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Por: Raquel Vaz Hara

TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
CITOESQUELETO: COMPOSIÇÃO,
Compreender a composição e interação
FUNÇÕES E PATOLOGIAS
dos componentes do citoesqueleto e • Composição geral
a distribuição diferenciada nas células • Funções gerais
eucariontes; • O citoesqueleto em diferentes tipos
celulares
Relacionar o citoesqueleto celular com
• Citoesqueleto e patologias
a manutenção de variadas formas e
funções celulares;
Associar microtúbulos com a estrutura MICROTÚBULOS

de cílios, flagelos, corpos basais e


• Composição, montagem e
instabilidade dinâmica
centríolos;
• Proteínas associadas ao microtúbulo
Associar filamentos a movimentos (MAP) e movimento intracelular
celulares e processos de endocitose e • Microtúbulos em cílios, flagelos,
exocitose; corpos basais e centríolos
Associar filamentos intermediários com • Microtúbulos na célula em divisão
manutenção de forma celular.
FILAMENTOS DE ACTINA
• Composição, montagem e
instabilidade dinâmica
• Associação com proteínas
• Actina em bandas paralelas, na rede
cortical e contato focal
• Actina nas células em divisão

FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS
• Composição e classificação
• Montagem e distribuição
• Associação com junções celulares
• Manutenção da forma celular

CITOLOGIA 113
Contextualizando o cenário

As células eucarióticas apresentam uma diversidade de formas e movimentos coordena-


dos, bem como exibem um compartilhamento interno altamente organizado.
Ao analisar as células por técnicas apropriadas, como, por exemplo, microscopia ele-
trônica e imunocitoquímica, é possível observar o quão impressionante é a diversidade
de detalhes entre os tipos celulares. As diferentes estruturas celulares variam de acordo
com os tipos de componentes presentes na matriz citoplasmática.
Diante desse cenário, surge uma questão importante: como as células apresentam dife-
rentes tipos de formas, organização e mobilidade? Por que essas diferenças são impor-
tantes para cada tipo celular?

CITOLOGIA 114
5.1 Citoesqueleto: composição, funções e patologias
As células animais, principalmente por não possuírem parede celular, precisam de uma estrutura
filamentosa que ajuda a sustentar o volume citoplasmático. Sendo assim, o citoesqueleto permite
essa sustentação por meio de uma rede de filamentos proteicos que se distribui por todo o citoplas-
ma celular. O citoesqueleto também apresenta uma estrutura dinâmica que possibilita ser reorgani-
zado à medida que as células vão sofrendo mudanças na forma, divisões ou influência do ambiente.
Embora essas estruturas complexas estejam presentes em todas as células eucarióticas,
a composição e distribuição varia entre os tipos celulares. Além disso, outras funções estão
relacionadas ao citoesqueleto com a forma, movimento e adesão celular.

5.1.1 Composição geral


O citoesqueleto é constituído por uma trama proteica filamentosa, ou seja, diferentes tipos
de fibras de proteínas cruzam a célula em diversas direções formando uma rede. Esses filamen-
tos proteicos são divididos em três tipos que diferem entre si quanto à composição, proprie-
dades mecânicas e funções no interior da célula. A Fig. 1 apresenta os três tipos de filamentos
proteicos chamados de filamentos intermediários, microtúbulos e filamentos de actina.

25 nm 25 nm 25 nm

FILAMENTOS FILAMENTOS
INTERMEDIÁRIOS MICROTÚBULOS DE ACTINA

25 nm 25 nm 25 nm

Figura 1. Tipos de filamentos proteicos representados em células epiteliais. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 115
De modo geral, os filamentos são formados por um processo reversível, que pode ser muda-
do conforme as necessidades das células. Os filamentos intermediários apresentam um diâme-
tro de aproximadamente 10 nm, compostos por proteínas fibrosas. Os microtúbulos são tubos
longos (cerca de 25 nm de diâmetro) formados por subunidades de tubulina glomerular. Os mi-
crofilamentos ou filamentos de actina são polímeros helicoidais constituídos por subunidades
de actina globular, organizados em feixes funcionais ou rede, com cerca de 7 nm de diâmetro.

5.1.2 Funções gerais


O citoesqueleto exerce um papel fundamental nas células, como em processos de cicatrização,
contração muscular e motilidade dos espermatozoides, essenciais para a fecundação. Todos esses
processos estão relacionados ao citoesqueleto, que é o responsável pelo deslizamento das célu-
las sobre uma superfície, pelo movimento de contrair e relaxar as células musculares, bem como
pela migração e determinação do formato celular durante o desenvolvimento embrionário.
Além disso, o citoesqueleto controla o posicionamento das organelas no citoplasma, de for-
ma que elas possam realizar suas funções com o máximo de eficiência. Outro ponto de extre-
ma importância é a atuação do citoesqueleto na segregação dos cromossomos e na separação
de duas novas células durante o processo de divisão celular.
Cada tipo de filamento proteico que compõe o citoesqueleto é responsável por uma fun-
ção. Os filamentos intermediários atuam fornecendo resistência mecânica às células e con-
tribuindo para a junção celular em alguns tecidos. Os microtúbulos promovem a organização
do citoplasma celular e formam estruturas móveis, que permitem a movimentação de alguns
tipos celulares, além de formar estruturas chamadas de fuso durante a divisão celular. Por
outro lado, os filamentos de actina são encontrados em maior quantidade logo abaixo da
membrana plasmática, com a função de controlar a forma e os eventos celulares que evol-
vem o movimento.

5.1.3 O citoesqueleto em diferentes tipos celulares


O citoesqueleto, dependendo do tipo de célula em que é encontrado, pode ter diversas fun-
ções. Sendo assim, os tipos celulares são caracterizados por arranjos específicos que podem
definir a sua forma, movimento de suas organelas ou a própria locomoção.
As células epiteliais presentes no trato respiratório possuem cílios na sua superfície apical
que, através dos seus movimentos, conseguem eliminar os microrganismos e resíduos que
estão nas vias respiratórias superiores.

CITOLOGIA 116
Quadro 1. Componentes do citoesqueleto

COMPONENTE DO CITOESQUELETO FUNÇÃO

Microtúbulos Movimentação de cílios e flagelos.

Filamentos de actina Movimentos ameboides.

Filamentos intermediários Manutenção da forma celular.

Fonte: LODISH et al., 2014

5.1.4 Citoesqueleto e patologias


O citoesqueleto participa de funções essenciais para as células. No entanto, quando ocorre
alguma alteração nos filamentos proteicos como, por exemplo, defeitos na síntese dos compo-
nentes, na montagem estrutural ou na associação com as proteínas acessórias, pode resultar
no desenvolvimento de algumas patologias.
A progéria é uma patologia que ocorre devido a um defeito em algum tipo específico de
lamina nuclear. No entanto, ainda não se sabe com clareza de que modo a perda da lamina
nuclear pode causar esse distúrbio, que promove o envelhecimento prematuro do indivíduo
afetado. Algumas hipóteses acreditam que a instabilidade nuclear pode resultar em proble-
mas na divisão celular, morte celular aumentada, redução da capacidade de reparar tecidos
ou, ainda, uma combinação entres esses efeitos.
Mutações no gene da queratina causam uma doença genética rara chamada de epidermólise
bolhosa simples. Essa doença afeta a formação dos filamentos de queratina (filamento interme-
diário) e, consequentemente, as células da epiderme ficam mais vulneráveis a lesões mecânicas.

Epiderme

Epiderme

Derme

Derme

NORMAL MUTADO

Figura 2. Corte histológico que representa uma comparação entre o tecido normal e o tecido com mutação no gene da queratina, que
caracteriza a epidermólise simples. Fonte: LODISH et al., 2014.

CITOLOGIA 117
A Síndrome de Kartagener é uma doença hereditária caracterizada por um defeito na
dineína ciliar, que compromete a motilidade dos espermatozoides, bem como os cílios que
revestem o trato respiratório.

ESCLARECIMENTO:
Os homens afetados pela Síndrome de Kartagener apresentam infertilidade e
aumento da suscetibilidade em adquirir infeção brônquica, por não serem capa-
zes de eliminar as bactérias e outros resíduos do pulmão.

5.2 Microtúbulos
Os microtúbulos formam estruturas complexas essenciais que realizam a organiza-
ção de todas as células eucarióticas. Os microtúbulos são tubos proteicos longos, ocos
e altamente dinâmicos, pois seus monômeros constituintes podem sofrer dissociação
e reassociações dependendo da sua localização. A origem dos microtúbulos nas células
animais, geralmente, ocorre próximo ao núcleo celular, em uma região específica de-
nominada de centrossomo. O crescimento desses filamentos acontece do centro para
a periferia celular, possibilitando, quando associado a proteínas motoras, o transporte
e o posicionamento das organelas e vesículas de transporte intracelular. Além disso, os
microtúbulos citoplasmáticos participam
do processo de divisão celular, pois são os
componentes do fuso mitótico e meiótico,
que é responsável pela separação dos cro-
mossomos que são distribuídos de forma
igual para cada célula-filha. Os microtúbu-
los formam a estrutura interna de flagelos
e cílios e, dessa forma, são responsáveis
pela movimentação de espermatozoides e
pelo impulsionamento de líquidos sobre a
superfície de células ciliadas, como as ob-
servadas na traqueia. Em células eucarió-
ticas, os cílios e flagelos são formados por
um feixe de microtúbulos extremamente
organizado.

