes, sendo que os mesmos devem se preocupar em manter e melhorar sua posição alcançada,
servindo de referência para um número cada vez maior de municípios. Já aos municípios classificados
com média eficiência, os quais são a grande maioria, ou seja 58% dos municípios estudados, sugere-
se uma adequação da gestão adotada, no intuito de buscar a eficiência desejada na educação básica.
No que diz respeito aos municípios da mesorregião que recebem recursos extras advindos da
distribuição de royalties, conclui-se que apesar da existência de tais recursos para investimento em
educação, apenas 31% destes apresentam alto índice em Educação Básica, enquanto que 69%
apresentam médio desempenho neste mesmo quesito, o que pressupõe que nos municípios com
médio desempenho, tais recursos extras não estão sendo alocados da melhor forma a fim de
proporcionar o desenvolvimento e a melhora dos índices referentes à Educação Básica. Neste caso,
propõe-se uma adequação na alocação de tais recursos de maneira a contribuir para a maximização
dos resultados apresentados no que diz respeito à indicadores em Educação Básica.
Conforme proposto inicialmente, a pesquisa apresentou resultados satisfatórios, não só de cunho
científico, mas também para o conhecimento da realidade local dos municípios que compõem a
mesorregião Oeste do Paraná, tornando-se útil para que os gestores possam tê-lo como ferramenta
de auxílio para a tomada de decisões que visem a melhora dos índices de Educação Básica em seus
municípios, consequentemente, a qualidade de vida da população.
Outras pesquisas podem ser realizadas em regiões que recebem royalties, para verificar seus níveis de
eficiência em educação básica, bem como constatar se tais recursos extras estão sendo alocados de
maneira correta para a maximização dos resultados no que diz respeito ao desenvolvimento da
educação básica.

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Relação Dos Gastos Públicos Com Educação E Os Royalties De Itaipu Nos Municípios Do Oeste Do Paraná

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14
59
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 4
10.37423/200902666

A CONTRIBUIÇÃO DO DOCENTE DO ENSINO


FUNDAMENTAL E MÉDIO COMO FACILITADOR
NA EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Mario Fernando de Mello Universidade Federal de Santa Maria

Amanda Barbosa dos Santos Universidade Luterana do Brasil

Jéssica Weber de Quadros Universidade Luterana do Brasil

Alberto de Souza Schmid Universidade Federal de Santa Maria

Ederson Anhaia Moraes (in memoria) Universidade Luterana do Brasil


A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

Resumo: O presente artigo pretende ressaltar a importância do docente como facilitador na


aprendizagem de práticas sustentáveis e do real sentido do termo dentro das escolas, e também
apresentar a relevância da interdisciplinaridade para o acontecimento da mesma. Os autores
procuram evidenciar através de uma pesquisa de campo em escolas públicas, se a sustentabilidade
está sendo trabalhada dentro do ambiente escolar, realizando uma análise desses dados, com o
objetivo de avaliar se professores têm o conhecimento da importância da sustentabilidade e quanto
o mesmo pode agregar para o desenvolvimento pessoal dos alunos, e se os mesmos estão tratando
do tema com os alunos. Por fim o artigo vai apresentar o quanto este tema pode auxiliar para o
desenvolvimento pessoal dos alunos, e que ele só ocorre se todas as áreas como econômica, social,
ambiental, ecológica, política e outras estiverem equilibradas.

Palavras chave: Sustentabilidade, Desenvolvimento Sustentável, Ambiente Escolar.

1
61
A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

1. INTRODUÇÃO

Na medida em que foi acontecendo o crescimento da economia mundial a falta de cuidado com o
planeta cresceu em paralelo, e desta forma a sustentabilidade era tratada superficialmente. Mas
atualmente as organizações e as pessoas têm se preocupado cada vez mais com desenvolvimento
sustentável, e com práticas de medidas sustentáveis.

O interesse das pessoas em manter nosso planeta em condições de habitabilidade pensando não só
no presente, mas preservando para o futuro é um tema atual e recorrente em convenções, trabalhos
científicos, debates, escolas, organizações governamentais e não governamentais.

A partir de muitos estudos e compreensões do mesmo é que a humanidade começou a perceber a


necessidade de cuidados com o nosso planeta, e também do entendimento de que só com cultura e
estudo é que as pessoas vão conseguir preservar o meio em que elas vivem prservando para gerações
presentes e futuras os recursos necessários à sobrevivência.

Por estes motivos é que baseamos nosso artigo em estudos com docentes de duas escolas públicas de
nível fundamental e médio, para verificar se os mesmos disseminam o tema sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável no seu ambiente escolar e quais as ações que eles tomam em relação ao
tema.

Sabendo que a sustentabilidade acontece quando as várias áreas econômica, social, ambiental,
ecológica, política e outras estão equilibradas e agindo de uma forma que não afete as capacidades
futuras é fundamental que as escolas de ensino fundamental e médio sejam fontes de disseminação
de conhecimento às novas gerações, projetando um futuro mais equilibrado socialmente,
economicamente e ambientalmente.

A educação revela-se uma propulsora de desenvolvimento para os países, por isso a importância do
tratamento do tema do presente trabalho nas escolas de ensino fundamental e médio, pois a
conscientização deve começar a acontecer nos jovens estudantes para tornarem-se profissionais, no
futuro, com capacidades bem desenvolvidas em relação à sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável.

O tripé da sustentabilidade representado pela sustentabilidade social, que é a melhoria de qualidade


de vida, a sustentabilidade econômica que é compatibilidade entre padrões de produção e consumo
e a sustentabilidade ambiental que é a conservação e preservação do meio em que vivemos deve

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

servir como uma busca constante de aprendizado em todos níveis escolares e nas próprias
organizações, visando o equilíbrio necessário ao desenvolvimento sustentável.

Assim, buscando conhecer mais sobre a integração da escola com o tema aqui proposto, o objetivo
deste trabalho é identificar se há e quais ações os docentes do ensino fundamental e médio estão
praticando para contribuir com a disseminação de conhecimentos sobre sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável aos seus alunos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A responsabilidade social e a sustentabilidade, juntas representam uma nova forma de gerenciar


políticas e ações sociais. Para Melo Neto (2004) os resultados a serem alcançados na sociedade, já não
mais dependem exclusivamente da capacidade de gestão social, mas principalmente da mobilização e
do entendimento da sociedade como um todo.

Ainda segundo Melo Neto (2004), a sustentabilidade no ímpeto dos movimentos ambientalistas, a
partir dos anos 70, consolidou-se nos anos 80 e foi a grande “vedete” da conferência das Nações
Unidas, no Rio em 1992. Em seguida ganhou dimensão ao ser transportada para níveis mais
abrangentes de atuação, como: sociedades sustentáveis, economias sustentáveis, modelos
sustentáveis.

Fonte: Melo Neto, 2004


Figura 1 – Mudança do foco da Sustentabilidade
Melo Neto (2004) sobre a sustentabilidade destaca:

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

“Hoje, ressurge com ímpeto nos meios acadêmicos, políticos e empresariais


como uma referência obrigatória em políticas, programas e projetos de todos
os tipos; e com novas propostas, como por exemplo, a Sustentabilidade
Humana e Política.”
A sustentabilidade atualmente implica na integração dos aspectos financeiros, sociais e ambientais do
negócio. Também o conceito de sustentabilidade passou a ser visto pelas empresas como um negócio
e não mais como um atributo das ações, projetos, produtos e serviços da empresa, mas principlamente
como um pré-requisito essencial para a sobrevivência e sucesso do negócio.

Para Dias (comissão Brundtland, 2006) a Sustentabilidade é definida como: Procura estabelecer uma
relação harmônica do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que
deve satisfazer às necessidades e às aspirações humanas. Enfatiza que a pobreza é incompatível com
o desenvolvimento sustentável e indica a necessidade de que a política ambiental deve ser parte
integrante do processo de desenvolvimento e não mais uma responsabilidade setorial fragmentada.

São diversos autores defendendo seus conceitos da sustentabilidade, mas o que precisamos são todos
esses conceitos positivos em ação nas diversas áreas onde os recursos ambientais são afetados de
maneira tanto reversível, quanto irreversível.

Sabemos que, com a tecnologia atual, são usados diversos recursos naturais totalmente prejudiciais à
natureza, mas não estamos nos dando conta do quanto isso esta degradando a mesma, e na maioria
das vezes atitudes irreversíveis a natureza.

Para algumas pessoas a sustentabilidade só acontece no setor econômico os quais procuraram realizar
processos sustentáveis com energias e recursos renováveis com o objetivo de poluir menos, já para
outras pessoas a sustentabilidade apenas é focada no setor social as quais procuram realizar ações
para melhorar a qualidade de vida das pessoas e conscientizando-as as para se tornarem sustentáveis.
Os dois pontos de vista estão corretos, porém pretendemos fazer uma analise de que esse dois pontos
posam andar juntos para a melhoria de ambos.

Segundo Dias (2006):

“O desenvolvimento sustentável será alcançado se três critérios fundamentais


forem obedecidos simultaneamente: equilíbrio social, prudência ecológica e
eficiência econômica”.
Desta forma destacamos que não existe sustentabilidade se esses três parâmetros não estiverem
alinhados.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

As tendências de crescimento e de se formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica


pode ser modificada de maneira com que mantenham um futuro remoto, ecologicamente correto. Ao
passo que as necessidades básicas materiais de cada um na Terra venha a ser satisfatória e também
de modo que cada pessoa venha a ter oportunidades igualmente para realizar o seu potencial humano,
é possível planejar um estado de equilíbrio global para os mesmos.

Para Camara (1996):

“Embora a inquietante realidade ambiental seja por muitos, ainda ignorada ou


menosprezada, torna-se cada vez mais evidente que, quanto a seus rumos
futuros, a humanidade se defronta com um gravíssimo dilema nos tempos
atuais.”
Assim, para alcançarmos os limites de crescimento do planeta nos próximos cem anos, se continuar
acontecendo às tendências atuais nos crescimentos de:

a) População mundial;

b) Industrialização;

c) Poluição;

d) Produção de alimentos;

e) Diminuição de recursos naturais imutáveis.

É bem provável que um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade
industrial acontecerá se confirmados os crescimentos desordenados (CAMARA, 1996).

Para Mota (2001), na área ecológica, a sustentabilidade é definida por uma estrutura institucional
ajustando desenhos das instituições a atuais modelos de recursos naturais protegidos. O meio
tecnológico adequado ao desenvolvimento urbano, rural e industrial ocorre por meio do
procedimento de simbiose, por ser equilibrado. Há uma relação mutuamente vantajosa da simbiose,
sendo dois organismos diferentes que se beneficiam por esta agregação.

Há algumas empresas que estão criando tecnologias no final do processo produtivo, fazendo com que
seja filtrado o material toxico contaminante, mantendo-o em um recipiente, com local determinado e
adequado. A prevenção da contaminação de maneira adequada é feita utilizando de recursos, tanto
naturais, quanto preparados para tal prevenção (MOTA, 2001).

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

Dias (2006) ressalta que na sustentabilidade social há uma preocupação maior no bem-estar,
condições e meios que são utilizados para manter a qualidade de vida humana. O embasamento no
conceito da melhor distribuição de renda e bens, deve partir do principio da justiça social, permitindo
a redução das diferenças nos padrões e vida entre as diversas classes sociais. O quadro geral da
sustentabilidade social é a importância da riqueza humana.

Com a facilidade dos acessos aos serviços básicos que o ser humano necessita, como água limpa, ar
puro, serviços médicos, segurança, educação, entre outros, referindo-se ou não as classes sociais
diretas, a sustentabilidade vem a ser na sociedade a minimização dos diferentes níveis sociais e o
acrescentamento de condições de vida, devido a um processo crescente estável, na distribuição justa
da renda para cada um (DIAS, 2006).

Para Melo Neto (2004) a busca de um conceito adequado para a sustentabilidade e tão importante
quanto a sua disseminação. Os empresários estão mais conscientes da ênfase na sustentabilidade e já
incorporam práticas gerenciais sustentáveis em suas gestões de negócios. Apesar da maior
coscientização da importância da sustentabilidade e da adoção de práticas no dia-a-dia das empresas,
a compreensão do conceito de sustentabilidade ainda é reduzida.

Para Andrade (2002), externamente a empresa consegue passar a imagem de uma empresa que a
acredita e contribui para a preservação do planeta, fazendo que os seus clientes passem a ‘olhar’
diferente para a mesma, também pode criar programas de conscientização nas escolas, como muitas
já fazem, que é promovendo palestras e programas que procuram conscientizar e educar os jovens
em relação à sustentabilidade, e mostrando que todos (empresa, escola, alunos) devem cuidar do
planeta. Já internamente a gestão estratégica consegue construir uma cultura diferenciada de muitas
empresas, pois passa para os seus funcionários uma consciência diferenciada das outras organizações,
pois o funcionário vai perceber a preocupação da empresa com um assunto tão importante.

Ao utilizarmos sustentabilidade agregada a uma determinada ação, seja econômica, política, cultural
ou social, a transformamos em ação transformadora. E, ao fazê-lo, colocamos foco na comunidade e
na sociedade em geral. Neste caso, já não é a ação que é sustentável, mas a comunidade/sociedade
que se torna sustentável ao buscar novas alternativas de geração de emprego e renda, melhoria da
qualidade de vida e busca de soluções inovadoras na solução de problemas sociais (MELO NETO, 2004).

Melo Neto (2004) apresenta um modelo de programa que compreende ações voltadas para o meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável que pode e deve ser disseminado em escolas, empresas e
sociedade em geral.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

A figura 2, a seguir demonstra a modelagem proposta que é centrada nos seguintes elementos: área
de atuação, foco, problemas centrais, elenco de ações e objetivos.

A proposta é definir área de atuação, ter foco, identificar problemas centrais, escolher ações a serem
executas e por fim ter claramente os objetivos a serem atingidos.

Neste aspecto a participação das escolas na cosncientização de conceitos e práticas de


sustentabilidade é imprescindível na sociedade atual.

Esquematicamente a figura 2 demonstra o modelo.

Fonte: Melo Neto, 2004 adaptada pelos autores


Figura 2 – Proposta de um modelo de atuação

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

A escola, portanto, pode desempenhar papel decisivo na disseminação de conceitos e práticas


sustentáveis para a busca do equilibrio na utilização dos recursos da natureza, necessários a
sobrevivência das gerações presentes e futuras.

3. METODOLOGIA

Para a realização do estudo, foram escolhidas duas escolas estaduais de ensino fundamental e médio
na cidade de Santa Bárbara do Sul, região norte do Estado do Rio Grande do Sul.

Foi elaborado e aplicado um questionário de forma estruturada, com questões qualitativas e


quantitativas, que englobou os seguintes assuntos:

a) Como o professor trata a sustentabilidade dentro da sala de aula;

b) Como o aluno reage com o assunto;

c) A escola orienta e trabalha com projetos sobre o tema proposto.

Nesse trabalho, fez-se uso de um estudo de caso instrumental, o qual é utilizado quando se deseja
conhecer um determinado problema, adotando-se uma pesquisa exploratória. Para Lakatos e Marconi
(2005), pesquisas exploratórias são investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação
de questões ou de um problema, com a finalidade de desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade
do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno ou modificar e clarificar conceitos. Para tanto,
uma variedade de procedimentos de coleta de dados pode ser utilizada, como entrevista, observação
participante, análise de conteúdo. O estudo de caso é uma investigação empírica de um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto da vida real (LAKATOS, 2005).

O questionário é composto de 10 questões quantitativas e 6 questões qualitativas. O mesmo foi


aplicado pelos próprios pesquisadores na semana de 18 a 22 de junho de 2012.

Participaram da pesquisa os docentes de duas escolas estaduais de ensino fundamental e médio


localizadas na cidade de Santa Bárbara do Sul.

A escola 01 possui 687 alunos e 31 docentes, e a escola 02 tem um total de 238 alunos e 15 docentes.
O total de docentes destas escolas é de 46, sendo que 35 responderam o questionário.

4. RESULTADOS

O referencial teórico deu bases para a elaboração das questões a serem respondidas pelos docentes
das escolas pesquisadas. A primeira pergunta do questionário refere-se à frequência com que o

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

docente aborda o assunto sustentabilidade no ambiente escolar. Obtiveram-se os seguintes


resultados:

Fonte: Os autores
Tabela 1- Frequência do tratamento da sustentabilidade em sala de aula
Nota-se que 42% dos docentes, um número bem expressivo, aborda o tema em sala de aula
diariamente, com isto acredita-se que os mesmos sabem da real importância que este tema possui
perante a formação do aluno.

É expressivo o número de docentes, 52% que trata do tema semanalmente e mensalmente. Apenas 2
docentes, ou seja 5,5% tratam do tema anualmente. Embora toda a importância do tema já descrita,
ainda assim, um docente respondeu que não trabalha o assunto em sala de aula o que sob o ponto de
vista educativo é negativo, pois, pela relevância e importância do tema, este não pode ficar relegado.

A segunda questão abordada foi de grande significância, pois seu objetivo foi identificar como o
docente aborda o assunto sustentabilidade com os alunos.

A tabela 2 refere-se às ações práticas que o professor executa para abordar o assunto em sala de aula.

Nesta questão, foi dada a opção ao docente de marcar mais de uma alternativa, assim, temos um
número maior de respostas do que de respondentes, ou seja, dos 35 entrevistados alguns
responderam mais de uma ação.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Os autores
Tabela 2 – Ações dos docentes
Nota-se que há duas alternativas predominantes da forma escolhidas pela maioria dos docentes, que
é o trabalho com pesquisa, o qual incentiva o aluno a aprofundar-se no tema, e também consegue
complementar informações com pesquisas fora da sala de aula em livros na internet e etc.

Na opção outros, assinalada por 22 docentes, predominaram as respostas em que os docentes relatam
que praticam muito o diálogo sobre a sustentabilidade em todas as suas áreas, também praticam e
incentivam a leitura de textos e jornais sobre o assunto, utilização de exposições de imagens sobre
sustentabilidade e outros também propõem aos alunos realizarem textos e dramatizações sobre o
tema. Neste quesito percebe-se na intenção destes docentes a inserção do tema na
multidisciplinariedade, ou seja, não existe apenas um foco para o tema, mas sim sua aplicação permeia
as várias disciplinas.

Pode-se verificar que são utilizadas diversas didáticas como forma de passar informações em relação
ao tema para os alunos. Ademais, percebeu-se que o diálogo é um das fontes mais relevante, simples
e eficaz de repassar estas informações e a consciência.

A tabela 3 refere-se à pergunta do questionário que tem como o objetivo identificar se alguma
empresa já procurou a escola ou algum docente para apresentar suas práticas sustentáveis. É
importante para a pesquisa identificar se há este interesse por parte das empresas, uma vez que a
sustentabilidade está ligada diretamente com a questão empresarial. Logicamente empresas com
valores sustentáveis em sua cultura tendem a manterem-se atualizadas em relação ao assunto,
propondo e recebendo novas técnicas.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Os autores
Tabela 3 – Procura de empresas
O percentual de 63% dos docentes que já receberam algum tipo de visita das empresas, pode ser
considerado um dado importante, pois demonstra a as empresas necessitam de aproximação com a
escola, para em conjunto poder atuar na sociedade de forma responsável levando suas práticas ao
conhecimento de todos. Quatro tipos de projetos locais criados pelas empresas e com interesse da
participação das escolas foram citados pelos docentes como práticas de interesse das empresas e da
escola. Empresas que realizam práticas sustentáveis possuem a consciência do quanto elas podem
auxiliar na sociedade.

Na tabela 4 está demonstrado o interesse dos docentes em participarem de projetos de


sustentabilidade em parceria com as empresas.

Fonte: Os autores
Tabela 4 – Interesse dos docentes
Na questão que aborda o interesse dos docentes em realizar projetos voltados a sustentabilidade, 33
docentes, ou seja, 95% dos respondentes, demostraram o seu interesse em realizar projetos ligados a
práticas sustentáveis. Este é um dos dados mais significativos da pesquisa, pois demonstra que os
docentes tem interesse, não só, em disseminar os conhecimentos em sala de aula, mas participar de
projetos em parceria com as empresas que possam resultar em práticas sustentáveis e com isso
beneficiar a sociedade como um todo.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados após coletados foram transformados em tabelas seguidas de comentários. Acredita-se que
os docentes podem junto com uma boa didática e educação fornecer aos alunos conhecimentos
necessários sobre o tema aqui abordado. O resultado da pesquisa foi levado ao conhecimento das
direções das escolas para que possa ser agregado algum tipo de ação na busca da melhoria da
qualidade do ensino no que diz respeito a este tema aqui abordado.

A sustentabilidade hoje tema recorrente em congressos, fóruns, artigos de revistas, no meio


acadêmico, no meio empresarial exige soluções duradouras, estratégias de longo prazo. São
necessárias soluções nos meio acadêmicos e soluções nos meios empresariais. Mesmo sendo hoje um
dos assuntos mais abordados em todo mundo, ações concretas e práticas ainda são tímidas.

De acordo com a pesquisa realizada, ficou evidenciado que o tema é citado com frequência dentro das
salas de aula. Ficou evidenciado também, que muitos trabalhos são feitos sobre o assunto. Trabalhos
como o de pesquisa, seminários e principalmente de conscientização por parte dos docentes junto aos
seus alunos.

É notório que os docentes têm vontade de trabalhar mais com o assunto, juntamente com as
empresas, fazendo uma integração maior entre empresas e escolas, com o objetivo de passar
conhecimento aos alunos sobre a questão tão importante que é a sustentabilidade, e assim também
trazendo benefícios às empresas envolvidas em projetos relacionados.

Empresas que se importam com a sustentabilidade tornam-se empresas mais competitivas, pois a
importância da sustentabilidade, em todos, seus aspectos e em suas práticas, quando tratadas
adequadamente podem agregar valor seja aos produtos ou serviços das empresas.

Buscar soluções a curto e a médio prazos no seu âmbito de atuação e próximo aos seus clientes,
desenvolvendo projetos pontuais, pode identificar a empresa como socialmente responsável, porém
para se ter uma gestão sustentável consistente, a visão de futuro não pode ser esquecida ou relegada.

Escolas que se importam com a sustentabilidade tornam-se escolas que podem assegurar um bom
nível de educação e de formação para as pessoas, sobretudo de mobilização e consciência para
enfrentar os desafios do futuro.

Os resultados da pesquisa mostraram que hoje os docentes estão falando em sala de aula sobre esse
tema tão importante e construtivo para o futuro dos alunos. Privilegiar o capital humano torna-se um
grande desafio para as escolas. Despertar o interesse dos jovens alunos para a enchergar as

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

oportunidades concretas de desenvolvimento sustentável através de boas práticas é um dos papéis


da escola, que não pode ser delegado.

Assim, acredita-se que os docentes podem junto com uma boa didática e educação fornecer aos
alunos conhecimento e incentivos necessários que despertem no aluno uma vontade de conhecer e
também praticar a sustentabilidade. Ficou evidente que os docentes acreditam na importância do
tema e na importância de conscientizar os jovens estudantes sobre sua inserção em ações que
resultem em práticas sustentáveis.

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A Contribuição Do Docente Do Ensino Fundamental E Médio Como Facilitador Na Educação Para A Sustentabilidade E O
Desenvolvimento Sustentável

REFERÊNCIAS

ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAVA, T.; CARVALHO, A. B.; Gestão Ambiental: Enfoque Estratégico Aplicado
ao Desenvolvimento Sustentável. 2°ed. Makron Books. São Paulo: 2002.

BELLEN, H. M. V. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. 2. ed. Rio de Janeiro:


Editora FGV, 2006.

DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.

CÂMARA, I. G. Prefácio. In: Planejamento ambiental: caminho para participação popular e gestão
ambiental para o nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Thex Editora. Biblioteca Estácio de Sá, 1993.

GOLDSTEIN, I. S. Responsabilidade social: das grandes corporações ao terceiro setor. São Paulo: Ática,
2007.

LAKATOS, E. M., MARCONI, M. de A. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2005.

MELO NETO, F. P., BRENNAND, J. M., Empresas socialmente sustentáveis : o novo desafio da gestão
moderna – Rio de Janeiro : Qualitymark, 2004.

MELO NETO, F. P., FROES, C.. Gestão da Responsabilidade social corporativa: O caso brasileiro. 2. ed.
Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.

MOTTA, J. A. O valor da natureza: econômica e o politica dos recursos ambientais. Rio de Janeiro:
Garamond, 2001.

14
74
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 5
10.37423/200902669

MELHORIA DA QUALIDADE DO PROCESSO


PRODUTIVO EM UMA INDÚSTRIA DE ARTEFATOS
DE BORRACHA DE SILICONE, DECORRENTE DA
SILICOSE EM TRABALHADORES

Rafaela Rodrigues Caldas da Cruz Universidade Carlos Drummond de Andrade

Wagner Costa Botelho Universidade Carlos Drummond de Andrade

Renata Maciel Botelho Universidade Bandeirantes de São Paulo


Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

Resumo: Este trabalho apresenta um estudo realizado em uma indústria de borracha de silicone,
demonstrando a importância da Gestão de Qualidade mostrando a alteração e melhoria de um
processo produtivo. A organização que busca por expandir e alcançar sucesso deve adotar medidas,
métodos e ferramentas, pois proporcionar a qualidade de um produto é mais que um objetivo, é uma
estratégia de negócio para o crescimento. É um aprendizado continuo de evolução de processo,
serviços ou produto. Com os avanços tecnológicos as empresas tiveram que buscar alternativas para
reverter às dificuldades e limitações baseando-se em fatores como a melhoria continua dos processos
produtivos, a satisfação dos clientes e a qualidade de vida dos colaboradores e a qualidade de seus
produtos. O estudo retrata a mudança no processo produtivo depois de ter alguns colaboradores
acometidos por doença ocupacional Silicose. A busca pela produtividade de qualidade é o fator crucial
para a organização que visa o comprometimento, a redução de desperdícios e um produto de
qualidade. A metodologia da pesquisa foi um estudo de caso e a revisão bibliográfica sobre o tema
citado. Certo é que um bom planejamento leva uma empresa atingir alto nível de qualidade.

Palavras chave: Qualidade; Melhorias de Processo Produtivo; Silicose; Avanço tecnológico.

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

1. INTRODUÇÃO

A organização que busca por expandir e alcançar sucesso deve adotar medidas, métodos e
ferramentas que a torne competitiva, proporcionar a qualidade de um produto é mais que um
objetivo, é uma estratégia de negócio para o crescimento. É um aprendizado continuo de evolução de
processo, serviços ou produto.

Antigamente a qualidade era vista apenas como uma ferramenta de monitoramento sobre os
processos de produção pelos gestores, com o passar dos anos isso vem mudando, a qualidade passou
a ser vista como um requisito para vantagem empresarial, quando os gestores entenderam que medir,
comparar, buscar melhorias e utilizar indicadores a torna competitiva para este mercado globalizado,
o caminho para o sucesso ficou mais fácil.

Atualmente a sociedade está com um olhar responsável o que proporciona ao setor produtivo uma
visão mais racional que leva a aderir formas de consumo e de produção mais conscientes (MINISTERIO
MEIO AMBIENTE, 2017).

Quando se fala de qualidade não é apenas influenciar a percepção dos clientes, pois a qualidade e as
condições internas das organizações devem ser levadas em consideração, o sistema de Gestão de
Qualidade destina-se a satisfação do cliente, funcionários, fornecedores e a comunidade, ou seja, todo
o seu público (CAMARGO, 2011).

Com os avanços tecnológicos as empresas tendem a buscar alternativas para reverter às dificuldades
e limitações baseando-se em fatores como a melhoria continua dos processos produtivos, a satisfação
dos clientes e a redução do ciclo de vida do produto. Esta transformação está diretamente ligada ao
modo de pensar e agir da sociedade, do Governo e da própria empresa que passaram a integrar essa
orientação em suas estratégicas (LEMOS,2009).

Sabe-se que os clientes estão cada vez mais exigentes, isso é apenas um dos fatores que a empresa
deve se preocupar, alem disso a qualidade do produto, a qualidade de vida dos colaboradores, a
redução de custos, o atendimento e a produção mais enxuta são os pontos que levam a empresa se
manter no mercado.

Com o objetivo de orientar os empresários a tornar suas empresas mais competitivas e responsáveis,
é que este trabalho relata o estudo de caso de uma Indústria de Artefatos de Borracha a qual precisou
alterar o seu processo produtivo no intuito de reparar os impactos causados pelo processo.
Trabalhadores são acometidos por Silicose devido à exposição à poeira de sílica na indústria de

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

transformação do silicone em artefatos de borracha, assim como relatar que as medidas cabíveis que
levaram a empresa se tornar mais responsável.

Silicose é uma doença ocupacional sem cura apesar de ser potencialmente evitada, é causada pela
inalação de poeira de sílica cristalina, os pulmões absorvem estas partículas o que causa o
enrijecimento do tecido provocando uma reação inflamatória, a evolução é progressiva e irreversível
que por consequência pode deixar o trabalhador incapacitado para o trabalho, podendo levar a morte.
A Silicose predispõe o organismo a uma série de comorbidades, pulmonares e extras pulmonares,
como o enfisema, a limitação crônica ao fluxo aéreo, as doenças-imunes e o câncer, a tuberculose é a
doença mais comum em pacientes com silicose (ALGRANTI, 2017).

Para que haja melhor eficiencia de processos ferramentas de qualidade assim como as apresentada
neste trabalho mostram seus beneficios.

2. REVISÃO TEÓRICA

Segundo Filho (2017), a produção mais limpa tem como base o processo (entenda-se processo,
produto ou serviço) de modo a eliminar impactos ambientais. Seu foco e estudar os processos para
identificar as possibilidades de melhorias, tanto as estruturais quanto as de comportamento. Quando
necessário o processo deve ser modificado pra eliminar ou minimizar a geração de resíduos, e produzir
produtos de qualidade.

Terán (2010) apresenta em seus estudos, que muitos trabalhadores brasileiros se sujeitam a riscos
ocupacionais em ambientes insalubres, com poeira de sílica, que por condição, leva a Silicose. Doença
causada pela inalação dessa poeira, encontrada na empresa em questão. Quando inalada, as partículas
de sílica se alojam nos pulmões, gerando a mais significativa doença ocupacional do pulmão.

Para Carpinetti (2012) Gestao de qualidade de processo sao tecnicas e ferramentas para admisnistrar
a producao, gerando produtos produtos e servicos com mais qualidade para o cliente final. Entende-
se que quando as necessidades do cliente e atendida, a qualidade e obtida isso torna uma melhoria
continua para suprir essa necessidade.

3. METODOLOGIA

A metodologia aplicada foi à coleta e analise de dados de uma indústria de artefatos de borracha na
fabricação de anéis de vedação para panelas, que utilizava o quartzo como uma das matérias primas
de seu processo produtivo, onde os trabalhadores eram expostos à poeira de quartzo, o qual contem

3
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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

micropartículas de sílica cristalina, de alto poder de toxidade. O material tóxico quando manuseado,
todo o ambiente da produção ficava contaminado, levando a obrigatoriedade de todos os
trabalhadores a utilizarem EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual), conforme Norma
Regulamentadora (NR6).

Essa indústria de artefatos de borracha produz anéis para panela de pressão, em 2012 contava com
os setores de mistura, vulcanização e acabamento. A empresa adquiria às matérias-primas nocivas à
saúde e realizava todo o processo em suas dependências. Sendo esse a cauda do problema foi
realizada melhorias com os devidos planos de ação.

Como procedimento de coleta foi utilizado entrevista presencial para analisar o ambiente do trabalho
que levou a empresa alterar o processo produtivo de modo eficaz, seguro dentro de sua dependência.
A pesquisa documental foi realizada e apresentada conforme figuras ao decorrer do artigo. O estudo
de caso tem como vantagem demonstrar caminhos, outras possibilidades tendo flexibilidades no
planejamento.

4. ESTUDO DE CASO

4.1 PROCESSO PRODUTIVO: DEFICIENTE CAUSADOR DA SILICOSE

Em toda atividade em que o trabalhador tem contanto com a sílica, é recomendado que se tome
precauções com relação ao local de trabalho e, em último caso, que se use o EPI adequado aos tipos
de agentes contaminantes (SOUZA, 2012).

No setor analisado os trabalhadores atuavam em um galpão, com piso frio, com iluminação de
lâmpadas fluorescentes, sem janela de ventilação, com 4 ventiladores, 4 banheiros (2 masculinos e 2
femininos), 2 bamburis e 3 cilindros (figura 1).

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
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Figura 1 – Bamburi Fonte: Setor Mistura maquina Bamburi.

No processo de produção, o quartzo era pesado com balde em uma balança junto com os outros
produtos, ficava aberta esta mistura até ser colocado no Bamburi. Quando a massa formada nesta
etapa saia, era passada no cilindro ( figura 2) que servia para moldar a massa.

Figura 2 – Cilindro Fonte: Setor Mistura


Depois de moldada é cortada numa bancada, trefilada e levada para o setor de vulcanização onde
contavam com prensas e injetoras. A limpeza durante o dia era feita por varrição a seco o que
espalhava por ter os ventiladores, e apenas no final do expediente era lavado o setor.

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

Apesar de todos os trabalhadores receberem treinamentos sobre a utilização de EPI´s como luvas,
máscaras, óculos, protetor auricular, e os produtos além de capacitados no entendimento das FISPQ
(Ficha de informação sobre produto químico) pertencentes ao processo produtivo. Entre 2012 e 2013,
dos 12 trabalhadores do setor de mistura 6 foram diagnosticados com Silicose, ou seja, 50% dos
trabalhadores do setor.

4.1.2 O DIAGNÓSTICO DA SILICOSE NA EMPRESA

Em 2013, a descoberta da Silicose na empresa ocorreu após um dos trabalhadores começar a


apresentar um quadro de falta de ar, em uma de suas consultas o médico pneumologista, ao identificar
na anamnese o quadro de suspeita de Silicose, encaminhou o primeiro trabalhador a FUNDACENTO
(Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) uma instituição federal
voltada para o estudo e pesquisa das condições dos ambientes de trabalho, localizada em São Paulo -
SP.

A FUNDACENTRO em parceria com a Organização Internacional do Trabalho- OIT e Organização


Mundial da Saúde – OMS, desde 1995 desenvolveram o Programa Nacional de Eliminação da Silicose-
PNES. Este programa visa reduzir os casos de Silicose através dos conhecimentos adquiridos em casos
anteriores, tem como objetivo eliminar a silicose como problema de saúde pública até 2030
(GOELZER,2000).

Na FUNDACENTRO o primeiro trabalhador foi imediatamente submetido a exames de raio X padrão


OIT, espirometrias, tomografias computadorizadas entre outros exames, o qual ficou constatada
Silicose pulmonar subaguda. Consequentemente todos os trabalhadores do setor da mistura foram
examinados clinicamente para verificação da doença, e foi diagnosticado que 6 trabalhadores
contraíram Silicose, cada um em um estágio. Sendo:

- Um com 32 anos de idade o qual já havia trabalhado em uma marmoraria (faleceu em maio
2014 em decorrência da Silicose);

- Um com 57 anos de idade o qual já trabalhava há 20 anos com exposição à sílica, dos quais
09 anos nessa empresa (faleceu abril 2015 em decorrência da Silicose);

- Três continuam em tratamento trabalhando em outro setor;

- Um com 36 anos de idade teve um avanço na doença e precisou fazer um transplante de


pulmão e continua trabalhando em outro setor.

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

A mudança dos trabalhadores com Silicose de setor também reduziu o aumento da doença já
adquirida. Posteriormente o setor foi extinto, considerando-se que o aparecimento da silicose
depende da quantidade de poeira de sílica e o tempo que o trabalhador e exporto a ela.

5. ANALISE DOS RESULTADOS

5.1 MELHORIA NO PROCESSO

Se fez necessária uma reestruturação no ambiente de trabalho, de modo a melhorar as condições no


ambiente, no sentindo de eliminar ou minimizar os riscos, evitando novos casos ou agravamento dos
já existentes.

Tal melhoria passou pelo controle das fontes geradoras de poeiras, quando modificados o processo
de produção, o material utilizado contendo sílica e as práticas de trabalho. Outra mudança foi a
redução da poeira em suspensão, ao substituir o tipo de material e alteraçãodas práticas de trabalho,
bem como a utilização de material fracionado.

A empresa depois da descoberta da doença, por sugestão de órgãos como a FUNDACENTRO realizou
melhorias em seu processo produtivo a fim de minimizar os riscos, até encontrar uma solução para
eliminar o setor por definitivo.

Uma medida foi retirar os ventiladores e instalar dois exaustores no galpão para melhor ventilação do
ambiente.

No bamburi foi instalado um sistema de exaustão para retirar a poeira no ambiente. Essa foi uma das
fontes geradoras de poeira, agora enclausurada não permite a saída de poeira para o ambiente,
periodicamente realiza manutenção necessária para garantir a eficiência e controle da poeira (figura
3).

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

Figura 3 - Instalação de exaustores no Bamburi

O modelo de máscara foi substituído por mascaras com filtro sendo mais eficiente -PFF3 com válvula.
É um respirador purificador de ar tipo peça semifacial filtrante para partículas. A máscara tem o
formato de concha dobrável e possui solda ultrassônica em todo seu perímetro, ou seja, pode ser
utilizada em ambientes cujo contaminante não exceda 10 vezes o seu limite de tolerância. Outra
medida foi comprar a matéria prima o quartzo já fracionado eliminando a fase de pesagem a qual
gerava muita poeira no ar. Eliminou-se as vassouras do setor e toda a limpeza passou a ser feita apenas
com água evitando o acumulo de poeira.

A forma que o trabalhador realiza a tarefa pode afetar significativamente a sua exposição, com tal
característica deve ser treinado desde como transportar a matéria-prima, a velocidade de trabalho e
a postura corporal.

Os trabalhadores continuaram realizando exames periódicos, na FUNDACENTRO, que continuou


acompanhando os trabalhadores do setor produtivo, a qual os alertou quanto aos riscos do manuseio
da sílica, bem como a importância do uso correto dos equipamentos de proteção individual.

Com estas medidas de prevenção à poeira de sílica reduziu significativamente durante o processo
produtivo. Diminuição essa constatada através de medições de higiene ocupacional realizadas pela

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

FUNDACENTRO. Porém, o objetivo principal da alta direção da empresa, passou a ser a eliminação
desse setor produtivo.

Desde o surgimento da doença em 2013 essas medidas foram suficientes para manter as atividades
da empresa, sem que houvesse novos casos ou alteração nos já existentes.

5.1.2 A MUDANÇA RELEVANTE

Houve a parceria com uma empresa especializada em produção de borracha de silicone, a qual
atenderia as necessidades da mesma sem que os trabalhadores ficassem expostos a sílica. Empresa
parceira fundada a mais de 10 anos no ramo de borracha, conta com uma alta estrutura, e parque
tecnológico inovado no trato com a sílica, de modo totalmente automatizado. A mistura da massa é
processada de modo que nenhuma partícula de sílica fica exposta no ambiente de trabalho. Fabrica
totalmente higiênica, tem parcerias com universidades aliada a tecnologia de ponta tem como um de
suas ideias a produção com qualidade (STC, 2017).

A empresa em seu desenvolvimento aprimorou seu processo de producao pra erradicar a emissao de
poeira que prejudica o ambiente e saude dos colaboradores.

As borrachas de silicones possuem propriedade física química única, são versátil utilizada em maquinas
industrial, ferramentas, moldes, assumindo diferentes formatos, atendendo as necessidades do
mercado industrial, alimentício, automobilístico indústria de cosmético entre outros. Os silicones são
produtos que tem a capacidade de suportar extremas temperaturas, tem flexibilidade, maior rigidez
contribuindo assim para a diminuição de matéria-prima, ou seja, São excelentes isolantes, não
corrosivos e não agridem ao meio ambiente (ABIQUIM, 2017).

Atualmente este setor de mistura os funcionários recebem o composto já feito da empresa contratada
pra fabricação do mesmo. Uma parte do composto é trafilado formando um pré-formado que será
utilizado no setor de vulcanização nas prensas e a outra parte destinada as injetoras que não precisa
passar pela trafilação. Neste processo de vulcanização é onde as pecas geram maior quantidade de
refugos, todo esse refugo é separado e descartado diretamente na caçamba da empresa de coleta,
que retira todos os dias. As pecas prontas são acomodadas em caixas plásticas e direcionadas ao setor
de acabamento.

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

6. QUALIDADE

Segundo Miranda (1994) as organizações precisam gerar produtos e serviços de qualidade para
atender seus clientes, pois e atendendo suas necessidades que a sua existência se faz jus. A empresa
trabalha em busca sempre pela melhor qualidade, pelo melhor acabamento, pelo mais rentável e
seguro processo produtivo.

Como já citado a tecnologia bem empregada leva uma organização a obter produtos de qualidade,
pensando nisso a Indústria de borracha adquiriu injetoras de primeira linha deixando seu setor de
vulcanização 80% automatizado. As injetoras produzem peças de qualidade e com uma quantia
mínima de rebarba. Rebarba essa que o setor de acabamento inspeciona e retira de forma rápida e
simples, sem utilizar qualquer instrumento de corte. Peças produzidas pelas injetoras produzem mais
refugos e rebarbas, as quais necessitam de estiletes e/ou tesouras para finalizar a peca.

As empresas devem reciclar e/ou descartar seus resíduos de forma adequada para a preservação do
meio ambiente. O desperdício de refugo dentro da empresa é grande, desta forma deve se mudar o
processo produtivo e a política da empresa. Os projetos de produção devem ser bem planejados assim
como o investimento em tecnologias (MENISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017).

A indústria conta com Laboratorio de Qualidade para realização de testes, e possui certificação de
Confirmidades de Sistema de Gestão da Qualidade pela NBR ISO9001.

Com a missão de minimizar os impactos ambientais utilizam-se sacos de ráfia para o armazenamento
e transporte de seu produto final, a embalagem de resina plástica é um produto mais resistente, leve,
protege contra umidade e pode ser perfeitamente reutilizado. A matéria-prima da composição dele é
o polipropileno, derivado do propeno ou propileno (plástico) reciclável.

O conceito de qualidade e amplo e caminha com grande velocidade, por isso a revisão dos conceitos
são necessários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados apresentados neste artigo podemos concluir que investir em qualidade,
treinamentos e gestão de processos adequados para a empresa se faz necessário para identificar
falhas de processos e aplicar medidas cabíveis.

O estudo de caso trouxe um problema em seu processo produtivo, que acarretou numa mudança de
processo para melhoria da indústria. A metodologia implantada apresentou resultados positivos e

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

benéficos aos colaboradores e aos empresários. Os resultados obtidos foram um processo mais limpo,
colaboradores saudáveis, empresários mais dedicados e um produto de mais qualidade depois da
alteração.

Implementar ações corretivas aumentou a produção. Saber adaptar-se a mudanças de processo


permite que empresas se tornem mais competitivas, uma melhoria na qualidade de seu processo
gerou um produto melhor. Mudanças são sempre necessárias, e mudança para melhor contribui para
seu crescimento.

Sugere-se que este artigo possa contribuir para pesquisas sobre o tema apresentado, mostrando
processo antes carente, que com alterações necessárias apresentou resultados significativos.

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Melhoria Da Qualidade Do Processo Produtivo Em Uma Indústria De Artefatos De Borracha De Silicone, Decorrente Da Silicose Em
Trabalhadores

REFERÊNCIAS

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2017.

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http://www.fundacentro.gov.br/silica-e-silicose/silicose > Acessado em 11 de Agosto de 2017.

CAMARGO, WELLINGTON. Controle de Qualidade Total. Curitiba. Disponivel

em:<http://br.librosintinta.in/biblioteca/pdf/FYvLCsIwEEW_ptuM2IXiLq1iC9FgWt1PnRQDoQl5CP69y
eZwOJf7ScmfADQSMyt6pimzJcCmU_xF8Hmx5g3WfIOLIMaXklOz302X61Pxe9O3zfHASzjLglnxjotBwq0
OXUvZupJHEPVerHdbCs7qooQFj4zWEFINs0tomaf1Dw,,.htx > Acessado em 01 de Set de 2017.

CARPINETTI, L. C. R. Gestao da Qualidade: conceitos e tecnicas. 2.ed. Sao Paulo: Atlas, 2012

FILHO. JULIO CESAR GOMES. Producao mais limpa: uma ferramenta da Gestao ambiental aplicada as
empresas nacionais. Disponivel

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Agosto de 2017

FUNDACENTRO. Silicose Formas de Apresentação. Disponível

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GOELZER, BERENICE. Programa Nacional de Eliminação da Silicose. Disponível

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LEMOS, ANGELA DENISE. A producão mais limpa como geradora de inovacões e competitividade.
Disponível

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Acessado em 16 de Agosto de 2017.

LEI nº 12.305/10. Politica Nacional de Residuos Sólidos. Disponível

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MIRANDA, ROBERTO LIRA. Qualidade total. São Paulo. Makron Books, 1994.

NR6. Equipamento de Proteção Individual. Disponível em:

12
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SOUZA, A. F. B.; LUCIO, C. C. e CORDEIRO, D. C. A sílica e os equipamentos de proteção respiratória:


análise ambiental de uma marmoraria e abordagem com os trabalhadores. XIX SIMPEP, 2012.

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Agosto de 2017.

TERÁN, J. E. CASTILHO. Educação em Saúde: Silicose. São Paulo. Disponível em:

<https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2543.pdf> ; Acessado em: 11 de Agosto


de 2017.

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Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 6
10.37423/200902672

O USO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA


MITIGAR OS PROBLEMAS DE SOLDA DE ARCO
SUBMERSA AUMENTANDO SUA QUALIDADE

Jadir Perpétuo dos Santos Universidade Cruzeiro do Sul

Everton Ferreira de Oliveira Fundação Escola de Comércio Álvares


Penteado - FECAP
O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

Resumo: A solda de arco submersa é um dos processos mais utilizados na soldagem, porém como
todos os processos, estão sujeitos a problemas, através de uma metodologia descritiva, de natureza
qualitativa, com aplicação em um estudo de caso, usou-se algumas ferramentas da qualidade
(Fluxograma, Brainstorming, Pareto, 5W2H’s), para identificar com precisão alguns pontos onde há
oportunidades de melhorias, e poder mitigá-los aumentando a qualidade do produto e também a
qualificação da mão de obra na Indústria. Foram identificados problemas no processo produtivo,
como: a falta de padronização na velocidade e forma utilizada no processo de soldagem e aplicação
incorreta da corrente elétrica. Para estes casos, também foram sugeridos em sua matriz 5W2H’s
treinamentos e reciclagem periódica para todos os envolvidos em cada etapa do processo e também
a elaboração de Instruções de Trabalho Padronizadas para cada etapa identificada.

Palavras chave: Ferramentas da qualidade, Solda arco submersa, Qualidade.

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

INTRODUÇÃO

Em qualquer segmento industrial em que se desenvolvam e fabricam produtos existe a necessidade


de buscar processos competitivos com baixa probabilidade de erros, por isso o desenvolvimento das
tecnologias atuais torna-se importante.

Nos processos de soldagem aparecem problemas de temperatura capazes de produzir deformações


localizadas na camada superficial de qualquer tipo produto soldado, e prever essa deformação com
precisão é difícil, por isso o conhecimento da termodinâmica do processo de soldagem é importante,
relata Siqueira Filho (2012) ao citar Benning.

Para nivelar o conhecimento necessário do assunto tem-se que saber, a soldagem é um processo de
União de materiais usado para obter coalescência localizada de metais, produzida por aquecimento
até uma temperatura, com ou sem a utilização de pressão e/ou material de adição (AWS, 2002).

Os processos de soldagem podem acontecer de duas maneiras:


Pressão/deformação e por fusão, Siqueira Filho (2012) se posiciona em relação a importância desses
processos colocando a soldagem por arco como sendo a de maior importância no setor industrial,
entre esses processos encontra-se a soldagem de arco submerso (Submerged Arc Welding - SAW), é
um método em que o calor necessário para fundir o metal é produzido por um arco elétrico, criado
entre a peça de trabalho e a ponta do arame de soldagem (BANDEI JR, 1997).

O processo pode ser usado para soldar seções finas, bem como seções espessas (5 mm até acima de
200 mm) e é usado principalmente nos aços carbono, de baixa liga e inoxidáveis. Ele não é adequado
para todos os metais ligas. Tanto o metal base quanto a peça de fusão ficam submersos em um fluxo
granulado que protege contra os efeitos da atmosfera, onde a solda desenvolve-se sem faísca,
luminosidade ou respingos (figura 1).

Siqueira Filho (2012) descreve que o “fluxo na forma granular funciona como isolamento térmico,
proteção, limpeza do arco e do metal depositado, garantindo uma excelente concentração de calor
que caracteriza a alta penetração obtida por meio do processo”.

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

Figura 1 - Processo de soldagem SAW (Ramalho et al, 1997). Fonte. Siqueira Filho, 2012.

A soldagem por Arco Submerso é geralmente realizada com equipamentos automáticos, embora
existam pistolas de soldagem manuais para o processo. Para aumentar a produtividade, um arranjo
com vários consumíveis pode ser introduzido. Devido à sua elevada taxa de deposição de metal, é um
processo particularmente adequado para longas articulações retas de boa qualidade na posição
horizontal. É amplamente utilizado na fabricação de vasos de pressão, em plantas químicas, em
estruturas pesadas, soldagem de tubos, em reparação e na indústria de construção naval (GIMENES
JR,1997).

Uma das vantagens da soldagem por arco submerso está no seu rendimento, pois, praticamente não
há perdas de material por projeções ou respingos. É possível também o uso de elevadas correntes de
soldagem de até 400A, fato que aliado à alta densidade de corrente (60 a 100A/mm2), oferece uma
elevada taxa de deposição, muitas vezes não encontrada em outros processos de soldagem, estas
características tornam o processo de soldagem por arco submerso mais econômico e rápido, em
média se gasta um terço do tempo necessário se fosse com eletrodo revestido (GIMENES JR, 1997 e
PUGLIA et al).

A maior limitação do processo de soldagem por arco submerso é o fato de permitir apenas a soldagem
nas posições plana ou horizontal. Ainda assim, a soldagem na posição horizontal só é possível com a
utilização de retentores do fluxo de soldagem, no caso de soldagem circunferencial, pode-se recorrer
a sustentadores de fluxo (GIMENES JR, 1997 e PUGLIA et al).

O processo de soldagem envolve diversos riscos segundo Hohn (2010) como:

Perfuração na parede, surgimento de trincas, etc. Esses problemas podem comprometer o produto,
o custo, o cliente final, e eventualmente sérios danos ao operador e ao meio ambiente dependendo
de sua aplicação.

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

A proposta desse artigo é mitigar os problemas de solda submersa, através do uso de ferramentas da
qualidade, observando e entendendo o processo de solda arco submerso, para descobrir as possíveis
falhas que causam a trinca na solda e propor ações para sua redução.

FERRAMENTAS DA QUALIDADE

A qualidade segundo Seleme (2010) é um conceito largamente disseminado no mundo em busca de


processos de trabalho capazes de atender a qualidade solicitada do mercado, nesse ponto as
ferramentas da qualidade vêm apoiar a redução das restrições que o mercado impõe em seus
processos e produtos.

O trabalho aplica 4 dessas ferramentas:(1) Fluxograma, (2) Brainstorming, (3)


Diagrama de Pareto e (4) 5W2H’s, para poder mitigar os problemas encontrados no processo de solda
arco submersa.

FLUXOGRAMA

Representa a sequência de atividades e processos, demonstra o fluxo dessas ações e permite a


identificação de problemas e qual a sua origem segundo Lagrosen, Ahmed, Hassan, Johansson et al
citado por Oliveira (2010).

O fluxograma de processo, segundo Campos citado por Pinho et al (2007), é fundamental para a
padronização e posterior entendimento do processo. Ele facilita a visualização ou identificação dos
produtos produzidos, dos clientes e fornecedores internos e externos do processo, das funções,
responsabilidades e dos pontos críticos.

BRAINSTORMING

É uma atividade de grupo em que os participantes emitem ideias, opiniões de forma livre, em grande
quantidade, sem críticas e no menor espaço de tempo possível. Utilizada para identificar as causas
dos processos e conhecida também, como tempestade de ideias. As pessoas têm que se sentir
relaxadas, pois isso estimula o surgimento das ideias, posteriormente são avaliadas e categorizadas,
priorizando as áreas de melhoria, segundo Bamford, Mortimer, Saaty, Shih, Vidal, Khanna, Bamford,
Greatbanks citado por Oliveira (2010) e Nadae, Oliveira e Oliveira (2009).

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

DIAGRAMA OU GRÁFICO DE PARETO

É uma das ferramentas mais utilizadas, e indica a frequência de cada causa ou falha ocorrida, segundo
Bamford e Greatbanks, Efremov, Insua e Lotov citados por Oliveira (2010). É um gráfico em barras que
organiza os dados do maior para o menor e direciona a atenção para os itens importantes, como por
exemplo: ordem decrescente de frequência, segundo Hagemeyer, Gerhenson e Johnson citado por
Nadae, Oliveira e Oliveira (2009).

5W2H’S

O 5W1H pretendia responder a 6 questões: Why? What? Who? When? Where? e How? (Por que? O
que? Quem? Quando? Onde? E como?). Já o 5W2H além dessas 6 ainda acrescenta uma sétima
pergunta: How much? (Quanto?). São utilizados para identificar os relacionamentos entre as causas e
a hierarquia e isto identifica a raiz dos problemas questionando a ocorrência de cada um, segundo Lin
e Luh citado por Oliveira (2010) e Nadae, Oliveira e Oliveira (2009).

METODOLOGIA

Com base em Yin (2015), e Severino (2000), o procedimento metodológico utilizado neste artigo é
descritivo, de natureza qualitativa, como método de estudo de caso.

Foi realizada uma pesquisa empírica com trabalho em campo, o estudo de casos com análise
qualitativa, sendo neste caso, uma visita técnica na empresa especializada em solda de arco
submerso, que é localizada na cidade de São Paulo - SP. Na empresa foram realizadas entrevistas com
os colaboradores e observação direta no processo da solda Arco Submersa.

Esta pesquisa teve a finalidade de observar e entender o processo de solda de arco submerso, para
descobrir as possíveis falhas que causam a trinca na solda.

Na empresa, todo o processo de soldagem em arco submerso foi acompanhado, observado, avaliado
e entendido, suas possíveis falhas, suas vantagens e desvantagens. Para melhor entendimento,
primeiramente foi adotado um Fluxograma para orientação das etapas do processo. Em seguida foi
realizado um Brainstorming para levantamento e identificação de situações que possam causar falhas
no processo de solda. Após isso foi utilizado o Diagrama de Pareto na priorização das principais causas
e, finalmente, a elaboração do plano de ação utilizando a Matriz de Planejamento (5W2H) para
solução das causas apresentadas.

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

ESTUDO DE CASO

Os dados foram fornecidos pela empresa pesquisada cujo nome será mantido confidencialmente, que
está no mercado há mais de 10 anos no ramo da construção de bens de capital para indústrias de
base, pertencentes aos setores químicos, petroquímico, farmacêutico, alimentício, siderúrgico,
minerador, energético e celulose/papel. Possui um moderno parque industrial com funcionários
qualificados para produzir diversos equipamentos bem como para realizar serviços requeridos pelos
clientes. A empresa pesquisada é composta por duas áreas distintas onde possui setores
independentes de recebimento, preparação, corte montagem, solda, acabamento e expedição.

A primeira etapa do processo, mostrada no fluxograma (figura 1), se inicia com o recebimento da
chapa de aço carbono.

Figura 1 – Fluxograma do processo atual


Após o recebimento e inspeção das chapas, ela é armazenada em local próprio no qual aguardará a
liberação conforme a necessidade de fabricação. Quando isso ocorrer, a chapa é submetida a inspeção
de qualidade e o inspetor responsável faz a liberação para o processo de corte do chanfro nas pontas
(figura 2).

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

Figura 2 - Traçador no plano de corte da chapa. Fonte: Os autores.


Após o corte, a chapa é enviada ao processo de calandragem (figura 3), executado conforme desenho
e informações do plano de soldagem do vaso de compressão.

Figura 3 – Processo de calandragem. Fonte: Os autores.


No processo seguinte, para o ajuste do equipamento de solda, o soldador de arco submerso vai
colocar a chapa já calandrada nos roletes de apoio para soldagem onde será feito o nivelamento e
esquadramento da mesma. Em seguida será feito a limpeza ou remoção de ferrugem, tintas, óleo,
graxas, etc. Após essa etapa, são escolhidos o arame correto e o fluxo que devem estar armazenados
em ambiente e temperatura adequados.

A soldagem por arco submerso deve ser feita na horizontal (figura 5).

Figura 5 - Soldagem na horizontal. Fonte: Os autores.


Após as etapas acima mencionadas, a peça é encaminhada para inspeção visual pelo inspetor de
qualidade (figura 6), no qual verifica defeitos superficiais (trincas, mordeduras, reforços excessivos e
irregularidade no cordão de solda). Estando em conformidade, é feito teste de pressão hidrostático
com líquido penetrante (DYECHECK) para serem detectados defeitos superficiais (figura 7). Após todos

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

estes procedimentos será liberada para ser unida a outras partes que passaram pelo mesmo processo
até chegarem à fase final, onde teremos as etapas de pintura e embarque.

Figura 6 - Inspeção visual. Fonte: Os autores.

Figura 7 - Teste hidrostático. Fonte: Os autores.

DISCUSSÕES

Durante o processo de soldagem, foi identificada trinca de solidificação na solda. Após o


levantamento de todo o processo, desde o recebimento da matéria prima até a entrega do produto
pronto para o cliente final, foram identificadas oportunidades de melhoria no recebimento da matéria
prima e nas etapas do processo produtivo, tais como, erro na velocidade da máquina, na espessura
do arame, corrente elétrica e na forma de soldagem.

Com base nas informações levantadas, foi desenvolvido um estudo das causas e seus pontos mais
importantes e elaborada uma proposta de melhoria no processo (plano de ação), com o intuito de
alcançar uma melhor qualidade do processo e do produto final.

A seguir apresenta-se as etapas do processo de mitigação e sua proposta de melhoria, a etapa de


melhoria não foi acompanhada para avaliar seus resultados, podendo ser uma proposta de outro
artigo no futuro.

ANÁLISE DO PROBLEMA

Nesta etapa foi desenvolvido um brainstorming (Tabela 1), pelos autores coletando dados que possam
levar a possíveis falhas no processo da soldagem por arco submerso.

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

Tabela 1 – Brainstorming da Coleta de dados.


Fonte: Os autores
Com os dados levantados, foi utilizado um Diagrama de Pareto (Tabela 2 e gráfico 1) para priorizar as
principais causas a serem trabalhadas para resolução do problema.

Tabela 2 – Dados das falhas encontradas. Fonte: Os autores

Gráfico 1 – Pareto das falhas encontradas. Fonte: Os Autores


Com as possíveis causas determinadas e priorizadas, foi possível estabelecer um plano de ação para
correção do problema no processo de soldagem, utilizando-se da Matriz 5W2H (tabela 3).

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O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

Tabela 3 – Matriz 5W2H’s. Fonte: Os Autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise de todo o processo e com a aplicação de algumas ferramentas da qualidade, foi possível
identificar com precisão os pontos onde há oportunidades de melhorias, que foram: falha na inspeção
visual, velocidade da soldagem incorreta, espessura do arame para soldagem, corrente elétrica
errada, forma de soldagem, armazenagem do fluxo com temperatura errada, posição da soldagem de
maneira imprópria e medida da chapa errada.

Ao mitigar os problemas encontrados será aumentado a qualidade do produto e também a


qualificação da mão de obra na Indústria Pesquisada.

Conforme mostrado na tabela 2 e Gráfico 1, percebe-se que uma das causas mais frequentes para o
aparecimento de trincas, identificada na etapa inicial do processo, foi a falta de uma inspeção mais
rigorosa no recebimento da matéria-prima, que representa 30% das falhas, no caso das chapas e 15%
no caso dos arames de soldagem, foram sugeridos treinamento e reciclagem periódica para que todos
os envolvidos possam adquirir conhecimento teórico e prático no processo de recebimento da
matéria prima.

Na tabela 3, foram identificados problemas no processo produtivo, como: a falta de padronização na


velocidade e forma utilizada no processo de soldagem e aplicação incorreta da corrente elétrica. Para
estes casos, também foram sugeridos em sua matriz 5W2H’s treinamentos e reciclagem periódica

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99
O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

para todos os envolvidos em cada etapa do processo e também a elaboração de Instruções de


Trabalho Padronizadas para cada etapa identificada.

Todas as propostas apresentadas são sugestões de baixo custo e rápida implementação, já que
envolvem aplicação de recursos em treinamentos para qualificação da mão de obra.

Desta forma, aplicando as propostas de melhoria sugeridas espera-se uma redução significativa de
trincas no processo produtivo da empresa pesquisada, aumentando a confiabilidade e qualidade do
produto final, além de qualificar a sua mão de obra para o processo de soldagem por Arco Submerso.

11
100
O Uso De Ferramentas Da Qualidade Para Mitigar Os Problemas De Solda De Arco Submersa Aumentando Sua Qualidade

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SEVERINO, J. S. Metodologia de trabalho científica. 21 ed. Ampliada. Cotez editora, 2000.

12
101
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 7
10.37423/200902684

O FUNDO VERDE E AMARELO COMO


INSTRUMENTO DE INTERCÂMBIO DE
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADO AO
MODELO DA TRÍPLICE HÉLICE.

JÚLIO CÉZAR DE ALMEIDA PEREIRA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL


DO PARANÁ

ADRIANA VALÉRIA SARACENI UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL


DO PARANÁ
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

Resumo: O presente artigo buscou dados referentes à parceria conjunta entre os três atores–chave
dos processos de inovação, abordando o intercâmbio de inovação tecnológica desenvolvida no
modelo da Tríplice Hélice de Etzkowitz e a importância do papel do Fundo Verde e Amarelo (FVA) para
efetivar esse intercâmbio. Os objetivos propostos partem da análise do intercâmbio de conhecimento
através da Tríplice Hélice e do Fundo Verde e Amarelo como instrumento para efetivar esse
intercâmbio e evidenciar os principais eixos temáticos de atuação do FVA, cujo propósito é o
desenvolvimento da ciência, da tecnologia e as inovações tecnológicas. A partir desta análise, destaca-
se que a interação no modelo da Tríplice Hélice demonstra maior eficiência do Fundo Verde e Amarelo,
quando proporciona o apoio e os incentivos à cooperação, assim como, o direcionamento dos recursos
ao focalizar as raízes das atividades empresarias e de pesquisa, que são o custeio com pessoal e os
investimentos.

Palavras-chave: Tríplice Hélice, Fundo Verde e Amarelo, Inovação.

1
103
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

1. INTRODUÇÃO

No contexto econômico atual as transformações afetam radicalmente as formas de operação dos


mercados, as tecnologias se tornam obsoletas rapidamente e trazem profundas mudanças nos
sistemas das organizações. Neste cenário, os padrões de geração, de difusão e de apropriação do
conhecimento e das inovações se alteram rapidamente e refletem uma remodelagem da concorrência
empresarial, do papel da tecnologia e, por consequência, na organização dos mercados, o que impacta
as formas de produção, emprego e renda (DOCUMENTO BÁSICO, 2002).

Deste modo, a capacidade de inovar é vista como um elemento fundamental para o desenvolvimento
econômico e social. O mercado globalizado e cada vez mais exigente requer competência para
agregação de valor (DOCUMENTO BÁSICO, 2002).

A proposta deste trabalho está em analisar o apoio da estrutura nacional de desenvolvimento da


Ciência e Tecnologia, assim como, de inovações tecnológicas, utilizando os conceitos da Tríplice Hélice
e dos Sistemas de Inovação. A interação proposta no modelo da Tríplice Hélice de Etzkowitz ressalta a
importância da cooperação entre estes atores do processo de inovação: a Universidade, a Indústria e
o Estado. Tais atores são os agentes que possibilitam qualquer estratégia de inovação. A Universidade
é o membro da tríplice hélice que atua como a principal fonte de tecnologias, devido à sua missão de
geradora do conhecimento.

Também se propõe analisar o apoio da estrutura nacional de desenvolvimento da Ciência e da


Tecnologia em relação ao desenvolvimento de inovações tecnológicas, verificando a aplicabilidade do
Fundo Verde e Amarelo como instrumento de apoio aos sistemas de inovação e/ou motivador da
participação efetiva dos atores.

A universidade existe para formar indivíduos e desenvolver capacidades ao gerar conhecimentos e


transformá-los em inovações - principalmente se houver uma interação direta com o setor industrial
e com o governamental pois, para que o conhecimento seja gerado e se torne acessível, é necessário
o direcionamento da educação das pessoas para tal (BRITO CRUZ, 2004; TOSCANO & RIVEIRO, 2009).
Incluir o conhecimento como variável fundamental para o desenvolvimento econômico implica
diversos parâmetros determinantes, como teoria econômica, Educação e Cultura (BRITO CRUZ, 2004).

Baseado nestes aspectos, este trabalho aborda a interação entre a Universidade, a Indústria e o
Governo, visa melhor difusão e transferência de novos conhecimentos, se utilizado o modelo da

2
104
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

Tríplice Hélice de Etzkowitz e, ainda, busca verificar a aplicabilidade do Fundo Verde e Amarelo para
efetivar a cooperação no modo a consolidar o desenvolvimento da inovação tecnológica.

2. METODOLOGIA

Por considerar que há viabilidade de aplicação imediata e gerar mudança de cultura, este artigo se
desenvolve a partir de uma pesquisa científica aplicada. Para tanto, utilizou-se a revisão documental
referente ao Fundo Verde e Amarelo (tipo Dedutivo) e a busca em artigos e pesquisas sobre Sistemas
de Inovação. De acordo com a definição metodológica que Marconi e Lakatos (1996) enunciam, a
pesquisa descritiva aborda quatro aspectos, que são a descrição, o registro, a análise e a interpretação
de fenômenos atuais.

O trabalho descreve um modelo de interação entre o Governo, as Empresas e a Universidade e busca


documentos relacionados a programas de incentivo a inovação. A análise de tais aspectos possibilita
uma interpretação referente à contribuição do Fundo Verde e Amarelo para efetivar a interação entre
Universidade, Empresa e Governo a fim de promover o efetivo desenvolvimento da inovação
tecnológica no Brasil.

3.INOVAÇÃO

É crescente a busca pela inovação tecnológica como estratégia para a promoção do desenvolvimento
de regiões e nações e, também, como perspectiva de respostas aos problemas econômicos - razão
pela qual a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE - estabeleceu a
implementação de políticas eficazes de estímulo à inovação tecnológica (PLONSKI, 2005).

Como colocam Zouain et al. (2009), a cultura de inovação é um conceito holístico que engloba o fluxo
de ideias, o processo de criação, as relações interpessoais e a ideia de sustentabilidade.

Segundo Plonski (2005), “toda inovação envolve mudanças”, sendo que a característica da inovação
tecnológica está presente nas mudanças tecnológicas de produtos ou serviços que são
comercializados. A inovação tecnológica também pode vir na forma pela qual produtos são criados e
disponibilizados, sendo esta denominada de inovação no processo.

“Inovações tecnológicas em produto e processo evidentemente não se excluem mutuamente - pelo


contrário, podem se combinar” (PLONSKI, 2005).

Para o autor, são componentes da inovação tecnológica (mas não exclusivas), a pesquisa científica e
tecnológica, a gestão do conhecimento, a extensão tecnológica, a educação em diversos níveis

3
105
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

(inclusive a educação continuada), a engenharia, a tecnologia industrial básica – TIB, o design (por
vezes incluído na TIB), o empreendedorismo inovador, o gerenciamento de programas e projetos
complexos, o marketing, a invenção, o desenvolvimento tecnológico, o financiamento, os mecanismos
de estímulo - principalmente fiscais e financeiros e a comunicação social (PLONSKI, 2005).

As relações interpessoais da cultura de inovação, o fluxo de ideias e os aspectos de sustentabilidade


são comumente subavaliados, mas são aspectos essenciais para promover o aumento da participação
de empresas nos processos acadêmicos, como pesquisa cooperativa, estímulo ao empreendedorismo
e como fomento local e regional de inovação. Estes aspectos também são importantes na integração
das universidades em programas governamentais de políticas públicas a propósito do
desenvolvimento local e regional (ZOUAIN et al., 2009).

O arranjo interinstitucional tem papel importante na pesquisa conjunta, além de ser um modelo de
desenvolvimento, tanto de universidades e empresas, quanto do país. Essa abordagem pode ser
visualizada a partir da interação entre Universidade, Indústria e Governo utilizando o modelo da
Tríplice Hélice de Etzkowitz, que visa a melhor difusão e transferência de novos conhecimentos.

4.TRÍPLICE HÉLICE

A Universidade apresenta uma cultura disciplinar e muitas vezes, individualizada, com um trabalho de
pesquisa que necessita comumente de longo prazo para se efetivar, buscada com a maximização de
conhecimentos e cujos resultados, muitas vezes, dependem de irrestrita e ampla divulgação. Já para
as empresas, as pesquisas são “oportunidades para se adquirir conhecimentos avançados de gestão
ou tecnologias inovadoras”, visam a obtenção de produtos e processos rápidos, com melhor qualidade
e eficiência, geralmente “protegidos pelas regulamentações de propriedade intelectual e industrial” e
cujos resultados ficam restritos a seus proprietários (ÁVILA DE MATOS & KOVALESKI, 2005).

A abordagem da Tríplice Hélice envolve a promoção da interação sistêmica entre as três partes:
Universidade, Empresa e Governo. “O foco da tríplice hélice é o empreendedorismo nas universidades
e as infra-estruturas emergentes que promovem este fim, como as incubadoras, serviços de ligação e
de estruturas semelhantes (TOSCANO & RIVEIRO, 2009).”

De acordo com Etzkowitz & Leydesdorff (2000), a maioria dos países e regiões contemporaneamente
buscam um ambiente inovador adjunto a Universidades e Empresas. São iniciativas trilaterais
baseadas em conhecimento para o desenvolvimento econômico e alianças estratégicas entre grandes
e pequenas empresas que operam em áreas diferentes, com diferentes níveis de tecnologia e com

4
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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

grupos de pesquisa acadêmica. Como um modelo analítico, a Tríplice Hélice contribui para explicar a
dinâmica da variedade e os modelos de arranjos institucionais onde as tipificações, em termos de
sistemas de inovação, são indicativas de fluxo, reorganização e reforço do papel do conhecimento na
economia e na sociedade.

4.1 A TRÍPLICE HÉLICE DE INOVAÇÃO

De acordo com Flores e Segatto-Mendes (2005), a interação entre a Universidade, Indústria e Governo
demanda cuidado em sua idealização e planejamento. Portanto, a vontade política da administração
central da Universidade, seu corpo docente e de pesquisadores e os institutos de pesquisa, precisam
estar afinados com uma estrutura de gestão em moldes empresariais, propostos a funcionar como
veículo de interação institucional para a academia, indústria e governo (FLORES & SEGATTO-MENDES,
2005). Para a indústria, a interrelação do conhecimento tem como objetivo central o processo de
inovação com focos no resultado e no sucesso competitivo - principalmente em setores onde há alta
competitividade.

A interação entre estes atores remete ao conceito da Tríplice Hélice de Etzkowitz, que surgiu com o
propósito de descrever a cooperação entre os vários atores do processo de inovação: a Universidade,
Indústria e o Estado, onde cada entidade complementa o papel das outras. Neste conceito, as
universidades passam a assumir uma postura empresarial atuando principalmente no licenciamento
de patentes e na indústria de base tecnológica. Já as indústrias, aumentam sua dimensão acadêmica
devido ao compartilhamento de conhecimentos e a qualificação de seus funcionários. Também tem
papel fundamental para o sucesso dessa interação a consciência política do Governo - principalmente
local (FLORES & SEGATTO-MENDES, 2005). A Figura 1 ilustra essa interação:

5
107
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

Figura 1. O Modelo de Tríplice Hélice das relações Universidade-Indústria-Governo


Fonte: Etzkowitz & Leydesdorff (2000)
A Figura 1 apresenta a infraestrutura de conhecimento gerada por conta da “sobreposição das esferas
institucionais”1, onde cada uma delas engloba uma parte da outra, e do cruzamento destas interfaces
se originam novas organizações (ETZKOWITZ & LEYDESDORFF, 2000).

5. FUNDO VERDE-AMARELO

Para que ocorra a inserção da inovação tecnológica no processo de desenvolvimento econômico e


social é necessário que hajam políticas públicas de fomento e que as gestões das organizações
inovadoras busquem tratamento integrado de seus elementos contributivos (PLONSKI, 2005).

De acordo com o Documento Básico do Fundo Verde Amarelo - FVA (2002), o Brasil apresentou nas
últimas décadas, crescente avanço na área de produção do conhecimento e também na geração de
inovações. Uma base de inovação tecnológica formada principalmente por instituições de ensino
superior - IES, institutos de pesquisa e empresas públicas e privadas também se desenvolveu mais
intensamente nestes últimos anos. Mas este desenvolvimento ocorreu de forma assimétrica,
acontecendo mais intensamente nas instituições de pesquisa e IES e com pouca ou quase nenhuma
participação do setor produtivo.

De acordo com Brito Cruz (2004), o entendimento de que a criação de inovação tecnológica e
competitividade devem ocorrer na empresa a partir da pesquisa aplicada e do desenvolvimento
necessários. Este é um conceito bastante novo e ainda está começando a se desenvolver no Brasil
devido ao senso comum de que apenas as universidades fazem Pesquisa e Desenvolvimento, já que
quase a totalidade da atividade de pesquisa ocorre em ambiente acadêmico. Esta visão tende a desviar
as universidades da sua tarefa principal, que é a de educar os profissionais e prepará-los para as
atividades das empresas (BRITO CRUZ, 2004).

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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

Com vista nesta assimetria, percebe-se a necessidade de mobilização da sociedade e do Governo a fim
de que o processo de inovação ocorra de forma mais efetiva e favorável, principalmente no propósito
de ampliar a participação do setor produtivo e intensificar sua interação com o ambiente de pesquisa
disponibilizável pelas universidades e institutos de pesquisa públicos.

“O Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para Apoio à


Inovação foi criado por meio da Lei N.º 10.168 de 29/12/2000 e tem como
principal objetivo estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro,
mediante programas de pesquisa científica e tecnológica que intensifiquem a
cooperação de Instituições de Ensino Superior e centros de pesquisa com o
setor produtivo, contribuindo assim para acelerar o processo de inovação
tecnológica no País. Os recursos recolhidos, conforme previstos na citada Lei,
na Lei N.º 10.332 de 19/12/2001 e na Lei N.º 10.176 de 11/01/2001, serão
geridos sob a denominação de Fundo Verde Amarelo – FVA.” (DOCUMENTO
BÁSICO FVA, 2002).
Ao aliar os três principais eixos temáticos de atuação do FVA, que tem por objetivo, assegurar a
organicidade das diversas atividades a cargo do FVA, se apresentam importantes interfaces que
englobam ações complementares, sendo resumidas como “fatores sistêmicos para a inovação;
cooperação tecnológica para a inovação, empreendedorismo e apoio a empresas de base tecnológica
e sistemas locais de inovação” (DOCUMENTO BÁSICO FVA, 2002).

6. A INTERAÇÃO EMPRESA-UNIVERSIDADE

De acordo com o Documento Básico FVA (2002), entende-se como “universidade” todo aquele
envolvido no processo de geração e desenvolvimento do conhecimento nas unidades acadêmicas e,
também, dos institutos de pesquisas e centros tecnológicos. Entende-se como “empresa”, todo o
universo em que ocorre a produção de bens e serviços. Ressalta-se que a geração de conhecimentos
advinda do âmbito empresarial também pode ser captada e absorvida pelos atores do sistema de
inovação. Esta captação também possibilita que a pesquisa científica e tecnológica que acontece por
meio da universidade também faça parte do processo de inovação realizado nas empresas.

Brito Cruz (2004) destaca as diferenças importantes e naturais entre o ambiente acadêmico e a
empresa. Segundo o autor, realizar um projeto a partir do treinamento dos estudantes altera a escala
de tempo de conclusão do projeto, pois a rapidez de conclusão é uma variável fundamental do ponto
de vista das empresas. O sigilo em um projeto empresarial é uma regra, enquanto que num projeto
acadêmico é de fundamental importância que ocorra livre debate dos resultados. O autor também
coloca que “a motivação para a busca do conhecimento na universidade é muito mais desinteressada
do que na empresa”. Desta forma, a Pesquisa Fundamental tende a acontecer em maior proporção no

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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

ambiente acadêmico, enquanto que na empresa, a Pesquisa Aplicada e o desenvolvimento tecnológico


ocorrem com maior frequência (BRITO CRUZ, 2004).

O ponto crítico da promoção de inovação ocorre da aproximação entre a Empresa e a Universidade.


Superar as barreiras que separam a Universidade e a Empresa é um dos grandes desafios para que o
sistema de inovação seja constituído de modo a possibilitar a sustentação do desenvolvimento
econômico e social em uma sociedade onde a necessidade de conhecimento é eminente. “Questões
culturais, organizacionais, gerenciais e de capacitação precisam ser superadas para que se possa
ganhar efetividade na relação empresa-universidade no país”, pois, ao buscar uma interação entre a
universidade e a empresa, é importante compreender que são entidades de naturezas e missões
distintas, mas que certamente podem e devem ter interesses comuns em vários momentos
(DOCUMENTO BÁSICO FVA, 2002).

Além disso, os tipos de empresas são diferentes e variados, assim como as IES, os institutos de
pesquisa e os centros tecnológicos. O porte da empresa implica na diferenciação de diversos fatores,
desde as necessidades passando pelos níveis de capacitação, chegando até na maneira particular de
atuar no mercado. Há também diversificação quanto a especificidade do conhecimento exigido em
determinada empresa ou segmento, nas estruturas de desenvolvimento e de incorporação de
tecnologia, entre outras. Os demais atores (identificados como universidades) também apresentam
singularidades significativas, de modo que se percebe haver diferentes tipos de capacitação e de oferta
e demanda por conhecimento, tanto por parte dos atores do segmento empresarial, quando do
segmento da universidade. Devido a essa heterogeneidade é importante que a formatação de ações
específicas considere as necessidades e as capacidades variadas de todos os atores (DOCUMENTO
BÁSICO FVA, 2002).

É importante perceber que a interação universidade-empresa não pode ser baseada em uma
“perspectiva unidirecional” pressupondo que o conhecimento geralmente segue da universidade para
a empresa devido a condição empresarial, de entidade empreendedora e heterogênea e que contribui
ao entender que uma perspectiva real de interação seja desenvolvida no propósito além da
transferência de conhecimento (DOCUMENTO BÁSICO FVA, 2002).

Portanto, quando se busca o complexo universidade-empresa, é preciso avaliar se a interação pode


ocorrer através da construção de uma interface eficiente, democrática, acessível e se a relação
universidade-empresa muitas vezes comporta mais atores do sistema de inovação do que
exclusivamente a universidade e a empresa.

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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

7. FUNDO VERDE E AMARELO COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO

Para que o conhecimento efetivamente (e não apenas potencialmente) beneficie a sociedade, é


preciso mais do que estimular a cooperação e estabelecer uma dinâmica de coordenação entre os
distintos agentes envolvidos na inovação. Requer uma política pela inovação tecnológica e não apenas
uma política para inovação tecnológica (PLONSKI, 2005).

As universidades e centros de pesquisa têm um papel muito importante para a inovação por atuarem
como desenvolvedores e introdutores de novas tecnologias. “A Tríplice Hélice promove a interação
sistêmica entre as três partes, tal como as exigências dos conhecimentos econômicos, a
competitividade através das inovações que demandam grande conhecimento científico na fase de
desenvolvimento e no envolvimento da produção” (TOSCANO & RIVEIRO, 2009).

O Fundo Verde e Amarelo tem o papel de estimular a inovação e o desenvolvimento tecnológico


brasileiro por meio de programas de pesquisa de ordem científica e tecnológica e também, como
ferramenta para intensificar a cooperação de IES e centros de pesquisa com o setor produtivo, visando
o processo de inovação tecnológica no Brasil (DOCUMENTO BÁSICO FVA, 2002).

A interação universidade-empresa é importante para a universidade no sentido em que contribui para


a boa preparação dos estudantes. A mesma interação pode contribuir para levar à empresa a cultura
de valorização do conhecimento. É importante compreender que tal interação não é a solução para
os problemas de financiamento da universidade e nem de financiamento de tecnologia da empresa
(BRITO CRUZ, 2004).

Cabe ao FVA promover o estimulo e o complemento das iniciativas e das diretrizes do Governo Federal
em parceria com os segmentos da sociedade que façam parte da interação empresa-universidade. O
FVA tem o papel de conferir a flexibilidade das políticas governamentais com base nas políticas
financeiras, podendo também, ampliar os instrumentos institucionais adequados, bem como, prover
a interface entre Ministérios, o setor privado e mesmo com os Governos de Estado. “As ações a serem
apoiadas pelo Fundo Verde-Amarelo devem ser concebidas para serem instrumentos para formar
parcerias, multiplicar recursos e catalisar sinergias entre atores públicos e privados que integram o
sistema nacional de inovação” (DOCUMENTO BÁSICO FVA, 2002).

De acordo com o Documento Básico do FVA (2002), algumas diretrizes devem ser observadas na
aplicação dos recursos do FVA para êxito do Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa
de apoio à Inovação, sendo elas:

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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

- Incentivo ao comprometimento com o processo de inovação pelas empresas e instituições de


pesquisa;

- Estímulo à cooperação entre todos os atores com o propósito do desenvolvimento de novas


tecnologias, processos e serviços, produtos e realização de melhorias incrementais;

- Visão com foco no aumento da competitividade do setor produtivo nacional, contribuindo para que
um ambiente que favoreça a capacitação para inovação tecnológica seja criado e fortalecido;

- Proporcionar parcerias entre as instituições que tenham programa de apoio ao desenvolvimento


científico e tecnológico, a fim de que os programas se complementem ao incentivar o uso adequado
dos instrumentos disponíveis e a agilidade na execução de projetos;

- Apoio ao desenvolvimento de sistemas de informação em ciência, tecnologia e informação e suporte


para que ocorra a consolidação da infra-estrutura de tecnologia industrial básica;

- Certificar que o gerenciamento e a aplicação dos recursos estejam de acordo com as políticas
tecnológicas e de desenvolvimento, por meio de um acompanhamento e avaliação constante das
atividades apoiadas;

- Selecionar as propostas a serem apoiadas com base na valorização dos aspectos, como “valor
agregado pelo aumento do conteúdo tecnológico, competitividade internacional e retorno econômico
e social sobre o investimento”.

Os processos de inovação envolvem a geração e a aplicação do conhecimento de modo que, a partir


do referencial, pode-se observar que a importância da qualidade do sistema de inovação está
intimamente ligada e, ao mesmo tempo, independente de como a base de conhecimento se relaciona
com a rede dos agentes de interação da Tríplice Hélice, pois estas redes facilitam o intercâmbio de
conhecimentos e a poupança dos recursos (TOSCANO & RIVEIRO, 2009) enquanto que o Fundo Verde
e Amarelo gerencia e direciona este intercâmbio e a aplicação dos recursos, como pode ser observado
na Tabela 1:

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O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

MODO 1 TRÍPLICE HÉLICE FVA


Conhecimento desenvolvido em Conhecimento desenvolvido em Conhecimento desenvolvido e um
um contexto “desgarrado” das um contexto da aplicação. contexto da aplicação direcionado
aplicações. e supervisionado.
Colaboração restrita à comunidade Colaboração maior com os Incentivo ao comprometimento e
científica. práticos. estímulo à cooperação.
Disciplinado. Transdisciplinado. Multidisciplinado.
Homogêneo. Heterogêneo. Heterogêneo e gerenciado.
Hierarquizado e conservador. Descentralizado e efêmero. Integrado e compartilhado.
Controle de qualidade pelos pares. Controle de qualidade baseado na Controle da qualidade e
utilidade social. direcionamento na aplicação dos
recursos.
Fonte: Adaptado de Toscano & Riveiro (2009)

Tabela 1: Comparação entre o modo tradicional, a aplicação da Tríplice Hélice, e a utilização do FVA
como instrumento aplicado à Tríplice Hélice ao modelo do sistema de inovação

Deste modo, percebe-se a importância de que as empresas e o governo estejam preparados para
investir se utilizando do acesso privilegiado às oportunidades, financiando pesquisas e que a gestão
do Fundo Verde e Amarelo faça ocorrer o estimulo mais estreito à interação entre os três atores
institucionais, subvencionando a infra-estrutura e estimulando a capacitação e o financiamento
acadêmico do empreendimento (TOSCANO & RIVEIRO, 2009).

A negociação entre universidade-empresa-governo envolve muitos fatores e aspectos onde a


resolução de problemas depende de estudo e investigação em várias áreas. A universidade pode
interferir no desenvolvimento tecnológico das empresas da sua localidade com o propósito de buscar
alianças estratégicas, onde “concorrem o processo de identificação de oportunidades de transferência
de tecnologia e uma forte estrutura para desenvolvimento de tecnologia e, por conseguinte, sua
negociação e transferência” (ÁVILA DE MATOS & KOVALESKI, 2005).

Assim, percebe-se que ao utilizar a proposta teórica conceitual no modelo da Tríplice Hélice aliada aos
eixos temáticos de atuação do Fundo Verde e Amarelo as novas organizações tendem a surgir com um
processo inovador fortalecido, com maiores oportunidades de desenvolvimento e transferência de
tecnologia e conhecimento, promovendo o fortalecimento do desenvolvimento econômico e social
onde o papel fundamental desse desenvolvimento decorre, principalmente, da cooperação dos atores
da localidade.

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CONCLUSÃO

O arranjo interinstitucional tem papel importante na pesquisa conjunta por ser um modelo que
fortalece o desenvolvimento para universidades, empresas, e para o país. A partir da interação entre
universidade, indústria e governo utilizando o modelo da Tríplice Hélice de Etzkowitz, é possível
melhorar a interação e a transferência de conhecimentos. A Tríplice Hélice contribui para explicar a
dinâmica dos três atores, onde as tipificações em termos de sistemas de inovação reforçam o papel
do conhecimento na economia e na sociedade. A interação proposta no modelo da Tripla Hélice de
Etzkowitz ressalta a importância da cooperação entre estes atores do processo de inovação.

