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Por: Raquel Vaz Hara

TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
Compreender as etapas do ciclo celular ASPECTOS GERAIS DO CICLO CELULAR,
DA INTERFASE E DA DIVISÃO CELULAR
e seus eventos;
• Ciclo celular e suas fases
Diferenciar núcleo celular interfásico de • Períodos G1 e suas características
núcleo em divisão; • Período S e suas características
• Período G2 e suas características
Reconhecer a importância do
mecanismo de controle do ciclo celular;
Diferenciar o processo de mitose de MECANISMO DE CONTROLE
meiose em relação ao tipo celular, DO CICLO CELULAR
• Checkpoints do ciclo celular
função biológica e resultados.
• Ciclinas e Cdks
• Ação das Ciclinas e Cdks no controle
do ciclo celular
• Alterações no controle do ciclo celular

A DIVISÃO CELULAR POR MITOSE


• Importância da mitose na formação e
renovação do organismo
• Fases da mitose e suas características
• Número de células originadas pela
mitose e suas características

A DIVISÃO CELULAR POR MEIOSE


• Importância da meiose na
gametogênese
• Fases da meiose e suas
características
• Número de células originadas na
meiose e suas características

CITOLOGIA 162
Contextualizando o cenário
Todos nós já fomos uma única célula viva (zigoto) que, a partir de processos de divisão
celular sucessivos, se tornou uma pessoa adulta com, aproximadamente, 10 trilhões de
células. Além disso, todas as novas células geradas apresentam a mesma informação
genética das células que as originaram. É impressionante todo o mecanismo que envolve
a duplicação do DNA para que ele seja dividido em uma cópia geneticamente idêntica
para cada célula-filha. Cada detalhe é extremamente importante, pois a divisão celular
é responsável pelo desenvolvimento e reprodução dos indivíduos, bem como pela repo-
sição celular e reparo de tecidos danificados.
Diante desse cenário, surge uma questão importante: como as células duplicam seu
conteúdo, se dividem em duas novas células e, ainda, coordenam todas essas etapas?

CITOLOGIA 163
7.1 Aspectos gerais do ciclo celular, da interfase e da
divisão celular
Todos os organismos vivos, unicelulares ou multicelulares, começam a vida a partir de uma
única célula que se reproduz e passa por uma sequência de eventos cuja função básica é a
duplicação do material genético para gerar duas novas células idênticas. Esses processos
compõem o ciclo celular e envolvem duas etapas importantes: a primeira está relacionada à
duplicação do seu conteúdo, na interfase, e a segunda tem relação com a divisão celular na
fase M (mitose). Sendo assim, a mitose é um tipo de divisão celular necessária para o desenvol-
vimento e renovação das células somáticas do corpo humano.
Por outro lado, as células germinativas dão origem aos gametas por outro tipo de divisão
celular, conhecido como meiose. Na meiose, as células eucarióticas diploides (2n) originam cé-
lulas haploides (n) e, nesse caso, ocorre um ciclo de duplicação cromossômica seguido de duas
etapas de divisões celulares (meiose I e II).

7.1.1 Ciclo celular e suas fases


De modo geral, antes de ocorrer a divisão celular em duas células geneticamente idênticas,
a célula precisa duplicar a quantidade de DNA, suas macromoléculas e organelas, bem como
duplicar seu tamanho. Todos esses aspectos são importantes para que as células mantenham
suas características a cada ciclo celular.
O ciclo celular eucariótico é dividido em quatro fases que seguem a seguinte sequência:
fase G1 → fase S → fase G2→ fase M, como mostra o Diagrama 1.

Diagrama 1. Fases do ciclo celular

CICLO CELULAR

S G2 MET
ÁFAS
E

FAS E
PRÓ ANÁFASE

MITOSE TELÓFASE

CITOCI
NESE
DU
AS
CÉL
ULA
INTERFASE S

G1
G0

Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/04/2019. (Adaptado).

CITOLOGIA 164
A fase M é caracterizada pela divisão celular. Nela, ocorrem eventos sucessivos que di-
videm o núcleo por meio da mitose, seguido da divisão citoplasmática em duas células pelo
processo de citocinese. As outras fases compõem a interfase (G1, S e G2), sendo que a G1 e G2
são fases de intervalo que ocorrem antes e depois, respectivamente, da fase S, marcada pela
duplicação do DNA da célula.
A interfase é o período mais longo do ciclo celular, pois a célula precisa se preparar para co-
meçar a se dividir. Para isso, a célula realiza muitas transcrições e tradução, ou seja, síntese de
RNA e síntese de proteína. Além disso, a célula multiplica as organelas presentes no citoplas-
ma, aumenta a membrana plasmática e o citoesqueleto. No entanto, cada fase da interfase
apresenta características específicas que serão discutidas nesse tópico.

7.1.2 Período G e suas características


1
A fase G1 é um período de intensa atividade metabólica que envolve processos importantes
de crescimento celular e a verificação de todas as condições para que célula possa dar conti-
nuidade às outras fases do ciclo celular.
Algumas células na fase G1 permanecem em interfase por um longo período sem se dividir e,
nesses casos, as células ficam em um estágio de repouso chamado de G0. Células altamente espe-
cializadas tendem a ficar em G0 e não voltam a se dividir, pois todos os estímulos são direcionados
para as suas funções. É o caso dos neurônios na condução de impulsos nervosos, os macrófagos
que defendem o organismo contra patógenos, dentre outros. Por outro lado, existem alguns tipos
celulares que podem voltar a se dividir na presença de estímulos, como os hepatócitos e os linfócitos.
Sendo assim, a fase G1 determina se a célula deve seguir as fases do ciclo celular de acordo
com os sinais intracelulares que indicam se o tamanho da célula está adequado e os sinais ex-
tracelulares que refletem as condições do meio. Portanto, é nesse ponto que ocorre a decisão
se a célula deve pausar no período G0 ou se ela está preparada para entrar na fase S.

• Prosseguir para a fase S?


• Pausar?
PARE ! • Permanecer em G0?
Ponto de
verificação G1
S • Não mais se dividir e
diferenciar terminalmente?

???
G0

Diferenciação

G1 terminal

Figura 1. A tomada de decisão sobre o andamento do ciclo celular ocorre na fase G1. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 165
Além disso, no final da fase G1 e início da fase S ocorre a duplicação do centrossomo,
centro organizador de microtúbulos localizados próximo ao envoltório nuclear e formado, na
maioria das células, por dois centríolos.

7.1.3 Período S e suas características


Após passar pelo ponto de checagem na fase G1, a célula está pronta para realizar a dupli-
cação do DNA na fase S da interfase. Essa etapa é a mais importante do ciclo celular, pois cada
célula parental tem sua molécula de DNA duplicada de forma precisa para garantir que as cé-
lulas-filhas recebam uma cópia exata de cada molécula de DNA. Além disso, é nessa etapa que
ocorre a duplicação das proteínas que estão envolvidas com cada região do DNA duplicado,
uma vez que as células-filhas também herdam as características da estrutura cromossômica.
O DNA passa por um processo complexo e eficiente para gerar novas cópias, que são passadas
para as células filhas. Assim, as informações genéticas precisam ser conservadas e, para isso, a dupli-
cação do material genético acontece a partir de uma fita de DNA molde que fornece as informações
para a fita recém-formada, sendo caracterizada por um processo chamado de semiconservativo.
A célula humana diploide (2n = 46 cromossomos) inicia o ciclo celular na fase G1 com 46 mo-
léculas de DNA. Na fase S, essas moléculas são duplicadas e a célula chega na fase G2 com 92
moléculas de DNA, ou seja, cada cromossomo apresenta duas moléculas de DNA, chamadas
cromátides-irmãs, que se mantêm unidas por um complexo proteico chamado coesinas, até
que elas sejam divididas para cada célula-filha. Vale ressaltar que as células continuam diploi-
des mesmo com o dobro do conteúdo de DNA (4C). O Gráfico 1 compara a quantidade de mo-
léculas de DNA com o número de cromossomos ao longo de todo o ciclo celular.

Gráfico 1. Variação do número de cromossomos e da quantidade de


DNA durante o ciclo celular

4C

2C/2n

Conteúdo de DNA
C Número de cromossomos

G1 S G2 P PM M A T C

Interfase Mitose

Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

CITOLOGIA 166
7.1.4 Período G e suas características
2
Após a duplicação do DNA, a célula precisa ser preparada para o processo de divisão celu-
lar que ocorre na Fase M e, por isso, passa pela fase G2 para verificar se a duplicação do DNA
foi concluída e se os possíveis danos do DNA foram reparados. Além disso, ocorre a síntese
de proteínas não histônicas que são necessárias para a condensação do DNA na mitose, bem
como a síntese do complexo ciclina-Cdk que são acumulados no citoplasma para realizar a che-
cagem de todo o ciclo. Ainda nessa etapa, o DNA começa a se condensar de forma progressiva
e os microtúbulos iniciam os processos de despolimerização e liberação de monômeros de
tubulina para serem usados nos processos de divisão celular.
Portanto, a fase G2 apresenta um dos principais pontos de checagem, que verifica se todo o DNA
foi duplicado corretamente e se a célula atingiu o volume adequado antes de iniciar a divisão celular.

