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CICLO CELULAR

MULTIPLICAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO
Dentro do espectro do ciclo celular, é fundamental o conhecimento sobre os
diferentes processos que sofre uma célula durante sua vida. Abordando
primeiramente a multiplicação celular, essa fase é responsável pela composição
e formação dos tecidos através do crescimento do número de células. Já o
processo de diferenciação é marcado pela especialização morfológica das
células, fazendo com que estas formem um tecido funcional e maduro para
realizar as funções específicas do tecido onde está localizada.
Portanto, a principal diferença entre os dois processos é de que a multiplicação
gera novas células, enquanto a diferenciação é responsável pela especialização
funcional das células geradas.

FASES DO CICLO CELULAR


Antes de falar do ciclo celular propriamente dito, é importante lembrar que seu
início é marcado por sinalizações externas e também internas, feitos
principalmente por fatores de crescimento, que induzem a proliferação da célula
para reparo tecidual patológico e também durante o processo de crescimento de
algum órgão.
O ciclo celular em si é dividido entre duas fases principais, a intérfase e a mitose
propriamente dita.
INTÉRFASE
A intérfase é um período de intensa atividade celular, marcada pelos processos
de síntese de organelas e duplicação do material genético, funcionando de modo
a preparar a célula para seu processo de divisão. Esse processo é subdivido em 4
partes: G0, G1, S, G2.
• G0: É a fase em que a célula ainda não entrou no processo de divisão,
chamado de fase quiescente. Nessa fase existe uma alta taxa metabólica.
• G1: Quando a célula recebe o estímulo para crescer, esta entra em G1,
fazendo com que haja o crescimento celular e a duplicação de suas
organelas, preparando seu material para a divisão futura. Dura,
normalmente, de 3 a 4h.
• S: A fase S é marcada principalmente pela multiplicação do material
genético, fazendo com que a célula se torne tetraploide ( 4N ) . Dura de 6
a 8h.
• G2: Na fase G2 existe o crescimento celular, fazendo com que a célula se
prepare para o processo de mitose que virá a seguir.
MITOSE
A mitose é o processo onde a maquinaria celular trabalha única e exclusivamente
com intuito de promover a sua divisão, marcada por diferentes fases. Aqui, a
célula já tem seu tamanho aumentado devido ao processo de intérfase.
• Prófase: A prófase marca o início da mitose. Aqui, ocorre o inicio da
condensação dos cromossomos, migração do centrossomo para o lado
oposto do núcleo e desaparecimento do nucléolo.
• Prometáfase: Aqui, os cromossomos condensados começam sua migração
para o equador da célula. As cromátides irmãs tem que estar anexadas no
cinetócoro. Essa fase marca o desaparecimento da carioteca por completo.

• Metáfase: Ocorre o máximo do processo de condensação do cromossomo,


fazendo com que ele diminua de tamanho e esteja totalmente posicionado
na região equatorial da célula. Aqui se formam as fibras do fuso mitótico e
elongação dos microtúbulos através da polimerização por tubulina. No
final do processo ocorre a duplicação dos centrômeros.

• Anáfase: Ocorre aqui a quebra e separação das cromátides irmãs, com


migração para os polos. É uma fase extremamente importante da mitose,
uma vez que há o checkpoint regulador do ciclo e também garante a
herança de um conjunto idêntico de cromossomos. Aqui podem ser
originadas diversas anomalias, uma vez que se houver segregação sem que
os pares tenham estabelecido conexão com os polos do fuso, uma célula
irão herdar duas cópias de um mesmo cromossomo, enquanto a outra não
receberá nada.
• Telófase: A telófase marca o fim da mitose, onde o núcleo se reforma e os
cromossomos começam a se descondensar. Ocorre a formação de um novo
envelope nuclear e do anel contrátil, marcando o inicio do processo de
divisão do citoplasma.

• Citocinese: Por fim, o anel contrátil de actina e miosina divide o


citoplasma em dois, originando células filhas.

