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Semiologia Aplicada

à Fisioterapia
Autores: Prof. Claudio Cazarini Júnior
Prof. Diego Galace Freitas
Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professores conteudistas: Claudio Cazarini Júnior / Diego Galace Freitas

Claudio Cazarini Júnior

Graduado em Fisioterapia pela Universidade São Judas Tadeu (2005), especialista em Fisioterapia Musculoesquelética
pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP – 2006), mestre em Ciências pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp – 2010) e doutor em Pesquisa em Cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo (FCMSCSP – 2019).

Atualmente, é fisioterapeuta do Instituto Vita e da ISCMSP e docente do curso de Fisioterapia da Universidade


Paulista (UNIP). Tem experiência na área de fisioterapia, com ênfase em ortopedia e traumatologia, atuando
principalmente na reabilitação de atletas de alto rendimento e na pesquisa sobre laserterapia de baixa intensidade e
fortalecimento muscular.

Diego Galace de Freitas

Graduado em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC‑MG – 2005), especialista
em Acupuntura pela IBRAMRP (2006), em Fisioterapia Quiropráxia pela Unaerp (2008), em Terapia Manipulativa pela
Hands‑On Seminar (2009) e em Fisioterapia Osteopática pela Faculdade de Ciências e Tecnologia Alberto Einstein
(2018). Especialista e aprimorado em Fisioterapia Musculoesquelética pela ISCMSP (2006). Doutor em Ciências da
Saúde pela FCMSCSP (2014).

Atualmente, é fisioterapeuta da ISCMSP e do Centro de Integração Postural (CIP). É coordenador do MBA em


Ortopedia, Traumatologia e Esporte no Cefai/Ibramed e da Pós‑graduação em Fisioterapia Ortopédica no Instituto
Imparare. É coordenador auxiliar e professor titular da UNIP e professor instrutor da FCMSCSP. Possui experiência na
área da fisioterapia, com ênfase em musculoesquelética.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C386s Cazarini Júnior, Claudio.


Semiologia aplicada à Fisioterapia / Claudio Cazarini Júnior,
Diego Galace Freitas. – São Paulo: Editora Sol, 2020.

220p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Semiologia. 2. Complexo articular. 3. Coluna vertebral. I.


Freitas, Diego Galace. II. Título

CDU 615.8

U504.58 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Bruna Baldez
Lucas Ricardi
Sumário
Semiologia Aplicada à Fisioterapia

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 SEMIOLOGIA DA PROPEDÊUTICA..................................................................................................................9
1.1 Introdução...................................................................................................................................................9
1.2 A arte da avaliação............................................................................................................................... 11
1.3 A avaliação............................................................................................................................................... 15
1.4 Guia............................................................................................................................................................. 19
2 COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO......................................................................................................... 21
2.1 Descrição................................................................................................................................................... 21
2.2 Exame físico............................................................................................................................................. 22
2.3 Avaliação da força muscular............................................................................................................ 29
2.4 Testes especiais....................................................................................................................................... 31

Unidade II
3 COMPLEXO ARTICULAR DO COTOVELO................................................................................................... 40
3.1 Descrição................................................................................................................................................... 40
3.2 Exame físico............................................................................................................................................. 40
3.3 Avaliação da força muscular............................................................................................................ 47
3.4 Testes especiais....................................................................................................................................... 48
4 COMPLEXO ARTICULAR DO PUNHO E DA MÃO................................................................................... 53
4.1 Descrição................................................................................................................................................... 53
4.2 Exame físico............................................................................................................................................. 53
4.3 Avaliação da força muscular............................................................................................................ 58
4.4 Testes especiais....................................................................................................................................... 63

Unidade III
5 COMPLEXO ARTICULAR DO QUADRIL...................................................................................................... 69
5.1 Descrição................................................................................................................................................... 69
5.2 Exame físico............................................................................................................................................. 72
5.3 Avaliação da força muscular............................................................................................................ 79
5.4 Testes especiais....................................................................................................................................... 81
6 COMPLEXO ARTICULAR DO JOELHO......................................................................................................... 85
6.1 Descrição................................................................................................................................................... 85
6.1.1 Exame físico............................................................................................................................................... 87
6.1.2 Avaliação da força muscular............................................................................................................... 91
6.1.3 Testes ortopédicos................................................................................................................................... 92
6.2 Complexo articular do tornozelo e pé........................................................................................101
6.2.1 Descrição...................................................................................................................................................101
6.2.2 Exame físico.............................................................................................................................................102
6.2.3 Avaliação de força muscular.............................................................................................................116

Unidade IV
7 COMPLEXO DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR................................................................128
7.1 Descrição.................................................................................................................................................128
7.2 Exame físico...........................................................................................................................................130
7.2.1 Geral............................................................................................................................................................131
7.3 Avaliação clínica..................................................................................................................................139
7.4 Testes especiais.....................................................................................................................................141
8 COLUNA VERTEBRAL.....................................................................................................................................142
8.1 Descrição geral sobre a articulação.............................................................................................142
8.2 Músculos da coluna vertebral........................................................................................................146
8.3 Cervical....................................................................................................................................................146
8.3.1 Testes de função e de força muscular.......................................................................................... 155
8.3.2 Testes especiais...................................................................................................................................... 157
8.4 Torácica...................................................................................................................................................162
8.4.1 Testes especiais...................................................................................................................................... 165
8.5 Lombar.....................................................................................................................................................168
8.5.1 Testes especiais (CHAD)...................................................................................................................... 174
8.6 Avaliação multidimensional............................................................................................................184
8.7 Avaliação postural..............................................................................................................................185
8.7.1 Definição.................................................................................................................................................. 185
8.7.2 Software para avaliação postural (Sapo).................................................................................... 193
APRESENTAÇÃO

A proposta desta disciplina é fornecer aos discentes os conhecimentos e recursos teórico‑práticos


necessários para a realização da avaliação funcional das diversas disfunções musculoesqueléticas,
quantificando‑as, qualificando‑as e descrevendo‑as, além da avaliação clínica e funcional para
um diagnóstico correto, direcionando ou redirecionando um tratamento. Também busca promover
o direcionamento do raciocínio fisioterapêutico relativo ao diagnóstico funcional, ao objetivo do
tratamento e à sua evolução.

A presente disciplina tem, portanto, os seguintes objetivos:

• Desenvolver a investigação pela anamnese detalhada do paciente e a capacidade de relacionar o


exame físico às informações obtidas do paciente e ao tratamento com a evolução.

• Desenvolver a avaliação clínica e funcional, que inclui a observação das estruturas anatômicas, da
palpação óssea e dos tecidos moles, e a avaliação por meio das mobilizações ativa e passiva, dos
testes musculares, da goniometria, da perimetria e dos testes especiais.

• Capacitar a avaliação clínica e funcional dos membros superiores e inferiores.

• Discutir as bases morfológicas, estruturais, cinesiológicas e fisiológicas envolvidas na avaliação


funcional e clínica.

INTRODUÇÃO

Para abordar a semiologia, inicialmente, aprenderemos sobre a semiologia da propedêutica,


englobando a arte da avaliação, a aliança terapêutica, a anamnese, a prática baseada em evidências,
os exames complementares, o raciocínio clínico, entre outras coisas. Ainda nessa unidade, você será
apresentado à avaliação do complexo articular do ombro.

Em seguida, vamos estudar o complexo articular do cotovelo, do punho e da mão, em que você
aprenderá sobre o exame físico, a avaliação da força muscular e os testes especiais. Na sequência,
entenderemos como realizar o exame físico, a avaliação da força muscular e os testes ortopédicos, mas,
nesse momento, relacionados ao membro inferior, tratando do complexo articular do quadril, do joelho,
do tornozelo e do pé.

Para finalizar, vamos apresentar a avaliação atrelada ao complexo da articulação temporomandibular,


a coluna vertebral, os músculos da coluna vertebral, a avaliação multidimensional da coluna e a
avaliação postural.

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SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Unidade I
Neste primeiro momento, serão estudadas a semiologia da propedêutica, as definições de sinais e
sintomas, a hipótese diagnóstica e a arte da avaliação, diferenciando a história da moléstia pregressa da
história da moléstia atual. Entenderemos como abordar dados importantes sobre os pacientes através
da anamnese e de um guia bem explicativo, de fácil entendimento.

Esta unidade também irá abordar a prática baseada em evidência, os exames complementares, os
indicadores de teste diagnósticos e o raciocínio clínico, que é muito importante para os fisioterapeutas.
Ao final, estudaremos o complexo articular do ombro, articulação que possui uma maior mobilidade e
que precisa ser muito bem entendida.

