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O IMPACTO AMBIENTAL GERADO PELOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS1

Erica Machado e Silva de Carvalho Lopes2


Raduan Miguel Filho3

RESUMO

Os organismos transgênicos, também conhecidos por organismos geneticamente


modificados - OGM, são possuidores de fragmentos de DNA de outros organismos
vivos misturados com o seu código genético. Este estudo teve como objetivo analisar
os impactos para o meio ambiente, os quais são decorrentes dos alimentos
transgênicos, bem como identificar os principais impactos dos alimentos transgênicos
sobre o meio ambiente apontados pela literatura científica, compreender a relação de
causalidade entre os impactos apontados e a dinâmica do cultivo e produção dos
alimentos transgênicos e verificar a existência de alternativas viáveis à minimização
dos impactos identificados. Os riscos à saúde humana e animal e à diversidade
biológica podem resultar das características inerentes aos OGM ou da sua potencial
transferência genética a outras espécies. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo,
realizado mediante pesquisa bibliográfica. O resultado mostrou que ainda são
limitados os estudos científicos que ofereçam informações conclusivas quanto aos
impactos que podem decorrer do plantio e do consumo dos OGM, sendo necessário
maior incentivo às pesquisas e debates envolvendo a sociedade e a comunidade
científica, devendo-se destacar principalmente a prevenção.

Palavras-chave: Organismos geneticamente modificados. Transgenia. Segurança alimentar.


Meio ambiente.

1
Artigo Científico, apresentado como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito
Ambiental, da Escola da Magistratura do Estado de Rondônia – Emeron, em outubro de 2021.
2
Formada em Direto pela FARO – Faculdade de Rondônia; Pós-Graduada em Direito Eleitoral; Assessora de
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
3
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia – Mestrado: Poder Judiciário FGV – Fundação
Getúlio Vargas, Direito, Rio; Pós Graduação em Direito Constitucional – Faculdade de Ciências Humanas e
Letras de Rondônia – FARO e UFMG.
1
ABSTRATC
The transgenic organisms, also known as genetically modified organisms (GMOs), are
possessors of DNA fragments from other living organisms mixed with their genetic
code. This study aimed to analyze the impacts on the environment arising from
transgenic foods, as well as to identify the main impacts of transgenic foods on the
environment pointed out in the scientific literature, to understand the causal
relationship between the identified impacts and the dynamics of cultivation and
production of transgenic food and verify the existence of viable alternatives to minimize
the identified impacts. The risks to human and animal health and biological diversity
can result from the inherent characteristics of the GMOs or its potential genetic
transference to other species. This is a qualitative, descriptive study, carried out
through bibliographical research. The result showed that scientific studies that provide
conclusive information about the impacts that may result from the planting and
consumption of GMOs are still limited, requiring greater encouragement of research
and debates involving society and the scientific community, with emphasis mainly on
prevention.

INTRODUÇÃO

Alimentos transgênicos são alimentos que sofreram modificações voltadas à


melhoria da qualidade, ao incremento da produtividade e ao aperfeiçoamento da
resistência às pragas e parasitas e herbicidas. As argumentações em favor dos
alimentos transgênicos defendem que o seu cultivo teria a capacidade de minimizar
o problema da fome, em virtude da possibilidade se aumentar a produtividade de
diversas culturas.

Contudo, há pesquisas que indicam que a problemática da fome mundial não


está diretamente associada à escassez ou à baixa produtividade, mas à distribuição

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desigual de alimentos, pelas desigualdades sociais e dificuldade de acesso aos
alimentos pelas pessoas de baixa renda. O que se verifica, contudo, é bastante
diferente: preliminarmente, por sua resistência aos agrotóxicos e por apresentarem
características inseticidas, a utilização continuada de sementes transgênicas pode
ocasionar resistência de ervas daninhas e insetos, forçando ao aumento dos índices
de uso de agrotóxicos na agricultura.

Ademais, os transgênicos podem implicar um risco elevado da perda da


biodiversidade, tanto pelo acréscimo no uso de agroquímicos, contaminantes do solo
das lavouras quanto pela polinização cruzada de sementes naturais por transgênicas.
Atualmente, apesar de haver grande diversidade de alimentos consumidos e
comercializados que são elaborados à base de ingredientes à transgênicos, não há
uniformidade na opinião científica acerca da segurança dos alimentos transgênicos
para a saúde humana e para o meio ambiente. Desse modo, ocorrências de eventos
alérgicos em animais e humanos já foram verificadas, pois testes a médio e longo
prazos não são feitos em cobaias nem em seres humanos, geralmente são evitados
pelas empresas de transgênicos.