ATIVIDADE DOS DIFERENTES TIPOS DE CÉLULA


Dentre os diferentes tipos de célula, seu comportamento quanto ao ciclo celular é
dividido principalmente entre: Células que ciclam continuamente, células que
vão para G0 após a mitose e células que depois de formadas abandonam o
ciclo e se tornam não replicativas.
• Células que ciclam continuamente: São células de tecidos lábeis, ou seja,
que possuem uma constante renovação. Epitélio do intestino delgado,
células embrionárias, sistema linfático, medula óssea, epiderme e etc.

• Células que vão para G0 após o ciclo: São tecidos estáveis, ou seja, que
não precisam de uma renovação a não ser que sejam lesados. A partir do
momento que essas células são criadas, vão para o compartimento G0 e
deixam o ciclo celular. No entanto, podem entrar em G1 se forem
estimulados. Hepatócitos, fibroblastos, células renais, células de musculo
liso, pâncreas, ovário, pulmões e células ósseas.

• Células que depois de formadas abandonam o ciclo e não se replicam


mais: São chamadas de células/tecido perenes, que atingem uma
diferenciação e não se dividem mais. Apesar de sofrerem ação divisória
com estímulos de crescimento e duplicarem seu material genético, a célula
não consegue sair de G2 e acaba não completando a mitose. São os
neurônios, células da musculatura esquelética e cardíaca.

REGULAÇÃO E CONTROLE DO CICLO CELULAR


O controle do ciclo celular é feito tanto por sinais externos como por sinais
internos, de modo a induzir ou impedir a proliferação celular. Para que isso seja
feito de forma satisfatória, existem pontos estratégicos de checagem durante o
ciclo, determinando se haverá continuidade ou bloqueio do ciclo.
FATORES PROLIFERATIVOS
São principalmente os fatores de crescimento. Em seu mecanismo de ação, se
ligam aos receptores de membrana e sinalizam componentes ( B-catenina, RHO,
FAK, ILK ) da maquinaria celular, que ativa o ciclo de proto-oncogenes
RAS/RAF/ERK, que aumenta a síntese de ciclinas e atua promovendo o processo
de G1 na célula através da proteína RB, como será descrito em breve.
Esses proto-oncogenes são importantes não só para o processo de crescimento
celular, mas também para a clínica. São genes frequentemente mutados em
processos de câncer, através dos mecanismos de aumento de expressão,
amplificação, translocação ou mutação puntiforme.
FATORES ANTIPROLIFERATIVOS
Os fatores antiproliferativos são agentes que atuam em casos de danos no DNA,
fatores ambientais adversos e proteínas importantes para contato celular. Como
veremos a seguir, os principais mecanismos atuam dentro de um sistema de
checagem, através de inibidores de CDK, inativação de MPF e bloqueio do ciclo
pelas proteínas P53 e RB. No entanto, existem diversas mutações nesses genes
que podem gerar implicações clínicas, principalmente no gene P53, que tem a
maior prevalência dentre as mutações nos genes supressores de tumor.
PROTEÍNAS DO SISTEMA DE CHECAGEM
O coração do sistema de controle das células, que será especificado por pontos de
checagem em breve, é uma família de proteínas quinases conhecidas como
quinases dependentes de ciclinas ( CDK ), que determinam a progressão do
ciclo celular. Essas proteínas tem a função de determinar a progressão do ciclo
celular, com atividade oscilando durante o avanço do ciclo.
Já as ciclinas são responsáveis pela regulação das CDK, fazendo com que sua
união com estas proteínas ative o conjunto inteiro. Depois do processo de
utilização, são degradadas no sistema ubiquitina-proteassomos. São proteínas que
se acumulam na intérfase e rapidamente são degradadas no final da mitose.
ATIVAÇÃO E INATIVAÇÃO DO COMPLEXO CDK-CICLINA]
Com a proteína CDK inativa, ocorre a ação das ciclinas, que se ligam no sítio
ativo de CDK e fazem com que haja a ativação do ATP a partir de um processo
de fosforilação. Para que ocorra a inativação, existe a ação de uma quinase,
fazendo com que ocorra a fosforilação inibitória do complexo, que pode ser
revertida com a ação de uma CDC fosfatase. Além disso, outro método de
inativação do complexo é a partir de proteínas P21,P27, P57 e outras, que se ligam
em sítios ativos do complexo e impedem que estes façam novas ligações.
PONTOS DE REGULAÇÃO DO CICLO
Durante o ciclo, existem diversos pontos de regulação onde há a atividade dos
complexos proteicos, com o objetivo de evitar que células danificadas ou que o
meio inapropriado interfiram no processo de proliferação saudável da célula.
Portanto, os pontos de checagem em si são: Passagem de G1 para S ; Passagem
de G2 para M e também durante M.