CITOLOGIA 118
A B

Centrossomo
Célula que não esta em divisão

Cromossomos
C duplicados D

Microtúbulos

E F

Célula ciliada

Figura 3. Exemplos de microtúbulos. (A) Micrografia de fluorescência de um arranjo citoplasmático de microtúbulos. (B) Esquematiza-
ção dos microtúbulos organizados no centrossomo. (C) Micrografia eletrônica de transmissão de microtúbulos formados em célula de
divisão. (D) Esquematização dos fusos mitóticos. (E) Micrografia eletrônica de varredura de tufos espessos de cílios. (F) Corpo basal de
um cílio. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

5.2.1 Composição, montagem e instabilidade dinâmica


Os microtúbulos são compostos por proteínas globulares denominadas de α-tubulina e
β-tubulina, que se associam em dímeros, nos quais a α-tubulina e β-tubulina são ligadas entre
si por interações não covalentes.
Os dímeros se associam entre si e formam protofilamentos. Os microtúbulos são compos-
tos por 13 protofilamentos paralelos e lineares, que resultam na estrutura cilíndrica e oca.
Cada protofilamento apresenta polaridades opostas, sendo uma extremidade “menos” (-) com
a α-tubulina exposta e a outra extremidade “mais” (+) que expõe a β-tubulina. Sendo assim, to-
dos os protofilamentos do microtúbulo apresentam a mesma orientação, resultando em uma
polaridade estrutural geral. O transporte de diferentes estruturas ao longo dos microtúbulos
são direcionados devido a essa polaridade.

CITOLOGIA 119
β
α

Heterodímero de tubulina
(= subunidade do microtúbulo)

(B)
Protofilamento Lúmen

Estremidade mais (+)

50 nm

Estremidade menos (-)

(A) (C) Microtúbulo

Figura 4. Microtúbulo. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

A montagem dos microtúbulos está relacionada aos centros organizadores especializados,


que nas células animais são conhecidos como centrossomos, responsáveis por controlar o
posicionamento, a orientação e o número de microtúbulos. Os centrossomos são formados
por um par de centríolos revestido por uma matriz proteica e, geralmente, são encontrados
próximo ao núcleo celular. Além disso, a matriz do centrossomo contém um conjunto de anéis
formados por γ-tubulina, sendo que cada anel representa um ponto de crescimento ou sítio
de nucleação, que dá início ao crescimento dos microtúbulos. A orientação desse crescimento
está relacionada à polaridade dos dímeros αβ-tubulina. Sendo assim, a extremidade “menos”
(-) fica presa ao centrossomo e o crescimento ocorre na extremidade “mais” (+), que se irradia
pelo citoplasma em direção à periferia.

CITOLOGIA 120
Sítios de nucleação
(complexos do anel -tubulina)
λ

Matriz do
centrossomo

Par de
centríolos

Figura 5. Polimerização dos microtúbulos a partir do centrossomo em células animais. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Durante o alongamento dos microtúbulos, chega o momento em que esse crescimento


é interrompido e ocorre o seu encolhimento através da perda de dímeros de tubulina na
extremidade “mais” (+) livre. Nesses casos, podem acorrer transições no crescimento dos
microtúbulos que encurtam e recomeçam ou, até mesmo, desparecem para que um novo
microtúbulo cresça no mesmo sítio de nucleação. Toda essa mudança de direção, ou seja,
alternância entre polimerização e despolimerização, caracteriza um evento chamado de
instabilidade dinâmica. Portanto, a instabilidade dinâmica está relacionada à polimeriza-
ção rápida e despolimerização dos microtúbulos, que permite a remodelação do citoes-
queleto e é essencial para a função dessas estruturas. Isso pode ocorrer, por exemplo,
quando a célula entra em processo de divisão celular e os microtúbulos são reorganizados
para formar os fusos mitóticos.
Os centrossomos estão originando novos microtúbulos em diferentes direções, no entanto,
ele pode ser impedido de retrair, caso encontre uma molécula que o estabilize ou uma estru-
tura que bloqueie a sua despolimerização. Quando isso acontece em uma região mais distante,
o microtúbulo forma uma rede estável que liga a estrutura ao centrossomo.
De modo geral, o processo de polimerização e despolimerização está relacionado com a
capacidade dos dímeros de tubulina em hidrolisar a guanosina trifosfado (GTP) em guanosina
difosfato (GTD). Em um processo normal, os dímeros de tubulina possuem uma molécula de
GTO ligada à β-tubulina, que, após ser adicionada no microtúbulo em crescimento, hidrolisa o
GTP em GDP. Quando o crescimento está acontecendo de forma muito rápida, essa conversão
é atrasada e a β-tubulina mantém a ligação com a GTP que é mais forte, contribuindo para a

CITOLOGIA 121
sua polimerização. Por outro lado, de forma aleatória, os dímeros podem hidrolisar seu GTP
antes da adição do próximo dímero e formar a tubilina-GDP, que é mais fraca e acaba favore-
cendo a despolimerização.

5.2.2 Proteínas associadas ao microtúbulo (MAP) e


movimento intracelular
Os microtúbulos, bem como todos os outros filamentos proteicos, precisam de proteínas
acessórias que auxiliam no seu funcionamento. Entre essas proteínas estão as proteínas as-
sociadas aos microtúbulos (MAPs), que estão relacionadas aos microtúbulos, e que podem
intensificar seu processo de polimerização, ou seja, estabilizam essas estruturas contra a disso-
ciação e não apresentam instabilidade dinâmica.
Algumas MAPs são consideradas estruturais, uma vez que elas se ligam lateralmente aos mi-
crotúbulos e são capazes de impedir que estes sejam despolimerizados. Essa classe de MAPs
pode ser exemplificada pela proteína tau, que forma feixes de microtúbulos mais compactos, e a
MAP2, que forma feixes estáveis e bem espaçados.

ASSISTA:
Assista ao vídeo Citoesqueleto – Microtúbulos,, disponível no canal Biologia Celular e Mo-
lecular NF, no YouTube, que explica as principais características dos microtúbulos.

As MAPs motoras produzem força e direcionam os movimentos das organelas, vesículas e


outras macromoléculas ao longo dos microtúbulos utilizando a energia derivada de ciclos repe-
titivos de hidrólise de ATP. Existem diferentes tipos de proteínas motoras que diferem entre si,
de acordo com o tipo de filamento, direção do movimento e carga transportada. Além disso, a
associação entre os microtúbulos e as proteínas motoras exercem um papel fundamental para o
posicionamento das organelas no interior das células eucarióticas.
As cinesinas e dineinas representam a classe de MAPs motoras responsáveis pela variedade de
transportes dependentes de microtúbulos. As cinesinas, que deslizam pelo microtúbulo em direção
à extremidade “mais” (+) e as dineínas, que se movem em sentido à extremidade “menos” (-). A estru-
tura da cinesina e a dineína é formada por duas cabeças globulares e uma cauda única. As cabeças
globulares das proteínas motoras são enzimas com atividade de hidrolise de ATP. Sendo assim, a ca-
beça se conecta ao microtúbulo e hidrolisa ATP, fornecendo energia para que se movam ao longo do
microtúbulo. A cauda da proteína motora carrega componente celular, como vesículas ou organelas.

CITOLOGIA 122
ATP
ATP

Fim do minus Fim do plus

Figura 6. Estrutura e movimento das proteínas motoras da família cinesinas e dineínas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/05/2019.
(Adaptado).

Sendo assim, a associação dessas proteínas e os microtúbulos exercem um papel essencial


para realizar o posicionamento das organelas no citoplasma das células eucarióticas.

5.2.3 Microtúbulos em cílios, flagelos, corpos basais e centríolos


Os cílios e flagelos são estruturas presentes na superfície celular formadas por um arranjo
de microtúbulos estáveis, estes fornecem um suporte e possibilitam a manutenção da forma
e movimentação.
Os cílios são numerosos e curtos quando comparados aos flagelos. O movimento realizado
pelos cílios impulsiona fluidos ou muco sobre a superfície de uma célula, como no epitélio, que
reveste as vias respiratórias, ou nos que transportam células individuais, como na tuba uteri-
na, cujo movimento permite o deslocamento do óvulo em direção ao útero.
Em humanos, os flagelos estão presentes exclusivamente nos espermatozoides, e ao con-
trário dos cílios, são únicos e apresentam uma estrutura alongada com movimentos ondula-
tórios. Os flagelos também podem estar presentes em microrganismos, como os protozoários
que permitem seu deslocamento.

CITOLOGIA 123
Raio radial

Camada interna
Nexina

Microtúbulo
central único
Braço externo de
dineína

Membrana Braço interno de


plasmática dineína

Microtúbulo A Microtúbulo B
(A) (B) Par de microtúbulos externos
100 nm

Figura 7. Os microtúbulos em um cílio ou flagelo estão organizados em um arranjo de “9+2”. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

O movimento dos cílios e flagelos ocorre devido a uma estrutura chamada de axonema, for-
mada por um feixe de microtúbulos organizados em arranjos de “9+2”. Normalmente, um par
central de microtúbulos é circundado por nove duplas de microtúbulos dispostos na periferia.
A participação das proteínas acessórias (MAPs) nessa estrutura, está relacionada à formação
de pontes proteicas a fim de unir as duplas periféricas entre si e o par central (MAPS estrutu-
rais), bem como a formação de braços de dineína que são projetados em cada microtúbulo
periférico e que permitem o deslizamento de pares de microtúbulos e o movimento de cílios e
flagelos (MAPs motoras).
O crescimento desses microtúbulos ocorre a partir do sítio de nucleação que, nesse caso, é
conhecido como corpo basal citoplasmático. Além disso, os corpos basais também represen-
tam um ponto de ancoragem dos cílios e flagelos na superfície celular. A estrutura dos corpos
basais é formada por nove grupos de três microtúbulos e estes são semelhantes aos centríolos
(também presentes nos centrossomos).

(A) (B)
Membrana
plasmática

Corpo
basal

Microtúbulos

Figura 8. (A) O corpo basal conecta o cílio ou flagelo à membrana plasmática. (B) Micrografia eletrônica de transmissão através do
corpo basal de um cílio. Fonte: VANPUTTE; REGAN; 2016. (Adaptado).

CITOLOGIA 124
5.2.4 Microtúbulos na célula em divisão
Na divisão celular, os microtúbulos sofrem uma total reorganização, caracterizando um
exemplo de instabilidade dinâmica. Dessa forma, a rede microtubular formada no citoplasma
é dissociada e as tubulinas livres são reutilizadas a fim de formar os fusos mitóticos. Para que
ocorra essa formação, o centrossomo é duplicado e posicionado em polos opostos. Sendo
assim, os fusos mitóticos são irradiados dos centrossomos, sendo que alguns se conectam ao
centrômero dos cromossomos, com a finalidade de separar as cromátides-irmãs, que migram
para os polos opostos.

