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Animais transgénicos: é uma boa solução para salvar vidas?

Embora haja várias vantagens aparentes relativamente aos animais transgénicos, alguns dos
efeitos destas modificações do seu DNA ainda não são conhecidas, podendo ser bastante
prejudiciais para a nossa saúde, os ecossistemas, a soberania democrática, a economia e a
justiça social.
Mais especificamente, foi criado um frango transgénico que não transmite o vírus da gripe
aviária. No entanto, há a preocupação de que a transmissão do vírus continue a ocorrer sem
ser detetada. Para além disso, uma simples mutação do vírus, de modo a que se consiga
reproduzir e evoluir, poderá torná-lo mais agressivo ou ainda mais transmissível.
Também foi criado um mosquito transgénico com o objetivo de reduzir a transmissão da
dengue. Contudo, com o desaparecimento desta espécie de mosquito, outras tendem a
proliferar-se em seu lugar, conduzindo a um possível aumento da transmissão de outras
doenças como a malária e a febre-amarela, o que nos leva a questionar se as consequências
positivas prevalecem sobre as negativas.

Outro caso mais recente muito polémico foi o primeiro transplante de um coração de porco
para um humano. Para que tal fosse possível, foi necessária a alteração de 10 genes no
porco, algo que levanta questões éticas relativamente à segurança do paciente, aos direitos
dos animais e a preocupações religiosas.
Um órgão humano compatível pode ser transplantado e, posteriormente, rejeitado, pelo
que num transplante animal a segurança do paciente é posta em causa, dado a
probabilidade de rejeição do órgão ser maior. Adicionalmente, há quem afirme que uma
pessoa que rejeite um xenotransplante por motivos éticos deve ter menos prioridade nas
listas de espera para doadores de órgãos humanos.
Muitos ativistas condenam estes transplantes por serem uma violação dos direitos animais,
pois consideram que é errado modificar os genes dos animais para torná-los mais parecidos
com os humanos, dado que "Os animais não são armazéns de ferramentas para serem
invadidos, mas seres complexos e inteligentes", como disse a PETA, uma organização que
promove os direitos dos animais. Além disso, alguns ativistas estão preocupados com os
efeitos desconhecidos a longo prazo da modificação genética na saúde do porco. Embora
usar porcos para produzir carne seja muito mais problemático do que usá-los para salvar
vidas, isso não invalida as preocupações relativas ao bem-estar animal nestes transplantes.
Os transplantes provenientes de porcos suscitam questões a nível religioso, já que os judeus
e os muçulmanos possuem regras rígidas sobre este animal.

Plantas transgénicas no mercado português?


Espanha e Portugal são, respetivamente, o primeiro e segundo maiores produtores em
termos de área, de milho geneticamente modificado, o milho MON 810, com presença de
um gene do Bacillus thuringiensis (bactéria), cujo objetivo é fazer com que o cereal resista à
praga da broca (larvas).
Em Portugal, a maioria do milho produzido é utilizado para a alimentação do gado, razão
pela qual existe uma grande procura e produção deste cereal, de tal modo que é necessário
importar elevadas quantidades de milho para satisfazer esta procura.
No entanto, a crescente produção de milho OMG causa grandes prejuízos económicos aos
agricultores tradicionais ou a empresas de pequena escala, dada a menor produtividade das
suas culturas, uma vez que são afetadas pela praga da broca.
Adicionalmente, as plantas transgénicas podem ainda constituir uma ameaça ao ambiente e
à saúde pública, já que são uma invenção relativamente recente ainda não totalmente
estudada.
A maioria dos consumidores já verificou, antes de comprar determinado produto no
supermercado, informações sobre a quantidade de gorduras trans e outros ingredientes nos
rótulos de alimentos. Contudo, provavelmente até mesmo os consumidores mais atentos
dificilmente devem ter visto nas embalagens indicações de que o produto contém OGMs,
apesar de existir um Decreto que obriga os alimentos com ingredientes transgénicos
evidenciar essa condição no rótulo. As empresas não rotulam por medo da reação do
consumidor. Ora, se o facto de um produto conter OGMs é tão negativo ao ponto das
empresas não o quererem divulgar, talvez isso seja um indicador de que esses produtos não
deviam existir de todo.

Criar bebés sem defeitos genéticos: sim ou não?


