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Semiologia da Dor 04/03/20

 IASP: “Dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões reais ou potenciais
ou relatada como se uma lesão existisse.”
 A última parte da descrição se refere a alterações sutis do SNC, como distúrbios bioquímicos ou psíquicos.
 Serve como mecanismo básico de defesa:
1. Porque a dor surge antes que ocorra uma lesão grave e provoca um afastamento do objeto que gerou
estímulo;
2. Serve como base para se aprender a evitar situações que possam gerar danos;
3. Dor causada por lesões de articulações, infecções abdominais etc., impõe limites na atividade ou
provoca a inatividade ou repouso, essenciais para a recuperação natural do organismo.
 Há dores que não servem a nenhum proposito útil . P. ex. Dor do Membro Fantasma, que se torna crônica,
deixando de ser um sintoma e passando a ser uma síndrome clínica requerendo atenção especial. Dores
crônicas podem ser intensas ao ponto de induzirem suicídio em pacientes.
 O oposto da dor (falta de sensibilidade) também acontece, e através disso pode-se perceber o valor da
dor.
 Também possui um significado social de valores culturais. P ex. Rituais Indígenas.
 Segundo Sternbach e Tursky, estudo de dor com mulheres de diferentes etnias. Pode-se perceber as
variações étnicas e culturais da dor .
 As características individuais que provêm da soma de experiências vividas de cada um. Além das
tendências neuróticas e depressivas, expressas mais comumente nas dores abdominais, cervicais e
lombares (devido à má postura); e dor perineal.

RESUMIDAMENTE...
 Fatores clínicos relacionados à Dor:
a) Experiência subjetiva;
b) Altamente variável:
1. Amplitude do estímulo;
2. Grau de atenção (amplifica) ou distração (atenua);
3. Estado emocional (medo, apreensão, ansiedade amplificam);
4. Influência de fatores psicossociais e culturais.

Anatomia da Dor
 Transdução, Transmissão, Modulação.
 TRANSDUÇÃO:
 É o mecanismo de ativação dos nociceptores, que ocorre pela transformação do estímulo nóxico
(mecânico, térmico ou químico) em potencial de ação.

 Os nociceptores são terminações nervosas livres de fibras mielínicas finas (A-delta ou III) sensíveis a
estímulos mecânicos e/ou térmicos; ou amielínicos (C ou IV), sensíveis a estímulos mecânicos,
térmicos e químicos (C polimodais).
 Estímulos mecânicos e térmicos nóxicos: além de excitarem os nociceptores sensíveis a eles,
promovem dano tecidual e vascular local, liberando ou formando uma série de substâncias:
o Íons hidrogênio e potássio, serotonina, histamina, cininas, leucotrienos, protaglandinas e
substância P – atuam nos nociceptores a elas sensíveis por meio de três mecanismos
distintos: (1) ativação direta (potássio, hidrogênio, cininas, serotonina e histamina); (2)
sensibilização (cininas, prostaglandinas e substância P); (3) produção de extravasamento do
plasma (substância P e cininas).
 Estimulação isolada de fibras A-delta cutâneas produz dor em pontada;
Estimulação isolada de fibras C cutâneas, dor em queimação;
Estimulação de fibras A-delta e C musculares, dolorimento (aching pain) ou caibrã.
 O estímulo que irá produzir dor será aquele que é capaz de lesionar o tecido.
* Nociceptores musculares são mais sensíveis ao estiramento e à contração isquêmica;
* Nociceptores articulares são mais sensíveis aos processos inflamatórios e aos movimentos
extremos;
* Nociceptores viscerais são mais sensíveis à distensão, à tração, à isquemia, ao processo
inflamatório, à contração espasmódica;
* Nociceptores das cápsulas viscerais maciças são mais sensíveis à distensão;
* Nociceptores miocárdicos são mais sensíveis à isquemia;
* Nociceptores tegumentares são mais sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos, químicos
nóxicos, mas não à tração e distensão.

 TRANSMISSÃO:
 Conjunto de vias e mecanismos que possibilita que os impulsos nervosos gerados nos nociceptores
sejam conduzidos para o SNC.
 As fibras nociceptivas (A-delta e C) oriundas da periferia são os prolongamentos periféricos dos
neurônios pseudounipolares situados nos gânglios espinais e de alguns nervos cranianos (trigêmeo,
facial, glosso faríngeo e vago).
 A chegada dos aferentes de uma víscera em múltiplos segmentos da medula, justifica a baixa
precisão da dor visceral tanto em termos de localização como de qualificação.

