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TIPOS DE DOR
Do ponto de vista fisiopatológico, a dor pode ser classificada em nociceptiva, neuropática,
mista e psicogênica.
DOR NOCICEPTIVA
É causada pela ativação dos nociceptores e pela transmissão dos impulsos gerados, que
percorrem as vias nociceptivas até as regiões do SNC, onde são interpretados. Os estímulos
ativadores dos nociceptores pode sem térmicos, mecânicos e químicos. A dor secundária a
agressões externas (picada de um inseto, fratura de um osso, corte da pele), a dor visceral (cólica
nefrética, apendicite), a neuralgia do trigêmeo, a dor da artrite e da invasão neoplásica dos ossos
são exemplos de dor nociceptiva.
Características:
A dor nociceptiva começa simultaneamente ao início da atividade do fator causal, o qual
pode ser, em geral, identificado. Sua remoção frequentemente culmina com o alívio da sensação
dolorosa. Nenhum déficit sensorial é identificado nesses pacientes, e a distribuição da dor
corresponde à das fibras nociceptivas estimuladas. Quanto menor é o número de segmentos
medulares envolvidos na inervação de uma estrutura, mais localizada é a dor (somática
superficial). Em contrapartida, quanto maior o número de segmentos medulares, mais difusa é a
dor (visceral e somática profunda). A dor nociceptiva pode ser espontânea ou evocada.
A espontânea pode ser expressa com as mais variadas designações: pontada, facada,
agulhada, aguda, rasgando, latejante, surda, contínua, profunda, vaga, dolorimento. Todas essas
denominações sugerem lesão tissular.
A evocada pode ser desencadeada por algumas manobras como: manobra de Lasègue na
ciatalgia, a dor provocada pelo estiramento da raiz nervosa, obtida pela elevação do membro
inferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal, e lavar o rosto e escovar os dentes, nos
pacientes com neuralgia do trigêmeo. Esse tipo de dor reproduz a sentida pelo paciente.
DOR NEUROPÁTICA
Também denominada dor por lesão neural, por desaferentação (privação de um neurônio
de suas aferências), ou central (quando secundária às lesões do sistema nervoso central). Decorre
de lesão de qualquer tipo infligida ao sistema nervoso periférico ou central, e pode apresentar‐se
de três formas: constante, intermitente e evocada.
A dor neuropática resulta de lesão direta ou de uma disfunção nos axônios sensoriais dos
nervos periféricos ou centrais.
Ainda não há certeza sobre quais mecanismos fisiopatológicos estão envolvidos, mas a
lesão do trato neoespinotalâmico (ou neotrigeminotalâmico, para a dor facial) parece ser condição
sine qua non para o seu aparecimento. Sabe‐se também que esse tipo de dor é gerado dentro do
sistema nervoso, independentemente de qualquer estímulo externo ou interno (componente
constante). A secção do trato neoespinotalâmico, tão eficaz em eliminar a dor nociceptiva, agrava
a neuropática (componente constante). Embora haja várias hipóteses sobre essa questão, este
último fato sugere que o mecanismo mais provavelmente envolvido em sua gênese é o da
desaferentação.
Quando um neurônio é privado de suas aferências (desaferentação), aparecem diversas
alterações: degeneração dos terminais pré‐sinápticos, reinervação do sítio desaferentado por
axônios vizinhos (brotamento ou sprouting), substituição de sinapses inibitórias por outras
excitatórias, ativação de sinapses anteriormente inativas e aumento da eficácia de sinapses antes
pouco eficazes. A ocorrência dessas alterações acaba por tornar as células desaferentadas
hipersensíveis (células explosivas ou bursting cells). Sua hiperatividade espontânea, visto que são
integrantes das vias nociceptivas, seria o substrato fisiopatológico para a dor constante (descrita
como em queimação ou formigamento) da qual se queixam esses pacientes.
Outra hipótese é que o componente constante da dor neuropática se deva à hiperatividade
das vias reticulotalâmicas e do tálamo medial. A estimulação elétrica dessas estruturas, em
pacientes com dor neuropática, mimetiza a sensação dolorosa referida por eles. Naqueles que não
a apresentam, todavia, a estimulação elétrica das mesmas estruturas não produz nenhum efeito.
Vilela Filho (1996, 1997) propôs que a hiperatividade do tálamo medial/via reticulotalâmica seria
devida à hipoatividade do Circuito Modulatório Prosencéfalo‐Mesencefálico, secundária à lesão
das vias neoespinotalâmica e espinotalâmica anterior, ativadores habituais desse circuito, ou à
interrupção do mesmo.
A dor neuropática apresenta mais dois componentes, podendo ser intermitente ou evocada
(alodínia e hiperpatia).
A intermitente decorre da ativação das vias nociceptivas pela cicatriz formada no foco
lesional ou por efapse (impulsos motores descendentes cruzam para as vias nociceptivas no sítio
de lesão do sistema nervoso). A secção cirúrgica completa da via neoespinotalâmica (ou
neotrigeminotalâmica, na dor facial) elimina essa modalidade de dor.
A dor evocada, por sua vez, se deve aos rearranjos sinápticos decorrentes da
desaferentação. A reinervação de células nociceptivas desaferentadas por aferentes táteis, por
exemplo, faria com que a estimulação tátil, ao ativar neurônios nociceptivos, produzisse uma
sensação dolorosa, desagradável (alodínia). A substituição de sinapses inibitórias por excitatórias,
o aumento da eficácia de sinapses outrora pouco efetivas e a ativação das anteriormente inativas,
por outro lado, poderiam tornar tais células hiperresponsivas aos estímulos dolorosos,
manifestando‐se clinicamente sob a forma de hiperpatia. Como a dor evocada depende da
estimulação dos receptores e do tráfego dos impulsos pelas vias nociceptivas, ela pode ser aliviada
pela secção cirúrgica da via neoespinotalâmica (ou neotrigeminotalâmica, na dor facial).
