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um filósofo francês
do século XVII
(1596-1650).
Dedicou particular
interesse à
gnosiologia ou
teoria do
conhecimento.
A fundamentação
rigorosa do
conhecimento
Descartes afirma
que os
conhecimentos que
tinha adquirido
eram mal
fundamentados,
pelo que eram
duvidosos e
incertos.
Da mesma forma
que suspeitamos da
estabilidade de
uma casa cujos
alicerces são
inseguros, Descartes
desconfia dos
conhecimentos
insuficientemente
justificados.
Há de haver um
Mas Descartes não é modo de
um cético, Descartes conhecer
é um filósofo que justificadamente.
defende a
possibilidade de um
conhecimento
justificado.
?
Como descobrir a verdade?
Como procedo o entendimento para
construir um conhecimento verdadeiro?
Resposta:
Recorrendo à dúvida metódica.
Duvidando de todo o conhecimento.
Tudo aquilo que se revelar como
duvidoso será tido como falso e só o
absolutamente indubitável (as ideias
claras e distintas) será tido como
verdadeiro.
Se só pudéssemos comer
maçãs biológicas por termos
forte alergia a agrotóxicos e
suspeitássemos que nem todas
as maçãs que estavam num
balde o eram, verificaríamos
todas muito bem.
Toda a maçã que fosse
minimamente suspeita de não
ser biológica seria posta de lado
como se não o fosse.
Só ficaríamos com as maçãs
das quais tivéssemos a certeza
de serem mesmo biológicas.
Podemos caraterizar a dúvida por ser metódica,
provisória, universal, hiperbólica e radical.
?
Metódica
Hiperbólica
Provisória
Radical
Universal
A dúvida é
metódica pois
é um meio
para conhecer
a verdade.
Descartes só
duvida de um
conhecimento
enquanto não for
devidamente
justificado. Nesse
sentido, a dúvida
é provisória.
(Descartes não
quer permanecer
sempre na
dúvida.)
Porque todo o
conhecimento
vais ser sujeito à
dúvida, a um
exame radical
para discernir o
verdadeiro do
duvidoso, então
a dúvida é
universal.
A dúvida é hiperbólica
porque todo o
conhecimento que for
minimamente duvidoso
será tido como se fosse
falso.
Também porque
qualquer faculdade
usada para conhecer
(razão ou sentidos) será
tida como duvidosa, se
der razões para isso.
A dúvida é
radical porque
põe em causa os
fundamentos do
sistema
tradicional de
conhecimento.
A finalidade da
aplicação da dúvida é
encontrar um
conhecimento ou um
princípio que resista
a todas as formas de
pô-lo em causa.
Se for encontrado,
tornar-se-á o
fundamento de todo
o conhecimento
verdadeiro.
O método
cartesiano
Problema:
Como conduzir a razão
na busca da verdade na
ciência?
Descartes propõe um
modelo quase
matemático baseado
em quatro regras.
1º Regra da evidência 2º Regra da análise
? ? ? ? ?
? ? ? ? ?
? ?
Descartes dá-se de conta que, tal como julga que
é real o conteúdo dos seus sonhos, quando sonha,
e irreal quando está acordado. (Argumento do
sonho)
Descartes infere que a crença numa mundo físico e
independente do pensamento (realidade que inclui
o seu corpo), não é indubitável.
Argumento:
Tal como julga que é real o conteúdo dos seus
sonhos, quando sonha, e irreal quando está acordado,
também aquilo que pensa ser real quando está
acordado pode não o ser.
Aplicação do princípio hiperbólico:
Como a crença na existência do mundo físico
não é à prova da dúvida, deve ser
(provisoriamente) tomada como se fosse falsa.
Este é o argumento das ilusões do sonho.
O argumento do sonho sugere que tudo o que
podemos conhecer através dos sentidos é
duvidoso.
(3ª) Aplicação da dúvida metódica
? ? ?