 MODULAÇÃO:
 Centros responsáveis pela supressão da dor. E, curiosamente, as vias modulatórias são ativadas pelas
nociceptivas.
 Teoria do Portão (ou das Comportas); Melzack e Waal:
As fibras amielínicas (C) e mielínicas finas (A-delta) conduzem a sensibilidade termoalgésica,
enquanto as fibras mielínicas grossas (A-alfa e A-beta) conduzem tato, pressão, propriocepção e
vibração. Segundo essa teoria, a ativação das fibras mielínicas grossas excitaria interneurônios
inibitórios da substância gelatinosa de Rolando para os aferentes nociceptivos, impedindo a passagem
impulsos dolorosos (fechamento da comporta). Ao passo que a ativação das fibras amielínicas e
mielínicas finas inibiria tais neurônios inibitórios, tornando possível a passagem dos impulsos
nociceptivos (abertura da comporta). Isso explica porque uma leve fricção ou massageamento de uma
área dolorosa aliviam a dor.
 A dor pode ser provocada pela ativação das vias nociceptivas ou lesão das vias modulatórias
(supressórias).

 Aspecto sensorial-discriminativo: capacidade de perceber os estímulos álgicos;


 Aspecto afetivo-motivacional: as vias nociceptivas do grupo medial não são somatotopicamente
organizadas e por isso, parecem não contribuir para o aspecto sensorial-discriminativo da dor. Em
contrapartida, estão relacionadas por conexões com tronco cerebral, hipotálamo, núcleos mediais e
intralaminares do tálamo e com o sistema límbico. Estas estruturas estão relacionadas com a regulação
das emoções e do comportamento.
- Dimensão afetiva, como experiência desagradável, ruim e amedrontadora. (sistema límbico)
- Dimensão motivacional, com a ação causada pela sensação dolorosa, como a reação de retirada ou de
fuga. (hipotálamo: centro simpático do SNPA)
 Aspecto cognitivo-avaliativo: centro do processamento da dor. As primeiras experiências dolorosas do ser
humano compreendem apenas os primeiros aspectos citados. Com o passar dos anos, as influências
culturais e religiosas, vivências vão sendo armazenadas na memória. E é a partir da avaliação e
julgamento desses dados que se formará aquilo que o indivíduo considerará como dor. Interfere nas
respostas do afetivo-emocional. (aspecto que varia de indivíduo pra indivíduo)