São exemplos de dores neuropática as que ocorrem: (1) nas polineuropatias (em sua forma
diabética, na qual há acometimento predominante de fibras mielínicas finas e amielínicas, na
alcoólica, que compromete indistintamente qualquer tipo de fibra, e na causada por carência de
vitamina B12), (2) na neuralgia pós‐herpética (acomete preferencialmente fibras mielínicas
grossas do ramo oftálmico do nervo trigêmeo ou dos nervos intercostais, manifestando‐se, em
geral, como uma mononeuropatia dolorosa), (3) no membro fantasma, (4) por avulsão do plexo
braquial, (5) pós‐trauma raquimedular e (6) pós‐acidente vascular encefálico (“dor talâmica”).
Características:
Sua etiologia é variada, incluindo afecções traumáticas, inflamatórias, vasculares,
infecciosas, neoplásicas, degenerativas, desmielinizantes e iatrogênicas.
Seu início pode coincidir com a atuação do fator causal, porém, mais comumente, ocorre
após dias, semanas, meses ou até anos. Em geral, o fator causal não pode ser removido, por ter
deixado de agir ou por ser impossível interrompê‐lo.
A maioria dos pacientes apresenta déficit sensorial clinicamente detectável. A distribuição
da dor tende a sobrepor‐se, pelo menos parcialmente, à perda sensorial.
A dor neuropática apresenta‐se pelo menos em uma das seguintes formas: constante,
intermitente (ambas são espontâneas) e evocada.
A dor constante ocorre em praticamente 100% dos casos, sendo, em geral, descrita como
dor em queimação ou dormente ou em formigamento, ou como um mero dolorimento. Trata‐se
de uma disestesia (sensação anormal desagradável) normalmente nunca experimentada pelo
paciente.
A dor intermitente é mais frequente nas lesões nervosas periféricas e da medula espinal,
sendo rara nas lesões encefálicas, e relatada como dor em choque, aguda. Lembra a dor da
ciatalgia, mas, diferentemente desta, seu trajeto não segue o de qualquer nervo.
A dor evocada, presente em mais da metade dos casos, conquanto mais comum nas lesões
encefálicas, é também frequente nas lesões medulares e do sistema nervoso periférico, podendo
manifestar‐se sob a forma de alodínia ou de hiperpatia.
A forma constante da dor neuropática, ao contrário da dor nociceptiva, tende a ser agravada
pela interrupção cirúrgica das vias da dor, pois tais procedimentos acentuam a desaferentação.
DOR MISTA
É aquela que decorre dos dois mecanismos anteriores. Ocorre, por exemplo, em certos
casos de dor por neoplasia maligna, quando ela se deve tanto ao excessivo estímulo dos
nociceptores quanto à destruição das fibras nociceptivas.
DOR PSICOGÊNICA
Toda dor tem um componente emocional associado, o que varia é sua magnitude. A dor
psicogênica, porém, é uma condição inteiramente distinta, para a qual não há qualquer substrato
orgânico, sendo gerada por mecanismos puramente psíquicos.
Características
Tende a ser difusa, generalizada, imprecisa. Algumas vezes, pode ser localizada e, nesse
caso, em geral, sua topografia corresponde à da imagem corporal que o paciente tem da estrutura
que julga doente. Assim, se imagina ter um infarto do miocárdio, a área dolorida corresponderá à
do mamilo esquerdo e não à região retroesternal ou à face medial do braço esquerdo. Se a doença
imaginada é uma colelitíase, a área da dor será a do hipocôndrio direito e não o ombro ou a área
escapular direita. Isso ocorre porque o paciente desconhece a dor referida em sua imagem
corporal. Se ele acreditar erroneamente que o fígado está localizado no hipocôndrio esquerdo, ao
imaginar‐se com uma dor de origem hepática, relatará uma sensação dolorosa no hipocôndrio
esquerdo e não no direito. A dor psicogênica muda de localização sem qualquer razão aparente.
Quando irradiada, não segue o trajeto de qualquer nervo. Sua intensidade é variável, sendo
agravada pelas condições emocionais do paciente, o que, em geral, é contestado por ele. Pode ser
relatada como muito intensa, excruciante, lancinante, incapacitante. Costuma ser descrita de
maneira dramática (“como um canivete introduzido no corpo”, “como tendo a pele arrancada”).
Não infrequentemente é possível estabelecer‐se a concomitância de um evento negativo relevante
na vida do paciente e o início da dor. Sinais e sintomas de depressão e ansiedade crônicas são
com frequência identificáveis. Estes pacientes são neuroticamente fixados em sua dor, trazendo à
consulta uma lista interminável de medicamentos já usados e de centros de tratamento e
especialistas já procurados. A utilização inadequada e abusiva de medicamentos é comumente
observada. Se questionados, podem referir um sem‐número de cirurgias prévias de indicação
duvidosa, sugerindo uma hiperreatividade a desconfortos relativamente leves. Ao exame físico,
em geral sem quaisquer achados relevantes, tendem a literalmente pular ao mero toque da região
“dolorosa”, por vezes simulando déficit sensorial de distribuição “histérica” (não segue qualquer
padrão dermatomérico) e fraqueza muscular. Os exames complementares são normais. As
avaliações psiquiátrica e psicológica acabam por identificar depressão, ansiedade, hipocondria,
histeria ou transtorno somatoforme.
Considerando‐se o seu sítio de origem, a dor pode ser classificada em: somática
(superficial e profunda), visceral e irradiada.
Dor visceral
É a dor nociceptiva decorrente da estimulação dos nociceptores viscerais. É profunda, e
tem características similares às da dor somática profunda, ou seja, é difusa, de difícil localização
e descrita como um dolorimento ou uma dor surda, vaga, contínua, profunda, que tende a
acentuar‐se com a solicitação funcional do órgão acometido. Tais características se devem às
peculiaridades da inervação nociceptiva visceral.
De um modo geral, a dor visceral pode ser relacionada com quatro condições: (a)
comprometimento da própria víscera (dor visceral verdadeira); (b) comprometimento secundário
do peritônio ou pleura parietal (dor somática profunda); (c) irritação do diafragma ou do nervo
frênico; (d) reflexo viscerocutâneo (dor referida).
