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SEMIOLOGIA MÉDICA II
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➢ Em razão da localização posterior dos rins, do duodeno e do pâncreas, é pouco provável que
as anormalidades desses órgãos sejam palpáveis nos pacientes adultos. Em crianças, nas quais
os músculos da parede abdominal são menos desenvolvimentos, as massas renais podem ser
frequentemente palpáveis, sobretudo, do lado direito.
➢ Quando o alimento passa pelo esôfago, uma lesão obstrutiva pode produzir disfagia ou
dificuldade para engolir. O refluxo gastroesofágico pode causar dor retroesternal em
queimação. A entrada de alimento parcialmente digerido no estômago estimula o relaxamento
gástrico. Uma falha nesse mecanismo de relaxamento pode causar saciedade precoce ou dor.
O estômago funciona como um reservatório de alimento, secretor de suco gástrico, e promove
movimentos peristálticos com suas paredes musculares. Cerca de 2 a 3L de suco gástrico são
produzidos diariamente pela mucosa do estômago e atuam sobre a digestão de proteínas. O
material cremoso, semilíquido, produzido pela digestão gástrica dos alimentos é denominado
quimo. A secreção do suco gástrico pode causar dor caso haja uma úlcera gástrica. O
esvaziamento intermitente do estômago ocorre quando a pressão intragástrica supera a
resistência do esfíncter pilórico. O esvaziamento completo geralmente ocorre 6 horas após a
dieta. Qualquer obstrução ao esvaziamento gástrico pode causar vômitos.
➢ A entrada do quimo do estômago no duodeno estimula a secreção de enzimas pancreáticas e
a contração da vesícula biliar. O fluxo do suco pancreático é máximo cerca de duas horas após
a refeição; o débito diário é de 1 a 2L. As três enzimas do quimo - lipase, amilase e tripsina - são
responsáveis pela digestão de gorduras, carboidratos e proteínas, respectivamente. Nos casos
de insuficiência pancreática as fezes são pálidas e volumosas com um odor que é mais fétido do
que o normal. O quimo e o efeito neutralizador dessas enzimas reduzem a acidez do conteúdo
duodenal e aliviam a dor da úlcera péptica duodenal. A dor causada pela inflamação aguda
da vesícula biliar ou por pancreatite piora nesta fase do ciclo digestivo.
➢ O alimento digerido continua seu curso através do intestino delgado, onde o processo de
absorção e digestão tem continuidade. A falência na produção da bile ou na sua liberação da
vesícula biliar resulta em prejuízo à digestão e à absorção de gorduras, causando diarreia. Os
cálculos biliares podem resultar da dieta e de predisposição genética.
➢ O fígado produz a bile, destoxifica os bioprodutos da digestão dos alimentos e metaboliza
proteínas, lipídios e carboidratos. O débito diário de bile é de aproximadamente 1L. Diante de
uma função hepática anormal, podemos encontrar icterícia, ascite e coma.
➢ O jejuno e o íleo complementam a digestão e a absorção dos nutrientes. Os sais biliares e a
vitamina B12 são absorvidos no íleo. A coloração escurecida das fezes deve-se à presença de
estercobilina, um metabólito da bilirrubina que é secretado na bile. Caso o fluxo da bile seja
impedido de alcançar o intestino delgado, as fezes se tornam pálidas ou acinzentadas, e são
denominadas alcoólicas ou livres de bile.
➢ O cólon atua removendo a maior parte da água e dos eletrólitos remanescentes do quimo.
Aproximadamente 600ml de líquido chegam ao cólon diariamente, e apenas 200ml são
excretados nas fezes. A função colônica anormal causa diarreia ou constipação. Lesões
diverticulares da mucosa podem causar sangramento e dor caso estejam infectadas. A
obstrução do cólon causa dor de forte intensidade. Os tumores podem causar obstruções e
sangramento.
