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Histologia, Embriologia
Autor: Profa. Maria Eleonora Feracin da Silva Picoli
Professora conteudista: Maria Eleonora Feracin da Silva Picoli
Graduou‑se em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1999, concluiu o
mestrado em Biologia Funcional e Molecular na área de Bioquímica, pela mesma universidade, no ano de 2002, e
obteve o título de doutora em Biologia Funcional e Molecular, em 2004, também pela Unicamp. Foi docente no curso
de Ciências Biológicas e tutora no curso de Bioquímica da Nutrição, oferecido na modalidade de Educação a Distância
(EaD) pelo Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia da Unicamp. Ingressou na Universidade Paulista –
UNIP/Campinas no ano de 2002, na qual atua até hoje como docente titular da disciplina de Microbiologia, Imunologia
e Parasitologia nos cursos de Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Odontologia e Medicina Veterinária.
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Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William
Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.
il.
681.3
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Carla Moro
Sumário
Biologia, Histologia, Embriologia
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 BIOLOGIA CELULAR............................................................................................................................................9
1.1 Conceitos gerais........................................................................................................................................9
1.2 Composição química da célula........................................................................................................ 11
1.3 Eucariotos e Procariotos..................................................................................................................... 12
2 MEMBRANA PLASMÁTICA............................................................................................................................ 14
2.1 Transporte através da membrana................................................................................................... 20
2.1.1 Transporte passivo................................................................................................................................... 21
2.1.2 Transporte ativo........................................................................................................................................ 24
2.1.3 Transporte vesicular................................................................................................................................ 25
2.2 Elementos citoplasmáticos................................................................................................................ 27
2.2.1 Citosol........................................................................................................................................................... 27
Unidade II
3 NÚCLEO E DIVISÃO CELULAR...................................................................................................................... 53
3.1 Núcleo celular......................................................................................................................................... 53
3.2 Envoltório Nuclear................................................................................................................................ 54
3.3 Nucléolo.................................................................................................................................................... 57
3.4 Cromatina................................................................................................................................................. 58
3.5 Ciclo celular e mecanismos de expressão gênica..................................................................... 61
4 INTERFASE........................................................................................................................................................... 63
4.1 G1................................................................................................................................................................ 63
4.2 S.................................................................................................................................................................... 67
4.3 G2................................................................................................................................................................ 69
4.4 Divisão celular........................................................................................................................................ 70
4.4.1 Mitose........................................................................................................................................................... 71
4.4.2 Meiose.......................................................................................................................................................... 74
Unidade III
5 EMBRIOLOGIA.................................................................................................................................................... 81
5.1 Gametogenese – conceitos gerais.................................................................................................. 81
5.2 Ovogênese................................................................................................................................................ 84
5.3 Espermatogênese.................................................................................................................................. 86
5.4 Alterações cromossômicas pré‑zigóticas.................................................................................... 89
6 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO......................................................................................................... 91
6.1 Fertilização............................................................................................................................................... 91
6.2 Clivagem................................................................................................................................................... 94
6.3 Implantação............................................................................................................................................. 95
6.4 Gastrulação e Neurulação................................................................................................................. 97
6.5 Gêmeos....................................................................................................................................................101
6.6 Fatores que afetam o desenvolvimento embrionário..........................................................103
6.7 As células‑tronco embrionárias.....................................................................................................106
Unidade IV
7 HISTOLOGIA – TECIDO EPITELIAL..............................................................................................................113
7.1 Conceito e classificação geral dos tecidos humanos............................................................113
7.2 Estrutura e função do tecido epitelial........................................................................................114
7.3 Classificação do tecido epitelial....................................................................................................118
8 TECIDOS..............................................................................................................................................................127
8.1 Tecido conjuntivo................................................................................................................................127
8.1.1 Estrutura e função do tecido conjuntivo.................................................................................... 127
8.1.2 Tecido conjuntivo propriamente dito........................................................................................... 129
8.1.3 Tecido conjuntivo de propriedades especiais............................................................................ 134
8.1.4 Tecido conjuntivo de suporte...........................................................................................................141
8.2 Tecido muscular...................................................................................................................................148
8.2.1 Músculo Estriado Esquelético.......................................................................................................... 149
8.2.2 Músculo Estriado Cardíaco............................................................................................................... 152
8.2.3 Músculo Liso........................................................................................................................................... 153
8.3 Tecido nervoso......................................................................................................................................155
8.3.1 Os neurônios........................................................................................................................................... 155
8.3.2 As células da glia................................................................................................................................... 159
APRESENTAÇÃO
A biologia é uma área muito ampla e, justamente por isso, apresenta várias subdivisões. Dentre elas,
temos a citologia, aqui chamada de biologia, a embriologia e a histologia. Essas três áreas são altamente
interligadas e os conhecimentos adquiridos em uma são essenciais para o entendimento das outras.
O conhecimento de como uma célula funciona, sua organização interna e sua função no
organismo são essenciais para todos os cursos da área da saúde, em especial para o curso de
Enfermagem, que lida diretamente com processos que ocorrem no meio intracelular e refletem na
regulação fisiológica do organismo.
Assim, elaboramos este livro‑texto com o objetivo de capacitar o aluno para entender os processos
responsáveis pela geração de uma nova vida (embriologia), como as células são estruturadas e organizadas
(biologia – citologia) e como as diferentes células se especializam para interagirem entre si, formando os
nossos órgãos (histologia).
Portanto, ao terminar esta disciplina, o aluno terá adquirido noções básicas de biologia, histologia
e embriologia, o que servirá como alicerce para diferentes procedimentos que ele realizará ao longo de
sua vida profissional, bem como irá capacitá‑lo para atuar como um agente de transformação social.
INTRODUÇÃO
Mãe, de onde eu vim? Eu sempre fui deste tamanho? Como eu fui parar dentro de sua barriga?
Quem nunca fez ou ouviu essas perguntas de uma criança? Por mais que elas possam nos deixar em
uma situação às vezes desconfortável, na hora de darmos uma resposta, elas mostram como o surgimento
da vida e a forma como nosso corpo funciona e se organiza despertam o interesse desde a infância.
Lidar com o surgimento da vida e a sua manutenção é algo que fascina todos os profissionais da
área da saúde, principalmente os enfermeiros. Nesse sentido, buscamos fornecer a você, aluno, noções
básicas e essenciais para entender processos fisiológicos e patológicos que serão apresentados nas
próximas etapas do curso.
