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Nutrição

Contemporânea 8ª Edição

Gordon M. Wardlaw
Anne M. Smith
W266n Wardlaw, Gordon M.
Nutrição contemporânea [recurso eletrônico] / Gordon
M. Wardlaw, Anne M. Smith ; tradução: Laís Andrade,
Maria Inês Corrêa Nascimento ; revisão técnica: Ana Maria
Pandolfo Feoli. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre
: AMGH, 2013.

Editado também como livro impresso em 2013.


ISBN 978-85-8055-189-1

1. Nutrição. I. Smith, Anne M. II. Título.

CDU 612.39

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


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de ambos os sexos, de qualquer idade, como ilustra o quadrinho a seguir.


Vamos examinar detalhadamente as causas e os tratamentos desses qua-
dros, visto que os transtornos alimentares afetam a vida de muitas pessoas.

Para relembrar
Antes de começar a estudar os transtornos alimentares como a anorexia
nervosa e a bulimia nervosa, neste Capítulo 11, talvez seja interessante
revisar os seguintes tópicos:
• Os efeitos dos neurotransmissores sobre a ingestão de alimentos, no
Capítulo 1
• O papel do risco genético na suscetibilidade às doenças, no Capítulo 3
• O cálculo do IMC, no Capítulo 7
• Os efeitos e o tratamento da osteoporose, no Capítulo 9
• Os efeitos e o tratamento da anemia ferropriva, no Capítulo 9

11.1 Hábitos alimentares – ordem e transtorno


Comer é um comportamento totalmente instintivo nos animais, porém, no ho-
mem, tem uma extraordinária gama de finalidades psicológicas, sociais e culturais.
As práticas alimentares podem ter significado religioso, marcar laços familiares ou
raciais bem como representar meios de expressar hostilidade, afeto, prestígio ou va-
lores de uma classe social. Em família, oferecer, preparar e servir o alimento podem
ser formas de expressão de sentimentos como amor, ódio ou mesmo poder.
Diariamente, somos bombardeados por imagens do que representa o corpo
“ideal” na nossa sociedade. Os hábitos alimentares são divulgados como meio para
alcançar esse ideal – um corpo eternamente jovem e admirado. Programas de te-
levisão, outdoors, revistas, filmes e jornais sugerem um corpo ultraesbelto como si-
nônimo de felicidade, amor e, em última análise, sucesso. Essa noção fantasiosa é
contraditória com o fato de que a maioria das pessoas vem se tornando mais gorda
e até obesa. Como resposta a essa pressão social, algumas pessoas adotam atitudes
extremas, na busca patológica pelo controle ou pela perda de peso.
Muito cedo em nossa vida construímos imagens do que é um corpo “aceitável”
ou “inaceitável”. O peso corporal é considerado, por muitas pessoas, o mais im-

PARA O QUE DER E VIER


DEVERÍAMOS JULGAR OS OUTROS
FORMA FÍSICA ...POR QUE TODO E NÓS MESMOS PELO QUE SOMOS DE ONDE VEM O PROBLEMA ?... MÃE ... EU PAREÇO MUITO
MUNDO SE PREOCUPA TANTO POR DENTRO ! NÃO PELA POR ONDE TUDO COMEÇA ? GORDA COM ESTA
COM ISSO ? APARÊNCIA , PELA FORMA FÍSICA ROUPA ?
OU PELO PESO , PELO
AMOR DEUS!

© Lynn Johnston Productions, Inc. Distribuido por United Features Syndicate, Inc.

A preocupação com a imagem corporal pode começar muito cedo. Por que você acha que isso
acontece? Que tendências da sociedade encorajaram esse tipo de preocupação? Existem pessoas
mais vulneráveis, em razão da genética e das condições ambientais? O Capítulo 11 traz algumas
respostas.
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portante dentre os atributos que compõem a atratividade, em parte porque somos


capazes de controlar, em alguma medida, nosso peso. A gordura corporal é o desvio
mais temido de nossos ideais culturais de beleza corporal, uma das características
mais sujeitas à rejeição e à zombaria, mesmo na idade escolar.
É difícil resistir à tentação de nos compararmos ao corpo “ideal”. Nem todos
podem se parecer com uma modelo. As pessoas que se impressionam muito com
essas mensagens – especialmente as que sofrem determinadas influências genéticas,
psicológicas e ambientais – têm mais tendência a desenvolver transtornos alimen-
tares na tentativa de se aproximar do ideal percebido.
Considerando as múltiplas funções da alimentação normal e o bombardeio
da mídia sobre o corpo ideal, não surpreende que algumas pessoas evoluam das
respostas típicas à fome e à saciedade para comportamentos obsessivos que visam
perder peso e, em última instância, para um transtorno alimentar declarado.

