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NEUROFISIOLOGIA I

AULA 2 | PARTE I | SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO: SENSAÇÕES


NOCICEPTIVAS E TÉRMICAS

1 TERMINAÇÕES LIVRES

A nocicepção e a termorrecepção são propriedades sensoriais que se iniciam a partir da


ativação de receptores do tipo terminação livre (detectam e transmitem informações
nociceptivas e térmicas).

Explicação da figura: imagem de uma terminação livre de um neurônio sensorial


primário ou da via térmica ou da via nociceptiva. O corpo celular desse neurônio se encontra
no gânglio da raiz dorsal, e seu terminal ao chegar na pele, na periferia do corpo, emite esses
prolongamentos que não são dotados de nenhuma especialização, por isso o nome.
As terminações livres são estruturas sensoriais não-encapsuladas de fibras
amielinizadas ou pouco mielinizadas (portanto, as fibras sensoriais que dão origem a essas
terminações livres na pele possuem velocidade de condução lenta – pouco mielinizadas – ou
muito lenta – amielinizadas). Distribuídas por toda a pele, penetram na epiderme e no estrato
granuloso. São responsáveis pela transdução de estímulos térmicos, quente e frio
(termorreceptores), e estímulos nocivos ou potencialmente nocivos (nociceptores).

2 DEFINIÇÃO DE DOR

A dor é definida como um evento sensorial e emocional subjetivo (International


Association for Study of Pain – IASP), já a nocicepção significa recepção, transmissão e
processamento central (SNC) de um estímulo nocivo ou potencialmente nocivo ou danoso ao
organismo.
Diferenças entre nocicepção e dor:
Nocicepção Dor

Perspectiva de terceira pessoa Perspectiva em primeira pessoa

Relacionado a um estímulo Relacionado à percepção

Discriminação sensorial Sofrimento

Definição de dor segunda a IASP (2020) “uma experiência sensorial e emocional


desagradável associada a, ou semelhante àquela associada a, dano real ou potencial ao
tecido”.

3 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE DOR

3.1 Dor nociceptiva ou dor aguda

Ocorre enquanto o estímulo está acontecendo. Exemplos: beliscão, queimar a mão na


panela, pisar em um prego. Pode ser por estímulo térmico (frio ou calor intensos), químico e
mecânico (injeção, martelada no dedo).
Esses estímulos com intensidade apropriada ativam os nociceptores da pele (se
suficientes), e cada tipo de estímulo é transduzido por uma classe de proteínas diferentes que
estão expressas nas membranas das terminações livres, e que, portanto, transmitem a
informação de que um estímulo nocivo ou potencialmente nocivo alcançou o organismo em
certa região do corpo.
Essa informação entra pela raiz dorsal, alcança o corno dorsal da medula espinal e ali
normalmente já se faz uma sinapse com um neurônio de segunda ordem que se projeta para o
tronco encefálico.

3.2 Dor inflamatória

Após o ato de queimar a mão na panela, ou martelar o dedo, teremos uma segunda
informação sensorial de dor que pode estar associada à inflamação do tecido lesado. Após a
lesão do tecido por abertura da pele, esmagamento ou queimadura, haverá migração de
mediadores pró-inflamatórios que são liberados pelo tecido lesado e pelas terminações
nervosas adjacentes ao local lesionado, e que sensibilizam a via sensorial, aumentando a
percepção de dor quando outro estímulo acontece (é o exemplo de tocar a ponta de um dedo
cortado em qualquer local, que causa uma dor desproporcional).
Esse fenômeno de alta sensibilidade, se chama alodinia ou alodínia: um estímulo que
não é nocivo ou potencialmente nocivo, de baixa intensidade, provoca uma sensação dolorosa.
Isso revela que houve uma alteração no sistema de recepção, transmissão e processamento da
dor. Que nesse caso, é desencadeado por mediadores inflamatórios que hipersensibilizam essa
via sensorial.

