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RESENHA CRÍTICA – BIOTECNOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES.

A biotecnologia envolve a utilização de seres vivos (células) ou partes destes


(como proteínas, moléculas, lipídeos, carboidratos, material genético etc.) a fim
de fabricar ou modificar produtos ou processos para a utilização específica.
Essa tecnologia revolucionária é uma área multidisciplinar (engloba as grandes
áreas da Biologia, Química e Engenharia) e altamente fascinante.
A cada dia, a biotecnologia vem ganhando espaço em diferentes áreas,
trazendo, na maioria das vezes, soluções úteis, rápidas e fáceis e que podem
solucionar graves problemas que assolam o mundo, como a fome, resistência a
pragas em plantas, e ajudar na produção de medicamentos, vacinas,
melhoramento genético, análise de DNA, diagnóstico, recuperação de áreas
poluídas e uma série de outras aplicações.
A biotecnologia pode ser dividida por áreas; de acordo com suas aplicações,
podemos ter: Biotecnologia Vegetal, Biotecnologia Animal, Biotecnologia
Industrial e de Combustível, Biotecnologia Ambiental. Nos dias de hoje, não
temos como fugir dela; aqui, vamos explorar suas aplicações nos produtos e
processos gerados a partir de seres vivos ou parte deles e veremos como
podemos utilizar os recursos biológicos ao nosso redor para criar produtos e
gerar conhecimento.
BIOTECNOLOGIA VEGETAL
A Biotecnologia Vegetal se preocupa com o melhoramento de plantas, como
aumento da disponibilidade de nutrientes, resistência a pragas, melhor
crescimento do vegetal, produção de medicamentos, vacinas e enzimas nas
células vegetais. O crescimento de plantas de acordo com alguma
característica favorável é realizado há milhões de anos, como, por exemplo, o
processo de domesticação do milho, em que eram escolhidas espécies fáceis
de serem colhidas, armazenadas e com maior produtividade. Hoje, sabemos
que os vegetais eram escolhidos de acordo com características de interesse e
que isso leva ao que chamamos de seleção artificial. Ou seja, estamos
selecionando vegetais de acordo com a característica genética desejável há
muito tempo. Além disso, as células vegetais possuem uma característica
interessante, que é a totipotência. Em outras palavras, as células vegetais
podem se reproduzir e formar todos os tecidos daquele vegetal. A partir de uma
célula vegetal, é possível gerar uma planta inteira.
Devido à capacidade de totipotência das células vegetais, a transformação
genética pode acontecer em qualquer célula do tecido ou órgão do vegetal. Em
condições adequadas, ela pode se regenerar e formar uma planta novamente.
As vantagens do cultivo in vitro de células vegetais incluem :
 Manutenção das características gênicas e assim da qualidade do
vegetal
 Produção em larga escala
 Melhoramento genético
 Controle das condições fisiológicas a partir do controle de crescimento
Para cultivar um organismo vivo, é necessário fornecer as condições de
nutrientes, como açúcares, vitaminas, sais orgânicos e inorgânicos, hormônios,
aminoácidos e água, além das condições físicas, como luminosidade,
temperatura, umidade, pH e a assepsia. Os meios de cultura podem ser
semissólidos, pela adição de ágar ou líquidos. Apesar das células vegetais
serem consideradas totipotentes, são necessários hormônios que estimulam o
crescimento do vegetal e os padrões de crescimento, como o surgimento de
raiz, caule, calos, brotamento e órgãos vegetais. Os principais hormônios
utilizados nas culturas incluem as auxinas e as citocininas. Dependendo da
concentração deles no meio de cultura, podem estimular diversos padrões
morfológicos de crescimento, como, por exemplo, o aumento de auxinas no
meio estimula a formação de raízes e o de citocininas estimula o brotamento ou
os ramos.
A micropropagação é a forma mais comum de propagar um vegetal a partir de
células ou tecidos vegetais; com isso, cria-se plantas idênticas geneticamente.
Pode ser realizada por meio da cultura de sementes, cultura meristema (células
indiferenciadas ou em estágio embrionário), cultura de calo (tecido tumoral
vegetal de crescimento desorganizado), cultura de gemas (pode ser das gemas
apicais ou das gemas auxiliares; é o início de novos ramos nas plantas), cultura
