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Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia | Patologias da dor abdominal

Colecistite
marcada pela substituição dos leucócitos
Colecistite aguda é caracterizada pela inflamação polimorfonucleares por linfócitos e células
aguda da parede da vesícula biliar. plasmáticas;
As alterações inflamatórias são variáveis, Aparecem eosinófilos e lesões granulomatosas na
compreendendo desde edema, congestão e infiltração parede vesicular.
de células inflamatórias até necrose, gangrena e IV) Fase crônica: inicia com a mucosa torna-se fina e
perfuração sem vilosidades; fibrose de todas as túnicas.

COLECISTITE AGUDA CALCULOSA (CAC): EPIDEMIOLOGIA:


ETIOLOGIA: A colecistite aguda incide principalmente após a 4. •
década.
Complicação da litíase biliar e depende da obstrução Em 75% dos casos, os pacientes descrevem crises
do canal cístico por um ou mais cálculos biliares. anteriores de dor do tipo biliar.

FISIOPATOLOGIA: QUADRO CLÍNICO


- A migração de cálculo (os) da vesícula para o Sinais Vitais:
infundíbulo vesicular, para o cístico ou para o Temperatura: eleva-se até 38,5°C,
colédoco, pode provocar uma obstrução. Frequência cardíaca: acelera moderadamente.
- Aumento da pressão intraluminal e distensão da
vesícula: sintomas dor, náusea e vômito.  Anamnese:
- Inflamação resulta de três fatores, mecânico, - Queixa principal: dor contínua em abdome superior
Químico e infeccioso. ou em cólica, sobretudo em hipocôndrio direito e
- obstrução do canal cístico: a bile torna-se epigástrio, podendo irradiar para o dorso;
hiperconcentrada em sais biliares e colesterol, - Sintomas associados: quadro álgico, náuseas,
causando irritação química e consequente edema da vômitos, anorexia e febre; icterícia;
mucosa A dor em cólica substituída por um padrão de dor
- Lesão da mucosa: libera enzimas intracelulares e contínua em função dos fenômenos vasculares e
ativam mediadores da inflamação; inflamatórios que acompanham a doença.
- Aumento da produção de prostaglandinas: - HDA:
consequente: Fatores de piora: piorar após a ingestão de alimentos
I) menor produção de muco pela mucosa; gordurosos, devido ao estímulo de contração da
II) espessamento da parede; depressão biliar;
Vesicular;
III) aumento da pressão intraluminar;
 Exame Físico:
IV) compressão dos vasos sanguíneos e linfáticos:
- Inspeção:
caracterizadas por insuficiência arterial e congestão
Posição antálgica, com discreta distensão abdominal.
venosa intensa;
- Ausculta: ruídos hidroaéreos podem estar
- Invasão bacteriana com persistência bacteriana:
diminuídos ou não se alteram;
E. co li, Streptococcus faecalis, Streptococcus não
- Percussão: percussão dolorosa de hipocôndrio
hemoliticos, Klebsiella e Proteus. Entre os anaeróbios,
direito
os principais são C. welchii e C. perfringens.
- Palpação: sinais de defesa à palpação do abdome;
- Exame histopatológico evidencia quatro fases
Sinal de Murphy: interrupção da inspiração profunda
evolutivas:
por dor à palpação profunda do ponto cístico;
I) Fase aguda: na 1º semana, caracteriza-se por edema
(sensibilidade de 65% e especificidade de 87%.)
maciço da parede, com hemorragia e necrose da
Palpa-se uma vesícula distendida: Em 30 a 50% dos
mucosa;
casos,
2 ou 3º dia: inicia a proliferação de fibroblastos
Arredondada e lisa, ou nota-se plastrão formado pela
II) Subaguda: 2
vesícula e por estruturas aderidas.
º semana
infiltração leucocitária pronunciada, regressão do
 Diagnóstico:
edema e maior proliferação de fibroblastos, além de
História clínica, exames físicos, laboratórios e de
necrose e abscessos intramurais.
imagem;
III) Subcrônica: 3º e a 4º semanas
- Exames:
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Anatomopatológico da vesícula biliar: Padrão-ouro clinicamente adequado para realização da