1 SEMIOLOGIA DA PROPEDÊUTICA

1.1 Introdução

Semiologia

Semiologia, em sua epistemologia, significa sèmeion, sinal, e logos, conhecimento. A semiologia é


o estudo dos sinais e sintomas de uma doença ou condição. O conhecimento desses sinais e sintomas
nos permite ter clareza sobre o que pode estar acontecendo com o paciente e, assim, tomar decisões
sóbrias quanto à identificação de doenças nas quais não temos a competência de intervir em primeiro
momento, encaminhando corretamente para o profissional adequado.

Todas as áreas da saúde utilizam de forma convergente a semiologia; a diferença entre elas são as
características de cada paciente. Cada ramo da saúde tem suas peculiaridades, como um profissional da
área de psicologia, que realiza sua avaliação voltada para aspectos psicológicos, ou um profissional da
ortopedia, que direciona a avaliação a aspectos musculoesqueléticos.

Sinal e sintoma

Sinal e sintoma são dados extraíveis do paciente durante a avaliação; diferem‑se na forma como
são extraídos. Sinal é o dado proveniente da observação do avaliador, como: edema; amplitude de
movimento e eczema. Sintoma é o dado extraído da sensação subjetiva relatada pelo paciente, como:
mal‑estar; tontura e dor. Assim, para coletar dados de sintomas, é necessário que o paciente esteja
acordado e lúcido para garantir a qualidade da informação. De modo mais intuitivo, sinal é aquilo que
o profissional da saúde vê; sintoma é aquilo que o paciente relata estar sentindo.

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Unidade I

Saiba mais

Acesse os sites a seguir para conhecer melhor o processo de identificação


dos sinais e sintomas:

https://physio-pedia.com/home/

https://www.physiotutors.com/

Hipótese diagnóstica

Ao tentar comparar, interpretar e entender as informações obtidas através dos sinais e sintomas
previamente coletados, chegaremos a possíveis conclusões do que pode estar acontecendo com o paciente.
Essas possíveis conclusões são dúvidas (hipóteses) que antecedem a confirmação (diagnóstico) de alguma
síndrome ou doença. Uma síndrome é a junção de sinais e sintomas específicos, mas não é necessariamente
uma doença. Já uma doença é definida quando sua etiologia (causa) é conhecida, possui sinais e sintomas
identificáveis e alterações biológicas consistentes. Doenças distintas podem possuir sinais e sintomas iguais,
mas fisiopatologias totalmente diferentes; por isso, consideramos síndrome como uma condição clínica.

Durante o processo de avaliação, damos ênfase a alguns sinais que podem mudar o rumo da avaliação
e, por consequência, o tratamento. A experiência do clínico de identificar sinais e sintomas durante a
avaliação o ajuda no raciocínio clínico, permitindo ter melhores conclusões em um menor tempo.

Sinais patognomônicos são sinais únicos de uma doença, não aparecendo em outras doenças;
assim, sua presença já pode deduzir um diagnóstico. Sinais prodrômicos são sinais que antecedem
uma patologia; não são manifestações da doença, mas precedem seu aparecimento, como a aura que
antecede a migrânea.

O diagnóstico é a capacidade de identificar uma enfermidade pelas suas manifestações clínicas.


No processo de avaliação, criamos hipóteses perante os novos achados, algumas confirmadas e outras
abandonadas, mostrando que o processo de avaliação é dinâmico até chegar a um diagnóstico.

O diagnóstico etiológico ocorre quando há uma enfermidade de causa conhecida. Nem toda
enfermidade possui uma causa conhecida, mas isso não quer dizer que não conseguimos ter ciência da
condição. O diagnóstico sindrômico é a constatação de sinais e sintomas pertencentes a uma síndrome
conhecida. No processo de avaliação, devemos evitar ao máximo ter conclusões erradas. Como os sinais
e sintomas podem ser convergentes com diversas síndromes ou doenças, devemos realizar o diagnóstico
diferencial, visando não a confirmação, mas a exclusão de uma síndrome de sinais e sintomas análogos.

O prognóstico é a evolução natural da doença ou, em outras palavras, é a capacidade de prever a


evolução ou as consequências de uma patologia. Com a hipótese diagnóstica bem definida, conseguimos
identificar em qual momento da enfermidade o paciente se encontra.
10
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

É possível rastrear condições que podem, quando presentes, mudar a probabilidade de aparecimento
de uma doença ou o estado de saúde. O fator de risco é uma característica que leva uma pessoa
saudável a adoecer; já o fator prognóstico é uma característica que pode fazer uma pessoa já adoecida
ter o prolongamento (tempo) ou o aumento de sintomas (severidade).

Conhecer tais fatores ajuda na prevenção e promoção da saúde de uma população. A identificação
dos fatores que mudam o estado de saúde possibilita ao clínico compreender a condição na qual o
paciente se encontra, podendo, posteriormente, indicar terapias adequadas à sua condição.

Lembrete

No primeiro contato com o paciente, é importante entender o caso e


escutar mais do que falar.

Avaliação

Um bom avaliador é aquele que possui um domínio das ferramentas de avaliação, conhece suas
limitações em relação a diferentes achados. A anamnese é a entrevista roteirizada com o paciente que
utiliza a memória dele para coletar informações importantes, as quais guiarão o avaliador nos próximos
passos da avaliação e no possível tratamento.

Em um primeiro momento, o avaliador utiliza seus próprios sentidos como ferramentas de avaliação:
a comunicação (audição), objetivando um sintoma; a visão, para identificar expressões faciais durante
o exame físico; e as suas mãos (tato), para sentir restrições de movimento de algum tecido. Os dados
coletados via ferramentas sensoriais são importantes no processo de avaliação, mas o avaliador
precisar saber que elas são limitadas e podem nos dar uma falsa interpretação da informação coletada.
Ferramentas tecnológicas permitem que o clínico amplie sua capacidade de avaliação, auxiliando‑o com
algumas métricas para alcançar maior precisão nos dados e diminuindo o viés do avaliador.

A propedêutica é o conhecimento mínimo que um avaliador necessita ter para conseguir realizar uma
avaliação minimamente coerente. Por existir uma gama de especialidades diferentes na área da saúde,
o conhecimento acerca de um determinado assunto torna‑se profundo; entretanto, menos abrangente.
Com isso, é incerto afirmar até onde vai o conhecimento mínimo. Ainda assim, a propedêutica é uma
característica comum a todas as especialidades.

1.2 A arte da avaliação

Um conhecimento claro

O avaliador é um investigador de manifestações clínicas. Ele trabalha construindo, testando e reavaliando as


hipóteses para ter discernimento em um julgamento adequado para a condição clínica. As condições de saúde
podem mudar em decorrência do tempo, exigindo que o avaliador fique em atenção constante para identificar essas
mudanças nos indicadores de saúde, adaptando, quando necessário, a avaliação e, posteriormente, o tratamento.
11
Unidade I

No processo de avaliação, sempre irá ocorrer, em algum nível, um erro na coleta de informação,
o que é normal. O erro pode acontecer na coleta, pela ferramenta ou pela interpretação dos dados,
podendo indicar um tratamento ineficaz. A ineficiência da terapia faz com que o clínico tenha que
reavaliar e tentar novamente pelo processo de tentativa e erro. Esse processo é um feedback de evolução
da terapia, mas deve ser evitado a todo custo, pois uma terapia equivocada por uma falha na avaliação
ocasiona o aumento de custos diretos e indiretos e também do sofrimento do paciente, seja por tempo
ou severidade.

Durante a avaliação, no ato de coletar os sinais e sintomas, o clínico tem dois objetivos
complementares: o primeiro é identificar a patologia instalada; e o segundo é rastrear marcadores de
saúde para usar como linha de base das limitações clínicas, permitindo a identificação de mudanças
no estado de saúde do paciente.

Para identificar se há uma melhora ou uma piora durante o curso clínico, devemos realizar
comparações. O melhor parâmetro que podemos usar de melhora é o próprio paciente. Assim, é preciso
observar achados comparáveis, que são variáveis iguais que checamos em tempos diferentes. Também
são conhecidos como linha de base.

Para um profissional da saúde ser considerado um bom avaliador, é necessário muito conhecimento,
habilidades práticas, raciocínio clínico e tempo de experiência. Um avaliador de longa data já passou por
inúmeras avaliações, e sua experiência faz com que ele tome decisões mais rápidas e mais assertivas. Isso
se dá pelo efeito da curva de aprendizagem do avaliador. Um avaliador inexperiente tem maiores chances
de cometer um equívoco durante a coleta de dados na realização de técnicas avaliativas, gerando, assim,
um raciocínio clínico limitado.

Aliança terapêutica

O paciente que procura um profissional da saúde pode estar passando por um processo de doença,
ocasionando insegurança e medo. Condições emocionais podem limitar a capacidade de relatar sintomas,
fazendo com que o avaliador não extraia um dado confiável. Estratégias que visam à aliança terapêutica
entre paciente e terapeuta auxiliam na qualidade da avaliação e da terapia.