Classificação Fisiopatológica da Dor


 DOR NOCICEPTIVA:
 É causada pela ativação dos nociceptores e pela transmissão do PA gerado até o SNC, onde são
interpretados.
 Exemplos: dor secundária a agressões externas (picada, fratura de osso, corte), dor visceral (cólica
nefrética, apendicite), a neuralgia do trigêmeo, dor da artrite e da invasão neoplásica dos ossos.
 Características:
1. Começa simultaneamente ao fator causal, removendo o estímulo frequentemente culmina com o
alívio da sensação dolorosa.
2. Pctes não possuem déficit sensorial.
3. Quanto menor é o número de segmentos medulares envolvidos na inervação de uma estrutura
mais localizada é a dor (somática superficial).
4. Quanto maior é o número de segmentos medulares, mais difusa será a dor (visceral ou somática
profunda).
5. Pode ser espontânea ou evocada.
* Espontânea: pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, latejante, surda, contínua, profunda,
vaga, dolorimento. Todas elas sugerem lesão tissular.
* Evocada: pode ser desencadeada por manobras. Exemplo: estiramento da raiz nervosas por
elevação do membro inferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal.
 DOR NEUROPÁTICA:
 Dor por lesão neural; por desaferentação (privação do neurônio de suas aferências); ou central
(quando secundária às lesões no SNC). Dor mais difusa.
 Decorre de qualquer lesão infligida ao SNC ou SNP.
 Pode ser constante, intermitente ou evocada.
 Lesão do trato neoespinotalâmico (ou neotrigeminotalâmico, para a dor facial) é essencial para o
seu aparecimento. Isso culmina em desaferentação, e várias alterações aparecem: degeneração
dos terminais pré-sinápticos, reinervação do sítio desaferentado por axônios vizinhos, substituição
de sinapses inibitórias por excitatórias, ativação de sinapses inativadas e aumento da eficácia de
sinapses antes pouco eficazes. Isso tudo torna as células desaferentadas hipersensíveis.
 Sua hiperatividade espontânea, visto que são integrantes das vias nociceptivas (TNET seccionado
reduz a dor nociceptiva, mas agrava a neuropática constante), seria o substrato fisiopatológico
para a Dor Constante (em queimação ou formigamento).
 Dor Intermitente: decorre da ativação das vias nociceptivas pela cicatriz formada no foco lesional.
(TNET seccionado cirurgicamente elimina)
 Dor Evocada: rearranjo sináptico decorrente da desaferentação. Depende da estimulação dos
receptores.
- A reinervação de células nociceptivas desarefentadas pode produzir alodínia.
- A substituição de sinapses inibitórias por excitatórias, o aumento da eficácia de sinapses pouco
efetivas e ativação de outras antes inativas, pode produzir hiperpatia.
(TNET seccionado cirurgicamente elimina)
 Exemplos: (1) polineuropatias (diabética, alcoólica e carência de vitamina B12); (2) membro
fantasma; (3) Pós-AVC (dor talâmica).
 Características:
1. Origem diversa: afecções traumáticas, inflamatórias, vasculares, infeciosas, neoplásicas,
degenerativas, desmielinizantese iatrogênicas.
2. Seu início pode coincidir com o fator causal ou pode ocorrer (mais comumente) após dias,
semanas, meses, anos.
3. Em geral, o fator causal não pode ser removido.
4. A maioria dos pctes apresenta déficit sensorial clinicamente detectável.
5. A dor neuropática constante e intermitente são espontâneas.
6. Dor Constante: quase que 100% dos casos; queimação ou formigamento ou dormência. É
uma disestesia (sensação anormal desagradável) nunca antes experimentada pelo
paciente. Agravada por cirurgias por estas propiciarem desaferentação.
7. Dor Intermitente: mais frequente em lesões na medula ou periferias; dor em choque,
aguda. Lembra a dor da ciatalgia, mas não segue trajeto de nervos como ela.
8. Dor Evocada: mais comum em lesões encefálicas. Manifesta-se como Alodínia ou
Hiperpatia.

 DOR MISTA:
 Mix de Dor Nociceptiva e Neuropática.
 Exemplo: em algumas neoplasias malignas, quando ela se deve tanta ao excessivo estímulo dos
nociceptores quanto à destruição das fibras nervosas.

 DOR PSICOGÊNICA;
 Gerada por mecanismos puramente psíquicos.
 Características:
1. Difusa, generalizada, imprecisa.
2. Em alguns casos, pode ser localizada e a topografia corresponde à da imagem corporal que o
paciente tem da estrutura que ele julga doente. (pcte não conhece a dor referida)
Exemplos: se imagina ter um infarto do miocárdio, a área dolorida corresponderá à do mamilo
esquerdo e não à região restroesternal ou à face medial do braço esquerdo.
Se imagina ter colelitíase (pedra na vesícula), a área da dor será o hipocôndrio direito e não o
ombro ou área escapular direita.
3. Muda de localização sem razão aparente.
4. Quando irradiada não segue o trajeto de qualquer nervo.
5. Intensidade é variável, influenciada pelas condições emocionais do pcte.
6. A dor costuma ser descrita de maneira dramática.
7. Pode-se estabelecer a concomitância de um evento negativo e o início da dor.
8. Sinais e sintomas de depressão e ansiedade crônicas aparecem muito.
9. São neuroticamente fixados na dor, trazem uma lista de medicamentos já usados e de
centros de tratamento e especialistas já procurados.
10. Uso abusivo e inadequado de medicamentos.
11. Sem quaisquer achados relevantes no exame físico.
12. As avaliações psiquiátrica e psicológica acabam por identificar ansiedade, depressão,
hipocondria, histeria ou transtorno somatoforme.