Abordaremos a célula como unidade fundamental da vida, suas características principais, organização
e funcionamento; também veremos como elas são estudadas e quais as diferenças entre as células
humanas e as bactérias.
Em seguida, veremos como as células se reproduzem tanto para garantir a regeneração de estruturas,
quanto para formar as células germinativas. Também veremos qual o papel do núcleo no controle do
metabolismo celular e das informações genéticas. Trataremos das fases iniciais do desenvolvimento
embrionário e estudaremos como os gametas se formam, o processo de fertilização e formação do
zigoto, bem como as primeiras fases do desenvolvimento embrionário. Finalmente, abordaremos a
organização estrutural, a função e as especializações celulares sofridas para a formação dos tecidos.
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Esperamos que, ao final desta etapa, você tenha não só incrementado sua formação na área de
biologia, histologia e embriologia, mas também que a leitura tenha despertado seu interesse para novas
áreas da saúde, instigando‑o a procurar novas fontes de conhecimento na área.
Bons estudos!
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BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Unidade I
1 BIOLOGIA CELULAR
Embora Aristóteles tenha, na Antiguidade, afirmado que todos os animais e vegetais eram constituídos
de unidades menores que se repetiam por toda a estrutura, o termo célula foi empregado pela primeira
vez em 1665 por Robert Hooke, que observou cortiças através de um jogo de lentes de aumento. O
mesmo padrão de organização observado por Hook também já havia sido visto por Malpighi em 1660 e
por Leeuwenhoek, este último em 1674, ao observar espermatozoides de diferentes espécies.
Lente montada
em um suporte
metálico
Suporte para
sustentar o
espécime
Sistema de
focalização e
movimento do
espécime
Figura 1 – A) Microscópio inventado por Anton van Leeuwenhoek (retrato em destaque) visto lateralmente e frontalmente.
B) Microscópio inventado por Robert Hooke
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Unidade I
A célula é a menor unidade de vida capaz de se nutrir, se defender e se reproduzir de forma independente.
Toda célula precisa ter quatro elementos básicos em pelo menos uma fase do seu desenvolvimento: (1)
membrana plasmática para separar o meio interno do meio externo; (2) um citoplasma onde ocorrerão
as reações químicas necessárias para o funcionamento da célula; (3) ribossomos que garantiram a
síntese de proteínas e (4) material genético que contenha todas as informações necessárias para que a
célula desempenhe suas funções.
Membrana plasmática
controla a entra e a saída de
substâncias da célula
Material genético
informações sobre o
funcionamento celular
Ribossomos
Realizam a síntese proteica
Citoplasma
substância gelatinosa onde ocorrem
as reações químicas responsáveis
pelo funcionamenteo celular
Observação
10
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Para que todas a funções possam ser desempenhadas de maneira eficiente, algumas macromoléculas
são indispensáveis. Elas podem estar livres no citoplasma ou associadas a outras estruturas. Sem as
proteínas, os ácidos nucleicos (o DNA e o RNA), os fosfolipídios e os carboidratos, todo o funcionamento
da célula fica comprometido.
Os ácidos nucleicos são formados por nucleotídeos. Os nucleotídeos são divididos em dois grandes
grupos. No grupo das purinas temos os nucleotídeos adenina e guanina; já no grupo das pirimidinas,
temos os nucleotídeos timina, citosina e uracila.
Os lipídios são comumente conhecidos como moléculas de energia, mas, na célula, eles podem
exercer diversas funções, por exemplo, estrutural, uma vez que os fosfolipídios, um tipo de lipídio,
participam da formação da membrana plasmática e também da sinalização celular, ou o colesterol, que
participa da síntese de hormônios esteroides.
Finalmente, os carboidratos podem ser encontrados livres no citoplasma da célula, onde pode atuar
como molécula energética. Porém, os carboidratos podem estar associados aos fosfolipídios, formando
os glicolipídios; ou associados às proteínas, formando as glicoproteínas. Tanto os glicolipídios quanto
as glicoproteínas são moléculas que podem atuar como sinalizadores químicos, modulando diversas
formas de respostas celulares.
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Unidade I
Proteínas
• Polímeros de aminoácidos
• Função estrutural, transporte e catalitica
DNA
• Informação genética
• Polímero de nucleotídeos em fita dupla
RNA
• Polímero de nucleotídeos em fita simples
• Síntese de proteínas
Lipídios
• Hidrofóbicos
• Fosfolipídios - estrutura celular
• Colesterol - sinalização química
Carboidratos
• Função energética e sinalização celular
Figura 3 – Características e funções desempenhadas por macromoléculas encontradas na célula: A) Proteínas; B) DNA;
C) RNA; D) Lipídios; E) Carboidratos.
Saiba mais
As células podem ser divididas em dois tipos: (a) os eucariontes, mais complexos em termos de
organização intracelular e (b) os procariontes, mais simples.
As células procariotas, ou procariontes, são células pequenas que possuem todos os elementos
mostrados na figura a seguir, porém com algumas adaptações. É obrigatório que os procariontes tenham
uma parede celular posicionada externamente à membrana plasmática. Essa parede celular confere
rigidez à célula e resistência às alterações de umidade, temperatura e pressão. Além disso, o material
genético se apresenta organizado na forma de um cromossomo único e circular que fica em contato
direto com o citoplasma. A região onde esse cromossomo fica concentrado recebe o nome de nucleóide.
12
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Figura 4 – A) Estrutura geral de uma célula procarionte; nota‑se que o cromossomo circular já foi duplicado, sinalizando que a célula
já pode se dividir. B) Micrografia eletrônica de uma bactéria, onde P – parede celular, M – membrana e N – nucleoide
Devido a sua grande simplicidade, as células procariontes se dividem muito rapidamente por um
processo conhecido como fissão binária, um processo que consiste na duplicação do cromossomo
circular seguida por uma invaginação da parede celular que separará os dois cromossomos gerando
duas células filhas geneticamente idênticas.
Já as células eucariontes são consideradas células mais complexas tanto por conta do seu
tamanho, como também em consequência da sua organização interna. A grande característica das
células eucariontes é a presença de compartimentos membranosos que dividem o seu citoplasma em
compartimento funcionais.
