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do Metabolismo na Obesidade
e Emagrecimento
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
METABOLISMO DOS LIPÍDIOS..................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS....................................................................................... 15
CAPITULO 3
INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO DOS LIPÍDIOS E DOS CARBOIDRATOS.................................... 23
UNIDADE II
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE............................................................................................ 30
CAPÍTULO 1
O PAPEL DA LEPTINA E DA GRELINA NO CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR......................... 30
CAPÍTULO 2
OS HORMÔNIOS DA ADIPOSIDADE......................................................................................... 37
CAPÍTULO 3
OS HORMÔNIOS DA SACIEDADE............................................................................................. 42
CAPÍTULO 4
DISTORÇÃO DOS SINAIS DA SACIEDADE GÁSTRICA NA OBESIDADE.......................................... 47
UNIDADE III
CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL.............................................. 50
CAPÍTULO 1
INTEGRAÇÃO DOS SINAIS PERIFÉRICOS NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL................................. 51
CAPÍTULO 2
INTEGRAÇÃO DOS CIRCUITOS CENTRAIS................................................................................. 59
CAPÍTULO 3
CAUSAS CENTRAIS DA OBESIDADE........................................................................................... 63
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 75
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
“A obesidade não é uma doença singular, e sim um grupo heterogêneo de condições
com múltiplas causas que, em última análise, refletem no fenótipo obeso. O balanço
energético positivo, que ocorre quando o valor calórico ingerido é superior ao gasto, é
importante contribuidor para o desenvolvimento da obesidade, promovendo aumento
nos estoques de energia e peso corporal. O início da manutenção de um balanço
calórico positivo relativo às necessidades do organismo pode ser conseqüência tanto
de aumento na ingestão calórica, como redução no total calórico gasto, ou os dois
fatores combinados. [...] Estudo realizado com crianças nos EUA demonstrou que,
aproximadamente, um terço do consumo calórico diário das crianças é realizado na
escola, onde 88,5% do estoque das lanchonetes é rico em gordura e/ou açúcar. Em
estudo relatado por Mahan e Escott-Stump, realizado com 264 trabalhadores (203
homens e 61 mulheres), foi observado que 81,9% dos indivíduos consumiam lipídios
acima de 30% do total calórico ingerido, dado semelhante ao encontrado na população
norte-americana. Metade das mulheres ingeria acima de 40% de lipídios na dieta e a
frequência de sobrepeso era de 43,9%, enquanto a de indivíduos obesos era de 23,1%.
Outro dado interessante observado pelo grupo foi que a maioria dos trabalhadores
realizava apenas três refeições diárias e 43% dos indivíduos obesos tinham o jantar
como a maior refeição. Há indícios de que o padrão de alimentação hiperlipídica,
hiperproteica e hipoglicídica esteja se repetindo também no Brasil.”
Serão versados três grandes temas no âmbito da obesidade, divididos em três unidades:
(1) metabolismo dos principais nutrientes, (2) regulação hormonal e (3) controle da
ingestão alimentar pelo sistema nervoso. Como poderá ser constatado, existirá uma
interação constante entre os temas, na procura de um conhecimento estruturado.
Nesse sentido, a disciplina irá abordar a obesidade como uma desordem metabólica do
organismo.
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Objetivos
»» Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre a disciplina em pauta.
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DETERMINANTES
DA OBESIDADE NO UNIDADE I
METABOLISMO
CAPÍTULO 1
Metabolismo dos Lipídios
O tecido adiposo possui intensa atividade metabólica, que contribui notavelmente para
o controle da homeostase energética do organismo. As principais ações metabólicas do
tecido adiposo podem ser divididas em atividades lipogênicas e atividades lipolíticas.
Entende-se por atividade lipogênica todos os processos metabólicos que resultam
em biossíntese, incorporação e armazenamento de triglicerídeos (TG) na gotícula de
gordura intracitoplasmática, ao passo que atividade lipolítica refere-se às ações que
resultam na hidrólise do TG armazenado e na liberação de ácidos graxos livres (AGL)
e glicerol.
Armazenamento de gorduras
Como discutido na disciplina de “Fisiologia e Fisiopatologia da Obesidade e
Emagrecimento”, a principal função do tecido adiposo consiste em armazenar os
triglicerídeos até que se tornem necessários para o suprimento de energia em outras
partes do corpo. A enzima lípase lipoprotéica é uma molécula envolvida durante este
processo, uma vez que hidrolisa os triglicerídeos dos quilomícrons na corrente sanguínea,
com a consequente liberação de AGL. Os AGL, por serem altamente permeáveis às
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Vários autores afirmam que a lípase lipoproteica tem um papel muito importante nas
recidivas da condição de obesidade, ou seja, é uma enzima-chave do retorno à condição
de obesidade após perda de peso. Existem evidências de que a atividade da enzima
lípase lipoproteica no tecido adiposo continua aumentada mesmo após redução e
posterior manutenção do peso. Mesmo em estudos que não foi observado o aumento
da atividade da enzima, ocorre um aumento da sua resposta, principalmente em dietas
ricas em gorduras (YOST; ECKEL, 1988), ou seja, para a mesma concentração de lípase
lipoproteica, a atividade enzima é maior em indivíduos com histórico de obesidade.
Desta forma, podemos destacar a importância de uma dieta após o emagrecimento com
objetivo de manutenção de peso corporal.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
11
UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Agora que você já realizou uma revisão acerca da diferente distribuição de gordura
entre homem e mulher, vamos estudar as principais diferenças no metabolismo das
gorduras para tais casos.
