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TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
Compreender as etapas do ciclo celular ASPECTOS GERAIS DO CICLO CELULAR,
DA INTERFASE E DA DIVISÃO CELULAR
e seus eventos;
• Ciclo celular e suas fases
Diferenciar núcleo celular interfásico de • Períodos G1 e suas características
núcleo em divisão; • Período S e suas características
• Período G2 e suas características
Reconhecer a importância do
mecanismo de controle do ciclo celular;
Diferenciar o processo de mitose de MECANISMO DE CONTROLE
meiose em relação ao tipo celular, DO CICLO CELULAR
• Checkpoints do ciclo celular
função biológica e resultados.
• Ciclinas e Cdks
• Ação das Ciclinas e Cdks no controle
do ciclo celular
• Alterações no controle do ciclo celular
CITOLOGIA 162
Contextualizando o cenário
Todos nós já fomos uma única célula viva (zigoto) que, a partir de processos de divisão
celular sucessivos, se tornou uma pessoa adulta com, aproximadamente, 10 trilhões de
células. Além disso, todas as novas células geradas apresentam a mesma informação
genética das células que as originaram. É impressionante todo o mecanismo que envolve
a duplicação do DNA para que ele seja dividido em uma cópia geneticamente idêntica
para cada célula-filha. Cada detalhe é extremamente importante, pois a divisão celular
é responsável pelo desenvolvimento e reprodução dos indivíduos, bem como pela repo-
sição celular e reparo de tecidos danificados.
Diante desse cenário, surge uma questão importante: como as células duplicam seu
conteúdo, se dividem em duas novas células e, ainda, coordenam todas essas etapas?
CITOLOGIA 163
7.1 Aspectos gerais do ciclo celular, da interfase e da
divisão celular
Todos os organismos vivos, unicelulares ou multicelulares, começam a vida a partir de uma
única célula que se reproduz e passa por uma sequência de eventos cuja função básica é a
duplicação do material genético para gerar duas novas células idênticas. Esses processos
compõem o ciclo celular e envolvem duas etapas importantes: a primeira está relacionada à
duplicação do seu conteúdo, na interfase, e a segunda tem relação com a divisão celular na
fase M (mitose). Sendo assim, a mitose é um tipo de divisão celular necessária para o desenvol-
vimento e renovação das células somáticas do corpo humano.
Por outro lado, as células germinativas dão origem aos gametas por outro tipo de divisão
celular, conhecido como meiose. Na meiose, as células eucarióticas diploides (2n) originam cé-
lulas haploides (n) e, nesse caso, ocorre um ciclo de duplicação cromossômica seguido de duas
etapas de divisões celulares (meiose I e II).
CICLO CELULAR
S G2 MET
ÁFAS
E
FAS E
PRÓ ANÁFASE
MITOSE TELÓFASE
CITOCI
NESE
DU
AS
CÉL
ULA
INTERFASE S
G1
G0
CITOLOGIA 164
A fase M é caracterizada pela divisão celular. Nela, ocorrem eventos sucessivos que di-
videm o núcleo por meio da mitose, seguido da divisão citoplasmática em duas células pelo
processo de citocinese. As outras fases compõem a interfase (G1, S e G2), sendo que a G1 e G2
são fases de intervalo que ocorrem antes e depois, respectivamente, da fase S, marcada pela
duplicação do DNA da célula.
A interfase é o período mais longo do ciclo celular, pois a célula precisa se preparar para co-
meçar a se dividir. Para isso, a célula realiza muitas transcrições e tradução, ou seja, síntese de
RNA e síntese de proteína. Além disso, a célula multiplica as organelas presentes no citoplas-
ma, aumenta a membrana plasmática e o citoesqueleto. No entanto, cada fase da interfase
apresenta características específicas que serão discutidas nesse tópico.
???
G0
Diferenciação
G1 terminal
Figura 1. A tomada de decisão sobre o andamento do ciclo celular ocorre na fase G1. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
CITOLOGIA 165
Além disso, no final da fase G1 e início da fase S ocorre a duplicação do centrossomo,
centro organizador de microtúbulos localizados próximo ao envoltório nuclear e formado, na
maioria das células, por dois centríolos.
4C
2C/2n
Conteúdo de DNA
C Número de cromossomos
G1 S G2 P PM M A T C
Interfase Mitose
CITOLOGIA 166
7.1.4 Período G e suas características
2
Após a duplicação do DNA, a célula precisa ser preparada para o processo de divisão celu-
lar que ocorre na Fase M e, por isso, passa pela fase G2 para verificar se a duplicação do DNA
foi concluída e se os possíveis danos do DNA foram reparados. Além disso, ocorre a síntese
de proteínas não histônicas que são necessárias para a condensação do DNA na mitose, bem
como a síntese do complexo ciclina-Cdk que são acumulados no citoplasma para realizar a che-
cagem de todo o ciclo. Ainda nessa etapa, o DNA começa a se condensar de forma progressiva
e os microtúbulos iniciam os processos de despolimerização e liberação de monômeros de
tubulina para serem usados nos processos de divisão celular.
Portanto, a fase G2 apresenta um dos principais pontos de checagem, que verifica se todo o DNA
foi duplicado corretamente e se a célula atingiu o volume adequado antes de iniciar a divisão celular.
