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NUTRIÇÃO CLÍNICA E DIETOTERAPIA PARA O SIST. DIGEST.

DIETOTERAPIA PARA AS DOENÇAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL - ESTÔMAGO

Profª Emília Delesderrier Franco


Estômago
• Anatomia: cárdia, fundo, corpo, antro e piloro

• Funções: Acomoda e armazena as refeições,


mistura os alimentos com as secreções gástricas e
controla o esvaziamento para o duodeno.

• Volume gástrico pode expandir até 4L

• Células parietais gástricas - produtoras de ácido.

• A mucosa do estômago e do duodeno é protegida


contra as ações proteolíticas do ácido gástrico e da
pepsina por um revestimento de muco.
Relembrando a Fisiologia Gástrica...
Distúrbios gástricos
• Causados pelo desequilíbrio entre os fatores de Fatores agressores da mucosa gástrica:
defesa e de agressão da mucosa gástrica. oHCl
oPepsina
Fatores de defesa da mucosa gástrica: ouso de anti-inflamatórios (AINEs e corticoides)
oinfecção pela bactéria Helicobacter pylori.
o muco (espesso e viscoso)
o bicarbonato (presente na malha de muco que Alguns alimentos interferem na secreção ácida:
reveste a mucosa)
o renovação celular após lesão oAlimentos muito quentes - aumento da secreção ácida e diminuem o
tempo de esvaziamento gástrico
o junções celulares (impede retrodifusão de ácido)
o fluxo sanguíneo da mucosa (para cicatrização e oCondimentos picantes - aumentam a secreção ácida e causam irritação da
mucosa
eliminação de substâncias nocivas)
o prostaglandinas (estimula muco, bicarbonato, oPimenta preta - irritação gástrica, aumento da secreção ácida e dispepsia

regeneração de mucosa e fluxo sanguíneo) oPimenta chilli e mostarda - produzem eritema e lesão gástrica

oCarboidratos concentrados - retardo do esvaziamento gástrico

oAlimentos ricos em gordura - diminuem o esvaziamento gástrico


Dispepsia e Dispepsia Funcional
• Dispepsia: (indigestão) é a condição de •A dispepsia funcional (DF) é definida pelos
desconforto ou dor persistente na critérios de Roma III:
porção superior do abdome que afeta
de 20 a 40% da população geral, presença de sintomas com origem na região
gastroduodenal na ausência de qualquer
reduzindo significativamente a doença orgânica, sistêmica ou metabólica
qualidade de vida. que possa explicar os sintomas.

DRGE GASTRITE Sintomas: dor ou desconforto epigástrico.


CAUSAS DA Outros sintomas incluem náusea pós-
DISPEPSIA DOENÇA DOENÇA DA prandial, eructação e
ULCEROSA VESÍCULA inchaço abdominal.
PÉPTICA BILIAR
Dispepsia e Dispepsia Funcional
• Dietoterapia:

o Tratamentos atuais - ignoram o papel potencial da dieta

o Poucos estudos sobre o possível efeito de alimentos e macronutrientes específicos e


de outros hábitos alimentares no sentido de induzir ou exacerbar os sintomas da
dispepsia.

o Estratégia: utilizar um diário alimentar e de sintomas durante a avaliação clínica de


um paciente com DF e a avaliação dos sintomas associados aos padrões alimentares.

o Consumo de refeições menores com teor reduzido de lipídeos  promissoras no


tratamento da dispepsia

o Ajudar o cliente a identificar alimentos que causam desconforto


Gastrite
Gastrite - inflamação do estômago com Sintomas
aparência endoscópica da mucosa gástrica Náuseas
ou a uma alteração histológica caracterizada Vômitos
pela infiltração do epitélio por células mal-estar
inflamatórias, como as células Anorexia
polimorfonucleares. Hemorragia
dor epigástrica

• Gastrite aguda - manifestação rápida da


inflamação e dos sintomas. A gastrite prolongada pode resultar em
atrofia e perda de células parietais do
estômago, com perda da secreção de HCL
• Gastrite crônica - pode ocorrer durante um (acloridria) e do fator intrínseco, resultando
período de meses a décadas, com sintomas em anemia perniciosa.
recorrentes.
Gastrite
• Causas

