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AULA 1

FISIOPATOLOGIA DA PELE

Profª Beatriz Essenfelder Borges


TEMA 1 – INTRODUÇÃO AO TECIDO EPITELIAL

A pele, um dos maiores órgãos do nosso corpo, é formada por tecido


epitelial e tecido conjuntivo. Dessa maneira, precisamos primeiramente entender
cada um desses tecidos para depois conhecer a fundo a fisiopatologia da pele.
Assim, essa primeira aula será sobre tecido epitelial.
Antes de falarmos de tecido epitelial, precisamos ter em mente que todos
os tecidos do corpo funcionam de forma integrada nos órgãos.
Para que possamos iniciar o estudo sobre o tecido epitelial, precisamos
relembrar alguns conceitos básicos de biologia celular. Primeiramente, temos que
ter bem claro o que é uma célula e qual a sua estrutura. A célula é a menor unidade
funcional de ser vivo e é constituída de diversas organelas. Cada organela tem
funções bem específicas. As organelas funcionam como pequenos órgãos dentro
da célula e são importantes na formação dos tecidos como um todo. O retículo
endoplasmático, uma das principais organelas celulares, tem como função
sintetizar as proteínas e enviar ao complexo de Golgi para serem modificadas e
secretadas. Esse conceito é importante quando formos falar das secreções nas
glândulas que podem ser proteicas.
Outro ponto importante que precisa ser recordado é o que são os tecidos
no organismo. Tecidos são conjuntos de células especializadas que
desempenham uma determinada função, dependendo da sua localização. Cada
tecido tem sua especificidade, dependendo do local em que está no organismo.
Depois de termos relembrado pontualmente esses conceitos, vamos
começar a estudar o tecido epitelial.
O tecido epitelial é formado por células que revestem as superfícies
internas e externas do corpo e que secretam substâncias com pouca matriz
extracelular. A matriz extracelular é composta por várias moléculas organizadas
que formam estruturas complexas. Um exemplo seria o das fibras de colágeno e
a membrana basal. Várias moléculas da matriz extracelular possuem receptores
nas superfícies celulares e assim interagem conjuntamente para o funcionamento
do organismo.
As principais funções do tecido epitelial no organismo são o revestimento e
a secreção. Quando se fala em revestimento, devemos ter em mente tanto o
revestimento interno quanto o externo dos órgãos e até mesmo o revestimento do
corpo como um todo (pele).

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Além disso, esse tecido tem outras funções, como proteção, absorção de
moléculas e íons em órgãos como rins e intestino, e serve ainda para perceber
estímulos gustativos e olfatórios.
A secreção também é importante nesse tecido, pois este possui glândulas
que são estruturas especializadas na secreção de alguns tipos de substâncias.
O tecido epitelial pode surgir a partir dos três folhetos embrionários
(endoderme, mesoderme e ectoderme). A ectoderme origina o tecido epitelial que
reveste externamente o corpo; a mesoderme origina o epitélio que reveste os
vasos sanguíneos, chamado de endotélio e também o epitélio de revestimento de
membranas que envolvem órgãos; já a endoderme origina o epitélio do tubo
digestivo e as glândulas relacionadas a ele.

TEMA 2: CARACTERÍSTICAS CELULARES DO TECIDO EPITELIAL

O tecido epitelial é composto por células epiteliais e por uma matriz


extracelular, que consiste na lâmina basal.
As células do tecido epitelial são poliédricas, pois possuem várias faces.
São justapostas e com pouca matriz celular entre elas. Devido ao fato de
possuírem pouca matriz, essas células se aderem por meio de especializações de
membranas e citoesqueleto. Dessa maneira, podem se organizar como folhetos
ou como unidades secretoras. Além disso, possuem grande quantidade de
citoplasma, devido à intensa atividade bioquímica que desenvolvem, como síntese
e secreções de substâncias.
Suas células podem ter vários formatos, desde células pavimentosas até
células colunares. Isso acontece pelo fato de se organizarem como folhetos ou
aglomerados tridimensionais.
Como as células dos epitélios possuem vários formatos, seus núcleos
também têm formatos distintos. Variam de esféricos até alongados ou ovais e
acompanham a forma da célula. Uma célula cuboide possui núcleo esférico, e as
pavimentosas têm núcleos achatados. Essa forma do núcleo e a sua posição na
célula ajudam a identificar se essas células estão organizadas em uma única ou
várias camadas.
Os epitélios se apoiam sobre o tecido conjuntivo, e naqueles que revestem
as cavidades dos órgãos ocos, essa camada de tecido conjuntivo recebe o nome
de lâmina própria.