Embora a dor visceral verdadeira, em geral, apresente as características mencionadas
anteriormente, ela tende a se localizar próximo ao órgão que a origina. A dor cardíaca, por
exemplo, tem localização retroesternal ou precordial; a pleural, na parede do hemitórax
correspondente; a esofágica é retroesternal ou epigástrica, entre outras.
Pode‐se dizer ainda que determinadas qualidades de dor são mais específicas para certo
tipo de víscera. Assim, a dor das vísceras maciças e dos processos não obstrutivos das vísceras
ocas é descrita como surda; a dos processos obstrutivos das vísceras ocas é do tipo cólica; a por
comprometimento da pleura parietal (dor somática profunda e não visceral) é em pontada ou
fincada; a por isquemia miocárdica é constritiva ou em aperto; e a por aumento da secreção do
ácido clorídrico (gastrite, úlcera gástrica ou duodenal) é do tipo em queimação ou ardor.
Dor referida
Pode ser definida como uma sensação dolorosa superficial, que está distante da estrutura
profunda (visceral ou somática) cuja estimulação nóxica (nociva) é a responsável pela dor.
Obedece à distribuição metamérica. A explicação mais aceita para esse fenômeno é a
convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais e profundos para neurônios
nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinal (sobretudo na lâmina V).
Visto que o tegumento apresenta um suprimento nervoso nociceptivo muito mais exuberante do
que o das estruturas profundas somáticas e viscerais, a representação talâmica e cortical destas é
muito menor do que a daquela. Por conseguinte, os impulsos dolorosos provenientes das
estruturas profundas seriam interpretados pelo cérebro como oriundos do tegumento e o paciente
apontaria a dor neste local.
São exemplos de dor referida: dor na face medial do braço (dermátomo de T1) em pacientes
com infarto agudo do miocárdio; epigástrica ou periumbilical (dermátomos de T6‐T10) na
apendicite; no ombro (dermátomo de C4) em indivíduos com doença diafragmática ou irritação
do nervo frênico (Figura 7.1).
Dor irradiada
Caracteriza‐se por ser sentida a distância de sua origem, porém ocorre obrigatoriamente em
estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela
dor. Um exemplo clássico é a ciatalgia, provocada pela compressão de uma raiz nervosa por uma
hérnia de disco lombar.
Em conformidade com sua distribuição temporal, a dor pode ser classificada em aguda ou
crônica.
A dor aguda é uma importantíssima modalidade sensorial, desempenhando, entre outros,
o papel de alerta, comunicando ao cérebro que algo está errado. Acompanha‐se de manifestações
neurovegetativas e desaparece com a remoção do fator causal e resolução do processo patológico.
(PORTO)
A dor aguda é aquela provocada por danos aos tecidos do corpo e pela ativação de estímulos
nociceptivos no sítio de dano tecidual local. Geralmente, é de curta duração e tende a apresentar
resolução quando o processo patológico subjacente é resolvido. O propósito da dor aguda é servir
como um sistema de alerta. Esse nível de dor avisa ao indivíduo quanto à existência de um dano
real ou iminente aos tecidos e conduz à busca por auxílio médico. A localização, a irradiação, a
intensidade e a duração da dor, bem como os fatores que agravam ou aliviam, fornecem pistas
essenciais para o diagnóstico.
As intervenções que aliviam a dor geralmente também provocam alívio em problemas
concomitantes, como ansiedade e espasmos musculoesqueléticos. A dor, quando
tratada inadequadamente, pode provocar respostas fisiológicas que alteram a circulação e o
metabolismo dos tecidos e produzem manifestações físicas, como taquicardia, que reflete o
aumento da atividade simpática. A dor aguda, quando tratada inadequadamente, tende a diminuir
a mobilidade e os movimentos respiratórios, como respiração profunda e tosse, até o ponto em
que pode complicar ou retardar a recuperação. (PORTH)
A dor crônica é a que persiste por um período superior ao necessário para a cura de um
processo mórbido ou que está associada a afecções crônicas (câncer, artrite reumatoide, alterações
degenerativas da coluna), ou, ainda, a que decorre de lesão do sistema nervoso. Não tem qualquer
função de alerta e determina acentuado estresse, sofrimento e perda na qualidade de vida. É a
maior causa de afastamento do trabalho, gerando um enorme ônus para o país. (PORTO)
A dor crônica é aquela que persiste por mais tempo do que se poderia razoavelmente esperar
após um evento causador. Além disso, é mantida por fatores que são patológica e fisicamente
distantes da causa originária. A dor crônica pode se manter por anos a fio, como pode ser bastante
variável. Pode ser implacável e extremamente grave, como a dor óssea metastática. Pode ser
relativamente contínua, com ou sem períodos de escalada, como acontece com algumas formas
de dor nas costas. Algumas condições com episódios recorrentes de dor aguda são particularmente
problemáticas, porque apresentam tanto características de dor aguda quanto de dor crônica. Isso
inclui a dor associada a crises de anemia falciforme ou à cefaleia do tipo enxaqueca.
A dor crônica é uma das principais causas de incapacitação. Diferentemente da dor aguda,
a dor crônica persistente geralmente não tem função útil. Ao contrário, impõe tensões fisiológicas,
psicológicas, familiares e econômicas e é capaz de esgotar os recursos de uma pessoa. Em
contraste com a dor aguda, as influências psicológicas e ambientais são propensas a desempenhar
um papel importante no desenvolvimento de comportamentos associados à dor crônica.
