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FISIOLOGIA HUMANA GERAL – PARTE II

DOR E NOCICEPÇÃO
Vamos continuar a falar dos sentidos somáticos porque a dor também é um sentido somático. A dor tem um
aspecto muito particular, é uma experiência sensorial e emocional desagradável, mas é uma sensação subjetiva
única muito pessoal. Então, cada indivíduo caracteriza a sua dor através das suas próprias experiências
passadas. A memória da dor é muito importante e ela salva a nossa vida, porque lembramos muito bem das
nossas dores e por isso tentamos evitar situações ou coisas que podem nos causar dor - principalmente quando
são dores reincidentes. Tendemos a fugir de tudo aquilo que nos causa dor. A dor não é estritamente física,
pois temos a dor psicológica também – como dor de perda, coração partido etc. Esse tipo de situação causa
dor realmente física ou apenas psicológica? Provavelmente não apenas psicológica, porque no nosso
organismo todos os nossos sistemas são muito conectados, principalmente o sistema nervoso. A dor é muito
difícil de quantificar porque é pessoal e subjetiva, não podendo ser mensurada por um instrumento, por
exemplo. Por isso há uma escala de dor de 0 a 10 e o paciente tenta quantificar sua dor de acordo com as suas
experiências prévias.
A dor é diferente de nocicepção. A dor é a própria sensação ou a percepção de um estímulo aversivo que
surge em alguma parte do corpo. Já a nocicepção é o processo sensorial que fornece os sinais que
desencadeiam a experiencia de dor. Quais são esses processos? Primeiramente há a recepção dos estímulos
dolorosos, que são conduzidos até o SNC onde ocorre a integração da sensação dolorosa. Então, dor é a
sensação que descrevemos como ardência, fisgada, latejo etc. E a nocicepção é a condução desse estímulo. Os
receptores podem receber um estímulo muito forte e disparar PAs de forma contínua, mas a dor que sentimos
pode não parecer tão forte assim. Isso porque a nocicepção é muito controlada pelo cérebro, então por mais
que o estímulo seja forte, dependendo da pessoa, ela pode perceber aquilo como uma sensação de dor não tão
pronunciada assim. A dor é muito importante, e temos como exemplo as pessoas que nascem sem a capacidade
de sentir dor. Elas passam a vida inteira em constante perigo de autodestruição pois eles não conseguem se
dar conta das consequências prejudiciais de seus atos. Essas pessoas frequentemente morrem precocemente.
Os mecanorreceptores são receptores de estímulo mecânico como o tato, pressão e vibração – como já citados
na aula anterior. Agora, daremos mais atenção às terminações nervosas livres. Esses são os receptores que
conduzem a dor, a nocicepção. Eles respondem a estímulos nocivos e conduz estímulos térmicos - sensação
de temperatura – também. Ele é um receptor bem simples, não é encapsulado, e possui arborizações em seu
terminal. Eles estão distribuídos amplamente pelo nosso corpo, nos tecidos e órgãos, e em algumas regiões há
maior sensibilidade a dor do que outras. Como ocorre o início da nocicepção? Começa com um estímulo
inicial, que pode ser mecânico, térmico ou químico. Numa situação nociva, o estiramento ou dobramento na
membrana da terminação nervosa livre ativa canais iônicos. Esses canais iônicos podem ser mecanossensíveis,
podem ser ativados por um estímulo térmico ou por um estímulo químico. Assim, ocorre a despolarização da
célula e se disparam potenciais graduados. Caso o estímulo for muito intenso ocorre o disparo de potenciais
de ação (PAs). Existem muitos estímulos que causam dor, desde queimadura até o metabolismo anaeróbico
dos músculos fatigados (estímulo de dor química).
Tipos de nociceptores: podem ser polimodais, os quais possuem
pouca especificidade e assim respondendo a diferentes estímulos
(químico, mecânico ou térmico). E há os nociceptores mais
específicos, como os nociceptores mecânicos os quais
reconhecem apenas estímulos mecânicos, nociceptores térmicos
os quais detectam apenas extremos de temperatura, e os
nociceptores químicos - presentes nas vísceras, onde detectam
inflamações como uma dor, a partir de substâncias químicas
liberadas. Como é levado o estímulo até o SNC? É conduzido por
dois tipos de fibras. Elas podem ser fibras A delta, que é uma fibra
de condução rápida, pobremente mielinizados e geram uma
percepção de dor mais precisa e quantificável – conseguimos notar
onde se localiza a dor e qual é o grau dela – e estão distribuídas na
pele, músculos e tendões. Temos também as fibras C, as quais
conduzem dor mais lentamente por não serem mielinizadas e
serem finas, gerando uma percepção de dor difícil de ser codificada e localizada. Esse tipo de fibra está
localizado em músculos, tendões e vísceras. A dor visceral é uma dor difícil de localizar por isso. Em uma
situação hipotética onde você acabou de prender o dedo na gaveta da cozinha, há primeiramente uma sensação
aguda de fincada – dor conduzida pelas rápidas fibras A delta - e quando essa dor intensa aguda passa o que
resta é uma dor latejante – dor lenta, crônica, conduzida então pelas fibras C. A fibra A delta gera a dor
primária e as fibras do tipo C gera a dor secundária. O prurido é a coceira, que também está relacionada
com dor, mas essas vias superiores da coceira não são tão bem entendidas quanto as vias da dor. O que se sabe
é que existe uma interação antagonista entre as duas sensações - de prurido e dor. Por exemplo, na liberação
de histamina em processos alérgicos que causa coceira é ativado as fibras C, mas a sensação que temos é de
coceira. A sensação de dor causada pela lesão que fazemos ao coçar a pele parece diminuir a sensação de
coceira em si, e por isso que coçamos – indicando relação antagonista. Também como exemplo temos a
morfina, que alivia dor, e em algumas pessoas ela pode produzir prurido como efeito colateral.

Características fundamentais dos nociceptores: primeiramente, é importante salientar que esses receptores
se adaptam muito pouco ou não se adaptam, diferentemente dos receptores de sensibilidade do sistema
sensorial. Isso significa que há um estímulo de d, continuaremos a sentir dor até cessar o estímulo. Isso é uma
adaptação aos estímulos nocivos. Os nociceptores também apresentam facilitação e aumento da sensibilidade
quando estimulados continuamente. Então, além de não se adaptarem, eles ainda podem ter a sua sensibilidade
aumentada. A facilitação ocorre quando há uma redução no limiar de ativação dos receptores, então, eles
seriam ativados com um determinado estímulo e eles passam a ser ativados com estímulo menor - porque o
seu limiar de ativação é reduzido. A hiperalgesia é o aumento da sensibilidade dos receptores para dor. Quando
ocorre hiperalgesia? Como exemplo, ao nos queimarmos pelos raios solares, ficamos com uma sensibilidade
muito maior - não conseguimos colocar roupa ou se deitar á noite – isso porque a nossa pele que já foi lesionada
ou que está inflamada fica mais sensível que o normal. Quando há uma lesão na pele, muitas substâncias
químicas são liberadas e vão modular a excitabilidade dos nociceptores – tornando-os mais sensíveis aos
estímulos que causam dor. Essas substâncias químicas são liberadas por todas as células do tecido lesado. A
hiperalgesia primária acontece exatamente na área do tecido lesado e a hiperalgesia secundária acontece na
área adjacente ao local lesado. A liberação desses mediadores químicos que ocorre no tecido lesado aumenta
sensibilidade das terminações nervosas, alterando a permeabilidade da membrana da fibra nervosa, dos
nociceptores. Temos como exemplo dessas substâncias a bradicinina, histamina, serotonina, ATP,
potássio, substância P e prostaglandinas. Esses canais vão se abrir com linear mais baixo de estímulo, e
mais canais se abrem também. No tecido lesado, ocorre o rompimento de muitas células e vasos, e por isso
temos o recrutamento de células do sistema imune. São células inflamatórias as quais produzem um processo
inflamatório nessa região e assim temos também a sensibilização dos nociceptores. A bradicinina pode
despolarizar diretamente os nociceptores. Ela também pode estimular mudanças intracelulares nos neurônios
primários que conduzem a sensação dolorosa e assim vai tornar esses neurônios mais sensíveis - os canais
iônicos se abrem mais facilmente e ocorre aumento da condutância iônica de alguns nociceptores. O ATP
também pode ser liberado das células e pode causar a despolarização dos nociceptores por meio da sua ligação
direta em canais iônicos que dependem de ATP para a sua ativação.
As prostaglandinas aumentam muito sensibilidade do nociceptores. Por isso que ao tomarmos fármacos anti-
inflamatórios (aspirina) temos inibição das enzimas que são necessárias para a síntese de prostaglandinas – e,
consequentemente, estes fármacos são tratamentos eficazes para dor. A substância P é um peptídeo sintetizado
pelos próprios nociceptores e quando liberada causa vasodilatação e gera liberação de histamina pelos
mastócitos. Os mastócitos são células teciduais que liberam histamina e são acionados em processos
inflamatórios. A histamina se liga a receptores de superfície específicos do nociceptor, despolarizando a
membrana e gerando PAs. A histamina também aumenta a permeabilidade dos capilares sanguíneos e,
consequentemente, gera edema e vermelhidão no local da lesão. No uso de anti-histamínicos, com o bloqueio
dos receptores histaminérgicos, tentamos um alívio tanto no edema quando na vermelhidão/queimação.