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Unidade I
Citosol Núcleo
Membrana
plasmática
Complexo Cromossomos
de Golgi
Lisossomo
Centríolos
Nucléolo
Retículo
endoplasmático Mitocôndria
Ribossomos
Membrana
celular
Figura 5 – A) Representação esquemática de uma célula eucarionte e seus diversos compartimentos intracelulares. B) Micrografia
eletrônica de um macrófago com seus diversos compartimentos celulares
Ao criar regiões especializadas no seu interior, a célula eucarionte aumenta a sua eficiência permitindo
que a célula atinja tamanhos maiores sem que haja prejuízo da função, como também permite que as
células se organizem de acordo com a semelhança de funções, formando organismos pluricelulares.
Daqui em diante iremos tratar apenas da composição, organização e função das estruturas de
uma célula eucarionte. O funcionamento da célula procarionte é estudado por uma área específica da
microbiologia, a bacteriologia.
2 MEMBRANA PLASMÁTICA
A membrana plasmática, muitas vezes chamada de membrana celular, é uma estrutura presente em
todas as células eucariontes e procariontes. Sua presença é obrigatória devido à sua função de separar
o meio interno do meio externo, permitindo um maior controle da entrada e saída de substâncias da
célula. Podemos citar como funções da membrana plasmática: a) a manutenção do equilíbrio entre o
meio intracelular e extracelular; b) o transporte de substância entre os dois meios; c) o reconhecimento
de diversas substâncias através de receptores específicos; d) movimentação celular, incluindo aí os
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BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
processos de secreção, proliferação mitótica, contração celular etc.; d) adesão entre as células ou a um
substrato; e) comunicação celular através de sinais elétricos (sinapses) e f) compartimentalização do
meio intracelular (organelas e envoltório nuclear).
Para que todas essas funções sejam desempenhadas, a membrana é estruturada de uma forma bem
específica, como podemos observar na figura a seguir.
Glicolipídeo Oligossacarídeo Proteína integral Hélice α hidrofóbica
Proteína
integral
Proteína
ligada a
lipídeo
Proteína
periférica
Fosfolipídeo Colesterol
O atual modelo de membrana plasmática foi proposto em 1972 pelos pesquisadores Singer e
Nicholson. Segundo eles, a membrana seria composta de duas bicamadas lipídicas de característica
anfipática. Entre os lipídios estariam mergulhadas proteínas em diferentes profundidades; algumas
posicionadas mais próximas à superfície e outras atravessariam toda a extensão da bicamada. Ligadas
aos lipídios e às proteínas existiriam moléculas de carboidratos.
Um dos elementos lipídicos que forma a membrana plasmática são os fosfolipídios (também
chamados de glicerofosfolipídio). Os fosfolipídios são responsáveis pela delimitação do perímetro celular
e são organizados em bicamada devido a sua natureza anfipática, ou seja, possuem uma extremidade
hidrofílica, chamada de cabeça polar, ligada à uma cauda hidrofóbica, conhecida como cadeia acila, ou
cauda de hidrocarbonetos.
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Unidade I
Caudas apolares
(hidrofóbicas)
Ácidos graxos insaturados
membrana mais fluida
Figura 7 – Representação esquemática mostrando a estrutura geral de um fosfolipídio e a formas como as cadeias acilas saturadas e
insaturadas influenciam na fluidez da membrana plasmática
Quando a cadeia acila é formada apenas de ligações simples, dizemos que ela é saturada. A associação
de vários fosfolipídios de cadeia saturada torna a membrana menos fluida. No entanto, entre os carbonos
que formam a cadeia acila podem existir duplas ligações. A presença de vários fosfolipídios insaturados
em uma membrana torna‑a mais fluida.
16
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Também são abundantes na membrana os glicolipídios; essa classe de lipídios possui, ligadas à sua
estrutura, moléculas de carboidratos. Os glicolipídios são encontrados obrigatoriamente na face externa
da membrana plasmática, daí sua função ser associada ao reconhecimento de alterações que ocorram
no meio externo, como mudança de temperatura e pH, alteração do campo elétrico da membrana e
reconhecimento celular. Dentre os glicolipídios, o tipo mais abundante é o gangliosídeo, componente
comum na estrutura de vários receptores. A figura a seguir mostra a estrutura de um gangliosídeo.
Figura 8 – Estrutura química de um gangliosídeo. A porção lipídica está destacada em verde e os Gm1, Gm2 e Gm3 são as porções de
carboidrato das moléculas. Á esquerda, podemos ver outra forma de representar um gangliosídeo
Outro elemento lipídico da membrana são os esteroides. No caso das células animais, temos o
colesterol. A função dos esteroides é dar rigidez à membrana. Quanto maior a concentração de colesterol
na membrana, menos fluida ela será. As células procariontes são desprovidas de colesterol.
17
Unidade I
Figura 9 – A) Estrutura química do colesterol. B) Forma como o colesterol interage com os fosfolipídios na estrutura da membrana
As proteínas são elementos essenciais para qualquer ser vivo devido ao grande número de funções por
elas desempenhadas. Na membrana plasmática, a importância dessas macromoléculas não é diferente,
uma vez que as proteínas são as grandes responsáveis por manter o equilíbrio dinâmico das membranas.
Assim como já ocorre com o conteúdo de fosfolipídios, o conteúdo de proteínas varia das células para a
célula não apenas na proporção, mas também no tipo de proteínas existente na membrana.
De acordo com seu grau de interação com a membrana, as proteínas podem ser classificadas em
proteínas integrais e proteínas periféricas.
Observando a figura a seguir, podemos observar que as proteínas integrais podem ser divididas
em três regiões: uma região hidrofílica fica em contato com o meio externo; uma região hidrofóbica
atravessa a bicamada de fosfolipídios e, finalmente, uma segunda região hidrofílica fica em contato com
o citoplasma. Essa conformação permite que as proteínas integrais desempenham um papel fundamental
no fluxo de substância entre dois meios e também no reconhecimento e sinalização celular.
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BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Bicamada
liídica
B
A
Figura 10 – Representação esquemática das diversas conformações que as proteínas podem apresentar na membrana plasmática. Em
A, temos uma proteína integral com apenas um domínio hidrofóbico; em B, temos uma proteína integral com vários domínios; em C,
podemos ver uma proteína integral do tipo poro e, em D, uma proteína periférica
Embora em D seja possível observar uma proteína periférica voltada para o meio interno, ela pode
também estar voltada para o meio externo. As proteínas periféricas penetram parcialmente na bicamada
lipídica. Quando essas proteínas periféricas ficam voltadas para a porção citoplasmática, normalmente
elas participam da estabilização da estrutura da membrana ancorando com o citoesqueleto. Quando
voltadas para o lado externo, essas proteínas periféricas atuam como marcadores de identidade celular e
reconhecimento celular, estando em sua maioria associadas aos carboidratos formando as glicoproteínas.