antera (cultura de células haploide, ou seja, parte da estrutura reprodutora de
algumas plantas), cultura de suspensão celular (obtidas por células individuais
de qualquer parte do vegetal), cultura de protoplasto (célula vegetal sem a
parede celular, que é retirada por digestão enzimática em laboratório).
PLANTAS TRANGENICAS:
Do ser vivo é formado por células, e elas possuem o ácido desoxirribonucleico
como material genético, o famoso DNA. Isso significa que todo mundo tem
DNA como informação genética, desde uma pequena bactéria até o maior
animal do mundo, como a baleia azul, passando pelos seres humanos, animais
de todos os portes e tamanhos e pelas plantas. Não é interessante que a
informação genética na terra seja similar entre os seres vivos? Em todos os
seres vivos, é o DNA que armazena as informações genéticas e características
de cada espécie. O que nos diferencia entre toda essa biodiversidade é a
quantidade de DNA e de informações genéticas que possuímos. Por exemplo,
sabemos que os seres humanos possuem 3 bilhões de pares de bases de
nucleotídeos, divididos em 46 cromossomos .
Um OGM é um organismo que sofreu qualquer alteração no seu material
genético (DNA), enquanto transgênicos são os organismos que receberam um
gene de outra espécie. Todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um
transgênico. Uma planta transgênica pode ser criada por meio da transferência
de um gene de interesse (também chamado de gene doador) para a planta,
fazendo com que ela adquira aquela nova característica, pela técnica do DNA
recombinante, que faz parte da engenharia genética. Para transferir um gene
de uma espécie para outra, primeiro é necessário obter o gene de interesse,
inseri-lo em um vetor de DNA e ligar os dois, o que gera o DNA recombinante.
Nenhuma técnica garante 100% de transformação do tecido vegetal, então é
necessário selecionar as células que de fato receberam o DNA recombinante.
Para isso, é levado em consideração uma característica do vetor, que é a
presença do marcador de seleção. O gene marcador de seleção permite
selecionar as células que receberam o DNA recombinante por meio de alguma
característica de resistência a substâncias tóxicas, geralmente resistência a
antimicrobianos ou herbicidas. Ou seja, a célula vegetal que não recebeu o
DNA recombinante, na presença da substância tóxica, morre, enquanto a
célula que recebeu o DNA recombinante e, portanto, com o gene marcador,
terá o mecanismo de resistência e, com isso, sobreviverá.
Após a seleção, a célula vegetal é cultivada em meios de cultura in vitro a fim
de estimular a formação da planta. Estudos para determinação da produção do
gene de interesse são realizados. Antes de uma planta transgênica ser liberada
para uso, existe uma regulamentação que garante a biossegurança e a bioética
na sua utilização e liberação. Após todos os estudos de comprovação de sua
eficácia, seu uso e seus impactos, a planta pode ser produzida em campo em
larga escala.
A tecnologia do DNA recombinante permitiu criar uma variedade de vegetais
com características novas e que conferem alguma vantagem de cultivo, como
resistência a pragas, vírus, herbicidas, aumento de tamanho ou nutricional.
Existem diversas plantas transgênicas disponíveis para o consumo direto ou
indireto (subprodutos), e sua legislação e autorização de consumo e cultivo
dependem da legislação de cada país. Dentro desta lista, podemos citar: milho,
arroz, feijão, tomate, abóbora, algodão, batata, alfafa, maçã, cana-de-açúcar. A
cada ano, a lista de produtos transgênicos aumenta, e diversos estudos são
conduzidos nessa área. Além, é claro, dos subprodutos, com destaque para o
óleo de cozinha, derivados de soja, milho ou algodão.
A aplicação de plantas transgênicas não se restringe apenas à melhoria do
cultivo ou de fatores nutricionais. Alguns pesquisadores vêm trabalhando na
produção de vacinas e bioprodutos em tecidos vegetais. Isso é uma proposta
da Biotecnologia Vegetal, onde genes para produção de antígenos são
inseridos em tecidos vegetais, que passam a expressar essa proteína; quando
ingeridos, o sistema imunológico reconhece e desenvolve uma resposta
imunológica de memória. Além disso, a produção de anticorpos humanos em
plantas também tem sido realizada, e os anticorpos podem ser utilizados para o
tratamento de doenças.

