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Unidade II

Unidade II
5 A COMUNICAÇÃO E O TRANSPORTE CELULAR

A membrana plasmática é a estrutura que delimita o meio interno e o externo de uma célula, é a
interface entre a célula e o meio em que se encontra. Resumidamente, podemos relacionar as principais
funções a seguir:

• Constitui uma barreira permeável seletiva que controla a passagem de íons e pequenas moléculas.

• Forma o suporte físico para a atividade ordenada das enzimas nela contidas.

• Possibilita o deslocamento de substâncias no citoplasma através da formação de pequenas vesículas.

• Realiza a endocitose e a exocitose.

• Possui receptores que interagem especificamente com moléculas do meio externo.

5.1 Estrutura da membrana plasmática

A membrana plasmática é uma bicamada de fosfolipídios que contém proteínas e envolve


externamente a célula eucariótica. Seu tamanho varia de 0,008 a até 0,01 de um micrômetro (1 µm
é a milésima parte do milímetro); portanto, a membrana plasmática só é perceptível no MET. Mantém
contato íntimo com o citoplasma e também com alguns de seus componentes (o citoesqueleto).

Observação

Para essa membrana, outras denominações já foram atribuídas, como


membrana citoplasmática, celular, plasmalema e plásmica.

A estrutura dessa membrana é responsável pela sua capacidade de permeabilidade seletiva, afirmação
que ainda é válida para muitas organelas citoplasmáticas de membrana.

O citoplasma possui uma matriz citoplasmática também denominada citossol. É formado por
substância coloidal, a qual é aquosa e contém moléculas químicas simples e complexas, além das
organelas citoplasmáticas, do citoesqueleto, de inclusões e pigmentos. No citoplasma, ocorre uma
série de reações químicas vitais para o funcionamento celular. Também no citoplasma está o núcleo,
que é o coordenador das atividades celulares. Portanto, a membrana plasmática envolve, protege, faz
comunicações e realiza uma série de atividades, mantendo a integridade celular.
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Por ser a estrutura que separa o meio extracelular do intracelular, a membrana plasmática facilita e regula
o transporte de substâncias para dentro e para fora da célula, através dos seus constituintes químicos.

A estabilidade dessa estrutura membranosa, como também das demais membranas que formam
as organelas citoplasmáticas portadoras de membrana, como o retículo endoplasmático, é devida aos
seus constituintes fosfolipídicos. Assim, as proteínas e os carboidratos presentes nessa membrana,
desempenham funções como:

• receptar sinais químicos;

• transportar íons e moléculas para os meios intra e extracelular;

• formar complexos de aderências entre células e de aderências com moléculas extracelulares;

• realizar a comunicação com células adjacentes e com o meio extracelular através das
proteínas integrinas.

Há proteínas que atravessam toda a espessura da membrana, comunicando moléculas extracelulares com
moléculas intracelulares – são as proteínas transmembranas. A estrutura de bicamada de fosfolipídios (são
moléculas anfipáticas) possui a cabeça polar hidrofílica, a qual possui afinidade por água e repele lipídios, e a
sua porção alongada, que é hidrofóbica, de hidrocarbonetos repele água e possui afinidade por lipídios.

Figura 37 – Estrutura da membrana plasmática. Note a estrutura trilaminar observada na eletromicrografia

A seguir, um esquema molecular da membrana plasmática. Os depósitos de ósmio explicam a


estrutura trilaminar da eletromicrografia, pois esse íon é usado para corar as laminadas de microscopia
eletrônica. A taxa de colesterol é inversamente proporcional à fluidez de membrana.

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Figura 38 – Esquema molecular da membrana plasmática

5.2 Hipótese de mosaico fluido

O modelo de mosaico fluido corresponde à disposição das proteínas na bicamada lipídica. Essas
proteínas são dinâmicas, porém muitas delas estão presas a outras moléculas do citoesqueleto celular,
que também é formado por proteínas. Quando há uma comparação entre a membrana plasmática e
a membrana das organelas de membrana, como as que formam o Golgi, entre outras, nestas, há uma
quantidade maior de enzimas (proteínas simples). Na superfície externa da membrana plasmática, há
hidratos de carbono (HC) ligados a lipídios e a proteínas, que constituem o glicocálice. Essa estrutura é,
na realidade, uma extensão da membrana, e na sua constituição há porções de açúcar das moléculas de
glicolipídeos, glicoproteínas e proteoglicanas.

Veja a seguir um esquema do experimento que demonstra a hipótese do mosaico fluído no qual se
incubaram células de camundongo com anticorpos marcados com rodamina (fluorescência vermelha), os
quais reagem com proteínas de membrana de células de camundongo, e incubaram‑se células humanas com
anticorpos marcados com diacetato de fluorceína (fluorescência verde), os quais reagem com proteínas de
membrana de células humanas. Promoveu‑se a fusão das células de camundongo com as células humanas,
ambas já ligadas aos anticorpos. Após a fusão, em quarenta minutos, observou‑se que as proteínas do
camundongo e as humanas estavam dispersas e misturadas ao longo da membrana plasmática.

Figura 39 – Esquema do experimento que demonstra a hipótese do mosaico fluído

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5.3 Comunicação celular

As células se comunicam entre si por sinais químicos (moléculas sinalizadoras) e por sinalização
elétrica através da despolarização de membrana associada à alteração de permeabilidade, conferindo
uma estabilidade funcional e coordenada entre os diversos tecidos, órgãos e sistemas. Toda a variedade
de atividades metabólicas ocorrem de modo integrado, nenhuma é isolada e independente da outra.

Entre os diversos tipos condução de moléculas de sinalização química, os mecanismos mais conhecidos
são os sistemas endócrino e a regulação parácrina. Mas é importante lembrar que existem mecanismos
difusos internos e externos ao organismo que atuam conjuntamente e com igual importância na
manutenção da homeostase:

[...] a capacidade de sustentar a vida está dependente da constância dos


fluidos do corpo humano, e poderá ser afetada por uma série de fatores,
como a temperatura, a salinidade, o pH, ou as concentrações de nutrientes,
como a glicose, gases, como o oxigênio, e resíduos, como o dióxido de carbono
e a ureia. Estes fatores em desequilíbrio (pela falta ou pelo excesso) podem
afetar a ocorrência de reações químicas essenciais para a manutenção do
corpo vivo. Para manter os mecanismos fisiológicos é necessário manter
todos esses fatores dentro dos limites desejáveis (UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE, [s.d.]b).

Saiba mais

Acesse o site equipe do departamento de Fisiologia da Universidade


Federal Fluminense, que tem uma página bem elaborada no endereço a seguir:

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF). Fisiologia. [s.d.]a. Disponível


em: <http://www.uff.br/WebQuest/index2.htm>. Acesso em: 8 jul. 2016.

Na sinalização endócrina, as moléculas são os hormônios, que são transportados pelo sangue e
podem agir bem distantes dos locais onde foram produzidos. Já na sinalização parácrina, as moléculas
produzidas agem bem próximas ao local de origem e são prontamente inativadas.

Cabe registrar que estas duas formas de sinalizações dependem de moléculas sinalizadoras e
também dos receptores dessas moléculas, os quais se encontram tanto na membrana plasmática como
nas organelas citoplasmáticas. A molécula sinalizadora liga‑se à proteína receptora, ativando uma
rota de sinalização intracelular mediada por uma sequência de proteínas sinalizadoras; uma ou várias
dessas proteínas interagem com uma proteína‑alvo, alterando‑a e levando, assim, a uma mudança no
comportamento da célula.

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A captação de sinais é feita pela proteína G, que é uma proteína associada a receptores e que atua
por modificação conformacional do receptor, que, por sua vez, ativa no complexo G –GDP a liberação
da subunidade alfa, que atua sobre os complexos efetores. Outro exemplo é a fosfolipase C, que cliva
um inositol‑fosfolipídeo do folheto citosólico da membrana plasmática, gerando dois fragmentos: o
diacilglicerol, que permanece na membrana e auxilia na ativação da proteína quinase C, e o IP‑3 (inositol
trifosfato), que é liberado no citosol e estimula a liberação do cálcio do reticulo endoplasmático. Portanto,
o processo é altamente seletivo.

São formas de sinalização celular:

• Parácrina: as moléculas sinalizadoras são secretadas e podem ser levadas para longe, agindo em
alvos distantes ou como mediadores locais.

• Sináptica: sinal químico chamado neurotransmissor. Esses sinais são secretados em junções
celulares especializadas.

• Endócrina: essas células secretam suas moléculas sinalizadoras chamadas hormônios na corrente
sanguínea, que se encarrega de transportá‑las para células‑alvo distribuídas por todo o corpo.

• Autócrina: célula que secreta moléculas sinalizadoras que se ligam aos seus receptores na própria
célula. Por exemplo, quando uma célula decide seguir uma determinada rota de diferenciação, ela
começa a secretar sinais autócrinos, o que reforça a sua decisão.

