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Doenças

Ocupacionais
Profa. Elaine Peixoto
SUMÁRIO
DOENÇAS OCUPACIONAIS ............................................................................................................. 3
1. DOENÇAS OCUPACIONAIS: VISÃO GERAL ................................................................................. 4
2. GESTÃO DAS PATOLOGIAS ...................................................................................................... 22
3. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE FÍSICO...................................................................... 42
4. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE QUÍMICO................................................................. 73
5. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE BIOLÓGICO.............................................................. 96
6. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE ERGONÔMICO ...................................................... 115

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DOENÇAS OCUPACIONAIS
Apresentação da disciplina
Prezado aluna e aluno,
Estamos iniciando a disciplina Doenças Ocupacionais, que possibilitará um melhor
entendimento dos efeitos do não cumprimento da legislação de saúde e segurança
para o trabalhador.
Você verá que o descuido na prevenção em saúde e segurança resulta em sérios danos
ao trabalhador, sendo estes sentidos também pela sua família, pelo seu grupo social e
pela sociedade como um todo. Os custos, neste caso, extrapolam os aspectos
financeiros.
Há doenças para as quais existem tratamentos. No entanto, outras comprometem
permanentemente a saúde e integridade do trabalhador, sendo que estas devem ser
preservadas por serem um direito do trabalhador e também por se visar à melhoria de
sua condição social, conforme estabelecido pela Constituição Federal (CF), Título II,
Capítulo II, art. 7º, que determina a obrigatoriedade de redução dos riscos inerentes
ao trabalho, por meio de normas de saúde, segurança e higiene. A CF estabelece
também, no Título VIII, Capítulo II, seção II, art. 200, que compete ao sistema único de
saúde colaborar na proteção do meio ambiente, incluindo neste o meio ambiente do
trabalho. As Doenças Ocupacionais serão apresentadas ao longo da disciplina em seis
blocos:

Bloco 1 – Doenças Ocupacionais: Visão Geral


Bloco 2 – Gestão das Patologias
Bloco 3 – Doenças Ocupacionais por Agente Físico
Bloco 4 – Doenças Ocupacionais por Agente Químico
Bloco 5 – Doenças Ocupacionais por Agente Biológico
Bloco 6 – Doenças Ocupacionais por Agente Ergonômico

Assim, para compreensão das doenças relacionadas ao trabalho, suas causas,


gravidade e ações voltadas à preservação da saúde e integridade do trabalhador, é que
iniciamos este estudo!

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O foco dos profissionais em segurança deve ser atuar na prevenção de acidentes, mas
conhecer os possíveis efeitos de acidentes do trabalho e situações a eles equiparados
permite estabelecer a prioridade de implementação de medidas de controle, bem
como estabelecer tantas medidas quantas forem necessárias até que o risco seja
considerado aceitável. Na definição de José da Cunha Tavares, em seu livro Noções de
prevenção e controle de perdas em segurança do trabalho, encontramos a seguinte
definição:

Risco aceitável é aquele que, reduzido a um determinado nível, é tolerado pela


empresa.

Nossa reflexão é que os possíveis danos relativos aos riscos aceitáveis sejam
unicamente materiais, nunca humanos.

1. DOENÇAS OCUPACIONAIS: VISÃO GERAL


Apresentação
Neste bloco, os temas que serão abordados são: Histórico relativo às Doenças
Ocupacionais; Conceitos de Saúde do Trabalhador e Vigilância em Saúde do
Trabalhador, e Conceitos de Doença do Trabalho e Doença Profissional.
As doenças relacionadas ao trabalho (doença do trabalho e doença profissional) são
entendidas como acidente do trabalho, de acordo com o art. 20 da Lei nº 8.213/1991
que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras
providências (BRASIL, 1991). Atuar na prevenção de acidentes, portanto, envolve
também atuar na prevenção das doenças do trabalho e profissional.
Vamos então conhecer o histórico de doenças ocupacionais?

1.1. Doenças Ocupacionais: Histórico


As doenças sempre estiveram presentes na vida de trabalhadores e preocuparam de
pessoas leigas a estudiosos. Nesse sentido, foram encontrados registros ocorridos
antes da era cristã, assim como outros em nossa era. A preocupação com a saúde do
trabalhador também se tornou evidente ao longo do tempo, pois alguns estudiosos

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observaram que a exposição a certos fatores, em determinadas situações de trabalho,
promovia certo adoecimento, como foi registrado por Hipócrates, que
viveu entre 460 a.C e 375 a.C.
Em outra situação, Plínio (23 d.C - 79 d.C.) descreveu soluções de proteção
desenvolvidas pelos trabalhadores: membranas de bexiga de carneiro ou panos para
proteção contra as poeiras.
Georgius Agrícola (1494-1555) e Paracelso (1493-1541) também dedicaram atenção ao
adoecimento dos trabalhadores, desenvolvendo e publicando estudos a esse respeito
(MORAES, 2014).
Em 1700, a publicação do médico Bernardino Ramazzini, De Morbis Artificum Diatriba,
caracterizou-se como marco em saúde ocupacional. Essa obra foi traduzida para o
português sob o título As doenças dos trabalhadores. Esse médico introduziu a
seguinte pergunta aos trabalhadores doentes: “Que arte exerce?” (RAMAZZINI, 2016,
p. 10), conforme apresentação da edição do livro em questão. A publicação permanece
atual, pois Ramazzini, considerado o pai da Medicina do Trabalho, relacionou o
adoecimento do trabalhador à sua exposição a determinados agentes de risco.

Para melhor compreender a contribuição de Ramazzini em relação à saúde-doença


dos trabalhadores e à necessidade de atuar na prevenção das doenças relacionadas
ao trabalho, leia o artigo A atualidade de Ramazzini, 300 anos depois, de René
Mendes.
Disponível em: <http://www.saudeetrabalho.com.br/textos-miscelania-6.htm>.
Acesso em: jan. 2019.

Você também poderá obter a obra de Ramazzini, As doenças dos trabalhadores.


Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-
digital/publicacao/detalhe/2016/6/as-doencas-dos-trabalhadores>. Acesso em: jan.
2019.

Mesmo depois da publicação de Ramazzini, as doenças relacionadas ao trabalho


continuaram ocorrendo. Com o advento da Revolução Industrial, o modo de produzir

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modificou-se, no entanto, as instalações industriais eram improvisadas, não existia
atenção à saúde do trabalhador, eram empregadas crianças, a sobrecarga de trabalho
era grande, sendo estes alguns dos fatores que contribuíram para o aumento de
doenças e acidentes, segundo Moraes (2014).
No início do século XIX, em 1802, começavam a aparecer reflexos de mobilizações
sociais com redução de jornada de trabalho e idade mínima para o trabalho. Em 1828,
a Inglaterra adota a contratação de um médico para visitar os locais de trabalho
periodicamente e propor medidas para as situações que expunham o trabalhador a
riscos, sendo este exemplo seguido por outros países da Europa até meados do século
XX (MORAES, 2014).
Em 1833, na Grã-Bretanha, a Factory Act (Lei das Fábricas) surge como legislação que
apresenta ações para proteção do trabalhador, em especial às crianças, definindo
carga horária de trabalho diária e semanal, restrição de idade para o trabalho noturno,
obrigatoriedade de escolas em fábricas para aqueles com menos de 13 anos e idade
mínima de 9 anos para o trabalho. A Factory Act surgiu depois de um inquérito
conduzido por Michael Sadler, cujo resultado foi de grande impacto na opinião pública
(THE NATIONAL ARCHIVES EDUCATION SERVICE).
Em 1919, é criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para promover a
justiça social (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2018). Em 1959, a OIT
emite a Recomendação nº 112 – Recomendação para os serviços de saúde
ocupacional, que torna obrigatória a existência de serviços de saúde nos locais de
trabalho (INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 1959).
A OIT, em 1999, formalizou o conceito de Trabalho Decente, que é assim caracterizado
(OIT, 2018):
o conceito de trabalho decente sintetiza a sua missão histórica de promover
oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho
produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança
e dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a
superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da
governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.

No Brasil existe, desde 2006, a Agenda Nacional do Trabalho Decente, compromisso


tripartite que envolve governo, organizações de trabalhadores e empregadores, que

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junta-se à promoção das “normas internacionais do trabalho, do emprego, da melhoria
das condições de trabalho e da ampliação da proteção social” (OIT, 2018).
No Brasil, até o final do século XIX, a mão de obra era escrava e a estes trabalhadores
não era atribuído qualquer direito. Com a abolição da escravatura e a imigração, houve
a formação de mão de obra assalariada composta por homens, mulheres e crianças
(CASSIAVILANNI; CRUZ; ABDALA, 2011).
Ainda no Brasil, em 1919, o Decreto nº 3.724 incluía as doenças profissionais na
definição de acidente do trabalho, mas não considerava as doenças causadas pelas
condições de trabalho (BRASIL, 1919). Em 1934, o Decreto nº 24.637 altera a definição
de acidente do trabalho, estabelecendo que deveria haver relação entre trabalho e
doença (BRASIL, 1934).
Não apenas legislação, mas órgãos voltados à scali ação das leis trabalhistas oram
criados, como o epartamento Nacional do Trabalho ( NT) em 1 2, ue em 1
tornou-se a Inspetoria do Trabalho, seção respons el por organi ação, higiene e
segurança do trabalho. Em 1938, surge o Serviço de igiene Industrial, ligado à
Inspetoria do Trabalho, ue em 1 2 tornou-se i isão de igiene e egurança do
Trabalho (DHST), em virtude de reforma de Departamento Nacional do Trabalho
(MORAES, 2014).
Em meados do século XX, em 1943, a crescente industrialização no país resultou em
modificações na legislação, sendo criada a Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL,
1943).
Apesar de todas essas iniciativas, a quantidade de acidentes continuou aumentando,
até que, em 1970, o Brasil atingia o recorde mundial de acidentes do trabalho. A
Recomendação nº 112 da OIT, de 1959, foi acatada pelo governo brasileiro que, na
década de 1970, tornaram obrigatórios os serviços de segurança e medicina do
trabalho para as empresas, tendo definido porte e grau de risco (MORAES, 2014).
Em 1972, a Portaria nº 3.237 estabeleceu a obrigatoriedade de serviços médicos e
serviços de higiene e segurança para todas as empresas com cem ou mais pessoas
(BRASIL, 1972).
Em 1977, na CLT foi alterado o Capítulo V do Título II relativo à segurança e medicina
do trabalho (BRASIL, 1977).

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Em 1978, foram publicadas as Normas Regulamentadoras (NR) pela Portaria nº 3.214
e, em 1991, a Lei nº 8.213, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência
Social e dá outras providências (BRASIL, 1991), que considera como acidente do
trabalho as doenças do trabalho e as doenças profissionais.
A partir de então, há publicação de Decretos que identificam e classificam doenças
relacionadas ao trabalho e o estabelecimento do Nexo Técnico
Epidemiológico, por exemplo. Há ainda o Seguro de Acidente do
Trabalho (SAT) estabelecido pela Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976 e o
Fator Acidentário de Prevenção (FAP) que, segundo o Decreto nº 6.957, de 9 de
setembro de 2009, reduz ou majora o FAP, conforme desempenho da empresa
considerando dados relacionados à ocorrência de acidentes e de doenças (BRASIL,
2009).
Vimos, portanto, ações mundiais e nacionais que promovem a legislação que protege
os trabalhadores, incluindo os aspectos voltados à preservação e promoção da saúde
destes.

1.2. Saúde do trabalhador


Sobre saúde do trabalhador, o podcast do Ministério da Saúde indicado neste subtema
da disciplina baseia-se, em parte, nos dados da Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde. De acordo com a OPAS, saúde
do trabalhador e saúde ocupacional contribuem para desenvolvimento sustentável e
socioeconômico, conforme descrito na sequência (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA
DA SAÚDE/ BRASIL, 2018):
Cerca de 45% da população mundial e cerca de 58% da população acima de
10 anos de idade faz parte da força de trabalho. O trabalho desta população
sustenta a base econômica e material das sociedades que por outro lado são
dependentes da sua capacidade de trabalho. Desta forma, a saúde do
trabalhador e a saúde ocupacional são pré-requisitos cruciais para a
produtividade e são de suma importância para o desenvolvimento
socioeconômico e sustentável.
De acordo com a OMS, os maiores desafios para a saúde do trabalhador
atualmente e no futuro são os problemas de saúde ocupacional ligados com
as novas tecnologias de informação e automação, novas substâncias

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químicas e energias físicas, riscos de saúde associados a novas
biotecnologias, transferência de tecnologias perigosas, envelhecimento da
população trabalhadora, problemas especiais dos grupos vulneráveis
(doenças crônicas e deficientes físicos), incluindo migrantes e
desempregados, problemas relacionados com a crescente mobilidade dos
trabalhadores e ocorrência de novas doenças ocupacionais de várias
origens.
A saúde do trabalhador e um ambiente de trabalho saudável são valiosos
bens individuais, comunitários e dos países. A saúde ocupacional é uma
importante estratégia não somente para garantir a saúde dos trabalhadores,
mas também para contribuir positivamente para a produtividade, qualidade
dos produtos, motivação e satisfação do trabalho e, portanto, para a
melhoria geral na qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade como um
todo. (RENAST, 2015)

No Brasil, desde 2004 é vigente a Política Nacional de Saúde do Trabalhador do


Ministério da Saúde, que tem por objetivo reduzir acidentes e doenças que se
relacionam ao trabalho por meio de implementação de ações de promoção,
reabilitação e vigilância na área de saúde. A Portaria nº 1.125 de 6 de julho de 2005
estabelece suas diretri es, ue abrangem os seguintes aspectos: “atenção integral à
saúde, a articulação intra e intersetorial, a estruturação da rede de informações em
Saúde do Trabalhador, o apoio a estudos e pesquisas, a capacitação de recursos
humanos e a participação da comunidade na gestão dessas ações” (ORGANIZAÇÃO
PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ BRASIL, 2018).
Em 2017, o Ministério da Saúde emitiu a Portaria de Consolidação nº 2, que estabelece
normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS)
havendo, nas Políticas voltadas à Saúde de Segmentos Populacionais, a Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (BRASIL, 2017). De acordo com o
anexo XV da Portaria de Consolidação nº 2, a Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora apresenta-se como:
Art. 2º. A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem
como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem
observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS),
para o desenvolvimento da atenção integral à saúde do trabalhador, com

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ênfase na vigilância, visando à promoção e à proteção da saúde dos
trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de
desenvolvimento e dos processos produtivos.

Art. 3º. Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente


de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de
trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou
privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados,
aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado são sujeitos
desta Política.

Parágrafo Único. A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da


Trabalhadora alinha-se com o conjunto de políticas de saúde no âmbito do
SUS, considerando a transversalidade das ações de saúde do trabalhador e o
trabalho como um dos determinantes do processo saúde-doença. (BRASIL,
2017)

Garantindo a atenção integral para a saúde do trabalhador há a RENAST (Rede


Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador), composta pelos Centros Estaduais e
Regionais de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), incluindo também
serviços que diagnosticam agravos à saúde relacionados ao trabalho e os registram no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA
DA SAÚDE/ BRASIL, 2018).
Existe, assim, a participação governamental para promover e proteger a saúde do
trabalhador, por meio de ação integrada de vários órgãos governamentais envolvendo
vários ministérios: Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério
da Previdência Social, caracterizada pela Política Nacional sobre Saúde e Segurança no
Trabalho (PNSST) com as seguintes diretrizes (MINISTÉRIO DA SAÚDE; MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL; MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2004, p.11):
I - Ampliação das ações, visando à inclusão de todos os trabalhadores
brasileiros no sistema de promoção e proteção da saúde;
II - Harmonização das normas e articulação das ações de promoção,
proteção e reparação da saúde do trabalhador;
III - Precedência das ações de prevenção sobre as de reparação;
IV - Estruturação de rede integrada de informações em Saúde do
Trabalhador;

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V - Reestruturação da formação em Saúde do Trabalhador e em segurança
no trabalho e incentivo à capacitação e à educação continuada dos
trabalhadores responsáveis pela operacionalização da política;
VI - Promoção de agenda integrada de estudos e pesquisas em segurança e
Saúde do Trabalhador.

Neste subtema, é possível tomar conhecimento de ações governamentais que


promovem e protegem a saúde do trabalhador fundamentadas em legislação, ações e
estratégias para promover e proteger a saúde de todos os trabalhadores, com ações
de prevenção prevalecendo sobre as de reparação. Estas estabelecem diretrizes para
atuar em reestruturação em formação em segurança e saúde do trabalhador, em rede
integrada de informações relativas à saúde do trabalhador e em estudos e pesquisas
nessa área do conhecimento. Tais ações articulam-se para promover a saúde do
trabalhador.

Podcast: Pausa para Saúde: Saúde do Trabalhador (9 min)


Disponível em: <https://bit.ly/2SJiXv9>. Acesso em: jan. 2019.

1.3. Vigilância em Saúde do Trabalhador


Para a Rede Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador (RENAST), a vigilância em
saúde do trabalhador (VISAT) expressa por Minayo, Machado e Pena (2011, p. 79)
deve estabelecer uma intervenção e negociação de controle e mudanças no
processo de trabalho, em sua base tecnológica ou de organização do
trabalho, o que virtualmente poderá eliminar o risco de acidentes e
adoecimento relacionado ao trabalho. ( MIN A YO ; M A CH AD O; PE NA,
20 11, p . 79).

Segundo Machado (1997), a vigilância em saúde do trabalhador tem como objeto


específico a investigação e intervenção na relação entre o processo de trabalho e a
saúde.
O conceito de vigilância em saúde do trabalhador apresentado por Machado faz-se
presente na apresentação sobre o tema realizada pela RENAST, fundamentada na
Portaria GM/MS nº 3.252/09:

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A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) é um dos componentes do
Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Visa à promoção da saúde e à
redução da morbimortalidade da população trabalhadora, por meio da
integração de ações que intervenham nos agravos e seus determinantes
decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos.
(BRASIL, 2018)

Morbimortalidade refere-se à relação entre a quantidade de casos de doenças ou de


morte e a quantidade de trabalhadores (população trabalhadora) num dado período.
Dessa maneira, a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) deve atuar de modo
contínuo e sistemático para identificar, conhecer, pesquisar e analisar agentes que
determinem e condicionem prejuízos à saúde ao ambiente e processos de trabalho,
considerando os aspectos organizacionais, sociais, tecnológicos e epidemiológicos para
planejar, implementar e avaliar intervenções para eliminar ou controlar tais agentes.
Os objetivos da VISAT são:
Identificar o perfil de saúde da população trabalhadora, considerando a
análise da situação de saúde:
a) A caracterização do território, perfil social, econômico e ambiental da
população trabalhadora.
b) Intervir nos fatores determinantes dos riscos e agravos à saúde da
população trabalhadora, visando eliminá-los ou, na sua impossibilidade,
atenuá-los e controlá-los.
c) Avaliar o impacto das medidas adotadas para a eliminação, controle e
atenuação dos fatores determinantes dos riscos e agravos à saúde, para
subsidiar a tomada de decisões das instâncias do SUS e dos órgãos
competentes, nas três esferas de governo.
d) Utilizar os diversos sistemas de informação para a VISAT. (BRASIL, 2018)

Para que os objetivos aqui apresentados sejam alcançados, há o documento


denominado Diretrizes de Implantação da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS,
que foi objeto de estudo deste subtema. De acordo com a Secretaria de Vigilância em
Saúde (2014), esse documento apresenta dados que permitem compreender a
Vigilância em Saúde do Trabalhador, como:
 Conceituação: é componente do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde com
o fim de promover a saúde e reduzir a morbimortalidade da população

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trabalhadora, ao integrar ações que intervenham nos agravos e fatores
determinantes originados em processos produtivos e modelos de
desenvolvimento.
 Princípios: estes são pautados no Sistema Único de Saúde, mantendo-se a
Vigilância em Saúde do Trabalhador integrada a outras vigilâncias, como a
Sanitária, Epidemiológica e Saúde Ambiental, e as redes assistenciais. Os
princípios são:
o Universalidade
o Equidade
o Integralidade das ações
o Integração interinstitucional
o Pluri-institucionalidade
o Integração intrainstitucional
o Responsabilidade Sanitária
o Direito do trabalhador ao conhecimento e à participação
o Controle e participação social
o Comunicação/publicização
o Hierarquização e descentralização
o Interdisciplinaridade
o Princípio da precaução
o Caráter transformador
 Objetivos: são aqueles já apresentados.
 O modelo: tem como característica ser intersetorial e participativo. É previsto
que as ações sejam coordenadas pelo SUS e articuladas pela RENAST.
 Estratégias: são ações para se alcançar determinado fim; aplicáveis ao conjunto
do SUS, considerando as características de cada Município, Região e Estado. As
estratégias devem considerar as estruturas existentes de Saúde do
Trabalhador, adotando os seguintes critérios:
o Priorização social
o Critério epidemiológico
o Abordagem Territorial

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o Ramo de atividade econômica
o Abordagem por cadeias produtivas
o Prioridades institucionais
o Interação entre estratégias

O documento ainda apresenta os seguintes tópicos: Complexidade da VISAT em rede,


que refere-se às possíveis articulações entre instâncias executoras do SUS, conexões
com instituições além do sistema de saúde; Inspeção sanitária, que configura-se por
observação direta do processo de trabalho, entrevistas com trabalhadores e análise de
documentos; Atribuições da VISAT, que apresenta as ações a serem realizadas para o
alcance dos objetivos; Atribuições dos Profissionais da VISAT, que estabelece os
profissionais da Vigilância em Saúde dos Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador para cumprimento das ações previstas e Atribuições da rede assistencial
em cooperação com a Vigilância em Saúde, que estabelece o que integra Atenção
Primária e Média e Alta Complexidade ‒ Urgências e Emergências, Serviços
Hospitalares e de Especialidades.
Podemos, assim, verificar que a vigilância em saúde do trabalhador é mais que apenas
preocupação com a saúde do trabalhador, mas configura-se como ação governamental
para promover a saúde do trabalhador e reduzir a morbimortalidade da população
trabalhadora.

Texto: Diretrizes de implantação da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS


Disponível em: <https://bit.ly/2XbRWin>. Acesso em: jan. 2019.

1.4. Doença Profissional x Doença do Trabalho

De acordo com a Lei nº 8.213 de 1991, doença profissional e doença do trabalho são
consideradas acidente do trabalho, apresentando as seguintes definições:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da
respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência
Social;

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II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.
(BRASIL, 1991)

Assim, a doença profissional é desencadeada por característica peculiar à atividade de


trabalho. Um exemplo é o saturnismo, que ocorre por manuseio de chumbo.
A doença do trabalho ocorre em virtude das condições em que o trabalho é realizado.
Um exemplo são problemas lombares decorrentes de transporte manual de cargas.
Quando o tema se trata de doenças ocupacionais, surge a expressão “nexo causal”,
que é o vínculo, a ligação com o trabalho, que resulta em doença profissional ou
doença do trabalho. Estas precisam ser corretamente identificadas em virtude de
benefícios previdenciários que, para doenças profissionais ou do trabalho,
correspondem ao auxílio-doença acidentário.
A expressão “prevenção” é bastante utilizada em segurança do trabalho como
indicação de ação que acontece antecipadamente para evitar a ocorrência de um
acidente. Segundo Moraes (2014), a prevenção de doenças é classificada em três fases:
 Prevenção primária, que corresponde à educação para adoção de
hábitos de vida saudáveis; com ações de imunização para impedir a
ocorrência de doenças e remover suas causas; promoção da saúde ou
intervenção sobre fatores sociais e ambientais.
 Prevenção secundária, que estimula ações para deter a doença em
estágio precoce e realizar tratamento enquanto está ainda
assintomática, para inibir a progressão da doença.
 Prevenção terciária, que ocorre quando a doença já está instalada e a
ação implica reduzir as possíveis complicações; a recuperação envolve
superar limitações decorrentes de doenças e agir na reinserção do
doente na sociedade.

Dentre as diferentes classificações de prevenção, a melhor para o trabalhador,


empresa, comunidade e sociedade é a prevenção primária, pois, eliminando as
possíveis causas de doenças, atua na promoção da saúde do trabalhador.

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1.5. Controle da Saúde Ocupacional do Trabalhador
O artigo indicado neste subtema apresenta análise de ações de Vigilância em Saúde do
Trabalhador, realizadas por equipes de Saúde da Família, de acordo com a percepção
de enfermeiros e médicos do município de João Pessoa.
Este estudo, que teve a participação de 179 profissionais, mostrou que as ações de
Vigilância em Saúde do Trabalhador não integram o cotidiano de trabalho das equipes,
pois ações nesse sentido são conduzidas apenas por parte desses profissionais. Relatos
de apoio às equipes de Saúde da Família pela Vigilância em Saúde do trabalhador
totalizam 32% dos casos. Menor ainda foi a participação relatada em processos de
qualificação em saúde do trabalhador, apontada por 24% dos profissionais. Os autores
concluem haver necessidade de fortalecer e ampliar processos de educação
permanente, bem como de apoio às equipes.
Embora seja estudo voltado a um único município, há no país em torno de 5.500
municípios, podendo a situação relatada no artigo se repetir nos demais, ou não.
Os autores afirmam que um ponto importante com relação à saúde dos trabalhadores
é considerar o trabalho como determinante no processo saúde-doença e, dessa
maneira, torna-se indispensável o conhecimento, por parte das equipes de saúde,
sobre o trabalho ou a ocupação do trabalhador sendo esses dados incorporados às
ações de promoção, vigilância e proteção, assistência e reabilitação, da rede de
atenção do Sistema Único de Saúde (SUS).
A relação entre trabalho e doença já esteve presente em outras situações ao longo da
história, como quando Ramazzini questionava os trabalhadores doentes sobre sua
ocupação.
O artigo ainda aponta os motivos pelos quais a Vigilância em Saúde do Trabalhador
deve ser adotada, sua fundamentação, as articulações necessárias, além da
necessidade de definição de estratégias de suporte técnico, pedagógico e institucional
para as equipes de Saúde da Família para que a atenção à saúde dos trabalhadores
possa efetivamente ser realizada, considerando apoio, dificuldades e oportunidades
enfrentadas pelas equipes do município de João Pessoa, na Paraíba.

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Artigo: Vigilância em Saúde do Trabalhador na Atenção Básica: aprendizagens com as
equipes de Saúde da Família de João Pessoa, Paraíba, Brasil
Disponível em: <https://bit.ly/2TPYdOK>. Acesso em: jan. 2019.