(A) (B)

Zona de intercalação
MT do cinetócoro cinetócoro
(+)
MT astral
(+)
(+) (+) (+)
(+)

(+)
(-) (+) (-)
(+)

(+) (+)

Polo
(+)
(+) (Centrossomo)

MT polares Cromossomo

Figura 9. Os fusos mitóticos apresentam três tipos de microtúbulos. (A) Micrografia eletrônica de alta voltagem. (B) Esquema dos
tipos de fusos. Fonte: LODISH et al., 2014. (Adaptado).

Existem três tipos de microtúbulos que formam os fusos mitóticos. Os microtúbulos dos
cinetócoros, que são os responsáveis pela separação dos cromossomos através de proteínas
específicas que auxiliam na ligação entre o microtúbulo e o centrômero dos cromossomos,
os microtúbulos polares, que promovem a estabilização no centro celular e os microtúbulos
astrais, que irradiam do centrossomo para a periferia celular.

5.3 Filamentos de actina


Os filamentos de actina ou microfilamentos são formados pela actina, uma proteína globular
que apresenta três isoformas diferentes, com algumas variações de ocorrência e localização,
sendo denominadas de actinas α, β e γ. Esses microfilamentos estão presentes em todas as célu-

CITOLOGIA 125
las eucarióticas, exercem funções fundamentais para que ocorram diferentes funções celulares.
A partir dessa estrutura, as células podem realizar movimento ameboide, ou seja, deslizar
sobre uma superfície, fagocitar partículas e dividir o citoplasma ao final da divisão celular. Os fila-
mentos de actina também apresentam instabilidade, porém, através da interação com proteínas
de ligação à actina, é possível formar estruturas estáveis que realizam diversas atividades nas cé-
lulas. Nestas, os filamentos de actinas associados a proteínas podem formar diferentes arranjos,
como feixes ou bandas (microvilos), formando redes tridimensionais (córtex celular), ancorados
em junções intracelulares, como constituintes dos sarcômeros e das fibras de estresse.

5.3.1 Composição, montagem e instabilidade dinâmica


Os filamentos de actina são formados por uma cadeia de monômeros (actina G) assimétricos,
organizados sempre no mesmo sentido e, por isso, também apresentam polaridade estrutural. O
conjunto de cadeias de monômeros forma uma estrutura helicoidal, chamada de actina F.

37 nm

Figura 10. Desenho esquemático da estrutura do fi lamento de actina. Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

Assim como nos microtúbulos, os filamentos de actina apresentam diferença de polaridade


entre as suas extremidades, no qual a extremidade “mais” (+) cresce mais rápido do que a extremi-
dade “menos” (-). Além disso, a polarização e despolarização dos microfilamentos também aconte-
cem de forma semelhante aos mecanismos dos microtúbulos, porém, nesse caso, os monômeros
de actina hidrolisam a adenosina-trifosfato (ATP) em adenosina-difosfato (ADP). Por outro lado,
quando a concentração de actina livre está em níveis intermediário, é observado um comporta-
mento chamado de treadmilling. Esse tipo de comportamento ocorre quando um filamento de
actina apresenta ganho de monômeros na extremidade “mais” (+) e, simultaneamente, ocorre a
perda de monômeros na extremidade “menos” (-). Nesse caso, em que a taxa de adição e perda
são equilibradas, o filamento permanece do mesmo tamanho.

CITOLOGIA 126
Extremidade
Manômero de actina
mais (+)
3 2 1
ADP ATP
Extremidade Extremidade
Actina com Actina com menos (-) mais (+)
ADP ligado ATP ligado
3 2 1

3 2 1

PI TREADMILLING

Figura 11. Polimerização da actina que hidrolisa ATP em ADP e comportamento treadmilling. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

PAUSA PARA REFLETIR


Em uma célula animal típica, a concentração de monômeros de actina é alta, uma vez que
essa proteína corresponde a 5% da proteína total. Desta forma, o que impede que ocorra a
completa polimerização dos monômeros de actina nos filamentos celulares?

5.3.2 Associação com proteínas


Algumas proteínas presentes no citoplasma celular ajudam a controlar a polimerização da
actina. A timosina e a profilina são pequenas proteínas que, ao ligarem-se aos monômeros de
actina, impedem que eles sejam adicionados às extremidades dos filamentos de actina. Sendo
assim, essas proteínas são capazes de regular a polimerização da actina e conservam a quanti-
dade de monômeros necessários. Por outro lado, quando é necessário que ocorra o crescimento
dos filamentos de actina, a formina e proteínas relacionadas à actina estimulam a polimerização.
O Quadro 2 apresenta um resumo de algumas proteínas acessórias, como elas se ligam aos mi-
crofilamentos e as principais diferenças no mecanismo de ação.

Quadro 2. Principais proteínas acessórias que interagem com os filamentos de actina


TIPOS FUNÇÃO

Proteínas fragmentadoras Ligam-se a monômeros em diferentes pontos do microfilamento, rompendo as interações


(gelsolina) com o monômero adjacente, no sentido da extremidade “mais” (+).
Promovem a ligação entre microfilamentos de actina formando redes (filamina) ou feixes
Proteínas de ligação
(fibrina e α-actinina).
Proteína de recobrimento Recobrem os microfilamentos, estabilizando sua estrutura e facilitando a interação com
(tropomiosina) outras moléculas.
Proteínas de ancoragem
Ancoram os microfilamentos de actina à membrana plasmática, formando uma rede flexível.
(espectrina)
Utilizam os microfilamentos como trilhos, direcionando o deslocamento de outros filamen-
Proteínas motoras (miosinas)
tos ou de organelas.

Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

CITOLOGIA 127
Geosolina

Filamina Fimbrina Alfa-actinina

Miosina I Miosina II

Figura 12. Proteínas acessórias que interagem com os filamentos de actinas e formam diferentes arranjos. Fonte: CARVALHO; RECCO-
-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

5.3.3 Actina em bandas paralelas, na rede cortical e contato focal


Nas células eucarióticas, existe uma camada logo abaixo da membrana plasmática, chamada
de córtex celular, na qual observam-se filamentos de actina que interagem com proteínas de liga-
ção com a actina (espectrina). Sendo assim, esses rearranjos de filamentos de actina no córtex
formam uma rede tridimensional, que está relacionada com a forma das células e sua movimen-
tação, bem como o controle das propriedades mecânicas da membrana plasmática. Os eritrócitos
apresentam filamentos de actina e espectrina associados à membrana plasmática. Por essa razão,
esse tipo celular consegue manter a sua forma discoide.
A presença de filamentos de actina no córtex celular também pode gerar forças que ajudam
a impulsionar uma célula para frente, como no caso dos macrófagos durante a fagocitose ou das
amebas carnívoras, que deslizam para obter alimento. Para que essas células exerçam tal função, é
necessária uma sequência de eventos que envolve os filamentos de actina associados a proteínas.
A Fig. 13 representa as etapas do movimento celular resultante da força gerada pelo córtex
celular rico em filamentos de actina. O processo é iniciado pela polimerização de actina, que
impulsiona a superfície celular para frente (protrusão). Essa protuberância fina e rígida, que pode
ocorrer na borda anterior ou ao longo da superfície, move-se de forma exploratória, formando
estruturas chamadas de lamelipódios e filopódios. Em seguida, são estabelecidos pontos de an-
coragem entre a parte inferior da célula e a superfície sobre a qual a célula está deslizando, sendo

CITOLOGIA 128
que o deslocamento da célula é promovido pela contração na sua região posterior. Esse movimen-
to é mediado por proteínas motoras de miosina. Dessa forma, ocorre um ciclo de acordo com
o deslocamento da célula, que estabelece novos pontos de ancoragem na região anterior para,
assim, dissociar os pontos de ancoragem antigos.

Córtex de actina Lamelipódio Substrato

Movimento
de actina não
polimerizada A polimerização de
Córtex sob tensão
actina na extremidade
empurra o lamelipódio

Proteínas motoras de
miosina deslizam sobre
os filamentos de actina Contatos focais
Contração Adesão (contêm integrinas)

Avanço da
Protrusão

Figura 13. Movimento celular promovido pela força do córtex celular rico em filamentos de actina. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

A associação de filamentos de actina sobre arranjos de filamentos de miosina (proteína moto-


ra) desempenham funções relacionadas à expansão de prolongamentos celulares e, principalmen-
te, contração muscular.

ESCLARECIMENTO:
A miosina II foi a primeira miosina descrita a partir das análises dos filamentos
grossos do sarcômeros das células musculares estriadas. A miosina II é formada
por um complexo de seis cadeias polipeptídicas, sendo duas delas de 230 kDa
(cadeias pesadas) e quatro delas de 20 kDa (cadeias leves).

A estrutura da miosina II, encontrada nas células musculares, é dividida em duas extremidades,
sendo uma formada por duas cabeças globulares (se liga a actina) e a outra por uma cauda super-
torcida de duas α-hélices (atividade motora). Essas moléculas de miosina II se associam por meio
de suas caudas para formar um filamento de miosina bipolar, que pode deslizar dois filamentos de
actina ao mesmo tempo, mas em sentidos opostos.

CITOLOGIA 129
Molécula de miosina II

Cabeça
Cauda

150 nm

Filamento de miosina II

1 nm

Porção lisa Cabeças de


miosina

Figura 14. Estrutura da miosina II e formação do filamento de miosina II, que constitui o filamento grosso do sarcômero. Fonte: ALBERTS
et al., 2017. (Adaptado).

As células musculares estriadas são especializadas em realizar a contração muscular de ma-


neira rápida e eficiente. O citoplasma dessas células contém um citoesqueleto com organização
única formado por pequenas unidades contráteis chamadas de sarcômeros. Os sarcômeros são
organizados por dois tipos de filamentos: actina e miosina, arranjados paralelamente. Na região
central do sarcômeros estão os filamentos de actina caracterizados por serem mais espessos (fila-
mentos espessos). Os filamentos de miosina II (filamentos delgados) se estendem do centro do
sarcômero para o interior, sendo que a extremidade “menos” (-) sobrepõe os filamentos espessos
e a extremidade “mais” (+) fica ancorada em uma estrutura chamada de disco Z.