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➢ REGISTRO NO PRONTUÁRIO: Deve ser legível, bem entendível e bem descrita, como o exemplo
- Abdome plano, sem abaulamentos ou retrações, RHA +, S/S, indolor e flácido à palpação
superficial e profunda, associado a mobilização do cólon sigmoide repleto, à percussão
Hepatimetria de “tantos” cm, espaço de Traube livre.
- Se tiver cicatriz deve-se caracterizar o local e a forma. Se tiver desconforto a palpação deve
localizar o quadrante.
INSPEÇÃO
❖ Inspecione o abdome, mantendo-se, como sempre, de pé, à direita do leito do paciente. Fique
atento ao peristaltismo ao observar o contorno abdominal. Vale a pena sentar-se ou inclinar-se para
diante, para visualizar o abdome tangencialmente.
❖ Inspecione a superfície, o contorno e os movimentos do abdome, incluindo o seguinte:
- Pele: Cicatrizes ⟶ descreva ou faça um desenho de sua localização (podem ser fisiológicas ou
patológicas). Estrias ⟶ estrias prateadas antigas são consideradas normais (estrias de coloração
rosaviolácea indicam síndrome de Cushing, devido ao aumento do cortisol). Veias dilatadas ⟶
algumas veias de pequeno calibre são normalmente visíveis (veias dilatadas podem ser um indício
de cirrose hepática ou de obstrução da veia cava inferior). Umbigo ⟶ observe o contorno e a
localização, bem como sinais de inflamação ou protrusão, sugestivos de hérnia ventral. Erupções
cutâneas ou equimoses ⟶ Equimoses na parede do abdome são encontradas em pacientes com
hemorragia intraperitoneal ou retroperitoneal.
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* Sinal de Grey Turner: Refere a equimoses nos flancos. Este sinal leva de 24 a 48 horas para
aparecer e prediz um ataque severo de pancreatite aguda. Pode ser acompanhado pelo sinal
de Cullen. Está também associado a pancreatites necrohemorrágicas.
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cardíaca ou em hipertensão portal/cirrose. Em indivíduos normais, as veias abdominais
geralmente não são visíveis. Quando há obstrução do sistema venoso porta ou veia cava, os
vasos superficiais podem se mostrar distendidos. Os locais onde mais comumente ocorrem as
colaterais porto-sistêmicas são: submucosa do esôfago e estômago, submucosa do reto,
parede abdominal anterior e veia renal esquerda. A extensa comunicação da circulação
portal com a circulação sistêmica pode ser
responsável por manifestações de encefalopatia
hepática, uma vez que grande proporção do
sangue portal é desviado do fígado e não tem
contato com as células hepáticas. Obstrução na
circulação porta (circulação colateral tipo porta):
desenvolvimento da cabeça de medusa (caput
medusae), que se irradiam a partir do umbigo.
Obstrução da veia cava inferior (circulação
colateral tipo cava inferior): veias evidentes de fluxo
ascendente (caudal-cranial) que surgem devido a
uma trombose da veia cava inferior. Obstrução da veia cava superior (circulação colateral
tipo cava superior): veias dilatadas e evidentes de fluxo descendente (craniocaudal) na
superfície da parede torácica.
AUSCULTA
❖ A ausculta fornece informações importantes sobre
a motilidade intestinal. Ausculte o abdome antes de
efetuar a percussão ou a palpação, porque essas
manobras modificam a frequência dos sons
intestinais. Na ausculta também podem ser
encontrados sopros, ou sons vasculares que se
assemelham a sopros cardíacos, sobre a aorta ou
outras artérias do abdome.
❖ Coloque o diafragma do estetoscópio
suavemente sobre o abdome. Ausculte os sons
intestinais e observe sua frequência e características.
Os sons normais consistem em estalidos e gorgolejos,
que ocorrem em uma frequência estimada de 5 a 34 por minuto (é preciso ficar aproximadamente
20 segundos auscultando cada quadrante, pois os RHA são intermitentes). Ocasionalmente são
auscultados borborigmos – gorgolejos prolongados de hiperperistaltismo – que correspondem ao
familiar “estômago roncando”. Como os sons intestinais são amplamente transmitidos pelo abdome,
a ausculta em um único ponto, como o quadrante inferior direito, é, em geral, suficiente.