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Entre as células epiteliais e o tecido conjuntivo existe a lâmina basal, com
espessura entre 40 a 120nm e visível somente em microscópio eletrônico. Tem
como componentes principais colágeno tipo IV, laminina, entactina e
proteoglicanos. Dessa maneira, prendem-se ao tecido conjuntivo através das
fibrilas de colágeno tipo VII. Essas lâminas basais não são exclusivas de tecido
epitelial, pois existem também em outros tecidos. Por exemplo, ao redor das
células de Schuwann no sistema nervoso periférico e células musculares.
As funções da lâmina basal são aderir às células epiteliais ao tecido
conjuntivo, filtrar moléculas, regular diferenciação celular por se ligarem a fatores
de crescimento, influenciar a proliferação e a polaridade das células, servir de
suporte para migração e organizar proteínas nas membranas.
A lâmina basal influencia a diferenciação e a proliferação celular no tecido
epitelial. Quando as células perdem o contato com a lâmina basal, elas morrem
por um processo chamado de apoptose ou morte programada. A lâmina basal
serve ainda de suporte para a migração durante o desenvolvimento embrionário
e a regeneração dos epitélios.
Associada à porção inferior da lâmina basal, existe uma camada de fibras
reticulares, que possui como principal proteína estrutural o colágeno do tipo III.
Essa camada de fibras reticulares é chamada de lâmina reticular, que é secretada
pelo tecido conjuntivo. A lâmina basal e a lâmina reticular compõem a membrana
basal do tecido epitelial. A membrana basal é visível ao microscópio óptico
(microscópio de luz). Para entender melhor, a seguir temos uma figura
representando o epitélio, lâmina própria e membrana basal (Figura1).

Figura 1 – Desenho esquemático de estruturas do tecido epitelial

Fonte: Sciencepics/Shutterstock

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As lâminas basal e reticular se mantêm unidas pela proteína de adesão
fibronectina, pelo colágeno do tipo VII, e pelas microfibrilas, formadas pela
glicoproteína fibrilina. Essas substâncias também são secretadas pelas células do
tecido conjuntivo. Dessa maneira, a membrana basal está ligada à matriz
extracelular do tecido conjuntivo pelas fibrilas de ancoragem e adesão.
As superfícies apical, lateral e basal de muitas células epiteliais são
modificadas para o melhor desempenho da sua função.
Os epitélios possuem especializações de membrana em abundância.
Essas estruturas também são encontradas na maioria dos tecidos, mas o tecido
epitelial, por ter como característica uma adesão intensa e coesão entre as
células, faz com que haja várias estruturas na sua membrana. A pele, por
exemplo, é sujeita a fortes trações e, dessa maneira, possui estruturas de adesão
que possibilitam que não se rompa.
As especializações de membrana no tecido epitelial podem ser na
superfície lateral, basal e apical. Na superfície lateral temos as interdigitações,
junções de oclusão, junções aderentes, desmossomos e junções comunicantes.
Já na superfície apical temos as microvilosidades e cílios. E na superfície basal
há os hemidesmossomos (Figura 2).

Figura 2 – Especializações de membrana

Fonte: Sakurra/Shutterstock; Sakurra/Shutterstock; José Luís Calvo/Shutterstock; José Luís


Calvo/Shutterstock; Rost9/Shutterstock.