3.3 Dor neuropática

A sua etiologia/origem é uma lesão dos componentes nervosos da via sensorial (lesão
de nervo, pinçamento de raiz nervosa por uma hérnia de disco, AVC que acomete a região do
tálamo, lesão espinal, amputação que faz transcrição dos nervos sensoriais das mãos, braço,
perna, etc.). Isso pode gerar uma neuropatia, que acontece após a resolução da fase
inflamatória aguda, mas o estímulo na via sensorial pela lesão, pela resposta inflamatória que
aconteceu após a lesão, causa uma alteração, uma plasticidade na via, que não tem nenhum
objetivo proveitoso, é como se fosse um efeito colateral da lesão.
A dor neuropática não tem cura, geralmente, pode ser menos ou mais intensa, e ela
tem controle farmacológico, mas é muito difícil, às vezes o medicamento funciona por um
tempo, mas depois deixa de resolver.
A dor causada por uma lesão na pele por exemplo, tem percurso temporal limitado (se
resolve após um tempo e acaba), essa dor neuropática não, não acaba nunca mais. A pessoa
que desenvolve uma neuropatia “se casou de novo com a dor”. O que resta é o controle
farmacológico e terapias complementares.
Compromete muito a qualidade de vida do paciente, e está associada a acarretar outras
complicações como depressão, ansiedade, alteração da vida social, ou seja, o aspecto
psíquico-emocional e social da vida da pessoa.
A via envolvida numa situação fisiológica de dor em que um estímulo vai ocorrer:

4 DOR PRIMÁRIA E DOR SECUNDÁRIA

A ativação de nociceptores cutâneos produz duas percepções de dor distintas: uma dor
primária, rápida e aguda, seguida de uma dor secundária, lenta e contínua. A dor primária é
causada pela ativação de fibras Aδ, a dor secundária é causada pela ativação de fibras C.
Temos a dor nociceptiva que acontece na hora do estímulo, na hora da martelada no
dedo, nós temos uma percepção de que essa dor tem duas fases, que é chamada de primeira
dor e segunda dor. A via nociceptiva que veicula/processa essas informações da primeira fase
da dor aguda e da segunda fase da dor são neurônios e receptores e vias sensoriais diferentes.
Então na primeira dor, na hora da martelada, a primeira fase dessa dor fisiológica nós
temos a ativação de fibras de condução um pouco mais rápidas que são do tipo Aδ, essas
fibras são pobremente mielinizadas, mas elas têm um pouquinho de mielina, são fibras um
pouco menos lentas.
No caso da segunda dor, que é aquela dor que fica latejando, é fibra C, que são
receptores de terminações livres, assim como a primeira dor, mas a fibra sensorial primária
não é mielinizada ou muito pouco mielinizada, então a transmissão é muito lenta. Por isso se
chama primeira dor ou dor rápida e segunda dor ou dor lenta.
Do ponto de vista farmacológico, essas vias podem ser inibidas de formas diferentes
com antagonistas específicos, porque elas têm proteínas de transdução e canais iônicos que
são eventualmente ativados a partir de estímulos.
Normalmente a pele possui as duas inervações (fibra A e C), então o estímulo vai
acontecer e ele vai ativar as duas fibras, mas cada uma tem uma função diferente. Então
dentro do processamento e transmissão da dor, elas têm papéis um pouco diferentes que se
complementam do ponto de vista fisiológico.

5 TIPOS DE NOCICEPTORES

A maioria dos nociceptores respondem a estímulos mecânicos, térmicos e químicos e


são chamados, portanto, de nociceptores polimodais. Contudo, assim como os
mecanorreceptores de tato, muitos nociceptores mostram seletividade nas respostas a
estímulos diferentes.
Dessa forma, também existem nociceptores mecânicos (mecanonociceptores), que
mostram respostas seletivas à pressão intensa; nociceptores térmicos (termonociceptores), que
respondem seletivamente ao calor queimante ou ao frio extremo; e nociceptores químicos, que
respondem de forma seletiva a histamina e a outros agentes químicos.
Os nociceptores estão presentes na maioria dos tecidos corporais, como a pele, os
ossos, os músculos, a maioria dos órgãos internos, os vasos sanguíneos e o coração. Eles estão
notadamente ausentes no sistema nervoso em si, porém, estão presentes nas meninges.

