Você está na página 1de 5

Rodrigo Silva

Escola Secundária Pinheiro e Rosa

11º ano - Turma C

“Será que os organismos geneticamente modificados têm impacto ambiental e na


saúde humana?”

Os alimentos transgénicos são um tema polémico e alvo de debates desde a sua


criação em 1980. Estes alimentos tiveram o seu código genético modificado, ou seja,
os genes de uma espécie são inseridos em outra, fazendo com que este apresente
uma característica que antes não apresentava. Esta modificação é possível em plantas,
animais e microorganismos.

Estes alimentos prometem solucionar vários problemas enfrentados na agricultura e


trazem diversos benefícios, porém estes não vêm sem as suas consequências. Desta
forma, devemos pensar se os benefícios que estes alimentos trazem valem mesmo a
pena, ou se os problemas éticos ofuscam as vantagens que os mesmos trazem à
sociedade. Neste ensaio, irei explorar todos os problemas envolvidos na produção e
consumo de alimentos transgénicos, e defender a minha posição contra o uso destes
produtos com 3 argumentos:

Em primeiro lugar, uma das principais preocupações éticas em relação aos


alimentos transgénicos é a falta de transparência e informação para os consumidores.
De acordo com o Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho1, todos os
produtos deverão ter alguma identificação relativamente ao seu conteúdo transgénico.
Porém, os produtos transgénicos chegam aos supermercados de Portugal, muitas
vezes, com mínima rotulagem dos seus componentes modificados geneticamente,

1 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32003R1830
tentando assim esconder do consumidor a sua composição. Portugal ao contrário do
Brasil não requer um símbolo próprio de fácil interpretação2 relativamente a estes
alimentos, e assim empresas podem “esconder” no rótulo o facto do alimento ser
geneticamente modificado, o que, para muitos, poderá ser considerado eticamente não
correto, já que tenta privar o consumidor de fazer escolhas informadas sobre o que
está a ingerir.

Em segundo lugar, há potenciais riscos para a saúde humana. Os defensores dos


alimentos trangénicos baseiam os seus argumentos nos estudos que mostram que
estes produtos são seguros para o consumo humano, mas mesmo assim irão persistir
incertezas sobre os efeitos a longo prazo devido a falta de estudos. Porém alguns já
foram provados.

Um estudo realizado na Inglaterra3, por exemplo, demonstrou que uma variedade


transgénica de soja poderia causar até 50% mais alergias do que a soja não
transgénica. Os alimentos transgénicos têm sido associados ao aumento de alergias
devido à introdução de novos genes, que podem levar à produção de proteínas e
aminoácidos que não estavam originalmente presentes no alimento, podendo
desencadear reações alérgicas em algumas pessoas. Assim, com a combinação de
características genéticas pode-se produzir substâncias que desencadeiam alergias em
uma grande parte de consumidores. Para além disto, países como Noruega, Áustria,
Luxemburgo e Suíça já proibiram ou restringiram severamente a produção de alimentos
transgénicos devido a riscos associados com a resistência antibiótica que poderá
causar aos humanos. De acordo com um documento divulgado pela Greenpeace, uma
forma de produção de alimentos transgénicos, é a introdução de bactérias que pode
levar ao aumento da resistência a antibióticos na população, reduzindo a eficácia dos
medicamentos e apresentando uma grave ameaça à saúde pública. Estes genes
permanecem nos tecidos das plantas, o que preocupa as autoridades de saúde devido
aos riscos para humanos e animais. A OMS alerta para uma possível crise de

2 https://nutrimialimentos.com.br/rotulagem-de-transgenicos-o-que-voce-precisa-saber/
3
https://sites.manchester.ac.uk/foodallergens/allergy-facts/genetically-modified-foods-
and-food-allergy/
superbactérias devido ao uso desregulado de antibióticos, indicando que pode resultar
em até 10 milhões de mortes por ano a partir de 2050. Deste modo, os riscos à saúde
destacam a necessidade de uma avaliação cuidadosa e de regulamentações robustas
para garantir a segurança alimentar e informar adequadamente os consumidores sobre
os possíveis impactos na sua saúde.

