Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Livro 4
Direção e tradução
Eneas Francisco
Edição e copidesque
Carla Montebeler
Ilustração da capa
Dyene Corrêa Nogueira
Revisão e copidesque
Tully Ehlers
1ª EDIÇÃO
I , SP
2021
Dedicado com amor e respeito para minha irmã mais nova,
Sharon Violet Fehr, outra prova do velho ditado,
''por último, mas não menos importante."
Eu aprecio sua fé e sua dedicação.
Dedico com amor: a ela,
ao marido Richard, para Shawna, Eric e Amy.
Sumário
Capítulo 1 – Desenraizada
Capítulo 2 – Smoke Lake
Capítulo 3 – Um novo lar
Capítulo 4 – Adaptando-me
Capítulo 5 – Dias Solitários
Capítulo 6 – Torta de Mirtilo
Capítulo 7 – Inverno
Capítulo 8 – Vizinhos
Capítulo 9 – Primavera
Capítulo 10 – Plantando a Semente
Capítulo 11 – Apresentações
Capítulo 12 – Verão
Capítulo 13 – Pânico
Capítulo 14 – Reviravolta
Capítulo 15 – Consequências
Capítulo 16 – Dificuldades
Capítulo 17 – Contando os Dias
Capítulo 18 – O Presente
Capítulo 19 – Mal-entendido
Capítulo 20 – Alívio
Capítulo 21 – Reunião
Capítulo 22 – Recomeçando
Capítulo 23 – Ajustes
Capítulo 24 – Mudança
Capítulo 25 – Partindo
Capítulo 26 – Athabasca Landing
Capítulo 27 – Envolvimento
Capítulo 28 – Ministério
Capítulo 29 – Inverno
Capítulo 30 – Almoços de Domingo
Capítulo 31 – Respostas
A Escritora:
A Editora:
Capítulo 1 – Desenraizada
— Ainda estamos muito longe?
Sentia-me como uma criança repetindo a pergunta, mas realmente
não conseguia me conter. Todo o meu ser parecia estar em estado
de agitação conforme passávamos por cada colina e o povoado
ainda não estava à vista.
Wynn sorriu compreensivo.
— Não muito longe — disse para me confortar..
Ele já vinha dizendo isso há um bom tempo.
— Quantas colinas? — perguntei, esperando forçá-lo a me dar
uma resposta que eu conseguisse entender. Dessa vez ele não
apenas sorriu, ele riu.
— Você parece uma criança perguntando 'quantas noites de
sono até o Natal?' — ele me provocou.
Sim, eu parecia uma criança. Estávamos na trilha pelo que
parecia uma eternidade. Meu bom senso me lembrou que realmente
não se passara tanto tempo — apenas quatro dias, para ser exata
— mas pareciam semanas.
Wynn estendeu a mão e apertou a minha.
— Por que você não cavalga um pouco de novo? — ele me
perguntou. — Você já caminhou o suficiente, vai ficar exausta. Vou
ver o que posso descobrir no mapa.
Ele sinalizou para que o condutor da carroça desajeitada
parasse, e me ajudou a ficar em uma posição confortável no
assento improvisado. Retomamos o movimento adiante, enquanto
Wynn caminhou ao longo da fila de carroças em busca do guia de
nossa pequena e vagarosa expedição.
Wynn não demorou muito; e então, sem sequer diminuir a
velocidade do vagão, subiu ao meu lado.
— Você ficará feliz em saber que devemos chegar daqui a
quarenta e cinco minutos — anunciou ele.
Dando um abraço nos meus ombros, Wynn saltou e foi embora
novamente.
Quarenta e cinco minutos! Bem, eu conseguiria de alguma
forma, mas ainda parecia muito tempo.
Durante nossos quatro dias de viagem, eu tinha ficado com
ossos doloridos, um nariz queimado de sol e uma infinidade de
picadas de mosquitos e moscas negras. Mas não eram essas
irritações que mais me incomodavam.
Percebi que minha agitação, aquele nó no meio do estômago,
era devido ao meu medo do desconhecido. Eu não tinha ficado tão
assustada quando vim com Wynn para nosso primeiro posto
avançado do norte. Naquela época, eu era uma moça recém-
casada, ansiosa para compartilhar as aventuras de meu marido
Policial Montado.