Nos dias atuais, pesquisadores estão fazendo com que arroz e trigo expressem
anticorpos anticâncer que podem ser utilizados como terapia e no diagnóstico
de câncer de mama, pulmão e cólon. Apesar de muitos destes produtos
estarem em fase de desenvolvimento, existe uma enorme expectativa quanto à
sua utilização e eficácia. Em outras palavras, estamos criando biofábricas com
as células vegetais para produção de diversos antígenos para vacinas,
anticorpos e enzimas.
PRODUÇÃO ANIMAL:
Quando a produção animal começou a ser uma atividade comercial, os animais
passaram a ser selecionados de acordo com suas características desejáveis ao
produtor, como, por exemplo, pelo melhor rendimento, melhor adaptação ao
ambiente, ganho de peso, maior produção, entre outras. Esses animais eram
cruzados entre si e, assim como na Biotecnologia Vegetal, usa-se uma seleção
artificial, chamada de melhoramento genético.
O melhoramento genético e a Biotecnologia Animal podem ser aplicados a
todos os animais, e os de maiores interesses econômicos incluem os bovinos,
suínos, as aves, os ovinos e caprinos. Esse melhoramento depende de três
fatores: fenótipo, genótipo e o ambiente. Assim, no caso dos animais, não
basta apenas ter a informação genética (DNA) para determinada característica;
são necessárias condições ambientais distintas de alimento e manejo. Com o
uso da biotecnologia, é possível reconhecer os genes de interesses e as
alterações gênicas (chamadas de mutações), acelerando sua expressão e/ou
adicionando um gene novo. Além do melhoramento genético das
características alimentares e de criação do animal, também é possível
desenvolver animais-modelo para o estudo de diversas doenças, produção de
vacinas, biofármacos, animais como biorreatores para produção de proteínas e
enzimas e até em transplantes.
Animais transgênicos:
Os conhecimentos sobre o DNA e a informação genética levaram a grandes
avanços em diversas áreas, inclusive na Biotecnologia Animal. Os animais são
organismos pertencentes ao reino Animalia, pluricelulares formados por células
eucariontes e com capacidade de locomoção.
O material genético na forma de cromossomos está organizado aos pares, o
que significa que cada animal possui dois genes, um vindo do macho e outro
da fêmea, e, portanto, chamados de diploides. De acordo com a lei de Mendel,
uma característica irá se sobressair sobre a outra, chamada de gene
dominante (o gene que é expresso) e gene recessivo (o gene que não é
expresso). Com isso, surge o conceito de alelo gênico, onde o mesmo gene
para a mesma característica é herdado do macho e outro da fêmea, mas não
são idênticos, são formas alternativas daquele gene, onde as características de
um dos alelos ou ambos podem ser expressas no animal.
O descobrimento dos alelos gênicos levou a grandes avanços no
melhoramento genético de animais. Além da tecnologia do DNA recombinante
para aumentar ou adicionar uma característica de interesse nova no animal,
existem muitos testes moleculares que visam identificar o alelo gênico que
apresente as características desejadas e, assim, estimular o cruzamento entre
esses animais. Assim, conhecendo o alelo gênico, é possível realizar
cruzamentos para que o alelo seja propagado por toda a população daquela
espécie.
Animais transgênicos tem 3 objetivos principais :
 A criação de animais como biofabricas para a produção de alguma
molécula de interesse terapêutico.
 Criação de animais como modelo de doença genética.
 A criação de animais para a produção pelo ganho de características
nutritivas como a diminuição de quantidade de gordura , ganho de
massa muscular ou ainda pela resistência a determinadas infecções .
O DNA recombinante precisa ser inserido e estar presente em todas as células
do animal, e isso só é possível pela sua inserção do vetor ainda no embrião ou
nas células germinativas, os espermatozoides ou óvulos. Assim, além do
preparo do DNA recombinante, é preciso remover as células-alvo (nesse caso,
as células germinativas), inserir o DNA recombinante e, depois, colocá-lo em
um animal que sirva de barriga de aluguel para desenvolvimento do feto.
A microinjeção de DNA Acontece no pronúcleo do animal a ser gerado, ou seja,
o gene de interesse vai ser injetado por uma microagulha antes da fusão do
núcleo do espermatozoide e do óvulo. Dá para imaginar quão difícil deve ser
conseguir inserir um gene e fazer com que ele seja adicionado ao genoma da
célula germinativa e, depois, realizar a fusão dos núcleos do espermatozoide e
do óvulo. Por isso, o rendimento da técnica é baixo: cerca de 0 a 3% dos
embriões se desenvolvem e geram descendentes com o gene inserido, ou seja,
o animal transgênico. Apesar disso, a técnica permite que todas as células do
animal possuam o gene inserido. A transgenia é confirmada após o nascimento
do animal com técnicas moleculares para identificar a presença do gene de
interesse.