Alimento: mais do que uma simples fonte de nutrientes


Desde o nascimento, relacionamos a alimentação com experiências pessoais e emo-
cionais. Na fase de lactente, associamos o leite à segurança e ao calor, por isso o
seio materno ou a mamadeira não é apenas alimento, mas uma fonte de conforto.
Conforme foi visto no Capítulo 1, mesmo as pessoas idosas experimentam muito
prazer e conforto na alimentação. Esse é um fenômeno biológico e, ao mesmo tem-
po, psicológico. O alimento pode ser um símbolo de conforto, mas também pode
estimular a liberação de certos neurotransmissores (p. ex., serotonina) e opiáceos
naturais (inclusive as endorfinas), que produzem uma sensação de calma e euforia.
Por isso algumas pessoas, em momentos de grande estresse, procuram na alimenta-
ção um efeito calmante, semelhante ao das drogas.
O alimento também pode ser usado como recompensa ou “suborno”. Você já
não ouviu ou disse algo semelhante aos comentários a seguir?
Se você comer mais um pouquinho dos legumes, você ganha a sobremesa.  Na cultura atual, manter um físico anoréxico
Você só pode ir brincar depois que “raspar” o prato. se tornou uma meta para muitas pessoas. A mí-
Eu como brócolis se você me deixar ver TV. dia e o mundo da moda nos bombardeiam com
Mostra que você ama a mamãe comendo tudo. imagens de um corpo que não é realista para a
maioria das pessoas.
Analisando superficialmente, esse uso do alimento como recompensa ou “su-
borno” parece inofensivo. Entretanto, com o tempo, a partir dessa prática, adultos e
crianças passam a usar o alimento para alcançar outras metas que não apenas saciar
a fome e a necessidade de nutrição. Com isso, o alimento pode se tornar muito
mais do que uma fonte de nutrientes. O uso repetido do alimento como barganha
pode contribuir para o desenvolvimento de padrões alimentares anormais. Levados
ao extremo, esses padrões podem resultar em transtorno alimentar.
O transtorno alimentar pode ser definido como uma alteração leve e de curto
prazo no padrão alimentar em resposta a algum acontecimento estressante, doença
ou mesmo ao desejo de modificar o perfil da dieta por várias razões de saúde ou de
aparência física. O problema pode não passar de um mau hábito, um estilo de ali-
mentação copiado de amigos ou familiares ou uma forma de se preparar para uma
competição desportiva. Embora o transtorno alimentar possa causar perda ou ganho
de peso, além de alguns problemas nutricionais, raramente exige uma intervenção
profissional mais profunda. No entanto, se esse transtorno alimentar se prolongar,
causar desconforto ou começar a interferir nas atividades cotidianas e for acompa-
nhado de alterações fisiológicas, poderá ser necessária uma intervenção profissional.
endorfinas Substâncias naturais que exercem
Visão geral sobre anorexia nervosa e bulimia nervosa efeito tranquilizante no organismo e podem
Com frequência as pessoas fazem dieta na América do Norte; dessa forma, pode estar envolvidas na resposta alimentar, atuando
também como analgésicos.
ser difícil dizer onde o problema deixa de ser distúrbio alimentar e passa a ser um
distúrbio alimentar Alteração leve e de curto
transtorno alimentar. De fato, muitos transtornos alimentares começam por uma
prazo no padrão alimentar em resposta a algum
simples dieta. Em seguida, eles evoluem e passam a envolver alterações fisiológicas
acontecimento estressante, doença ou mesmo
associadas à restrição alimentar, compulsão alimentar, vômitos forçados e variação ao desejo de modificar o perfil da dieta por vá-
do peso. Além disso, envolvem várias alterações cognitivas e emocionais que afe- rias razões de saúde ou de aparência física.
tam o modo como a pessoa percebe e vivencia seu corpo, inclusive sentimentos de
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angústia ou de preocupação exagerada com a forma física ou o peso. Os transtornos


