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Sensações Somáticas: Dor, Cefaleia e Sensações Térmicas

- As sensações somáticas correspondem aos mecanismos neurais - A bradicinina é substância que parece induzir a dor de modo mais
responsáveis pela aquisição de informações sensoriais do que se passa acentuado do que as outras substâncias. Além disso, a intensidade
em todo o corpo. da dor se correlaciona ao aumento local da concentração do íon
potássio ou ao aumento na concentração de enzimas proteolíticas
- Muitas das enfermidades do corpo causam dor. Além disso, a que atacam diretamente as terminações nervosas e estimulam a dor
capacidade de diagnosticar diferentes doenças depende, em grande por fazer as membranas nervosas mais permeáveis aos íons.
parte, do conhecimento médico das diversas qualidades de dor.
1- Isquemia Tecidual como Causa da Dor.
TIPOS DE DOR E SUAS QUALIDADES
✓Quando o fluxo sanguíneo para um tecido é bloqueado, o tecido em
• DOR RÁPIDA: também é descrita por meio de vários nomes geral fica muito dolorido em poucos minutos. Quanto maior for a
alternativos, como dor pontual, dor em agulhada, dor aguda e dor intensidade do metabolismo desse tecido, mais rapidamente a dor
elétrica. Esse tipo de dor é sentido quando a agulha é introduzida na aparece.
pele, quando a pele é cortada por faca, ou quando a pele é
agudamente queimada. Ela também é sentida quando a pele é ✓Uma das causas sugeridas para a dor, durante a isquemia, é o
submetida a choque elétrico. A dor pontual rápida não é sentida nos acúmulo de grande quantidade de ácido lático nos tecidos, formada
tecidos mais profundos do corpo. em consequência do metabolismo anaeróbico (metabolismo sem
oxigênio).
• DOR LENTA: também tem vários nomes, como dor em queimação,
dor persistente, dor pulsátil, dor nauseante e dor crônica. Esse tipo de ✓Também é provável que outros agentes químicos, como a bradicinina
dor geralmente está associado à destruição tecidual. A dor lenta pode e as enzimas proteolíticas, sejam formados nos tecidos por causa do
levar ao sofrimento prolongado e quase insuportável e pode ocorrer dano celular, e que esses agentes, junto com o ácido lático, estimulem
na pele e em quase todos os órgãos ou tecidos profundos. as terminações nervosas para a dor.
RECEPTORES PARA A DOR E SUA ESTIMULAÇÃO 2- Espasmo Muscular como Causa da Dor.
- Os receptores para dor na pele e em outros tecidos são terminações ✓O espasmo muscular também é causa comum de dor, sendo a base
nervosas livres. Eles existem dispersos nas camadas superficiais da de muitas síndromes clínicas dolorosas. Essa dor provavelmente
pele, bem como em certos tecidos internos, as paredes das artérias, as resulta em parte do efeito direto do espasmo muscular na estimulação
superfícies articulares e a foice e o tentório da abóbada craniana. de receptores para dor mecanossensíveis, mas também pode resultar
de efeito indireto do espasmo muscular comprimindo vasos
- Há 3 Tipos de Estímulos Excitam os Receptores para Dor —
sanguíneos e levando à isquemia.
Mecânicos, Térmicos e Químicos.
✓Além disso, o espasmo aumenta a intensidade do metabolismo do
- Em geral, a dor rápida é desencadeada por tipos de estímulos tecido muscular, tornando a isquemia relativa ainda maior e criando
mecânicos e térmicos, enquanto a dor crônica pode ser desencadeada condições ideais para a liberação de substâncias químicas indutoras
pelos três tipos de estímulo. da dor.

- Algumas das substâncias que excitam o tipo químico de dor são: VIAS DUPLAS PARA A TRANSMISSÃO DOS SINAIS
bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina e DOLOROSOS AO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
enzimas proteolíticas.
- As duas vias correspondem principalmente aos dois tipos de dor:
OBSERVAÇÕES: uma via para a dor pontual rápida e uma via para a dor lenta crônica.

