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René Descartes foi

um filósofo francês
do século XVII
(1596-1650).
Dedicou particular
interesse à
gnosiologia ou
teoria do
conhecimento.
A fundamentação
rigorosa do
conhecimento
Descartes afirma
que os
conhecimentos que
tinha adquirido
eram mal
fundamentados,
pelo que eram
duvidosos e
incertos.
Da mesma forma
que suspeitamos da
estabilidade de
uma casa cujos
alicerces são
inseguros, Descartes
desconfia dos
conhecimentos
insuficientemente
justificados.
Há de haver um
Mas Descartes não é modo de
um cético, Descartes conhecer
é um filósofo que justificadamente.

defende a
possibilidade de um
conhecimento
justificado.

Descartes vai então


procurar resolver o
problema da (má)
fundamentação do
conhecimento.
Descartes vai começar por desfazer-se de todas
as opiniões a que dera anteriormente crédito.
Descartes irá submeter todo o conhecimento a um
exame radical, para discernir o que é claro e distinto
(que será tido como verdadeiro), do que não o é (que
será tomado como falso).
Ideias claras Ideias
e distintas duvidosas

Conhecimento Opiniões duvidosas


verdadeiro tomadas como falsas
Depois, irá reconstruir
o conhecimento desde
os fundamentos de um
modo sólido. Esta
reconstrução do
conhecimento implica a
descoberta de um
princípio indubitável
(um conhecimento à
prova da dúvida,
absolutamente
verdadeiro).
A dúvida
metódica
Problema:

?
Como descobrir a verdade?
Como procedo o entendimento para
construir um conhecimento verdadeiro?

Resposta:
Recorrendo à dúvida metódica.
Duvidando de todo o conhecimento.
Tudo aquilo que se revelar como
duvidoso será tido como falso e só o
absolutamente indubitável (as ideias
claras e distintas) será tido como
verdadeiro.
Se só pudéssemos comer
maçãs biológicas por termos
forte alergia a agrotóxicos e
suspeitássemos que nem todas
as maçãs que estavam num
balde o eram, verificaríamos
todas muito bem.
Toda a maçã que fosse
minimamente suspeita de não
ser biológica seria posta de lado
como se não o fosse.
Só ficaríamos com as maçãs
das quais tivéssemos a certeza
de serem mesmo biológicas.
Podemos caraterizar a dúvida por ser metódica,
provisória, universal, hiperbólica e radical.

?
Metódica
Hiperbólica
Provisória
Radical
Universal
A dúvida é
metódica pois
é um meio
para conhecer
a verdade.
Descartes só
duvida de um
conhecimento
enquanto não for
devidamente
justificado. Nesse
sentido, a dúvida
é provisória.
(Descartes não
quer permanecer
sempre na
dúvida.)
Porque todo o
conhecimento
vais ser sujeito à
dúvida, a um
exame radical
para discernir o
verdadeiro do
duvidoso, então
a dúvida é
universal.
A dúvida é hiperbólica
porque todo o
conhecimento que for
minimamente duvidoso
será tido como se fosse
falso.
Também porque
qualquer faculdade
usada para conhecer
(razão ou sentidos) será
tida como duvidosa, se
der razões para isso.
A dúvida é
radical porque
põe em causa os
fundamentos do
sistema
tradicional de
conhecimento.
A finalidade da
aplicação da dúvida é
encontrar um
conhecimento ou um
princípio que resista
a todas as formas de
pô-lo em causa.
Se for encontrado,
tornar-se-á o
fundamento de todo
o conhecimento
verdadeiro.
O método
cartesiano
Problema:
Como conduzir a razão
na busca da verdade na
ciência?