No que diz respeito à lipólise, como descrito anteriormente, a atividade lipolítica está
diretamente relacionada com o tamanho dos adipócitos. Entre gêneros, diferenças no
tamanho dos adipócitos são observadas, as mulheres apresentam adipócitos maiores
na região glútea e os homens na região visceral. Apesar disso, homens e mulheres com
tamanhos de adipócitos parecidos no tecido adiposo da extremidade inferior do corpo e
subcutâneo abdominal apresentam taxas de lipólise semelhantes. Entretanto, os adipócitos
abdominais subcutâneos apresentam maiores taxas lipolíticas que adipócitos viscerais de
igual tamanho. Apesar de existirem diferenças regionais da taxa e lipólise, estas diferenças
não parecem contribuir para as diferenças observadas na distribuição de gordura entre
os gêneros. Além disso, Arner (1988) demonstrou que não existem diferenças regionais
na supressão da lipólise em indivíduos obesos. Assim, a maior propensão da mulher em
armazenar gordura ainda parece ser o fator que mais contribui para as diferenças entre os
gêneros.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
Estado basal
Liberação sistêmica de AGL (por kg massa magra) homens = mulheres*
*Dados não consistentes ou que ainda necessitam de confirmação. AGL, ácido graxo livre. Adaptado de Blaak (2001).
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
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CAPÍTULO 2
Metabolismo dos Carboidratos
Estudos clínicos relatam que o alto consumo de alimentos ricos em lipídios saturados
e carboidratos, dieta equívoca e habitualmente realizada por obesos, contribui para
o desenvolvimento da intolerância à glicose e da resistência à insulina (WOLEVER,
2000). A figura 1 representa um esquema básico do mecanismo de resistência à insulina
e intolerância à glicose. Como podemos observar através da figura, a ingestão alimentar
com alto teor de ácidos graxos livres provoca aumento do tecido adiposo, que por sua
vez libera adipocinas e citocinas pró-inflamatórias que contribuem para a resistência à
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Figura 1. Resistência à insulina e intolerância à glicose através da ingestão de comida derivada de ácidos graxos
livres.
Curiosidades
O estudo da ingestão hiperlipídica vem recebendo muita atenção, especialmente
quanto às alterações na ação da insulina. Já foram observadas tais alterações
em ratos que permanecem consumindo ração hiperlipídica por 7 dias, 10 dias, 3
semanas, 4 semanas e 32 semanas.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
A maior relação entre lipídios do tipo w-6 e w-3 ingeridos na dieta provoca maior
insulinemia de jejum. Nesse sentido, os lipídios polinsaturados do tipo w-3
apresentam um efeito protetor (DEL PRETE; LUTZ et al., 2000).
São inúmeros os estudos que tentam identificar as causas das alterações na captação de
glicose em indivíduos obesos, em função da alimentação hiperlipídica. Entre as causas
da resistência à insulina, discutiremos aquelas cuja modelação do funcionamento
adequado desse hormônio em indivíduos obesos é permitida pela intervenção
nutricional e de exercício físico.
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Figura 2. Via de sinalização da insulina na captação de glicose e principais fatores para as alterações na
captação da glicose: saturação da membrana celular fosfolipídica (A) e diminuição da translocação do GLUT-4
para a membrana (B). GLUT-4, proteína transportadora de glicose; IR, receptor de insulina.
Glicotoxicidade
A hiperglicemia crônica pode levar a várias alterações como a redução dos transportadores
de glicose localizados no pâncreas e fígado (GLUT-2), redução da quantidade de
transportadores GLUT-4 nos tecidos musculares esqueléticos ou mesmo da capacidade
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
de cada transportador carrear glicose. Além disso, pode ocorrer glicação (processo de
soma entre uma proteína e a glicose) de algumas proteínas ou enzimas envolvidas no
metabolismo da glicose, principalmente a glicoquinase. Esta enzima age como “sensor
de glicose” nas células β, ou seja, de capital importância para o metabolismo da glicose.
Lipotoxicidade
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
20
DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
Definição de conceitos
VO2max: capacidade máxima que um indivíduo apresenta de captar, transportar e
metabolizar oxigênio para a biossíntese oxidativa de ATP.
Endurance: exercício físico realizado por um longo período de tempo. Pode ser
classificado como exercício aeróbio.
Apesar da controvérsia acerca do tema, como podemos observar são muitos os estudos
que evidenciam diferenças no metabolismo dos carboidratos, principalmente da
utilização de glicose durante o exercício físico.
Os GLUT-4 também merecem uma atenção especial no que diz respeito às diferenças
no metabolismo dos carboidratos. Apesar de o número total de GLUT-4 não se alterar,
a ovariectomia (modelo experimental em animais que remove os ovários) resulta na
diminuição da captação de glicose pelo músculo esquelético. Estes resultados podem
sugerir que existem diferenças entre os sexos na translocação dos GLUT-4, afetando a
captação de glicose e com isso o metabolismo dos carboidratos.