Explicação sobre a figura: as fibras sensoriais na pele e nos músculos, o


prolongamento periférico é projetado a partir do corpo celular que está nessa região do
gânglio da raiz dorsal (gânglio é um conjunto de neurônios que está fora do SNC), então o
gânglio nervoso ele pertence ao SN periférico do ponto de vista anatômico, quando esses
conjuntos neuronais estão dentro do SNC chamamos de núcleos. Esse gânglio da raiz dorsal,
que tem todos os corpos celulares dos neurônios, emite prolongamentos para a pele e
prolongamento para a medula espinal. Na figura, em vermelho é a raiz dorsal, que é o
componente sensorial, e em azul é a raiz ventral que é o componente motor.
Lembrando que: O SNP é contínuo, do ponto de vista anatômico e operacional, com
o SNC. Suas fibras aferentes (sensitivas) conduzem impulsos nervosos dos órgãos dos
sentidos (por exemplo, os olhos) e dos receptores sensitivos em várias partes do corpo (por
exemplo, na pele) para o SNC. Suas fibras eferentes (motoras) conduzem impulsos nervosos
do SNC para os órgãos efetores (músculos e glândulas).
Normalmente tem uma organização topográfica nessa história toda, cada tipo de
estímulo, cada passo do estímulo ativa um mecanismo diferente de informação, de veiculação
das informações e processamento.

As fibras C normalmente fazem sinapse com os neurônios das primeiras lâminas do


corno dorsal da medula espinal, então se pegar a substância cinzenta da medula espinal, ela é
subdividida em lâminas específicas, substância gelatinosa que corresponde à segunda linha
(figura abaixo). Então, quando as fibras C entram no corno dorsal da medula espinal no SNC
elas fazem sinapse com neurônios de segunda ordem dessas lâminas mais superficiais.
As fibras Aδ que são mais mielinizadas podem fazer sinapse nessas primeiras lâminas
mais superficiais, mas elas se projetam para a lâminas mais profundas fazendo sinapse com
outros neurônios da medula espinal. Então, quando falamos que são receptores diferentes,
essa topografia de circuito é mantida durante o trajeto fazendo conexões com neurônios
diferentes no SNC, então é importante saber isso para entender as respostas diferenciais de
dor.

6 A VIA ESPINO-TALÂMICA OU SISTEMA ÂNTERO-LATERAL

Essas informações, tanto térmicas quanto nociceptivas, trafegam pelo SNC por uma
via específica, que é mais antiga na escala filogenética, que é chamada de via espino-talâmica
ou sistema ântero-lateral.

Veja como essa via está organizada: temos o corpo do neurônio primário no gânglio da
raiz dorsal, temos o neurônio periférico, prolongamento central. O prolongamento central
entra pela raiz dorsal, alcança o corno dorsal, faz sinapse com neurônio de segunda ordem,
dependendo do receptor nas lâminas mais superficiais ou mais profundas, e então ocorrerá um
mecanismo de decusassão, de cruzamento do lado contralateral da medula espinal, então esse
neurônio de segunda ordem se projeta para o bulbo, e depois para o tálamo, pelo lado
contralateral. Por isso, ele alcança o córtex somatossensorial também pelo lado contra-lateral.
Por esse motivo, o lesado medular pode eventualmente ter uma diferença, dependendo
da altura da lesão, pode ter uma disfunção da percepção de estímulo do mesmo lado ou do
lado contra-lateral. Mas um indivíduo que tem um AVC, do lado esquerdo do cérebro, por
exemplo, que comprometa essa região do córtex somatossensorial primário do lado esquerdo,
perderá as sensações dos estímulos que ocorrem no lado direito, por conta desse cruzamento
que acontece na medula espinal.
Alguns anatomistas fazem distinção dessa via que conduz a informação nociceptiva,
subdividindo-a em outras duas (do ponto de vista fisiológico a gente considera como um trato,
uma via, que pode ter diferenciação entre seus componentes, mas que de alguma forma se
organiza e tem as funções semelhantes).