Diante do exposto, o presente trabalho pretendeu analisar os impactos para o


meio ambiente decorrente dos alimentos transgênicos, bem como identificar os
principais impactos sobre o meio ambiente apontados pela literatura científica,
compreender a relação de causalidade entre os impactos apontados e a dinâmica do
cultivo e produção dos alimentos transgênicos e verificar a existência de alternativas
viáveis à minimização dos impactos identificados. A fim de alcançar tais objetivos,
partiu-se do seguinte problema de pesquisa: Quais são os impactos causados no meio
ambiente pelos alimentos transgênicos?

Diante da expressiva utilização de ingredientes transgênicos na indústria de


alimentos, em âmbito mundial e diante do que ainda é desconhecido acerca dos
impactos de sua utilização na saúde do ser humano e no equilíbrio do meio ambiente,
se faz relevante buscar ampliar os conhecimentos sobre essa dinâmica na realidade

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atual. Se fez necessário, assim, analisar as diversas concepções sobre o
desenvolvimento científico-tecnológico, buscando argumentos e informações
sustentadas por parâmetros permitam ter uma visão mais aprofundada sobre o
assunto aqui discutido.

Desse modo, a pesquisa contribuirá para aumentar a compreensão dos


impactos da utilização de alimentos transgênicos sobre o meio ambiente, permitindo,
assim, dimensionar as implicações desta utilização, buscando estratégias que possam
favorecer seu uso racional.

BASE TEÓRICA

BIOTECNOLOGIA: CULTIVO E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Os Organismos Geneticamente Modificados – OGM, denominados como


transgênicos integram uma das inovações da biotecnologia e da engenharia genética
ocasionada pela Revolução Verde em 1966, nos Estados Unidos, cujo mecanismo
implica na transferência de um ou mais genes responsáveis por característica
específica em um organismo para outro organismo ao qual é desejável incorporar tal
característica (SILVA, 2020).

Figura 1. Organismos Geneticamente Modificados – OGM

Fonte: JusBrasil (2019). Disponível em: https://lucenatorres.jusbrasil.com.br/artigos/721015506/o-


que-sao-organismos-geneticamente-modificados
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Nodari e Guerra (2003) definem os OGM como os organismos (plantas) que
possuem seu material genético modificado por meio da inserção de um ou mais genes
mediante técnica de biologia molecular. Desse modo, genes originários de diferentes
vegetais, animais ou micro-organismos podem ser embutidos em um genoma vegetal
receptor, entregando às plantas novas propriedades para o melhoramento da
produção de alimentos, medicamentos e outros produtos industriais.

Segundo Ribeiro e Marin (2012), a tecnologia do DNA recombinante ou


engenharia genética possibilita a cessão de genes de um organismo para outro,
embora distintos na cadeia evolutiva, situação impossível mediante do cruzamento
tradicional. Consequente, é obtido um OGM, conhecido como organismo transgênico,
possuindo uma ou mais características transformadas codificadas pelo gene ou genes
inseridos. Entre as benfeitorias trazidas por essa nova tecnologia para a agricultura
mundial está o aumento da produção de alimentos com elevação do teor nutricional.

Espera-se que essa tecnologia aperfeiçoe tanto o processo de reprodução


quanto o desenvolvimento de novas variedades de plantas de significativa qualidade
e rentabilidade, como as que possuem resistência à pestes, doenças e ao estresse
ambiental. Diversos cultivos de plantas geneticamente modificadas vêm sendo
aprovados mundialmente desde 1994, com destaque para o milho, soja, canola e o
algodão, além do tomate e do mamão, em menor escala.

Os OGM decorem das técnicas de biotecnologia, que é entendida conforme a


Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico como “a aplicação de
princípios científicos e técnicos ao tratamento de matérias por agentes biológicos para
obter bens e serviços” (BULL; LILLY, 1992). Consoante tal definição, os agentes
biológicos podem ser micro-organismos, células animais e vegetais e enzimas. E os
bens e serviços são produtos das indústrias do âmbito alimentar, de bebidas, farmácia
e biomedicina.

