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PATOLOGIA ORAL

E MAXILOFACIAL
Condições
inflamatórias e
degenerativas das
glândulas salivares
Monica Lucia Gomes Dantas

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar as naturezas inflamatória e degenerativa das lesões de glân-


dulas salivares.
> Caracterizar os distúrbios de glândulas salivares.
> Exemplificar o manejo terapêutico das lesões de glândulas salivares.

Introdução
Inúmeros processos patológicos podem afetar as glândulas salivares, dentre
os quais estão as condições inflamatórias e degenerativas. Como elas ocorrem
com frequência no cotidiano da clínica odontológica, é essencial conhecermos
suas características a fim de proceder com os corretos diagnóstico e tratamento.
Neste capítulo, você vai estudar as condições de extravasamento de muco,
que são a mucocele e a rânula, e as alterações inflamatórias, que são a sialoli-
tíase, as sialoadenites aguda e crônica e a parotidite epidêmica.
Você vai estudar, também, a sialoadenose, uma condição de natureza não
inflamatória causada por condições sistêmicas, além das alterações glandu-
lares geradas pelas doenças autoimunes, como a síndrome de Sjögren. Além
disso, vai identificar as alterações degenerativas nas glândulas salivares,
2 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

próprias do envelhecimento, e aquelas produzidas pelo uso de radiação no


tratamento oncológico de tumores de cabeça e pescoço. Por fim, veremos o
manejo terapêutico dessas lesões.

Lesões inflamatórias e degenerativas das


glândulas salivares
O processo inflamatório ocorre quando há extravasamento de líquidos e de
células sanguíneas para o local onde ocorre a lesão no tecido. Na inflamação
aguda, o processo é rápido e de duração curta, com a presença de leucócitos
— em sua maioria, neutrófilos. Já a inflamação crônica é de duração longa,
com a predominância de macrófagos e linfócitos (ALMEIDA, 2016).
Ainda segundo esse autor, os sinais cardinais da inflamação são rubor, calor,
dor, tumor e perda de função, que ocorrem devido à ação dos mediadores
químicos presentes como resposta às agressões. O processo inflamatório
agudo tem como objetivos eliminar o que ocasionou a lesão e reparar o dano.
Se este persistir, a condição pode se tornar crônica.
A inflamação aguda pode ocorrer devido à ação de agentes químicos ou
físicos, bactérias ou vírus, além de parasitas ou fungos, entre outras causas.
O processo agudo divide-se em duas etapas: as alterações vasculares iniciais
e os eventos celulares posteriores. Na primeira etapa há vasodilatação, com
aumento do fluxo de sangue, e mudanças nas paredes vasculares. Na segunda
etapa do processo há migração dos leucócitos para o local onde há inflamação.
O resultado da inflamação aguda é a regeneração da normalidade anterior.
No entanto, pode haver inflamação crônica, quando a agressão se mantém,
ocorrendo equilíbrio entre o agente que produziu a agressão e o hospedeiro
(ALMEIDA, 2016).
As condições inflamatórias das glândulas salivares podem ser causadas
por bactérias ou vírus. Grande parte dos processos inflamatórios resultam
da obstrução do ducto da glândula ou da redução do fluxo salivar (NEVILLE
et al., 2016).
Nas condições degenerativas, há diminuição do volume da glândula, com
consequente atrofia das células acinares, ocorrendo modificações no fluxo e
na composição da saliva, bem como em sua viscosidade e pH (REGEZI; SCIUBBA;
JORDAN, 2017). Geralmente essas condições estão associadas ao processo de
envelhecimento, mas podem, também, ser causadas pelo emprego de radiação
no tratamento do câncer de cabeça e pescoço.
Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares 3

Na odontologia, temos, com frequência, a ocorrência de inflamação


purulenta, com presença de exsudato caracterizado por grande
quantidade de neutrófilos e formação de abscesso. Pode ocorrer em alguns
processos infecciosos das glândulas salivares.