S G1
ENTRADA NA FASE S
O meio é favorável?
CITOLOGIA 167
7.2.1 Checkpoints do ciclo celular
Ao longo do ciclo celular, existem pontos de checagem, ou checkpoints, controladores da
maquinaria celular que ativa ou inibe a ciclinas das proteínas-chave, bem como os complexos
proteicos que estão envolvidos na regulação da replicação do DNA, mitose e citocinese. De
modo geral, esse controle é realizado por meio da fosforilação ou desfosforilação que, res-
pectivamente, ativa e inibe a atividade de proteínas envolvidas nesses processos. Sendo assim,
grupos específicos de proteínas quinases controlam o ciclo celular por meio da fosforilação, e
um grupo de proteínas-fosfatases é responsável pela desfosforilação.
ESCLARECIMENTO:
O termo checkpoint foi inicialmente utilizado por Hartwell e Weinert em 1989,
referindo-se aos mecanismos de controle do ciclo celular que monitoram a pro-
gressão dos eventos críticos.
O sistema de controle do ciclo celular das células eucarióticas é composto por três principais
pontos de verificação que estão localizados na transição de uma fase para a outra, tais como:
1) Transição entre fase G1/S: no final da fase G1, está localizado o primeiro ponto de verifi-
cação, chamado de ponto de restrição nos mamíferos. Nesse ponto, ocorre o controle da en-
trada da célula no ciclo celular para que seu material genético seja duplicado na próxima fase.
2) Transição entre G2 /M: esse segundo ponto verifica se a duplicação do DNA foi realizada
corretamente e se a célula já está pronta para entrar na fase de divisão mitótica.
3) Transição entre metáfase/anáfase: é responsável por estimular a separação das cro-
mátides-irmãs para dar continuidade ao último estágio da mitose e da citocinese.
CITOLOGIA 168
um grupo de proteínas ciclinas e, por isso, as quinases são conhecidas como proteínas quina-
ses dependentes de ciclina (Cdks).
Ciclina
Cinase independente
de ciclina (Cdk)
Figura 2. Proteínas quinases dependentes de ciclina. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
CURIOSIDADE:
As proteínas Cdk são proteínas superexpressas em células cancerígenas, pois
nesse caso, as células apresentam falhas no sistema de controle do ciclo celular
resultando em uma proliferação descontrolada.
A ciclina M é ativada com a formação do complexo M-Cdk que atua na fase G2, promovendo
o início da divisão celular. Outros complexos formados no final de G1 pelas ciclinas S e ciclinas
G1/Cdk se ligam a diferentes proteínas Cdk, resultando, respectivamente, em complexos S-Cdk
e G1/S-Cdk que auxiliam a transição da célula para a fase S.
CITOLOGIA 169
Ciclina S Ciclina M
G1 S G2 M G1
Ciclina S Ciclina M
Figura 3. Diferentes complexos ciclina-Cdk atuam em etapas específicas do ciclo celular. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
Além disso, as ciclinas G1 se ligam a proteínas Cdk para formar o complexo G1/Cdks por meio
de moléculas de sinalização extracelular que estimulam a célula a passar de G1 para S e, assim,
se dividirem.
CITOLOGIA 170
Todos os eventos iniciais da mitose são controlados pelo complexo M-Cdk, fase responsável
por preparar os cromossomos duplicados para a separação e estimular a formação do fuso
mitótico, estrutura responsável por esse processo de segregar os cromossomos duplicados.
ESCLARECIMENTO:
O início do processo de duplicação do DNA tem pontos de origem específicos,
nos quais ocorre a separação das fi tas do DNA original, formando uma bolha de
replicação. Cada extremidade dessa bolha apresenta as fi tas do DNA original
separadas, e o novo DNA é sintetizado. Essas regiões em forma de Y são conhe-
cidas como forquilhas de replicação.
CITOLOGIA 171
Interfase Prófase Prometáfase Metáfase
CITOLOGIA 172
Por outro lado, existem tipos celulares que perderam a capacidade de divisão após se tor-
narem células altamente especializadas, como as hemácias, neurônios e células musculares
estriadas.
Sendo assim, o corpo humano precisa realizar constantemente o processo de manutenção
de atividades orgânicas básicas para manter a homeostase dos organismos e, para isso, são
necessárias muitas divisões celulares desde o nascimento até o envelhecimento.
A B C D
E F G
Figura 5. Fases da mitose obtidas por esmagamento da região meristemática de raiz de cebola, coradas com orceína lactoacética e
observadas em microscópio óptico. (A) Núcleo interfásico. (B) Prófase. (C) Pró-metáfase. (D) Metáfase. (E) Início de anáfase. (F) Final de
anáfase. (G) Telófase. Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013.