(A) (B)

Região de Sarcômero

Disco Z sobreposição
Miofibrilas

Disco Z
Filamento de Filamento de Disco Z
miosina actina

Contração Relaxamento

Sarcômetro ~ 2,2 nm

Figura 15. Organização dos filamentos de actina e miosina em unidades contrateis da célula muscular. (A) Esquematização da estrutura
do sarcômero. (B) Micrografia eletrônica dos sarcômeros. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 130
O processo de contração muscular é realizado pelo deslizamento dos filamentos de miosina
sobre os filamentos de actina, resultando no encurtamento de todos os sarcômeros da célula. Esse
movimento de deslizamento ocorre através das cabeças de miosinas, que deslizam ao longo dos
filamentos de actina em direção à extremidade “mais” (+).

5.3.4 Actina nas células em divisão


A fase final do processo de divisão celular, denominado de telófase, é caracterizada pela
divisão do citoplasma, por meio de um processo chamado de citocinese. Para que isso acon-
teça, os filamentos de actina se organizam e formam uma estrutura de anel contrátil, que se
contrai, de modo que a célula seja dividida em duas células-filhas. Desta forma, a interação en-
tre os filamentos de actina com moléculas de miosina controla a contração do anel e a divisão
da célula em duas.

Centríolos

Envoltório nuclear
em formação

Actina

α-actinina
Anel de actina
Microtúbulos e miosina contrátil
remanescentes
(interzonais)
Miosina

Cromossomo
Membrana
celular
Nucléolo

Corpos pré-nucleolares

Telófase

Figura 16. Desenho esquemático da formação do anel contrátil na citocinese. Fonte: JUNQUEIRA; SILVA FILHO, 2012. (Adaptado).

CITOLOGIA 131
PAUSA PARA REFLETIR
A associação dos filamentos de actina com proteínas é essencial para que estes filamentos
possam realizar corretamente sua função dentro da célula. O que aconteceria, se os filamentos
de actina fossem polimerizados e não houvesse associação com as demais proteínas?

5.4 Filamentos intermediários


Os filamentos intermediários apresentam diâmetro intermediário (diâmetro de 8 a 10 nm),
quando comparada com a espessura dos filamentos de actina (6 a 8 nm) e os microtúbulos (22 a 24
nm). Além disso, o filamento intermediário é formado por proteínas fibrosas, sendo exclusivo de
células de organismos multicelulares sujeitas a estresse mecânico. Os filamentos intermediários
possuem arranjos complexos, nos quais os monômeros são mantidos por ligações fortes, por esse
motivo, não apresentam instabilidade dinâmica.

5.4.1 Composição e classificação


Os filamentos intermediários são estáveis e resistentes, uma vez que são capazes de distribuir a
tensão mecânica aplicada nas células para evitar o seu rompimento. O Diagrama 1 mostra que os fila-
mentos intermediários são divididos em quatros classes, sendo três tipos encontrados no citoplasma
e um no núcleo. Essa classificação está relacionada com as características do tipo celular no qual os
filamentos intermediários são encontrados. Além disso, as proteínas que compõem cada filamento
são agrupadas de acordo com suas propriedades moleculares, sendo classificadas em: vimentinas
e proteínas associadas, citoqueratinas, proteínas dos neurofilamentos, e lâminas nucleares.

Diagrama 1. Classificação dos filamentos intermediários


FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS

CITOPLASMÁTICOS NUCLEARES

Filamentos
Filamentos Lâminas
de vimentina e Neurofilamentos
de queratina nucleares
relacionados à vimentina

Em células Em células de Em células Em todas as


epiteliais tecidozs conectivos, nervosas células animais
musculares e gliais

Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 132
5.4.2 Montagem e distribuição
As proteínas que compõem os filamentos intermediários apresentam, basicamente, a
mesma estrutura formada por um segmento central de α-hélice e porções globulares amino
e caboxiterminais. Cada classe de filamento intermediário é formada por uma subunidade
proteica que, geralmente, agrega-se de forma rápida, seguindo um padrão de polimeriza-
ção. Sendo assim, a montagem dos filamentos começa com os monômeros sendo agregados
em dímeros, que, por sua vez, são associados de forma antiparalela, formando os tetrâ-
meros. Embora seja possível encontrar alguns tetrâmeros livres no citoplasma, a maioria é
polarizada em estruturas organizadas em forma de corda, caracterizando a formação dos
filamentos intermediários.

NH2 C00H

Região em α-hélice
NH2 C00H

Dímero
NH2 C00H
48 nm
NH2 C00H C00H NH2

NH2 C00H Tetrâmero C00H NH2

Associação entre tetrâmero

10 nm

Figura 17. Formação dos filamentos intermediários. Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

CITOLOGIA 133
5.4.3 Associação com junções celulares
Os filamentos de queratina estão presentes no interior das células epiteliais de qualquer
epitélio do corpo de um vertebrado. Esse tipo de filamento intermediário forma uma rede que
envolve os núcleos e se estende ao longo do citoplasma, em sentido à periferia das células. Os
feixes de filamentos intermediários são ancorados na membrana plasmática em junções célu-
la-célula formadas por estruturas aderentes chamadas de desmossomos. Assim, os desmos-
somos são responsáveis pela conexão entre as membranas plasmáticas de células adjacentes.

Feixes de filamentos
intermediários

Demossomo
conectando duas
células

(B) 5 nm

Figura 18. Filamentos intermediários das células adjacentes se ligam pelos desmossomos. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

5.4.4 Manutenção da forma celular


Os filamentos intermediários de desmina exercem um papel estrutural na manutenção da
integridade muscular. A desmina é um componente essencial para a organização das célu-
las musculares, sendo que estão presentes circundando os discos Z e, também, ligadas ao
sarcômero através da interação com os filamentos grossos de miosina. Vale ressaltar que os
filamentos de desmina promovem uma arquitetura de suporte para as células musculares,
porém, não participam ativamente no processo de contração muscular.
Os neurofilamentos são responsáveis por diversas funções nas células nervosas, relacio-

CITOLOGIA 134
nadas ao crescimento axonal e à manutenção da forma neural. Sendo assim, os neuro-
filamentos são necessários para determinar o diâmetro correto dos axônios, para que seja
ajustada a velocidade na qual os impulsos nervosos são propagados.
A lâmina nuclear é formada por uma rede bidimensional de filamentos intermediários, loca-
lizada entre o envelope nuclear e a cromatina e, por isso, está relacionada com a manutenção
estrutural e organização do núcleo. No processo de divisão celular, ocorrem alterações nas
lâminas em dois momentos principais, quando a célula inicia a divisão, as lâminas se dissociam
e, na telófase, são organizadas novamente para formar a membrana nuclear.

Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um qua-
dro destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu quadro,
considere as leituras básicas e complementares realizadas.
Dica: com base no conteúdo apresentado sobre o citoesqueleto, elabore um quadro com-
parativo com os três tipos de filamentos proteicos, detalhando as características de cada uma
delas. Lembre-se de comparar a composição, distribuição e as funções individuais de cada
componente do citoesqueleto.

Recapitulando
Aprendemos, neste capítulo, que as células eucarióticas e uma estrutura denominada de ci-
toesqueleto são capazes de garantir a sustentação e a organização espacial dos componentes
celulares no citoplasma. O citoesqueleto é composto por filamentos proteicos, os microtúbu-
los, filamentos de actina e filamentos intermediários, que formam uma rede tridimensional.
Os microtúbulos são formados por dímeros de tubulina globular que formam uma estrutura
polarizada, ou seja, apresentam uma extremidade “menos” (-) de crescimento mais lento e uma
extremidade “mais” (+) de crescimento rápido. O crescimento dos microtúbulos ocorre a partir
de um centro organizador, o centrossomo. Uma característica importante é que os microtúbulos
apresentam instabilidade dinâmica, que é a capacidade de, através da hidrolise do GTP, alterar
rapidamente entre crescimento e encurtamento. No entanto, os microtúbulos podem ser esta-
bilizados por proteínas acessórias que bloqueiam a extremidade “mais” (+), formando estruturas
estáveis, como o axonema, presente em cílios e flagelos, corpos basais e centríolos.
Além disso, os microtúbulos são responsáveis por transportar organelas, vesículas e outros ti-
pos de carga, que são conduzidas por MAPs motoras (cinesinas e dineínas) até um local específico.

CITOLOGIA 135
Observamos que os filamentos de actina são polímeros helicoidais de monômeros de ac-
tina, que podem ser encontrados em feixes ou redes. Esses filamentos também apresentam
instabilidade dinâmica. Nesse caso, o controle da sua associação e dissociação é realizado pela
hidrólise do ATP. As diversas funções e arranjos dos filamentos de actina estão relacionados
com as proteínas associadas, que podem atuar no controle da polimerização da actina, na
interligação dos filamentos de actinas em redes ou feixes, na ancoragem dos filamentos das
membranas, ou ainda no movimento dos filamentos adjacentes.
Os filamentos de actina se organizam de diversas maneiras dentro da célula e, por isso,
cada estrutura é responsável por uma determinada função celular. Nas células migratórias, os
microfilamentos permitem o movimento ameboide, que representa o modo mais comum de
locomoção das células eucarióticas. Além disso, a associação com a miosina II permite a con-
tração muscular através do deslizamento entre os filamentos de actina e a miosina II no sarcô-
mero. No processo de divisão celular em animais, os microfilamentos formam o anel contrátil,
que contrai a célula gerando duas células-filhas pelo processo de citocinese.
Por fim, vimos que os filamentos intermediários são estruturas estáveis, formadas a partir
de subunidades proteicas fibrosas, que atuam na manutenção da forma e fornecem resistên-
cia mecânica às células. No citoplasma das células animais, são encontrados feixes de filamen-
tos intermediários ancorados na membrana pelos desmossomos. Além disso, os filamentos
intermediários são responsáveis por formar a lâmina nuclear que promove a sustentação do
envelope nuclear.