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
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CAPITULO 3
Integração do Metabolismo
dos Lipídios e dos Carboidratos
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Revendo conceitos
A gordura originária da dieta é composta por gorduras saturadas, monoinsaturadas
e polinsaturadas. As gorduras saturadas apresentam-se no estado sólido a
temperaturas fisiológicas enquanto as mono e polinsaturadas estão no estado
líquido.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
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UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Desta forma, entender o mecanismo de controle da SCD poderá ser um importante fator
para a manipulação da obesidade. Os baixos níveis de ácidos graxos polinsaturados na
dieta, associados à inibição da lipogênese é resultado da modulação da expressão do
gene da SCD (NTAMBI, 1999). Além disso, vários estudos demonstraram que ratos
com a atividade da SCD interrompida apresentavam reduções na gordura corporal,
aumento da sensibilidade à insulina e eram resistentes a dietas com o objetivo de
ganho de peso. Contrariamente, também foi demonstrado que a atividade da enzima
SCD é elevada em animais obesos, fundamentando a hipótese de que a SCD tem um
papel fundamental na síntese de triglicerídeos (JONES; MAHER et al., 1996). Desta
forma, níveis reduzidos de SCD devem não só reduzir a quantidade de triglicerídeos
produzidos, mas apresentam também um potencial para a produção de triglicerídeos
enriquecidos com ácidos graxos saturados que podem solidificar na corrente sanguínea.
A insulina, além do papel bem definido de controle dos níveis de glicose sanguínea e de
redução de lipídios no sangue por meio de sua ação sobre a lipase lipoproteica, também
apresenta um papel importante na manutenção e síntese da enzima SDC. Em obesos,
também já foi descrito que a insulina apresenta relação com o aumento da atividade da
SCD, associada à resistência à insulina (MEDEIROS; LIU et al., 1995).
Os outros fatores que influenciam a atividade ou mesmo expressão da enzima SCD serão
discutidos na Unidade 2, reservada para estudar as alterações hormonais na obesidade.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
rapidamente, mas também reduzem a taxa de oxidação das gorduras. Isto se deve à
inibição da enzima carnitina-palmitoiltransferase (CPT-1) através do malonil-CoA.
A CPT-1 catalisa a interação de acil-CoAs de longa cadeia com a carnitina, levando à
oxidação dos ácidos graxos. Níveis elevados de malonil-CoA resultam da indução da
acetil-CoAcarboxilase (ACC) através de fatores lipogénicos como os açucares simples.
Consequentemente, a inibição da CPT-1 faz com que o fluxo de gorduras acil-CoAs seja
para a síntese de novos triglicerídeos, em vez da sua oxidação (MCGARRY, 2002).
A obesidade e o papel central da enzima SCD pode ser explicada em três diferentes
cenários de dieta que excedem as calorias necessárias para indivíduos saudáveis. A
obesidade será a consequência do balanço positivo de ingestão calórica em relação ao
gasto energético, por um longo período de tempo.
Este tipo de dieta resulta em elevadas taxas de lipogênese de novo. Esta seria provocada
por uma elevação de enzimas lipogênicas, principalmente a SCD, por meio dos níveis
aumentados de insulina. Como consequência a longo período, ocorre a regulação
ascendente da enzima SCD, que, em combinação com elevados níveis da atividade
27
UNIDADE I │ DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO
Este tópico confirma que, no que se refere à obesidade, a relação entre carboidratos e
lipídios não pode ser explicada por uma hipótese unificadora. Tem de ser considerada
em termos das necessidades fisiológicas do consumidor, da composição da dieta e se o
consumo calórico atende ou não à necessidade diária – sendo este último um fator que
contribui para obesidade humana. Controlar a quantidade de lipídios armazenados,
sejam eles derivados da dieta ou da de novo lipogênese, é a preocupação principal.
Um fator crítico para alcançar este controle é obter o correto equilíbrio entre o tipo
de gordura, tipo de carboidrato e a carga calórica total. Postula-se que o controle da
lipogênese no fígado é realizado através das enzimas SCD e ACC em conjunção com
fatores de transcrição, mantendo um balanço entre a síntese e a oxidação, enquanto no
tecido adiposo a composição dos ácidos graxos dos TG é controlada pelas enzimas SCD
e lípase lipoprotéica, entre outros fatores de transcrição.
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DETERMINANTES DA OBESIDADE NO METABOLISMO│ UNIDADE I
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ALTERAÇÕES
HORMONAIS UNIDADE II
NA OBESIDADE
CAPÍTULO 1
O Papel da Leptina e da Grelina
no Controle da Ingestão Alimentar
Leptina
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ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
31
UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
que outros fatores, além da adiposidade tecidual, estão envolvidos na regulação de sua
produção (SANDOVAL; DAVIS, 2003).
32
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
Figura 4.Ciclo vicioso da resistência à leptina em indivíduo obeso. A resistência à leptina se deve ao ineficiente
transporte na barreira hemato-encefálica (A) e alterações nos receptores de leptina, impedindo a produção e
Grelina
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UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
Estudos em modelos animais indicam que esse hormônio desempenha importante papel
na sinalização dos centros hipotalâmicos que regulam a ingestão alimentar e o balanço
energético (Nakazato; Murakami et al., 2001). Recentes estudos com roedores sugerem
que a grelina, administrada perifericamente ou centralmente, independentemente do
GH, diminui a oxidação das gorduras e aumenta a ingestão alimentar e a adiposidade.
Assim, esse hormônio parece estar envolvido no estímulo para iniciar uma refeição.
Sabe-se ainda que os níveis de grelina são influenciados por mudanças agudas e
crônicas no estado nutricional, encontrando-se elevados em estado de anorexia nervosa
e reduzidos na obesidade.
