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Fichas de ampliação

Ficha de ampliação B3 – Edição genética – CRISPR-Cas9

Nome: N.° Turma:

Data: Professor:

Domínio: Crescimento, renovação e diferenciação celular


Capítulo: Expressão da informação genética
Aprendizagem Essencial por domínio: Explicar processos de replicação, transcrição e tradução
e realizar trabalhos práticos que envolvam leitura do código genético

Tal como os humanos, também as bactérias podem ser infetadas por vírus. O seu sistema
CRISPR-Cas9 constitui um mecanismo imunológico adaptativo que lhes permite memorizar sequên-
cias específicas de DNA viral e lutarem contra uma reinfeção.
O termo CRISPR designa uma série de curtas sequências repetidas e interespaçadas de DNA
bacteriano, junto às quais o DNA viral é incorporado (fig. 1A). Se os vírus atacarem novamente as
bactérias, essas sequências são transcritas, originando fragmentos de RNA (crRNA) que se ligam à
enzima Cas, que funciona como um tesoura molecular. Dessa forma, as sequências de RNA atuam
como um guia que orienta a enzima Cas para o DNA invasor, promovendo o seu corte (fig. 1B e C).
Devido à forma como as bactérias se reproduzem, as sequências CRISPR são hereditárias, o que
significa que as bactérias beneficiam da proteção contra os vírus que infetaram os seus ancestrais.

Figura 1. Ação do CRISPR-Cas9, um mecanismo de defesa de bactérias do género


Streptococcus.
Fichas de ampliação de Biologia

Esta capacidade de a Cas9 identificar o


seu alvo, usando um único RNA-guia com
especificidade para uma dada sequência de Sequência
alvo
DNA, é responsável pelo sucesso do CRISPR- crRNA
-Cas9 como ferramenta de edição de genes.
Dessa forma, o processo é iniciado com a sín-
sgRNA
tese artificial de uma sequência de RNA-guia
(sgRNA), que corresponde à sequência de
DNA onde o corte deve ser feito. A proteína-
-tesoura, Cas9, forma um complexo com o
sgRNA, sendo, assim, direcionada para o
local preciso onde será feito o corte (fig. 2).
Dessa forma, o sgRNA pode ser programado
no laboratório para atingir um local específico
do genoma de qualquer ser vivo, cortando o
DNA e permitindo a inserção, o bloqueio ou a
reparação específica de um gene.
O conhecimento do CRISPR-Cas9 resulta
do trabalho de Emmanuelle Charpentier e
Jennifer Doudna, que dividiram o Prémio Sequência
alterada
Nobel de Química de 2020. Estas investiga-

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doras estudaram detalhadamente o sistema Figura 2. Edição genética através do uso do CRISPR-Cas9.
CRISPR-Cas9 de Streptococcus pyogenes,
descobrindo o mecanismo exato que a bactéria emprega para escapar dos vírus. Para além disso,
criaram sequências de RNA-guia programadas para atingirem um gene específico em cinco lugares
diferentes, verificando que o CRISPR-Cas9 foi capaz de cortar o DNA nesses lugares exatos. Mos-
traram, assim, que o sistema CRISPR-Cas9 pode ser usado com precisão na edição de genes,
programando, simplesmente a sequência que a Cas9 deverá cortar.
As descobertas feitas por Charpentier e Doudna fortaleceram a possibilidade de usar o CRISPR-
-Cas9 para tratar doenças genéticas na sua raiz, desativando ou corrigindo genes problemáticos.
Essas doenças incluem distúrbios hereditários, mas também doenças causadas por mutações
genéticas que acontecem ao longo da vida, como o cancro, ou algumas infeções virais, incluindo
HIV. Em 2019 foi feito o primeiro ensaio clínico para tentar a edição de genes dentro do corpo, em
vez de in vitro, visando tratar um tipo de cegueira hereditária. A técnica CRISPR-Cas9 tem sido
usada para tornar as culturas básicas mais resistentes à seca e aos agentes patogénicos, podendo
desempenhar um papel significativo nas melhorias da segurança e qualidade alimentar, especial-
mente à luz das mudanças climáticas.
Apesar dos resultados animadores, a edição do genoma de humanos precisa de ser estudado
com a máxima cautela, para garantir que não haja efeitos prejudiciais ou “fora do alvo”. Além disso,
é um assunto que levanta muitas questões éticas, tendo em conta o seu potencial para a alteração
das características dos organismos.

1. Indique o mecanismo que permite às bactérias receberem de células progenitoras a informação


genética que lhes permite destruir o DNA viral.
2. Refira a razão da cautela no uso desta ferramenta de edição genética no ser humano, tendo em
conta a possibilidade da sua ação “fora do alvo”.
3. Investigue e discuta as possíveis implicações éticas da aplicação desta técnica em embriões
humanos.

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