APLICAÇÃO DOS ANIMAIS TRANSGÊNICOS:


Produção Biofámarcos: São medicamentos produzidos ou extraídos em
organismos vivos. Em outras palavras, os animais são usados como
biofábricas para produção de proteínas de interesse médico. As proteínas
obtidas pela tecnologia do DNA recombinante, ditas proteínas heterólogas,
geralmente são proteínas plasmáticas, pois são mais fáceis de serem
produzidas e obtidas em animais, algumas das proteínas produzidas em
animais transgênicos incluem albumina, alfa-1-antitripsina, hormônio do
crescimento, eritropoetina, fator de coagulação IX ou fator VIII.
A vantagem na utilização de animais transgênicos para produção farmacêutica
é uma elevada produção do biofámarco em um rebanho pequeno e as
alterações na proteína após sua expressão, formando proteínas com
conformação correta para seu funcionamento. Em alguns sistemas, como nas
bactérias, após a expressão, nem sempre as proteínas se encontram
funcionais, pois não passaram pelas alterações necessárias para ter sua forma
ativa.
Animais transgênicos para produção:

A criação de animais transgênicos para produção, que sejam resistentes a


doenças, é uma área que requer mais estudos para entender como ocorre o
processo e o desenvolvimento das doenças nestes animais. Entretanto, já é
possível criar porcos e vacas resistentes à gripe suína, febre aftosa e
encefalopatia espongiforme (conhecida como mal da vaca louca).
Muitos estudos têm buscado aumentar a concentração de proteína no leite e
em seus derivados pela técnica do DNA recombinante. Por exemplo, 80% do
leite de vaca é composto pela proteína caseína, que é importante para o
processo de coagulação e formação de queijo, um produto derivado do leite.
Pesquisadores adicionaram mais dois genes, CSN2 e CSN3, para aumentar
em duas vezes a quantidade de caseína no leite, o que levaria a um aumento
na produção de queijo, sendo então lucrativo para as empresas. Outro ponto
interessante seria criar vacas com baixo teor de lactose. A intolerância à
lactose é um problema em alguns indivíduos e que acomete, principalmente, a
população da Ásia. A ideia de produzir leite com menos lactose veio pela
criação de animais transgênicos, que têm adição do gene que codifica a
enzima lactase, responsável pela quebra da lactose, podendo gerar assim um
leite com menos lactose.
Também é possível criar ovelhas com maior produção de lã, porcos e vacas
com carne menos gordurosa, mais musculosos, resistentes a doenças, com
menos produção de poluentes etc. Dentre todos os casos, o mais interessante
é o do salmão transgênico disponível para consumo no Canadá e nos EUA que
está em teste em diversos outros países, incluindo o Brasil. O salmão
transgênico é o primeiro animal liberado para consumo e levou cerca de 25
anos para ser testado quanto à sua segurança e aos processos regulatórios e,
agora, passa pela aprovação da população.
Animais transgênicos em transplantes (xenotransplantes) : Transplante de
órgãos permitem, a partir de cirurgia, a troca de um órgão doente (fígado, rim,
baço, coração etc.) por um órgão saudável. Todo ano, mais de 30% dos
indivíduos que estão na fila de espera para um transplante de órgãos morrem.
A biotecnologia tenta suprir essa necessidade, abrir novos horizontes para que
mais vidas sejam salvas e zerar filas de transplantes. Com isso, a possibilidade
de transplantes de órgãos de animais para humanos abriu mais uma área de
estudo, os chamados xenotransplantes.
No xenotrasplante, podem ser utilizados tecidos, órgãos ou partes de um
animal para o ser transplantado no humano. O animal mais utilizado tem sido o
porco e, com modificações genéticas, tem sido promissor para o transplante.
Os porcos são utilizados como modelos por terem seus órgãos similares aos
humanos, mas a rejeição do órgão de um animal pelo corpo humano ainda é
um problema. Para resolver essa ponte, as técnicas de biotecnologia são
utilizadas para alterar o material genético destes animais e facilitar a aceitação
do órgão pelo nosso corpo.
Animais transgênicos como modelos de doenças O ser humano possui mais de
20 mil genes em cada uma de suas células, e muitas doenças estão
associadas a alterações nesses genes. Para encontrar uma cura, é preciso
entender como a doença funciona, e os animais transgênicos são