Em terceiro lugar, os alimentos trangénicos também apresentam riscos à saúde e


ao meio ambiente devido ao aumento do uso de agrotóxicos. A inserção de genes com
resistência a estes produtos químicos em plantas pode levar ao desenvolvimento de
"super-pragas" e "super-ervas", resultando em maior uso de agrotóxicos e na
acumulação de resíduos tóxicos nos alimentos, na terra e na água. Isto impacta
negativamente o controlo de pragas, favorecendo o surgimento de espécies mais
resistentes aos pesticidas, e contribui para a poluição das águas e dos solos, porque
para combater as “super-pragas” é necessário um maior uso de agrotóxicos que criará
mais “super-ervas”, sendo assim um ciclo vicioso.

Um argumento dos opositores poderá ser que estes alimentos são seguros devido
aos vários estudos que foram feitos sobre os mesmos. Porém isto não é verdade já que
o estudo da Inglaterra provou que estes alimentos podem provocar alergias. Além
disso, ainda não existem estudos suficientes que mostrem os efeitos na saúde dos
humanos a longo prazo. Porém já existem efeitos graves que estão indiretamente
relacionados com a produção de trangénicos. Em 2010 na Córdoba (Argentina)4, o
4 https://theecologist.org/2014/aug/24/cancer-deaths-double-argentinas-gmo-
agribusiness-areas

Bibliografia:
https://revistabioika.org/pt/econoticias/post?id=16
https://www.brasildefato.com.br/2022/08/15/alimentos-transgenicos-o-que-sao-e-quais-
os-riscos-para-a-saude-para-o-meio-ambiente
https://www.theuniplanet.com/2017/09/sera-que-anda-comer-alimentos-transgenicos-
sem-saber/
https://www.dgav.pt/plantas/conteudo/autorizacoes-de-cultivo/variedades-
geneticamente-modificadas/rastreabilidade-e-rotulagem/
crescente uso de agrotóxicos em produtos transgénicos fez com que surgissem
denúncias sobre o aumento da incidência de cancro relacionado com o alto consumo
de agrotóxicos, sendo registrados 169 casos, resultando em 32 mortes. Este caso
aconteceu no Bairro Ituzaingó, e este bairro é cercado por plantações de soja
transgénica, o que infelizmente mostrou ser a causa do um aumento da chance de
cancro na população residente. Assim, para que estes alimentos sejam considerados
completamente seguros, é necessário realizar vários estudos ao longo de décadas
para determinar os reais efeitos dos alimentos transgênicos.

No contexto dos alimentos transgénicos, a perspectiva de Popper, que defende o


conhecimento cumulativo e a busca pela verdade, é a que se melhor adequa, devido
ao crescente conhecimento que adquirimos a partir dos estudos que foram feitos. A
segurança dos trangénicos tem sido alvo de estudos científicos e embora os resultados
não apontem para o risco humano, é sempre importante reconhecer que mesmo as
teorias apoiadas por evidências podem ser falsificadas. Um exemplo disto é o estudo
realizado na Inglaterra, que revelou um aumento significativo de alergias associadas a
uma variedade transgénica de soja. Ou então, o aumento de casos de cancro em áreas
próximas a plantações transgénicas emna Córdoba, Argentina. Desta forma, estes
exemplos reforçam a necessidade de uma análise rigorosa dos impactos a longo prazo
destes alimentos na saúde humana e no meio ambiente.

Em suma, os alimentos transgénicos criam preocupações éticas pela falta de


transparência na rotulagem, pelos riscos evidentes para a saúde humana, e pelos
impactos ambientais negativos. Enquanto alguns argumentam que já existem estudos
que garantem a segurança dos alimentos transgénicos, a necessidade de pesquisas a
longo prazo ainda persiste, devido aos efeitos potenciais ainda desconhecidos. Desta
forma, é preciso encontrar um equilíbrio entre a inovação científica e a segurança
alimentar, garantindo também uma boa proteção ambiental.

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?
uri=CELEX:32003R1830&from=PT
https://reporterbrasil.org.br/2013/11/transgenicos-e-agrotoxicos-uma-combinacao-letal/

Você também pode gostar