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O Ambiente e as Doenças do Trabalho

Brasília-DF.
Elaboração

Elisa Maria Amate

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR.................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
UM POUCO DE HISTÓRIA........................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
MEDICINA DO TRABALHO, SAÚDE OCUPACIONAL E SAÚDE DO TRABALHADOR......................... 20

UNIDADE II
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL............................................................................................. 31

CAPÍTULO 1
SAÚDE DO TRABALHADOR: O COLETIVO E O INDIVIDUAL......................................................... 31

CAPÍTULO 2
ANAMNESE OCUPACIONAL..................................................................................................... 42

CAPÍTULO 3
AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO E AO AMBIENTE........................................ 45

UNIDADE III
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR................................. 54

CAPÍTULO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR.................................................................. 54

CAPÍTULO 2
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E PROGRAMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR........ 64

CAPÍTULO 3
GESTÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR.................................................................................... 75

UNIDADE IV
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO................................................................... 91

CAPÍTULO 1
DOENÇAS DO TRABALHO CAUSADAS POR FATORES DE RISCO FÍSICO, QUÍMICO E BIOLÓGICO,
PSICOERGONÔMICO E MECÂNICO – ACIDENTES................................................................... 91
CAPÍTULO 2
ACIDENTE COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO RELACIONADO AO TRABALHO.............. 94

CAPÍTULO 3
CÂNCER RELACIONADO AO TRABALHO (DECORRENTE DA EXPOSIÇÃO AO BENZENO).......... 100

CAPÍTULO 4
DERMATOSES OCUPACIONAIS............................................................................................... 105

CAPÍTULO 5
DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT)................................ 109

CAPÍTULO 6
PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO (PAIR) RELACIONADA AO TRABALHO........................... 114

CAPÍTULO 7
PNEUMOCONIOSES RELACIONADAS AO TRABALHO.............................................................. 118

CAPÍTULO 8
TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO........................................................ 121

CAPÍTULO 9
TRABALHO INFANTIL............................................................................................................... 130

CAPÍTULO 10
INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS...................................................................................... 133

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 151

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 153
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
No cenário contemporâneo, as transformações ocorridas nos processos produtivos
(precarização, informalidade, globalização etc.) implicam a necessidade de
construção de conhecimento sobre agravos relacionados ao trabalho para além
do estudo de suas manifestações clínicas. Essa construção será fomentada como
categoria fundamental de reconhecimento da relação causa e efeito, resultante da
interação da tríade ambiente-saúde-trabalho. O ponto de partida será a definição
dos principais conceitos até o rol de agravos relacionados ao assunto em questão.

O assunto não se esgota porque ele faz interface direta com as demais disciplinas
do curso e com o cotidiano de profissionais da área de Segurança e Saúde do
Trabalhador, pública ou privada.

Portanto, a disciplina contribui para a discussão dos entrecruzamentos dos


campos ambiente, saúde e trabalho, por intermédio da compreensão dos aspectos
conceituais e históricos. Assim, possibilita-se avaliar todas aquelas situações que
ofereçam risco de acidentes e adoecimento associados aos processos produtivos,
à avaliação de procedimentos utilizados na investigação das situações de risco,
bem como às metodologias utilizadas na sua prevenção e controle. Dá-se ênfase
às morbidades mais prevalentes.

Objetivos
»» Aprofundar os aspectos conceituais e históricos do campo da Saúde
Ambiental e do Trabalhador.

»» Identificar as relações entre saúde, ambiente e trabalho, de maneira


a estimular a prevenção de fatores de riscos que levariam à redução
do estabelecimento de Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário
(NTEP).

»» Identificar os principais sujeitos envolvidos nos procedimentos de


investigação de situações de risco para a saúde do trabalhador.

»» Analisar os procedimentos utilizados para a investigação de situações


de risco, bem como as metodologias utilizadas em sua prevenção e
controle.

»» Avaliar as situações de risco e dos acidentes e patologias associados


aos processos produtivos.

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ASPECTOS GERAIS
DA SAÚDE DO UNIDADE I
TRABALHADOR

CAPÍTULO 1
Um pouco de história...

Os acidentes e as doenças relacionados ao trabalho são antigos e a sua origem está


vinculada ao surgimento do trabalho: ao longo de toda história, as condições do
ambiente de trabalho têm causado incapacidades e mortes para um grande número
de trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Observe:

»» Na Antiguidade, essa associação foi encontrada em papiros antigos,


no Império Babilônico e em escrituras greco-romanas. Nesse período,
predominava o conceito de fenômenos de origem mágico-religiosa e,
posteriormente, naturalista.

»» No Egito, há registros de 2360 a. C., como o Papiro Seler II e o Anastasi


V, sendo este último conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 a.
C., no qual estão evidenciados problemas relativos a insalubridade,
periculosidade e penosidade dos profissionais à época (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

»» Em 1750 a.C., o código de Hamurabi trazia em seu bojo cerca de


281 artigos a respeito das relações de trabalho, família, propriedade
e escravidão. Um deles, em especial, tratava da pena de morte ao
arquiteto que projetasse uma casa que desmoronasse e causasse a
morte de seus ocupantes.

»» As civilizações greco-romanas não tinham interesse em estudar o


trabalho em si, uma vez que essa área era de competência dos escravos.
Entretanto, houve estudos relevantes, como o tratado de Hipócrates,
Sobre os Ares, Águas e Lugares, no século IV a. C., cujo conteúdo
indicava ao médico a relação entre ambiente e saúde, bem como
descrevia um quadro de intoxicação saturnina em um mineiro. No

9
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

séc. I a. C., o naturalista romano Plínio escreveu um tratado chamado


História Natural, evidenciando o aspecto dos trabalhadores expostos
a chumbo, mercúrio e poeiras (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

»» No período entre o apogeu do Império Romano e o final da Idade


Média, poucos relatos foram encontrados sobre doenças. Porém, nessa
época, foram criadas ordens hospitalares para prestar atendimento a
enfermos (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A sociedade feudal caracterizava-se pela produção de bens e serviços efetuados


pelo trabalho servil e artesanal. Mas qual era a relação de servidão com o acúmulo
de capital? Os camponeses não eram trabalhadores livres e não tinham direito
de propriedade ou de venda de sua força de trabalho em troca de salário, onde
quer que estivessem. O senhor feudal e o clero exigiam os dízimos e impostos,
pouco se importando com o estado de saúde de seus subalternos. A assistência
ao doente ou inválido era arcada pela família, pois o trabalho e as doenças
decorrentes disso não eram objeto de regulamentação e interferência do Estado
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). O artesão era capaz de realizar todas as
tarefas do ofício, conhecendo o início e o fim do trabalho, não o distanciando de
seu objeto de atuação, o que ocorrerá na Revolução Industrial.

Após anos, apenas em 1473, Ulrich de Elsborg desenvolveu o estudo sobre


vapores metálicos, em que há o descritivo de sinais e sintomas de envenenamento
ocupacional por monóxido de carbono, chumbo, mercúrio e ácido nítrico, além de
sugerir medidas preventivas (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Até o final do século XV, muitas pesquisas tratavam de doenças causadas por
agentes químicos, como o estudo completo De Re Metallica (George Bauer ou
Georgius Agricola, Inglaterra), que se compõe de: problemas relacionados às
atividades de extração e fundição de prata e ouro; acidentes de trabalho; doenças
comuns entre mineiros; e meios de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Já no início do século XVIII, o mundo do trabalho sofreu grandes transformações


com o surgimento de novos estudos pela Europa e, por conseguinte, com as
grandes contribuições para a medicina do trabalho, como a obra De Morbis
Artificum Diatriba, de Bernadino Ramazzini. Em seu estudo, o autor descreveu
as doenças, os riscos e as precauções relacionados a cinquenta profissões da
época. É considerado o pai da medicina do trabalho (MATTOS; MÁSCULO,
2011).

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

No final do XVIII e início do século XIX, ocorreu na Europa a Revolução


Industrial, inicialmente na Inglaterra, França e Alemanha, tendo como marcos
a invenção da máquina a vapor por James Watts (1784) e a publicação polêmica
de Adam Smith da obra Riqueza das Nações (1776), apontando as vantagens
econômicas na divisão do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Nesse espectro, a forma de fabricação industrial caracterizou-se por:

1. Divisão técnica do trabalho.

2. Uso intensivo de máquinas do dono da empresa.

3. Uso de energia motriz capaz de movimentar um conjunto de máquinas.


A operação das máquinas gerava uma divisão técnica do trabalho
e as atividades passaram a ser parceladas, com tarefas divididas,
exigindo movimentos de partes específicas do corpo do trabalhador
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

Com o furor causado pela Revolução Industrial, houve grande aumento da


produtividade e ampliação do consumo de bens pela sociedade em geral,
necessitando de mais mão de obra para conduzir as máquinas. Para isso, foram
empregados mulheres, homens e crianças (a partir dos 6 anos), em condições de
trabalho degradantes, como jornada de trabalho prolongada, ruído exacerbado,
más condições de higiene no local de trabalho, somando-se a esses aspectos o
elevado número de acidentes e adoecimentos (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A indústria capitalista demandou legiões de trabalhadores e trouxe consigo


efeitos devastadores, como alta frequência de mortes, epidemias e mutilações,
contudo, em função disso, várias leis começaram a ser editadas, principalmente
na França e Inglaterra (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

A situação só se modificou com os movimentos sociais de trabalhadores, que


obrigaram legisladores e políticos a repensar o papel do Estado na regulação das
condições de trabalho nas fábricas. Dessa forma, em 1802, foi aprovada a Lei
da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de Outros Empregados,
constituindo-se, portanto, na primeira legislação de amparo e proteção aos
trabalhadores. Então, foi criada uma comissão de inquérito do parlamento britânico,
que estabelecia a jornada diária de trabalho de 12 horas, proibia o trabalho noturno
e obrigava a ventilação e lavagem das paredes das fábricas pelos empregadores
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

As ações dessa comissão parlamentar resultaram na primeira legislação no campo


da saúde do trabalhador, em 1833, a Factory Act (Lei das Fábricas), que, apoiada
pela sociedade britânica, obrigou todos os empregadores a proibirem o trabalho
noturno para menores de 18 anos e montarem escolas para menores de 13 anos.
Além disso, a idade mínima para o trabalho passou a ser de 9, e não mais de 6
anos, e o desenvolvimento físico do trabalhador menor deveria ser avaliado por
um médico. No mesmo ano, a Lei Operária foi aprovada na Alemanha (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

A Factory Act tomou por base o conselho de Baker, que foi um médico
contratado por um industrial inglês, Robert Derham, em 1830, para estudar
a melhor forma de preservar a saúde dos trabalhadores de sua fábrica. Após
seu estudo, Baker sugeriu que Derham contratasse um médico que visitasse
a fábrica diariamente e estudasse a influência do trabalho na saúde dos
trabalhadores – aqui foi criado o ensaio do primeiro serviço médico industrial
do mundo. Quatro anos depois, Baker foi nomeado inspetor médico do
parlamento inglês. A criação da legislação ocupacional na Inglaterra contou
também com a contribuição de Charles Turner Thackrah, em 1830, quando
ele publicou um livro sobre doenças ocupacionais.

Quando os trabalhadores começaram a ser contratados massivamente pela via


salarial, costumava-se pagá-los por produção, e as jornadas de trabalho eram
muito mais longas do que as atuais – podiam atingir de 16 a 18 horas seguidas – e,
comumente, eram empregadas crianças e mulheres para realizar tarefas árduas,
fato gerador de duras críticas por parte das primeiras associações formadas por
trabalhadores (primeiros sindicatos, por assim dizer). A partir daí, obteve-se
a melhoria das condições de trabalho e o advento das primeiras leis no século
XVIII, que se consolidariam especialmente no século XIX, em alguns países da
Europa, como França e Inglaterra, e nos Estados Unidos da América (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

No auge da Revolução Industrial, muitos artesãos habilitados foram contratados


e mantiveram suas tradições e regras de ofício até a difusão da “organização
científica do trabalho”, por Frederic Taylor, a partir do século XX. Dessas tradições
e regras de ofício, partiram muitos marcos regulatórios que determinariam a
organização do trabalho e cuidados aos riscos profissionais para a saúde do
trabalhador (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

A transição ocorreu com as profundas transformações provocadas pelo


taylorismo e fordismo. O fordismo desencadeou a 2ª Revolução Industrial

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

quando Henry Ford estabeleceu, em sua montadora de carros nos Estados


Unidos, o gerenciamento científico de Taylor, valorizando todas as formas de
intensificação das tarefas e automação industrial (VASCONCELOS; OLIVEIRA,
2011), instituindo a produção em série e o consumo em massa. Aqui o trabalhador
entra como uma equipagem merecedora de processos de análise seletiva na sua
inserção na indústria. Nessa condição, a manutenção da sua saúde destina-se
a evitar o absenteísmo por meio de práticas de medicina, psicologia, higiene
industrial, a fim de não interferir na produtividade e no lucro.

Leia o artigo “Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas


rupturas e continuidades”, de Érika Batista, disponível em nossa biblioteca
virtual.

A partir do século XX, algumas organizações criaram resoluções e convenções


na tentativa de melhorar as condições de trabalho e atendimento à saúde em
todos os países membros que tivessem aderido às referidas convenções. Estamos
falando de organizações multigovernamentais tais como Organização das Nações
Unidas (ONU) e suas afiliadas: Organização Internacional do Trabalho (OIT) e
Organização Mundial da Saúde (OMS) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Em 1979, foi retomado o movimento sindical no Brasil, e várias entidades tiveram


acesso às informações das empresas, prontuários, laudos e exames médicos de
trabalhadores para constituir dossiês e instigar a discussão das suas condições
de vida e trabalho, divulgando essas informações na imprensa e estações de
rádio e de televisão daquela época (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

É importante ressaltar que esse movimento deu fruto a uma obra pioneira na
integração das atividades sindicais com a pesquisa em saúde e área jurídica:
“De que adoecem e morrem os trabalhadores”, organizado pelo médico Herval
Ribeiro e Francisco Lacaz. Obras como essa foram fruto de pesquisas organizadas
pelos sindicatos para melhoria de base técnica em defesa dos direitos dos
trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Muitos sindicalistas conseguiram espaço com direito a voto nos processos de


criação e retificação das normas regulamentadoras, bem como a participação
nos embrionários Conselhos-Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).

O movimento de redemocratização e a abertura cultural e política, aliados


ao intercâmbio entre entidades ambientalistas, pesquisadores, sindicatos e
intelectuais da época, resultaram na inserção de leis de proteção ao meio

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

ambiente e saúde do trabalhador na Constituição Federal de 1988 e em


legislações estaduais (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Essa pressão incisiva, fomentada pelos sindicatos sobre os parlamentares


e a administração pública, foi, em sua maioria, integrada por categorias de
trabalhadores atreladas diretamente às atividades econômicas com dependência
direta dos recursos naturais, das águas, compostos químicos, além de
trabalhadores rurais, Sem Terras e extrativistas (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Ora, essas categorias conheciam a real dimensão dos impactos ambientais e da
saúde dessas atividades econômicas.

Você sabia que a implantação da NR 5 começou, de fato, nas plantas


industriais químicas e nas refinarias de petróleo? Em 1990, multiplicaram-
se casos de contaminação por exposição a compostos químicos, em que
as doenças mais prevalentes apresentadas foram leucemia e outros tipos
de cânceres. Na indústria química, trabalhadores e comunidade em volta
desses complexos industriais são expostas a toxicidade variada dos insumos,
produtos e subprodutos efluentes. Por isso, a preocupação da comunidade
veio a se somar ao foco ocupacional, e a noção de perigo foi cada vez mais
agregada ao conhecimento dos sindicalistas sobre os riscos químicos para a
saúde humana e ambiental.

Os problemas de saúde ocupacional pioraram com a 2ª Revolução Industrial,


advinda da descoberta da eletricidade e do motor de explosão, culminando no
surgimento de várias obras que tratavam da situação do mundo do trabalho
naquela época, como o livro O Capital, de Karl Marx, que trata principalmente
dos mecanismos de acumulação de capital pelos empregadores por meio da
mais-valia, além de descrever a exploração da mão de obra na Inglaterra. Nesse
período, a enfermeira italiana Florence Nightingale publicou, em 1861 asNotas
sobre a enfermagem para as classes trabalhadoras, tornando-se pioneira em
sua área de atuação.

Diante do quadro preocupante, muitos países do continente europeu aprovaram


leis sobre a reparação de acidentes e doenças profissionais, como a Alemanha
(1884), Inglaterra (1897), França (1898), Portugal (1913) e, no continente
americano, os Estados Unidos (1911) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Em 1900, foi criada a Internacional Association for Labour Legislation,


embrião da OIT, que seria formalmente criada após 19 anos. As duas
primeiras convenções internacionais sobre o trabalho, especificamente sobre

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

trabalho noturno das mulheres e eliminação de fósforo branco da indústria


de máquinas, foram originadas em conferências diplomáticas realizadas em
Berna, na Suíça (1905). A medicina do trabalho foi reconhecida enquanto
especialidade somente em 1954.

Os movimentos mundiais pela conscientização do papel fundamental da saúde


do trabalhador foram motivadores para o trabalho em conjunto da OIT e OMS
de tal modo que, na década de 1950 do século passado, uma comissão conjunta
foi formada para tratar da saúde ocupacional, na Suíça, e, desde essa época, o
tema tem sido debatido em vários encontros da Conferência Internacional do
Trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Na história brasileira colonial e imperial, a mão de obra escrava teve uma


importância central no panorama econômico, perfazendo um total de 400 anos
de trabalho escravo. Diferentemente do que imaginamos, naquela época, surgiu
uma prática de medicina do trabalho dirigida aos escravos com um foco do
que hoje seria a zootecnia ou medicina veterinária: o escravo era considerado
mercadoria animal, cujo senhorio era proprietário do corpo físico, da liberdade
e da prole do escravo por toda a eternidade.

Considerando a escravidão em larga escala nas Américas, o mercado de escravos


organizou-se de maneira distinta do mercado de força de trabalho desenvolvido
no modo capitalista industrial. A visibilidade da doença do trabalho se perdia
em um mundo de extrema violência e crueldade, o que se configuraria num
massacre moral extremo e desastre epidêmico (VASCONCELOS; OLIVEIRA,
2011). Quando doentes, os escravos eram tratados por seu valor patrimonial,
caso houvesse interesse do proprietário. Se não sobrevivesse, era substituído
por outro hígido.

Segundo Vasconcelos e Oliveira (2011), a medicina do trabalho no Brasil surge


como aquela assistência à saúde dos escravos por meio de práticas de medicina
veterinária aplicadas aos seres humanos em cativeiros. Algumas leis foram
promulgadas para amenizar o sofrimento dos escravos durante o Império,
culminando com a Lei Áurea, em 1888.

Pouco se diferenciavam as condições de trabalho no Brasil com aquelas


encontradas na Europa, quando do advento da indústria em território nacional.
Com o aumento da atividade fabril, principalmente em São Paulo, os movimentos
sociais pressionaram o Estado à criação de legislação trabalhista em 1917, ainda
que rudimentar, e também de uma lei sobre acidentes de trabalho em 1919.
Aqui, a Revolução Industrial foi tardia, assim como em toda a América Latina,

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

lá pelos idos dos anos de 1930, tendo-se a promulgação da Consolidação das


Leis do Trabalho (1943), por Getúlio Vargas, como marco principal do século XX
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A 8ª Conferência Nacional de Saúde (em 1986) e seus desdobramentos na


Assembleia Nacional Constituinte (1988), bem como a criação do Sistema Único de
Saúde (1988), advieram dos ideais e bases teóricas fomentados pela Epidemiologia
Social. Ela apresentou avanços tecnológicos importantes na América Latina, desde
o final da década de 1970, tendo grande reflexo na saúde pública brasileira.

A ênfase no processo de produção estimulou a expansão conceitual da “Saúde


Ocupacional” para “Saúde dos Trabalhadores”, concomitante à implantação de
políticas de saúde coerentes com esse novo marco. Em paralelo, a pauta da saúde
ambiental ganhava espaço nas esferas políticas do mundo inteiro. Após a Rio 92
(Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
também conhecida como Eco-92), no Brasil, o campo da saúde ambiental teve
uma abertura maior não apenas ao debate específico sobre o saneamento básico
e as doenças infectocontagiosas, mas também ao enfoque de problemáticas a
respeito de agrotóxicos, metais pesados, contaminação das águas para consumo
humano, ambiente urbano, além de outros. Isso representaria os primeiros
passos para o delineamento de uma política de saúde ambiental consistente
(RIGOTTO, 2003).

As questões ambientais são histórica e tradicionalmente relacionadas à saúde no


Brasil, do ponto de vista institucional – numa preocupação quase que exclusiva
de instituições voltadas ao saneamento básico (água, esgoto, lixo etc.). Durante
muitos anos estiveram pautadas nas propostas do Governo e atreladas a diversas
áreas internas do aparelho Estatal, notoriamente em alguns ministérios,
como o do Interior e da Saúde, além de secretarias estaduais e municipais e
algumas Universidades. A partir da década de 1970, com a piora dos problemas
ambientais gerados pelo crescimento industrial, novas instituições surgiram
ou foram criadas, como a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
(FEEMA) e a Companhia Estadual de Tecnologia em Saneamento Ambiental
(CETESB). Essas instituições contribuíram para o desenvolvimento de ações de
monitoramento e controle da poluição ambiental, sem sequer ter ligação com
o sistema de saúde. Em outra via, a elaboração de novas teorias e abordagens
que renovavam esse aporte institucional estava latente no mundo acadêmico –
estando majoritariamente associada a outras organizações civis no bojo da luta
pela redemocratização do país (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Com o crescimento da área de saúde do trabalhador, a partir do final da década


de 1970, e durante toda a década de 1980, ficou explícito o elo existente entre
essas questões e o sistema de saúde, abrindo o caminho para a incorporação
de uma saúde ambiental moderna no setor. Em 1992, no Rio de Janeiro, um
período anterior à realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) também corroborou para aumentar
as preocupações com os problemas de saúde relacionados ao ambiente. Além
disso, esse período pode ser caracterizado pelo crescimento dos movimentos
ecológicos – ONGs e outras formas organizadas de luta da sociedade civil
pela preservação do ambiente e da saúde –, que ganharam dia após dia mais
publicidade. Esse desenrolar de fatos históricos concatenados demonstra e
explicita o convencimento do meio político e social a respeito da importância
da questão ambiental em seus desdobramentos para a saúde humana, atingindo
todo o planeta também (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).

O Sistema Único de Saúde (SUS) é resultado de vários movimentos inesperados na


área de saúde do trabalhador: influencia a organização da saúde do trabalhador
na rede pública como direito universal e dever do Estado, incorpora princípios
institucionais nas legislações estaduais, introduz o conceito ampliado de saúde
do trabalhador – diferente dos conceitos reducionistas de medicina do trabalho
e saúde ocupacional –, e vislumbra a saúde como elemento central na proteção
dos trabalhadores diante das imposições econômicas e sociais dos processos de
trabalho historicamente arraigados (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

Em resumo, as explanações contidas neste capítulo trazemoz um quadro resumo


dos anos e eventos históricos no Brasil que têm relação com a evolução histórica da
legislação trabalhista e saúde do trabalhador, como segue abaixo:

Quadro 1. Sequência histórica de fatos importantes para a saúde do trabalhador.

Período Evento
1700 Lançamento do livro De morbis articum Diatriba, pelo médico italiano Ramazzini.
1760-1820 Revolução industrial, gerando grande número de mutilados e doentes.
1884 Surgem as primeiras leis a respeito do acidente de trabalho na Alemanha.
1888 Lei Áurea - abolição da escravidão.
1919 Lançado o decreto 3724, sobre o saúde do trabalhador.
1919 Criação da OIT pelo tratado de Versalhes.
1943 Publicada a Consolidação das Leis Trabalhistas, no governo de Getúlio Vargas.
Criação da OMS.
1946 O Brasil amplia as normas de Segurança e Saúde no trabalho (SST), instituindo os SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho) e a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).
Mudança do cap. V título II da CLT, por intermédio da Lei 6514 de 1977, para aprofundar as medidas preventivas para retirar o
1977
Brasil do topo das estatísticas de acidente de trabalho.

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Período Evento
Publicação das NRs, pela Portaria 3214.
1978 Houve questionamento dos sindicatos sobre o adicional de remuneração para compensar a exposição aos riscos ocupacionais, que
chamaram de “adicional de suicídio”.
Publicação da Convenção da OIT 155 sobre a segurança e saúde dos trabalhadores, tratando a participação ativa deles nas
1981
questões envolvendo SST. A partir de então configura-se a saúde do trabalhador.
8a Conferência Nacional de Saúde, que trouxe em seu relatório final o texto que embasaria não apenas a Constituição Federal em
1986
seus artigos 196 a 200, como a elaboração de uma lei para o futuro SUS.
Instituição da Constituição Federal, na qual a saúde é tida como direito social com garantia aos trabalhadores da redução dos riscos
1988
inerentes ao trabalho.
Ratificação da Convenção 161, sobre a Segurança e Saúde dos trabalhadores.
1990 Criada a Lei Orgânica do SUS, Lei 8080. Aqui as vigilâncias epidemiológica e aanitária seriam responsáveis pelas ações de
promoção e proteção à saúde do trabalhador.
1998 Publicada a Portaria Ministerial do Ministério da Saúde tratando da vigilância em saúde do trabalhador.
A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) é criada por meio da Portaria 1679. A RENAST constituiu-
se assim uma rede pública de os núcleos de vigilância em saúde do trabalhador estabelecida pelo Ministério da Saúde. Essa rede é
2002 explicitada nos próximos capítulos.
A Portaria 2728 estabelece as atribuições dos CERESTs, enquanto uma rede estruturada, hierarquizada e provida de ações
2009 específicas de prevenção e promoção à Saúde do trabalhador.
... ...
2011 Instituída a Política Nacional de Saúde e Segurança do trabalho, com vistas a atender a convenção 155.
2012 Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
2014 Realização da 4a Conferência de Saúde do trabalhador
2a Jornada de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, além de ter publicado o Atlas do Câncer, o Conselho Nacional de Saúde ratifica
2018 as propostas apresentadas no relatório final da 4a conferência de ST, apresenta proposta de reorganização da Atenção Integral à
Saúde dos Trabalhadores no SUS a ser submetida à análise do Ministério da Saúde.
Fonte: Adaptado de Teixeira (2016), 2018.

Segundo a OMS (2018), os maiores desafios para a saúde do trabalhador


atualmente e no futuro são os problemas de saúde ocupacional ligados com:

»» As novas tecnologias de informação e automação.

»» Novas substâncias químicas e energias físicas.

»» Riscos de saúde associados a novas biotecnologias.

»» Transferência de tecnologias perigosas.

»» Envelhecimento da população trabalhadora;

»» Problemas especiais dos grupos vulneráveis (doenças crônicas e


deficientes físicos), incluindo migrantes e desempregados.

»» Problemas relacionados com a crescente mobilidade dos trabalhadores e.

»» Ocorrência de novas doenças ocupacionais de várias origens.

18
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Falaremos detidamente sobre esse assunto nos próximos capítulos,


quando da evolução das políticas de Saúde no Trabalho (ST ) no SUS até a
atualidade, partindo da década de 1980.

Veja as AULAS 1 e 2 – Aspectos Gerais de ST e história.

19
CAPÍTULO 2
Medicina do trabalho, saúde
ocupacional e saúde do trabalhador

A medicina do trabalho está pautada principalmente na presença de um serviço


médico dentro das empresas, para monitorar a saúde dos trabalhadores, modelo
ainda muito próximo à sua origem na Revolução Industrial (vide história de
Baker).

Segundo a ANAMT (2019), a Medicina do Trabalho pode ser definida como:

Especialidade médica que lida com as relações entre a saúde dos


homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não
somente a prevenção das doenças e dos acidentes do trabalho,
mas a promoção da saúde e da qualidade de vida, através de ações
articuladas capazes de assegurar a saúde individual, nas dimensões
física e mental, e de propiciar uma saudável inter-relação das pessoas
e destas com seu ambiente social, particularmente, no trabalho.

Ela atua especificamente visando a promoção e a preservação da saúde do


trabalhador. Compete ao médico do trabalho avaliar e detectar condições adversas
nos locais de trabalho, ou sua ausência.

Mendes e Dias (1991) descrevem, além dessas, outras características típicas da


especialidade em questão: é-lhe atribuída a tarefa de cuidar da “adaptação física
e mental dos trabalhadores”, supostamente contribuindo na colocação deles
em lugares ou tarefas correspondentes às aptidões. Essa adaptação estaria mais
limitada à seleção de candidatos mais sadios e à adequação dos trabalhadores às suas
atividades, e não o inverso. É atribuída a essa tarefa “a contribuição à manutenção
do nível mais elevado possível do bem-estar biopsicossocial dos trabalhadores”,
conferindo-lhe ainda um caráter de plenitude e inerente à própria concepção
positivista da prática médica.

Na área das ciências da Administração, o desenvolvimento da administração


científica do trabalho encontrou uma forte aliada para aumentar a produtividade
nas empresas: a medicina do trabalho, onde esta dá sustentação ao desenvolvimento
da “Administração Científica do Trabalho”, fundamentando os princípios de Taylor
que posteriormente serão ampliados por Ford (MENDES; DIAS, 1991).

20
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Entretanto, essa onipotência começa a dar espaço a uma nova abordagem da relação
saúde versus trabalho, denominada saúde ocupacional, que visava à adequação à
nova realidade resultante das inovações tecnológicas introduzidas após a Segunda
Guerra Mundial (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Assim, o contexto econômico e
político – como o pós-guerra, o custo provocado pela perda de vidas e as doenças do
trabalho – começou a ser também sentido pelos empregadores e pelas companhias
de seguro, às voltas com o pagamento de pesadas indenizações por incapacidade
provocada pelo trabalho (MENDES; DIAS, 1991).

Uma vez que o modelo positivista centrado na figura do médico não respondia
às inovações tecnológicas e da sociedade, repensou-se a metodologia que aliasse
médicos e engenheiros para higienizar os ambientes insalubres, ou seja, o que antes
tinha como centro das atenções o trabalhador, agora extrapola para o ambiente em
volta. Eis que surge a saúde ocupacional.

Entretanto, nas escolas de saúde pública dos Estados Unidos, o desenvolvimento


do novo modelo proposto não promoveu a multidisciplinariedade na íntegra,
acompanhado de certa desqualificação do aspecto epidemiológico do trabalho
(MENDES; DIAS, 1991).

Para Mattos e Másculo (2011), essa abordagem é tecnicista, valoriza os ambientes


de trabalho e agentes ambientais com atenção à saúde do trabalhador sadio,
quantifica os riscos ambientais e despreza a análise dos processos de trabalho e
organização da produção com o contexto social. O trabalhador permanece como
objeto de análise – para melhor produtividade – e não como sujeito ativo de
transformação do seu meio.

A partir do final dos anos 1960, começam as críticas à concepção de saúde e


à denúncia dos efeitos negativos da medicalização e do caráter reprodutor e
ideológico das instituições médicas. Nesse intenso processo social de práticas
alternativas e discussões teóricas, a teoria da determinação social do processo
saúde-doença ganha corpo (MENDES; DIAS, 1991). O modelo operário italiano
contribuiu para as mudanças na relação saúde versus trabalho, por meio do
Estatuto dos Direitos dos Trabalhadores (1970), em que foram incorporadas as
reivindicações dos trabalhadores ao corpo da lei.

Dessa forma, surge um novo conceito de trabalho versus saúde, enquanto


modelo participativo, em que:

1. O trabalhador é sujeito de transformações do ambiente de trabalho.

2. A epidemiologia estuda as questões sanitárias da massa de


trabalhadores e não do indivíduo.

21
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

3. O indivíduo agora é considerado ser holístico, traduzindo esse


modelo quanto ao cuidado biopsicossocial, levando-se em conta os
macrocondicionantes externos ao trabalho nos determinantes em
saúde para o desenvolvimento de doenças e agravos relacionados
ao trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011; ANAMT, 2014).

As ações vinculadas à relação saúde-trabalho são resultado de diferentes conceitos


e práticas de diversas correntes que tentaram, ao longo de anos, trazer a hegemonia
do conceito (conhecimento) para si. Esse modelo de análise nos permite conceber
alguns conceitos de áreas específicas no campo da saúde e das normas (jurídicas)
segundo a sua abordagem em relação ao processo de trabalho, refletindo-se em
algumas áreas específicas, como a medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde
do trabalhador (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A saúde do trabalhador amplia o conceito de saúde voltada especificamente


a uma população e agrega outros valores vinculados à transversalidade e à
multifatorialidade da saúde humana, vendo o trabalhador como um sujeito ativo
em seu ambiente de trabalho e no próprio autocuidado, como mostra a figura
abaixo.

Figura 1. Transversalidade da saúde do trabalhador.

Saúde

Relações
Lazer
sociais

Saúde do
Economia
trabalhador Micro e
macroambiente
de trabalho

Trabalho Religião

Fonte: próprio autor (2018).

Veja a AULA 3 – Medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador

22
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Bernardino Ramazzini, médico italiano nascido em Carpi, em 1633, é


considerado o pai da Medicina do Trabalho. Abaixo podemos observar não
apenas a foto do renomado médico, mas uma de suas obras.

Figura 2. Fotografia do médico Bernadino Ramazzini.

Fonte: Wikipedia (2018).

Na figura acima, observamos a imagem do livro As Doenças dos


Trabalhadores, 1700, traduzido para o português pelo Dr. Raimundo
Estrela. Nele, Ramazinni descreve os principais problemas de saúde de
cerca de 54 profissões. Chama a atenção para a necessidade de os médicos
conhecerem a ocupação atual e pregressa de seus pacientes ao fazer o
diagnóstico correto e adotar os procedimentos adequados.

A relação saúde, ambiente e trabalho


O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente,
que lhe dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de
desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente (...)
Natural ou criado pelo homem o meio ambiente é essencial para o
bem-estar e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, até
mesmo o direito à própria vida (ONU, 1972).

Quaisquer ações do homem têm impacto sobre a natureza, sejam positivas


ou negativas: a sua criticidade, determinada pela intensidade e pela natureza
do impacto, é equivalente à organização social e às atividades econômicas
desenvolvidas pelo homem. Dentre alguns problemas apresentados por essa
relação entre o homem e a natureza, ressaltam-se os ambientais, que incidem
sobre a saúde. Em meados do século XIX, o intenso processo de industrialização e
urbanização acelerou os efeitos do meio ambiente na saúde humana, acometendo
as condições de vida e trabalho das populações (RADICCHI e LEMOS, 2009).

23
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

É pacificado o entendimento dos cientistas e estudiosos do assunto acerca da


existência de uma crise generalizada e profunda, insistentemente denominada
por alguns deles como “crise da modernidade”. Um dos aspectos evidentes
dessa crise diz respeito à questão ambiental. Depois de longa trajetória
de crescimento, marcada pela infinita capacidade do desenvolvimento
tecnológico em dar resposta aos problemas externos produzidos pelos
processos produtivos, no início dos anos 1970, a economia contemporânea
tem seus padrões de produção e consumo questionados (RADICCHI e LEMOS,
2009).