desenvolvidos com esses genes para se entender seu real papel nas doenças
humanas, os chamados animais-modelo de doenças humanas. Isso é possível
devido à similaridade genética, anatômica e fisiológica destes animais com o
ser humano e o fato de o material genético dos seres vivos ter a mesma
composição, o DNA. Inicialmente, camundongos transgênicos foram
desenvolvidos para uma enorme variedade de doenças. Hoje, podemos ter
porcos, ovelhas e gado como modelos para doenças genéticas, como, por
exemplo, retinite pigmentosa, mal de Alzheimer, câncer, doença de Crohn,
insuficiência renal, doenças neurodegenerativas, estudo de envelhecimento,
diabetes, obesidade, vírus oncogênicos, enfim, as aplicações são diversas.
Os animais mais utilizados como modelo de estudo de doenças em laboratório
são os ratos, camundongos, cães, coelhos e porcos. Eles são criados através
da inserção do DNA recombinante por duas formas: a inserção de um gene
humano suspeito de causar a doença ou o silenciamento de um gene já
presente no animal pela inserção de um gene repressor no seu genoma,
lembrando que a criação de animais transgênicos envolve a inserção do gene
no embrião ou nas células germinativas.
PRINCIPAIS POLUENTES E SEUS IMPACTOS NO MEIO AQUÁTICO: A
biotecnologia ambiental tem suas aplicações principalmente na
descontaminação de ambientes pelo uso de microrganismos ou outros seres
vivos (biorremediação), reciclagem de nutrientes, preservação da
biodiversidade, e, por isso, está cada vez mais presente em projetos
ambientalmente sustentáveis. Ela está associada a todas as atividades
humanas que afetam de forma direta ou indireta o meio ambiente. Portanto,
aqui procuramos resolver problemas como o excesso de lixo, esgoto e
qualquer efluente gerado pelas indústrias, pela agropecuária, agricultura,
mineração, entre outras atividades.
Para entendermos a Biotecnologia Ambiental, vamos precisar dar uma olhada
nas leis e formas que regem o nosso planeta. Uma das mais importantes diz
respeito à lei da conservação de massas, que diz que nada no nosso planeta
se cria, tudo se transforma. Podemos dizer que todos os recursos naturais
utilizados são transformados em outros produtos.
Existem 3 parâmetros que determinam a qualidade de vida no nosso planetas:
 População
 Recursos naturais
 Poluição
Os recursos naturais são classificados em : renováveis e não renováveis.
A população mundial, de acordo com a Organização das Nações Unidas
(ONU), em 2020, é de cerca de 7,79 bilhões de pessoas. Só no Brasil, temos
cerca de 211,8 milhões de pessoas, e a perspectiva é que isso aumente ainda
mais com o passar dos anos (ALVES, 2019). Os recursos naturais são os
elementos do ambiente e da natureza que são utilizados pela população.
Quando se fala em recursos naturais, podemos pensar em tecnologia,
economia e meio ambiente.
A poluição surge pela utilização dos recursos naturais pela população, gerando
substâncias ou energia prejudiciais ao meio ambiente. A poluição pode afetar a
atmosfera (gases como o ar), litosfera (solo e rochas) e a hidrosfera (água) de
forma negativa. Existem diversos parâmetros para avaliar seu impacto no meio
ambiente. Podemos citar como poluentes o esgoto doméstico e industrial,
efluentes gasosos, vazamento de óleo e petróleo, aterros sanitários,
agrotóxicos, plásticos, chorume, entre outras formas de contaminação e
poluição. Seus efeitos podem ser a nível local, regional ou global. Hoje,
esforços para diminuir e/ou reverter os efeitos da poluição têm sido abordados
em todos os países.
O ambiente aquático se torna um dos mais afetados, uma vez que, além de
compor os ecossistemas, pode ser utilizado por diversos animais, plantas e
seres humanos, seja para recreação, seja para alimentação. Engana-se quem
pensa que a poluição não chega até os seres humanos, pois existem várias
formas de carregar a poluição e seus contaminantes. A água faz parte dos
recursos naturais renováveis devido ao ciclo da água ou ciclo hidrológico, que
diz respeito ao movimento que a água faz entre a atmosfera e a superfície
terrestre, passando por processos de evaporação, condensação, precipitação,
infiltração e transpiração. A água é indispensável para manutenção da vida e
pode ser encontrada em rios, lagos, mares, oceanos, no lençol freático ou em
geleiras .