Aliás, alguns nociceptores respondem a extremos de temperatura, porque embora tenhamos as terminações
nervosas livres, os termorreceptores propriamente ditos não são nociceptivos. Os termorreceptores detectam
apenas variação da temperatura. O nociceptor que responde a estímulos térmicos dispara mais PAs nas
temperaturas mais elevadas, diferentemente dos termorreceptores, isso porque detecta a dor - a qual
começamos a sentir a partir dos 45 graus.

Neurotransmissores dos aferentes nociceptivos


Quais são os neurotransmissores dos nossos aferentes nociceptivos? Quais neurotransmissores os neurônios
aferentes, que levam a informação até a medula, vão liberar? Eles vão liberar principalmente glutamato, mas
a substância P também pode ser liberada pelos nossos neurônios primários nociceptivos. Descobriu-se
recentemente que a substância P pode estar relacionado com sensação de dor moderada a intensa - nessas
situações ela é liberada juntamente com o glutamato.
Temos um neurônio que leva estímulo doloroso
originado na pele e outro neurônio que se origina, por
exemplo, numa víscera como o rim. Nisso, podemos
observar que os axônios dos nociceptores viscerais
vão entrar na medula espinal pelo mesmo trajeto dos
nociceptores cutâneos. Assim, na medula espinal,
acontece uma mistura da informação dessas duas
fontes de aferência. Esse processo é chamado de linha
cruzada e origina a dor referida. O que é a dor
referida? Quando ocorre a ativação do nociceptor
visceral, essa dor é percebida como uma sensação
cutânea - porque a sensação cutânea é muito mais
comum do que a dor visceral. Então, como ocorre a
linha cruzada e o nosso cérebro é muito mais
familiarizado a interpretar dor cutânea, muitas vezes essa informação se confunde. A entrada de dor visceral
e de estímulo cutâneos somatossensorial vai convergir para um único trato ascendente – pelo mesmo neurônio
sensorial secundário. Então, quando o estímulo doloroso surge nos receptores viscerais, o encéfalo não é capaz
de distinguir tão bem. Assim ocorre o fenômeno de dor referida. Por exemplo, quando alguém está infartando,
essa pessoa não sente dor propriamente no coração, mas ela vai relatar uma dor no ombro esquerdo que desce
em direção ao braço e mão. Ou seja, o cérebro confunde a informação e sentimos uma dor num lugar que não
é a origem da dor. Isso também ocorre na dor da apendicite, onde ela é erroneamente apontada como dor na
parede abdominal, ao redor do umbigo. Já no cálculo renal a dor referida é na parede abdominal inferior ou
na parte posterior das costas. Se a pessoa não é acostumada com essa dor, nunca teve e não é ciente do que a
causa, ela não vai saber o que origina essa dor.

Vias ascendentes da dor


Como o estímulo da dor é conduzido para o
SNC e como ele é processado? Os neurônios
sensoriais primários de nocicepção
distribuídos no corpo possuem axônios que se
projetam em direção a medula espinal - o
neurônio primário chaga pelo corno dorsal da
medula espinal. Ao chegar na medula,
podemos ter ativação de duas vias. Uma via
são as respostas reflexas que são integrados
na própria medula - é muito rápida e não chega
a ser conduzida para o cérebro – ocorrendo
sinapse com neurônios motores que
automaticamente enviam uma resposta, são
respostas protetoras e inconscientes. Elas
afastam a área estimulada da fonte do estímulo,
como em momento que tocamos em algo
muito quente e mesmo sem ter a consciência
do estímulo nocivo nós tiramos rapidamente a
mão mesmo. A segunda via são as vias que
ascendem para o córtex cerebral, as quais
são responsáveis pela sensação consciente da
dor ou do prurido. Nessa via, a informação pode ser integrada na própria medula, gerando uma resposta
reflexa, ou a informação pode ascender para o córtex cerebral onde será processada. Qual é o caminho que a
informação percorre ao ascender para o córtex? Toda a informação de sensibilidade somática é conduzida
para o córtex cerebral por duas vias: via da coluna dorsal lemnisco medial, que conduz informações de tato
discriminativo/fino, propriocepção, vibração etc. Então, são sensações bem localizados e definidas. Esse tipo
de informação chega pelo neurônio primário, o qual passa pelo corno dorsal da medula e imediatamente
ascende em direção ao bulbo, onde ocorre a primeira sinapse com neurônios secundários - depois, esse
neurônio cruza para o outro lado do corpo, chegando ao tálamo, e realizando sinapse com o neurônio terciário.
Essas informações vão chegar no córtex somatossensorial, região do córtex cerebral onde as informações
sensoriais são processadas. Temos outra via, que é a via espinotalâmica anterolateral. Essa via envia
informações não tão bem definidas e localizada ao nosso cérebro, como a dor (nocicepção, temperatura e tato
grosseiro). Ou seja, a nocicepção é levada ao SNC pela via espinotalâmica anterolateral.

Relembrando que o neurônio primário chega na medula pelo corno dorsal e na própria medula há sinapse com
neurônios secundários. Esse neurônio cruza na própria medula e os neurônios secundários, por sua vez,
ascendem ao tálamo e há uma terceira sinapse com o neurônio terciário o qual se projeta em direção ao córtex
somatossensorial. Lembrando que as fibras espinotalâmica ascendem pela medula, passando pelo bulbo, ponte
e mesencéfalo sem fazer sinapse com esses, e farão sinapse somente no tálamo, diferentemente da via do
lemnisco medial que faz sinapse no bulbo. Ademais, essas vias também enviam ramos para o sistema límbico,
hipotálamo, fazem conexões cerebrais, e como resultado disso a dor pode ser acompanhada de manifestação
emocional – sofrimento, angústia e várias reações neurovegetativas. Isso porque o sistema neurovegetativo
pode gerar náuseas, vômitos, sudorese etc. Isso demonstra como tudo no nosso corpo é bastante integrado.

