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A doença inflamatória intestinal possui períodos de remissão e outros de exacerbação. São desordens crônicas
recidivantes de origem desconhecida.
Essas condições são resultantes de complexas interações entre microbiota intestinal, resposta imunológica em
indivíduos com predisposição genética e uma resposta imune inapropriada na mucosa. Ou seja, possuem
alguns elementos conhecidos, mas ainda muitos outros que ainda não estão esclarecidos.
A diferenciação entre essas duas doenças se faz baseada na distribuição do local afetado e aspectos
morfológicos. Dificilmente é possível fazer a diferenciação nas primeiras biopsias. A medida que as doenças se
desenvolvem e vão adquirindo aspectos morfológicos distintos, é que é possível categorizar o tipo de doença
inflamatória intestinal.
Epidemiologia
• Mais frequentes em mulheres
• Ocorre tipicamente em adolescentes e início da terceira década de vida (adultos jovens), mas pode
ocorrer em qualquer época da vida.
• Tem um segundo pico de incidência em torno da sexta/sétima década de vida
• É mais comum nos EUA, norte da Europa e Austrália.
• Tem ocorrido uma elevação significativa da incidência na América do Sul, África e Ásia.
Patogenia
• Suscetibilidade genética
o Chance 3-20x maior de desenvolvimento em parentes de 1º grau
o 15% dos portadores possuem parentes de 1º grau afetados
o 75% das famílias acometidas apresentam concordância no tipo de doença
A inflamação é a via final comum da patogenia da DII (IBD), causando uma diminuição da integridade da
barreira mucosa e perda da função de absorção das células epiteliais.
Doença de Crohn
• Ileíte regional
• Enterite regional termos em desuso, mas que fazem referência a aspectos importantes da doença
• Enterite granulomatosa
A doença de Crohn pode comprometer qualquer porção do trato gastrointestinal, mas o local mais comum é o
íleo terminal - os locais mais comumente envolvidos na apresentação são o íleo terminal, a válvula ileocecal e o
ceco
Distribuição
• 30 a 35% - lesões restritas ao intestino delgado e comprometem tipicamente a porção terminal do íleo
• 30 a 50% - tanto o intestino delgado como o grosso são afetados, em especial o ceco e o cólon
ascendente, embora qualquer região do intestino grosso possa ser acometida.
• 25 a 35% - lesões localizadas exclusivamente no cólon
A doença de Crohn pode se apresentar em qualquer local do trato alimentar da boca ao ânus. Os outros locais
menos comuns tendem a ser acometidos quando a doença tem uma apresentação mais grave e extensa.
Aspectos da doença
• Inflamação transmural bem delimitada
o Inflamação transmural que se estende por todas as camadas da parede intestinal (mucosa,
submucosa, muscular, subserosa, serosa e tecidos adjacentes – doença inflamatória vertical),
resultando em fissuras, fístulas e abscessos na cavidade abdominal
• Lesões salteadas
o Comprometimento segmentar do trato gastrointestinal (áreas múltiplas, separadas e
nitidamente delineadas da doença), frequentemente multifocal, designado como lesões
salteadas. Essa apresentação é característica da doença de Crohn e pode ajudar na
diferenciação da colite ulcerativa.
• Granulomas não-caseosos (35%)
o Granulomas epitelioides, sem necrose caseosa, são identificados em cerca de metade dos
casos. O tipo de granuloma é chamado de granuloma sarcóide, pois se assemelham aos
granulomas vistos na sarcoidose (sem necrose caseosa). A ausência de granulomas não
caseosos não afasta a doença, mas a presença favorece o diagnóstico.
• Fissuras e fistulas
o Fissuras se desenvolvem frequentemente entre as dobras da mucosa e podem se estender
profundamente para se tornar tratos fistulares ou locais de perfuração
• Gordura trepadeira
o Em casos com doença transmural extensiva, a gordura mesentérica se estende
frequentemente ao redor da superfície serosa (gordura trepadeira)
• Hipertrofia muscular
o A parede intestinal está espessada e elástica como consequência do edema transmural, da
inflamação, da fibrose submucosa e da hipertrofia da muscular própria, os quais contribuem
para a formação da estenose
• Displasia
o Todos os processos inflamatórios de longa evolução agridem cronicamente o epitélio fazendo
com que se desenvolva displasia e determine maior risco para o desenvolvimento de
malignidades
• 5-6x maior risco de desenvolvimento de um carcinoma
Essa doença inicia como úlceras que liberam exsudato inflamatório neutrofílica pra dentro das criptas
intestinais – microabscessos crípticos. A partir daí ocorre a necrose do epitélio e a manifestação de uma úlcera
pequena semelhante às que se observam na cavidade oral, chamadas de úlceras aftosas.