• Elétrica: aqui, são gerados impulsos nervosos com alteração no potencial elétrico da membrana
plasmática, pela entrada de íons sódio e saída de íons potássio. Esse processo é muito rápido
quando comparado com processos de sinalizações químicas realizadas pelos hormônios, os quais
são lentos.

Todos os processos no interior das células envolvem moléculas hidrossolúveis; logo, a membrana deve
impedir que a água e outras moléculas fluam descontroladamente para dentro ou para fora das células.

Assim, a membrana mantém a integridade das células, função diretamente ligada a sua composição
de fosfolipídeos. Esses fosfolipídios são denominados fosfatidilcolina, esfingomielina, fosfotidilinositol,
fosfatidilserina e fosfatidoletanolamina. Todos são neutros, exceto a fosfatidilserina, que tem carga
negativa, e quase sempre estão voltados para a face citosólica (interna). A assimetria dos fosfolipídeos
das suas membranas plasmáticas é útil para distinguir células vivas de mortas. Quando as células animais
sofrem uma morte celular programada, ou apoptose, a fosfatidilserina, que normalmente fica confinada no
folheto citosólico na bicamada lipídica da membrana plasmática, é translocada para o folheto extracelular.
A fosfatidilserina serve como um sinal para induzir células adjacentes a fagocitar e digerir a célula morta.

5.4 Transporte celular

Pela membrana, há transportes, isto é, ocorrem passagens entre os meios intra e extracelular. Esses
transportes são classificados em passivo (quando há difusão de uma substância sem gasto de energia),
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ativo (quando há gasto energético) e em massa (endocitose, que pode ser de material sólido, a fagocitose,
e de material líquido, a pinocitose).

O transporte passivo é a passagem de pequenas moléculas e de íons, feitas a favor de um gradiente


e sem gasto de energia, isto é, o acesso dessas moléculas e desses íons do lado de maior concentração
para o lado de menor concentração, tendendo a produzir um equilíbrio por um processo físico sem gasto
energético. Já o transporte ativo é realizado com ajuda das proteínas existentes na membrana, denominadas
proteínas transportadoras. Nesse transporte de entrada ou de saída de material da célula, há gasto de
energia proveniente da hidrólise de ATP (adenosina trifosfato ou trifosfato de adenosina). Aqui, o material/
substância pode ser transportado de um lado de menor concentração para o lado de maior concentração,
isto é, contra o gradiente. Há ainda outra maneira de transporte pela membrana, denominado transporte
facilitado. Esse tipo também se encontra na dependência de proteínas existentes na membrana plasmática,
porém sem gasto de energia. É uma difusão que se processa a favor do gradiente, porém com velocidade
maior quando comparado com o transporte passivo por difusão simples.

A endocitose (transporte de massa) é um processo em que as células transferem para o seu interior
moléculas grandes e partículas (micro‑organismos) por meio da fagocitose e até da pinocitose,
constituindo atividades endocíticas. A transferência de material do meio intra para o extracelular
denomina‑se atividade exocítica – exocitose. Há mais atividades de fagocitose do que de pinocitose.

Conclui‑se que as passagens/transportes anteriormente descritas são dependentes, por exemplo, de


proteínas de transporte, como a aquaporina, que permite a passagem da água. Proteínas carreadoras

[...] fixam a molécula a ser transportada, modificando‑a para facilitar


o transporte. A presença de uma determinada proteína carreadora na
membrana facilita a sua velocidade de passagem. Se comparado com o
processo da difusão, este é muito lento; logo, transporte por membranas
carreadoras é diferente de transporte por difusão.

O principal solvente encontrado na natureza é a água, considerada solvente universal, pois é


dispersante e dispersora, desfazendo e dissolvendo os solutos. Portanto, a solução é constituída de um
solvente mais um soluto. Substâncias que são dissolvidas em água são denominadas hidrossolúveis, e as
que são dissolvidas em lipídios são lipossolúveis.

A seguir, serão descritos detalhadamente os diferentes tipos de transportes realizados pela membrana:

• O transporte passivo não requer consumo de energia e depende do gradiente de concentração


(diferença de concentração entre os meios intra e extracelular). Há transporte passivo por difusão
simples, por difusão facilitada e por osmose.

— Na difusão simples ocorre a passagem de soluto através da membrana plasmática, obedecendo


a um gradiente de concentração, quando se tem um lado da membrana mais concentrado
(hipertônico) do que o outro (hipotônico). O lado mais concentrado perde soluto para o menos
concentrado, até que ocorra uma igualdade entre eles (isotônicos). Por difusão, temos a
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passagem de substâncias hidrossolúveis, lipossolúveis e voláteis. Como exemplo, podemos citar


O2, CO2, N2, benzeno, H2O e anestésicos.

— Já na difusão facilitada ocorre o mecanismo da difusão simples, mas com a participação de


uma proteína de membrana que atua como proteína transportadora ou carreadora, denominada
permease. Como exemplo de substâncias que são transportadas por difusão facilitada, pode‑se
citar o transporte de alguns íons e aminoácidos.

— A osmose é um tipo de transporte passivo em que o gradiente de concentração não interfere.


Nesse mecanismo de transporte, a membrana é permeável ao solvente e impermeável ao
soluto. A passagem de solvente se dá do meio menos concentrado (hipotônico) para o meio
mais concentrado (hipertônico), até que as concentrações dos meios fiquem iguais (isotônico).

• O transporte ativo requer consumo de energia que vem da quebra da molécula de ATP (adenosina
trifosfato ou trifosfato de adenosina), formando ADP (adenosina difosfato + fósforo). Ocorre
contra o gradiente de concentração; aqui, o transporte do soluto é do meio menos concentrado
para o meio mais concentrado.

A bomba de sódio (Na+) e potássio (K+) ocorre por transporte ativo. Na maioria das células, a
concentração de sódio (Na+) no meio extracelular é maior que no meio intracelular e a concentração
de potássio (K+) no meio intracelular é maior que no meio extracelular. No mecanismo da bomba de
(Na+) e (K+), o transporte iônico ocorre através do canal iônico presente na proteína transmembrana e
se dá contra o gradiente de concentração; o sódio (Na+) sai da célula e o potássio (K+) entra na célula.

O transporte em quantidade é denominado endocitose, ocorrendo três variações desse transporte:


fagocitose, pinocitose e endocitose mediada por receptores.

O processo de fagocitose ocorre quando uma célula realiza o englobamento de partículas grandes
ou elementos estranhos para a célula vindo do meio extracelular (material sólido). O reconhecimento
do que vai ser fagocitado é feito através dos receptores de membrana presentes na célula fagocitária
(células: macrófagos, certos tipos de leucócitos e osteoclastos).

Durante esse processo, ocorre a composição de projeções intracitoplasmáticas da membrana, criando


os pseudópodos, que passam a envolver o material a ser fagocitado.

Nesse processo, participam os filamentos de actina do citoesqueleto celular, presentes no citoplasma


e que são os responsáveis pela invaginação da membrana na forma de saco/vesícula, caracterizando a
fagocitose, pois quando a invaginação possuir forma de tubo vesicular, ocorrerá a pinocitose (ingestão
de material líquido).

O processo da fagocitose é mais comum; já a pinocitose ocorre em poucas células. A partir do


englobamento, ocorre a formação de uma bolsa de membrana, contendo no seu interior o material
fagocitado, o qual não entra em contato com o citoplasma. Com a fusão dos lisossomos primários, surge
o vacúolo digestivo ou fagossomo.
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No processo de pinocitose, o material a ser englobado pela célula corresponde a gotículas de


líquidos que, graças a projeções citoplasmáticas delgadas, são englobadas para formar bolsas ou
vesículas (pinossomo) contendo esse material no seu interior. Em algumas células, como no macrófago
e nas células endoteliais, dependendo do tamanho da projeção citoplasmática e da gota a ser absorvida
(transportada), ocorrem os eventos de micropinocitose e macropinocitose.

A saída do material pela membrana (exocitose) pode ocorrer por secreção (quando o material foi
elaborado pela célula) e por clasmocitose (resíduos de processos de endocitoses). Assim, à medida que a
atuação dos lisossomos vai ocorrendo no interior da bolsa formada, o material interiorizado vai sendo
quebrado em partículas menores para ser utilizado no citoplasma ou, então, para formar o corpo residual
e ser eliminado da célula por clasmocitose.

No processo da endocitose mediada por receptores, o caso clássico é o processo de absorção


do colesterol, tipo de lipídio importantíssimo para a fabricação de membranas celulares e de muitos
esteroides, como cortisol e cortisona, entre outros. Na corrente sanguínea, há lipoproteínas (partículas
de colesterol) de baixa densidade (LDL – lipídio + proteína). O LDL funciona como um “ligante”, isto é, se
fixa num receptor existente na membrana plasmática e, após esse acoplamento, penetra para o interior
da célula por endocitose. Se ocorrer problemas nesse mecanismo de recepção com as lipoproteínas,
haverá aumento de lipídios na corrente sanguínea, principalmente se o hábito alimentar for incorreto,
proporcionando, num futuro próximo, o acúmulo de colesterol no sangue, ou seja, placas de aterosclerose
em vasos importantíssimos, que promovem a diminuição do fluxo sanguíneo e, em consequência final,
morte de células, como é o caso do infarto agudo do miocárdio.