TRAJETÓRIA E LEGALIDADE

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Nos anos 70, foram assinalados significativos avanços na biologia molecular e
no campo da genética, ocasionando o desenvolvimento biotecnológico vivenciado na
atualidade. Desde então, seres microscópicos, vegetais e animais, passaram a ser
manipulados por transgenia. Nas duas décadas seguintes, a biotecnologia tornou-se
objeto de inúmeras pesquisas e grandes debates científicos, sociais e legais no
contexto nacional e internacional.

Consoante o relatório da FAO, as primeiras experiências laboratoriais


ocorreram em 1986 nos Estados Unidos e na França. A China foi o primeiro país a
vender plantas geneticamente modificadas no começo dos anos 90, a partir da
introdução do fumo resistente a vírus. Em âmbito nacional, a produção de soja
transgênica possui regulamentação desde 1995 pela Lei de Biossegurança n. 8.974,
que foi posteriormente revogada pela Lei n.11.105 de 2005, estabelecendo diretrizes
pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para uso dessa técnica
de engenharia genética (MONQUERO, 2005).

Os Organismos Geneticamente Modificados devem se vincular ao regramento


de biossegurança e mecanismos de fiscalização, dispostos no art. 1º da Lei n.
11.105/2005 (BRASIL, 2005), definindo a competência de fiscalização do cultivo,
produção, manipulação, transporte, a transferência, importação, exportação,
armazenamento, pesquisa, comercialização, consumo e a liberação no meio
ambiente, e ainda o descarte de OGM, atentando ao Princípio da Precaução para o
resguardo do meio ambiente (TORRES, 2019).

A Lei n. 11.105/05 (BRASIL, 2005), em seu no art. 3, inciso V, considera: V –


organismo geneticamente modificado – OGM: organismo cujo material genético –
ADN/ARN tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.
Destarte, a importância da referida lei é anterior à sua promulgação, considerando que
suas disposições buscam proteger a vida e saúde humana e ambiental, bem como
destaca o Princípio da Precaução, a ser discutindo ainda neste estudo, apontando os
limites éticos e legais da engenharia genética utilizada pelo homem.

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Ademais, é importante ainda compreender as disposições constitucionais que
são atinentes ao assunto. A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu art. 225, II,
§ 1º determina os parâmetros institucionais para as pesquisas com organismos
geneticamente modificados, quais sejam:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
II - Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético.

Nesse diapasão, verifica-se que a Constituição permite e estimula a pesquisa


e a manipulação genética, condicionada à fiscalização e controle, em uma perspectiva
de redução de riscos. Intencionando a regulamentação da pesquisa genética, nasce,
preliminarmente a pela Lei n. 8.974/95, atualmente revogada pela Lei de
Biossegurança n. 11.105/05), conforme já mencionado. Assim, a Carta Magna
reivindica a fiscalização do poder público para as alterações genéticas, de modo que
a primeira Lei de Biossegurança instituiu a Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), vigente ainda no diploma atual, mediante as seguintes
atribuições:

Art. 10. A CTNBio, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é


instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo, para
prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na
formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados,
bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de
pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam
pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação
de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente (BRASIL,
2005).

Assim, compete à CTNBio a fiscalização das práticas e pesquisas com os


organismos geneticamente modificados, ensejando a segurança da sociedade quanto
aos riscos dos produtos comercializados. No Brasil, o cultivo de plantas
geneticamente modificadas teve início após a segunda metade da década de 90, por
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meio do plantio ilegal de soja no Rio Grande do Sul através de contrabando da
Argentina. Em seguida a soja Roundup Ready recebeu a primeira solicitação de
autorização para cultivo transgênico em escala comercial com parecer favorável da
CTNBio (RIBEIRO; MARIN, 2012).

Em seguida da autorização mencionada, o Greenpeace e o Instituto de Defesa


do Consumidor (IDEC), ingressaram com uma ação na 6ª Vara de Justiça Federal
contra a Monsanto e o Governo Federal, assinalando o princípio da moratória judicial
para autorizações comerciais de transgênicos no país, fazendo com que as
variedades transgênicas continuassem sem comercialização até o ano de 2003.
Buscando solucionar o antagonismo causado pelo cultivo não autorizado de soja
transgênica, o Governo, a partir de pressões da Monsanto e dos produtores, autorizou
em 26 de março de 2003 a Medida Provisória 113, possibilitando a comercialização
dessa soja para consumo humano e animal no mercado interno ou externo, até janeiro
de 2004 (COSTA et al, 2011).