CITOLOGIA 136
Referências bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A célula. 3. ed. Barueri: Manole, 2013.
CITOESQUELETO - Microtúbulo. Postado por: Biologia Celular e Molecular NF. (1min. 16s.).
son. color. leg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HxtmgLSwXtY>. Acesso
em: 09 mai. 2019.
JUNQUEIRA, L. C.; SILVA FILHO, J. C. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 2012.
LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014.
MONTEIRO, M. R.; KANDRATAVICIUS, L.; LEITE, J. P. O papel das proteínas do citoesqueleto
na fisiologia celular normal e em condições patológicas. J. epilepsy clin. neurophysiol., v.
17, n. 1, p. 17-23, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1676-26492011000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 abr. 2019.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre:
ArtMed, 2016.

CITOLOGIA 137
Por: Raquel Vaz Hara

TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
PRINCÍPIOS GERAIS DA COMUNICAÇÃO
Compreender que a comunicação CELULAR
química entre as células é essencial para • Importância da comunicação celular
para a regulação de diferentes funções
regular o crescimento, desenvolvimento
• Receptores de membrana, ligantes,
e manutenção da homeostase; célula-alvo e transdução de sinais
Diferenciar os mecanismos de • Mensageiros extracelulares e
comunicação química; intracelulares na comunicação
química
Identificar componentes de membrana
• Classificação dos mecanismos de
e sinais químicos nos diferentes comunicação
mecanismos de comunicação celular;
Relacionar mecanismos de comunicação COMUNICAÇÃO CELULAR PELAS VIAS
PARÁCRINA E AUTÓCRINA
química com diferentes funções
• Características e funções da
fisiológicas. comunicação parácrina
• Mediadores químicos de ação local
• Características e funções da
comunicação autócrina
• Velocidade da comunicação e tempo
de duração

COMUNICAÇÃO CELULAR PELA VIA


HORMONAL
• Glândulas endócrinas e hormônios
• Hormônios proteicos e comunicação
química
• Hormônios lipídicos e comunicação
química
• Velocidade da comunicação e tempo
de duração

COMUNICAÇÃO CELULAR POR


NEUROTRANSMISSORES
• Neurônios e neurotransmissores
• Mecanismo de comunicação na fenda
sináptica
• Velocidade da comunicação e tempo
de duração
• Mecanismo de dessensibilização

CITOLOGIA 138
Contextualizando o cenário

Diversos processos celulares são importantes para a regulação do comportamento celu-


lar. Eles envolvem o crescimento, proliferação e divisão celular, bem como a diferencia-
ção para realizar funções específicas. Para que tudo isso aconteça, as células precisam
de comunicar por meio de uma ampla gama de substâncias que podem agir de forma
extra ou intracelularmente.
Diante desse cenário, surge uma questão importante: como as células conseguem se
comunicar com as outras células do organismo? De que forma elas realizam essas co-
municações para organizar seu funcionamento?

CITOLOGIA 139
6.1 Princípios gerais da comunicação celular
As células individuais, bem como os organis-
mos multicelulares, são capazes de desenvolver
diversas funções relacionadas aos movimentos
celulares, síntese e secreção de moléculas, divi-
são e morte celular, dentre outras. Para que o
organismo multicelular funcione corretamente,
as células precisam interpretar os diversos sinais que recebem de outras células.
A comunicação celular envolve mecanismos complexos, pois os sinais e as formas de re-
cepção e transdução podem ocorrer de diversas formas. De modo geral, esses sinais são re-
cebidos e interpretados por proteínas presentes na membrana celular, que convertem o sinal
extracelular em um sinal intracelular e, através da comunicação química, influenciam outras
células e regulam funções vitais.

CURIOSIDADE:
O corpo humano é constituído por, aproximadamente, 75 trilhões de células, que
precisam se comunicar umas com as outras de maneira rápida, a fim de possibilitar
atividades como o batimento cardíaco, a contração de músculos e a percepção de
sinais do ambiente.

6.1.1 Importância da comunicação celular para a regulação


de diferentes funções
A comunicação célula-célula pode definir o comportamento tanto dos organismos unicelu-
lares como dos organismos multicelulares. Embora as bactérias tenham vida independente,
elas podem se comunicar por meio de sinais químicos que acabam influenciando no modo
como elas se comportam, incluindo a mobilidade, a produção de antibióticos, a formação de
esporos e a conjugação sexual.
As células animais dependem de múltiplas moléculas-sinal diferentes que atuam na regula-
ção do comportamento celular, ou seja, uma célula precisa de receber múltiplos sinais para so-
breviver, sinais adicionais para crescer, se dividir ou se diferenciar. Quando a célula, por algum
motivo, não recebe os sinais necessários para sua sobrevivência, ela passa por um processo de
morte celular programada denominada apoptose.

CITOLOGIA 140
Essas moléculas-sinal podem apresentar diferentes propriedades e ações, porém a respos-
ta de cada célula deve ser correspondente a sua própria característica. Dentre as inúmeras
possibilidades, as moléculas podem estar ligadas à matriz extracelular ou à superfície de uma
célula adjacente ou, ainda, podem ser solúveis. Além disso, podem ter ações diferentes que es-
timulam ou inibem, bem como podem atuar em diversas combinações de sinais, influenciando
em qualquer aspecto do comportamento celular.

Sobrevive
B

B
Cresce e se divide

C
E
D
A

B
Se diferencia

C
G
F
Célula
apoptótica
Morre

Figura 1. A célula precisa de múltiplos sinais diferentes para regular as funções celulares. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

Portanto, dependendo das combinações de sinais, a célula precisa fazer interpretações cor-
retas que devem estar de acordo com os tipos de estímulos externos e o tipo de célula-alvo.
O organismo multicelular realiza essas interações celulares logo nas primeiras fases do desen-
volvimento embrionário, que se estendem até o fim da vida pós-natal. Dessa forma, as células
precisam de estímulos para poder sobreviver, diferenciar, multiplicar, degradar ou sintetizar
substâncias, secretar substâncias, contrair, movimentar, conduzir estímulos elétricos, dentre
outras funções específicas.

CITOLOGIA 141
6.1.2 Receptores de membrana, ligantes, célula-alvo e
transdução de sinais
De modo geral, o mecanismo de comunicação celular ocorre quando a célula sinalizadora
(indutora) produz uma molécula-sinal extracelular (ligante) que é detectada pela célula-alvo por
conta da presença de receptores proteicos responsáveis pelo reconhecimento desse sinal. As-
sim, a transdução de sinal ocorre quando a célula-alvo reconhece o sinal extracelular e o con-
verte em moléculas de sinalização intracelular, direcionando o comportamento celular.

Molécula
sinalizadora Primeiro mensageiro

liga-se ao

Transdutor
Receptor de
membrana

ativa

Moléculas
sinalizadoras
intracelulares Sistema de segundo
mensageiro

alteram

Proteínas-alvo
Alvos

geram

Respostas Respostas

Figura 2. Transdução de sinal biológico. Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

As células sinalizadoras podem ser glândulas endócrinas, células especializadas ou neurônios.


Essas células produzem diferentes tipos de sinais químicos, que podem ser proteínas, pequenos
peptídeos, aminoácidos, nucleotídeos, esteroides, derivados de ácidos graxos, gases etc.
O início da resposta celular começa quando a molécula-sinal atua como ligante, sendo reco-
nhecida pelos receptores da célula-alvo. Essa ligação acontece de acordo com algumas carac-

CITOLOGIA 142
terísticas relacionadas à especificidade, afinidade, competição e saturação. No entanto, cada
receptor é compatível com apenas um tipo de sinal e quando as células produzem pequenas
quantidades de receptores, elas se tornam mais seletivas diante das possibilidades de sinais
que podem interferir no seu comportamento.
Os receptores são proteínas, ou complexo de proteínas, presentes na célula-alvo. Eles po-
dem ser divididos entre receptores intracelulares, localizados no citoplasma ou no núcleo celu-
lar, e receptores de superfície celular, encontrados na membrana plasmática.
O Diagrama 1 apresenta um resumo dos receptores de superfície celular classificados de
acordo com o mecanismo de transdução, tais como receptores acoplados a canais iônicos,
receptores acoplados à proteína G (GPCRs), receptores enzimáticos e receptores integrina.

Diagrama 1. Receptores das células-alvo caracterizados de acordo com


o mecanismo de transdução
Moléculas sinalizadoras extracelulares

Canal Receptor Receptor Integrina

Membrana
celular
Proteína de
Proteína G Enzima ancoragem

Citoesqueleto

Receptor acoplado Receptor acoplado Receptor Receptor


a canal à proteína G enzimático integrina
A ligação do ligante abre A ligação do ligante a A ligação do ligante a um A ligação do ligante a
ou fecha o canal um receptor acoplado receptor enzimático ativa receptores de integrina
à proteína G abre um uma enzima intracelular altera as enzimas ou o
canal iônico ou altera a citoesqueleto
atividade enzimática

Receptores catalíticos

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

Todos esses tipos de receptores de membranas podem reconhecer diferentes tipos de mo-
léculas-sinal extracelulares, tais como hormônios, neuro-hormônios, neurotransmissores, ci-
tocinas ou sinais parácrinos e autócrinos.
Vale ressaltar a importância dos GPCRs, uma vez que esses receptores reconhecem a maioria
dos sinais extracelulares (hormônios, neurotransmissores e mediadores locais) que são transmi-
tidos para dentro da célula. A interação entre o GPCR e os sinais extracelulares é mediada pela
proteína trimérica de ligação a GTP (proteína G), que acopla o receptor a uma enzima ou a um

CITOLOGIA 143
canal iônico. Portanto, os GPCRs atuam de forma indireta no controle da atividade de uma pro-
teína-alvo ligada à membrana plasmática, que, por sua vez, pode atuar de duas formas: 1) como
uma enzima, resultando no aumento da concentração de 2º mensageiros no citosol; 2) como um
canal iônico que altera a permeabilidade da membrana aos íons.