7.2 Mecanismo de controle do ciclo celular


O ciclo celular envolve processos complexos que precisam ser executados de forma correta.
Para isso, a célula possui um sistema de controle com a finalidade de coordenar todas as eta-
pas do ciclo celular, bem como ativar ou inibir as maquinarias responsáveis pela produção de
componentes para o crescimento e divisão da célula.
Assim, o sistema de controle celular atua como uma chave molecular que aciona as etapas
sequenciais em pontos já definidos a partir do momento que os pré-requisitos foram alcança-
dos. Desse modo, é possível evitar que os erros e imperfeições sejam carreados para as fases
seguintes. O Diagrama 2 apresenta os pontos de verificação mais importantes distribuídos ao
longo do ciclo celular.

Diagrama 2. Sistema de controle do ciclo celular


SEPARAÇÃO DOS
ENTRADA NA MITOSE
M CROMOSSOMOS DUPLICADOS
Todo o DNA está replicado?
Todos os cromossomos estão ligados
Todos os danos no DNA estão reparados?
de forma apropriada ao fuso mitótico?
G2
CONTROLADOR

S G1

ENTRADA NA FASE S
O meio é favorável?

Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 167
7.2.1 Checkpoints do ciclo celular
Ao longo do ciclo celular, existem pontos de checagem, ou checkpoints, controladores da
maquinaria celular que ativa ou inibe a ciclinas das proteínas-chave, bem como os complexos
proteicos que estão envolvidos na regulação da replicação do DNA, mitose e citocinese. De
modo geral, esse controle é realizado por meio da fosforilação ou desfosforilação que, res-
pectivamente, ativa e inibe a atividade de proteínas envolvidas nesses processos. Sendo assim,
grupos específicos de proteínas quinases controlam o ciclo celular por meio da fosforilação, e
um grupo de proteínas-fosfatases é responsável pela desfosforilação.

ESCLARECIMENTO:
O termo checkpoint foi inicialmente utilizado por Hartwell e Weinert em 1989,
referindo-se aos mecanismos de controle do ciclo celular que monitoram a pro-
gressão dos eventos críticos.

O sistema de controle do ciclo celular das células eucarióticas é composto por três principais
pontos de verificação que estão localizados na transição de uma fase para a outra, tais como:
1) Transição entre fase G1/S: no final da fase G1, está localizado o primeiro ponto de verifi-
cação, chamado de ponto de restrição nos mamíferos. Nesse ponto, ocorre o controle da en-
trada da célula no ciclo celular para que seu material genético seja duplicado na próxima fase.
2) Transição entre G2 /M: esse segundo ponto verifica se a duplicação do DNA foi realizada
corretamente e se a célula já está pronta para entrar na fase de divisão mitótica.
3) Transição entre metáfase/anáfase: é responsável por estimular a separação das cro-
mátides-irmãs para dar continuidade ao último estágio da mitose e da citocinese.

PAUSA PARA REFLETIR


Qual é a importância dos pontos de checagem durante o ciclo celular? O que pode acontecer
com o crescimento de uma célula caso ocorra um erro que não é reconhecido pelo checkpoint?

7.2.2 Ciclina e Cdks


As proteínas quinases são componentes importantes no ciclo celular e são ativadas em
momentos específicos do ciclo. No entanto, essa ativação e inibição das quinases depende de

CITOLOGIA 168
um grupo de proteínas ciclinas e, por isso, as quinases são conhecidas como proteínas quina-
ses dependentes de ciclina (Cdks).

Ciclina

Cinase independente
de ciclina (Cdk)

Figura 2. Proteínas quinases dependentes de ciclina. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Durante o ciclo celular, as concentrações de ciclinas variam de forma periódica, contribuindo


para o controle da formação de diferentes tipos de complexos ciclina-Cdk, que desencadeiam
várias etapas do ciclo celular quando ativados.

CURIOSIDADE:
As proteínas Cdk são proteínas superexpressas em células cancerígenas, pois
nesse caso, as células apresentam falhas no sistema de controle do ciclo celular
resultando em uma proliferação descontrolada.

A ciclina M é ativada com a formação do complexo M-Cdk que atua na fase G2, promovendo
o início da divisão celular. Outros complexos formados no final de G1 pelas ciclinas S e ciclinas
G1/Cdk se ligam a diferentes proteínas Cdk, resultando, respectivamente, em complexos S-Cdk
e G1/S-Cdk que auxiliam a transição da célula para a fase S.

CITOLOGIA 169
Ciclina S Ciclina M

G1 S G2 M G1

Ciclina S Ciclina M

S-Cdk ativa M-Cdk ativa

Figura 3. Diferentes complexos ciclina-Cdk atuam em etapas específicas do ciclo celular. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Além disso, as ciclinas G1 se ligam a proteínas Cdk para formar o complexo G1/Cdks por meio
de moléculas de sinalização extracelular que estimulam a célula a passar de G1 para S e, assim,
se dividirem.

7.2.3 Ação das ciclinas e Cdks no controle do ciclo celular


Quando os complexos S-Cdks e M-Cdks estão ativados, as células finalizam um ciclo celular
e, em seguida, inicia-se novamente a duplicação do DNA e um novo ciclo, sem demandar muito
tempo nos intervalos de G1 e G2, é realizado. No entanto, esse sistema só é bloqueado na sínte-
se de novas ciclinas e ação de proteínas inibitórias de Cdk para que a atividade do complexo
ciclina-Cdk seja inibida.
Além disso, alguns sinais extracelulares (mitógenos) produzidos por outras células estimu-
lam a síntese de ciclinas G1, ciclinas G1/S e outras proteínas envolvidas nos processos de divisão
celular das células de mamíferos.
Quando um DNA é danificado, um mecanismo precisa ser ativado na transição G1/S para im-
pedir a sua divisão. Para isso, ocorre um aumento da proteína p53, responsável pela ativação
do gene que codifica a proteína inibidora de Cdk p21. Essa proteína, por sua vez, se liga aos
complexos G1-Cdks e S-Cdks, que bloqueiam a passagem da célula para a fase S.
O complexo S-Cdk, formado no final de G1, é responsável pela transição da célula para a
fase S por meio da ativação das DNA-helicases, que atuam em pontos específicos da molé-
cula de DNA e promovem a associação das proteínas envolvidas na formação da forquilha
de replicação. Além disso, o S-Cdk impede que a síntese do DNA ocorra mais de uma vez no
mesmo ciclo celular.

CITOLOGIA 170
Todos os eventos iniciais da mitose são controlados pelo complexo M-Cdk, fase responsável
por preparar os cromossomos duplicados para a separação e estimular a formação do fuso
mitótico, estrutura responsável por esse processo de segregar os cromossomos duplicados.

ESCLARECIMENTO:
O início do processo de duplicação do DNA tem pontos de origem específicos,
nos quais ocorre a separação das fi tas do DNA original, formando uma bolha de
replicação. Cada extremidade dessa bolha apresenta as fi tas do DNA original
separadas, e o novo DNA é sintetizado. Essas regiões em forma de Y são conhe-
cidas como forquilhas de replicação.

7.2.4 Alteração no controle do ciclo celular


Embora o sistema de controle do ciclo celular seja responsável por impedir a divisão celular
em casos de erros ou falhas que possam comprometer a formação de células normais, algu-
mas alterações podem ocorrer nesse sistema e resultar, por exemplo, na formação de células
neoplásicas.
Sendo assim, a origem das células cancerosas está relacionada com os erros que ocorre-
ram nos checkpoints e levaram a célula a realizar mitose de modo descontrolado. Nesses
casos, possivelmente, ocorre uma alteração no funcionamento de genes controladores do ci-
clo celular devido à ocorrência de mutações. Existem duas classes de genes que atuam na re-
gulação do ciclo celular, sendo uma delas os proto-oncogenes, que estimulam o ciclo celular,
e os genes supressores, que produzem proteínas responsáveis pela inibição do ciclo celular.

7.3 A divisão celular por mitose


A fase M representa a divisão celular por mitose, sendo dividida em seis estágios que
acontecem em uma sequência contínua. De modo geral, é durante a mitose que os cromos-
somos estão visíveis (condensados) e, quando observados em microscopia óptica, podem ser
reconhecidos individualmente nos estágios chamados de prófase, metáfase, anáfase e teló-
fase. O estágio final da mitose é chamado de citocinese.
Desta forma, podemos definir a mitose como um conjunto de eventos sucessivos que en-
volvem os cromossomos, o citoesqueleto e os centrossomos para produzir duas células-filhas
geneticamente idênticas.

CITOLOGIA 171
Interfase Prófase Prometáfase Metáfase

Anáfase Telófase Mitose completa

Figura 4. Fases da mitose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 26/04/2019. (Adaptado).

7.3.1 Importância da mitose na formação e renovação do organismo


A mitose é o principal mecanismo que ocorre nos eucariotos. Ela está relacionada com o
desenvolvimento, crescimento e manutenção dos organismos multicelulares. Sendo assim, o
primeiro ponto a ser destacado sobre o desenvolvimento do organismo consiste em ter ciên-
cia de que tudo começa a partir de uma célula pré-existente que sofre divisões celulares
sucessivas e, consequentemente, faz com que ocorra o crescimento de tecidos e órgãos. Isso
acontece devido à premissa de que cada ciclo celular gera duas células-filhas, realizando outro
ciclo celular e resultando em mais células-filhas.
Algumas células do organismo humano apresentam a capacidade de se dividir com maior
rapidez e frequência, tais como as células-tronco e epiteliais. Sendo assim, a mitose exerce um
papel fundamental na produção de hemácias a partir de divisões sucessivas das células da
medula óssea que são diferenciadas em novas hemácias.
Outros tipos celulares apresentam possibilidade de divisão, mas isso só é executado por
meio de estímulos, como nos casos dos hepatócitos, fibroblasto da pele, células musculares
lisas e células endoteliais. Esses tipos celulares, permitem reparar os tecidos e órgãos danifi-
cados, bem como substituir as células que sofrem morte celular (apoptose) programada como
consequência de processos fisiológicos naturais.