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As interdigitações estão presentes na epiderme e no fígado e têm como
função aderir e ampliar a superfície de contato entre duas células. São
invaginações da membrana plasmática lateral que se encaixam na célula vizinha,
garantindo uma maior adesão e coesão celular.
Junções oclusivas estão próximas da superfície apical da célula e se
formam pela interação das membranas laterais das células adjacentes. Vedam o
espaço intracelular da passagem de substâncias entre as células vizinhas e estão
presentes nas células intestinais, tubos renais e canais excretores. São formadas
pela ligação de proteínas transmembranas de adesão, por exemplo, as ocludinas
e claudinas.
As junções aderentes fazem a ligação entre as células, fazendo com que a
camada epitelial fique mais resistente a trações e pressões. São formadas por
proteínas caderinas que estão ancoradas a filamentos de actina formando a trama
terminal no ápice das células. As caderinas são glicoproteínas dependentes de
cálcio e, na falta desse íon, perdem a capacidade de adesão.
Os desmossomos são constituídos por duas placas densas situadas na
porção citoplasmática adjacente à membrana celular de células vizinhas. As
placas são constituídas pelas proteínas desmoplaquina, placoglobina, placofilina
e estão ligadas entre si por proteínas transmembranosas (desmogleínas) no
espaço intercelular. Na porção citoplasmática, cada placa está ligada por
filamentos intermediários do citoesqueleto (queratina). Tem como função formar
regiões pontuais de adesão entre as células, conferindo resistência à tração.
Podem ser encontrados além do epitélio, nas células musculares cardíacas.
As junções comunicantes são formadas por seis monômeros proteicos de
conexinas ligados entre si, formando um poro na região central chamado de
conexon. Esses conexons permitem a passagem de íons e moléculas pequenas
e têm a capacidade de abrir e fechar quando estimulados. Cada célula possui um
conexon alinhado à célula vizinha, formando um canal que facilita a passagem de
moléculas entre elas. São estruturas importantes na contração muscular e nas
células do intestino.
Em relação às especializações de membrana apical, temos as
microvilosidades, que são evaginações da membrana com a finalidade de
aumentar a superfície de absorção. Dessa maneira, estão presentes nas células
do epitélio de revestimento do intestino delgado e do túbulo contorcido proximal
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do rim. Elas são formadas por filamentos de actina que entrelaçam na trama
terminal, a qual possui miosina responsável pela produção do movimento. Os
feixes de actina são mantidos por fibrina e vilina. As células com microvilosidades
possuem grandes quantidades de glicocálice, devido à grande produção de
dissacaridases e dipeptidases. O glicocálice tem como função ajudar a proteger a
superfície celular de lesões mecânicas e químicas. E também pode atuar como um
filtro gerando um microambiente especial na superfície da célula.
Os cílios também são especializações apicais e têm como principal função
movimentar o muco através do seu batimento. Estão presentes nos epitélios do
aparelho respiratório conduzindo o muco, poeira e micro-organismos para fora do
corpo e na tuba uterina, conduzindo o muco e o zigoto para o útero. Possuem na
sua estrutura nove pares de microtúbulos periféricos e um par central. Para
relembrar, os microtúbulos são estruturas cilíndricas e ocas formadas por
proteínas chamada tubulinas. Estão inseridos nos corpúsculos basais dos ápices
celulares, logo abaixo da membrana. Para que os cílios se movimentem
rapidamente, precisam de energia da molécula de ATP (adenosina trifosfato).
Na parte basal da célula tem uma especialização de membrana chamada
de hemidesmossomo que tem como função proporcionar resistência aos tecidos,
fixando a célula à matriz extracelular. Promovem a ligação de filamentos
intermediários do citoesqueleto aos componentes que estão presentes na lâmina
basal. Essa estrutura é formada por um disco citoplasmático na qual se inserem
os filamentos intermediários e uma porção constituída por proteínas
transmembranas de adesão conhecidas como integrinas, que se ligam aos
componentes da lâmina basal. Estão presentes nos epitélios da pele, cavidade
oral, esôfago, vagina e córnea.

TEMA 3 – TIPOS DE EPITÉLIOS

Depois de observar as estruturas, função e o arranjo das células epiteliais,


podemos dividir os epitélios em dois grupos: os epitélios de revestimento e os
epitélios glandulares.