• REGULAÇÃO EM G1 E ESTÍMULO PROLIFERATIVO


O ponto de checagem em G1 é o principal momento de regulação, onde é o ponto
crítico para que haja reparo do DNA ( se houver necessidade ) e também indução
de morte celular, caso não haja a possibilidade do DNA ser reparado.
O inicio do processo de proliferação ( entrada em G1 ) se dá através da proteína
RB, governadora do genoma, que é responsável por grande parte do controle do
ciclo celular e fatores de crescimento. Em células não estimuladas, essa proteína
RB fica hipofosforilada e não tem capacidade de ação sobre o genoma, no
entanto, quando um fator de crescimento estimula a célula, ocorre a produção de
D/CDK , fazendo com que haja uma fosforilação da proteína RB, que por sua vez
libera a histona desacetilase e o E2F. Este ultimo se dirige ao núcleo, se liga ao
DNA e estimula os genes que induzem a duplicação do DNA e produtos
necessários para a proliferação em si.
No entanto, para conferir se o meio está favorável e também se o DNA pode de
fato iniciar seu processo de replicação, existe um mecanismo de complexos
proteicos responsáveis por isso. Quando há uma parte do DNA danificada, ocorre
uma ativação da proteína quinase, fazendo com que haja a fosforilação da
proteína P53. Essa proteína P53 fosforilada se liga a região regulatória do gene
P21 ( supressor de tumor ) , fazendo com que haja a transcrição do micro-RNA
da proteína P21, que inibe a proteína RB por via de ligações em sítios ativos.

• REGULAÇÃO E ESTÍMULOS EM G2
As células em G2 se duplicam e esperam um sinal para iniciar o processo de
mitose. Caso haja bloqueio em G2, o inicio da mitose é impedido.
A fase G2 é uma importante fase de síntese de RNA e proteínas, além do
importante MPF ( Fator promotor de maturação, união da ciclina B com CDC2 ),
que é responsável pela montagem do fuso, ruptura da carioteca, degradação das
ciclinas e condensação cromossômica.
No entanto, é também uma importante fase de regulação do ciclo, uma vez que
inibe ou autoriza a célula a iniciar o processo de mitose. Para isso, existe a
importante proteína CDC25, que é capaz de ativar o MPF que levará a célula ao
processo de mitose. Em seu processo de regulação, existe o complexo fosfatase
CDC25, que reconhece o DNA não replicado ou danificado e ativa a proteína
quinase CHK1, que fosforila e inibe a proteína CDC25. Essa inibição de CDC25
previne a desfosforilação de CDC2 e ativação da mesma, impedindo o ciclo de
continuar, isso faz com que ocorra a ativação da M-CDK.

• REGULAÇÃO E ESTÍMULOS DA FASE M


Durante a fase M ( mitose ) , ocorre, dentre outras coisas, a separação das
cromátides irmãs. Com esse processo finalizado, ocorre a ativação da enzima
APC ( Complexo promotor de anáfase ), que é responsável pela ativação da
enzima separase, que é responsável pela degradação de coesinas que fixam as
cromátides irmãs nos polos celulares. Com o fim da fase M, ocorre a
desfosforilação das proteínas que levaram a mitose e a ubiquitinação da M-ciclina
desencadeadas pelo complexo CDC20-APC.
Como mecanismo regulatório, existe o checkpoint do fuso mitótico, que monitora
a ligação dos cromossomos aos microtúbulos. Um único cinetócoro que não
esteja ligado ao microtúbulo correspondente gera um sinal inibitório que inibe a
ativação da CDC20-APC, levando a uma não separação das cromátides irmãs até
que haja a ligação correta, fazendo com que se tenha sempre um processo de
segregação idêntica do material genético.