Portanto, quando se busca o desenvolvimento e a inovação, é preciso avaliar que a interação possa
ocorrer através da construção de uma interface eficiente, pois a relação universidade- empresa muitas
vezes comporta mais atores do sistema de inovação do que exclusivamente estas duas. Ao aliar os três
principais eixos temáticos de atuação do Fundo Verde e Amarelo, cujo objetivo está em assegurar a
organicidade das diversas atividades, verifica-se a sua importância como instrumento para formar
parcerias, multiplicar recursos e catalisar sinergias entre os atores públicos e privados que integram o
sistema nacional de inovação.

A relação entre a universidade e a empresa não é capaz, por si só, de resolver a necessidade de
tecnologia da empresa e nem é capaz de resolver a necessidade de financiamento da universidade,
pois suas culturas e missões também precisam ser respeitadas. Mas a interação deve ter como objetivo
a contribuição que pode promover o compartilhamento do conhecimento, bem como, levar a cultura
da valorização do conhecimento e do desenvolvimento inovador para a empresa.

Dado este estudo percebe-se que, ao utilizar a proposta teórica conceitual no modelo da Tríplice
Hélice, aliada aos eixos temáticos de atuação do Fundo Verde e Amarelo, as novas organizações
tendem a surgir com um processo inovador fortalecido, com maiores oportunidades de
desenvolvimento e transferência de tecnologia e conhecimento, promovendo o fortalecimento do
desenvolvimento econômico e social. Universidades e centros de pesquisa têm um papel fundamental
de desenvolvedores e introdutores de novas tecnologias, no âmbito da inovação. A Universidade é o
membro da tríplice hélice que atua como fonte de novos conhecimentos e tecnologias, sendo o
principal gerador do conhecimento.

Por fim, este trabalho pretende contribuir para que as engenharias de produção possam avaliar suas
medidas adotadas para fortalecer o processo de intercâmbio de inovação tecnológica.

12
114
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

REFERÊNCIAS

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em:<http://www.finep.gov.br/fundos_setoriais/verde_amarelo/documentos/ct-fva00diretrizes.pdf>
Acesso em: 20 set 2011.

13
115
O Fundo Verde E Amarelo Como Instrumento De Intercâmbio De Inovações Tecnológicas Aplicado Ao Modelo Da Tríplice Hélice

NOTAS

Nota 1

“Overlapping institutional spheres” presente em [...] “is generating a knowledge infrastructure in


terms of overlapping institutional spheres, with each taking the role of the other and with hybrid
organizations emerging at the interfaces.” ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF, L. The dynamics of
innovation: from National Systems and ‘‘Mode 2’’ to a Triple Helix of university–industry–government
relations. Elsevier Science B.V., 2000.

14
116
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 8
10.37423/200902692

MODULARIZAÇÃO DE PRODUTOS E SEUS


EFEITOS NOS AMBIENTES DE PRODUÇÃO

Vittorio Venturini Gelain Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG

Luciane Calabria Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG

Flavia Manica Siviero Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG

Cesar Pandolfi Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG

Clauber André Ferasso Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG

Alexandre José Baumgaertner Filho Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG


Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Resumo: Modularização é um conceito que já possui alguns anos desde a sua definição. A literatura
disponível trata bastante sobre os métodos utilizados para modularizar e quais os principais apelos
teóricos este conteúdo apresenta. Proveniente das alterações de comportamento entre os
participantes do mercado, cada vez mais as empresas precisam fornecer soluções que atendam às
necessidades especiais de cada cliente, porém na velocidade e no preço de produtos feitos em larga
escala. Obviamente este é um desafio que exige muito estudo por parte das empresas, e este trabalho
busca trazer à tona quais os principais resultados das aplicações práticas da modularização.

Palavras-chave: Modularização, customização em massa, engenharia de produto, desenvolvimento


de produto.

1
118
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

1 INTRODUÇÃO

Nos negócios do tipo “business-to-business”, ou seja, quando empresas fornecem para empresas,
percebe-se uma demanda com diversas flutuações, diversidade de clientes e produtos heterogêneos
(KOTLER; ARMSTRONG, 2008). Conforme Yrjölä et. al (2019) coloca em seu sua publicação, estender a
atenção organizacional para o ambiente externo é uma necessidade para qualquer organização, e
embora complexo, este processo é de suma importância para a tomada de decisão pois permite
identificar novas tendências no mercado, mudança de comportamento dos competidores e também
de novos processos dos clientes (Payne, Storbacka & Frow, 2008; Saeed, Yousafzai, Paladino & De
Luca, 2015).

Atualmente, memoráveis avanços nas tecnologias de produção juntamente com as demandas cada
vez mais dinâmicas dos clientes fizeram com que se criasse uma necessidade enorme de reconsiderar
as estratégias de produtos e serviços (WANG, 2013). Para sobreviver neste ambiente atual puxado
pela demanda, as empresas precisam conciliar produtos/serviços atrativos para atingir diferentes
segmentos de mercado e também atender as demandas individuais intrínsecas a cada cliente (LIN;
WANG; CHEN, 2006).

Em um esforço para atender as diversas necessidades do altamente competitivo mercado global,


Halman et al (2003) propôs que a utilização de famílias de produtos e plataformas comuns poderiam
ajudar a aumentar a variedade de produtos finais, encurtar tempo de entrega e reduzir custos. Para a
criação de famílias de produtos e plataformas comuns, uma das ferramentas é a modularização
(BALDWIN; CLARK, 1997).

Desde a introdução do conceito de modularização feita pela IBM em meados dos anos 70, diversos
estudos e publicações acadêmicas exploraram a metodologia para apurar as principais vantagens e
desvantagens da mesma. Enquanto no lado vantajoso cita-se, dentre muitas outras mais, o aumento
na velocidade de desenvolvimento de produtos, redução de custos em projetos futuros e maior
variedade de ofertas aos clientes (STONE; WOOD; CRAWFORD, 2000b; HOLTTA-OTTO; DE WECK,
2007), em contrapartida também percebe-se uma grande dificuldade na aplicação efetiva da
modularização devido à complexidade dos produtos e à falta de foco no cliente (STONE; WOOD;
CRAWFORD, 2000b), à maior propensão a cópias/imitações e ao eventual alto investimento inicial
(KONG et al., 2010).

2
119
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Percebe-se que a nível mundial grandes nomes da indústria automobilística global como a Scania
(ERICSON; ERIXON, 1999) e a Volvo (FREDRIKSSON, 2006) já utilizam há tempos os conceitos do tema
aqui estudado, e a nível nacional Sgarabotto (2016) e Piran (2015) já propuseram aplicações em
companhias locais do setor calçadista e automobilístico (ônibus), respectivamente. Embora a indústria
gaúcha não atue especificamente no mercado automobilístico, diversos outros ramos da indústria tais
como fabricação de implementos agrícolas, implementos rodoviários e maquinário em geral, os quais
frequentemente se deparam com cenários de baixa demanda e alta variedade, também carecem de
racionalizar os seus produtos e diminuir a complexidade envolvida na sua produção (SGARABOTTO,
2016).

Ainda que diversas publicações acadêmicas recentes tratem do tema “modularização”, continuam
escassas as evidências empíricas da utilização dos métodos propostos e sua efetividade (CARNEVALLI;
VARANDAS JR.; CAUCHICK MIGUEL, 2011). Conforme levantado por Sonego e Echeveste (2016), não
há uma análise profunda de quais as dificuldades encontradas pelas empresas na implementação da
técnica.

Com base no contexto acima apresentado e tendo em vista que os bens de capital participam
fortemente da sustentação dos meios de produção e serviços, bem como molda e permite o
desenvolvimento industrial e econômico (ACHA et al., 2004), um estudo sobre a relevância da
modularização pode ser de grande valor para a sociedade como um todo, sendo o objetivo geral deste
trabalho compilar e identificar os efeitos da modularização nas empresas gerando maior
entendimento a respeito dos diferenciais competitivos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este Capítulo abordará os conceitos teóricos acerca do tema “modularização” e servirá como
embasamento para avaliar se a teoria do assunto condiz com a prática em ambientes industriais. Serão
abordados os assuntos na seguinte sequência: 1º. “O que é Modularização”; 2º. “Como é feita a
Modularização”; 3º. “Quais os efeitos da modularização”; e 4º. “Casos de Modularização”.

Companhias as quais produzem os equipamentos responsáveis pela produção de outros bens e


serviços e que também podem ser considerados como aqueles que não sofrem nenhuma
transformação no processo produtivo são mais conhecidos como bens de capital (STRACHMAN;
AVELLAR, 2007). Indicativamente eles são um ótimo alvo para a modularização, pois com certa

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

frequência o setor de bens de capital encontra-se em condições de mercado altamente heterogêneas


seja devido ao tipo de uso do produto, ao setor que se destina etc. (ALEM; PESSOA, 2005).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro ao final do ano de 2018 foi de 6,8 trilhões de reais, sendo que deste montante somente a
indústria é responsável por gerar 1,25 trilhões de reais de receita, totalizando aproximadamente 20%
de todo o PIB do país. A Tabela 1 indica a composição do PIB brasileiro no ano de 2018.

Tabela 1 - Composição do PIB Brasileiro 2018

Fonte: adaptado de Contas Nacionais Trimestrais: Indicadores de Volume e Valores Correntes (2018).

Com base no último histórico encontrado nas pesquisas, aproximadamente 20% de toda a produção
industrial diz respeito a bens de capital (MIGUEZ; WILLCOX; DAUDT, 2015).

A participação da produção de bens de capital dentro da indústria em geral é representada por Miguez,
Willcox e Daudt (2015) na Figura 2. Nela os autores dividem os bens de capital em 4 grandes grupos,
sendo: i) máquinas de equipamentos; ii) equipamentos de informática; iii) máquinas elétricas; e iv)
equipamentos de transporte. Também dividem as barras dos gráficos conforme a proporção de cada
um destes grupos na composição global do referido nicho. Nota-se que a indústria de máquinas e
equipamentos e equipamentos de transporte compõem mais da metade de toda a produção de bens
de capital no Brasil.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 1 - Participação da produção industrial de bens de capital (em % total da indústria)

Fonte: Miguez, Willcox e Daudt (2015).

Transformando os dados acima em valores monetários, percebemos que a produção de bens de


capital no Brasil gera uma receita líquida estimada de 25.000 bilhões de reais. A apresentação é capaz
de facilitar a visualização da dimensão do mercado em potencial da modularização.

2.1 O QUE É MODULARIZAÇÃO

O termo modularização é usado informalmente de diversas formas, na indústria de sistemas


complexos o termo geralmente refere-se a unidades independentes, já na arquitetura ele geralmente
é relacionado com a utilização de unidades intercambiáveis que dão origem para diversas variáveis de
um produto final (ULRICH; TUNG, 1991). Ainda, Ulrich e Tung (1991) pregam que a modularidade é
uma propriedade relativa e que não pode simplesmente dividir os produtos em arquitetura integral
ou modular, mas sim possuir mais ou menos características de modularização.

A Figura 3 mostra o mesmo sistema com diferentes graus de modularização, sendo o da esquerda
menos modularizado e o da direita mais modularizado. O autor utilizou-se de um motor e sua
interação com um alternador para explicar os diferentes graus de modularização que ficam
explicitados. Na imagem da esquerda o alternador é movido pelo eixo virabrequim do motor,
caracterizando uma estrutura praticamente integral, já na imagem do centro o alternador é acoplado
concentricamente ao virabrequim por um módulo separado e, por fim, na imagem da direita o

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

alternador é posicionado de maneira que fica deslocado do centro do virabrequim e é acionado por
uma correia. Visualmente é possível verificar que, quanto mais modularizado, mais independente um
componente é do outro.

Figura 2 - Diversas abordagens de modularização para projeto de motores e alternadores

Fonte: Ulrich, Tung (1991).

Em vista do exemplo acima, a primeira noção que devemos aclarar é a de produtos integrais e
produtos modulares. Erixon (1998) destacou em sua tese de doutorado o conceito de modularidade
segundo Ulrich e Tung (1991), o qual consiste em dividir um produto em componentes independentes,
permitindo que as empresas os padronizem e gerem mais variedade de produtos. Já um produto com
estrutura integral, por sua vez, é o oposto de um produto modular e que geralmente é projetado para
satisfazer o maior desempenho possível, sendo que a implementação de novos elementos funcionais
não se dá simplesmente ao incluir um módulo adicional, mas sim ao alterar diversos conjuntos para
gerar a modificação requerida (CELONA; EMBRY-PERLINE; HÖLTTÄ-OTTO, 2007).

A Figura 4 representa de forma visual a diferença entre uma estrutura integral (a), a qual possui
diversos componentes que interagem entre si e na qual eventuais alterações em algum dos
componentes podem afetar diretamente a outros, e uma estrutura modular (b), a qual nos dá maior
noção de independência entre os módulos.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 3 - Estruturas genéricas de produto integral (a) e modular (b)

Fonte: Celona, Embry-Perline e Hölttä-Otto (2007).

O conceito de modularização vem da ação de decompor um produto final em diversas submontagens


e componentes, e ao realizar estas divisões facilita-se a padronização de componentes e aumenta-se
a variedade de produtos – este conceito ganhou força devido à crescente necessidade das empresas
de “enxugar” sua linha de produtos, mas ainda assim manter uma gama diversificada de opções ao
cliente por um preço razoável (GERSHENSON; PRASAD; ZHANG, 2003). Embora muitos estudos falem
sobre modularização, em sua pesquisa Gershenson, Prasad e Zhang (2003) concluíram que o único
consenso sobre modularização é de que um produto modular é composto por módulos, blocos de
montar.

Por sua vez, os módulos podem ser considerados como uma unidade funcional do produto que eles
compõem e que possuem interfaces padronizadas as quais permitem a diversificação de produtos
através da disposição deles (MILLER, 1998). Na Figura 5 é possível verificar de forma bastante clara
através de uma analogia feita com peças de quebra-cabeça os conceitos abordados nesta Seção, aonde
uma peça sozinha é um módulo, a qual forma um produto quando combinada com outras peças e que,
por fim, configuram uma família de produtos quando peças se repetem e se reorganizam de um
módulo para o outro (SONEGO; ECHEVESTE, 2016).

Figura 4 – Modularização

Fonte: Sonego e Echeveste (2016).

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124
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Ainda dentro da modularização, é possível perceber algumas particularidades que famílias de


produtos modulares podem apresentar: Em um primeiro momento, Ulrich e Tung (1991) classificaram
a modularização de acordo como a configuração final do produto se apresentava, e em um segundo
momento Ulrich (1995) classificou a modularização de acordo com as interfaces entre os
componentes. A definição de Urich e Tung (1991) identificou cinco categorias de modularidade,
aonde: i) Component Swapping Modularity é a possibilidade de obter diferentes configurações de
produtos através do acoplamento de módulos diferentes no mesmo corpo; ii) Component Sharing
Modularity é uma variável do Component Swapping, aonde um módulo em comum é utilizado em
diversos corpos; iii) Fabricate to Fit Modularity, que é quando um ou mais componentes padronizados
são utilizados com uma infinidade de componentes adicionais; iv) Bus Modularity é quando um
produto com duas ou mais interfaces pode receber qualquer configuração de módulos de um grupo
pré-determinado; e v) Sectional Modularity permite que uma gama de componentes possa ser
acoplada de qualquer forma desde que os componentes estejam conectados através de suas
interfaces.

Mais recentemente, a definição de Ulrich (1995) sobre as interfaces do componente classificam-se


conforme segue: i) Slot Modularity, que é quando interfaces entre diferentes componentes são
diferentes; ii) Sectional Modularity, quando todos os componentes são conectados através de
interfaces idênticas; e iii) Bus Modularity, que é um caso especial de modularidade aonde um
componente (conhecido como Bus) é utilizado para conectar todos os módulos. A Figura 6 a seguir
ilustra através de representação com desenhos todas as categorias de modularidade aqui
apresentadas.

Figura 5 - Tipologias da Modularização

Fonte: Adaptado de Ulrich e Tung (1991); Pine (1993); e Salvador, Forza e Rungtusanatham (2002).

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125
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

O autor Ulrich (1995) desenvolveu a Figura 7 para ilustrar de maneira a serem mais facilmente
visualizadas as quatro possíveis arquiteturas de um computador pessoal, considerando que uma delas
é a arquitetura integral.

Figura 6 - Quatro diferentes arquiteturas de um computador desktop

Fonte: Adaptado de Ulrich (1995).

Por fim, considera-se que o estado da arte da modularização se dá quando as correspondências entre
cada elemento funcional e físico são de um para um, atingindo a modularidade plena, o que não é
possível na prática (ULRICH; TUNG, 1991).

2.2 COMO É FEITA A MODULARIZAÇÃO

A modularização pode ser aplicada em diversos produtos e através de diversos métodos, cada um com
suas forças e fraquezas (DANIILIDIS et al., 2011). Segundo Stewart e Yan (2008), a utilização das
metodologias encontradas na literatura traz relevante economia de recursos se comparadas aos
achismos das equipes de projeto.

As principais literaturas falam sobre seis metodologias de modularização, as quais, segundo Borjesson
e Holtta-Otto (2014), podem ser divididas em dois grandes grupos: i) baseados em matriz; e ii)
baseados em modelos funcionais/gráficos, e também de forma independente em outras duas
categorias: i) baseados em acoplamentos; e ii) baseados em similaridade de componentes. A Figura 9
ilustra a divisão de métodos através da utilização de uma matriz quadrada a qual coloca os métodos
nos quadrantes respectivos a sua definição.

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126
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

O primeiro método a ser abordado é conhecido como Design Structure Matrix (DSM) e está situado
no quadrante “baseado em matrizes” e “baseado em acoplamentos”. Foi proposto por Pimmler e
Eppinger (1994) e sugere que primeiramente sejam seguidos os seguintes passos: i) decompor o
sistema em elementos de acordo com sua funcionalidade e/ou características físicas; ii) documentar
as interações entre os elementos em termos de espaço, energia, informação e material; e iii)
identificar possíveis agrupamentos, o que posteriormente vai levar à definição da arquitetura de
produto. O DSM é uma ferramenta muito útil para representar as interações entre diferentes
elementos, sejam eles físicos ou simplesmente sistemas (THEBEAU, 2001).

O Modular Function Deployment (MFD) é um método que, como o DSM, está situado no quadrante
superior esquerdo da matriz previamente apresentada. Matrizes são interligadas para descreverem
os requisitos do cliente, especificações de engenharia e estratégia da família de produtos (ERIXON,
1998; BORJESSON; HOLTTA-OTTO, 2014).

Uma das matrizes é a ferramenta Quality Function Deployment (QFD), que é utilizada para entender e
relacionar os requisitos do cliente com as especificações técnicas (HAUSER; CLAUSING, 1988). A outra
matriz, conhecida como MIM (Module Indication Matrix), procura entender qual o impacto estratégico
de cada componente/solução técnica (BORJESSON; HOLTTA-OTTO, 2014).

Método proposto por Stone, Wood e Crawford (2000a), o Heuristic Model (HM), situado no quadrante
de similaridade e fluxo funcional, utiliza-se de três heurísticas para definição de módulos de produtos
já existentes. Elas são: i) heurística do fluxo dominante; ii) heurística do fluxo ramificado; e iii)
heurística do fluxo de conversão–transmissão. Os produtos são decompostos de acordo com suas
questões funcionais e são representados conforme seu fluxo seja de material, energia ou informação,
de modo a criar um modelo funcional (SONEGO; ECHEVESTE, 2016).

O método Design for Variety (DFV) tem como base a utilização de dois índices que analisam fatores
internos e externos relacionados à arquitetura do produto para gerar uma plataforma mais robusta
contra mudanças de cenário (MARTIN; ISHII, 2002). O Generational Variety Index (GVI), ou Índice de
Geração de Variedade, é um indicador de quais os componentes tendem a requerer mudanças com o
passar do tempo e está relacionado a fatores externos tais como obsolescência de peças, mudanças
de normas regulamentadoras etc. (MARTIN; ISHII, 2002). Já o Coupling Index (CI), ou Índice de
Acoplamento, é um indicador da probabilidade de uma alteração em um módulo específico incorrer
em alterações em outro modulo (SONEGO; ECHEVESTE, 2016). Após a determinação dos dois índices,
o método DFV divide-se em mais duas partes, sendo elas: ordenação dos componentes em função de

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

seu GVI e relação com o CI; e determinação de quais os componentes que serão modularizados
(MARTIN; ISHII, 2002).

O conhecido como House of Modular Enhancement (HOME) é aplicado no redesign de produtos já


existentes para atingir a modularidade. É alcançado através de três grandes passos: i) geração de
matriz com informações de projeto modular (matriz MIM); ii) criação de módulos; e iii) análise do
projeto modular (SAND; GU; WATSON, 2002).

Ainda segundo Sand, Gu e Watson (2002), os três grandes grupos de informações que geram a matriz
do passo “i” abrangem informações sobre o ciclo de vida do produto, a arquitetura do produto e seus
requerimentos funcionais – dando embasamento necessário para a MIM, que após sua geração é
transformada por meio de um algoritmo específico conhecido como Radial Axis Method (RAM) na
matriz EMIM (Enhanced Modular Information Matrix ou “Matriz de Informações Modulares
Melhorada”). Na sequência, um algoritmo de agrupamento é aplicado à matriz EMIM, o qual irá gerar
os módulos do produto (SONEGO; ECHEVESTE, 2016).

Na fase de projeto, muitas vezes o conhecimento do produto é vago e limitado, tanto por parte da
equipe de projetos quanto por parte do cliente, o que torna difícil a resposta para perguntas, mas que
através da metodologia Fuzzy podem ser resolvidas (NEPAL; MONPLAISIR; SINGH, 2005). Segundo
Nepal, Monplaisir e Singh (2005), a metodologia Fuzzy Logic Based

(FLB) foi proposta para utilização da lógica Fuzzy, ou pensamento difuso, no desenvolvimento de
produtos modulares, a qual é largamente baseada na avaliação de aspectos qualitativos, sendo que as
saídas mais nítidas serão incorporadas no processo de tomada de decisão por parte da equipe de
projetos.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 7 - Matriz visual dos métodos de modularização e sua classificação

Fonte: Sgarabotto (2016).

2.3 QUAIS SÃO OS EFEITOS DA MODULARIZAÇÃO

Conforme colocado por Erixon (1998), o questionamento que vem à tona quando trata-se do assunto
modularização é “quais são os efeitos da modularização?”. Sabendo que as organizações têm o intuito
de gerar lucros para os seus acionistas, elas têm que continuamente melhorar suas competências e
resistir a diversos riscos impostos pelo mercado, e a redução de custos, diversificação e inovação estão
no cerne das ações para garantir a sobrevivência delas (KONG et al., 2010).

A Figura 9, elaborada por Kong et al (2010), ilustra como a redução de custos, a diversificação e a
inovação estão intrinsecamente ligadas à modularização e às competências das empresas que
desejam utilizá-la. Como três pilares, a redução de custos, a diversificação e a inovação dão o sustento
necessário para o atendimento de demandas customizadas, a redução do time-to-market e o
atendimento das expectativas do cliente, da sociedade e principalmente da empresa. Além disso,
diferenciação e controle de custos são dois fatores chaves do paradigma gerencial conhecido como
“customização em massa” (BRUN; ZORZINI, 2009).

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 8 - Cadeia de modularização

Fonte: Kong et al. (2010, traduzido pelo autor).

Um dos casos de modularização mais utilizados como exemplo na literatura sobre modularização é a
representação utilizada por Erixon (1998) em sua contribuição no livro Design for X (HUANG, 1996),
que aborda a modularização nas cabines de caminhões da Scania, fábrica sueca mundialmente
conhecida. A Figura 10 mostra como oito tipos de cabines são fabricadas através de um conjunto de
módulos e a redução da quantidade de códigos de peças que foi proporcionada pela utilização da
metodologia.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 9 - Cabines Scania (direita) produzidas pelo conjunto à esquerda

Fonte: Adaptado de Huang (1996).

Ainda na década de 90, Östgren (1994) elaborou um quadro resumo resultado de um estudo de antes
e depois em oito diferentes companhias. O resultado de seu estudo pode ser visualizado na Figura 11,
aonde sete critérios foram avaliados e representados através de um número (percentual de redução
quando positivo e percentual de aumento quando negativo) ou sinal “+” quando houve melhoria,
porém, a mesma não pôde ser mensurada.

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131
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 10 - Resultados obtidos através da modularização

Fonte: Adaptado de Östgren (1994).

O Quadro 1 mostra as hipóteses levantadas por Erixon (1998), as quais são divididas nos processos de
desenvolvimento, fabricação, variação de produtos, aquisição de suprimentos e pós-venda. A tabela
foi elaborada por Erixon (1998) com base nos estudos de Erlandsson, Erixon e Ostgren (1992) e
Erlandsson e Yxkull (1993).

Quadro 1 - Benefícios em potencial da modularização

Fonte: Adaptado de Huang (1996).

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Com o exposto anteriormente, percebe-se que a modularização possui benefícios diversos, sendo eles
relacionados a projeto, economia de produção, atendimento ao cliente e tem impactos diretos nas
seguintes áreas: economia de escala nos componentes, alterações de produtos, variação de produtos,
flexibilidade no uso, tempo de entrega, desacoplamento de tarefas, foco em projeto e produção,
tratamento de componentes com vida útil diferente, facilidade no diagnóstico e manutenção de
problemas (ULRICH; TUNG, 1991). Cada um destes impactos será abordado individualmente ou
através de agrupamento a seguir.

Sobre economia de escala nos componentes, Ulrich e Tung (1991) defendem que, conforme a
modularidade, permite que o mesmo componente seja utilizado em diversas variantes de diversas
linhas de produto, requer que os módulos sejam bem definidos e fisicamente separáveis, por isso é
possível que um mesmo componente seja utilizado em vários produtos e em maior escala do que se
fosse especifico para cada produto e consequentemente proporcione melhora de preços pela compra
em escala. Já sobre em seu estudo de caso sobre o aparelho Walkman da Sony, Sanderson e Uzumeri
(1995) concluíram que um dos sucessos do referido produto foi à divisão de componentes e interfaces
de acordo com a versatilidade desejada, fato que permitiu atingir clientes em diversos segmentos do
mercado. A modularidade, portanto, permite que alterações no produto sejam feitas com maior
facilidade, sejam elas por questões de mercado (preferências do cliente) ou até mesmo tecnológicas
(ULRICH; TUNG, 1991).

A variedade de produtos é uma das características mais conhecidas da modularidade. Ela consiste em
montar uma grande variedade de produtos finais através da utilização de uma quantidade muito
menor de diferentes componentes (ULRICH; TUNG, 1991). Neste sentido, Persson e Ahlstrom (2006)
utilizam a fabricante de caminhões Scania para representar como a modularidade de produtos pode
influenciar diretamente na variedade de produtos, em vista dos diversos modelos de caminhões
fabricados através de uma combinação de três principais tipos de cabines e quatro principais tipos de
motores, o que permite afirmar que são criados caminhões personalizados para cada cliente e ainda
assim manter economia de escala nos componentes.

Além de criar variedade, a modularização também permite flexibilizar o produto em sua fase de
utilização, e para ilustrar isto cita-se os exemplos de vans com assentos removíveis (podem alterar a
quantidade de passageiros sentados em função do espaço de carga necessário) e de câmeras
fotográficas com lentes intercambiáveis (ULRICH; TUNG, 1991). Adicionalmente a redução do tempo
de entrega utilizando a modularização é alcançada através da possibilidade de se executar o projeto e

16
133
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

a montagem de diversos módulos em paralelo, permitindo, portanto, que existam produtos dentro de
produtos e fábricas dentro de fábricas (ERIXON, 1998). A Figura 12 ilustra como o
desenvolvimento/construção de módulos em paralelo (letra A) pode reduzir o tempo de montagem
final (A+B+C).

Figura 11- Produção de artefatos modulares

Fonte: Huang (1996, tradução do autor).

A execução de tarefas em paralelo também é denominada por “desacoplamento de tarefas”, tarefas


as quais, em vez de interligadas, são executadas paralela e independentemente, e isto permite que as
atividades produtivas sejam especializadas e focadas (ULRICH; TUNG, 1991).

Ao modularizar produtos, o fabricante e o consumidor podem tratar de forma diferente os


componentes com vida útil diferente (em geral consumíveis). Um exemplo são as lâminas de barbear,
e também em eventuais manutenções pode-se substituir todo um módulo em vez de buscar por falhas
específicas – o que reduz o tempo de reparo (ULRICH; TUNG, 1991).

Como complemento, autores afirmam que, devido às atuais demandas de clientes, hoje as empresas
devem atuar muito mais como vendedoras de soluções integradas do que apenas um simples
fabricantes de produtos ou sistemas, e que é através da modularização que isto pode ser alcançado

17
134
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

(DAVIES; BRADY; HOBDAY, 2007). Além disso, ao se tornar provedora de soluções integradas, uma
empresa pode se capitalizar através da receita gerada por serviços (PINE, 1993).

Em contrapartida, algumas publicações também falam dos potenciais custos ou penalidades que um
produto terá caso adote a modularidade em seu conceito. Ulrich (1995) pondera em sua pesquisa que
uma das implicações negativas da modularização é a possibilidade de haver uma criação de barreiras
para a inovação da estrutura de produto.

Outro aspecto importante a se considerar é que a modularização eventualmente compromete altos


índices de eficiência ou desempenho, justamente devido a algumas redundâncias (principalmente
estruturais) que permite o intercâmbio de módulos (ULRICH; TUNG, 1991) e já os autores Ethiraj e
Levinthal (2008) sugerem que a decomposição de um produto em módulos também gera uma
propensão maior a cópias e engenharia reversa, simplesmente pelo fato de que a modularização tem
como finalidade a simplificação de projeto e montagem.

Além dos fatores indicados acima, ainda existe o fato de que a transformação de um produto integral
em modular exige reestudo de projeto, o que requer tempo de desenvolvimento e custos adicionais,
sendo que muitas vezes a fabricação de alguns módulos específicos não serão feitas pela companhia
dona do produto, e sim por fornecedores, fato este que exige um repasse de competências dentro da
cadeia de fornecimento (PANDREMENOS et al., 2009). Ishii e Yang (2003) também pressupõem que
alguns custos tendem a serem maiores em se tratando da modularização, devido ao aumento de
alguns riscos no processo, tais como transferência de responsabilidades a fornecedores.

Por último, mas não menos importante, Celona, Embry-Perline e Höttlä-Otto (2007) fazem uma
investigação procurando responder ao seguinte questionamento: “os produtos modulares são
maiores que os produtos integrais?”. A conclusão é de que sim, estatisticamente os produtos
modulares em geral ocupam maior espaço, diga-se volume, do que os seus respectivos produtos
construídos de forma integral.

As vantagens de maior relevância e que deverão ser abordados na avaliação dos estudos de caso que
serão analisados configuram-se conforme Quadro 2.

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135
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Quadro 2 - Benefícios teóricos da modularização

Fonte: elaborado pelo autor.

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136
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Já as desvantagens de maior relevância e que deverão ser abordados na avaliação dos estudos de caso
que serão analisados configuram-se conforme Quadro 3.

Quadro 3 - Desvantagens teóricas da modularização

Fonte: elaborado pelo autor.

2.4 CASOS DE MODULARIZAÇÃO

Montadoras mundialmente conhecidas utilizam a modularização de produtos no seu cotidiano para


que se mantenham no páreo pela disputa do mercado global. A Toyota, a Volvo e a Saab (Scania)
utilizam-se de linhas de montagem as quais produzem veículos específicos para cada comprador, e
isso é possível através de uma montagem final muito bem orquestrada e sincronizada a qual conta
com o apoio das Module Assembly Units (MAU) ou Unidades de Montagem de Módulos
(FREDRIKSSON, 2006).

20
137
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

A Figura 13, elaborada por Fredriksson (2006), ilustra como a produção de veículos é sincronizada e
como a modularização faz parte dela. Percebe-se que cada uma das MAU faz entregas de maneira
sincronizada em relação ao veículo que estará passando na linha de produção naquele momento.
Especificamente no caso da Volvo, o tempo que o módulo principal do carro (corpo) tem a primeira
interação com um módulo distinto se dá quatro horas após a entrada da linha de produção.

Conforme esperado e abordado na Seção 2.3, a modularização pode surtir alguns efeitos em seu local
da aplicação. No caso da Volvo, da Toyota e da Saab, alguns problemas e dificuldades foram
identificados, sendo eles: i) planejamento de produção; ii) plano de contenção de falhas; iii)
balanceamento do fluxo de módulos; e iv) custos derivados da pequena escala – os quais exigiam
maior gerenciamento e controle para atender à demanda de clientes por produtos com diversas
variantes (FREDRIKSSON, 2006).

Figura 12 - Sincronismo entre montagem do carro e seus módulos na Volvo

Fonte: Fredriksson (2006).

Em se tratando especificamente do caso Scania, a modularização teve uma curva de aprendizado


razoavelmente longa e passou por dificuldades tais quais as expostas acima. Johnson (2013) publicou,
em seu livro Modularity: A growing management tool because it delivers real value, a Tabela 2, que
mostra as reduções de part numbers e ferramentas necessárias para a montagem de uma gama de
caminhões.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Tabela 2 - Análise de ganhos pós modularização na cabine Scania

Fonte: Johnson (2013, tradução do autor).

Após o sucesso da modularização na Scania, a Volkswagen (VW), a qual no ano de 2008 tornou-se
grande acionista da Scania, iniciou um programa cujo nome, traduzido do alemão como Modular
Transversal Toolkit (MQB, “Conjunto Transversal Modular”), com o intuito de entrar fortemente com
a modularização nos veículos da nova acionista (JOHNSON, 2013).

A Figura 14 ilustra a linha do tempo da mudança de conceito dentro da Volkswagen. Anteriormente o


veículo era composto por duas grandes partes: chassis e carroceria. Em um período de maturação,
foram sendo criados alguns módulos intermediários, e atualmente os veículos são compostos
basicamente por um grande número de módulos. A parte inferior da figura mostra gráfico de barras o
qual representa percentual de “veículo específico” em termos de um veículo qualquer. A proporção
mudou consideravelmente.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 13 - Plano VW de modularização

Fonte: Johnson (2013, tradução do autor).

Os impactos representados por números no plano de modularização da VW estão representados na


Figura 15, a qual compara o intervalo de tempo entre 2007 e 2010 (imediatamente antes de iniciar a
modularização e em seu período de estruturação).

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 14 - Resultados apurados pela VW pós-modularização

Fonte: Johnson (2013, tradução do autor).

Fora da indústria automobilística, outro caso de bastante destaque é o do Sony Walkman, o percursor
dos dispositivos de música portáteis. Neste referido caso, a empresa pôde desfrutar de um grande
sucesso basicamente devido a quatro motivos: i) estratégia de muitas variedades de produto de
acordo com a personalidade do cliente (modelos para esportes ao ar livre, modelos específicos para
crianças etc.); ii) estratégia de gerenciamento multilateral de projeto de produto, situando equipes de
marketing e projeto próximas aos seus maiores mercados; iii) utilização de todo o potencial de criação
dos projetistas de produto para utilizar plataformas já existentes na entrada em novos mercados
através de alterações incrementais e da topologia de design; e iv) esforço contínuo da Sony para
reduzir custos de projeto, utilizando sempre módulos chaves e plataformas para constituir os novos
produtos (SANDERSON; UZUMERI, 1995).

Para ilustrar o fenômeno que a Sony foi no mercado de reprodutores portáteis de música, percebe-se
conforme a Tabela 3 que, entre os anos 1989 e 1990, ela possuía em torno de 50% da fatia de mercado
do segmento, tanto nos Estados Unidos quanto no Japão.

Tabela 3 - Receita/market share para reprodutores portáteis de música

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Fonte: Sanderson e Uzumeri (1990).

Já no Gráfico 1, por sua vez, é representada a variedade de modelos dos produtos Sony em relação
aos demais concorrentes. Os quadrados brancos dizem respeito aos equipamentos Sony, e os
quadrados escuros, aos equipamentos de outras marcas. A constatação é de que a Sony atuava em
nichos que nenhum outro player jamais havia se aventurado.

Analisando, portanto, a Tabela 3 e o Gráfico 1, conclui-se que a Sony era considerada a mais inovadora
de todas as marcas, possuía indubitavelmente a maior fatia de mercado e os seus produtos ainda
duravam o dobro de tempo que o de seus concorrentes (SANDERSON; UZUMERI, 1990).

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142
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Gráfico 1 - Variedade de reprodutores portáteis de música em função do ano

Fonte: Sanderson e Uzumeri (1990).

Tanto os casos da indústria automobilística quando os dos demais mercados apresentam resultados
interessantes e que despertam o interesse de todos. Por isso, o próximo Capítulo deste trabalho
consistirá em estudar outras empresas de segmentos distintos que adotaram a modularização e
verificar quais as vantagens e/ou desvantagens encontradas por elas ao longo do processo e como
resultado final.

3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

Este Capítulo apresentará os procedimentos metodológicos deste trabalho de conclusão de curso.


Primeiramente será abordada a definição de pesquisa científica e depois será tratado sobre os
procedimentos para se realizar um trabalho bibliográfico – método escolhido para alcançar o objetivo
desta pesquisa. A última parte do trabalho falará sobre como os referidos casos de bibliografias já
existentes serão estudados.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Para responder a pergunta “o que é pesquisa?”, Prodanov e Freitas (2013) utilizam a definição de que
uma pesquisa é basicamente a procura de respostas para indagações, é o ato de buscar conhecimento.

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143
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Porém, em vista de que nem todas as pesquisas são conduzidas da maneira científica, restringe-se o
conceito de pesquisa científica ao procedimento racional e sistemático que tem como objetivo
proporcionar respostas aos problemas que são propostos (GIL, 2002).

Os métodos de pesquisa são, portanto, um conjunto de regras e procedimentos que são aceitos pela
comunidade acadêmica para que se construa o pensamento científico (ANDERY et al., 2004). Embora
aceita e incentivada pela comunidade acadêmica, a utilização da metodologia científica não é de uso
exclusivo da ciência e pode e deve ser utilizada para a solução de problemas de cotidiano (LAKATOS;
MARCONI, 2007).

As pesquisas podem ser divididas através de três grandes grupos, sendo eles: i) quanto à natureza; ii)
quanto aos objetivos; e iii) quanto aos procedimentos, e ainda sobre duas óticas de abordagem do
problema, sendo: i) abordagem quantitativa; e ii) abordagem qualitativa (PRODANOV; FREITAS, 2013).
A pesquisa bibliográfica é considerada como uma abordagem exploratória para pesquisas de cunho
básico.

3.2 MÉTODO DA PESQUISA

O autor Gil (2002) argumenta que as pesquisas podem ser classificadas de acordo com os
procedimentos técnicos utilizados para a coleta de dados, sendo que, dentre outras, elas podem ser:
i) pesquisa bibliográfica; ii) pesquisa documental; iii) pesquisa experimental; iv) pesquisa ex-post facto;
v) levantamento; vi) estudo de campo; vii) pesquisa-ação; e viii) estudo de caso.

Neste trabalho em questão, o método a ser utilizado será a pesquisa bibliográfica. As pesquisas de
ordem bibliográficas são desenvolvidas com base em materiais já existentes, basicamente por artigos
e livros, buscando em trabalhos já realizados as evidências que comprovem ou não uma teoria (GIL,
2002). Ainda Gil (2002), nos diz que a pesquisa bibliográfica pode ser entendida como um processo
que envolve as etapas contidas na Figura 16.

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144
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 15 - Como delinear pesquisa bibliográfica

Fonte: Sanderson e Uzumeri (1990).

A pesquisa bibliográfica a ser realizada terá como base a identificação de estudos que comprovem os
efeitos da modularização, ou seja, se as vantagens e desvantagens apresentadas no referencial teórico
condizem com os estudos disponíveis a respeito do assunto. Na sequência serão abordados os
próximos passos para atingimento do objetivo final.

3.3 MÉTODOS DE TRABALHO

A metodologia que este trabalho utilizará é uma versão adaptada do modelo de pesquisa bibliográfica
proposto por Gil (2002). O método do trabalho seguirá os seguintes passos para alcançar o objetivo
propostos: i) escolha do tema; ii) levantamento bibliográfico preliminar; iii) formulação de problema;
iv) busca de fontes; v) leitura do material; vi) fichamento; vii) organização lógica do assunto; e viii)
redação do texto. A Figura 17 representa o caminho da pesquisa:

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 16 - Proposta de pesquisa bibliográfica

Fonte: elaborado pelo autor, adaptado de Cauchick Miguel (2012).

3.3.1 ESCOLHA DO TEMA

O tema desta pesquisa, especificamente “Modularização de produtos e seus efeitos nos ambientes de
produção”, deu-se através dos motivos citados na introdução deste trabalho. Visto o assunto ser
aplicável com bastante afinco na indústria de bens de capital, a qual tem um mercado em potencial
na casa dos bilhões de reais, a intenção foi explorar mais a finco os efeitos deste tema.

3.3.2 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO PRELIMINAR

O Capítulo 2 desta pesquisa abordou a modularização desde o seu conceito, passando pelas formas
de como modularizar um produto e quais os seus benefícios e desvantagens, sendo que, por fim, foi

29
146
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

feita uma exposição de alguns casos reais de aplicação do método. Na Seção 2.3,foram elaboradas
duas tabelas com as principais vantagens e desvantagens da modularização encontradas na literatura
sobre o assunto, o que permitirá verificar em estudos publicados o que é de fato conforme proposto
pela literatura e o que não o é.

O instrumento do Apêndice A será o instrumento base para o fichamento, o qual utilizou como base
as vantagens e desvantagens encontradas no referencial teórico sobre os efeitos da modularização. O
instrumento do Apêndice A trata de questões qualitativas enquanto o Apêndice B servirá para
complementar a pesquisa com questões quantitativas.

3.3.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O problema que esta pesquisa se propôs a resolver é a dúvida a respeito da efetividade na prática da
modularização de produtos. Conforme relatado na “justificativa empresarial”, um dos tópicos
abordados nos primórdios deste trabalho é de suma importância que o empresariado possua materiais
que os auxiliem na decisão de adotar a modularização com o intuito de impactarem positivamente os
seus negócios.

3.3.4 BUSCA DE FONTES

As informações para basear esta pesquisa bibliográfica serão retiradas em sua maioria de livros de
leitura corrente, periódicos científicos e teses e dissertações disponíveis online. O Quadro 4 indica as
principais fontes de pesquisa:

Quadro 4 - Fontes de pesquisa

Fonte: elaborado pelo autor.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os materiais que serviram como base deste estudo foram pesquisados nas fontes citadas no item
“3.3.3 Busca de fontes”. Para melhor organização dos dados, as leituras foram registradas em uma
“ficha de leitura” conforme modelo do Quadro 4. As fichas, todas elas em formato eletrônico, estarão
disponíveis no “Apêndice C” deste projeto.

Figura 17 – Modelo de ficha de leitura

Fonte: elaborado pelo autor.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

4.1 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS

O levantamento bibliográfico preliminar gerou os instrumentos de pesquisa conforme apresentados


nos Apêndices A e B deste projeto. No total, foram 18 tópicos de caráter qualitativo e 8 tópicos de
caráter quantitativo que observamos nas pesquisas para buscar indícios que confirmem tais resultados
na prática. A Figura 19 mostra a divisão entre tópicos quantitativos e qualitativos.

Figura 18 - Divisão entre tópicos qualitativos e quantitativos

Fonte: elaborado pelo autor.

Outro ponto a ser observado é a quantidade de tópicos para os quais foram encontrados materiais
que respondessem as perguntas feitas. No caso dos tópicos qualitativos, para as dezoito perguntas
foram encontradas doze respostas, em pelo menos um artigo, conforme nos mostra a Figura 20.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 19 - Percentual de respostas em tópicos qualitativos

Fonte: elaborado pelo autor.

Dentro dos tópicos qualitativos que foram obtidas respostas para os questionamentos, que somaram
um total de doze, para sete deles foram encontradas apenas uma fonte de resposta. A Figura 21 ilustra
esta proporção.

Figura 20 - Percentual do número de respostas para tópicos qualitativos

Fonte: elaborado pelo autor.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Para facilitar a visualização, a Figura 22 retrata o número de respostas por questão. Percebe-se que a
pergunta a qual mais houveram fontes que resposta é a de número três, a qual pergunta sobre o
impacto no tempo de montagem do produto.

Figura 21 - Quantidade de respostas por questão qualitativa

Fonte: elaborado pelo autor.

O Quadro 5 expõe as perguntas qualitativas para as quais foram buscadas respostas nos materiais
publicados. Sendo assim, no Gráfico 3, a pergunta de número três obteve três respostas e corresponde
a “A modularização teve impacto no tempo de montagem do produto?”.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Quadro 5 - Relação de questões qualitativas

Fonte: elaborado pelo autor.

Por sua vez, o Quadro 6 estabelece as relações entre as questões e quais as obras possuem as
respostas para tais questionamentos. Para consultas posteriores, maiores informações das obras se
encontram ao final deste trabalho no Apêndice C – Fichas de Leitura.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Quadro 6 - Respostas para tópicos qualitativos

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Fonte: elaborado pelo autor

Já no caso dos tópicos quantitativos, para os oito indicadores foram encontrados quatro indícios, em
pelo menos um artigo, conforme nos mostra a Figura 23.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 22 - Percentual de respostas em tópicos quantitativos

Fonte: elaborado pelo autor

Além do percentual de indícios menor encontrado para os tópicos quantitativos, também é possível
notar que não existem tópicos com mais de duas publicações que forneçam respostas. Distribuição do
número de respostas é possível de se ver na Figura 24.

Figura 23 - Percentual do número de respostas para tópicos quantitativos

Fonte: elaborado pelo autor.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Dentro das respostas dos tópicos quantitativos, é possível analisar a distribuição delas. Através da
Figura 25 conseguimos perceber que as perguntas de números dois e oito possuíram o maior número
de respostas, as quais discutem sobre redução no tempo de montagem do produto e possibilidade do
fornecimento de soluções integradas.

Figura 24 - Quantidade de respostas por questão quantitativa

Fonte: elaborado pelo autor.

O Quadro 7 expõe os indicadores quantitativos para as quais foram pesquisadas respostas nos
materiais publicados.

Quadro 7 - Relação de questões qualitativas

Fonte: elaborado pelo autor

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

O Quadro 8 estabelece as relações entre os indicadores pesquisados e quais as obras possuem os


indícios para tais hipóteses. Para consultas posteriores, maiores informações das obras se encontram
ao final deste trabalho no Apêndice C – Fichas de Leitura.

Quadro 8 – Respostas para indicadores

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Fonte: elaborado pelo autor.

4.2 PARECER DO PESQUISADOR

Ao pesquisar em artigos os tópicos propostos para mensurar os benefícios da modularização, algumas


considerações devem ser feitas. A primeira delas é que o material é escasso e que muitos dos tópicos
sugeridos carecem de uma abordagem mais específica e focada. Nas fontes pesquisadas, dentre
diversas leituras, poucos artigos carregavam as respostas para os questionamentos propostos.

Sarkar et al. (2009) comenta em sua publicação que uma das mais notáveis benesses da modularização
de produtos é a redução do tempo de engenharia visto a possibilidade de execução de trabalhos em
paralelo. Piran (2015), demonstrou através de cálculos que a eficiência da engenharia de produtos
aumenta quando os trabalhos são realizados em projetos modulares.

Ainda Piran (2015), além de ter evidenciado o aumento da eficiência na engenharia de produto,
também pode verificar aumento na eficiência da fábrica no processo produtivo do mesmo produto
modularizado, o que consequentemente reduz o tempo de entrega. Como complemento, Nunes et al
(2015) também evidenciaram a redução de lead-time no processo produtivo de montagem do
componente estudado como foco da modularização na ordem de 10%.

A Figura 26 ilustra a redução do tempo de fabricação entre veículos com estrutura integral (VA) e
veículos com estrutura modular (VM).

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 25 - Redução do lead-time na fabricação de ônibus em função da modularização

Fonte: Nunes et al (2015).

Evidências encontradas nos estudos também indicam que a modularização de fato teve impacto
positivo no processo produtivo de componentes com alta customização e baixo volume relativo por
modelo. Salonitis (2014) relata em sua publicação a aplicação da modularização de produtos em uma
empresa fabricante de sofás, a qual decompôs os produtos finais em diversos módulos e pode aplicar
um processo de montagem automatizado graças a padronização dos módulos. A conclusão de Salonitis
(2014) é de que em torno de 20% do total de códigos de peças seriam reduzidos, e que do total
restante ainda 35% dos códigos seriam comuns a todos os produtos finais, conforme mostra a Figura
27.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 26 - Redução do número de peças em projeto modular

Fonte: Adaptado de Salonitis (2014).

A publicação de Nunes et al (2015) revela que em determinados módulos do ônibus que foi estudado,
reduções de até 60% do número total de códigos de peças foram extintos, gerando um benefício
enorme para a engenharia de produto, visto a simplificação das listas de materiais, vide Tabela 4.

Tabela 4 - Análise das reduções de peças por conjunto após modularização.

Fonte: Nunes et al (2015).

Informações interessantes a respeito da redução do tempo de entrega de produtos para os clientes e


também sobre futuras atualizações e resoluções de problema foram abordadas por Sarkar et al (2009),
o qual afirma que sendo desenvolvido em módulos o produto pode ser lançado em versão para
usuários finais em intervalo de tempo menor e também que eventuais atualizações futuras e novas
implementações serão concretizadas em intervalo de tempo menor, visto a característica de
independência entre os módulos. Tanto a publicação de Sarkar et al (2009) quanto a de Salonitis (2014)
relatam que haviam no mercado versões integrais dos mesmos produtos que

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

foram modularizados, e as diferenças se tornaram visivelmente claras. No caso de Salonitis (2014) o


qual fez um estudo de caso acerca de sofá, o impacto da modularização foi tamanho que o processo
produtivo pode ser automatizado e um ganho de escala foi realizado. Já no caso de Sarkar et al (2009),
o qual baseou seu estudo de caso de um software do mercado financeiro, o autor constata que a
diferença foi brutal principalmente nos campos de resolução de problemas, necessidade de máquina
para processamento do software e desenvolvimentos novos que agora podem ser realizados em
paralelo e simplesmente mudar um módulo quando necessário.

Sarkar et al (2009) expõe em seu trabalho a melhora exponencial da resolução de problemas, visto
que a estrutura modular do produto permite a eliminação de problemas por módulo, logo, fica mais
fácil a detecção rápida e posterior atuação em qualquer eventual falha de funcionamento do produto.
Também expõe que o senso de dono do produto aumentou bastante após a adoção da modularização,
isto porque cada desenvolvedor ou grupo de desenvolvedores entendem que um determinado
módulo é o resultado de seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento, gerando ótimo engajamento
entre dentro da equipe e com as demais áreas.

Sobre custos de produto, Salonitis (2014) evidencia que a solução de automação para a produção dos
sofás modularizados tem um payback de 1.6 anos, algo razoavelmente aceitável para os tempos
modernos, visto que a capacidade produtiva da fábrica mais que dobraria para uma quantia de 250
sofás/dias. Vale considerar que a solução de automação se aplica somente com a modularização do
produto.

Olhando de forma mais específica, para indicadores, com base nas publicações estudadas podemos
perceber o cenário conforme segue. No segmento das fabricantes de ônibus, além da redução de 10%
do tempo de entrega do produto modularizado, Piran (2015) revelou dois indicadores de grande
relevância: aumento da eficiência da engenharia de produto em 62,79% e o aumento da eficiência do
processo produtivo em 6,38%, conforme ilustrado na Figura 23. A linha vertical laranja separa o
período pré modularização do pós modularização. Este aumento de eficiência, dentre outras análises,
revela que o custo/hora acaba sendo reduzido, em vista da melhora dos índices.

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Figura 27 - Evolução da eficiência de produto modularizado

Fonte: Piran (2015).

Sobre uma perspectiva mais ampla, atingindo também um dos grandes objetivos da modularização,
percebe-se que a filosofia da decomposição dos produtos em módulos também trás reduções no que
diz respeito a espaço de área de fábrica. No caso da General Motors, em sua unidade de Gravataí –
RS, a terceirização da fabricação de módulos específicos e a transferência da responsabilidade sobre
estes módulos para os terceiros geraram uma economia de até 2/3 do total estimado inicialmente
para gastos com preparação de parque industrial (HENRIQUES, CAUCHICK MIGUEL, 2017). Este mesmo
movimento é percebido também na unidade da Volkswagen de São José dos Pinhais em Curitiba – PR,
aonde estão situados dentro do mesmo condomínio industrial diversos dos fornecedores de módulos
para a grande montadora, o qual reduz espaço físico necessário para a dona do produto, delegando
responsabilidades para os sistemistas que fabricam os módulos (CARDOSO, 2008).

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo a avaliação dos casos de modularização de produtos já implantados
e reportados através de estudos acadêmicos para auxiliar os integrantes do mercado na tomada de

50
167
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

decisão a respeito do assunto. Para cumprir o objetivo proposto, este trabalho passou por uma série
de etapas até chegarmos nesta conclusão.

Primeiramente foram abordados os conceitos iniciais do que é modularização e de como ela é feita,
após isso, valendo-se de fontes bibliográficas referência no assunto, um instrumento foi gerado o qual
compilou todas as vantagens e desvantagens teóricas a respeito do tema modularização. O
instrumento gerado serviu para a construção de uma tabela a qual direcionava a pesquisa, em busca
de evidencias que comprovassem as premissas postuladas no referencial teórico.

Em mãos do instrumento de pesquisa, o passo seguinte realizado foi a busca em diversas fontes de
dados, das quais estão citadas neste trabalho, por publicações das mais variadas competências
(artigos, teses, etc.) para buscar evidencias a respeito dos questionamentos levantados no
instrumento de pesquisa. Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, não foram pré estabelecidos
rigorosos protocolos de busca.

Com uma série de publicações selecionadas, as mesmas foram lidas e fichadas nas “fichas de leitura”
que se encontram no Apêndice C deste trabalho. O resultado da leitura e do fichamento das
publicações resultou nas tabelas publicadas na seção “3.3.6 – Organização Lógica do Assunto”. Depois
de ter as publicações todas organizadas, um relatório foi escrito na seção 3.3.7 compilando os
principais achados desta pesquisa bibliográfica.

Conclui-se, portanto, que o meio acadêmico ainda carece de pesquisas acerca dos efeitos da
modularização, principalmente das que realizam estudos de caráter quantitativo. Enquanto não
houverem pesquisas com resultados mais sólidos e conclusivos, o meio empresarial tende a ficar
receoso na adoção da prática da modularização visto a falta de comprovações de que o método é de
fato funcional.

Quanto aos objetivos deste trabalho, podemos afirmar que os mesmos foram atingidos de maneira
parcial. A pesquisa em referenciais teóricos foi feita com sucesso, da mesma forma que as tabelas
compilando as principais vantagens e desvantagens teóricas do método também foi desenvolvida. O
terceiro objetivo, que consistia em encontrar materiais sobre estudos de caso nas bases teóricas foi
atingido de forma parcial, evidenciando a escassez de materiais deste tipo com relação a este assunto.
Por fim, o quarto objetivo que buscava montar uma comparação entre resultados teóricos e práticos
também não foi atingido de forma completa. Basicamente faltaram materiais de estudos de caso
aonde vantagens e desvantagens desta prática mostrem resultados efetivos.

51
168
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

Para estudos futuros, por sua vez, existe uma imensidão de tópicos a serem abordados. No que diz
respeito a indicadores qualitativos, carecem de estudos os temas tais como “Tratamento de itens em
função de desgaste”, “Se há redução do tempo e da complexidade dos serviços de assistência técnica
e seus impactos financeiros”, “Se há redução da eficiência operacional do produto após
modularização”, “Se o produto fica mais fácil de ser replicado (copiado) após modularização” e “Se
houve aumento do espaço físico ocupado pelo produto após modularização”. Já no que diz respeito a
indicadores quantitativos, carecem de estudos os temais tais como: “A modularização efetivamente
contribuiu para a redução do tempo ao mercado dos produtos?”, “A modularização contribuiu para
aumento de receitas provenientes de serviços como assistência técnica, atualizações, dentre outros?”,
“A modularização teve impacto na performance dos produtos modularizados?”, e “Houve alteração
sensível do custo do produto vendido (CPV) após adoção da modularização?”.

52
169
Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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58
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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS QUALITATIVOS

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

APÊNDICE B – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS QUANTITATIVO

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

APÊNDICE C – FICHAS DE LEITURA

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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Modularização De Produtos E Seus Efeitos Nos Ambientes De Produção

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193
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 9
10.37423/200902694

USO DO MODELO DE REFERÊNCIA TRAVO


FRACTAL PARA MELHORIA DO PROCESSO DE
FABRICAÇÃO DE PAPEL KRAFT

Aldo Braghini Junior Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Paulo Roberto Sékula Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Isabel Cristina Moretti Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Alexandre de Castro Alves Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo geral a melhoria do processo de produção de papel
Kraft, com o auxílio de modelo de referência. Foi utilizado o Modelo de Referência Trevo Fractal na
busca de melhoria para o processo de fabricação do papel Kraft. Para alimentar o modelo fez-se uso
de entrevistas, questionários, e observação. Os resultados mostraram que a empresa estudada é
extremamente dependente do conhecimento tácito de seus funcionários. O modelo Trevo Fractal
indicou algumas possibilidades de melhoria, respeitando a filosofia da empresa. O modelo apontou
formas de aproveitar o conhecimento tácito das pessoas envolvidas na produção (sendo este
conhecimento um dos pontos fortes da empresa) e sugeriu a elevação do nível de instrumentação dos
equipamentos de produção buscando melhorar o controle do processo produtivo.

Palavras-chave: Processo de Desenvolvimento de Produto. Modelo de Referência Trevo Fractal.


Melhoria de Processo. Papel Kraft.

1
195
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

1. INTRODUÇÃO

No cenário atual o Brasil é um dos maiores produtores de papel de alta qualidade no mundo, com
projeções de expansão embasada nas evoluções tecnológicas dos equipamentos. Em 2009, o setor
posicionou-se como 9º produtor mundial de papel e, em 2010, produziu 9,8 milhões de toneladas do
produto. O desenvolvimento socioeconômico e o aumento de renda da população, com a inserção de
novos consumidores no mercado, resultaram em mais demanda pelos diversos tipos de papéis
(BRACELPA, 2012). A competição por mercados consumidores motiva a procura de alternativas para
se realizar o aprimoramento do planejamento e controle da produção na indústria de papel.

O processo de produção do papel possui características semelhantes nas indústrias desse ramo,
independente dos equipamentos utilizados por essas empresas, se diferenciando apenas na estrutura
física e produtivas. No processo de produção de papel, a folha pode ser formada através do
processamento de resíduos recicláveis ou matéria prima virgem, podendo desta forma ser destinado
aos mais variados tipos de consumo. No sistema de produção podem ocorrer anomalias de processo,
que comprometem a qualidade do produto. Por meio de testes de qualidade é possível verificar-se
como as variáveis de processo podem influenciar no produto final. As anomalias do sistema de
produção de papel Kraft são identificadas com o uso das análises de resistência, nível aquoso da massa,
umidade, entre outros testes que controlam a qualidade do produto. As não conformidades de
formação da folha de papel tais como umidade, manchas na capa da folha de papel, têm influência
direta na qualidade do papel produzido.

O papel Kraft, alvo do estudo, apresenta como uma de suas características o fato das matérias primas
serem das mais variadas origens (pasta mecânica, celulose e resíduos industriais e domésticos de
papel), influenciando diretamente no controle de processo e qualidade.

As informações geradas durante o controle da produção e qualidade, podem levar as ações de


correção pontuais e de efeito limitado. Isto pode ocorrer em função das tomadas de decisões muito
rápidas, pouco amadurecidas e com informações deficientes, assim refletindo diretamente no
processo. Disciplinando-se o fluxo de dados gera-se informações com melhor qualidade para o
controle produtivo. Uma alternativa pode ser o uso de um modelo de referência utilizado no Processo
de Desenvolvimento de Produto (PDP) para organizar e disciplinar as várias etapas do
desenvolvimento de produto e/ou melhoria de produto ou processo.

2
196
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Com o auxílio de um modelo de referência procura-se ter uma visão mais ampla e detalhada de cada
etapa do sistema de produção, que não se tem nas ferramentas tradicionais de gestão de produção.
Desta forma, gerar-se-á uma melhor abrangência das informações facilitando a identificação das
variáveis de processo em cada etapa, obtendo-se assim, uma melhor compreensão do todo. Sendo
assim o presente trabalho tem como objetivo geral a melhoria do processo de produção de papel
Kraft, com o auxílio de modelo de referência.

2. MODELOS DE REFERÊNCIA PARA PDP

O domínio do processo de produção é um dos elementos-chave da competitividade e do sucesso de


uma empresa, além disso, o processo de desenvolvimento de produtos também está se tornando um
dos principais contribuintes para agregar valor ao produto (KALPIC, BERNUS, 2002; NANTES, ABREU,
LUCENTE, 2006).

Uma alternativa para organização e sistematização de um sistema de produção pode ser o uso de um
modelo de referência utilizado no Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP). A estruturação do
PDP pode melhorar o entendimento das demandas nas fases iniciais do desenvolvimento, reduzir o
retrabalho de engenharia e facilitar o controle de custos, qualidade e tempo durante o
desenvolvimento. Além disso, organiza a participação das diferentes áreas de conhecimento, as quais
deixam de depender exclusivamente do conhecimento individual dos envolvidos (ECHEVESTE,
RIBEIRO, 2010).

O modelo de referência proporciona um estudo amplo dos fatores que envolvem desde a avaliação
de uma idéia até o lançamento do produto. Dentre estes fatores estão os relacionados com a produção
de um produto ou com um processo de produção.

Para Barbalho e Rozenfeld (2004), a definição para o conceito de modelo de referência de processo
de desenvolvimento de produto é baseada nos conceitos do Primary Immune Deficiency Diseases
(PIDD), que apresentam um conceito completo de modelo, com a seguinte definição:

“Um modelo é uma representação externa e explícita de parte da realidade


vista pela pessoa que desejar usá-lo para apoiar a execução de tarefas
relacionadas com aquela parte da realidade, sejam operacionais ou gerenciais,
sendo expresso em termos de algum formalismo (linguagem) definido por
construtos de modelagem”.
A definição de modelo cabe uma análise minuciosa e uma longa reflexão. A presente explanação de
um conceito de modelo de referência é muito além de uma simples apresentação da realidade de uma
linha de produção, tendo a capacidade de agregar um propósito, pelo fato de que uma mesma

3
197
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

realidade pode ser vislumbrada de várias formas por indivíduos com vários objetivos quanto ao todo
estudado (BARBALHO, 2006).

Para Rozenfeld (2006), o modelo de referência é uma representação da visão holística de forma mais
aprofundada do processo de desenvolvimento de produto. Nele são apresentadas as principais
dimensões de um processo produtivo ou de negócios, contendo um maior nível de detalhamento
possível, auxiliando na composição do estudo de um processo de desenvolvimento de produtos e
processo.

3. O MODELO DE REFERÊNCIA TREVO FRACTAL NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO OU


PROCESSO

O modelo de trevo fractal (MTF) foi gerado e estruturado para dar suporte e atender um cenário
criativo e para rastrear todo um processo de estimulação da criatividade e solução de problemas,
gerando alternativas de solução baseadas na criatividade e organização das idéias e conhecimentos
dos indivíduos envolvidos (ALBERTI, 2006). O MTF é um método aleatório e não temporal, sendo
mesclado com conceitos extremamente técnicos. O modelo MTF não é limitado, podendo sempre
estar sendo modelado e aperfeiçoado conforme necessidade do ambiente produtivo a ser trabalhado.

As características do MTF podem ser visualizadas na Figura 1, onde se pode ter uma noção mais
detalhada do modelo desenvolvido por Alves (2009), com características que proporcionam a
flexibilidade do modelo de trevo fractal.

4
198
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Figura 1 - Modelo de trevo fractal macro


Fonte: Alves (2009)
O MTF possui um enfoque voltado para o processo criativo, trabalhando de forma mais ampla a sua
etapa conceitual, além disso, possibilita uma observação aprofundada das etapas de planejamento do
processo, projeto informacional e o projeto conceitual do produto. Nas etapas iniciais é que se decide
sobre uma grande fatia dos investimentos que podem vir a ser realizados por uma empresa no
trabalho de desenvolvimento ou melhorias de produto e processo.

O MTF é focado nas etapas predominantemente intelectuais, juntamente com o gerenciamento do


conhecimento que as circundam, proporcionando assim uma simplificação de ações para soluções.
Contudo, as etapas conceituais do modelo, apresentam uma menor subjetividade o que facilita o seu
desenvolvimento, ademais, proporciona característica de abrangência mais detalhadas do cenário
trabalhado, característica que pode ser visualizada na Figura 2.

5
199
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Figura 2 - Modelo Trevo Fractal e as Etapas Conceituais


Fonte: Alves (2009)
A aplicação do modelo pode iniciar em qualquer ponto do mesmo. No entanto, as ações foram
identificadas por letras e números para que haja uma melhor facilidade organização da sequência de
ações. As ações propostas pelo modelo em questão encontram-se detalhadas no Quadro 1.

6
200
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Quadro 1 - Meta-ações e ações do modelo de referência Trevo Fractal Conceitual


Fonte: Alves (2009) – adaptado pelo autor
No quadro 1 as ações são apresentadas de maneira individual, entretanto as menos podem ser
aplicadas de maneira composta, por exemplo uma ação A (Trevo ANALISAR – Planejamento do
Projeto) pode ser composta com a ação 1 (Trevo EXPLICITAR – Gestão do Conhecimento) resultando
na ação A1, logo as ações A e 1 são analisadas em conjunto:

Avaliar o mercado consumidor e não consumidor e sua influência no contexto de utilização do produto
ou processo (A) e anotar dados que potencializem informações aos participantes do desenvolvimento
do produto ou processo (1).

7
201
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

O modelo de trevo fractal possui em suas etapas um elevado nível de iteratividade, que também pode
ser aleatório. Segundo Alberti (2006) o modelo de trevo fractal é composto de etapas estabelecidas e
estruturadas através do uso da criatividade aliado a fatores dinâmicos, que permitem os usuários
realizar customizações construtivas, com o uso imaginário dos cenários a serem trabalhado, podendo
assim gerar inúmeras soluções ou ponto de partida para se atingir as respostas do problema
encontrado.

O potencial encontrado dentro do MTF para atender as mais variadas necessidades e perfis de
indivíduos que constituem a equipe gestora que irá trabalhar com o MTF, proporcionando trabalhos
inovadores e derivativos de outros já existentes, contribuindo para que as idéias e premissas do
trabalho sejam ajustadas conforme a realidade do cenário estudado, explorando assim as habilidades
do ser humano.

4. METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em uma empresa do setor produtivo de papel Kraft entre janeiro de 2009 a
abril 2010. A empresa esta localizada na região centro oeste do estado do Paraná.

Essa pesquisa se caracteriza como uma Pesquisa Exploratória em função do seu objetivo, foram
explorado dados sobre a aplicação das ações do MTF para melhoria do processo produtivo do papel
Kraft. Foi empregada uma abordagem de um estudo de caso, neste contexto o conhecimento das
características do sistema produtivo do papel Kraft. Quanto à abordagem do problema, a pesquisa
pode ser caracterizada como predominantemente qualitativa, referente a aplicação do MTF.

O modelo de referência utilizado para o levantamento das melhorias do processo de produção papel
Kraft foi o modelo de referência Trevo Fractal. O modelo foi aplicado até a fase conceitual e utilizou-
se da equipe de produção da empresa estudada e especialistas no modelo de referência Trevo Fractal.

O levantamento dos dados foi realizado durante a aplicação do modelo de referência Trevo Fractal.
Conforme a necessidades de análise e de busca de informações, a aplicação do modelo foi
interrompida e os dados necessários foram coletados e analisados, com o intuito de possibilitar a
continuidade de aplicação do modelo.

Uma das principais fontes de informação sobre o produto foram os testes de qualidade (RCT, Cobb,
Gramatura, Umidade) do papel produzido pela empresa estudada (teste de conformidade). Por meio
destes testes buscou-se identificar as possíveis causas das não conformidades. A coleta de dados
produtivos foi realizada durante um período de 15 meses.

8
202
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

A empresa estudada não possui automatização de seu processo produtivo, muito pouca
instrumentação e não possui procedimentos formais de correção de não conformidade. Desta forma,
o levantamento dos dados produtivos os quais ajudam na identificação das variáveis de processo, seus
efeitos e influências na fabricação do papel foram realizados através de entrevistas e questionários.
Essas ferramentas foram aplicadas nos responsáveis pela produção (chamados neste trabalho de
contra mestres A, B, C e D), pois são funcionários que atuam diretamente na operação e controle da
máquina de papel, além disso, possuem maior destreza em relação ao processo devido ao grande
conhecimento tácito acumulado ao longo dos anos de trabalho nesta empresa.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi aplicado o modelo Trevo Fractal conforme descrito no capítulo de metodologia. O Quadro 2
descreve as ações realizadas durante a aplicação do modelo de referência Trevo Fractal.

9
203
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Quadro 2 - Ações Descritivas do MTF (Continua)


Fonte: adaptado de Alves (2010)

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204
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Quadro 3 - Ações Descritivas do MTF (Continua)


Fonte: adaptado de Alves (2010)
Ao final da aplicação do modelo Trevo Fractal foi possível encontrar as seguintes sugestões de
melhoria do processo: adotar a sequência de ações do entrevistado B como conceito durante um
período de seis meses, por apresentar de forma global a melhor sequência de ações corretivas; adotar
a sequência de ações do contra mestre que apresentou o melhor desempenho por teste de
conformidade também por um período de seis meses. Estas sugestões têm o intuito de refinar a
avaliação sobre o conhecimento tácito de cada contra mestre. Desta forma, ter-se-á a melhor prática
baseada no conhecimento tácito da equipe de trabalho. Ainda existe a sugestão de implementar uma
instrumentação em algumas partes do processo buscando-se dar mais subsídios para que a equipe de
trabalho possa atuar no processo de maneira mais eficiente e segura.

Para uma melhor visualização das ações apresentadas na aplicação do MTF na empresa estudada,
tabulou-se os resultados obtidos na quantidade, sequência e descrição, Figura 3.

11
205
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

Figura 3 - Formalização gráfica das ações desenvolvidas no MTF


Fonte: Adaptado de Castro Alves (2010)
Observando-se a Figura 3 nota-se que as ações ligadas a conversão do conhecimento (44,12 % de todas
as ações) foram as mais utilizadas, mostrando que o conhecimento do processo de produção é muito

12
206
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

importante para a busca de soluções de melhoria. As ações ligadas à definição clara das necessidades
do cliente (29,41 % de todas as ações) também se mostram muito relevantes. Estas ações estão ligadas
a transformação das necessidades do cliente em princípio de soluções.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo analisou o processo de produção de papel Kraft, por meio da aplicação conceitual do
modelo de referência Trevo Fractal, com o objetivo de melhoria acerca desse processo.

Pode-se concluir com a coleta de dados da pesquisa que a empresa estudada apresenta dificuldade
em manter o seu produto dentro das normas de qualidade, deve-se entre outras coisas a falta de um
procedimento formal de correção de não conformidades. Sendo que todas as ações de correção de
não conformidade são baseadas no conhecimento tácito da equipe de trabalho. A dependência
extrema do conhecimento tácito da equipe de trabalho observada gera dificuldade em controlar as
variações de processo que leva a não conformidade do produto.

Por meio da utilização do modelo de referência Trevo Fractal foi possível propor soluções de melhoria
de processo de forma flexível, pois as soluções propostas respeitaram a filosofia de trabalho da
empresa e utilizam a grande riqueza da empresa que é seu capital humano. Sendo assim o modelo de
referência conseguiu apontar soluções que se bem trabalhadas podem transforma-se em melhores
práticas para a empresa em questão. Fica evidente ainda a necessidade de formalização das atividades
do processo de produção para que a empresa consiga futuramente prospectar novos mercados.

13
207
Uso Do Modelo De Referência Travo Fractal Para Melhoria Do Processo De Fabricação De Papel Kraft

REFERÊNCIAS

ALBERTI, P. Formação de consultores para a inovação na indústria. Curitiba:Unindus, 2006a.

ALVES, A. de C. O trevo fractal como modelo de referência de produtos em pequenas empresas. 2009.
159f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Engenharia de Produção –
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa, Ponta Grossa – Paraná, 2009.

BARBALHO, S. C. M. Modelo de referência para o desenvolvimento de produtos mecatrônicos:


proposta e aplicações. 2006. 256 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.

BARBALHO, S.C.M. e ROZENFELD, H(a). Análise do processo de desenvolvimento de produtos de uma


pequena empresa de alta tecnologia. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 24,

2004, Florianópolis, Anais do XXIV Encontro Nacional de Engenharia de Produção, São Paulo,
ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO , Nov./2004.

BRACELPA. Associação Brasileira de Celulose e Papel. Disponível em:

<http://www.bracelpa.org.br/bra2/?q=node/140>. Acesso em: 19 mar. 2012.

ECHEVESTE, M. E.; RIBEIRO, J. L. D. Diagnóstico e intervenção em empresas médias: uma proposta de


(re)organização das atividades do Processo de Desenvolvimento de Produtos. Produção, v. 20, n. 3, p.
378-391, 2010.

KALPIC, B.; BERNUS, P. Business process modelling in industry - The powerful tool in enterprise
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NANTES, J. F. D.; ABREU, A.; LUCENTE, A. R. The role of technological innovation in the development
of new products: a study in the food industries. Product: Management & Development, v. 4, n. 1, 2006.

ROZENFELD, H.; AMARAL, D. C. FORCELLINI,

F.A.;TOLEDO, J.C.de;SILVA,S.L.da;ALLIPRANDINI,D.H.;SCALICE,R.K; Gestão de Desenvolvimento de


Produtos – Uma referencia para a melhoria do processo. São Paulo, Saraiva 2006.

14
208
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 10
10.37423/200902697

FERRAMENTAS PARA MODELAGEM E


SIMULAÇÃO DE PROCESSOS

Paulo Sérgio Parangaba Ignacio Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Flavio Trojan Universidade Tecnológica Federal do Paraná

João Luiz Kovaleski Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Resumo: Este artigo desenvolve um estudo comparativo entre as diferentes ferramentas para se fazer
a representação, modelagem e simulação de processos industriais. As ferramentas são divididas em
dois grupos: métodos formais e métodos descritivos. Os métodos formais são mais precisos e
complexos na sua utilização, e dentro deste grupo, destaca-se a modelagem de processos utilizando
redes de petri. O formalismo torrna a rede de petri, uma poderosa técnica de modelagem na
representação dos processos e permite um rastreamento minucioso de cada etapa da operação.

Palavras chave: Ferramentas para Modelagem Organizacional, Modelagem de Processos, Redes de


Petri.

1
210
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

1. INTRODUÇÃO

Para ser competitiva, uma organização precisa adaptar-se continuamente às mudanças do mercado.
O aumento global da competição está forçando as organizações a reduzir o tempo para lançar novos
produtos e oferecer preços competitivos. Diversidade, flutuações de demanda, a vida curta dos
produtos devido à introdução freqüente de novas necessidades, além do aumento nas expectativas
do cliente em termos de qualidade e tempo de entrega, é atualmente um dos principais desafios com
que a organização têm que negociar para manter competitividade e ficar no mercado (BUSETTI &
SANTOS, 2006).

Recentemente, devido aos avanços rápidos da informática, novos paradigmas têm surgido, tais como:
CIM, JIT, produção enxuta, engenharia simultânea (MERTINS & JOCHEM, 2005).

Para Pidd (1998), um modelo é uma representação externa e explícita de parte da realidade, vista pela
pessoa que deseja usar aquele modelo para entender, mudar, gerenciar e controlar parte daquela
realidade.

Para atender as atuais necessidades de uma organização é necessário modelar essa organização, a fim
de representar fluxos, tendências, características implícitas, além da monitoração dos processos de
forma individualizada. A modelagem é uma técnica para representar e entender a estrutura
organizacional e seu comportamento, analisar processos empresariais e também apoiar a
reengenharia desses processos.

Assim, esse artigo tem por objetivo, desenvolver um estudo comparativo entre algumas das diferentes
ferramentas utilizadas na representação, modelagem e simulação de processos e destacar uma das
ferramentas de modelagem que proporcione maior incremento ao processo produtivo, por meio dos
estudos da engenharia de produção, oriundos da aplicação dessa ferramenta específica de
modelagem.

2. FRAMEWORK E ABORDAGEM PROPOSTA PARA A MODELAGEM

Medição, coleta de dados e informações sobre o desempenho de processos são atividades essenciais
do gerenciamento de uma organização. Como a informação é convertida em informação percebida,
todos os níveis hierárquicos podem então definir ações nos seus respectivos domínios de
gerenciamento, assim através de um modelamento pelo sistema denominado core (núcleo), conforme
ilustrado na figura 1, pode-se gerenciar.

2
211
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figura 1 – Processo de gerenciamento da organização (Souza et al., 2005)

Este framework é divido em três subsistemas, são eles: subsistema de gestão, subsistema de interface
e subsistema de operações. O foco deste trabalho é o subsistema de operações. O objetivo principal
é gerar uma biblioteca a partir de um conjunto de especificações. Outros objetivos são montar
modelos de referência, fazer a análise estrutural e a análise qualitativa (SOUZA et al., 2005).

A base para a abordagem de desenvolvimento deste trabalho está apresentada na figura 2, controle
de processos é caracterizado por três fases:

 modelagem,
 síntese e,
 implementação.
Na fase de modelagem é selecionado das bibliotecas de subsistemas e especificações, um conjunto de
modelos para representar um sistema real e aplicações. Na fase de síntese, estes modelos irão gerar
os módulos supervisores. Na fase de implementação, os três níveis de estruturas de controle (módulos
supervisores, sistemas de produção e operações) são integrados e gradualmente implementados em
três passos: simulação, simulação e inserção de controle e tecnologia de comunicação (CCT), e
execução.

3
212
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figure 2: Ciclo de desenvolvimento de sistemas de controle para processos (Busetti & Santos, 2006)

O controle do sistema desenvolvido acontece ciclicamente em três fases: modelagem, síntese, e


implementação. Desta maneira, o desenvolvimento permite uma revisão contínua dos resultados
obtida em cada passo. Fazendo isto, o projetista pode receber uma aplicação nova (por exemplo, uma
necessidade em reconfigurar os processos) e seleciona a nova especificação ou modelo de subsistema
que vai adequar-se a esta aplicação nova (BUSETTI & SANTOS, 2006).

3. DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS DE MODELAGEM

Existem várias ferramentas disponíveis para auxiliar a modelagem de um sistema Kettinger listou mais
de 100. Estas ferramentas são capazes de modelar muitos aspectos diferentes de um sistema em
vários níveis de detalhamento.

Muitos dos sistemas podem ser vistos como sistemas a eventos discretos (DES), por exemplo:
manufacturing systems, business processes, suplly chains. Estes sistemas são complexos e difíceis de
entender e operar eficazmente. Por causa de sua grande versatilidade, flexibilidade e poder, a
simulação é amplamente utilizada nas pesquisas técnicas de operações. A simulação, teoricamente,

4
213
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

tem um grande potencial para ajudar na compreensão e operação destes sistemas. Pode-se
categorizar as ferramentas em dois métodos, conforme Ryan e Heavey (2006):

• Métodos formais: são métodos que tem uma base formal e numerosos softwares de
implementações destes métodos.

• Métodos descritivos: são métodos que tem uma pequena ou nenhuma base formal e são
principalmente implementações de software.

Um método pode ser pensado como um procedimento para fazer algo, pode ser descrito formalmente
como, consistindo de três componentes, figura 3 (MAYER et al., 1995).

Figura 3 – Componentes do Método (Mayer, Crump, Fernandes, Keen, Painter, 1995)

Cada método tem:

a) definição

b) disciplina

c) usos

5
214
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

A definição de método é estabelecida caracterizando as motivações básicas do método, conceitos e


usos. A definição de método é estabelecida caracterizando as motivações básicas do método,
conceitos e fundamentos teóricos. A componente de definição é desenvolvida através de métodos
que criam princípios. A componente de disciplina inclui a sintaxe do método e o procedimento pelo
qual o método é aplicado. A componente de uso caracteriza como aplicar o método em situações
diferentes.

3.1 MÉTODOS FORMAIS

3.1.1 REDES DE PETRI (PN)

A teoria de redes de Petri é aplicada no projeto e análise de sistemas que possuem simultaneidade,
paralelismo, assincronismo, distribuição ou comportamento estocástico (LIN et al., 2005).

Redes de Petri é um formalismo matemático baseado em alguns objetos simples, relações e regras
capazes de representar sistemas muito complexos (RYAN & HEAVEY, 2006).

Pode ser representada, por uma quíntupla, para representar o comportamento e propriedades
estruturais do sistema, e dispõe de uma ferramenta gráfica para visualizar a modelagem, figura 4.

PN = (P, T, I+, I-, Mo), onde:

(1) P = {p1, p2,..., pm} conjunto finito de lugares,

(2) T = {t1, t2,..., tn} conjunto finito de transições,

(3) I- é a função de incidência de entrada definida em P x T,

(4) I+ é a função de incidência de saída definida em T x P,

(5) Mo é o estado marcado inicial definido em P.

Redes de Petri tem sido utilizada por ser uma ferramenta de modelagem e análise para sistemas de
hardware/software de computador, processos industriais e controle de sistemas, sistema de
administração do conhecimento e do processamento da informação (LIN et al., 2005).

6
215
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figura 4 – Planta de um nível simples (Holloway, Gong, Ashley, 2006)

O formalismo também forma a base de várias ferramentas que modelam processos, e tem sido
utilizado na área de workflow/business. Redes de Petri pode modelar e representar com muita
precisão um sistema real, porém, em sistemas reais, normalmente a modelagem é muito grande e
complexa tornando-se difícil para uma pessoa não especializada entender o modelo (RYAN & HEAVEY,
2006).

3.1.2 ESPECIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE EVENTOS DISCRETOS (DEVS)

O formalismo dos DEVS desenvolvido por Zeigler Kofman (2004) e Ryan e Heavy (2006), permite
representar todos os sistemas de comportamento de entrada/saída, pode ser descrito por uma
sucessão de eventos, com a condição que o estado tem um número definido de mudanças em
qualquer intervalo finito de tempo. Desta maneira, sistemas modelados por redes de Petri,
statecharts, gráficos de eventos, e até equações diferenciais podem ser vistos como casos particulares
de modelos de DEVS (KOFMAN, 2004). Este formalismo foi usado para apoiar o projeto e simulação
de arquiteturas de computador, redes de comunicações e sistemas industriais. Tem uma
representação formal de sistemas de eventos discretos, porém, a representação matemática proposta
é difícil de compreender sem um conhecimento detalhado do formalismo (RYAN & HEAVY, 2006). O
modelo DEVS tem um processo de trajetória do evento de entrada e de acordo com a trajetória e suas

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216
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

condições iniciais, provocará um evento de trajetória de saída. Um DEVS é definido pela seguinte
estrutura (BARROS & ZEIGLER, 1997; KOFMAN, 2004):

(1) X é o conjunto de eventos de entrada,

(2) Y é o conjunto de eventos de saída,

(3) S é o conjunto de valores de estado,

(4) e ta são funções que definem a dinâmica do sistema.

3.1.3 STATECHARTS

Statecharts é baseado na anotação introduzida por Harel Ryan e Heavy (2006) e Marty et al.

(1998). Um diagrama de statechart é composto de vários elementos básicos, estados e transições.


Estes diagramas de statechart são usados para mostrar o fluxo de controle ou sucessões de estados
que um sistema pode proceder como resultado de eventos discretos (RYAN & HEAVY, 2006). A
estrutura de controle do Statecharts é feita em cinco níveis (MARTY et al., 1998). A figura 5 ilustra
estes níveis:

 Nível 4 – (planejamento) aspectos administrativos e de planejamento.


 Nível 3 – (programação) parâmetros e recursos disponíveis no sistema
 Nível 2 – coordenação das células de manufatura
 Nível 1 – controle de máquinas
 Nível 0 – sensores e atuadores

8
217
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figura 5 - (Marty et al., 1998)

3.2 MÉTODOS DESCRITIVOS

3.2.1 IDEF

IDEF é um grupo de métodos de modelagem, que podem ser usados para descrever operações em
uma organização. Foi desenvolvido para o ambiente industrial, existem dezesseis métodos (DÍEZ,
2004):

 IDEF0: Function Modelling

 IDEF1: Information Modelling

 IDEF1X: Data Modelling

 IDEF2: Simulation Model Desing

 IDEF3: Process Description Capture

 IDEF4: Obejct-Oriented Desing

 IDEF5: Ontology Description Capture

 IDEF6: Desing Rationale Capture

 IDEF7: Information System Audit Method

 IDEF8: User Interface Modelling

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218
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

 IDEF9: Scenario-Driven IS Desing

 IDEF10: Implementation Architeture Modelling

 IDEF11: Information Artefact Modelling

 IDEF12: Organisation Modelling

 IDEF13: 3-Schema Mapping Desing

 IDEF14: Network Desing

IDEF0 é uma técnica de modelagem baseada numa combinação de gráficos e textos que representam
à organização para que se tenha a compreensão, o suporte para análises, suporte para sistemas de
projeto e integração de atividades. O modelo IDEF0 é composto de uma série hierárquica de diagramas
que gradualmente exibem níveis crescentes de detalhe que descreve funções e suas interfaces dentro
do sistema, figura 6 (INTEGRATION DEFINITION FOR FUNCTION MODELING, 1993).

O modelo de IDEF0 reflete como funções de um sistema se relacionam. Quando usado de um modo
sistemático, ele provê um sistema que cria aproximação para:

a) Análise dos sistemas projetados de todos os níveis, para sistemas compostos de pessoas, máquinas,
materiais, computadores e informações de todas as variedades;

b) Produzir documentação de referência, simultaneamente com o desenvolvimento, para servir como


base para integrar novos sistemas ou sistemas melhorar os existentes;

c) Comunicação entre analistas, desenhistas, usuários e gerentes;

d) Coalizão de times, permitindo que seja alcançada a compreensão;

e) Gerenciamento de projetos grandes e complexos que usam medidas qualitativas;

f) Prover uma arquitetura de referência para a análise da organização, da informação e gerenciamento


de recursos.

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219
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figura 6 – Decomposição da Estrutura (Integration definition for function modeling, 1993)

No IDEF3, a descrição de processo é desenvolvida usando duas estratégias de aquisição de


conhecimento: estratégia centrada no processo e estratégia centrada no objeto. A estratégia centrada
no processo organiza o processo do conhecimento com foco nas relações temporais, causais e lógicas
dentro de um cenário. A estratégia centrada no objeto organiza o processo do conhecimento com foco
em objetos e mudanças de procedimento dentro um único cenário ou múltiplo cenários (Mayer,
Menzel, Painter, Witte, Blinn, Perakath, 1995). O IDEF3 permite a representação da transição de
estados de um sistema a eventos discretos, porém o modelo de controle não é representado
graficamente (RYAN & HEAVY, 2006).