Conclusão
Neste bloco, abordamos o histórico de doenças ocupacionais, apresentando registros
efetuados por estudiosos e ações empreendidas pelo mundo e no Brasil para, além de
identificar doenças ocupacionais, prevenir a ocorrência destas. As ações referem-se a
normas trabalhistas internacionais e legislação vigente no país que visa a promover e
preservar a saúde e integridade do trabalhador.
No Brasil, a saúde do trabalhador é objeto da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora, que é parte do conjunto de políticas de saúde no
âmbito do SUS, existindo estrutura concebida para o cumprimento das diretrizes da
referida política.
O Sistema Nacional de Vigilância em Saúde tem como componente a Vigilância em
Saúde do Trabalhador (VISAT) para promover a saúde e reduzir a morbimortalidade da
população trabalhadora, atuando com integração de ações que venham a intervir nos
agravos e nos fatores contributivos presentes nos modelos de desenvolvimento e em
processos produtivos.
Foram apresentados os conceitos legais de doença profissional, que é aquela
produzida por realização do trabalho peculiar a determinada atividade, e de doença do
trabalho, que é aquela que ocorre devido às condições especiais em que o trabalho é
executado, devendo haver relação direta com este.
Por fim, indicamos a leitura de um artigo que analisou ações de Vigilância em Saúde do
Trabalhador, conforme a percepção de médicos e enfermeiros no município de João
Pessoa. Os autores apresentaram pontos positivos relacionados à Vigilância em Saúde
do Trabalhador e os pontos que precisam ser corrigidos ou melhorados, segundo os
profissionais envolvidos na pesquisa, para que as equipes dedicadas à Saúde da Família
possam efetivamente dar atenção à saúde dos trabalhadores.

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Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de 5 de outubro de
1988. 1. ed. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
Janeiro/2018.

BRASIL. Decreto nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919. Regula as obrigações resultantes


dos acidentes no trabalho. Seção 1, p. 1013-1013. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-3724-15-janeiro-
1919-571001-publicacaooriginal-94096-pl.html>. Acesso em: Janeiro/2018.

BRASIL. Decreto nº 6.957, de 9 de setembro de 2009. Altera o Regulamento da


Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999, no tocante
à aplicação, acompanhamento e avaliação do Fator Acidentário de Prevenção - FAP.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Decreto/D6957.htm>. Acesso em: jan. 2018.

BRASIL. Decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934. Estabelece sob novos moldes as


obrigações resultantes dos acidentes do trabalho e dá outras providências. Rio de
Janeiro: Diário Oficial da União, 12 jul. 1934. Seção 1, p. 14001-14001. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24637-10-julho-
1934-505781-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: Janeiro/2018.

BRASIL. Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT). Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:
<http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL 5.452-
1943?OpenDocument>. Acesso em: jan. 2018.

BRASIL. Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976. Dispõe sobre o seguro de acidentes


do trabalho a cargo do INPS e dá outras providências. Disponível em:
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18
BRASIL. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Título II da
Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à segurança e medicina do trabalho e dá
outras providências. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da


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<https://renastonline.ensp.fiocruz.br/noticias/cesteh-relembra-tres-decadas-area-
saude-trabalhador>. Acesso em jan. 2018.

21
2. GESTÃO DAS PATOLOGIAS
Apresentação
Neste bloco, exploraremos a Gestão de Patologias. De acordo com o Dicionário
Priberam (2008), esses termos apresentam os seguintes sinônimos:

Patologia corresponde a desvio em


relação àquilo que é considerado
Gestão corresponde a
normal do ponto de vista anatômico e
administrar, gerenciar.
fisiológico e que constitui ou
caracteriza doença.

Assim:

Como atuar diante do adoecimento do trabalhador?

Quais são as responsabilidades envolvidas?

Como identificar o adoecimento?

Para as empresas que admitem empregados regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), há uma série de requisitos a serem observados, que integram as
Normas Regulamentadoras, no mínimo.
Neste bloco, vamos nos aprofundar nos seguintes temas:
 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho (SESMT) – NR 4;
 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) – NR 9;
 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) – NR 7;
 Programas de Proteção à Saúde dos Trabalhadores;
 Acompanhamento da Aplicação dos Programas.

Vamos ao conteúdo?

22
2.1. Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
(SESMT) – NR 4
Neste subtema, vamos estudar a Norma Regulamentadora 4, em especial as
atribuições do SESMT relacionadas às doenças originadas ou produzidas em virtude do
trabalho.
Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
(SESMT), compostos por profissionais legalmente habilitados, devem atuar na
prevenção de acidentes e apresentam os seguintes requisitos quanto ao acidente de
trabalho:
g) esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção; (BRASIL,
1978c)

O esclarecimento sobre o acidente corresponde a apresentar as causas dos acidentes e


doenças ocupacionais, obtidas após investigação e análise destes, apresentando
medidas corretivas e suas justificativas para prevenir outros acidentes similares,
podendo também ser incluídos outros aspectos relacionados ao acidente, como
responsabilidades e custos, por exemplo.
h) analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes
ocorridos na empresa ou estabelecimento, com ou sem vítima, e todos os
casos de doença ocupacional, descrevendo a história e as características do
acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores ambientais, as
características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es) de
doença ocupacional ou acidentado(s); (BRASIL, 1978c)

Os dados solicitados nesse item envolvem a investigação e análise do acidente, sendo


as doenças ocupacionais equiparadas ao acidente do trabalho. Considerando estudos
efetuados quanto a acidentes do trabalho, acidentes sem vítima poderiam ter
resultado em acidentes com vítimas, ou aqueles com vítimas com lesões leves
poderiam resultar em acidentes com lesões graves ou até mesmo óbito. Assim,
identificar as causas de um acidente do trabalho permite desenvolver e implementar
medidas corretivas para que outros acidentes similares não mais ocorram, ou a
possibilidade de que a ocorrência seja remota.

23
i) registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho,
doenças ocupacionais e agentes de insalubridade, preenchendo, no mínimo,
os quesitos descritos nos modelos de mapas constantes nos Quadros III, IV,
V e VI, devendo o empregador manter a documentação à disposição da
inspeção do trabalho;
j) manter os registros de que tratam as alíneas "h" e "i" na sede dos Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho ou
facilmente alcançáveis a partir da mesma, sendo de livre escolha da
empresa o método de arquivamento e recuperação, desde que sejam
asseguradas condições de acesso aos registros e entendimento de seu
conteúdo, devendo ser guardados somente os mapas anuais dos dados
correspondentes às alíneas "h" e "i" por um período não inferior a 5 (cinco)
anos;
l) as atividades dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho são essencialmente
prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência,
quando se tornar necessário. Entretanto, a elaboração de planos de controle
de efeitos de catástrofes, de disponibilidade de meios que visem ao
combate a incêndios e ao salvamento e de imediata atenção à vítima deste
ou de qualquer outro tipo de acidente estão incluídos em suas atividades.
(BRASIL, 1978c)

Efetuados os registros de acidentes do trabalho e de doenças ocupacionais, de acordo


com os requisitos apresentados, cabe ao SESMT apresentar à empresa medidas
corretivas para as causas dos acidentes identificadas.

Para verificar outros conteúdos relativos a esta norma, consulte-a em:


<https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default>. Acesso em: 1 mar. 2019.

MAS ATENÇÃO!
A legislação está constantemente sendo atualizada, bem como os sites oficiais que as
divulgam. Assim, mantenha-se atento, quando efetuar consultas às Normas
Regulamentadoras.

24
2.2. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) – NR 9
O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), estabelecido pela Norma
Regulamentadora 9, deve ser desenvolvido para cada estabelecimento da empresa,
visando preservar a saúde e integridade dos trabalhadores, considerando a proteção
do meio ambiente e de recursos naturais, e devendo apresentar a seguinte estrutura
(BRASIL, 1978b):
a) planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e
cronograma;
b) estratégia e metodologia de ação;
c) forma do registro, manutenção e divulgação dos dados;
d) periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA.

Esse programa apresenta as seguintes etapas, definidas pela NR9 (BRASIL, 1978b):

a) antecipação e reconhecimentos dos riscos;


b) estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle;
c) avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;
d) implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia;
e) monitoramento da exposição aos riscos;
f) registro e divulgação dos dados.

A antecipação envolve identificar os riscos potenciais de futuras situações de trabalho,


modificações de métodos ou processos de trabalho existentes, novos projetos a serem
implantados ou novas instalações, permitindo o desenvolvimento de medidas para
reduzir ou eliminar possíveis riscos.
Na etapa de reconhecimento, os riscos ambientais devem ser identificados
apresentando, no mínimo (BRASIL, 1978b):
a) a sua identificação;
b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras;
c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propagação dos
agentes no ambiente de trabalho;
d) a identificação das funções e determinação do número de trabalhadores
expostos;
e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição;
f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de possível
comprometimento da saúde decorrente do trabalho;

25
g) os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados,
disponíveis na literatura técnica;
h) a descrição das medidas de controle já existentes.

Nessa etapa, o reconhecimento é avaliação qualitativa dos agentes de risco,


apresentando dados de provável fonte geradora, possíveis trajetórias e meios de
propagação. Ainda são identificadas as funções e a quantidade de trabalhadores
expostos ao agente de risco, bem como o tipo de exposição: contínua ou intermitente,
por exemplo. Devem também ser obtidos dados da empresa quanto a possíveis
agravos à saúde dos empregados em virtude do trabalho, bem como medidas de
controle existentes na organização para os agentes de risco identificados.
Juntamente a esses dados, conhecer os possíveis efeitos de exposição a determinados
agentes de risco, a partir de literatura técnica, permite compreender as interações
entre o agente de risco e o organismo humano, tais como: vias de penetração, órgãos
preferencialmente afetados, gravidade das lesões etc.
Essa etapa é muito importante, pois se houver agente de risco não identificado no
ambiente de trabalho, não serão desenvolvidas medidas para controlá-lo ou eliminá-
lo, mantendo o trabalhador exposto ao risco e, consequentemente, contribuindo para
o comprometimento da sua saúde.
A etapa seguinte refere-se à avaliação dos agentes de risco reconhecidos, sendo
efetuada avaliação quantitativa. A avaliação quantitativa torna-se necessária, segundo
a NR9 (BRASIL, 1978b), para:
a) comprovar o controle da exposição ou a inexistência de riscos
identificados na etapa de reconhecimento;
b) dimensionar a exposição dos trabalhadores;
c) subsidiar o equacionamento das medidas de controle.

As medidas de controle devem ser adotadas para eliminar, minimizar ou controlar os


riscos ambientais, se ocorrerem uma ou mais situações a seguir descritas (BRASIL,
1978b):
a) identificação, na fase de antecipação, de risco potencial à saúde;
b) constatação, na fase de reconhecimento de risco evidente à saúde; c)
quando os resultados das avaliações quantitativas da exposição dos

26
trabalhadores excederem os valores dos limites previstos na NR-15 ou, na
ausência destes os valores limites de exposição ocupacional adotados pela
ACGIH ‒ American Conference of Governmental Industrial Higyenists, ou
aqueles que venham a ser estabelecidos em negociação coletiva de
trabalho, desde que mais rigorosos do que os critérios técnico-legais
estabelecidos;
d) quando, através do controle médico da saúde, ficar caracterizado o nexo
causal entre danos observados na saúde os trabalhadores e a situação de
trabalho a que eles ficam expostos.

Identifica-se no item “d” a clara articulação entre dois programas estabelecidos pelas
Normas Regulamentadoras: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).
O PPRA é programa e, para tanto, de acordo com a NR9, deve estabelecer critérios
para avaliar a eficácia das medidas de controle implementadas considerando dados
das avaliações realizadas e o controle médico de saúde, de acordo com a NR7.
Deve ser previsto também monitoramento da exposição dos trabalhadores e das
medidas de controle, por meio de avaliação sistemática e periódica da exposição a um
determinado agente de risco para introduzir ou modificar medidas de controle que
possam ser necessárias (BRASIL, 1978c).
Deve haver registro do programa, compondo histórico técnico e administrativo do
desenvolvimento do mesmo, sendo este mantido pelo empregador por no mínimo
vinte anos, conforme NR9 (BRASIL, 1978c).
Ainda de acordo com a norma, esse programa deve ser submetido à análise global,
pelo menos uma vez ao ano, ou quando necessário, para que seu desenvolvimento
seja avaliado, os ajustes necessários sejam efetuados e para que sejam estabelecidas
novas metas e prioridades (BRASIL, 1978c). Alterações de leiaute, mudança de
estabelecimento, alteração nos processos produtivos e substituição de matérias-
primas são algumas das possíveis situações que indicam necessidade de análise global
do PPRA.
Esse programa permite conhecer a que riscos ambientais (físicos, químicos e
biológicos) os trabalhadores estão expostos, contribuindo também para as avaliações
médicas a que os empregados devem se submeter, de acordo com a NR7,

27
caracterizando articulação entre PPRA e PCMSO. Outro aspecto que define essa
articulação é que resultados das avaliações médicas realizadas em conformidade com
a NR7 podem indicar necessidade de inclusão de novas medidas de controle para os
agentes de risco reconhecidos e avaliados no PPRA ou modificação das já existentes
para garantir a saúde e integridade dos empregados.
O PPRA tem suas ações descritas em documento-base que apresenta
complementações e alterações. Este deve ser apresentado e discutido na Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), devendo uma cópia ser anexada ao livro de
atas da comissão (BRASIL, 1978c).
Para promover e preservar a saúde e integridade dos trabalhadores, a avaliação do
programa deve ser realizada para que seja verificada a efetividade das ações e
medidas de controle, que sejam efetuados ajustes, se necessário, e que sejam
definidas novas metas. A efetividade das ações e medidas de controle previstas pelo
PPRA é confirmada, no mínimo, pelos resultados de exames médicos a que os
empregados são submetidos.

2.3. Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) – NR 7


O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) é estabelecido pela
Norma Regulamentadora 7, sendo esse programa diretamente voltado à saúde e
integridade dos empregados.
O empregador deve indicar, entre os médicos dos Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho da empresa, o coordenador
responsável pela execução do PCMSO. Se a empresa for desobrigada a manter médico
do trabalho, o empregador deve indicar médico do trabalho, empregado da empresa
ou não, para coordenar o PCMSO (BRASIL, 1978a).
O médico coordenador deve realizar os exames médicos previstos na NR7 ou
encarregar a profissional médico familiarizado com os princípios da patologia
ocupacional e suas causas. Os exames mencionados são: admissional, periódico, de
retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional. O médico também pode
encarregar profissionais ou entidades capacitadas de exames complementares que
sejam necessários.

28
Há outras exigências relativas ao médico coordenador e empresa, que poderão ser
conhecidas consultando-se a Norma Regulamentadora 7.
Para os exames médicos, a NR7 estabelece exigências a serem cumpridas, como prazo
de realização e periodicidade, por exemplo, devendo, no mínimo, ser compostos por
avaliação clínica que envolve anamnese ocupacional, exames físico e mental e exames
complementares (BRASIL, 1978a).
De acordo com a NR7, quanto ao PCMSO, a norma estabelece (BRASIL, 1978a):
 O PCMSO é parte das iniciativas da empresa relacionadas à saúde dos
trabalhadores e deve se articular com o conteúdo das demais normas
regulamentadoras.
 O programa deve favorecer o instrumental clínico-epidemiológico ao abordar a
relação entre saúde e trabalho, considerando as questões que incidem sobre o
indivíduo e coletividade dos trabalhadores.
 O programa deve apresentar caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico
precoce dos agravos à saúde do trabalhador, dos casos confirmados de
doenças e de danos à saúde dos trabalhadores.
 O programa deve ser planejado e implementado considerando os riscos para a
saúde do trabalhador, em especial aqueles identificados em avaliações
previstas em outras normas regulamentadoras.

Para os exames a que o trabalhador se submete será emitido, pelo médico, Atestado
de Saúde Ocupacional (ASO) em duas vias, devendo a primeira ser arquivada no local
de trabalho do trabalhador e a segunda entregue ao trabalhador mediante recibo na
primeira via. O ASO deve conter os seguintes dados, no mínimo (BRASIL, 1978a):
a) nome completo do trabalhador, o número de registro de sua identidade e
sua função;
b) os riscos ocupacionais específicos existentes, ou a ausência deles, na
atividade do empregado, conforme instruções técnicas expedidas pela
Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho ‒SSST;
c) indicação dos procedimentos médicos a que foi submetido o trabalhador,
incluindo os exames complementares e a data em que foram realizados;
d) o nome do médico coordenador, quando houver, com respectivo CRM;

29
e) definição de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador
vai exercer, exerce ou exerceu;
f) nome do médico encarregado do exame e endereço ou forma de contato;
g) data e assinatura do médico encarregado do exame e carimbo contendo
seu número de inscrição no Conselho Regional de Medicina.

Dessa maneira, o trabalhador toma ciência de todo e qualquer resultado dos exames
médicos a que foi submetido, inclusive de exames complementares.
Os dados originados nos exames médicos (avaliação clínica, exames complementares,
conclusões e medidas aplicadas) devem compor registro no prontuário clínico
individual, que fica sob responsabilidade do médico coordenador do PCMSO. Esse
registro deve ser arquivado por, no mínimo, 20 anos depois do desligamento do
empregado (BRASIL, 1978a).
O PCMSO deve ser planejado para que ações de saúde sejam executadas durante o
ano, sendo objeto de relatório anual. O relatório anual deve relacionar a quantidade e
natureza de exames médicos por setores da empresa, incluindo avaliações clínicas e
exames complementares, estatísticas dos resultados considerados anormais e
planejamento para o ano seguinte, havendo modelo proposto disponível na NR7. Esse
relatório deve ser apresentado e discutido na CIPA.
Se os resultados dos exames médicos confirmarem ocorrência ou agravamento de
doenças ou alterações que indiquem disfunção de sistema biológico ou de órgão,
mesmo sem sintomas, cabe ao médico coordenador (BRASIL, 1978a):
a) solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho ‒
CAT;
b) indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição
ao risco, ou do trabalho;
c) encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento de
nexo causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta
previdenciária em relação ao trabalho;
d) orientar o empregador quanto à necessidade de adoção de medidas de
controle no ambiente de trabalho.

30
Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social, a Comunicação e Acidente do Trabalho
(CAT) é documento que reconhece o acidente do trabalho, acidente de trajeto ou a
doença ocupacional (BRASIL, 2018).
Observe que é atribuição do médico coordenador a orientação ao empregador quanto
à necessidade de medidas de controle no ambiente de trabalho. Tal orientação vai
contribuir para a inclusão de novas medidas ou para modificação de medidas já
existentes, podendo ainda a orientação fornecer mais dados para subsidiar as
medidas.

Há outras exigências relativas ao PCMSO, como frequência dos exames, prazos em


que estes devem ser realizados, parâmetros de controle biológico da exposição
ocupacional a alguns agentes químicos, parâmetros para monitoração da exposição
ocupacional a alguns riscos à saúde, diretrizes e parâmetros mínimos para avaliação e
acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora
elevados, diretrizes e condições mínimas para realização e interpretação de
radiografias de tórax e exigências relativas aos primeiros socorros.

Esses conteúdos podem ser consultados na Norma Regulamentadora, disponível em:


<https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default> (Acesso em: 1 mar. 2019).

2.4. Programas de Proteção à Saúde dos Trabalhadores


As normas regulamentadoras estabelecem a obrigatoriedade de desenvolvimento e
implementação de programas. Alguns são obrigatórios a toda e qualquer empresa que
admita empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como o
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), estabelecido pela NR9, ou o
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), estabelecido pela NR7.
Outros são voltados a atividades específicas como Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), estabelecido pela NR18 ou
o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), estabelecido pela NR22, dentre outros.

31
Existem também os programas adotados em virtude dos riscos identificados nos locais
e situações de trabalho, como o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e o
Programa de Proteção Respiratória (PPR).
De acordo com a NR18, é obrigatório que o Programa de Condições e Meio Ambiente
de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) seja elaborado e implementado em
estabelecimentos com vinte ou mais trabalhadores, sob responsabilidade do
empregador ou condomínio (BRASIL, 1978d). Esse programa deve considerar as
exigências que integram o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA).
O PCMAT deve ser composto pelos seguintes itens, no mínimo (BRASIL, 1978d):
a) memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e
operações, levando-se em consideração riscos de acidentes e de doenças do
trabalho e suas respectivas medidas preventivas;
b) projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as
etapas de execução da obra;
c) especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem
utilizadas;
d) cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no PCMAT
em conformidade com as etapas de execução da obra;
e) layout inicial e atualizado do canteiro de obras e/ou frente de trabalho,
contemplando, inclusive, previsão de dimensionamento das áreas de
vivência;
f) programa educativo contemplando a temática de prevenção de acidentes
e doenças do trabalho, com sua carga horária.

O PCMAT deve considerar todas as fases da obra, identificando todos os possíveis


riscos que poderão estar presentes e definindo as medidas de controle para prevenir
acidentes do trabalho e/ou doenças ocupacionais. Essa exigência é identificada nos
itens “a” e “d”, além de outras especí icas enumeradas
Um ponto importante indicado como obrigatório no PCMAT refere-se ao programa
educativo que deve abordar temas relacionados à prevenção de acidentes e de
doenças do trabalho. Um programa educativo dessa natureza reforça os requisitos
relativos ao empregador, estabelecidos na Norma Regulamentadora 1, que
estabelecem: a responsabilidade do empregador em cumprir e fazer cumprir aquilo
que diz respeito à segurança e medicina do trabalho, sobre os riscos profissionais que

32
poderão estar presentes nos locais e situações de trabalho, os meios desenvolvidos e
implementados pelas empresas para reduzir, controlar ou eliminá-los, os resultados de
exames médicos a que os trabalhadores são submetidos, bem como os resultados das
avaliações ambientais (BRASIL, 1978e).
O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) deve ser elaborado e implementado
por empresa ou Permissionário de Lavra Garimpeira apresentando as seguintes etapas
(BRASIL, 1978f):
a) antecipação e identificação de fatores de risco, levando-se em conta,
inclusive, as informações do Mapa de Risco elaborado pela CIPAMIN,
quando houver;
b) avaliação dos fatores de risco e da exposição dos trabalhadores;
c) estabelecimento de prioridades, metas e cronograma;
d) acompanhamento das medidas de controle implementadas;
e) monitorizarão da exposição aos fatores de riscos;
f) registro e manutenção dos dados por, no mínimo, vinte anos; e
g) análise crítica do programa, pelo menos, uma vez ao ano, contemplando a
evolução do cronograma, com registro das medidas de controle implantadas
e programadas.

A NR22 estabelece que, além de o PGR considerar as informações do Mapa de Risco,


elaborado sob responsabilidade da CIPAMIN, o programa com alterações e
complementações deve ser apresentado e discutido com a CIPAMIN para que as
medidas de controle sejam acompanhadas (BRASIL, 1978f).
Esse programa deve contemplar, no mínimo, os seguintes aspectos (BRASIL, 1978f):
a) riscos físicos, químicos e biológicos;
b) atmosferas explosivas;
c) deficiências de oxigênio;
d) ventilação;
e) proteção respiratória, de acordo com a Instrução Normativa nº1, de
11/04/94, da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho;
f) investigação e análise de acidentes do trabalho;
g) ergonomia e organização do trabalho;
h) riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em espaços
confinados;

33
i) riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas,
equipamentos, veículos e trabalhos manuais;
j) equipamentos de proteção individual de uso obrigatório, observando-se
no mínimo o constante na Norma Regulamentadora nº 6;
l) estabilidade do maciço;
m) plano de emergência e
n) outros resultantes de modificações e introduções de novas tecnologias.

Um programa de gerenciamento de riscos deve contemplar todos os riscos. Assim, em


linhas gerais, estão identificados os riscos físicos, químicos e biológicos (item “a”),
ergonomia e organização do trabalho (item “g”), riscos decorrentes do trabalho em
altura, em profundidade e em espaços confinados (item “h”) e riscos decorrentes da
utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos e trabalhos manuais
(item “i”). Há também aspectos específicos a serem contemplados pelo programa em
virtude da natureza dos serviços a serem realizados, como deficiência de oxigênio ou
ventilação. Como item do programa de gerenciamento de riscos, é indicado haver
plano de emergência, para que os danos produzidos pelo acidente sejam reduzidos ao
máximo.

Os programas estabelecidos pelas Normas Regulamentadoras podem ser consultados


em diversas publicações impressas ou em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default>. Acesso em: 1 mar. 2019).

Outro programa voltado à saúde do trabalhador é o Programa de Conservação


Auditiva (PCA), que também pode ser denominado Programa de Prevenção de Perdas
Auditivas (PPPA). Ele é composto por atividades cujo objetivo é prevenir ou estabilizar
perdas auditivas ocupacionais.
Em 2018, foi publicado pela Fundacentro o Guia de diretrizes e parâmetros mínimos
para a elaboração e a gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA), estando
este disponível no portal. As orientações aqui apresentadas estão em conformidade
com esse guia.
O desenvolvimento e implementação do PCA ocorre em virtude de:

34
a) o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) determina que,
quando a dose de exposição ao ruído for maior que 0,5, devem ser iniciadas
ações preventivas como monitoramento periódico, controle médico e
informação aos trabalhadores;
b) de acordo com Anexo 2 da Ordem de Serviço INSS/DAF/DSS nº 608 de
05/08/1998, havendo exposição a níveis de pressão sonora elevados, a
empresa deve desenvolver e implementar programa de conservação
auditiva;
c) segundo o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)
são estabelecidas diretrizes para que haja avaliação e acompanhamento da
audição de trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora elevados
sendo exames audiológicos de referência e sequenciais de modo a classificar
as perdas auditivas;
d) na NR 36 Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e
Processamento de Carnes e Derivados é estabelecida a obrigatoriedade de
implementação de PCA, quando houver trabalhadores expostos a níveis de
pressão sonora acima dos níveis de ação. (CUNHA, 2018)

O guia estabelece as diretrizes com os seguintes aspectos mínimos a serem


desenvolvidos (CUNHA, 2018, p. 11):
1. Introdução e objetivos
2. Política da empresa
3. Responsabilidades e competências
4. Avaliação da exposição
5. Gerenciamento audiológico e controle médico
6. Medidas de controle coletivo
7. Gestão de Equipamentos de Proteção Auditiva
8. Educação/capacitação e motivação de trabalhadores e demais envolvidos
no programa
9. Manutenção de registros
10. Avaliação do programa

Esse programa atende aos requisitos normativos e legais, devendo ser desenvolvido e
implementado quando a dose de exposição ao ruído foi superior a 0,5 (50%), sendo
este indicador importante de ser conhecido quando da elaboração do Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), além do atendimento de outras normas

35
regulamentadoras e a Ordem de Serviço INSS/DAF/DSS nº 608 de 5 agosto de 1998.
Dessa maneira, confirma-se a articulação de ações previstas em programas de saúde e
segurança para prevenção de acidentes ou estabilização das perdas auditivas.
O Programa de Proteção Respiratória (PPR) apresenta a finalidade de proteger o
empregado contra a deficiência de oxigênio ou contra a inalação de contaminantes
nocivos. O PPR refere-se aos equipamentos de proteção respiratória, caracterizando
proteção ao trabalhador, sendo adotado quando medidas de proteção coletiva já
tiverem sido adotadas, mas a exposição à inalação ainda não estiver sob controle;
quando medidas de controle estão sendo implantadas permitindo que a exposição por
inalação exceda limites de exposição, ou em situações de emergência ou exposição
ocasional à inalação e de curta duração, quando medidas de controle permanentes são
impraticáveis (TORLONI, 2016).
O PPR foi criado pela Instrução Normativa nº 1, de 11 de abril de 1994, do Ministério
do Trabalho e Emprego, havendo atualmente publicação da Fundacentro em sua
quarta edição, estando esta disponível no portal da Fundacentro (TORLONI, 2016). A
publicação é denominada Programa de proteção respiratória: recomendações, seleção
e uso de respiradores, elaborada sob coordenação técnica de Maurício Torloni com a
seguinte equipe de autores: Antonio Vladimir Vieira, José Damásio de Aquino, Sílvia
Helena de Araujo Nicolai e Eduardo Algranti.
O Programa de Proteção Respiratória (PPR) deve conter os seguintes aspectos, que
devem ser detalhadamente planejados, divulgados e implementados (TORLONI, 2016,
p. 18):
a) política da empresa na área de proteção respiratória;
b) abrangência;
c) indicação do administrador do programa;
d) regras e responsabilidades dos principais atores envolvidos;
e) avaliação dos riscos respiratórios;
f) seleção do respirador;
g) avaliação das condições físicas, psicológicas e médicas dos usuários;
h) treinamento;
i) ensaio de vedação;
j) uso do respirador e política da barba;
k) manutenção, inspeção, limpeza e higienização dos respiradores;

36
l) guarda e estocagem;
m) uso de respirador para fuga, emergências e resgates;
n) qualidade do ar/gás respirável;
o) revisão do programa;
p) arquivamento de registros.
A maioria desses elementos deve ser detalhada na forma de procedimentos
operacionais escritos.

