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CONCEITO E HISTÓRICO
A doença diverticular dos cólons é consequência da herniação da mucosa do intestino
grosso por entre as fibras musculares da parede intestinal. O termo que define a doença é
derivado do latim “divertere”, ou seja, um pequeno desvio, nesse caso, um pequeno desvio
no trânsito intestinal. Os divertículos colônicos podem ser congênitos ou adquiridos,
sendo a forma assintomática denominada diverticulose; já a forma adquirida e sintomática
é denominada doença diverticular dos cólons.
Os divertículos congênitos são raros, geralmente únicos, e são considerados
divertículos verdadeiros, pois são formados por todas as camadas do órgão. Por outro lado,
os divertículos adquiridos são os mais frequentes e considerados pseudodivertículos, pois
somente a mucosa e, às vezes, a submucosa se herniam.
Embora se credite a Cruveilhier a primeira descrição dessa alteração, há relatos de
que os divertículos foram primeiro descritos por Litré, em 1700, ou por Morgagni, em
1756. Em 1789, Maximiliano Stoll descreveu a presença de bolsas diverticulares na parede
colônica que estariam asssociadas a estagnação de fezes, cólicas abdominais e eliminação
de fecalitos nas fezes. Vários autores foram pioneiros na descrição de formações
diverticulares da parede intestinal e fizeram correlações antomoclínicas, como as reportadas
por Rokitanski (1842), Cruveilhier (1849), Britowe (1855), Habershon (1857) e Sidney
Jones (1858).
Cruveilhier foi o primeiro a demonstrar que a incidência de divertículos era maior
em pessoas idosas, e Sidney Jones descreveu, pela primeira vez, um caso de fístula colônica
em paciente com doença diverticular dos cólons.
Posteriormente, Hansemann e colaboradores estudaram de modo minucioso os
divertículos. Graser demonstrou a diferença entre os divertículos adquiridos que
apresentavam apenas mucosa e serosa e os congênitos constituídos por todas as túnicas da
parede. Esse autor foi o primeiro a chamar a atenção para os perigos da diverticulite e para
a relação dos divertículos com os vasos sanguíneos. Em deferência à importância de seus
estudos, mais tarde, receberam o nome de divertículos de Graser.
As primeiras ressecções intestinais foram descritas por Moynihan, em 1906, e por
Mayo, em 1907; e as primeiras demonstrações radiológicas foram feitas por Le Wald e De
Quervin, em 1914.
A diversidade de nomenclatura usada tanto por leigos como por alguns médicos causa
muita confusão. O termo diverticulose refere-se à presença de divertículos assintomáticos
no cólon, enquanto diverticulite indica inflamação do divertículo e, comumente, é
acompanhada de sintomas (geralmente com dor e febre). Hoje há uma tendência universal
em empregar a denominação genérica doença diverticular dos cólons, já que, muitas
vezes, é difícil diferenciar diverticulose de diverticulite.
Mesmo a palavra diverticulite, que significaria inflamação e/ou infecção do
divertículo, não é muito apropriada, uma vez que o processo infeccioso pode ser muito mais
pericólico e, portanto, uma peridiverticulite.
Quanto à localização, a doença diverticular dos cólons pode ocorrer em qualquer
parte do cólon, mas acima de 95% dos casos ocorrem no descendente e sigmoide. É
interessante observar que a distribuição anatômica dos divertículos varia com a geografia:
nos países industrializados ocidentais, os divertículos predominam no sigmoide e cólon
esquerdo, enquanto, no Oriente, o lado direito é a sede mais comum.
EPIDEMIOLOGIA
Embora a doença diverticular dos cólons seja bastante comum e afete até 10% dos
adultos de meia-idade e cerca de 50% a 80% dos adultos com idade superior a 80 anos,
poucas pessoas estão cientes de que a possuem.