Distúrbios inflamatórios e degenerativos


de glândulas salivares
Com fins didáticos, para melhor compreensão dos distúrbios inflamatórios
e degenerativos das glândulas salivares, foi elaborada uma classificação
baseada nas causas das lesões, a saber (classificação elaborada pela autora):

1. condições inflamatórias por trauma com extravasamento de muco;


2. condições inflamatórias provocadas por obstrução do ducto da
glândula;
3. condições inflamatórias com multicausalidade;
4. condição causada por fatores sistêmicos;
5. condição degenerativa por radiação;
6. condição degenerativa associada à síndrome de Sjögren;
7. condição degenerativa associada ao processo de envelhecimento.

Condições inflamatórias por trauma com


extravasamento de muco
As lesões de extravasamento de muco são condições inflamatórias de bom
prognóstico, geralmente causadas por trauma local, caracterizadas por ruptura
do ducto da glândula e extravasamento de muco para os tecidos moles adja-
centes, que causam inflamação e consequente aumento de volume (ALMEIDA,
2016). Estudaremos, neste capítulo, a mucocele e a rânula.
A mucocele é uma lesão benigna das glândulas salivares menores e uma
das patologias mais comuns da mucosa oral. Ocorre principalmente em lábio
inferior (Figura 1), embora possa afetar outras áreas da boca (ALMEIDA, 2016).
Segundo Neville et al. (2016), o aspecto clínico da mucocele é de uma
tumefação translúcida de cor azulada, especialmente quando em lábio infe-
rior, embora em outros sítios isso não ocorra. De forma geral, as lesões são
flutuantes e raramente ocorrem em lábio superior, o que as diferenciam de
4 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

lesões de tumores de glândulas salivares, mais comuns nessa localização. A


mucocele também pode afetar o ventre anterior da língua, o soalho de boca e
a mucosa jugal. O exame histopatológico das lesões mostra tecido de granu-
lação (com fibroplasia, neoformação vascular, infiltrado linfoplasmocitário e
macrófagos) envolvendo a mucina, macrófagos e leucócitos (ALMEIDA, 2016).

Figura 1. Imagens de mucocele.


Fonte: Boraks (2013, p. 112-113).

A rânula também é uma lesão inflamatória ocasionada por extravasamento


de muco, geralmente localizada em soalho de boca (Figura 2), proveniente, em
maior número, da glândula sublingual. Pode também ter origem nas glândulas
salivares menores do soalho de boca (NEVILLE et al., 2016).
Segundo Tommasi (2014), a mucosa que reveste a rânula apresenta-se
distendida, embora com aparência normal. No interior da lesão há conteúdo
líquido, de fácil percepção à palpação.
A rânula congênita pode se originar de uma falha no desenvolvimento do
ducto salivar, possivelmente por trauma na glândula sublingual, causando
uma cicatriz que pode obstruir a saída de saliva (TOMMASI, 2014).
Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares 5

Figura 2. Rânula — lesão inflamatória do soalho de boca.


Fonte: Neville et al. (2016, p. 378).

Condições inflamatórias provocadas por obstrução


do ducto da glândula
São condições inflamatórias que se caracterizam pela obstrução do sistema
excretor das glândulas salivares, com consequente retenção de saliva. São
elas a sialolitíase e a sialadenite crônica (TOMMASI, 2014).
A sialolitíase é uma condição inflamatória causada por cálculos salivares
— os sialolitos —, estruturas formadas por sais de cálcio que se depositam
nas paredes dos ductos salivares, causando obstrução (Figura 3). A sialoli-
tíase ocorre com maior frequência na glândula submandibular, seguida pela
glândula parótida. Essa obstrução da glândula causa edema e sintomatologia
dolorosa local, devido ao acúmulo de saliva (TOMMASI, 2014).
Em algumas circunstâncias, o cálculo pode desobstruir o ducto espontanea-
mente, com diminuição da dor e do edema da glândula afetada (BORAKS, 2013).