A criação de bebés geneticamente modificados vai mudar completamente o nosso futuro e
a nossa maneira de pensar, uma vez que poderemos evitar bastantes doenças, incluindo
doenças hereditárias, antes do bebé nascer. Porém estas alterações genéticas também têm
desvantagens.
O investigador chinês Jiankui He, criou em 2018 dois bebés geneticamente modificados de
modo a que estes não pudessem contrair HIV. No entanto, estas crianças têm uma maior
probabilidade de apenas viver até aos 76 anos, tendo ainda uma maior probabilidade de
morrer caso contraiam gripe.

Pode a agricultura convencional ser afetada pela biotecnologia?


A agricultura tradicional vai ser inevitavelmente afetada pela biotecnologia, visto que é
impossível que as culturas de OGM não contaminem as culturas de outros tipos.
Como tal, a Greenpeace, uma organização defensora do meio ambiente e promotora da
paz, detetou a presença indesejada de milho OGM em quase 25% dos casos estudados. Esta
contaminação tem prejuízos económicos, dado que a produção biológica não pode ser
vendida como tal. Em alguns dos casos analisados, a contaminação envolveu variedades
regionais de milho que tinham sido selecionadas ao longo de décadas e que foram assim
perdidas, reduzindo a biodiversidade.
Adicionalmente, a agricultura de OGMs, promovida pela biotecnologia, tem levado ao
aparecimento de ervas daninhas e pragas multirresistentes, extraordinariamente difíceis de
controlar pelos agricultores tradicionais.
A redução da biodiversidade também é um problema causado pelo cultivo de transgénicos,
visto que a crescente concentração na indústria da biotecnologia pode diminuir os
incentivos para assegurar a diversidade adequada nas plantas. Ora, a diversidade genética é
muito importante para que cada espécie se ajuste a novas condições, doenças e pragas, e
pode ajudar os ecossistemas a adaptarem-se a um ambiente em mudança ou a condições
severas, como secas ou inundações. Deste modo, a redução da biodiversidade resulta na
vulnerabilidade de inteiros ecossistemas, pois uma doença que afete uma planta irá
provavelmente afetar todas as outras.
Finalmente, características como a tolerância à seca são complexas, determinadas por
vários genes. A engenharia genética geralmente trabalha com um gene de cada vez.
Ferramentas como técnicas tradicionais de melhoramento e bancos de sementes, que
preservam a diversidade genética das sementes, estão a provar-se mais eficazes no
desenvolvimento de culturas tolerantes à seca. Infelizmente, a aposta extrema no setor
privado de sementes coincidiu com o declínio do investimento público em sementes
tradicionais e desenvolvimento de espécies. Num momento em que os agricultores
precisam de mais opções, não menos, esses programas precisam ser reforçados.

A biotecnologia é uma aposta em Portugal?


De acordo com a Quercus, a minha organização, a lei é pouco clara sobra a informação que
tem de ser facultada ao público e aos agricultores acerca dos terrenos onde são cultivados
OGMs. Adicionalmente, a legislação não consegue evitar a contaminação de culturas de
organismos não modificados por culturas de OGM, já que ocorre polinização cruzada.
Quando aplicada aos animais, Portugal não tem recursos suficientes para utilizar a
biotecnologia de modo completamente seguro e com um conhecimento profundo do
assunto, pelo que devíamos apostar mais em outros problemas presentes no país e deixar a
biotecnologia para os países mais evoluídos, que terão mais probabilidades de atingir
resultados ambientalmente benéficos.
Deste modo, não devíamos apostar na biotecnologia, inclusive porque outros países
europeus, como a Alemanha ou a Grécia, são contra os OGM; dado que estes países estão
mais avançados do que Portugal em várias frentes, devíamos seguir o seu exemplo e banir
os OGMs do nosso país.
Organismos geneticamente modificados: prós e contras?
Contras

 Poluição do Ambiente: Os transgénicos mais comuns são as plantas, nomeadamente


o milho e a soja. Ora, estas são modificadas de modo a adquirirem uma resistência a
um pesticida ou herbicida, com o objetivo de obter um maior rendimento da
colheita. Posto isto, a quantidade aplicada destes produtos sobre os campos não
causa danos relativamente ao contágio da plantação, e assim as quantidades
aplicadas sobre estas vão ser mais elevadas, tendo um impacto altamente nocivo
sobre o ambiente, uma vez que os químicos presentes no solo chegam aos aquíferos
e às águas dos rios.

