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SEGURANÇA ALIMENTAR DE ALIMENTOS GENETICAMENTE

MODIFICADOS.

Matheus Perotti Martines - 2026335

Introdução
Definido pelo artigo 1º da Lei Nº 11.105, de 24 de março de 2005. como o
conjunto de normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso de técnicas
de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte,
comercialização, consumo, liberação e descarte de organismos geneticamente
modificados (OGMs), com intuito de proteger a vida e saúde humana, de animais e
plantas, bem como do meio ambiente.
A biossegurança surge como produto do desenvolvimento tecnológico na área
da biologia com intuito de assegurar, de maneira sustentável, o desenvolvimento da
biotecnologia, garantindo ao longo do processo a saúde humana, animal e vegetal,
bem como a proteção ao meio ambiente e a proteção à biodiversidade.

Materiais e métodos
Foi realizada a busca nas plataformas de pesquisa Google e Google Scholar,
por artigos, normativas, legislações, diretrizes e temas relacionados à segurança
alimentar referente à alimentos geneticamente modificados, abordando-se temas
pertinentes ao assunto da pesquisa.

Resultados e discussão
A Lei de n. 11.105/2005 relacionada à Biossegurança na biotecnologia que foi
regulamentada em paralelo com o Decreto n. 5.591, de 22 de novembro de 2005.
Apesar desse feito, os comentários sobre os transgênicos não cessaram, pois
surgiram instituições que se mostraram positivamente e negativamente, levando o
tema a ser discutir muitas vezes em relação a diminuição de uso de agrotóxicos e se
os alimentos modificados eram prejudiciais ou não a saúde. Essa lei descreve de
forma breve e sucinta sobre o uso de células modificadas na agricultora e sobre a
clonagem na área da medicina. O questionamento feito pelo Dulley (2007) consta
que essa lei possui o termo segurança o que a lei não sanciona e que o termo mais
apropriado para essa lei de n. 11.105/2005 seria o termo bioproteção, pois a lei
decretada não um determinado tipo de segurança a população, mas sim uma
proteção ou privilégio. Olhando para um futuro próximo, pode se dizer que esse
decreto deverá passar por novas modificações por não constar nada diretamente
ligado a nanotecnologia e o uso dela que atualmente já traz certos debates e
questionamentos na comunidade científica, assim conclui-se que esse será o
próximo assunto a ser visado na Lei de Biossegurança pelo Congresso Nacional,
que já se mostrou ciente da sua vasta utilização com o tema “Dispõe sobre a
pesquisa e o uso da nanotecnologia no País”. O termo OGM, abordado nas
normativas referentes à biossegurança, se refere a qualquer organismo que tenha
sido geneticamente modificado, ou seja, um organismo transgênico.
Organismos modificados podem ser empregados na indústria alimentícia,
possuindo diversas vantagens sobre suas contrapartes naturais como a
possibilidade de seu enriquecimento com princípios ativos ou componentes
nutricionais essenciais, bioativos que possam prevenir ou reduzir risco de doenças,
resistências incorporadas a pragas, estiagens e padrões extremos de temperatura e
umidade, bem como o aumento da produtividade de safras baseado em variedades
agrícolas com alto potencial de formação de biomassa em condições iguais a
variedades naturais.
No entanto, a utilização de organismos geneticamente modificados pode
acompanhar desvantagens. Devido à natureza das técnicas utilizadas o controle
sobre o local exato de genes de interesse não é inteiramente controlado, levando a
possibilidade de ocorrência de resultados inesperados apresentando um potencial
risco para biodiversidade. A uniformidade genética devido a seleção das variedades
que apresentam melhor produção pode levar à vulnerabilidade quanto pestes, visto
que, os clones de uma variedade vegetal apresentariam a mesma susceptibilidade a
um dado patógeno potencial.
A possível expressão genética de proteínas antes não existentes em
variedades alimentares pode aumentar o grau de reações alérgicas em decorrência
da presença de compostos “estranhos” ao organismo do indivíduo.
No ano de 1995 foi aprovada a Lei de Biossegurança Nacional, dando origem à
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), como parte integrante do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), habilitando a triagem de alimentos
modificados geneticamente por meio de testes laboratoriais.
Entre o período de 1996 e 2002 a CTNBio elaborou 20 instruções normativas
específicas com intuito de regulamentar e fiscalizar operações utilizando organismos
geneticamente modificados. A Instrução Normativa CTNBio nº 17, publicada em 17
de novembro de 1998, visa regulamentar as atividades de importação,
comercialização, transporte, armazenamento, manipulação, consumo, liberação e
descarte de produtos derivados de OGM, estes, definidos pela normativa como todo
e qualquer produto obtido de um organismo geneticamente modificado, que não
possua capacidade de replicação autônoma, ou que contenha formas viáveis de
OGM, criando um procedimento para requerimento da autorização para liberação:

1) Inicialmente o pesquisador deve elaborar a proposta a ser liberada


contendo informações referentes ao OGM como espécie a ser liberada,
localização, habitat e ecologia do organismo, bem como descrição genética
do OGM, dados sobre o regime de contenção a ser empregado em caso de
acidentes com o organismo e estudos sobre a estabilidade, sobrevivência,
disseminação e transferência do organismo;

2) A proposta deverá ser encaminhada para a Comissão Interna de


Biossegurança (CIBio), encarregada da manutenção de registros e arquivos
individuais de cada proposta e da elaboração de ofícios a serem entregues
à CTNBio e ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)
para avaliação;

3) A Comissão Técnica, após receber o parecer da CIBio designará uma


Comissão Setorial Específica da Área humana, animal, ambiental ou
vegetal que emitirá um parecer conclusivo da CTNBio;

4) Ocorrerá então a publicação do diário oficial da união constado o parecer ao


pedido, e a comunicação a CIBio e aos ministérios competentes, que então
concederão a autorização para liberação.
Com base na Food and Agriculture Organization (FAO), quando em se tratando
de biossegurança alimentar de alimentos geneticamente modificados (AGMs),
devem-se considerar as consequências diretas causadas pela alteração dos níveis
de expressão gênica. O alimento pode vir a apresentar efeitos anti-nutricionais,
alergênicos ou até mesmo tóxicos com as alterações no metabolismo do organismo.
A organização também frisa a necessidade da consideração de mutações
decorrentes do processo de introdução genética no organismo o que pode levar a
desequilíbrios no nível de componentes apresentados ou no aparecimento de novos
compostos oriundos de possíveis interrupções de sequências codificadoras ou de
controle, ou pela ativação de genes latentes.
ANDRADE (2004) descreve o nível de segurança de alimentos derivados de
organismos geneticamente modificados como muito alta, uma vez que os alimentos
obtidos por processos genéticos são submetidos a uma grande batelada de testes
laboratoriais como caracterização de proteínas expressadas, testes de
digestibilidade in vitro , avaliações de toxicidade oral aguda em camundongos e da
homologia estrutural de proteínas com toxinas proteicas caracterizadas, bem como
avaliação do potencial como alergênico e equivalência nutricional do AGM. O autor
sugere que devido à bateria incessante de testes pelos quais os AGMs são
submetidos, o consumo de alimentos geneticamente modificados seria
aparentemente mais seguro, oferecendo menor risco do que outro alimento liberado
para consumo que não esteja sujeito a uma cadeira rigorosa de triagem.
Para lidar com a segurança de organismos e alimentos geneticamente
modificados é imperativo que seja utilizada uma abordagem baseada no princípio da
precaução, desencadeando programas de pesquisa sistemáticos para o
compreendimento de um dado organismo afim de avaliar devidamente os possíveis
impactos de um OGM no meio ambiente (NODARI e GUERRA, 2003).
Em Janeiro de 2000, em Montreal, Canadá, o Protocolo Internacional de
Biossegurança, ou Protocolo de Cartagena, foi assinado por um total de 176 países,
providenciando maior controle de organismos geneticamente modificados, por meio
da imposição de condições para o comércio internacional de transgênicos, adotando
como base o princípio da precaução e a rotulagem dos produtos transgênicos
(NODARI e GUERRA, 2003).
Conforme Nodari (2007), são mencionados no anexo 3 do Protocolo de
Cartagena, quatro princípios gerais pertinentes a avaliação de riscos relacionados a
biossegurança. A avaliação de risco necessariamente deverá possuir um caráter
cientificamente sólido e transparente, considerando a assessoria de organizações
internacionais relevantes, especializadas no assunto, e as diretrizes elaboradas por
elas, entretanto a cadência de conhecimento e consenso científico não deve
necessariamente remeter a um determinado nível de risco. A avaliação deverá
ocorrer caso a caso uma vez que a natureza e detalhamento de informações
derivadas de um OGM podem variar dependendo da espécie, aplicação e prováveis
receptores.
O principio da precaução, como descrito por Barrett e Raffensperger (1999),
aborda quatro componentes principais, sendo eles, a tomada de um conjunto de
ações preventivas, em momento prévio a obtenção e provas científicas ou do
estabelecimento de relações de causa e feito, o ônus de prova de biossegurança
gerado pela necessidade de conhecimento acerca de um OGM deve ser atribuída ao
individuo ou organização preponente de atividade ou empreendimento, caso o
organismo demonstre evidencia de possível dano alternativas devem ser
consideradas de modo a aumentar o número de ações de mitigação, e toda e
qualquer tomada de decisão, para adentrar ao caráter precaucionário, deve ser
tomada de forma aberta, transparente e democrática, contemplando o envolvimento
de todas as partes afetadas pela prática da atividade.
De maneira geral, os riscos e fenômenos adversos oriundos do cultivo e
consumo de organismos geneticamente modificados são classificados em três
grupos de risco distintos (COSTA, 2007). Sendo eles:

a) Riscos alimentares: compreendem feitos imediatos de proteínas


tóxicas ou alergênicas do OGM, riscos causados por efeitos
pleiotrópicos das proteínas transgênicas no metabolismo vegetal,
riscos causados pelo acúmulo de herbicidas e seus metabólitos nas
variedades resistentes e riscos de transferência horizontal de
construções transgênicas para bactérias simbióticas de humanos e
animais (TEMM et al., 2007).
b) Riscos ecológicos: como a erosão da biodiversidade de variedades
plantadas em razão da introdução desenfreada de vegetais GM,
transferência não controlada de modificações genéticas, com
enfoque nas quais conferem resistência a pesticidas e patógenos,
ou transferência horizontal descontrolada para a microbiota
presente em rizosfera, efeitos adversos da ação de proteínas
tóxicas em organismos não-alvos rompendo cadeias tróficas,
desenvolvimento de resistência rápida por parte de patógenos
quanto a toxinas implantadas no transgênico e riscos do surgimento
de cepas altamente infecciosas de fitovírus em decorrência da
recombinação de DNA mediante a interação recorrente com os
OGMS (TEMM et al., 2007).

c) Riscos agrotecnológicos: os quais competem mudanças não


prevista em propriedades do OGM em razão de efeitos pleiotrópicos
da indução gênica, alterações nas propriedades de OGMs que
deveriam emergir após muitas gerações por conta da adaptação
gênica ao genoma no qual foi introduzido, perda da resistência do
transgênico quanto à resistência patogênica em razão do extenso
cultivo de variedades ao longo do tempo (TEMM et al., 2007).