Figura 3. Sialolito no canal da glândula sublingual.


Fonte: Tommasi (2014, p. 755).
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A sialadenite crônica geralmente é provocada pela sialolitíase, muitas vezes


sem sintomas, sendo diagnosticada no exame clínico ou no exame radiográfico.
Os sialolitos aparecem como imagens radiopacas (Figura 4) (ALMEIDA, 2016).

Figura 4. Imagens de sialolitos em radiografias oclusais.


Fonte: Tommasi (2014, p. 756).

Condições inflamatórias com multicausalidade


São condições que podem ser causadas por bactérias ou vírus, inflamatórias
ou infecciosas, denominadas sialadenites, que podem ser agudas ou crônicas
(nesse caso, podem ter origem obstrutiva). A sialadenite pode também ser
infecciosa, sendo sua origem bacteriana ou viral (ALMEIDA, 2016).
Segundo Neville et al. (2016), o Staphylococcus aureus é o causador da
maioria dos casos de sialadenite bacteriana aguda, embora estreptococos
também possam causar essa condição. Para Boraks (2013), a forma bacteriana
aguda afeta mais pacientes idosos, anêmicos, diabéticos ou com o sistema
imunológico deprimido. Outros problemas sistêmicos também podem favo-
recer o aparecimento da sialadenite bacteriana aguda, como a presença de
tumores malignos, por exemplo. A diminuição do fluxo salivar devido ao uso
de medicamentos é o fator que favorece a entrada do patógeno nos ductos
salivares (BORAKS, 2013). O autor relata que o exame clínico criterioso, as-
sociado à ultrassonografia, constituem recursos valiosos no diagnóstico da
sialadenite aguda.
Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares 7

A sialadenite aguda (bacteriana ou viral) afeta geralmente a glândula pa-


rótida (Figura 5). Pode ser bilateral, em até 25% dos casos. A glândula afetada
pela forma aguda bacteriana apresenta edema e sintomatologia dolorosa.
Pode haver febre baixa, além de trismo associado (NEVILLE et al., 2016).
A parotidite aguda é uma infecção aguda da parótida que tem início a partir
de seu ducto, devido às bactérias presentes na cavidade oral, que invadem a
glândula por via retrógrada. Ocorre em pacientes que passaram por cirurgias,
especialmente abdominais, e pode se apresentar em pacientes debilitados
ou com tumores malignos (TOMMASI, 2014). Segundo o autor, o processo pode
se tornar crônico, dependendo das condições gerais do paciente, se menos
debilitado ou não. Pode haver fases de exacerbação para a forma aguda.

Figura 5. Sialadenite aguda bacteriana de glândula parótida. Saída de exsudato purulento


pelo canal de Stensen.
Fonte: Neville et al. (2016, p. 383).

A sialografia (Figura 6) é outro exame que pode ser empregado para inves-
tigar obstrução do ducto glandular por sialolitos, processos inflamatórios e
tumores. No entanto, esse exame raramente é solicitado, devido ao descon-
forto que pode provocar no paciente e à possibilidade de contaminação da
glândula. Utiliza-se contraste iodado injetado no ducto, a fim de observar o
parênquima, e são realizadas radiografias anteriores à injeção de contrastes
e outras posteriores ao procedimento (TOMMASI, 2014).
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Figura 6. Sialadenite crônica. Sialografia da glândula parótida com dilatação do ducto na


área de obstrução.
Fonte: Neville et al. (2016, p. 383).

A sialografia é um exame contraindicado em processos inflamató-


rios agudos. A injeção de contraste realizada no ducto salivar pode
aumentar a intensidade do processo inflamatório.