Os fatores biológicos que influenciam a dor crônica incluem mecanismos periféricos,
mecanismos periférico-centrais e mecanismos centrais. Os mecanismos periféricos resultam da
estimulação persistente de nociceptores e, em sua maioria, estão envolvidos com distúrbios
crônicos musculoesqueléticos, viscerais e vasculares. Os mecanismos periférico-centrais estão
relacionados com o funcionamento anormal de áreas centrais e periféricas do sistema
somatossensorial, como o resultante da perda parcial ou total das vias descendentes inibidoras ou
da descarga espontânea de fibras regeneradas. Isso inclui condições como causalgia, dor do
membro fantasma e neuralgia pós-herpética. Os mecanismos centrais estão associados a doenças
ou lesões do sistema nervoso central e se caracterizam pela manifestação de ardor, dor,
hiperalgesia, disestesia e outras sensações anormais. A dor central está associada a doenças como
lesões do tálamo (dor talâmica), lesão da medula espinal, interrupção cirúrgica de vias de dor e
esclerose múltipla.
Indivíduos com dor crônica podem não apresentar os comportamentos somáticos,
autônomos ou afetivos frequentemente associados aos casos de dor aguda. À medida que a
condição dolorosa se torna prolongada e contínua, as respostas do sistema nervoso autônomo
tendem a diminuir. Além disso, estão mais associadas a dor crônica, perda de apetite, transtornos
do sono e depressão. Felizmente, a depressão geralmente é aliviada depois que a dor é removida.
A ligação entre depressão e diminuição da tolerância à dor pode ser explicada de modo similar,
pelo fato de que ambas respondem a alterações nas vias biológicas dos sistemas serotoninérgico
e noradrenérgico. Antidepressivos tricíclicos e outros medicamentos com efeito serotoninérgico
e noradrenérgico demonstram o alívio de diversas síndromes de dor crônica. (PORTH)
DOR CRÔNICA
•Deve-se desenvolver um plano de tratamento explícito, incluindo metas específicas e
realistas para a terapia (p. ex., obter uma boa noite de sono, ser capaz de fazer compras ou voltar
ao trabalho).
•Uma conduta multidisciplinar que utiliza medicamentos, aconselhamento, fisioterapia,
bloqueios nervosos e mesmo cirurgia pode ser necessária para melhorar a qualidade de vida.
•É primordial a avaliação psicológica; os paradigmas de tratamento com base
comportamental são frequentemente úteis.
•Alguns pacientes podem precisar de encaminhamento a uma clínica específica; para
outros, o tratamento farmacológico isolado pode proporcionar ajuda significativa.
•Os antidepressivos tricíclicos são úteis no tratamento da dor crônica decorrente de muitas
etiologias, como cefaleia, neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética, dor lombar crônica,
câncer e dor central pós-AVE.
•Os anticonvulsivantes ou os antiarrítmicos beneficiam os pacientes com dor neuropática
(p. ex., neuropatia diabética, neuralgia do trigêmeo).
•O uso de opioides por longo prazo é aceito para a dor decorrente de neoplasias, sendo,
porém, controverso para a dor crônica de origem não neoplásica.
(HARRISON)
e C2 (Tabela I). O tipo de fibra nociceptiva parece estar envolvido com alterações periféricas
distintas nas diversas síndromes dolorosas, e poderá, no futuro, contribuir para o tratamento mais
eficaz da dor.
RECEPTORES
Os receptores para dor na pele e em outros tecidos são terminações nervosas livres.
Distribuem-se por praticamente todos os tecidos do organismo. Uma notável exceção, já
mencionada, é o sistema nervoso central. Não há nociceptores no tecido nervoso, embora eles
estejam presentes nos vasos sanguíneos cerebrais mais calibrosos e nas meninges que circundam
o SNC. Com a exceção do tecido nervoso, os nociceptores estão presentes em todos os tecidos:
na superficie cutânea, na parede das vísceras ocas, no parênquima das vísceras sólidas, na
vasculatura, nos ossos e nas articulações, na córnea, nas raízes dentárias.
Há nociceptores para diferentes estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Em geral, a
dor rápida é desencadeada por tipos de estímulos mecânicos e térmicos, enquanto a dor crônica
pode ser desencadeada pelos três tipos de estímulo. Algumas das substâncias que excitam o tipo
químico de dor são: bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina e
enzimas proteolíticas. Além disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a sensibilidade
das terminações nervosas, mas não excitam diretamente essas terminações. As substâncias
químicas são de modo especial importantes para a estimulação do tipo de dor lenta e persistente
que ocorre após lesão tecidual.
Não há nociceptores para luz, embora algumas fontes muito intensas provoquem dor pela
ação do calor que emitem junto com a luz. "Luz fria" intensa pode lesar a retina sem a ocorrência
de dor, embora esta apareça posteriormente junto com os processos inflamatórios consequentes à
lesão. Sons muito intensos podem provocar dor porque a forte vibração mecânica que produzem
atinge os nociceptores situados nas estruturas vibráteis do ouvido.
Natureza não Adaptativa dos Receptores para Dor. Ao contrário da maioria dos outros
receptores do corpo, os receptores para dor se adaptam muito pouco e algumas vezes não se
adaptam. De fato, em certas circunstâncias, a excitação das fibras dolorosas fica progressivamente
maior, à medida que o estímulo persiste, em especial para a dor lenta persistente nauseante. Esse
aumento da sensibilidade dos receptores para dor é chamado hiperalgesia. Pode-se compreender
prontamente a importância dessa ausência de adaptação dos receptores para dor, pois isso
possibilita que a pessoa fique ciente da presença de estímulo lesivo, enquanto a dor persistir.
A auto-observação é suficiente para identificarmos dois tipos de dor. Pense no que acontece
quando alguém pressiona a sua pele com uma agulha. Aparece uma dor aguda que você localiza
pronta e precisamente. Se a agulha é pressionada com mais força, e efetivamente fere a pele, a
sua retirada não impede a ocorrência de um segundo tipo de dor que se prolonga durante um certo
tempo, tanto maior quanto maior a gravidade do ferimento. O primeiro tipo chama-se dor rápida
ou aguda, porque cessa com a interrupção do estímulo. O segundo chama-se dor lenta ou
crônica, que ocorre pelo disparo de reações inflamatórias no tecido ferido, mesmo após a
interrupção do estímulo inicial. A dor rápida é sentida, dentro de 0,1 segundo, após a aplicação
de estímulo doloroso, enquanto a dor lenta começa somente após 1 segundo ou mais, aumentando
lentamente durante vários segundos e, algumas vezes, durante minutos. Os neurocientistas
verificaram que cada um desses dois tipos de dor envolve mecanismos celulares diferentes e é
veiculado por diferentes receptores e vias ascendentes.