Nesse momento, não podemos considerar contaminação e poluição a mesma


coisa, pois a contaminação ocorre quando existe um risco à saúde do homem e
na poluição ocorre um desequilíbrio ecológico. Ou seja, contaminação nem
sempre está associada à poluição, e vice-versa. Um ambiente pode estar
poluído e não ser um risco para a saúde do homem, assim como um ambiente
pode estar contaminado e ser um risco para a saúde do homem, embora não
esteja poluído, pois não leva a um desequilíbrio ecológico.
Para avaliarmos a qualidade desses ambientes podemos utilizar os
biomarcadores e bioindicadores.
Para ser considerado um bioindicador, a espécie deve ser sensível às
variações do ambiente, e, assim, conseguir indicar um desequilíbrio ambiental
causado pela poluição. Com isso, os bioindicadores mais utilizados são os
macroinvertebrados bentônicos, que são um grupo de invertebrados visíveis a
olho nu, como as espécies e os gêneros dos filos Mollusca, Arthropoda,
Annelida e Platyhelminthes, entre outros. Estes vivem no fundo do ambiente
aquático se alimentando de substâncias depositadas. Sua diminuição no
ambiente indica poluição .
Os principais biomarcadores utilizados nas amostras de ambientes aquáticos
incluem a atividade da enzima acetilcolinesterase, concentração de
metalotionínas, atividade da catalase, da glutationa S-transferase, capacidade
antioxidante, lipoperoxidação. Esses testes são realizados em laboratório e
dependerão da espécie que está sendo testada. Alterações nessas atividades
indicam poluição ambiental pela alteração do metabolismo, fisiologia ou
comportamento do animal. A poluição da água é um problema grave em todo o
mundo, o que é impulsionado pelo aumento da população e o uso dos recursos
naturais. Apesar de ser um recurso natural renovável, a água poluída ou
contaminada não pode ser usada para o consumo de animais e seres
humanos.
TRATAMENTO DA AGUA RESIDUAL :
A poluição e/ou contaminação de ambientes aquáticos diminui a disponibilidade
de água para consumo e todas as atividades associadas aos seres humanos,
como as industriais e de irrigação. Os poluentes precisam ser tratados antes de
serem liberados no ambiente novamente. As águas provenientes da ação dos
seres humanos e depois descartadas são ditas águas residuais e são
constituídas pelos resíduos industriais, agrícolas e pelo esgoto. O objetivo do
tratamento é diminuir a carga de poluentes que será liberada no ambiente.
O tratamento de águas residuais podem ser divididos em fases :
 Tratamento preliminar
 Tratamento primário
 Tratamento secundário
 Tratamento terciário
O tratamento de água residual faz parte da Biotecnologia Ambiental, ao
transformá-la em água menos poluída pelo uso de microrganismos. As
tecnologias mais avançadas já permitem o reuso da água residual, como, por
exemplo, para a produção de biogás e biofertilizantes. A biotecnologia entra na
utilização dos biodigestores, que são equipamentos fechados que permitem
que bactérias anaeróbicas cresçam. Nesse equipamento, é colocada toda a
água residual contendo matéria orgânica, que será decomposta em um
processo chamado de biodigestão. Nesse processo, as bactérias anaeróbicas
alimentam-se de toda matéria orgânica presente na água, gerando o biogás,
composto, principalmente, por metano, e biofertilizantes, compostos pela parte
sólida da decomposição. O biogás pode ser utilizado como gás de cozinha,
gerar energia e até abastecer um veículo. A parte sólida da biodigestão pode
ser utilizada como biofertilizantes para plantas.
BIORREMEDIÇÃO:
Uma das grandes aplicações da Biotecnologia Ambiental é a biorremediação,
tecnologia que visa reduzir ou remover poluentes do meio ambiente pela
utilização de organismos vivos. Em outras palavras, quando um ambiente está
poluído, alguns organismos, como plantas, microrganismos, fungos, algas ou
algumas enzimas produzidas por organismos, são utilizados para digerir,
alimentar-se do poluente e, assim, eliminá-lo daquele ecossistema, gerando
produtos do metabolismo que são menos tóxicos, como, por exemplo, água,
biomassa, gases, sais minerais, entre outros. Os biodigestores que permitem
que a biodigestão aconteça são exemplos de biorremediação. A
biorremediação pode ser aplicada para tratamento de águas poluídas por
agrotóxicos, chorume, efluentes industriais, esgoto doméstico, óleo, petróleo e
plástico. As aplicações são finitas, e vários estudos estão sendo desenvolvidos
com esses organismos.
Existem duas formas de biorremedição:
 Biorremedição in situ
 Biorremedição ex situ
Os microrganismos são bastante estudados para o uso na biorremediação; por
exemplo, sabemos que algumas espécies dos gêneros Pseudomonas, Proteus,
Bacillus, Penicillium são capazes de degradar petróleo e seus derivados.
Achomobacter, Pseudomonas Athrobacter, Penicillum, Aspergillus, Fusarium podem
degradar alguns derivados de combustível e resíduos industriais. Bactérias Alcaligenes
e Pseudomonas podem utilizar o metal crômio, Bacillus e Escherichia podem usar o
cobre do meio etc. No entanto, uma importante questão é como utilizar esses
microrganismos sem afetar o ecossistema, pois seu crescimento descontrolado pode
gerar outro problema de desequilíbrio ambiental.