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Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

3.2.2 IEM

O método IEM (modelagem integrada da organização) trabalha com a técnica orientada a objeto para
descrever informações e funções de objetos com uma visão simples de modelo de um sistema de
manufatura integrado. O core da estrutura do modelo contém as visões, modelo de processos de
negócios e modelo de informações. No modelo, os processos industriais e todas as atividades que
estão relacionadas à produção são descrito por funções e processos de negócios que recorrem a
objetos.

A base para o desenvolvimento do modelo é uma descrição individual da empresa e formada pelas
classes de objeto: produto, recurso e ordem. Todas as tarefas, a organização do processo, os dados,
as instalações de produção e todos os componentes do sistema de informação são registrados em
qualquer nível de detalhe (MERTINS & JOCHEM, 2001).

A visão de modelo organizacional enfatiza as tarefas e processos empresariais que são executados nos
objetos; a visão de modelo de informações enfatiza as estruturas e características que descrevem
objetos. A figura 7 mostra uma avaliação dos elementos de modelagem do IEM. O modelo orientado
a objeto pode construir e modelar diferentes tipos de organização (MERTINS & JOCHEM, 2005).

Figura 7 – Elementos do Modelo (Mertins, Jochem, 2005)

MO2GO é uma ferramenta de modelagem que trabalha com o método de IEM. A ferramenta é utilizada
para descrever, analisar e aperfeiçoar estruturas operacionais e processos organizacionais permite

12
221
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

descrever e analisar, produtos, recursos, ordens e os processos organizacionais relacionados. As


vantagens do uso desta ferramenta incluem a sistematização do planejamento e otimização dos
processos e a reutilização dos modelos organizacionais para todos os projetos e visões que interessam
ao planejamento, aos sistemas de informação, ao controle, administração da qualidade e ao
desenvolvimento organizacional. A ferramenta possui gráficos e documentos de texto, baseados na
comunicação entre os documentos dos participantes (MERTINS & JOCHEM, 2001). O propósito é ter
diretórios estruturados de tudo que foi modelado, funções, objetos, a documentação e os gráficos.
Você pode gerar documentos também unificados de acordo com ISO 9000, automaticamente. Isto
reduz o processo de certificação significativamente (MERTINS et al., 1997).

4. CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE MODELAGEM

Foram vistos diversos métodos e ferramentas para a modelagem e simulação de processos


organizacionais, na tabela 1 é apresentado um resumo das ferramentas vistas neste artigo. Nós
dividimos as ferramentas em dois grupos, métodos formais e descritivos. Podemos concluir que as
ferramentas formais são mais precisas, complexas e de difícil utilização. Em nosso trabalho estamos
optando em trabalhar com Redes de Petri para a modelagem do subsistema de operações.

Tabela 1 – Autoria Própria

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222
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

5. MAPEAMENTO DOS CONCEITOS DE PROCESSOS DE NEGÓCIO EM REDES DE PETRI

A utilização de um processo em sistema de gerenciamento de processos de negócio indica a


necessidade de gerenciamento em alguma categoria particular. Tal processo define quais tarefas
precisam ser executadas. A existência de informações sobre as tarefas a serem realizadas e sobre as
condições dos processos é importante. Dessa forma, define-se a ordem na qual as tarefas precisam
ser executadas. Um grande processo pode consistir em subprocessos, tarefas e condições.

Um determinado estado do sistema pode levar à execução de um processo (disparo de uma transição)
que, muitas vezes, depende da disponibilidade de uma pessoa. As condições têm duas funções
importantes: assegurar que as tarefas procedam na ordem correta e verificar se o estado do caso pode
ser estabelecido (INAMASU et al., 2004).

Um exemplo de especificação do processo de gerenciamento de reclamações usando redes de Petri é


feito por (AALST & HEE, 2002). A entrada da primeira reclamação é registrada e o cliente que reclamou
e o departamento afetado pela reclamação é informado. O departamento, informado da reclamação,
pode ser questionado e o cliente é consultado para fornecer mais informações. Essas duas tarefas
podem acontecer simultaneamente (em paralelo) ou, ainda, em qualquer ordem. Depois, os dados
são reunidos e a decisão, que pode ser um pagamento ou o envio de uma carta, é tomada. A Figura 8
mostra como representar esse processo com redes de Petri.

Cada uma das tarefas (registrar, informar cliente, informar departamento, pagar e arquivar) é
modelada utilizando uma transição. A modelagem da avaliação da reclamação utiliza duas transições,
positiva e negativa, que correspondem, respectivamente, a uma decisão positiva e outra negativa. Os
lugares início e fim correspondem ao início e ao fim do processo. Os outros lugares correspondem às
condições. Estas asseguram que as tarefas prossigam na ordem correta e que o estado do caso possa
ser estabelecido. O lugar c8, por exemplo, assegura que a reclamação seja arquivada apenas quando
estiver completamente resolvida.

14
223
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

Figura 8 – O processo de gerenciar reclamação modelada em redes de Petri (Aalst, Hee, 2002).

Os casos são ilustrados por meio de fichas; um caso pode ser representado por uma ou mais fichas.
Na Figura 8, a ficha no lugar início mostra a presença de um caso. Assim que a transição Registrar
disparar haverá uma ficha em c1 e outra em c2, que representam o mesmo caso. O número de fichas
que haverá em determinado caso é igual ao número de condições satisfeitas. Quando houver ficha no
lugar fim, o caso foi finalizado. Em princípio, cada processo deveria obedecer dois requisitos:

1 - ser possível de realizar por meio da execução das tarefas;

2 - todas as fichas devem desaparecer para que surja uma ficha no fim.

Esses dois requisitos asseguram que cada caso começado no lugar início será corretamente encerrado.
Caso haja tarefas a serem terminadas, não é possível que exista uma ficha no lugar fim.

6. CONCLUSÕES

Este trabalho procurou apresentar, através da tabela 1, um resumo das ferramentas mais utilizadas
para modelagem. Podemos concluir que as ferramentas formais são mais precisas e complexas para a
modelagem organizacional, e dentro das ferramentas do método formal destaca-se as redes de petri
para a modelagem. A rede de petri é uma ferramenta gráfica e matemática, que tem um ambiente
para modelagem, análise e projeto de sistemas. Uma vantagem da rede de petri, é que a mesma
metodologia pode ser usada para a modelagem, análise qualitativa e quantitativa. É necessária a
compreensão do processo, antes de sua implementação real, para garantir sua eficiência. O
formalismo torna a rede de Petri, numa poderosa técnica de modelagem na representação dos

15
224
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

processos, e permite um rastreamento minucioso de cada etapa da operação, para um objetivo final,
que é o incremento da produtividade, através da análise e manutenção de uma operação otimizada.

16
225
Ferramentas Para Modelagem E Simulação De Processos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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18
227
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 11
10.37423/200902703

APLICAÇÃO DO MÉTODO FMEA PARA ANÁLISE


DE FALHAS DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE
AÇÚCAR

Patricia de Castro Sousa Fundação Hermínio Ometto

William Douglas Paes Coelho Fundação Hermínio Ometto


Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo realizar um mapeamento do processo de fabricação
de açúcar através do método de análise do modo e efeito de falhas (FMEA), visando melhorar a
qualidade e a confiabilidade do processo. Visto que o processo é composto por muitas variáveis que
determinam os muitos tipos de açúcar existentes no mercado, os considerados de baixa qualidade,
que tem menor valor e demanda, estão relacionados à falhas de processos. Para tanto, foi realizado
um estudo de caso em uma empresa fabricante de açúcar e etanol, localizada no interior de São Paulo.
O estudo propiciou a identificação das causas potenciais de falhas do processo, sua priorização e a
elaboração de ações corretivas e preventivas, dando suporte às decisões estratégicas da empresa e
contribuindo para a maior confiabilidade do processo e qualidade do produto final.

Palavras chave: Processo de fabricação de açúcar, FMEA, Causas de falha.

1
229
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

1. INTRODUÇÃO

O açúcar é um produto com demanda global crescente e as novas exigências dos clientes internos e
externos juntamente com a competitividade no setor, estão levando as empresas a investirem na
melhoria da qualidade de seus produtos e a buscarem soluções para reduzir custos e aumentar os
lucros.

Para Garvin (2002) a qualidade é um ponto estratégico de competição de grande importância, de


acordo com Oakland (1994) as empresas que utilizam a qualidade de forma estratégica, melhoram o
desempenho em confiabilidade, entrega e preço, ganham clientes, obtêm vantagens em recursos de
negócios e se tornam competitivas. A qualidade, no entanto, conforme analisa Garvin (2002), deve ser
voltada para atender as necessidades do usuário, atendendo às especificações definidas por tal. Neste
contexto Carvalho e Paladini (2006) colocam que a qualidade é uma relação entre a organização e o
mercado consumidor.

O açúcar é obtido através de um processo de cristalização controlada, a partir do caldo de cana-de-


açúcar previamente tratado. A qualidade do açúcar é dada por um conjunto de especificações que
formam uma variedade de tipos de açúcar, definidas, de acordo com as preferências do comprador.
Paulino (2009) lista as especificações típicas do açúcar, que podem ser conferidas na Tabela 1.
Considerando que a matéria-prima é a mesma pra todos os tipos de açúcar, no sistema produtivo,
porém, o que define a qualidade do produto, é a eficiência do processo de produção, visto que, a
variação das especificações ocorre por falhas existentes no processo.

TIPOS DE AÇÚCAR
Características Unidade
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 VHP VVHP

Cor ICUMSA UI máx. 100 150 180 400 1200 450

Polarização °Z min. 99,8 99,7 99,7 99,5 99,00 - 99,49 99,6

Umidade % máx. 0,04 0,04 0,04 0,10 0,15 0,1

1 a 10 máx. 5 5 9 − − −
Resíduos Insolúveis
mg/Kg máx. − − − − − 120

Pontos Pretos nº/100g máx. 7 7 15 − − −

Part. Magnetizáveis mg/Kg máx. 2 1 5 − − −

Cinzas % máx. 0,04 0,05 0,07 0,10 0,15 0,12

2
230
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Sulfito mg/Kg máx. 10 10 15 20 − <1

Dextrana mg/Kg máx. − 100 150 − − 80

Amido mg/Kg máx. − 180 180 − − 80

Turbidez NTU máx. − 20 20 − − 50

AM em
mm min. − 0,5 - 0,8 0,5 - 0,9 − − 0,9
Granulometria
CV em % máx. − − − − − 25

Fundo máx. − − − − − 0,2

Aparência − − Cristal branco, sem empedramento

Sabor − − Doce característico

Odor − − Característico, sem odor desagradável

Fonte: Adaptado de Paulino (2009)

Tabela 1 – Especificações do açúcar


O principal fator que influência na qualidade do açúcar, é a cor UI (unidade ICUMSA) - aumentando a
qualidade do mesmo de acordo que a cor UI decai. Assim, o açúcar Tipo 1, apresenta qualidade
superior aos demais e detém a preferência do mercado consumidor, o que aumenta o valor agregado
do produto e proporciona melhores rendimentos a empresa. No entanto, há uma grande dificuldade
do processo em adequar o produto final à qualidade demandada, acontecendo do açúcar produzido
não ser o desejado, comprometendo o atendimento ao cliente, gerando estoques, retrabalho e
grandes custos à empresa. Segundo Oliveira, Esquiaveto e Silva Junior (2007), diversos fatores
contribuem para esse problema (insuficiente e/ou inadequado controle do processo de produção,
falta de mão-de-obra capacitada, entre outros), também, apontam carência de estudos voltados para
o açúcar no maior país produtor do mundo.

A classificação quanto ao tipo de açúcar, é dada ao final do processo, pelas análises das especificações
em laboratório. Para Juran e Gryna (1993) o controle de qualidade do produto ao final do processo
pode ser insuficiente e tardio, e que um acompanhamento das operações durante o processo,
possibilita a correção das falhas no momento em que elas ocorrem.

Neste contexto, a análise do modo e efeito de falha (FMEA – Failure Mode and Effect Analysis),
segundo Oakland (1994), é um método que determina os possíveis modos de falha e seus efeitos no
desempenho do produto ou do processo ou do serviço e contribui para a melhoria da qualidade dos

3
231
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

mesmos. Keeling (2002) faz associação com a análise de riscos, e cita benefícios como: maior confiança
lógica no planejamento, inclusão de táticas e métodos para reduzir as consequências das falhas e
avaliação dos riscos e consequências que influenciarão nas decisões estratégicas.

Sendo o processo de fabricação de açúcar composto por muitas variáveis que dificultam o controle de
qualidade de saída do produto final, tem-se como objetivo deste trabalho identificar e avaliar as
variáveis críticas do processo através do método FMEA proposto por Palady (1997) e assim poder
determinar ações necessárias ao controle do processo às principais falhas identificadas, visando obter
uma maior confiabilidade do processo e consequente melhoria da qualidade do açúcar, ou seja, um
produto final dentro das especificações desejadas, o que além de trazer ganhos para a organização
como um todo, preenche uma lacuna existente, de pesquisas científicas nessa área.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Qualidade, de acordo com Carvalho e Paladini (2006), é uma palavra de difícil definição, pois depende
da abordagem dada ao termo, que pode ser transcendental, baseada no produto, na produção, no
usuário e no valor. Oakland (1994) resume todas estas abordagens, expressando que, qualidade é
simplesmente o atendimento das exigências dos clientes.

Segundo Carvalho e Paladini (2006), a qualidade do produto depende da qualidade do processo, assim
tem-se a confiabilidade, definida por Oakland (1994) como sendo a capacidade do produto ou serviço
atender às exigências do cliente. Tendo-se como processo, segundo Oakland (1994), a transformação
de um conjunto de entradas em saídas, por meio de ações, métodos e/ou operações, que satisfazem
às necessidades e expectativas dos clientes na forma de produtos, informações e/ou serviços.

Para Carvalho e Paladini (2006) um mapeamento do processo, permite que sejam conhecidas com
detalhe e profundidade todas as operações que ocorrem durante a fabricação de um produto,
aumentando as possibilidades de ajustes e medidas corretivas e preventivas quanto às falhas em
processo, levando uma maior confiabilidade ao mesmo.

Existem várias ferramentas e métodos que ajudam na realização de um mapeamento de processo,


destacando-se neste trabalho o fluxograma, o diagrama de Ishikawa e o FMEA.

Fluxograma é um diagrama de entrada-saída que mostra as atividades e seqüências do processo, para


Slack, Chambers e Jhonston (2002) proporciona uma visão geral útil do contexto do processo e de
oportunidades de melhoramentos; para Oakland (1994) assegura uma perfeita compreensão das
entradas e saídas do fluxo do processo.

4
232
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

O diagrama de Ishikawa ou também conhecido com diagrama de causa e efeito ou espinha de peixe,
segundo Oakland (1994) é uma maneira útil de analisar as saídas que afetam a qualidade; para Slack,
Chambers e Jhonston (2002) é um método efetivo de ajudar a encontrar as raízes de problemas. De
forma geral o digrama de Ishikawa, guiado por seis categorias comuns como causas (6M - materiais,
métodos, medidas, máquinas, mão-de-obra, meio ambiente), é representado na Figura 1, adaptada
de Slack, Chambers e Jhonston (2002).

Figura 1 – Diagrama de Ishikawa


O método de análise do modo e efeito de falha (FMEA – Failure Mode and Effect Analysis), a principal
base deste trabalho, conforme Slack et al (2008) é um meio de identificar as falhas do processo.
Segundo Oakland (1994), estuda as falhas potenciais e determina seus efeitos, identifica os níveis de
importância ou criticidade de problemas e estimula ações para reduzir esses níveis. Para Palady (1997)
é um método eficiente e de baixo risco para a prevenção de problemas e identificação das soluções
mais eficazes em termos de custos.

O FMEA desdobra o processo até chegar ao ponto de entender, passando do geral para o particular,
com a finalidade de articular ações para o alcance de objetivos, é assim que Carvalho e Paladini (2006)
descrevem o gerenciamento por diretrizes, que procura criar condições para o gerenciamento das
prioridades da organização e para Keeling (2002) é a base para viabilidade e redução os custos de um
projeto, pois é sempre mais barato detalhar os ricos do que tratá-los durante o processo.

Palady (1997) propõe um modelo de FMEA composto de 5 elementos básicos, demonstrados na


figura2 , visando garantir o sucesso da análise.

5
233
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Figura 2 – Elementos Básicos do FMEA. Adaptado de Palady (1997)


Os níveis de severidade, ocorrência e detecção avaliam a criticidade das causas e efeitos de falha
através da atribuição de valores a cada nível, conforme classificação das escalas apresentadas no
Tabela 2, adaptadas de Palady (1997).

Palady (1997) explica que o produto das estimativas destes níveis de severidade, ocorrência e
detecção define o Grau de Prioridade de Risco (RPN), sendo considerads críticas as variáveis que
possuírem o maior índice.

Escalas de Referência
Í
ndice Severidade Ocorrência Detecção

1 Efeito não é notado pelo cliente Extremamente remoto Certamente detectará

Chance muito elevada de


2 Efeito pequeno, notado pelo cliente. Remoto, improvável
detectar

Efeito pequeno, que causa algum Chance muito pequena Chance elevada de
3
inconveniente ao cliente. de ocorrer detectar

Efeito pequeno, mas que requererá Chance pequena de Chance de detectar com
4
serviço ocorrer freqüência

Efeito pequeno, cliente requererá Chance ocasional de Chance moderada de


5
serviço imediato ocorrer detectar

Chance moderada de Chance ocasional de


6 Efeito moderado, causa insatisfação
ocorrer detectar

6
234
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Chance de ocorrer com Chance pequena de


7 Efeito moderado, causa reclamação
freqüência detectar

Efeito significante, causa interrupção no Chance elevada de Chance muito pequena


8
sistema ocorrer de detectar

Chance muito elevada de


9 Efeito crítico, risco de segurança Remota detecção
ocorrer

10 Efeito crítico, risco de vida Certamente ocorrerá Impossível detectar

Tabela 2 – Escalas de severidade, ocorrência e detecção


Para Palady (1997) o objetivo deste modelo é destacar o FMEA como uma ferramenta eficaz de análise,
com menores custos e tempo de desenvolvimento.

3. METODOLOGIA

Este trabalho conforme classificado por Silva (2004), tem como procedimento técnico de elaboração,
um estudo de caso, que de acordo com Acevedo e Nohara (2009), é caracterizado pela análise em
profundidade de um objeto de pesquisa (um indivíduo, uma família, uma organização, entre outros),
reunindo segundo Martins e Lintz (2010) por meio de diferentes técnicas de coleta de dados
(observação, observação participante, questionário, entrevistas, análise de conteúdo, etc.) um maior
número de informações detalhadas, possibilitando uma profunda penetração na realidade do tema.

O presente trabalho desenvolveu-se na Usina São João, empresa do Grupo USJ, produtora de açúcar
e álcool, localizada no município de Araras, interior de São Paulo, nos meses de agosto, setembro e
outubro do ano de 2011, considerando os dados da safra corrente. Tendo-se como foco de pesquisa
o processo de fabricação de açúcar, visando mapear as falhas do processo que interferem na qualidade
do açúcar final, a fim de melhor direcionar os esforços para a melhoria da confiabilidade do processo,
através do método FMEA proposto por Palady (1997).

Palady (1997) recomenda que a equipe de colaboradores do FMEA não seja muito grande, sugere uma
diretriz genérica de 5 a 7 pessoas, que detenham o maior conhecimento do processo, a fim de
representar bem o interesse de todos os grupos que exerçam influência sobre a qualidade e
confiabilidade finais do processo. Então, o presente trabalho contou com o apoio de uma equipe de
colaboradores, denominada equipe FMEA e selecionada conforme descrito a seguir.

O levantamento das informações necessárias à pesquisa deu-se pela consulta a documentos internos
da empresa (instruções normativas, dados de produção e venda, entre outros) e entrevistas

7
235
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

estruturadas, aplicadas aos funcionários colaboradores da equipe FMEA, cujo roteiro de questões está
apresentado na Figura 3. Todavia, para não interferir na qualidade das respostas e preservar os
interesses profissionais dos funcionários, os mesmos não serão identificados.

A Tabela 2, a seguir, representa o modelo de FMEA proposto por Palady (1997), conforme sugere o
autor cada coluna deve ser preenchida completamente antes de passar para a coluna seguinte para
não perder o foco da análise, o que, juntamente com as questões que completam a tabela, fornecem
o roteiro de entrevistas com os colaboradores da equipe FMEA.

Figura 3 – Modelo de FMEA

Em síntese o desenvolvimento do trabalho foi dividido em cinco fases demonstradas na figura 4 e


descritas abaixo:

Figura 4 – Fases do desenvolvimento do trabalho

Fase I - Estruturação: nesta fase foi realizada uma familiarização entre a pesquisadora, o processo de
fabricação do açúcar e os funcionários da empresa, através de um acompanhamento diário e
observações das atividades do processo. O que proporcionou a definição da equipe de colaboradores
FMEA, sendo escolhidos 5 funcionários que já trabalharam em várias funções do processo e que
abrangem um conhecimento geral sobre o mesmo. E direcionou a análise, definindo as funções do
processo com base no fluxograma do processo.

Fase II - Identificação das variáveis: as variáveis do processo consistem nas causas de falha do mesmo,
e foram apuradas com o apoio da equipe FMEA, que derão a sua visão de efeito e causa para cada
modo de falha, definido como a função do processo no sentido negativo. Cada funcionário foi

8
236
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

entrevistado individualmente e todas as colocações foram tabuladas para posterior avaliação de


criticidade.

Fase III - Avaliação de criticidade: identificadas as variáveis do processo, os colaboradores da equipe


FMEA avaliaram a severidade do efeito da falha e a ocorrência e detecção das causas de falha,
atribuindo notas de 1 a 10 conforme proposto por Palady (1997). A média aparada das notas foi
atribuída aos valores de severidade, ocorrência e detecção. Para o cálculo desta média eliminou-se o
menor e o maior valor do conjunto e realizou-se a média aritmética entre os valores restantes,
excluindo os valores discrepantes da amostra.

Fase IV - Análise dos dados: nesta fase as variáveis críticas do processo foram apontadas segundo o
cálculo do RPN também proposto por Palady (1997). E para complementar e auxiliar a conclusão do
estudo, as causas definidas com risco de alta prioridade, foram detalhadas entre os 6M do diagrama
de Ishikawa.

Fase V - Recomendações: por fim, seguindo o roteiro de entrevistas, a equipe FMEA apontou
ações de melhoria do processo, para as causas com alta prioridade de risco definidas na fase anterior.

4. ESTUDO DE CASO

4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

Fundada em 1944, situada em Araras interior de São Paulo a Usina São João, é a pioneira do Grupo
USJ, formado por mais duas usinas localizadas no estado de Goiás. O grupo está entre os maiores
produtores brasileiros de açúcar e etanol, com um faturamento anual de aproximadamente 656
milhões de reais. Tem como visão ser líder e inovador em processos e produtos para os mercados de
derivados de cana-de-açúcar; e como missão produzir açúcar, etanol, eletricidade e outros derivados
da cana-de-açúcar, gerando lucro de forma sustentável para clientes, acionistas e colaboradores.

A Usina São João processa cerca 3,7 milhões de toneladas de cana por ano, produzindo 300 mil
toneladas de açúcar e 130 milhões de litros de álcool, além de ser autossuficiente em energia elétrica,
gerada pela queima do bagaço da cana.

O objetivo da empresa é atender a demanda por um açúcar de maior qualidade, ou seja, o açúcar Tipo
1, porém este tipo de açúcar é bem difícil de ser produzido, conforme pode ser visualizado na Figura
5, que representa a distribuição da produção de açúcar na empresa. Pelo Gráfico 1, observa-se que
apenas 2% da produção representa o açúcar desejado, 47% representa o açúcar Tipo 2, que todavia é

9
237
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

considerado um açúcar bom e supre a demanda do mercado em substituição a escassez de açúcar


Tipo 1. Já 51% da produção, ou seja, mais da metade do açúcar produzido prejudica os ganhos da
empresa, gerando gastos com estoques e retrabalho, pois 32% da produção é estocado até que surja
compradores para esse tipo de açúcar (Tipo 3), e 19% da produção (açúcar Tipo 4) retorna ao processo,
sendo retrabalhado, a fim de reduzir as perdas da empresa. Essa distribuição entre os tipos de açúcar
produzidos representa a má confiabilidade do processo de produção.

Série1;
Tipo 1; 2;
2% Série1;
Série1; Tipo 3; 32;
Tipo 2; 32%
Série1;
47; 47%
Tipo 4; 19;
19%
Outros
51%

Figura 5 – Produção de açúcar na Usina São João, safra 2011

O processo produtivo da empresa pode ser entendido pelo fluxograma do processo, representado na
Figura 6, que apresenta o fluxo de operações desenvolvidas na fabricação do açúcar.

Figura 6 – Fluxograma do processo de fabricação de açúcar


Subdividido em 4 operações básicas: tratamento de caldo, evaporação, cozimento e secagem, em
resumo a produção acontece da seguinte forma:

a) tratamento de caldo: o caldo bruto, extraído da cana-de-açúcar, é aquecido e tratado


quimicamente, com o objetivo de purificar o caldo, com a retirada de contaminantes orgânicos e

10
238
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

inorgânicos. Impurezas estas provenientes do campo e da própria cana. A retirada destas impurezas
resulta na produção de torta de filtro, que é utilizada como adubo orgânico de alta fertilidade e
então retorna ao canavial;
b) evaporação: o caldo tratado e límpido será nesta seção evaporado retirando-se a água, produzindo
o Xarope de cana para a próxima operação;
c) cozimento: por meio da evaporação da água a vácuo e a baixa temperatura através dos cozedores
à vácuo, acontece uma supersaturação do xarope alimentada com mel, , fazendo com que o açúcar
se deposite nas sementes (solução formada por 2 partes de álcool anidro e 1 parte de açúcar cristal,
utilizada no processo, para que ocorra a granagem dos cristais de açúcar de uma forma mais
homogênea), fazendo-as crescer. Passa pelos cristalizadores que auxiliam na cristalização do
açúcar. O açúcar cristalizado (massa B ou massa A) segue às para as centrífugas de açúcar, onde é
separado os cristais de açúcar dos méis que são reutilizados no processo de cristalização;
d) secagem: o açúcar úmido segue então para os secadores onde ficará seco. Pronto para o ensaque
em sacos de 50 quilos ou em Big-Bags de 600 ou 1.200 quilos. O açúcar assim embalado segue
então para os armazéns, de onde serão expedidos para o mercado.

Estas operações do processo dão base para a definição das funções a serem analisadas pelo método
FMEA.

4.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos nas fases II, III e IV do desenvolvimento do trabalho.

Operação do Função do
Processo Modo de Falha Efeito de falha S Causa da falha O D RPN
processo Processo

Reduzir
Não reduzir
adequadamente
Sulfitação adequadamente Aumento da cor 8 Falta de enxofre 7 2 112
o pH do caldo.
o ph do caldo.
(pH ideal = 4,5)

Presença de
Tratamento 9 Falta de enxofre 7 2 126
bactérias
de Caldo
Presença de
9 Excesso de enxofre 7 2 126
sulfito

Aumento de
encrustações na 7 Excesso de enxofre 7 2 98
evaporação

11
239
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Operação do Função do
Processo Modo de Falha Efeito de falha S Causa da falha O D RPN
processo Processo

Neutralizar a
Não neutralizar a Aumento da cor
Calagem acidez do caldo 8 Excesso de cal 8 2 128
acidez do caldo. por carbonização
(pH ideal = 7,0)

Aumento na
quantidade de 9 Excesso de cal 8 2 144
sufeto

Perda de açúcar
9 Falta de cal 6 2 108
por inversão

Aumentar
Não aumenta
adequadamente
adequadamente Dificulta a Baixa pressão de
Aquecimento a temperatura do 8 9 1 72
a temperatura do decantação Vapor
caldo (105 ° - 110
caldo
° C)

Aumento da cor Alta pressão de


2 1 12
por carbonização vapor

Eliminar Não eliminar Preparo de


Decantação Aumento da cor 8 8 5 320
impurezas impurezas polímero

Presença de
resíduos Preparo de
9 8 5 360
insolúveis e polímero
pontos pretos

Presença de
Deixar passar resíduos
Peneiramento Reter bagacilhos 9 Tela rasgada 9 4 324
bagacilhos insolúveis e
pontos pretos

Aumento de
Transbordamento
resíduos na 8 7 1 56
por peneira suja
decantação

Aumentar a Não aumentar a


Baixa Baixa presão de
Aquecimento temperatura do temperatura do 9 9 1 81
produtividade vapor
caldo caldo

Baixa
9 Encrustações 8 2 144
produtividade

Evaporação Eliminar água do Não eliminar Baixa Baixa pressão de


Pré-evaporação 8 9 1 72
caldo água do caldo produtividade Vapor

Altas pressão de
vapor
Carbonização 9 2 1 18
(temperaturas (115
- 120° C)

12
240
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Operação do Função do
Processo Modo de Falha Efeito de falha S Causa da falha O D RPN
processo Processo

Baixa
8 Encrustações 8 2 128
produtividade

Baixa
8 Sobrecarga 6 1 48
produtividade

Eliminar a maior Vácuo - Altas


Eliminar pouca Aumento da cor
Evaporação quantidade de 9 temperaturas (60 - 7 2 126
água por carbonização
água do caldo 70 ° C)

Vácuo - Altas
Perda de açúcar
9 temperaturas (60 - 7 2 126
por inversão
70 ° C)

Baixa Baixa pressão de


8 8 1 64
produtividade Vapor

Baixa
8 Vácuo 7 2 112
produtividade

Baixa
7 Sobrecarga 2 1 14
produtividade

Não formar os Granulometria


Formar cristais
Cozimento cristais de forma (formação de 9 Operacional 5 2 90
homogêneos
homogênea falsos grãos)

Baixa
60 - 65 ° C 8 Vácuo 7 2 112
produtividade

Baixa Baixa pressão de


8 8 1 64
produtividade Vapor

Aumento de cor 9 Vácuo 6 2 108

Saturar os cristais Não saturar os Tempo de


Cristalização Granulometria 6 2 2 24
de sacarose cristais cristalização
Cozimento
Encrustações e
Caramelização 9 8 2 144
diferença de carga

Granulometria
(formação de
8 Agitadores 1 3 24
blocos de cristais)
caramelização

Separar o mel dos Não separar o Centrífuga


Centrifugação Aumento da cor 9 7 1 63
cristais mel dos cristais obstruída

Falta de água na
Aumento da cor 10 2 1 20
centrífuga

13
241
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

Operação do Função do
Processo Modo de Falha Efeito de falha S Causa da falha O D RPN
processo Processo

Sobrecarga e baixo
Aumento d cor 8 tempo de 7 1 56
centrifugação

Não tirar Granulometria Temperatura do


Tirar a umidade
Secador adequadamente (empedramento 8 secador (baixa 8 1 64
dos cristais
a umidade do açúcar) pressão de vapor)

Granulometria
(empedramento 8 Falta de ventilação 6 2 96
do açúcar)

Temperatura do
Secagem
Aumento da cor 8 secador (alta 3 1 24
pressão de vapor)

Aumento da cor
8 Falta de ventilação 6 2 96
(caramelização)

Deixar passar Presença de


Reter partículas Eletroímã
Eletroímã partículas partículas 9 2 1 18
magnéticas carregado
magnéticas magnetizáveis

Tabela 3 – FEMEA do processo de fabricação de açúcar

Pelas causas de falha encontradas pode-se observar que grande parte das falhas ocorre por problemas
com o vapor. O vapor é também um produto da empresa, gerado em caldeiras pela queima do bagaço,
rejeito do processo de moagem que extrai o caldo da cana, e é um suprimento bastante relevante para
fabricação de açúcar. O vapor direto move as moendas, através das turbinas a vapor. As turbinas, por
sua vez, geram o vapor de escape, suprimento dos pré-evaporadores que auxiliam na evaporação do
caldo e geram vapor vegetal que aquecem os evaporadores, que geram o vapor V2 utilizado pelos
aquecedores. A diferença entre esses vapores é quantidade de pressão existente no gás (força
exercida pelas partículas em uma determinada área). A importância desse suprimento se dá pela sua
utilização em cadeia, o que significa que um problema em qualquer uma destas fases, vai propagar o
problema para a fase seguinte. E é o que acontece na Usina São João, o setor de calderaria enfrenta
grandes problemas e não está dando conta de fornecer a pressão de vapor necessária para o bom
funcionamento do processo.

A criticidade dos resultados obtidos na Tabela 3 é analisada, pelo grau RPN - demonstrado na própria
tabela 3. Os maiores índices de RPN configuram valores acima de 300, conferindo como variáveis de
maior criticidade as causas de falha preparo de polímero, apontada duas vezes, e tela rasgada.

14
242
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

As Figuras 7(a) e 7(b) detalham as causas priorizadas e dão suporte as recomendações e conclusão do
estudo, através do diagrama de Ishikawa e categorias 6M.

(a) Materiais Métodos Mão-de-obra

- Preparo - Falta de experiência


manual, sem
- Desatenção
controle dos Aumento da cor e presença
de resíduos insolúveis e
- Volume de água
pontos pretos por falhas no
- Quantidade de polímero
- Densidade da mistura
- Alerta de nível de tanque
Máquinas Meio ambiente Medidas

(b) Materiais Métodos Mão-de-obra

- Peneira
rotativa, falta de
visibilidade
Presença de resíduos
insolúveis e pontos pretos.

- Peneira rotativa,
maior desgaste
das telas
Máquinas Meio ambiente Medidas

Figura 7 – Diagrama de Ishikawa, variáveis críticas

Na Tabela 4 estão descritas as recomendações, para as causas com alta prioridade de risco, divididas
em duas colunas: medidas preventivas e plano de contingência, para caso a falha ocorra

Causa de Recomendações

Falha Medidas Preventivas Plano de Contingência

- Disponibilizar dispositivos de medição de - Retornar caldo decantado para o decantador,


volume de água, quantidade de polímero e impossibilitando a passagem de caldo sujo ao
densidade da mistura a cada preparo. próximo processo.

Preparo - Controlar a vazão de caldo e polímero no

de decantador.

polímero - Instalar sensores que alertem sobre o baixo


nível do tanque, indicando a necessidade de
novo preparo.

-Proporcionar capacitação aos funcionários.

15
243
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

- Fiscalização e periódica das peneiras, para - Bloquear o equipamento danificado, evitando a


verificação da integridade das telas. passagem de caldo sujo.

- Verificação da presença de resíduos


Tela insolúveis na caixa de caldo decantado.
rasgada
- Dispor-se de mais de um equipamento, para
alternar o funcionamento, para facilitar a
fiscalização e manutenção, sem alterar a
produtividade.

Tabela 4 – Recomendações para as variáveis com alta prioridade de risco

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do estudo realizado, foi possível identificar grande parte das causas de falhas do processo,
entre elas o vapor como suprimento, o preparo de polímero e tela rasgada que abrangem problemas
com equipamentos, método de trabalho e falta de controle das entradas e saídas de cada operação.
Definindo estas causas em nível de prioridade, conseguiu-se melhor detalhá-las e então traçar
recomendações que melhor atendem às necessidades de menor custo e tempo de desenvolvimento,
dando suporte às decisões estratégicas da empresa. No entanto, os resultados obtidos refletem a
situação da empresa em questão, não podendo ser generalizado para todas as empresas do setor, o
que se pode concluir, é que o método FMEA contribuiu significativamente para o alcance dos objetivos
do trabalho.

16
244
Aplicação Do Método FMEA Para Análise De Falhas Do Processo De Fabricação De açúcar

REFERÊNCIAS

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e forma: inclui normas atualizada da ABNT, TCC, TGI, trabalhos de estágio, MBA, dissertações, teses.
3.ed. rev. São Paulo: Atlas, 2009.

CARVALHO, M. M.de (Coord.) & PALADINI, E. P. (Coord.). Gestão da Qualidade: teoria e casos. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006.

GARVIN, D. A.. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio de Janeiro: Qualitymark
Ed., 2002.

JURAN, J. M. & GRYNA, F. M.. Controle da qualidade: conceitos, políticas e filosofia da qualidade. São
Paulo: McGraw-Hill : Makron, 1991-1993.

KEELLING, R.. Gestão de Projetos: uma abordagem global. São Paulo: Saraiva, 2002.

MARTINS, G. A. & LINTZ, A.. Guia para elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso.
2.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

OAKLAND, J.. Gerenciamento da Qualidade. São Paulo: Nobel, 1994.

OLIVEIRA, D. T.; ESQUIAVETO, M. M. M. & SILVA JUNIOR, J. F.. Impacto dos itens da especificação do
açúcar na indústria alimentícia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
20612007000500018&Ing=en&nrm=iso> . Acesso em: 06 ago. 2011.

PALADY, P.. FMEA: análise dos modos de falha e efeitos. São Paulo: IMAM, 1997.

PAULINO, O. F. T.. Produção de açúcar. São Carlos: Centro de Ciências Agrárias, 2009. (Apostila).
Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/13590596/Producao-de-Acucar>. Acesso em: 06 ago. 2011.

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Federal de Educação Tecnológica do Ceará, 2004. Disponível

em: <http://www.ufop.br/demet/metodologia.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2011.

SLACK, N.; CHAMBERS, S. & JOHNSTON, R.. Administração da produção. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2002.

17
245
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 12
10.37423/200902705

INFLUÊNCIA DOS INDICADORES FINANCEIROS


NA AVALIAÇÃO DE RATINGS

Edilson Bacinello Universidade Federal de Rondônia

Cíntia Rosina Flores Universidade Federal de Rondônia

Gleimiria Batista da Costa Universidade Federal de Rondônia

Josmar Almeida Flores Universidade Federal de Rondônia

Marlene Valério dos Santos Arenas Universidade Federal de Rondônia


Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

Resumo: A avaliação do risco de crédito se refere a uma opinião emitida pelas agências de classificação
sobre a capacidade da empresa honrar seus compromissos. Dentre as principais informações utilizadas
nessas classificações, os indicadores financeiros podem ser utilizados para demonstrar aspectos
retrospectivos, presentes e futuros das entidades. Esse estudo buscou avaliar a relação existente entre
as classificações atribuídas pelas agências de rating Standard & Poor’s (S&P), Fitch e Moody’s e os
indicadores financeiros das empresas. O método de pesquisa considerou a utilização do Multi-Criteria
Decision-Making (MCDM), através do método Topsis (Technique for Order of Preference by Similarity
to Ideal Solution), utilizando uma amostra de 66 empresas. Os resultados demonstraram que, de forma
geral, os índices não se mostraram correlacionados em todos os casos. Por outro lado, foram
verificadas algumas semelhanças entre as melhores e piores posições empresariais, no âmbito das
classificações individuais e dos indicadores financeiros, demonstrando que, embora as agências
utilizem metodologias e critérios distintos, podem considerar, em certo grau, alguns índices como um
guia de suas análises.

Palavras-chave: Rating, Indicadores Financeiros, Risco de Crédito, Método Topsis.

1
247
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

1. INTRODUÇÃO

Os ratings (classificações) são opiniões emitidas pelas agências responsáveis pela classificação do risco
de crédito, sobre o possível risco de inadimplência de uma empresa em certo período. Tais opiniões,
baseadas em critérios e metodologias correlatas e/ou distintas (CANTOR; PACKER, 1994), expressam
um juízo de valor sobre a capacidade da empresa em assumir seus compromissos em determinado
período (BASTARDO, 1992).
Dentre as principais agências classificadoras de risco crédito que operam mundialmente, as que
possuem maior destaque são a Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch (JORION; LIU; SHI, 2005;
HILL, 2010). Essas agências, assim como as demais utilizam bases próprias de investigação
(CAOUETTE; ALTMAN; NIMMO, 2009) não estando livres de críticas sobre potenciais conflitos de
interesse, práticas anticompetitivas e/ou de competência sobre determinada emissão (FROST,
2007), principalmente no caso do Brasil, pelo fato de não possuir uma cultura de rating
(SECURATTO, 2002).

Enquanto alguns trabalhos verifica certa obscuridade nas análise desenvolvidas pelas agências de
rating (POLITO; WICKENS, 2015; KRUCK, 2016), fazendo com que até o mais sofisticado participante
do mercado seja incapaz de gerar métodos precisos para estimar o risco de crédito (PARTNOY,
1999), outros estudos indicam que, esses índices se baseiam, principalmente, nas demonstrações
e análises econômico-financeiras das empresas (WEISSOVA; KOLLAR; SIEKELOVA, 2015;
BOUZOUITA; YONG, 1998; ADAMS; BURTON; HARDWICK, 2003).

Dentre a pesquisas realizadas, investigou-se questões relacionadas a classificação do risco de


crédito e suas repercussões no mercado (CANTOR; PACKER, 1996; ALTMAN; RIJKEN, 2004; SKRETA;
VELDKAMP, 2009), assim como a influência dos indicadores financeiros na perspectiva das agências
classificadoras (BEZERRA; CORRAR, 2006; BRIT O ; A S S A F NET O ; CORRAR, 2009). Outros trabalhos
buscaram adicionar/mesclar informações utilizando o Return on Assets (ROA), Participação do
Ibovespa, Dívidas/ Ativo Total - AT (DAMASCENO; ARTES; MINARDI, 2008), Patrimônio Líquido/AT,
Margem de Juros, Despesas Operacionais/Lucro Operacional (MATOUSEK; STEWART, 2009),
insolvência, taxa de endividamento e de equidade (WEISSOVA, KOLAR; SIEKELOVA, 2015). Tais
trabalhos se basearam em metodologias distintas que refletiram em diferentes conclusões,
indicando a necessidade de novas pesquisas que tratem sobre o tema.

Considerando que os ratings possam utilizar como uma de suas principais bases os indicadores
financeiros (DAMASCENO; ART E S; M INARD I , 2 00 8 ), coincidindo, em parte, nas suas

2
248
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

classificações (LANGOHR; LANGOHR, 2008) e, em alguns casos, apresentar divergências entre as


principais agências (MURCIA et al., 2014), este estudo busca investigar a seguinte questão: qual é a
relação existente entre as classificações das principais agências de ratings e os indicadores
financeiros das empresas? Assim, o objetivo desse trabalho consiste em analisar a relação existente
entre as classificações das agências S&P, Fitch, Moody’s e os indicadores financeiros das empresas.

O presente trabalho se justifica por evidenciar possíveis divergências entre as classificações das
principais agências de crédito que, mesmo não estando livres de críticas sobre determinada
emissão (FROST, 2007), podem considerar os indicadores financeiros como um de seus parâmetros
utilizados (MATOUSEK; STEWART, 2009; WEISSOVA, KOLAR; SIEKELOVA, 2015). Busca preencher
uma lacuna na literatura sobre as formas de investigação das agências, retratando uma certa
obscuridade nessas análises (CAOUETTE, ALTMAN; NIMMO, 2009).

O estudo está estruturado por esta introdução e mais quatro seções. Na seção 2, é feita uma revisão
da literatura sobre os tópicos referentes as agências de classificação do risco de crédito,
mecanismos de avaliação dos ratings e indicadores financeiros. A seção 3 apresenta os
procedimentos metodológicos adotados na pesquisa. Na seção 4 são apresentados os resultados e
a discussão sobre o objeto de estudo. Por fim, na seção 5 são feitas as considerações finais.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 AGÊNCIAS CLASSIFICADORAS E MECANISMOS DE AVALIAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO

As agências de rating fornecem dados para apoiar os investidores sobre a avaliação do risco de
crédito, utilizando uma correlação estatística entre as classificações (capacidade de honrar
compromissos) e o panorama em que as empresas se encontram (BASTARDO, 1992; PARTNOY,
1999). De acordo com o autor, a principal função das agências não é influenciar as decisões de
investimento, mas fornecer uma visão independente da qualidade dos valores mobiliários.

Pelo fato dos valores cobrados pelas agências de rating serem caros, envolvendo grande quantidade
de tempo e recursos humanos para a realização de uma análise profunda do status de risco
envolvido nas operações, nem todas as empresas tem condições de manter atualizados seus ratings
de crédito anuais, o que torna essa previsão muito valiosa para o comunidade de investimentos
(HUANG et al., 2004).

Segundo Silva (2008), as três maiores empresas de rating em atividade são as empreses norte-

3
249
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

americanas Standard & Poors (S&), Fitch e Moody’s. Segundo o autor, essas agências utilizam
metodologias próprias e nomenclaturas particulares que variam na adoção de letras maiúsculas
e/ou minúsculas, sinais de + (positivo) ou – (negativo) como também limites de classificação,
principalmente quando comparadas entre si. De acordo com Santos (2012), as diferentes escalas
começam geralmente com a nota máxima e vão decrescendo conforme o risco envolvido, sendo
positivas (upgrading) quando a percepção de risco é favorável aos investidores, ou negativas
(downgrading), quando detectados fatores que possam prejudicar a capacidade futura de
pagamento dos agentes devedores.

De acordo com a S&P (2015), embora não exista uma “fórmula” para combinar as várias facetas das
empresas, os ratings de crédito buscam condensar seus efeitos combinados em símbolos que são
distribuídos em uma escala simples e unidimensional. A S&P trata ainda que as maiores
classificações atribuídas a emissores de obrigações refletem a expectativa de que estes tenham
menor probabilidade de entrar em default do que aqueles com ratings mais baixos.

Os ratings são o resultado do trabalho de um grupo de indivíduos que, por não serem fatos, não
podem ser descritos como “exatos” ou “inexatos” (FITCHRATINGS, 2015). De acordo com essa
agência, embora o preço de mercado de um título e a liquidez possam afetar sua opinião, os ratings
de crédito não comentam sobre fatores relacionados ao acesso de capital ou a probabilidade de
refinanciamento.

Na Moody’s Investors Service e/ou suas licenciadas e afiliadas, as avaliações são baseadas,
primeiramente, nas análises de demonstrações financeiras, avaliação de estratégias de negócios e
posicionamento na indústria, dentre outras informações relevantes (MOODY’S, 2015). Segundo a
Moody’s, suas classificações consideram a análise da estrutura legal das empresas, os fluxos de
caixa associados aos ativos subjacentes à transação, além de outros riscos envolvidos nas
operações.

As classificações das agências S&P, Moody’s e Fitch podem ser subdivididas em: Elevado Grau de
Segurança: variando entre as classificações AAA/AA na S&P/Fitch e Aaa - Aa na Moody’s; Grau
Médio de segurança: A/BBB nas agências S&P/Fitch e A1/Baa na Moody’s; Nível de Especulação:
BB/B na S&P/Fitch e Ba/B na Moody’s; possível omissão: CCC/C na S&P/Fitch e Caa/Ca na Moody’s;
Alto grau de omissão: C/D na S&P, C/DDD na Fitch e C na Moody’s; Sem classificação: NR na Moody’s
e RD na Fitch.

Existem, basicamente, três atividades que são exercidas pelos intermediários da informação sobre

4
250
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

o risco de crédito: a) busca por informação privada, não disponibilizada publicamente; b) análise
prospectiva, processamento, análise e interpretação da informação para antecipação da avaliação
retrospectiva dos eventos após o fato ocorrido (BEAVER, 1998). Caouette, Altman e Nimmo (2009)
afirmam que as agências não são uniformemente transparentes em suas avaliações, porém indicam
seguir padrões bastante similares.

Kraft (2014) observa que as agências de rating não são imunes as influências do mercado, podendo
fornecer classificações infladas que dependem dos emissores de taxas e das demais fontes que são
extraídas. Segundo o autor, as classificações são vistas como menos manipuláveis do que índices
contábeis gerados pelo mutuário, os quais podem ser tendenciosos acerca de suas informações.
Além disso, as agências de classificação oferecem serviços de consultoria, tais como pré-avaliações
empresariais, que podem ser indevidamente favoráveis a certas empresas, especialmente quando
os emitentes geram receitas substanciais em certo período (HE et al., 2011).

Nesse contexto, elabora-se a seguinte hipótese:

H1: Por poderem ser tendenciosos, os indicadores financeiros empresariais não estão
correlacionados com as classificações emitidas pelas agências de ratings.

De forma geral, as empresas que solicitam uma avaliação de crédito enviam um pacote de
documentos contendo: relatórios anuais dos anos anteriores, últimos relatórios trimestrais,
demonstração de resultados e balanço, emissões de dívida e outras informações especializadas e
relatórios estatísticos (HUANG et al., 2004). O autor destaca que a agência de rating utiliza uma
equipe de analistas financeiros para pesquisarem sobre as características da empresa e prepararem
um relatório de classificação ao comitê de rating, em conjunto com suas recomendações ao crédito
a ser imputado.

As classificações de crédito baseiam-se em informações públicas que incluem índices contábeis,


derivados de demonstrações financeiras divulgadas publicamente (JORION; LIU; SHI, 2005). Tais
classificações são calculadas a partir das demonstrações financeiras das empresas, fornecendo uma
declaração confiável sobre a estabilidade e sua saúde financeira (WEISSOVA; KOLLAR; SIEKELOVA,
2015).

Dentre os principais indicadores financeiros empresariais, a análise de liquidez/lucratividade indica


os recursos de curto prazo que podem ser prontamente convertidos em caixa, evidenciando a
capacidade de investimento do excedente gerado (BOUZOUITA; YONG, 1998). Para esse cálculo, a

5
251
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

Liquidez Geral (LG) pode determinar os recursos de curto e longo prazo que podem ser utilizados
pelas empresas (DAMASCENO; ARTES; MINARDI, 2008).

Por sua vez, o custo de capital de terceiros, ou endividamento geral (EG), pode melhor identificar a
estrutura empresarial, possibilitando a criação de valor aos acionistas (MINARDI, SANVICENTE;
ARTES, 2006). Nessa linha, o Índice de Participação do Capital de Terceiros (IPCT) indica o percentual
do ativo que é financiado por recursos externos no curto e médio prazo, demonstrando a
possibilidade inadimplência ou atraso no pagamento das obrigações (NEVES; VICECONTI, 2007).

Por seu turno, a composição do PL frente aos bens e direitos (CPL), demonstra, efetivamente, o
capital que pertence à empresa, enquanto o ROA pode ser utilizado como um dos parâmetros para
definição dos ratings (DAMASCENO; ARTES; MINARDI, 2008), sendo uma medida de desempenho
operacional sobre a utilização dos ativos por parte de uma empresa (MCGUIRRE, SUNDGREN;
SCHNEEWEIS, 1998), ao passo que o ROE evidencia se o retorno do capital próprio aplicado na
empresa foi superior a alternativas de investimento (WERNKE, 2008).

Considerando que os indicadores financeiros podem auxiliar as agências de crédito na elaboração


dos ratings, elabora-se a seguinte hipótese de estudo:

H2- Os indicadores financeiros são os principais parâmetros utilizados nas classificações das agências
de ratings.

3. METODOLOGIA

A pesquisa se pautou nas técnicas da MCDM (Multi-Criteria Decision-Making), utilizando o método


Topsis (Technique for Order of Preference by Similarity to Ideal Solution) para análise dos resultados.
Esse método indica a solução ideal positiva (maximiza os critérios benéficos e minimiza os custos)
e a solução ideal negativa (maximiza os custos e minimiza os critérios de benefícios) em um
conjunto de alternativas possíveis (HUANG e YOON, 1981). Em consulta ao Web of Science e Scopus,
não foram encontrados trabalhos que tenham analisado a relação entre a classificação emitida pelas
três principais agências de rating e os indicadores com base nessa técnica.

O método Topsis avalia a distância em relação a uma solução ideal, além de uma inversa,
denominada anti-ideal, por meio de uma ‘taxa de similitude’ (CHEN, 2000; ALMEIDA, 2013). Essa
técnica lida com problemas de atributo multi-critério, auxiliando o tomador de decisão na
organização de problemas a serem resolvidos em comparações com rankings das alternativas
disponíveis (SHIH, SHYUR e LEE, 2006). Huang e Yoon (1981) sugerem os seguintes passos para

6
252
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

utilização desse método:

1º Passo: Cálculo das soluções ideais positivas A+ (benefícios) e das soluções ideais negativos
A- (custos), J1 e J2 (benefício e custo):

𝐴+ = (𝑝1+ , 𝑝2+ , ... 𝑝𝑚


+
) e 𝐴− = (𝑝1− , 𝑝2− , ... 𝑝𝑚

)

𝑝𝑗+ = {𝑀𝑎𝑥𝑖 𝑝𝑖𝑗 , 𝑗 ∈ 𝐽1 ; 𝑀𝑖𝑛𝑖 𝑝𝑖𝑗 , 𝑗 ∈ 𝐽2 } e 𝑝𝑗− = {𝑀𝑖𝑛𝑖 𝑝𝑖𝑗 , 𝑗 ∈ 𝐽1 ; 𝑀𝑎𝑥𝑖 𝑝𝑖𝑗 , 𝑗 ∈ 𝐽2 }

2º Passo: O cálculo das distâncias euclidianas entre os benefícios é feito na forma:

𝑑+= √∑𝑛𝑗=1 𝑤𝑗 (𝑝1+ − 𝑝𝑖𝑗 )2 com i = 1,..., m e 𝑑−= √∑𝑛𝑗=1 𝑤𝑗 (𝑝1− − 𝑝𝑖𝑗 )2 com i = 1,..., m

𝑤j : grau de importância da questão

3º Passo: Cálculo da proximidade relativa 𝜉𝑖 = 𝑑𝑖− / 𝑑𝑖+ + 𝑑𝑖−

3.1 DEFINIÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida com dados obtidos nas agências S&P, Fitch e Moody’s nos anos de 2012
a 2015, destacando as corporações que constem em pelo menos duas dessas agências e que
disponibilizavam informações publicadas na Bolsa Mercantil de Mercadorias de Futuros -
BM&FBOVESPA e/ou Relatórios da Administração disponíveis para consulta aberta. Essa consulta
resultou em 66 empresas que atenderam ao padrão estabelecido.

Sequencialmente foram coletados valores referentes ao AT, Ativo Circulante (AC) e de Longo Prazo
(ALP), CT, Despesas, Patrimônio Líquido (PL) e Lucro Líquido (LL) como passo inicial para o cálculo
dos indicadores financeiros referentes ao LG = AC + ALP/CT; EG = CT/AT; CPL=PL/AT; ROA = LL +
despesa de juros/AT médios e ROE = LL/PL.

A opção pela análise dos indicadores previstos nesse estudo, dentre uma gama de possibilidades,
se dá ao fato de expressarem a capacidade das empresas em honrar seus compromissos no curto
e longo prazo (LG), o grau de endividamento dos negócios (EG), a composição patrimonial (CPL) e a
rentabilidade dos negócios (ROA e ROE). Tais indicadores propiciam, de forma geral, que se chegue
a conclusões sobre o desempenho das empresas (ASSAF NETO, 2008).

Como forma de agrupamento das classificações atribuídas pelas agências S&P, Moody’s e Fitch,
utilizou-se uma escala que partiu de um elevado grau (10) a sem classificação (1) ou sem registro (0),
conforme disposto na tabela 1:

7
253
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

Tabela 1: Classificações da pesquisa

AAA / Aaa: 10 AA / Aa: 9 A: 8 BBB e Baa: 7


BB e Ba: 6 B: 5 CCC/Caa: 4 CC/Ca: 3
C/DDD: 2 NR/RD: 1 Não conta na agência de rating: 0

Fonte: Elaborado pelos autores

Para comparação dos resultados, observou-se a classificação dos ratings elaborados pelas agências
em relação aos resultados médios do método Topsis, seguido da classificação dos indicadores
financeiros (LG, EG, CPL, ROA e ROE) em relação aos resultados médios do método Topsis.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As corporações foram codificadas pelo fato de algumas classificadoras não permitirem sua
divulgação. Os resultados estão dispostos na tabela 2

Tabela 2: Classificações Baseadas nas Pontuações das Agências

Empresa S&P Fitch Moody’s Empresa S&P Fitch Moody’s


E1 6 0 5 E34 10 9 7
E2 7 0 7 E35 1 8 5
E3 8 9 0 E36 7 0 5
E4 *0 *1 *2 E37 8 8 4
E5 *1 *1 *0 E38 7 7 5
E6 8 9 0 E39 **10 **10 **7
E7 7 0 7 E40 7 9 7
E8 0 7 5 E41 9 9 0
E9 6 9 0 E42 6 9 6
E10 0 10 7 E43 9 9 0
E11 10 9 9 E44 9 9 6
E12 **10 **10 **7 E45 10 0 7
E13 *0 *4 *4 E46 9 9 0
E14 10 0 8 E47 5 7 5
E15 10 9 7 E48 9 8 0
E16 **10 **10 **7 E49 9 8 0
E17 9 9 6 E50 **10 **10 **7
E18 9 9 6 E51 8 8 0
E19 7 7 5 E52 9 8 0
E20 8 8 5 E53 1 7 0
E21 10 1 0 E54 7 0 7
E22 *0 *1 *1 E55 9 9 0
E23 6 9 6 E56 9 9 6
E24 9 10 6 E57 9 0 7
E25 0 10 7 E58 9 9 0
E26 10 0 7 E59 9 9 6
E27 **10 **10 0 E60 10 0 7
E28 9 9 0 E61 9 8 0
E29 9 9 6 E62 9 8 0

8
254
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

E30 7 7 5 E63 8 8 6
E31 9 9 0 E64 0 10 7
E32 *4 *0 *4 E65 **10 **10 **0
E33 8 8 5 E66 9 9 0

Melhores posições (**). Piores posições (*)


Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com a tabela 2, verifica-se algumas divergências nas classificações das empresas
analisadas, na perspectiva das três maiores empresas de rating (SILVA, 2008), que, quando
comparadas, podem ser incapazes de gerar métodos precisos para estimar o risco de crédito
(PARTNOY, 1999).

Dentre as corporações mais bem posicionadas nas agências, tem-se as empresas E27 e E65 que
apresentam as notas máximas na S&P e Fitch, ao passo que não foram classificadas pela Moody’s,
assim como as empresas E12, E16, E39 e E50 que também apresentaram as notas máximas nas S&P
e Fitch e um grau médio de segurança na Moody’s. Já, os piores resultados encontrados nas
empresas E5 e E22, seguidas pela E4, E13 e E32, as quais alternaram entre nas notas emitidas pelas
três agências. Esses resultados demonstram certa obscuridade nas análises desenvolvidas pelas
agências (CAOUETTE; ALTMAN; NIMMO, 2009; FROST, 2007; POLITO; WICKENS, 2015; KRUCK,
2016), que por não estarem relacionados com fatos concretos, não podem ser descritos como
“exatos” ou “inexatos” (S&P, 2015).

Na tabela 3, são apresentados os dados médios obtidos das agências de rating, de acordo com o
método Topsis:

Tabela 3: Topsis Médio Baseado nas Pontuações das Agências

Empresa Topsis Empresa Topsis Empresa Topsis Empresa Topsis


Rating Rating Rating Rating
E1 42.354025 E18 76.349081 E34 59.792921 E50 60.743213
E2 50.52089 E19 68.925834 E35 48.935688 E51 45.408899
E3 56.492959 E20 72.967174 E36 62.784533 E52 47.162141
E4 *15.482422 E21 55.608616 E37 51.374665 E53 *30.403411
E5 *10 E22 *9.9177314 E38 68.504266 E54 48.220498
E6 46.958484 E23 70.809931 E39 **87.588296 E55 48.545281
E7 73.302192 E24 81.622848 E40 55.724761 E56 57.294902
E8 44.298545 E25 46.080885 E41 57.85014 E57 52.667142
E9 52.213633 E26 **84.517578 E42 69.668702 E58 48.545281
E10 53.451483 E27 59.850838 E43 57.85014 E59 57.294902
E11 **94.181451 E28 57.85014 E44 81.65043 E60 54.482377
E12 60.743213 E29 78.994681 E45 **85.921992 E61 47.162141
E13 *33.246921 E30 68.925834 E46 58.28242 E62 47.162141
E14 **90.05508 E31 57.85014 E47 45.590981 E63 54.642571
E15 84.281432 E32 41.233385 E48 57.077339 E64 46.080885

9
255
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

E16 60.743213 E33 69.668702 E49 47.162141 E65 51.247495


E17 78.994681 E66 48.545281

Melhores posições (**). Piores posições (*)


Fonte: Dados da Pesquisa.

A tabela 3 demonstra as classificações obtidas pelas empresas entre as melhores e piores posições
no grupo, segundo o método Topsis (CHEN, 2000). Os resultados demonstram que a empresa E11
obteve o melhor resultado (94,18), seguido das empresas E14 (90,05), E39 (87,58), E45 (85,92) e
E26 (84,51), não corroborando com melhores posições demonstradas na tabela 2. Já, os piores
resultados foram percebidos nas empresas E22 (9,91), E5 (10), E4 (15,48) e E13 (33,24) que
coincidiram com as piores classificações de rating (tab. 2), e a E53 (30,40) que corroborou, em parte,
com a pior colocação obtida nos apontamentos realizado pelas agências de risco.

Verifica-se que não há uma “fórmula” para combinar as várias facetas dos ratings de crédito (S&P,
2015), demonstrando certa obscuridade nos critérios utilizados pelas agências (CAOUETTE;
ALTMAN; NIMMO, 2009; POLITO; WICKENS, 2015; KRUCK, 2016), os quais dependem,
necessariamente, da complexidade e confiabilidade das fontes consultadas (BASTARDO, 1992;
SKRETA; VELDKAMP, 2009), qualidade, plenitude e veracidade das informações disponíveis
(MOODY’S, 2015). As opiniões das agências de risco são baseadas em critérios e metodologias
próprias, continuamente avaliadas e atualizadas (SANTOS, 2012), sinalizando, da melhor forma, a
classificação do risco de crédito (FITCHRATING, 2015). Confirma-se assim a hipótese H1.

Há que se ressaltar que as informações emitidas pelas agências de risco podem ser vistas como
menos manipuláveis do que índices contábeis (KRAFT, 2014) e podem tornar essas previsões muito
valiosas para a comunidade e investidores (HUANG et al., 2004). Mesmo considerando algumas
variações nos resultados obtidos, as análises dependem da confiabilidade das fontes consultadas
(SKRETA; VELDKAMP, 2009).

No cálculo dos indicadores financeiros (ASSAF NETO, 2008; WERNKE, 2008; NEVES; VICECONTI,
2007), também se verifica certa alternância entre os melhores e os piores resultados apresentados
pelas empresas analisadas. Os dados referentes ao ROA, ROE, CPL, EG e LG, com base no método
Topsis, são apresentados na tabela 4:

10
256
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

Tab. 4: Indicadores Financeiros Baseados nas Pontuações das Agências

Emp. LG EG CPL ROA ROE Emp. LG EG CPL ROA ROE


E1 **97. *98.8 *10.2 24.95 53.01 E34 92.06 80.80 57.26 29.80 57.53
E2 95.23 86.75 46.30 29.68 58.05 E35 93.08 82.20 54.69 26.00 56.33
E3 93.27 85.92 48.48 29.59 57.98 E36 95.94 87.14 44.59 23.56 56.49
E4 84.55 67.35 73.08 25.83 56.43 E37 86.68 90.26 37.10 **64. **74.
E5 84.17 86.26 46.31 28.88 55.68 E38 92.17 80.25 58.24 24.30 56.20
E6 88.00 90.42 37.99 33.28 60.97 E39 88.37 79.74 58.37 33.46 57.80
E7 87.30 90.96 35.63 33.46 61.01 E40 88.58 79.72 59.07 22.03 55.69
E8 92.36 89.75 38.56 17.28 48.31 E41 90.14 86.07 47.37 30.43 58.30
E9 83.69 **52. **94. 29.57 56.58 E42 87.07 95.12 22.10 24.76 56.02
E10 95.66 90.68 36.37 **64. **75. E43 93.16 87.94 43.56 30.52 58.72
E11 84.81 91.76 33.11 25.78 57.06 E44 89.15 92.04 32.44 26.65 55.62
E12 88.30 83.63 52.55 26.63 56.89 E45 90.84 76.46 63.21 35.57 58.62
E13 95.12 92.64 29.12 *5.57 *23.2 E46 85.72 91.23 34.59 38.80 64.44
E14 92.72 78.53 60.73 54.13 63.10 E47 87.48 *97.1 *12.7 6.84 57.40
E15 88.09 93.05 28.26 24.93 57.30 E48 85.29 92.02 32.11 24.41 55.62
E16 93.33 82.75 53.82 31.97 58.66 E49 88.61 93.09 28.31 27.42 58.02
E17 92.77 79.91 58.69 27.79 57.06 E50 89.15 88.63 41.65 37.06 61.86
E18 91.86 86.05 47.02 27.31 57.43 E51 91.79 95.13 22.35 *10.9 39.51
E19 89.46 94.57 23.15 20.04 50.08 E52 91.05 83.57 52.33 29.33 57.34
E20 91.41 95.49 18.33 18.46 43.57 E53 86.79 *98.1 *3.94 6.008 55.01
E21 93.55 91.37 33.67 50.82 **70. E54 87.04 88.38 42.14 35.04 60.63
E22 86.62 *97.7 *11.6 22.24 50.91 E55 87.90 86.95 45.93 40.46 62.46
E23 86.71 87.24 45.14 32.11 58.52 E56 87.09 91.49 33.84 31.33 59.95
E24 87.82 81.84 54.91 28.82 56.64 E57 86.67 78.20 61.14 26.89 56.93
E25 95.39 81.03 56.93 44.24 61.58 E58 88.26 94.33 25.10 36.70 66.51
E26 94.05 84.95 49.93 36.22 60.08 E59 87.09 91.49 33.84 31.33 59.95
E27 *65.3 **59. 78.71 **78 65.08 E60 86.50 78.68 59.80 37.87 59.50
E28 90.43 76.82 62.85 29.29 57.19 E61 88.49 88.57 41.21 31.92 57.93
E29 **97. 85.64 48.90 32.80 59.06 E62 88.91 89.95 37.41 31.73 59.81
E30 **98. 86.63 47.27 26.85 55.52 E63 87.54 89.70 39.07 31.72 59.82
E31 **97. 85.50 49.10 34.94 59.94 E64 84.39 **29. **87. 40.07 56.96
E32 94.85 88.35 42.09 19.28 53.17 E65 87.46 83.70 52.18 44.16 62.17
E33 85.46 94.68 23.27 26.20 57.11 E66 86.37 83.37 52.94 34.32 58.83

Melhores posições (**). Piores posições (*)


Fonte: Dados da Pesquisa.
De acordo com a tabela 4, as corporações que apresentaram os melhores resultados na LG foram
E30 (98,93), E1 (97,97), E29 (97,92) e E31 (97,10) ao passo que o menor resultado ocorreu em E27
(65,36), considerando que as demais pontuações se mostraram bem próximas. No EG os maiores
resultados (menores dívidas) ocorreram em E64 (29,35), E9 (52,36) e E27 (59,9), enquanto os piores
resultados (maior endividamento) ocorreram em E1 (98,81), E53 (98,12), E47 (97,17) e E22 (97,16).
Quanto ao CPL, as empresas mais bem pontuadas foram E9 (94,77) e E64 (87,37), entretanto os
menores valores foram verificados em E53 (3,94), E1 (10,27), E22 (11,62) e E47 (12,62). No ROA os
resultados ocorreram em E27 (78,32), E10 (64,60) e E37 (64,31), ao passo que os piores resultados
foram obtidos em E13 (5,57) e E51 (10,90). Por fim, no ROE os resultados mais elevados ocorreram
em E10 (75,11), E37 (74,14) e E21 (70,92), enquanto o menor resultado foi obtido em E13 (23,27),

11
257
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

considerando que, assim como no LG, as demais pontuações mostraram resultados bem próximos.

Na tabela 5, são apresentados os dados médios ponderados dos indicadores financeiros, obtidos
através da utilização do método Topsis:

Tab. 5: Topsis Médio dos Indicadores Financeiros

Empr. Topsis Ind. Empr. Topsis Ind. Empr. Topsis Ind. Empr. Topsis Ind.
Financeiros Financeiros Financeiros Financeiros
E1 42.40525 E18 48.912 E34 51.58644 E50 51.36979
E2 50.05492 E19 *41.42975 E35 49.84351 E51 *38.43688
E3 50.25346 E20 *39.62794 E36 47.68905 E52 50.43502
E4 50.93907 E21 55.65125 E37 **60.4863 E53 37.22823
E5 48.05722 E22 *40.12821 E38 49.80915 E54 50.38012
E6 49.2455 E23 49.70691 E39 52.54452 E55 53.40471
E7 48.67385 E24 50.1745 E40 48.77896 E56 47.48358
E8 43.32877 E25 **57.6262 E41 49.92929 E57 50.53264
E9 54.23362 E26 53.04967 E42 43.08858 E58 48.48593
E10 **61.3108 E27 **70.5329 E43 49.65499 E59 47.48358
E11 45.10821 E28 51.96045 E44 45.46054 E60 54.37243
E12 49.29246 E29 51.9975 E45 54.4229 E61 48.88363
E13 *37.04099 E30 49.43613 E46 50.43254 E62 48.41997
E14 **62.0854 E31 52.78151 E47 38.72559 E63 48.68188
E15 **44.3795 E32 45.48469 E48 44.36848 E64 50.85511
E16 52.02703 E33 43.59284 E49 45.2011 E65 55.90428
E17 51.16384 E66 51.94099

Melhores posições (**). Piores posições (*) Fonte:


Dados da Pesquisa.

A tabela 5 demonstra os resultados médios dos indicadores financeiros (LG, EG, CPL, ROA e ROE)
obtidos pelo método TOPISIS. Verifica-se que a empresa mais bem posicionada é a E27 (70,53),
seguida da E14 (62,08), E10 (61,31), E37 (60,48) e E25 (57,62). Por sua vez, as empresas que
apresentaram os piores resultados médios foram a E13 (37,04), seguida por E51 (38,43), E20
(39,62), E22 (40,12) e E19 (41,42).

Esses resultados possuem algumas similaridades quanto a ordem de classificação da tabela 4 acerca
dos melhores resultados médios em E27, E10 e E37, tal como nos piores resultados médios
observados em E13, E51 e E22. Mesmo considerando a existência de trabalhos que demonstram
existir relação entre os indicadores financeiros e as classificações de risco (JORION; LIU; SHI, 2005;
BEZERRA; CORRAR, 2006; DAMASCENO; ARTES; MINARDI, 2008), os dados deste estudo não
permitem o aceite total da hipótese H2, no que se refere a integralidade dos indicadores utilizados.
Verifica-se que os ratings são calculados com base em critérios específicos (CANTOR; PACKER, 1994;
ALTMAN; RIJKEN, 2004; HILL, 2010), apresentado, em alguns casos, divergências nos resultados
(MURCIA et al., 2014).

12
258
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

Por outro lado, em casos específicos, foram encontradas correspondências principalmente no que
se refere a utilização do ROA, ROE e EG, corroborando com outros estudos (BOUZOUITA; YONG,
1998; ADAMS; BURTON; HARDWICK, 2003; LANGOHR; LANGOHR, 2008; MATOUSEK; STEWART,
2009, WEISSOVA; KOLLAR; SIEKELOVA, 2015).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse estudo consistiu em analisar a relação existente entre as classificações atribuídas
pela S&P, Fitch, Moody’s e os indicadores financeiros das empresas. Para essa análise foram
consideradas as classificações emitidas pelas agências, assim como os resultados obtidos no cálculo
de indicadores financeiros, utilizando o método Topsis como parâmetro para comparar os melhores
e piores resultados obtidos.

Os resultados demonstraram que ocorrem diferenças nas classificações das três maiores empresas
de rating, que, quando comparadas, indicam seguirem métodos específicos e diferentes
informações de mercado para estimar o risco de crédito, demonstrando certa obscuridade nessas
análises. Importante destacar que as informações emitidas pelas agências de risco podem, a priori,
ser vistas como menos manipuláveis do que índices contábeis, tornando essas previsões muito
valiosas para a comunidade e investidores.

Verificou-se também algumas semelhanças entre as melhores e piores posições obtidas nas
agências de rating quando comparadas com os indicadores financeiros, corroborando, em parte,
com os resultados. No cálculo dos indicadores financeiros também se verificou alternância entre os
melhores e os piores resultados apresentados pelas empresas, reforçando a ideia de seguirem
critérios específicos em suas avaliações. Por outro lado, os valores observados no ROA, seguido do
ROE e da LG demonstraram certa relação com as classificações observadas, indicando que podem,
a princípio, serem alguns dos principais instrumentos utilizados pelas agências.

Conclui-se que, embora os indicadores financeiros visem obter conclusões sobre o desempenho
retrospectivo, presente e futuro das entidades, não possuem, de forma geral, relação direta com
as avaliações das principais agências de risco de crédito. Destaca-se a limitação do estudo em
considerar outras análises complementares que pudessem ser utilizadas pelas agências em suas
classificações. Outra limitação diz respeito a amostra utilizada, que mesmo considerando serem as
principais empresas brasileiras classificadas na S&P, FITCH e MOODY’S podem apresentar
resultados distintos, a depender do momento econômico percebido na data da pesquisa.

13
259
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

As conclusões desse estudo não devem ser generalizadas e podem variar dependendo de fatores
relacionados a amostra, metodologia e período de investigação. Assim, indica-se a possibilidade de
pesquisas futuras, estudo que busquem avaliar outras amostras, diferenciando-as por setores
empresariais e/ou metodologias distintas que possam constatar os achados estatísticos dessa
investigação.

14
260
Influência Dos Indicadores Financeiros Na Avaliação De Ratings

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17
263
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 13
10.37423/200902706

RESPONSABILIDADE SOCIAL ANALISADA SOB O


ENFOQUE ESTRATÉGICO

Edilson Bacinello Universidade Federal de Rondônia

Cíntia Rosina Flores Universidade Federal de Rondônia

Gleimiria Batista da Costa Universidade Federal de Rondônia

Josmar Almeida Flores Universidade Federal de Rondônia

Marlene Valério dos Santos Arenas Universidade Federal de Rondônia


Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

Resumo: O contexto estratégico da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) possui uma forte ligação
com as dimensões do Triple Bottom Line (TBL), oportunizando a criação de valor econômico, social e
ambiental nas empresas. Essa integração permite uma abordagem sustentável na utilização dos
recursos e capacidades empresariais para promoção da vantagem competitiva. Como perspectiva
teórica capaz de explicar as inciativas estratégicas de RSC associada ao TBL, a Teoria Baseada em
Recursos (TBR) oportuniza ferramentas para análise da criação de valor e a geração de vantagem
competitiva sustentável. Nesse contexto, esse ensaio teórico teve como objetivo verificar a associação
existente entre RSC, na perspectiva do TBL, sobre a lente teórica da TBR. Verificou-se que, dente as
diversas definições que permeiam a RSC, o conceito que a analisa nas perspectivas econômica, social
e ambiental das organizações, parece ser a que melhor destaca o conceito estratégico da criação de
valor e a geração de vantagem competitiva sustentável. Adicionalmente a perspectiva interna
explicada pela lógica da TBR, essa abordagem pode também tratar dos benefícios externos das
atividades empresariais.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Estratégia, Teoria Baseada em Recursos.

1
265
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

1. INTRODUÇÃO

A avaliação da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tem emergido como uma prioridade em
todos os países, no sentido de melhorar a imagem social e ambiental das organizações e na sua
interação com os stakeholders sobre suas bases voluntárias (COMISSÃO EUROPÉIA, 2002). Essa visão
tem feito com que as definições sobre RSC e Sustentabilidade Corporativa (SC) indiquem a capacidade das
empresas em criar valor adicionado aos negócios.

A necessidade de atendimento aos elementos da RSC integrado ao TBL (VANCLAI, 2004) faz com que
exista um número crescente de empresas em todo o mundo que dediquem sérios esforços para
integrar a sustentabilidade em suas práticas de negócios, porém as práticas para persegui-la ainda
são muito vagas e conflitantes e, por vezes, um desafio para as organizações (JONES, 2003).

Tal integração faz com que as organizações possam reexaminar o seu padrão de comportamentos
(DAHLSRUD, 2008), aplicando, no âmbito do Triple Bottom Line (TBL), fatores associados a SC
(ELKINGTON, 1997 e 2001), de forma a permitir que as empresas iniciem sua jornada em direção a
uma abordagem sustentável que esteja integrada a sua estratégia de negócios (BRANCO;
RODRIGUES, 2006; D’AMATO; HENDERSON; FLORENCE, 2009).

Dentre as perspectivas teóricas para abordar a RSC, a teoria dos stakeholders (CARROLL, 1983, 1999),
traz como alguns elementos de debate questões econômicas (STEINER, 1971; RUF et al., 2001;
CLARKSON, 1995), qualidade de vida (BACKMAN, 1975), sociedade (JONES, 2003), questões
socioambientais (ANDRIOF; MCINTOSH, 2001), além de discussões sobre as forma de obtenção da
vantagem competitiva (KANTER, 1999) e captura de valor (BARON, 2011). Tais abordagens, dentre
outras, debatem a influência desses elementos no atendimento aos interesses dos diversos grupos
de interessados nos processos.

Embora a teoria dos stakeholders trate de questões econômicas e sociais relacionadas aos agentes
envolvidos nas empresas (CARROL, 1983), não indica, na maioria dos trabalhos, fatores estratégicos
associados as implicações socioambientais dessas atividades (ANDRIOF; MACINTOSH, 2001). Essa
limitação demonstra a necessidade de se preencher o vazio que a teoria de gestão tem gerado sobre
as restrições impostas pelo ambiente biofísico em que, as proposições avançadas para cada uma das
estratégias propostas, contribuem para uma vantagem competitiva sustentável nas empresas (HART,
1995).

Para tal, esse ensaio teórico aborda a seguinte questão de pesquisa: a TBR pode explicar de que

2
266
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

forma as empresas geram vantagem competitiva utilizando, estrategicamente, as perspectivas


econômicas, sociais e ambientais para criar valor aos negócios? Assim, o objetivo desse estudo é
verificar de que forma as empresas utilizam as questões econômicas e socioambientais como fontes
de criação de valor e geração de vantagem competitiva em relação aos concorrentes. A abordagem
estratégica prevista pela Resource Based View (RBV), demonstra que fatores econômicos, associados
a questões socioambietais, podem promover a criação de valor (SOUZA FILHO et al., 2010; TORUGSA;
O’DONOHUE; HECKER, 2012) e gerar vantagem competitiva nas empresas (HART, 1995; RUSSO;
FOUTS, 1997; BRANCO; RODRIGUES, 2006).

O trabalho se justifica por tratar de um tema complexo, tendo como fator motivador a indefinição de
uma base teórica capaz de explicar como se desenvolve a estratégia relacionada a RSC (MCWILLIAMS;
SIEGEL, 2001; BANSAL, 2005; MCWILLIAMS; SIEGEL; WRIGHT, 2005; HUSTED; SALAZAR, 2006;
D’AMATO; HENDERSON; FLORENCE, 2009; MOURA, 2014) no contexto econômico, social e
ambiental das empresas (TORUGSA; O’DONOHUE; HECKER, 2012).

Justifica-se, também, por evidenciar a limitada base teórica sobre as formas de obtenção da
vantagem competitiva (GRANT, 1991; HART, 1995; RUSSO; FOUTS, 1997; HUSTED; ALLEN, 2001;
BRANCO; RODRIGUES, 2006; SOUZA FILHO et al., 2010; PADGETT; MOURA-LEITE, 2012), inferindo
que a TBR é capaz de explicar as complexas relações estratégicas existentes no conglomerado
empresarial (PETERAF, 1993; GRANT, 2001).

O estudo está estruturado por esta introdução e mais três seções. Na seção 2, é feita uma revisão da
literatura sobre os tópicos referentes a RSC, Estratégia relacionada a RSC, Relação entre RSC e SC,
RSC e TBR e a Vantagem Competitiva Sustentável. Na seção 3 é feita uma discussão sobre arcabouço
teórico acerca das relações entre RSC e a TBR. Por fim, na seção 4, são feitas as considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NA PERSPECTIVA DOS STAKEHOLDERS

Carroll (1999) relata, dentre uma gama de definições sobre RSC, que ela pode estar relacionada aos
objetivos socioeconômicos para elaboração de normas sociais (JOHNSON, 1971), a mudanças na
economia que afetam a tomada de decisão (STEINER, 1971), a melhoria na qualidade de vida
(BACKMAN, 1975), a obrigação organizacional com os grupos constituintes da sociedade (JONES,
2003) e também como a conduta de uma empresa para ser economicamente rentável, respeitar a
lei, ser ética e socialmente responsável (CARROLL, 1983).

3
267
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

Adicionalmente, os programas e projetos de RSC podem criar benefícios significativos em termos de


reputação e retornos para as empresas, bem como favorecer a motivação e a lealdade dos
empregados (SOUZA FILHO et al., 2010). Para os autores, é importante que as empresas tenham em
conta as ações estratégicas de responsabilidade para que possam trazer resultados positivos tanto
em termos econômicos como sociais, resolvendo a questão do objetivo social da organização.

Baron (2011) destaca que as empresas podem adotar o rótulo da RSC por uma variedade de razões,
tais como, para aumentar os lucros, fazê-lo por razões relacionadas a solidariedade, para evitar a
pressão externa do interesse de grupos e ativistas que podem afetar o desempenho do mercado.
Segundo o autor, na medida em que a política privada e a RSC geram custos em uma empresa, sua
posição competitiva em relação aos seus rivais pode ser afetada e ter um efeito estratégico que pode
alterar as posições estabelecidas pelas empresas e indústrias ao longo dos tempos.

De acordo com Kanter (1999), dentre a posição competitiva estabelecida pelas empresas, os ativos
intangíveis acumulam, naturalmente, o sucesso das organizações e dos indivíduos, refletindo hábitos
e não programas, habilidades pessoais, comportamento e relacionamentos. Para a autora, quando
esses ativos estão profundamente enraizados na organização e, sem eles, os líderes tendem a reagir
de forma defensiva e ineficaz, haja visto que a mudança organizacional, muitas vezes forçada por uma
crise, é relacionada, geralmente, a uma ameaça e não a uma oportunidade.

Andriof e McIntosh (2001) afirmam que a RSC exige que os líderes corporativos compreendam que
tudo o que uma empresa faz tem algum efeito de fluxo dentro ou fora dela, através dos clientes,
funcionários, comunidades e meio ambiente. De acordo com os autores, esses impactos têm um
efeito de ondulação sobre a sociedade que pode ser dividido em três grandes áreas sobrepostas:

 Envolvimento em questões sociais externas, tais como, educação, inclusão social, geração e
voluntariado de funcionários;

 Questões de endereçamento econômico relacionadas com empregos, padrões de formação


ética e valor do produto, e

 Consideração ambiental das emissões e controle de resíduos, uso de energia, ciclo de vida do
produto e desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, surge então o termo "RSC estratégica" que passa a ser usado como referência a
maximização do lucro como um componente de mercado para capturar o valor, uma vez que afeta
tanto as estratégias de mercado como as de não-mercado e suas diversas abordagens que perpassam

4
268
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

as questões estritamente financeiras (BARON, 2011). Recentemente, a RSC pode ser considerada a
mais importante das estratégias empresariais e, concentrar-se nisso, reflete à necessidade de
satisfazer os stakeholders como forma de melhorar sua imagem para o mercado (KIM; BRODHAG;
MEBRATU, 2014).

2.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA ESTRATÉGICA

De acordo com Margolis e Walsh (2003), a capacidade de criação de riqueza das empresas, ou os
males que elas podem ter ajudado a criar, tornam-se um alvo para investigação da correta utilização
de recursos para resolver diretamente os problemas da sociedade. Afirmam que esses recursos
podem também ser utilizados para fins avançados, defendendo iniciativas sociais corporativas para
promoção da justiça social, em um mundo onde reina o paradigma da maximização da riqueza do
acionista. Destacam ainda que se todas as partes contratantes souberem que a empresa planeja fazer
um investimento estratégico social, não importa quão mal concebido ele seja, o mercado irá resolver
se esse é, ou não, o melhor uso dos recursos investidos.

McWlliams, Siegel e Wright (2005) indicam que a RSC está relacionada a situações em que a empresa
vai adiante do cumprimento e se envolve em "ações que parecem promover algum bem social, além
dos interesses da empresa e daquilo que é exigido por lei. De acordo com os autores, a RSC pode ser
um elemento integrante das estratégias de negócios e diferenciação de nível corporativo de uma
empresa.

Mesmo quando não está diretamente ligada a um processo de recurso relacionado a um produto ou
produção, a RSC pode ser vista como uma forma de construção da reputação ou de manutenção da
imagem corporativa (HUSTED; SALAZAR, 2006). Os autores verificam que o investimento estratégico
em RSC cria resultados mais satisfatórios para as empresas que buscam, simultaneamente, alcançar
a maximização do lucro como também uma melhoria em seu desempenho social.

A lógica empresarial da RSC na atualidade é concebida no médio e no longo prazo, integrando


responsabilidades que ultrapassam a ação do empresário e a visão com contornos exclusivamente
‘moralistas e moralizadores’ de outros tempos (MOURA, 2014). Ainda segundo o autor, essa lógica
estratégica socioeconômica exige a adoção dos princípios de criação de uma economia em um modelo
social competitivo que pressuponha aplicações sustentáveis para o ambiente, recursos naturais e
pessoas.

Nesse âmbito, a perspectiva de longo prazo faz com que as organizações devam reexaminar seu

5
269
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

padrão de comportamentos e, no âmbito do TBL, direcionar seu caminho para uma abordagem
sustentável que esteja integrada a sua estratégia de negócios (D’AMATO; HENDERSON; FLORENCE,
2009). Para os autores, deve-se buscar desenvolver uma sociedade global sustentável de forma a
torná-la um princípio orientador estratégico da gestão empresarial para que seja possível expressar,
com clareza, as competências de liderança, responsabilidade e estrutura de parcerias.

As parcerias nas empresas podem fazem com que se replique a lógica organizacional relevante dos
mercados de produtos permitindo, assim, que promovam benefícios significativos e sejam aplicados
mecanicamente através da gestão estratégica eficaz da RSC (MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001). De acordo
com McWilliams, Siegel e Wright (2005), a RSC pode ser um elemento integrante das estratégias de
diferenciação empresarial e corporativa de uma empresa, no contexto de uma teoria da firma, e,
portanto, deve ser considerada como uma forma de investimento estratégico de reputação ou
manutenção.

Devido a competição existente nos negócios, as empresas enfrentam, cada vez mais, pressão para
reconhecer suas responsabilidades sociais, levando a um crescente interesse pela adoção de
estratégias de RSC que apoiem, ativamente, as políticas de desenvolvimento econômico, social e
ambiental como papel chave na geração de vantagem competitiva e desempenho superior
(TORUGSA; O’DONOHUE; HECKER, 2012).