CÉLULAS TRONCO
São células indiferenciadas, capazes de realizar a autorenovação e produzir
descendentes que se diferenciam, regeneram e renovam células de diferentes
tecidos.
Existem as células embrionárias e as células adultas. As células embrionárias são
capazes de gerar células totipotentes ( embrião e tecido extraembrionário ) e
pluripotentes ( gerar células dos três folhetos embrionários,) . Já as células adultas
podem gerar células multipotentes, que dão origem a um numero limitado de
células e a células progenitoras nos órgãos que residem.
No caso das células multipotentes, estas tem a capacidade limitada de renovação,
se tornando comprometidas com a diferenciação em uma linhagem celular
especifica. Dando exemplos, as células multipotentes da medula óssea podem
originar células mieloblásticas, eritrocíticas e megacariocíticas, enquanto uma CT
multipotente do fígado pode gerar células progenitoras de hepatócitos. Por isso
as células tronco são de grande importância acadêmica, uma vez que podem gerar
tecidos ( inclusive tecidos perenes ! ) mesmo que a uma velocidade baixa ( impede
grandes regenerações em caso de lesão extensa ) . No entanto, há uma grande
plasticidade desse tipo de tecido, ou seja, se for transferido uma célula
indiferenciada para um outro tecido que não o seu de origem, esta pode originar
células do novo tecido em que se encontra a partir de diversos fenótipos expressos
no ambiente.
Sobre as novas pesquisas, existem linhas que estudam a capacidade das células
adultas diferenciadas que podem ser reprogramadas para se tornarem células
pluripotentes embrionárias, ou seja, sofrem um processo de desdiferenciação e se
tornam outras células. Por exemplo, em caso de camundongos, podemos
manipular os genes de seus fibroblastos, fazendo com que se torne uma célula
tronco pluripotente indiferenciada e se torne um neurônio posteriormente. Além
disso, são observadas células tronco capazes de serem inicadoras de tumor,
capazes de se proliferar em baixo ritmo e gerar tumores como leucemias e outros
tipos.
PIGMENTOS

DEFINIÇÃO
Os pigmentos são substâncias que conferem cor aos tecidos e as células do
organismo, podendo desempenhar diversas funções e situações patológicas. São
resultantes de um processo de pigmentação, onde há o depósito e/ou acúmulo
normal ou patológico de um pigmento no organismo, sendo que os últimos podem
ser sinais de alterações bioquímicas importantes ( tanto acúmulo quanto falta de
um pigmento normal ) .

CLASSIFICAÇÃO
Os pigmentos podem ser resultantes tanto de um processo de pigmentação
endógena ( do próprio corpo ) quanto exógena.
Dentre os resultantes endógenos, podemos encontrar os derivados do
metabolismo da hemoglobina, a melanina, o ácido homogentísico e a lipofuscina.
Quanto aos exógenos, os mais comuns são a antracose, a argiria, a tatuagem e a
silicose.

PIGMENTOS ENDÓGENOS
DERIVADOS DA HEMOGLOBINA
• Bilirrubina:
Normalmente, a vida útil de um eritrócito é de aproximadamente 120 dias. Ao
final desse ciclo, ocorrem alterações em sua membrana ( resultantes de um
processo continuo de oxidação ) que permitem seu reconhecimento por
macrófagos esplênicos e hepáticos, que promovem o processo de destruição dessa
hemácia. Durante esse processo, o ferro das cadeias alfa e beta retorna ao plasma
e se liga a transferrina, a globina é totalmente reaproveitada e convertida em
aminoácidos e também ocorre a destruição das cadeias heme, que a partir da heme
oxigenasse, originarão a biliverdina. Particularmente mais importante para esse
tema, a biliverdina sofre ação da biliverdina redutase e se torna a bilirrubina.
Para ser eliminada, a bilirrubina é transportada no sangue como não conjugada,
transportada principalmente junto com a proteína plasmática albumina.
Chegando ao fígado, a bilirrubina não conjugada ( indireta ) é captada pelo
hepatócito, onde ocorre a conjugação com o ácido glicurônico. Durante esse
processo de conjugação, a bilirrubina se dissocia da albumina e se liga as
proteínas Y e Z, formando um complexo proteico solúvel que pode ser excretada.
Durante seu processo de excreção, a bilirrubina conjugada é eliminada pelos
ductos biliares intra e extra hepáticos, chegando assim ao duodeno. No duodeno,
esse complexo pode ser transformada em L-estercobilinogênio ( por ação de
bactérias ), resultando em estercobilina, que dará cor as fezes. Além disso, pode
ser transformada em uribilinogênio, que será reabsorvido e eliminado por via
renal, onde dará cor a urina.