CITOLOGIA 173
(A) PRÓFASE (B) MICROGRAFIA DA PRÓFASE (C) PROMETÁFASE (D) MICROGRAFIA DA PROMETÁFASE
Centrossomo
Centrossomo no polo do fuso
Envelope Fuso
nuclear mitótico em Fragmentos do
intacto formação envelope nuclear
Cromossomo
em movimento
ativo
Cinetocoro
Cromossomos condensados com
duas cromátides-irmãs mantidas Microtúbulo do
unidas ao longo do seu comprimento cinetocoro
Figura 6. Eventos da prófase e prometáfase. (A) Esquematização da prófase; (B) Micrografia da prófase; (C) Esquematização da pro-
metáfase; (D) Micrografia da prometáfase. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
Cromossomo no
polo do fuso
Microtúbulo
do cinetocoro
CITOLOGIA 174
(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA
Cromossomos-filhos
Encurtamento
dos microtúbulos
de cinetocoro
Conjunto de cromossomos
no polo do fuso
Início da formação
do anel contrátil
Centrossomo
Microtúbulos
interpolares
CITOLOGIA 175
(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA
Regeneração do arranjo
de microtúbulos interfásicos
nucleados pelo cromossomo
Criação do sulco
de clivagem pelo
anel contrátil
Sendo assim, quando uma célula-mãe realiza a divisão celular, resulta na formação de duas
células-filhas geneticamente idênticas entre si. Cada célula-filha apresenta um conjunto com-
pleto de cromossomos que foram produzidos pela replicação dos cromossomos originais per-
tencentes à célula que os originou.
CITOLOGIA 176
Metáfase I Anáfase I
Prófase I
Telófase I
Prófase II
Metáfase II
Anáfase II
Telófase II
CITOLOGIA 177
CURIOSIDADE:
Nas mulheres, durante o processo de formação dos ovócitos, após a meiose I, uma
das células formadas recebe menor quantidade de citoplasma e é degenerada, for-
mando o 1º corpúsculo polar, e apenas a outra célula segue para a meiose II.
Sendo assim, a redução do número de cromossomos pela metade exerce um papel impor-
tante nos organismos, uma vez que a união dos gametas reflete no padrão de herança dos ge-
nitores, que contribuem com informações genéticas e influenciam nas características dos seus
progenitores.
Além disso, a meiose promove a variabilidade genética por meio de dois processos, cros-
sing-over e segregação independente dos cromossomos na meiose I, gerando gametas gene-
ticamente diferentes da célula-mãe, bem como das outras três células geradas nesse mesmo
processo de divisão celular.
Leptóteno
Zignóteno
Prófase I Paquíteno Prófase II
Diplóteno
Diacinese Metáfase II
Meiose I Reducional Meiose II Equacional
Metáfase I Anáfase II
Anáfase I Telófase II
Telófase I
CITOLOGIA 178
A prófase I inicia a partir do momento que a cromatina interfásica começa a sua condensa-
ção. No entanto, essa fase é mais longa e complexa, sendo subdividida em outras cinco etapas
chamadas de leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese.
No leptóteno são observadas regiões chamadas de cromômeros devido ao aspecto granular
causado pela condensação de alguns pontos do filamento que ficam intercalados com regiões
mais compactadas. Nessa etapa, os cromossomos homólogos começam a se aproximar para
que ocorra a associação entre eles. No zigóteno, os cromossomos homólogos são pareados por
meio de um processo chamado de sinapse e, entre eles, ocorre a formação de um complexo si-
naptonêmico (CS). Esse pareamento forma uma estrutura chamada bivalente, no qual cada par
é formado por dois homólogos duplicados.
Centrômero
Cromátides-irmãs
Bivalente
Figura 12. Pareamento dos cromossomos homólogos forma estruturas bivalentes. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
CITOLOGIA 179
Homólogo Homólogo
paterno materno
duplicado duplicado
Quiasma
Quiasma
Quiasma
Figura 13. Quiasmas em um bivalente de cromossomos homólogos. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
CURIOSIDADE:
Durante a anáfase I ou II, pode ocorrer processo de não disjunção cromossômi-
ca, ou seja, em algum momento da divisão celular, ocorre um erro na distribui-
ção de cromossomos ou das cromátides. Nesse caso, as células apresentam nú-
mero de cromossomos alterado, caracterizando a aneuploidia cromossômica.
CITOLOGIA 180
7.4.3 Número de células originadas pela meiose e suas
características
O Diagrama 13 mostra como ocorre a divisão meiótica que resulta em quatro células
haploides não idênticas. Durante a meiose, a célula diploide (2C) duplica a sua quantidade
de DNA para 4C e passa pela meiose I para reduzir esse material genético pela metade, ge-
rando duas novas células 2C e, em seguida, cada célula passa pela meiose II para se dividir
em mais duas células-filhas haploides (C).
Duplicação dos
Divisão celular Divisão celular
cromossomos 2N N N
Meiose 2N 4N
2N N N
Célula germinativa
Quatro células
diploide
haploides
A meiose II ocorre de forma semelhante à mitose. Entretanto, seus produtos são células ha-
ploides que não são geneticamente idênticas. Isso ocorre devido à separação dos cromossomos
homólogos durante a meiose I, sendo que um homólogo foi herdado da mãe e o outro do pai.
Vale ressaltar que a mitose e a meiose são dois tipos de divisão celular que apresentam dife-
renças entre si. A Fig. 14 compara a quantidade de cromossomos das células filhas e o número
de células geradas por cada processo.
Mitose Meiose
2n 2n
2n 2n
n n
II
2n 2n
n n n n
Figura 14. Esquema comparativo entre meiose e mitose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/05/2019. (Adaptado).