Ao investir estrategicamente na melhoria do compromisso com a RSC as empresas ganham vantagem


adicional e habilidade que os concorrentes acham quase impossível de imitar, levando a um melhor
desempenho financeiro, à partir da redução de custos ou aumento das receitas (RUSSO; FOUTS,
1997). Assim, estratégias sustentáveis desenvolvidas pelas empresas podem acumular os recursos
necessários ao seu desenvolvimento mais rapidamente do que seus concorrentes (HART, 1995).

2.3 RELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE


CORPORATIVA

De acordo com Marrewijk e Werre (2002), as definições sobre RSC e SC devem indicar o “direito de
ser” e a “capacidade de criar valor adicionado” igual ao dever de responsabilidade pelos impactos
gerados para se ajustar às mudanças no meio ambiente. A RSC e a SC são como dois lados de uma
moeda em que as atividades específicas de RSC se relacionam a motivação de SC (MARREWIJK, 2003).
Mesmo considerando que esses termos tenham evoluído a partir de diferentes histórias, essas
definições caminham em direção a um futuro comum, compartilhando a mesma visão de equilíbrio

6
270
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

das responsabilidades econômicas, sociais e ambientais, apresentando indicadores semelhantes


(MONTIEL, 2008).

A RSC e SC são dois termos sociais utilizados para discutir as contribuições e consequências da
atividade empresarial (JENKINS, 2009). Segundo o autor, para que as empresas se mantenham
competitivas, elas precisam ser capazes de se adaptar as novas exigências do mercado e da sociedade
em que operam.

Os desafios envolvendo os fatores econômicos, sociais e ambientais, implicam em três tipos de


responsabilidade que estão inter-relacionadas em uma circular, de forma não hierárquica, que
contém seus próprios valores intrínsecos (ENDERLE, 2004). Segundo o autor, a empresa deve ser uma
boa cidadã (como parte de sua responsabilidade social), não apenas pelo seu valor instrumental
para aumento do lucro, mas também porque ela tem uma obrigação de contribuir para o bem-estar
da sociedade, que, não necessariamente, esteja relacionado ao lucro).

Bansal (2005) define a dimensão econômica da SC como a prosperidade que promove a criação de
valor através de produtos e serviços produzidos, melhorando sua eficácia. De acordo com o autor, as
responsabilidades sociais, ambientais e econômicas devem ser integradas, de forma complementar,
para que se possa alcançar a perfeição, ou seja, a promoção da sustentabilidade nas empresas.

Na opinião de Branco e Rodrigues (2006), o TBL, ou os três pilares da sustentabilidade podem ser
descritos da seguinte forma:

a) Sustentabilidade econômica: a criação de riqueza através dos bens e serviços produzidos;


b) Sustentabilidade ambiental: gestão ambiental eficiente e proteção ao meio ambiente;
c) Sustentabilidade social: melhoria do bem-estar social por meio da filantropia corporativa.
Existe uma tendência de muitas empresas considerarem a eco-eficiência e/ou a responsabilidade
social como sinônimos de sustentabilidade empresarial (ALMEIDA, 2007). O autor complementa que,
embora ocorra de forma lenta e gradual, muitas organizações desenvolvem práticas de RSC para
integrar a questão social e a eco-eficiência como instrumentos de melhoria contínua.

Moura (2014) verifica a importância que a RSC tem no quadro dos desenvolvimentos associados a
modelos de gestão empresarial moderna, que faz com que as atividades empresariais busquem se
pautar por condutas éticas e por valores sociais que facilitem a adoção de estratégias favoráveis a
ações socialmente responsáveis, valorizando o equilíbrio económico, social e ambiental em suas
operações.

7
271
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

As demandas sociais são parte do ambiente externo enfrentado por uma empresa que busca
desenvolver recursos únicos, levando a expectativas sobre quando tais recursos serão valiosos e
inimitáveis, devido a sociedade exigir um ambiente mais limpo (HART, 1995; RUSSO; FOUTS, 1997).
Para os autores, as empresas que atuam em conformidade com as políticas ambientais e as
complexas questões sociais, diferirão, das outras, em suas bases de recursos.

2.4 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA ANALISADO SOB O ENFOQUE ESTRATÉGICO

A Resource Based View (RBV), denominada por Grant (1991) como Resource Based Theory (RBT) ou
Teoria Baseada em Recursos (TBR), percebe a empresa como um conjunto único de recursos
idiossincráticos e capacidades em que a principal tarefa da gestão é maximizar o valor através da
implantação ótima dos recursos e capacidades existentes, durante o desenvolvimento de recursos
para o futuro. Peteraft (1993) afirma que a TBR é uma teoria que pode revelar-se um paradigma capaz
de elucidar e integrar a pesquisa em todas as áreas da estratégia, sendo a única teoria do escopo
corporativo capaz de explicar o leque de diversificação, em toda a sua riqueza, das restritas formas
contidas nos conglomerados empresariais.

Pela lente teórica da TBR, para que as empresas adquiriram um certo recurso, elas dependem de já
terem desenvolvido outros anteriores ou possuírem uma determinada capacidade relacionados a um
caminho histórico único (HART, 1995). Segundo o autor, essa interconectividade consiste, portanto,
em duas dimensões aparentemente paradoxais: dependência de caminho (sequência específica de
acumulação) e enraizamento (tornar mais difícil o desenvolvimento de um novo recurso), caso haja
uma visão compartilhada de desenvolvimento sustentável como fonte de vantagem competitiva para
as empresas

Segundo Russo e Fouts (1997), a TBR oferece aos pesquisadores de RSC uma ferramenta refinada de
análise das políticas sociais corporativas por ter um forte foco no desempenho como a principal
variável de resultado e reconhecer explicitamente a importância do conceito de capital intangível.
Aos autores mencionam que os ativos tangíveis e intangíveis não são produtivos por si só, mas sem
de uma combinação destes que tornam uma empresa produtiva. Para os autores, a linha de fundo
da TBR tem um forte enfoque no desempenho como a principal variável de resultado, enquanto a
literatura da RSC reconhece, explicitamente, a importância dos conceitos intangíveis, tais como
cultura corporativa e a reputação, as quais oferecem uma oportunidade de destacar o desempenho
ambiental e econômico, assim como as questões sociais, fornecendo uma base sólida para a hipótese

8
272
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

de que o desempenho ambiental melhorado pode melhorar o desempenho econômico.

A TBR pode ser considerada como um modelo mais formal da teoria-da-empresa, em que a RSC pode
ser baseada na maximização dos lucros (MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001). Para os autores, os gerentes
realizam uma análise custo / benefício para determinar o nível de recursos a serem dedicados às
atividades/atributos da RSC, ou seja, avaliam a essa demanda e o custo incorrido para a satisfazer.
Assim, a RSC pode ser considerada um recurso ou grupo de recursos da empresa, englobando
diferentes dimensões, que podem ser consideradas recursos internos, tais como valores
corporativos, ética empresarial, o relacionamento com os stakeholders, projetos sociais, reputação
corporativa, dentre outras, que devem ser valiosas, raras, inimitáveis e não substituíveis (SOUZA
FILHO et al., 2010).

Os benefícios internos ajudam a empresa a desenvolver novos recursos e capacidades (know-how e


corporativa cultura), enquanto que os benefícios externos (relacionados com a reputação
corporativa), são recursos intangíveis fundamentais que podem ser criados ou esgotados em
consequência das decisões de participar ou não das atividades de RSC (BRANCO; RODRIGUES, 2006).
Segundo os autores, essa boa reputação pode melhorar as relações com os agentes externos,
atraindo melhores funcionários ou aumentando a sua motivação, moral, compromisso e lealdade
com a empresa. Os autores acrescentam que, as vantagens internas auxiliam a empresa no
desenvolvimento de novos recursos e capacidades relacionados (know-how e cultura corporativa),
enquanto que os benefícios externos estão relacionados com a reputação, um recurso intangível
fundamental, que pode ser criado ou destruído como consequência da decisão em se engajar ou não
em atividades e divulgação de RSC.

A TBR é considerada um ponto de partida na análise da RSC porque enfatiza a importância dos
recursos e capacidades intangíveis que são criados e aprimorados, em grande parte, através de
relacionamentos com os stakeholders, considerando-os como as mais importantes fontes de sucesso
da empresa (BRANCO; RODRIGUES, 2006). De acordo com os autores, a sobrevivência e sucesso de
longo prazo da empresa pode ser assim determinada pela capacidade de estabelecer e manter tais
relações, nas quais as perspectivas de TBR oferecem importantes contribuições para o entendimento
dos mecanismos pelos quais a gestão dos stakeholders pode traduzir-se em impactos positivos no
desempenho.

A lógica da TBR aplicada a RSC pode gerar um conjunto de previsões sobre os padrões de investimento
das empresas e indústrias, através da possível correlação positiva entre RSC associada a Pesquisa e

9
273
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

Desenvolvimento (P&D) e publicidade (MCWILLIAMS; SIEGEL; WRIGHT, 2005). Nesse contexto, a RSC
apoia as intenções das empresas em participarem das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) em inovações para obterem uma diferenciação no mercado e criaram, assim, uma vantagem
competitiva que irá gerar retornos acima das taxas normais dos concorrentes de mercado (PADGETT;
MOURA-LEITE, 2012).

A TBR sugere a adoção de estratégias criadoras de valor que tornem o uso das capacidades de uma
empresa como essencial para o sucesso financeiro (TORUGSA; O’DONOHUE; HECKER, 2012). Os
autores acrescentam que as empresas obtêm vantagem competitiva implementando estratégias de
criação de valor derivadas da aquisição de recursos únicos e heterogêneos, mas também da sua
capacidade de integrar e implantar esses recursos como base para as "capacidades" organizacionais
essenciais.

2.5 TEORIA BASEADA EM RECURSOS E A VANTAGEM COMPETITIVA SUSTENTÁVEL

Dentre as diversas teorias relacionadas a RSC, a TBR é a que tenta explicar e prever por que algumas
empresas são capazes de estabelecer posições de vantagem competitiva sustentável e, ao fazê-lo,
ganham retornos superiores (GRANT, 1991). De acordo com o autor, a TBR percebe a empresa como
um pacote único de recursos e capacidades idiossincráticas, onde a principal tarefa da gestão é
maximizar o valor através da implementação otimizada de recursos e capacidades, durante o
desenvolvimento de suas bases para o futuro.

Hart (1995) destaca a a tendência de que a estratégia e a vantagem competitiva estejam, cada vez
mais, baseadas em atividades econômicas ambientalmente sustentáveis, ou seja, a TBR natural da
empresa. O autor introduziu a Natural-Resource-Based-View, uma teoria da vantagem competitiva
composta por três estratégias interligadas: prevenção da poluição, gestão de produtos e
desenvolvimento sustentável, em complemento a TBR, com base no relacionamento da empresa e o
ambiente natural.

Segundo Hart (1995), a TBR é vista como uma ferramenta essencial para analisar as políticas sociais
e ambientais da empresa, reconhecendo a importância decisiva dos recursos, capacidades e fontes
de vantagem competitiva através dos intangíveis, considerado caros à RSC. Para o autor, o futuro
parece exigir uma forte liderança moral e um empoderamento do processo social que permita uma
visão compartilhada de um recurso raro (BARNEY, 1991) (específico da empresa), e que poucas
empresas sejam capazes de estabelecer ou manter de forma amplamente partilhada.

10
274
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

Russo e Fouts (1997) utilizaram o conceito de Hart para fornecer um esquema que liga a vantagem
competitiva, buscando assegurar e reforçar a legitimidade social como parte do ambiente externo
enfrentado por uma empresa para desenvolver recursos únicos que levam a expectativas sobre
serem valiosos e inimitáveis (BARNEY, 1991).

Husted e Allen (2001) argumentam que as estratégias de RSC podem criar vantagens competitivas se
usadas adequadamente através da criação de barreiras estabelecidas por produtos ambientalmente
responsáveis, protegidos por patente ou processos socialmente saudáveis que o desenvolvimento de
soluções socioambientais criativas.

Para ser uma fonte de vantagem competitiva, as ações de RSC devem criar resultados reais e
consistentes para a sociedade através de uma maior preocupação com aspectos externos,como um
valor interno, das decisões sociais estratégicas (BRANCO; RODRIGUES, 2006). Indicam ainda que, essa
reflexão sobre os cursos em ação deve analisar e antecipar os efeitos do comportamento da empresa
ao prever o potencial positivo, ou suas consequências negativas de suas ações ao longo dos tempos.

A integração da preocupação com o meio ambiente e a sociedade, no contexto estratégico


empresarial, tem representado uma importante fonte para a geração de vantagem competitiva e
desempenho superior (HART, 1995; RUSSO; FOUTS, 1997; BRANCO; RODRIGUES, 2006; TORUGSA;
O’DONOHUE; HECKER, 2012). A vantagem competitiva da RSC pode ser percebida através da
influência direta de seus recursos (raros, insubstituíveis, inimitáveis e valiosos (BARNEY, 1991) para
melhoria da reputação e imagem, retenção de pessoas excepcionais, motivação dos colaboradores,
valor agregado, melhor desempenho econômico proporcionado pela responsabilidade social,
alinhado a projetos inovadores e eficientes, um melhor desempenho ambiental e melhoria na
governança corporativa (SOUZA FILHO et al. 2010).

3 DISCUSSÃO TEÓRICA

A discussão acerca da RSC tem emergido como uma prioridade em todos os países (COMISSÃO
EUROPÉIA, 2002), integrando-a a SC (DAHLSRUD, 2008; JENKINS, 2009), no contexto do TBL
(VANCLAI, 2004; BRANCO; RODRIGUES, 2006; D’AMATO; HENDERSON; FLORENCE, 2009), fazendo
com que sejam dedicados esforços para integrar as práticas relacionadas a sustentabilidade nos
negócios (HART, 1995; RUSSO; FOUTS, 1997).

Embora as questões econômicas relacionadas a RSC tenham como foco o lucro nas atividades
empresariais (CLARKSON, 1995; BARON, 2011; RUF et al., 2001), as questões relacionadas a um maior

11
275
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

comprometimento com as causas socioambientais previstas pela TBR (HART, 1995; RUSSO; FOUTS,
1997; BANSAL, 2005; ALMEIDA, 2007; TORUGSA; O’DONOHUE; HECKER, 2012; MOURA, 2014) podem
oportunizar uma fonte de vantagem competitiva de longo prazo para as empresas (GRANT, 1991;
HUSTED; ALLEN, 2001; PADGETT; MOURA- LEITE, 2012).

A RSC pode ser explicada através da utilização dos recursos relacionados aos ativos tangíveis e
intangíveis (SOUZA FILHO et al., 2010) como um modelo mais formal da teoria-da-empresa
(MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001) geradora de benefícios internos, externos ou ambos (BRANCO;
RODRIGUES, 2006), gerando um conjunto de previsões sobre os padrões de investimento das
empresas e indústrias (MCWILLIAMS; SIEGEL; WRIGHT, 2005).

As estratégias empresariais (GRANT, 1991; BARNEY, 1991) relacionadas a criação de valo (MOURA,
2014; BARON, 2011) utilizada no contexto estratégico da TBR (MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001;
MCWILLIAMS; SIEGEL; WRIGHT, 2005; HUSTED; SALAZAR, 2006; TORUGSA; O’DONOHUE;
HECKER, 2012), pode, no contexto relacionado a sustentabilidade (HART, 1995; RUSSO; FOUTS, 1997)
ser uma vertente teórica é capaz de auxiliar na identificação de como a estratégia relacionada a RSC
e associada ao TBL pode ter o potencial de geração de vantagem competitiva sustentável.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse estudo consistiu em fazer um esse ensaio teórico para verificar de que forma as
empresas utilizam as questões econômicas e socioambientais como fontes de criação de valor e
geração de vantagem competitiva, considerando, para tal, a lente teórica da TBR. Os resultados
indicam que os negócios sustentáveis que incorporam o TBL no contexto da RSC, possuem, na
atualidade, uma estreita relação com a estratégia empresarial, oportunizando as empresas obterem
melhores resultados advindos desse processo.

Dentre as diversas definições que permeiam a RSC, o conceito que a analisa sob o enfoque as
influências econômica, social e ambiental das atividades empresariais parece ser a que melhor
destaca a necessidade de atendimento aos anseios da comunidade como um todo, seja pela
estratégia inerente a essa associação ou pela pressão imposta para que os recursos e capacidades
utilizados pelas organizações sejam explorados de forma estratégica, levando em consideração os
impactos para as futuras gerações.

A prioridade em discutir e implementar a sustentabilidade dentre as estratégias empresariais, faz as


questões relacionadas ao contexto econômico relacionada a RSC, exija das mesmas um maior

12
276
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

comprometimento com as causas socioambientais, oportunizando uma fonte de vantagem


competitiva, tal como abordado pela vertente de TBR. Assim, a RSC pode ser um modelo mais formal
de teoria-da-empresa para explicar de que forma a correta utilização dos recursos e capacidades
empresariais podem se transformar em uma fonte de criação de valor e geração de vantagem
competitiva.

13
277
Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

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Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

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Responsabilidade Social Analisada Sob O Enfoque Estratégico

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16
280
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 14
10.37423/200902707

ANÁLISE DA VIDA ECONÔMICA DA FROTA


BRASILEIRA DE CAMINHÕES

Elaine Radel Universidade de Brasília - UnB

Daylyne Maerla Gomes Lima Sandoval Universidade de Brasília - UnB

Paula Rayssa Pereira Universidade de Brasília - UnB

Susan Cariny Carvalho Machado Universidade de Brasília - UnB

Sérgio Ronaldo Granemann Universidade de Brasília - UnB


Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Resumo: Os veículos de transporte rodoviário de carga estão sujeitos a desgastes e alterações


tecnológicas com o passar do tempo, tornando-se cada vez mais obsoletos e gerando um alto custo
operacional. Mensurar essa variação de custos com a idade do veículo permite identificar a vida
econômica e, assim, subsidiar as decisões acerca da substituição ou não desses veículos. Nesse
contexto, o presente trabalho apresenta uma análise dos custos de operação no setor de transporte
rodoviário de cargas brasileiro e identifica a vida econômica por meio do método de Custo Anual
Uniforme Equivalente (CAUE) para um modelo específico de veículo. Além disso, são apresentados
resultados que permitem avaliar a economia de proceder à substituição do veículo na vida econômica
calculada. As análises realizadas levam a uma vida econômica de 12 anos e uma redução anual do
custo de 1,4% em relação à frota dos transportadores autônomos existente atualmente no país.

Palavras chave: Vida econômica, Transporte rodoviário de cargas, Custos, Investimento.

1
282
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

1. INTRODUÇÃO

Os veículos utilizados para a realização do transporte de carga estão sujeitos ao longo do tempo a
desgastes e alterações tecnológicas, tornando-se cada vez mais obsoletos e gerando um alto custo
operacional para a empresa, cooperativa ou para o transportador autônomo (PEREIRA, 2006). O
aumento dos custos operacionais torna-se, portanto, uma das razões para a substituição de veículos
antigos por novos, na medida em que estes apresentam custos de manutenção relativamente
pequenos.

Assim, a análise da planilha de custos, de modo a identificar até quando é vantajoso manter o veículo
e a partir de qual idade é viável substituí-lo, torna-se importante ferramenta de apoio à decisão no
transporte rodoviário de cargas.

Nesse contexto, o presente trabalho apresenta a análise da vida econômica de um modelo de


caminhão selecionado, considerando o aumento dos custos operacionais com a idade do veículo, bem
como apresenta uma análise comparativa, baseada nos dados do Registro Nacional dos
Transportadores Rodoviários de Carga (RNTRC), de modo a identificar os prejuízos mensuráveis
monetariamente que os transportadores autônomos (que apresentam maior idade média da frota)
teriam por não substituir seus veículos no momento indicado pela sua vida econômica.

Embora neste trabalho tenham sido considerados somente os efeitos nos custos de manutenção e nos
gastos com combustível, são apresentadas as externalidades geradas pelo uso de caminhões com
idade mais elevada, identificadas como “custo social” da frota.

2. O CUSTO SOCIAL DA FROTA DE CAMINHÕES: EXTERNALIDADES

Segundo Contador (2008), externalidades são todos os efeitos que determinada ação ou atividade,
seja econômica ou não, têm sobre o bem-estar de outras pessoas, sobre o desempenho de empresas
e mesmo na qualidade do meio ambiente, sendo positivas quando beneficiarem, involuntariamente,
os demais, e negativas em caso contrário.

A teoria econômica tem avançado no que diz respeito à quantificação, em termos monetários, desses
custos sociais. Neste âmbito estão os custos relativos aos impactos ambientais, como a poluição
atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis por veículos automotores (ESTEVES et al.,
2007; MAY et al., 2003; ROSA e RIBEIRO, 2001). Do mesmo modo, outras externalidades têm impactos
econômicos negativos, quantificáveis monetariamente.

2
283
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

No presente contexto, o custo social decorrente do uso de uma frota envelhecida pode ser medido
através da poluição atmosférica, dos acidentes e do valor do frete. Diversos estudos demonstram que
tais custos se elevam conforme a idade do veículo. Isto é, veículos velhos apresentam custos sociais
maiores comparativamente aos veículos mais novos.

2.1 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

A poluição atmosférica é proveniente de várias fontes, tais como a queima de combustíveis fósseis
(gasolina, álcool e diesel). Conforme a CETESB (2009), as emissões causadas por veículos produzem
gases com substâncias tóxicas, que carregam, em sua maioria, o monóxido de carbono (CO), óxidos de
nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos (HC), óxidos de enxofre (SOx), material particulado (MP), entre
outros poluentes.

Quando os veículos operam com idades avançadas, os impactos financeiros e ambientais decorrentes
são mais expressivos, em virtude do emprego de tecnologias antigas, poluidoras e pouco eficientes
em relação ao consumo energético (CRUVINEL et al., 2011). Esses veículos emitem elevadas
quantidades de gases poluentes, impactando na qualidade de vida e na saúde das pessoas. Neste
contexto, diversos autores, como Rocha et al. (2009), Arruda (2010) e de Cruvinel et al. (2011) buscam
estimar, monetariamente, os custos da poluição relacionados à idade da frota de caminhões.

Supondo que o caminhão novo seria não poluidor em comparação ao caminhão velho, Rocha et al.
(2009) e Arruda (2010) propuseram uma expressão para medir a externalidade ambiental proveniente
da frota de caminhões (Equação 1).

em que:

𝐸𝑝= é a externalidade ambiental subjacente à frota de caminhões;

𝑃𝐶𝑛𝑜𝑣𝑜= é o preço do caminhão novo;

𝑃𝐶𝑣𝑒𝑙ℎ𝑜= é o preço médio do caminhão em circulação da atual frota;

δ= é uma taxa de atualização.

Os autores recomendam o uso da taxa de inflação para atualizar o preço do caminhão velho (isto é,
que δ seja igual à taxa de inflação). Assim, como mostra a Equação 1, a externalidade ambiental é
medida pela diferença entre o preço do caminhão novo não poluidor e o preço atualizado do caminhão

3
284
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

velho poluidor. A literatura de economia do meio ambiente chama essa diferença de custos evitados
(MAY et al., 2003).

Já Cruvinel et al. (2011) estimaram as emissões de CO2 da frota brasileira de caminhões pela
metodologia Top-Down, apresentada por Mattos (2001), que usa como base para o cálculo os dados
de produção e consumo de energia. Dessa maneira, Cruvinel et al. (2011) chegaram a uma produção
total de 93 milhões de toneladas de CO2, referente a todos os modais que utilizam o óleo diesel como
combustível. Considerando que a frota de caminhões brasileira representa 44% destas emissões,
segundo o Boletim Ambiental do Despoluir (CNT, 2010), os autores estabeleceram, por meio desta
proporção, que a frota brasileira de caminhões teve um total de emissões de CO2, em 2008, de
aproximadamente 41 milhões de toneladas.

Cruvinel et al. (2011) estimaram, ainda, a redução em valores monetários que resultaria da exclusão
dos caminhões com mais de 30 anos do mercado brasileiro de transporte rodoviário de cargas
(considerando apenas veículos de propriedade dos transportadores autônomos). Os resultados são
apresentados na Tabela 1.

Fonte: adaptado de Cruvinel et al. (2011)

Tabela 1 – Redução das emissões de CO2 e do consumo de combustível no cenário projetado por
Cruvinel et al. (2011)

2.2 ACIDENTES

Os acidentes de trânsito geram prejuízo para a sociedade no que diz respeito aos recursos econômicos,
às vidas humanas e ao bem estar social. Os custos relacionados aos acidentes de trânsito podem ser
dimensionados em função dos seus impactos econômicos sobre a sociedade. Tais custos podem ser
classificados em (ROSA e LINDAU, 2004):

a) danos materiais dos veículos, sobre a via pública (danificação de placas de trânsito e postes de
iluminação pública) e o atendimento às vítimas;

4
285
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

b) custos relacionados à perda do capital humano, ou seja, à perda de produção potencial futura do
indivíduo;

c) custos psicológicos e sociais relacionados, os quais refletem a aversão da maioria da sociedade aos
riscos inerentes aos acidentes de trânsito.

Além disso, os custos dos acidentes têm reflexos no desempenho econômico do setor. Cerca de 60%
das cargas do Brasil são transportadas por caminhões e os acidentes envolvendo os veículos de carga
têm um alto custo para os transportadores, superior até mesmo aos prejuízos causados pelo roubo de
cargas (GERALDO, 2012). Os fatores responsáveis pela maioria das ocorrências envolvendo veículos
de carga são: a idade avançada da frota, manutenção ineficiente e a fadiga do motorista. Assim,
conforme afirma Geraldo (2012), as ocorrências parecem não estar relacionadas apenas às condições
das rodovias, sendo o fator de maior relevância a idade elevada da frota. Anualmente ocorrem 90 mil
acidentes rodoviários com veículos de carga no Brasil, gerando custos diretos e indiretos de 9,7 bilhões
de reais.

Dados do Centro de Estudos de Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostram a


distribuição dos gastos anuais que os transportadores brasileiros têm com acidentes: 49% dos gastos
são com as vítimas, 23% com a perda de carga, 16% com custos médicos e hospitalares e os demais,
relacionados a danos dos veículos, entre outros (GERALDO, 2012).

2.3 VALOR DO FRETE

Os caminhoneiros, assim como os proprietários das cargas transportadas, perdem com o


envelhecimento da frota, devido ao aumento dos custos de operação e de manutenção (SOUZA e
CLEMENTE, 2009; VALENTE et al., 1997). Tal aumento de custos é, por sua vez, refletido nos valores
cobrados pelo frete.

A chamada externalidade de frete, que é a diferença entre custos de operação da frota velha e os
custos do veículo na idade econômica, pode ser definida pela Equação 2 (ROCHA, ARRUDA e ROCHA,
2009; ARRUDA, 2010):

Em que:

𝐸𝐹= representa a externalidade de frete;

5
286
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

𝐶= é o custo médio de operação e manutenção do caminhão em circulação da atual frota;

𝐶𝑀𝐼𝑁= é o custo de operação e manutenção do veículo na idade econômica.

3. SUBSTITUIÇÃO DE EQUIPAMENTOS

Feldens et al. (2010) afirmam que o conceito de substituição de equipamentos tem origem na
Administração Científica, a qual tinha como objetivo principal a maximização do valor presente de um
equipamento. Para isto, analisava-se o ciclo de vida do equipamento e determinava-se a vida
econômica (o ponto ótimo de substituição no período).

De acordo com Nascimento (2012), a substituição de equipamentos pode acontecer por meio da
seleção de similares para substituir o existente, ou por ativos completamente diferentes para o
desempenho de uma mesma função. Todo veículo, por exemplo, tem um ciclo de vida no qual
desempenha as respectivas funções dentro de padrões adequados de produtividade, segurança
operacional e economicidade. No momento de sua substituição, poderá ser trocado por um novo
veículo.

Diversos fatores devem ser considerados na tomada de decisão sobre a substituição dos veículos, tais
como: a depreciação, a manutenção (por ser um item de elevado custo para a empresa), o tempo que
o veículo fica em manutenção e a quilometragem percorrida. De acordo com Casarotto Filho e Kopittke
(2000, p. 166):

as decisões de substituição são de uma importância crítica para a empresa, pois


são em geral irreversíveis, isto é, não têm liquidez e comprometem grandes
quantias de dinheiro. Uma decisão apressada de “livrar-se de uma sucata” ou o
capricho do possuir sempre o “último modelo” pode causar problemas sérios
de capital de giro.

3.1 VIDA ECONÔMICA

A vida econômica de um bem, segundo Degarmo e Canada (1973), é o período de tempo (geralmente
em anos) em que o Custo Anual Uniforme Equivalente (CAUE) de possuir e de operar o bem é mínimo;
os bens, como equipamentos e instalações, desgastam-se com o uso, necessitando cada vez mais de
manutenção. Dessa forma, os custos operacionais vão aumentando com o passar dos anos e seu valor
de mercado vai diminuindo. A partir de determinado momento não é mais interessante manter o bem.
Esse momento é conhecido como a vida econômica do bem.

Já a vida útil de um bem, ainda segundo Degarmo e Canada (1973), é o período de tempo em que o
bem consegue exercer as funções que dele se espera; a vida útil depende de como o bem é utilizado

6
287
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

e mantido. Refere-se, portanto, ao tempo máximo de utilização de um bem, estando relacionado com
o fim da capacidade produtiva. Neste caso, a substituição do bem acontecerá somente pela
incapacidade dele realizar a atividade a que se destina.

3.2 MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE FROTAS DE VEÍCULOS

Tradicionalmente, as formas de substituição de equipamentos são apresentadas por meio da análise


das situações práticas em que há necessidade de dar baixa em equipamentos existentes ou adquirir
equipamentos novos em substituição aos existentes.

Segundo Casarotto Filho e Kopittke (2000), as formas de substituição de equipamentos podem ser
agrupadas em cinco modelos tradicionais:

a) baixa sem reposição: ocorre em casos de desativação de linhas de produção ou de projetos,


ou seja, o equipamento deixa de ser útil para a empresa;

b) substituição idêntica: ocorre quando o equipamento não sofreu relevantes mudanças devido
ao avanço tecnológico, sendo desta forma substituído por bens de mesmas características; neste
método encaixam-se grande parte dos veículos, motores elétricos e máquinas operatrizes (VEY e
ROSA, 2003);

c) substituição não idêntica: ocorre quando, devido ao avanço tecnológico, o equipamento é


substituído por outro com diferentes características;

d) substituição com progresso tecnológico: considera os avanços tecnológicos constantes,


trazendo vantagem operacional à empresa, visto que os equipamentos mais modernos superam os
antigos em termos de economia financeira e de economia de tempo de operação;

e) substituição estratégica: ocorre devido à busca por equipamentos que possam fornecer uma
produção diversificada e com maior qualidade. Nesse método, existe uma preocupação com as
receitas geradas pelos equipamentos.

Retomando os pressupostos de Degarmo e Canada (1973), a vida econômica do equipamento é


entendida, de modo geral, como a idade de uso em que o CAUE apresenta-se mínimo. Assim, a
determinação da vida econômica consiste em encontrar os Custos ou Receitas Anuais Uniformes
Equivalentes (CAUE ou VAUE) do ativo para todas as possibilidades de vida útil. O ano para o qual o
CAUE é mínimo ou o VAUE é máximo é o ano da vida econômica do ativo.

7
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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Deste modo, no presente trabalho optou-se por determinar a vida econômica do equipamento em
análise por meio do CAUE, tendo em vista que o método pode ser operacionalizado utilizando-se
apenas informações referentes aos custos do bem, podendo-se desprezar os dados sobre as receitas.

3.2.2 MÉTODO DO CUSTO ANUAL UNIFORME EQUIVALENTE - CAUE

Conforme Vey e Rosa (2003), para determinar o CAUE é necessário transformar os custos do
equipamento em custos anuais equivalentes. Para tanto, é necessária a aplicação de uma taxa de juros
correspondente ao custo de capital sobre o investimento ou uma taxa mínima de atratividade.

Ainda segundo Vey e Rosa (2003), para utilizar esse método são necessárias algumas informações
sobre o equipamento em análise, tais como:

a) valor do investimento ou de aquisição;

b) valor de revenda ou valor residual ao final de cada ano da vida útil do equipamento;

c) custos operacionais e;

d) custo de capital ou taxa mínima de atratividade.

Conforme Novaes e Alvarenga (1994), o cálculo do CAUE segue a seguinte sistemática:

a) Transformação de todos os custos em valor presente com a aplicação de uma determinada


taxa de juros. Para tanto, utiliza-se o fator de valor presente (FVP), calculado por meio da Equação 3.

Em que: 𝐹𝑉𝑃= fator de valor presente;

𝑗= taxa de juros;

𝑛= período (anos).

b) Distribuição dos valores obtidos no cálculo do FVP, pelos anos de vida útil do equipamento.

c) Determinação da vida econômica do equipamento, selecionando o período que apresentar


o menor custo anual uniforme equivalente.

Assim, o cálculo do CAUE é dado pela Equação 4:

8
289
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Em que:

𝐼= investimento;

𝑅= valor residual;

𝐹𝑅𝐶= taxa de recuperação de capital.

O 𝐹𝑅𝐶, por sua vez, é dado pela Equação 5:

Em que:

𝑗= taxa de juros;

𝑛= período (anos).

4. APLICAÇÃO DO MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DE FROTA AO CASO ESTUDADO

Existe uma deficiência no gerenciamento operacional e logístico das empresas em conhecer e


quantificar todos os custos, fixos e variáveis, relacionados à operação do transporte de carga. A
ausência dessa informação e os custos para obtê-la dificultam a avaliação da vida econômica dos
caminhões que operam no mercado brasileiro.

Entretanto, alguns autores têm se dedicado à apuração e cálculos relativos à variação dos custos
médios operacionais com a idade do veículo. Dentre eles, Pereira (2006) analisa os custos de
manutenção com frota, relacionando-os com a idade e o tipo de pavimento utilizado.

O autor utiliza o custo médio anual por quilômetro para determinar o período ideal de substituição
dos veículos de transporte de carga, isto é, para definir a idade econômica da frota analisada. Para
tanto, o autor fez levantamento dos custos de manutenção relacionados a três rotas específicas: com
pavimento classificado como “bom”, “deficiente” e “ruim”. Conforme observado no estudo, os custos
de manutenção da frota de transporte rodoviário de carga, relacionados aos pavimentos classificados
como “bom” são menores que aqueles relacionados ao pavimento “deficiente” que, por sua vez, são
inferiores aos custos de manutenção quando a frota trafega por vias de pavimento “ruim”. No entanto,
a variação percentual dos custos com o aumento da idade da frota é igual ou muito similar para as três
situações analisadas.

9
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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

4.1 CÁLCULO DA VIDA ECONÔMICA DO TIPO DE VEÍCULO ANALISADO

O presente estudo foca a avaliação da idade econômica do veículo “baú simples” da marca “Mercedes-
Benz”. Tal delimitação foi feita de modo a propiciar a análise de um caso específico e significante,
posto que os veículos do tipo selecionado representam 21% do total de veículos registrados no RNTRC
(ANTT, 2012).

Para o cálculo do CAUE foram utilizados os custos apresentados na Revista Transporte Moderno
(2010), relativos a um modelo da categoria e marca especificadas. Os custos por km, mensais e anuais,
são apresentados na Tabela 2.

Fonte: Adaptado da Revista Transporte Moderno (2010)

Tabela 2 – Custos operacionais de um veículo de transporte de carga – modelo Mercedes-Benz Atego

Aplicando-se o percentual médio de aumento dos custos de manutenção de acordo com a idade do
veículo, calculados por Pereira (2006), e mantendo os custos fixos constantes para o período
analisado, obteve-se a variação de custos totais para o modelo de veículo considerado.

O valor residual do investimento, por sua vez, foi estimado a partir da tabela FIPE (para o modelo de
veículo considerado) e, quando não disponível, foi aplicada a taxa média de desvalorização, obtida a
partir da desvalorização anual observada na referida tabela.

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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Os custos totais e valores residuais subsidiaram o cálculo do CAUE, que considerou, ainda, uma Taxa
de Mínima Atratividade (TMA) de 10%. Deste modo, o CAUE calculado para veículos de diferentes
idades é apresentado na Tabela 4.

Tabela 3 – Variação do Custo Anual Uniforme Equivalente (CAUE) para o modelo de veículo analisado

Como se pode observar, a idade em que os custos de operação do veículo são mínimos é de 12 anos.
Isto é, até os 12 anos é menos custoso manter o veículo ao invés de substituí-lo. Após os 12 anos,
contudo, vale a pena proceder à substituição, pois os custos de manutenção do veículo velho são
maiores do que os custos de compra e manutenção de um veículo novo. Logo, a substituição se
apresenta como modo de reduzir custos e tornar mais eficiente a prestação do serviço de transporte
rodoviário de carga, já que as externalidades negativas são maiores com o uso do veículo mais velho.

5. AVALIAÇÃO DA FROTA DE CAMINHÕES REGISTRADA NO RNTRC

Do total de veículos cadastrados no RNTRC em maio/2012 (ANTT, 2012), 21% (aproximadamente 295
mil veículos) eram da categoria “baú simples” da marca “Mercedes-Benz” (Figura 1). Se considerados

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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

apenas os transportadores autônomos (TAC), esse percentual se eleva para 33% do total de veículos
registrados.

Figura 1 – Distribuição percentual dos tipos de veículos registrados no RNTRC

Considerando o total de veículos “caminhão simples/Mercedes-Benz” registrados no RNTRC, a idade


média observada é de aproximadamente 23 anos. Quando considerados somente os autônomos, a
frota tem idade média mais elevada, de 26,22 anos. Por outro lado, veículos das ETCs apresentam
idade média de 15,34 anos. Cooperativas apresentam veículos com idade média de 21,84 anos. A
distribuição da frota segundo intervalos de idade é apresentada na Tabela 4.

Tabela 4 – Distribuição dos veículos registrados segundo categoria do transportador e idade do


veículo

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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Como pode ser observado na Tabela 4, os veículos com idade entre 31 a 40 anos são maioria, da frota
brasileira de caminhões, representando 32% do total analisado. Caso seja considerada a vida
econômica calculada (12 anos), 73% dos veículos hoje registrados apresentam idade superior a 12
anos. Nessa análise, cabe destacar os transportadores autônomos, que apresentam percentual
superior de veículos acima da idade econômica: 83% dos veículos têm mais de 12 anos.

5.1 AVALIAÇÃO DOS CUSTOS DA NÃO SUBSTITUIÇÃO DO VEÍCULO

Considerando que a vida econômica do veículo analisado é de 12 anos, buscou-se avaliar as possíveis
perdas, em valores mensuráveis monetariamente, que o transportador autônomo teria por manter a
frota pelo período médio observado de 26 anos. A escolha do transportador autônomo para tal análise
se deu em virtude de esta ser a categoria que apresenta veículos com idade média mais elevada, maior
percentual de veículos acima da idade econômica e que, além disso, apresenta grandes dificuldades
para a renovação da frota, em virtude das restrições de acesso a financiamentos.

Assim, a Tabela 5 apresenta a variação do VPL e do CAUE, calculados para duas situações: na primeira,
considera-se que o transportador manterá o veículo por 26 anos em operação, sem substituí-lo, e na
segunda, é suposto que o transportador substituirá o veículo a cada ciclo de 12 anos (a idade
econômica).

Tabela 5 – Comparação entre VPL e CAUE para os cenários sem renovação e com substituição na
idade econômica

A partir das análises realizadas, observa-se que a manutenção do veículo por 26 anos, sem a realização
de nenhuma troca, resultaria em custos anuais 1,4% superiores aos estimados caso as trocas fossem
efetuadas de acordo com a vida econômica do veículo (12 e 24 anos). Em valores monetários, realizar
as substituições na idade indicada significaria uma economia anual de cerca de R$ 3 mil em custos de
manutenção, ou um Valor Presente Líquido (VPL) de R$ 25 mil. Considerando o final dos 26 anos, esse
valor equivaleria a 1,5 veículos novos do mesmo tipo e modelo.

A Figura 2 mostra, graficamente, a variação do CAUE para os diferentes períodos considerados (12 a
26 anos), possibilitando a comparação entre os cenários analisados (de manutenção do veículo ou

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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

substituição na idade econômica). Assim, é possível observar que há um aumento constante dos
custos anuais com o envelhecimento da frota, bem como uma redução deles com as substituições
realizadas.

Figura 2 – Variação do CAUE para as situações de manter o veículo velho ou substituir na idade
econômica

Cabe ressaltar que os valores considerados envolvem apenas a redução dos custos com operação, os
quais são mensuráveis monetariamente. Externalidades como acidentes e emissão de gases poluentes
também devem ser consideradas, pois representam custos sociais ocasionados pela manutenção do
veículo operando além da idade econômica. Por outro lado, veículos velhos permanecem mais tempo
parados para manutenção e devido a acidentes do que veículos novos, o que também encarece a
operação de transporte.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mensuração dos custos dos veículos de transporte rodoviário de carga permite a identificação da
vida econômica e, assim, subsidia as decisões acerca da sua substituição. Para o caso analisado, a idade
econômica gira em torno dos 12 anos, idade a partir da qual os transportadores passam a ter maiores
custos de manutenção de seus veículos.

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Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

Assim, se analisada a frota registrada no RNTRC, verifica-se que mais de 70% dos veículos estão acima
da vida econômica. Deste modo, como sugestão para trabalhos futuros, poder-se-ia mensurar o
impacto do aumento de custos para toda a frota de caminhões (de autônomos, empresas e
cooperativas), incorporando na análise, o cálculo dos custos sociais decorrentes do uso de veículos
com idade elevada no mercado brasileiro. Os resultados desse tipo de trabalho oferecem subsídios
para as políticas de financiamento e de regulação da operação do setor de transporte rodoviário de
cargas.

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296
Análise Da Vida Econômica Da Frota Brasileira De Caminhões

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298
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 15
10.37423/200902709

TOMADA DE DECISÃO EM ARRANJO PRODUTIVO


LOCAL

Rosimeiri Naomi Nagamatsu Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Marcelo Capre Dias Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Josiany Oenning Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Lívia Laura Matté Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

Resumo: Este artigo discute esses princípios no contexto dos Arranjos Produtivos Locais – APLs com
base na teoria da governança e tomada de decisão. A minimização das diferentes informações
existentes entre empresas e os diversos atores, seus princípios globais como equidade de direitos e
deveres, transparência das decisões e adoção de responsabilidade corporativa poderá resultar em
maior visibilidade e credibilidade dos clusters fortalecendo-se ainda mais. As diferentes formas de
coordenação da governança de APLs, seus diferentes níveis, podem influenciar nos processos de
decisão locais, refletindo nos resultados das atividades que envolvem a organização dos fluxos de
produção. A confiança entre os pares é a base para formação de redes, essa confiança aliada ao fluxo
de informação, comunicação e monitoramento de decisões pode resultar em boas práticas
governanças de APLs.

Palavras-chave: Governança, Arranjo Produtivo Local, Tomada de decisão.

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300
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

1. INTRODUÇÃO

As mudanças no cenário econômico mundial com o rápido avanço da economia globalizada e da


competitividade internacional exigem maior agilidade das empresas, que de um modo geral, estão se
desenvolvendo em busca de estratégias competitivas para atender as crescentes necessidades sociais
e humanas.

Vários autores vêm pesquisando o desenvolvimento regional por meio do trabalho organizado em
redes de cooperação, Marshall (1985) publicou em 1917, seus estudos sobre distritos industriais,
Porter (1986) pesquisou clusters e agrupamentos produtivos, Casarotto Filho & Pires (1998)
publicaram seus estudos sobre redes de trabalho topdown. Em resumo, esses autores descreveram as
vantagens competitivas que um aglomerado produtivo traz as empresas de um mesmo setor instalado
numa mesma região geográfica, como vantagens logísticas, de fornecedores, mão-de-obra
especializada e conhecimento tácito regionalizado.

Essa ideia vem justamente do aprimoramento das organizações frente ao mercado competitivo pelo
aspecto espacial local e pelas relações de poder ressaltado pela forma de governança híbrida (público-
privada) (CAMPOS, 2006).

Além disso, a governança, em sua maioria, tem como objetivo discutir a minimização das diferentes
informações existentes entre empresas e os diversos atores. Seus princípios globais como equidade
de direitos e deveres, transparência das decisões e adoção de responsabilidade corporativa poderá
resultar em maior visibilidade e credibilidade dos clusters fortalecendo-se ainda mais (ANDRADE e
ROSSETTI, 2007; VIEIRA e MENDES, 2004). Este artigo discute esses princípios no contexto dos Arranjos
Produtivos Locais – APLs com base na teoria da governança corporativa e tomada de decisão.

2. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS - APLS

Os APLs caracterizam-se por apresentarem entre si especialização produtiva, articulação, interação,


cooperação e aprendizagem com outros atores como governo, associações empresariais, instituições
de financeiras, ensino e pesquisa. Para Porter (1999), esse conceito representa um novo pensamento
às economias, apontando novos papéis para governos, empresas e instituições com objetivo comum
de aumentar a competitividade local.

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Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

O autor destaca também, que a identificação das partes constituintes do APL (empresas semelhantes,
distribuidores de insumo e instituições de qualificação profissional), a análise da cadeia vertical e
subsequente a horizontal, consiste em fator importante para busca de “agências governamentais e
outros órgãos reguladores que exerçam influências significativas sobre os participantes do
aglomerado” (PORTER, 1999, p. 212).

Através do APL, a colaboração entre firmas e a montagem de redes industriais têm marcado o processo
inovativo. Novos produtos têm sido desenvolvidos a partir da integração de diferentes tecnologias que
são crescentemente baseadas em diferentes disciplinas científicas. Mesmo grandes empresas têm
dificuldade em dominar a variedade de domínios científicos e tecnológicos necessários, o que explica
a expansão de acordos colaborativos e a crescente expansão de redes industriais.

A integração funcional e a montagem de redes têm resultado em vantagens importantes às empresas


na busca de rapidez no processo inovativo. Lastres e Cassiolato (2003) ressaltam que a flexibilidade,
interdisciplinaridade e fertilização cruzada de ideias ao nível administrativo e laboratorial são
importantes elementos no sucesso competitivo das empresas.

Finalmente, observa-se crescente colaboração com centros produtores do conhecimento dados a


necessidade do processo inovativo se apoiar em avanços científicos em praticamente todos os setores
da economia.

Deste modo fazendo com que os participantes das redes colaborem atendendo às necessidades de
curto e longo prazo dos clientes, criando novos conhecimentos e produtos, além de concentrarem-se
em suas atividades principais e diferenciadoras (TERRA, 2005).

A formação de um APL pode promover o crescimento de pólos produtivos, porém a simples


concentração de MPEs não traz vantagens competitivas, além disso é necessário traçar ações para
nortear as atividades que podem trazer e, mais importante, manter a competitividade ao setor local.

3. GOVERNANÇA CORPORATIVA NO ÂMBITO DOS APLS

Por muito tempo o termo governança ficou limitado principalmente aos assuntos constitucionais e
legais em relação à condução do Estado. A partir de Williamson (1985), o conceito se ampliou com
destaque nos arranjos inter organizacionais emergentes, expandidos a partir do final do século XX
(GRAÇA, 2007).

3
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Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

Andrade e Rossetti (2007) apontam que nesta mesma época a Organização Cooperação para
Desenvolvimento Econômico - OCDE vinha se interessando pelas boas práticas de governança
corporativa, onde a percepção, baseada em constatações de estudos acadêmicos, como o de forte
correlação direta entre a mobilização de mercado de capitais maduros e confiáveis, o crescimento dos
negócios e o desenvolvimento econômico das nações foi a motivação maior pelo interesse da
instituição pelos princípios de governança corporativa.

Dentre os pontos que justificou o interesse da OCDE pelas questões de governança, os que mais se
adaptam a realidade da governança nos APLs são:

 A governança necessita ser customizada para ser ajustada à cultura regional e dos arranjos
produtivos, justificando assim diferenças entre as melhores práticas recomendadas; e

 Os desenvolvimentos atuais neste campo criam um espaço de aprendizado mútuo, em que


interagem governos, órgãos reguladores dos mercados, arranjos produtivos e outras partes
com interesse e responsabilidade para corrigir práticas viciadas de governança.

Diante disso, a OCDE criou em 1999 um grupo de estudo apresentando os Pinciples of Corporate
Governance, que resumidas e adaptadas aos APLs tem como princípios:

 Não há um único modelo de governança, apesar de serem identificados alguns elementos em


comuns, cada APL precisa adaptar sua aplicação as suas circunstâncias culturais;

 Os APLs precisam inovar e adaptar suas práticas de governança para se manterem


competitivas, com vista ao surgimento de novas oportunidades de capitalização e crescimento;
e

 Os princípios de governança são de natureza evolutiva e devem ser revistas sempre que
ocorrerem mudanças significativas, dentro dos APLs e em seu entorno.

As formas de coordenar um arranjo variam conforme o tipo de sistema produtivo local, que é
determinado pela estrutura de produção, aglomeração territorial, organização, inserção no mercado,
densidade institucional, e tecido social (SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2002, 2007).

Conhecer os atores que definem as direções de desenvolvimento do APL, só poderá ser possível por
meio da Identificação do Sistema de Governança implantado no aglomerado (STOPER e HARRISON,
1991 apud GRAÇA, 2007). Outros autores como Porter (1998) e Humpherey e Schmitz (2000),

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303
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

destacam a função da governança local como coordenadora de atividades inter-firmas, resultando


para o aumento da competitividade coletiva.

Suzigan, Garcia e Furtado (2002 e 2007) asseguram que as possibilidades de desenvolvimento dos
aglomerados produtivos estão sujeito as formas de governança e na qualificação inerentes ao sistema
local. Além disso, as governanças em APLs atribuem as diferenças em faces a suas assimetrias –
competitividade: custos, qualidade, lucratividade; tecnológicas: produtos, processos e estruturas de
custos e comportamentais: estratégias – deparadas nas realidades de alguns setores, indústrias e
mercados, afetam principalmente os atores dos APLs (CASSIOLATO e SZAPIRO, 2002 e AMATO NETO
2000).

Além dessas diferenças Nadler apud Andrade e Rossetti (2007), consideram atribuições essenciais aos
atores de uma boa governança a integridade e competências como sustentações de envolvimento
construtivo. Esses elementos são pontos fundamentais para definições das ações das governanças.

Suzigan (2007) em seus estudos sobre estrutura de governanças em APLs relata que alguns fatores
determinam a forma de governança local para promover o desenvolvimento de funções produtivas. O
autor considera, também, as abordagens de Lombardi onde analisa a governança como agente de
controle de fluxo de informação e conhecimento.

Para Garcia (2004), esses conhecimentos estão relacionados a forma de governança local, no
desenvolvimento de ações conjuntas tais como criação de centros tecnológicos, associação de
negócios, entre outras. Além das empresas, as instituições de apoio são importantes para promoção
de ações e reforçar o funcionamento do aglomerado, através da geração e propagação do
conhecimento tácito local. Sendo, instrumentos de articulação das atividades de interesse entre as
empresas, fundamentais para a estrutura das empresas de governança de conglomerados (GOMES e
SCHLEMM, 2004).

Desse modo, Gomes e Schlemm (2004) citam a definição de governança de Storper e Harrison (1991,
p. 234) “refere às estruturas de relações de poder e de tomada de decisão acerca da alocação de
fatores de produção, que envolve qualquer conjunto de sistemas de relações insumo-produto”, ou
seja, decisões comunitárias relacionadas aos problemas comuns das empresas inseridas nos
aglomerados.

Dentro dessa perspectiva de desenvolvimento, competitividade, ações coletivas, processo de


coordenação, inovação tecnológica, entre outros, confirmam que a questão da governança é

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304
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

importante na organização e envolvimento de atores locais para processo colaborativo de ações em


grupos em torno de interesses individuais e coletivos.

3.1 ESTRUTURA DE GOVERNANÇA

Cassiolato e Lastres (2001) referem-se, do mesmo modo, a relação de poder que ocorrem nas cadeias
produtivas e de distribuição de mercadorias, que podem ser governadas por mecanismos de preços
ou fortes hierarquias impostas pelos atores participantes do processo. Além disso, a possibilidade de
formação de estruturas intermediárias de governança por interações podem resultam em maior grau
de colaboração e cooperação nas relações entre empresas. Esse tipo de estrutura motiva a atividade
de inovação, resultado do processo social, coletivo das interações entre os atores (LUNDVALL, 1992
apud SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2002).

Suzigan, Garcia e Furtado, (2002, 2007), Gomez e Schlemm (2004) e Albertin (2003) citam Storper e
Harrison (1991) que em seus estudos sobre governança em sistemas produtivos, consideram elevada
à frequência das ralações nos sistemas produtivos locais derivados da divisão do trabalho entre as
empresas.

Assim sendo, uma coordenação eficiente pode conseguir a união de empresas e entidades para uma
ação conjunta em prol de um projeto. Além de poder definir regras formais e informais que estruturam
as afinidades e diversidades sociais.

Desse modo, concentrados os problemas para o desenvolvimento de um aglomerado, Haddad (2002)


distingue três campos de decisões:

 Privadas - refere-se à responsabilidade do empresário individual sobre o que ocorre dentro de


sua própria empresa;

 Governamentais refere-se aos três níveis de governo, de serviços públicos tradicionais e semi-
público nas áreas onde se localizam o aglomerado; e

 Comunitárias - refere-se aos problemas comuns dos membros dos aglomerados, na qual a
resolução do problema depende de tomada de decisão coletiva.

Dessa forma, pode-se considerar que as governanças referem-se às várias maneiras com que os atores
e organizações envolvidas num aglomerado, conduzem seus problemas incomuns e realizam ações de
cooperação.

6
305
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

Suzigan, Garcia e Furtado (2007), em seus estudos sobre governança em APLs, ressaltam que a
existência de uma estrutura e sua forma depende de alguns fatores como: Número e tamanho das
empresas; Tipo do produto ou da atividade econômica local e da respectiva tecnologia; Forma de
organização da produção local; Forma de inserção nos mercados; Domínio de capacitações e ativos
estratégicos de natureza tecnológica, comercial (marcas e canais de distribuição), produtiva ou
financeira; Instituições locais com representatividade política, econômica e social, interagindo com o
setor público; e Contexto social/cultural/político.

Além desses fatores, a presença de instituições intermediárias na constituição de uma governança é


essencial para promoção de ações para formação de empresas confiáveis em seu ambiente local
fortalecendo o aglomerado, através de estratégias coesas para a agrupação de seu conjunto.

3.2 TIPOS DE GOVERNANÇA

A organização desse aglomerado pode distinguir-se pelos tipos de governanças no qual se encontram
respaldados em abordagens que enfatiza a coordenação de atividades econômicas por meio de
relações comerciais, onde tratam governança em aglomerados organizados em redes de produção.
(STROPER & HARRISOM, 1991 apud SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2002, 2007 e ALBERTIN 2003). Os
autores indicam que a presença concentrada de empresas de um mesmo setor ou segmento industrial
atrai fornecedores e prestadores de serviços, fazendo desenvolver relações com empresas locais.

Suzigan, Garcia e Furtado (2002 e 2007) e Albertin(2003) apresentam também uma classificação na
qual incorporam três dimensões complementares de cadeias produtivas privada:

 Rede: Formado por firmas de quase mesmo poder, sem domínio das empresas líderes sobre as
demais. Relação de dependência recíproca com a finalidade de completar as competências e
economias de escopo e escala;

 Quase-hierárquica: Existência de aglomerações de empresas que se relaciona em longo prazo,


uma assume o papel de líder, onde uma é subordinada da outra: empresas subcontratados; e

 Hierárquica: As características do sistema produtivo (sistema insumo-produto), forte


integração vertical, onde a empresa líder define regras, o produto e suas especificidades.

A partir desses atributos Stroper & Harrison, 1991 (apud SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2002, 2007)
elaboraram uma matriz em que classificam diferentes experiências empíricas, conforme suas
características:

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306
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

 All ring-no core, a cadeia produtiva não precisa de líderes sistemáticos, entre os atores sem
qualquer espécie de hierarquia. Empresas líderes influenciam o comportamento dos
produtores;

 Core-ring wich coordinating firm, com alto grau de hierarquia em decorrência de assimetrias
entre os atores participantes;

 Core-ring wich lead firm, apresentam também relações hierarquizadas e assimetrias, difere da
estrutura anterior, pois a empresa líder é dominante. Cadeias comandadas pelas grandes
empresas; e

 All core-no ring, grande empresa verticalizada, onde quase não se verifica a conformação de
aglomerados de empresas, na qual opta pela integração dos recursos produtivos.

Embora Suzigan, Garcia e Furtado (2002 e 2007) e Albertin(2003) reconheçam estar incompleta, essa
classificação é uma importante contribuição para análise das formas ao qual se configuram as relações
entre as empresas. Dessa maneira, a essa análise deve ser complementada com outros elementos,
como:

• Visão da região - indicando a extensão da cadeia produtiva e a divisão do trabalho; o grau de


hierarquia; e se as interações são locais ou não locais; e

• Contexto local - principalmente o mercado de trabalho e as capacitações locais; formas de


governança externas exercidas por instituições locais ou regionais; e os aspectos qualitativos das
interações das empresas (STROPER e HARRISON, 1991 apud SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2002,
2007).

Como existem vários tipos de governanças de aglomerados produtivos, há, também, formas diferentes
de comando local, estabelecidas para coordenar as atividades entre empresas. Um deles é o sistema
hub-and-spoke (sistema centro-radical): configura-se pela hierarquia predominante de um claro
comando por uma grande empresa, que neste caso, apropria-se do maior benefício da cooperação.
(MARKUSSEN, 1995, apud GARCIA; MOTTA e AMATO NETO, 2004 e GOMES e SCHLEMM, 2004).

Assim como o hub-and-spoke outras formas de cooperação são responsáveis pela coordenação dos
APLs com a cadeia global, além é claro, do estímulo a competitividade e transmissão de conhecimento
entre os fabricantes locais:

8
307
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

 Bilateral vertical, as empresas procuram diminuir os ciclos de inovação;

 Horizontal bilateral, as empresas juntam-se para desenvolver um trabalho pontual;

 Multilaterais horizontais envolvem agentes públicos e privados e a participação de empresas


concorrentes; e

 Multilaterais verticais, onde cooperam atores de cadeias produtivas diferentes.

Suzigan, Garcia e Furtado (2002) consideram que a forma de governança, pública ou privada, pode
possibilitar o desenvolvimento do arranjo local, além de estimular a manutenção de relações
cooperativas dos atores, ocasionando ações conjuntas resultando no incremento da competitividade
do conjunto de fabricantes.

As ações coordenadas pelo setor público destacam-se pela criação e manutenção de organismos
direcionados a promoção do desenvolvimento dos produtores locais. Nas ações do setor privado,
destaca-se o papel das associações de classe e agências privadas, como agentes catalisadores de
desenvolvimento e fomentando o desenvolvimento local, adotando governança não hierárquica ou
sem a presença de lideranças, somente a relação de igualdade (SUZIGAN, GARCIA e FURTADO, 2003).

As formas de governança local podem ser estabelecidas pelo setor público ou privadas, ou até mesmo
por ambas as partes. No entanto verificam-se formas híbridas de coordenação (GARCIA, MOTTA e
AMATO NETO, 2004).

Portanto, a governança em APLs propicia o trabalho colaborativo entre diversos atores que buscam o
fortalecimento regional. Desse modo a heterogeneidade dos agentes envolvidos em clusters é um dos
diferenciais estratégicos que pode contribuir para a melhoria da competitividade local.

4 TOMADA DE DECISÃO

Conceitualmente, o processo de tomada de decisão é um método de raciocínio e ação que resultará


com uma escolha. Além disso, no processo de tomada de decisão, dados confiáveis, informação e
conhecimento são elementos importantes para o decisor embasar suas ações.

9
308
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

Em governanças de APLs essas ações vão exigir mais colaboração de seus atores, fazendo com que
evidenciem os procedimentos de dialogo fundamentado na ideia de que, na governança do APL, a
comunicação, segundo Angeloni (2003), dever ser estimulada objetivando o estabelecimento de um
pensamento em comum, que no caso do APL pode ser considerar a missão.

Assim sendo, é fundamental o alto grau de disciplina, para que haja responsabilidade por suas relações
e comunicação. Em uma boa comunicação, o indivíduo precisa desenvolver habilidades para se
expressar e ouvir. A comunicação incide quando as pessoas buscam atingir um acordo sobre
determinada situação de decisão, ouvindo e respeitando outros pontos de vista, Gutierrez (1999, p.
38) apud Angeloni (2003), “pressupõe que um conjunto de pessoas, com preparação intelectual,
informações e interesse em chegar a um acordo, debate todas as alternativas possíveis até constituir
um plano de ação coletivo consensual”.

No campo das decisões o indivíduo passará a contribuir quando consegue colocar-se no lugar de outro
e perceber suas razões e interesses. Além disso, por meio do trabalho em equipe pode-se obter um
maior número de informações possibilitando inúmeros pontos de análise distintos, facilitando o
desenvolvimento de alternativas de possível solução para o problema, sendo validada a alternativa
em vista dos objetivos e metas estabelecidas pela organização (ANGELONI, 2003 e BORGES 1995).

Desse modo, torna-se importante destacar a maturidade como elemento essencial na comunicação
organizacional para a tomada de decisão.

Estabelecia a melhor alternativa, antes de ser implantada é importante criar práticas de


monitoramento, adotando avaliações periódicas para serem confrontadas ao planejamento por
ocasião da tomada de decisão.

Uma forte característica na maioria das governanças de APL consiste no equilíbrio nos níveis
hierárquico dos membros. Entretanto, Borges (1995) avalia que a redução de níveis hierárquicos deve
ocorrer de maneira que os planos essenciais de comando não sejam prejudicados. A descentralização
de responsabilidades deve permitir que o conhecimento e as decisões estejam presentes nos vários
níveis do APL e que cada ator seja responsável por sua auto-avaliação e autocontrole.

Angeloni (2003) destaca que as decisões tomadas por equipes heterogêneas. Como no caso dos
membros da governança do APL (empresários do setor, instituições público-privado, representantes
de classe, entre outros), tendem a resultados de maior qualidade.

10
309
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

Além disso, Humphrey e Schmitz (1995) afirmam que estar no mesmo setor e localização também
facilita a tomada de decisão comum. Assim, pessoas com pontos de vistas e experiências diferentes
interpretam a situação de decisão também de forma diferente. Ouvir e tentar compreender essas
visões leva ao aperfeiçoamento das decisões. As decisões tomadas em equipes tendem a ser mais
solidas que as tomadas individualmente, apesar de, normalmente, demandarem mais tempo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho abordou as dimensões dos conceitos de governança, as tipologias, conceitos e


definições, as questões que envolvem a tomada de decisão no mecanismo de governança e a
importância das MPEs organizarem-se estrategicamente em Arranjos Produtivos Locais, uma vez que
sozinhos são mais vulneráveis aos rápidos avanços tecnológicos.

As diferentes formas de coordenação da governança de APLs, seus diferentes níveis, podem


influenciar nos processos de decisão locais, refletindo nos resultados das atividades que envolvem a
organização dos fluxos de produção, bem como o processo de geração, disseminação e uso de
conhecimento tácito regional.

Esses diferentes desenhos de governança e hierarquias nos sistemas produtivos, representa maneiras
diferenciadas de poder na tomada de decisão (centralizada ou descentralizada), mais ou menos
formalizada.

A heterogeneidade dos atores dos APLs pode resultar em maior eficiência estratégica ao grupo. No
entanto, a falta de preparo e maturidade para lidar com essa diversidade pode resultar em disputas
internas por benefícios próprios causando desmotivação dos envolvidos no APL.

A confiança entre os pares é a base para o fortalecimento das redes. Essa confiança aliada ao fluxo de
informação, comunicação e monitoramento de decisões pode resultar em boas práticas de
governanças de APLs. Assim sendo, garantindo um processo permanente de competitividade por meio
da melhoria contínua.

11
310
Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

REFERÊNCIAS

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Tomada De Decisão Em Arranjo Produtivo Local

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13
312
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 16
10.37423/200902711

FATORES QUE INFLUENCIAM A CRIATIVIDADE


NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

Lidiana Zocche Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Sandra Elisa Kunrath Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Istefani Carísio de Paula Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Vera Lúcia Milani Martins Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Rio Grande do Sul
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

Resumo: No ambiente organizacional, o fenômeno criatividade é resultado da interação de fatores


ligados às pessoas, aos grupos e às práticas de gestão da empresa. Neste estudo o objetivo foi
identificar e organizar os fatores que exercem, efetivamente, influencia sobre a criatividade na prática
das organizações. Para alcançar tal objetivo realizou-se uma extensa revisão de literatura em busca
dos fatores, empregando análise de conteúdo para organização dos mesmos em uma estrutura
coerente. Posteriormente, submeteu-se a estrutura à avaliação de importância por profissionais que
trabalham em quatro organizações brasileiras reconhecidas por sua capacidade inovadora, segundo o
ranking Best Innovator da consultoria A. T. Kearney publicado na revista Época Negócios. Foram
encontrados fatores e detalhamentos dos mesmos, organizados em 3 níveis: indivíduo, grupos e
organização. As análises estatísticas descritivas e multivariadas das respostas de importância atribuída
pelos entrevistados aos fatores indicou que, dependendo da natureza do negócio, pode ocorrer ênfase
em alguns fatores mais do que em outros. Os fatores considerados mais relevantes pelas empresas A,
B e C foram motivação, estratégia, alta liderança, expertise, formação de grupos, cultura
organizacional, estrutura organizacional, liderança, creative thinking e clima organizacional. A
organização D eleita por conveniência parece não possuir ou não ter construído ainda uma visão
comum, mostrando-se neutra com relação aos fatores que mais influenciam a criatividade. Embora
sejam necessários mais estudos para confirmação destes achados, considera-se que a consolidação
dos fatores que mais influenciam a criatividade possibilita a elaboração de ações dirigidas para cada
um dos níveis, indivíduo, grupo ou organizacional com objetivo de incrementar o potencial criativo das
empresas.

Palavras chave: Criatividade, Criatividade nas organizações, Nível de indivíduo, Nível de grupo, Nível
organizacional.

1
314
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

1. INTRODUÇÃO

A inovação é vista como um meio para manter e desenvolver posições competitivas dentro das
organizações e está associada a aspectos intangíveis, como o conhecimento e a criatividade.
Frequentemente os conceitos de criatividade e inovação são confundidos, sendo que grande parte da
literatura de negócios usa os termos criatividade e inovação de forma intercambiável (RACELA, 2014).
A despeito disso, Mumford, Hester, Robledo (2012) e Amabile (1996), esclarecem que a criatividade é
“uma condição necessária, mas não suficiente” para a inovação.

Trazendo uma perspectiva organizacional para o tema criatividade, métodos e processos, estrutura e
suporte, organização, cultura e monitoramento dos resultados quando combinados e exercidos sob
uma estratégia, com foco na inovação, são essenciais para a produção de novos e originais produtos,
processos ou serviços em empresas (FELIX, 2012). Estes elementos são dependentes da ação humana
uma vez que são os membros, em suas equipes, que realizam o trabalho não somente gerencial, mas
o de gerar ideias criativas, processá-las criticamente, descartar as ideias que parecem inúteis,
buscando implementar aquelas que têm potencial para criar valor para a organização, a curto ou longo
prazo (SOMECH e ZAHAVY, 2013; DAMANPOUR; ARAVIND, 2012; WOODMAN; SAWYER; GRIFFIN,
1993). Dada a relevância prática da criatividade no âmbito das indústrias inovadoras e economia
criativa Muller e Ulrich (2013); Hennessey e Amabile (2009) afirmam que o estudo da criatividade deve
ser visto como uma necessidade básica para organizações competitivas. Todos esses autores reforçam
a importância da criatividade para a capacidade de inovar e produzir soluções de qualidade e de forma
rápida nas organizações.

O objetivo deste estudo é compilar fatores que determinam a criatividade nas organizações e avaliar
sua importância pela perspectiva de profissionais que atuam em empresas brasileiras consideradas
inovadoras. Entende-se que uma contribuição teórica deste trabalho é a organização de uma estrutura
coerente de fatores que influenciam a criatividade nas organizações, fatores que estavam dispersos
na literatura e algumas vezes recebendo pouco destaque. Esta análise traz equilíbrio ao conjunto,
deslocando o centro da discussão que esteve por muito tempo sobre o indivíduo, para enfatizar que a
criatividade é uma prática de grupos e sensível ao ambiente na qual ocorre. A contribuição prática
consiste em sensibilizar profissionais em relação ao tema, trazendo para a pauta da discussão
organizacional, quais fatores têm alavancado a inovação em empresas de diferentes segmentos.

Este trabalho enfatiza apenas o ambiente intraorganizacional, embora se reconheça que variáveis
externas às organizações, pertinentes ao contexto, ao macroambiente e à macroeconomia em que a

2
315
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

organização está inserida, exerçam influência sobre a inovação. O presente trabalho não avança na
exploração dessas influências sobre a criatividade por restrições de recursos. O foco das análises deste
trabalho foi a criatividade no ambiente das organizações desenvolvedoras de produtos, processos ou
serviços inovadores, mas não incluiu a criatividade na educação, nas artes e nas demais áreas de
expressão criativa, mesmo se observando a relevância de tais estudos como importantes fontes de
conhecimento para a compreensão do fenômeno criatividade nas organizações.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A criatividade é um fenômeno complexo, dinâmico e plurideterminado, que depende de distintas


condições para florescer. Ela é um fenômeno emergente, que não pode ser reduzido às partes que o
compõem, embora nem sempre tenha sido esta a concepção dos pesquisadores. Existem diferentes
teorias sobre a criatividade e o propósito de abordar tal evolução neste referencial teórico é
demonstrar como os pesquisadores evoluíram de uma visão centrada no perfil criativo do indivíduo,
para outra, mais sistemática, que considera a influência de fatores sociais, culturais e históricos no
desenvolvimento da criatividade. Embora estejam sendo tratadas como entidades separadas, na
prática, algumas delas apresentam sobreposições entre si (MUMFORD; SIMONTON, 1997, p. 2).

Weisberg (2006) organizou as teorias criativas, segundo sua fonte de origem, em seis grupos: (i) deuses
e loucura, ainda na época dos gregos Platão e Aristóteles, entendendo que as ideias criativas eram
como dádivas e o indivíduo um mero mensageiro destes deuses; (ii) pensamento inconsciente
influenciado, pela psicanálise de Freud que conclui que o processamento de pensamentos que
ocorrem no inconsciente possui importância significativa na produção de ideias criativas; (iii) a visão
da Gestalt dizendo que a experiência do insight ocorre quando uma nova ideia aparece na consciência
vinda do nada e traz consigo um modo totalmente diferente de perceber um problema; (iv) teorias
evolucionarias, influenciada por Darwin, que se iniciaria pela geração randômica de ideias ante um
problema, seguida da retenção seletiva daquelas que derem bons resultados; (v) teoria cognitiva
propondo que os seres humanos deveriam ser considerados como sistemas de processamento de
informações e que os conceitos relacionados ao processamento dos computadores poderiam ser
aplicados no entendimento da cognição humana e as (vi) teorias psicométricas.

Amabile (1983), bem posteriormente, elaborou o Modelo Componencial da Criatividade. Uma das
principais contribuições desse modelo foi o reconhecimento do papel dos fatores contextuais, como,
por exemplo, o clima e a cultura organizacionais como potenciais influências à manifestação da

3
316
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

criatividade dos indivíduos. Para a pesquisadora, a criatividade é produto da combinação de três


fatores: habilidades de domínio, que fazem referência à expertise em determinado domínio; processos
criativos relevantes, que se referem a estratégias e estilos cognitivos que influenciam a produção de
ideias e motivação intrínseca, definida como o genuíno interesse do indivíduo na tarefa. Amabile
concede especial importância ao ambiente em seu modelo. Ela afirma que o mundo social tem
potencial para influenciar qualquer um dos três componentes individuais condutores da criatividade,
em particular a motivação intrínseca.

Csikszenmihalyi (1988) criou a Perspectiva de Sistemas, nele o fenômeno criatividade é construído por
meio da interação entre o criador e sua audiência, ou seja, a “criatividade não ocorre dentro dos
indivíduos, mas é resultado da interação entre os pensamentos do indivíduo e o contexto
sociocultural”. Csikszenmihalyi propõe que a criatividade emerge da interação de três componentes:
domínio, campo e indivíduo. O mecanismo de interação entre domínio, campo e indivíduo elaborado
por Csikszentmihályi é descrito por Simonton (2012, p. 69): “o domínio transmite informação para a
pessoa; a pessoa gera uma variação que poderá ou não ser selecionada pelo campo. O campo, por sua
vez, irá introduzir no domínio a variação no conhecimento selecionada”. Criatividade, sob essa
perspectiva, pode ser definida como um ato que modifica ou transforma um domínio existente, desde
que o indivíduo tenha acesso a vários sistemas simbólicos e que o ambiente social seja responsivo a
novas ideias (SIMONTON, 2012).

Muitos outros autores trataram historicamente do tema criatividade, mas em síntese, pode-se dizer
que o estudo da criatividade organizacional teve suas raízes na pesquisa da criatividade conduzida
primariamente pela psicologia e nas abordagens realizadas em nível macro para o estudo da inovação
nas organizações. A ênfase da psicologia era identificar as características do indivíduo criativo,
enquanto as pesquisas sobre inovação nas organizações possuíam foco, essencialmente, no ambiente
(WEST; SACRAMENTO, 2012). Os estudos elaborados pela psicologia foram considerados a primeira
onda de pesquisas sobre a criatividade, iniciada na década de 1950 (SAWYER, 2012). A abordagem
cognitiva da psicologia teve um intenso período de pesquisas na década de 1970. O foco desta segunda
onda de pesquisas era o processo mental interno das pessoas, o processo cognitivo, enquanto
realizavam atividades criativas (SAWYER, 2012). Foi com o desenvolvimento da abordagem social
psicológica ou sociocultural que se iniciou a terceira onda de pesquisas, na década de 1980. O estudo
da criatividade passou a integrar o contexto aos demais fatores que influenciam a criatividade. O foco
desta abordagem eram os sistemas sociais: grupos de pessoas em contextos sociais e culturais (WEST;

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317
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

SACRAMENTO, 2012; SAWYER, 2012; ALENCAR; FLEITH, 2003), conforme se mencionou neste breve
referencial teórico.

3. MÉTODO

O estudo se caracteriza por um corte transversal, com unidade de análise estabelecida sobre as
organizações de atuação dos profissionais que possuíssem interface com a inovação. O método de
trabalho foi realizado a partir de entrevistas, estudo de campo, empregando um roteiro de 54 fatores,
distribuídos em 3 grupos, conforme apresentado no Apêndice A.

3.1 ESTUDO DE CAMPO

Foram realizadas visitas técnicas a empresas consideradas inovadoras segundo o ranking Best
Innovator da consultoria A. T. Kearney, publicado na revista Época Negócios, edições de novembro de
2012 e novembro de 2013 (FELIX, 2012). O ranking descreve as principais práticas das 20 empresas
mais inovadoras que atuam no Brasil. Para esta pesquisa, buscou-se contato com todas elas. Apenas
três envolveram-se efetivamente com a pesquisa. As demais empresas participantes foram eleitas por
conveniência. A Figura 1 demonstra a participação das empresas em cada um dos instrumentos de
coleta de dados. Foram realizadas visitas técnicas a quatro empresas, localizadas em quatro estados
do Brasil, localizados nas regiões, Sul, Sudoeste e Centro-Oeste. Essas organizações foram nomeadas
A, F, G e D, respectivamente. A entrevista preliminar com os profissionais envolvidos com a inovação
e as informações recebidas nessas visitas tiveram como foco os temas: clima organizacional, liderança
e pessoas, nortearam a elaboração das ferramentas qualitativa e quantitativa utilizadas nas fases
posteriores desta pesquisa.

(*) Empresas inovadoras de acordo com o ranking Best Innovator

Figura1. Participação das organizações segundo os procedimentos de coleta de dados

5
318
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

3.2 ENTREVISTA QUANTITATIVA

O propósito desta etapa foi avaliar a estrutura de fatores que influenciam a criatividade nas empresas.
Quatro empresas participaram da etapa quantitativa da pesquisa, localizadas A, B, D e E. Os
respondentes do questionário quantitativo foram profissionais das empresas participantes da
pesquisa que desenvolvem atividades nas áreas Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), Gestão Industrial
(GI), Gestão de Pessoas (GP), Comercial (CV) e Administração (ADM), de níveis hierárquicos diferentes.
A partir da estrutura gráfica dos fatores que influenciam a criatividade nas organizações, elaborou-se
um quadro com os três níveis e seus detalhamentos, como disposto no Apêndice A. Os respondentes
deveriam avaliar as questões segundo uma escala com variação de 1 (pouco importante), até 10 (dez),
significando (muito importante). Após a coleta dos dados foram realizadas as seguintes análises:
abordagem multivariada, análise fatorial composta da análise de componentes principais e da análise
de fatores comuns (utilizou-se software R-Project®). Esse tipo de abordagem tem por padrão
interpretar as inter-relações entre as variáveis estudadas e explicar essas variáveis em termos de suas
dimensões inerentes comuns (fatores) (HAIR et al., 2006).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Buscou-se neste estudo desenhar, a partir de uma análise de conteúdo da literatura estudada, um
conjunto coerente de fatores que influenciam o fenômeno criatividade nas organizações,. As
categorias ou níveis “indivíduo, grupo e organização” emergiram naturalmente dessa análise de
conteúdo, tendo por referência inicial as pesquisas de Woodman; Sawyer, Griffin (1993); Ford (1996);
Agars et al., (2008) entre outros. Definiu-se como estratégia compilar os fatores facilitadores da
criatividade, portanto, fazem parte da estrutura proposta fatores cuja presença ou existência na
organização, provavelmente, incrementarão a criatividade. O segundo nível, o de grupo, nele estão
compreendidos tanto dois indivíduos trabalhando juntos quanto pequenas equipes e até vultosos e
complexos grupos (KURTZBERG; AMABILE, 2000-2001; DRAZIN; GLYNN; KAZANJIAN, 1999). O terceiro,
o nível organizacional, compreende todo o ambiente interno de determinada organização (JAMES;
DROWN, 2012, p. 19) que é o contexto de trabalho dos indivíduos e grupos, tal estrutura pode ser
percebida no Apêndice A. Na análise quantitativa participaram as empresas A, B, D e E. Sendo as
empresas A, B e E consideradas inovadoras. A intenção de colocar a empresa D, foi verificar se o
instrumento de pesquisa detectaria diferença entre as empresas. Destaca-se que também devem ser
levados em consideração fatores como: empresas públicas, empresas privadas, tamanho, perfil dos
gestores e estrutura funcional que podem influenciar no ambiente de trabalho.

6
319
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

Com relação à análise descritiva da amostra foram calculadas as médias das respostas de todos os
respondentes às questões e as médias comparadas entre si. Dos resultados obtidos nesta análise, para
uma escala de 1 a 10, os cálculos de todas as médias atingiram valores superiores a 6 e inferiores a 9,4
configurando o fato de que, para os respondentes, todos os fatores questionados possuem
importância ou são muito importantes. Apenas médias abaixo de 5 nas respostas demonstrariam um
juízo de valor de pouca ou nenhuma importância, bem como médias iguais a 5 conotariam
neutralidade de valor a algum dos fatores pesquisados. Assim, segundo os respondentes, todos os
fatores pesquisados exercem influência sobre a criatividade nas organizações. Diferenciam-se apenas
quanto à intensidade desta influência.

Observaram-se ainda os fatores mais importantes considerados pelos respondentes para cada nível
de criatividade, pela ordenação por importância dos fatores dentro dos blocos. Notou-se que no nível
de indivíduo houve distinção para o fator motivação (39,39%) quando comparado à expertise (27,85
%) e creative thinking (32,76), porém, não foi uma distinção tão elevada, mostrando que os três fatores
são considerados importantes para os respondentes. O nível de grupo (questão 56) mostrou uma
pequena diferença entre formação de grupos (53,51%) e liderança (46,49%). No nível organizacional
(questão 57) a cultura organizacional recebeu a primeira colocação por ordem de importância
representando (25,06%), seguindo pelo clima organizacional (21,05%), alta liderança (20,17%),
estratégia organizacional (18,81%) e por último a estrutura organizacional (14,91%). Quando os três
níveis são comparados entre si (questão 58), o nível individual responde como o mais importante na
opinião dos respondentes de todas as organizações (39,57%), seguindo para organizacional (31,16%)
e de grupo (29,28%). Chama atenção o fato de a motivação ter sido elencada pelos respondentes de
todas as organizações como a mais significativa que os outros dois fatores, expertise e o creative
thinking, no nível individual e os mesmos respondentes terem reconhecido que os fatores do nível
individual são mais importantes que os do nível de grupo e do nível organizacional quando solicitados
para ordenar por importância os três níveis.

Já em termos das áreas internas de cada organização, apenas o Setor de Marketing, com valor médio
de 8,021 apresentou valores significativamente distintos do Setor de Gestão de Pessoas, com valor
médio de 8,289 (Intercepto na coluna Parâmetro). Em termos de blocos de perguntas do questionário,
as médias observadas para os três níveis estudados: individuo; de grupo e organização não
apresentaram diferenças significativas, considerando nível de significância de 0,05.

7
320
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

Dando sequência as análises realizadas com dados obtidos na pesquisa, partiu-se para a análise,
fatorial. Esta técnica estatística foi utilizada para identificar um número relativamente pequeno de
fatores que podem ser usados para identificar relacionamentos entre um conjunto de muitas variáveis
inter-relacionadas entre si. A Tabela 1 e a Figura 2 apresentam os resultados obtidos na análise fatorial
dos dados quantitativos observou-se que a análise dos componentes principais e fatores comuns, em
seus dois primeiros eixos, explicou, aproximadamente, 96% da variância total dos dados, conforme
dados apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Sumário estatístico e grau de importância de cada eixo da Análise Fatorial – Análise de
Componentes Principais

Na figura 2 percebe-se que os fatores que influenciam a criatividade: expertise, creative thinking,
motivação, formação de grupos, liderança, cultura organizacional, clima organizacional, estrutura
organizacional, estratégia e alta liderança, apresentaram comportamento semelhante, ou seja, na
opinião dos respondentes, todos os fatores, sem exceção, possuem importante influência sobre a
criatividade. Isso é evidente pelo valor positivo que estes fatores assumem frente ao eixo da
componente principal. Sua diferenciação se dá no grau de importância atribuído pelos respondentes
que é expresso no gráfico pelo tamanho do vetor.

Com base na Figura 2, podem-se perceber dois agrupamentos distintos: os fatores motivação,
formação de grupos e clima organizacional com valores positivos em relação ao eixo da componente
secundária, e os fatores estrutura organizacional, alta liderança, creative thinking, liderança,
estratégia, expertise e cultura organizacional com vetores com valores negativos.

O primeiro agrupamento: motivação, formação de grupos e clima organizacional são os fatores


percebidos como mais significativos pelos respondentes das organizações A, D e E. A empresa A, tem
como foco, desenvolver e reconhecer a diversidade de talentos, iniciativas e a liderança dos
funcionários e de todos os direcionadores para o crescimento da companhia, investir em pessoas é o
mais importante. A premissa é simples: se os funcionários se desenvolvem e ampliam o seu nível de
contribuição, a companhia também cresce. Na empresa E a inovação e desenvolvimento tecnológico
são a base de todas as atividades, existe um grande investimento na equipe de trabalho, incluindo

8
321
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

grandes pesquisadores e recursos tecnológicos que permitem gerar resultados com aplicação direta
aos negócios da empresa.

A empresa D considera o ambiente como fator contributivo para o desenvolvimento dos indivíduos,
faz uso de práticas de governança corporativa e atua no aperfeiçoamento do capital humano,
promovendo uma administração de gestão de pessoas orientada para o desempenho. O que chama a
atenção para este agrupamento é o fato de ele ser constituído por um fator de cada nível
organizacional, quais sejam: motivação, do nível do indivíduo; formação de grupos, do nível de grupo;
e clima organizacional, do nível organizacional. O segundo agrupamento, com destaque para a alta
liderança e a estratégia, é percebido como mais relevante pelos colaboradores da organização B, que
têm uma preocupação permanente com a inovação, não só nos produtos, mas em boas técnicas de
gestão.

Figura 2. Saída gráfica da análise de componentes principais ajustada aos principais fatores que
influenciam a criatividade nas organizações

Com relação às posições ocupadas pelas organizações na Figura 2, pode-se observar que as
organizações A, B e E, reconhecidas como inovadoras pelo ranking Best Innovator, ocuparam posições
claramente definidas no plano (Figura 1). Com isso, demonstram representar um pensamento coletivo

9
322
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

acerca do assunto pesquisado, uma postura de conjunto. Já a organização D, eleita por conveniência,
parece não possuir ou não ter construído ainda uma visão comum, colocando-se próxima a zero nos
dois eixos dos componentes analisados (PC1 e PC2). Ou seja, assume uma posição neutra. As
organizações A e E, desenvolvedoras de produtos de alta tecnologia, demonstram em suas respostas
a importância de fatores que enfatizam grupos de trabalho com alto grau de liberdade e autonomia.
Já a organização B, com foco de inovação coordenação da alta liderança e na estratégia de inovação o
foco de sua avaliação (agrupamento de vetores com valores negativos em relação ao eixo PC2).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As questões que nortearam este trabalho visaram estabelecer (i) quais são os fatores que influenciam
a criatividade nos níveis do indivíduo, do grupo e organizacional, (ii) qual a importância atribuída a eles
por pessoas que trabalham em organizações inovadoras. Em relação a essas questões, considera-se
que a estrutura de fatores que influenciam a criatividade nas organizações elaborada neste trabalho
e apresentada em análise no Apêndice A, abrange a maior parte das influências do fenômeno nesse
contexto e que a sua distribuição em níveis de atuação (nível individuo, de grupo e organização)
proporciona a consolidação de um conjunto coerente para que sejam possíveis ações com o objetivo
de desenvolver e incrementar o potencial criativo das empresas. No entanto, há de se averiguar se a
estrutura pode ser aceita como um paradigma. Sugere-se que esta estruturação em níveis seja
submetida a pesquisas subsequentes, tanto para redução da dimensionalidade como para
confirmação destes fatores frente a outras empresas.

Os resultados do estudo de campo confirmaram, por meio da avaliação de profissionais de empresas


brasileiras, a importância de todos os fatores. No entanto, deve-se notar que, em cada organização,
diferentes fatores ou combinações desses, estavam em evidência, conforme observado nas distintas
posições das empresas estudadas neste trabalho. Conclui-se que conforme o tipo de organização,
alguns fatores são enfatizados em detrimento de outros nos quais há redução da importância, porém,
de uma forma geral, o conjunto completo deverá ser encontrado nas empresas.