Existe também a possibilidade de esse programa ser estendido voluntariamente a


trabalhadores, quando existe exposição abaixo de limites aceitáveis, que
correspondem ao limite de exposição ocupacional e nível de ação, em virtude de
trabalhadores demonstrarem necessidade de uso de respiradores para obter nível
adicional de conforto ou proteção (TORLONI, 2016).
Apresentamos os principais aspectos que devem integrar os programas estabelecidos
por normas e legislação vigentes, para que a saúde do trabalhador seja preservada.

2.5. Acompanhamento da Aplicação dos Programas


Neste bloco, a atenção é voltada aos programas de saúde e segurança definidos por
legislação e normas, de acordo com presença de um ou mais agentes de riscos nos
trabalhos a serem executados, nas diferentes situações de trabalho, nos locais de
trabalho. Os programas apresentados neste bloco têm como objetivo comum
preservar a saúde e integridade do trabalhador.
Esses programas devem ser planejados e devidamente fundamentados em legislação e
normas existentes, devendo ser implementados, pois apenas documentos não tornam
efetivas as medidas de controle previstas nos programas.
Vamos verificar como um programa de saúde e segurança é estruturado, de modo
geral, para melhor compreensão deste.
Um programa de saúde e segurança apresenta ações que são previstas,
implementadas, avaliadas e corrigidas, se for o caso, ou apresentando novas medidas
preventivas, podendo configurar um processo de melhoria contínua.
A melhoria contínua pode ser aplicada a programas de saúde e segurança ou sistemas
de gestão em saúde e segurança e caracteriza-se como processo iterativo de

37
aperfeiçoamento do programa, quando for esse o caso, que visa melhorar o
desempenho global em saúde e segurança (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO, 2005).

Figura 1 – Etapas de um programa de saúde e segurança conforme ciclo PDCA


Autora: Elaine A. F. Peixoto (2018).

Assim, um programa de saúde e segurança deve apresentar tanto a avaliação das


medidas de controle desenvolvidas e implementadas, verificando-se a eficácia das
mesmas, como a avaliação global do programa. Os resultados da avaliação podem
confirmar que os objetivos do programa foram alcançados, permitindo que novos
objetivos sejam definidos ou, se os objetivos não puderam ser alcançados, medidas
corretivas são desenvolvidas e implementadas. Para as duas situações, as ações
decorrentes da avaliação estão em conformidade com os princípios de melhoria
contínua.
A responsabilidade do empregador sobre a saúde e integridade do empregado é
evidente. Assim, os profissionais envolvidos nas ações, programas ou sistemas de
gestão em saúde e segurança devem atuar em conformidade com a legislação e ética,
cumprindo suas responsabilidades e atribuições.

Conclusão
Neste bloco, vimos as contribuições dos Serviços Especializados em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) na elaboração, implementação e

38
acompanhamento das medidas de controle em saúde e segurança, apresentando
tanto a contribuição que os integrantes dos SESMT efetuam aos empregados como aos
empregadores.
Abordamos a obrigatoriedade do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)
e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), os conteúdos, as
responsabilidades envolvidas, a articulação entre os dois programas, no mínimo, e a
atuação dos SESMT relacionada a estes.
Apresentamos também programas, que em virtude da natureza da atividade da
empresa, devem ser implementados, como o Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT) e o Programa de
Gerenciamento de Riscos (PGR). Outros programas, como o Programa de Conservação
Auditiva (PCA) e o Programa de Proteção Respiratória (PPR) devem ser
implementados, considerando os riscos identificados nos locais e situações de
trabalho.
Por fim, demonstramos a necessidade de acompanhamento da aplicação de
programas de saúde e segurança para que os objetivos específicos neles previstos
sejam efetivamente alcançados, contribuindo efetivamente para preservação e
promoção da saúde e integridade dos trabalhadores.
Bons estudos e até o próximo bloco!

Referências Bibliográficas
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Informática S.A., 2008. Disponível em:
<https://dicionario.priberam.org/gest%C3%A3o>. Acesso em: jan. 2018.

DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA. Patologia. Lisboa: Priberam


Informática S.A., 2008.Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/patologia>.
Acesso em: Janeiro/2018.

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39
Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-
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3.214, de 8 de junho de 1978b. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Disponível em: <
https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09.pdf>. Acesso
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BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº


3.214, de 8 de junho de 1978c. Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho. Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-04.pdf>.
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BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº


3.214, de 8 de junho de 1978d. Condições e meio ambiente de trabalho na indústria
da construção. Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18.pdf>.
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BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº


3.214, de 8 de junho de 1978e. Disposições gerais. Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf>.
Acesso em: 28 fev.2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº


3.214, de 8 de junho de 1978f. Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração.
Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-
22.pdf>. Acesso em: 28 fev.2019.

40
BRASIL. Instituto Nacional do Seguro Social. Ministério do Desenvolvimento
Social. Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. 2018. Disponível em:
<https://www.inss.gov.br/servicos-do-inss/comunicacao-de-acidente-de-trabalho-
cat/>. Acesso em: Janeiro/2018.

CUNHA, I. Â. da. (Coord.). Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração


e a gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA). São Paulo: Fundacentro,
2018.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (Genebra). Organização das Nações


Unidas. Diretrizes sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho. São
Paulo: Fundacentro, 2005.

TORLONI, M. (Coord.). Programa de proteção respiratória: recomendações, seleção e


uso de respiradores. 4. ed. São Paulo: Fundacentro, 2016.

41
3. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE FÍSICO
Apresentação
Neste bloco, o conteúdo será voltado às Doenças Ocupacionais originadas por
exposição aos agentes de risco físicos. Veremos que a exposição a esse tipo de risco,
sem que sejam adotadas quaisquer proteções, resulta no adoecimento dos indivíduos.
Estamos conhecendo os efeitos dos diferentes agentes de risco sobre a saúde dos
trabalhadores para que, compreendendo sua fonte, meio de propagação e possíveis
efeitos no organismo dos agentes de risco, possamos criar repertório técnico para
propor medidas de prevenção a esses riscos.
Vale observar que o estudo propriamente dito sobre os agentes de risco ocorre em
outras disciplinas. Aqui, abordaremos as prováveis doenças por exposição aos
diferentes agentes.
É importante observar que este bloco abordará doenças por exposição aos agentes do
risco físico, sendo então obrigatório que as empresas que admitem empregados
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desenvolvam e implementem o
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e os programas decorrentes das
avaliações efetuadas.
Este bloco tratará especificamente das doenças ocupacionais causadas por:
 exposição a temperaturas extremas: calor e frio;
 exposição à umidade;
 exposição à radiação;
 exposição a pressões anormais;
 exposição ao ruído;
 exposição à vibração.
Vamos iniciar o estudo destes conteúdos?

3.1 .Doenças ocupacionais por exposição ao calor


Os agentes do risco físico referem-se a formas de energia a que os trabalhadores
podem estar expostos. Esses agentes apresentam as seguintes características
(MORAES, 2014):

42
 Agem sobre os indivíduos ainda que não ocorra o contato direto com a fonte
do risco.
 Precisam de um meio de transmissão para sua propagação.
 Produzem lesões crônicas ou mediatas aos indivíduos a ele expostos.

Para compreensão dos efeitos do calor sobre o organismo humano, seguem dados que
abordam seu funcionamento:
 O corpo humano é homeotermo, ou seja, a temperatura interna do corpo se
mantém constante, em torno de 37 °C, com variações de 0,2 °C a 0,4 °C,
independentemente da temperatura ambiente (MORAES, 2014).
 Quando o indivíduo se expõe ao calor ambiental, o organismo reage para produzir
a perda de calor e manter a temperatura interna. Para tanto, ocorrem reações
fisiológicas para promover a perda de calor e estas produzem outras alterações,
resultando em distúrbio fisiológico. As reações são a sudorese e a vasodilatação
periférica (SPINELLI, 2006).
 A sudorese é o suor produzido quando ocorre exposição ao calor. A quantidade de
glândulas sudoríparas ativadas é diretamente proporcional ao desequilíbrio
térmico corrente. Em teoria, quando ocorre a produção do suor na quantidade de
um litro por hora, ocorre a perda de 600 kcal/h para o meio ambiente (SPINELLI,
2006).
 A vasodilatação surge quando a quantidade de calor perdida pelo corpo por
condução-convecção ou radiação é menor do que o calor ganho. A vasodilatação
corresponde a um fluxo maior de sangue na superfície cutânea e aumento da
temperatura da pele. Essa alteração produz aumento da quantidade de calor
perdido ou redução do calor ganho. O fluxo sanguíneo transporta calor do núcleo
do corpo para a superfície, ocorrendo as trocas térmicas (SPINELLI, 2006).

O calor é agente de risco presente em diversas atividades profissionais, como em


siderúrgicas, padarias e pizzarias, por exemplo.

Vamos entender como ocorrem as trocas térmicas, segundo Spinelli (2006):

43
 A condução ocorre quando dois corpos, em temperaturas diferentes, são colocados
em contato, havendo fluxo de calor do corpo com temperatura maior para aquele
de temperatura menor. O fluxo cessa quando a temperatura dos dois corpos se
iguala.
 A condução-convecção corresponde à troca térmica similar à apresentada na
condução, mas nesse caso um dos corpos é um fluido. Na transição do calor entre
os corpos, ocorrerá a movimentação do fluido.
 A evaporação ocorre quando existe um líquido envolvendo um sólido e o líquido
transforma-se em vapor em virtude de temperatura, sendo transferido ao meio
ambiente. Esse fenômeno se dá em função da quantidade de vapor já existente no
meio e da velocidade do ar na superfície do sólido. Se a pressão do vapor no meio
se mantiver constante, então o líquido deve absorver calor para passar a vapor.
 A radiação é o efeito que se refere a dois corpos em temperaturas diferentes,
havendo emissão de radiação infravermelha do corpo com maior temperatura para
o corpo com menor temperatura. Esse fenômeno ocorre mesmo se não houver
meio de propagação entre os corpos, sendo o fenômeno denominado calor
radiante. Para eliminar o calor radiante, deve-se utilizar barreiras refletivas.

As trocas térmicas são influenciadas pelos seguintes fatores: temperatura do ar,


umidade relativa do ar, velocidade do ar, calor radiante e tipo de atividade (SPINELLI,
2006).

44
Fluxograma 1 – Reações do corpo humano à exposição ao calor
Fonte: Adaptado de Spinelli (2006, p. 260).

As doenças que ocorrem devido à exposição ao calor são:


 Exaustão do calor: ocorre por insuficiência do fornecimento de sangue do córtex
cerebral (invólucro do cérebro), em virtude da dilatação dos vasos sanguíneos em
resposta ao calor. Como resultado, a baixa pressão arterial ocorre por inadequada
saída de sangue do coração e por vasodilatação, que se estende por extensa área
do corpo (SPINELLI, 2006).
 Cãibra do calor: é o espasmo muscular seguido de redução de cloreto de potássio
no sangue, em concentração inferior a um determinado nível crítico. Ocorrendo
sudorese e falta de aclimatização, ocorre a perda do cloreto de potássio (SPINELLI,
2006).
 Desidratação: está associada à exaustão do calor. No início, a desidratação reduz o
volume de sangue e promove a exaustão do calor, podendo produzir distúrbios na

45
função celular, levando até a deterioração do organismo. Efeitos que podem
ocorrer: ineficiência muscular; redução de secreção, em especial das glândulas
salivares; dificuldade de engolir; perda de apetite; acúmulo de ácido nos tecidos;
uremia temporária (falta de eliminação de matérias tóxicas produzidas pelo
funcionamento do organismo pela urina); febre e até morte (SPINELLI, 2006).
 Choque térmico: refere-se à temperatura do núcleo do corpo, que é tal que pode
afetar algum tecido vital que se encontra em contínuo funcionamento. Isso ocorre
porque há distúrbio no mecanismo termorregulador quando este fica
impossibilitado de manter o equilíbrio entre o indivíduo e o meio (SPINELLI, 2006).
 Intermação: apresenta os efeitos de pele quente e seca, alteração no centro
regulador, movimentos respiratórios rápidos e fracos, e aumento da pressão
arterial (SPINELLI, 2006).
 Catarata: produzida pela exposição prolongada à radiação infravermelha, resulta
em opacificação do cristalino (SPINELLI, 2006).

As medidas de controle a serem adotadas devem seguir a seguinte ordem: medidas de


proteção coletiva atuando na fonte e na trajetória, e medidas de aplicação do controle
ao pessoal, complementando as medidas de proteção coletiva ou se forem as únicas
de aplicação viável.
Vamos apresentar essas medidas, de acordo com Spinelli (2006):
No caso de sobrecarga térmica, devem ser adotadas as seguintes medidas para o
ambiente:
 insuflação de ar fresco no local onde o trabalhador permanece, modificando a
temperatura do ar;
 aumento da circulação do ar presente no local de trabalho, alterando a velocidade
do ar;
 exaustão de vapor de água originado num processo, alterando a umidade relativa
do ar;
 adoção de barreiras refletoras em aço inox ou alumínio polido, ou absorventes de
radiação infravermelha em aço oxidado ou de ferro, a serem instaladas entre o
trabalhador e a fonte. Essa intervenção atua no calor radiante;

46
 automatização de processo, substituindo o transporte manual de cargas por
transporte por esteira, por exemplo. Essa medida interfere no calor produzido pelo
metabolismo e na distância da fonte;
 adoção de condicionamento do ar, modificando a temperatura deste.

Com relação aos trabalhadores, devem ser adotadas as seguintes medidas (SPINELLI,
2006):
 adoção de equipamento de proteção individual, quando houver fontes de calor
radiante, como óculos cujas lentes retenham, no mínimo, 95% da radiação
infravermelha; vestimentas para diferentes partes do corpo como capuz, mangote,
luvas, por exemplo, que reflitam o calor radiante, em tecido leve e de cor clara;
 aclimatização que corresponde à adaptação fisiológica do organismo ao ambiente
quente. A exposição ao calor pela primeira vez produz no indivíduo aumento do
ritmo cardíaco, elevação da temperatura retal e baixa sudorese, propiciando
grande desconforto ou distúrbios como tontura ou náuseas. Nas quatro ou cinco
vezes seguintes de exposição ao calor, os desconfortos se reduzem, pois há queda
da temperatura retal e redução do ritmo cardíaco, havendo aumento da sudorese.
Em torno de duas semanas, ocorrerá a aclimatização total. A sudorese promove a
perda de cloreto de sódio, sendo esta menor quando a pessoa já está aclimatizada;
 limite de tempo de exposição ao calor envolve usufruir de períodos de descanso
para redução da carga térmica até níveis compatíveis com o organismo humano. O
Anexo 3 da NR15 ‒ Atividades e operações insalubres ‒ estabelece os limites de
tolerância para exposição ao calor;
 exames médicos, em especial os admissionais e periódicos, pois os primeiros
podem identificar problemas de saúde que podem ser agravados com exposição ao
calor e os periódicos promovem o acompanhamento contínuo do estado de saúde
dos trabalhadores, identificando agravos à saúde em estágios iniciais;
 reposição hídrica e salina (água e sal), medida indicada para trabalhadores
expostos ao calor para evitar desidratação e cãibra do calor, no entanto, essa
medida deve ser adotada sob orientação médica;

47
 educação e treinamento são uma medida frequentemente presente para
promover segurança e saúde do trabalhador. Essa medida deve abordar o risco de
exposição ao calor, execução das tarefas que envolvam a exposição ao calor e as
medidas de prevenção e proteção, incluindo o uso de equipamentos de proteção
individual e a importância de asseio pessoal.

Observe a possibilidade de ocorrência de várias doenças por exposição ao calor e a


necessidade de adoção de várias medidas para garantir a saúde e integridade do
trabalhador.

3.2. Doenças ocupacionais por exposição ao frio


A exposição ao agente de risco frio é observada em locais de trabalho em altas
altitudes e de clima frio, bem como em locais com fontes artificiais de frio, como
indústria alimentícia e frigoríficos, por exemplo.

A exposição ao frio provoca reações para que a temperatura do corpo humano seja
mantida. O mecanismo é a vasoconstrição: o sangue fica na parte central do corpo,
longe da pele, para evitar a perda de calor. Se a temperatura do corpo for reduzida a
menos que 35 °C, ocorre redução das atividades fisiológicas, como: queda da pressão
arterial e da frequência de batimentos cardíacos, além da diminuição do metabolismo
interno. Os tremores surgem para gerar calor metabólico para compensar as perdas de
calor (MORAES, 2014; SPINELLI, 2006). Se a temperatura interna do corpo atingir 29 °C,
o organismo caminha para sonolência e coma, porque o mecanismo termorregulador
que se localiza no hipotálamo é reprimido (SPINELLI, 2006).
A troca térmica em ambientes frios tem a velocidade do ar como fator contributivo,
pois retira as camadas de ar aquecidas que estão próximas às camadas de pele e
aumenta a troca térmica, exercendo efeito de resfriamento, avaliado por temperatura
equivalente (SPINELLI, 2006).
Quando as perdas de calor são maiores que os ganhos, a partir de 10 °C gradiente
ambiental, a temperatura do corpo regride para uma temperatura inferior a 36 °C,
caracterizando a hipotermia. Alguns dos sintomas podem ser: calafrios, redução de

48
consciência, dificuldade de tomar a pressão sanguínea, inconsciência e fibrilação
ventricular, por exemplo. Os sintomas se tornam mais severos conforme a
temperatura interna do corpo se reduz, sendo que abaixo de 33 °C de temperatura
interna é considerada hipotermia severa (MORAES, 2014).
Podem ocorrer também as lesões do frio, conforme Spinelli (2006):
 Ulcerações do frio: podem se apresentar como feridas, bolhas e necrose, quando
da exposição ao frio intenso.
 Pés de imersão: provocam estagnação do sangue e paralisação de pernas e pés,
ocorrendo quando os pés ficam umedecidos ou imersos em água fria por longos
períodos.
 Enregelamento de membros (congelamento): pode resultar em gangrena e
amputação.
 Desencadeamento de doenças reumáticas e respiratórias.

De acordo com Moraes (2014) e Spinelli (2006), as medidas de controle recomendadas


são:
 Exposição de acordo com limite de tolerância; embora não sejam estabelecidos
pelas Normas Regulamentadoras, existem valores definidos pela American
Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH).
 Atendimento ao disposto no art. 253 da CLT, relativo à exposição ao frio em
serviços frigoríficos.
 Aclimatização.
 Vestimenta de trabalho que permita tanto isolamento do corpo em relação ao frio,
como a camada de ar entre a pele e a roupa permita a eliminação parcial da
transpiração, de forma que haja troca regular de temperatura.
 Regime de trabalho que intercale períodos de descanso em locais com
temperaturas termicamente superiores ao local frio, para manutenção satisfatória
da resposta termorreguladora do organismo.
 Exames médicos, obrigatórios de acordo com a NR7, devem avaliar ou identificar
possíveis agravos à saúde do trabalhador. Os exames admissionais devem
identificar e excluir pessoas com possíveis doenças que sejam seriamente

49
agravadas por exposição ao frio, como diabetes, doenças articulares ou vasculares
periferias.
 Educação e treinamento devem ser previstos e implementados, apresentando os
riscos presentes nas atividades nessas condições, bem como as medidas de
controle estabelecidas, no mínimo.

3.3. Doenças ocupacionais por exposição à umidade


Outro agente de risco a ser abordado aqui é relativo às doenças por exposição à
umidade.
A exposição à umidade resulta em desconforto quando os trabalhadores estão
expostos a temperaturas no intervalo de 22 °C a 26 °C e umidade relativa entre 45% e
50%, segundo Moraes (2014), e que executem atividades e operações em locais
encharcados ou alagados (BRASIL, 1978).
Atividades como corte e acabamento em pedras ornamentais em marmorarias e
lavagem de veículos nos chamados lava-rápidos, por exemplo, podem expor o
trabalhador à umidade.
As possíveis doenças relacionadas à umidade são: doenças de pele, doenças do
aparelho respiratório e doenças circulatórias, podendo também contribuir para
acidentes como quedas (MORAES, 2014).
Seguem algumas medidas de controle:
 Propiciar escoamento de água em locais onde se realizem tarefas que exponham o
trabalhador à umidade, tais como corte, polimento, acabamento ou limpeza
(MORAES, 2014).
 Deve-se buscar a automação de certas operações e processos, não expondo o
trabalhador a esse agente de risco, quando possível.
 Modificação da porcentagem de umidade relativa do ar no ambiente por exaustão
dos vapores de água produzidos num determinado processo (SPINELLI, 2006).
 Adoção de equipamentos de proteção individual com acabamentos impermeáveis,
como aventais e proteção aos membros superiores e inferiores (MORAES, 2014).
 Atenção especial deve ser dada para a prevenção de acidentes: ferramentas ou
equipamentos elétricos utilizados nos serviços que exponham o trabalhador à

50
umidade; e o descarte de lamas e resíduos de tanques e canaletas deve atender à
legislação vigente (MORAES, 2014).

3.4. Doenças ocupacionais por exposição à radiação


Radiação é forma de energia que se propaga através do espaço nas formas de
partículas ou ondas eletromagnéticas que variam em tempo e espaço e viajam pelo
espaço na mesma velocidade que a luz (SPINELLI, 2006).
As radiações podem ser ionizantes ou não ionizantes. Veja no quadro as características
de cada uma destas classificações.

Quadro 1 – Radiações ionizantes e radiações não ionizantes


Fonte: adaptado de Spinelli (2006, p. 328).

Radioatividade corresponde à propriedade que determinados elementos químicos, de


peso atômico elevado, têm de emitir energia e partículas subatômicas de modo
espontâneo, sendo as partículas: alfa, beta, nêutrons e raios gama (SPINELLI, 2006).
Para uma melhor compreensão sobre radiações, seguem explicações que auxiliarão no
entendimento de suas medidas de controle.

3.4.1. Radiações Ionizantes


As radiações ionizantes classificam-se pelo espectro eletromagnético, altas energias e
grande poder de penetração. Assim, segundo Spinelli (2006):
 A radiação cósmica tem sua origem em fontes fora do globo terrestre, como Sol,
outros planetas e outras galáxias.

51
 A radiação natural corresponde à existência de elementos componentes da crosta
terrestre, que são normalmente radioativos, denominados radionuclídeos, como:
Urânio-238, Potássio-40, Carbono-14, entre outros.
 A radiação artificial tem sua origem em fontes artificiais, como as produzidas por
equipamentos que geram raios X, ou as produzidas por reator nuclear, como é caso
do Césio-137.
Consideram-se como não ioni antes as emissões de energia até 10 eV (elétron-Volt) e
com comprimento de onda maior que 200 nm (nanômetro). Essa aixa compreende:
radiação ultra ioleta, in ra ermelha, lu isí el e radio re u ncias, principalmente em
micro-ondas (MORAES, 2014).
A Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) estabelece que os efeitos
biológicos da exposição à radiação ionizante podem ser classificados como
determinísticos e estocásticos.
De acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (BRASIL, 2014, p. 6), seguem
os conceitos:
 Efeitos determinísticos: efeitos para os quais existe um limiar de dose absorvida
necessário para sua ocorrência e cuja gravidade aumenta com o aumento da dose.
 Efeitos estocásticos: efeitos para os quais não existe um limiar de dose para sua
ocorrência e cuja probabilidade de ocorrência é uma função da dose. A gravidade
desses efeitos é independente da dose.

Os efeitos biológicos produzidos pela radiação ionizante dependem de diversos


fatores, e seu conhecimento é imprescindível para a compreensão das medidas de
prevenção. Segundo Spinelli (2006, p. 341), são eles:
 quantidade total de energia da radiação absorvida;
 velocidade da radiação;
 área exposta do corpo humano;
 sensibilidade relativa das células e tecidos;
 suscetibilidades individuais;
 tempo de exposição.

52
Os efeitos são classificados como:
 somáticos: não são transmitidos hereditariamente;
 genéticos: são transmitidos hereditariamente;
 estocásticos: a gravidade não depende da dose;
 não estocásticos: a gravidade depende da dose.

As diferentes radiações possuem características de emissões radioativas ionizantes


específicas, com seus respectivos efeitos e medidas de controle.

53
Fonte: Spinelli (2006).

54
Segundo Moraes (2014, p. 49), os efeitos de radiações ionizantes no organismo
humano são assim descritos:
As radiações ioni antes t m a capacidade de alterar as caracterís cas sico-
uímicas das moléculas de um determinado tecido biol gico A sensibilidade
do corpo humano aos e eitos da radiação ioni ante est relacionada ao po
de célula As células humanas com reprodução r pida são mais
radiossensí eis, como as células da epiderme, os eritroblastos, as células da
medula ssea (tecido hematopoié co) e as células imaturas dos
espermato oides Ao contr rio, células ner osas ou musculares, ue não se
di idem e são bem di erenciadas, são radiorresistentes, portanto o cérebro e
os m sculos são menos a etados pela radiação ioni ante.

m resumo, a ação da radiação nos tecidos humanos é a seguinte:


 : di isão celular acelerada le a ao c ncer ou à morte.
 : di isão celular bastante r pida, provoca a esterilidade
tempor ria ou irre ersí el.
 tecido do revestimento gastrointestinal: causa n useas, mitos e hemorragias.
 tecido foliculopiloso: causa alopécia.

Diagrama 1 – Efeito das radiações ionizantes sobre os tecidos


Fonte: adaptado de Spinelli (2006, p. 361).