Desde 2003, ocorreu um significativo crescimento de lavouras geneticamente


modificadas nos países em desenvolvimento, em comparação aos países
industrializados. Em março de 2005, buscando o ajustamento da legislação com a
realidade produtiva da plantação de OGM no Brasil, foi sancionada a nova Lei de
Biossegurança 11.105, de 24 de março de 2005, estabelecendo diretrizes terminativas
acerca do plantio e a comercialização das variedades transgênicas em território
nacional, encerrando a disputa judicial pela legalização da soja transgênica. Contudo,
discussões acerca de biotecnologia persistiram, dada a expansão do cultivo de OGM
no Brasil e no mundo e à posição de destaque do país nesse cultivo (RIBEIRO;
MARIN, 2012).

A intencionalidade da utilização da biotecnologia em desenvolver os alimentos


transgênicos volta-se para a sua melhoria e aperfeiçoamento, aumento da quantidade
e da produtividade, em um espaço de tempo menor, com vistas a satisfazer a

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superação do problema da fome mundial, em uma perspectiva de que esse problema
seria ocasionado pela escassez de alimentos.

Contudo, há estudos que demonstram os impactos decorrentes da produção


destes alimentos. Desde tempos imemoriais, plantas são cultivadas através da
manipulação genética, mas, apenas na atualidade, a biotecnologia vem ganhando
prioridade, por ser uma ferramenta de valioso potencial e que, ao mesmo tempo que
sinaliza o progresso, também causa incertezas (RIBEIRO; MARIN, 2012).

Indaga-se acerca da garantia de segurança e qualidade alimentar e nutricional


dos alimentos transgênicos, assim como, da resolução do problema da fome, ou seja,
uma forma de se superar a escassez alimentar no mundo. A segurança alimentar
enseja o direito essencial de acesso em quantidade e qualidade de alimentos.
Entende-se que não está nos alimentos transgênicos a alternativa mais apropriada
para a erradicação da fome, assim como da oferta da segurança alimentar para a
população (CAVALLI, 2001).

ALIMENTOS TRANSGÊNICOS E O IMPACTO SOBRE O MEIO AMBIENTE E O


HOMEM

Um dos principais entraves no estímulo à produção de alimentos com a


utilização da biotecnologia é a avaliação de risco que alcança a saúde humana, com
o aparecimento de alergias e no impacto ao meio ambiente, poluição genética,
surgimento de novas pragas e danos as espécies circundantes. Os riscos mais
evidentes associados a alimentos transgênicos, estão relacionados a saúde humana.
Estes alimentos, ao sofrerem modificação genética, liberam substâncias não usuais,
que podem desencadear reações alérgicas no organismo dos seres humanos (LEITE,
2007).

No âmbito econômico, ao abordar as questões referentes à autorização ou


vedação das culturas transgênicas transgênicos como soja, milho e outros no Brasil,

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não está evidente a efetividade desta prática da biotecnologia. Por um prisma, pode
implicar em benefícios aos produtores e consumidores, mediante de uma colheita
abundante e mais resistente aos agentes externos, por outro podem ocasionar
implicações altamente nefastas ao meio ambiente e à saúde das pessoas (MAFTUN
et al, 2004).

Conforme Costa et al (2011), nos últimos vinte anos, organizações


governamentais e não governamentais planejam mecanismos e protocolos para a
investigação da segurança de alimentos derivados de lavouras geneticamente
modificadas. Os testes de segurança são realizados individualmente e desenvolvidos
para as especificidades das culturas modificadas e as alterações introduzidas
mediante a manipulação modificação genética.

O mais importante óbice à avaliação de riscos de risco de OGM é que suas


implicações não são previsíveis de forma integral. Sabe-se que os riscos à saúde
humana podem incluir alergias, toxicidade e intolerância. No contexto ambiental, as
implicações são a transferência lateral (horizontal) de genes, a poluição genética e os
efeitos prejudiciais aos organismos não alvo (NODARI; GUERRA, 2003).