Figura 40 – Esquema que demonstra a pinocitose mediada por receptores e a identificação de endossomos (pequenas vesículas) a
partir de proteínas de cobertura associadas à membrana

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5.5 As células em meios de diferentes concentrações

Há concentrações denominadas isotônicas, hipertônicas e hipotônicas (respectivamente, de mesma, com


maior e com menor concentração de soluto). Portanto, quando esses termos são usados, deve‑se sempre
inferir que são entre duas soluções. Homeostase é o equilíbrio entre concentrações do meio interno do
organismo e o meio externo, não significando que esse equilíbrio seja isotônico, e sim que as concentrações
sejam estáveis. Quando a homeostase é alterada, pode‑se afirmar que o organismo está doente.

Edemas são alterações dos tecidos por acúmulo de água, e a osmose pode ser um fator determinante
na formação de edemas. Por exemplo, em subnutridos é comum a observação de regiões edemaciadas
no corpo, o que ocorre devido às diferentes concentrações entre o sangue e os tecidos (conjuntos
celulares). O sangue de um subnutrido é “ralo”, com baixas concentrações de nutrientes, enquanto os
tecidos apresentam maior concentração, pois suas células contêm proteínas, lipídios etc. Portanto, a
água sai do plasma sanguíneo por osmose e se acumula nos tecidos, formando o edema.

Hidratantes isotônicos apresentam a mesma concentração dos fluídos corporais humanos (próximo a
0,9%). A velocidade de absorção de água não aumentará, uma vez que as concentrações são as mesmas
– se fosse maior (hipertônica), promoveria a desidratação; se menor (hipotônica), seria rapidamente
absorvida. A “vantagem” anunciada dos isotônicos é a reposição dos sais minerais (eletrólitos) ao
organismo, porém, para que ocorra a reposição, o organismo deve estar sofrendo falhas nutricionais
ou tratar‑se de um atleta de alto desempenho que perde excessivamente seus eletrólitos em atividades
físicas. Portanto, ocorre um sério risco na ingestão desnecessária desse produto: a pressão arterial pode
se elevar em decorrência da maior concentração sanguínea, que passou a ter maior pressão osmótica
(capacidade de reter líquidos), e ainda pode ocorrer a formação de cálculos renais, devido à sobrecarga
de sais que o rim passa a ter para eliminar o excedente.

Em 2003, médicos americanos (MacKinnon e Agre) ganharam o Prêmio Nobel de Química, pois
descobriram os canais existentes na membrana plasmática que controlam o fluxo de água e de íons
cálcio. Afirmam os pesquisadores que há, na membrana, canais específicos para entrada e saída de água
e de íons: cálcio, potássio, sódio, cloro, entre outros. Esses canais são específicos, só reconhecem estes
tipos de íons.

Proteínas canais são proteínas integrais que formam poros hidrofílicos, também chamados de canais
iônicos. Para a criação dos poros, as proteínas apresentam‑se pregueadas, de maneira que os aminoácidos
hidrófobos aparecem internamente, enquanto os hidrófilos compõem o revestimento interno do canal.
A maioria das porinas é seletiva, permitindo a passagem de íons de acordo com o tamanho e a carga
elétrica. Assim, para exemplificar, canais estreitos bloqueiam íons grandes, enquanto os canais com
revestimento interno negativo atraem e permitem a passagem de íons positivos. A aquaporina é uma
proteína que forma o canal que permite a passagem da água.

Veja a seguir desenhos de eritrócitos humanos em diferentes meios de concentração. No meio


hipertônico (NaCl 1,5%), a célula se encontra crenada, totalmente desidratada; no meio isotônico (NaCl
0,9%), a sua morfologia é mantida; e no meio hipotônico (NaCl 0,6% e 0,4%) ocorrem, respectivamente,
turgescência e hemólise.
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Figura 41 – Desenhos de eritrócitos humanos em diferentes meios de concentração

6 MOVIMENTAÇÃO CELULAR E CITOESQUELETO

Para a manutenção das organelas em locais predeterminados e da própria célula, o citoesqueleto


estabelece, modifica e mantém a forma das células. É responsável pelos movimentos celulares
como contração, pseudópodos, filopódios e deslocamentos intracelulares de ribossomos, organelas,
cromossomos, vesículas e grânulos e pelo próprio tamanho (grande volume) das células dos eucariontes.

O interior celular está em constante movimento intracelular, como o transporte de organelas de um


local a outro e a segregação dos cromossomos durante a mitose. É predominante e estruturalmente
complexo em eucariontes.

O citoesqueleto é constituído de uma estrutura de três tipos de proteínas filamentosas: filamentos


intermediários, microtúbulos e filamentos de actina, sendo a tubulina e a actina muito conservados
durante a filogênese.

Os principais elementos são os microtúbulos, os microfilamentos de actina, os filamentos


intermediários e as demais macromoléculas diversas que assumem funções diferentes conforme o tipo
celular. Apenas os filamentos intermediários são estáveis, exercendo papel de sustentação.

Os deslocamentos de organelas e outras partículas são devido às proteínas motoras divididas em dois
grupos: as dineínas e quinesinas, que causam deslocamentos em associação com os microtúbulos, e as
miosinas, que podem formar filamentos e atuam em associação com filamentos de actina. A semelhança
estrutural entre a miosina e a quinesina sugere uma origem evolucionária comum.

De maneira geral, os polímeros do citoesqueleto combinam resistência com adaptabilidade porque


são constituídos de múltiplos protofilamentos – subunidades cordonais unidas em suas extremidades e
uma a outra lateralmente. Tipicamente, podem se enrolar em hélice.

A perda adicional de uma subunidade de um protofilamento faz ou quebra um conjunto de ligações


longitudinais e/ou um ou dois jogos de ligações laterais. Em contrapartida, a quebra do filamento
composto no meio requer a quebra de uma série de ligações em diversos protofilamentos ao mesmo
tempo. Essa diferença permite que o citoesqueleto resista à quebra térmica, enquanto as porções
terminais são estruturas dinâmicas nas quais ocorre adição ou subtração de subunidades rapidamente.

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Outro tipo de interação proteína‑proteína, as subunidades dos filamentos do citoesqueleto são


mantidas juntas por um grande número de interações hidrofóbicas e por fracas ligações não covalentes. A
localização e os tipos de contatos entre subunidades são distintas entre os diferentes tipos de filamentos
do citoesqueleto.

Os neurônios migram no embrião para localidades especiais utilizando mobilidade baseada na actina.
Uma vez no local, emitem uma série de processos longos e especializados em receber sinais elétricos
(dentritos) ou transmitir esses sinais para células‑alvo (axônios). Ambos os processos (neuritos) são
preenchidos por microtúbulos, que são essenciais para sua estrutura e função.

Veja agora algumas fotomicrografias de fluorescência dos três tipos de filamentos do citoesqueleto
em uma mesma célula (fiboblasto) que demonstram as distribuições e localizações características. Os
três sistemas de fibras contribuem para a forma e os movimentos celulares.

Figura 42 – Fotomicrografias de fluorescência dos três tipos de filamentos do citoesqueleto em uma mesma célula (fibroblasto)

6.1 Microtúbulos

São rígidos, longos, tubulares, cilíndricos e constituídos pela proteína tubulina.

Um protofilamento de tubulina é formado por subunidades (α‑β‑heterodímeros) na mesma


orientação do filamento, promovendo uma polaridade. Vários protofilamentos se unem para formar o
microtúbulo com 13 subunidades distintas.

Estão presentes no citoplasma, com 25 nm de diâmetro e peso de 110 kD, tubulina α e tubulina β (5
nm cada), presentes no citosol, que se juntam para formar dímeros (a molécula GTP da α‑tubulina está tão
fortemente ligada, que pode ser considerada uma parte integral da proteína; já a β‑tubulina não está tão
firmemente ligada). Em corte transversal, sua parede é constituída por 13 pares de dímeros. Estão em constante
reorganização, havendo polarização dos dímeros em uma extremidade (extremidade +) e despolarização na
outra (extremidade –). A polarização é mediada por Ca2+ (polarização rápida) e pelas proteínas associadas aos
microtúbulos (Maps – microtubule‑associated proteins) para polarização mais durável.

Também formam o fuso mitótico durante a divisão celular.

Podem ser permanentes nos cílios e flagelos, com a região central bem organizada.

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BIOLOGIA (CITOLOGIA)

Um cílio possui parte central constituída de dois microtúbulos (axionema) circundados por nove
duplas de microtúbulos. Nas duplas, o microtúbulo A é complexo e possui 13 subunidades + dois braços de
dineína. O microtúbulo B possui dois ou três subunidades comuns com microtúbulo A. Quando ativados
na presença de ATP, os braços de dineína ligam‑se ao microtúbulo adjacente, encurvando os microtúbulos.