❖ Lembre-se que o normal ao auscultar as artérias (aorta, renais, ilíacas e femorais) é não ouvir
nenhum som, caso haja sopro (por estenose ou aneurisma - sempre sistólico) aí sim vamos ouvir algo.
❖ Ruídos abdominais e de atrito: Se o paciente for hipertenso, deve-se auscultar o epigástrio e os
quadrantes superiores do abdome à procura de sopros. Em uma fase posterior do exame, quando
o paciente estiver sentado, deve-se auscultar também os ângulos costovertebrais. Sopros
epigástricos restritos à sístole são normais.
- Um sopro com componentes sistólicos e diastólicos em uma dessas regiões é muito sugestivo de
estenose da artéria renal como causa da hipertensão arterial.
- Devem ser pesquisados sopros sobre a aorta, as artérias ilíacas e as artérias femorais ⟶ Sopros
com componentes sistólicos e diastólicos sugerem turbulência do fluxo sanguíneo por causa de
doença arterial aterosclerótica.
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- Ausculte sobre o fígado e o baço à procura de atritos ⟶ Ruídos de atrito são auscultados em
pacientes com hepatoma, infecção gonocócica peri-hepática, infarto esplênico e carcinoma
pancreático.
PERCUSSÃO
❖ A percussão auxilia a avaliar a quantidade e a distribuição dos
gases no abdome, possíveis massas sólidas ou cheias de líquido e
as dimensões do fígado e do baço. Deve-se percutir
delicadamente os quatro quadrantes do abdome para avaliar a
distribuição do timpanismo e da macicez. O timpanismo costuma
predominar, em função dos gases existentes no sistema
digestório, mas também são típicas regiões esparsas de macicez,
em virtude de haver líquido e fezes.
- Lembre-se: Abdome protuberante e totalmente timpânico
sugere obstrução intestinal.
❖ Pesquise grandes regiões de macicez sugestivas de massa ou um órgão aumentado de
tamanho. Essa observação orientará a palpação. Observe a
transição de timpanismo para macicez das estruturas posteriores
sólidas, nos dois lados de um abdome protuberante.
❖ Percuta brevemente a borda anteroinferior do tórax, acima
das margens costais. À direita, geralmente se observa a macicez
hepática, enquanto, à esquerda, verifica-se o timpanismo
sobrejacente à bolha de ar gástrica e à flexura esplênica do colo
intestinal ⟶ ESPAÇO DE TRAUBE (do 6º ao 11º EI)
❖ As áreas de macicez podem indicar útero gravídico, tumor
ovariano, distensão da bexiga, fígado, cólon sigmoide cheio -
lembre-se que ele é um órgão palpável - ou esplenomegalia. É
mais comum ter uma área de maior timpanismo na região do
hipocôndrio esquerdo (maior eco). Macicez nos flancos é uma
indicação de pesquisa adicional de ascite. No situs inversus (raro),
os órgãos estão invertidos: bolha de ar à direita, macicez
hepática à esquerda.
PALPAÇÃO
❖ Palpação superficial: a palpação suave do abdome é particularmente útil para identificar dor
à palpação, resistência muscular e alguns órgãos ou massas superficiais. Também serve para
tranquilizar e relaxar o paciente. Mantendo a mão e o antebraço no plano horizontal, com os
dedos juntos e retos sobre a superfície abdominal, palpe o abdome com movimentos
descendentes leves e suaves. Ao deslocar sua mão de uma região para outra, eleve-a um
pouco acima da pele. Palpe todos os quadrantes com movimentos suaves e uniformes.
Identifique órgãos ou massas superficiais, bem como qualquer região de maior sensibilidade ou
resistência à sua mão. Se houver resistência, tente diferenciar a defesa voluntária do espasmo
muscular involuntário. A rigidez involuntária (espasmo muscular) tipicamente persiste, apesar
dessas manobras, sugerindo inflamação peritoneal.
