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FUNDAMENTOS DE BIOMEDICINA II

Prof.ª Ma. Letícia Santos Pimentel


Prof. Dr. Romualdo Morandi Filho
Prof. Guilherme Bernardes Filho
Diretor Presidente
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes
Diretor Tesoureiro
Prof. Frederico Ribeiro Simões
Reitor

UNISEPE – EaD

Prof. Me. Fernando Henrique Ignácio Dos Santos

Coordenador EaD de área

Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz

Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD)

Material Didático – EaD

Equipe editorial:
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395
Isis Gabriel Alves
Laura Lemmi Di Natale
Pedro Ken-Iti Torres Omuro
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável

Apoio técnico:
Alexandre Meanda Neves
Anderson Francisco de Oliveira
Douglas Panta dos Santos Galdino
Fabiano de Oliveira Albers
Gustavo Batista Bardusco
Kelvin Komatsu de Andrade
Matheus Eduardo Souza Pedroso
Vinícius Capela de Souza

Revisão: Isabela da Silva Pery, Vinícius Guimarães Rodrigues, Telma Lobo Dias

Diagramação:
Felipe Motta Miguel, Nikolas Fellipe de Morais
SOBRE OS AUTORES

Prof.ª Ma. Letícia Santos Pimentel

Formada em Biomedicina pela Universidade Federal de Uberlândia em 2015, Mestre em


Genética e Bioquímica em 2018 e, atualmente doutoranda em Genética e Bioquímica
também pela Universidade Federal de Uberlândia.
Tem experiência em pesquisa na área de nanobiotecnologia aplicada a vacinas e sistemas
de entrega de drogas.

Prof. Dr. Romualdo Morandi Filho

Formado em Biomedicina pela Universidade Presidente Antônio Carlos em 2010 e em


Farmácia pela Universidade do Triângulo em 2011. Especialista em Docência do Ensino
Superior, Médio e Técnico pelo Instituto Passo 1. Mestre em Biologia Celular e Estrutural
Aplicadas e Doutor em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia em
2019.
Já atuou em laboratório de análises clínicas e drogarias. E desde 2014 trabalha como
docente no ensino superior, principalmente nos cursos de biomedicina e farmácia.

SOBRE A DISCIPLINA

A disciplina de Fundamentos de Biomedicina II proporciona conhecimento sobre algumas


das áreas de atuação do biomédico no Brasil e possibilita a formação da opinião crítica sobre
a formação acadêmica, o perfil profissional, os campos de atuação, o mercado de trabalho
e as perspectivas da profissão do biomédico.
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem
e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
Sumário

UNIDADE I .................................................................................................... 05

1º Bioética ...................................................................................... 05
2º Biotecnologia ............................................................................. 16
3º Epidemiologia ............................................................................ 30
4º Biomedicina Estética ................................................................. 44

UNIDADE II .................................................................................................. 56

5º Diagnóstico por imagem .............................................................56


6º Análises Bromatológicas ........................................................... 72
7º Toxicologia ................................................................................ 84
8º Reprodução Humana Assistida ................................................. 99

UNIDADE III ............................................................................................... 112

9º Perfusão Extracorpórea .......................................................... 112


10º Citologia ................................................................................ 124
11º Fisiologia do Esporte e da Prática do Exercício Físico ......... 137
12º Perícia Criminal ..................................................................... 150
UNIDADE I
CAPÍTULO 1 – BIOÉTICA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Ética x Moral;
✓ Conceito de Bioética;
✓ Fundamentação;
✓ Princípios básicos;
✓ Alguns dilemas bioéticos;
✓ Código de ética profissional.

Introdução
A bioética é um campo que estabelece uma ponte entre o conhecimento científico e o conhecimento
humanístico com o objetivo de auxiliar o enfrentamento de questões bioéticas e evitar que o avanço
das tecnologias não tenha impactos negativos sobre a vida humana e animal.

A fundamentação e os princípios da bioética devem ficar bem claros para todos nós para que
cumpram seus papéis, nos orientando em situações de enfrentamento e tomada de decisões quanto
a questões bioéticas. A bioética não impõe regras de comportamento, o que o faz são as leis. A
bioética oferece subsídios para que as pessoas tenham embasamento para refletir, se comportar e
tomar decisões em relação às diversas situações conflitantes que podem surgir na vida profissional.

Neste capítulo, nós iremos estudar a fundamentação da bioética, bem como seus princípios básicos.
Além disso, discutiremos acerca de alguns dilemas éticos em biotecnologia.

Os princípios da bioética possuem uma hierarquia e devem ser respeitados quanto a essa hierarquia. O
princípio da beneficência/não maleficência deve ser considerado em primeiro lugar, seguido do princípio da
autonomia e do princípio da justiça.

1.1 Ética x moral

Ética e moral são dois termos confundidos com frequência e é fundamental que saibamos diferenciá-
los. Para isso, devemos entender, em primeiro lugar, a raiz etimológica dessas palavras. Ética vem
do grego “ethos”, que significa modo de ser, caráter. Já moral tem origem latina de “mores”, que
significa costumes. Os termos são muito semelhantes e ambos estão relacionados à conduta da
pessoa.

Entretanto, a ética está voltada para as ações e o comportamento da pessoa de acordo com os
valores morais, classificando essas ações como certas ou erradas, independente das práticas
culturais. Podemos dizer que a ética é a reflexão filosófica sobre a moral, possuindo caráter teórico.
Por outro lado, a moral corresponde aos hábitos, os costumes, as crenças e os tabus estabelecidos

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em uma sociedade, possuindo caráter prático. Sendo assim, podemos afirmar que a ética está
relacionada à questão individual, enquanto a moral está relacionada com questões coletivas.

1.2 Conceito de bioética

A bioética surgiu no início da década de 1970 com a publicação de duas obras importantes pelo
pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia Van Rensselaer Potter. Van Potter,
preocupado com as implicações que os avanços da ciência poderiam trazer, principalmente no
âmbito da biotecnologia, propôs um novo campo do conhecimento. Esse novo campo seria
responsável por auxiliar e ajudar nas discussões quanto a possíveis implicações, sendo positivas ou
negativas, dos avanços da ciência sobre a vida humana e animal. Para que isso fosse possível,
sugeriu o estabelecimento da associação entre a ciência e a humanística, acrescentando: “Nem tudo
que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.

O termo bioética vem do grego “bio”, que significa vida, e “ethos”, que significa ética, e é definido
como o estudo interdisciplinar que integra biologia, filosofia (ética) e direito sobre condições
necessárias para a vida humana e animal adequadas, aplicando a ética à vida. Em outras palavras,
a bioética indica limites para a intervenção do homem sobre a vida, considerando os impactos que a
tecnologia pode ter sobre ela.

A bioética considera questões sociais que não possuem consenso moral, como a fertilização in
vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e as pesquisas com células-tronco. Além
disso, considera a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e aplicações, visto que
o emprego de descobertas científicas pode afetar positiva ou negativamente a sociedade e o
ambiente. A base da bioética consiste no respeito ao pluralismo moral, valorizando o desejo livre,
soberano e consciente dos indivíduos e da sociedade, desde que a liberdade e os direitos de outros
indivíduos e outras sociedades são sejam invalidados.

O avanço da ciência e os produtos que dele advém não devem ser vistos como um mal, entretanto o emprego
desses produtos deve ser pautado na ética.

1.3 Fundamentação

A importância do fundamento ético pode ser comparada à estrutura de um prédio: se a


estrutura não for feita de forma correta, o prédio desaba. Da mesma forma, se o fundamento
não estiver bem compreendido, não enfrentamos de maneira adequada os desafios éticos
que possam surgir. O fundamento ético é a base para a nossa tomada de decisão, ou seja,
é o que nos orienta nos momentos de decisão.
Um dos fundamentos importantes é o respeito pelo valor da pessoa humana. Nós conhecemos
bem a pessoa humana, visto que somos humanos. Entretanto, existem alguns conceitos na realidade
da pessoa dos quais devemos sempre nos lembrar durante o enfrentamento de questões bioéticas:

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➢ A pessoa humana é única. Cada indivíduo é diferente um do outro e possui suas
características, seus anseios, suas necessidades.

➢ A pessoa humana possui dignidade. O indivíduo possui valor pelo simples fato de ser
pessoa.

➢ A pessoa humana possui diversas dimensões. Devemos sempre considerar a dimensão


biológica, a dimensão psicológica, a dimensão social ou moral e a dimensão espiritual.
Todas a dimensões unidas compõem a pessoa, por isso devemos considerar a pessoa
como uma totalidade.

Essa identidade única merece e deve ser respeitada. Dessa forma, as pessoas não serão tratadas
apenas como números. Entretanto, nenhuma pessoa é melhor que a outra e, por isso, não deve ser
tratada como tal. A vida de uma pessoa não vale mais que a vida de outra e, quanto à dignidade,
somos todos iguais. Além disso, devemos nos relacionar a uma pessoa respeitando-a em todas as
suas dimensões, caso contrário ela se sentirá desrespeitada.

Reflexões, decisões e ações diante das pessoas devem ser guiadas pelo respeito à pessoa humana
como um ser único dotado de dignidade que é uma totalidade. Quando agimos considerando e
respeitando esse fundamento, estamos agindo de forma ética.

Outra definição importante é a da vida humana. Segundo o campo da Embriologia, a vida humana
inicia-se no momento da fecundação, quando há a junção do gameta masculino e do gameta
feminino. Sendo assim, a partir desse momento essa nova vida deverá ser respeitada. Além disso,
precisamos considerar que a vida é um processo que pode ser:

➢ Contínuo: é ininterrupto na sua duração. A duração da vida possui sucessivos fenômenos


integrados e não existe interrupção. Se houver interrupção, haverá a morte.

➢ Coordenado: as etapas de seu desenvolvimento são gerenciadas e determinadas pelo


código genético do próprio embrião. Esse código genético único determina as atividades
moleculares e celulares, conferindo a cada indivíduo uma identidade genética singular.

➢ Progressivo: o processo da vida em formação possui gradualidade, onde o desenvolvimen-


to ganha nível de complexidade cada vez maior.

Infelizmente, o valor da vida de algumas pessoas não foi respeitado em diferentes épocas da história
e, atualmente, em muitos casos, ainda não é. Alguns exemplos: os escravizados no Brasil e atual
consequente discriminação dos afrodescendentes; os prisioneiros nos campos de concentração na
2ª Guerra Mundial; os pacientes com necessidades especiais (como portadores do vírus HIV); as
mulheres e os pobres em diversas sociedades (incluindo a nossa), etc.

1.4 Princípios básicos


A compreensão de alguns princípios básicos da bioética é de grande importância no estudo e no
processo de decisão quanto aos diversos temas dentro da Bioética. Esses princípios foram propostos
pela primeira vez em 1978 no Relatório Belmont, com o objetivo de orientar as pesquisas com seres
humanos. Em 1979, Beauchamps e Childress publicaram a obra Principles of biomedical ethics, onde
aplicam esses princípios básicos na prática médica.

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O primeiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de beneficência/não maleficência,
também conhecido como benefício/não malefício. Beneficência significa fazer o bem e não
maleficência significa evitar o mal. Sendo assim, quando um determinado procedimento for proposto
a uma pessoa, o profissional (médico, cientista, etc.) deverá considerar a pessoa como um ser único
dotado de dignidade em sua totalidade, visando sempre oferecer o melhor procedimento disponível.
O melhor procedimento é definido quanto à técnica e quanto ao reconhecimento das necessidades
físicas, psicológicas ou sociais da pessoa. O profissional deve sempre desejar o melhor para a
pessoa humana, visando sempre restabelecer e promover sua saúde ou prevenir um agravo.

O segundo princípio a ser considerado no enfrentamento de questões éticas é o da autonomia. A


autonomia é a capacidade de autodeterminação que uma pessoa possui, o quanto ela é capaz de
coordenar sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas. Cada pessoa possui liberdade
de decidir questões que afetem sua vida, sua saúde, sua integridade físico-psíquica e suas relações
sociais.

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas e determinou que as pessoas são livres. Para que a autonomia das pessoas seja
respeitada, existem duas condições fundamentais: a liberdade e a informação. Isso significa que a
pessoa deve ser livre para fazer suas decisões sem pressões externas. Qualquer tipo de pressão ou
subordinação impede que a autonomia da pessoa seja respeitada.

Entretanto, alguns grupos de pessoas possuem dificuldade de expressar sua liberdade, elas
possuem autonomia limitada. As crianças são um exemplo claro. Crianças possuem dificuldade de
decidir o que é melhor para a sua própria saúde, apresentando grande tendência em fugir de
qualquer procedimento que pareça desconfortável. Por esse motivo, são os responsáveis pela
criança que fazem as decisões por ela. Pacientes atendidos em clínicas públicas também podem
manifestar autonomia limitada, principalmente quando há fila de espera para o atendimento. A
pessoa geralmente tem medo de reclamar de alguma coisa e perder a vaga que levou tempo para
conseguir. A autonomia limitada também pode ser identificada em alguns casos de pesquisas
realizadas em países subdesenvolvidos. A população desses países (incluindo a do Brasil) são
consideradas vulneráveis.

Em alguns casos, a autonomia limitada pode ser atenuada com o fornecimento de informação
correta às pessoas, restabelecendo uma relação adequada e respeitosa com a pessoa. O
profissional deve explicar de forma clara a proposta de procedimento e confirmar o entendimento
das informações por parte do indivíduo. Esse processo de informação, compreensão e posterior
comprometimento com o procedimento é chamado de consentimento.

Nem sempre a pessoa terá condições de tomar decisões quanto ao tratamento proposto, como quando, por
exemplo, ela é leiga, ou seja, não tem conhecimento técnico sobre o procedimento. Alguns pacientes decidem
por recusar o tratamento prescrito para uma doença. Nesse caso, o profissional não pode simplesmente afirmar
que “o paciente é adulto, possui autonomia e faz o que ele quiser”.

O profissional, que possui conhecimento técnico e sabe que o tratamento é necessário, tem a responsabilidade
de se esforçar ao máximo para que o paciente entenda a importância do tratamento. O princípio da
beneficência deve ser respeitado em primeiro lugar, depois o princípio da autonomia.

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Em alguns casos, a autonomia de algumas pessoas não é respeitada para que o benefício de outras
seja respeitado. Um exemplo claro é a proibição de fumar em ambientes fechados. Nesse caso, a
autonomia daqueles que desejam fumar não é respeitada para que o benefício (ou não malefício)
daqueles que não desejam fumar seja respeitado.

O terceiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de justiça. Diferentes pessoas


devem ser tratadas de forma igual e justa. Devemos respeitar com imparcialidade o direito de cada
um. Além disso, precisamos considerar o conceito equidade: cada pessoa deve receber o que lhe é
devido segundo suas necessidades. Em outras palavras, é preciso entender que as pessoas são
diferentes e possuem diferentes necessidades.

Os três princípios possuem uma hierarquia entre eles e devem sempre ser considerados na ordem
em que foram apresentados aqui. Dessa forma, diante de uma questão bioética, a decisão deve ser
tomada considerando o primeiro fundamento, ou seja, o reconhecimento do valor da pessoa. Em
seguida, devemos decidir por fazer o bem para aquela pessoa, evitando um mal, depois, precisamos
respeitar sua autonomia de escolha, e, por fim, devemos ser justos.

1.5 Alguns dilemas bioéticos

No âmbito da biotecnologia, a maior preocupação da população é a aplicação de tecnologias


genéticas. O sucesso de estudos na área da engenharia genética torna a manipulação genética
cada vez mais a nossa realidade, sendo capaz de prevenir e curar doenças. A possibilidade de isolar
e clonar diferentes genes para a substituição de genes defeituosos coloca essas tecnologias como
questões a serem discutidas pela bioética. Não podemos ignorar o perigo que o uso descontrolado
dessas técnicas pode trazer.

O genoma humano é uma propriedade inalienável da pessoa humana. O genoma determina as


características do corpo e, assim, o pertence. Portanto, o genoma pertence à pessoa e a caracteriza.
O genoma humano possui valor e comporta a dignidade da pessoa humana como indivíduo único e
a dignidade da espécie humana como um todo. O genoma humano, mesmo considerado ora
individual ora coletivo, deve ser respeitado e protegido. Cada pessoa, em exercício de sua
autonomia, pode e deve tomar decisões a respeito da informação do seu próprio genoma. Em outras
palavras, ela é responsável pela tomada de decisões quanto a intervenções genéticas terapêuticas
e aperfeiçoadoras. Entretanto, a pessoa pode decidir apenas no que se refere às células somáticas.

Intervenções em células germinativas são transmitidas a seus descendentes e, por esse motivo,
ultrapassa os limites da autonomia pessoal. Além disso, a manipulação do genoma de células
germinativas como uma intervenção aperfeiçoadora, que meramente atende aos caprichos da
pessoa proprietária da célula, pode gerar danos irreparáveis para as gerações futuras. A terapia
gênica em células germinativas envolve riscos imprevisíveis a longo prazo tanto para a pessoa
proprietária das células como seus descendentes, dificultando sua justificação.

Devemos também considerar o princípio da beneficência/não maleficência na tomada de decisões


quanto à manipulação do genoma humano. Sendo assim, beneficência seria o dever de melhorar os
nossos semelhantes e não-maleficência seria o dever de não causar dano aos outros. Dessa forma,
a intervenção terapêutica e aperfeiçoadora em células somáticas é encorajada, ao contrário da
intervenção em células germinativas, a qual não é recomendada em nenhuma das duas formas.

O emprego de algumas técnicas na reprodução assistida também traz grande preocupação quanto
à bioética dessas atividades. No Brasil, em 1992, o Conselho Federal de Medicina (CFM), através

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da Resolução CFM 1358/92, instituiu as Normas Éticas para a Utilização das Técnicas de
Reprodução Assistida. Dessa forma, foram definidos os aspectos éticos mais importantes quanto às
seguintes questões de reprodução humana: o consentimento informado, a seleção de sexo, a
seleção de embriões com base na evidência de doenças ou problemas associados, a doação de
gametas e embriões, a criopreservação de gametas e embriões, a gestação substitutiva, a
reprodução assistida post-mortem e a pesquisa com embriões. Todas as normas éticas definidas
pelo CFM consideram os princípios de autonomia, de beneficência/não-maleficência e de justiça
da bioética.

A partir da implementação dessas normas, torna-se obrigatório o consentimento livre e esclarecido


a partir da exposição detalhada dos procedimentos propostos para a reprodução assistida,
respeitando o direito de autonomia do casal. Nenhum procedimento pode ser aplicado com a
intenção de selecionar o sexo do embrião ou qualquer outra característica biológica da futura criança,
sendo permitida somente a seleção de embriões a fim de evitar doenças genéticas. A doação de
gametas e embriões é permitida desde que não possua caráter lucrativo ou comercial. Além disso,
deve haver sigilo sobre a identidade dos doadores, bem como dos receptores. A criopreservação de
gametas e embriões é permitida e, antes do procedimento, o casal deve manifestar previamente e
por escrito sua decisão sobre o destino dos embriões crio preservados em situações adversas: em
caso de divórcio ou dissolução de união estável, doenças graves ou falecimento de um deles ou de
ambos e quando desejam realizar doação. A doação de embriões para pesquisa é permitida, porém
não é obrigatória. A gestação de substituição (popularmente conhecida como barriga de aluguel) é
permitida, porém não poderá ter caráter lucrativo ou comercial. A reprodução assistida post-mortem
é permitida desde que a pessoa falecida tenha autorizado previamente o uso do seu material
biológico crio preservado.

Quanto à clonagem, no Brasil apenas a clonagem animal é permitida. A lei nº 8.974 proíbe a
clonagem humana, assim como a produção, o armazenamento e a manipulação de embriões
humanos destinados a esse procedimento. Além da redução da diversidade genética, a clonagem
humana não respeita a autonomia do embrião e futura pessoa. Apesar de gêmeos univitelinos serem
considerados clones, visto que são geneticamente idênticos, esses indivíduos dividem uma
identidade genética determinada ao acaso. Ao contrário da identidade genética do clone produzido
em laboratório, que seria escolhida pela pessoa doadora do DNA, anulando a autonomia do indivíduo
gerado. Além disso, há grande risco de indivíduos mal-intencionados buscarem a eugenia, ou seja,
o aperfeiçoamento da raça pela seleção genética.

O profissional de saúde envolvido com os procedimentos da reprodução humana assistida deve agir
eticamente, respeitando a autonomia e o direito reprodutivo dos casais, assim como não desrespeitar
o embrião e preocupar-se com os interesses da criança.

Investigue os aspectos éticos relacionados aos transgênicos.

A experimentação animal é outra atividade que possui muitas preocupações bioéticas. As questões
bioéticas dessa atividade estão no conflito entre justificativas para o uso de animais em benefício da
humanidade e a ação de não causar dor e sofrimento aos animais. Por muito anos, animais foram

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utilizados na alimentação, no esporte, no lazer, na religião e no transporte, e seu bem-estar foi
negligenciado.

Em 1959, dois cientistas ingleses, Russel e Burch, propuseram o Princípio Humanitário da


Experimentação Animal: Replacement, Reduction e Refinement. Atualmente, é conhecido como
Princípio dos 3Rs:

➢ Replacement é traduzido como substituição e determina que, sempre que possível,


devemos utilizar formas alternativas ao uso de animais, como modelos de computacionais,
cultura de células, cultura de tecidos, e outros materiais biológicos. Além disso, mamíferos
devem ser substituídos por animais que possuem sistema nervoso menos desenvolvido,
como roedores, insetos, peixes, etc.

➢ Reduction é traduzido como redução e determina que, quando indispensável o uso de


animais, o número utilizado seja o menor possível, porém suficiente para que nos forneça
resultados significativamente estatísticos.

➢ Refinement é traduzido como refinamento ou aprimoramento e determina que sejam


utilizadas, sempre que possível, técnicas menos invasivas e que as técnicas sempre sejam
realizadas por pessoas treinadas. Dessa forma, o sofrimento animal é amenizado e o
conforto é proporcionado durante a execução dos experimentos.

No Brasil, a lei federal n°11.994 de 2008, conhecida como lei Arouca, regulamentou as Comissões
de Ética para o Uso de Animais (CEUAs) e criou o Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA). O decreto nº 6.899/2009 regulamentou a lei Arouca e criou o
Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais (CIUCA). Para que uma instituição seja
legalmente estabelecida em território nacional, é exigido que ela possua ou esteja vinculada a uma
CEUA.

A CEUA é composta por cidadãos de notório saber responsáveis por revisar e analisar o teor ético e
legal de todo e qualquer protocolo experimental proposto para atividade cientifica ou educacional que
envolva a utilização de animais vivos não-humanos e busque compatibilidade com a legislação.

O CONCEA é um órgão multidisciplinar integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia responsável


por estabelecer as normas relacionadas à utilização humanitária de animais em atividades de ensino
e pesquisa científica, bem como determinar procedimentos para instalação e funcionamento de
centros de criação, de biotérios e de laboratórios de experimentação animal. Além disso, o CONCEA
é responsável pelo credenciamento das instituições que desenvolvam atividades com
experimentação animal e por administrar o cadastro de protocolos experimentais.

O não cumprimento das normas impostas pelo CONCEA resulta em penalidades que podem variar
entre advertências, multas e interdições. O uso de modelos animais, infelizmente, é indispensável
em atividades científicas em virtude da complexidade dos organismos biológicos. Além disso, não
podemos negar a importância de modelos animais no progresso da saúde pública animal e humana.

Dessa forma, atividades científicas que exigem a utilização de animais devem ser realizadas
baseadas em princípios bioéticos, minimizando a dor e o sofrimento animal. Atualmente, grande parte
dos cientistas envolvidos com experimentação animal demonstra respeito pela vida animal e
preocupação em conduzir seus experimentos da melhor forma possível, evitando causar dor e
sofrimento aos animais e seguindo os princípios éticos da experimentação animal.

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1.6 Código de ética profissional
A ética profissional orienta os profissionais ao cumprimento de todas as atividades de sua profissão
de forma ética e responsável. Cada profissão possui seu próprio código de ética. Alguns elementos
da ética profissional que são universais: a honestidade, a competência, a responsabilidade com a
profissão, com colegas e com a sociedade. Entretanto, há algumas variações devido às diferentes
áreas de atuação.
O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas, as quais devem ser seguidas
obrigatoriamente pelos profissionais no exercício de suas atividades. Esse código é elaborado pelo
Conselho Federal de cada profissão. Cada Conselho tem a responsabilidade de representar e
fiscalizar o exercício da profissão.
O Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) publicou em 5 de novembro de 2020 a resolução nº
330, que dispõe sobre o novo Código de Ética do Profissional Biomédico. Essa resolução substitui
o Código de Ética de 2011 (Resolução CFBM nº 198). O Código de Ética do Biomédico regula os
direitos e deveres desses profissionais e das empresas jurídicas inscritos nos Conselhos Regionais
de Biomedicina (CRBM). As normas éticas incluídas no Código devem ser seguidas e respeitadas
por todos os profissionais biomédicos no exercício da profissão, independente da função e do cargo
que ocupem.
O Código de Ética é fundamental na proteção do profissional no exercício da profissão, assim como
na proteção daqueles que utilizam os serviços prestados por esses profissionais.

Para conferir o Código de Ética do Biomédico na íntegra, acesse: https://cfbm.gov.br/cfbm-publica-novo-


codigo-de-etica-do-profissional-biomedico/

Considerações Finais
A Bioética contribui para que haja uma integração entre o conhecimento científico e o conhecimento
humanístico, evitando possíveis impactos negativos da tecnologia sobre a vida humana e animal.
Quando nos deparamos com questões bioéticas, nossas decisões devem sempre ser tomadas
considerando a fundamentação e os princípios da bioética. O fundamento (base) que devemos
considerar na tomada de decisão é o reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Em outras
palavras, devemos considerar a pessoa como um ser único, dotado de dignidade, que é uma
totalidade (aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais).

O primeiro princípio a ser seguido no enfrentamento de questões bioéticas deverá ser o de


beneficência/não maleficência, o segundo o de autonomia e o terceiro o de justiça. Levando em conta
esses quatro fatores, as respostas sobre como agir corretamente diante de uma questão bioética
surgirão naturalmente e agiremos de maneira ética.

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A obra “Bioética, pessoa e vida: Uma abordagem personalista” do autor Dalton Ramos traz a fundamentação
e os princípios bioéticos, assim como aspectos éticos em questões da biotecnologia.

Neste capítulo, nós aprendemos que bioética é definida como o estudo interdisciplinar que integra biologia,
filosofia (ética) e direito sobre condições necessárias para a vida humana e animal adequadas, aplicando a
ética à vida. Em outras palavras, a bioética indica limites para a intervenção do homem sobre a vida,
considerando os impactos que a tecnologia pode ter sobre ela. A bioética considera questões sociais que não
possuem consenso moral, como a fertilização in vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e
as pesquisas com células-tronco.
Um dos fundamentos importantes é o respeito pelo valor da pessoa humana. Nós conhecemos bem a pessoa
humana, visto que somos humanos. Entretanto, existem alguns conceitos na realidade da pessoa dos quais
devemos sempre nos lembrar durante o enfrentamento de questões bioéticas: (1) A pessoa humana é única.
Cada indivíduo é diferente um do outro e possui suas características, seus anseios, suas necessidades. (2) A
pessoa humana possui dignidade. O indivíduo possui valor pelo simples fato de ser pessoa. (3) A pessoa
humana possui diversas dimensões. Devemos sempre consideras a dimensão biológica, a dimensão
psicológica, a dimensão social ou moral e a dimensão espiritual. Todas as dimensões unidas compõem a
pessoa, por isso devemos considerar a pessoa como uma totalidade.
A compreensão de alguns princípios básicos da bioética é de grande importância no estudo e no processo de
decisão quanto aos diversos temas dentro da Bioética.
O primeiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de beneficência/não maleficência, também
conhecido como benefício/não malefício. Beneficência significa fazer o bem e não maleficência significa evitar
o mal. O segundo princípio a ser considerado no enfrentamento de questões éticas é o da autonomia. A
autonomia é a capacidade de autodeterminação que uma pessoa possui, o quanto ela é capaz de coordenar
sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas. Cada pessoa possui liberdade de decidir questões
sobre sua vida. O terceiro princípio a ser considerado em questões bioéticas é o de justiça. Diferentes pessoas
devem ser tratadas de forma igual e justa. Devemos respeitar com imparcialidade o direito de cada uma.
A biotecnologia e a ciência possuem alguns dilemas bioéticos, como a aplicação de tecnologias genéticas, o
emprego de algumas técnicas na reprodução assistida, a utilização de modelos animais em pesquisa, entre
outros. Todas essas atividades devem ser realizadas de maneira ética, tomando por base cada princípio ético.

A ética profissional orienta os profissionais ao cumprimento de todas as atividades de sua


profissão de forma ética e responsável. Cada profissão possui seu próprio código. Alguns
elementos da ética profissional que são universais: a honestidade, a competência, a
responsabilidade com a profissão, com colegas e com a sociedade. Entretanto, há algumas
variações devido às diferentes áreas de atuação.

O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas, as quais devem ser seguidas
obrigatoriamente pelos profissionais no exercício de suas atividades. Esse código é
elaborado pelo Conselho Federal de cada profissão. Cada Conselho tem a responsabilidade
de representar e fiscalizar o exercício da profissão.

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(ENADE, 2016) Desenvolvida recentemente, a técnica de edição de genoma denominada CRISPR/Cas9
mostra-se bastante promissora nas áreas de Biotecnologia e Medicina. Por engenharia genética, é possível
direcionar o sistema CRISPR/Cas9 para clivar o DNA em um ponto específico dos genomas de vírus, de
plantas, de fungos e de animais, inclusive de embriões humanos, o que tem gerado discussões a respeito dos
aspectos éticos de sua utilização.
YANAGUI, K. Novas tecnologias, novos desafios. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 68, n. 3, set. 2016 (adaptado).

Em relação às questões bioéticas envolvidas na edição genética, avalie as afirmações a seguir.


I. No Brasil não é permitido o uso de técnicas para a edição genética de embriões humanos; os estudos
científicos nessa área devem ter como objetivo tratar e curar problemas de saúde e não alterar o
genoma ou realizar clonagens.

II. A despeito do caráter promissor da edição genética no tratamento de doenças graves, as


intervenções feitas por meio da técnica de CRISPR/Cas9 em embriões podem ser passadas às
gerações futuras, por esse motivo, a prática é considerada eugenista, o que ensejou a proibição de
estudos desse tipo em embriões humanos em alguns países.

III. Em alguns países, inclusive no Brasil, são permitidas por lei a manipulação e a modificação genética
de embriões humanos para fins de pesquisa, entretanto, esses embriões devem ser descartados
dentro do prazo de duas semanas.

É correto o que se afirma em:


a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

Resposta Correta: Alternativa C

Questão Objetiva
Qual é o princípio da bioética que deve ser considerado e respeitado em primeiro lugar?
a) Respeito pelo valor da pessoa humana
b) Autonomia
c) Beneficência/não maleficência
d) Justiça
e) Beneficência

Questão Discursiva
Em que tipo de questões a bioética é requerida?

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RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C

Questão Discursiva
Resposta Padrão: A bioética considera questões sociais que não possuem consenso moral, como a
fertilização in vitro, o aborto, a eutanásia, os transgênicos, a clonagem e as pesquisas com células-tronco.
Além disso, considera a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e aplicações, visto que o
emprego de descobertas científicas pode afetar positiva ou negativamente a sociedade e o am biente.

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UNIDADE I
CAPÍTULO 2 – BIOTECNOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Definição da Biotecnologia;
✓ História da Biotecnologia;
✓ Biotecnologia atual;
✓ Engenharia Genética;
✓ Ciências Ômicas.

Introdução
A biotecnologia envolve um conjunto de técnicas que utilizam organismos vivos (microrganismos e
células) podendo ser geneticamente modificados, sendo uma área de estudo que apresenta grandes
avanços tecnológicos, sendo de grande importância em todo o mundo.

Desde os primórdios, o homem emprega a biotecnologia, mesmo sem conhecer o termo, em suas
tarefas diárias. Existem relatos de que em 6000 a.C. os povos sumérios e babilônicos já utilizavam
a fermentação na alimentação. A domesticação de animais e o cruzamento de espécies na obtenção
de características desejáveis também compreendem atividades do ser humano da antiguidade.
Entretanto, naquela época não havia compreensão sobre como os processos ocorriam, eram
realizados às cegas. O conhecimento sobre as técnicas e processos foi sendo obtido de forma
gradual por meio do desenvolvimento de áreas da ciência, como a microbiologia, a genética, a
bioquímica e outras. Atualmente, a biotecnologia possibilita aplicações em diversas áreas, como na
agricultura, no meio ambiente, na saúde, etc.

O desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante permitiu a manipulação de genes e a


modificação genética de agentes biológicos (microrganismos, células, etc.). A engenharia genética é
a área que aplica a tecnologia do DNA recombinante na resolução de problemas médicos, agrícolas,
ambientais, entre outros. A engenharia genética, por meio da tecnologia do DNA recombinante, tem
participado da criação de uma vasta gama de novos produtos, incluindo bactérias que geram
substâncias químicas, plantações resistentes a pragas e animais de fazenda que secretam produtos
farmacêuticos no seu leite (por exemplo, o fator VIII de coagulação humano no leite de carneiro).
Além disso, a identificação e a clonagem de genes responsáveis por doenças em humanos
permitiram o desenvolvimento de sondas, as quais são capazes de identificar mutações causadoras
de doenças. Exame pré-natal e testes genéticos para adultos e crianças pré-sintomáticos para muitas
doenças genéticas já estão disponíveis.

É impossível negar que a biotecnologia trouxe grande avanço no cotidiano da sociedade. Entretanto, o
surgimento de técnicas de manipulação do DNA tem trazido críticas a essa área de estudo. É preciso estar
ciente que todo produto biotecnológico incluído no mercado é severamente testado e, por isso, altamente
seguro.

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2.1 Definição da biotecnologia
A palavra biotecnologia tem origem grega, bio significa vida, tecno significa técnica e logia significa
conhecimento ou estudos. O termo biotecnologia foi introduzido em 1917 pelo engenheiro húngaro
Karl Ereky (1878 - 1952), sendo definido em 1992 pela Organização das Nações Unidas como:
“Biotecnologia engloba todas as técnicas que utilizam organismos vivos, em particular animais,
plantas ou microrganismos ou qualquer tipo de material biológico que pode ser assimilado aos
microrganismos ou parte dos mesmos, para provocar neles mudanças orgânicas”.
Figura 1 – Karl Ereky (1878 - 1952)

Fonte: Wikimedia Commons

Em outras palavras, a biotecnologia é a área de estudo e desenvolvimento de produtos e de


processos a partir da manipulação de agentes biológicos (microrganismos, células, moléculas,
plantas, animais, etc.) visando melhorias na saúde e no bem-estar da sociedade (Figura 2). A
biotecnologia se baseia em conhecimentos multidisciplinares da ciência e engloba variadas
atividades, como as de engenheiros, químicos, agrônomos, veterinários, microbiologistas, biólogos,
biomédicos, farmacêuticos, médicos, etc.
Figura 2 – O campo da biotecnologia

Fonte: MALAJOVICH, 2016

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A biotecnologia é classificada em clássica e moderna. A Biotecnologia Clássica está relacionada à
manipulação de organismos vivos como são encontrados na natureza. Nesse sentido, a
biotecnologia clássica envolve o cruzamento de espécies e a utilização da fermentação na produção
de alimentos. A Biotecnologia Moderna está relacionada ao emprego de técnicas de engenharia
genética (DNA recombinante) no melhoramento de plantas (alimentos transgênicos), na produção
de biofármacos, etc.
Além disso, a biotecnologia busca o desenvolvimento de novas tecnologias baseadas em outros
ramos da biologia. Atualmente, os principais alvos de estudo da biotecnologia são o melhoramento
genético, tecidos e órgãos de seres vivos, Terapia Gênica, Terapia Celular, Novas Terapias
Moleculares, Ciências Ômicas, Bioprocessos Industriais, cuidados com a biodiversidade e meio
ambiente, Biomateriais e Biomimética.

2.2 História da biotecnologia


Apesar de ainda não conhecer técnicas e métodos avançados, na antiguidade o homem já utilizava
técnicas simples da biotecnologia em seu cotidiano. Acredita-se que a primeira técnica
biotecnológica empregada foi a fermentação de microrganismos, a qual foi utilizada na preparação e
na conservação de alimentos e bebidas. O primeiro produto biotecnológico produzido a partir da
fermentação foi a cerveja feita pelos sumérios e babilônicos, por volta de 6000 anos a.C. A
fermentação na produção do pão foi descoberta pelos egípcios, por volta de 4000 a.C. Por volta
desse mesmo período, os chineses empregaram a fermentação na produção de derivados do leite,
como iogurtes e queijos.

Em 1796, o médico inglês Edward Jenner (1749 - 1823), após observações, conduziu sua primeira
experiência com imunização e demonstrou que a inoculação de varíola bovina em humanos era
capaz de proteger o indivíduo contra a varíola humana.

Entre os anos 1863 e 1889, o cientista francês Louis Pasteur (1822 - 1895) fez contribuições valiosas
para a biotecnologia e para a ciência. Em 1863, desenvolveu a pasteurização, processo para
conservar alimentos sem alterar suas propriedades organolépticas. Em 1864, derrubou a teoria da
abiogênese, demonstrando, a partir de experimentos, que seres vivos são gerados somente a partir
de outros seres vivos e não da geração espontânea. Nesse mesmo período, provou que
microrganismos vivos são os responsáveis pela fermentação e identificou Mycoderma aceti como
responsável pela transformação do vinho em vinagre. Em 1885, desenvolveu uma vacina antirrábica
e, em 1889, uma vacina contra cólera em galinhas.

Em 1870, produtores de algodão começaram a empregar a Teoria da Evolução das Espécies,


proposta por Chales Darwin (1809 - 1882) em 1859, no cruzamento de espécies diferentes de
algodão. Dessa forma, uma variedade superior da planta foi obtida.

O monge austríaco Gregor Mendel (1822 - 1884) foi capaz de descrever os princípios da
hereditariedade em 1866, período em que ainda não se tinha conhecimento sobre os genes. Seu
trabalho foi reconhecido somente em 1900 graças aos esforços do biólogo britânico William Bateson
e do trabalho de biólogos da Alemanha, da Holanda e da Áustria, que reproduziram os experimentos
de Mendel e reafirmaram seus resultados. A partir daí, houve um imenso progresso na área da
genética. Na área da saúde, a biotecnologia vem sendo aplicada ao longo da história no
desenvolvimento de vacinas, terapia gênica e celular, desenvolvimento e uso de células-tronco
embrionárias e desenvolvimento de biofármacos, os quais consistem em medicamentos obtidos a
partir de uma fonte ou processo biológico.

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Em 1928, o escocês Alexander Fleming (1881 - 1955) descobriu de forma acidental a penicilina,
substância bactericida produzida pelo fungo do gênero Penicillium, a qual começou a ser produzida
e utilizada como antibiótico na década de 40. Essa descoberta é considerada um grande marco na
biotecnologia, o qual abriu caminho para a descoberta e a produção de novos antibióticos. A partir
do ano de 1973, com o desenvolvimento da técnica do DNA recombinante pelos cientistas Stanley
Cohen e Herbert Boyer, se tornou possível a modificação genética de microrganismos e células.
Essa técnica permite a introdução de um gene de qualquer organismo em um microrganismo ou
célula, de forma que passe a expressar o gene de interesse.

2.3 Biotecnologia atual


Atualmente, os produtos e serviços obtidos a partir da biotecnologia estão presentes em diferentes
setores da sociedade. Na agricultura, a biotecnologia está presente na modificação genética dos
vegetais, ou seja, na incorporação de características desejáveis aos vegetais, por meio do emprego
da tecnologia do DNA recombinante. Dessa forma, se torna possível a produção eficiente de vegetais
com maior valor nutritivo, adaptados às condições de clima e de solo e resistentes às pragas (insetos
e fungos) e doenças. Chamamos essas plantas, cujo DNA foi modificado pela inserção de um ou
mais genes estranhos à sua espécie, de organismos geneticamente modificados (OGMs) ou,
popularmente, de transgênicos.

Lavouras transgênicas diminuem significativamente os impactos do homem sobre a natureza, além


de serem mais seguras para o meio ambiente. Esse tipo de lavoura reduz a necessidade de
defensivos agrícolas (ou agrotóxicos) no combate a pragas, dessa forma gasta-se menos água na
produção desses defensivos e menos combustíveis nas máquinas responsáveis pela aplicação
desses produtos na lavoura. As lavouras transgênicas também são mais produtivas, o que reduz a
necessidade de plantio em áreas extensas.

Para entender um pouco mais sobre transgenia e seus impactos, acesse: https://www.embrapa.br/tema-
transgenicos/sobre-o-tema

O Brasil está entre os países que mais produzem e mais exportam soja geneticamente modificada.
Além da soja, o Brasil também produz extensivamente milho, algodão e cana-de-açúcar transgênica.
Há 20 anos os alimentos transgênicos estão presentes nos mercados em todo o mundo e nenhum
impacto negativo no meio ambiente ou na saúde humana e animal foi identificado. Antes de ser
aprovado para consumo, todo alimento transgênico é rigidamente analisado por meio de testes
laboratoriais e de campo que levam aproximadamente 10 anos de pesquisa, garantindo assim a
segurança alimentar e ambiental. No Brasil, a Lei de Biossegurança 11.105/05, que regula as
atividades com transgênicos, é considerada umas das leis mais rigorosas do mundo.

Além dos transgênicos, a biotecnologia está presente na agricultura por meio do desenvolvimento
de biofertilizantes (adubos orgânicos submetidos ao processo de fermentação) e biopesticidas
(substâncias produzidas a partir de microrganismos naturais ou derivadas de plantas geneticamente
modificadas capazes de realizar o controle de pestes).

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Na pecuária, a biotecnologia é essencial no processo de melhoramento genético, o qual visa o
aumento de genes favoráveis economicamente em linhagens animais. O melhoramento genético
pode ser obtido por estratégias de seleção artificial ou de cruzamentos planejados entre raças. Por
meio da biotecnologia é possível realizar mudanças na base alimentar (pasto x grãos), redução do
teor de gordura, redução do espaço físico requerido, etc.

Animais sadios e bem alimentados produzem mais. A biotecnologia permite o aumento da produção
pecuária por meio do desenvolvimento de vacinas, medicamentos, suplementos e métodos
diagnósticos rápidos e eficientes. A tecnologia do DNA recombinante pode ser empregada no
desenvolvimento de novas vacinas, novos medicamentos e novos suplementos. A somatrotofina
bovina (BST) é um hormônio que desempenha papel importante no crescimento de bezerros e na
produção de leite em vacas e foi um dos primeiros suplementos animais produzidos por bactérias
recombinantes.

No meio ambiente, a biotecnologia tem papel fundamental na prevenção ou no processo de


reversão de contaminações de ecossistemas. No setor ambiental, a biotecnologia fornece
biomarcadores que permitem o monitoramento dos danos causados, da exposição dos efeitos
tóxicos e das consequências da poluição causada. A biotecnologia também fornece tecnologias de
biorremediação, as quais utilizam microrganismos na redução ou eliminação de contaminantes de
áreas ambientais (solo, água, etc.), e tecnologias de biotransformação, as quais permitem que
substâncias tóxicas sejam transformadas em bioprodutos não tóxicos. Além disso, a biotecnologia
torna possível a utilização de bioenergia, ou seja, energia limpa proveniente da biomassa que pode
ser utilizada na geração de calor, eletricidade e combustível.

Investigue o que é biomassa, seus tipos e como ela pode gerar bioenergia.

Na indústria química, a biotecnologia está presente no desenvolvimento de produtos e processos


sustentáveis utilizando microrganismos e enzimas. Temos como exemplo a obtenção de acetona,
butanol e etanol por meio da fermentação por espécies do gênero Clostridium. Outro exemplo é a
produção de sabão em pó contendo enzimas (produzidas por microrganismos recombinantes)
capazes de quebrar moléculas de carboidrato e de proteína, permitindo que o tecido seja higienizado
e permaneça em ótimo estado.

Na indústria alimentícia, a biotecnologia tem papel importante no emprego do processo de


fermentação na panificação (produção de pães e biscoitos), na produção de laticínios (queijos,
iogurtes e outras bebidas lácteas) e na produção de bebidas alcoólicas (cervejas, vinhos e bebidas
destiladas). A fermentação é o processo enzimático de transformação de uma matéria-prima em
produto a partir da microrganismos (fungos e bactérias).

Além disso, a biotecnologia também permite a biofortificação, técnica de melhoramento genético


que aumenta o conteúdo nutricional de um alimento, como flavonoides, polifenóis, licopeno, vitamina
E, ferro, zinco, etc. O principal objetivo é aumentar os teores de nutrientes e vitaminas em alimentos
consumidos tradicionalmente (arroz, feijão, milho, mandioca, batata, trigo, etc.), combatendo de
forma eficiente deficiências de macronutrientes em populações carentes.

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No mercado brasileiro, podemos encontrar mandiocas biofortificadas, as quais foram modificadas e
perdem menos nutrientes durante o cozimento do que as não biofortificadas. Quando cozidas, as
mandiocas modificadas retêm cerca de 80% do caroteno, provando ser um alimento mais rico em
vitaminas. Além das mandiocas, cientistas estão trabalhando na biofortificação do feijão e do milho.

Na área da saúde, a biotecnologia está presente de forma significativa no desenvolvimento de novos


medicamentos (biofármacos), vacinas e anticorpos monoclonais. Por meio da tecnologia do DNA
recombinante, esses produtos biotecnológicos podem ser produzidos por microrganismos
modificados geneticamente de forma totalmente segura.

A biotecnologia também atua no desenvolvimento de novas plataformas diagnósticas altamente


sensíveis e específicas, além de entregar resultados muitas vezes de forma mais rápida. Isso só é
possível por meio da utilização de técnicas como a tecnologia de biossensores, microarranjo de DNA,
entre outras.

Além disso, estratégias de terapia gênica, terapia celular e manipulação de células-tronco estão
sendo estudadas e desenvolvidas graças à biotecnologia.

2.4 Engenharia genética


Em 1973, Stanley Cohen e Herbert Boyer desenvolveram pela primeira vez a técnica do DNA
recombinante, produzindo os primeiros organismos recombinantes. Esses dois cientistas e seus
colaboradores isolaram sequências de genes de um sapo do gênero Xenopus e inseriram no genoma
da bactéria Escherichia Coli. A bactéria então passou a produzir a proteína específica do gene
incluído.

A tecnologia do DNA recombinante consiste em um conjunto de técnicas moleculares utilizadas


para localizar, isolar e manipular fragmentos de DNA específicos. A engenharia genética é a
aplicação da tecnologia do DNA recombinante na resolução de problemas médicos, agrícolas,
ambientais, entre outros.

DNA recombinante é o termo utilizado para moléculas de DNA que possuem regiões derivadas de
duas ou mais fontes, geralmente essas fontes são de espécies diferentes. As moléculas de DNA que
contêm o gene de interesse são chamadas de DNA doador e, na maioria das vezes, é um genoma
inteiro. Esse DNA doador é cortado de forma específica por enzimas de restrição em centenas ou
milhares de fragmentos. Os fragmentos de interesse do DNA doador são inseridos em cromossomos
vetores, resultando em moléculas de DNA recombinante (Figura 3).

As moléculas recombinantes são transferidas para células bacterianas e, então, amplificadas


juntamente com o vetor pela maquinaria de replicação durante a divisão celular. Cada célula
amplificada resulta em clones de células idênticas, cada um contendo a molécula de DNA
recombinante e, por isso, esse processo é chamado de clonagem de DNA.

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Figura 3 – Obtenção do DNA recombinante

Fonte: Griffiths et al., 2016

O DNA doador é obtido a partir do cromossomo por meio de processos de extração e purificação do
DNA. As longas moléculas de DNA extraídas devem ser cortadas em pequenos fragmentos para que
possam ser inseridas em um DNA vetor. O corte nessas moléculas é realizado por enzimas de
restrição, as quais reconhecem sequências de nucleotídeos específicas, chamadas de sítios de
restrição, e clivam ligações fosfodiéster entre os nucleotídeos. Essa propriedade torna as enzimas
de restrição essenciais no processo de manipulação do DNA.

Os sítios de restrição são distribuídos ao acaso nas moléculas de DNA de qualquer organismo.
Dessa forma, a ação de uma enzima de restrição resultará em um conjunto de fragmentos de
restrição.

A enzima de restrição EcoRI (obtida da E. coli) reconhece uma sequência de seis pares de
nucleotídeos (5′-GAATTC-3′) presentes no DNA de qualquer organismo (Figura 1). Chamamos esse
tipo de sequência de palíndromo de DNA, ou seja, ambos os filamentos da molécula de DNA
possuem a mesma sequência de nucleotídeos, porém em orientação antiparalela. Ao reconhecer
essas regiões, a EcoRI cliva entre os nucleotídeos G e A, produzindo fragmentos de extremidades
unifilamentares de quatro bases (AATT). Essas extremidades são chamadas de “coesivas”, visto que
são unifilamentares e podem parear de forma complementar com outros filamentos. O pareamento
de filamentos coesivos complementares é chamado de hibridização (Figura 3).