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3.1 Epitélio de revestimento

Nesse tipo de epitélio, as células se organizam em folhetos que recobrem


a superfície externa do corpo ou revestem as cavidades internas, lúmen dos vasos
sanguíneos e dos órgãos ocos.
São classificados de acordo com as camadas de células que formam os
folhetos e com as características morfológicas das suas células. Se no epitélio
houver somente uma camada de células, o epitélio é dito simples. Se houver mais
de uma camada, é estratificado.
Os epitélios simples são encontrados em superfícies de absorção ou
secretoras e proporcionam uma fina camada protetiva contra atrito. As células
desse epitélio são de achatadas a cilíndricas e dessa forma depende a função.
Por ser um epitélio de absorção, pode possuir microvilosidades e cílios na sua
constituição. Podem ser divididos em pavimentoso, cúbico, cilíndrico ou
prismático, cilíndrico ciliado e cilíndrico pseudo-estratificado ciliado.
O epitélio pavimentoso simples é constituído por células achatadas que
constituem uma superfície contínua que aparenta um pavimento. É encontrado
revestindo superfícies envolvidas no transporte passivo de gases e líquidos como
a superfície pulmonar, os capilares sanguíneos, o coração e as vísceras. É
conhecido como mesotélio, quando está revestindo as vísceras.
O epitélio cúbico simples possui células cuboides, com núcleos
arredondados, e está presente na parede externa do ovário, ductos excretores de
glândulas e pâncreas.
O epitélio cilíndrico simples apresenta células alongadas, altas, com
núcleos elípticos, podendo estar na base, no centro ou no ápice do citoplasma.
Está presente no intestino, na vesícula biliar e, quando ciliados, estão presentes
nas tubas uterinas ajudando a passagem dos espermatozoides.
O epitélio cilíndrico pseudo-estratificado ciliado tem esse nome, pois
quando observado em determinados cortes, dá a impressão de mais de uma
camada, mas, na verdade, é um epitélio simples com todas as células encostando
na membrana basal. Suas células são altas e possuem cílios. Está presente na
traqueia e brônquios.
Já os epitélios estratificados possuem mais de uma camada de células e
podem ser classificados a partir da estrutura da camada de célula superficial.

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Geralmente têm função de proteção. São divididos em pavimentoso, cúbico,
prismático ou de transição.
O epitélio pavimentoso estratificado se distribui em muitas camadas, e o
formato das células vai depender da localização delas. As células basais ficam
próximas ao tecido conjuntivo e têm formato cúbico ou prismático. Essas células
migram para a superfície e modificam a sua forma. Quanto mais na superfície,
mais alongadas e achatadas ficam. Essa migração para a superfície faz com que
as células basais se afastem dos nutrientes do tecido conjuntivo e, dessa maneira,
descamem, sendo substituídas pelas células novas que iniciam a migração. Esse
epitélio é encontrado nas cavidades úmidas como cavidade oral, esôfago, vagina,
canal anal, que estão sujeitas a atrito e força mecânica. Também conhecido como
epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado.
O epitélio pavimentoso estratificado queratinizado está presente em
superfícies secas (pele) e possui células da camada superficial que perdem suas
organelas e têm o citoplasma substituído por uma proteína fibrosa, a queratina,
levando a célula à morte e formando uma camada não celular. Essa queratina
impede a desidratação e dá proteção à superfície da pele. As células mortas
acabam sendo descamadas da superfície.
O epitélio cúbico estratificado possui células cúbicas ou cilíndricas
dispostas em duas ou três camadas. Está presente em glândulas salivares e
sudoríparas.
O epitélio de transição está presente na bexiga, ureter e início da uretra. As
células são especializadas para que possam sofrer distensões e relaxamentos.
Quando o epitélio está distendido, as células se apresentam de uma forma,
parecendo 2 a 3 camadas, e quando o epitélio está relaxado, parece ter quatro a
cinco camadas.
A seguir, temos a Tabela 1, que contém todas as informações mais
importantes de cada tipo de epitélio.

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Tabela 1 – Características gerais dos epitélios de revestimento simples e
estratificados

Forma e
Número de
Epitélio aspecto Função Localização
camadas
celular
Pavimentoso simples Pulmão, capilar
Células Passagem de
Única camada sanguíneo e
achatadas substâncias
vísceras
Cúbico simples Ovário,
pâncreas e
Absorção e
Única camada Células cúbica ductos
secreção
excretores de
glândulas
Cilíndrico simples Células altas e Digestão e Intestino e
Única camada
prismáticas absorção vesícula biliar
Cilíndrico Proteção,
pseudoestratificado remoção e Traqueia e
Única camada Células altas
ciliado eliminação de brônquios
impurezas
Pavimentoso Proteção
Cavidade oral,
estratificado (não Várias Células mecânica e
esôfago, vagina
queratinizado) camadas achatadas contra perde de
e canal anal
água
Pavimentoso Células Proteção e
Várias
estratificado achatadas ou impede a Pele
camadas
queratinizado cuboides desidratação
Cúbico estratificado Várias Células cúbicas Transporte ativo Glândula salivar
camadas ou cilindricas de íons e sudorípara
Transição Várias Células com
Proteção Bexiga e ureter
camadas forma variável