Observação
Os carboidratos são muito importantes para a membrana das células. Essas moléculas estarão
sempre associadas aos lipídios e às proteínas e voltadas para o meio externo, ou seja, em contato com
o líquido extracelular. Dentre as funções exercidas pelos carboidratos, podemos citar: a) a proteção de
superfície externa da membrana contra agressões físicas e químicas; b) atração de cátions, permitindo a
transmissão dos impulsos nervosos; c) reconhecimento celular; d) adesão celular; e) identidade celular,
permitindo o reconhecimento de célula pertencentes ou não ao organismo; f) ação enzimática dentre
outras. A figura a seguir mostra como os carboidratos ficam associados à membrana plasmática.
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Unidade I
Glicolipídio
Bicamada de
fosfolipídios
LIC
Figura 11 – Distribuição dos carboidratos na face externa da membrana de uma célula eucarionte. LEC – líquido extracelular; LIC –
líquido intracelular; carboidratos estão representados pelos hexágonos azuis
Saiba mais
Essa movimentação pode ocorrer de forma passiva ou ativa. O transporte passivo sempre vai acontecer
sem a necessidade de gasto energético porque acontece a favor do gradiente de concentração, ou seja,
as moléculas fluem do lado mais concentrado em direção ao lado menos concentrado. São exemplos
de transporte passivo a difusão simples, a difusão facilitada e a osmose. Já o transporte ativo necessita
de energia para ocorrer porque as substâncias irão fluir do lado menos concentrado para o lado mais
concentrado. A energia utilizada nesse processo é o ATP.
20
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Como dito anteriormente, o transporte passivo não requer energia porque as moléculas fluem de um
lado mais concentrado em direção à uma região menos concentrada.
A difusão simples, também chamada de difusão passiva, ocorre quando temos uma molécula
pequena e sem carga, por exemplo, o oxigênio, o CO2, a água e o N2. As características da molécula
transportada são necessárias devido ao fato de a difusão simples ocorrer através das moléculas de
lipídios da membrana. A presença de uma carga positiva ou negativa impediria o fluxo da molécula
porque os fosfolipídios, os esfingolipídos e os glicolipídios podem apresentar cargas que atrairiam ou
repeliriam as moléculas a serem transportadas diretamente através da bicamada (Figura 12A).
Compostos lipossolúveis como o etanol, a ureia, os ácidos graxos, os esteroides e o glicerol também
são capazes de atravessar a membrana por difusão simples.
No entanto, existem moléculas bem pequenas que até poderiam atravessar a membrana por difusão
simples, mas elas são carregadas, o que inviabiliza o transporte. Também existem moléculas que são
grandes demais para atravessar a bicamada por difusão simples. Nessas duas categorias se enquadram,
respectivamente, os íons, a glicose e os aminoácidos, elementos essenciais para a célula e que precisam
estar em constante fluxo entre os dois meios.
As moléculas grandes e/ou carregadas podem ser transportadas passivamente através da difusão
facilitada. A grande diferença da difusão simples para a difusão facilitada está na presença de uma
proteína integral que permite a comunicação entre os meios intra e extracelular. Na difusão facilitada,
a molécula a ser transportada chega até o seu destino atravessando a proteína transportadora do tipo
canal iônico (Figura 12B) ou do tipo permease (Figura 12C).
21
Unidade I
N2 Ureia
CO2 Esteroides
O2 Ácidos graxos
LEC H2O Glicerol
LEC
eletroquímico
Gradiente
Membrana
plasmática
LIC
LIC
LEC LEC
eletroquímico
Gradiente
Membrana
plasmática
LIC LIC
Difusão facilitada
LEC LEC
Permease
LEC
eletroquímico
LIC LIC
Gradiente
Membrana
plasmática Monotransporte Cotransporte
LEC
LIC
Glicose
LIC
Antiporte (ou Contratransporte)
Figura 12 – Mecanismos de transporte passivo através da membrana. A) Difusão simples; B) Difusão facilitada por canal iônico; C)
Difusão facilitada por permease. LEC – Líquido extracelular; LIC – Líquido intracelular.
Os canais iônicos, como o próprio nome já sugere, são responsáveis pelo transporte de íons,
como o Na+, K+, Ca+2, PO4‑2 entre outros. Esses canais são proteínas integrais que formam um túnel
extremamente seletivo para a passagem de íons específicos que, apesar de pequenos, são moléculas
carregadas, impossibilitando sua difusão direta pela bicamada lipídica. Os canais estão presentes em
todas as membranas plasmáticas e nas organelas, sendo especialmente abundantes nas células nervosas,
onde atuam na condução dos impulsos nervosos.
Observação
22
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Já as permeases são proteínas integrais específicas para um ou dois tipos de soluto (Figura 12C).
Uma grande diferença entre as permeases e os canais iônicos está na mudança da conformação.
Enquanto os canais iônicos mantêm sua estrutura ao longo de todo o processo de difusão do íon,
a ligação do soluto na permeasse leva à uma mudança de conformação da proteína para permitir
a passagem do soluto.
Uma permease pode transportar apenas um soluto por vez (monotransporte), dois solutos
diferentes no mesmo sentido (cotransporte) ou dois solutos diferentes em sentidos opostos (antiporte,
ou contratransporte). Moléculas como glicose, aminoácidos e nucleotídeos são transportadas por
difusão facilitada.
Finalmente, a última forma de transporte passivo é a osmose. Nessa forma de transporte temos
as moléculas do solvente, ou seja, da parte líquida, atravessando a membrana. Uma vez que no
corpo humano a água é o solvente, não é errado dizer que a osmose é a passagem de água através
da membrana. A pressão necessária para impedir a passagem de água pela membrana plasmática é
chamada de pressão osmótica.
Lembrete
Na osmose, a água sempre irá fluir de um meio mais concentrado, ou seja, onde a concentração do
soluto é alta, para um meio menos concentrado. O equilíbrio é atingido quando os dois meios possuem a
mesma concentração. O quadro a seguir resume a classificação dos meios de acordo com a concentração.