Costa et al (2011) apresentam fenômenos adversos decorrentes do


desenvolvimento e consumo dos OGM, classificando-os em três grupos de risco:
alimentares, ecológicos e agrotecnológicos, conforme segue:

1. Riscos alimentares

a) efeitos imediatos de proteínas tóxicas ou alergênicas do OGM;

b) riscos causados por efeitos pleiotrópicos das proteínas transgênicas no


metabolismo da planta;

c) riscos mediados pela acumulação de herbicidas e seus metabólitos nas


variedades e espécies resistentes;

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d) risco de transferência horizontal das construções transgênicas, para o
genoma de bactérias simbióticas tanto de humanos quanto de animais.

2. Riscos ecológicos

a) erosão da diversidade das variedades de culturas em razão da ampla


introdução de plantas GM derivadas de um grupo limitado de variedades parentais;

b) transferência não controlada de construções, especialmente daquelas que


conferem resistência a pesticidas e pragas e doenças, em razão da polinização
cruzada com plantas selvagens de ancestrais e espécies relacionadas. Os possíveis
resultados são o declínio na biodiversidade das formas selvagens do ancestral;

c) risco de transferência horizontal não controlada das construções para a


microbiota da rizosfera;

d) efeitos adversos na biodiversidade em razão de proteínas transgênicas


tóxicas, afetando insetos não alvo, assim como a microbiota do solo, rompendo desta
forma a cadeia trófica;

e) risco de rápido desenvolvimento de resistência às toxinas implantadas no


transgênico por insetos fitófagos, bactérias, fungos e outras pragas devido à pesada
pressão seletiva;

f) riscos de cepas altamente patogênicas de fitovírus emergirem em razão da


interação do vírus com a construção transgênica que é instável no genoma dos
organismos receptores e, portanto, são alvos mais prováveis para recombinação com
DNA viral.

3. Riscos agrotecnológicos

a) riscos de mudanças imprevisíveis em propriedades e características não


alvo das variedades GM e em razão dos efeitos pleiotrópicos de um gene introduzido;

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b) riscos de mudanças transferidas nas propriedades de variedade GM que
deveriam emergir depois de muitas gerações em razão da adaptação do novo gene
ao genoma, com manifestação da nova propriedade pleiotrópica e as mudanças já
citadas;

c) perda da eficiência do transgênico resistente a pragas em razão do cultivo


extensivo das variedades GM por muitos anos;

d) possível manipulação da produção de sementes pelos donos da tecnologia


“terminator”.

Beck (2010) destaca que as composições de risco possuem, em seu cerne,


um elemento teórico e outro normativo. No Brasil, segundo produtor de soja em escala
mundial e que ainda possui determinadas restrições para a comercialização de
sementes e alimentos geneticamente modificados, persistem intensas discussões
acerca da legalização e regulamentação destes itens.
Embora haja considerável experiência adquirida na avaliação de produtos
desenvolvidos e comercializados em outras nações, é indispensável a adoção de
protocolos de segurança criados ou adaptados para o contexto local. Concernente à
segurança ambiental, o ajustamento é imperativo, visto que os resultados podem ser
distintos daqueles já alcançados em outros países.

ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS


PELOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

Conforme Nodari e Guerra (2000), o debate mundial acerca das implicações


e consequências dos alimentos transgênicos na saúde humana e animal e impactos
ao meio ambiente, bem como os socioeconômicos são muitos, isso devido à escassa
informação científica disponível. Parte dessas informações admitem hipóteses de
riscos previamente levantadas. Logo, em diversas situações, já foi verificada presença
de genes de plantas geneticamente modificados nas mesmas e outros organismos.

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Assim, a disseminação de genes tanto para plantas da mesma espécie como para
espécies bem diferentes já pode ser considerada um risco real.

De acordo com Silva et al (2020), a diversidade de estilos de vida que


diferencia a população brasileira nasce diretamente evidenciada nas escolhas e nas
práticas dos consumidores. A admissão dos alimentos transgênicos nas prateleiras
dos mercados provocou muitos questionamentos quanto à segurança desses
produtos. Atualmente não há estudos que possam corroborar que os transgênicos
causam danos à saúde e ao meio ambiente de forma a não justificar o seu uso. Diante
das incertezas suscitadas pelo consumo dos alimentos transgênicos, o consumidor
está propício a optar por alimentos convencionais

O princípio da equivalência substancial está possibilitando que as plantas


transgênicas sejam autorizadas para o cultivo comercial com testes de curta duração
e em quantidade e qualidade insuficientes para que os alimentos derivados delas
sejam tidos como sadios e seguros. Assim, o uso do princípio da precaução
apresenta-se na medida mais apropriada até que os dados científicos apontem os
reais impactos destas plantas na saúde humana, animal e no meio ambiente (NODARI;
GUERRA, 2000).