? ? ? ?
? ? ?
Não é garantido que Deus (ou um génio maligno)
não me esteja a enganar quando eu penso nas
mais elementares verdades matemáticas.
2+3=5
Não é certo que o meu entendimento não se engane
quando descobre conhecimentos verdadeiros.
Aplicação do princípio hiperbólico:
Como não é garantido que o meu entendimento
não seja enganado por Deus ou por um génio
maligno, então todo o conhecimento inteligível
ou a priori deve ser (provisoriamente) tomado
como se fosse falso.
Nota:
O argumento do Deus enganador ou do génio
maligno também põe em causa as crenças
empíricas, tendo um alcance mais vasto do que
os outros argumentos.
Este é o argumento do génio maligno ou do
Deus enganador.
A hipótese do Deus enganador (ou génio maligno) põe
em causa a crença de que o entendimento não se
engana quando descobre as noções da matemática, mas
também põe tudo o mais em que se possa acreditar,
incluindo a terra, o céu, os corpos extensos, ou seja o
mundo físico.
É um argumento mais abrangente do que os outros:
põe em causa o conhecimento a priori mas também o
conhecimento a posteriori.
Descartes concluiu que os três princípios em
que assentam tanto o conhecimento sensível
como o conhecimento inteligível (ou seja, todo
o conhecimento) são duvidosos.
Ora, se as bases são inseguras então todo o
conhecimento é inseguro.
? ? ? ? ?
O resultado da aplicação da dúvida
? parece ser o ceticismo.
Descartes duvida:
?
- das informações dos sentidos;
- da existência de um mundo físico e
independente, que inclui o próprio
corpo;
- das deduções do entendimento.
? Sendo estes princípios as bases do ?
conhecimento, logo Descartes duvida
de tudo o que se possa conhecer.
? ? ? ? ?
O cogito
Mas este “ceticismo” é apenas temporário
porque é justamente a partir das suas dúvidas que
Descartes descobre a sua primeira grande
verdade.
Eu duvido de tudo,
tudo, tudo. Ao
duvidar, estou a
pensar e se…
Penso,
logo existo.
“Penso, logo existo”,
designado por cogito, é
a primeira verdade
indubitável que
Descartes descobre.
Descartes tem agora a
certeza de que é um
ser pensante ou alma
(mas ainda não tem a
certeza de que tem um
corpo).
Nota: “Penso, logo existo.” em latim traduz-se por “Cogito ergo sum.”
“Penso, logo existo” é uma intuição, uma ideia
que o entendimento descobre imediatamente
clara e distintamente, ou seja como evidente.
Não é uma conclusão de um raciocínio dedutivo.
“Penso, logo existo” é uma descoberta da razão
(um conhecimento a priori).
Os dados dos sentidos não contribuem em
nada para esta descoberta.
“Penso, logo existo” é uma ideia inata, uma ideia
que está desde sempre no pensamento (desde o
nascimento), à espera de ser descoberta.
Penso,
logo existo.
Tipos de ideias
Ideias inatas
Ideias que estão desde sempre no
pensamento, as únicas com valor para
um conhecimento seguro, como as
ideias de Alma, Deus e Mundo.
Ideias adventícias
Ideias que derivam da experiência
como as ideias de mar, Sol, flor.
Ideias factícias
Ideias da imaginação, criadas a partir
das ideias adventícias, como as ideias
de sereia, fada, lobisomem.
O cogito é um critério
(ou modelo) de verdade.
É uma verdade
indubitável porque é
apreendido com clareza
e distinção (com
evidência).
Toda a ideia que for
apreendida como clara e
distinta será também
indubitavelmente
verdadeira.
Sendo um
princípio Conhecimento
seguro, uma
verdade
indubitável, o
cogito será o
fundamento
de todo o
conhecimento
(racional). Penso,
logo
existo.
As provas da
existência de Deus
como ser perfeito
Para conhecer, o espírito procede
por intuição e dedução.