Teoria do portão da dor


Na medula existem interneurônios que interferem no
processamento da informação sensitiva – modulando a
sensação de dor –, dificultando ou facilitando a
transmissão de PAs que chega da Periferia e que ascendem
ao SNC. Quando o neurônio primário chega na medula a
partir do corno dorsal para fazer sinapse com o neurônio
secundário (que, na via espinotalâmica, depois vai
diretamente para o tálamo) há um outro neurônio que os
conecta, o interneurônio. Ele está entre dois neurônios,
fazendo sinapse com o neurônio primário e depois com o
secundário e ele é um interneurônio inibidor. Ele fica
tonicamente inibindo a via da dor. Em uma situação em
que não há sinal de entrada nas fibras C, ou seja, não é
sinal pra dor, os interneurônios inibidores tonicamente (o
tempo todo) ativados, inibindo a via da dor quando há um
estimulo doloroso, a fibra C é ativada e inibe o
interneurônio. Ou seja, ela inibe a inibição, resultando na
permissão para que o sinal de dor seja enviado ao encéfalo.
Numa terceira situação, onde temos o estímulo doloroso e
fibra C de dor foi ativada, ela chega na medula, fazendo
sinapse com o neurônio secundário ativando-o e inibindo
o interneurônio inibidor. Mas, se concomitantemente ao
estímulo doloroso houver ativação das fibras A beta dos
receptores táteis da pele, há sinapse dessa com o
interneurônio e aumenta a atividade inibidora do
interneurônio. Então, se ocorrer estímulo simultâneo da
fibra C, que é a da dor, com a fibra A beta, que é a do
estímulo mecânico, haverá resposta integrada com
inibição parcial da via ascendente da dor. Ou seja, a dor
vai ser percebida de modo atenuado pelo cérebro. Esse
neurônio vai estar parcialmente ativado por isso
parcialmente inibindo o neurônio secundário de conduzir
a informação de dor para o cérebro. Por que isso é
importante? Essa é a chamada teoria do portão da dor.
Por exemplo, quando depilam a nossa pele com cera, logo
após puxar os pelos a depiladora coloca a mão sobre a pele da região, tal ação reduz consideravelmente a dor.
Ou quando batemos o braço e o nosso primeiro instinto é colocar a mão sobre a região machucada porque
alivia. Esse estímulo tátil de esfregar ou pressionar ativa as fibras A beta e ajuda a diminuir a sensação de dor,
essa é a teoria do portão da dor.
Receptores opioides: o organismo possui um sistema endógeno analgésico opioide. Os fármacos opioides
como morfina atuam sobre os receptores opioides no SNC e esses receptores opioides existem naturalmente
no corpo, são endógenos. Porque os receptores opioides existem? Porque, além de atuarem com os fármacos
exógenos, nós produzimos alguma substância endógena que se liga nesses receptores, senão não existiriam.
Nós temos a produção de várias moléculas opioides endógenas que vão atuar sobre esses receptores. A
ativação dos receptores opioides tanto por moléculas endógenas, quanto por fármacos opioides vai bloquear
percepção de dor. Isso ocorre por duas vias. Na primeira via, a ativação dos receptores opioides vai diminuir
a liberação do neurotransmissor nos neurônios sensoriais primários, principalmente o glutamato. Ou seja,
quando houver a ativação dos receptores opioides nos neurônios primários há redução na liberação de
glutamato, consequentemente a via da dor. Outra forma de ação desses receptores opioides é a partir da
inibição dos neurônios sensoriais secundários, inibindo a sinapse entre neurônio primário e secundário. Isso
acontece através da hiperpolarização das membranas dos neurônios pós-sinápticos/neurônio secundários. Isso
porque quando ela hiperpolariza, é mais difícil de gerar PAs e assim fica inibido. Há, no corpo humano, vários
tipos de peptídeos opioides endógenos como a encefalina, a beta-endorfina e a dinorfina. Como a endorfina
possui papel opioide, de reduzir a sensação de dor, ela também nos causa uma sensação de bem-estar. A
endorfina e os seus receptores estão amplamente distribuídos no SNC, mas particularmente concentrados em
áreas que processam o que modulam a informação de dor.
Efeito placebo: nos testes clínicos para novos fármacos geralmente um grupo recebe o fármaco ativo e um
outro grupo que vai receber uma substância inerte, sem efeito. O grupo que recebe o placebo é investigado
para descobrir se o efeito é realmente relacionado ao fármaco estudado ou um efeito aleatório. Muitas pessoas
que recebem o medicamento placebo relatam que tiveram diminuição da doença/sintomas. O placebo pode
realmente ser um analgésico eficaz porque muitos pacientes que sofrem, por exemplo, de dor pós-operatória,
relatam alívio depois de uma injeção de solução fisiológica. Isso significa que a crença que o tratamento vai
funcionar é suficiente para causar ativação dos nossos sistemas endógenos encefálicos de alívio da dor. Então,
o efeito placebo é uma explicação provável para o sucesso de outros tratamentos para dor, como a acupuntura,
a hipnose, etc.
Existem algumas estruturas que são mais sensíveis à dor no nosso corpo do que outras. As estruturas viscerais
são altamente sensíveis ao estiramento, a isquemia e inflamação, mas relativamente insensíveis a outros
estímulos que normalmente provocam dor em outras estruturas, como corte e queimaduras.
Dor do membro fantasma: é uma dor que acomete a maioria dos
amputados, é uma dor como se fosse dor naquele membro que já não
existe mais. Na verdade, todos os nossos membros começam e
terminam no cérebro porque é ele quem processa tudo, que recebe as
vias, as projeções dos neurônios. Então, quando um membro é
amputado falta a parte física, mas ainda há todo o resto que continuará
intacto – ainda há uma parte do neurônio aferente que ascendia do
membro amputado. Vários estudos com amputados concluíram que,
por exemplo numa pessoa com o braço amputado, a região do cérebro
que recebe os sinais sensoriais provenientes da mão realmente não vai
mais sem receber aqueles sinais, mas como há plasticidade cerebral,
as regiões adjacentes no córtex somatossensorial começam a ocupar o
espaço da região da mão. Consequentemente, se estimulamos uma
região do corpo que possui, no córtex somatossensorial, proximidade
com a região amputada, podemos sentir a região amputada. Ou seja,
como a área amputada não consegue mais receber e enviar informação
sensorial, teremos uma informação enviada de uma outra região
adjacente do córtex – de uma outra região do nosso corpo.
Outra explicação para a dor de membro fantasma é que os axônios
serão seccionados no membro amputado, sendo danificados, e assim o
cérebro pode interpretar isso como uma sensação de dor. E por fim, o
tecido cicatricial no local da amputação pode também gerar uma
sensação de dor e a memória física da dor antes da amputação da área
afetada.
SISTEMA MOTOR
Um reflexo é uma resposta involuntária a um estímulo sensorial. Quando um jogador de futebol está jogando
ele possui várias decisões conscientes, como a análise do campo, se está seco ou molhado, quais as posições
dos jogadores etc. Mas, ao mesmo tempo ele processa muitas informações inconsistentes e vai agir sobre elas
de forma inconsciente. Quando ele inicia um movimento, tipo levantar a perna para chutar a bola, o que
acontece de forma rápida, todo o corpo dele necessita de um ajuste postural para distribuir o peso em uma
perna só agora, e tal ajuste é inconsciente. Ou quando estamos em um parque e alguém joga uma bola em nós,
inconscientemente colocamos a mão na frente para proteção.

Os reflexos musculares esqueléticos possuem os seguintes componentes:


1. Os receptores sensoriais, denominados proprioceptores, estão localizados nos músculos esqueléticos,
nas cápsulas articulares e nos ligamentos. Os proprioceptores monitoram a posição dos nossos membros
no espaço, os nossos movimentos e a força que exercemos para levantar objetos. A sinalização originada
dos proprioceptores é enviada ao SNC através de neurônios sensoriais.
2. O sistema nervoso central integra o sinal aferente através de redes e de vias de interneurônios excitatórios
e inibidores. Em um reflexo, a integração da informação sensorial e a ação resultante ocorrem
subconscientemente. No entanto, alguma informação sensorial pode ser integrada no córtex cerebral,
tornando-se percepção, e alguns reflexos podem ser modulados por sinalização consciente.
3. Os neurônios motores somáticos enviam a sinalização eferente. Os neurônios motores somáticos que
inervam as fibras musculares esqueléticas contráteis são chamados de neurônios motores alfa.
4. Os efetores são fibras musculares esqueléticas contráteis, também chamadas de fibras musculares
extrafusais. Os potenciais de ação nos neurônios motores alfa levam à contração das fibras extrafusais.

Três tipos de proprioceptores são encontrados no corpo: receptores articulares, órgãos tendinosos de Golgi
e fusos musculares. Os receptores articulares são encontrados nas cápsulas e nos ligamentos localizados ao
redor das articulações do corpo. Eles são estimulados pela distorção ou deformação mecânica decorrente das
mudanças da posição relativa dos ossos unidos por articulações flexíveis. A informação sensorial de receptores
articulares é integrada principalmente no cerebelo.

Os reflexos neurais podem ser classificados em diferentes categorias:


1) divisão eferente que controla o efetor
a. Os neurônios motores somáticos controlam os músculos esqueléticos
b. Os neurônios autonômicos controlam os músculos liso e cardíaco, as glândulas e o tecido adiposo. Há
reflexos que ocorrem a partir do controle do sistema simpático e parassimpático.
Observação: a classificação a partir da divisão eferente considera a origem do neurônio que controla o músculo executor do reflexo.

2) região de integração no nosso sistema nervoso central


a. Os reflexos espinais/medulares são integrados na própria medula e não requerem sinais do encéfalo
b. Os reflexos cranianos são integrados no encéfalo, no tronco encefálico
3) momento do desenvolvimento do reflexo
a. Os reflexos inatos são determinados geneticamente
b. Os reflexos aprendidos (condicionados) são adquiridos pela experiência
4) o número de neurônios na via reflexa
a. Os reflexos monossinápticos possuem apenas uma sinapse e dois neurônios: um aferente (sensorial) e
outro eferente. Somente os reflexos motores somáticos podem ser monossinápticos
b. Os reflexos polissinápticos incluem um ou mais interneurônios entre os neurônios aferentes e
eferentes. Todos os reflexos autonômicos são polissinápticos, uma vez que possuem 3 neurônios: um
aferente e dois eferentes.

Lembrando que muitos reflexos viscerais são inatos – como defecação e micção - e ocorrem sem sinalização
do encéfalo, como quando o bebê nasce e não consegue controlar esses reflexos. Ao longo da nossa vida
aprendemos a modular e a controlar esses reflexos a partir sinais que os ativam ou inibam. Então, temos dois
tipos básicos de reflexo, o reflexo condicionado e o reflexo inato.
Qual é a diferença dos reflexos condicionados e inatos? O condicionado/reflexo aprendido aprendemos ao
longo da vida e o reflexo inato nascemos com ele. Ivan Pavlov desenvolveu um experimento chamado
condicionamento clássico/condicionamento dos cães de Pavlov, onde associou o estímulo que evocava uma
resposta e um outro estímulo que normalmente não evocava essa resposta. Podemos aprender novos reflexos
e a reagir à novos estímulos. Temos como exemplo de reflexo aprendido quando comemos algo estragado,
passamos mal, e por isso ficamos nauseados só de ver ou de sentir o cheiro do alimento em questão. O medo
também é um exemplo do reflexo condicionado. O reflexo inato é o que nascemos, como exemplo o reflexo
patelar que temos ao receber uma batida no joelho e damos um chute no ar. A contração da pupila num
ambiente muito claro, o disparo do coração quando nos assustamos e o reflexo de sucção de um recém-nascido
ao nascer, piscar, tremer de frio e bocejar, suar... tudo isso é reflexo inato. Por fim, por que os bebês conseguem
mergulhar sem engolir água? Muitos bebês já nascem na água e não se afogam porque possuem o reflexo
bradicárdico, o qual nos faz prender a respiração quando a água bate no nosso rosto e gera uma redução de
batimentos cardíacos. A cãibra é a contração do músculo por feedback reflexo também.