Cavalli (2001) explicita a polêmica acerca de AGMs com relação ao direito


humano à alimentação, indicando a existência de defensores dos transgênicos
baseando o posicionamento de uso dos AGMs na suposta capacidade de
erradicação da fome, especialmente em países com alarmantes taxas de sub-
nutrição, influenciando no barateamento e disponibilidade de variedades
alimentícias.
Apesar do domínio brasileiro no setor genético-agrícola mundial, sendo o
segundo maior produtor de lavouras geneticamente modificas, é aparente que as
massas populacionais possuem receios em relação à segurança referente ao
consumo de alimentos geneticamente modificados, oriunda da desconfiança aa
garantia legal da susceptibilidade do alimento a uma intensa bateria de testes antes
do consumo final do alimento (BORBA, 2018).
De acordo com Resta e Elisbão (2005) é evidente que os alimentos
transgênicos podem trazer certa desconfiança, assim como vários marcos da área
da ciência em geral, como o início da utilização das vacinas para erradicar doenças
e o uso da energia nuclear. Em contrapartida a utilização dos alimentos transgênicos
minimizam os preços empregados aos alimentos e com o aumento da produção
poderia ser um passo a mais para diminuir a fome mundial. A forma mais
apropriada para a comercialização desses produtos conta com a necessidade de
constar nos rótulos e embalagens a presença dessa modificação, para que o
consumidor possa fazer suas escolhas de produtos estando ciente dessa alternativa,
também há estudos feitos comprovando que esses produtos não oferecem nenhum
problema a saúde e/ ou a alimentação do consumidor, pois são altamente avaliados
de acordo com o caráter nutricional e alimentar sendo até mais estudados que os
produtos convencionais, ou seja, sem modificação. Dessa forma eles oferecem mais
segurança sanitária que os próprios convencionais que se têm menores receios ao
ser comprado, sim os produtos modificados possuem suas desvantagens, mas não
está diretamente ligada a saúde de quem os consomem.
A rotulagem atua como como mecanismo facilitador da decisão empregada
pelo consumidor no quesito referente à aceitação e subsequente consumo de
organismos modificados, os quais as propriedades não sejam suficientemente
difundidas ou conhecidas pela ciência. Informação adequadas a respeito da
qualidade, quantidade e composição de um produto alimentar é inegável ao
consumidor, não condizente com o escopo de garantia de total segurança do
produto, mas de informar os possíveis consumidores a respeito dos ingredientes
envolvidos na elaboração de um produto, e seus potenciais riscos, garantindo assim
que o indivíduo possa exercer o direito de escolha de forma livre, dentro dos
padrões de cidadania e dignidade humana (FERREIRA, 2015).

Referências

BARRETT, K.; RAFFENSPERGER, C. Precautionary science. Protecting public


health and the environment: Implementing the precautionary principle, p. 106-
122, 1999.
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CAVALLI, S. B. Segurança alimentar: a abordagem dos alimentos transgênicos.


Revista de Nutrição, v. 14, p. 41-46, 2001.

COSTA, T. E. M. M; DIAS, A. P. M.; SCHEIDEGGER, É. M. D.; MARIN, V. A.


Avaliação de Risco dos Organismos Geneticamente Modificados. Ciências e Saúde
Coletiva, n. 16, v. 1, 2007; p. 327-336.

DE ANDRADE, S. R. M. Biossegurança de alimentos transgênicos. Embrapa


Cerrados-Documentos (INFOTECA-E), 2004.

DULLEY, R. D. Biossegurança: muito além da biotecnologia. Rev. de Economia


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FERREIRA, K. P. biossegurança alimentar na sociedade global de risco: necessária


sincronia entre o princípio da precaução e o dever de informar. Diretoria-Conpedi,
p. 197, 2015.

FAO. Biotechnology and food safety: report of a Joint. Rome: FAO: WHO
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Instrução Normativa CTNBio nº 17, de 17 de novembro de 1998.

Lei Nº 11.105, de 24 de março de 2005.

RESTA, M. S. A.; ELISBÃO, T. Alimentos Transgênicos Aspectos Éticos,


Nutricionais E De Segurança Alimentar Para O Consumidor. Entidade
Mantenedora: Instituto Filadélfia De Londrina, 2005.
NODARI, R. O.; GUERRA, M. P. Plantas transgênicas e seus produtos: impactos,
riscos e segurança alimentar (Biossegurança de plantas transgênicas). Revista de
Nutrição, v. 16, n. 1, p. 105-116, 2003.

NODARI, R. O. Biossegurança, transgênicos e risco ambiental: os desafios da nova


Lei de Biossegurança. LEITE, RM; FAGÚNDEZ, PRA Biossegurança e novas
tecnologias na sociedade de risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais.
Florianópolis: Conceito Editorial, p. 17-90, 2007.

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