Tipos de Dor
 Classificação quanto ao sítio de origem:
1. SOMÁTICA SUPERFICIAL (DSS)
2. SOMÁTICA PROFUNDA (DSP)
3. VISCERAL (DV)
4. REFERIDA (DR)
5. IRRADIADA (DI)

Dor Somática Superficial:


 Dor nociceptiva decorrente da estimulação dos de nociceptores do tegumento.
 Bem localizada e pode se apresentar de variáveis formas (picada, pontada, rasgando, queimor).
 Intensidade variável e proporcional ao estímulo.
 Agressores: trauma, queimaduras e processos inflamatórios.

Dor Somática Profunda:


 Dor nociceptiva decorrente da estimulação de nociceptores nos músculos, fáscias, tendões, ligamentos e
articulações.
 Principais causas: estiramento muscular, contração muscular isquêmica (exercício físico prolongado),
contusão, ruptura tendinosa e ligamentar, síndrome miofascial, artrite e artrose.
 Mais Difusa e Localização Imprecisa.
 Descrita como: dolorimento, dor surda, dor profunda, cãibra.
 Intensidade proporcional ao estímulo causal.
Dor Visceral:
 Dor nociceptiva decorrente da estimulação de nociceptores viscerais.
 Profunda, Difusa, Localização Imprecisa.
 Tende a se localizar próxima ao órgão de origem.
Exemplos:
Dor cardíaca: localização retroesternal ou precordial;
Dor pleural, na parede no hemitórax correspondente;
Dor esofágica, retroesternal ou epigástrica;
Dor gastroduodenal, epigástrio e hipocôndrio direito;
Dor ileojejunal e cólons, embora difusa, predomina na região periumbilical;
Dor do cólon sigmoide e do reto, pélvica e perineal;
Dor hepática e biliar, hipocôndrio direito e epigástrio;
Dor esplênica, hipocôndrio esquerdo;
Dor pancreática, epigástrio, hipocôndrio esquerdo e meio do dorso;
Dor renal, nos flancos;
Dor ureteral, nos flancos com irradiação para o baixo ventre e genitália;
Dor vesical e uretral proximal, pélvica e baixo ventre;
Dor uterina, baixo ventre, pélvica, perineal e lombar baixa;
Dor ovárica, pélvica, perineal, lombar baixa e fossas ilíacas.
 Descrita como: dolorimento, dor surda, vaga, contínua, que piora com a solicitação funcional do órgão.
 Dor Visceral pode estar veiculada a 4 situações:
 Comprometimento da própria víscera: dor visceral verdadeira
 Comprometimento secundário de serosas (peritônio ou pleura parietal): dor somática profunda
 Irritação do diafragma ou do nervo frênico.
 Reflexo viscerocutâneo: dor referida
Vísceras maciças e processos não- Surdas; baço, fígado, rins – inflamação no próprio órgão, dor
obstrutivos das vísceras ocas imprecisa.
Processos obstrutivos das vísceras Cólica (dor de vem e volta); intestino, estômago, vesícula, bexiga,
ocas tubas uterinas – ocorre devido a obstrução.
Comprometimento da pleura parietal Pontada (facada).
(dor somática profunda)
Isquemia miocárdica Constrictiva ou em aperto (como se estivesse torcendo).
Aumento da secreção de HCl Queimação ou ardor

Dor Referida:
 Sensação dolorosa superficial que está distante da estrutura profunda (visceral ou somática) cuja
estimulação nóxica é responsável pela dor.
 Obedece à lei metamérica.
 Explicação: convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais e profundos, para
neurônios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinhal.
 O tegumento possui maior representação talâmica e cortical que as estruturas profundas, por ter uma
maior quantidade de receptores nociceptivos.
 Por isso, os impulsos dolorosos provenientes das estruturas profundas seriam interpretados pelo cérebro
como oriundos do tegumento e o paciente apontaria a dor neste local.
 Não segue o trajeto normal do nervo.
 “Dor é no coração e vc sente no braço”
 Existe uma convergência de impulsos.
Exemplos: Causa:
Dor na face medial do braço – dmt T1 *IAM
Dor epigástrica ou periumbilical – dmt T6 a T10 *Apendicite
(apêndice não é sede de dor visceral verdadeira)
Dor no ombro – dmt C4 *Irritação no diafragma ou nervo frênico. (ocorre em
doenças de órgãos torácicos)
*Afecções da vesícula biliar - colelitíase, colecistite -
(o nervo frênico participa na inervação nociceptiva
da vesícula biliar)