EXEMPLO:
A cólera é uma doença causada por uma bactéria que no intestino humano pro-
duz uma proteína chamada toxina do cólera. Essa proteína entra nas células
que revestem o intestino e causam modificações na proteína G, resultando no
aumento do efluxo de cloro e água para o intestino.

Além disso, a transdução de sinal nem sempre apresenta a mesma resposta, visto que cada
tipo celular apresenta um tipo de sistema de propagação intracelular do sinal e de proteína efe-
tora que estão envolvidos diretamente com o efeito sobre o seu comportamento. Portanto, o
mesmo tipo de sinal pode apresentar respostas diferentes. Isso depende do tipo de célula-alvo.
O Diagrama 2 mostra que a acetilcolina (A) pode induzir respostas diferentes dependendo
da célula-alvo. Quando a acetilcolina se liga aos receptores presentes na superfície da célula
muscular cardíaca (B), resulta na redução da velocidade e força da contração. Esse mesmo
sinal pode ser reconhecido pelas células da glândula salivar (C), gerando a mensagem de que
as vesículas de saliva devem ser secretadas. Por outro lado, no músculo esquelético (D), a ace-
tilcolina se liga ao receptor dessa célula muscular e provoca a contração.

Diagrama 2. Comparação das respostas provocadas pelo mesma molécula-alvo em


diferentes tipos celulares
(C) Célula da (D) Célula muscular
(A) Acetilcolina (B) Célula marca-passo esquelética
cardíaca glândula salivar

O CH3 Acetilcolina
H3C C O CH2 CH2 N +
CH3 Proteína
CH3 receptora

Secreção Contração
Redução na velocidade
de contração

Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 144
6.1.3 Mensageiros extracelulares e intracelulares na comu-
nicação química
As moléculas extracelulares de sinalização, ou mensageiros extracelulares (1º mensageiro),
são produzidas e secretadas para o compartimento externo da célula, e podem ser divididas em
duas classes. As moléculas sinalizadoras grandes e hidrofílicas são incapazes de atravessar
a membrana plasmática da célula-alvo e, por isso, transmitem o sinal por meio de receptores
presentes na superfície celular. Por outro lado, as moléculas sinalizadoras pequenas e hidro-
fóbicas atravessam a membrana plasmática e se ligam a receptores citosólicos ou nucleares.
Quando os mensageiros extracelulares são acoplados nos seus respectivos receptores, as
moléculas induzem a formação em moléculas intracelulares de sinalização, ou mensageiros
intracelulares (2º mensageiros), que repassam a informação do mensageiro extracelular para
uma próxima molécula que, assim, executa a informação de alteração do comportamento ce-
lular. Dessa forma, as vias de sinalização intracelular podem simplesmente transmitir o sinal
ou, ainda, em alguns casos, podem alterar as informações, amplificando, integrando ou distri-
buindo os sinais antes de serem transmitidos.

6.1.4 Classificação dos mecanismos de comunicação


O mecanismo, pelo qual as células produ-
zem e liberam as moléculas-sinal para serem
reconhecidas pelas células-alvo, pode ocorrer
de quatro formas diferentes, sendo que cada
uma apresenta características específicas de
acordo com a sua finalidade.
A sinalização endócrina corresponde ao
mecanismo de comunicação celular mais co-
mum, pois a molécula sinalizadora é liberada
na corrente sanguínea para que seja distribuída para todo o corpo através da circulação, atuan-
do em células-alvo específicas. Nesse caso, as moléculas-sinal são chamadas de hormônios e
são produzidas pelas células endócrinas.
A sinalização parácrina atua como uma forma de comunicação local, uma vez que as mo-
léculas-sinal produzidas são difundidas localmente pelo líquido extracelular que permanece
próximo à célula que as secretou. Além disso, algumas células podem produzir sinais que são
reconhecidos por elas mesmas, sendo denominada de sinalização autócrina.

CITOLOGIA 145
A sinalização neural ocorre por meio da sinapse química que permite a comunicação de
neurônios separados por uma distância sináptica. Dessa forma, os neurônios liberam sinais
químicos, denominados neurotransmissores, nas fendas sinápticas, que são reconhecidos
pela célula-alvo de forma rápida.

PAUSA PARA REFLETIR


As células animais utilizam moléculas-sinal extracelulares para realizar a comunicação celular de
diversas maneiras. Quais exemplos podemos citar para cada tipo de mecanismo de comunicação?

6.2 Comunicação celular pelas vias parácrina e autócrina


A via parácrina ocorre quando a célula sinalizadora está próxima da célula-alvo. No entanto,
quando o sinal químico é produzido e recebido pela mesma célula, ocorre uma sinalização autó-
crina. Muitas moléculas podem atuar tanto como sinal parácrino como sinal autócrino. Em ambas
as vias, a molécula sinalizadora é conduzida até sua célula-alvo por difusão do líquido extracelular.

Receptor

Figura 3. Vias de sinalização autócrinas e parácrinas. Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 146
6.2.1 Características e funções da comunicação parácrina
A sinalização parácrina é caracterizada por realizar uma comunicação local, uma vez que
o sinal parácrino percorre um pequeno trajeto entre a célula sinalizadora e a célula-alvo. Isso
acontece porque a célula secreta uma substância química que age nas células ao seu redor.
Portanto, a principal função da sinalização parácrina está relacionada com o controle local das
atividades das células vizinhas pela célula que secretou a molécula sinalizadora.
Os sinais parácrinos são importantes durante o desenvolvimento embrionário, pois um
grupo de células passa informações para que as células vizinhas possam se diferenciar. Além
disso, o sinal parácrino pode ser usado por muitos tecidos e em contextos diferentes, como na
regulação da inflamação nos locais de infecção e no controle da proliferação celular no proces-
so de cicatrização.

6.2.2 Mediadores químicos de ação local


A histamina e a heparina são moléculas
liberadas por células presentes no tecido con-
juntivo – os mastócitos –, que atuam como
mediadores químicos ou sinais químicos e
estão envolvidas nas respostas imunitárias
locais. Dessa forma, a histamina e a heparina
são liberadas e agem como um sinal parácri-
no que se difunde pela área próxima da lesão,
atuando em células-alvo que, por sua vez, de-
terminam eventos como entrada de leucóci-
tos e anticorpos plasmáticos, formação de edema causada pela saída do líquido dos vasos
sanguíneos acumulado no local e a vasoconstrição.
Outro exemplo de molécula-sinal envolvida na comunicação parácrina são os eicosanoi-
des, originados a partir da cascata do ácido araquidônico. Nesse processo, a enzima fosfolipa-
se A2 (PLA2) produz o ácido arquidônio que, por sua vez, pode ser convertido em substâncias
parácrinas solúveis em lipídios que pertencem à classe de eicosanoides. Sendo assim, são ge-
rados dois grupos de moléculas parácrinas, os leucotrienos e os prostanoides (prostaglandina
e tromboxanas), que podem se difundir para fora da célula e se ligar aos receptores das células
vizinhas. O Diagrama 3 mostra um esquema da cascata do ácido araquidônico que pode gerar
substâncias parácrinas.

CITOLOGIA 147
Diagrama 3. Cascata do ácido araquidônico

Líquido extracelular

Fosfolipídeos
de membrana
Líquido
Fosfolipase A2 intracelular

Atividade
Ácido
de segundo
araquidônico
mensageiro

Lipoxigenase Cicloxigenase
(COX1, COX2)
Substâncias
parácrinas
Leucotrienos Prostaglandinas solúveis em
Tromboxanas lipídeos

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

Os fosfolipídeos de membrana produzem o ácido araquidônico (segundo mensageiro) por


meio da ação da enzima PLA2. Na presença das enzimas lipoxigenase ou cicloxigenase, o ácido
araquidônico é convertido em várias classes de eicosanoides parácrinos.
Além disso, as citocinas podem atuar no controle do desenvolvimento e diferenciação celu-
lar e, nesse caso, elas funcionam como sinais parácrinos ou autócrinos.
Os gases são moléculas sinalizadoras que também atuam pela via parácrina e autócrina. A sina-
lização local por meio dessas moléculas gasosas pode ocorrer com o monóxido de carbono (CO)
e o sulfeto de hidrogênio (H2S), que são conhecidos pelos seus efeitos tóxicos. O gás óxido nítrico
(NO) pode se difundir pela membrana plasmática e se ligar a proteínas intracelulares. Geralmente,
esse NO age ativando uma via de sinalização no músculo liso em torno dos vasos sanguíneos e,
consequentemente, ocorre o relaxamento do músculo e a dilatação dos vasos sanguíneos.

6.2.3 Características e funções da comunicação autócrina


A liberação dos sinais autócrinos corresponde a um mecanismo de controle local, no qual
resulta em uma mudança isolada da célula ou tecido. De modo geral, a via autócrina produz
um sinal químico que se liga à superfície da própria célula que o secretou.

CITOLOGIA 148
Diferentes moléculas sinalizadoras podem atuar como substâncias autócrinas. Alguns fatores
de crescimento não são secretados na corrente sanguínea e acabam atuando sobre a própria
célula que os secretou. No sistema nervoso, existem neurotransmissores que agem de forma
lenta e se comportam como sinais autócrinos, sendo denominados de neuromoduladores. As
citocinas também podem atuar como moléculas sinalizadoras autócrinas quando estão envolvi-
das nos processos de desenvolvimento e diferenciação celular.

6.2.4 Velocidade da comunicação e tempo de duração


A sinalização parácrina e autócrina é caracterizada pela secreção de moléculas sinaliza-
doras no líquido extracelular. Diante desse fato, a capacidade de difusão das moléculas secre-
tadas é limitada pela distância e, por isso, elas atuam somente sobre as células que estão no
mesmo local que a célula sinalizadora.
Esse sistema de sinalização apresenta alguns comportamentos específicos para produzir
uma resposta adequada. Nesse caso, a velocidade da comunicação ocorre de forma muito
rápida, pois os sinais químicos não percorrem grandes distâncias para encontrar a célula-alvo,
obtendo uma resposta entre milissegundos e segundos. A persistência de uma resposta pode
variar. Geralmente, nesse tipo de sinalização a resposta pode ser transitória e durar menos de
um segundo e, por isso, a duração da resposta é curta.