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ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
Estes dois hormônios descritos acima apresentam ação integrada no controle da ingestão
alimentar, como podemos observar na figura 5. O alvo principal dos hormônios leptina
e grelina é o núcleo arqueado, localizado no hipotálamo. A grelina é um sinal periférico
orexígeno (estimulador do apetite) secretado pelo estômago, enquanto a leptina é um
sinal periférico anorexígeno (inibidor do apetite) secretado pelo tecido adiposo. No
núcleo arqueado, a grelina se liga ao receptor GHS-R e estimula os neurônios para o
aumento da expressão do neuropeptídio Y (NPY) e da proteína relacionada à agouti
(AgRP), enquanto a leptina os inibe. A liberação de NPY, em resposta ao estímulo da
grelina, estimula o apetite e o ganho de peso. Os efeitos da leptina são opostos aos
da grelina, ou seja, a leptina ao se ligar aos receptores Ob-R diminui a liberação de
NPY, suprimindo o apetite e ganho de peso. Deste modo, a regulação do apetite no
hipotálamo é controlada por meio da via de sinalização do NPY.
Todas essas vias serão aprofundadas durante a apresentação da Unidade III. Por agora,
é descrito o mecanismo de ação mais simples para cada hormônio, necessário para
entender de forma global o controle da ingestão alimentar por meio dos hormônios
descritos acima. À medida que vamos avançando na matéria, todas estas vias serão
aprofundadas. Passo a passo, chegaremos ao final da disciplina com o entendimento de
uma lista de hormônios no controle da ingestão alimentar.
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UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
Figura 5. Controle do apetite através da leptina e grelina.NPY, neuropeptídio Y; AgRP, proteína relacionada à
Uma a duas horas antes de uma refeição ocorre a elevação da grelina, que funciona
como um indicador para se iniciar uma refeição. A grelina também se eleva nas
situações de balanço energético negativo, fazendo parte dos sistemas de curto e longo
prazo de regulação do peso corporal. Este hormônio estimula os neurônios NPY/AgRP,
levando ao aumento da ingestão alimentar. Outros neurônios secundários do SNC,
com propriedades anabólicas, são ativados e levam ao aumento da ingestão alimentar
a longo prazo.
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CAPÍTULO 2
Os Hormônios da Adiposidade
Sinais de adiposidade
Os sinais de adiposidade estão relacionados com a quantidade de gordura que o corpo
carrega e mantém. Pelo menos dois hormônios atendem aos critérios de enviar sinais
de adiposidade ao cérebro: insulina e leptina. Como esses dois hormônios já foram
estudados durante esta disciplina, chegou a hora de realizar uma breve revisão acerca
deles. Esta revisão torna-se fundamental devido à importância destes dois hormônios
no metabolismo do tecido adiposo.
37
UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
Para uma revisão mais aprofundada, favor voltar aos capítulos 2 e 4 deste
Caderno de Estudos e Pesquisa.
Como estas substâncias são hormônios, qualquer tecido com receptores específicos para
a insulina e/ou leptina receberá informação da quantidade total de gordura corporal.
Assim, a insulina e a leptina partilham várias características que lhes permitem ser
classificadas como hormônios de sinalização de adiposidade. Ambos atravessam a
barreira hemato-encefálica e chegam ao cérebro através das células capilares endoteliais.
Os receptores para a insulina e a leptina estão localizados em neurônios do hipotálamo
e mesmo em outros locais do cérebro, incluindo as principais populações de neurônios
no núcleo arqueado hipotalâmico que sintetizam pró-ópio-melanocortina (neurônios
do POMC) e neuropeptídio Y e proteína relacionada à agouti (neurônios do NPY/
AgRP). Os neurônios do POMC e do NPY/AgRP no núcleo arqueado são considerados
controladores muito importantes da ingestão alimentar e do peso corporal.
38
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
Figura 6. Modelo mostrando como uma mudança na adiposidade corporal está associada a alterações na
ingestão alimentar. A leptina e a insulina são sinais de adiposidade, secretados em proporção à quantidade de
gordura corporal, que agem no hipotálamo para estimular as vias catabólicas, enquanto inibem as anabólicas.
Estas vias apresentam efeitos opostos no equilíbrio energético, que por sua vez determinam a quantidade de
Cada hormônio interage com seu respetivo receptor, iniciando uma cascata de eventos
intracelulares, representadas pelas setas tracejadas. Estudos indicam que existe
convergência na cascata de eventos destes dois hormônios de adiposidade, com o
objetivo de diminuir a ingestão alimentar.
Figura 7. Ação dos hormônios leptina e insulina nas diferentes populações de neurônios do núcleo arqueado no
A resistina, outro hormônio secretado pelas células do tecido adiposo, age nos miócitos
do músculo esquelético, células hepáticas e adipócitas. Contrariamente à adiponectina,
altas concentrações de resistina (diretamente proporcional ao tamanho de gordura
corporal) diminuem a sensibilidade à insulina, podendo levar ao desenvolvimento de
40
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
Figura 8. Hormônios da adiposidade e suas vias no controle da ingestão alimentar. NPY, neuropeptídeo Y;
AgRP, proteína relaciona a agouti; POMC, pró-ópio-melanocortina; SNC, Sistema Nervoso Central.
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CAPÍTULO 3
Os Hormônios da Saciedade
Fica claro que o aumento da concentração dos hormônios peptídeos secretados no trato
GI induzem a redução no tamanho de uma refeição. No entanto, existe uma exceção
que é o hormônio grelina. A concentração de grelina está aumentada antes de uma
refeição ou mesmo após uma rápida refeição (CUMMINGS; PURNELL et al., 2001). Sua
administração exógena causa aumento do tamanho da refeição.
Como se pode observar na tabela 3, com exceção do hormônio peptídeo grelina, todos
os outros agem no cérebro para a diminuição da ingestão alimentar, provocando um
efeito de saciedade.