A) Além disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a - Os sinais dolorosos pontuais rápidos são desencadeados por
sensibilidade das terminações nervosas, mas não excitam estímulos mecânicos ou térmicos; eles são transmitidos pelos nervos
diretamente essas terminações. As substâncias químicas são, de periféricos para a medula espinhal por meio de fibras A DELTA do
modo especial, importantes para a estimulação do tipo de dor lenta tipo pequeno, com velocidade entre 6 e 30 m/s (avisa a pessoa
e persistente que ocorre após lesão tecidual. rapidamente sobre o perigo).

- Inversamente, o tipo de dor lenta crônica é desencadeado


B) os receptores para dor se adaptam muito pouco e algumas vezes
principalmente por estímulos dolorosos do tipo químico mas, algumas
não se adaptam → De fato, em certas circunstâncias, a excitação
vezes, por estímulos mecânicos ou térmicos persistentes. Essa dor
das fibras dolorosas fica progressivamente maior
lenta crônica é transmitida para a medula espinhal por fibras tipo C
(HIPERALGESIA).
com velocidades entre 0,5 e 2 m/s (tende a aumentar com o passar
INTENSIDADE DA LESÃO TECIDUAL COMO ESTÍMULO PARA A do tempo. Essa sensação, por fim, produz dor intolerável e faz com
DOR que a pessoa continue tentando aliviar a causa da dor).

- A intensidade da dor também está intimamente relacionada à


intensidade do dano tecidual, por causas diferentes do calor, como
infecção bacteriana, isquemia dos tecidos, contusão dos tecidos e
outras.

IMPORTÂNCIA ESPECIAL DOS ESTÍMULOS DOLOROSOS


QUÍMICOS DURANTE LESÃO TECIDUAL

- Extratos dos tecidos lesionados podem causar dor intensa, quando


são injetados sob a pele normal. A maior parte das substâncias
químicas, descritas acima que excitam os receptores químicos para dor,
pode ser encontrada nesses extratos.
OBSERVAÇÃO: ➢ Em seguida, a maior parte dos sinais passa por um ou mais
neurônios de fibra curta, dentro dos cornos dorsais propriamente
Ao entrarem na medula espinal, vindas pelas raízes espinais ditos, antes de entrar principalmente na lâmina V, também no
dorsais, as fibras da dor terminam em neurônios-relé nos cornos corno dorsal.
dorsais. Aí novamente existem dois sistemas para o
processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o ➢ Aí, os últimos neurônios da série dão origem a axônios longos que
encéfalo. se unem, em sua maioria, às fibras da via de dor rápida, passando
primeiro pela comissura anterior para o lado oposto da medula e
depois para cima, em direção do encéfalo, pela via anterolateral.

➢ Pesquisas sugerem que os terminais de fibras para dor do tipo C


que entram na medula espinhal liberam tanto o neurotransmissor
glutamato como a substância P. Entretanto, a substância P é vista
como a principal porque é liberada muito mais lentamente, com
sua concentração aumentando em período de segundos ou
mesmo minutos (gera sensação mais duradoura).

➢ A via paleoespinotalâmica crônica lenta termina de modo difuso no


tronco cerebral, algumas fibras conseguem chegar ao tálamo (a
localização da dor transmitida pela via paleoespinotalâmica é
imprecisa). A maioria das fibras termina em uma dentre três áreas:
FIBRAS A-DELTA: I, II, III, IV, V.
a) nos núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do
FIBRAS C: III, IV, V, VI. mesencéfalo;
b) área tectal do mesencéfalo;
c) substância cinzenta periaquedutal.

LEMBRETE!!!!

- A remoção completa das áreas somatossensoriais do córtex cerebral


não destrói a capacidade de perceber a dor. Portanto, é provável que os
impulsos dolorosos que cheguem à formação reticular do tronco
cerebral, do tálamo e outras regiões inferiores do encéfalo causem
percepção consciente de dor.

- Entretanto, acredita-se que o córtex desempenhe papel especialmente


importante na interpretação da qualidade da dor, mesmo que a
percepção da dor seja função principalmente dos centros inferiores.