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❖ Palpação profunda: este método é, em geral, necessário para delimitar massas abdominais.
Mais uma vez usando as superfícies palmares de seus dedos, palpe todos os quatro quadrantes.
Verifique se há quaisquer massas e registre sua localização, forma, tamanho, consistência,
hipersensibilidade, pulsações e mobilidade com a respiração ou com a mão examinadora.
Correlacione os seus achados com as observações colhidas pela percussão. As massas
abdominais podem ser classificadas de diversas maneiras: fisiológicas (útero gravídico),
inflamatórias (diverticulite do colo intestinal), vasculares (aneurisma da aorta abdominal),
neoplásicas (carcinoma de colo intestinal) ou obstrutivas (bexiga distendida ou alça intestinal
dilatada).
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inferior direito (em uma região de timpanismo, e não de macicez), percuta suavemente para
cima em direção ao fígado. Identifique a borda inferior da macicez hepática na linha
hemiclavicular. Em seguida, identifique a borda superior da macicez hepática na linha
hemiclavicular. Começando na linha mamilar, percuta de leve, seguindo do som claro
pulmonar para baixo, no sentido da macicez hepática. Afaste cuidadosamente a mama
feminina, para que a percussão possa ser iniciada em uma região adequada de som claro
atimpânico. A seguir, determina-se, em centímetros, a distância entre os dois pontos – o limite
vertical de macicez hepática. Os limites normais do fígado (entre 6 e 12cm) , geralmente são
maiores nos homens do que nas mulheres, e também se mostram maiores nas pessoas altas
do que nas baixas. Se o fígado parecer aumentado de tamanho, delineie a borda inferior
percutindo outras regiões. As medidas do limite do fígado por percussão são mais acuradas
quando o fígado está aumentado e apresenta borda palpável, mas somente cerca de
metade dos fígados com borda abaixo do rebordo costal direito são palpáveis, porém a
probabilidade de hepatomegalia quase dobra quando a borda é palpável.
* Lembre-se: A amplitude da macicez hepática aumenta nos casos de hepatomegalia. A
amplitude da macicez hepática diminui quando o fígado é pequeno ou quando existe ar
livre abaixo do diafragma, como na perfuração de vísceras ocas. Determinações seriadas
podem mostrar redução da macicez com a resolução de quadros de hepatite ou
insuficiência cardíaca ou, menos comumente, com a progressão de hepatite fulminante. A
macicez hepática pode ser deslocada para baixo pelo diafragma rebaixado encontrado na
doença pulmonar obstrutiva crônica. Entretanto, as dimensões do fígado permanecem
normais.
* A macicez do derrame pleural direito ou da condensação pulmonar, se adjacentes à
macicez hepática, podem induzir à superestimativa do tamanho do fígado. O gás existente
no colo intestinal pode provocar timpanismo no quadrante superior direito, mascarando a
macicez hepática, e falsa redução do tamanho estimado do fígado.
2. Palpação (manobras):
- Método de Lemos Torres ⟶ Coloque a mão esquerda por baixo do paciente, paralela à 11ª
e à 12ª costelas, de modo a sustentá-las bem como as partes moles adjacentes. Lembre ao
paciente que ele pode relaxar apoiado na sua mão. O fígado do paciente é mais fácil de
ser palpado com a mão direita, ao se exercer
compressão para cima com a mão esquerda.
Coloque a mão direita no lado direito do abdome do
paciente, ao lado do músculo reto do abdome, com
as pontas de dedos bem abaixo da borda inferior da
macicez hepática. Peça ao paciente que respire
fundo. Procure sentir a borda do fígado quando ela
desce de encontro às pontas de seus dedos. Se for
palpada, diminua um pouco a pressão da mão que
realiza a palpação, para que o fígado possa deslizar
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sob as pontas dos seus dedos e seja possível palpar a superfície anterior. Verifique se ocorre
dor à palpação. Se o fígado for palpável, a borda hepática normal é macia, bem delimitada
e regular, com superfície lisa. O fígado normal pode ser discretamente doloroso à palpação.