• [LEC]= [LIC]
Meio isotônico
• existe um equilíbrio entre a quantidade de água que entra e sai da célula
• [LEC]>[LIC]
Meio hipertônico
• a célula irá perder água para o LEC, adquirindo um aspecto crinado (“murcho”)
• [LEC]<[LIC]
Meio hipotônico • a água do meio externo irá entrar na célula, que ficará túrgida (inchada),
podendo, inclusive, sofrer a lise osmótica (arrebentar)
No organismo humano, consideramos como solução isotônica o NaCl 0,9% porque nessa concentração
a quantidade de solvente que entra na célula é equivalente a que sai, mantendo as características
estruturais. Quando uma célula é colocada em concentrações superiores à 0,9%, ela estará em meio
hipertônico e a água tenderá a sair, fazendo com que a célula fique enrugada; essa situação é chamada
de cremação. Por outro lado, em concentrações inferiores à 0,9%, a célula será submetida à uma solução
hipotônica, para que o equilíbrio volte a ser atingido, será necessária a entrada de água da célula,
podendo provocar a sua lise. Esses eventos são facilmente observados em hemácias: a hemólise, ou seja,
23
Unidade I
a lise da hemácia em decorrência do meio hipotônico, é o mais comum deles. A figura a seguir mostra
as consequências para a morfologia da hemácia quando o processo de osmose ocorre.
Túrgida
Crenada Normal
Figura 13 – Osmose nas hemácias. LEC – Líquido extracelular; LIC – Líquido intracelular
Observação
A energia utilizada para a realização desse tipo de transporte é a adenosina trifosfato (ATP) e permite
que substâncias presentes em baixas concentrações do lado externo das células sejam transportadas
para o meio interno. Embora o transporte do LEC para o LIC seja mais comum, o transporte ativo no
sentido inverso também pode ocorrer.
As proteínas que realizam o transporte ativo são permeases, comumente chamadas de “bombas”,
específicas para cada tipo de soluto a ser transportado. A figura a seguir (A) esquematiza o processo de
transporte ativo em uma membrana de eucarionte.
24
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
CITOSOL
Molécula
pequena
2 2 + 2 Pi
Domínios
ATPase
LEC
Gradiente Gradiente
eletroquímico de Na+ eletroquímico de K+
CITOSOL
2
Figura 14 – Transporte ativo em eucariontes. A) Representação esquemática do processo de transporte ativo; B) Representação
esquemática do funcionamento da bomba Na+, K+ ATPase
A bomba Na+, K+ ATPase é um tipo de transporte ativo presente em todas as células humanas. Seu
papel é essencial para manter as diferenças eletroquímicas entre o LEC e o LIC. A bomba Na+, K+ ATPase
tem como objetivo colocar, simultaneamente, 3 Na+ para o meio externo (LEC) e 2 K+ para o meio
interno (LIC) para criar uma diferença de cargas entre a face interna e a face externa da membrana
plasmática. Esse processo é essencial para que ocorra contração muscular e a transmissão do impulso
nervoso (sinapse).
25
Unidade I
Lembrete
Vesícula de Retorno de
pinocitose receptores e de
revestida membranas
Vesícula de
pinocitose
Fusão em
Proteínas do endiossomo
revestimento precoce
(clatrina)
Digestão no
lisossomo
Endossomo tarde
Figura 15 – Mecanismos de endocitose (seta vermelha) e exocitose (seta verde) realizados pelas células
Observação
26
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
No entanto, da mesma forma que várias substâncias grandes podem entrar na célula por transporte
vesicular, o mesmo processo também é utilizado quando a célula precisa transportar substâncias maiores
para o meio externo, por exemplo, produtos de secreção ou ainda compostos tóxicos. Quando a célula
utiliza o transporte vesicular para liberar algo para o meio externo, o processo recebe o nome de exocitose.
Durante a exocitose, existe a formação de uma vesícula que estará cheia da substância a ser lançada
para o LEC. Essa vesícula é formada por fosfolipídios e migra em direção à periferia da célula. Devido a
sua natureza similar à membrana plasmática, a vesícula se funde à membrana e lança seu conteúdo ao
meio externo.
A membrana delimita o perímetro celular, separando o meio externo (LEC – líquido extracelular)
do meio interno (LIC – líquido intracelular). O LIC, nos eucariontes, também recebe o nome de matriz
citoplasmática, ou citosol.
O citoplasma é uma solução em estado coloidal, ou seja, gelatinoso, e está presente em todos os
tipos celulares, tanto eucariontes como também procariontes, devido a sua função. É no citoplasma que
ocorrem todas as reações químicas da célula.
Lembrete
2.2.1 Citosol
Como vimos, o citosol se refere apenas à parte líquida do citoplasma. Essa solução tem característica
coloidal, ou seja, gelatinosa e, em alguns pontos, pode apresentar maior ou menor consistência.
Sua composição é bem variada entre os diferentes tipos celulares. Diversas macromoléculas são
encontradas dispersas no citosol na forma de inclusões. O conteúdo das inclusões pode variar tanto entre
as diferentes espécies, quanto entre os diferentes tecidos de uma mesma espécie. Nas células hepáticas
e musculares, por exemplo, é comum encontrarmos inclusões de glicogênio, ou grânulos de glicogênio,
que serão utilizadas como fonte de energia, uma vez que o glicogênio é um polissacarídeo. Outra forma
de reserva de energia são as gotículas de lipídios, normalmente formadas por triacilglicerídio, que,
embora possam existir em todas as células, são mais comuns em células hepáticas e musculares. Proteínas
e enzimas solúveis também podem ser encontradas no citoplasma, sendo as enzimas responsáveis por
catalisar as reações de síntese e degradação de pequenas moléculas.
27
Unidade I
Células como os melanócitos da pele e das mucosas têm seu citoplasma rico em um pigmento, a
melanina, que confere proteção contra a radiação ultravioleta. Além disso, são encontrados dispersos
no citoplasma os íons, moléculas carregadas positivas ou negativamente que são importantes para
a manutenção da carga elétrica da membrana, da manutenção do pH celular, em torno de 7,2, e da
pressão osmótica da célula.
Analisando a figura a seguir podemos observar que os mesmos elementos são encontrados no LIC
e no LEC, mas a concentração deles em cada região é diferente. É importante que essa diferença seja
mantida, pois é ela que garante o funcionamento adequado da célula e a manutenção do organismo.