Ainda estava ansiosa para compartilhar as aventuras com
Wynn, mas esta mudança era diferente. Aprendera a conhecer e
amar os indígenas em Beaver River. Tinha deixado para trás não
apenas o conhecido, mas o amado. Agora, precisava começar tudo
de novo.
Não creio que estivesse com medo de não conseguir fazer
novos amigos. O que me preocupava era como poderia viver sem
meus velhos amigos. Eu sentiria tanta falta da Nimmie! Certamente
não havia ninguém como ela em toda Northland. Sentiria falta até
mesmo de Estrela a Manhã e da Sra. Sam, além de Pequena Corsa
e Anna. Sentiria falta de Wawasee, Jim Buck e meus outros alunos.
Sentiria falta dos conhecidos caçadores indígenas, das casas
simples que eu visitara tantas vezes, da fumaça ondulante da lenha,
e até dos rosnados dos cães. Lágrimas brotaram dos meus olhos e
deslizaram pelas minhas bochechas novamente. Tenho que parar
com isso, repreendi a mim mesma, como fizera tantas outras vezes
na trilha. Vou ficar doente antes mesmo de chegar.
Forcei meus pensamentos de volta a um terreno mais seguro,
imaginando como seria nossa nova casa em Smoke Lake. Bem, não
precisaria imaginar por muito tempo. Wynn disse quarenta e cinco
minutos, e os minutos estavam passando, ainda que lentamente,
com cada rotação das rodas que rangiam.
De volta ao lar, exultei interiormente, depois de todos esses dias
e noites na trilha! Eu estava ansiosa por um bom banho quente e a
chance de dormir em uma cama de verdade. Mosquiteiros nas
janelas e uma porta, para ter um pouco de privacidade, pareceriam
um luxo depois dessa viagem — com o calor, chuva e vento, cada
um à sua vez; com as colinas íngremes, pântano plano, trilhas
empoeiradas e solo arenoso encharcado. Bem, não faltava muito
agora.
Olhei para o céu. Talvez tivéssemos enfrentado nosso último
aguaceiro quatro colinas atrás. O céu acima da minha cabeça
estava perfeitamente claro. Certamente não tinha como se armar
uma tempestade para nos ensopar novamente em apenas quarenta
e cinco minutos — provavelmente trinta e cinco agora. Mesmo
enquanto raciocinava e ponderava sobre a possibilidade, não estava
completamente convencida quanto a nossa segurança contra outra
tempestade. Alguns temporais pareciam vir sobre nós com incrível
rapidez.
Esperava fervorosamente que chegássemos ao novo
assentamento com roupas secas. Eu já não tinha praticamente nada
para vestir. Estava ansiosa para pegar minhas tinas e esfregar as
coisas molhadas e sujas que estavam acumuladas na carroça.
Ficariam arruinadas se demorasse ainda mais para lavá-las.
O condutor parou para descansar os cavalos e eu desci da
carroça novamente. Pelo menos, minha expectativa estava sendo
canalizada para alguma coisa enquanto caminhava. Ponderei se
deveria andar à frente da parelha, onde corria o risco de ser
atropelada a qualquer minuto, atrás dos animais, onde seria forçada
a engolir poeira da trilha, ou ao lado, onde a caminhada era ainda
mais difícil. Resolvi seguir a carroça. Eu manteria distância o
suficiente para deixar a poeira baixar um pouco.
Enquanto esperava a parelha retomar a jornada, caminhei para
o lado da trilha e olhei ao redor em busca de sinais de frutas.
Esperava que houvesse algumas em nossa regjão. Muitos dos
meus potes de conservas estavam vazios, e eu queria enchê-los
novamente antes de outro inverno.
A região não parecia promissora.
Há muita terra nessa região, afirmei para mim mesma. Poderia
haver canteiros de muitos tipos de frutas boas.
Kip se aproximou saltitando. Se comparado comigo, ele
desfrutava completamente da viagem e de todas as coisas novas
que havia para investigar.