10
323
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

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Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

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12
325
Fatores Que Influenciam A Criatividade Nas Organizações Brasileiras

APÊNDICE A

13
326
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 17
10.37423/200902715

ANÁLISE DO IMPACTO GERADO NA ESTRUTURA


DE CUSTOS DE UMA EMPRESA DO RAMO DE
POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRA DE
VIDRO AO SE ADQUIRIR UMA MÁQUINA

Wilson de Paula Fundação Universidade do Oeste de SC


Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

Resumo: O estudo objetivou analisar o impacto gerado na estrutura de custos de uma empresa do
ramo de polímeros reforçados com fibra de vidro ao se adquirir uma máquina. Para tal, realizou-se
pesquisa descritiva e qualitativa, por meio de um estudo de caso. A pesquisa foi realizada em uma
indústria, localizada na Região Oeste de Santa Catarina. Ressalta-se que a pesquisa foi realizada nos
meses de março à junho de 2015. Em relação ao custos, os resultados revelaram que as principais
matérias primas utilizadas no processo de fabricação eram resina, roving, tinta, manta e catalisador.
Percebeu-se que a maioria das matérias primas sofrem incidência de IPI e agregam um custo
relacionado a frete terceirizado. Verificou também que a empresa estava enquadrada no regime de
tributação do lucro presumido e que a carga tributária girava em torno de 22,75%. Constatou-se ainda
que dentre os gastos fixos destacaram-se o aluguel e o pró-labore, que juntos totalizavam 18,76% do
faturamento. Dentre os produtos da empresa, os do segmento ‘T’ apresentaram a melhor margem de
contribuição. De modo contrário, o segmento “C” possuía resultados menos satisfatório para e
empresa. Por fim, foi possível verificar que dos 8 produtos analisados, apenas dois não eram viáveis
para serem produzidos com o novo maquinário, visto que que as margens destes produtos acabaram
diminuindo na projeção com a máquina.

Palavras chave: Impacto, Estrutura de custos, Aquisição de máquina.

1
328
Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

1. INTRODUÇÃO

Em um mercado onde a concorrência está cada vez mais agressiva, o controle e a redução dos custos
são vantagens competitivas que as empresas precisam ter sobre os concorrentes (LUZ, 2007). Os
custos, conforme define Leone (2000, p. 54), referem-se ao “[...] consumo de um fator de produção
medido em termos monetários para obtenção de um produto, de um serviço ou de uma atividade que
poderá ou não gerar renda”.

Para ter controle e reduzir custos,Cooper e Slagmulder (2003) ressaltam que é necessário realizar a
gestão dos custos. Os autores destacam também que gerir os custosé uma questão de sobrevivência
para todas as empresas.

Nesse sentido, Hansen e Mowen (2001, p. 28) esclarecem que a gestão de custos “identifica, coleta,
mensura, classifica e relata informações que são úteis aos gestores para o custeio (determinar quanto
algo custa), planejamento, controle e tomadas de decisão”. A gestão de custos, segundo Shank e
Govindarajan (1997), surgiu como resposta para atendar à demandas de novas exigências
mercadológicas em ambientes altamente competitivos, com busca por melhoria contínua da
competitividade.

Shank e Govindarajan (1997) relatam ainda que um dos principais objetivos da gestão de custos é
gerar informações para a tomada de decisão dos gestores. Assim, as informações sobre custos têm
sido consideradas um elemento estratégico frente aos obstáculos oriundos do atual ambiente
enconômico (LUZ, 2007).

Todavia, ainda existem gestores que tomam decisões sem se preocuparem com os custos e sem
projetar cenários, o que pode comprometer todo o resultado almejado para o sucesso de uma
empresa. Em virtude dessa realidade, o estudo tem como objetivo analisar o impacto gerado na
estrutura de custos de uma empresa do ramo de polímeros reforçados com fibra de vidro ao se
adquirir uma máquina.

O estudo justifica-se, pois a atividade de PRFV vem ganhando cada vez mais espaço ao substituir
produtos convencionais fabricados em madeira, alvenaria e ferro, principalmente na construção
civil.Esse crescimento no setor faz com que os gestores utilizem ferramentas para apurar a estrutura
de precificação dos produtos comercializados. Essa análise na formação do preço de venda é essencial
para determinar situações estratégicas da organização e auxiliar nas principais medidas para a tomada
de decisões. Com o estudo, será possível perceber como os principais produtos da empresa em estudo

2
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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

se compõem e como deverá ficar a nova estrutura ao se implantar uma máquina para aumentar a
capacidade produtiva.

O artigo aborda primeiramente a introdução, uma breve revisão de literatura, metodologia e análise
dos resultados, por meio de um estudo de caso demonstrando a estrutura atual de custos comparado
com a implantação do novo maquinário proposto.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 GESTÃO DE CUSTOS

A contabilidade de custos, segundo Martins (2001), consiste na alimentação de informações sobre


valores relevantes que dizem respeito às conseqüências de curto e longo prazo, sobre medidas de
corte de produção, fixação de preços de venda, opção de compra ou fabricação etc.

Nesse sentido, a gestão de custos ganhou força dentro das empresas nos últimos anos já que a tomada
de decisão de curto e longo prazo se baseia-se em informações retiradas de relatórios, documentos,
planilhas e sistemas de suporte de gestão. Então, é impossível acreditar que empresas de vanguarda
não apuram todos seus custos e despesas para acompanhar os produtos e serviços com maiores
rentabilidades.

Dentro da gestão de custos destaca-se alguns métodos de custeio utilizados para dar suporte na
tomada de decisão de curto e longo prazo. Dentre os mais utilizados estão o custeio por absorção, o
custeio baseado em atividades (ABC) e o custeio direto ou variável.

Ressalta-se que a presente pesquisa aborda o custeio variável como suporte na tomada de decisão,
relacionando assuntos como margem de contribuição, ponto de equilíbrio, formação do preço de
venda e suas aplicabilidades.

Em relação ao custeio variável, Dutra (2010) afirma que este método é de extrema utilidade e
amplamente utilizado na determinação da viabilidade econômico-financeira de um empreendimento,
na elaboração de orçamento flexível (ou variável) e do gráfico do ponto de equilíbrio, bem como na
análise do lucro marginal.

Megliorini (2007) menciona que o método de custeio variável é estruturado para atender à
administração das empresas, pois permite a visualização da margem de contribuição de cada produto,
o que possibilita utilizá-la como instrumento gerencial de apoio ao processo decisório.Entre algumas
vantagens desse método de custeio, Padoveze (2010) cita que o custeamento direto possibilita mais

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330
Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
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clareza no planejamento do lucro e na tomada de decisão.Crepaldi (2002) afirma que, para se ter um
planejamento do lucro, é necessária uma compreensão dos custos ocorridos durante o período em
diversos níveis operacionais, também a concepção do custo a as receitas em diferentes níveis de
atividades e despesas fixas.

O método de custeio por absorção será abordado, mas não será adotado como base na aplicabilidade
do estudo. No tocante a este método, Fonseca e Linhares (2003) afirmam que os produtos devem
absorver todos os custos necessários para a fabricação, não importando se são fixos ou variáveis.Entre
as vantagens de utilizar o método do custeio por absorção, considera-se o fatode que o mesmo é
oficialmente aceito (LEONE, 2000). Quanto as desvantagens, a principal é que não evidencia a margem
de contribuição, podendo dificultar a decisão no curto prazo.

E, o ultimo método mencionado é o custeio baseado em atividades (ABC). Martins (2000) afirma que
o ABC enfoca cada etapa do processo como um centro de custos, onde, cada atividade de
transformação, agregará custos aos produtos, sendo assim, a arbitrariedade será utilizada de forma
mais distinta e sucinta, fornecendo um custo mais próximo do real, permitindo ao administrador uma
visão mais clara sobre a vida financeira da organização.

Para Leone (2000) o ABC, ao invés de focar os produtos, foca as atividades necessárias para
desenvolver, produzir e comercializar os produtos e depois define por quais destas atividades os
produtos foram submetidos para assim distribuir os custos das atividades para os produtos.

2.2 TERMINOLOGIAS

Para um melhor entendimento dos principais conceitos utilizados no gerenciamento de custos, é


importante destacar a diferença principal relacionando com exemplos da empresa estudada.A ideia
de custo está associada a produção de um produto ou serviço, logo, se uma empresa está levantando
valores que tem ligação direta ao processo da fabricação de um produto, pode ser classificado como
custo.Representa o gasto relacionado ao uso de recursos empregados na produção de outros bens ou
serviços (NASCIMENTO, 2001).

Por outro lado, tudo que esteja relacionado á geração de receita, pode ser enquadrado como
despesas. Então, a despesa pode ser classificada como gastos diretamente ligados á comercialização
e administração das atividades da empresa. A comissão dos vendedores, o salário de toda a equipe do
administrativo e até mesmo o material de expediente utilizado pelos setores que não tem relação com
a produção classificam-se como despesas.

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

Para Martins, (2001), todas as despesas estão direta ou indiretamente associadas á realização de
receitas.Ainda dentro das nomenclaturas utilizadas nesse capitulo, é essencial classificar e separar os
custos/despesas fixas e variáveis.

Os fixos (custos e despesas), não tem relação direta com a produção ou faturamento da empresa, pois
produzindo/faturando ou não, esses custos ainda continuarão existindo. Como exemplo podem ser
citados a folha de pagamento e as despesas com serviços terceirizados de contabilidade.Para
Clemente e Souza (2007), custos fixos são aqueles que em todos os períodos estão inclusos na empresa
independentemente do volume de atividade.

As variáveis têm relação com o volume de produção, um exemplo claro são as embalagens e matérias
primas, quanto mais se produz, mais esse gasto aumenta.Segundo Padoveze (2003, p. 56) “são assim
chamados os custos e despesas cujo montante em unidades monetárias varia na proporção direta das
variações do nível de atividade a que se relacionam”.

2.3 ANÁLISE CUSTO X VOLUME X LUCRO

Essa análise é essencial para o enquadramento desse artigo, tendo em vista que ao se projetar o
impacto, é preciso verificar a variação dos custos, bem como do volume de venda e o resultado final
apurado com o lucro.

A análise do Custo Volume Lucro (CVL) é utilizada para calcular o impacto de preços, custos e volume
sobre o lucro operacional, sendo considerada uma das mais importantes entre as várias ferramentas
gerenciais da área de custos (MAHER, 2001).

Para dar suporte á análise, destaca-se ainda a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio, temas
importantes para fundamentação e suporte para a tomada de decisão dos gestores.

2.3.1 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO

A margem de contribuição é utilizada para o gerenciamento e tomada de decisão no curto prazo. É


recomendado exclusivamente para o aspecto gerencial, já que exclui os custos e despesas fixas se
enquadrando no método de custeio variável (ou direto).

Para Padoveze (2003) a margem de contribuição representa o lucro variável. É a diferença do preço
de venda e os custos e despesas variáveis por unidade de um determinado produto ou serviço. Para
obter a margem de contribuição subtraem-se do preço de venda os custos e as despesas variáveis
(DUBOIS, KULPA; SOUZA, 2009). A fórmula é: MC = PV – CV.

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Na mesma linha de raciocínio, Lunkes (2004) afirma que a margem de contribuição é a quantia de
receita que permanece depois de deduzir os custos e despesas variáveis, ou seja, o lucro variável por
unidade comercializada.Portanto, a margem de contribuição é o resultado da multiplicação do lucro
variável pela quantidade produzida em um determinado período.

Essa ferramenta é tão importante que consegue evidenciar aos gestores como está a lucratividade de
sua linha de produtos para comparativos e principalmente o impacto causado quando existem
mudanças nessa estrutura como é o caso do estudo relatado posteriormente.

2.3.2 PONTO DE EQUILÍBRIO

As empresas normalmente têm uma grande preocupação em saber qual é exatamente seu ponto de
equilíbrio. O intere advém da necessidade de usar essa informação de forma correta estabelecendo
metas de vendas, controles na produção e redução de despesas e/ou custos.

O ponto de equilíbrio representa o nível de volume de vendas no qual a receita da empresa se iguala
aos seus gastos (custos e despesas) totais (BONFIM; PASSARELLI, 2006).

PADOVEZE (2003) apresenta um exemplo acerca do cálculo do ponto de equilíbrio, descrito a partir da
Tabela 1.

PRODUTO - A Quantidade Preço Unitário % Total

Vendas 1.000 1.700 100 R$ 1.700.000,00

Custos e Despesas Variáveis 1.000 900 52,94 R$ 900.000,00

Margem de Contribuição 1.000 800 R$ 800.000,00

Custos e Despesas Fixas do ano - - R$ 560.000,00

Lucro Operacional total - - R$ 240.000,00

Fonte: PADOVEZE (2003, p. 281)

Tabela 1 – Informações para exemplo do cálculo do ponto de equilíbrio

Para indetificar o ponto de equilíbrio em quantidade, de acordo com Padoveze (2003) deve-se dividir
o total de gastos fixos, pela margem de contribuição($ 560.000,00/ $ 800,00). Deste modo, conforme
os dados da Tabela 1, o ponto de equilíbrio será: 700 Unidades

Produzindo 700 unidades a receita de vendas (700*1.700) seria de R$ 1.190.00,00, o total do custos
com produtos vendidos seria de R$ 630.000,00, por consequência o lucro bruto corresponderia a R$

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560.000,00, descontando os custos e despesas fixas ano equivalentes a R$ 560.000,00 o lucro seria
igual a zero.

A importância do ponto de equilíbrio na tomada de decisão é notável, no exemplo proposto por


Padoveze (2003), é necessário uma produção de 700 unidades para que supra os valores
desembolsados com o custo do produto e desembolsos fixos. Portanto, a cada produto vendido acima
dessas unidades proporcionara lucro para a empresa.

2.4 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

As empresas, de modo geral, estão se preocupando cada vez mais com a formação do seu preço de
venda, já que o impacto em seus demonstrativos de resultados podem ser significantes. Segundo Bruni
e Famá (2008), a formação de preços é uma das ações maisimportantes da empresa, pois o sucesso
do empreendimento até pode não decorrer daformação dos preços, mas uma política equivocada
pode levar ao fracasso.

Quanto ao preço de venda, Sardinha (1995) comenta que, no curto prazo, o preço cobrado pela venda
de um bem ou prestação de um serviço pode ser influenciado pelo mercado, mas a sobrevivência de
uma empresa no longo prazo depende de suas decisões sobre políticas consistentes de preço. Nesse
sentido, Segundo Kotler (2000), a demanda estabelece um teto no preço que uma empresa pode
cobrar por seu produto, pois os custos determinam o piso.

Como descrito por Kalechi (1983), Padoveze (1999) e Kotler (2000) para a formação do preço de venda
deve-se considerar diferentes variáveis: definição dos objetivos da determinação de preços;
determinação de projeções de demanda; estimativa de custos; análise de custos, preços e ofertas dos
concorrentes; seleção de um método de determinação de preço; e determinação do preço final. Uma
visão integrada visa a aproveitar as vantagens e reduzir as limitações contidas nos diversos enfoques
teóricos de precificação de produtos.

É importante destacar que na análie desta pesquisa será utilizado como base para formação do preço
de venda os princípios da contabilidade gerencial de custos, excluídos a precificação baseada na
concorrência, valor percebido pelo cliente e questões mercadológicas.

2.4.1 MARK-UP

Para Padoveze (2006) O Mark-up normalmente é construído com uma estrutura padrão de custos e
despesas em relação a um volume de atividade de produção e vendas considerado normal.Segundo

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Se Adquirir Uma Máquina

Bernardi (2009, p. 164), o mark-up pode ser conceituado como “um índice oupercentual que irá
adicionar-se aos custos e despesas, o que não significa dizer que deva seraplicado linearmente a todos
os bens e serviços”.

Segundo Wernke (2011), no cálculo do Mark-up podem ser inseridos todos os itens que se deseja
cobrar no preço de venda da mercadoria, desde que sob a forma de percentuais.

O Mark-up, conforme Santos (2005, p. 129), tem for finalidade cobrir as seguintes contas: Impostos
sobre vendas;Taxas variáveis sobre vendas;Despesas administrativas fixas;Despesas de vendas
fixas;Custos indiretos de produção fixos;Lucro.

Considerando que uma empresa apurou o custo unitário do produto A em R$ 250,00 e está praticando
R$ 320,00 como preço de venda. Para apurar o Mark-up, basta dividir preço de venda pelo custo
unitário:R$ 320,00 ÷ 250,00 = 1,28 índice do Mark-up.

Então, para se calcular o preço de venda de um outro produto, basta levantar o custo unitário e
multiplicar pelo índice já apurado.Exemplo: Produto B. Custo unitário, R$ 100,00 x 1,28 = Preço de
Venda R$ 128,00.

Deacordo com Padoveze (2006),quanto menos gastos forem atribuídos unitariamente aos produtos,
maior será o multiplicador ou mark-up para se obter o preço de venda.Na mesma linha de raciocínio
Mendes (2009) cita que entre os principais fatores que podem influenciar o valor do Mark-up estão o
tamanho da planta industrial, o valor do custo fixo total (CFT) e a elasticidade-preço da demanda por
esse produto. Quanto maior for o CFT, maior será o do Mark-up.

3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi realizada em uma indústria do ramo de polímeros reforçado e fibra de vidro, localizada
na Região Oeste de Santa Catarina. A empresa iniciou suas atividades em 1985 e atua em todo o Estado
de Santa Catarina. Seus principais fornecedores estão localizados no Estado de São Paulo e grande
parte de sua carteira de clientes é pessoa jurídica, sendo seu mix atual de produtos composto por 30
itens.Ressalta-se que a pesquisa foi realizada nos meses de março à junho de 2015.

O presente estudo se caracteriza como descritivo, pois descreve sem manipulação fatos ocorridos
dentro de uma organização. Para Marion, Dias e Traldi (2002, p. 61), “a pesquisa descritiva objetiva
descrever características de determinado fenômeno ou população, correlacionar fatos e fenômenos
(variáveis) sem, no entanto, manipulá-los”.

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Se tratando de procedimento, o artigo se enquadra como estudo de caso, já que é especifico dessa
empresa e suas conclusões se restringem ao contexto do mesmo.Jung (2004, p. 158) define estudo de
caso “[...] como sendo um procedimento de pesquisa que investiga um fenômeno dentro do contexto
local, real e especialmente quando os limites entre fenômeno e contexto não estão claramente
definidos”.

De acordo com Yin (2010), um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.

A abordagem do problema caracterizou o estudo como qualitativo, já que o levantamento dos dados
proporciona descrição, interpretação e são analisados indutivamente para que os gestores tomem
decisões.O método qualitativo segundo Collis e Hussey (2005) é mais subjetivo e envolve examinar e
refletir as percepções para obter um entendimento de atividades sociais e humanas.

4.DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

O estudo de caso, conforme já descrito, ocorreu em uma empresa industrial no Oeste de Santa
Catarina. Primeiramente foi identificado quais eram as principais matérias primas utilizadas no
processo de fabricação dos produtos da empresa, conforme Tabela 2.

Custo Líquido de
Unitário IPI Frete ICMS Integral
Matéria Prima Aquisição
(R$) (%) (%) (%)
(R$)

1 Resina R$ 7,92 5% 6% 12% R$ 7,84

2 Roving R$ 5,90 10% 6% 12% R$ 6,14

3 Tinta R$ 12,50 5% 6% 12% R$ 12,38

4 Manta R$ 9,00 10% 6% 12% R$ 9,36

5 Catalisador R$ 14,00 0% 6% 12% R$ 13,16

6 Adesivo R$ 2,00 0% 6% 12% R$ 1,88

7 Luva 4" Galvanizada R$ 29,57 5% 6% 12% R$ 29,27

8 Luva 3" Galvanizada R$ 18,07 5% 6% 12% R$ 17,89

9 Luva 1" Galvanizada R$ 2,63 5% 6% 12% R$ 2,60

10 Luva 1 1/2 Galvanizada R$ 4,52 5% 6% 12% R$ 4,47

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11 Conduite 180 R$ 3,50 0% 6% 12% R$ 3,29

12 Bucha de Redução R$ 3,50 5% 6% 12% R$ 3,47

13 Bujão 1" R$ 1,65 5% 6% 12% R$ 1,63

14 Gel R$ 11,00 0% 6% 12% R$ 10,34

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 2 – Principais matérias primas utilizadas no processo de fabricação

Dentre os 14 itens apresentados na Tabela 2destacam-se os 5 primeiros (resina, roving, tinta, manta
e catalisador) que são a base para a produção de qualquer produto da empresa.Nota-se na Tabela 2
que a maioria das matérias primas listadas tem a incidência de Imposto sobre produtos
industrializados (IPI) e frete de 6% que é terceirizado.

Baseado no valor da compra unitária de cada produto, considera-se o IPI,,o frete e descontando o
Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) integral obtém-se o Custo Líquido de
Aquisição.

O ICMS foi considerado 12% já que as mercadorias são adquiridas fora do estado de Santa Catarina.
ICMS e IPI foram descontados do custo unitário,visto que que a empresa se credita em seu regime de
tributação.

O levantamento do custo líquido de aquisição é indispensável para apurar o custo dos principais
produtos da empresa. Foi possível apurar a ficha técnica de 12 itens do mix de produtos da empresa,
evidenciados na Tabela 3.

C1

Quantidade Custo Líquido de


Matéria Prima Unidade Custo Alocado MP %
Consumida Aquisição

Resina 10 Kg R$ 7,84 R$ 78,41 54%

Manta 0 Kg R$ - R$ - 0%

Rovinng 5 Kg R$ 5,40 R$ 27,00 19%

Catalisador 0,1 kg R$ 10,00 R$ 1,00 1%

Gel 2 Kg R$ 10,00 R$ 20,00 14%

Tinta 1 Kg R$ 13,13 R$ 13,13 9%

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Se Adquirir Uma Máquina

Adesivo 3 Unidade R$ 2,00 R$ 6,00 4%

TOTAL R$ 145,53 100%

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 3 – Ficha técnica

A ficha técnica do produto C1, exposta na Tabela 3, demonstra exatamente quanto de cada matéria
prima compõe o custo total alocado. A resina e o rovinng estão representada por 73% do total de
matéria prima para fabricação desse produto.

Destaca-se que o custo líquido de aquisição de cada produto teve origem na Tabela 01. É importante
o acompanhamento de ajustes das mercadorias compradas para não deixar esses valores defasados e
desalinhados com a realidade.

Observa-se na Tabela 3 que, nesse produto, o custo alocado de matéria prima, está determinado em
R$ 145,53. Essa informação é necessária para compor as próximas Tabelas, ou seja, quando se apurar
o custo total com matéria prima, tributação e mão de obra.

A empresa está enquadrada no regime de tributação do lucro presumido. Portanto, levantou-se os


encargos diretamente relacionados com a venda dos produtos, de acordo com este regime de
tributação, conforme Tabela 4.

TRIBUTAÇÃO

Cofins 3%

Pis 0,65%

IRPJ 1,08%

CSLL 1,02%

ICMS 17%

TOTAL 22,75%

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 4 - Tributação

Verifica-se na Tabela 4 que ao somar a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social


(COFINS), mais Programa de Integração Social (PIS), mais Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), mais
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), mais Imposto sobre circulação de mercadorias e

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

serviços (ICMS) totalizará uma carga tributária de 22,75%. O ICMS e o Cofins possuem as pelas maiores
alíquotas, totalizando as duas 20%.

Após apurar o custo de aquisição e os tributos, levantou-se o custo de mão de obra por hora da
empresa, considerando salários, 13º salário, férias e encargos, expostos na Tabela 5.

RESUMO MENSAL R$/HORA

Total Salário R$ 8.950,00

Total 13° e férias R$ 1.740,25

Total Encargos R$ 3.934,01

Total R$ 14.624,27

Horas trabalhadas 180

Colaboradores 4

Custo hora R$ 20,31

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 5 – Custo hora colaboradores

Para apurar o custo total por hora da empresa, listou-se os colaboradores e seus salários. Conforme
pode-se observar na Tabela 5, chegou-se em uma folha de pagamento total de R$ 8.950,00.Todos os
encargos relacionados a folha de pagamento totalizaram R$ 3.934,01.

Nota-se também na Tabela 5 que se considerou como tempo efetivo trabalhado 180h. Após, com o
quadro de 04 colaboradores apurou-se o custo hora relacionado a mão de obra. Esse custo foi apurado
tomando como base a média das folhas de pagamento, portanto, pode ser classificado como custo
hora por colaborador.

Com base nos custos e despesas fixas mensalmente apurou-se a média dos últimos 12 meses desses
desembolsos, bem como a média de faturamento descrita na Tabela 6.

FATURAMENTO MENSAL R$ 60.000,00 100%

1 Água R$ 75,00 0,13%

2 Energia Elétrica R$ 100,00 0,17%

3 Manutenção/Reparos R$ 120,00 0,20%

4 Impostos e Taxas R$ 195,00 0,33%

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

5 Mensalidades R$ 280,00 0,47%

6 Outras Despesas R$ 300,00 0,50%

7 Frete R$ 490,00 0,82%

8 Telefone/internet R$ 750,00 1,25%

9 Combustível R$ 880,00 1,47%

10 Aluguel R$ 2.736,90 4,56%

11 Pro Labore R$ 8.500,00 14,17%

TOTAL R$ 14.426,90

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 6 – Faturamento x Desembolsos fixos

Nota-se na Tabela 6 que o faturamento médio apurado pela empresa nos últimos 12 meses equivale
a R$ 60.000,00 e que entre os desembolsos fixos destacam-se como principais o aluguel e o pró-labore,
que juntos totalizam 18,76%.

Se a empresa manter a média de faturamento, necessitará de 24,04% desse capital para cobrir os
custos e as despesas fixas mensais.Outras despesas estão representadas por valores desembolsados
como material para escritório e pacote de serviço da conta bancária.

Além disso, algumas mercadorias são entregues para os clientes com transporte terceirizado. Esses
fretes por média representam quase 1% dos desembolsos, R$ 490,00.

Considerando os 11 itens fixos da Tabela 6, aponta-se um desembolso médio mensal de R$ 14.426,90.


A empresa deve acompanhar esses valores já que alguns sofrem ajustes anuais em um determinado
período do ano.

A tabela 7, apresenta a margem de contribuição de 08 produtos da empresa. Destaca-se preço de


venda, tributos, comissões, custo da matéria prima e custo de Mão de obra.

PAINEL A - ATUAL

C1 C5 T3 T5 T8 T15 TE 4 TE8

R$ Venda 290,00 1200,00 2603,00 3750,00 6600,00 11000,00 730,00 1350,00

Tributos 65,98 273,00 592,18 853,13 1501,50 2502,50 166,08 307,13

Comissões 8,70 36,00 78,09 112,50 198,00 330,00 21,90 40,50

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

Custo Matéria Prima 145,53 590,00 540,00 720,00 1100,00 1800,00 210,00 290,00

MC 01 24,07% 25,08% 53,50% 55,05% 57,58% 57,89% 45,48% 52,77%

Custo MDO 61,00 290,00 310,00 390,00 650,00 1.200,00 149,00 310,00

MC 02 3,03% 0,92% 41,60% 44,65% 47,73% 46,98% 25,07% 29,81%

PAINEL B - PROJETADO

C1 C5 T3 T5 T8 T15 TE 4 TE8

R$ Venda 290,00 1.200,00 2.603,00 3.750,00 6.600,00 11.000,00 730,00 1.350,00

Tributos 65,98 273,00 592,18 853,13 1.501,50 2.502,50 166,08 307,13

Comissões 8,70 36,00 78,09 112,50 198,00 330,00 21,90 40,50

Custo Matéria Prima 218,50 678,50 594,00 792,00 1.188,00 1.980,00 276,00 334,00

MC 01 -1,09% 17,71% 51,43% 53,13% 56,25% 56,25% 36,44% 49,51%

Custo MDO 22,00 190,00 215,00 250,00 420,00 810,00 110,00 210,00

MC 02 -8,68% 1,88% 43,17% 46,46% 49,89% 48,89% 21,37% 33,95%

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 7 – Margem de Contribuição: Atual x Projetado

Percebe-se na Tabela 7 que o preço de venda atual e o projetado não sofrem alterações, já que o
principal objetivo foi avaliar a margem de contribuição MC 01 e relacionar com a margem de
contribuição MC 02. Essa avaliação é importante para a tomada de decisão ao confrontar os dados do
modelo atual com o projetado.

Destaca-se que a comissão foi de 3% em todos os produtos e o custo da matéria prima advém daTabela
3 – Ficha técnica do produto C1.

O segmento ‘T’ aponta a melhor margem de contribuição e o segmento “C” é a pior categoria dos
produtos avaliados. Observa-se na Tabela 7 que o produto C5, apresenta o resultado menos
satisfatório para e empresa. Atualmente ele estácom uma margem de contribuição (MC 02) de 0,92%.
Acredita-se que ao se adquirir o novo maquinário, essa margem melhore mais de 100% atingindo
1,88%.

O propósito da comparação atual e projetado é avaliar quais produtos seriamvantajosos produzir após
a aquisição da máquina e qual seria o impacto causado na estrutura de custos com o novo
equipamento.

14
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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

Percebe-se na Tabela 7 que dos 8 produtos em estudo, apenas dois não são viáveis para serem
produzidos com o novo maquinário. Trata-se do produto C1 e TE4, já que as margens destes produtos
acabaram diminuindo em relação a maneira atual que a empresa vem produzindo. Na mesma análise
o produto T4 sofreu pouca alteração de margem, já o produto C1 causaria um impacto muito grande
na estrutura de custo já que vem de uma MC 02 de 3,22% para um valor negativo de 8,68%.

Nota-se ainda, na Tabela 7, que o produto T8 também deve ser analisado com atenção já que
representa um avanço significativo quando se produz com o novo maquinário. Percebe-se que mesmo
o produto apresentando uma margem favorável, com o novo projeto, essa melhora alcançou um
crescimento de quase 14%.

De modo geral, o segmento T, apresenta as melhores margens de contribuição. Observando o produto


T3, percebe-se que ao comparar a MC 01 atualmente com o projetado, seria vantajoso produzir no
formato atualmente, logo, ao comparar o ganho de produtividade quando se altera o custo da Mão
de obra, esse produto acaba superando a MC 02, chegando em total de 43,17%. Isso representa um
ganho de 3,8%.

Entre o segmento T, o produto que maior causa impacto ao comparar o aumento de matéria prima
com o custo da mão de obra, é o produto T8. Com um avanço geral na margem de 4,5%, a MC 01 que
é de 57,58% reduz para 56,25%, indicando que com o aumento da matéria prima não seriaviável a
produção com o maquinário, mas ela acaba compensando o ganho em mão de obra, passando de
47,73% para 49,89%.

Isso prova que não basta só apurar a margem de contribuição de uma maneira geral, precisa ser
analisado e comparado a MC 01 com a MC 02, já que o propósito do estudo é verificar o impacto nos
custos considerando que a máquina produz de forma mais rápida e com um aumento no consumo de
material.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo objetivou analisar o impacto gerado na estrutura de custos de uma empresa do ramo de
polímeros reforçados com fibra de vidro ao se adquirir uma máquina. Para tal, realizou-se pesquisa
descritiva e qualitativa, por meio de um estudo de caso. A pesquisa foi realizada em uma indústria,
localizada na Região Oeste de Santa Catarina. Ressalta-se que a pesquisa foi realizada nos meses de
março à junho de 2015.

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

Em relação ao custos, os resultados revelaram que as principais matérias primas utilizadas no processo
de fabricação dos produtos da empresa eram resina, roving, tinta, manta e catalisador. Estas matérias
primas eram a base para a produção de qualquer produto da empresa. Constatou-se também que a
maioria das matérias primas sofrem incidência de IPI e agregam ainda ao seu custo o frete terceirizado.

Verificou-se que a empresa é enquadrada no regime de tributação do lucro presumido e que a carga
tributária gira em torno de 22,75%, sendo que o ICMS e o Cofins possuem as maiores alíquotas.
Percebeu-se que entre os gastos fixos destacaram-se como principais o aluguel e o pró-labore, que
juntos totalizaram 18,76% do faturamento.

Dentre os produtos da empresa, os do segmento ‘T’ apresentaram a melhor margem de contribuição.


De modo contrário, o segmento “C” possuía resultados menos satisfatório para e empresa. Verificou-
se também que dos 8 produtos analisados, apenas dois não eram viáveis para serem produzidos com
o novo maquinário, visto que que as margens destes produtos acabaram diminuindo na projeção com
a máquina.

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Análise Do Impacto Gerado Na Estrutura De Custos De Uma Empresa Do Ramo De Polímeros Reforçados Com Fibra De Vidro Ao
Se Adquirir Uma Máquina

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345
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 18
10.37423/200902718

AMBIENTE LABORAL EM UMA EMPRESA COM DE


GESTÃO DE ECONOMIA DE COMUNHÃO.

Suely da Silva Carreira Universidade Estadual de Maringá - UEM

Ana Maria Bencciveni Franzoni Universidade Federal de Santa Catarina -


UFSC

Manoel Francisco Carreira Universidade Estadual de Maringá - UEM


Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

Resumo: O Brasil é um país que apresenta um elevado número de pessoas carentes e que vivem em
condições de extrema pobreza. O projeto Economia de Comunhão vem com o objetivo de promover
uma sociedade mais justa e solidária, na qual a riqueza possa ser distribuída de modo mais igualitário,
proporcionando o crescimento e o desenvolvimento do ser humano. O presente trabalho constitui-se
em uma pesquisa qualitativa, feita por meio de entrevista com seis pessoas que exercem suas
atividades profissionais numa empresa que pertence ao projeto localizada na cidade de Apucarana –
Paraná. Na entrevista buscou-se verificar quais as diferenças na gestão de uma empresa de Economia
de Comunhão, na percepção dos colaboradores. Concluiu-se que os colaboradores percebem a
empresa como um ambiente diferente em relação às demais empresas, pela liberdade que eles têm
de expor suas ideias. A relação com os gestores da empresa é de confiança, respeito e reciprocidade.

Palavras-chave: Economia de Comunhão; Amor, Reciprocidade; Modelo de gestão.

1
347
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico, as inovações tecnológicas e a intensificação do processo de


globalização não livraram a sociedade brasileira de velhos desafios: diminuir a desigualdade
socioeconômica, proteger os direitos de expressão das minorias e garantir condições de crescimento
e dignidade aos menos favorecidos economicamente. Nesse cenário, os agentes políticos, econômicos
e sociais precisam assumir uma nova postura: necessitam criar condições mínimas para que a
sociedade continue num processo contínuo e acelerado de desenvolvimento econômico, cultural e
tecnológico, mas fazer isto de forma a garantir a sobrevivência daqueles que não são os detentores
dos recursos.

A pobreza no Brasil é complexa, como afirma Menezes (2008), e as demandas sociais são muitas. A
complexidade advém das diferenças regionais, mas é preciso considerar que a pobreza urbana é
diferente da rural, pois no meio rural as necessidades de alimento acabam sendo supridas por recursos
da própria natureza.

Cumpre ainda considerar que as pessoas com dificuldades financeiras carregam consigo maior
vulnerabilidade a problemas de diversas ordens, pois moram em condições precárias, com um número
elevado de habitantes por moradia, e muitas vezes moram longe do local de trabalho. O baixo nível
de alfabetização e a baixa renda da população caracterizam uma situação permanente de
necessidades e carências. Situação que carece de solução por parte da sociedade.

Neste contexto, algumas organizações privadas, para garantir o desenvolvimento de ações sociais mais
efetivas, unem-se num processo de solidariedade, com vista a diminuir a pobreza e a miséria em nosso
país, o grande desafio social a ser enfrentado por todos. A busca da construção de um país onde reine
a justiça e a igualdade social está deixando de ser utopia para se tornar projeto de vida de muitas
pessoas e organizações empresariais da iniciativa privada.

Neste sentido, o projeto EdC vem ao encontro do anseio de empreendedores sociais que “sonham”
com uma sociedade mais justa e solidária, em que riqueza possa ser distribuída de modo mais
igualitário, proporcionando o desenvolvimento do ser humano e incentivando-o a prover seu sustento
com dignidade e a tornar-se dono do seu próprio destino, deixando de ser dependente da ajuda do
Poder Público.

Em face destas considerações, o trabalho constitui-se em uma pesquisa qualitativa em que foram
entrevistadas pessoas que exercem suas atividades profissionais numa empresa incluída no projeto

2
348
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

EdC, localizada em Apucarana – Paraná. Na entrevista buscou-se verificar quais as diferenças que
existem na gestão de uma empresa de EdC na percepção dos colaboradores.

REVISÃO DA LITERATURA

Conforme Leitão (2008), o projeto Economia de Comunhão (EdC) tem características que o
diferenciam de outras formas de economia solidária, pois nasceu em um movimento cristão
denominado Movimento dos Focolares, pertencente à Igreja Católica. Este movimento fundou
pequenas comunidades em vários países, chamadas de “Mariápolis”. No Brasil a primeira destas
cidadelas foi criada em Recife em 1958. Estas cidades serviram inicialmente para estudos e debates,
transformando-se posteriormente em polos empresariais. De acordo com Almeida (2006, P. 15).

(...) o carisma da unidade presente no Movimento dos Focolares trouxe para a


Igreja e a humanidade uma espiritualidade caracterizada pela coletividade. A
EdC é um projeto que, tendo como objetivo primordial minimizar o número de
indigentes coloca a pessoa como centro da atenção de cada consideração
econômica, por conceber a economia como possibilidade de encontro, de
interação, de partilha. Para alcançar os seus propósitos, incluem-se as suas
relações sociais, sua dignidade, sua capacidade de resolver situações e se
autossustentar, contribuindo para a realização da pessoa enquanto ser social.

Este formato empresarial foi implementado no Brasil em 1991, pela italiana Chiara Lubich, fundadora
do Movimento dos Focolares. Atualmente existem no Brasil aproximadamente 180 empresas que
participam deste projeto (LEITÃO, 2008).

A EdC tem como objetivo central direcionar a empresa no sentido de tornar-se uma comunidade de
pessoas altamente responsáveis e motivadas, voltadas à produção de bens e serviços, e de usar os
lucros para criar uma sociedade solidária aos excluídos, aos marginalizados, ou seja, aos necessitados.

Para Gonçalves (2005) et al., projeto de Chiara Lubich EdC é um convite a despertar para a
solidariedade, o bem comum, a primazia do trabalho sobre o capital, a destinação universal de bens e
a dignidade humana, e a responder aos princípios e valores ético-espirituais nos negócios,
considerando a empresa na sociedade como fator de inclusão humana e ambiental.

As empresas participantes deste projeto terão um tratamento diferenciado para a partilha de seus
lucros, sendo parte destinada a desenvolver pessoas. No caso, não se trata de ajuda assistencial, e sim,
de uma forma de trazer dignidade às pessoas; o objetivo não é resolver problemas da pessoa, e sim,
ajudá-la, através de seu crescimento emocional e intelectual, a adquirir condições de enfrentar suas
dificuldades com respeito e dignidade.

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Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

Para proporcionar o crescimento emocional e espiritual das pessoas conforme propõe seu projeto,
Chiara Lubich fixou os princípios filosófico-espirituais para direcionar as ações de empresas que façam
parte do projeto Economia de Comunhão. Sampaio (2007) afirma que estes princípios são discutidos
e aprofundados por diversos autores, principalmente por economistas italianos. Segundo Lubich
(2004, p. 26), esses princípios buscam:

a) Instaurar relacionamentos leais e respeitosos, animados por um sincero espírito de


serviço e de colaboração com os clientes, os fornecedores, o poder público e até
mesmo os concorrentes;

b) Valorizar os empregados, informando-os e envolvendo-os, em variadas medidas, na


sua gestão;

c) Manter uma linha de conduta da empresa inspirada na “cultura da ética”;

d) Reservar grande atenção ao ambiente de trabalho e ao respeito à natureza, mesmo


tendo que arcar com investimentos de alto custo;

e) Cooperar com outras entidades empresariais e sociais presentes no território,


atentos inclusive à comunidade internacional, com quem se sentem solidários.

É possível perceber, pelos princípios norteadores da EdC, que a preocupação central é a dedicação
dispensada ao outro, ficando o lucro em segundo plano, pois, embora ele seja considerado importante
para a sobrevivência da empresa, os interesses maiores tendem a ser voltados para as pessoas que
dela fazem parte. Essas pessoas não são apenas os colaboradores que trabalham dentro da empresa,
mas todos aqueles que mantêm algum tipo de relação com ela, como clientes, fornecedores e
familiares.

Esses princípios são também comentados por Leibholz (2002), que afirma que “são princípios éticos,
de relacionamento, de desenvolvimento de produtos evoluídos tecnicamente. O produto tem
limitações, mas a qualidade é maximizada, pois o trabalho é realizado em conjunto”. Para Armando
Tortelli, da empresa Prodiet, a partilha é o objetivo principal de uma empresa EdC. O que importa é
tirar das pessoas o que elas têm de bom, valorizar suas qualidades e fazê-las sentirem-se feliz no
ambiente em que trabalham (GONÇALVES, 2005).

O projeto EdC tem como fio condutor o amor ao próximo na sua melhor forma. A proposta é contribuir
para que a pessoa possa tornar-se capaz de conduzir sua vida de forma digna, através da sua

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350
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

capacidade de enfrentar as adversidades impostas por uma sociedade em que os bens materiais estão
acima dos valores éticos e morais.

Gonçalves et al. (2004), no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, afirmaram que, após
dez anos de experiência de EdC com base no projeto de Chiara Lubich, os integrantes do movimento,
estudiosos e empresários reuniram-se na Itália para avaliação das experiências das empresas EdC, e
entenderam que eram quatro os aspectos essenciais presentes na Economia de Comunhão, os quais
podem ser visualizados no quadro 01 a seguir.

Finalidade Cultura da Partilha Homens e Escolas de


Mulheres Novos Formação
Colocar o ser Um possível São leigos que se Desenvolver uma
humano no antídoto para a dispõem a viver a formação
centro da cultura do ter que radicalidade da vida adequada para a
atividade para prevalecer na evangélica. Vivem cultura da partilha
que não haja economia segundo a cultura da
necessitados. partilha.
Trabalhar em Nem sempre A missão é inserir o Desenvolver uma
prol da unidade significa despojar-se Evangelho no mundo competência
e da de algo para doá-lo. da economia, do empresarial
fraternidade de Pressupõe trabalho, da política, técnica que inclua,
todos os seres reciprocidade do direito, da saúde, sobretudo a
humanos assimétrica. da educação, da arte, sensibilidade
da ciência.
Destinar parte Não se restringe Trabalham juntos para Utilizar a memória
do lucro da apenas a partilha salvar os invioláveis das experiências
empresa para os monetária valores da dignidade dos pioneiros da
mais humana e do bem experiência
necessitados. comum. incluindo os
fracassados.
Destinar bens Surge sempre de Precisam ser Um exercício crítico
materiais e uma pessoa, mesmo formadores e abertos e dinâmico de auto
espirituais e se quando perdida na à educação integral e reflexão e reflexão
ocupar da multidão. Não se permanente pautada coletiva.
comunhão entre detém, não se por valores virtuosos.
os seres
endurece em
humanos.
sistemas.
Fonte: Gonçalves et al. (2004).
Quadro 01 – Quatro aspectos essenciais da Economia de comunhão

Os aspectos essenciais da Economia de Comunhão apresentados no quadro 01 nos permite


compreender que neste modelo de gestão empresarial o ser humano é o centro de todas as atenções,
sendo priorizado o relacionamento fraterno entre todos os colaboradores. A partilha é um dos
aprendizados mais importantes, mas observa-se que não se trata apenas da partilha de bens materiais,
mas sim, de uma partilha de conhecimentos e experiências. Percebeu-se também o enfoque dado à
capacitação profissional como um dos requisitos importantes para o bom andamento da empresa.

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351
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

A seguir apresenta-se a figura 01, elaborada por Serafim (2001) a partir da reflexão teórica sobre “a
ética no espaço da produção”.

Fonte: Serafim (2001)


Figura 1 – Elementos constituintes da Economia de Comunhão
A figura 01 acima apresentada nos permite compreender que o valor essencial do projeto Economia
de Comunhão é o amor recíproco, e que para fazer parte dessa corrente de amor é necessário ter um
dom. Esta relação de amor recíproco se dá pela relação humana; a comunhão não é apenas dos bens
materiais, mas também dos bens relacionais, e o fator primordial na empresa é produzir para
distribuir, ou seja, quanto mais riqueza a empresa produzir, mais ela será capaz de ajudar.

Viver em comunhão é viver o amor na sua melhor forma - com respeito, dignidade, reciprocidade; é
partilhar valores éticos e morais e contribuir para o crescimento moral e profissional do outro.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa foi desenvolvida com base no método fenomenológico-interpretativista de Taylor e
Bogdan (1997), que se revelou adequado para identificar a questão proposta no trabalho, a qual
consistiu em verificar qual a percepção dos colaboradores que exercem suas atividades profissionais
em uma empresa de Economia de Comunhão. A pesquisa é de cunho exploratório, pois teve por
finalidade apreender e compreender o universo de uma empresa de Economia de Comunhão na
percepção dos seus colaboradores.

A entrevista foi realizada com seis colaboradores, com a finalidade de obter informações sobre as
ações da empresa, uma vez que essa técnica permite explorar com profundidade questões
fundamentais e traçar um diagnóstico da situação social. O modelo utilizado foi o da entrevista
focalizada, que tem como base um roteiro semiestruturado, possibilitando ao pesquisador
compreender os significados que o sujeito atribui aos valores, comportamentos, processos e pessoas
que fazem parte da sua vida no mundo do trabalho (LAKATOS & MARCONI, 2002).

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352
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

No decorrer da entrevista procurou-se estabelecer um diálogo em que se permitiu a livre expressão e


o entrevistado teve condições de ampliar o campo do discurso, incluir fatos, opiniões, impressões e
sonhos. Para Minayo (2003), a fala, a partir da entrevista, pode ser reveladora de condições
estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos e, ao mesmo tempo, a partir de um porta-voz,
transmitir as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e
culturais específicas.

Para a análise dos dados utilizou-se a abordagem qualitativa, tipo de pesquisa demasiadamente
complexo, devido ao volume de informações e dados que precisam ser organizados, compreendidos
e interpretados. Nesse processo procura-se identificar dimensões, categorias, tendências e relações,
desvendando-lhes o significado (MAZZOTTI, 2001). Todas as entrevistas foram gravadas e
posteriormente transcritas, em seguida foi realizada uma leitura minuciosa para identificar afirmações
e comentários que pudessem responder ao objetivo proposto no trabalho.

ANÁLISE E RESULTADOS

A seguir apresenta-se o resultado da aplicação da pesquisa, composta por uma amostra de seis
colaboradores de uma empresa localizada na cidade de Apucarana – Paraná. A amostra foi
direcionada e intencional, pois se buscou entrevistar colaboradores de uma empresa que participa do
projeto Economia de Comunhão.

O objetivo proposto foi verificar quais as diferenças que existe na gestão de uma empresa de EdC na
percepção dos colaboradores. A primeira pessoa entrevistada foi o senhor Márcio, sócio da empresa,
a quem se perguntou como fora o processo de adesão de sua empresa ao projeto EdC. Ele relatou sua
experiência com os princípios filosóficos da EdC. Disse sentir muita inquietação por ver que os países
de crença católica são subdesenvolvidos e que isso o incomodava muito. Quando recebeu um convite
para ir a Vargem Grande, uma cidadezinha do Interior do Estado de São Paulo onde ficava o centro do
Movimento dos Focolares, foi conhecer o polo industrial. Ao entrar em contato com os empresários
ele se surpreendeu em todos os aspectos. O primeiro foi que eles colocavam tudo em comum. Ficou
impressionado com o modelo das empresas, como qualidade, atendimento, higiene, produtos (500
habitantes), e pensou: “Isto existe e funciona. É uma cidade aberta”.

“Encontramos a nossa turma. É uma militância espiritual”.

“Na Economia de Comunhão encontramos pessoas que viviam tudo isso de


maneira mais consistente, mais produtiva. Nem sempre querer o bem do outro

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Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

significa que você está fazendo o certo, às vezes você quer ajudar, mas a pessoa
não quer ser ajudada. O projeto nos ajudou a entender isso.”

Percebe-se que, para Marcio, o projeto não é algo novo, pois ele já vinha buscando uma forma de
ajudar as pessoas, dentro dele já existia o desejo de buscar uma sociedade mais justa e solidária, e o
projeto veio ao encontro de seu anseio, trazendo uma forma já sistematizada de como desenvolver
ações sociais dentro de um princípio filosófico baseado no Evangelho. Como ele mesmo afirma;
“encontrou a sua turma”. Ele entendeu que é possível ajudar as pessoas sem precisar impor nada, que
é preciso respeitar a liberdade do outro.

Na percepção dele, participar do projeto foi muito bom, porque as convicções são consistentes.
Mencionando a figura de Chiara Lubich afirmou que quanto mais se conhece mais se apaixona e mais
consistência se enxerga. Ela falava que a chuva forte vem e destrói, ao passo que a chuva calma
fertiliza, por isso é necessário não ter ansiedade nem cobrança em relação à mudança das pessoas.
Afirmou:

“E um movimento, embora seja católico, não tem reuniões, não tem cobranças.
É Economia de Comunhão na liberdade. Essa questão da liberdade é muito
tangível. A EdC é um norte, um rumo”.

Este norte que direciona todas as ações desenvolvidas baseia-se em uma regra que se chama regra de
ouro: “Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”. Com base nesta regra informou que no
treinamento de seus vendedores os orienta a não induzir o cliente a levar algo que ele não queira ou
que não vá lhe ser útil; que se deve aconselhar o cliente a levar sempre o mais barato, mas esclarece
que isso também é comercialmente interessante, é uma forma de fidelizar o cliente.

A diferença principal na empresa está no trato com as pessoas: todas são bem tratadas, o fornecedor,
o fiscal, qualquer um que entrar na empresa será bem acolhido. “Ser legítimo naquilo que você tenta
conquistar”. Neste modelo de gestão o conceito de ética baseado no Evangelho dá o discernimento.
O colaborador pode ser de qualquer religião. Diariamente fazem a leitura do Evangelho, mas a
participação do colaborador é livre ou espontânea.

Para manter a competitividade exigida pelo mercado a empresa possui uma equipe de consultores
que prestam serviços no estabelecimento das estratégias e metas empresariais. É uma empresa como
qualquer outra, a diferença está na forma como tratamos as pessoas. A EdC fala muito bem sobre os
bens relacionais.

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354
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

É importante ressaltar que a empresa trabalha com os valores éticos e morais de respeito e
reciprocidade com o outro, mas não deixa de dar atenção aos aspectos relacionados à competitividade
da empresa. Manter-se no mercado com bons produtos e tornar a empresa lucrativa também é foco
na sua gestão, pois sem estes quesitos não haverá como desenvolver ações sociais.

Em relação aos lucros, de acordo com o projeto a empresa tem total liberdade:

“Distribuímos parte para os funcionários. Temos problemas sérios para legalizar


isso, primeiro porque qualquer negociação tem que ser via sindicato dos
empregadores e empregados. É uma luta inglória, porque nenhum dos dois
acredita que nós disponibilizamos estes recursos, que existe uma cultura de
partilha. Em trinta anos não tivemos nenhum problema trabalhista”.
Na empresa todos os colaboradores ganham comissão e a partir do Ponto de Equilíbrio essa comissão
aumenta, e eles têm acesso a esta informação.

“É comercialmente interessante, não é porque nós somos bons”.


A empresa tem vinte e três anos e está há treze anos no projeto. Na contratação, a preferência é
buscar pessoas que não têm experiência; mas, como existe também a preocupação com a
competitividade, o perfil é analisado com rigor na contratação.

A proposta da EdC é viver o amor no trabalho, ter atitudes de amor, pois isto gera reciprocidade.
“Fraternidade com liberdade” é o lema. É preciso saber à hora de se colocar ao lado. A EdC diz que é
necessário o dom da hierarquia, da intuição. Na hora de demitir é importante saber se colocar no lugar
do outro. A pessoa deve entender que a maneira de fazer uma boa admissão é a mesma no processo
da demissão.

“Você não pode ser paternalista, senão você não constrói”.


O treinamento às vezes é difícil, porque a dificuldade pode não estar na parte profissional, e sim, no
comportamento. Marcio relatou que todo aprendizado vale a pena: “nós somos instrumentos de Deus”
“Nós treinamos pessoas para empreender”.

A empresa remunera os colaboradores com base no faturamento: quando o faturamento cresce a


remuneração também cresce. Existe uma metodologia de cálculo para isso. Quando ocorrem
distorções e algum colaborador percebe que está ganhando mais do que os outros, ele mesmo solicita
o recálculo dos valores:

“Por isso nós percebemos como as pessoas assimilam os conceitos de Economia


de Comunhão, num conceito de partilha. É melhor ser do que ter”.
É possível perceber que no processo de gestão de uma empresa EdC o centro de tudo é o ser humano,
que existe uma preocupação ímpar em respeitar a pessoa e manter a sua dignidade acima de tudo.

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Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

Sandra, a segunda sócia da empresa, ao ser entrevistada, informou que antes de aderir ao projeto EdC
já tinha estes princípios como ideal de vida, só não sabia como agir. Informou que agia de maneira
errada ao fazer as coisas de forma isolada. O que ela mais ressaltou é que não se deve oferecer ajuda
às pessoas antes de elas o pedirem: “Assistencialismo, paternalismo, maternalismo, nunca deu certo”

Segundo a entrevistada, o importante é edificar a pessoa, ser profissional acima de tudo, manter um
equilíbrio entre tratar a pessoa como ser humano, com amor, e manter a competitividade com
princípios.

Em relação ao fato de a empresa participar do projeto EdC comentou:

“Quando nós encontramos estas pessoas pensamos: “Nossa, ela já inventou a roda, está andando e
nós tentando inventar a roda”.

Pelas colocações de Sandra fica evidente que eles estavam buscando algo que já existia, por isso a
identificação com os princípios filosóficos da EdC foi tão rapidamente absorvidos e implementados.

O terceiro entrevistado, o colaborador Josemar, relatou já ter trabalhado em outras empresas, mas
trabalhar nesta é muito diferente: “pois aqui se vive uma unidade de amor”. É possível perceber que
a relação de Marcio e Sandra com os colaboradores vai além de uma relação patrão versus empregado:
o respeito mútuo e o amor são primordiais no dia a dia da empresa. Nesta empresa os ideais humanos
estão acima do lucro; busca-se uma convivência harmoniosa cujo lema é o amor ao próximo. Afirmou:
“Você leva amor do trabalho para casa”.

Josemar comentou também que utiliza os seus conhecimentos sobre relacionamento aprendidos na
empresa para conquistar os clientes, pois a principal ferramenta é desarmar o cliente, recebê-lo com
um sorriso e com muito amor. A EdC sempre se pauta pelo Evangelho e isso dá força: “É interessante
que o cliente percebe isso”. Para as pessoas que estão de fora da empresa isso é muito utópico. É uma
relação de amor, não é uma relação apenas de dinheiro, vai muito, além disso. “Tenho como projeto
de vida ser professor, mas não pretendo sair da loja, pela rede de relacionamentos e pela
remuneração”.

É perfeitamente compreensível que as pessoas que veem uma empresa ter este tipo de atitude na sua
gestão falar em amor e reciprocidade - fiquem em dúvida e considerem até uma utopia, pois no mundo
capitalista em que vivemos, onde as pessoas sempre buscam obter vantagens umas sobre as outras,
é difícil acreditar que uma empresa priorize o relacionamento e o respeito mútuo com seus
colaboradores.

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356
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

A quarta entrevistada, Odete, é auxiliar de serviços gerais e trabalha há dezesseis anos na empresa.
Afirmou que se sente muito bem e que gosta muito do valor que recebe, além do salário. Percebeu-
se que ela não compreende que esta diferença é a distribuição de lucros. Afirmou que essa diferença
é muito importante, pois consegue ter uma vida melhor. Quanto a fazer parte de uma empresa de
EdC, comentou: “A gente sempre aprende com as pessoas, sempre crescendo. Participo dos estudos
do Evangelho, me sinto muito bem. Não compensa sair para ganhar mais, por causa do relacionamento
com as pessoas”.

A quinta entrevistada foi à colaboradora Talita, que está na empresa há cinco anos. Afirmou que já
conhecia o projeto, pois fazia parte do Movimento dos Focolares: “É um projeto lindo, fui muito
acolhida aqui”. Afirmou que na empresa todos trabalham com amor, e relatou a sua história. Trabalha
como vendedora, mas sempre quis se formar em enfermagem. Quando ela estava triste por não estar
satisfeita com o que estava fazendo, Marcio perguntou-lhe qual era o seu sonho; e ela disse: “Ser
enfermeira”. Ele respondeu: “Então você será enfermeira”. A partir daí ela começou cursar
enfermagem e a empresa concede flexibilidade de horários para que ela possa fazer os estágios. “Eu
considero aqui uma família, e não colegas de trabalho”.

Na empresa todos os colaboradores têm liberdade de conversar e dividir seus problemas para que os
colegas possam ajudar: “O problema de cada um é de todos, você pode compartilhar os seus
problemas. Eles estão me ajudando a arrumar um emprego para depois que me formar. Eu ainda não
saí por eles”.

Talita relatou que todos os valores que aprendeu nessa empresa, no tocante ao amor, ao
relacionamento e ao modo de acolher as pessoas, ela vai levar para sua nova profissão assim que se
tornar enfermeira.

Conforme os princípios filosóficos defendidos pela EdC, a liberdade de escolha deve ser respeitada em
todas as circunstâncias. No caso desta colaboradora isto ficou bem claro, pois a empresa tem
consciência de que ela, assim que se formar, vai deixar a empresa, mas ainda assim tem dado todo o
apoio para que ela realize o seu sonho.

Thiago, o sexto entrevistado, exerce a função de gerente e está na empresa desde os treze anos de
idade. Disse que acha muito difícil uma empresa que trate os colaboradores como ali, pois se sente
acolhido, e o Marcio e a Sandra são para ele como que seus pais. Disse que entende que o lado
profissional é importante, e sente-se cobrado por isso. Argumentou que não é porque ali se fala em
amor que não se vá exigir compromisso profissional. Sente-se respeitado e afirma que as pessoas,

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357
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

quando entram para trabalhar, logo percebem que é um ambiente diferente. “É difícil você encontrar
uma empresa assim”. Thiago informou que o seu cargo de gerente às vezes exige que ele chame algum
colaborador à atenção e resolva conflitos do dia a dia, mas que o importante é sempre analisar o lado
profissional e saber se colocar no lugar do outro e ter amor em todas as atitudes e em tudo que faz.
“Assim é mais fácil as pessoas entenderem o que a gente quer passar. A minha equipe vive isso de
forma natural. O projeto não é divulgado, o que determina são as ações”.

Gerenciar pessoas não é uma das funções mais fáceis, mas nesta empresa, que traz na sua gestão um
princípio de amor ao próximo, percebe-se que administrar conflitos torna-se mais fácil, porque, como
as regras em relação ao que é certo e errado já são preestabelecidas, não há problemas para quem
tem a função de corrigir o outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho é resultante de uma pesquisa realizada com seis pessoas que exercem suas
atividades profissionais em uma empresa de Economia de Comunhão. O objetivo deste estudo foi
verificar quais as diferenças que existem na gestão de uma empresa de Economia de Comunhão, na
percepção dos colaboradores.

Verificamos que a empresa possui dois diferenciais na sua gestão: o relacionamento com e entre os
colaboradores e a forma de distribuição de seus lucros. O projeto não prevê um formato padrão de
condução da empresa, o que existe é uma unidade de ações e intenções em que todos seguem a regra
de ouro “Faça aos outros o que gostaria que fizessem para você”.

Quanto a um dos aspectos essenciais de EdC, que é a formação dos colaboradores, a empresa os
capacita dentro dos princípios filosóficos da EdC e orienta-os para que todas as pessoas que entrarem
na loja – um cliente, um fornecedor ou um fiscal - independentemente do que tenham ido fazer ali,
devem ser acolhidas com respeito e amor.

Os colaboradores percebem a empresa como um ambiente de acolhimento e amor, sentem-se felizes


por estar ali e mantêm com todos uma relação que lhes permite compartilhar suas dificuldades e seus
problemas pessoais. A postura ética da empresa no tocante à remuneração lhes proporciona
tranquilidade, tanto que afirmaram não ter vontade de sair da empresa, até porque ganham mais do
que ganhariam em outro lugar.

Relataram também que percebem a empresa como um ambiente diferente em relação às demais
empresas, pela liberdade que eles têm de expor suas ideias e pela participação na leitura do

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358
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

Evangelho, que lhes permite tirar lições para a vida não só no trabalho, mas também no convívio com
seus familiares. A relação com os donos da empresa é de muito carinho. Eles percebem que, muito
mais que apenas uma relação em que alguém paga e o outro presta o serviço, há uma relação de
confiança, respeito e reciprocidade com os donos da empresa.

Podemos concluir este trabalho com a certeza de que o bem existe e pode acontecer no meio
empresarial; que solidariedade e respeito mútuo no mundo econômico não são uma utopia, ao
contrário, é possível às pessoas trabalharem para manter seus bens materiais e fazer deste trabalho
um momento de amor e companheirismo; que é possível sentir vontade de ir para o trabalho e
estender este amor às pessoas do seu convívio.

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359
Ambiente Laboral Em Uma Empresa Com De Gestão De Economia De Comunhão

REFERÊNCIAS

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GONÇALVES, H. A. B. Q. MARTINS R. C., ROCHA M. G.S Os quatro aspectos essências da Economia de


Comunhão na Liberdade na condução dos Negócios. VIII Congresso Afro-LusoBrasileiro de Ciências
Sociais – Coimbra Portugal, 2004.

GONÇALVES, H. A. B. Q. MEDEIROS, M. G. ROCHA, M, G. S. Engenharia de Produção e Economia de


Comunhão: trabalhar é preciso. XII SIMPEP Bauru SP, 2005.

LEIBHOLZ, R. Projeto Espri. Comunicação proferida no Congresso de Economia de Comunhão 2002,


Vargem Grande Paulista (SP), 2002.

LEITÃO, S. P; SPINELLI, R.A. Economia de Comunhão no Brasil: a produção acadêmica em administração


de 1991 a 2006. RAP, vol. 03 Rio de Janeiro, 2008.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2002.

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MINAYO, M.C. de S. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: Vozes,
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compatibilidade conceituais. RAP, vol. 3 Rio de Janeiro, 2007.

SERAFIM, M. A ética no espaço da produção: contribuição da Economia de Comunhão. Dissertação de


Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

TAYLOR, S.J. BOGDAN, R. Introduction to qualitative research methods: a guidebook and resource. NY:
John Wiley, 1997.

14
360
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 19
10.37423/200902724

UM PANORAMA DAS INDÚSTRIAS DE RESINAS


TERMOPLÁSTICAS VIRGENS E RECICLÁVEIS NO
BRASIL

Karoline Fiori Universidade Federal de Santa Catarina

Claudelino Martins Dias Junior Universidade Federal de Santa Catarina


Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Resumo: Em um ambiente permeado de incertezas e recorrentes abalos no cenário econômico


internacional, observa-se que a indústria no Brasil, de uma forma geral, tem sofrido reiteradas
consequências desse panorama. Especificamente, a indústria do plástico procurou se moldar às
circunstâncias, buscando mitigar o impacto da crise do quadriênio 2013/16 ao optar pela
diversificação da produção de bens de consumo. Nesse sentido, o objetivo desse artigo é apresentar
as condicionantes de desenvolvimento para as indústrias de reciclagem plástica e resinas virgens no
período descrito. A pesquisa é do tipo descritiva, com abordagem quantitativa. Os resultados apontam
para uma redução na produção das indústrias de reciclagem de plásticos no Brasil e em decorrência o
encerramento das atividades de algumas empresas do setor.

Palavras-Chave: Indústria do plástico; resinas termoplásticas; reciclagem.

1
362
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

INTRODUÇÃO

Com presença imensurável de material plástico no ecossistema terrestre, o plástico vem


desempenhando a função de matéria prima em diversos tipos de produtos com variadas composições.
Dessa forma, a reutilização de determinados materiais cumpre um papel essencial na preservação de
diversos ecossistemas. Paralelamente, é através da reciclagem que ocorre a possibilidade de
oportunizar um ciclo de vida maior a determinados produtos. No caso do plástico, sua reciclagem
proporciona diferentes e importantes benefícios ao meio ambiente, destacando-se a redução na
emissão de gás estufa, a diminuição de resíduos plásticos em aterros, a economia de energia e água
e, paralelamente, o crescimento no número de empregos (ABIPLAST, 2017).
Com suas especificidades, o plástico é considerado um termoplástico e, tradicionalmente, é tratado
como um polímero sintético. Por serem moldáveis, isolantes térmicos por apresentar boa aparência,
dispor de resistência ao impacto e ainda por proporcionar baixo custo, o plástico apresenta uma gama
diversificada de aplicabilidades. Apesar de ser um material sólido, o plástico possui características
especiais que sob determinadas temperaturas mantém sua forma com rigidez (SPINACÉ; DE PAOLI,
2005).
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2017) o consumo nacional de polímeros no
Brasil engloba principalmente PP (polipropileno), PEAD (polietileno de alta densidade), PVC
(policloreto de vinila) e PEBDL (polietileno linear de baixa densidade). As aplicabilidades desses
plásticos aparecem em diferentes setores econômicos, como construção civil, embalagens primárias,
descartáveis, produtos ao consumidor, filmes, eletrodomésticos fibras, setor automotivo e também
em outros materiais.
Com o histórico significativo de performance de produção das indústrias plásticas tem-se que no Brasil,
entre os anos 2013 e 2017, gerou-se um total de 32,9 milhões de toneladas de resinas termoplásticas,
representando 2,3% da produção total mundial (ABIPLAST, 2013; 2014; 2015; 2016; 2017).
Quanto às possibilidades de reciclagem, caracterizado como o processo que possibilita a reutilização
de determinados produtos e, consequentemente, promove o aumento dos seus ciclo de vida e
também representa forte fonte de economia do setor. É importante, observar que o valor do plástico
destinado à reciclagem varia conforme a região, condições pós-consumo e origem. Na indústria
brasileira os polímeros com maior índice de reciclagem são PE, PP, PET e PVC, porém, apesar da
possibilidade de seus reaproveitamentos é necessário observar as limitações de suas aplicabilidade
(SPINACÉ; DE PAOLI, 2005).

2
363
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Considerando as resinas termoplásticas fonte de matéria prima para a fabricação das resinas
termoplásticas recicladas, é possível relacionar o processo de reaproveitamento do plástico e a sua
produção com o consumo de produtos plásticos pela sociedade. Assim, o consumo por produtos
plásticos impulsiona a indústria de reciclados de resinas termoplásticas e, associado com a capacidade
tecnológica do setor, é o principal fator responsável pelos indicadores de desempenho e crescimento
do mercado de resinas termoplásticas recicladas.
Desse modo demonstra-se como relevante a contribuição econômica da indústria do plástico no Brasil
na geração e manutenção de empregos e na utilização sustentável de recursos materiais virgens e
recicláveis. Para tanto, o presente estudo apresenta um panorama das condicionantes de
desenvolvimento dessas indústrias entre os anos de 2013 e 2017.

2. PANORAMA DO PLÁSTICO NO BRASIL

Através da grande diversidade de itens presentes no estilo de vida moderno, o plástico se desenvolveu
como parte elementar na sociedade. Presente de forma constante em inúmeros produtos, foi
incorporado em grandes segmentos da indústria devido a sua multifuncionalidade, seu baixo custo e
sua fácil adequação, sendo assim detentor de uma ampla gama aplicações, como a confecção de
vestuário, utilizado na indústria automotiva e de alimentos e, mais recentemente, no meio tecnológico
(ABIPLAST, 2017).
O plástico superou as propriedades dos materiais naturais e se tornou conhecido mundialmente. Com
uso diário, o polímero apresenta um desenvolvimento dinâmico acima da média desde a propagação
de sua utilização após a 2ª Guerra Mundial, onde o petróleo passou a ser sua matéria prima (MICHAELI
et al, 2018).
Segundo Neder et al (2009) o ano de 2008 registrou o auge de um extenso processo de centralização
da indústria petroquímica brasileira. A concentração no segmento é um fenômeno mundial e apesar
da diferença de volume quando comparados com os números do resto do mundo, a indústria
petroquímica brasileira é competitiva nacionalmente (NEDER et al, 2009).
Os denominados transformadores (produtores de terceira geração) são responsáveis pela
transformação das resinas termoplásticas em produtos finais (NEDER et al, 2009). No Brasil, o consumo
nacional de polímeros engloba principalmente em PP (polipropileno), PEAD (polietileno de alta
densidade), PVC (policloreto de vinila) e PEBDL (polietileno linear de baixa densidade) (ABIPLAST,
2015; 2017). O Brasil apresenta uma alta demanda pelo consumo de plásticos e se enquadra entre os
principais produtores mundiais de resinas termoplásticas (ABIPLAST, 2017).

3
364
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Da existência dos polímeros presentes em alta escala no dia a dia surge a necessidade da ação das
indústrias de reciclagem desses materiais, demonstrando assim não apenas a importância das
transformadoras de polímeros, mas também a ação daquelas que possibilitam a destinação correta
dos resíduos oriundos do pós-consumo. Como consequência positiva, o plástico como atividade
econômica é gerador de oportunidades, onde possibilita uma grande oferta de itens ao mercado
consumidor e, por conseguinte, uma alta perspectiva de criação de postos de trabalho.
Em contrapartida, anualmente o mundo produz uma grande quantidade de lixo plástico e devido ao
baixo índice de coleta desse material a porcentagem de reaproveitamento do plástico se torna irrisório
(ONU, 2019). A reciclagem é parte importante na cadeia do plástico para uma economia circular,
porém os processos atuais ainda não se encontram adequados aos propósitos, uma vez que nem todo
plástico pode ser reciclado e existe pouca conscientização pública, o que determina uma constância
de materiais contaminados, tornando a reciclagem difícil e custosa (ONU, 2019).
Ainda segundo a Organização das Nações Unidas (2019) no Brasil a deficiência no setor de reciclagem
pode ser explicada por razões financeiras. Com o preço praticado pelo petróleo e com a volatilidade
de valor no mercado reciclável, é constantemente mais acessível a produção de plástico virgem,
resultando no baixo comprometimento de investidores com o reaproveitamento do material.
Alguns problemas referentes a instalações inadequadas dos itens descartados e dificuldades com a
alocação de espaços físicos para os rejeitos e resíduos provenientes das atividades industriais são
também sinais das dificuldades enfrentadas (SANTOS et al, 2004).
O Brasil possui um alto índice de trabalhadores de baixa renda que usufruem da atividade de coleta
de resíduos, o que coloca o país entre os maiores recicladores mundiais de resíduos sólidos urbanos
(SANTOS et al, 2004). Os denominados catadores manejam uma diversificada lista de itens que
englobam diferentes frações de resíduos. O resíduo plástico está presente no ciclo desse processo.
Porém, mesmo com esse movimento, segundo Santos et al (2004), um dos principais focos entre todas
as classes de resíduos sólidos urbanos continua sendo o plástico, uma vez que se observa um baixo
índice de reciclagem.
Com tudo, Forlin et al (2002) sugere que a solidificação e o grande volume de itens plásticos na vida
moderna vêm carregado de desafios relacionados com a reciclagem racional desses materiais. A
qualidade final do plástico reciclável e a competitividade do setor apresentam dificuldades
expressamente relacionadas à ausência de comprometimento entre a demanda e o fornecimento de
matéria prima, ao baixo custo das resinas virgens, à alta contaminação dos resíduos e à visão
pejorativa do uso de material reciclado (SANTOS et al, 2004).

4
365
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

3. METODOLOGIA

A pesquisa é do tipo descritiva e, portanto, parte de uma perspectiva de integração de dados na


geração de fontes de informação. A partir da compilação dos dados obtidos parte-se para
representações gráficas do cenário da indústria do plástico no Brasil, mais especificamente às de
resinas termoplásticas virgens e recicláveis durante o período de 2013 e 2017.
Os dados utilizados para a produção e análise dos resultados foram obtidos de relatórios da indústria
brasileira de transformação de material plástico e, através de perfis elaborados pela Associação
Brasileira da Indústria do Plástico.
De posse dos dados disponibilizados pela Abiplast foi possível, a partir de uma abordagem
quantitativa, definir um panorama da produção mundial e nacional de resinas termoplásticas virgens
e recicláveis. Como objeto de discussão preliminar são apresentados inicialmente os resultados da
produção mundial de resinas termoplásticas, demonstrando a participação de diversos países e
continentes. Em seguida, estabelecem-se comparações entre as produções de resinas termoplásticas
virgens e recicláveis no Brasil e nos países líderes do segmento. Paralelamente, retrata-se o
desenvolvimento das indústrias de resinas virgens e recicláveis, tendo-se como referência a
participação de regiões e estados brasileiros.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A produção total mundial de resinas termoplásticas no período de 2013 e 2017 foi de


aproximadamente 1,5 bilhões de toneladas. Neste período, o maior crescimento da produção ocorreu
em 2014 e em 2017, com 4,21% e 24,68% do total, respectivamente. O crescimento na produção
mundial de resinas termoplásticas no período de 2013 a 2017 pode ser considerado linear até o ano
de 2016, observado o salto de 2017. Os dados apresentam um indicativo de aumento do consumo
global de produtos à base de resinas termoplásticas.
A Figura 1 apresenta a produção mundial anual de resinas termoplásticas, com valores superiores a
200 (duzentos) milhões de toneladas para o período. Segundo a Abiplast (2017) novas plantas
petroquímicas estarão em operação nos próximos anos baseadas da indústria 4.0, o que permitirá um
incremento na capacidade de produção já existente no mercado mundial.

5
366
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 1: Produção anual mundial de resinas termoplásticas.


400,0
349,1
350,0

300,0 269,4 280,0


249,5 260,0
Milhões de toneladas

250,0

200,0

150,0

100,0

50,0

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

A Figura 2 demonstra a participação de alguns países e continentes na produção de resinas


termoplásticas no período de 2013 e 2017. Nota-se que a China é o país de maior produção, com
participação de 27,5%, seguida da União Européia (Suíça e Noruega com 19,1%), o Nafta (Canadá, EUA
e México) com 18,6%. O Brasil contribui com apenas 2,3% da produção de resinas termoplásticas,
próximo dos demais países que compõem a América Latina que contribuem aproximadamente com
4,6% do total da produção global.

6
367
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 2: Participação de países e continentes na produção de resinas termoplásticas no período de


2013/17.

EUROPA
CIS
JAPÃO
CHINA
RESTANTE DA ÁSIA
ORIENTE MÉDIO, ÁFRICA
BRASIL
AMÉRICA LATINA
NAFTA

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Quando a produção de resinas termoplásticas é comparada anualmente no período de 2013 e 2017 é


possível identificar que grande parte do crescimento da produção global de resinas termoplástica se
dá pelo crescimento da produção chinesa, da Ásia e da Europa (ver Figura 3). Em 2017 a produção da
China atingiu o valor aproximado de 102,3 milhões de toneladas, seguida da Europa de 64,4 milhões
de toneladas.

Figura 3: Comparação global anual da produção de resinas termoplásticas.


102,3
MILHÕES DE TONELADAS

81,2
74,8
67,6
64,4

62,6
58,5
62
53,2

50,4
49,8
49,8

49,4
47,6
44,9
52
50

41,6

49
41

24,7
19,6
19,6
18,2
13,6
11,6
11,2

18
10,4
11
7,8

7,5

6,7
6,5

6,5
6,4
6,3
6,2

5,7
5,6

4,8
9
7
7

EUROPA CIS JAPÃO CHINA RESTANTE ORIENTE BRASIL AMÉRICA NAFTA


DA ÁSIA MÉDIO, LATINA
ÁFRICA

2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).


A produção de resinas termoplásticas pelo Brasil apresenta uma oscilação muito pequena entre o
período 2013 e 2016, com variações inferiores a duzentos mil toneladas. O país atinge um crescimento
mais expressivo no ano de 2017, aumentando sua produção anual em cerca de 17,19% quando
comparado com o ano anterior. Já na América Latina há indicadores de crescimento significativos,
mesmo superiores a 1,5 milhões de toneladas entre 2016 e 2017. Na Europa a intensificação da

7
368
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

produção de resinas termoplásticas ocorre no ano de 2017, os períodos anteriores são representados
por uma baixa taxa de crescimento até 2016, contrastando com o crescimento da China com um
aumento superior a 40 milhões de toneladas no decorrer dos anos de 2013 e 2017. Quanto ao
crescimento do Nafta observa-se um cenário de estabilidade até 2016, apresentando um crescimento
expressivo em 2017.
Embora o Brasil não tenha aumentado sua produção de resinas termoplásticas no período de 2013/17
a sua contribuição na produção global pode ser considerada importante. Porém, enquanto a produção
global tem aumentado, a produção do Brasil apresenta pequeno crescimento. Na Figura 4 é
apresentado o comparativo da produção de resinas termoplásticas pelo Brasil com a produção total
mundial. Verifica-se que a maior produção mundial de resinas termoplásticas ocorre no ano de 2017,
paralelamente, é possível identificar a maior contribuição do Brasil também no mesmo período, de
2,15% sobre o valor total.
O Brasil apresenta uma desaceleração na produção de resinas termoplásticas durante o período de
2014/16. Onde a produção se apresentou praticamente a mesma, com a produção média da ordem
de 6,3 milhões de toneladas, representando uma redução de aproximadamente 24%.
A estabilização e a redução da produção de resinas termoplásticas talvez possam ser explicadas pela
falta de integração do pós consumo do material com as indústrias responsáveis pela produção de
resinas termoplásticas recicláveis, talvez em decorrência da falta de ajuste da cadeia de suprimentos
do setor.
Também é possível levantar como variável externa os possíveis efeitos do cenário político econômico
vivido pelo país. A crise enfrentada pelo Brasil, com início em 2014, relaciona-se com ações de políticas
públicas equivocadas, as quais impactaram negativamente o crescimento econômico e ocasionaram a
elevação do custo fiscal (BARBOSA, 2017).
A queda de investimentos desencadeou nas empresas a necessidade de ações preventivas com
objetivo de melhor adaptação ao cenário de crise enfrentado no período. Com a diminuição da
produção e com a reestruturação das atividades empresariais, decorre um alto índice de demissões.
A realidade brasileira passou a enfrentar um montante de mais de 14 milhões de pessoas em busca
de emprego (CASTRO, 2018).

8
369
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 4: Comparação da produção de resinas termoplásticas no Brasil e no Mundo.

Brasil Mundial Corte


349,10
Milhões de toneladas

280,0
269,4
260,0
249,5

6,5 6,3 6,2 6,4 7,5


2013 2014 2015 2016 2017
Ano
Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Quando comparadas as produções de resinas termoplásticas virgens e recicladas no Brasil, verificam-


se significativas reduções de ambas no período de 2013/17. No período de 2014/16 o Brasil produziu
mais de 6 milhões de toneladas de resinas termoplásticas anuais (ver Figura 5), o que pode estar
diretamente relacionado à demanda pelo consumo desses produtos.
Para o mesmo período de 2014/16 observa-se uma redução próxima de 8% na produção de resinas
termoplásticas recicladas, enquanto a produção de termoplásticos virgens se mantém constante.
Figura 5: Comparação entre a quantidade produzida de resinas termoplásticas virgens e a quantidade
de produtos plásticos fabricados no Brasil.

2016 6.000.000
6.400.000
Ano

2015 5.800.000
6.200.000

2014 6.590.000
6.300.000

5.400.000 5.600.000 5.800.000 6.000.000 6.200.000 6.400.000 6.600.000 6.800.000


Toneladas

Produtos plásticos fabricados Resinas termoplásticas

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2016).

9
370
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Os efeitos da crise econômica impactaram o consumo geral e geraram uma queda na demanda de
produtos fabricados com resinas plásticas, afetando tanto a indústria brasileira de resinas
termoplásticas virgens quanto as recicláveis.
A Figura 6 apresenta um aumento da produção de resinas termoplásticas virgens e a redução da
quantidade de produtos de plásticos reciclados fabricados no mesmo período.
Figura 6: Comparação da produção de resinas termoplásticas virgens e recicladas no Brasil.

Resinas termoplásticas Série3 Corte


Toneladas

600 500 550


2014 2015 2016
Ano

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

A indústria de fabricação de resinas termoplásticas virgens estabilizou a sua produção e passou a


exportar seu excedente nesse mesmo período de 2014 e 2016, enquanto a indústria de fabricação de
resinas termoplásticas recicladas reduziu a sua produção, acompanhando a tendência da indústria de
transformação de resinas. É importante ressaltar que a queda na demanda interna fortaleceu a
exportação de resinas termoplásticas virgens, as indústrias se depararam com um cenário que, além
de forçarem o crescimento da sua produção, direcionaram o resultado dessa produção a outros
mercados.
Segundo a ABIQUIM (2017), a crise política e econômica no Brasil neste período também contribuiu
para a desvalorização do real perante ao dólar, um fato motivador e adicional que contribuiu para a
redução do consumo interno e para o aumento da exportação.
Um fator positivo resultante da crise no setor foi a busca de alternativas para o aumento do consumo
no mercado brasileiro de produtos plásticos, aplicando conceitos de inovação. Estudos recentes
realizados em 2018 pela PICPlasti (Plano de Incentivo à Cadeia de Plástico), mostraram que 59,4% dos
transformadores de plástico no Brasil buscam por iniciativas que contribuam para o aumento das suas
vendas no mercado brasileiro, e que 49,3% acreditam que a inovação é meio mais eficiente de atingir
o crescimento pretendido.

10
371
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

A crise enfrentada pelo Brasil teve seu maior efeito na indústria de recicláveis, considerando que a
alternativa de exportação não condiz como uma solução viável para essas indústrias. Dessa forma, o
segmento apresentou resultados financeiros negativos dada a redução de sua produção.
Segundo os últimos relatórios publicados pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico, é possível
identificar um aumento da quantidade de empresas de reciclagem de polímeros (resinas
termoplásticas recicladas) no Brasil entre os anos de 2013 e 2015, seguido de uma redução de -4,37%
no ano de 2016 e de -1,03% em 2017 (ver Figura 7).
Em relação a quantidade de empresas fabricantes de produtos plásticos os relatórios indicam também
uma redução no ano de 2017. É possível destacar que a maior queda ocorre no período de 2015/16,
sendo de -1,64%.
Figura 7: Número de empresas transformadoras de plásticos e de reciclagem.

2017 11127
1061

2016 11312
1072

2015 11458
1121

2014 11559
1084

2013 11590
1029

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

Empresas transformadoras de plástico Empresas de reciclagem plástica

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Tanto as empresas de reciclagem de polímeros quanto as de transformadorasde plásticos


experimentam reduções em seus níveis de atividade no Brasil entre os anos de 2016 e 2017. Tal
redução esteve potencialmente associada à crise que o país enfrentou com queda do consumo
interno, desinteresse de investidores e falta de incentivo governamental.
No período de 2016/17 registrou-se o fechamento de muitas empresas transformadoras de resinas
termoplásticas. Essa tendência também foi observada nas empresas de resinas termoplásticas
recicláveis. Nas Figuras 8 e 9, respectivamente, é mostrado o balanço da quantidade de empresas

11
372
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

fabricantes de produtos plásticos e empresas de resinas termoplásticas recicláveis nos estados


brasileiros.

Figura 8: Número de empresas de reciclagem plástica em 2016/17.

10
5 5 4 5
5 3 3
Número de empresas

2 1 2 2 2 1 1 1
0 0 0 0
0

-2 -1 -1
-5 -3
-4
-6 -7
-10
-9
-15
-15
-20
Minas Gerais

Pará
Santa Catarina

Espírito Santo

Tocantins
Amapá

Mato Grosso do sul


Rio Grande do Sul

Rio de Janeiro

Distrito Federeal

Sergipe

Maranhão

Amazonas
Acre

Goiás
Paraná

Bahia

Alagoas
Pernambuco

Ceará
São Paulo

Piauí
Paraíba
Rio Grande do Norte

Roraíma

Rondônia
Mato Grosso
Empresas de Reciclagem Plástica

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).


Percebe-se que a quantidade de empresas de reciclagem de resinas termoplásticas apresenta
crescimento em cinco regiões brasileiras, totalizando quatorze estados com aumento no número de
empresas do ramo. O Nordeste, representado pela Paraíba, Maranhão, Pernambuco, Alagoas e Rio
Grande do Norte apresenta o maior índice de crescimento, com um total de 12 (doze) novas empresas.
A região Centro-Oeste, é representada pelos estados Mato Grosso, Distrito Federal e Mato Grosso do
Sul e surge logo após do Nordeste, com um aumento de 10 (dez) novas empresas de reciclagem
plástica. A região Sudeste, contabiliza entre os estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo
um crescimento total de 8 (oito) empresas. Quanto as regiões Sul e Norte, ambas representam um
total de 7 (sete) novas empresas, sendo 5 (cinco) na região Sul, no estado do Rio Grande do Sul, e 2
(duas) da região norte, nos estados de Tocantins e Pará.

12
373
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 9: Número de empresas transformadoras de plásticos em 2016/17.

40
9 15
20 6 4 7 1 1 2
0 0 0 0
Número de empresas

0
-20 -2 -1 -1 -2 -4 -1 -2 -3 -4 -10
-13 -15
-40 -21
-28
-60
-80
-100
-120
-140 -123
Santa Catarina

Pará
Espírito Santo

Amapá
Sergipe

Amazonas

Goiás
Mato Grosso do sul
Rio Grande do Sul

Minas Gerais
Paraná

Rio de Janeiro

Distrito Federeal

Ceará
Piauí
Maranhão
Tocantins
São Paulo

Acre

Mato Grosso
Bahia

Pernambuco
Alagoas

Paraíba
Rio Grande do Norte

Roraíma

Rondônia
Empresas de Transformados Plásticos

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Os demais estados não obtiveram aberturas de empresas de reciclagem plástica no período,


apresentando índices de queda e estagnação. Nesse sentido, destaca-se que o estado do Paraná
observou o fechamento de 15 (quinze) empresas do setor. De outra parte, observa-se o Centro-Oeste
como a região com maior crescimento, com 19 (dezenove) novas empresas, seguido da região
Nordeste, com 17 (dezessete) empresas. Os estados de Tocantins, Acre também apresentaram um
aumento de empresas de transformação de plásticos, apresentando assim um crescimento em todas
as demais regiões do Brasil. Observa-se então oito estados com taxa de crescimento.
Quanto ao número de fechamentos de empresas do segmento, São Paulo aparece com um declínio
significativo, representado por 123 (cento e vinte três) empresas com suas atividades cessadas.
O crescimento das indústrias recicladoras e transformadoras de plásticos foi de um total de 45
(quarenta e cinco) e 37 (trinta e sete), respectivamente, o que evidencia um possível reaquecimento
nacional das atividades do setor.