O profissional da saúde precisa ser empático com seu paciente durante esse processo; precisa passar
confiança para o paciente inseguro a respeito de seus sintomas, não colocando‑o em situações que
aumentem o estresse. O terapeuta deve manter sua voz calma e serena, demonstrando ética e postura.
Sua comunicação deve ser clara o suficiente para que o paciente entenda, evitando jargões técnicos,
os quais dificilmente um indivíduo fora da área da saúde irá compreender. O paciente precisa ser ativo
no processo de reabilitação, tendo lugar de fala na tomada de decisão do tratamento para que se sinta
acolhido pelos profissionais da saúde.

O desconforto interfere no comportamento do paciente, e o avaliador precisa ter uma boa leitura
do mesmo, buscando sempre o acolhimento e o conforto. O avaliador precisa escutar o que o paciente
tem a dizer sem interrompê‑lo constantemente, mas também pode direcionar para onde vai a história,
sem perder o foco.
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SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

A aliança terapêutica auxilia no aumento da aderência do paciente à terapia. Pacientes mais engajados
no processo de recuperação possuem maiores chances de seguir recomendações e conseguir transmitir
um feedback mais acurado. Pacientes que aderem mais ao tratamento, que são ativos no processo de
reabilitação e que recebem um atendimento empático têm melhores resultados no seu percurso clínico.

Anamnese

O exame clínico é compreendido pela anamnese e pelo exame físico. A anamnese é o momento em que
o terapeuta irá realizar uma entrevista roteirizada, a fim de fazer com que o paciente busque na memória
fatos ocorridos que ajudam a compreender o caso, auxiliando nos passos posteriores da avaliação.

O exame físico tem como objetivo procurar padrões físicos, padrões das manifestações clínicas e
funcionalidade do corpo. No momento do exame físico, iremos testar as hipóteses diagnósticas criadas
durante a anamnese. Com o auxílio de testes clínicos, de acordo com seus resultados, iremos confirmar
ou refutar nossas hipóteses.

Medicina baseada em evidência

O modo pelo qual compreendemos a saúde é sempre amorfo. Assim como na ciência em geral, a
saúde também sofre mudanças decorrentes do tempo; técnicas são inventadas, terapias são aprimoradas e
tecnologias nos permitem ampliar nossos raciocínios. Tomadas de decisão baseadas em evidências ajudam
o clínico a realizar escolhas mais conscientes, usando testes mais acurados e tratamentos mais efetivos.

Prática baseada em evidência

A prática baseada em evidência é sustentada por três pilares lógicos: melhor evidência disponível;
aptidão do terapeuta para realizar e preferência do paciente.

Os testes clínicos a serem aplicados na avaliação devem ser aqueles que passaram por uma avaliação
de suas propriedades de medida, como acurácia de suas respostas. Isso aumenta a probabilidade de um
diagnóstico mais assertivo. Um teste clínico que não teve suas propriedades de medida avaliadas pode
gerar resultados discrepantes e incertezas no diagnóstico.

Exames complementares

Os exames complementares são, em suma, ferramentas para auxiliar o clínico na avaliação,


acrescentando informações na hora de identificar o tecido lesionado ou confirmando uma hipótese
diagnóstica. Os exames complementares podem ser desde os exames de sangue até a ressonância nuclear
magnética, cada um com sua especificidade para cada tecido ou para a funcionalidade de algum órgão.

Em algumas condições de saúde, o controle da evolução da doença ou condição é feito por meio de
exames complementares, como o uso de radiografia para o acompanhamento de fraturas. Uma fratura
pode ser tratada de forma conservadora ou cirúrgica; entretanto, independentemente do tratamento
adotado, o controle da consolidação é, na maioria das vezes, realizado pela radiografia. Desse modo, o
13
Unidade I

clínico, a partir do resultado da radiografia, pode indicar uma intervenção com mais segurança, como
exercícios com carga.

Os exames de imagens são úteis em patologias bem definidas. Em casos de patologias sem causa
conhecida, como uma dor lombar não específica, podemos cometer o erro de inferir uma causalidade
onde não existe, ao julgar qualquer coisa que fuja do padrão como a causa do problema. Em algumas
patologias dolorosas, acabamos cometendo o erro de associar um achado de imagem a um fator causal,
não levando em conta as condições clínicas do paciente. Um exame de imagem não oferece diagnóstico;
apenas complementa uma hipótese.

Indicadores de testes diagnósticos

Os trabalhos que validam testes clínicos são chamados de trabalhos de medida de acurácia e têm o
objetivo de avaliar a precisão de um teste. Trabalhos que avaliam a acurácia de testes clínicos apresentam
inúmeras métricas de resultado; as mais comumente encontradas em livros e artigos são a sensibilidade
e a especificidade.

Os testes com alta sensibilidade têm poucas chances de dar um falso‑negativo, isto é, apresentar
um resultado negativo em uma pessoa com a doença/condição. Logo, esses testes são usados para excluir
uma doença/condição (como triagem). Os testes com alta especificidade têm poucas chances de dar
um falso‑positivo, ou seja, apresentar um resultado positivo em uma pessoa sem a doença/condição.
Logo, esses testes são usados para confirmar uma patologia (diagnóstico). Valores maiores que 80% são
considerados aceitáveis para a sensibilidade e especificidade de um teste.

Raciocínio clínico

A anamnese é o momento no qual criamos possibilidades da ocorrência de patologias, ou seja,


quando criamos algumas hipóteses diagnósticas de acordo com os sinais e sintomas colhidos
inicialmente. É normal termos mais de uma hipótese para a condição do nosso paciente. Diante disso,
temos dois passos a serem realizados.

Primeiramente, devemos fazer uma triagem, excluindo algumas hipóteses para sermos mais
assertivos quanto à condição do nosso paciente. Selecionaremos, então, testes com alta sensibilidade e
excluiremos as hipóteses com as quais os testes tiveram o resultado negativo. Por fim, para confirmar
a hipótese remanescente, selecionaremos testes com alta especificidade, e a confirmação se dará pelo
resultado positivo do teste.

Algumas patologias não possuem causa específica, denominadas não específicas. A avaliação de
uma condição não específica segue uma lógica de exclusão. No caso de uma dor não específica em
qualquer região, o primeiro passo é excluir doenças graves (ou bandeiras vermelhas) como câncer,
fraturas e infecções. No passo seguinte, excluem‑se patologias específicas (patologias bem descritas e
documentadas na literatura). Assim, o diagnóstico é feito a partir da diminuição das possibilidades, e
não de um teste confirmatório. A dor lombar não específica, por exemplo, é diagnosticada quando todos
os testes clínicos são inconclusivos e não correlacionados com os sinais e sintomas apresentados.
14
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

1.3 A avaliação

Pré‑avaliação

Antes de qualquer avaliação, é sempre importante para o clínico ter acesso a um papel e uma caneta
(ou algum recurso eletrônico, como computadores ou tablets) para anotar as informações que serão
coletadas durante a anamnese. Para os clínicos mais inexperientes, uma ficha de avaliação ajuda a guiar
o caminho da avaliação.

Durante o primeiro contato, o clínico deve ter o objetivo de deixar o paciente o mais confortável
possível. Nesse momento inicial, o paciente deve contar sua história, mesmo que futuramente seja
necessário perguntar novamente. É preciso ter o cuidado de guiar o relato para que não fuja muito
do assunto. Sempre que o clínico for dirigir a palavra ao paciente, deve ser o mais empático possível,
usando palavras de fácil entendimento. A sua postura reflete confiança ao paciente; deve‑se tomar
cuidado para não ser engraçado demais e forçar uma intimidade que não foi lhe dada. Reforçar a
aliança terapêutica desde o início da terapia pode fazer com que o paciente relate informações mais
seguras sobre seu estado geral, ajudando o clínico no processo de avaliação.

O primeiro contato dever ser realizado em um local confortável para o paciente. Caso a condição
dele não lhe permita ficar sentado confortavelmente, é necessário adequar o ambiente para melhor
acolhê‑lo. Um ambiente muito barulhento pode atrapalhar a anamnese e irritar o paciente.

Quando o paciente é menor de idade, as perguntas serão destinadas ao tutor que o acompanha,
como datas de ocorrência e nomes de patologias. Quando os pacientes estão sedados ou possuem níveis
diminuídos de faculdades mentais, as perguntas específicas serão direcionadas ao acompanhante. Se
o paciente é maior de idade e tem suas faculdades mentais em plenitude, em alguns casos, a presença
do acompanhante pode ser um fator que iniba o paciente, fazendo com que ele omita informações
importantes. Cabe ao clínico decidir realizar algumas perguntas em outra situação ou, caso haja
necessidade, pedir para o acompanhante se retirar.