A maioria dos divertículos colônicos é adquirida, acometendo similarmente homens e
mulheres, e sua incidência aumenta com o avançar da idade. Menos de 2% dos pacientes
com menos de 30 anos têm doença diverticular dos cólons, enquanto mais de 40% e 60%
dos pacientes com 60 e 80 anos adquirem divertículos, respectivamente.
A prevalência é semelhante entre indivíduos de ambos os sexos, com índices de
sangramento diverticular maiores em homens e de obstrução mais significativa em
mulheres.
Esses dados indicam maior prevalência de doença diverticular dos cólons para o sexo
feminino, mas ainda não está claro se esse efeito de gênero está relacionado com fatores
hormonais ou antropométricos, embora tenha sido encontrada relação com o número de
gestações e de partos. Cerca de 10% a 25% dos pacientes com doença diverticular dos
cólons apresentarão quadro de diverticulite.
Nos Estados Unidos, a doença diverticular resulta em aproximadamente 130.000
hospitalizações por ano, com custo elevado para o sistema de saúde.
A doença diverticular dos cólons é usualmente assintomática. Ocorre comumente na
população de regiões industrializadas ou ocidentais, onde se associa à dieta com baixo teor
de fibras. Nos países ocidentais, cerca de 95% dos divertículos localizam-se no sigmoide e
cólon descendente e sua incidência em regiões proximais do cólon aumenta com o avançar
da idade. Em países asiáticos, especialmente na Coreia, a diverticulite acomete mais
comumente o cólon direito, frequência de até 70% dos casos.
As estimativas populacionais de prevalência e incidência de diverticulose são
provavelmente subestimadas, uma vez que a maioria dos pacientes permanece
assintomática, e nos exames de autópsia pequenos divertículos podem passar
despercebidos.
Sabe-se, entretanto, que a incidência da diverticulose aumenta com a idade, e
raramente a moléstia compromete pessoas abaixo dos 30 anos, mas supera os 30% na
quinta década de vida e 65% ou mais das pessoas com idade superior a 80 anos. Embora a
maioria das pessoas com diverticulose permaneça assintomática, cerca de 25% apresentarão
sintomas, inclusive diverticulite, sendo que, destes, cerca de 15% desenvolvem
complicações graves, como abscessos, fístulas e perfurações. Essa alta prevalência
classifica a doença diverticular dos cólons como uma das doenças intestinais mais comuns
nas nações ocidentais.
ETIOPATOGENIA
Mesmo sendo uma doença com grande impacto, somente nas últimas décadas
começou-se a desvendar os mecanismos de desenvolvimento ou de causalidade da
diverticulose colônica e doença diverticular dos cólons.
No entanto, há vários elementos reunidos e vários fatores de risco para explicar a
gênese da diverticulose colônica e da doença diverticular dos cólons, o que reflete a
dificuldade de encontrar um único fator que possa justificar satisfatoriamente sua etiologia.
A motilidade colônica
Vários estudos indicam que anormalidade motora dos cólons é fator importante na
patogênese da diverticulose colônica e da doença diverticular dos cólons. Os pacientes com
diverticulose demonstram motilidade anormal e contratilidade excessiva do cólon,
sobretudo em segmentos próximos aos divertículos. Estudos em pacientes com doença
diverticular dos cólons têm demonstrado pressão intracolônica normal ou aumentada na
fase de repouso, com aumento significativo da pressão intraluminal ou atividade colônica,
após uma refeição ou provocação pela prostigmina.
Atividade mioelétrica medida por cateteres implantados em pacientes com
diverticulose colônica demonstrou alteração, em “ondas lentas”, da fase correspondente à
atividade de marca-passo do cólon, e segmentar excessiva ou em “picos”, refletindo as
contrações musculares. O termo “ondas lentas” é utilizado para descrever a atividade
elétrica rítmica espontânea que está presente na camada do músculo liso circular e
longitudinal da parede do intestino. Essas ondas lentas são geradas por uma rede
especializada de células de origem mesenquimal, as chamadas células intersticiais de
Cajal. Quando suficientemente estimulada, uma onda lenta está associada à contração do
músculo circular. As ondas lentas parecem determinar a frequência e a propagação da
atividade contrátil do músculo liso.