3.2 Epitélio glandular

Os epitélios glandulares são formados por células que têm como função
secretar, sintetizar, armazenar e eliminar substâncias como proteínas, lipídeos e
complexos conjugados de carboidratos e proteínas.
As glândulas são formadas a partir do epitélio de revestimento. As células
desse epitélio proliferam e acabam invadindo o tecido conjuntivo. Podem ser
classificadas como exócrinas e endócrinas.
As glândulas exócrinas são aquelas que possuem um canal ou ducto,
mantendo a união com o epitélio de origem. As secreções nessa glândula ocorrem
através desse ducto tubular, que faz com que sejam eliminadas na superfície do
corpo ou em uma cavidade. Esse tipo de glândula possui duas partes: a porção
secretora, responsável pela síntese e secreção de substâncias, e a parte dos
ductos glandulares, que é a região que elimina a secreção.

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As glândulas exócrinas podem ser divididas em simples, quando têm
apenas um ducto secretório, e glândula composta, quando possui ductos
ramificados.
Além dessa classificação, ainda podemos dividir as glândulas exócrinas
quanto à organização celular da parte secretora. Dependendo da forma, as
glândulas simples podem ser tubulares (quando apresentam um formato de tubo),
tubulares enoveladas e tubulares ramificadas ou acinosas. As compostas podem
ser divididas em tubulares, acinosas ou tubuloacinosas.
A localização de cada uma das glândulas depende do tecido que
pertencem. A glândula tubular simples está presente no intestino grosso,
possuindo uma luz tubular única que despeja a secreção no interior do órgão. A
glândula tubular simples ramificada está no estômago e possui várias porções
tubulares secretoras que chegam em um único tubo não ramificado. A glândula
acinosa simples aparece como bolsas nas superfícies epiteliais, por exemplo, da
uretra peniana. A glândula acinosa simples ramificada possuí muitos ácinos
secretores que desembocam em um único canal excretor (um exemplo seria a
glândula sebácea). A glândula tubular composta apresenta ductos ramificados e
um exemplo é a glândula de Brunner do duodeno. A glândula acinosa composta
possui unidades com forma de ácinos e secretam para um sistema de ductos
ramificados (os exemplos são as glândulas do pâncreas). As glândulas túbulo-
acinosa compostas possuem unidades secretoras com componentes tubulares
ramificados e componentes acinosos ramificados (um exemplo é a glândula
salivar submandibular).
Quanto à eliminação da secreção pela glândula exócrina, podemos
classificá-la em merócrina (pâncreas), quando a secreção é eliminada sem perda
do citoplasma como uma exocitose; apócrina (mamária) quando a secreção
contém o produto mais pedaços do citoplasma das células secretoras; e holócrina
(sebáceas), quando a secreção eliminada é constituída pelas próprias células
secretoras, levando a célula a morte.
As glândulas exócrinas possuem células que secretam alguns tipos de
secreções diferentes, como secreção serosa, mucosa ou seromucosa. As células
serosas secretam fluído aquoso rico em enzimas e, dessa maneira, possuem
grande quantidade de retículo endoplasmático rugoso. As mucosas secretam
fluído rico em glicoproteínas. E, por último, as seromucosas são conhecidas como
mistas, pois possuem tanto células serosas quanto mucosas.

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A seguir, um quadro representativo de todas as características,
classificações e exemplos das glândulas exócrinas (Tabela 2).