Os problemas ambientais são decorrentes tanto da modernidade expansiva


quanto do atraso e da pobreza: países pobres e ricos, ambientes aquáticos e
terrestres, a atmosfera e as aglomerações urbanas, todos vivem as consequências
(impactos) dos modos de produção e reprodução material criados pela e na
modernidade.

Esses impactos ambientais gerados sobre a saúde humana podem se manifestar


sob a forma de eventos agudos de grandes proporções, como os acidentes
industriais ampliados – Seveso, Chernobyl, Bhopal, entre outros –, bem
como do adoecimento em doses homeopáticas traduzido em mortes, cânceres,
malformações congênitas e intoxicações crônicas geradas por contaminações
ambientais devido à prolongada exposição a doses variadas de diferentes
poluentes.

Desigualdades entre povos, países ou até mesmo regiões fazem com que muitos
problemas ambientais atinjam populações mais pobres e marginalizadas pelo
processo de desenvolvimento de forma diferenciada. Riscos ambientais modernos
atingem com mais gravidade os “excluídos”, como aquelas pessoas que moram em
áreas de risco como encostas, áreas de enchentes ou de poluição.

Os processos que mais consomem recursos naturais e os mais geradores de


poluentes se caracterizam por processos de trabalho muito insalubres e perigosos
e tenderiam a se localizar naqueles locais que apresentam legislações ambientais
e trabalhistas mais flexíveis, onde a população (trabalhadores) esteja mais
suscetível a aceitar precárias condições de vida e trabalho, bem como onde a
desinformação é o canal mantenedor de injustiças ambientais (RIGOTTO, 2003).

Em nível de industrialização, essa desigualdade é traduzida enquanto “perigos


tradicionais” como, por exemplo, a contaminação dos alimentos por organismos
patógenos, a falta de acesso a água potável, ao saneamento básico deficitário em
moradias e nas comunidades pobres etc. Já os “perigos modernos estão relacionados

24
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

ao desenvolvimento rápido e ao consumo insustentável dos recursos naturais”


(RIGOTTO, 2003) que não levam em conta a proteção à saúde e ao meio ambiente.

Esses “perigos modernos” são oriundos de processos produtivos – particularmente


os de natureza industrial –, nos moldes do padrão de consumo que o modo de
produção capitalista impõe à sociedade bem como na indução da utilização de
mão de obra das aglomerações urbanas, de forma a atender às necessidades
de força de trabalho e infraestrutura. Seriam os seguintes perigos modernos:
indústria e agricultura intensiva; contaminação do ar urbano pelas emissões de
motores de veículos, centrais energéticas e indústria; acumulação de resíduos
sólidos e perigosos; contaminação da água pelos núcleos de população etc.
(RIGOTTO, 2003).

Para saber mais sobre injustiça ambiental e o mapa de conflitos atuais no Brasil,
acesse o link a seguir.

<http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/>.

A alteração dos elementos do sistema cria desequilíbrio e, ao tender para


o equilíbrio, pode significar benefício ou não para os seres humanos e/ou
biológicos.

Para Rigotto (2003), reconhecer que este tema é complexo e demanda práticas
inter e transdisciplinares de produção de conhecimento torna-se essencial
à superação dos reducionismos por meio de uma ciência mais dirigida à
identificação dos problemas e reconhecimento dos seus limites. Legitimando
esse entendimento da autora, no mesmo sentido, as políticas intersetoriais e
participativas devem ter ciência dessa dimensão complexa dos problemas
ambientais. Reitera-se a necessidade de redelineamento e reorientação da função
do setor de saúde diante do tema “ambiente”, na elaboração de um modelo mais
amplo, fundamentado na promoção da saúde e na perspectiva ampliada de
vigilância em saúde – superando o modelo hegemônico assistencial-sanitarista
vigente (RADICCHI; LEMOS, 2009).

Ainda segundo aquela autora (Rigotto, 2003), um indivíduo é considerado


exposto a um fator de risco quando existem vias de ingresso do fator ao organismo
(inalação, ingestão, contato dérmico etc.). Nas situações de exposição a algum
poluente, é estritamente necessário o conhecimento a respeito de:

25
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

»» Toxicologia do contaminante, características como a capacidade de


transformação, tempo de atividade no ambiente e vias de ingresso no
organismo, por exemplo.

»» Grupo de pessoas exposto a esse poluente.

»» A fonte do risco e o local de exposição a ele.

»» Tempo, intensidade e frequência de exposição das pessoas ao risco.

Para a saúde ambiental, as evidências maiores são representadas pelos


acidentes, doenças e outros agravos causados por condições do ambiente.
Contudo, quanto às doenças e aos agravos, é complexo definir qual fator
ambiental adverso interferiu diretamente na saúde de uma pessoa exposta.
Esse fator deveria ser estudado. Essa situação é agravada quando a
sintomatologia apresentada pelo exposto é inespecífica, podendo o quadro
clínico ficar inalterado muito tempo após a fase inicial da exposição. Essa
peculiaridade na saúde ambiental é latente nos estudos epidemiológicos,
em que é comum a existência de casos suspeitos, que posteriormente
podem ser confirmados ou não. Por isso, é importante a vigilância em
saúde e a valorização desses sinais e sintomas precoces dos agravos nos
estudos epidemiológicos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são
mais efetivas e podem evitar o desenvolvimento completo do agravo
(RADICCHI; LEMOS, 2009).

Nos anos 1990, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um “marco causa-


efeito para a saúde e o ambiente”, voltado para a elaboração de indicadores
de sustentabilidade ambiental pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável
das Nações Unidas e pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento
Econômico (OCDE). No campo das relações saúde-ambiente, Briggs, Corvalán
e Nurminen, em 1996, construíram um amplo arcabouço de indicadores de
saúde ambiental, incluindo temáticas afetas ao contexto sociodemográfico, às
condições de saneamento básico, aos fatores de riscos ocupacionais, à segurança
alimentar, à poluição do ar, entre outras, relacionado abaixo (RIGOTTO, 2003):

»» Forças motrizes: são responsáveis pela criação das condições que


podem desenvolver ou evitar distintas ameaças ambientais para
a saúde. Estão assentadas nas políticas que estabelecem as linhas
mestras do desenvolvimento econômico, tecnológico, dos padrões
de consumo e do crescimento da população. São elas: população,
urbanização, pobreza e desigualdade, avanços técnicos e científicos,
pautas de produção e consumo, desenvolvimento econômico.

26
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

»» Elas exercem...

» » Pressões sobre o meio ambiente, como a superexploração,


contaminação e desigualdade na distribuição da água; a
urbanização; a disputa pela terra, a degradação do solo e as
mudanças ambientais decorrentes do desenvolvimento agrícola;
a industrialização que, embora traga melhores perspectivas, tem
consequências desfavoráveis, como as emissões, os resíduos, a
utilização de recursos naturais, os acidentes industriais maiores;
a energia, em que o uso doméstico de biomassa e carvão ameaça
a qualidade do ar em ambientes fechados; as centrais térmicas,
as indústrias e os meios de transporte que usam combustíveis
fósseis e contaminam o ambiente; e as hidrelétricas que provocam
deslocamento de populações e causam mudanças ecológicas; além
da energia nuclear.

Essas pressões podem produzir mudanças no...

»» Estado do meio ambiente, alterando a qualidade do ar ambiental


urbano, contaminando o ar das moradias; expondo-o a radiações
ionizantes; gerando resíduos domésticos; contaminando ou
promovendo acesso desigual à água, ou facilitando a transmissão de
doenças transmitidas por vetores relacionados à água; contaminando
biológica ou quimicamente os alimentos; degradando o solo; trazendo
problemas relacionados à habitação – escassez, confinamento,
qualidade dos materiais; acidentes e lesões; trazendo exposições
nos locais de trabalho e, finalmente, gerando mudanças ambientais
de impacto global, como as mudanças climáticas, o esgotamento da
camada de ozônio, a contaminação atmosférica transfronteiriça e o
movimento dos resíduos perigosos; além do problema das exposições
combinadas procedentes de distintas fontes.

Para que esse estado alterado do ambiente exerça algum efeito sobre a
saúde humana, entre outros fatores, tem que haver a...

»» Exposição, enquanto interação entre o ser humano e o perigo ambiental.

Dessa exposição vão resultar...

»» Efeitos sobre a saúde, que variarão em intensidade, magnitude e tipo


de acordo com a natureza do perigo, nível de exposição e número de

27
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

afetados. Eles atuam junto com os fatores genéticos, a nutrição, os


riscos ligados ao estilo de vida e outros fatores para provocar a doença.
São eles: as infecções respiratórias agudas, as doenças diarreicas, as
preveníveis por vacinação, as doenças tropicais transmitidas por vetores
e as doenças emergentes, os acidentes e intoxicações – ocupacionais
ou não; as alterações de saúde mental relacionadas a fatores físicos,
químicos e psicossociais; as doenças cardiovasculares; o câncer – de
origem ocupacional, por agentes infecciosos, por contaminantes do ar, da
água ou dos alimentos, das radiações ionizantes e não ionizantes, ou dos
fumos de tabaco; as doenças respiratórias crônicas, alergias e problemas
de saúde da reprodução (RIGOTTO, 2003).

Instrumentos para o estudo das relações


produção-trabalho-ambiente-saúde – roteiro
para estudo dos processos de trabalho em sua
relação com o ambiente interno e externo às
atividades produtivas

Ao longo desta unidade, verificou-se a intrínseca relação entre a saúde, o


ambiente e o trabalho. A construção histórica de conceitos cruciais se desvelou
em processos humanos impactantes no meio ambiente, bem como nos efeitos
desses processos na saúde humana, constituindo-se enquanto ciclo.

Assim, não há que se falar de saúde do trabalhador sem vinculá-la à saúde


ambiental e vice-versa. Mas, como se poderia analisar os processos de trabalho,
considerando o ambiente externo à fábrica? Para facilitar essa análise, Rigotto
(2003) elaborou um estudo de processos de trabalho e sua relação com o meio
ambiente, abrangendo os ambientes internos e externos às atividades produtivas.
O roteiro a seguir foi adaptado segundo diretrizes estabelecidas pela autora.

a. Identificação da empresa: razão social, localização, ramo de


atividades.

b. Instalação da empresa: área física, tipo de construção, ventilação


e iluminação. Condições de conforto e higiene (refeitórios,
instalações sanitárias e fornecimento de água potável, vestiário,
transporte dentro da empresa).

c. Aspectos históricos da organização da empresa: origens da


empresa e do capital, evolução, procedência, unidades, produção

28
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

e mercado consumidor, matérias-primas, subprodutos e produtos


finais.

d. Etapas do processo produtivo (fluxograma): descrever cada


uma das etapas do processo de produção, materiais utilizados,
ferramentas, máquinas, processos auxiliares ou paralelos bem como
produtos finais, resíduos e subprodutos.

e. Trabalhadores e relações de trabalho: procedência, distribuição


por sexo, idade e etnia, escolaridade, treinamento para a função,
critérios para seleção, formas de contrato de trabalho, remuneração,
benefícios e jornada de trabalho.

f. Organização do trabalho: percepção do trabalhador sobre seu


trabalho, grau de satisfação, mecanismos de controle do ritmo e
da produção. Jornada diária, salário, pausas, horas extras, férias,
contrato de trabalho, relacionamento com colegas e chefias.

g. Condições ambientais de trabalho e atenção à saúde:


riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes;
natureza, dose, fontes, momentos críticos; medidas de proteção
individual e coletiva com adequação, manutenção, eficácia, uso
efetivo de equipamentos ou remodelagem de processos; política de
assistência médica, ações de segurança e saúde no trabalho; dados
epidemiológicos sobre doenças e acidentes.

h. R elação com o meio ambiente: área: recursos físicos e espaço


ocupado. Fonte e consumo de água, consumo de energia elétrica
e de combustíveis. Poluentes da água: vazamentos de tanques,
dutos, canalizações, válvulas, bacias, valas e canaletas; borras
e lamas; efluentes líquidos; descarte de fluidos, saídas líquidas
das estações de tratamento de esgotos e de despejos industriais
(dimensionamento e adequação do tratamento). Poluentes do ar:
produtos da combustão, gases combustíveis residuais, emanações
de substâncias químicas (formas de captação e tratamento).
Poluentes do solo: resíduos sólidos, aparas e sucatas, borras,
cinzas e poeiras coletadas, embalagens utilizadas (tratamento e
destinação). Geração de ruído. Transporte de matérias-primas e
de produtos finais: eixos. Coletividades humanas concernidas:
vizinhos e transeuntes.

29
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

i. Relações institucionais: com o município, o estado, os órgãos


fiscalizadores do trabalho e do ambiente.

Ao final deste capítulo o aluno conseguirá definir:

»» A evolução histórica da saúde do trabalhador no mundo e Brasil.

»» A relação entre ambiente, saúde e trabalho.

»» A análise preliminar dos processos produtivos e seus efeitos no


ambiente.

30
ENTRE A SAÚDE
COLETIVA E A UNIDADE II
INDIVIDUAL

CAPÍTULO 1
Saúde do trabalhador: o coletivo e o
individual

A epidemiologia, como área moderna do conhecimento científico, foi


fundamental para a elaboração de questões que permitiram a incorporação da
relação ambiente-saúde, em termos atuais, no campo da saúde coletiva. Com
a introdução das ciências sociais no campo da epidemiologia, o estudo com
foco no indivíduo passou a ser na coletividade, possibilitando o debate com as
categorias “população” ou “grupos populacionais” tradicionalmente adotadas
pela epidemiologia (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).

Rigotto (2003) aborda que todo o perfil de adoecimento e morte de uma


população poderia ser interpretado no contexto da relação sociedade-natureza,
em que doença é sinal de alteração do equilíbrio homem-ambiente, produzida
por transformações produtivas, territoriais, demográficas e culturais. E, segundo
Tambelinni e Câmara (1998), a intromissão do homem nas coisas da natureza, ou
por ela conservadas – ecossistemas –, cria condições de aparecimento e difusão
de doenças causadas por agentes etiológicos biológicos, o que determinaria os
fatores condicionantes de agravos e, consequentemente, de epidemias.

Cada indivíduo tem uma resposta à exposição ambiental, que varia de acordo
com a sua suscetibilidade condicionada por fatores relacionados à idade, estado
nutricional, predisposição genética, estado geral de saúde, comportamento
e estilo de vida, entre outros. Há o fator de que algumas doenças podem ter
longo tempo de latência para se manifestar, a exemplo da silicose, que tem um
percurso insidioso e prolongado.

O conhecimento das condições patológicas mais comumente observadas


numa população é de grande relevância e interesse para gestores públicos

31
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

e profissionais que atuam na promoção, prevenção e assistência em saúde.


Os levantamentos epidemiológicos e o processamento de dados advindos
de arquivos e sistemas de informação devem servir de base para o correto
planejamento e elaboração de medidas de saúde contextualizadas às reais
necessidades da população assistida. Nesse contexto, a epidemiologia ganha
destaque como ferramenta útil e indispensável.

A definição de exposição humana e de populações expostas é crucial


para identificação das situações de risco (RADICCHI; LEMOS, 2009) e,
principalmente, para orientar as ações de saúde relativas à gestão SST, definir
o perfil de saúde e adoecimento dos trabalhadores, elaborar indicadores
e estatísticas de saúde e acidentes de trabalho, entre outras. Para tanto, o
conhecimento de epidemiologia é crucial para o devido acompanhamento
dos trabalhadores, delineando-se estudos com metodologias adequadas a
resultados palpáveis.

Uma forte aliada da epidemiologia, como ferramenta de análise da


associação do fator de risco ao agravo do trabalho, é a estatística. Ela é
importante ferramenta para constatar a associação de variáveis de causa
e efeito e, por conseguinte, a relação causal.

Os estudos epidemiológicos devem valorizar os sinais e sintomas precoces dos


agravos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são mais efetivas e podem
evitar o desenvolvimento completo do agravo. Há muitas incertezas em estimar
tanto as exposições como os efeitos e suas relações (RIGOTTO, 2003). Por outro
lado, a reação adversa a um contaminante pode assumir várias formas que
afloram, desde sinais mais simples como um desconforto físico ou psicológico,
passando por alterações fisiológicas de difícil interpretação, doenças clínicas de
intensidade variável, até a morte (RADICCHI; LEMOS, 2009).

Segundo Rigotto (2003), algumas doenças podem ter longo tempo de “incubação”
para se manifestar. Não obstante os avanços na produção de conhecimento nas
últimas décadas, principalmente no campo da epidemiologia, ainda tem-se muita
incerteza no bojo das relações saúde-doença-ambiente, especialmente quando
se é incisivo no estabelecimento das correlações ou na medição de impactos das
condições do ambiente sobre a saúde.

Contudo, a sociedade em si – muito marcada pelo positivismo – sempre


demandará evidências, valores, medições, avaliações quantitativas, em
suma, números para justificar mudanças de prioridades ou do modo de agir,
permitindo o monitoramento de níveis de poluição, estabelecer prioridades

32
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

de acordo com os recursos disponíveis e com a relação custo-benefício de


algumas ações (RIGOTTO, 2003).

A consciência da importância da relação do trabalho com a saúde da população


trabalhadora e não trabalhadora cresceu à medida que os profissionais da área
de saúde do trabalhador e afins detiveram o conhecimento das tecnologias e
metodologias para a avaliação e controle dos riscos originados a partir dos
ambientes de trabalho. Esse é outro dos motivos que levou grupos de instituições
de pesquisa e ensino a delinearem a sua área de atuação de maneira mais
abrangente, sob a denominação de “Trabalho, Ambiente e Saúde”. Esse motivo
vem fortalecendo o desenvolvimento de uma área técnica de intervenção nos
serviços públicos sob a denominação de Saúde Ambiental dentro de muitas
instituições de pesquisa, como a Fiocruz e do próprio Ministério da Saúde
(TAMBELINNI e CÂMARA, 1998).

De forma a atender às demandas da sociedade, supracitadas, enquanto


alternativa viável e tangente ao conhecimento e à detecção de qualquer
mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente
que interferem na saúde humana, veio a proposta do Sistema Nacional de
Vigilância Ambiental em Saúde. Além da definição do escopo de atuação
desse sistema, ele tem a finalidade de identificar as medidas de prevenção e
controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros
agravos (CÂMARA, 2005).

Vigilância em saúde
A este respeito, acompanhe o seguinte trecho da revista Ciência & Saúde Coletiva:

O termo Vigilância tem sua origem nas ações de isolamento e


quarentena no pós II Guerra Mundial, especialmente nos Estados
Unidos da América (EUA) do período da Guerra Fria, o conceito
de Vigilância esteve associado à ideia de “inteligência”, em razão
dos riscos de guerra química e ou biológica. Nos EUA, a vigilância
evoluiu, passando a significar a ação coordenada para controle de
doenças na população, constituída de monitoramento, avaliação,
pesquisa e intervenção.

No Brasil, até a década de 50 do século passado, o conceito de


Vigilância era compreendido como o conjunto de ações de observação
sistemática sobre as doenças na comunidade, voltadas para medidas

33
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

de controle. Somente a partir da década de 60, essas ações ganham


uma estruturação de programa, incorporando as medidas de
intervenção. Desde então, essas ações foram estendidas ao controle
da produção, do consumo de produtos e da fiscalização de serviços
de saúde, sob a denominação de Vigilância Sanitária.

As ações de controle sobre o meio ambiente relacionadas à saúde –


como a vigilância da qualidade da água para o consumo humano –
embora restritas, estiveram, até o final da década de 90, subordinadas
à Vigilância Sanitária. As ações de vigilância foram agrupadas
em Vigilância Epidemiológica e Vigilância Sanitária, ambas com
praticamente os mesmos objetivos: prevenir e controlar os riscos e
agravos à saúde.

Foi apenas na década de 80 que “a vigilância passou a ser


apresentada mais claramente sob o ponto de vista de articulação
com outras ações de saúde”. Os Centros de Controle e Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos (CDC), por exemplo, definiram esse
novo sistema onde “as ações referentes aos dados coletados (coleta,
análise e interpretação) se articulam à informação periódica como
instrumento da prevenção”, o que implica uma ação de controle
sobre os riscos ambientais para a saúde.

Também no Brasil, somente em meados da década de 80 é que são


promovidas iniciativas para se instituir, no âmbito do setor Saúde,
ações de Vigilância da Saúde do Trabalhador e do Meio Ambiente,
de acordo com a Constituição de 1988 e a Lei Orgânica de Saúde de
1990. Mas é a partir do ano 2000 que o Ministério da Saúde formula
a denominada Vigilância Ambiental, onde “a vigilância ambiental em
saúde se configura como um conjunto de ações que proporcionam
o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores
determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na
saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas
de prevenção e controle dos fatores de riscos e das doenças ou agravos
relacionados à variável ambiental”.

No novo enfoque a necessidade de monitorar o ambiente é


decorrente do reconhecimento de que ele não é dado, mas está
em permanente construção e transformação pela ação do homem
e da própria natureza. Nos setores ambientais e do trabalho,
adota-se o termo Monitorar, para o qual são utilizados indicadores

34
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

quantitativos, geralmente. Entretanto, para a Vigilância em


Saúde, sob a ótica da Saúde Coletiva, monitorar é mais do que um
ato de medição instrumental.

Uma nova compreensão da causalidade com a crescente importância


de eventos e doenças não relacionadas com agentes biológicos
transmissíveis, houve a exigência de agregar-se mais um nível de
prevenção, ditado pelas condições social, econômica e cultural das
populações que não podem mais ser reduzidas a um único agente
causal. Para o qual, aliás, não haveria uma vacina ou antibiótico
capaz de prevenir ou curar. Então, o foco das ações passou,
obrigatoriamente, para as condições determinantes.

Na investigação de um acidente de trabalho, o contexto é conformado


pelas características do processo produtivo, política de recursos
humanos, condições de vida do trabalhador; a causa, dependendo
do tipo de acidente, pode ser uma prensa sem mecanismo protetor,
a falta de manutenção de uma máquina, o vazamento de uma
tubulação, um curto circuito, o piso irregular, o rompimento de um
cabo etc.

A Saúde Coletiva trouxe um novo enfoque para o entendimento


do processo saúde-doença, visto como “algo em permanente
transformação e que a (cuja) ação se dá num meio que não é só
reativo, mas sobretudo transformável.” A construção de um sistema
de vigilância ambiental de interesse para a saúde requer que o
contexto seja devidamente valorizado. Para tanto, não só as bases de
dados oriundas de monitoramentos quantitativos são necessárias,
como também devem ser integradas técnicas de avaliação de risco
que incluam dados qualitativos.

O Princípio da Precaução é outro conceito que deve servir de guia


para a ação em vigilância ambiental, isto é, não se deve priorizar a
ação apenas pela ocorrência de doenças e desastres ou acidentes,
mas antecipar esses eventos pelo reconhecimento, anterior, dos
riscos e dos contextos nocivos à saúde. O Princípio da Precaução
foi desenvolvido na Alemanha, para justificar a intervenção
regulamentadora e de restrição das descargas de poluição marinha
– na ausência de provas consensuais quanto aos seus efeitos e danos
ambientais. Esse princípio tem sido tomado como referência em
outras áreas e caracteriza-se por requerer que as decisões acerca

35
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

de processos industriais e produtos perigosos sejam deslocadas


da ponta final do processo para a ponta inicial. Por essa razão, a
promoção e a prevenção terão, necessariamente, que prevalecer no
enfoque da vigilância ambiental.

A Saúde Ambiental, assim proposta, integra as dimensões histórica,


espacial e coletiva das situações, a partir de um compromisso ético
com a qualidade de vida das populações e dos ecossistemas em
questão.

A necessidade de implementar ações de Vigilância em Saúde


Ambiental e do Trabalhador (VISAT) é uma questão que surge desde
que essa ação pública foi consignada na Constituição Federal de 1988
e, particularmente, ao longo da trajetória de construção da área da
saúde do trabalhador no Brasil. É uma estratégia que visa ultrapassar
a dimensão assistencial que prevalecia (e ainda prevalece em certa
medida) nos primeiros programas de saúde do trabalhador, anteriores
ao advento do Sistema Único de Saúde (SUS), e precursores dos
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). O foco
principal dessas iniciativas era diagnosticar, orientar e acompanhar
as doenças decorrentes do trabalho, com a perspectiva de criar
condições para que a rede pública viesse a se constituir em instância
efetiva para assistência à saúde dos trabalhadores, além de iniciar
algumas ações de vigilância de acidentes de trabalho.

Com a atuação da VISAT, voltada para a intervenção nos


ambientes, processos e formas de organização do trabalho
geradoras de agravos à saúde, passa-se a incorporar a
dimensão preventiva da saúde do trabalhador. Ou seja,
somente com ações interventoras de vigilância é possível
interromper o ciclo de doença e morte no trabalho.
Esta dimensão prevencionista de atenção à saúde cabe,
principalmente, à Rede Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Trabalhador - RENAST, por meio dos CEREST,
os seus núcleos executivos de ação efetiva. A VISAT é um
componente do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde que
visa à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade da
população trabalhadora, por meio da integração de ações que
intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes
dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.

36
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

Na Portaria n o 1.823, de agosto de 2012, que instituiu a Política


Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT),
consta como objetivo prioritário o fortalecimento da Vigilância
em Saúde do Trabalhador. Coerente com a PNSTT, na agenda
do Ministério da Saúde foi definido como prioridade fortalecer a
VISAT e a sua integração com os demais componentes da Vigilância
em Saúde, com vistas à promoção da saúde e de ambientes e
processos de trabalho saudáveis. A partir daí, a proposta nacional
de ação estratégica, estabelecida pela Secretaria de Vigilância
em Saúde (SVS), foi intensificar as ações de vigilância na área
de saúde do trabalhador, tendo como meta ampliar o número de
CEREST desenvolvendo essas ações, de modo que, até 2015, todos
eles estejam realizando essas ações. Existe uma razoável produção
de textos de VISAT, onde encontramos material detalhado sobre
seu conceito e sua forma de ser. Parte desta produção diz respeito
às diversas modalidades de VISAT, inclusive no trato com agravos
específicos, caso dos vários tipos de acidentes, agrotóxicos,
silicose, asbestose, benzeno, lesões por esforços repetitivos, entre
outras.

É possível também observar algumas experiências de VISAT sobre


determinados segmentos econômico-produtivos, caso dos ramos
químico, petroquímico, siderúrgico, frigorífico, agronegócio
(agroindústria), construção civil, transporte, elétrico, setor saúde
e educação, e sobre determinados contextos socioeconômicos de
grupos populacionais específicos, caso do trabalho infantil, trabalho
informal e cooperativado, entre outros.

Observamos, também, que existe uma base legal para a ação


em VISAT dispersa em várias legislações nacionais, estaduais
e municipais, a exemplo da Lei Orgânica da Saúde 8080, da
Portaria MS n o 3.120, de 1 de julho de 1998, de nível federal e
das constituições e códigos sanitários de vários entes estaduais
e municipais. Entretanto, ao observarmos a VISAT numa
perspectiva de ação pública coordenada, articulada e harmônica
entre aqueles que vêm se esforçando para desenvolver suas ações,
vemos o quanto ainda falta para afirmarmos que existe um sistema
de Vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil, sob essa ótica.
Apesar de serem muitas as iniciativas, são minoritários os casos
em que se pode falar de implementação de ações sistemáticas de

37
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

VISAT, isto sem contar que em muitos locais do país sequer elas
existem (VASCONCELOS; GOMEZ; MACHADO, 2014)

Este texto, sintético e simplificado em suas indagações e


formulações, traz alguns elementos para discussão que poderão
ser considerados na IV Conferência Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT), a ser realizada este
ano, 2014, em Brasília, e também por todos aqueles que vêm
de alguma forma contribuindo para o aprimoramento da VISAT
no Brasil. Em síntese, nosso roteiro de discussão baseia-se nos
seguintes tópicos: (1) o lugar de fala da VISAT – para passar
do discurso à ação; (2) a formação de agentes de VISAT; (3) o
resgate dos trabalhadores enquanto sujeitos da ação de VISAT;
(4) as estratégias de articulação intersetorial com outras áreas do
Estado; (5) o diálogo estruturante dos pares. (VASCONCELOS;
GOMEZ; MACHADO, 2014)

Veja a AULA 4 – Entre a saúde coletiva e a individual

Não se pode falar em integração de setores, de participação da


comunidade ou de estruturação de um sistema de Vigilância em Saúde
do Trabalhador ( VISAT ) sem a matéria-prima básica: informação sobre
saúde. A disciplina básica que mais nos oferece meios para produzir
as informações acerca da saúde da população é a epidemiologia
(CÂMARA, 2005). A VISAT é definida na  Portaria GM/MS nº 3252 de
dezembro de 2009 enquanto componente do Sistema Nacional de
Vigilância em Saúde, que objetiva a promoção da saúde e à redução
da morbimortalidade dos trabalhadores brasileiros, através de
ações integradas que impactem nos agravos e seus determinantes
decorrentes do trabalho.

O sistema de informação (SI) sobre acidentes e agravos do trabalho – em


específico o Sistema de Informação de Agravos de Notificação ( SINAN) – trata
da constituição de “um conjunto de procedimentos organizados que, quando
executados, proveem informação de suporte à organização” de serviços de
saúde (BRASIL, 2004). A princípio, o propósito dos sistemas de informação
a respeito de acidentes de trabalho é fornecer informações fidedignas sobre
o impacto desses acidentes, seja pelas lesões provocadas, seja no tocante a
aspectos associados às suas origens, o que pode ser usado como ferramenta
de prevenção.

38
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

Segundo Freitag e Hale (apud BRASIL, 2004), os procedimentos relacionados


a seguir visam facilitam ao usuário a melhor visualização e compreensão das
fases de um SI, que inclui a seleção e a análise de eventos em saúde:

1. Detecção ou reconhecimento e registro dos eventos com criação de


banco de dados.

2. Escolha de eventos para uma análise minuciosa; análise e criação de


banco de dados complementar.

3. Desbravar os bancos de dados e emitir relatórios com o detalhamento


dos aspectos identificados distribuídos minimamente conforme
as características de tempo e lugar, pessoa, inserindo aspectos do
processo de causa dos acidentes. Sempre que possível, os dados
deverão ser distribuídos de forma a permitir visualização de sua
evolução temporal.

4. Na tentativa de reconhecimento de necessidades de saúde, deve-se


interpretar incluindo; padrões de processos causais; identificação,
seleção de prioridades a serem abordadas e recomendações;
necessidades de aprimoramento da formação de pessoal.

5. Implementação e acompanhamento das recomendações com


avaliação de impacto de providências recomendadas e adotadas
efetivamente, como os aspectos do próprio sistema – o que significa
analisar os aspectos como o tempo decorrido entre a ocorrência
de agravos e sua detecção pelo próprio sistema. Também demanda
a avaliação dos tipos e da proporção de eventos ocorridos que o
sistema detecta efetivamente. Todo esse conjunto de medidas serve
de fonte de retroalimentação (feedback) do sistema, construindo o
seu aperfeiçoamento contínuo.

A notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de


serviços sentinela foi estabelecida pela Portaria n o 777/GM de 28 de abril de
2004. Em 2014, as Portarias n o 1.271 de 6 de junho e n o 1.984 de 12 de setembro
revisaram as listas de doenças, agravos e eventos de notificação compulsória
no território nacional, incluindo aqueles relacionados ao trabalho. A última
portaria emitida foi a PRC n o 4, de 28 de setembro de 2017 que trouxe novas
atualizações.

39
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

Quadro 2. Relação de alguns sistemas de informação (SI) da Vigilância em Saúde.

SIs importantes para a Vigilância:


SIAB: Sistema de Informações de Atenção Básica.
SIAMED: Sistema de Informações de Medicamentos.
SIA-SUS: Sistema de Informações Ambulatoriais de Saúde.
SIH/SUS: Sistema de Informações Hospitalares.

SIM: Sistema de Informação de Mortalidade.


SINAN: Sistema Nacional de Agravos de Notificação.
SINASC: Sistema de Informações de Nascidos Vivos.

SINITOX: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas.


SISAGUA: Sistema de Inf. de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano.
Fonte: Próprio autor.

Observação: Aqueles em negrito no quadro, têm relação direta com a notificação em Saúde do
Trabalhador no SUS.

O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) é alimentado pela


notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista
nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria de Consolidação n o
4, de 28 de Setembro de 2017, anexo V - Capítulo I), que faculta às Unidades
Federativas e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua
região (SINAN, 2018).

Para a inserção de dados, existe a Ficha Individual de Notificação (FIN). Ela


é preenchida pelas unidades assistenciais até mesmo quando há suspeita da
ocorrência de problema de saúde de notificação compulsória ou de interesse
nacional, estadual ou municipal. A FIN deve ser encaminhada aos serviços
responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica das Secretarias
Municipais de Saúde (SEMUS), que devem repassar semanalmente os arquivos
em meio magnético para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES). Já a
comunicação das SES com a Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) deverá
ocorrer quinzenalmente, de acordo com o cronograma definido pela SVS no
início de cada ano.

A Notificação Compulsória é obrigatória para os médicos e outros


profissionais de saúde bem como para os responsáveis pelos serviços
públicos e privados de saúde, que prestam assistência em saúde à
população, de acordo com o art. 8 o da Lei n o 6.259, de 30 de outubro de
1975 (BRASIL, 1975). A notificação deve ser realizada frente à suspeita
diagnóstica ou confirmação de doença ou agravo, em conformidade
ao estabelecido no anexo da referida lei, observando-se, também, as

40
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

normas técnicas estabelecidas pela Secretaria de Vigilância em Saúde do


Ministério da Saúde (MS).

As diretrizes para a vigilância dos agravos e doenças monitorados por meio de


unidades sentinelas, como forma de estratégia em saúde, constam na Portaria no
1.984, de 12 de setembro de 2014 (BRASIL, 2014), situação prevista no artigo no
11, da Portaria anterior: “A relação das doenças e agravos monitorados por meio da
estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes constarão em ato
específico do Ministro de Estado da Saúde”.

Monitorar indicadores-chave em unidades de saúde selecionadas (unidades


sentinelas) que sirvam como alerta precoce para o sistema de vigilância é o objetivo
da estratégia de vigilância sentinela. Ela se configura enquanto modelo de vigilância
realizada por meio de um estabelecimento de saúde estrategicamente selecionado
para a vigilância da morbidade, mortalidade ou agentes etiológicos de interesse da
saúde pública, segundo norma técnica específica estabelecida pela Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS/MS). Para a VISAT, é nítido que os Centros de Referência
em Saúde do Trabalhador (CERESTs) serão essas unidades sentinelas, servindo de
apoio técnico a toda rede do SUS.

Os dados públicos adquiridos por meio dessas notificações serão divulgados


pelas autoridades de saúde aos profissionais de saúde, órgãos de controle social
e população em geral. Demais informações referentes aos canais de comunicação
para notificação (endereço eletrônico oficial, o número de telefone, fax, endereço
de e-mail institucional ou formulário para notificação compulsória) serão
divulgadas pela SVS/MS, e pelas secretarias de Saúde dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios.

41
CAPÍTULO 2
Anamnese ocupacional

Na anamnese ocupacional, deve ficar evidente o que o(a)


trabalhador(a) faz, como faz, com que produtos e instrumentos ele
entra em contato, quanto faz, onde, em que condições e há quanto
tempo faz (LUCCA, 2012).