Descartes propõe um
modelo quase
matemático baseado
em quatro regras.
1º Regra da evidência 2º Regra da análise

Jamais acolher alguma coisa  Dividir cada uma das


como verdadeira que não dificuldades examinadas em
fosse conhecida tantas parcelas quantas
evidentemente como tal. possíveis e quantas
necessárias fossem para
melhor resolvê-las.
3º Regra da síntese
4º Regra da enumeração
Conduzir por ordem os
pensamentos, começando
 Fazer em toda parte
pelos objetos mais simples e
enumerações tão completas
mais fáceis de conhecer, para
e revisões tão gerais, com a
subir, pouco a pouco, como
certeza de nada omitir.
por degraus, até o
conhecimento dos mais
compostos.
A aplicação da
dúvida metódica
? ? ? ?
Descartes não ? ? ?
submeteu todos os
conhecimentos,
um a um, ao
exame da dúvida
já que isso seria
uma tarefa (quase)
interminável.
Ao exame da dúvida
foram sujeitos os três
princípios em que,
segundo Descartes,
assentava todo o
conhecimento.
Se estes se
revelassem duvidosos,
todo o conhecimento
também seria
duvidoso.
Os três princípios bases de todo o conhecimento

A experiência Existe um mundo O nosso entendimento


é fonte de físico, independente não se engana quando
conhecimento. do pensamento, descobre
que é objeto do conhecimentos
conhecimento. verdadeiros.
Fundamentam o conhecimento Fundamenta o conhecimento
sensível ou a posteriori. inteligível ou a priori (e
também o conhecimento
sensível ou a posteriori).
(1ª) Aplicação da dúvida metódica

No tempo de Descartes, o sistema de conhecimentos


estabelecidos fundamentava-se na crença tradicional
de que a experiência é fonte de conhecimento.
Descartes pergunta:
Os dados dos sentidos são mesmo fontes
seguras de conhecimento? Podemos confiar no
conhecimento adquirido com a experiência?
Para responder a este problema, Descartes tem
em conta que os dados dos sentidos enganam-nos
algumas das vezes.

O sol parece deslocar-se no céu mas tal não acontece.


Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Por vezes, os dados dos sentidos enganam-nos…
Descartes infere que os dados dos sentidos
não são fonte segura de conhecimento.
A razão é que, se os dados dos sentidos nos
enganam algumas das vezes, podem enganar-nos
sempre.
Podemos comparar com uma pessoa conhecida que já
foi apanhada a mentir algumas vezes. Ora, se mente
por vezes, pode mentir sempre, logo não é confiável.

Não apresentem mais desculpas como


“o meu cão comeu o TPC”. Aliás, não
apresentem mais desculpas em relação
ao TPC. Simplesmente, façam-no!
Aplicação do princípio hiperbólico:
Como os dados dos sentidos são duvidosos
devem tomados como se fossem falsos.
Este é o argumento das ilusões dos sentidos.
(2º) Aplicação da dúvida metódica

O mundo físico é objeto do conhecimento sensível.


Descartes, até agora, concebeu que esse mundo
físico e todos os objetos que nele existem, incluindo
o seu corpo, são reais.
Descartes pergunta:
A existência do mundo físico independente do
pensamento e que é objeto do conhecimento
sensível ou a posteriori, é real ou é uma ilusão?

? ? ? ? ?
? ? ? ? ?
? ?
Descartes dá-se de conta que, tal como julga que
é real o conteúdo dos seus sonhos, quando sonha,
e irreal quando está acordado. (Argumento do
sonho)
Descartes infere que a crença numa mundo físico e
independente do pensamento (realidade que inclui
o seu corpo), não é indubitável.
Argumento:
Tal como julga que é real o conteúdo dos seus
sonhos, quando sonha, e irreal quando está acordado,
também aquilo que pensa ser real quando está
acordado pode não o ser.
Aplicação do princípio hiperbólico:
Como a crença na existência do mundo físico
não é à prova da dúvida, deve ser
(provisoriamente) tomada como se fosse falsa.
Este é o argumento das ilusões do sonho.
O argumento do sonho sugere que tudo o que
podemos conhecer através dos sentidos é
duvidoso.
(3ª) Aplicação da dúvida metódica

Descartes manifesta muita consideração pelo


conhecimento matemático, o conhecimento
inteligível, por não depender da experiência (ser
a priori), e por ser claro e distinto (evidente).
Descartes questiona:
As nossas noções e demonstrações matemáticas, o
nosso conhecimento inteligível, serão indubitáveis?

? ? ?
? ? ? ?

? ? ?
Não é garantido que Deus (ou um génio maligno)
não me esteja a enganar quando eu penso nas
mais elementares verdades matemáticas.