O DNA genômico humano, quando digerido pela enzima EcoRI, gera aproximadamente 500.000 fragmentos.
Encontrar um ou dois fragmentos de interesse dentre desse total é como encontrar uma agulha no palheiro,
entretanto, cientistas foram capazes de encontrar o gene da insulina humana, permitindo a expressão desse
gene em bactérias.

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Para a formação de moléculas de DNA recombinante, ambos os DNA, doador e vetor, devem ser
digeridos pela enzima de restrição (Figura 4 A). Os fragmentos resultantes da digestão são então
encubados juntos sob condições adequadas, permitindo que as extremidades coesivas dos
fragmentos do DNA doador e do vetor hibridizem entre si e formem moléculas recombinantes (Figura
4 B). As moléculas hibridizadas se mantém unidas por ligação fracas, não apresentando arcabouços
açúcar-fosfato unidos covalentemente. Se essa união se manter assim, provavelmente as ligações
serão facilmente destruídas. Dessa forma, é de extrema importância a ação da enzima DNA ligase,
a qual liga covalentemente os arcabouços por meio da criação de ligações fosfodiéster (Figura 4 C).

A hibridização entre as extremidades coesivas dos fragmentos do DNA doador e do vetor não ocorre
em 100% das moléculas. É possível que as extremidades coesivas do vetor se hibridizem entre si,
impedindo a inserção do DNA doador. Por esse motivo, métodos de seleção de vetores que
contenham fragmentos do DNA doador devem ser aplicados (discutiremos posteriormente).
Figura 4 – Processo de inserção de um gene no vetor

Fonte: Griffiths et al., 2016

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As moléculas de DNA recombinantes são inseridas em células de interesse (bactéria, levedura, etc.)
e, no interior dessas células, utiliza toda a maquinaria de replicação da célula para sua amplificação
(multiplicação). A amplificação das moléculas de DNA recombinante nas células em conjunto com a
divisão celular gera um grande número de clones da célula inicial e, por isso, esse processo recebe
o nome de clonagem gênica. Em outras palavras, após a amplificação, teremos uma colônia de
bactérias contendo bilhões de cópias do DNA recombinante inserido.
Figura 5 – Processo de Clonagem Gênica

Fonte: Griffiths et al., 2016

A engenharia genética, a manipulação e a transferência de genes de um organismo para outro por


meio da tecnologia do DNA recombinante têm participado da criação de uma vasta gama de novos
produtos, incluindo bactérias que geram substâncias químicas, plantações resistentes a pragas e
animais de fazenda que secretam produtos farmacêuticos no seu leite (por exemplo, o fator VIII de
coagulação humano no leite de carneiro). Além disso, a identificação e a clonagem de genes
responsáveis por doenças em humanos permitiram o desenvolvimento de sondas, as quais são
capazes de identificar mutações causadoras de doenças. Exame pré-natal e testes genéticos para
adultos e crianças pré-sintomáticos para muitas doenças genéticas já estão disponíveis.

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2.5 Ciências ômicas
Ômica é um neologismo da língua inglesa (omics) e refere-se a uma área de estudo da ciência que
busca a caracterização e quantificação completa dos sistemas biológicos em nível molecular
unicelular, permitindo estabelecer a estrutura, a função e a dinâmica de um organismo. Em outras
palavras, as Ciências Ômicas estão voltadas para a análise global dos sistemas biológicos,
identificando, quantificando e caracterizando os componentes moleculares dos sistemas celulares
levando em consideração tempo e espaço, focando no entendimento das vias intracelulares.

As ciências ômicas mais conhecidas atualmente são: a Genômica, que estuda o genoma, a
Transcriptômica, que estuda o transcriptoma, a Proteômica, que estuda o proteoma, a Interatômica,
que estuda o interatoma e a Metabolômica, que estuda o metaboloma.

Na área da saúde, as Ciências Ômicas fornecem conhecimento quanto à progressão e as


consequências de doenças. Além disso, moléculas identificadas pelas Ciências Ômicas podem ser
utilizadas como biomarcadores de doenças específicas, podendo levar ao desenvolvimento de novas
metodologias diagnósticas e, consequentemente, à possibilidade de cura antes mesmo da
identificação dos sintomas.

Na agricultura e na pecuária as Ciências Ômicas também trazem grandes avanços, permitindo maior
conhecimento sobre vias metabólicas e genes importantes para obtenção de plantas tolerantes a
diferentes tipos de condições ambientais (seca, a salinidade do solo, calor, frio, doenças, etc.). Além
disso, são importantes na obtenção de animais com características úteis para o aumento da
qualidade e da produtividade.

A Genômica é um campo da genética dedicado ao estudo dos genomas em sua totalidade, visando
a compreensão do conteúdo, da organização, da função e da evolução da informação genética
contida em genomas inteiros. O conhecimento obtido pelo campo da genômica contribuiu
significativamente para a saúde humana, agricultura e várias outras áreas, fornecendo sequências
gênicas necessárias para a produção de proteínas por meio da tecnologia do DNA recombinante.
Além disso, comparações entre sequências genômicas de diferentes organismos permitem uma
melhor compreensão da evolução das espécies.

Após o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante na década de 1970, cientistas realizavam a


clonagem e o sequenciamento de um gene de cada vez, sequenciando um novo gene somente após terem
estudado completamente o primeiro.

A Genômica Estrutural estuda a organização e a sequência de informação genética contida no


genoma dos organismos. Os primeiros genomas sequenciados foram de pequenos vírus. Em 1982,
o genoma completo do bacteriófago λ foi obtido, sendo composto por 49.000 pb. Em 1995, foi
sequenciado pela primeira vez o genoma completo de um organismo de vida livre, da bactéria
Haemophilus influenzae, sendo composto por 1,8 milhão pb. Em 1996, foi sequenciado o genoma
completo do primeiro organismo eucariótico, a levedura Saccharomyces cerevisiae (12 milhões pb).
Em seguida, foram sequenciados o genoma da bactéria Escherichia coli, em 1997 (4,6 milhões pb),
do nematódeo Caenorhabditis elegans, em 1998 (100 milhões pb), da mosca-da-fruta Drosophila
melanogaster, em 2000 (180 milhões pb), e da planta herbácea Arabidopsis thaliana, também em

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2000 (157 milhões pb). Graças ao Projeto Genoma Humano, a sequência do genoma humano foi
esboçada pela primeira vez em 2000, sendo completa em 2001 e contendo cerca de 3 bilhões pb.
No final de 2013, já se tinha conhecimento sobre as sequências completas do genoma de quase
27.000 bactérias e de mais de 6.600 espécies eucarióticas (incluindo fungos, plantas e animais).

A Genômica Comparativa estuda e compara o conteúdo genômico, a função do gene e a


organização dos genomas de diferentes organismos. A maior parte do conhecimento a respeito da
função das proteínas humanas é baseada no conhecimento da função de tais proteínas em espécies-
modelo. Além disso, comparações entre genomas de diferentes espécies pode revelar a história
evolutiva da espécie. Cada evento evolutivo fica gravado por alterações na sequência do DNA.

A Genômica Funcional estuda a função dos genes por meio da identificação das moléculas de RNA
transcritas a partir de um genoma. Abordagens experimentais laboratoriais (hibridização in situ,
mutagênese experimental e o uso de animais transgênicos e knockouts) e bioinformática são
utilizadas para definir a função das sequências de DNA.

A Transcriptômica é um campo da genética dedicado ao estudo do transcriptoma, ou seja, do


conjunto de transcritos (mRNAs, rRNAs, tRNAs, microRNAs, etc.) de um organismo, órgão, tecido
ou linhagem celular. Em outras palavras, a Transcriptômica analisa a expressão de genes, visto que
os RNAs determinam quais são expressos e em que nível. Além disso, a análise da expressão gênica
indica quais genes estão ativos sob determinadas condições, como diferentes estágios de
desenvolvimento, presença ou ausência de um patógeno ou uma substância, progresso de uma
doença (câncer, por exemplo), etc.

A Proteômica é um campo da genética dedicado ao estudo do conjunto de proteínas de uma célula,


também chamado de proteoma. As proteínas, moléculas codificadas pelas sequências do DNA, são
responsáveis pela grande maioria das reações bioquímicas que determinam as características
(fenótipo) de um organismo. Muitas dessas moléculas não dependem somente das sequências do
DNA para serem produzidas e ativadas corretamente, elas sofrem modificações após a tradução.
Além disso, organismos eucariotos complexos possuem muito mais proteínas do que genes. Dessa
forma, nos últimos anos, pesquisadores voltaram sua atenção para a análise do conjunto complexo
de proteína encontrado nas células.

O Projeto Proteoma Humano representa um esforço coletivo entre vários pesquisadores de


diferentes localidades para identificar e caracterizar todo o conjunto de proteínas no corpo humano.
O projeto analisa quais proteínas estão presentes em cada tipo de célula, sua localização intracelular
e sua interação com outras proteínas. O conhecimento obtido por meio desse projeto é de grande
importância para a identificação de alvos de fármacos, compreensão de bases biológicas para
doenças e compreensão a nível molecular de diversos processos biológicos.

A Interatômica se dedica ao estudo do conjunto completo de interações físicas entre proteínas e


entre proteínas e outras moléculas dentro de uma célula (DNA e RNA) e suas consequências. Esse
conjunto de interações que ocorre dentro de uma célula é chamado de interatoma.

A Metabolômica se dedica ao estudo do conjunto de metabólitos, chamado de metaboloma. Os


metabólitos de um organismo são identificados e quantificados. Metabólitos são produtos
intermediários ou finais do metabolismo que podem ser encontrados em uma amostra biológica.

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Considerações Finais
A Biotecnologia é uma área de estudo e desenvolvimento que possibilita inúmeras descobertas
tecnológicas em diversos setores da sociedade, proporcionando melhorias e inovações. No Brasil, a
biotecnologia é fundamental no desenvolvimento do país, trazendo novas técnicas e processos para
os setores da indústria, agricultura, pecuária, meio ambiente e saúde. Por esse motivo, possibilita o
crescimento econômico sustentável.

A manipulação de genes a nível molecular é um grande desafio da ciência e exige estratégias


eficientes. A tecnologia do DNA recombinante consiste em um conjunto de técnicas moleculares que
revolucionaram a genética, utilizadas para localizar, isolar e manipular fragmentos de DNA
específicos. Essa tecnologia é utilizada na criação de diversos produtos biotecnológicos, incluindo
biofármacos e organismos geneticamente modificados (plantas, microrganismos, etc.).

As Ciências Ômicas constituem um campo da ciência de grande importância para o desenvolvimento


da sociedade. Na área da saúde, as Ciências Ômicas estão presentes por meio do fornecimento do
conhecimento quanto à progressão e as consequências de doenças. Moléculas que participam da
progressão de uma doença são identificadas pelas Ciências Ômicas e podem ser utilizadas
como biomarcadores de doenças específicas, podendo levar ao desenvolvimento de novas
metodologias diagnósticas e, consequentemente, à possibilidade de cura antes mesmo da
identificação dos sintomas.

Na agricultura e na pecuária, as Ciências Ômicas fornecem maior conhecimento sobre vias


metabólicas e genes importantes para obtenção de plantas tolerantes a diferentes tipos de condições
ambientais. Além disso, são importantes na obtenção de animais com características úteis para o
aumento da qualidade e da produtividade.

A obra “Biotecnologia”, escrita por Maria Antonia Malajovich, traz a história detalhada da biotecnologia, além
de seus produtos aplicados em diversos setores da sociedade.

Neste capítulo, nós vimos que a biotecnologia compreende uma área de estudo e desenvolvimento de produtos
e de processos a partir da manipulação de agentes biológicos (microrganismos, células, moléculas, plantas,
animais, etc.) visando melhorias na saúde e no bem-estar da sociedade. Apesar de ainda não conhecer
técnicas e métodos avançados, na antiguidade o homem já utilizava técnicas simples da biotecnologia em seu
cotidiano, como a fermentação.
A partir do ano de 1973, com o desenvolvimento da técnica do DNA recombinante pelos cientistas Stanley
Cohen e Herbert Boyer, se tornou possível a modificação genética de microrganismos e células. Essa técnica
permite a introdução de um gene de qualquer organismo em um microrganismo ou célula, de forma que passe
a expressar o gene de interesse. Atualmente, os produtos e serviços obtidos a partir da biotecnologia estão
presentes em diferentes setores da sociedade: na agricultura, na pecuária, no meio ambiente, na indústria, na
área da saúde, entre outros.
A tecnologia do DNA recombinante consiste em um método desenvolvido pela biotecnologia de suma
importância para a ciência. Essa tecnologia permite localizar, isolar e manipular fragmentos de DNA

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específicos. DNA recombinante é o termo utilizado para moléculas de DNA que possuem regiões derivadas de
duas ou mais fontes, geralmente essas fontes são de espécies diferentes.
As moléculas de DNA que contêm o gene de interesse são chamadas de DNA doador e, na maioria das vezes,
é um genoma inteiro. Esse DNA doador é cortado de forma específica por enzimas de restrição em centenas
ou milhares de fragmentos. Os fragmentos de interesse do DNA doador são inseridos em cromossomos
vetores, resultando em moléculas de DNA recombinante. As moléculas recombinantes são transferidas para
células bacterianas e, então, amplificadas juntamente com o vetor pela maquinaria de replicação durante a
divisão celular. Cada célula amplificada resulta em clones de células idênticas, cada um contendo a molécula
de DNA recombinante e, por isso, esse processo é chamado de clonagem de DNA.
As ciências ômicas estão voltadas para a análise global dos sistemas biológicos, identificando, quantificando
e caracterizando os componentes moleculares dos sistemas celulares levando em consideração tempo e
espaço, focando no entendimento das vias intracelulares. As ciências ômicas mais conhecidas atualmente são:
a genômica, que estuda o genoma, a transcriptômica, que estuda o transcriptoma, a proteômica, que estuda o
proteoma, a interatômica, que estuda o interatoma e a metabolômica, que estuda o metaboloma.

(ENADE, 2013) Embora os transgênicos sejam muito discutidos na perspectiva das políticas de produção
agrícola, as aplicações biotecnológicas de organismos geneticamente modificados (OGM) são inúmeras e vêm
sendo utilizadas há cerca de duas décadas na produção industrial. Um exemplo do uso da tecnologia associada
aos OGMs é a quimosina, uma enzima importante na coagulação de lacticínios, pioneira entre os produtos
gerados por OGM e que está no mercado desde os anos 1990. Essa enzima era tradicionalmente extraída do
estômago de mamíferos. Nos anos 1990, foram criadas bactérias geneticamente modificadas contendo DNA
de células estomacais de animais. Essas bactérias passaram a ser utilizadas, em larga escala, em um processo
de fermentação para a síntese da referida enzima. A quimosina produzida desse modo tem estrutura molecular
idêntica àquela que era obtida da forma tradicional.
Disponível em: http://www.afolhatorres.com.br. Acesso em: 30 jul. 2013 (adaptado).

Com base no texto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
I. A produção de queijos com uso da quimosina sintetizada por bactérias geneticamente modificadas é
considerada segura para o consumidor do alimento e os queijos assim produzidos não podem ser
classificados como alimentos transgênicos.

PORQUE
II. II. A quimosina utilizada na fabricação de queijos, embora seja um OGM, é eliminada no final do
processo produtivo.

Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

Resposta Correta: Alternativa C

28
Questão Objetiva
Medicamentos obtidos pela biotecnologia por meio da utilização industrial de microrganismos ou células
modificadas geneticamente são chamados de:

a) Biomedicamentos
b) Biorremédios
c) Biofármacos
d) Biodrogas
e) Biomoléculas

Questão Discursiva
Defina em poucas palavras o que é Interatoma.

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C
Questão Discursiva
Resposta Padrão: A interatômica se dedica ao estudo do conjunto completo de interações físicas entre
proteínas e entre proteínas e outras moléculas dentro de uma célula (DNA e RNA) e suas consequências. Esse
conjunto de interações que ocorre dentro de uma célula é chamado de interatoma.

29
UNIDADE I
CAPÍTULO 3 – EPIDEMIOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Medidas de ocorrência de doenças;
✓ Incidência e prevalência;
✓ Mortalidade e expectativa de vida;
✓ Letalidade;
✓ Causas das doenças;
✓ Epidemiologia descritiva;
✓ Padronização por idade.

Introdução
A epidemiologia é uma antiga disciplina científica que remonta a meados do século XIX. É uma
disciplina que visa identificar os determinantes de doenças e saúde nas populações. Utiliza uma
abordagem populacional como a demografia, talvez a disciplina científica que mais se assemelha à
epidemiologia. A epidemiologia é definida pelo objeto de pesquisa: “determinantes de identidade que
alteram a ocorrência de fenômenos de saúde em populações humanas”.

A epidemiologia é frequentemente associada a doenças infecciosas, porque uma epidemia de uma


doença originalmente se referia a um aumento inesperado na incidência de doenças infecciosas. Os
métodos epidemiológicos foram usados pela primeira vez para estudar doenças como cólera e
sarampo.

Agora todas as doenças ou eventos de saúde são estudados por meio de métodos epidemiológicos,
que mudam constantemente para atender a essas novas necessidades. Até o termo "epidemia" é
usado para descrever um aumento inesperado na frequência de qualquer doença, como infarto do
miocárdio, obesidade ou asma.

Hoje, a disciplina é usada para estudar causas genéticas, comportamentais e ambientais de doenças
infecciosas e não infecciosas. É usada para avaliar o efeito de tratamentos ou triagem e é a principal
disciplina do movimento que pode ter sido vendida em excesso com o título "medicina baseada em
evidências".

A epidemiologia da saúde pública usa a população "saudável" para estudar a transição do ser
saudável a ser doente. A epidemiologia clínica usa a população de pacientes para estudar preditores
de cura ou alterações no estado da doença. Ambas as disciplinas usam métodos experimentais e
não experimentais. Os métodos experimentais, no entanto, geralmente não são aplicáveis por razões
éticas na pesquisa em saúde pública, uma vez que não podemos induzir exposições possivelmente
prejudiciais a tipos de saúde em hipóteses científicas.

Os epidemiologistas costumam ser fator de conflitos políticos. Pobreza, desigualdades sociais,


desemprego e aglomeração estão entre os principais determinantes da saúde, e o estudo desses
determinantes pode levar os epidemiologistas a entrar em conflito com aqueles que se beneficiam
de manter uma sociedade injusta. Até certo ponto, esses conflitos internos deram origem à
epidemiologia clínica.

30
Os epidemiologistas usam o mesmo conjunto de ferramentas e o mesmo conjunto de conceitos,
estudando a etiologia ou o prognóstico da doença, embora os problemas metodológicos possam
refletir diferentes circunstâncias. É importante dar prioridade ao estudo de mecanismos causais
passíveis de intervenção, afetando a prevenção ou o tratamento.

A epidemiologia está entre as ciências médicas básicas, mas ainda não é reconhecida como tal em
muitos países.

O processo de avaliação de novos medicamentos foi deixado quase inteiramente para a indústria
farmacêutica, não apenas para patrocinar esses estudos, mas também para conduzir e analisar os
resultados. Os profissionais de saúde precisam decidir sobre os tratamentos, executar
procedimentos de diagnóstico e aconselhar sobre prevenção. Isso não pode ser feito sem ficar de
olho na literatura científica e, atualmente, grande parte do que é publicado em revistas médicas se
baseia em pesquisas epidemiológicas. O mesmo vale para muitas das informações provenientes das
indústrias farmacêuticas.

3.1 Medidas de ocorrência de doenças


As prioridades de saúde pública devem ser definidas pela combinação de quão graves são as
doenças (um produto da sua frequência e impacto) que afetam a saúde e a sociedade e nossa
capacidade de alterar sua frequência ou gravidade. Essa intervenção requer conhecimento de como
tratar e prevenir a doença. Se tivermos conhecimento suficiente sobre as causas desses casos e se
houver uma suspeita possível, poderemos propor programas preventivos eficazes. Se não
dispusermos dessa pesquisa de conhecimento e se soubermos onde procurar as causas, essa
pesquisa poderá ser direcionada especificamente. Se a doença puder ser tratada a baixo custo e
com pouco risco, a prevenção não precisará ser melhor que a cura, mas muitas vezes será.

A medicina clínica pode ter uma tendência a se concentrar em doenças raras, mas interessantes,
enquanto a saúde pública deve concentrar-se na frequência da doença. Quais são as possibilidades
de salvar muitas vidas, prevenir problemas de saúde e sociais com nossos recursos disponíveis e
como usamos esses recursos da melhor maneira? Várias medidas são usadas para descrever a
frequência de uma doença, mas, para começar, podemos contar o número de pessoas com a doença
na população (a prevalência da doença). Também gostaríamos de saber quantos casos novos
aparecem mais ou menos por um período, como uma estimativa do risco de se ter determinada
doença durante um período da vida, definindo uma nova unidade de risco por tempo (incidência
cumulativa ou taxa de incidência). Temos que aceitar que apenas estimamos a força da morbidade
ou mortalidade na população. Não medimos com exatidão esses parâmetros, mas a qualidade de
nossas estimativas depende de quão próximos chegamos dos parâmetros verdadeiros.

Quando você inicia uma investigação, deseja saber quem são os doentes, quando eles pegaram a
doença e onde vivem. Perguntas sobre "quem, quando e onde" são as primeiras perguntas que você
deve fazer. São necessárias estimativas de incidência (novos casos) para estudar a etiologia da
doença e monitorar os esforços preventivos. Programas de monitoramento da incidência de câncer,
por exemplo, foram criados em muitas partes do mundo e estão sendo relatados pela IARC (Agência
Internacional de Pesquisa sobre Câncer) em monografias como “Incidência de Câncer nos Cinco
Continentes”. Nenhuma outra doença possui monitoramento de alta qualidade semelhante sobre a
incidência em todo o mundo, mas existem vários sistemas de registro de rotina para incidência de
doenças em várias partes do planeta, seja para o total da população ou para segmentos dela.

31
Muitos países monitoram, por exemplo, incidências (novos casos) de doenças infecciosas. Tais
sistemas de monitoramento raramente identificam todos os casos com a infecção e não precisam
cobrir todos os casos para detectar epidemias (partem das taxas médias de incidência que ocorrem
em períodos mais curtos para definir epidemias). Se uma porcentagem estável estiver presente
durante algum período de tempo, poderão ser demonstradas grandes flutuações na incidência da
doença na população. Se forem necessários marcadores muito precoces de uma epidemia, medidas
substitutas, como dados de vendas de certos medicamentos ou a frequência de certos tipos de
perguntas endereçadas a determinados sites, podem até ser úteis. A mortalidade materna e infantil
tem sido monitorada em muitas partes do mundo e são frequentemente consideradas fortes
indicadores de saúde geral. Dados sobre mortalidade são geralmente de boa qualidade.

A mortalidade é bem definida e não é prejudicada pelo diagnóstico ambíguo que influencia muitos
registros de doenças nas quais é medida a mortalidade por causas específicas (mortalidade por
doenças específicas ou doenças que foram causas próximas da morte). Os dados de prevalência
(casos existentes em um determinado momento) são essenciais no planejamento da saúde. Quantas
pessoas temos em nossa população com diabetes, esclerose múltipla, esquizofrenia, etc.? Quantas
e que tipo de instalações de tratamento são necessárias para servir essas pessoas? Embora os
dados de incidência possam, em princípio, ser medidos, se formos capazes de definir um conjunto
de critérios de diagnóstico operacional, às vezes pode ser mais difícil definir a prevalência (o número
de doenças em um determinado momento). Por exemplo, qual é a prevalência de câncer? As
pessoas que são tratadas com sucesso contra o câncer não pertencem ao grupo prioritário de
doentes, mas apenas uma vez dizem se o tratamento curou a doença ou não. Da mesma maneira,
as pessoas com asma têm a doença pelo resto da vida? Ou pessoas com epilepsia? Ou pessoas
com diabetes tipo 2 ou enxaqueca? E se não, quando eles serão curados? Se não tivermos dados
empíricos para identificar pessoas que abandonam o conjunto de casos prevalentes, nossa
estimativa de prevalência é difícil de interpretar e usar. É mais fácil com doenças como o sarampo.
Quando os sinais de infecção desaparecem e o vírus não pode mais ser detectado no organismo, a
pessoa não tem mais sarampo.

3.2 Incidência e prevalência


Uma pessoa pode ter uma doença, não ter uma doença ou estar em um estágio intermediário. Então,
quando uma pessoa é afetada? Na contagem de doenças, precisamos usar um conjunto de critérios
que indiquem se a pessoa está doente ou não. Para a maioria das doenças, usamos um sistema de
classificação como o International Classification of Diseases (CID) para forçar as pessoas a entrar
em um grupo ou outro. Ao longo da vida, cada um de nós terá uma dada doença ou não, mas observe
que essa probabilidade tem uma dimensão temporal. Se você morrer aos 30 anos é menos provável
que sofra um derrame durante a sua vida do que se morrer aos 90 anos.

Por esse motivo, esperamos muito mais casos de câncer nos países em desenvolvimento se a
expectativa de vida continuar aumentando para essas populações. O risco de contrair uma
enfermidade geralmente é uma função do tempo e essas probabilidades são estimadas a partir da
observação das populações. Observando a ocorrência de doenças em populações ao longo do
tempo, podemos estimar a incidência e a prevalência de certas enfermidades. Usamos essas
estimativas para comparar a ocorrência de doenças entre populações, acompanhar sua ocorrência
ao longo do tempo e também para ter uma ideia dos riscos de doenças para indivíduos da população.

Para fazer isso, tentaremos pensar na população da qual a pessoa faz parte. Levaremos em
consideração gênero, idade, tempo, grupo étnico, condições sociais, local de residência e

32
informações de outros fatores de risco quando fornecermos nossa estimativa. Mas observe que é
um indicador de risco, não um destino. É uma previsão com incerteza. No final, a pessoa terá a
doença ou não. Se dissermos que ela tem um risco de 25% de chance de contrair a doença nos
próximos 10 anos, isso não significa que ela ficará 25% doente. Isso significa que, entre, digamos,
1.000 pessoas com suas características, esperaremos que cerca de 250 desenvolvam a doença. A
pessoa em questão gostaria de saber se está entre as 250 ou não, mas nunca poderemos fornecer
essas informações. Contudo, pode-se fazer suas previsões mais informativas, para aproximá-las de
0 ou 100%. Muitos esperavam que o mapeamento do genoma humano nos aproximasse mais da
previsão da ocorrência de doenças do que realmente aproximou, exceto por algumas doenças
específicas. Para estimar a incidência e a prevalência em uma determinada população, precisamos
identificar a população e examinar todas as pessoas nela, ou uma amostra delas, em um
determinado momento (para estimar a prevalência) ou durante um período de acompanhamento
(para estimar a incidência).

Suponha que desejemos estimar a prevalência de diabetes tipo 1 em uma cidade com 100.000
habitantes. Podemos convocar todos eles para um exame médico ou basear nossa estimativa em
uma amostra selecionada aleatoriamente nessa população. A seleção aleatória implica, em sua
forma mais simples, que todos os membros da comunidade tenham a mesma probabilidade de serem
amostrados. Poderíamos, por exemplo, enumerar todos os habitantes com um número de execução
entre 1 e 100.000. Podemos selecionar os primeiros 10.000 números aleatórios e chamá-los para
exame. Ou podemos desenhar um número aleatoriamente de 0 a 9. Supondo que o número seja 7,
poderíamos examinar todos na população que tinham um número em execução terminando com 7
(7, 17, 27, ..., 99.997), o que também geraria uma amostra de 10%. Ou podemos selecionar todos
os que nasceram em três dias selecionados aleatoriamente no mês (digamos 3, 12, 28) e examinar
cada pessoa nascida nesses dias, o que geraria uma amostra sistemática de aproximadamente 10%.
Se for permitido assumir que a ocorrência da doença é independente dos dias de nascimento, esta
amostra produzirá resultados semelhantes aos encontrados em uma amostra aleatória, exceto pela
variação aleatória que é uma parte inevitável do processo de seleção. Suponha que examinemos
10.000 na amostra e encontremos 50 com diabetes tipo 1, uma doença caracterizada por uma
deficiência nas células beta do pâncreas endócrino, levando a um distúrbio na homeostase da
glicose.

Primeiro, teríamos que desenvolver um conjunto de critérios que definissem o diabetes tipo 1 a partir
do exame de saúde. Diríamos então que a prevalência (P) nessa população é 50 e a proporção de
prevalência (PP) é 50 / 10.000 ou 0,005 ou 0,5%. Se estimarmos a proporção de prevalência na
cidade em geral, nossa melhor estimativa ainda seria 0,005, mas saberíamos que outra amostra
aleatória pode levar a um resultado ligeiramente diferente devido à variação amostral e levaríamos
essa variação amostral em consideração ao relatar. Na realidade, haveria muitas outras fontes de
incerteza além da amostragem aleatória, como erros de medição e viés de seleção relacionados a
pessoas convidadas que não compareceram ao exame. Todas essas incertezas devem ser incluídas
em nosso intervalo de incerteza. Infelizmente, no momento não temos boas ferramentas para isso.
A estimativa estatística de um limite de confiança de 95% produzirá o seguinte resultado:

Pl, u = 0,0048,0,006

A interpretação exata dos limites de confiança (CLs) pode ser debatida, mas uma
interpretação é que 95 dos 100 CLs incluirão a prevalência verdadeira, assumindo que todas
as condições de amostragem sejam cumpridas. Em resumo, nossa estimativa da proporção
de prevalência (PP) é:

33
Figura 6 – Fórmula para proporção de prevalência

Em pesquisas etiológicas, a identificação de fatores de risco é comum e, em nossa busca por esses
fatores de risco, normalmente nos interessamos por novos casos (incidentes). Podemos, por
exemplo, gostar de saber se a incidência de diabetes está aumentando ao longo do tempo ou quanto
a incidência é maior em obesos do que em não-obesos. Para estimar a incidência, precisamos
observar a população que estudaremos ao longo do tempo. Suponha que, como ponto de partida,
usamos a população estudada antes; depois da triagem inicial, teríamos 10.000 - 50 = 9.950 pessoas
sem diabetes tipo 1. Essa é nossa população em risco, eles correm o risco de se tornarem casos
(novos) incidentes de diabetes tipo 1 durante o acompanhamento.

Estar em risco de ser diagnosticado com diabetes pela primeira vez significa apenas que o risco não
é 0 (como seria nos casos prevalentes). Naquele momento, identificávamos todos os novos casos
de diabetes tipo 1 durante a nossa população de 9.950 pessoas. Idealmente, examinaríamos todos
os diabéticos em intervalos regulares e curtos, mas isso não é realmente uma opção em estudos
maiores. No entanto, poderíamos examinar todos no final do acompanhamento e identificar todos os
novos casos. Se não houver perda para acompanhamento (ninguém morreu por outras causas além
do diabetes e ninguém deixou nosso grupo de estudo), poderíamos estimar a incidência cumulativa
(uma estimativa do risco de doença para um determinado seguimento de tempo de atividade).

Uma ferramenta muito utilizada em saúde pública é o Estudo Transversal. Em um estudo transversal, todos
em uma determinada população ou numa amostra aleatória dela definem a população de origem. A doença e
seus possíveis determinantes são todos registrados em um determinado momento. Isso introduz uma
ambiguidade temporal na possível associação causa-efeito e, por esse motivo, a maioria dos estudos
transversais possui objetivos de pesquisa que são apenas descritivos. Utilizamos estudos transversais para
estimar, por exemplo, a prevalência de depressão em uma determinada atividade laboral.

3.3 Mortalidade e expectativa de vida


A mortalidade é uma medida de incidência. As taxas de mortalidade são o número de mortes em
uma determinada população dividido pelo período de tempo em que tivemos essa população sob
observação. Quando estimamos as taxas de mortalidade, tentamos aceitar que a questão não é se
vamos morrer ou não, mas quantos anos temos antes de morrer. Sob condições de estado
estacionário, a taxa de incidência (para mortes denominadas taxas de mortalidade (RM)) fornecerá
uma estimativa da expectativa de vida, considerando seus valores recíprocos 1 / RM, assim como o
período livre de doença esperado é 1 / IR (taxa de incidência) abaixo condições de estado
estacionário em uma população sem outras causas concorrentes. Como essa suposição não é
realista, a taxa de incidência recíproca é raramente uma boa aproximação do tempo médio de espera
até o início da doença ou da expectativa de vida.

A mortalidade específica da doença também é uma medida de incidência, mas, em vez de calcular
todas as mortes no numerador, apenas calculamos as mortes por doenças específicas. Aqueles que
morrem de outras causas são censurados, eles são removidos da população em risco. Algumas

34
dessas mortes censuradas podem surgir de eventos não independentes. A morte de um acidente
vascular cerebral pode, por exemplo, compartilhar causas com a morte por doença cardíaca
coronária. Se temos observações censuradas (o que significa que temos eventos concorrentes que
encerram a observação antes do início da doença), geralmente usamos o método Kaplan-Meier para
produzir uma curva de sobrevivência, ou seja, as probabilidades de morrer ou sobreviver em função
de Tempo. Digamos que tivemos uma população de 10 pessoas expostas a um vírus mortal. Seis
deles morrem do vírus e um morre por outras causas (censurado).

Quando é possível estratificar todos os eventos nos momentos em que esses eventos ocorreram, a
probabilidade de morte é 1 dividida pela população em risco no momento em que ocorre uma morte.
A probabilidade de sobrevivência é 1 menos a probabilidade de morrer e a sobrevivência cumulativa
é o produto dessas probabilidades de sobrevivência. A probabilidade de sobreviver até o dia 20 é a
probabilidade de sobreviver até o dia 7 × dia 8 × dia 9 × dia 10, etc. (1,0 × 0,90 × 0,89 × 0,86 × 0,83
× 0,80 × 0,75) = 0,34.

Observe que esse método de estimativa de riscos também pode ser usado para eventos que não
sejam a morte. Se estudássemos pacientes com herpes zoster que tomam um novo analgésico,
poderíamos estimar a probabilidade de permanecer com dor ao longo do tempo - sobrevivência
cumulativa com dor. Podemos então calcular a probabilidade de alívio da dor em função do tempo
no grupo de pacientes que recebem um tipo de tratamento versus outro tipo de tratamento.

Outra medida epidemiológica é a expectativa de vida. A maneira usual de calcular a expectativa de


vida em uma população demográfica é executar um estudo de simulação. Deixe 100.000 bebês
nascerem e aplique as taxas de mortalidade específicas por sexo e idade a essa coorte de
nascimentos e veja quantos anos eles terão, em média, quando morrerem em nossa simulação por
computador. Essa expectativa de vida é, portanto, baseada na experiência atual de mortalidade e,
logo, nas exposições passadas. Portanto, não é uma previsão (ou expectativa). É apenas uma
previsão se você assumir que a mortalidade específica por idade e sexo não mudará ao longo do
tempo, mas elas mudaram no passado; de fato, a expectativa de vida aumentou em três meses a
cada ano nos últimos 160 anos em alguns países. Uma previsão melhor levaria em consideração as
mudanças na expectativa de vida ao longo do tempo (e outros tipos de informações).

3.4 Letalidade
A taxa de letalidade, também chamada taxa de letalidade de casos, é a proporção de pessoas que
morrem de uma doença especificada entre todos os indivíduos diagnosticados com a doença durante
um certo período de tempo. A letalidade é usada como uma medida da gravidade da doença e é
frequentemente usada para prognóstico (previsão do curso ou resultado da doença), onde taxas
comparativamente altas são indicativas de resultados relativamente ruins. Também pode ser usado
para avaliar o efeito de novos tratamentos, com as medidas diminuindo à medida que eles melhoram.
A letalidade não é constante, podendo variar entre populações e ao longo do tempo, dependendo da
interação entre o agente causador da doença, o hospedeiro e o ambiente, bem como os tratamentos
disponíveis e a qualidade do atendimento ao paciente.

A taxa de letalidade é calculada dividindo-se o número de mortes por uma doença especificada
durante um período de tempo definido pelo número de indivíduos diagnosticados com a doença
durante esse período; a proporção resultante é então multiplicada por 100 para gerar uma
porcentagem. Esse cálculo difere daquele utilizado para a taxa de mortalidade. Embora o número de
mortes sirva como numerador para ambas as medidas, a taxa de mortalidade é calculada dividindo-

35
se o número de mortes pela população em risco durante um determinado período de tempo. Portanto,
as duas medidas fornecem informações diferentes.

Para se ter uma ideia dos danos que uma determinada doença causa a uma população, normalmente são
avaliadas não só sua incidência ou prevalência, mas também sua letalidade, uma doença com incidência e
letalidade moderada pode ser mais prejudicial do que uma com alta letalidade, mas baixa incidência, ou uma
com alta incidência, mas de baixíssima letalidade.

3.5 Causas das doenças


As medidas epidemiológicas nos lembram que as doenças não são eventos aleatórios, mas
resultados da interação entre genes e fatores ambientais. Portanto, somos capazes de prevenir
várias doenças ou, pelo menos, atrasar seu tempo de início, reduzindo as causas que são reduzíveis.

Se pudéssemos convencer os fumantes a parar de fumar, fornecer cuidados básicos de saúde a


todos, tornar os inativos mais ativos, reduzir a poluição do ar, eliminar as exposições ocupacionais
mais perigosas, incentivar as pessoas com uma dieta não saudável a comer mais frutas e legumes
e fazer os pobres mais ricos, poderíamos prolongar a vida substancialmente para muitas pessoas.

Se fizéssemos isso retirando apenas exposições de que as pessoas gostam, muitos sentiriam que a
vida foi apenas prolongada, mesmo que não fosse e esse não é o nosso objetivo. Na saúde pública
e na medicina clínica, tentamos adicionar qualidade de vida, e não apenas mais anos a vida.

Uma forma de estudo bastante utilizada em epidemiologia é o Estudo Randomizado Controlado, pesquise
sobre o que se trata e exemplos desse estudo.

Embora tenhamos estabelecido um grande número de determinantes da doença, nossas previsões


de ocorrência da doença no futuro são incertas. São como previsões meteorológicas. Elas são
melhores do que previsões baseadas em suposições puras, mas geralmente estão erradas. Elas são
melhores em períodos mais curtos do que em períodos mais longos. Mas por que essas previsões
são tão incertas?

Se conhecemos as causas de uma doença, por que não podemos ter certeza do tempo de início?
As respostas a essa pergunta são importantes e foram objeto de muito debate, mas em resumo:
mesmo que conheçamos todas as causas de doenças, o que não conhecemos, não sabemos se
essas causas estarão presentes no futuro e, mesmo se soubéssemos as causas, não haveria um
vínculo determinístico entre a causa e o efeito, o que está em conflito com o conceito de causalidade
no senso comum. Se pressionarmos o interruptor, a luz está acesa. Caso isso não aconteça,
verificaremos se a fonte de alimentação está funcionando, se a lâmpada está intacta, etc. Não
acreditamos que a luz tenha falhado por causa do acaso, mas o acaso é uma explicação em que
frequentemente nos deparamos na epidemiologia.

36
Nosso conceito de causalidade do senso comum nos dirá que, dadas todas essas condições, a luz
acenderá quando pressionarmos o interruptor. Embora exista uma sequência de causas, a sequência
é determinística. Se o eletricista que pedimos para reparar a luz dissesse que a luz não funcionava
por causa do azar, chamaríamos outro eletricista. Na causalidade da doença, não temos muitos
exemplos de sequências de um vínculo determinístico entre as exposições e a doença. Se existe ou
não um elemento aleatório na causa da doença, não se sabe e pode-se nunca saber, porque a
maioria das doenças tem muitas causas. O que sabemos é que as associações parecem ser
probabilísticas.

Ficaríamos muito desapontados se o eletricista que ligamos para consertar a luz aparecesse com
uma afirmação como: “se você pressionar o interruptor algumas vezes a luz acenderá, mas outras
vezes não, e pode levar anos para acender, e às vezes a luz acenderá mesmo que ninguém tenha
ligado o interruptor”. Esse é, no entanto, o tipo de explicação que muitas vezes temos para oferecer
na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Portanto, precisamos ser mais precisos ao
explicar o que estamos falando quando falamos sobre causas de doenças, porque estamos em
conflito com os conceitos do senso comum. Nossa previsão será sempre incerta, porque as doenças
têm muitas causas e essas causas podem interagir em ambientes que podem ou não estar presentes
no momento em que podem ativar um não uma doença. Nosso entendimento atual ilustra uma
complexidade substancial na causa de muitas doenças.

Mackie ilustrou elegantemente como podemos entender essa incerteza, enquanto mantemos nosso
conceito comum de causalidade, em seus trabalhos das décadas de 1960 e 1970 e em seu livro
histórico de 1974. Ele mostrou como as causas às vezes podem ativar um efeito e às vezes não,
porque as causas parecem sofrer efeito probabilístico.

Seja E a causa e D seu efeito, a doença, o caminho E → D ilustra que, quando temos uma exposição,
E, temos uma doença, D, e se temos D, ela sempre foi precedida por E. Não há muitos exemplos de
causalidade na medicina que seguem esse padrão. A parte necessária dessa definição é definida
por este diagrama, uma causa necessária:
Figura 7 – Diagrama de causalidade

Se você tem a doença, a causa E estava presente em algum momento antes do início da doença,
mas a causa não precisa levar à doença. Os exemplos que conhecemos da literatura médica que
seguem esse padrão geralmente se originam de doenças nas quais definimos a doença para incluir
a(s) causa(s). A AIDS inclui infecções por HIV na definição, a SAF (síndrome do álcool fetal) inclui a
exposição pré-natal ao álcool na definição, etc. A exposição ao HIV e ao álcool tornam-se causas
necessárias de acordo com esse método de definição de uma doença. Usamos um argumento
circular para defender nosso argumento. Isso não é o mesmo que dizer que estamos errados, mas
apenas afirma que isso pode estar errado e ainda poderíamos ter gerado um vínculo que atenderia
aos critérios causais. Se você definir uma depressão pós-natal como uma depressão que se segue
duas semanas após o parto, isso não significa que o parto está causando depressão (embora possa
ser o caso). Ele seguiria o diagrama, porque ilustra apenas uma sequência de eventos. Depressões
ocorrem em vários momentos da vida e algumas acontecerão nas 2 semanas seguintes ao parto,
devido apenas ao acaso. Se incluirmos uma certa mutação genética em nossa definição de uma

37
determinada doença, a mutação se tornará uma "causa" necessária da doença, independentemente
de ter ou não algo a ver com ela.

Uma causa suficiente é uma causa que é sempre seguida pela doença, mas a doença também pode
ter outras causas:
Figura 8 – Diagrama de causa suficiente

Temos apenas alguns exemplos, mas a falta de ferro ou vitamina B na dieta (E) e anemia (D) podem
ser essas causas. Uma causa necessária e suficiente é ilustrada por E → D e aqui são poucos os
exemplos, se houver. Uma exceção pode ser as desordens de um único gene, onde a doença quase
sempre segue a presença da “mutação”, como na PKU, fibrose cística ou doença das células
falciformes.

De fato, a maioria das causas que estudamos parece seguir um padrão como este:
Figura 9 – Diagrama de causalidade mais comum

Às vezes D segue E, mas nem sempre, e às vezes D é visto para pessoas não expostas a E. Mackie
mostrou que, se imaginarmos causas agindo em conjunto (no que ele chamou de campos causais),
as causas individuais seguiriam um padrão probabilístico em populações caracterizadas pela
frequência de outras causas no campo causal (chamadas causas componentes). São necessárias
pelo menos quatro causas para gerar um padrão em que nenhuma dessas quatro (E1 – E4) é
necessária ou suficiente no sentido global “forte”.

Em conclusão, os modelos causais dos componentes explicam algumas das anomalias que estão
em conflito com os conceitos de senso comum, tais como: (1) Por que as causas não ocasionam
efeitos totais? O motivo é que os eventos têm mais de uma causa e o campo causal deve ser
concluído para iniciar um evento. (2) Por que vemos efeitos atrasados? Os efeitos retardados vêm
do tempo que leva desde o início da exposição até que os outros componentes no campo causal
estejam em vigor (tempo de indução) e o tempo que leva para concluir o campo causal até que a
doença atinja um estágio em que está detectável (tempo de latência). (3) Como podemos entender
a força da associação? A força da associação depende mais da ocorrência de outras causas
componentes que levam a uma doença. Se essas outras causas componentes são frequentes na
população, a força da associação é alta; se eles são raros, a força da associação é baixa.

3.6 Epidemiologia descritiva


Dados sobre incidência e prevalência de doenças são necessários para caracterizar a saúde de uma
população. As organizações de saúde pública supervisionam esses esforços. A equipe de saúde

38
pública precisa ter um diagnóstico da comunidade para definir prioridades. A chave para esse
diagnóstico é a incidência e prevalência de doenças e a ocorrência de fatores de risco na população.

Precisamos monitorar os dados de incidência ao longo do tempo para identificar alterações em sua
ocorrência. Se a incidência está aumentando e sabemos as causas e como evitá-las, estratégias de
prevenção podem ser aplicadas.

Uma doença cuja prevalência seja significativa, mas constante ao longo do tempo é considerada Endêmica,
se a prevalência de uma doença aumentar ao longo do tempo acima do valor esperado ela é considerada
Epidêmica.

As comparações de incidências entre diferentes áreas têm sido usadas com grande sucesso para
gerar hipóteses sobre a etiologia das doenças. As taxas de câncer variam, por exemplo, em grande
parte entre diferentes áreas geográficas. Parte do motivo de uma variação pode ser uma diferença
nas causas genéticas, mas os estudos também mostram uma grande variação entre grupos étnicos
semelhantes ou dentro de um grupo étnico em que uma parte migra de um país para outro. Por
exemplo, os japoneses têm baixas taxas de incidência de câncer de cólon no Japão, mas essas
taxas aumentam após algum tempo para as novas áreas de alto risco, como os EUA. Mudanças
rápidas ao longo do tempo na mesma população geralmente não são motivadas por fatores
genéticos, embora possam ter um componente genético, como expressões gênicas, dependendo
das exposições ambientais. Várias observações indicam que a associação entre obesidade e
diabetes difere amplamente entre grupos étnicos, provavelmente devido a fatores genéticos que são
ativados sob certas condições de estilo de vida.

Quando uma epidemia se torna internacional, ela é considerada uma pandemia.

Dados descritivos também são usados para demonstrar diferenças sociais em doenças e
mortalidade. No Reino Unido, por exemplo, as tabelas de mortalidade ocupacional foram produzidas
por mais de um século. Nos escritórios do Censo Demográfico e nas Pesquisas, as causas de morte
são exibidas de acordo com grupos ocupacionais e sociais.

Existe uma incidência cumulativa de sintomas de intoxicação alimentar 24 horas após a ingestão dos
itens alimentares suspeitos. Devido à tradição, essas proporções (riscos) cumulativas de incidência
são chamadas taxas de ataque. Diferenças nessas taxas são usadas para gerar hipóteses de itens
alimentares específicos que devem ser mais investigados (por exemplo, frango grelhado).

A Organização Mundial da Saúde produziu documentos sobre a carga global de doenças para nos
lembrar de como a saúde é desigualmente distribuída no mundo e de quão estreitamente muitos de
nossos indicadores de saúde se correlacionam com a pobreza.

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O profissional de saúde pública precisa estar familiarizado com mais medidas de ocorrência de
doenças e com a relação entre essas medidas. Muitas vezes eles terão que trabalhar com dados
secundários que apenas aproximam as informações necessárias para fazer cálculos exatos. Eles
devem saber quando essas aproximações são boas o suficiente para o objetivo em questão e quando
não são.

Além disso, na saúde pública, muitas vezes é útil estimar a proporção de doenças que poderia ser
evitada se eliminarmos a exposição, a fração atribuível. Se a exposição for uma causa necessária
"forte" para a doença, o cálculo é simples, pois não haverá casos se eliminarmos a exposição.

Não temos casos de varíola porque o vírus da varíola foi erradicado, pelo menos fora de alguns
laboratórios. Na maioria dos outros casos, a situação é mais complicada.

No site http://www.saude.gov.br/boletins-epidemiologicos estão presentes vários levantamentos


epidemiológicos no Brasil atualizados de forma constante

3.7 Padronização por idade


Quando comparamos a ocorrência de doenças entre as populações para estimar os efeitos,
gostaríamos de levar em consideração o maior número possível de fatores que possam explicar a
diferença, exceto a exposição em estudo e suas consequências. Tentamos abordar um ideal
contrafactual inatingível, fazendo a pergunta: qual seria a ocorrência da doença se não fôssemos
expostos? Nas apresentações descritivas, o objetivo é menos ambicioso, mas é prática comum em
tabelas estatísticas de rotina fazer comparações com pelo menos idade e sexo ajustados. A maioria
das doenças e causas de morte variam com a idade e o sexo, assim, as taxas brutas de incidência
e mortalidade geralmente não devem ser comparadas, a menos que a estrutura subjacente de idade
e sexo nas populações seja semelhante. A idade é um relógio de ponto que começa no nascimento
e se correlaciona com alterações biológicas ao longo do tempo e exposições ambientais cumulativas.
Portanto, a maioria das doenças depende fortemente da idade.