Há um par de centríolos com ângulo reto entre si, com 150 nm de diâmetro por 200 a 500 nm
de comprimento, próximos ao aparelho de Golgi, chamados de centrossomo ou centro celular. São
constituídos de nove trincas de microtúbulos unidos por pontes proteicas. O microtúbulo A é complexo,
com 13 subunidades; já os microtúbulos B e C têm subunidades de tubulina em comum.

Os centríolos são enigmáticos. Na maioria das células animais, residem nos centrossomos, um
complexo macromolecular que organiza o sistema de microtúbulos. Os centríolos mãe e filho possuem
um comportamento diferente. Algumas horas após a divisão celular, os centríolos vagam pelo corpo
celular separado da mãe por muitos micrômetros. A motilidade gradualmente diminui até parar,
coincidindo com o início da duplicação de DNA no núcleo.

Ao redor dos centríolos, encontramos centenas de estruturas em forma de anel compostas de


γ‑tubulina, e cada uma serve como ponto de partida ou centro de nucleação para o crescimento do
mictrotúbulo. Os centríolos não possuem papel na nucleação dos microtúbulos no centrossomo (a
γ‑tubulina é suficiente).

A concentração de αβ‑tubulina livre é pequena. Por esse motivo, para haver formação de
microtúbulos, é necessária uma concentração elevada de αβ‑tubulina livre. Já o alongamento de
microtúbulos pré‑existentes é rápido.

Em algumas células, o centrossomo não contém centríolos e é constituído de material amorfo,


de onde se originam os microtúbulos. O centrossomo é MTOC (microtubule organizing center). São
constituídos de material amorfo onde se dispõem 27 microtúbulos em nove feixes, cada um com
três microtúbulos paralelos presos entre si. Os corpúsculos basais onde se inserem os cílios e flagelos
apresentam a mesma estrutura.

As drogas que interferem na dinâmica dos microtúbulos são:

• A ureia, que despolimeriza os microtúbulos.

• A colchicina (alcaloide), vincristina e vimblastina, que paralisa a mitose na interfase e se combina


especificamente com dímeros de tubulina, impedindo a adição de novas tubulinas à extremidade
+ (polimerizadora), de modo que a extremidade – (despolimerizadora) continua e o microtúbulo
desaparece.

• O taxol (alcaloide), que acelera a formação de microtúbulos e os estabiliza, impedindo a existência de


tubulina livre no citoplasma para formar as fibras do fuso mitótico – consequentemente, a mitose
também não ocorre. Esse é o princípio de algumas drogas utilizadas no tratamento do câncer.

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Há constante troca entre os dímeros de tubulina do citoplasma e os dímeros polimerizados dos


microtúbulos, havendo formação e dissoluções permanentes. Há capacidade das moléculas de tubulina
hidrolizarem GTP. Cada dímero livre de tubulina contém uma molécula de GTP fortemente ligada que é
hidrolizada à GDP (continua fortemente ligada, mas não tanto), logo após uma subunidade ser adicionada
a um microtúbulo em crescimento. As moléculas de tubulina associadas ao GTP se ligam de modo eficaz
na parede do microtúbulo, enquanto as moléculas que possuem GDP exibem uma configuração distinta
e se ligam mais fracamente uma à outra.

Quando a polimerização ocorre rapidamente, moléculas de tubulina são adicionadas ao fim do


microtúbulo mais facilmente do que o GTP que elas carregam é hidrolizado, assim a porção final do
microtúbulo em formação possui subunidades de tubulina‑GTP, chamada de capuz GTP. Nessa situação,
como o microtúbulo somente pode se despolimerizar pela perda de subunidades da sua extremidade
livre, o crescimento do microtúbulo continuará. Como o processo químico se dá ao acaso, pode ocorrer
que a tubulina da extremidade livre do microtúbulo hidrolize seu GTP antes que uma nova tubulina seja
adicionada, assim o terminal será constituído de uma tubulina‑GDP, e uma vez iniciada a despolarização,
ela tenderá a continuar e o microtúbulo começará a retrair rapidamente, podendo até desaparecer.

As tubulinas liberadas ficam como estoque no citoplasma (num fibroblasto, cerca de metade das
tubulinas se encontram dessa forma), disponíveis para o crescimento de microtúbulos. As moléculas
de tubulina no reservatório trocam seu GDP por GTP, tornando‑se novamente competentes para serem
adicionadas a outro microtúbulo que esteja na fase de crescimento.

Numa célula normal, como consequência da instabilidade dinâmica, o centrossomo (ou centro
organizador) está continuamente emitindo novos microtúbulos num padrão exploratório em diferentes
direções e os retraindo. Entretanto, o microtúbulo poderá se estabilizar pela adição de outra molécula
ou estrutura celular que impeça a despolimerização da tubulina. O centrossomo pode ser comparável
a um pescador que lança sua linha em diversas direções e, quando não é fisgada, é recolhida depressa,
mas se é fisgada, a linha permanece no local, segurando o peixe para o pescador.

78
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

Figura 43 – Desenho demonstrando a dinâmica da formação dos microtúbulos

Os microtúbulos organizam o interior da célula. As células são capazes de modificar dinamicamente


seus microtúbulos para diferentes objetivos:

• Mitose: a princípio os microtúbulos se tornam mais dinâmicos, alternando entre formação e


desintegração mais frequentemente que os microtúbulos do citoplasma. Isso permite que se
desassociem rapidamente e criem os fusos mitóticos.

• Morfologia celular: a célula é especializada com uma determinada estrutura fixa, de modo
que a instabilidade dos microtúbulos é suprimida por proteínas que se ligam no término dos
microtúbulos e os estabilizam para a manutenção da forma celular.

• Polarização celular: por exemplo, célula nervosa, com o axônio de um lado e os dendritos de
outro (os microtúbulos do axônio apontam para a mesma direção com a terminação + apontada
para o terminal axônico. Células secretoras geralmente mantêm o Golgi em direção ao local de
secreção. A polarização é decorrente dos microtúbulos, mantendo organelas em determinados
locais e direcionando o tráfego de movimento entre uma parte da célula e outra.
79
Unidade II

Influenciam a distribuição de membrana nos eucariontes através de proteínas motoras associadas a


microtúbulos.

As proteínas motoras se ligam aos filamentos de actina ou aos microtúbulos, utilizam energia
derivada da hidrólise do ATP e trafegam sobre o filamento em uma direção. Podem também aderir a
outros componentes celulares e transportar suas cargas ao longo dos filamentos.

São duas grandes famílias: as dineínas, que geralmente se movem em direção ao terminal + dos
microtúbulos (para longe do centrossomo), e as quinesinas, que se movem em direção ao terminal –
(em direção ao centrossomo). As duas possuem duas cadeias pesadas e várias cadeias leves. Cada cadeia
pesada forma uma cabeça globular, que interage com o microtúbulo de maneira estéreo específica. Elas
são ATP dependente e “caminham” pelo microtúbulo.

O aparelho de Golgi e RE dependem dos microtúbulos para sua localização e posicionamento


intracelular. Com o desenvolvimento da célula, o RE cresce e a quinesina aderida do lado de fora da
membrana do RE o puxa para fora ao longo dos microtúbulos, alongando‑o como uma rede. A dineína
puxa o Golgi na direção contrária para dentro em direção ao núcleo. Se as células forem tratadas com
drogas que inibem o crescimento dos microtúbulos, as organelas mudam de local.

Os cílios são prolongamentos longos com motilidade presentes nas superfícies de algumas células
epiteliais. Com 5 a 10 µm de comprimento por 0,25 µm de diâmetro, são envolvidos por membrana plasmática
e contêm dois microtúbulos centrais cercados por nove pares de microtúbulos periféricos unidos entre si.
Estão inseridos nos corpúsculos basais, que são estruturas eletrondensas presentes no ápice das células, sob
a membrana (análoga aos centríolos). Exibem rápido vaivém, movimento que em geral é coordenado e gera
uma corrente de fluído ou de partículas numa determinada direção. Além disso, utilizam ATP.

Uma célula da traqueia pode ter 250 cílios (mais de um bilhão por cm2). Eles são constituídos por
um feixe de microtúbulos paralelos envoltos por membrana. Nos mamíferos, são presentes na árvore
respiratória (deslocam o muco e partículas a ele aderidas) e oviduto (deslocam o oócito). Nos protozoários,
podem ser utilizados para locomoção e alimentação.

Os microtúbulos são um pouco diferentes dos encontrados nas células. Cada um dos pares de
microtúbulos (nove) são constituídos por um microtúbulo A (inteiro) com um microtúbulo B (um
pouco maior, que se encaixa como uma orelha no A). Encontramos ainda raios radiais, uma bainha
interna que envolve o par de microtúbulos centrais (ambos inteiros e separados entre si). Entre os nove
pares encontramos uma ligação de nexina. Cada um dos microtúbulos possui um braço interno e um
externo de dineína ciliar, como se aproximando o microtúbulo adjacente. Essas dineínas fazem contatos
periódicos com o microtúbulo adjacente e se movem ao longo dele na presença de ATP, produzindo a
força para o batimento ciliar. Outros tipos de proteínas atuam para ancorar e ligar aos microtúbulos
juntos e converter o movimento de deslocamento produzido pelas ligações de dineínas.

