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Doença do refluxo gastroesofágico

• REVER A MORFOFISIOLOGIA DO ESÔFAGO ou sinais de lesão mucosa, pode ser


considerado um processo fisiológico, se
É um tubo muscular de condução, visto que houver passa a ser DOENÇA DO REFLUXO
o esôfago secreta muco e transporta os maior frequência, duração, + sintomas)
alimentos deglutidos da faringe para o
estômago. Epidemiologia
Ele NÃO produz enzimas digestivas NEM CRIANÇAS: por conta da capacidade
realiza absorção e. Possui cerca de 25cm de reduzida do reservatório esofágico associada
comprimento e 2cm de diâmetro. Está a reduções espontâneas e frequentes da
localizado por trás da traqueia e da laringe, pressão dos esfíncteres, contribuindo para o
estendendo-se ao longo do mediastino e refluxo.
cruzando o diafragma no nível da 11a vértebra Cerca de 50% dos RNs até os 3 meses de
torácica. idade apresentam um episódio de
regurgitação por dia, com 8 meses fica menos
Existem esfíncteres em cada extremidade do frequente e some aos 2 anos (postura e dieta
esôfago: um esfíncter esofágico superior contribuem).
(EES) –ou faringoesofagico- controla a
circulação de alimentos da faringe para o Etiopatogenia
esôfago.
A etiologia da DRGE é multifatorial. Tanto os
Logo no limite entre o esôfago e o estômago sintomas quanto as lesões teciduais resultam
temos o esfincter inferior - ou esfincter do contato da mucosa com o conteúdo
gastresofágico - uma válvula, um músculo gástrico refluxado, decorrentes de falha em
circular que tem a finalidade de abrir e fechar, uma ou mais das seguintes defesas do
com abertura permite a passagem do esôfago: barreira antirrefluxo, mecanismos de
alimento do esôfago para o estômago, e ao depuração intraluminal e resistência intrínseca
fechar se tem o impedimento do refluxo do do epitélio.
alimento do estômago de volta para o
esôfago. Em condições normais, o músculo
circular dessa área permanece em contração
tônica, formando uma zona de pressão
elevada que ajuda a evitar refluxo do
conteúdo gástrico para dentro do esôfago.