No entanto, patologicamente, o paciente pode apresentar um quadro chamado de


icterícia, que ocorre devido ao acúmulo de bilirrubina, tanto direta ( conjugada )
como a indireta ( não conjugada ) . Isso ocorre devido a diversos problemas, que
serão listados a seguir:
- Excessiva formação de bilirrubina não conjugada : Ocorre em anemias
hemolíticas. Acúmulo de bilirrubina não conjugada.
- Redução da albumina plasmática: Por exemplo, em casos de grandes
queimados e também por lesões hepáticas que interferem na produção de
albumina.
- Redução na captação e no transporte intracelular: Lesão hepatocelular,
drogas ou em recém nascidos.
- Diminuição na conjugação por carência de enzimas: Imaturidade hepática,
Síndrome de Crigler Najjar ( falta da enzima glicuroniltransferase 1 ) e em recém
nascidos.
- Baixa excreção celular: Lesão hepatocelular e toxinas
- Obstrução biliar: Alteração no aparelho excretor biliar ( tumores ou cálculos )
- Combinado de lesões: Principalmente em casos de hepatite e lesões
hepatocelulares extensas.
O aumento de bilirrubina ocorre de forma muito comum em recém nascidos,
provocando um quadro de pele e esclera amarelada rápido e transitória. No
entanto, essa bilirrubina circulante deve ser rapidamente degradada, uma vez que
é extremamente neurotóxica, podendo causar um quadro chamado de Kernictus.
Essa patologia causa lesões cerebrais muitas vezes irreversíveis, por isso é
importante a fototerapia em casos de hiperbilirrubinemia infantil ( transforma em
isômeros não tóxicos ) .

• Hematoidina
A hematoidina é outro pigmento derivado do metabolismo da hemoglobina. É
uma mistura de lipídeos com um pigmento semelhante ao da bilirrubina, só que
desprovido de ferro. Se forma em focos hemorrágicos após a degradação de
hemácias por macrófagos locais.
Sua apresentação é comum na segunda ou terceira semana após o sangramento,
sob a forma de cristais amarelo-ouro , amarelo-alaranjado ou vermelho-
alaranjado, constituído de agulhas dispostas radialmente ou formando placas
romboidais ou irregulares. Não tem repercussões clínicas para o organismo.
• Hemossiderina
No metabolismo do ferro, este é reabsorvido pelo TGI durante o processo de
alimentação. Nas células da mucosa intestinal, o ferro absorvido fica armazenado
como Fe3+ , em um complexo proteico chamado de ferritina. Quando é
necessário o transporte no plasma, a ferritina ( que é sempre intracelular ) tem seu
Fe3+ removido, que se liga a uma proteína no plasma chamada de transferrina,
que é responsável por levar o ferro ao seu destino final ( fígado, baço, medula
óssea ) . O ferro é extremamente importante para a síntese de citocromos, células
da série vermelha da medula óssea e síntese do material genético.
Quando o ferro plasmático não é utilizado ou está em excesso, ele acaba se
acumulando sob forma de ferritina no sistema reticular das células de Kupfer ou
nas células esplênicas. No entanto, quando existe uma oferta muito grande desse
ferro intracelular, a ferritina sofre uma saturação, apresentando uma taxa muito
maior do que o normal de ferro para a mesma proteína, formando assim o
pigmento hemossiderina. É um pigmento comum em casos de hemorragia
local ou disseminada, aumento da absorção intestinal de ferro, anemias
hemolíticas e transfusões de sangue repetidas.