A dor rápida consiste principalmente na ativação de
terminações livres de fibras do tipo Aδ (finas, com pouca
mielina e velocidade média-baixa de condução de PAs, por
volta de 20 m/s). Algumas dessas terminações livres podem
ser sensíveis a estímulos mecânicos (como no exemplo da
agulha), outras a estímulos térmicos (se a agulha estiver
muito quente), outras a ambos (terminações bimodais). Em
todos os casos ocorrerá um potencial receptor nas
extremidades livres, e estes serão codificados em salvas de
potenciais de ação conduzidos ao longo das fibras Aδ
através dos nervos espinhais até a medula, ou através dos
ramos do trigêmeo em direção ao tronco encefálico (Figura
7.14).
A dor lenta é mais complexa. Como é provocada por
lesão dos tecidos que circundam os nociceptores, ocorrem
diversos fenômenos celulares que acentuam e prolongam a
dor. Imagine um instrumento cortante que perfura a pele (Figura 7.15). Haverá sangramento e,
portanto, anóxia do tecido nutrido pelos vasos que se romperam. Ocorre também lesão celular e
depois inflamação. Além de células vermelhas (hemácias), o sangramento liberará no tecido
células brancas do sangue (leucócitos), dentre eles os mastócitos, que produzem e secretam
substâncias algogênicas (i. e., que provocam dor), como a serotonina (5-HT) e a histamina. As
próprias células lesadas do tecido atingido (a pele, em nosso exemplo) também liberam
substâncias fortemente algogênicas, como o peptídeo bradicinina, e substâncias irritantes, como
os derivados do ácido araquidônico (as prostaglandinas), que por si sós não são algogênicas, mas
que potenciam a ação das primeiras.
Os nociceptores ativados por esse coquetel de substâncias liberadas pela ação lesiva da
agulha são principalmente terminações livres de fibras do tipo C (as mais finas de todas,
amielínicas e com baixa velocidade de condução de PAs, em tomo de 2 m/s). Tanto a agulha,
diretamente, como as substâncias químicas liberadas após a lesão, ativam ou sensibilizam os
nociceptores do tipo C, que são comumente polimodais, ou seja, sensíveis a mais de um tipo de
estímulo. A simples sensibilização dos nociceptores, isto é, uma leve despolarização de seu
potencial de repouso, aproximando-o do limiar de disparo de potenciais de ação, faz com que
qualquer estímulo normalmente inócuo passe a provocar dor. É o fenômeno da hiperalgesia, que
todos sentimos em uma região inflamada, como uma espinha ou um furúnculo, ou na pele que se
torna dolorida aos menores estímulos após uma queimadura do sol de verão. Essa percepção
exacerbada de dor decorre da sensibilização dos receptores moleculares situados nos terminais
sensitivos (sensibilização periférica) ou então dos receptores sinápticos no corno dorsal da medula
(sensibilização central).
2.4.1. Transdução
É a transformação de um estímulo nociceptivo em estímulo elétrico nas terminações
nervosas sensoriais. Normalmente inibido pela administração preemptiva (antecipada) de
anestésicos locais e antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) (MOREIRA, 2005).
Transdução
A sensação dolorosa tem início pela estimulação de receptores sensitivos ou nociceptores,
presentes nas estruturas que constituem o corpo humano e está relacionada a vários fatores, como
gênero, idade, etnia, nível de escolaridade e socioeconômico, e também, a diferentes contextos,
como experiências passadas e momento emocional (Quadro 9.1 e Figuras 9.2 e 9.3). Os
nociceptores não são específicos. Dependendo da intensidade do estímulo e dos fatores
associados, podem gerar percepções diferentes, como tato, pressão, calor, frio, vibração,
estiramento, as quais representam diversas modalidades sensoriais e não necessariamente
sensação dolorosa. Os estímulos nocivos podem ser físicos (mecânicos ou térmicos) ou químicos
(bradicinina, capsaicina, serotonina e prótons). Tais estímulos ativam os nociceptores,
representados por fibras sensoriais periféricas existentes na pele, músculos e articulações, em sua
maioria na forma de terminações nervosas livres. Tanto os nociceptores térmicos, ativados por
temperatura acima de 45°C ou abaixo de 5°C, como os mecânicos, ativados por pressão direta,
são compostos por fibras Aδ de pequeno diâmetro, finamente mielinizadas, que conduzem os
impulsos elétricos na velocidade entre 2 e 30 m/s. Estas estruturas representam cerca de 20% das
fibras nociceptivas e são responsáveis pela dor aguda. Os nociceptores polimodais são compostos
por fibras C de pequeno diâmetro, não mielinizadas, que conduzem os impulsos elétricos na
velocidade entre 0,5 a 2 m/s. Representam cerca de 80% das fibras nociceptivas e são responsáveis
pela dor de longa duração e difusa e pelo prurido, sendo ativados por pressão, estímulos térmicos
ou químicos. Fibras Aβ, de grande diâmetro, mielinizadas, compõem o sistema tátil e não
participam do sistema de nocicepção, mas podem modificar a percepção da dor, atenuandoa. No
caso de uma degeneração neuronal, este tipo de fibras pode sofrer modificação, passando a
funcionar como fibras nociceptivas. Esta plasticidade é o mecanismo responsável pela alodinia
(percepção de dor a estímulos que, em condições normais, não provocaria sensação dolorosa)
(Figura 9.4).
As fibras sensoriais se agrupam em neurônios de primeira ordem, tipo pseudounipolar, os
quais apresentam um ramo distal longo e um ramo proximal curto. A conversão do estímulo
nociceptivo por substâncias proteicas em potencial elétrico despolarizante denominase
transdução, mecanismo inicial de sensação dolorosa.
