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➢ Evolução: tecnicamente a cirurgia é mais difícil no quadro inflamatório agudo. Cerca de 85%
dos pacientes com colecistite aguda não operados tem boa evolução. É feito só o tratamento
clinico. A conduta deve ser assim: mais ou menos até o 5º dia de inflamação da vesícula, o
tratamento cirúrgico é preconizado, mesmo sendo tecnicamente difícil. A partir do 5º ou
6º dia, o bloqueio inflamatório fica tão grande, com muita aderência, processo
inflamatório, com fibrina aderida, que o tratamento cirúrgico fica bem mais difícil e tem o
risco de fazer uma lesão em estruturas, seja na via biliar, alça intestinal. Que é um risco
bem maior do que esperar o tratamento clínico. Então, primeiro esfria-se o processo
inflamatório durante 3-4 semanas com o uso de antibióticos, dieta leve, analgesia de
forma adequada e monitorização desse paciente, depois realiza-se o procedimento
cirúrgico. 85% dos pacientes não operados na fase aguda tem uma boa evolução, contudo
caso haja falha do tratamento clínico com piora, por exemplo sepse abdominal e mal controle
analgésico persistente, a cirurgia deve ser indicada, mesmo com riscos e possíveis
complicações.
→ DROGAS: Medicamentos são causa incomum para pancreatite aguda, respondendo por,
aproximadamente, 1,4% dos casos. Apesar de sua baixa frequência, são um problema
emergente por acreditar-se que tais pancreatites agudas são subestimadas; uma vez que, para
seu diagnóstico, é necessário alto índice de suspeita. Além disso, casos leves podem não ser
reconhecidos, pois a amilase não é dosada de modo rotineiro, como o são as
aminotransferases, o período de latência entre a exposição à droga e o efeito adverso é
variável entre os indivíduos e as medicações, e muitos casos de pancreatite aguda são
erroneamente atribuídos ao etanol ou à litíase biliar. Os mecanismos responsáveis pela
pancreatite aguda medicamentosa são variáveis, incluindo efeito tóxico direto da droga,
reações de hipersensibilidade ou efeito tóxico indireto, mediado por hipertrigliceridemia
ou outras anormalidades metabólicas. As principais drogas relacionadas às pancreatites
agudas encontram-se na tabela abaixo.
→ IATROGENIA: - Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE): Vários agentes
infecciosos são potenciais causadores de pancreatite aguda, mas a frequência com que isso
ocorre é desconhecida. O diagnóstico etiológico, nesses casos, é complexo e depende da
definição do quadro de pancreatite paralelamente à definição da existência da infecção.
Pancreatite aguda de causa infecciosa deve ser cogitada se o paciente apresentar a síndrome
causada pelo agente infeccioso, o que ocorre na maioria dos casos.
→ TUMORES: Quaisquer tumores pancreáticos ou papilares que provoquem obstrução à
drenagem do suco pancreático podem levar a quadros de pancreatite aguda, sobretudo em
indivíduos acima dos 40 anos de idade, podendo o comprometimento agudo do pâncreas ser
até mesmo a primeira manifestação da neoplasia. Adenocarcinomas e neoplasias intraductais
mucinosas do pâncreas são as principais responsáveis por tais quadros.
7. SEGUNDO OS CRITÉRIOS REVISADOS DE ATLANTA 2012, QUAIS SÃO AS FORMAS
DE CLASSIFICAÇÃO DA PANCREATITE AGUDA?
9. O que são sinal de Cullen e Sinal de Gray-Turner? Esses sinais são exclusivos da
pancreatite aguda grave?
O Sinal de Cullen é um sinal de hemorragia retroperitonial, seja ela por pancreatite aguda
necro-hemorrágica.
Este sinal é caracterizado por uma equimose periumbilical (extravasamento de sangue dos
vasos sanguíneos da pele que se rompem) de coloração azul-preta e pode estar associado
ao sinal de Grey-Turner, caracterizado por equimose em flancos. Estes achados se
devem à drenagem de líquido ascítico hemorrágico ao longo dos planos das fáscias,
infiltrando o tecido subcutâneo.
A equimose aparece 24-48 horas após a ruptura do parênquima pancreático e caracteriza uma
pancreatite aguda grave, sendo 15-20% delas e com mortalidade de até 20%.
TRATAMENTO
FORMA LEVE: A forma leve não indica internação em serviço de Terapia Intensiva –
o paciente pode ser internado em uma unidade intermediária, permanecerem dieta zero até a
melhora do quadro clínico (principalmente a dor) e até que haja peristalse audível. A
realimentação oral em geral é possível com 3-5 dias de evolução na forma leve. Os melhores
critérios para iniciarmos dieta são a melhora da dor abdominal, o retorno da peristalse, a
ausência de vômitos e o paciente manifestar desejo de alimentar-se.