Os flagelos são mais longos e, em geral, se apresentam individualmente. Nos vertebrados, encontra‑se
apenas no espermatozoide, sendo um por células. É diferente do flagelo bacteriano, embora ambos
sejam feixes de nove pares de microtúbulos em círculo (fundidos) com um par central (separados).
80
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

A proteína dineína tem atividade ATPásica. Ela forma um par de braços ligados aos microtúbulos dos
pares periféricos. É a interação entre a dineína e os túbulos vizinhos, que acarreta num deslizamento
entre pares vizinhos e promove a torção de toda estrutura, gerando o movimento ciliar ou flagelar.

Nos axônios os microtúbulos estão orientados na mesma direção, com o terminal – apontando
para o corpo celular. Não há um microtúbulo cobrindo todo o axônio, há uma série de sobreposições
de microtúbulos paralelos de poucos µm que fazem o transporte pelo axônio mais rápido. Nos
dendritos, a polaridade dos microtúbulos é mista. Há muitas proteínas transportadoras de vesículas
específicas, e elas são necessárias nos terminais axônicos, onde as sinapses são construídas e
mantidas (são produzidas exclusivamente no corpo celular). Muitas mitocôndrias, grande número
de proteínas específicas de transporte de vesículas e precursores de vesículas sinápticas realizam
sua longa jornada (em neurônios longos) na direção anterógrada. São conduzidas por proteínas
da família das proteínas motoras kinesinas (movem‑se um metro/dia), muito mais rápido que
por difusão (levaria oito anos para uma mitocôndria percorrer a mesma distância). O transporte
retrógrado pelo axônio acontece pela dineína.

A estrutura dos axônios depende dos microtúbulos e também dos filamentos de actina e
filamentos intermediários. Os filamentos de actina se orientam no córtex do axônio, logo abaixo
da membrana plasmática, e as proteínas baseadas na actina, como a miosina V, são também
abundantes. Filamentos intermediários especializados das células nervosas fornecem o suporte
estrutural mais importante para o axônio.

Os microtúbulos reforçam a direção final do crescimento do cone. Microtúbulos paralelos logo


abaixo do cone de crescimento estão em constante expansão e encolhendo por uma instabilidade
dinâmica. Sinais adesivos guias estão relacionados de alguma forma com o final dinâmico dos
microtúbulos; assim, os microtúbulos dilatando-se na direção correta são estabilizados contra o
desmantelamento. Dessa forma, um axônio rico em microtúbulos é deixado para trás, fazendo o
cone seguir sua viagem.

Dendritos são em geral muito mais curtos que os axônios, e sua função é mais receber sinais que
enviá‑los. Os microtúbulos nos dendritos são paralelos uns aos outros, mas suas polaridades são mistas.
Todavia, os dendritos são resultantes da atividade do cone de crescimento. Expandindo-se sozinhos
por seus próprios caminhos, os cones de crescimento nas extremidades de ambos, dendritos e axônios,
criam uma morfologia intricada e altamente individual de cada célula neuronal madura. Dessa forma, o
citoesqueleto fornece o mecanismo para construção de todo sistema nervoso, assim como o suporte e
estabilização do fortalecimento das suas partes.

A imagem a seguir mostra uma eletromicrografia da porção apical de uma célula epitelial ciliada.
Os cílios aparecem seccionados longitudinalmente e, no detalhe, seccionados transversalmente. As
pontas de setas indicam microtúbulos dispostos longitudinalmente. A ultraestrutura ciliar de nove
pares de microtúbulos em disposição circular em torno de um par central é facilmente evidenciada
no detalhe à esquerda.

81
Unidade II

Figura 44 – Eletromicrografia da porção apical de uma célula epitelial ciliada

6.2 Microfilamentos de actina

É muito abundante no músculo e constitui 5‑30% das proteínas totais do citoplasma. Forma o
córtex medular, camada imediatamente abaixo da membrana plasmática, que reforça a membrana
e participa dos movimentos da célula (por exemplo, fagocitose). São moléculas muito conservadas
filogeneticamente.

A actina nos eucariontes se concentra, em geral, em uma camada logo abaixo da membrana
plasmática, chamada de córtex celular. Os filamentos de actina estão ligados por proteínas de ligação
da actina, formando uma rede que suporta a superfície celular externa e fornece resistência mecânica.
Nos eritrócitos, são responsáveis pela forma discoide da célula. De maneira geral, o córtex celular é mais
espesso e complexo, sendo capaz de uma série de movimentos e formas.

Muitas células rastejam na superfície em vez de nadarem por cílios ou flagelos à procura de alimento,
como as amebas carnívoras e células do sangue, que percebem moléculas difusíveis relacionadas com
bactérias, migram, fagocitam e destroem (por exemplo, neutrófilos e macrófagos).

Os neutrófilos (leucócitos granulócitos) migram em direção a uma infecção bacteriana. Proteínas


receptoras de membrana permitem que os neutrófilos percebam concentrações muito baixas de
peptídios N‑formilados que derivam das proteínas bacterianas (percebem diferenças de concentração
de 1%), ocorrendo uma polimerização de actina nas proximidades dos receptores, que são estimulados
quando os receptores se ligam ao estímulo. Essa reposta de polimerização de actina depende da família
monomérica Rho de GTPases. Como resposta, a célula estende um prolongamento em direção ao sinal,
que indiretamente causa uma reorientação do maquinário gerador de tração, e o corpo da célula segue
seu “nariz” e se move em direção ao sinal atrativo.

82
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

A direção da migração celular pode também ser influenciada por sinais químicos aderidos à matriz
extracelular ou na superfície das células. Receptores a esses sinais podem causar adesão celular em
adição à polimerização de actina direcionada. A maioria das migrações de células animais em longas
distâncias, incluindo o crescimento da crista neural e crescimentos neuronais através de cones, depende
da combinação de sinais difusíveis e não difusíveis.

São instáveis como os microtúbulos, mas podem formar estruturas estáveis, como no músculo ou
nos microvilos do epitélio intestinal. Além disso, são associados com um grande número de proteínas
que se ligam à actina.

Figura 45 – Dinâmica da conversão da actina G em actina F; as regiões que promovem polimerização (+)
e despolimerização (‑) permitem o movimento do filamento

Podem se contrair (músculos das células), emitir prolongamentos, como nos fibroblastos, ou formar
o anel que se contrai durante a divisão celular.

São flexíveis, sendo formados por uma estrutura quaternária fibrosa composta de actina F (7 nm de
diâmetro), constituída de duas cadeias em espiral de filamentos compostos de actina G, lembrando um
colar de pérolas. Estão arranjados em forma de hélice, que completa um giro a cada 37 nm. Possuem
ainda polaridade com um terminal + e um –. É bastante flexível e em geral menor que os microtúbulos,
e a quantidade (comprimento total) de filamentos de actina na célula é cerca de 30 Xs de microtúbulos.
Raramente estão isolados nas células: é comum vários filamentos de actina se agregarem para formar
feixes mais espessos.

Os filamentos de actina podem crescer pela adição de actina G nas terminações, sendo mais rápida
na terminação + que na –.

Um filamento de actina puro, como um microtúbulo, é muito instável e pode se desmontar por ambos
os lados. Cada actina G possui um ATP fortemente ligado, que é hidrolizado à ADP após ser incorporado à
actina F. A hidrólise reduz a força da ligação (como nos microtúbulos) e reduz a estabilidade do polímero.
A hidrólise de nucleotídeos promove a despolimerização, ajudando a desmantelar os filamentos de
actina após serem formados.

83
Unidade II

As citocalasinas combinam com actina e impedem a polimerização, e faloidinas combinam


externamente com filamentos de actina, estabilizando‑os. Ambas são extraídas de fungos e interferem
nos movimentos celulares, o que ocorre mais em células não musculares.

Os filamentos de actina, após formados, duram alguns minutos. O equilíbrio entre os filamentos
de actina e a reserva de actina G são essenciais para a sua função. Cerca de 5% da proteína total de
uma célula animal é actina; cerca de metade está na forma de filamentos (actina F), e o restante, no
citosol (actina G). A célula possui pequenas proteínas, como timosina (que mantém a actina G como
reserva até ser necessária) e profilina. Elas se ligam à actina G no citosol, impedindo que eles se unam às
terminações da actina F, e assim regulam a polimerização da actina. Há muitas outras proteínas que se
une à actina na célula. A maioria se liga à actina F e controla o comportamento do filamento.

Lembrete

O citoesqueleto de actina pode regular o comprimento, a localização,


a organização e o comportamento dinâmico das células. A atividade dos
filamentos de actina pode ser regulada por sinais extracelulares, permitindo à
célula reorganizar seu citoesqueleto em resposta ao ambiente.