Dor Irradiada:
 Ocorre em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela
dor.
 O problema é no próprio nervo e é uma dor sentida à distância (segue o caminho do nervo).
 Para se diferenciar Irradiada de Referida deve-se identificar a causa da dor.
 Exemplo: Lombociatalgia (Processo doloroso que acomete a região lombar, irradiando a dor para os
membros inferiores por meio do trajeto percorrido pelo nervo ciático)

 Classificação quanto à duração:


1. AGUDA: sinal de alerta
 Dura menos de um mês
 É acompanhada de manifestações neurovegetativas e desaparece com a remoção do
estímulo causal.
2. CRÔNICA: acima de três meses.
 (1) Persiste por um período superior ao necessário para cura de um processo; (2) Associado a
doenças crônicas (câncer, artrite reumatoide, artrose); (3) Decorre de lesão no SN.
 Perda da qualidade de vida; Afastamento do trabalho.
 Não possui qualquer função de alerta.
 Toda doença neuropática é crônica.

DECÁLOGO DA DOR: LIQID IRFFS


1. Localização
2. Irradiação
3. Qualidade ou caráter
4. Intensidade
5. Duração
6. Início e Evolução
7. Relação com funções orgânicas
8. Fatores Desencadeantes, Agravantes
9. Fatores Atenuantes
10. Sinais e Sintomas concomitantes

1. LOCALIZAÇÃO:
 Onde se localiza a dor?
 Deve-se pedir ao paciente que aponte com o dedo a área dolorida que deve ser registrada de
acordo com a nomenclatura anatômica
 Registrar no mapa corporal se ele sentir dor em mais de uma região, e estudá-las separadamente
para identificar se é irradiada ou referida.
- Dores diferentes, sem relação entre si, podem indicar (1) uma doença apenas (afecções
reumáticas, dor em múltiplas articulações), (2) processos patológicos ou (3) dor psicogênica.
 Avaliar sensibilidade na região da dor.
- Hipoestesia é sinal de dor neuropática, principalmente se for descrita como em queimação ou
formigamento.
- Hiperestesia (hipersensibilidade aos estímulos táteis)
- Hiperalgesia (hipersensibilidade aos estímulos álgicos)
- Alodínia, Hiperpatia: que ocorrem em regiões de hipoestesia e são indicadores de dor
neuropática.
 Em geral, indica a provável região afetada.

2. IRRADIAÇÃO:
 A dor é localizada, irradiada ou referida?
Radiculopatia S1 (lombociatalgia) Dor lombar com irradiação para a nádega e face
posterior da coxa, perna até o calcanhar.
Radiculopatia L5 (lombociatalgia) Dor lombar com irradiação para a nádega e face
posterolateral da coxa, perna até o maléolo lateral.
Radiculopatia L4 (lombociatalgia) Dor lombar com irradiação pra virilha, face anterior da
coxa, perna, maléolo medial.
Radiculopatia de L1 Dor dorsal na transição toracolombar, com irradiação
anterior e inferior para a virilha.
Radiculopatia de T4 Dor dorsal com irradiação anterior, passando pela
escápula até os mamilos.
Radiculopatia de C6 (cervicobraquialgia) Dor cervical com irradiação para a face lateral do braço
e antebraço.
Neuralgia occipital (Radiculopatia de C2 e C3) Dor na transição occipitocervical, com irradiação
superior, anterior e lateral, podendo atingir vértex, globos
oculares, ouvidos e face.
 Migração da dor: caminhada da dor, mudança da localização de uma dor em relação ao local inicial
de aparecimento.
- Apendicite Aguda
 Processos patológicos anteriores e concomitantes, que afetam estruturas inervadas por segmentos
medulares adjacentes, aumentam a possibilidade de que a dor seja sentida em uma região servida
por ambos os segmentos medulares.
- Dor da insuficiência cardíaca coronária (angina de peito) pode irradiar-se para o epigástrio em
portadores de úlcera duodenal ou membro superior direito em indivíduos com fratura recente aí.