13
374
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 10: Percentual de empresas transformadoras de plásticos 2016/17.

35%
29%
30%
25%
Taxa de crescimento
20%
15% 13%
8% 9%
10% 6%
5% 1% 2% 1%
0% 0% 0% 0%
0%
-5% -1% -2%-3% -2% -2%-1%
-5%
-3% -3% -4% -4% -2%
-10%
-15% -11%
-13%
-14%
-20%
Santa Catarina

Pará
Espírito Santo

Amapá
Sergipe

Amazonas
Rio Grande do Sul

Piauí
Maranhão

Goiás
Mato Grosso do sul
Paraná

Rio de Janeiro

Minas Gerais
Distrito Federeal

Ceará

Tocantins
São Paulo

Acre
Bahia

Pernambuco
Alagoas

Paraíba
Rio Grande do Norte

Mato Grosso
Roraíma

Rondônia
Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Quando analisados os mesmos dados de forma percentual, é possível identificar uma taxa de
crescimento significativa do número de empresas no estado do Mato Grosso do Sul que, apesar da
baixa representatividade no total de empresas recicladoras, apresenta um aumento de 50% no
período (ver Figura 11).

Figura 11: Percentual das empresas de reciclagem de plásticos 2016/17.

60% 50%
40%
33% 33% 33%
40%
17% 15% 17%
Taxa de crescimento

20% 5% 9% 5% 7% 7% 8%
0% 0% 0% 0%
0%
-20% -5% -3% -10% -4%
-11% -13%
-40% -25%
-60%
-80%
-100%
-120% -100% -100%
Pará
Santa Catarina

Espírito Santo

Amapá
Minas Gerais

Sergipe

Amazonas

Goiás
Mato Grosso do sul
Rio Grande do Sul

Paraná

Rio de Janeiro

Distrito Federeal

Ceará
São Paulo

Piauí
Maranhão
Tocantins

Acre
Bahia

Alagoas
Pernambuco
Paraíba
Rio Grande do Norte

Rondônia
Mato Grosso
Roraíma

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

14
375
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Outro ponto de atenção são os estados que apresentam um pico percentual de queda no número de
empresas recicladoras de plástico em relação aos demais. Os estados do Amazonas, do Amapá e
Roraima tem as taxas de maior fechamento de empresas em 2017, com respectivamente -25%, -100%
e -100%.
É possível identificar ainda que o Distrito Federal e os estados de Alagoas, Paraíba e Tocantins são os
únicos que apresentam crescimento simultâneo entre empresas transformadoras de plásticos e
empresas de reciclagem de plásticos, evidenciando uma concentração nas regiões Nordeste, Norte e
Centro-Oeste. Já o índice de queda simultâneo entre as empresas aparece de forma mais distribuída
pelo Brasil.
Ainda com base nas informações apresentadas pela Abiplast, as Figuras 12 e 13 apresentam no ano
de 2017 às dez regiões de maior relevância em relação a quantidade de empresas operando com
reciclagem de resinas termoplásticas e empresas fabricantes de produtos plásticos.

Figura 12: Porcentagem de empresas de reciclagem plástica por estado do Brasil no ano de 2017.

4,05% 4,34% 14,42%


2,83% Soma demais estados
2,36% Rio Grande do Sul

3,30% Santa Catarina


10,46%
Paraná
7,26% São Paulo
Minas Gerais
Bahia
11,97%
Rio de Janeiro
Pernambuco
Ceará
27,62% 11,40% Goiás

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Conforme Figura 12, identificam-se quatro estados como os principais agentes operando com
empresas de reciclagem de plásticos, resultando em 71,80% das operações de reciclagem no país. São
eles: São Paulo, seguido de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
O mesmo cenário ocorre com as empresas fabricantes de produtos plásticos. A soma de quatro
estados resulta em mais de 50% do total existente e as empresas operando nesta atividade estão
localizadas nas regiões Sudeste e Sul do país, tal como as empresas de reciclagem.

15
376
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

Figura 13: Porcentagem de empresas transformadoras de plásticos por estado no Brasil no ano de
2017.

2,04%
2,55% 2,57% 7,29% Soma demais
estados
2,93% Rio Grande do
11,02% Sul
7,04%
Santa Catarina

Paraná
4,96% São Paulo
9,00%
Rio de Janeiro

Minas Gerais
8,59% Bahia

Pernambuco

42,01% Ceará

Fonte: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (2018).

Conforme apresentado anteriormente, as regiões Sul e Sudeste dispõem dos maiores índices de
indústrias de reciclagem plástica e empresas de transformadoras de plásticos em 2017. Possivelmente
a representatividade de mais de 50% das regiões nos segmentos de termoplásticos virgens e
recicláveis é explicada pelo desenvolvimento econômico dessas regiões.

5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o estudo foi possível descrever um panorama mais recente das atividades das indústrias de
resinas termoplásticas virgens e recicláveis no Brasil. Os resultados demonstram uma tendência de
crescimento da produção mundial de resinas termoplásticas de aproximadamente 1,4 bilhões de
toneladas entre os anos de 2013 e 2017, destacando a China com uma participação de 27,5%,
enquanto que o Brasil com um crescimento médio anual de apenas 2,3%.
A indústrias de termoplásticos no Brasil apresentaram oscilações de produção pequenas durante o
período de 2013 e 2016, com variações inferiores a duzentas mil toneladas, atingindo maior atividade
produtiva em 2017, onde houve um aumento aproximado de um 1 milhão de toneladas de resinas
termoplásticas no total produzido.
Entre os anos de 2013 e 2017 a produção anual brasileira de resinas termoplásticas alcançou mais de
6 milhões de toneladas. Entre o período de 2014 e 2016 foi observada uma redução de

16
377
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

aproximadamente 25% na produção de resinas termoplásticas recicladas e um cenário constante na


produção de termoplásticos virgens.

Quando analisado o número de empresas de reciclagem plástica no Brasil é possível identificar um


crescimento entre os anos de 2013 e 2015, seguido de uma queda de -4,37% em 2016.

Em relação a quantidade de empresas fabricantes de produtos plásticos há uma redução constante


entre os anos de 2013 e 2017. No entanto, cabe observar o crescimento em 2017 do número de
empresas de reciclagem de resinas termoplásticas em vários estados e regiões brasileiras. Quanto às
empresas fabricantes de produtos plásticos nota-se um crescimento em todas as regiões, destacando-
se o Centro-Oeste com 19 (dezenove) novas empresas. Observa-se que os estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul aparecem como os principais agentes produtores,
resultando em 71,80% das operações de reciclagem no país.

As regiões Sul e Sudeste detêm os maiores índices de produtividade das empresas transformadoras e
de reciclagem de plásticos em 2017, com uma representatividade de mais de 50% somente entre essas
duas regiões no dois segmentos.

Percebe-se que, apesar das indústrias de resinas termoplásticas virgens e recicladas terem sido
afetadas de forma negativa no período de 2013 e 2016, as resinas virgens sofreram um impacto
econômico menor, uma vez que a exportação foi imediatamente viabilizada como meio de minimizar
potenciais prejuízo. Já a indústria de produtos plásticos recicláveis, por não ter viabilidade econômica
que justifique a exportação e pela falta de convergência de escoamento da matéria-prima sofreu
impactos maiores, culminando como no fechamento de muitas empresas do setor.

No entanto, há que se observar que as indústrias de recicláveis plásticos representam uma importante
alternativa de mitigação dos efeitos nocivos do consumo, com repercussões não somente econômicas
na geração de renda e empregos locais, mas também no desenvolvimento de uma cultura de
reaproveitamento a partir da correta destinação de resíduos, tão importante para uma melhor
utilização dos recursos naturais não renováveis e a minimização dos notórios impactos provenientes
do descarte inadequado do plástico no meio ambiente.

17
378
Um Panorama Das Indústrias De Resinas Termoplásticas Virgens E Recicláveis No Brasil

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380
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 20
10.37423/200902728

PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS


DE ALUMÍNIO POR MEIO DA PROGRAMAÇÃO
LINEAR

Evandro Paulo Merlo Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Gilson Adamczuk Oliveira Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Dayse Regina Batistus Universidade Tecnológica Federal do Paraná

José Donizetti de Lima Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Janecler Amorin Colombo Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Resumo: Este artigo emprega a programação linear como ferramenta de suporte na programação e
controle de produção da Patolux Indústria e Comércio de Alumínios Ltda., fabricante de utilidades
domésticas de alumínio. Foram coletados dados a partir de observações, de entrevistas e de pesquisa
documental junto ao software ERP® utilizado na empresa e junto aos colaboradores. Levantou-se
informações sobre: margem de contribuição unitária dos produtos, identificação dos setores de
produção, equipamentos e tempos de produção disponíveis em cada setor, bem como,
sequenciamento e tempos de produção por produto. Posteriormente, elaborou-se a função objetivo
e as restrições relativas ao problema proposto, sendo que o software LINDO® foi utilizado para efetuar
os cálculos necessários. O resultado apresentado pela programação linear trouxe a possibilidade de
um incremento significativo no lucro da empresa em comparação à média realizada nos 12 meses que
antecederam o estudo de caso.

Palavras chave: Programação e Controle da Produção, Artefatos de Alumínio, Programação Linear.


Programming the production of aluminum artifacts by linear programming.

1
382
Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

1. INTRODUÇÃO

No Sudoeste do Paraná, região que concentra municípios com excelentes resultados de Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), existe grande concentração de indústrias de utensílios domésticos e
produtos em alumínio. As indústrias, na época em que foi realizada a pesquisa, geravam mais de 1.100
empregos diretos. Destacavam-se no setor os municípios de Francisco Beltrão, Marmeleiro, Pato
Branco e Palmas.

Sendo aproximadamente 30 empresas, com principal mercado consumidor de seus produtos o Estado
do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, com o aumento da concorrência, forçou-se a
busca por novas regiões de atuação (FIEP, 2010). Este fato foi evidenciado por Modé (2010), o qual
colocou que, em praticamente todos os setores industriais, a concorrência encontra-se cada vez mais
acirrada.

Presenciando estes novos desafios, a empresa Patolux Alumínios buscou, além de manter seu mercado
de atuação, penetrar em novas regiões com o intuito de melhorar seus resultados e para isto,
entendeu que precisava tornar-se mais competitiva.

Neste sentido se estabeleceu o objetivo deste trabalho, que foi, a partir da maximização da
lucratividade do mix de produtos da empresa, auxiliar na programação da produção, levando-se em
conta as previsões de venda mensal elaborada pelo setor comercial e a capacidade produtiva da
empresa, e desta forma, contribuir para que a empresa se tornasse mais competitiva.

2. PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO

O planejamento e controle da produção é a atividade de decidir sobre o melhor emprego dos recursos
de produção, assegurando, desta forma, a execução do que foi previsto (SLACK et al., 2002). Neste
contexto, as empresas industriais, em sua maioria, competem em seus mercados com o intuito de,
por meio da venda do mix de produtos que dispõe, obter ganhos financeiros ou lucros (NETO et al.,
2006).

Kotler (2000) define o mix de produtos como o conjunto de todos os produtos e itens que uma
empresa põe à venda, ou seja, são todos os produtos que uma empresa produz. Existem empresas
que trabalham com apenas um produto, no entanto, a grande maioria produz uma variedade de
produtos que são oferecidos aos seus clientes. Estes produtos são produzidos na indústria em uma
linha de produção ou sistema de produção, que têm como objetivo a fabricação de bens
manufaturados (MARTINS e LAUGENI, 2005).

2
383
Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

3. PROGRAMAÇÃO LINEAR

Durante a Segunda Guerra Mundial, novas tecnologias bélicas levaram à criação de grupos acadêmicos
que tinham como objetivo resolver problemas relacionados ao uso eficiente de radares, de canhões
antiaéreos, de escoltas navais, entre outros. Tinha-se por objetivo a redução de custos militares e a
maximização das baixas inimigas. Para tratar destes problemas, a programação linear mostrou-se
extremamente útil. Após o término da guerra, a programação linear passou a ser usada em empresas
com o objetivo de reduzir despesas e maximizar lucros, no entanto, devido à complexidade dos
cálculos matemáticos envolvidos, esta técnica só foi difundida após o surgimento do computador
(MIRANDA et al., 2007).

Atualmente a programação linear auxilia na tomada de decisões nas mais variadas áreas como:
decisões de investimentos, políticas de estoques, orçamentos de capital, fluxos de caixa, mix de
produção, organização de transportes, localização industrial e fluxo de redes, programação de
produção, dentre outros (MIRANDA et al., 2007). De acordo com Horngren (1981), pode-se conceituar
a programação linear como um método matemático para a solução de problemas empresariais com
muitas variáveis em interação, que envolve, basicamente, a utilização de recursos limitados de forma
a aumentar os lucros ou a diminuir os custos.

Este método se utiliza de um modelo matemático cujo objetivo é determinar um valor ótimo para uma
função linear, sendo esta composta de uma função objetivo (a formulação do problema) e restrições
representadas por inequações também lineares. Por meio da função objetivo identifica-se o
desempenho e a eficiência do sistema, como exemplo, no caso de minimização, pode-se identificar a
diminuição dos custos de produção ou a diminuição de distância percorridas nos sistemas de
transporte e no caso de maximização, pode-se verificar o aumento da lucratividade ou aumento da
capacidade produtiva de um sistema de produção. As restrições permitem parametrizar os resultados
a fim de que estes estejam dentro das limitações do sistema. Conforme Frossard (2009), no caso da
programação linear as variáveis de decisão não poderão ser negativas.

Assim, o âmbito da programação linear se restringe aos problemas cuja representação simbólica possa
ser feita por uma linha reta em um gráfico. São aqueles problemas que usam operações aritméticas
simples como, por exemplo: adição e subtração, e funções predefinidas tais como soma tendência e
previsão (NOSSA e CHAGAS, 1997).

3
384
Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

De acordo com Goldbarg e Luna (2005), uma grande vantagem do modelo de programação linear está
na eficiência dos algoritmos de solução hoje existentes, disponibilizando alta capacidade de cálculo e
podendo ser facilmente executado até mesmo através de planilhas e com o auxílio de
microcomputadores pessoais.

A construção de um modelo matemático, no caso do modelo linear, segundo Corrar e Garcia (2006)
pode ser facilitada seguindo-se os passos a seguir: a) determinar as variáveis de decisão: alternativas
possíveis para a solução do problema de programação linear; b) estabelecer o objetivo: elaborar o
objetivo básico do problema relativo à otimização pretendida que será representado por uma função
objetivo que deverá ser maximizada ou otimizada (CAIXETA FILHO, 2001); c) determinar as relações
básicas, especialmente restrições: as restrições representam limitações da situação atual como
escassez de recursos, limitações legais ou de mercado, sendo assim pode-se definir as restrições como
uma série de limitações do sistema (MOREIRA, 2007); e d) calcular a solução ótima.

Esses conceitos de função-objetivo, restrição e solução ótima podem ser melhor compreendidos
quando inseridos em situações reais de empresas, conforme será demonstrado no caso prático, objeto
de estudo deste artigo. Existem vários métodos para a solução dos problemas sendo eles: método
gráfico, da tentativa e erro, simplex, dentre outros. Neste trabalho será utilizado para a solução do
estudo de caso o software LINDO®, em sua versão de uso livre.

4. METODOLOGIA

Esse trabalho pode ser classificado como pesquisa quantitativa e aplicada, pois satisfaz as condições
elencadas por Mareth et al. (2012). Nele, conhecimentos serão gerados buscando a solução de
problemas, preenchendo os requisitos de pesquisa aplicada, e também, será um modelo de pesquisa
quantitativa, já que foram levantados dados junto a todos os setores da empresa, como os tempos de
preparação dos produtos por máquina, identificados por tomada de tempo junto às máquinas;
margem de contribuição por item do mix de produtos fornecido pelo MRP Pitágoras®, utilizado pela
mesma; previsões de vendas mensais para o ano, levantado pelo setor comercial; e a lucratividade
mensal atual da empresa.

Optou-se pela maximização da lucratividade do mix de produto por meio da programação da produção
mensal. Devido ao grande número de itens e também, do número elevado de setores de
processamento em que os produtos passam, a simulação diária ou semanal se tornaria bastante
complicada já que alguns itens são fabricados apenas uma vez por mês. Ressalta-se que junto com a

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385
Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

previsão de venda mensal fica definida, também, a quantidade mínima produzida de cada item. Todos
estes dados foram analisados e, após definidas a função objetivo e as restrições do problema,
construiu-se um modelo de programação linear. Para resolver o modelo proposto utilizou-se o
software LINDO®, versão livre.

5. EMPRESA ESTUDADA

Decorridos alguns 10 anos de sua fundação e passado por várias fases de capacitação, ampliação
mercadológica e de seu parque industrial, a Patolux Indústria e Comércio de

Alumínios Ltda. (Patolux Alumínios) buscaav ampliar suas regiões de atuação no mercado nacional. A
empresa passou a melhorar sua linha buscando produtos que não só fossem competitivos pelo seu
preço, mas também pelo seu design, acabamento e inovação apresentada.

A empresa, que na época tinha representantes nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina,
do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais, de Goiás, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, do Ceará e
de Brasília, apresentava em seu mix de produtos 149 itens produzidos. Parte deles produzidos
totalmente dentro da empresa e outros produtos com parte de seu processo de fabricação
terceirizado. A empresa tinha como foco de clientes: distribuidores e atacadistas de utilidades
domésticas, redes de supermercados populares, distribuidores crediaristas e pequenas redes de lojas
de produtos variados.

A Patolux, tinha 15 itens que representam cerca de 70% de seu faturamento, estes ocupavam grande
parte da capacidade produtiva da empresa.

O quadro de funcionários era de 70 pessoas, 09 delas atuavam na área administrativa e as demais


operavam diretamente na linha de produção, a qual encontrava-se dividida em 16 setores, elencados
na Tabela 1.

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Tabela 1 – Setores de produção, descrição e quantidade de equipamentos por setor e tempo


disponível em minutos por setor

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados fornecidos pela empresa.

Os controles financeiro, fiscal e de produção da empresa eram geridos pelo software Pitágoras Gene®.
No estudo, a área de maior interesse foi a área de controle de produção. Para facilitar o entendimento,
apresenta-se, passo a passo como eram geradas as ordens de produção na empresa.

a) digitação do pedido pelo vendedor: o pedido de venda era digitado diretamente dentro do sistema;

b) recebimento dos pedidos na empresa: era feita uma conferência dos dados dos pedidos para
processamento e recebimento deles no sistema;

c) montagem de cargas para as regiões pré-definidas: definia transportador, gerava cubagem, colocava
previsão de entrega;

d) processamento dos pedidos: compromete produto acabado após processamento dos pedidos;

e) gerar ordens de produção: as ordens de produção eram geradas baseadas na quantidade de


estoque mínimo e máximo e eram divididas em lotes econômicos de produção, depois de geradas as
ordens comprometem matéria prima;

f) distribuição das ordens de produção: ordens enviadas ao almoxarifado que distribuía ordens,
matéria prima e insumos na linha de produção;

g) leitura de ordens através dos setores: as ordens de produção elencavam todos os setores em que o
produto iria passar e as matérias primas e insumos utilizados na sua confecção. Ao passar pelo setor

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

o funcionário marcava seu nome e o número de perdas e peças produzidas sem defeitos e levava o
lote produzido até o setor de espera do setor subsequente;

h) para identificar o andamento das ordens era utilizado um computador portátil que fazia a leitura
das ordens e alimentava o sistema;

i) revisão e enceramento da ordem: após a ordem passar por todos os setores e chegar ao setor de
estocagem ou carregamento as ordens eram revisadas a fim de identificar perdas e os motivos após o
confronto do lançado com o físico, também eram repostas as matérias primas e insumos
reaproveitados.

Nesse contexto, utilizou-se da programação linear na tentativa de solucionar o problema dos gestores
da PATOLUX, levando em consideração a função-objetivo e as restrições encontradas pelo
departamento de produção.

Na Tabela 2 encontra-se disponível os dados extraídos do software Pitágoras e junto ao gerente de


produção que dizem respeito à margem de contribuição unitária e a quantidade mínima mensal de
produção por item. O levantamento dos tempos que cada produto levava nos setores onde percorria
durante o processo de fabricação também foi realizado. Observou-se que existe uma grande variação
no processo de produção dos itens devido ao fato de que nem todos passavam pelos mesmos setores
durante a sua confecção.

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Tabela 2 – Margem de contribuição unitária e quantidade mínima de produção mensal por item

Legenda: Prod: produto, MCU: Margem de contribuição unitária, QMPMI: Quantidade mínima de
produção mensal por item.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados fornecidos pela empresa.
Salienta-se que, embora a empresa tivesse um mix total de 149 itens, 70 itens possuíam todos os
processos de sua produção terceirizados. Logo a formulação foi feita com os 79 itens produzidos
efetivamente na empresa ou que apenas parte de sua produção era terceirizada. Essa medida também
teve intuito de simplificar o estudo já que o mesmo se tratava de um trabalho inicial.

6. Montagem do modelo

A solução ótima para a PATOLUX seria encontrar o mix ideal de produção, entre os 79 produtos, no
intuito de maximizar a sua Função Objetivo, que neste caso, se deu pela margem de contribuição total
(MCT), ou seja:

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Em que Xi é a quantidade do produto “i” a ser produzida (i = 1, ..., 79);

As restrições foram definidas como segue:

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

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O software Lindo apresentou os resultados que estão sintetizados nas Tabelas 3 e 4:

Tabela 3 – Resultados da otimização do mix de 79 produtos

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de resultados do Lindo®.

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Tabela 4 – Variáveis de folga e excesso e dual prices

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de resultados do Lindo ®.

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Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

Na sequência, com as quantidades produzidas, por meio das informações contidas na Tabela 3, o
modelo encontrou uma quantidade ótima de produção para cada item, permitindo assim, maximizar
a Função Objetivo, ou seja, maximizar a margem de contribuição total. Um aspecto interessante
observado neste trabalho foi a facilidade em se identificar gargalos no sistema produtivo. No caso em
questão, os setores 2, 4, 9 e 15 estavam sendo utilizados em sua capacidade máxima. Já a folga,
exemplo do setor 01, indicava tempo de ociosidade que poderia ser canalizado para outras atividades.

7. CONCLUSÕES

As dificuldades encontradas pela indústria nacional fizeram com que a busca por informações com
qualidade passassem a ter grande importância no apoio à tomada de decisões. O presente artigo
deixou clara a importância destas informações, as quais devem ser levantadas de forma lógica e
racional, permitindo ao gestor criar situações de restrições com grande complexidade, em ambiente
simulado, sem criar riscos para a empresa, além de fornecer dados confiáveis e com grande agilidade.

Com a utilização da programação linear foi possível atender a produção mínima de cada item, exigida
pela demanda; melhorar consideravelmente a margem de lucro e identificar os gargalos de produção.
No entanto, mesmo se optando pela produção dos produtos de maior margem de contribuição, em
uma indústria que possui inúmeras restrições produtivas e mercadológicas, isto não garantiria uma
maior rentabilidade para a empresa.

Levando-se em conta que o software utilizado é gratuito, que a utilização de computadores é uma
realidade na maioria das empresas, e que o número de variáveis envolvidas na tomada de decisão é
cada vez maior, fato que contribui para o aumento de sua complexidade, acredita-se que o uso de
ferramentas que auxiliem os gestores, ocupará cada vez mais espaço entre eles e essas, somadas à
experiência profissional da equipe, fará com que os riscos sejam minimizados.

Estudos futuros poderão utilizar-se da análise de sensibilidade e desta forma, dar um suporte ainda
melhor aos gestores da empresa.

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395
Programação Da Produção De Artefatos De Alumínio Por Meio Da Programação Linear

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16
397
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 21
10.37423/200902729

COMPARAÇÃO ENTRE AS ALTERNATIVAS


PORTUÁRIAS UTILIZADAS NA EXPORTAÇÃO DA
SOJA BRASILEIRA COM DESTINO À CHINA

Cleibson Aparecido de Almeida Universidade Federal do Paraná

João Cardoso Neto Universidade Federal do Paraná

Samuel de Lima Junior Universidade Federal do Paraná

Robson Seleme Universidade Federal do Paraná

Sonia Isoldi Gama Müller Universidade Federal do Paraná


Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Resumo: As taxas de exportação e produção agrícolas brasileira tem crescido de forma acentuada nos
últimos anos, influenciadas, principalmente, pelo vertiginoso aumento do poder econômico chinês.
Desde que o agronegócio tornou-se importante nas relações comerciais, o Brasil tem sofrido com o
alto custo do transporte rodoviário e a deficiência dos seus portos, em especial aqueles que possuem
alguma estrutura para o escomento da produção agrícola. Com isso, a soja brasileira deixa de ser
competitiva, quando comparada com seus principais concorrentes, Argentina e Estados Unidos. Uma
alternativa logística para exportar o grão é a utilização dos portos localizados no Oceano Pacífico. São
apresentados três possíveis cenários que simulam uma limitação de capacidade dos armazéns dos
quatro principais portos nacionais (Santos, Paranaguá, Vitória e Rio Grande), que exportam grãos de
soja, e é verificado a importância dos portos de Ilo (Peru) e Arica (Chile) para suprir uma casual pane
logística nos portos brasileiros. Após a simulação são inferidas reflexões sobre as necessidades de
melhorias logísticas para aumentar a competitividade da soja brasileira.

Palavras-chave: Transporte, Soja, China, Portos, Simulação.

1
399
Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA (2010), nos últimos 15 anos,
poucos países cresceram tanto no comércio internacional do agronegócio quanto o Brasil. O País é um
dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. Além de liderar o
ranking mundial na produção e exportação de café, açúcar, etanol e suco de laranja, o Brasil é o
segundo maior no faturamento com as vendas ao mercado externo do complexo da soja (grão, farelo
e óleo).

No início de 2010, um em quatro produtos do agronegócio em circulação no mundo eram brasileiros.


E esse crescimento não para por aí, segundo as projeções do Ministério da Agricultura, até 2030, um
terço dos produtos comercializados no mundo serão provenientes do Brasil, principalmente em
função da crescente demanda alimentar dos países asiáticos (MAPA, 2011).

Com o aumento vertiginoso das economias asiáticas nas três últimas décadas, em especial a chinesa,
a travessia do oceano pacífico tornou-se atrativa por ser a rota logística mais curta entre a América
Latina e a Ásia. Além disso, com a consolidação dos dados do comércio exterior de 2009, a República
Popular da China passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil (OLIVEIRA, 2010).

Utilizar o Oceano Pacífico como alternativa para escoamento e abastecimento do mercado nacional é
um sonho antigo e tornou-se importante não só pelo crescente aumento do mercado asiático, mas
também pela importância em fortalecer parcerias e garantias de crescimentos regionais entre os
países da América do sul.

A matriz de exportação brasileira, com destino a China, é caracterizada por produtos de baixo valor
agregado onde destacam-se os minérios e os produtos agrícolas. Estima-se que somente o
agronegócio represente mais de 33% das riquesas produzidas em território nacional, com a soja
ocupando um lugar de destaque e fazendo do Brasil o segundo maior produtor e exportador mundial
do grão (SALIN e LADD, 2010).

Como agentes facilitadores para a chegada dos produtos nacionais aos portos localizados no Pacífico
estão sendo construídas novas rodovias, abrindo uma nova possibilidade para o escoamento da soja
produzida por brasileiros e com destino à China. Esta opção alternativa pode colaborar com muitos
produtores de soja, em especial aqueles que possuem lavouras localizadas nas regiões mais distantes
dos portos brasileiros, como é o caso das regiões Centro-Oeste e Norte.

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400
Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Desta forma o presente trabalho tem como foco apresentar um modelo matemático para simular e
comparar o transporte da soja com destino à China utilizando alguns portos localizados nos Oceanos
Atlântico e Pacífico. Consequentemente é apresentado o modelo matemático (problema do
Transbordo) utilizado nas comparações e suas variáveis. Na parte de resultados e discussão são
comentadas as vantagens e desvantagens de cada opção baseada no custo de transporte e nas
capacidades portuárias envolvidas no estudo. Na última seção do artigo são apresentadas algumas
considerações finais.

2. MODELAGEM DO PROBLEMA

A programação linear é geralmente utilizada para resolver problemas que tenham características
determinísticas. O problema pode ser resumido em: maximizar ou minimizar alguma variável
dependente, que é função linear de diversas variáveis independentes e sujeitas a diversas restrições
(CORRAR e GARCIA, 2001).

A construção de um modelo matemático, no caso do modelo linear, segundo Corrar e Garcia (2001),
pode ser facilitada utilizando os passos a seguir:

a) determinar as variáveis de decisão;

b) estabelecer o objetivo do problema;

c) determinar as relações básicas, especialmente restrições;

d) calcular a solução ótima.

As empresas podem fazer uso da programação linear para resolver seus problemas de alocação de
recursos, seja com o objetivo de redução de custos, otimização de resultados, ou qualquer outro
processo de tomada de decisão gerencial.

2.1 PROBLEMA DO TRANSPORTE

O problema do transporte visa minimizar o custo total necessário para abastecer n centros
consumidores (destinos) a partir de m centros fornecedores (origens). As restrições do modelo são
com base nas quantidades disponíveis, ou oferta de cada origem e as quantidades requeridas, ou
demanda de cada destino (PUCCINI e PIZZOLATO, 1981).

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

2.1.1 PROBLEMA DO TRANSBORDO

O problema do transbordo é um caso particular do problema do transporte, ou seja, neste caso ocorre
uma baldeação devido à impossibilidade de realizar o transporte entre dois pontos sem que ocorra a
interferência de um ou mais pontos entre os pontos inicial (origem) e final (destino).

Segundo Passos (2008), nem sempre é possível fazer o transporte para determinado objetivo final
(destino) diretamente, sem passar por objetivos intermediários (baldeação). Para a resolução desse
tipo de problema, é utilizado o algoritmo de transporte, tomando o cuidado de incluir uma nova
restrição, denominada de “balanceamento”, que tem por objetivo equilibrar a carga que chega e a
carga que sai do objetivo intermediário (local de transbordo), isto é, a carga que chega nesse local
deve ser a mesma que sai em direção ao local de entrega (destino).

2.2 PERCURSO DA SOJA BRASILEIRA ATÉ A CHINA

A soja brasileira é transportada pelo modal rodoviário, entre o polo produtor e o porto de transbordo
(Santos, Paranaguá, Vitória, Rio Grande, Ilo-Peru ou Arica-Chile). A partir do porto de transbordo, a
soja é enviada até a China (Porto de Shangai) através de navios que podem seguir por diversos
caminhos. Neste trabalho são utilizados os percursos de menores distancias conforme exemplificado
na figura 1.

Figura 1 – Rota da soja brasileira com destino à China

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

2.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O problema para o transporte da soja é formulado da seguinte forma:

Sujeito às restrições de:

• Capacidade do porto:

• Demanda de produção:

• Condição de não negatividade:

Sendo:

n = Número de polos produtores de soja;

m = Número de portos de escoamento;

o = Número de portos de recebimento;

Kj = Capacidade do porto j;

Di = Quantidade de produção do polo produtor i;

cij = Custo da operação logística entre o ponto i até o ponto j (produtor i até o porto de escoamento j);

dij = Distância entre o produtor i, até o porto j;

cpj = Custo portuário referente ao porto j;

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

cmjk = Custo da operação logística entre o ponto j até o cliente (porto de escoamento j até o porto de
recebimento k);

djk = Distância entre o porto j, até o porto k;

xij = Quantidade embarcada do polo produtor i até o porto j;

Z = Custo mínimo total da operação logística.

3. COLETA DE DADOS

Para a realização deste trabalho foram coletados dados e informações como municípios produtores
de soja, quantidade de produção e exportação, distâncias e custos de fretes rodoviários e marítimos
e capacidade dos portos envolvidos no estudo.

3.1 PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DA SOJA

A tabela 1 apresenta a produção e exportação de soja para a China, em toneladas, dos principais
municípios brasileiros que produzem a oleaginosa. Os dados são referentes à safra de 2009/2010. A
base inicial para a escolha dos municípios foi o trabalho de USDA (2010).

Fonte: IBGE (2010); SECEX (2011); MAPA (2011). Elaborado pelos Autores.
Tabela 1 - Produção e Exportação anual de soja por município (safra de 2009/2010)

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

3.2 TRANSPORTE RODOVIÁRIO

A tabela 2 apresenta uma matriz de distância entre as cidades de produção da soja até os portos de
transbordo. Os dados foram coletados considerando a melhor rota rodoviária, segundo o site Google
Maps (GOOGLE, 2011), e também o uso de estradas internacionais, no caso dos destinos Ilo (Peru) e
Arica (Chile).

Fonte: GOOGLE (2011). Elaborado pelos Autores.


Tabela 2 - Distância em km entre os municípios produtores e portos de escoamento da soja

A tabela 3 apresenta dados sobre o valor do frete rodoviário entre os municípios produtores e o porto
de destino da mercadoria. Os valores consultados em Soares e Caixeta Filho (1997) foram corrigidos
com base no aumento relativo do óleo diesel entre 1997 a 2010. Os valores do frete para os portos de
Ilo (Peru) e Arica (Chile) foram estimados considerando que a partir de uma distância de 2.000 km há
constância no valor.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Fonte: Adaptado e atualizado de Soares e Caixeta Filho (1997).


Tabela3 - Fretes rodoviários entre os municípios produtores e portos de escoamento da soja

3.3 TRANSPORTE MARÍTIMO

Os principais portos brasileiros que recebem a soja de exportação são Santos, Paranaguá, Vitória e Rio
Grande. Na costa do Pacífico os portos mais indicados para escoamento desse tipo de produto são o
peruano Ilo e o chileno Arica. As exportações brasileiras partem para China com destino ao porto de
Shangai. As informações referentes aos portos estão nas duas tabelas a seguir.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Fonte: SEA DISTANCES (2011); Alves, Tomaseto, et al. (2010). Elaborado pelos Autores.
Tabela 4 – Características do percurso entre os portos de origem e Shangai

Fonte: ANTAQ (2011); ARICA (2011); ENAPU (2011). Elaborado pelos Autores.
Tabela 5 - Principais características operacionais dos portos que escoam a soja
Como realizado no trabalho de Reis, Brunetti, et al. (2008), aqui também foi adotado que a colheita
de soja é realizada durante quatro meses no ano. Sendo assim, foi considerado que a quantidade
exportada (a cada mês) é ¼ do valor total de exportações.

Nas simulações foram comparados três diferentes cenários com o intuito de limitar a capacidade dos
portos com maior procura e observar o impacto financeiro causado por essa limitação. Para isso foram
utilizados os softwares LINGO© e EXCEL©.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CENÁRIO 1

Neste cenário foi considerado que a capacidade total (estática) de todos os portos esteja disponível.

Com a maior quantidade das exportações, o Estado do Mato Grosso exportou sua soja com a utilização
dos portos de Santos, Paranaguá e Vitória. Sorriso, Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste
exportaram 100% da sua soja através do porto de Santos. Nova Mutum utilizou o porto de Paranaguá
e Canarana mandou sua soja para o porto de Vitória.

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407
Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Embora a distância entre o Estado de Goiás e o porto de Santos seja menor do que os destinos
Paranaguá e Vitória, o custo do transporte rodoviário (R$ ton./km) até os portos de Paranaguá e
Vitoria são menores, destinando a soja dos municípios de Rio Verde e Jataí para estes dois portos.

Os municípios do Estado do Paraná exportaram 100% da soja, com destino a Shangai – China, pelo
porto de Paranaguá, mesmo apresentando o maior custo portuário e de frete rodoviário (R$ ton./km)
comparado aos demais portos. Talvez por serem as cidades mais próximas de um porto, o valor mais
elevado do frete não interfere na escolha ou não de Paranaguá como transbordo.

O baixo custo de transporte rodoviário (R$ ton./km) acarretou no envio da soja produzida em São
Desidério - BA para o porto de Vitoria – ES.

Os municípios rondonianos de Vilhena e Cerejeiras foram os únicos a exportarem 100% de sua soja
para o porto de Ilo no Peru. Ainda, neste cenário, foi constatado que dentre os 20 (vinte) municípios
selecionados, nenhum deles utilizou o porto de Arica para o escoamento de sua produção.

A taxa de ocupação dos portos de Santos e Vitória, após a simulação, foram de 100%. Paranaguá e Rio
Grande tiveram 32% e 4% de suas capacidades utilizadas, respectivamente. Ilo, que recebeu a soja das
cidades de Rondônia teve 28% de ocupação e o porto de Arica ficou completamente ocioso.

O resultado da análise apresentou um custo médio de transporte, do polo produtor até a China, de R$
262,21 por tonelada e um custo total de R$ 302.119.741,29 para o escoamento da soja das 20 (vinte)
cidades produtoras em estudo.

4.2 CENÁRIO 2

Devido à preferência ao uso dos Portos de Santos, Paranaguá e Vitória, percebidos no cenário anterior,
a capacidade desses portos foi reduzida para 50% neste novo cenário. As capacidades dos demais
portos continuam sendo 100%.

Novamente, o Estado do Mato Grosso ainda permanece com a exportação de sua soja pelos portos de
Santos, Paranaguá e Vitória. No entanto, apenas o município de Primavera do Leste permaneceu com
100% da sua exportação para o porto de Santos, em comparação ao cenário 1. Nova Mutum e Campo
Novo do Parecis exportaram 100% da sua soja através do porto de Paranaguá. Sorriso, a cidade com
maior produção de soja do Brasil, de acordo com os dados levantados, utilizou do porto de Paranaguá
e Santos para exportação de sua soja. Canarana distribui sua soja entre os portos de Paranaguá e
Vitória.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

O município de Rio Verde situado no Estado de Goiás deixou de exportar através do porto de Vitória,
sendo que o porto de Paranaguá recebeu 100% da soja produzida nesta cidade.

Com exceção de Cascavel, que utilizou o porto de Rio Grande, os municípios do Estado do Paraná
exportaram 100% da soja pelo porto de Paranaguá.

Mais uma vez, o baixo custo de transporte rodoviário (R$ ton./km) acarretou no envio da soja
produzida em São Desidério - BA para o porto de Vitoria – ES.

Os municípios rondonianos de Vilhena e Cerejeiras continuaram a exportar 100% de sua soja


produzida através porto de Ilo no Peru.

Outra vez, foi constatado que dentre os 20 (vinte) municípios selecionados, nenhum deles utilizou o
porto de Arica para o escoamento de sua produção, indicando mais uma vez que este porto é muito
longe dos produtores brasileiros e infelizmente não atende aos custos mínimos para o transporte da
soja nacional.

Após a simulação, a taxa de ocupação dos portos de Santos e Vitória continuaram em 100% e
Paranaguá, desta vez, foi totalmente ocupado. Rio Grande diminuiu sua ociosidade e teve uma taxa
de ocupação em 9% (antes, no cenário 1 era 6%). Ilo, que recebeu a soja das cidades de Rondônia
permaneceu com 28% de ocupação e o porto de Arica ficou completamente ocioso mais uma vez.

O resultado da análise apresentou um custo médio de transporte, do polo produtor até a China, de R$
267,99 por tonelada e um custo total de R$ 308.786.722,28 para o escoamento da soja das 20 (vinte)
cidades produtoras em estudo.

4.3 CENÁRIO 3

Neste cenário, imaginando um possível caos portuário (na capacidade), foi reduzida para 20% a
capacidade dos portos de Santos, Paranaguá e Vitória, visto que esses são os portos preferenciais da
maioria das cidades em estudo. A capacidade do porto de Rio Grande foi reduzida em 50% e mantida
em 100% a capacidade dos portos de Ilo e Arica.

Os municípios de Sorriso, Nova Mutum, Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste que destinavam
suas cargas de soja para os portos de Santos e Paranaguá, passaram a destinar sua produção para os
portos de Rio Grande, Ilo e Arica. Cabe destacar que o porto de Vitória, que teve sua capacidade
reduzida, neste cenário, deixou de exportar a soja de todas as cidades do Estado do Mato Grosso e
que ainda o utilizavam nos cenários anteriores.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

Os municípios do Estado de Goiás exportaram 100% de suas sojas, pelo porto de Paranaguá.

Com exceção de Castro os municípios do Estado do Paraná exportaram 100% da soja, pelo porto de
Rio Grande. Fato inesperado porque as cidades paranaenses são aquelas mais próximas de um porto,
no caso Paranaguá. Porém é importante salientar que as cidades do MT, MS, MG, SP e BA com maior
custo de frete rodoviário em relação às paranaenses, tem prioridade pelo porto mais próximo e que
no caso é Paranaguá. Com isso, as cidades dos demais Estados empurram a soja paranaense para o
porto mais próximo de Paranaguá, ou seja, Rio Grande.

Considerando o custo de transporte rodoviário (R$ ton./km) e a diminuição da capacidade do porto


de Vitória, o município de São Desidério exportou respectivamente 42% e 58% da soja para os portos
de Paranaguá e Vitória. Vitória, com sua baixa capacidade ficou limitada para receber toda a soja de
São Desidério.

Mais uma vez, os municípios rondonianos de Vilhena e Cerejeiras foram os únicos a exportarem 100%
de sua soja para o porto de Ilo no Peru. Com isso, há a confirmação de que o porto localizado no
Oceano Pacífico é a melhor solução para escoar a soja dessa região. Vale lembrar que este porto
também começou a receber a carga de outra região, ou seja, a cidade de Campo Novo de Parecis – MT
(42%).

A cidade de Guairá - SP que destinava sua soja para o porto de Santos (que teve sua capacidade
reduzida) passou a destinar sua carga para o porto de Paranaguá.

Neste cenário, foi constatado que dentre os 20 (vinte) municípios selecionados, apenas um deles
utilizou o porto de Arica para o escoamento de sua produção. Campo Novo do Parecis – MT utilizou o
porto de Arica para exportar 44% de sua soja indicando que o porto chileno somente será útil em uma
situação caótica, onde os portos brasileiros estejam trabalhando com suas capacidades totalmente
limitadas.

Com exceção do porto de Arica, as taxas de ocupações dos demais portos foram de 100%.

O resultado da análise apresentou um custo médio de transporte, do polo produtor até a China, de R$
298,39 por tonelada e um custo total de R$ 343.811.194,78 para o escoamento da soja das 20 (vinte)
cidades produtoras em estudo.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

4.4 COMPARAÇÕES ENTRE OS CENÁRIOS PROPOSTOS

Observando a tabela 6, é nítido que as cidades brasileiras produtoras de soja, de uma forma geral,
preferem enviar suas exportações prioritariamente para os portos de Santos, Paranaguá e Vitória.
Caso estes portos estejam ocupados, pelo menos em parte, o porto de Rio Grande torna-se a segunda
opção. O porto de Ilo (Peru) é uma opção para o escoamento da soja das cidades de Rondônia e
também outras possíveis cidades que estejam próximas à região.

Fonte: Simulação. Elaborado pelos Autores.


Tabela 6 - Disponibilidade (capacidade) versus ocupação dos portos
Em relação ao custo é possível dizer que ele será notavelmente elevado, caso os portos brasileiros
estejam limitados (capacidade) de suprir as exportações nacionais. Enquanto osportos de Paranaguá
e Rio Grande tiverem capacidades superiores a 50%, a variação de custo são será tão expressiva, caso
eles estivessem com capacidade total livre. Mas, se esses dois portos tiverem algum tipo problema, o
valor do custo sobe muito. Basta comparar as diferenças entre um cenário intermediário (cenário 2) e
outro caótico (cenário 3), na tabela 7.

Se o porto de Ilo for aumentado para receber 87% da capacidade de Campo Novo do Parecis, no
cenário 3, o custo total para o transporte da soja das 20 cidades seria diminuído em R$1.393.124,13.

Fonte: Análise de dados. Elaborado pelos Autores.


Tabela 7 - Custos em cada cenário proposto
É importante notar que em uma situação caótica (cenário 3), quando os portos nacionais são limitados
em suas capacidades, o custo de transporte total se eleva em quase 40 milhões de reais, justificando
a importância de investimentos nos portos brasileiros.

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Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou uma comparação entre três cenários possíveis para o escoamento da
soja produzida por 20 (vinte) municípios brasileiros e que corresponderam a 50% das exportações
nacionais com destino a China na safra de 2009/2010.

Na pior das situações, caso sejam reduzidas as capacidades de todos os portos brasileiros os portos do
Pacífico tornam-se importantes não só para a região Norte do Brasil, mas também para outras regiões.
Nas três situações testadas foi confirmada a importância do porto de Ilo (Peru) para escoamento da
soja produzida na região Norte.

O porto peruano foi pouco aproveitado pelas demais regiões, porém se mostrou importante para as
exportações do Estado de Rondônia. Por ser mais próxima ao litoral do Peru, do que ao litoral
brasileiro, essa região pode ser beneficiada com investimentos de infraestrutura rodoviária que
possam ser utilizadas para a exportação da sua soja.

Também é importante repensar as estruturas portuárias atuais no Brasil. Em situações de capacidade


insuficiente para a armazenagem de grãos, o custo do transporte é altamente elevado e assim
tornando a soja nacional menos competitiva no mercado de exportações. Um possível investimento
para aumentar a capacidade do porto de Santos, ou outro porto que seja próximo a Santos ou
Paranaguá é fundamental para iniciar a solução do velho problema das filas nas estradas, com
caminhões aguardando para desembarcar seus produtos.

Infelizmente, do ponto de vista financeiro, não é interessante enviar a soja produzida nos Estados Sul,
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste para embarque nos portos do Oceano Pacífico, mesmo tendo estes
as menores distâncias marítimas entre a América do Sul e a Ásia.

A China continuará crescendo e precisará cada vez mais, alimentar seu povo e seus animais, a soja é
importante não só na matriz de exportações do Brasil, mas também para suprir a necessidade chinesa.
Algumas projeções mostram que os Estados de Rondônia e Acre estão aumentando cada vez mais suas
produções agrícolas, deixando os portos do Pacífico em situação previligiada, caso essa produção
agrícola seja enviada para a Ásia.

Por fim, há o desejo de expandir este estudo e avaliar os impactos da Transoceânica para o transporte
de outros itens produzidos e exportados por cidades localizadas na Região Norte do Brasil.

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412
Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

REFERÊNCIAS

ALVES, A. L. G. et al. Saídas para o Pacífico. ESALQ-USP. Piracicaba, p. 19. 2010.

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Processo de Tomada de Decisão. Congresso Internacional de Custos, León, 2001. Disponivel em:
<http://www.intercostos.org/documentos/Trabajo066.pdf Acesso em 07/05/ 2011>. Acesso em: 15
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EMBRAPA. Evolução e Perspectivas de Desempenho Econômico Associadas com a Produção de Soja


nos Contextos Mundial e Brasileiro. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias.
Londrina, p. 46. 2010. (ISSN 2176-2937).

ENAPU. Tarifario de ENAPU S.A. Empresa Nacional de Puertos S.A., 2011. Disponivel em:
<http://www.enapu.com.pe/spn/tarifario_art105.asp>. Acesso em: 01 set. 2011.

GOOGLE. Google Maps. Google Maps, 2011. Disponivel em: <http://maps.google.com.br>. Acesso em:
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IBGE. Produção Agricola Municipal. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponivel em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=44>.
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MAPA. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. AGROSTAT-Estatísticas de


Comercio Exterior do Agronegócio Brasileiro, 2011. Disponivel

em: <http://sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/AGROSTAT.html>. Acesso em: 03 set. 2011.

OLIVEIRA, H. A. D. Brasil e China: Uma nova aliança não escrita? Revista Brasileira de Política
Internacional, Brasília, v. 53, n. 2, p. 88-106, 2010.

PASSOS, J. E. P. F. D. Programação Linear: Como instrumento da pesquisa operacional. São Paulo: Atlas,
2008.

PUCCINI, A. D. L.; PIZZOLATO, N. D. Programação Linear. 2ª Edição. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

REIS, J. D. D. et al. Custo Ótimo de Transporte Rodoviário das Principais Regiões Produtoras de Soja
aos Principais Portos do Brasil. SOBER - XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia,
Administração e Sociologia Rural, Rio Branco, 20 Julho 2008. 1-21.

SALIN, D. L.; LADD, J. E. Soybean Transportation Guide: Brazil 2010. United States Departament of
Agricultura. Washington D.C., p. 53. 2010. Revised July 2011.

15
413
Comparação Entre As Alternativas Portuárias Utilizadas Na Exportação Da Soja Brasileira Com Destino À China

SEA DISTANCES. Voyage Calculator. Sea Distances (Nautical Miles), 2011. Disponivel em: <http://sea-
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SECEX. Secretaria de Comércio Exterior. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,


2011. Disponivel em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sistema/balanca/>. Acesso em: 04
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SOARES, M. G.; CAIXETA FILHO, J. V. Caracterização do Mercado de Fretes Rodoviários para Produtos
Agrícolas. Gestão & Produção, São Carlos, v. 4, n. 2, p. 186-204, Agosto 1997.

USDA. Statistical Data of Agriculture. UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE, 2010.


Disponivel em: <http://www.fas.usda.gov/psdonline/psdQuery.aspx>. Acesso em: 22 ago. 2011.

SIGLAS

i CBE: Cabo da Boa Esperança.

ii EMA: Estreito de Magalhães.

iii DIR: Conexão direta pelo Oceano Pacífico.

16
414
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 22
10.37423/200902730

ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO ETANOL NO BRASIL:


UMA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE BOX &
JENKINS

Stefane Dias Rodrigues Universidade Federal de Santa Maria

Virginia Thomasi Universidade Federal de Santa Maria

Roselaine Ruviaro Zanini Universidade Federal de Santa Maria

Julio Cezar Mairesse Siluk Universidade Federal de Santa Maria


Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

1 INTRODUÇÃO

A fonte de energia é um importante aspecto considerado na vida moderna, uma vez que desempenha
papel central na situação econômica da maioria dos países e torna-se um fator impulsionador da
produtividade, de maneira a contribuir para melhoria do bem-estar social (LIMA; FERREIRA; VIEIRA,
2013). É possível verificar que a transição dos derivados do petróleo para os combustíveis renováveis
é fundamental na busca da melhoria ambiental, onde políticas como a de biocombustíveis (RenovaBio)
realizadas em 2017 pelo governo brasileiro, a partir de fontes disponíveis no país, são importantes
para acelerar a geração de etanol e biodiesel (CHANDEL et al., 2019).
No contexto de mitigação de impactos ambientais de fontes renováveis, o Brasil se destaca por
apresentar mudanças no seu crescimento nos últimos anos (GWEC, 2011). O setor de energia contribui
com o progresso do comércio, renda e emprego (CAPORIN; CHANG; MCALEER, 2019), onde há uma
tendência no ramo energético, que consiste na geração de energia de fontes renováveis para
minimizar a emissão de agentes poluentes para atmosfera (DA SILVA; DE SOUZA, 2017).
Um exemplo disso é o etanol, o qual é uma fonte de energia rica no país e tem se expandindo
anualmente, demonstrando uma mudança satisfatória do importador de petróleo para um líder
mundial em energia renovável (GRANCO; CALDAS; DE MARCO, 2019). O principal recurso que produz
o etanol no Brasil é a cana-de-açúcar, tal produto possui relevância no setor agrícola, assim como, na
economia do país (ROMANI et al., 2010).
De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o
etanol é vendido em todas as regiões brasileiras, com um valor inferior ao diesel (ROSO et al., 2016).
O país conta com o Programa Etanol Eficiente (PrEE), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Eficiência
Energética – INEE, que tem como objetivo incentivar a competitividade do etanol hidratado (EH) e,
dessa forma, melhorar a eficiência energética de sua utilização, em que a energia do EH pode ser
convertida em energia mecânica com mais eficiência do que a gasolina caso o motor seja apropriado
à natureza desse combustível (INEE, 2019).
A produção de etanol, gerada pela cana-de-açúcar, além de ser economicamente viável, apresenta
menores índices de CO2 quando comparada a outras fontes (JR.; POLIKARPOV, 2009). O Instituto
Nacional de Eficiência Energética confirma que a cadeia energética da cana-de-açúcar é a segunda
maior fonte de energia primária do país (EFICIENTE, 2019).
O uso de técnicas estatísticas de modelagem de séries temporais pode ser de grande utilidade na
análise de dados e obtenção de previsões. A elaboração da metodologia Box & Jenkins é

1
416
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

fundamentada na sugestão e ajuste de modelos. Dessa forma, o gráfico da série original é gerado, com
propósito de constatar o comportamento não estacionário e investigar a presença de tendência e/ou
sazonalidade. Esse método pode ser encontrado em várias áreas de aplicação e tornou-se uma
ferramenta valiosa na análise e previsão de séries temporais (CORREIA et al., 2018).
Pode-se comprovar a importância desde método em muitos trabalhos publicados como, por exemplo,
na área da saúde, no qual foi realizada uma pesquisa para prever a demanda de solicitação de leitos
de UTI por intermédio de alisamento exponencial e Box & Jenkins (ANGELO et al., 2017). Na indústria
de laticínio foi realizado um trabalho envolvendo observações para previsão de demanda utilizando
os modelos Box & Jenkins alinhado com os estudos de redes neurais, com objetivo de planejar a
produção por meio da combinação de previsão (JACOBS; SOUZA; ZANINI, 2016). O consumo de gás
também foi estudado com esta mesma metodologia vinculada à redes neurais artificiais, para
obtenção de previsões incluindo, assim como a pesquisa anterior, a combinação de previsões
(CARDOSO; CRUZ, 2016).
Na Economia, também pode-se observar sua relevância, com aplicação na viabilidade econômica e
tempo necessário na devolução do capital investido em uma instalação de tratamento de suínos
(ROCKENBACH; SOUZA; OLIVEIRA, 2016). Outra pesquisa, que objetivou a análise monetária, seguindo
um procedimento como um dos métodos Box & Jenkins (ARMA), que confirma a associação entre
crescimento monetário e inflação foi realizado na Bolívia (FORTUN-VARGAS, 2012). Também, em
pesquisa com propósito de investigar o tráfego em redes de dados Wi-fi para um controle eficiente
em distintos níveis hierárquicos dessa rede foi utilizada esta metodologia (SUAREZ et al., 2009),
destacando-se assim a importância e abrangência da metodologia aqui empregada.
Assim, este estudo teve o propósito de utilizar os modelos autorregressivos integrados e de médias
móveis – ARIMA em uma produção nacional do etanol para as regiões do Brasil. Para este fim, o artigo
foi organizado da seguinte maneira: na seção 2 apresenta-se a metodologia, com o procedimento
detalhado da pesquisa; na seção 3 estão os resultados e, para finalizar o estudo, na seção 4 apresenta-
se as conclusões.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A variável considerada foi a produção mensal do etanol (m³) no Brasil, estratificadas por regiões:
Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, no período de janeiro de 2013 até maio de 2019,
totalizando 445 observações mensais. As séries foram obtidas da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis – ANP (ANP, 2019).

2
417
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

A metodologia de Box & Jenkins (ou modelos autorregressivos integrados de médias móveis) é uma
análise estatística de séries temporais que possibilita estudar o comportamento das séries, por meio
dos modelos da classe geral ARIMA (p,d,q), que usa a modelagem de forma linear e com observações
autocorrelacionadas (BOX, G. E. P.; JENKINS, 1970).
A modelagem ARIMA não se restringe apenas aos modelos não sazonais, sendo capaz de possibilitar
a modelagem dos dados na presença de componentes sazonais (BOX, G. E. P.; JENKINS, G.; REINSEL,
1994). Um modelo ARIMA sazonal ou SARIMA é formado pela inclusão de termos sazonais adicionados
ao modelo simples ARIMA, isto é, SARIMA (p,d,q),(P,D,Q)s (HYNDMAN; ATHANASOPOULOS, 2019). O
modelo é dado por (p, d, q) que são os componentes não sazonais autoregressivos (AR), a
diferenciação não sazonal (I) e as médias móveis não sazonais (MA), de forma similar, a outra parte
expressa o comportamento sazonal do modelo (P, D, Q) com a adição do período que ocorre a
sazonalidade que é caracterizado por “s” (EBHUOMA; GEBRESLASIE; MAGUBANE, 2018). O modelo em
questão foi o escolhido para representar o comportamento da série estudada e a sua equação geral é
apresentada a seguir.

𝜙(𝐿)(1 − 𝐿)𝑑 Φ(𝐿)(1 − 𝐿𝑠 )𝐷 𝑦𝑡 = 𝑐 + ϴ(𝐿)Θ(𝐿)𝑒𝑡 (1)


Onde 𝑦𝑡 é a série temporal, 𝑒𝑡 é o ruído branco e 𝐿 o operador de deslocamento para trás. D sazonal
= ordem de diferenciação, d=ordem de diferenciação regular, 𝜙(𝐿)= polinômio da média
móvel, ϴ(𝐿)=polinômio autorregressivo, Φ(𝐿)=autorregressivo sazonal e Θ(𝐿)=polinômio média
móvel sazonal(KUSHWAHA; PINDORIYA, 2019).
Os gráficos das séries foram gerados, em nível, com o intuito de averiguar o comportamento e
possíveis oscilações das observações. Após essa análise, foram aplicados os testes de raízes unitárias
Phillips Perron – PP, Kwiatkowski–Phillips–Schmidt–Shin – KPSS e Augmented Dickey-Fuller – ADF para
verificar a estacionariedade das séries (KWIATKOWSKI et al., 1992; PHILLIPS; PERRON, 1988).
Os gráficos das funções de Autocorrelação (FAC) e de Função de Autocorrelação Parcial (FACP)
também foram apresentados com objetivo de analisar a estacionariedade das séries e apurar a
autocorrelação das informações observadas, bem como identificar o possível modelo a ser estimado
(ABU; ISMAIL, 2019). Após esta etapa, foram apresentados modelos concorrentes, buscando
encontrar aquele que melhor represente as séries e possa ser utilizado para realizar as previsões. Para
melhor adequação do modelo, foi observada a característica de ruído branco (RB) dos resíduos, assim
como a média igual a zero e a presença de homocedasticidade (SAHA et al., 2019).

3
418
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

A escolha foi realizada por meio da identificação do modelo que apresentou as menores estatísticas
para os critérios penalizadores Akaike (AIC) e Critério Bayesiano de Schwarz (BIC), os quais são critérios
estimadores de qualidade do modelo matemático penalizando a diferença entre o modelo ideal dos
demais (LIMA; CÉSPEDES G., 2019). As equações dos respectivos critérios de informação estão
representadas na equação 2 e 3.
2 2(𝑘+𝑙)
𝐴𝐼𝐶(𝐾,1) = 𝑙𝑛𝜎𝑘,𝑙 + (2)
𝑁
2 𝑙𝑛𝑁
𝐵𝐼𝐶(𝑘,𝑙) = 𝑙𝑛𝜎𝑘,𝑙 + (𝑘 + 𝑙) (3)
𝑁

O modelo que apresentou as melhores estatísticas foi escolhido e utilizado para realizar as previsões
de curto prazo (6 meses). Os modelos ajustados foram analisados por meio da estatística U-Theil, a
qual compara o modelo de previsão ajustado com a previsão ingênua (MONTGOMERY, D. C.;
JENNINGS, C. L.; KULAHCI, 2015). A equação de U-Theil é apresentada na equação 4.

√∑𝑛 ̅
𝑡=1(𝑍𝑡 −𝑍𝑡−1 )²
𝑈-𝑇ℎ𝑒𝑖𝑙 = √ ∑𝑛 (4)
𝑡=1(𝑍𝑡 −𝑍𝑡−1 )²

Em que 𝑍𝑡 é a observação no instante t e 𝑍̅𝑡 representa a previsão no instante t.


Os resultados da aplicação da metodologia proposta são apresentados no capítulo a seguir.

2.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A série temporal da produção nacional de etanol (m³), de janeiro de 2012 a maio de 2019, é
apresentada na Figura 1, separada nas cinco regiões brasileiras. Pode-se observar que, todas as regiões
apresentam um comportamento sazonal, ou seja, observa-se um padrão de repetições mensais que
ocorrem nos dados da série temporal (KALE; FERNANDES; FONSECA NOBRE, 2004)
Todas as regiões expõem um comportamento constante e sem alterações abruptas durante os
períodos analisados, com destaque para a produção de etanol nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, as
quais apresentam maior produção quando comparadas às outras regiões. A sazonalidade das séries
pode ser explicada, por meio da matéria-prima processada para obtenção do etanol, a cana-de-açúcar.
A colheita da cana-de-açúcar depende de fatores como as condições climáticas, temperaturas muito
baixas, fornecimento adequado de água e geadas (AGEITEC, 2019).

4
419
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

Figura 1. Produção de etanol (m³) por região brasileira

A Companhia Nacional de Abastecimento fez um levantamento de monitoramento da cana-de-açúcar


na safra de 2018/19, nas regiões, e é interessante destacar que, segundo este estudo, as regiões Sul e
Sudeste terão uma queda de produção devido a fatores climáticos e áreas que não podem ser
mecanizadas na região Sul. As expectativas de produção no Norte são pequenas, por causa de sua
baixa representação na produção, sendo de menos de 1%. Enquanto isso, o Centro-Oeste deve ter um
leve aumento na produção e, na região Nordeste, é esperada uma recuperação na produtividade
(CONAB, 2018).

Na aplicação da metodologia de Box & Jenkins realiza-se a projeção da produção dos próximos meses
e, para isso, é necessário que as séries em questão sejam estáveis. Deste modo, realizou-se os testes
de raízes unitárias para verificar se existe a necessidade de aplicar um método de estabilização das
séries que apresentam tendência ou sazonalidade. Na Tabela 1 estão representados os principais
resultados dos testes de estacionariedade para a série de produção de etanol para as cinco regiões
brasileiras.

Por meio das Tabelas 1 e 2 são apresentados os resultados dos testes de raízes unitárias. É possível
identificar que, em ambos os testes, a estacionariedade das séries, em nível, pode ser aceita, não
sendo necessário o uso de métodos de estabilização das séries.

5
420
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

Phillips Perron-PP
Centro-
Regiões Oeste Nordeste Norte Sul Sudeste

Série em

a em

a em

a em

a em
diferenç

diferenç

diferenç

diferenç

diferenç
crítico
Valor

Nível

Nível

Nível

Nível

Nível
1ªs

1ªs

1ªs

1ªs

1ªs
Série

Série

Série

Série

a
10% 5% 1%

-3,50 -3,50 -3,50 -3,50 -3,50


-2,89 -2,89 -2,89 -2,89 -2,89
-2,58 -2,58 -2,58 -2,58 -2,58
Estatística
-t

-3,96 -4,79 -4,02 -4,26 -4,05 -5,82 -3,99 -5,11 -4,29 -8,98
Hipótese
nula

A série possui raiz unitária

Tabela 1. Resultado dos testes pp para as séries de produção nacional do etanol

Kwiatkowski-Phillips-Schmidt-Shin – KPSS
Regiões Centro-Oeste Nordeste Norte Sul Sudeste
Série em

a em

a em

a em

a em
diferenç

diferenç

diferenç

diferenç

diferenç
crítico
Valor

Nível

Nível

Nível

Nível

Nível
1ªs

1ªs

1ªs

1ªs

1ªs
Série

Série

Série

Série

a
a - t 10% 5% 1%

0,73 0,73 0,73 0,73 0,73


0,46 0,46 0,46 0,46 0,46

0,34 0,34 0,34 0,34 0,34


Estatístic

0,14 0,02 0,02 0,06 0,07 0,03 0,04 0,02 0,03 0,02
Hipótes
e nula

A série é estacionária

Tabela 2. Resultado dos testes KPSS para as séries de produção nacional do etanol

Na próxima etapa foram gerados os gráficos da Função de Autocorrelação (FAC) e da Função de


Autocorrelação Parcial (FACP) para verificar algum comportamento padrão característico dos modelos
ARIMA, no intuito de identificar a estrutura e a ordem dos possíveis modelos. Os gráficos gerados
podem ser observados na Figura 2, na qual pode-se identificar padrões sazonais em todas as regiões,
com característica autorregressiva e de médias móveis (SARIMA).

6
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Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

Figura 2. Função de Autocorrelação e Função de Autocorrelação Parcial.

Os modelos foram selecionados com base nos menores valores dos critérios penalizadores AIC e BIC,
na verificação de resíduos na forma de Ruído Branco (RB), considerando-se parâmetros inferiores, em
módulo, à unidade. Com o intuito de confirmar a adequação dos modelos, foi calculado o indicador U-
Theil, o qual considera números de 0 até 1, sendo os resultados expostos na Tabela 3.

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Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

U-Theil
Regiões Modelo Parâmetro AIC BIC
ϕ1=0,63
Centro-Oeste SARIMA(1,0,1)(1,0, ϴ2=0,39 26,32 26,46 0,25
1)12 Φ12=0,97
Θ12=-0,34
ϕ1=0,73
Norte SARIMA(1,0,0)(1,0, Φ12=0,98 20,01 20,12 0,20
1)12 Θ12=-0,62
ϕ1=0,86
Sul SARIMA(1,0,1)(1,0, ϴ1=-0,57 24,27 24,41 0,21
1)12 Φ12=0,97
Θ12=-0,47
ϕ1=0,70
Sudeste SARIMA(1,0,0)(1,0, Φ12=0,98 28,22 28,33 0,21
1)12 Θ12=-0,50
ϕ1=0,88
Nordeste SARIMA(1,0,1)(1,0, ϴ1=0,42 23,32 23,24 0,30
1)12-4 Φ12=0,87
Θ4=-0,36
Tabela 3. Melhores modelos ajustados para as cinco regiões
A cana-de-açúcar apresenta a componente sazonal de produção, além de necessitar ser cultivada em
regiões com inverno seco e frio, para possibilitar a maturação e acúmulo de açúcares (MENDES, 2019).
Devido esses impactos climáticos, cada região apresentará um comportamento diferente em sua
produção, principalmente em relação ao período de sazonalidade.
Nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País, a colheita da cana-de-açúcar, consequentemente o
aumento da produção de etanol, ocorre, principalmente, no mês de março de cada ano. Nas regiões
Norte e Nordeste, o período de safra varia entre alguns estados: abril para os estados do Amazonas,
Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins e, agosto, para Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio
Grande do Norte e Sergipe (UNICA, 2019).
Os modelos encontrados para todas as regiões foram estacionários em nível. A região Centro-Oeste
apresentou um modelo com um parâmetro autorregressivo no lag 1 e um parâmetro de médias
móveis no lag 2, além de um parâmetro autorregressivo sazonal e um de médias móveis sazonal,
ambos no lag 12.
As regiões Norte e Sudeste apresentaram um modelo com um parâmetro autorregressivo no lag 1,
além de um parâmetro autorregressivo sazonal e um de médias móveis sazonal, ambos no lag 12.
A região Sul apresentou um modelo com um parâmetro autorregressivo e um parâmetro de médias
móveis, ambos no lag 1, além de um parâmetro autorregressivo sazonal e um de médias móveis
sazonal, ambos no lag 12.

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Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

A região Nordeste apresentou um modelo com um parâmetro autorregressivo e um parâmetro de


médias móveis, ambos no lag 1, além de um parâmetro autorregressivo sazonal no lag 12 e um de
médias móveis sazonal, ambos no lag 4.
Os modelos ajustados, para todas as regiões, apresentaram sazonalidade dentro de um ano, indicando
que a cada 12 meses a produção de etanol teve um comportamento semelhante, tanto como aumento
ou como declínio.
Com a finalidade de prever a produção, considerou-se os modelos selecionados, para cada região,
Figura 3, e foram gerados os gráficos para um horizonte de seis períodos que iniciou em junho de 2019.
Conforme pode ser observado, na Figura 3, que para os próximos 6 meses, as previsões seguem os
mesmos comportamentos dos valores originais para os respectivos meses de períodos anteriores,
indicando que os modelos ajustados conseguem explicar satisfatoriamente os padrões das séries
estudadas, visto que acompanham as oscilações das séries originais.
Considerando as previsões para cada região, verifica-se que, na Centro-Oeste, ocorre previsão de
crescimento de junho até julho, apresentando decaimento para os próximos períodos observados.
A região Norte apresenta previsão de crescimento de junho a agosto, decaindo nos meses seguintes,
o que pode ser explicado pelo fim da safra.

Para a região Sul observa-se variação crescente e decrescente para os valores previstos, estabilizando
no final do período de previsão.

O Sudeste expõe previsão de crescimento até julho e queda gradativa nos meses seguintes. De forma
similar, no Nordeste, ocorre previsão de aumento da produção até o mês de outubro, apresentando,
posteriormente, previsão de queda nos níveis de produção.

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Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

Figura 3. Previsão da produção e série original da produção de Etanol

3 CONCLUSÃO

Dessa maneira, presume-se que os modelos encontrados para realizar as previsões conseguiram
captar a tendência dos valores defasados, projetando o movimento para a produção dos próximos
meses.
A modelagem de séries temporais é uma metodologia que inclui a análise do comportamento de
registros históricos, possibilitando, com isso, tomada de decisões estratégicas. O propósito da

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Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

pesquisa foi realizar a previsão da produção do etanol, para as regiões brasileiras, no período de junho
até novembro de 2019, com o objetivo de colaborar com as políticas públicas e estratégicas
relacionadas com a geração de fontes renováveis de energia.
Além disso, buscou-se apresentar um pouco da caracterização e da evolução da produção de etanol
no Brasil, juntamente com as principais fases da metodologia proposta por Box & Jenkins (modelos
ARIMA), a qual envolve a identificação e estimação dos parâmetros do modelo, diagnóstico de
verificação de adequação e previsão.
O método empregado foi eficaz no ajuste dos modelos de previsão para as regiões brasileiras, e na
determinação dos valores previstos a curto prazo. Por meio dessa análise foi possível identificar quais
regiões tem maior produção real e prevista de etanol no Brasil.
Devido a relevância dessa metodologia, na análise do comportamento de séries temporais, pode-se
concluir que as previsões obtidas podem contribuir no planejamento, controle e eficácia processos de
gestão em muitas áreas.
Em geral, a previsão da produção do etanol alcançou seu objetivo de projetar os valores conforme o
comportamento inicial da série estudada, expondo os fatores, como sazonalidade e tendência, que
influenciam as observações analisadas no período de tempo.
Dessa forma, considerando o cenário e a urgência por ações que possam promover a sustentabilidade
no país, a contribuição desta pesquisa reside na análise da produção mensal do etanol, na qual,
destaca-se que a utilização de métodos de previsão, como os de Box e Jenkins, se mostram um forte
aliado no controle e planejamento de produtos, de modo em que os valores projetados possam
auxiliar na redução das incertezas da produção ou demanda de um mercado futuro, tornando possível
um planejamento eficiente.

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426
Análise Da Produção Do Etanol No Brasil: Uma Aplicação Da Metodologia De Box & Jenkins

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14
429
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 23
10.37423/200902733

PROPOSTA PARA SISTEMATIZAÇÃO DO


PROCESSO DE REMANUFATURA DE PRODUTOS
REJEITADOS NO CD DE UMA EMPRESA
IMPORTADORA DE ELETRODOMÉSTICOS

Ademir José Demétrio Universidade da Região de Joinville

Claiton Emilio do Amaral Universidade da Região de Joinville

Emerson José Corazza Universidade da Região de Joinville

Gilson João dos Santos Universidade da Região de Joinville

Luiz Carlos da Silva Junior Universidade da Região de Joinville

Marcos Francisco Ietka Universidade da Região de Joinville

Renato Cristofolini Universidade da Região de Joinville

Rosalvo Medeiros Universidade da Região de Joinville


Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta para sistematização do processo de remanufatura dos
produtos rejeitados no centro de distribuição de uma empresa importadora de eletrodomésticos. Para
elaboração dessa proposta foram utilizados indicadores de devoluções e o mapeamento do processo
de encaminhamento dos produtos rejeitados, mostrando a origem do problema até a etapa do
descarte dos produtos. Inicialmente, foram definidas as famílias de produtos que seriam estudadas
para o levantamento dos indicadores. Os indicadores direcionaram os valores para a aplicação da
remanufatura,as tratativas e osmétodos que conduziram as etapas do desenvolvimento das
atividades. Com base nas características dos motivos que originaram o rejeito dos eletrodomésticos e
a estratificação da coleta de dados, foi elaborado uma proposta de atividades no intuito de organizar
e orientar uma possível implementação de mudanças sugeridaspela área da empresa responsável pelo
processo de remanufatura. Essa proposta apresentou como resultado a possibilidade de
reaproveitamento dos produtos rejeitados, proporcionando um retorno financeiro significativo
somado aos ganhos com a redução dos impactos ao meio ambiente. Junto com a proposta foi
mencionado um resultado potencial que colabora com o atendimento do setor de pós-vendas.

Palavras chave: Centro de distribuição, Logística Reversa, Rejeitados, Remanufatura.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

1. INTRODUÇÃO

A proposta de remanufatura foi escolhida em função do novo cenário industrial, que determina
responsabilidade sem relação a destinação dos produtos rejeitados.

A sustentabilidade abrangeaspectos econômicos, sociais e ambientais. Tais aspectos consistem um


processo sistêmico que agrega os interesses da empresa na qual realizou-se a proposta. A sociedade
necessita conhecer e conviver mais com essas atividades sustentáveis, mostrar a necessidade atuais
em relação ao meio ambiente.

Os produtos remanufaturados podem ser mais vantajosos e lucrativos, uma vez que o valor agregado
do produto seja competitivo e a sua aceitação do mercado seja bem explorada. A remanufatura
proporcionará uma redução de custos no processo importador, contribuirá com as condições
estabelecidas e resultará em benefícios para o meio ambiente.Uma das etapas antes da remanufatura
é a logística reversa dos produtos. A logística reversa em um cenário competitivo favorece a
lucratividade e atende os interesses sociais, ambientais e governamentais para a existência da
sustentabilidade.

Para Rogers e Tibben-Lembke (1998), a logística reversa é o processo de planejamento, que


necessitada implementação e controle de fluxo eficientes, do baixo custo de matérias primas, de
estoques em processo e produtos acabados, além de traçar o ponto de consumo até o ponto de
origem, para o propósito de recuperação de valor ou descarte apropriado para a coleta e tratamento
do lixo.

2. REVISÃO DA LITERATURA

A pesquisa abrange especificamente um estudo detalhado nos canais de distribuição e logística


reversa como subsídio para ação estratégica de um centro de distribuição de produtos
eletrodomésticos importados. Enfatiza-se, portanto, a logística reversa e seus objetivos, a
característica de uma distribuição física ou centro de distribuição, e o processo de remanufatura e
suas características.

2.1. LOGÍSTICA REVERSA

A Logística reversa é um processo que ainda está em fase de adaptações e implementação no Brasil e
no mundo. Segundo Leite (2003), a necessidade de atender as solicitações dos clientes e a
preocupação com o meio ambiente, fizeram com que muitas empresas aderissem essa filosofia. Com

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

relação ao meio ambiente, através das legislações ambientais, as empresas têm obrigação em fazer
estudos de descarte de materiais para não haver degradação do mesmo. Diante disso, elaboram
políticas e programas para descartes do lixo industrial e administrativo, e um dos meios para isso é
através da logística reversa. De acordo com Lacerda (2002), a compressão crescente com as margens
derentabilidade acarretada pela internacionalização da economia, leva muitas empresas abuscarem
oportunidades em focos ainda não explorados, por meio de operações inovadoras e mais
competitivas.

2.1.1 A ATIVIDADE DE LOGÍSTICA REVERSA

A abertura de mercados ao comércio internacional, a migração de capitais, a uniformização e a


expansão tecnológica, o avanço do comércio eletrônico e a expansão dos meios de comunicação,
conduzem a uma constante mudança nos hábitos, conceitos e procedimentos das instituições. Há que
se destacar, concomitantemente a essa necessidade competitiva da logística reversa, a contribuição
dessa estratégia para a sustentabilidade social das empresas, cuja reputação implica em aumento ou
diminuição de sua competitividade. Assim, tal logística tem um componente técnico (modo de
operação), um componente social (sustentabilidade) e um componente ambiental (preservação dos
recursos naturais).

A área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas
correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao
ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando valores de diversas naturezas
econômico, ecológico, legal, logístico de imagem corporativa, entre outros. (LEITE, 2003, p.16).

2.1.2 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS

A importância econômica da distribuição, seja sob o aspecto conceitual mercadológico ou sob o


aspecto concreto operacional da distribuição física, revela-se cada vez mais determinante para as
empresas, tendo em vista os crescentes volumes transacionados, decorrentes da globalização dos
produtos e das fusões de empresas, e a necessidade de se ter o produto certo, no local certo, no tempo
certo (LEITE, 2003). Na figura 1 podemos entender o fluxo do canal de distribuição de pós-consumo:

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Fonte: Adaptado de Leite (1999, p24).


Figura 1 - Canais de distribuição de pós-consumo.
Para Rogers e Tibben Lembke (1998) esse processo é geralmente composto por um conjunto de
atividades que uma empresa realiza para coletar, separar, embalar e expedir itens usados, danificados
ou obsoletos dos pontos de consumo até os locais de reprocessamento, revenda ou de descarte.
Existem variantes com relação ao tipo de reprocessamento que os materiais podem ter, dependendo
das condições em que estes entram no sistema de logística reversa, conforme se verifica na figura 2:

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Fonte: Adaptado de LACERDA, 2002, p.478.


Figura 2 - Atividade típica do processo logístico reverso

2.1.3 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS PÓS-VENDA

A logística reversa de pós-venda tem como característica o retorno de produtos com pouco ou
nenhum uso e que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante ou distribuidor ou,
ainda, por insatisfação do consumidor com os produtos (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE,1998). Denomina-
se de logística reversa de pós-venda a área específica de atuação que se ocupa do equacionamento e
operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-venda,
sem uso ou com pouco uso, os quais por diferentes motivos, retornaram aos diferentes elos da cadeia
de distribuição direta. Podemos identificar na figura 3, as áreas de atuação da logística reversa e as
etapas do pós-consumo e do pós-venda, caracterizando suas etapas e o ciclo reverso do processo.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Fonte: Adaptado Leite, 2003, p17


Figura 3 - Atividades típicas do processo logístico reverso

2.2– DISTRIBUIÇÃO FÍSICA

Conforme Novaes (2007 apud GOMES et al., 2012, p.3),ressalta que “algumas empresas, em meados
dos anos 50, depararam-se com a necessidade de transportar seus produtos da fábrica para o depósito
ou para as lojas de seus clientes”. Desde então, a logística evoluiu todos os seus conceitos, processos
de operação e filosofias, sendo um deles a agregação de valor ao produto, separada em valor de lugar,
tempo, qualidade e informação NOVAES (2007 apud GOMES et al., 2012, p.3). Segundo Kobayashi
(2000 apud HENRIQUE, 2005, p.23), o sistema de distribuição física é formado por “percursos
logísticos”, “bases logísticas” e por um “sistema de gestão”, conforme a figura 4.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Fonte: Kobayashi (2000 apud HENRIQUE, 2005, p.23).


Figura 4- Estrutura de distribuição física
Novaes (2007 apud GOMES et al., 2012, p.4), explica que “nas operações de distribuição física, temos
empresas varejistas, transportadoras e atacadistas, que se caracterizam pela distribuição, recebendo
as mercadorias e distribuindo-as de forma fracionada”.A cadeia de distribuição clássica se forma por
um canal de apenas um nível, ou seja, entre o fabricante e o consumidor existe apenas o varejista,
fazendo papel de intermediário (NOVAES, 2007 apud GOMES et al, 2012, p.4). Entretanto, para Ballou
(2009 apud GOMES et al., 2012, p.4), “a distribuição abrange vários níveis, sendo que o varejista não
é o único intermediário, e em alguns casos há um canal direto entre o fabricante e o cliente”.

2.3 REMANUFATURA

A remanufatura é uma estratégia de fim-de-vida do produto que reduz o uso de matérias-primas e


energia de maneira geral. O interesse econômico da remanufatura se deve à preservação total ou
parcial do valor agregado ao produto durante seu design e manufatura. Kerr e Ryan (2001),
consideram a remanufatura a maneira mais eficaz de manter os produtos em um ciclo fechado. Pela
remanufatura os produtos são restaurados para a condição de novos e possuem a mesma função e a
mesma qualidade de produtos novos. Dessa forma, a remanufatura de peças e produtos reduz o custo
ambiental e econômico tanto na manufatura de produtos novos quanto na sua disposição final.

Considerando a remanufatura nas indústrias, Sundin (2004), informa que o processo de remanufatura
é um processo industrial em que volumes consideráveis de produtos similares são reunidos,

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

desmontados e recuperados a fim de ter uma nova vida útil. O produto usado recolhido, chamado de
core, é inspecionado e desmontado e então passa pelas seguintes etapas: testes, reparos, limpeza,
inspeção das partes, atualização, substituição de peças e remontagem.

O segmento de produtos remanufaturados atualmente atende uma pequena participação no


mercado. De acordo com Leite (2009), consequentemente, ações convenientemente dirigidas à
preservação ambiental dentro dessa visão contributiva de marketing social e ambiental, certamente
serão recompensadas com salutares retornos de uma imagem diferenciada como vantagem
competitiva.

2.3.1 O SISTEMA DA REMANUFATURA

O sistema da remanufatura é mais amplo e mais complexo que o processo em si, pois envolve todos
os processos internos e externos da produção, desde o recolhimento do produto usado até a
distribuição e acompanhamento do produto remanufaturados. A figura 5 mostra o sistema de
remanufatura, que é definido como o sistema de coleta de produtos usados, remanufatura do produto
e entrega do produto remanufaturados ao cliente.

Fonte: adaptado de ÖSTLIN, 2008.


Figura 5 - O sistema de remanufatura
No planejamento tradicional, esclarecem Corrêa, Gianesi e Caon (1997), os produtos possuem uma
lista técnica contendo a estrutura de componentes e a ficha de processos de fabricação.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
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Krikke (1998) estabelece cinco níveis em que os produtos retornados podem ser recuperados: nível de
produto, módulo, partes, recuperação seletiva de partes e material.

2.3.2 MOTIVOS PARA REMANUFATURAR

As principais motivações que levam as empresas a se engajar na remanufatura são econômicas,


ecológica ou relativas às legislações e normas. Östlin, Sundin e Björkman (2008), salientam que a
principal resposta dada por empreendedores quando questionados sobre os motivos pelo qual
praticam a remanufatura é o retorno econômico. A remanufatura é capaz de acarretar reduções de
custos tanto para o remanufaturador quando para o consumidor (ÖSTLIN,2008). Em muitos casos, de
acordo com Östlin, Sundin e Björkman (2008), a remanufatura apresenta-se como uma política
estratégica da empresa, e tem como objetivo proteger a marca e os produtos contra o mercado de
segunda mão.

Produtos remanufaturados sem preocupações ambientais podem causar impactos negativos ao meio
ambiente, especialmente quando se trata de produto cujo principal impacto ambiental está na fase
de uso. Os principais motivadores para que uma empresa ingresse em um sistema de remanufatura
podem ser sintetizados em: lucro, políticas empresariais e considerações ambientais. Contudo, um
sistema de remanufatura bem-sucedido não precisa estar fundamenta do nesses três aspectos.

3. MÉTODOS E APLICAÇÕES PRÁTICAS

Quando tratamos de produtos importados, na empresa estudada, o intervalo de tempo da expedição


até o recebimento no centro de distribuição gira em torno de 90 a 120 dias dependo dos processos
alfandegários. Em outros casos, alguma falha na produção resulta em produtos com problemas
funcionais e com informações erradas, que no decorrer do processo passavam pelo centro de
distribuição e eram relatados pelos clientes. Esses produtos são rejeitados e destinados ao descarte
no final de cada mês. Em muitos casos aguardam um longo periódo devido as normas e legislações
que balizam esse processo. Sendo uma problema para empresa, as pesquisas e aplicações poderão
proporciona uma oportunidade de valoriazação desse produtos e colaborando com a
sustentabilidade.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS DESCARTES

O descarte dos produtos rejeitados que não são direcionados para a comercialização é realizado no
final de cada mês. Essa venda tem a participação principal da área de Pós-Vendas da empresa que

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

realiza um leilão com empresas interessadas em reutilização e que estão aptas para destinar o fim
legal para os produtos. A quantidade de produtos do primeiro trimestre de 2015 atingiu 1.877
unidades, sendo que nesse mesmo periódo no ano de 2014 representava 556 unidades descartadas
evidenciando um aumento de 237% em 2015.

Estratificando os dados do histórico do ano 2014, podemos destacar os motivos que originaram o
descarte desses produtos. Na figura 6 mostra-se o Gráfico de Pareto com motivos e a participação no
acumulado geral dos produtos rejeitados descartados.

Fonte: primária.
Figura 6 – Gráfico de Pareto do descarte por motivos
Sabendo os índices e seus respectivos motivos, podemos destacar a possibilidade de recuperação de
produtos na classificação de dois dos três motivos relacionados.

Com o surgimento dessa oportunidade de recuperação, estudou as características de cada modelo


conforme o quadro 1, onde caracteriza-se cada os principais motivos de devolução.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

Fonte: primária.
Quadro 1 - Quadro de característica dos motivos e responsáveis

3.2 NECESSIDADE DO ESTUDO

Após realizar a coleta dos dados do primeiro trimestre do ano de 2015, a estratificação desses dados
resultou em uma margem de produtos rejeitados por motivos que possibilitam uma tratativa e
recuperação do produto, sendo que o descarte de avarias no produto correspondem 1%, descarte por
garantia representa 3% e o descarte por qualidade do produto totalizam 96%.

A participação dos produtos de origem da “qualidade produto” representa 96% de todos dos descartes
do primeiro trimestre do ano de 2015, representado pela quantidade de 1.800 unidades descartadas.
Para entender esse índice, a figura 7 apresenta o diagrama de causa e efeito das devoluções por esse
motivo de qualidade e seus principais desvios e falhas com o foco no motivo de qualidade do produto.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
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Fonte: primária.
Figura 7 - Diagrama de causa e efeitos dos produtos descartados.
Na figura 8 representou-se o processo de devolução por qualidade do produto. As etapas configuram
as atividades que dão origem do produto para o seu descarte. A falta de critérios e avaliações nesse
processo gera um passivo e um prejuízo no faturamento da empresa.

Fonte: primária.
Figura 8 - Mapa do processo de devolução de qualidade do produto

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

3.3 PROPOSTA DE REMANUFATURA

A fim de reaproveitar os produtos rejeitados no centro de distribuição da empresa importadora de


eletrodomésticos, a proposta em questão envolve vários setores diretamente para a aplicação e
estruturação das atividades da remanufatura. A inicialização desse processo começa pela segregação
dos produtos rejeitados em uma área determinada no estoque e que seja identificada por uma
etiqueta diferenciada.