Essa diferença de valores entre os dois compartimentos é mantida graças aos mecanismos ativos e
passivos de transporte através da membrana.
LEC
Citoplasma
Na 142
+
10
K+ 4 140
Ca 5
+2
<1
Cl- 103 4
HCO3- 28 10
PO4-2 4 75
Glicose 90 0 - 20 Núcleo
Aminoácidos 30 200
Membrana plasmática
Figura 16 – Composição citoplasmática de uma célula eucarionte. As concentrações dos íons Na+; K+, Ca+2, Cl‑, HCO3‑ e PO4‑2
estão expressas em m Eq/L; as concentrações de glicose e aminoácidos estão expressas em mg%
2.2.1.1 Ribossomos
O citoplasma é o meio onde ocorrem as mais diversas reações químicas necessárias para a manutenção
da funcionalidade da célula. Dentre as reações, está a síntese de proteínas que ocorre nos ribossomos.
O processo de síntese proteica será abordado mais adiante. Agora, abordaremos apenas a estrutura dos
ribossomos e sua função.
Os ribossomos são produzidos no nucléolo, um componente nuclear, e são formados por proteínas
e RNA ribossômico. A maioria dos ribossomos é encontrada livre no citoplasma, mas também pode ser
encontrada nas mitocôndrias e no retículo endoplasmático rugoso. Apenas uma parte das proteínas
sintetizadas permanece no citoplasma, e o restante é encaminhado para o núcleo ou para as organelas.
As proteínas sintetizadas pelos ribossomos mitocondriais acabam permanecendo na própria mitocôndria,
enquanto que aquelas sintetizadas pelos ribossomos associados ao retículo são normalmente secretadas
para o meio externo.
28
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
rRNA 5S
Subunidade Subunidade
menor maior
Ribossomo
Retículo endoplasmático rugoso
Ribossomo citoplasmáticos
Proteínas Proteínas
citossólicas nucleares
Proteínas
mitocondriais
Saiba mais
Para saber mais sobre como as proteínas são direcionadas para cada
região celular, leia:
29
Unidade I
Outro elemento citoplasmático exclusivo de eucarionte são as organelas. As organelas são estruturas
membranares que criam compartimentos funcionais dentro da célula. Todas as células têm basicamente
todas as organelas, porém, conforme a função da célula dentro do organismo, ela pode ter a prevalência
de uma ou outra organela.
Retículo endoplasmático
O retículo endoplasmático é uma rede de membranas que apresenta uma conformação semelhante
a um grupo de túbulos achatados. Eles se iniciam como um prolongamento do envoltório nuclear e se
estendem por todo o citoplasma. Na região próxima ao núcleo, há uma série de ribossomos associados
externamente, recebendo o nome de retículo endoplasmático rugoso; à medida que a estrutura se
afasta do envoltório nuclear, os ribossomos vão diminuindo e a região que fica desprovida de ribossomos
associados passa a se chamar retículo endoplasmático liso.
O retículo endoplasmático rugoso (RER) tem sua função associada à síntese e modificação de
proteínas que serão inseridas em outras organelas, na membrana plasmática ou que serão secretadas.
É comum que o RER sempre esteja próximo ao complexo de Golgi, uma vez que essas duas organelas
atuam em conjunto no processo de modificação e endereçamento das proteínas.
Já o retículo endoplasmático liso (REL) tem sua função associada à síntese de lipídios e também à
modificação de algumas proteínas.
30
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
RE rugoso
Vesícula
secretora
Envelope
nuclear
Aparelho Endossomo
de Golgi
Glicogênio
REL
Figura 19 – A) Relação entre o núcleo e o retículo endoplasmático. B) Células intestinal destacando o Retículo Endoplasmático
Rugoso (RER) e sua proximidade com o núcleo (N) e o Complexo de Golgi (G) para que haja a secreção do muco (S); em destaque
a relação entre os compartimentos citados. C) Micrografia eletrônica de células de testículo mostrando os canias de túbulos
membranosos formados pelo Retículo Endoplasmático Liso (REL).
Observação
Complexo de Golgi
O complexo de Golgi, ou aparelho de Golgi, se apresenta como uma rede de saco sobrepostos,
lembrando muito uma pilha de panquecas.
31
Unidade I
Sempre está posicionado próximo ao retículo endoplasmático rugoso devido às funções interligadas
que ambos possuem na sinalização e no endereçamento de proteínas.
Cada região do complexo de Golgi tem um papel específico nas modificações de proteínas que foram
sintetizadas pelo RER. Existem regiões que são responsáveis por modificações químicas, como glicosilação
(adição de carboidratos), fosforilação (adição de fosfato) ou proteólise (clivagem da proteína); existem
regiões que são responsáveis pelo endereçamento das proteínas e, finalmente, outras regiões que farão o
empacotamento dessas proteínas em vesículas para sua distribuição em outros pontos da célula ou secreção.
Figura 20 – A) Fotomicrografia mostrando o complexo de Golgi (G) e sua relação com o Retículo Endoplasmático Rugoso (RER). Na
foto ainda é possível observar o Retículo Endoplasmático Liso (REL), o peroxissomo (P) e a mitocôndria (M). B) Diferentes vias de
trafego das vesículas liberadas pelo complexo de Golgi
32
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Lembrete
Lisossomo
Dentre as diversas vesículas liberadas pelo complexo de Golgi, uma tem um destino diferente.
Essas vesículas possuem um tamanho maior do que as outras e delimitam um espaço rico em enzimas
digestivas de característica ácida. O pH dentro do lisossomo é 5,2.
As enzimas existentes dentro do lisossomo são chamadas de hidrolases ácidas e são sintetizadas pelos
ribossomos do retículo endoplasmático rugoso. O mecanismo de ação dessas enzimas está diretamente
ligado à função dos lisossomos, que é a reciclagem de macromoléculas não funcionais e a digestão de
substâncias adquiridas por fagocitose.
Lembrete
A digestão celular é um importante processo modulado pelos lisossomos, uma vez que permite tanto
a destruição de elementos exógenos que possam ser prejudiciais para o organismo, como as bactérias,
33
Unidade I
quanto possibilita a reciclagem de moléculas endógenas, permitindo a reutilização dos seus elementos
para outros processos. O mecanismo de digestão celular está intimamente ligado aos processos de
endocitose e exocitose e consiste na formação do endossomo e na sua posterior fusão com o lisossomo.