Fígado de consistência firme ou endurecida, com borda romba ou arredondada e de
contorno irregular, sugere anormalidade hepática.
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* Teste da onda líquida (piparote): Solicite ao paciente ou a um
assistente que comprima a linha média do abdome com firmeza,
usando as bordas das mãos. Essa compressão ajuda a interromper
a transmissão de ondas pelo tecido adiposo. Percuta
simultaneamente um dos flancos com a ponta dos dedos, e com a
outra mão tente sentir no flanco oposto um impulso transmitido pelo
líquido. Infelizmente, é comum este sinal permanecer negativo até
que a ascite já seja bem evidente. Além disso, também pode ser
positivo em indivíduos sem ascite.
➢ BAÇO: Quando há aumento de tamanho do baço, isso ocorre no sentido anterior, inferior e
medial, e geralmente se observa a substituição do timpanismo do estômago e do colo do
intestino pela macicez de um órgão sólido. Quando isso ocorre, passa a ser palpável abaixo do
rebordo costal. A percussão sugere, mas não confirma, a esplenomegalia. A palpação pode
confirmar a esplenomegalia, mas às vezes não consegue detectar os baços de grande volume
que não ultrapassam o rebordo costal.
1. Percussão (Espaço de Traube) ⟶ Duas técnicas auxiliam na detecção da esplenomegalia,
ou baço aumentado:
1.1 Percussão da região inferior esquerda da parede torácica anterior, entre o som claro
atimpânico do pulmão acima e o rebordo costal, uma região denominada espaço de
Traube. Durante a percussão ao longo dos trajetos, é possível perceber a extensão lateral
do timpanismo. A percussão é moderadamente acurada na detecção da
esplenomegalia. Se houver macicez à percussão, a palpação detecta corretamente se
há ou não esplenomegalia em mais de 80% dos casos. A ocorrência de esplenomegalia
é pouco provável nos casos de timpanismo acentuado, especialmente na região lateral.
Lembre-se que a existência de líquidos ou sólidos no estômago ou no colo intestinal
também pode provocar macicez no espaço de Traube (portanto, espaço de Traube
preenchido pode indicar esplenomegalia, um grande derrame pleural ou um estômago
muito cheio (obstrução gástrica)).
1.2 Pesquisa do sinal de percussão esplênica: percuta o espaço intercostal mais baixo na
linha axilar anterior esquerda. O som, nesta região, costuma ser timpânico. Em seguida,
peça ao paciente que respire fundo, e torne a percutir. Quando o tamanho do baço for
normal, a nota de percussão permanecerá, em geral, timpânica. A transição de uma
percussão timpânica para macicez durante a inspiração sugere esplenomegalia (sinal
de percussão esplênica positivo).
2. Palpação:
- Técnica bimanual ⟶ Com a mão esquerda, segura-se o paciente, de modo a apoiar e
comprimir para frente a região inferior da caixa torácica e os tecidos moles adjacentes. Com
sua mão direita por baixo do rebordo costal esquerdo, faça pressão para dentro, na direção
do baço. Inicie a palpação em uma altura suficientemente baixa para permitir a detecção
de um possível aumento de baço. Solicite ao paciente que inspire profundamente. Tente
palpar a extremidade ou a borda do baço, descendo de encontro às pontas de seus dedos.
Fique atento a qualquer hipersensibilidade, avalie o contorno esplênico e meça a distância
entre o ponto mais baixo do baço e o rebordo costal esquerdo. A extremidade (ponta) do
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baço é palpável em aproximadamente 5% dos adultos
normais. As causas incluem diafragma rebaixado e
retificado, como na doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC), e acentuação da descida inspiratória do
diafragma.
* A esplenomegalia pode não ser detectada se o exame
começar em um ponto alto demais do abdome para
palpação da sua borda inferior. A esplenomegalia é oito
vezes mais provável quando o baço é palpável. As causas
incluem hipertensão portal, neoplasias malignas
hematológicas, infecção pelo HIV, além de infarto ou
hematoma esplênico.