para diagnóstico definitivo colecistectomia, podendo retardar o procedimento
Exames de imagem: cirúrgico por 6 a 8 semanas após a recuperação da
Identificar alterações anatômicas e/ou funcionais na colecistite aguda.
vesícula.
- Ultrassonografia Abdominal:  A colecistite aguda é dividida em 3 graus de
Espessamento da parede da vesícula biliar (>4mm), severidade, diferindo a conduta de
secundário ao edema, cálculos biliares ou lama e tratamento preconizada para cada grau.
liquido Pericolecístico;
- Cintilografia das vias biliares: método alternativo - Grau I (leve): colecistectomia laparoscópica precoce
que utiliza 2,6-dimetil-acido Imiociacético (HIDA), deve ser realizada se as escalas ASA e CCI indicarem
para visualizar o sistema biliar. que o paciente suporta o procedimento. Caso o
- Colangio-RM: fornece as informações do abdome, paciente apresente alto risco cirúrgico indicado pelas
além do sistema biliar. Sensibilidade 50 a 91%; escalas, deve ser feito, primeiramente, o tratamento
- Tomografia Computadorizada: espessamento da conservador e a realização de cirurgia tardia para
parede e presença de cálculos resolução definitiva do caso.
Exames Laboratoriais: - Grau II (moderado): a colecistectomia
- Hemograma: Leucocitose laparoscópica permanece como tratamento de escolha,
- Enzimas hepáticas: Elevadas Transamilases e contudo, deve-se ter maior cautela no intraoperatório
fosfatase alcalina, elevação moderada da lipase; com lesões iatrogênicas, considerando o processo
inflamatório vigente, e a conversão para
 Diagnóstico Diferencial: colecistectomia aberta deve ser considerada
- Doenças que acometem o quadrante superior dependendo dos achados. Se o paciente não for capaz
direito do abdome: colangite aguda, pneumonia de de suportar a cirurgia é indicada a drenagem biliar.
base direita, hepatites, pielonefrite à direita, isquemia
ou infarto agudo do miocárdio, apendicite sub- - Grau III (grave): deve-se realizar a correção da
hepática, úlcera péptica complicada e pancreatite disfunção orgânica por meio de suporte clínico e a
aguda. administração de terapia antimicrobiana concomitante
para posterior realização de colecistectomia
TRATAMENTO: laparoscópica, preferencialmente por cirurgião com
extensa experiência em ambiente com suporte para
cuidado intensivo. Caso o paciente não responda ao
Pacientes com diagnóstico de colecistite aguda devem
tratamento clínico ou possua um alto risco cirúrgico
ser internados para cuidados de suporte clínico e,
deve ser considerada a drenagem biliar percutânea
posteriormente, submetidos ao procedimento cirúrgico.
trans-hepática guiada por sonografia
 Medidas de suporte incluem:
Analgesia com anti-inflamatórios não esteroidais ou
opióides, hidratação, dieta zero e antibioticoterapia
com cobertura para germes gram negativos e COLECISTITE AGUDA ACALCULOSA
anaeróbios. (CAA)

 Colecistectomia laparoscópica: ETIOLOGIA:


Obstrução do canal cístico pode decorrer de:
A resolução definitiva do caso ocorre com a realização - Neoplasia, estenose fibrosa, áscaris lumbricoides,
de colecistectomia laparoscópica, preferencialmente compressão por linfonodos aumentados, artérias
realizada dentro de 72 horas após apresentação da císticas ou hepáticas anômalas, vólvulo da vesícula;
sintomatologia, caso o paciente apresente condições - A inflamação seria desencadeada por estase de bile
clínicas favoráveis (ASA ≤ 2 e CCI ≤ 5). hiperconcentrada em consequência de jejum
prolongado, anestesia, opiáceos, desidratação e
 Colecistostomia ecoguiada: imobilização, além de infecção por germes oriundos de
diferentes setores do organismo.
Em caso de contraindicação cirúrgica ou de colecistite
aguda alitiásica (cerca de 5% dos casos) é mais QUADRO CLÍNICO:
adequada a drenagem biliar percutânea por meio de
colecistostomia ecoguiada.  Queixa principal:
A dor é a queixa mais frequente, localizando-se
Os tubos de colecistostomia devem permanecer no geralmente no quadrante superior direito,
lugar até a evolução do paciente a um quadro acompanhada de vômito e febre.
 Exame físico:
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- Sinal de murphy positivo;


Menos frequentemente, palpa-se tumefação nessa área.
DIAGNÓSTICO:
- História clínica, exames físicos, laboratórios e de
imagem;
- Nos casos de pneumocolecístíte (colecístíte
enfisematosa ou gasosa), demonstra-se ar na parede da
vesícula e nos duetos biliares na radiografia simples do
abdome, sinal que, entretanto, demora de 24 a 48h para
aparecer;

TRATAMENTO:
O tratamento é cirúrgico e consiste na colecistectomia
sempre que possível. Em casos especialmente graves,
pode-se optar pela colecistostomia. Atualmente, é
possível fazer a colecistostomia colocando um cateter
por via percutânea, guiado por ultrassonografia,
procedimento aconselhável em pacientes de alto risco
para a cirurgia convencional.

REFERENCIAS
DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo Friche.
Gastroenterologia essencial. 4.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2011. 1006 p.

Martins MA et al. Clínica médica. 2. ed. Barueri:


Manole, 2016. v. 4.

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