As células intersticiais de Cajal são cruciais para geração e propagação da atividade
do marca-passo e, junto com o sistema nervoso entérico, são responsáveis pelo controle da
motilidade gastrointestinal. As células intersticiais de Cajal são necessárias para a
motilidade intestinal normal, e também para mediar a neurotransmissão de neurônios
entéricos motores para o músculo na parede intestinal. O papel das células intersticiais de
Cajal como marca-passo intestinal tem sido demonstrado em modelos de animais
experimentais, que identificaram que a falta de redes de células intersticiais de Cajal
provoca ausência de ondas lentas e atraso ou ausência de motilidade intestinal.
Além disso, também foram mostrados que as células intersticiais de Cajal parecem
estar reduzidas ou ausentes em doenças associadas a alterações da motilidade
gastrointestinal, tais como estenose pilórica hipertrófica, gastroparesia diabética, pseudo-
obstrução intestinal, constipação de trânsito lento e ausência congênita do sistema nervoso
entérico, ou doença de Hirschsprung.
Anormalidades morfológicas das células intersticiais de Cajal também foram
demonstradas em pacientes com retocolite ulcerativa e em modelos animais experimentais
de inflamação do cólon, e isso pode explicar a falta de motilidade do cólon, em situações
em que há presença de infiltrado inflamatório colônico. No cólon humano, três populações
de células intersticiais de Cajal foram identificadas:
Fatores genéticos
O fato de essa doença ser extremamente rara entre os jovens e o progressivo aumento
da incidência a partir da 5ª e 6ª décadas da vida fizeram que muitos considerassem pouco
provável algum fator genético definindo o aparecimento dos divertículos no cólon. Por
outro lado, os dados epidemiológicos descritos sugerem componentes ambientais e
genéticos na etiologia da diverticulose colônica.
A associação dos divertículos com síndrome de Marfan e síndrome Ehler-Danlos
indica o envolvimento de tecido conjuntivo e uma possível predisposição genética para o
desenvolvimento da diverticulose. Estudos de casos em irmãos têm sido relatados, mas não
existem estudos definitivos avaliação do risco familiar em diverticulose colônica.
Alterações específicas de alterações do colágeno têm sido demonstradas em pacientes
com diverticulose colônica, e estas podem ser relacionadas com dieta pobre em fibras e
fatores genéticos.
FISIOPATOLOGIA
O termo diverticulose colônica é utilizado para definir pacientes portadores de
divertículos nos cólons que se comportam de maneira assintomática. Para esses casos, na
forma adquirida da doença, em que são observados sintomas ou complicações, são
denominados doença diverticular dos cólons. Vários fatores estão implicados na evolução
da diverticulose colônica para doença diverticular dos cólons. Recentes observações têm
ressaltado a participação da microflora intestinal na patogênese da doença diverticular.
A microflora intestinal exerce importante função de barreira contra toxinas ingeridas
e bactérias patogênicas. Além disso, pode fornecer, por meio de seus substratos, em
especial os ácidos graxos de cadeia curta, mais especificamente o butirato, importante fonte
de energia aos enterócitos. A dieta pobre em fibras alteraria a microflora colônica e o
equilíbrio do sistema imune intestinal, permitindo a presença de um processo inflamatório
crônico de baixa intensidade na mucosa intestinal. Portanto, a patogênese da doença
diverticular dos cólons estaria relacionada com a inflamação crônica da parede intestinal,
na forma de microcolite, a qual seria precursora das diversas fases e formas de diverticulite.
Por outro lado, evidências advindas da patologia mostram que pacientes com doença
diverticular sintomática apresentam, geralmente, inflamação microscópica da mucosa
próxima ao divertículo, e colonoscopistas experientes têm reportado inflamação diverticular
(eritema e edema do óstio diverticular com presença de pus e massa polipoide de tecido de
granulação em um orifício diverticular) em pacientes sem evidências clínicas de
diverticulite aguda. Em alguns casos, tem sido encontrada inflamação extensa, descrita
como colite diverticular.