CITOLOGIA 172
Por outro lado, existem tipos celulares que perderam a capacidade de divisão após se tor-
narem células altamente especializadas, como as hemácias, neurônios e células musculares
estriadas.
Sendo assim, o corpo humano precisa realizar constantemente o processo de manutenção
de atividades orgânicas básicas para manter a homeostase dos organismos e, para isso, são
necessárias muitas divisões celulares desde o nascimento até o envelhecimento.

7.3.2 Fases da mitose e suas características


Na célula animal, a fase M é dividida didaticamente em quatro estágios principais: prófase,
metáfase, anáfase e telófase.

A B C D

E F G

Figura 5. Fases da mitose obtidas por esmagamento da região meristemática de raiz de cebola, coradas com orceína lactoacética e
observadas em microscópio óptico. (A) Núcleo interfásico. (B) Prófase. (C) Pró-metáfase. (D) Metáfase. (E) Início de anáfase. (F) Final de
anáfase. (G) Telófase. Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013.

Na prófase, os cromossomos já foram duplicados e estão organizados em duas cromáti-


des-irmãs associadas entre si e unidas pelo centrômero. Nesse primeiro momento, os cromos-
somos começam a se condensar e os microtúbulos dão origem ao fuso mitótico, que começa
a se formar em volta de cada centrossomo. Os centrossomos já foram duplicados durante a
interfase, mas na prófase eles se separam e migram para posições opostas na célula, definindo
os polos das células-mães em divisão.
A partir do início da formação do fuso, ocorre o desaparecimento do componente que par-
ticipa da síntese de RNA no núcleo chamado de nucléolo. O envoltório nuclear também é frag-
mentado em pequenas vesículas e, assim, os microtúbulos podem invadir o espaço nuclear
para ter acesso aos cromossomos. Esses últimos acontecimentos da prófase, podem ser con-
siderados como outro estágio da mitose, chamada de prometáfase.

CITOLOGIA 173
(A) PRÓFASE (B) MICROGRAFIA DA PRÓFASE (C) PROMETÁFASE (D) MICROGRAFIA DA PROMETÁFASE

Centrossomo
Centrossomo no polo do fuso
Envelope Fuso
nuclear mitótico em Fragmentos do
intacto formação envelope nuclear

Cromossomo
em movimento
ativo
Cinetocoro
Cromossomos condensados com
duas cromátides-irmãs mantidas Microtúbulo do
unidas ao longo do seu comprimento cinetocoro

Figura 6. Eventos da prófase e prometáfase. (A) Esquematização da prófase; (B) Micrografia da prófase; (C) Esquematização da pro-
metáfase; (D) Micrografia da prometáfase. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

O início da metáfase pode ser considerado a partir do momento que os microtúbulos se


fixam aos cinetócoros dos cromossomos. Desse modo, os cromossomos se movimentam para
que todos fiquem alinhados na região equatorial (placa metafásica) da célula, ou seja, os ci-
netócoros ficam organizados no meio da célula, entre os dois polos. Cada cromátide-irmã de
um cromossomo possui um cinetócoro, cujos microtúbulos se estendem em direção ao polo
oposto do fuso. Dessa forma, cada cinetócoro liga um cromossomo a um polo do fuso por
meio dos microtúbulos. O alinhamento dos cromossomos é essencial para que a distribuição
do material genético para as células-filhas ocorra de forma igual e exata.

(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA

Cromossomo no
polo do fuso

Microtúbulo
do cinetocoro

Figura 7. Eventos da metáfase. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

A etapa seguinte, chamada de anáfase, é representada pela separação das cromátides-irmãs,


que passam a ser um cromossomo e são puxadas para polos opostos. Esse processo ocorre devido
ao encurtamento (despolimerização) dos fusos mitóticos e degradação dos componentes (coensina)
que mantêm a união das cromátides-irmãs. Os polos do fuso também se afastam, deixando em evi-
dência dois grupos de cromossomos idênticos localizados nas extremidades opostas do fuso.

CITOLOGIA 174
(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA

Cromossomos-filhos

Encurtamento
dos microtúbulos
de cinetocoro

Polo do fuso se movimentando para fora

Figura 8. Eventos da anáfase. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Durante a telófase, os cromossomos são descondensados e voltam para a estrutura ini-


cial (interfásico) referente a uma rede de fibras de cromatina. As organelas fragmentadas
em vesículas durante a mitose são reconstituídas e cada grupo de cromossomos passa a
ser envolvido por uma nova membrana nuclear. Portanto, a formação de dois núcleos-filhos
indica o fim da mitose.

(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA

Conjunto de cromossomos
no polo do fuso
Início da formação
do anel contrátil

Centrossomo
Microtúbulos
interpolares

Formação do envelope nuclear ao


redor dos cromossomo individuais

Figura 9. Eventos da telófase. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

7.3.3 Número de células originadas pela mitose e suas


características
Após gerar dois núcleos-filhos, a célula precisa completar a sua divisão em duas células-fi-
lhas individuais. Para isso, ocorre o processo de citocinese, no qual o citoplasma é dividido em
dois por meio de uma estrutura formada por filamentos de actina e miosina que compõem o
anel contrátil. O anel contrátil realiza a força necessária, por meio do deslizamento entre esses
filamentos, para comprimir essa região e realizar a separação em duas novas células.

CITOLOGIA 175
(A) ESQUEMATIZAÇÃO (B) MICROGRAFIA

Envelope nuclear completo


circunda os cromossomos
em descompactação

Regeneração do arranjo
de microtúbulos interfásicos
nucleados pelo cromossomo

Criação do sulco
de clivagem pelo
anel contrátil

Figura 10. Eventos da citocinese. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Sendo assim, quando uma célula-mãe realiza a divisão celular, resulta na formação de duas
células-filhas geneticamente idênticas entre si. Cada célula-filha apresenta um conjunto com-
pleto de cromossomos que foram produzidos pela replicação dos cromossomos originais per-
tencentes à célula que os originou.

7.4 A divisão celular por meiose


Na reprodução sexuada, os organismos precisam produzir gametas com a metade do nú-
mero de cromossomos. Esses cromossomos formam os espermatozoides nos homens e os
óvulos das mulheres. Dessa forma, quando os gametas se encontram, ocorre a união dessas
células que resultam em um zigoto com um conjunto completo de cromossomos.
A meiose envolve duas divisões celulares sucessivas, chamadas de meiose I e meiose II, que
dão origem a quatro células haploides. A síntese de DNA ocorre antes da meiose I, porém não há
duplicação do material genético entre essas duas fases. A primeira fase da meiose é caracteriza-
da pela redução do número de cromossomos pela metade e, por isso, é considerada uma divisão
reducional. Na segunda fase da meiose, cada célula gera outras duas células-filhas com o mesmo
número de cromossomos e, por isso, essa segunda divisão é dita como equacional.

CITOLOGIA 176
Metáfase I Anáfase I
Prófase I

Telófase I

Prófase II

Metáfase II

Anáfase II

Telófase II

Figura 11. Etapas da meiose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 29/04/2019.

7.4.1 Importância da meiose na gametogênese


A meiose é um importante processo da gametogênese que ocorre em organismos de repro-
dução sexuada, afinal é por meio dela que são originados os gametas. A gametogênese masculina
é chamada de espermatogênese e resulta na formação dos espermatozoides. Nas mulheres, a
formação do seu gameta (óvulo) ocorre pelo processo chamado de ovogênese ou ovulogênese.
De modo geral, os gametas são considerados haploides, uma vez que apresentam somente
um conjunto de cromossomos. No entanto, todas as células do organismo são diploides, ou seja,
apresentam dois conjuntos de cromossomos, sendo que um conjunto é de origem materna e o
outro de origem paterna.

CITOLOGIA 177
CURIOSIDADE:
Nas mulheres, durante o processo de formação dos ovócitos, após a meiose I, uma
das células formadas recebe menor quantidade de citoplasma e é degenerada, for-
mando o 1º corpúsculo polar, e apenas a outra célula segue para a meiose II.

Sendo assim, a redução do número de cromossomos pela metade exerce um papel impor-
tante nos organismos, uma vez que a união dos gametas reflete no padrão de herança dos ge-
nitores, que contribuem com informações genéticas e influenciam nas características dos seus
progenitores.
Além disso, a meiose promove a variabilidade genética por meio de dois processos, cros-
sing-over e segregação independente dos cromossomos na meiose I, gerando gametas gene-
ticamente diferentes da célula-mãe, bem como das outras três células geradas nesse mesmo
processo de divisão celular.