2+3=5
Não é certo que o meu entendimento não se engane
quando descobre conhecimentos verdadeiros.
Aplicação do princípio hiperbólico:
Como não é garantido que o meu entendimento
não seja enganado por Deus ou por um génio
maligno, então todo o conhecimento inteligível
ou a priori deve ser (provisoriamente) tomado
como se fosse falso.
Nota:
O argumento do Deus enganador ou do génio
maligno também põe em causa as crenças
empíricas, tendo um alcance mais vasto do que
os outros argumentos.
Este é o argumento do génio maligno ou do
Deus enganador.
A hipótese do Deus enganador (ou génio maligno) põe
em causa a crença de que o entendimento não se
engana quando descobre as noções da matemática, mas
também põe tudo o mais em que se possa acreditar,
incluindo a terra, o céu, os corpos extensos, ou seja o
mundo físico.
É um argumento mais abrangente do que os outros:
põe em causa o conhecimento a priori mas também o
conhecimento a posteriori.
Descartes concluiu que os três princípios em
que assentam tanto o conhecimento sensível
como o conhecimento inteligível (ou seja, todo
o conhecimento) são duvidosos.
Ora, se as bases são inseguras então todo o
conhecimento é inseguro.
? ? ? ? ?
O resultado da aplicação da dúvida
? parece ser o ceticismo.
Descartes duvida:
?
- das informações dos sentidos;
- da existência de um mundo físico e
independente, que inclui o próprio
corpo;
- das deduções do entendimento.
? Sendo estes princípios as bases do ?
conhecimento, logo Descartes duvida
de tudo o que se possa conhecer.
? ? ? ? ?
O cogito
Mas este “ceticismo” é apenas temporário
porque é justamente a partir das suas dúvidas que
Descartes descobre a sua primeira grande
verdade.
Eu duvido de tudo,
tudo, tudo. Ao
duvidar, estou a
pensar e se…
Penso,
logo existo.
“Penso, logo existo”,
designado por cogito, é
a primeira verdade
indubitável que
Descartes descobre.
Descartes tem agora a
certeza de que é um
ser pensante ou alma
(mas ainda não tem a
certeza de que tem um
corpo).

Nota: “Penso, logo existo.” em latim traduz-se por “Cogito ergo sum.”
“Penso, logo existo” é uma intuição, uma ideia
que o entendimento descobre imediatamente
clara e distintamente, ou seja como evidente.
Não é uma conclusão de um raciocínio dedutivo.
“Penso, logo existo” é uma descoberta da razão
(um conhecimento a priori).
Os dados dos sentidos não contribuem em
nada para esta descoberta.
“Penso, logo existo” é uma ideia inata, uma ideia
que está desde sempre no pensamento (desde o
nascimento), à espera de ser descoberta.
Penso,
logo existo.
Tipos de ideias
Ideias inatas
Ideias que estão desde sempre no
pensamento, as únicas com valor para
um conhecimento seguro, como as
ideias de Alma, Deus e Mundo.
Ideias adventícias
Ideias que derivam da experiência
como as ideias de mar, Sol, flor.
Ideias factícias
Ideias da imaginação, criadas a partir
das ideias adventícias, como as ideias
de sereia, fada, lobisomem.
O cogito é um critério
(ou modelo) de verdade.
É uma verdade
indubitável porque é
apreendido com clareza
e distinção (com
evidência).
Toda a ideia que for
apreendida como clara e
distinta será também
indubitavelmente
verdadeira.
Sendo um
princípio Conhecimento

seguro, uma
verdade
indubitável, o
cogito será o
fundamento
de todo o
conhecimento
(racional). Penso,
logo
existo.
As provas da
existência de Deus
como ser perfeito
Para conhecer, o espírito procede
por intuição e dedução.
Intuição Dedução
Ato em que a razão se
Encadeamento de
apercebe (sem
verdades claras e
nenhum raciocínio) da
distintas.
verdade de uma ideia
É uma conclusão
com toda a evidência.
“Penso, logo existo” é necessariamente
uma intuição não só tirada de outras
racional, mas também ideias conhecidas
existencial (o sujeito com certeza.
toma consciência da
sua existência
enquanto ser
pensante).
Descartes descobre
que existe como ser
pensante por intuição.
A partir desta intuição,
“penso logo existo”, Conhecimento
Deduções seguro
descobrirá outras
verdades raciocinando
dedutivamente,
reconstruindo assim,
segundo ele, um Penso,
conhecimento seguro. Intuição
logo
existo.
Descartes tem a certeza
de que existe como ser
pensante ou alma.
Mas não tem, por agora,
a certeza de que existe