Esta forma é predominante nos países ocidentais! Estes divertículos ocorrem mais
comumente no cólon sigmoide, possuem base estreita e complicam na maioria das vezes
com inflamação – diverticulite. A sua patogênese é proveniente do fenômeno da pulsão.
Um aumento da pressão intracolônica força a camada mucosa e submucosa do cólon
provocando a sua herniação através de pequenas fendas na camada muscular, por onde
penetram os vasos retos.
Uma dieta pobre em fibras vegetais (alimentos não digeridos) é o principal fator de
risco para desenvolver os (divertículos de pulsão). A pequena quantidade de fibras
aumenta a pressão intracolônica, por reduzir o volume do bolo fecal: com um lúmen menor,
as paredes colônicas podem se tocar em alguns pontos, criando compartimentos de alta
pressão durante os movimentos de peristalse (o fenômeno da segmentação).
Uma dieta rica em fibras, por outro lado, reduz a incidência desta patologia. O
sigmoide é a região de menor calibre do cólon e, pela lei de Laplace (Pressão = k. Tensão/
Raio), é o segmento de maior pressão intraluminal (enquanto que o ceco é o de maior
tensão na parede). O sigmoide e outros segmentos intestinais na doença diverticular
tornam-se não complacentes por diversos mecanismos:
“Mychosis”
Elastina
Colágeno
Doenças do tecido conjuntivo, como a síndrome de Ehlers-Danlos, a síndrome de
Marfan e a doença policística renal autossômica dominante resultam em mudanças
estruturais na parede intestinal, levando a uma redução na sua resistência à pressão
intraluminal e, portanto, permitindo a protrusão de divertículos. O sigmoide da forma
hipertônica apresenta espessamento da muscular (sem hiperplasia ou hipertrofia muscular),
com redução do lúmen. Postula-se que os distúrbios da motilidade colônica como a
síndrome do intestino irritável, possam também ser implicados como causadores da
diverticulose.
FORMAS DE APRESENTAÇÃO
Atualmente, não há nenhuma classificação universal aceita para a doença diverticular
dos cólons. Entretanto, alguns autores sugerem que a doença diverticular dos cólons pode
ser classificada como doença sintomática não complicada, doença sintomática não
complicada recorrente e doença complicada.
Formas complicadas
A complicação mais comum da doença diverticular é a diverticulite aguda, que ocorre
em cerca de 10 a 25% dos pacientes. A hemorragia é também uma complicação frequente
da doença diverticular, ocorrendo em cerca de 5 a 15% dos pacientes. Outras complicações
menos prevalentes incluem abscesso, fleimão, perfuração, obstrução intestinal, peritonite
fecal ou purulenta e fístulas.
Diverticulite aguda
Perfuração
Fístulas
EXAMES COMPLEMENTARES
Biomarcadores
Outros exames que podem ser solicitados como marcadores sorológicos são a
contagem de leucócitos e a velocidade de hemossedimentação (VHS). A leucocitose pode
ser observada na presença de diverticulite aguda, contudo, não é considerada marcador
confiável para avaliar atividade da doença na prática clínica, pois pode sofrer interferência
de diversos fatores (corticoides, imunossupressores, infecção concomitante, abscessos). A
VHS é influenciada pela morfologia dos eritrócitos e por constituintes plasmáticos, como as
imunoglobulinas. Está relacionada com a gravidade da diverticulite, alcançando altos
índices na diverticulite complicada. Entretanto, apresenta sensibilidade e especificidade
inferiores ao PCR no diagnóstico e monitoramento da doença diverticular dos cólons.