Dados pessoais

As informações básicas no início da anamnese são importantes para traçar um perfil epidemiológico
do paciente. Serão coletados os seguintes dados: nome; sexo; gênero; data de nascimento; raça; estado
civil; profissão e naturalidade.

Queixa principal

A avaliação da queixa principal tem como objetivo identificar a causa que levou o paciente a procurar
um atendimento de saúde. Se o paciente tiver mais de uma queixa, devemos questioná‑lo sobre qual delas
fez com que ele procurasse atendimento ou qual o incomoda mais. Deve ser dito ao paciente para não se
preocupar, que as outras queixas serão avaliadas, mas é preciso dar foco a uma de cada vez. A queixa deve ser
anotada de forma objetiva e com as mesmas palavras que o paciente usa, sempre com referência temporal
(exemplo: “há 8 dias começou a dor atrás do meu ombro quando levanto o braço acima da cabeça”).
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Unidade I

História da moléstia atual

A coleta da história da moléstia atual é o relato do paciente sobre os fatos cronológicos que ocorreram
desde o início da enfermidade. Comumente o paciente pode deixar de relatar alguns fatos por não
considerar importantes, mas eles podem ter um imenso valor clínico. Por isso, devemos perguntar e
questionar o paciente quando houver dúvidas ou parecer faltar informações.

Durante a coleta da história, tudo deve ser anotado de forma cronológica. Após o término do
relato, as informações serão confirmadas com o paciente, de forma que ele responda objetivamente.
Repetir para o paciente os pontos importantes da história de forma cronológica e resumida demonstra
entendimento, e o paciente ficará mais confiante nas hipóteses do clínico.

Registro de um sintoma

Ao coletar um sintoma, o clínico deve começar questionando o paciente em relação a como ele
acha que começou a enfermidade. Assim, ele relata informações importantes sobre o mecanismo
de lesão. Mesmo que a informação não possua veracidade de causa e efeito, é importante saber as
crenças do paciente.

O clínico deve tentar rastrear as características do sintoma, como “pontadas”, “choques” ou “dor
cansada”; isso ajuda a identificar o possível tecido de origem do problema. Também deve perguntar
sobre o comportamento da dor, como os fatores que aliviam ou pioram a dor, e questionar quanto ao
tempo de aparecimento de cada manifestação. Se existir outra queixa, é necessário saber como ela se
comporta com a queixa principal, além de questionar se, no momento que a queixa principal aumenta
de intensidade, a queixa secundária também aumenta. Isso dá uma noção de relação dos dois sintomas.

O clínico deve averiguar como o sintoma se comporta durante o dia, como se apresenta na manhã,
tarde ou noite. Lembre‑se de que o sintoma é uma sensação subjetiva relatada pelo paciente; então,
sempre que for anotado, não se pode esquecer de referenciar que a fonte é o paciente (“relata”; “refere”;
“informa”; “alega”).

Lembrete

Quando houver muitas queixas relatadas durante a avaliação, o clínico


deve induzir o paciente a se concentrar na queixa que o fez procurar ajuda.

AVDs e AVPs

A identificação de nível funcional do paciente é muito subjetiva para o clínico. Por isso, é de comum
prática o rastreamento de limitações de atividade comuns. A atividade de vida diária (AVD) são as
funções básicas do dia a dia, como: alimentar‑se; trocar de roupa; ir ao banheiro; andar e se transferir
em diferentes decúbitos.

16
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

A atividade de vida prática (AVP) refere‑se a atividades operacionais, como: administração


de medicamentos (separar, diferenciar e aplicar); atividades de organizar e limpar a casa; uso de
eletrodomésticos e atividade em ambientes externos (supermercado, cinema e parques).

Avaliação de outros sistemas

Durante a coleta da história, é preciso ficar atento a algumas informações que dão indícios de
disfunções de alguns sistemas específicos, como dormência no pé, braço pesado e pés inchados no final
do dia; isso ajuda a aprofundar a avaliação. Devemos nos atentar aos indicadores de doenças graves
(bandeiras vermelhas), como fraturas, tumores e infecções.

Algumas escalas e alguns questionários podem ser aplicados em alguns casos. As escalas são
utilizadas para avaliar a funcionalidade autorrelatada; assim, temos um marcador para medir a evolução
do tratamento. Crenças negativas e alguns comportamentos podem prejudicar a evolução da patologia.
Para analisar esses aspectos, existem questionários que visam avaliar construtos psicológicos. Os
questionários autorrelatados podem ser preenchidos em um momento fora da consulta, otimizando,
assim, o tempo de avaliação.

História da moléstia pregressa

A história da moléstia pregressa visa identificar o histórico passado, que antecede a condição/doença,
podendo contribuir no entendimento global do problema. Dependendo da faixa etária do paciente, é
importante questionar os aspectos de saúde e estilo de vida na infância, adolescência e fase adulta.

Como as informações podem ser de longa data, o paciente pode não relatar de forma precisa os
eventos que ocorreram há muito tempo. Por isso, deve‑se levar em consideração apenas as informações
claras e concisas.

Algumas funções básicas também devem ser questionadas, como a função urinária e fecal, a
qualidade de sono, a função sexual e a qualidade do ambiente de trabalho.

Antecedentes patológicos

Os antecedentes patológicos se referem a outras condições/doenças que o paciente teve. É necessário


saber quais são, quando ocorreram, qual foi o tratamento realizado na época e se houve ou há alguma
sequela relacionada ao evento. Além disso, o clínico investigará o histórico de alergias a comidas,
produtos químicos e/ou remédios.

É preciso questionar se o paciente possui uma doença crônica. Uma boa forma de identificar uma
doença crônica é perguntando se o paciente toma remédio de uso prolongado, se está sob tutela de
algum profissional especializado e se está indo a consultas periódicas para controle. Alguns remédios de
uso prolongado podem gerar efeitos colaterais. Por isso, o clínico deve observar se os sinais e sintomas
que levaram o paciente a ele têm ou não relação com os efeitos colaterais da medicação.

17
Unidade I

O paciente deve ser questionado sobre eventos passados que tiveram um trauma direto ou indireto
ao corpo, relatando‑os em ordem cronológica, caso haja mais de um. Deve descrever como foi o evento.
Exemplos: queda da própria altura; atropelamento; decorrente da prática esportiva etc.

É necessário saber se o paciente tem histórico de cirurgias, questioná‑lo sobre o período que ocorreu,
por qual motivo, se houve complicações pré ou pós‑cirúrgicas e onde foi realizada a cirurgia.

Antecedentes familiares

Os antecedentes familiares englobam doenças crônicas não transmissíveis e transmissíveis, histórico


de medicação e histórico oncológico. É preciso saber se há casos de doenças genéticas ou hereditárias
na família.

Observação

Durante a avaliação e a coleta dos dados referentes à anamnese, não


se esqueça de incluir achados que são considerados “bandeiras vermelhas”,
uma vez que esses achados podem influenciar na tomada de decisão
clínica. Esse assunto será melhor abordado no tópico referente à avaliação
da coluna lombar.

Exames complementares

Os exames complementares devem ser catalogados de forma cronológica, com a descrição, de forma
sucinta, de qual exame foi realizado, o que foi evidenciado no laudo e, se possível, sua interpretação a
partir dos exames.

Hábitos de vida

O clínico deve se atentar ao hábito de vida do paciente:

• Alimentação: como é a qualidade da alimentação, a frequência e a quantidade; se possui alguma


restrição alimentar intencional ou não intencional.

• Nível de atividade física: se tem o hábito de praticar atividade física; quantas vezes na semana e
por quanto tempo; se a condição patológica o impede de praticar atividade física, como era antes
da lesão.

• Drogas lícitas e ilícitas: se faz uso ou já fez uso de drogas lícitas ou ilícitas; quantidade, frequência
e tempo de uso.

• Lazer: quais são as atividades de lazer que o paciente sente prazer em fazer; se parou ou diminuiu
essa atividade devido à lesão.
18
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Condições socioeconômicas e culturais

É importante compreender as condições socioculturais que podem interferir na condição de saúde


do paciente. Algumas perguntas podem fazer com que o paciente se sinta constrangido a responder. Por
isso, o clínico deverá ser o mais compreensível possível.

• Habitação e higiene: quais são as características da habitação do paciente; como é a higiene pessoal.

• Relação familiar e pessoal: como é sua relação familiar e pessoal.

• Religião: de religião ou seita o paciente é praticante ou se não possui uma religião.

• Escolaridade: qual é o último grau de instrução completo ou incompleto.

Devemos sempre nos lembrar de questionar assuntos pertinentes que podem ter relação com o
problema a ser tratado; assuntos que podem ter influenciado no desenvolvimento do problema ou
mesmo que podem alterar o curso do tratamento a ser proposto.