42
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
Colecistocinina
A colecistocinina (CCK) é o peptídeo do trato GI mais estudado no controle da ingestão
alimentar. Quando alimentos que contêm gorduras ou proteínas são consumidos e
entram no duodeno, a CCK é secretada das células I do epitélio do intestino delgado para
a corrente sanguínea. Uma vez na corrente sanguínea, a CCK tem influências hormonais
na motilidade intestinal, contração da vesícula biliar, secreção das enzimas pancreáticas,
esvaziamento gástrico e secreção de ácido gástrico (RAYBOULD, 2007). Entretanto, a
CCK também se difunde localmente, realizando um estímulo parácrino dos receptores
CCK-1 dos nervos vagais sensoriais. Através deste mecanismo, uma mensagem (que foram
processadas gorduras e proteínas e que brevemente serão absorvidas) é transmitida ao
tronco cerebral (núcleo do trato solitário) e retransmitida ao hipotálamo, onde está
integrada a informação sobre a homeostase energética (BERTHOUD, 2007).
43
UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
outras regiões do cérebro(Gourch, Oroscoet al., 1990). Assim, sugere-se uma relação
negativa entre o NPY e CCK, o que não é surpresa devido às suas funções opostas no
controle da alimentação. Interessantemente, tanto a leptina como a insulina (sinais de
adiposidade) aumentam os efeitos da CCK, principalmente potencializando a ativação
dos neurônios do NTS através da CCK.
Uma população de neurônios que sintetizam GLP-1 está localizada em vias neurais
do cérebro e se projetam para as áreas hipotalâmicas importantes no controle da
homeostase energética. A administração central de GLP-1 reduz a ingestão de comida
através de pelo menos dois mecanismos. Os GLP-1r no hipotálamo reduzem a ingestão
atuando em circuitos de homeostasia calórica, enquanto os GLP-1r localizados na
amídala cerebelosa reduzem a ingestão de comida através do desenvolvimento de
sintomas de stress e mal-estar.
44
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
NAUCK, 2006). Desta forma, os GLP-1r presentes nas ilhotas do pâncreas apresentam
um papel sinalizador na regulação da glicemia por meio da liberação de insulina e inibição
do glucagon. Devido à importância do GLP-1 no controle da glicemia, este peptídeo
tem sido alvo de inúmeros estudos em diabéticos do tipo II, em que a sensibilidade da
insulina está alterada.
Apresenta alta sensibilidade aos receptores Y2 do NPY. Deste modo, o PYY reduz a
atividade dos neurônios do NPY, que, por sua vez, remove a ação inibitória que
normalmente suprime os neurônios anorexígenos da POMC, inibindo a ingestão
alimentar. Existem evidências de que a influência do PYY na ingestão alimentar se
dá através da interação com os receptores Y2 no núcleo arqueado porque ele passa
livremente através da barreira hemato-encefálica. Mais informações acerca dos
receptores Y2 serão estudadas na Unidade III.
Assim como a CCK e o GLP-1, o PYY inibe a ingestão alimentar transitoriamente, com
duração de apenas 3-4 horas após a sua administração (CHALLIS; PINNOCK et al.,
2003). No entanto, contrariamente à CCK, a inibição da ingestão alimentar através
do PYY é realizada diretamente em neurônios hipotalâmicos que expressam POMC,
principalmente neurônios do núcleo arqueado. Também é um hormônio associado
à motilidade do trato GI, sendo considerado um componente do mecanismo de
retardamento do trânsito intestinal e esvaziamento gástrico. A simples presença de
nutrientes na região do íleo é um fator para a secreção do PYY, que parece ter particular
estimulação através da presença de lipídios.
45
UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
SNC, sistema nervoso central; CCK, colecistocinina; GLP-1, peptídeo semelhante ao glucagon-1; PYY3-36,
46
CAPÍTULO 4
Distorção dos Sinais da
Saciedade Gástrica na Obesidade
Como descrito anteriormente, exceto o PYY, que apresenta redução na obesidade, não
existem evidências claras de diferenças nos hormônios da saciedade entre sujeitos
normais e obesos que possam explicar a alta ingestão alimentar como componente
da obesidade. Os níveis mais baixos de grelina poderiam sugerir mesmo a redução
do apetite em obesos. No entanto, não podemos esquecer que na maioria das vezes
indivíduos obesos têm maior capacidade gástrica que pessoas normais. Desta forma,
um estômago com maior capacidade pode exigir maiores refeições para gerar sinais de
saciedade, incluindo a liberação de peptídeos do trato GI relacionados com a saciedade.
Outras evidências da importância da capacidade gástrica é a observação de que redução
cirúrgica do estômago reduz o tamanho de uma refeição e induz uma acentuada redução
de peso (BROLIN, 1992). Redução cirúrgica na capacidade do estômago também pode
atenuar a compulsão alimentar, confirmando que um estômago com maior capacidade
ajuda na manutenção da desordem da compulsão alimentar. Além disso, a redução não
cirúrgica da capacidade gástrica por pressão externa no abdômen ou mesmo por um
balão gástrico também reduz o tamanho da refeição, especialmente a curto prazo.