A parotidite epidêmica é uma inflamação de origem viral conhecida po-


pularmente como caxumba, bastante frequente em crianças. É transmitida
pela saliva contaminada e pelo contato direto entre indivíduos. O período
de incubação da caxumba é de 2 a 3 semanas. Os sintomas incluem edema e
dor local, geralmente bilateral, febre e trismo (ALMEIDA, 2016).
Clinicamente observa-se aumento de volume da glândula parótida, sendo
o sinal típico da condição o lóbulo da orelha levantado, unilateral ou bilate-
ralmente, de acordo com a(s) glândula(s) afetada(s). A dor é maior em dois ou
três dias do aumento da glândula, exacerbada pela ingestão de alimentos
cítricos. À palpação, a consistência da glândula é firme e geralmente não há
eritema na pele. No exame intrabucal observa-se edema e eritema na região
próxima ao ducto da glândula (BORAKS, 2013).
O diagnóstico da parotidite epidêmica é realizado facilmente em perío-
dos de epidemia. Em outras ocasiões, pode-se realizar exame laboratorial
específico para isolamento do vírus, por esfregaço da secreção coletada do
ducto da glândula afetada. Podem também ser realizados exames específicos
(imunoglobulinas M e G [IgM e IgG]), além do emprego da técnica da reação
em cadeia da polimerase, por transcriptase reversa (NEVILLE et al., 2016).
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Condição causada por fatores sistêmicos


Segundo Tommasi (2014), a sialoadenose é uma condição comum que afeta a
glândula parótida, caracterizada pelo aumento de seu tamanho. Ela não gera
sintomas, e sua origem ainda é desconhecida, mas está associada a condições
sistêmicas, como diabetes, hipertensão, hiperlipidemia e alcoolismo (Figura 7),
e a estados como a gravidez. Pode também ser provocada pelo uso de alguns
medicamentos. A deficiência de vitamina A pode estar envolvida no processo
de sialoadenose; nessa condição, o fluxo salivar está normal ou aumentado.

Figura 7. Sialoadenose. Aumento das glândulas parótida e sublingual associado ao alcoolismo.


Fonte: Neville et al. (2016, p. 391).

Deve-se sempre investigar o histórico médico do paciente a fim de co-


nhecer condições de saúde que possam causar a sialodenose (Quadro 1). O
tratamento deve ser direcionado à condição sistêmica do paciente. O exame
histopatológico evidencia somente hipertrofia das células secretoras da
parótida. Exames de sangue e o exame sialográfico são bons recursos diag-
nósticos (TOMMASI, 2014).
10 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

Quadro 1. Condições associadas à sialoadenose

„ Diabetes
Distúrbios „ Acromegalia
endócrinos „ Hipotireoidismo
„ Gravidez

„ Desnutrição geral
Condições „ Alcoolismo
nutricionais „ Anorexia nervosa
„ Bulimia

„ Drogas anti-hipertensivas
Medicações
„ Drogas psicotrópicas
neurogênicas
„ Drogas simpatomiméticas usadas no tratamento da asma

Fonte: Neville et al. (2016, p. 390).

Condições degenerativas
Você verá nesta seção as alterações degenerativas que ocorrem no parên-
quima glandular, ocasionadas pelo tratamento por radiação em pacientes
oncológicos, com tumores localizados na cabeça e no pescoço; as atrofias
glandulares presentes na síndrome de Sjögren; e as alterações fisiológicas
causadas pelo processo de envelhecimento.

Condição degenerativa pelo emprego de radiação


Uma das condições degenerativas mais comuns das glândulas salivares está
associada ao uso de radiação no tratamento de tumores de cabeça e pescoço.
Nesses casos, há diminuição do volume da glândula, bem como modificações
no fluxo e na composição da saliva, em sua viscosidade e pH. A diminuição
de saliva produzida provoca o aparecimento de cáries de progressão rápida
e a piora do estado periodontal do paciente (REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
Neville et al. (2016) relata que as cáries associadas à xerostomia causada
pela radiação, chamadas de “cáries por radiação”, devem ser mais propria-
mente denominadas “cáries associadas à xerostomia”.
No exame histopatológico, observam-se neutrófilos e eosinófilos no tecido
seroso acinar. As células serosas acinares são as mais atingidas pela radiação,
o que se constata inicialmente. A fibrose no tecido acinar avança de acordo
com a progressão do uso da radiação. As células mucosas são afetadas mais
tardiamente (REGEZI; SCIUBBA; JORDAN, 2017).
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Condição degenerativa associada à síndrome de Sjögren