O esôfago é inervado pelo plexo esofágico


(troncos vagais e simpáticos torácicos)
As paredes do esôfago são formadas pelas
camadas: mucosa, submucosa, muscular
externa e adventícia.
a camada muscular, terço superior do esôfago —>A BARREIRA ANTIRREFLUXO , principal
é de músculo esquelético, o terço proteção contra o RGE, é composta por
intermediário é de músculo esquelético e liso esfíncter interno ( ou EIE-propriamente dito) e
e o terço inferior é de músculo liso. esfincter externo ( formado pela parte crural
do diafragma)
DRGE
—> O ElE mantém-se fechado em repouso e
relaxa com a deglutição e com a distensão
O refluxo gastroesofágico (RGE) é, por
gástrica. O relaxamento não relacionado com
definição, o desloca mento, sem esforço, do
a deglutição é chamado de relaxamento
conteúdo gástrico do estômago para o
transitório do ElE (RTEIE), sendo considerado
esôfago. Ocorre em todas as pessoas várias
o principal mecanismo fisiopatológico
vezes ao dia e, desde que não haja sintomas
associado à DRGE = mais comum.
Muitas substâncias afetam a pressão do ElE: resistência epitelial é o aumento da
a colecistocinina (CCK) é responsável pela permeabilidade paracelular.
diminuição da pressão de ElE observada após A esofagite ocorre quando os fatores de
a ingestão de gorduras; outros defesa são derrotados pelos fatores
neurotransmissores estão envolvidos, entre os agressivos.
quais se destacam o óxido nítrico (ON) e o › Outro constituinte do material refluxado, que
peptídio intestinal vasoativo (VIP) tem sido correlacionado com maior
agressividade para a mucosa do esôfago, é o
—>A presença de hérnia hiatal contribui para conteúdo duodenal (bile e secreções
o funcionamento inadequado da barreira pancreáticas), que atinge o estômago, através
antirrefluxo através da dissociação entre o
do pioro e, subsequentemente, chega ao
esfincter externo e o interno
esôfago.
› O refluxo duodeno-gastresofágico é um
MECANISMO DE DEPURACÃO
fenômeno fisiológico, de composição variada,
INTRALUMINAL
que lesa a mucosa esofágica pela ação das
enzimas proteolíticas, potencializando a lesão
-› A depuração do material refluxado presente
provocada pelo ácido.
na luz do esôfago decorre de uma
–> O mecanismo responsável pelas
combinação de mecanismos
manifestações extraesofágicas da DRGE,
mecânicos ( através do peristaltismo e da
como tosse e broncoespasmo, nem sempre é
gravidade) e químicos (neutralização do
a aspiração com lesão da mucosa de vias
conteúdo residual pela saliva ou pela muco-
respiratórias por contato direto, pode ser via
sa).
reflexo vagal por acidificação da mucosa
A diminuição do fluxo salivar pode ser
esofágica distal
secundária à síndrome de Sjõgren ou ao uso
de diversos medicamentos.
Manifestações Clínicas
Episódios de refluxo ocorridos durante a noite,
na posição supina, são duradouros e têm
Sintomas típicos:
grande chance de causar lesão mucosa Pirose (azia) e regurgitação são os sintomas
devido à diminuição do fluxo de saliva, que característicos da DRGE.
ocorre normalmente à noite, associada à falta Outras queixas são eructações e dor torácica.
de ação da gravidade Em geral, a dor é localizada na região
epigástrica ou retrosternal e frequentemente
RESISTÊNCIA INTRÍNSECA DO EPITÉLIO irradia em direção ao pescoço, para a
-› É formada pelos seguintes mecanismos de garganta, o ombro ou o dorso. Por causa de
defesa, normalmente presentes no epitélio sua localização, essa dor pode ser confundida
esofágico: com angina do peito.
–Defesa pré-epitelial: composta por muco, ->Estes sintomas são mais frequentes após
bicarbonato e água no lúmen do esôfago, as refeições ou quando o paciente está em
formando uma barreira físico-química, que é decúbito supino ( barriga para cima) ou em
pouco desenvolvida no esôfago, quando decúbito lateral direito.
comparada à mucosa gástrica e duodenal;
Sintomas extraesofágicos:
–Defesa epitelial: junções intercelulares -tosse crônica -asma
firmes, características do epitélio estratificado -fibrose pulmonar - rouquidão
pavimentoso, o que dificulta a retrodifusão de - irritação na garganta - sinusite
íons, e substâncias tamponadoras intersticiais, -erosão do esmalte dentário - pigarro
como proteinas, fosfato e bicarbonato; -alterações nas cordas vocais

–Defesa pós-epitelial: suprimento sanguíneo, *Sintomas atípicos, isoladamente, não devem


responsável tanto pelo aporte de 02 e sugerir diagnóstico clínico de DRGE, sendo
nutrientes, quanto pela remoção de necessário a confirmação através de exames
metabólitos. O defeito mais comum da complementares.
Complicações A EDA é o exame de escolha para avaliação
das alterações da mucosa esofágica
As estenoses são causadas por uma secundárias à DRGE permitindo, além de sua
combinação de fibrose tecidual, espasmo e visualização direta, a coleta de fragmentos
edema. Essa complicação causa esofágicos através de biopsias.
estreitamento do esôfago e disfagia quando a
constrição do lúmen esofágico é significativa. Esse método não é capaz de documentar a
presença do refluxo gastroesofágico, porém é
Úlcera esofágica—> lesões mais profundas um procedimento bastante
que alcançam a submucosa e a muscular acurado para detectar suas complicações:
Hemorragia oculta ( anemia) esofagite, estenose e esôfago de Barrett.