Reflexos medulares: estão associados ao músculo esquelético cujos neurônios efetores são os neurônios
motores somáticos. Esses reflexos são integrados na medula espinal e dependem exclusivamente da dela e não
dos centros superiores, como o córtex cerebral. Isso significa que os centros superiores não participam? O
córtex cerebral pode modular um reflexo autonômico, como o reflexo da micção, mas ele não depende do
córtex para ocorrer. O objetivo principal dos reflexos é proteger o nosso organismo de danos pois são uma
preparação para interagirmos sobre o ambiente e ter chances de se proteger caso ocorra algum tipo de perigo.

Organização dos neurônios motores: são aqueles neurônios que vão


comandar diretamente a contração muscular e efetivamente o reflexo.
Precisamos lembrar que os neurônios motores somáticos inervam
musculatura somática, ou seja, os nossos músculos esqueléticos – os
quais constituem a maior parte da massa muscular e que possibilitam
o movimento. Relembrando também que os neurônios motores
somáticos são provenientes do corno ventral da medula espinal - no
corno dorsal chega a informação sensitiva. Os corpos celulares dos
neurônios motores somáticos se localizam no corno ventral da medula
e a partir deles os axônios se projetam. Outro detalhe é que usamos a
denominação “neurônios motores inferiores” para distinguir esses
neurônios dos neurônios motores superiores do encéfalo – que partem
do encéfalo e se projetam para medula.
Então, há neurônios motores superiores porque o encéfalo controla os movimentos – isso será debatido mais
profundamente depois. Ou seja, os neurônios motores inferiores estão localizados na medula espinal. Os
neurônios motores inferiores/neurônios motores somáticos podem ser divididos em duas categorias: os
neurônios motores alfa e os neurônios motores gama.

Qual é o papel de cada um desses neurônios? O neurônio motor alfa


vai inervar as fibras musculares extrafusais, a maioria das fibras
musculares responsáveis propriamente pela contração do músculo.
Usa-se a denominação “extrafusal” porque essas fibras estão fora do
fuso muscular – o qual é um proprioceptor. Proprioceptores são
receptores sensoriais que fazem parte do sistema sensorial somático e
são responsáveis por monitorar a posição dos nossos membros no
espaço, os movimentos e a força que fazemos para levantar objetos -
os proprioceptores incluem os fusos musculares, localizados nos
músculos, o órgão tendinoso de Golgi, e os receptores articulares –
já debatidos. Já o neurônio motor gama vai inervar as fibras intrafusais,
localizadas dentro do fuso muscular. Então, temos vários fusos
musculares localizados dentro da nossa musculatura e que são
envolvidos por uma cápsula fibrosa - dentro da qual há as fibras
musculares intrafusais, especializadas, menores e mais finas.

Agora vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre o fuso muscular. O fuso muscular, que é o receptor de
propriocepção, é responsável por detectar alterações no comprimento muscular - detecta o estiramento
muscular, como num cabo de guerra. Qual é a importância disso? Nós precisamos controlar o estiramento
porque se o músculo for estirado demais ele pode sofrer uma lesão. Então, esses fusos musculares localizados
dentro dos nossos músculos detectam esse estiramento justamente para evitar algum dano. O fuso muscular
tem uma cápsula fibrosa ao redor e dentro há fibras intrafusais as quais possuem uma porção contrátil (mais
externa) e uma menos contrátil porque não possui miofibrilas (mais interna). Na região central desses
neurônios há os axônios enovelados e os axônios sensoriais do grupo 1A partem da fibra. Então, há um
trabalho em conjunto dos fusos e dos axônios para detectar estiramento muscular.
Lembrando que a fibra 1A é responsável por conduzir o
estímulo de propriocepção do músculo esquelético. Ela é
grossa e mielinizada – por isso possui velocidade de condução
muito rápida. Dessa maneira, a propriocepção é conduzida de
forma muito rápida e precisa para o SNC. Para onde o axônio
dessa fibra 1A se projeta? Para a medula pelas raízes dorsais
da medula – porque é por onde chegam as informações
sensoriais – e lá se ramificam várias vezes, realizando sinapses
excitatórias com interneurônios e neurônios motores alfa do
corno ventral da medula. Assim, ocorre a excitação do
neurônio motor alfa o qual se projeta para os músculos
esqueléticos e realiza a contração muscular.

Reflexo miotático/estiramento: primeiramente, esse reflexo é


monossináptico porque ele envolve uma sinapse, sendo um
reflexo bem simples. Relembrando que o neurônio sensorial
(fibra tipo 1A) parte do fuso muscular e na medula esse neurônio faz sinapse com neurônio motor alfa, o qual
se projeta para o músculo. Então, o neurônio motor se projeta para o mesmo músculo de onde partiu a fibra
sensorial. Qual é o objetivo do reflexo miotático? Quando o músculo é estirado ele tende a reagir contraindo-
se a fim de evitar lesões. Por exemplo, quando estamos com o braço numa angulação de 90 graus e soltam um
objeto bem pesado em nossa mão, nós vamos ceder um pouco, estirando o musculo e aumentando esse ângulo
inicialmente, mas logo depois o reflexo é de contrair novamente esse músculo. Quando o braço é estirado, o
músculo e o fuso muscular se alongam à medida que o braço se estende e as fibras aferentes do fuso muscular
– fibras sensoriais - disparam com maior frequência. Os sinais aferentes chegam na medula espinal, ocorrendo
ativação eferente através dos neurônios motores alfa e as fibras eferentes disparam, ocorrendo a contração
reflexa - iniciada pelo estiramento do músculo que vai restaurar o braço para posição original, evitando dano
causado por excesso de estiramento.

Outro exemplo é o reflexo patelar. Nele, a pessoa está com a perna pendente e o médico percute o tendão do
quadríceps da coxa. Quando o médico bate o martelo no tendão ele puxa o tendão para baixo, estirando o
músculo quadríceps da coxa e assim ativando as fibras sensoriais do fuso muscular. Assim, essas fibras fazem
sinapse com neurônios motor alfa na medula, e o neurônio motor alfa que inerva o músculo quadríceps faz
com que ele se contrai. Esse teste avalia a integridade dos nervos, do SN dos músculos e do arco reflexo.
Qual o papel da fibra gama? Os receptores proprioceptivos localizados dentro dos fusos estão tonicamente
ativos e vão disparar mesmo quando o músculo está relaxado. Essa é a contração tônica das fibras musculares
extrafusais. Devido à sua atividade tônica, o músculo em repouso mantém um certo nível de tensão conhecida
como tônus muscular. Os neurônios motores gama do sistema nervoso central inervam os polos das fibras
intrafusais e na parte central não são inervadas, porque é onde e ali se localizam os neurônios sensoriais e por
isso não são contráteis. Esses neurônios estão tonicamente ativos.
Por que que é importante que esses neurônios fiquem ativos o tempo? O fuso precisa mandar constantemente
informação proprioceptiva para a medula e precisamos que o fuso seja ativado com qualquer tipo de
estiramento. Por isso o neurônio motor gama, que inerva as fibras intrafusais, estará constantemente
tonicamente ativo. Ele ativa constantemente a musculatura e assim temos o tempo todo um pouco de
estiramento no fuso. Consequentemente, esses neurônios sensoriais sempre estão tonicamente ativos,
disparando, e com uma atividade basal. É por isso que o músculo não fica totalmente frouxo, por causa do
tônus muscular, onde o fuso fica em a atividade constante.

Inibição recíproca: os impulsos nas fibras que inervam os fusos musculares do músculo protagonista causam
inibição pós-sináptica dos neurônios motores para os antagonistas. O que essa frase quer dizer? No momento
do estiramento de um músculo, o axônio do neurônio 1A que se dirige para a medula também envia uma
pequena projeção para fazer sinapse com interneurônio inibitório.
Qual o papel dessa sinapse? Esse interneurônio inibitório inibe o neurônio que se dirige para o músculo
antagonista do músculo que sofreu estiramento. Lembrando que os músculos antagonistas trabalham em
direções opostas, puxando a articulação em direção oposta ao músculo protagonista de certo movimento.
Numa simples flexão, digamos da articulação do cotovelo, o braço flexiona e os músculos antagonistas ficam
relaxados. Se não ocorresse dessa maneira, teríamos um músculo trabalhando contra o outro. Então, a fim de
relaxar o músculo antagonista e permitir o movimento, ocorre a sinapse inibitória. No reflexo patelar
acontece a mesma coisa a mesma coisa, onde nós temos o relaxamento dos músculos da parte de trás da coxa,
os ísquios tibiais, enquanto o quadríceps da coxa contrai.

Mas o reflexo miotático não era um reflexo monossináptico, e agora foi constatado que há um interneurônio
nesse processo? O reflexo em si envolve apenas a via responsável pela contração do músculo protagonista, e
há uma via lateral na qual há o interneurônio. Então, o reflexo é monossináptico porque a via principal só
envolve dois neurônios, e na via secundária, do antagonista, há sim o envolvimento do interneurônio.

Os fusos musculares não são a única fonte de aderência proprioceptiva originada do músculo e que se caminha
em direção ao SNC. Temos um outro sensor no músculo esquelético que é o órgão tendinoso de Golgi. Esse
receptor atua como um sensor de tensão, monitorando a força de contração muscular, diferentemente dos fusos
musculares que detectam estiramento do músculo. O órgão tendinoso de Golgi (OTG) detecta tensão no
músculo porque precisamos proteger o músculo de uma tensão intensiva, se não os rompemos. Os OTG são
compostos por terminações nervosas livres que vão se entrelaçar entre as fibras de colágeno dentro de uma
cápsula de tecido conjuntivo. Eles estão localizados na junção do músculo com o tendão.