55
Os efeitos da exposição à radiação ionizante dependem dos seguintes fatores
(NOUAILHETAS, [20--]):
 dose absorvida (alta/baixa);
 taxa de exposição (crônica/aguda);
 forma da exposição (corpo inteiro/localizada).
As radiações ionizantes, segundo Nouailhetas [20--], podem, independentemente da
dose absorvida, inclusive de doses provenientes da radiação natural, induzir câncer ou
matar células.
Observe os possíveis efeitos já identificados por radioexposição aguda em adultos.

Quadro 2 – Efeitos de uma radioexposição aguda em adulto


Fonte: adaptado de Nouailhetas (20--, p. 32).

56
Quadro 3 – Exposições agudas e localizadas
Fonte: adaptado de Nouailhetas (20--, p. 33).

Havendo exposição às radiações ionizantes, ainda deve ser previsto o uso de


equipamentos de proteção individual quando as medidas de proteção coletiva
estiverem em fase de implementação, quando não forem suficientes contra a
exposição à radiação ou em situações de emergência.
Existe a necessidade de monitoração da exposição do trabalhador, efetuando-se a
dosimetria individual, bem como o monitoramento biológico, por meio de avaliações
médicas, em conformidade com o Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional. Também deve-se adotar equipamentos de proteção individual.

57
Em laboratórios, deve ser observada a prática da biossegurança com uso de
substâncias e fontes radioativas, devendo ser assegurados os princípios de proteção
radiológica do trabalhador. Os princípios são: justificação, otimização e limitação de
dose que integram a norma CNEN 3.01 de 2004, que já teve alterações e é baseada em
recomendações da Comissão Internacional de Proteção Radiológica ‒ ICRP 60 de 1990.
Devem também ser observados os requisitos relativos aos Serviços de radioproteção
estabelecidos por CNEN-NE-3.02 de 1988 e Requisitos de segurança e proteção
radiológica para serviços de medicina nuclear estabelecidos por CNEN NN 3.05 de
1989.
A abordagem adotada por Spinelli (2016) para tratar as radiações ionizantes é voltada
à Higiene Ocupacional, e apresenta seus efeitos à saúde.
Recomendamos agora a leitura de Okuno (2018), que apresenta as radiações de modo
mais detalhado, agora sob uma perspectiva da Física. O trecho indicado para leitura
explora em maior profundidade o acidente de Goiânia ‒ Brasil, os efeitos deste para as
pessoas diretamente envolvidas, para a comunidade, sociedade e governo.

Leia os Capítulos 8 – Acidente de Goiânia (páginas 95 a 104) e 9 – Efeitos Biológicos das


Radiações (páginas 105 a 116) da seguinte obra:

OKUNO, E. Radiação: efeitos, ricos e benefícios. São Paulo: Oficina de textos, 2018. p.
95-116.
Disponível em:
<https://bv4.digitalpages.com.br/?term=emico%2520okuno&searchpage=1&filtro=tod
os&from=busca&page=96&section=0#/legacy/162908>.

Embora o acidente de Goiânia não tenha sido o único envolvendo radiação ionizante
no mundo ao longo da história, o fato de ter ocorrido no Brasil aumenta o interesse
pelo seu estudo no âmbito no nosso curso.
Durante a leitura sobre os efeitos biológicos das radiações, você compreenderá os
efeitos da exposição à radiação ionizante sem as devidas medidas de proteção e as
reações do organismo diante desse tipo de exposição.

58
3.4.2. Radiações não ionizantes
As radiações não ionizantes são aquelas cuja energia é insuficiente para ionizar
matéria, no entanto, elas apresentam efeitos à saúde do trabalhador, se não forem
previstas e implementadas as devidas medidas de controle.
Veja o esquema ilustrativo do espectro eletromagnético e as diferentes radiações que
o integram.

Figura 1 – Espectro eletromagnético


Fonte: Carvalho (2017, p. 17).

Radiofrequência e micro-ondas
Radiofrequências e micro-ondas são as radiações com poder energético mais baixo. No
entanto, havendo incidência desses tipos de radiação sobre o sistema biológico,
acontecem as seguintes perdas energéticas: por condução, por movimentos dos íons
livres; dielétricas, em virtude da rotação das moléculas que produziram; e na interação
entre radiação e sistema biológico, em que ocorre transferência de energia, havendo
produção de calor (SPINELLI, 2006).

As radiações de radiofrequência e micro-ondas podem ser encontradas na


eletricidade atmosférica e em fontes artificiais, como estações de rádio e TV, radares,
sistemas de radiocomunicação e em equipamentos para processos de soldagem,
esterilização, fusão, para uso doméstico na preparação de alimentos, entre outros
(SPINELLI, 2006).

59
Radiofrequências e micro-ondas apresentam grande poder de penetração com energia
baixa e criam campos eletromagnéticos no interior de matéria viva.
Segundo Moraes (2014), exposição a micro-ondas pode apresentar efeitos reversíveis
ao sistema nervoso central, com sintomas de insônia, tontura, fadiga, fraqueza e dores
de cabeça.
Para as radiofrequências, devem ser adotadas medidas de controle em conformidade
com a Resolução n 0 da Anatel, de 2 de ulho de 2002, ue é o regulamento sobre
imitação da xposição a ampos létricos, Magné cos e letromagné cos na aixa de
Radio re u ncias entre 9 kHz e 3 GHz. Essa resolução está em conformidade com
diretri es propostas pela omissão Internacional para roteção contra Radiações Não
Ionizantes – ICNIRP (International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection).

Radiação infravermelha
Por ser radiação não ionizante, não possui energia suficiente para alterar a
configuração eletrônica dos átomos da matéria incidente, apresentando, assim,
apenas efeitos térmicos (SPINELLI, 2006).

A radiação infravermelha integra o espectro solar, e as fontes artificiais são: lâmpadas


específicas de radiação infravermelha, operações de corte a gás ou soldagem e
banhos de fusão, cujas temperaturas superficiais sejam superiores a 985 °C, por
exemplo.

Os efeitos térmicos podem incidir preferencialmente sobre os olhos e testículos. Nos


olhos, o e eito é sobre o cristalino, contribuindo para a catarata odem ocorrer
também mani estações agudas por exposição à radiação in ra ermelha, tais como:
otocon un ite (in ecção da con un a), fotoqueratide (in amação da c rnea),
pterígio (espessamento do tecido da conjuntiva) e alguns tipos de carcinomas
(tumores cutâneos a partir de tecido epitelial) (MORAES, 2014).
Segundo Moraes (2014), os testículos são órgãos sensíveis ao estresse térmico. Sua
temperatura normal é por volta de 33 °C; se esta aumentar, a partir de 37 °C ocorre a
destruição das células intersticiais, resultando em esterilidade.

60
Quanto à exposição às fontes de radiação infravermelha, estas devem ser
enclausuradas, quando possível, de modo a prevenir a exposição dos trabalhadores.
Outras medidas podem ser a adoção de barreiras opacas à radiação e de material não
combustível, para evitar incidência sobre superfícies de alta refletância e nos olhos dos
trabalhadores. Por fim, àqueles diretamente envolvidos em operações que os
exponham à radiação infravermelha devem ser adotados equipamentos de proteção
individual, como protetores faciais, elmo e óculos com tonalidades de acordo com os
diferentes processos de trabalho. Deverão também ser previstas vestimentas
apropriadas às diferentes operações (SPINELLI, 2006).

Radiação visível
Faixa do espectro eletromagnético na qual a pessoa tem acuidade visual. Essa faixa de
radiação se relaciona com efeitos fotoquímicos por alterar a configuração eletrônica.
Relaciona-se também com efeitos térmicos, resultando na transformação das energias
vibracional e rotacional (SPINELLI, 2006).
Essa faixa divide-se em outras faixas que classificam os diferentes comprimentos de
ondas nas cores que o ser humano enxerga.

Radiação ultravioleta
Dentre as radiações não ionizantes, as radiações ultravioleta (UV) apresentam o maior
poder energético, produzindo reações fotoquímicas em matéria viva, em virtude de
produzirem trocas de configuração eletrônica. A energia incidente da radiação
ionizante em sistemas biológicos transforma-se em energia vibracional e rotacional,
aumentando a energia cinética molecular e a produção de calor (SPINELLI, 2006).
A radiação ultravioleta se divide em UVA (chamada de luz negra), UVB (denominada
eritemática, que produz vermelhidão mórbida da pele) e UVC (denominada germicida,
que destrói germes). As radiações UVB e UVC apresentam ação mutagênica, sendo a
pele e os olhos os órgãos e tecidos mais expostos (SPINELLI, 2006).

61
As fontes dessa radiação são as seguintes (SPINELLI, 2006):
 Radiação UVA: lâmpadas de UV usadas para excitar líquidos fluorescentes para
uso industrial, lâmpadas de luz negra para efeitos visuais ou lâmpadas para cura
de resinas.
 Radiações UVB e UVC: arco elétrico utilizado em corte ou soldagem, arco de
plasma, lâmpadas germicidas e lâmpada a vapor de mercúrio de alta pressão, por
exemplo.

Como medidas de prevenção, devem ser adotadas as seguintes ações, a depender da


exposição:
Para a radiação UVA, as fontes devem ser posicionadas de modo que não ocorra
incidência direta sobre os olhos dos indivíduos.
Para as radiações UVB e UVC devem ser previstos: enclausuramento das fontes,
quando possível; barreiras opacas contra a radiação, de material incombustível,
evitando incidência sobre superfícies de alta refletância e nos olhos das pessoas, a
exemplo das barreiras adotadas contra radiação infravermelha; para trabalhadores
que atuam com arco elétrico, o uso de equipamentos de proteção coletiva deve ser
previsto e implementado. Para as pessoas que trabalham num raio de até 15 m da
fonte de emissão, deverá ser previsto o uso de óculos, com lentes incolores, de vidro
temperado e proteção lateral. Deverá também ser prevista proteção da pele daqueles
que trabalham expostos à radiação UVB e UVC, por meio de vestimentas de tecidos
com trama fechada e densa ou cremes que sejam barreira a este tipo de radiação
(SPINELLI, 2006).
Para ambientes de trabalho nos quais haja emissão de radiação UV, deverá haver
sinalização da existência desta fonte de radiação. As pessoas clinicamente
fotossensíveis não deverão se expor ocupacionalmente à radiação UV, sendo estas:
portadores de herpes, portadores de albinismo, portadores de lúpus eritomatoso,
pessoas sob tratamento com remédios que induzem fotossensibilidade, pessoas que
tiveram contato da pele com agentes fotossensibilizantes (SPINELLI, 2006).
Outro aspecto importante a ser observado:

62
A interação de radiação UV com comprimento de onda menor que 243nm
com o oxigênio do ar desencadeia a formação de ozônio, que é gás incolor,
tóxico e irritante. Os danos do ozônio devem ser minimizados, assegurando
adequada ventilação nas proximidades da fonte emissora de radiação UV
(SPINELLI, 2006, p. 374).

Recomendamos ue oc assista ao ídeo “Radiações Não Ioni antes”, produ ido pela
Fundacentro e pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho. O vídeo apresenta a conceituação de radiações não ionizantes, seus efeitos à
saúde do trabalhador e as medidas de controle que devem ser adotadas em diferentes
atividades de trabalho que expõem o trabalhador a este agente de risco físico.
Vídeo: Radiações Não Ionizantes (11min)
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mFSk1TUPFbY

3.5. Pressões anormais e câmara hiperbárica


De acordo com a NR15, Anexo 6, os trabalhos que expõem os trabalhadores a pressões
diferentes da atmosférica exigem o atendimento de requisitos desta norma, no
mínimo, para garantir a saúde e integridade do trabalhador: trabalhos sob ar
comprimido são executados em ambientes que obriguem o trabalhador a suportar
pressões maiores que a atmosférica, sendo necessária cuidadosa descompressão;
Trabalho Submerso é aquele realizado ou conduzido por um mergulhador em meio
líquido (BRASIL, 1978).
Para compreender os efeitos que as pressões anormais causam no organismo humano,
segue a explicação: “como o corpo é constituído de muitas ca idades pneum ticas e o
sangue é uma solução que se presta para o transporte de gases, sofre muito com as
variações de pressão, que alteram o volume dos gases, bem como a solubilidade dos
gases no sangue” ( IN I, 2006, p 15)

A exposição a pressões anormais ocorre em tubulões pressurizados e em trabalhos de


mergulho.

Os efeitos para o organismo humano são:

63
 Barotrauma: acidente que ocorre pela incapacidade de o organismo equilibrar a
pressão no interior das cavidades pneumáticas com a pressão ambiente em
variação (SPINELLI, 2006).

Quadro 4 – Volume pulmonar em função da profundidade


Fonte: Adaptado de Spinelli (2006, p. 316).

 Embolia traumática pelo ar: ocorre se um mergulhador tiver que subir


rapidamente, se for emergência, e tiver respirado ar comprimido no fundo. Nesta
situação o ar que está retido nos pulmões tem seu volume aumentado, podendo
romper os alvéolos, provocando a penetração do ar na corrente sanguínea
(SPINELLI, 2006).
 Embriaguez das profundidades: ocorre por impregnação difusa do sistema nervoso
central por elementos de mistura gasosa respirada a partir de uma determinada
profundidade, com manifestações motoras, sensitivas e psíquicas. Se uma pessoa
estiver a 30 m de profundidade, os sinais começam a aparecer; a 60 m, com ar
comprimido, as tarefas são prejudicadas e, a 90 m, poucas pessoas conseguem
realizar as tarefas previstas (SPINELLI, 2006).

Podem ainda ocorrer efeitos sobre o organismo quando este é exposto aos processos
de compressão e descompressão.
Na compressão pode ocorrer irritação dos pulmões, quando a pressão atinge o nível de
cinco atmosferas. Outro efeito é narcose por nitrogênio, que ocorre a partir de quatro
atmosferas e, quando a pressão atinge dez atmosferas, ocorre a perda de consciência.
Na descompressão, se for muito rápida, o nitrogênio pode ser liberado do sangue

64
numa velocidade maior que a capacidade que o sangue tem de transportá-lo aos
pulmões, provocando dores em várias partes do corpo (SPINELLI, 2006).
As medidas de controle referem-se à compressão e descompressão, cujos critérios
para o planejamento são estabelecidos pelo Anexo 6 da NR15.
De acordo com o Anexo 6 da NR15, a compressão deve elevar a pressão de 0,3 kgf/cm2
no primeiro minuto e, em seguida, observar sintomas e efeitos nos trabalhadores. A
partir de então, observando-se o acréscimo de, no máximo, 0,7 kgf/cm2 por minuto, a
pressão é aumentada até o valor de trabalho. Havendo qualquer problema em
qualquer etapa da compressão, esta deve ser interrompida (BRASIL, 1978).
Na descompressão deve-se observar, além da pressão de trabalho, o tempo de
permanência nesta pressão, ocorrendo a redução da pressão a uma taxa não superior
a 0,4 kgf/cm2 por minuto até o primeiro estágio, dependendo da tabela de
descompressão a ser utilizada, constante da NR15 (BRASIL, 1978).
Para prevenir acidentes há requisitos obrigatórios estabelecidos no Anexo 6 da NR15,
relativos aos trabalhos sob ar comprimido, como quantidade de compressões em
período de 24 horas, inspeção médica antes do trabalho, quantidade de horas de
exposição à pressão anormal, exigências relativas às operações nas Campânulas ou
Eclusas, exigência de permanência no canteiro após descompressão, bem como
exigências relativas ao trabalhador: idades mínima e máxima e com relação à avaliação
médica e exames médicos. O anexo da NR15 também apresenta requisitos para
trabalhos submersos (BRASIL, 1978).
A câmara hiperbárica é um compartimento resistente à pressão, selado, que pode ser
pressurizado com oxigênio puro ou com ar comprimido, podendo ser monopaciente
ou multipaciente.
A oxigenoterapia hiperb rica (O ) é indicada a rios pacientes, como ad u ante em
doenças agudas e cr nicas de car ter in eccioso, in amat rio e is u mico ste po de
tratamento de e ser reali ado em hospital, segundo resolução do onselho ederal de
Medicina ( M) e diretri es da ociedade rasileira de Medicina iperb rica (SBMH).
Há uma série de indicações para OHB, como: enxertos comprometidos ou de risco,
embolias gasosas, doenças descompressivas, embolia traumática pelo ar, por exemplo.

65
Os pacientes que se submetem a oxigenoterapia hiperbárica podem apresentar
barotrauma, convulsões, embolia gasosa, entre outros (MORAES, 2014).

3.6. Doenças ocupacionais por exposição ao ruído e exposição à vibração


3.6.1. Ruído
Ruído é agente do risco físico definido como fenômeno físico vibratório, com
características indefinidas de pressão em função da frequência, ou seja, numa dada
frequência podem existir variações de diferentes pressões.
O ruído está presente no ambiente de trabalho em instalações industriais e em outras
atividades, estando também presente em outras situações que não as de trabalho,
como no lazer ou em vias públicas, por exemplo.
A exposição ao ruído produz dois tipos de efeitos no organismo: auditivos e não
auditivos.
Os efeitos auditivos são o deslocamento temporário do limiar auditivo e a surdez
profissional. O deslocamento temporário do limiar auditivo, também denominada
surdez temporária, ocorre por exposição prolongada a níveis elevados de ruído, mas o
organismo se recupera com o decorrer de tempo de descanso. O deslocamento
permanente do limiar auditivo, também denominado perda audi a indu ida pelo
ruído (PAIR), pode ocorrer por ruptura do tímpano, ossículos ou outra estrutura de
condução; são os efeitos de origem condutiva. Também pode se dar por origem
neurossensorial, que ocorre por destruição dos órgãos ciliados de Corti. A perda
condutiva apresenta audiograma com perdas similares em todas as frequências; a
perda neurossensorial, no mesmo teste, apresenta a denominada gota acústica, que
representa grande perda da capacidade auditiva em torno da frequência de 4.000 Hz
(MORAES, 2014; SPINELLI, 2006).
Os efeitos não auditivos são psicológicos e fisiológicos, e se manifestam como dor de
cabeça, irritabilidade, vertigens, zumbido na orelha e cansaço excessivo, conforme
pesquisa com trabalhadores expostos a níveis de 100 dB (A) (SPINELLI, 2006).
Ainda segundo Spinelli (2006), o ruído intenso altera a condutividade elétrica do
cérebro, produzindo redução na atividade motora e consequente declínio da
capacidade de atenção, refletindo-se na queda de produtividade.

66
Veja o esquema que representa o mecanismo de audição, que é um processo de
transformação de energia.

Diagrama 2 – Mecanismo de audição


Fonte: Adaptado de Spinelli (2006, p. 223).

O dano auditivo é resultado de vários fatores:


 Nível de pressão sonora (NPS) e distribuição de NPS por frequências.
 Quantidade de vezes que a exposição se repete por dia.
 Duração da exposição.
 Suscetibilidade individual.
As medidas de controle relativas ao ruído são aquelas indicadas pela higiene
ocupacional na seguinte ordem: controle na fonte, controle no meio e controle
relativo ao homem.
 Na fonte: substituição do equipamento por outro mais silencioso; balanceamento
de partes móveis; lubrificação de mancais, rolamentos, entre outros; redução de
impactos, quando possível; alteração do processo; operações programadas para
que haja menor número de equipamentos funcionando simultaneamente;
aplicação de materiais para atenuar vibração; outras soluções voltadas à fonte.
 No meio: isolamento do receptor, evitando que a propagação chegue até ele.
 Controle no homem: limitação de tempo de exposição; equipamentos de proteção
individual.
Quanto à exposição ao ruído, o Programa de Conservação Auditiva (PCA) torna-se
obrigatório nas seguintes situações (CUNHA, 2018):
 O Anexo 2 da Ordem de Serviço INSS/DAF/DSS nº 608 de 05/08/1998 estabelece
que, havendo exposição a níveis de pressão sonora elevados, a empresa deve
desenvolver e implementar programa de conservação auditiva (PCA).

67
 A NR9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) estabelece que,
quando a dose de exposição ao ruído for maior que 0,5, ações preventivas devem
ser iniciadas, como: monitoramento periódico, controle médico e informação aos
trabalhadores.
 O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) estabelece
diretrizes para que haja avaliação e acompanhamento da audição de trabalhadores
expostos a níveis de pressão sonora elevados, sendo feitos exames audiológicos de
referência e sequenciais, de modo a classificar as perdas auditivas.
 A NR 36 Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento
de Carnes e Derivados estabelece a obrigatoriedade de implementação de PCA, no
caso de trabalhadores serem expostos a níveis de pressão sonora acima dos níveis
de ação.

3.6.2. Vibração
A vibração é agente do risco físico que se caracteriza por movimento oscilatório e
periódico ou aleatório de um elemento estrutural ou componente de uma máquina. A
partir de uma posição de repouso ocorre o movimento repetitivo, a vibração
(MORAES, 2014).
De acordo com a transmissão da vibração, esta classifica-se em: vibrações de corpo
inteiro (VCI) e vibrações localizadas, que, a partir de 2014 com alteração da NR15,
Anexo 8, passaram a ser identificadas por vibrações de mãos e braços (VMB) (BRASIL,
1978).
A vibração de corpo inteiro ocorre quando o corpo é suportado por superfície que
vibra, sendo estas: corpo sentado em superfície que vibra, em pé em piso que vibra e
deitado em superfície que vibra (MORAES, 2014).
A vibração localizada ocorre pela manipulação de equipamentos vibratórios atingindo
mãos e dedos dos operadores destes (MORAES, 2014).
As vibrações estão, portanto, presentes em várias atividades. A vibração de corpo
inteiro resulta do trabalho em máquinas agrícolas, tratores, caminhões, veículos,
ônibus, navios, entre outros. As vibrações de mãos e braços ocorrem quando uma

68
pessoa utiliza ferramentas manuais, tais como: parafusadeira, furadeira, motosserra,
politriz e martelete, por exemplo.
As vibrações podem produzir vários efeitos ao ser humano: pode tanto a etar o
sistema ner oso peri érico, como o sistema nervoso central, além de desconforto e
mal humor. De acordo com Moraes (2014), o indivíduo precisa ser exposto por vários
anos às vibrações para ocorrerem mudanças no estado de saúde da pessoa.
O corpo humano possui vibração natural. Se uma frequência externa coincidir com a
frequência natural do corpo (sistema) ou dos subsistemas que o compõe, ocorre a
ressonância, que é a amplificação do movimento.

Quadro 5 – Frequência de ressonância de partes do corpo humano


Fonte: adaptado de B&K (1989, p. 8).

Este dado permite-nos a melhor compreensão dos efeitos que as vibrações produzem
no corpo: perda de equilíbrio, lentidão de reflexos, alteração no sistema cardíaco,
distúrbios visuais (como visão turva), efeitos no sistema gastrointestinal (como enjoos,
gastrites e úlcera), cinetose (mal do movimento que ocorre no mar, em aeronaves ou
veículos terrestres, produzindo náuseas, vômitos e mal-estar em geral), degeneração
gradativa de tecido muscular e nervoso (em especial àqueles que se submetem a
vibrações de mão e braços, contribuindo para o fenômeno do dedo branco que causa

69
perda da capacidade de manipulação e tato em mãos e dedos) e efeitos psicológicos
(como falta de concentração) (MORAES, 2014).
Reclamações como dor de cabeça, irritabilidade, esquecimento, insônia, zumbido,
depressão, vertigem e perda auditiva são relatadas por pessoas que se expuseram à
vibração de mãos e braços.
As medidas de controle são estabelecidas por norma regulamentadora, sendo
classificadas como preventivas e corretivas, dependendo da situação (BRASIL, 1978).
As medidas preventivas envolvem: avaliação periódica da exposição; orientação aos
trabalhadores quanto aos riscos relativos à exposição à vibração, uso de equipamentos
de trabalho e direito de comunicar aos superiores sobre níveis considerados anormais
identificados durante suas atividades; vigilância da saúde dos trabalhadores e adoção
de medidas que permitam reduzir a exposição às vibrações.
Há também as medidas corretivas que, para exposição de mãos e braços à vibração,
estabelecem modificação do processo ou alteração da operação de trabalho; para
exposição à vibração de corpo inteiro, a norma determina modificação do processo ou
da operação de trabalho, envolvendo reprojeto de plataforma de trabalho,
reorganização de rotinas, procedimentos e organização do trabalho, adequação de
veículos utilizados quanto à adoção de assentos antivibratórios, melhoria em pisos e
pavimentos para circulação de veículos e equipamentos, redução de tempo e de
intensidade da exposição diária à vibração e alternância de operações ou atividade que
exponham o trabalhador a níveis mais elevados de vibração com outras de menores
níveis.

Conclusão
Neste bloco abordamos as doenças mais frequentes decorrentes da exposição aos
agentes do risco físico: calor, frio, umidade, radiações ionizantes e radiações não
ionizantes, pressões anormais, ruído e vibração, nesta ordem.
Para os agentes do risco físico, apresentados neste bloco, foram apresentadas as
prováveis lesões crônicas ou mediatas aos trabalhadores que se expõem a estes, bem
como, em alguns casos, a possibilidade destes contribuírem para ocorrência de
acidentes.

70
Desta maneira, conhecer os possíveis efeitos à saúde e integridade dos trabalhadores
permite desenvolver e implementar medidas de controle, bem como justificá-las.
Estamos na construção do repertório relativo às doenças decorrentes de exposição aos
agentes de risco, neste bloco, os agentes do risco físico.
Observem as referências adotadas para elaboração deste bloco e dediquem um tempo
para leitura e estudo destes materiais.

Referências Bibliográficas
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº 3214,
de 8 de junho de 1978. Atividades e operações insalubres Disponível em:
<http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/nr-15-atualizada-2014.pdf>.
Acesso em: jan. 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Constituição (1978). Portaria nº 3214,


de 8 de junho de 1978. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Disponível em:
<http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR-09.pdf>. Acesso em: jan.
2019.

BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Ministério da Ciência, Tecnologia e


Inovação. Diretrizes básicas de proteção radiológica. Rio de Janeiro: Comissão
Nacional de Energia Nuclear, 2014.

BRÜEL; KJAER. Human vibration, booklet, November, 1989, 32p.

BRASIL. Lei nº 5452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:
<http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL 5.452-
1943?OpenDocument>. Janeiro/2019.

CARDOSO, E. M. Apostila educativa A energia nuclear. Rio de Janeiro: Comissão


Nacional de Energia Nuclear, [20--]. 54 p.

71
CARVALHO, R. P.; OLIVEIRA, S. M. V. de Aplicações da energia nuclear na saúde. São
Paulo: SBPC; Viena: IAEA, 2017. [livro eletrônico].

CUNHA, I. Â. (Coord.) Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração e a


gestão do Programa de Conservação Auditiva (PCA). São Paulo: Fundacentro, 2018.

MORAES, M. V. G. Agentes ,b
2 ed ão aulo: rica, 2014.

NOUAILHETAS, Y. Apostila educativa Radiações ionizantes. Rio de Janeiro: Comissão


Nacional de Energia Nuclear, [20--]. 42 p.