uma endoscopia normal não afasta o


O esôfago de Barrett —>ocorre à ação lesiva diagnóstico de DRGE, já que apenas 30 a
do refluxo crônico e caracteriza se por um 40% dos pacientes apresentam esofagite e,
processo de metaplasia intestinal , no qual há no máximo, 15% deles têm esôfago de
a substituição do epitélio escamoso típico do Barrett.
esôfago por um epitélio colunar do tipo
intestinal, altamente resistente ao pH ácido. As principais indicações de realização de
Essa complicação está associada ao aumento endoscopia digestiva em pacientes com
do risco de desenvolver adenocarcinoma do suspeita de DRGE são:
esôfago.
– idade > 40-45 anos
Diagnóstico – pacientes com sintomas de alarme , como:
d i s f a g i a , e m a g re c i m e n t o , h e m o r r a g i a
Na grande maioria dos casos, o diagnóstico digestiva.
se dá pela clínica, pela anamnese: pirose pelo – sintomas refratários ao tratamento com IBP
menos uma vez por semana por um período – Excluir outras doenças ou complicações da
mínimo de 4 a 8 semanas DRGE
–Pesquisar a presença do esôfago de Barret
Em pacientes abaixo de 40 anos, com em pacientes com sintomas de longa
sintomas típicos (azia e regurgitação) e sem duração;
sinais de alarme, não é necessário nenhum • PHMETRIA
método complementar, a princípio; pode-se monitoramento do pH por 24 h.Através de um
iniciar o teste terapêutico com IBP e medidas cateter introduzido pelo nariz até o esôfago
comportamentais por 4 semanas. Se houver posicionado no esôfago, sensores são
remissão dos sintomas, o diagnóstico clínico capazes de identificar as variações do pH
de DRGE estará determinado. esofágico.
Uma limitação importante da pHmetria é que
• Em pacientes que apresentam apenas ela só é capaz de detectar o refluxo ácido,
sintomas atípicos, embora também se admita não sendo possível documentar o refluxo não
o tratamento empírico, reconhecidamente, a ácido (10 a 20% dos casos).
resposta é ruim, estando indicados os
métodos complementares para documentar a IMPEDÂNCIO-PHMETRIA
DRGE como causa dos sintomas. Tr a t a - s e d e t é c n i c a q u e p e r m i t e a
identificação tanto o refluxo ácido quanto o
Os exames complementares para o não ácido, o tipo de material que reflui
diagnóstico incluem: (líquido, gasoso ou misto), e extensão pelo
esôfago.
• ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): A principal in dicação da impedância/
consiste em introduzir um endoscópio de fibra pHmetria é na avaliação de pacientes com
óptica flexível no esôfago com a finalidade de sintomas típicos ou extraesofágicos atribuídos
examinar o lúmen do sistema digestório à DRGE, que não responderam de forma
superior; completa ao tratamento com IBP
sintomas em 80 a 90% dos casos em 8
TESTE DE BEMSTEIN-BAKER: objetiva comprovar semanas. CICATRIZA EROSÃO!!
que o sintoma do paciente decorre do refluxo
ácido gastresofágico. Esse teste utiliza a Os IBPs são pró-fármacos com um
infusão de ácido clorídrico a 0,1 N na luz
revestimento entérico ácido-resistente para
esofágica, na tentativa de reproduzir o
protegê-los da degradação prematura pelo
sintoma típico do paciente, e a infusão de
solução salina como placebo. Considera-se o ácido gástrico, que é removido no meio
teste positivo naquele paciente que alcalino do duodeno, sendo assim, o pró-
apresentou sintomas típicos apenas durante a fármaco, que é uma base fraca, é absorvido e
infusão de ácido clorídrico. Deve ser transportado à célula parietal.
reservado para situações em que não se Ali, ele é convertido no fármaco ativo e
dispõe de pHmetria prolongada forma uma ligação estável covalente com
a enzima H+/K+-ATPase.
E s t u d o s r a d i o l ó g i c o s : c i n t i g r a fi a e São necessárias cerca de 18 horas para
esofagograma com bário ressintetizar a enzima, e a secreção ácido
é interrompida nesse período.
Tratamento