7.4.2 Fases da meiose e suas características


Os eventos da interfase de uma célula germinativa são semelhantes ao que ocorrem nas célu-
las somáticas. Alguns processos durante a divisão meiótica são parecidos com a mitose, como o
processo de formação do fuso, desmontagem e remontagem do núcleo e a divisão citoplasmática.
No entanto, na meiose ocorrem algumas diferenças importantes que serão apresentadas a seguir.
A meiose também é dividida em uma série de etapas, para que se seja possível compreender
todas as características de cada momento da divisão celular. Nesse caso, as etapas são divididas
em prófase I, metáfase I, anáfase I, telófase I, intercinese, prófase II, metáfase II, anáfase II
e telófase II, conforme mostram o Diagrama 3 e a Fig. 10.

Diagrama 3. Processo de divisão da meiose I e II

Leptóteno
Zignóteno
Prófase I Paquíteno Prófase II
Diplóteno
Diacinese Metáfase II
Meiose I Reducional Meiose II Equacional
Metáfase I Anáfase II

Anáfase I Telófase II

Telófase I

CITOLOGIA 178
A prófase I inicia a partir do momento que a cromatina interfásica começa a sua condensa-
ção. No entanto, essa fase é mais longa e complexa, sendo subdividida em outras cinco etapas
chamadas de leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese.
No leptóteno são observadas regiões chamadas de cromômeros devido ao aspecto granular
causado pela condensação de alguns pontos do filamento que ficam intercalados com regiões
mais compactadas. Nessa etapa, os cromossomos homólogos começam a se aproximar para
que ocorra a associação entre eles. No zigóteno, os cromossomos homólogos são pareados por
meio de um processo chamado de sinapse e, entre eles, ocorre a formação de um complexo si-
naptonêmico (CS). Esse pareamento forma uma estrutura chamada bivalente, no qual cada par
é formado por dois homólogos duplicados.

Cromossomo paterno duplicado

Cromossomo materno duplicado

Centrômero

Cromátides-irmãs

Bivalente

Figura 12. Pareamento dos cromossomos homólogos forma estruturas bivalentes. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

Na etapa seguinte, chamada de paquíteno, os cromossomos se encontram emparelhados


e cada vez mais condensados, ocorrendo um evento chamado de crossing-over. Nesse evento,
acontece a recombinação gênica entre os cromossomos pareados, que consiste na troca de frag-
mentos cromossômicos equivalentes entre as cromátides-irmãs. Sendo assim, essa troca fica
mais evidente no estágio seguinte, denominado de diplóteno, no qual é possível observar que
os cromossomos pareados se afastam, mas a região do crossing-over continua em contato, crian-
do quiasmas em cada bivalente. A maioria dos bivalentes podem conter mais de um quiasma,
indicando que ocorreram várias trocas entre os cromossomos homólogos. Essas trocas con-
tribuem para a diversidade genética das espécies com reprodução sexuadas. Além disso, os
quiasmas garantem que o par de cromossomos homólogos seja segregado de maneira correta
na meiose I.

CITOLOGIA 179
Homólogo Homólogo
paterno materno
duplicado duplicado

Quiasma

Quiasma

Quiasma

Figura 13. Quiasmas em um bivalente de cromossomos homólogos. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

No final da prófase I, ocorre o último estágio denominado de diacinese, no qual os quiasmas


são deslocados em direção às extremidades dos cromossomos por meio de um evento chama-
do de terminalização.
Na metáfase I, os cromossomos estão totalmente condensados e, nesse estágio, ocorre a frag-
mentação da membrana nuclear e dos nucléolos para que os fusos recém-formados pelos microtú-
bulos possam invadir o espaço nuclear e se ligar aos cinetócoros dos cromossomos. Dessa forma, os
cromossomos começam a se movimentar e se alinham no plano central da célula (equatorial).
Em seguida, durante a anáfase I ocorre a separação dos cromossomos homólogos, que migram
para polos opostos que, ao final da telófase I, geram duas células com cromossomos reduzidos pela
metade. Por fim, os cromossomos se descondensam, o envoltório nuclear é reconstituído e as célu-
las são divididas pelo citoplasma por meio da citocinese.
O curto espaço de tempo antes de começar a próxima divisão meiótica é chamada de intercinese e,
nesse momento, não ocorre síntese de DNA. As etapas da meiose II acabam sendo muito semelhan-
tes à mitose, pois a prófase II inicia o processo de divisão celular por meio da condensação dos cro-
mossomos que se fixam em um novo fuso mitótico. Em seguida, ocorre a metáfase II, etapa na qual os
cromossomos ficam alinhados no plano equatorial da célula. As cromátides-irmãs são divididas duran-
te a anáfase II por um processo chamado de disjunção das cromátides por meio do rompimento dos
centrômeros. Na telófase II, as cromátides separadas passam a ser chamadas de cromossomos, que
se agrupam em dois grupos localizados nos polos opostos para dar origem aos núcleos-filhos. O resul-
tado da meiose II consiste na formação de células haploides que não são geneticamente semelhantes.

CURIOSIDADE:
Durante a anáfase I ou II, pode ocorrer processo de não disjunção cromossômi-
ca, ou seja, em algum momento da divisão celular, ocorre um erro na distribui-
ção de cromossomos ou das cromátides. Nesse caso, as células apresentam nú-
mero de cromossomos alterado, caracterizando a aneuploidia cromossômica.

CITOLOGIA 180
7.4.3 Número de células originadas pela meiose e suas
características
O Diagrama 13 mostra como ocorre a divisão meiótica que resulta em quatro células
haploides não idênticas. Durante a meiose, a célula diploide (2C) duplica a sua quantidade
de DNA para 4C e passa pela meiose I para reduzir esse material genético pela metade, ge-
rando duas novas células 2C e, em seguida, cada célula passa pela meiose II para se dividir
em mais duas células-filhas haploides (C).

Diagrama 4. Esquema do número de células originadas pela meiose

Duplicação dos
Divisão celular Divisão celular
cromossomos 2N N N
Meiose 2N 4N
2N N N
Célula germinativa
Quatro células
diploide
haploides

Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

A meiose II ocorre de forma semelhante à mitose. Entretanto, seus produtos são células ha-
ploides que não são geneticamente idênticas. Isso ocorre devido à separação dos cromossomos
homólogos durante a meiose I, sendo que um homólogo foi herdado da mãe e o outro do pai.
Vale ressaltar que a mitose e a meiose são dois tipos de divisão celular que apresentam dife-
renças entre si. A Fig. 14 compara a quantidade de cromossomos das células filhas e o número
de células geradas por cada processo.

Mitose Meiose
2n 2n

2n 2n

n n

II

2n 2n

n n n n

Figura 14. Esquema comparativo entre meiose e mitose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/05/2019. (Adaptado).

CITOLOGIA 181
PAUSA PARA REFLETIR
O processo de divisão celular das células somáticas ocorre da mesma forma que nas células
germinativas?

Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um es-
quema destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu esque-
ma, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Além disso, considere também
os processos de mitose e meiose. Primeiro, ilustre cada etapa e, depois, enfatize as principais
diferenças entre os dois tipos de divisão celular.

Recapitulando
Desde o início da vida humana, as células passam por inúmeros ciclos celulares que conti-
nuam ocorrendo ao longo do seu desenvolvimento promovendo também a renovação celular.
O ciclo celular das células eucarióticas são divididos em várias fases, sendo que na interfase
ocorre o crescimento celular nas duas fases de intervalo, G1 e G2, bem como a replicação do
DNA na fase S. Na fase M, o núcleo se divide por meio do processo de mitose e, em seguida,
ocorre a divisão citoplasmática pela citocinese.
Para que todas essas etapas ocorram de forma coordenada, o ciclo celular possui um siste-
ma de controle com checkpoints localizados em pontos de transição de uma fase para a outra.
Sendo assim, os principais checkpoints decidem se a célula vai passar de G1 para S, G2 para M
e metáfase para anáfase.
Esse sistema ocorre a partir da fosforilação ou desfosforilação das proteínas quinases de-
pendentes de ciclina (Cdks), que são ativadas após a ligação com as ciclinas. Nesse sentido,
uma série de complexos ciclinas/Cdks ativam diferentes etapas do ciclo celular, sendo que os
complexos essenciais são formados pelas Ciclinas G1, ciclinas S e ciclinas M.
A mitose pode ser dividida em seis estágios diferentes: prófase, prometáfase, metáfase,
anáfase, telófase e citocinese. Basicamente, o processo consiste na condensação dos cromos-
somos que se ligam aos fusos mitóticos por meio dos cinetócoros, pareamento dos cromosso-
mos na região equatorial da célula, separação das cromátides-irmãs, reconstituição dos dois
núcleos-filhos e divisão citoplasmática em duas células-filhas por meio da citocinese. Assim,
no final da mitose, são geradas duas células com conjuntos iguais de cromossomos e, por isso,

CITOLOGIA 182
são geneticamente idênticas.
O processo de divisão celular pode ocorrer de forma diferente, ou seja, depende do tipo
celular, sendo que as células somáticas se dividem por mitose e as células germinativas por
divisão meiótica.
A meiose ocorre nos organismos que se reproduzem de forma sexuada e é responsável pela
formação dos gametas com metade do número de cromossomos quando comparado com as
células que os originaram. Sendo assim, as células diploides passam por duas divisões suces-
sivas (meiose I e meiose II), resultando em células haploides.
Resumidamente, a prófase I é o estágio mais longo da divisão meiótica e, por isso, é sub-
dividido em leptóteno, zigóteno, paquíteno, diplóteno e diacinese. Após a duplicação do DNA,
ocorre os pareamentos dos cromossomos homólogos por meio de um complexo proteico cha-
mado sinaptonêmico, formando uma estrutura bivalente. Na próxima etapa, ocorre um evento
importante para a variabilidade genética, chamado de crossing-over, ou seja, ocorrem trocas
de fragmentos genéticos entre as cromátides-irmãs do par de cromossomos homólogos que
permanece unido em regiões chamadas de quiasmas.
Por fim, os outros processos são relativamente semelhantes à mitose. No entanto, a meiose
I resulta em duas células com número reduzido de cromossomos devido à separação dos cro-
mossomos homólogos durante a anáfase I, finalizada pela reconstituição do núcleo na telófase
I e da separação das células pela citocinese. Para iniciar a meiose II, as células resultantes da
meiose I seguem os estágios da próxima divisão celular sem que ocorra a duplicação do DNA.
A única diferença dessa última divisão é referente à segregação das cromátides-irmãs durante
a anáfase II e, ao final de todo o processo, são obtidas quatro células haploides geneticamente
diferentes entre si.