transtorno alimentar Alteração grave do alimentares não são causados por problemas de comportamento ou por decisões
padrão alimentar associada a problemas fisio-
equivocadas; são doenças reais, tratáveis, nas quais certos padrões alimentares que
lógicos. Os problemas associados são restrição
alimentar, compulsão alimentar, vômitos
sinalizam dificuldades de adaptação assumem vida própria.
forçados e variação do peso. Esses transtornos Os principais tipos de transtornos alimentares são anorexia nervosa e bulimia
também envolvem várias alterações cognitivas nervosa. Outros tipos, inclusive o transtorno da compulsão alimentar periódica
e emocionais que afetam o modo como a pes- e a síndrome do comer noturno, ainda não são considerados formalmente como
soa percebe e vivencia seu corpo. quadros psiquiátricos, embora essa qualificação tenha sido sugerida. Mais de cinco
anorexia nervosa Transtorno alimentar que milhões de pessoas, na América do Norte, têm um desses transtornos, que afetam
se caracteriza por perda ou negação do apetite, cinco vezes mais mulheres do que homens. Frequentemente, os transtornos alimen-
de fundo psicológico, que acaba levando a pes- tares surgem na adolescência ou no adulto jovem (85% dos casos), mas há relato
soa a passar fome, voluntariamente. Em parte, de casos iniciados na infância ou mais tarde, na vida adulta. Também é comum a
o problema está relacionado a uma distorção associação entre transtornos alimentares e outros transtornos psicológicos, como
da imagem corporal e a pressões sociais co-
depressão, abuso de drogas e transtornos de ansiedade. Pessoas que sofrem de um
muns na puberdade.
transtorno alimentar, especialmente anorexia nervosa ou bulimia nervosa, podem apre-
bulimia nervosa Transtorno alimentar carac-
sentar várias complicações que afetam sua saúde física, como problemas cardíacos e insu-
terizado pela ingestão de grande quantidade
de alimento de uma só vez (compulsão ali-
ficiência renal, que podem levar à morte. Por isso, é crucial reconhecer os transtornos
mentar) seguida de vômitos, uso excessivo de alimentares como doenças importantes e passíveis de tratamento.
laxantes, diuréticos ou enemas. Outros meios Atualmente, na América do Norte, chega a 5% o número de mulheres que
usados na tentativa de controlar esse compor- apresentam, em algum momento da vida, anorexia nervosa ou bulimia nervosa.
tamento são o jejum e o excesso de exercícios Neste item, você encontrará uma breve descrição das características e dos sintomas
físicos. diagnósticos dos dois transtornos alimentares que afetam, mais frequentemente,
transtorno da compulsão alimentar perió- adolescentes ou jovens na fase universitária. Em seguida, há uma discussão mais
dica Transtorno alimentar que se caracteriza detalhada desses e de outros transtornos semelhantes, incluindo seu tratamento.
por compulsão alimentar e sentimento de A anorexia nervosa se caracteriza por uma perda de peso extrema, distorção da
perda de controle do impulso alimentar, com imagem corporal e um temor irracional, quase mórbido, da obesidade e do ganho
duração superior a seis meses. Os episódios de de peso. Os pacientes anoréxicos acreditam, sem razão, que são gordos, embora as
compulsão alimentar podem ser desencadeados
pessoas à sua volta estejam sempre comentando sobre sua magreza. Alguns anoréxi-
por raiva, depressão, ansiedade, permissão para
cos percebem que estão magros, mas continuam exageradamente preocupados com
comer alimentos proibidos e fome excessiva.
algumas áreas do corpo que, segundo eles, estariam gordas – por exemplo, coxas,
nádegas e abdome.
O termo nervosa, comum a ambos os transtornos alimentares, refe-
re-se à atitude de desgosto em relação ao próprio corpo. O termo ano-
rexia implica perda do apetite; no entanto, a negação do apetite é o que
descreve melhor o comportamento das pessoas com anorexia nervosa.
Na América do Norte, segundo estimativas grosseiras, aproximadamente
1 em 200 (0,5%) adolescentes do sexo feminino apresenta, em algum
momento, anorexia nervosa. Esse número tão elevado pode ser resulta-
do do sentido de culpa que as adolescentes sentem em função do ganho
de peso, típico dessa faixa etária. Os homens correspondem a apenas
