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Dor abdominal, vômitos, diarreia e Icterícia

Úlcera péptica gastroduodenal


DEFINIÇÃO O sangramento é a complicação mais freqüente da doença
ulcerosa péptica, sua ocorrência gira em torno de 15 a 20%
As ulcerações pépticas são soluções de continuidade da dos casos.
mucosa gastrintestinal, envolvendo as camadas mucosa,
submucosa e muscular, secundárias aos efeitos cáusticos do ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
ácido clorídrico (HCl) e da pepsina, estendendo-se entre o
terço inferior do esôfago para a primeira porção do A mucosa gastroduodenal está constantemente exposta à
intestino delgado. Lesões mais superficiais são definidas poderosa agressão do ácido clorídrico, pepsina e outros
como erosões, não atingem a submucosa e, portanto, não fatores, porém a ulceração não é uma ocorrência comum. A
deixam cicatrizes. úlcera péptica ocorre quando o equilíbrio entre os fatores
agressores e a linha de defesa é perdido ao nível dos
EPIDEMIOLOGIA tecidos expostos a eles, portanto, os efeitos cáusticos do
ácido clorídrico e da pepsina no lúmen intestinal excedem a
A prevalência de úlcera péptica é variável nas diferentes capacidade da mucosa de resistir a eles, o que pode ser
regiões do mundo: as úlceras duodenais predominam em devido ao aumento de elementos gastrolesivos ou ao
populações ocidentais, enquanto as gástricas são mais enfraquecimento das defesas a este nível.
freqüentes na Ásia, em especial no Japão.
A primeira linha de defesa da mucosa gastroduodenal conta
O declínio na prevalência de úlcera péptica observado no com o mecanismo de citoproteção que é composto por:
século XX tem sido atribuído à redução das taxas de
infecção pelo H. pylori, resultado da melhora dos padrões – Componente pré-epitelial: evita o contato entre células
de higiene e das condições sanitárias urbanas alcançada epiteliais e agentes nocivos no lúmen gastrointestinal; é
nesse período. Sabidamente, o baixo nível socioeconômico representada pela secreção de muco e bicarbonato; Assim
e suas conseqüências naturais estão diretamente a camada de muco aderida a toda a parede interna do
relacionados à infecção pelo H. pylori. estômago forma uma barreira física à ação do suco gástrico
composto por ácido clorídrico e pepsina e impede a
O antro gástrico é a localização mais freqüente da úlcera retrodifusão de íons de hidrogênio do lúmen gástrico para
péptica do estômago (80% na pequena curvatura). Ela as células e vice-versa Por outro lado, o bicarbonato age
ocorre em epitélio gástrico não-secretor de ácido e neutralizando os íons de hidrogênio, transformando o pH
geralmente próxima à transição para o epitélio secretor de 2 no nível de luz para 7 na superfície celular, criando um
localizado no corpo do estômago, o que sugere maior ambiente alcalino que preserva a integridade do epitélio da
suscetibilidade do primeiro ao aparecimento de ulcerações mucosa.
pépticas. Todavia, a úlcera duodenal é a forma
predominante de úlcera péptica e localiza-se, em 95% dos – Componente subepitelial: é constituído pela rede de
casos, na primeira porção do duodeno (bulbo duodenal). vasos e fluxo sanguíneo que fornecem nutrientes à mucosa.
A eficiência do fluxo sanguíneo na mucosa gástrica mantém
A úlcera duodenal é mais comum em homens com mais de o fornecimento de oxigênio, bicarbonato e outros
55 a 65 anos, úlcera gástrica não tem diferença de sexo, há nutrientes que contribuem para os processos cicatriciais,
um estado de platô aos 25 anos nos homens e aos 45 anos além de servir como suporte energético para os processos
em mulheres. Um diagnóstico anual é estimado em o fisiológicos da mucosa gastroduodenal, dilui as substâncias
mundo de 198.000 casos, destes 10% são novos e 90% de agressoras que nela penetram e os arrasta para a circulação
recorrência, os homens sofrem de três a quatro vezes mais sistêmica, o que é muito eficaz nas úlceras agudas por
chances de apresentar úlcera péptica do que as mulheres, a isquemia e vasoespasmo, onde o comprometimento
úlcera duodenal é quatro a cinco vezes mais comum do que hemodinâmico e a oxigenação tecidual causam necrose que
o gástrico. leva à ulceração nas áreas afetadas da mucosa
gastroduodenal.
A doença ulcerosa péptica representa a causa mais comum