6.3 Citoesqueleto de uma fibra muscular estriada

Em uma fibra muscular, os microfilamentos de actina estão entre os miofilamentos e a associação


deles com os miofilamentos de miosina é a peça fundamental para o movimento de contração muscular.

Actina e miosina compõem 55% das proteínas do músculo estriado. A associação dos miofilamentos
de actina e miosina forma uma família e hidrolisa ATP, que fornece energia para o movimento ao longo
do filamento de actina em direção à teminação –. Há muitas subfamílias, sendo as miosinas I e II as mais
abundantes. A miosina I é encontrada em todas as células e é a mais simples, pois possui apenas uma
cabeça e uma cauda. A cabeça interage com o filamento de actina, que possui a atividade de hidrolisar
o ATP, e assim a miosina se move sobre o filamento de actina em direção à terminação +, transportando
a vesícula a ela ligada sobre o filamento de actina em ciclos repetitivos. A cauda pode também se ligar
à membrana plasmática e modificar a forma desta.

Os feixes de miofilamentos formam as miofibrilas, que possuem 1‑2 µm de diâmetro, e nessas


estruturas estão os sarcômeros (de 2,5 µm de comprimento), com um padrão repetitivo que dá o aspecto
estriado à célula. Sua composição é de filamentos de actina e miosina II (ou filamentos grossos), que são
posicionados centralmente no sarcômero. São as unidades contráteis do músculo.

Os principias miofilamentos são distribuidos da seguinte forma:

• Actina G (globular), com 5,6 nm de diâmetro.

• Actina F (fibrosa), hélice dupla de actina G polimerizada com sítio de ligação para miosina.
84
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

• Tropomiosina, molécula cordonal, fina, polarizada e rígida, com 40 nm de comprimento e duas


cadeias em forma de α hélice enroladas, que se encaixa na hélice de actina (actina F), cobrindo
sete actinas G e impedindo que as cabeças de miosina se associem com o filamento de actina.

• Troponina, que possui três subunidades:

— TnT, que liga na tropomiosina;

— TnC, com afinidade por Ca++ no fim da molécula, que muda sua forma após a ligação Ca2+ e
causa o deslocamento da molécula de tropomiosina, expondo o sítio de ligação da actina com
a miosina; e

— TnI, que cobre o sítio de ligação.

• Miosina, que, dividida em meromiosina leve (filamentosa) e meromiosina pesada (atividade


ATPásica), combina com a actina na banda H para fora. Forma um bastão com 2‑3 µm de diâmetro
por 20 µm de comprimento PM 500.000 enrolado em hélice. Cada filamento de miosina apresenta
cerca de 300 cabeças e cada uma pode se ligar a um filamento de actina numa velocidade de 15
µm/s, o suficiente para um sarcômero passar do estado distendido (3 µm) para completamente
contraído (2 µm) em menos de um décimo de segundo.

• Titin, uma molécula elástica que muda sua forma à medida que o sarcômero contrai ou relaxa,
ligando o disco z à miosina.

• Tropomodulina, que se liga à terminação – do filamento de actina, estabilizando, e o lado + se


ancora no disco Z (Cap Z) – por isso, são muito estáveis. Permite que a fibra muscular se recupere
após ter sido estirada em excesso.

• Disco Z, que também contém α‑actina.

• Nebulina, que determina o tamanho de cada filamento. É uma proteína com 35 aa repetitivos
compondo a actina. A nebulina move‑se do disco Z para a terminação – de cada filamento de
actina, atuando como uma “régua molecular” para dizer o tamanho do filamento.

85
Unidade II

Veja as imagens a seguir:

Figura 46 – Desenho esquemático demonstrando a organização de uma fibra muscular e sua unidade funcional, o sarcômero

Figura 47 – Desenho esquemático demonstrando os principais miofilamentos encontrados no citoesqueleto


de uma fibra muscular e do sarcômero

86
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

O desenho a seguir ilustra o Modelo de Huxley (Prêmio Nobel em 1963). A contração muscular
obedece à Teoria dos Filamentos Deslizantes. Segundo esse modelo, quando ocorre a contração, os
miofilamentos de actina e miosina não se encurtam nem se esticam; eles deslizam uns sobre os outros
de maneira que os filamentos de actina se aproximam, diminuindo a faixa H. Observando a figura
que segue, notamos que a banda A não altera suas dimensões durante a contração e o relaxamento,
enquanto a banda I diminui de comprimento na contração e aumenta no relaxamento:

Figura 48 – Desenho ilustrando o Modelo de Huxley

Como os únicos contatos observáveis entre os miofilamentos são as pontes laterais, que partem
dos miofilamentos de miosina, admite‑se que tais pontes sejam as responsáveis pelo deslizamento,
deslocando‑se os filamentos de actina em relação aos de miosina. Se a proteína miosina de um
músculo for relativamente dissolvida, a faixa A desaparece. Assim, demonstra‑se que os filamentos
grossos sejam constituídos de miosina e que os filamentos finos, na sua maior parte, sejam constituídos
da proteína actina.

Como já observado, moléculas de proteína actina são globulares (actina G), polimerizam-se e
criam fios enrolados, dois a dois, em forma de hélice (actina F). No sarcômero, associam‑se a esta mais
duas proteínas, denominadas troponina e tropomiosina. A miosina cria bastonetes longos com uma
extremidade dilatada, lembrando um taco de golfe. Há a formação de uma ponte entre a miosina e
a actina, ocasionando a contração muscular. Na contração muscular, as “cabeças” da miosina de um
filamento grosso encaixam‑se aos receptores da actina (filamento fino), dobrando‑se e ocasionando o
deslizamento desses filamentos de actina, o que lembra o movimento de uma “engrenagem de dentes”
e encurta o sarcômero.

87
Unidade II

Figura 49 – Esquema demonstrando o mecanismo de ligação entre a actina e a miosina e a contração do sarcômero

A contração se inicia quando o músculo esquelético recebe o sinal do sistema nervoso. O sistema
desencadeia um potencial de ação na membrana sarcoplasmática, em ms viajam até os túbulos T
(transversos), que estendem o sinal pelas membranas plasmáticas ao redor de cada miofibrila. O sinal
elétrico é então retransmitido ao retículo sarcoplasmático, um grupo de vesículas achatadas ao redor
de cada miofribila, que armazena Ca2+ e, em resposta à excitação, libera o Ca2+ no citosol através de
canais iônicos que se abrem. O íntimo contato entre os túbulos T e o retículo sarcoplasmático permite
que a despolarização que progride pelos túbulos T atue diretamente nos grandes canais de liberação
de Ca2+, que o liberam no sarcolema através de um mecanismo aberto por proteínas transmembrana
sensíveis à voltagem.

O Ca2+ liga ao TnC e o complexo miosina ATP é ativado, formando ponte entre a cabeça de miosina
e a subunidade de actina G. Assim, ATP → ADP = Pi + E, e esta ativação deforma a cabeça da miosina,
que aumenta a curvatura e empurra a actina ligada, promovendo a contração muscular.

Observação

Como o sinal da membrana plasmática é passado dentro de milisegundos


para todos os sarcômeros da célula, todas as miofibrilas da célula se
contraem ao mesmo tempo.

O aumento do Ca2+ no citosol cessa assim que o sinal nervoso para, porque o Ca2+ é rapidamente
bombeado de volta para o retículo sarcoplasmático por uma série de bombas de Ca2+. As concentrações
de Ca2+ voltam ao normal e as moléculas de troponina e tropomiosina movem‑se de volta a sua posição
original, onde bloqueiam a ligação entre actina e miosina.

88
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

Quando a fibra muscular está relaxada, a actina se encontra bloqueada pela troponina. No momento
em que o Ca++ está disponível e se liga à unidade TnC da troponina, ocorre alteração da configuração
espacial das três subunidades de troponina, que, por sua vez, empurra a molécula de tropomiosina mais
para dentro do sulco da hélice de actina, expondo os sítios de ligação dos componentes globulares de
actina, de modo que estas ficam livres para interagir com as cabeças de miosina. A ponte entre a cabeça
de miosina e a subunidade de actina G ganha atividade ATPásica (ATP → ADP = Pi + E). A consequente
liberação de energia promove a deformação da cabeça da miosina, que aumenta curvatura e empurra
a actina ligada a ela. Assim, ocorre o deslizamento da actina sobre a miosina. As pontes antigas só se
desfazem depois que a miosina se une a uma molécula de ATP, fazendo com que a cabeça de miosina
volte à sua posição normal, o que inicia um novo ciclo.

A remoção do Ca++ é realizada por transporte ativo. Sem ATP, o complexo actina/miosina fica estável,
determinando o estado de rigor mortis, que é caracterizado pela rigidez muscular do estado cadavérico.