2.4.2. Transmissão
É o movimento de atividade elétrica pelo sistema nervoso periférico. A administração de
bloqueios anestésicos regionais minimiza a transmissão do estímulo nociceptivo (MOREIRA,
2005). Impulso elétrico libera neurotransmissores, os quais se ligam aos neurônios da raiz dorsal
(2ª ordem). Sinal progride para centros mais alto (formação reticular, tálamo).
Por intermédio do neurônio sensorial de primeira ordem, o potencial elétrico despolarizante
conduz o estímulo ao sistema nervoso central (neurônios sensoriais de segunda e terceira ordens),
com sinapse no corno dorsal da medula espinal (a maioria) ou no tronco cerebral, estando os
corpos das células nervosas localizados no gânglio da raiz dorsal e no gânglio trigeminal (ver
Figura 9.1). Este processo, denominado transmissão, é possível graças ao conjunto de vias e
mecanismos que possibilitam que o impulso nervoso, gerado ao nível dos nociceptores das
estruturas somáticas (pele, músculos, articulações) e viscerais, atinjam estruturas nervosas
centrais onde ocorre o reconhecimento da dor (Figura 9.5). A Figura 9.5 representa a transmissão
do estímulo pelo corno dorsal de fibras aferentes somáticas com seus tratos até o tálamo e o córtex
sensorial primário e as vias de modulação da dor.
Vias do grupo lateral. Filogeneticamente mais recentes, quase totalmente cruzadas, são
representadas pelos tratos neoespinotalâmico (espinotalâmico lateral), o mais importante,
neotrigeminotalâmico, espinocervicotalâmico e sistema póssináptico da coluna dorsal. Estas vias
terminam, predominantemente, nos núcleos talâmicos ventrocaudal e porção posterior do núcleo
ventromedial, de onde partem as radiações talâmicas para o córtex somestésico, orbitofrontal e
insular. Estas vias estão relacionadas com o aspecto sensorial discriminativo da dor.
Vias do grupo medial. Filogeneticamente mais antigas, parcialmente cruzadas, incluem
os tratos paleoespinotalâmico, paleotrigeminotalâmico, espinorreticular e espinomesencefálico e
sistema ascendente multissináptico proprioespinal. Essas vias podem terminar direta ou
indiretamente nos núcleos dorsomedial e intralaminares do tálamo medial, após sinapse na
formação reticular do tronco cerebral e na substância cinzenta periaquedutal, de onde partem as
vias reticulotalâmicas. Emitem colaterais para o sistema límbico e para a substância cinzenta
periventricular.
2.4.3. Modulação
É a diminuição ou modificação na transmissão da atividade elétrica pelos nociceptores. A
administração sistêmica de opióides ou no espaço epidural, bem como de agonistas α2 ativam o
sistema modulador da dor (MOREIRA, 2005).
Além de vias e centros responsáveis pela transmissão da dor, há estruturas responsáveis
por sua supressão, denominadas vias modulatórias, as quais são também ativadas pelas vias
nociceptivas. As sinapses entre os neurônios de primeira e segunda ordem ocorrem por modulação
de transmissão medular espinal, dependente de neurotransmissores, dentre os quais destacamse o
glutamato, a substância P e o peptídio relacionado com o gene do cálcio. Há vários sistemas
modulatórios. O primeiro foi proposto por Melzack e Wall, em 1965, e recebeu a denominação
de teoria do portão ou das comportas (Figura 9.7). As fibras amielínicas (C) e mielínicas finas
(Aδ) conduzem a sensibilidade termoalgésica, enquanto as fibras mielínicas grossas (Aα e Aβ)
conduzem as demais formas de sensibilidade (tato, pressão, posição, vibração). Segundo essa
teoria, a ativação das fibras mielínicas grossas excitaria interneurônios inibitórios da substância
gelatinosa de Rolando (lâmina II) para os aferentes nociceptivos, impedindo a passagem dos
impulsos dolorosos, ou seja, haveria um fechamento do portão, ao passo que a ativação das fibras
amielínicas e mielínicas finas (C e Aδ) inibiria os interneurônios inibitórios, tornando possível a
passagem dos estímulos nociceptivos (abertura do portão). Esse mecanismo explica por que uma
leve fricção ou massageamento de uma área dolorosa proporciona alívio da dor (ver Figura 9.7).
Reynolds, em 1969, identificou outro sistema modulatório ao verificar, em ratos, que a
estimulação elétrica da substância cinzenta periaquedutal (periaqueductal gray –PAG) produzia
acentuada analgesia, a qual era acompanhada por aumento da concentração de opioides
endógenos no liquor, que era revertida pela administração de naloxona (antagonista opioide).
Demonstrouse, posteriormente, que analgesia similar podia ser obtida pela estimulação elétrica
da substância cinzenta periventricular (periventricular gray – PVG), do bulbo rostroventral (BRV)
(núcleos da rafe magno, magnocelular e reticular paragigantocelular lateral) e do segmento
pontino dorsolateral (TPDL) (loci ceruleus e subceruleus) ou pela injeção de morfina em qualquer
desses locais (PVGPAG, BRV e TPDL). A estimulação elétrica de outras estruturas, como o
funículo posterior da medula espinal, lemnisco medial, tálamo ventrocaudal, cápsula interna,
córtex somestésico e córtex motor, também pode proporcionar alívio da dor. Vilela Filho, em
1996, propôs a existência do circuito modulatório prosencéfalomesencefálico, que justificaria a
analgesia obtida pela estimulação dessas áreas do sistema nervoso. Em vista disso, concluise que
várias estruturas estão, de alguma forma, envolvidas na modulação da sensação dolorosa. A partir
da sinapse no corno dorsal da medula espinal, o neurônio sensorial de segunda ordem ascende até
o núcleo posterior ventral do tálamo, onde faz sinapse e se projeta como neurônio sensorial de
terceira ordem, para: ■ O córtex cerebral, onde a percepção da dor é interpretada com suas
diferentes características (qualidade, intensidade, localização) ■ O sistema límbico e amígdalas,
que interpretam o componente afetivo da dor.