CITOLOGIA 181
PAUSA PARA REFLETIR
O processo de divisão celular das células somáticas ocorre da mesma forma que nas células
germinativas?
Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um es-
quema destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu esque-
ma, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Além disso, considere também
os processos de mitose e meiose. Primeiro, ilustre cada etapa e, depois, enfatize as principais
diferenças entre os dois tipos de divisão celular.
Recapitulando
Desde o início da vida humana, as células passam por inúmeros ciclos celulares que conti-
nuam ocorrendo ao longo do seu desenvolvimento promovendo também a renovação celular.
O ciclo celular das células eucarióticas são divididos em várias fases, sendo que na interfase
ocorre o crescimento celular nas duas fases de intervalo, G1 e G2, bem como a replicação do
DNA na fase S. Na fase M, o núcleo se divide por meio do processo de mitose e, em seguida,
ocorre a divisão citoplasmática pela citocinese.
Para que todas essas etapas ocorram de forma coordenada, o ciclo celular possui um siste-
ma de controle com checkpoints localizados em pontos de transição de uma fase para a outra.
Sendo assim, os principais checkpoints decidem se a célula vai passar de G1 para S, G2 para M
e metáfase para anáfase.
Esse sistema ocorre a partir da fosforilação ou desfosforilação das proteínas quinases de-
pendentes de ciclina (Cdks), que são ativadas após a ligação com as ciclinas. Nesse sentido,
uma série de complexos ciclinas/Cdks ativam diferentes etapas do ciclo celular, sendo que os
complexos essenciais são formados pelas Ciclinas G1, ciclinas S e ciclinas M.
A mitose pode ser dividida em seis estágios diferentes: prófase, prometáfase, metáfase,
anáfase, telófase e citocinese. Basicamente, o processo consiste na condensação dos cromos-
somos que se ligam aos fusos mitóticos por meio dos cinetócoros, pareamento dos cromosso-
mos na região equatorial da célula, separação das cromátides-irmãs, reconstituição dos dois
núcleos-filhos e divisão citoplasmática em duas células-filhas por meio da citocinese. Assim,
no final da mitose, são geradas duas células com conjuntos iguais de cromossomos e, por isso,
CITOLOGIA 182
são geneticamente idênticas.
O processo de divisão celular pode ocorrer de forma diferente, ou seja, depende do tipo
celular, sendo que as células somáticas se dividem por mitose e as células germinativas por
divisão meiótica.
A meiose ocorre nos organismos que se reproduzem de forma sexuada e é responsável pela
formação dos gametas com metade do número de cromossomos quando comparado com as
células que os originaram. Sendo assim, as células diploides passam por duas divisões suces-
sivas (meiose I e meiose II), resultando em células haploides.
Resumidamente, a prófase I é o estágio mais longo da divisão meiótica e, por isso, é sub-
dividido em leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese. Após a duplicação do DNA,
ocorre os pareamentos dos cromossomos homólogos por meio de um complexo proteico cha-
mado sinaptonêmico, formando uma estrutura bivalente. Na próxima etapa, ocorre um evento
importante para a variabilidade genética, chamado de crossing-over, ou seja, ocorrem trocas
de fragmentos genéticos entre as cromátides-irmãs do par de cromossomos homólogos que
permanece unido em regiões chamadas de quiasmas.
Por fim, os outros processos são relativamente semelhantes à mitose. No entanto, a meiose
I resulta em duas células com número reduzido de cromossomos devido à separação dos cro-
mossomos homólogos durante a anáfase I, finalizada pela reconstituição do núcleo na telófase
I e da separação das células pela citocinese. Para iniciar a meiose II, as células resultantes da
meiose I seguem os estágios da próxima divisão celular sem que ocorra a duplicação do DNA.
A única diferença dessa última divisão é referente à segregação das cromátides-irmãs durante
a anáfase II e, ao final de todo o processo, são obtidas quatro células haploides geneticamente
diferentes entre si.
CITOLOGIA 183
Referências bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A célula. 3. ed. Barueri: Manole, 2013.
JUNQUEIRA, J. C. U.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 2012.
LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014.
SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de genética. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
CITOLOGIA 184
Por: Raquel Vaz Hara
TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
Compreender a importância dos FUNÇÃO DA MORTE CELULAR
NA HOMEOSTASE DO ORGANISMO
mecanismos de morte celular;
• Importância dos mecanismos de morte
Diferenciar os mecanismos de morte celular
celular; • Comunicação química e morte celular
• Sinais químicos e morte celular
Compreender os mecanismos de
controle da morte celular por apoptose;
Relacionar mecanismos de morte MORTE CELULAR PROGRAMADA
celular por apoptose com funções (APOPTOSE)
• Apoptose como processo fisiológico
fisiológicas.
• Apoptose na organogênese e no
indivíduo adulto
• Mecanismos de apoptose
• Regulação do mecanismo de
apoptose
CITOLOGIA 185
Contextualizando o cenário
Existe uma série de processos envolvidos no crescimento, desenvolvimento e manuten-
ção dos organismos multicelulares. No entanto, tão importantes quanto todos esses
processos são os mecanismos que coordenam a morte celular. Para a manutenção de
tecidos e órgãos, é preciso que haja um equilíbrio entre a multiplicação celular e a taxa
de morte celular. Além disso, a morte celular também é utilizada como processo eficiente
para remover células danificadas ou infectadas, que possam causar algum dano à saú-
de e comprometer a homeostase do organismo.