A taxa de mortalidade geral bruta é maior na Dinamarca do que na Groenlândia (11 e 6 por 1.000),
apesar de todas as taxas de mortalidade específicas por idade serem mais altas na Groenlândia (de
1,1 a 5,0 vezes mais). A explicação para isso é que a população da Groenlândia é muito mais jovem
que a da Dinamarca e as taxas de mortalidade aumentam com a idade, logo a comparação é confusa
com a idade. A taxa bruta de mortalidade relativa 6/11 = 0,55 reflete tanto as diferenças nas taxas
de mortalidade quanto as diferenças na estrutura etária. Nesse caso, as diferenças na estrutura etária
e nas taxas de mortalidade específicas são tão grandes que até a direção da associação está errada.
No entanto, é fato que apenas 6 homens por 1.000 na Groenlândia morreram em 1975, enquanto 11
por 1.000 morreram na Dinamarca. O risco de morrer era maior na Dinamarca porque a população
era muito mais velha que na Groenlândia, não porque a expectativa de vida era menor na Dinamarca
do que na Groenlândia; de fato, a expectativa de vida foi e é maior na Dinamarca do que na
Groenlândia para homens e mulheres. A taxa de mortalidade bruta é uma média ponderada das
taxas de mortalidade específicas por idade. Os pesos são as proporções de pessoas nas categorias

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de idade. A comparação das taxas brutas é confusa com a idade, porque esses pesos específicos
da idade diferem nas duas populações.

Quando envelhecemos a padronização, devemos usar o mesmo conjunto de pesos específicos para
a idade na comparação e usá-la como nossa definição de padronização de idade. Se usarmos um
conjunto externo de pesos - semelhante ao uso de uma distribuição etária em uma população modelo
fiel - a padronização é chamada de padronização direta.

Se usarmos um dos dois conjuntos de pesos para as populações que queremos comparar,
chamamos a padronização de indireta, embora essa terminologia não seja muito informativa. O
importante é que os dados sejam padronizados por idade se as taxas de mortalidade específicas por
idade que comparamos forem ponderadas pelo mesmo conjunto de pesos. Existem diferentes pesos
para selecionar e essa escolha deve ser feita com cuidado. A menos que as taxas de mortalidade
relativa sejam as mesmas em todas as faixas etárias, a seleção do peso afetará o resultado obtido.

Considerações Finais
A epidemiologia identifica a distribuição de doenças, fatores subjacentes à sua fonte e causa e
métodos para seu controle. Isso requer uma compreensão de como fatores políticos, sociais e
científicos se cruzam para agravar o risco de doença, o que torna a epidemiologia uma ciência única.

A epidemiologia remonta à Era de Péricles no século V a.C., mas sua posição como uma ciência
'verdadeira' no século XXI é frequentemente questionada. Isso é inesperado, dado que a
epidemiologia afeta diretamente vidas e nossa dependência somente aumentará em um mundo em
mudança.

É inquestionável que a disciplina salvou milhões de vidas, tanto de doenças infecciosas quanto não
transmissíveis, por meio de intervenções e programas preventivos que foram implementados como
resultado dos resultados do estudo.

No livro “Epidemiologia”, do autor Roberto A. Medronho, o leitor vai encontrar de forma mais aprofundada todos
os conceitos chaves para o entendimento da epidemiologia de forma clara.

As prioridades de saúde pública devem ser definidas pela combinação de quão graves são as doenças e nossa
capacidade de alterar sua frequência ou gravidade. Essa intervenção requer conhecimento de como tratar e
prevenir a doença.
Para estimar a incidência e a prevalência de uma doença em uma determinada população, precisamos
identificar a população e examinar todas as pessoas nela ou uma amostra delas em um determinado momento
(para estimar a prevalência) ou durante um período de acompanhamento (para estimar a incidência). Então,
teremos ideia de quanto aquela doença aflige aquela determinada população.

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Provavelmente a medida epidemiológica mais conhecida é a mortalidade. As taxas de mortalidade são o
número de mortes em uma determinada população dividido pelo período de tempo em que tivemos essa
população sob observação.
Outra medida epidemiológica é a expectativa de vida. A expectativa de vida é baseada na experiência atual de
mortalidade e, portanto, nas exposições passadas para se ter uma ideia da média das idades em que os
membros da população entram em óbito.
Uma medida epidemiológica para se avaliar a gravidade de uma doença é a taxa de letalidade, que é a
proporção de pessoas que morrem de uma doença especificada entre todos os indivíduos diagnosticados com
a doença durante um certo período de tempo. A letalidade é frequentemente usada para prognóstico.
As medidas epidemiológicas nos lembram que as doenças não são eventos aleatórios, mas resultados da
interação entre genes e fatores ambientais. Portanto, somos capazes de prevenir várias doenças ou, pelo
menos, atrasar seu tempo de início, reduzindo as causas que são reduzíveis.
Embora tenhamos estabelecido um grande número de determinantes da doença, nossas previsões de sua
ocorrência no futuro são incertas.
Dados descritivos também são usados para demonstrar diferenças sociais em doenças e mortalidade. A
Organização Mundial da Saúde produziu documentos sobre a carga global de doenças para nos lembrar de
como a saúde é desigualmente distribuída no mundo e de quão estreitamente muitos de nossos indicadores
de saúde se correlacionam com a pobreza.
A maioria das doenças e causas de morte variam com a idade e o sexo, assim, as taxas brutas de incidência
e mortalidade geralmente não devem ser comparadas, a menos que a estrutura subjacente de idade e sexo
nas populações seja semelhante. A idade é um relógio de ponto que começa no nascimento e se correlaciona
com alterações biológicas ao longo do tempo e exposições ambientais cumulativas. Portanto, a maioria das
doenças depende fortemente da idade.

Em uma determinada população de 5 mil habitantes, em um determinado ano, o número de mortes por doenças
cardiovasculares foi de 5 habitantes, o número de mortes por câncer foi de 5% e o número de mortes por outras
causas foi de 50 habitantes. Qual a mortalidade geral nessa população em porcentagem?
a) 50%
b) 10,1%
c) 10%
d) 15%
e) 11%

Resposta Correta: Alternativa B

Questão Objetiva
O Sarampo é uma doença viral aguda que estava erradicada no Brasil, porém, com os movimentos antivacina
e a consequente redução de criança vacinadas contra o sarampo, a doença voltou a apresentar casos no país.
Sabe-se que, em média, a cada 100 pessoas que se contagiam com o sarampo, 15 vão a óbito. Baseado
nesses dados, qual a letalidade do sarampo?

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a) 15 óbitos por mil habitantes.
b) 1,5%
c) 15%
d) 15‰
e) 150%

Questão Discursiva
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV),
demonstrando assim uma causalidade linear, ou seja, para se ter a doença, precisa estar infectado com o
vírus. Podemos dizer, portanto, que toda doença tem uma causa linear?

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa D

Questão Discursiva
Resposta Padrão: Não. A maioria das doenças que atingem os humanos são multicausais, formando um
panorama probabilístico, em que cada causa pode ou não desencadear a doença, ou que várias causas podem
de modo sinergético levar à maior probabilidade do surgimento da doença.

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UNIDADE I
CAPÍTULO 4 – BIOMEDICINA ESTÉTICA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ História e introdução à estética;
✓ Procedimentos minimamente invasivos;
✓ Laserterapia;
✓ Eletroterapia;
✓ Peelings.

Introdução
A Biomedicina Estética é uma recente especialidade da biomedicina reconhecida pelo Conselho
Federal de Biomedicina (CFBM). Essa especialidade é voltada para o tratamento estético do paciente
saudável, cuidando da saúde, bem-estar e beleza do paciente através da utilização dos melhores
produtos e equipamentos da saúde no tratamento e na recuperação dos tecidos e do organismo
como um todo.

O biomédico esteta é um profissional da saúde bem preparado que possui vasto conhecimento
dermatofisiológico, ou seja, possui conhecimento acerca das características da derme, seus anexos,
demais tecidos (incluindo tecido adiposo), metabolismo e patologias. O conhecimento adquirido
durante a formação do profissional biomédico permite a realização de terapias para disfunções
estéticas corporais, faciais e envelhecimento fisiológico relacionados à derme e seus anexos, tecido
adiposo e metabolismo, promovendo melhor qualidade de vida ao paciente.

Durante os anos, a medicina, por meio de dois atos médicos, tentou limitar sem sucesso a atuação dos
biomédicos e demais profissionais da saúde no campo da estética. A biomedicina estética é reconhecida pelo
CFBM e o biomédico habilitado em estética é totalmente capacitado em realizar os procedimentos que a ele
são permitidos legalmente.

4.1 Introdução à biomedicina estética


O projeto para a criação da especialidade de Biomedicina estética foi desenvolvido em 2006 pela
Dra. Ana Carolina Puga (Figura 10), que o apresentou, por meio de palestras, em diversas
Instituições de Ensino do Brasil com a finalidade de conscientizar a classe sobre a capacidade do
profissional biomédico em atuar na área de saúde estética. No dia 10 de outubro de 2010, Puga
apresentou o projeto em plenária perante membros do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM),
onde foi votado e aprovado por unanimidade pelos membros do CFBM e dos Conselhos Regionais
de Biomedicina (CRBMs). A Resolução nº 197, publicada em 21 de fevereiro de 2011, estabeleceu
a Biomedicina Estética como a 36ª especialidade da Biomedicina e a primeira especialidade do
biomédico voltada para a Saúde Estética.

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Figura 10 – Dr.ª Ana Carolina Puga, idealizadora da Biomedicina Estética e Presidente Fundadora da
Sociedade Brasileira de Biomedicina Estética (SBBME)

Fonte: SBBME

Na mesma plenária que aprovou a Biomedicina Estética como especialidade da Biomedicina,


também foi aprovada a criação da Sociedade Brasileira de Biomedicina Estética (SBBME). Dra. Ana
Carolina Puga já tinha consciência da importância de uma Sociedade que defendesse os direitos da
classe e apresentou a proposta de criação da SBBME em conjunto com a proposta da Biomedicina
Estética.

Desde então, a Dra. Ana Carolina Puga se encontra envolvida em diversos projetos relacionados à
Biomedicina Estética, permitindo que o biomédico esteta possa realizar cada vez mais
procedimentos estéticos e que o exercício da Biomedicina na área da estética seja expandido, além
de fornecer segurança à especialidade.

Em 1946, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como: “um estado de completo
bem estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade”. Esse
conceito de saúde foi universalmente aceito e ainda é até os dias de hoje. O principal objetivo da
saúde estética é proporcionar saúde aos pacientes por meio da beleza, proporcionando melhores
condições de bem estar físico, mental e social, além de prevenir doenças, promover
rejuvenescimento fisiológico, melhorar a autoestima e os hábitos de vida. Considerando esse
conceito e sabendo que o biomédico é um profissional da saúde que domina o conhecimento sobre
recursos medicamentosos, laboratoriais e tecnológicos, não podemos negar o papel da biomedicina
e dos biomédicos em atividades da área da saúde estética.

É preciso estar ciente que os profissionais biomédicos não diagnosticam ou tratam doenças de
quaisquer naturezas, incluindo as dermatológicas. A atuação do biomédico esteta na área da saúde
estética está voltada para procedimentos puramente estéticos e não cirúrgicos.

Na prática da biomedicina estética é permitida ao profissional a consulta estética, onde é realizada a


avaliação do paciente e determinada a estratégia de tratamento estético que deverá ser realizada. O
biomédico esteta é capacitado a prescrever substâncias, medicamentos e terapias de fins estéticos,
bem como realizar procedimentos minimamente invasivos (não cirúrgicos). Além disso, pode atuar
como responsável técnico em clínicas e consultórios que ofereçam atividades no campo estético. O
biomédico esteta tem total competência para identificar disfunções de pele e encaminhar o paciente
para um médico especialista.

O campo da estética vem se mostrando promissor para o biomédico, que pode atuar em consultórios
e clínicas de tratamentos estéticos. O biomédico ainda pode atuar em conjunto com dermatologistas
ou cirurgiões plásticos em alguns tratamentos preventivos e no acompanhamento pós-cirúrgico.

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Além disso, o biomédico esteta pode atuar na área da pesquisa em biomedicina estética e no
desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos. É permitido também que ele atue como
docente em cursos profissionalizantes, de graduação e pós-graduação na biomedicina estética.

O Brasil é um dos países que apresenta grande mercado consumidor de produtos estéticos e
cosméticos, com alta busca por métodos alternativos menos invasivos de tratamento, favorecendo o
desenvolvimento da área e do profissional.

Para se aprofundar um pouco mais na biomedicina estética, acesse o site da Sociedade Brasileira de
Biomedicina Estética: https://sbbme.org.br/

4.2 Consulta estética e responsabilidade técnica


O biomédico esteta tem contato direto com o paciente e é responsável por realizar a anamnese
corporal e facial, analisar as condições do paciente, definir a estratégia do tratamento estético a ser
realizado e acompanhar a evolução do paciente saudável.

Inicialmente, durante a consulta estética, o biomédico esteta faz anamnese corporal e facial, a qual
consiste em uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao paciente e possui a intenção de
ser um ponto inicial na identificação das condições do paciente. Dessa forma, é possível classificar
o tipo de pele do paciente e identificar disfunções estéticas (dermatofisiológicas).

A pele pode ser classificada quanto ao biotipo e ao fototipo. A classificação quanto ao biotipo
cutâneo está relacionada à quantidade de oleosidade e de hidratação que a pele possui. Existem
quatro tipos de biotipos cutâneos: a pele normal (eudérmica), a pele oleosa (lipídica), a pele seca
(alipítica) e a pele mista (combinada). A classificação quanto ao fototipo está relacionada à reação
da pele quando exposta ao sol, possuindo 6 fototipos.

As disfunções estéticas são alterações orgânicas que possuem diferentes causas. As disfunções
mais comuns são: a Lipodistrofia, conhecida como gordura localizada, lipodistrofia ginoide,
conhecida como celulite, as estrias e a flacidez tissular (da pele) e muscular. A Síndrome de
Desarmonia Corporal consiste em um conjunto de sintomas associados: alterações da gordura
corporal, presença de celulite e alterações musculares. Cada um desses sintomas pode se
apresentar em intensidades diferentes e, por esse motivo, o tratamento deve ser individualizado.

Assim que as condições do paciente são analisadas, é definida a estratégia de tratamento. O


biomédico esteta é capacitado a prescrever substâncias e medicamentos de fins estéticos, como
cosméticos, cosmecêuticos e nutricosméticos, medicamentos biológicos, correlatos, livres e
manipulados não controlados, terapias de longevidade, antienvelhecimento e envelhecimento
saudável.

O biomédico esteta que assume responsabilidade técnica em estabelecimentos que ofereçam


serviços de fins estéticos é responsável por acompanhar o paciente saudável durante todo o
tratamento estético, supervisionar o tratamento e oferecer treinamentos técnicos.

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4.3 Procedimentos minimamente invasivos
Procedimentos minimamente invasivos são procedimentos injetáveis, perfurocortantes ou
escarificantes, realizados com agulhas e injeções hipodérmicas. Esse tipo de procedimento invade
epiderme, derme, a gordura subcutânea e o músculo (Figura 11) sem atingir órgãos internos e, por
esse motivo, são considerados como não cirúrgicos. Dos procedimentos minimamente invasivos
realizados pelo biomédico esteta, temos a carboxiterapia, microagulhamento, toxina botulínica,
preenchimento, fio de sustentação, intradermoterapia, intramuscular e procedimento para
microvasos.
Figura 11 – Injeções minimamente invasivas

Fonte: biomedicinaestetica.com.br

Sob hipótese alguma o biomédico pode realizar procedimentos invasivos, como cirurgias e outros
procedimentos que possam atingir órgãos internos.

A carboxiterapia é uma das técnicas em estética mais procuradas e é indicado no tratamento de


gordura localizada, estrias, celulite, flacidez, rugas, olheiras, queda de cabelo e cicatrizes de acnes.
O procedimento consiste na aplicação subcutânea de concentrações controladas de gás carbônico
(CO2) por meio de microinjeções. Quando injetado, o CO2 atua promovendo a dilatação dos vasos
sanguíneos, estimulando a formação de novos vasos e, consequentemente, aumentando o fluxo
sanguíneo na região desejada. Esses efeitos resultam em renovação e recuperação da pele,
suavizando e até eliminando celulites e cicatrizes de acne. A gordura localizada é eliminada por meio
do aumento do metabolismo local. As estrias são suavizadas, visto que o procedimento melhora a
elasticidade da pele e reorganiza as fibras de colágeno e elastina, deixando a pele mais lisa e sem

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arranhaduras. Além disso, a formação de colágeno e elastina pode contribuir para a melhora no
aspecto da flacidez e das rugas. Quando à carboxiterapia, ela é aplicada no couro cabelo, sendo
capaz de fortalecer e produzir novos folículos capilares por meio do aumento da irrigação sanguínea,
resultando em redução da queda de cabelo. Na região de olheiras, a formação de novos vasos
sanguíneos estimulada pela carboxiterapia pode amenizar a aparência escurecida.

A realização da carboxiterapia pode causar um pouco de desconforto devido ao gás injetado na pele,
entretanto, esse desconforto pode variar em cada pessoa.

O microagulhamento, também conhecido como dermaroller, é uma das técnicas indicadas para o
tratamento da pele, capaz de reduzir os efeitos do envelhecimento, minimizar manchas, cicatrizes e
outras lesões cutâneas, como acnes e estrias. O procedimento consiste na utilização de um rolo com
microagulhas estéreis e inoxidáveis de comprimento variando entre 0,25mm a 2,5mm. As
microagulhas provocam microlesões no local, promovendo nele processo inflamatório de
cicatrização. Durante esse processo de se recompor, ocorre estimulação da produção de colágeno,
melhorando a aparência da pele. Em outras palavras, esse tratamento ocorre em três fases: injúria,
cicatrização e maturação. Antes do procedimento, um creme anestésico é aplicado na região a ser
tratada. A ocorrência de sangramento leve é normal, visto que a derme (região vascularizada) é
atingida. O rolo com microagulhas é descartável, portanto, não deve ser reutilizado de forma alguma.

A aplicação de toxina botulínica, conhecida popularmente como botox, é um dos procedimentos


em estética mais utilizados, sendo o Brasil um dos países com maior procura. A toxina botulínica é
produzida pela bactéria Clostridium botulinum, sendo a causadora da doença chamada botulismo.
Essa toxina é capaz de inibir a libertação de acetilcolina nas junções neuromusculares, impedindo a
transmissão nervosa e promovendo o relaxamento (ou paralisia) muscular. O relaxamento muscular
induzido no diafragma impede a ventilação, o que leva o indivíduo à morte. Existem sete sorotipos
diferentes dessa toxina: A, B, C, D, E, F e G. Em procedimentos estéticos, o sorotipo A é o mais
utilizado. Antes da administração, a toxina deve ser preparada em condições específicas, garantindo
sua pureza. Injeções aplicadas na dose correta e sob supervisão são bem toleradas. A toxina
botulínica pode ser utilizada no tratamento de rugas, sorriso gengival, poros dilatados, hiperidrose
(transpiração excessiva), entre outros. O efeito induzido pela injeção se inicia a partir de 48 a 72
horas e geralmente dura cerca de três a seis meses.

O preenchimento é o procedimento onde o biomédico esteta aplica substâncias preenchedoras, as


quais são absorvidas pelo corpo em até dois anos. É indicado principalmente para o tratamento de
rugas, sendo um complemento à aplicação da toxina botulínica. Além disso, o preenchimento pode
ser aplicado para o rejuvenescimento das mãos, remodelamento do nariz (de forma não cirúrgica),
melhoramento do aspecto de mamilos planos ou invertidos e redução da flacidez nos lóbulos das
orelhas.

Áreas da pele onde houve perda de gordura são preenchidas geralmente com ácido hialurônico. O
ácido hialurônico está presente naturalmente no organismo e se encontra em maior quantidade na
pele, onde tem papel importante no preenchimento dos espaços que as células não ocupam,
promovendo a sua firmeza. Dessa forma, aplicações de ácido hialurônico melhoram a estrutura e a
elasticidade da pele, suavizam ou removem as rugas, restauram e realçam o volume da face, além
de permitir a correção de sulcos na pele, remodelação e sustentação facial.

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O polimetilmetacrilato (PMMA) é uma substância plástica e o preenchimento realizado com ela não é indicado
para fins estéticos, visto que é um material que pode trazer diversas complicações a longo prazo.

Os fios de sustentação PDO, também conhecidos como sutura Silhouette, são fios de
polidioxanona capazes de eliminar rugas e linhas de expressão, levantar as maçãs do rosto, eliminar
o excesso de pele abaixo do queixo (conhecido como papada) e ainda estimular a produção de
colágeno. A aplicação dos fios é feita separadamente em cada região com o auxílio de uma agulha
apropriada e, em seguida, os tecidos faciais do paciente saudável são reposicionados. O
procedimento é realizado com o paciente acordado e sob anestesia local. A melhora na condição do
paciente pode ser notada imediatamente após o procedimento, porém, os melhores resultados
surgem entre 60 a 90 dias após a aplicação, sendo absorvidos ao longo do tempo. A recuperação é
tranquila e após 2 ou 3 dias o paciente pode retornar às suas atividades normais. Os fios de
sustentação possuem efeito rejuvenescedor, estimulando a produção de colágeno e de sustentação,
reposicionado a musculatura facial.

A intradermoterapia, também conhecida como mesoterapia, consiste na aplicação de


medicamentos por meio de injeção no tecido dérmico ou subcutâneo em regiões corporais, faciais
ou capilares. Essa técnica é indicada para tratamentos de celulite, gordura localizada, estrias,
flacidez e desvitalização da pele da face. O biomédico esteta é responsável por escolher o
medicamento ideal de acordo com o objetivo do tratamento. A aplicação é realizada por meio de
agulhas, que introduzem quantidades adequadas do medicamento no tecido subcutâneo e dérmico.
As injeções inserem a solução chamada de mescla, a qual consiste em um conjunto de aminoácidos,
vitaminas, anestésicos, medicações lipolíticas, substâncias eutróficas, substratos nutrientes e extrato
de enzimas e plantas. Os medicamentos inseridos aumentam a permeabilidade celular e promovem
a vasodilatação, o que favorece a chegada do material. Os resultados do procedimento podem ser
observados após pelo menos 5 sessões, dependendo das substâncias usadas.

O tratamento intramuscular é semelhante a intradermoterapia, porém, as aplicações de


medicamentos são feitas por meio de injeções no tecido muscular. Essa técnica é indicada para
tratamentos de celulite, além de auxiliar no processo de emagrecimento em pacientes em tratamento
nutricional, que realizam atividade física. Injeções intramusculares de medicamentos específicos são
capazes de acelerar o metabolismo e reduzir a vontade de doces. Um exemplo é a injeção
intramuscular de Aminoácidos de Cadeia Ramificada (BCAA). O BCAA é composto pelos
aminoácidos leucina, valina e isoleucina. Em conjunto, esses três aminoácidos são responsáveis
pela formação de cerca de 1/3 das proteínas encontradas no tecido muscular e são fundamentais
para o crescimento e desenvolvimento desse tecido. A aplicação de BCAA diretamente no músculo
promove melhor metabolização e potencializa o ganho de massa muscular, trazendo resultados mais
eficazes.

O Procedimento Estético Injetável para Microvasos (PEIM) é a técnica em estética indicada para
o tratamento de microvasos, conhecidos popularmente como “vasinhos”. Os microvasos são vasos
muito finos de cor avermelhada ou arroxeada, visíveis na superfície da pele. Microvasos não são
varizes: microvasos são veias que possuem entre 1 e 2 milímetros de diâmetro e as varizes possuem
diâmetro superior a 3 milímetros. O procedimento para microvasos consiste na aplicação de uma

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substância esclerosante no interior deles por meio de uma agulha bem fina. A substância
esclerosante injetada é capaz de promover uma contração do microvaso, fazendo com que se feche
e impeça a passagem sanguínea. A substância é biocompatível, sendo posteriormente metabolizada
e excretada pelo organismo.

4.4 Laserterapia
A Laserterapia consiste no tratamento com feixe eletromagnético em uma área do corpo para fins
estéticos. Existem diversos tipos de laser com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia
garantidos. Temos como exemplo o laser de CO2 fracionado, laser de rubi, laser Q-Switch, laser
diodo, laser de luz intensa pulsada, a fototerapia, entre outros tipos de laser.

O Laser CO2 fracionado é um dos mais indicados para o rejuvenescimento facial. Ao entrar em
contato com a pele, o laser atua fazendo microperfurações no tecido, as quais promovem
regeneração, estimulando a produção de colágeno e elastina na pele. Durante o procedimento, o
paciente saudável pode sentir um pouco de dor. Nas primeiras 24 horas após o procedimento, a dor
pode continuar diminuindo de forma gradativa, e vermelhidão e inchaço local podem ser observados.
Esse tipo de laser é indicado para o rejuvenescimento, diminuição de cicatrizes de acnes, flacidez
da pele e estrias.

O Laser de Rubi é o laser mais utilizado no tratamento de manchas e na remoção de tatuagens.


Esse laser produz luz vermelha com alta energia em um espaço de tempo extremamente curto, a
qual é absorvida somente pela melanina ou pelo pigmento da tatuagem. A alta velocidade na
aplicação da energia é fundamental para que não haja a formação de calor capaz de queimar e
danificar a estrutura da pele.

O Laser Q-Switch, assim como o Laser de Rubi, é um laser de despigmentação utilizado na remoção
de tatuagens. Esse laser fornece alta energia em um espaço de tempo extremamente curto,
provocando uma onda de choque capaz de fragmentar o pigmento em partículas muito pequenas
que serão eliminadas pelo sistema linfático.

O Laser Diodo é o mais recomendado para a remoção permanente de pelos (depilação a laser). O
laser emitido é capaz de queimar os pelos até o bulbo, promovendo a eliminação progressiva dos
pelos na região tratada. Durante o procedimento, o paciente saudável pode sentir um pouco de dor
e calor na região tratada. O número de sessões é determinado durante a avaliação realizada pelo
biomédico esteta e varia entre 04 a 06 sessões.

O Laser Luz Intensa Pulsada (LIP) pode ser utilizado em diferentes tipos de tratamento: remoção
de pelos (fotodepilação), rejuvenescimento, cauterização de vasos, eliminação de manchas
causadas pelos raios solares. Esse laser atua liberando raios de maneira difusa, sendo uma fonte
de energia luminosa que gera calor para a pele. Durante o procedimento, o paciente saudável pode
sentir um pouco de dor e calor na região tratada. O número de sessões é determinado durante a
avaliação realizada pelo biomédico esteta e varia de acordo com o objetivo do tratamento e o tipo de
pele do paciente saudável.

A fototerapia utiliza Luz Emitida por Diodo (LED), a qual faz parte do espectro eletromagnético
luminoso visível e/ou invisível. A aplicação da LED promove o aumento da síntese de ATP
(adenosina trifosfato), redução do pH intracelular, estimula macrófagos e atividade fagocitária, ativa
fibroblastos, induz a angiogênese (formação de novos capilares sanguíneos), entre outros efeitos.
Esse procedimento é indicado no tratamento de flacidez, linhas de expressão, manchas e cicatrizes.

50
4.5 Eletroterapia
A eletroterapia consiste no tratamento com correntes elétricas de baixa intensidade em uma área
do corpo para fins estéticos. Existem diversas técnicas com diferentes finalidades, todas com
segurança e eficácia garantidas. Temos como exemplo: a radiofrequência, criolipólise, a
ultracaviração, correntes elétricas (microcorrentes, corrente galvânica), entre outros tratamentos.

A radiofrequência é o procedimento onde utiliza-se correntes elétricas de alta frequência que


atravessam a pele e incidem na camada de gordura localizada, onde atuam elevando a temperatura
local, a circulação sanguínea local e a oxigenação dos tecidos, além de estimular a produção de
novas fibras de colágeno. O procedimento é indicado para o tratamento de flacidez, estrias, celulite,
cicatrizes, rugas e linhas de expressão. O procedimento é rápido e indolor e os resultados podem
ser observados em até três dias após a aplicação, sendo recomendado pelo menos três sessões
para melhores resultados.

A criolipólise é indicada no tratamento da gordura localizada. O procedimento consiste na utilização


de um vácuo, que promove a sucção da pele e, em seguida, um resfriamento intenso do local tratado.
A baixa temperatura (-5 a -10 ºC) atua danificando as células adiposas (células de gordura), as quais
são sensíveis a temperaturas mais frias, induzindo, dessa forma, a apoptose (morte) dessas células.
O músculo, o nervo e qualquer outro tecido não sofre nenhum dano.

A ultracavitação é outra técnica indicada no tratamento da gordura localizada. Esse procedimento


consiste na utilização de ultrassom de baixa frequência que danifica células de gordura na região
tratada. As ondas sonoras emitidas atravessam a pele e atingem a camada de gordura. Esse
processo gera bolhas de gás dentro das células, as quais acumulam energia e aumentam de
tamanho, até que a estrutura interna da célula se agita e é rompida, liberando a gordura. A gordura
é liberada na forma de ácidos graxos livres, os quais são reaproveitados como energia e glicerol pelo
organismo. O procedimento é indolor e diminuir em média cerca de 30% a 80% da gordura localizada.

A aplicação de microcorrentes é um tipo de eletroestimulação que utiliza correntes de intensidade


na faixa de microampères. O procedimento promove o aumento do metabolismo celular, melhora
o tônus muscular e acelera o processo cicatricial, estimulando, assim, o realinhamento das fibras
colágenas. É indicado para o tratamento de flacidez muscular, estrias, linhas de expressão, acne
ativa, olheiras e rejuvenescimento. O procedimento é indolor e não causa nenhum desconforto.
Os resultados podem ser observados já na primeira sessão, porém os efeitos dessa corrente são
cumulativos, apresentando melhores resultados em cerca de seis sessões.

A corrente galvânica é uma corrente contínua e constante. Na estética são utilizados dois eletrodos,
um positivo e outro negativo, que entram em contato com a pele, fazendo com que a corrente de
baixa frequência caminhe em um único sentido. Quando a pele é tratada previamente com
medicamentos, a corrente galvânica é capaz de estimular uma penetração mais profunda dos
componentes do medicamento. Além disso, a aplicação favorece a vasodilatação, aumenta a
temperatura e diminui a dor. O procedimento é indicado para o tratamento de acne, estrias, olheiras,
rugas, linhas de expressão e eliminação do excesso de sebo na pele.

4.6 Peelings
O peeling é o procedimento estético onde é feita a remoção de camadas mais superficiais da pele.
É considerado um dos tratamentos mais eficientes para manchas de acne ou de sol, olheiras, rugas,

51
flacidez e envelhecimento precoce. Existem variados tipos de peeling e a indicação de cada técnica
varia conforme as necessidades do paciente saudável.

O peeling químico consiste na utilização de ácidos sobre a pele. Existem diferentes tipos de ácidos
que podem ser utilizados em um peeling químico, como o ácido retinóico, o ácido glicólico, o ácido
salicílico, etc. De forma geral, os ácidos promovem a descamação e a remoção de células mortas,
resultando em regeneração da pele. Quanto mais agressiva for a técnica, mais profunda será sua
atuação. O peeling químico pode ser muito superficial a profundo e cada um possui uma indicação:

➢ Muito superficial: indicado para o tratamento da pele seca, sem brilho, cansada ou
maltratada.

➢ Superficial: indicado para o tratamento da pele áspera, com manchas superficiais, rugas
finas ou acne ativa.

➢ Médio: indicado para o tratamento da pele com manchas, rugas, sulcos, cicatrizes de acne
e marcas de expressão.

➢ Profundo: indicado para o tratamento da pele envelhecida ou com cicatrizes muito


profundas.

Melhores resultados podem ser observados na segunda sessão do tratamento. Durante o


tratamento, é necessário que o paciente saudável tenha muito cuidado com a exposição ao sol,
evitando-a quando possível e utilizando o protetor solar, visto que a pele está descamada e fica
sensível.

O peeling mecânico, também chamados de físico, consiste na esfoliação profunda da pele de forma
mecânica por meio da utilização de produtos e equipamentos apropriados. O procedimento estimula
a renovação celular e o rejuvenescimento da pele. Existem dois tipos de peelings mecânicos: os de
microdermoabrasão e os de hidrodermoabrasão.

O peeling de cristal é feito por microdermoabrasão e consiste em uma esfoliação na pele por meio
de microcristais de óxido de alumínio. O procedimento promove esfoliação apenas superficial do
tecido, estimulando a renovação do colágeno sem danificar o tecido. Além disso, não traz risco de
alergias como o peeling químico. Esse tipo de peeling é indicado para o tratamento de cicatrizes,
acnes, rugas finas e manchas, além de melhorar o aspecto (aparência e textura) da pele e ser eficaz
no rejuvenescimento.

O peeling de diamante é feito por microdermoabrasão superficial e consiste na esfoliação


superficial da pele por meio da utilização de uma ponteira e uma lixa diamantada. O procedimento
promove uma microesfoliação capaz de reduzir ou atenuar manchas, rugas, cicatrizes, poro dilatados
e acnes, além aumentar a maciez, a uniformidade e elasticidade da pele.

O peeling de água é feito por hidrodermoabrasão e consiste na esfoliação suave da pele por meio
da utilização de um jateamento de água em alta velocidade, associada à pressão negativa da
ponteira. A água quando combinada ao vácuo ou à caneta diamantada, é capaz de reduzir a
abrasividade e minimizar o ressecamento da pele, principalmente em comparação às técnicas
tradicionais.

52
Investigue novas técnicas de peeling desenvolvidas recentemente.

Considerações Finais
A Biomedicina Estética, recente especialidade da biomedicina, é a especialidade voltada para o
tratamento estético do paciente saudável, cuidando da saúde, bem-estar e beleza através da
utilização dos melhores produtos e equipamentos de saúde no tratamento e na recuperação dos
tecidos e do organismo como um todo.

O biomédico esteta é um dos profissionais da saúde qualificados e bem preparados, os quais


possuem importante conhecimento dermatofisiológicos, ou seja, possuem conhecimento acerca das
características da derme, seus anexos, demais tecidos (incluindo tecido adiposo), metabolismo e
patologias. Todo esse conhecimento permite que o biomédico seja um profissional capaz de realizar
terapias para disfunções estéticas corporais, faciais e envelhecimento fisiológico relacionados à
derme e seus anexos, tecido adiposo e metabolismo, promovendo melhor qualidade de vida ao
paciente.

O projeto para a criação da especialidade de Biomedicina estética foi desenvolvido em 2006 pela Dra. Ana
Carolina Puga. Somente no dia 10 de outubro de 2010, Puga apresentou o projeto em plenária perante
membros do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), onde foi votado e aprovado por unanimidade pelos
membros do CFBM e dos Conselhos Regionais de Biomedicina (CRBMs). A Resolução nº 197, publicada em
21 de fevereiro de 2011, estabeleceu a Biomedicina Estética como a 36ª especialidade da Biomedicina e a
primeira especialidade do biomédico voltada para a Saúde Estética.
O principal objetivo da saúde estética é proporcionar saúde aos pacientes por meio da beleza, proporcionando
melhores condições de bem estar físico, mental e social, além de prevenir doenças, promover
rejuvenescimento fisiológico, melhorar a autoestima e os hábitos de vida. Considerando esse conceito e
sabendo que o biomédico é um profissional da saúde que domina o conhecimento sobre recursos
medicamentosos, laboratoriais e tecnológicos, não podemos negar o papel da biomedicina e dos biomédicos
em atividades da área da saúde estética.
Na prática da biomedicina estética, ao profissional é permitida a consulta estética, onde é realizada a avaliação
do paciente e determinada a estratégia de tratamento estético que deverá ser realizada. O biomédico esteta é
capacitado a prescrever substâncias, medicamentos e terapias de fins estéticos, bem como realizar
procedimentos minimamente invasivos (não cirúrgicos). Além disso, pode atuar como responsável técnico em
clínicas e consultórios que ofereçam atividades no campo estético. O biomédico esteta tem total competência
para identificar disfunções de pele e encaminhar o paciente para um médico especialista.
Procedimentos minimamente invasivos são procedimentos injetáveis, perfurocortantes ou escarificantes,
realizados com agulhas e injeções hipodérmicas. Esse tipo de procedimento invade epiderme, derme, a
gordura subcutânea e o músculo (Figura 2) sem atingir órgãos internos e, por esse motivo, são considerados
como não cirúrgicos. Dos procedimentos minimamente invasivos realizados pelo biomédico esteta temos a
carboxiterapia, microagulhamento, toxina botulínica, preenchimento, fio de sustentação, intradermoterapia,
intramuscular e procedimento para microvasos.

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Laserterapia consiste no tratamento com feixe eletromagnético em uma área do corpo para fins estéticos.
Existem diversos tipos de laser com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia garantidas. Temos
como exemplo: o laser de CO2 fracionado, laser de rubi, laser Q-Switch, laser diodo, laser de luz intensa
pulsada, a fototerapia, entre outros tipos de laser.
A eletroterapia consiste no tratamento com correntes elétricas de baixa intensidade em uma área do corpo
para fins estéticos. Existem diversas técnicas com diferentes finalidades, todos com segurança e eficácia
garantidas. Temos como exemplo: a radiofrequência, criolipólise, a ultracaviração, correntes elétricas
(microcorrentes, corrente galvânica e microgalvânica), entre outros tratamentos.

(ENADE, 2019) Um biomédico, recém-formado e habilitado em Estética, tornou-se empreendedor e


responsável técnico de uma clínica especializada nessa área. Ele contratou uma empresa de marketing para
divulgar seus serviços na mídia, anunciando preços, modalidade de pagamento e outras formas de
comercialização das suas atividades. Para realização dos procedimentos estéticos, contratou dois colegas
biomédicos, um habilitado em Estética e outro, em Patologia Clínica/Análises Clínicas. O biomédico patologista
clínico/analista, por não estar trabalhando diretamente na sua área, aceitou remuneração inferior à reivindicada
pelo colega biomédico esteta. O biomédico esteta, então, comunicou essa situação ao Conselho Regional de
Biomedicina da sua região.
Considerando o Código de Ética Profissional Biomédico e a situação apresentada, avalie as afirmações a
seguir.
I. É direito do biomédico oferecer seus serviços profissionais por meio de mídia para se promover
profissionalmente e para reconhecimento da classe biomédica.
II. É vedado ao biomédico anunciar preços de serviços, modalidade de pagamento e outras formas de
comercialização.
III. É dever do profissional biomédico comunicar às autoridades sanitárias e profissionais fatos que
caracterizem infração ao Código de Ética e às normas que regulam o exercício das atividades
biomédicas.
IV. É facultativo ao biomédico aceitar remuneração inferior à reivindicada por um colega sem o seu prévio
consentimento ou a autorização do órgão de fiscalização profissional.

É correto apenas o que se afirma em:


a) I
b) IV
c) I e II
d) II e III
e) III e IV

Resposta Correta: Alternativa D

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Questão Objetiva
Procedimento que consiste na utilização de um vácuo, que promove a sucção da pele, e, em seguida, um
resfriamento intenso (-5 a -10 ºC) do local tratado:
a) Ultracapitação
b) Criolipólise
c) Peeling mecânico
d) Carboxiterapia
e) Laser fracionado

Questão Discursiva
Descreva como ocorre a consulta estética realizada pelo biomédico esteta.

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa B

Questão Discursiva
Resposta Padrão: Inicialmente, durante a consulta estética, o biomédico esteta faz anamnese corporal e
facial, a qual consiste em uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao paciente e possui a intenção
de ser um ponto inicial na identificação das condições do paciente. Dessa forma, é possível classificar o tipo
de pele do paciente e identificar disfunções estéticas (dermatofisiológicas). Assim que as condições do paciente
são analisadas, é definida a estratégia de tratamento. O biomédico esteta é capacitado a prescrever
substâncias e medicamentos de fins estéticos, como cosméticos, cosmecêuticos e nutricosméticos,
medicamentos biológicos, correlatos, livres e manipulados não controlados, terapias de longevidade,
antienvelhecimento e envelhecimento saudável.

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UNIDADE II
CAPÍTULO 5 – DIAGNÓSTICO POR IMAGEM
No término deste capítulo, você deverá saber sobre:
✓ Atuação do biomédico na imagenologia;
✓ Tomografia computadorizada;
✓ Ressonância magnética;
✓ Medicina nuclear;
✓ Ultrassonografia;
✓ Radiologia;
✓ Densitometria óssea;
✓ Radioterapia.

Introdução
A imagenologia é o campo da ciência que estuda os órgãos e sistemas do corpo humano por meio
da utilização de diferentes tipos de exames de imagem, dentre estes podemos destacar as
radiografias, a ultrassonografia, a tomografia, a ressonância magnética, a medicina nuclear,
densitometria óssea, etc.

Graças a Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 234 de 05 de dezembro de


2013, biomédico formado pode se habilitar em imagenologia e/ou radiologia. O biomédico
imagenologista e/ou radiologista atua em atividades de diagnóstico por imagem, operando
equipamentos, como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), medicina
nuclear (MN), ultrassonografia (USG), radiologia, densitometria óssea, radioterapia (RT) e
dosimetria, operando equipamentos de diferentes fontes de energia, atuando no pós processamento
de imagens e bioinformática, sendo capazes de compreender, analisar e reconhecer alterações nas
imagens obtidas.

O biomédico habilitado na área geralmente trabalha em hospitais, clínicas ou laboratórios


particulares colaborando com o diagnóstico de lesões e doenças que não podem ser detectadas com
outros tipos de exames. Entretanto, deve estar ciente dos turnos irregulares (incluindo noites, finais
de semana e feriados), além do risco de exposição à radiação, ruídos e material infectante e/ou
perfurocortante.

Neste capítulo, vamos aprender as atribuições do biomédico imagenologista, bem como os princípios
de alguns exames de imagem, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, medicina
nuclear, ultrassonografia, radiologia, densitometria óssea e radioterapia (RT).

Além dos exames em patologia clínica, o biomédico pode atuar na realização de diferentes tipos de exames
de imagem. A atuação desse profissional é de extrema importância, garantindo que doenças sejam
diagnosticadas precocemente e permitindo maiores chances de cura.

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5.1 Atuação do biomédico na imagenologia
Em exames de tomografia computadorizada, o biomédico imagenologista tem contato direto com o
paciente e a ele é permitido realizar a anamnese, administrar os meios de contraste e operar o
equipamento. Após a realização do procedimento, é o biomédico quem atua no pós-processamento
de imagens, na documentação dos exames e no gerenciamento dos sistemas de armazenamento
de informação. O biomédico imagenologista ainda é capaz de criar e aperfeiçoar protocolos de
exames, atuar na área da pesquisa em tomografia computadorizada, atuar em empresas
responsáveis pela venda de equipamentos e insumos, além de promover treinamento na área
especializada.
Assim como na tomografia computadorizada, na ressonância magnética o biomédico imagenologista
também tem contato direto com o paciente, realizando a anamnese, administrando os meios de
contraste e operando o equipamento. Após a realização do procedimento, o biomédico também atua
no pós-processamento de imagens, na documentação dos exames e no gerenciamento de sistemas
de armazenamento de informação. Além disso, ao biomédico imagenologista é permitido criar e
aperfeiçoar protocolos de exames, atuar na área da pesquisa em ressonância magnética e em
empresas responsáveis pela venda de equipamentos e insumos, bem como promover treinamento
na área especializada.
Na medicina nuclear, o biomédico imagenologista ou radiologista também tem contato direto com o
paciente, realizando a anamnese, operando equipamentos de PET/CT e PET/RM, a realizar
procedimentos de radiofarmácia, como preparar e administrar doses de radiofármacos para
diagnóstico conforme protocolos estabelecidos e sob supervisão do médico nuclear. Ainda na
radiofarmácia, o biomédico atua em atividades como: solicitação e controle de estoque de insumos;
preparação e controle de qualidade do eluato de geradores e radiofármacos marcados no setor; e
identificação, rotulagem e rastreabilidade de radiofármacos e radioisótopos. Após a realização do
procedimento, o biomédico também realiza pós-processamento de imagens, documentação dos
exames e no gerenciamento de sistemas de armazenamento de informação. Além disso, o
profissional é capaz de criar e aperfeiçoar protocolos de exames, atuar na área da pesquisa em
ressonância magnética e em empresas responsáveis pela venda de equipamentos e insumos.
No campo da ultrassonografia, a atuação do biomédico é restrita a atuar em empresas responsáveis
pela venda de equipamentos e insumos, além de promover treinamento na área especializada.
Na área da radiologia, o biomédico imagenologista e pode realizar a anamnese, administrar os meios
de contraste, operar o equipamento, atuar no pós-processamento de imagens, na documentação
dos exames e no gerenciamento de sistemas de armazenamento de informação. Além disso, o
profissional é capaz de criar e aperfeiçoar protocolos de exames, atuar na área da pesquisa em
ressonância magnética e atuar em empresas responsáveis pela venda de equipamentos e insumos.
O biomédico imagenologista é plenamente capaz de efetuar exames de densitometria óssea,
realizando a anamnese e obtendo a história clínica do paciente. Além disso, o biomédico também
atua no pós-processamento de imagens, na documentação dos exames.
O biomédico radiologista é capaz de atuar na área da radioterapia e ali tem contato direto com o
paciente, sendo responsável por posicionar o paciente de forma correta e operar equipamentos de
tratamento radioterápico (sob supervisão médica). Além disso, o biomédico pode adquirir imagens
pré-tratamento do paciente e analisá-las em conjunto com a equipe médica. É permitido ainda ao
biomédico trabalhar na área da pesquisa em radiologia, em empresas responsáveis pela venda de
equipamentos e acessórios e na promoção de treinamento para profissionais da saúde.

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Ainda no campo da radioterapia, o biomédico pode atuar como dosimetrista, executando tarefas de
simulação, planejamento computadorizado, cálculo de doses de radiação e auxiliando a equipe
durante o período pré-tratamento. O biomédico dosimetrista ainda pode atuar na área da pesquisa
clínica.

5.2 Tomografia computadorizada


A tomografia computadorizada (TC) é um método de diagnóstico por imagem não invasivo que
utiliza raios-X para formar imagens dos órgãos internos do corpo. O equipamento responsável pela
aquisição das imagens é chamado de tomógrafo, que possui forma de túnel com uma abertura no
centro, onde há uma mesa sobre a qual o paciente se deitará e que desliza para dentro do
equipamento (Figura 12).
Figura 12 – Tomógrafo

Fonte: https://www.radiologiaclinicadecampinas.com.br/

O tomógrafo possui uma fonte de raios-X que é ativada concomitante com a realização de um
movimento circular pelos detectores de raios-X em torno do paciente. Dessa forma, o feixe de raios-
X é emitido em forma de leque. Os detectores transformam a radiação em um sinal elétrico que é
convertido em imagem. O computador que processa as imagens permanece localizado em um local
separado, onde o biomédico responsável opera o scanner e monitora o exame.
Cada tecido do corpo humano absorve a radiação de forma distinta, permitindo a formação de
imagens detalhadas. As imagens obtidas (Figura 13) representam secções transversais da região do
corpo que está sendo avaliada. Em outras palavras, é como se o corpo fosse cortado diferentes
fatias, expondo todos os órgãos daquela fatia. Cada secção possui pelo menos 0,6 mm de
espessura. O software do computador é capaz de agrupar as imagens de cada secção, construindo
uma visão detalhada e multidimensional dos órgãos internos do corpo humano.

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Figura 13 – Imagem obtida por tomografia computadorizada

Fonte: CMDI – Centro Médico de Diagnósticos por Imagem

A administração de contraste pode ou não ser necessária dependendo da região a ser avaliada.
Imagens de crânio, tórax e abdômen são obtidas com administração de contraste intravenoso, que
contém iodo. Imagens abdominais e pélvicas são obtidas com a administração de contraste por via
oral, as quais tornam tubo gastrintestinal bem definido.
Ao contrário da ressonância magnética, a tomografia computadorizada é menos sensível ao
movimento do paciente, além de permitir a realização do procedimento mesmo em casos em que o
paciente possua próteses e outros dispositivos metálicos implantados. No entanto, tecidos moles de
menor consistência como cérebro, órgãos internos pélvicos, joelhos e ombros podem ser observados
s de forma mais detalhada por ressonância magnética.
Uma preocupação existente é a dose de radiação efetiva envolvida durante o procedimento, e esta
varia de cerca de 0,1 mSv até níveis altíssimos. Por esse motivo, as doses empregadas devem ser
muito bem controladas, dentro dos limites recomendados internacionalmente, pelos hospitais e
clínicas que disponibilizam este exame. Por isso, os serviços de radiologia tomam cuidado para
controlar as doses empregadas.
A tomografia computadorizada difere da radiografia principalmente quanto à precisão, sendo obtidas
imagens muito mais claras e, consequentemente, lesões, fraturas ou tumores são detectados de
forma mais eficiente, mesmo que estejam ainda muito pequenos. Além disso, a radiografia obtém
apenas uma única imagem da região avaliada, enquanto a tomografia computadorizada obtém cerca
de 600 cortes. Dessa forma, um diagnóstico precoce pode ser obtido por meio da tomografia,
conseguindo resultados superiores com o tratamento.
As imagens obtidas por meio da tomografia computadorizada permitem o diagnóstico e tumores
primários de pulmão, pleura, mediastino, cérebro, ossos, fígado, vias biliares, pâncreas, rim, útero,
ovários e a presença de metástases. Ainda, esse método de imagem é muito útil no diagnóstico de

59
acidentes vasculares cerebrais, embolias pulmonares, aneurismas, compressões de medula
espinhal por metástases ósseas, presença de edema cerebral, derrames pleurais, pericárdicos e
peritoneais, entre outras.
Além do diagnóstico, a tomografia computadorizada pode ser empregada como guia em
procedimentos minimamente invasivos, como a realização de biópsias, ablações para destruir
tumores por meio de congelamento ou de ondas de ultrassom que elevam a temperatura local.