de hemorragia digestiva alta, responsável por – Componente epitelial: é representado pela resistência da
aproximadamente 50% dos casos, em sua maioria membrana celular. As células parietais são responsáveis
associados às úlceras duodenais e com taxas de pela secreção de muco e bicarbonato, limitam a
mortalidade que variam de 5 a 10%. retrodifusão de íons de hidrogênio, favorecem a síntese de
prostaglandinas e garantem a integridade da mucosa graças
ao seu rápido e contínuo poder de regeneração.
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– Regeneração do epitélio da mucosa: é realizada na base gastroduodenais por inibirem a síntese de prostaglandinas
das criptas gástricas onde se encontra a zona proliferativa que possuem efeito citoprotetor sobre na mucosa, esse
do epitélio e o fator de crescimento epidérmico. efeito é obtido por ação direta com efeito tóxico e
sistêmico após absorção e ativação hepática da droga,
– Síntese de prostaglandinas: são componentes essenciais mediada pela inibição da síntese de prostaglandinas.
na defesa da mucosa gástrica e intestinal e têm ação
citoprotetora ao aumentar a resistência da mucosa gástrica OUTROS FATORES AGRESSIVOS
contra estímulos mecânicos, substâncias ácidas, álcalis,
ácidos biliares e outros agentes agressivos. Úlceras e erosões gastroduodenais agudas são comuns em
pacientes com doenças graves, incluindo aqueles que
FATORES AGRESSIVOS sofreram trauma grave, traumatismo craniano (úlceras de
Cushing) e queimaduras (úlceras de Curling), insuficiência
Ácido clorídrico, pepsina, infecção por Helicobacter pylori, hepática, insuficiência renal ou falência múltipla de órgãos,
consumo de anti-inflamatórios não esteróides e outros aqueles submetidos a procedimentos cirúrgicos maiores,
fatores irritantes da mucosa gástrica são indicados na choque séptico, insuficiência respiratória requerendo
gênese da úlcera gastroduodenal. ventilação mecânica. A secreção elevada de
corticosteróides e hormônio adrenocorticotrófico causando
O ácido clorídrico produzido pelo tecido glandular do fundo
hipercloridria regulada por diferentes vias através do eixo
gástrico mantém um pH ácido que permite a ativação do
hipotálamo-hipófise-adrenal é um dos mecanismos
pepsinogênio em pepsina, hidrolisa alguns açúcares,
envolvidos nessas lesões, juntamente com hipóxia e
estimula a secreção do hormônio secretina pelo duodeno e
acidose tecidual, precipitadas por vasoconstrição e
é secretado pelas células parietais sob a influência de
isquemia da mucosa.
mecanismos neurocrínicos, paracrínicos e hormonais,
incluindo a gastrina. Como efeitos agressivos na mucosa, também por ação
direta, estão os salicilatos e outros fatores com ação direta
A pepsina é um fermento proveniente do pepsinogênio,
na mucosa por mecanismos na estimulação da
que é armazenado de forma inativa, nas principais células
hipersecreção gástrica como café e tabaco, que retardam a
da mucosa do fundo gástrico, sendo liberado em resposta a
cicatrização, favorecem recidivas, aumentam o risco de
estímulos vagais (fator colinérgico), fatores adrenérgicos e
complicações e, portanto, mortalidade, e o álcool é
outras enzimas intestinais: colecistoquinina, secretina,
invocado por seu efeito irritante local e hipersecretor em
peptídeo liberador de gastrina, entre outros. Sua secreção
relação ao suco gástrico.
também está relacionada ao pH que mantém o suco
gástrico entre 1,8 e 3. Sua função é digerir as proteínas do Existem outros fatores predisponentes como parentes de
lúmen gástrico e permitir a passagem do ácido clorídrico pacientes com úlcera que mantêm a predisposição
para a mucosa. hereditária, pessoas que possuem grupo sanguíneo O,
idade, cafeína e nicotina, atuam como fatores agressores da
Desde 1983, estudos realizados por Warren e Marshall na
mucosa.
Austrália mostram a infecção pelo Helicobacter pylori. Esse
microrganismo coloniza preferencialmente o antro gástrico,
sua capacidade de aderir à superfície do epitélio permite
que ele permaneça localizado abaixo da camada de muco
na superfície apical do epitélio gástrico ou em áreas de
metaplasia gástrica na mucosa duodenal. Devido à sua
atividade de urease, hidrolisa a ureia e a transforma em
amônia, criando um microambiente alcalino que lhe
permite sobreviver no estômago.