Figura 50 – Desenho e eletromicrografias de transmissão de sarcômeros relaxados e contraídos

Veja a seguir um desenho dos miofilamentos finos de actina e tropomiosina e da troponina. Quando
o cálcio se liga na troponina, ela sofre alteração de sua conformação molecular e desloca a tropomiosina;
consequentemente, o sítio de afinidade da actina pela miosina é exposto, permitindo que o braço de
meromiosina pesada se ligue na actina.

Figura 51 – Desenho dos miofilamentos finos de actina e tropomiosina e da troponina

89
Unidade II

Veja agora um desenho do modelo esquemático do ciclo contrátil da actino‑miosina. O movimento


do filamento fino pela energia gerada na cabeça de miosina ocorre como resultado entre a ligação de
um ciclo mecânico que envolve ancoramento, movimento e desancoramento da cabeça e um ciclo
químico que abrange ligação, hidrólise e liberação de ATP, ADP e Pi (fósforo inorgânico). Nesse modelo,
os dois ciclos iniciam‑se no item 1, com a ligação do ATP na fenda da cabeça de miosina, causando o
deasancoramento da cabeça no filamento da actina. As hidrólises da ligação do ATP (item 2) energizam
a cabeça, causando ligação fraca com o filamento de actina (item 3). A liberação de Pi causa um forte
ancoramento da cabeça de miosina com o filamento fino do centro e a força rítmica (item 4), que move
o filamento fino ao centro do sarcômero. A liberação do ADP (item 5) regula o estágio para outro ciclo.

Figura 52 – Desenho do modelo esquemático do ciclo contrátil da actino‑miosina

Lembrete

O aumento da quantidade de miofilamentos em uma fibra muscular


promove hipertrofia muscular; já o aumento de fibras musculares promove
hiperplasia muscular, esta ocorrendo principalmente na infância.

6.4 Filamentos intermediários

Os filamentos são chamados de intermediários por estarem entre os diâmetros da actina e da miosina.
São mais estáveis que os microtúbulos e que os filamentos de actina. Não participam da contração
celular nem nos movimentos de organelas. São abundantes em células que sofrem atrito (epiderme),
90
BIOLOGIA (CITOLOGIA)

onde se prendem os desmossomos, nos axônios e em células musculares, e ausentes em células de


multiplicação rápida (culturas e embriões) e nos oligodendrócitos (produtoras de mielina).

Um tipo está presente na lâmina nuclear, logo abaixo da membrana nuclear interna. Outros tipos
se estendem através do citoplasma, fornecendo à célula resistência mecânica, pois resistem a grandes
forças tensoras. São os mais duráveis dos três (resistem a salinas concentradas e detergentes não iônicos).
Encontram‑se no citoplasma da maioria das células animais, formando uma rede através do citoplasma,
circundando o núcleo e se estendendo até a periferia da célula.

Em geral, ancoram-se nas junções celulares como desmossomos, dentro do núcleo (lâmina nuclear)
que fornece estrutura à carioteca. Também protegem as células de estresse mecânico.

São como cordas trançadas juntas, fornecendo resistência à tensão. Formam ligações em meio
às α hélices entre as espirais, proporcionando grande resistência ao estiramento. Nos fibroblastos, os
filamentos intermediários são constituídos de proteína vimetina.

O monômero proteico do filamento intermediário consiste de um domínio em bastão central com


regiões globulares nas extremidades. Pares de monômeros se associam para formar dímeros, e pares
de dímeros se associam para formar tetrâmeros. Os tetrâmeros se empacotam juntos por suas porções
terminais e se associam em uma formação em hélice, contendo oito grupos de tetrâmeros que geram o
filamento intermediário.

São exemplos de filamentos intermediários:

• Queratina: exclusiva das células epiteliais, são mais de 30 tipos, formados da combinação de
diferentes subunidades de queratina, em geral de uma extremidade da célula epitelial a outra
e ancorados nos desmossomos, associando‑se lateralmente com outro compartimento celular
através de seus domínios da cabeça e caudas globulares. Esses arranjos distribuíram o estresse
entre todas as células.

• Vimetina e filamentos relacionados à vimetina: tecido conjuntivo, células musculares e células


de suporte do sistema nervoso (neuroglia).

• Neurofilamentos: nas células nervosas, no corpo celular e dos prolongamentos dos neurônios.

• Lâmina nuclear A, B e C: reforçam a carioteca (intranuclear) das células animais.

Muitos filamentos intermediários são posteriormente estabilizados e reforçados por proteínas


acessórias que se ligam transversalmente em feixes de fibras (por exemplo, plectina).

A vimetina, por exemplo, liga os filamentos intermediários aos microtúbulos, aos filamentos de
actinas e a estruturas adesivas dos desmossomos.

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Unidade II

Os envelopes nucleares são apoiados por uma rede de filamentos intermediários. Formam a rede
bidimensional de filamentos intermediários chamada de lâmina nuclear na face interna da carioteca,
que fornece local de ligação para as cromatinas contendo DNA. São constituídos de lamin, desfazem-se e
se reorganizam a cada divisão celular, quando o envelope nuclear se desfaz e se forma nas células‑filhas.

A dissociação da lamin é controlada pela fosforilação e desfosforilação da lamin pela proteína


quinase. Após a fosforilação da lamin, as ligações entre os tetrâmeros se enfraquecem e o filamento
desintegra. No final da mitose, a desfosforilação causa a reorganização da lamin.

Resumo

A membrana plasmática é a estrutura que delimita o meio interno e


o externo de uma célula, é a interface entre a célula e o meio em que se
encontra. Resumidamente, as principais funções são formar uma barreira
permeável seletiva que controla a passagem de íons e pequenas moléculas;
formar o suporte físico para a atividade ordenada das enzimas nela
contidas; possibilitar o deslocamento de substâncias no citoplasma através
da formação de pequenas vesículas; realizar a endocitose e a exocitose; e
possibilitar a comunicação celular através dos receptores que interagem
especificamente com moléculas do meio externo.

A membrana plasmática é uma bicamada de fosfolipídios que contém


proteínas e envolve externamente a célula eucariótica. A estrutura dessa
membrana é responsável pela sua capacidade de permeabilidade seletiva,
afirmação que também é válida para muitas organelas citoplasmáticas de
membrana. Há proteínas que atravessam toda a espessura da membrana,
comunicando moléculas extracelulares com moléculas intracelulares – são
as proteínas transmembranas. A estrutura de bicamada de fosfolipídios
(são moléculas anfipáticas) possui a cabeça polar hidrofílica, a qual possui
afinidade por água e repele lipídios, e a sua porção alongada, que é
hidrofóbica, de hidrocarbonetos repele água e possui afinidade por lipídios.

O modelo de mosaico fluido corresponde à disposição das proteínas


na bicamada lipídica. Essas proteínas são dinâmicas, porém muitas delas
estão presas a outras moléculas do citoesqueleto celular, que também
é formado por proteínas. As células se comunicam entre si por sinais
químicos (moléculas sinalizadoras) e por sinalização elétrica através da
despolarização de membrana associada à alteração de permeabilidade,
conferindo uma estabilidade funcional e coordenada entre os diversos
tecidos, órgãos e sistemas.

Entre os diversos tipos condução de moléculas de sinalização química, os


mecanismos mais conhecidos são os sistemas neuroendócrino e a regulação
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BIOLOGIA (CITOLOGIA)

parácrina. Na sinalização endócrina, as moléculas são os hormônios, que


são transportados pelo sangue e podem agir bem distantes dos locais onde
foram produzidos. Já na sinalização parácrina, as moléculas produzidas
agem bem próximas ao local de origem e são prontamente inativadas.

As formas de sinalização celular são:

• parácrina: as moléculas sinalizadoras são secretadas e podem ser levadas


para longe, agindo em alvos distantes ou como mediadores locais;

• sináptica: sinal químico chamado neurotransmissor. Esses sinais são


secretados em junções celulares especializadas;

• endócrina: essas células secretam suas moléculas sinalizadoras


chamadas hormônios na corrente sanguínea, que se encarrega de
transportá‑las para células‑alvo distribuídas por todo o corpo;

• autócrina: célula que secreta moléculas sinalizadoras que se ligam aos


seus receptores na própria célula. Por exemplo, quando uma célula
decide seguir uma determinada rota de diferenciação, ela começa a
secretar sinais autócrinos, o que reforça a sua decisão;

• elétrica: na qual são gerados impulsos nervosos com alteração no


potencial elétrico da membrana plasmática, pela entrada de íons
sódio e saída de íons potássio.

Pela membrana, há transportes, isto é, ocorrem passagens entre os meios


intra e extracelular. Esses transportes são classificados em passivo (quando
há difusão de uma substância sem gasto de energia), ativo (quando há gasto
energético) e massa (endocitose, que pode ser de material sólido, a fagocitose,
e de material líquido, a pinocitose). Há transporte passivo por difusão simples,
por difusão facilitada e por osmose. O transporte ativo requer consumo de
energia que vem da quebra da molécula de ATP (adenosina trifosfato ou
trifosfato de adenosina), formando ADP (adenosina difosfato + fósforo).
Ocorre contra o gradiente de concentração; aqui, o transporte do soluto é do
meio menos concentrado para o meio mais concentrado.

