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Patrícia Felipus- Turma Pi- 8º período

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS (DII)


A expressão Doença Intestinal Inflamatória (DII) aplica-se a duas doenças intestinais crônicas e idiopáticas: a
Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU).
A DC e a RCU são doenças crônicas de etiologia desconhecida que compartilham muitas características
epidemiológicas, clínicas e terapêuticas, mas que também possuem importantes diferenças.
Possuem caráter inflamatório, causado por alterações na imunorregulação intestinal, relacionada a fatores
ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis

Fisiopatologia:
A fisiopatologia das DII ainda não está bem definida, mas possui inflamação intestinal desencadeada por
algum componente endógeno ou ambiental, no individuo geneticamente suscetível.

As DII manifestam-se clinicamente por:


 Diarréia
 Dor abdominal
 Perda ponderal
 Náuseas
 Tenesmo e urgência
 Febre

A diferenciação entre RCU e DC é feita por critérios clínicos, radiológicos, endoscópicos e histológicos. [
Em 10-20% dos casos, não é possível, pelo menos num primeiro momento, classificar o paciente com DC ou
RCU. Tais indivíduos são classificados como portadores de "colite indeterminada".

DOENÇA DE CROHN
Conceito:
É uma doença inflamatória crônica granulomatosa não caseificante que pode acometer qualquer parte do
TGI, da boca ao ânus. O principal local de acometimento é o intestino delgado, com predominância no íleo
terminal (75% dos casos), metade desses tem envolvimento ileiocecal e 30-40% ileíte isolada.

Epidemiologia: bimodal
Possui picos entre 15- 25 anos e 55- 60 anos, é mais comum em brancos e judeus.

Patologia:
Caracteriza-se por uma inflamação transmural com padrão descontinuo ou “salteado”. Pode haver
acometimento macroscópico em diferentes locais ao mesmo tempo, isto é, separados por trechos de
mucosa normal.
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A DC geralmente se inicia com a formação das úlceras aftoides: pequenas ulcerações da mucosa que,
caracteristicamente, se desenvolvem sobre as placas de Peyer, no intestino delgado, ou sobre aglomerados
linfoides no cólon. Estas ulcerações aftoides podem evoluir de duas maneiras.
 Extensão lateral de forma linear, retilínea: quando várias úlceras progredindo retilineamente se
encontram, geralmente passam a separar áreas de mucosa normal, num aspecto de "pedras de
calçamento
 Aprofundamento através das camadas da parede intestinal, resultando em fístulas para o
mesentério e órgãos vizinhos.

Granulomas não caseosos podem ser encontrados em até 30% dos casos de DC. Como não ocorrem na RCU,
o encontro desses granulomas em material de biópsia diferencia a DC da RCU.

Manifestações clínicas:
 Diarreia crônica invasiva associada à dor abdominal
 Sintomas gerais como febre, anorexia e perda de peso
 Massa palpável no quadrante inferior direito
 Doença perianal: fístulas enterocutâneas

Manifestações extraintestinais:
 Lesões labiais e úlceras aftosas orais
 Oftalmológicas: irite e episclerite
 Pele: eritema nodoso e pioderma gangrenoso
 Articulações: artrite de grandes articulações

Diagnóstico:
Depende de características clínicas, laboratoriais, endoscópicas e radiológicas condizentes com a doença
 Hemograma: anemia e leucocitose
 VHS e PCR: aumentados
 Calprotectina: elevada
 Radiografia: sinais de perfuração ou obstrução, como pneumoperitônio e dilatação de alças.
 Como a doença pode atingir qualquer parte do tubo digestivo, pode ser feito endoscopia digestiva
alta e colonoscopia com biópsia, que podem evidenciar: úlceras aftoides, passando para lineareas,
com aspecto em paralelepípedo.
 A ileocolonoscopia com biópsia é o exame de escolha para o diagnóstico de DC
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Tratamento:
Como não há tratamento específico, o tratamento deve induzir e manter a remissão da doença, com o
mínimo de complicações.
Fase aguda: repouso no leito, suporte nutricional com terapia enteral/ parenteral, e suplementação
vitamínica, suporte emocional.

Tratamento medicamentoso:
1. Derivados do ácido 5-aminossalicílico (5-ASA): sulfassalazina, olsalazina e balsalazina
O ácido 5- aminossalicílico é um anti-inflamatório de ação TÓPICA na mucosa intestinal. Ele é prontamente
absorvido ao longo do delgado, porém não possui absorção colônica significativa. Podem ser usadas tanto
na indução da remissão quanto na manutenção da remissão.
Usada apenas na RCU

2. Glicocorticoides:
Os glicocorticoides devem ser usados apenas para a indução da remissão nas DII, visando a rápida melhora
da inflamação. Seu uso por períodos prolongados deve ser evitado. A dose é de 40 mg de prednisona com
reducação gradual.
A via intravenosa é reservada aos casos mais graves, aqueles onde a inflamação intestinal é intensa
(impossibilitando o uso da via oral) e, principalmente, quando existem sinais e sintomas de inflamação
sistêmica exuberante. As drogas comumente empregadas são a hidrocortisona e a metilprednisolona
(ministradas de 6/6h ou em infusão contínua)

3. Imunomoduladores: Os principais são as tiopurinas azatioprina e mercaptopurina.


A azatioprina inibe a síntese de purina necessária para a proliferação celular, especialmente de linfócitos e
leucócitos.