Princípio da Precaução

Em 2000, o Protocolo de Cartagena, de caráter internacional, estabeleceu o


Princípio da Precaução, buscando proteger a diversidade biológica e a saúde humana
em face dos possíveis danos decorrentes da liberação de novas tecnologias, como os
OGM. O referido princípio determina ainda regras de padronização de biossegurança,
e estabelece a rotulagem dos OGM como ferramenta de rastreabilidade desses
produtos.

Figura 2: Rotulagem de alimentos transgênicos

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Fonte: Senado Federal (2017). Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/07/27/novas-regras-para-identificacao-de-
transgenicos-estao-na-pauta-da-cra.

Consequentemente, a análise de risco de consumo de tais itens deve ser


realizada, bem como observadas as normas de biossegurança, para que, assim, os
alimentos possam ter seu consumo seguro. Contemporaneamente, a transgenia ainda
possui muitos aspectos desconhecidos, de forma que não é possível se estimar os
riscos reais. Por isso, os cientistas recomendam a adoção do Princípio da Precaução,
com vistas a proteger a vida ante as incertezas relativas ao assunto, pois, o aludido
princípio direciona as ações humanas, articulado com outros de grande relevância,
como a igualdade, a justiça e a prevenção.

O progresso científico e tecnológico trouxe de forma bem-sucedida diversos


resultados marcantes de investigações em biologia molecular nas indústrias agrícolas,
alimentares e farmacêuticas, mas ainda há muito a se conhecer. Consoante Costa et
al (2011), o Princípio da Precaução defende a concepção de que perante a
inexistência de certeza científica, a possibilidade do risco de um agravo requer a
adoção de medidas preventivas a ele. Isto é, ao legislar sobre uma situação ainda não
integralmente conhecida, é imperativo ser precavido.

METODOLOGIA DA PESQUISA

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Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, realizado mediante pesquisa
bibliográfica, sem meta-análise. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo,
realizado mediante pesquisa bibliográfica. Lüdke e André (2012, p. 54) conceituam a
pesquisa qualitativa como:

[...] a que propicia melhores condições para a compreensão da dinâmica


presente no cotidiano escolar e para realizar uma pesquisa é preciso
promover um confronto entre dados, as evidências, as informações coletadas
sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito
dele. (2012, p. 54).

A pesquisa qualitativa requer do pesquisador a habilidade de obter a


perspectiva dos entrevistados, sem necessitar partir de um modelo preestabelecido.
Para Lüdke e André (2012, p. 11) “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como
sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Então,
esta abordagem proporciona um contato direto com o ambiente e com a situação que
se quer investigar com a visita ao campo da pesquisa, oportunizando um
conhecimento maior do cotidiano investigado.

Foram consultados bancos de dados eletrônicos para se obter publicações e


documentos que sustentam a fundamentação teórica da pesquisa. Adotou-se como
descritores de busca os termos “ALIMENTOS TRANSGÊNICOS”, “ORGANISMOS
GENETICAMENTE MODIFICADOS”, “MEIO AMBIENTE”, “IMPACTOS”. Deu-se
preferência aos estudos que se enquadram no recorte temporal dos últimos vinte anos,
sem nenhum outro tipo de refinamento de busca, contudo, dada a especificidade do
assunto, estudos, publicações e legislações mais antigas, que não sofreram
modificação também foram utilizados.

Após realizada a busca preliminar, foram selecionadas as publicações por


relevância do título e, em seguida, pelo conteúdo dos resumos. Seguidamente, foi
efetivada a leitura inicial, a separação dos textos por categoria semântica, a
identificação das temáticas a serem apresentadas no estudo e, por fim, a redação do
texto com a apresentação dos resultados.

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Ademais, não ocorreu pesquisa com seres humanos nem com animais, dessa
forma, não houve a necessidade de submissão ao Comitê de Ética na Pesquisa.
Declara-se que não há conflito de interesses no desenvolvimento da presente
pesquisa. A análise dos dados deu-se por meio da Análise de Conteúdo que também
admite a abordagem qualitativa definida para o desenvolvimento deste estudo, pois,
conforme Bardin (2004), este método de análise busca inferir os significados que vão
além das mensagens concretas.