47
UNIDADE II │ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE
Como referido anteriormente, a grelina parece ser o único hormônio da saciedade que
apresenta concentrações diferentes em jejum entre indivíduos obesos e normais. Como
observado na figura 10A, na obesidade sua concentração está diminuída. Como esperado,
sua concentração diminui após uma refeição, mas decresce em concentrações inferiores
em indivíduos obesos (figura 10B). A concentração de jejum inferior sugere uma
regulação descendente da grelina em indivíduos obesos. Mesmo após 30 minutos de uma
refeição, a concentração de grelina também é inversamente proporcional a capacidade
gástrica, sendo que indivíduos com maior capacidade gástrica (obesos) apresentam
menores diminuições na concentração de grelina. Se entendermos que a diminuição da
concentração de grelina é por si só um sinal de saciedade, a pequena diminuição após
uma refeição pode contribuir para a compulsão alimentar em indivíduos obesos. Além
das modificações na concentração de grelina, indivíduos obesos apresentam maior
capacidade gástrica, como observado na figura 10C. Todo este mecanismo reflete-se em
um padrão anormal da grelina em indivíduos obesos e com compulsão alimentar.
Figura 10. Concentração de grelina em jejum, diminuição da sua concentração após refeição e capacidade
Outro peptídeo importante que pode contribuir para a obesidade é o hormônio GLP-1.
O aumento da concentração de GLP-1 no plasma após uma refeição está atenuada em
sujeitos obesos (RANGANATH; NORRIS et al., 1999). Como demonstrado na figura 11,
como o GLP-1 inibe fortemente o esvaziamento gástrico em cerca de 50% após 3 horas
da refeição, a baixa concentração em obesos pode levar a uma refeição precoce. Pode-se
observar através da figura que a administração de GLP-1 é capaz de inibir o esvaziamento
gástrico em até 180 minutos, o que não acontece com a administração de uma solução
placebo, ou seja, indivíduos obesos, devido à baixa concentração de GLP-1 no sangue,
comem mais frequentemente.
48
ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE│ UNIDADE II
49
CONTROLE
DA INGESTÃO
ALIMENTAR UNIDADE III
PELO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL
Desta forma, a Unidade III procura fazer a integração das vias periféricas com as
vias centrais do controle da ingestão alimentar, com foco principal para os distúrbios
no desenvolvimento da obesidade. Muitos conceitos também já foram abordados
principalmente na Unidade II, no entanto, se fazem necessários para a integração de
todas as vias.
50
CAPÍTULO 1
Integração dos Sinais Periféricos
no Sistema Nervoso Central
51
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Assim, uma importante questão diz respeito a como e porque o peso corporal aumenta
em determinados indivíduos, mesmo na presença de um sistema regulatório que deveria
prevenir os desvios em uma base crônica. Enquanto não existem respostas fáceis para esta
questão, a solução pode estar em um equívoco comum sobre o peso corporal. Note-se que
referimo-nos a peso corporal como sinônimo de adiposidade corporal (ex.: assumimos
que alteração no peso corporal reflete uma subjacente alteração da gordura corporal, e
que a gordura corporal é a variável regulada). O equívoco é que existe um ponto comum
de ajuste para o peso corporal, determinado geneticamente, como a quantidade ideal
de peso corporal que cada indivíduo pode carregar, e que desvios desse peso ideal são
detectados e desencadeiam reflexos de compensação através do sistema de regulação,
restabelecendo o peso ideal sempre que possível (KEESEY; HIRVONEN, 1997). No
entanto, acredita-se que, ao invés de existir um ponto de ajuste, existe uma faixa de
peso corporal que um indivíduo está disposto a aceitar e defender (WIRTSHAFTER;
DAVIS, 1977). Os limites inferiores e superiores são provavelmente determinados
geneticamente e sob controle independente. O peso real de um indivíduo estará dentro
dos limites do sistema regulatório, com interferência de fatores regulatórios, que ainda
são desconhecidos. Por exemplo, um indivíduo que vive estresse crônico, ou se exercita
regularmente, tende a defender um menor peso corporal. Inversamente, um indivíduo
com facilidade de obter alimentos altamente palatáveis tende a defender um maior
peso corporal. Olhando por este prisma, a epidemia da obesidade pode ser considerada
como uma resposta adequada por parte de um tipo de população em um ambiente com
maior acesso e disponibilidade de comidas palatáveis e de grande densidade energética.
Neste cenário, o sistema de regulação da ingestão alimentar funciona adequadamente,
sendo o ambiente o que está alterando.
52
CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL│ UNIDADE III
O núcleo arqueado parece ter uma importância central para o fluxo de sinais
periféricos, mediando informações de armazenamento e necessidades metabólicas.
No núcleo arqueado existem dois tipos de populações de células que apresentam
papel importante na ingestão alimentar. Uma dessas populações de células
contém NPY, que é um poderoso estimulador do comportamento alimentar em
animais (CHAMORRO; DELLA-ZUANA et al., 2002), enquanto a outra população
de células contém pro-ópio-melanocortina (POMC). Este pró-hormônio, sob a
ação das pró-hormônio convertases, dá origem a peptídeos bioativos, incluindo a
α-melanocortina (α-MSH). Por sua vez, a α-MSH inibe a ação de comer atuando
em receptores de melanocortina (WIKBERG; MUCENIECE et al., 2000).
53
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Figura 12. Ilustração esquemática dos sinais periféricos e centrais da regulação da ingestão alimentar. POMC,
pró-ópio-melanocortina; a-MSH, a-melanocortina; NPY, neuropeptídio Y; AgRP, proteína relacionada à agouti; PPY,
54
CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL│ UNIDADE III
Esta figura é de suma importância, uma vez que engloba todas as vias de regulação da
homeostase energética, dando uma ideia de atuação em conjunto e integração dos sinais
55
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
periféricos com os sinais centrais. Também é uma figura que completa a figura 12, que
foi descrita anteriormente de forma mais simplista.