Um fator importante desse processo é a identificação diferenciada dos produtos que serão
remanufaturados, assim que não ocorra uma mistura dos produtos rejeitados com os produtos no
fluxo de faturamento. A segregação será vinculada com classificação e identificação por cada produto
inspecionado. Sua classificação passará por três etapas de destinação o desenvolvimento das
atividades. Com o propósito de remanufaturar os produtos rejeitados por motivo de qualidade e
avarias no produto, a principal atividade é a inspeção funcional, onde já podemos descartar os
produtos que não apresentam a possibilidade de remanufatura no primeiro estágio. Esse primeiro
estágio é realizado com a orientação de um check-list idêntico ao realizado com os produtos
importados no ato do recebimento. Dessa forma, podemos avaliar o produto com a visão de um novo.

Nesse primeiro estágio, o técnico responsável pela análise relaciona todas as necessidades para a
recuperação simples do produto, podendo anotar desde uma troca de embalagem até a reposição de
algum acessório faltante ou danificado. No segundo estágio, querefere-se aos produtos que não
passaram pela aprovação na avaliação funcional, isto é, apresentaram algum tipo de falha nas funções
básicas requisitadas nas orientações do check-list do produto. Nessa etapa, o técnico relata o
problema do produto e verifica a possibilidade de recuperar o produto com a condição e utilização de
peças e componentes disponíveis no momento. No último estágio do processo, o técnico classifica o
produto para a desmontagem e reuso das peças reutilizáveis e descarta os materiais restantes para
reciclagem. Nesse estágio o produto não apresenta a viabilidade de recuperação por apresentar
problemas estruturais e técnicos de alto custo operacional. Porém, há a possibilidade de criação de
um estoque de peças de reposição para suprir as necessidades do segundo estágio do processo de
remanufatura, quando o técnico lista as necessidades para recuperar o produto.

Para um melhor entendimento, o Anexo Aapresenta a proposta do mapa do processo de remanufatura


desenhado para o centro de distribuição de uma empresa importadoras de eletrodoméstico. Em um
segundo momento, foram separados 100 produtos de qualquer modelo que foram rejeitados para o
descarte. Nesse produtosforam realizadas inspeções conforme o processo proposto cujo resultado foi

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

evidente que 47% dos produtos apresentavam características de recuperação, ou seja, apenas alguns
reparos no seu sistema funcional, assim sendo remanufaturado no segundo estágio. Os produtos para
remanufatura no primeiro estágio tiveram uma participação de 31%, e outros 22% destinados para o
reuso de peças, que será realizado no terceiro estágio.

4 RESULTADOS POTENCIAIS

Com a aplicação da proposta em prática, além do novo segmento que a empresa poderá atuar,
mostrando sua competitividade e responsabilidade quanto a sustentabilidade, o retorno econômico
será um recurso para manter os custos e projetar investimento para a aplicação da remanufatura em
outros centros de distribuição e até mesmos nas outrasplantas fabris da empresa. Com isso, criando
um ciclo sustentável em todos os seus segmentos de produtos.

Outro fator que resultará em benefício para empresa é o atendimento para o setor de pós-vendas e
garantia, onde o tempo de entrega de peças para atender um cliente em especial poderá ser reduzido,
caso no processo de remanufatura identifique-se necessidades para o atendimento. Uma das
consequências importantes da aplicação da remanufatura no centro de distribuição é a criação de um
estoque de peças remanufaturas para atender as assistências técnicas autorizadas da empresa. Com
isso, otimiza-se todos os recursos proporcionados da remanufatura e reduz-se o tempo de espera das
peças requisitadas para a fábrica.

5. CONCLUSÃO

Através da pesquisa, procurou-se mostrar a logística reversa voltada à recuperação de produtos. O


processo de logística reversa em questão caracterizou-se como sendo de devoluções, com foco na
reutilização dos produtos inspecionados e rejeitados no centro de distribuição, por meio da atividade
de remanufatura, cujos elementos direcionadores foram questões econômicas e de responsabilidade
ambiental.

Assim, a atividade de remanufatura e logística reversa, que se resumem à combinação de eficiência


econômica com respeito ao meio ambiente, passam pela busca da maior eficiência na utilização dos
recursos de um sistema econômico.

Para a implantação da proposta é preciso o consenso de todas as áreas legais da empresa importadora
de produtos eletrodomésticos. De modo que a comunicação e os interesses estejam alinhados e que

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

isso se transforme em uma oportunidade para o investimento e a elaboração estrutural do processo,


já que trata-se de um novo segmento.

A proposta condiz com os objetivos e visões da empresa, cujos resultados poderão sersignificativos
quando comparados aos indicadores informados. O segmento, no entanto, é uma tendência das novas
diretrizes ambientais governamentais que responsabiliza a empresa pelo o seu produto desde a
criação até o seu pós-consumo.

As possibilidades dessa proposta, cria expectativas de expansão em outras unidades da empresa no


intuito de minimizar os estoques de produtos rejeitados estruturando o processo de remanufatura em
todas as linhas de produtos.

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Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De
Eletrodomésticos

6. BIBLIOGRAFIA

CORRÊA, H.; GIANESI, I. G. N. e CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP


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SUNDIN, E.Product and Process Desing for Successful Remanufacturing PhD Dissertations, Linköping’s
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16
446
Proposta Para Sistematização Do Processo De Remanufatura De Produtos Rejeitados No CD De Uma Empresa Importadora De Eletrodomésticos

Fonte: primária.

ANEXO A – Mapa de processo dos produtos remanufaturados

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Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 24
10.37423/200902755

MELHORIAS NAS ÁREAS DE ARMAZENAMENTO


E EXPEDIÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA
MULTINACIONAL DO SETOR ALIMENTÍCIO

Nilton dos Santos Portugal Centro Universitário do Sul de Minas - Unis-


MG

Ana Cláudia Oliveira Eugenio Centro Universitário do Sul de Minas - Unis-


MG

Gustavo Rabelo Garcia Centro Universitário do Sul de Minas - Unis-


MG

Lucas Rosa Paiva Centro Universitário do Sul de Minas - Unis-


MG

Roger Antônio Rodrigues Centro Universitário do Sul de Minas - Unis-


MG
Melhorias Na Área De Armazenamento E Expedição: Um Estudo De Caso Em Uma Multinacional Do Setor Alimentício

Resumo: O presente trabalho analisa os obstáculos enfrentados pela separação e expedição de


produtos acabados em uma multinacional do ramo alimentício, onde falhas nesse processo têm
impacto direto na qualidade de entrega para o cliente. Tal abordagem é relevante, pois mostra que a
organização bem como a definição de responsabilidades, monitoramento dos processos e a
comunicação são essenciais para um planejamento eficaz que refletirá em uma expedição eficiente. O
propósito foi analisar o processo existente e propor um novo fluxo que garantisse boa desenvoltura
das atividades com o aumento da demanda, sem que fosse necessário aumentar a mão de obra –
resultado alcançado. O estudo se embasou no método da pesquisaação realizada através de coleta de
dados e da vivência dos pesquisadores no próprio processo. A partir das evidências de falhas e
problemas foram propostas ações que proporcionassem a redução dos gargalos, a otimização do
tempo e as melhorias em todo o processo, resultados que podem ser observados ao final do artigo.

Palavras-chave: Organização. Racionalização. Layout. Poka Yoke.

1
449
Melhorias Na Área De Armazenamento E Expedição: Um Estudo De Caso Em Uma Multinacional Do Setor Alimentício

1. INTRODUÇÃO

A competitividade tem se tornado cada vez mais agressiva, o conceito de qualidade engloba muito
mais que a funcionalidade de um produto e as empresas que conseguem atingir esse target acabam
por ter seu lugar no mercado garantido. A satisfação do cliente deve ser o principal objetivo a ser
alcançado e para mantê-la faz-se necessário um trabalho organizado e sistêmico que garanta a
eficiência e a entrega desejada, despertando na clientela a confiabilidade e a fidelidade.

O objetivo deste estudo foi levantar falhas e problemas que impactavam na execução de atividades e
desempenho dos setores de armazenamento e expedição dos produtos acabados em uma
multinacional do ramo alimentício. Além disso, a proposição de melhorias, bem como a
implementação de novos procedimentos, processos e ferramentas de gerenciamento contribuíram
diretamente para as melhorias e o consequente sucesso da pesquisa. Ressalta-se ainda que o
envolvimento de toda equipe e o comprometimento das lideranças se caracterizaram como fatores
fundamentais para os resultados alcançados.

Comprovar a importância de um setor organizado com definição de responsabilidades e padronização


de processos para atender aos clientes com qualidade e confiança nos serviços foi possível por meio
do conhecimento de cada necessidade e da importância de cada atividade dos setores em estudo,
mapeando suas restrições, reorganizando a sistemática dos estoques e o layout e implementando
princípios como o Poka Yoke, fazendo com que os processos que envolviam a separação e a expedição
passassem a acontecer dentro de um escopo de eficiência, contribuindo nas operações de separação
e expedição e, por conseguinte, para aumento da carga de trabalho e resultados.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Uma organização é a coordenação de diferentes atividades e contribuintes que têm como finalidade
principal efetuar transações planejadas com o ambiente. Toda organização atua em determinado meio
ambiente e sua existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio
(MIGUEL, 2008).

As mudanças e o desenvolvimento são esforços complexos que as organizações necessitam despender


constantemente para mudar junto com o mercado e com a evolução das tecnologias a fim de superar
os desafios e os problemas de novos cenários mercadológicos e das exigências cada vez maiores de
seus clientes. Para Motta e Vasconcelos (2006), o desenvolvimento é estabelecido a partir da
tecnologia, da estrutura social e das necessidades, compreendendo ainda a gestão de pessoas. O

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Melhorias Na Área De Armazenamento E Expedição: Um Estudo De Caso Em Uma Multinacional Do Setor Alimentício

comprometimento de todos com o objetivo da organização é que impulsiona todo o processo (GOMES
2001).

Segundo Maravieski e Francisco (2006), as mudanças exigem uma nova concepção do ambiente de
trabalho na empresa e não são apenas ideias ou substituição de procedimentos. Ainda os autores,
defendem que é uma inovação ou uma melhoria através da intervenção social que deve ser planejada
a fim de ser autossustentada e direcionada.

Toda mudança, de acordo com Neiva e Paz (2012), deve ser apoiada pelos gestores e apoiada pelo
indivíduo para que efetivamente aconteça. Nesse contexto, a comunicação é um fator de suma
importância no desenvolvimento, já que os colaboradores precisam ter acesso às informações claras
e objetivas para digerirem e se ajustarem as mudanças.

A racionalização de procedimentos operacionais, a divisão de funções e a implantação de controles


das atividades executadas são possíveis por meio da organização racional. Para Lima et al. (2010), uma
vez definido como e quem deve executar as atividades se faz necessário padronizá-las e documentá-
las para dessa forma haja lógica e clareza em seu desenvolvimento permitindo que qualquer pessoa
possa realizar o processo sem dúvidas ou dificuldades.

A preocupação das organizações com a eficiência dos elementos que atuam nos processos tendo em
vistas possíveis e constantes melhorias é a base para se entender as restrições de uma empresa e seus
processos, lembrando que restrição (ou gargalo) é qualquer evento que impeça ou limite a
movimentação das atividades e a operação como um todo, prejudicando o desempenho da empresa
(JUNIOR, 2012).

De acordo com Pacheco (2014), a Teoria das Restrições pode ser utilizada como mecanismo de
gerenciamento e controle, sendo um importante instrumento da gestão da produção e da logística.
Segundo Goldratt (1996), ao definir seus objetivos, toda e qualquer empresa deve identificar quais as
restrições (gargalos) podem impedir o alcance dos mesmos.

Todos os membros da equipe precisam estar envolvidos, ter consciência da importância que a
restrição ocupa e trabalhar com atenção nos gargalos que restringem os resultados (PACHECO, 2014).

2.1. GESTÃO DE ESTOQUES

Segundo Zorzo (2015), a gestão de estoque tem grande destaque nas organizações. As ações de
entender, controlar, gerenciar e planejar os estoques são pontos chaves para as empresas alcançarem

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o sucesso. Para o autor, o objetivo básico da gestão de estoques deve ser o de evitar da falta de
material sem que esta resulte em estoques excessivos as reais necessidades de demandas.

Para Neto e Silva (2006), os estoques existem para que o nível de operação de uma empresa seja
eficaz, além de incentivar a economia nos custos da produção, ser uma segurança referente ao
aumento de preços e assegurar a organização contra contingências.

Objetivando um melhor gerenciamento e controles destes ativos são criados os inventários físicos que,
retomando Zorzo (2015), podem ser periódicos ou rotativos. Esses inventários são validados através
da verificação da acurácia, podendo ser obtida através da seguinte fórmula:

Para auxiliar na verificação da acurácia do estoque devem-se entender os seus diferentes métodos de
elaboração dos inventários, como demonstrado no Quadro 1 a seguir. O inventário físico é a contagem
física de todos os itens que existem no estoque. Quando alguma divergência é encontrada, o estoque
deve ser ajustado conforme orientação do setor de controle ou departamento contábil
independentemente do tipo de inventário realizado.

Fonte: Adaptado de Sucupira e Pedreira (2009).


Quadro 1 – Métodos de elaboração de inventários físicos
As principais vantagens do inventário rotativo são as contagens frequentes dos produtos mais
movimentados no estoque permitindo a orientação para a prevenção de erros e o contínuo
envolvimento da equipe pela percepção de que os estoques devem ser mantidos permanentemente
corretos assim, o monitoramento contínuo dos índices de acuracidade se faz durante a operação em
todos os dias de atividade. O período de contagem é definido de acordo com a necessidade de cada
organização podendo ser semanal, quinzenal ou diário.

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O foco da contagem cíclica não é apenas encontrar eventuais erros no estoque, mas, principalmente,
identificar a causa do erro e corrigi-la, visando reduzir a possibilidade de uma nova ocorrência e
diminuir ou até eliminar perdas. Para Drohomeretiski e Souza (2010), é extremamente importante um
controle eficaz dos saldos físicos, bem como um bom sistema de numeração de peças e também um
sistema de transação simples.

Quando não ocorrem essas verificações ou são mal executadas, resultam em falta de produto, atraso
nas entregas, vendas perdidas, baixa produtividade, cliente insatisfeito, excesso de estoque e perda
de produto. Esses tipos de falhas geram custos irreversíveis para a organização, afetando diretamente
no seu crescimento no mercado. Em alguns casos pode resultar na perda de mercado abrindo espaço
para a concorrência se destacar e ganhar seus possíveis clientes. Neste contexto, a condição de um
estoque confiável se faz importante para atender as demandas de mercado e alcançar novos clientes
(ZORZO, 2015).

Outro ponto importante que diz respeito à gestão dos estoques é a Curva ABC ou Curva de Pareto que,
segundo Lélis (2016), se resume em uma das formas mais comuns de se controlar e analisar um
estoque. Tal análise consiste em verificar, dentro de um determinado espaço de tempo, em valor
monetário ou quantidade, os itens em estoque, classificando-os em ordem de importância.

Os itens mais importantes são classificados como A, os intermediários como B e menos importantes
como C. Através da Curva ABC é possível utilizar a contagem cíclica e fazer uma acuracidade confiável
do estoque. A classificação ABC é definida sobre a regra dos 80/20 onde relata que 20% do volume de
vendas resultam em 80% dos lucros e 80% das vendas correspondem em 20% dos lucros (BOWERSOX
et al., 2007).

Zorzo (2015) ressalva que o método ABC possibilita a verificação do estoque através de prioridade
como o consumo de itens em um determinado estoque, podendo fazer diferentes controles de acordo
com a política interna da empresa.

Para fazer a gestão de estoque além da elaboração de inventários físicos, também podem ser feitos
planejamento de layout que facilitem a armazenagem dos produtos, melhorando, consequentemente,
a gestão e a atividade de separação dos pedidos.

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2.2. LAYOUT NA GESTÃO DE ESTOQUES

O layout é de extrema importância na gestão de estoques, pois, segundo Ritzman e Krajewski (2004),
é a criação de um plano preciso e detalhado que busca a organização em um determinado espaço
aproveitando ao máximo os recursos de uma organização.

Os layouts ou arranjos físicos são classificados em: (a) arranjo físico posicional: onde as maquinas,
equipamentos, instalações e pessoas movem-se na medida do necessário para transformar o recurso;
(b) arranjo físico por processo: os recursos transformadores é que ditam como deve ser o arranjo
físico. Neste caso, processos que tem necessidade dos mesmos recursos são agrupados para a
transformação; (c) arranjo físico celular: junta os recursos a serem transformados que tem processos
ou partes semelhantes para que essas partes sejam executadas e depois seguem cada uma para sua
célula de acordo com sua necessidade de transformação; (d) arranjo físico por produto: aquele que o
recurso transformador vai até o recurso a ser transformado. Segue-se uma sequência definida e
imutável, resultando em um fluxo claro e definido para o produto, tornando-se relativamente fácil de
controlar.

Zorzo (2015) destaca que para o planejamento correto do layout é necessário entender o fluxo dos
produtos, que está diretamente relacionado com a dinâmica do sistema, como por exemplo, a
expedição que envolve o fluxo do produto acabado para separação e envio dos pedidos dos clientes.
Dessa forma, é possível relacionar distribuição do layout com bom desempenho dos estoques, pois o
armazenamento adequado dos produtos facilita a locomoção, contagem e separação dos produtos no
setor de armazenagem e expedição de uma organização.

A probabilidade de haver itens diferentes misturados em um mesmo local é reduzida, pois os produtos
são separados por tipos e segmento. Outro quesito importante é a separação dos itens com
características distintas, como os que têm cheiro forte e não podem ficar próximos a outros produtos
que podem sofrer contaminação ou reajam a essa característica.

O layout na gestão de estoque traz uma solução tanto para a contagem mais rápida e precisa quanto
para a otimização do processo de separação dos produtos para expedição, pois os itens agrupados
facilitam ambas as atividades trazendo melhor eficiência para os processos como também viabilizando
uma organização eficaz do setor.

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2.3. POKA YOKE

O Poka Yoke foi criado para operacionalizar o Controle de Qualidade Zero Defeitos (CQZD), em 1961,
na Toyota Motor Company, o significado do termo é evitar ou prevenir erros. Estes são dispositivos de
detecção de anormalidades e tem por objetivo viabilizar a inspeção na fonte não permitindo a
produção de produtos defeituosos e dando um rápido feedback do problema. Em sua maioria, são
utilizados para garantir que não ocorram falhas ou erros humanos no trabalho (JUNIOR, 2012).

A utilização do Poka Yoke auxilia na eliminação das restrições, pois, de acordo com Junior (2012), este
conceito auxilia na prevenção de falhas ou erros em processos de produtos, fazendo a detecção,
eliminando a necessidade de inspeções e controles adicionais.

Consul (2015) ressalta que o Poka Yoke pode substituir alguns tipos de inspeção, a fim de evitar
procedimentos desnecessários. O autor ainda relata que existem dois tipos de Poka Yoke: (1) o de
produto, que são algumas ferramentas visuais e (2) o de processo como os sensores de presença, e
eles podem ser aplicados de diferentes formas: (a) controle: tem como objetivo identificar e selecionar
falhas, podendo eliminar o erro do processo ou parar para fazer correções;

(b) advertência: evita o processamento de um produto ou serviço com uma falha em potencial, sendo
ativado através de sinais luminoso, sonoros, entre outros; (c) posicionamento: dispositivos que só
permitem a realização de operações se o posicionamento estiver correto; (d) contato: a liberação da
operação só ocorre a partir do contato com sistemas de sensores; (e) contagem: esse dispositivo atua
por meio da contagem dos produtos, realizada através da análise das características de conformidade;
(f) comparação: esses dispositivo faz a comparação de grandeza físicas como temperatura, torque,
pressão entre outras.

O Poka Yoke permite que os erros ou as falhas sejam minimizadas ou eliminadas e para que seja eficaz
sua aplicação, segundo Consul (2015), é necessário que os envolvidos conheçam o tipo de Poka Yoke
que utilizam, para que seus alertas sejam respeitados e as falhas solucionadas.

3. METODOLOGIA

Este trabalho é considerado de natureza aplicada, por ser dirigido a gerar soluções para os problemas
existentes, considerando os interesses do processo/produto a ser estudado, envolvendo a rotina local
e objetivando gerar conhecimentos para aplicação prática. Com base nos objetivos, de acordo com Gil
(2010), classifica-se por descritivo por exigir a busca por informações, o levantamento de dados sobre
o objeto de pesquisa e descrever os fatos e realidades em estudo (TRIVIÑOS, 2009).

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Por meio de um estudo de caso detectou-se falhas e problemas, desenvolveu-se argumentos lógicos
e propôs-se soluções. Utilizou-se de análises documentais de indicadores dos setores de
armazenamento e expedição e da pesquisa-ação propor a modificação da realidade através de ações
para solucionar falhas e problemas do objeto de pesquisa.

É importante ressaltar que não se tratou apenas de levantamento de dados e propostas de melhorias,
focou-se significativamente em melhorias significativas e reais nos processos, exigindo dos
pesquisadores a vivência e participação das ações propostas e os relatos dos acontecimentos e
resultados.

3.1. O CASO EM ESTUDO

A empresa em estudo é líder mundial em sabor e nutrição alimentar, servindo a indústria de alimentos
e bebidas, e um fornecedor líder de marcas de valor agregado e alimentos de marca para os mercados
irlandês e britânico.

Fornece mais de 15.000 alimentos, ingredientes alimentares e produtos de sabor para clientes em
mais de 140 países em todo o mundo. Estabeleceram instalações de produção em 24 países diferentes
e escritórios de vendas internacionais em 20 outros países em todo o mundo.

Abrangendo todas as principais categorias de alimentos, suas principais tecnologias em recursos


globais em culinária fornecem soluções de produtos inovadores e práticos para fabricantes de
alimentos e empresas de serviços de alimentação.

No Sul de Minas, a sua filial, unidade em que se desenvolveu a presente pesquisa, emprega pouco
mais de 600 funcionários. Atua no mercado de lácteos, xaropes, funcionais, condimentos e
panificações. Entre seus principais clientes nacionais estão a BRF, Seara, Pepsico, Coca Cola, Martin
Brower, JDE.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A otimização do processo de separação e expedição de produtos é válida para atender as demandas


do mercado, porém quando mal gerenciada, causa grandes transtornos e se torna um obstáculo na
execução das atividades, gerando problemas que afetam não apenas a empresa, mas também todo
planejamento e programação de um cliente o que faz com que a empresa perca espaço no mercado
em que atua, quando na verdade seu principal objetivo é fidelizar seus clientes e se tornar mais
competitiva.

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O processo de separação e expedição dos produtos da empresa estudada é complexo devido ao alto
volume de embarques diários e ao fato de ter muitos produtos similares, com códigos e nomes
semelhantes. Toda a operação é manual e as atenções dos operadores devem estar totalmente
focadas na execução de suas atividades, porém, a maior parte dos colaboradores realizava a mesma
atividade de acordo com a disposição e vontade de cada um, não tinham comprometimento com o
trabalho, à comunicação não fluía. Operadores sem treinamento e autorização para operar os
equipamentos não se importavam em manuseá-los e a falta de competência gerava muitas avarias
tanto de estruturas quanto de produtos aumentando os custos do setor.

A liderança do setor passava a maior parte do tempo à procura de itens que não eram encontrados no
endereço apontado pelo sistema o que gerava dúvida quanto sua existência, estes itens denominados
“perdidos” poderiam estar em outro endereço ou já não existir mais no estoque, porém, não havendo
a correta transferência ou baixa no sistema, passa a informação errada de que o produto estava
disponível para venda. Tais divergências afetavam diretamente a entrega do produto, portanto eram
vistas como prioridades para solução. Geralmente, o produto “perdido” não era encontrado sendo
necessária a intervenção do PCP para entrar com o item em produção no dia do embarque e não afetar
a entrega. Os itens de produção e faturamento no mesmo dia são denominados “suspensos” e devem
ser embarcados no dia solicitado, porém depois de produzidos necessitam de tempo para análises e
liberações, obrigando a participação do setor de qualidade que, na maioria das vezes, não tomava
conhecimento da urgência para embarque no mesmo dia de produção.

Somado a todas essas falhas, ainda tinha o tempo desperdiçado na separação dos itens que eram
armazenados aleatoriamente no armazém. Produtos de mesma família e seguimento estavam
espalhados desordenadamente. Um mesmo lote poderia ser encontrado nas mais diversas posições
por todo o armazém, o que gerava um considerável desperdício de tempo e movimentos para separar
um pedido. Não eram levadas em consideração as características específicas de alguns produtos que
precisavam de condições especiais de armazenamento, chegando essas negligencias a gerar
contaminações cruzadas de produtos que não detectadas internamente, eram faturadas para os
clientes.

O trabalho em equipe não era enraizado e a falta da comunicação entre o líder e os colaboradores
afetava o desempenho geral do setor. Dificuldades como não conseguir enxergar as restrições dos
clientes eram desconsideradas e as reclamações continuavam a chegar a grande escala a ponto de
todo problema reclamado pelos clientes serem fechados para do setor de armazenamento e

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expedição de produtos acabados por sua ineficiência demostrada sobre a falta de organização e
controle de suas atividades, antes de serem investigadas a fundo.

Em 2016, a média para finalizar o processo de expedição era até as 22hs30min, com uma média de
volume de vendas de 146 toneladas/dia, tendo uma média de 22 itens/dia de suspensos, estes não
eram monitorados e no fim do processo é que os responsáveis iriam verificar se o produto estava
pronto. Algumas vezes os veículos não eram liberados por não ter finalizado a produção do item ou
de análise além de gerar horas extras que contribuíam para aumentar o custo do setor e não resolviam
as falhas.

Todos esses fatores contribuíam para a insatisfação dos clientes. De acordo com o Gráfico 1, o número
de reclamações mensais, antes do início do projeto de melhorias foi de 58 reclamações, sendo
responsável por 24% do volume total de reclamações da empresa.

Fonte: Dos autores (2017)


Gráfico 1 – Indicador de Reclamações Armazém PA – 2016
Após levantar todos os dados supracitados, o primeiro passo foi realizar um mapeamento do fluxo dos
processos desde o recebimento das ordens de separação até suas respectivas expedições,
considerando toda atividade executada para os pedidos com itens em suspenso envolvendo todos os
setores necessários para o funcionamento do fluxo até a liberação do veículo na saída da portaria da
empresa. Tal mapeamento busca tornar as atividades mais organizadas e controladas possibilitando
uma visão ampla e clara de toda a operação, permitindo melhor eficiência e monitoramento das
etapas.

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Durante a execução do mapeamento de processo, as causas relacionadas às reclamações foram


levantadas conforme as falhas existentes nos processos que eram realizadas antes de iniciar o projeto
de melhorias.

4.1 MELHORIAS PROPOSTAS E IMPLEMENTADAS

A fim de identificar os gargalos existentes no processo de separação e expedição de produtos acabados


da empresa foram estudados cada procedimento, desde a saída do produto da linha de produção para
armazenamento até a liberação do veículo na saída da portaria da empresa.

Com o estudo realizado, um novo mapeamento foi definido e as rotinas das atividades todas
padronizadas.

As ações, de acordo com a Quadro 2, foram definidas e implementadas objetivando um controle mais
eficiente de algumas atividades que, embora aparentassem simples, se não realizadas ordenadamente
tornavam-se transtornos e gargalos. Prevenir problemas e executar ações antes que eles ocorressem,
foi um ponto importante na gestão dessa operação que permitiu uma flexibilidade para tomar
decisões assertivas sem maiores impactos.

Fonte: Dos autores (2017).


Quadro 2 – Ações necessárias

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Melhorias na área de armazenamento também foram realizadas considerando o melhor layout para
condicionar a execução do processo de separação com eficiência a fim de diminuir desperdício de
tempos e movimentos, pois estando os produtos de mesma família armazenados em um mesmo
corredor poder-se-ia reduzir os deslocamentos para a separação dos itens. Para que essa ação fosse
possível, uma revisão dos produtos e suas características foram realizadas para identificar quais itens
poderiam ficar próximos sem que causassem interferência na funcionalidade um do outro. Esta ação
se estendeu para a área de picking e as cargas consolidadas para transporte no mesmo veículo
passaram a considerar a diferença e restrição de cada produto refletindo na redução de contaminação
cruzada.

É importante pontuar que a modificação do layout favoreceu a execução das contagens cíclicas, uma
vez que diariamente os itens seriam contados de acordo com um plano pré- definido e estando
agrupados possibilitou a contagem de mais produtos por dia, tornando melhor a acuracidade, o que
contribuiu para a redução das divergências de estoques.

4.2 RESTRIÇÕES DOS CLIENTES

O diferencial de toda empresa é o que a faz ser única no ramo de suas atividades. Considerando a
satisfação dos clientes como um dos seus principais objetivos, a empresa aceita as mais diversas
restrições, tendo uma ampla lista de pedidos que se limitam as mais diversas condições de acordo com
a necessidade de cada cliente. Uma dificuldade que a equipe de separação e conferência vivenciava,
era conseguir atender todas essas restrições sendo que na consolidação de pedidos não era fácil de
enxergá-las. Um mesmo lote podia ser embarcado para um cliente, enquanto que para outro a sua
validade já não atenderia suas necessidades.

Outro exemplo era o de remontagem das cargas, para um cliente era preferível mandar todos os itens
solicitados no mesmo pallet, para outro, essa condição já dificultava seu processo, assim a melhor
maneira de realizar a separação, seria tendo em mãos o pedido de cada cliente, onde todas as suas
restrições e necessidades para manipulação e transporte do seu pedido estavam cadastradas de forma
clara, simples e objetiva não permitindo haver dúvidas na sua solicitação.

Para melhorar ainda mais a separação de itens com restrições de validade, ao imprimir o pedido, os
lotes que não estavam atendendo a solicitação do cliente eram sinalizados com dois asteriscos (**)
para que ao separar e conferir a carga o operador conseguisse rapidamente visualizar essa restrição.
Pedidos com lotes que tem restrições de validade, somente são embarcados mediante a autorização

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do cliente, essa autorização é impressa e anexada ao pedido o que auxilia o operador a realizar seu
processo com segurança e munido com as informações necessárias para fazê-lo.

As identificações das cargas precisavam ser mais visuais para evitar perdas de tempo ao procurar o
pedido do cliente e prevenir que pedidos fossem carregados errados (trocados), fato que ocorria com
frequência e gerava um retrabalho de processo ao ter que descarregar um veículo que já estava pronto
para seguir com as entregas. Assim, criou-se uma etiqueta que continha os principais dados para
identificação rápida dos pedidos.

A comunicação da equipe de expedição com a portaria para liberação de veículos era restrita e
demorada, o que gerava um grande número de espera para carregamento. Implantou-se a
comunicação via rádio para que não houvesse intermédio entre a comunicação dos dois setores que
antes era feita pelo setor administrativo que, por sua vez, não tinha todas as informações da carga
pronta para embarque. Assim, os veículos que já tinham suas cargas prontas e remontadas para
embarques eram liberados rapidamente, diminuindo a fila de espera (feita antes por ordem de
chegada) e otimizando o fluxo de liberação das cargas.

A equipe de expedição passou a ter suporte para executar suas atividades, sendo seus esforços
voltados exclusivamente para o processo de separação, conferência e carregamento. Qualquer
problema ou situação diferente desse escopo passou a ser direcionado para o responsável por buscar
as soluções e entregar as ações que tornasse possível a realização da atividade sem dúvidas para a
equipe, porém para que fosse possível, um trabalho de conscientização teve que ser desenvolvido
para que os colaboradores passassem a não aceitar qualquer situação como normal.

Todos os envolvidos precisavam de visão crítica de todo o processo e por meio da discussão de
exemplos vivenciados no dia a dia esse valor foi sendo incluído na equipe. Esta passou a questionar
seus processos e qual a finalidade de realiza-los para que conhecendo e entendendo todo o fluxo
pudessem detectar o que não era normal e questionar a situação evitando executar as atividades de
maneira instintiva independentemente da situação apresentada.

Comparando os indicadores do setor entre 2016 e 2017, verifica-se que as melhorias realizadas
resultaram em uma satisfatória evolução. Os números trazem a reflexão das melhorias no indicador
de reclamações de clientes, onde o setor hoje é responsável apenas por 2% das reclamações de toda
a empresa. Esse resultado o tirou da classificação de pior setor em qualidade de atendimento e o
elevou para o melhor setor nesse quesito, sendo citado em reuniões de qualidade de todo o grupo. O
Quadro 3 ilustra melhor essa evolução.

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Fonte: Dos autores (2017)


Quadro 3 – Análise comparativa das reclamações
Entre os períodos de 2015 e 2017, muitas mudanças ocorreram, a crise no Brasil fez muitas empresas
fecharem as portas, outras reduziram drasticamente o quadro de funcionários para tentar sobreviver
à estagnação do mercado. Embora os últimos períodos tenham sido difíceis, a empresa em estudo
conseguiu crescer em estrutura com a aquisição de duas novas plantas e ainda aumentar seu
faturamento em uma média de 6% dentro desse período sem contar com a capacidade produtiva das
outras unidades.

O desenvolvimento de novos projetos fez com que a mão de obra para produção fosse aumentada
para atender a demanda, porém não houve contratações para o setor de armazém e expedição, mas
essa demanda não atrapalhou as melhorias e foram estas que deram suporte para conseguir sustentar
esse aumento sem impactos negativos nos indicadores.

O Quadro 4 demonstra que embora os horários de encerramento das atividades não tenham sofrido
melhoras significativas, o número de suspensos reduziu e se estabilizou em relação à quantidade de
volume de vendas efetuado nos períodos descritos.

Fonte: Dos autores (2017)


Quadro 4 – Evolução dos indicadores do Armazém (média/ano)
O período de 2016 faturou, aproximadamente, 8% acima do volume de vendas de 2015; já o período
de 2017, comparado a 2016, faturou cerca de 11% acima; o que acabou por evidenciar que a

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organização e o trabalho em equipe foram fatores importantes na execução das atividades do setor
em estudo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa aqui em estudo, além de descrever as melhorias realizadas, comprovou que para executar
um trabalho satisfatório e com boa performance faz-se necessário conhecer o processo do início ao
fim, ter em mente que, para a equipe, os objetivos devem estar alinhados, ter clareza e um canal de
comunicação eficaz para que os resultados desejados sejam alcançados e sustentados com o passar
do tempo.

A organização é primordial na execução de qualquer processo que busque resultados positivos e


indicadores satisfatórios. Quando existe organização, os processos são desenvolvidos com mais
facilidade, os gargalos passam a ser detectados rapidamente tornando mais efetiva a tomada de
ações. Trabalhar em um ambiente organizado e padronizado traz maior satisfação para a equipe que
passa a ter visão de dono do negócio, buscando sempre alcançar os melhores resultados para serem
destaques e exemplos a serem seguidos.

Além de melhorar todo o processo de armazenagem e expedição de produtos essa pesquisa- ação
trouxe a eliminação de desperdícios com movimentações desnecessárias, redução de horas extras,
espera de veículos para carregamento, entre outros. É importante ressaltar que através dessas
melhorias obteve-se um maior envolvimento de toda a equipe na busca pelos melhores indicadores,
o que é essencial para a continuidade das ações e reflete diretamente na satisfação de seus clientes.

Por fim, vale pontuar que a participação do líder, buscando sempre motivar e ser exemplo para a
equipe, deixando um canal acessível para a comunicação e participação de todos, não negligenciando
o conhecimento empírico dos que estão na operação, é fundamental para as melhorias, administrar
com sabedoria para unir e focar os colaboradores aos objetivos comuns da empresa, possibilitando
assim atingi-los com maior facilidade e, por conseguinte, o sucesso.

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16
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Melhorias Na Área De Armazenamento E Expedição: Um Estudo De Caso Em Uma Multinacional Do Setor Alimentício

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17
465
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 25
10.37423/200902769

UTILIZANDO TRIZ NA CONCEPÇÃO DE UM


CARRO DE PAPELÃO

Antonio Costa Gomes Filho Universidade Estadual do Centro-Oeste

Luciene Oliveira Cruz Universidade Estadual do Centro-Oeste

Fernando Antonio Forcellini Universidade Federal de Santa Catarina


Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

Resumo: O objetivo deste artigo é mostrar a utilização da abordagem TRIZ na concepção de um carro
de papelão. O uso dos Princípios Inventivos da TRIZ permitiu idealizar esse veículo que, utiliza, entre
outros materiais, o papelão, como proposta de material ecologicamente correto e com uso
sustentável. Os materiais utilizados na pesquisa foram livros, teses, dissertações e artigos científicos
sobre o assunto. Com o uso de um formulário, foi aplicado o Método dos Principios Inventivos
(MPI/TRIZ), seguindo os passos para aplicação do método sem o uso da Matriz de Contradições. Após
análise dos quarenta principios inventivos, foram utilizados quatro deles (PI14, PI9, PI24, PI28) para
gerar alternativas de solução para o problema inventivo analisado. Percebeu-se que o uso livre dos 40
principios inventivos foi a escolha mais adequada ao problema, que, infere-se ser muito complexo.

Palavras-chave: criatividade, inovação sistemática, desenvolvimento de produtos, estratégia


cognitiva.

1
467
Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

1. INTRODUÇÃO

A TRIZ possui vários métodos, e o mais conhecido é o MPI – Método dos Princípios Inventivos. TRIZ é
uma teoria que foi desenvolvida por mais de 40 anos, tendo iniciado na Rússia; essa teoria ajuda na
resolução de problemas encontrados pelos inventores quando se defrontam com a questão da
inovação. Sua tradução ao português é vista na literatura como Teoria Para Resolução de Problemas
Inventivos e é conhecida como Criatividades para Engenheiros, isso porque é composta por uma tabela
(Matriz de Contradições) que permite tratar a criatividade de uma maneira organizada.

A TRIZ possui vários métodos (DEMARQUE, 2005) que auxiliam inventores, engenheiros e outros
profissionais a resolver todos os tipos de problemas em suas invenções, sendo que seu pressuposto é
o de que um problema particular pode ser resolvido por uma regra geral.

Este artigo tem por objetivo mostrar como a TRIZ foi utilizada para conceber a ideia de um carro de
papelão. Neste estudo, o Método dos Princípios Inventivos, o mais conhecido dos métodos da TRIZ
(CARVALHO; BACK 2001), foi aplicado livremente para criar um carro que se mova na cidade, que seja
compacto, um veículo para uma pessoa, que não apresente a insegurança de uma motocicleta e, que
apresente o conforto de um veículo de quatro rodas, utilizando na sua construção, entre outras coisas,
o papelão, como proposta de material ecologicamente correto e com uso sustentável.

O trabalho, em seu corpo textual está estruturado da seguinte forma: introdução, referencial teórico,
método, resultados e conclusões.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Na visão de Carvalho (1999) os métodos da Teoria TRIZ são utilizados para resolver conflitos em
engenharia, de forma mais especifica, no desenvolvimento de novas soluções tecnológicas para inovar
nos conceitos de produtos, ele cita o exemplo de inovação em uma roçadeira. O estudo de Alves et al
(2007), demonstra que o mais difundido método da TRIZ, o Método dos Princípios Inventivos (MPI-
TRIZ) pode ser utilizado juntamente com o Método para Análise e Solução de Problemas (MASP) para
resolver um problema de produção de uma empresa que trabalha com massa asfáltica.

Na interpretação de Carvalho e Ferreira (2005) e de Carvalho (2007), os conceitos fundamentais da


TRIZ são a idealidade, a contradição, os recursos, a funcionalidade e a sistemática:

a) Idealidade: é o conceito segundo o qual os Sistemas Tecnológicos, independente do desejo


individual do seu inventor evoluem no sentido do aumento da oferta de funções úteis e da

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468
Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

diminuição das funções inúteis ou prejudiciais. Quanto mais evoluido, menor o custo ou preço pago
pelo seu conjunto de funções, menor o desperdício e maior o aproveitamento de seus recursos e
mais eficaz é o sistema. Com o conceito de idealidade, define-se o Resultado Final Ideal (RFI). Para
melhor entender o conceito de idealidade, é necessário estudar a Lei da idealização crescente
(quarta lei da evolução dos sistemas técnicos);
b) Contradições: contradições correspondem às demandas conflitantes. Na TRIZ clássica, existem dois
conceitos de contradições, contradições técnicas e contradições físicas. A contradição técnica
ocorre quando há dois requisitos conflitantes num mesmo sistema. A contradição física ocorre
quando existe conflito num mesmo parâmetro, por exemplo, ser alto e baixo ao mesmo tempo,
pequeno e grande, dentre outros exemplos. O conceito de contradição é uma conseqüência da
primeira lei da dialética, a lei da unidade dos opostos (Carvalho, 2007). Em termos práticos, na
TRIZ, ficou demonstrado que as partes dos sistemas tecnológicos são desenvolvidas de forma
desigual, nas suas diversas versões, e isso resulta no surgimento de contradições. A solução que se
busca para resolver as contradições é uma solução que atenda a todas as demandas conflitantes,
evitando as soluções de compromisso, em que uma das partes melhora em função do sacrifício da
outra demanda que está em conflito. A resolução de contradições aumenta a idealidade do Sistema
Tecnológico.

Para Maldonado, Monterrubio e Arzate (2004), membros da Associação Mexicana de TRIZ (AMETRIZ)
a TRIZ é uma metodologia (conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em determinada área
de conhecimento) que tem por base os seguintes postulados:

a) Os sistemas tecnológicos evoluem obedecendo oito níveis principais e dois complementares


definidos por Altshuler;
b) Os inventos ou inovações tecnológicas têm cinco níveis de complexidade, desde o mais simples até
aqueles que produzem uma verdadeira mudança em toda a estrutura da sociedade;
c) Para se produzir um invento ou inovação tecnológica, é indispensável eliminar contradições, que
podem ser técnicas ou físicas, entre os componentes de um sistema tecnológico;
d) Foram descobertas 39 características dos sistemas tecnológicos e 40 princípios de invenção que
devem aplicar-se, ao enfrentar um problema de inovação tecnológica.
e) Existem muitos recursos “invisíveis”, como a gravidade, o espaço, o ar, etc., que, se aproveitados
de novas maneiras, podem gerar inovações tecnológicas.

3
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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

Focando a Análise de contradições, salienta-se que a mesma é um dos Métodos para análise
preliminar de problemas, na TRIZ Clássica. Para Carvalho e Back (2001), contradições podem ser
definidas como requisitos conflitantes com relação a um mesmo sistema técnico. Por exemplo, a haste
de um ferro de soldar deve ser longa, para não queimar a mão do soldador e deve ser curta, para
facilitar o controle da operação. Uma solução extremista seria fazer a haste muito longa. Isso evitaria
queimaduras, mas, prejudicaria a precisão do controle. Uma solução que procura contornar a
contradição seria fazer a haste não muito curta, nem muito longa: um meio termo é estabelecido. A
orientação à contradição consiste em não procurar evitá-la, mas, resolvê-la criativamente. Em
Carvalho, Back e Ogliari (2005), a análise de contradições é explorada no desenvolvimento de
produtos; esses autores explicam que a análise de contradições técnicas pode ser feita: a partir do
telhado da casa da qualidade, a partir de uma matriz de impacto cruzado e também a partir de uma
análise de interações, citando exemplos nas três formas.

Inventar ou inovar significa eliminar uma série de contradições que surgem quando se quer solucionar
um problema tecnológico, a diferença entre a maneira de resolver problemas nos sistemas tradicionais
e na filosofia da TRIZ, é que nos sistemas convencionais utilizam-se as chamadas “soluções de
compromisso”, ou seja, à medida que se melhora um aspecto, se piora ou se sacrifica outra
característica ou requisito do sistema, isso não é inventar ou inovar, segundo o criador da TRIZ Clássica.

É necessário eliminar a contradição por completo, sem necessidade de um compromisso tolerável, em


outras palavras, o inovador oferece uma alternativa em que todos saem ganhando. Para melhor
entendimento, é necessário saber o que é uma contradição, no contexto da TRIZ, contradição é uma
condição que surge quando um subsistema entra em conflito com outro, ou quando as propriedades
de um subsistema entram em conflito com elas mesmas, sendo necessário eliminar tais conflitos
mediante uma solução inovadora.

É necessário entender o conceito de contradição e os tipos existentes. No contexto da TRIZ, existem


dois tipos de contradições:

Contradições Técnicas: uma contradição técnica existe quando, ao se tentar melhorar um atributo
“A”, de um sistema tecnológico, outro atributo “B”, do mesmo sistema, se deteriora. Por exemplo, se
quer fabricar um produto mais robusto e duradouro (atributo desejado), automaticamente este será
mais pesado e mais caro por causa do material requerido para o mesmo (atributo indesejável).

Esse tipo de contradição ocorre quando se demandam funções completamente diferentes ou


incompatíveis dos sistemas de um sistema tecnológico e, geralmente, se referem a todo o sistema

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470
Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

tecnológico, impactando-o. Os exemplos seguintes, segundo Maldonado, Monterrubio e Arzate,


(2004), mostram essa situação:

a) Num veículo de combustão interna, a contradição é que: se deseja uma maior potência (atributo
desejado) automaticamente se produz um maior gasto de combustível (atributo indesejável);

b) Numa roçadeira motorizada que produz muito barulho ao ser operada: se sugere instalar um
silenciador que elimine o barulho (atributo desejado), mas isso iria aumentar o peso do
equipamento (atributo indesejado);

c) Voltando ao exemplo do automóvel, é conveniente que se leve um pneu de estepe em caso de furar
um dos pneus (atributo desejável), mas ao mesmo tempo, o pneu reserva ocupa espaço (atributo
indesejável);

d) Uma lata de alumínio para refresco ou cerveja deve ter as paredes finas para economizar metal e
ser mais barata (atributo desejável), mas ao mesmo tempo pode romper-se pela pressão interna
do bióxido de Carbono (atributo indesejável);

e) Freqüentemente, no mundo empresarial surgem esse tipo de contradição, por exemplo: uma
empresa deve ser grande para gerar altos lucros ao dono e aos acionistas (atributo desejável), mas
ao mesmo tempo, seu tamanho a torna altamente burocratizada e lenta para reagir às rápidas
mudanças do mercado (atributo indesejável).

Para se resolver as contradições técnicas, é utilizada a Matriz de Contradições, parte integrante da


metodologia. Existe também a contradição física, esta ocorre quando uma característica “X” de um
sistema tecnológico requer uma mudança, e essa mudança, por sua vez, resulta em fator negativo,
entrando essa característica em conflito consigo mesma. A contradição física se refere somente a uma
parte do sistema tecnológico, alguns exemplos:

a) Quando os bombeiros enfrentam um grande incêndio em uma propriedade, requer a aplicação de


grandes quantidades de água, a alta pressão para apagar o fogo (atributo desejável), mas ao
mesmo tempo a alta pressão da água causa danos ao imóvel, aos utensílios domésticos e à equipe
de trabalho (atributo indesejável), em outras palavras, é necessário água e não é necessário, então
se tem uma contradição entre a água e ela mesma;

b) Quando nadadores são treinados na plataforma de 10 metros de altura, não muito bem treinado,
num ângulo inadequado, isso pode provocar graves danos aos desportistas, já que a velocidade
que alcançam na queda é considerável. É necessário ter água na piscina para amortizar um bom

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

salto (atributo desejável) mas não é necesário água para um “salto mal executado” (por exemplo
cair com a barriga na água) pelo dano que a água pode causar (atributo indesejado). A
característica positiva da água se vê enfrentada com sua característica negativa, porque o líquido
deve estar presente e ao mesmo tempo ausente;

c) Numa fábrica de vidro especial, um cliente solicita centenas de lâminas de vidro, que tenham um
milímetro de espessura, com as quinas arredondadas. Durante o corte e polimento das quinas,
várias lâminas de vidro se quebram, com enorme prejuízo para a empresa. A contradição física é
que as lâminas devem ser finas como o cliente quer (atributo desejável), mas ao mesmo tempo,
devem ser grossas para não se quebrar no processo de fabricação (atributo indesejável);

d) Um duto de ferro conduz pequenas esferas de aço junto com ar, a uma grande velocidade, para
ser transportada a outro departamento da mesma empresa. Os cotovelos dos tubos sofrem um
alto grau de erosão, isso exige que se troquem os cotovelos mais de duas vezes por semana, com
a perda de tempo e dinheiro que eles produzem. A sugestão é de se instalar protetores de cerâmica
ou de algum outro material resistente aos impactos das esferas metálicas, mas o custo de se fazê-
lo é muito alto. A contradição física é que: se requer que as esferas metálicas viagem a grandes
velocidades dentro do tubo (atributo desejável) mas ao mesmo tempo isso produz um alto grau
de erosão (atributo indesejável);

e) Em qualquer restaurante é desejável ter muitos clientes (atributo desejável), mas o maior número
de clientes traz a necessidade de contratar mais garçons (atributo indesejável). A contradição é ter
muitos clientes e ao mesmo tempo não tê-los.

As contradições físicas são mais fáceis de resolver que as contradições técnicas, e podem ser resolvidas
mediante as seguintes condições:

a) separação no espaço;

b) separação no tempo;

c) separação entre as partes e o todo;

d) separação de acordo com uma condição.

Na TRIZ, a ferramenta para “quebrar a inércia psicológica” é o operador DTC (Dimensão, Tempo,
Custo). Esta é uma ferramenta poderosa para excitar a imaginação. O operador DTC não tem o objetivo

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

de dar resposta para o problema, mas tornar o problema mais claro e fácil de resolver. Devem ser
respondidas as seis perguntas:

a) O que acontecerá se a dimensão do objeto diminuir?

b) O que acontecerá se a dimensão do objeto aumentar?

c) O que acontecerá se o tempo para realizar a ação diminuir?

d) O que acontecerá se o tempo para realizar a ação aumentar?

e) O que acontecerá se o custo do sistema diminuir?

f) O que acontecerá se o custo do sistema aumentar?

Essas análises devem ser levadas ao limite, isto é, tender a zero ou ao infinito. O objetivo é identificar
o conflito existente no sistema estudado para então, com o uso de uma outra ferramenta, desenvolver
conceitos que solucionem o problema. O uso das nove janelas é referenciado por Demarque (2005),
Carvalho e Ferreira (2005), e também o uso de softwares, não existindo nenhum software em língua
espanhola, segundo Maldonado, Monterrubio e Arzate (2004).

As contradições técnicas, mais difíceis de resolver, foram colocadas na tabela chamada de Matriz de
Contradições. Após definido o problema e a característica que se quer resolver recorre-se à Matriz
para identificar os Princípios Inventivos que são adequados à resolução daquele conflito. A Matriz de
Contradições foi a maneira que o criador da TRIZ Clássica encontrou para indexar os Princípios
inventivos e as características dos sistemas tecnológicos.

Para a resolução de contradições em sistemas tecnológicos, a Matriz de Contradições não necessita


de analogias, e a forma de aplicação para resolução do problema se faz pelo mais conhecido dos
métodos da TRIZ, o chamado Método dos Princípios Inventivos. Com base no MPI-TRIZ, Prim (2006)
propõem o GPNS-TRIZ, sendo necessário utilizar analogias para converter os problemas de negócios
aos problemas de tecnologia. Com base no GPNS-TRIZ, Gomes Filho et al (2009) propõem mais três
Princípios e também o MCNS-TRIZ, Método para Concepção de Negócios Sustentáveis baseado em
TRIZ, Gomes Filho (2010) também utiliza analogias e importação dos conceitos, enquanto no GPNS-
TRIZ, Prim aplica analogias nos requisitos do projeto do processo de negócios, Gomes Filho (2010)
utiliza analogias nos objetivos estratégicos de negócios, extraindo as características dos mesmos e
convertendo nas características da tabela da Matriz de Contradições.

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

No estudo desenvolvido por Madeira(2016) a TRIZ é utilizada em conjunto com a Filosofia Lean no
dimensionamento de um layout para produção de novos componentes automóveis, Madeira (2016)
utiliza o Lean Thinking, Triz, Modelo de Kano e MTM (Method Time Measurement) para preparar a
empresa para a introdução de um novo modelo automóvel devido à falta de áreas de armazenamento
de matéria-prima e produto acabado do refereido modelo. O modelo logístico, Madeira (2016)
integrou as metodologias Lean, TRIZ, modelo de Kano e MTM, permitindo ganhos monetários e de
inovação no caso empresarial estudado, a Schnellecke, uma das empresas líderes de mercado na área
de serviços logísticos, o uso da TRIZ foi com a utilização da análise Substância-Campo em conjunto
com 5S e filosofia Lean para buscar soluções ao problema de deficit de área de armazenamento, em
virtude do aumento de produção com a inclusão de um novo modelo automóvel (modelo T).

3. MÉTODO E MATERIAL

Os materiais utilizados foram livros, artigos científicos, teses e dissertações (ALVES, 2007; CARVALHO,
1999; CARVALHO; BACK 2001; DEMARQUE, 2005; PRIM, 2006;) para o entendimento conceitual e a
aplicação no caso prático, nesse material, já disponível em português, encontrou-se os elementos
necessários ao nivelamento conceitual sobre o assunto. Também foi utilizado o mesmo formulário que
Carvalho e Back (2001) haviam usado para aplicação do Método dos Princípios Inventivos da TRIZ na
ideação de soluções para dois sistemas técnicos.

Na escolha de qual método da TRIZ utilizar, foi definido e aplicado o Método dos Princípios Inventivos
(MPI/TRIZ), seguindo os mesmos passos de Carvalho e Back (2001) para a aplicação do método sem o
uso da Matriz de Contradições. A escolha de não se utilizar a Matriz de Contradições se deu pelo fato
da equipe querer aproveitar ao máximo as combinações possíveis disponibilizadas pelo método.

O objeto de estudo foi definido pela equipe como sendo um carro de papelão, com capacidade para
um passageiro e para mobilidade urbana, esse veículo viria substituir as atuais motocicletas,
oferecendo todos os requisitos de um veículo com quatro rodas, cuja função de utilidade é atender à
necessidade de locomoção de uma pessoa para o trabalho, escola, academia e outros lugares
encontrados em qualquer cidade. O veículo não seria indicado para viagens e locomoção entre cidades
diferentes, mas tal qual uma motocicleta também poderia ser utilizado, ocasionalmente, para esse
fim.

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A equipe envolvida na pesquisa trabalhou pelo período de aproximadamente dez meses e sintetizou
a literatura revisada em formato de resenhas. As resenhas eram acessadas cada vez que se tinha
dificuldade sobre um ou outro conceito que ia aparecendo no decorrer da aplicação do método.

No aprendizado da ferramenta, a equipe utilizou o MPI/TRIZ para gerar alternativas de solução


inovadoras para uma embalagem de lâmpada. Além disso, foi verificado a aplicação do MPI/TRIZ nas
publicações de Carvalho e Back (2001), Demarque (2005) e Alves et AL (2007).

Foi observado que o MPI/TRIZ apresenta duas sequências de ações quando aplicados na geração de
alternativas de solução para um problema. Uma delas é limitar o uso dos Princípios Inventivos à
heurística seguida pelos inventores russos, nessa forma de uso, deve-se consultar uma tabela chamada
Matriz de Contradições, que já indica quais Princípios se deve utilizar, dispensando a necessidade de
se consultar todos os quarenta princípios inventivos constantes do método.

A outra maneira de se aplicar o MPI/TRIZ é a aplicação direta dos Princípios Inventivos na geração de
soluções. A equipe de trabalho optou por essa forma de uso do MPI/TRIZ. Os resultados estão
descritos a seguir:

Quadro 1: Análise do Sistema Técnico Carro de Papelão

Fonte: Elaborado pelos autores

Passo do Método dos Princípios Inventivos Conceitos definidos pela equipe de pesquisa

1. Identificação (nome) do Sistema Técnico (ST): Trata-se de um veículo para somente uma
pessoa, o veiculo deve ter banco confortável para
o piloto e ser seguro, sem colocar a vida de outras
pessoas em risco, deve ter espaço para mala de
mão e no máximo uma mochila que ficará na
parte traseira. Dar a sensação de ser pequeno
para quem olha de fora, mas ser grande por
dentro. Ter o motor na parte da frente. Troca de
marchas no volante. Trata- se de um veiculo com
4 rodas para andar em terra, com rodas aro 8 mm
de espessura.

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

2. Identificação da função ou funções principais Para se locomover mais rápido que uma pessoa
do ST: andando a pé, para ir à academia, ao trabalho, à
escola, à praia, à sua casa entre outros lugares.

3. Identificação dos principais elementos do ST e Sistema de suspensão:


de suas funções: Molas: proteger contra impactos;

Rodas: estabilizar o veículo;

Freios: parar o veículo;

Direção: determinar o percurso;

Volante: controlar a direção;

Assoalho: colocar os pés do piloto;

Eixos: apoiar o sistema de suspensão;

Amortecedores: amortecer impactos;

Colunas: proteger o motorista.

Sistema motor:

Tanque de combustível: armazenar;

Carburador: alimentar o motor;

Bateria: fazer o carro arrancar e fornecer energia


aos componentes elétricos;

Acelerador: controlar a velocidade;

Embreagem: fazer o controle de marchas.

Sistema de Segurança e Conforto:

Bancos: deixar o motorista confortável;

Cinto de segurança: proporcionar segurança;

Para-choques: proteger o carro e o piloto;

Casco: proteger de chuva, batidas, e outros;

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

Espelhos: controlar visão traseira e proteger em


manobras;

Iluminação externa: clarear a visão fora do


veículo;

Iluminação interna: clarear a visão interna;

Air-Bag: proteger contra batidas;

Banco ejetor: separar o banco do restante do


veículo, útil quando em quedas de penhascos ou
pontes.

4. Descrição do funcionamento do ST: O funcionamento do carro começa por chave que


liga o motor, este, utilizando alguma fonte de
energia possibilita colocar o carro em
movimento. A rotação do motor aciona o sistema
de suspensão colocando os eixos em movimento,
que podem ser parados pelos freios ou por pane
seca. O piloto controla a velocidade do motor por
meio de um acelerador. O piloto controla a
direção do carro manualmente por meio do
volante. A sustentação do veículo é feita por
molas, sistema de amortecedores e pelo próprio
assoalho do veículo. O casco do veículo auxilia na
estabilidade e tem a função de proteger o piloto
contra as intempéries do tempo e colisões vindas
da área externa ao veículo.

5. Levantamento dos recursos: Recursos de substância:

Molas, poste, árvores, paredes, cercas, pedras,


terra, ar, umidade, combustível, madeira, motor,

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

poeira, gases de escape, cansaço do piloto, placa


de sinalização;

Recursos de energia:

Força da gravidade, forças dos ventos, energia


solar, energia cinética do movimento das rodas,
energia química do combustível, pressão e
velocidade dos gases de escape, energia térmica
dos gases de escape, energia térmica do ar,
energia muscular do piloto, calor do ambiente,
energia térmica do piloto;

Recursos de espaço:

Espaço entre o painel e o local para colocar


bagagem, espaço entre as rodas e o sistema de
amortecedores, espaço ao redor do veículo,
espaço em volta do motor;

Recursos de campo:

Campo de impacto reduzido pelas molas,


condições do terreno, força gravitacional, campo
elétrico, campo magnético do motor e terrestre,
força dos ventos, recurso térmico do motor;

Recursos de tempo:

Tempo para dar a partida do veículo, tempo para


o motor funcionar;

Recursos de informação:

Liga/desliga, aceleração, direcionamento,


frenagem, controle da velocidade, informações
mostradas no painel do veículo;

Recursos de função:

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

Transportar pessoas, reduzir tempo de


locomoção, proteger das chuvas, proporcionar
conforto sobre quatro rodas, aproveitar
pequenos espaços no estacionamento,
transportar pequenas bagagens.

6. Identificação da característica a ser melhorada A característica indesejada a ser reduzida


ou da característica indesejada a ser reduzida, eliminada ou neutralizada no carro de papelão é
eliminada ou neutralizada no ST: o uso de metal no casco ou carroceria do mesmo.

7. Formulação do resultado final ideal (RFI) O carro de papelão deve proteger das condições
climáticas adequadamente, sem comprometer a
segurança e proporcionando conforto ao
motorista.

Após a análise do Sistema Técnico, a equipe de trabalho consultou os quarenta princípios inventivos
que fazem parte do MPI/TRIZ. Foram utilizadas as traduções de Demarque (2005); Prim (2006). Um
dos componentes da equipe analisou os vinte primeiros Princípios Inventivos e outro componente da
equipe analisou os vinte últimos Princípios Inventivos. Posteriormente houve inversão na análise e um
terceiro componente da equipe, mais experiente no uso da TRIZ, promoveu a síntese dos resultados.
Para resolver o problema definido na Formulação do Resultado Final (RFI), foram utilizados os
Princípios Inventivos de números 4, 9, 24 e 28. A equipe de trabalho não encontrou resultados que
possibilitassem o uso dos outros Princípios Inventivos.

Quadro 2: Utilização direta dos Princípios Inventivos para o problema inventivo

Fonte: Elaborado pelos autores

Princípio Inventivo Idéia (alternativa de solução gerada pela equipe)

PI 4. Assimetria: alterar a forma de objeto de Para o problema das condições climáticas,


simétrico para assimétrico. colocar um material, no caso uma película, que
irá proteger o papelão das condições climáticas.

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

PI 9. Compensação prévia: se é necessário Para o problema da segurança, a ideia é rodear a


realizar uma ação com efeitos bons e ruins, esta parte de papelão com material resistente
ação deve ser trocada com anti-ações para (borracha ou metal). Tradicionalmente isso é
controlar os efeitos indesejados. feito nas partes traseiras e dianteiras, com para-
choque, há que se pensar também em proteger
as partes laterais.

PI 24. Mediador (intermediador): utilizar um Para o problema da segurança, a ideia é colocar


objeto intermediário de transferência ou um sistema de controle remoto para abrir as
processo intermediário. portas, utilizando o sistema de código que é mais
seguro que o uso de maçanetas manuais.
Também um sistema de controle de velocidade
para não acabar matando pedestres ou o próprio
motorista.

PI 24. Mediador (intermediador): utilizar um Para o problema do conforto ao motorista,


objeto intermediário de transferência ou colocar sistema de controle no volante. Colocar
processo intermediário. também um rádio de comando de voz sem que o
motorista precise tirar a mão do volante.

PI 28. Substituição de sistema mecânico: Substituir, para resolver o problema do conforto


substituir um sistema mecânico por um sistema ao motorista, um motor com barulho por um
sensorial (ótico, acústico, paladar ou olfativo). motor elétrico.

Na figura 1, é apresentada uma primeira ilustração da ideia concebida:

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

Figura 1: Primeira ilustração.


Fonte: Elaborado pelos autores.

A Teoria TRIZ busca soluções ideais para as necessidades dos usuários dos Sistemas Técnicos, por
exemplo, em vez de pensar em uma máquina para cortar grama, as soluções buscadas são no sentido
de que o ideal seria que a grama, quando atingisse a fase de corte deixasse de crescer. Nesse sentido,
não se busca um Sistema Técnico máquina de cortar grama, mas sim uma solução que não dependa
desse Sistema Técnico. Infere-se que os Sistemas Técnicos ideais não existem.

Mas uma vez que o Sistema Técnico exista, a TRIZ pode ser utilizada para fazê-lo evoluir, como no
exemplo do carro de papelão. Na análise da equipe de trabalho, o grande problema das grandes
cidades é o pouco espaço existente e o uso ineficaz dos veículos. Qualquer observação empírica irá
comprovar que as montadoras produzem veículos para cinco pessoas e normalmente se vê nas ruas
apenas uma pessoa dirigindo, e os outros assentos vagos. Por outro lado, as motocicletas possuem
rapidez no trânsito, possibilitando a locomoção de uma pessoa, mas sem o conforto de um veículo
automotor. O ideal para a necessidade de locomoção das pessoas é que as mesmas andassem na
velocidade de um veículo, dessa forma o uso de carros ou motos não seria necessário. Mas já que
esses sistemas técnicos (carro e moto) existem, neste estudo pensou-se em evoluir para um veículo
que oferecesse o melhor dos dois sistemas técnicos citados, e esse é um dos usos que se tem feito
com o auxílio da TRIZ.

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Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

5. CONCLUSÕES

Criatividade, invenção e inovação fazem parte do vocabulário cada vez mais frequentemente
encontrado na literatura atual das áreas de negócios e de engenharias.

Nesse contexto, a criatividade é o principal insumo das invenções passíveis de se tornar inovações em
produtos, processos ou serviços.

Refletindo sobre os motivos que impedem as organizações brasileiras de inovar, parece que há
carência quanto ao conhecimento dos processos que integram a criatividade com a concretização de
invenções que permitam concretizar, em especial as inovações tecnológicas.

De forma que este artigo vem auxiliar no preenchimento de uma lacuna existente quanto aos métodos
para inovar. È evidente que um pequeno número de empresas brasileiras já conhece o Método dos
Princípios Inventivos da TRIZ e utilizam em suas atividades produtivas. No entanto, também é evidente
que há necessidade de que esse método esteja ao alcance de um maior número de empresas
brasileiras.

O artigo mostrou o uso do Método dos Princípios Inventivos da TRIZ para gerar alternativas de
soluções a um problema comum a todos que moram em grandes cidades, a falta de espaço urbano,
cuja solução poderia ser com o uso de um veículo pequeno, que também fosse composto por materiais
ecologicamente corretos, pois a inovação por si só não é o suficiente, mas inovação com
responsabilidade social é a preocupação do momento.

A idéia está concebida, o MPI/TRIZ mostrou algumas soluções para criar o carro de papelão, essas
soluções foram gerados com o uso dos 40 Princípios Inventivos. Foram analisados todos eles pelo fato
da equipe de trabalho entender que o grau de inovação exigido para que se chegue a um protótipo
desse veículo esteja entre 100 (cem) a 10000 (dez) mil tentativas. A literatura sobre TRIZ classifica que
a complexidade de uma invenção entre 100 a 1000 tentativas é de nível 3, e entre 1000 a 10000
tentativas é de nível 4. Os graus de complexidade vão de 1 a 5, de inovações incrementais a inovações
radicais.

Pensa-se que este trabalho tenha atingido seu objetivo, tanto na divulgação do Método dos Princípios
Inventivos da TRIZ, quanto na exposição de sua aplicação para a concepção de um carro de papelão.

No entanto, a pretensão não é esgotar o assunto, visto que no Brasil e até mesmo na América Latina
existe limitado material sobre o assunto.

16
482
Utilizando TRIZ Na Concepção De Um Carro De Papelão

REFERÊNCIAS

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um processo produtivo. In: OLIVEIRA, M. do R. et al (Org.) Gestão estratégica para o desenvolvimento
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Mecânica) Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São Jose dos Campos, 2006.

17
483
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 26
10.37423/200902790

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E AÇÃO


COLETIVA: MERCADO MADEIREIRO E
ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL

Marcos Cieslak Universidade Estadual do Centro Oeste -


UNICENTRO

Gelson Menon Universidade Estadual do Centro Oeste -


UNICENTRO

Carlos Alberto Marçal Gonzaga Universidade Estadual do Centro Oeste -


UNICENTRO
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

Resumo: Dentro das análises do desenvolvimento, em especial na esfera econômica, há um conjunto


de ações coletivas que visam diversos tipos de retornos, inclusive individuais. O presente trabalho
apresenta os resultados parciais de uma pesquisa com análise qualitativa, baseada nas ações coletivas
explicitadas no processo de formação e condução do Arranjo Produtivo Local de União da Vitória (PR)
e Porto União (SC), correspondente às formas organizacionais conhecidas como clusters. Os resultados
mostram que houve a somatória de esforções de pequenos grupos de atores causando um conjunto
de ações benéficas ao setor madeireiro local e regional.

Palavras-chave: Ação Coletiva, APL da Madeira, Identidade.

1
485
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

1. INTRODUÇÃO

A base da definição dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) está no conceito de clusters, comumente
usado em inglês e em diversas outras línguas, definido por Porter (1999) como uma concentração
geográfica de empresas e indústrias concorrentes, complementares ou interdependentes que
realizam negócios entre si e/ou possuem necessidades comuns de tecnologia, pessoas e
infraestrutura.

Entre as principais características benéficas, pode-se destacar: o acesso a insumos e pessoal


especializado; informações técnicas e de mercado; facilitação entre negócios; acesso a instituições e
bens públicos; incentivos; menores custos com treinamentos, entre outros.

O objetivo desta pesquisa visa verificar como se desenvolveu as ações de interesse coletivo dentro do
grupo de empresas que participava mais ativamente do APL da Madeira, juntamente constatando
quais foram suas preocupações com o desenvolvimento econômico e socioambiental para as cidades
de União da Vitória (PR), Porto União (SC) e do entorno.

A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica sobre os temas: ação coletiva,
interesses comunitários e gestão de recursos locais, seguida de entrevistas com os protagonistas do
caso estudado. Foram levantados complementarmente dados sobre o cenário socioambiental
relacionado ao setor que justifica a criação deste APL impulsionando o desenvolvimento local e
regional.

O estudo permitiu observar que a ação coletiva tem expressiva possibilidade de sucesso ao considerar
os aspectos culturais, tradicionais e os diversos recursos disponíveis no território investigado,
fortalecendo as organizações empresariais, e toda a comunidade madeireira vinculada a este ramo da
economia.

Segundo Furnaletto (2011), várias são as linhas de pesquisa que vem sendo desenvolvidas, visando
explicar as novas formas e condições de desenvolvimento nas aglomerações denominados APLs,
sendo que o interesse por estes estudos busca apontar as inúmeras experiências bem-sucedidas de
desenvolvimento e de sustentabilidade.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA

A acepção de iniciar qualquer estudo sobre organizações é o seu propósito, ou seja, a finalidade que

2
486
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

ela foi ou está sendo criada, pois existem organizações distintas em formas e tamanhos, possuidoras
de pontos característicos relevantes, que dentre eles, sobressai à dimensão econômica e a promoção
dos interesses de seus membros.

Na visão de Olson (1999), os benefícios coletivos tendem a se tornar vantagens individuais,


favorecendo, inclusive, quem pouco se dedicou a sua obtenção, destacando ademais que os ganhos,
não necessariamente podem ser de ordem financeira, pois há pessoas que em alguns casos, se sentem
motivadas também por um desejo de prestígio, respeito, amizade e outros de fundo psicossocial.

Entretanto, em grande parte das vezes, os ganhos econômicos pavoneiam-se pela peripécia de serem
vantajosos no mundo capitalista, permitindo uma mensuração satisfatória. Nesta ótica, os interesses
comuns podem prestigiar outros planos, como o horizonte empresarial.

Na perspectiva weberiana, o empreendimento ou a empresa capitalista ergueu-se num advento


revolucionário ao assumir um arquétipo contínuo de ação racional, que está orientada para a busca
de lucro pela exploração, aspirando novas oportunidades. Não obstante, qualquer grupo, sociedade
ou organização deve se basear em leis de ordem burocrática, ancoradas na ocorrência de acreditarem
em serem coerentes e adequadas aos objetivos comuns, mas operam em vários modos,
exclusivamente com centro aos interesses individuais. (WEBER, 2004).

Já na concepção marxista, as ações coletivas seriam orientadas por suas classes (capitalista e
proletariado), sendo que estes primeiros agiriam conforme seus interesses de ganhos puramente
econômicos. Todavia, se não existisse a separação destas classes, todos poderiam desfrutar do que
necessitam, inclusive, obtendo mais à medida que os outros viessem a usufruir, evitando a
concentração de vantagens a um grupo em especial (MARX,1968).

Entre os vários apontamentos de Olson (1999, p. 66):

Há duas outras características a serem consideradas nesta temática: a) os


benefícios coletivos são aproximados com os benefícios não coletivos nas suas
particularidades, pois quanto mais se obtiver do benefício, mais altos serão seus
custos totais; e b) o fato de que as organizações recorrem frequentemente aos
pequenos grupos (comitês, subcomitês e comissões), uma vez que, tendem a
desempenhar um melhor papel, assim costumam ser mais organizados e
empregam mais energia e esforços para alcançar os resultados.
Outras variações existem e devem ser consideradas quando se trata de benefícios alcançados por uma
atuação cooperada. Parte para o feito da não participação nos custos ocorridos por determinados
membros na conquista de benefícios auferidos, nutrindo de um “benefício indivisível”, ou seja, aquele
que uma vez considerado parte do grupo, não lhe nega os benefícios, mesmo que este não tenha se

3
487
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

dedicado em sua obtenção (OLSON, 1999).

Contudo, se todos os membros optarem por uma estratégia de receber sem efetivamente contribuir,
o benefício coletivo deixará de ser alcançado, mesmo havendo uma comunidade de interesse, não é
suficiente para provocar a ação comum que permita promover o interesse de todos, em razão de que
a lógica da ação coletiva e a lógica da ação individual não é aplicada na sua primazia (BOUDON, 1979).

Compete incluir ainda nesta abordagem, a Teoria dos Jogos, como sendo um instrumento analítico
dos fenômenos ao observar os tomadores de decisão (jogadores) na interação entre ambos. Parte-se
do pressuposto de que os tomadores de decisão agem racionalmente na busca de maximizar seus
ganhos, considerando o nível de conhecimento dos envolvidos em relação ao jogo e suas expectativas
racionais (OSBORNE; RUBINSTEIN, 1994). Sendo assim, estas teorias aspiram retratar como os
indivíduos agem em relação aos interesses que os envolvem.

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS BENS COMUNS

De acordo com Hardin (1968), quando os indivíduos utilizam os bens comuns, ou seja, os recursos de
ordem natural para obter vantagens próprias, provoca prejuízos para a coletividade. Na atualidade é
possível identificar em projetos de políticas públicas e privadas, que deveriam contemplar as
dimensões socioambientais e praticas que visem o desenvolvimento da comunidade.

Por outro lado, deve-se considerar que muitas das soluções a essa abordagem individualista, não serão
resolvidas de forma técnica, mais sim de forma humana. A perda do ego individualizado, o pensando
voltado para o bem estar das pessoas exigindo consciência ampla nas ações coletivas e uma educação
propícia à reflexão do uso dos bens comuns, poderá contrariar a tendência do homem individualista e
imediatista (HARDIN, 1968).

Entre as consequências deste comportamento, constitui-se uma racionalização pelo governo e seus
órgãos. O controle dos recursos naturais delimitando poderes as pessoas, traz para o estado o dever
de organizar e fiscalizar os indivíduos naquilo que deveriam entender como sua maior riqueza
(HARDIN, 1968).

Inúmeros indivíduos, comunidades e organizações, deparam-se com um processo inevitável de


destruição dos bens comuns, entretanto, isto pode ser impedido se houver uso racional, associado a
aplicação de uma governança local. Contudo, por milhares de anos, a sociedade tem se organizado
para resistir determinadas tendências globais, mas as mudanças que ocorreram em algumas destas,
como no consumo e na produção modificaram a forma de utilização dos bens comuns (OSTROM, et

4
488
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

al, 1999).

Deste modo entende-se que os desafios são globais, contudo, se percebidos no universo de
conhecimento de cada indivíduo, ou seja, na esfera local e regional, possibilita identifica-las
tipicamente, provocando uma atuação direcionada para soluciona-las com a intervenção de estudos
e ações que podem servir como referência para outras realidades. Não existe um padrão único para
se chegar às soluções, as pessoas precisam desenvolver meios de enfrentar os desafios em conjunturas
adversas. No entanto, as invenções frequentemente nascem do trabalho em equipe, considerando a
diversidade de talentos, formação e experiências, como formas mais eficientes de superar as
circunstâncias negativas (OSTROM, et al, 1999).

Assim, conforme a abrangência, a tipologia e a formato da ação coletiva, deve se assegurar que as
ações de hoje não limitarão a gama de opções econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as
futuras gerações (ELKINGTON, 1999), essencialmente quando envolve atividades de extrativismo. As
empresas consideradas sustentáveis são aquelas que proporcionam lucros para os seus acionistas,
mas, conjuntamente protegem o meio ambiente e melhoram a vida das pessoas com quem interagem
(SAVITZ; WEBER, 2006).

2.3 O SETOR MADEIREIRO E O APELO SOCIOAMBIENTAL

O consumo crescente de materiais de construção e as sucessivas dificuldades encontradas para


adquirir madeira maciça com dimensões e qualidade adequadas às necessidades de consumo,
juntamente com a explosão na tecnologia de fabricação ocorrida antes da metade do século XX,
conduziram ao desenvolvimento das indústrias de produtos derivados de madeira (MORIKAWA,
2003). Ressalta-se, que este mercado é promissor, inclusive no Brasil, pois grupos têm investido
maciçamente na construção e modernização de gigantescas plantas industriais.

Na esfera social, o setor madeireiro apresenta uma considerável empregabilidade. Pois de acordo com
dados da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI), no ano
de 2016, o setor fechou com positiva variação nas vagas de trabalho em relação ao ano anterior. Com
57% (369 mil) dos empregos da cadeia de base florestal brasileira, a indústria de madeira sólida que
contempla produtos como painel de compensado, madeira serrada, pisos, portas e molduras. Sendo
responsável por 9% do total de empregos formais do país, fechando em 2015 com 39,663 milhões de
vagas de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Esse
resultado, segundo a mostra a relevância do setor para a economia brasileira, mesmo diante de um

5
489
Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

período de desaceleração (ABIMCI, 2016).

Na esfera ambiental, o setor de produtos madeireiros apresenta benefícios e vantagens competitivas


em relação a outros produtos substitutos (concreto, aço, plástico, etc). Mas é preciso contrapor-se à
concorrência dos produtos substitutos, e melhorar o desempenho da madeira com investimento em
desenvolvimento tecnológico e de marketing, mesmo existindo a percepção popular que o uso da
madeira está associada ao desmatamento descontrolado (GONZAGA, 2005).

Na comparação entre edificações similares construídas com estruturas de materiais diferentes


(madeira, concreto e aço), pesquisas canadenses mostraram que as edificações em aço e concreto
embutem 26% e 57% mais energia; emitem 34% e 81% mais gases de efeito estufa; liberam 24% e 47%
mais poluentes no ar; despejam 4 e 3,5 vezes mais poluentes na água; usam 11% e 81% mais matéria
prima em peso; e produzem 8% e 23% mais dejetos sólidos, respectivamente, do que as edificações
em madeira (CWC, 2004). Com base nestas colocações e nos dados apresentados, é percebido a
importância do setor florestal/madeireiro, para as micros e macros economias brasileira, destacando
as condições promissoras de proporcionar um desenvolvimento socioeconômico e ambiental mais
adequado, mesmo que em longo prazo.

2.4 OS APLS COMO IMPULSIONADORES DO DESENVOLVIMENTO

A ideia de aglomeração produtiva localizada em determinados territórios, vem sendo associada na


sociedade contemporânea, como conceito de competitividade. As formas organizacionais (clusters),
ou mais conhecidas no Brasil como Arranjos Produtivos Locais – APLs tornam-se objeto de políticas
públicas, sobretudo, temas para a discussão das ações coletivas (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003; FUINI,
2006; VICARI, 2009).

Entre as características do ambiente organizacional, a necessidade demonstrada pelas empresas em


atuarem de forma conjunta tem possibilitado a melhor competitividade no mercado (LASTRES;
ALBAGLI, 1999; ERBER, 2008). Desta maneira, os modelos organizacionais baseados na associação, na
complementaridade, no compartilhamento e na colaboração mútua vêm se destacando na literatura
(OLAVE; NETO, 2001).

A formação dos APLs favorece o acesso a recursos e competências especializadas disponíveis em


escala local, permitindo o aprofundamento de processos de aprendizado que reforçam a
sobrevivência e crescimento do grupo. Na medida que favorece a capacitação produtiva e tecnológica
dos envolvidos, amplia-se o acesso a financiamentos, suprimentos e comercialização da produção

6
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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

(CONEJERO; CÉSAR, 2007). Pontos considerados fundamentais para o desenvolvimento local e


regional.

Por fim, um APL deve buscar um acordo entre os atores locais, de maneira a organizar suas demandas
em um plano de desenvolvimento único para a ação coletiva (CALDAS et al., 2005). Órgãos de fomento
como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) têm apoiado a elaboração,
implementação e controle de estratégias em APLs, por meio do fortalecimento de entidades e da
governança local.

3. PROCEDIMENTOS MÉTODOS

Esta pesquisa é caracterizada como bibliográfica, descritiva e estudo de caso, sendo que os dados
foram analisados utilizando uma abordagem qualitativa-subjetiva, possuindo os seguintes
desdobramentos:

a) Revisão bibliográfica de autores sobre a temática da ação coletiva, utilização dos recursos comuns,
e a formação e desenvolvimento dos APLs. Pois ao iniciar este estudo, procurou-se levantar uma
considerável quantidade de informações sobre voltados aos APLs, em especial a APL da Madeira de
União da Vitória e Porto União, uma vez que este arranjo produtivo local recebeu uma série de
benefícios tanto de ordem financeira como de apoio técnico-documental, permitindo a este e outros
pesquisadores aprofundarem pesquisas sobre as ações aqui desenvolvidas.

b) Descritiva, pois a partir de entrevistas realizadas com empresários, pessoas da área públicas ligadas
ao arranjo e alguns integrantes da comunidade, possibilitou-se a descrição das ocorrências na
condução do APL da Madeira em reuniões e ações praticadas, fato o qual não foi encontrado em
registros ou atas mencionando detalhadamente as intenções e planos. Contudo a participação de um
dos pesquisadores (primeiro autor) como elemento ativo/passivo, foi fundamental para se conhecer
os reais acontecimentos na condução desta APL.

c) Estudo de caso, pois com uma série de informações levantadas, proporcionou-se uma análise dos
principais fatos desenvolvidos pelos integrantes, bem como associar os benefícios principalmente na
identidade mercadológicos para os dois municípios que compõem a APL da Madeira, em especial
União da Vitória.

7
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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 BREVE HISTÓRICO

O desenvolvimento da indústria madeireira na região ocorreu desde o início do século XX, a partir dos
esforços de imigrantes colonizadores (alemães, italianos, poloneses e ucranianos), os quais
organizaram seus trabalhos, construindo as primeiras comunidades, casas, igrejas e abrindo diversas
indústrias nos setores de fundição, curtume, móveis, olarias, serrarias e beneficiamento de erva-mate.
União da Vitória (PR) e Porto União (SC) foram contempladas por essas ações colonizadoras constituiu-
se as margens do Rio Iguaçu, uma das principais vias de transporte da época (COSTA, 2013).

A disposição para a manufatura de portas e janelas teve início em 1939, com a fundação da empresa
Bernardon Penso e Cia., inicialmente constituída na cidade de Bituruna (PR) a 70 km distância das
cidades supracitadas, e devido à dissolução de alguns sócios transferiu-se para União da Vitória,
constituindo a atual empresa Pormade – Portas Decorativas e várias outras de menor porte atuantes
no mesmo segmento.

Segundo Nota Técnica do IPARDES (2006, p. 02):

No ano de 2006, havia 255 estabelecimentos na região, sendo União da Vitória


o município mais significativo do APL da Madeira em número de
estabelecimentos (85). Assim, de acordo com a tipologia adotada pelo projeto,
o APL, configura-se como um Núcleo de Desenvolvimento Setorial-Regional, ou
seja, um sistema local com elevada importância para o setor madeireiro no
Estado.

4.2 AÇÕES COLETIVAS CRIAM O APL DA MADEIRA

A rede de cooperação, denominada de Programa APL da Madeira de União da Vitória (PR) e Porto
União (SC) foi implantada por iniciativas públicas e privadas, constituídas para atender aos interesses
da comunidade madeireira, sobretudo a classe empresarial, a fim de oferecer melhores condições de
competitivamente e exploração econômicas (IHLENFELD, 2009).

Ainda segundo Ihlenfeld (2009, p. 91 e 92):

Em 10 de março de 2005, o “Núcleo de Esquadrias de Madeira” teve a sua


composição ampliada para todos os segmentos madeireiros que, inicialmente,
foi denominado de “Projeto Arranjo Produtivo Local da Madeira de União da
Vitória (PR) e Porto União (SC)”, por meio de termo de compromisso, assinado
por 30 entidades públicas, privadas e 47 empresas, que se comprometeram em:
a) contribuir por meio de suporte operacional/técnico e/ou financeiro,
conforme suas competências; b) desenvolver ações e demais iniciativas
necessárias à obtenção de resultados para as empresas, sociedade em geral e

8
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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

desenvolvimento dos municípios; c) fazer a necessária articulação com demais


parceiros, com vistas à harmonização dos interesses dos integrantes e
articulação com outras entidades; d) atuar de forma comprometida, tendo
como meta a concretização de uma visão de futuro compartilhada por todos,
no sentido de conquistar vantagens competitivas e sustentáveis para o setor e
para a região.

4.3 FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE VOCACIONAL

Em paralelo as ações do APL da Madeira, a administração pública de União da Vitória (2004 a 2007),
procurou juntamente com as entidades privadas constituir um marco conceitual a fim de fortalecer
uma identidade vocacional ao município, conforme expressa Figura 01.

Figura 01 – Portal de acesso a União da Vitória – Via Rodovia BR-476


Fonte: Acervo do Autor
O portal de acesso principal a cidade, possui o seguinte letreiro: “Capital Nacional das Esquadrias de
Madeira”. Está descrição enfatiza a importância do setor madeireiro para o município, situando a
existência de vários empreendimentos que compunham o APL da Madeira na região.

4.4 PARTICIPAÇÃO EM FEIRAS E EVENTOS

Dentre as principais ações do APL da Madeira destaca-se a busca por tecnologias de produção,
ampliações mercadológicas e a consolidação da identidade vocacional aos municípios vizinhos,
participando e realizando feiras voltadas ao setor da construção civil (principal mercado consumidor
dos produtos madeireiros locais). Estas ações despertaram nos empresários, o interesse de aprimorar
a organização do setor, a fim de atingirem amplitude de divulgação de seus produtos.

9
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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

Nos eventos, além da divulgação da marca APL da Madeira e das empresas participes, eram
estabelecidas parcerias comerciais, verificação das tendências de mercado e a promoção de novas
oportunidades de negócios. No total foram realizadas quatro edições em eventos internacionais, que
exigiram cooperação dos empresários, desembolsos que previamente eram orçados pela coordenação
do APL, sendo atribuídos às empresas participantes (geralmente em torno de 9 a 15), a fim de viabilizar
a participação.

Um ponto que chamava a atenção nas feiras era a presença de empresas de micro, pequeno e médio
porte, em eventos de abrangência internacional, algo incogitável se proposto em ação empresarial
individual. A composição e modelo do stander permitia ao público conhecer uma variedade de
produtos em um mesmo local, conforme apresentado na Figura 02.