RESULTADOS DA PESQUISA

A primeira categoria de análise do estudo são as informações sobre os riscos.


Atualmente, ainda são muito restritas as pesquisas e investigações científicas
envolvendo os possíveis riscos ao consumo humano de alimentos produzidos a partir
de organismos geneticamente modificados. No Brasil, há uma carência de estudos
sobre o assunto e a insuficiência de informações devido a pouca discussão acadêmica
acerca das inovações tecnológicas que incorporam determinados riscos, o que se
reflete, ainda, na formação da opinião pública e na divulgação do assunto por meio
das estratégias de marketing.

A segunda categoria de análise é a legislação. No caso do Brasil, a legislação


é recente e acompanha as descobertas científicas em sua proporcionalidade de
informações, mas adota o Princípio da Precaução, a fim de se resguardar aquilo que
não é conhecido. Verificou-se, no estudo, que desde o regramento constitucional até
legislações complementares há disposições que buscam proteger o ser humano e
meio ambiente dos potenciais danos dos transgênicos, em disposições legais, que
vão desde o plantio, a comercialização, o transporte e a rotulagem de produtos
derivados de OGM.

A terceira e última categoria de análise é a prevenção, na perspectiva de


minimização de riscos. Em um polo, as iniciativas em biotecnologia e os agricultores

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argumentam em favor o uso indiscriminado dos OGM nas lavouras, e de outro, a
sociedade e as organizações governamentais e não governamentais defendem
estudos mais conclusivos acerca dos verdadeiros impactos dessas modificações.
Nesse sentido, é indispensável adotar uma postura preventiva e cautelosa acerca dos
alimentos transgênicos.

Enfatiza-se, ainda, a necessidade de priorização dos estudos sobre a


biossegurança, utilizando-se de instrumentos científicos robustos que sejam capazes
de delinear as etapas e consequências futuras, antevendo potenciais riscos e
inconsistências que causem danos ao ser humano e ao meio ambiente. A segurança
alimentar é essencial para o desenvolvimento social e está relacionada ao direito de
acesso às informações corretas de composição dos alimentos consumidos, partindo
de uma compreensão efetiva e segura, como estabelecido nas legislações aqui
mencionadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o final dos anos 90, as prateleiras vêm sendo abastecidas com
alimentos contendo componentes geneticamente modificados. A transgenia é uma
tecnologia que pode favorecer significativamente o melhoramento genético das
plantas, buscando produzir alimentos, fármacos e outros produtos industriais em
maiores escalas e quantidades. Entretanto, ainda é limitado o conhecimento acerca
dos riscos que o plantio e o consumo de tais alimentos possuem, de forma que a
legislação se ocupa daquilo que já está estabelecido e adota o Princípio da Prevenção
para o que ainda não está esclarecido de modo definitivo.

Desse modo, há ainda uma relevante quantidade de desafios a serem


contingenciados, a fim de que o usufruto integral e despreocupado dos OGM seja uma
realidade. A propriedade e o ajustamento adequado do seu uso decorrem e estão
vinculados a diversos aspectos, impondo uma alta complexidade em sua definição.
Necessita-se, então da elevação dos debates e discussões no que se refere a

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utilização de biotecnologia pela sociedade, bem como de maior incentivo e celeridade
às pesquisas que possam trazer resultados mais conclusivos ao assunto.

Portanto, tendo em vista que a transgenia oferece novas propriedades, ainda


pouco avaliadas quanto às suas implicações, não se possui uma base de
conhecimentos suficientes para determinar de forma precisa os rumos da discussão.
Logo, a concessão para o cultivo e comercialização de plantas transgênicas deve ser
antecedida por pesquisas nutricionais e toxicológicas de longa duração. Esse cuidado
pode prevenir resultados danosos ao ser humano e ao meio ambiente.

REFERÊNCIAS

BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34,
2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado


Federal, 1988.

______. Lei n. 11. 105, de 24 de março de 2005. Brasília: Casa Civil, 2005.

BULL, A. T.; LILLY, M. D. Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico


(OECD). Biotecnology: Internacional trends and perspectives. 1992.

CAVALLI, S.B. Segurança alimentar: a abordagem dos alimentos transgênicos. Rev.


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