Segundo Lucca (2012), as doenças relacionadas ao trabalho, em sua maioria,


apresentam quadro clínico similar ao das doenças comuns. Estabelecer o nexo
com o trabalho não é tarefa fácil, em especial para aquele profissional que não
está habilitado ou habituado a relacionar as informações aos fatores de risco
presentes no ambiente de trabalho com as atividades desenvolvidas pelo paciente
trabalhador durante a sua anamnese clínica. A anamnese é fundamental porque
objetiva tanto construir a história clínica-ocupacional completa quanto não se
limitar à profissão do paciente, explorando sintomas, sinais clínicos e exames
complementares.

Segundo diretrizes do Conselho Federal de Medicina (1998), alguns parâmetros


devem ser considerados no estabelecimento de nexo causal. Além do exame
clínico (físico e mental) e dos exames complementares, quando necessários,
deve o profissional de saúde considerar as seguintes informações:

1. Histórico clínico-ocupacional, primordial em qualquer diagnóstico e/ou


investigação de nexo causal.

2. Conhecimento a respeito do local de trabalho e da organização do


trabalho, incluindo a realização da atividade.

3. Informações epidemiológicas da empresa e de grupos ocupacionais


similares (homogêneos).

4. Literatura atualizada.

5. Aparecimento de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto


a condições agressivas.

6. Reconhecimento de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos,


estressantes e outros.

7. Relato de vida e a experiência dos trabalhadores.

8. Conhecimento e práticas de outras disciplinas e de seus profissionais,


sejam ou não da área da saúde.

42
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

O objetivo é avaliar se as queixas e o quadro clínico têm relação com as


atividades de trabalho. O profissional deve considerar a multiplicidade de fatores
envolvidos na determinação das doenças e, em especial, daquelas desencadeadas
ou agravadas pelas condições em que o trabalho é realizado.

Nesse sentido, é de fundamental importância valorizar o conhecimento


e os sentimentos dos pacientes sobre seu trabalho e os fatores de risco
potencialmente causadores de doença. Em algumas situações, esses riscos
podem ser de natureza química; em outras, intrinsecamente relacionados à
gestão e à organização do trabalho ou até mesmo da ausência de trabalho e,
majoritariamente, são decorrentes da ação sinérgica desses fatores.

Além do adoecimento que resulta da articulação de agravos que atingem


a população geral, em função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção
em um grupo específico de risco, o trabalhador pode ter sua condição clínica
agravada pelo trabalho. No entanto, o médico deve suspeitar de uma doença
desencadeada ou agravada pelas condições de trabalho a partir da anamnese
ocupacional, cujos componentes básicos incluem:

»» Análise detida das queixas que motivam a busca de atenção médica.

»» História ocupacional pregressa.

»» Descrição detalhada do processo de trabalho no emprego atual ou do


trabalho supostamente relacionado à doença sob investigação.

»» Características da organização do trabalho do emprego atual ou do


trabalho supostamente relacionado à doença sob investigação, além
do compartilhamento de informações individuais e coletivas.

Durante a investigação das queixas, devem ser valorizadas as informações


sobre o momento de surgimento dos sintomas e sua relação com o trabalho.
Exposição a agentes de risco específicos ou a realização de determinadas tarefas
são fundamentais, verificando-se a relação temporal entre o surgimento de
sinais e sintomas e a jornada de trabalho. Na mesma linha de atuação médica, o
levantamento de informação quanto ao desaparecimento ou melhora de sintomas
nos finais de semana, feriados prolongados e férias pode fortalecer a hipótese
de tratar-se de um agravo relacionado ao trabalho. A associação dos sintomas
com mudanças recentes no ambiente ou processo de trabalho também deve ser
investigada (LUCCA, 2012).

A anamnese ocupacional tem que contemplar todos os riscos aos quais o


trabalhador está exposto, assim como avaliar as condições psicossociais desse

43
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

trabalhador para realmente atingir o nível de prevenção adequado. Além disso,


o profissional de saúde deve adotar uma postura ética para com o cliente
interno e externo, preservando a identidade do trabalhador, acolhendo-o de
forma humanizada, pois a origem de suas demandas ou queixas, em suma, está
associada às angústias ou condições de vida, ora manifestadas por sintomas
que traduzem o sofrimento na mente, no corpo ou insatisfação com o trabalho
(LUCCA, 2012).

Por meio do Manual de Anamnese Ocupacional (2001), o Ministério da Saúde


concebe um instrumento a ser utilizado nos Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador que compõem a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador (RENAST), a Ficha de Resumo de Atendimento Ambulatorial em
Saúde do Trabalhador (FIRAAST). Ela foi elaborada ainda como instrumento
passível de utilização como prontuário eletrônico e de informatização a partir
das experiências dos CEREST/MG, CEREST/BH e CEREST/Contagem.

Essa ficha foi criada como instrumento epidemiológico que contribui para
conhecimento, investigação, sistematização, padronização e intercâmbio
de dados e informações úteis ao planejamento em saúde, à capacitação de
recursos humanos, ao atendimento, à vigilância, à avaliação de serviços de
saúde do trabalhador e à divulgação pública mais ampliada (PINHEIRO et
al., 1993), por meio dos Sistemas de Informação em Saúde componentes do
SUS. O manual explicita todos os itens necessários na ficha de consulta e de
retorno, sendo um norteador importante para aqueles serviços que ainda não
dispõem de instrumentos validados para o atendimento em SST.

Importante atentar para o Manual de Anamnese Ocupacional (2006a), lá você


vai encontrar perguntas-chave para a investigação de agravos em ST em seu
serviço de saúde.

Veja a AULA 5 – Anamnese clínico-ocupacionall

44
CAPÍTULO 3
Agravos à saúde relacionados ao
trabalho e ao ambiente

Para Rigotto (2003), a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais é oriunda


de novas tecnologias e novas relações de trabalho. Essas, por sua vez, trazem
novos valores, novos hábitos e introduzem novos riscos tecnológicos, de natureza
física, química, biológica, mecânica, ergonômica e psíquica, que interferem na
saúde humana no ambiente de trabalho.

O acidente tem o caráter de um evento agudo, que causa lesão corporal ou


perturbação funcional temporária ou permanente, como seria o caso de uma
intoxicação aguda por agrotóxico ou uma amputação de membros ou mesmo dos
acidentes ocorridos no trajeto do trabalhador entre sua residência e o local de
trabalho, seguindo ao que se define como:

Todo evento súbito ocorrido no exercício de atividade laboral,


independentemente da situação empregatícia e previdenciária do
trabalhador acidentado, e que acarreta dano à saúde, potencial
ou imediato, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que causa, direta ou indiretamente (concausa) a morte, ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade
para o trabalho. Inclui-se ainda o acidente ocorrido em qualquer
situação em que o trabalhador esteja representando os interesses
da empresa ou agindo em defesa de seu patrimônio; assim como
aquele ocorrido no trajeto da residência para o trabalho ou vice-
versa (BRASIL, 2006d, p.11).

Devido ao seu expressivo impacto na morbimortalidade da população, os


acidentes constituem-se em importante problema de saúde pública e objeto
prioritário das ações do SUS, que, em conjunto com outros segmentos dos
serviços públicos e da sociedade civil, devem continuar a buscar formas efetivas
para o seu enfrentamento. Entre esses outros setores dos serviços públicos e
sociedade civil, encontramos universidades e institutos de pesquisa, Ministério
Público, Ministério do Trabalho e Emprego e outros correlatos.

São pouco estudadas as sequelas crônicas e de instalação tardia de acidentes


adequadamente reconhecidos como provenientes do trabalho, e aquelas que só

45
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

tardiamente são identificadas como relacionadas aos acidentes, inicialmente


não são registradas como do trabalho (BRASIL, 1999).

Em 2011, foram registrados cerca de 700 mil acidentes e doenças do trabalho


entre os trabalhadores assegurados da Previdência Social. Observe que
esse número, que já é alarmante, não inclui os trabalhadores autônomos
(contribuintes individuais) e as empregadas domésticas. Tais eventos provocam
enorme impacto social e econômico sobre a saúde pública no Brasil. Entre esses
registros, foram contabilizadas 15.083 doenças relacionadas ao trabalho. Parte
desses acidentes e doenças resultou em afastamento de 611.576 trabalhadores de
suas atividades devido à incapacidade temporária (309.631 até 15 dias e 301.945
com tempo de afastamento superior a 15 dias), e com incapacidade permanente,
contabilizou-se 14.811 trabalhadores. Os óbitos ocorreram com 2.884 cidadãos
(BRASIL, 2013).

Para se ter a real dimensão da importância do tema saúde e segurança do


trabalho, basta observar que, no Brasil, em 2011, registrou-se cerca de uma
morte a cada 3 horas, motivada pelo risco decorrente dos fatores ambientais do
trabalho e ainda uma média de 81 acidentes e doenças do trabalho reconhecidos
a cada hora na jornada diária. Nesse mesmo ano, foi observada uma média de 49
trabalhadores por dia que não mais retornaram ao trabalho devido a invalidez
ou morte (BRASIL, 2013).

Em 2012, ocorreram 423.935 acidentes típicos, sendo 0,5% menor que o de


2011 (426.153), porém 1,6% mais alto que o de 2010 (417.295). Em 20 anos, as
14.955 doenças apuradas, em 2012, atingiram o total mais baixo desde 1993, e
acentuam a curva descendente já observada nos anos anteriores de 2011 (16.839
adoecimentos), 2010 (17.177) e na segunda metade dos anos 2000. Entretanto,
ainda representam números elevados de acidentes, ainda que os sistemas de
notificação de doenças e acidentes de trabalho venham sendo aperfeiçoados
(PROTEÇÃO, 2014).

Na classificação proposta por Schilling (1984), segundo a sua relação com o


trabalho (nexo de causalidade), as doenças do trabalho podem ser reunidas em
três grupos, a saber:

46
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

Quadro 3. Divisão em categorias segundo classificação de Schilling.

Grupos de doenças Exemplos de patologias


Intoxicações por chumbo devido à exposição a esse agente
químico nas atividades de fabricação de baterias; silicose,
Grupo I: doenças em que o trabalho é causa necessária e suficiente; tipificadas
nas atividades da fabricação de cerâmica; e asbestose nas
pelas “doenças profissionais” em que o nexo com o trabalho é direto.
atividades de mineração, extração e fabricação de cimento
amianto.
Grupo II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo,
Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho, à
mas não necessário, denominadas “doenças do trabalho”, tendo-se por exemplo
hipertensão arterial; as neoplasias malignas em determinados
as doenças “comuns”, mais comuns ou mais precoces em determinadas
grupos ocupacionais ou ramos de atividade constituem
ocupações e para as quais o nexo causal é de natureza fundamentalmente
exemplos típicos.
epidemiológica.
Grupo III: doenças em que o trabalho provoca um distúrbio latente, ou agrava
Doenças alérgicas de pele e respiratórias, e distúrbios mentais
uma doença já estabelecida ou preexistente, isto é, com causa, também
em determinados grupos ocupacionais ou ramos de atividade.
denominada “doenças do trabalho”.
Fonte: Schilling (1984).

P o r s ua ve z, as do e nças r elac ionad as ao trabalh o su rgem d e modo


ins id ios o , após manifestação aguda, como as dermatoses, lesões por
esforços repetitivos, intoxicações por substâncias químicas, perda da
audição e incluem, ainda, desgaste e sofrimento psíquico, alterações
genéticas e doenças crônico-degenerativas que podem se manifestar em
câncer ou alterações da reprodução (RIGOTTO, 2003).

Em 1999, os Ministérios da Saúde e da Previdência Social no Brasil elaboraram


uma lista que discrimina 210 patologias reconhecidas como relacionadas ao
trabalho, a Lei n o 3.048 de 1999. Cumprindo também a determinação do art. 6 o,
§3 o, inciso VII, da Lei n o 8.080 (BRASIL, 1990), o Ministério da Saúde elaborou
a Lista Brasileira de Doenças, segundo a Classificação Internacional de Doenças
(CID-10), em que são atribuídos os agentes patogênicos causadores das doenças
profissionais ou do trabalho.

Schilling (1984) foi referencial para a elaboração da Lista de Doenças


Relacionadas ao Trabalho, disposta do Anexo LXXX da Portaria de Consolidação
n o 5, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2017a), com a finalidade de orientar os
profissionais de saúde sobre a possível relação do adoecimento com a exposição
a riscos para a saúde presentes no trabalho.

Ela está organizada em “dupla entrada”:

»» Lista A - considera o agente ou grupos de agentes patogênicos


responsáveis pelo adoecimento ou que guardam evidências sólidas de
nexo causal entre a exposição e a doença;

»» Lista B - tem como referência os códigos dos grupos de patologias do


CID-10, com elenco de aproximadamente 400 agravos relacionados
ao trabalho.

47
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

» » Lista C - elaborada com base na significância estatística da


associação entre a doença identificada como responsável pela
incapacidade do(a) trabalhador(a) e a atividade econômica da
empresa à qual o segurado é vinculado.

Segundo Brasil (2018), em 2007 a Previdência Social acrescentou às listas A e


B, a Lista C (Anexo II do Decreto Federal n o 3.048/1999, alterado pelo Decreto
Federal n o 6.042/2007), criando-se assim o Nexo Técnico Epidemiológico
(NTEP), que passou a ser utilizado nas avaliações médico-periciais (BRASIL,
1999; BRASIL, 2007; SILVA JUNIOR et al., 2014).

Mas o que é nexo causal?


De acordo com o art. 2 o da Resolução CFM n o 1488-1988, para estabelecer
a relação (nexo) causal entre os transtornos de saúde e as atividades do
trabalhador, além do exame clínico e complementares, o médico deve
considerar:

»» A história clínica e ocupacional.

»» O estudo do local de trabalho.

»» O estudo da organização do trabalho.

»» Os dados epidemiológicos.

»» A literatura atualizada.

»» A ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a


condições agressivas.

»» A identificação dos “fatores’’ de riscos.

»» O depoimento e a experiência dos trabalhadores .

»» Os conhecimentos e práticas multiprofissionais.

Para Teixeira (2016), o estabelecimento da relação causal entre o dano ou doença


e o trabalho é tanto um processo social quanto uma presunção sem existência
de prova absoluta, caso existam argumentos que permitam isso. A presunção na
legislação de vários países veio no intuito de beneficiar o trabalhador e evitar
discussões intermináveis sobre essa relação de causalidade. Porém, o próprio
autor considera que o nexo causal é estabelecido ao considerar a (1) a natureza da
exposição; (2) o grau ou a intensidade de exposição; (3) o tempo de exposição; (4)
o tempo de latência; (5) a especificidade da relação causal e a força da associação
(o agente está contribuindo para os fatores causais da doença?); (6) o tipo de
relação causal com o trabalho – classificação de Schilling, por exemplo; (7) os
registros anteriores e (8) as evidências epidemiológicas.

48
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

O quadro abaixo mostra as etapas de investigação da relação causal entre doença


e trabalho, que resume as etapas que podem auxiliar o médico ou qualquer outro
profissional a identificar elementos de sustentação da sua hipótese diagnóstica e
decisão sobre o nexo de causalidade.

Figura 3. Fluxo para Investigação da Relação Doença e Trabalho.

1o Atendimento

História ocupacional: há
História clínica é
fatores ou situação de
compatível com
risco identificados e
DP/DRT?
caracterizados?

NÃO SIM SIM NÃO

História Ocupacional: há
Evidência de história
fatores ou situação de
clínica compatível com
risco identificados e
DP/DRT?
caracterizados?

NÃO SIM NÃO

Dados epidemiológicos e
ou procedimentos
complementares
excluem e ou confirmam
a hipótese de exposição
e ou de dano compatível
com DP DRT?

SIM NÃO

Quadro atípico, misto,


Diagnóstico sindrômico,
DP DRT típica Schilling I evolução incaracterística DNO**
indiferenciado
Schilling II ou III

Excluir outras causas Excluir causas


não ocupacionais ocupacionais

Conclusão

** DNO: Doenças Não ocupacionais


Fonte: BRASIL-MS, OPAS (2001); TEIXEIRA (2016).

49
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

O reconhecimento da relação entre o dano-doença e o trabalho tem implicações


legais importantes, na esfera previdenciária, trabalhista, cível e criminal, além do
desencadeamento de ações preventivas a nível individual e coletivo (TEIXEIRA,
2016). Para este mesmo autor, são necessárias informações complementares sobre
os fatores de risco, tendo-se como base fundamental os registros de estudos e
levantamentos ambientais quanti-qualitativos contidos no Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais (PPRA) e em outros documentos que podem ser solicitados ao
empregador.
Apenas para se ter ideia do potencial adoecedor que um agente físico, químico,
biológico podem ter sobre a saúde humana, o Ministério da Saúde, condensou
no Caderno no. 41 – Atenção Básica – Saúde do trabalhador (2018) todos os
efeitos à saúde de cada um desses agentes, como consta no quadro abaixo:

Quadro 4. Efeitos à saúde humana dos fatores de risco no ambiente de trabalho.

Possíveis efeitos sobre a Atividades onde podem estar


Categoria Exemplos de riscos
saúde humana presentes
Ruído. Efeitos auditivos: surdez, zumbidos. Trabalhos com máquinas barulhentas,
Efeitos extra-auditivos: gastrite, insônia motores, britadeiras, motoristas de
e outras manifestações de estresse. ônibus.
Temperaturas extremas. Desidratação, cãimbras pelo calor, Trabalho na rua e a céu aberto,
fadiga, alergia respiratória, sinusite, frigoríficos, cozinhas industriais,
resfriados frequentes. ambientes com ar-condicionado.
Iluminação. Problemas de visão, dor de cabeça, Várias atividades na indústria e no setor
Físicos acidentes. de serviços, costureiras e manicures,
podem ter pouca ilumninação ou em
excesso, prejudicando a visão do(a)
trabalhador(a)
Radiações ionizantes e não ionizantes Câncer de pele, anemia aplástica, Agricultores e trabalhadores na
– Ultravioleta, infravermelho, raio X etc. leucemia e catarata. rua, trabalhadores em hospitais e
consultórios dentários que operam raio
X, soldadores etc.
Substâncias químicas que podem estar Queimaduras, náuseas, vômito, Inúmeras atividades econômicas, desde
presentes nos ambientes de trabalho cefaleia, alergia, asma brônquica, a prestação de serviços à agricultura,
na forma de poeiras, fumos, névoas, câncer, doenças gástricas e intestinais, silvicultura, empresas de dedetização e
neblinas, gases ou vapores. Ex.: neurológicas, hepáticas, renais, entre serviço público de combate a zoonoses
agrotóxicos. outras. Também podem provocar etc.
Químicos
acidentes decorrentes de explosões
e incêndios. Elas penetram no
organismo pela via respiratória, pela
pele ou pelo trato GI provocando
intoxicações aguda ou crônica.
Maquinas com partes móveis não Acidentes diversos (quedas, Trabalhador da construção civil,
protegidas, calandras e cilindros, fraturas, esmagamento, amputação, motoristas de transportes coletivos,
Mecânicos guilhotinas, prensas e uso de traumatismo). padeiros, metalúrgicos, trabalhadores em
instrumentos cortantes ou perfurantes vias públicas profissionais de saúde etc.
etc.
Vírus, fungos e bactérias, animais Doenças contagiosas, envenenamento Profissionais de saúde, manicure,
Biológicos peçonhentos. por picada de cobra ou escorpião ou trabalhadores rurais etc.
outros.

50
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

Possíveis efeitos sobre a Atividades onde podem estar


Categoria Exemplos de riscos
saúde humana presentes
Jornadas de trabalho longas, esforços Doenças Osteomusculares, sofrimento Trabalhadores de linhas de montagem e
físicos exagerados com posturas mental, desmotivação, depressão, telemarketing, carregadores, bancários.
forçadas e carregamento de peso. distúrbios do sono, estresse etc.
Trabalhadores informais e com vínculos
Psicossociais Ritmo acelerado, trabalho repetitivo
precários.
e monótono, trabalho em turnos e
noturno. Desemprego ou vínculos
precários etc.
Fonte: Adaptado de Brasil (2001) por Brasil (2018).

A identificação precoce de efeitos da exposição ocupacional a fatores de risco


pode exigir a realização de alguns exames complementares específicos, como os
exames toxicológicos ou Raio X padrão OIT, por exemplo.

Para Teixeira (2016), o profissional ou a equipe responsável pelo atendimento


do trabalhador com diagnóstico de doença ou dano relacionado ao trabalho deve
assegurar que haja:

1. Orientação ao trabalhador e de sua família de seu problema de saúde


e todos os encaminhamentos necessários para a recuperação da saúde
e melhora da qualidade de vida.

2. Afastamento da fonte geradora de doença, seja o setor ou mesmo o


trabalho, caso a permanência signifique agravamento do quadro
clínico.

3. Conduta terapêutica adequada, com os devidos procedimentos de


reabilitação.

4. Emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) com o


preenchimento do Laudo do Exame Médico (LEM). Em caso dos
funcionários públicos, verificar a legislação específica.

5. Notificar à autoridade sanitária utilizando os instrumentos


específicos, como preconiza a legislação estadual e municipal,
viabilizando os procedimentos de vigilância em saúde.

6. O autor ainda recomenda que a Superintendência do Trabalho e o


sindicato da categoria sejam comunicados sobre o caso.

Veja também o Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho (2001) e outros


protocolos do MS, disponíveis em nossa biblioteca virtual.

51
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL

Enquanto norteadora das ações de vigilância compulsória no SUS, incluindo os


agravos relacionados ao trabalho supracitados, a Portaria no 1.271, de 6 de junho
de 2014 (BRASIL, 2014), trata da Lista Nacional de Notificação Compulsória de
Doenças, e aquelas de notificação exclusiva das unidades sentinelas do SUS estão
previstas na Portaria no 1.984 (BRASIL, 2014).

Essas normas constituem uma parte do variado leque de acervo criado


pelos órgãos públicos responsáveis pelo monitoramento em SST, direta ou
indiretamente, portanto, é importante frisar que os materiais foram fruto
de anos de trabalho do Ministério da Saúde, tais como: Manual de Doenças
Relacionadas ao Trabalho (2001), protocolos de atendimento e notificação
para acidentes graves, fatais e com crianças e adolescentes, Doença
Osteomuscular relacionada ao trabalho (DORT), Perda Auditiva Induzida por
Ruído (PAIR), pneumoconioses etc. Esses materiais visam ao atendimento
igualitário, em todo o território nacional, a todos os trabalhadores atendidos
pelo SUS, compreendendo os procedimentos entre o primeiro atendimento até
a notificação, recomendações e parâmetros para seu diagnóstico, tratamento
e prevenção de incapacidade laboral. Veja os principais protocolos a seguir.

Quadro 5. Principais protocolos na área de Saúde do Trabalhador.

Principais protocolos em ST
1. Trabalho infantil. 7. Pneumoconioses.
2. Anamnese ocupacional. 8. Risco químico.
3. Acidentes de trabalho graves, fatais. 9. Câncer relacionado ao trabalho.
4. Exposição a material biológico. 10. Dermatoses ocupacionais.
5. Exposição ao chumbo metálico. 11. Doenças osteomusculares.
6. Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR).
Fonte: Próprio autor.

Neste capítulo, pudemos aprender um pouco mais sobre a investigação de


agravos relacionados à saúde do trabalhador, tanto em abordagem coletiva
quanto individual, e a responsabilização dos entes públicos e privados no
monitoramento desses agravos – dados que refletem o impacto direto no nível
de saúde da população brasileira (número de incapacitados, mortes, famílias
seguradas etc.).

Reiteramos, ainda, que a notificação compulsória não exime o empregador


de emitir o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), direcionado
principalmente à concessão do benefício previdenciário daqueles
t rab al h ad o re s regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

52
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II

A p art ir deste ponto, você já se perguntou de que forma é realizado o


monitoramento dos agravos em saúde da imensidão de trabalhadores
informais? Se sim, reflita a respeito da abordagem do profissional de
saúde da rede que não consegue visualizar a determinação do trabalho
na saúde do paciente atendido em sua unidade de saúde. Esses e outros
questionamentos poderemos trazer para o nosso cotidiano em busca de
respostas.

53
DIRETRIZES E
ATORES DA ESFERA
PÚBLICO-PRIVADA UNIDADE III
DA SAÚDE DO
TRABALHADOR

CAPÍTULO 1
Políticas públicas em saúde do
trabalhador

Convenções e acordos internacionais

Convenção OIT no 161

O Conselho de Administração do Departamento Internacional do Trabalho


convocou em 7 de junho de 1985 a Conferência Geral da Organização Internacional
do Trabalho, na sua 71 a reunião em que o relatório final seria a garantia da
proteção dos trabalhadores contra doenças e acidentes de trabalho enquanto
um dos compromissos da OIT.

Ainda, naquela circunstância, recordaram os convênios e recomendações


internacionais do trabalho sobre a matéria, tais como:

»» 1953 - Recomendação sobre a proteção da saúde dos trabalhadores.

»» 1959 - Recomendação sobre os serviços de medicina do trabalho.

»» 1971 - Convênio sobre os representantes dos trabalhadores.

»» 1981 - Convênio e Recomendação sobre segurança e saúde dos


trabalhadores, que preconizam os princípios de uma política voltada para
a SST em nível nacional.

54
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

E , a pó s t e r e m to mado a dec isão d e ad otar várias p rop ostas sobre o s


s e r v iç o s de Saúde do t r abalh o – no qu arto item d a ord em d o d ia de
r eun iã o de ci di r am fo r mat ar u m c onvênio internac ional no d ia 26 de
jun h o do me smo ano que t r a te sobre os serviç os d e saú d e no trabal ho .
N o B r a s il , e s t a co nve nção foi ap rovad a ap enas em 22 d e maio d e 1991 ,
p o r m e io do De cr e to n o 1 27.

Esse convênio traz em seu bojo princípios elementares para quaisquer


políticas para Serviços de Saúde do trabalho aos países consignatários. A
ideia aqui é trazer os principais elementos que formaram a história da SST no
nosso país como segue abaixo.

Qual a função dessa convenção?

»» Observar aspectos de saúde e segurança do ambiente de trabalho, bem


como cantinas e moradias fornecidas pelo empregador.

»» Promover educação em saúde.

»» Implantar serviço de primeiros socorros e emergência.

»» Definir e estabelecer o conceito de readaptação profissional.

»» Acompanhar casos de acidentes de trabalho.

»» Participar da elaboração de programas de melhoria das práticas de


trabalho bem como da instalação de equipamentos quanto à saúde.

»» Organizar-se enquanto lei, acordos coletivos, e outros acordos aprovados


pelas autoridades competentes.

Os serviços de SST podem ser organizados por empresa ou conjunto delas,


poderes público e privado, previdência e seguridade social, organismo com
autoridade competente ou a combinação dessas.

São serviços que devem:

»» Ter autonomia.

»» Conhecer os fatores de riscos conhecidos e/ou suspeitos do ambiente de


trabalho.

»» Envolver-se com demais serviços de saúde da empresa.

55
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

»» Verificar os motivos de falta ou adoecimento no trabalho, relativo à


saúde – sem quaisquer atos coercitivos incentivados pelo empregador.

Estabelece ainda que a legislação nacional deverá designar autoridade


competente para supervisionar as atividades de saúde assim como o
assessoramento delas, tendo o intuito de estabelecer a implantação de serviços
de saúde em empresas, setor público, cooperativas de produção em todos os
ramos da atividade econômica, desde que haja a consulta aos representantes
de empregadores e trabalhadores para sua efetiva implantação.

Convenção no 155

Conforme Decreto Legislativo n o 2, de 17 de março de 1992, o texto da Convenção


155 é aprovado no Brasil passando a vigir em 18 de maio do ano seguinte.
Essa convenção foi adotada durante a 67ª Seção da Conferência Internacional
do Trabalho de Genebra, em 1981, trazendo em seu bojo as diretrizes para a
construção de uma política nacional para a Segurança e Saúde dos trabalhadores.

São excluídos desta convenção os trabalhadores marítimos ou pesca, pois


apresentam problemas específicos a serem tratados como objeto de outra
convenção. Assim, o país membro e consignatário da convenção deverá garantir
que terá ações e legislações voltadas para essas atividades econômicas.

Quando houver a construção de uma política de SST, o país membro deve levar
em consideração no mínimo 5 (cinco) eixos principais:

»» Corpo material do trabalho (estrutura física, maquinário, agentes


físicos, químicos e biológicos etc.).

»» Relação existente entre os trabalhadores e o corpo material da empresa.

»» Formação complementar necessária das pessoas que intervêm no


ambiente de trabalho.

»» Comunicação e cooperação a nível de grupo de trabalho até o âmbito


nacional.

» » Proteção aos trabalhadores que empreendem de acordo com a


Política estabelecida de saúde e segurança contra as medidas
disciplinares.

56
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

Assim, a partir do momento em que o Brasil ratifica as convenções citadas e


outras, o país fica comprometido a garantir a aplicação desses princípios à
saúde do trabalhador, seja estabelecendo políticas nacionais afirmativas sobre o
assunto, seja criando estruturas para serviços de fiscalização delas.

Para saber mais sobre as convenções internacionais mencionadas e outras


das quais o Brasil é país consignatário, acesse o site da OIT por meio do
endereço eletrônico <https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/>.

Políticas públicas em saúde do trabalhador no


Brasil

No SUS, a área de saúde do trabalhador constitui-se como o conjunto de


práticas sanitárias que articula ações de assistência, reabilitação, vigilância,
prevenção e promoção à saúde, e tem a intervenção na relação saúde-doença
dos trabalhadores como especificidade (TAKAHASHI et al., 2012).

A saúde do trabalhador constitui uma área da saúde pública e é um campo


de práticas de conhecimento cujo enfoque teórico-metodológico, no Brasil,
emerge da saúde coletiva, buscando conhecer e intervir nas relações de
trabalho-saúde-doença (LACAZ, 2007).

No Brasil, segundo Dias e Hoefel (2005), o movimento da saúde do trabalhador


articula-se no final dos anos 1970, com os seguintes eixos: participação dos
trabalhadores nas decisões sobre a organização, defesa do direito ao trabalho
digno e saudável, gestão dos processos produtivos, e, busca pela garantia de
atenção integral à saúde.

A sua inserção no campo da saúde pública teve como marco a VIII Conferência
Nacional de Saúde, em 1986, e contribuiu para reafirmar a saúde como direito
social e dever do Estado. A I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador,
realizada no mesmo ano, consagrou a institucionalização política desse
movimento, cuja luta favoreceu a incorporação das questões da saúde do
trabalhador na Constituição Federal de 1988, ao enunciar o conceito ampliado
de saúde e ao atribuir ao Sistema Único de Saúde (SUS) a responsabilidade de
coordenar as ações no país.

As atribuições previstas pela Constituição foram regulamentadas, em 1990,


pela Lei Orgânica da Saúde n o 8.080 e n o 8.142, que definiram os princípios e
formatação do SUS. Nas palavras de Dias e Hoefel (2005, p. 819): “consolida-se,
assim, no plano legal e institucional, o campo da Saúde do Trabalhador”.

57
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

As ações desencadeadas no setor saúde, sob a tutela do Ministério da Saúde,


foram fruto de decreto presidencial sobre a Política Nacional de Saúde e
Segurança no Trabalho (PNSST) (BRASIL, 2011), ratificação da Convenção 155
da OIT no Brasil. Segundo Gomez (2013), essa política pretenderia superar a
fragmentação das ações interministeriais no âmbito do trabalho, da saúde e
da previdência, ministérios estes citados no corpo do texto da Política.

Na sua concepção, a PNSST estava em consonância com os princípios e diretrizes


do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que a Constituição institui que:

[...] toda a Política de saúde do Trabalhador para o SUS


tenha como propósito a promoção da saúde e redução
da morbimortalidade dos trabalhadores, mediante ações
integradas, intra e intersetorialmente, de forma contínua,
sobre os determinantes dos agravos decorrentes dos modelos
de desenvolvimento e processos produtivos, com a participação
de todos os sujeitos sociais envolvidos (BRASIL, 2011).

Nesse contexto, a PNSST surge como marco estratégico para trazer


significativas contribuições na área de segurança e saúde do trabalhador
no Brasil e, por conseguinte, a instituição da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT) (BRASIL, 2012), por meio da portaria
GM/MS n o 1.823, de 23 de agosto de 2012, alinhada ao decreto assinalado pelo
presidente em 2011. A nova portaria contempla uma proposta que entidades
representativas da sociedade civil e profissionais de saúde vêm almejando
desde a I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (GOMEZ, 2013).

A PNSTT tem o intuito de definir os princípios, as diretrizes e as estratégias


a serem observadas nas três esferas de gestão do SUS – federal, estadual
e municipal – para o desenvolvimento das ações de atenção integral à saúde
do trabalhador, enfatizando-se a vigilância, visando à promoção e à proteção
da saúde dos trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos
modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.

Ela enfatiza a integralidade na atenção à saúde do trabalhador, inserindo as


ações desse campo em toda a rede SUS, da atenção primária até a especializada
(reabilitação, atenção pré-hospitalar, serviços de urgência e emergência
e hospitais, rede de laboratórios), sistemas de informações em saúde e na
vigilância à saúde. Compreende, ainda, a articulação intra e intersetorial,
a estruturação da rede de informações em saúde do trabalhador, o apoio e
desenvolvimento de estudos e pesquisas nessa área, com o desenvolvimento

58
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

e capacitação de recursos humanos e participação comunitária na gestão


das ações. Os princípios, diretrizes, objetivos e estratégias da PNSTT estão
listados a seguir.

1. Princípios e diretrizes:

›› Universalidade.

›› Integralidade.

›› Controle social, com a participação da comunidade e dos


trabalhadores.

›› Descentralização.

›› Hierarquização.

›› Equidade.

›› Precaução.

2. Objetivos (cap. II, art. 8o):

›› Fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador e a integração


com os demais componentes da Vigilância em Saúde.

›› Promover a saúde e ambientes e processos de trabalho saudáveis.

›› Garantir a integralidade na atenção à saúde do trabalhador.

›› Ampliar o entendimento de que a saúde do trabalhador deve


ser concebida como uma ação transversal, devendo a relação
saúde-trabalho ser identificada em todos os pontos e instâncias da
rede de atenção.

›› Incorporar a categoria trabalho como determinante do processo


saúde-doença dos indivíduos e da coletividade, incluindo-a nas
análises de situação de saúde e nas ações de promoção em saúde.

› › Assegurar que a identificação da situação do trabalho dos


usuários seja considerada nas ações e serviços de saúde do SUS
e que a atividade de trabalho realizada pelas pessoas, com as
suas possíveis consequências para a saúde, seja considerada no
momento de cada intervenção em saúde.

›› Assegurar a qualidade da atenção à saúde do trabalhador usuário


do SUS.

59
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

3. Estratégias (cap. III, art. 9o):

›› Integração da Vigilância em Saúde do Trabalhador nos demais


componentes da Vigilância em Saúde e com a Atenção Primária em
Saúde.

›› Análise do perfil produtivo e da situação de saúde dos trabalhadores.