Diante desse cenário, questiona-se:
Todas as células do corpo humano estão programadas para morrer? Como as células
controlam os mecanismos de morte celular e de que modo eles acontecem?
CITOLOGIA 186
8.1 Função da morte celular na homeostase do organismo
As células do corpo humano estão cons-
tantemente tentando se adaptar a situa-
ções que causam alteração e estresse
extracelular. Em um estado fisiológico nor-
mal, as células mantêm suas estruturas e
funções, o que, nesse caso, é chamado de
homeostasia. Quando a célula entra em
contato com estresse fisiológico ou estímu-
los patológicos, ela tenta se adaptar. Entre-
tanto, se o estresse for muito intenso, há a possibilidade de ocorrer lesão celular.
A morte celular pode estar associada a situações fisiológicas, participando de processos es-
senciais como embriogênese, desenvolvimento dos órgãos, renovação celular e manutenção
da homeostasia. Por outro lado, a morte celular também pode estar relacionada à evolução de
processos patológicos.
Os mecanismos de morte celular são a apoptose e a necrose. De modo geral, a apoptose
representa a morte celular programada que está envolvida com processos fisiológicos e estí-
mulos patológicos mais brandos. No caso de estímulos mais severos, a morte celular ocorre
por necrose.
CITOLOGIA 187
Diagrama 1. Estímulos e tipos de morte celular
BRANDOS SEVEROS
CITOLOGIA 188
8.1.3 Sinais químicos e morte celular
As células animais recebem sinais de outras células que contêm as informações necessárias
para sua sobrevivência. No entanto, se de alguma forma a célula deixa de receber esse sinal,
outro mecanismo intracelular dependente de caspase é ativado e a célula morre por apoptose.
Desse modo, os sinais de sobrevivência permitem que as células sobrevivam apenas enquanto
for necessário. Durante o desenvolvimento do sistema nervoso, muitas células nervosas são
produzidas, porém a quantidade de fatores de sobrevivência é limitada. Sendo assim, as cé-
lulas nervosas que ficam sem o sinal de sobrevivência acabam sofrendo morte por apoptose.
CORPO DA
CÉLULA
A MORTE CELULAR AJUDA
NERVOSA A AJUSTAR O NÚMERO DE
CÉLULAS NERVOSAS AO
NÚMERO DE CÉLULAS-ALVO
AXÔNIO DA
CÉLULA
NERVOSA
Figura 1. Morte celular por apoptose de células nervosas. Fonte: ALBERTS, 2017. (Adaptado).
CITOLOGIA 189
Apoptose
Necrose
Digestão enzimática e
As células aumentam extravasamento do conteúdo
de tamanho celular. Ocorre inflamação.
Figura 2. Mecanismo de morte celular programada por apoptose. Fonte: KUMAR; ABBAS, ASTER, 2013. (Adaptado).
De modo geral, as células começam a sofrer alterações em sua estrutura devido à perda
de citoesqueleto, ocorrendo no núcleo a perda do envoltório nuclear e a fragmentação da
cromatina. Em seguida, surgem bolhas na superfície celular que resultam em fragmentos de-
limitados por membrana chamados de corpos apoptóticos. A membrana das células ou dos
fragmentos apoptóticos é alterada quimicamente e, assim, eles acabam sendo reconhecidos
por células fagocitárias (macrófagos) que rapidamente os digerem. Dessa maneira, a morte
celular por apoptose não induz resposta inflamatória, uma vez que a célula é eliminada antes
de liberar seu conteúdo no meio extracelular.
CITOLOGIA 190
As células que já cumpriram sua função e não são mais necessárias para o organismo
também sofrem morte celular por apoptose, pois deixam de receber as moléculas sinaliza-
doras que eram responsáveis pela sua sobrevivência. Esse tipo de situação ocorre com os
neutrófilos recrutados pela resposta inflamatória aguda e com os linfócitos, após resposta
imune. Alguns linfócitos apresentam características autorreativas, podendo ser potencial-
mente nocivos ao próprio organismo. Por esse motivo, o mecanismo de apoptose age para
eliminar os linfócitos antes ou depois de completarem sua maturação. Além disso, os linfóci-
tos T citotóxicos podem induzir a morte celular de células neoplásicas ou infectadas por vírus
como mecanismo de defesa.
Figura 3. Formação dos dedos da pata de um camundongo em desenvolvimento por apoptose. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).
CITOLOGIA 191
administração de drogas (por exemplo, fenobarbital) para estimular a divisão de células no fígado
que, consequentemente, acarreta o aumento do seu tamanho. Quando o tratamento é encerrado,
os mecanismos de apoptose entram em ação para que o fígado recupere seu tamanho normal.
Além disso, a apoptose é essencial para o controle da produção de células na medula óssea
do indivíduo adulto. De modo geral, a medula óssea está constantemente produzindo células
sanguíneas, como, por exemplo, neutrófilos, que poderão ser recrutados rapidamente caso
ocorra alguma infecção. Assim, visando o equilíbrio dessas células no organismo, a maioria
acaba morrendo por apoptose mesmo sem nunca ter funcionado.