SPINELLI, R.; BREVIGLIERO, E.; POSSEBON, J. Higiene ocupacional: agentes biológicos,


químicos e físicos. São Paulo: Senac São Paulo, 2006.

72
4. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE QUÍMICO
Apresentação
Prezados alunas e alunos,
Continuando os estudos sobre as doenças ocupacionais, este bloco é dedicado àquelas
relacionadas aos agentes do risco químico.
A exposição de pessoas aos diferentes agentes de risco sem as devidas proteções pode
resultar em efeitos nos organismos humanos que variam de lesões leves a graves e,
até mesmo, à incapacidade permanente, podendo inclusive levar à morte.
Vamos então conhecer as doenças por exposição aos agentes do risco químico e suas
respectivas medidas de prevenção. Para isso, o conteúdo deste bloco está dividido da
seguinte maneira:
 e nição de Agente Químico
 oenças Ocupacionais Causadas por Gases e Vapores
 Pneumoconioses e Outras Doenças Ocupacionais Causadas por Substâncias
Químicas
 Anatomia, Fisiologia da Pele e Dermatoses Ocupacionais
 Agrotóxico
Os diferentes recursos adotados neste bloco vão auxiliar no estudo deste conteúdo.
Vamos começar?

4.1 Definição de Agente Químico


De acordo com a Portaria n. 25 de 29de dezembro de 1994, o Mapa de Riscos, que
deve ser elaborado pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), classifica
os agentes do risco químico como: poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases, vapores e
substâncias compostas ou produtos químicos em geral (BRASIL, 1994).
A Norma Regulamentadora 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais considera
agentes do risco químico:
as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo
pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases
ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter
contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão
(ATLAS EDITORA, 2018, p. 149).

73
Cada agente de risco químico tem características específicas, podendo, em virtude
destas, interagir com o corpo humano. A maior parte dos agentes de risco químico
dispersa na atmosfera como aerodispersoides (sólidos e líquidos), ou no estado gasoso
(gases e vapores) (SPINELLI, 2006). Vamos compreender esta classificação.
Os aerodispersoides são partículas líquidas ou sólidas: poeiras, fumos, névoas e
neblinas. Estes se dispersam no ar e permanecem em suspensão por longo período de
tempo em virtude de seu tamanho (SPINELLI, 2006).
Poeiras e fibras: são partículas sólidas, geradas por ação mecânica de ruptura de
sólidos em operações como: perfuração, explosão, lixamento, trituração etc. e com
dimensão geralmente maior que 0,5 micrômetro. O sistema respiratório dos seres
humanos possui proteção para as poeiras maiores que 10 micrômetros, mas não para
as poeiras menores que 10 micrômetros. Assim, para as poeiras produzidas em
processos industriais cujas dimensões (diâmetro) estejam entre 0,5 e 10 micrômetros,
o organismo não apresenta proteção, sendo estas partículas denominadas particulado
respirável. As poeiras com dimensões menores que 0,5 micrômetro são geralmente
reexaladas. As fibras respiráveis têm diâmetro menor que 3 micrômetros e
comprimento maior que 5 micrômetros (SPINELLI, 2006).

Fumos: são partículas sólidas originadas de poeiras por condensação ou oxidação de


vapores de substâncias sólidas à temperatura ambiente. Estas têm dimensões
menores que 0,5 micrômetro e são produzidas em operações de fusão de metais,
soldagem ou outras que envolvam aquecimento (SPINELLI, 2006).

Névoas: são partículas líquidas produzidas por ruptura mecânica e sua dimensão é
geralmente menor que 0,5 micrômetro. São produzidas em operações de pulverização
de líquidos como tintas, inseticidas etc. (SPINELLI, 2006).

Neblinas: são partículas líquidas produzidas por condensação de vapores de


substâncias líquidas a temperaturas normais, com dimensões usualmente menores
que 0,5 micrômetro (SPINELLI, 2006).

74
Gases e vapores apresentam-se no estado gasoso e suas características são:
Gás: é uma substância que, em condições normais de pressão e temperatura, já se
encontra no estado gasoso. Como exemplo há o ar, hidrogênio, hélio etc. (SPINELLI,
2006).

Vapor: corresponde ao estado gasoso de uma substância que, em condições normais


de pressão e temperatura, está no estado líquido (SPINELLI, 2006).

Gases, vapores e aerodispersoides são classificados conforme sua ação no organismo e


podem ser: irritantes, anestésicos e asfixiantes.
Irritantes: relacionam-se à solubilidade de gases e vapores, irritando as vias aéreas,
que são muito úmidas. Ainda, os gases e vapores muito solúveis atacam as vias aéreas
superiores, nariz e garganta, pois se solubilizam no primeiro contato com o trato
respiratório. Aqueles que são pouco solúveis atacam as vias aéreas inferiores
compostas por bronquíolos e alvéolos. Existem os gases irritantes primários e os
secundários. Os primários provocam irritação local e os secundários provocam
irritação e ação tóxica generalizada (SPINELLI, 2006).

Anestésicos: são gases e vapores que exercem efeitos anestésicos, havendo


anestésicos sobre as vísceras, rins e fígado, sobre o sistema formador de sangue, sobre
o sistema nervoso central e sobre o sistema circulatório e o sangue (SPINELLI, 2006).

Asfixiantes: podem ser simples ou químicos. Os gases e vapores asfixiantes simples não
apresentam efeito tóxico e deslocam o oxigênio, deixando o ambiente deficiente deste
elemento. O oxigênio no ar deve estar em proporção entre 19,5% e 23,5%. Para
concentrações maiores que 23,5% há a possibilidade de inflamação e risco de explosão
e, para porcentagens inferiores a 19,5%, caracteriza-se risco à segurança e saúde do
trabalhador. Os asfixiantes químicos são responsáveis por interferências no
mecanismo de troca gasosa, impedindo que o oxigênio seja aproveitado pelo
organismo (SPINELLI, 2006).

75
As poeiras, que são aerodispersoides, produzem efeitos no organismo, a saber
(SPINELLI, 2006):
 Irritantes: são aquelas que produzem irritação na mucosa do trato respiratório e,
assim, produzem doença pulmonar crônica e inespecífica.
 Fibrogênicas: são as poeiras que produzem lesões permanentes nos pulmões, as
denominadas fibroses.
 Cancerígenas: afetam o mecanismo regulador bioquímico e transformam células
saudáveis em células malignas.
 Alergênicas: são aquelas poeiras que produzem alergias respiratórias como
alveolite e asma; geralmente, poeiras vegetais, fungos e pelos de animais são
responsáveis por tais afecções.
 Tóxicas: são aquelas poeiras que atingem o trato respiratório, o sistema nervoso
central e os órgãos internos.
 Efeitos cutâneos: são produzidos por urticárias e dermatites.

As poeiras também podem apresentar características de serem incômodas, sem


apresentação de outros efeitos sobre o organismo.
Atenção especial (e tão importante quanto os demais agentes químicos) deve ser
atribuída aos solventes, produtos utilizados frequentemente na indústria para diluição
de vernizes, tintas, limpeza de peças e diluente de outros produtos, em virtude da
composição bastante variada (SPINELLI, 2006).
Os efeitos dos solventes no organismo podem ser crônicos, agudos e outros.
Efeitos crônicos dependem do tipo de solvente. Hidrocarbonetos clorados atacam rins
e fígado, e hidrocarbonetos aromáticos afetam o sistema formador do sangue
(hematopoiético), podendo provocar leucopenia e leucemia (SPINELLI, 2006).
Efeitos agudos são aqueles caracterizados por irritação do trato respiratório, dos olhos
e do trato digestório. Os solventes dissolvem a gordura natural da pele, que fica
esbranquiçada e ressecada. Também têm atuação sobre o sistema nervoso central,
produzindo excitação com sensação exagerada de bem-estar, euforia, tontura e
alucinação visual, seguida de depressão. Surge, então, a sensação de sonolência,

76
torpor, dificuldade respiratória e coma, podendo evoluir para morte por depressão
cardiorrespiratória (SPINELLI, 2006).
Além dos efeitos crônicos e agudos podem ocorrer efeitos irritantes do trato
respiratório, das mucosas e desengraxante da pele. Alguns solventes também têm
efeitos sinérgicos, ou seja, potencializam efeitos quando na presença de outros
agentes (SPINELLI, 2006).
Diante dos inúmeros tipos de agentes químicos e suas características, vamos verificar
as possíveis doenças que poderão se desenvolver por exposição a estes agentes mais
adiante.

4.2
Gases e vapores podem ser classificados como irritantes, anestésicos e asfixiantes.
Monóxido de carbono: gás incolor, sem cheiro, sem sabor e não irritante que pode
provocar a morte em poucos minutos. Ataca o sistema nervoso central e o coração,
produzindo: cefaleia, confusão mental e alterações visuais, podendo resultar em
taquicardia, arritmias, angina, convulsão ou coma (MORAES, 2014).
O monóxido de carbono apresenta 240 vezes mais afinidade com a hemoglobina do
que o oxigênio. Havendo esta ligação, ocorre ação tóxica, pois o oxigênio é reduzido
nos tecidos com outros efeitos negativos ao organismo, impedindo que o oxigênio seja
armazenado nos músculos. Pode também ocorrer intoxicação crônica por baixas
concentrações em exposições prolongadas, com efeitos t xicos cumula os, sendo
alguns destes: ins nia, ce aleia, adiga, doenças respirat rias, cardiopatias e
arterosclerose, por exemplo. A intoxicação por monóxido de carbono pode evoluir
para sequelas neurológicas, precoces ou tardias. Dependendo da exposição, existem
tratamentos médicos recomendados (MORAES, 2014).
Como medida de controle deve-se observar o limite de tolerância estabelecido na
NR15, atendendo à legislação nacional vigente (ATLAS EDITORA, 2018).

Solventes como benzeno, xileno e tolueno também contribuem para doenças.


Benzeno é um hidrocarboneto cíclico arom co, incolor, líquido, volátil, de odor
agradável e inflamável, proibido pela NR15 desde 1 de janeiro de 1997. Para as

77
empresas que utilizam benzeno e que apresentam inviabilidade técnica ou econ mica
para ue o produto se a subs tuído, oi estabelecida a criação do rograma de
re enção da xposição Ocupacional ao en eno (PPEOB). A restrição ao benzeno vem
crescendo, sendo que a partir de 2007 o percentual permitido como agente
contaminante em produtos acabados passou a ser de 0,1% em volume (MORAES,
2014).
Os efeitos da exposição ao benzeno podem ser edema pulmonar, efeito agudo porque
o benzeno é irritante; intoxicação do sistema nervoso central, produzindo de narcose e
excitação seguidas de sonolência e tonturas, até perda de consciência e morte.
Também pode ocorrer alterações neurológicas e neuropsicológicas, perda auditiva,
vertigens, eritema e dermatite, estes últimos efeitos sobre a pele. Não há tratamento
específico para intoxicação por benzeno. Nos casos de intoxicação, deve haver
intervenção médica precocemente e, nos casos de alterações hematológicas, além do
acompanhamento médico, o indivíduo deve ser considerado suscetível ou
hipersensibilizado, podendo haver agravamento do quadro resultando em leucemia
(MORAES, 2014).
Quanto ao benzeno, MORAES (2014, p. 117) apresenta:
No rasil, a NR 15 (Anexo 1 -A) ue trata das subst ncias cancerígenas inclui
o benzeno de acordo com a Portaria n. 14 de 20/12/95. A Instrução
Norma a n 1 de 20 12 5 dispõe sobre a “A aliação das oncentrações de
Benzeno em Ambientes de Trabalho”, sendo o alor de Re er ncia
Tecnol gico (VRT) estabelecido para o benzeno de 1,0 ppm para as
empresas abrangidas no Anexo 1 -A (com exceção das empresas
sider rgicas, as produtoras de lcool anidro e a uelas ue de em subs tuir
o benzeno) e 2,5 ppm para as empresas sider rgicas.

Como importante ponto de observação, o VRT não é limite de toler ncia, mas “ alor
mínimo de concentração tecnologicamente possível para a continuidade operacional,
pois o benzeno é comprovadamente cancerígeno para humanos, sendo perigoso em
ual uer concentração” ( IN I, 2006, p 68)

78
Para compreender detalhadamente os efeitos do benzeno sobre o organismo, leia a
publicação da Fundacentro:
Efeitos da Exposição ao benzeno para a Saúde ‒ Série benzeno, Fascículo 1
Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-
digital/publicacao/detalhe/2013/2/efeitos-da-exposicao-ao-benzeno-para-a-saude-
serie-benzeno-fasciculo-1

Xileno, composto orgânico volátil, atua como depressor no sistema nervoso central e,
dependendo do tempo de exposição e concentração, pode produzir sonolência,
tontura, fadiga, narcose e morte, além de ser irritante de olhos, pele e mucosa. Pode
ser absorvido por via respiratória e cutânea. A pele, sob exposição crônica, pode
apresentar fissuras e dermatites. A NR7 ‒ Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional determina parâmetros de avaliação biológica para exposição ocupacional
ao xileno (MORAES, 2014).

Tolueno, hidrocarboneto arom co ol l e incolor, presente no petróleo, é um dos


solventes produzidos em maior quantidade, sendo que mais de 90% do tolueno
produzido é utilizado na produção de gasolina. Este solvente é usualmente absorvido
por via respirat ria, ocasionando irritação pulmonar, arritmia e e eitos depressores
sobre o sistema ner oso central Ocorrem, assim, mani estações como: sonol ncia,
eu oria, cansaço, cefaleia, tonturas, tremores, ataxia (não coordenação patológica dos
movimentos do corpo), con usão mental e con ulsões, em irtude dos e eitos
depressores sobre o sistema ner oso central A exposição a este agente pode pro ocar
depressão respirat ria, arritmias cardíacas e dist rbios hematol gicos com
possibilidade de levar à morte. A NR7 - Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional estabelece parâmetros de avaliação biológica para exposição ocupacional
ao tolueno (MORAES, 2014).

79
4.3 Pneumoconioses e Outras Doenças Ocupacionais Causadas por Substâncias
Químicas
Existem doenças denominadas pneumoconioses, que são aquelas cuja origem se dá
por inalação de poeiras fibrogênicas e que se acumulam nos pulmões. Estas poeiras
causam fibrose pulmonar, ou seja, endurecimento dos tecidos dos pulmões. Como
exemplos, podem ser citados: asbestose, bissinose e silicose (SPINELLI, 2006).
As pneumoconioses podem ser fibrogênicas ou não fibrogênicas. As primeiras
produzem alterações permanentes ou destruição da estrutura de alvéolos. As não
fibrogênicas produzem reação pulmonar, mas não alteram a estrutura alveolar e são
potencialmente reversíveis (SPINELLI, 2006).
Asbestose ocorre por inalação de fibras de asbesto (amianto), que resulta no
espessamento das membranas que revestem os pulmões, podendo evoluir para
câncer. A asbestose pode demorar de quinze a vinte anos para se instalar, assim, a
guarda dos exames específicos a que o trabalhador foi submetido (como os de função
pulmonar e teleradiografia do tórax) é necessária (SPINELLI, 2006).
Embora haja restrição à extração, industrialização, comercialização e distribuição do
uso do amianto no Brasil desde final de 2017, ainda existem produtos já fabricados
com este material que são manuseados, caracterizando-se como risco ao trabalhador.

Os possíveis efeitos que este agente de risco pode produzir para o organismo humano
são apresentados no filme Pulmão de Pedra.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dcURvaW3wDM>

Bissinose é pneumoconiose causada por inalação de fibras de cânhamo, linho ou


algodão. A inalação destas fibras produz broncoconstrição, que torna a respiração
difícil (SPINELLI, 2006).

Silicose é produzida por poeira que contenha sílica, atingindo os pulmões e causando
fibrose pulmonar e dificuldade progressiva de respirar, podendo evoluir para morte, se
as concentrações de sílica forem elevadas. Quando as partículas têm dimensões de 0,5
a 10 micrômetros, o organismo não tem defesa (SPINELLI, 2006).

80
Para conhecer sobre a sílica livre cristalizada, atividades que a utilizam e aplicações,
além de medidas para prevenir esta doença incurável, leia a publicação da
Fundacentro:
Sílica Manual do Trabalhador
Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-
digital/publicacao/detalhe/2013/3/silica-manual-do-trabalhador-2-edicao>

Neste bloco, as denominadas “outras doenças ocupacionais causadas por subst ncias
uímicas” oram assim identi icadas apenas para caracteri ação do conte do a ser
estudado.
Os agentes do risco químico por óleos minerais são resultado da refinação de petróleo
por vários processos possíveis, e são potencialmente cancerígenos. De acordo com
Spinelli (2006, p. 89)
as frações mais perigosas dos óleos minerais são:
destilados de vácuo não refinados ou levemente refinados.
Óleos de craqueamento catalítico de Peb. > 320°C.
Óleos lubrificantes de motor usados.
Teor de HPA (hidrocarbonetos polinucleares) para motores a gasolina é
maior que para motores a diesel.

Assim, conhecendo as frações dos óleos minerais é possível estabelecer medidas de


controle para prevenção de acidentes ou doenças.

Há ainda os metais pesados, que são elementos que ocorrem em pequenas


quantidades em sistemas naturais e associados a outros elementos, não podendo ser
destruídos. Se lançados no meio ambiente, podem ser absorvidos por tecidos vegetais
e humanos, e no corpo humano permanecem por muito tempo, pois a função de
eliminação destes é reduzida (MORAES, 2014).
Como exemplos de doenças causadas por metais pesados podem ser citados:
saturnismo, hidrargirismo, manganismo, aquelas por exposição ao cromo, cádmio,
arsênico.

81
Saturnismo é a denominação da doença ocupacional por exposição ao chumbo. O
chumbo é presente em indústrias de baterias, metalúrgicas, siderúrgicas, gráficas,
entre outras. As vias de ingresso são respiratória, oral e percutânea (SPINELLI, 2006).
Os sintomas podem ser precoces, agudos e subagudos e cr nicos, sendo alguns destes:
diminuição do ape te, dispepsia, dor abdominal de locali ação ariada, ence alopa a,
hipertensão arterial e impot ncia sexual, por exemplo (MORAES, 2014).

Hidrargirismo é uma doença ocupacional resultante da exposição ao mercúrio


metálico, inorgânico e orgânico. É presente em processos industriais, na produção de
lâmpadas. Se descartado indevidamente como rejeito e se o rejeito ingressar na cadeia
alimentar (no mar, por exemplo), o ser humano pode ser atingido ao consumir estes
peixes (MORAES, 2014; SPINELLI, 2006).
Em 1956 ocorreu acidente ambiental no Japão. A empresa química Chisso descartou
rejeitos industriais com metil mercúrio no mar, na Baia de Minamata, contaminando
peixes. A população que consumia estes peixes apresentou sintomas do hidrargirismo
e até mortes (MORAES, 2014).

Atenção: Em 2018, o Brasil promulgou a Convenção de Minamata por meio do


Decreto nº 9.470, de 14 de agosto de 2018, que trata sobre os riscos do uso de
mercúrio.
A redação da Convenção pode ser consultada em:
http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/conven%C3%A7%C3%A3o-minamata.

Os sintomas do hidrargirismo são: dificuldades na coordenação motora e na fala, perda


de sensibilidade, tremores nos membros, irritabilidade, insônia, paranoia, perda de
memória, ansiedade, depressão, tosse, pneumonia, entre outras (SPINELLI, 2006).

Manganismo é o nome para intoxicação por manganês, sendo a principal via de


ingresso a respiratória. Como sintomas há cefaleia, astenia, sonolência, espasmos
musculares dos membros inferiores, irritabilidade, alucinações, distúrbio de

82
locomoção, ala mon tona e de baixa intensidade, riso chamado de “sard nico”
(contração dos músculos da face), entre outros. Pode apresentar como efeito o
parkinsonismo como ação do manganês no sistema nervoso central (MORAES, 2014;
SPINELLI, 2006).

Exposição ao cromo produz efeitos no organismo contribuindo para doenças


ocupacionais, embora este elemento seja essencial à saúde humana. A forma
hexavalente é sua forma mais tóxica, presente em galvanoplastia, indústrias de
cimento e curtume, entre outras. Os compostos de cromo podem causar dermatite
alérgica, dispneia e câncer. Alguns dos sintomas são pruridos nasais, ulceração e
perfuração do septo nasal, lesões vasculares associadas à hemorragia e à trombose
cerebral (MORAES, 2014).

Exposição a cádmio: o cádmio é empregado na fabricação de pigmentos, componentes


de baterias, havendo ligas de cádmio com prata ou cobre ou zinco para utilização em
eletrônica, próteses etc. A principal via de ingresso é respiratória, podendo ocorrer
absorção cutânea quando em contato com compostos orgânicos de cádmio. As
doenças são assim identificadas: problemas no metabolismo, podendo resultar em
descalcificação e reumatismo. Os sintomas são: enfisema pulmonar, hipertensão
arterial, cólicas, câncer, dentre outros (MORAES, 2014).

Exposição ao arsênico: o arsênico é considerado semimetal pesado, podendo ser


liberado na natureza pelo contato da água com rochas e utilizado com agente de fusão
em processo de soldagens de metais pesados e em outras aplicações, como inseticida
e herbicida (MORAES, 2014). A intoxicação por ars nico apresenta e eitos nos
sistemas: respirat rio (com sintomas de mucosas nasais, laringe e br n uios,
insu ci ncia pulmonar, tra ueobron uite e tosse cr nica), cardio ascular, ner oso e
hematopoié co. O arsênico também se apresenta na forma inorgânica, sendo esta a
mais tóxica. O arsênico é classificado como cancerígeno químico (MORAES, 2014).

83
4.4 Anatomia, Fisiologia da Pele e Dermatoses Ocupacionais
Para compreender a reação do organismo à exposição a agentes de risco que podem
ser absorvidos pela pele, vamos conhecer a pele e seus componentes que integram o
sistema tegumentar.
O corpo humano é composto por vários sistemas e o maior deles é o tegumentar, que
envolve a pele e cabelo, unhas e certas glândulas. A pele é composta por epiderme,
derme e hipoderme, sendo a epiderme a camada externa da pele (LIPPINCOTT,
WILLIAMS & WILKINS, 2013; MORAES, 2014).
A epiderme é formada por várias camadas de células, sendo que a mais interna é
formada com células de multiplicação permanente. Existem terminações nervosas na
pele responsáveis por receber os estímulos sensitivos e mecânicos. Além de não
existirem vasos sanguíneos na epiderme, os vasos sanguíneos encontram-se na derme.
Nas camadas inferiores da epiderme existem os melanócitos, responsáveis pela
produção da melanina; as glândulas sudoríparas e sebáceas se originam na epiderme,
mas estão na derme permitindo a saída do suor pelas glândulas sudoríparas e
secreções sebáceas pelos poros dos pelos (MORAES, 2014).
A derme fica abaixo da epiderme e nela estão as glândulas sudoríparas, as sebáceas, os
folículos pilosos, o músculo eretor de pelo, fibras elásticas e colágenas, vasos
sanguíneos e nervos.
Abaixo desta camada há a hipoderme, camada subcutânea que protege contrachoques
mecânicos, é isolante térmica e atua como reserva energética (MORAES, 2014).
Conhecer o funcionamento do sistema tegumentar auxilia na compreensão dos efeitos
da exposição a alguns agentes do risco químico, bem como de outros riscos que
podem ingressar no organismo por via cutânea. Como exemplo, menciona-se
exposição ao ascarel, encontrado em fluidos dielétricos utilizados em equipamentos
como transformadores. O ascarel pode ingressar no organismo pelas vias percutânea,
respiratória ou oral. O contato da pele com esta substância tem efeito acumulativo no
organismo, produzindo cistos e pústulas e podendo causar danos ao fígado (SPINELLI,
2006).
Observe a estrutura da pele, na Figura 1.

84
Figura 1 – Principais componentes da pele

Fonte: LIPPINCOTT, WILLIAMS & WILKINS (2013, p.37)

A respeito de dermatoses, o filme da Fundacentro Dermatoses ocupacionais conceitua


dermatose ocupacional e relata as atividades que mais frequentemente contribuem
para esta doença, que pode ter sua origem por exposição do trabalhador aos riscos
físicos, químicos e biológicos. Nele também é possível confirmar a contribuição das
ações do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e os efeitos sobre o
trabalhador.
Se o trabalhador for afastado de sua atividade em virtude de adoecimento, submeter-
se a tratamento, recuperar-se da doença, quando houver tratamento eficaz ou no caso
de doenças para as quais haja tratamento, e retornar ao mesmo ambiente de trabalho
ou situação de trabalhos em que tenham ocorridos modificações no ambiente ou
situação de trabalho, o trabalhador voltará a adoecer. E isto ocorre não apenas no caso
de dermatoses, mas para todo e qualquer adoecimento ou sinais de agravos à saúde
do trabalhador.

85
Desta maneira, a médica entrevistada evidencia ações médicas para confirmar o
adoecimento e procedimentos a serem adotadas pelo serviço social junto ao
trabalhador para que este aceite a mudança de função, como medida de preservar sua
integridade física, se a exposição ao agente de risco não tiver como ser modificada.
Quanto à dermatose ocupacional, sua definição é: alteração de mucosa, pele e seus
anexos, causada de modo direto ou indireto e condicionada, mantida ou agravada por
agentes de risco presentes no ambiente ou na atividade profissional (ALI, 2009).
Segundo Ali (2009) as dermatoses ocorrem por:
a) Causas indiretas ou fatores predisponentes, que são: idade, etnia, sexo, clima,
dermatoses concomitantes e antecedentes mórbidos ou as condições de trabalho. As
condições de trabalho que podem contribuir para dermatoses são: poeiras, fases e
vapores acima dos limites de tolerância, como também ausência de iluminação,
instalações sanitárias com chuveiros e limpos, ventilação apropriadas. Também podem
contribuir para dermatoses a falta de proteção, equipamento de proteção individual
de má qualidade ou seu não uso, por exemplo;
b) Causas diretas caracterizam-se por exposição aos agentes biológicos (vírus,
bactérias, leveduras), insetos e animais peçonhentos.