Tabela 2 – Glândulas exócrinas e suas classificações

Glândula intestinal e
Simples
1- Ramificação da porção sudorípara
secretora Glândula sebácea e
Ramificada
submandibular
Glândula de
Tubular reta
Lieberkühn do intestino

2- Formato da porção Tubular enovelada Glândula sudorípara


secretora
Acinosa Glândula salivar

Alveolar Glândula salivar parótida


Glândula intestinal e
Simples
sudorípara
3- Ramificação do ducto
Composta Glândula salivar parótida

Apócrina (secreção +
Glândula mamária
citoplasma)
Merócrina (sem perda de Glândula salivar
4- Liberação da secreção citoplasma) submandibular e do pâncreas
Holócrina (morte da célula e
libração junto com a Glândula sebácea
secreção)
Serosa Glândula salivar parótida
Glândula de Brünner
5- Tipo de secreção Mucosa
(duodeno)
Glândula salivar
seromucosa
submandibular

As glândulas endócrinas, por sua vez, são cordões com células secretoras
envolvidas por uma rede de vasos sanguíneos. A taxa de secreção dessas
glândulas é modulada por hormônios. Não possuem ductos, por isso suas
secreções são lançadas na corrente sanguínea e seguem pela circulação até
encontrar o alvo específico. As partes secretoras de algumas glândulas
endócrinas são determinadas por células contráteis que estão presentes entre as
células secretoras e a membrana basal. Possuem formato estrelado com núcleo
centralizado e citoplasma com prolongamentos que envolvem a porção secretora
da glândula. A contração dessas células é parecida com a contração das células
musculares. Quando se contraem, comprimem as partes secretoras e eliminam o
produto de secreção. Na glândula tireoide é encontrado um tecido um pouco

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diferente, em que as células epiteliais se dispõem em folículos esféricos que
armazenam moléculas que formarão os hormônios.
As glândulas endócrinas são classificadas como cordonal e folicular ou
vesicular. As cordonais se organizam em fileiras ou cordões anastomosados e
separados por vasos sanguíneos. E são a maioria das glândulas endócrinas.
Adrenal, paratireoide, lobo anterior da hipófise, ilhotas de Langerhans. As
foliculares possuem as células organizadas em folículos com uma única camada
de célula. Esses folículos são preenchidos com o material secretado. O exemplo
desse tipo de glândula é a tireoide.

TEMA 4 – BIOLOGIA DO TECIDO EPITELIAL

Já sabemos que o tecido epitelial está apoiado sobre o tecido conjuntivo,


que tem como finalidade sustentar, nutrir, trazer substâncias essenciais para o
funcionamento das glândulas e para proporcionar adesão do epitélio. A região de
contato do epitélio e lâmina própria pode ser aumentada quando existe uma
evaginação do tecido conjuntivo chamada de papilas, as quais estão presentes
em grande quantidade no tecido epitelial de revestimento da língua, pele e
gengiva, pois esse tipo de tecido está muito sujeito a trações mecânicas.
As células do tecido epitelial possuem polaridade, que ocorre devido à
diferença na composição química da membrana plasmática e na posição das
organelas. A diferença na composição química da membrana plasmática é
determinada pela inserção de algumas glicoproteínas em regiões específicas da
membrana e por estruturas especializadas que isolam a superfície apical da
basolateral, limitando o movimento das glicoproteínas na membrana. A parte da
célula voltada para a superfície livre é chamada de polo apical, enquanto o lado
oposto é chamado de polo basal. O polo apical possui canais iônicos, proteínas
transportadoras, incluindo bomba de prótons e enzimas hidrolíticas. O polo basal
contém canais iônicos, bomba de sódio e potássio e receptores específicos para
hormônios e neurotransmissores.
Essas estruturas citadas nos polos das células são importantes, pois, com
raras exceções, os vasos sanguíneos não penetram nos epitélios, tendo os
nutrientes vindo do tecido conjuntivo. Os nutrientes por difusão chegam à lâmina
basal e entram nas células epiteliais pela superfície basolateral por processos
dependentes de energia.

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As células do tecido epitelial possuem uma alta capacidade de renovação
por atividade mitótica, pois esse tecido é muito dinâmico. A divisão mitótica é um
processo constante nas células epiteliais, pois estas possuem vida curta e
precisam ser constantemente renovadas. A velocidade de renovação desse tecido
varia de epitélio para epitélio. As que se renovam mais rapidamente são as células
do epitélio intestinal, que são totalmente substituídas a cada semana. As de
renovação lenta são as células do pâncreas e fígado, que levam mais de mês para
serem substituídas.
Assim como em outros tecidos, os epitélios podem sofrer uma alteração
reversível na qual um tipo de célula adulta é substituído por outro tipo celular,
processo este denominado de metaplasia, que é uma substituição celular
patológica. No caso de fumantes crônicos, por exemplo, o epitélio
pseudoestratificado ciliado da traqueia pode se modificar em pavimentoso pela
ação das toxinas e componentes irritativos presentes na composição do cigarro.