Observe com atenção a figura 13. Como todos os hormônios já foram discutidos
em capítulos anteriores, já está habilitado para construir um quadro com o
nome dos hormônios, origem da sua secreção, tipo de sinal, vias, estruturas-alvo
no SNC e sua atuação.
Figura 13. Modelo dos diferentes níveis do controle da homeostase energética. POMC, pró-ópio-melanocortina;
NPY, neuropeptídio Y; AgRP, proteína relacionada à agouti; PPY, peptídeo tirosina tirosina; CCK, colecistocinina; GLP-
1, peptídeo semelhante ao glucagon-1; NPV, núcleo paraventricular; AHL, área hipotalâmica lateral; NTS, núcleo
do trato solitário; SNC, sistema nervoso central; ARC, núcleo arqueado; GI, gastrointestinal.
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CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL│ UNIDADE III
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UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
58
CAPÍTULO 2
Integração dos Circuitos Centrais
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UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Outro aspecto importante das áreas próximas ao ARC e ao hipotálamo é o fato de que
receptores para muitos sinais de saciedade estão expressos nessas regiões (ex.: grelina
circulante interage diretamente com os neurônios do ARC, que também são sensíveis
a alterações da CCK e GLP-1). Além disso, como muitos peptídeos são sintetizados no
cérebro, a origem das moléculas que alteram a atividade do ARC pode não ser diretamente
do plasma, como ocorre com a insulina, a leptina e a grelina. Existem evidências de que
numerosos circuitos de áreas da saciedade do tronco cerebral se projetam para o ARC,
contribuindo para a síntese de muitos outros neuropeptídios (BERTHOUD, 2002).
Finalmente, os neurônios do ARC são também sensíveis a concentrações locais de
nutrientes, incluindo a glicose, alguns ácidos graxos de cadeia longa e aminoácidos.
Figura 14. Ilustração das duas populações de neurônios do núcleo arqueado mais importantes na regulação da
homeostase energética. ARC, núcleo arqueado; CCK, colecistocinina; Ghr, grelina; PYY, peptídeo tirosina tirosina;
60
CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL│ UNIDADE III
Portanto, o ARC está localizado numa área sensível a ampla variedade de sinais
importantes na regulação energética (WOODS; SEELEY et al., 2008). É diretamente
sensível a hormônios cuja secreção é proporcional à gordura corporal (insulina e
leptina), recebe informações constantes das refeições ingeridas e é sensível a níveis
locais de nutrientes. Ao mesmo tempo, numerosos circuitos neurais interconectam
o ARC e outras áreas hipotalâmicas com o NTS, permitindo que a rede hipotalâmica
receba constantes informações da atividade do trato GI enquanto, ao mesmo tempo,
é influenciada por áreas autonômicas do tronco cerebral que se projetam ao trato
GI, fígado, pâncreas e outros tecidos (SCHWARTZ, 2006). O núcleo ARC pode ser
considerado como uma área aferente chave na regulação da homeostase energética.
Embora os neurônios do núcleo ARC se projetem por todo o cérebro, duas áreas
vizinhas são especialmente importantes. O núcleo paraventricular (NPV) expressa
igualmente receptores MC3R/MC4R e receptores do tipo Y, sendo que os neurônios
do NPV sintetizam e secretam neuropeptídios que têm uma ação catabólica, incluindo
a CRH e o ocitocina. A administração exógena de CRH ou de ocitocina no cérebro
reduz a ingestão alimentar. Portanto, existe um circuito catabólico em que o aumento
da gordura corporal está associada ao aumento da insulina e da leptina, aumento do
neurotransmissor α-MSH, e diminuição da atividade do NPY e AgRP, com consequente
aumento da atividade da CRH, ocitocina e outros sinais catabólicos. Todos estes
mecanismos levam à redução da ingestão alimentar e aumento do gasto energético.
A área lateral hipotalâmica (ALH) tem um perfil contrastante do NPV. Também recebe
estímulos diretos do núcleo ARC, mas contém neurônios que sintetizam e secretam
peptídeos anabólicos, incluindo o hormônio concentrador de melanina e orexinas. A
administração de agonistas do hormônio concentrador de melanina ou de orexinas
aumenta a ingestão alimentar e o ganho de peso (SWEET; LEVINE et al., 1999; NAHON,
2006). A arquitetura e o funcionamento desses circuitos opostos no hipotálamo
61
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
permitem o rápido e fino ajuste sobre a homeostase energética, uma vez que o cérebro
pode simultaneamente ativar um sistema (catabólico ou anabólico) enquanto inibe o
outro.
Figura 15. Neurônios de primeira e segunda ordem no controle da homeostase energética. Exemplo da ação da
62
CAPÍTULO 3
Causas Centrais Da Obesidade
Este capítulo foi baseado no artigo escrito pelo pesquisador Friedman e publicado na
revista Nature: FRIEDMAN, J. M. Obesity: causes and control of excess body fat. Nature,
v. 459, n. 7245, maio 2009, pp. 340-2.
63
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
64
CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL│ UNIDADE III
65
UNIDADE III │CONTROLE DA INGESTÃO ALIMENTAR PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
físicos e tente perder o maior peso possível para melhorar sua saúde, sem se sentir
obrigado a “normalizar” o seu peso.
Está claro que uma abordagem simples e reducionista para a obesidade não
explica toda a sua complexidade. O controle homeostático da ingestão alimentar
não ocorre em um vácuo. O estímulo para comer ou parar de comer não se limita
a sinais biológicos provenientes do tecido adiposo, mas incorpora influências
neurais e hormonais pós-prandiais, além do impacto de estímulos hedônicos,
situacionais e de estresse.