Eu quase não o tinha visto durante todo o dia. O cão corria de
um lado para o outro, para frente e para trás, voltando apenas
ocasionalmente para se certificar de que eu ainda estava viajando
com as carroças. Eu lhe acariciei a cabeça e fui recompensada com
batidas generosas de sua cauda encaracolada. Ele me deu uma
lambida na mão, então virou-se e partiu novamente, antes mesmo
que eu tivesse tempo de falar com ele.
Wynn retornou, trazendo um cantil de água.
— Você está com sede? ‒ ele perguntou, e de repente percebi
que estava.
Eu agradeci sorrindo, e levei o cantil aos lábios. A água estava
morna, não era como a água refrescante de nossa cabana. Ainda
assim, era úmida e ajudou a aliviar minha sede.
— Estaremos lá em breve — Wynn me informou. — Acho que
seria bom colocar a coleira no Kip. Os cães da aldeia podem estar
soltos.
— Ele saiu daqui de novo — respondi, alarmada. — Estava aqui
apenas um minuto atrás e então sumiu.
— Não se preocupe — Wynn me assegurou —, não deve ter ido
muito longe.
Ele estava certo. Ao som do assovio de Wynn, Kip veio saltando
pelo mato ao lado da trilha. O pelo estava sujo e emaranhado com
sarças e folhas, sua língua estava pendurada na lateral da boca, por
causa da corrida, mas ele parecia contente, talvez até convencido,
por conta de suas novas aventuras.
Não pude deixar de invejá-lo. Seus olhos não expressavam a
preocupação que certamente estava estampada nos meus.
Wynn colocou a coleira em Kip e me entregou.
— Querem que eu esteja à frente dos vagões quando entrarmos
na aldeia — afirmou simplesmente. — Gostaria de estar junto
comigo?
Hesitei, sem saber o que queria fazer. Me sentiria bem se
pudesse contar com o apoio de Wynn; ainda assim, odiaria entrar na
nova aldeia como se estivesse em exibição. Não gostava da ideia
de ter todos os olhos fixos em mim.
— Acho que vou ficar aqui com o Kip — murmurei. — Ele não
vai causar tanta confusão se não estiver em meio ao alvoroço.
Wynn assentiu. Creio que deve ter adivinhado meu verdadeiro
motivo.
As carroças à frente pararam no topo da colina. Eu sabia, sem
nem mesmo perguntar, que logo abaixo daquela colina estava nosso
novo assentamento ‒ nossa nova casa. Eu queria ver, mas me
contive com medo. Como alguém pode estar tão angustiada por
dentro, querendo correr para ver o que havia em frente, mas
evitando olhar, tudo ao mesmo tempo?
Sem dizer nada, Wynn avançou e pegou minha mão, então
abaixou a cabeça e se dirigiu ao nosso Pai com simplicidade:
— Pai Celestial, chegamos a esta nova missão sem saber o que
está por vir. Só o Senhor conhece as necessidades dessas pessoas.
Ajude-nos a atender a essas necessidades. Ajude-nos a sermos
atenciosos, compassivos e gentis. Ajude Elizabeth com todas as
adaptações. Dê a ela comunhão e amizades. Dê a ela um ministério
para o povo, e mantenha-nos próximos uns dos outros e também do
Senhor. Amém.
Eu devia ter me sentido muito melhor depois da oração de
Wynn, e acho que me senti, mas também foi outro lembrete de
todas as coisas novas e experiências que estavam adiante.
Sorri para Wynn para assegurar-lhe que estava tudo bem. As
carroças estavam se movendo novamente. Viramos para
acompanhar a caravana, e Wynn saiu, cruzando o campo em longas
passadas, que logo o levariam à frente, onde ele deveria estar.
Hesitei, segurando o impaciente Kip. A poeira poderia se dispersar
um pouco antes que eu seguisse a caravana. Haveria muita
comoção na aldeia com a chegada do novo agente da lei. Todos
estariam lá para conhecê-lo, e eu não estava com pressa de ser
empurrada para o meio da multidão curiosa.
Capítulo 2 – Smoke Lake
[1]
João 6:1-14