86
Quadro 1: Estrutura e funções da pele e possíveis alterações de origem ocupacional

A exposição aos diferentes agentes de risco sem a devida proteção ao trabalhador


pode resultar, entre outras situações, em dermatoses ocupacionais. Agentes do risco
químico como cimento, cimento portland, aditivos do cimento/concreto podem
resultar em dermatite irritativa de contato com possíveis manifestações, como:
ressecamento da pele na área de contato, descamação, eritema, fissuras,
sangramento, ulceração, queimação, ardor, necrose na área de contato, além de
dermatites alérgicas, produzidas por contaminantes do cimento como cobalto e cromo
(ALI, 2009).
Também podem ocorrer reações adversas do organismo ao látex, borrachas e aditivos
de borracha. A produção da borracha, coma composição desta que utiliza aditivos para

87
diferentes usos e aplicações pode produzir alergia, por penetrar pela epiderme (ALI,
2009). Há equipamentos de proteção individual que apresentam componentes em
borracha, podendo produzir dermatoses alérgicas, sendo este um fator para que o EPI
seja substituído por outro, com outras características construtivas (ALI, 2009).
A exposição ao látex, que pode ser empregado em luvas de látex e outros artefatos de
uso pessoal, pode causar reações cutâneas, como: urticária, dermatite e prurido.
Existem outros possíveis efeitos, a saber: rinite, conjuntivite, asma, angioedema,
náusea, vômito, cólica, taquicardia, hipotensão, choque anafilático (ALI, 2009).
É importante observar que a exposição a um determinado agente de risco pode
produzir vários efeitos no organismo, pois dependendo do agente, pode apresentar
efeito sobre várias partes e sistemas do organismo.
Solventes orgânicos e inorgânicos também podem produzir vários efeitos no
organismo, como: urticária de contato, irritação de vias aéreas superiores, irritação
ocular, náusea, vômito e depressão do sistema nervoso central, por exemplo. Os
solventes podem produzir os seguintes efeitos na pele: desengordurante, pois
eliminam a camada lipídica causando ressecamento, sangramento e fissuras e ação
tóxica irritativa com a presença de edema, vesículas e inflamação local (ALI, 2009).
Outros agentes do risco químico como óleos de corte ou fluídos de corte, compostos
por óleo mineral, óleo solúvel, óleo sintético, óleo semissintético, presentes na
ind stria, podem produ ir “dermatite irritativa de contato traumática, granuloma de
corpo estranho, dermatite irritativa de contato (DIC), sarna do óleo de corte, dermatite
alérgica de contato (DAC), câncer cutâneo, erupções acneiformes ou DIC folicular,
discromias, distro ias ungueais” (A I, 200 , p. 139).
Os fluídos de corte também têm efeito sobre vias aéreas superiores e olhos, como:
coriza, tosse, chiado no peito, lacrimejamento e ardor nos olhos, entre outros possíveis
efeitos (ALI, 2009).
Níquel pode produzir dermatite alérgica de contato. Elemento utilizado na
galvanoplastia, também é presente no acabamento de bijuterias e adornos. Os sais de
níquel também produzem dermatites irritativa e alérgica, irritação nos olhos,
sensibilização por inalação, carcinogenicidade e ações sobre a gravidez (ALI, 2009).

88
Cromo, encontrado em vários estados de oxidação, apresenta os compostos de cromo
III considerados pouco tóxicos, e os compostos de cromo hexavalente como muito
tóxico aos olhos, pele e mucosas. Os efeitos sobre o sistema tegumentar são os
seguintes: lesões periungueais, ulceração e perfuração do septo nasal, dermatites de
contato irritativas e alérgicas e efeitos como rinite, crises de asma, câncer dos
brônquios (ALI, 2009).
Existem ainda outras dermatoses ocupacionais produzidas por exposição ao cádmio,
cobalto, cobre, estanho e zinco, podendo também ocorrer dermatoses por madeiras,
plantas, resinas (naturais ou sintéticas), fibra de vidro, lã de vidro, agrotóxicos, entre
outros agentes (ALI, 2009).
Os agentes do risco químico são presentes em vários processos produtivos e produtos,
colocando os trabalhadores e outras pessoas em exposição a estes, produzindo efeitos
variados que envolvem também as dermatoses. Estes efeitos dependem da toxicidade
dos elementos, da concentração, do tempo de exposição, das condições de trabalho,
da atividade profissional, da suscetibilidade individual.
Para maior entendimento do tema Anatomia, Fisiologia da Pele e Dermatoses
Ocupacionais, recomendamos o seguinte filme produzido pela Fundacentro, que
apresenta os agentes causadores de dermatoses.
Vídeo: Dermatoses Ocupacionais (9 min 59 s)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K1KNna9u8ps>. Acesso em: jan.
2019.

SAIBA MAIS
O tema dermatoses é bastante amplo. Para conhecer um pouco mais sobre o mesmo,
recomendo a leitura de Dermatoses Ocupacionais de Salim Amed Ali, obra publicada
pela Fundacentro.

Disponível em: <http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-


digital/publicacao/detalhe/2013/3/dermatoses-ocupacionais-2-edicao>.

89
Vale dedicar atenção ao tema e compreender as particularidades de determinados
agentes para que seja possível estabelecer medidas de prevenção de doenças quando
houver exposição do trabalhador a estes agentes de risco.

4.5 . Agrotóxico
Aqui, vamos abordar agrotóxicos. Esta expressão tem a seguinte definição de acordo
com Brasil (1989) e Brasil (2002):
produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados
ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de
produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou
plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a
fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos,
bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes,
dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.

Pela definição verifica-se que os agrotóxicos podem ser utilizados em várias situações,
expondo trabalhadores ou não a estes, apresentando potencial para provocar
acidentes como incêndio e explosões. Alguns dos efeitos sobre o organismo humano
podem ser: cefaleia, alergia, asma brônquica, náusea, vômito, queimadura, câncer,
doenças neurológicas, gástricas, intestinais, renais, hepáticas e outras (BRASIL, 2018).
Para agrotóxicos, a exposição ocorre:
 aos trabalhadores que, de alguma maneira, lidam com este tipo de substância;
 à população vizinha das áreas de processos produtivos agrícolas ou próximas
das unidades produtivas e ambientes contaminados pelo uso do agrotóxico;
 à população que consome alimentos e água contaminados por agrotóxicos
(BRASIL, 2018).

Os agrotóxicos classificam-se em classes toxicológicas diferentes variando de pouco


tóxico a medianamente tóxico, altamente tóxico e extremamente tóxico. A exposição
dos trabalhadores aos agrotóxicos é usualmente por via cutânea ou respiratória,
existindo também as vias oral ou digestiva, que ocorrem geralmente por modo

90
acidental ou intencional. Os efeitos da exposição aos agrotóxicos podem ser agudos ou
crônicos (BRASIL, 2018).
A intoxicação aguda ocorre de modo súbito, minutos ou horas depois da exposição,
ocorrendo num período até 24 horas após a exposição. A intoxicação crônica
manifesta-se depois de meses ou anos após a exposição apresentando danos
irreversíveis. Seguem alguns dos possíveis efeitos das intoxicações aguda e crônica,
segundo Moraes (2014):

Quadro 2: Intoxicação aguda e crônica por agrotóxico e possíveis efeitos à saúde

A intoxicação aguda pode ocorrer por exposição a dois grupos de inse cidas:
organo os orados e carbamatos, ue são extremamente t xicos para o homem e
animais. Os organofosforados provocam comprometimento cardiorrespiratório, sendo
esta a principal causa de morbidade e mortalidade. Podem ainda contribuir para
surgimento de sequelas neurológicas com déficit motor progressivo (paralisia de

91
músculos flexores de pernas, pescoço e respiratórios) e efeitos como insônia,
dificuldade de raciocínio e ansiedade (MORAES, 2014).
Organoclorados são pouco solúveis em água, solúveis em solventes orgânicos, sendo
produtos derivados do petróleo. São absorvidos pela pele, via respiratória e digestiva.
Apresentam grande lipossolubilidade e metabolização lenta, acumulando-se no tecido
adiposo das pessoas e sendo eliminado pela urina, podendo estar presente no leite
materno. Produzem efeitos como cefaleia, mal-estar, náusea, tremores, distúrbios
sensoriais e do equilíbrio, dificuldades respiratórias, entre outros efeitos, podendo
ainda provocar depressão severa central, coma e morte (MORAES, 2014).
Inseticidas piretroides apresentam baixa toxicidade para mamíferos e para o meio
ambiente. São absorvidos por via respiratória e digestiva, com pouca absorção por via
cutânea. Apresentam-se como irritantes para mucosas e olhos, produzindo alergias de
pele com prurido intenso, manchas na pele, podendo também ocorrer asma
brônquica. Piretroides são transformados no organismo de mamíferos principalmente
no fígado (MORAES, 2014).
Fungicidas podem conter manganês, podendo produzir parkinsonismo. As intoxicações
mais frequentes são por via inalatória, podendo ocorrer também por via cutânea e
digestiva. A exposição aos fungicidas provoca dermatite, con un ite, aringite e
bron uite (MORA , 201 ) Ainda, segundo Moraes (201 , p 156), “estudos reali ados
com trabalhadores expostos a agrot xico constatou ue os produtos respons eis pelo
maior n mero de intoxicação (28%) foram os fungicidas, sendo o ditiocarbamato o
principal”
Glifosatos também produzem efeito cumulativo no organismo e a intensidade da
intoxicação relaciona-se com o tempo de exposição/contato com o produto. A
intoxicação apresenta os seguintes sintomas: irritação nos olhos e pele, alergias,
tontura, desmaios, náuseas, hipotensão, edema pulmonar, vômito, diarreia, destruição
dos glóbulos vermelhos e insuficiência renal (MORAES, 2014).
A NR31 - Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura,
exploração florestal e aquicultura estabelece a proibição de manipulação de
agrotóxicos, adjuvantes e produtos afins por trabalhadoras gestantes, menores de

92
dezoito anos e maiores de sessenta anos, além de vários outros requisitos com vistas a
preservar a saúde e integridade dos trabalhadores (ATLAS EDITORA, 2018).
Para melhor entendimento do tema Agrotóxicos, recomendamos a leitura das páginas
98 a 105 (referentes à intoxicação por agrotóxico) do seguinte documento, que
apresenta o conceito e a classificação de agrotóxico, elucidando sobre sua presença
não apenas nas atividades de trabalho (expondo os trabalhadores que os manuseiam),
mas na exposição da população vizinha às áreas em que os agrotóxicos são utilizados,
além da população em geral, que consome produtos contaminados com essas
substâncias.
São apresentados as possíveis vias de absorção e os efeitos sobre o organismo, bem
como as ações previstas para as equipes de Atenção Básica quanto ao atendimento em
casos de suspeita de intoxicação.

Documento: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora. Cadernos de Atenção
Básica, n. 41. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. p. 98-105.
Disponível em: <https://bit.ly/2V3B4sg>. Acesso em: jan. 2019.

Conclusão
Foram apresentadas as mais comumente conhecidas doenças decorrentes da
exposição a determinados agentes químicos. Alguns destes agentes, dependendo da
concentração e da exposição, poderão apresentar efeitos positivos às pessoas, como
alguns que são utilizados em tratamentos de saúde, que devem ocorrer sob supervisão
médica.
No âmbito da segurança do trabalho, conhecer as possíveis doenças e efeitos
negativos à saúde e integridade dos trabalhadores permite estabelecer medidas de
controle apropriadas, se houver necessidade de exposição a determinado agente do
risco químico.
Os agentes do risco químico apresentam-se nas formas gasosa, líquida e sólida
ingressando no organismo humano por via respiratória principalmente, no entanto,
outras vias de ingresso também ocorrem, como oral ou percutânea. Assim, para

93
aqueles agentes que apresentam absorção pela pele, também devem ser previstas
medidas para evitar o contato destes com a pele (SPINELLI, 2006).
As medidas de controle para exposição aos agentes do risco químico são aquelas
estabelecidas pela higiene ocupacional na seguinte ordem: controle na fonte, controle
no meio ou no percurso e controle relativo ao trabalhador. As medidas relativas à
fonte envolvem modificações de métodos e processo, substituição do agente químico,
modificação de projetos e/ou manutenção de equipamentos; as medidas relativas ao
meio ou percurso englobam enclausuramento, ventilação e isolamento na distância ou
no tempo; as medidas relativas ao trabalhador referem-se à adoção dos equipamentos
de proteção individual (EPI), treinamentos, exames médicos e limitação do tempo de
exposição (SPINELLI, 2006).

Referências Bibliográficas
ALI, S. A. Dermatoses ocupacionais. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2009.

ARCURI, A. S. A. Efeitos da exposição ao benzeno para a saúde. São Paulo:


Fundacentro, 2012.

ATLAS EDITORA (Brasil) (Org.). Segurança e Medicina do Trabalho. 81. ed. São Paulo:
Atlas, 2018.

BRASIL. Constituição (1989). Lei nº 7802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a


pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes
e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União. p. 11459.

BRASIL. Constituição (1994). Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994. Diário Oficial


da União. Brasília, 30 dez. 1994. Seção 1, p. 21280-21282.

94
BRASIL. Constituição (2002). Decreto nº 4074, de 04 de janeiro de 2002. Regulamenta
a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação,
a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências. Diário Oficial da União. Seção 1, p. 1-1.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância


em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora. Cadernos de Atenção Básica, n.
41. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 136 p. [recurso eletrônico]

KULCSAR NETO, F. Sílica: manual do trabalhador. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2010.

LIPPINCOTT, WILLIAMS & WILKINS. Anatomia & fisiologia. Traduzido por Isabel
Cristina Fonseca da Cruz. reimpr. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

MORAES, M.V.G.
2 ed ão aulo: rica, 2014.

SPINELLI, R.; BREVIGLIERO, E.; POSSEBON, J. Higiene ocupacional: agentes biológicos,


químicos e físicos. São Paulo: Senac São Paulo, 2006.

95
5. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE BIOLÓGICO
Apresentação
Prezados alunas e alunos,
Neste bloco, saberemos um pouco mais sobre doenças ocupacionais relacionadas ao
risco biológico.
Os agentes biológicos estão presentes em nossa vida nos diferentes ambientes que
frequentamos, no entanto, em alguns ambientes de trabalho, o risco de adoecimento
torna-se maior devido a estes agentes.
Existem vários ambientes e situações de trabalho que expõem o trabalhador aos
agentes biológicos, tais como: hospitais, estabelecimentos de saúde em geral,
laboratórios de análise e pesquisas, empresas de coleta e reciclagem de lixo,
cemitérios, matadouros, estações de tratamentos de esgotos etc. Os agentes
biológicos que contaminam os ambientes ocupacionais são: vírus, bactérias, fungos,
“archaea”, protozoários, parasitos, ou entidades acelulares como príons, RNA ou DNA
e partículas virais (VPL) (BRASIL, 2017).

Neste bloco serão abordados os seguintes temas:


 Classificação dos Agentes iol gicos
 Biossegurança
 Exposição a Agente Biológico na Área da Saúde
 xposição de Trabalhadores a Animais
 Impacto do Acidente com Material iol gico otencialmente ontaminado
Para compreender sobre estes agentes de risco e o potencial risco à saúde que eles
apresentam, vamos iniciar nossos estudos!

5.1
O Ministério da Saúde tem sob sua responsabilidade a Comissão de Biossegurança em
Saúde (CBS) que elabora e atualiza a classificação dos agentes biológicos com potencial
risco à saúde humana (BRASIL, 2017). Em 1990 já existia Diretiva emitida pela
Comunidade Econômica Europeia que classificava os agentes patológicos em quatro

96
grupos de risco (SPINELLI, 2006). A Diretiva da Comunidade Europeia nos mostra que a
atenção à exposição de pessoas aos riscos biológicos, em ambientes de trabalho ou
não, não é novidade e que tal exposição, dependendo do agente de risco, pode
apresentar sérios comprometimentos à saúde humana.
A CBS deve, de acordo com Portaria GM/MS nº 1.608, de 5 de julho de 2007, designar,
instituir e coordenar a Comissão de Especialistas para revisão e atualização da
Classificação de Risco dos agentes biológicos a cada dois anos, a partir da publicação
da referida portaria e que aprovou a primeira “ lassi icação de Risco dos Agentes
iol gicos”
Esta classificação decorre do risco individual e do risco à coletividade que o agente
biológico apresenta.
Quadro 1 – Características das classes de risco relativas ao risco individual,
coletivo e das condições terapêuticas

Classe de Risco Risco à Profilaxia ou


risco individual coletividade terapia eficaz

1 BAIXO BAIXO EXISTE

2 MODERADO BAIXO EXISTE

3 ELEVADO MODERADO USUALMENTE EXISTE

4 ALTO ALTO AINDA NÃO EXISTE

Fonte: Adaptado de Binsfeld et al. (2010).

Na obra indicada para leitura, além de apresentação relativa à classificação, são listados os
agentes biológicos para cada classe, permitindo a identificação das possíveis doenças, bem como
acompanhar os estudos e pesquisas relacionadas para conhecer avanços relativos a possíveis
tratamentos.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde. Classificação de risco dos agentes
biológicos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2017. 48 p. (leitura da página 11 até a página 16)

Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/classificacao_risco_agentes_biologicos_3ed.pdf>.

97
Vamos apresentar um quadro com características de alguns agentes biológicos, por
tipo, efeitos sobre o organismo e algumas das doenças que causam.
Alguns dos micro-organismos enumerados no quadro ou as doenças que estes podem
causar podem ser de seu conhecimento, mas vamos ao próximo assunto do bloco para
conhecer a conceituação de procedimentos e medidas necessários que podem
prevenir, reduzir, controlar ou eliminar riscos inerentes àquelas atividades que podem
comprometer a saúde humana, animal, vegetal e o meio ambiente, que é
biossegurança (BRASIL, 2010).

98
99
100
5.2 Biossegurança
Iniciamos este assunto retomando o conceito apresentado anteriormente:
Biossegurança, em conformidade com Brasil (2010):
um conjunto de medidas e procedimentos técnicos necessários para a
manipulação de agentes e materiais biológicos capazes de prevenir, reduzir,
controlar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam
comprometer a saúde humana, animal, vegetal e o meio ambiente.

Compreendendo a amplitude da biossegurança, seu conceito refere-se à valorização


da vida, que envolve proteções coletiva e individual em ecossistemas complexos. Desta
maneira, é necessário que o conceito seja conhecido pelas sociedades, instituições e
indivíduos expostos a agentes patogênicos (CARDOSO, 2016).
Para conhecer a evolução do conceito de biossegurança torna-se necessário saber o
que ocorreu antes de sua criação. Em 1962, o norte-americano James Watson, o
britânico Francis Crick e o neozelandês Maurice Wilkins receberam o Prêmio Nobel de
Medicina pela descoberta da estrutura molecular do DNA. Seus estudos propiciaram a
expansão da Biotecnologia na década de 1970, com conhecimento de mecanismos de
formação e funcionamento dos seres vivos contribuindo para soluções relativas à cura
de doenças. No entanto, tais estudos evidenciaram preocupação com riscos potenciais
aos quais os profissionais envolvidos poderiam estar expostos, tornando necessária
sua avaliação para prevenção nestas atividades (BARSANO, 2014).
Assim, alguns eventos marcaram etapas no avanço de ações relativas à Biossegurança.

Conferência de Asilomar
Realizada em 1975 em Pacific Grove, Estados Unidos, reuniu especialistas do mundo
todo para discutirem a proposta de suspensão (moratória) em pesquisas de
manipulação genética. Esta manifestação foi feita por pesquisadores sob coordenação
de Paul Berg e publicada nas revistas Science e Natura (julho/1974), conhecida como
carta de Berg ou Moratório, que apresentava os seguintes pontos:
alertar para os riscos biol gicos no manuseio das moléculas de NA
recombinante;
. identificar riscos e seus efeitos adversos, assim como
danos conse u ncias;

101
super isionar um programa experimental para a aliar os potenciais perigos
biol gicos e ecol gicos;
criar procedimentos ue minimi em a dispersão de moléculas
potencialmente perigosas;
. elaborar protocolos a serem seguidos pelos in es gadores e outras
diretri es para os pro ssionais ue trabalham com essas moléculas.
(BARSANO, 2014, p. 23)

As diretrizes da Convenção contribuíram para o conceito de Biossegurança que surgiria


algum tempo depois, bem como suas diretrizes tornaram-se referência para prevenção
de riscos biológicos.
Dentre outras ações, foram definidas medidas de prevenção para atividades
laboratoriais de acordo com o grau de risco nas pesquisas que até o momento não
eram adotadas por desconhecimento do risco, falta de experiência dos profissionais e /
ou ausência de protocolos e procedimentos. As medidas de prevenção são: acesso
limitado ao pessoal do laboratório, criação de barreiras adicionais às experiências mais
perigosas, proibição de comer, beber ou fumar em laboratório, uso de luvas ao
manusear material infeccioso, rápida desinfecção de material contaminado e proibição
de pipetagem com a boca (BARSANO, 2014).
Estas medidas, associadas a outras, resultaram na classificação de agentes biológicos
manipulados que, em consonância com alterações nas propriedades genéticas,
poderiam aumentar ou não os riscos oferecidos. A classificação relatada por Barsano
(2014, p. 23) é a seguinte:
risco mínimo: experi ncias com organismos ue mudam a sua in ormação
gené ca naturalmente.
risco baixo: experi ncia com organismos ue não mudam sua in ormação
gené ca naturalmente, podendo gerar no os organismos biol gicos.
risco moderado: experi ncias com probabilidade de gerar um agente
patog nico perigoso.
. risco ele ado: experi ncias com probabilidade de risco ecol gico ou
patog nico em um organismo alterado, e com isso, de ocasionar um risco
consider el aos pro ssionais, à sa de p blica e ao meio ambiente.

102
Outras ações e eventos ocorreram depois da Convenção, contribuindo para a
Biossegurança nas esferas mundial e nacional, são eles:

Conhecida por Eco-92, ocorreu no Rio de Janeiro em 1992. Com representantes de 1


países, as discussões abordaram problemas ambientais em escala global para
desen ol imento sustent el, incluindo aspectos sociais nas pautas das reuniões A
par r desta con er ncia oram programadas outras con enções, como a on enção
sobre a i ersidade iol gica (CDB). Esta última, assinada por mais de 160 países, dá
amparo político e legal a outras convenções e acordos ambientais, incluindo o
Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (BARSANO, 2014).

Protocolo de Cartagena
Vigente a partir de 11 de setembro de 2003, regula os critérios de proteção no campo
de transferência, manipulação e uso seguros de organismos vivos modificados que
resultaram da Biotecnologia moderna.
Este protocolo constitui-se como em instância jurídica internacional tratando de
questões relacionadas aos organismos modificados em perímetros além dos restritos a
cada nação, considerando os interesses comerciais entre países e tendo como exemplo
os alimentos transgênicos, de questões de segurança territorial que se referem ao
ecoterrorismo e impactos que poderiam ocorrer ao meio ambiente e saúde humana
(BARSANO, 2014).

No rasil, a ei n 8 , de 5 de aneiro de 1 5, estabeleceu normas de segurança e


mecanismos de scali ação para o uso das técnicas de ngenharia ené ca,
transporte, liberação e descarte, no meio ambiente, de organismos gene camente
modi cados, tendo sido re ogada e subs tuída pela ei n 11 105, de 2 de março de
2005, que determinou (BRASIL, 2005):
normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o
cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a
importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização,

103
o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos
geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes
o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a
proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do
princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.

ara atender à legislação oi criado o onselho Nacional de iossegurança ( N ),


hou e a reestruturação da omissão Técnica Nacional de iossegurança ( TN io) e oi
determinado à N o desen ol imento de olí ca Nacional de iossegurança
(BARSANO, 2014).
A leitura do trecho indicado aborda o conceito de Biossegurança e a abrangência de
sua aplicação. Permite-nos compreender as diferentes situações às quais a
Biossegurança é associada e, para este bloco da disciplina, auxiliará no entendimento
das medidas de prevenção de acidentes.
Considerando o conceito de risco em segurança do trabalho como a combinação da
exposição a um evento perigoso, e a gravidade que a lesão ou doença resultante do
evento perigoso ou exposição ao perigo pode apresentar, ao abordar doenças por
agentes biológicos, a biossegurança se caracteriza como um conjunto de ações
fundamentado legalmente para garantir a saúde humana, animal, vegetal e do meio
ambiente, e deve integrar o repertório técnico dos profissionais em segurança do
trabalho.
Assim, a leitura permitirá compreender a contextualização de biossegurança no país e
o modo como a exposição aos agentes biológicos pode resultar em adoecimento.
Para prevenir o adoecimento por exposição aos agentes biológicos deverão ser
previstas e implementadas medidas de controle, e estas serão nosso objeto mais
adiante.

CARDOSO, T. A. O. Biossegurança e qualidade dos serviços de saúde [livro eletrônico].


Curitiba: InterSaberes, 2016. (leitura das páginas 19 a 30)
Disponível em:
<https://bv4.digitalpages.com.br/?term=biosseguran%25C3%25A7a&searchpage=1&fi
ltro=todos&from=busca&page=19&section=0#/legacy/41657>.

104
5.3 Exposição a Agente Biológico na Área da Saúde
Na área da saúde o trabalhador fica exposto a vários agentes de risco, mas a exposição
ao agente biológico é mais presente em virtude da natureza da sua atuação com
pacientes e em atividades relacionadas a estes.
Podemos exemplificar essa exposição pensando em um laboratório de análises clínicas,
com um paciente que deve se submeter a um exame de sangue. Existe a coleta, o
descarte dos materiais utilizados para a coleta do sangue, o transporte do material
coletado até o laboratório para posterior análise, a análise propriamente do material
coletado e, por fim, a destinação final do material analisado. Há também a
necessidade de prever ações relativas à higienização do ambiente e objetos, utensílios,
mobiliário onde a coleta é efetuada, descarte dos materiais utilizados (luvas, seringas,
agulhas), dentre outras atividades.
De modo muito rápido, enumeramos algumas atividades que exigem atenção quanto à
prevenção aos agentes biológicos, pois o trabalhador que atua diretamente com o
paciente e o trabalhador que desenvolve atividades relacionadas à atenção ao
paciente se expõem com muita frequência aos agentes biológicos. Para os serviços a
serem executados devem ser previstas medidas que se caracterizem como medidas de
prevenção a acidentes do trabalho.
Na área da saúde, a transmissão do agente biológico ocorre mais frequentemente
pelas seguintes vias, segundo Moraes (2014):
 Percutânea (através da pele) com ou sem lesão, por acidente com vidraria, bisturi,
agulha, instrumentos cortantes e perfurantes, ou via cutânea, quando a pele não
está íntegra.
 Respiratória.
 Oral.
 Conjuntiva, por meio de respingos na face, na boca, nariz e olhos.
O sangue como agente transmissor de doenças ocupacionais por meio de acidentes
com material contaminado é preocupação permanente entre profissionais da saúde
(MORAES, 2014). As doenças que podem ser transmitidas pelo sangue contaminado
são: HIV e hepatites B (HBV) e C (HCV).