➢ RINS:
1. Palpação: Embora os rins sejam órgãos retroperitoneais e habitualmente não sejam palpáveis,
o aprendizado das técnicas de exame ajuda a diferenciar rins aumentados de tamanho de
outros órgãos e de massas abdominais. Massa no flanco esquerdo pode ser uma
esplenomegalia acentuada ou um rim esquerdo aumentado. Suspeita-se de esplenomegalia
quando há uma chanfradura palpável na borda medial, a borda ultrapassa a linha média, a
percussão é maciça e os dedos conseguem palpar profundamente as bordas medial e
lateral, mas não penetram entre a massa e o rebordo costal.
- Manobra de Israel ⟶ Passe para o lado esquerdo do paciente (ideal fazer essa manobra
juntamente com a técnica de Schuster, pois assim o paciente não precisa virar duas vezes, já
que nessa manobra é recomendado que o paciente fique em decúbito lateral e membros
superiores sobre a cabeça). Coloque sua mão direita nas costas do paciente, logo abaixo e
paralelamente à 12ª costela, e com as pontas de seus dedos apenas tocando o ângulo
costovertebral. Eleve a mão, tentando deslocar o rim para frente. Coloque a mão esquerda,
com cuidado, no quadrante superior esquerdo, lateral e paralelamente ao músculo reto do
abdome. Solicite ao paciente que respire fundo. No pico da
inspiração, aperte sua mão esquerda firme e profundamente
no quadrante superior esquerdo, logo abaixo do rebordo
costal, e tente “capturar” o rim entre as suas duas mãos. Os
atributos sugestivos de aumento renal, em vez de
esplenomegalia, são a preservação do timpanismo normal no
quadrante superior esquerdo do abdome e a capacidade de
os dedos do examinador penetrarem na região entre a massa
e o rebordo costal, mas não atingirem profundamente as
bordas medial e inferior da massa.
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- Manobra de Godet: Com o paciente em ortostase, flete-se o joelho do lado que deseja-lhe
palpar. A seguir, faz-se uma tração anterior com uma das mãos enquanto a outra é usada
na tentativa de palpar o polo inferior do rim.
➢ POSSÍVEL APENDICITE: A apendicite é uma causa comum de dor abdominal aguda. É preciso
pesquisar com cuidado sinais de irritação peritoneal (abdome agudo - aqui a ausculta será
ausente ou diminuída) e os sinais adicionais de dor à palpação do ponto de McBurney, sinal de
Blumberg positivo, manobra de Rovsing (mudar o trajeto normal do trânsito intestinal), sinal do
psoas e sinal do obturador. A dor da apendicite inicia-se classicamente no umbigo e desloca-se,
então, para o quadrante inferior direito, onde aumenta com a tosse. Os pacientes idosos relatam
esse padrão com menor frequência que os mais jovens.
- Pesquise cuidadosamente regiões de dor à palpação localizada. Classicamente, o ponto de
McBurney está localizado a 5 cm do processo espinhoso anterossuperior do ílio em uma linha
imaginária traçada entre esse processo e o umbigo. Pesquise defesa, rigidez muscular e
descompressão dolorosa na região de dor à palpação. Pesquise o sinal de Blumberg e a
ocorrência descompressão dolorosa referida: comprima, profunda e uniformemente, o
quadrante inferior esquerdo do abdome e, em seguida, retire rapidamente seus dedos. Procure
o sinal do psoas: coloque sua mão logo acima do joelho direito do paciente e peça que ele
eleve essa coxa contra sua mão. Outra alternativa é solicitar ao paciente que se vire para o lado
esquerdo e estique a perna direita na altura do quadril. A flexão da perna nessa posição contrai
o músculo psoas, enquanto a extensão o alonga. Procure o sinal do obturador: flexione a coxa
direita do paciente na altura do quadril, com os joelhos dobrados, e efetue a rotação interna da
perna na altura do quadril. Essa manobra estira o músculo obturador interno.