2.4.4. Percepção
A percepção envolve o processamento cognitivo ou consciente da dor. Pode ser modificada
por opióides sistêmicos, agonistas α2 ou com opióides associados aos tranquilizantes.
(MOREIRA, 2005)
FONTE: Fisiologia da dor. Universidade Castelo Branco.
Existem vários tipos de analgésicos (fármacos que aliviam a dor) que podem contribuir
para controlar a dor. Classificam-se em três categorias: analgésicos opiáceos (narcóticos),
analgésicos não opiáceos e analgésicos adjuvantes. Os analgésicos opiáceos provocam a máxima
analgesia, constituindo a pedra angular no tratamento da dor aguda devido à sua grande eficácia.
TERAPIA FARMACOLÓGICA
Analgésicos Não Opiáceos
Todos os analgésicos não opiáceos são anti-inflamatórios não esteróides (AINE), com
exceção do paracetamol (acetaminofeno). A ação destes fármacos é dupla: em primeiro lugar,
interferem com o sistema das prostaglandinas, um grupo de substâncias que interagem e são em
parte responsáveis pela sensação de dor. Em segundo lugar, a maioria destes fármacos reduz a
inflamação, o edema e a irritação que muitas vezes rodeia uma ferida e que aumenta a dor.
A principal vantagem dos analgésicos não opioides é que estes não causam sedação ou
outros efeitos colaterais no sistema nervoso central. Incluem o acetaminofeno, AINEs e os
inibidores de COX-2. A menos que o paciente tenha contra-indicações a estas drogas ou tenha
demonstrado não responder a várias delas, qualquer regime de analgésicos deveria incluir uma
droga não opioide, mesmo se a dor for grave o bastante para exigir a complementação de um
opioide.
FONTE: CECIL
Analgésicos Opiáceos
Todos os analgésicos opiáceos estão quimicamente relacionados com a morfina, um
alcalóide derivado do ópio, embora alguns sejam extraídos de outras plantas e outros sejam
produzidos em laboratório.
Os agonistas do receptor opioide μ incluem morfina, codeína, oxicodona, hidrocodona,
fentanil, hidromorfina, metadona e meperidina.
O tramadol é uma droga do tipo opioide que tem propriedades analgésicas opioides fracas
e efeitos colaterais de sedação e náusea do tipo opiode, mas é menos constipante e oferece um
risco menor de abuso do que os agonistas do receptor μ.
Os analgésicos opiáceos são muito eficazes para controlar a dor, mas têm muitos efeitos
secundários e, com o tempo, as pessoas que os utilizam podem necessitar de doses maiores. Antes
de se suspender o uso prolongado de analgésicos opiáceos, deve diminuir-se a dose gradualmente
para minimizar o aparecimento de uma síndrome de abstinência. Apesar destes inconvenientes,
as pessoas que sofrem de dor aguda não deveriam evitar os opiáceos. O uso adequado destes
fármacos costuma evitar os efeitos secundários.
Os diversos analgésicos opiáceos têm diferentes vantagens e desvantagens. O protótipo dos
analgésicos opiáceos é a morfina.
Um excesso de opiáceos pode provocar reações graves, como uma perigosa depressão
respiratória e coma. Mas estes efeitos são reversíveis com a naloxona, um antídoto administrado
por via endovenosa.
AUTOMEDICAÇÃO
A medicação por conta própria é um dos exemplos de uso indevido de remédios,
considerado um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Segundo dados do Sistema
Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), em 2003, os medicamentos foram
responsáveis por 28% de todas as notificações de intoxicação.
O uso de medicamentos de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença,
uma vez que a utilização inadequada pode esconder determinados sintomas. Se o remédio for
antibiótico, a atenção deve ser sempre redobrada. O uso abusivo destes produtos pode facilitar o
aumento da resistência de microorganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos.
Outra preocupação em relação ao uso do remédio refere-se à combinação inadequada.
Neste caso, o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro.
O uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode trazer, ainda, consequências
como: reações alérgicas, dependência e até a morte.
Os principais fatores que induzem a automedicação. Vários podem ser os fatores que
induzem a prática de automedicação no Brasil. De acordo com Urbano e colaboradores (2010),
muitos casos de automedicação são induzidos com base em prescrições antigas e, também, por
indicações de terceiros.
Outro fator atribuído à prática da automedicação é a presença de dores, o que leva o
paciente a buscar uma solução rápida, buscando assim na automedicação a resolução do sintoma.
Um ponto interessante relatado por um estudo, como sendo indutor da prática de
automedicação, é a padronização atual de prescrições, o que faz com que a população adote
critérios próprios para solucionar problemas de saúde de menor gravidade. O mesmo estudo
aponta ainda outros fatores envolvidos na automedicação, entre eles, poder aquisitivo, questões
culturais e acesso à informação, além da escolaridade.
No Brasil, onde o acesso à saúde é difícil e grande parte da população não apresenta
condições financeiras para custear um plano particular de saúde, o ato de se automedicar se torna
comum, tornando-se uma questão até mesmo cultural.
Outros aspectos podem ser apontados como indutores da automedicação no Brasil, como o
não cumprimento da obrigatoriedade da prescrição no ato da dispensação, favorecendo a
automedicação de fármacos que, legalmente, necessitam da apresentação da prescrição para a
venda.
Medicamentos mais envolvidos na automedicação. Analgésicos > antitérmicos >
antiinflamatórios.
Mecanismo de Ação:
Analgésico: o mecanismo de ação analgésica não está totalmente determinado.
O Paracetamol pode atuar predominantemente inibindo a síntese de prostaglandinas ao nível do
SNC e em menor grau bloqueando a geração do impulso doloroso ao nível periférico. A ação
periférica pode ser decorrente também da inibição da síntese de prostaglandinas ou da inibição da
síntese ou da ação de outras substâncias que sensibilizam os nociceptores ante estímulos
mecânicos ou químicos.
