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REFLUXO GASTROESOFÁGICO E DRGE

DEFINIÇÃO
o O número e volume das regurgitações aumentam até o quarto
mês de idade, reduzindo-se posteriormente, de forma que a
grande maioria dos casos se resolve até o primeiro ano de vida.

3) RGE PATOLÓGICO

o Ocorre quando episódios de RGE se associam sinais, sintomas


ou complicações decorrentes da presença de material refluído
no esôfago ou na árvore respiratória, gerando lesão tecidual.

o Se divide em 2 categorias:

❖ RGE patológico primário ou DRGE (Doença do Refluxo


Gastroesofágico)→ decorre de uma anormalidade primária
da motilidade esofágica / gástrica.

❖ RGE patológico secundário→ quando é secundário a uma


outra doença de base. EX: alterações estruturais do TGI,
- Refluxo gastroesofágico (RGE) é definido como a passagem
alergia alimentar, DPOC, gravidez, reação medicamentosa,
retrógrada e involuntária de conteúdo gástrico para o esôfago,
doença do colágeno, etc.
algumas vezes atingindo a faringe e a boca.

- Entendendo alguns conceitos:


FISIOPATOLOGIA DA DRGE
1) RGE FISIOLÓGICO

o É um retorno involuntário do conteúdo gástrico para o esôfago.

o Em recém-nascidos de termo e pré-termo, o refluxo é usualmente


um processo benigno e de curta duração, parte da fisiologia e
maturação gastrointestinal nessa fase da vida.

o O material refluído é composto por alimentos, saliva, suco gástrico


e, eventualmente, bile e suco duodenal.

o Características fisiológicas próprias do período neonatal


contribuem para maior incidência de RGE.

Características fisiológicas associadas à maior


incidência de refluxo gastroesofágico em
recém-nascidos

A) COMPETÊNCIA DO ESFINCTER INFERIOR DO ESÔFAGO


(EIE):

o O EIE, situado na porção distal do esôfago, é representado por um


segmento de pressão elevada, constituído por feixes circulares de
OBSERVAÇÃO!!! musculatura lisa, e, em condições de repouso, permanece sempre
fechado, só se abrindo na deglutição (relaxamento induzido pela
Existe uma diferença fundamental entre lactentes e crianças
deglutição) ou nos relaxamentos transitórios.
maiores/adultos em relação ao RGE fisiológico:

Em adultos, o RGE é um fenômeno eventual, ocorrendo em alguns o Em razão de sua contração tônica, o EIE atua como barreira
breves momentos, principalmente durante o dia e após as funcional, antepondo-se ao RGE.
refeições, sendo, na maioria das vezes, totalmente assintomático.

Na população infantil, particularmente no recém-nascido (RN) e no


B) RELAXAMENTO TRANSITÓRIO DO EIE:
lactente jovem, o RGE é fenômeno quase habitual e
frequentemente sintomático, traduzido por regurgitações e/ou o O relaxamento transitório do EIE tem sido apontado como um
vômitos. mecanismo adicional importante para os episódios normais e
anormais de RGE.
2) REGURGITAÇÃO

o Comumente chamada de golfada. o Trata-se de um relaxamento que ocorre independentemente da


deglutição e do peristaltismo esofágico e com duração igual ou
o É a exteriorização do RGE com presença do material refluído na superior a 5 s (5 a 30s), diferentemente do relaxamento induzido
boca e/ou nariz involuntariamente. pela deglutição, que é muito breve
o . O estímulo mais importante para esse relaxamento é a distensão
gástrica, cujo mecanismo de controle parece ser por via vagal,
iniciado pela estimulação dos mecanorreceptores da parede
gástrica.

C) FATORES PERIESFINCTERIANOS:

o Associação com as estruturas circunvizinhas da EIE.

EX: pinçamento diafragmático, incisura cardíaca, roseta mucosa e


ligamento frenoesofágico.

D) PRESSÃO INTRA-ABDOMINAL:

o Um outro mecanismo que procura manter um funcionamento


competente do EIE é a existência de um gradiente pressórico
entre o esôfago e o estômago.
EXAME COMPLEMENTAR
o Assim, quando ocorre alguma elevação da pressão intragástrica
(que facilitaria o aparecimento do RGE), também há aumento 1) ULTRASSONOGRAFIA (US) ESOFAGOGÁSTRICA
paralelo da pressão do EIE (mecanismo reflexo vagovagal), em
uma atitude de resguardo contra o refluxo. - Não diferencia o RGE da DRGE.

