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DESCRIÇÃO
A biotecnologia e suas aplicações nas áreas vegetal, animal, ambiental e industrial.

PROPÓSITO
Compreender que a biotecnologia faz parte do nosso dia a dia e que suas aplicações estão
presentes em diferentes áreas, como a vegetal, animal, ambiental e industrial, pela produção
de transgênicos, modelos vivos para estudo, bioprodutos, formas de eliminar poluentes e
bioenergia.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Descrever como a biotecnologia é usada para produção de tecidos vegetais transgênicos e


suas aplicações

MÓDULO 2

Compreender como um animal transgênico é criado e aplicado


MÓDULO 3

Descrever como a biotecnologia ambiental contribui para diminuir a poluição ambiental

MÓDULO 4

Reconhecer as aplicações da biotecnologia industrial, seus bioprodutos e as formas de


bioenergia e biocombustíveis

INTRODUÇÃO
A biotecnologia envolve a utilização de seres vivos (células) ou partes destes (como proteínas,
moléculas, lipídeos, carboidratos, material genético etc.) a fim de fabricar ou modificar produtos
ou processos para a utilização específica. Essa tecnologia revolucionária é uma área
multidisciplinar (engloba as grandes áreas da Biologia, Química e Engenharia) e altamente
fascinante.

A cada dia, a biotecnologia vem ganhando espaço em diferentes áreas, trazendo, na maioria
das vezes, soluções úteis, rápidas e fáceis e que podem solucionar graves problemas que
assolam o mundo, como a fome, resistência a pragas em plantas, e ajudar na produção de
medicamentos, vacinas, melhoramento genético, análise de DNA, diagnóstico, recuperação de
áreas poluídas e uma série de outras aplicações.

A biotecnologia pode ser dividida por áreas; de acordo com suas aplicações, podemos ter:
Biotecnologia Vegetal, Biotecnologia Animal, Biotecnologia Industrial e de Combustível,
Biotecnologia Ambiental. Nos dias de hoje, não temos como fugir dela; aqui, vamos explorar
suas aplicações nos produtos e processos gerados a partir de seres vivos ou parte deles e
veremos como podemos utilizar os recursos biológicos ao nosso redor para criar produtos e
gerar conhecimento.
MÓDULO 1

 Descrever como a biotecnologia é usada para produção de tecidos vegetais


transgênicos e suas aplicações

BIOTECNOLOGIA VEGETAL
A Biotecnologia Vegetal se preocupa com o melhoramento de plantas, como aumento da
disponibilidade de nutrientes, resistência a pragas, melhor crescimento do vegetal, produção de
medicamentos, vacinas e enzimas nas células vegetais.

CÉLULAS VEGETAIS

Células do tipo eucarionte com núcleo celular, organelas membranosas. Diferem das células
animais pela presença de parede celular, composta por celulose, e cloroplastos, responsáveis
pela fotossíntese.
O crescimento de plantas de acordo com alguma característica favorável é realizado há
milhões de anos, como, por exemplo, o processo de domesticação do milho, em que eram
escolhidas espécies fáceis de serem colhidas, armazenadas e com maior produtividade. Hoje,
sabemos que os vegetais eram escolhidos de acordo com características de interesse e que
isso leva ao que chamamos de seleção artificial. Ou seja, estamos selecionando vegetais de
acordo com a característica genética desejável há muito tempo.

Além disso, as células vegetais possuem uma característica interessante, que é a totipotência.
Em outras palavras, as células vegetais podem se reproduzir e formar todos os tecidos daquele
vegetal. A partir de uma célula vegetal, é possível gerar uma planta inteira. A Biotecnologia
Vegetal teve seu avanço com as técnicas de cultivo de tecido vegetal em laboratório e as
técnicas de engenharia genética.

CULTIVO DE TECIDO VEGETAL

Referente ao crescimento de células vegetais em laboratório.

ENGENHARIA GENÉTICA

Conjunto de técnicas utilizadas para alterar o material genético (DNA) de um ser vivo.

CULTIVO DE CÉLULAS VEGETAIS IN VITRO


Devido à capacidade de totipotência das células vegetais, a transformação genética pode
acontecer em qualquer célula do tecido ou órgão do vegetal. Em condições adequadas, ela
pode se regenerar e formar uma planta novamente.

As vantagens do cultivo in vitro de células vegetais incluem:

Manutenção das características genéticas e, assim, da qualidade do vegetal.

Produção em larga em escala.

Controle das condições fisiológicas a partir do controle das condições de crescimento.


Melhoramento genético.

VOCÊ SABE COMO É REALIZADA A CULTURA


VEGETAL?

Para cultivar um organismo vivo, é necessário fornecer as condições de nutrientes, como


açúcares, vitaminas, sais orgânicos e inorgânicos, hormônios, aminoácidos e água, além das
condições físicas, como luminosidade, temperatura, umidade, pH e a assepsia.

Os meios de cultura podem ser semissólidos, pela adição de ágar ou líquidos. Apesar das
células vegetais serem consideradas totipotentes, são necessários hormônios que estimulam o
crescimento do vegetal e os padrões de crescimento, como o surgimento de raiz, caule, calos,
brotamento e órgãos vegetais. Os principais hormônios utilizados nas culturas incluem as
auxinas e as citocininas. Dependendo da concentração deles no meio de cultura, podem
estimular diversos padrões morfológicos de crescimento, como, por exemplo, o aumento de
auxinas no meio estimula a formação de raízes e o de citocininas estimula o brotamento ou os
ramos.

A micropropagação é a forma mais comum de propagar um vegetal a partir de células ou


tecidos vegetais; com isso, cria-se plantas idênticas geneticamente. Pode ser realizada por
meio da cultura de sementes, cultura meristema (células indiferenciadas ou em estágio
embrionário), cultura de calo (tecido tumoral vegetal de crescimento desorganizado), cultura de
gemas (pode ser das gemas apicais ou das gemas auxiliares; é o início de novos ramos nas
plantas), cultura antera (cultura de células haploide, ou seja, parte da estrutura reprodutora de
algumas plantas), cultura de suspensão celular (obtidas por células individuais de qualquer
parte do vegetal), cultura de protoplasto (célula vegetal sem a parede celular, que é retirada
por digestão enzimática em laboratório).

Como é possível perceber, existem diversas formas de propagar um vegetal em um meio de


cultura in vitro. Vale ressaltar que a cultura de meristema é bastante utilizada por ser livre de
fitopatógenos, principalmente vírus, uma vez que, por serem tecidos embrionários e
indiferenciados, não possuem um sistema de vascularização por onde esses patógenos
possam se disseminar (Figura 1).
AUXINAS

Classe de hormônios vegetais que desempenham um papel fundamental na coordenação de


muitos processos comportamentais e de crescimento nos ciclos de vida das plantas e são
essenciais para o desenvolvimento do corpo da planta.

CITOCININAS

São hormônios vegetais responsáveis pela divisão celular. Acredita-se que esses hormônios
são produzidos nos meristemas de raízes, folhas e frutos jovens, além de sementes em
desenvolvimento.

PAREDE CELULAR

Estrutura rígida formada por celulose; ajuda na sustentação e rigidez da célula.

FITOPATÓGENOS

Qualquer patógeno capaz de causar doença em plantas.

 Figura 1: Cultura de tecido vegetal in vitro.


PLANTAS TRANSGÊNICAS: PRINCÍPIOS E
MÉTODOS
Todo ser vivo é formado por células, e elas possuem o ácido desoxirribonucleico como material
genético, o famoso DNA. Isso significa que todo mundo tem DNA como informação genética,
desde uma pequena bactéria até o maior animal do mundo, como a baleia azul, passando
pelos seres humanos, animais de todos os portes e tamanhos e pelas plantas. Não é
interessante que a informação genética na terra seja similar entre os seres vivos?

Em todos os seres vivos, é o DNA que armazena as informações genéticas e características de


cada espécie. O que nos diferencia entre toda essa biodiversidade é a quantidade de DNA e de
informações genéticas que possuímos.

Por exemplo, sabemos que os seres humanos possuem 3 bilhões de pares de bases de
nucleotídeos, divididos em 46 cromossomos, a bactéria E. coli possui 4,6 milhões de bases
de nucleotídeos em um único cromossomo, um gato doméstico possui cerca de 3 bilhões de
pares de bases de nucleotídeos divididos em 38 cromossomos, e o milho, 177 milhões de
pares de bases de nucleotídeos divididos em 20 cromossomos, ou seja, cada espécie possui
uma quantidade definida de material genético.