Observação

As perguntas durante a avaliação podem ocorrer no contato inicial


com o paciente ou podem acontecer em outro dia de avaliação. Não é
imprescindível seguir uma sequência fechada.

1.4 Guia

Para uma boa avaliação, é necessário um bom raciocínio. As boas anotações ajudam a compreender
melhor o paciente. Lembre‑se de que patologias podem ser semelhantes, mas os pacientes nunca são
iguais. O clínico é livre, portanto, para decidir quais perguntas são pertinentes e em quais momentos.

Para facilitar a visualização das perguntas pertinentes abordadas anteriormente, vamos conhecer, a
seguir, um guia dos assuntos.

• Dados pessoais:

— nome;

— sexo;

— gênero;

— data de nascimento;

19
Unidade I

— raça;

— estado civil;

— profissão.

• Queixa principal:

— onde;

— como;

— intensidade;

— frequência;

— início.

• AVDs e AVPs (para todas as atividades relatadas):

— qual atividade;

— quantas repetições;

— como se adaptou.

• HMA (para cada fato relatado):

— data;

— como;

— observações.

• Queixa secundária (para todas as relatadas):

— onde;

— como;

— intensidade;

— frequência;

20
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

— inicio;

— como essa queixa se relaciona com a queixa principal.

• HAP:

— queixas pregressas (quando, tratamento e sequelas);

— doença crônica (diagnóstico e tratamento);

— cirurgias (data, procedimento e objetivo);

— antecedentes familiares (parentesco e diagnóstico).

• Hábitos de vida:

— alimentação (qualidade e frequência);

— atividade física (modalidade, frequência, intensidade e tempo de prática);

— drogas lícitas e ilícitas (frequência, quantidade e tempo de uso);

— lazer (atividade e frequência).

• Sociocultural:

— casa (características do terreno e acessibilidade);

— higiene (prática e costume);

— religião (qual);

— escolaridade (última a cursar).

2 COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO

2.1 Descrição

A integridade e a funcionalidade do membro superior dependem de uma ação conjunta de algumas


estruturas osteomioligamentares para oferecer toda a amplitude de movimento.

A articulação do ombro é a que apresenta a maior mobilidade do sistema musculoesquelético. Sua


complexa estrutura anatômica é formada por três articulações classificadas em diartroses – glenoumeral,
acromioclavicular e esternoclavicular – e três espaços de deslizamentos – subacromial, umerobicipital
21
Unidade I

e escapulotorácico –, possuindo, também, uma rede de 15 ligamentos e 19 músculos inseridos no


complexo umeral.

Sua anatomia óssea depende de um complexo musculocapsuloligamentar, devido à instabilidade


da concavidade óssea glenoidal e à convexidade do úmero, oferecendo maior estabilidade dinâmica.
Essa ação integrada possibilita o mecanismo de deslizamento e a estabilização do ombro, mantendo a
escápula como uma plataforma móvel.

O membro superior também depende de uma boa integridade das estruturas vasculonervosas,
formadas pelo plexo braquial, composto por raízes cervicais C5, C6, C7, C8 e T1, artérias
circunflexas e axilar.

2.2 Exame físico

Inspeção estática

Na inspeção, o paciente deve ser examinado desnudo da cintura para cima, e devemos observá‑lo na
vista anterior e posterior, lateral direita e esquerda.

Figura 1 – Vista anterior do complexo articular do ombro

Figura 2 – Vista posterior do complexo articular do ombro

22
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

A) B)

Figura 3 – Vista lateral do complexo articular do ombro

A inspeção do paciente deve considerar padrões que fogem da normalidade e do alinhamento


corporal saudável. A seguir, estão listados alguns padrões de anormalidade que podem ser encontrados
e seus respectivos motivos:

• Deformidades da coluna torácica e cervical como repercussão no formato, posição, simetria e


mobilidade da escápula, escoliose e cifose, ocasionadas por espondilose e espondilite, osteocondrose
vertebral ou por doenças genéticas, como deformidade de Sprengel e síndrome de Klippel‑Feil.

• Alterações no relevo muscular, que revelam atrofia do músculo supraespinhal, infraespinhal,


deltoide e redondo menor, respectivamente, relacionados com lesão dos nervos axilar e
supraescapular ou hipotrofias musculares de desuso comuns nas lesões do maciça de longa
evolução do manguito rotador.

• Escápula alada que aparece nas lesões primárias do músculo serrátil anterior, devido a lesões
traumáticas ou inflamatórias do nervo torácico longo.

• Miopatias, que comprometem a cintura escapular, como a distrofia fascioescapuloumeral.

• Posição anormal do membro superior livre em relação à escápula, como na paralisia obstétrica, em
que há rotação interna e adução do braço.

• Deformidade do ventre muscular do bíceps sugestiva de rotura do tendão.

• Lesões primárias ou secundárias do músculo serrátil anterior, escápula.

Palpação do ombro

A palpação do membro superior pode fornecer ao fisioterapeuta informações valiosas e normalmente


é realizada após a avaliação da história do paciente e da inspeção visual. A técnica se baseia na aplicação
dos dedos com uma pressão suave na superfície do corpo para avaliar estruturas ósseas e tecidos moles,
identificando estruturas normais e possíveis alterações locais.
23
Unidade I

O fisioterapeuta pode notar a presença de inchaço e alterações da textura e temperatura do tecido.


Além disso, pode observar assimetrias, diferenças de sensações e reprodução da dor, sempre procurando
comparar os dois lados. A palpação deve ser feita de forma ativa e passiva do ombro para observar e,
muitas vezes, até sentir crepitações, que representam atritos ósseos, processo crônico de tendões, bursas
ou ligamentos, e a cápsula articular.

A: Articulação esternoclavicular
B: Clavícula
C B A C: Acrômio

E D D: Processo coracoide
E: Sulco intertubercular

Figura 4 – Vista anterolateral do ombro

• Articulação esternoclavicular: a palpação da região do ombro se inicia de forma proximal


para distal e pela articulação esterno clavicular (EC), localizada na linha média, na frente
do pescoço. A sensibilidade nessa região pode sugerir luxação traumática ou osteoartrite.
O movimento da extremidade proximal da clavícula (sinal da tecla) sugere ruptura ou
frouxidão dos ligamentos esternoclaviculares.

• Articulação acrômio clavicular/acrômio: seguindo para a região distal da clavícula, logo após
uma ligeira proeminência óssea, encontra‑se a extremidade acromial da clavícula e, em seguida,
o acrômio. O conjunto dessas duas estruturas forma a articulação acrômio clavicular (AC). Dor e
excesso de mobilidade, aqui, sugerem uma luxação AC.

• Processo coracoide: a partir dessa região, movendo os dedos medialmente e inferiormente, palpa‑se
o processo coracoide na fossa infraclavicular. Ele pode ser mais bem palpado com a movimentação da
escápula, flexionando o braço para cima. A dor nessa região pode indicar tendinopatia de uma ou mais
estruturas do tendão conjunto.

• Tubérculo maior e menor: em direção à região mais anterior da cabeça umeral, palpa‑se o
tubérculo menor. A sensibilidade nessa região pode indicar tendinopatia do músculo subescapular.
Na região mais lateral da cabeça do úmero, localiza‑se o tubérculo maior, que pode ser mais bem
palpado quando se rotaciona o braço para fora e para dentro. A dor à palpação nessa região é um
sinal de possível tendinopatia do manguito.

• Sulco intertubercular/tendão cabeça longa do bíceps: entre os dois tubérculos, temos o sulco
intertubercular ou sulco bicipital ao longo da superfície anterior da cabeça do úmero, por onde
passa o tendão da cabeça longa do bíceps. Com a rotação interna e externa, o tendão deve ser
24
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

palpado à medida que se move. A sensibilidade alterada sugere lesão inflamatória do tendão; a
sensação de deslocamento do tendão sugere subluxação do tendão da cabeça longa do bíceps.

• Tendão da cabeça curta do bíceps e peitoral maior: baixo do processo coracoide, temos o
tendão da cabeça curta do bíceps; descendo em relação ao seu ventre, temos o vinco axilar.
Se rolarmos os dedos nessa região, podemos sentir o tendão do bíceps. Próximo ao vinco
axilar, também podemos sentir o tendão do peitoral maior, que, com a abdução horizontal, a
palpação de toda a sua extensão fica otimizada. Nessa região, além de sinais inflamatórios,
é importante observar a presença de gaps, podendo indicar uma ruptura muscular, que é
comum nesse músculo.