• Hemocromatose
A hemocromatose é resultante do aumento da absorção de ferro pelo TGI,
fazendo com que haja um acúmulo desse ferro nos tecidos sob a forma de
ferritina. No entanto, diferentemente da hemossiderina, a hemocromatose
normalmente ocorre por problemas na atividade da ferroportina, que é uma
proteína presente nos enterócitos que regula a entrada de ferro nas células. É uma
doença que ocorre por mutação no gene HFE e pode acarretar importante lesão
aos tecidos.
Em geral, a lesão tecidual parece ser resultado dos radicais livres reativos de
hidroxila gerados quando a deposição de ferro nos tecidos catalisa sua formação.
Outros mecanismos podem afetar órgãos em particular (p. ex.,
hiperpigmentação da pele pode resultar de aumento de melanina, assim como
de acúmulo de ferro). No fígado, a peroxidação lipídica associada ao ferro induz
a apoptose dos hepatócitos, que estimula a ativação das células de Kupffer e a
liberação de citocinas pró-inflamatórias. Essas citocinas ativam as células
estreladas hepáticas para produzir colágeno, resultando no acúmulo patológico
de fibrose no fígado.

• Pigmento malárico
O pigmento malárico, também chamado de hemozoína, é resultado da digestão
enzimática das hemoglobinas pelo Plasmodium . Com esse processo hemolítico,
ocorre a liberação de um pigmento castanho escuro, que se acumula nos
macrófagos do fígado, baço, medula óssea, linfonodos e de outros locais, podendo
permanecer por muitos anos.
É um pigmento inerte e não tóxico, mas sua retenção extensa em macrófagos e
monócitos circulantes pode acarretar em um prejuízo de suas funções de
fagocitose.
• Pigmento esquistossômico
O pigmento esquistossômico é resultante de um processo de alimentação do
parasita, fazendo com que seu tubo digestivo degrade a hemoglobina do sangue
do hospedeiro em hematina, que é o heme separado da globina.. Com isso, ocorre
a oxidação do Fe2+ em Fe3+, formando um pigmento que se acumula como
grânulos castanho-escuros ou negros nas células de Kupffer, nos macrófagos
esplênicos e no tecido conjuntivo dos espaços portobiliares.

PIGMENTOS MELÂNICOS
• Fisiológico
Os pigmentos melânicos tem uma função de proteção quanto a radiação
ultravioleta, absorção de calor e também como mecanismo antioxidante. Sua
produção ocorre nos melanócitos, que estão situados na camada basal da
epiderme e na matriz do folículo piloso. Sua produção ocorre a partir da
polimerização da tirosina por meio da enzima tirosinase, que se depositam em
vesículas chamadas da melanossomas, que sofrem um processo de secreção
citócrina e se transferem para os queratinócitos. A presença desse polímero nos
queratinócitos da epiderme é o que garante a variação da cor da pele e dos cabelos.
Durante a formação da melanina, ocorre a diferenciação em dois tipos diferentes,
a eumelanina e feomelanina. A eumelanina é o pigmento responsável pela cor
castanho-negra da pele e dos cabelos, garantindo proteção aos raios ultravioleta
e menor predisposição a lesões. Além disso, é responsável pela coloração negra
dos cabelos e da pele, quando estes apresentam uma maior taxa de eumelanina
comparada a feomelanina. A feomelanina em si é um pigmento vermelho-
amarelado, que não protege contra a radiação ultravioleta, tem maior
predisposição a lesões e existe em maior concentração nas peles/cabelos claros.
A luz solar, por meio de raios ultravioleta, é o principal fator estimulante de
produção de melanina na espécie humana, em especial a eumelanina. Aumenta o
número de melanócitos e melanossomos, produzindo maior grau de melanização
dos melanossomos e de transferência de melanossomos para os queratinócitos.
Durante o processo de envelhecimento, ocorre a perda progressiva da
pigmentação dos cabelos, resultando na formação de cabelos grisalhos e brancos.
Isso ocorre porque há um mecanismo de apoptose dos melanócitos, causada pelo
dano ao DNA resultante de um processo oxidativo de muitos anos, com redução
acentuada no número de células desse folículo piloso.
• Patológico
Pode ocorrer a hiperpigmentação de um local, com aumento de melanócitos
normais e neoplásicos. As lesões mais comuns resultantes desse processo são as
efélides ( sardas ), nevos e melanomas.
Os nevos ( pintas ) são uma lesão comum de pele pigmentada, que geralmente se
desenvolve durante a vida adulta. Na maioria dos casos, um nevo é benigno e não
requer tratamento, raramente se transformando em melanomas ou outros tipos de
câncer de pele. Além disso, muitos agentes externos podem causar a
hiperpigmentação, como medicamentos ( sulfonamidas, hidantoína, cloroquina e
levodopa ) , anticoncepcionais orais, metais pesados e agentes quimioterápicos.
Além disso, pode também ocorrer um processo de hipopigmentação, chamado de
leucodermias. É de origem multifatorial, podendo ser causado por redução da
enzima tirosinase, estrutura anormal dos melanossomos, diminuição da
melanização dos melanossomos, redução da secreção para queratinócitos,
aumento da degradação dos melanossomos e outros. Pode ser congênita (
albinismo ) ou adquirida.
O vitiligo ocorre quando os melanócitos morrem ou deixam de funcionar,
caracterizando uma doença autoimune e multifatorial. O albinismo é uma doença
genética causada pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, devido
a mutação de um gene que impede a produção da enzima tirosinase.