ESCLARECIMENTO:
Os neutrófilos são células do sistema imunológico que atuam na defesa do orga-
nismo a partir da fagocitose de microrganismos ou partículas.
SINAL APOPTÓTICO
APOPTOSE
CITOLOGIA 192
Existem duas vias de sinalização envolvidas com o mecanismo de apoptose em células ani-
mais através da ativação da cascata de caspase.
A via extrínseca da apoptose é ativada pelo receptor de morte Fas, presente na superfície da
célula-alvo. A Fig. 5 exemplifica como os receptores de morte ativam a via extrínseca da apopto-
se em linfócito citotóxico. A primeira etapa inicia quando o receptor de morte Fas reconhece o li-
gante Fas e, consequentemente, ocorre o recrutamento de proteínas adaptadoras intracelulares
que se ligam às caspases iniciadoras (caspase-8, caspase-10, ou a ambas), formando o complexo
de sinalização indutor de morte. A partir desse complexo, as caspases iniciadoras ativam as cas-
pases executoras (caspase-3), que rompem e degradam as proteínas-alvo.
Em alguns casos, a via extrínseca ativa outra via conhecida como via apoptótica intrínseca
para amplificar os sinais de cascata crescente, que têm como finalidade causar a morte celular.
ASSISTA:
Assista no Youtube ao vídeo Apoptose,, do canal Casa da Ciência, que trata de
forma didática sobre o processo de apoptose nas células.
Linfócito matador
Ligante de Fas
Proteína Domínio
de morte DISK
adaptadora
FADD Caspase-8
ou 10
Domínio
efetor
da morte
Ativação de
Procaspase-8 caspases
ou 10 executoras
Célula-alvo apoptótica
AGRUPAMENTO ATIVAÇÃO E
DO DISK CLIVAGEM DA
PROCASPASE-8,
-10, OU DE AMBAS
Figura 5. Via extrínseca da apoptose ativada por receptores de morte na superfície celular de linfócitos citotóxicos. Fonte: ALBERTS et
al., 2010. (Adaptado).
CITOLOGIA 193
executoras para induzir a apoptose que, nesse caso, pode estar relacionada à degradação e ao
rompimento dos filamentos de actina que formam o citoesqueleto. A Fig. 6 mostra com detalhes
como ocorre a ativação da via intrínseca da apoptose.
Recrutamento e
ativação de procaspase-9
Agrupamento do apoptossomo
Ativação de Apaf1 Domínio CARD
pelo citocromo Apaf1 disparado pela liberação de dADP
em troca de dATP (ou ATP) Procaspase-9
c e hidrólise do dATP
ligado a dADP Domínio CARD
Liberação do
citocromo c
APOPTOSSOMO
Caspase-9 cliva e então ativa
Citocromo c procaspases executoras
no espaço
intermembranas
CASCATA DE CASPASE QUE
ESTÍMULO CONDUZ À APOPTOSE
APOPTÓTICO
Mitocôndria
CITOLOGIA 194
BH4 BH3 BH1 BH2
Proteína Bcl2
antiapiptótica
(p. ex., Bcl2, Bcl-XL)
Proteína proapoptótica
BH123
(p. ex., Bax, Bak)
Proteína BH3-apenas
proapoptítica
(p. ex., Bad, Bim, Bid,
Puma, Noxa)
Proteína Bd2
Figura 7. Classificação e tipos de proteínas Bcl2. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).
As proteínas BH3-apenas induzem a via intrínseca de apoptose por meio da inibição de pro-
teínas antiapoptóticas. Para isso, a BH3-apenas se liga à proteína Bcl2 antiapoptódica, o que
permite que as proteínas BH123 sejam acopladas na superfície celular da mitocôndria, liberando
as proteínas que induzem a apoptose.
Proteínas ativas
Proteína BH3 BH123 agregadas
apenas ativada
Citocromo c
Figura 8. Ativação da via intrínseca mediada pelas proteínas Bcl2. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).
CITOLOGIA 195
8.3 Morte celular por necrose
A necrose é um mecanismo de morte celular que ocorre de forma acidental, devido a trau-
mas ou injúrias que comprometem a viabilidade celular por meio de alterações morfológicas.
Nesse processo, a célula lesionada aumenta de volume, perde a integridade de suas mem-
branas (nuclear e citoplasmática) e o conteúdo intracelular é extravasado sobre as células ad-
jacentes, o que induz uma resposta inflamatória local através do recrutamento de células do
sistema imune (macrófago) para fagocitar os restos celulares. Além disso, a célula sofre ação
degenerativa das enzimas presentes nos lisossomos das próprias células ou dos leucócitos que
foram recrutados devido à inflamação local.
CITOLOGIA 196
8.3.2 Morte celular por necrose: tipos e causas
Injúrias ou traumas podem afetar o conjunto de células que compõem um tecido ou um ór-
gão. Nesses casos, a morte celular por necrose pode comprometer o tecido como um todo ou,
até mesmo, o órgão inteiro. A necrose tecidual apresenta vários padrões morfológicos que
permitem a melhor compreensão de suas possíveis causas.