• Estruturas ósseas na escápula: posteriormente, temos estruturas importantes na região da


escápula, sendo estas: a espinha da escápula, a borda medial, o ângulo inferior e a borda lateral.
A palpação dessas regiões torna‑se necessária para avaliar um possível mal posicionamento da
escápula no gradil costal.

• Músculos da região do ombro: a palpação de todos os músculos do complexo do ombro é


importante; porém, alguns músculos da região do ombro são mais facilmente palpáveis
e necessitam de uma avaliação mais específica, sendo estes os músculos do manguito rotador e
as porções do músculo trapézio.

A A: Espinha da escápula

B B: Borda medial
D
C: Ângulo inferior
C
D: Borda medial

Figura 5 – Vista posterior do ombro

Acima da espinha da escápula, encontra‑se o músculo supraespinhoso e, abaixo dela, estão os


músculos infraespinhal e redondo menor.

Partindo de todos os processos espinhosos da coluna cervical e torácica e entrando na espinha da


escápula, temos o músculo trapézio, que é dividido em fibras superior, média e inferior.

Perimetria dos membros superiores

A perimetria durante a avaliação física consiste na determinação do volume do membro e sua mudança
com base em medidas de fita métrica da circunferência do membro (perímetro). Essa avaliação é realizada
25
Unidade I

rotineiramente para estimar a eficácia da terapia do linfedema e outras condições para as quais as alterações
do volume do membro são importantes. Além disso, a perimetria do membro superior é realizada por meio
da comparação entre os dois membros para analisar possíveis diferenças entre ambos.

A avaliação pode ser realizada medindo‑se a circunferência de 5 cm abaixo e acima de um ponto de


referência (por exemplo, do olecrano ou do punho).

Para realizar o teste, o paciente deve estar em decúbito dorsal, a fim de que se realize a medida
com fita métrica das circunferências dos membros superiores. Quando as medidas da circunferência
são feitas com tensão e posição do membro consistentes e os locais de medição são padronizados, esse
método mostra‑se confiável para avaliar o volume dos membros.

Figura 6 – Perimetria dos membros superiores

Observação

A avaliação da perimetria pode variar em relação ao ponto de referência


inicial ou à distância dos pontos a serem avaliados. Entretanto, uma vez feita
em um padrão, essa avaliação deve seguir padronizada, para comparação
com o outro lado ou para acompanhamento da evolução do paciente.

Testes de mobilidade ativa do ombro

A avaliação da amplitude de movimento consiste na realização dos movimentos de flexão frontal,


abdução, rotação externa e rotação interna de forma ativa. Se o paciente tiver amplitude de movimento
ativa total, não há necessidade de avaliar a amplitude passiva de movimento.

26
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

No entanto, se o paciente não tiver amplitude de movimento completa, a assistência deve ser
fornecida. A perda de amplitude de movimento ativa e passiva em todos os planos, especialmente durante
a rotação externa, é característica da capsulite adesiva, mas também pode representar osteoartrite
avançada da articulação glenoumeral.

A sensação de dor na abdução ativa do braço entre 60 e 100 graus de distância do corpo pode estar
associada à lesão do manguito rotador.

Outro modo de avaliar a amplitude ativa do paciente de forma mais funcional é por meio do teste
de alcançar de Apley. A incapacidade de realizar o teste ou a diferença de movimento importante entre
os membros indica um déficit de mobilidade ativa do ombro.

A) B)

Figura 7 – Teste de alcançar de Apley

Avaliação do ritmo escápulo‑umeral

Para a análise da mobilidade escapular em relação ao úmero, é importante destacar o padrão do ritmo
escápulo‑umeral de 2:1. Sabendo disso, quando analisarmos o movimento da escápula em relação ao
movimento glenoumeral, devemos encontrar um deslocamento simétrico, no qual a escápula começa a girar
superiormente de forma harmônica a partir dos 30º de elevação do ombro e mantém‑se durante todo o
movimento sem afastar do gradil costal. Alterações importantes desse padrão indicam uma discinese escapular.

Figura 8 – Avaliação do ritmo escápulo‑umeral

27
Unidade I

A forma mais confiável dessa análise consiste na realização do movimento em flexão, com o paciente
de costas para o terapeuta, realizando pelo menos cinco repetições. Essa avaliação se torna mais sensível
quando o paciente realiza o movimento com um halter de, pelo menos, 1 kg, e a descida do braço de
forma mais controlada.

No caso de uma discinese óbvia e bem aparente, podemos relacionar as alterações presentes com as
disfunções de musculaturas específicas:

Quadro 1

Alteração cinemática Disfunção presente


Proeminência do ângulo inferior Fraqueza do trapézio inferior
Proeminência do bordo medial Fraqueza do serrátil anterior
Excesso de rotação superior Fraqueza de romboides

Goniometria do ombro

A goniometria dos movimentos do ombro é realizada para avaliar de forma quantitativa os movimentos
do complexo articular do ombro, sendo estes: a flexão/extensão; a abdução/adução; a abdução/adução
horizontal e a rotação lateral/medial. Esses movimentos são medidos na articulação glenoumeral.
Entretanto, cada um deles é dependente da mobilidade síncrona nas articulações esternoclaviculares,
acromioclaviculares e escapulotorácicas. A descrição da avaliação e os valores normativos de cada
movimento são apresentados no quadro a seguir:

Quadro 2 – Goniometria de ombro

Movimento Valor
Posição do teste Eixo Braço fixo Braço móvel
anatômico normativo
O paciente está em decúbito Alinhado com a linha
dorsal. Rotação neutra. Centro da Linha axilar
Flexão média do úmero (em
parte lateral da média do 0º a 180º
O braço de teste deve ser pelo direção ao epicôndilo
cabeça umeral. tronco.
lado do paciente. lateral).
O paciente poderá ficar
sentado, em pé ou deitado Centro da Linha axilar Superfície lateral do
Extensão em decúbito ventral, parte lateral da média do corpo do úmero voltado 0º a 45º
mantendo os braços ao longo cabeça umeral. tronco. para o epicôndilo lateral.
do corpo.
Preferencialmente, o paciente Paralelo à
Adução deve estar sentado, podendo Sobre a superfície
Acrômio. linha mediana
horizontal ficar em pé com o cotovelo, o lateral do úmero.
anterior.
punho e os dedos estendidos. 0º a 45º
O paciente estará em Alinhado com a região
Rotação decúbito dorsal, com o ombro Olécrano da Paralelo ao ulnar do antebraço, em 0º a 70º
interna abduzido a 90º e com o ulna. solo. direção ao processo
antebraço em posição neutra. estiloide.
O paciente estará em Alinhado com a região
Rotação decúbito dorsal, com o ombro Olécrano da Paralelo ao ulnar do antebraço, em 0º a 90º
externa abduzido a 90º e com o ulna. solo. direção ao processo
antebraço em posição neutra. estiloide.

28
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Observação

A disfunção do déficit de rotação interna glenoumeral – do inglês,


glenohumeral internal rotation déficit (Gird) – representa a diferença
de amplitude de movimento de rotação interna de, pelo menos, 20% se
comparado com o lado contralateral. Está presente principalmente em
jogadores de beisebol, devido ao mecanismo de arremesso.

2.3 Avaliação da força muscular

A força muscular é uma característica física que afeta o desempenho das atividades de vida diária,
além de ser um fator de risco para o desenvolvimento de patologias do sistema musculoesquelético.

Existem muitos métodos e aparelhos usados para avaliar a força de um indivíduo. O mais usado
clinicamente é o teste de resistência manual; no mercado, existem opções como o dinamômetro manual
e o isocinético.

Neste livro‑texto, será explanado, principalmente, o método para aplicação dos testes de
resistência manual, por ser o de mais fácil acesso para o clínico. A mensuração da força através de
testes manuais pode seguir uma série de nomenclaturas e classificações, segundo a classificação
de Kendall (2007):

• Rotadores internos: os principais músculos responsáveis pela realização da rotação interna são
o subescapular, o redondo maior e o grande dorsal. Para avaliar a força desses músculos, pode ser
realizado o teste de força manual dos rotadores internos.

— Posição inicial: paciente deitado em supino com o membro superior a ser testado junto ao
corpo e cotovelo em um ângulo de 90°.

— Fixação: o terapeuta usa uma das mãos para apoiar o cotovelo do paciente, evitando o
movimento compensatório de abdução do ombro durante o teste. A outra mão do terapeuta
deve apoiar a parte interna do punho a ser testado, de modo que ofereça resistência para a
rotação interna do paciente.

— Teste: o terapeuta pede para que o paciente realize uma rotação interna de ombro. Pode ser usada
a dica verbal “leve sua mão em direção à barriga” para maior entendimento do paciente. Durante
o movimento, o terapeuta deve resistir o movimento de modo a testar a força do paciente.