5.3 Ressonância magnética


A ressonância magnética (RM) é um método de diagnóstico por imagem não invasivo que utiliza
um grande campo magnético e pulsos de energia de ondas de rádio para formar imagens em alta
definição dos órgãos e das estruturas do corpo. O equipamento responsável pela aquisição das
imagens é chamado de magneto e possui a forma de um cubo grande com uma abertura, pela qual
o paciente é introduzido deitado (Figura 14).
Figura 14 – Magneto

Fonte: https://laboratorioexame.com.br/

Antes da realização do exame, o paciente deve retirar todo e qualquer objeto de metal que possua
consigo (como aparelhos auditivos, celular, chaves, joias, moedas, relógios, cartões de crédito, entre
muitos outros), uma vez que o campo magnético formado pode interagir com esses objetos. Por esse
motivo, a ressonância magnética é contraindicada para pessoas que possuam implantes eletrônicos,
como marca-passo cardíaco, marca-passo cerebral, clipe de aneurisma cerebral, stent, pinos,
parafusos ou placas no corpo. O paciente é então posicionado deitado na mesa do equipamento e
orientado a permanecer imóvel para que a imagem obtida seja a melhor possível.
Durante o procedimento, a mesa onde o paciente está posicionado desliza para dentro do espaço
do equipamento que contém o ímã. A bobina fica posicionada sobre ou perto da região do corpo onde
a imagem será obtida, permitindo a amplificação do sinal e a varredura no momento correto. Um
campo magnético muito potente é formado, como se fosse um grande ímã, e a moléculas de
hidrogênio presentes no tecido humano são alinhados com o campo magnético. O equipamento
emite ondas de rádio para a formação das imagens (Figura 15).

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Figura 15 – Componentes do magneto

Fonte: Biomedicina Brasil

Em outras palavras, a formação das imagens de ressonância magnética ocorre como resultado da
interação do campo magnético criado pelo equipamento com as moléculas de hidrogênio do corpo
humano. O pulso de radiofrequência enviado pelo equipamento é captado de forma modificada por
meio de uma bobina ou antena receptora. O sinal catado é processado e transformado em imagem
(Figura 16).
Figura 16 – Imagem obtida por ressonância magnética

Fonte: https://www.ibmed.com.br/

A duração do procedimento pode variar de alguns minutos para até duas horas dependendo da
região a ser avaliada. É recomendada a administração de sedativos em pessoas claustrofóbicas (que
têm medo de lugares fechados) antes do exame, permitindo o relaxamento e a imobilização do
paciente.
As imagens obtidas por meio da ressonância magnética permitem o diagnóstico de doenças
neurológicas, ortopédicas, abdominais, cervicais e cardíacas. Além disso, o procedimento também é
capaz de identificar tumores, doenças degenerativas, coágulos e traumas. A ressonância magnética

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é eficiente no diagnóstico da esclerose múltipla, tumores no cérebro e na glândula pituitária,
infecções no cérebro e nas articulações, infecções na medula espinhal, lesões nos ombros, tendinite,
derrame em estágio inicial, ligamentos rompidos no pulso, joelho e tornozelo.
A ressonância magnética também pode ser feita com a administração de meios de contraste por via
endovenosa, permitindo a obtenção de imagens com maior definição de estruturas. Estruturas
vasculares (artérias e veias) e os tecidos por ela irrigados são destacados, aumentando as chances
de diagnóstico de doenças que foram evidentes na ressonância magnética sem contraste. O meio
de contraste endovenoso geralmente utilizado durante este procedimento é o contraste à base de
gadolínio, cuja composição difere dos contrastes iodados utilizados na tomografia computadorizada,
apresentando raras reações adversas maior segurança.

5.4 Medicina nuclear


A medicina nuclear (MN) utiliza quantidades mínimas de radiação por meio de radiofármacos para
realizar exames diagnósticos, tratamentos terapêuticos e auxiliar alguns procedimentos cirúrgicos.
Os radiofármacos, ou também chamados de radiotraçadores, são substâncias químicas
semelhantes a alguma substância naturalmente encontrada no organismo marcadas por algum
radioisótopo. Devido à semelhança, essas substâncias podem ser reconhecidas pelo organismo,
porém não possuem efeitos farmacológicos.
Ao contrário dos outros exames de imagem, os exames realizados pela medicina nuclear são
capazes de avaliar a função do órgão examinado. O PET/CT ou PET Scan (Positron Emission
Tomography) é um dos exames realizados pela medicina nuclear, sendo não invasivo e muito seguro.
Nesse exame se administra ao paciente (via oral, venosa ou inalável) glicose marcada com um
radioisótopo do flúor que permite avaliar o metabolismo da glicose nos tecidos no organismo como
um todo. A radiação emitida pelo paciente é captada por tomografia computadorizada, e as imagens
(Figura 17) bem definidas permitem os diagnósticos de tumores malignos, doenças neurológicas ou
psiquiátricas e doenças cardíacas. Esse tipo de exame auxilia o diagnóstico precoce de doenças que
passariam despercebidas em exames comuns de radiografia.
Figura 17 – Imagem obtida por PET/CT

Fonte: https://www.sanarmed.com/

Ao contrário da radiografia e da tomografia computadoriza, no PET/CT o equipamento não emite


radiação. Neste caso, o paciente recebe a substancia radioativa, emite a radiação e o equipamento
apenas capta essa radiação emitida.

62
O radiofármaco permanece no organismo, geralmente, por um tempo muito curto. Em questão de horas ele é
eliminado do corpo, frequentemente pela urina.

A cintilografia é outro exame realizado pela medicina nuclear para a detecção e o acompanhamento
de diversas doenças. É um procedimento não invasivo e muito seguro capaz de avaliar o
funcionamento de diversos órgãos do corpo por meio da emissão e pequenas quantidades de
radiação.
Para a realização do exame, é administrado, via intravenosa ou oral, ao paciente um radiofármaco
especifico para o órgão a ser avaliado, o qual se deposita no órgão em questão em um curto espaço
de tempo. Em seguida, o paciente é posicionado em um equipamento que chamamos de câmara
cintilográfica ou câmara gama. Esse equipamento capta a radiação emitida (cintilação) pelo órgão
paciente. Imagens (Figura 18) são geradas permitindo o diagnóstico de qualquer alteração no
organismo do paciente. Por meio da cintilografia, órgãos como coração, rins, fígado, pulmões,
tireoide e cérebro podem ser analisados, assim como ossos e até mesmo tumores.
Figura 18 – Imagem obtida de cintilografia evidenciando metástases (à esquerda) e quimioterapia (à
direita)

Fonte: World Journal of Surgical Oncology

Ao contrário da radiografia, na cintilografia a radioatividade é distribuída internamente por todo o


corpo (e não parte dele) e emite radiação gama para gerar imagens. Durante a obtenção das
imagens, o paciente deve obrigatoriamente manter-se imóvel, permitindo que o equipamento possa
detectar a radiação emitida e obter imagens precisas. Após o procedimento, recomenda-se que o
paciente beba bastante água para que os rins removam todo o radiofármaco do organismo.

63
5.5 Ultrassonografia
A ultrassonografia (USG) é o exame de imagem não invasivo que emprega uma onda sonora de
alta frequência (> 20.000 Hz) chamada de ultrassom na formação de imagens do interior do corpo.
Esse tipo de onda não traz nenhum efeito nocivo significativo. O aparelho chamado de transdutor é
responsável por emitir as ondas sonoras, as quais são inaudíveis aos ouvidos humanos.
Quando o ultrassom interage com os tecidos, estes emitem ecos que são captados por um
transdutor, permitindo a geração de imagens em tempo real. São obtidas imagens seccionais em
qualquer orientação espacial. As imagens formadas nesse procedimento permitem a avaliação do
tamanho da forma e da consistência dos órgãos do corpo humano.
Esse tipo de exame de imagem é bastante utilizado durante a gestação (Figura 19), permitindo
observar os movimentos do bebe e identificar o sexo.
Figura 19 – Ultrassonografia gestacional

Fonte: USB – Clinica de Ultrassonografia da Barra

Além do emprego desse exame na gravidez, a ultrassonografia é muito utilizada no diagnóstico de


diversas condições que afetam os órgãos do corpo, como fígado, vesícula, pâncreas, baco, rins,
bexiga, próstata, útero, tireoide, entre outros. Além disso, pode ser utilizado para orientar
procedimentos como biópsias e terapias invasivas.

Atualmente, a atuação do biomédico na ultrassonografia é restrita à venda de equipamentos e insumos e à


promoção de treinamento na área especializada.

5.6 Radiologia
A radiologia é a tecnologia não invasiva que utiliza radiação ionizante com fins diagnósticos e
terapêuticos. O equipamento emite feixes de raios-X, um tipo de radiação chamada de ondas
eletromagnéticas, que passam pelo corpo do paciente e são processados pelo computador. Esse
processo permite a formação de imagens do interior do corpo humano e a avaliação de estruturas
dos tecidos.
As imagens obtidas (Figura 20) possuem diferentes tons de preto e branco, uma vez que cada tecido
do organismo absorve a radiação em quantidades distintas. Os ossos, por possuírem grande
quantidade de cálcio, absorvem alta quantidade dos raios-X, por isso apresentam coloração branca

64
na radiografia. Tecidos moles absorvem menos radiação e, dessa forma, podem ser observados com
uma coloração cinza. O pulmão é o órgão que pode ser observado com coloração bem escura, uma
vez que contém ar no seu interior, que absorve muito pouca radiação.
Figura 20 – Radiografia do tórax

Fonte: https://lp.scandiagnostico.com.br/

Esse exame de imagem é fundamental na avaliação dos ossos e dos pulmões. É muito utilizado no
diagnóstico de fraturas nos ossos e pneumonia. Além disso, radiografia das mamas, ou também
chamada de mamografia, auxilia na detecção precoce e no acompanhamento do câncer de mama.
O exame de raio-X é totalmente seguro para o paciente, visto que a dose de radiação utilizada na
maioria dos procedimentos é bem pequena. Entretanto, a repetição acentuada da realização de
exames de raios-X, pode trazer danos à saúde. É necessário que a equipe médica sempre pondere
os benéficos que o exame poderá trazer ao paciente, considerando sua segurança e, algumas vezes,
optando por outras alternativas.
Os riscos da exposição à radiação pelos profissionais da radiologia são menores atualmente, uma
vez que temos novas tecnologias de proteção e legislações específicas para a preservação da saúde
desses profissionais.

Investigue os riscos que a radiação pode trazer aos profissionais se eles são tomarem os devidos cuidados.

5.7 Densitometria óssea


A densitometria óssea é o exame de imagem não invasivo que emprega radiação ionizante para
obter imagens dos ossos, permitindo a medição da densidade mineral óssea. Esse método é
indispensável no diagnóstico da osteoporose, sendo o único reconhecido pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Os equipamentos de dosimetria óssea atuais possibilitam alta precisão e rapidez
da realização dos exames, além de baixa exposição à radiação.
Durante a realização do procedimento, o paciente se deita na mesa do equipamento (Figura 21). O
aparelho então percorre a área superior do corpo do paciente, emitindo a radiação ionizante. Na
parte inferior do equipamento (onde o paciente está posicionado), ocorre a captação dos dados, que
são transferidos para um computador.

65
Figura 21 – Equipamento de dosimetria óssea

Fonte: https://sonimagem.com.br/

As imagens obtidas (Figura 22) permitem a observação detalhada do tecido ósseo, evidenciando se
uma área está fraca ou muito porosa. A partir dessas imagens, especialistas podem analisar de forma
específica a perda de cálcio nos ossos e a possibilidade de fraturas. As regiões mais avaliadas são
o colo do fêmur, as vertebras e o rádio distal.
Figura 22 – Imagens obtidas por dosimetria óssea

Fonte: https://sonimagem.com.br/

Quando comparada a uma radiografia comum, a densitometria óssea emite uma quantidade bem
menor de raios-X. Além disso, a técnica da radiografia não prioriza a visualização detalhada do tecido
ósseo. A osteoporose pode ser identificada pela radiografia somente quando há pelo menos 30% da
massa óssea.

5.8 Radioterapia
A radioterapia (RT) consiste na utilização de radiações ionizantes que causam danos as células
malignas, promovendo a sua destruição. É um tratamento oncológico muito eficaz em cânceres em
estágios iniciais. Diferente da quimioterapia, a radioterapia é um tratamento local, tendo efeito apenas
na região onde for aplicada.
Existem diferentes tipos de radioterapia. A braquiterapia e a teleterapia diferem quanto à distância
da aplicação, por contato ou a mais de 20 cm, respectivamente. A terapia de alta-dose e de baixa-
dose diferem quanto ao tempo de aplicação. A radioterapia também pode variar quanto ao tipo de

66
radiação utilizada, fótons, elétrons, prótons etc., e quanto a forma de planejamento, conformada, 4D,
dinâmica, intraoperatória etc. Cada um desses tipos possui indicações específicas que devem ser
determinadas pelo médico responsável.
Durante o procedimento da teleterapia, também chamado de radioterapia externa, o paciente é
posicionado na mesa do equipamento (Figura 23). E equipamento é responsável por emitir a radiação
a uma distância especifica direcionada a região a ser tratada.
Figura 23 – Equipamento de radioterapia

Fonte: https://revista.abrale.org.br/

Na braquiterapia, dispositivos específicos (cateteres, aplicadores) são posicionados no paciente,


sendo que alguns necessitam de sedação. O equipamento emite a radiação e percorre os cateteres
que são ligados aos aplicadores. A radiação então incide próxima à região a ser tratada e, em
seguida, retorna ao equipamento fazendo o mesmo trajeto.

Para entender um pouco mais sobre os procedimentos da teleterapia e da braquiterapia, acesse:


https://www.inca.gov.br/tratamento/radioterapia

As sessões de radioterapia são geralmente muito rápidas, durando de dois a cinco minutos.
Entretanto, muitas vezes são necessárias várias aplicações que duram algumas semanas.
Infelizmente a radioterapia não é um tratamento específico para células malignas, ou seja, pode
causar danos às células normais do corpo humano. Por esse motivo, é de estrema importância o
planejamento realizado pelo médico responsável que define o volume de tecido que será irradiado,
poupando ao máximo o tecido normal.
A radioterapia é comumente associada a quimioterapia, como em casos de câncer de reto, anal, de
colo uterino, de pulmão, entre outros. Ou com a imunoterapia, como em casos de câncer de cabeça
e pescoço.

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Considerações Finais
A imagenologia é responsável por estudar os órgãos e sistemas do corpo humano por meio da
utilização de diferentes tipos de exames de imagem. Dentre eles, temos: as radiografias, a
ultrassonografia, a tomografia, a ressonância magnética, a medicina nuclear, densitometria óssea
etc. O biomédico formado e habilitado em imagenologia e/ou radiologia pode atuar em atividades de
diagnóstico por imagem, operando equipamentos, como tomografia computadorizada (TC),
ressonância magnética (RM), medicina nuclear (MN), radiologia, densitometria óssea e radioterapia
(RT) Além disso, pode atuar no pós processamento de imagens, sendo capazes de compreender,
analisar e reconhecer alterações nas imagens obtidas.

O biomédico habilitado na área geralmente trabalha em hospitais, clínicas ou laboratórios


particulares colaborando com o diagnóstico de lesões e doenças que não podem ser detectadas com
outros tipos de exames laboratoriais. O biomédico tem papel fundamental nesses campos,
garantindo que doenças sejam diagnosticadas precocemente.

O livro Guia de Diagnóstico por Imagem do autor Fernando F. A. Moreira traz um rico conhecimento sobre os
diversos tipos de exames de imagem e seus princípios.

A imagenologia é o campo da ciência que estuda os órgãos e sistemas do corpo humano por meio da utilização
de diferentes tipos de exames de imagem, como as radiografias, a ultrassonografia, a tomografia, a
ressonância magnética, a medicina nuclear etc.
A tomografia computadorizada (TC) é um método de diagnóstico por imagem não invasivo que utiliza raios-X
para formar imagens dos órgãos internos do corpo. O equipamento responsável pela aquisição das imagens é
chamado de tomógrafo, que possui forma de túnel com uma abertura no centro onde uma mesa com o paciente
desliza para dentro do equipamento.
A ressonância magnética (RM) é um método de diagnóstico por imagem não invasivo que utiliza um grande
campo magnético e pulsos de energia de ondas de rádio para formar imagens em alta definição dos órgãos e
das estruturas do corpo. O equipamento responsável pela aquisição das imagens é chamado de magneto e
possui a forma de um cubo grande com uma abertura, pela qual o paciente é introduzido deitado.
A medicina nuclear (MN) utiliza quantidades mínimas de radiação, por meio de radiofármacos, para realizar
exames diagnósticos, tratamentos terapêuticos e auxiliar alguns procedimentos cirúrgicos. Os radiofármacos,
também chamados de radiotraçadores, são substâncias químicas semelhantes a alguma substância
naturalmente encontrada no organismo marcadas por algum radioisótopo. Devido à semelhança, essas
substâncias podem ser reconhecidas pelo organismo, porém não possuem efeitos farmacológicos.
A ultrassonografia (USG) é o exame de imagem não invasivo que emprega uma onda sonora de alta frequência
(>20000 Hz) chamada de ultrassom na formação de imagens do interior do corpo. Esse tipo de onda não traz
nenhum efeito nocivo significativo. O aparelho chamado de transdutor é responsável por emitir as ondas
sonoras, as quais são inaudíveis aos ouvidos humanos.
A radiologia é a tecnologia não invasiva que utiliza radiação ionizante com fins diagnósticos e terapêuticos. O
equipamento emite feixes de raios-X, que possuem um tipo de radiação chamada de ondas eletromagnéticas,
que passam pelo corpo do paciente e são processados pelo computador. Esse processo permite a formação
de imagens do interior do corpo humano e a avaliação de estruturas dos tecidos.

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A densitometria óssea é o exame de imagem não invasivo que emprega radiação ionizante para obter imagens
dos ossos, permitindo a medição da densidade mineral óssea. Esse método é indispensável no diagnóstico da
osteoporose, sendo o único reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os equipamentos de
dosimetria óssea atuais alta precisão e rapidez da realização dos exames, além de baixa exposição à radiação.
A radioterapia (RT) consiste na utilização de radiações ionizantes que causam danos às células malignas,
promovendo a sua destruição. É um tratamento oncológico muito eficaz em cânceres em estágios iniciais.
Diferente da quimioterapia, a radioterapia é um tratamento local, tendo efeito apenas na região onde for
aplicada.

(ENADE, 2017) A realização de exames radiológicos, como a tomografia computadorizada, permite a obtenção
da imagem de ossos, órgãos ou formações internas do corpo, por meio da qual é possível avaliar a presença
de fraturas, tumores, corpo estranho, sangramentos e outras anomalias.

Com base na imagem de crânio, em corte axial, mostrada acima, assinale a opção em que há correta
correspondência entre numeral e estrutura indicada.
a) 1: osso nasal; 2: osso zigomático; 3: células da mastoide; 4: maxila; 5: septo nasal; 6: côndilo da
mandíbula.
b) 1: osso nasal; 2: maxila; 3: células da mastoide; 4: osso zigomático; 5: septo nasal; 6: côndilo da
mandíbula.
c) 1: osso nasal; 2: osso zigomático; 3: maxila; 4: vômer; 5: parietal; 6: temporal.
d) 1: conchas nasais; 2: maxila; 3: osso zigomático; 4: septo nasal; 5: mastoide; 6: células da mastoide.
e) 1: conchas nasais; 2: osso zigomático; 3: maxila; 4: septo nasal; 5: mastoide; 6: células da mastoide.

Resposta Correta: Alternativa A

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Questão Objetiva
(ENADE, 2013)

ALVAREZ, B. R. MICHELL, M. O uso _ na investigação do câncer mamário. Radiologia Brasileira, v. 36, n. 6, p. 373-378, 2003.

A imagem apresentada corresponde a:


a) radiografia, cuja nitidez depende das condições técnicas durante a execução do exame e é dada pela
diferença entre as áreas claras e escuras.
b) radiografia, cuja radiação difusa, formada durante a atenuação do feixe de raios-X no corpo, pode
influenciar na qualidade da imagem.
c) tomografia computadorizada, em que os elétrons são coletados por um cristal cintilador ou uma
fotomultiplicadora que converte a energia dissipada em luz, correspondendo à área radiopaca, em que
não ocorre passagem do feixe de elétrons.
d) ressonância magnética, em que o segmento do paciente é separado, eliminando-se a superposição de
estruturas adjacentes que ocorre na radiografia convencional.
e) ultrassonografia, em que substâncias ou cristais piezoelétricos mudam de formato ou vibram quando
submetidos à corrente elétrica alternada; a vibração produz o ultrassom, visualizado como uma imagem
anecoica.

Questão Discursiva
Como o biomédico imagenologista pode atuar na tomografia computadorizada?

70
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa D

Questão Discursiva
Resposta Padrão: Em exames de tomografia computadorizada, o biomédico imagenologista tem contato
direto com o paciente e a ele é permitido realizar a anamnese, administrar os meios de contraste e operar o
equipamento. Após a realização do procedimento, é o biomédico quem atua no pós-processamento de
imagens, na documentação dos exames e no gerenciamento sistemas de armazenamento de informação. O
biomédico imagenologista ainda é capaz de criar e aperfeiçoar protocolos de exames, atuar na área da
pesquisa em tomografia computadorizada, atuar em empresas responsáveis pela venda de equipamentos e
insumos, além de promover treinamento na área especializada.

71
UNIDADE II
CAPÍTULO 6 – ANÁLISES BROMATOLÓGICAS
No término deste capítulo, você deverá saber sobre:
✓ Análises bromatológicas;
✓ Classificação dos alimentos;
✓ Umidade;
✓ Carboidratos;
✓ Proteínas;
✓ Lipídeos;
✓ Minerais;
✓ Vitaminas.

Introdução
A palavra bromatologia se origina do grego: Bromatos, que significa “alimentos, dos alimentos”
e Logos, que significa Ciência. Portanto, podemos definir a Bromatologia como a ciência que estuda
os alimentos. Em outras palavras, a bromatologia avalia os alimentos de forma qualitativa e
quantitativa quanto a suas propriedades químicas, físicas, toxicológicas, valor nutricional e calórico,
ação no organismo, além de identificar adulterantes, contaminantes e eficácia de métodos
esterilizantes, entre outros. Dessa forma, a bromatologia verifica se o produto alimentício se
enquadra nas especificações legais ou se há fraudes, garantindo segurança alimentar para o
consumidor.

Graças a Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 78 de 29 de abril de 2002, o


biomédico formado pode se habilitar em análises bromatológicas. O biomédico bromatologista
atua na análise físico-química e microbiológica para avaliação da qualidade e contaminação de
amostras de alimentos, desde a produção, coleta, transporte, até o armazenamento. Além do campo
laboratorial, o biomédico bromatologista pode assumir atividades de responsabilidade técnica,
realizar relatórios técnicos, perícias, consultorias e emitir laudos.

O local de trabalho de um bromatologista é geralmente laboratórios de indústrias alimentares,


instituições governamentais de fiscalização de alimentos distribuídos à população ou laboratórios
privados que prestam esse tipo de serviço; no entanto, o profissional ainda por atuar na pesquisa e
desenvolvimentos de novos produtos. A indústria alimentícia está em constante evolução,
desenvolvendo novos alimentos para distribuição, por isso, há grande investimento em profissionais
qualificados que garantam a introdução legal e a aceitação do produto no mercado.

Neste capítulo, vamos aprender um pouco sobre a classificação dos alimentos, além de estudar a
natureza química dos principais componentes dos alimentos: a água, os carboidratos, as fibras, as
proteínas, os lipídeos os minerais e as vitaminas.

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A bromatologia é uma habilitação pouco conhecida, entretanto, a atuação do biomédico neste campo é de
extrema importância. São as análises bromatológicas que garantem a qualidade e a segurança do alimento
que chega à mesa do consumidor.

6.1 Introdução as análises bromatológicas


Durante as análises bromatológicas, amostras de alimentos são avaliadas quanto à sua composição
química e às suas características de aptidão para consumo humano. Técnicas adequadas permitem
a determinação da composição centesimal dos alimentos, ou seja, a determinação do percentual
de umidade (água), carboidratos, fibras, proteínas, lipídeos, minerais e vitaminas, que permitam o
cálculo do valor calórico do alimento. Em alguns casos específicos, a determinação de componentes
específicos nos alimentos é de extrema importância, como alguns metais tóxicos (como chumbo e
mercúrio), açúcares (como a lactose), aminoácidos específicos (fenilalanina e lisina), aflatoxinas,
entre outros se fazem necessários (Quadro 1). Os dados obtidos pelas análises bromatológicas são
utilizados por indústrias e outros órgãos de interesse na determinação da eficiência dos processos,
da qualidade dos alimentos, da segurança alimentar, e do valor nutricional de alimentos
disponibilizados à população.
Quadro 1 – Importância da determinação de componentes específicos

Fonte: Bolzan, 2013

Para entender um pouco mais sobre as atribuições do biomédico bromatologista, acesse: https://www.sinbiesp-
biomedicina.com.br/

A análise da composição química dos alimentos é realizada de duas maneiras: qualitativa e


quantitativa.

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A análise química qualitativa é responsável por verificar somente a presença ou a ausência de
componentes que estão sendo determinados. A quantidade (massa) ou a concentração dos
componentes na amostra não são definidos. Dessa forma, os resultados de análise química
qualitativa serão sempre positivo/negativo ou reagente/não reagente.

A análise química quantitativa é responsável por avaliar o teor (massa/concentração) de


componentes que estão sendo determinados na amostra de alimento. Dessa forma, os resultados
de uma análise química quantitativa serão sempre um valor numérico seguido de uma unidade de
volume, de massa ou de concentração.

6.2 Classificação dos alimentos


Alimento pode ser definido como toda a substância ou mistura de substância que, quando ingerida,
é capaz de fornecer ao organismo os elementos essenciais à formação, manutenção e
desenvolvimento, de maneira que não o prejudique ou seja nocivo. Em outras palavras, alimento é a
matéria não toxica que pode ser introduzida no organismo, sendo capaz de o nutrir.

Alimentos podem ser classificados quanto a sua composição em alimentos simples e compostos. Os
alimentos simples são aqueles que, quando sofrem ação de enzimas digestivas (como lactase,
lipase, pepsina etc.), são transformados em metabólitos (açúcares, lipídios, proteínas). Os alimentos
compostos são aqueles que apresentam composição química variada e complexa, podendo ser de
origem animal ou vegetal, ou formados por uma mistura de alimentos simples (leite, carne, frutas,
etc.).

Alimentos aptos para o consumo, ou também chamados de genuínos, são aqueles que se
enquadram às exigências das leis vigentes, que não são constituídos por substâncias não
autorizadas (adulteração) e que são comercializados dentro da denominação correta e com rótulo
correto. Alimentos genuínos são diferentes de alimentos naturais. Alimentos naturais são alimentos
aptos para o consumo, dos quais foi removida apenas a parte não comestível (“in natura”). Ao
contrário dos alimentos genuínos, os alimentos naturais podem e são encontrados algumas vezes
fora das exigências da lei, como, por exemplo, frutas e verduras com grau de maturação acima da
maturação fisiológica permitida. Dessa forma, um alimento natural nem sempre pode ser genuíno.

Alimentos não aptos para o consumo são aqueles que não se encontram dentro das
especificações regulamentárias da lei. Podem ser classificados em alimentos contaminados,
alterados, adulterados e falsificados.

Os alimentos contaminados são aqueles que possuem agentes estranhos à sua composição
normal, podendo ser ou não tóxicos, em proporções maiores que as permitidas. Esses agentes
podem ser agentes biológicos vivos (vírus, bactérias, parasitas, etc.) ou substâncias químicas
minerais ou orgânicas (defensivos, metais pesados, etc.). Além disso, alimentos que possuam
componentes naturais tóxicos (sais como nitratos, etc.), em proporções maiores que as permitidas
também são consideradas alimentos contaminados.

Os alimentos alterados são aqueles que possuem composição alterada por causas naturais, de
natureza física, química ou biológica, ou derivada do tratamento tecnológico não adequado
(fabricação, conservação ou transporte). Esses alimentos apresentam deteriorações em suas
características organolépticas, em sua composição intrínseca ou em seu valor nutritivo. Temos como
exemplo o odor característico da carne no início do estágio de decomposição, o borbulhar do mel

74
(fermentação), latas de conservas estufadas (enchimento excessivo ou desenvolvimento de micro-
organismos) etc.

Os alimentos adulterados são impuros, impróprios ou nocivos à saúde. São aqueles alimentos
cujos componentes úteis ou característicos foram, parcial ou totalmente, substituídos por outros
inertes ou estranhos. Além disso, a adição de elementos de qualquer natureza com o objetivo de
dissimular ou ocultar alterações, deficiências de qualidade da matéria-prima ou defeitos na
elaboração também é considerada adulteração. Temos como exemplo a adição de água ao leite,
vísceras em conservas de carnes, amido no doce de leite, melado no mel, etc.

Os alimentos falsificados são aqueles que possuem a aparência e as características gerais de um


alimento autêntico e que se denominam falsamente como este. Em outras palavras, são alimentos
fabricados clandestinamente e comercializados como genuínos (autênticos). O alimento falsificado,
algumas vezes, se apresenta em melhores condições de qualidade que o genuíno, entretanto, por
ser fabricado em locais não autorizados e/ou não proceder de seus verdadeiros fabricantes, é
considerado um alimento falsificado.

6.3 Umidade
A umidade, ou teor de água, de um alimento é considerado um dos mais importantes índices que
devem ser avaliados. A água desempenha diversas funções nos organismos vivos, como transporte
de nutrientes e produtos de excreção do metabolismo (em solução), participação de reações
químicas e bioquímicas e estabilização da estrutura de diversas moléculas complexas, como
proteínas e ácidos nucleicos.

O teor de água reflete o teor de sólidos de um alimento, bem como sua perecibilidade. Um alimento
que possui umidade fora das recomendações técnicas legais pode apresentar consideráveis perdas
na estabilidade química, deterioração microbiológica, alterações fisiológicas (brotação) e na sua
qualidade geral.

A estrutura da molécula de água (H2O) possui um átomo de oxigênio (O), que compartilha 2 pares
de elétrons com 2 átomos de hidrogênio (H). Essa composição gera eletronegatividade única,
levando à formação de uma carga parcial negativa (δ-) sobre o átomo de oxigênio e de uma carga
parcial positiva (δ+) sobre os átomos de hidrogênio, formando assim um dipolo elétrico.

A formação desse dipolo elétrico permite que a água seja capaz de interagir com outras moléculas
de água, interagindo seu oxigênio (δ-) com o hidrogênio da outra molécula de água (δ+) e vice-versa.
Essa atração intermolecular é chamada de ponte de hidrogênio. Interações semelhantes podem
ocorrer com a molécula de água e outras moléculas, desde que as outras moléculas possuam carga
elétrica ou grupos hidrofílicos. A capacidade da molécula de água de interagir com outras moléculas
(de água ou não) faz com que ela seja altamente eficiente em sua ação como solvente.

O teor de água nos alimentos é geralmente dado pelo valor da determinação de água total contida
no alimento. Entretanto, apenas este valor não é possível definir como a água está distribuída no
alimento. O teor de água determinado indica a ocorrência do desenvolvimento de algum
microrganismo. No entanto, em algumas situações, não há a ocorrência do desenvolvimento de
microrganismos, isso porque grande parte desta água não está disponível ao microrganismo. Isso
ocorre porque existem moléculas de água com propriedades e distribuição diferentes no mesmo
alimento. A água presente nos alimentos pode ser encontrada em duas formas diferentes, como
água livre e água ligada.

75
A água livre é aquela que se encontra fracamente ligada aos demais componentes dos alimentos,
agindo como solvente. Essa água permite o desenvolvimento de microrganismos que podem
provocar alterações indesejáveis, na maioria das vezes, nos alimentos, levando à redução
considerável de sua qualidade. Além disso, essa água também permite a ocorrência de reações
químicas e bioquímicas, que também são capazes de provocar alterações nos alimentos.

A água ligada, ou também chamada de combinada, é aquela que se encontra fortemente ligada
aos demais componentes dos alimentos. Por estar intimamente ligada ao alimento, não atua como
solvente e, por isso, não permite o desenvolvimento de microrganismos, assim como não propicia a
ocorrência de reações químicas e bioquímicas.

O teor de água livre é expresso como atividade de água (Aa ou Aw) e é obtido pela relação entre
a pressão de vapor de água em equilíbrio no alimento e a pressão de vapor da água pura, ambos na
mesma temperatura. A pressão P do vapor de água de um alimento, após atingir o equilíbrio a uma
temperatura T, corresponde a umidade relativa de equilíbrio (URE). A atividade da água será então
igual a URE, sendo expressa em URE/100. Quando maior a atividade de água, maiores serão as
chances de o alimento desenvolver microrganismos e reações químicas que o alterem, podendo
afetar sua estabilidade e qualidade durante a estocagem, o transporte e o processamento.

6.4 Carboidratos
Os carboidratos, ou também chamados de açúcares, são um dos componentes mais importantes
e estão presentes em uma grande variedade de alimentos da dieta humana, como pão, arroz,
massas, leite, vegetais e bebidas. Carboidratos são de extrema importância para a geração de
energia (4 kcal/g) no organismo vivo. Quando os carboidratos estão disponíveis, o organismo
direciona a utilização de proteínas para suas funções específicas e não como fonte de energia. Além
disso, essas moléculas são utilizadas como substrato pela microbiota saudável na sintetize de
diversas vitaminas importantes.

Carboidratos ([C(H2O)]n) são hidratos de carbono, e sua estrutura química é formada por carbono
(C), hidrogênio (H), e oxigênio (O), os dois últimos na mesma proporção que na água. A estrutura
dos carboidratos é composta por dupla função química: aldeído e álcool ou cetona e álcool.

As moléculas de carboidrato são sintetizadas na natureza pelas plantas por meio do processo de
fotossíntese a partir de dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). Com ajuda da energia solar, a
clorofila presente nos vegetais verdes catalisa a reação, utilizando o dióxido de carbônico da
atmosfera e a água do solo, como esquematizado na reação abaixo:

6CO2 + 6H2O → C6H12O6 + 6O2

Os carboidratos são classificados de acordo com o número de carbonos que possuem em sua
estrutura: monossacarídeos, oligossacarídeos (dissacarídeos e trissacarídeos) e polissacarídeos.

Os monossacarídeos são os açúcares mais simples, os quais são formados por 3 a 6 carbonos, um
grupo funcional carbonila (aldeído ou cetona) e grupos hidroxilas. Dentro dessa classe, podemos
destacar a glicose, a frutose, a manose e a galactose (Figura 24). A glicose é o monossacarídeo
mais comum, sendo composta por uma aldose (carbonila aldeídica) e 5 hidroxilas. A frutose é o
carboidrato encontrado nas frutas, sendo composta por uma cetose (carbonila cetônica) e 5
hidroxilas.

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Figura 24 – Estrutura dos principais monossacarídeos

Fonte: Bolzan, 2013.

Nos alimentos, os monossacarídeos possuem elevada higroscopicidade, ou seja, alta capacidade


de adsorver água. Em alguns alimentos, como produtos de confeitaria, essa propriedade é
indispensável, visto que mantém certo grau de umidade. Entretanto, em outros alimentos, como
granulados e farinhas, essa propriedade pode fazer com que o produto apresente aglomeração de
suas partículas.

Outra propriedade importante dos monossacarídeos é o poder edulcorante, ou seja, possuem sabor
adocicado, tornando-os substâncias de importância para a indústria alimentícia. A frutose é o
monossacarídeo que possui esta propriedade com maior destaque.

Os oligossacarídeos são os açúcares compostos por 2 a 20 monossacarídeos. Dentro dessa


classe, podemos destacar a sacarose, a lactose e a maltose (Figura 25). Os três são dissacarídeos,
ou seja, compostos por apenas 2 unidades de monossacarídeos unidades por ligações glicosídicas.
A sacarose é o oligossacarídeo mais comum, sendo popularmente conhecido como “açúcar de
cozinha”. É o açúcar composto por uma unidade de glicose unida a uma unidade de frutose. É obtida
principalmente da cana-de-açúcar e da beterraba. A lactose é conhecida popularmente como o
“açúcar do leite” e é encontrada apenas neste alimento. Esse açúcar é composto por uma unidade
de galactose unida a uma unidade de glicose A maltose é encontrada principalmente no amido, e
composta por duas unidades de glicose unidas.
Figura 25 – Estrutura dos principais oligossacarídeos

Fonte: Bolzan, 2013.

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Assim como os monossacarídeos, os oligossacarídeos também possuem grau de
higroscopicidade, sendo capazes de adsorver água. Da mesma forma, os oligossacarídeos
também possuem poder edulcorante, sendo a sacarose o oligossacarídeo que possui essa
propriedade com maior destaque.

Investigue o que é a inversão dos açúcares, em qual carboidrato ela ocorre e suas consequências.

Os polissacarídeos são polímeros de açúcares que ocorrem naturalmente em todos os organismos


vivos e são compostos por mais de 20 monossacarídeos unidos por ligações glicosídicas. Esses
açúcares possuem alto peso molecular e podem apresentar cadeias lineares, ramificadas e cíclicas.
Dentro dessa classe, podemos destacar o amido, a celulose e as pectinas.

O amido é o carboidrato mais importante na nutrição de plantas superiores (sementes, tubérculos,


rizomas e bulbos) e é facilmente digerido, tendo grande importância na alimentação humana. Este
carboidrato é um polímero de glicose composto por duas cadeias, a amilose e a amilopectina.
Embora o amido não seja solúvel em água fria ou em temperatura ambiente, quando aquecidas, as
moléculas de amido têm sua estrutura rompida, permitindo que moléculas de água possam interagir
com estas por meio de pontes de hidrogênio. A solução formada é viscosa e, quando resfriada,
formam um gel. O gel de amido possui grande importância tecnológica na indústria de alimentos,
uma vez que é formado durante a produção de diversos alimentos como massas, pães, produtos à
base de milho e na preparação do arroz e do feijão cozidos. A celulose, assim como o amido, é um
polímero de glicose, porém possui estrutura linear e não ramificada. Esse polissacarídeo é um
componente da parede celular dos vegetais e não é digerido pelo homem. As pectinas são polímeros
do ácido galacturônico parcialmente esterificados com metanol. Este carboidrato é encontrado em
alimentos de origem vegetal, como maçãs e frutas cítricas. Esses polímeros, na presença de açúcar
e alguns ácidos, são capazes de géis, possuindo grande importância na indústria alimentícia.

As fibras são macromoléculas encontradas nos vegetais que não podem ser hidrolisadas (digeridas)
por enzimas do intestino humano. Os principais constituintes das fibras derivam das paredes
celulares das plantas: a celulose, a hemicelulose, a lignina, as pectinas, as gomas e as mucilagens.
As diferentes fibras alimentares possuem diferentes funções fisiológicas relacionadas às suas
propriedades físico-químicas. Dentre elas, podemos citar a redução do colesterol sanguíneo, a
redução da glicemia e a elevação da motilidade intestinal.

6.5 Proteínas
As proteínas são os maiores constituintes das células e cada uma possui funções biológicas
relacionadas a sua estrutura molecular, como fonte de energia (4 kcal/g), catalisadores (enzimas),
hormônios, transportadores, função estrutural, contração muscular e outras. Essas moléculas estão
presentes em uma grande diversidade de alimentos importantes da dieta humana, como pães,
massas, ovos, leite e carnes. Além da função nutricional, apresentam propriedades funcionais, como
emulsificantes e espumantes, que são de grande interesse para a indústria alimentícia.

78
As proteínas são moléculas complexas compostas por aminoácidos unidos entre si por meio de
ligações peptídicas. Os aminoácidos são ácidos carboxílicos que possuem em sua estrutura um
grupo amino, uma carbonila e uma cadeia R (Figura 26), que pode ser desde um hidrogênio (H)) até
estruturas cíclicas. As cadeias R são responsáveis por tornarem os aminoácidos distintos uns dos
outros. O número total de aminoácidos presentes em cada proteína pode variar de algumas dezenas
até vários milhares. Além dos aminoácidos, as proteínas podem possuir outros componentes, como
minerais (ferro, cobre, fósforo e outros) e grupos químicos específicos (como o grupo heme).
Figura 26 – Estrutura geral dos aminoácidos

Fonte: Bolzan, 2013

As propriedades funcionais dessas moléculas podem influenciar algumas características sensoriais


dos alimentos. Uma dessas propriedades é a viscosidade que as proteínas podem conferir aos
fluidos, sendo importante em alimentos que precisam ter certo grau de viscosidade, como cremes,
sopas e molhos. Outra propriedade é a gelificação, que confere maior textura ao alimento, sendo
importante alimentos como queijos, embutidos cárneos (como a salsicha), gelatinas e outros. As
proteínas também podem funcionar como emulsificantes, ou seja, são capazes de formarem uma
solução estável a partir de dois líquidos imiscíveis, sendo muito importante em alimentos como leite,
maioneses, salsichas, sorvetes, molhos e outros. Além disso, algumas proteínas possuem a
propriedade espumante, facilitando e estabilizando a interação entre as bolhas de gás e um líquido
ou semissólido. Essa propriedade é importante em alimentos como merengues, pães e biscoitos.

6.6 Lipídios
Os lipídios são encontrados em todos os organismos vivos, geralmente insolúveis em água, e estão
presentes em uma grande variedade de alimentos da dieta humana, como leite, carne e manteiga.
Lipídeos possuem papel fundamental na geração de energia (9 cal/g), no transporte de vitaminas
lipossolúveis, no favorecimento da absorção do cálcio, entre outras funções. Nos alimentos podem
ter efeitos sobre o aroma, o sabor e a palatabilidade.

Ao contrário dos carboidratos, os lipídeos não possuem unidade química, possuindo grande
variabilidade de grupos funcionais e de conformações químicas. A única característica que todos os
lipídios compartilham é a de serem solúveis em solventes orgânicos (éter, clorofórmio, hexano) e
insolúveis em água.

Os lipídeos podem ser classificados em simples, compostos e derivados. Os lipídeos simples são
aqueles compostos apenas por ácidos graxos e álcoois. Os lipídeos simples de maior importância
são os óleos e as gorduras, também chamados de glicerídeos e compostos por ésteres de ácidos
graxos e glicerol. Os lipídeos compostos são aqueles compostos outros grupos, além de ácidos
graxos e álcoois. Os lipídeos compostos de maior importância são os fosfolipídios, compostos por
álcool, ácido graxo e o radical fosfato. Esses lipídeos compõem as membranas celulares tanto de
vegetais como de animais. Os lipídios derivados são aqueles produzidos pela hidrólise de lipídios
simples e compostos. Os lipídios derivados de maior importância são os esteroides, dos quais temos

79
em destaque o colesterol. O colesterol compõe as membranas plasmáticas das células animais e
atua como precursor de hormônios corticoides, como a testosterona e a progesterona.

A diferença entre óleos e gorduras reside na natureza do ácido que esterifica o glicerol da estrutura.
Geralmente, os óleos possuem maior quantidade de ácidos graxos insaturados em sua estrutura do que as
gorduras.

6.7 Minerais
Os minerais são qualquer componente que faz parte dos alimentos com exceção do carbono, do
hidrogênio, do oxigênio e do nitrogênio, uma vez que correspondem a 99% da composição dos
organismos vivos. Apesar de constituírem uma pequena parte dos organismos vivos, os minerais
desempenham funções fundamentais, como constituição estrutural dos ossos, manutenção do
equilíbrio osmótico e do equilíbrio ácido-base dos fluidos dos organismos, entre outras. Além dos fins
nutricionais, os minerais também são analisadores para fins de segurança, evitando que o alimento
possa trazer toxicidade ao consumidor.

Ao contrário dos carboidratos, dos lipídios e das proteínas, os minerais não podem ser sintetizados
pelos organismos e devem estar presentes na dieta. Vinte e cinco dos 90 elementos químicos
encontrados naturalmente em nosso planeta são considerados minerais essenciais à vida, ou seja,
se forem removidos da dieta, o organismo perde funções biológicas importantes, tornando-se
deficiente e debilitado.

Os minerais essenciais podem ser classificados em macronutrientes e micronutrientes. Os


macronutrientes são aqueles que devem estar presentes da dieta em valores diários acima de 100
mg, como sódio, cálcio, fósforo, magnésio e outros. Os micronutrientes são aqueles que devem
estar presentes da dieta em valores diários abaixo de 100 mg, como iodo, selênio, cobre, ferro e
outros.

O teor de minerais em amostras de alimentos é geralmente determinado por meio da obtenção do


resíduo por incineração mais conhecido por cinzas. As amostras de alimentos secos são aquecidas
entre 550 e 570 ºC, os componentes orgânicos se decompõem durante o processo, restando apenas
o conteúdo mineral, que pode então ser analisado.

A determinação do teor de cinzas é fundamental na indústria alimentícia, uma vez que grande
quantidade de cinzas em produtos como açúcar, amido e gelatina não é desejável e a presença
minerais como os carbonatos na água pode causar problemas nas tubulações (incrustações),
reduzindo a eficiência de processos da indústria.

6.8 Vitaminas
As vitaminas são substâncias orgânicas que não são produzidas pelo corpo humano (pelo menos
em quantidades suficientes), porém são essenciais ao seu metabolismo. Dessa forma, a obtenção
das vitaminas pela dieta é fundamental para a manutenção da vida, evitando as síndromes que
ocorrem pela deficiência delas.

80
As vitaminas podem ser classificadas em lipossolúveis e hidrossolúveis. As vitaminas
hidrossolúveis são aquelas solúveis em água, sendo compostas pela vitamina C e pelas vitaminas
do complexo B: B1 (tiamina), B2 (riboflavina), vitaminas B6 (piridoxina), vitaminas B12
(cianocobalamina), ácido fólico, niacina e ácido pantotênico. As vitaminas lipossolúveis são
aquelas solúveis em lipídios e alguns solventes orgânicos, compostas pela Vitamina A (retinol),
vitamina D (calciferol), vitamina E (tocoferol) e vitamina K (filoquinona).

O aumento atual do consumo de alimentos industrializados aliado à baixa estabilidade das vitaminas
levou à preocupação em adicionar esses nutrientes aos alimentos processados como uma forma de
evitar deficiências na população. Entretanto, a adição de vitaminas exige cuidado e atenção, uma
vez que, se ingeridas em quantidades superiores as necessárias ao organismo, podem apresentar
toxicidade e induzir estados patológicos (hipervitaminose).

O biomédico bromatologista pode atuar na pesquisa no desenvolvimento de novos produtos alimentícios,


contribuindo, assim, para evitar a deficiência de nutrientes na alimentação da população.

Considerações Finais
A bromatologia é o campo da ciência que avalia os alimentos de forma qualitativa e quantitativa
quanto a suas propriedades químicas, físicas, toxicológicas, valor nutricional e calórico, ação no
organismo, além de identificar adulterantes, contaminantes e eficácia de métodos esterilizantes. O
produto alimentício é avaliado quanto às especificações legais e fraudes, garantindo segurança
alimentar para o consumidor.

Os alimentos a serem analisados podem ser secos (em pós ou granulares), líquidos, semissólidos,
sólidos, úmidos (carnes, peixes e vegetais), pastosos (molhos, pudins, etc.), alimentos líquidos
contendo sólidos (compostas de frutas, produtos enlatados em geral, etc.) e alimentos
com emulsão (margarina, manteiga, maionese).

O livro Ciência dos Alimentos: Princípios de Bromatologia dos autores Cassiano O. Silva, Érika M. M. Tassi e
Grazieli B. Pascoal traz um rico conhecimento sobre as análises bromatológicas.