A síndrome de Sjögren é uma condição crônica sistêmica autoimune que atinge
principalmente as glândulas salivares e lacrimais. Não é uma condição rara
e está presente mais em mulheres do que em homens. Pode estar associada
à artrite reumatoide e ao lúpus eritematoso sistêmico (NEVILLE et al., 2016).
Nessa síndrome, observamos o aumento das glândulas salivares maiores,
geralmente bilateralmente. As manifestações orais incluem hipossalivação,
atrofia das papilas linguais e vermelhidão da mucosa oral (NEVILLE et al., 2016).
Outros sinais estão listados no Quadro 2 e apresentados nas Figuras 8 e 9.

Quadro 2. Sintomas e sinais da síndrome de Sjögren

„ Sensação de secura ou ardência nos olhos


„ Xerostomia
„ Dificuldade para falar, mastigar ou engolir alimentos
„ Língua ressecada ou com os sulcos bem marcados
„ Sensação de queimação ou ressecamento da garganta
„ Ressecamento dos lábios com ou sem descamação
„ Lesões de cárie
„ Dor nas articulações
„ Ressecamento da pele e vaginal
„ Problemas digestivos
„ Ressecamento da mucosa nasal
„ Fadiga
„ Alteração na percepção do paladar ou do olfato

Fonte: Tommasi (2014, p. 761).

Figura 8. Aumento da parótida na síndrome de Sjögren.


Fonte: Tommasi (2014, p. 763).
12 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

Figura 9. Perda das papilas filiformes da língua na síndrome de Sjögren.


Fonte: Tommasi (2014, p. 763).

Foram propostos critérios de classificação para a síndrome de Sjögren, a


fim de facilitar seu diagnóstico, pelo Grupo de Consenso Americano e Europeu,
em 2002, e o Colégio Americano de Reumatologia, em 2012, propôs critérios
objetivos de classificação (Quadro 3) (ALMEIDA, 2016).

Quadro 3. Critérios de classificação da síndrome de Sjögren do Grupo de


Consenso Americano e Europeu e do Colégio Americano de Reumatologia

GCAE, 2002 CAR, 2012

„ Sintomas oculares „ Autoanticorpos


„ Sintomas orais „ Anti-SSA e/ou anti-SSB
„ Histologia „ Histologia
„ Escore de coloração ocular „ Escore de coloração ocular
„ Teste de Schimer ou escore de rosa bengala „ Maior ou igual a 3
„ Envolvimento de glândulas salivares
„ Sialometria, sialografia, cintilografia
„ Autoanticorpos
„ Anti-SSA ou Anti-SSB

Fonte: Adaptado de Almeida (2016).


Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares 13

A cintilografia é um método muito bom para o exame das glândulas sa-


livares na síndrome de Sjögren e em outras condições patológicas. É um
exame não invasivo, bem tolerado pelo paciente e que fornece informações
essenciais para o diagnóstico (TOMMASI, 2014).

Hipossalivação e xerostomia são sinônimos? A hipossalivação designa


a baixa produção e a consequente baixa secreção da saliva. Já a
xerostomia é a sensação subjetiva de boca seca. Uma condição de hipossalivação
severa pode causar vários problemas, como infecções e cáries de progressão
rápida (TOMMASI, 2014).

Condição degenerativa associada ao envelhecimento


A atrofia das glândulas salivares associada ao processo de envelhecimento é
fisiológica. Há uma perda considerável de células acinares, substituídas por
gordura ou tecido conjuntivo (BATISTA et al., 2021).
Como consequência dessa atrofia temos a diminuição do volume da
saliva produzida, com os malefícios já descritos anteriormente. O uso de
alguns medicamentos nessa faixa etária também pode contribuir para a
ocorrência da hipossalivação, como antidepressivos, ansiolíticos, sedativos
e anti-hipertensivos.