Medidas Comportamentais Antirrefluxo: Efeitos adversos: aumento do risco de


- Elevação da cabeceira fraturas, carência de vitamina B12 e
prejudica a absorção de cálcio
- Reduzir a ingestão de alimentos que relaxam
o EEI ou que têm efeito diretamente “irritante”
–>ANTAGONISTA DO RECEPTOR H2 :
para o esôfago: gorduras, cítricos, café,
Ex: cimetidina, ranitidina, famotidina e
bebidas alcoólicas e gasosas, chocolate,
nizatidina.
condimentos em excesso
- Evitar deitar após as refeições, devendo-se
Antagonistas de receptor H2 agem
esperar de 2-3h; Bloqueando competitivamente a ligação
- Interromper o tabagismo e o etilismo . da histamina aos receptores H2, reduz a
- Evitar líquidos às refeições. secreção do ácido gástrico.São totalmente
- Evitar atitudes que aumentem a pressão reversíveis
intra-abdominal (agachar, fazer abdominais, São drogas seguros e bem toleradas, mas
usar roupas e cintos apertados etc.). têm curta duração de ação, entre 4 e 8
- Estimular a Redução de peso em obesos. horas, menos eficazes e resultam em
- Evitar, se possível, as drogas que relaxam o inibição incompleta da secreção ácida,
EEI (antagonistas do cálcio, nitratos, não cicatriza erosão.
derivados da morfina, anticolinérgicos,
progesterona, diazepam, barbitúricos, PROCINETICOS: Aumentam tonicidade do
teofilina) esfincter inferior, aceleram o esvaziamento
gástricos e nunca deve ser usado em
-› O tratamento medicamentoso inclui: monoterapia, mas sim em associação, já
que tambêm não tem a capacidade de
–> INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS cicatrizar erosão. Ex: domperidona,
(IBP): bromoprida.
Ex: omeprazol dexlansoprazol, esomeprazol,
lansoprazol, pantoprazol e rabeprazol ANTIÁCIDOS:
ex; hidróxido de alumínio/magnésio
a terapia com antissecretores potentes é São bases fracas que reagem com o
capaz de aliviar os sintomas mais rapidamente ácido gástrico formado agua e um sal,
e cicatrizar as lesões na maior parte dos para diminuir a acidez gástrica. Estes
pacientes. Doses padronizadas dos IBP são variam na capacidade de neutralizar o
capazes de tratar a esofagite e aliviar ácido.
Terapia direcionada pelo paciente com
sintomas eventuais (pirose de vez em
quando, por exemplo). Não há
necessidade diária e não há sinal de
alarme

DRGE EM PEDIATRIA:
–O refluxo fisiológico tem maior probabilidade
de se manifestar em crianças (“golfadas”);

–Se intenso, incômodo e complicado (deficit


pôndero-estatural, irritabilidade, PNM de
repetição) → DRGE infantil.

- Diagnóstico pela historia clinica + resposta


positiva à prova terapêutica;
- Casos duvidosos podem ser submetidos à
pHmetria de 24h;
- EDA é pouco específica;

1a linha terapêutica: medidas não


farmacológicas:
(1) aumentar a frequência das mamadas,
diminuindo o volume em cada mamada
individual;
(2) manter a criança em posição ereta após a
alimentação;

P/ Casos persistentes: bloqueadores do


receptor H2 de histamina

REFERÊNCIAS

DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo


F. Gastrenterologia Essencial. 4. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Whalen, Karen. Farmacologia ilustrada. 6.


ed. Porto Alegre : Artmed, 2016.

NORRIS, Tommie L. Porth –Fisiopatologia.


10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2021.

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