3. QUALIDADE OU CARÁTER:
 Não raro o pcte apresenta dificuldade: oferecer uma relação de descritores.
 Descrever o tipo de sensação ou emoção que a dor lhe traz.
 Deve-se definir primeiramente se a dor é espontânea ou evocada:
1. Evocada: ocorre mediante algum tipo de provocação.
- Alodínia e Hiperpatia na dor neuropática;
- Hiperalgesia na dor nociceptiva.
2. Espontânea: constante (contínua, pode variar em intensidade) ou intermitente (episódica, com
frequência e duração variáveis).
Dor em Cólica: Intestinal, menstrual, nefrética
Dor em Pontada: Pleurítica
Dor em Queimação: Dor da Esofagite e Úlcera Péptica; Dor Neuropática (constante)
Dor Pulsátil/ Latejante: Enxaqueca, Abscesso, Odontalgia
Dor em Choque: Neuralgia do trigêmeo, Lombociatalgia; Dor Neuropática (intermitente)
Dor Surda: Doenças de Vísceras Maciças
Dor Constritiva ou em Aperto: Dor da angina do peito e IAM
Dor em Cãibra Afecções medulares, musculares e metabólicas.

4. INTENSIDADE:
 Aspecto subjetivo: representa a interpretação global do paciente dos seus aspectos sensoriais,
emocionais e culturais.
 Sem Dor, Dor Leve, Dor Moderada, Dor Intensa, Dor Muito Intensa e Pior Dor Possível
 EVA; adultos com baixa escolaridade, crianças e idosos – carinhas 😊
 Determinar também grau de interferência no sono, trabalho, atividades familiares, sexuais e sociais,
lazer. (noção mais objetiva da intensidade)
 Pode ser aguda e intensa: manifestações neurovegetativas (Taquicardia, taquipneia, palidez,
sudorese, agitação psicomotora, choro, grito, HA, náuseas, vômitos).

5. DURAÇÃO:
 Em primeiro plano: Data de início da dor
 Quando ela é contínua tenta-se calcular o tempo decorrido entre o seu início e data da anamnese.
 Cíclica: data de início e duração de cada episódio doloroso.
 Intermitente: data de início, duração média de cada episódio, número médio de crises por dia e de dias
por mês em que sente dor.
 Aguda (menos de um mês) X Crônica (mais de três meses)
 Ex: para que uma cefaleia possa ser considerada enxaqueca deve durar mais 4h e menos de 72h.

6. INÍCIO E EVOLUÇÃO: como a dor evoluiu do início até a data da anamnese.


 Pergunte sobre a forma de início:
a) Súbito
b) Insidioso: dor ulcerosa péptica, colecistite.
c) Brusco, agudo: IAM, discopatia lombar.
d) Instantâneo, brutal, intenso e persistente: úlcera péptica perfurada, ruptura de aneurisma.
Exemplos: súbita, cólica, hipocôndrio direito (colelitíase); insidiosa, surda, hipocôndrio direito (colecistite). Em
ambos pode haver irradiação da dor para o ombro.
 Estabeleça relação de concomitância entre o início da dor e o fator causal.
a) Dor neuropática começa dias, semanas, meses após a atuação do fator causal.
b) Dor nociceptiva é simultânea a atuação do fator causal.
 Evolução (quais foram as modificações dessa dor?)
a) Mudança de característica, tipo (úlcera péptica, pancreatite aguda)
b) Mudança de intensidade
c) Mudança de frequência (úlcera péptica duodenal, quando a pessoa come a dor passa –
tamponamento do HCl)
OBS.: Em casos de dor crônica, pode também mostrar surtos em relação às ocorrências em um mesmo dia
(ritmicidade) e surtos periódicos ao longo dos meses e anos (periodicidade).