6.1 Feixe neospinotalâmico ou espinotalâmicolateral

Conduziria ao tálamo informações nociceptivas de dor rápida, das fibras Aδ.

6.2 Feixe paleospinotalâmico ou espinotalâmicomedial

Associado à atividade das fibras C, que conduziria impulsos nociceptivos da dor lenta
ao tálamo, passando através da formação reticular. Outras fibras desse sistema nociceptivo
mais antigo terminariam no tronco encefálico (formação reticular, núcleo parabraquial - NPB
e gríseaperiaquedutal).
Explicação da figura: a figura mostra como um estímulo que acontece na região do
corpo abaixo do pescoço e na face se projetam para vias distintas. Então, por exemplo, se eu
tiver uma informação de um estímulo nociceptivo ou de temperatura originário na parte
superior do corpo, excluindo a face, na parte do tórax, braços, eu vou ter a entrada desse sinal
em seguimentos específicos da medula espinal, especialmente na região cervical, que se
projetam em direção ao mesencéfalo, faz a sinapse com o neurônio de segunda ordem no
corno dorsal, que se projeta para o lado contra-lateral, passando pelo bulbo até o tálamo e lá
faz sinapse com o neurônio de terceira ordem até chegar às regiões de processamento
daquelas partes do corpo em S1.
Se eu tiver uma informação nociceptiva na região inferior do corpo do tórax para
baixo, pé, pernas, eu vou ter entrada dessas informações também em regiões específicas na
medula espinal lombar, faz sinapse com neurônio de segunda ordem, se projeta para o tálamo
e do tálamo para a região somatossensorial que está associada à recepção do estímulo da parte
inferior do corpo, a S1.
Quando o estímulo é na face, essa informação vai entrar, ela vai ativar normalmente o
nervo trigêmeo, que é o principal nervo sensorial da face, que tem três ramos, então
dependendo da região da face que o estímulo vai acontecer, você vai ter esses ramos do
trigêmeo sendo ativados e eles vão projetar a informação para o tronco encefálico, essa fibra
entra na porção média da ponte, mas ela descende e depois ela ascende em direção ao tálamo,
também faz sinapse com neurônio de segunda ordem em núcleos trigeminais específicos no
tronco, dependendo do ramo eu vou ter núcleos diferentes no tronco encefálico, faz sinapse
com neurônio de segunda ordem, se projeta para o tálamo, do tálamo para o córtex
somatossensorial primário na região que recebe informação dessa parte específica da face.
Do ponto de vista clínico, lesões em pontos diferentes dessas vias vão causar
distúrbios sensoriais distintos.

Explicação da figura: a imagem mostra as regiões do tálamo que recebem essas


informações. Normalmente as informações do corpo, abaixo do pescoço, se projetam para
região mais posterior-lateral do tálamo, enquanto as informações da face se projetam para
núcleos talâmicos mais ventrais. Os núcleos do tálamo que recebem informações de vias
diferentes e de regiões diferentes do corpo também podem mudar. Existe uma preservação de
distinção entre essas vias para que isso aumente a capacidade discriminativa. Normalmente
não acontece tudo no mesmo lugar, porque se os mesmos neurônios forem processar todas as
informações você vai perdendo a capacidade discriminativa.
7 REGULAÇÃO AFERENTE DA DOR, DA ATIVIDADE NOCICEPTIVA: TEORIA
DA COMPORTA DA DOR OU DO PORTÃO DA DOR