Antipirético: o Paracetamol provavelmente produz a antipirese atuando ao nível central
sobre o centro hipotalâmico regulador da temperatura para produzir uma vasodilatação periférica
que dá lugar a um aumento do fluxo de sangue na pele, de sudorese e da perda de calor. A ação
ao nível central provavelmente está relacionada com a inibição da síntese de prostaglandinas no
hipotálamo.
Fonte: Bula do Remédio
Propriedades Farmacológicas
O paracetamol exerce efeitos analgésicos e antipiréticos que não diferem
significativamente daqueles induzidos pelo ácido acetilsalicílico. Entretanto, conforme
mencionado anteriormente, tem efeitos antiinflamatórios apenas fracos.
A incapacidade do paracetamol de exercer atividade antiinflamatória pode ser atribuída ao
fato de ser apenas um inibidor fraco da ciclooxigenase na presença das altas concentrações de
peróxidos encontradas nas lesões inflamatórias. Já seu efeito antipirético pode ser explicado pela
sua capacidade de inibir a ciclooxigenase no cérebro, onde o conteúdo de peróxido é baixo. Além
disso, o paracetamol não inibe a ativação dos neutrófilos, como o fazem outros AINE.
Farmacocinética e metabolismo
O paracetamol sofre absorção rápida e quase completa pelo trato gastrintestinal. A
concentração no plasma atinge um pico em 30-60 min, e a meia-vida plasmática é de cerca de 2
h após a administração de doses terapêuticas. O paracetamol exibe distribuição relativamente
uniforme na maioria dos líquidos corporais. A ligação do fármaco às proteínas plasmáticas é
variável e apenas 20-50% podem estar ligados nas concentrações encontradas durante a
intoxicação aguda.
Usos Terapêuticos
O paracetamol é um substituto apropriado para o ácido acetilsalicílico para uso como
analgésico ou antipirético. É particularmente valioso para pacientes nos quais o ácido
acetilsalicílico está contra-indicado (p. ex., pacientes com úlcera péptica) ou quando o
prolongamento do tempo de sangramento causado pclo ácido acetilsalicílico constitui uma
desvantagem. A dose oral convencional de paracetamol é de 325-1.000 mg (650 mg por via retal).
A dose diária total não deve ullrapassar 4.000 mg. Para crianças, a dose única é de 40-480 mg,
dependendo da idade e do peso; não se devem administrar mais que cinco doses em 24 horas.
Pode-se utilizar tambem uma dose de 10 mg/kg.
FONTE: GOODMAN E GILMAN.
DIPIRONA (NOVALGINA)
Metamizol sódico ou dipirona sódica, ou ainda dipirona monoidratada é um medicamento
que é utilizado principalmente como analgésico e antipirético. A venda da dipirona é proibida nos
Estados Unidos e na maioria dos países da União Europeia, pelo risco de agranulocitose. Porém,
no Brasil, efetivamente é um dos analgésicos mais populares, ao lado do ácido acetilsalicílico.
O mecanismo de ação da dipirona é via inibição da síntese de prostaglandina. A dipirona
tem demonstrado inibir a ciclooxigenase, síntese do tromboxano, a agregação plaquetária
induzida pelo ácido araquidônico e a síntese total de prostaglandina E1 e E2. A ação da droga
pode ser tanto central como periférica. Há evidências de que a ação central da dipirona no
hipotálamo reduz a febre.
Propriedades farmacodinâmicas
A dipirona é um derivado pirazolônico não narcótico com efeitos analgésico, antipirético e
espasmolítico. Como a inibição da ciclooxigenase (COX-1, COX-2 ou ambas) não é suficiente
para explicar este efeito antinociceptivo, outros mecanismos alternativos foram propostos, tais
como: inibição de síntese de prostaglandinas preferencialmente no sistema nervoso central,
dessensibilizacão dos nociceptores periféricos envolvendo atividade via óxido nítrico-GMPc no
nociceptor, uma possível variante de COX-1 do SNC seria o alvo específico e, mais recentemente,
a proposta de que a dipirona inibiria uma outra isoforma da ciclooxigenase, a COX-3. Os efeitos
analgésico e antipirético podem ser esperados em 30 a 60 minutos após a administração e
geralmente duram cerca de 4 horas.
DOR
Os nociceptores, que consistem em terminais periféricos de fibras aferentes primárias que
percebem a dor, podem ser ativados por vários estímulos, como calor, ácidos ou pressão.
Os mediadores inflamatórios liberados por células não neuronais durante a lesão tecidual
aumentam a sensibilidade dos nociceptores e potencializam a percepção da dor. Entre
esses mediadores estão a bradicinina, H+, 5-HT, ATP, neurotrofinas (fator de crescimento
neural), LT e PG. A PGE2 e a PGI2 reduzem o limiar para a estimulação dos nociceptores,
causando sensibilização periférica. Acredita-se que a reversão da sensibilização periférica
representa a base mecânica para o componente periférico da atividade analgésica dos
AINE. Os AINE também exercem ações centrais importantes na medula espinal e no
encéfalo. Tanto a COX-1 quanto a COX-2 são expressas na medula espinal em condições
basais e liberam PG em resposta a estímulos dolorosos periféricos. A PGE2 centralmente
ativa e, talvez também, a PGD2, PGI2 e PGF2ª contribuem para a sensibilização central,
um aumento na excitabilidade dos neurônios do corno dorsal espinal, que provoca
hiperalgesia e alodinia, em parte por desinibição das vias glicinérgicas (Chen et ai., 2013).
A sensibilização central reflete a plasticidade do sistema nociceptivo que é invocado pela
lesão. Isso é geralmente reversível em horas ou dias após respostas adequadas do sistema
nociceptivo (p. ex., na dor pós-operatória). No entanto, as doenças inflamatórias crônicas
podem causar alteração persistente da arquitetura do sistema nociceptivo, o que pode
levar a mudanças duradouras na sua responsividade. Esses mecanismos contribuem para
a dor crônica.