- H.pylori
o A infecção por H. pylori é responsável pela maioria dos casos de
inflamação crônica da mucosa gástrica e de úlcera péptica, câncer de
estômago e gastrite atrófica (inflamação crônica com deterioração da
mucosa e das glândulas), resultando em acloridria e perda do fator
intrínseco.
o Tratamento – antibiótico
o Pode causar úlcera péptica e câncer gástrico

- A aspirina e os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)


são corrosivos
o Inibem a síntese da prostaglandina, essencial para manter a barreira de
muco e bicarbonato do estômago.
o Uso crônico de aspirina e outros AINEs, esteroides, álcool, tabaco pode
comprometer a integridade da mucosa e aumentar as chances de
aquisição de gastrite aguda ou crônica.
Gastrite Atenção:
cuidado aos efeitos
• Tratamento clínico colaterais do tratamento
medicamentoso!

- remoção do agente iniciante o Redução da secreção de


HCL
- Investigação da H.pylori (exame de sangue
oRedução da
com anticorpo contra a bactéria, teste de absorção de nutrientes (p.
uréia – respiratório, endospopia) B12, cálcio e ferro não
heme –que necessitam da
proteólise intragástrica
- Tratamento medicamentoso - antibióticos e para tornarem-se
Biodisponíveis)
os inibidores da bomba de prótons 
redução da secreção ácida o(+) infecção intestinal –
HCl atua como defesa
Úlcera péptica
• Ocorre em decorrência da falha dos Etiologia:
mecanismos normais de defesa e reparo.

• Normalmente, é preciso que mais de um


dos mecanismos esteja funcionando
incorretamente para que se
desenvolvam úlceras pépticas
sintomáticas. As úlceras pépticas normalmente
envolvem duas regiões principais: o
estômago e o duodeno.
• Em geral, as úlceras pépticas mostram
Em ambas as regiões, podem apresentar
evidências de inflamação crônica e sinais semelhantes àqueles associados à
processos de reparo em torno da lesão. dispepsia e à gastrite.
Silbernagl & Lang, 2016.
Silbernagl & Lang, 2016.
Úlcera péptica
• Sintomas:

o Desconforto abdominal - sintoma mais comum das


úlceras do duodeno e do estômago.

o Sensação de queimação que ocorre com o estômago


vazio (brevemente aliviado com a ingestão de
alimentos).

o Empachamento, eructação, náuseas, vômitos, falta


de apetite e perda de massa corporal.

o Sintomas de emergência - fezes sanguinolentas ou


negras (melena), vômito sanguinolento
(hematêmese) ou vômito com aparência de borra de
café  sinais de sangramento GI agudo ou crônico.
Úlcera péptica – Gástrica e Duodenal
• ÚLCERAS GÁSTRICAS
o Associadas a condições como gastrite difusa, envolvimento inflamatório das
células parietais e atrofia das células produtoras de ácido e pepsina, que
ocorre na idade avançada.

o Apresenta hipomotilidade antral, estase gástrica e aumento do refluxo


duodenal.

o Alta incidência de hemorragia e mortalidade geral.

• ÚLCERA DUODENAL

o Aumento da secreção de ácido no decorrer do dia, acompanhada pela


secreção reduzida de bicarbonato.

o Início do bulbo duodenal (área imediatamente abaixo do piloro).

o A obstrução da saída gástrica é mais comum com as úlceras duodenais do que


com as úlceras gástricas.
Úlcera péptica – Gástrica e Duodenal
• Dietoterapia

Objetivo:
o Recuperar e proteger a mucosa gastrintestinal
o Facilitar a digestão
o Aliviar a dor
o Promover um bom estado nutricional

Atenção ao estado nutricional de micronutrientes!


Gastrite atrófica – avaliar B12 devido à falta de fator
intrínseco e HCL, que resultam na má absorção dessa
vitamina.