Quando falamos em biorremediação e na utilização desses organismos para


digerir os poluentes, precisamos pensar também nas condições de vida
(temperatura, pH, umidade, toxidade, nutrientes e oxigênio) desses
organismos. Como todo ser vivo, é necessário pensar nas condições químicas,
físicas e biológicas do seu crescimento, seja na biorremediação in situ, seja na
ex situ.
A biorremediação tem sido apontada como solução para o excesso de poluição
causada pelo homem, pois utiliza organismos vivos encontrados naturalmente
no ambiente para transformar o poluente em produtos menos tóxicos e de
baixo custo comparados com outras técnicas para despoluição. Porém, precisa
ser bem pensado e estudado, afinal o organismo ali inserido pode gerar outro
problema de desequilíbrio ambiental.
CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS DA BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL
A Biotecnologia Industrial visa a substituição de processos industriais por
processos mais limpos e menos poluentes pelo uso de organismos ou de
partes destes. O melhoramento industrial pode ser aplicado a diversas
indústrias, como a de alimentos, farmacêutica, cosmética, química, entre
outras. A diminuição da poluição, conservação dos recursos naturais e redução
dos custos pelo uso de tecnologias, como os biorreatores, bioenergia,
biocombustíveis, produção de polímeros biodegradáveis e enzimas, são
algumas de suas atribuições.
A Biotecnologia Industrial tem transformado a forma de produzir diversos
produtos e permite a produção de outros. Como exemplos de produtos
produzidos, destacam-se: Vinho, Cerveja ,Pão Queijo , Iogurte , Vinagre , Leite
fermentado, Produção de alguns antimicrobianos, como penicilina Produção de
bioprodutos em grande quantidade.
A fermentação é o processo de obtenção de energia que algumas bactérias e
fungos possuem que não utiliza oxigênio e, portanto, é anaeróbica. A principal
fonte de energia são os açúcares e seus derivados; por exemplo, no leite,
temos a lactose, na fruta, a sacarose, no trigo, o amido. Uma vez captado o
açúcar pelo microrganismo, iniciam-se as reações bioquímicas dentro da célula
para obtenção de energia. Inicialmente, o açúcar é quebrado em um processo
chamado de glicólise, para gerar duas moléculas de ácido pirúvico. A diferença
da fermentação está exatamente no fato de como essas duas moléculas de
ácido pirúvico vão ser utilizadas pela célula.
Na fermentação, essas duas moléculas são convertidas a um produto de
interesse pela indústria e, dependendo do produto, a fermentação recebe o seu
nome. Por exemplo, temos bem estabelecida na indústria quatro tipos de
fermentação, a fermentação alcoólica, cujo produto é o álcool ou etanol,
utilizado na indústria cervejeira, de vinho e na produção de pão e bolos;
fermentação láctica, em que o produto é o ácido láctico, usado para produtos
derivados do leite, como queijo e iogurte; fermentação acética, em que o
produto é o ácido acético usado para produzir o vinagre; na fermentação
butírica, o ácido butírico produzido é utilizado para alterar as características da
manteiga, dando origem à manteiga rançosa.
O principal microrganismo usado para fermentação alcoólica é a levedura
Saccharomyces cerevisiae, que utiliza como fonte de energia: a uva para gerar
o vinho, a cevada para a produção da cerveja e o trigo para produção de pão e
bolos. Na fermentação láctica, os lactobacilos são bastante utilizados e são um
grupo de bactérias encontrado em alguns probióticos. Na fermentação acética,
as bactérias ditas acéticas, destaca-se o gênero Acetobacter. Este tipo de
fermentação gera o vinagre, cuja matéria-prima é o vinho; atualmente, é
utilizado também o suco de diversas frutas, tubérculos, cereais, álcool etc. Na
fermentação butírica, a principal bactéria fermentadora é Clostridium butyricum,
usada para alterar as características da manteiga. Uma vez bem estabelecido o
processo fermentativo e o microrganismo utilizado, esse processo começa a
ser aplicado a nível industrial, ou seja, em larga escala em equipamentos
chamados de biorreatores.
O biorreator possui uma entrada para matéria-prima a ser consumida, um
sistema de agitação e um sistema de efluxo onde a solução vai sair e ser
processada para a obtenção do produto. Durante o processo, a solução em
constante agitação e o controle da temperatura, pH, pressão, entre outros
fatores, permitem as condições ideias de crescimento destes microrganismos.
Neles, acontecem os bioprocessos, reações bioquímicas feitas por
microrganismos ou enzimas que alteram a matéria-prima.
Ele atua em 4 grandes campos :
 Medicamentos
 Alimentos
 Bebidas
 Compostos industriais
A utilização do biorreator vai além da produção desses alimentos mencionados
anteriormente; eles podem ser empregados para a produção de insulina
humana em bactérias que receberam o gene da insulina pela tecnologia do
DNA recombinante, produção de vacinas, de antimicrobianos em larga escala e
outros insumos. Por exemplo, a bactéria Clostridium acetobulylicum, utilizada
para obtenção de acetona e butanol pelas indústrias, o fungo Aspergillus niger,
empregado na produção de ácido cítrico, e a bactéria Pseudomonas
denitrificans, para produção de vitamina B12.
É importante destacar que uma das grandes aplicações para as indústrias é a
obtenção de enzimas que possam ser utilizadas como produtos. Essa
aplicação ganhou destaque na década de 1970, quando o uso de fosfato em
produtos para lavagens de roupa estava poluindo o ambiente. Para solucionar
esse problema, as indústrias desenvolveram processos para produzir em larga
escala enzimas que substituíssem o uso do fosfato, pois produtos de base
biológica são menos poluentes para o ambiente
Algumas enzimas são produzidas em grande quantidade nos biorreatores pelo
crescimento do microrganismos, capazes de sintetizá-las. Ao final do processo,
essa enzima é extraída para que seja aplicada em algum produto. Além disso,
é possível adicionar o gene para uma enzima de interesse no microrganismo e
fazer com que este passe a produzir a enzima. Apesar de conseguimos tirar
enzimas de qualquer tipo de fonte celular, como vegetais ou animais, os
microrganismos são os mais utilizados devido ao seu rápido crescimento, à
produção em larga escala nos biorreatores e às fontes de energia mais
baratas.