TEMA 5 – CÉLULAS EPITELIAIS ESPECIALIZADAS

O tecido epitelial possui células especializadas em uma atividade funcional


específica e, para que possam desenvolvê-la, possuem algumas organelas mais
desenvolvidas do que outras. Temos os seguintes exemplos: células que
transportam íons, células que transportam por pinocitose, células serosas, células
secretoras de muco, células mioepiteliais e células secretoras de esteroides.
As células que transportam íons utilizam energia e têm como característica
na superfície basal apresentar pregas na membrana e possuir interdigitações
entre células adjacentes. Além disso, possuem grande quantidade de
mitocôndrias entre as invaginações para fornecimento de energia (ATP). Também
possuem junções estreitas que têm um papel essencial no transporte. O
transporte de íons pode ocorrer em várias direções (apical – basal e basal – apical)
em diversos tecidos epiteliais. Nos intestinos, nos rins, nas glândulas salivares e
na vesícula biliar, a direção do transporte é do ápice para a região basal da célula.
E no plexo coroide, o fluxo tem direção oposta, da região basal para a apical da
célula.
As células que transportam por pinocitose aparecem no epitélio
pavimentoso simples que revestem os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos,
conhecidos como endotélio, ou revestem as cavidades (mesotélio). O processo

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da pinocitose é a interiorização de moléculas em vesículas para o citoplasma da
célula.
As células serosas têm formato piramidal, com núcleos arredondados. O
fato de essa célula possuir na região basal basofilia faz com que possua grande
quantidade de retículo plasmático rugoso nesse local, seguido de Complexo de
Golgi bem desenvolvido na região acima do núcleo e vesículas secretoras. O
produto de secreção das vesículas sai da célula por exocitose, processo esse bem
controlado por proteínas motoras e do citoesqueleto. Essas células aparecem no
pâncreas e nas glândulas salivares.
Um exemplo de células secretoras de muco é a célula caliciforme do
intestino, que possui muitos grânulos com glicoproteínas hidrofílicas. Esses
grânulos preenchem a parte apical da célula, e o núcleo fica na região basal
juntamente com o retículo endoplasmático rugoso e o complexo de Golgi. Essas
organelas estão em abundância nessas células, pois sintetizam grande
quantidade de proteína que se juntará com os monossacarídeos, por meio da ação
das enzimas glicosiltransferases e, quando liberadas da célula pela secreção, se
tornarão hidratadas, formando o muco viscoso, elástico e lubrificante. Também
temos células produtoras de muco no pulmão, esôfago, estômago, glândulas
salivares e trato genital.
As células mioepiteliais estão em várias glândulas exócrinas, como
lacrimais, salivares, mamárias e sudoríparas. Essas células estão ao redor das
unidades secretoras e se organizam de forma longitudinal. Localizam-se entre a
lâmina basal e a região basal da célula secretora ou do ducto, conectadas pelos
desmossomos e junções comunicantes. No citoplasma das células mioepiteliais,
há inúmeros filamentos de actina e miosina e filamentos intermediários
(queratina). Elas se contraem ao redor da porção secretora da glândula auxiliando
a saída de secreção para a região exterior.
Células secretoras de esteroides estão presentes nos testículos,
suprarrenais e ovários. São acidófilas e arredondadas com núcleo central.
Possuem muito retículo endoplasmático liso com enzimas para sintetizar
colesterol. A secreção é de esteroides com atividade hormonal.

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REFERÊNCIAS

ALBERTS, B. et al. Fundamentos de biologia celular. 2. ed. Porto Alegre:


Artemed, 2017.

_____. Molecular biology of the cell. 4. ed. New York: Garland Science, 2002.

DE ROBERTIS, E. M. F.; HIB, J. D. R. Bases da biologia celular e molecular. 3.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de histologia em cores. 3. ed. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2007.

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 12. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas, em correlação com Biologia


celular e molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

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