Explicação da figura: temos um recorte do corno dorsal da medula espinal, e nessa


região eu tenho interneurônios e neurônios de projeção para regiões superiores do sistema
nervoso. Quando eu tenho um estímulo nociceptivo (isso é bastante visível em animais e
crianças mais novas), alguns comportamentos são evocados. Então, por exemplo, quando
você pisa na patinha do cachorro, ele tende a lamber a pata após o “pisão”. Quando a criança
vai tirar uma pulseirinha e dá um beliscão, ela passa a mão no local. Adultos às vezes vão
perdendo esses comportamentos por questões sociais, mas se algo causar um estímulo
nociceptivo você passa a mão no local, e dá um alívio imediato.
Por que isso acontece? A base funcional e anatômica desses comportamentos que são
preservados pelas espécies até chegar no ser humano, é explicada pelo o que chamamos de
teoria do portão da dor ou da comporta da dor (apesar de ser chamada de teoria, hoje ela já é
bem demonstrada do ponto de vista estrutural e funcional).
O que se propõe para esse efeito que acontece a partir dos comportamentos de alisar,
coçar, lamber, soprar após um estímulo nociceptivo. Você tem ao mesmo tempo na área
acometida pelo estímulo, as fibras sensoriais mecânicas, que não participam da via de
transmissão de dor, e as que participam da transmissão de dor. Então você tem receptores
nociceptivos e mecanorreceptores de outros tipos que veiculam estímulos táteis comuns, e não
nociceptivos.
Quando você tem um estímulo na região da pele que causa dor, e você esfrega a área
causando um estímulo mecânico naquela região que foi acometida pelo estímulo nocivo ou
potencialmente nocivo, você está ativando ao mesmo tempo os mecanorreceptores não
nociceptivos. Isso ativa concomitantemente dois tipos de receptores: o que foi ativado pelo
estímulo nociceptivo, por exemplo, a fibra C, e aquele que você ativou quando alisou ou
soprou a região.
Na região do corno dorsal você tem um conjunto de interneurônios, que são chamados
de interneurônios residentes da medula espinal, que produzem neurotransmissores inibitórios,
especialmente o GABA. Temos um interneurônios inibitório e um neurônio de projeção que
seria um neurônio de segunda ordem da via sensorial nociceptiva.
Essa fibra C, que é o aferente primário nociceptivo que foi ativado pelo estímulo
doloroso, se projeta tanto para esse interneurônio inibitório como para o neurônio de projeção.
O interneurônio inibitório libera neurotransmissor inibitório, então a tendência dele é tirar o
cara da jogada e estimular o neurônio de projeção para dar continuidade ao estímulo da dor
para o SNC.
Quando você tem a estimulação mecânica concomitante, você está ativando os
axônios, os receptores não nociceptivos de fibras Aδ e Aβ que inclusive têm condução mais
rápida em relação à fibra lenta da dor. Então com o estímulo mecânico, a fibra Aδ ou Aβ, ela
estimula o interneurônio inibitório e estimula o neurônio de projeção que se projeta para a
coluna dorsal (faz outra via que não é a mesma da espino-talâmica).
Então essa via, que é mais rápida, de alta velocidade de condução, ativa esse
interneurônio inibitório, e a somatório desses estímulos acaba favorecendo um aumento da
atividade desse interneurônio que inibe a via de projeção da dor, então é isso que alivia
momentaneamente a segunda fase da dor que é efetuada pelas fibras do tipo C. Por isso que
ao passar a mão, alivia a sensação de ficar latejando.
Ao estimular uma via sensorial mecânica, não nociceptiva, você interrompe a
transmissão do sinal, pelo menos parcialmente, da informação nociceptiva, o que causa o
alívio. E esse é um comportamento muito preservado em animais e seres humanos.
8 DOR VISCERAL