105
Segundo registros de doenças ocupacionais por agentes biológicos, de fontes
pesquisadas por Moraes (2014), os meios de transmissão de diferentes doenças na
área da saúde podem ser da seguinte maneira:
Quadro 3 – Doenças transmitidas ocupacionalmente e meio de transmissão destas doenças para os
profissionais de saúde

Doenças transmitidas ocupacionalmente aos profissionais de saúde

Doença Características Transmissão

 Exposição percutânea.
 igla deri a do ingl s Human
 Exposição cutânea.
Immunodeficiency Virus, no portugu s írus da
 Exposição em
Imunode ci ncia umana, que provoca a
mucosas
doença Aids.
e mordeduras
HIV  sse írus oi descoberto pelos ranceses uc
humanas.
Montagnier e rançoise arre- inoussi em
 Por exposição
maio de 1 8 , ganhadores do r mio Nobel de
percutânea pode
Medicina de 2008.
ocorrer a transmissão
 HIV ataca o sistema imunológico, responsável
de mais de 20
por defender o organismo de doenças.
patógenos.
 oença in ecciosa causada pelo írus da
 Exposição percutânea.
hepatite B.
 Exposição cutânea.
Hepatite B (HBV)  Transmissão ocorre atra és do sangue, agulhas
 Exposição em
e seringas compar lhadas por portadores,
mucosas.
relações sexuais sem proteção e transmissão
 Mordeduras humanas.
er cal (mãe para lho).
 In ecção do gado causada pelo írus da
hepatite C.
 Sinais e sintomas são semelhantes às demais
 Exposição percutânea.
hepatites.
 Exposição cutânea.
Hepatite C (HCV)  A icterícia ocorre em um terço dos pacientes e
 Exposição em
os sintomas desaparecem de um a tr s meses.
mucosas.
 A longo prazo, a conse u ncia é o
 Mordeduras humanas.
aparecimento da hepa te cr nica, podendo
desen ol er cirrose hep ca e c ncer hep co.
 O tratamento pode levar anos.
 Doença in ecciosa causada pelo proto o rio  Exposição percutânea
Trypanosoma cruzi. ou contato com
 Possui uma fase aguda e outra crônica. mucosa durante
Doença de  Na ase cr nica da doença, as mani estações atividade de
Chagas são de doença do m sculo do coração com manipulação de:
arritmias cardíacas, perda da capacidade de parasitas vivos,
bombeamento do coração, progressi amente animais e vetores de
podendo e oluir para arritmias cardíacas atais laboratório infectados,
O coração pode aumentar bastante, tornando amostras de pacientes

106
in i el seu uncionamento. com suspeita de
 Pode afetar outras partes do organismo: parasitemia, material
esôfago, intestino. de necropsia.

 Transmi da atra és do ar contaminado com o


bacilo de och, eliminado atra és da ala, tosse  Transmissão
e espirro pelos pacientes não tratados. principalmente em
 Os principais sintomas são tosse (em geral procedimentos de
persiste por mais de 15 dias), febre, suores broncoaspiração e
Tuberculose broncoscopia.
noturnos, alta de ape te, emagrecimento e
cansaço cil.  Principais fontes:
 Vacina, chamada , aplicada no primeiro pacientes com
m s de ida, é capa de pre enir as ormas tuberculose laríngea
mais gra es da doença, principalmente nas ou pulmonar.
crianças.
Fonte: Brasil (2019) e Moraes (2014)

Para as doenças apresentadas no quadro acima, existem condutas estabelecidas pós-


exposição a material biológico. Elas variam de lavagem com água, sabão e soluções
antissépticas do local exposto (em casos e exposições cutâneas e percutâneas) a
quimioprofilaxia para HIV.
Existe vacinação contra hepatite B, em conformidade também com a NR-32, e devem
ser observados exames laboratoriais em intervalos pré-definidos para avaliação de
possíveis efeitos ao organismo em virtude de profilaxias iniciadas (Moraes, 2014).
Estas são orientações gerais, havendo condutas detalhadas estabelecidas a serem
adotadas de acordo com a exposição, sendo que ao trabalhador deve ser dada ciência
de todas as ações e resultados de exames e tratamentos.
As medidas de prevenção à exposição aos agentes biológicos para os profissionais de
saúde, de acordo com o estabelecido por Disease Control and Prevention (CDC) em
1987, estabelece que estes profissionais devem considerar todos os pacientes como
potencialmente infectados por HIV, VHC e VHB e que estes adotem as precauções de
controle de infecção para minimização do risco de exposição a sangue e líquidos
corporais. Tais ações são relativas às fontes conhecidas e às desconhecidas, ou seja, se
é sabido que o paciente é infectado por HIV, VHC e VHB ou não (CASSOLI, 2006;
MORAES, 2014).

107
Há ainda medidas como as que seguem, que contribuem para a prevenção de
acidentes:
 Realização de procedimentos com segurança.
 Uso correto dos equipamentos de proteção individual.
 Evitar manipulação desnecessária de material biológico.
 Atenção e cuidado no manuseio de materiais perfurocortantes, que podem ser
potencialmente contaminados.
 Utilização de coletor resistente para materiais perfurocortantes.
 Cumprimentos dos requisitos da NR-32, dentre eles evitar o reencape ou
desconectar a agulha da seringa, procedimentos proibidos pela referida norma.
Para os hospitais, existe a obrigatoriedade da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH), em conformidade com a Portaria n. 2616 de 12 de maio de 1998 do
Ministério da Saúde (BRASIL, 1998). A CCIH formada deve ser composta por
consultores e executores, e esta comissão tem como atribuição elaborar, implementar,
observar e avaliar programa de controle de infecção hospitalar atendendo às
características e necessidades da instituição.
Ainda como competência desta comissão, está atuar em conjunto com SESMT da
instituição para estabelecer procedimentos de guarda, reuso ou descarte de
equipamentos de proteção individual (MORAES, 2014).

Verifique a Portaria n. 2616 na íntegra, consultando-a em:


<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html>

108
5.4 Exposição de Trabalhadores a Animais
A exposição ocupacional aos agentes biológicos pode ocorrer em diversas atividades
de atuação profissional. Existem aquelas em que o trabalhador se expõe aos agentes
biológicos porque sua atividade exige trabalhar com animais.

Quadro 4 – Doenças transmitidas ocupacionalmente por exposição a animais

Doenças transmitidas ocupacionalmente por exposição a animais

Ramo de atividade Tarefas Observações

 Contato com sangue


 Sangria potencialmente
contaminado.
 Levantamento e escalda de  Contato com sangue
animais. potencialmente
 Depilação, retirada de contaminado.
Abatedouro couro, cascos e chifres.  Contato com fezes.
 Contato com órgãos
 Evisceração.
potencialmente
 Remoção e inspeção da
contaminados.
cabeça.
 Contato com fezes.
 Remoção e inspeção de
 Potencial presença de
vísceras.
patógenos nas vísceras.
Agricultura  Na zona rural, mais
Pecuária acidentes ofídicos.
 Exposição a animais
Construção civil  Em área urbana, mais
peçonhentos.
(limpeza de terreno) acidentes por escorpião e
aranha.
 Morcego hematófago pode
transmitir raiva a bovinos,
equinos e outros
 Atividades que exponham morcegos.
Variadas situações de o trabalhador ao cão e  Raiva pode ser transmitida
trabalho morcego hematófago, ao ser humano através da
podendo resultar em mucosa ou pele, por
transmissão de raiva. arranhadura, mordedura,
lambedura de animal
infectado pelo vírus da
raiva.
(A) Fonte: Moraes (2014, p. 165)

No quadro foram apresentadas etapas de serviços a serem realizados em abatedouro


com potencial de exposição dos trabalhadores a agentes biológicos. A exposição a

109
agentes biológicos por aerossóis pode transmitir tuberculose; zoonoses, que são
doenças infecciosas de animais que podem ser transmitidas ao homem, podem
ocorrer por lesões na pele (vacínia e antraz) e febres (brucelose e Chlamydia spp)
possíveis no abate de frangos; doenças entéricas como salmonelose,
campilobacteriose e risco de in ecção aguda como salmonela surtos de leptospirose,
relatados por trabalhadores ue a rmam ter ha ido contato com grande olume de
urina nas ind strias de carne (MORA , 201 ) A NR- 6 egurança e a de no
Trabalho, em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados, estabelece
medidas de prevenção de acidentes e controle de risco a serem adotadas (BRASIL,
2013).
Quanto aos acidentes ofídicos, a gravidade destes é relativa à quantidade de veneno
inoculada e à rapidez de atendimento ao acidentado. Os venenos ofídicos possuem
ações: inflamatória, coagulante, hemorrágica e neurotóxicas (tóxicas ao sistema
nervoso). O uso de botas e luvas reduz acidentes nos pés e mãos (MORAES, 2014).
O veneno de aranhas pode causar, dependendo do gênero da aranha, dor, febre,
sudorese, pulso rápido, vômitos, dificuldades de acomodação visual, vertigens,
problemas respiratórios, morte por asfixia, necrose, vermelhidão no corpo,
escurecimento da urina, calafrios, tremores, cãibras, convulsões tetânicas, entre
outras possíveis reações. Nem todas as aranhas apresentam veneno ativo para o
homem e nem toda picada é dolorosa (MORAES, 2014).
Os sintomas de acidentes com escorpião podem ser classificados como leve, moderado
ou grave (MORAES, 2014).
A exposição ao vírus da raiva afeta o sistema nervoso central, sendo que a
sintomatologia varia de acordo com a espécie infectada. Existe tratamento profilático
pré-exposição realizado por vacina antirrábica, sendo esta indicação para
trabalhadores com risco potencial de exposição ao vírus da raiva (MORAES, 2014).

5.5
Entre os profissionais de saúde, a exposição ao material biológico potencialmente
contaminado pode ocupacionalmente transmitir doenças, contribuindo para medo e
estresse entre estes profissionais, uma vez que muitas das doenças podem ser fatais.

110
omo possí eis e eitos ap s o acidente podem surgir reações como ner osismo,
apreensão, preocupação e abalo emocional, além de possíveis sentimentos de revolta
para com o paciente que pode estar contaminado ou com o próprio profissional de
saúde que se julga ou é julgado como negligente, displicente e ainda se sente culpado
(MORAES, 2014).
Para situações que exponham o trabalhador a riscos de transmissão de HIV, hepatites
B e C, e tuberculose, devem ser observadas com maior rigor a adoção de medidas
preventivas.
Devem ser observadas medidas após a exposição a material biológico que envolvem:
 Ações imediatas relativas ao local exposto: para exposição cutânea ou percutânea,
lavagem do local e uso de soluções antissépticas (MORAES, 2014).
 Para HIV existe a quimioprofilaxia. Para verificar sua transmissão, solicitam-se
testes rápidos para anticorpos anti-HIV do paciente; resultados positivos devem ser
considerados preliminares de infecção pelo HIV, e se indica a quimioprofilaxia. Se
os resultados forem negativos, o início da quimioprofilaxia é desnecessário, no
entanto, deve ser observada a ocorrência de soroconversão. A indicação de
quimioprofilaxia para HIV é que seja iniciada em duas horas após o acidente, com
duração de 28 dias, no entanto, a eficácia desta não é total e o trabalhador deve
ser informado (MORAES, 2014).
 Para hepatite B existe a vacinação, que se apresenta como eficaz para mais de 90%
dos receptores adultos imunocompetentes; existem requisitos relativos a esta
vacinação na NR-32 (MORAES, 2014).
 Para exposição aos agentes que podem causar as doenças acima mencionadas é
requerido acompanhamento laboratorial. Há a indicação de exames sorológicos em
dois momentos para os trabalhadores acidentados: por ocasião do acidente para
descartar a existência prévia de infecção por estes vírus e, num segundo momento,
como acompanhamento pós-exposição relacionado a pacientes infectados por HIV,
hepatites B e C ou acidentes que tenham fontes desconhecidas (MORAES, 2014).
Aqui, evidenciamos os impactos por acidentes com agentes biológicos, em especial
com trabalhadores da área da saúde, pois estes estão mais frequentemente expostos a
pacientes potencialmente infectados, podendo ser por agentes para os quais ainda

111
não exista tratamento ou profilaxia efetivamente eficaz. No entanto, todo e qualquer
acidente produz efeitos para o trabalhador, grupo de trabalho, organização,
comunidade e sociedade.

Conclusão
A prevenção de acidentes de qualquer natureza deve ser objetivo expresso das
organizações, sejam empresas que admitem empregados regidos pela Consolidação
das Leis do Trabalho ou não.
Deve ser dada atenção especial aos agentes biológicos presentes nos ambientes e
situações de trabalho, pois há agentes biológicos para os quais ainda não existem
medidas profiláticas ou tratamento totalmente eficazes. Os trabalhadores da área da
saúde são usualmente expostos a pacientes potencialmente infectados, devendo este
dado ser de conhecimento dos trabalhadores para que observem as medidas de
prevenção de acidentes implementadas pelas organizações nas quais trabalham.
Neste bloco foram evidenciadas as doenças por exposição aos agentes biológicos,
permitindo-nos conhecer a gravidade destas, subsidiando, assim, medidas de
prevenção de acidentes, que caracterizam as melhores ações em saúde e segurança do
trabalhador. No entanto, são também indicadas existirem ações após acidentes com
exposição aos agentes biológicos, que podem contribuir para redução ou controle do
dano, dependendo do agente biológico a que o trabalhador foi exposto.

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incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de
segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos
geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de
Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no
8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de
2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003,
e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 28 mar. 2005. Disponível
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113
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114
6. DOENÇAS OCUPACIONAIS POR AGENTE ERGONÔMICO
Apresentação
Alunas e alunos,
Chegamos ao último bloco desta disciplina e abordaremos doenças ocupacionais
causadas por agentes ergonômicos.
A definição internacional de ergonomia é a seguinte, conforme estabelecido pela
International Ergonomics Association (IEA) no ano 2000:
Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica que trata da
compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de
um sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a
projetos que visam otimizar o bem-estar humano e a performance global
dos sistemas (IEA, 2008).

Diante da definição, sua complexidade e abrangência, podemos verificar a


possibilidade de adoecimento do trabalhador tão importante quanto à possibilidade
de adoecimento causada por exposição a outras agentes de risco, como já vimos.
Segundo IEA, os domínios de Especialização da Ergonomia são: Ergonomia Física,
Ergonomia Cognitiva, Ergonomia Organizacional (IEA, 2008). Neste contexto, o bloco
está estruturado da seguinte maneira:
 Levantamento e Transporte Manual de Cargas
 oença Relacionada ao Agente rgon mico – LER/DORT
 Risco rgon mico dos Trabalhos em Turnos e Noturno
 índrome de urnout
 Profissionais da Voz e a Higiene Vocal
Vamos iniciar este bloco para melhor compreensão dos efeitos dos agentes
ergonômicos sobre a saúde humana.

6.1 Levantamento e Transporte Manual de Cargas


Levantamento e transporte manual de cargas é agente ergonômico relacionado à
Ergonomia Física. Segundo Kroemer (2007), levantar, manusear e transportar cargas
manualmente é considerado trabalho pesado. Este autor afirma que o principal

115
problema associado ao manuseio, levantamento e transporte manual de cargas
relaciona-se ao desgaste da coluna, em especial dos discos intervertebrais da região
lombar. Como efeitos ocorrem dores, redução de mobilidade e da vitalidade de uma
pessoa.
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (OSHA) (2007) apresenta
que a movimentação manual de cargas pode resultar em danos cumulativos por
deterioração gradual e cumulativa do sistema musculoesquelético em virtude de
atividades contínuas de levantamento e movimentação de cargas, dores lombares e
também cortes e fraturas devido a acidentes.
Os fatores que contribuem para que o levantamento e transporte de cargas aumentem
o risco de lesão são, de acordo com OSHA (2007):
 Cargas muito pesadas; em geral um peso de 20 a 25 kg é considerado pesado para
ser levantado pela maioria das pessoas.
 Cargas grandes que dificultam a adoção de orientações básicas de levantamento e
transporte manual de cargas, promovendo cansaço mais rapidamente, pois as
cargas não ficam próximas do corpo.
 Cargas com pega difícil.
 Cargas instáveis comportam-se com distribuição irregular destas pelos músculos,
promovendo cansaço, porque o centro de gravidade do objeto fica distante do
centro do corpo do trabalhador.
 Cargas difíceis de alcançar, que ficam fora do alcance, obrigando a pessoa a se
esticar, esticar os braços, curvar ou torcer o tronco, requerendo maior força
muscular.
 Dimensões ou formatos que atrapalhem o campo de visão da pessoa, contribuindo
para acidentes como queda e colisões.
Em situações de trabalho, o levantamento de cargas pode ser: esporádico, para o qual
deve ser considerada a capacidade muscular do trabalhador, ou repetitivo, que
envolve levantamento frequente de cargas, para o qual deve ser considerada a
duração da tarefa, sendo a capacidade energética do trabalhador e a fadiga acumulada
fatores limitativos (IIDA & GUIMARÃES, 2018).

116
Para compreender o que ocorre com a coluna vertebral quando há levantamento de
cargas com as mãos, estando o trabalhador em pé, observe a figura que segue,
conforme apresentado por Iida e Guimarães (2018):

Figura 1 – Incidência de carga sobre a coluna vertebral


Fonte: adaptado de IIDA; GUIMARÃES (2018, p. 168)

Se o trabalhador levanta carga manualmente, estando em pé, há esforço sendo


transferido à coluna, que desce pela bacia e pernas, chegando ao piso. Nesta situação,
a coluna, que se compõe de discos superpostos, consegue suportar grande força no
sentido axial (vertical), no entanto, para forças que atuam na perpendicular ao seu
eixo, as denominadas forças de cisalhamento, a coluna é frágil.
Com relação às posturas adotadas na Figura 1, os autores explicam (IIDA &
GUIMARÃES, 2018):
 O trabalhador na posição ereta recebe carga (C) no sentido axial (vertical).
 O trabalhador na posição inclinada recebe carga que produz duas componentes: na
direção axial (C1) e na direção perpendicular ao eixo (C2). A carga C2 caracteriza-se
como a força de cisalhamento, tem efeito “cortante”, sendo muito pre udicial para
a coluna.
 Para a situação ideal, a componente C2 deve ser anulada, de modo que C1 coincida
com C.
 Recomendação: o levantamento de cargas deve ser realizado utilizando-se a
musculatura das pernas, mantendo-se a coluna vertebral na vertical, conforme
ilustrado na Figura 2.

117
Figura 2 – Recomendações para o levantamento de cargas
Fonte: (Adaptado de IIDA & GUIMARÃES, 2018, p. 168)

Ainda sobre levantamento de cargas, deve ser observada que a capacidade de carga
varia de pessoa para pessoa, de acordo com o uso de musculatura de pernas, braços e
dorso, e pode ser desenvolvida com treinamentos. Mulheres possuem,
aproximadamente, metade da força de homens para levantamento de cargas (IIDA &
GUIMARÃES, 2018).
Ainda, deve ser observada a localização da carga em relação ao corpo e características
da carga: forma, dimensão e facilidade de manuseio influenciam a capacidade de
levantamento. Para movimentos repetitivos, a força máxima para levantamento de
carga ocorre quando ela está a 30 cm de distância do corpo e 30 cm de altura do solo.
Se a distância do corpo aumentar, a capacidade será praticamente nula para distância
de 90 cm. Mulheres apresentam menor capacidade de levantamento de cargas e
redução mais rápida quando ocorre o afastamento delas (IIDA & GUIMARÃES, 2018).
Os autores Iida e Guimarães (2018) apresentam também o fator limitante como fator a
ser identificado, porque se estiver próximo do limite máximo e for ultrapassado,
poderá ocorrer lesão. Se determinada tarefa requer esforço muscular intenso e gastos
energéticos em severas condições ambientais, deve-se analisar e identificar o fator
limitante. O esquema apresentado na Figura 3 nos apresenta que as tarefas têm
exigências relacionadas à sua execução. Estas exigências devem ser identificadas e
analisadas para que aquela ou aquelas que estiverem próximas ao limite máximo do

118
trabalhador sejam classificadas como fatores limitantes da tarefa. A tarefa de
transporte manual de carga provoca exigência sobre determinado fator humano,
havendo aquele que é limitante.

Figura 3 – Recomendações para o levantamento de cargas


Fonte: adaptado de Iida e Guimarães (2018, p. 170)

Levantamento manual de cargas pode produzir efeitos sobre a coluna vertebral, a


saber (KROEMER, 2007):
 Como os esforços são assimétricos e sobre os anéis fibrosos, podem contribuir para
o desgaste do disco intervertebral.
 Aumento da pressão nas cavidades abdominais em virtude da contração dos
músculos abdominais.
Como recomendação para prevenção de lombalgias por manuseio de cargas, pode-se
adotar um dos princípios apresentados por Couto (1995), o princípio PEPLOSP:
P – Perto do corpo
E – Elevadas, na altura de 75 cm do piso
P – Pequena distância vertical entre a origem e o destino
L – Leves

119
O – Ocasionalmente
S – Simetricamente, sem ângulo de rotação do tronco
P – Pega adequada para as mãos

O levantamento e transporte de carga ainda é presente em várias situações de


trabalho, mas deve-se prever meios de reduzir ou eliminar este tipo de tarefa
contribuindo para preservação da saúde do trabalhador.

6.2 - LER/DORT
A Instrução Normativa n.98 (05/12/2003) aprova Norma Técnica sobre Lesões por
Esforços Repetitivos ‒ LER ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho –
DORT, apresentando a explicação relativa à terminologia (BRASIL, 2003, p. 1):
A terminologia DORT tem sido preferida por alguns autores em relação a
outros tais como: Lesões por Traumas Cumulativos (LTC), Lesões por
Esforços Repetitivos (LER), Doença Cervicobraquial Ocupacional (DCO), e
Síndrome de Sobrecarga Ocupacional (SSO), por evitar que na própria
denominação já se apontem causas definidas (como por exemplo:
"cumulativo" nas LTC e "repetitivo" nas LER) e os efeitos (como por
exemplo: "lesões" nas LTC e LER).

A referida Instrução Normativa adota a expressão LER/DORT para os termos Lesões


por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
( RA I , 200 ) e acordo com o documento, “ or relacionada ao trabalho: lesões por
esforços repetitivos (LER): distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
( ORT)” são denominações o iciais adotadas pelo Ministério da a de e da re id ncia
Social LER e DORT, grafadas da seguinte maneira: LER/DORT (BRASIL, 2012).
O conceito de LER/DORT, de acordo com a Instrução Normativa n. 98 é (BRASIL, 2003,
p.1):
Entende-se LER/DORT como uma síndrome relacionada ao trabalho,
caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais
como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insidioso,
geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer membros
inferiores. Entidades neuro-ortopédicas definidas como tenossinovites,
sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromes miofaciais, que

120
podem ser identificadas ou não. Frequentemente são causa de incapacidade
laboral temporária ou permanente. São resultado da combinação da
sobrecarga das estruturas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta
de tempo para sua recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja pela
utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos
repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela
permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo
prolongado, particularmente quando essas posições exigem esforço ou
resistência das estruturas musculoesqueléticas contra a gravidade. A
necessidade de concentração e atenção do trabalhador para realizar suas
atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que
interferem de forma significativa para a ocorrência das LER/DORT.

LER/DORT são fenômeno relacionado ao trabalho por definição que ocorrem por
utilização excessiva atribuída ao sistema musculoesquelético e por falta de tempo para
recuperação. Ocorrem vários sintomas simultâneos ou não, como: dor, parestesia
(perturbação da sensibilidade tátil), sensação de peso e fadiga, que surgem de modo
insidioso, traiçoeiro, usualmente nos membros superiores. Estes acometem o
trabalhador que se expõe a determinadas condições de trabalho (BRASIL, 2012).
Para LER/DORT os fatores de risco interagem entre si, necessitando que sejam
analisados de modo integrado. Contribuem para LER/DORT aspectos biomecânicos,
sensoriais, cognitivos, afetivos e de organização do trabalho e os fatores
organizacionais como pausas e carga de trabalho podem controlar fatores de risco
quanto à intensidade e frequência (BRASIL, 2012).
Há quatro fatores físicos de risco, não organizacionais, que caracterizam a exposição
(BRASIL, 2012):
 Regiões anatômicas submetidas aos fatores de risco: mão, punho, cotovelo,
ombro, pescoço etc.
 Magnitude ou intensidade dos fatores de risco: peso de objeto levantado, para
carga musculoesquelética; percepção do aumento da carga de trabalho, para
características psicossociais.
 Variação de tempo dos fatores de risco: estrutura de horários, distribuição de
pausas, duração do ciclo de trabalho etc.

121
 Tempo de exposição aos fatores de risco: o tempo de latência dos distúrbios e
lesões pode variar de dias a décadas (KIVI, 1984; CASTORINA, 1990 apud BRASIL,
2012, p. 16).
Com relação aos fatores de risco para LER/DORT, estes podem estar relacionados com
os seguintes itens:
Fatores de risco para LER/DORT

Dimensões do posto de trabalho não causam distúrbios


musculoesqueléticos por si, mas podem forçar o trabalhador a adotar
posturas, a suportar certas cargas e a se comportar de forma a
causar ou agravar as afecções musculoesqueléticas.
Posto de trabalho
Exemplo: mouse com fio curto demais, obrigando o trabalhador a
manter o tronco para frente sem encosto e o membro superior
estendido; reflexos no monitor que atrapalham a visão, o que obriga
o trabalhador a permanecer em determinada postura do corpo e da
cabeça para vencer essa dificuldade.
Exposição a Exposições a vibrações de corpo inteiro, ou do membro superior,
vibrações podem causar efeitos vasculares, musculares e neurológicos.

Pode ter efeito direto sobre o tecido exposto e indireto pelo uso de
Exposição ao frio equipamentos de proteção individual contra baixas temperaturas
(ex.: luvas).
Exposição a ruído
elevado Entre outros efeitos, pode produzir mudanças de comportamento.

A pressão mecânica provocada pelo contato físico de cantos retos


Pressão mecânica ou pontiagudos de objetos, ferramentas e móveis com tecidos moles
localizada de segmentos anatômicos e trajetos nervosos ocasionam
compressões de estruturas moles do sistema musculoesquelético.
As posturas que podem causar afecções musculoesqueléticas
possuem três características, que podem estar presentes
simultaneamente:

 Posturas extremas que podem forçar os limites da amplitude das


articulações.
Exemplo: ativação muscular para manter certas posturas (ZIPP et
al., 1983) e postura de pronação do antebraço (MARKISON, 1990).
 Força da gravidade que impõe aumento de carga sobre os
Posturas músculos e outros tecidos.
Exemplo: ativação muscular do ombro (HAGBERG, 1981a, 1981b;
JONSSON, 1982);
 Posturas que modificam a geometria musculoesquelética podem
gerar estresse sobre tendões, músculos e outros tecidos e/ou
reduzir a tolerância dos tecidos.
Exemplo: desvio do trajeto de um tendão por contato do punho
(TICHAUER, 1966; ARMSTRONG; CHAFFIN, 1978; KEIR; WELLS,
1992); diminuição da perfusão tecidual quando o membro superior
direito está acima da altura do coração (HOLLING; VEREL, 1957).
Pode ser entendida como a carga mecânica exercida sobre seus
Carga mecânica tecidos e inclui:
musculoesquelética (1) tensão (ex.: tensão do bíceps)
(2) pressão (ex.: pressão sobre o canal do carpo)
(3) fricção (ex.: fricção de um tendão sobre a sua bainha)

122
(4) irritação (ex.: irritação de um nervo)
Entre os fatores que influenciam a carga musculoesquelética,
encontramos: força, repetitividade, duração da carga, tipo de
preensão, postura e método de trabalho.
Está presente quando um membro é mantido numa posição que vai
contra a gravidade. Nesses casos, a atividade muscular não pode se
Carga estática reverter a zero (esforço estático). Alguns aspectos servem para
caracterizar a presença de posturas estáticas: fixação postural
observada, tensões ligadas ao trabalho, sua organização e seu
conteúdo.