›› Estruturação da RENAST no contexto da Rede de Atenção à Saúde:


ações de ST na APS; na Urgência e Emergência; e na Atenção
Especializada (Ambulatorial e Hospitalar).

›› Ampliação após o fortalecimento da articulação intersetorial.

›› Incentivo à participação da comunidade, dos trabalhadores e do


controle social.

›› Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos.

›› Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.

Segundo Gomez (2013), a PNSTT é um texto bastante consistente e


pormenorizado sobre o patrimônio reflexivo e de práticas acumuladas,
ao longo das últimas décadas, por setores acadêmicos, movimentos de
trabalhadores e profissionais que atuam nos serviços. Ele pondera que
todos os trabalhadores (homens e mulheres), independentemente de sua
localização (urbana ou rural), de sua forma de inserção no mercado de
trabalho (formal ou informal) e de seu vínculo empregatício (público
ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativado,
aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado) são
dignamente contemplados pela Política.

Rede nacional de atenção integral à saúde do


trabalhador

No final do ano de 2002, foi criada a Rede Nacional de Atenção Integral à


Saúde do Trabalhador (RENAST), pela Portaria n o 1.679 (BRASIL, 2002),
que, pela primeira vez, disponibilizou recursos para a operacionalização
das ações nos âmbitos estadual e municipal. A RENAST impôs-se como uma
prioridade e como uma das principais estratégias da Política Nacional de
Saúde do Trabalhador (PNST) para o SUS.

60
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

A Portaria n o 2.437 (BRASIL, 2005) dispôs sobre a ampliação e o fortalecimento


da RENAST, prevendo maior número de Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador (CERESTs), incluindo as ações de saúde do trabalhador na atenção
básica e em ações de vigilância em saúde do trabalhador. Ela instituiu uma
rede de serviços sentinelas para retaguarda de média e alta complexidade e de
registro de doenças/agravos de notificação compulsória, bem como estabeleceu
municípios sentinelas. Já a Portaria n o 2.728 (BRASIL, 2009) adequou a RENAST
ao Pacto de Gestão do SUS.

Conceitualmente, a RENAST é uma rede nacional de informação e de práticas


de saúde, organizada com o objetivo de implementar ações assistenciais, de
vigilância e de promoção da saúde na perspectiva da saúde do trabalhador no
âmbito do SUS, sob o controle social. A RENAST integra e articula a atenção
básica, a média e a alta complexidades ambulatorial, pré-hospitalar e hospitalar,
sob o controle social, nos três níveis de gestão: municipal, estadual e nacional.

Com a RENAST, os CERESTs deixam de ser porta de entrada do sistema e


assumem o papel de suporte técnico e científico dos princípios e fundamentos
teóricos da saúde do trabalhador, no âmbito da saúde pública, e passam a ser
núcleos disseminadores da cultura da centralidade do trabalho e da produção
social das doenças. Além disso, refletem o ponto privilegiado de articulação e
pactuação das ações de saúde, intra e intersetorialmente, no seu território de
abrangência, que pode ser na esfera municipal, estadual e nacional, abrangendo
municípios polos de assistência das regiões e microrregiões de saúde.

Em uma análise da incorporação da saúde do trabalhador ao longo de 20 anos


de vigência do SUS, Santana e Silva (2009) verificaram que as ações de saúde
do trabalhador e os CERESTs haviam sido ampliados, nacionalmente, a todas
as unidades da federação, alcançando-se uma cobertura quase satisfatória da
população de trabalhadores no país.

No nível local, as ações de saúde do trabalhador poderão ser organizadas em


municípios sentinelas, interferindo em situações de riscos à saúde decorrentes
de processos produtivos danosos ou por contaminação ambiental em um
dado território, com base em critérios epidemiológicos, previdenciários,
socioeconômicos, além da presença efetiva do controle social.

A Rede Sentinela é uma estrutura da RENAST que organiza o fluxo de


atendimento em todos os níveis de atenção do SUS: na rede de básica, média e alta
complexidades, de modo articulado com as vigilâncias sanitária, epidemiológica
e ambiental.

61
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Machado et al. (2013) aglutinam uma série de estudos de outros autores que
indicam os pontos positivos dos CERESTs porque (1) representam um avanço
na incorporação nas instituições das ações de saúde do trabalhador, ainda que
tenham definições pouco claras dos critérios de regionalização, do papel dos
CERESTs, das estruturas componentes da RENAST, entre outros pontos; (2) sua
potencialidade delas está na formação de redes intra e interinstitucionais em
torno de projetos de ação ditos prioritários; (3) têm possibilidade de transcender
a abordagem do processo saúde e doença, pautada no modelo tradicionalmente
médico assistencialista com foco no indivíduo para a perspectiva de ações que
visem à prevenção, à promoção e à vigilância em saúde do trabalhador.

A RENAST é uma rede constituída de todos os CERESTs, concretizada


com ações integradas em saúde do trabalhador (ST ), incluindo a
governabilidade do novo modelo de atenção à ST, como a gestão, os
dados e informações correlatas, o delineamento e o compartilhamento
das ações de vigilância e de assistência em todos os níveis de atenção.
Nesse cenário, os CERESTs são compreendidos como polos estratégicos
responsáveis pela disseminação e padronização da ação de matriciamento
da RENAST no SUS (MACHADO et al., 2013). Eles têm o papel de dar
provimento às políticas e diretrizes técnicas especializadas em saúde do
trabalhador para o conjunto de ações e serviços da rede SUS. Para garantir
as funções de educação permanente, de suporte técnico e assessoria ou
coordenação de projetos de assistência, promoção e vigilância à saúde
dos trabalhadores, no cômputo de sua área de abrangência, além de
atuar com a articulação e organização das ações intra e intersetoriais de
saúde do trabalhador, essa retaguarda deve ser montada considerando o
apoio matricial às equipes de referência das diversas instâncias da rede
de atenção, promoção e vigilância em saúde,

Com a definição da Política Nacional de Saúde do Trabalhador em 2005


(Brasil, 2005), ela passou a ser a principal estratégia da organização da
ST no SUS, sob a responsabilidade da então Área Técnica de Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde, atual Coordenação Geral da Saúde
do Trabalhador, CGSAT.

Portarias relacionadas à RENAST:

»» Portaria no 1.679/GM de 19 de setembro de 2002. Dispõe sobre


a estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador no SUS e dá outras providências.

62
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

»» Portaria no 2.437/GM de 7 de dezembro de 2005. (Revogada - vide


Portaria 2.728 abaixo) Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast)
no SUS.

»» Portaria no 2.728/GM de 11 de novembro de 2009. Dispõe


sobre a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
(RENAST) e dá outras providências.

Veja a AULA 6 – SINAN e RENAST

63
CAPÍTULO 2
Serviços especializados e programas
de saúde e segurança do trabalhador

Serviços Especializados em Medicina do


Trabalho (SESMT) e sua relação com a
Engenharia de Segurança do Trabalho
Os Serviços Especializados em Medicina do Trabalho (SESMT) são um grupo
de profissionais habilitados a exercer a segurança em medicina do trabalho,
técnica e legalmente, de modo a garantir a integridade física e psíquica dos
trabalhadores, de caráter obrigatório em empresas públicas e privadas,
órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo
e Judiciário que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho, estabelecendo as responsabilidades da empresa e dos trabalhadores
quanto às normas de SST. Reitera-se que todos aqueles programas afetos à SST
- Programa de Prevenção de Acidentes (PPRA) e Programa de Controle Médico
de Saúde Ocupacional (PCMSO), por exemplo - estão sob a responsabilidade
dessa equipe, bem como de outros grupos de trabalhadores que contribuem
para o monitoramento dos riscos no trabalha, tais como Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA), sindicatos etc. Os SESMT estão regulamentados
conforme dispositivo da Lei no 6.514/1977 e Portaria 3.214/1978, e especificado
na Norma Regulamentadora NR-4.

Conforme o art. no 157 da CLT (BRASIL, 1943), cabe às empresas:

Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do


trabalho;

Instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às


precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais;

Adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelos órgãos


competentes;

Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

64
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

O art. 158 da CLT (BRASIL, 1943) estabelece as responsabilidades dos empregados:

Observar as normas de segurança e medicina do trabalho, bem como


as instruções dadas pelo empregador;

Colaborar com a empresa na aplicação das leis sobre segurança


e medicina do trabalho;

Usar corretamente o Equipamento de Proteção Individual (EPI)


quando necessário.

Quanto ao dimensionamento dos SESMT, eles estão vinculados à graduação


do risco da atividade principal e ao número total de empregados do
estabelecimento. Para que o funcionamento dos SESMT atinja seus objetivos,
é necessário que a política vise à segurança e à saúde do trabalhador, seja
bem estabelecida e garanta o apoio à administração e à conscientização em
todos os níveis hierárquicos e a cada trabalhador da empresa.

Aa atribuições dos SESMT resumem-se em:

»» Reduzir e controlar os riscos existentes à saúde do trabalhador por


meio da aplicação de conhecimentos de Engenharia de Segurança
e Medicina do Trabalho no meio ambiente de trabalho bem como a
todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos.

»» Exigir a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de proteção


individual (EPI), quando esgotados todos os meios conhecidos para
a eliminação do risco como determina a NR 6 e se mesmo assim
houver sua persistência, e desde que a concentração, a intensidade ou
característica do agente assim o exijam.

»» Contribuir com a implantação de instalações físicas e tecnológicas


novas da empresa e projetos internos.

» » Tomar para si a responsabilidade pela orientação dos trabalhadores


das empresas e/ou estabelecimentos quanto ao cumprimento das
NRs aplicáveis às atividades executadas.

» » Relacionar-se permanentemente com a CIPA, apoiando, treinando


e atendendo-a quanto aos assuntos de SST e fiscalizações do
ambiente de trabalho, atentando-se às suas observações, conforme
dispõe a NR 5.

65
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

»» Estimular a realização de atividades de educação e orientação e


conscientização dos trabalhadores para prevenir acidentes do trabalho
e doenças ocupacionais, não apenas através de campanhas, mas
também de programas permanentes de treinamentos.

»» Conscientizar e esclarecer os empregados sobre doenças ocupacionais


e acidentes do trabalho, sensibilizando-os em favor da prevenção;

»» Avaliar e registrar em documentação específica todos os registros


de acidentes e casos de doença ocupacional ocorridos na empresa
detalhando a história e as características do evento em SST, os fatores
de risco ambientais, o agente causador e suas características bem
como as condições dos indivíduos portadores de doença ocupacional
ou do acidentado.

» » As atividades dos profissionais integrantes dos SESMT são


fundamentalmente prevencionistas, não sendo excluído o
atendimento de emergências, na sua ocorrência. Estão também
incluídas em suas atividades planos de combate a incêndio e
controle de efeitos de catástrofes, a disponibilidade de meios que
foquem o salvamento e a imediata atenção à vítima de qualquer
outro tipo de acidente.

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais


(PPRA)
Atualmente, este programa é regulamentado pela NR 9 do Ministério do
Trabalho (MTE) e versa sobre a obrigatoriedade da elaboração e implementação
por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores
como empregados, focando a preservação da saúde e integridade deles, por meio
da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle da ocorrência de riscos
ambientais presentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, em
consideração à proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Sua revisão
é atualizada a cada ano.

É fundamental a verificação da existência dos aspectos estruturais no documento


base do PPRA, que dentre todos os legalmente estabelecidos, cabe especial atenção
para os seguintes itens:

»» Discussão do documento base com os empregados (CIPA).

» » Detalhamento de todos os riscos existentes em potencial


abrangendo todos os ambientes de trabalho, internos ou externos,

66
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

e em todas as tarefas ou atividades realizadas pelos trabalhadores


na empresa (efetivos ou terceirizados).

» » Avaliar os riscos ambientais levantados (radiação, calor,


ruído, produtos químicos, agentes biológicos, entre outros)
quantitativamente, com a descrição da metodologia adotada nas
avaliações, além dos limites de tolerância estabelecidos na NR 15,
resultados das avaliações e as medidas de controle sugeridas, com
a devida assinatura do profissional legalmente habilitado.

»» Descrição das medidas de controle coletivas adotadas.

»» Cronograma de ações planejadas para o período de vigência do programa.

O PPRA deve estar ligado a outras documentações de saúde e segurança do


trabalho (SST), principalmente com o PCMSO, Programa de Controle de
Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT) (em caso de construção
de linhas elétricas, obras civis de apoio a estruturas, prediais), Programa de
Conservação Auditiva e inclusive com todos os documentos relativos ao sistema
de gestão em SST adotado pela empresa.

Programa de Controle Médico em Saúde


Ocupacional (PCMSO)

É fundamental que o Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional


(PCMSO) seja planejado e elaborado anualmente com base em um minucioso
reconhecimento e avaliação dos riscos presentes no ambiente de trabalho,
de acordo com os riscos identificados e avaliados no PPRA, no Programa de
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT),
bem como em outros documentos de saúde e segurança e, inclusive, no mapa de
riscos desenvolvido pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).
Seu objetivo é promover e preservar a saúde do conjunto de trabalhadores,
considerando as questões incidentes sobre o indivíduo e a coletividade, além
de ter o caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à
saúde relacionados ao trabalho, inclusive os de natureza subclínica.

Esse programa é constituído em um dos principais elementos (documentos) de


saúde e segurança do trabalho (SST) da empresa – o que demanda total e completo
engajamento e alinhamento com o sistema de gestão integrado (SGI) da empresa,
quando houver, integrando-o tanto na fase de planejamento das ações quanto na
fase de monitoramento dos resultados das medidas de controle implementadas.

67
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Além da avaliação periódica individual de cada trabalhador, o PCMSO tem


características de um estudo de corte, longitudinal, em que a equipe de
saúde da empresa tem a oportunidade de acompanhar determinado grupo de
trabalhadores (população) ao longo de sua história laboral, pesquisando o
possível surgimento de sinais e sintomas ou patologias, a partir da exposição
conhecida a fatores de riscos químicos, físicos e biológicos, de acidente e
ergonômicos. Em relação a isso, temos os fatores:

»» De ordem psicossocial, diretamente relacionados ao risco de vida


presente no trabalho, grande exigência cognitiva e de atenção, o
estresse associado a tais riscos, necessidade de condicionamento
psíquico e emocional para a realização dessas tarefas, entre outros
fatores estressores.

»» De natureza biomecânica, relacionados às atividades em posturas


pouco fisiológicas e inadequadas, com exigências extremas de
condicionamento físico.

»» De natureza organizacional, vinculados às tarefas planejadas sem


critérios de respeito aos limites técnicos e humanos, levando à pressão
produtiva, o atendimento emergencial e, urgência de tempo.

O controle médico deverá incluir:

»» Avaliação clínica criteriosa, no admissional e periódicas, enfatizando


os aspectos neurológicos e ósteo-músculo-ligamentares de ordem
geral.

»» Análise de aspectos físicos do trabalhador referentes a outros riscos


levantados, incluindo calor ambiente, ruído e exposição a produtos
químicos.

»» Avaliação psicológica direcionada ao tipo de atividade desenvolvida e


futura.

»» Avaliação de acuidade visual principalmente para o trabalho com


tarefas que demandem a percepção de detalhes e à distância.

De acordo com cada caso, a critério médico, exames complementares poderão


ser solicitados. Além disso, outras ações de prevenção devem ser previstas,
como vacinação contra tétano e hepatite, influenza, para situações especiais,
como Programas de Conservação da Voz e ou Auditiva, Acompanhamento de

68
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

Doentes Crônicos, atividades com riscos biológicos, Qualidade de Vida no


Trabalho, entre outros.

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)

Conforme determina a NR 5, as empresas privadas, públicas, sociedades


de economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições
beneficentes, associações recreativas, cooperativas, assim como outras
instituições que admitam trabalhadores como empregados, devem constituir
uma CIPA por estabelecimento e mantê-la em regular funcionamento.

A CIPA tem como objetivo prevenir acidentes e doenças decorrentes do


trabalho, de forma a tornar compatível permanentemente o trabalho com a
preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. O empregador
deverá garantir que seus empregados indicados tenham a representação
necessária para a discussão e o encaminhamento das soluções de questões de
segurança e saúde no trabalho analisados pela Comissão (BARSANO, 2014).

A empresa designará entre seus representantes o presidente da CIPA, e


o vice-presidente será escolhido entre os representantes dos empregados
titulares. Serão indicados, em comum acordo, um secretário e seu substituto
entre os componentes, ou não, da comissão, necessitando, nesse caso, da
concordância do empregador (BARSANO, 2014).

Atribuições da CIPA:

»» Fazer o levantamento dos riscos no ambiente de trabalho e elaborar


o mapa de riscos em conjunto com o grupo de trabalhadores, com
assessoria dos SESMT, onde houver.

» » Fazer o plano de trabalho com vistas à ação preventiva na resolução


de problemas de segurança e saúde no trabalho.

»» Acompanhar a implementação e controlar a qualidade das medidas


prevencionistas necessárias, assim como elencar as ações prioritárias
nos locais de trabalho.

»» Realizar verificações das condições e dos ambientes de trabalho,


periodicamente, no intuito de identificar aquelas situações que tragam
riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores.

69
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

» » Fazer avaliação do alcance das metas preestabelecidas no seu


plano de trabalho, a cada reunião, e discutir as situações de risco
identificadas.

»» Divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde


no trabalho.

»» Participar, com os SESMT, onde houver, das discussões promovidas


pelo empregador para avaliar os impactos de alterações no ambiente
e processo de trabalho relacionado à segurança e saúde dos
trabalhadores.

» » Requerer aos SESMT, quando houver, ou ao empregador, a


paralisação de máquina ou setor em que considere haver risco grave
e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores.

»» Contribuir para o desenvolvimento e implementação do PPRA e PCMSO


e de outros programas de segurança e saúde no trabalho.

» » Promover tanto o devido cumprimento das Normas


Regulamentadoras como as cláusulas de acordos e convenções
coletivas de trabalho, referentes à segurança e à saúde no
trabalho.

»» Colaborar, em parceria com os SESMT, quando este existir, ou com o


empregador na análise das causas geradoras de doenças e acidentes
de trabalho e sugerir medidas de solução aos problemas identificados.

»» Requisitar e analisar as informações solicitadas ao empregador


sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos
trabalhadores.

»» Demandar à empresa a apresentação de cópias das CATs emitidas.

»» Promover, anualmente, em conjunto com os SESMT, onde houver, a


Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT).

»» Participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de campanhas de


prevenção da AIDS.

A CIPA terá reuniões ordinárias mensais, de acordo com calendário


preestabelecido, e extraordinárias sempre que houver denúncia de situação
de risco grave e iminente que determine aplicação de medidas corretivas de
emergência, acidente do trabalho grave ou fatal e solicitação expressa de uma

70
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

das representações (BARSANO, 2014). O treinamento dos integrantes da CIPA


será antes da posse, promovido pela empresa, para titulares e suplentes, no
prazo máximo de 30 dias contados da data da posse.

Sob a responsabilidade da CIPA está a elaboração do mapa de risco. Esse


instrumento é a representação gráfica do mapeamento de riscos ambientais,
por meio de círculos de cores e tamanhos proporcionalmente diferentes
(riscos pequeno, médio e grande), definida a partir do levantamento dos riscos
presentes nos locais de trabalho, sentidos e/ou observados pelos próprios
trabalhadores, de acordo com a sua sensibilidade. Fora os riscos, o mapa é
elaborado sobre o leiaute da empresa, devendo ficar afixado em local visível
a todos os trabalhadores.

Participação e controle social

A participação na perspectiva do controle social no Sistema Único de


Saúde (SUS) foi um dos eixos dos debates da VIII Conferência Nacional de
Saúde, realizada em 1986, e é tida como um dos princípios fomentadores
da reformulação do sistema nacional de saúde e como via imprescindível
para a sua democratização. Essa participação foi instituída pela Lei n o
8.142/1990 dentro do SUS, por meio de seus Conselhos de Saúde e de
diversas modalidades como conselho nacional, estadual, municipal. Esses
conselhos têm composição paritária entre os representantes dos usuários que
congregam setores organizados da sociedade civil e dos demais segmentos
(gestores públicos, filantrópicos e privados e trabalhadores da saúde), e que
objetivam o controle social (CORREIA, 2000).

Na saúde do trabalhador, área de práticas eminentemente intersetoriais,


a Lei n o 8.142/1990 previu, desde 1990, a criação e o funcionamento das
Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador (CIST) como assessoras
dos conselhos de saúde. No SUS, o controle social é efetivado pela RENAST
por meio do controle direto das ações do CEREST, pela participação efetiva de
organização de trabalhadores na definição de prioridades de intervenção, na
implementação da política de ST e aplicação de recursos disponíveis segundo
a realidade do setor produtivo local. As CISTs foram criadas para elaborar
normas, técnicas e parâmetros de qualidade em SST, a fim de implementar
políticas relativas às condições de trabalho e ao seu controle.

O objetivo dessa comissão é participar em conjunto com entidades


representativas de empregados e empregadores, instituições da sociedade
civil e órgãos públicos, direta e indiretamente responsáveis pela preservação

71
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

da saúde. Sua composição não segue a paridade do Conselho de Saúde, porém


ela deve ser o mais representativa possível dos trabalhadores, tendo na sua
composição técnicos da área de ST.

A população pode recorrer a outros mecanismos de garantia dos direitos


sociais para além dos conselhos e conferências de saúde, especialmente,
o direito à saúde, por exemplo, à Comissão de Seguridade Social e/ou da
Saúde do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras
de Vereadores, à Promotoria dos Direitos do Consumidor (Procon),
ao Ministério Público, aos conselhos profissionais etc. A denúncia por
intermédio dos meios de comunicação como rádios, jornais, televisão e
internet também é forte instrumento de pressão na defesa dos direitos
(CORREIA, 2000). É importante reiterar a importância dos sindicatos
representativos de categorias profissionais no processo de construção da
saúde do trabalhador no Brasil.

O sindicato é uma associação de direito privado de trabalhadores de uma


mesma categoria profissional ou econômica, criado por decisão de seus
membros, com o objetivo de promover, defender e representar, de forma
permanente, os direitos e interesses da categoria, em especial, podendo ser
de empregadores, empregados ou profissionais liberais. Eles fizeram parte de
toda a evolução da política trabalhista no nosso país em defesa dos direitos
dos trabalhadores. E até hoje, via acordos ou dissídios coletivos, conselhos
deliberativos etc., garantem melhores condições de trabalho e saúde para sua
classe.

Enquanto função dos sindicatos, a Constituição Federal de 1988 prevê a


defesa de direitos e interesses individuais ou coletivos de uma categoria,
tanto em questões judiciais quanto em questões administrativas (art. 8 o , III)
e a atuação nas negociações coletivas de trabalho (art. 8 o , VI). O art. 513 da
CLT (BRASIL, 1943), dispõe das seguintes prerrogativas:

a. Delegação, judicial e administrativa, dos interesses gerais e individuais


da categoria ora representada.

b. Celebração de acordos ou convenções coletivas.

c. Eleição dos seus representantes.

d. Cooperação com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, em


temas relacionados à categoria representada.

72
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

e. Recolimento de contribuições aos participantes da categoria


representada. Além da assistência jurídica, muitos sindicatos
detêm uma estrutura de saúde de profissionais que orientam os
trabalhadores filiados em caso de acidentes, contribuindo, dessa
forma, para a vigilância em saúde do trabalhador.

Fiscalização do trabalho

O antigo Ministério do Trabalho e Emprego era o órgão responsável pela


coordenação e publicação de matéria de segurança e medicina do trabalho no
Brasil, em especial o Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho - DSST,
vinculado à Secretaria de Inspeção do Trabalho.

Além de emanar diretrizes em SST, atua como forte fiscalizador do cumprimento


das normas regulamentadoras e, frente ao crescimento de adoecimento entre
trabalhadores, tem exigido muito mais que o simples cumprimento das normas,
mas também a devida gestão da saúde e segurança do trabalhador.

Cabe ressaltar que a estrutura foi recentemente alterada pelo atual governo do
país, passando a integrar uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério da
Economia. Para melhor demonstração, veja o organograma abaixo:

Figura 4. Estrutura atual do Ministério do Trabalho e Auditoria Fiscal do Trabalho, 2019.

Ministério da
Economia

Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho

Secretaria de
Secretaria do Trabalho
Previdência

Subsecretaria de Subsecretaria de
Inspeção do Políticas Públicas
Trabalho e Relações do
Trabalho

Coor. Geral de
Coord. Geral de
Segurança e Saúde no
Inspeção do Trabalho
Trabalho

Fonte: Adaptado pelo próprio autor (2019).

73
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Dentre as atribuições da auditoria fiscal do trabalho estão:

Segundo decreto no 6.341 de 3 de janeiro de 2008*, cabe às Superintendências


Regionais do Trabalho:

»» Promover a fiscalização.

»» Adotar medidas exigíveis, determinando desde interdição de canteiros


de obras até reparos e substituições de maquinário.

»» Impor penalidades cabíveis por descumprimento de normas, conforme


artigo 201 da CLT.

»» Mediar e arbitrar em negociação coletiva; melhoria contínua das


relações de trabalho, orientação e apoio ao cidadão.

À justiça do trabalho, não cabe o julgamento de ações penais, conforme redação


dada pela ADIn 3684-0.

*Cabe ressaltar que o decreto citado acima foi alterado em anos anteriores e
mais recentemente pelo Decreto n o 9.679, de 2 de janeiro de 2019, que altera a
estrutura do Ministério do Trabalho após a sua incorporação pelo Ministério da
Economia.

Você percebeu os principais sujeitos envolvidos no monitoramento


da saúde dos trabalhadores em uma organização? Não podemos nos
esquecer de que existem outros atores nessa relação, como os órgãos
ambientais, a Vigilância Sanitária, as ONGs, as instituições públicas de
ensino, entre outros. Para complementar a leitura desta unidade, leia na
íntegra as NRs 4, 5, 7, 9 e 17.

74
CAPÍTULO 3
Gestão em saúde do trabalhador

Conceito de gestão e estratégia


A gestão e a administração referem-se a “Exercer mando, ter poder de decisão
(sobre), dirigir, gerir” e ao “Ato ou efeito de administrar; ação de governar ou gerir
empresa, órgão público [...], respectivamente (Houaiss, 2001). Os termos trazem
referência à ação de governar organizações, instituições e pessoas. Já a capacidade
de direcionar, confunde-se com o exercício do poder - o que seria a Gestão (CAMPOS
e CAMPOS, 2009).

Desde os conceitos mais clássicos oriundos da antiga Grécia, onde a gestão


de uma cidade era exatamente ter uma política democrática, ainda hoje
existe essa fusão de entendimentos e conhecimento dessas áreas. A ruptura
ocorreu no início do século XX, quando Frederick W. Taylor publicou um livro
considerado como o advento de um novo campo de conhecimento: Princípios da
Administração Científica. Nessa obra, o engenheiro norte-americano apresentou
uma metodologia mais técnica de administração que não fosse orientada por
interesses políticos e valores diversos às evidências científicas elucidadas. Até a
atualidade, esta obra continua a exercer influência nos cotidianos empresariais,
ainda que tenham sido lançadas outras teorias científicas influentes no campo
da Administração.

Campos e Campos (2009), criticam o modelo vigente de administrar e gerir


pessoas e organizações, quando explicitam que alguns dos princípios da teoria
taylorista é a separação do trabalho intelectual do manual, e a centralização
de poder de planejar e decidir pela organização reforçam mais a supressão da
autonomia do trabalhador (CAMPOS e CAMPOS, 2009).

Para Fayol, as funções administrativas estavam restritas ao “planejar, comandar,


controlar, avaliar e organizar” enquanto que Mintzberg, conhecido pela sua
obra The Nature of Managerial Work, do início dos anos setenta, reafirmou
recentemente que aquelas funções administrativas são “folclore” da gestão,
pois, fatidicamente, os gestores têm tanto dificuldades de planejar quanto de
tomar decisões com base em dados sistematizados, uma vez que estão envolvidos
em ambientes sociais dinâmicos (JUNQUILLO, 2001).

A gestão estratégica surge como campo de conhecimento misto, oriundo da


Sociologia e da Economia, sendo uma evolução das teorias das organizações,

75
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

segundo Vasconcelos (2001). Começando na década de 1950, sua evolução


começa a partir dos anos 60 e 70, com o intuito de integrar estratégia,
organização e ambiente de forma concatenada. Para alguns autores, a gestão
estratégica é parte do planejamento estratégico, unindo ambos conceitos como
parte de uma política empresarial. Ora, a organização é um sistema constituído
por várias partes – pessoas, recursos financeiros, estrutura etc. – que devem ser
harmonicamente regidos para obter posição no mercado e lucro (MAINARDES,
FERREIRA, TONTINI, 2009).

Apenas na década de 1980 que as estratégias empresariais tiveram um


desenvolvimento vultoso - as instituições foram forçadas à reestruturação de
seus negócios motivadas pela evolução tecnológica dos meios de comunicação
e deslocamento de pessoas e coisas, onde houve um acréscimo (absurdo) da
integração global. Portanto, a estratégia e a sua gestão surgem como fatores
indispensáveis para as organizações, com ou sem fins lucrativos – porque a
estratégia faz o link entre o mundo organizacional e o seu ambiente exterior
(JUNQUILLO, 2001). Portanto, a estratégia em si está ligada à antecipação
de cenários e ao delineamento de planos de ação para enfrentamento da
concorrência e sobrevivência no mercado.

Gestão em saúde ocupacional

Gestão em saúde

Podemos associar o surgimento da gestão em saúde com o aparecimento da


Saúde Pública. Esta surgiu multidisciplinar, recorrendo a vários campos de
saber como a microbiologia, medicina, zoologia entre outras para explicar o
processo saúde-doença: foi o pontapé para a chamada administração sanitária
e as práticas de saúde fundamentadas na epidemiologia.

Para Campos e Campos (2009) a administração pública tinha como


responsabilidade uma parte do Estado onde abarcava instituições oficiais
como escola, laboratórios públicos para atender as coletividades, o que
a difere da administração de empresas que estão voltadas à aplicação da
teoria administrativa ao funcionamento de hospitais e clínicas para atender
um mercado. A saúde pública deve estabelecer mecanismos eficazes para
combater as epidemias de toda sorte.

A forma de pensar militar foi influente na administração sanitária quando


trouxe para sua esfera a operação de campo de guerra: aqui teríamos a
equiparação do combate às condições ambientais insalubres e germes
presentes na guerra. Foi neste momento também que houve a inserção do
conceito de planejamento estratégico e tático, programas sanitários e gestão

76
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

operacional e os conceitos de erradicação e de controle, de risco, de vigilância


e de análise de informação (CAMPOS e CAMPOS, 2009).

Obviamente que, no lugar da guerra, em um desdobramento contemporâneo,


entrou o conceito de gestão de saúde – mais afinado com aquelas concepções
oriundas da Política, Sociologia e Administração. Foi assim que, em meados
do século XX, surgiram, em alguns países da Europa, inicialmente na
Grã-Bretanha, Suécia e União Soviética e, mais tarde, em inúmeras outros
países da América, Europa e Oceania, os chamados Sistemas Nacionais Públicos
de Saúde. Aqui nasce uma nova racionalidade sobre gestão pública em saúde
quando o próprio Estado é responsável pelo financiamento e a gestão de toda
uma rede de saúde hierarquizada e organizada em núcleos regionais. Para não
falar na administração de clínicas e hospitais.

Fica claro que no nascedouro da administração sanitária no século XX, os


conhecimentos eram insuficientes para responder tamanha complexidade
dos serviços de saúde. Por causa disso, vários países (dentre aqueles do
parágrafo anterior) fizeram um esforço para desenvolver novos modelos de
atenção à saúde, com incentivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Devido a esse fomento, cada
vez mais houve uma aproximação entre as áreas da Clínica e o campo da Saúde
Pública: nesse período aumentou exponencialmente o desenvolvimento de
estudos na área de gestão de pessoas, sistemas e modelos de atenção à saúde
(CAMPOS e CAMPOS, 2009).

Nos dias atuais, a ideia central está voltada para a ampliação e democratização
da gestão em saúde, onde as teorias administrativas são coadjuvantes ao
controle social e gestão participativa de toda sociedade civil, gestores de
saúde e entidades envolvidas. (CAMPOS e CAMPOS, 2009). Mas, e qual
relação guarda a gestão em saúde com a gestão em Saúde do Trabalhador?

Caso revisitemos os capítulos anteriores, verificaremos que a evolução da


história da saúde do trabalhador é a história da Saúde Pública, tanto no
Brasil quanto no mundo. Do mesmo jeito, sabemos que os trabalhadores,
desde os primórdios, têm sua voz abafada pela dinâmica mercadológica e
“produtivista” em quase todos os setores da economia.

A retirada de poder do trabalhador é nítida quando, no detalhamento de cada


teoria administrativa, fica evidente o foco no controle de produção. De Taylor
e Fayol até os anos 1930 – quando surge a escola das Relações humanas
enquanto crítica às teorias administrativas clássicas – Campos e Campos
(2009) revelam que até as teorias administrativas mais humanistas vieram
para ampliar o leque de ferramentas para o controle dos trabalhadores, isto

77
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

é, investimento no afeto, estímulo econômico e melhoria nas condições de


trabalho para condicioná-las aos objetivos da organização.

Esses mesmos autores, falam que o desenvolvimento de teorias focadas nos


Sistemas, no Desenvolvimento Organizacional e em Qualidade Total (QT)
prometem maior integração do trabalhador ao projeto da empresa, dando
mais autonomia somente àqueles que trabalhem melhor segundo a visão
da direção da empresa. Vem no sentido de aumentar a produtividade e não
no enfrentamento de situações próprias ao trabalhador. Na verdade, esses
métodos novos de QT e outras reengenharias organizacionais visam um
aprimoramento da empresa para competir melhor no mercado, estimulando
a competitividade entre as equipes e pessoas (CAMPOS e CAMPOS, 2009).

Conheça na íntegra o texto original dos autores citados neste capítulo,


estudando a análise e a crítica sobre os modelos de gestão em saúde,
disponível no endereço eletrônico <http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/
dicionario/verbetes/gessau.html>.

Dando continuidade ao objeto deste capítulo, é importante esclarecer que


diante do avanço tecnológico ocorrido nas últimas décadas, as empresas são
cada vez mais demandadas à integração de novos processos e produtos, sem
acarretamento de agravos à saúde ambiental, dos trabalhadores e da população
em geral. Não é apenas uma questão de competitividade, mas de sobrevivência
no mercado. É a sustentabilidade socioambiental transmitida aos consumidores
enquanto valor desta instituição.

Nas décadas de 1980 e 1990, foram desenvolvidos alguns modelos de gestão em


SST, voltados para setores produtivos ou países específicos. No Brasil, pode-
se considerar como marco da gestão em SST a chegada em 1996 do modelo
britânico BS 8800:1996, que ensinava “o que fazer” e não “como fazer”. Este
último conceito foi inserido na OHSAS 18001, que adota a mesma estrutura
da ISO 14001:1996, facilitando-se o entendimento àqueles especialistas já
familiarizados com o sistema integrado de gestão ambiental (MATTOS, 2011).
A partir de então passamos a ter o Sistema de Gestão Integrado (SGI) para os
processos de saúde e segurança do trabalho.