NUCLEOTÍDEOS

Componentes básicos do DNA, também chamados de monômeros do DNA. São compostos


por um açúcar (dessoxiribose), um fosfato e uma base nitrogenada (que pode ser de quatro
tipos: adenina, timina, citosina ou guanina).

CROMOSSOMOS

Longo filamento de DNA associado a proteínas.


MAS O QUE O DNA TEM DE TÃO ESPECIAL?

É nele que estão contidas as informações para produzir as proteínas de um ser vivo, que nós
chamados de genes. Toda proteína vem de uma informação genética, e as proteínas fazem
parte das nossas características e exercem diversas funções tanto para a célula quanto para
um organismo como um todo.

O processo de transformação do DNA em proteína é chamado de expressão gênica e envolve


duas etapas: a transcrição e a tradução. Na transcrição, um conjunto de enzimas e proteínas
participa do processo de produção do ácido ribonucleico (RNA). O RNA é uma cópia do DNA
contendo a informação para produção da proteína, e esse RNA é, então, traduzido nos
ribossomos para uma linguagem de aminoácidos, que é a linguagem das proteínas. Com esses
princípios, temos o dogma central da biologia molecular, que diz como o DNA é passado para
as células filhas e como ele é expresso em uma proteína (DNA->RNA->PROTEÍNA) (Figura 2).

GENES

Parte do DNA que tem a informação para produzir uma proteína.

RNA

Abreviação para ácido ribonucleico. Formado por nucleotídeos com pequenas diferenças em
relação ao DNA. Nos nucleotídeos do RNA, podemos encontrar: um açúcar, a ribose, um
fosfato e uma das quatro bases nitrogenadas: adenina, uracila, citosina e guanina.
 Figura 2: Dogma central da biologia molecular.

Conclusão, no DNA, temos os genes, e todo ser vivo possui DNA. A expressão de um gene é
muito similar entre os diferentes seres vivos. Com base nesses achados, cientistas se
questionaram: “E se eu pegar o gene (DNA) de uma espécie e colocá-lo em outra espécie?
Será que essa célula que está recebendo este gene vai produzir a informação contida nele?”.
Com isso, temos o surgimento dos transgênicos (trans = diferente e gênico = gene).

Os cientistas não só conseguiram como fazem os transgênicos, que são espécies que
receberam um gene (DNA) de outra espécie e, devido à similaridade do processamento dessa
molécula entre os seres vivos, é possível produzir aquela característica nova no ser vivo que a
recebeu.

VOCÊ SABE QUAL A DIFERENÇA ENTRE


TRANSGÊNICOS E OGM (ORGANISMOS
GENETICAMENTE MODIFICADOS)?

Um OGM é um organismo que sofreu qualquer alteração no seu material genético (DNA),
enquanto transgênicos são os organismos que receberam um gene de outra espécie. Todo
transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um transgênico.
Uma planta transgênica pode ser criada por meio da transferência de um gene de interesse
(também chamado de gene doador) para a planta, fazendo com que ela adquira aquela nova
característica, pela técnica do DNA recombinante, que faz parte da engenharia genética. Para
transferir um gene de uma espécie para outra, primeiro é necessário obter o gene de interesse,
inseri-lo em um vetor de DNA e ligar os dois, o que gera o DNA recombinante. Então, este é
inserido na célula hospedeira, que passará a produzir essa característica (Figura 3).

 Figura 3: Técnica do DNA recombinante.

Mas o que precisamos para criar um transgênico?

DNA DOADOR
Gene de interesse para clonagem / gene a ser inserido em outra espécie ou célula.

ENDONUCLEASE DE RESTRIÇÃO
Enzima que corta o DNA, tanto o DNA doador quanto o DNA vetor, em locais específicos, de
modo que o DNA doador é inserido no vetor.

VETOR
DNA utilizado para inserir o gene de interesse na célula hospedeira, funcionando como veículo
para transformação.

DNA LIGASE
Enzima utilizada para ligar as extremidades livres e adaptáveis do DNA do vetor e do DNA
doador e, assim, formar o vetor recombinante.

CÉLULA HOSPEDEIRA
Célula na qual será inserido o vetor com o gene-alvo ( pode ser qualquer tipo de célula; nesse
caso, uma célula vegetal).
A técnica envolve a obtenção do DNA de interesse, o gene com a característica que se quer
adicionar ao tecido vegetal. Trata-se do corte do gene com enzimas de restrição, que corta o
DNA, deixando extremidades livres de fita simples, chamadas de extremidades coesivas.
Depois disso, é necessário escolher o vetor, sendo os mais empregados os plasmídeos.
Entretanto, dependendo do seu objeto, pode-se utilizar vetores de vírus, cosmídeos e os
cromossomos artificiais. De qualquer modo, todo vetor deve ter essas três características em
comum: sítio para corte pela enzima de restrição, origem de replicação e um gene marcador
que vai permitir a seleção de quem recebeu ou não o DNA recombinante.

Selecionado o vetor, ele também é tratado com a mesma enzima de restrição que o gene
doador. Em seguida, ambos são colocados juntos (em um microtubo), contendo a enzima DNA
ligase. Nesse momento, devido ao corte coesivo realizado pela enzima de restrição, tanto no
DNA doador quanto no vetor, as extremidades do corte se ligam pela complementariedade do
DNA (A-T e C-G), e a DNA ligase termina de ligar o DNA do vetor com DNA de alvo, gerando
uma molécula de DNA recombinante. E é assim que chamaremos essa molécula agora.

Nesse momento, ainda temos um problema: colocar o DNA recombinante dentro da célula
vegetal.

PLASMÍDEOS

Pequenas moléculas de DNA circular, autorreplicáveis e independentes do DNA genômico.


Comum em bactérias.

VÍRUS

Partículas infecciosas que apresentam genoma constituído de uma ou várias moléculas de


ácido nucleico (DNA ou RNA) envoltos em uma camada proteica e/ou lipídica. Possuem
capacidade de infectar células.

COSMÍDEOS
Vetores de DNA circular que carregam características dos plasmídeos e dos vírus.

O DNA recombinante pode ser inserido dentro da célula vegetal através de várias técnicas. São
elas:

MICROINJEÇÃO
É uma técnica adaptada da transformação animal para a transformação vegetal. Consiste na
utilização de microinjeção do DNA recombinante direto no núcleo da célula. É uma técnica
trabalhosa e que requer diversos equipamentos para realização, porém garante maior precisão
da transformação.

 Transformação por Microinjeção.

ELETROPORAÇÃO
Envolve a utilização de choques elétricos com voltagem e duração controlados, que induzem a
formação de poros na célula por onde o DNA recombinante entra. No entanto, a eletroporação
é utilizada para células desprovidas de paredes celular por meio de digestão enzimática, os
chamados protoplastos.
AGROBACTERIUM TUMEGACIENS
É um sistema natural de transfecção. Esta bactéria é descrita por infectar alguns vegetais e
inserir um plasmídeo no material genético da célula. No processo de infecção no ambiente, o
plasmídeo carrega genes que geram o tumor vegetal, também chamado de galha-da-coroa. No
laboratório, esse plasmídeo, chamado de plasmídeo T, é modificado, retirando-se os genes que
causam o tumor e adicionando-se o gene doador. Assim, quando a bactéria infecta a célula
vegetal, o plasmídeo T é transferido, e o gene de interesse é inserido no genoma do vegetal
(Figura 4).

 Figura 4: Transformação via A. tumefaciens (meio biológico).

BIOBALÍSTICA
Método de transferência de genes para uma célula de forma direta. O DNA recombinante é
associado a micropartículas de tungstênio ou ouro e bombardeado contra a célula vegetal-alvo.
Todo o processo acontece em um acelerador de partículas, onde adquirem velocidade
suficiente para atravessar a parede celular vegetal e o núcleo, inserindo o DNA recombinante
dentro da célula vegetal.
 Transformação por biobalística.

A metodologia mais utilizada para transformação vegetal é o sistema Agrobacterium


tumegaciens, porém a escolha da transferência do DNA recombinante para a célula vai
depender do tipo de tecido vegetal, da espécie, do vetor e tamanho do gene que se está
transferindo.

Nenhuma técnica garante 100% de transformação do tecido vegetal, então é necessário


selecionar as células que de fato receberam o DNA recombinante. Para isso, é levado em
consideração uma característica do vetor, que é a presença do marcador de seleção. O gene
marcador de seleção permite selecionar as células que receberam o DNA recombinante por
meio de alguma característica de resistência a substâncias tóxicas, geralmente resistência a
antimicrobianos ou herbicidas. Ou seja, a célula vegetal que não recebeu o DNA recombinante,
na presença da substância tóxica, morre, enquanto a célula que recebeu o DNA recombinante
e, portanto, com o gene marcador, terá o mecanismo de resistência e, com isso, sobreviverá.