SISTEMA DE SUPRESSÃO DA DOR ("ANALGESIA") NO


ENCÉFALO E NA MEDULA ESPINHAL

1- Terminação do Trato Neoespinotalâmico para a Transmissão da


dor Rápida=

➢Algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas


reticulares do tronco cerebral mas a maioria segue até o tálamo sem
interrupção, terminando no complexo ventrobasal junto com o trato da
coluna dorsal-lemnisco medial para sensações táteis.

➢Algumas fibras terminam também no grupo nuclear posterior do


tálamo.

➢Dessas áreas talâmicas, os sinais são transmitidos para outras áreas


basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial.

➢Acredita-se que o glutamato seja a substância neurotransmissora


secretada nas terminações nervosas para a dor do tipo A-DELTA da
medula espinhal.

2- Via Paleoespinotalâmica para a Transmissão da Dor Crônica


Lenta=

➢A via paleoespinotalâmica é sistema muito mais antigo e transmite dor


principalmente por fibras periféricas crônicas lentas do tipo C.

➢Nessa via, as fibras periféricas terminam na medula espinhal quase


inteiramente nas lâminas II e III dos cornos dorsais, que, em conjunto,
são referidas como substância gelatinosa pelas fibras da raiz dorsal
do tipo C mais laterais.
- O grau de reação da pessoa à dor varia muito. Isso resulta B) Dor Visceral→ danos viscerais que causam dor. Além disso, a dor
parcialmente da capacidade do próprio encéfalo de suprimir as visceral difere da dor superficial em vários aspectos importantes.
aferências de sinais dolorosos para o sistema nervoso, pela
ativação do sistema de controle de dor. Causas da Dor Visceral Verdadeira:

- O sistema da analgesia consiste em três grandes componentes: - Qualquer estímulo que excite as terminações nervosas para a dor,
em áreas difusas das vísceras, pode causar dor visceral. Esses
(1) AS ÁREAS PERIVENTRICULAR E DA SUBSTÂNCIA estímulos incluem isquemia do tecido visceral, lesão química das
CINZENTA PERIAQUEDUTAL DO MESENCÉFALO E REGIÃO superfícies das vísceras, espasmo da musculatura lisa de víscera
SUPERIOR DA PONTE: circundam o aqueduto de Sylvius e oca, distensão excessiva de víscera oca e distensão do tecido
porções do terceiro e do quarto ventrículo. conjuntivo que circunda ou é localizado na víscera.

(2) O NÚCLEO MAGNO DA RAFE: delgado núcleo da linha média, C) Dor Parietal→ Estímulo ao peritônio parietal.
localizado nas regiões inferior da ponte e superior do bulbo, e o
núcleo reticular par agiganto celular, localizado lateralmente no
bulbo. Desses núcleos, os sinais de segunda ordem são
transmitidos pelas colunas dorsolaterais da medula espinhal.

(3) O COMPLEXO INIBITÓRIO DA DOR LOCALIZADO NOS


CORNOS DORSAIS DA MEDULA ESPINHAL: Nesse ponto, os
sinais de analgesia podem bloquear a dor antes dela ser transmitida
para o encéfalo.

- Vários neurotransmissores estão envolvidos no sistema da


analgesia; em especial, destacam-se a encefalina e a serotonina
(secretadas por fibras nervosas dos núcleos periventriculares e da
substância cinzenta periaquedutal). CEFALÉIAS
- As fibras que se originam nessa área enviam sinais aos cornos - As cefaleias são tipo de dor referida para a superfície da cabeça a partir
dorsais da medula espinhal para a secreção de serotonina em suas de suas estruturas profundas. Algumas cefaleias resultam de estímulos
terminações. A serotonina faz com que os neurônios locais da dolorosos provenientes de dentro do crânio, enquanto outras resultam
medula também secretem encefalina. de dores que se originam fora do crânio, como nos seios nasais.
- Acredita-se que a encefalina cause as inibições pré-sináptica e SENSAÇÕES TÉRMICAS
pós-sináptica das fibras de dor, os aferentes dos tipos C e A-DELTA,
em suas sinapses nos cornos dorsais. Receptores Térmicos e sua Excitação