↓ [HCL]  influencia na absorção de ferro, cálcio e (HCL


aumenta a biodisponibilidade)

Deficiência de ferro/anemia ferropriva – avaliar presença de


sangramento.
Carcinoma Gástrico
• Surge na região que se estende entre a junção
gastroesofágica e o piloro. Sintomas: perda de apetite, força e
massa corporal.
• Etiologia As neoplasias gástricas malignas podem
o causa – multifatorial levar à desnutrição em consequência
das perdas excessivas de sangue e
o > 80% dos casos têm sido atribuídos à infecção por H. proteínas, má absorção de nutrientes ou,
pylori. obstrução e interferência mecânica.

o alimentação, o estilo de vida, a genética, a condição


socioeconômica e outros fatores contribuem para a
carcinogênese gástrica.

• Dieta ocidental: carnes processadas, lipídeos, amidos e


açúcares simples – maior fator de risco, quando
comparada a dieta rica em frutas, legumes e verduras.
Carcinoma Gástrico
• Tratamento: ressecção cirúrgica
o É realizada ressecção parcial ou total do estômago - gastrectomia.

Tipos de cirurgia:
o Gastrectomia total - Realizada no caso de malignidades que
afetam a porção média ou superior do estômago. Remove-se todo
o estômago e faz-se uma reconstrução em Y de Roux para manter
a continuidade do sistema GI. Com uma derivação em Y de Roux,
o jejuno é puxado para cima e anastomosado ao esôfago.
Conecta-se, então, o duodeno ao intestino delgado para que as
secreções biliares e pancreáticas possam fluir para o intestino.

o Gastrectomia subtotal (ou parcial) – remoção parcial do


estômago.
 Billroth I – gastroduodenostomia: remoção do piloro e/ou do
antro, e em uma anastomose da extremidade proximal do
duodeno à extremidade distal da parte restante do estômago.

 Billroth II – gastrojejunostomia: remoção do antro do estômago e


uma anastomose da parte restante do estômago à lateral do
jejuno, criando uma alça cega formada pelo duodeno.
Silbernagl & Lang, 2016.
Silbernagl & Lang, 2016.
Pós operatório – cirurgias gástricas

Síndrome do esvaziamento gástrico rápido:


Síndrome de Dumping

3 estágios
-Hipovolemia (10-20 min após alimentar-se)
-Sintomas colônicos (após 20 min)
-Hipoglicemia (1-3h após alimentar-se)

A rápida entrega, bem como a hidrólise e a


absorção dos carboidratos, eleva
exageradamente a concentração de insulina e
produz um subsequente declínio da glicose no
sangue  sintomas
Pós operatório – cirurgias gástricas
Carboidratos simples - lactose, a sacarose, a frutose e a glicose, são
• Dietoterapia rapidamente hidrolisados e devem ser limitados, mas os carboidratos
complexos (amidos) podem ser incluídos na dieta.

Objetivo: Líquidos – vão rapidamente para jejuno, assim, alguns pacientes têm
dificuldade em tolerar líquidos com as refeições.
- restaurar estado nutricional
- minimizar deficiências Limitar quantidade de líquidos ingeridos nas refeições e ingerir líquidos
entre as refeições sem alimentos sólidos.
- melhorar qualidade de vida
Reclinar-se (cerca de 30 graus) após as refeições também pode minimizar
a gravidade dos sintomas.

Suplementos de fibras - pectina ou gomas pode ser benéfico no


tratamento da síndrome do esvaziamento gástrico rápido, devido à
capacidade das fibras de
formar géis com carboidratos e líquidos e retardar o trânsito GI.

Tamanho das porções – cautela (quantidade de CHO)

Pacientes submetidos a gastrectomia não toleram lactose, mas pequenas


quantidades (6 g ou menos por refeição) por vez podem ser toleradas em
algum momento.

Os suplementos de vitamina D e cálcio podem ser necessários em caso de


ingestão inadequada.

Se esteatorréia – fórmulas com menor teor de lipídeos.


Pós operatório – cirurgias gástricas
• Dietoterapia
Exercício
1) Um paciente chega ao consultório de nutrição com queixa de dor
retroesternal e azia. Vem encaminhado após consulta médica, onde foi
diagnosticado úlcera gástrica.

a) Elabore uma orientação nutricional para este paciente.

b) Descreva as deficiências nutricionais que este paciente pode apresentar,


explicando o porque de cada possível deficiência.
Referências Bibliográficas

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