CITOLOGIA 183
Referências bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A célula. 3. ed. Barueri: Manole, 2013.
JUNQUEIRA, J. C. U.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 9. ed. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 2012.
LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014.
SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de genética. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.

CITOLOGIA 184
Por: Raquel Vaz Hara

TÓPICOS DE ESTUDO
Objetivos do capítulo
Compreender a importância dos FUNÇÃO DA MORTE CELULAR
NA HOMEOSTASE DO ORGANISMO
mecanismos de morte celular;
• Importância dos mecanismos de morte
Diferenciar os mecanismos de morte celular
celular; • Comunicação química e morte celular
• Sinais químicos e morte celular
Compreender os mecanismos de
controle da morte celular por apoptose;
Relacionar mecanismos de morte MORTE CELULAR PROGRAMADA
celular por apoptose com funções (APOPTOSE)
• Apoptose como processo fisiológico
fisiológicas.
• Apoptose na organogênese e no
indivíduo adulto
• Mecanismos de apoptose
• Regulação do mecanismo de
apoptose

MORTE CELULAR POR NECROSE


• Características gerais da necrose
• Morte celular por necrose: tipos e
causas
• Necrose e processo inflamatório

MECANISMO DE MORTE CELULAR


PROGRAMADA NAS CÉLULAS NEO-
PLÁSICAS
• Células neoplásicas
• Células neoplásicas: inibição da
morte celular por apoptose
• Apoptose e proliferação celular na
célula neoplásica
• Avanços no tratamento de câncer

CITOLOGIA 185
Contextualizando o cenário
Existe uma série de processos envolvidos no crescimento, desenvolvimento e manuten-
ção dos organismos multicelulares. No entanto, tão importantes quanto todos esses
processos são os mecanismos que coordenam a morte celular. Para a manutenção de
tecidos e órgãos, é preciso que haja um equilíbrio entre a multiplicação celular e a taxa
de morte celular. Além disso, a morte celular também é utilizada como processo eficiente
para remover células danificadas ou infectadas, que possam causar algum dano à saú-
de e comprometer a homeostase do organismo.
Diante desse cenário, questiona-se:
Todas as células do corpo humano estão programadas para morrer? Como as células
controlam os mecanismos de morte celular e de que modo eles acontecem?

CITOLOGIA 186
8.1 Função da morte celular na homeostase do organismo
As células do corpo humano estão cons-
tantemente tentando se adaptar a situa-
ções que causam alteração e estresse
extracelular. Em um estado fisiológico nor-
mal, as células mantêm suas estruturas e
funções, o que, nesse caso, é chamado de
homeostasia. Quando a célula entra em
contato com estresse fisiológico ou estímu-
los patológicos, ela tenta se adaptar. Entre-
tanto, se o estresse for muito intenso, há a possibilidade de ocorrer lesão celular.
A morte celular pode estar associada a situações fisiológicas, participando de processos es-
senciais como embriogênese, desenvolvimento dos órgãos, renovação celular e manutenção
da homeostasia. Por outro lado, a morte celular também pode estar relacionada à evolução de
processos patológicos.
Os mecanismos de morte celular são a apoptose e a necrose. De modo geral, a apoptose
representa a morte celular programada que está envolvida com processos fisiológicos e estí-
mulos patológicos mais brandos. No caso de estímulos mais severos, a morte celular ocorre
por necrose.

8.1.1 Importância dos mecanismos de morte celular


Em organismos multicelulares, a quantidade de células é controlada pela velocidade da di-
visão celular e pela taxa de morte celular. Sendo assim, a morte celular é importante para
eliminar as células sem utilidade ou potencialmente prejudiciais, por meio da ativação de um
mecanismo de morte celular programada, conhecido como apoptose.
A morte celular por necrose também permite o controle da homeostase do organismo,
uma vez que esse mecanismo promove a destruição de células lesionadas e, consequentemen-
te, desencadeia uma série de alterações morfológicas que resultam em uma resposta infla-
matória local. Desse modo, a inflamação resulta em indicativos clínicos que refletem possíveis
problemas no funcionamento do organismo.
Vale ressaltar que a necrose exerce um papel importante em processos patológicos e a
apoptose está mais relacionada a funções fisiológicas. No entanto, quando a célula sofre danos
em seu DNA, ou proteínas, que não são reparados, pode ocorrer morte celular por apoptose.

CITOLOGIA 187
Diagrama 1. Estímulos e tipos de morte celular

ESTÍMULOS FISIOLÓGICOS PATOLÓGICOS

BRANDOS SEVEROS

RESULTADO APOPTOSE NECROSE

Fonte: CARVALHO; RECCO-PIMENTEL, 2013. (Adaptado).

8.1.2 Comunicação química e morte celular


As células animais podem se comunicar através de sinais enviados por outras células ou,
ainda, por meio de sinais extracelulares. Dessa forma, moléculas químicas de sinalização são
liberadas no meio extracelular para que sejam transportadas até a célula-alvo que contém re-
ceptores capazes de reconhecer o sinal enviado e, assim, receber o estímulo necessário para
sobreviver, crescer e se dividir. No entanto, os processos de morte celular como, por exemplo,
a apoptose, podem ser induzidos por sinais extracelulares emitidos por células adjacentes.
Sendo assim, a morte celular por apoptose pode ocorrer quando as células reconhecem os
sinais apoptóticos por meio de receptores específicos chamados de receptores TNF (fator de
necrose tumoral) presentes na superfície celular. Além desses receptores, as células também
apresentam proteínas internas que atuam como sinalizadores capazes de induzir a apoptose
quando detectam alterações no funcionamento celular, como, por exemplo, acúmulo de pro-
teínas mal dobradas, lesões no DNA ou infecções por micro-organismos.
Outras alterações celulares que afetam a produção de ATP, a concentração de cálcio intra-
celular, a permeabilidade da membrana e a quantidade de espécies reativas de oxigênio no
citoplasma podem desencadear mecanismos bioquímicos, que são reconhecidos pelas células
como uma sinalização de morte celular por necrose.

CITOLOGIA 188
8.1.3 Sinais químicos e morte celular
As células animais recebem sinais de outras células que contêm as informações necessárias
para sua sobrevivência. No entanto, se de alguma forma a célula deixa de receber esse sinal,
outro mecanismo intracelular dependente de caspase é ativado e a célula morre por apoptose.
Desse modo, os sinais de sobrevivência permitem que as células sobrevivam apenas enquanto
for necessário. Durante o desenvolvimento do sistema nervoso, muitas células nervosas são
produzidas, porém a quantidade de fatores de sobrevivência é limitada. Sendo assim, as cé-
lulas nervosas que ficam sem o sinal de sobrevivência acabam sofrendo morte por apoptose.

CÉLULAS NERVOSAS CÉLULAS NERVOSAS APOPTÓTICAS

CORPO DA
CÉLULA
A MORTE CELULAR AJUDA
NERVOSA A AJUSTAR O NÚMERO DE
CÉLULAS NERVOSAS AO
NÚMERO DE CÉLULAS-ALVO
AXÔNIO DA
CÉLULA
NERVOSA

CÉLULAS-ALVO FATOR DE SOBREVIVÊNCIA


LIBERADO PELAS CÉLULAS-ALVO

Figura 1. Morte celular por apoptose de células nervosas. Fonte: ALBERTS, 2017. (Adaptado).

PAUSA PARA REFLETIR


Por que o equilíbrio entre o ciclo celular e o processo de morte celular é importante para man-
ter a homeostase do organismo?

8.2 Morte celular programada (apoptose)


A apoptose atua como uma resposta fisiológica que permite a remoção de células alteradas,
a fim de promover a manutenção estrutural de órgãos e tecidos. Esse processo envolve altera-
ções morfológicas características.

CITOLOGIA 189
Apoptose

Formação de corpos Os corpos apoptóticos


apoptóticos são fagocitados.
Não ocorre inflamação.
Célula comum

Necrose
Digestão enzimática e
As células aumentam extravasamento do conteúdo
de tamanho celular. Ocorre inflamação.

Figura 2. Mecanismo de morte celular programada por apoptose. Fonte: KUMAR; ABBAS, ASTER, 2013. (Adaptado).