 Redução da Biodiversidade: A existência de plantas resistentes a produtos químicos


provoca uma redução dos predadores naturais dessa planta, afetando assim os
níveis seguintes da cadeia alimentar. Isto conduz a uma selecção natural dos
organismos afectados pelos OGMs, visto que apenas os mais resistentes
prevalecerão na natureza.

 Poluição Genética: A polinização cruzada faz com que não seja possível separar
culturas convencionais das transgénicas, pois os grãos de pólen percorrem distâncias
na ordem dos 180 km por dia, sendo possível haver uma disseminação dos grãos de
pólen das plantas transgénicas para as plantas naturais, ou seja, uma contaminação
das plantas naturais pelas plantas modificadas, alterando também assim a
biodiversidade.

 Aumento das Alergias: Há possibilidade de desenvolvimento de alergias a produtos


transgénicos. A criação de proteínas sintetizadas pelos novos genes nos transgénicos
pode ter um potencial alérgico ao nosso organismo e são postos à venda nos
supermercados muitos produtos com substâncias transgénicas cujo potencial
alérgico ainda não foi testado.

 Perigo para os agricultores: A existência de culturas geneticamente modificadas


pode prejudicar os agricultores que não as utilizam, dado que a lei defende sempre
as grandes empresas multinacionais. O que acontece é que sempre que há
contaminação genética de culturas convencionais por grãos de pólen transgénicos,
essas culturas passam também a ser transgénicas, e as empresas responsáveis pelo
fabrico das sementes transgénicas têm o “direito” de ficar com a posse dos terrenos
agrícolas, porque as suas sementes passam a constituir os campos agrícolas, e o
agricultor para além de ficar sem as suas culturas ainda fica sujeito a pagar uma
indemnização por ter “utilizado” sementes que não eram dele.

 Aparecimento de novas doenças: Os OGM que contêm genes que lhes conferem
resistência a algumas bactérias podem provocar um fortalecimento das bactérias
contra as quais atuam, por um processo de seleção natural. As bactérias
selecionadas vão se reproduzindo, criando novas colónias de bactérias que não são
afetadas pelas plantas transgénicas, desenvolvendo-se assim um novo tipo de
bactérias e surgindo novas doenças nas plantas.

 Perigo para a Saúde Pública: O excesso de produtos químicos que advêm da


utilização de organismos geneticamente modificados na agricultura, não tem apenas
um impacto negativo no ambiente, mas é também um risco para saúde pública. Se
considerarmos que os alimentos provenientes de campos transgénicos são
excessivamente irrigados com pesticidas e herbicidas, esses mesmos produtos
químicos vão ser ingeridos pela população, mesmo em ínfimas quantidades, nos
alimentos.

 Resistência a Antibióticos: A transferência de genes dos OGMs para as células do


corpo humano seria preocupante caso o material genético transferido afetasse de
forma adversa a saúde. Os críticos aos transgénicos defendem a teoria de que os
OGM que possuem genes que lhes conferem resistências a certos antibióticos,
passam a ter probabilidade de causar essa mesma resistência ao antibiótico no ser
que o consumiu, ou seja, nos humanos. O resultado será a ineficiência desse
antibiótico numa possível infeção provocada por uma bactéria, ou seja, quando
necessitarmos desse antibiótico, seremos resistentes a este, e assim, não nos fará
efeito. Com isso, o número de problemas de saúde que envolvem bactérias imunes
aumentará e dificultará o tratamento de doenças.

 Insegurança na Utilização dos Transgénicos: Os estudos feitos aos OGMs são de


curta duração e superficiais, não sendo possível avaliar com segurança os danos
provocados por a introdução dos mesmos no ambiente. Por exemplo, os estudos
feitos a roedores que duram apenas 90 dias.

 Falta de Informação: Existe uma falta de informação relativa aos OGMs, sendo que
grande parte da população não está informada acerca da sua conceção e em geral
nem sequer sabem do que se trata um transgénico. Para além disto, até a parte da
população que tem conhecimento do assunto e dos possíveis impactos não possui
informação evidente de quando está a ingerir produtos transgénicos. 

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https://www.bbc.com/news/world-59951264
https://www.ecodebate.com.br/2009/09/04/produtos-continuam-sem-rotulo-que-
identificam-presenca-de-transgenicos/
https://www.farmaid.org/issues/gmos/gmos-top-5-concerns-for-family-farmers/
#:~:text=GMO%20agriculture%20has%20led%20to,promised%20benefits%20of%20GMO
%20technology.
https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/85966/2/tese%20salom%C3%A9%20apitz.pdf

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