Calprotectina fecal
Dor abdominal crônica recorrente e alterações no hábito intestinal com episódios de
diarreia são queixas frequentes nos consultórios de clínicos e pediatras. Para o médico
generalista, o grande desafio é diferenciar quadros orgânicos (doença de Crohn, retocolite
ulcerativa) de quadros funcionais (síndrome do intestino irritável). Para o
gastroenterologista, a mesma dificuldade impõe-se no monitoramento da atividade de
doença dos portadores de doenças inflamatórias intestinais. Nesse sentido, a dosagem de
calprotectina fecal tem se mostrado um bom método tanto para a diferenciação entre
quadros abdominais orgânicos e funcionais quanto no acompanhamento da atividade
inflamatória das doenças inflamatórias intestinais. A substância, afinal, é uma proteína
ligadora de cálcio e zinco, presente nos granulócitos, e sua quantidade nas fezes depende da
migração de neutrófilos da parede intestinal inflamada para a mucosa. Além disso, sua
estabilidade à temperatura ambiente e sua resistência à degradação pelas enzimas
proteolíticas do trato gastrointestinal fazem da calprotectina um bom marcador fecal de
inflamação da mucosa intestinal. Ao nível do trato gastrointestinal, patologias inflamatórias
de diferentes etiologias provocam um aumento da permeabilidade da mucosa que induz a
migração de granulócitos e monócitos para o lúmen intestinal. A subsequente ativação e
morte dessas células libera uma grande quantidade de calprotectina, que é excretada nas
fezes. Representa cerca de 50 a 60% das proteínas do citosol dos neutrófilos, é liberada
durante a ativação e a morte celular e encontra-se estável nas fezes por vários dias. A
determinação de calprotectina nas fezes apresenta boa correlação com a excreção fecal de
leucócitos marcados com Índio-111 (In 111), considerado como técnica de referência para
medir a atividade inflamatória do intestino.
Quando a calprotectina se liga ao cálcio, apresenta uma resistência muito alta ao calor
e à degradação metabólica exercida por enzimas bacterianas e pelas próprias proteases
intestinais. Estas propriedades permitem a sua eliminação intacta nas fezes e conferem-lhe
uma vantagem como marcador bioquímico não invasivo para rastreio de inflamação
intestinal em comparação com outros marcadores utilizados (lactoferrina, elastase de
neutrófilos ou esterase de leucócitos).
Embora sua função biológica não esteja completamente elucidada, pode desempenhar
um papel importante na regulação da inflamação e processos neoplásicos. Parece que
exerce função protetora em processos inflamatórios e infecciosos e também possui
atividade antiproliferativa, porém um aumento excessivo pode induzir dano celular. A sua
concentração foi medida no plasma e outros fluidos biológicos (saliva, LCR, sinóvia) e nas
fezes, onde está mais concentrada do que no resto. Está elevada em múltiplos estados
patológicos, tanto inflamatórios (fibrose cística, artrite reumatoide, doença de Crohn, colite
ulcerativa e infecções bacterianas) quanto neoplásicos (câncer colorretal).
Por conta dessa propriedade, pode ser facilmente mesurada nas fezes por método
ELISA. Estudos demonstraram que a calprotectina foi capaz de diferenciar a doença
diverticular dos cólons da síndrome do intestino irritável e voluntários normais. A
calprotectina apresentou índices < 15 mcg/ml em indivíduos normais e com síndrome do
intestino irritável e > 15 mcg/ml em pacientes com doença diverticular dos cólons não
complicada. Valores maiores que 60 mcg/ml foram encontrados na diverticulite aguda.
Outros estudos também foram capazes de demonstrar essa estratificação de valores,
provando que a calprotectina é capaz de identificar pacientes com doença diverticular dos
cólons e diferenciá-los de pacientes com síndrome do intestino irritável e de indivíduos
saudáveis. Ainda, após o tratamento da doença diverticular dos cólons esses valores
retornaram aos índices normais. Portanto, de acordo com os estudos publicados, a
calprotectina demonstrou ser capaz de indicar a gravidade ou a intensidade da doença
diverticular dos cólons, monitorar sua resposta terapêutica, além, diferenciá-la da síndrome
do intestino irritável. A aplicação na prática clínica oferece algumas limitações, pois
qualquer condição que cause migração de neutrófilos para o intestino, como nas infecções e
neoplasias ou mesmo pequenos sangramentos, podem elevar os índices da calprotectina.