cerca de 10% dos casos de anorexia nervosa, em parte porque a imagem
do corpo ideal para o homem é a de um físico musculoso e avantajado.
No sexo masculino, os atletas são os que apresentam mais chance de de-
senvolver esses e outros transtornos alimentares, sobretudo aqueles que
praticam esportes que exigem qualificação por peso, como boxeadores,
 A autoimagem é uma parte importante da lutadores e jóqueis. Outras atividades capazes de provocar transtornos
adolescência. As pessoas que sofrem de trans- alimentares em homens são a natação, a dança e a profissão de modelo.
tornos alimentares podem ter muita dificuldade A bulimia nervosa (bulimia significa “grande fome”) caracteriza-se por episó-
para aceitar a diferença entre o físico real e o dios de compulsão alimentar seguidos de tentativas de eliminar as calorias consu-
desejado. Acesse a página www.womenshealth. midas por meio dos vômitos forçados ou uso excessivo de laxantes, diuréticos ou
gov/body-image. enemas. Pode ser difícil identificar as pessoas que sofrem desse transtorno porque
elas mantêm esse hábito de comer e vomitar em segredo, e os sintomas não são
evidentes; 4% ou mais das adolescentes ou alunas de faculdades sofrem de bulimia
nervosa. De modo semelhante ao que acontece na anorexia nervosa, cerca de 10%
dos casos ocorrem em homens.
Os médicos usam critérios específicos para diagnosticar transtornos alimen-
tares (p. ex., Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da American
Psychiatric Association). Na Tabela 11.1, há uma lista com algumas características.
Algumas pessoas podem ter sintomas de transtornos alimentares, mas não o sufi-
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ciente para permitir que o médico faça diagnóstico de uma dessas duas doenças. Progressão de uma alimentação ordenada
Além disso, conforme sugerem os critérios de diagnóstico, algumas pessoas têm para um transtorno alimentar
características tanto de anorexia nervosa quanto de bulimia nervosa porque as duas • Atenção aos sinais de fome e saciedade; limi-
doenças acabam se sobrepondo de forma considerável. Cerca de metade das mu- tação do consumo de calorias para restaurar o
lheres nas quais é diagnosticada anorexia nervosa acabam apresentando sintomas peso saudável
de bulimia. Como se vê na Tabela 11.1, algumas características da bulimia também ↓
estão presentes na anorexia nervosa, o que torna as duas patologias menos distin- • Alguns hábitos alimentares descontrolados
tas. Apesar disso, se forem reconhecidas as diferenças entre esses transtornos será começam quando se tenta perder peso restrin-
possível compreender melhor as várias formas de prevenção e tratamento. gindo demasiadamente a ingestão de alimentos
Até recentemente, a maioria dos pesquisadores apontava mulheres brancas de ↓
classe média e alta como as mais afetadas por transtornos alimentares. No entanto, • Reconhecimento do transtorno alimentar clini-
novos estudos mostraram grandes semelhanças na incidência de insatisfação com o camente evidente
próprio corpo e comportamentos que levam a transtorno alimentar em diferentes gru-
pos étnicos e culturais. Talvez, no passado, algumas minorias com transtornos alimen-
tares tenham deixado de procurar ajuda por vergonha ou estigma, falta de recursos
ou barreiras linguísticas. Contudo, parece menor a probabilidade de os profissionais
de saúde fazerem diagnóstico de transtornos alimentares em indivíduos de raças não
brancas. No passado, aparentemente as culturas de outras raças aceitavam melhor um
corpo mais avantajado, mas a pressão dos meios de comunicação universais parece ter
igualado todas as culturas com a da raça branca nesse aspecto. Essa mudança cultural
generalizada pode estar associada à maior vulnerabilidade a transtornos alimentares.
Você conhece alguém que esteja sob risco de apresentar esses transtornos ali-
mentares? Se esse for o caso, não deixe de sugerir que a pessoa procure um profis-
sional de saúde para ser avaliada porque quanto mais cedo o tratamento come-
çar, maiores serão as chances de recuperação. É importante não tentar diagnosticar
transtornos alimentares nos seus amigos ou familiares. Somente um profissional