- Assim, o sistema da analgesia pode bloquear os sinais dolorosos, - O ser humano pode perceber diferentes graduações de frio e calor:
no ponto de entrada inicial para a medula espinhal. De fato, ele frio congelante, gelado, frio, indiferente, morno, quente e muito quente.
também pode bloquear muitos reflexos locais da medula espinhal
que resultem de sinais dolorosos, especialmente os reflexos de - As graduações térmicas são discriminadas por pelo menos três tipos
retirada. de receptores sensoriais: receptores para frio, receptores para calor e
receptores para dor.
SISTEMA OPIOIDE ENCEFÁLICO — ENDORFINAS E
ENCEFALINAS - Os receptores para frio e para calor se localizam imediatamente
abaixo da pele em pontos separados discretos.
- Estudos indicaram que há uma indução no aumento dos peptídeos
opiáceos (EX: endorfinas) a nível encefálico e medular. - Na maioria das áreas do corpo, existem entre três e 10 vezes mais
pontos para frio que pontos para calor.
- Assim, apesar de os detalhes sutis do sistema opioide do cérebro
ainda não serem compreendidos, a ativação do sistema da ESTIMULAÇÃO DOS RECEPTORESTÉRMICOS—SENSAÇÕES
analgesia, pelos sinais neurais que entram na substância cinzenta DE GELADO, FRIO, INDIFERENTE, MORNO E QUENTE.
periaquedutal e na área periventricular, ou a inativação das vias da
dor por fármacos semelhantes à morfina podem suprimir, quase que
totalmente, muitos sinais dolorosos provenientes dos nervos
periféricos.

TIPOS DE DOR EM RELAÇÃO À TOPOGRAFIA

A) Dor Referida→ manifesta distante do local onde está


ocorrendo o estímulo. Referência à dor de origem visceral na
pele (convergência de fibras aferentes viscerais sobre os
neurônios da 2º ordem provenientes na pele).

A figura mostra os efeitos de diferentes temperaturas sobre as


] respostas dos quatro tipos de fibras nervosas:

(1) a fibra para dor, estimulada pelo frio;


(2) a fibra para o frio;
(3) a fibra para o calor;
(4) a fibra para a dor, estimulada pelo calor.

- Essas fibras respondem diferentemente a níveis distintos de - Também, pode-se compreender porque os graus extremos, tanto
temperatura. Por exemplo, na região muito fria, somente as fibras para de frio, quanto de calor podem ser dolorosos e porque ambas as
dor-frio são estimuladas (se a pele esfria ainda mais, quase sensações, quando intensas o suficiente, geram quase a mesma
congelando ou realmente congelando, essas fibras não podem mais qualidade de sensação, — isto é, as sensações de frio congelante ou
ser estimuladas). de calor abrasador são muito parecidas.

 Conforme as temperaturas se elevam para 10° ou 15°C, os TRANSMISSÃO DOS SINAIS TÉRMICOS NO SISTEMA
impulsos para dor-frio são interrompidos, mas os receptores NERVOSO
para frio começam a ser estimulados, atingindo pico de
- Em geral, os sinais térmicos são transmitidos por vias paralelas às
estimulação em 24°C e diminuindo levemente acima de 40°C.
vias da dor.
 Acima dos 30°C, os receptores para calor começam a ser - Ao entrar na medula espinhal, os sinais cursam por alguns
estimulados, mas eles também deixam de ser estimulados por segmentos de modo ascendente ou descendente no trato de
volta dos 49°C. Lissauer, terminando, principalmente, nas lâminas I, II e III dos
cornos dorsais — como para a dor.
 Finalmente, ao redor dos 45°C, as fibras para dor-calor
começam a ser estimuladas pelo calor e, paradoxalmente, - Após certo de processamento por um ou mais neurônios da medula
algumas das fibras para frio começam a ser novamente espinhal, os sinais cursam por longas fibras térmicas ascendentes
estimuladas, possivelmente por causa de lesões das que cruzam para o trato sensorial anterolateral oposto e terminam
terminações para o frio, causadas pelo calor excessivo.
(1) em áreas reticulares do tronco cerebral;
CONCLUINDO... (2) no complexo ventrobasal do tálamo.

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