Quais são as fibras sensoriais relacionadas com o órgão tendinoso de Golgi? São os axônios sensoriais do
grupo 1B - lembrando que no fuso muscular são axônios do tipo 1A – e os do tipo 1B são um pouco menores
do que os axônios 1A. Então, as fibras sensoriais 1B vão levar a informação sobre a tensão muscular durante
uma contração isométrica. Esses receptores são praticamente insensíveis ao estiramento. Quando os músculos
se contraem as fibras do OTG são puxadas, comprimindo as terminações nervosas dos axônios 1B e assim se
cria o potencial de ação e a condução do estímulo. Há um reflexo relacionado a esse proprioceptor que é o
reflexo miotático inverso/reflexo do órgão tendinoso de Golgi. O nome diz reflexo miotático inverso, mas
esse reflexo não tem nada a ver com reflexo miotático em si e ele possui essa denominação porque é o inverso
do reflexo miotático. Então, em condições extremas onde o músculo recebe uma carga de força excessiva, o
OTG regula a tensão do músculo dentro de uma faixa considerada ótima. Caso a tensão do músculo aumente,
o órgão tendinoso de Golgi percebe e dispara um PA, conduzido por neurônio do tipo 1B, que chega no corno
dorsal da medula espinal. Lá, faz sinapse com interneurônio inibitório o qual inibe o neurônio motor alfa. Por
isso esse reflexo é chamado de reflexo miotático inverso, porque ao invés de contrair um músculo, como no
reflexo miotático, o músculo relaxa. O músculo relaxa porque recebe uma carga excessiva e assim evitamos
que se rompa. O neurônio motor alfa inibido causa o relaxamento do músculo. Temos como exemplo a queda
de braço, onde uma pessoa não consegue mais manter o braço porque não consegue mais contrair o músculo
e, pelo reflexo miotático inverso, o músculo relaxa. Lembrando também que possuímos receptores articulares,
os quais são relacionados com a propriocepção também. Se localizam no tecido conjuntivo das articulações e
são mecanossensíveis, respondendo principalmente à mudança de ângulo, direção e velocidade do movimento.
O reflexo flexor/reflexo de retirada protege o corpo de danos teciduais envolvendo as fibras de dor porque
envolve um estímulo nocivo. É um reflexo polissináptico porque envolve interneurônio, mas nem todos os
interneurônios são inibitórios, temos também excitatórios – como nesse reflexo. Esse arco reflexo ocorre
quando afastamos o membro de um estímulo nocivo, como quando fincamos o pé num caco de vidro e tiramos
o pé. A via aferente da dor conduz a sensação de dor primeiramente até a medula. O neurônio que conduz a
informação de dor faz sinapse com interneurônio excitatório – o qual estimula os neurônios alfa, as fibras
motoras do sistema motor somático. Dessa forma, flexionamos o músculo e assim temos o controle da flexão
do membro afetado para afastar o membro do estímulo nocivo. Os estímulos dolorosos repentinos induzem o
reflexo de retirada. Nesse estímulo também interneurônios inibitórios para os músculos antagonistas –
contrabalanceando o reflexo. Reforçando que na via do reflexo em si ela faz sinapse com interneurônio
excitatório e por isso é polissináptica, diferente do reflexo miotático.
Por que a dor só é sentida depois que retiramos o corpo da fonte do estímulo doloroso? Porque as vias
sensitivas da dor se encaminham para o córtex cerebral, mas o reflexo ocorre todo no circuito medular - então
o caminho percorrido para o reflexo é bem menor. Por isso que o reflexo antecede a sensação de dor, porque
o reflexo possui caminho curto, enquanto a sensação de dor ascende para o córtex somatossensorial.
Notamos então que o reflexo envolve um estímulo do ambiente e uma resposta do organismo. Então, quando
mencionamos um reflexo, estamos nos referindo as relações entre estímulo e resposta que especificam que
determinada mudança no ambiente gera determinada mudança no organismo. Já o reflexo extensor cruzado
acontece quando precisamos ajustar o nosso corpo para uma mudança de posição causada pelo reflexo flexor
– como ao equilibrar o corpo rapidamente no momento que flexionamos a perna em resposta ao caco de vidro.
Como esse reflexo é recrutado? Ao chegar a aferência de dor na medula e ocorrer as sinapses com os
interneurônios excitatórios, que estimulam os músculos flexores da coxa para tirarmos o estímulo nocivo, há
também o reflexo de retirada. As sinapses com neurônios inibitórios relaxam os músculos extensores e
concomitantemente temos sinapses com interneurônios excitatórios que vão estimular a contração dos
músculos extensores do membro oposto do corpo. Então, se o flexor contraiu do lado direito do corpo, no lado
esquerdo do corpo o extensor contrai. Assim temos o estímulo do antagonista do outro lado do corpo para que
possamos nos equilibrar. A via ascendente da dor também vai em direção encéfalo, onde a dor é processada e
assim conscientizamos a sensação de dor e toda a ocorrência desse reflexo.

Sistemas geradores de movimento


Como os movimentos são integrados pelo SNC? Primeiramente faremos uma associação do nosso cotidiano
para entender. Um simples movimento requer que os grupos musculares sinergistas e antagonistas se
contraiam em sequência apropriada. O organismo pode continuamente ajustar a posição para compensar as
diferenças entre o movimento pretendido e o movimento real. O que significa isso? Como exemplo, temos
um jogador que pensa em chutar a bola e fazer gol. Mas, quando ele vai dar o chute, escorrega na grama
molhada e iria cair se o corpo não se ajustasse. O corpo vai tentar se adaptar, compensando a situação real a
partir da mudança de posição. Os músculos não conseguem se comunicar entre si e por isso fazem a
comunicação através do SNC, onde ocorre a integração das mensagens e assim o controle do movimento. Os
nossos movimentos envolvem respostas integradas, coordenadas e que necessitam da sinalização encefálica.
Quais são os tipos de movimentos que podemos executar? Primeiramente temos os movimentos reflexos, que
podem ocorrer sem qualquer tipo de estímulo proveniente de centros encefálicos superiores, podendo ser
integrados na medula. São relacionados com músculo esquelético, cujos aferentes são neurônios motores
somáticos, ou com o tronco encefálico, alguns reflexos podem ser integrados nele - como logo veremos. Então,
os reflexos são tipos bem simples de movimento, necessitando de um estímulo para acontecer e podendo ser
modulados por informações provenientes de centros encefálicos superiores – não dependendo desse cento
superior do córtex cerebral para acontecer. Os reflexos podem ocorrer a nível medular, podendo ser
completamente integrados na própria medula, ou ascendendo e sendo integrados no tronco encefálico, até o
cerebelo, e temos reflexos à nível de encéfalo - principalmente relacionado com o tronco encefálico. Os
reflexos podem ascender ainda para o córtex cerebral e depois para o tálamo. O encéfalo, de modo consciente
ou inconsciente, manda mensagens que podem modular outro centro de integração por vias descendentes. Os
reflexos posturais são um tipo de reflexo integrado no tronco encefálico e ajudam a manter a posição do
corpo quando estamos parados ou em movimento – sendo o ajuste postural do exemplo do jogador de futebol.
Esse reflexo depende de sensores de propriocepção da nossa visão, do som e do equilíbrio. Então, essas
informações são, por exemplo, provenientes do centro vestibular do equilíbrio da nossa orelha e até dos
próprios grupos musculares porque neles há receptores de propriocepção.
Além disso há o movimento voluntário, que pode ser
originado a partir de estímulo externo ou não. Ele pode
também ser gerado a partir de uma motivação própria, de
uma vontade nossa, sem nenhum estímulo externo. Por
exemplo quando tocamos piano, dirigimos, pintamos uma
tela etc. A execução desses movimentos vai melhorar
com a prática, então são apreendidos e podem sem ser
melhorados. Com o tempo podem ser tão melhorados e
tão apreendidos que se tornam praticamente
inconscientes devido a memória muscular. O músculo
gera uma memória porque vias ativadas muito
frequentemente acabam se tornando muito corriqueiras e
o SNC memoriza aquela via. O movimento voluntário é
mais complexo e é integrado no córtex cerebral.
Então, os estímulos que geram o movimento voluntário, seja esse estímulo externo ou interno, precisam ser
integrados no córtex cerebral - diferentemente dos reflexos. O movimento voluntário é diversificado e depende
de aprendizagem, por exemplo a fala, escrita, caminhar etc. Ou seja, a memória muscular é a capacidade que
o encéfalo possui de, inconscientemente, reproduzir posições e movimentos voluntários que foram
apreendidos. A maioria dos movimentos voluntários necessitam informações contínuas dos reflexos posturais
a fim de manter o movimento adequadamente.