4. Agentes biológicos: infliximabe e adalimumabe


São anticorpos que se ligam a citocinas inflamatórias, bloqueando suas ações. São utilizados na forma grave
da doença.

5. Metronidazol:
É útil para doença do cólon, perianal, fístulas e abcessos. A dose é de 800 mg/d VO. Não é recomendado o
uso por mais de 4 meses devido a neurotoxicidade.

6. Ciprofloxacino:
O tempo de uso é de 6 semanas a 1 ano, sendo útil na doença perianal e ou quando não há resposta ao 5-
ASA. A dose é de 500 mg VO 2x/ dia
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Tratamento cirúrgico:
É feito quando existem complicações da doença, como quadros obstrutivos, perfuração e hemorragia.
Como a DC é uma condição crônica e recidivante, a ressecção cirúrgica do intestino deve ser feita somente
quando inevitável (ex.: isquemia/necrose da parede), pois com o tempo (e múltiplas ressecções sucessivas)
aumenta o risco de "síndrome do intestino curto".

RETOCOLITE ULCERATIVA
Conceito:
Inflamação crônica da mucosa e submucosa colônica

Patologia:
Processo inflamatório na mucosa e submucosa. A lesão característica é no anatomopatológico são
microabcessos de cripta, a confluência dos abcessos acaba formando úlceras, as quais delimitam áreas de
mucosa normal, denominada pseudopólipos.
O acometimento inicia a partir do reto e continua em extensão, porém, restrito ao cólon.
 Colite extensa: comprometimento inflamatório que se estende ao cólon transverso
 Pancolite: quando há lesões além da flexura hepática.

Características:
 A RCU é uma doença EXCLUSIVA do cólon;
 RCU é uma doença EXCLUSIVA da mucosa;
 A RCU é tipicamente "ascendente" e uniforme.
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Quadro clínico:
A doença tem caráter contínuo, de distal para proximal, assim, o reto é sempre acometido.
Geralmente se apresenta como episódios de diarréia invasiva (sangue, muco e pus), que variam de
intensidade e duração, e são intercalados por períodos assintomáticos.
 Sangramento retal
 Mucorreia purulenta
 Diarréia de longa duração
 Diarréia sanguinolenta
 Dor abdominal

Pancolite: diarréia mais pronunciada, febre, anorexia, perda de peso, taquicardia e hipotensão.

Diagnóstico:
 Na RCU de longa evolução são comuns alterações da musculatura colônica, que, ao exame
radiológico se mostram com perda das haustrações e espessamento da musculatura lisa com
aspecto de "cano de chumbo".

A retossigmoidoscopia com biópsia é o exame de escolha: praticamente todos os pacientes apresentam


lesão inflamatória do reto (proctite), e a maioria também do cólon sigmoide (proctossigmoidite).
Haverá um comprometimento uniforme e contínuo, manifestado por perda do padrão vascular da mucosa,
exsudatos, friabilidade, ulcerações, granulosidade e, nos casos de doença de longa data, os pseudopólipos.
A colonoscopia com biópsia é indicada na suspeita de doença grave (mais de seis evacuações diárias ou
sinais sistêmicos), embora seja contraindicada na suspeita de megacólon tóxico. O histopatológico revela
distorção das criptas, infiltrado inflamatório mononuclear (linfoplasmocitário) na lâmina própria, e abscesso
das criptas com acúmulo de neutrófilos no epitélio

Tratamento:
Medidas gerais: mesmas medidas que na DC, com reposição hidroeletrolítica, correção da anemia, nutrição
enteral ou parenteral, hidratação adequada.

Fase aguda:
 Antibióticoterapia: aminoglicosídeo + metronidazol + ciprofloxacino
 Corticoide: 40- 60 mg de prednisosa VO com retirada gradual ou hidrocortisona 100 mg IV em casos
muito graves
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Fase crônica:
 Retirada do corticóide
 Sulfassalazina 2 – 4 g/d/VO associada a ácido fólico para evitar anemia macrocítica.
 Azatioprina
 Agentes biológicos

Tratamento cirúrgico:
A cirurgia é indicada para casos de intratabilidade por medidas clínicas. O tratamento cirúrgico é a ressecção
do cólon, que começa pelo reto.
A eliminação total da doença é obtida com a proctocolectomia total, porém tem como desvantagem a
ileostomia definitiva.

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