Manejo terapêutico das lesões de


glândulas salivares
Veremos nesta seção quais são os recursos diagnósticos geralmente mais
empregados para as condições inflamatórias e degenerativas das glându-
las salivares e como se processa o manejo terapêutico das diversas lesões
apresentadas.

Condições inflamatórias causadas por


extravasamento de muco
Segundo Boraks (2013), a mucocele geralmente tem bom prognóstico, desa-
parecendo em poucos dias. No entanto, pode haver recorrência se o agente
traumático permanecer. Em alguns casos, a lesão pode fibrosar e necessitar de
14 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

remoção cirúrgica. Almeida (2016) sustenta que o tecido excisado deverá ser
submetido ao exame histopatológico, com o intuito de exclusão diagnóstica.
O diagnóstico da rânula é clínico, baseado no aspecto da lesão. No entanto,
lesões mais profundas podem apresentar coloração semelhante à da mucosa,
e não o aspecto azulado característico, o que pode dificultar o diagnóstico
diferencial da lesão. O exame mais usado nesse diagnóstico é a ultrassono-
grafia, mas a tomografia computadorizada e a ressonância magnética também
podem ser úteis (ALMEIDA, 2016).
Neville et al. (2016) indica a remoção da glândula sublingual afetada pela
rânula ou o emprego da marsupialização, que é a técnica de remoção de parte
da lesão, indicada, geralmente, apenas para rânulas pequenas.
Tommasi (2014) preconiza a remoção da glândula sublingual como a melhor
forma de tratamento da rânula. No entanto, segundo esse autor, as técnicas
da marsupialização e da micromarsupialização são mais utilizadas por serem
menos invasivas, embora possam ocorrer reincidências.

Lesões inflamatórias por obstrução do


ducto glandular
O tratamento para a sialolitíase pode ser conservador para os sialolitos
menores, por meio de massagens na glândula visando à sua saída pelo ducto.
Os sialolitos maiores devem ser excisados. Pode ser necessária a remoção
da glândula afetada (NEVILLE et al., 2016).
A sialadenite crônica tem bom prognóstico, mas podem ocorrer reincidên-
cias ou episódios de agudização. O tratamento consiste em aplicação de calor
local em associação a antibióticos específicos (ALMEIDA, 2016). É necessário
realizar cultura e antibiograma (BORAKS, 2013). Neville et al. (2016), no en-
tanto, afirma que pode ser necessário remover a glândula, se os tratamentos
conservadores não obtiverem êxito.

Condições inflamatórias com multicausalidade


O tratamento das sialadenites dependerá do agente causador. Nos casos
bacterianos agudos há a necessidade de antibioticoterapia; já nas formas
virais, recomenda-se hidratação e repouso (ALMEIDA, 2016).
Para Tommasi (2014), é necessário estabelecer diagnósticos diferenciais da
parotidite aguda em relação a algumas condições ou doenças, como presença
de cálculo no ducto da glândula, hipersensibilidade ao uso de drogas, cirrose,
diabetes, sarcoidose, linfadenopatia e linfangioma, entre outras. O tratamento
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da parotidite crônica é o mesmo da forma aguda, embora seu prognóstico


seja melhor. A forma aguda pode levar a complicações sistêmicas.
A sialadenite aguda requer a prescrição de antibióticos. Quando há for-
mação de abscesso, é necessária a drenagem cirúrgica. Essa condição pode
levar ao óbito em pacientes muito debilitados (NEVILLE et al., 2016). Almeida
(2016) afirma que, nos casos de sialadenite crônica, a remoção do sialolito
deve ser feita.
Boraks (2013) relata que a parotidite epidêmica geralmente tem prognós-
tico favorável. O tratamento é sintomático, com o emprego de analgésicos e
anti-inflamatórios. A conduta adequada inclui a antibioticoterapia, pois há
possibilidade de ocorrerem infecções devido ao acesso de bactérias através
do ducto da glândula parótida.