O movimento rítmico possui início e o fim voluntário. Por isso precisamos ter consciência desse movimento,
e ele passa pelo córtex. O percurso, durante o movimento, muitas vezes é involuntário - se torna inconsciente,
como caminhar e correr. Quando decidimos caminhar, o início dessa atitude é voluntário - movimento que
depende de motivação, depende dos sinais provenientes do córtex – mas depois que começamos a caminhar
se torna automático. Então, esse movimento rítmico possui complexidade intermediária, sendo integrado na
medula, mas com necessidade de sinalização de centros superiores. Temos a atuação de circuitos geradores
de padrão que estão presentes na medula e a ativação dessas vias vai exigir aferência do tronco encefálico.
Ocorre a combinação de movimentos reflexos e voluntários e a forma rítmica do movimento pode ser
interrompida por sinais provenientes do encéfalo. A atividade rítmica do músculo esquelético é mantida por
grupos de interneurônios espinais, que atuam como um centro gerador de padrão central que contrai e relaxa
os músculos de modo alternado e repetitivo. Então, há a sinalização proveniente do córtex e uma vez que
começa esse movimento rítmico, as redes de neurônios do sistema nervoso central (geradores centrais de
padrão) vão manter essa atividade repetitiva a qual se tornar espontânea. Qualquer variação nessa atividade
rítmica, como quando estamos andando e de repente decidimos começar a saltar, também precisa de uma
mensagem proveniente do córtex porque mudamos o ritmo.

No sistema nervoso existem três níveis de organização:


▪ A medula espinal, que geram os movimentos reflexos, participa dos movimentos rítmicos e dos
movimentos voluntários; possui o centro geradores de padrão
▪ O tronco encefálico, que é responsável pelo controle postural, se relacionando com os reflexos posturais
e o movimento das mãos e dos olhos; também recebendo o comando do cerebelo – faz parte do controle
de movimentos finos.
▪ O córtex motor é o nível mais alto da hierarquia do controle motor e é onde os movimentos voluntários
são organizados. Lembrando que em todos os níveis de controle motor as aferências sensoriais vão trazer
as informações para elaboração dos movimentos.

Além desses três componentes, o sistema motor inclui os núcleos da base que recebem conexões do córtex e
são envolvidos com o planejamento da ação motora e com início do movimento – como exemplo, um dos
núcleos da base, a substância negra, tem conexão com a Doença de Parkinson porque está relacionada com a
produção de dopamina. O cerebelo também tem um papel importante porque ajuda nos ajustes posturais,
atuando no movimento pela integração das informações provenientes do córtex motor com as informações
provenientes dos receptores sensoriais. O trato corticoespinal é um trato descendente, com projeções neuronais
provenientes do córtex motor, com direção à medula espinhal. Esses axônios que vão para a medula passam
pelo tronco encefálico, mesencéfalo e no bulbo e a maioria das fibras cruzam para o lado oposto nas pirâmides.
Assim, continuam seu percurso descendente pelo trato corticoespinal lateral e chegam na medula. Lá, esses
neurônios podem fazer sinapse com os neurônios motores somáticos inferiores, que se projetam em direção
aos nossos músculos esqueléticos.

Trato corticoespinal

Resumo da integração dos reflexos musculares


HIPOTÁLAMO E SUAS FUNÇÕES SUPERIORES
O encéfalo compreende o cérebro, o tronco
encefálico e cerebelo. O mesencéfalo, a ponte e o
bulbo formam o tronco encefálico. O cérebro é
formado pelo telencéfalo e pelo diencéfalo. O
telencéfalo compreende os dois hemisférios
cerebrais, o direito e o esquerdo. Esses dois
hemisférios são separados pela fissura longitudinal
do cérebro e o corpo caloso liga um hemisfério ao
outro. O corpo caloso é formado por milhões de
fibras nervosas que cruzam de um lado para o outro.
O telencéfalo é constituído pela substância branca,
porção mais interna no cérebro, e a substância
cinzenta, porção mais externa que vai formar o
córtex cerebral. Há também substância cinzenta
espalhada dentro da substância branca, que são os
núcleos basais. Os núcleos da base são aglomerados
de corpos celulares neuronais que ficam localizados
dentro da substância branca. A parte externa da
substância cinzenta é onde se localiza o córtex. O
diencéfalo está situado entre o telencéfalo e o
mesencéfalo. O diencéfalo compreende o tálamo,
que é um centro de integração e de retransmissão de
mensagens de informações que vem da periferia,
passam pela medula, ascendem em direção ao
córtex e geralmente essas mensagens passam pelo
tálamo. O tálamo organiza as informações. Logo
abaixo do tálamo há o hipotálamo. O hipotálamo está conectado por um pedúnculo à glândula hipófise. A
glândula hipófise produz uma variedade de hormônios e está dividida anteriormente e posteriormente.
Anteriormente se chama adenohipófise e a porção posterior é chamada neurohipófise. A hipófise fica
pendente na base do crânio/encéfalo logo em cima do céu da boca. O hipotálamo representa uma porção
pequena da massa encefálica, em torno de 1%, mas é de extrema importância para o nosso funcionamento. O
hipotálamo tem uma variedade de funções muito importantes. O hipotálamo se inicia no quiasma óptico e se
estende posteriormente até chegar na borda no mesencéfalo. A glândula pineal tem um papel importante na
produção de melatonina a qual falaremos mais adiante. Relembrando que os ventrículos são sistemas de
espaços que são interligados e dentro deles há o líquido cefalorraquidiano circulando. Então, o terceiro
ventrículo é a cavidade do diencéfalo e o hipotálamo fica bem próximo da parede do terceiro ventrículo e
assim se conectam. O hipotálamo é importantíssimo na homeostasia e em diversos impulsos
comportamentais - o hipotálamo tem um papel importante na modulação do comportamento agressivo.
O hipotálamo é formado por muitos agrupamentos neuronais distintos, formando núcleos. Pode-se subdividir
esses núcleos em três colunas, a coluna que fica mais próxima da linha média é a coluna periventricular; a
coluna medial e o hipotálamo lateral. A coluna periventricular reúne os neurônios do hipotálamo que vão se
relacionar com o sistema endócrino, tendo relação com a glândula hipófise. As colunas lateral e medial vão
conversar muito mais ativamente com outras regiões do sistema nervoso. Essas duas regiões do hipotálamo
vão se conectar com diversas regiões do sistema nervoso, participando da coordenação de muitos
comportamentos motivados e da coordenação da regulação da homeostasia. A coluna periventricular é mais
relacionada com a glândula hipófise e com a regulação hormonal a qual ele participa.

Funções do Hipotálamo
 Participa da regulação do Sistema Nervoso Simpático) controla a liberação de catecolaminas da medula
da suprarrenal, ajuda a manter a concentração de glicose sanguínea agindo no pâncreas endócrino e
estimula tremores e sudorese.
 Controla a osmolaridade corporal: estimula secreção de vasopressina e estimula tanto a sede quanto o
comportamento de sentir sede.
 Regula a função da hipófise: a partir da secreção de hormônios tróficos que regulam a liberação de
hormônios da adenohipófise.
 Regula a função reprodutora: regula a secreção de ocitocina e hormônios tróficos da adenohipófise, o
FSH e o LH.
 Outros: regula a temperatura corporal; regula a fome, estimulando o centro da saciedade e centro da fome;
regula o sono e vigília; gera e regula os ritmos circadianos*; síntese de hormônios; influencia o centro de
controle cardiovascular no bulbo; participa da geração de comportamentos emocionais a partir das
interações com o sistema límbico.
* Os ritmos circadianos são os nossos ritmos de claro-escuro, de dia-noite. O hipotálamo se conecta com muitas regiões
do cérebro, com outros sistemas. Há muitas informações chegando de receptores sensoriais e tudo é integrado ali.

O hipotálamo como secretor: as células neurossecretoras do hipotálamo projetam seus axônios para a neuro-
hipófise e ao chegarem no leito capilar eles liberam dois neurohormônios, a ocitocina e o ADH. O ADH é o
hormônio antidiurético, também conhecido como vasopressina, e esses dois hormônios são liberados na
corrente sanguínea. A ocitocina vai ser liberada durante as fases finais do nascimento de um bebê porque tem
o papel de promover a contração do útero facilitar o parto, além de estimular a ejeção do leite. Enquanto a
vasopressina/hormônio antidiurético é liberada em situações que se precisa preservar volume sanguíneo para
regular a pressão. Então, a vasopressina regula o volume e a concentração salina do sangue. Diferentemente
do lobo posterior da hipófise, o lobo anterior da hipófise (adenohipófise) é uma glândula. Então, essas células
da adeno-hipófise vão sintetizar e secretar uma grande quantidade de hormônios diversos – entre eles o TSH,
ACTH, prolactina, LH e FSH e GH. Para que esses hormônios sejam liberados pela hipófise eles precisam do
comando dos neurônios secretores do hipotálamo. Então, esses neurônios do hipotálamo vão regular as
secreções da hipófise e eles não estendem seus axônios até o lobo anterior, que nem no lobo posterior da
hipófise, mas sim terminam antes de chegar na hipófise. Eles vão se comunicar com as células secretoras da
hipófise por meio da corrente sanguínea, que é a circulação portal hipotálamo-hipofisária. No sistema porta,
uma rede de capilares, os neurônios hipotalâmicos vão liberar as suas secreções e esses hormônios liberados
pelo hipotálamo vão atuar nessas células secretoras da hipófise - fazendo, estimulando ou inibindo a secreção
dos hormônios hipofisários.