• Rotadores externos: os principais músculos responsáveis pela rotação externa do ombro são o
infraespinhal e o redondo menor. Sabe‑se que o infraespinhal é o principal músculo responsável pela
rotação externa do ombro.

29
Unidade I

— Posição inicial: paciente deitado em decúbito dorsal com o membro superior junto ao corpo
e cotovelo apoiado sobre a maca flexionado a 90°.

— Fixação: o terapeuta usa uma das mãos para apoiar o cotovelo do paciente, de modo a evitar
uma abdução compensatória do ombro durante a realização do teste. A outra mão será usada
para gerar resistência à realização da rotação externa do ombro.

— Teste: o paciente é instruído a realizar uma rotação externa do membro superior. Para maior
entendimento, pode ser usado o comando verbal: “afaste a sua mão da sua barriga”.

• Flexores: os principais músculos responsáveis pela flexão do ombro são o deltoide anterior, o
supraespinhoso e a cabeça longa do bíceps.

— Posição inicial: paciente deitado em supino com cotovelo fletido em flexão máxima e pequena
rotação medial. Ombro em flexão de 45º.

— Fixação: o avaliador, com uma mão, segura a mão do paciente e, com a outra, apoia
anteriormente o terço distal do úmero do paciente.

— Teste: o paciente é orientado a realizar uma força de forma a empurrar a mão apoiada no terço
distal do úmero anteriormente, afastando o cotovelo do paciente da maca de avaliação.

Observação

No teste citado anteriormente, o principal músculo a ser avaliado


é o deltoide porção anterior, pois, devido à flexão de cotovelo, há uma
diminuição da atividade da cabeça longa do bíceps. O teste para avaliar a
função da cabeça longa do bíceps durante o movimento de flexão de ombro
é melhor realizado com o antebraço supinado e o cotovelo estendido.

• Abdutores do ombro: o principais músculos responsáveis pela abdução do ombro são o


supraespinhoso, que tem como função primordial a abdução do ombro de até 15°, e o deltoide,
que tem sua ativação principal na abdução de ombro até 90°.

— Posição inicial: paciente sentado com ombro abduzido a 90° e cotovelo flexionado de modo
a manter o antebraço paralelo ao solo.

— Fixação: caso o paciente não apresente uma boa fixação da escápula no gradil costal, o
avaliador pode realizar uma estabilização da escápula no gradil costal por meio do apoio da
mão sobre o ombro e o antebraço sobre a escápula.

— Teste: o avaliador posiciona a mão sobre a região distal do braço do paciente e realiza uma
força para aduzir o braço do paciente. Pacientes com lesão total do supraespinhoso terão

30
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

dificuldade de manter a abdução do braço contra a gravidade. Quando houver uma lesão do
nervo axilar, a atividade do deltoide estará reduzida, mas o supraespinhoso não será afetado,
sendo possível a abdução de até, aproximadamente, 15°.

Lembrete

Foi descrita somente a avaliação da força dos principais grupos


musculares que atuam no movimento do ombro. Entretanto, no caso de
uma lesão específica, a musculatura deve ser analisada isoladamente,
acrescentando, se necessário, a avaliação dos músculos escapulotorácicos.

2.4 Testes especiais

São classificados como especiais os testes a seguir:

• Teste de apreensão: o teste de apreensão é um dos testes mais usados na clínica para a avaliação
de instabilidade anterior do ombro. Por meio desse teste, é simulado o mecanismo de lesão da luxação
anterior de ombro.

— Posição inicial: paciente deitado com ombro abduzido a 90°; terapeuta se posiciona ao lado
do paciente.

Figura 9 – Teste de apreensão

— Teste: o terapeuta segura o punho do paciente e fixa o cotovelo. Após a estabilização, o


terapeuta leva o ombro para a rotação externa o máximo possível. O teste é positivo quando o
paciente relatar sensação de apreensão do ombro luxar ou dor.

• Teste de Rockwood: o teste de Rockwood é uma variação do teste de apreensão, usado para
avaliar sintomas de instabilidade anterior. Esse teste não apresenta valores claros na literatura
quanto à sensibilidade e à especificidade.

— Posição inicial: paciente sentado com cotovelo fletido a 90°.


31
Unidade I

Figura 10 – Teste de Rockwood

— Teste: o terapeuta realiza rotações externas até a tolerância do paciente em quatro amplitudes
de abdução: 0°, 45°, 90° e 120°. O teste é positivo caso o paciente apresente dor ou apreensão;
usualmente, o teste é positivo a 90º, com maior relato de apreensão; a 45º e a 120°, o paciente
usualmente relata mais dor e pouca apreensão. Diferentes estruturas são testadas em
diferentes angulações. A 0º, testam‑se o ligamento glenoumeral superior e a capsula anterior;
a 45°, as mesmas estruturas com adição do ligamento coracoumeral; a 90º e 120°, testam‑se o
ligamento glenoumeral inferior (banda anterior) e a cápsula anterior.

• Teste de deslizamento acromioclavicular: usado para avaliar patologias da articulação


acromioclavicular, não apresenta valores de sensibilidade e especificidade descritos na literatura.

— Posição inicial: paciente sentado com os braços ao lado do corpo.

— Teste: o avaliador cruza os dedos das mãos e posiciona sobre o ombro do paciente, a mão
posterior sobre a espinha da escápula e a mão anterior sobre a articulação acromioclavicular.
O avaliador, então, aperta o ombro do paciente, aproximando as mãos. O teste é positivo
caso seja percebido movimento anormal da articulação acromioclavicular, identificando
uma patologia acromioclavicular.

• Teste de flexão cruzada:

— Posição inicial: paciente em pé ou sentado com ombro flexionado anteriormente a 90°.

— Teste: o teste pode ser realizado ativa ou passivamente. Ativamente, o paciente leva o braço
em direção ao ombro oposto. Caso o paciente sinta dor ou desconforto sobre a articulação
acromioclavicular, o teste é positivo. Quando realizado passivamente, o avaliador flexiona o
ombro do paciente a 90° e o aduz horizontalmente o máximo possível. Caso a dor esteja
localizada na articulação esternoclavicular, indica defeito dessa articulação.

32
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

A) B)
Figura 11 – Teste de flexão cruzada

• Teste de Yergason: teste de Yergason avalia a ruptura do ligamento umeral transverso, que
tem o papel de manter o tendão da cabeça longa do bíceps no sulco intertubercular. Esse teste
também pode ser usado para avaliar tendinite da cabeça longa do bíceps. O aparecimento de
dor com a palpação durante o teste pode indicar tendinite da cabeça longa do bíceps.

— Posição inicial: paciente em pé com o cotovelo fletido a 90° e antebraço pronado.

— Teste: o avaliador pede que o paciente realize uma supinação contra a resistência, enquanto
palpa o tendão da cabeça longa do bíceps. Caso o tendão da cabeça longa do bíceps salte do
sulco intertubercular durante o movimento de supinação e rotação externa, o teste é positivo
para ruptura do ligamento umeral transverso.

A) B)
Figura 12 – Teste de Yergason

• Teste de Speed: o teste de Speed é utilizado para avaliar tendinites ou lesões parciais do tendão da
cabeça longa do bíceps. Como a tendinite da cabeça longa do bíceps apresenta sintomas a carga e/ou
movimento, esse teste acaba sendo melhor que o teste de Yergason para o diagnóstico dessa patologia.

— Posição inicial: paciente em pé ou sentado com o ombro flexionado a 90º e antebraço supinado.

— Teste: avaliador posicionado à frente ou ao lado do paciente. É aplicada uma força de modo
a estender o braço do paciente enquanto o paciente resiste. O teste é positivo caso o paciente
sinta dor na região da cabeça longa do bíceps.
33
Unidade I

Figura 13 – Teste de Speed

• Sinal da queda do braço: sinal da queda do braço é utilizado para avaliar lesões grandes ou
totais do supraespinhoso, assim como o impacto subacromial. Esse sinal consiste na inabilidade
de o paciente realizar uma abdução sustentada do ombro.

— Posição inicial: paciente em pé com os braços ao lado do corpo.

— Teste: o avaliador pede para o paciente manter o cotovelo estendido, posiciona o ombro em,
aproximadamente, 90° de abdução e pede que o paciente mantenha aquela abdução e desça
lentamente o braço. O avaliador, então, solta o braço do paciente. O teste é positivo quando o paciente
não consegue manter o braço abduzido ou sente muita dor ao tentar descer o braço excentricamente.

A) B)

Figura 14 – Sinal da queda do braço

• Teste de supraespinhal de Jobe: o teste de supraespinhal de Jobe avalia a lesão do músculo


supraespinhal e a síndrome do impacto. Quando o teste é negativo, tende a excluir a possibilidade
de síndrome do impacto e de lesões do supraespinhal; quando é positivo, com dor e fraqueza,
tende a indicar a presença de impacto ou lesão do supraespinhal.