?
uma mundo físico, do
qual faria parte o seu
corpo.
Então o ser pensante (ou
alma) é distinto do corpo.
(Descartes depois dirá
que estão ligados.)
Descartes está só com as suas ideias pois só
da sua existência como ser pensante é que tem
certeza.
Como sairá Descartes deste solipsismo em que
está mergulhado?
Deus como ser
perfeito

Descartes terá provar


através da sua razão
ou pensamento, que
Deus existe, que não
engana o pensamento
e que lhe garante a
verdade da crença no
mundo físico.
Descartes
? ? ?
duvida.
(Foi por duvidar
que descobriu
que existia como
ser pensante.)

Ora, se duvida,
logo é um ser
imperfeito.
Mas Descartes só se
reconhece como ser
imperfeito,
comparando-se com a
ideia de perfeição.

E só pode fazer essa


comparação porque
possui a ideia de
perfeição (ou ideia de
um ser perfeito).
Comparação
? ? ?

Ser que duvida = Ser imperfeito Ideia de perfeição ou


de um Ser perfeito
A ideia de perfeição corresponde a um ser
perfeito que tem todas as perfeições, é um
ser que não duvida, que sabe tudo (é
omnisciente).
Para Descartes, o ser perfeito é Deus.

=
“(Duvido =) Penso, logo existo.” Intuição
(Porque duvida, Descartes descobre que
existe como ser pensante.)

Ora, se duvida, logo é um ser imperfeito.


Encadeamento
Mas só se pode reconhecer como ser
de raciocínios
imperfeito comparando-se com a ideia de dedutivos
perfeição.

Essa comparação só é possível porque


Descartes possui a ideia de perfeição ou de
ser perfeito.
Um ser perfeito é um ser que não duvida e
esse ser perfeito é Deus.
Problema:
Mas como foi causada a
ideia de ser perfeito ou
de Deus no pensamento
de Descartes?

?
Tudo tem uma causa e a causa não pode ser
inferior ao efeito.

Efeito

X
(Superior)

Causa
(Inferior)
Então o ser pensante,
imperfeito porque duvida,
não pode ser a causa da Efeito
ideia de perfeição em si.

Causa
X
A ideia de perfeição
só pode ser causada
no ser pensante por
um ser mais perfeito,
pelo próprio Deus.
Possui a
ideia de Causa
perfeição
que lhe é
superior

? ? ?
Deus, ser perfeito
(não duvida, é omnisciente)
Superior, infinito

Ser imperfeito
(duvida)
Inferior, finito
• Descobri que “penso, logo existo”, a partir das minhas
dúvidas.
• Se duvido, então sou imperfeito.
• Se sei que sou imperfeito é porque me comparo com a
ideia de perfeição.
• Se me comparo com a ideia de perfeição é porque a
possuo.
• A ideia de perfeição corresponde a um ser perfeito que tem
todas as perfeições, que não duvida e esse ser é Deus.
• Se possuo a ideia de perfeição, ela foi causada pois tudo
tem uma causa.
• Se a ideia de perfeição tem uma causa, essa causa não
pode ser eu que sou imperfeito já que a causa não pode ser
inferior ao efeito.
• Então a causa da ideia de perfeição só pode ser o próprio
Deus, ser perfeito.
Uma das provas da
existência de Deus:
Se Deus causa no
pensamento de
Descartes a ideia de
perfeição então tem
de existir.
Se não existisse,
não a podia causar.
Outra das provas da
existência de Deus:
Se Deus é perfeito,
logo tem de existir. De
contrário, já não seria
perfeito.
Um ser perfeito tem o
atributo da existência.
Esta prova é inspirada no argumento
ontológico de Santo Anselmo (séculos XI
e XII).
Santo Anselmo que definiu Deus como
sendo a maior coisa que a mente humana
pode conceber e defendeu que, se o maior
ser possível existe na imaginação, ele
também deve existir na realidade. Pois uma
das características de um ser maior é a
existência.
Mais uma das provas
da existência de
Deus:
O ser pensante não
é causa de si próprio
dado ser imperfeito.
Se fosse causa de si
próprio daria a si
todas as perfeições
das quais tem uma
ideia.
Exercício: Responda às questões de acordo
com a filosofia cartesiana.
1. Porque é que a alma é distinta do corpo?
2. O que significa solipsismo cartesiano?
3. Porque é que Descartes é um ser
imperfeito?
4. Porque não pode o sujeito (Descartes)
causar em si a ideia de perfeição?
5. Como pode ser a causa da ideia de
perfeição a prova da existência de Deus?
6. Porque é que a perfeição de Deus é prova
da sua existência?
Por isso, o criador do
ser imperfeito e
finito é Deus, que
por sua vez é um ser
perfeito e não
necessita de ser
criado por outro ser.
Soluções