Intuição Dedução
Ato em que a razão se
Encadeamento de
apercebe (sem
verdades claras e
nenhum raciocínio) da
distintas.
verdade de uma ideia
É uma conclusão
com toda a evidência.
“Penso, logo existo” é necessariamente
uma intuição não só tirada de outras
racional, mas também ideias conhecidas
existencial (o sujeito com certeza.
toma consciência da
sua existência
enquanto ser
pensante).
Descartes descobre
que existe como ser
pensante por intuição.
A partir desta intuição,
“penso logo existo”, Conhecimento
Deduções seguro
descobrirá outras
verdades raciocinando
dedutivamente,
reconstruindo assim,
segundo ele, um Penso,
conhecimento seguro. Intuição
logo
existo.
Descartes tem a certeza
de que existe como ser
pensante ou alma.
Mas não tem, por agora,
a certeza de que existe
?
uma mundo físico, do
qual faria parte o seu
corpo.
Então o ser pensante (ou
alma) é distinto do corpo.
(Descartes depois dirá
que estão ligados.)
Descartes está só com as suas ideias pois só
da sua existência como ser pensante é que tem
certeza.
Como sairá Descartes deste solipsismo em que
está mergulhado?
Deus como ser
perfeito
Ora, se duvida,
logo é um ser
imperfeito.
Mas Descartes só se
reconhece como ser
imperfeito,
comparando-se com a
ideia de perfeição.
=
“(Duvido =) Penso, logo existo.” Intuição
(Porque duvida, Descartes descobre que
existe como ser pensante.)
?
Tudo tem uma causa e a causa não pode ser
inferior ao efeito.
Efeito
X
(Superior)
Causa
(Inferior)
Então o ser pensante,
imperfeito porque duvida,
não pode ser a causa da Efeito
ideia de perfeição em si.
Causa
X
A ideia de perfeição
só pode ser causada
no ser pensante por
um ser mais perfeito,
pelo próprio Deus.
Possui a
ideia de Causa
perfeição
que lhe é
superior
? ? ?
Deus, ser perfeito
(não duvida, é omnisciente)
Superior, infinito
Ser imperfeito
(duvida)
Inferior, finito
• Descobri que “penso, logo existo”, a partir das minhas
dúvidas.
• Se duvido, então sou imperfeito.
• Se sei que sou imperfeito é porque me comparo com a
ideia de perfeição.
• Se me comparo com a ideia de perfeição é porque a
possuo.
• A ideia de perfeição corresponde a um ser perfeito que tem
todas as perfeições, que não duvida e esse ser é Deus.
• Se possuo a ideia de perfeição, ela foi causada pois tudo
tem uma causa.
• Se a ideia de perfeição tem uma causa, essa causa não
pode ser eu que sou imperfeito já que a causa não pode ser
inferior ao efeito.
• Então a causa da ideia de perfeição só pode ser o próprio
Deus, ser perfeito.
Uma das provas da
existência de Deus:
Se Deus causa no
pensamento de
Descartes a ideia de
perfeição então tem
de existir.
Se não existisse,
não a podia causar.
Outra das provas da
existência de Deus:
Se Deus é perfeito,
logo tem de existir. De
contrário, já não seria
perfeito.
Um ser perfeito tem o
atributo da existência.
Esta prova é inspirada no argumento
ontológico de Santo Anselmo (séculos XI
e XII).
Santo Anselmo que definiu Deus como
sendo a maior coisa que a mente humana
pode conceber e defendeu que, se o maior
ser possível existe na imaginação, ele
também deve existir na realidade. Pois uma
das características de um ser maior é a
existência.
Mais uma das provas
da existência de
Deus:
O ser pensante não
é causa de si próprio
dado ser imperfeito.
Se fosse causa de si
próprio daria a si
todas as perfeições
das quais tem uma
ideia.