Após a seleção, a célula vegetal é cultivada em meios de cultura in vitro a fim de estimular a
formação da planta. Estudos para determinação da produção do gene de interesse são
realizados. Antes de uma planta transgênica ser liberada para uso, existe uma regulamentação
que garante a biossegurança e a bioética na sua utilização e liberação. Após todos os estudos
de comprovação de sua eficácia, seu uso e seus impactos, a planta pode ser produzida em
campo em larga escala.
Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre o DNA recombinante e os tipos de transgênicos
no Brasil.

APLICAÇÕES DAS PLANTAS


TRANSGÊNICAS
A tecnologia do DNA recombinante permitiu criar uma variedade de vegetais com
características novas e que conferem alguma vantagem de cultivo, como resistência a pragas,
vírus, herbicidas, aumento de tamanho ou nutricional. Existem diversas plantas transgênicas
disponíveis para o consumo direto ou indireto (subprodutos), e sua legislação e autorização de
consumo e cultivo dependem da legislação de cada país.

Dentro desta lista, podemos citar: milho, arroz, feijão, tomate, abóbora, algodão, batata, alfafa,
maçã, cana-de-açúcar. A cada ano, a lista de produtos transgênicos aumenta, e diversos
estudos são conduzidos nessa área. Além, é claro, dos subprodutos, com destaque para o óleo
de cozinha, derivados de soja, milho ou algodão.

Para conhecer alguns exemplos de produtos vegetais transgênicos, não deixe de visitar o
Explore +!

COMO SABER SE UM PRODUTO É TRANSGÊNICO?

No Brasil, está regulamentado o uso da letra “T” em maiúsculo e negrito nas plantas e
alimentos que contenham algum derivado de produto(s) transgênico(s). Muita discussão ainda
ocorre acerca dos seus benefícios e malefícios. Diante disso, cada consumidor tem o direito de
saber e de escolher se consome ou não um produto transgênico.

A aplicação de plantas transgênicas não se restringe apenas à melhoria do cultivo ou de fatores


nutricionais. Alguns pesquisadores vêm trabalhando na produção de vacinas e bioprodutos em
tecidos vegetais. Isso é uma proposta da Biotecnologia Vegetal, onde genes para produção de
antígenos são inseridos em tecidos vegetais, que passam a expressar essa proteína; quando
ingeridos, o sistema imunológico reconhece e desenvolve uma resposta imunológica de
memória. Além disso, a produção de anticorpos humanos em plantas também tem sido
realizada, e os anticorpos podem ser utilizados para o tratamento de doenças.

 Símbolo de produtos transgênicos.


ANTÍGENOS

Parte de microrganismos que vão ser reconhecidos pelo nosso sistema imunológico para gerar
uma resposta imune.

ANTICORPOS

Também chamados de imunoglobulinas, são as proteínas de defesa do nosso organismo.

Nos dias atuais, pesquisadores estão fazendo com que arroz e trigo expressem anticorpos
anticâncer que podem ser utilizados como terapia e no diagnóstico de câncer de mama,
pulmão e cólon. Apesar de muitos destes produtos estarem em fase de desenvolvimento, existe
uma enorme expectativa quanto à sua utilização e eficácia. Em outras palavras, estamos
criando biofábricas com as células vegetais para produção de diversos antígenos para
vacinas, anticorpos e enzimas.

BIOFÁBRICAS

O uso da maquinaria de uma célula para produção de proteínas, enzimas ou substâncias de


interesse.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Compreender como um animal transgênico é criado e aplicado


PRODUÇÃO ANIMAL
Quando a produção animal começou a ser uma atividade comercial, os animais passaram a ser
selecionados de acordo com suas características desejáveis ao produtor, como, por exemplo,
pelo melhor rendimento, melhor adaptação ao ambiente, ganho de peso, maior produção, entre
outras. Esses animais eram cruzados entre si e, assim como na Biotecnologia Vegetal, usa-se
uma seleção artificial, chamada de melhoramento genético.

O melhoramento genético e a Biotecnologia Animal podem ser aplicados a todos os animais, e


os de maiores interesses econômicos incluem os bovinos, suínos, as aves, os ovinos e
caprinos. Esse melhoramento depende de três fatores: fenótipo, genótipo e o ambiente. Assim,
no caso dos animais, não basta apenas ter a informação genética (DNA) para determinada
característica; são necessárias condições ambientais distintas de alimento e manejo. Com o
uso da biotecnologia, é possível reconhecer os genes de interesses e as alterações gênicas
(chamadas de mutações), acelerando sua expressão e/ou adicionando um gene novo. Além do
melhoramento genético das características alimentares e de criação do animal, também é
possível desenvolver animais-modelo para o estudo de diversas doenças, produção de
vacinas, biofármacos, animais como biorreatores para produção de proteínas e enzimas e até
em transplantes.

ANIMAIS TRANSGÊNICOS: PRINCÍPIOS E


MÉTODOS
Os conhecimentos sobre o DNA e a informação genética levaram a grandes avanços em
diversas áreas, inclusive na Biotecnologia Animal. Os animais são organismos pertencentes ao
reino Animalia, pluricelulares formados por células eucariontes e com capacidade de
locomoção.

O material genético na forma de cromossomos está organizado aos pares, o que significa que
cada animal possui dois genes, um vindo do macho e outro da fêmea, e, portanto, chamados
de diploides. De acordo com a lei de Mendel, uma característica irá se sobressair sobre a
outra, chamada de gene dominante (o gene que é expresso) e gene recessivo (o gene que não
é expresso). Com isso, surge o conceito de alelo gênico, onde o mesmo gene para a mesma
característica é herdado do macho e outro da fêmea, mas não são idênticos, são formas
alternativas daquele gene, onde as características de um dos alelos ou ambos podem ser
expressas no animal.

DIPLOIDES

Células que possuem dois conjuntos de cromossomos (DNA), um vindo do macho e outro da
fêmea.
LEI DE MENDEL

Considerado o pai da genética, postulou a primeira lei de Mendel com seus estudos com
ervilhas, que diz que cada característica é dada por um par de genes (que ele chamou de
fatores na época) que se separam nos gametas (óvulos e espermatozoides) e voltam a juntar-
se na fecundação. Ou seja, cada animal possui dois genes para cada característica, um vindo
do macho e outro da fêmea.

O descobrimento dos alelos gênicos levou a grandes avanços no melhoramento genético de


animais. Além da tecnologia do DNA recombinante para aumentar ou adicionar uma
característica de interesse nova no animal, existem muitos testes moleculares que visam
identificar o alelo gênico que apresente as características desejadas e, assim, estimular o
cruzamento entre esses animais. Assim, conhecendo o alelo gênico, é possível realizar
cruzamentos para que o alelo seja propagado por toda a população daquela espécie. De
qualquer forma, a Biotecnologia Animal não é fácil, pois, em muitos casos, mais de um gene
está associado a uma única característica no animal, o que dificulta o melhoramento e abre
espaço para mais estudos e pesquisas.

No caso dos animais, a alteração do material genético ocorre no embrião, durante a


fecundação. Uma das limitações do melhoramento genético é que os cruzamentos seletivos
entre os animais só permitem a propagação de características da mesma espécie. A partir da
tecnologia do DNA recombinante, é possível criar animais transgênicos, que são aqueles que
adquirem, de forma artificial, um gene de outra espécie e, assim, uma característica nova e de
interesse.

A criação de animais transgênicos tem três objetivos principais:

A criação de animais como biofábricas para a produção de alguma molécula de interesse


terapêutico.

A criação de animais como modelos de doenças genéticas.

A criação de animais para produção pelo ganho de características nutritivas, como a diminuição
da quantidade de gordura e ganho de massa muscular ou ainda pela resistência a
determinadas infecções.

A criação do DNA recombinante envolve a seleção do gene de interesse, seu tratamento com
enzimas de restrição, a escolha do vetor, onde será inserido o gene de interesse para ser
transportado para célula hospedeira. O vetor também é tratado com a mesma enzima de
restrição, que tem a função de cortar o DNA de ambos e gerar extremidades possíveis de
ligação. A ligação entre o gene de interesse e o vetor vai ser realizada pela DNA ligase,
gerando, então, o DNA recombinante.

O DNA recombinante precisa ser inserido e estar presente em todas as células do animal, e
isso só é possível pela sua inserção do vetor ainda no embrião ou nas células germinativas, os
espermatozoides ou óvulos. Assim, além do preparo do DNA recombinante, é preciso remover
as células-alvo (nesse caso, as células germinativas), inserir o DNA recombinante e, depois,
colocá-lo em um animal que sirva de barriga de aluguel para desenvolvimento do feto.