O SGI permite a integração dos processos de qualidade com os de segurança


e saúde, gestão ambiental e responsabilidade social, contemplando também
um conjunto de interesses dos mais diversos stakeholders*: proteção do meio
ambiente, satisfação do cliente, controle do impacto social das organizações e
saúde e segurança das pessoas em seus postos de trabalho. Stakeholders significa

78
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

todas as partes envolvidas em um negócio, que têm interesse nele, podendo ser
desde os acionistas até mesmo os trabalhadores.

Por que é tão necessária a SGI? Justamente pela gradativa complexidade


que as organizações ganharam ao longo do tempo, com processos produtivos
que geram produtos desejáveis (desejo do cliente) e indesejáveis (poluentes,
resíduos, condições inseguras, entre outros), que podem impactar
negativamente no ambiente interno e externo à organização. No esquema
abaixo, o leitor pode perceber o relacionamento do processo produtivo com
o SIG.

Figura 5. Relacionamento do processo produtivo com o SIG.


Insumos Produtos
desejáveis

Fornecedor PROCESSO Cliente

Impactos sobre
Produtos Riscos à saúde
o ambiente e
indesejáveis e segurança
sociedade

Qualidade

Meio Sistema Integrado


SST
ambiente de Gestão

Responsabil
idade

Fonte: Neto et al (apud MATTOS2011).

79
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Quais os benefícios que um SGI pode trazer?

»» Melhoria do desempenho organizacional por estabelecer uma única


estrutura de aperfeiçoamento dos aspectos em azul na figura acima,
ligados aos objetivos da organização.

»» Redução de custos por evitar a repetição de treinamentos, auditorias,


documentos etc.

»» Diminuição dos conflitos entre áreas.

»» Facilidade no estabelecimento de prioridades organizacionais.

»» Redução da duplicidade de orientações e burocracia.

»» Visão geral e abrangente sobre determinada situação, sendo possível


prever todas as consequências de uma ação.

»» Melhoria na comunicação quando se utilizam objetivos e abordagem


alinhados e integrados.

Você já conheceu as normas que foram citadas neste capítulo. Por isso,
pesquise os seguintes modelos de SGI adotados para a gestão de Saúde e
Segurança nas instituições. O primeiro é BS 8800, passando pelo OHSAS.

Gestão, técnicas de identificação e análise de


riscos

A gestão estratégica tem como ponto central a análise dos riscos envolvidos nos
mais variados processos. O foco nesse tipo de gerenciamento é a identificação dos
riscos e o tratamento deles, demandando da organização uma avaliação sistemática e
aprofundada dos riscos inerentes às atividades e inserção do espírito prevencionista
na cultura organizacional.

As diretrizes sobre gerenciamento de risco constam na ISO 31000:2009,


oriunda do referencial da norma AS NZS 4360:2004 utilizada na Austrália
e Nova Zelândia. A ISO tem todo um conjunto de diretrizes para um modelo
de gestão integrada de risco que pode ser usada em quaisquer organizações
(MATTOS, 2011). Na figura abaixo, pode ser observado o processo de
Gerenciamento de Riscos.

80
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

Figura 6. Processo de Gerenciamento de Riscos.

Estabelecimento dos Contextos

Monitoramento e Análise Crítica


Identificação dos riscos

Estimativa dos riscos


Comunicação e consulta

Análise dos riscos

Avaliação dos riscos

Tratamento dos riscos

Fonte: AS/NZS 4360:2004 e ISO 31000:2009 (apud LIMA, 2009).

Segundo Mattos (2011), os elementos principais do processo citado acima são:

a. Comunicação e consulta – aqui a instituição deverá consultar cada


funcionário para extrair elementos essenciais para a identificação
dos riscos e manejo deles.

b. Estabelecimento de contextos – estabelecem-se os critérios de


avaliação e a estrutura da análise, considerando os contextos
internos e externos à organização.

c. Identificação de riscos – identificam-se as características de


ocorrência daquele risco, como “o que-quando-onde-por que” dos
acontecimentos, para minimizar ou eliminar quaisquer riscos.

d. Análise dos riscos – identificação e avaliação dos controles,


estabelecendo-se as consequências e probabilidades de aumento
do risco.

e. Avaliação dos riscos – comparação dos níveis presentes de riscos


frente aos critérios estabelecidos, buscando-se o equilíbrio entre os

81
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

benefícios e os resultados adversos. Essa análise permite que haja


uma melhor tomada de decisão.

f. Tratamento dos riscos – desenvolvimento e implementação de


estratégias específicas de custo-benefício e execução de planos de ação
para aumentar os benefícios em detrimento dos custos.

g. Monitoramento e análise crítica – Os riscos são acompanhados para


assegurar que circunstâncias adversas não alterem as prioridades.

Lembremos que o gerenciamento de riscos pode ser implantado em projetos


de qualquer nível gerencial da empresa, do estratégico ao operacional. Consta
também como melhoria contínua da tomada de decisão principalmente naqueles
processos que envolvem riscos particulares.

Existem técnicas de identificação e análise de riscos: técnica de incidentes


críticos; análise preliminar de riscos (APR); Análise What-If; Matriz de riscos;
Hazop (Hazard and Operability Studies), Análise de Modos de Falhas e
Efeitos (FMEA), análise de árvores falhas (AAF), análise de causa e efeito;
análise de árvore de causas; análise de consequências etc. Portanto, procure
mais a respeito de metodologias administrativas para o gerenciamento de
riscos de projetos. Lembre-se: não confunda os riscos inerentes aos projetos
organizacionais com os fatores de riscos. Ok?

Certificação de sistemas de gestão de SST

A empresa pode decidir implantar um determinado sistema de gestão


para atender ao público, melhorar a qualidade dos seus serviços ou até
mesmo fazê-lo de maneira espontânea. A certificação desse sistema pode
ser acreditada (avaliada) por uma entidade independente, nacional ou
internacional, que avalia o fiel cumprimento das diretrizes do sistema
previamente implantado na instituição.

Atualmente, muitos sistemas de gestão ambiental e de qualidade são


implantados pelas empresas e são aplicáveis ao objeto de atuação da SST.
Assim, a saúde do trabalhador entra como um dos critérios para auditoria ou
requisitos de estrutura e recursos sobre informações dos processos e de SGI.

82
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

Gestão do PCMSO

Após todo o teor de definições administrativas referentes à gestão estratégica


e de saúde, com SGI e análise de riscos agregados a estes conceitos,
temos que discorrer a respeito do PCMSO. Afinal de contas, o PCMSO é
ou não é gerenciável? É parte das ações de saúde de uma empresa ou é o
guarda-chuva de todas elas? Comecemos pela norma!

A NR-7 é um grande orientador de como o PCMSO deve ser implantado e


desenvolvido dentro da empresa. Estabelece que o programa de saúde deve ter
como pano de fundo os aspectos clínico-epidemiológicos da população adscrita
e deve ser continuamente monitorado. Vide nos itens destacados a norma logo
abaixo:

Criada junto com a Portaria 3214 do MT (8/6/1978), sofre modificação por meio
da Portaria n o 24, 29/12/1994, passando a ser intitulada Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional.

Sumário

7.1. Do objeto

7.2. Das diretrizes

7.3. Das responsabilidades

7.4. Do desenvolvimento do PCMSO

7.5. Dos primeiros socorros

7.6. Quadros

Objeto (item 7.1)

»» É obrigatório ao empregador.

»» Objetivo de promover e preservar a saúde do conjunto dos seus


trabalhadores.

Diretrizes (item 7.2)

»» É parte integrante do conjunto mais amplo de iniciativas da empresa


no campo da saúde.

83
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

» » Considerará as questões incidentes sobre o indivíduo e a


coletividade de trabalhadores, privilegiando o instrumental
clínico-epidemiológico.

»» Tem caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos


agravos.

»» Será planejado e implantado com base nos riscos à saúde dos


trabalhadores.

Das responsabilidades (item 7.3)

Compete ao empregador:

a. garantir a elaboração e sua efetiva implementação.

b. custear todos os procedimentos sem ônus ao trabalhador.

c. indicar um coordenador responsável pela execução do PCMSO.

Do desenvolvimento do PCMSO (item 7.4)

O PCMSO deve incluir, entre outros, a realização obrigatória dos exames médicos:

a. admissional.

b. periódico.

O exame médico periódico deve ser feito de acordo com os intervalos mínimos de
tempo abaixo discriminados:

a. para trabalhadores expostos a riscos e portadores de doenças


crônicas, os exames deverão ser repetidos:

›› a.1) a cada ano ou a intervalos menores, a critério do médico


encarregado.

›› a.2) de acordo com a periodicidade especificada no Anexo no 6 da NR


15, para os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas.

b. para os demais trabalhadores:

›› b.1) anual, quando menores de 18 (dezoito) anos e maiores de 45


(quarenta e cinco) anos de idade.

›› b.2) a cada dois anos, para os trabalhadores entre 18 (dezoito) anos e


45 (quarenta e cinco) anos de idade.

84
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

c. de retorno ao trabalho: Deverá ser realizado no 1o dia da volta ao


trabalho de trabalhador ausente por período maior que 30 dias.

d. de mudança de função.

e. demissional.

Será realizado em até 10 (dez) dias contados a partir do término do contrato,


desde que o último exame médico ocupacional tenha sido realizado há mais de:
(Alterado pela Portaria MTB 1.031/2018)

»» 135 (centro e trinta e cinco) dias para as empresas de grau de risco 1 e


2 (Quadro I da NR 4).90 (noventa) dias para as empresas de grau de
risco 3 e 4, (Quadro I da NR 4).

»» A última atualização foi feita pela PORTARIA No 1.031, DE 6 DE


DEZEMBRO DE 2018.

Atestado de Saúde Ocupacional (ASO)

»» Deverá ser emitido em, no mínimo, 2 (duas) vias, uma no local de


trabalho e outra para o trabalhador.

»» Deverá conter:dados do trabalhador, os riscos ocupacionais (se


existentes).

»» procedimentos médicos e os exames complementares com a data.

»» o nome do médico coordenador, quando houver, com respectivo CRM.

»» conclusão: apto ou inapto para a função.

»» nome do médico encarregado do exame e endereço ou forma de contato.

»» data e assinatura do médico examinador (carimbo).

Prontuário

»» Os registros serão mantidos por período de 20 (vinte) anos após o


desligamento do trabalhador.

»» Os arquivos deverão ser transferidos para o sucessor do médico do


trabalho.

85
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Primeiros socorros

»» Todo estabelecimento deverá estar equipado com material necessário


à prestação dos primeiros socorros.

»» Manter esse material guardado em local adequado e aos cuidados de


pessoa treinada para esse fim.

Planejamento (grifo nosso)

»» Deverá ter um planejamento prevendo-se as ações de saúde a serem


executadas durante o ano.

»» Emissão de Relatório Final com as ações previstas inicialmente.

»» O relatório anual deverá discriminar a quantidade e o tipo de exames


(+complementares).

»» O relatório deve conter estatísticas de resultados considerados anormais


e o planejamento para o próximo ano (Quadro III).

»» Será apresentado e discutido na CIPA.

»» Poderá ser armazenado na forma de arquivo informatizado, com


possível imediato acesso por parte do agente da inspeção do trabalho.

Ele ainda contempla todo o rol de ações típicas da equipe de saúde, sem
desconsiderar as outras normas que estabelecem parâmetros mínimos
necessários ao acompanhamento dos trabalhadores. Preconiza o planejamento
anual, a execução do programa onde conta com a definição dos tipos de exames,
o que cada um deles representa, o tipo do resultado, a forma e a periodicidade
de realização de exame dos empregados. Além disso, exige que sejam apurados
TODOS os resultados alcançados com essa sistemática, estabelecendo um quadro
resumo mínimo de informações para o próximo ciclo de gestão.

Muitos profissionais de SST não enxergam o PCMSO como um programa


dotado de ações, atividades e tarefas bem definidas que mereçam um olhar
especial de gestão: tratam o programa como formalidade a ser cumprida
mediante as exigências legais e, documental físico para a apresentação à
fiscalização trabalhista. Ok, tudo bem que também é isso, mas não é apenas
isso!

86
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

Observando que parte das empresas não tinham essa preocupação para com seu
corpo de funcionários que os órgãos responsáveis pela proteção ao trabalhador
decidiram criar um sistema de monitoramento eletrônico chamado e-Social.

O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias


e Trabalhistas (eSocial) foi instituído pelo Decreto n o 8373/2014 e é através
desse Sistema que os empregadores comunicarão ao Governo, de forma
unificada, informações referentes aos trabalhadores, como folha de pagamento,
contribuições previdenciárias, aviso prévio, comunicações de acidente de
trabalho, escriturações fiscais e recolhimento de FGTS.

A ideia central desse Sistema é simplificar o envio de informações referentes


às obrigações legais (trabalhistas, previdenciárias, fiscais) e reduzir a
burocracia para as empresas, substituindo a entrega de formulários e
declarações separados a cada ente governamental.

O projeto é uma ação conjunta de órgãos e entidades do governo federal como


a Secretaria de Trabalho e Emprego e da Receita Federal do Brasil, Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS) e está vigorando no país desde 1 o de janeiro
de 2018, para empregadores e contribuintes com faturamento superior a R$
78 milhões, apurados no ano de 2016. Já a partir de 1 o de julho de 2018, a
obrigatoriedade será estendida aos demais empregadores e contribuintes,
independentemente do valor de faturamento anual, conforme preconiza a
Resolução do Comitê Diretivo do eSocial n o 02/2016. Lembremos que as
informações repassadas incluem dados do PCMSO, como os exames médicos
ocupacionais realizados e resultados de exames.

Portanto, diante da magnitude que o programa ganhou pela exigência do e-Social,


ainda restam dúvidas sobre a importância do seu correto manejo na empresa?

Para conhecer a respeito do e-Social e os dados exigidos pela plataforma,


acesse a página <http://portal.esocial.gov.br/institucional/>.

Segundo TEIXEIRA (2016), o planejamento ótimo do PCMSO deve permitir


a gestão adequada dos exames médicos ocupacionais e complementares que
servem de parâmetro para o controle biológico da exposição aos agentes
causadores de doenças no trabalho. Agrega-se aqui também o gerenciamento
de ações de promoção e preservação da saúde do conjunto de trabalhadores,
priorizando a ferramenta privilegiando o instrumental clínico-epidemiológico
na abordagem da relação entre sua saúde e o trabalho.
87
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Todo o planejamento deve ser realizado pela equipe de saúde, encabeçada


pelo médico coordenador do PCMSO, onde deverão considerar a organização
e alocação de recursos, fixar objetivos e metas, conhecer os problemas e a
adoção de medidas corretivas imediatas e ainda a forma de avaliação contínua
e final do ciclo de planejamento. Diante dessa magnitude de ações envolvidas
no PCMSO, muitas empresas lançam mão dos SGI, incluindo a gestão da
saúde ocupacional, ambiental, de higiene e segurança do trabalho com todo o
emaranhado de setores organizacionais.

É crucial a noção e aplicação do PDCA para a gestão do PCMSO, principalmente


nas empresas com algum tipo de SGI em SST. O PDCA é Plan, Do, Check and
Act, isto é, planejar, fazer, checar e agir.

Plan = fase do planejamento

Para a fase inicial, necessita-se de um diagnóstico das condições atuais da


empresa, demandando, muitas vezes, a necessidade de um inquérito preliminar
de Segurança e Saúde no trabalho. Para as empresas mais estruturadas e com
histórico, o médico e sua equipe precisarão conhecer as ações em andamento.
Aqui deve-se ter a definição dos problemas em saúde, a definição dos objetivos
e a escolha dos métodos a serem utilizados para a próxima fase.

Do = operar, fazer, executar

Aqui, uma vez já definida a estrutura disponível e o escopo geral dos problemas,
é chegado o momento de executar. Cabe o treinamento do método escolhido, a
execução, realização dos devidos ajustes da fase inicial de execução e medição e
registro dos resultados. O médico coordenador treinará o médico encarregado
pelos exames (examinador) para a realização da anamneses clínico ocupacionais
e exame físico, por exemplo.

Check = Checar, controlar, monitorar

É simples e complexo: acompanhar criticamente cada etapa de execução do


plano inicial. Verificar se o padrão (qualidade) está sendo cumprido, observando
o funcionamento e seus possíveis erros. Neste momento é fundamental saber
o “porquê” dos erros constatados para fazer os ajustes na etapa seguinte. A
utilização de indicadores é o parâmetro para conhecer o andamento do trabalho.

Act = Agir, (re)avaliar

88
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE III

A reflexão nessa etapa consiste em observar os erros e ser assertivo na


correção deles, com foco na melhoria contínua do processo. Pode ser
considerada uma autoauditoria, que ocorre com bastante frequência
ao longo do ciclo e no final dele, quando o relatório anual do PCMSO é
finalizado. Os resultados alcançados são avaliados do ponto de vista de
gestão estratégica, tática e operacional.

Importa que saibam que o PDCA é uma ferramenta simples de ser aplicada
à gestão do PCMSO, mas que exige empenho da equipe, respeitando-se cada
etapa, sem atropelos. E quais são os erros mais comuns na sua aplicação? Falta
de embasamento para responder aos porquês, análise incompleta do cenário,
treinamento ineficiente, dados e registros incompletos, medições imprecisas
e padronização (qualidade) pouco detalhada (TEIXEIRA, 2016). Para melhor
visualizar o ciclo, vide a Figura 7.

Obviamente que outras ferramentas administrativas de gestão podem ser


aplicadas à execução do PCMSO, ficando a critério da equipe a escolha do método
mais adequado para o gerenciamento da saúde de sua empresa.

Figura 7. Ciclo PDCA sugerido para a gestão em saúde do trabalhador.

❖ Observar se o padrão ❖ Autoauditoria contínua


(qualidade) está sendo atendido. Ciclo PDCA ❖ Relatório anual do PCMSO

• Ação corretiva no • Identificar problemas


insucesso • Estabelecer planos de
• Padronizar e treinar no ação
sucesso
• Reavaliação do ciclo

Act Plan
Agir Planejar

Check Do
Checar Fazer
• Verificar alcance de • Execução do plano
metas • Colocar plano em
• Acompanhar prática
indicadores

❖ Principal elemento é treinar as ❖ Norteado pela visita preliminar


pessoas envolvidas no processo. e inquérito preliminar de SST.

Fonte: Adaptado de Teixeira (2016).

89
UNIDADE III │ DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Você percebeu que discutimos aqui métodos de gerenciamento e


alguns tipos de sistemas de gestão integrada. Vale a pena buscar mais
referências na área da Administração para conhecer outras metodologias
e ferramentas amplamente empregadas na gestão empresarial, por
exemplo a matriz SWOT, CANVAS, 5w2H etc. Quanto aos sistemas citados,
sugerimos que observe, além dos sistemas padronizados de qualidade,
investigando também sistemas eletrônicos de gerenciamento de dados
de Saúde e Segurança no trabalho, como Benner, SOC, TOTVS, entre
outros.

Veja a AULA 13 - PCMSO

90
SOBRE ALGUNS
AGRAVOS UNIDADE IV
RELACIONADOS
AO TRABALHO

CAPÍTULO 1
Doenças do trabalho causadas
por fatores de risco físico, químico
e biológico, psicoergonômico e
mecânico – acidentes

O diagnóstico das doenças relacionadas ao trabalho é também influenciado


pelo conhecimento e pelo grau de consciência do profissional a respeito da
relação entre o agente (fator de risco) e ocorrência da doença, por outros
diversos fatores que interferem na relação médico-paciente, pela disposição
do paciente em buscar tratamento médico e reconhecimento da doença
provocada pelo trabalho (LUCCA, 2012).

Para a NR-9, os riscos ambientais resumem-se a agentes físicos, químicos e


biológicos presentes nos ambientes de trabalho que são capazes de causar danos
à saúde do trabalhador em função de sua natureza, concentração ou intensidade
e tempo de exposição,. Entretanto, a visão reducionista dos riscos ambientais a
três grupos perdeu força quando a NR 17 estabeleceu que a análise do ambiente
de trabalho deve levar em consideração as características psicofisiológicas do
trabalhador, por meio de uma análise ergonômica do trabalho.

Essas condições de trabalho incluem aspectos relacionados aos equipamentos e


às condições ambientais do posto de trabalho, ao mobiliário, ao levantamento,
transporte e descarga de materiais e à própria organização do trabalho. Os
fatores de risco, presentes ou não nos ambientes de trabalho, são classificados
quanto a sua natureza, em cinco grupos:

91
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Quadro 6. Resumo dos agentes ambientais causadores de agravos à saúde.

Tipo de risco Descrição


1. Físicos Ruídos; vibrações; radiação (não) ionizante; temperaturas extremas (frio e calor); e pressões anormais (hiperbarismo).
Agentes e substâncias químicas na forma líquida, gasosa (gases e vapores), partículas e névoas, poeiras minerais e
2. Químicos
vegetais (aerodispersoides).
3. Biológicos Vírus, bactérias, fungos e parasitas.
Decorrem da organização e gestão do trabalho, da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliários inadequados,
impondo posturas e posições incorretas; más condições de iluminação nos postos de trabalho; podem desencadear
4. Ergonômicos e fadiga visual no trabalho e acidentes; ventilação e desconforto interferem na produtividade dos trabalhadores;
psicossociais trabalhos em turnos noturnos; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo; exigências cognitivas acentuadas e/ou de
produtividade; falhas no treinamento e supervisão autoritária, entre outros. Aqui é importante salientar o processo e o
ritmo de trabalho enquanto risco ergonômico.
Ligados ao funcionamento das máquinas e equipamentos; arranjo físico; ordem e limpeza do ambiente de trabalho; ou
5. Mecânicos
falta de sinalização, que pode levar a acidentes de trabalho.
Fonte: Próprio autor.

Veja a AULA 6 – Relação entre doença e trabalho

Você se lembra da classificação das doenças por Schilling? Resgate esse


conhecimento e verifique o anexo desta apostila, no qual consta a lista de
doenças e CIDs relacionados a determinadas atividades econômicas.

Alguns autores atribuem os riscos relacionados à organização do trabalho ao que


chamaríamos de “Riscos Sociais”. Eles são oriundos de comportamentos sociais
incompatíveis com a preservação da saúde e seriam o pano de fundo de doenças
mentais (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Lucca (2012, p. 204) já os atribui aos riscos
ergonômicos e psicossociais, a saber:

Os aspectos relacionados à organização do trabalho podem estar


relacionados à doença sob investigação e devem incluir a duração
da jornada, realização de horas extras, duração de pausas,
folgas e gozo regular de férias. A duração da jornada constitui
um poderoso indicador não apenas do tempo de exposição aos
demais riscos presentes no ambiente de trabalho e a possibilidade
de fadiga, mas do impacto que o trabalho tem sob as demais
dimensões da vida, como participação em atividades familiares
e comunitárias, atividades de lazer, realização de atividade física
regular, estudo etc. O grau de monotonia, autonomia, isolamento,
ritmo de trabalho, sobrecarga cognitiva, sobrecarga afetiva, grau
de responsabilidade e suporte social, impostos pela organização
do trabalho, exercem efeitos distintos sobre as formas de uso
do corpo, a sobrecarga de determinados segmentos e grupos
musculares, a satisfação com o trabalho e o sentimento de
gratificação pessoal no trabalho.

92
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

A NR 9 elenca uma série de medidas essenciais para a eliminação, a minimização


ou o controle dos riscos ambientais, pela identificação antecipada do risco
potencial à saúde; constatação de risco evidente à saúde, quando os resultados
das avaliações quantitativas da exposição dos trabalhadores ultrapassam os
valores dos limites estabelecidos na NR 15 ou, na ausência desses, os valores
limites de exposição ocupacional adotados pela ACGIH (American Conference of
Governmental Industrial Hygienists), ou aqueles que venham a ser estabelecidos
em negociação coletiva de trabalho e quando, por meio do acompanhamento
médico da saúde, ficar caracterizado o nexo causal entre danos constatados na
saúde dos trabalhadores e as condições de trabalho a que eles ficam expostos.

Diferenças entre doenças profissionais e doenças do trabalho. A primeira


é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar
a determinada atividade ou profissão e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e o da Previdência Social.
A segunda, a doença do trabalho, é adquirida ou desencadeada em função
de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona
diretamente (também constante da relação supracitada) como, por exemplo,
saturnismo (intoxicação provocada pelo chumbo) e silicose (intoxicação
provocada pela sílica). Ou surdez por trabalho realizado em local ruidoso.

Em seguida, verificaremos os principais grupos de agravos em ST, vinculando-os


aos protocolos de atendimento em saúde estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

O estudo desta unidade estará sempre vinculado ao protocolo em questão


e ao Manual de Doenças do Trabalho do Ministério (2001), disponíveis em
nossa biblioteca virtual.

Veja a aula 7 – Agravos relacionados ao trabalho parte I e II

93
CAPÍTULO 2
Acidente com exposição a material
biológico relacionado ao trabalho

Os acidentes com material biológico, como sangue ou outros fluidos orgânicos


potencialmente contaminados, correspondem às exposições mais comumente
relatadas entre todos os profissionais e trabalhadores que atuam, direta ou
indiretamente, na assistência à saúde, assistência domiciliar e atendimento pré-
hospitalar. Podemos considerar como grupo de risco as manicures e pedicures
dos salões de beleza.

Os ferimentos com material perfurocortante são potencialmente capazes de


transmitir mais de 50 tipos de patógenos diferentes. É importante conhecer
os procedimentos quando da exposição a material biológico com risco de
soroconversão (HIV, hepatite B e C), preconizando a conduta de atendimento
inicial, orientação e monitoramento dos trabalhadores acidentados, uso de
quimioprofilaxia e notificação de casos (BRASIL, 2006b).

Em termos percentuais, o risco de infecção por HIV pós-exposição ocupacional


percutânea com sangue contaminado é de aproximadamente 0,3%. Já para
a Hepatite B (HBV), é de 6% a 30%, podendo chegar até a 60%, e de cerca
1,8% para o vírus da hepatite C (HCV). Destaca-se que a chance de adquirir
infecção pós-exposição ocupacional depende de muitos fatores como tamanho
e gravidade da lesão, presença e volume de sangue envolvido, tipo de acidente,
condições clínicas do paciente-fonte e seguimento adequado pós-exposição.

Condutas após o acidente


a. Cuidados com a região ou área exposta:

› Lavagem com água e sabão o local exposto nos casos de exposição


percutânea ou cutânea.

› Lavagem exaustiva com água ou solução salina fisiológica nas exposições


de mucosas.

› O uso de antisséptico não é contraindicado mesmo que haja evidências


de que o uso de antissépticos ou a expressão do local da lesão possam
reduzir o risco de transmissão;Evitar a realização de procedimentos

94
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

que possam aumentar a área exposta, como injeções e cortes locais. O


uso de soluções irritantes (éter, glutaraldeído, hipoclorito de sódio) é
contraindicado.

b. Avaliação do acidente:

› Identificar o tipo do material biológico envolvido no acidente: sangue,


fluidos orgânicos potencialmente infectantes (sêmen, secreção vaginal,
liquor, líquido sinovial, líquido pleural, peritoneal, pericárdico e
amniótico), fluidos orgânicos potencialmente não infectantes (suor,
lágrima, fezes, urina e saliva), exceto se contaminado com sangue.

› Tipo de acidente: perfurocortante, contato com pele com solução de


continuidade, contato com mucosa.

› Conhecimento da fonte: fonte comprovadamente infectada ou exposta


a situação de risco ou fonte com origem fora do ambiente de trabalho.

› Fonte desconhecida.

Quadro 7. Situações de maior inoculação viral.

Maior inoculação viral


Paciente-fonte com HIV/aids em estágio avançado.
Infecção aguda pelo HIV.
Situações com viremia elevada.
Ainda com a carga viral baixa e pequeno volume de sangue, há a possibilidade de transmissão.
Fonte: Adaptada de Brasil (2006b).

c. Orientações e aconselhamento ao acidentado com relação ao risco do


acidente.

›› Possibilidade uso de quimioprofilaxia.

›› Recolher o consentimento para realização de exames sorológicos.

›› Conscientizar o acidentado com seu acompanhamento durante seis


meses.

›› Prevenir a transmissão secundária.

›› Dar suporte emocional por causa do estresse pós-acidente.

›› Orientar o acidentado a relatar de imediato os seguintes sintomas:


linfoadenopatia, rash, dor de garganta, sintomas de gripe (sugestivos
de soroconversão aguda).

›› Reforçar a prática contínua de biossegurança em serviço.

95
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

d. Notificação do acidente

›› Registrar o acidente em CAT;

›› Preencher a ficha de notificação do Sinan.

e. Manejo frente ao acidente com material biológico.

Condutas frente ao acidente com exposição ao HIV

Quadro 8. Resumo sobre a conduta pós-acidente versus situação do paciente-fonte.

Paciente-fonte Descrição Conduta Tratamento


Indicação de profilaxia pós-exposição (PPE)
quando indicada. A PPE deverá ser iniciada o mais
rápido possível, idealmente, nas primeiras duas
Um paciente-fonte é considerado Análise do acidente e indicação horas após o acidente.
infectado pelo HIV quando há de quimioprofilaxia antirretroviral Recomenda-se que o prazo máximo, para início
Paciente-fonte HIV
documentos de exames anti-HIV (ARV)/profilaxia pós-exposição de PPE, seja de até 72 horas após o acidente.
positivo
positivos ou o diagnóstico clínico (PPE), conforme o fluxograma do A duração da quimioprofilaxia é de 28 dias.
de AIDS. Manual do MS. Atualmente, existem diferentes medicamentos
antirretrovirais potencialmente úteis, embora nem
todos indicados para PPE, com atuações em
diferentes fases do ciclo de replicação viral do HIV.
Envolve a existência de
documentação laboratorial
Paciente-fonte HIV disponível e recente (até 60 dias Não está indicada a
negativo para o HIV) ou no momento quimioprofilaxia antirretroviral.
do acidente, por meio do teste
convencional ou do teste rápido.
Um paciente-fonte com situação
Paciente-fonte com sorológica desconhecida deve,
Deve-se colher também
situação sorológica sempre que possível, ser testado
sorologias para HBV e HCV.
desconhecida para o vírus HIV, depois de obtido
o seu consentimento.
Na impossibilidade de se colher Recomenda-se a avaliação
as sorologias do paciente-fonte do risco de infecção pelo HIV,
Paciente-fonte
ou de não se conhecê-lo (p. ex., levando-se em conta o tipo
desconhecido
acidente com agulha encontrada de exposição, dados clínicos e
no lixo). epidemiológicos.
Fonte: Adaptada de Brasil (2006b).

Na escolha do esquema profilático em exposições envolvendo pacientes-fonte


infectados pelo HIV/Aids, deve-se avaliar a história prévia e atual de uso dos
antirretrovirais e os parâmetros que possam sugerir a presença de vírus resistentes,
como o tratamento antirretroviral prolongado e a ocorrência de progressão clínica,
queda dos níveis de linfócitos CD4+, aumento de RNA viral e falta de resposta na
troca do esquema medicamentoso durante o tratamento.

Na prevenção secundária, trata-se de o profissional acidentado (exposto ao


HIV) realizar atividade sexual com proteção pelo período de monitoramento,

96
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

especialmente, nas primeiras 6 a 12 semanas pós-exposição. Deve também evitar


gravidez, doação de sangue, plasma, órgãos, tecidos e sêmen. O aleitamento
materno deve ser interrompido.

Condutas frente ao acidente com exposição ao


HBV

Aqui a conduta varia segundo os parâmetros sorológicos do paciente-fonte e do


acidentado (níveis de anti-HBs), resumidos no quadro a seguir.

Quadro 9. Condutas segundo paciente-fonte e acidentado.

Situação vacinal Paciente-fonte: Paciente-fonte: Paciente-fonte:


sorológica do trabalhador
acidentado HBsAg reagente HBsAg não reagente BHsAg desconhecido
Não vacinado IGHAHB + completar vacinação. Iniciar vacinação. Iniciar vacinação.
IGHAHB + iniciar nova
Com vacinação incompleta Completar vacinação. Completar vacinação.
vacinação.
Com resposta vacinal conhecida e
Nenhuma medida específica. Nenhuma medida específica. Nenhuma medida específica.
adequada (>10UI/ml)
Sem resposta vacinal após a 1ª IGHAHB + iniciar nova Iniciar nova série de vacinação Iniciar nova série de vacinação (3
série de vacina vacinação. (3 doses). doses).
Sem resposta vacinal após a 2ª IGHAHB (2 doses) com intervalo
Nenhuma medida específica.
série de vacina de 30 dias.
Testar o profissional de saúde: Testar o profissional de saúde: Testar o profissional de saúde: Se
Se anti-HBs >10 – Nenhuma Se anti-HBs >10 – Nenhuma anti-HBs >10 – Nenhuma
Resposta vacinal desconhecida
Se Anti-HBs <10 – Fazer Se Anti-HBs <10 – Fazer Se Anti-HBs <10 – Fazer série de
segunda série de vacinação. segunda série de vacinação. vacinação.
Fonte: Adaptado de Brasil (2006b).

Condutas frente ao acidente com exposição ao


HCV

A incubação do HCV é de 2 a 24 semanas (em média seis a sete semanas). Pode


ocorrer alteração na TGP em torno de 15 dias, e a positividade do RNA-HCV (PCR –
reação em cadeia da polimerase) aparece entre 8 e 21 dias. O Anti-HCV (3ª geração)
já pode ser detectado cerca de seis semanas após a exposição.

A positivação do Anti-HCV pode ser tardia, e grande parte dos profissionais


acidentados terá a eliminação espontânea do vírus até 70 dias após a exposição.
Por isso, é recomendada a realização do RNA-VHC qualitativo (que já se
apresenta detectável dias após a contaminação), no prazo de 90 dias após a
data do acidente. Em caso de resultado positivo, o profissional acidentado será
orientado a realizar o tratamento.

97
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Assim, o monitoramento preestabelecido para trabalhadores, que se


acidentaram com fonte HCV positiva ou desconhecida, consiste na realização
dos seguintes exames (em locais que disponham de laboratórios de Biologia
Molecular):

Quadro 10. Tipo de exame e periodicidade de acompanhamento.

EXAME/TEMPO Momento zero 90 dias 180 dias


ALT(TGP) Realizar. Realizar. Realizar.
Anti-HCV Realizar - Realizar

PCR(RNA-HCV) Realizar *.
Nota: *Em caso de positivo, encaminhar para tratamento da hepatite C aguda em centro de referência. Se negativo, um
novo Anti-HCV deverá ser feito em 180 dias.
Fonte: Adaptada de Brasil (2006b).

Nas situações de soroconversão, realiza-se teste confirmatório por PCR.


Quando se identifica precocemente a infecção pelo HCV, o acidentado deve
ser informado sobre a possibilidade de tratamento e encaminhado para
um serviço de referência. Concomitantemente, realiza-se a prevenção da
transmissão secundária.

Sempre é importante focar na prevenção e solicitar do profissional de saúde


a carteira de vacinação atualizada em que conste a dose da vacina contra a
hepatite B, além das exigidas pela NR 32 e a adoção de condutas mais seguras
em seu ambiente de trabalho, sem negligenciar o fato de que o paciente pode
ser portador de uma patologia ainda desconhecida pela equipe de saúde. Assim,
ao longo da vida do profissional de saúde, o monitoramento, desde a admissão,
e os cuidados durante os procedimentos são de extrema importância para a
manutenção de sua saúde. É o cuidado com o cuidador.