Normalmente descrita como uma dor difusa, de pouca capacidade discriminativa. Dor
na barriga, por exemplo, não se sabe exatamente o local. Isso acontece porque a dor visceral
não tem uma via marcada, ela usa várias vias sensoriais para chegar na medula espinal. Então
existe uma “poluição” do sinal, ela se difunde por várias vias sensoriais. Esses axônios que
conduzem a dor das vísceras abdominais, eles chegam em regiões diferentes daquelas
informações que chegam a partir das vísceras torácicas, em núcleos específicos no tronco
encefálico.
Essa via normalmente envolve, assim como as outras vias nociceptivas, informações
que trafegam por fibras de condução lenta, e elas se projetam para regiões ou neurônios que
estão envolvidos na informação sensorial de áreas da pele, que é o que chamamos de dor
referida. Por exemplo, quem tem um infarto tem dor no braço, no estômago, porque existe
uma convergência dos receptores da pele e das vias viscerais daquela região da pele.
Então a dor referida no infarto pode ser uma dor na superfície do peito, na região
medial do braço, do antebraço e até das mãos, porque as fibras sensoriais que se projetam a
partir do local de lesão do coração se projetam para os mesmos neurônios de segunda ordem
daquelas áreas da pele, então existe uma confusão no processamento dessa informação, então
o indivíduo refere a dor como sendo na pele.

9 OS TERMORRECEPTORES

Receptores muito semelhantes ao nociceptores, em termos estruturais, também


recebem e conduzem a informação térmica. Essa informação térmica, apesar de ter início em
terminações livres diferentes, chamadas de termorreceptores, também trafegam pelo trato
espino-talâmico.
Os termorreceptores da pele são terminações livres que possuem diversos subtipos,
que expressam na membrana moléculas receptoras diferentes, que normalmente são das
classes dos canais de potencial receptor transiente ou TRP. Essas diferenças de moléculas que
são expressas em diferentes termorreceptores é o que permite do ponto vista funcional a
percepção de faixas de temperaturas diferentes.
Então se pegarmos uma escala de temperatura de 0 a 50ºC, teremos receptores sendo
ativados preferencialmente em faixas específicas. Por exemplo, abaixo de 18ºC você tem um
aumento da atividade de receptores do tipo Anktm 1. Abaixo de 25ºC, Trpm8, ele é sensível,
tem como agonista o mentol, então está associado à sensação de frescor das pastas de dentes,
chicletes, balas de menta. Então essa “escala” de refrescância é dada por agonista de
receptores diferentes.
A pimenta por exemplo tem um composto chamado capsaicina é um agonista de um
receptor Trpv 1, principalmente. Então a pimenta ativa termorreceptores de calor. Inclusive do
ponto de vista termorregulador isso tem um efeito de assoprar, você começa a suar, ficar
vermelho (vasodilatação), porque o efeito da pimenta dá informação a o SNC que estamos
submetidos ao calor, então o organismo ativa mecanismo de perda de calor, como se
estivéssemos entrando em uma sauna. A pimenta mimetiza o efeito do calor no sistema
termorregulador.

Temos receptores de calor na pele que atuam preferencialmente em faixas diferentes


de temperatura, que às vezes se sobrepõem, mas permitem a distinção de graduação térmica
que somos capazes de notar, menos calor, mais calor, mais frio, menos frio. Os
termorreceptores em geral têm fibras de condução rápida, o que explica, por exemplo, quando
entramos na piscina e está gelada dá aquele “susto”, e após um tempo nos adaptamos.
Explicação do experimento das vasilhas com água em diferentes temperaturas: quando
estamos na água quente com uma mão, e na água fria com outra, e esperamos um pouco, os
receptores de calor se adaptam, e os de frio no outro lado, quando passamos as mãos para uma
temperatura intermediária, a mão que estava na água quente você sente que esfriou, e a outra
que estava na fria, você sente que esquentou.
Em geral, TRP para frio estão associados às fibras Aδ e C, enquanto os para calor
associam-se principalmente às fibras C.

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