A necrose de coagulação é considerada o tipo mais comum, sendo caracterizada por pre-
servar a arquitetura básica do tecido lesionado. Geralmente, esse tipo de lesão causa a des-
naturação das proteínas estruturais e de enzimas, resultando no bloqueio da atividade de
proteólise das células. Além disso, as células mortas podem ser digeridas pelas enzimas lisos-
sômicas dos leucócitos que foram recrutados para o local da lesão, e os restos celulares são re-
movidos por fagocitose. A área do tecido que sofre esse tipo de necrose é chamada de infarto.
Na necrose liquefativa, as células mortas são totalmente digeridas pelas enzimas lisossô-
micas dos leucócitos que se acumularam na área lesionada e, como resultado, ocorre a trans-
formação do tecido afetado em uma massa viscosa líquida. Esse tipo de necrose é provocada
por infecções bacterianas, que geram um acúmulo de leucócitos e de liberação de enzimas
no local da infecção. Em casos de inflamação aguda, as células formam um líquido amarelado
chamado pus. Esse tipo de necrose é observada em células do sistema nervoso central que
sofreram hipóxia (falta de oxigênio).
A necrose gangrenosa é uma consequência da necrose de coagulação, relacionada ao su-
primento sanguíneo de um membro do corpo, como, por exemplo, as pernas. Em casos de in-
fecção bacteriana, ocorre o recrutamento de leucócitos que, junto com as bactérias, transfor-
mam a necrose de coagulação em necrose liquefativa, resultando em uma condição conhecida
como gangrena úmida.
A necrose caseosa é mais encontrada em
tecidos que sofreram infecção tuberculosa.
De modo geral, a estrutura do tecido é total-
mente alterada e as células não têm seus con-
tornos preservados. Sendo assim, a área da
necrose caseosa é identificada por uma bor-
da inflamatória semelhante a um granuloma
(foco de inflamação).
A necrose gordurosa ocorre em casos de
pancreatite aguda, na qual as células gorduro-
sas são destruídas pela ação de lipases pan-
CITOLOGIA 197
creáticas e liberadas pelo pâncreas na cavidade peritoneal. Durante esse processo, as lipases
atuam nas membranas dos adipócitos para dividir os ésteres de triglicerídeos e liberar os áci-
dos graxos. Os ácidos graxos se juntam ao cálcio em uma reação de saponificação, resultando
em lesões esbranquiçadas com aparência de pingo de vela.
A necrose fibrinoide pode ser observada nas reações imunes. É caracterizada pelo acúmu-
lo de complexos antígeno-anticorpo nas paredes das artérias, que, por sua vez, se combinam à
fibrina extravasada pelos vasos, formando uma estrutura chamada fibrinoide.
CITOLOGIA 198
No entanto, os mecanismos que controlam esses processos podem falhar ou, ainda, uma
alteração genética em uma única célula pode produzir mais células que se comportam da mes-
ma maneira. Dessa forma, o aumento do número de células anormais causa alterações na
organização do tecido como um todo, podendo caracterizar o surgimento de câncer.
A morte celular programada tem um papel importante na prevenção do câncer, uma vez
que esse processo pode impedir ou eliminar o acúmulo de células indesejadas no organismo.
Por outro lado, podem ocorrer mutações que inibem a morte celular, resultando no desenvol-
vimento de tumores cancerígenos.
Uma mutação
confere
Células epiteliais Uma segunda
vantagem a
crescendo mutação
uma célula
na lâmina basal aumenta a
vantagem
SOBREVIVÊNCIA
E PROLIFERAÇÃO
CELULAR
SOBREVIVÊNCIA,
PROLIFERAÇÃO
CELULAR E INVASÃO
CELULAR PERIGOSA
Figura 9. Sobrevivência e proliferação de células neoplásicas. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).
CITOLOGIA 199
De modo geral, as células neoplásicas não dependem de moléculas sinalizadoras para sua
sobrevivência, crescimento e divisão, uma vez que algumas mutações podem promover uma
sinalização intracelular que induz sua proliferação sem a presença de estímulos externos.
Além disso, esse tipo célula apresenta certa resistência ao estresse e alterações internas que
fariam com que células normais ativassem o processo de apoptose.
As células neoplásicas também apresentam características genéticas importantes relacio-
nadas ao modo de proliferação. Sendo assim, essas células proliferam de forma indefinida e
são geneticamente instáveis, sendo portadoras de altas taxas de mutações e apresentando
números anormais de cromossomos.
Outra característica das células neoplásicas diz respeito a seu metabolismo anormal, pois
elas necessitam de uma demanda muito grande de nutrientes que auxiliem na sua biossínte-
se e crescimento. Além disso, as células cancerosas podem se desenvolver em locais que não
apresentam condições adequadas, pois produzem seus próprios sinais de sobrevivência e con-
seguem inibir o mecanismo de apoptose.
CITOLOGIA 200
DIVISÃO CELULAR
NORMAL HOMEOSTASE
APOPTOSE
NORMAL
DIVISÃO CELULAR
AUMENTADA
APOPTOSE TUMOR
NORMAL
DIVISÃO CELULAR
NORMAL
TUMOR
APOPTOSE
DIMINIÍDA
Figura 10. Surgimento de tumores a partir do aumento da divisão celular e diminuição da apoptose. Fonte: ALBERTS et al., 2010.
(Adaptado).
