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Alimentos transgênicos: a!nal,


eles são perigosos para a saúde ou
não?

Transgênicos
Imagem: Chiara Zarmati/The New York Times

Jane E. Brody
Do New York Times
30/04/2018 10h19

Parece que é da natureza humana resistir a


mudanças e temer o desconhecido; assim, não é
surpresa que a engenharia genética de alimentos
seja condenada por muitos consumidores, que
parecem tão apavorados de comer uma maçã
com um gene antiescurecimento ou um abacaxi
geneticamente enriquecido com antioxidante
quanto eu tenho de usar carros autônomos.

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Caminhando pelos corredores de um


supermercado você encontra muitos produtos
classificados como "livre de transgênicos", mas é
muito mais difícil detectar pequenas letras
informando que aquele alimento é
"parcialmente produzido por engenharia
genética"
genética", resultado de uma lei federal
americana de 2016 que obriga a rotulagem
uniforme de todos os produtos alimentares que
contenham ingredientes geneticamente
projetados.

Veja também:

Uma ONG fez com que EUA exigissem


alimentos saudáveis da indústria

Consumidor exige alimentos perfeitos, diz


pesquisador da Monsanto

Cientistas criam banana transgênica que


ajuda a visão

A exigência surgiu em resposta à pressão pública


e a uma série de leis estaduais confusas. Apesar
de eu apoiar o direito do público à informação e a
rotulagem honesta de todos os produtos, é
importante ter em mente que isso pode ser
enganoso. Agricultores e cientistas modificam
geneticamente os alimentos há séculos
séculos,
através de programas de reprodução que
resultam em uma troca descontrolada de material
genético. O que muitos consumidores podem não
perceber é que há décadas, além de cruzamentos
tradicionais, cientistas agrícolas utilizaram
radiação e produtos químicos para induzir
mutações gênicas em culturas comestíveis, na
tentativa de atingir características desejadas.

A engenharia genética moderna difere em dois


pontos: apenas um ou alguns novos genes com
uma função conhecida são introduzidos em uma
lavoura; às vezes a novidade provêm de uma
espécie diferente. Assim, um gene para adicionar
tolerância a geadas ao espinafre, por exemplo,
poderia vir de um peixe que vive em águas
geladas.

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Desde que os alimentos geneticamente


modificados começaram a chegar ao mercado,
décadas atrás, nenhum efeito adverso para a
saúde dos consumidores foi registrado --o que
não quer dizer que não exista. O fato é que, por
mais que os adversários da tecnologia
procurem, nenhum foi definitivamente
identificado.

Embora noventa por cento dos cientistas


acreditem que os transgênicos sejam seguros --
visão apoiada pela Associação Médica
Americana, a Academia Nacional de Ciências, a
Associação Americana para o Avanço da Ciência
e a Organização Mundial de Saúde-- pouco mais
de um terço dos consumidores compartilha dessa
crença. Não é possível provar que uma comida
seja segura, apenas dizer que não há perigo
aparente. O medo dos transgênicos ainda é
teórico, assim como a ideia de que inserir um ou
mais genes em um alimento poderia ter um
impacto negativo sobre outros de seus genes
naturais.

As preocupações mais comuns, que não foram


claramente demonstradas, são mudanças
indesejadas nos valores nutricionais, a criação de
alérgenos e efeitos tóxicos em órgãos. De acordo
com uma entrevista na revista Scientific
American, com Robert Goldberg, biólogo
molecular botânico da Universidade da Califórnia
em Los Angeles, tais receios não foram
suprimidos apesar das "centenas de milhões de
experiências genéticas envolvendo cada tipo de
organismo na Terra e os bilhões de refeições
feitos por todos, sem que haja algum problema".

Estabelecer a segurança em longo prazo exigiria


décadas de estudos caros, com centenas de
milhares de consumidores de transgênicos e de
não transgênicos.

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Enquanto isso, vários benefícios impressionantes


já foram estabelecidos. Por exemplo, uma análise
de 76 estudos publicada em fevereiro, no
periódico Scientific Reports, feita por
pesquisadores de Pisa, na Itália, descobriu que o
milho geneticamente modificado tem um
rendimento maior e contém menos toxinas
comumente produzidas por fungos
fungos.

Esses efeitos provavelmente derivam de uma


modificação genética feita para que as plantas
resistam a pragas causadas por insetos, que
danificam as espigas e permitem que os fungos
floresçam. Os pesquisadores disseram que a
alteração teve pouco ou nenhum efeito sobre
outros insetos. Ao desenvolver essa resistência,
os agricultores puderam usar menos pesticidas e
aumentar o rendimento, garantindo sua
segurança e a do meio ambiente, ao mesmo
tempo em que reduzem o custo dos alimentos e
ampliam sua disponibilidade. Safras de milho,
algodão e soja aumentaram entre vinte e trinta
por cento com o uso da engenharia genética.

Todos os anos, bilhões de animais são criados


nos EUA com rações que contém ingredientes
transgênicos, sem evidência de nenhum mal. Na
verdade, o desenvolvimento e a saúde desses
animais melhoraram com os alimentos
geneticamente modificados, de acordo com um
artigo de 2014 no Journal of Animal Science.

Uma utilização mais abrangente da engenharia


genética, especialmente em países africanos e
asiáticos que ainda não possuem a tecnologia,
poderia aumentar significativamente a oferta de
alimentos em áreas onde a mudança climática
exigirá cada vez mais que as plantações possam
se desenvolver em solos secos e com alta
incidência de sal e tolerar temperaturas extremas.
Ainda me incomoda a resistência ao arroz
dourado, uma cultura geneticamente modificada
para fornecer mais vitamina A do que o espinafre
e que poderia evitar a cegueira irreversível e mais
de um milhão de mortes por ano.

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Mesmo assim, cientistas estão se concentrando


cada vez mais no desenvolvimento de benefícios
para a saúde em alimentos comuns. Além do
abacaxi que contém licopeno, o antioxidante
do tomate, os tomates estão sendo
modificados para incluir o pigmento roxo do
mirtilo, rico em antioxidantes.

As populações de países em desenvolvimento,


que enfrentam fome e desnutrição, são as
maiores beneficiadas das tentativas de aumentar
a quantidade de proteínas, vitaminas e minerais
nas culturas alimentares. Isso não quer dizer que
tudo feito em nome da engenharia genética seja
saudável; são muitas as controvérsias em torno
do uso de sementes geneticamente modificadas
de soja, milho, canola, alfafa, algodão e sorgo,
tornadas resistentes a um herbicida amplamente
utilizado, o glifosato, cujos efeitos na saúde ainda
não são claros.

Recentemente, foi criada a resistência a um


segundo herbicida, o 2,4-D. Embora o produto da
combinação, o Enlist Duo, tenha sido aprovado
em 2014 pela Agência de Proteção Ambiental, já
foi associado ao aumento de casos de linfoma
não Hodgkin e alguns distúrbios neurológicos,
relataram pesquisadores no International Journal
of Environmental Research and Public Health.

Moral da história: os consumidores preocupados


com a crescente utilização de transgênicos nos
alimentos devem encarar o fato de forma mais
sutil que a oposição cega. Em vez da rejeição por
atacado, devem se dedicar a aprender o
funcionamento da engenharia genética e os
benefícios que ela pode oferecer agora e no
futuro, conforme a mudança climática vai
prejudicando cada vez mais a oferta de alimentos,
como também avaliar o apoio a esforços que
resultam em produtos seguros e apresentam
melhorias em relação ao original, focando sua
oposição sobre os menos desejáveis.

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