De modo geral, as células começam a sofrer alterações em sua estrutura devido à perda
de citoesqueleto, ocorrendo no núcleo a perda do envoltório nuclear e a fragmentação da
cromatina. Em seguida, surgem bolhas na superfície celular que resultam em fragmentos de-
limitados por membrana chamados de corpos apoptóticos. A membrana das células ou dos
fragmentos apoptóticos é alterada quimicamente e, assim, eles acabam sendo reconhecidos
por células fagocitárias (macrófagos) que rapidamente os digerem. Dessa maneira, a morte
celular por apoptose não induz resposta inflamatória, uma vez que a célula é eliminada antes
de liberar seu conteúdo no meio extracelular.

8.2.1 Apoptose como processo fisiológico


A apoptose está associada a diversos processos fisiológicos. Na embriogênese, seu papel é
realizar a morte programada de algumas células que não são mais necessárias para que outras
células e tecidos possam surgir durante o desenvolvimento. Em mulheres, a apoptose promo-
ve a remoção das células endometriais durante o ciclo menstrual e, nos casos de desmame,
ocorre a regressão do tecido mamário.
A morte celular por apoptose também ajuda a manter constante o número das várias po-
pulações celulares que compõem os tecidos. Esse tipo de controle pode ser observado, por
exemplo, no epitélio da cripta intestinal que naturalmente perde células das populações proli-
ferativas a fim de manter um número celular constante.

CITOLOGIA 190
As células que já cumpriram sua função e não são mais necessárias para o organismo
também sofrem morte celular por apoptose, pois deixam de receber as moléculas sinaliza-
doras que eram responsáveis pela sua sobrevivência. Esse tipo de situação ocorre com os
neutrófilos recrutados pela resposta inflamatória aguda e com os linfócitos, após resposta
imune. Alguns linfócitos apresentam características autorreativas, podendo ser potencial-
mente nocivos ao próprio organismo. Por esse motivo, o mecanismo de apoptose age para
eliminar os linfócitos antes ou depois de completarem sua maturação. Além disso, os linfóci-
tos T citotóxicos podem induzir a morte celular de células neoplásicas ou infectadas por vírus
como mecanismo de defesa.

PAUSA PARA REFLETIR


Durante o desenvolvimento dos vertebrados muitas células saudáveis entram em processo de
morte celular por apoptose. Por qual motivo isso acontece?

8.2.2 Apoptose na organogênese e no indivíduo adulto


A apoptose exerce funções fundamentais na organogênese e nos tecidos animais adultos. Na or-
ganogênese, a apoptose é um evento importante para a formação das mãos e dos pés, uma vez que
essas estruturas apresentam formato de pá logo no início do desenvolvimento embrionário. Sendo
assim, os dedos passam a ser estruturas individualizadas quando as células morrem.

Figura 3. Formação dos dedos da pata de um camundongo em desenvolvimento por apoptose. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

Durante o processo de metamorfose dos anfíbios, os girinos perdem a cauda e se transfor-


mam em sapo. Nesse caso, o desaparecimento da cauda ocorre por apoptose, uma vez que
essa estrutura perde sua função e não é mais necessária para o sapo.
Em indivíduos adultos, a relação entre a taxa de morte celular e a de divisão celular deve ser
controlada para que haja equilíbrio, em condições normais. Isso pode ser exemplificado com a

CITOLOGIA 191
administração de drogas (por exemplo, fenobarbital) para estimular a divisão de células no fígado
que, consequentemente, acarreta o aumento do seu tamanho. Quando o tratamento é encerrado,
os mecanismos de apoptose entram em ação para que o fígado recupere seu tamanho normal.
Além disso, a apoptose é essencial para o controle da produção de células na medula óssea
do indivíduo adulto. De modo geral, a medula óssea está constantemente produzindo células
sanguíneas, como, por exemplo, neutrófilos, que poderão ser recrutados rapidamente caso
ocorra alguma infecção. Assim, visando o equilíbrio dessas células no organismo, a maioria
acaba morrendo por apoptose mesmo sem nunca ter funcionado.

ESCLARECIMENTO:
Os neutrófilos são células do sistema imunológico que atuam na defesa do orga-
nismo a partir da fagocitose de microrganismos ou partículas.

8.2.3 Mecanismos de apoptose


O mecanismo de apoptose nas células animais está relacionado a uma cascata proteolítica
intracelular mediada por caspases. As caspases pertencem ao grupo de proteases que, através
do resíduo de cisteína em seu sítio ativo, são capazes de fragmentar as proteínas-alvo em ácidos
aspárticos específicos. Nem todas as caspases atuam na apoptose, porém, as que agem logo no
início da cascata proteolítica são chamadas de caspases iniciadoras (caspases 2, 8, 9 e 10), que,
por sua vez, ativam as caspases executoras (caspases 3, 6 e 7) para clivar as proteínas-alvo.

SINAL APOPTÓTICO

Caspase iniciadora Subunidade


(caspases 8, 9) maior
Domínio de Proteínas adaptadoras
ligação ao
adaptador Subunidade
Sítios de
clivagem DIMERIZAÇÃO, menor
Domínio de
ATIVAÇÃO E Caspase
protease
CLIVAGEM ativa
Monômeros
inativados
ATIVAÇÃO
Caspase
POR
ativa
CLIVAGEM
Caspase executora
(caspases 3, 6, 7) CLIVAGEM DE MÚLTIPLOS
SUBSTRATOS

APOPTOSE

Figura 4. Ativação da caspase durante a apoptose. Fonte: ALBERTS, 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 192
Existem duas vias de sinalização envolvidas com o mecanismo de apoptose em células ani-
mais através da ativação da cascata de caspase.
A via extrínseca da apoptose é ativada pelo receptor de morte Fas, presente na superfície da
célula-alvo. A Fig. 5 exemplifica como os receptores de morte ativam a via extrínseca da apopto-
se em linfócito citotóxico. A primeira etapa inicia quando o receptor de morte Fas reconhece o li-
gante Fas e, consequentemente, ocorre o recrutamento de proteínas adaptadoras intracelulares
que se ligam às caspases iniciadoras (caspase-8, caspase-10, ou a ambas), formando o complexo
de sinalização indutor de morte. A partir desse complexo, as caspases iniciadoras ativam as cas-
pases executoras (caspase-3), que rompem e degradam as proteínas-alvo.
Em alguns casos, a via extrínseca ativa outra via conhecida como via apoptótica intrínseca
para amplificar os sinais de cascata crescente, que têm como finalidade causar a morte celular.

ASSISTA:
Assista no Youtube ao vídeo Apoptose,, do canal Casa da Ciência, que trata de
forma didática sobre o processo de apoptose nas células.

Linfócito matador

Ligante de Fas

Célula alvo Receptor


de Fas

Proteína Domínio
de morte DISK
adaptadora
FADD Caspase-8
ou 10
Domínio
efetor
da morte

Ativação de
Procaspase-8 caspases
ou 10 executoras
Célula-alvo apoptótica
AGRUPAMENTO ATIVAÇÃO E
DO DISK CLIVAGEM DA
PROCASPASE-8,
-10, OU DE AMBAS

Figura 5. Via extrínseca da apoptose ativada por receptores de morte na superfície celular de linfócitos citotóxicos. Fonte: ALBERTS et
al., 2010. (Adaptado).

A ativação da via intrínseca da apoptose depende da liberação de uma proteína presente na


membrana interna das mitocôndrias, conhecida como citocromo c. Quando essa proteína é
liberada no citosol, ela se liga a uma proteína adaptadora chamada Apaf-1 (fator 1 de ativação
da protease apoptótica), que, por sua vez, recruta caspases iniciadoras (caspase-9) dando ori-
gem a uma estrutura chamada apoptossoma. O apoptossoma, por seu turno, ativa as caspases

CITOLOGIA 193
executoras para induzir a apoptose que, nesse caso, pode estar relacionada à degradação e ao
rompimento dos filamentos de actina que formam o citoesqueleto. A Fig. 6 mostra com detalhes
como ocorre a ativação da via intrínseca da apoptose.

Recrutamento e
ativação de procaspase-9
Agrupamento do apoptossomo
Ativação de Apaf1 Domínio CARD
pelo citocromo Apaf1 disparado pela liberação de dADP
em troca de dATP (ou ATP) Procaspase-9
c e hidrólise do dATP
ligado a dADP Domínio CARD

Liberação do
citocromo c

APOPTOSSOMO
Caspase-9 cliva e então ativa
Citocromo c procaspases executoras
no espaço
intermembranas
CASCATA DE CASPASE QUE
ESTÍMULO CONDUZ À APOPTOSE
APOPTÓTICO
Mitocôndria

Figura 6. Via intrínseca da apoptose. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

8.2.4 Regulação do mecanismo de apoptose


As células precisam ter um controle da via intrínseca para que a apoptose só aconteça quando
for necessário. Para realizar esse controle, proteínas da família Bcl2 atuam, principalmente, na
ativação ou inibição da liberação do citocromo c e de outras proteínas intermembranares das
mitocôndrias. Assim, a apoptose baseia-se na liberação de proteínas Bcl2 proapoptóticas, que
induzem a morte celular, ou pela ação das Bcl2 antiapoptóticas, que bloqueiam a liberação de
proteínas inibindo a apoptose. Em alguns casos, os dois tipos de Bcl2 podem se combinar para
formar heterodímeros. Nesse caso, ambas as proteínas perdem as suas funções. Portanto, o que
determina se a célula vive ou morre é o tipo de atividade das proteínas Bcl2.
O grupo de proteínas Bcl2 antiapoptóticas é formado pela própria Bcl2 e pela Bcl-XL. As pro-
teínas Bcl2 proapoptóticas são subdivididas em duas famílias denominadas de proteínas BH123
(Bax e Bak) e proteínas BH3-apenas.