Recomendamos a leitura da NR 32 para a complementação das precauções


adotadas pelos profissionais de saúde, ainda que tenhamos um breve
resumo logo a seguir.

Medidas de precaução individuais

»» Adotar precauções padrão: sempre utilizar luvas, óculos, máscara e


avental quando manipular sangue e secreções (independentemente do
diagnóstico do paciente).

98
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

»» Lavar as mãos antes e após qualquer procedimento, ainda que tenha


utilizado EPI.

»» Manter atenção durante a realização dos procedimentos.

»» Manipular com cuidado as agulhas e instrumentos cortantes.

»» Não utilizar os dedos como anteparo durante a realização de


procedimentos que utilizem materiais perfurocortantes.

»» Não reencapar as agulhas e não as entortar, quebrá-las ou retirá-las das


seringas com as mãos.

»» Desprezar conjunto seringa/agulha sem desmontá-lo;

» » Seguir as recomendações do fabricante para montagem e


preenchimento das caixas de perfurocortantes.

»» Desprezar todo material perfurocortante em recipientes adequados,


mesmo que estéril.

»» Manter atualizada a carteira de vacinação e os exames médicos


periódicos.

99
CAPÍTULO 3
Câncer relacionado ao trabalho
(decorrente da exposição ao benzeno)

O câncer ocupacional é decorrente da exposição a riscos ambientais capazes


de causar tal enfermidade, alguns descritos nas Normas Regulamentadoras 7
e 15: benzeno, 4-aminodifenil, benzidina, beta-naftilamina e 4-nitrodifenil.
Adota-se no país a concepção de “níveis de tolerância” para a exposição
ocupacional para a maior parte dos cancerígenos, conflitando com o atual
conhecimento científico sobre carcinogênese, em que não há o reconhecimento
de limites seguros para a exposição do trabalhador aos agentes cancerígenos,
tais como a radiação ionizante, amianto e a sílica, que estão entre as que
possuem exposições toleradas (BRASIL, 2006c).

O benzeno caracteriza-se como um hidrocarboneto aromático que se apresenta


sob a forma líquida e incolor, diante das condições normais da temperatura do
ambiente e da pressão atmosférica, e sua fonte principal de exposição dá-se no
ambiente ocupacional.

A preocupação em torno do benzeno está na variedade de processos produtivos


cujo composto é matéria-prima ou solvente: de um lado, representando um
grupo maior, aparecem as atividades que utilizam e produzem o benzeno e suas
misturas com menos de 1% de concentração por volume, tais como postos de
gasolina, indústrias de produção e uso de cola, solventes, tintas, indústria de
borracha, indústria gráfica, entre outras e; de outro, as indústrias com mais
de 1% de volume por concentração nas indústrias siderúrgicas, químicas,
petroquímicas e de petróleo (BRASIL, 2006c).

A presença do benzeno se manifesta, principalmente, na atmosfera, devido ao


seu alto poder de volatilização, fazendo como sua principal via de absorção
no organismo humano a respiratória, podendo ocorrer também a penetração
por via cutânea. Além de causar intoxicação aguda e crônica, o quadro clínico
de toxicidade pode se caracterizar pelo comprometimento da medula óssea e,
consequentemente, de diversas alterações hematológicas: esses malefícios têm
sido usados como fundamentação para a construção da regulamentação do uso
deste composto pois os órgãos hematopoiéticos como a medula óssea são muito
sensíveis aos efeitos do benzeno (BRASIL, 2006c).

100
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Segundo o Ministério da Saúde (2006c), os sinais e sintomas de intoxicação por


benzeno são:

astenia, mialgia, sonolência, tontura e infecções repetidas. Os


dados hematológicos mais relevantes são neutropenia, leucopenia,
eosinofilia, linfocitopenia, monocitopenia, macrocitose, pontilhado
basófilo, pseudo Pelger e plaquetopenia. O diagnóstico é obtido
através de histórico clínico ocupacional, além de sinais e sintomas
característicos do quadro de “benzenismo (BRASIL, 2006c, p.10).

Segundo Militão et al. (2000 apud FERREIRA et al., 2015), os principais efeitos
nocivos provocados são a mielotoxicidade, a imunotoxicidade e a carcinogênese.

a. Efeito mielotóxico – oriundo de três diferentes manifestações do


benzeno condizentes:

›› à depressão das células progenitoras primitivas e indiferenciadas.

›› ao dano ao tecido da medula óssea.

›› À formação clonal de células primitivas afetadas em decorrência de


lesões cromossômicas.

b. Efeito imunotóxico – está vinculado aos efeitos produzidos na medula


óssea, que provocam interferências na imunidade humoral e celular
do organismo.

c. Efeito carcinogênico – a capacidade de gerar câncer vem do fato de


provocar danos cromossômicos e à medula óssea.

Diagnóstico das alterações hematológicas

Suspeita diagnóstica:

»» Documentação do nexo causal (risco ocupacional) – anamnese


ocupacional.

»» Hemograma completo com plaquetometria e contagem de reticulócitos.

»» Hematoscopia.

101
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Confirmação diagnóstica:

»» Mielograma e citoquímica incluindo a coloração para o ferro.

»» Biópsia de medula óssea.

»» Citometria de fluxo do material medular nos casos suspeitos de


leucemia aguda.

»» Citogenética do material obtido por meio do mielograma.

Complicação da exposição ao benzeno

Segundo o Ministério da Saúde (2006c), as complicações mais graves são a


leucemia mieloide aguda ou síndrome mielodisplásica. A leucemia mieloide
aguda (LMA) é caracterizada pela presença de células imaturas (blastos) na
medula óssea e/ou sangue periférico, em percentual maior ou igual a 20% em
relação às células nucleadas, mostrando diferenciação mieloide comprovada
(citoquímica e/ou imunofenotipagem), geralmente expressa num contexto de
citopenia(s) periférica(s), de início rápido.

Já a síndrome mielodisplásica é caracterizada pela

presença de hematopoiese ineficaz, geralmente expressa por


citopenia(s) periférica(s) em uma medula hipercelular, às vezes
hipocelular, com a existência de anormalidades de diferenciação
celular, em pelo menos uma das três linhagens hematopoiéticas
mieloides e cuja propensão para evolução em leucemia mieloide
aguda varia conforme os subtipos encontrados (BRASIL, 2006c,
p. 17).

Vigilância e notificação

O trabalhador exposto a benzeno que apresenta quadro clínico compatível


com leucemia mieloide aguda ou síndrome mielodisplásica deverá ser
encaminhado a um serviço de referência em oncologia. Nessa área, os médicos
deverão estar capacitados para adotar os seguintes procedimentos:

a. Completa e minuciosa anamnese clínica e ocupacional.

b. Reavaliação dos exames hematopatológicos e, quando for o caso,


solicitação que um patologista faça a revisão da lâmina.

102
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

c. Consultar os sistemas de vigilância e informação para observar se o


trabalhador tem cadastro de exposição a agentes mielotóxicos.

Monitoramento e prevenção no ambiente de


trabalho
Segundo a NR 7, os parâmetros mínimos de acompanhamento da exposição
ao benzeno se dão por meio do hemograma completo e contagem de plaquetas
na admissão do trabalhador e a cada semestre. Quanto ao monitoramento das
condições de trabalho, as empresas que utilizam benzeno em suas atividades
deverão elaborar o Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao
Benzeno (PPEOB), contemplando mais aspectos que aqueles descritos para o
PPRA da NR 9:

»» Caracterização das instalações contendo benzeno ou misturas que


o contenham em concentração maior do que 1% (um por cento) em
volume.

»» Avaliação das concentrações de benzeno para verificação da exposição


ocupacional e vigilância do ambiente de trabalho segundo a Instrução
Normativa (IN) no 1.

»» Ações de vigilância à saúde dos trabalhadores próprios e de terceiros,


segundo a IN no 2.

»» Detalhamento do fiel cumprimento de acordos coletivos e das


determinações da Portaria referentes ao benzeno; procedimentos para
o arquivamento dos resultados de avaliações ambientais previstas na
IN no 1 por 40 (quarenta) anos.

»» Adequação da proteção respiratória ao disposto na IN no 1, de 11 de


abril de 1994;

»» Estabelecimento de procedimentos operacionais de manutenção,


atividades de apoio e medidas de organização do trabalho importantes
para a prevenção da exposição ocupacional ao benzeno.

»» Descrição dos procedimentos de manutenção de caráter emergencial,


rotineiros e preditivos, objetivando reduzir possíveis vazamentos ou
emissões fugitivas.

»» Identificação e levantamento de todas as situações em que ocorreram


concentrações elevadas de benzeno, com dados quantitativos e

103
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

qualitativos que contribuam para a avaliação ocupacional dos


trabalhadores.

»» Procedimentos para proteção individual e coletiva dos trabalhadores,


do risco de exposição ao benzeno nas situações críticas, verificadas
no item anterior, por intermédio de medidas como: treinamento
específico, ventilação apropriada, sinalização apropriada, isolamento
de área, organização do trabalho, proteção respiratória adequada e
proteção para evitar contato com a pele; descrição dos procedimentos
usuais nas operações de drenagem, lavagem, purga de equipamentos,
operação manual de válvulas, transferências, limpezas, controle
de vazamentos, partidas e paradas de unidades que requeiram
procedimentos rigorosos de controle de emanação de vapores e
prevenção de contato direto do trabalhador com o benzeno.

»» Estabelecimento de procedimentos e recursos primordiais para o


controle da situação emergencial até o retorno à normalidade.

»» Cronograma detalhado das mudanças que deverão ser efetuadas


na empresa para prevenir a exposição ocupacional ao benzeno e a
adequação ao Valor de Referência Tecnológico.

»» Estabelecimento de exigências contratuais relativas à adequação das


atividades de empresas contratadas à observância do programa de
contratante.

»» Procedimentos específicos de proteção para o trabalho do menor de


18 (dezoito) anos, mulheres grávidas ou em período de amamentação.

Nos últimos anos, os órgãos governamentais mapearam mais de 900


agentes com alto potencial para causar câncer relacionado ao trabalho.
O benzeno é apenas uma dessas substâncias cancerígenas. Agrotóxicos,
radiação, poeiras orgânicas, solventes, metais pesados, produtos
petroquímicos, radiação, entre outros, se evitados, podem reduzir em até
37% os casos de cânceres ocupacionais no Brasil. Essa relação de produtos
cancerígenos bem como de medidas preventivas para os 18 tipos de
cânceres ocupacionais elencados pelo Ministério da Saúde, constam
no Atlas do câncer relacionado ao trabalho no Brasil, 2018. Veja no site
<http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/44869-atlas-traz-
acoes-de-prevencao-que-podem-reduzir-morte-por-cancer-ligado-ao-
trabalho>.

104
CAPÍTULO 4
Dermatoses ocupacionais

As dermatoses são compreendidas por alterações da pele, mucosas e anexos,


direta ou indiretamente causadas, e mantidas ou agravadas pelo trabalho. Podem
estar vinculadas às substâncias químicas, o que ocorre em 80% dos casos, ou a
agentes biológicos ou físicos, e ocasionam quadros do tipo irritativo (a maioria)
ou do tipo sensibilizante. Dentre os principais agentes químicos causadores de
dermatoses estão cimento, borracha, plástico, solventes orgânicos, graxas e óleo
de corte, resinas, níquel, cosméticos, madeira, cromo e outros.

Segundo o Ministério da Saúde (2001), as dermatoses ocupacionais são as


alterações da pele, mucosas e anexos mantidas pelo trabalho e determinadas
pela interação de dois grupos de fatores:

»» Causas indiretas, como sexo, idade, etnia, doenças concomitantes


e antecedentes mórbidos e fatores ambientais, como o clima
(temperatura, umidade), hábitos e facilidades de higiene.

»» Causas diretas constituídas pelos agentes físicos, químicos, biológicos


ou mecânicos presentes no ambiente de trabalho que produzem ou
agravam uma dermatose preexistente. Estão incluídos nesse grupo
insetos e animais peçonhentos (ALI, 2009).

Em média, cerca de 80% das dermatoses ocupacionais são provocadas


por agentes químicos, substâncias orgânicas e inorgânicas, irritantes e
sensibilizantes. A maioria é de tipo irritativo e um menor número é de tipo
sensibilizante.

Dentre as dermatoses ocupacionais mais frequentes estão as dermatites de


contato. As dermatites alérgicas de contato e as dermatites de contato por
irritantes juntas representam algo em torno de 90% dos casos das dermatoses
ocupacionais. Apesar de, na maioria dos casos, não provocarem quadros
considerados graves, são, com frequência, responsáveis por desconforto,
ferimentos, prurido, traumas, alterações estéticas e funcionais que refletem
negativamente na vida social e no trabalho.

105
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Quadro 11. Alterações na pele e anexos por causas ocupacionais.

Estrutura Função Alterações cutâneas


Descamação, fissuras, descoloração, absorção
Camada córnea Barreira para agentes biológicos, físicos e químicos.
percutânea.
Epiderme: camada espinhosa e Dermatite de contato, queimadura, infecções, câncer
Síntese da camada córnea.
basal cutâneo.
Absorção de radiação UV, regeneração tecidual;
Melanócitos Hiper-/Hipopigmentação, vitiligo, melanoma.
absorção da luz solar.
Células de Langerhans Imunorregulação. Dermatite alérgica de contato, micose fungoide.
Células sensoriais e de Merkel Percepção tátil. Neuropatias tóxicas.
Vasos e mastócitos Nutrição e termorregulação. Choque térmico, urticária, eritema, dedos brancos.
Traumas, infecções, granuloma, escara, elastose,
Tecido conjuntivo Proteção, reparo tecidual.
escleroderma.
Glândulas sudoríparas, écrinas Termorregulação. Miliária cristalina e rubra.
Glândulas sebáceas Síntese lipídica, formação do manto lipídico, pH cutâneo. Erupções acneiformes, cloracne, furúnculos.
Pelos, osteofolicular Proteção sensorial, estética. Foliculites, alopecia tóxica.
Unhas Função de garra e preensão de pequenos objetos. Distrofias, paroníquia, onicólises.
Fonte: Ali (2009).

Diagnóstico
Para um diagnóstico preciso, é importante observar:

a. Anamnese ocupacional (história de exposição ocupacional, melhora


com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho);

b. Exame físico.

c. Diagnóstico diferencial**.

d. Exames de laboratório: histopatologia, testes de contato (teste


epicutâneo* positivo, nos casos de dermatites de contato por
sensibilização).

e. Inspeção do local de trabalho***.

f. Informações fornecidas pelo empregador****.

*Os testes epicutâneos consistem na reexposição, de forma controlada, da


pele do paciente ao contato com substâncias químicas, em concentrações não
irritantes, podendo-se diferenciar a dermatite irritativa de contato (DIC) da
dermatite alérgica de contato (DAC). As substâncias são colocadas de modo
ordenado, identificadas sobre uma fita de micropore e fixadas na pele do dorso
do paciente. Após 48 horas, a fita é retirada e, passados 30 a 60 minutos, é
feita a primeira leitura do resultado. Novas leituras serão de 24 a 48 horas

106
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

após a primeira (BRASIL, 2001). Não se deve coçar, molhar a área do teste, e
devem ser evitados movimentos bruscos (MENDES, 2013).

**Diagnóstico Diferencial – existem algumas dermatites e afecções


dermatológicas que apresentam características comuns àquelas de origem
ocupacional, ou foram agravadas no ambiente de trabalho. Tais dermatites de
contato não ocupacional são: erupções por drogas, disidroses, fotodermatoses,
neurodermatites, escabiose, dermatite atópica, líquen plano, eczema numular,
picadas de insetos e reação a insetos, dermatofitoses e dermatite artefacta
(simulação, ou malingering).

***Inspeção do ambiente de trabalho – aqui os profissionais podem ter de


identificar as condições de trabalho e possíveis agentes potencialmente
irritantes ou alergênicos.

****Informações junto ao empregador – obter as informações necessárias


para se estabelecer nexo entre o agente e a dermatose. Atente-se para o nome
comercial do produto suspeito – ficha técnica; composição química; presença
de substâncias sensibilizantes; presença de substâncias irritantes (ALI, 2009).

Segundo Mendes (2013), em dermatologia ocupacional, as lesões são


frequentes em membros superiores, pescoço, face e pernas, podendo atingir
toda a pele, em alguns casos.

Tratamento

De um modo geral, o tratamento local contempla cuidados higiênicos para


prevenir a infecção secundária. Aliado ao uso tópico de corticoides e/ou
antibióticos, emolientes, hidratantes; e o sistêmico com a prescrição de anti-
histamínicos sistêmicos e, nos casos mais extensos, corticoidoterapia sistêmica
(BRASIL, 2012). Em caso de infecção secundária, usa-se antibiótico tópico, ou
sistêmico, dependendo da extensão das lesões.

O afastamento da exposição é essencial, utilizando-se de critérios para a sua


recomendação, conforme “Tabela 2 – Estadiamento, indicadores e parâmetros
para afastamento do trabalhador de sua função” do protocolo do Ministério da
Saúde (2012).

A exposição de trabalhadores desprotegidos à radiação solar é a maior


causa atual de câncer cutâneo ocupacional, tendo como maior incidência
de tumores cutâneos os indivíduos de pele clara. Outros agentes químicos

107
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

quando em contato habitual com a pele podem igualmente causar


cânceres cutâneos. Dentre os mais importantes, destacamos: creosoto,
piche, arsênico, óleos usados, graxa usada, agentes químicos com
presença de alguns hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e outros.

Prevenção

O conhecimento dos riscos implica esforços que visem sua neutralização e


devem ser avaliados de acordo com a atividade executada, a fim de adequar
as ações de saúde com o nível necessário de prevenção (BRASIL, 2012). Ali
(2009) resume em um fluxograma as ações de prevenção das dermatoses, por
níveis, conforme Quadro 12:

Quadro 12. Resumo das ações de prevenção ao câncer ocupacional.

Conceito de prevenção – avaliar previamente o ambiente de trabalho e propor medidas que evitem danos à
integridade física dos trabalhadores
Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária
Ambiente de trabalho com instalações Detecção precoce de agravos à pele. »» Diagnóstico clínico, exame de laboratório,
adequadas e seguras. testes epicutâneos.
Neutralização/minimização de riscos.
Estrutura sanitária de fácil acesso para boa »» Tratamento: cura, cura com sequelas ou
Inspeção periódica dos locais de trabalho.
higiene pessoal. cronificação.
Exames médicos periódicos.
Refeitório ou restaurante com ambientação »» Reabilitação para a mesma atividade.
adequada. »» Tratamento precoce
»» Reabilitação para outra atividade, em caso
»» Treinamento sobre riscos e a sua prevenção. de alergia severa.
»» Orientação sobre doenças de modo geral.
»» Males sociais, como álcool e outras drogas.
Normas de higiene, imunização, campanhas
etc..
Fonte: Adaptado de Ali (2009).

Veja a aula Aula 9 – Agravos relacionados ao trabalho III

108
CAPÍTULO 5
Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT)

Dados recentes do Anuário Estatístico da Previdência Social (2012) revelam


que, em 2012, ocorreram 385.991 casos de doenças do sistema osteomuscular e
do tecido conjuntivo. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), o aumento dessas doenças está relacionado à revolução tecnológica,
a fatores biomecânicos, psicossociais, bem como ligados à psicodinâmica e
aos fatores organizacionais do trabalho, tais como ritmo elevado de trabalho
com movimentos repetitivos e sem pausa, grande exigência de produção,
inflexibilidade e posto de trabalho desconfortável e ergonomicamente favorável
ao adoecimento (BRASIL, 2001).

A ocorrência de LER/DORT em um número elevado de pessoas, em


atividades consideradas leves em diferentes países, provocou uma mudança
no paradigma de que o trabalho pesado, envolvendo grande esforço físico, é
mais desgastante do que o trabalho leve. No Brasil, segundo dados do boletim
epidemiológico publicado na 4ª Conferência de Saúde do Trabalhador (2014),
em Brasília, as doenças de interesse exclusivo de notificação por estratégia
sentinela contabilizam 8% dos agravos, e as LER/DORT predominam com
74% das notificações no país.

Sinais e sintomas
Segundo o Ministério da Saúde (2001), os sinais e sintomas de LER/DORT são
múltiplos e diversificados, destacando-se:

»» Dor espontânea ou relativa à movimentação passiva, ativa ou


contrarresistência.

» » Alterações sensitivas de formigamento, cansaço, peso, fraqueza,


dormência, sensação de diminuição, perda ou aumento de
sensibilidade, agulhadas, choques.

»» Dificuldades para a utilização dos membros, em especial das mãos, e,


mais raramente, sinais flogísticos e áreas de hipotrofia ou atrofia.

A descrição específica dos sinais e sintomas relacionada a localização, forma da


lesão, momento de início, duração e caracterização da evolução temporal, bem

109
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

como a sua intensidade, são cruciais para o diagnóstico. Além disso, devem ser
especificados os fatores que contribuem para a melhora ou o agravamento do
quadro.

Outros sintomas desse grupo podem ser confirmados por testes específicos, mas
isso nem sempre é um processo direto, porque a ausência de sinais conclusivos
não permite descartar a presença da doença se o paciente continua a queixar-se
de dor intensa. A dor é subjetiva, podendo decorrer de situações de conflito no
trabalho ou um sofrimento maior.

O reconhecimento das doenças específicas no grupo LER/DORT é muito válido


na orientação do plano terapêutico. A demora do reconhecimento de uma
LER/DORT na fase aguda pode favorecer a apresentação de mais de uma
patologia específica na fase crônica. Por exemplo, pacientes com inflamações
teciduais podem apresentar também alterações sensitivas originadas de uma
compressão do nervo periférico e uma sobrecarga emocional muito grande no
trabalho e assim sucessivamente. Daí a necessidade de se ter um olhar clínico
para além da sintomatologia do agravo, percebendo as condições ambientais de
trabalho.

Plano de tratamento

A definição de plano de tratamento para membros superiores depende:

1. Da presença de inflamação e/ou degeneração.

2. De alterações sensitivas e/ou motoras e/ou edema.

3. Desequilíbrios psíquicos gerados em certas situações especiais de


trabalho, na origem do adoecimento e/ou associados à sua evolução
quando, por exemplo, exige afastamento do paciente de sua atividade
laboral.

Assim, deve-se contemplar ainda:

»» Explicação ao paciente de que a dor advém de um longo tempo de


exposição aos fatores de risco no trabalho e que o tratamento também
será longo.

»» Orientação de que a postura nas atividades domésticas e outras deverão


ser corrigidas.

110
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

»» Orientação quanto à postura para dormir.

»» Uso de gelo, ou calor, dependendo do caso, três vezes ao dia durante 20


minutos.

»» Consideração da unidade do membro superior e estabelecimento de


conduta focada nos objetivos de:

›› Aliviar a dor e paresia.

›› Reduzir o edema.

›› Aumentar ou manter a amplitude de movimentos (adm) dos mmss.

›› Aumentar a força muscular dos mmss.

›› Reeducar a função sensorial.

›› Melhorar a resistência à fadiga.

›› Melhorar a função dos mmss.

›› Proteger a funcionalidade articular.

»» Eficácia do uso do anti-inflamatório, junto ou não de relaxante muscular.

»» Necessidade de se introduzir outros medicamentos, como, por exemplo,


antidepressivos tricíclicos em doses baixas.

»» Recursos de eletrotermoterapia, com programação individualizada,


avaliando sempre seus resultados e eficácia.

»» Atividades de relaxamento muscular com massageador elétrico, de


hidromassagem, massagem manual e outras técnicas de terapia corporal.

»» Na presença de edema, massagem retrógrada para reduzi-lo.

»» Exercícios ativo-assistidos, passivos e com resistências.

»» Exercícios isométricos, com movimento de pinça e estímulo tátil com


diferentes texturas.

»» Exercícios de Terapia ocupacional, com o intuito de propiciar a


recuperação da capacidade física para as atividades da vida diária,
paulatinamente.

111
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

»» Em alguns casos, manter a integridade articular e melhorar a função


até mesmo com o uso do splint para reduzir a dor (recomendado por
terapeuta).

»» Avaliação de desequilíbrios psíquicos (pré)existentes, procurando


identificar formas precoces de seu aparecimento.

»» Caso haja mais de um diagnóstico específico, não é aconselhável unir


as terapias, pois uma recomendação fisioterápica para um quadro
clínico específico pode piorar os sintomas de outro.

»» Evolução dos sintomas da patologia específica, pois a maioria das lesões


da coluna cervical inicia-se com dor e, posteriormente, surgem os
sintomas de disfunção neurológica, que podem acentuar os sintomas de
outra patologia.

»» Identificação do estado das estruturas musculoesqueléticas atingidas


para, então, instituir a terapêutica conveniente.

»» Diagnóstico da origem da dor no membro superior e as possíveis


alterações anatômicas e funcionais que incluem testes de força dos
grupos musculares de ambos os membros, sempre comparados com o
lado normal, se houver.

»» Na ótica de avaliar o membro superior enquanto parte do corpo, os


testes irritativos que reproduzem sinais e sintomas, estalos e sensação
de instabilidade podem contribuir para a avaliação dos efeitos da
exposição aos fatores de risco de LER/DORT sobre as diferentes
estruturas do membro superior.

Os procedimentos cirúrgicos não têm se mostrado úteis nos casos de


LER/DORT. Frequentemente, os pacientes com história relativamente longa,
submetidos a procedimentos cirúrgicos, evoluem para dor crônica de difícil
controle (BRASIL, 2012).

Há uma extensa relação de CIDs enquadrados como LER/DORT na Lista


de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde (1999) e a
conduta terapêutica específica para cada agravo no Manual de Doenças
Relacionadas ao Trabalho (2001). Seguem a seguir as descrições de
algumas delas.

112
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Quadro 13. LER/DORTS mais comuns.

Algumas LER/DORT
A tenossinovite é uma inflamação provocada por algum problema mecânico, que em suma é decorrente do atrito entre os tendões e os ossos,
lesando a bainha que fica entre essas estruturas. Isso acaba gerando sintomas inflamatórios. Este quadro pode ocasionar ainda a compressão
dos nervos periféricos localizados na região do punho. Temos como exemplo a tenossinovite estenosante (“dedo em gatilho”) quando um
espessamento nos tendões flexores superficiais dos dedos o leva a ficar encarcerado em flexão.
A síndrome de impacto exemplifica a evolução de LER/DORT: é consequência de uma disfunção do manguito rotatório (ombro) por atrofia ou
por lesão degenerativa dos tendões dos músculos – muito solicitados nas tarefas que o trabalhador desempenhava – que o compõem, devido
a gestos e movimentos estereotipados e certas exigências do posto de trabalho. A dor denominada síndrome do impacto é resultante de uma
alteração mecânica, ou seja, o aumento do atrito na região subacromial quando o braço é elevado.
Epicondilite lateral “cotovelo de tenista” decorre do envolvimento da origem dos tendões extensores do carpo; já a epicondilite medial denominada
“cotovelo de golfista” tem sua origem nos tendões flexores do carpo. Em geral, são desencadeadas por movimentos repetitivos de punho e dedos,
com flexão brusca ou frequente, esforço estático e preensão prolongada de objetos, por exemplo, preensão de chaves de fenda, condução de
veículos cujos volantes exigem esforço e transporte de cargas pesadas.
Fonte: Próprio autor.

Notificação

No Protocolo de atendimento à LER-DORT, recentemente lançado, tem-se duas


situações que prescindem de notificação em um momento inicial, não descartando
a possibilidade de uma futura notificação, caso seja confirmado o diagnóstico:

1. Ainda que o ramo de atividade não seja de conhecido risco para tal
agravo, com quadro clínico sugestivo e anamnese pouco elucidativa
dos riscos para LER e ocupação, deve-se encaminhar o paciente para
tratamento clínico e acompanhamento.

2. Quando sem quadro característico e/ou com a permanência de


dúvidas, deve-se encaminhar para avaliação clínica especializada
(reumatologista, neurologista, ortopedista) e/ou exames
complementares (radiografia, ultrassonografia, ressonância
magnética).

Veja a Aula 8 - Agravos relacionados ao trabalho II

113
CAPÍTULO 6
Perda Auditiva Induzida Por Ruído (PAIR)
relacionada ao trabalho

Segundo Mendes (2013), o sistema auditivo pode ser atingido de diversas formas
na atividade laboral por meio da exposição a ruído intenso, produtos químicos
e outros, podendo sofrer até traumas acústicos. Entre esses agentes, o ruído
aparece como o maior causador de perda auditiva, expondo maior número de
trabalhadores. Este agravo é conhecido como PAIR. A Perda Auditiva Induzida
Pelo Ruído (PAIR) consiste na diminuição gradual da acuidade auditiva,
decorrente da exposição continuada a níveis elevados de ruído no ambiente
de trabalho. Ela é neurossensorial, irreversível e passível de não progressão
uma vez cessada a exposição ao ruído. A NR 7 estabelece que, inicialmente, o
acometimento dos limiares auditivos acontece em uma ou mais frequências da
faixa de 3.000 a 6.000 Hz e, nas mais altas e mais baixas, poderão levar mais
tempo para que esses limiares sejam afetados.

“O trauma acústico é a perda súbita da acuidade auditiva, ocasionada


por uma única exposição a pressão sonora intensa, como as explosões
e detonações por exemplo, ou devido a trauma físico direto do ouvido,
crânio ou coluna cervical” (BRASIL, 2001).

Diagnóstico
Para o diagnóstico, existem uma série de procedimentos que envolvem a anamnese
clínica e ocupacional com exame físico, a avaliação fonoaudiológica e, caso
necessário, testes complementares – todos esses exames são fundamentais para
o diagnótico de PAIR ocupacional (BRASIL, 2001). Distinguem-se em estágios de
evolução clínica os seguintes:

Quadro 14. Estágios de evolução da PAIR ocupacional.


Estágios de evolução clínica
1o Estágio: compreende as primeiras 2 ou 3 semanas de início da exposição. O trabalhador pode referir tinidos (acufeno) em finais de jornada,
sensação de plenitude auricular, cefaleia e tontura. A audiometria pós-exposição ao ruído pode mostrar aumento de limiares auditivos em frequências
agudas, reversíveis após afastamento da exposição.
2o Estágio: caracteriza-se por ser completamente assintomática, exceto por eventuais tinidos. Pode durar de meses a anos e a audiometria pode
mostrar perda de 30 a 40 dB (NA) na frequência de 4 KHz, atingindo às vezes as frequências de 3 e 6 KHz.
3o Estágio: o trabalhador refere certa dificuldade para ouvir o som de campainhas de residências e/ou telefones e o tique-taque de relógios,
necessidade de aumentar o volume da TV e rádio, dificuldade para compreender alguns sons de consoantes principalmente em ambientes com
ruídos de fundo (inclusive de baixa intensidade) - pode inclusive pedir às pessoas que repitam o que foi falado. O déficit audiométrico nas frequências
atingidas na fase 2 aumenta de intensidade, podendo atingir de 45 a 60 dB (NA).
4o Estágio: coincide com a surdez pelo ruído. O trabalhador tem dificuldade para ouvir a voz de familiares e colegas de trabalho, pede para que
falem mais alto. Os sons são ouvidos de maneira distorcida, por causa do recrutamento, assim descrita como “se fosse um rádio mal sintonizado”. A
audiometria mostra comprometimento também das frequências de 2, 3 e 8 KHz.
Fonte: Brasil (2001).

114
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

De modo resumido, os sinais e sintomas da PAIR são:

a. Auditivos: perda auditiva, zumbidos, dificuldades no entendimento


de fala, outros sintomas menos frequentes, como algiacusia (sensação
de audição “abafada”) e dificuldade na localização da fonte sonora.

b. Não auditivos: alterações do sono e vigília; transtornos da


comunicação, transtornos neurológicos, vestibulares, digestivos e
comportamentais.

c. Outros efeitos do ruído: transtornos cardiovasculares e hormonais.

Avaliação audiológica

Para a confirmação da existência de alterações auditivas, é fundamental a


realização da avaliação audiológica. Ela requer equipamento calibrado, cabine
audiométrica e repouso acústico de, no mínimo, 14 horas e é formada por uma
bateria de exames, tais como:

»» Audiometria tonal por via aérea.

»» Audiometria tonal por via óssea.

»» Logoaudiometria.

»» Imitanciometria.

Situação A: quando o diagnóstico for feito a partir de apenas uma avaliação


audiológica, deve-se considerar, principalmente que:

»» A perda auditiva é sempre neurossensorial e, geralmente, nas duas


orelhas, com padrões similares, podendo, em alguns casos, haver
diferenças entre os graus de perda bilateral.

»» Geralmente, não produz perda maior que 40 dB (NA) nas frequências


baixas e 75 dB (NA) nas altas.

»» O trabalhador pode desenvolver intolerância a sons intensos, queixar-


se de zumbido e diminuição de inteligibilidade da fala, com prejuízo
da comunicação oral.

Situação B: quando houver avaliações audiológicas anteriores, elas devem


ser comparadas, observando se há ou não a progressão da perda auditiva,

115
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

que na PAIR tem seu início e predomínio nas frequências de 3, 4 ou 6kHz,


progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz. Em condições
estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6kHz geralmente atingirão um
nível máximo, em cerca de 10 a 15 anos.

Avaliação dos efeitos não auditivos

Essa avaliação visa à verificação do impacto que a perda auditiva está gerando
na vida do trabalhador, possibilitando o real dimensionamento do problema,
assim como direcionando possíveis ações de reabilitação (BRASIL, 2006e). Pode
ser feita utilizando-se a própria anamnese ocupacional para caracterização dos
sintomas não auditivos da PAIR assim como outros instrumentos padronizados
específicos para o levantamento de dificuldades de vida diária (principalmente
comunicação), como questionários de autoavaliação e/ou a CIF.

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde,


publicada em 2003, pela OMS/OPAS, fornece uma descrição de situações
relacionadas ao funcionamento humano e suas restrições, envolvendo
funções e estruturas corporais, atividades e participação relacionados às
ações tanto individuais quanto coletivas (BRASIL, 2006e).

Tratamento

Não existe, até o momento, tratamento para PAIR. Além da notificação do


agravo quando ele existir, faz-se necessário o monitoramento das condições
do ambiente de trabalho e da saúde dos trabalhadores, por meio de avaliações
periódicas de saúde que incluam avaliações audiológicas, caso haja exposição a
ruído. A reabilitação pode ser feita por meio de ações terapêuticas individuais e
em grupo, a partir da análise cuidadosa da avaliação audiológica do trabalhador.

Medidas de prevenção

As medidas de prevenção estão previstas principalmente nas NR 7, quanto


ao acompanhamento de saúde, e na NR 9, em relação ao monitoramento
dos níveis de pressão sonora no ambiente de trabalho, utilizando-se como
parâmetro as referências constantes da NR 15.