- Esse exame é importante no diagnóstico diferencial com a


estenose hipertrófica de piloro.
E) VOLUME GÁSTRICO:
- Apresenta baixa especificidade,1 dessa forma, não deve ser
o Embora existam controvérsias a respeito, tem sido geralmente solicitada para avaliação clínica de rotina da DRGE em crianças.
aceito que o tempo de esvaziamento gástrico retardado exerce
papel patogênico na DRGE. 2) RADIOGRAFIA CONTRASTADA DE ESÔFAGO, ESTÔMAGO
E DUODENO (RxEED)

F) EFEITOS POSTURA/GRAVIDADE.

GRUPOS DE RISCO PARA SE DESENVOLVER A DRGE

1) Portadores de doença neurológica, especialmente os


acometidos por encefalopatia hipóxico-isquêmica e
comprometimento da musculatura→ risco elevado para quadros
aspirativos de repetição.

2) Prematuros, especialmente aqueles que ficaram em UTI


neonatal e utilizaram sonda para alimentação.

3) Crianças com alterações congênitas do esôfago.

4) Portadores de doença respiratória crônica, como fibrose - O RxEED é um exame de fácil execução e baixo custo, mas
cística, asma, broncodisplasia. inadequado para o diagnóstico de DRGE, pois avalia apenas o RGE
5) Antecedentes familiares de DRGE (de 1º grau). pós-prandial (depois da refeição) imediato, não tendo a capacidade
de quantificar os episódios de refluxo.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
- Os RGEs podem ser detectados em até 50% das crianças
submetidas a exames radiológicos, independentemente dos
o Apneia e alterações no sono; sintomas. O RxEED deve ser solicitado para excluir anormalidades
anatômicas do trato digestório.
o Regurgitação, vômito, ruminação;
3) CINTILOGRAFIA GASTROESOFÁGICA
o Queimor e dor retroesternal, choro excessivo (irritabilidade), - A cintilografia gastroesofágica permite avaliar o esvaziamento
recusa alimentar; gástrico, a ocorrência de refluxo não ácido e a microaspiração
pulmonar.
o Tosse crônica, broncoespasmo, estridor laríngeo, rouquidão,
pigarros; - Dessa forma, a cintilografia gastroesofágica não deve ser
solicitada de rotina para diagnóstico de DRGE em crianças.
o Hematêmese e náuseas;
4) pHMETRIA ESOFÁGICA
o Retardo pôndero-estatural;

o Síndrome de Sandifer→ alteração postural com hiperextensão


do pescoço adotada como mecanismo de defesa contra a pirose
e dor associada a irritabilidade.
TRATAMENTOS

1) MEDIDAS NÃO - FARMACOLÓGICAS:

A) Medidas dietéticas em lactentes

- As técnicas de mamadas devem ser corrigidas nos lactentes com


RGE em aleitamento materno exclusivo.

- Naqueles em uso de fórmulas lácteas, a ingestão deve ser em


volumes fracionados.

- A redução do volume por mamada é uma recomendação comum.

OBSERVAÇÃO!!!

Cabe salientar que, na criança em aleitamento natural, o leite


materno deve ser mantido.
- Considerada padrão-ouro em diagnóstico de RGE patológico,
embora não permita a identificação de refluxos alcalinos, por Fórmulas espessadas / AR (antirregurgitação)→
estarem tamponados pelos alimentos.
o Melhoram visivelmente as regurgitações,
- Embora avalie diversos parâmetros, o índice de refluxo (IR) é o que contribui para menor perda dos
considerado o parâmetro mais importante detectado pela pHmetria, nutrientes oferecidos, podendo ser esse
pois fornece quantificação da exposição ácida esofágica cumulativa. fato considerado uma vantagem naqueles
pacientes que apresentam dificuldade de
5) IMPEDÂNCIA INTRALUMINAL ESOFÁGICA ASSOCIADA À
ganho pôndero-estatural.
pHmetria (IIM-pH)
o Porém, o impacto dessas fórmulas sobre
os outros sintomas esofágicos ou
extraesofágicos não é claro.