A úlcera gastroduodenal relacionada à ingestão de anti-


inflamatórios não esteroidais se estabelece como
consequência da administração desses medicamentos,
mesmo em baixas doses, a curto, médio e longo prazos,
estando os danos relacionados à composição química dos o
fármaco, a forma de administração e as condições QUADRO CLÍNICO
específicas de cada paciente, pois as propriedades físico-
O questionamento bem direcionado em pacientes com
químicas e o mecanismo de ação desses fármacos estão
úlcera péptica é de suma importância e a orientação
diretamente envolvidos na etiologia das lesões
diagnóstica é praticamente baseada nisso.
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A característica essencial da úlcera gastroduodenal é a sua


evolução por crises, que se caracterizam por períodos de
dor que duram de 15 dias a dois meses, que se alternam
com períodos de bem-estar de maior duração, meses e até
anos, o que permite classificar essas dores episódios como
periódicos. Alguns autores relacionam-no com um ritmo
sazonal, especialmente na primavera ou no outono.

A crise dolorosa aguda caracteriza-se pelo seu início súbito,


muitas vezes relacionado com stress físico ou emocional,
infeções ou transgressões no regime alimentar. Pode durar
apenas alguns minutos ou várias horas, a menos que seja
aliviado com alimentos ou antiácidos. A dor se localiza no
epigástrio, aparece em forma de queimação, como
sensação dolorosa de fome, cãibra ou queimação e irradia
para o hipocôndrio direito ou para o mesogástrio nas
úlceras duodenais e para o hipocôndrio esquerdo abaixo do
esquerda margem costal na úlcera gástrica. Às vezes
permanece fixo no epigástrio sem irradiação.

O início da dor é pós-prandial tardio, o que anteriormente


era atribuído à úlcera duodenal o chamado ritmo de três EXAME FÍSICO
etapas (dor-alimento-calma) e à gástrica o ritmo de quatro
O estado geral do paciente costuma ser preservado,
etapas (alimento-acalma-dor-acalma), sequência que
podendo ocorrer palidez gradual ou súbita, dependendo se
perdeu a validade. No entanto, dada a dor epigástrica
é causado por sangramento digestivo oculto e repetido, ou
ultratardia que desperta o paciente no início da manhã, é
por sangramento maciço e súbito causado por hematêse e
lógico pensar em uma localização duodenal. Mais
melena, respectivamente. Às vezes, durante as crises
importante do que os ritmos de Moynihan é lembrar que a
intensas, o epigástrio e o abdome superior aparecem
dor da úlcera é aliviada com a ingestão de alimentos,
contraídos e hiperestéticos; nos casos de úlcera duodenal, a
antiácidos e evolui com períodos de calma absoluta que
hiperestesia localiza-se na região interescapulovertebral. A
podem durar meses e até anos.
constatação de punção gástrica, palidez da pele da mucosa
A azia é um sintoma que os pacientes referem e associam a e contratura abdominal leva à suspeita de complicações
uma refeição específica e pode ser acompanhada de desta patologia.
vômitos pós-prandiais ou com restos de alimentos ou
tingidos de bile. Muitos deles podem referir hiperfagia e DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES
ganho ponderal, decorrentes do alívio da dor com o uso de
alimentos. A ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA

Continua sendo o exame de eleição para o diagnóstico das


lesões ulcerosas. É um método eficiente, sensível,
específico, seguro, que, em mãos experientes, fornece
excelentes subsídios para o manejo do paciente.

Tem contra si o fato de ser um exame invasivo e de alto


custo, mas é compensado pela sua confiabilidade e pelos
excelentes resultados que proporciona. Ela não só
estabelece o diagnóstico da úlcera, mas também determina
a sua natureza e etiologia. A retirada de fragmentos de
biópsias nos bordos das lesões para exame histológico e do
antro e/ou corpo para a pesquisa do H. pylori influencia
decisivamente no manejo clínico do paciente.

O diagnóstico endoscópico e a diferenciação com lesões


neoplásicas ulceradas baseiam-se na observação cuidadosa
da base, borda e mucosa que circunda a lesão,
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complementada, quando indicado, com a retirada de os pequenos carcinomas avançados, tipo Borrmann II e o
fragmentos de biópsia da sua borda. tipo III do câncer gástrico incipiente.

O aspecto endoscópico da úlcera depende do momento em Deve-se sempre repetir a endoscopia das lesões gástricas
que é observada, isto é, da fase em que se encontra, de seis semanas após o início do tratamento, para avaliar a sua
acordo com o ciclo vital descrito por Sakita em 1973. Esse cicatrização e tomar decisões terapêuticas, uma vez que,
ciclo é dividido em três fases: uma inicial, denominada ativa apesar das biópsias múltiplas, em alguns casos uma
(A – active), seguida de uma intermediária em que a úlcera neoplasia gástrica pode não ser diagnosticada.
se encontra em processo de cicatrização (H – healing) e
uma fase em que, finalmente, a úlcera se apresenta EXAME RADIOLÓGICO CONTRASTADO
cicatrizada (S – scar). Todos esses estágios, de acordo com
Outro método útil para o diagnóstico da doença ulcerosa,
suas características, são subdivididos em duas outras fases
porém menos preciso e com o advento da endoscopia
(1 e 2).
digestiva pouco utilizado. Tem como desvantagem a
necessidade da realização de exames endoscópicos
complementares para confirmação diagnóstica por meio de
biópsias das lesões suspeitas. Dessa forma, fica indicado
apenas em situações em que o exame endoscópico não
está disponível.

DIAGNÓSTICO DOS FATORES ETIOLÓGICOS

Helicobacter pylori

Os testes para diagnosticar infecção pelo H. pylori são


importantes em pacientes com doença ulcerosa péptica.
Exames negativos mudam a estratégia diagnóstica para
outras causas de úlcera (uso de AINE, gastrinoma),
dispensando a terapêutica antibiótica. É necessário
lembrar, porém, que podem ocorrer resultados falso-
negativos em pacientes que receberam tratamento com
inibidores da bomba de prótons, bismuto ou antibióticos,
os quais podem suprimir temporariamente o H. pylori.

Os métodos para diagnóstico do H. pylori podem ser


divididos em invasivos e não-invasivos.

Os métodos invasivos são aqueles que necessitam de


endoscopia acompanhada de biópsia gástrica.

Os métodos não-invasivos, que não necessitam de


endoscopia, são três: teste sorológico, teste respiratório de
atividade da urease que utiliza a uréia com carbono
marcado e pesquisa do antígeno fecal.