➢ CASO 2:
* ID: MAS, 63 anos, masculino, natural e procedente de Curitiba-PR, casado, evangélico, 1º grau
completo, aposentado.
* QP: “Dor abdominal”.
* HMA: Há 6 meses refere distinção abdominal frequentes, associado à obstipação, que alivia
com uso de laxantes. Há 7 dias não consegue evacuar, com piora da distensão, e ontem iniciou
com dor abdominal difusa e vômitos, não conseguindo alimentar-se desde então. Refere ainda
não eliminar flatus há mais de 8 horas.
* HMP: HAS, em uso de losartana há 2 anos. Nega cirurgias, transfusões. Refere vacinação em
dia.
* CHV: Tabagista 1 maço/dia há 10 anos, nega etilismo. Moradia com condições sanitárias
adequadas. Em seu dia típico acorda às 5h, come 2 pães com mortadela, toma café preto e vai
trabalhar. Almoça às 11h arroz, feijão, macarrão, carne ou frango, e salada. Às 15h volta para
casa come pão e fruta e descansa. Janta às 19h semelhante ao almoço e dorme às 21h.
* HMF: Mãe falecida aos 45 anos por câncer de mama. Pai vivo, com 87 anos e saudável.
* RS: Hematoquezia/hemorragia retal cerca de 2 a 3 vezes na semana há 6 meses.
Emagrecimento de 8kg em 2 meses.
* ECTOSCOPIA: REG, taquipneico, hipocorado
* DADOS VITAIS: PA 100x60 FC 110 FR 32 Tax 36,4 PESO 72 H 1,72 CA 88
* C/P: Sem LNM, palpação indolor, tireoide não palpável
* TÓRAX: Expansibilidade simétrica, FTV+ e simétrico, MV+ sem RA. Ictus palpável 5º EI LHC E, BC
2T, sem sopros.
* EXAME FÍSICO DO ABDOME: À inspeção globoso, distendido e dinâmica sem alterações,
ausência de RHA após 2 minutos de ausculta, sem sopros. À palpação superficial, abdome tenso
em porção inferior, com defesa abdominal por dor difusa em todo abdome. À palpação
profunda não palpo massas, com dor à descompressão súbita em todos os pontos. À percussão
hipertimpanismo difuso, hepatimetria 10cm.
* TOQUE RETAL: Inspeção sem alterações, sem fezes em ampola retal, dor em parede anterior,
sem sangue na luva.
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➔ Neoplasia intestinal (massas, RHA diminuídos, fecaloma) ⟶ obstrução e isquemia das alças
intestinais (essa isquemia irá provocar a liberação de vários fatores inflamatórios) ⟶ pode evoluir
para abdome agudo grave. É preciso fazer toque retal (60% dos casos de obstrução intestinal é
em reto e sigmoide, por isso o exame retal). O tratamento cirúrgico é o mais indicado nesse caso
(ileostomia).
➢ CASO 3:
* ID: MAS, 13 anos, feminino, natural e procedente de Curitiba-PR, católica, estudante da 7ª série
do ensino fundamental.
* QP: “Dor abdominal”
* HMA: Há 2 dias iniciou com dor mesogástrica, náuseas e calafrios, fez uso de paracetamol e
bromoprida com alívio. Ontem retomou os sintomas, associado a uma evacuação em pequeno
volume com fezes amolecidas. Há cerca de 3 horas a dor abdominal piorou de intensidade, com
localização em fossa ilíaca direita, melhora se ficar imóvel e piora com movimentos bruscos como
o trepidar do carro.
* HMP: Nega comorbidades, cirurgias, transfusões. Refere vacinação em dia.
* CHV: Nega tabagismo, nega etilismo, nega drogadição. Moradia com condições sanitárias
adequadas. Em seu dia típico acorda às 6h, come 1 pão de queijo, toma achocolatado e vai
para a escola. Almoça às 13h arroz, feijão, carne ou frango, e salada. Às 15h come pão e fruta
e descansa. Janta às 21h semelhante ao almoço e dorme às 23h.