Durante as análises bromatológicas, amostras de alimentos são avaliadas quanto à sua composição química
e às suas características de aptidão para consumo humano. Técnicas adequadas permitem a determinação
da composição centesimal dos alimentos, ou seja, a determinação do percentual de umidade (água),
carboidratos, fibras, proteínas, lipídeos, minerais e vitaminas que permitam o cálculo do valor calórico do
alimento. Os dados obtidos pelas análises bromatológicas são utilizados por indústrias e outros órgãos de

81
interesse na determinação da eficiência dos processos, da qualidade dos alimentos, da segurança alimentar e
do valor nutricional de alimentos disponibilizados à população.
Após as análises, os alimentos são classificados como genuíno (alimento dentro das especificações
regulamentarias), adulterado (alimento impuro, impróprio ou nocivo à saúde), alterado (alimento que apresenta
composição alteradas por processos de fabricação, conservação ou transporte), falsificado (alimento que
apresenta características gerais de outro alimento autêntico, denominando-se falsamente como este),
contaminado (alimento que apresenta contaminação por microrganismos patogênicos ou substâncias químicas
com potencial de causar doenças).
A umidade, ou teor de água, de um alimento é considerado um dos mais importantes índices que devem ser
avaliados. A água desempenha diversas funções nos organismos vivos, como transporte de nutrientes e
produtos de excreção do metabolismo (em solução), participação de reações químicas e bioquímicas e
estabilização da estrutura de diversas moléculas complexas, como proteínas e ácidos nucleicos. O teor de
água reflete o teor de sólidos de um alimento, bem como sua perecibilidade.
Os carboidratos, ou também chamados de açúcares, são um dos componentes mais importantes e estão
presentes em uma grande variedade de alimentos da dieta humana, como pão, arroz, massas, leite, vegetais
e bebidas. Carboidratos são de extrema importância para a geração de energia (4 kcal/g) no organismo vivo.
Além disso, essas moléculas são utilizadas como substrato pela microbiota saudável na síntese de diversas
vitaminas importantes.
As proteínas são os maiores constituintes das células e cada uma possui funções biológicas relacionadas à
sua estrutura molecular, como fonte de energia (4 kcal/g), catalisadores (enzimas), produção de hormônios,
transportadores, função estrutural, de contração muscular e outras. Essas moléculas estão presentes em uma
grande diversidade de alimentos importantes da dieta humana, como pães, massas, ovos, leite e carnes. Além
da função nutricional, apresentam propriedades funcionais, como emulsificantes e espumantes, que são de
grande interesse para a indústria alimentícia.
Os lipídios são encontrados em todos os organismos vivos, são geralmente insolúveis em água, e estão
presentes em uma grande variedade de alimentos da dieta humana, como leite, carne e manteiga. Eles
desempenham papel fundamental na geração de energia (9 cal/g), no transporte de vitaminas lipossolúveis,
no favorecimento da absorção do cálcio, entre outras funções. Nos alimentos, podem ter efeitos sobre o aroma,
o sabor e a palatabilidade.
Os minerais são qualquer componente que faça parte do alimento com exceção do carbono, do hidrogênio, do
oxigênio e do nitrogênio, uma vez que correspondem a 99% da composição dos organismos vivos. Além dos
fins nutricionais, os minerais também são analisadores para fins de segurança, evitando que o alimento possa
trazer toxicidade ao consumidor.
As vitaminas são substâncias orgânicas que não são produzidas pelo corpo humano (pelo menos em
quantidades suficientes), porém são essenciais ao seu metabolismo. Dessa forma, a obtenção das vitaminas
pela dieta é fundamental para a manutenção da vida, evitando as síndromes que ocorrem pela deficiência
delas.

A bromatologia é uma habilitação pouco conhecida, entretanto a atuação do biomédico neste campo é de
extrema importância. São as análises bromatológicas que garantem a qualidade e a segurança do alimento
que chega na mesa do consumidor.

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São substâncias orgânicas que não são produzidas pelo corpo humano (pelo menos em quantidades
suficientes), porém são essenciais ao seu metabolismo:
a) Vitaminas
b) Carboidratos
c) Fibras
d) Proteínas
e) Lipídios

Resposta Correta: Alternativa A

Questão Objetiva
São macromoléculas encontradas nos vegetais que não podem ser hidrolisadas (digeridas) por enzimas do
intestino humano, tendo constituintes que derivam das paredes celulares das plantas: a celulose, a
hemicelulose, a lignina, as pectinas, as gomas e as mucilagens:
a) Vitaminas
b) Carboidratos
c) Fibras
d) Proteínas
e) Lipídios

Questão Discursiva
Como é obtida a atividade de água?

Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C

Questão Discursiva
Resposta Padrão: O teor de água livre é expresso como atividade de água (Aa ou Aw) e é obtido pela
relação entre a pressão de vapor de água em equilíbrio no alimento e a pressão de vapor da água pura, ambos
na mesma temperatura. A pressão P do vapor de água de um alimento, após atingir o equilíbrio a uma
temperatura T, corresponde à umidade relativa de equilíbrio (URE). A atividade da água será então igual à
URE, sendo expressa em URE/100.

83
UNIDADE II
CAPÍTULO 7 – TOXICOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber sobre:
✓ A Terminologia da Toxicologia;
✓ Toxicocinética;
✓ Toxicodinâmica;
✓ Toxicologia Computacional;
✓ Toxicidade dependente do metabolismo;
✓ Respostas adaptativas à exposição a substâncias tóxicas.

Introdução
A toxicologia é a área da ciência que estuda os efeitos adversos das substâncias químicas sobre
os organismos. A toxicologia pode ser dividida em diversas subáreas, como a toxicologia clínica,
experimental, analítica, ambiental, forense, de medicamentos e cosméticos, ocupacional,
ecotoxicologia, entomotoxicologia, veterinária etc. Dessa forma, o profissional que atuar nesta área
precisa dominar conhecimentos de diversas áreas como química, farmacocinética e
farmacodinâmica, clínica, legislação etc.

Graças à Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 135 de 3 de abril de 2007, o


biomédico formado pode atuar no campo da toxicologia. Nessa área, o biomédico é capaz de realizar
análises de efeitos tóxicos de substâncias (cosméticos, medicamentos, venenos, metais pesados,
drogas de abuso etc.) que possam ser tóxicas, na execução do diagnóstico clínico-laboratorial de
intoxicações humanas e animais. A análise dessas substâncias potencialmente tóxicas é feita
geralmente por testes baseados em cromatografia de camada delgada, cromatografia líquida,
cromatografia em fase gasosa e cromatografia de alta pressão.

Na toxicologia, o biomédico habilitado pode trabalhar em diferentes áreas, como a acadêmica,


hospitalar, laboratorial, industrial etc. É de grande valor sua contribuição para a segurança pública,
seja na identificação de produtos químicos tóxicos ou alertando sobre um possível risco toxico em
produtos em desenvolvimento.

Neste capítulo, iremos estudar alguns conceitos básicos da toxicologia como a toxicocinética, a
toxicodinâmica, a toxicologia Computacional, a toxicidade dependente do metabolismo e as
respostas adaptativas à exposição a tóxicos.

7.1 A terminologia da toxicologia


Como em outros campos do conhecimento, a toxicologia tem seu próprio vocabulário distinto. Uma
vez que o uso impreciso de termos de toxicologia pode dificultar a comunicação eficaz de perigos
químicos, algumas questões semânticas que podem confundir neófitos toxicológicos requerem nossa
atenção.

A) Veneno: O mais urgente talvez seja o termo que melhor denota os tipos de substâncias nocivas
que são de interesse dos toxicologistas. A palavra veneno é amplamente usada para esse fim
durante a vida cotidiana, com sua popularidade rastreável aos tempos antigos. O Pai da
Toxicologia Moderna, Mathieu Orfila, também considerou o termo adequado ao escrever o

84
capítulo introdutório ao seu famoso Tratado Geral de Toxicologia de 1813: "o nome veneno
recebe qualquer substância, que, tomada internamente, em uma dose muito pequena, ou
aplicada de qualquer forma a um corpo vivo, prejudica a saúde ou destrói a vida".
Apesar de seu pedigree de longa data, o termo veneno não é amplamente utilizado como um
termo guarda-chuva na toxicologia moderna porque pode transmitir a conotação enganosa de
que o mundo contém apenas dois tipos de produtos químicos: "venenos" e "não venenos". Isso
significa que devemos estar ansiosos com o subconjunto de produtos químicos que são
designados como venenos, mas complacentes com todos os outros produtos químicos "não
cancerosos". Por isso, no uso atual, a palavra veneno é potencialmente enganosa.
Seguindo Paracelsus, a toxicologia moderna enfatiza que qualquer substância química pode
provocar toxicidade em condições adequadas de exposição (por exemplo, em doses muito
altas, até o sal de mesa comum ou a água potável é prejudicial). Voltaremos à relação "dose-
resposta" para toxicidade química abaixo.

B) Toxina: Podemos, em vez disso, usar a palavra toxina, que também é encontrada na fala
diária. Essa palavra habita muitos sites de medicina alternativa que vendem produtos que
supostamente 'limpam' o fígado ou "sistema" dessas entidades temerosas. Nos círculos
toxicológicos, no entanto, o termo toxina é mais bem reservado para substâncias nocivas feitas
por organismos vivos (como organismos marinhos venenosos, patógenos infecciosos ou
aranhas venenosas).
Estritamente falando, produtos químicos sintéticos, incluindo a maioria das drogas modernas,
bem como muitos produtos químicos industriais não estão cobertos por este termo.

C) Xenobiótico: Uma palavra útil frequentemente usada por toxicologistas é xenobiótico. Deriva
da palavra grega xenos, que denota algo estranho, desconhecido ou estrangeiro. Um
xenobiótico é, portanto, um produto químico que entra no corpo a partir de uma fonte externa.
Tais produtos contrastam com os endobióticos – produtos químicos que se formam dentro do
corpo durante processos fisiológicos normais (por exemplo, andrógenos, glicocorticoides,
neurotransmissores, eicosanoides e resíduos metabólicos, como a bilirrubina).
Os endobióticos também incluem produtos químicos tóxicos que se formam dentro de tecidos
doentes através de processos patológicos. Em teoria, o xenobiótico exclui essas substâncias
endógenas e, em vez disso, denota as dezenas de milhares de produtos químicos sintéticos
em uso generalizado no mundo atual, incluindo aditivos alimentares, poluentes industriais,
produtos de consumo, medicamentos, drogas recreativas, pesticidas, herbicidas e reagentes
industriais.
Note que, ao rotular um produto químico como xenobiótico, estamos reservando julgamento se
ele tem propriedades biológicas nocivas em condições normais de uso ou exposição humana.
Um xenobiótico pode ser tóxico sob algumas condições extremas de exposição, mas bastante
inofensivo sob outros. Por exemplo, com o uso ocasional em doses apropriadas, muitas drogas
sintéticas são suficientemente seguras que estão disponíveis no balcão sem prescrição
médica. O fato de que essas e outras moléculas sintéticas seguras são consideradas
xenobióticas significa que o termo não se encaixa inteiramente na nossa necessidade de um
nome que abrace produtos químicos com potencial tóxico definido em condições comuns de
uso.

85
Além das substâncias sintéticas, o termo xenobiótico abrange produtos químicos de ocorrência
natural aos quais os seres humanos são regularmente expostos através do consumo de
alimentos à base de plantas, bebidas botânicas e remédios à base de plantas. Embora muitas
dessas substâncias sejam provavelmente inofensivas ou até benéficas para a saúde humana,
alguns xenobióticos de origem natural podem ser realmente muito prejudiciais.
Como regra geral, a toxicologia moderna não concorda com a crença popular de que produtos
químicos estrangeiros ou sintéticos são inerentemente mais tóxicos do que substâncias que
ocorrem naturalmente ou mesmo endobióticos. Muitas das substâncias mais tóxicas
conhecidas pela toxicologia são de origem natural – um ponto que será reforçado ao longo
deste livro.

Os produtos químicos sintéticos de origem humana normalmente atraem a maior atenção na toxicologia
moderna simplesmente porque são usados em larga escala nas sociedades industriais atuais. Assim, embora
a natureza possa produzir algumas toxinas altamente potentes, elas raramente são produzidas em uma escala
comparável às substâncias sintéticas modernas.

Outro fator que maximiza o interesse por xenobióticos sintéticos é sua posse frequente de
características físico-químicas que garantem que eles sejam muito vívidos dentro de sistemas
biológicos ou no ambiente mais amplo. Uma vez expostos a produtos químicos naturais ao
longo da história humana, nossos corpos estão mais bem adaptados para lidar com sua
presença em comparação com algumas substâncias sintéticas de origem moderna que podem
conter propriedades químicas incomuns que os tornam resistentes ao metabolismo.
Embora seja útil classificar os produtos químicos de acordo com se eles são de origem natural
ou sintética, essa distinção é muitas vezes artificial. Com o desenvolvimento de instrumentos
analíticos sensíveis para a detecção e quantificação de produtos químicos em fluidos corporais
ou tecidos, sabemos agora que muitos produtos químicos – mesmo alguns que antes
assumimos serem inteiramente de origem sintética e só seriam encontrados no local de
trabalho industrial – são realmente formados em baixos níveis dentro do corpo.
A acroleína, por exemplo, é um composto carbonila altamente tóxico usado durante a
manufatura de plásticos e outros produtos químicos sintéticos. É também um grande poluente
ambiental, formado durante a combustão de matéria orgânica, incluindo tabaco, combustíveis
fósseis e vegetação florestal. A acroleína também se forma durante os processos de cozimento
e pode atingir altas concentrações aéreas nas cozinhas se alimentos fritos são preparados
sobre um fogão mal ventilado. No entanto, nas últimas décadas, nossa crença de que a
acroleína é ingerida principalmente a partir dessas fontes externas foi derrubada pela
descoberta de que ela se forma endogenamente através de diversos processos bioquímicos,
incluindo um fenômeno chamado peroxidação lipídica. Alguns cientistas suspeitam que a
acroleína endógena participa de doenças degenerativas da velhice como a doença de
Alzheimer. Isso ainda está sendo estudado, e pesquisas em andamento estão avaliando a
importância dessas exposições endógenas para a saúde.
Pode muito bem ser que, para algumas exposições endógenas, a alta sensibilidade de nossos
instrumentos analíticos modernos nos leve a superestimar sua importância. No entanto, o fato

86
de estarmos expostos a substâncias nocivas de fontes externas e internas representa um
problema conceitual: devemos categorizar uma substância como a acroleína como um
xenobiótico, um endobiótico ou ambos?

D) Tóxico: O termo abrangente preferido no vocabulário toxicológico para produtos químicos


nocivos de origem sintética e natural é o “tóxico”, que se refere um produto químico com
potencial definido para induzir danos celulares e teciduais sob condições comumente
encontradas de exposição, sejam elas deliberadas, acidentais ou não.
Tóxico é especialmente informativo quando associado a um prefixo que designa o local de
ação tóxica para uma determinada substância; o álcool, por exemplo, é um hepatotóxico, pois
causa danos hepáticos em altas doses, enquanto o cádmio é um nefrotóxico porque tem como
alvo o rim.

7.2 Toxicocinética
Um conceito-chave aplicado a qualquer fenômeno tóxico diz respeito à distinção entre toxicodinâmica
e toxicocinética. O primeiro descreve as ações nocivas que um produto químico exerce sobre
componentes corporais específicos, órgãos ou funções celulares – basta colocar toxicodinâmica é o
que o tóxico faz com o corpo. A toxicocinética, por outro lado, compreende o destino de produtos
químicos estranhos dentro do corpo – ou seja, o que o corpo faz com o tóxico.

A) Absorção: O 'A' em ADME denota a prontidão com que produtos químicos estranhos penetram
barreiras teciduais e são absorvidos pelo corpo. A absorção de um componente tóxico ocorre
a partir de muitos sítios anatômicos, mas três rotas são especialmente relevantes para a
maioria dos produtos químicos durante a vida cotidiana. Para produtos químicos voláteis, gases
e pequenas partículas transmitidas pelo ar (por exemplo, partículas de fumaça), a inalação
pelos pulmões é o mais importante.
A rota pulmonar é muito significativa para produtos químicos ocupacionais; por exemplo, um
trabalhador típico inala mais de 10 m3 de ar durante um dia de trabalho regular de 8 horas,
garantindo que a absorção pulmonar significante possa ocorrer ao longo da vida se os
trabalhadores manusearem os mesmos tipos de tóxicos regularmente. O desenho biológico do
tecido pulmonar facilita a oxigenação rápida do sangue à medida que perfura os espaços
alveolares, portanto, os pulmões não possuem barreiras anatômicas que restringem o acúmulo
de produtos químicos aéreos estranhos. A pele, em contraste, possui uma camada protetora
conhecida como estrato córneo, que limita a absorção dérmica de muitos produtos químicos.

B) Distribuição: Uma vez dentro da corrente sanguínea, os produtos químicos absorvidos entram
no segundo estágio do processo toxicocinético – 'D' para distribuição. Assim como as
propriedades físico-químicas regem a absorção de produtos químicos em seu contato inicial
com o corpo, elas também influenciam seu comportamento de distribuição dentro do corpo.
Depois de penetrar nas barreiras biológicas que interagem com o ambiente externo, os
produtos químicos encontram muitas barreiras de membrana adicional à medida que penetram
cada vez mais nos tecidos do corpo.
Padrões muito diferentes surgem ao estudar a dispersão de tóxicos individuais ao redor do
corpo; alguns tendem a se acumular em tecidos específicos, como gordura corporal, músculo-
esquelético ou fígado, enquanto outros permanecem principalmente na corrente sanguínea.

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Tóxicos exibindo essa última tendência frequentemente exibem forte afinidade vinculante para
proteínas de sangue, como albumina ou várias glicoproteínas de soro. Produtos químicos
altamente solúveis em água (hidrofônicos) também apresentam preferência pelo
compartimento sanguíneo durante a fase de distribuição.

C) Metabolismo: Uma vez que o corpo prontamente acumula produtos químicos que são
suficientemente lipofílicos e não são muito grandes ou altamente carregados, a exposição
contínua a produtos químicos desse tipo levanta um problema intrigante: como muitos tecidos
corporais são ricos em lipídios, a exposição contínua pode fazer com que eles se acumulem a
níveis tóxicos.
Claramente, o corpo precisa de maneiras de remover essas substâncias ou pelo menos formas
de superar sua lipofilia e se desvencilhar para que estes produtos não se acumulem em tecidos
corporais. Esse problema nos leva ao 'M' do acrônimo ADME – metabolismo.
Dada a presença onipresente de xenobióticos na natureza, não é surpresa saber que o genoma
humano contém centenas de genes que codificam enzimas que realizam modificações
químicas sofisticadas em substâncias estranhas. Após tais alterações estruturais, os produtos
químicos são frequentemente mais facilmente eliminados do corpo.
As células humanas, e especialmente aquelas dentro do fígado, expressam muitas enzimas
que realizam uma enorme gama de transformações químicas em xenobióticos ingeridos. Esses
catalisadores compartilhem muitas características com as enzimas que há muito tempo
preocuparam bioquímicos com seus requisitos de cofator, propriedades cinéticas, preferências
de temperatura, etc. Contudo, uma diferença significativa está por trás da estrutura e função
das proteínas xenobióticas-metabolizantes: enquanto a maioria das enzimas são muito
exigentes em suas preferências de substratos, enzimas xenobióticas-metabolizantes estão
dispostas a metabolizar centenas ou mesmo milhares de substratos.
O metabolismo xenobiótico mais oxidativo dentro do fígado é catalisado pelo citocromo P450
(CYP). Essa notável família enzimática converte uma enorme gama de moléculas orgânicas
em metabólitos oxidados. O sistema P450 é muito importante para a farmacologia, uma vez
que catalisa cerca de três quartos de todas as biotransformações de medicamentos humanos.
O genoma humano contém 57 genes CYP, embora isso inclua vários pseudogenes inativos,
espécies que estão exclusivamente envolvidas no metabolismo endobiótico, e "órfãos" com
substratos ainda não descobertos.
O fígado humano produz uma dúzia de isoformas CYP que realizam o metabolismo
xenobiótico, mas a carga de trabalho não é compartilhada igualmente entre os membros deste
subgrupo, uma vez que apenas cinco isoformas CYP provavelmente representam 90% do
metabolismo de drogas humanas – CYP1A2, -2C9, -2C19, -2D6 e -3A4. No entanto, mesmo
dentro deste seleto grupo, a carga de trabalho é distribuída de forma desigual: CYP3A4
provavelmente metaboliza cerca de metade dos agentes medicinais no uso atual.

D) Excreção: Alterar a estrutura dos xenobióticos lipofílicos representa uma solução de curto
prazo para sua tendência a se acumular no corpo: eventualmente, tanto os metabólitos quanto
qualquer composto não metabolizado remanescente requerem remoção permanente do corpo.
Este processo – o 'E' para excreção em ADME – é o estágio final crítico no destino
toxicocinético de todas as substâncias químicas. Normalmente, a maioria dos compostos
estranhos e seus metabólitos são removidos através do rim e/ou do fígado.

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No entanto, para alguns produtos químicos, outras rotas menores, incluindo os pulmões (para
substâncias voláteis como o álcool), o leite materno (importante para drogas básicas, como
alguns antidepressivos) ou mesmo o suor (relevante para algumas substâncias metálicas,
como o níquel) podem participar da eliminação de substâncias tóxicas. No principal, porém, a
excreção via urina e/ou fezes representa o destino final para a maioria dos produtos químicos
estranhos que transitam pelo corpo humano.

7.3 Toxicodinâmica
Se a toxicocinética considera o destino de produtos químicos dentro do corpo, a toxicodinâmica tenta
descrever como eles causam danos teciduais. Essa preocupação é o domínio natural da toxicologia
mecanicista, um ramo dinâmico da ciência moderna, uma vez que nossa compreensão dos
mecanismos subjacentes à toxicidade química é continuamente enriquecida por avanços acelerados
que ocorrem na biologia e na ciência biomédica.
A toxicologia moderna também abraçou o uso de novas tecnologias "ômicas" em sua tentativa de
entender a base molecular para toxicidade quimicamente induzida.

A) Atuação direta ou Metabolismo Dependente: Para entender completamente qualquer


síndrome tóxica quimicamente induzida, os pesquisadores devem esclarecer a forma química
do tóxico que impulsiona a expressão da toxicidade: é o tóxico original que causa a toxicidade
ou sofre conversão enzimática para metabólitos tóxicos dentro do corpo.
No primeiro caso, produtos químicos de ação direta geralmente se ligam a proteínas
específicas em uma célula ou tecido, desencadeando uma sequência de eventos que levam à
morte celular ou outros desfechos tóxicos. O metabolismo desempenha pouco ou nenhum
papel, uma vez que a molécula-mãe mede diretamente a disfunção celular. A lista inclui
produtos químicos de origem natural e sintética.

B) Respostas de Drogas: Os efeitos de muitos tóxicos de ação direta podem ser entendidos
emprestando o conceito de um receptor da farmacologia moderna. No final do século XIX, o
pesquisador alemão Paul Ehrlich (1854-1915) propôs que os tecidos possuam "cadeias
laterais" ou "receptores" que são alvo de toxinas liberadas de patógenos infecciosos.
O conceito de receptor atraiu farmacologistas pioneiros, como John Langley (1852-1925), que
em 1905 propôs que os agentes medicinais também pudessem interagir especificamente com
substâncias receptivas no corpo. Esta proposta inicialmente encontrou resistência, mas
trabalhos teóricos e experimentais elegantes por farmacologistas britânicos de meados do
século XX, como Clarke e Gaddum, reforçaram a teoria do receptor fornecendo modelos
matemáticos que explicavam diferenças na potência farmacológica de drogas individuais. Na
década de 1970, o isolamento dos primeiros receptores proteicos de tecidos animais confirmou
a teoria.
Ainda de acordo com essa teoria, interações transitórias entre drogas e seus receptores dentro
das membranas celulares desencadeiam mudanças na estrutura do receptor que ativam vias
de sinalização a jusante que alteram a função celular, finalmente desencadeando respostas
fisiológicas. A teoria dos receptores também ajudou a explicar os efeitos de drogas
antagonistas que bloqueiam os efeitos de ligantes ou neurotransmissores que ocorrem
naturalmente em seus receptores preferidos: tais moléculas inibitórias poderiam se ligar a

89
domínios críticos dentro da proteína alvo, mas não conseguem provocar alterações conformais
necessárias para uma resposta fisiológica.

C) Receptores e Respostas Tóxicas: A teoria do receptor também forneceu uma explicação


para respostas quimicamente induzidas a produtos tóxicos, propondo que os tóxicos poderiam
se ligar às proteínas celulares e obter respostas subcelulares a jusante que provocam
disfunção tecidual. Esta abordagem conceitual forneceu insights especialmente valiosos sobre
a toxicidade da dioxina, um contaminante tóxico que compõe o agente laranja que foi usado
extensivamente durante a Guerra do Vietnã (~1959-1975). Estritamente falando, a dioxina é
mais precisamente conhecida pelo seu próprio nome TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-
dioxina), uma vez que o nome dioxina simplesmente denota o composto pai não clorado. Ao
despir selvas de vegetação rasteira, o Agente Laranja supostamente aumentou a visibilidade
das bandas de guerrilha.
No entanto, essas práticas questionáveis também expuseram soldados americanos, seus
aliados e oponentes ao TCDD, um composto altamente tóxico, o principal ingrediente do
Agente Laranja. Os efeitos na saúde do TCDD em veteranos de guerra causaram controvérsias
políticas constantes nos EUA e em outros lugares durante as 1970 e 1980. Além disso, o TCDD
provavelmente teve efeitos nocivos na prole de mulheres em aldeias vietnamitas. Nesse
cenário socialmente carregado, os toxicologistas realizaram pesquisas cruciais sobre os
mecanismos moleculares subjacentes aos efeitos tóxicos do TCDD.

Um avanço importante envolveu a identificação de uma proteína conhecida como AhR (receptor de
hidrocarbonetos) como alvo subcelular para dioxina. Este receptor também é ativado por vários tóxicos naturais
e sintéticos que compartilham propriedades químicas com TCDD: posse de múltiplos anéis aromáticos, uma
estrutura planar e caráter hidrofóbico. O AhR tornou-se o protótipo para entender uma ampla gama de
respostas tóxicas orientadas por receptores. Como outros receptores xenobióticos, o AhR age como um
ativador transcricional para obter respostas transcricionais amplas dentro do núcleo das células expostas.

Embora o paradigma receptor tenha enriquecido nossa compreensão de muitos problemas


tóxicos, a teoria exigiu algumas modificações das interações clássicas de receptores de drogas
estudadas por farmacologistas. Por exemplo, enquanto muitas interações receptoras induzidas
por drogas ocorrem rapidamente ao longo de um período de tempo de milissegundos a
segundos, os efeitos tóxicos provocados pelo receptor que visa tóxicos como a dioxina
envolvem alterações na expressão genética que podem levar horas, dias ou até semanas para
obter respostas tóxicas observáveis.
Além disso, a maioria das interações entre as drogas e seus receptores são transitórias na
natureza, aumentando em intensidade à medida que as concentrações de drogas aumentam
no sangue após sua ingestão e, em seguida, recuam após sua posterior remoção da circulação.
Em contraste, muitos fenômenos toxicológicos não são explicáveis em termos de interações
livremente reversíveis entre xenobióticos e receptores dentro dos tecidos e, em vez disso,
envolvem interações irreversíveis entre produtos químicos e seus alvos subcelulares.
Para entender esses fenômenos, toxicologistas mecanicistas devem atravessar terrenos
inexplorados pela teoria da farmacologia clássica. Ao descobrir que muitos produtos químicos

90
causam toxicidade através de metabólitos reativos que infligem danos irreversíveis aos alvos
celulares, os toxicologistas tiveram que desenvolver novos modos de pensamento, ao mesmo
tempo em que usam conceitos emprestados da química orgânica e da bioquímica.

7.4 Toxicologia computacional


À medida que o século XXI se desenrola, a crescente consciência do papel de alvos específicos de
proteínas na mediação da toxicidade combinada com os desenvolvimentos da modelagem baseada
em computador tem alimentado o surgimento da toxicologia computacional. A ampliação da
disponibilidade de descrições detalhadas de estruturas-alvo de proteínas fornecidas pela
cristalografia de raios-X ajudou a cultivar este campo. A toxicologia computacional também é
auxiliada pela Químioinformática – a disciplina moderna que se baseia na ciência da computação e
química para desenvolver ferramentas de software para armazenar, gerenciar e interrogar grandes
conjuntos de produtos químicos ('bibliotecas compostas') dentro de um ambiente baseado em
computador ('in silico'). Normalmente, toxicologistas computacionais desenvolvem ferramentas de
software que permitem que grandes bibliotecas compostas sejam rastreadas em sílico por sua
afinidade vinculante com alvos proteicos selecionados de significância toxicológica conhecida.
Um exemplo das abordagens possíveis na toxicologia computacional é tipificado pelo VirtualToxLab.
Este poderoso projeto suíço usa em ferramentas de sílico para prever a toxicidade de drogas,
produtos químicos e produtos naturais, simulando sua afinidade vinculante para 16 proteínas que
participam de respostas tóxicas quimicamente induzidas (por exemplo, receptores nucleares,
proteínas CYP, fatores de transcrição, canais de íon). As estruturas químicas para produtos químicos
de interesse podem ser carregadas dentro do ambiente VirtualToxLab para estudar interações com
receptores de toxicidade. Este modelo tem sido usado para prever as habilidades de mais de 2.500
produtos químicos para obter respostas tóxicas como perturbação metabólica, carcinogenicidade e
cardiotoxicidade.

Os resultados obtidos pelo projeto suíço VirtualToxLab podem ser encontrados acessando o site:
www.virtualtoxlab.org

A crescente popularidade das abordagens de triagem virtual dentro de órgãos reguladores influentes,
como a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, ilustra que o toxicologista do amanhã exigirá
competência em áreas como informática e bioinformática, além de treinamento em biologia
experimental e toxicologia.

7.5 Toxicidade dependente do metabolismo


A bioativação toxicológica – processo pelo qual compostos inócuos são metabolizados para
metabólitos tóxicos – sustenta a toxicidade de muitos xenobióticos. Esse fenômeno intriga os
pesquisadores que desejam esclarecer as mudanças metabólicas que as moléculas individuais
sofrem dentro do fígado, tentando distinguir entre aqueles que alcançam a desintoxicação e aqueles
que causam toxicidade.

91
A) Determinantes da Toxicidade Metabólito Mediada: A bioativação é especialmente
prejudicial quando gera metabólitos reativos que atacam DNA ou proteínas. Esses
"intermediários reativos" atraem interesse de pesquisa particular, uma vez que podem exibir
uma diversidade intrigante em suas reações com macromoléculas celulares. Em geral, o tipo
de toxicidade infligida por tais metabólitos depende de vários fatores-chave.

B) Estabilidade metabólica: A estabilidade química dita a vida útil de um metabólito dentro do


ambiente celular, que a termo determina até onde pode viajar dentro do ambiente biológico
antes de sofrer reações com macromoléculas celulares, desintoxicação enzimática ou
decadência espontânea. O tempo necessário para que suas concentrações intracelulares
caiam em 50 % – a meia-vida metabólito (T1/2) – é especialmente útil para predizer os danos
infligidos por produtos de bioativação.
Normalmente, se um metabólito estável se forma durante o ciclo catalítico de CYP450, ele se
difunde rapidamente longe da enzima, em última análise submetido à excreção da célula. A
situação pode ser bem diferente para produtos de bioativação, com pelo menos quatro
resultados amplos possíveis. Alguns metabólitos derivados do CYP possuem meias-vidas
ultracurtas (por exemplo, na faixa de microssegundos).
A reatividade pronunciada desses metabólitos ultrainstáveis garante que eles ataquem CYP
antes de difundirem-se do local ativo do CYP. Essas reações de "inativação suicida" podem
"matar" a enzima CYP atacando o grupo heme ou destruindo sua capacidade de metabolizar
moléculas xenobióticas adicionais. Tais desfechos acompanham a terapia com diidralazina,
uma droga que reduz a pressão arterial que é restrita em vários países devido a preocupações
com a toxicidade hepática. Após a conversão para um metabólito ultra instável que atacou
CYP, a diidralazina pode desencadear hepatotoxicidade imunoalérgica em pacientes
suscetíveis.

Investigue quais são os metabólitos ultrassensíveis possivelmente produzidos pelo corpo.

Outra possibilidade surge se o metabólito reativo for suficientemente estável para escapar da
câmara catalítica CYP, mas não puder sair da célula em que ela. Tais desfechos são
provavelmente raros, uma vez que as células hepáticas são entidades muito pequenas;
portanto, metabólitos reativos que são suficientemente longos para escapar de seu ambiente
catalítico geralmente podem atravessar múltiplos diâmetros celulares mesmo em uma breve
vida.

Metabólitos reativos que possuem meias-vidas de alguns segundos ou mais podem


provavelmente danificar células vizinhas no mesmo órgão. Essa situação é bastante comum e
reflete o fato de que a maioria dos órgãos contém uma diversidade de tipos celulares que
diferem em suas habilidades para metabolizar xenobióticos ou destoxicar metabólitos reativos.
Nas células hepáticas, o cloreto de vinil é convertido em um metabólito reativo que danifica
células endoteliais adjacentes dentro de vasos sanguíneos hepáticos. Esses últimos contêm
baixos níveis de glutationa e são altamente vulneráveis a metabólitos derivados de cloreto de
vinil tóxico.

92
Outra situação comum surge quando metabólitos reativos sobrevivem por alguns minutos ou
mais, proporcionando tempo suficiente para escaparem do órgão em que se formaram. Ao
entrar na corrente sanguínea, os metabólitos migram por todo o corpo, causando danos em
tecidos remotos. Esse fenômeno é muito importante no câncer relacionado ao tabagismo, uma
vez que os produtos químicos na fumaça do tabaco podem ser submetidos à bioativação a
metabólitos reativos, seja nos pulmões ou no fígado, antes de desatarem em torno do corpo.
Além do câncer de pulmão, os fumantes enfrentam um alto risco de câncer em órgãos
periféricos, como pâncreas, rim e bexiga.

C) Seletividade macromolecular: Em vez de atacar todos os constituintes celulares


indiscriminadamente, metabólitos reativos frequentemente reagem de forma diferente com o
DNA em comparação com as proteínas. Identificar os alvos macromoleculares preferidos para
um metabólito reativo pode ajudar a explicar as respostas tóxicas que ocorrem após a
exposição ao tóxico pai.
Para metabólitos que apresentam reatividade pronunciada com DNA, as consequências de
longo prazo podem incluir câncer e outros tipos de doenças genéticas. Durante a gravidez,
metabólitos prejudiciais ao DNA podem causar malformações embrionárias ou aumentar o
risco de cânceres infantis, como a leucemia. Uma vez que um metabólito reativo é conhecido
por danificar o DNA, a questão emerge sobre quais sequências dentro do genoma são
suscetíveis a ataques. Danos dentro da sequência promotora de um gene podem suprimir a
expressão do produto proteico, causando deficiência de enzimas ou perda de funções proteicas
normais.
Alternativamente, danos dentro das principais regiões de codificação de um alvo genético
podem desencadear mutações que levam a proteínas anormais e mutantes. Eventos desse
tipo são bem descritos para genes reguladores de crescimento crítico, como p53 ou K-Ras,
que são os principais alvos para carcinógenos de fumo de tabaco. Identificar danos químicos
a éxons específicos propensos a mutação dentro desses genes ajudou a incriminar
carcinógenos específicos em formas particulares de câncer ocupacional ou relacionado ao
tabagismo.
Metabólitos que mostram preferência por proteínas celulares são frequentemente associados
com disfunção de órgãos ou reações tóxicas alérgicas. Uma vez que se sabe que um
determinado xenobiótico forma um metabólito prejudicial à proteína, a busca começa a
identificar os alvos precisos de proteínas que sustentam danos dentro de "órgãos-alvo"
vulneráveis. Saber se um metabólito danifica preferencialmente proteínas envolvidas na
regulação da morte celular, proliferação celular ou vias de resposta inflamatória fornece uma
visão valiosa do perfil toxicológico do xenobiótico dos pais.

Como a maioria das proteínas celulares existem em complexos de multiproteína ou funcionam através de
parcerias transitórias com outras proteínas, é relevante saber como danos a uma proteína específica alteram
o comportamento das redes celulares globais está emergindo como um dos principais tópicos de interesse na
toxicologia moderna.

93
7.6 Respostas adaptativas à exposição a substância tóxica
A capacidade de metabolizar tóxicos estranhos e eliminar quaisquer metabólitos resultantes é crucial
para a saúde de todos os organismos mamíferos. No entanto, os pesquisadores logo descobriram
que a capacidade hepática de desintoxicar xenobióticos não é estática: após a repetida exposição,
os hepatócitos aumentam a expressão da biotransformação e caminhos excretórios nos esforços
para eliminar substâncias estranhas das células.
Tais descobertas concentraram grande interesse nos mecanismos de transdução subjacentes a
essas capacidades: com que precisão uma pequena molécula como uma droga barbitúrica
seletivamente aumenta a expressão de genes nucleares codificando proteínas com propriedades
sobre xenobióticos? Graças aos trabalhos sobre esse problema nas últimas décadas, ocorreu a
identificação de numerosas proteínas "xenosensoras" que mediam respostas adaptativas aos
xenobióticos. A partir das respostas adaptativas após a exposição repetida a um xenobiótico, o corpo
pode alterar seu destino toxicinético, diminuindo a absorção do tóxico, limitando a distribuição,
impulsionando o metabolismo ou acelerando a excreção do composto tóxico ou metabólitos. A
capacidade para impulsionar esses processos depende da presença de sensores que detectam
xenobióticos invasores e montam respostas transcricionais que aceleram a eliminação tóxico do
corpo.
Embora a pesquisa historicamente focada nos mecanismos pelos quais a capacidade celular para o
metabolismo xenobiótico seja impulsionada pela exposição repetida, os mesmos sistemas de
sensoriamento que mediam essas mudanças geralmente regulam simultaneamente os
transportadores de membrana que controlam a absorção, distribuição e eliminação de xenobióticos.
Essa resposta integrada faz sentido no design biológico: qualquer aumento sustentado na formação
metabólica dentro do corpo é potencialmente contraproducente, a menos que a capacidade de
excretar permanentemente essas espécies também seja aprimorada.

A) Indução CYP450: A capacidade do fígado e de outros tecidos para metabolizar xenobióticos


varia sob a influência da dieta, idade, tabagismo e exposição a medicamentos. No nível
molecular, a exposição xenobiótica pró-anseio aumenta os níveis de CYPs individuais por meio
de um fenômeno chamado indução. Esse aumento da capacidade de biotransformação
oxidativa é geralmente benigno, já que se destina a acelerar o despejo xenobiótico do corpo,
embora consequências prejudiciais possam ocorrer se os tóxicos forem tornados mais tóxicos
através de vias CYP indutíveis. A indução de CYP também tem consequências significativas
para a terapia medicamentosa e é uma das principais causas de interações medicamentosa-
medicamentos (DDIs) em pacientes que recebem múltiplos medicamentos simultaneamente.
Uma vez que as concentrações de drogas dentro do sangue podem cair devido ao aumento da
liberação pelo fígado, a indução CYP reduz os efeitos dos medicamentos. Como é necessário
algum tempo para ocorrer a síntese de novas proteínas CYP, problemas clínicos causados por
indutores CYP muitas vezes requerem uma semana ou mais para se tornarem evidentes (ou
seja, depois que um paciente inicia a terapia com uma droga adicional). Isso contrasta com os
efeitos colaterais causados pela inibição CYP que normalmente se manifestam um pouco mais
rapidamente.
A indução CYP foi descoberta na década de 1950, quando os hipnosedativos barbitúricos eram
amplamente utilizados para induzir o sono. Apesar de responderem bem inicialmente, muitos
destinatários relataram uma perda de eficácia ou tolerância após o uso repetido. Estudos em
animais em laboratório revelaram uma base cinética para tal tolerância barbitúrica, com uma
elevação de quatro a cinco vezes no CYP hepático total detectado após exposição sustentada

94
a essas drogas. Devido ao fato de que os barbitúricos são metabolizados mais rapidamente,
doses mais altas são necessárias para obter respostas sedativas, levando à dependência física
dentro dos pacientes. Após essas descobertas, a popularidade dos barbitúricos diminuiu
significativamente.
Os pesquisadores eventualmente ganharam ferramentas poderosas para medir proteínas CYP
individuais em células e tecidos, incluindo anticorpos específicos que se ligam a cada isoforma
da CYP. Esses reagentes são amplamente utilizados durante procedimentos que permitem
comparações entre células de animais em um grupo controle e em grupos de animais com
tecidos expostos a indutores.
O desenvolvimento de métodos para detectar transcrições de mRNA para CYPs individuais
(por exemplo, Northern blotting e posteriormente RT-PCR e microarrays) ajudou muito o estudo
da indução CYP. Coletivamente, essas abordagens revelaram que a maioria dos indutores
afeta os níveis de isoformas CYP individuais de forma diferente, com muitas vezes apenas
alguns ou mesmo uma única isoforma mais fortemente afetada. Ao sugerir que diferentes
indutores poderiam atuar por vias de transdução distintas, esses achados estimularam os
pesquisadores a esclarecer os mecanismos subjacentes à indução do CYP.

B) Papel dos Xenosensores na Indução CYP450: Uma explicação para a indução CYP propôs
que os ligantes de indução se associam aos receptores alvo no DNA, provocando respostas
transcricionais que aumentam a abundância de isoformas específicas de CYP em tecidos-alvo.
Essa hipótese mostrou-se muito frutífera, e décadas subsequentes viram vários receptores
identificados como alvos para indutores CYP. Conhecidos como xenosensores, esses
receptores ativados por ligante protegem o corpo "sentindo" compostos estranhos ingeridos
antes de ativarem a síntese de catalisadores proteicos que facilitam o acesso xenobiótico.
Todos os xenosensores descobertos até o momento são fatores de transcrição nuclear
responsivos que regulam a expressão de CYP e de genes de biotransformação relacionados,
bem como transportadores de membrana. Embora sua distribuição normal às vezes possa ser
controversa dependendo dos tipos celulares sob observação experimental, como regra a
maioria das proteínas xenosensoras existem em citosol até que os ligantes promovam sua
redistribuição para o núcleo.

C) Respostas toxicodinâmicas adaptativas: Um mecanismo comum subjacente à toxicidade é


a tendência de atacar macromoléculas celulares, formando adutos que perturbam as funções
biológicas do núcleo. Paralelamente a essas descobertas, como os toxicologistas usaram
ferramentas moleculares para investigar as respostas celulares aos eletrófilos, eles
aprenderam que as células não estão totalmente indefesas contra essas espécies prejudiciais.
Em particular, o uso de tecnologias de microarray para estudar alterações nas transcrições
genéticas do mRNA revelou que as células montam amplas respostas citoprotetoras
envolvendo centenas de genes para combater a toxicidade química. Em termos conceituais,
essas mudanças representam tentativas das células de neutralizar os efeitos toxicodinâmicos,
em vez de alterar seu destino toxicocinético (por exemplo, reduzir as concentrações
intracelulares de um composto alvo da toxicidade).
Note que, em alguns casos, certas respostas adaptativas a metabólitos reativos podem ser
deletérias para a função celular, enquanto em outros são claramente citoprotetoras. Distinguir
entre esses desfechos opostos às vezes é difícil, uma consideração que é especialmente
pertinente aos fatores de transcrição Nrf2 e Nfκb.

95
Considerações Finais
A toxicologia é a área da ciência responsável por estudar e avaliar os efeitos adversos das
substâncias químicas sobre os organismos. A toxicologia pode ser dividida em diversas subáreas,
como a toxicologia clínica, experimental, analítica, ambiental, forense, de medicamentos e
cosméticos, ocupacional, ecotoxicologia, entomotoxicologia, veterinária etc. Sendo assim, o
profissional que atuar nesta área precisa dominar conhecimentos de diversas áreas do
conhecimento, como química, farmacocinética e farmacodinâmica, clínica, legislação etc.

O biomédico toxicologista é capaz de realizar análises de efeitos tóxicos de substâncias (cosméticos,


medicamentos, venenos, metais pesados, drogas de abuso etc.) e exames diagnósticos clínico-
laboratoriais de intoxicações humanas e animais. O biomédico habilitado pode trabalhar em
diferentes áreas, como a acadêmica, hospitalar, laboratorial, industrial etc. É de grande valor sua
contribuição para a segurança pública, seja na identificação de produtos químicos tóxicos ou
alertando sobre um possível risco toxico em produtos em desenvolvimento.

A obra “Fundamentos de Toxicologia” dos autores Seizi Oga, Márcia M. A. Camargo e José A. O. Batistuzzo
traz conceitos importantes em toxicologia; por isso, é um ótimo livro para quem deseja se aprofundar na
toxicologia.

Um conceito-chave aplicado a qualquer fenômeno tóxico diz respeito à distinção entre toxicodinâmica e
toxicocinética. O primeiro descreve as ações nocivas que um produto químico exerce sobre componentes
corporais específicos, órgãos ou funções celulares – basta observar que toxicodinâmica é o que o tóxico faz
com o corpo. A toxicocinética, por outro lado, investiga o destino de produtos químicos estranhos dentro do
corpo – ou seja, o que o corpo faz com o tóxico.
Se a toxicocinética considera o destino de produtos químicos dentro do corpo, a toxicodinâmica tenta descrever
como eles causam danos teciduais. Essa preocupação é o domínio natural da toxicologia mecanicista, um
ramo dinâmico da ciência moderna, uma vez que nossa compreensão dos mecanismos subjacentes à
toxicidade química tem sido continuamente enriquecida por avanços acelerados que ocorrem na biologia e na
ciência biomédica.
A bioativação toxicológica – processo pelo qual compostos inócuos são metabolizados para metabólitos tóxicos
– sustenta a toxicidade de muitos xenobióticos. Esse fenômeno intriga os pesquisadores que desejam
esclarecer as mudanças metabólicas que as moléculas individuais sofrem dentro do fígado, tentando distinguir
entre aqueles que alcançam a desintoxicação e aqueles que causam toxicidade.
A bioativação é especialmente prejudicial quando gera metabólitos reativos que atacam o DNA ou as proteínas.
Esses "intermediários reativos" atraem interesse de pesquisa particular, uma vez que podem exibir uma
diversidade intrigante em suas reações com macromoléculas celulares. Em geral, o tipo de toxicidade infligida
por tais metabólitos depende de vários fatores-chave.
A capacidade de metabolizar tóxicos estranhos e eliminar quaisquer metabólitos resultantes é crucial para a
saúde de todos os organismos mamíferos. No entanto, os pesquisadores logo descobriram que a capacidade
hepática de desintoxicar xenobióticos não é estática: após a repetida exposição, os hepatócitos aumentam a
expressão da biotransformação e caminhos excretórios nos esforços para eliminarem substâncias estranhas
das células.

96
(ENADE, 2017) A toxicologia forense, cujo objetivo principal é fornecer respostas às questões que surgem
durante investigações criminais, utiliza como ferramenta as análises toxicológicas de matrizes biológicas, tais
como: a urina, o sangue, o cabelo, a saliva e o suor.
BORDIN, D.; MONEDEIRO, F.; CAMPOS, E. Técnica de preparo de amostras biológicas com interesse forense. Scientia
Chromatographica, v.7, n.2, p.125-143, 2015 (adaptado).

Em relação às matrizes biológicas utilizadas no âmbito das análises forenses, avalie as afirmações a seguir.
I. Embora as análises toxicológicas da urina apresentem vantagens, como a coleta fácil e não invasiva
das amostras, estas podem ser facilmente adulteradas, visto que o atendimento às recomendações
de coleta vigiada é uma prática pouco frequente.
II. Para a quantificação de drogas, é preferível que o exame de sangue seja feito em amostra de soro
ou plasma a apenas em sangue total, dadas as diferentes afinidades que as drogas têm com as
proteínas.
III. A análise toxicológica do cabelo permite a descoberta da exposição pregressa do indivíduo a
drogas que se impregnam nos pelos por semanas, meses ou anos, mesmo tendo sido realizados
tratamentos cosméticos como descoloração e tinturas.
IV. A análise toxicológica do suor permite a detecção da própria substância exógena utilizada, e não
de seus metabólitos, entretanto, como as concentrações da substância encontrada nas amostras são
relativamente baixas, é necessário o emprego de técnicas analíticas com alta sensibilidade e
seletividade.
É correto apenas o que se afirma em
a) I e IV.
b) II e III.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) I, III e IV.

Resposta Correta: Alternativa A

Questão Objetiva
Descreve as ações nocivas que um produto químico exerce sobre componentes corporais específicos, órgãos
ou funções celulares, é o que o tóxico faz com o corpo:
a) Toxicocinética
b) Toxicodinâmica
c) Toxicologia ocupacional
d) Toxicologia ambiental
e) Toxicometabolização

97
Questão Discursiva
Descreva o que é bioativação toxicológica.

Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa B

Questão Discursiva
Resposta Padrão: A bioativação toxicológica é o processo pelo qual compostos inócuos são metabolizados
para metabólitos tóxicos, sustentando a toxicidade de muitos xenobióticos.

98
UNIDADE II
CAPÍTULO 8 – REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
No término deste capítulo, você deverá saber sobre:
✓ Introdução à reprodução humana assistida;
✓ Inseminação artificial;
✓ Fertilização in vitro;
✓ Biópsia embrionária e análise genética;
✓ Classificação embrionária;
✓ Assisted Hatching;
✓ Criopreservação;
✓ Espermograma.

Introdução
Acredita-se que as primeiras tentativas de inseminação artificial foram realizadas ainda no século
XIV pelos árabes que buscavam a criação de uma raça de cavalos mais fortes e resistentes. No
século XIX a inseminação artificial foi aplicada em outros mamíferos: éguas, vacas e ovelhas. Em
seres humanos, a primeira tentativa ocorreu em 1970 pelo médico inglês John Hunter, que obteve
os primeiros resultados.

A Reprodução Humana Assistida é o processo em que se utilizam diversas técnicas para auxiliar
e facilitar a concepção. Essas técnicas são utilizadas por casais inférteis, casais em que haja
portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV positivo) ou do vírus da hepatite B ou C (HBV
ou HCV). Além disso, algumas técnicas também podem ser empregadas na reprodução de casais
com elevado risco de transmissão de doença genética (polineuropatia amiloidótica familiar, trissomia
21 e outras).

Graças a Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 78 de 29 de abril de 2002,


biomédico formado pode se habilitar em reprodução humana. Nessa área o biomédico pode atuar
na manipulação de gametas (oócitos e espermatozoides), na identificação e na classificação
oocitária, no processamento seminal, executando espermograma, criopreservação seminal e
embrionária, classificação embrionária, biópsia embrionária e Hatching.