A principal finalidade do exame endoscópico da úlcera


gástrica é a diferenciação entre lesões ulceradas benignas e
malignas, uma vez que estas podem mimetizar benignidade
ao exame macroscópico em 20% dos casos, principalmente
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– Repouso: o repouso deve ser mantido em maior ou


menor grau, embora durante crises de úlceras graves a
internação do paciente seja absolutamente necessária.

– Dieta: evitar alimentos muito condimentados, com


excesso de calor ou muito frio, bem como irritantes para a
mucosa gástrica. A dieta deve ser baseada em vegetais
frescos, proteínas e, em menor grau, carboidratos. Em
alguns países, a recomendação de ingestão de laticínios
como o leite fresco é controversa, sugerindo-se seu uso
após cada refeição e ao deitar nos casos em que o paciente
relata alívio dos sintomas sem fenômeno rebote. Abolir o
uso de tabaco, café, chá e álcool, que além de serem
irritantes para a mucosa, causam hipersecreção com
Medicamentos antiinflamatórios (AINE) hipercloridria no suco gástrico.

Deve-se pesquisar, durante a anamnese, o uso de – Erradicar os fatores que desencadeiam a crise, como
medicamentos antiinflamatórios, particularmente em situações de estresse, ingestão de salicilatos, anti-
pacientes idosos, entre os quais há maior consumo pela inflamatórios não esteróides, e evitar a infecção por
incidência aumentada de doenças osteomusculares. Os microorganismos como o Helicobacter pylori, e indicar
cardíacos também devem ser pesquisados, pois nesse tratamento específico caso seja demonstrada sua presença
grupo é freqüente a ingestão regular de doses baixas de na doença.
aspirina como profilaxia de fenômenos cardiovasculares.
- Tratamento medicamentoso:
As úlceras gastroduodenais constituem a grande
complicação do uso de AINE (de 10 a 30%). O risco relativo O princípio básico foi, é e será diminuir o grau de acidez
da úlcera depende basicamente dos seguintes fatores: tipo existente no suco gástrico. Por isso têm sido utilizados
do AINE, associação com outros AINE ou corticóides, tempo antiácidos, drogas que inibem a secreção gástrica e a
de administração, idade do paciente, história prévia de motilidade dos órgãos, como os anticolinérgicos, e aquelas
úlcera e uso concomitante de anticoagulante. que, por diferentes mecanismos, são capazes de inibir a
secreção ácida e de pepsina, como os antisecretores. Na
Gastroacidograma presença de Helicobacter pylori, é necessário o tratamento
da infecção com antibióticos aos quais o germe é sensível.
Permite, além dos dados fornecidos pelo
gastroquimograma, avaliar o estado da mucosa pelo ANTIÁCIDOS
número de células parietais funcionantes e com base na
propriedade que a histamina exerce sobre as células O hidróxido de alumínio é usado em comprimidos e formas
parietais e sua secreção, em relação à estimulação do ácido de suspensão 1 h após cada refeição e ao deitar. Como
basal e estimulação ácida máxima, sugere se o processo é efeito colateral pode causar constipação, por isso deve ser
gástrico ou duodenal ativo. usado com muita cautela em idosos, recomendando-se o
uso associado ao hidróxido de magnésio para evitar esse
TRATAMENTO efeito colateral.

O tratamento da úlcera péptica, seja ela gástrica seja SILOGEL


duodenal, tem como finalidade o alívio dos sintomas, a
Recomenda-se a dose de dois comprimidos sugados ou
cicatrização das lesões e a prevenção das recidivas e
mastigados, 1 h após cada refeição e ao deitar, que
complicações.
conseguem exercer sua ação neutralizante sobre o suco
Os medicamentos que promovem a cicatrização da úlcera gástrico. Outros antiácidos como mylanta, maalox, tums,
agem por dois mecanismos: fortalecem os componentes gaviscon na dose de 100 mEg/ L 1 h e 3 h após cada
que mantêm a integridade da mucosa gastroduodenal (pró- refeição e ao deitar.
secretores) e diminuem a ação cloridropéptica (anti-
secretores). ANTISECRETORES