Importância do hipotálamo nos comportamentos


motivados: comportamentos motivados são movimentos
voluntários que fazemos na busca de satisfazer alguma
necessidade - fisiológica, comer e beber. Essa vontade
pode ser muito complexa, podendo vir de força instintiva
que não compreendemos muito bem. Distingue-se
atualmente entre querer algo e gostar de algo. Se gosta de
algo porque isso dá prazer, mas querer e ir atrás é diferente
– o querer está relacionado com a motivação do
hipotálamo. Quando por exemplo os usuários de drogas
por motivação, impulso interno, mas nem sempre aquela
droga dá tanto prazer.
Há regiões no cérebro que estão relacionados com o comportamento alimentar, localizadas no hipotálamo, e
é o comportamento que vai te fazer ir atrás da comida. Então o que se sabe atualmente é que temos regiões no
hipotálamo que estão mais relacionadas com a vontade de se alimentar e tem regiões que estão relacionadas
com a saciedade – se chama centro da fome. Quando há uma lesão no hipotálamo lateral, ocorre uma síndrome
hipotalâmica lateral caracterizada por anorexia - o animal deixa de procurar comida e emagrece muito.
Quando há lesão no hipotálamo ventro-medial ocorre a síndrome hipotalâmica ventro-medial que é
caracterizado por obesidade. Isso se viu através de um experimento com animais.

Como que o hipotálamo controla a fome e a sociedade, é sozinho


ou tem ajuda de algum hormônio? O hormônio leptina é liberado
pelos adipócitos e regula a massa corporal porque atua nos
neurônios do núcleo arqueado do hipotálamo. O núcleo arqueado
pode diminuir o apetite e aumentar o gasto energético, e a presença
da leptina tem esse papel, sinalizando o hipotálamo. Defeitos no
gene que codifica o hormônio leptina resulta em obesidade. Quando
há altos níveis de leptina no sangue, alguns neurônios
especializados do núcleo arqueado detectam-na e estimulam o
núcleo para-ventricular, que desencadeia várias ações relacionadas
com a saciedade e com a regulação do ganho de peso, também inibe
o comportamento alimentar desencadeado pela área hipotalâmica
lateral. Quando há níveis reduzidos de leptina, há estimulação de
outros neurônios do núcleo arqueado e estes farão o contrário. Eles
vão estimular a área lateral responsável pelo comportamento
alimentar e vão inibir o núcleo para-ventricular. O hipotálamo
também está relacionado com o comportamento de beber.

Como ocorre a regulação do comportamento de beber pelo


hipotálamo? Há dois sinais fisiológicos que vão estimular o
comportamento de beber, que é o comportamento de ingerir líquidos
para saciar a sede. Um deles é a diminuição do volume sanguíneo,
a hipovolemia, que desencadeia a sede volumétrica. A identificação
da redução no volume sanguíneo se dá pelos rins porque o fluxo
sanguíneo passa por lá. Quando os rins detectam a redução de fluxo
eles liberam um hormônio chamado renina, responsável pela
produção de angiotensina 2 a qual circula na corrente sanguínea e
sinaliza que o hipotálamo tem que liberar o hormônio antidiurético.
Então, há a liberação de ADH para preservar o volume sanguíneo e
diminuir a eliminação de urina. O segundo estímulo é o aumento da
concentração de substâncias dissolvidas no sangue, que são os
solutos, e assim chamada de hipertonicidade. Essa hipertonicidade
é detectada pelos osmorreceptores localizados no órgão vascular da lâmina terminal na lateral do hipotálamo.
Essa detecção da diminuição dos solutos no sangue desencadeia a liberação também do ADH/vasopressina e
gera vontade de ingerir líquidos.
Por fim, o hipotálamo tem mecanismos para regular a temperatura corporal. Possuímos uma tendência de
querer regular a temperatura para uma temperatura ótima interna e constante. Qualquer desvio de temperatura
pode causar danos nas nossas células e por isso possuímos os termorreceptores periféricos, na pele, e os
receptores centrais, localizados na medula, tronco encefálico e hipotálamo. Quando a temperatura interna
aumenta a tendência é dissipar energia. Então, quando temperatura aumentada atinge o sangue ela é detectada
pelos termorreceptores centrais. No hipotálamo há
a região pré-óptica e no hipotálamo anterior
também há alguns receptores de alteração de
temperatura. Como consequência, quando tiver
muito calor, há a diminuição do tônus vascular
simpático - o hipotálamo se comunica com sistema
simpático, diminuindo o tônus simpático,
promovendo vasodilatação periférica para que o
calor consiga se dissipar mais facilmente. Há o
aumento da sudorese para que o calor também se
dissipe e há o aumento da frequência da amplitude
respiratória – taquipneia. Tudo isso promove a
dissipação do calor. Quando for muito frio, há
vasoconstrição periférica, tremores para gerar
calor, aumento da secreção do hormônio
tireotrófico pela adeno-hipófise – por isso aumento
dos hormônios tireoidianos e assim aumento das
taxas metabólicas. Há também o aumento do
metabolismo de lipídios.

Ritmos circadianos: o hipotálamo está relacionado com os ritmos circadianos. Durante o sono, não
interagimos com o meio externo e conservamos energia. O sono tem diversas funções, não se sabe ao certo
exatamente qual é o propósito do sono ainda, mas provavelmente é organizar memória, estimular o sistema
imune, conservar energia etc. A maioria dos mamíferos apresentam um padrão de sono. Possuímos um padrão
alternado de repouso e atividade para que o organismo funcione esse padrão alternado de atividade está
relacionado com os ciclos biológicos. Ao longo das nossas horas de sono há uma alternância dos estágios do
sono. Então, esse ciclo de claro-escuro é muito regulado pelo relógio biológico. O relógio biológico é
governado principalmente por neurônios que estão localizados no núcleo supraquiasmático no hipotálamo.
O núcleo supraquiasmático recebe aferências da retina e ajuda a comandar o ritmo
circadiano. Quando o ciclo de sono é rompido, podemos ter transtorno de sono,
depressão, diabetes, obesidade etc. A glândula pineal também é um tecido
glandular de origem neural e ela vai secretar o hormônio melatonina sob comando
indireto do hipotálamo. A melatonina secretada pela pineal é um sinal químico
que vai atuar inclusive no hipotálamo, assinalando a duração da noite. Então, a
melatonina é conhecida como hormônio do escuro porque a sua secreção é
aumentada muito durante a noite – e quanto maior o período noturno, mais alta a
concentração de melatonina.

O núcleo supraquiasmático tem receptores de melatonina e vai regular/entender quando estamos no período
noturno e quando estamos no período diurno através da concentração de melatonina da corrente sanguínea.
Os ritmos circadianos não servem só para o estágio de sono-desperto, mas também para várias outras questões
da nossa fisiologia. Por exemplo a temperatura corporal é rítmica de acordo com o ritmo circadiano, como é
o caso do sono. Na vigília temos a temperatura corporal mais alta. A secreção de cortisol também cicla de
acordo com o ritmo circadiano: temos um aumento da liberação de cortisol no início da manhã, ao acordar e
essa secreção de cortisol diminui ao longo do dia - ficando mais baixa no final da tarde. O hormônio do
crescimento também cicla com ciclo circadiano, bem como a excreção de potássio pelos rins – é mais elevada
durante o dia do que durante o sono.

O que são as funções superiores? São as funções mentais responsáveis pelo processamento humano da
informação. Processamos, integramos e interpretamos a informação que chega e assim somos capazes de se
relacionar consigo e com o mundo. As funções superiores englobam a linguagem, a atenção, a memória,
aprendizagem, as emoções, a consciência - funções muito elaboradas. Para que isso tudo ocorra temos um
circuito neuronal de proporções gigantescas e esse circuito se interrelaciona para consigamos executar as
funções superiores. Falaremos de sistema límbico, memória e aprendizagem, mas antes precisamos relembrar
a organização do encéfalo.
A substância cinzenta do cérebro está localizada na parte mais superficial/externa do cérebro, compondo o
córtex cerebral. Os neurônios presentes no córtex se organizam na forma de camadas. A substância cinzenta
possui essa denominação porque nela estão presentes a maioria dos corpos neuronais dos neurônios - os
núcleos dos neurônios. Já na substância branca há os prolongamentos, que são os axônios, e essa substância
Branca é localizada mais internamente. Entretanto, não há apenas substância cinzenta no córtex, ela se faz
presente também em forma dos núcleos. Os núcleos, como os núcleos da base, são agrupamentos de corpos
neuronais que ficam localizados dentro da substância branca. É nessas regiões, incluindo o córtex, o sistema
límbico e diversos núcleos espalhados no cérebro, que se originam as funções superiores encefálicas. O
sistema límbico está muito relacionado com as emoções, mas o detalharemos posteriormente.