De modo geral, as ações de monitoramento do ruído focam a redução da fonte


geradora em níveis menores a 85dB (o nível de ação de 80dB, Portaria n o 25 MTB,

116
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

1994), considerando-se a carga horária de 8 horas por dia. Caso essa medida
não possa ser tomada, a recomendação de uso de EPIs se faz obrigatória, com o
acompanhamento da sua utilização, guarda e higiene pelo empregador, além do
comprometimento dos trabalhadores na prevenção da perda auditiva.

Mendes (2013) resume em seu tratado de patologias do trabalho alguns tópicos


obrigatórios para o sucesso do Programa de Conservação Auditiva, onde quer
que ele seja implantado. Confira o Quadro 15.

Quadro 15. Programa de prevenção de PAIR ocupacional.

Programa Preventivo
Exames audiométricos.
Afastamento do risco..
Com o trabalhador
Instrução e treinamento
Participação ativa e comprometimento com o uso do EPI.
Identificação das causas.
Avaliação ambiental.
Com o ambiente Controle do risco.
Novos projetos (previsão de regras de Engenharia).
Vigilância ambiental.
Checklist.
Avaliação do Programa Resultados.
Acompanhamento permanente.
Fonte: Adaptado de Ali (2009).

117
CAPÍTULO 7
Pneumoconioses relacionadas ao
trabalho

As pneumoconioses

são genericamente designadas pneumopatias relacionadas


etiologicamente à inalação de poeiras em ambientes de trabalho. São
excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações
de vias aéreas, como asma e a bronquite, e o enfisema. Apesar de
esse conceito englobar a maior parte das alterações pulmonares
envolvendo o parênquima, alguns autores apontam para o fato
de que o termo pneumoconiose pode não ser adequado quando
aplicado a determinadas pneumopatias mediadas por processos
de hipersensibilidade, atingindo o parênquima pulmonar, como
as alveolites alérgicas por exposição a poeiras orgânicas e outros
agentes, a doença pulmonar pelo berílio ou a pneumopatia pelo
cobalto, por exemplo (BRASIL, 2006f, p.12,).

Um dos maiores causadores de pneumoconioses, o cimento, tem a sua produção


em diversos ramos de atividades econômicas – mineração e transformação
de minerais em geral – nos quais há exposição dos trabalhadores ao risco de
inalação de poeiras causadoras de pneumoconioses (BRASIL, 2006f). Dados de
1999 a 2000, no Brasil, apontaram que cerca 1.815.953 trabalhadores vinculados
a empregos formais estavam expostos à sílica por mais de 30% de sua jornada de
trabalho (BRASIL, 2006f).

De acordo com Ribeiro et al. (2008), sobre a saúde do trabalhador nas fábricas
de cimento, pouco se conhece sobre a realidade das indústrias brasileiras,
pois é pequeno o número de estudos disponível na literatura, mas há uma
alta correlação entre o nível de exposição ao material particulado e doenças
respiratórias dos trabalhadores em alguns estudos internacionais. Trabalhar
com material sólido, em que a possibilidade de geração de poeiras é elevada,
expõe o trabalhador a riscos, sem contar que a exposição de trabalhadores a
material particulado na indústria de produção de cimento é potencialmente
uma das mais preocupantes.

Observe a divisão desses riscos no Quadro 16.

118
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Quadro 16. Tipos de pneumoconioses.

Tipo Descrição
Ausência de fibrose, não se excluindo a presença desta. Na dependência do conhecimento
do tipo de poeira inalada, a pneumoconiose leva denominação específica como siderose
(Fe), baritose (Ba), estanose (Sn) etc. Usualmente, aparecem após exposições ocupacionais
de longa duração. Em geral, os sintomas respiratórios são escassos, sendo a dispneia aos
1 Pneumoconioses não fibrogênicas
esforços o principal deles. A disfunção respiratória é quase ausente e a evolução clínica
é considerada benigna quando comparada à evolução possível das pneumoconioses
fibrogênicas. O padrão de alteração radiológica é bem parecido à silicose, ainda que a fibrose
esteja ausente nos exames.
Reações pulmonares à inalação de material particulado que leva à fibrose intersticial do
2 Pneumoconioses fibrogênicas
parênquima pulmonar.
Os processos de evolução patológica da silicose e da asbestose são semelhantes, ainda
que a primeira dê origem a uma fibrose intersticial focal, que se inicia com a formação
de granulomas de deposição concêntrica de colágeno. Já a segunda tem a proliferação
a. Silicose e asbestose de colágeno no interstício, sem a presença importante de células inflamatórias de defesa,
diferença não bem compreendida até o momento. Se a exposição (inalação) tiver sido grande
ou por longo período, o processo inflamatório com dano celular persiste instalando-se a
fibrose difusa e progressiva do parênquima pulmonar.
Ocorre a passagem de partículas para o pulmão e tem início a formação de acúmulos de
carvão e de células de defesa macrófagos ao redor dos bronquíolos respiratórios, com
presença de fibras de reticulina e deposição de pequena quantidade de colágeno (máculas
de carvão). Essas lesões são intralobulares, pouco ou nada visíveis à radiografia e usualmente
acompanhadas de enfisema focal adjacente às áreas das máculas. Com a progressão da
doença, decorrente da constante inalação ou mesmo após o afastamento da exposição, pode
b. Pneumoconiose dos trabalhadores
ocorrer a formação de nódulos maiores. A exposição crônica pode dar origem à forma de
de carvão fibrose maciça progressiva (FMP), que costuma ser bilateral e predomina nos lobos superiores,
lobo médio e segmentos superiores dos lobos inferiores do pulmão. Geralmente são
assimétricas, apresentando às vezes características de lesão maligna, podendo cavitar, com o
paciente expectorando material enegrecido, conhecido como melanoptise. Nesse estágio, o
trabalhador pode cursar mais com dispneia (dificuldade em respirar), distúrbio ventilatório misto
(oscilações no ritmo da respiração), hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
Poeiras mistas são aerossóis minerais com baixo conteúdo de sílica, como a exemplo da mica,
c. Pneumoconiose por poeira mista sericita, caulim e outros. Podem produzir quadros de fibrose nodular, diferentes da silicose
clássica. Ocasionalmente, essas pneumoconioses cursam com FMP (ver item b).
d. Doenças relacionadas ao asbesto Ver item a.
É causada pela exposição inalatória a poeiras de abrasivos: alumina ou corindo (Al2O3) e o
carbeto de silício ou carborundum (SiC). Ocupações de risco: trabalhadores em operações
e. Pneumoconiose por abrasivos
de acabamento em fundições, metalúrgicas em geral, na produção de abrasivos, afiação de
ferramentas e moagem de sucatas de rebolos.
Envolve reação inflamatória desencadeada por liga metálica que se manifesta por meio de
mecanismos imunológicos, apresentando quadros subagudos de alveolite ou evoluindo
f. Pneumoconiose por metais duros
insidiosamente para fibrose intersticial, convivendo com as fases de pneumonia intersticial
descamativa e de fibrose crônica.
Apresenta três características importantes: 1) pode ser desencadeada por baixas doses ou
curta exposição (< 1 ano); 2), manifesta-se após longo período de latência (geralmente >
10 anos após início da exposição), mesmo com o indivíduo afastado da exposição há vários
g. Pneumopatia por berílio
anos; e 3) menos de 5% dos indivíduos expostos têm a doença, provavelmente devido a
maior suscetibilidade genética. É indistinguível da sarcoidose e, diferentemente das demais
pneumoconioses, pode ser tratada com uso de corticosteroide.
É caracterizada por episódios agudos de acúmulo de líquidos nos espaços aéreos e no
interstício, poucas horas após o contato com antígeno (alergia). Clinicamente pode se
manifestar com febre, tosse, dispneia, cefaleia, mialgia, sintomas de curta duração (1 a 3
dias) e que se resolvem espontaneamente. A exposição repetida leva a quadros recorrentes
h. Pneumonite por hipersensibilidade
de pneumonia exsudativa, podendo evoluir para a forma crônica da doença com presença
de granuloma não necrotizante, bronquiolite obliterante e fibrose intersticial difusa. Pelos
mecanismos implicados em sua fase de atividade, geralmente responde ao tratamento com
corticosteroides.
Fonte: Brasil (2006f) e Ribeiro et al. (2008).

119
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Diagnóstico
Qual a conduta diagnóstica para as pneumoconioses? - De modo geral, deve
contemplar a história ocupacional de exposição a poeiras, história clínica com
ou sem a presença de sinais e sintomas anteriores às alterações radiológicas,
radiografia simples de tórax interpretada de acordo com os critérios da OIT
(2000). Alguns agravos requerem exames complementares mais específicos,
como a tomografia computadorizada de alta resolução ou lavado brônquio
alveolar.

Tratamento

Existe indicação obrigatória de afastamento da exposição para todos e


quaisquer trabalhadores com pneumoconioses diagnosticadas. A terapêutica
medicamentosa está indicada apenas para as pneumoconioses com patogenia
relacionada à resposta de hipersensibilidade, como a pneumopatia pelo berílio,
pneumopatia pelo cobalto e as pneumonites por hipersensibilidade. Aqui, além
do afastamento obrigatório e definitivo da exposição, indica-se corticoterapia
prolongada.

Existem várias doenças associadas às pneumoconioses – tais como a


tuberculose, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e o câncer de
pulmão – tendo o seu tratamento embasado nos protocolos médicos atuais de
manejo de cada uma dessas doenças de acordo com cada área de especialização
médica.

Prevenção

As medidas de prevenção estão relacionadas à higiene ocupacional, visando


à redução de partículas dispersas no ar, a exemplo da umidificação do
ambiente com lavagem do piso, exaustão local, boa ventilação, utilização
de máscaras faciais apropriadas, entre outras formas de prevenção às
pneumoconioses.

120
CAPÍTULO 8
Transtornos mentais relacionados ao
trabalho

Transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho são:

aqueles resultantes de situações do processo de trabalho, provenientes


de fatores pontuais como exposição à determinados agentes tóxicos,
até a completa articulação de fatores relativos à organização do
trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de
gerenciamento das pessoas, assédio moral no trabalho e a estrutura
hierárquica organizacional (BRASIL, 2001, p. 1).

Segundo Leão e Gomez (2014), a questão da saúde mental dos trabalhadores


é atualmente uma das demandas mais prementes para os serviços de ST. As
características da organização dos trabalhos atuais induzem uma série de
sofrimentos físicos, psíquicos e sociais – as queixas relativas a assédio moral e
violência psicológica, insatisfação, cansaço, mal-estar e sofrimentos constantes
e duráveis são cada vez mais frequentes no meio trabalhista. Também emergem
manifestações mais agudas e graves que levam a depressão, estresse pós-
traumático, neuroses profissionais e até suicídio – dado certos contextos de
concorrência em que estão inseridos, e à tendência a desenvolver e manter
performances de alto nível, elas inibem ou camuflam qualquer manifestação de
sofrimento (LEÃO; GOMEZ, 2014).

Quadro 17. Lista de transtornos mentais relacionados ao trabalho.

LISTA DE TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO


»» Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8).
»» Delirium, não sobreposto à demência, como descrita (F05.0).
»» Transtorno cognitivo leve (F06.7).
»» Transtorno orgânico de personalidade (F07.0).
»» Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.-).
»» Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho) (F10.2).
»» Episódios depressivos (F32.-).
»» Estado de estresse pós-traumático (F43.1).
»» Neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0).
»» Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional) (F48.8).
»» Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos (F51.2).
»» Sensação de estar acabado (síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional) (Z73.0).
Fonte: Brasil (2001).

121
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Trataremos de três patologias aqui: alcoolismo e outras drogas; transtornos


depressivos; e síndrome de burnout.

Alcoolismo crônico relacionado ao trabalho


É o modo crônico e continuado de usar bebidas alcoólicas, caracterizado pelo
descontrole periódico da ingestão ou pelo padrão de consumo de álcool com
episódios frequentes de intoxicação e preocupação com o álcool e o seu uso,
a despeito das consequências adversas desse comportamento para a vida e a
saúde do usuário. Existe uma percepção equivocada do controle de ingestão de
álcool, podendo ser contínua ou periódica e por distorções do pensamento, em
especial a negação, ou seja, o bebedor alcoólico não consegue reconhecer que
faz uso abusivo de álcool (BRASIL, 2001). Nessa seara, dentre um dos fatores
psicossociais de risco para o alcoolismo crônico, está o trabalho.

Segundo o Ministério da Saúde (2001), o alcoolismo é mais frequente em


determinadas ocupações, principalmente naquelas com (1) grande exigência
e atividade mental (repartições públicas, estabelecimentos bancários e
comerciais), de trabalho monótono, tedioso, trabalhos em isolamento do
convívio humano e/ou com afastamento prolongado do lar; (2) nas atividades
em que a tensão é elevada e constante, como nas situações de trabalho
perigoso e nas (3) desprestigiadas socialmente como as que têm contato com
cadáveres, lixo ou dejetos em geral, apreensão e sacrifício de cães.

Com evidências epidemiológicas de excesso de prevalência de alcoolismo


crônico em determinados grupos ocupacionais, a ocorrência poderá ser
classificada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação
de Schilling. O trabalho pode ser considerado como fator de risco, no conjunto
de fatores de risco associados à etiologia multicausal do alcoolismo crônico.
Trata-se, portanto, de um nexo epidemiológico, de natureza probabilística,
principalmente quando as informações sobre as condições de trabalho forem
consistentes com as evidências epidemiológicas disponíveis.

Quadro clínico e diagnóstico

Os critérios para o diagnóstico foram adaptados daqueles previstos para a


caracterização de outras síndromes de dependência, segundo os quais três ou
mais manifestações (eventos) devem ter ocorrido, conjuntamente, por pelo
menos um mês, ou por períodos menores que um mês. Elas devem ter ocorrido

122
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

juntas, repetidamente, durante um período de 12 meses, tendo sido explicitada


sua ocorrência em relação à situação de trabalho, como:

»» Forte desejo ou compulsão de ingerir álcool em situações de forte


tensão presente ou gerada pelo trabalho.

»» Comprometimento do controle do comportamento de uso da


substância, evidenciado pelo uso da substância em quantidades
maiores, ou por um período mais longo que o pretendido, ou por um
desejo contínuo ou esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o
seu uso.

»» Crise de Abstinência quando o uso do álcool é diminuído ou


interrompido.

»» Necessidade de quantidades crescentes da substância para obter o


efeito desejado, evidenciando tolerância aos efeitos da substância.

»» Busca persistente e incessante para o uso da substância, evidenciada


pela redução ou perda de importantes prazeres ou interesses
alternativos por causa de seu uso ou até mesmo o gasto de uma grande
quantidade de tempo em atividades necessárias para obter, consumir
ou recuperar-se dos efeitos da ingestão da substância.

»» Uso contínuo da substância, apesar das evidências de suas


consequências nocivas e da consciência do indivíduo a respeito.

Tratamento

O tratamento tem inúmeras estratégias terapêuticas que demandam, muitas


vezes, mudanças do ambiente de trabalho, sendo a abstinência completa de
álcool fundamental para o sucesso do tratamento. A maioria das pessoas com
transtornos relacionados ao álcool busca tratamento pressionada por alguém
da família (a esposa, geralmente) ou por um empregador, chefe ou amigo.
Os pacientes que são persuadidos ou encorajados ao tratamento por pessoas
significativas do seu ciclo social têm maiores chances de ter um prognóstico
melhor. Já para Mendes (2013), o sucesso do tratamento depende do estágio da
doença em que ele se inicia, além do diagnóstico precoce.

As estratégias de tratamento do alcoolismo crônico incluem:

1. Psicoterapia.

2. Tratamento farmacológico com ansiolíticos e ou antidepressivos.

123
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

3. Grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos (AA) ou Grupos


Anônimos de Familiares de Alcoólicos (Al-Anon).

4. Acompanhamento de CAPSad, com a reinserção do trabalhador à


sociedade e ao trabalho, com medidas de suporte emocional, orientação
e reabilitação psicossocial (BRASIL, 2001).

Além disso, as recaídas fazem parte da evolução prognóstica e devem ser entendidas
como oportunidades de melhoria (MENDES, 2013).

Prevenção

Em suma, cursos e palestras que têm a finalidade limitada de transmitir


conhecimentos científicos e aconselhamento sobre as ações prejudiciais do
álcool no organismo são geralmente inócuas. Transformações em aspectos
organizacionais do trabalho para combater o risco de alcoolismo:

»» Valorização do trabalhador e tratamento digno pela chefia nas situações


de trabalho socialmente desprestigiadas.

»» Disponibilidade de chuveiros e material para a higiene pessoal e


fornecimento de equipamentos adequados.

» » Desenvolvimento de estratégias de redução das situações de


exposição às ameaças, como agressão armada e ira popular, com
a participação dos próprios trabalhadores no desenvolvimento de
tais estratégias.

»» Alívio de tensão em pausas no trabalho em ambientes agradáveis.

»» Nas situações de trabalho em isolamento, oferecer meios de


comunicação e de interação com outras pessoas durante a jornada de
trabalho.

»» Redução e monitoramento dos níveis de vibração e ruído no trabalho


- esses fatores de risco induzem o trabalhador a ingerir álcool para
suportar a exposição por meio do efeito hipnótico do álcool.

Episódios depressivos

Episódios depressivos, nas variedades leve, moderada ou grave sem sintomas


psicóticos, caracterizam-se por humor deprimido, perda do interesse e
prazer, fadiga aumentada e atividade diminuída, ansiedade, sensação de

124
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

cansaço acentuado após esforços leves. Há, ainda, queixas de dificuldade


de concentração, baixa autoestima e autoconfiança, desesperança, ideias de
culpa e inutilidade, visões desoladas e pessimistas do futuro, ideias ou atos
suicidas, problemas de sono, diminuição do apetite, acompanhado de perda
de peso. A angústia tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã. As
alterações da psicomotricidade podem variar da lentificação (do pensamento
também) a agitação.

Episódios depressivos também estão associados à exposição ocupacional às


seguintes substâncias químicas tóxicas:

»» Brometo de metila.

»» Chumbo e seus compostos tóxicos.

»» Manganês e seus compostos tóxicos.

»» Mercúrio e seus compostos tóxicos.

»» Sulfeto de carbono.

»» Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos.

»» Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes


orgânicos halogenados neurotóxicos.

»» Outros solventes orgânicos neurotóxicos.

Naquelas situações em que os trabalhadores estão expostos a essas


substâncias químicas neurotóxicas, além de outras, excluídas outras
causas não ocupacionais, o diagnóstico de episódios depressivos pode
ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, onde o trabalho
desempenha papel de causa necessária para o surgimento da patologia.

Os transtornos mentais orgânicos induzidos por essas substâncias têm


como quadro primário o delirium, a demência, o transtorno cognitivo
leve, o transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado,
o transtorno orgânico de personalidade, conforme descritos nos itens
específicos. Os episódios depressivos não constam como quadro primário
da doença e sempre que ficar caracterizada uma síndrome depressiva e
houver história ocupacional de exposição a substâncias tóxicas, deve-
se investigar a coexistência de um transtorno mental orgânico, ou seja,
indicativo de disfunção ou lesão cerebral (BRASIL, 2001).

125
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Quadro clínico e diagnóstico

A caracterização da síndrome dos episódios depressivos requer a presença de pelo


menos cinco dos sintomas abaixo:

»» Evidente perda de interesse ou prazer em atividades naturalmente


agradáveis.

»» Ausência de reações emocionais a eventos ou atividades que


normalmente produzem uma resposta emocional.

»» Levantar pela manhã 2 horas a mais ou a menos do horário usual.

»» Depressão pior pela manhã.

»» Evidência objetiva de retardo ou agitação psicomotora marcante


(observado ou relatado por outras pessoas).

»» Perda de apetite.

»» Perda de peso (5% ou mais do peso corporal, no último mês).

»» Marcante perda da libido.

Em episódios depressivos graves, a síndrome somática pode estar ausente.

Tratamento

A prescrição dos recursos terapêuticos disponíveis depende da gravidade e


da especificidade de cada caso, entretanto, é consenso em psiquiatria que o
tratamento de episódios depressivos envolva:

1. Psicoterapia.

2. Tratamento farmacológico com antidepressivos – frequentemente estão


indicados os benzodiazepínicos para controle de sintomas ansiosos
e da insônia no início do tratamento, pois o efeito terapêutico dos
antidepressivos tem início, em média, após duas semanas de uso.

3. Apoio social (BRASIL, 2001).

Segundo o Ministério da Saúde (2001), é muito importante que a equipe


multiprofissional esteja capacitada a:

126
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

»» Avaliar cuidadosamente a indicação de afastamento do trabalho por


meio de licença para tratamento.

»» Justificar cada uma de suas recomendações perante a organização em


que o paciente trabalha, o seguro social e o sistema de saúde, buscando
garantir o respeito à situação clínica do trabalhador.

»» Auxiliar o trabalhador a lidar com as dificuldades envolvidas em um


processo de retorno ao trabalho, após afastamento, como a ameaça de
demissão após a volta ao trabalho, por exemplo. Além de outras medidas.

Prevenção

Os episódios depressivos relacionados ao trabalho podem ser prevenidos,


basicamente, pela vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos
ou danos à saúde.

Quanto aos agentes químicos causadores de depressão, as medidas de controle


ambiental visam à eliminação ou à redução da exposição por meio de:

»» Isolamento de processos e setores de trabalho utilizando sistemas


hermeticamente fechados, se possível.

»» Cumprimento das normas de segurança e higiene rigorosamente,


incluindo sistemas de ventilação exaustora adequados e eficientes.

»» Controle sistemático das concentrações no ar ambiente.

»» Adoção de formas adequadas de organização do trabalho que permitam


diminuir o número de trabalhadores expostos, bem como o tempo de
exposição.

»» Adoção de medidas de limpeza dos ambientes de trabalho, de higiene


pessoal, recursos para banhos, lavagem das mãos, braços, rosto e troca
de vestuário.

»» Fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção


individual adequados, de modo a complementar as medidas de
proteção coletiva.

»» Análise ergonômica do trabalho, buscando conhecer entre outros


fatores, conteúdo das tarefas, processo e posto de trabalho, ritmo e
intensidade do trabalho; fatores mecânicos e condições físicas dos

127
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

postos de trabalho e das normas de produção, sistemas de turnos,


sistemas de premiação e incentivos, fatores psicossociais e individuais,
relações de trabalho entre colegas e chefias, medidas de proteção
coletiva e individual implementadas pelas empresas e estratégias
individuais e coletivas adotadas pelos trabalhadores.

Vide a Aula 10 – Agravos relacionados ao trabalho IV

Síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento


profissional

A síndrome do esgotamento profissional (burnout) é um tipo de resposta


prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho.
Mendes (2015, p. 45) expõe que pessoas com perfil dinâmico e propensas a
assumir papel de liderança ou idealistas são mais suscetíveis a ela. É aquele
“alguém que vive uma fadiga ou frustração crônica, causada por uma devoção a
uma causa a um modo de vida que não produziu o resultado esperado”. Todos
os fatores de insegurança social e econômica aumentam o risco (incidência) de
esgotamento profissional em todos os grupos etários.

A síndrome de burnout traz prejuízos práticos emocionais para o trabalhador e


a organização, envolvendo atitudes e comportamentos negativos com relação aos
usuários, aos clientes, à organização e ao trabalho. Pode estar associada a uma
suscetibilidade aumentada para doenças físicas, uso de álcool ou outras drogas
(para obtenção de alívio) e para o suicídio (BRASIL, 2001). Profissões afetas ao
cuidado e ao ensino (profissionais de saúde e professores, por exemplo) têm grande
suscetibilidade ao esgotamento máximo.

Quadro clínico e diagnóstico

No quadro clínico podem ser identificados:

»» Perda de autocontrole emocional.

»» Aumento de irritação, manifestação de agressividade.

»» Perturbações do sono.

»» Manifestações depressivas marcadas pela decepção e perda de interesse


no trabalho e consequente diminuição do desempenho.

128
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Tratamento e outras condutas

O tratamento envolve psicoterapia, tratamento farmacológico e intervenções


psicossociais, em especial o apoio social. Entretanto, a intensidade da prescrição
de cada um dos recursos terapêuticos depende da gravidade e da especificidade de
cada caso.

Prevenção

A prevenção demanda estabelecimento de restrições à exploração do


desempenho individual, diminuição da competitividade no ambiente
organizacional, diminuição da intensidade de trabalho, busca de metas
coletivas que incluam o bem-estar de cada um e, de modo geral, mudanças na
cultura da organização do trabalho.

Hoje existem serviços especializados na linha de cuidado relacionado


ao trabalho e saúde mental que atendem os seguintes ramos: clínicas do
trabalho; enfoques de estresse, assédios e violências psicológicas; linhagens
da psicopatologia do trabalho e da psiquiatria, incluindo a vertente do
desgaste mental; psicossociologia e análises institucionais; e abordagens
organizacionais e da subjetividade (LEÃO; GOMEZ, 2014).

No Brasil, durante a primeira década do século XXI, 33% da população


economicamente ativa sofreu alguma forma de assédio e, em 2010, os transtornos
mentais e do comportamento foram o terceiro maior motivo de afastamento
por incapacidade (auxílio doença). Essa situação traz o desafio urgente de
inserir as questões de saúde mental no escopo das ações de Vigilância à Saúde
do Trabalhador (Visat) (LEÃO; GOMEZ, 2014). Portanto, há necessidade de
se ampliar o âmbito das intervenções, com a incorporação de estratégias de
identificação e atuação sobre o sofrimento originado nos processos de trabalho,
principalmente por haver ainda dificuldade em distinguir o transtorno mental
relacionado com o trabalho com aquele advindo de outras causas.

129
CAPÍTULO 9
Trabalho infantil

As atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com


ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por
crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos,
ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos,
independentemente da sua condição ocupacional são considerados
trabalho infantil (BRASIL, 2004 p.10).

Dados publicados pela OIT (2013) indicam que 168 milhões de crianças em todo
o mundo são trabalhadoras, número que representa cerca de 11% da totalidade
da população infantil. No Brasil, das crianças que trabalham, cerca de 36,5%
estão em granjas, sítios e fazendas, e 24,5% em lojas e fábricas. No Nordeste,
46,5% aparecem trabalhando em fazendas e sítios (ZEVALLOS, 2013).

Geralmente, jovens e crianças são diariamente inseridos no mundo do trabalho em


condições precárias, percebendo baixos salários e com um grande risco para o seu
desenvolvimento psicomotor. A inserção desse público no trabalho deve-se a duas
questões centrais: a pobreza e o caráter “educativo e disciplinar” do trabalho.

Em relação à pobreza, dela resulta a necessidade de complementar a renda


familiar e, dada a importância do trabalho em nossas sociedades, é costumeiro
ser atribuído a ele poderes de cura, salvação, formação ao indivíduo enquanto
ser social, com certa dificuldade em observar seus efeitos negativos no
desenvolvimento e na saúde (LIMA, 2002).

Segundo o Ministério da Saúde (2005), muitos são os prejuízos à saúde dessa


população que, além de estar exposta aos riscos do ambiente de trabalho insalubre,
tem a redução do tempo disponível para ser criança. Isso implica impactos no
lazer, na vida em família, educação e de estabelecer relações de convivência
com seus pares e outras pessoas da comunidade. São crianças forçadas a serem
adultas, pelo compromisso e responsabilidade assumidos.

Elas possuem como características o retardo no desenvolvimento de peso e


estatura, desnutrição proteico-calórica, fadiga precoce, maior ocorrência de
doenças infecciosas (gastrointestinais e respiratórias) e parasitárias. Esses
prejuízos são agravados pelas condições de trabalho, que levam à formação
de adultos com menor capacidade de trabalho e aumentam o contingente de
trabalhadores incapazes parcial ou totalmente para o trabalho (LIMA, 2002).

130
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) prevê, em seu artigo no 67,

que ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar


de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade
governamental ou não governamental, é vedado o trabalho perigoso,
insalubre ou penoso, e o realizado em locais prejudiciais à sua
formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social.

A Convenção n o 182 da OIT, que trata das Piores Formas de Trabalho Infantil,
ratificada pelo Brasil, preconiza como ação prioritária absoluta a eliminação
imediata dos trabalhos que prejudicam a saúde, a segurança e a moral da criança.
Essas legislações foram norteadoras para o Plano Nacional de Erradicação do
Trabalho Infantil em nosso país, estabelecido entre vários órgãos do Governo.

A Área Técnica de Saúde do Trabalhador (Cosat), do Ministério da Saúde, elaborou


uma Política Nacional de Saúde para a Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção
do Trabalhador Adolescente, tendo como desdobramento a elegibilidade de
crianças e adolescentes acidentadas no trabalho como evento passível de notificação
compulsória (BRASIL, 2005). Nele, os profissionais de saúde poderão verificar o
fluxo de atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco e alguns efeitos
do trabalho no desenvolvimento e crescimento psicomotor com reflexos sociais.

Veja a notícia abaixo, escrita por Hyuri Potter para o jornal eletrônico Carta
Capital, em junho de 2018:

Lugar de criança é na escola. Infelizmente, tal frase ainda


precisa ser repetida com frequência no Brasil. A cultura
popular, sobretudo nas áreas rurais, de que certos tipos de
trabalho ajudam na formação das crianças é um dos fatores
que contribuem para que o País ainda esteja longe de erradicar
o trabalho infantil. Mas definitivamente não é o único.

(…) “No Brasil ainda persiste uma mentalidade de que é melhor


uma criança trabalhando do que roubando. É errado, criança
precisa ser protegida e ter seu papel respeitado. Criança não
pode trabalhar para a sua subsistência, isso o Estado precisa
garantir”, afirma Patrícia Mello Sanfelice, procuradora do
Trabalho e coordenadora Nacional do Programa da Infância e
Juventude do MPT.

A procuradora reforça que há uma subnotificação de casos de


trabalho infantil no Brasil, ou seja, muitos hesitam em denunciar.
“Há uma cultura de aceitação. Você não vê uma criança no sinal
ou na praia e pensa em ligar para denunciar”, diz.

131
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

(...) De acordo com os observatórios do Trabalho Escravo e


Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, de 2003 a 2017,
foram resgatadas 897 crianças e adolescentes em situação
análoga à escravidão. Entre 2012 e 2017, 15.675 menores de 18
anos foram vítimas de acidentes de trabalho.

Promessa de erradicação até 2025

“Os casos de trabalho puramente por sobrevivência diminuíram


nos últimos anos, principalmente por causa da atuação de
programas sociais como o Bolsa Família”, reconhece Mariana
Neris, diretora do Departamento de Proteção Social Especial
da Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do
Desenvolvimento Social.

Ao contrário de Sanfelice, Neris aponta avanços no combate ao


trabalho infantil no país nas últimas décadas. “Há uma evolução
das ações contra o trabalho infantil no Brasil há pelo menos
20 anos. “Desde 1996, mais de 4 milhões de crianças foram
retiradas da situação de trabalho infantil no Brasil”, afirma. (...)
A meta ambiciosa que foi acordada com diversos setores é de
erradicação do trabalho infantil até 2025.”

Penalização de empregadores

Atualmente, a atuação do MPT se resume à esfera cível,


multando e investigando o dano moral. Na prática, um
empresário que tem hoje menores trabalhando ilegalmente
em seu estabelecimento só será punido penalmente se houver
algum outro tipo de prática envolvida, como cárcere privado e
maus-tratos – crimes previstos no Código Penal.

A proposta é que seja considerado crime explorar, de qualquer


forma, ou contratar, ainda que indiretamente, o trabalho de
menor de 14 anos. A pena pode variar de dois a oito anos de
cadeia, além de multa. O projeto prevê que trabalho no âmbito
familiar não seja considerado crime.(...).
Leia a notícia na íntegra, no site <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/no-brasil-o-
trabalho-infantil-atinge-2-7-milhoes-de-criancas-e-adolescentes>.

Quer saber mais sobre os efeitos do trabalho precoce na saúde de crianças e


adolescentes? Consulte a Cartilha do MTE Saiba tudo sobre o trabalho infantil,
disponível em nossa bibliografia recomendada.

Além dos agravos aqui detalhados, outros tantos merecem atenção, pois geram
problemas para aos trabalhadores bem como para a população geral, como nos
casos de intoxicação por agrotóxicos (Videoaula 11 – Agravos relacionados ao
trabalho V).

132
CAPÍTULO 10
Intoxicação por agrotóxicos

Dentre os mais importantes fatores de risco à integridade física e mental dos


trabalhadores e ao meio ambiente estão os agrotóxicos. Eles são usados em
larga escala por inúmeros setores produtivos e ostensivamente pela agricultura,
pecuária, na construção e manutenção de estradas, dedetização de áreas e
combate às endemias e epidemias, tratamentos de madeiras para construção,
indústria de móveis, armazenamento de sementes e grãos, produção de flores,
entre outros. (BRASIL, 2006)

Atualmente, o nosso país é tido como o maior consumidor de agrotóxicos no


mundo, em decorrência do modelo de desenvolvimento econômico baseado
na produção e exportação de bens primários. Para isso, a demanda do uso
de herbicidas e inseticidas nas vastas plantações de soja, arroz, algodão e na
própria agricultura familiar tem refletido na população de modo geral: atinge
de trabalhadores que atuam nos mais diversos ramos, moradores residentes no
entorno de lavouras e fábricas, e a população geral que acaba tendo contato
com os agrotóxicos por meio de água e alimentos contaminados – constituindo-
se assim um grave problema de saúde pública. (ABRASCO, Dossiê Agrotóxicos,
2015).

Segundo o Decreto 4.074 de 2002, que regulamentou a Lei 7802-1989, agrotóxicos


são:

Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos,


´…. cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna,
a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados
nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados
como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do
crescimento.

Segundo os estudiosos sobre o assunto, avaliar e analisar as condições de


exposição a agrotóxicos e demais produtos químicos é um enorme dilema:
a dificuldade em fazer essa avaliação de exposição e dos efeitos à saúde
humana diz respeito à quantidade de substâncias e produtos constantes
no termo “agrotóxicos”. Isto é, ao se discutir os efeitos dessas substâncias
na saúde, fica difícil restringir a um único químico, pois vários deles são
tóxicos (BRASIL, 2006).

133
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Não é necessário residir ou trabalhar na zona rural, onde tem a agropecuária


ostensiva para estar exposto a agrotóxicos. Eles estão no nosso dia: nos alimentos
que ingerimos, na água, no leite materno, ou como venenos largamente utilizados
para combater insetos como mosquitos, moscas, baratas ou até mesmo ratos
(BRASIL, 2018).

População-alvo
A população considerada exposta pelos especialistas veio desde os trabalhadores
das indústrias que lidam com esse tipo de químico, até a população geral. Porém,
o foco deste material será na população trabalhadora, que entra em contato com
os agrotóxicos em razão de suas atividades laborais, através do meio ambiente.
Em quaisquer situações podem ou não ser notadas alterações (sub)clínicas e
laboratoriais compatíveis com o diagnóstico de intoxicação por esses produtos.
Logo a seguir, estão demonstradas as categorias profissionais potencialmente
expostas a agrotóxicos, mapeadas pelo Ministério da Saúde (2018):

»» Trabalhadores(as) dos setores:

a. Agropecuário.

b. Silvicultura.

c. Madeireiro.

d. Empresas desinsetizadoras, de saúde pública (controle de endemias e


de zoonoses).

e. Produção, transporte, armazenamento e comercialização de agrotóxicos.

f. Reciclagem de embalagem de agrotóxicos.

g. Extensionistas rurais.