1. Porque é que a Alma é distinta do corpo?


Porque Descartes descobre com certeza que
existe como ser pensante (Alma) antes de ter
a certeza de que tem um corpo.

2. O que significa solipsismo cartesiano?


Dada etapa do percurso filosófico de
Descartes na qual (ainda) só tem a certeza da
sua existência pensante e das suas ideias.
3. Porque é que Descartes é um ser
imperfeito?
Porque é um ser que duvida, duvidar é uma
limitação, portanto, não é próprio de um ser
perfeito.

4. Porque não pode o sujeito (Descartes)


causar em si a ideia de perfeição?
Porque é um ser imperfeito: Como tal é
inferior à ideia de perfeição. Ora, a causa não
pode ser inferior ao efeito.
5. Como pode ser a causa da ideia de
perfeição a prova da existência de Deus?
Porque a causa da ideia de perfeição não
pode ser inferior ao efeito, essa causa só
pode ser Deus, o ser perfeito. E se Deus causa
a ideia de perfeição, logo tem de existir.
6. Porque é que a perfeição de Deus é prova
da sua existência?
Porque a existência é um atributo da
perfeição. Se é perfeito, então tem de existir,
de contrário, já não seria perfeito.
Uma vez provada a existência de Deus,
Descartes supera o seu solipsismo.
Deus como
garantia do
conhecimento
racional
Descartes colocara anteriormente a hipótese
de Deus estar a enganar o pensamento.

Mas Deus enganará mesmo o pensamento?


Se Deus existe
como ser perfeito
então não pode
ser enganador.
Enganar é
próprio de uma
existência menos
perfeita.
Certo.
Se Deus não
é enganador,
então 2+3=5
também não
engana o
pensamento.
Afinal, Descartes
não é enganado por
Deus quando pensa
nas verdades
matemáticas, naquilo
que concebe clara e
distintamente (desde
que usemos
corretamente a
razão).
Deus, vai garantir
que aquilo que todas
as ideias as e distintas
para mim num certo
momento seja
verdade objetiva, isto
é, que valha
independentemente
de mim e sempre
(mesmo quando já
não penso nelas).
O conhecimento tem um fundamento metafísico
porque Deus (realidade metafísica) é o ser que
justifica ou funda a nossa crença do que o que é
claro e distinto (evidente) é verdadeiro sempre.
Descartes pusera também em causa a
crença num mundo físico e independente

?
do pensamento, objeto do conhecimento.

A crença no mundo físico continuará


duvidosa?
Descartes sabe que também possui a ideia
inata de mundo, uma realidade extensa
(comprimento, largura e altura) da qual faz
parte o corpo.
No mundo acontecem coisas, tanto no corpo
como nos outros objetos, contrárias à própria
vontade.
Se acontecem coisas contrárias à vontade do
sujeito, então não é o sujeito a causa delas
mas sim as próprias coisas físicas.
Também, quanto à crença no mundo físico, Deus
não iria enganar.
O conhecimento racional do mundo, através da
ideia inata de mundo (e das leis gerais da física,
conhecidas pela razão), também é verdadeiro
porque é garantido por Deus.
O conhecimento empírico, adquirido com os
dados dos sentidos, foi sujeito à dúvida metódica

?
anteriormente.

Poderá Descartes confiar no conhecimento


possibilitado pelos dados dos sentidos?
Para Descartes, o conhecimento adquirido
com a experiência, isto é, através dos dados
dos sentidos não é credível quando contradiz
a razão.