TABELA 11.1 Características típicas de pessoas anoréxicas e bulímicas

Anorexia nervosa Bulimia nervosa


• Dietas rígidas que causam perda de peso • Compulsão alimentar mantida em segre-
drástica, geralmente para menos de 85% do; geralmente a pessoa não come muito
do peso esperado para a idade da pessoa na presença de outras pessoas
(ou IMC ⱕ 17,5) • Hábito de comer quando se sente depri-
• Falsa percepção do próprio corpo – a pes- mida ou estressada
soa pensa “estou muito gorda”, mesmo • Compulsão para comer grandes quanti-
quando está extremamente abaixo do dades de alimentos e depois fazer jejum,
peso ideal; busca incessante de controle usar laxantes ou diuréticos em excesso,
• Rituais que envolvem alimentação, exer- provocar vômitos ou fazer exercícios
cícios físicos excessivos e outros aspectos exagerados (pelo menos duas vezes por
da vida semana por três meses)
• Estilo de vida caracterizado por um rígido • Vergonha, mal-estar, fingimento e depres-
controle de tudo, buscando sensação de são; baixo nível de autoestima e sentimen-
segurança na ordem e no controle to de culpa (principalmente depois de um
• Sentimento de pânico se há um pequeno episódio de compulsão alimentar)
ganho de peso; pavor de ganhar peso • Variação de peso (⫾ 5 kg) em decorrência
• Sentimentos de pureza, poder e superio- dos excessos alimentares alternados com
ridade por conseguir manter uma estrita jejum
disciplina e sacrifícios pessoais • Perda de controle; medo de não ser capaz
• Preocupação com a comida, seu preparo de parar de comer
e hábito de observar outras pessoas co- • Perfeccionismo, “mania de agradar”; o
mendo alimento como única fonte de conforto/
• Sensação de impotência frente à comida válvula de escape em uma vida cuidadosa-
• Falha da menstruação (depois do período mente controlada e regulada
da puberdade) por pelo menos três meses • Erosão dos dentes, gânglios inchados
• Possível presença de compulsão alimentar • Uso de xarope de ipeca, comprado na far-
seguida de vômitos forçados mácia, para indução do vômito  Anorexia nervosa é um quadro caracterizado
por sentimentos de pânico em relação a mí-
As pessoas que têm apenas uma ou algumas dessas características podem estar sob risco, nimos aumentos de peso; bulimia nervosa se
mas provavelmente não sofrem de nenhuma das duas doenças. Entretanto, precisam refletir
caracteriza por frequentes variações do peso
sobre seus hábitos alimentares e tomar as medidas cabíveis, como procurar um médico para
decorrentes da compulsão alimentar alternada
fazer uma avaliação detalhada.
com jejum.
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pode excluir outras causas e avaliar corretamente os critérios de diagnóstico neces-


Nossa paixão pela magreza pode ter sários para identificar a anorexia nervosa ou a bulimia nervosa. Uma vez diagnosti-
origem na era vitoriana do século XIX, cado o transtorno alimentar, recomenda-se seu imediato tratamento. Como amigo,
com sua negação de realidades físicas o melhor que você tem a fazer é incentivar a pessoa a procurar ajuda profissional.
“desagradáveis”, como o apetite e o Essa ajuda costuma estar disponível em centros de saúde universitários e nos servi-
desejo sexual. A frivolidade dos anos 1920 ços de orientação e aconselhamento das faculdades.
consolidaram essa tendência à magreza
Não existem causas simples dos transtornos alimentares, por isso seu tratamen-
típica do século XX. Desde 1922, os valores
do IMC das vencedoras do concurso de
to também não é simples. O estresse pode ter um papel especialmente relevante
Miss América vêm caindo gradativamente; no desenvolvimento dos transtornos alimentares. Um traço comum à maioria dos
nas últimas três décadas, a maioria das casos parece ser a falta de mecanismos adequados para lidar com frustrações, à
finalistas tinha IMC na faixa de “baixo medida que o indivíduo chega à adolescência e ao início da vida adulta, associada
peso” (menos de 18,5). a relacionamentos familiares disfuncionais.
Algumas pesquisas avaliaram a influência da genética no desenvolvimento de
transtornos alimentares. Esses estudos comparam gêmeos idênticos e gêmeos fra-
ternos quanto à incidência de transtornos alimentares e, em geral, mostram que
gêmeos idênticos têm maior probabilidade do que gêmeos fraternos de comparti-
lharem os mesmos transtornos alimentares. Isso indica que a genética é um impor-
tante fator de risco para o desenvolvimento desses transtornos, já que os gêmeos
idênticos têm o mesmo DNA. Um dos estudos mostrou que a herança genética
responde por 50% do risco total de desenvolver anorexia nervosa. A identificação
dos genes causadores dos transtornos alimentares pode ajudar a definir os melho-
res meios de prevenção para pacientes de risco, mas os indivíduos afetados ainda
necessitam do mesmo aconselhamento que hoje faz parte da terapia.

 Os transtornos alimentares são comuns


em pessoas obrigadas a manter o peso
corporal baixo, bailarinas, por exemplo.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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