A proliferação celular excessiva pode ocorrer devido a danos no DNA das células, provo-
cando alterações em quatro tipos de genes:
• proto-oncogenes, que promovem o crescimento celular;
• genes supressores de tumor, que inibem o crescimento celular;
• genes reguladores da apoptose;
• genes que reparam o DNA.
A apoptose é um dos principais mecanismos para controlar o crescimento excessivo das
células. Em condições normais, o aumento na quantidade das células de um tecido é um sinal
para que a apoptose seja ativada e esse aumento controlado. Como visto anteriormente, di-
versas proteínas atuam no controle da apoptose por meio de indução ou inibição. Mutações
nos genes dessas proteínas fazem com que a célula perca o controle da apoptose, resultando
na divisão celular descontrolada.
Os proto-oncogenes são genes normais das células que, quando necessário, ativam o pro-
cesso de proliferação celular. No entanto, esses genes podem sofrer alterações e se transfor-
mar em oncogenes, induzindo a proliferação exagerada das células. Os genes supressores de
tumor atuam como limitadores da proliferação celular, controlando o aumento do número de
células. Quando sofrem mutação, ocorre a perda de sinais inibitórios do crescimento celular, e
as células passam a se proliferar descoordenadamente.
CITOLOGIA 201
8.4.4 Avanços no tratamento de câncer
Geralmente, o tratamento de câncer visa controlar o ciclo celular para impedir que as cé-
lulas neoplásicas se multipliquem de forma descontrolada. A quimioterapia é uma alternativa
que faz uso de fármacos anticâncer que atuam nos mecanismos de controle celular. No entan-
to, muitas vezes os fármacos citotóxicos tradicionais não são específicos para um tipo celular
e, por isso, acabam afetando também o ciclo celular de células saudáveis.
Muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas nessa área e a busca pelo tratamento ideal já
obteve alguns avanços, como, por exemplo, o surgimento de um tratamento chamado letal-sin-
tético que causa a morte celular somente em associação com mutações específicas do câncer.
Existem dois modos pelos quais essas substâncias podem agir no ciclo celular. Fármacos
com ciclos inespecíficos agem em células que estão ativas no ciclo celular e também em cé-
lulas que estão em repouso no estágio G0. Como exemplo, podemos citar a ciclofosfamida,
que impede a divisão celular. Por outro lado, fármacos com ciclos específicos atuam apenas
em células que estão se proliferando ativamente, afetando fases específicas do ciclo celular. O
metotrexato é um fármaco que atua na fase S, o etoposídeo age na fase G2 e a vincristina
atua na fase M do ciclo celular.
Recentemente, um novo composto foi desenvolvido na Albert Einstein College of Medicine,
em Nova York, com a proposta de induzir a apoptose de células neoplásicas. A proteína BTSA1,
ainda em fase de testes, estimula a ativação da proteína Bax, que libera o citocromo c das mi-
tocôndrias para o citoplasma e, consequentemente, ativa a apoptose das células. Além disso,
esse composto promove a ativação da proteína Bax somente nas células neoplásicas, não com-
prometendo a viabilidade das células normais. Isso ocorre pois as células neoplásicas contêm
proteína Bax de forma isolada, o que facilita sua ativação pela BTSA1.
ASSISTA:
Assista no Youtube ao vídeo Câncer: conhecer, prevenir e vencer do canal Academia-
deciencia, que explica de forma didática vários aspectos relacionados ao câncer.
Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um
mapa conceitual destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir
seu mapa, considere as leituras básicas e complementares realizadas.
CITOLOGIA 202
Dica: Elabore o mapa conceitual levando em consideração as principais características dos
mecanismos de morte celular por necrose e apoptose. Destaque em cada tipo de morte celular
as proteínas envolvidas e o destino final das células.
Recapitulando
As células dos organismos vivos estão constantemente realizando reações e processos me-
tabólicos para manter e produzir tudo o que for necessário para garantir um bom funciona-
mento. Mesmo realizando todas atividades de forma adequada, a célula não pode escapar da
sua morte, ou seja, de certa forma, todas as células estão programadas para morrer.
Isso acontece porque muitas vezes a morte celular é um mecanismo de controle das condi-
ções fisiológicas. Nesses casos, a morte celular ocorre de forma programada e permite a reno-
vação das células quando estas não estão funcionando bem ou não são mais necessárias para
o organismo. Por outro lado, outros processos de morte celular podem ser ativados quando
ocorrem situações repentinas e violentas.
Existem dois tipos de morte celular com mecanismos mais conhecidos: a apoptose e a ne-
crose. A apoptose está relacionada aos processos fisiológicos e, em alguns casos, a situações
em que os estímulos patológicos são mais brandos. No entanto, a necrose é uma consequên-
cia de estímulos patológicos mais severos. Ambos os tipos de morte celular apresentam carac-
terísticas específicas.
As células neoplásicas se multiplicam de forma descontrolada e são capazes de invadir e co-
lonizar os tecidos circundantes. Essas células apresentam uma variedade de características es-
pecíficas à medida que vão se desenvolvendo e acabam se diferenciando das células normais.
Muitas vezes, a proliferação de células neoplásicas está relacionada à inibição do mecanismo
celular que controla o aumento do número de células.
CITOLOGIA 203
Referências bibliográficas
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CITOLOGIA 204