Um objetivo crucial é entender o caminho por onde estes diversos inputs levam
a uma resposta comportamental – alimentação. Ainda não está completamente
definido como esta complexa informação é representada nos centros cerebrais
que controlam a ingestão alimentar, ou mesmo onde são exatamente esses
centros. Respostas a estas questões podem eventualmente revelar como e porque,
em nível neurobiológico, o desejo consciente de perder peso é tão dominado pelo
gesto básico de comer. Outro objetivo fundamental é identificar todas as variações
genéticas que contribuem para diferenças no peso corporal.
66
PARA (NÃO) FINALIZAR
Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) apresenta-se hiper-responsivo nos
indivíduos obesos. Observa-se resposta aumentada do cortisol a estímulo com o
hormônio adreno-corticotrófico (ACTH), CRH e refeição mista. Há maior frequência
na liberação dos pulsos de ACTH, com menor amplitude de pulso, mas o nível basal é
normal.
Existem diversas evidências na literatura de que há uma maior ativação do eixo HHA
em pacientes obesos, particularmente naqueles com distribuição central de gordura.
Pasquali et al. demonstraram que mulheres com obesidade central apresentaram um
aumento significativo de cortisol e ACTH após estímulo com CRH em relação a não
obesas ou mulheres com obesidade periférica. Há maior frequência na liberação dos
pulsos de ACTH, com menor amplitude de pulso, mas o nível basal é normal. Não é
conhecido se esta alteração influencia a liberação de cortisol pelas glândulas adrenais.
67
PARA (NÃO) FINALIZAR
68
PARA (NÃO) FINALIZAR
Eixo hipotálamo-hipófise-gonadal
Puberdade
69
PARA (NÃO) FINALIZAR
A leptina pode ter uma ação direta na regulação do hormônio liberador das
gonadotrofinas (GnRH), sendo evidências a favor da presença de receptores no
hipotálamo e da capacidade da leptina de estimular liberação de GnRH em extratos
hipotalâmicos in vitro.
Gonadotrofinas
Esteroides sexuais
Assim como acontece com o cortisol, o aumento da produção adrenal pode ser
uma compensação para um clearance aumentado. Os 17-cetoesteróides urinários
70
PARA (NÃO) FINALIZAR
O nível baixo de SHBG amplifica mais a ação estrogênica do que a androgênica. Isto
decorre da menor afinidade da SHBG pelo estradiol e pela maior biotividade molar do
estradiol (pg/ml) em relação à testosterona (ng/ml). Em mulheres após a menopausa,
os níveis de estrona e estradiol apresentam correlação com o grau de obesidade.
71
PARA (NÃO) FINALIZAR
A leptina também pode ter efeito modulatório na pulsatilidade do GnRH. O nível mais
elevado de leptina em mulheres obesas com SOP está inversamente correlacionado
com o nível basal de LH.
Uma perda de peso modesta (2–7%) com modificações de estilo de vida promove redução
do nível de andrógenos e melhora função ovulatória. Vários estudos com metformina
1,5 a 2 g/dia demonstram diminuição da insulinemia, aumento da sensibilidade a
insulina e da SHBG, redução do nível de andrógenos e LH. Os efeitos ocorrem mesmo
em obesos que não perderam peso e em magros.
Eixo somatotrófico
A leptina pode ser um dos fatores hipotalâmicos implicados nas alterações. Em animais,
tem efeito inibitório na secreção de GH através de efeitos no GHRH e neuropeptídioY
no hipotálamo. Elevações agudas ou crônicas nos níveis de AGL ocasionam inibição
72
PARA (NÃO) FINALIZAR
Não parece haver déficit funcional de GH nos obesos, já que o nível de IGF1 é normal.
Há evidências de maior sensibilidade da ação do GH, tais como maior nível de GHBPs
(e consequentemente de receptores de GH) e o achado de que administração de baixas
doses de rhGH tem efeito estimulatório na produção de IGF1 maior em obesos do que em
indivíduos de peso normal. Além disso, a redução do peso após cirurgia bariátrica acarreta
elevação marcante de parâmetros do perfil de secreção de 24 horas de GH (ritmo) em
obesas grau III sem alteração do nível de grelina, sugerindo um papel limitado desta na
regulação fisiológica do eixo somatotrófico.
É importante lembrar que crianças obesas têm crescimento linear normal e até um
pouco acelerado em relação a crianças de peso normal, atingido altura final comparável.
Deve-se estar atento à interpretação de testes de estímulo ao GH em crianças obesas em
investigação para baixa estatura, pois a falta de resposta ao estímulo perde especificidade
para o diagnóstico de déficit de GH.
Eixo tireotrófico
73
PARA (NÃO) FINALIZAR
Pacientes com hipotireoidismo pesam, em média, 15% a 30% mais que indivíduos
eutireoidianos. Mesmo após terapia adequada, cerca de 7% ainda permanecem acima do
peso. Em estudo transversal, foi encontrada associação discreta entre hipotireoidismo
subclínico e IMC em mulheres, mas uma associação em direção oposta em homens.
Hipotireoidismo clínico ou subclínico parece não ser mais comum em obesos que
indivíduos de peso normal. Apesar disto, numa casuística de 72 indivíduos com
obesidade mórbida com indicação cirúrgica de derivação gastrojejunal, a incidência
de hipotireoidismo subclínico foi de 25%, tendo o TSH normalizado um ano após a
cirurgia em todos os indivíduos.
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