Apesar disso, parece ser um método muito promissor no diagnóstico e no monitoramento
da doença diverticular dos cólons.
EXAMES DE IMAGEM
Enema opaco
O enema com contraste de bário foi o exame diagnóstico padrão para diverticulite e
suas complicações durante muitos anos. Como o uso de bário para confirmar uma
perfuração intestinal acarreta um risco de peritonite, somente enemas de contraste solúvel
em água, como o gastrofin, devem ser usados no local suspeito de diverticulite. Um estudo
contrastado simples deve ser executado e terminado, uma vez que os achados de
diverticulite são descobertos e a visualização de todo o cólon pode ser adiada para uma data
posterior; os estudos com ar como contraste (duplo) não são indicados. As descobertas
consideradas diagnósticas de diverticunte incluem a demonstração de material de contraste
extravasado com ou sem o delineamento de uma cavidade de abscesso, um seio do trato
intramural ou uma fístula. Diverticulose extensa, espasmo, espessamento da mucosa ou
sacos deformados, embora sugestivos de diverticulite, não são conclusivos. Uma massa
extraluminal comprimindo o cólon é o achado mais comum em diverticulite grave, embora
esse achado não seja específico para o diagnóstico. Obviamente, na ausência de divertículos
ou achados associados, o diagnóstico deve ser reconsiderado. O enema com contraste
demonstra uma sensibilidade de cerca de 62% a 94% para detecção de diverticulite aguda,
com resultados falso-negativos em cerca de 2% a 15%.
Ultrassonografia
Endoscopia
Colite isquêmica
Incide na mesma faixa etária, com preferência pelo cólon esquerdo. O diagnóstico
diferencial poderá ser estabelecido por meio de exame radiológico e/ou endoscópico. A
colite isquêmica é de ocorrência mais comum na faixa etária em que é frequente a doença
diverticular dos cólons.
Dor abdominal localizada, febre, leucocitose e diarreia com muco e sangue e a idade
devem ser os sinais e sintomas para o diagnóstico clínico de colite isquêmica, antes de se
pensar em enterocolite infecciosa ou em doença intestinal inflamatória inespecífica,
principalmente as que são mais comuns nos jovens. O exame endoscópico, que pode ser
imprudente na vigência da diverticulite, é arma poderosa para o diagnóstico da colite
isquêmica que pode ser vista, também, no clister feito com contraste hidrossolúvel. Como
na maioria desses casos a inflamação é transitória e não deixa sequela, a oportunidade do
diagnóstico está na investigação precoce.
doença de Crohn
Ambas podem estar associadas com diarreia, sangramento e perda de muco com as
fezes, principalmente quando há a colite diverticular, associada à doença diverticular dos
cólons. Outros sintomas e sinais tais como perda do apetite, emagrecimento e lesões
perianais seriam os elementos para o diagnóstico da doença inflamatória. A coexistência
das duas doenças tem sido descrita, embora na faixa etária da doença diverticular dos
cólons seja incomum a doença de Crohn.
Apendicite aguda
Atinge, em geral, grupos etários mais jovens. O diagnóstico diferencial pode ser
estabelecido por intermédio de exames radiológicos ou endoscópicos.
Outras patologias
A internação hospitalar deve ser feita diante de complicações como: dor acentuada
que requer analgesia com narcóticos; vômitos incoercíveis; e intolerância à ingestão oral –
seja idoso (principalmente se acima de 80 anos de idade), imunossuprimido, transplantado
ou apresente comorbidades relevantes como diabetes mellitus, insuficiência renal crônica,
doenças hematológicas malignas e síndrome da imunodeficiência adquirida e seja
administrada antibioticoterapia endovenosa de amplo espectro e sem receber, inicialmente,
qualquer alimento por via oral.