Condição causada por fatores sistêmicos


Na sialoadenose, deve-se investigar as condições sistêmicas do paciente.
O tratamento deve ser realizado em relação a essas condições, não em re-
lação à glândula afetada. A administração de vitamina A pode ser benéfica
(TOMMASI, 2014).

Condições degenerativas em geral


As condições degenerativas de glândulas salivares de uma forma geral apre-
sentam sintomas comuns. A hipossalivação é a característica predominante,
causando processos fúngicos e cáries de progressão rápida, nas condições
causadas por radiação, na síndrome de Sjögren e em pacientes idosos.
O tratamento das condições degenerativas das glândulas salivares é
sintomático. Procura-se estimular o fluxo salivar por meio do uso de salivas
artificiais e produtos de higiene oral específicos para hipossalivação. Alguns
medicamentos sialogogos (que estimulam a secreção salivar) podem ser
empregados quando ainda há tecido glandular normal. Outros medicamentos,
entretanto, podem provocar hipossalivação e a sensação subjetiva de boca
seca (xerostomia) e devem ser evitados. São eles os agentes anti-histamínicos,
descongestionantes, antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos e sedativos
e anti-hipertensivos (ALMEIDA, 216).
16 Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares

Almeida (2016) enfatiza a educação em saúde como medida preventiva para


evitar as cáries de progressão rápida. Deve-se eliminar o uso de alimentos
açucarados, manter uma boa higiene bucal e utilizar creme dental com maior
quantidade de flúor. Se houver candidíase, o paciente deve ser tratado com
antifúngicos sistêmicos ou tópicos.

Paciente do sexo feminino, 23 anos, apresentou-se procurando


atendimento no setor de saúde bucal de uma clínica de saúde da
família. Ela relatou ter um dente (sic) nascendo embaixo da língua, o que estava
a incomodando muito, causando dores ao se alimentar.
Ao exame clínico, constatou-se um sialolito de tamanho mediano no ducto
da glândula sublingual. Foi realizada uma manobra procurando promover sua
saída, sem êxito. A paciente não colaborou com o procedimento, alegando dor.
A conduta realizada, então, consistiu em anestesia no local afetado, incisão
e remoção do sialolito.
A paciente retornou para revisão uma semana depois. Foi constatado que
houve cicatrização satisfatória da incisão cirúrgica.

Neste capítulo, você conheceu as principais condições inflamatórias e


degenerativas que afetam as glândulas salivares. Observou as características
clínicas dessas condições, alguns exames complementares que auxiliam o
diagnóstico das lesões, bem como seu prognóstico e a adequada conduta
terapêutica.
É importante você observar que com as novas competências e habilidades
adquiridas com o estudo deste capítulo, você tem, agora, um olhar mais
experiente sobre esses temas, o que certamente será relevante para sua
prática profissional futura.

Referências
ALMEIDA, O. P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016.
BATISTA, A. L. A et al. Risk factors associated with tooth loss in the elderly: an integrative
review. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, p. e393101119799, 2021.
BORAKS, S. Semiotécnica, diagnóstico e tratamento das doenças da boca. São Paulo:
Artes Médicas, 2013.
NEVILLE, B. W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2016.
Condições inflamatórias e degenerativas das glândulas salivares 17

REGEZI, J. A.; SCIUBBA, J.; JORDAN, R. C. K. Patologia oral: correlações clinicopatológicas.


7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
TOMMASI, M. H. M. Diagnóstico em patologia bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2014.

Leituras recomendadas
KIGNEL, S. Estomatologia: bases do diagnóstico para o clínico geral. 3. ed. São Paulo:
Santos, 2020.
REGEZI, J. A.; SCIUBBA, J.; POGREL, M. A. Atlas de patologia oral e maxilofacial. Rio de
Janeiro: Guanabara koogan, 2002.
WOO, S. B. Atlas de patologia oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

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