CITOLOGIA 194
BH4 BH3 BH1 BH2
Proteína Bcl2
antiapiptótica
(p. ex., Bcl2, Bcl-XL)

Proteína proapoptótica
BH123
(p. ex., Bax, Bak)

Proteína BH3-apenas
proapoptítica
(p. ex., Bad, Bim, Bid,
Puma, Noxa)
Proteína Bd2

Figura 7. Classificação e tipos de proteínas Bcl2. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

As proteínas BH3-apenas induzem a via intrínseca de apoptose por meio da inibição de pro-
teínas antiapoptóticas. Para isso, a BH3-apenas se liga à proteína Bcl2 antiapoptódica, o que
permite que as proteínas BH123 sejam acopladas na superfície celular da mitocôndria, liberando
as proteínas que induzem a apoptose.

(B) Ativação da via intrínseca


Proteína Bcl2 Proteínas intermembranas
Estímulo antiapoptótica inativada
apoptótico liberadas

Proteínas ativas
Proteína BH3 BH123 agregadas
apenas ativada

Citocromo c

Figura 8. Ativação da via intrínseca mediada pelas proteínas Bcl2. Fonte: ALBERTS et al., 2010. (Adaptado).

CITOLOGIA 195
8.3 Morte celular por necrose
A necrose é um mecanismo de morte celular que ocorre de forma acidental, devido a trau-
mas ou injúrias que comprometem a viabilidade celular por meio de alterações morfológicas.
Nesse processo, a célula lesionada aumenta de volume, perde a integridade de suas mem-
branas (nuclear e citoplasmática) e o conteúdo intracelular é extravasado sobre as células ad-
jacentes, o que induz uma resposta inflamatória local através do recrutamento de células do
sistema imune (macrófago) para fagocitar os restos celulares. Além disso, a célula sofre ação
degenerativa das enzimas presentes nos lisossomos das próprias células ou dos leucócitos que
foram recrutados devido à inflamação local.

8.3.1 Características gerais da necrose


A necrose apresenta uma série de alterações citoplasmáticas que estão relacionadas à des-
naturação de proteínas, digestão de organelas pelas enzimas lisossômicas, perda de RNA e
glicogênio, além da degradação das membranas das organelas e da membrana plasmática.
Sendo assim, as células são caracterizadas pela descontinuidade das membranas, rompimen-
to dos lisossomos, densidades amorfas nas mitocôndrias, bem como pela presença de massas
fosfolipídicas derivadas da degradação dos componentes intracelulares conhecidas como fi -
guras de mielina.
As alterações nucleares também são observadas e, geralmente, ocorrem devido à degra-
dação de cromatina e DNA. Dessa forma, os núcleos podem apresentar diferentes alterações,
tais como: cariólise, que ocorre devido ao enfraquecimento da cromatina pela atividade da de-
soxirribonuclease (DNase); picnose, em que o DNA se condensa em uma massa sólida e enco-
lhida, resultando na diminuição do núcleo; e cariorrexe, que ocorre quando o núcleo picnótico
é fragmentado. No entanto, foi constatado por meio de estudos de microscopia eletrônica que
em, no máximo, dois dias o núcleo da célula morta desaparece.
Após sofrerem alterações citoplasmáticas e nucleares, as células necróticas podem seguir
destinos diferentes: algumas persistem por
algum tempo no organismo ou desaparecem
por meio da digestão enzimática. As células
mortas que continuam no organismo são
substituídas por figuras de mielina, fagocita-
das por outras células ou degradadas em áci-
dos graxos que se ligam a sais de cálcio.

CITOLOGIA 196
8.3.2 Morte celular por necrose: tipos e causas
Injúrias ou traumas podem afetar o conjunto de células que compõem um tecido ou um ór-
gão. Nesses casos, a morte celular por necrose pode comprometer o tecido como um todo ou,
até mesmo, o órgão inteiro. A necrose tecidual apresenta vários padrões morfológicos que
permitem a melhor compreensão de suas possíveis causas.
A necrose de coagulação é considerada o tipo mais comum, sendo caracterizada por pre-
servar a arquitetura básica do tecido lesionado. Geralmente, esse tipo de lesão causa a des-
naturação das proteínas estruturais e de enzimas, resultando no bloqueio da atividade de
proteólise das células. Além disso, as células mortas podem ser digeridas pelas enzimas lisos-
sômicas dos leucócitos que foram recrutados para o local da lesão, e os restos celulares são re-
movidos por fagocitose. A área do tecido que sofre esse tipo de necrose é chamada de infarto.
Na necrose liquefativa, as células mortas são totalmente digeridas pelas enzimas lisossô-
micas dos leucócitos que se acumularam na área lesionada e, como resultado, ocorre a trans-
formação do tecido afetado em uma massa viscosa líquida. Esse tipo de necrose é provocada
por infecções bacterianas, que geram um acúmulo de leucócitos e de liberação de enzimas
no local da infecção. Em casos de inflamação aguda, as células formam um líquido amarelado
chamado pus. Esse tipo de necrose é observada em células do sistema nervoso central que
sofreram hipóxia (falta de oxigênio).
A necrose gangrenosa é uma consequência da necrose de coagulação, relacionada ao su-
primento sanguíneo de um membro do corpo, como, por exemplo, as pernas. Em casos de in-
fecção bacteriana, ocorre o recrutamento de leucócitos que, junto com as bactérias, transfor-
mam a necrose de coagulação em necrose liquefativa, resultando em uma condição conhecida
como gangrena úmida.
A necrose caseosa é mais encontrada em
tecidos que sofreram infecção tuberculosa.
De modo geral, a estrutura do tecido é total-
mente alterada e as células não têm seus con-
tornos preservados. Sendo assim, a área da
necrose caseosa é identificada por uma bor-
da inflamatória semelhante a um granuloma
(foco de inflamação).
A necrose gordurosa ocorre em casos de
pancreatite aguda, na qual as células gorduro-
sas são destruídas pela ação de lipases pan-

CITOLOGIA 197
creáticas e liberadas pelo pâncreas na cavidade peritoneal. Durante esse processo, as lipases
atuam nas membranas dos adipócitos para dividir os ésteres de triglicerídeos e liberar os áci-
dos graxos. Os ácidos graxos se juntam ao cálcio em uma reação de saponificação, resultando
em lesões esbranquiçadas com aparência de pingo de vela.
A necrose fibrinoide pode ser observada nas reações imunes. É caracterizada pelo acúmu-
lo de complexos antígeno-anticorpo nas paredes das artérias, que, por sua vez, se combinam à
fibrina extravasada pelos vasos, formando uma estrutura chamada fibrinoide.

8.3.3 Necrose e processo inflamatório


Conforme visto anteriormente, as células lesionadas morrem por meio do processo de ne-
crose, que consiste em uma série de alterações que resultam na liberação de conteúdos intra-
celulares no espaço extracelular, desencadeando uma reação inflamatória. Dessa forma, os
conteúdos celulares são reconhecidos por um complexo de proteínas intracelulares chamado
inflamassoma, encontrado no citoplasma de células fagocitárias. O inflamassoma atua na ati-
vação de enzimas da família caspase (cisteína-aspartato proteases) envolvidas nos processos
de apoptose e necrose.
Quando o inflamassoma reconhece componentes celulares liberados por necrose, ocorre
a ativação da enzima caspase-1, que, por sua vez, ativa a citocina inflamatória interleucina 1β
(IL-1β). A IL-1β é uma citocina importante no recrutamento de leucócitos durante inflamações
agudas provocadas por necrose celular. Dessa forma, os leucócitos liberam enzimas que agem
na destruição das células mortas.

PAUSA PARA REFLETIR


Você saberia dizer quais as principais diferenças entre a morte celular por apoptose e por necrose?

8.4 Mecanismo de morte celular programada nas células


neoplásicas
As células humanas possuem mecanismos de reparação e renovação tecidual que ajudam
a manter o equilíbrio de suas populações. Sendo assim, as células devem adequar seu com-
portamento de acordo com as necessidades do organismo. Por esse motivo, as células vivem
o quanto for necessário e, também, morrem por mecanismos de morte programada quando
não são mais úteis para a célula.

CITOLOGIA 198
No entanto, os mecanismos que controlam esses processos podem falhar ou, ainda, uma
alteração genética em uma única célula pode produzir mais células que se comportam da mes-
ma maneira. Dessa forma, o aumento do número de células anormais causa alterações na
organização do tecido como um todo, podendo caracterizar o surgimento de câncer.
A morte celular programada tem um papel importante na prevenção do câncer, uma vez
que esse processo pode impedir ou eliminar o acúmulo de células indesejadas no organismo.
Por outro lado, podem ocorrer mutações que inibem a morte celular, resultando no desenvol-
vimento de tumores cancerígenos.