6.3 Comunicação celular pela via hormonal


Na sinalização endócrina, a molécula si-
nalizadora precisar percorrer uma longa
distância para se ligar à célula-alvo. Esses
sinais químicos que são liberados na cor-
rente sanguínea e distribuídos no corpo
pela circulação sanguínea são chamados de
hormônios.
O Diagrama 4 representa a comunicação
celular pela via hormonal, em que o hormô-
nio liberado pela célula endócrina se difunde
pela corrente sanguínea até se ligar a uma cé-
lula-alvo específica, que apresenta receptores
para o hormônio.

CITOLOGIA 149
Diagrama 4. Comunicação celular por meio da liberação de hormônios na corrente sanguínea

Sangue

Célula Célula sem Célula com


endócrina receptor receptor
Célula-alvo

Sem resposta

Resposta

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

CURIOSIDADE:
Uma mesma molécula sinalizadora pode atuar por vias diferentes. A adrenalina,
que funciona como hormônio e neurotransmissor, é um exemplo disso.

Em alguns casos, as moléculas secretadas pelos neurônios são liberadas na corrente san-
guínea e distribuídas pelo corpo por meio da circulação. Por isso são chamadas de neuro-hor-
mônios. No Diagrama 5, podemos observar que os neuro-hormônios liberados pelo sistema
nervoso apresentam uma via de comunicação celular semelhante à comunicação dos hormô-
nios clássicos secretados pelo sistema endócrino.

Diagrama 5. Via de comunicação celular por meio da liberação de neuro-hormônios


pelas células nervosas

Sangue
Neurônio

Célula sem Célula com


receptor receptor

Sem resposta

Resposta

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 150
6.3.1 Glândulas endócrinas e hormônios
As glândulas endócrinas são especializadas na síntese e liberação de hormônios diretamente
na corrente sanguínea. Durante o desenvolvimento embrionário, ocorre a perda das células que
conectam essas glândulas com o epitélio de origem, o que determina a ausência de ductos secreto-
res e a associação com vasos sanguíneos. As glândulas endócrinas podem ser classificadas quanto
ao número de células que as constituem, como glândulas unicelulares ou multicelulares.

Epitélio Endócrina

As células de
conexão
desaparecem

Células
secretoras
Tecido endócrinas
conectivo

Vaso sanguíneo

Figura 4. Desenvolvimento da glândula endócrina. Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

As principais glândulas endócrinas multicelulares, secretoras dos hormônios mais conheci-


dos, são o pâncreas, a glândula tireoide, as gônadas e a hipófise. As glândulas unicelulares ou
células endócrinas isoladas formam o sistema endócrino difuso e secretam hormônios. Células
especializadas como os neurônios liberam neuro-hormônios, e células do sistema imune liberam
citocinas, que também atuam como hormônios.
Os hormônios podem agir na célula-alvo por meio de mecanismos básicos que envolvem o
controle da taxa enzimática, do transporte de íons ou moléculas pela membrana plasmática,
da expressão gênica e síntese proteica.
Além disso, os hormônios podem ser divididos de acordo com a sua natureza química:
• Hormônios peptídicos/proteicos: compostos por aminoácidos unidos;
• Hormônios aminoácidos/amínicos: modificações de um único aminoácido, triptofano
ou tirosina;
• Hormônios esteroides: derivados do colesterol.
Geralmente, os hormônios esteroides e amínicos são lipofílicos e, quando liberados, conse-
guem atravessar a membrana plasmática da célula-alvo e se ligam aos receptores intracelula-
res. Os outros hormônios são proteicos e, por isso, são hidrofílicos. Nesse caso, os hormônios
proteicos se ligam aos receptores de superfície celular.

CITOLOGIA 151
6.3.2 Hormônios proteicos e comunicação química
Normalmente, os hormônios lipofílicos são proteicos e afetam as atividades das célu-
las-alvo quando se ligam aos receptores na membrana plasmática. Essa interação hormô-
nio/receptor resulta em uma série reações que modificam os níveis de mediadores presen-
tes no citoplasma, gerando como 2º mensageiros o AMP cíclico (cAMP) ou Ca2+. Por outro
lado, alguns hormônios proteicos, como é o caso da insulina, se ligam aos receptores com
atividade tirosina-cinase.

Ligantes hidrofílicos
(hormônios, fatores de
crescimento, secreção parácrina)

Porção glicídica
da glicoproteína

Glicoproteína
transmembrana
(receptor)

Contração muscular Ativação do sistema


liberador de cálcio
Secreção celular
Mitose
Ativação do sistema
AMP cíclico Entrada de
Endocitose cálcio
e exocitose

Figura 5. Moléculas-sinal proteicas são hidrofílicas e afetam as funções celulares quando interagem com receptores presentes na
membrana plasmática. Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012. (Adaptado).

A epinefrina, hormônio secretado pela glândula adrenal, é uma molécula-sinal extracelular


que tem como alvo células musculares. Quando a epinefrina é reconhecida pelos receptores
de superfície celular ocorre o aumento do nível intracelular de cAMP. Dessa forma, o segundo
mensageiro muda a atividade da enzima fosforilase glicogênica promovendo a degradação do
glicogênio em glicose.

CITOLOGIA 152
6.3.3 Hormônios lipídicos e comunicação química
Alguns hormônios são lipossolúveis, ou seja, apresentam maior facilidade de atravessar
a membrana celular para se ligarem a receptores localizados no citoplasma ou no núcleo das
células-alvo. Os hormônios esteroides e da glândula tireoide (tiroxina – T3 e T4) são exemplos
de moléculas sinalizadoras que atuam desta forma.
O Diagrama 6 demonstra os tipos de hormônios esteroides produzidos pelo córtex da glân-
dula suprarrenal e nas gônadas a partir da molécula de colesterol.

Diagrama 6. Resumo da síntese de hormônios esteroides

OH
CH3

DI-HIDROTESTOSTERONA
(DHT)

* HO
OVÁRIO

TESTOSTERONA AROMATASE ESTRADIOL

CH2OH
* CÓRTEX DA GLÂNDULA
C=O SUPRARRENAL
CH3
HO OH
DHEA ANDROSTENEDIONA AROMATASE ESTRONA
CH3

* * O

21-HIDROXILASE *
CORTISOL

*
*
21-HIDROXILASE * * *
PROGESTERONA CORTICOSTERONA ALDOSTERONA

*CADA PASSO É CATALISADO POR UMA ENZIMA,


CH2OH
MAS APENAS DUAS ENZIMAS SÃO MOSTRADAS NESTA FIGURA

COLESTEROL
=O

C=O
CH3 CH
H HO
H C CH2 CH2
CH3
CH2 C CH3 DHEA = DESIDROEPIANDROSTERONA
CH3
CH3
CH3 COMPOSTOS INTERMEDIÁRIOS
=
CUJOS NOMES FORAM OMITIDOS
PARA SIMPLIFICAÇÃO

HO
O

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

O mecanismo dos hormônios lipídicos ou lipossolúveis consiste no transporte de moléculas


hidrofóbicas pela corrente sanguínea. Ao serem liberados das glândulas endócrinas, os hormô-
nios lipossolúveis se ligam a proteínas transportadoras para serem transportados pelo plasma
sanguíneo. No momento da difusão do hormônio para o interior da célula, essas proteínas se
separam do hormônio e permanecem no líquido extracelular. Em seguida, no interior da célula,
os hormônios se ligam a receptores no núcleo, formando um complexo hormônio-receptor, que
interage com o DNA, e resultando na ativação ou inibição de um ou mais genes. Quando ocorre

CITOLOGIA 153
a ativação dos genes, novas moléculas de RNAm são criadas e liberadas de volta ao citoplasma.
Sendo assim, a tradução desse RNAm produz novas proteínas para os processos celulares.
Portanto, os hormônios esteroides, incluindo cortisol, estradiol, testosterona e hormônios
da tireoide, representam uma categoria de mensageiros extracelulares que entram na célu-
la para se ligar aos receptores intracelulares. O Diagrama 7 mostra de forma didática como o
hormônio cortisol atua na ativação de um regulador de transcrição.

Diagrama 7. Resposta celular por meio da ligação entre o hormônio esteroide


cortisol e o receptor nuclear

Cortisol
Membrana plasmática

Mudança conformacional
ativa a proteína receptora

Proteína
receptora nuclear

Complexo receptor-cortisol ativado


se desloca para o núcleo

CITOSOL

NÚCLEO Gene-alvo
ativado
Complexo receptor-cortisol ativado se DNA
liga à região reguladora do gene-alvo
Transcrição do
e ativa a transcrição
gene-alvo

Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

6.3.4 Velocidade da comunicação e tempo de duração


A comunicação endócrina está relacionada à difusão de hormônios por meio da corrente
sanguínea para as células-alvo que estão distantes da célula sinalizadora. Dessa forma, os
hormônios são transportados por longas distâncias pela circulação e, por isso, a comunicação
endócrina é mais lenta quando comparada às comunicações parácrina e neural.

CITOLOGIA 154
Os hormônios hidrossolúveis e lipossolúveis também apresentam diferenças em relação ao
tempo de permanência no organismo e duração da resposta. Os hormônios hidrossolúveis
secretados no sangue acabam sendo eliminados do organismo em minutos. Por outro lado, os
hormônios lipossolúveis permanecem no plasma sanguíneo por períodos mais longos e, por
isso, tendem a apresentar respostas mais prolongadas do que os hormônios hidrossolúveis.

6.4 Comunicação celular por neurotransmissores


A comunicação neural ocorre por meio de moléculas-sinal (os neurotransmissores) libe-
radas pelos neurônios. Na região terminal dos axônios encontram-se os sítios de transmissão
das moléculas sinalizadoras, conhecidas como sinapses químicas. Nesse processo, a célula
nervosa recebe um estímulo de outra célula para enviar impulsos elétricos que, quando che-
gam na extremidade do axônio, estimulam a secreção de neurotransmissores. Dessa forma, a
organização da sinapse garante que o neurotransmissor liberado possa interagir com o recep-
tor da célula-alvo.