O processo de fagocitose ocorre quando uma célula realiza o


englobamento de partículas grandes ou elementos estranhos para a célula
vindo do meio extracelular (material sólido). No processo de pinocitose, o
material a ser englobado pela célula corresponde a gotículas de líquidos que,
graças a projeções citoplasmáticas delgadas, são englobadas para formar
bolsas ou vesículas (pinossomo) contendo esse material no seu interior.
Há concentrações denominadas isotônicas, hipertônicas e hipotônicas
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Unidade II

(respectivamente, de mesma, com maior e com menor concentração de


soluto). Portanto, quando esses termos são usados, deve‑se sempre inferir
que são entre duas soluções.

Para a manutenção das organelas em locais predeterminados e da


própria célula, o citoesqueleto estabelece, modifica e mantém a forma
das células. É responsável pelos movimentos celulares, como contração,
pseudópodos, filopódios e deslocamentos intracelulares de ribossomos,
organelas, cromossomos, vesículas e grânulos e pelo próprio tamanho
(grande volume) das células dos eucariontes. Os principais elementos são
os microtúbulos, os microfilamentos de actina, os filamentos intermediários
e as demais macromoléculas diversas que assumem funções diferentes
conforme o tipo celular.

Apenas os filamentos intermediários são estáveis, exercendo papel de


sustentação. Um protofilamento de tubulina é formado por subunidades
(α‑β‑heterodímeros) na mesma orientação do filamento formado,
criando assim uma polaridade. Vários protofilamentos se unem para criar
o microtúbulo com 13 subunidades distintas. Os microtúbulos organizam
o interior da célula. As células são capazes de modificar dinamicamente
seus microtúbulos para diferentes objetivos, tais como a separação dos
cromossomos na divisão celular, a forma celular, a polarização celular e
o movimento intracelular, extracelular e celular. Os microfilamentos de
actina são abundantes nos músculos e constituem 5‑30% das proteínas
totais do citoplasma. Formam o córtex medular, camada imediatamente
abaixo da membrana plasmática, que reforça a membrana e participa dos
movimentos da célula (por exemplo, fagocitose). São moléculas muito
conservadas filogeneticamente. Com a miosina, compõem 55% das
proteínas do músculo estriado. A associação dos miofilamentos de actina
e miosina forma uma família e hidrolisa ATP, que fornece energia para o
movimento ao longo do filamento de actina em direção à teminação –. Há
muitas subfamílias, sendo as miosinas I e II as mais abundantes.

A miosina I é encontrada em todas as células e é a mais simples,


pois possui apenas uma cabeça e uma cauda. A cabeça interage com o
filamento de actina, que possui a atividade de hidrolisar o ATP, e assim a
miosina se move sobre o filamento de actina em direção à terminação +,
transportando a vesícula a ela ligada sobre o filamento de actina em ciclos
repetitivos. A contração se inicia quando o músculo esquelético recebe o
sinal do sistema nervoso. O sistema desencadeia um potencial de ação na
membrana sarcoplasmática e em ms viajam até os túbulos T (transversos),
que estendem o sinal pelas membranas plasmáticas ao redor de cada
miofibrila. O sinal elétrico é então retransmitido ao retículo sarcoplasmático,
um grupo de vesículas achatadas ao redor de cada miofribila, que armazena
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BIOLOGIA (CITOLOGIA)

Ca2+ e, em resposta à excitação, libera o Ca2+ no citosol através de canais


iônicos que se abrem. O íntimo contato entre os túbulos T e o retículo
sarcoplasmático permite que a despolarização que progride pelos túbulos T
atue diretamente nos grandes canais de liberação de Ca2+, que o liberam no
sarcolema através de um mecanismo aberto por proteínas transmembrana
sensíveis à voltagem. Os filamentos são chamados de intermediários por
estarem entre os diâmetros da actina e da miosina. São mais estáveis que os
microtúbulos e que os filamentos de actina. Não participam da contração
celular nem nos movimentos de organelas. São abundantes em células que
sofrem atrito (epiderme), onde se prendem os desmossomos, nos axônios
e em células musculares, e ausentes em células de multiplicação rápida
(culturas e embriões) e nos oligodendrócitos (produtoras de mielina).

Exercícios

Questão 1 (Enade, 2005). Hemácias humanas foram imersas em duas soluções das substâncias I e
II, marcadas com um elemento radioativo, para estudar a dinâmica de entrada dessas substâncias na
célula. Os resultados estão apresentados no gráfico a seguir:

Figura 53

Com base nesses resultados, pode‑se concluir que as substâncias I e II foram transportadas para
dentro da célula, respectivamente, por:

A) Transporte ativo e difusão passiva.

B) Difusão facilitada e difusão passiva.

C) Difusão passiva e transporte ativo.

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Unidade II

D) Fagocitose e pinocitose.

E) Osmose e difusão facilitada.

Resposta correta: alternativa A.

Resolução do exercício

Substância I – A passagem dessa substância para o interior celular (incorporação) pode ser analisada
em dois momentos distintos: (1) quando a concentração do meio externo é inferior a 2 dpm.10‑3/cm3
e (2) quando essa concentração é superior a esse valor.

No momento 1, a taxa de incorporação acompanha proporcionalmente a elevação da concentração


da substância I no meio externo, o que indica que, até que seja atingida a concentração exterior de 2
dpm.10‑3/cm3, a entrada da referida substância nas células ocorre sem nenhum tipo de impedimento,
um padrão semelhante ao descrito anteriormente para a substância II. No entanto, a partir da
concentração de 2 dpm.10‑3/cm3, a taxa de incorporação da substância estabiliza‑se em torno de
500 dpm/106cel/h, permanecendo nesse patamar mesmo nas mais elevadas concentrações externas
da substância. Portanto, no momento 2, passa a existir uma restrição à entrada da substância I, que
continua a ser incorporada, porém a uma taxa limitada e constante.

Se considerássemos apenas o momento 1 da curva, poderíamos afirmar que o fenômeno ocorrido


era a difusão simples, na qual a elevação da concentração externa da substância gera uma incorporação
equivalente (transporte desimpedido, seguindo o gradiente de concentração). Porém, a limitação
verificada no momento 2 da curva sugere que a passagem da substância I não ocorre de modo
desimpedido, o que nos permite deduzir que essa substância não atravessa a membrana plasmática pela
bicamada lipídica, apesar do caráter passivo do transporte registrado no primeiro momento do gráfico.
Desse modo, a explicação mais plausível é a de que o transporte da referida substância ocorre com o
auxílio de proteínas. Logo, trata‑se de um fenômeno de difusão facilitada, uma vez que é um fenômeno
passivo e executado por proteínas carreadoras de membrana.

Assim, o comportamento da curva apresentada no gráfico pode ser explicado da seguinte forma: antes
de a concentração exterior da substância I atingir o valor de 2 dpm.10‑3/cm3, havia uma quantidade
livre de carreadores suficiente para promover a passagem dessa substância pela membrana de modo
eficiente. Entretanto, quando a concentração se tornou muito elevada, todos os carreadores ficaram
ocupados por moléculas da substância I, fazendo com que a taxa de incorporação dessa substância
atingisse um valor máximo e constante, registrado pelo platô que marca o momento 2 do gráfico. Nesse
caso, costuma‑se dizer que a proteína carreadora está saturada.

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BIOLOGIA (CITOLOGIA)

Figura 54

Substância II – A reta que representa o ocorrido com a substância II indica uma perfeita correlação
entre a concentração da referida substância no meio externo e sua taxa de incorporação celular: quando
a concentração no meio externo é baixa, a incorporação é baixa; quando a concentração extracelular
é alta, a incorporação é igualmente elevada. Isso revela que a substância II tem livre passagem do
meio externo para o meio interno através da membrana plasmática das células e segue o gradiente
de concentração. Essa passagem sem restrições sugere que o mecanismo pelo qual a substância
II é incorporada à célula é a difusão simples ou passiva, ocorrida através da bicamada lipídica. Nas
demais modalidades de transporte, há a participação de proteínas de membrana, as quais atuam
como carreadoras de substâncias ou formadoras de canais, o que impõe limitações de diversos graus à
passagem de substâncias.

Figura 55

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Unidade II

Questão 2 (UFRGS). As células animais para a produção de energia necessitam de oxigênio, enzimas
e substrato. Em relação ao processo de produção de energia, considere as afirmações a seguir:

I – A fosforilação oxidativa ocorre nas mitocôndrias.

II – Na fase aeróbia, ocorre alta produção de ATP.

III – A glicólise possui uma fase aeróbia e outra anaeróbia.

É(são) correta(s):

A) Apenas a afirmativa I.

B) Apenas a afirmativa II.

C) Apenas as afirmativas I e II.

D) Apenas as afirmativas II e III.

E) Todas as afirmativas.

Resolução desta questão na plataforma.

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