Existem diferentes técnicas para isso. Vamos conhecer agora as mais empregadas:

 Figura 5: Microinjeção de DNA.


A MICROINJEÇÃO DE DNA

Acontece no pronúcleo do animal a ser gerado, ou seja, o gene de interesse vai ser injetado
por uma microagulha antes da fusão do núcleo do espermatozoide e do óvulo. Dá para
imaginar quão difícil deve ser conseguir inserir um gene e fazer com que ele seja adicionado ao
genoma da célula germinativa e, depois, realizar a fusão dos núcleos do espermatozoide e do
óvulo. Por isso, o rendimento da técnica é baixo: cerca de 0 a 3% dos embriões se
desenvolvem e geram descendentes com o gene inserido, ou seja, o animal transgênico.
Apesar disso, a técnica permite que todas as células do animal possuam o gene inserido. A
transgenia é confirmada após o nascimento do animal com técnicas moleculares para
identificar a presença do gene de interesse (Figura 5).

 Figura 6: Representação da infecção viral.

A UTILIZAÇÃO DE UM RETROVÍRUS COMO VETOR

Envolve preparo e alteração do vírus para conter a sequência do gene de interesse. Um vírus
infecta naturalmente uma célula e um retrovírus é um vírus formado por RNA e que possui uma
enzima, transcriptase reversa, capaz de transformar RNA em DNA e, assim, ser inserido no
genoma da célula. A infecção pode ocorrer durante a fecundação. As limitações incluem a
inserção do DNA produzido em lugar aleatório do genoma, podendo gerar alterações que não
permitem o desenvolvimento do animal, o controle da quantidade de retrovírus para infectar a
célula, o tamanho do gene a ser inserido. O embrião modificado é inserido na barriga de
aluguel, e o animal transgênico é confirmado após o nascimento por técnicas moleculares
(Figura 6).

 Figura 7: A transferência de genes em células-tronco embrionárias.

A TRANSFERÊNCIA DE GENES EM CÉLULAS-TRONCO


EMBRIONÁRIAS

É possível, pois, após a fecundação, nas fases iniciais de desenvolvimento do animal, temos as
células-tronco totipotentes, aquelas células capazes de formar todos os tecidos do animal,
incluindo as células da placenta, fase chamada de blastocisto. Essas células são removidas e
recebem o DNA recombinante e colocadas de volta na fêmea em que o embrião está sendo
gerado. O embrião será composto por células transgênicas e células não transgênicas. Após o
nascimento, os animais são cruzados entre si, até que seja obtida uma linhagem totalmente
transgênica, detectada por técnicas moleculares (Figura 7).
 Figura 8: Transferência nuclear.

A TRANSFERÊNCIA NUCLEAR

Trata-se de uma clonagem aplicada na criação de animais transgênicos e tem sido uma opção
interessante. Neste caso, o material genético do animal de interesse recebe o DNA
recombinante e, após a modificação e inserção do DNA recombinante, o núcleo (onde fica o
DNA das células eucarionte) é removido e inserido em um óvulo anucleado.

Depois de um estímulo, o óvulo com o núcleo é ativado e colocado em uma barriga de aluguel.
Assim, o animal será um clone do animal que doou o núcleo célula, porém com DNA
recombinante inserido. Lembrando que a clonagem em si não é um processo de transgenia,
mas, sim, uma forma de criar cópias idênticas de um ser vivo. Se, durante o processo de
clonagem, o DNA for alterado pela adição de um gene de outra espécie (transgenia) e depois
inserido em um óvulo e estimulado a se reproduzir, teremos um clone transgênico. Esta técnica
tem se mostrado útil na criação de animais transgênicos, pois a inserção do DNA recombinante
acontece antes da fecundação (Figura 8).

PRONÚCLEO

É o núcleo do espermatozoide ou óvulo antes da fusão dos núcleos durante a fecundação.

Outras formas de transgenia em animais estão em estudo e incluem a transferência de gene


mediada por espermatozoides, alteração genética mediada por exemplo de modal,
transferência de gene mediada por cromossomo artificial, transplante de células testiculares,
entre outras.

TRANSPOSONS

Elementos genéticos móveis, capazes de saltar de lugar no genoma.


APLICAÇÕES DOS ANIMAIS
TRANSGÊNICOS

PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS

Biofámarcos são medicamentos produzidos ou extraídos em organismos vivos. Em outras


palavras, os animais são usados como biofábricas para produção de proteínas de interesse
médico. As proteínas obtidas pela tecnologia do DNA recombinante, ditas proteínas
heterólogas, geralmente são proteínas plasmáticas, pois são mais fáceis de serem produzidas
e obtidas em animais, algumas das proteínas produzidas em animais transgênicos incluem
albumina, alfa-1-antitripsina, hormônio do crescimento, eritropoetina, fator de coagulação IX ou
fator VIII.

Para conhecer mais sobre como essas proteínas são produzidas, não deixe de visitar o
Explore+!

A vantagem na utilização de animais transgênicos para produção farmacêutica é uma elevada


produção do biofámarco em um rebanho pequeno e as alterações na proteína após sua
expressão, formando proteínas com conformação correta para seu funcionamento. Em alguns
sistemas, como nas bactérias, após a expressão, nem sempre as proteínas se encontram
funcionais, pois não passaram pelas alterações necessárias para ter sua forma ativa.

ANIMAIS TRANSGÊNICOS PARA A PRODUÇÃO

A criação de animais transgênicos para produção, que sejam resistentes a doenças, é uma
área que requer mais estudos para entender como ocorre o processo e o desenvolvimento das
doenças nestes animais. Entretanto, já é possível criar porcos e vacas resistentes à gripe
suína, febre aftosa e encefalopatia espongiforme (conhecida como mal da vaca louca).

Muitos estudos têm buscado aumentar a concentração de proteína no leite e em seus


derivados pela técnica do DNA recombinante. Por exemplo, 80% do leite de vaca é composto
pela proteína caseína, que é importante para o processo de coagulação e formação de queijo,
um produto derivado do leite. Pesquisadores adicionaram mais dois genes, CSN2 e CSN3,
para aumentar em duas vezes a quantidade de caseína no leite, o que levaria a um aumento
na produção de queijo, sendo então lucrativo para as empresas.

Outro ponto interessante seria criar vacas com baixo teor de lactose. A intolerância à lactose é
um problema em alguns indivíduos e que acomete, principalmente, a população da Ásia. A
ideia de produzir leite com menos lactose veio pela criação de animais transgênicos, que têm
adição do gene que codifica a enzima lactase, responsável pela quebra da lactose, podendo
gerar assim um leite com menos lactose.

Além disso, estudos tentam aumentar a taxa de crescimento de porcos, por meio do
melhoramento do leite de porcas. Durante a criação de porcos, um dos maiores problemas que
afetam o seu desenvolvimento é seu aleitamento curto. Pesquisadores, então, criaram porcas
transgênicas, inserindo o gene da lactalbumina bovina e aumentando as proteínas que
compõem o leite. O aumento na quantidade de proteínas do leite levou a um crescimento mais
acelerado de leitões, diminuindo o tempo de criação.

Também é possível criar ovelhas com maior produção de lã, porcos e vacas com carne menos
gordurosa, mais musculosos, resistentes a doenças, com menos produção de poluentes etc.
Dentre todos os casos, o mais interessante é o do salmão transgênico disponível para
consumo no Canadá e nos EUA que está em teste em diversos outros países, incluindo o
Brasil. O salmão transgênico é o primeiro animal liberado para consumo e levou cerca de 25
anos para ser testado quanto à sua segurança e aos processos regulatórios e, agora, passa
pela aprovação da população.
 Salmão transgênico

O salmão leva cerca de 30 a 34 meses para crescer e ser utilizado para consumo. Já o salmão
transgênico leva de 16 a 20 meses. Essa vantagem iria aumentar a produção de salmão e
atender à alta demanda desse peixe atualmente. O salmão transgênico é chamado de salmão
AquAdvantage, onde foi usado o gene do crescimento do salmão-rei, obtido no oceano
pacífico, no salmão do atlântico pela tecnologia do DNA recombinante, o que permitiu que
estes animais se alimentassem o tempo todo e sem parar durante o período de crescimento.
Sua criação é feita em tanques artificiais e são usadas apenas fêmeas estéreis. Existe muita
discussão bioética e de biossegurança quanto ao seu uso em todo o mundo.