Na evidência de obstrução gastrintestinal, deve ser inserido cateter nasogástrico para
descompressão do estômago e prevenção de estase. A maioria dos pacientes com
diverticulite colônica não complicada responde ao tratamento e obtém melhora da
sintomatologia e redução na leucometria em 48 horas do início da antibioticoterapia.
A ausência de melhora ou a piora em dois a três dias após a instituição dessas
medidas requer considerar a possibilidade de resolução com a cirurgia.
A avaliação cirúrgica também deve ser feita diante de recorrência de diverticulite,
complicações da doença – o episódio agudo acometer paciente imunocomprometido ou
houver incerteza acerca do diagnóstico. A instituição de antibioticoterapia na diverticulite
não complicada, entretanto, é questionada.
Tratamento da diverticulite aguda
Nos pacientes com as formas leves (sem febre alta, peritonite importante ou vômitos),
formas não recorrentes, sem complicações, geralmente em estágio Hinchey I, o tratamento
pode ser feito ambulatorialmente.
Nesses pacientes, usualmente são recomendados dieta líquida e antibióticos orais de
largo espectro por 7 a 10 dias. A antibioticoterapia deve ser direcionada à cobertura contra
bactérias anaeróbicas, em especial Bacteroides fragilis, Peptostreptococcus e Clostridium
e também para bactérias aeróbicas, principalmente Escherichia coli, Klebsiella, Proteus,
Streptococcus e Enterobacter.
Os regimes de antibioticoterapia podem ser em forma de monoterapia ou associação
de antibióticos. Uma combinação típica e bastante comum é a associação de
fluoroquinolonas (ou trimetoprim-sulfametoxazol) e metronidazol.
Conservadora
O tratamento cirúrgico foi, por muitos anos, indicado para os pacientes com episódios
repetidos de diverticulite aguda. Após um ou dois episódios agudos de diverticulite, a
cirurgia estava indicada. Os parâmetros para essa indicação foram revistos, e a
recomendação atual é que a cirurgia eletiva seja realizada de acordo com cada caso. Dados
recentes da literatura têm questionado a indicação de tratamento cirúrgico após duas ou até
mesmo quatro crises de diverticulite aguda. Isso se deve ao fato de a maioria dos pacientes
responder ao tratamento clínico e os estudos demonstrarem que uma porcentagem de
pacientes com indicação de cirurgia de urgência não tem história prévia de diverticulite.
Até o presente momento não há evidências de que as complicações aumentam após as
crises de diverticulite aguda ou de que a chance de sucesso de tratamento clínico das crises
agudas posteriores possa ser menor, expondo o paciente ao risco de uma crise de
diverticulite complicada. Foi relatado recidiva de 5% nos pacientes tratados clinicamente e
seguidos até dois anos.
Estudos concluíram que o tratamento cirúrgico eletivo da doença diverticular não
pode ser baseado no número de episódios agudos prévios. A mortalidade chega a cerca de
13%, e a cirurgia eletiva deve ser reservada a pacientes de alto risco ao tratamento clínico,
como no caso de pacientes imunodeprimidos. Outra indicação para o tratamento cirúrgico é
a obstrução intestinal que não melhora com tratamento conservador. A idade e as condições
clínicas do paciente devem ser consideradas.
Os pacientes jovens, abaixo dos 50 anos, sem comorbidades, toleram procedimentos
mais agressivos. O procedimento mais utilizado é ressecção e anastomose imediata. Todo o
cólon sigmoide deve ser removido e anastomose deve ser realizada com o reto e sem
tensão. As complicações mais frequentes são fístula (2% a 5%), hemorragia, estenose e
lesão ureteral (1% a 10%).
https://www.medicinanet.com.br/conteudos/
revisoes/6862/doenca_diverticular_aguda.htm
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v23n4a10%20(4).pdf
Schilioma 890
Harrison 180
Feldmam 2156
https://www.worldgastroenterology.org/UserFiles/
file/guidelines/diverticular-disease-portuguese-
2007.pdf