Figura 02 – Stander de Divulgação na Feicon Batimat – Salão Internacional da Construção e


Arquitetura (http://www.feicon.com.br/). Edição 2013.
Fonte: Acervo dos Autores

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As abordagens apresentadas neste estudo são frutos de ações realizadas em conjunto que buscaram
promover o desenvolvimento local e regional, sobretudo no aspecto econômico e fortalecendo a
identidade vocacional do município de União da Vitória, bem como seu entorno, por meio do APL da
Madeira. Entretanto, é importante destacar que os resultados produzidos por este APL encontraram
diversos percalços, entre eles as entradas e saídas de atores durante o processo, mostrando que há
conflitos de interesses entre indivíduos e suas organizações, em especial, quando surgem dispêndios

10
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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

a serem distribuídos aos participantes (OLSON, 1999).

Neste sentido as teorias sobre a ação coletiva de Mancur Olson (1999), podem ressaltar neste estudo,
ao apontar que o suposto sucesso da atitude conjunta está presente no pequeno grupo, o que de fato
ocorria, tendo a participação média de 9 a 15 empresas que se disponibilizavam a assumir os gastos
quando participavam dos eventos.

Ressalta-se que é de vital importância para um APL, orientada para o mercado, a busca contínua de
uma melhor compreensão das demandas e dos fatores que agregam valor à oferta. Estas orientações
segundo Conejero e César (2007) deverão tornar-se estratégias na construção coletiva, aplicando uma
adequada governança com aprimoramento do sistema para sua implantação.

Analisando com viés de gestão participativa, destaca-se que cada fase pode envolver diferentes
grupos, criando oportunidades para a aprendizagem mútua. Na aprendizagem social não se leva
necessariamente a mudanças de atitude ou comportamentos, mas é permitido conduzir a
compreensão e apreciação de pontos de vistas opostos (STRINGER et al, 2006). Assim, por mais que
um elemento não se mantenha presente do início ao fim, pode ter colaborado no meio do processo.

Entre as questões debatidas pela APL da Madeira, havia preocupações com o desenvolvimento
sustentável, cabendo ressaltar que o desenvolvimento é possível sem impactar drasticamente aos
bens comuns, mesmo que complexas e exigentes nas ações, uma vez que as realidades percebidas são
desiguais, mas possíveis de serem superadas com estudos específicos em cada prática (OSTROM, et
al, 1999).

Pois o diálogo com os stakeholders apresenta-se de fundamental importância, tendo o objetivo de


incentivar as participações dos representantes do setor público, privado e social, na conjugação das
visões sobre a sustentabilidade dos recursos naturais e esforço para decidir sobre as ações locais
(RAMIREZ, 2016).

No caso estudado da APL da Madeira, conclui-se que apesar desta não apresentar um processo linear,
o fato de promover estratégias e empreender atividades, desde a realização de feiras a níveis
internacionais, missões técnicas e comerciais ao exterior, rodadas de negócios, treinamentos
específicos entre outros, oportunizou alcances que jamais teriam sido obtidos se não fossem
alcançados em conjunto.

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Arranjo Produtivo Local E Ação Coletiva: Mercado Madeireiro E Estratégia Organizacional

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13
497
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 27
10.37423/200902814

GESTÃO DO CONHECIMENTO: UMA


ABORDAGEM PRELIMINAR PARA CONSTRUÇÃO
DE MODELO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR PRIVADA

ANDREIA MARQUES MACIEL DE CARVALHO Centro Universitário UNIFEG


Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
Privada

Resumo: A gestão do conhecimento é um dos temas mais discutidos atualmente entre acadêmicos,
empresários e consultores que se preocupam com o futuro das organizações. Pesquisadores têm feito
estudos sobre o desenvolvimento de técnicas, sistemas e modelos a fim de gerenciar o conhecimento
e assim melhorar o desempenho e a eficiência organizacional. Este artigo é resultado de uma pesquisa
exploratória, introduz conceitos de Gestão de conhecimento, avalia alguns estudos sobre gestão de
conhecimento no contexto acadêmico, faz uma análise comparativa entre eles com o objetivo de
investigar e propor elementos imprescindíveis para criação de um novo modelo de Gestão de
Conhecimento que seja aplicável em Instituições de Ensino Superior.

Palavras-chaves: Gestão do conhecimento, Instituições de ensino superior, modelos.

1
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Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
Privada

1. INTRODUÇÃO

É evidente que a Gestão do Conhecimento muito tem sido abordada sob o aspecto do conhecimento
explícito e sob seu ângulo tecnológico, devido a uma evolução lógica dos sistemas de informação
tradicional geralmente apoiada em substanciais recursos de tecnologia de informação.

Percebe-se, ainda, que da mesma forma, tem sido adotada, sobretudo, por organizações de setores
que demandam alta tecnologia e/ou que dependem fortemente de pessoas, quer “fabriquem”
produtos ou serviços, que percebem na Gestão de Conhecimento um instrumento para aumentar sua
competitividade.

Dessa forma, o presente artigo visa apresentar a visão mais corrente da Gestão do Conhecimento e a
viabilidade de sua utilização em instituições de ensino superior (IES), em que os serviços têm alto grau
de intangibilidade e cuja qualidade depende fortemente das pessoas encarregadas de prestar o serviço
na linha de frente - quais sejam, os professores - e também determinar as bases para um modelo de

Gestão do Conhecimento adequado a instituições privadas de ensino superior que almejem adotar
esta ferramenta como uma alternativa para aumentar sua competitividade. Vale ressaltar que não são
alvo deste estudo os inegáveis benefícios que o modelo pode trazer à qualidade do ensino, sendo
abordados apenas marginalmente.

No entanto, o objetivo principal do estudo é estabelecer as principais bases de um modelo de Gestão


do Conhecimento adequado a instituições de ensino superior, especialmente focado no
compartilhamento de conhecimento (sobretudo, tácito) entre os membros de seu corpo docente.

2 METODOLOGIA

A metodologia usada nesse trabalho foi a pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, visando
entender como a Gestão do Conhecimento pode desenvolver um diferencial competitivo dentro das
instituições de ensino superior.

De acordo com Vergara (2005, p. 48) uma pesquisa bibliográfica é uma pesquisa baseada em material
publicado em livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado, relatórios, monografias, revistas
especializadas, jornais, redes eletrônicas. À proporção em que a pesquisa é desenvolvida são feitas
anotações de elementos importantes ao tema escolhido, buscando embasar e referenciar o trabalho
acadêmico. Para esse trabalho as áreas pesquisadas foram a Gestão do Conhecimento e Instituições
de ensino superior.

2
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Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
Privada

Para Cervo (2005, p. 69) estudos exploratórios não elaboram hipóteses, restringe-se em definir
objetivos e encontrar mais informações sobre determinados assuntos. Ainda segundo o autor a
pesquisa descritiva, embora permeie as diversas fases da pesquisa bibliográfica, apresenta
características próprias: observa, registra, analisa e correlaciona fato sou fenômenos sem manipulá-
los, orientando para a execução de trabalhos dessa natureza.

3. POR QUE ESTUDAR A GESTÃO DO CONHECIMENTO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR?

Pode-se dizer que no âmbito de uma Instituição de Ensino Superior, o conceito de conhecimento está
atrelado ao conceito de know-how (ou seja, saber como fazer), o qual pode ser traduzido por: saber
como desempenhar o papel de professor. Dessa forma, colocam-se como partes integrantes desse
papel vários aspectos do saber como ser professor que estão ligados à questão didática: como
conduzir o processo de ensino/ aprendizagem junto a diferentes classes e alunos, como transmitir
didaticamente cada tipo de conteúdo, como interagir com as classes (coletivamente) e com os alunos
(individualmente), como montar o programa de uma disciplina, como preparar um instrumento de
avaliação, como avaliar os alunos por produto (provas, trabalhos, exercícios) e por processo
(frequência, participação em classe, contribuição efetiva nos debates), entre outros.

Apontam-se, ainda, algumas funções igualmente importantes para saber como desempenhar o papel
de professor: pesquisar, atualizar-se (inclusive tecnologicamente), gerar produção acadêmica
(dissertações, teses, artigos, livros), realizar capacitação na área de domínio conceitual e prático e,
claramente, ir além.

Corroborando a importância do compartilhamento de know-how para a Gestão do Conhecimento, é


possível dizer que o conhecimento pode ser distinguido entre conhecimento do indivíduo e do grupo,
da organização e da rede de organizações; o aprendizado entre os indivíduos ocorre através da
interação entre pequenos grupos. A transferência de conhecimento pode ocorrer de forma horizontal,
ou seja, dentro da mesma função, onde a diferença na codificação da linguagem dos grupos é mínima.
No caso de ocorrência vertical, entre grupos diferentes, a codificação tem um papel central. Para se
facilitar os processos, é necessário que se use uma codificação acessível a todos, devendo-se
considerar três pontos importantes referentes à natureza intrínseca do conhecimento, os quais são
relevantes para a ação estratégica (FLEURY & OLIVEIRA JR., 2001):

a) definição do conhecimento que deve ser desenvolvido pela empresa;

b) como as empresas devem compartilhar o conhecimento que constituirá sua vantagem competitiva;

3
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Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
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c) quais as formas pelas quais o conhecimento constitui a vantagem da empresa pode ser protegido e
quais as possibilidades estratégicas ligadas à natureza do conhecimento;

O conhecimento pode atingir várias dimensões, desde o indivíduo, o grupo e a organização até uma
rede de organizações interagentes.

Nesse sentido, Duguid & Brown (2001, p. 62) argumentam que o conhecimento se fundamenta não
apenas no indivíduo, mas também está distribuído pelo grupo de pessoas que trabalham juntas.

A pressuposição é que, mais do que falar, as pessoas são capazes de responder às situações reais, de
fazer as coisas acontecerem.

Em seus estudos, Zabot & Silva (2002, p. 14) definem conhecimento como “[...] a capacidade de
relacionar informações estruturadas e não estruturadas com regras constantemente modificadas e
aplicadas pelas pessoas na empresa”. A comprovação do processo de aprendizagem é o
conhecimento.

Existem diferentes tipos de conhecimento. O conhecimento pode ser classificado em: conhecimento
explícito e conhecimento tácito. Conhecimento explícito é um conhecimento útil, tal como um dado
ou uma informação. Este tipo de conhecimento está registrado e pode ser facilmente processado,
armazenado e transmitido. O conhecimento explícito pode ser transmitido, por exemplo, por meio de
aulas, livros ou manuais de instruções.

Já o conhecimento tácito possui uma qualidade pessoal. É um conhecimento útil para a organização,
mas a utilização desse conhecimento depende das experiências, valores, emoções e relacionamentos
dos indivíduos. A transmissão do conhecimento tácito “[...]exige comunicação pessoal e interação[...]”

(RODRIGUES, 2001, p. 89).

Dessa forma pode-se afirmar que as organizações atuam em um ambiente mutável, no qual há
relações de interação entre todos os processos da empresa a fim de alcançar um determinado
objetivo. A aprendizagem é fator principal nas organizações atuais que almejam valorizar o Know How
dos seus funcionários, as quais valorizam a importância de usar o conhecimento como estratégia
organizacional.

4. GESTÃO DO CONHECIMENTO

Identificou-se nos estudos pesquisados que há um consenso que a Gestão do Conhecimento trata de
disseminar o conhecimento que está implícito nas práticas individuais e coletivas da organização.

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Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
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De acordo com Nonaka & Takeuchi (1997), a gestão do conhecimento deve tornar explícito o
conhecimento que decorre da experiência dos indivíduos.

Segundo Clarke (2000), a Gestão do Conhecimento é uma ferramenta que irá transformar os
arquétipos de competição, de forma que os gerentes busquem, cada vez mais, trabalhadores do
capital humano. A Gestão do Conhecimento provém de duas áreas da empresa: a tecnologia da
informação e a qualidade.

Assim, em uma abordagem simples, pode-se afirmar que problemas são solucionados por pessoas ou
grupos, por meio de ferramentas tecnológicas aliadas às informações. Já a qualidade refere-se ao
desenvolvimento da organização e manutenção de seus processos, cultura, tecnologia e sistemas de
mensuração para criação, coleta, organização disseminação e uso do conhecimento, a fim de se obter
a vantagem competitiva.

Numa economia em que a única certeza é a incerteza, o conhecimento representa fonte segura de
vantagem competitiva (NONAKA, 2000). As empresas são formadas por um conjunto de recursos
internos que definem os principais fatores determinantes da competitividade da organização. O
conhecimento organizacional deve ser considerado como um ativo intangível para a empresa (FLEURY

& OLIVEIRA JR., 2001).

Para Nonaka e Takeuchi (1997), o avanço tecnológico e comercial das empresas japonesas a partir da

2ª metade do século XX adveio da capacidade de inovação contínua; para os autores esta habilidade
para inovar, por um lado, é alimentada pelo conhecimento gerado e compartilhado pela empresa (em
um ciclo permanente de conhecimento que flui “de fora para dentro” e de “dentro para fora” da
empresa) e, por outro, contribui para a construção de vantagens competitivas, conforme resumem na
Figura 1.

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Gestão Do Conhecimento: Uma Abordagem preliminar Para Construção De Modelo Em Uma instituição De Ensino Superior
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Fonte: NONAKA e TAKEUCHI (1997, p. 5)


Figura 1 - construção de vantagens competitivas
No presente estudo, a atenção concentra-se na incorporação da Gestão do Conhecimento à cultura
da organização; esta incorporação não é estudada como um paradigma universal e nem deve ser vista
como tal, seja pelas IES ou por qualquer tipo de corporação. Mas vale ressaltar que a introdução da
Gestão do Conhecimento nas empresas reforça seu preparo para seu desenvolvimento e consolidação
no mercado, seja este um mercado de produtos de consumo, de bens industriais ou de serviços,
inclusive educacionais.

5. A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DO CONHECIMENTO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2001) classificam as empresas a partir do setor de atividade; para ele,
as instituições de ensino superior privadas constituem um setor econômico específico e compartilham
várias características, entre elas:

a) Diferenciação das instituições em termos qualitativos (cursos oferecidos, qualificação do corpo


docente) e quantitativos (porte).

b) Interdependência entre instituições situadas na mesma região: o comportamento e o desempenho


de uma instituição têm reflexos diretos sobre as demais. Quanto menor for o número de instituições
e mais semelhante for seu porte, maior será a interdependência, com o estabelecimento de padrões
para o setor pelos líderes do mercado.

c) pequena diversidade nas tecnologias educacionais e nos processos utilizados.

d) Competição por novos alunos por meio do lançamento de novos cursos.

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e) Os cursos agregam alto conteúdo tecnológico e de conhecimento. Cursos semelhantes em


conteúdo: a diferenciação se dá pelo padrão de qualidade e das especificações didático-pedagógicas.

Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2001) também propõe estratégias genéricas para a gestão de pessoas
nas IES. Entre elas, destaca-se:

a) Necessidade de criação e manutenção de um Banco de Talentos (os professores), em razão da


exigência de mão-de-obra altamente qualificada.

b) Diferenciação no padrão de qualidade das pessoas e dos serviços agregados, como contraponto à
homogeneidade dos cursos concorrentes.

c) Melhoria da qualidade acadêmica da instituição, com foco no fortalecimento da base conceitual de


cursos, disciplinas e corpo docente.

d) Utilização da tecnologia de informação para apoiar a implantação da Gestão do Conhecimento na


instituição.

e) Redução de custos operacionais via informatização de processos operacionais.

Dessa forma, para que as IES evoluam na direção de uma melhor adaptação de seus modelos de gestão
às novas características de seus mercados, torna-se relevante uma avaliação estratégica do ambiente
competitivo.

6. PRÁTICAS EM GESTÃO DE CONHECIMENTO

Choo (2005) chama a atenção para o conhecimento cultural constituído pelas estruturas cognitivas e
afetivas e, ao dar ênfase a importância do histórico em termos de experiência, normas, políticas e
metas da organização, identifica dois tipos de aprendizagem organizacional:

- single-loop, modificando apenas ações organizacionais;

- double-loop, em que são identificadas necessidades de reestruturação das normas organizacionais.

As práticas de Gestão do Conhecimento são bastante particulares e seguem a estrutura e a cultura


organizacional existentes. De acordo com a OECD (2003), essas práticas podem ser categorizadas,
conforme descrito no quadro a seguir:

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Fonte: OECD, 2003


Quadro1 – Práticas de Gestão do Conhecimento
A partir dessas práticas, vale destacar a distinção entre práticas de Gestão do Conhecimento e sistema
de Gestão de Conhecimento, uma vez que as práticas de Gestão de Conhecimento estão voltadas para
produção, retenção, disseminação, compartilhamento e aplicação do conhecimento dentro das
organizações, bem como na relação com o mundo exterior.

7. CONSTRUINDO AS BASES DO MODELO PARA COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO

É importante entender antes iniciar a construção de um modelo, o que são modelos, para que servem
e quais são suas limitações. De acordo com Fourez (1995), os modelos são representações da
realidade, que são, posteriormente, moldados e testados pela ciência. Assim, ele afirma que:

[...] a ciência surge como uma prática que substitui continuamente por outras
as representações que se tinha do mundo. Aliás, começa-se a fazer ciência
quando não se aceita mais a visão espontânea como absolutamente necessária,
mas como uma interpretação útil em determinado momento. Os nossos

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modelos partem sempre de uma visão ligada à vida cotidiana, de uma visão
espontânea, evidentemente condicionada pela cultura (FOUREZ, 1995, p. 66).
Por serem diretamente ligados à realidade (temporal, cultural, tecnológica, ambiental etc.) – são
“construções” feitas para durar apenas “enquanto ‘nos satisfizerem” (FOUREZ, 1995, p. 71). E Fourez
ainda acrescenta:

A decisão de, em determinado momento, conservar ou rejeitar um modelo, não


provém diretamente de critérios abstratos e gerais. Na prática, abandona-se
um modelo (ou uma lei, ou uma teoria) por razões complexas que não são
jamais inteiramente racionalizáveis. Há sempre uma decisão mais ou menos
“voluntarista” e não necessária. (FOUREZ, 1995, p. 71).
Corroborando com o autor, ao construir um modelo, o pesquisador precisa garantir seu alinhamento
com o momento e o ambiente em que estuda o fenômeno, precisa construí-lo de forma a representar
fielmente a realidade vigente e deve estar consciente da transitoriedade desse modelo que será, cedo
ou tarde, superado ou se tornará inadequado em razão da evolução da ciência e das mudanças na
realidade a partir do qual foi concebido.

Vale ressaltar que o estudo de Youssef (2010) contribuiu para o desenvolvimento do estudo pois, teve
o mesmo objeto de estudo, portanto utilizou-se as condições, premissas e focos do modelo para o
desenvolvimento do presente artigo.

Com relação ao modelo que é objeto deste capítulo, vale ressaltar as condições que orientaram seu
desenvolvimento:

1) propõe-se a verificar como grupos de professores podem trabalhar colaborativamente, sem levar
em conta questões inerentes ao trabalho individual de seus membros.

2) o modelo está voltado para Pedagogia Libertadora – inspirada na Pedagogia da Autonomia, de Paulo

Freire (2001) – que fornece uma base adequada para o desenvolvimento de adultos, ao perceber
alunos e professores não como produtos ou meios de produção, mas com cidadãos em pleno domínio
de sua vida e de sua liberdade.

Assim, apresenta-se abaixo as premissas e os focos do modelo:

a) Premissa básica para a construção do modelo: o conhecimento a ser compartilhado é complexo por
ser, eminentemente, conhecimento tácito.

b) Premissas genéricas sobre IES: as IES são, por definição, organizações produtoras e disseminadoras
de conhecimento; os serviços educacionais são essencialmente intangíveis, uma vez que se baseiam

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no processo de ensino-aprendizagem o qual, em um sistema de ensino presencial, só se concretiza em


sala de aula, por meio da figura do professor e sua interação com os alunos.

c) Premissas relacionadas ao perfil das IES elegíveis para o uso do modelo: deve ser uma instituição
privada de ensino superior; a IES deve dispor, em seu corpo docente, de um número significativo de
professores que possui o talento e o conhecimento (sobretudo tácito, mas também explícito) que se
deseja compartilhar; todos os professores pertencentes ao corpo docente possuem as competências
mínimas necessárias para absorver novos conhecimentos e se tornarem, também, professores
talentosos e especiais; boa parte das IES não está disposta, a priori, a fazer investimentos significativos
para o desenvolvimento e a implementação de um modelo de compartilhamento de conhecimento
enquanto não acreditarem na aplicabilidade do modelo à instituição, nos resultados positivos em
potencial e em sua efetiva contribuição para o aumento da competitividade da IES.

Por sua vez, os três focos do modelo são:

a) O modelo concentra-se nos professores e em seu papel como criadores e disseminadores de


conhecimento.

b) O modelo possibilita sua implantação por etapas ou limitada, por exemplo, a um determinado
departamento e como um projeto-piloto a ser testado e ajustado antes de ser estendido à instituição
como um todo.

O quadro 2 sintetiza as bases do modelo e as iniciativas a serem tomadas por uma IES que deseje
aceitar o desafio que é a construção do modelo e sua implantação.

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Fonte: adaptado de Youssef (2010)


Quadro 2. Bases para o modelo de compartilhamento de conhecimento
Para Youssef (2010) as bases utilizadas para a construção do modelo de compartilhamento do
conhecimento entre os docentes de uma instituição de ensino superior mostraram-se, após as etapas
de estudo e pesquisa, coerentes com os trabalhos desenvolvidos por diferentes autores nacionais e
internacionais, bem como com as experiências reais e os casos analisados.

8. ANALISES E CONSIDERAÇÕES

Nesse capitulo é importante analisar cada uma das bases conceituais do modelo

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Fonte: adaptado de Youssef (2010).


Quadro 3 - bases conceituais do modelo e suas justificativas
Vale ressaltar que as bases aqui expostas para a construção de um modelo de compartilhamento do
conhecimento entre os docentes de uma instituição de ensino superior mostram-se coerentes com as
pesquisas desenvolvidas. Para aumentar as chances de se criar um modelo desta ordem, deve-se
seguir uma recomendação adicional a qual seria a de implantá-lo como um projeto-piloto, restrito a
um departamento ou a uma unidade da instituição, dependendo da estrutura da IES.

Essa alternativa pode reduzir as objeções quanto aos investimentos necessários, bem como
proporcionar a oportunidade de se corrigir eventuais falhas no modelo antes de implantá-lo.

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17
515
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 28
10.37423/200902830

INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE


E ARMAZENAGEM DA SOJA NO ESTADO DO
MARANHÃO - BRASIL

Ricardo Niehues Buss Universidade Federal de Santa Catarina

Glécio Machado Siqueira Universidade Federal do Maranhão


Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Resumo: O agronegócio representa um dos principais pilares da economia do estado do Maranhão, e


para que continue crescendo necessita de um sistema logístico que viabilize sua competitividade no
mercado. Porém, a logística pode representar um grande entrave ao agronegócio, dificultando e
encarecendo o processo produtivo e de distribuição. Nesse sentido, o presente estudo realizou uma
análise da realidade da logística do agronegócio, com foco na cultura da soja no estado do Maranhão,
por meio de pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados relacionados aos modais de transporte
e armazéns demonstram ineficiência na estrutura utilizada para o escoamento dos produtos agrícolas,
principalmente nos modais rodoviários, ferroviários e hidroviários. Desse modo, este tema possibilita
o direcionamento de estudos focais, por apresentar dados concisos e cruzados, que possam
apresentar melhorias para a regiões, melhorando a eficiência do agronegócio e maximização dos
custos logísticos.

Palavras-Chave: Agronegócio; Modais de Transporte; Armazenagem; Logística.

1
517
Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

1 INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais do agronegócios, sendo o segundo na produção de


soja, batendo recordes consecutivos de produção. Porém a competitividade brasileira é prejudicada
no momento em que o produto agrícola, com custos mais baixos, passa da porteira para fora das
propriedades rurais, chegando ao seu destino com custos mais elevados, devido aos fatores logísticos,
principalmente pela ineficiência dos mesmos. A infraestrutura logística deve ser provida pelo Estado,
sendo responsável por um componente relevante dos custos com que as mercadorias chegam aos
mercados internos e externos. Mas a realidade é outras, concessões de ferrovias e portos para a
iniciativa privada, encarecem e dificultam o escoamento e a competitividade do setor. (Batalha et al.,
1997; Kussano e Batalha, 2012).

Para que a expansão da soja continue acontecendo, é necessário que as operações logísticas
obtenham o melhor desempenho, além de uma infraestrutura capaz de promover o fluxo do produto
por todos os integrantes da cadeia. A soja é importante gerador do processo de mecanização e da
entrada de novas técnicas é métodos de plantio e colheita, bem como transporte, armazenagem,
beneficiamento de grãos, e demais estruturas logísticas globais.

Desse modo, a competitividade do agronegócio está intimamente relacionada aos processos


logísticos, não apenas nas atividades internas a propriedade, mas também no macroambiente em que
estão inseridas. A logística atua no processo de planejamento, implementação e controle de
procedimentos para o transporte eficiente e eficaz de recursos, além da armazenagem e estocagem
de mercadorias, incluindo os serviços e informações ao longo da cadeia de suprimentos atendendo as
necessidades dos clientes. (Council of Supply Chain Management Professionals, 2016; Bowersox e
Closs, 2010; Corrêa, 2014).

O transporte e a armazenagem da produção agrícola são fatores logísticos com maior influência no
custo final do produto, no caso da soja podendo chegar a 25% do valor do produto, desempenhando
assim papel crucial na cadeia de fornecimento. A melhoria de seu desempenho está relacionada a
utilização de planejamento, métodos e ferramentas, que proporcionem a redução de velocidade,
diminuição de custos e a garantia da qualidade dos produtos. (Castillo, 2004; Burdzik et al., 2014;
Behrens, Picard, 2011; Kussano e Batalha, 2012).

Nesse sentido, o Estado do Maranhão tem se transformado em um grande polo atrativo no cenário
nacional, devido o desenvolvimento de um sistema multimodal de transporte (hidrovia, ferrovia,

2
518
Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

rodovia e porto). O Estado destaca-se como grande exportador de minérios por meio de seus portos
com calados profundos o suficiente para receber os maiores navios do mundo. Já a estrutura da
Ferrovia de Carajás, utilizada para o escoamento de minérios até o porto e sua intersecção com a
ferrovia Norte-Sul, vem se tornando alternativa para a produção do agronegócio gerado no Maranhão
e estados vizinhos.

O agronegócio do Maranhão desenvolveu-se nos últimos anos, segundo dados do IBGE (2006, 2014),
em áreas de cerrado aptas a agricultura, transformando-se em importante região agrícola na produção
de grãos, principalmente a soja, que está adaptada e em crescente expansão. Essa expansão exige
maior eficiência do sistema logístico, principalmente no que diz respeito ao transporte armazenagem.

Destarte, a logística do Estado do Maranhão apresenta características que poucos estados da


federação possuem. Portos preparados para cabotagem e exportação de grãos para grandes mercados
como Europa e América do Norte, bem como Ásia (pelo Canal do Panamá), ferrovias que cortam o
estado possibilitando fretes mais baixos e rodovias que interligam os principais modais. Porém, a
existência dos modais não significa que os mesmos funcionam e possibilitam a eficiência logística
desejada. Diante deste contexto, o objetivo deste estudo é o de analisar a infraestrutura logística de
transporte e armazenagem da soja no agronegócio do Estado do Maranhão.

2 FUNDAMENTOS DA LOGÍSTICA

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais do agronegócios, batendo recordes de produção a


cada ano. Porém a competitividade brasileira é prejudicada pela ineficiência dos fatores logísticos. A
infraestrutura logística é responsável por componentes relevantes dos custos com que as mercadorias
chegam aos mercados internos e externos. (Batalha et al., 1997). Desse modo, um sistema logístico
eficiente, é imprescindível para as operações de produção e marketing em nível global, atendendo as
necessidades exigidas pelos clientes, e ainda suprimir às crescentes dúvidas relacionadas a aspectos
como: distância, demanda, diversidade e a documentação das operações, sendo que estes desafios
alteram muito para cada região. (Bowersox e Closs, 2010; Corrêa, 2014, Behrens e Picard, 2011).

A logística objetiva garantira disponibilidade de produtos, materiais, informações e serviços ao longo


da cadeia de suprimentos com a máxima eficiência, qualidade e rapidez a um custo justo, por meio da
função de transporte e distribuição, proporcionando ao cliente os níveis de serviços desejados, ao
menor custo, no lugar certo, no tempo certo e na condição desejada. (Rocha, 2008; Hesse e Rodrigue,
2004).

3
519
Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Outra importante função da logística está relacionada ao provimento da rentabilidade nos serviços de
distribuição e armazenagem entre os fornecedores, clientes e consumidores, operando por todas as
atividades que facilitem o fluxo de produtos ao longo da cadeia de suprimentos, desde o ponto de
aquisição de matéria-prima até o ponto de consumo final. A função de armazenagem gera proteção
as mercadorias quando em espera e durante o transito. A expansão das principais infraestruturas,
como rodovias, terminais, portos, aeroportos tem sido essencial para o desenvolvimento logístico,
principalmente na evolução de seus processos até a sua integração na gestão da cadeia de
suprimentos. (David e Stewart, 2010; Hesse e Rodrigue, 2004).

A atividade de transporte é um dos elementos fundamentais na composição do custo logístico para o


agronegócio e refere-se aos métodos utilizados para a movimentação de produtos, sendo eles: o
modal rodoviário, ferroviário, aquaviário, aéreo e o dutoviário. A seleção destes modais relacionam-
se a: característica e natureza do produto; as restrições de cada modal; o tamanho do lote; a
disponibilidade e frequência do transporte; o tempo de transito; valor de frete; taxa de falta ou avaria
e o novel de serviço prestado. (Rodrigues, 2007; Ballou, 2010).

O modal rodoviário absorve 61,1% do transporte total de cargas no país, seguido pelo ferroviário com
apenas 20,7%, o aquaviário com 13,6%, dutoviário com 4,2%, e o aeroviário com 0,4%. (CNT, 2011a).

O modal rodoviário, é o segundo mais caro, perdendo apenas para o aéreo, e destaca-se nesse
panorama por uma serie de conjunturas, entre elas de maior investimentos ao longo dos anos pelo
Estado e pela ineficiência estrutural dos demais modais. (Fleury et al., 2011). À competitividade e
vantagens de cada um dos modais são inerentes a suas características, sendo que para longas
distancias, o frete unitário (U$S/t x km) do modal ferroviário é cerca de 36% menor do que o modal
rodoviário, já o hidroviário é aproximadamente 58% inferior ao modal rodoviário. Neste caso a
vantagem do modal rodoviário encontra-se na sua utilização em distâncias inferiores a 500 km; o
ferroviário para distancias entre 500 e 1.200 km; e o hidroviário para distâncias acima de 1.200 km.
(Caixeta Filho, 2006).

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O Estado do Maranhão possuí uma área de 331.937, 450 km2, localizado no extremo oeste da região
nordeste, tendo como seus limites o Oceano Atlântico (norte), Piauí (leste), Tocantins (sul e sudoeste)
e o Pará (oeste). O Estado possui grande importância no escoamento da produção do agronegócio nas
áreas de influência do corredor Centro-Norte, seja com destino a exportação, ou ao mercado interno

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

por meio da cabotagem. (CONAB, 2005). A Infraestrutura de transporte de cargas no estado do


Maranhão destaca-se por integrar os modais Rodoviário, Aquaviário e Ferroviário.

A malha rodoviária do Estado contempla cerca 55.683 km, que permite a ligação entre os diversos
municípios do estado e entre os estados vizinhos (Pará, Tocantins e Piauí). Desses apenas 7.306 km
são pavimentados e 48.377 km não pavimentados, tendo seu estado de conservação regular/ruim de
aproximadamente 79% da malha rodoviária. (ETENE, 2010).

Com relação ao modal ferroviário, o Brasil possui uma malha desproporcional a sua dimensão
territorial, com apenas 29.817 km. Nesse quesito o Maranhão se destaca por ser atendido por três
ferrovias (VALEC, 2016; ANTF 2016): a Estrada de Ferro de Carajás (EFC), com extensão total de 892
km, ligando São Luís (MA) a Carajás (PA), sendo que 685 km estão dentro do estado do Maranhão; a
Ferrovia Norte Sul (FNS), que quando concluída terá uma extensão de 4.155 km percorrendo os
estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O trecho da Ferrovia no Estado do Maranhão é de 200 km e liga
Açailândia (MA) a Porto Franco (MA), já em atividade; e a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN),
com uma extensão de aproximadamente 4.207 km, passando pelos estados do Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas até Sergipe. No Estado do Maranhão a
ferrovia estende-se de São Luís ao município de Timon, com 450 km.

Quanto a infraestrutura aquaviária, a cidade de São Luís (capital do Estado) possui três portos de águas
profundas (Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, Porto de Itaqui, Porto da Alumar), interligado
pelo ramal ferroviário, sendo de grande importância para o Estado, assim como para o Brasil.

O mapa referente a área plantada da soja, infraestrutura de armazenagem, rodovias e ferrovia do


estado do Maranhão, foram construídos por meio do banco de dados e informações extraídos de
diversos órgãos relevantes de cada setor, como: Confederação Nacional de Transportes - CNT,
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes - DNIT, Companhia Nacional de
Abastecimento - CONAB, Banco do Nordeste - ETENE, VALEC Engenharia, Construções e Ferrovia S.A.,
Associação Nacional dos Transportes Ferroviários - ANTF, Companhia Ferroviária do Nordeste - CFN,
Agencia Nacional de Transportes Aquaviário - ANTAQ, Empresa Maranhense de Administração
Portuária - EMAP, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. A partir dos dados, estes foram
cruzados possibilitando a visualização de informações importantes, bem como a elaboração de mapas
relevantes ao estudo.

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521
Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Conveniou-se para a comparação entre produção e capacidade estática de armazenamento, que a


produção intermediária entre dois anos, conforme utilizada pela CONAB (2017, 2016), será comparada
com a capacidade estática do ano final da safra. Exemplo: produção referente a safra de 2014/2015,
será comparada com a capacidade estática relativa ao ano de 2015.

3 ANÁLISE DA LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO NO MARANHÃO

O agronegócio é um sistema integrado entre as operações ao longo da cadeia produtiva, sendo a união
dos processos de produção e de distribuição dos suprimentos agrícolas somadas com as operações
produtivas na propriedade agrícola e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos
agrícolas e derivados. (Davis e Goldberg, 1957).

Devido o aumento da densidade demográfica e da exploração pecuária (aves, bovinos e suínos) a


procura por produtos agrícolas tem aumentado consideravelmente no Nordeste brasileiro, sendo
necessário a importação destes produtos de outras regiões do país e do exterior para suprir esta
demanda. Esse foi um dos principais impulsionadores à expansão das áreas cultivadas e aumento da
produção das região do cerrado no sul do Maranhão e sudoeste do Piauí, que possuem uma extensa
fronteira agrícola. (Arnhold et al., 2010).

As principais cultivares do Estado são arroz, cana-de-açúcar, feijão, mandioca, milho e soja. A
quantidade produzida da soja passou de 786.174 t em 2006 para 1.875.792 t em 2014, apresentando
um crescimento da produção de 138,60%. Hoje a maior área plantada de lavoura no estado do
Maranhão é da soja, sendo 677.540 hectares em 2014. (IBGE, 2014).

Esses resultados estão relacionados em parte a melhoria da produtividade pelo uso de tecnologias,
terras mecanizáveis e o desenvolvimento de sistemas de produção mais eficientes, além da região
estar em uma área estratégica e promissora para expansão agrícola, ela ainda facilita a exportação de
grãos para países da Europa e Estados Unidos. (Arnhold et al., 2010).

A figura 2 apresenta a distribuição da área plantada da soja no estado do Maranhão, a distribuição de


pontos de armazenagem de grãos, bem como a interação entre os modais rodoviário, ferroviário e
aquaviário existentes no estado. A figura mostra que a região sul é responsável pela maior produção
do Estado, concentrando maior percentual de área plantada e capacidade de armazenagem. Mesmo
a região sul sendo a mais produtiva, outras mesorregiões, principalmente no leste maranhense, vem
ampliando a produtividade e ganhando destaque no Estado. Em parte devido a valorização fundiária
acelerada na região sul, além de incentivos realizados por outras regiões e custos logísticos menores.

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Figura 1: Distribuição da área plantada da soja e infraestrutura logística

A competitividade do agronegócio está diretamente relacionada a comercialização e o escoamento de


sua produção. Grandes investimentos são direcionados para melhorar a integração entre os processos
logísticos, principalmente movimentação e armazenagem, visando atender o mercado interno e
externo. Nesse sentido, o estado do Maranhão possui grande aptidão para desenvolver um sistema
cada vez mais complexo, de modo que as áreas de produção, armazenagem e distribuição
proporcionem maior competitividade, atendendo estrategicamente os estados vizinhos no
escoamento de grãos.

Esse grande potencial logístico do Maranhão é perceptível, já que os polos produtores estão próximos
a principais vias de circulação e de multimodalidade. Isso contribui com maior acessibilidade do
produtor a fornecedores, insumos, armazéns, industrias de processamento entre outros. (CONAB,
2005).

O Maranhão torna-se um estado estratégico no escoamento de grãos para exportação, pela sua maior
proximidade com mercados externos como Estados Unidos, países europeus e o Canal do Panamá,
que possibilita o acesso ao mercado asiático. As perspectivas são muito boas, porém a realidade

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

encontrada no estado indica um longo caminho a ser percorrido, estradas precárias, hidrovias com
obstáculos, e escassez de armazéns fazem parte dos desafios de infraestrutura necessários.

3.1 ARMAZENAGEM

A armazenagem na logística possibilita maior integração entre a produção e a distribuição, fornecendo


benefícios quanto a visibilidade da produção e redução de custos, principalmente dos transportes. A
necessidade de armazenagem, principalmente para commodities como a soja, é inflenciada por
diversos fatores, entre eles a necessidade de manter o equilíbrio sazonal (tanto de insumos quanto no
escoamento da produção); segurança na continuidade da produção; atua ainda como regulador de
custos e especulação; economia de transportes, maior rendimento na colheita, entre outros fatores.
(Moura, 2008).

O Maranhão possui pouca capacidade de armazenagem de grãos, quando levado em conta a produção
de milho, arroz e soja, concentrando seus silos nas principais regiões produtoras de grãos. A
capacidade estática dos armazéns do Estado é suficiente para a produção da soja, conforme a
comparação demonstrada na figura 2, chegando quase atender a capacidade de armazenamento
ideal, de 20% superior à produção agrícola (Mendes & Padilha, 2007). Essa capacidade excedente é
importante para possíveis imprevistos, como acomodação de aumentos não previstos de safra e
possíveis importações.
3.000,00

2.500,00

2.000,00

1.500,00

1.000,00

500,00

0,00
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Capacidade Está ca (mil/t) Produção (mil/t)

Figura 2: Capacidade estática de armazenagem x produção de soja.

Em geral os silos no Estado são utilizados para estocar a produção para o consumo local. A dificuldade
de armazenamento de grãos próximos as áreas produtivas, obriga a venda da safra na época da
colheita, impossibilitando a comercialização da soja na entressafra com preços melhores. A má
armazenagem dos grão de soja podem afetar as características proteicas do grão, possibilitando a
redução de rendimento e qualidade dos produtos derivados da soja. (Kong & Chang, 2013).

8
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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Não obstante da estrutura existente, o Maranhão possui um grande deficit em espaços parar o
acondicionamento das safras em cidades estratégicas, que possuem estrutura multimodal,
principalmente em cidades cortadas pela ferrovia, conforme Figura 2. (CONAB, 2005). A ferrovia do
Maranhão é estratégica para o processo de armazenagem por proporcionar acesso ao Tegram -
Terminal de Grãos do Maranhão, que encontra-se em funcionamento no Porto de Itaqui e tem
capacidade estática de armazenamento de 500 mil toneladas (base soja), com projeção de chegar a
movimentação final de 10 milhões de toneladas/ano. (EMAP, 2015). Com a implantação do Tegram,
diminuiu o tempo de espera e o congestionamento de carretas carregadas de grãos no Porto de Itaqui,
proporcionando vantagens importantes aos produtores, principalmente na época da colheita, com
capacidade de armazenamento no ponto de destino para a exportação, diminuindo muitos custos
logísticos inerentes a este processo.

3.2 MODAL AQUAVIÁRIO

O modal aquaviário é o meio de transporte com os menores custos e que consome menos energia,
indicado principalmente para a movimentação de grandes volumes (como grãos) em grandes
distâncias. Seu frete, quando comparado com os demais modais, custa cerca de 40% do frete
rodoviário e 70% do ferroviário. (Pompermayer et al, 2014). Mesmo sendo muito vantajoso e com
grande potencial, este modal participa com menos de 15% no território brasileiro. (Brasil, 2010).

A Hidrovia do Parnaíba, possui grande potencial de movimento de cargas, principalmente agrícolas


dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, sendo constituídos pelos Rios Parnaíba e Balsas
com cerca de 1.260 km de extensão. O município de Balsas é um dos grandes produtores de grãos do
Maranhão, sendo que o Rio Balsas é navegável e encontra-se com o Rio Parnaíba formando uma ótima
alternativa para o escoamento da produção. Os grandes obstáculos encontrados no Estado por este
modal são a falta de eclusas em suas barragens, que estão em fase de projeto ou de planejamento.

A navegação no Rio Parnaíba, é praticada por embarcações de pequeno e médio porte de madeira
autopropulsadas, com capacidade de carga entre 1,0 e 12,0 t. no transporte de carga geral como:
arroz, milho, feijão, babaçu, carnaúba, cana de açúcar, algodão, mandioca, farinha de mandioca,
pescados, crustáceos e gêneros diversos, para abastecimento das populações ribeirinhas e transporte
de pessoas entre as cidades e povoados ao longo da via. (MT, 2014).

Se melhor estruturada, a hidrovia poderia comportar barcaças para transportar grandes quantidades
de grãos. A barragem de Boa Esperança, no Rio Parnaíba, município de Guadalupe - PI, possuí um

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

sistema de duas eclusas para romper o desnível de aproximadamente 50 m da barragem, com obras
concluídas desde 1982. Porém, os equipamentos eletromecânicos ainda não tem data prevista para
instalação. Além disso, o rio possui pedreiras e bancadas de areia que dificultam a navegação. (DNIT,
2011).

O transporte aquaviário no estado do Maranhão possui grande potencial de carga e de fretes mais
baratos, além do acesso de hidrovias ao mar e ao porto de Itaqui. Uma das maiores vantagens do
Estado é o fácil acesso aos principais mercados externos por meio de seu porto com calados
profundos. A infraestrutura portuária vem recebendo constante investimentos e ampliação, diferente
das hidrovias, que não possuem eclusas, além de pedreiras e bancadas de areia ao longo da extensão
de seus rios. Investimentos neste modal poderia proporcionar uma série de benefícios
socioeconómicos para o Estado e meio ambiente, principalmente pela conservação e manutenção dos
rios, nascentes e o desenvolvimento das comunidades ribeirinhas.

3.3 RODOVIÁRIO

A utilização do modal rodoviário para cargas consiste em distâncias consideradas curtas, ou seja,
inferiores a 500 km, da fazenda produtora (local de origem) até armazéns ou terminais intermodais
(ferrovias e hidrovias), que ficariam responsáveis pelas longas distâncias, reduzindo custos e perdas.
Porém no Brasil, predomina o modal rodoviário, onde a produção agrícola enfrenta grandes distâncias
por rodovias.

O Maranhão possui rodovias que perpassam pelas principais regiões (Balsas e Chapadinha) produtoras
agrícolas de soja (figura 1), o que seria uma vantagem competitiva se não fosse a precariedade das
rodovias. Estas não são duplicadas, apresentam falta de manutenção, problemas com acostamento,
buracos, sem contar que a maioria (principalmente estadual) nem pavimentação possui. (DNIT, 2013;
CNT, 2015). As principais rodovias para escoar mercadorias para o porto de Itaqui no Maranhão são a
BR-010, BR-222, BR-135 e MA006, sendo destacadas as rodovias federais no mapa.

O problema da falta de investimentos em rodovias poderia ser contornado em parte, pela proximidade
das regiões produtoras, principalmente de soja e milho (mais ao sul), da ferrovia norte sul. Esta
proximidade, poderia facilitar o escoamento da produção até o Porto de Itaqui, pelo modal ferroviário,
sem precisar contar com a existência de rios navegáveis na região. Parte do transporte das lavouras
no estado acaba se concentrando em armazéns próximos a fazenda, de acordo com a figura 1, o que
costuma ser realizado por carretas, tendo seu custo elevado pela ausência de pavimentação nas

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

estradas rurais. (Coeli, 2004, CNT, 2015). A tabela 2 apresenta o estado geral das rodovias estaduais e
federais.

Ao analisar apenas as rodovias de esfera federal e estadual do Maranhão quanto a sua conservação,
verifica-se que apenas 32,8% encontra-se em bom estado de conservação, com predominância das
rodovias federais. A maior parcela das rodovias, 65,1% tem em sua extensão algum tipo de deficiência,
sendo classificada com regular, ruim e péssima, predominando as rodovias estaduais, que dos 1.406
km de rodovias analisadas, 1.342 km apresentam algum tipo de problema.

A análise por trechos da infraestrutura das rodovias do Maranhão evidencia ainda mais as deficiência
destas. Quando ao seu estado de conservação apenas 34,9% apresentam-se em estado ótimo e bom,
sendo sua grande maioria regular, ruim e péssimo, possuindo trechos com erosões e muitos buracos.
Quanto a pavimentação 50,6% encontra-se regular, ruim ou em péssimo estado, e mais de 69,1% da
extensão estão com a superfície do pavimento desgastada. Quanto a sinalização, mais de 76% das
rodovias apresentam problemas, como a falta de placas e a visibilidade e legibilidade destas, além de
deficiência nas faixas centrais e laterais ao longo da rodovia. Quanto a variável geometria (tipo de
rodovia, presença de pontes, faixa adicional de subida, acostamento, entre outros) constata-se que
59% das rodovias do Estado não possuem condições satisfatórias de geometria. (CNT, 2015).

Para o escoamento do agronegócio do Maranhão, é evidente a predominância do modal rodoviário,


mesmo com estradas ruins e falta de armazéns, congestionando estradas e o Porto de Itaqui,
aguardando o descarregamento da produção no porto. As deficiências nas rodovias reduzem a
segurança de quem a utiliza, bem como aumenta significativamente os custos de manutenção dos
veículos e o consumo de combustíveis. No Estado estes acréscimos de custos devido as condições das
rodovias chegam a 25,6% no modal rodoviário.

Porém este modal ainda apresenta vantagens em relação aos demais, principalmente no que diz
respeito a disponibilidade, agilidade de tempo e até mesmo o custo do frete, similar ao transporte
ferroviário no estado. A similaridade dos fretes, deve-se a prioridade do transporte ferroviário estar
voltada ao transporte do minério de ferro, estando o transporte de grãos a mercê de disponibilidade
de vagões.

O modal rodoviário possui maior importância no Estado, seja pela sua predominância e alcance, bem
como seus custos serem ainda competitivos perante os demais. O tempo e os custos relacionado a
distâncias enfrentadas pelo transporte rodoviário, são em parte compensados pela falta de serviços

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

relacionados aos terminais de multimodalidade, como demora de transbordo, custos e falta de


armazéns. (Zhang, 2013; Isan, 2014).

3.4 MODAL FERROVIÁRIO

A ferrovia no Maranhão é o modal melhor estruturado, por possibilitar o transito de produtos ao longo
do estado pela ferrovia Norte-Sul e Estrada de Ferro Carajás, que se ligam em Açailândia, com destino
final ao Porto de Itaqui (figura 2).

O funcionamento da ferrovia no sul do estado entre Estreito, Imperatriz e Açailândia, já desenvolveu


uma nova perspectiva para a região quanto ao escoamento principalmente de grãos. Os municípios
de Balsas, Tasso Fragosos, Riachão, Carolina Alto Parnaíba, São Raimundo das Mangueiras, Loreto,
Fortaleza dos Nogueiras já destacam-se na produção estadual de grãos, principalmente milho e soja,
tendo melhor acesso a Ferrovia Norte-Sul para escoar a produção. (CONAB, 2005).

Porém a ferrovia não tem contribuído muito com o escoamento de grãos até o porto de Itaqui, já que
a falta de capacidade de vagões (com predominância do minério pela Estrada de Ferro Carajás) e o
frete similar ao rodoviário inibem a utilização do modal. A duplicação da Estrada de Ferro de Carajás,
em andamento, deve modificar esta realidade, abrindo mais espaço ao transporte de grãos. (ANTF,
2016).

A eficiência competitiva que pode vir a ser gerada entre o transporte de grãos do sul do Maranhão até
o terminal de grãos no Porto de Itaqui, coloca o Maranhão em evidência quanto a eficiência e custos
logísticos. Entretanto esta realidade ainda encontra-se distante de se concretizar, necessitando
transpor diversos obstáculos como a de infraestrutura e demais incentivos para serem compensadores
aos produtores.

3.5 ANÁLISE DA MULTIMODALIDADE PARA A SOJA DO MARANHÃO

Commodities como a soja ficam menos competitivas ao longo da cadeia de suprimentos,


principalmente no momento do escoamento e de armazenamento do grão. A multimodalidade,
possibilita utilizar o melhor desempenho de cada modal, como a flexibilidade de rota e disponibilidade
do transporte rodoviário; e a movimentação de cargas com baixo valor agregado, fretes menores e a
maior capacidade de peso a cargo dos transportes hidroviários e ferroviários.

O Maranhão é um dos poucos estados com capacidade multimodal, porém a falta de investimento em
infraestrutura e de políticas públicas de incentivo a sua utilização descaracterizam sua eficiência. O

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

modal hidroviário pelos rios só é possível por meio de pequenas embarcações, encontrando
problemas como a falta de eclusas, pedreiras e trechos assoreados de rios, mantendo sua eficiência
apenas na região portuária da capital São Luiz, que vem crescendo e se destacando nacionalmente
pela infraestrutura do porto, proximidade com maiores mercados internacionais e pelas águas
profundas, podendo receber os maiores navios do mundo.

O transporte rodoviário é o mais utilizado no escoamento da soja no estado, seja na região de Balsas
ao sul e na região de chapadinha ao noroeste. Na região sul, há possibilidade de integração entre os
modais rodoviário e ferroviário na cidade de Porto Franco, Imperatriz e Açailândia. A proximidade
destas cidades com a maior região produtora de soja possibilita a utilização da ferrovia para levar a
soja até o porto de Itaqui e utilizar o Tegran para armazenagem de grãos.

Porém a falta de disponibilidade de vagões, a espera em terminais de carga para transbordo, bem
como fretes ainda similares ao transporte rodoviário e falta de armazéns fazem com que a
multimodalidade não aconteça. Ficando a cargo do rodoviário, praticamente todo o transporte de
grãos do Estado.

Se os armazéns existentes fossem destinados apenas para soja, estes seriam suficientes para a
produção atual. A falta de capacidade estática de armazenagem prejudica toda a possível integração
entre os modais, ao tempo que na colheita a soja, esta deveria ser armazenada adequadamente
próxima a área produtiva ou terminal de integração, possibilitando uma série de benefícios,
principalmente de custos e oportunidade, que conferem a comercialização de commodities.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das condições logísticas do agronegócio do Estado do Maranhão, indicam diferentes


situações que implicam no escoamento de produtos agrícolas pelo estado, por meio das rodovias,
ferrovias e hidrovias fragmentadas e desconexas. Outra questão importante é a falta de estrutura para
armazenagem de grãos, que aumenta os custos e dificulta sua comercialização em determinados
períodos mais rentáveis.

Quanto aos modais, o mais utilizado ainda é o rodoviário, que apresenta grandes dificuldades de
infraestrutura. Já o modal ferroviário cria grandes possibilidades de integrar com outros modais no
estado, principalmente o rodoviário, sendo uma alternativa viável para escoar a produção pelo porto
de Itaqui.

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Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

Diante do aumento da produção agrícola no estado acredita-se que investimentos são necessários
para garantir maior integração e eficiência entre os modais, de modo a tornar o Estado do Maranhão
uma das principais rotas de escoamento da produção agrícola do estado e do Brasil. É evidente o
potencial competitivo do Estado para o escoamento da produção agrícola, que esbarra em problemas
graves de infraestrutura e integração logística ineficientes.

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530
Infraestrutura Logística De Transporte E Armazenagem Da Soja No Estado Do Maranhão - Brasil

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533
Gestão da produção em foco: uma abordagem holística

Capítulo 29
10.37423/201002967

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE MOBILIDADE


URBANA SUSTENTÁVEL DO DF: +BIKE

Ailson Gomes da Silva Júnior Universidade de Brasília

Leonardo Rocha Gonçalves da Silva Universidade de Brasília

Aldery Silveira Júnior Universidade de Brasília


Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

Resumo: O estudo teve como foco principal a avaliação do sistema e mobilidade urbana sustentável
do Distrito Federal: +Bike. Para isso, usou-se a metodologia multicritério de apoio à decisão (MCDA).
A partir de um modelo multicritério de avaliação, foi possível avaliar a percepção do usuário em
relação aos seguintes critérios: infraestrutura, bicicletas, aplicativo do +Bike, segurança do sistema,
preço do serviço e o marketing do sistema. Constatou-se que o +Bike precisa de algumas melhorias e
de constante manutenção para que o seu uso seja incentivado, de modo a influenciar o
desenvolvimento sustentável do sistema de mobilidade do Distrito Federal.

Palavras-chaves: MCDA; +Bike; Desenvolvimento sustentável.

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

1. INTRODUÇÃO

O inchaço da atual estrutura de mobilidade urbana, advindo principalmente de combustíveis fósseis,


vem se tornando um vilão nas grandes metrópoles. O crescimento econômico sem planejamento
adequado de uma região gera uma série de problemas no cotidiano da população. Um desses
problemas são os congestionamentos enfrentados durante o dia a dia dos cidadãos.

Com o crescimento econômico do Brasil, a facilidade de se comprar um veículo particular pôde ser
percebida no aumento dos congestionamentos. Esses, por sua vez, estão mais frequentes no cotidiano
do cidadão. O brasileiro está perdendo muito tempo com deslocamento e isso tem inúmeras
consequências negativas, como aumento no gasto do combustível, estoque em trânsitos e horas não
trabalhadas ou não aproveitadas para lazer, educação etc. (MACIEL, 2008).

Esse problema do congestionamento não é único. Há uma série de outros problemas causados pela
ação do homem. Porém pode-se constatar que já ocorre uma mudança no pensamento da população.
Um exemplo disso é o sistema +BIKE, que são as bicicletas públicas do Governo do Distrito Federal
(GDF).

O projeto é uma parceria do GDF com as empresas Serttel e Mobilicidade. Seu principal conceito é o
bike sharing. O sistema é composto por Estações Inteligentes que têm localidade em diferentes pontos
da cidade. O usuário pode retirar a bicicleta na estação através do aplicativo baixado em seu
smartphone, devolvendo-a em qualquer estação após o uso. Esse sistema visa oferecer à cidade de
Brasília uma opção de transporte sustentável, saudável e não poluente.

O funcionamento das estações de entrega e retirada das bicicletas é feito por meio de energia solar;
todas as plataformas possuem um painel solar que fornece energia necessária ao funcionamento. As
estações estão localizadas no centro do Distrito Federal e conseguem atender a necessidade de
transporte das pessoas. O +BIKE vem conseguindo estabelecer a imagem da bicicleta como um meio
de transporte rápido e eficiente para deslocamentos curtos.
Por serem facilitadores da mobilidade urbana, os programas de bike sharing receberam atenção
crescente nos últimos anos. Originalmente o compartilhamento de bicicletas era um sistema muito
simples. Com o passar do tempo, o sistema foi se desenvolvendo. Este desenvolvimento deu origem à
rápida expansão de bike sharings em todo mundo (DE MAIO, 2003).
Mesmo com diversas vantagens da bicicleta como meio de transporte, essa escolha não é tão simples
e depende de uma série de fatores: segurança, infraestrutura, tempo de viagem, clima etc. Embora

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

existam diversas barreiras para o ciclismo, ele surge como uma excelente forma de contornar os
problemas da mobilidade urbana e melhorar a saúde do usuário. Diante do exposto, o trabalho buscou
responder ao seguinte questionamento: como está estruturado e quais as barreiras e facilidades
apresenta o atual sistema de mobilidade urbana sustentável do Distrito Federal?
O presente artigo teve como objetivo principal analisar o atual cenário do sistema de mobilidade
sustentável do Distrito Federal comparando as estruturas existentes, pesquisando as diferenças entre
as estruturas, entendendo o perfil do usuário do +BIKE e identificando as possíveis barreiras e
facilidades enfrentadas pelo poder público e pelo cidadão.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Discorrer-se-á sobre os seguintes tópicos: A questão da mobilidade urbana e dos transportes nas
grandes cidades, A mobilidade urbana sustentável no DF, A efetividade da bicicleta como mobilidade
ativa, O grau de avanço tecnológico dos sistemas de bike sharing e do +BIKE, A infraestrutura de
mobilidade urbana sustentável no Distrito Federal e Metodologia multicritério de apoio à decisão.

2.1 A QUESTÃO DA MOBILIDADE URBANA E DOS TRANSPORTES NAS GRANDES CIDADES

Durante os últimos anos vem se desenvolvendo uma hipótese de travamento total do trânsito. Essa
suposição é falsa, pois seria necessária uma verticalização urbana muito elevada, o que descarta essa
tese. Porém tem-se observado que é cada vez maior a extensão da área que sofre as consequências
do trânsito (SCANRINGELLA, 2001).
A junção da precarização do transporte público com as facilidades para compra de um automóvel
particular permitiu o aumento da frota de veículos motorizados no país. Além disso, a necessidade de
locomoção diária da população reflete-se em vias superlotadas, congestionamentos e uma circulação
insatisfatória (CONCEIÇÃO & GUIMARÃES, 2016).
O termo mobilidade urbana surge como desafio às políticas ambientais e urbanas, num cenário de
desenvolvimento social e econômico do país. As crescentes taxas de urbanização, as limitações das
políticas públicas de transporte coletivo e a retomada do crescimento econômico têm implicado num
aumento expressivo da motorização individual (automóveis e motocicletas), bem como da frota de
veículos dedicados ao transporte de cargas.
O sistema viário utilizado pelos meios de transporte é insuficiente no atual cenário das grandes
cidades. O crescimento populacional teve como efeito a expansão no número de veículos, aumentado
os congestionamentos nas regiões urbanas. A administração municipal deve discutir o problema de

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

mobilidade vivido nas grandes cidades e propor um acordo que beneficie a todos. É recomendado que
esse acordo tenha como diretriz básica a tecnologia atualizada e deverá juntar urbanistas, técnicos de
transporte urbano e os de trânsito (SCARINGELLA, 2001).
O Governo Brasileiro incentiva a população, através de programas, projetos e ações, a valorização do
uso do modal motorizado coletivo e o uso da bicicleta como modal integrador. Essa proposta tem
como objetivo criar a cultura de um meio de transporte que não seja barrado pelos frequentes
engarrafamentos enfrentados nas grandes cidades (CONCEIÇÃO & GUIMARÃES, 2016).
O gerenciamento de uma cidade tem como um dos desafios solucionar o problema da mobilidade
urbana. O poder público busca aspectos de melhoria contínua, aumento de demanda, fluidez,
conforto, segurança e confiabilidade. Desta forma um modelo adequado de transporte público é algo
imprescindível no processo de gerir a mobilidade de uma cidade (LOMBRADO, CARDOSO & SOBREIRA,
2012).
A mobilidade urbana em grandes centros está ligada à diminuição de espaço e de tempo. Muitas
cidades já aplicam a sistemas de mobilidade alternativos e não poluentes. A Dinamarca é um exemplo
disso. Sua capital Copenhague contém mais de 400 Km de ciclovias. É conhecida pela prática
generalizada de ciclismo e por ser uma cidade em que há mais bicicletas que habitantes. Países buscam
fugir do sistema de mobilidade tradicional e investem em meios de transporte alternativos como a
bicicleta. Na próxima seção desse estudo será explorada de maneira aprofundada a bicicleta como um
meio de transporte.

2.2 A MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL NO DF

A mobilidade urbana sustentável chegou até o Distrito Federal por meio do sistema de bike sharing,
nesse sistema há o compartilhamento de bicicletas entre os usuários. As bicicletas do +BIKE chegaram
em 2017, e hoje o sistema já ganhou muitos usuários e está bem estabelecido entre os usuários do
serviço. A Serttel e a Mobilicidade, empresas que o operam junto ao GDF, propõem quatro objetivos
para o projeto, a saber:
• Introduzir a bicicleta como modal de transporte público saudável e não poluente;
• Combater o sedentarismo da população e promover a prática de hábitos saudáveis;
• Reduzir os engarrafamentos e a poluição ambiental nas áreas centrais das cidades; e
• Promover a humanização do ambiente urbano e a responsabilidade social das pessoas.
Segundo o Jornal de Brasília (2018), o sistema +BIKE possui 45 estações, espalhadas pelo Plano Piloto,
e já acumula mais de 170 mil usuários. Tudo isso gera uma média de passes anuais de 44 mil viagens.

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

Desta maneira, foram selecionadas quatro estações localizadas na Universidade de Brasília (UnB),
como lócus do estudo. Além desse local, também foram ouvidos gestores públicos que atuam na
Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal.
O Plano de Ciclomobilidade do Distrito Federal prevê a ampliação das estações do sistema de
compartilhamento de bicicletas para as regiões do Guará, Águas Claras, Taguatinga, Ceilândia e
Samambaia. Pretendendo dessa forma, caracterizar o +BIKE como um modal integrador. Segundo
Conceição e Guimarães (2016) a bicicleta é o transporte ideal para curtas distâncias e por isso se
caracteriza como um modal integrador, isto é, um modal que supre o vazio entre outros modais. A
centralização aliada ao baixo número de estações do +BIKE, é uma barreira frequente para os usuários.
As estações estão todas no centro do Distrito Federal e não há expansão para outras Regiões
Administrativas.

2.3 A EFETIVIDADE DA BICICLETA COMO MOBILIDADE ATIVA

A gestão da mobilidade de uma determinada localidade é viabilizada por meios de transporte, que
durante a história foram evoluindo e hoje nos permitem dividi-los em categorias. Neste trabalho
iremos focalizar apenas o meio de transporte terrestre (carro, moto, transporte público e bicicletas).
Dentre os meios de transportes, a bicicleta é o mais sustentável entre os terrestres. Além de não
causar nenhum tipo de poluição, contribui com a saúde pessoal do usuário.
A mobilidade ativa é uma forma de se locomover utilizando apenas de força física humana, isto é, não
há ação de outra força além da humana. Atrás apenas de andar a pé, a bicicleta é o meio de transporte,
dentro de mobilidade ativa, mais utilizado.
Andar a pé e andar de bicicleta são eficientes em termos de ocupação de espaço. Esses meios de
transporte são flexíveis e geram custos mínimos aos cidadãos. Em combinação com outros meios de
transportes eles cobrem quase todas as necessidades de mobilidade da sociedade. A mobilidade ativa
ajuda a diminuir os efeitos causados por veículos motorizados, como por exemplo, a diminuição da
frequência de engarrafamentos. A maior aplicação da mobilidade ativa traz benefícios para saúde,
ambientais, sociais e econômicos (KOSZOWSKI, GERIKE, 2018).
Os impactos positivos advindos da mobilidade ativa são a melhoria da saúde e a qualidade de vida
decorrente da atividade física inerente ao andar de bicicleta. Como principal impacto negativo da
mobilidade ativa é possível ressaltar o aumento no risco de colisões (KOSZOWSKI, GERIKE, 2018).
O ato de andar de bicicleta é algo não poluente, que usa pouco do espaço público, não necessita de
grande área para estacionamento, tem preço acessível, faz bem à saúde e não gera incômodo como

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

os veículos motorizados (PEZZUTO, 2004). Além de possuir benefícios à saúde, a bicicleta é o


transporte ideal para percorrer pequenas e médias distâncias. É também considerado um modal
integrador, isso é, um modal que supre o vazio entre outros modais. Por isso há necessidade de
priorizar esse meio de transporte (CONCEIÇÃO & GUIMARÃES, 2016).
Para que o uso da bicicleta como transporte urbano seja possível, é necessário que se satisfaçam duas
premissas: o estado fornecer adequada infraestrutura para o uso das bicicletas; e o estado incentivar
novas pessoas a se locomoverem de bicicleta, mostrando-lhes que esse modal tem uma estrutura
ajustada para a circulação. A estrutura desse modal é composta por ciclovias (vias construídas para
bicicletas), estacionamentos (bicicletários) e pontos de apoio (CONCEIÇÃO & GUIMARÃES, 2016).
É indiscutível que para a aceitação da bicicleta como meio de transporte, é necessário que haja
adequada estrutura para esse modal. Por isso o sistema de bike sharing é tão comum em países como
Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suécia etc. O funcionamento dessas bicicletas geralmente é
gerenciado por um sistema que ao longo da história teve vários aperfeiçoamentos.

2.4 O GRAU DE AVANÇO TECNOLÓGICO DOS SISTEMAS DE BIKE SHARING E DO +BIKE

Durante toda a história do bike sharing houve gerações dos sistemas que gerenciam o serviço. A
primeira geração de programas de compartilhamento de bicicletas começou em Amsterdã, no ano de
1965, chamado de Witte Fietsen ou White Bikes contava com bicicletas comuns pintadas de branco
prontas para uso. Porém não ocorreu como planejado, não existia um controle sobre as bicicletas e
isso gerou o colapso do sistema (DE MAIO, 2003).
A segunda geração de programas de compartilhamento de bicicletas surgiu em 1991 na Dinamarca.
Nessa geração as bicicletas foram projetadas especialmente para o uso intensivo utilitário com pneus
de borracha e rodas com placas de publicidade. Além disso, as bicicletas poderiam ser alugadas e
devolvidas em locais específicos em toda cidade. Apesar de um sistema mais formalizado com estações
para locação e devolução das bicicletas o sistema, a partir do anonimato dos usuários, sofria com
roubos constantes e isso deu origem a terceira geração de compartilhamento de bicicletas (DE MAIO,
2003).
O pioneiro da terceira geração de programas do bike sharing foi o Bikeabout em 1996, na Universidade
de Portsmouth, Inglaterra. Essa geração permitiu os alunos se locomoverem através das bicicletas, ao
alugar a bicicleta um cartão de tarja magnética era utilizado para registrar o aluguel. Assim quando
ocorresse o aluguel estaria registrado o usuário, tal medida foi aprimorada a fim de evitar roubos (DE
MAIO, 2003).

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

A quarta geração do bike sharing se assemelha à terceira, mas avança no emprego de T.I. (Tecnologia
da Informação). As principais características da quarta geração do sistema são: estações fixas e mais
flexíveis; o sistema possui aplicativo próprio; é possível retirar a bicicleta através de celular; inclusão
do Global Positioning System (GPS); painéis solares de energia e bicicletas elétricas; inovação na
redistribuição das bicicletas da rede; promoção da intermodalidade por cartão inteligente ou cartão
recarregável usado pelo cidadão (DELL’OLIO, IBEAS & MOURA, 2011; SHAHEEN ET AL., 2010).
É evidente a aproximação do +BIKE da terceira e da quarta geração. Por não possuir bicicletas elétricas
o +BIKE foi classificado na terceira geração, embora possua características como placas solares nas
estações, elementos da quarta geração. Desta forma o sistema +BIKE ficou caracterizado na geração
intermediária entre a terceira e a quarta geração dos sistemas de compartilhamento de bicicletas.

2.5 A INFRAESTRUTURA DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL NO DISTRITO FEDERAL

No ano de 2017 a malha de ciclovias no Distrito Federal era de 420 km, além disso, existiam mais 288
km sendo construídos com previsão de entrega até dezembro de 2018. Comparando com Estados
como São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem 498 km e 458 km de ciclovias, respectivamente, o
Distrito Federal se mostra em uma situação muito favorável quando se avalia a proporção entre o
comprimento das ciclovias e o tamanho do território.
Apesar de possuir extensa malha cicloviária, o Distrito Federal encontra problemas de
descontinuidade das ciclovias, relatado pelos dois gestores públicos entrevistados. A interrupção de
trechos da ciclovia é um problema, pois obriga os ciclistas a dividirem as ruas com os carros,
facilitando, dessa forma, acidentes.
É indiscutível que para a aceitação da bicicleta como meio de transporte, é necessário que haja
adequada estrutura para esse modal. Por isso o sistema de bike sharing é tão comum em países como
Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suécia etc. O funcionamento dessas bicicletas geralmente é
gerenciado por um sistema que ao longo da história teve vários aperfeiçoamentos.
Desta forma é possível identificar que mesmo com um diagnóstico das melhorias de infraestrutura de
transporte sustentável, o Distrito Federal ainda possui problemas relacionados à infraestrutura de
mobilidade ativa. De acordo com Conceição e Guimarães (2016) a infraestrutura cicloviária é algo
essencial para que os ciclistas se sintam confortáveis para usar desse meio de transporte. Tornando
dessa forma, o uso da bicicleta como meio de transporte no Distrito Federal como algo não totalmente
seguro e viável.

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

Embora o atual sistema de mobilidade urbana sustentável do Distrito Federal esteja à frente de outros
estados do Brasil, ainda há algumas falhas. Há problemas de infraestrutura no modal que geram
barreiras ao uso dos usuários, entre elas estão: bicicletas estragadas, falta de vagas nas estações,
problemas no aplicativo, poucas estações etc.

2.6 METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO (MCDA)

A concepção e solução de problemas de decisão possuem um grande impacto dentro do ambiente


empresarial, pois em diversos contextos, é necessário que se faça a avaliação de um ambiente
complexo, que sejam implementadas decisões utilizando-se de múltiplos critérios e aspectos
derivados desse ambiente, definindo como legítimos os problemas e métodos da área a ser estudada.
Nada mais natural que se baseie em uma metodologia multicritério de apoio à decisão a fim de se
obter sucesso no processo decisório e otimizar variáveis.
Um processo de apoio à decisão caracteriza-se como um processo de interação com uma situação
problemática, no qual tem-se por objetivo a construção de uma estrutura partilhada entre os
decisores, sendo assim, atividades de apoio à decisão devem ser suportadas em modelos formalizados,
com o intuito de se elaborar recomendações que respondam o mais claramente possível às questões
levantadas pelos decisores no decorrer de um processo de decisão (BANA; COSTA, 1995).
A metodologia multicritério não visa a conceber apenas uma solução viável, mas sim, viabilizar a
concepção de alternativas ideais que podem ser adotadas para a resolução de um problema. Para
Silveira Jr. (2018, p. 60) a metodologia multicritério de apoio à decisão define-se como:

Uma metodologia voltada para analisar situações complexas – a partir de um


conjunto de indicadores quantitativos e qualitativos distintos, incluindo
indicadores financeiros, físicos, de insumos, de processos, de produtos e de
resultados –, que pode ser utilizada tanto para apoio à decisão quanto como
um conjunto de técnicas analíticas.

Segundo Ensslin et al (2001, p. 145), a metodologia multicritério é realizada por meio de três fases
básicas: "i. a estruturação do contexto decisório; ii. a construção de um modelo de avaliação de
alternativas/ações; e iii. a formulação de recomendações para os cursos de ações mais satisfatórias".
A utilização dessa metodologia fornece, ao seu final, informações para subsidiar a tomada de decisão
dos responsáveis que a devem fazer de forma estruturada e clara, a fim de se escolher as alternativas
que melhor contribuem para a empresa como um todo.
Em síntese, no que se refere a aplicabilidade o método multicritério de apoio a decisão pode ser

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

utilizada com eficácia tanto no apoio ao processo decisório, quanto na realização da análise e avaliação
de decisões previamente tomadas e que envolvam situações complexas, por vezes, conflitantes.
Determinando-se se os objetivos de uma decisão foram ou não atingidos (SILVEIRA JR., 2018).
Diante do exposto, a metodologia multicritério é ideal para modelos que consideram mais de um
aspecto e avaliam ações de acordo com um conjunto determinado de critérios, onde pode-se
contemplar a resolução de problemas e propostas para implementar soluções.

3. METODOLOGIA

O modelo desenvolvido para avaliar o sistema de mobilidade urbana sustentável do DF, +BIKE, foi o
modelo da metodologia multicritério de decisão (MCDA) que baseia-se em duas premissas básicas: a)
auxiliar no processo de escolha, ordenação ou classificação das alternativas; e b) fornecer ao decisor
uma ferramenta capaz de ajudá-lo a resolver problemas de decisão, em que vários critério são levados
em consideração (Roy, 1996).
O modelo de pesquisa se baseou nas premissas, ditames e fundamentos científicos propostos por
Ensslin et al. (2001), onde consta as seguintes etapas básicas: a) definição do rótulo da pesquisa; b)
identificação do autores envolvidos no processo; c) identificação dos elementos de avaliação
(critérios); d) construção dos descritores; e) construção das funções de valor (FV); f) determinação das
taxas de substituição (pesos); e g) construção da árvore de valor.
A pesquisa teve como rótulo: avaliar a qualidade do sistema de mobilidade urbana sustentável do DF:
+BIKE. Enquanto os atores foram assim identificados:
• Agidos: usuários do sistema +BIKE
• Decisores: especialistas ouvidos para a construção do modelo
• Facilitadores: os autores do presente trabalho
A partir da técnica de Brainstorming entre os atores facilitadores e os atores decisores, foram
identificados cinco eixos básicos de avaliação, a saber: PVF 1 – Qualidade da Infraestrutura; PVF 2 –
Qualidade do sistema; PVF 3 – Qualidade da segurança; PVF 4 – Preço do Serviço; e PVF5 – Marketing
do Serviço. Esses PVFs, em função da complexidade de serem mensurados, foram decompostos em
Pontos de Vistas Elementares (PVE) e estes, em alguns casos, foram desmembrados em Pontos de
Vistas Subelementares (PVS), conforme detalhamento abaixo:
PVF 1 – Infraestrutura – 30%
PVE 1.1 – Estações do +Bike – 40%
PVS 1.1.1 - Quantidade de vagas nas estações – 20%

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

PVS 1.1.2 – Localização das Estações – 50%


PVS 1.1.3 – Quantidade de estações – 30%
PVE 1.2 – Ciclovias – 60%
PVS 1.2.1 – Condições da pavimentação das ciclovias – 40%
PVS 1.2.2 – Condições de iluminação das ciclovias – 25%
PVS 1.2.3 – Quantidade de trechos descontínuos – 20%
PVS 1.2.4 – Condições de sinalização nas ciclovias – 15%

PVF 2 – Bicicletas do +Bike – 20%


PVE 2.1 – Estado de conservação – 40%
PVE 2.2 – Distribuição nas estações – 20%
PVE 2.3 – Volume de Bicicletas no sistema – 40%

PVF 3 – Aplicativo +Bike – 15%


PVE 3.1 – Acessibilidade – 35%
PVE 3.2 – Estabilidade – 20%
PVE 3.3 – Grau de Avanço Tecnológico (GAV) – 45%

PVF 4 – Segurança (roubos e furtos) – 15%

PVF 5 – Preço do Serviço – 10%

PVF 6 – Marketing do Sistema – 10%


PVE 6.1 – Redes Sociais – 50%
PVE 6.2 – Páginas da Internet – 50%
No passo seguinte, definiram-se os descritores dos critérios de avaliação, que corresponde ao
conjunto de níveis de impacto destinado a medir a performances das ações potenciais. Os descritores
utilizados foram comuns para todos os critérios de avaliação. Vide detalhamento no Quadro 1.
QUADRO 1 – Descritores dos critérios de avaliação

Nível de Impacto Descritor


N5 Excelente
N4 Muito Bom
N3 Bom
N2 Regular
N1 Ruim
Fonte: Autores
Na sequência, construiu-se a árvore de valor, que consiste a um diagrama arborescente do modelo de

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

avaliação desenvolvido, conforme Figura 1.

FIGURA 1 – Árvore de valor


Fonte: Autores
Após a construção da parte “física” do modelo, iniciou-se o desenvolvimento das etapas seguintes,
mais sensíveis, que são a respeito da estruturação dos aspectos internos do modelo. Tais aspectos são
os decisores, as funções de valor e as taxas de substituição.
Na sequência, foram definidas as funções de valor, com apoio de matrizes semânticas, cujo julgamento
semântico foi operacionalizado pelo Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation
Technique (Macbeth), desenvolvido por Bana e Costa e Vanisck (1995). Tal método se utiliza de
programação linear para determinar a função de valor (valor numérico) que melhor represente os
julgamentos dos decisores.
Apresenta-se, na Figura 2, um exemplo da matriz semântica utilizada para a determinação das funções
de valor.

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

FIGURA 2 – Matriz semântica do PVS 1.1.1 – Quantidade de vagas


Fonte: Macbeth
As taxas de substituição, nesse estudo foram definidas a partir do método dos pesos balanceados
(swing weight) e o método de comparação par a par para os PVEs (subcritérios), definido por Quirino
(2002).
Com estes procedimentos, concluiu-se a construção do modelo de avaliação, cuja representação
arborescente pode ser visualizada na Figura 2, a qual consta a delimitação do objeto de estudo, dos
PVFs, dos PVEs e dos respectivos pesos.
Diante dos objetivos propostos, a pesquisa realizada classifica-se, que tange aos fins, como aplicada,
descritiva e exploratória; quanto aos meios, caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, pesquisa de
campo e estudo de caso. Na visão metodológica, no tocante á abordagem da pesquisa, a mesma
utilizou-se de métodos qualitativos e quantitativos.
Após a conclusão do modelo, elaborou-se o questionário a ser utilizado na pesquisa de campo,
valendo-se, para tanto, dos subcritérios para dar origem as perguntas, cujos descritores constituíram-
se nas alternativas de respostas.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Diante dos objetivos propostos, a pesquisa realizada classifica-se, no que tange aos fins, como
aplicada, descritiva e exploratória; quanto aos meios, caracteriza-se como pesquisa bibliográfica,
pesquisa de campo e estudo de caso. Na visão metodológica, no tocante à abordagem da pesquisa, a
mesma utilizou-se de métodos qualitativos e quantitativos.
Após a conclusão do modelo, elaborou-se o questionário a ser utilizado na pesquisa de campo,
valendo-se, para tanto, dos subcritérios para dar origem as perguntas, cujos descritores constituíram-
se nas alternativas de respostas.
A pesquisa foi realizada na plataforma Google Forms, no período de 2 a 5 de julho de 2019, pelo o

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

celular ou pelo computador, todos os 53 participantes responderam a pesquisa. Os resultados foram


tratados pelo aplicativo Hievew3, a partir das premissas e parâmetros definidos pelos decisores,
constantes do modelo de avaliação. Apresenta-se na Figura 3 o resumo do resultado das avaliações
dos PVFs.

FIGURA 3 – Resultado das avaliações dos PVFs


Fonte: Autores

As respostas dos colaboradores, após serem tabuladas e tratadas pelo software Hiview3, constituíram-
se nos insumos para propiciar o cálculo das avaliações quantitativas de cada PVF e, a partir das notas
atribuídas a estes, calculou-se a nota referente á avaliação global.
Para o cálculo da avaliação quantitativa dos critérios (PVFs), avaliações parciais, definiu-se a seguinte
fórmula de agregação aditiva (adaptada de Ensslin et al., 2001):

(1)

Onde:

• A(PVF) = avaliação do PVF;


• pi = taxa de substituição (peso) do PVE i;
• (FViEj) = função de valor do Entrevistado j impactada no PVE i;
• m = 42 (número de entrevistados);
• n = número de subcritérios (PVE).
• Tal equação está submetida às seguintes restrições:
• o somatório das taxas de substituição deve ser igual a 100 (p1+p2+...+pn = 100%);
• o valor das taxas de substituição deve ser maior do que zero e menor do que 100 (0 < pi < 100,
para i = 1, 2, ... n);
Para o cálculo da avaliação global (nota final), definiu-se a fórmula de agregação aditiva indicada a
seguir, adaptada de Ensslin et al., (2001):

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

(2)

Onde:

• AG = avaliação global;
• yi (PVF) = pontuação parcial do PVF j
• xi = taxa de substituição dos critérios 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (PVFs);
• n = 6 (número de PVFs);
Tal equação está submetida às seguintes restrições:

• o somatório das taxas de substituição dos PVFs deve ser igual a 100 (y1 + y2 + y3 + y4 + y5 +
y6 = 100%);
• o valor das taxas de substituição deve ser maior do que zero e menor do que 100 (0 < yi < 100,
para i = 1, 2, 3, 4, 5 e 6).

A avaliação global da infraestrutura do sistema +BIKE, atingiu a nota final de 3,55 numa escala de 0 a
10. Pode-se considerar como uma nota insatisfatória considerando a quantidade de pessoas que
seriam beneficiadas por esse modal. As justificativas para essa avaliação são apresentadas nas análises
a seguir.
No PVF 1 – Infraestrutura, que possui peso de 30%, analisou-se dois Pontos de Vistas Elementares
(PVE): a) PVE 1.1 - Estações do +Bike; b) PVE 1.2 - Ciclovias. O PVE 1.1, que possui peso de 40%, foi
analisado sob três Pontos de Vistas Subelementares: quantidade de vagas nas estações, localização
das estações e quantidade de estações. A avaliação desse PVE atingiu pontuação de 4,3. A Figura 4
apresenta, a título de exemplificação, as pontuações ponderadas dos entrevistados em relação a cada
item analisado no PVE 1.1.

FIGURA 4 – Pontuações Ponderadas do PVE 1.1 – Estações do +BIKE


Fonte: Hiview3
Dentre os possíveis motivos dessa nota ser tão baixa, destaca-se: a falta de vagas em algumas estações

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

do sistema obrigando os usuários a procurarem outra estação para devolver a bicicleta; a má


localização das estações, deixa de oferecer o serviço de mobilidade ativa para a população; e a baixa
quantidade de estações além de não serem bem localizadas são poucas para abrigar toda a população
do DF.
Quanto ao Ponto de Vista Elementar 1.2 que aborda aspectos da infraestrutura das ciclovias foi
analisado: condições da pavimentação, condições de iluminação, quantidade de trechos descontínuos
e condições da sinalização das ciclovias. A avaliação desse PVE atingiu nota de 3,0, numa escala de 0
a10.
As possíveis causas que justifiquem essa nota são: as más condições das ciclovias do DF, que muitas
vezes não possuem conexão entre elas; alguns trechos não possuem uma iluminação de qualidade; e
a sinalização tanto para os ciclistas quanto para os carros que dividem espaço não são eficientes.
Em relação ao PVF 2, que aborda aspectos das bicicletas do sistema +Bike, avaliou-se o tema conforme
os seguintes aspectos: estado de conservação das bicicletas; distribuição das bicicletas nas estações;
e volume de bicicletas do sistema. O resultado obtido nos questionários resultou na nota de avaliação
global de aproximadamente 4,4 numa escala de 0 a 10.
É plausível que a nota dada para o PVF 2 que avalia as bicicletas do sistema tenha sido baixa assim por
alguns pontos: o estado de conservação das bicicletas, onde se encontra bicicletas com pneu furado,
com freio danificado etc.; a distribuição nas estações não é tão eficiente, em algumas estações, nos
horários de pico não há bicicletas ou vagas disponíveis; e a quantidade de bicicletas em circulação é
insuficiente para transportar toda população.
A avaliação global do PVF 3, onde o foco da pesquisa é o aplicativo do +Bike, foi de 5,85, na escala de
0 a 10. Essa nota, apesar de ser a melhor nota dessa avaliação, pode ser expressada por ainda haver
fatores no aplicativo a ser melhorado. A acessibilidade da plataforma não é tão intuitiva, a sua
estabilidade não é boa. A tecnologia aplicada na plataforma poderia ser mais moderna e eficiente.
Quanto ao PVF 4. que aborda aspectos da segurança do sistema em relação à assaltos e roubos atingiu
nota 4,5 e se justifica com base na insegurança dos usuários ao utilizarem o sistema. A baixa
luminosidade e a falta de policiamento tornam os ciclistas vítimas fáceis para os criminosos.
O PVF 5 aborda o custo cobrado pelo serviço e foi considerado com base na anuidade de 10 reais. Os
respondentes possivelmente levaram em consideração que o preço pago pelas condições das
bicicletas, das estações e das ciclovias do DF não é justo pelo serviço prestado.
O PVF 6, que avalia o marketing do sistema do +BIKE, é fundamentado em dois Pontos de Vistas
Elementares: divulgação nas redes sociais e nas páginas da internet.

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Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

6. CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar e avaliar o sistema de mobilidade urbana sustentável
do Distrito Federal, o + Bike. Foi verificado através de análise dos pontos de vistas fundamentais
descritos e validados por especialistas no assunto, que as más condições das ciclovias e das bicicletas,
junto com o preço do serviço, marketing do sistema e o preço do serviço são alguns dos principais
fatores para a rejeição da sociedade em relação à medida inovadora, além da pouca divulgação do
sistema para a população. Em contrapartida a ideologia sustentável chama atenção, incentivando o
uso de meios de transportes sustentáveis e estimulando a prática de exercícios físicos.
Foi possível comprovar que os usuários não se sentem seguros utilizado o sistema, tendo em vista a
periculosidade das regiões e a falta de policiamento nas ruas, contudo, por ser um aplicativo de fácil
acesso e possuir um preço extremamente acessível, ainda é opção de diversas pessoas que buscam
meios de transportes alternativos e saudáveis.
O aplicativo do sistema obteve uma nota baixa, de 4,5 numa escala de 0 a 10. As estações das bicicletas
do + Bike ficam de certa forma centralizadas, dificultando o acesso ao sistema de pessoas que não
residem nas regiões centrais do Distrito Federal. Além disso a infraestrutura presente do sistema deixa
a desejar, com poucas vagas e ciclovias em condições ruim.
O +Bike ainda precisa de diversas melhorias e constante manutenção, além de incentivos à utilização
de veículos não poluentes, com um sistema que ofereça bicicletas de qualidade, investimento na
infraestrutura e na segurança das ciclovias, assim como também que sejam utilizados artifícios
tecnológicos e inovadores para sua divulgação.
Conclui-se que o +Bike pode ser um sistema inovador com perspectiva de crescimento sustentável
inestimável, haja vista a proximidade das regiões centrais de Brasília e o seu relevo, extremamente
plano, ser um chamativo extra para a prática do ciclismo.

REFERÊNCIAS

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de ônibus. Brasília: Jornal de Brasília, 2018. Disponível

16
550
Avaliação Do Sistema De Mobilidade Urbana Sustentável Do DF: +Bike

Em http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/bikes-compartilhadas-conquistam-brasilienses-e-
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