ANIMAIS TRANSGÊNICOS EM TRANSPLANTES


(XENOTRANSPLANTES)

Transplante de órgãos permitem, a partir de cirurgia, a troca de um órgão doente (fígado, rim,
baço, coração etc.) por um órgão saudável. Todo ano, mais de 30% dos indivíduos que estão
na fila de espera para um transplante de órgãos morrem. A biotecnologia tenta suprir essa
necessidade, abrir novos horizontes para que mais vidas sejam salvas e zerar filas de
transplantes. Com isso, a possibilidade de transplantes de órgãos de animais para humanos
abriu mais uma área de estudo, os chamados xenotransplantes.
No xenotrasplante, podem ser utilizados tecidos, órgãos ou partes de um animal para o ser
transplantado no humano. O animal mais utilizado tem sido o porco e, com modificações
genéticas, tem sido promissor para o transplante. Os porcos são utilizados como modelos por
terem seus órgãos similares aos humanos, mas a rejeição do órgão de um animal pelo corpo
humano ainda é um problema. Para resolver essa ponte, as técnicas de biotecnologia são
utilizadas para alterar o material genético destes animais e facilitar a aceitação do órgão pelo
nosso corpo.

Os Estados Unidos e a Alemanha realizaram alterações e transplantes de órgão de porcos para


macacos com resultados promissores. A ideia aqui é silenciar ou retirar os genes do porco que
levam à rejeição do órgão em humanos, o que é possível pela técnica de edição genética
chamada CRISPR-CAS9, com a inserção de genes que codificam proteínas capazes de inibir o
sistema imunológico naquele tecido ou órgão, evitando a sua rejeição. Esta última é realizada a
partir da adição do gene pela tecnologia do DNA recombinante. Também existe a possibilidade
de se inserir genes humanos a fim de diminuir as características do animal e, por conseguinte,
a rejeição.

CRISPR-CAS9

Técnica da engenharia genética que permite a edição de genomas. É composta por uma
enzima de restrição, a CAS9, e um RNA guia associado a enzima. A função do RNA guia é
direcionar qual parte do genoma a enzima deve cortar. Esta técnica deu o prêmio Nobel de
2020 para duas pesquisadoras: Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna.
ANIMAIS TRANSGÊNICOS COMO MODELOS DE
DOENÇAS

O ser humano possui mais de 20 mil genes em cada uma de suas células, e muitas doenças
estão associadas a alterações nesses genes. Para encontrar uma cura, é preciso entender
como a doença funciona, e os animais transgênicos são desenvolvidos com esses genes para
se entender seu real papel nas doenças humanas, os chamados animais-modelo de doenças
humanas. Isso é possível devido à similaridade genética, anatômica e fisiológica destes
animais com o ser humano e o fato de o material genético dos seres vivos ter a mesma
composição, o DNA.

Inicialmente, camundongos transgênicos foram desenvolvidos para uma enorme variedade de


doenças. Hoje, podemos ter porcos, ovelhas e gado como modelos para doenças genéticas,
como, por exemplo, retinite pigmentosa, mal de Alzheimer, câncer, doença de Crohn,
insuficiência renal, doenças neurodegenerativas, estudo de envelhecimento, diabetes,
obesidade, vírus oncogênicos, enfim, as aplicações são diversas.

Os animais mais utilizados como modelo de estudo de doenças em laboratório são os ratos,
camundongos, cães, coelhos e porcos. Eles são criados através da inserção do DNA
recombinante por duas formas: a inserção de um gene humano suspeito de causar a doença
ou o silenciamento de um gene já presente no animal pela inserção de um gene repressor no
seu genoma, lembrando que a criação de animais transgênicos envolve a inserção do gene no
embrião ou nas células germinativas.

VÍRUS ONCOGÊNICOS

Vírus que, ao interagir com o material genético humano, são capazes de gerar câncer.

Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre biossegurança e bioética na utilização de


animais transgênicos.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3

 Descrever como a Biotecnologia Ambiental contribui para diminuir a poluição


ambiental

PRINCIPAIS POLUENTES E SEUS


IMPACTOS NO MEIO AQUÁTICO
A biotecnologia ambiental tem suas aplicações principalmente na descontaminação de
ambientes pelo uso de microrganismos ou outros seres vivos (biorremediação), reciclagem de
nutrientes, preservação da biodiversidade, e, por isso, está cada vez mais presente em projetos
ambientalmente sustentáveis. Ela está associada a todas as atividades humanas que afetam
de forma direta ou indireta o meio ambiente. Portanto, aqui procuramos resolver problemas
como o excesso de lixo, esgoto e qualquer efluente gerado pelas indústrias, pela agropecuária,
agricultura, mineração, entre outras atividades.

Para entendermos a Biotecnologia Ambiental, vamos precisar dar uma olhada nas leis e formas
que regem o nosso planeta. Uma das mais importantes diz respeito à lei da conservação de
massas, que diz que nada no nosso planeta se cria, tudo se transforma. Podemos dizer que
todos os recursos naturais utilizados são transformados em outros produtos.

Existem três parâmetros que determinam a qualidade de vida do nosso planeta:

População.
Recursos naturais.

Poluição.

A população mundial, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, é de
cerca de 7,79 bilhões de pessoas. Só no Brasil, temos cerca de 211,8 milhões de pessoas, e a
perspectiva é que isso aumente ainda mais com o passar dos anos (ALVES, 2019). Os
recursos naturais são os elementos do ambiente e da natureza que são utilizados pela
população. Quando se fala em recursos naturais, podemos pensar em tecnologia, economia e
meio ambiente.

Os recursos naturais são classificados em:

RENOVÁVEIS
NÃO RENOVÁVEIS
Aqueles que, após sua utilização, ficam disponíveis novamente para uso: água, ar e biomassa.

Aqueles que, após sua utilização, não estão mais disponíveis para uso: combustível fóssil,
minerais, urânio, cálcio, fósforo, entre outros.

A poluição surge pela utilização dos recursos naturais pela população, gerando substâncias ou
energia prejudiciais ao meio ambiente. A poluição pode afetar a atmosfera (gases como o ar),
litosfera (solo e rochas) e a hidrosfera (água) de forma negativa. Existem diversos parâmetros
para avaliar seu impacto no meio ambiente. Podemos citar como poluentes o esgoto doméstico
e industrial, efluentes gasosos, vazamento de óleo e petróleo, aterros sanitários, agrotóxicos,
plásticos, chorume, entre outras formas de contaminação e poluição. Seus efeitos podem ser a
nível local, regional ou global. Hoje, esforços para diminuir e/ou reverter os efeitos da poluição
têm sido abordados em todos os países.

Com a expansão da população, ocorre o aumento do uso de recursos naturais e, como


consequência, a poluição. Apesar dos esforços para um desenvolvimento sustentável, os
danos ambientais gerados pela poluição só tendem a crescer.

O ambiente aquático se torna um dos mais afetados, uma vez que, além de compor os
ecossistemas, pode ser utilizado por diversos animais, plantas e seres humanos, seja para
recreação, seja para alimentação. Engana-se quem pensa que a poluição não chega até os
seres humanos, pois existem várias formas de carregar a poluição e seus contaminantes.

A água faz parte dos recursos naturais renováveis devido ao ciclo da água ou ciclo hidrológico,
que diz respeito ao movimento que a água faz entre a atmosfera e a superfície terrestre,
passando por processos de evaporação, condensação, precipitação, infiltração e transpiração.
A água é indispensável para manutenção da vida e pode ser encontrada em rios, lagos, mares,
oceanos, no lençol freático ou em geleiras (Figura 9).

 Figura 9: O ciclo da água.

Vale ressaltar que nem toda a água da superfície da terra pode ser consumida por animais e
seres humanos, o que limita ainda mais este recurso. A poluição da água pode acontecer por
elementos químicos, físicos ou biológicos que são liberados como consequência,
principalmente, de esgoto doméstico ou industrial, efluentes industriais e atividades agrícolas,
metais pesados (cobre, chumbo, zinco, cadmio, entre outros), hidrocarbonetos e pesticidas.

Nesse momento, não podemos considerar contaminação e poluição a mesma coisa, pois a
contaminação ocorre quando existe um risco à saúde do homem e na poluição ocorre um
desequilíbrio ecológico. Ou seja, contaminação nem sempre está associada à poluição, e vice-
versa. Um ambiente pode estar poluído e não ser um risco para a saúde do homem, assim
como um ambiente pode estar contaminado e ser um risco para a saúde do homem, embora
não esteja poluído, pois não leva a um desequilíbrio ecológico.