Bactéria
CITOSOL
Fagocitose de
uma bactéria
Bactéria Fagossomo Membrana
plasmática
Membrana
plasmática
Endossomo inicial
Célula branca
sanquínea fagocitica 1 µm
Mitocôndria Peroxissomo
Mitocôndria
Autofagossomo
Autofagia de uma
mitocondria 1 µm
Citoesqueleto
de actina
Fagossomo
Corpo residual
Figura 22 – A) Diferentes vias que mostram as funções desempenhadas pelos lisossomos. B) Mecanismo de digestão celular: 1)
Interação da partícula estranha com os receptores celulares; 2) Emissão dos pseudópodes para a captura da partícula; 3) Formação do
fagossomo no meio intracelular; 4) Fusão do fagossomo com os lisossomo formando o vacúolo digestivo onde ocorre a degradação
da partícula; 5) Formação do vacúolo residual e (6) Mobilização do vacúolo para a exocitose
34
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Observação
Mitocôndria
A mitocôndria é a organela mais complexa de todas. É dotada de uma organização única e a única
a possuir seu próprio DNA. A forma como as mitocôndrias estão organizadas relaciona‑se diretamente
com as funções desempenhadas por ela dentro das células. A mitocôndria é dotada de uma membrana
externa dupla e uma membrana interna simples que se expande em direção ao seu interior, formando
prolongamentos conhecidos como cristas mitocondriais. O espaço delimitado pelas membranas externas
e interna é preenchido por um fluido conhecido como matriz mitocondrial. Nessa matriz são encontradas
sequências circulares de DNA, o chamado DNA mitocondrial, e ribossomos livres.
100 nm
Figura 23 – Fotomicrografia eletrônica de uma célula mostrando suas mitocôndrias (setas). Em destaque,
uma mitocôndria com a localização de suas principais regiões
35
Unidade I
Observação
Todas as células possuem mitocôndrias. Essa organela é essencial para a sobrevivência da célula, uma
vez que nela é produzida a maior parte da energia para a ocorrência das reações químicas necessárias
para a manutenção da viabilidade celular. Na mitocôndria ocorrerão as reações bioenergéticas e as
reações químicas oxidativas que irão produzir o ATP (adenosina trifosfato), molécula responsável por
fornecer energia para as reações químicas da célula.
Na matriz mitocondrial ocorrerá as reações do Ciclo de Krebs, processo responsável pela produção
das coenzimas reduzidas. As coenzimas reduzidas são reservatórios de prótons e elétrons, elementos
essenciais para a síntese de ATP. As coenzimas reduzidas serão oxidadas pelas proteínas da cadeia de
transporte de elétrons, localizadas nas cristas mitocondriais. Como resultado dessa oxidação, os prótons
e elétrons serão liberados e forçarão a passagem de prótons da matriz mitocondrial para o espaço
intermenbranas. Os prótons do espaço intermembranas precisam retornar para a matriz mitocondrial
e utilizam como passagem a proteína bomba ATP sintase. Ao passarem por essa proteína, localizada
também na membrana interna, os prótons possibilitam a união de um ADP com o fosfato inorgânico
formando o ATP.
Sem a energia produzida por esses processos, a célula é incapaz de sobreviver devido à falta de
energia. Além disso, as mitocôndrias participam ativamente do processo de apoptose que ocorre quando
uma célula precisa morrer porque já não está mais funcionando adequadamente ou foi infectada por
algum patógeno.
36
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Membrana
externa
Membrana interna
Ristas
Latriz
Espaço intermebranas
NADH
Complexo 1/2 O2+2H
+
Complexo Complexo
H+ + NAD+ I III IV
H2O
Membrana
Figura 24 – Localização dos processos de produção de energia dentro da mitocôndria. Os números indicam a sequência de ocorrência
de cada um dos processos
Observação
Uma vez que o citosol é uma solução coloidal e, portanto, sem nenhuma rigidez, a manutenção da
forma celular através apenas da membrana plasmática não seria possível. Para tanto, a célula possui
uma rede de filamentos proteicos que funcionam como se fossem o alicerce de uma casa. É o chamado
citoesqueleto celular.
37
Unidade I
Para que todas essas funções possam ser realizadas, o citoesqueleto é formado por três classes
de filamentos proteicos: microtúbulos, filamentos intermediários e filamentos de actina, que formam
o citoesqueleto em si. Além disso, existem as proteínas acessórias que controlam o surgimento dos
filamentos, a interação entre eles e o movimento dessa rede.
A interação entre os diversos grupos de proteínas que formam o citoesqueleto permite que a célula
se adapte rapidamente conforme a necessidade. Fica fácil perceber a importância de uma resposta
rápida do citoesqueleto quando pensamos em todas as alterações que uma célula sofre durante o
processo de divisão celular. Essa resposta rápida é possível graças à forma como os três filamentos estão
distribuídos no meio intracelular.
Filamentos intermediários
Microtúbulos
Filamentos de actina
Filamentos de actina
Figura 25 – Citoesqueleto celular. A) Representação esquemática dos três tipos de filamentos proteicos que formam o citoesqueleto.
B) Esquema e foto da distribuição das proteínas do citoesqueleto na célula
38
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Filamentos intermediários
Existem ainda proteínas associadas a esses filamentos: são as proteínas ligadoras que conectam
os filamentos intermediários entre si e também com outros filamentos do citoesqueleto, garantindo a
coesão do sistema.
Observação
Microtúbulos
São filamentos longos e delgados formados por uma proteína chamada de tubulina. Os monômeros
de tubulina se unem formando dímeros que se associam em forma de hélice, mas que estão em
constante reorganização e crescimento dentro do citoplasma celular. Embora estejam distribuídos por
todo o citoplasma, existe uma maior concentração desses filamentos na periferia da célula, enquanto no
citoplasma eles formam uma rede interconectada que permite o trânsito de vesículas e outras estruturas.
Os microtúbulos possuem várias funções dentro da célula, dentre elas podemos citar:
• manutenção da forma celular, em especial naquelas células que não são simétricas.