— Posição inicial: paciente em pé com ambos os braços flexionados a 90°; rotação interna dos
braços e polegares apontando para baixo; adução horizontal de 30°.

34
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Figura 15 – Teste de supraespinhal de Jobe

— Teste: o avaliador, posicionado à frente do paciente, aplica uma força de modo a estender o
braço do paciente, buscando por perda de força e/ou dor. Caso o paciente apresente muita dor,
o teste pode ser realizado com os polegares para cima, removendo o tubérculo maior da parte
de baixo do acrômio, diminuindo o impacto mecânico. Alguns autores defendem que esse
segundo posicionamento é melhor para avaliar a força do supraespinhoso.

• Teste de Hawkins‑Kennedy: usado para avaliar o impacto subacromial, o teste de


Hawkins‑Kennedy é o melhor teste isolado para avaliar esse impacto.

— Posição inicial: paciente sentado ou em pé, ombro fletido a 90°, cotovelo fletido a 90°.

— Teste: o avaliador se posiciona ao lado do paciente. Uma mão estabiliza a escápula e a outra
realiza uma rotação interna do ombro a ser testado. O teste também pode ser realizado com
o avaliador à frente do paciente, colocando a mão sobre o ombro a ser testado, e o braço
do paciente passa sobre o braço do avaliador. O avaliador usa o próprio braço como apoio,
aplicando, assim, uma força direcionada inferiormente no antebraço a ser testado, realizando
uma rotação interna. O teste é positivo caso o paciente relate dor.

Figura 16 – Teste de Hawkins‑Kennedy

35
Unidade I

Saiba mais

A leitura do texto a seguir pode ajudá‑lo a compreender melhor a


avaliação do ombro:

SHOULDER assessment. Physiotutors, 2019. Disponível em: https://


www.physiotutors.com/assessment/shoulder-assessment/. Acesso em: 6
nov. 2019.

Resumo

Como vimos nesta unidade, semiologia é o estudo de sinais e sintomas


de uma doença. Compreende a habilidade do clínico em rastrear achados
clínicos e criar hipóteses. O rastreamento dos sinais e sintomas permite
ao clínico ter o real discernimento sobre seu paciente, identificando a
possível disfunção (ou disfunções), em qual momento da patologia o
paciente se encontra e seus desfechos clínicos.

Sinal é uma manifestação clínica observável pelo clínico. Sintomas são


manifestações subjetivas do paciente relatadas para o clínico. O conjunto de
sinais e sintomas pode indicar uma doença ou uma síndrome, juntamente
com o diagnóstico diferencial, ou seja, disfunções com sinais e sintomas
semelhantes à disfunção de base, permitindo excluir conclusões erradas e
diminuindo, assim, nossas chances de errar.

A avaliação do paciente compreende duas etapas operacionais: a


anamnese, que tem o objetivo de investigar, por meio de perguntas, o
estado geral do paciente, pela memória dele; e o exame físico, no qual são
realizados a palpação, a movimentação e os testes especiais.

A anamnese é uma conversa roteirizada com o paciente, dividida


em alguns assuntos‑chave: os dados pessoais, para identificar em qual
população ele se encontra; a queixa principal, para identificar o motivo
pelo qual o paciente foi procurar ajuda; a história da moléstia atual, para
identificar outras queixas, o estado atual de saúde e as limitações funcionais;
a história da moléstia pregressa, para identificar disfunções passadas que
podem estar limitando a saúde atual; e as antecedências familiares, para
conhecer os fatores de risco que o paciente possa ter.

Depois, vimos que o ombro é a articulação de maior mobilidade do


corpo humano, o que o torna, assim, uma das mais vulneráveis à lesão.
36
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Além disso, diversas estruturas passivas e ativas atuam para uma melhor
estabilidade e harmonia de todo o complexo articular do ombro. Por isso,
faz‑se necessário um bom compreendimento anatômico e das estruturas
que atuam na biomecânica do complexo articular do ombro, para
identificarmos suas disfunções desde o início dos sintomas.

Devemos, inicialmente, observar as possíveis alterações nos pacientes


em repouso, analisando alterações posturais tanto do ombro propriamente
dito quanto da escápula, da clavícula e da coluna torácica.

Após essa análise, é de extrema importância a palpação de toda a


região do ombro, buscando pontos mais sensíveis, alterações estruturais ou
diferenças de temperatura ou textura local.

Para complementar o exame físico, devemos realizar a mensuração


da amplitude ativa e passiva do ombro e da força muscular, observando
diferenças inter e entre os dois membros superiores. Por fim, completando
a avaliação, devemos realizar os testes específicos para poder confirmar ou
excluir alguma patologia.

Exercícios

Questão 1. (FCC 2013) As articulações do complexo do ombro funcionam como uma série de elos,
todos cooperando para maximizar a amplitude de movimento disponível para o membro superior. Uma
das articulações desse complexo articular é a articulação glenoumeral. O tipo dessa articulação e os
planos de movimento que ela apresenta são, respectivamente:

A) Condilar e dois planos.

B) Esferoide e três planos.

C) Elipsoide e três planos.

D) Trocoide e dois planos.

E) Esferoide e dois planos.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

A articulação do ombro ou a articulação glenoumeral é uma articulação sinovial que envolve uma
articulação entre a fossa glenoide e escápula e a cabeça do úmero, do tipo bola e soquete. Devido a
37
Unidade I

uma interface limitada entre o úmero e a escápula, essa articulação é a que possui maior liberdade de
movimento no ser humano. Classificam‑se em:

• Flexão: peitoral maior, deltoide (primário); coracobraquial, bíceps braquial (acessório).

• Extensão: deltoide (primário); redondo maior, latíssimo do dorso, cabeça longa do bíceps (acessório).

• Abdução: deltoide (primário); supraespinhal (acessório).

Articulação
acromioclavicular

Articulação
glenoumeral

Figura 17

Disponível em: https://images.app.goo.gl/d2mp5kgtDBrzWc7J7. Acesso em: 1 out. 2019.

Questão 2. (Iades 2019) Considere a função muscular de um paciente que apresenta o quadro de
síndrome dolorosa do ombro de natureza microtraumática e degenerativa, caracterizada por tendinite
do manguito rotador, podendo haver ruptura total ou parcial de um ou mais tendões. Assinale a
alternativa que indica os músculos que devem ser testados impreterivelmente para a elaboração do
tratamento fisioterapêutico.

A) Somente os músculos do manguito rotador.

B) Deltoide, peitoral maior, trapézio, bíceps e tríceps braquial.

C) Supraespinal, infraespinhal, redondo menor, subescapular, deltoide, peitoral maior, trapézio, bíceps
e tríceps braquial.

D) Supraespinal, infraespinhal, redondo menor, subescapular, trapézio, romboides e serrátil anterior.

E) Deltoide, peitoral maior, grande dorsal, trapézio, bíceps e tríceps braquial.

Resposta correta: alternativa D.

38
SEMIOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA

Análise da questão

O manguito rotador é formado pelos músculos supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e


subescapular. Suas funções principais são estabilizar o ombro e auxiliar na dinâmica escápulo‑umeral.
A ativação do manguito rotador é essencial em movimentos amplos, como a elevação do braço
acima da altura da cabeça, mas, quando esses movimentos são realizados de forma repetitiva,
causando fadiga muscular, podem ocasionar lesões, sendo a mais comum a síndrome do choque do
manguito rotador, na qual ocorrem dor e hipersensibilidade da região do ombro, que pioram com
a rotação do mesmo.

Os fatores podem ser genéticos ou causados por inflamação do tendão do supraespinhal por
estiramento repetido. Dessa forma, os músculos do manguito não conseguem manter a cabeça do úmero
dentro da cavidade glenoidal, e o músculo deltoide acaba provocando um desvio superior da cabeça do
úmero sempre que realiza a abdução, resultando em choque e desgaste do tendão do supraespinhal.

A terceira possibilidade é que o músculo serrátil anterior, responsável por posicionar a escápula
em rotação durante a abdução do úmero, pode ficar fatigado, deixando de rodar a escápula como
necessário, limitando o movimento de abdução e causando o choque.
Supraespinhoso Úmero

Infraespinhoso Redondo menor Subescapular Supraespinhoso


Vista posterior Vista anterior Vista superior

Figura 18

Disponível em: https://images.app.goo.gl/EexBFySsCwArB69U6. Acesso em: 1 out. 2019.

Com isso, o tratamento deve envolver os músculos supraespinal, infraespinhal, redondo


menor, subescapular, trapézio, romboide e serrátil anterior. O romboide está abaixo do trapézio.
Dessa forma, é importante fortalecer esses músculos para darem sustentação e evitar a lesão do
manguito rotador.

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