A lesão inicial da doença de Crohn, a úlcera aftosa, pode progredir, e lesões múltiplas frequentemente se
fusionam formando úlceras alongadas e serpentiformes orientadas ao longo do eixo do intestino. Úlceras
sempre orientados ao longo do maior eixo do intestino: úlceras longitudinais
A serosa tem aspecto granular e frequentemente forma aderências que, juntamente com as úlceras profundas,
resultam em fístulas entre alças do intestino delgado, ou entre este e o cólon, a bexiga e a vagina; fístulas
perianais são muito comuns
O processo inflamatório não respeita os limites anatômicos, dessa maneira, pode comprometer a gordura
mesentérica/mesocólica, que se mostra espessada e com uma consistência firme, por conta da fibrose que
acompanha o processo inflamatório crônico. Os tecidos adjacentes aos que desenvolvem fibrose tornam-se
repuxados (contraídos, retraídos) por conta da deposição de colágeno fora do local habitual. A gordura
trepadeira ocorre quando a gordura mesentérica/mesocólica envolve a serosa e o perímetro intestinal, que fica
envolto por tecido adiposo
O espessamento da parede intestinal decorrente da inflamação, forma estenoses, isto é, diminuição da luz
intestinal. A doença evolui com fibrose, que é máxima na submucosa, tornando o segmento comprometido
estreito e rígido em decorrência de inflamação, fibrose e hipertrofia da camada muscular própria. A parede
perde sua elasticidade normal, tornando-se rígida, e com a luz restringida. O sinal da luz intestinal restringida
em exames de imagem é denominado de sinal da corda.
A peristalse é comprometida pela fibrose e inflamação, que levam a perda da elasticidade e mobilidade das
alças intestinais, e em uma tentativa de manter os movimentos peristálticos, ocorre a hipertrofia da camada
muscular.
A metaplasia epitelial, outra consequência da recorrência de injúria crônica, frequentemente toma a forma de
glândulas gástricas aparentemente antrais, e é chamada de metaplasia pseudopilórica. A metaplasia das células
de Paneth (células neuroendócrinas localizadas sobretudo no cólon direito e intestino delgado) também pode
ocorrer no cólon esquerdo, onde as células de Paneth são normalmente ausentes, mesmo nos períodos de
remissão. Essas alterações arquitetônicas e metaplásicas podem persistir mesmo quando a inflamação ativa é
resolvida. A atrofia da mucosa, com perda das criptas, pode ocorrer após anos de doença
Manifestações clínicas
• Muito variáveis
• Diarréia
o Água não está sendo absorvida
• Febre
• Dor abdominal
o Em decorrência do comprometimento do íleo terminal, tende a acometer o quadrante inferior
do abdome (fossa ilíaca direita)
• Remissão e novo ataque
• Fístulas
• Abscessos abdominais
• Estenose ou obstruções
• Megacólon tóxico
• Carcinoma
A apresentação clínica pode simular um quadro de apendicite, outras vezes perfuração intestinal.
Aspectos clínicos
• Em alguns casos o início da doença está relacionado com a iniciação do fumo
• Interrupção do fumo não leva a remissão da doença
• Quando o tratamento requer intervenções cirúrgicas, há frequentemente recorrência em anastomoses
das alças intestinais.
• Ressecção cirúrgica por restrição de luz
• 40% dos pacientes necessitam de nova intervenção em 10 anos
Colite ulcerativa
• Retocolite ulcerativa
Doença ulcero-inflamatória que afeta o cólon, limitado a mucosa e submucosa. A colite ulcerativa é
intimamente relacionada à doença de Crohn. No entanto, a doença intestinal na colite ulcerativa é limitada ao
cólon e ao reto
Ocorre em qualquer idade, mas é mais comum entre 20 e 40 anos. Homens e mulheres são igualmente
acometidos, embora alguns estudos mostrem discreto predomínio no gênero masculino.