Diagrama 8. Comunicação celular por neurotransmissores nervosos

Sinal elétrico
Célula-alvo

Resposta
Neurônio

Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

6.4.1 Neurônios e neurotransmissores


Os neurônios são células do sistema nervoso que dependem de sinais químicos para estabele-
cer sinapses. O mecanismo de comunicação dos neurônios envolve a liberação de neurotransmis-
sores na fenda sináptica para que estes possam ser reconhecidos pelos receptores das células-al-
vo e, assim, interferir em seu comportamento.
Existe uma grande variedade de neurotransmissores que são classificados de acordo com sua
estrutura, tais como acetilcolina, aminas, aminoácidos, peptídeos, purinas, gases e lipídeos
(Tabela 1). Os diferentes tipos de neurotransmissores são secretados pelo sistema nervoso central
(SNC) ou pelo sistema nervoso periférico (SNP).

CITOLOGIA 155
Tabela 1. Principais tipos de neurotransmissores

CLASSIFICAÇÃO COMPOSTO QUÍMICO

Acetilcolina Acetilcolina

Noradrenalia (NA)
Adrenalina (A)
Aminas Dopamina (DA)
Serotonina
Histamina

Glutamato
Aminoácidos GABA (ácido γ-aminobutírico)
Glicina

Peptídeos opioides (encefalina e endorfinas)


Colecistocinina (CCK)
Peptídicos
Argenina vasopressina (AVP)
Peptídeos natriuréticos atriais (ANP)

Purinas Adenosina

Gases Óxido nítrico (NO)

Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

6.4.2 Mecanismo de comunicação na fenda sináptica


A comunicação neural envolve diversos fatores relacionados com a classificação das molé-
culas sinalizadoras e o tipo de receptor na célula-alvo, bem como os tipos de conexões anatô-
micas entre o neurônio e o seu alvo, as quais ocorrem em regiões denominadas como sinapse.
A sinapse é dividida entre a região terminal da célula pré-sináptica, que transmite o sinal, e
a membrana da célula pós-sináptica, que contém receptores de membrana, ou seja, é respon-
sável por captar a mensagem. As duas células estão próximas e são separadas por um espaço
chamado fenda sináptica.

CITOLOGIA 156
Microtúbulos

Mitocôndrias

Membrana
pré-sináptica
Vesículas

Fenda sináptica
Membrana
pós-sináptica
Neurotransmissores
Receptores

Figura 6. Estrutura da sinapse química. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/05/2019. (Adaptado).

Os neurotransmissores produzidos no corpo celular ficam armazenados em comparti-


mentos conhecidos como vesículas sinápticas, localizados na região terminal do axônio, e são
liberados mediante estímulo. A Figura 7 explica de forma resumida como ocorre a liberação
dos neurotransmissores.

Um potencial de ação
1 despolariza o terminar
axonal.
Vesícula sináptica
1 com moléculas de
neurotransmissores
A despolarização
abre canais de Ca2+
O potencial de ação
chega ao terminal axonal
2 dependentes de
voltagem, e o Ca2+
entra na célula.

A entrada do cálcio
inicia a exocitose do
3 conteúdo das vesículas
sinápticas.

Ca2+
3
Proteína de O neurotransmissor
ancoragem Fenda difunde-se através da
sináptica 4 fenda sináptica e se
liga aos receptores na
célula pós-sináptica.
2
4 A ligação do
neurotransmissor
Receptor 5 inicia uma resposta na
Célula pós-sináptica Canal de Ca2+ célula pós-sináptica.
Resposta
dependente de
voltagem da célula 5
Figura 7. Liberação de neurotransmissores. Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

No neurônio, a maior parte das comunicações ocorre por via neural nas sinapses químicas, que
convertem o sinal elétrico da célula pré-sináptica em sinal químico. Isso ocorre por meio da liberação
de um neurotransmissor na fenda sináptica que, ao se ligar à célula-alvo, transmite uma informação.

CITOLOGIA 157
PAUSA PARA REFLETIR
Agora, conhecendo melhor os tipos de comunicação celular, você sabe explicar suas diferenças
e/ou semelhanças?

6.4.3 Velocidade da comunicação e tempo de duração


No sistema nervoso, a comunicação ocorre por meio das sinapses e, desse modo, o sinal
percorre uma pequena distância entre a célula sinalizadora e a célula-alvo, que se encontram
muito próximas.
A velocidade da resposta pós-sináptica depende do modo como o neurotransmissor interage
com o receptor de superfície celular. Os neurotransmissores que se ligam a receptores acoplados
à proteína G geram respostas sinápticas lentas e efeitos a longo prazo. Por outro lado, os neu-
rotransmissores que atuam na permeabilidade da membrana, através da abertura temporária
dos canais iônicos na célula-avo, apresentam potenciais sinápticos rápidos e de curta duração.

6.4.4 Mecanismo de dessensibilização


O mecanismo de dessensibilização ocorre quando uma célula-alvo está sendo estimulada
por uma molécula de sinalização por um longo período. Quando isso acontece, a célula se tor-
na dessensibilizada ou adaptada por meio de alterações na concentração do estimulante ou,
ainda, por modificações no próprio receptor.
Existem diferentes formas de dessensibilização da célula-alvo, representadas na Fig. 8.

Proteína Molécula- Proteína sinalizadora


receptora -sinal intracelular

T
Proteína
inibidora
Endossomo

Lisossomo
Inativação de Produção de
Sequestro do Retrorregulação Inativação
proteínas proteínas
receptor do receptor do receptor
sinalizadoras inibidoras

Figura 8. Mecanismo pelas quais as células-alvo podem se tornar dessensibilizadas a uma molécula sinalizadora extracelular. Fonte:
ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

CITOLOGIA 158
No caso dos receptores acoplados à proteína G (GPCRs), os três principais mecanismos são:
1. Inativação: os receptores são alterados, de modo que não conseguem mais interagir com
as proteínas G.
2. Sequestro: os receptores são removidos para o interior da célula para que a molécula
sinalizadora não tenha mais acesso a ele.
3. Retrorregulação: destruição dos receptores nos lisossomos.

Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Elabore um
mapa conceitual, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir
seu mapa conceitual, considere as leituras básicas e complementares realizadas.
Elabore seu mapa conceitual com, pelo menos, 25 palavras. Lembre-se de destacar os principais
tipos de comunicação celular e suas características, bem como relacionar com alguns exemplos.

Recapitulando
Nos organismos multicelulares, as células precisam se comunicar com outras células para
realizar processos básicos, tais como: crescimento, proliferação e divisão celular. Para isso, é
necessário que a célula consiga responder a um conjunto de estímulos específicos chamados
de moléculas sinalizadoras extracelular ou ligantes.
As moléculas sinalizadoras possuem afinidade com proteínas receptoras que estão pre-
sentes na superfície da célula-alvo que, por sua vez, induzem a formação de moléculas sinali-
zadoras intracelulares por meio do processo transdução de sinal, cuja finalidade é modular o
comportamento celular.
As células-alvo podem apresentar diferentes tipos de receptores que estão presentes na su-
perfície celular, bem como podem apresentar receptores intracelulares que estão localizados
em organelas presentes no citoplasma ou no núcleo.
Além disso, todo o processo de produção e liberação de moléculas sinalizadoras que se ligam
a receptores para causar um efeito na célula-alvo envolve diferentes mecanismos, tais como:
comunicação autócrina ou parácrina, comunicação por via neural e comunicação endócrina.
As comunicações autócrina e parácrina ocorrem por meio da liberação de moléculas sinalizado-
ras no líquido extracelular, atuando em células próximas ou vizinhas. Dessa forma, quando o sinal é
reconhecido por células vizinhas, a comunicação é chamada de parácrina. Por outro lado, se o sinal
for reconhecido pela mesma célula que o produziu, a comunicação é conhecida como autócrina.

CITOLOGIA 159
Na comunicação endócrina, as moléculas sinalizadoras são chamadas de hormônios. Eles são
liberados na corrente sanguínea e distribuídos pela circulação para que possam atuar em células-
-alvo distantes. Dentre os principais tipos de hormônios, destacam-se os hormônios proteicos,
que se ligam aos receptores de superfície celular, e os hormônios lipídicos, que têm facilidade em
atravessar a membrana plasmática da célula-alvo para se ligarem aos receptores intracelulares.
Na via neural, a comunicação dos neurônios ocorre por meio de mediadores químicos arma-
zenados em vesículas localizadas na região terminal do axônio. Sendo assim, as células pré-si-
nápticas (neurônios) liberam os neurotransmissores (sinais químicos) na fenda sináptica para
que eles possam se ligar ao receptor presente na membrana pós-sináptica da célula-alvo. No
entanto, existem alguns neurotransmissores que funcionam de forma semelhante aos hormô-
nios e lançam os sinais químicos na corrente sanguínea para atuar em células-alvo distantes.
Por fim, veja, na tabela a seguir, um resumo comparativo das características de tipo de co-
municação celular:

AUTÓCRINO/
CARACTERÍSTICA NERVOSO ENDÓCRINO
PARÁCRINO

Célula secretora Várias Neuronal Endócrina

Maioria das células do Neurônio, músculo, Maioria das células do


Célula-alvo
corpo endócrina corpo

Tipo de sinal Químico Elétrico e químico Químico

Longa intracelularmen-
Distância máxima de
Curta te, curta por meio da Longa
sinalização
sinapse

Transporte Líquido extracelular Sinapse Sistema circulatório

Velocidade Rápida Rápida Lenta

Duração da resposta Curta Curta Mais longa

Fonte: MOYES; SCHULTE, 2009. (Adaptado).

CITOLOGIA 160
Referências bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
DE ROBERTIS, E. M.; HIB, J. Biologia celular e molecular. 16. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2014.
JUNQUEIRA, J. C. U.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Guana-
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MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de fisiologia animal. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
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SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Art-
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CITOLOGIA 161

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