»» Moradores(as) em áreas vizinhas da região produtora ou contaminada.

»» População geral, exposta pelo consumo de alimentos e água


contaminados por agrotóxicos.

Utilização
Dentre as inúmeras formas de utilização, os agrotóxicos são empregados para
combater pragas. Também são chamados de praguicidas, pesticidas, defensivos
agrícolas, agroquímicos ou biocidas.

134
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

»» Agricultura: controlar insetos, fungos, ácaros, ervas daninhas etc.

»» Pecuária: no controle de carrapatos, pulgas, mosca-do-chifre etc.

»» Domicílio: para matar pulgões e larvas em plantas, eliminar cupins, ratos,


baratas, algas em piscinas, e carrapatos e pulgas em animais.

Todos os agrotóxicos são potencialmente perigosos, podem causar danos à saúde de


pessoas, animais e ao meio ambiente. É a classe de produto que mais leva a óbito.

Classificação dos agrotóxicos

Conhecer a classificação dos agrotóxicos, conforme o tipo de praga combatida


pelo produto, a toxicicidade e o grupo químico ao qual pertencem é crucial
para estabelecer o diagnóstico dos possíveis intoxicados. Auxilia também na
definificação de toda terapêutica medicamentosa e no desenvolvimento da
promoção e vigilância em saúde (BRASIL, 2018).

Segundo o Ministério da Saúde (2018), a identificação da toxicidade de um


agrotóxico, observando os seus efeitos agudos, tem como base a medida “Dose
Letal 50 (DL 50)”. A classificação toxicológica é apresentada com uma coloração
específica da faixa no rótulo do produto comercializado. No quadro abaixo, estão
relacionadas as classes de toxicidade do agrotóxico conforme a DL 50, a cor da faixa
do rótulo e a quantidade necessária para matar um adulto (BRASIL, 2018).

Quadro 18. Classe toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50, a dose capaz de matar um adulto e a cor da

faixa do rótulo.

Classe toxicológica Classificação DL 50 Dose capaz de Cor da faixa no


matar um adulto rótulo do produto
I Extremamente tóxico. <5mg por kg. 1 pitada a algumas gotas. Vermelha.
II Altamente Tóxico. 5-50 mg por kg. Algumas gotas a 1 colher Amarela.
de chá.
III Medianamente tóxico. 50-500 mg por kg. 1 colher de chá a 2 Azul.
colheres de sopa..
IV Pouco tóxico. >500mg por kg. >2 colheres de sopa. Verda.
Fonte: Anvisa (2011); OPAS/OMS (1997).

Relacionado à praga que matam, os agrotóxicos mais usados são herbicidas,


fungicidas inseticida, além dos raticidas, moluscicidas, fumigantes
entre outros. Já quanto a sua composição química, os carbamatos, ácido
fenoxiacético organofosforados, piretroides, etil bis-ditiocarbamatos são os
mais conhecidos.

135
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Os agrotóxicos mais utilizados são:

a. Inseticidas, fungicidas e herbicidas.

b. Fumigantes.

c. Moluscicidas.

d. Nematicidas.

e. Raticidas etc.

Os herbicidas são usados para combater as ervas daninhas que proliferam nos
lares e plantações, tendo, nesta última, uma utilização crescente nas últimas duas
décadas no Brasil e no mundo. É crucial esclarecer que os compostos mais comuns
constantes deste grupo de agrotóxico têm princípios ativos presentes em muitos
produtos comerciais com diversos fabricantes e nomes de marcas. Dentre esses
compostos, os que têm maior destaque são Paraquat (Gramoxone) e derivados do
ácido fenoxiacético - 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D), Glifosato (Round-up); e o
2,4,5 triclorofenoxiacético (2,4,5 T) (BRASIL 2018).

Tal como o nome explicita, os fungicidas têm a função de exterminar os fungos


e são majoritariamente representados pelos grupos químicos a seguir: Trifenil
estânico (Duter e Brestan), Etileno-bis-ditiocarbonatos (Maneb, Mancozeb,
Dithane, Zineb, Tiram); Captan: (Ortocide a Merpan) e Hexaclorobenzeno.

Já os inseticidas têm larga utilização na eliminação de formigas, larvas e insetos


constituídos pelos compostos dos carbamantos, organofosforados e piretroides.
Dentro deste grupo, devido a efeitos crônicos gerados e contaminações ambientais
extensas, encontramos os agrotóxicos do grupo “clorados” que tiveram o seu uso
proibido em meados dos anos 1980 no nosso país.

Formas de intoxicação:

Conforme o dossiê da Abrasco (2018), os compostos químicos dos agrotóxicos


podem entrar no corpo humano através da absorção por via dérmica (pele),
respiratória (inalatória) e via oral e digestiva – ainda que seja mais remota
nas situações de trabalho, ressalvando-se quando há ingestão acidental ou
intencional do produto.

Muitos fatores estão interrelacionados para que haja o contato e a posterior


absorção do agrotóxico: vai desde a quantidade e natureza do produto,

136
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

integridade da pele e condição da respiração até os fatores ambientais


externos. Quais são esses fatores? – esforço físico e temperaturas elevadas
podem aumentar a suscetibilidade do indivíduo à exposição. Por isto, ao
avaliar o quadro clínico sugestivo de intoxicação, o profissional de saúde deve
considerar as condições climáticas da localidade e a exposição ocupacional
(BRASIL, 2018).

»» Contato direto: no preparo, aplicação ou qualquer tipo de manuseio com


o produto.

»» Contato indireto: contaminação de água e alimentos ingeridos.

Assim, de forma resumida, os venenos entram no corpo por meio de contato com a
pele, mucosa, bem como pela respiração e ingestão, como na figura abaixo:

Figura 8. Vias de contato da exposição humana aos agrotóxicos.

Fonte: Retirado do página eletrônica Toxicologia Geral – Farmácia – INTA (2019).

Sobre a avaliação da exposição ocupacional, muitas variáveis devem ser


consideradas na investigação da via de absorção dos agrotóxicos no organismo e
dos efeitos que causam na saúde humana.

Primeiro, o médico deve analisar o processo de trabalho e condições de exposição,


verificando:

»» As características individuais do trabalhador, tais como idade,


escolaridade, sexo, estado nutricional, peso, outros vínculos de
trabalho etc.

»» A toxicidade do produto, observando desde o princípio ativo até as


possíveis impurezas e veículos toxicologicamente ativados.

»» As formas de exposição ocupacional, a atividade executada, a frequência


de uso do composto, doses utilizadas.

137
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

»» Uso de mistura de 2 ou mais produtos, bem como a preparação dele – o


que é prática comum no campo;

»» Mecanismos de proteção e prevenção adotados pelos trabalhadores


durante o manuseio desses produtos.

Os efeitos à saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos manifestam-se


de múltiplas formas e atingem praticamente todos os órgãos e sistemas do
organismo humano. Podem ser classificados em intoxicação aguda e intoxicação
crônica (BRASIL, 2018).

As intoxicações exógenas, dentre aquelas ocasionadas por agrotóxicos,


são de notificação compulsória, conforme disposto na Portaria PRC n o
4, de 28 de setembro de 2017. Esta mesma portaria define que a Ficha de
Investigação, padronizada pelo Ministério da Saúde, é o instrumento de
Notificação Compulsória e deve obedecer o fluxo de repasse de dados do
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2006f)

Sintomas

Os sinais e sintomas decorrentes da intoxicação por agrotóxico variam de


acordo o seu tipo , podendo-se dividir entre intoxicação aguda e crônica.
Esta última é tão grave quanto a primeira. De modo geral, é caracterizada por
alterações na saúde dos indivíduos ou de sua coletividade, resultado de uma
interação maléfica entre o composto químico e o organismo humano.

Intoxicação aguda

A intoxicação aguda é a manifestação de uma junção de sinais e sintomas


de maneira súbita, em minutos ou em horas após o contato com o composto
químico tóxico. Os efeitos surgem rapidamente em até 24 horas, após uma única
exposição ao agrotóxico. Além de sua rapidez, pode ser classificada em leve,
moderada ou grave, a depender da toxicidade, quantidade de veneno absorvido,
tempo de absorção e o decorrido entre a exposição e o atendimento de saúde. Os
efeitos variam de tonturas, náuseas, desorientação, vômitos, diarreia, sudorese,
dificuldade respiratória, e salivação excessiva, chegando até coma e morte.

Na sequência, é apresentada uma classificação das manifestações leves,


moderadas ou graves de intoxicação aguda, destacando-se que é muito raro

138
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

conseguir definir categoricamente os limites entre um nível de intoxicação e


outro (BRASIL, 2018; BRASIL, 2006):

a. INTOXICAÇÃO AGUDA LEVE. Tem como sinais e sintomas


característicos dor de cabeça, irritação da pele e mucosa, enjoos
e discreta tontura e dermatite de contato irritativa ou por
hipersensibilização.

b. INTOXICAÇÃO AGUDA MODERADA. Quadro clínico constituído por


dor de cabeça intensa, enjoos e vômitos, tontura mais intensa, cólicas
abdominais, fraqueza generalizada, dispneia, dormência, sudorese e
salivação aumentadas.

c. INTOXICAÇÃO AGUDA GRAVE. Quadro clínico mais grave, com


apresentação de pressão arterial baixa, diminuição da pupila (perda
de consciência), arritmias cardíacas, insuficiência respiratória,
convulsões, edema agudo de pulmão, pneumonite química, choque,
alterações da consciência, coma, podendo evoluir para óbito.

Segundo informações do Ministério da saúde (2006f; 2018), a evolução para


cada estágio de intoxicação depende do tipo de produto absorvido e da sua via e
tempo de absorção, quantidade de veneno envolvida – passando facilmente de
um estágio para outro mais grave. As intoxicações agudas por agrotóxicos, da
leve à grave, constam referenciadas nos capítulos XIX, XX e XXI da Classificação
Internacional de Doenças CID-10, nos itens abaixo:

Quadro 19. CIDs referentes aos quadros de intoxicação por agrotóxicos.

Capitulo XIX: Envenenamento e Algumas Outras Consequências de Causas Externas


T60 – Efeito tóxico de pesticidas (inclui produtos de conservação de madeira).
T60.0 – Inseticidas Organofosforados e Carbamatos.
T60.1 – Inseticidas Halogenado.
T60.2 – Outros inseticidas.
T60.3 – Herbicidas e fungicidas.
T60.4 – Rodenticidas.
T60.8 – Outros pesticidas.
T60.9 – Pesticida não especificado.
Capitulo XX: Causas Externas de morbidade e de mortalidade
Y18 – Envenenamento [intoxicação] por exposição a pesticidas, intenção não determinada (inclui: desinfetantes por fumigação, fungicidas, herbicidas,
inseticidas, produtos usados na proteção de florestas e raticidas).
X48 - Envenenamento [intoxicação] acidental por exposição a pesticidas (inclui: desinfetantes por fumigação, fungicidas, herbicidas, inseticidas,
produtos usados na proteção de florestas e raticidas).
Capitulo XXI: Fatores que Influenciam o Estado de Saúde e o Contato com os Serviços de Saúde
Z57.4 – Exposição ocupacional a agentes tóxicos na agricultura (inclui sólidos, líquidos, gases e vapores).
Fonte: Adaptado pelo autor de BRASIL, 2018.

139
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Há possibilidade de coexistirem quadros clínicos superpostos de um evento agudo


que se instala em um indivíduo com sintomatologia compatível com intoxicação
crônica. Assim, os profisisonais de saúde devem investigar a possibilidade de
existência da associação do quadro clínico de uma com a outra (BRASIL, 2018)

Intoxicação crônica

Em razão do aparecimento de sintomas em alguns meses ou até mesmo anos após a


exposição ao agrotóxico, dificuldade de acesso e especialização técnica dos serviços
de saúde para estabelecer o nexo de causalidade entre o adoecimento e a exposicão
ocupacional há pouco conhecimento dos efeitos tóxicos decorrentes da exposição
crônica aos agrotóxicos:

são alterações no estado de saúde de um indivíduo ou de um


grupo de pessoas que também resultam da interação nociva de
uma substância com o organismo vivo. Aqui, porém, os efeitos
danosos sobre a saúde humana, incluindo a acumulação de
danos genéticos, surgem no decorrer de repetidas exposições ao
toxicante, que normalmente ocorrem durante longos períodos
de tempo. Nestas condições os quadros clínicos são confusos e
muitas vezes irreversíveis (BRASIL, 2006f, p.8).

As manifestações clínicas podem decorrer de alterações no sistema nervoso,


respiratório, dermatológico, hematopoiético, genito-urinário, cardiovascular,
gastrintestinal, pele e olhos, além de efeitos teratogênicos e genéticos.
Usualmente, o quadro sindrômico é indefinido, e é difícil estabelecer o
diagnóstico e a relação causal com o trabalho. Em especial, quando esta última
envolve a exposição contínua a vários produtos – o que é extremamente comum
na agricultura brasileira.

Os quadros clínicos polimórficos podem aparecer com redução da concentração


e atenção, depressão, ansiedade, irritabilidade, reflexos diminuídos,
polineuropatias, diminuição da memória, parkinsonismo; desordens de
personalidade e psiquiátricas; anemia aplástica, depressão da medula óssea,

De modo geral, as intoxicações crônicas por agrotóxicos estão referidas em


vários capítulos da Classificação Internacional de Doenças (CID), na sua décima
revisão. Logo abaixo, segue a relação dos itens principais:

140
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Quadro 20. CIDs referentes aos quadros de intoxicação crônica por agrotóxicos.

Capitulo II: Neoplasias [Tumores]


C90 – Mieloma Múltiplo e Neoplasias Malignas de Plasmócitos.
C91 – Leucemia Linfóide.
C92 – Leucemia Mielóide.
Capítulo III: Doenças do Sangue e dos Órgãos Hematopoéticos e Alguns Transtornos Imunitários
D61. 2 – Anemia Aplástica devidos a outros agentes externos.
Capítulo V: Transtornos Mentais e Comportamentais
FO6 – Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física.
F06. 7 – Transtorno cognitivo leve.
F32 – Episódios depressivos.
F52 – Disfunção sexual, não causada por transtorno ou doença orgânica.
Capítulo VI: Doenças do Sistema Nervoso
G21. 2 – Parkinsonismo secundário devido a outros agentes externos (manganês e seus compostos tóxicos – X49; Z57.4; Z57.5).
G25.2 – Outras formas especificadas de tremor (brometo de metila: X46; Z57.5).
G62. 2 – Polineuropatia devida a outros agentes tóxicos.
G92 – Encefalopatia tóxica.
Capítulo VII: Doenças do Olho e Anexos
H46 – Neurite ótica (brometo de metila: X46; Z57.5).
H53.1 – Distúrbios visuais subjetivos (brometo de metila: X46; Z57.4; Z57.5.
Capítulo VIII: Doenças do Ouvido e da Apófise Mastoide.
H93.8 – Outros transtornos específicos do ouvido (brometo de metila: X46; Z57.5).
Capítulo IX: Doenças do Aparelho Circulatório
I49 – Outras arritmias cardíacas (agrotóxicos organofosforados e carbamatos: X48) Capítulo X: Doenças do Aparelho Respiratório
J68 – Afecções respiratórias devidas à inalação de produtos químicos, gases, fumaças e vapores. Capítulo XI: Doenças do Aparelho Digestivo.
K71 – Doença tóxica do fígado.
Capítulo XII: Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo
L23. 5 - Dermatite alérgica de contato devido a outros produtos químicos (borracha, cimento, inseticidas e plásticos).
L24. 5 - Dermatite de contato por irritantes devido a outros produtos químicos (cimento e inseticidas).
Fonte: Adaptado pelo autor de BRASIL, 2018.

OBSERVAÇÃO: O código Z57.4 - Exposição ocupacional a agrotóxicos na agricultura


(inclui líquidos, sólidos, gases e vapores) – poderá também ser empregado. Os
pesquisadores da área alertam para que seja observada a concomitância de um quadro
de intoxicação aguda com umae crônica “subdiagnosticada”. Por isso, é importante
investigar a história ocupacional de exposição e os efeitos na saúde.

Segundo protocolo adotado pela Secretaria de Saúde do Paraná (2013), são


considerados os seguintes aspectos na avaliação dos casos:

»» Análise dos processos de trabalho e das cargas.

»» Análise da exposição no meio ambiente.

»» Dados epidemiológicos do local/território do grupo de exposição.

»» Histórico das intoxicações agudas anteriores, bem como a sua gravidade


(conhecer a natureza do agente tóxico, tempo e forma de manipulação).

141
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

»» Anamnese – caracterização do quadro clínico sugestivo.

A perda auditiva por ruído ocupacional, a polineuropatia por déficit de vitaminas do


complexo, o alcoolismo crônico, a síndrome de Guillan-Barré, a neuropatia diabética,
a hanseníase, entre outros, devem ser vistos como diagnósticos diferenciais (SES
PR, 2013)

Efeitos da exposição a agrotóxicos

Seria até redundante falar novamente sobre os efeitos nocivos dos agrotóxicos
à saúde humana, porém, neste item, trouxemos um quadro demonstrativo dos
principais impactos aos sistemas ou órgãos do corpo humano na exposição de longa
duração a esses produtos químicos. Além do quadro com o descritivo das doenças,
logo a seguir, temos figuras de doenças em crianças e recém-nascidos.

Quadro 21. Efeitos à saúde humana da exposição prolongada a agrotóxicos.

Sistema ou órgão Efeito


Sistema nervoso Polineurite, radiculite, encefalopatia, distonia vascular, esclerose cerebral, neurite retrolobular,
angiopatia da retina.
Sistema respiratório Traqueíte crônica, enfisema pulmonar, asma brônquica, pneumofibrose.
Sistema cardiovascular Miocardite tóxica crônica, pressão alta ou pressão baixa, insuficiência coronária crônica.
Fígado Hepatite crônica, insuficiência hepática, colecistite.
Rins Micção noturna, eliminação de albumina pela urina, alteração do clearance da ureia,
nitrogênio e creatinina.
Trato Gastrointestinal Gastrite crônica, úlcera, hipersecreção e hiperacidez gástrica, inflamação crônica do colon,
prejuízo dos movimentos do estômago.
Sistema hematopoiético Diminuição dos leucócitos, eosinófilos, monócitos sanguíneos e da hemoglobina.
Pele Irritações da pele e eczema.
Olhos Conjuntivite e inflamação das palpebras (blefarite)
Fonte: Adaptado de Brasil (2018).

Figura 9. Má-formação congênita em recém-nascido: lábio leporino, hidrocefalia e mielomeningocele (da

esquerda para a direita), 2019.

Fonte: Apresentação Agrotóxicos, de Daniel Borral (2018).

142
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Figura 10. Dermatose causada por agrotóxicos.

Fonte: Site eletrônico Ativismo verde, 2018.

A fotografia abaixo mostra a criança que observa estarrecida os seus pés.


Esse retrato foi feito pelo fotógrafo argentino Pablo Piovano, que registrou
por meio de sua lente os efeitos do agrotóxico glifosato nos morados da
zona rural Argentina. Ele fotografou adultos e crianças com deformações
e até em estado terminal nas regiões de Córdoba, Entre Rios, Missiones e
Chaco. Para conhecer mais, visite a página eletrônica com a reportagem na
íntegra: <http://conexaoplaneta.com.br/blog/em-ensaio-e-documentario-
fotografo-argentino-revela-o-custo-humano-dos-agrotoxicos/>.

Figura 11. Má-formação congênita e síndrome em criança argentina devido a agrotóxicos.

Além dos registros atentos da câmera fotográfica, temos materiais


videográficos incríveis que falam da indústria e dos impactos do consumo
em larga escala de agrotoxócios como o documentário “O veneno está na
Mesa” I e II, produzidos pelo núcleo de pesquisadores da Associação Brasileira
de Saúde Coletiva (ABRASCO).

143
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Diagnóstico

A sintomatologia surge de múltiplas formas e afeta todos os sistemas e órgãos do


corpo humano. Com base nesses achados clínicos, o médico deverá diagnosticar
a intoxicação com base na história clínica e ocupacional do trabalhador e no
exame físico do indivíduo.

De forma resumida, complementando o disposto previamente no item


“Sintomas” deste capítulo, deve-se classificar a intoxicação em aguda e
crônica, para dar o devido encaminhamento terapêutico:

Quadro 22. Grau de intoxicação aguda.

Grau de intoxicação aguda Sinais e sintomas

Dor de cabeça com irrritação da pele e das mucosas, enjoos e discreta tontura. Geralmente
o trabalhador acredita serem sintomas comuns e não procura os serviços médicos. Mesmo
Leve
procurando, por serem sinais genéricos, os profissionais de saúde não investigam a possibilidade
de intoxicação.

Dor de cabeça intensa, enjoo, vômito, dores abdominais, tontura intensa, mal estar e fraqueza
Moderada gerais, formigamento nas pernas, salivação e sudorese maiores que o normal, formigamento nos
MMII.

Pressão arterial muito baixa, arritmia cardíaca, insuficiência respiratória, edema agudo pulmonar,
Grave pneumonite química, convulsões, alterações e até perda da consciência, choque, coma podendo
chegar à morte.

Fonte: Adaptado pelo autor de BRASIL, 2018.

Diagnóstico laboratorial

A Secretaria de Saúde do Paraná, em seu protocolo de atendimento dos casos


de intoxicação por agrotóxicos, estabelece que o diagnóstico laboratorial será
conduzido em razão do(s) produto(s) envolvido(s) na exposição ocupacional
e/ou na intoxicação; do tipo de intoxicação (aguda e/ou crônica) e da capacidade
de atendimento e complexidade do serviço de saúde onde o indivíduo está sendo
avaliado. Em geral, alguns exames complementares podem ser realizados, como
os relacionados a seguir:

»» Hemograma com contagem de reticulócitos.

»» Exames Bioquímicos: bilirrubinas totais e frações; TGO; TGP; GAMA


GT; proteínas totais e frações; eletroforese das globulinas; fosfatase
alcalina; ureia, creatinina, T3, T4, TSH; glicemia de jejum.

144
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

»» EAS - Exame de urina.

»» Na suspeita de intoxicação aguda por carbamatos ou organofosforados,


dosagem de acetilcolinesterase plasmática.

»» Na suspeita de intoxicação aguda por carbamatos ou organofosforados,


dosagem de acetilcolinesterase.

»» Raio X de tórax.

»» Outros: tomografia computadorizada, espermograma,


eletrocardiograma etc. serão solicitados somente diante de suspeitas
específicas (SES-PR, 2013).

Conduta dos serviços de saúde frente à


intoxicação por agrotóxicos

A conduta diante da intoxicação por agrotóxico é base fundamental para a


redução de agravos maiores à saúde humana, quer seja no primeiro contato
ou na redução de danos nos quadros de evolução crônica. São situações que
demandam não apenas um atendimento pormenorizado, mas também a
vigilância contínua de casos antigos e novos.

Atendimento

O atendimento poderá ser realizado em qualquer serviço de saúde da rede


pública ou privada. Algumas situações serão primeiramente atendidas pelo
médico do trabalho da empresa.

No primeiro atendimento, para estabelecimento de relação de causa entre


os sinais e sintomas com a exposição ao agrotóxico, deve-se realizar o exame
clínico e a solicitação de exames complementares, considerando a história
clínico-ocupacional do trabalhador, o estudo das condições do ambiente
de trabalho e a organização dele; reconhecimento dos fatores de riscos
físicos, químicos, biológicos, psicossociais, ergonômicos e de acidente; dados
epidemiológicos; testemunhas do acidente; experiências dos trabalhadores e os
conhecimentos e práticas de outros profissionais (SES PR, 2013).

145
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Houve contato com o agrotóxico e não sabe o que fazer? – Veja quais são os
procedimentos de Primeiros Socorros aos intoxicados:

a. Intoxicação pela pele (cutânea):

›› Retirar todas as roupas e acondicioná-las em saco plástico.

›› Lavar a pele contaminada com água corrente e sabão por, pelo menos,
dez minutos.

›› Lavar axilas, virilhas, barba e cabelos e todas as dobras do corpo.

›› Lavar bem com água corrente por 15 (quinze) minutos, quando for
contaminação nos olhos.

b. Intoxicação pela respiração (inalatória):

›› Colocar o trabalhador em local ventilado e fresco.

›› Afrouxar as roupas.

›› Em caso de dificuldade respiratória, fazer procedimento de


respiração boca a boca.

Desde 2010, a Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomenda


a ventilação boca a boca, ainda que haja evidências mínimas de
contaminação. É indicada a utilização de mecanismos de barreira na
aplicação das ventilações, como máscara de bolso (“pocket-mas k”) ou
bolsa-válvula-máscara, o lenço facial com válvula antirrefluxo (SBC, 2013).

c. Intoxicação pela boca (oral):

›› Verificar no rótulo do produto a recomendação de “provocar vômito”.

›› Caso tenha recomendação, provocar vômito baixando a cabeça do


trabalhador e pressionando a base da língua com o cabo de uma
colher ou objeto semelhante.

›› Não induzir o vômito em pessoas desacordadas, durante convulsões


ou em crianças com menos de 3 anos.

›› Não oferecer leite, álcool ou água ao trabalhador intoxicado.

146
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

Em qualquer um dos casos de intoxicação supracitados, levar o trabalhador


intoxicado ao serviço de saúde mais próximo, carregando o rótulo ou até mesmo
a embalagem do produto, com receituário agronômico.

Tratamento

Uma vez diagnosticada a intoxicação, a primeira medida a ser realizada é o


afastamento imediato da exposição ocupacional, pois há um grande risco de
agravamento do quadro clínico.

Assim, prossegue-se para o tratamento dos sintomas e especificamente de


acordo com o grau e o caso apresentados – como indicados nos protocolos
clínicos especializados para cada doença específica. Por exemplo, trabalhador
com hepatite crônica devido a exposição ocupacional, será tratado nos moldes
recomendados nos protocolos clínicos para condução de casos de hepatite.

Acompanhamento

Todos os trabalhadores serão monitorados por muito tempo pela equipe de


saúde, com vistas a observar a melhora ou agravamento do quadro de saúde. Na
confirmação de intoxicação, notificar o agravo no Sistema Nacional de Agravos
de Notificação (SINAN).

Para os casos confirmados de intoxicação crônica, deverá ser utilizada a ficha


de Notificação das Intoxicações Exógenas, no SINAN e emitida a Comunicação
de Acidente de Trabalho (CAT), quando se tratar de agravo relacionado ao
trabalho (SES PR, 2013). Lembrando-se que a CAT será emitida apenas para os
trabalhadores segurados pelo INSS.

Fluxograma do Manejo de casos de intoxicação

O Ministério da Saúde (2018), no Caderno da Atenção Básica n. 41 – Saúde


do trabalhador, explicita um esquema geral de como deve ser o manejo dos
casos de intoxicação aguda, extensível o exemplo para a condução de casos
crônicos.

147
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Figura 12. Manejo dos casos de intoxicação na rede pública de saúde, 2018.

Atendimento no serviço
de saúde

Não
Suspeita de exposição
ocupacional

Avaliação clínica - Emitir CAT para trabalhadores


Atendimento de acordo com celetistas e segurados pelo
os protocolos da unidade de
saúde INSS

Exposição aguda?

Não

Sintomatolo
Seguir as etapas da Avaliação clínica - Inicial
gia aguda?
Exposição aguda

Não Preencher a Ficha de


intoxicação exógena e notificar
Sim no SINAN. Recomendar
afastamento da exposição ao
agrotóxico
Avaliação clínica e solicitação
de exames complementares, Comprometimento
atendimento e
cardiorespiratório ou
encaminhamento de acordo
com o protocolo da unidade hemodinamico?

Sim
Não
Suporte Básico/Avançado

Descontaminação/
Eliminação

Atendimento de acordo com


a toxxíndrome.

Continuidade do tratamento de acordo com o


diagnóstico e com a capacidade da unidade,
Se necssário, encaminhar para outra unidade.

Solicitação de exames complementares.

Acompanhamento pela equipe com orientações para a prevenção.

Fonte: Adaptado de Caderno n o 41 da Atenção Básica, do Ministério da saúde (2018).

148
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO │ UNIDADE IV

A CAT será emitida ao trabalhador segurado do INSS, como empregado


regido pela CLT ou na condição de segurado especial, e direcionado à
agência do INSS mais próxima, quando diagnosticada a intoxicação, aguda
e/ou crônica (BRASIL, 2006f).

Interessante ressaltar que, após implementação da Política Nacional


de Saúde do trabalhador e Trabalhadora (2012), a vigilância de agravos
relacionados ao trabalho, na estrutura do esquema acima, é indicada para
todos os casos de intoxicação, independentemente do tipo de vínculo
empregatício do trabalhador, devendo ser feita a notificação ao Sistema
Único de Saúde (SUS) para quaisquer trabalhadores do mercado de trabalho
(setor informal, formal, segurado especial, autônomo etc.).

Como deve ser a prevenção de acidentes com


agrotóxicos?

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2011), a prevenção


de acidentes com agrotóxicos consiste basicamente em:

»» Comprar agrotóxicos apenas com receita agronômica.

»» Conhecer e seguir rigorosamente as recomendações do rótulo.

»» Não armazenar nem transportar agrotóxicos junto com alimentos.

»» Não (re)aproveitar embalagens vazias.

»» Não usar utensílios/ferramentas domésticos para misturar os produtos.

»» Gestantes e mulheres que estão amamentando não devem ter contato


com agrotóxicos, tampouco crianças.

»» Não beber, fumar ou comer durante o manuseio de agrotóxicos.

»» Tomar banho com sabão e água corrente após a jornada diária de


trabalho.

»» Após o trabalho, sempre lavar equipamentos e roupas de trabalho de uso


diário.

»» Usar adequadamente os equipamentos de proteção individual


recomendados, tais como, chapéu, óculos, máscara, luvas, avental, camisa
de manga comprida, avental, calça comprida e botas.

149
UNIDADE IV │ SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

Veja a aula 12 – Agravos relacionados ao trabalho V, além de outros vídeos com


estudos de caso de alguns agravos constantes aqui na apostila bem como outros
que são de importância para a Saúde do trabalhador.

150
Para (não) Finalizar

Na Constituição Federal de 1988, Capítulo II – Dos direitos sociais, art 7o, incisos
XXII e XXVIII, descreve-se:

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que


visem à melhoria de sua condição social: a redução de riscos inerentes
ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança e,
seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em
dolo ou culpa; respectivamente.

Ratificadas pelo disposto na Carta Magna brasileira, as políticas de SST,


em suma, trazem em sua redação que os trabalhadores têm o direito ao
trabalho em condições seguras e saudáveis não condicionado à existência de
vínculo trabalhista, ao caráter e natureza do trabalho. Assim, entende-se que
independentemente do tipo de vínculo trabalhista, quer celetista ou estatutário,
o trabalhador gozará de todos os direitos sociais relacionados ao trabalho.

E s s a pr o t e ção de r i va também d o art. 1 o d a Constitu iç ão Fed eral qu e


e s t a b e l ece co mo um do s pr inc íp ios d o Estad o d e Direito o valor soci a l
do t r a b al ho . O val o r s o ci a l d o trabalh o é c onstitu íd o sobre p ila r es
fun da m e ntado s e m gar ant i a s soc iais tais c omo o d ireito à saú d e , à
s egur a n ç a, à pr e vi dê nci a s o cial e ao trabalh o. O d ireito soc ial ao traba lho
s egur o e a o br i gação do e mpregad or p or c u stear o segu ro d e ac id ente do
t r a b a l h o també m e s t ão i nscritas no art. 7 o d a CF/19 88.

Conforme a Lei 8213/1991, o acidente de trabalho é um evento súbito ocorrido


no exercício de atividade laboral, independentemente da situação empregatícia
e que acarreta dano à saúde, potencial e imediato, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que causa, direta ou indiretamente, a morte, ou a perda
ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Nesse conceito estão incluídas as doenças profissionais ou ocupacionais que são


aquelas adquiridas em decorrência do exercício do trabalho em si, de acordo
com o art. 19, da Lei 8213/1991(BRASIL, 1991).

A identificação de indivíduos e populações expostas a condições inseguras


é crucial para visualizar no ambiente de trabalho todas as situações de riscos

151
PARA (NÃO) FINALIZAR

para o adoecimento ou ocorrência de acidentes, além de direcionar as ações


preventivas e corretivas em saúde dentro de qualquer organização empresarial
para a efetiva gestão em SST.

A l ia d a a isso , a i nve s t i gação d os agentes c au sad ores d e inc ap ac id ade


l a b o r a l exi s t e nte s no ambi e nte d e trabalh o traz su bsíd ios p ara o
e s t a b e l ecim e nt o do ne xo causal d o agravo (d oenç a ou ac id ente) c om
a t iv ida d e e xe r ci da pe l o t r abal h ad or.

Contudo, a investigação (coletiva ou individual) deve ser criteriosamente


desenhada, para que reflita fidedignamente a realidade laboral e mitigue os
riscos à saúde, diminuindo o número de adoecimentos, afastamentos pelo INSS,
acidentes de trabalho, entre outros – além de contribuir para a promoção da
saúde e prevenção de doenças.

Dessa forma, finalizamos esta etapa da disciplina carregando o seguinte


questionamento: quantas vidas serão lesadas até que possamos efetivar uma
sólida gestão dos agravos relacionados ao ambiente de trabalho, envolvendo
todos os atores da complexa relação entre Estado, empregadores e sociedade?
Fica o questionamento para instigar aqueles profissionais que estão sempre em
busca de melhorar a realidade em que atuam, em busca de um bem comum.

152
Referências

______DECRETO No 4.074/2002, de 4 de janeiro de 2002. Regulamentou a Lei


no 7.802/1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/
D4074.htm>. Acesso em: 23 fev 2019.

______.DECRETO No 6.341, de 3 de janeiro de 2008. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6341.htm#art1>. Acesso
em: 4 fev 2019.

______.DECRETO No 9.679, de 2 de janeiro de 2019. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9679.htm#art10>. Acesso
em: 20 fev 2019.

ALI, S. A. Dermatoses ocupacionais. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2009.

ANAMT – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS DO TRABALHO. A história do


mundo. Curitiba, mar. 2014. Disponível em: <http://www.anamt.org.br>. Acesso em:
18 mar 2015.

ANAMT – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS DO TRABALHO. O que é a


especialidade. Curitiba, fev. 2019. Disponível em: <https://www.anamt.org.br/>.
Acesso em: 20 fev 2019.

BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado. Superintendência de Vigilância e Proteção da


Saúde. Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador. Centro Estadual de
Referência em Saúde do Trabalhador. Fluxograma para atenção integral à saúde
de populações expostas a agrotóxicos: atuação na atenção básica de saúde – SUS.
Salvador: DIVAST, 2017.

BARSANO, P. R. Segurança do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

BRASIL. Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília DF, 20 set. 1990. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/>. Acesso em: 22 mar 2015.

BRASIL. Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da


comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências

153
REFERÊNCIAS

intergovemamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.


Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília DF, 31 dez. 1990.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 22 mar 2015.

BRASIL. Anvisa. Cartilha sobre Agrotóxicos. Série Trilhas do Campo. Agência


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