Dessa forma, o biomédico auxilia no diagnóstico e em procedimentos terapêuticos em hospitais e


clínicas de reprodução humana. Além disso, o Biomédico pode assinar laudos da área e assumir a
responsabilidade técnica do laboratório.

Neste capítulo, nós estudaremos algumas técnicas utilizadas na reprodução humana assistida, são
elas: a inseminação artificial, a fertilização in vitro, a criopreservação, o espermograma e o assisted
hatching, bem como a classificação embrionária.

A evolução da biotecnologia e o emprego de técnicas de reprodução assistida humana juntamente com a


modificação do conceito de família permitem que casais homoafetivos possam ter filhos com a utilização do
gameta de um deles, assim como pessoas solteiras.

99
8.1 Introdução a reprodução humana assistida
A Reprodução Assistida consiste em um conjunto de técnicas utilizadas com a finalidade de facilitar
ou viabilizar a concepção. O emprego da biotecnologia no desenvolvimento de técnicas eficientes de
reprodução assistida permite que casais com problemas de fertilidade ou portadores de vírus
transmitidos horizontalmente (HIV, HCV, HBV) exerçam seus direitos de concepção. Além disso,
casais homoafetivos têm a possibilidade de gerarem uma criança utilizando o gameta de um deles,
assim como pessoas solteiras. Ainda, algumas técnicas importantes podem auxiliar a reprodução de
casais com elevado risco de transmissão de doença genética (polineuropatia amiloidótica familiar,
trissomia 21 e outras).
Na Reprodução Assistida Humana são utilizadas técnicas como a inseminação intrauterina, a
fertilização in vitro, a microinjecção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI - Intracytoplasmic
Sperm Injection), a transferência de embriões ou de gametas, o diagnóstico genético pré-
implantatório (DGPI), a criopreservação, o assisted hatching, etc.
Quando um casal encontra dificuldade para conceber e buscam pela reprodução assistida, ambos
são submetidos a uma série de exames que identificam a causa do problema. Em seguida, o médico
especialista indica o tratamento mais adequado ao problema identificado. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), entre 8% e 15% dos casais possuem algum problema de infertilidade que,
com o emprego de técnicas de reprodução assistida, poderá ser solucionado, possibilitando a
concepção.

8.2 Inseminação artificial


A inseminação intrauterina (IIU), ou também chamada de inseminação artificial, é a técnica
responsável pela inserção do sêmen diretamente no interior da cavidade uterina feminina durante o
período fértil, facilitando a fecundação natural na região da tuba uterina no aparelho genital do corpo
feminino. Não há qualquer tipo de manipulação ou alteração externa dos gametas nem do embrião.
Na reprodução humana, alguns requisitos são necessários para que a inseminação artificial tenha
sucesso. Para mulheres, é necessário que a tuba uterina esteja em condições normais, visto que a
fecundação ocorre nessa região. A realização do exame de imagem histerossalpingografia (HSG)
pode verificar a situação do órgão. Para os homens, é necessário que o sêmen possua no mínimo 5
milhões de espermatozoides móveis progressivos para cada ml de sêmen. O exame laboratorial
chamado espermograma analisa a quantidade de espermatozoides, assim como porcentagem de
espermatozoides móveis rápidos e lentos.
A inseminação artificial humana é indicada nos seguintes casos: casais jovens com causas de
infertilidade desconhecidas, mulheres que possuam irregularidades na ovulação, mulheres que
possuam alteração no colo do útero, mulheres que possuam a Síndrome dos Ovários Policísticos
(SOP), mulheres que possuam muco espesso (impede que espermatozoides cheguem às tubas
uterinas), mulheres que possuam endometriose (alguns casos) e homens que possuam alterações
leves no sêmen. Além disso, a inseminação artificial também é indicada para mulheres solteiras que
desejam ter filhos e para casais homoafetivos. Em ambos os casos o sêmen de um doador pode ser
utilizado.
A taxa de sucesso dessa técnica é elevada, entretanto alguns fatores podem influenciar diretamente
a eficácia do tratamento. A idade da mulher é um fator importante e deve ser considerado. Mulheres
com 35 anos ou mais tendem a ter menos chances de sucesso, visto que os óvulos envelhecem
naturalmente com o passar dos anos. A probabilidade de a inseminação artificial ter sucesso em

100
mulheres de até 34 anos varia entre 20% a 30%. A partir dos 35 anos até 39 anos a chance é reduzida
para cerca de 15%, e para mulheres com mais de 40 anos a probabilidade de sucesso varia entre 1
e 5%.

As técnicas de reprodução assistida podem ser classificadas em homólogas e heterólogas. As técnicas


homólogas utilizam os gametas (espermatozoides e óvulos) do próprio casal e as técnicas heterólogas utilizam-
se de um ou amos gametas de doadores, ou seja, de outra pessoa que não seja do casal.

8.3 Fertilização in vitro (FIV)


A fertilização in vitro (FIV) consiste na fecundação do óvulo pelo espermatozoide fora do organismo
no laboratório, seguido da introdução do embrião (óvulo fecundado) no útero feminino. Em humanos,
esse procedimento foi realizado pela primeira vez no ano de 1978 e já permitiu a concepção de cerca
de 3 milhões de bebês pelo mundo todo.
O procedimento da FIV se inicia com a estimulação da produção ovariana feminina para que um
número maior de óvulos esteja disponível para posterior captação por meio de punção guiada por
ultrassom transvaginal. Os óvulos coletados são fertilizados pelos espermatozoides por dois
procedimentos distintos. No procedimento tradicional, os óvulos e os espermatozoides são
colocados em placas de cultura e, dessa forma, são mantidos na tentativa de que os
espermatozoides alcancem e fertilizem de maneira mais natural possível. O outro procedimento é
chamado de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) e consiste na injeção de
espermatozoides selecionados dentro do óvulo (Figura 27) com o auxílio de um equipamento
chamado micromanipulador de gametas (Figura 28). Essa técnica aumenta a eficácia da FIV em
casos de fatores masculinos graves.
Figura 27 – Micromanipulação de gametas

Fonte: Procriar.com.br

101
Figura 28 – Micrcomanipulador

Fonte: drjoaodias.com.br

Em seguida, o embrião gerado entra em um processo de divisão celular exponencial, possuindo cada
vez mais células e todo seu desenvolvimento é avaliado. Cinco dias após a fertilização, o embrião
encontra-se em estágio de blastocisto. Nessa fase há maior possibilidade de implantação no útero
e, consequentemente, maiores taxas de sucesso. A introdução do embrião no útero é chamada de
transferência embrionária e é realizada por meio da utilização de um cateter inserido dentro do útero
por meio do orifício externo do colo uterino. O cateter é ligado a uma seringa contendo um ou mais
embriões em suspensão em fluido. Por fim, o fluido é inserido e, consequentemente, os embriões
são empurrados para dentro do útero.
Na reprodução humana, essa técnica é indicada nos seguintes casos: casais com infertilidade sem
causa aparente, mulheres que possuam anormalidade nas trompas, mulheres que passaram por
laqueadura, mulheres que tiveram endometriose, mulheres que têm ovários que não ovulam bem,
homens que possuam deficiência no número de espermatozoides (abaixo de 5 milhões/ml) ou na
motilidade dos espermatozoides, entre outros. Além disso, e preciso considerar alguns fatores
importantes para a escolha desse método: idade da mulher, tempo de infertilidade, ansiedade e
vontade do casal. A taxa de sucesso desta está diretamente relacionada com a idade da mãe, a
receptividade do endométrio da mulher e a qualidade do embrião produzido.

Investigue as principais diferenças dos procedimentos de inseminação artificial e fertilização in vitro realizados
em humanos e em animais.

8.4 Biópsia embrionária e análise genética


A biópsia embrionária é o procedimento realizado na reprodução humana que consiste na retirada
in vitro de uma única célula do embrião no seu terceiro dia de desenvolvimento, no qual este possui
de seis a oito células. Esse procedimento é realizado semento em embrião fertilizados in vitro, ou
seja, no laboratório.
A célula retirada não prejudica o desenvolvimento posterior do embrião e ainda possibilita a análise
genética.

102
O Diagnóstico Genético Pré-implantacional (PGD) é uma técnica desenvolvida com o objetivo de
minimizar quaisquer chances de falhas em um processo de fertilização devido a diversas doenças
genéticas, assim como para garantir a saúde dos bebês. O PGD consiste na identificação de
embriões portadores de desordens genéticas específicas por meio da avaliação de células removidas
do embrião (biópsia embrionária), evitando que o mesmo seja transferido para o útero. O PGD é
capaz de identificar doenças genéticas como fibrose cística, Doença de Gaucher, distrofias
musculares, hemofilia etc.
Essa técnica é indicada para casais que possuam história familiar de alguma doença relacionada a
um gene específico, casais que em gestações anteriores tiveram filhos com alguma doença genética,
casais que passaram por recorrentes falhas no processo de fertilização in vitro e casais que
passaram por recorrentes abortos espontâneos.
O Screening Genético Pré-Implantacional (PGS) é outra técnica que identifica de embriões
portadores de desordens genéticas. Ao contrário do PGD, o PGS não identifica uma doença
específica, ele rastreia os cromossomos quanto a alterações numéricas, evitando que embriões
aneuploides sejam transferidos para o útero e diminuindo o risco de falha da gravidez. O PGS é
capaz de identificar doenças genéticas, como Síndrome de Down, Síndrome de Patau, Síndrome de
Edwards, Síndrome de Klinefelter, etc. Essa técnica é bastante utilizada para avaliar a integridade
dos cromossomos.

Barriga de aluguel é o termo utilizado popularmente para mulheres que literalmente alugam seus úteros para
a gestação de um embrião produzido por meio da FIV (gestação de substituição). Após o nascimento, a criança
é entregue aos pais. No Brasil, a Resolução 2121/2015 do Conselho Federal de Medicina diz que “a doação
temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial”. Por esse motivo, o termo barriga de aluguel
não deve ser utilizado, sendo substituído pelo termo barriga solidária.

8.5 Classificação embrionária


A seleção dos embriões mais adequados a serem transferidos na fertilização in vitro é etapa de
extrema importância na reprodução assistida, capaz de influenciar diretamente no sucesso da
técnica. A seleção é realizada seguindo um critério de classificação, definindo a qualidade
embrionária.
De forma geral, os embriões escolhidos para serem transferidos para a cavidade uterina possuem
de 2 ou 3 dias (D2/D3) ou 5 ou 6 dias (D5/D6) de desenvolvimento. A classificação embrionária é
realizada por meio da avaliação dos aspectos morfológicos do embrião que se relacionam com a sua
qualidade. A avaliação é feita por observação ao microscópio. Os parâmetros utilizados para
classificar esses embriões são distintos, uma vez que embriões D2/D3 encontram-se em fase de
clivagem (2 a 10 células) e embriões D5/D6 apresentam uma estrutura mais complexa, chamada
blastocisto, com centenas de células.
A classificação dos embriões D2/D3 é feita com base no número dos blastômeros (células) e o
grau de fragmentação celular. Em geral, os embriões devem apresentar cerca de 2 a 10 células. Os
fragmentos presentes no embrião são resultantes das divisões celulares anormais e, portanto, um
embrião de qualidade deve possuir baixa quantidade de fragmentos. A fragmentação é dividida em
quatro graus (Figura 29):

103
➢ Fragmentação tipo A ou I: até 10% de fragmentos

➢ Fragmentação tipo B ou II: de 10 % até 20% de fragmentos

➢ Fragmentação tipo C ou III: de 21% até 45% de fragmentos

➢ Fragmentação tipo D ou IV: mais de 45% de fragmentos

Figura 29 – Grau de fragmentação do embrião

Fonte: http://www.vidabemvinda.com.br/blog/a-escolha-do-embriao-na-fiv-2/

Dessa forma, a classificação dos embriões é feita com número correspondente a quantidade de
células e uma letra correspondente ao grau de fragmentação. Por exemplo, um embrião 4A possui 4
células e pouquíssima fragmentação
A classificação dos embriões D5/D6 é feita com base no grau de desenvolvimento e suas
estruturas (Figura 30), avaliando a espessura da zona pelúcida, espessura da trofectoderme
(camada externa que origina a placenta), adesão e simetria dos blastômeros, cavidade do blastocisto
e a massa celular interna (porção que dá origem ao feto).
Figura 30 – Estrutura do blastocisto

Fonte: http://www.vidabemvinda.com.br/blog/a-escolha-do-embriao-na-fiv-2/

Quanto mais desenvolvido for o embrião no dia da transferência (D5 ou D6), maiores são as chances
de implantação, uma vez que está mais próximo da etapa de eclosão, fase anterior à implantação no
útero. Duas estruturas principais são avaliadas quanto ao número de células, a massa celular interna
(MCI) e o trofoectoderma (TE).
Dessa forma, a classificação dos embriões é feita com número correspondente ao seu grau de
desenvolvimento e uma letra correspondente a classificação de suas estruturas (Quadro 2). Por
exemplo, um embrião 4AA é bem desenvolvido, possui massa celular interna com células numerosas
e aderidas e trofoectoderma com muitas células organizadas. Este é considerado o melhor embrião
para ser implantado.

104
Quadro 2 – Classificação dos blastocistos

Fonte: http://www.vidabemvinda.com.br/blog/a-escolha-do-embriao-na-fiv-2/

8.6 Assisted hatching


O Assisted Hatching é uma técnica laboratorial de reprodução assistida que produz uma ruptura na
zona pelúcida do embrião com o objetivo de facilitar sua implantação na parede uterina. Em alguns
casos, a transferência de embriões de boa qualidade não é suficiente para que uma gravidez seja
gerada e isso pode estar relacionado a falha na implantação do embrião. Essa falha pode ocorrer
quando o embrião possui dificuldade de romper a zona pelúcida, película que o envolve nos primeiros
dias após a fertilização.
No processo de concepção natural, o embrião percorre toda a trompa e chega no útero, geralmente
entre o quinto ou sexto dia após a fertilização. No útero, o embrião sofre o processo chamado
hatching, rompimento da zona pelúcida, e se implanta.
Na reprodução assistida, o assisted hatching é uma forma de facilitar a implantação do embrião da
parede uterina e pode ser realizado por três métodos diferentes: o método mecânico, o método
químico e o método a laser (Figura 31).
Figura 31 – Métodos de Assisted Hatching

Fonte: https://www.invitra.com/

105
O método mecânico, ou também chamado de dissecção parcial da zona (PZD), foi o primeiro a
ser desenvolvido e consiste na realização mecânica de um pequeno orifício na zona pelúcida por
meio da utilização de uma microagulha. A principal dificuldade dessa técnica é determinar e realizar
o tamanho adequado do orifício na zona pelúcida.
O método químico consiste na utilização de ácidos que promovem a corrosão da zona pelúcida,
como o ácido acético de Tyrode.
O método a laser é a técnica mais utilizada nos dias de hoje, possuindo resultados mais precisos.
Essa técnica consiste na aplicação de um laser adequado e controlado que irá destruir parte da zona
pelúcida.
O assisted hatching é indicado para casos de idade materna avançada, níveis basais de FSH
elevados, endometriose, embriões com zona pelúcida espessa, falhas repetidas de implantação e
divisões celulares reduzidas ou excesso de fragmentação.

8.7 Criopreservação
Uma técnica muito comum da reprodução assistida é a criopreservação, que consiste no
congelamento de gametas e embriões para a utilização posterior. Na criopreservação utiliza-se o
nitrogênio líquido (N2) para atingir temperaturas muito baixas (-196 ºC) e conservar as células. Além
disso, são utilizados crioprotetores, substâncias responsáveis por evitarem a formação de cristais de
gelo durante o processo de congelamento, preservando a qualidade da célula.
No ano de 1986, foi realizada a primeira gestação bem-sucedida a partir de um óvulo congelado. Há
registros de bebês nascidos a partir de óvulos e espermatozoides congelados por mais de 20 anos.
Por esse motivo, acredita-se que não há um limite de tempo para que os gametas permaneçam
congelados.
Essa técnica é aliada de indivíduos que se deparam com a impossibilidade da maternidade ou
paternidade imediata, seja por escolha ou por outras circunstâncias que podem afetar a fertilidade
futura, como o tratamento de câncer e outras doenças. Além disso, a produção de óvulos nas
mulheres tende a diminuir após os 35 anos de idade e, por esse motivo, muitas optam pela
criopreservação.
A criopreservação de embriões é realizada em células excedentes que não foram implantadas pelo
procedimento da fertilização in vitro. Neste caso, o casal deve manifestar previamente e por escrito
sua decisão sobre o destino a ser dado aos embriões criopreservados em situações adversas: em
caso de divórcio ou dissolução de união estável, doenças graves ou falecimento de um deles ou de
ambos, e quando desejam realizar doação.

Para aprender sobre a regulamentação da criopreservação de gametas e embriões no Brasil, acesse:


https://www.cegonha.med.br/noticias/criopreservacao-de-gametas-e-embrioes-regulamentacao-e-legislacao/

106
8.8 Espermograma
O sêmen é um fluido formado na ejaculação. É composto de espermatozoides dispersos no plasma
seminal. O sêmen, portanto, é composto de secreções de todas as glândulas acessórias do trato
genital masculino, bem como do componente espermático testicular.

A contribuição testicular para o sêmen forma volumetricamente uma porção relativamente pequena
do ejaculado. As outras secreções são produzidas principalmente pelas vesículas seminais e
próstata. Pequenas contribuições para o plasma seminal também são feitas por outras estruturas,
como o epidídimo.

O plasma seminal funciona como um meio de transporte de nutrientes para os espermatozoides.


Alterações em uma ou mais secreções que formam o sêmen podem ter efeitos não apenas na
concentração de espermatozoides no ejaculado, mas também na função espermática. A falha
reprodutiva pode ser o resultado da patologia de uma das glândulas acessórias, em vez de uma
anormalidade do próprio testículo.

Alguns dos componentes bioquímicos do sêmen são específicos para certas glândulas acessórias e
sua presença ou ausência no fluido pode ser útil no diagnóstico.

➢ A frutose, que é a principal fonte de energia glicolítica nos espermatozoides, é produzida


pelas vesículas seminais. Um nível muito baixo de frutose no sêmen de um homem
azoospermico indica ausência das vesículas seminais ou ducto deferente.

➢ Casos de azoospermia obstrutiva devido à obstrução epididimária podem ser distinguidos


de azoospermia não obstrutiva pelos níveis muito baixos de alfa-glicosidase derivada do
epidídimo ou glicerilfosforilcolina.

➢ A fosfatase ácida é usada como um marcador para a presença de líquido prostático.

Porém, a principal análise do sêmen é o espermograma. O espermograma, também chamado de


análise do sêmen, é um exame laboratorial que tem o objetivo de avaliar de forma paramétrica o
sêmen e os espermatozoides, sendo considerado o exame mais importante para avaliar a
capacidade reprodutiva dos homens.

A amostra seminal é coletada pelo próprio paciente por meio de masturbação e deve ser entregue
ao laboratório o mais rápido possível. O principal fator analítico que influência a qualidade da análise
do sêmen é o tempo de amostra. É necessária uma amostra nova recebida dentro de 2 horas.

No laboratório, a amostra passa por uma análise macroscópica (a olho nu), sendo avaliadas as
condições físicas do sêmen como o volume, a viscosidade, liquefação, coloração e pH. Os valores
de referência (valores normais) para essa análise são:

➢ Volume: Igual ou maior que 1,5 ml

➢ Viscosidade: normal

➢ Liquefação: Igual ou maior que 30 minutos

➢ Coloração: Branco opalescente

➢ pH: Entre 7,2 e 8,0

107
Se o volume do ejaculado for menor do que 1,5 ml, temos um quadro de hipospermia. Em outras
palavras, o homem não possui volume adequado por ejaculação. Esse volume menor de ejaculação
pode dificultar sua fertilidade. A hiposmermia pode ocorrer em casos de obstrução no canal seminal,
infecção ou insuficiência vesicular.

A viscosidade seminal é considerada normal quando forma filamentos de mais de 2 centímetros ao


ser gotejada. Se o ejaculado possuir maior consistência, pode ser uma indicação de uma inflamação
na próstata ou disfunção nas vesículas seminais.

A liquefação, estado em que o sêmen fica líquido, deve ocorrer em cerca de 60 minutos. Quando
ocorre em menos de 30 minutos, pode indicar alguma disfunção na próstata.

A coloração normal do ejaculado é semelhante a clara de ovo, branco opalescente. Se estiver


amarelada, pode indicar alguma infecção e, se estiver avermelhada, pode indicar algum problema
na próstata, até mesmo um câncer.

O pH é o parâmetro que indica a acidez do sêmen. Sêmen com pH menor do que 7 é ácido e pode
indicar alguma obstrução dos canais seminais. Sêmen com pH maior que 8 é básico e pode indicar
algum problema na próstata

Após esse tipo de análise, é realizada a análise microscópica em que são avaliados o número total,
a concentração, a motilidade total e progressiva, a vitalidade e a morfologia dos espermatozoides.
Os valores de referência para essa análise são:

➢ Número total: Igual ou maior que 39 milhões de espermatozoides por ejaculação;

➢ Concentração: Igual ou maior que 15 milhões de espermatozoides por mililitro;

➢ Motilidade total: 40% ou mais de espermatozoides;

➢ Motilidade progressiva: 32% ou mais de espermatozoides;

➢ Vitalidade: 58% ou mais de formas vivas;

➢ Morfologia: 4% ou mais com formas normais.

A quantidade de espermatozoides presente no sêmen é um parâmetro muito importante. Se a


contagem total estiver abaixo de 15 milhões por mililitro, temos um quadro de oligozoospermia. Em
outras palavras, o homem não possui quantidade adequada de espermatozoide por ejaculação. Essa
quantidade menor pode dificultar sua fertilidade. Se a contagem total estiver zerada, ou seja, se não
houver espermatozoides no sêmen, temos um quadro de azoospermia.

Quando a motilidade, os espermatozoides podem ser classificados em quatro tipos:

➢ Tipo A: gametas que se movem rapidamente para frente;

➢ Tipo B: gametas que se movem lentamente para frente;

➢ Tipo C: gametas que se movem, mas sem direção definida;

➢ Tipo D: gametas que não se movem.

Espermatozoides com motilidade normal indicam que pelo menos 32% deles se enquadram nos tipos
A e B. Porcentagem menor de motilidade indica astenozoospermia. Mesmo que o sêmen possua

108
uma quantidade normal de espermatozoide, se estes não possuírem motilidade adequada, a
fertilidade do homem pode ser afetada.

A vitalidade é o parâmetro que indica a porcentagem de espermatozoides que são ejaculados vivos.
Se 75% deles estiverem mortos, temos um quadro de necrozoospermia, e a fertilidade do homem
pode ser comprometida.

A avaliação de novos procedimentos terapêuticos (tecnologia de reprodução assistida) garantiu que


o diagnóstico de distúrbios de fertilidade masculina permaneça sob o microscópio e não no tubo de
ensaio. No entanto, espermatozoides e plasma seminal permanecem como um recurso para a
pesquisa de aspectos dos eventos moleculares e celulares na espermatogênese.

Considerações Finais
As primeiras tentativas de reprodução assistida ocorreram ainda no século XIV. Com o
descobrimento de novos conhecimentos e o surgimento de novas tecnologias, tratamentos de
reprodução tiveram uma visível evolução ao longo dos anos.

Atualmente, o emprego de técnicas eficientes de reprodução assistida permite que casais com
problemas de fertilidade possam conceber um ou mais filhos. Além disso, essas técnicas também
permitem que casais homoafetivos possam gerar descendentes com a utilização do gameta de um
deles. Além disso, casais portadores de vírus transmitidos horizontalmente (HIV, HCV, HBV) e casais
com elevado risco de transmissão de doença genética (polineuropatia amiloidótica familiar, trissomia
21 e outras) também poderão se beneficiar dessas técnicas.

A obra “Reprodução Humana Assistida” dos autores Edson B. Junior, Daniela P. A. F. Braga e Amanda S.
Setti, é fundamental para entender a reprodução humana assistida, trazendo detalhes de técnicas e seus
principais conceitos.

Neste capítulo, nos vimos que a reprodução assistida consiste em um conjunto de técnicas utilizadas com a
finalidade de facilitar ou viabilizar a concepção. O emprego da biotecnologia no desenvolvimento de técnicas
eficientes de reprodução assistida permite que casais com problemas de fertilidade exerçam seus direitos de
concepção.
A inseminação artificial é a técnica responsável pela inserção do sêmen diretamente no interior da cavidade
uterina feminina durante o período fértil, facilitando a fecundação natural na região da tuba uterina no aparelho
genital do corpo feminino. Não há qualquer tipo de manipulação ou alteração externa dos gametas nem do
embrião.
A fertilização in vitro (FIV) consiste na fecundação do óvulo pelo espermatozoide fora do organismo, no
laboratório, seguido da introdução do embrião (óvulo fecundado) no útero feminino. Os óvulos coletados são
fertilizados pelos espermatozoides por dois procedimentos distintos. No procedimento tradicional, os óvulos e
os espermatozoides são colocados em placas de cultura e, dessa forma, são mantidos na tentativa de que os
espermatozoides alcancem e fertilizem de maneira mais natural possível. O outro procedimento é chamado de

109
Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) e consiste na injeção de espermatozoides selecionados
dentro do óvulo com o auxílio de um equipamento chamado micromanipulador de gametas.
Exames genéticos são utilizados para minimizar quaisquer chances de falhas em um processo de fertilização
devido a diversas doenças genéticas, assim como para garantir a saúde dos bebês. O Diagnóstico Genético
Pré-Implantacional (DGP) consiste na identificação de embriões portadores de desordens genéticas
específicas por meio da avaliação de células removidas do embrião (biópsia embrionária), evitando que o
mesmo seja transferido para o útero. O Screening Genético Pré-Implantacional (SGP) é outra técnica que
identifica de embriões portadores de desordens genéticas. Ao contrário do DGP, o SGP não identifica uma
doença específica, ele rastreia os cromossomos quanto a alterações numéricas, evitando que embriões
aneuploides sejam transferidos para o útero e diminuindo o risco de falha da gravidez.
A seleção dos embriões mais adequados a serem transferidos na fertilização in vitro é etapa de extrema
importância na reprodução assistida, capaz de influenciar diretamente no sucesso da técnica. A seleção é
realizada seguindo um critério de classificação, definindo a qualidade embrionária.
O Assisted Hatching é uma técnica laboratorial de reprodução assistida que produz uma ruptura na zona
pelúcida do embrião com o objetivo de facilitar sua implantação na parede uterina. Em alguns casos, a
transferência de embriões de boa qualidade não é suficiente para que uma gravidez seja gerada e isso pode
estar relacionado a falha na implantação do embrião. Essa falha pode ocorrer quando o embrião possui
dificuldade de romper a zona pelúcida, uma película que o envolve nos primeiros dias após a fertilização.
Outra técnica muito comum da reprodução assistida é a criopreservação, que consiste no congelamento de
gametas e embriões para utilização posterior. Na criopreservação se utiliza o nitrogênio líquido (N 2) para atingir
temperaturas muito baixas (-196ºC) e conservar as células. Além disso, são utilizados crioprotetores,
substancias responsáveis por evitar a formação de cristais de gelo durante o processo de congelamento,
preservando a qualidade da célula.
O espermograma, também chamado de análise do sêmen, é um exame laboratorial que tem o objetivo de
avaliar de forma paramétrica o sêmen e os espermatozoides, e é considerado o exame mais importante para
avaliar a capacidade reprodutiva dos homens.

(ENADE, 2016) O diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), método usado durante a fertilização in vitro
(FIV), permite o estudo de alterações genéticas e cromossômicas no embrião antes de sua implantação no
útero.
Em relação a esse tema, avalie as afirmações a seguir.
I. O PGD é geralmente utilizado para diagnosticar alterações cromossômicas, não sendo
recomendável, entretanto, para detectar condições mendelianas.
II. Esse método é recomendado para mulheres com histórico de abortos espontâneos repetidos, ou
com idade materna avançada, ou com ciclos durante a FIV falhos e para casais portadores de
rearranjos cromossômicos balanceados.
III. O PGD detecta alterações cromossômicas como aneuploidias, translocações, inversões,
duplicações, deleções e doenças monogênicas.
IV. A hibridização fluorescente in situ (FISH) é o principal método usado na análise de alterações
cromossômicas das células.
É correto apenas o que se afirma em:
a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.

110
e) II, III e IV.

Resposta Correta: Alternativa E

Questão Objetiva
Técnica responsável pela inserção do sêmen diretamente no interior da cavidade uterina feminina durante o
período fértil, sem qualquer tipo de manipulação ou alteração externa dos gametas nem do embrião:
a) Inseminação artificial
b) Fertilização in vitro
c) Criopreservação
d) Clonagem humana
e) Clonagem animal

Questão Discursiva
Em poucas palavras, defina o que é reprodução assistida e quando ela é aplicada.

Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa A

Questão Discursiva
Resposta Padrão: A reprodução assistida consiste em um conjunto de técnicas utilizadas com a finalidade de
facilitar ou viabilizar a concepção por casais com problemas de fertilidade exerçam seus direitos de concepção.
Além disso, técnicas de reprodução assistida podem e são aplicadas na reprodução e melhoramento genéticos
de animais, permitindo o controle da atividade reprodutiva e produção de genomas de elevado valor genético.
Espécies em extinção também podem se beneficiar com essas técnicas, que permitem conservação e
multiplicação de mamíferos silvestres.

111
UNIDADE III
CAPÍTULO 9 – PERFUSÃO EXTRACORPÓREA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ História e definição da perfusão extracorpórea;
✓ Circulação normal;
✓ Circulação extracorpórea;
✓ Circuito extracorpóreo;
✓ Anticoagulação;
✓ Complicações sistêmicas pós CEC.

Introdução
A perfusão extracorpórea consiste em um suporte artificial por meio de equipamentos que
substituem temporariamente as funções do coração e do pulmão e mantém a circulação do sangue
e do oxigênio no corpo. Esse procedimento é de grande importância em cirurgias complexas, como
transplantes, cardiovasculares e de retirada de tumores.

Graças à Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 135 de 03 de abril de 2007, o


biomédico formado pode se habilitar em perfusão extracorpórea. O biomédico perfusionista atua
coletando informações do prontuário do paciente, verificando a existência de condições que possam
interferir no procedimento e calculando os fluxos de sangue, gases, composição e volume dos
líquidos adequados do circuito. Além disso, o biomédico atua operando o equipamento de perfusão
extracorpórea em cirurgias de maneira a manter parâmetros hemodinâmicos e volemia do paciente,
induzindo o grau de hipotermia sistêmica e administrando medicamentos sob orientação do médico
cirurgião. O biomédico perfusionista ainda é responsável pela manutenção e conservação do
aparelho de perfusão extracorpórea.

Neste capítulo, iremos conhecer um pouco sobre a história da perfusão extracorpórea e estudar os
conceitos básicos da perfusão normal e extracorpórea.

A atuação do biomédico na perfusão extracorpórea é fundamental para que cirurgias e procedimentos


complexos sejam realizados da forma mais segura possível.

9.1 História e definição da perfusão extracorpórea


Sob o ponto de vista histórico, a utilização da circulação extracorpórea como um método de suporte
em cirurgia cardíaca é relativamente recente. Essa atividade teve início em 06 de maio de 1953,
quando a jovem Cecília Bavolek de 18 anos, portadora de uma comunicação interatrial (CIA), foi a
primeira paciente operada com sucesso, utilizando-se um sistema coração-pulmão artificial (Figura
33).

112
Figura 33 – Imagem histórica da primeira cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea

Fonte: Souza e Elias, 2006.

O médico John Gibbon e sua mulher Mary Gibbon foram os responsáveis por desenvolver e construir
o primeiro sistema de respiração e circulação artificial (Figura 34), capaz de suprir todas as
necessidades metabólicas de um ser humano temporariamente. Além disso, eles foram os
responsáveis pela primeira cirurgia bem sucedida que utilizou o equipamento, a da jovem Cecilia
Bavolek. Enquanto John Gibbon realizava a correção intracardíaca, Mary Gibbon operava o
equipamento, tornando-se a primeira perfusionista da história.
Figura 34 – Equipamento de perfusão extracorpórea desenvolvido por John Gibbon e Mary Gibbon

Fonte: Souza e Elias, 2006.

No Brasil, a primeira cirurgia do país com auxílio da perfusão extracorpórea foi realizada em outubro
de 1955 pelo médico Hugo Felipozzi que empregou a bomba sigmamotor e utilizou o pulmão do
próprio paciente para oxigenar o sangue.

No início a circulação extracorpórea era realizada com auxílio de equipamentos construídos de forma
artesanal e as técnicas eram ainda rudimentares, sendo limitada a oxigenar e bombear o sangue por
curtos períodos, suficiente apenas para a realização de procedimentos mais simples. Em
procedimentos mais complexos, os equipamentos e técnicas daquela época não eram suficientes e,
frequentemente, havia grandes complicações, as quais raramente eram reversíveis.

A circulação extracorpórea moderna é capaz de substituir as funções cardiorrespiratórias, assim


como também é capaz de preservar a integridade celular, a estrutura, a função e o metabolismo dos

113
órgãos e sistemas do paciente. Dessa forma, procedimentos mais complexos e de longa duração
podem ser realizados pela equipe cirúrgica sem frequentes complicações.

A perfusão extracorpórea (PEC), ou também chama de circulação extracorpórea (CEC), é o


sistema que substitui temporariamente as funções do coração e do pulmão, mantendo a circulação
do sangue e do oxigênio no corpo. Essa tecnologia permite que médico, durante a cirurgia, pare o
coração e examine detalhadamente o seu interior, além de permitir corrigir as lesões existentes sob
visão direta.

Em um sentido mais amplo, a circulação extracorpórea compreende uma série de equipamentos,


circuitos e técnicas que desempenham as funções do coração e do pulmão enquanto esses órgãos
não podem executar suas funções.

A função de bombeamento sanguíneo do coração é substituída por uma bomba mecânica


que impulsiona o sangue pelo sistema circulatório do paciente e a função de troca gasosa dos
pulmões é substituída por um aparelho, chamado de oxigenador, capaz de introduzir o oxigênio (O)
no sangue e, ao mesmo tempo, remover o dióxido de carbono (CO2). Diversos tubos plásticos são
responsáveis por unir os componentes desse sistema, bem como unir o sistema ao paciente.

O sistema utilizado na circulação extracorpórea pode ser chamado de máquina coração-pulmão


artificial, bomba coração-pulmão ou simplesmente bomba.

O emprego da perfusão extracorpórea é indicado em cirurgias complexas realizadas em pacientes


idosos, em crianças, em recém-nascidos, em portadores de lesões mais complexas, em pacientes
graves com doenças sistêmicas associadas, em cirurgias realizadas na fase aguda e nas
complicações do infarto do miocárdio, das dissecções aórticas, do implante de corações artificiais e
em transplantes cardíacos.

Para aprender um pouco mais sobre a perfusão extracorpórea, acesse: https://www.sbcec.com.br/

9.2 Circulação normal


Na circulação sanguínea normal (Figura 35), que ocorre naturalmente no organismo do indivíduo,
o sangue venoso desoxigenado, aquele que cedeu oxigênio aos tecidos, chega ao átrio direito do
coração por meio de duas veias principais: as veias cavas superior e inferior. O sangue que chegou
ao átrio direito é transferido ao ventrículo direito, onde é bombeado para a artéria pulmonar, a qual
orienta o sangue para o pulmão. No pulmão, o sangue atravessa a rede capilar pulmonar onde
ocorrem as trocas gasosas. Nesse momento, o sangue recebe o oxigênio do ar contido nas vias
aéreas dos pulmões ao mesmo tempo em que elimina o dióxido de carbono.

Após as trocas gasosas nos capilares, o sangue se apresenta rico em oxigênio e é dirigido ao coração
pelas veias pulmonares. Esse sangue arterial chega inicialmente ao átrio esquerdo do coração, onde
é transferido para o ventrículo esquerdo. O sangue que chegou ao átrio esquerdo é bombeado para
a artéria aorta e seus ramos arteriais, percorrendo o sistema arterial, arteriolar e capilar de todos os
tecidos do corpo humano.

114
A rede capilar do corpo humano é imensa e é nela onde o sangue cede oxigênio e outros elementos
nutritivos aos tecidos ao mesmo tempo em que remove o dióxido de carbono e outras substâncias
produzidas pelo metabolismo celular para excreção. Dos capilares dos tecidos o sangue alcança o
sistema de vênulas e veias que confluem formando as veias cavas superior e inferior. Dessa forma,
o sangue retorna ao coração, completando seu ciclo e, logo, reiniciando-o de forma contínua.

O dióxido de carbono coletado pelo sangue é eliminado pelos pulmões, enquanto as substâncias
produzidas pelo metabolismo celular são eliminadas pelos rins ou metabolizados no fígado, para
posterior excreção. A constante circulação do sangue pelo corpo humano é responsável por manter
a função de todos os tecidos do organismo e, consequentemente, sua vitalidade.
Figura 35 – Esquema representativo da circulação sanguínea normal

Fonte: Souza e Elias, 2006.

9.3 Circulação extracorpórea


De maneira geral, na circulação extracorpórea (Figura 36), o sangue venoso que chegaria ao átrio
direito é desviado do coração e dos pulmões pela introdução de cânulas posicionadas nas veias
cavas superior e inferior. As cânulas são responsáveis por transportar o sangue para o equipamento,
mais precisamente para o oxigenador, o qual realiza a oxigenação e remove o gás carbônico por
meio de um percurso por câmaras especiais.

Em um adulto médio, a máquina coração-pulmão artificial é responsável por coletar de 3 a 5 litros de


sangue por minuto e transportá-lo para o oxigenador, onde ocorrem as trocas gasosas por meio da
exposição ao oxigênio.

Em seguida, o sangue oxigenado é coletado do oxigenador e devolvido ao corpo do paciente por


uma cânula introduzida na aorta ascendente. Dessa forma, o sangue pode percorrer o sistema
arterial do paciente e atingir todos os órgãos, cedendo oxigênio e nutrientes aos tecidos e removendo
o dióxido de carbono e produtos de excreção neles produzido.

Após circular pelo sistema capilar e realizar as trocas com os tecidos, o sangue venoso retorna ao
sistema das veias, atingindo as cavas superior e inferior, onde é coletado e transferido o equipamento
de perfusão extracorpórea de forma contínua. Essa circulação contínua é mantida pelo tempo que
for exigido pelo procedimento medido que está sendo realizado no momento.

115
Figura 36 – Esquema representativo da circulação extracorpórea

Fonte: Souza e Elias, 2006.

A máquina coração-pulmão (Figura 37) é composta por um conjunto de bombas (arterial,


aspiradoras e bomba d’agua) e o oxigenador organizados em um único suporte, constituindo a
máquina extracorpórea. Esta máquina possui um sistema de geração de energia que impulsiona o
sangue pelos componentes do próprio oxigenador e pelo sistema circulatório do paciente. Além
disso, a energia gerada é utilizada para captar todo o sangue extravasado ou coletado no campo
operatório, bem como para as trocas térmicas.
Figura 37 – Esquema representativo da máquina coração-pulmão

Fonte: Rodrigues e Araújo, 2018.

A bomba arterial é a bomba responsável por fornecer a energia necessária para o sangue pelo
circuito extracorpóreo e pelo sistema circulatório dos pacientes.

As bombas aspiradoras, semelhantes à bomba arterial, são, geralmente, dispostas em duas ou


três. Estas são responsáveis por recolher o sangue do campo operatório extravasado devido à
abertura das cavidades cardíacas, as manobras cirúrgicas no seu interior e a circulação colateral. O

116
sangue recolhido é transportado até um reservatório especial, chamado de reservatório de
cardiotomia. O sangue contido neste reservatório é recolhido e transportado para o oxigenador.
Esse processo mantém o volume total de sangue constante, evitando perdas externas.

Uma dessas bombas, chamada de bomba de descompressão ventricular, é responsável pela


aspiração do sangue, evitando distensão e danos ao ventrículo esquerdo, durante os procedimentos.

Os oxigenadores são aparelhos que fazem parte da máquina coração-pulmão artificial e que são
responsáveis pela realização das trocas gasosas com o sangue, durante a circulação extracorpórea.
Essas trocas gasosas consistem na incorporação do oxigênio na hemoglobina das hemácias ao
mesmo tempo em que ocorre a remoção do dióxido de carbono. O oxigênio incorporado pelas
hemácias será distribuído aos tecidos, mantendo sua vitalidade e o dióxido de carbono removido
será eliminado.

Existem dois tipos principais de oxigenadores, quanto ao método usado para a introdução do
oxigênio no sangue, utilizados nas últimas décadas:

A) Oxigenadores de bolhas: Microjatos dispersam o oxigênio, produzindo bolhas, no interior de


uma coluna do sangue. As trocas gasosas ocorrem na superfície dessas bolhas. Este é o
método mais antigo e, atualmente, não é mais utilizado, tendo sua fabricação interrompida.

B) Oxigenadores de membranas: Uma membrana semipermeável é responsável por separar o


sangue do oxigênio. As trocas gasosas ocorrem por difusão dos gases através da membrana.
Este método é o mais moderno, sendo capaz de simular as trocas gasosas que ocorrem no
tecido pulmonar.

Os oxigenadores possuem um dispositivo térmico, chamado de permutador térmico, utilizado para


transferência de calor. Uma bomba, chamada de bomba d’água, fornece energia para a circulação
de água (gelada ou morna) por toda a extensão do permutador. Esse dispositivo pode ser utilizado
para reduzir ou elevar a temperatura corporal do paciente conforme a necessidade.

Durante os procedimentos cirúrgicos, a exposição do sangue do paciente à temperatura da sala e o


contato com o oxigênio possibilitam perdas de calor e, consequentemente, a redução da temperatura
corporal do paciente. Dessa forma, é necessário que haja um mecanismo que permita a manutenção
desta temperatura corporal. Neste caso, a bomba d’água circula água morna a uma temperatura
máxima de cerca de 40 ˚C, pelo circuito do permutador de calor do oxigenador. Ocorrem então trocas
térmicas, onde a água cede calor para o sangue. O sangue aquecido mantém a temperatura dos
pacientes aos níveis determinados pela equipe cirúrgica.

Por outro lado, em outros casos a equipe médica precisa reduzir o débito da bomba arterial, ou seja,
reduzir o volume de sangue que chega os tecidos, permitindo que algumas técnicas operatórias e
manobras cirúrgicas sejam realizadas com segurança. Para essa menor oferta de oxigênio aos
tecidos seja compatível com o seu consumo, é necessário que a temperatura corporal do paciente
seja reduzida, induzindo um estado controlado de hipotermia. A hipotermia reduz a velocidade das
reações químicas do metabolismo, reduzindo assim as necessidades de oxigênio do organismo.

O estado de hipotermia pode ser induzido pela circulação de água gelada pelo permutador térmico
do oxigenador. O sangue cede calor para a água gelada, reduzindo sua temperatura e,
consequentemente, a do paciente. Ao final do procedimento, o estado de hipotermia pode ser
revertido pela circulação de água morna pelo permutador de calor do oxigenador.

117
O mecanismo da troca térmica que ocorre entre a água que circula no permutador térmico e o sangue
é semelhante ao mecanismo da troca térmica que ocorre entre o sangue e o organismo do paciente
em ambos os procedimentos de resfriamento e de aquecimento.

As temperaturas da água e do sangue no oxigenador, bem como a do corpo do paciente, devem ser
atentamente monitorizadas, assegurando que não haja desprendimento de gases devido a
alterações na solubilidade por variações térmicas bruscas.

9.4 Circuito extracorpóreo


O circuito extracorpóreo, ou também chamado somente de circuito, consiste em um conjunto de
elementos da circulação extracorpórea, tais como cânulas, tubos plásticos, conectores, reservatórios
e filtros, posicionados adequadamente em sequência para sua utilização. Em outras palavras, o
circuito extracorpóreo é um conjunto de elementos responsáveis pela interligação entre a bomba, o
oxigenador e o paciente.
Os elementos dos circuitos extracorpóreos podem ser dispostos de diversas formas, correspondendo
às preferências da equipe cirúrgica, bem como às necessidades especiais de determinados
procedimentos cirúrgicos.
Na Figura 6 temos a representação de um circuito extracorpóreo básico, que possui os componentes
essenciais de um circuito e pode ser utilizado para a maioria dos procedimentos. As cânulas que
recolhem o sangue do corpo do paciente são posicionadas nas veias cavas superior e inferior e são
unidas por um conector em formato de Y, que dirige o sangue até a linha venosa. Na linha venosa o
sangue do paciente é levado para o reservatório venoso do oxigenador. O sangue do paciente é
drenado por ação da força gravitacional, escoando pela linha venosa por meio do desnível que deve
haver entre o átrio direito do coração do paciente e a entrada do reservatório venoso do oxigenador.
Para uma drenagem adequada, recomenda-se de 40 a 60 cm.
Figura 38 – Esquema representativo do circuito extracorpóreo com oxigenador de membranas

1. reservatório de cardiotomia integral; 2. compartimento das membranas; 3. linha venosa; 4. linha arterial; 5.
expurgo do filtro da linha arterial; 6. filtro arterial; 7. bomba arterial; 8. bombas aspiradoras; 9. bomba de
descompressão ventricular; 10. bomba de cardioplegia; 11. cardioplegia cristaloide; 12. linha de entrada de
água; 13. linha de saída de água; 14. linha de gás.
Fonte: Souza e Elias, 2006.

118
O sangue extravasado das cavidades cardíacas é aspirado por meio de linhas e bombas aspiradoras,
as quais transferem esse sangue para o reservatório de cardiotomia. Neste reservatório o sangue é
filtrado e, em seguida, transportado para o oxigenador por meio da linha de cardiotomia. Uma vez
que esse processo permite a coleta do sangue extravaso, ele também permite a manutenção de um
volume constante de sangue do paciente e do sistema extracorpóreo.
O sangue que chega ao reservatório venoso do oxigenador, tanto o coletado das veias cavas quanto
o extravasado filtrado, está pronto para o processo de trocas gasosas. O sangue é aspirado do
reservatório e impulsionado pelo compartimento das membranas por meio da geração de energia da
bomba arterial. No compartimento das membranas as trocas gasosas são realizadas, o sangue
recebe o oxigênio e elimina o dióxido de carbono. Por fim, o sangue sai deste compartimento pela
linha arterial, passa pela cânula arterial ou aórtica inserida na aorta ascendente do coração do
paciente. Quando o sangue chega à artéria aorta, ele é distribuído por todo o corpo do paciente.
Além desses componentes essenciais do circuito, alguns outros elementos auxiliares também podem
ser utilizados, tornando o circuito mais complexo, porém, aumentando a segurança e a eficácia dos
procedimentos. Os principais elementos auxiliares utilizados são: filtros microporosos, “cata bolhas”,
monitores de pressão, de fluxos e de temperaturas.

Investigue as respectivas funções dos principais elementos auxiliares que podem ser utilizados no circuito
extracorpóreo.

9.5 Anticoagulação
Durante a circulação natural (fisiológica) do sangue no corpo humano, o sangue permanece sempre
no estado líquido enquanto entra em contato com as superfícies internas do coração (endocárdio) e
dos vasos sanguíneos (endotélio). Quando o sangue entra em contato com qualquer outra superfície,
sendo biológica ou não, um conjunto de reações bioquímicas se inicia, resultando na coagulação do
sangue. O processo de coagulação do sangue o transforma em um gel de consistência gelatinosa.

Durante a circulação extracorpórea, o sangue é transportado por um intrincado circuito construído


por diversos materiais, com os quais o sangue entra em contato. Embora todos os materiais utilizados
na construção do circuito extracorpóreo sejam biocompatíveis e criteriosamente escolhidos, todos
estes estimulam, em graus diferentes, as reações que geram a coagulação do sangue.

Dessa forma é imprescindível que o processo de coagulação do sangue seja impedido para que a
circulação extracorpórea, bem como os procedimentos cirúrgicos, possa ser realizada com
segurança.

A heparina é a substância anticoagulante, ou seja, é uma substância que impede a coagulação do


sangue, utilizada durante o processo de circulação extracorpórea. Essa substância é administrada
em doses que variam de 2 a 4 mg/Kg de peso do paciente. A administração é realizada antes da
inserção das cânulas arterial e venosas no corpo do paciente. Uma vez que a heparina é
administrada dessa forma, o processo de coagulação do sangue é inibido antes de qualquer contato
deste com as superfícies do circuito extracorpóreo.

119
A manutenção da anticoagulação é realizada por todo o tempo necessário durante o procedimento
da circulação extracorpórea por meio do monitoramento da atividade anticoagulante da heparina e
da administração de doses adicionais caso necessário.

Ao final do procedimento cirúrgico as cânulas arterial e venosa são removidas e a atividade da


heparina é neutralizada, permitindo a normalização das funções do sistema de coagulação. A
neutralização da atividade da heparina é realizada pela administração de protamina, substância
antídoto da heparina. A protamina é administrada sob a forma de cloridrato ou, mais comumente, de
sulfato.

A neutralização da atividade da heparina circulante por meio da administração de doses adequadas de


protamina é capaz de restaurar a atividade hemostática apenas de forma parcial. Em outras palavras, a
atividade hemostática não é recuperada imediatamente.