- Em crianças maiores, o tratamento dietético consiste em evitar


alimentos ou bebidas estimulantes da secreção ácida gástrica e que
diminuem a força de contração do EIE e retardam o esvaziamento
gástrico.

o Aconselha -se eliminar da dieta: condimentos, molhos picantes,


enlatados, alimentos gorduosos, doces, cremes, chocolates, frutas
ou sucos cítricos, bebidas gaseificadas, café, chá, álcool e fumo.

o Recomenda-se, ainda, comer devagar, não tomar líquidos durante


as refeições ou próximo do seu horário, assim como não dormir logo
após as refeições.

B) Medidas posturais

- A impedância-intraluminal-pHmetria esofágica tem uma grande


vantagem quando comparada à pHmetria esofágica por detectar os 2) MEDIDAS FARMACOLÓGICAS
episódios de refluxo ácido e os de refluxo não ácido, medir a
extensão dos episódios de refluxo (proximal, médio e distal) e - O tratamento da DRGE se baseia em dois pontos:
identificar os refluxos líquido e gasoso.
o Supressão da secreção ácida;
6) ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA COM BIÓPSIA o Fármacos prócinéticos.

A) Supressores da secreção ácida

- Antagonistas dos receptores de histamina H2

Seu uso crônico pode promover taquifilaxia, além de outros eventos


adversos.

EX: Ranitidina, Cimetidina, Famotidina.

- Inibidores da bomba de prótons (IBPs)


- A endoscopia digestiva alta permite a avaliação direta da mucosa
esofágica e a coleta de material para estudo histopatológico. São os mais eficazes agentes supressores da secreção ácida e não
provocam taquifilaxia.
- Não deve ser solicitada para diagnóstico de DRGE, apenas na
suspeita de complicações (esofagite, estenose péptica ou esôfago EX: Omeprazol.
de Barrett) ou no diagnóstico de outras causas de esofagite, como
a esofagite eosinofílica. B) Pró-cinéticos
- Atuam melhorando a peristalse esofágica e acelerarem o
esvaziamento gástrico → Ação predominante do tônus do EIE,
aumentando a pressão, a motilidade e aceleração do esvaziamento
gástrico.

EX: Domperidona, Bromoprida, Metoclopramida, Azitromicina,


Betanecol.

3) MEDIDAS CIRÚRGICAS:

ASPECTOS RELEVANTES NA REGURGITAÇÃO


INFANTIL E DRGE

o Quando a regurgitação é um sintoma isolado em lactentes


- As indicações de cirurgia antirrefluxo são para aquelas situações que apresentam crescimento e desenvolvimento normal
em que não se consegue controlar a doença a doença por meio do (regurgitação infantil), não se faz necessária nenhuma
tratamento clínico ou que não exista risco elevado de morte pela investigação complementar.
presença do RGE.
o A DRGE envolve um grupo heterogêneo de pacientes com
- Técnica de fundoplicatura a Nissen.
sintomatologia diversa, e a decisão terapêutica é individual, a
COMPLICAÇÕES depender dessa sintomatologia.

o A inibição ácida interfere na digestão de proteínas ingeridas,


o ESOFAGITE DE REFLUXO→ Com ou sem hemorragia; aumentando o risco para alergias alimentares.

o ÚLCERAS;

o ESTENOSE → É a mais grave das complicações da DRGE e


surge após longo período de doença;

o HEMORRAGIA → O processo inflamatório e as erosões da


mucosa, além das ulcerações, podem complicar-se com
sangramento, por meio de pequenas estrias sanguíneas que são
reconhecidas em material regurgitado, até volumosas
hematêmeses e melenas que requerem cuidados intensivos;

o ASPIRAÇÃO PULMONAR → Alguns sintomas da via aérea


podem ter sua origem na aspiração de material refluído através do
EIE, especialmente durante a noite, na posição deitada.

o ESÔFAGO DE BARRETT → É uma condição na qual há uma


mudança no revestimento esofágico, tornando-se similar ao tecido
que reveste o intestino. Ou seja, ocorre a substituição do epitélio
escamoso específico do esôfago por epitélio colunar do tipo
encontrado na mucosa gástrica.

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