O tratamento de suporte nesses casos se resume a:
1. Analgesia: meperidina ou outros opiáceos. Algumas referências mais antigas
recomendam evitar o uso de morfina pelo fato desta medicação poder aumentar o tônus do
esfíncter de Oddi... No entanto, a última edição do Sabiston ressalta que – apesar de tal efeito
realmente poder ocorrer – até hoje nunca foi confirmado que o controle álgico com morfina
exerce impacto efetivamente negativo na evolução da pancreatite aguda. Logo, se necessário,
PODEMOS usar morfina no paciente!
2.Hidratação venosa para reposição volêmica (perdas para o terceiro espaço e pelos
vômitos).
3. Controle eletrolítico e acidobásico (ex.: hipocalemia e alcalose metabólica devido aos
vômitos, hipocalcemia, hipomagnesemia, esta última comum na pancreatite alcoólica...). A
forma leve geralmente é a manifestação da pancreatite intersticial(edematosa) e nesses casos
a TC não é necessária (exceto se houver alguma complicação tardia).
FORMA GRAVE: Os casos graves podem evoluir com complicações orgânicas sistêmicas
importantes, como: choque misto, insuficiência renal, queda do sensório, insuficiência cardíaca
congestiva e SDRA. Estas devem ser agressivamente tratadas. Às vezes, é necessária
intubação traqueal com ventilação mecânica e a monitorização hemodinâmica completa
(cateter de PAM e cateter de Swan-Ganz). Vamos descrever alguns tópicos especiais no
tratamento da pancreatite aguda grave:
ANALGESIA: Deve ser feita com opiáceos, pois a dor em geral é de forte intensidade. Se
for possível o controle com a meperidina, essa deve ser o opiáceo de escolha, devido a
uma vantagem teórica sobre a morfina (a morfina pode aumentar o tônus do esfíncter de Oddi).
Caso ainda assim a dor seja de forte intensidade, já vimos que é possível o uso de morfina... O
grande problema da meperidina é que pode haver acúmulo de metabólitos tóxicos, com
irritação neuromuscular e, raramente, convulsões. ]
RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA (A MEDIDA MAIS IMPORTANTE!!!) Deve ser feita uma
reposição volêmica vigorosa, com os objetivos principais de normalizar a diurese, a
pressão arterial, a frequência cardíaca e a pressão venosa central. Estes pacientes
perdem uma grande quantidade de líquido para o retroperitônio. Na pancreatite grave, pelo
menos seis litros de cristaloide devem ser repostos nas primeiras 24h. O fluido de escolha pode
ser o Ringer lactato ou o soro fisiológico, com alguns autores preferindo o primeiro, devido ao
fato de conter cálcio. Coloides sintéticos devem ser evitados, pois podem aumentar o risco
deSDRA na PA grave. A estimativa da perda volêmica é feita pelo exame clínico, pelo
hematócrito inicial (na admissão pode estar aumentado pela hemoconcentração), pela queda
do hematócrito após 48h de reposição volêmica (uma queda maior que 10% indica uma grande
hemoconcentração prévia) e pelo balanço hídrico (quando muito positivo nas primeiras 48h,
significa que o organismo precisou de mais líquido para repor as perdas). Nos casos graves ou
refratários ou nos pacientes com problema cardíaco prévio, devemos guiar a nossa reposição
volêmica pela PCP (Pressão Capilar Pulmonar), estimada pelo cateter de SwanGanz. Devemos
mantê-la em torno de 18 mmHg.
SUPORTE NUTRICIONAL: Estes pacientes ficarão em dieta oral zero por períodos
prolongados, tornando necessário outro tipo de suporte nutricional, que deve ser iniciado de
preferência nas primeiras 48h, devido ao estado hiper-catabólico da pancreatite grave. A
nutrição enteral (por cateter naso-jejunal ou nasogástrico, a literatura atual não mostra
diferenças significativas em relação ao posicionamento do cateter no tubo digestivo) é a mais
indicada atualmente. A dieta deve ser rica em proteínas e pobre em lipídeos. Estudos
demonstraram que essa alimentação é segura e pode reduzir o risco de infecção pancreática
por diminuir a translocação bacteriana pela mucosa intestinal. A Nutrição Parenteral Total
(NPT) é indicada nos poucos pacientes que não toleram a dieta enteral ou naqueles em que as
necessidades calóricas não são atingidas após o segundo ao quarto dia de dieta. Esta dieta
possui risco de sepse pelo cateter venoso profundo, além de ser maiscara e menos efetiva que
a enteral.
AMINAS VASOPRESSORAS: A noradrenalina (associada ou não à dobutamina), em veia
profunda, deve ser utilizada nos casos de choque refratário à reposição volêmica vigorosa.
Quando necessária, isso indica que o paciente tem forte componente de choque "sirético" ou
mesmo séptico. Seu uso deve ser guiado pelos parâmetros da monitorização hemodinâmica.