Recomenda-se uma mudança nos estilos de vida pouco Os bloqueadores anti-secretores dos receptores H2 inibem
saudáveis para evitar recorrências e pouca resposta ao o efeito agonista secretor da histamina nas células
tratamento médico: parietais, mas com pouca ação colinérgica ou secreção pós-
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prandial mediada pela gastrina. São conhecidos como O tratamento da infecção por Helicobacter pylori é baseado
antagonistas dos receptores H2: na combinação de agentes antisecretores que aumentam o
pH gástrico juntamente com drogas antimicrobianas. Entre
– Cimetidina (comprimidos de 200mg) 400mg duas vezes os esquemas atualmente recomendados estão:
ao dia ou 800mg ao deitar, pode ser usado em ampolas de
2mL com 50mg e 200mg do produto. – Terapia tripla: inibidores da bomba de prótons omeprazol
em dose dupla (40 mg) duas vezes ao dia ou lanzoprazol 60
– Ranitidina (comprimidos de 150mg e 300mg) 150mg duas mg a cada 12 horas, amoxicilina 1 g a cada 12 horas e
vezes ao dia ou 300mg ao deitar. claritromicina 500 mg a cada 12 horas por 10 a 14 dias.

– Famotidina (comprimidos de 20mg e 40mg) 20mg duas – Terapia quádrupla (concomitante): inibidores da bomba
vezes ao dia ou 40mg ao deitar. de prótons em doses padrão, 20 mg a cada 12 horas ou
lanzoprazol 30 mg a cada 12 horas, amoxicilina 1 g a cada
– Nizatidina (comprimidos de 150mg) 150mg duas vezes ao
12 horas, claritromicina 500 mg a cada 12 horas,
dia ou 300mg ao deitar.
metronidazol 500 mg a cada 12 horas, por 10 a 14 dias.
Deixar a terapia quádrupla com bismuto ou terapia com
INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS
levofloxacino para não respondedores.
Sua ação se deve à sua concentração nas membranas
tubulovesiculares acidificadas das células parietais, onde se – Terapia quádrupla de bismuto: omeprazol 20 mg ou
ligam covalentemente à enzima H-K-ATPase, via final lanzoprazol 30 mg a cada 12 horas (dose padrão),
comum da secreção ácida. Seu uso é recomendado ao subcitrato de bismuto 120 mg a cada 6 horas, tetraciclina
deitar por 14, 21 ou 28 dias em pacientes com Helicobacter 500 mg a cada 6 horas que pode ser substituído por
pylori, apresentando resultados muito bons quando doxiciclina 100 mg a cada 12 horas, metronidazol 500 mg a
associado a antibióticos: cada 8 h que pode ser substituído por tinidazol.

– Omeprazol: 20 mg/dia a 40 mg/dia (comprimidos), em – Terapia de resgate com levofloxacino: inibidores de a


ampolas 40 mg é usado durante a fase aguda da crise da bomba de prótons omeprazol na dose padrão 20 mg ou
úlcera e depois passar por via oral. lanzoprazol 30 mg a cada 12 horas, amoxicilina 1 g a cada
12 horas, levofloxacina 500 mg a cada 12 ou 24 horas.
– Lansoprazol: 30 mg/dia por quatro a oito semanas.
Esquemas que utilizam a terapia tripla apresentam cada vez
– Rabeprazol: 10 mg/dia a 20 mg/dia. mais taxas de resistência mais elevadas, razão pela qual:

– Pantoprazol: 40 mg/dia. – Em alguns casos é necessário prolongar a medicação anti-


secretora até três meses para localização gástrica de
– Esomeprazol: 20 mg/dia.
doença ulcerosa e até oito semanas para o duodenal,
também a extensão desse tratamento depende da idade do
FÁRMACOS PROTETORES DA MUCOSA
paciente e da resposta inicial ao tratamento.
São substâncias com ação tópica devido à ação do bismuto
– Em pacientes em uso de anti-inflamatórios não
coloidal que adere ao fundo da úlcera e principalmente ao
esteróides, os anti-inflamatórios devem ser descontinuados
tecido necrótico, favorece a cicatrização, o paciente deve
e instituído tratamento com bloqueador da bomba de
ser alertado sobre a possibilidade de fezes escuras devido à
prótons ou bloqueador do receptor H2. Se for
metabolização do produto sucralfato 1 g a cada 6 h ou um
imprescindível manter o uso de anti-inflamatórios não
comprimido 1 h antes das refeições e ao deitar, equivalente
esteróides medicamentos, devem ser adicionados um
a 4 g/dia durante 8 a 12 semanas.
bloqueador da bomba de prótons, em casos de tratamento
profilático devido à patologia subjacente que o aconselha, é
ANÁLOGOS DA PROSTAGLANDINA
necessário o tratamento com isoprostol e um bloqueador
Seu mecanismo de ação consiste em manter a defesa e da bomba de prótons.
reparar a mucosa, aumentar a secreção de bicarbonato no
muco, estimular o fluxo sanguíneo local e diminuir a TRATAMENTO CIRÚRGICO
renovação das células da mucosa. Como efeito colateral,
ocorrem diarreia, sangramento e contrações uterinas, por É indicada quando há complicações, crises repetidas ou
isso seu uso é contra-indicado em gestantes e mulheres em intratabilidade. É preferível realizar vagotomia
idade fértil. A dose recomendada é de misoprostol 200 μg a ultrasseletiva, o que evita sintomas dispeptídicos após
cada 6 horas. vagotomia troncular. O advento da cirurgia endoscópica
endoluminal e endocavitária por laparoscopia permite uma
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visão mais ampla e reduz significativamente as fazem isso com mais frequência no lobo esquerdo do
complicações imediatas e tardias da cirurgia fígado, que se chama penetração, deve-se suspeitar na
gastroduodenal abdominal aberta. presença de dor que perde a relação prandial e torna-se
mais intenso, com ausência de vômitos, defesa acentuada
O uso de medicina bioenergética, medicina natural e do abdome, contratura da musculatura abdominal, irritação
tradicional tem aliviado atualmente os pacientes para que e distensão abdominal, leucocitose com neutrofilia no
os períodos entre as crises sejam mais distantes e também leucograma.
possam ser realizados tratamentos homeopáticos que
levam até ao desaparecimento da lesão ulcerosa. Na radiografia de abdome em ortostatismo simples,
presença ar, aumento da amilase sérica, observação por
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL laparoscopia mostra a presença de pus e comida livre em
cavidade abdominal.
DISTÚRBIOS DO SEGMENTO GASTRODUODENAL
SÍNDROME PILÓRICA
Hérnia hiatal, doença do refluxo gastroesofágico, duodenite
crônica, divertículo gastroduodenal, neoplasias benignas e A estenose ou obstrução pilórica ocorre secundariamente a
malignas (linfoma MALT), parasitismo (giardíase), gastrite e nflamação e edema da mucosa que circunda um nicho
com dispepsia não ulcerosa. localizado na região pré-pilórica ou justapilórica, manifesta-
se por instalação progressiva de saciedade precoce,
Condições que produzem epigastralgia de origem reflexa
náuseas, vômitos com restos de comida, dor pós-prandial
Pancreatite crônica, litíase das vias biliares e discinesia da que não melhora com o tratamento usual, perda de peso e
vesícula biliar, litíase renal, infarto do miocárdio, perfuração gástrica no exame físico.
aneurismas da aorta, entre outros.
O enema opaco expõe imagens do estômago dilatado com
nível hidroaéreo com pouco ou nenhum esvaziamento, as
COMPLICAÇÕES
lavagens devem ser realizadas com sonda nasogástrica e
então realizar o exame endoscópico para confirmar o
HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
diagnóstico e decidir a conduta a seguir.Do
É a complicação mais frequente da úlcera gastroduodenal,
presente em 15% dos pacientes com fatores REFERENCIAS:
predisponentes como idade avançada e ingestão de anti-
Roca Goderich. Tem as de Medicina I nterna / Colectivo de
inflamatórios não esteroides. Cerca de 10% a 25% dos
autores.— 5. ed. / rev. María E. Noya Chaveco y Noel
pacientes com úlceras de estresse agudo têm sangramento
Lorenzo Moya González.— La Habana: Editorial Ciencias
descontrolado trato gastrointestinal superior doloroso de
Médicas, 2017.
gravidade variável. O sangramento pode se manifestar na
unidade de terapia intensiva por aspirado nasogástrico Clinica Medica. Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e
escuro (em borra de café) ou hemático, devido a Doenças Nutricionais. Volume 4. HC FMUSP
hematócrito reduzido ou hipotensão inexplicável.