Produção de biocombustível
A Biotecnologia Industrial também se preocupa com o uso de fontes de
energias renováveis. Atualmente, a fonte de energia mundial são os recursos
não renováveis derivados do carbono fóssil, como petróleo, carvão e gás
natural. Essas fontes são limitadas; estima-se que, ainda neste século, ocorra
uma possível escassez destes recursos, que são altamente poluentes,
agravando o efeito estufa pela produção de CO2, NO x, SO2, entre outros.
Uma solução para esse problema está no uso e desenvolvimento dos
biocombustíveis, que são fontes de energia alternativas e renováveis, geradas
a partir da biomassa, ou seja, de material orgânico de origem vegetal ou
animal.
Os principais biocombustíveis inclui :
 Etanol
 Biodiesel
 Biogás
O biogás é obtido a partir da decomposição anaeróbica da matéria orgânica
vegetal ou animal, do esgoto doméstico ou industrial ou de efluentes industriais
diversos, por meio de um processo de fermentação. Durante esse processo, há
a formação do metano e do dióxido de carbono, principalmente e em menor
quantidade, de hidrogênio, nitrogênio, amônia, ácido sulfídrico, monóxido de
carbono, aminas voláteis e oxigênio. Entretanto, a produção desses gases
varia de acordo com a origem da biomassa.
A produção de etanol, também conhecido como álcool, faz parte dos
biocombustíveis por utilizar fontes renováveis para sua geração e poluir menos
o ambiente. O etanol é um líquido, transparente, volátil e combustível, cuja
fórmula química é CH 3CH2OH. Dependendo do teor de água no etanol,
podemos ter o etanol anidro, teor de 0,5%, e o etanol hidratado, teor de 5%.
Além de ser utilizado para produção de bebidas, produtos farmacêuticos,
perfumaria e como antisséptico para eliminação de microrganismos, também
pode ser empregado como combustível ou aditivo, onde cerca de 25% da
gasolina é composta por álcool anidro . As principais fontes do etanol inclui :
milho , cevada , cana de açúcar, arroz, aveia, trigo , Outras fontes têm sido
pesquisadas. O Brasil é o maior produtor de etanol usando cana-de-açúcar, que até o
momento tem se mostrado a fonte de melhor rendimento. Por ser derivado de
vegetais, é uma fonte renovável e menos poluente que o petróleo; seu processo de
produção envolve a fermentação alcoólica.

Inicialmente, a cana sofre um processo de moagem, gerando o caldo de cana, que é


posteriormente aquecido, para gerar o melaço. Ao melaço, são adicionados os
microrganismos fermentadores, normalmente a levedura Saccharomyces, que utilizam
o açúcar da cana, a sacarose, para obter energia e como produto o etanol e CO2. Após
a fermentação, é realizada a destilação do mosto fermentado, com o objetivo de
separar o etanol. No processo de destilação, o mosto fermentado é aquecido, e o
álcool é evaporado e, depois, refrigerado para que seja condensado, e o etanol,
separado. O teor de etanol é de 96% e 4% de água. Todo o processo de fermentação
acontece no biorreator ou em tanques de fermentação.

O diesel ou óleo diesel é um combustivo obtido da destilação do petróleo e


usado para motores a diesel, principalmente em veículos que precisam de
elevada potência, como os ônibus, caminhões de grande porte, tratores, na
mineração e dragagem. Além de utilizar um recurso não renovável para sua
produção, ainda contribui para o efeito estufa, liberando grande quantidade de
gás carbônico, oxido de nitrogênio, enxofre, fuligem, entre outros gases.
O substituto do diesel tem sido o biodiesel, cuja produção é derivada de óleos
vegetais e gordura animal, com baixos índices de poluição. Os vegetais
oleaginosos, aqueles ricos em óleos e gorduras, como girassol, amendoim,
mamona, soja, milho, palma, algodão, entre outros, são a matéria-prima
vegetal para produção de biodiesel, além de carcaças de animais. Óleos
gordurosos de frituras também podem ser utilizados.
A biotecnologia tem aberto novas oportunidades de se fazer e ser , é notório
que o avanço científico Tem impulsionado cada vez mais o uso de tecnologia
com bases biológicas .

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