Distribuição
• Macroscopicamente, a colite ulcerativa sempre envolve o reto e se estende proximalmente e de modo
contínuo para envolver parte ou todo o cólon
Aspectos da doença
• É uma doença de acometimento superficial (horizontal)
o Não acomete todas as camadas da parede intestinal, somente mucosa e submucosa
• As lesões iniciais aparecem no reto e no sigmoide, estendendo-se proximalmente de modo contínuo.
o Nos casos graves, pode comprometer todo o cólon (pancolite) e atingir o íleo (refluxo de
material inflamatório para dentro do íleo terminal)
• O reto é sempre acometido
• O espessamento mural não está presente, a luz do intestino é de tamanho normal, a superfície serosa
é normal e as estenoses não ocorrem
• Os granulomas não estão presentes na colite ulcerativa.
• Há pouca fibrose
• As características histológicas da mucosa doente na colite ulcerativa são similares às da doença de
Crohn colônica
o incluem infiltrados inflamatórios, microabscessos crípticos, distorção da arquitetura das criptas
e metaplasia epitelial
• Macroscopicamente, a mucosa colônica envolvida pode estar levemente avermelhada e granular ou ter
úlceras rasas, de base larga, extensas
o Pode haver uma transição abrupta entre o cólon doente e o não envolvido
• As úlceras estão alinhadas junto ao longo eixo do cólon, mas não replicam tipicamente as úlceras
serpentinas da doença de Crohn
• Risco para desenvolvimento de carcinoma
• Ilhas isoladas de mucosa regenerativa
o Frequentemente formam protuberâncias no lúmen para criar pseudopólipos e as pontas
desses pólipos podem se fusionar para criar as pontes mucosas
Nas fazes iniciais as duas doenças podem ser confundidas, contudo, a medida que ocorre a evolução, a
distribuição típica e as características morfológicas permitem a diferenciação entre as duas doenças
Manifestações clínicas
• Diarréia muco-sanguinolenta
o Muco produzido pela mucosa remanescente de aspecto reparativo
o Sanguinolenta por conta das ulcerações
• Cólicas
o Temporariamente aliviadas pela defecação
• Tenesmo
o Espasmo doloroso do esfíncter anal ou vesical com desejo urgente de defecar ou urinar, e com
eliminação de quantidade mínima de fezes ou urina.
• Dor abdominal inferior
• Remissões
• Manifestações extra-abdominais
• Megacólon tóxico (risco de perfuração)
• Distúrbios eletrolíticos
• Hemorragia maciça
o Comumente definida pela perda de uma volemia completa num período inferior a 24h e é a
principal causa de morte em vítimas de trauma.
• Câncer
Aspectos clínicos
• Enterite infecciosa precede o início da doença em alguns casos.
• Em outros casos, o primeiro ataque é precedido por estresse psicológico, o qual pode estar ligado à
recaída durante a remissão.
• O aparecimento inicial dos sintomas também foi relatado como ocorrendo logo após a interrupção do
fumo em alguns pacientes
• Fumo pode aliviar parcialmente os sintomas.
• Estudos da nicotina como agente terapêutico foram decepcionantes
Colite indeterminada
• O diagnóstico definitivo não é possível em aproximadamente 10% dos pacientes com DII.
• Tratamento pode ser efetivo
• Deve-se categorizar sempre que possivel
• Estes casos, chamados de colite indeterminada, não envolvem o intestino delgado e têm doença
colônica em um padrão contínuo que tipicamente indicaria uma colite ulcerativa.
• No entanto, a doença histológica em placas, as fissuras, o histórico familiar de doença de Crohn, as
lesões perianais, o início após o uso de cigarros ou outras características que não são típicas de colite
ulcerativa podem incitar um exame endoscópico, radiográfico e histológico mais detalhado
• Há testes sorológicos que favorecem um ou outro tipo
o Anticorpos antineutrofílicos que favorecem a retocolite ulcerativa, aumentados em 75-80% dos
casos
o Anticorpos para Saccharomyces Cerevisiae que favorece Crohn, porém muitas vezes há
sobreposições.
Risco de Neoplasia
• Inicia com displasia, que podem ser focos não identificados pela endoscopia
• Áreas achatadas de mucosa não identificadas macroscopicamente
• pode ser de alto e baixo grau, focal ou multifocal
• Pacientes com vários episódios tem maior chance de ter carcinomas, e o risco é para todo cólon não
apenas para o local que há displasia, assim sendo necessário uma colectomia.