Invariabilidade da Implica monotonia fisiológica e/ou psicológica. Assim, a carga


tarefa mecânica fica restrita a um ou a poucos segmentos corpóreos,
amplificando o risco potencial.

Exigências Podem ter um papel no surgimento das lesões e dos distúrbios, seja
cognitivas causando um aumento da tensão muscular, seja causando uma
reação mais generalizada de estresse.
Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: são as
percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de
organização do trabalho.
Fatores
organizacionais e Exemplo: considerações relativas à carreira, à carga, ao ritmo de
psicossociais trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. A “percepção“
ligados ao trabalho psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o
resultado das características físicas da carga, da personalidade do
indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do
trabalho.
Fonte: adaptado de Kuorinka; Forcier (1995 apud BRASIL, 2012, p.17).

Os aspectos apresentados são orientadores, permitindo possibilidades de abertura


para formas de exposição a fatores de riscos que possam contribuir para LER/DORT
(BRASIL, 2012).
A Instrução Normativa DC/INSS nº 98 de 05/12/2003 apresenta a seguinte relação
entre trabalho e doenças associadas à LER/DORT.
ALGUNS
CAUSAS
LESÕES EXEMPLOS DIAGNÓSTICOS
OCUPACIONAIS
DIFERENCIAIS

Bursite do Compressão do
Apoiar o cotovelo em Gota, contusão e
cotovelo cotovelo contra
mesas artrite reumatoide
(olecraniana) superfícies duras

Heredo ‒
Contratura de Compressão palmar Operar compressores
familiar (Contratura de
fáscia palmar associada à vibração pneumáticos
Dupuytren)

Compressão palmar Diabetes, artrite


Dedo em Apertar alicates e
associada à realização reumatoide,
Gatilho tesouras
de força mixedema, amiloidose

123
Movimentos com
esforços estáticos e
preensão prolongada Doenças reumáticas e
Apertar parafusos,
de objetos, metabólicas,
Epicondilites do desencapar fios,
principalmente com o hanseníase,
Cotovelo tricotar, operar
punho estabilizado em neuropatias periféricas,
motosserra
flexão dorsal e nas contusão traumas
prono-supinações com
utilização de força

Epicondilite medial,
Flexão extrema do sequela de fratura,
Síndrome do Apoiar cotovelo ou
cotovelo com ombro bursite olecraniana
Canal Cubital antebraço em mesa
abduzido, vibrações forma T de
Hanseníase

Cistos sinoviais,
tumores do nervo
Síndrome do Compressão da borda
Carimbar ulnar, tromboses da
Canal de Guyon ulnar do punho
artéria ulnar, trauma,
artrite reumatoide etc.

Fazer trabalho manual Cervicobraquialgia,


sobre veículos, trocar síndrome da costela
Compressão sobre o
Síndrome do lâmpadas, pintar cervical, síndrome da
ombro, flexão lateral
Desfiladeiro paredes, lavar primeira costela,
do pescoço, elevação
Torácico vidraças, apoiar metabólicas, artrite
do braço
telefones entre o reumatoide e rotura do
ombro e a cabeça supraespinhoso

Síndrome do Compressão da Carregar objetos


Interósseo metade distal do pesados apoiados no
Anterior antebraço antebraço

Síndrome do Esforço manual do Carregar pesos,


Pronador antebraço em praticar musculação,
Redondo pronação apertar parafusos.

Menopausa, trauma,
tendinite da gravidez
(particularmente se
Movimentos repetitivos bilateral), lipomas,
de flexão, mas também artrite reumatoide,
Digitar, fazer
Síndrome do extensão com o punho, diabetes, amiloidose,
montagens industriais,
Túnel do Carpo principalmente se obesidade
empacotar
acompanhados por neurofibromas,
realização de força insuficiência renal,
lúpus eritematoso,
condrocalcinose do
punho

Artropatia metabólica e
Manutenção do
endócrina, artrites,
Tendinite da antebraço supinado e
osteofitose da goteira
Porção Longa fletido sobre o braço Carregar pesos
bicipital, artrose
do Bíceps ou do membro superior
acromioclavicular e
em abdução
radiculopatias C5-C6

Tendinite do Carregar pesos sobre


Elevação com abdução Bursite, traumatismo,
Supra - dos ombros associada o ombro artropatias diversas,

124
Espinhoso à elevação de força doenças metabólicas

Estabilização do
Doenças reumáticas,
polegar em pinça
tendinite da gravidez
Tenossinovite seguida de rotação ou Apertar botão com o
(particularmente
de De Quervain desvio ulnar do carpo, polegar
bilateral), estiloidite do
principalmente se
rádio
acompanhado de força

Artrite reumatoide,
Fixação
gonocócica,
Tenossinovite antigravitacional do
osteoartrose e distrofia
dos extensores punho. Movimentos Digitar, operar mouse
simpático-reflexa
dos dedos repetitivos de flexão e
(síndrome ombro ‒
extensão dos dedos
mão)

Obs.1: considerar a relevância quantitativa das causas na avaliação de cada caso. A presença de um ou
mais dos fatores listados na coluna "Outras Causas e Diagnóstico Diferencial" não impede, a priori, o
estabelecimento do nexo.
Obs. 2: vide Decreto nº 3048/99, Anexo II, Grupo XIII da CID - 10 – “Doenças do Sistema Osteomuscular
e do Tecido Conjunti o, Relacionadas com o Trabalho”
Fonte: Brasil (2003)

Você poderá consultar esta Instrução Normativa na íntegra em:


<https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=75579>.

A prevenção de LER/DORT deve ser ponto de atenção, assim como prevenir outros
acidentes do trabalho. A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) estabelecida pela NR-
17 Ergonomia é meio de identificar possíveis fatores de risco e estabelecer medidas de
controle, denominadas Recomendações. Para a Análise Ergonômica a demanda exige
conhecer o funcionamento da empresa e conhecer a população trabalhadora. Desta
maneira, partindo-se destes dados é possível o desenvolvimento da AET que
efetivamente contribua para prevenção de LER/DORT bem como de outras afecções
relacionadas aos agentes ergonômicos.
Exames médicos podem detectar sinais iniciais de LER/DORT, efetuar diagnóstico
precoce e direcionar o trabalhador ao tratamento adequado de modo a obter sucesso,
no entanto, medidas de prevenção são sempre melhor indicadas.

Para aprofundar os estudos sobre Doença Relacionada ao Agente Ergonômico –


LER/DORT, recomendamos o seguinte vídeo, que tem apoio do Ministério da Saúde:
125
Vídeo: LER / DORT: como evitar que o trabalho torne-se motivo de doenças (15 min)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HqwlsELKSXM>.

6.3 Risco Ergonômico dos Trabalhos em Turnos e Noturno


Trabalhos em turnos e noturno são realidade e, para conhecer os efeitos identificados
em trabalhadores que atuam nos horários noturnos e em turnos, vamos compreender
sobre ritmos biológicos.
Trabalho em turnos e noturno caracterizam-se por trabalhos realizados em diferentes
horários ou em horário incomum e constante, como é o caso do horário noturno
permanente. O trabalho em turnos é aquele realizado em diferentes períodos do dia e
da noite pelos empregados em jornadas iguais (RUTENFRANZ; KNAUTH; FISCHER,
1989). De acordo com a CLT, o trabalho noturno é aquele realizado no período das 22h
de um dia às 5h do dia seguinte (BRASIL, 1943).
Os mamíferos e os seres humanos, em particular, apresentam ritmicidade para
funções do corpo que seguem determinada periodicidade. Estes são os ritmos
biológicos (REGIS FILHO; SELL, 2000):
 Circadiano: duram em torno de um dia, com frequência máxima de 24 horas;
exemplo: temperatura do corpo, secreção de enzimas gástricas; funções
cardiovasculares, corticosteroides e eletrólitos do soro e urinários, estado de
alerta, força muscular, quantidade de leucócitos do sangue, humor, memória a
longo prazo e imediata, entre outras. Ciclo sono/vigília, temperatura do organismo,
excreção de urina, taxa respiratória, divisão celular, produção de hormônios
podem sofrer influência de fatores externos como: escuridão, luz, sociais,
climáticos, culturais, horário e descanso e de trabalho, por exemplo.
 Ultradiano: ciclos que apresentam duração de milionésimos de segundos a horas,
com frequência maior que circadiano, com duração inferior a 24 horas. Como
exemplo há o movimento rápido dos olhos durante o sono paradoxal.
 Infradiano: com duração superior a 24 horas, com frequência menor que o ritmo
circadiano. Exemplo é o ciclo menstrual das mulheres.
Os ciclos biológicos têm duração aproximada de 25 horas, havendo diferenças
individuais, existindo os indivíduos matutinos e os vespertinos (REGIS FILHO & SELL,
2000).

126
Existem diversos sincronizadores, no entanto, para as pessoas, aquele com maior
relevância é a luz. Um conjunto de reações no organismo estimula glândulas que
produzem hormônios e outras substâncias que preparam o organismo para a vigília, ou
seja, manter-se acordado. Não apenas o organismo é preparado para manter-se em
vigília, mas ocorre a secreção de hormônios que contribuem para sono, ou produção
de leite no pós-parto, hormônio que controla a tireoide, por exemplo (REGIS FILHO;
SELL, 2000).
Para compreender o ciclo sono/vigília, devem ser observados três critérios: atividade
elétrica do córtex cerebral, grau de facilidade com que a pessoa pode ser acordada e
tônus muscular (REGIS FILHO; SELL, 2000).
Ainda segundo os mesmos autores, o ciclo do sono é dividido em cinco fases:
Fases do ciclo do sono

Fase Descrição
a.
1 Fase  Início da sonolência.
 Diminuição global da amplitude das ondas (ondas teta).
a.  Surgimento de episódios de alta frequência, fusos do sono, ondas
2 Fase grandes e lentas que ocorrem ocasionalmente (ondas delta).
 Fase do sono caracterizado.
a.
3 Fase  Fase caracterizada por frequência de ocorrência de ondas delta e
manutenção do tônus muscular.
 Sono profundo, com domínio de ondas lentas (ondas delta),
redução da facilidade de acordar, diminuição do tônus muscular,
a. redução de frequência cardíaca e respiratória - em torno de 10% a
4 Fase 30%, redução da pressão arterial, redução do metabolismo basal.
 Fase denominada Sono de Ondas Lentas – SOL.
 Sono repousante, considerado de recuperação física.
 Nesta fase sonham.
 Última fase do sono, caracterizada pelo movimento rápido dos olhos
– REM.
 Um eletroencefalograma é semelhante ao de uma pessoa acordada
e relaxada, frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial
aumentadas, baixo tônus muscular.
a.
5 Fase  Fase conhecida por Sono Paradoxal - SP, pois a pessoa está
dormindo, com atividade cerebral acentuada, sem conhecimento
daquilo que a cerca.
 Nesta fase é difícil de as pessoas serem acordadas.
 Nesta fase sonham, mas não se recordam posteriormente (não há
consolidação dos sonhos na memória).
 Esta fase é relacionada com a recuperação psíquica.
Fonte: adaptado de Regis Filho; Sell (2000, p. 50)

O Sono Paradoxal diminui da fase da infância à velhice, assim, para a população adulta.
considera-se o Sono de Ondas Lentas – SOL e o Sono Paradoxal – SP, sendo que,

127
durante a noite, a maior parte do sono é da variedade de ondas lentas (REGIS FILHO;
SELL, 2000).
Durante o sono há ciclos de 90 a 100 minutos, nos quais as fases se sucedem, por volta
de 5 a 6 ciclos, sendo que a fase SP tem maior duração na segunda metade do ciclo de
repouso, aumentando com o transcorrer da noite (REGIS FILHO; SELL, 2000).
Estudos mostram que existe grande relação de dependência entre qualidade do sono e
qualidade de vigília, ou seja, dormir mal ou não dormir pode se caracterizar como
dificuldade de cumprimento de atividades que exigem vigilância intensa ou resistente.
Como efeitos de trabalhos em turnos e noturno são identificados (REGIS FILHO; SELL,
2000):
 O sistema circadiano parece nunca se adaptar totalmente ao trabalho noturno, as
temperaturas do corpo se elevam durante o dia e diminuem a noite, usualmente.
Para aqueles que trabalham em trabalhos noturnos, durante a noite, quando estão
trabalhando, suas temperaturas não alcançam os mesmos níveis de trabalhadores
diurnos.
 Para trabalhadores que trabalham no horário diurno em trabalhos que envolvem
vigilância, tarefas repetitivas, destreza manual, memória de longo termo, reações
em tempos rápidos ou aqueles que paralelizam o ritmo da temperatura serão
realizados com menos eficiência nos turnos noturnos; tarefas de grande carga
cognitiva parecem ser mais bem realizadas durante o período noturno.
 Podem ocorrer distúrbios nervosos, distúrbios gastrointestinais, distúrbios
vasculares, fadiga, acidentes, efeitos relacionados aos aspectos psicossociais,
familiares e interpessoais.
 Pode ocorrer dificuldade de adaptação ao trabalho em turnos com sintomas
agudos como: insônia, sonolência excessiva no trabalho, perturbações do humor,
mal-estar, erros e acidentes; como sintomas crônicos podem surgir doenças
gastrointestinais, doenças cardiovasculares, desordens do sono, fadiga, depressão,
entre outros.
O trabalho noturno e em turnos pode apresentar efeitos sobre a vida social do
trabalhador, contribuindo para estresse, como mencionado por Iida e Guimarães
(2018).

128
Exames médicos para verificação da saúde do trabalhador são fundamentais para
detectar o real motivo dos sintomas, que pode ser a má adaptação ao trabalho em
turnos e noturno, se este é o regime de trabalho do trabalhador.
A Fundacentro em 1989 recomendou critérios ergonômicos para os trabalhadores que
realizam trabalhos em turnos e noturno que são apresentados por Moraes (2014, p.
217).
1. Duração da jornada: não ultrapassar o limite máximo de oito horas. Se a
atividade comportar uma carga elevada de trabalho físico, cognitivo e/ou
emocional, a duração deve ser menor, de seis e até de uatro horas, para
preser ar a sa de dos trabalhadores, a segurança e e ci ncia do sistema.
2. Equipes: sugere-se que se aumente o n mero de turnos ou de e uipes de
trabalho com a introdução de uma uinta e uipe.
en do da rotação: preconi a-se ue o sen do da rotação dos turnos se a
M/T/N, em vez do sentido inverso N/T/M.
or rio da troca de turnos: em geral, recomenda-se ue os turnos da
manhã não comecem muito cedo, para e itar ue os trabalhadores tenham
de acordar de madrugada Recomenda-se as horas, pois antes das 6 horas
seria pre udicial para o sono O turno da noite não de e começar muito
tarde, sendo importante considerar as horas de entrada e saída, para
facilitar o transporte.
5 Média de horas trabalhadas por semana: o n mero de horas trabalhadas
por um trabalhador em sistema de turnos de re e amento con nuo de e ser
inferior aos demais trabalhadores ue trabalham apenas durante o dia
ugere-se ue a média semanal não ultrapasse 35 horas por semana.
6 N mero m ximo de turnos noturnos consecu os: o sistema de turnos
deve ter apenas turnos sucessivos. A cronobiologia demonstra que nos
sistemas de um ou dois turnos consecu os h menos dist rbios nas
unções siol gicas circadianas do ue nos sistemas mais longos ou mesmo
nos sistemas de turnos xos, pois a probabilidade de se acumularem de cits
de sono depois de períodos longos de trabalho noturno é maior do ue
depois de períodos curtos.
N mero de dias consecu os trabalhados sem interrupção: recomenda-se
ue o n mero de dias de trabalho consecu os se a limitado em um, dois ou
tr s dias, pois o cansaço e seus e eitos aumentam com o passar dos dias
consecu os de trabalho, principalmente se o trabalho é considerado
estressante e os trabalhadores mais idosos, e períodos curtos pro ocam
menor dessincroni ação dos ritmos circadianos.

129
8 N mero de dias consecu os de olga: ap s os turnos noturnos
recomenda-se um mínimo de 8 horas de repouso consecu o, pois é nos
dias de olga ue os trabalhadores podem recuperar o cansaço acumulado
nos dias de trabalho.
N mero de olgas com s bado e domingo: é importante ue se pre e a o
m ximo possível de dias de folga que coincidam com os fins de semana,
para que os trabalhadores possam participar das atividades familiares e
sociais.
10. Assist ncia médica: as empresas que funcionam ininterruptamente
devem garan r a presença de ser iços de atendimento médico nas 24 horas
do dia.
11 Re eições: os trabalhadores em turnos de em receber re eições
e uilibradas e uentes durante a ornada de trabalho, ornecidas pelas
empresas, e tomadas em locais pr prios para esse m, com uma duração
adequada, sendo sempre superior a 30 minutos.
12 xames médicos: os trabalhadores em turnos e noturnos de em ser
considerados população de risco e subme dos a exames médicos
peri dicos.
1 érias: prever para os trabalhadores em turnos e noturnos érias anuais
com duração de seis semanas.
14. or rios diurnos: pre er o retorno de trabalhadores em turnos e
noturnos a hor rios comerciais, sem perda de suas vantagens salariais,
como forma de prevenir e minimizar os males advindos de tal sistema.

Possíveis efeitos, como dessincronizarão do ritmo circadiano, privação do sono e


alteração na vida familiar e social são fatores que podem interagir e contribuir para
efeitos prejudiciais ao bem-estar físico e psicológico do trabalhador, requerendo
medidas de prevenção para estes, a exemplo da exposição a outros agentes de risco.

6.4
Esta síndrome foi identificada em 1974 nos Estados Unidos por observação de
profissionais da saúde que apresentavam desgaste no humor e a motivação daqueles
que trabalhavam em contato direto com pessoas. A expressão é a junção das palavras
em inglês: burn – queima e out – exterior, caracterizando estresse ocupacional, que

130
consome o trabalhador física e emocionalmente, apresentando como resultado
exaustão, comportamento irritadiço e agressivo (MORAES, 2014).
Burnout se caracteriza como fenômeno psicossocial, relacionado a situações de
trabalho, resultante de permanente e repetitiva pressão emocional e associada ao
grande envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo (MORAES, 2014).
Trabalhadores com atribuições de cuidar de outras pessoas, como profissionais de
saúde, professores, policiais e agentes penitenciários encontram-se entre os mais
afetados (MORAES, 2014). Esta síndrome é entendida como doença, integrando a lista
de doenças relacionadas ao trabalho da Portaria n. 1339 (18/11/1999) do Ministério da
Saúde.
Os principais sintomas desta síndrome são, segundo Moraes (2014):
 Comportamentais: absenteísmo, mudanças bruscas de humor, isolamento,
drogadição, incapacidade de relaxar, violência, comportamento de risco.
 Emocionais: sentimentos de alienação e solidão, ansiedade, irritabilidade,
manifestações de impaciência, distanciamento afetivo, dificuldade de
concentração, sentimento de impotência, diminuição de envolvimento de trabalho,
desejo de abandonar o emprego, sentimento de impotência, baixa autoestima,
dúvida relativa à própria capacidade.
 Defensivas: atitudes que envolvem negação de emoções, ironia, atenção seletiva,
apatia, desconfiança, hostilidade.
 Psicossomáticos: manifestações de dor de cabeça, enxaqueca, insônia, gastrite,
úlcera, diarreia, palpitações, crise de asma, hipertensão, maior frequência de
infecções, alergias, dores musculares e/ou cervicais, suspensão do ciclo menstrual
nas mulheres.
Segundo Moraes (2014), Burnout parece estar relacionado ao modo como o trabalho
se organiza, independentemente de profissões ou atividade que o trabalhador exerça.
Apresenta causas multifatoriais caracterizando-se pela confluência do tipo de atividade
realizada, características pessoais e variáveis relativas à organização na qual o trabalho
é realizado. Estes fatores podem mediar ou facilitar a ocorrência do estresse
ocupacional, possibilitando o Burnout.

131
Observe os fatores mediadores, facilitadores ou que contribuem para
desencadeamento de Burnout apresentados por Pereira, inicialmente em Congresso
Internacional realizado em 2004 e posteriormente em publicação (2014).
Mediadores, facilitadores e/ou desencadeantes de Burnout

Idade
Sexo
el ed cacional
mero de ilhos
pessoais Personalidade
entido de coer ncia
oti ação
Idealismo

Suporte social

Suporte familiar
sociais
Cultura
rest io

ipo de oc pação

empo de pro issão

empo na instit ição

Responsabilidade

Trabalho em turnos e noturno

elação pro issional-cliente


trabalho
Relacionamento com colegas de trabalho

atis ação

el de controle, autonomia

ressão

Assédio moral
Sobrecarga

Ambiente sico

danças or ani acionais

Normas institucionais
Clima
organizacionais Burocracia
om nicação
Autonomia
Recompensas
Segurança

Fonte: adaptado de Pereira (2014, p.69)

132
A prevenção de Burnout requer níveis de atuação que são de caráter individual e de
grau institucional (aquela voltada à inter-relação indivíduo-instituição). As ações de
caráter individual orientam o trabalhador a cuidar de sua saúde quanto à alimentação,
atividade física, sono diário, equilíbrio entre atividades de trabalho, lazer e sociais,
manter-se atento a atividades com potencial contribuição para estresse, identificá-las
e avaliá-las para reduzir ou eliminar tais situações; as ações de âmbito institucional
podem ter a contribuição dos integrantes dos SESMT que podem identificar variáveis
prejudiciais e/ou saudáveis e potencializar as positivas e recomendar modificações das
negativas (MORAES, 2014).
A síndrome de Burnout é apresentada de modo objetivo em publicação do Ministério
da Saúde, disponível em:
<http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/saude-mental/sindrome-de-burnout>

6.5 Profissionais da Voz e a Higiene Vocal


Existem vários profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho,
devendo, desta maneira, observar recomendações para prevenir problemas vocais.
Moraes (2014) relata que professores são os profissionais que mais frequentemente
apresentam problemas ocais por dis onia, ue é de nida como “dist rbio ocal
caracteri ado por di culdade ou alteração na emissão ocal ue impede a produção
natural de o , condicionando a comunicação oral” (MORAES, 2014, p. 221).
A leitura do documento Distúrbio de Voz Relacionado ao Trabalho (DVRT) demonstra
as ações do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador
da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O documento apresenta:
 Os profissionais que mais apresentam distúrbios de voz.
 A conceituação de Distúrbio de Voz Relacionado ao Trabalho (DVRT).
 Os fatores que contribuem para o distúrbio em questão.
 Professores como categoria profissional para a qual o distúrbio é mais recorrente,
seguidos pelos profissionais em teleatendimento.
 Diagnóstico, tratamento, reabilitação e retorno ao trabalho, Vigilância de
Ambientes e Processos de Trabalho.

133
Além de dados técnicos relativos ao DVRT, estão expressas ações que o Ministério da
Saúde tem com relação à saúde do trabalhador para esta afecção específica.
Estes itens estão disponíveis nos trechos definidos pelas páginas 5-6, 11-22, 27-36.
O documento em sua totalidade está disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/disturbio_voz_relacionado_trabalho_dvrt.
pdf
Bons estudos!

Conclusão
A identificação dos agentes de risco permite que sejam adotadas providências para
prevenção de acidentes ou doenças, preservando-se a saúde e integridade do
trabalhador.
Nas situações em que o trabalhador é contratado de acordo com o regime da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as responsabilidades do empregador e do
empregado, as atribuições dos profissionais em saúde e segurança do trabalho são
estabelecidas pelas Normas Regulamentadoras contribuem para o estabelecimento de
medidas que previnam os acidentes do trabalho.
Quanto aos agentes do risco ergonômico, presentes ou que poderão estar presentes
nas situações de trabalho, é de responsabilidade do empregador realizar a Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), atendendo os requisitos da NR-17 (BRASIL, 1978). As
Recomendações da AET vão possibilitar que sejam efetuadas correções nas situações
que estão favorecendo o adoecimento ou agravos à saúde do trabalhador relacionados
aos agentes do risco ergonômico.
Promover e preservar a saúde e integridade dos trabalhadores possibilita que este
possa tanto realizar as atribuições para as quais é contratado, quer seja empregado ou
não, como usufruir da vida em total plenitude.
A reflexão apresentada por Bernardino Ramazzini, Pai da Medicina do Trabalho, no
prefácio de sua obra A doença dos Trabalhadores (2016) está aqui expressa:
Lemos e ouvimos dizer muitas vezes que a Natureza, Mãe amantíssima de todas as
coisas, tem sido criticada por certos homens de haver provido o gênero humano
com parcos recursos ou sem suficiente provisão. É, todavia, uma acusação menos
justa, de chamá-la madrasta, porque impôs a todos a necessidade de prover a vida

134
diária para conservá-la, sem o que ela se aniquilaria; se o gênero humano fosse
dispensado dessa lei, não admitiria outra lei e a terra que habitamos apresentaria
um aspecto bem diverso daquele que existe agora. Por essa razão, Pérsio, com
argúcia, chamou mestre das artes, o ventre, e não a mão, conforme diz no seu
Prólogo:
“Quem ensinou a saudar ao papagaio? E às araras que imitam nossas vozes? O
entre, mestre das artes e in entor de engenho ”
Dessa necessidade, imposta até mesmo aos animais irracionais, surgiram todas as
artes, as mecânicas e as liberais, embora não sejam destituídas de perigos, como
acontece, aliás, com todas as coisas humanas. É forçoso confessar que ocasionam
não pouco dano aos artesãos, certos ofícios por eles desempenhados, pelos quais
esperavam obter recursos para sua própria manutenção e de sua família.
Encontram graves doenças e passam a amaldiçoar a arte à qual se haviam
dedicado, afastando-os do mundo dos vivos.

Este trecho de sua obra, com certeza, fortalece-nos a estudar, compreender, analisar
situações de trabalho e mobilizar nossa competência e conhecimento que estão sendo
construídos ao longo do curso para atuação na prevenção de acidentes do trabalho e
de doenças ocupacionais, sendo esta disciplina mais um passo nesta direção.

Referências Bibliográficas
AGÊNCIA EUROPEIA PARA A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ‒ OSHA (Bilbau).
Perigos e riscos associados à movimentação manual de cargas no local de
trabalho. Facts, Bilbau, n. 73, p.1-2, 2007.

ATLAS EDITORA (Brasil) (Org.). Segurança e Medicina do Trabalho. 81. ed. São Paulo:
Atlas, 2018.

BRASIL. Lei nº 5452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:
<http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL 5.452-
1943?OpenDocument>. Acesso em: 19 fev. 2019.

135
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho:
lesões por esforços repetitivos (LER): distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (DORT). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Distúrbio de Voz Relacionado
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