8.4.1 Células neoplásicas


Para que as células neoplásicas possam se proliferar de forma eficiente, elas precisam apre-
sentar várias propriedades anormais, ou seja, comportamentos que perturbam a homeostase
celular. Dessa forma, as células neoplásicas apresentam características específicas que as
diferem das células normais.

Uma mutação
confere
Células epiteliais Uma segunda
vantagem a
crescendo mutação
uma célula
na lâmina basal aumenta a
vantagem
SOBREVIVÊNCIA
E PROLIFERAÇÃO
CELULAR

Uma terceira mutação SOBREVIVÊNCIA E


aumenta ainda mais a PROLIFERAÇÃO
vantagem e torna a CELULAR
célula invasiva

SOBREVIVÊNCIA,
PROLIFERAÇÃO
CELULAR E INVASÃO
CELULAR PERIGOSA

Figura 9. Sobrevivência e proliferação de células neoplásicas. Fonte: ALBERTS et al., 2017. (Adaptado).

CITOLOGIA 199
De modo geral, as células neoplásicas não dependem de moléculas sinalizadoras para sua
sobrevivência, crescimento e divisão, uma vez que algumas mutações podem promover uma
sinalização intracelular que induz sua proliferação sem a presença de estímulos externos.
Além disso, esse tipo célula apresenta certa resistência ao estresse e alterações internas que
fariam com que células normais ativassem o processo de apoptose.
As células neoplásicas também apresentam características genéticas importantes relacio-
nadas ao modo de proliferação. Sendo assim, essas células proliferam de forma indefinida e
são geneticamente instáveis, sendo portadoras de altas taxas de mutações e apresentando
números anormais de cromossomos.
Outra característica das células neoplásicas diz respeito a seu metabolismo anormal, pois
elas necessitam de uma demanda muito grande de nutrientes que auxiliem na sua biossínte-
se e crescimento. Além disso, as células cancerosas podem se desenvolver em locais que não
apresentam condições adequadas, pois produzem seus próprios sinais de sobrevivência e con-
seguem inibir o mecanismo de apoptose.

8.4.2 Células neoplásicas: inibição da morte celular por apoptotse


Para que as células cancerosas possam so-
breviver e se dividir de forma ilimitada, alguns
mecanismos de defesa normal do organismo
são desativados. Sendo assim, as células neo-
plásicas possuem a capacidade de evitar a
apoptose em situações em que, normalmen-
te, esta seria realizada pela célula normal.
Além disso, algumas mutações podem inibir a
morte celular, resultando na superexpressão
do gene Bcl-2.

8.4.3 Apoptose e proliferação celular na célula neoplásica


A principal característica das células neoplásicas é a excessiva proliferação celular que
leva à formação de tumores. A Fig. 10 mostra que as células normais mantêm o equilí-
brio da divisão celular por meio do mecanismo de apoptose. No entanto, o aumento na
divisão celular e a diminuição da apoptose podem contribuir para o desenvolvimento de
câncer.

CITOLOGIA 200
DIVISÃO CELULAR
NORMAL HOMEOSTASE
APOPTOSE
NORMAL

DIVISÃO CELULAR
AUMENTADA
APOPTOSE TUMOR
NORMAL

DIVISÃO CELULAR
NORMAL
TUMOR
APOPTOSE
DIMINIÍDA

Figura 10. Surgimento de tumores a partir do aumento da divisão celular e diminuição da apoptose. Fonte: ALBERTS et al., 2010.
(Adaptado).

A proliferação celular excessiva pode ocorrer devido a danos no DNA das células, provo-
cando alterações em quatro tipos de genes:
• proto-oncogenes, que promovem o crescimento celular;
• genes supressores de tumor, que inibem o crescimento celular;
• genes reguladores da apoptose;
• genes que reparam o DNA.
A apoptose é um dos principais mecanismos para controlar o crescimento excessivo das
células. Em condições normais, o aumento na quantidade das células de um tecido é um sinal
para que a apoptose seja ativada e esse aumento controlado. Como visto anteriormente, di-
versas proteínas atuam no controle da apoptose por meio de indução ou inibição. Mutações
nos genes dessas proteínas fazem com que a célula perca o controle da apoptose, resultando
na divisão celular descontrolada.
Os proto-oncogenes são genes normais das células que, quando necessário, ativam o pro-
cesso de proliferação celular. No entanto, esses genes podem sofrer alterações e se transfor-
mar em oncogenes, induzindo a proliferação exagerada das células. Os genes supressores de
tumor atuam como limitadores da proliferação celular, controlando o aumento do número de
células. Quando sofrem mutação, ocorre a perda de sinais inibitórios do crescimento celular, e
as células passam a se proliferar descoordenadamente.

CITOLOGIA 201
8.4.4 Avanços no tratamento de câncer
Geralmente, o tratamento de câncer visa controlar o ciclo celular para impedir que as cé-
lulas neoplásicas se multipliquem de forma descontrolada. A quimioterapia é uma alternativa
que faz uso de fármacos anticâncer que atuam nos mecanismos de controle celular. No entan-
to, muitas vezes os fármacos citotóxicos tradicionais não são específicos para um tipo celular
e, por isso, acabam afetando também o ciclo celular de células saudáveis.
Muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas nessa área e a busca pelo tratamento ideal já
obteve alguns avanços, como, por exemplo, o surgimento de um tratamento chamado letal-sin-
tético que causa a morte celular somente em associação com mutações específicas do câncer.
Existem dois modos pelos quais essas substâncias podem agir no ciclo celular. Fármacos
com ciclos inespecíficos agem em células que estão ativas no ciclo celular e também em cé-
lulas que estão em repouso no estágio G0. Como exemplo, podemos citar a ciclofosfamida,
que impede a divisão celular. Por outro lado, fármacos com ciclos específicos atuam apenas
em células que estão se proliferando ativamente, afetando fases específicas do ciclo celular. O
metotrexato é um fármaco que atua na fase S, o etoposídeo age na fase G2 e a vincristina
atua na fase M do ciclo celular.
Recentemente, um novo composto foi desenvolvido na Albert Einstein College of Medicine,
em Nova York, com a proposta de induzir a apoptose de células neoplásicas. A proteína BTSA1,
ainda em fase de testes, estimula a ativação da proteína Bax, que libera o citocromo c das mi-
tocôndrias para o citoplasma e, consequentemente, ativa a apoptose das células. Além disso,
esse composto promove a ativação da proteína Bax somente nas células neoplásicas, não com-
prometendo a viabilidade das células normais. Isso ocorre pois as células neoplásicas contêm
proteína Bax de forma isolada, o que facilita sua ativação pela BTSA1.

ASSISTA:
Assista no Youtube ao vídeo Câncer: conhecer, prevenir e vencer do canal Academia-
deciencia, que explica de forma didática vários aspectos relacionados ao câncer.

Proposta de Atividade
Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um
mapa conceitual destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir
seu mapa, considere as leituras básicas e complementares realizadas.

CITOLOGIA 202
Dica: Elabore o mapa conceitual levando em consideração as principais características dos
mecanismos de morte celular por necrose e apoptose. Destaque em cada tipo de morte celular
as proteínas envolvidas e o destino final das células.

Recapitulando
As células dos organismos vivos estão constantemente realizando reações e processos me-
tabólicos para manter e produzir tudo o que for necessário para garantir um bom funciona-
mento. Mesmo realizando todas atividades de forma adequada, a célula não pode escapar da
sua morte, ou seja, de certa forma, todas as células estão programadas para morrer.
Isso acontece porque muitas vezes a morte celular é um mecanismo de controle das condi-
ções fisiológicas. Nesses casos, a morte celular ocorre de forma programada e permite a reno-
vação das células quando estas não estão funcionando bem ou não são mais necessárias para
o organismo. Por outro lado, outros processos de morte celular podem ser ativados quando
ocorrem situações repentinas e violentas.
Existem dois tipos de morte celular com mecanismos mais conhecidos: a apoptose e a ne-
crose. A apoptose está relacionada aos processos fisiológicos e, em alguns casos, a situações
em que os estímulos patológicos são mais brandos. No entanto, a necrose é uma consequên-
cia de estímulos patológicos mais severos. Ambos os tipos de morte celular apresentam carac-
terísticas específicas.
As células neoplásicas se multiplicam de forma descontrolada e são capazes de invadir e co-
lonizar os tecidos circundantes. Essas células apresentam uma variedade de características es-
pecíficas à medida que vão se desenvolvendo e acabam se diferenciando das células normais.
Muitas vezes, a proliferação de células neoplásicas está relacionada à inibição do mecanismo
celular que controla o aumento do número de células.

CITOLOGIA 203
Referências bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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CÂNCER: Conhecer, prevenir e vencer. Academiadeciencia. (6min.58s.). son. color. port. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HU2sXd5H48Q&t=159s>. Acesso em: 30 abr.
2019.
CARVALHO, H. F.; RECCO-PIMENTEL, S. M. A célula. 3. ed. Barueri: Manole, 2013.
LODISH, H. et al. Biologia celular e molecular. 7. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; ASTER, J. C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
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REYNA, D. E. et al. Direct activation of BAX by BTSA1 overcomes apoptosis resistance in acute
myeloid leukemia. Cancer Cell, [s.l.], v. 9, n. 32, p. 490-505, 2017.

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