? ? ? ? ?
? ? ? ?
? ? ? ? ?
Mas assume ser necessário no que respeita à
vida prática (costumes).
Finalmente…
Descartes é um filósofo
racionalista porque
considera que só o
conhecimento racional,
garantido por Deus, é
seguramente verdadeiro.

É também um filósofo
dogmático porque
considera que é possível
conhecer, desde que seja
através da razão.
Descartes no
século XVII:

Penso,
logo existo.
Descartes em 2021…
2014 - 2ª Fase Grupo IV
1. Leia o texto seguinte.
Se perguntar a mim próprio «Estou a beber?» ou
«Está ele a pensar?», a resposta pode ser «Sim», «Não»
ou «Talvez». Mas se perguntar a mim próprio «Estou a
pensar?», a resposta apenas pode ser «Sim». Fazer essa
pergunta a mim próprio é o mesmo que eu pensar.
Seria autorrefutante perguntar a mim próprio «Estou a
pensar?» e responder «Não».
T. Chappell, The Inescapable Self – An introduction to
Western philosophy,
1.1. Justifique, a partir do texto, que o cogito é uma
certeza irrefutável.
1.2. Explique o argumento de Descartes para duvidar
dos seus raciocínios matemáticos mais evidentes.
 
Critérios específicos de classificação 2014 - 2ª Fase
Grupo IV - 1.1 (15 pontos)
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Justificação da irrefutabilidade do cogito:
– Descartes submete todas as suas crenças a uma
dúvida metódica, para determinar se alguma é
indubitável;
– é impossível duvidar de que existimos (como
seres pensantes) enquanto estamos a pensar, pois
isso não seria coerente;
– há uma crença que resiste à dúvida: o cogito.
 
Critérios específicos de classificação 2014 - 2ª Fase
Grupo IV - 1.2 (15 pontos) Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros
igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento de Descartes para duvidar dos seus
raciocínios matemáticos mais evidentes é o do génio
maligno;
– o argumento do génio maligno levanta a hipótese de uma
entidade externa controlar a nossa mente, fazendo-nos
acreditar, por exemplo, que 2 + 2 = 4;
– o argumento do génio maligno, diferentemente dos
outros (argumentos das ilusões dos sentidos e do sonho),
põe também em causa as crenças que não dependem dos
sentidos / a priori.
2017 - Época especial Grupo III
1. Leia o texto seguinte.
Devo tomar todo o cuidado em não me enganar nos juízos. Ora, o
erro principal e mais frequente que se pode descobrir neles
consiste em eu afirmar que as ideias que estão em mim são
semelhantes ou conformes a certas coisas que estão fora de mim.
[…] Assim, por exemplo, descubro em mim duas ideias diversas do
Sol. Uma, como que tirada dos sentidos, […] deixa que o Sol me
apareça muito pequeno; porém, a outra é tirada dos raciocínios da
Astronomia […] e por ela o Sol mostra-se um certo número de
vezes maior do que a Terra. Ambas não podem, certamente, ser
semelhantes ao […] Sol existente fora de mim, e a razão persuade-
me de que a ideia que parece emanar mais diretamente do próprio
Sol não tem qualquer semelhança com ele.
R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, pp. 140-144 (adaptado)

Explicite o modo como, no texto anterior, o empirismo é posto em


causa.
 
Critérios específicos de classificação 2017 - Época especial
Grupo III - 1. (15 pontos)
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente
relevantes. Explicitação do modo como, no texto, se põe em causa o
empirismo:
‒ fazemos juízos errados acerca das coisas exteriores a nós, e o erro
mais importante nos nossos juízos é o de afirmarmos que as ideias
provenientes dos sentidos representam adequadamente as coisas
exteriores a nós;
‒ se confrontarmos, por exemplo, duas ideias diferentes acerca do
Sol, uma proveniente dos sentidos, que o representa como muito
pequeno, e outra proveniente dos raciocínios dos astrónomos, que o
representa como um corpo maior do que a Terra, a razão persuade-
nos de que seria errado afirmar que a ideia acerca do Sol
proveniente dos sentidos é aquela que representa adequadamente o
Sol.

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