Exercício: Responda às questões de acordo
com a filosofia cartesiana.
1. Porque é que a alma é distinta do corpo?
2. O que significa solipsismo cartesiano?
3. Porque é que Descartes é um ser
imperfeito?
4. Porque não pode o sujeito (Descartes)
causar em si a ideia de perfeição?
5. Como pode ser a causa da ideia de
perfeição a prova da existência de Deus?
6. Porque é que a perfeição de Deus é prova
da sua existência?
Por isso, o criador do
ser imperfeito e
finito é Deus, que
por sua vez é um ser
perfeito e não
necessita de ser
criado por outro ser.
Soluções
?
do pensamento, objeto do conhecimento.
?
anteriormente.
? ? ? ? ?
? ? ? ?
? ? ? ? ?
Mas assume ser necessário no que respeita à
vida prática (costumes).
Finalmente…
Descartes é um filósofo
racionalista porque
considera que só o
conhecimento racional,
garantido por Deus, é
seguramente verdadeiro.
É também um filósofo
dogmático porque
considera que é possível
conhecer, desde que seja
através da razão.
Descartes no
século XVII:
Penso,
logo existo.
Descartes em 2021…
2014 - 2ª Fase Grupo IV
1. Leia o texto seguinte.
Se perguntar a mim próprio «Estou a beber?» ou
«Está ele a pensar?», a resposta pode ser «Sim», «Não»
ou «Talvez». Mas se perguntar a mim próprio «Estou a
pensar?», a resposta apenas pode ser «Sim». Fazer essa
pergunta a mim próprio é o mesmo que eu pensar.
Seria autorrefutante perguntar a mim próprio «Estou a
pensar?» e responder «Não».
T. Chappell, The Inescapable Self – An introduction to
Western philosophy,
1.1. Justifique, a partir do texto, que o cogito é uma
certeza irrefutável.
1.2. Explique o argumento de Descartes para duvidar
dos seus raciocínios matemáticos mais evidentes.
Critérios específicos de classificação 2014 - 2ª Fase
Grupo IV - 1.1 (15 pontos)
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Justificação da irrefutabilidade do cogito:
– Descartes submete todas as suas crenças a uma
dúvida metódica, para determinar se alguma é
indubitável;
– é impossível duvidar de que existimos (como
seres pensantes) enquanto estamos a pensar, pois
isso não seria coerente;
– há uma crença que resiste à dúvida: o cogito.
Critérios específicos de classificação 2014 - 2ª Fase
Grupo IV - 1.2 (15 pontos) Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento de Descartes para duvidar dos seus
raciocínios matemáticos mais evidentes é o do génio
maligno;
– o argumento do génio maligno levanta a hipótese de uma
entidade externa controlar a nossa mente, fazendo-nos
acreditar, por exemplo, que 2 + 2 = 4;
– o argumento do génio maligno, diferentemente dos
outros (argumentos das ilusões dos sentidos e do sonho),
põe também em causa as crenças que não dependem dos
sentidos / a priori.
2017 - Época especial Grupo III
1. Leia o texto seguinte.
Devo tomar todo o cuidado em não me enganar nos juízos. Ora, o
erro principal e mais frequente que se pode descobrir neles
consiste em eu afirmar que as ideias que estão em mim são
semelhantes ou conformes a certas coisas que estão fora de mim.
[…] Assim, por exemplo, descubro em mim duas ideias diversas do
Sol. Uma, como que tirada dos sentidos, […] deixa que o Sol me
apareça muito pequeno; porém, a outra é tirada dos raciocínios da
Astronomia […] e por ela o Sol mostra-se um certo número de
vezes maior do que a Terra. Ambas não podem, certamente, ser
semelhantes ao […] Sol existente fora de mim, e a razão persuade-
me de que a ideia que parece emanar mais diretamente do próprio
Sol não tem qualquer semelhança com ele.
R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, pp. 140-144 (adaptado)