Para avaliarmos a qualidade desses ambientes, podemos usar os bioindicadores e os


biomarcadores:

BIOINDICADORES
São um grupo de espécies ou gêneros que crescem em determinada condição biológica,
podendo estar em abundância ou não, dependendo da espécie, mas que reflete as oscilações
ambientais e o impacto antropológico (feito pelo homem a partir da poluição).
BIOMARCADORES
São as variações a nível molecular, celular, fisiológico ou até comportamental que acontecem
com as espécies que estão naquele ambiente e que indicam uma alteração prejudicial do
ambiente. Exemplos: bioacumulação, biotransformação, estresse oxidativo, diversas proteínas,
parâmetros hematológicos, imunológicos, reprodutivos etc.

Para ser considerado um bioindicador, a espécie deve ser sensível às variações do ambiente,
e, assim, conseguir indicar um desequilíbrio ambiental causado pela poluição. Com isso, os
bioindicadores mais utilizados são os macroinvertebrados bentônicos, que são um grupo de
invertebrados visíveis a olho nu, como as espécies e os gêneros dos filos Mollusca, Arthropoda,
Annelida e Platyhelminthes, entre outros. Estes vivem no fundo do ambiente aquático se
alimentando de substâncias depositadas. Sua diminuição no ambiente indica poluição (Figura
10).

 Figura 10: Dáfnias de água doce vistas ao microscópio.


São pertencentes ao filo Arthropoda.
 Análise dos biomarcadores em peixes.

Os principais biomarcadores utilizados nas amostras de ambientes aquáticos incluem a


atividade da enzima acetilcolinesterase, concentração de metalotionínas, atividade da catalase,
da glutationa S-transferase, capacidade antioxidante, lipoperoxidação. Esses testes são
realizados em laboratório e dependerão da espécie que está sendo testada. Alterações nessas
atividades indicam poluição ambiental pela alteração do metabolismo, fisiologia ou
comportamento do animal.

A poluição da água é um problema grave em todo o mundo, o que é impulsionado pelo


aumento da população e o uso dos recursos naturais. Apesar de ser um recurso natural
renovável, a água poluída ou contaminada não pode ser usada para o consumo de animais e
seres humanos.

SABEMOS COMO IDENTIFICAR A POLUIÇÃO, COMO


MEDIR OS POLUENTES BIOLÓGICOS, ORGÂNICOS E
INORGÂNICOS, MAS O QUE TEMOS FEITO PARA
MELHORAR ISSO?
TRATAMENTO DA ÁGUA RESIDUAL
A poluição e/ou contaminação de ambientes aquáticos diminui a disponibilidade de água para
consumo e todas as atividades associadas aos seres humanos, como as industriais e de
irrigação. Os poluentes precisam ser tratados antes de serem liberados no ambiente
novamente. As águas provenientes da ação dos seres humanos e depois descartadas são ditas
águas residuais e são constituídas pelos resíduos industriais, agrícolas e pelo esgoto. O
objetivo do tratamento é diminuir a carga de poluentes que será liberada no ambiente.

 Estação de tratamento de águas residuais.

O tratamento de águas residuais pode ser dividido em fases:

TRATAMENTO PRELIMINAR
Remoção de resíduos sólidos grosseiros que acabaram por parar no esgoto por descarte
incorreto. O uso de filtros e calhas ajuda neste processo.

TRATAMENTO PRIMÁRIO
Resíduos sólidos e sedimentos, como areia, pedras e outros elementos são removidos pela
caixa de areia e ficam no fundo do tanque. A parte liquida segue para a próxima etapa.

TRATAMENTO SECUNDÁRIO
Parte biológica, onde se usa microrganismos em tanques de aeração, para consumir a matéria
orgânica presente na água. Os microrganismos consomem a matéria orgânica para o seu
crescimento gerando flocos biológicos, o lodo. Nessa etapa, podem ser utilizados
microrganismos aeróbicos (utilizam o oxigênio para o seu metabolismo) ou microrganismos
anaeróbicos (não utilizam oxigênio para o seu crescimento). Depois disso, o líquido sofre um
processo de decantação, onde o lodo formado vai para o fundo do tanque.

TRATAMENTO TERCIÁRIO
Acontece a remoção dos microrganismos, principalmente os que apresentam algum risco para
o homem. Poluentes específicos também são removidos, como amônia e fósforo.

O tratamento de água residual faz parte da Biotecnologia Ambiental, ao transformá-la em água


menos poluída pelo uso de microrganismos. As tecnologias mais avançadas já permitem o
reuso da água residual, como, por exemplo, para a produção de biogás e biofertilizantes.

A biotecnologia entra na utilização dos biodigestores, que são equipamentos fechados que
permitem que bactérias anaeróbicas cresçam. Nesse equipamento, é colocada toda a água
residual contendo matéria orgânica, que será decomposta em um processo chamado de
biodigestão. Nesse processo, as bactérias anaeróbicas alimentam-se de toda matéria orgânica
presente na água, gerando o biogás, composto, principalmente, por metano, e biofertilizantes,
compostos pela parte sólida da decomposição. O biogás pode ser utilizado como gás de
cozinha, gerar energia e até abastecer um veículo. A parte sólida da biodigestão pode ser
utilizada como biofertilizantes para plantas.

 CURIOSIDADE

A biodigestão é usada principalmente por indústrias de alimentos, bebidas e na agropecuária,


levando ao melhor aproveitamento dos resíduos industriais, à redução da geração de lodo,
redução da utilização de produtos químicos e mão de obra.
 Exemplo de um biodigestor aplicado na produção agrícola.

BIORREMEDIAÇÃO
Uma das grandes aplicações da Biotecnologia Ambiental é a biorremediação, tecnologia que
visa reduzir ou remover poluentes do meio ambiente pela utilização de organismos vivos. Em
outras palavras, quando um ambiente está poluído, alguns organismos, como plantas,
microrganismos, fungos, algas ou algumas enzimas produzidas por organismos, são utilizados
para digerir, alimentar-se do poluente e, assim, eliminá-lo daquele ecossistema, gerando
produtos do metabolismo que são menos tóxicos, como, por exemplo, água, biomassa, gases,
sais minerais, entre outros. Os biodigestores que permitem que a biodigestão aconteça são
exemplos de biorremediação.

A biorremediação pode ser aplicada para tratamento de águas poluídas por agrotóxicos,
chorume, efluentes industriais, esgoto doméstico, óleo, petróleo e plástico. As aplicações são
finitas, e vários estudos estão sendo desenvolvidos com esses organismos.
Existem duas formas de aplicar a biorremediação:

BIORREMEDIAÇÃO IN SITU
BIORREMEDIAÇÃO EX SITU
Aquela em que o organismo ou microrganismo é utilizado para digerir o poluente no local da
poluição. Entretanto, uma preocupação desse método é liberar o organismo no ambiente e este
crescer sem controle, afetando o ecossistema daquele local.

Quando ocorre a remoção do poluente do ambiente para outro local a fim de tratá-lo com os
organismos ou microrganismos digestores. Um dos principais problemas nesse tipo de
procedimento é a retirada de grande quantidade de poluente, como em um vazamento de
petróleo.

Os microrganismos são bastante estudados para o uso na biorremediação; por exemplo,


sabemos que algumas espécies dos gêneros Pseudomonas, Proteus, Bacillus, Penicillium são
capazes de degradar petróleo e seus derivados. Achomobacter, Pseudomonas Athrobacter,
Penicillum, Aspergillus, Fusarium podem degradar alguns derivados de combustível e resíduos
industriais. Bactérias Alcaligenes e Pseudomonas podem utilizar o metal crômio, Bacillus e
Escherichia podem usar o cobre do meio etc. No entanto, uma importante questão é como
utilizar esses microrganismos sem afetar o ecossistema, pois seu crescimento descontrolado
pode gerar outro problema de desequilíbrio ambiental.

Quando falamos em biorremediação e na utilização desses organismos para digerir os


poluentes, precisamos pensar também nas condições de vida (temperatura, pH, umidade,
toxidade, nutrientes e oxigênio) desses organismos. Como todo ser vivo, é necessário pensar
nas condições químicas, físicas e biológicas do seu crescimento, seja na biorremediação in
situ, seja na ex situ.
A biorremediação tem sido apontada como solução para o excesso de poluição causada pelo
homem, pois utiliza organismos vivos encontrados naturalmente no ambiente para transformar
o poluente em produtos menos tóxicos e de baixo custo comparados com outras técnicas para
despoluição. Porém, precisa ser bem pensado e estudado, afinal o organismo ali inserido pode
gerar outro problema de desequilíbrio ambiental.

Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre biorremediação.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 4
 Reconhecer as aplicações da biotecnologia industrial, seus bioprodutos, as formas
de bioenergia e os biocombustíveis

CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS DA
BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL
A Biotecnologia Industrial visa a substituição de processos industriais por processos mais
limpos e menos poluentes pelo uso de organismos ou de partes destes. O melhoramento
industrial pode ser aplicado a diversas indústrias, como a de alimentos, farmacêutica,
cosmética, química, entre outras. A diminuição da poluição, conservação dos recursos naturais
e redução dos custos pelo uso de tecnologias, como os biorreatores, bioenergia,
biocombustíveis, produção de polímeros biodegradáveis e enzimas, são algumas de suas
atribuições.

A Biotecnologia Industrial tem transformado a forma de produzir diversos produtos e permite a


produção de outros. Como exemplos de produtos produzidos, destacam-se:

Vinho

Cerveja
Pão

Queijo

Iogurte

Vinagre

Leite fermentado

Produção de alguns antimicrobianos, como penicilina

Produção de bioprodutos em grande quantidade

O USO DE MICRORGANISMO NO PROCESSO DE


PRODUÇÃO, SEJA PELO SEU CRESCIMENTO, SEJA
PELO SEU METABOLISMO, NO PROCESSO CHAMADO
DE FERMENTAÇÃO.

 IMPORTANTE

Os bioprodutos se referem a novos produtos “desenvolvidos a partir de organismos e/ou partes


constituintes destes”', que podem substituir ou elevar a produção de produtos de fontes não
renováveis.

Na Idade Média, já era possível observar o uso de microrganismos, bactérias e fungos, para
produção de alimentos (pão, cerveja e vinho). Ao longo dos anos, esses processos foram
otimizados, e podemos usar os chamados biorreatores para produção deles. A engenharia
genética contribuiu bastante para o aprimoramento destas metodologias.
 Processo fermentativo do pão (1º Pote: Tempo: 0 minutos / 2º Pote: Tempo: 30 minutos / 3º
Pote: Tempo: 60 minutos).

A fermentação é o processo de obtenção de energia que algumas bactérias e fungos possuem


que não utiliza oxigênio e, portanto, é anaeróbica. A principal fonte de energia são os açúcares
e seus derivados; por exemplo, no leite, temos a lactose, na fruta, a sacarose, no trigo, o
amido. Uma vez captado o açúcar pelo microrganismo, iniciam-se as reações bioquímicas
dentro da célula para obtenção de energia. Inicialmente, o açúcar é quebrado em um processo
chamado de glicólise, para gerar duas moléculas de ácido pirúvico. A diferença da fermentação
está exatamente no fato de como essas duas moléculas de ácido pirúvico vão ser utilizadas
pela célula.

Na fermentação, essas duas moléculas são convertidas a um produto de interesse pela


indústria e, dependendo do produto, a fermentação recebe o seu nome. Por exemplo, temos
bem estabelecida na indústria quatro tipos de fermentação, a fermentação alcoólica, cujo
produto é o álcool ou etanol, utilizado na indústria cervejeira, de vinho e na produção de pão e
bolos; fermentação láctica, em que o produto é o ácido láctico, usado para produtos derivados
do leite, como queijo e iogurte; fermentação acética, em que o produto é o ácido acético usado
para produzir o vinagre; na fermentação butírica, o ácido butírico produzido é utilizado para
alterar as características da manteiga, dando origem à manteiga rançosa (Figura 11).
 Figura 11: Tipos de fermentação.

O principal microrganismo usado para fermentação alcoólica é a levedura Saccharomyces


cerevisiae, que utiliza como fonte de energia: a uva para gerar o vinho, a cevada para a
produção da cerveja e o trigo para produção de pão e bolos. Na fermentação láctica, os
lactobacilos são bastante utilizados e são um grupo de bactérias encontrado em alguns
probióticos. Na fermentação acética, as bactérias ditas acéticas, destaca-se o gênero
Acetobacter. Este tipo de fermentação gera o vinagre, cuja matéria-prima é o vinho;
atualmente, é utilizado também o suco de diversas frutas, tubérculos, cereais, álcool etc. Na
fermentação butírica, a principal bactéria fermentadora é Clostridium butyricum, usada para
alterar as características da manteiga. Uma vez bem estabelecido o processo fermentativo e o
microrganismo utilizado, esse processo começa a ser aplicado a nível industrial, ou seja, em
larga escala em equipamentos chamados de biorreatores.

PROBIÓTICOS

Alimentos que contêm microrganismos vivos que são benéficos à saúde humana.

 Biorreator para a produção de medicamentos.

O biorreator possui uma entrada para matéria-prima a ser consumida, um sistema de agitação
e um sistema de efluxo onde a solução vai sair e ser processada para a obtenção do produto.
Durante o processo, a solução em constante agitação e o controle da temperatura, pH,
pressão, entre outros fatores, permitem as condições ideias de crescimento destes
microrganismos. Neles, acontecem os bioprocessos, reações bioquímicas feitas por
microrganismos ou enzimas que alteram a matéria-prima.
Ele atua em quatro grandes campos:

Medicamentos.

Alimentos.

Bebidas.

Compostos industriais.

Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre o processo fermentativo na prática.

APLICAÇÕES DA BIOTECNOLOGIA
INDUSTRIAL
A utilização do biorreator vai além da produção desses alimentos mencionados anteriormente;
eles podem ser empregados para a produção de insulina humana em bactérias que receberam
o gene da insulina pela tecnologia do DNA recombinante, produção de vacinas, de
antimicrobianos em larga escala e outros insumos. Por exemplo, a bactéria Clostridium
acetobulylicum, utilizada para obtenção de acetona e butanol pelas indústrias, o fungo
Aspergillus niger, empregado na produção de ácido cítrico, e a bactéria Pseudomonas
denitrificans, para produção de vitamina B12.

É importante destacar que uma das grandes aplicações para as indústrias é a obtenção de
enzimas que possam ser utilizadas como produtos. Essa aplicação ganhou destaque na
década de 1970, quando o uso de fosfato em produtos para lavagens de roupa estava poluindo
o ambiente. Para solucionar esse problema, as indústrias desenvolveram processos para
produzir em larga escala enzimas que substituíssem o uso do fosfato, pois produtos de base
biológica são menos poluentes para o ambiente.

Algumas enzimas são produzidas em grande quantidade nos biorreatores pelo crescimento do
microrganismos, capazes de sintetizá-las. Ao final do processo, essa enzima é extraída para
que seja aplicada em algum produto. Além disso, é possível adicionar o gene para uma enzima
de interesse no microrganismo e fazer com que este passe a produzir a enzima. Apesar de
conseguimos tirar enzimas de qualquer tipo de fonte celular, como vegetais ou animais, os
microrganismos são os mais utilizados devido ao seu rápido crescimento, à produção em larga
escala nos biorreatores e às fontes de energia mais baratas.

Essas enzimas são utilizadas na indústria de alimentos para a produção de queijo e suco; têxtil,
para a produção de roupas; na indústria de papel e na indústria farmacêutica, com diferentes
aplicabilidades, até mesmo para a formulação dos cosméticos aplicados na estética.

Para conhecer mais sobre as enzimas utilizadas, não deixe de visitar o Explore+! Vale a pena a
visita!

PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEL

A Biotecnologia Industrial também se preocupa com o uso de fontes de energias renováveis.


Atualmente, a fonte de energia mundial são os recursos não renováveis derivados do carbono
fóssil, como petróleo, carvão e gás natural. Essas fontes são limitadas; estima-se que, ainda
neste século, ocorra uma possível escassez destes recursos, que são altamente poluentes,
agravando o efeito estufa pela produção de CO2, NO x, SO2, entre outros.
Uma solução para esse problema está no uso e desenvolvimento dos biocombustíveis, que são
fontes de energia alternativas e renováveis, geradas a partir da biomassa, ou seja, de material
orgânico de origem vegetal ou animal.

Os principais biocombustíveis incluem:

Biogás.

Etanol.

Biodiesel.

O biogás é obtido a partir da decomposição anaeróbica da matéria orgânica vegetal ou animal,


do esgoto doméstico ou industrial ou de efluentes industriais diversos, por meio de um
processo de fermentação. Durante esse processo, há a formação do metano e do dióxido de
carbono, principalmente e em menor quantidade, de hidrogênio, nitrogênio, amônia, ácido
sulfídrico, monóxido de carbono, aminas voláteis e oxigênio. Entretanto, a produção desses
gases varia de acordo com a origem da biomassa.