7. REPERCUSSÃO (RELAÇÃO COM FUNÇÕES ORGÂNICAS)


 Inquérito regional.
 De acordo com a área da dor e órgãos subjacentes.
 A dor piora com a solicitação funcional do órgão que a origina.
Exemplos: Dor pleurítica ao inspirar; Cólica biliar ao ingerir alimentos gordurosos; Dor anginosa ao
exercitar-se.
Dor cervical, dorsal ou lombar Relação com movimentos da coluna (flexão, extensão, rotação, inclinação)
Dor torácica Relação com a respiração, movimentos do tórax, tosse, espirro e esforços físicos
Dor retroesternal Relação com deglutição, posição (decúbito dorsal horizontal, flexão do tronco: favorecem o
refluxo de suco gástrico – indica esofagite de refluxo) e esforço físico (sugere insuficiência
coronária, pois o exercício aumenta o trabalho do miocárdio, e como o suprimento arterial está
comprometido gera isquemia e a dor);
Dor periumbilical e epigástrica Relação com a ingestão de alimentos; (aumento da atividade TGI e peristaltismo)
Dor no hipocôndrio direito Relação com a ingestão de alimentos gordurosos; (aumento da produção de colescistoquinina)
Dor no baixo ventre Relação com micção, evacuação e menstruação;
Dor articular ou muscular Relação com a movimentação daquela articulação ou músculo;
Dor nos membros inferiores Relação com a deambulação.

 Exceção a essa regra é na úlcera péptica duodenal (comida gera alívio pois a dor é devido a
hipercloridia e não aumento da atividade duodenal)
8. FATORES DESENCADEANTES OU AGRAVANTES
Exemplos:
 Alimentos ácidos e picantes, álcool, AINES: esofagite, gastrite e úlcera péptica.
 Alimentos gordurosos: doenças biliares.
 Chocolate, queijos, álcool, barulho, luminosidade excessiva, esforço físico, menstruação: enxaqueca
 Decúbito dorsal prolongado, tosse, espirro (⬆️P intracraniana): cefaleia por hipertensão intracraniana
 Flexão da nuca: meningite
 Lavar o rosto, escovar os dentes, conversar, mastigar ou deglutir: neuralgia do trigêmeo

9. FATORES ATENUANTES:
 Quais desses fatores aliviam a sua dor?
Repouso, tranquilidade, movimento da parte envolvida, posição, pressão local, esforço, tosse,
alimentação, evacuação, sono, medicamentos (nome, dose e período utilizados), fisioterapia,
acupuntura, procedimentos cirúrgicos.
 Dor nociceptiva e neuropática (intermitente e evocada): respondem a anti-inflamatórios, analgésicos,
acupuntura, fisioterapia, secção da via NET.
 Dor neuropática (constante): responde a antidepressivos, neurolépticos, anestésicos locais.

10. SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS:


 Ajudar a identificar o sistema afetado:
- Principalmente na dor aguda, nociceptiva e intensa: presença de manifestações neurovegetativas
(Taquicardia, taquipneia, palidez, sudorese, agitação psicomotora, choro, grito, HA, náuseas, vômitos).
- Outros sintomas associados a dor podem ajudar no diagnóstico.
Considerar sexo, idade, doenças prévias e hábitos de vida.
Cefaleia em salvas + em homens, e associada a lacrimejamento, rinorreia ou
obstrução nasal, sudorese e ptose palpebral.
Enxaqueca *Com escotomas, disacusia, fotofobia, náuseas e vômitos =
+ em mulheres.
Cólica nefrética *Disúria, polaciúria e hematúria
Odinofagia *Disfagia
Dor torácica em adulto, sexo masculino, *Insuficiência cardíaca;
tabagista, agrava com o esforço *Câncer pulmonar (isso tudo + tosse e hemoptise).

 Sintomas ansiosos e depressivos:


- Insônia
Repercussões sobre a vida do pcte:
1. Prejuízo nas atividades cotidianas, capacidade funcional, influência no trabalho e recreação.
2. Depressão, ansiedade, insônia, comprometimento da autoimagem
3. Marital/ família/ relações sociais
4. Perdas financeiras, altos custos com saúde, absenteísmo, baixa produtividade.

ANTECEDENTES PESSOAIS PATOLÓGICOS:


1. Transtornos psicológicos prévios
2. Utilização de medicamentos prescritos
3. Abuso de drogas: fumo, álcool e drogas ilícitas
4. Doenças, cirurgias, acidentes

ANTECEDENTES FAMILIARES:
1. Saúde dos pais e irmãos: manifestações dolorosas com frequência.
2. Relacionamento marital e com os filhos: família disfuncional
3. Doença crônica na família

ANTECEDENTES PSICOSSOCIAIS:
1. Eventos estressantes vitais
2. Perdas interpessoais e materiais recentes
3. Mudanças
4. Quentões de indenizações e litigiosas
5. Atitudes e expectativa
6. Sistema de crenças
Para colorir:

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