* HMF: Pais e irmãos saudáveis.
* RS: Sem outras queixas.
* ECTOSCOPIA: REG, taquipneico, hipocorado
* DADOS VITAIS: PA 100x62 FC 110 FR 32 Tax 38,4
* C/P: Sem LNM, palpação indolor, tireoide não palpável
* TÓRAX: Expansibilidade simétrica, porém superficial, FTV+ e simétrico, MV+ sem RA. Ictus
palpável 5º EI LHC E, BC 2T, sem sopros.
* EXAME FÍSICO DO ABDOME: À inspeção estática respiração predominantemente torácica,
plano, à ausculta RHA diminuídos difusamente, sem sopros. À palpação superficial abdome tenso
com dor difusa. Sinal de Rovsing +, sinal do psoas presente, dor à descompressão súbita. À
percussão hepatimetria 8cm, Traube livre.
➔ Provável apendicite. Pode ser cisto ovariano, ovário roto, peritonite (o movimento brusco pode
piorar a dor), ou até mesmo, pneumoperitônio.
➢ CASO 4:
* ID: MAS, 53 anos, masculino, natural e procedente de Curitiba-PR, católico, mecânico.
* QP: “Barriga inchada”
* HMA: Há 2 meses iniciou com aumento do volume abdominal, indolor, progressivo, associado
a edema em tornozelos. Há 2 dias refere dificuldade de respirar quando deita, pelo volume
abdominal. Nega alteração das fezes ou diurese. Nega emagrecimento.
* HMP: Nega comorbidades, cirurgias, transfusões. Refere vacinação em dia.
* CHV: Tabagista 40 maços/ano, etilismo 1-2L destilado ao dia desde os 30 anos. Nega
drogadição. Em seu dia típico acorda às 6h, come 1 pão de queijo, toma café e vai trabalhar,
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ocasionalmente necessita de uma dose de destilado para se sentir desposto ao trabalho. Almoça
às 13h arroz, feijão, macarrão, carne ou frango, e salada. Às 15h come pão e fruta e descansa.
Janta às 21h semelhante ao almoço e dorme às 23h.
* HMF: Pais e irmãos saudáveis.
* RS: Mastalgia há cerca de 6 meses.
* ECTOSCOPIA: REG, eupneico, normocorado
* DADOS VITAIS: PA 100x62 FC 110 FR 32 Tax 36,4 PESO 72 H 1,68 CA 120
* C/P: Sem LNM, palpação indolor, tireoide não palpável.
* TÓRAX: Telangiectasias, ginecomastia, expansibilidade simétrica, FTV+ e simétrico, MV+ sem RA.
Ictus palpável 5º EI LHC E, BC 2T, sem sopros.
* MEMBROS: Edema em MMII até tornozelo, em MMSS presença de eritema palpar e unhas de
Terry.
* EXAME FÍSICO DO ABDOME: À inspeção estática abdome globoso, protuberante, circulação
colateral tipo portal evidente, inspeção dinâmica sem abaulamentos. Ausculta RHA+, sem
sopros. À palpação superficial, indolor, tenso, porém desprezível, à palpação profunda sem
massas. À percussão timpanismo na região mesogástrica e macicez no restante, hepatimetria 5
a 6cm, Traube ocupado, piparote +
➔ Ascite: Aumento da pressão no sistema venoso ⟶ porta; ou diminuição do gradiente osmótico
dentro do sistema ⟶ hipoalbulinemia (desnutrição, alta excreção, falta de produção); ou
alguma situação que secrete ativamente líquido para dentro do peritônio. Presença de
ginecomastia, eritema palmar, telangectasia (aranha vascular), unha de Terry, hiperreflexia
(asterix), perda do tecido subcutâneo da palma da mão (sinal de desnutrição). Esvaziar a veia
(se encher de cima para baixo o problema é tóraco-abominal).
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Ana Júlia – 81