O processo de produção de biogás ocorre nos biorreatores ou biodigestores e são compostos


por três etapas. São elas:

HIDRÓLISE
FERMENTAÇÃO
METANOGÊNESE
Ocorre a solubilização do material a ser utilizado no processo. Nesta primeira etapa, os
constituintes orgânicos são quebrados em compostos mais simples e solúveis.

Os microrganismos consomem o material orgânico sem o uso de oxigênio, por reações


químicas anaeróbicas a partir da fermentação. Os produtos da fermentação vão ser o lodo,
parte sólida, que pode ser utilizada como biofertilizante, e produtos como acetato, hidrogênio,
CO2, propianato e butirato.

Nesta etapa, são utilizados microrganismos chamados de metanógenos, que vão utilizar os
produtos (acetato, hidrogênio e CO2) obtidos na etapa de fermentação para produzir o metano,

o biogás que pode ser empregado como fonte de energia (Figura 12).
 Figura 12: Produção de Biogás a partir de resíduos animais.

O uso de biogás gera menos poluentes para o ambiente, reduz o desmatamento, a economia
com os trabalhadores e ajuda na eliminação de dejetos de animais e humanos.

A produção de etanol, também conhecido como álcool, faz parte dos biocombustíveis por
utilizar fontes renováveis para sua geração e poluir menos o ambiente. O etanol é um líquido,
transparente, volátil e combustível, cuja fórmula química é CH 3CH2OH. Dependendo do teor

de água no etanol, podemos ter o etanol anidro, teor de 0,5%, e o etanol hidratado, teor de 5%.
Além de ser utilizado para produção de bebidas, produtos farmacêuticos, perfumaria e como
antisséptico para eliminação de microrganismos, também pode ser empregado como
combustível ou aditivo, onde cerca de 25% da gasolina é composta por álcool anidro.

As principais fontes para produção de etanol incluem:

Cana-de-açúcar.

Milho.

Aveia.

Arroz.

Cevada.

Trigo.

Outras fontes têm sido pesquisadas. O Brasil é o maior produtor de etanol usando cana-de-
açúcar, que até o momento tem se mostrado a fonte de melhor rendimento. Por ser derivado de
vegetais, é uma fonte renovável e menos poluente que o petróleo; seu processo de produção
envolve a fermentação alcoólica.
 Produção de etanol por meio da fermentação da cana-de-açúcar, milho e celulose.

COMO OCORRE A PRODUÇÃO DE ETANOL?

Inicialmente, a cana sofre um processo de moagem, gerando o caldo de cana, que é


posteriormente aquecido, para gerar o melaço. Ao melaço, são adicionados os microrganismos
fermentadores, normalmente a levedura Saccharomyces, que utilizam o açúcar da cana, a
sacarose, para obter energia e como produto o etanol e CO2. Após a fermentação, é realizada

a destilação do mosto fermentado, com o objetivo de separar o etanol. No processo de


destilação, o mosto fermentado é aquecido, e o álcool é evaporado e, depois, refrigerado para
que seja condensado, e o etanol, separado. O teor de etanol é de 96% e 4% de água. Todo o
processo de fermentação acontece no biorreator ou em tanques de fermentação.

O diesel ou óleo diesel é um combustivo obtido da destilação do petróleo e usado para


motores a diesel, principalmente em veículos que precisam de elevada potência, como os
ônibus, caminhões de grande porte, tratores, na mineração e dragagem. Além de utilizar um
recurso não renovável para sua produção, ainda contribui para o efeito estufa, liberando grande
quantidade de gás carbônico, oxido de nitrogênio, enxofre, fuligem, entre outros gases.
 Fábrica de biodiesel.

O substituinte do diesel tem sido o biodiesel, cuja produção é derivada de óleos vegetais e
gordura animal, com baixos índices de poluição. Os vegetais oleaginosos, aqueles ricos em
óleos e gorduras, como girassol, amendoim, mamona, soja, milho, palma, algodão, entre
outros, são a matéria-prima vegetal para produção de biodiesel, além de carcaças de animais.
Óleos gordurosos de frituras também podem ser utilizados.

PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL

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2
3
4
5
A primeira etapa da sua produção envolve a obtenção do óleo puro e a eliminação do máximo
de água desse material.

O óleo e a gordura obtidos são ricos em ácidos graxos, em sua maioria formando os
triglicerídeos (uma glicerina mais três ácidos graxos).
Ocorre uma reação de transesterificação, com a separação da glicerina dos ácidos graxos.

A glicerina é removida e pode ser utilizada pela indústria de cosméticos, por exemplo.

Os ácidos graxos separados são colocados em contato com um álcool de cadeia curta, como
etanol ou metanol, o que leva a uma reação de esterificação, ou seja, o ácido carboxílico,
presente no ácido graxo, reage com o álcool, produzindo éster e água, originando, assim, o
biodiesel.

Todo esse processo acontece na usina usando reatores. O biodiesel é misturado com diesel
comum e segue para consumo – cerca de 12% do diesel é composto pelo biodiesel.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A biotecnologia tem aberto novas oportunidades e formas de se fazer e ser. É notório que o
avanço científico tem impulsionado cada vez mais o uso de tecnológicas com bases biológicas.

Ao longo deste tema, vimos que o uso de transgênicos vegetais e animais podem ser
produzidos para atender à necessidade das empresas e da população. Promessas como os
xenotransplantes e plantas que sejam capazes de imunizar um indivíduo estão em
desenvolvimento neste exato momento. O uso de enzimas obtidas de plantas ou
microrganismos tem acelerado processos industriais e diminuído o impacto ambiental. A
Biotecnologia Ambiental e Industrial tem proposto novas formas de produção mais eficientes e
menos poluentes. A biotecnologia é uma área em constante avanço, e, a cada ano, um novo
produto biotecnológico é lançado e diversos outros estudados. Bem-vindos ao futuro!
 PODCAST

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ALVES, J. E. D. A revisão 2019 das projeções populacionais da ONU para o século XXI.
Consultado em meio eletrônico em: 4 dez. 2020.

COSTA NETO, P. R. et al. Produção de biocombustível alternativo ao óleo diesel através da


transesterificação de óleo de soja usado em frituras. Quím. Nova vol.23 n.4 São Paulo, 2000.

LEITE, C. C. R.; LEAL, M. R. L. V. O biocombustível no Brasil. Novos estudos. CEBRAP N°.


78. São Paulo (2007).

MONQUERO, P. A. Plantas transgênicas resistentes aos herbicidas: situação e


perspectivas. Bragantia. vol. 64 nº. 4. Campinas, 2005.

REVISTA PROCESSOS QUÍMICOS. Aplicações Industriais da Biotecnologia Enzimática.


Revista científica da Faculdade de Tecnologia SENAI Roberto Mange. Ano 3, nº 5, 2009.
Consultado em meio eletrônico em: 4 dez. 2020.

PEREIRA JR., N. Tecnologia de Bioprocessos. Séries em Biotecnologia, v. 1. Escola de


Química/UFRJ, 2008.

PERES et al. Biocombustíveis: uma oportunidade para o agronegócio brasileiro. Revista de


Política Agrícola, 2005.
QUISEN, R. C.; ANGELO, P. C. S. Manual de Procedimentos do Laboratório de Cultura de
Tecidos da Embrapa Amazônia Ocidental. 1. ed. EMBRAPA, 2008.

ROCHA, D. R.; MARIN, V. A. Transgênicos - Plantas Produtoras de Fármacos (PPF). Ciênc.


saúde coletiva, vol. 16, N°. 7. Rio de Janeiro, 2011.

RUMPF, R.; MELO, O. E. Produção de animais transgênicos: Metodologias e Aplicações.


Distrito Federal, 2005.

EXPLORE+

Para saber mais sobre as leis de biossegurança acerca dos transgênicos, você pode
acessar o site da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).

Para entender como identificar um transgênico, assista ao vídeo Como identificar um


alimento transgênico.

Para conhecer um pouco mais sobre a produção do milho, assista Prática agropecuária -
Produção do Milho BT.

Recomendamos também o conteúdo sobre biotecnologia disposto no Khan Academy.

Apreendemos sobre as aplicações da Biotecnologia Animal. Para conhecer um pouco


mais sobre as proteínas produzidas a partir dessa tecnologia, leia o material Exemplos
de proteínas produzidas em animais transgênicos.

Para explorar mais sobre as enzimas utilizadas na Biotecnologia Vegetal, leia As


enzimas utilizadas na Biotecnologia Industrial.

Por fim, para conhecer alguns exemplos de produtos vegetais transgênicos, leia
Exemplos de produtos comercializados transgênicos.
CONTEUDISTA
IVSON CASSIANO DE OLIVEIRA SANTOS

 CURRÍCULO LATTES

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