9.6 Complicações sistêmicas pós CEC


O transporte do sangue por superfícies plásticas rígidas ou pouco flexíveis e não biológicas do
circuito extracorpóreo pode ocasionar traumatismo e injúria aos elementos celulares e proteicos
deste fluido. O dano causado é diretamente proporcional ao tempo de duração do procedimento.
Apesar de estes danos serem bem tolerados pela maioria dos pacientes, em alguns casos seus
efeitos são mais pronunciados, o que contribui substancialmente para o desenvolvimento de
complicações após o procedimento.

Apesar de, atualmente, possuirmos novas tecnologias e equipamentos mais modernos, quanto maior
for o tempo de utilização da perfusão extracorpórea, maiores serão as chances de ocorrerem
complicações. Além disso, algumas condições preexistentes podem comprometer o estado de saúde
do paciente após o procedimento, como idade, peso, uso de medicações, doenças de base, entre
outras. Cirurgias do coração e dos grandes vasos podem trazer diversas complicações, algumas
relacionadas às técnicas anestésicas, outras relacionadas à própria cirurgia e outras relacionadas à
circulação extracorpórea. Esses três procedimentos possuem uma inter-relação na sala de
operações e atribuir a causa de alguma complicação a apenas um destes procedimentos é difícil. As
complicações observadas com maior frequência são: as complicações hematológicas, imunológicas,
pulmonares e renais.

As complicações hematológias, após o procedimento de perfusão extracorpórea, estão


relacionadas às alterações da coagulação sanguínea. Embora sejam utilizados materiais
biocompatíveis, o sangue circula por cânulas e aparelhos que são superfícies não endotelizadas, as
quais são capazes de estimular, em diferentes graus, os sistemas de coagulação e imunológico.

A estimulação destes sistemas pode levar a um desequilíbrio da hemostasia sanguínea. Dessa


forma, durante a perfusão extracorpórea o mais comum é a ocorrência de eventos trombóticos e,
após a perfusão extracorpórea frequentemente ocorrem quadros de sangramento. Por outro lado, o
sangramento pós-perfusão extracorpórea pode ocorrer por outros fatores, tais como: hemodiluição,
consumo dos fatores de coagulação, alteração quantitativa e qualitativa das plaquetas, hipotermia,
resposta imune do hospedeiro na formação do complexo heparina-protamina e hemostasia cirúrgica
inadequada. Muitas vezes a causa do sangramento no pós-operatório não pode ser identificada.

120
Uma vez que o efeito anticoagulante da heparina não é bloqueado de forma imediata, a ação anticoagulante
permite que ocorram sangramentos no pós-operatório do paciente.

Durante e após a perfusão extracorpórea, o paciente pode desenvolver trombocitopenia devido a


diversos fatores, tai como: deposição de plaquetas nas superfícies internas dos tubos, oxigenadores
e filtros (induzida pela ação da heparina utilizada para a anticoagulação) redução da capacidade de
agregação (induzido pelo contato com as superfícies não endoteliais dos circuitos e aparelhos), efeito
dilucional sobre as plaquetas (induzido pela hemodiluição), além do sequestro de numerosas
plaquetas pelo baço e fígado.

Além disso, a perfusão extracorpórea possibilita a ocorrência de hemólise (rompimento da membrana


das hemácias), em razão do desvio da circulação normal pelo uso de cânulas que produzem regiões
de turbulência e da calibragem inadequada das bombas do sistema extracorpóreo. Entretanto, a
maior causa de hemólise é a utilização do reservatório de cardiotomia ou sistema de sucção
cardiotômica, que aspira o sangue extravasado no campo operatório. Quando o sangue extravasado
é aspirado em conjunto com o ar por meio do aspirador, as células vermelhas sofrem danos que
levam ao rompimento de suas membranas.

Em casos graves de hemólise podem ocorrer quadros de hemoglobinemia e hemoglobinúria, os


quais podem influenciar na filtração glomerular por obstrução dos glomérulos glomerular. Essa
condição do paciente por gerar um quadro de insuficiência renal.

As alterações imunológicas ocorrem quando a resposta imunológica do paciente é ativada de


forma inadequada. Essa ativação ocorre pela associação da imobilização do coração (sem sangue)
e pela interação do sangue com materiais estranhos ao organismo durante a perfusão extracorpórea.

Quando o sangue entra em contato com as superfícies não biológicas do circuito extracorpóreo,
ocorre a ativação do sistema complemento, bem como a resposta inflamatória. A ativação do sistema
complemento estimula a produção de citocinas e vários mediadores do processo inflamatório. Além
disso, os leucócitos serão também ativados e, consequentemente, ocorre vasoconstrição e aumento
da permeabilidade vascular, gerando acúmulo de água no interstício.

Todas essas reações inflamatórias constituem a Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica


(SIRS), ou também chamada de síndrome pós-perfusão, a qual pode ser manifestada em
diferentes graus, dependendo das condições do paciente. A SIRS apresenta características clínicas
muito semelhantes ao choque séptico, como o comprometimento das funções pulmonares, renais,
cerebrais, cardíacas, presença de febre, taquicardia, hipotensão arterial, leucocitose, coagulopatias,
suscetibilidade às infecções, alteração da permeabilidade vascular levando ao acúmulo de líquido
intersticial, vasoconstricção e hemólise.

Considerações Finais
A perfusão extracorpórea é um sistema de equipamentos que substitui de forma artificial e temporária
as funções do coração e do pulmão e mantém a circulação do sangue e do oxigênio pelo corpo do

121
paciente. O sucesso de algumas cirurgias complexas (como transplantes, cardiovasculares e de
retirada de tumores) depende da utilização adequada deste sistema.

O biomédico perfusionista atua na coleta de informações do prontuário do paciente, na verificação


da existência de condições que possam interferir no procedimento e nos cálculos dos fluxos de
sangue, gases, composição e volume dos líquidos adequados do circuito. O biomédico é plenamente
capaz de operar o equipamento de perfusão extracorpórea em cirurgias de forma adequada,
mantendo os parâmetros desejáveis para o procedimento.

A perfusão extracorpórea (PEC), também chamada de circulação extracorpórea (CEC), é o sistema que
substitui temporariamente as funções do coração e do pulmão, mantendo a circulação do sangue e do oxigênio
no corpo. Essa tecnologia permite que médico durante a cirurgia pare o coração e examine detalhadamente o
seu interior, além de permitir corrigir as lesões existentes sob visão direta.
Em um sentido mais amplo, a circulação extracorpórea compreende uma série de equipamentos, circuitos e
técnicas que desempenham as funções do coração e do pulmão enquanto esses órgãos não podem executar
suas funções. A função de bombeamento sanguíneo do coração é substituída por uma bomba mecânica que
impulsiona o sangue pelo sistema circulatório do paciente e a função de troca gasosa dos pulmões é substituída
por um aparelho, chamado de oxigenador, capaz de introduzir o oxigênio (O) no sangue e, ao mesmo tempo,
remover o dióxido de carbono (CO2). Diversos tubos plásticos são responsáveis por unir os componentes desse
sistema, bem como unir o sistema ao paciente.
O sistema utilizado na circulação extracorpórea pode ser chamado de máquina coração-pulmão artificial,
bomba coração-pulmão ou simplesmente bomba. A máquina coração-pulmão (Figura 5) é composta por um
conjunto de bombas (arterial, aspiradoras e bomba d’água) e o oxigenador, organizados em um único suporte,
constituindo a máquina extracorpórea. Esta máquina possui um sistema de geração de energia que impulsiona
o sangue pelos componentes do próprio oxigenador e pelo sistema circulatório do paciente. Além disso, a
energia gerada é utilizada para captar todo o sangue extravasado ou coletado no campo operatório, bem como
para as trocas térmicas.
O circuito extracorpóreo, ou também chamado somente de circuito, consiste em um conjunto de elementos da
circulação extracorpórea, tais como cânulas, tubos plásticos, conectores, reservatórios e filtros, posicionados
adequadamente em sequência para sua utilização.
Durante a circulação extracorpórea, o sangue é transportado por um intrincado circuito construído por diversos
materiais, com os quais o sangue entra em contato. Embora todos os materiais utilizados na construção do
circuito extracorpóreo sejam biocompatíveis todos estes estimulam, em graus diferentes, as reações que
geram a coagulação do sangue.
A heparina é a substância anticoagulante, ou seja, é uma substância que impede a coagulação do sangue,
utilizada durante o processo de circulação extracorpórea. Essa substância é administrada em doses que variam
de 2 a 4 mg/Kg de peso do paciente. A administração é realizada antes da inserção das cânulas arterial e
venosas no corpo do paciente.

(ENADE, 2017) O perfusionista é um membro da equipe cirúrgica com conhecimentos específicos de fisiologia
circulatória, respiratória, sanguínea e renal, de centro cirúrgico e esterilização e com treinamento específico no
planejamento e ministração dos procedimentos de circulação extracorpórea.
Disponível em:http://www.sbcec.com.br. Acesso em: 13 de jul. 2016 (adaptado).

122
É correto afirmar que a perfusão extracorpórea:
a) Purifica, por meio de uma máquina de hemodiálise, o sangue durante uma complexa cirurgia, o que
possibilita a circulação do sangue e a sustentação do conteúdo de oxigênio do corpo.
b) Substitui temporariamente a função dos pulmões e dos rins, que ficam inoperantes durante uma
complexa cirurgia, possibilitando a oxigenação do sangue e a permanência do conteúdo de oxigênio do
corpo.
c) Substitui temporariamente a função do coração e dos rins, que permanecem inoperantes durante uma
complexa cirurgia, possibilitando a circulação do sangue e a retirada de metabólitos tóxicos, sem
prejudicar o processo circulatório.
d) Substitui temporariamente a função do coração e dos pulmões, que ficam inoperantes durante uma
complexa cirurgia, possibilitando a circulação do sangue e sustentando o conteúdo de oxigênio do corpo.
e) Substitui temporariamente a função dos rins, que ficam inoperantes durante uma complexa cirurgia,
possibilitando a filtração do sangue e sustentando o conteúdo de oxigênio do corpo.

Resposta Correta: Alternativa D

Questão Objetiva
Conjunto de elementos da circulação extracorpórea, tais como cânulas, tubos plásticos, conectores,
reservatórios e filtros:

a) Circulação extracorpórea.
b) Perfusão extracorpórea.
c) Circuito extracorpóreo.
d) Sistema de anticoagulação.
e) Sistema de perfusão.

Questão Discursiva
Quem realizou a primeira cirurgia com um sistema coração-pulmão no Brasil?

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa C

Questão Discursiva
Resposta Padrão: A primeira cirurgia do país com auxílio da perfusão extracorpórea foi realizada em outubro
de 1955 pelo médico Hugo Felipozzi que empregou a bomba sigmamotor e utilizou o pulmão do próprio
paciente para oxigenar o sangue.

123
UNIDADE III
CAPÍTULO 10 – CITOLOGIA
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Achados Normais;
✓ Alterações Primárias;
✓ Lesões Condilomatosas;
✓ Carcinomas;
✓ Papel do epitélio na morfologia colposcópica;
✓ Erosão e Úlcera.

Introdução
A Citopatologia é a área da ciência que estuda as células e suas alterações morfológicas por meio
da observação ao microscópio de células obtidas por esfregaços, aspirações, raspados,
centrifugação de líquidos e outros métodos. Estes procedimentos laboratoriais permitem a
identificação de alterações da morfologia celular, auxiliando o diagnóstico e a prevenção de doenças.

O exame mais conhecido realizado pela citopatologia é o Papanicolau, ou também chamado de


preventivo do câncer de colo uterino. O material biológico para a realização desse exame é colhido
pelo ginecologista e enviado ao laboratório para que o citopatologista possa realizar as devidas
análises. Dessa forma, o diagnóstico do câncer ginecológico ou de seus fatores de risco, como o
HPV, pode ser feito de forma precoce, possibilitando que o tratamento seja iniciado o mais rápido
possível.

Graças à Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 78 de 29 de abril de 2002,


biomédico formado pode se habilitar em citologia. O biomédico citopatologista atua na avaliação
citológica do material esfoliativo, na leitura de lâmina de material cérvico vaginal, na leitura de
citologia de raspados e aspirados de lesões e cavidades corpóreas e no setor de imuno-histoquímica
e imuno-citoquímica, referente ao diagnóstico citológico. Além disso, o biomédico pode assumir
responsabilidade técnica e emitir laudos dos exames citopatológicos cérvico vaginal/microflora.

O conhecimento em áreas como patologia, imunologia, hematologia, fisiologia, bioquímica, biologia


molecular, farmacologia, microbiologia e outras permite que o biomédico seja um profissional
adequado para atuar nessa área.

Devido à monografia em citologia escrita pelo médico grego Geórgios Papanicolau, o pai da Citopatologia,
ainda hoje é comum associarem seu sobrenome com o exame citopatológico.

124
10.1 Achados normais

A) Epitélio Escamoso Normal: O epitélio escamoso normal do colo do útero e da vagina é


estratificado, contém glicogênio, e é organizado em camadas. Uma única linha de células
basais suporta uma faixa de células espinhosas seguidas por uma espessa camada de grandes
células poligonais. A superfície é coberta por uma fina camada de células escamosas. Epitélio
escamoso normal não é queratinizado. Papilas estromais curtas estendem-se para o epitélio
em intervalos regulares. A junção epitelial-estromal é reta. Durante os anos reprodutivos, o
epitélio é alto e bem diferenciado. Na infância e na velhice, sem a influência do estrogênio, o
epitélio escamoso é baixo e consiste em apenas poucas camadas de pequenas células
epiteliais.

B) Epitélio colunar normal e ectopia: O epitélio colunar normal da mucosa endocervical consiste
em uma única camada de células altas secretantes de mucina com núcleo basal. Sua junção
com o epitélio escamoso original está perto do orifício externo. O epitélio colunar cobre a
mucosa endocervical e reveste as chamadas glândulas cervicais. Estas não são glândulas
verdadeiras, mas invaginações da mucosa. A superfície da mucosa no canal é suavemente
ondulante, e partes dela podem ser lisas. Se a junção escamocolunar original estiver situada
no ectocérvice, a superfície da ectopia resultante é marcadamente papilar. A aparência de
degrau característica da junção escamocolunar é devido à diferença nas alturas dos dois
epitélios. Onde a mucosa endocervical se funde com a mucosa do istmo, as glândulas do tipo
endometrial se misturam com glândulas endocervicais.

A junção escamocolunar original é geralmente localizada no orifício externo. Ectopia refere-se


ao epitélio colunar no orifício externo, com a junção escamocolunar situada no ectocérvice.
Com ectopia o epitélio colunar superficial com glândulas e estroma de suporte está no orifício
externo. Nem sempre é possível ver a junção escamocolunar original na superfície do
ectocérvice, sua verdadeira posição é permanentemente marcada histologicamente pela última
glândula.
Figura 39 – Junção Escamocolunar

Fonte: www.mdsaude.com

A superfície da ectopia é geralmente altamente papilar. O estroma geralmente contém um


infiltrado inflamatório leve, ocasionalmente isso é denso e associado a uma rede capilar
proeminente. Em casos raros, o epitélio colunar se estende até o fórnice vaginal. O termo

125
adenose vaginal refere-se ao raro achado de ilhas de epitélio colunar no fórnice ou em outros
lugares no epitélio vaginal.

C) Epitélio escamoso metaplásico e a Zona de Transformação: A metaplasia do epitélio


escamoso denota a transformação gradual do epitélio colunar em epitélio escamoso. A zona
de transformação (TZ) é onde ocorre a metaplasia escamosa. Estende-se do epitélio escamoso
original não queratinizante do ectocérvice ao epitélio colunar produtor de mucina do
endocérvice. A transformação pode envolver o epitélio colunar no canal endocervical.
Figura 40 – Diagrama da Zona de transformação

Fonte: screening.iarc.fr

A metaplasia é precedida pelo aparecimento das chamadas células de reserva subcolunar sob
o epitélio colunar. O epitélio escamoso, que resulta da replicação dessas células de reserva,
eventualmente descama o epitélio colunar preexistente.

A origem das células de reserva subcolunar ainda é pouco conhecida. Acredita-se que sejam
células pluripotentes nativas da mucosa endocervical e responsáveis tanto pela regeneração
contínua das células colunares quanto pelo início do processo metaplásico. Na mucosa colunar
normal as células de reserva individuais estão na camada basal do epitélio. Quando ocorre a
metaplasia, formam linhas limpas em segmentos bem definidos da mucosa em campos
discretos. Um ou vários desses campos podem estar presentes ao mesmo tempo, isolados ou
unidos de perto, como miscelânea. Neste último caso é possível observar os estágios de
maturação do epitélio metaplástico. As células de reserva subcolunar são provavelmente de
origem epitelial (não estromica), embora isso não esteja totalmente claro.

Como as células de reserva aparecem em linhas e campos bem definidos, o epitélio escamoso
resultante da metaplasia escamosa também tem bordas afiadas e bem definidas. Fronteiras
epiteliais distintas implicam verdadeira transformação epitelial em vez de alterações reativas
devido à inflamação ou regeneração.

A transformação geralmente começa na junção escamocolunar (SCJ). Menos comumente,


começa em meio a epitélio colunar perto da junção. O epitélio que aparece primeiro é fino,
multicelular e carece de estratificação. A aparência histológica se assemelha aos vários
estágios de regeneração do epitélio. O epitélio gradualmente se torna mais espesso e
estratificado e, finalmente, é pouco distinguível do epitélio escamoso contendo glicogênio
normal. Apenas a mucosa colunar subjacente indica sua verdadeira origem.

126
D) Ectopia e a Última Glândula: Idealmente, o SCJ está no orifício externo. A ectopia está
presente quando a SCJ está fora do orifício externo. O epitélio colunar da ectopia é
frequentemente substituído por epitélio escamoso metaplásico que é contínuo ao epitélio
escamoso original e à primeira vista são indistinguíveis. O SCJ é, portanto, deslocado
proximamente para alguma distância da chamada última glândula, resultando no que é
chamado de a nova SCJ.

O conceito da última glândula foi introduzido por Hamperl et al. em estudos de mudanças
epiteliais. Esses pesquisadores notaram que a mucosa endocérvica muitas vezes se estendia
para o ectocérvice como ectopia durante a vida reprodutiva, mas retraída de volta ao canal em
mulheres pós-menopausa. A extensão distal da antiga ectopia é marcada morfologicamente
pela última glândula. A última glândula também é o ponto focal para a distribuição do tecido
conjuntivo estromático e vasos sanguíneos da área externa da cérvice. Essas estruturas
acompanham qualquer alteração na localização da última glândula e servem como marcadores
permanentes de sua posição da vida intrauterina à pós-menopausa.

A última glândula é importante porque sua posição é constante. É um marco que separa mucosas
endocervicais (epitélio colunar) proximalmente do epitélio escamoso original.

O conceito da última glândula é apoiado por estudos recentes do desenvolvimento fetal do colo
uterino. Estes mostram que o epitélio escamoso original do colo do útero até a última glândula
é de origem mülleriana vaginal. Em contraste, o epitélio cervical colunar é de origem mülleriana
uterina e inclui células de reserva colunar com a plasticidade para se transformar em epitélio
escamoso. No final da vida fetal, as glândulas cervicais migram da superfície epitelial do canal
cervical para o estroma subjacente. Eles se espalharam caudalmente em direção à cérvice. O
SCJ é claramente detectável a partir da semana 24 em diante e está situado dentro do canal
cervical durante todas as fases da vida fetal. No recém-nascido, essa fronteira tende para a
vagina.

Durante a vida reprodutiva existem três tipos de epitélio no colo do útero: o epitélio escamoso
original, o epitélio escamoso de origem metaplásica e o epitélio colunar. O epitélio metaplásico
corresponde à zona de transformação (TZ) vista na colposcopia. O TZ está situado entre o SCJ
original, marcado pela última glândula, e o novo SCJ. Assim, o epitélio escamoso proximal até
a última glândula surge através de metaplasia escamosa.

E) Vasculatura do colo do útero normal: Microscopicamente o epitélio escamoso original tem


dois tipos de vasos sanguíneos conhecidos como capilares em rede e em gancho. Os vasos
em rede formam um plexo vascular que fica no estroma submucoso abaixo da membrana
basal. Os vasos da rede são mais proeminentes quando se tornam hiperêmicos e dilatados
durante a gravidez ou infecções. Os capilares em grampo se estendem em direção à superfície
epitelial nas papilas do tecido conjuntivo. Eles têm ramos aferentes (arteriais) e eferentes
(venosos). Eles estão bem espaçados e uniformemente distribuídos.

Os vasos subjacentes ao epitélio metaplásico (dentro do TZ) variam dependendo do grau de


maturação. A metaplasia imatura mostra vasos paralelos longos orientados radialmente ao

127
orifício externo. Vasos ramificados em forma de árvore podem se sobrepor a cistos de Naboth.
Além disso, o TZ também possui capilares em rede e em gancho semelhantes ao epitélio
escamoso original. O epitélio colunar contém alças aferentes e eferentes de vasos terminais
que se estendem em direção à superfície na lâmina própria de cada uma das vilosidades
endocervicais.

Para aprender um pouco mais sobre o exame citológico, acesse: https://ismd.com.br/citologia-clinica-do-colo-


uterino-e-a-importancia-do-exame-papanicolau/

10.2 Alterações primárias

A) Alterações reativas do epitélio escamoso e colunar: Com inflamação, irritação crônica,


regeneração (reparo) e após irradiação, os epitélios escamosos e colunares sofrem alterações
reativas caracterizadas por desorganização epitelial.
Quando alterações reparativas se desenvolvem no epitélio escamoso maduro, geralmente há
hiperplasia de células basais que envolvem o terço inferior do epitélio. Células epiteliais
intermediárias e superficiais mostram maturação. Essas células frequentemente desenvolvem
halos perinucleares e algum grau de aumento nuclear. As figuras mitóticas são normais e estão
confinadas às camadas basal e parabasal.
Quando alterações reparativas se desenvolvem no epitélio metaplásico imaturo, os núcleos do
epitélio metaplásico tornam-se hipercromáticos e aumentados. O epitélio costuma ser
acantótico e infiltrado por células inflamatórias. Quando as alterações reparativas afetam o
epitélio colunar, as alterações morfológicas incluem aumento nuclear e hipercromasia com
irregularidade de tamanho e forma nuclear. Também pode ocorrer eosinofilia citoplasmática e
perda de gotículas mucinosas.
A irritação local crônica (de um pessário, por exemplo) pode induzir paraqueratose e
hiperceratose. No entanto, paraqueratose e hiperceratose podem ocorrer sem um fator indutor
claro.
A radiação pode causar alterações morfológicas agudas e crônicas no epitélio escamoso e
glandular. O epitélio escamoso frequentemente mostra aumento nuclear com multinucleação
e vacuolização do citoplasma. No epitélio glandular, a radiação pode induzir o aumento celular,
a perda de polaridade dos núcleos e multinucleação.
Todas essas alterações podem ser confundidas com lesão intraepitelial escamosa de alto grau
(HSIL) ou adenocarcinoma in situ (AIS). No entanto, a atipia reativa em células escamosas e
endocervicais coram negativamente para p16.

B) Epitélio escamoso infectado por HPV: Em contraste com a infecção latente, uma infecção
produtiva por HPV resulta em alterações morfológicas características no epitélio cervical
escamoso. As células epiteliais escamosas com multinucleação, aumento do núcleo e
hipercromasia, contornos nucleares irregulares e halos perinucleares são chamadas de

128
coilócitos. A coilocitose é a primeira alteração morfológica celular induzida pela infecção por
HPV.

Investigue os sintomas clínicos da infecção por HPV.

10.3 Lesões condilomatosas


A maioria das lesões condilomatosas são proliferações fibroepiteliais causadas pelos tipos 6 e 11 de
HPV de baixo risco. Após a infecção o vírus se replica, a menos que seja controlado por uma resposta
imunológica ou tratamento médico. As lesões produzem um grande número de vírions que infectam
o tecido adjacente. Existem cinco tipos histológicos diferentes de condilomas: papilar, pontiagudo,
plano, invertido e atípico.

Os condilomas papilares apresentam uma arquitetura altamente papilar, com excrescências de


epitélio espessado sustentado por uma estrutura de hastes estromais alongadas e delicadas, ricas
em vasos sanguíneos. Os vasos sanguíneos são mais bem vistos em seções cortadas
tangencialmente. A superfície dos condilomas papilares frequentemente mostra um grau variável de
queratinização. A composição epitelial é escamosa. Uma camada basal distinta é coberta por uma
espessa camada de células espinhosas que, por sua vez, é coberta por uma zona de células com
citoplasma claro, que lembra o epitélio escamoso cervical normal. A semelhança com as células
normais "vazias" contendo glicogênio deve-se aos halos perinucleares compensados pelo citoplasma
bastante denso. Essas células são frequentemente binucleadas ou multinucleadas e são chamadas
de coilócitos. São característicos dos condilomas virais e podem apresentar alterações nucleares
marcantes. Células semelhantes a coilócitos sem aumento do núcleo ou hipercromasia são
encontradas na inflamação.

Os condilomas pontiagudos mostram papilas estromais alongadas e delgadas empurrando para


cima e recuando o epitélio espessado para produzir pequenas ondulações ou pontas totalmente
desenvolvidas. A arquitetura epitelial é semelhante à dos condilomas papilares. As células com
coilocitose predominam nas camadas superficiais e também são encontradas na zona intermediária.
A superfície mostra paraqueratose, com retenção de núcleos picnóticos na queratina.

Os condilomas planos são histológicos e colposcopicamente muito semelhantes à lesão


intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL), e alguns patologistas e colposcopistas acreditam que
essas lesões são idênticas. Os coilócitos, com halos perinucleares, pleomorfismo nuclear e
citoplasma denso, são encontrados nas camadas média e superficial do epitélio e são
acompanhados por células com atipia leve. Atipia pronunciada e mitoses atípicas estão ausentes e
algumas das células podem conter glicogênio. Como em outros condilomas, as papilas estromais
são alongadas. A ocorrência frequente de lesões verrucosas fora do campo glandular, no epitélio
escamoso original, fornece boas evidências de que lesões com contornos papilares não surgem
necessariamente na matriz ondulante da mucosa endocervical. Histologicamente o epitélio parece
normal à primeira vista, mas um exame mais atento revela papilas estromais altas ou uma superfície
ondulada. O arranjo de favo de mel normal do epitélio é perturbado, mas as células contêm
glicogênio. As pontas sobre as papilas podem mostrar queratinização. Foi descrita uma variante do

129
condiloma plano denominado cervicite condilomatosa e vaginite, uma lesão difusa que se assemelha
a uma inflamação com margens mal definidas.

Os condilomas invertidos também apresentam excrescências, que podem ser nitidamente


queratinizadas. Caracteristicamente partes das criptas endocervicais, especialmente aquelas de uma
ectopia, estão envolvidas. Esses casos parecem ser decorrentes de infecção do epitélio escamoso
metaplásico.

Os condilomas atípicos são caracterizados pela presença de coilócitos atípicos com grandes
núcleos hipercromáticos, borrados e frequentemente bizarros. O condiloma atípico pode, portanto,
ser diagnosticado erroneamente no esfregaço citológico como HSIL ou mesmo carcinoma de células
escamosas invasivo. No entanto, eles normalmente mostram apenas atipia de células basais ou
parabasais mínimas e maturação ordenada. Em contraste, os subtipos verrucosos de HSIL do colo
do útero, vagina e ânus e VIN do tipo usual exibem pleomorfismo nuclear e mitose atípica, também
nas camadas suprabasais do epitélio.

No colo uterino as lesões condilomatosas podem surgir no epitélio escamoso metaplásico do TZ ou no epitélio
escamoso original. Condilomas planos, como epitélios displásicos, se desenvolvem em campos claramente
definidos. A fronteira entre um condiloma exofítico e o epitélio escamoso normal é nítida, transições graduais
não são vistas. Esta observação apoia o desenvolvimento de lesões epiteliais em áreas cujos limites são
definidos pela metaplasia escamosa anterior.

10.4 Carcinomas

A) Lesões glandulares intraepiteliais (adenocarcinoma in situ): O Adenocarcinoma In Situ


(AIS) é o precursor não invasivo do adenocarcinoma invasivo. Em 1952, Hepler descreveu
células glandulares neoplásicas altamente atípicas como lesões precursoras de
adenocarcinoma cervical invasivo, e Friedell introduziu o termo AIS em 1953. Pelo menos 50%
dos AIS são lesões mistas, com SIL associado. Por analogia ao conceito de SIL, nomenclaturas
indicam um menor grau de anormalidade do que AIS foi proposto (ou seja, displasia
endocervical, neoplasia glandular intraepitelial cervical). No entanto, o epitélio glandular não
suporta infecção por HPV produtiva, portanto não há lesão de baixo grau comparável no epitélio
glandular e esses termos não devem ser usados.

B) Lesões Cervicais Lesões Intraepiteliais Escamosas (SIL, CIN): O epitélio displásico é


caracterizado pela proliferação de células atípicas. Há variação no tamanho e na forma das
células e seus núcleos, que são aumentados e hipercromáticos.
As mitoses, incluindo as formas anormais, estão aumentadas. A arquitetura epitelial é
perturbada, com perda da polaridade das células. A superfície frequentemente mostra
paraqueratose ou queratinização. A estratificação pode ser completamente perdida e a
espessura total do epitélio é composta por uma população uniforme de células atípicas. As
papilas estromais costumam ser altas e os pinos da rede são volumosos. Como ocorre com o
epitélio escamoso metaplásico, a fronteira entre o epitélio displásico e o normal é nítida. Não é

130
incomum que vários tipos diferentes de epitélio displásico coexistam no mesmo colo do útero;
as fronteiras entre eles são consistentemente claras e nítidas.
O grau de CIN é baseado no grau de atipia celular e distúrbio da arquitetura epitelial.
➢ CIN 1 (LSIL): A maturação está presente nos dois terços superiores do epitélio. As células
superficiais contêm atipia variável, mas geralmente leve, que pode incluir coilocitose viral.
Anormalidades nucleares estão presentes em toda parte, mas são leves. As figuras
mitóticas estão presentes no terço basal e não são numerosas; formas anormais são raras.
LSIL agora também inclui condilomas planos.

➢ CIN 2 (HSIL): a maturação está presente no terço superior e a atipia nuclear nos terços
médio e inferior do epitélio. As figuras mitóticas geralmente estão confinadas aos dois terços
basais do epitélio. Figuras mitóticas anormais podem ser vistas.

➢ CIN 3 (HSIL): A maturação normal está ausente ou confinada ao terço superficial do epitélio.
As anormalidades nucleares são marcadas na maior parte ou em toda a espessura do
epitélio. As figuras mitóticas são numerosas e encontradas em todos os níveis do epitélio.
Mitoses anormais são frequentes. Os coilócitos não são vistos. CIS pode mostrar uma perda
completa de estratificação.

C) Câncer cervical invasivo: O espectro do câncer cervical invasivo varia de lesões


microscópicas a lesões macroscópicas, clinicamente francas e invasivas, medindo vários
centímetros. O câncer cervical é amplamente estudado de acordo com o sistema desenvolvido
pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que se baseia
principalmente em resultados clínicos e medições (em oposição aos resultados de imagem).

D) Carcinoma Microinvasivo: Os cânceres microinvasivos (MICs) do colo uterino são


principalmente lesões intraepiteliais que rompem a membrana basal e começam a invadir o
estroma cervical subjacente. A definição atual (2009) da FIGO se aplica tanto ao carcinoma de
células escamosas quanto ao adenocarcinoma e estipula a medição em duas dimensões:
➢ O estágio IA1 da FIGO abrange a invasão do estroma com uma profundidade ≤ 3,0 mm e
uma extensão horizontal ≤ 7 mm.

➢ O estágio IA2 da FIGO abrange a invasão do estroma com uma profundidade de> 3,0 mm
e ≤ 5,0 mm, e uma extensão horizontal ≤ 7,0 mm.

➢ Lesões maiores, embora não possam ser identificadas clinicamente, são encenadas como
estágio FIGO IB1.

Como a CIM não pode ser vista na maioria dos casos na colposcopia, o diagnóstico requer
exame histológico de cortes seriados em etapas de uma amostra excisional que inclui toda a
lesão.
Burghardt e colaboradores dividiram a progressão da MIC em três fases. O primeiro é entre o
aparecimento da neoplasia intraepitelial e a primeira invasiva do estroma cervical (invasão
inicial do estroma); a segunda fase é entre esta primeira violação e a formação de botões
invasivos reconhecíveis; e a terceira fase termina quando a lesão forma um tumor mensurável
que atingiu a capacidade de metástase.

131
10.5 Papel do epitélio na morfologia colposcópica
Durante os anos reprodutivos, o epitélio escamoso contendo glicogênio original é espesso e
multicamadas e atua como um filtro óptico sobre o estroma subjacente. Uma superfície coberta por
epitélio escamoso normal parece rosa a avermelhada. Antes da puberdade e após a menopausa, na
ausência de estrogênio, o epitélio escamoso é mais fino e não contém glicogênio. O suprimento de
sangue estromal é reduzido e a aparência colposcópica é vermelho pálido.

O epitélio colunar é fino, contém mucina e, portanto, é altamente transparente. Portanto, as áreas
do colo do útero cobertas pelo epitélio colunar parecem vermelho-vivo. A espessura do epitélio
escamoso metaplásico no ZT normal varia de acordo com seu estágio de desenvolvimento, mas é
mais fino que o epitélio escamoso normal e desprovido de glicogênio. Consequentemente, é
relativamente transparente e parece vermelho brilhante.

O epitélio escamoso displásico (SIL, CIN) é mais fino que o epitélio normal, contém pouco ou
nenhum glicogênio e, o mais importante, é mais celular com um conteúdo nuclear mais alto. Parece
vermelho misturado com uma descoloração cinza suja ou esbranquiçada.

O epitélio escamoso em regeneração (reparo) é geralmente um pouco mais fino do que o epitélio
escamoso normal. É composto quase inteiramente por células espinhosas, que não contêm
glicogênio e sempre apresentam algum grau de paraqueratose ou ceratose ou ambos.

Consequentemente, o epitélio escamoso em regeneração é opticamente mais denso do que o


epitélio escamoso normal. Colposcopicamente apresenta-se de um vermelho pálido ou cinza a
branco acinzentado, dependendo do grau de queratinização. Tanto os epitélios escamosos
metaplásicos quanto os displásicos, bem como os casos com irritação crônica local, podem
apresentar ceratinização distinta, que se apresenta colposcopicamente como ceratose (leucoplasia).
A camada ceratótica é opaca, branca e granulada e ofusca o epitélio subjacente. Em áreas de erosão
do epitélio, o estroma é exposto e parece áspero, vermelho e cru.

O quadro colposcópico também depende da composição do estroma. O estroma normal é vermelho


por causa de sua vasculatura. Quando o estroma está inflamado, a vermelhidão é atenuada para um
branco-acinzentado ou amarelo, dependendo do grau do infiltrado inflamatório.

A) Epitélio acetobranco (fino, denso): O ácido acético faz com que o epitélio escamoso
metaplásico e displásico inche e mude de cor. Particularmente, o epitélio metaplásico imaturo
e o epitélio displásico com uma razão nuclear-citoplasmática aumentada e junções
intercelulares reduzidas aparecem acetobrancos.

A rapidez com que os efeitos do ácido acético aparecem e desaparecem varia com os
diferentes tipos de lesões. O epitélio metaplásico não é tão acetobranco quanto o epitélio
displásico (epitélio acetobranco fino).

Em vários estudos o epitélio acetobranco denso teve uma boa correlação com HSIL. Quando
o epitélio displásico envolve a superfície e a parte externa de uma glândula endocervical
(cripta), geralmente produz uma borda ao redor da abertura da glândula que, após a aplicação
de ácido acético, aparece colposcopicamente como um manguito branco (as chamadas
aberturas da glândula com cuff). Isso é menos pronunciado com epitélio metaplásico.
Geralmente, quanto mais densa a alteração acetobranca, mais rapidamente se torna aparente,
mais tempo persiste e mais grave é a lesão.

132
B) Sinal de Fronteira Interna e Sinal de Ridge: Uma protuberância branca opaca na área do TZ
após o ácido acético (sinal de crista) ou uma demarcação acetobranca nítida dentro de uma
área acetobranca menos opaca (sinal da borda interna) está associada à presença de HSIL. A
inclusão desses dois achados na terminologia colposcópica do IFCPC de 2011 deve-se à sua
validade como marcadores de HSIL. O sinal da borda interna é uma demarcação acetobranca
nítida dentro de uma área acetobranca menos opaca. Histologicamente, reflete o fato de que
diferentes campos de epitélios normais e patológicos frequentemente coexistem no mesmo
colo uterino e que bordas abruptas são claramente vistas entre os campos de epitélio
escamoso displásico metaplásico e de alto grau.

O sinal de crista é uma protuberância branca opaca dentro do TZ após a aplicação de ácido
acético. Isso reflete o fato de que HSIL geralmente está localizado em um campo nitidamente
demarcado próximo à última glândula. A própria histologia não mostra outros achados
específicos.

10.6 Erosão e úlcera


Uma erosão é uma área de epitélio desnudado, enquanto uma úlcera se estende até o estroma
subepitelial. Uma erosão pode ser causada por trauma e pode ser uma indicação de que o epitélio
superficial é vulnerável e possivelmente displásico. Erosões traumáticas ocorrem facilmente no
epitélio escamoso atrófico não estrogenizado ou no epitélio colunar da ectopia. Eles são difíceis de
estudar histologicamente porque curam rapidamente. O defeito epitelial é mal circunscrito e suas
margens irregulares. Nas lesões agudas, há pouca alteração do estroma. A superfície pode ser
coberta por um exsudato fibrinoso.
Erosão dentro de uma lesão colposcópica: as erosões podem aparecer espontaneamente. O epitélio
displásico é mais friável e mostra menos coesão intercelular do que o epitélio normal ou atrófico.
Pode ocorrer descolamento, o que explica a facilidade com que as células são esfoliadas e o
potencial para exame citológico. Segmentos ou campos epiteliais inteiros podem ser perdidos. Logo
no início, HSIL pode apresentar bordas laminadas e descascadas. Os locais de fratura, vistos nas
junções epiteliais, também mostram que os epitélios não se fundem e que suas bordas são reais. O
estroma subjacente a um descolamento epitelial mostra alterações reativas. A superfície de uma
erosão geralmente é plana, embora coberta por fibrina. Mesmo que o epitélio ao redor da erosão
seja normal, o epitélio desnudado pode ter sido displásico.

Considerações Finais
A citopatologia é o uso de técnicas de diagnóstico especializadas para examinar células individuais
extraídas de tecidos para determinar a causa e a natureza de uma doença.

As amostras de células podem ser coletadas durante os testes de diagnóstico de rotina, como
broncoscopia e cistoscopia. Testes específicos, como o teste de Papanicolau, também conhecido
como teste de Papanicolau ou aspiração por agulha fina, podem ser usados para coletar células de
locais específicos para o diagnóstico.

A análise de amostras de células geralmente é um processo rápido, mas requer treinamento


especializado para identificar corretamente as células que representam perigo potencial para um
paciente, como células pré-cancerosas, cancerosas ou infectadas. Este é o trabalho de um

133
citopatologista treinado; um médico que passou por treinamento adicional para revisar e interpretar
corretamente os resultados dos testes de citopatologia.

A obra Citologia Clínica do trato genital feminino do autor Jacinto C. S. Neto traz conhecimento importante e
atualizado sobre a citologia clínica cervicovaginal.

O epitélio escamoso normal do colo do útero e da vagina é estratificado, contém glicogênio, e é organizado em
camadas. Uma única linha de células basais suporta uma faixa de células espinhosas seguidas por uma
espessa camada de grandes células poligonais. A superfície é coberta por uma fina camada de células
escamosas. Epitélio escamoso normal não é queratinizado.
O epitélio colunar normal da mucosa endocervical consiste em uma única camada de células altas secretantes
de mucina com núcleos basais. Sua junção com o epitélio escamoso original está perto do orifício externo. O
epitélio colunar cobre a mucosa endocervical e reveste as chamadas glândulas cervicais.
A junção escamocolunar original é geralmente localizada no orifício externo. Ectopia refere-se ao epitélio
colunar no orifício externo, com a junção escamocolunar situada no ectocérvice.
A metaplasia do epitélio escamoso denota a transformação gradual do epitélio colunar em epitélio escamoso.
A zona de transformação (TZ) é onde ocorre a metaplasia escamosa. Estende-se do epitélio escamoso original
não queratinizante do ectocérvice ao epitélio colunar produtor de mucina do endocérvice.
A metaplasia (ou seja, a substituição do epitélio colunar por epitélio escamoso) é precedida pelo aparecimento
das chamadas células de reserva subcolunar sob o epitélio colunar. O epitélio escamoso, que resulta da
replicação dessas células de reserva, eventualmente descama o epitélio colunar preexistente.
A transformação geralmente começa na junção escamocolunar (SCJ). Idealmente, o SCJ está no orifício
externo. A ectopia está presente quando a SCJ está fora do orifício externo. O epitélio colunar da ectopia é
frequentemente substituído por epitélio escamoso metaplásico que é contínuo com e à primeira vista
indistinguível do epitélio escamoso original.
A extensão distal da antiga ectopia é marcada morfologicamente pela última glândula. A última glândula
também é o ponto focal para a distribuição do tecido conjuntivo estromático e vasos sanguíneos da área
externa da cérvice. Essas estruturas acompanham qualquer alteração na localização da última glândula e
servem como marcadores permanentes de sua posição da vida intrauterina à pós-menopausa. A última
glândula é importante porque sua posição é constante. É um marco que separa mucosas endocervicais (epitélio
colunar) proximalmente do epitélio escamoso original.
Durante a vida reprodutiva, existem três tipos de epitélio no colo do útero: o epitélio escamoso original, o epitélio
escamoso de origem metaplásica e o epitélio colunar. O epitélio metaplásico corresponde à zona de
transformação (TZ) vista na colposcopia.
Quando alterações reparativas se desenvolvem no epitélio escamoso maduro, geralmente há hiperplasia de
células basais que envolvem o terço inferior do epitélio. Células epiteliais intermediárias e superficiais mostram
maturação. Essas células frequentemente desenvolvem halos perinucleares e algum grau de aumento nuclear.
As figuras mitóticas são normais e estão confinadas às camadas basal e parabasal.
Quando alterações reparativas se desenvolvem no epitélio metaplásico imaturo, os núcleos do epitélio
metaplásico tornam-se hipercromáticos e aumentados.
A maioria das lesões condilomatosas são proliferações fibroepiteliais causadas pelos tipos 6 e 11 de HPV de
baixo risco. Após a infecção, o vírus se replica, a menos que seja controlado por uma resposta imunológica ou
tratamento médico. As lesões produzem um grande número de vírions que infectam o tecido adjacente.

134
O espectro do câncer cervical invasivo varia de lesões microscópicas a lesões macroscópicas, clinicamente
francas e invasivas, medindo vários centímetros. O câncer cervical é amplamente estudado de acordo com o
sistema desenvolvido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que se baseia
principalmente em resultados clínicos e medições (em oposição aos resultados de imagem).

(ENADE, 2019) A vaginose bacteriana é a infecção vaginal mais frequente e a principal causa de corrimento
vaginal anormal em mulheres em idade reprodutiva. Essa patologia acomete o trato genital feminino inferior,
sendo caracterizada por acentuada redução na microbiota vaginal normal, constituída predominantemente
pelos lactobacilos, além do crescimento exacerbado de uma variedade de bactérias anaeróbicas. As bactérias
que geralmente são mais associadas à vaginose bacteriana são Gardnerella vaginalis, Mobiluncus spp.,
Bacteroides spp. e Mycoplasma hominis. O exame citológico por meio dos esfregaços de Papanicolaou é
amplamente aceito como método de rastreamento da infecção por Gardnerella vaginalis.
TONINATO, L.G.D. et al. Vaginose bacteriana diagnosticada em exames citológicos de rotina: prevalência e características dos
esfregaços de Papanicolaou. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 48, n. 2, 2016 (adaptado).

Assinale a opção que descreve corretamente as características citopatológicas da infecção por Gardnerella
vaginalis.
a) Presença de células com múltiplos pequenos vacúolos citoplasmáticos bem delimitados, contendo uma
inclusão eosinófila.
b) Presença de células com aumento de volume nuclear equivalente a três vezes a área do núcleo das
células normais, hipercromasia e presença de coilócitos.
c) Presença de células escamosas individuais cobertas por uma camada uniforme de cocobacilos ao longo
da margem da membrana celular, formando clue cells.
d) Presença de inúmeras células polimorfonucleares com estruturas redondas ou piriformes, matriz
cianófila ou azul-lavanda e núcleo excêntrico.
e) Presença de células multinucleadas, com espessamento da membrana nuclear, núcleos amoldados com
ou sem inclusão intranuclear, podendo apresentar um aspecto de vidro fosco.

Resposta Correta: Alternativa C

Questão Objetiva
Apresenta uma arquitetura altamente papilar, com excrescências de epitélio espessado sustentado por uma
estrutura de hastes estromais alongadas e delicadas, ricas em vasos sanguíneos. Os vasos sanguíneos são
mais bem vistos em seções cortadas tangencialmente. Qual o tipo de lesão condilomatosa:
a) Condiloma papilar.
b) Condiloma pontiagudo.
c) Condiloma plano.
d) Condiloma invertido.
e) Condiloma atípico.

135
Questão Discursiva
Descreva o câncer cervical invasivo.

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa A

Questão Discursiva
Resposta Padrão: O espectro do câncer cervical invasivo varia de lesões microscópicas a lesões
macroscópicas, clinicamente francas e invasivas, medindo vários centímetros. O câncer cervical é amplamente
estudado de acordo com o sistema desenvolvido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia
(FIGO), que se baseia principalmente em resultados clínicos e medições (em oposição aos resultados de
imagem).

136
UNIDADE III
CAPÍTULO 11 – FISIOLOGIA DO ESPORTE E DA PRÁTICA DO
EXERCÍCIO FÍSICO
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ Treinamento físico;
✓ Homeostase e estado estável;
✓ Bioquímica e bioenergética;
✓ Metabolismo;
✓ Fadiga.

Introdução
Exercício físico e atividade física são termos comumente utilizados de forma sinônima, porém não
são a mesma coisa. A atividade física consiste em qualquer movimento do corpo produzido pelos
músculos esqueléticos, o qual gera em gasto de energia em níveis maiores do que no repouso.
Temos como exemplo: atividades domésticas, atividades realizadas em momentos de lazer, a
caminhada entre o lar e o trabalho etc. O exercício físico consiste em uma atividade física planejada,
estruturada e repetitiva, na qual tem-se o objetivo final de aumentar ou manter a saúde e/ou a aptidão
física. Temos como exemplo: musculação, natação, pilates, lutas, etc.

Graças à Resolução do Conselho Federal de Biomedicina (CFBM) nº 309 de 17 de julho de 2019,


biomédico formado pode se habilitar em fisiologia do esporte e da prática do exercício físico. O
biomédico fisiologista do esporte e da prática do exercício físico atua em caráter científico,
contribuindo com novos conhecimentos para a ciência do esporte, seja para o profissional de
educação física, nutricionista, fisioterapeuta e para o médico, trazendo as informações da ciência
esportiva para aplicar na prática.

Neste capítulo iremos estudar conceitos básicos da fisiologia do esporte e da prática do exercício
físico.

A atuação do biomédico na fisiologia do esporte e da pratica do exercício físico é fundamental para que novos
conhecimentos científicos sejam alcançados e possam ser aplicados na prática esportiva, aprimorando cada
vez mais o treinamento físico de cada atleta.

11.1 Treinamento físico


A prática do treinamento físico teve início no século XX com treinadores que se reuniram e
sistematizaram suas experiências, facilitando o processo e aumentando o rendimento de atletas. O
treinamento físico compreende métodos e processos de treino que são aplicados de forma
sequencial, obedecendo a princípios de periodização, com o objetivo de melhorar a aptidão física,
baseando-se em conhecimentos de diversas áreas, como fisiologia do exercício, anatomia,

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biomecânica, bioquímica etc. O treinamento físico é capaz de levar o atleta à sua melhor forma física
possível.
A aptidão física é a capacidade do indivíduo de realizar atividades do dia a dia de forma tranquila e
com o mínimo de esforço possível. Quanto maior a aptidão física melhor será a capacidade atlética
da pessoa (Figura 41), maior resistência cardiorrespiratória, resistência e forca muscular,
composição corporal e flexibilidade. Além de melhorar a saúde, a aptidão física também está
relacionada às habilidades do indivíduo, como agilidade, equilíbrio, coordenação, velocidade e tempo
de reação.
Figura 41 – Esquema representativo dos componentes da aptidão física

Fonte: http//wwwnotapositiva.com/pt/trbestbs/educfisica/imagens/11_ aptidao _fisica02jpg

O treinamento físico, quando realizado de maneira adequada, leva a uma melhora do desempenho
de atletas e equipes, uma vez que desenvolve qualidades técnicas, físicas e psicológicas.
Os exercícios físicos podem ser distribuídos em cinco categorias: exercícios de resistência aeróbia,
de resistência muscular localizada, de flexibilidade, de força e de velocidade.
Os exercícios de resistência aeróbia, também chamados de exercícios aeróbicos, são aqueles que
utilizam movimentos rápidos e cansativos, os quais necessitam de grande esforço por parte do
coração e dos pulmões. Esse tipo de exercício fortalece o músculo cardíaco, além de garantir a
redução da gordura corporal e, consequente, o emagrecimento. Entre os exercícios aeróbicos,
podemos destacar as caminhadas rápidas, corridas leves, natação, ciclismo, entre outros.
O indivíduo que não pratica exercícios aeróbicos impede que seu coração se torne resistente ao
esforço e, dessa forma, movimentos simples como subir alguns lances de escada são suficientes
para gerar a sensação de fadiga.
Os exercícios de resistência muscular localizada são aqueles que utilizam movimentos repetitivos
de intensidade média baixa de um único grupo muscular. Esse tipo de exercício é realizado sem uma
carga pesada, de preferência usando apenas o peso do próprio corpo do indivíduo, porém com uma
quantidade maior de repetições. O abdominal é um ótimo exemplo deste tipo de exercício, o qual
desenvolve resistência na região do abdome (barriga).
Os exercícios de flexibilidade são aqueles focados no alongamento. Esse tipo de exercício treina
os músculos a se esticarem e, em seguida, voltarem ao formato inicial sem que ocorram dores ou
lesões.