Os centríolos são formados por nove trincas de microtúbulos distribuídos de forma octogonal. São mais
abundantes próximos ao núcleo e, ao seu redor, são encontrados vários monômeros de tubulina. Embora sempre
pensemos nos centríolos como estrutura responsável pelo alinhamento dos cromossomos durante os eventos
de mitose e meiose, essa estrutura também é responsável por iniciar a formação dos cílios e dos flagelos. Os
40
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
centríolos vão fornecer o corpúsculo basal, base em cima da qual serão construídos os cílios e os flagelos através
da deposição de novas unidades de tubulina, que empurrarão a membrana plasmática para fora.
Durante o processo de divisão celular também existe a participação dos centríolos, que atuarão
na formação das fibras do fuso. Assim que se inicia o processo mitótico ou meiótico, os centríolos se
posicionam nos polos celulares, determinando o local de onde partirão os fusos mitóticos que se ligarão
aos centrômeros dos cromossomos, permitindo seu alinhamento e sua separação durante a anáfase.
Cílio
Corpúsculo
basal
Pró-centríolo
Deuterossomo
Pró-centríolo
Grânulos fibrosos
Centríolo
Figura 28 – A) Papel dos centríolos na formação dos cílios e flagelos. B) Participação dos centríolos na formação das fibras do fuso.
Em destaque, um centríolo com as fibras do fuso em formação mostrando que algumas delas se retraem (setas vermelhas) e outras
de expandem (setas verdes)
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Unidade I
Observação
Os cílios e os flagelos são duas estruturas associadas à motilidade celular formadas através dos
corpúsculos basais de origem centriolar. Cílios e flagelos se diferenciam em relação ao tamanho e
a função.
Os cílios são projeções menores e numerosas que ficam localizadas na superfície apical de uma
célula. Nos cílios, os microtúbulos estão distribuídos em paralelo e envoltos por membrana. No
ser humano são encontrados nas tubas uterinas e no trato respiratório e associados a células que
secretam muco.
Por outro lado, os flagelos são estruturas únicas e longas encontradas apenas nos espermatozoides,
quando se trata do ser humano. Os flagelos, ao se movimentarem, impulsionam os espermatozoides
para frente através de um movimento semelhante ao de uma hélice em um barco. Porém, ao contrário
dos cílios, os flagelos precisam de uma maior quantidade de ATP para realizarem seu movimento; na
base do flagelo são encontradas várias mitocôndrias que fornecem a energia necessária para que o
movimento aconteça.
Lembrete
42
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Cílio
Bainha
mitocondrial
Peça Mitocôndrias
Cauda principal
Fibras densas externas
Microtúbulos do
complexo axonêmico
Bainha
fibrosa Flagelo
Peça
terminal
Fibras densas externas 4, 5, 6
Duplas externas do complexo axonêmico
Par central de microtúbulos do complexo axonêmico
Figura 29 – Fotomicrografia eletrônica de cílios e A) flagelos e os B) movimentos desencadeados por cada um deles
Observação
Filamentos de Actina
Dentre todos os filamentos que formam o citoesqueleto, os filamentos de actina, também chamados
por alguns autores de microfilamentos, são os mais curtos, finos e flexíveis de todos. Como todos os outros
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Unidade I
• fluxo citoplasmático – o citoplasma não é um meio estático; a movimentação dos fluidos ocorre
graças à movimentação dos filamentos de actina. Além disso, junto com os microtúbulos, também
contribuem para a movimentação das organelas;
• fixação e movimento das proteínas de membrana – uma vez que esses filamentos estão localizados
próximos à membrana, eles são responsáveis pela ancoragem das proteínas membranares e
também pela adesão de uma célula à outra em tecidos como os epiteliais;
44
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Embora possam ser encontradas em vários tipos celulares, as microvilosidades são mais abundantes
nas células da mucosa intestinal devido a sua característica absortiva. A presença das microvilosidades
na superfície apical das células aumenta a superfície de absorção celular.
Substância amorfa
Cadeia
de actina
Miosina I
Vilina
Fimbrina
Espectrina
Figura 31 – Fotomicrografia da superfície apical da mucosa intestinal de um rato; em destaque, a distribuição dos filamentos de
actina na microvilosidades
45
Unidade I
Observação
O citoesqueleto das células musculares esqueléticas apresenta uma estruturação especial devido ao
papel que essas células desempenham no organismo. Comumente nos referimos às proteínas que formam
essa estrutura como miofibrilas, cuja principal característica é a capacidade de adaptar‑se à atividade
mecânica da célula, encurtando‑se durante a contração e alongando‑se durante o relaxamento.
As miofibrilas são formadas por filamentos de actina (mais finos) e miosina (mais grossos) dispostos
ao longo de toda a extensão da célula muscular e organizados na forma de sarcômeros. Quando o
músculo está relaxado, os filamentos de actina e miosina estão separados; na presença de um estímulo
adequado, os filamentos se aproximam e interagem provocando o encurtamento do sarcômero e a
contração da musculatura.
Observação
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BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Miofibrila
Actina
Sarcômero
Miosina
Sarcômero
Relaxamento
Contração
Contração
máxima
Figura 32– A) Organização dos filamentos de actina e miosina em uma miofibrilas. B) Interação dos filamentos de actina e miosina no
sarcômero de uma célula muscular durante os movimentos de contração e relaxamento. Os filamentos de actina estão mostrados em
vermelho e os de miosina em verde
Lembrete
47
Unidade I
Leitura obrigatória
Resumo
Exercícios
50
BIOLOGIA, HISTOLOGIA, EMBRIOLOGIA
Para identificar o corpo, os peritos devem verificar se há homologia entre o DNA mitocondrial do
rapaz e o DNA mitocondrial do(a):
A) pai.
B) filho.
C) filha.
D) avó materna.
E) avô materno.
Resposta correta: D
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o DNA mitocondrial não é enviado pelo espermatozóide por estar no flagelo, que se
perde ao ocorrer a fecundação do óvulo; então, o pai não oferece herança de DNA‑mitocondrial.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a filha carrega o DNA‑mitocondrial materno e não há como compará‑lo ao de seu pai.
D) Alternativa correta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o avô materno herdou seu DNA‑mitocondrial da bisavó do rapaz, portanto, não há
como comparar porque o rapaz herdou de sua mãe que, por sua vez, herdou de sua avó materna.
51
Unidade I
Questão 2. A figura ilustra a maneira como certas moléculas atravessam a membrana da célula sem
gastar energia, o que é denominado transporte _I_. Tal processo ocorre _II_ gradiente de concentração
e é utilizado para a passagem de _III_.
Meio extracelular
Meio intracelular
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