Apresenta-se de forma aguda ou crônica e decorre da


erosão de um vaso no fundo da úlcera devido à ruptura do
plexo capilar por granulação ou congestão na mucosa da
zona periúlcera. A classificação endoscópica é usada de
Forrest que é de grande ajuda na tomada de decisão para
lidar com essa complicação.

PERFURAÇÃO

É a segunda complicação mais frequente, ocorre em 6% a


8% dos pacientes diagnosticados com idade avançada que
ingerem salicilatos e outros medicamentos que irritam a
mucosa, também pode ser aguda ou crônica na cavidade
abdominal (abdômen agudo cirúrgico). A outra variedade é
a perfuração de outra víscera vizinha na forma de
fistulização, as gástricas afetam frequentemente na área do ANAMNESE
pâncreas e causam pancreatite, enquanto as duodenais
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Identificação Inspeção estática: plano, simétrico, palidez


Inspeção dinâmica: se movimenta bem de acordo
Homens com mais de 55 a 65 anos com os movimentos respiratórios
Ausculta: ruídos hidroaéreos normais
Estado de platô aos 25 anos nos homens e aos 45 anos em
Percussão: timpânico a percussão, sem sinais de
mulheres.
ascite, Espaço de Traube Livre
Queixa Principal Palpação: dor no epigástrio, leve, principalmente a
palpação profunda. Não se palpa fígado, nem baço
Dor de estômago e nem massas

História da doença atual:

A dor se localiza no epigástrio, aparece em forma de


queimação, como sensação dolorosa de fome, cãibra ou
queimação e irradia para o hipocôndrio direito ou para o
mesogástrio nas úlceras duodenais e para o hipocôndrio
esquerdo abaixo do esquerda margem costal na úlcera
gástrica. Às vezes permanece fixo no epigástrio sem
irradiação. Se inicio as 09:00 da manhã, pode durar apenas
alguns minutos ou várias horas, a menos que seja aliviado
com alimentos ou antiácidos, que duram de 15 dias a dois
meses, que se alternam com períodos de bem-estar de
maior duração, meses e até anos, o que permite classificar
essas dores episódios como periódicos.

A azia é um sintoma que os pacientes referem e associam a


uma refeição específica e pode ser acompanhada de
vômitos pós-prandiais ou com restos de alimentos ou
tingidos de bile. Muitos deles podem referir hiperfagia e
ganho ponderal, decorrentes do alívio da dor com o uso de
alimentos.

Antecedentes Pessoais Pregresso

Doenças graves que necessitam intervenção cirúrgica

Traumas Graves

Uso de AINES

Grupo Sanguíneo

Antecedentes Familiares

Parentes que já obtiveram história de ulcera péptica

História Social e Hábitos de vida:

Uso de álcool

Uso de tabaco

Uso de cafeína

Estresse físico ou emocional

Regime militar

EXAME FÍSICO

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