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Algumas situações cotidianas exigem estiramento do músculo, como esticar o braço para pegar um
objeto no alto de uma prateleira. Quando o musculo é flexível, este é capaz de realizar o movimento
sem que algum dano ocorra a ele. Entretanto, músculos que não são flexíveis permanecem mais
encurtados e rígidos e, em uma situação como essa, ficam mais sujeitos a lesões. Além disso, a falta
de flexibilidade também prejudica a postura, causa dores e impede que a pessoa seja capaz de
realizar movimentos mais amplos.
Os exercícios de força são aqueles que estimulam o músculo de forma que o levam à sua
capacidade máxima para peso ou carga. Além disso, esse tipo de exercício pode auxiliar na solução
dos problemas relacionados a dores articulares, na redução no risco de diabetes, na tonificação e na
firmeza dos músculos, etc.
Os exercícios de força ainda contribuem para a perda de peso, uma vez que uma massa muscular
desenvolvida tem consumo maior de energia. Dessa forma, mesmo em repouso, o organismo
consome calorias em um ritmo acentuado.
Um exemplo claro de exercício de força é a musculação, na qual o indivíduo realiza o levantamento
de peso para aumentar o volume das fibras musculares e, consequentemente, a força desse tecido.
No entanto, existem exercícios capazes de fortalecer os músculos apenas com o peso do corpo.
Os exercícios de velocidade são aqueles que desenvolvem a capacidade de reação ou contração
do músculo, fazendo com que o indivíduo seja capaz de reagir imediatamente a um estímulo. A
corrida é um ótimo exemplo deste tipo de exercício e pode ser feito ao ar livre ou dentro de casa, por
meio de esteiras apropriadas.

Para aprender um pouco mais sobre a prática do exercício físico, acesse: www.sbafs.org.br/noticias

Um treinamento físico de qualidade deve seguir alguns princípios importantes, alguns deles são:
➢ Princípio da Individualidade Biológica: Cada ser humano possui material genético único,
o que proporciona estrutura e formação física e psíquica individual única. A prescrição de
um programa de exercícios seguro e coerente com a condição física de cada indivíduo deve
respeitar sua individualidade biológica

➢ Princípio da Adaptação: Sempre que a homeostase, estado de equilíbrio do organismo, é


perturbada, o próprio organismo inicia mecanismos compensatórios com o objetivo de
restabelecer o equilíbrio, resultando em um organismo adaptado.

➢ Princípio da Sobrecarga: Sempre que uma carga de trabalho é aplicada ao organismo,


mecanismos de recuperação são acionados, estabelecendo a homeostasia. O fenômeno
compensatório permite o aumento progressivo na carga de trabalho, uma vez que o
indivíduo se adaptou a essa carga, para a melhoria da aptidão física.

➢ Princípio da Continuidade: A aplicação de uma carga de trabalho de forma contínua ao


longo dos anos permite que o organismo de adapte progressivamente.

➢ Princípio da Especificidade: As adaptações que ocorrem no organismo, decorrentes do


exercício físico, são específicas do programa de exercícios aplicado.

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➢ Princípio da Variabilidade: Quanto mais diversificados forem os estímulos aplicados ao
organismo, maior será a possibilidade de atingir uma performance atlética melhor.

11.2 Homeostase e estado estável


O organismo humano vive em constante equilíbrio e, quando submetido a um esforço físico, se
modifica por meio de adaptações fisiológicas, o que permite que seja submetido a estímulos
gradualmente mais intensos. Qualquer estímulo que altera o equilíbrio do corpo gera consequente
adaptação. Esses estímulos podem ser: exercício físico, sedentarismo, envelhecimento, mudanças
climáticas, alimentação, doença, etc.
A homeostase é o termo utilizado para se referir à capacidade do organismo de se manter em
equilibro interno mesmo sob estímulos contrários vindos do meio externo. Para que a homeostase
seja mantida nessas condições, os diversos sistemas fisiológicos precisam atuar de forma conjunta,
como o sistema cardíaco, respiratório, digestório e urinário (Figura 42). O processo de adaptação
ocorre por meio de diversos ajustes de equilíbrio dinâmico realizados por mecanismos de regulação
interligados.
Figura 42 – Integração entre os sistemas fisiológicos no processo de homeostasia

Fonte: Liberali e Vieira, 2016.

Para que o estado de homeostase seja atingido após a atuação de um estímulo estressor é
necessário que haja uma comunicação adequada principalmente entre os sistemas nervoso e
endócrino. O sistema nervoso gera impulsos elétricos neurais e o sistema libera hormônios
específicos no sangue; ambos são responsáveis por transportar as informações.
O exercício físico é um estímulo estressor que induz mudanças estruturais e fisiológicas por meio da
repetição. Dessa forma, o organismo busca a constante estabilidade, a homeostase. Em outras
palavras, o exercício físico gera diversas alterações estruturais e fisiológicas com o objetivo de suprir
a nova demanda de energia e atingir o estado de homeostase.
No entanto, quando o exercício físico for praticado em excesso, é possível que ocorra uma perda de
complexidade estrutural e funcional, resultando no fenômeno conhecido por barreira de desempenho
(rendimento) físico, estresse físico, fadiga e até lesões.
Outro fenômeno comum diretamente relacionado à prática do exercício físico é o estado estável.
Essa condição do organismo é oposta a homeostase e está relacionada à estabilidade provocada

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em alguns órgãos, músculos e tecidos do corpo capaz de realizar a manutenção do equilíbrio da
produção de substratos energéticos e da frequência cardíaca durante a realização do exercício físico.
O estado estável é atingido de acordo com a intensidade e a duração do exercício físico, conforme
o grau de dificuldade se eleva, o organismo se ajusta de forma automática, exigindo maior custo
energético. O estado estável é responsável pela estabilização do organismo e continuidade do
exercício na determinada intensidade em questão, até o ponto em que o estado seja insustentável e
o exercício seja interrompido.
Durante a prática de exercícios físicos de intensidade moderada, ocorre um desequilíbrio moderado
no organismo em conjunto com um déficit de oxigênio. O déficit é compensado posteriormente em
conjunto com o estabelecimento de estado estável. Ao final do exercício, ocorre um consumo extra
de oxigênio pós-exercício (EPOC) (Figura 43).
Figura 43 – Consumo de oxigênio em repouso, durante exercício de intensidade moderada e na
recuperação

Fonte: Porto e Garcia Junior, 2011.

Por outro lado, durante a prática de exercícios de intensidade máxima, ocorre um desequilíbrio de
elevada magnitude no organismo em conjunto com um déficit de oxigênio. Nessa condição, o corpo
é incapaz de estabelecer um estado estável, resultando em fadiga (Figura 44).
Figura 44 – Consumo de oxigênio em repouso, durante exercício de intensidade alta e na recuperação

Fonte: Porto e Garcia Junior, 2011.

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Os componentes do mecanismo de controle homeostático, que funcionam de forma
independente, são:
➢ Receptor (sensor): é o componente responsável por monitorar o ambiente interno e
produzir resposta frente aos estímulos do ambiente externo, enviando informações para o
centro de controle (outro componente) por meio da via aferente.

➢ Centro de Controle: é o componente responsável por receber as informações enviadas


pelo receptor, analisá-las e então definir as respostas adequadas e a via de ação.

➢ Efetor: é o componente responsável por receber as respostas enviadas pelo centro de


controle por meio da via eferente e orientar os meios para a saída da resposta. É o
componente efetor que produz a retroalimentação negativa, resultando em estabilização do
organismo e, consequente, homeostase.

De maneira geral, um organismo que se encontra em homeostase e sofre um estímulo estressor, o


qual produz uma alteração variável, entra então em estado de desequilíbrio. Em seguida, essa
alteração é detectada pelo receptor, componente do mecanismo de controle homeostático que irá
produzir uma resposta proporcional a alteração e enviá-la pela via aferente ao centro de controle. O
centro de controle recebe as informações enviadas pelo receptor, realiza uma análise e então define
as respostas adequadas e a via de ação. As respostas do centro de controle são enviadas pela via
eferente até o componente efetor. O componente efetor capta essas respostas e as orienta para que
uma retroalimentação negativa seja produzida. Por fim, o organismo é estabilizado e entra em estado
de homeostase (Figura 45).
Figura 45 – Componentes do sistema de controle homeostático

Fonte: Marieb e Hoehn, 2009.

A retroalimentação negativa estabiliza o organismo agindo sobre a alteração variável e promovendo


a manutenção da homeostase. Por outro lado, algumas vias reflexas produzem retroalimentação
positiva que não promovem o estado de homeostase. Esse tipo de resposta reforça o estímulo ao
invés de diminui-lo e age com um gatilho para um círculo vicioso de resposta sempre crescente,
permitindo que o sistema permaneça temporariamente fora de controle.

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11.3 Bioquímica e bioenergética
A bioquímica é a área da ciência que estuda as estruturas, a organização e as transformações
moleculares que ocorrem no interior das células. A bioquímica tem como principal objetivo buscar
conhecimento em nível molecular sobre todos os processos e reações químicas que ocorrem nas
células.
A bioenergética, também chamada de termodinâmica bioquímica, é a área que estuda os
processos metabólicos celulares, ou seja, as reações químicas realizadas pelas células que
envolvem consumo ou produção de energia.
O corpo humano é composto por sistemas integrados que exigem a presença de energia para que
estes possam manter sua organização e funcionalidade. Dessa forma, os sistemas estão em
constante troca com o meio ambiente, obtendo a energia necessária para manter os processos vitais
pela oxidação dos nutrientes contidos nos alimentos ingeridos. A energia química potencial contida
nas ligações C-H de carboidratos, lipídios e proteínas é obtida por meio de uma série de reações de
oxidação que ocorrem no interior das células, mais precisamente no citosol e nas mitocôndrias.
Essas reações são conhecidas como metabolismo intermediário.
O metabolismo intermediário consiste no destino dos componentes da dieta após a ingestão e
absorção pelo sistema digestório. As reações do metabolismo intermediário consomem oxigênio e
produzem energia química, água e gás carbônico. A energia química produzida é armazenada por
meio das ligações fosfato na molécula de trifosfato de adenosina (ATP) (Figura 46).
Figura 46 – Estrutura da molécula de ATP

Fonte: Liberali e Vieira, 2016.

A energia química produzida é armazenada na molécula de ATP em cerca de 65%. O restante da


energia produzida é liberado na forma de calor.
A energia química armazenada na molécula de ATP mantém-se prontamente disponível para realizar
trabalho químico ou mecânico, por meio de reações da hidrólise do ATP em difosfato de adenosina
(ADP). Esse tipo de reação é responsável pela liberação da energia armazenada.

O funcionamento de todo o organismo humano, incluindo o tecido muscular, depende da disponibilidade do


ATP para a realização de todas as reações celulares.

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Uma vez que o organismo humano (e de outros seres vivos) possui a capacidade de converter a
energia química presente nas moléculas obtidas por meio da dieta alimentar em uma fonte de energia
corporal (ATP), uma alimentação balanceada e adequada é fundamental para o funcionamento
correto de todos os processos orgânicos.
Durante a prática do exercício físico, mais precisamente durante a contração muscular, a molécula
de ATP é quebrada em ADP que, em seguida é refosforilada em ATP, constituindo o ciclo chamado
de ATP-ADP (Figura 47). No tecido muscular, a maior parte da energia ativa liberada pela quebra da
molécula de ATP induz o encurtamento das fibras musculares e, consequentemente, a contração
muscular. O restante da energia liberada permanece armazenado no interior da célula, atuando na
manutenção e na regulação do metabolismo energético da própria célula.
Figura 47 – Ciclo ATP-ADP

Fonte: Liberali e Vieira, 2016.

Durante a realização do exercício físico, a demanda energética do tecido muscular esquelético


aumenta, ou seja, necessita de uma quantidade maior de ATP do que em repouso. Contudo, as
reservas de ATP neste tecido são bem limitadas, sendo necessário que a produção dessas
moléculas ocorra na mesma velocidade em que é consumida.
A formação de moléculas de ATP pode ocorrer por meio de processos aeróbicos (oxidativos) ou por
processos anaeróbicos, os quais ocorrem durante exercícios de alta intensidade. Os processos
anaeróbicos ainda podem ser subdivididos em dois sistemas: o alático e o lático (Figura 48).
Figura 48 – Esquema representativo dos sistemas energéticos

Fonte: Liberali e Vieira, 2016

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O sistema do fosfagênio (alático) utiliza a creatina fosfato e as moléculas de ATP armazenadas no
tecido muscular como fonte de energia. Já o sistema do glicogênio-ácido lático utiliza como fonte de
energia a glicose ou o glicogênio armazenado no músculo.

Ambos estes sistemas, apesar de possuírem alta velocidade de geração de energia quando
comparados ao sistema anaeróbico, são limitados, visto que se utilizam de fontes de energia
limitadas. A fonte de energia utilizada por estes sistemas é consumida em cerca de alguns minutos
Por outro lado, o sistema aeróbico se utiliza de estoques mais extensos, como carboidratos (glicose
e glicogênio) e gorduras. Além disso, na ausência destes estoques, o sistema aeróbico é capaz de
utilizar proteínas e outros componentes celulares como fonte de energia.
Quadro 3 – Características dos três sistemas energéticos

Fonte: Liberali e Vieira, 2016.

11.4 Metabolismo
O metabolismo compreende as diversas reações químicas que ocorrem no organismo vivo,
responsáveis por suprir as necessidades estruturais e energéticas do ser vivo. Dentre essas reações
podemos destacar a síntese e a degradação de biomoléculas, a produção de energia a partir das
biomoléculas dos nutrientes, etc. O metabolismo pode ser dividido em catabolismo e anabolismo
(Figura 49).

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Figura 49 – Divisão do metabolismo

Fonte: Liberali e Vieira, 2016.

O catabolismo, também chamado de via degradativa, consiste nas reações que liberam energia
por meio da degradação (quebra) de moléculas complexas em moléculas simples. Os substratos
utilizados são os carboidratos, ácidos graxos livres e os aminoácidos. Estes são utilizados pelas vias
da glicólise, beta oxidação e transaminação respectivamente.
O anabolismo, também chamado de via biossintética, consiste nas reações que consomem
energia e resultam na síntese de moléculas complexas a partir de moléculas simples.
Durante o exercício físico, o estímulo estressor provoca significativas alterações no metabolismo,
aumentando intensamente a atividade do catabolismo em comparação ao anabolismo. Isso ocorre
porque a demanda de energia se encontra significativamente maior devido ao esforço.

11.5 Fadiga
A fadiga é considerada como um conjunto de manifestações produzidas por atividades ou exercício
de longa duração, que resultam na diminuição da capacidade funcional de manter o rendimento
muscular esperado. Em outras palavras, a fadiga é o estado em que se observa a incapacidade de
manter o poder de rendimento do tecido muscular, podendo ser observado em exercícios de
resistência, bem como em estados de hipertreinamento.
Durante exercícios de baixa intensidade, os sistemas anaeróbios alático e lático possuem papel
fundamental na síntese de moléculas de ATP, sendo capazes de proporcionar energia ao tecido até
o momento em que o metabolismo aeróbio assuma esta função. Quando o metabolismo aeróbico
assume a demanda energética, uma estabilidade é alcançada.
Durante exercícios de alta intensidade, o ritmo de contração e a demanda energética muscular é
extremamente alta. Neste contexto, a síntese de moléculas de ATP pelo metabolismo anaeróbico

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não é suficiente para proporcionar energia ao tecido até o momento em que o metabolismo aeróbio
assuma esta função. Dessa forma, a estabilidade nunca é alcançada, resultando em fadiga muscular.

Investigue a influência de fatores nutricionais na ocorrência de fadiga.

A fadiga muscular pode ser classificada em aguda e crônica. A fadiga aguda ocorre devido a
alterações fisiológicas momentâneas que impedem a continuidade do exercício. Esse tipo de fadiga
ocorre como um meio de autopreservação do organismo. A fadiga aguda pode ser central ou
periférica:
➢ A Fadiga Central compreende as alterações no funcionamento cerebral que ocorrem devido
a um exercício intenso ou prolongado, resultando em diminuição do rendimento.

➢ A Fadiga Periférica compreende as alterações na liberação e na reabsorção da acetilcolina,


propagação do potencial elétrico na fibra muscular, liberação e reabsorção de cálcio nas
cisternas do reticulo sarcoplasmático, acúmulo de metabólitos e depleção de glicogênio
muscular durante o processo de contração muscular.

A fadiga crônica é decorrente de uma série de processos inadequados de recuperação após


treinamento intenso. Esse tipo de fadiga é caracterizado por alterações prolongadas no humor,
personalidade, sistema hormonal e imune e, consequentemente, comprometimento da saúde. Além
disso, pode vir acompanhada de indisposição, cansaço, gripes e resfriados constantes.

A fadiga atua como um mecanismo de defesa, o qual é ativado antes que ocorra qualquer problema na
execução das funções orgânicas e celulares. Dessa forma, lesões celulares irreversíveis e teciduais são
evitadas.

Considerações Finais
O exercício físico consiste em toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva, executada
com o objetivo de aumentar ou manter a saúde e/ou a aptidão física como, por exemplo, musculação,
natação, pilates, lutas, etc.

O biomédico fisiologista do esporte e da prática do exercício físico desempenha papel fundamental,


contribuindo com novos conhecimentos para a ciência do esporte, seja para o profissional de
educação física, nutricionista, fisioterapeuta e para o médico. trazendo as informações da ciência
esportiva para aplicar na prática.

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A obra “Exercício físico e fisiologia hormonal” do autor Ronaldo A. Figueiredo traz conceitos e mecanismo
importantes acerca da atuação do sistema endócrino na prática do exercício físico.

A prática do treinamento físico iniciou no século XX com treinadores que se reuniram e sistematizaram suas
experiências, facilitando o processo e aumentando o rendimento de atletas. O treinamento físico compreende
métodos e processos de treino que são aplicados de forma sequencial, obedecendo a princípios de
periodização, com o objetivo de melhorar a aptidão física, baseando-se em conhecimentos de diversas áreas,
como fisiologia do exercício, anatomia, biomecânica, bioquímica etc. O treinamento físico é capaz de levar o
atleta a sua melhor forma física possível.
O treinamento físico, quando realizado de maneira adequada, leva a uma melhora do desempenho de atletas
e equipes, uma vez que desenvolve qualidades técnicas, físicas e psicológicas.
Os exercícios físicos podem ser distribuídos em cinco categorias: exercícios de resistência aeróbia, de
resistência muscular localizada, de flexibilidade, de força e de velocidade.
A homeostase é o termo utilizado para se referir à capacidade do organismo de se manter em equilibro interno
mesmo sob estímulos contrários vindos do meio externo. Para que a homeostase seja mantida nessas
condições, os diversos sistemas fisiológicos precisam atuar de forma conjunta, como o sistema cardíaco,
respiratório, digestório e urinário (Figura 10). O processo de adaptação ocorre por meio de diversos ajustes de
equilíbrio dinâmico realizados por mecanismos de regulação interligados.
Outro fenômeno comum diretamente relacionado à prática do exercício físico é o estado estável. Essa condição
do organismo é oposta a homeostase e está relacionada à estabilidade provocada em alguns órgãos, músculos
e tecidos do corpo capazes de realizar a manutenção do equilíbrio da produção de substratos energéticos e
da frequência cardíaca durante a realização do exercício físico.
O metabolismo compreende as diversas reações químicas, que ocorrem no organismo vivo, responsáveis por
suprir as necessidades estruturais e energéticas do ser vivo. Dentre essas reações podemos destacar a síntese
e a degradação de biomoléculas, a produção de energia a partir das biomoléculas dos nutrientes, etc. O
metabolismo pode ser dividido em catabolismo e anabolismo.
A fadiga é considerada como um conjunto de manifestações produzidas por atividades ou exercícios de longa
duração, que resultam na diminuição da capacidade funcional de manter o rendimento muscular esperado. Em
outras palavras, a fadiga é o estado em que se observa a incapacidade de manter o poder de rendimento do
tecido muscular, podendo ser observado em exercícios de resistência, bem como em estados de
hipertreinamento.

É o componente responsável por receber as respostas enviadas pelo centro de controle por meio da via
eferente e orientar os meios para a saída da resposta. É o componente que produz a retroalimentação negativa,
resultando em estabilização do organismo e, consequente, homeostase.

a) Receptor.
b) Sensor.
c) Centro de controle.

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d) Efetor.
e) Centro de resposta.

Resposta Correta: Alternativa D

Questão Objetiva
Estado de fadiga que ocorre devido a alterações fisiológicas momentâneas que impedem a continuidade do
exercício. Esse tipo de fadiga ocorre como um meio de autopreservação do organismo.
a) Fadiga aguda.
b) Fadiga central.
c) Fadiga periférica.
d) Fadiga crônica.
e) Fadiga latente.

Questão Discursiva
Descreva a diferença entre atividade física e exercício físico. Dê exemplos.

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa A

Questão Discursiva
Resposta Padrão: A atividade física consiste em qualquer movimento do corpo produzido pelos músculos
esqueléticos, o qual gera em gasto de energia em níveis maiores do que no repouso. Temos como exemplo:
atividades domésticas, atividades realizadas em momentos de lazer, a caminhada entre o lar e o trabalho, etc.
O exercício físico consiste em uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva, na qual tem-se o objetivo
final de aumentar ou manter a saúde e/ou a aptidão física. Temos como exemplo: musculação, natação, pilates,
lutas, etc.

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UNIDADE III
CAPÍTULO 12 – PERÍCIA CRIMINAL
No término deste capítulo, você deverá saber:
✓ História e definição da criminalística;
✓ Princípios e postulados da criminalística;
✓ Divisões da perícia criminal;
✓ Locais de crime e vestígios.

Introdução
O perito criminal é o profissional responsável por realizar um trabalho minucioso para encontrar
provas técnicas, ou também chamadas de provas periciais, por meio de análise científica de
vestígios encontrados nos locais de crimes. Dessa forma o perito auxilia a justiça a desvendar os
mais diversos crimes. Cada particularidade dos casos deve estar cientificamente comprovada e
registrada no laudo pericial. O laudo pericial auxilia o juiz, que não possui conhecimento na área.

A área de perícia criminal não se trata de uma habilitação da profissão biomédica, ou seja, o
biomédico não precisa ser especializado nem habilitado para atuar nessa área. Para atuar como
perito criminal é preciso ser aprovado num concurso público e, em seguida, completar o curso de
formação em criminalística na academia de polícia.

O biomédico possui um vasto conhecimento em diversas áreas que o torna um profissional excelente
para atuar na perícia criminal. O conhecimento em áreas como genética humana, biologia molecular
e biotecnologia, permitem ao biomédico atuar em diversos campos da criminalística, como locais de
crime, toxicologia, biologia forense, meio ambiente, etc.

O biomédico na perícia criminal desempenha papel fundamental na resolução de delitos, sendo capaz, em
muitos casos, de apontar sua autoria.

12.1 História e definição da criminalística


A criminalística surgiu a partir de trabalhos desenvolvidos pela medicina legal. Desde a pré-história
há reproduções de impressões a tinta, desenhos nas cavernas, vestígios de mãos e dedos de
espécies que viveram naquela época. Entretanto, foi em 1560 na franca, que Ambroise Paré falou
pela primeira vez sobre os ferimentos produzidos por arma de fogo, sendo considerados por muitos
como o pai da medicina legal. Três anos depois, João de Barros desenvolveu a datiloscopia a partir
de estudos das linhas papilares. Em 1651, Paolo Zachias publicou a obra intitulada “Questões Médico
Legais” e conquistou o título oficial de pai da medicina legal. Somente quase dois séculos depois,
em 1805, se deu o início do ensino da medicina legal na Áustria. Nos anos seguintes, essa atividade
se iniciou também em outros países: em 1807 na Escócia, em 1820 na Alemanha e, na mesma
época, na França e na Itália.

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A Criminalística, como hoje a conhecemos, teve seu início no final do século XIX com a publicação
da obra "system der kriminalistik" (sistema de criminalística) De Hans Gross. Hans propôs que os
métodos da ciência moderna fossem utilizados para solucionar casos criminais, sendo assim,
considerados o pai da criminalística. Para Hans, é fundamental analisar criticamente e de forma
concreta os vestígios encontrados, além de realizar uma análise abstrata da cena, elaborando um
perfil criminal a partir do aspecto psicológico do suspeito.

A partir de então, em 1902, Portugal iniciou a utilização das impressões plantares e palmares como
complemento da identificação datiloscópica. Nos anos seguintes, foi instituído no Brasil o Sistema
Dactiloscópico de VUCETICH.

A criminalística é a área do conhecimento que estuda os vestígios materiais relativos ao local


periciado com o objetivo de caracterizar o crime e suas circunstâncias, identificar seu autor e o seu
modo de atuação de forma a não distorcer os fatos e promover a justiça. A criminalística fornece
base para decisões justas e corretas pela justiça.

A Criminalística é regida por leis, métodos e princípios próprios, constituindo-se uma área
independente das demais, entretanto possui procedimentos multidisciplinares, utilizando-se de
conhecimento técnico e científico, bem como tecnologias, fornecidos pela física, pela química, pela
biologia, pela matemática, entre outras áreas.

Os objetivos principais da criminalística são:

➢ Identificar e interpretar os indícios materiais encontrados;

➢ Definir o modo como ocorreu o delito, fornecendo a dinâmica do acontecimento;

➢ Identificar e interpretar elementos que levem à identificação do autor do delito;

➢ Sugerir a autoria do delito quando possível;

➢ Elaborar a prova técnica por meio da indiciologia material.

Para saber um pouco mais sobre a carreira do perito criminal, acesse: https://apcf.org.br/pericia-criminal/o-que-
e-a-pericia-criminal/

12.2 Princípios e postulados da criminalística


Os princípios fundamentais da perícia criminalística:
➢ Princípio da Observação: Segundo Locard, “Todo contato deixa uma marca”. Nem sempre
é fácil a detecção de vestígios nos locais de crimes. Em muitos casos, os próprios autores
realizam alterações consideráveis na cena, dificultando o trabalho do perito. Algumas vezes,
os vestígios de um crime só podem ser identificados e avaliados por meio de análises
microscópicas ou de equipamentos de alta precisão. No entanto, atualmente, não há
nenhuma ação que não deixe evidências no local do crime, uma vez que a evolução
tecnológica e científica permite a detecção desses vestígios.

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➢ Princípio da Análise: A análise pericial tem como objetivo definir uma teoria que esclarece
como o crime ocorreu, baseando-se nos vestígios encontrados e analisados. A formulação
de hipóteses coerentes deve ter como base o método científico.

➢ Princípio da Interpretação: Também chamado de Princípio da Individualidade, este parte


da ideia de que dois objetos podem ser difíceis de serem distinguidos, entretanto nunca
serão idênticos. É responsabilidade da perícia realizar uma identificação precisa,
individualizando o elemento de prova.

➢ Princípio da Descrição: O laudo pericial deve conter uma descrição de forma clara de
todos os resultados dos exames periciais, racionalmente dispostos e bem fundamentados
em princípios científicos, utilizando uma linguagem técnica e juridicamente perfeita.

➢ Princípio da Documentação: É de estrema importância a Cadeia de Custódia da prova


pericial, ou seja, a documentação cronologia das evidências. Em outras palavras, as
amostras evidenciais coletadas do local do crime devem ser cuidadosamente
documentadas desde o momento da coleta até sua análise em exames laboratoriais,
estabelecendo um histórico completo de sua origem.

Os princípios periciais na criminalística são:


➢ Princípio da Individualização: todo exame pericial deve ser realizado de forma individual,
buscando cada evidência física para a interpretação de elementos que levem à identificação
do autor do delito.

➢ Princípio da Unicidade: pessoas e objetos podem ser, no máximo, semelhantes ou muito


parecidos, entretanto nunca serão idênticos. Cada pessoa e cada objeto é único.

➢ Princípio da Produção: esse princípio diz respeito à ação dos agentes na produção de
vestígios, de forma que indiquem as suas respectivas ocorrências a partir da multiplicidade
de formas, estruturas, naturezas e morfologias.

➢ Princípio do Uso: os vestígios geralmente são de origem física, química ou biológica e para
a sua análise é fundamental a utilização de ferramentas e tecnologias específicas. Para
identificarmos se uma amostra sanguínea é humana (vestígio biológico) é necessário o uso
de substâncias e métodos específicos.

➢ Princípio da Comparação: esse princípio é muito utilizado em análises de objetos,


documentos, imagens, etc. Se ao confrontarmos esse material reconhecermos
semelhanças suficientemente significativas, podemos definir a veracidade do material.

➢ Princípio da Constatação: durante o procedimento pericial, uma parte do processo deve


se ater ao esclarecimento de fatos a serem investigados e ao seu espaço de aplicação. O
não cumprimento deste princípio pode gerar erros de procedimento, com consequências
danosas para o esclarecimento real dos fatos.

➢ Princípio Universalidade: antes de serem aceitas como meio de prova, as técnicas


propostas devem ser testadas e aprovadas pela comunidade científica da área.

Entre os principais postulados da criminalística, destacam-se:


➢ O conteúdo de um laudo pericial criminalístico é invariante com relação ao perito que o
produziu.

152
A criminalística baseia-se sempre em leis científicas com teorias e experiências comprovadas. Dessa
forma, independente de qual o profissional que se utilizar de tais leis para a avaliação de um
fenômeno, o resultado deverá ser sempre o mesmo, não dependendo do profissional.
➢ As conclusões de uma perícia criminalística são independentes dos métodos utilizados para
alcançá-las.

Não importa qual método for utilizado, podendo ser mais rápido, mais preciso, mais moderno ou não,
quando forem reproduzidas as conclusões devem ser constantes. Métodos adequados não
produzem conclusões diferentes em diferentes momentos.
➢ A perícia criminalística é independente do tempo.

A criminalística considera a perenidade da verdade, uma vez que a verdade é imutável independente
do tempo decorrido.

12.3 Divisões da perícia criminal


A criminalística pode ser dividida em várias áreas, entre elas: informática, contábil de financeira,
documentoscópica, audiovisual de eletrônicos, engenharia, meio ambiente, química forense,
genética forense, balística, bombas e explosivos e de veículos.

A perícia em informática é responsável pela solução de crimes que fazem uso da internet e outros
recursos informatizados. O trabalho do perito nesta área é realizado por meio de exames minuciosos,
que vão desde análises em local de crime na internet e mídias de armazenamento, até o
rastreamento de mensagens eletrônicas, bem como identificação e localização de internautas e sites
ilegais.

Os principais crimes desvendados por peritos em informática são casos de exploração sexual de
menores na internet e fraude contra instituições financeira. Esse perito, por meio de exames e laudos
periciais, constrói a prova material e evidencia todos os rastros deixados pelos criminosos. Em alguns
casos são capazes de até identificar os responsáveis.

A perícia contábil e financeira desempenha papel importante na solução de crimes financeiros, ou


seja, crimes que não se utilizam de violência, que sejam danosos à sociedade e que tenham como
objetivo final a obtenção de lucro. O perito nesta área analisa extratos e documentos provenientes
de quebra de sigilo bancário e fiscal, verificando possíveis incompatibilidades entre a movimentação
financeira e as declarações do imposto de renda e evolução patrimonial.

Os principais crimes desvendados pela perícia contábil e financeira incluem crimes do colarinho
branco, gestão fraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas, manutenção de depósitos
não declarados no exterior, sonegação fiscal, crimes em licitações, apropriação indébita de
contribuição previdenciária, corrupção (ativa e passiva), peculato, crimes contra o mercado de
capitais, crimes contra as finanças públicas, lavagem de dinheiro, entre outros.

A perícia documentoscópica busca a solução de crimes de fraude documental, comumente


utilizado nos crimes contra o sistema financeiro nacional. O perito nesta área realiza comparações e
análises científicas em documentos com o objetivo de esclarecer a autenticidade do material em
questão, bem como identificar e apontar os processos e métodos utilizados nas falsificações de
papéis e assinaturas. A grafoscopia é um dos ramos mais importantes e procurados da
documentoscopia. Esse ramo utiliza métodos adequados para estabelecer a autenticidade ou autoria
de textos escritos à mão.

153
Qualquer documento impresso que seja objeto de investigação policial ou criminal é analisado pela
perícia documentoscópica, entre estes materiais estão: passaportes, títulos da dívida pública,
carteiras de habilitação, cédulas de identidade, carteiras profissionais, selos, papel-moeda, vistos,
certidões e formulários.

A perícia em audiovisual e eletrônicos é especializada em solucionar delitos como: grampos


telefônicos, clonagem de cartões de crédito, centrais de telefonia clandestina, rádios piratas e
provedores de internet ilegais. O trabalho do perito nesta área consiste na identificação da
“autenticidade” de imagens estáticas e gravações em áudio e vídeo com o objetivo de averiguar se
há ou não· montagens, trucagens, supressões e outras alterações de caráter fraudulento. Além disso,
são realizados exames para a verificação do locutor e reconhecimento facial.

A perícia em engenharia busca a solução de crimes de superfaturamento de licitações,


financiamentos e contratos de obras públicas. Os peritos em engenharia são os responsáveis por
analisar, por exemplo, se uma rede de esgoto foi construída por completo, se a venda de um imóvel
foi abaixo do valor de mercado ou a causa do rompimento de uma barragem.

Os principais crimes desvendados pela perícia contábil e financeira incluem crimes como desvio de
verbas em obras públicas, avaliações de imóveis urbanos e rurais, acidentes aéreos e até mesmo
análises em obras de arte.

A perícia de meio ambiente atua em crimes que envolvam a fauna, flora, poluição, extração mineral
e invasão de ·áreas protegidas. O perito nessa área atua realizando exames em sítios arqueológicos,
fossilíferos e de patrimônio natural com o objetivo de caracterizar e avaliar os danos ambientais em
·áreas alteradas. Além disso, o perito trabalha na identificação taxonômica de organismos vivos ou
partes deles, na classificação de minerais e na avaliação do impacto ao meio ambiente decorrente
da intervenção sobre esses organismos ou minerais, conforme a legislação em vigor.

A perícia em química forense é responsável pela análise, caracterização e desenvolvimento de


novas metodologias de exames em drogas, fármacos (medicamentos), agrotóxicos, alimentos, tintas,
documentos, bebidas, combustíveis, em diferentes formas de apresentação (liquido, gasoso,
pastoso, gel, etc.). O trabalho desses peritos é realizado dentro do laboratório e consiste, geralmente,
na análise de materiais solicitados com o objetivo de identificar as substâncias e os princípios ativos
presentes, bem como suas quantidades. Além disso, o perito aponta a licitude da substância.

No Brasil, a maioria das amostras que chegam ao laboratório de química forense são avaliadas
quanto à presença de drogas ilícitas, como cocaína, maconha, ecstasy e LSD. Em seguida, os
componentes mais avaliados são os fármacos e os demais (agrotóxicos, fluidos biológicos,
combustível, fertilizantes, acelerantes de incêndio, tintas, alimentos, explosivos, entre outros).

A perícia em genética forense é responsável pela identificação genética de seres humanos, animais
e vegetais. Na análise de DNA humano, materiais biológicos como sangue, sêmen, saliva, tecido
epitelial, cabelo, dente, unha, entre diversos outros são passíveis de exame, sendo o perito capaz
de identificar a origem do material biológico questionado deixado no local de crime. Além disso, o
perito também é capaz de avaliar vínculo genético com o objetivo, em geral, de identificar restos
mortais, principalmente ossadas ou corpos carbonizados.

Na análise de DNA espécies animais, materiais biológicos como penas, pele, dentes e ossos, além
de diversos outros, são passíveis de exame, entretanto os mais utilizados, são fragmentos de carne
de caça. O objetivo do exame é determinar se o material apreendido é proveniente de algum animal
silvestre ou ainda, se é de alguma espécie ameaçada de extinção.

154
A perícia em balística forense desempenha papel de extrema importância na identificação de
confirmação da prova da ocorrência de um crime que tenha como objeto principal uma arma de fogo.
O trabalho do perito nessa área consiste na identificação de armas e revelação de caracteres de
registro que foram possivelmente adulterados e suprimidos pelos criminosos.

A perícia em bombas e explosivos é responsável por solucionar ocorrências que envolvem bombas
em propriedades públicas e privadas. O perito dessa área atua no atendimento de ameaça de bomba,
varreduras de segurança, perícias de pós-explosão e no planejamento da segurança antibomba em
grandes eventos nacionais e internacionais.

O perito em bombas e explosivos participa de operações de segurança contra possíveis atos


terroristas, realiza exames, transporte, desativação e destruição de objetos suspeitos. Além disso, é
o perito que realiza a coleta de vestígios em locais após uma explosão.

A perícia de veículos atua em ocorrências criminais onde exista alguma ligação, seja ela direta ou
indireta, com um veículo. Geralmente, neste tipo de ocorrência, os veículos envolvidos apresentam
uma série de vestígios, cuja análise e avaliação precisa ser feita por um perito especializado. Entre
os diversos exames que podem ser realizados em veículos, estão aqueles que buscam por
alterações no mesmo, pela identificação de compartimentos construídos com o objetivo de esconder
itens ou mercadorias e pela análise de sua estrutura.

12.4 Locais de crime e vestígios


A elucidação de um delito exige que um conjunto de procedimentos científicos seja realizado,
permitindo a identificação da autoria do crime. A qualidade desses procedimentos depende de uma
série de cuidados que devem ser tomados, desde a aquisição das amostras para exame pericial até
a análise do laudo pericial pela autoridade judiciária.
No local de crime, o perito criminal realiza um levantamento do local e coleta as provas periciais que
serão analisadas em laboratório. Para que o trabalho do perito seja realizado da melhor forma
possível, é necessário que o local seja isolado e devidamente preservado. O local de crime consiste
em toda e qualquer área na qual tenha ocorrido um fato delituoso. Existem diversos tipos de locais
de crime e estes podem ser classificados quanto ao ambiente, à natureza do fato delituoso, à
preservação e à disposição dos vestígios.
Classificação dos locais de crime quanto ao ambiente:
➢ Local Interno: local no interior de um prédio ou dentro de um terreno cercado onde ocorreu
um fato delituoso.

➢ Local Externo: local em logradouro público, via pública ou dentro de um terreno baldio sem
obstáculos onde ocorreu um fato delituoso.

➢ Locais Relacionados: dois ou mais locais que tenham relação com um mesmo crime fato
delituoso.

Classificação dos locais de crime quanto à natureza do fato criminoso:

➢ Local de Homicídio.

➢ Local de Suicídio.

➢ Local de Crime de Trânsito.

155
➢ Local de Arrombamento.

➢ Local de Incêndio.

➢ Local de Explosão.

➢ Local de Dano.

➢ Local de crime contra o Meio Ambiente.

Classificação dos locais de crime quanto à preservação:


➢ Local Idôneo (preservado ou não violado): é aquele local no qual os vestígios são
encontrados pelos peritos da mesma forma que foram deixados na ação delituosa, ou seja,
não sofreram quaisquer alterações após o fato delituoso.

➢ Local Inidôneo (não preservado ou violado): é aquele local no qual os vestígios foram
alterados antes da chegada dos peritos, ou seja, sofreram alterações após a ocorrência do
fato delituoso.

O isolamento e a preservação do local de infração penal são fatores garantidos por lei ao perito, permitindo
que seu trabalho seja realizado da melhor forma possível. Entretanto, algumas vezes o local do crime não é
devidamente preservado e, nestes casos, o perito não deve deixar de realizar o exame solicitado. Além disso,
o perito deve registrar tudo em seu laudo.

Classificação dos locais de crime quanto à disposição dos vestígios:


➢ Local Imediato: é o local propriamente dito, ou seja, o local onde ocorreu o fato delituoso e
onde, geralmente, se encontra o corpo da vítima.

➢ Local Mediato: compreende as adjacências do local imediato, ou seja, toda a área além da
demarcada como área imediata.

No local mediato é comum a presença de marcas de pegadas, rastros de veículos, objetos caídos,
instrumentos utilizados na prática do crime, etc.
➢ Local Relacionado: é aquele local distante de onde o fato delituoso ocorreu, porém possui
relação com o crime.

No local relacionado é comum que objetos que tenham relação com o fato ocorrido naquela área
sejam encontrados.
No local de crime os peritos criminais buscam por todos os tipos de objetos, marcas, ou sinais
sensíveis que possam estar associados ao fato delituoso, sendo chamados de vestígios. Em outras
palavras, vestígio consiste em todo objeto ou material bruto encontrado e/ou recolhido em um local
de crime que será posteriormente analisado.
Todo vestígio encontrado no local do crime será estudado e interpretado pelos peritos e,
possivelmente, será considerado individualmente ou associado a outros, como prova pericial.
Os vestígios encontrados no local do crime podem ser classificados em:

156
➢ Vestígios Verdadeiros: são produto direto das ações do cometimento do delito em si e
produzidos diretamente pelos autores do fato delituoso.

➢ Vestígios Ilusórios: são aqueles que não estão relacionados às ações dos autores do fato
delituoso e que não foram produzidos de maneira intencional. Esse tipo de vestígio é
encontrado principalmente pela falta de isolamento e preservação do local.

➢ Vestígios Forjados: são aqueles produzidos intencionalmente pelo autor do fato delituoso
com o objetivo de modificar os elementos originais produzidos no ato da infração.

A constatação e análise de um vestígio ilusório ou forjado pelo perito será sempre a mais difícil, uma vez que
terão que fazer uso de outros exames e análises para que possam chegar à constatação de que se trata de
vestígios não relacionados à ação dos autores do fato delituoso.

➢ Vestígios Propositais: são aqueles produzidos com o objetivo de indicar uma qualidade,
uma condição, um aviso ou uma advertência. Temos como exemplos: distintivo de sócio,
sinal de perigo, as placas e sinais de trânsito, etc.

➢ Vestígios Acidentais: são aqueles produzidos involuntariamente pelo agente. Temos como
exemplos: as impressões digitais, as manchas de material orgânico, cinzas, fibras, sinais de
luta, etc.

➢ Vestígios Perceptíveis: são aqueles diretamente observados pelos sentidos humanos


(tato, visão, paladar, audição e olfato), sem a utilização de qualquer equipamento ou técnica.
Temos como exemplos: manchas de sangue, sinais de arrastamento, armas deixadas no
local, etc.

➢ Vestígios Latentes: são aqueles que necessitam da utilização de equipamentos ou


técnicas para serem observados. Temos como exemplos: manchas de esperma, resíduos
provenientes de disparos de arma de fogo, impressões digitais, etc.

➢ Vestígios Perenes: são aqueles que não desaparecem com o tempo, sendo destruídos
somente por meio de evento natural ou de grandes proporções. Temos como exemplos: as
ossadas, os danos decorrentes de acidentes automobilísticos, projéteis.

➢ Vestígios Persistentes: são aqueles que não desaparecem por um longo tempo,
permitindo sua análise posterior. Temos como exemplo: manchas de sangue, pelos, fibras,
etc.

Investigue quais os principais vestígios encontrados em cada local de crime.

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Considerações Finais
O perito criminal é responsável por encontrar provas técnicas, ou também por meio de análise
científica de vestígios encontrados nos locais de crimes. É valido ressaltar que a perícia criminal é
uma função de Estado, que tem como atribuição os exames de corpo de delito, abrangendo desde a
avaliação de materiais até a elucidação de dinâmica criminosa. A função de perícia está prevista
tanto para a polícia judiciária quanto para a polícia militar. No entanto, a perícia na polícia militar atua
somente em casos de crimes militares.

O biomédico possui um vasto conhecimento em diversas áreas do conhecimento, como genética


humana, biologia molecular e biotecnologia, que o torna um profissional excelente para atuar na
criminalística, como locais de crime, toxicologia, biologia forense, meio ambiente, etc.

A criminalística surgiu a partir de trabalhos desenvolvidos pela medicina legal. Desde a pré-história há
reproduções de impressões a tinta, desenhos nas cavernas, vestígios de mãos e dedos de espécies que
viveram naquela época. A Criminalística, como hoje a conhecemos, teve seu início no final do século XIX com
a publicação da obra "system der kriminalistik" (sistema de criminalística) de Hans Gross.
A criminalística é a área do conhecimento que estuda os vestígios materiais relativos ao local periciado com
o objetivo de caracterizar o crime e suas circunstâncias, identificar seu autor e o seu modo de atuação de forma
a não distorcer os fatos e promover a justiça. A criminalística fornece base para decisões justas e corretas pela
justiça.
A Criminalística é regida por leis, métodos e princípios próprios, constituindo-se uma área independente das
demais, entretanto possui procedimentos multidisciplinares, utilizando-se de conhecimento técnico e científico,
bem como tecnologias, fornecidos pela física, pela química, pela biologia, pela matemática, entre outras áreas.
A criminalística pode ser dividida em várias áreas, entre elas: informática, contábil de financeira,
documentoscópica, audiovisual de eletrônicos, engenharia, meio ambiente, química forense, genética forense,
balística, bombas e explosivos e de veículos.
A elucidação de um delito exige que um conjunto de procedimentos científicos seja realizado, permitindo a
identificação da autoria do crime. A qualidade desses procedimentos depende de uma série de cuidados que
devem ser tomados, desde a aquisição das amostras para exame pericial até a análise do laudo pericial pela
autoridade judiciária.
No local de crime o perito criminal realiza um levantamento do local e coleta as provas periciais que serão
analisadas em laboratório. Para que o trabalho do perito seja realizado da melhor forma possível, é necessário
que o local seja isolado e devidamente preservado. O local de crime consiste em toda e qualquer área na qual
tenha ocorrido um fato delituoso. Existem diversos tipos de locais de crime e estes podem ser classificados
quanto ao ambiente, à natureza do fato delituoso, a preservação e a disposição dos vestígios.
No local de crime, os peritos criminais buscam por todos os tipos de objetos, marcas, ou sinais sensíveis que
possam estar associados ao fato delituoso, sendo chamados de vestígios. Em outras palavras, vestígio
consiste em todo objeto ou material bruto encontrado e/ou recolhido em um local de crime que será
posteriormente analisado.
Todo vestígio encontrado no local do crime será estudado e interpretado pelos peritos e, possivelmente, será
considerado, individualmente ou associado a outros, como prova pericial.

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(ENADE, 2017) Durante ação da Polícia Federal foi apreendida grande quantidade de uma substância que os
agentes suspeitaram ser cocaína. Levado ao laboratório, o material foi submetido à análise por um biomédico.
Nessa situação, a metodologia mais apropriada para a identificação preliminar da substância é a:
a) utilização de cloreto férrico, substância que forma o complexo de coloração azul-esverdeada quando
adicionada à cocaína, que reage aos íons Fe+3.
b) utilização da técnica de cromatografia em camada delgada de alta eficiência, para detecção do
metabólito benzoilecgonina.
c) utilização do reagente de biureto, que provoca, em contato com a cocaína, reação do sulfato de cobre
em meio alcalino, desenvolvendo coloração violeta.
d) utilização do teste de Benedict, que consiste na adição de uma solução de sulfato cúprico em meio
alcalino à cocaína, observando-se uma coloração avermelhada para os testes negativos.
e) utilização do teste de Scott, que consiste na observação da reação do tiocianato de cobalto em meio
ácido que, em contato com a cocaína, desenvolve coloração azulada nos testes positivos.

Resposta Correta: Alternativa E

Questão Objetiva
Perícia especializada em solucionar delitos, como grampos telefônicos, clonagem de cartões de crédito,
centrais de telefonia clandestina, rádios piratas e provedores de internet ilegais:
a) Perícia em genética forense.
b) Perícia em engenharia.
c) Perícia em informática.
d) Perícia em audiovisual e eletrônicos.
e) Perícia em documentoscopia.

Questão Discursiva
Um dos postulados da criminalística diz que: As conclusões de uma perícia criminalística são independentes
dos métodos utilizados para alcançá-las. Explique.

RESPOSTAS
Questão Objetiva
Resposta Correta: Alternativa D

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Questão Discursiva
Resposta Padrão: Não importa qual método for utilizado, podendo ser mais rápido, mais preciso, mais
moderno ou não, quando forem reproduzidos, as conclusões devem ser constantes. Métodos adequados não
produzem conclusões diferentes em diferentes momentos.

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