ACIDO HOMOGENTÍSICO
São grânulos de cor castanho-avermelhada que se forma em pessoas com
alcaptonúria. Essa doença é uma condição genética rara que afeta o metabolismo
de tirosina, que em seu mecanismo normal serviria para a degradação do ácido
homogentísico, o que leva ao seu acumulo no plasma, nas cartilagens, na pele e
no tecido conjuntivo, além da excreção em grande quantidade na urina.
A alteração na cor da urina representa o principal sinal precoce da doença. A
deposição em outros lugares do corpo ( cartilagens de orelha e nariz,
principalmente ) resultam em uma cor negro-azulada. Mais tarde, pelo acúmulo
em outros tecidos, pode desenvolver-se uma artropatia degenerativa e valvopatia
cardíaca.
LIPOFUSCINA
É um marcador de envelhecimento celular, resultante do processo de
desequilíbrio entre a autofagocitose e a incapacidade da célula em eliminar os
resíduos e também pela baixa eficiência de enzimas lisossômicas.
Aparece principalmente como grânulos intracitoplasmáticos. Em seu processo de
formação, a célula sofre um processo de oxidação por radicais livres, fazendo
com que haja a autofagocitose de macromoléculas e organelas. No entanto, por
causa do envelhecimento e da baixa taxa de plasticidade dos tecidos envolvidos,
ocorre uma degradação insuficiente por enzimas lisossômicas, fazendo com que
apareça um acumulo de polímeros não degradáveis de várias macromoléculas,
principalmente a lipofuscina.

PIGMENTOS EXÓGENOS
São pigmentos que entram no corpo por via inalatória, via digestória e via
parenteral. Se depositam na pele e nas mucosas, causando um processo de
retenção, eliminação ou até mesmo transporte para outros locais através da
circulação linfática ou sanguínea.
ANTRACOSE
A antracose é resultado do processo de inalação do carvão, tanto em forma de
poluição como fuligem resultado do tabagismo. Uma vez inalado, o pigmento de
carvão é fagocitado por macrófagos alveolares e transportado por vasos linfáticos
aos linfonodos da região. Seu acúmulo provocam manchas negras de padrão
irregulares, podendo caracterizar um processo de disfunção pulmonar e fibrose (
resultado de um processo inflamatório crônico ) a longo prazo.
ARGIRIA
Ocorre por deposição de sais de prata nos tecidos, principalmente na epiderme,
gerando um pigmento de característica cinza-azulada. Caso evolua para uma
impregnação sistêmica, pode ocorrer depósito nos grânulos da pele e unhas,
macrófagos de órgãos linfoides secundários , células de Kupffer e globos
oculares.
TATUAGENS
É a introdução de pigmentos insolúveis na derme ( permanente ) ou na epiderme
( transitório ) . Durante seu processo de confecção, o corante ( FeO2, C, Co, Hg,
Al e etc ) é fagocitado por macrófagos locais, gerando uma inflamação , que
forma eritema, edema e hemorragias puntiformes.
A derme retém o pigmento e forma um tecido dérmico enegrecido, com diversos
macrófagos e infiltração leucocitária.

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