Sistema Límbico: é constituído por regiões que circundam o tronco encefálico – sendo o córtex ao redor do
corpo caloso, composto de substância cinzenta. Essa massa cinzenta é chamada de lobo límbico e compreende
o giro do cíngulo, o hipocampo (aprendizagem e memória) e amídala – emoção (agressividade) e memória.
Os seres humanos possuem uma capacidade de processamento cerebral infinita. Temos 86 bilhões de
neurônios e 16 bilhões desses estão localizados no córtex cerebral. O nosso enorme cérebro, que se
desenvolveu principalmente no córtex, nos deu propriedades que não existem ou que existem de forma muito
primitiva em outras espécies. No córtex que possuímos os mais altos níveis de análise crítica sintética, onde a
nossa visão de mundo é formada, analisada, planejada e programada para que executemos as ações. Uma das
coisas que nos diferenciam das demais espécies de animais é termos um córtex cerebral muito desenvolvido,
dotado de muitos neurônios, e assim processamos informações no nível mais elevado do que outros animais
e outras espécies. O reflexo neural simples depende de um estímulo sensorial do ambiente interno ou externo
e assim gera uma resposta. Entretanto, no encéfalo é mais
complicado. Nele não ocorre um simples reflexo, mas sim
uma comunicação entre diferentes regiões do cérebro.
Então, possuímos a capacidade de gerar respostas na
ausência de qualquer estímulo externo, podendo responder
à estímulos intrínsecos.
Memória: temos diferentes regiões no nosso córtex cerebral: córtex frontal, parietal, occipital e temporal.
Cada região do córtex é responsável com uma determinada função. Como exemplo, no córtex parietal há o
córtex somatossensorial – sensibilidade -; no córtex occipital há a região visual – integrar os estímulos visuais
–; na parte temporal há o córtex auditivo e no córtex frontal há a área motora, anterior ao suco central.

O córtex pré-frontal é muito bem desenvolvido tem uma importância muito grande em diversas funções
superiores. No córtex pré-frontal ocorre o planejamento de comportamentos, pensamentos complexos,
expressão da nossa personalidade, tomada de decisões, modulação do comportamento social, etc.
O córtex pré-frontal é a sede da nossa personalidade.

Aprendizado e memória: é importante se diferenciar o aprendizado da


memória. O aprendizado é a aquisição de novas informações ou novos
conhecimentos, e a memória é retenção da informação apreendida.
Primeiramente a informação chega e vai para memória de curta duração – a
qual pode ser perdida ou armazenada – e se ocorrer um processamento e
consolidação dessa memória ela se transforma em memória de longa
duração. Para que a memória de curta duração seja realmente seja
consolidado e armazenada, precisamos exercer um esforço – que nada mais
é do que uma repetição.
Dessa forma, a memória de trabalho é uma forma muito especial de memória de curta duração que é
processada no lobo pré-frontal, no córtex pré-frontal. É essa região do corte que vai estar envolvida em manter
uma sequência de registros de informação por tempo suficiente para podermos utilizar esta informação a fim
de realizar uma tarefa. Alguns exemplos: quando o chefe solicita que cheguemos cedo no dia seguinte, ficamos
lembrando dessa informação o outro dia que chegamos cedo. A partir disso, de executar a tarefa,
provavelmente esqueceremos dessa informação. A memória de trabalho nos permite: fazer prognósticos;
planejar o futuro; retardar uma ação de tal forma que a informação sensorial pode ser avaliada até decidir a
melhor forma de resposta; resolver problemas complicados problemas matemáticos, legais e filosóficos;
considerar as consequências de ações motoras antes que sejam executadas; controlar nossas atividades de
acordo com leis morais etc. A memória de trabalho serve para consigamos viver o agora, conseguir executar
as ações e funções durante um curto período. Agora, sobre a memória de longa duração é a memória já
consolidada - ela pode ser declarativa ou não declarativa. A memória declarativa era conhecida como se uma
memória para fatos, para eventos. Como memorizar capitais e saber que o Chaves mora num barril. Nós vamos
armazenando essas memórias, mas para recuperá-las precisamos de um nível de consciência/esforço – como
lembrar do dia do casamento, aniversário de 15 anos etc. Já a memória não declarativa/memória reflexiva é a
memória para habilidades, hábitos e comportamentos. No início precisamos aprender esses
hábitos/comportamentos/habilidades – esforço consciente – mas depois que aprendemos ela se torna
automática, sem exigir esforço consciente para executá-la. Por
exemplo, tocar piano, tocar violino, tocar um instrumento
musical etc. Até as respostas emocionais relacionadas com o
condicionamento clássico também fazem parte da memória não
declarativa – como quando vemos uma cobra pela primeira e
depois aprendemos que é um animal perigoso, e por isso depois
sempre nos assustamos e saímos correndo. Temos como
exemplo também o ato de pegar o garfo para comer ou andar de
bicicleta. A memória reflexiva/não declarativa/memória de
procedimento é processada principalmente na amígdala e no
cerebelo, enquanto a memória declarativa é processada
principalmente nos lobos temporais.

Hipocampo: há uma região do cérebro muito relacionada com


armazenamento de memória de longo prazo, portanto com
aprendizado, que é o hipocampo. O hipocampo está localizado na
porção mais medial do córtex do lobo temporal. Ele tem o formato
de um cavalo-marinho (por isso o nome, hipo de cavalo). O
hipocampo também está relacionado com a memória relacional, que
é a pessoa relacionar uma memória com diversas outras coisas que
aconteceram quando a memória foi formada. Quando lembramos de
algo, a memória traz muitos outros fatos que estão relacionados com
ela. Quando lembramos de alguém e lembramos do cheiro dela. O
hipocampo, durante muito tempo, foi relacionado com a expressão
das emoções e hoje já se acredita que o campo não é tão relacionado
com as emoções, mas sim mais no armazenamento de memória.

O que são as emoções? São sentimento automáticas, inconscientes e são uma resposta a algo intenso repentino
que evoca uma sensação de amor, ódio, felicidade, tristeza etc. As memórias, por exemplo, trazem consigo
muitos sentimentos e associamos as lembranças à emoções e sentimentos. Todos os sentimentos são
importantes em algum determinado momento da nossa vida. A tristeza ela é necessária, o medo nos faz
sobreviver e embora alegria seja o melhor dos sentimentos ela não pode estar sempre protagonizando as nossas
emoções. Precisa-se balanço dos sentimentos e esse balanço está relacionado com nosso temperamento,
personalidade e motivação.
Lobo límbico da Broca: observou-se que todos os mamíferos eles possuem, na superfície medial do cérebro,
um grupo de regiões substância cinzenta. Então, o lobo límbico de Broca são coleções de áreas corticais que
forma uma borda ao redor do tronco encefálico. Com o decorrer da ciência, o lobo límbico de Broca foi
fortemente associado a emoções. Esse lobo corresponde ao giro cingulado, o hipocampo e amígdala.
Posteriormente, o neurologista Papez propôs que nessa parede medial do
encéfalo existe um sistema de emoção, o qual ligaria essa parte do córtex
cingulado com o hipotálamo. Ele acreditava que o giro do cíngulo estava
muito envolvido nas nossas emoções. Papez notou então que há ali uma
interconexão entre o córtex cingulado, o hipocampo e o hipotálamo - essas
informações passam pelo tálamo e voltam para o córtex cingulado. Hoje
sabe-se que alguns componentes de circuito de Papez, como o
hipocampo, não são mais considerados importantes para a emoção.

Então, embora ainda se use o termo sistema límbico para relacionar um possível sistema que esteja relacionado
com as emoções, é muito complicado resumir todo esse sistema. Isso porque a emoção está relacionada com
várias regiões do nosso cérebro é muito difícil definir algumas estruturas específicas que estejam relacionadas
com as nossas emoções. O sistema límbico age ligando as funções cognitivas superiores, como raciocínio, e
as respostas emocionais mais primitivas, como medo. Ao falar de sistema límbico, não se pode deixar de lado
o córtex pré-frontal pois está intimamente relacionado as emoções. Se realizava lobotomia para retirar uma
parte do córtex pré-frontal a fim de tratar esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar. Acreditava-se que
quando se retirava na parte do córtex pré-frontal, a pessoa ficava mais calma e tranquila. Então, o córtex pré-
frontal está relacionado com nosso planejamento de comportamento, pensamento complexo, expressão da
personalidade, tomada de decisão, modulação do comportamento social, comportamento moral etc. Em muitos
casos a lobotomia deixava os paciente como vegetais ou simplesmente tornava-os doces e passíveis, fáceis de
controlar. A lobotomia pré-frontal tem um efeito calmante porque destruía as conexões do córtex frontal e do
córtex cingulado - alterando o sistema límbico. A pessoa perde a capacidade de resolver problemas complexos,
de executar tarefas sequenciais e diversas ao mesmo tempo, reduzia a agressividade, perdia ambição, perda
da moral e das restrições das atividades sexuais e era incapaz de acompanhar longas linhas de raciocínio.

Empatia é algo que nos diferencia de outras espécies. É a capacidade de interpretar o estado mental do outro
e de se colocar no lugar dele. A empatia é fundamental para nossas relações humanas e basicamente todos os
seres humanos são empáticos, com exceção dos psicopatas. Está relacionada também com o córtex pré-frontal.
Amígdala: está relacionada com medo e agressividade. Lesões na medula reduzem o medo e a agressividade,
consequentemente. Uma pessoa com lesão na amígdala não consegue interpretar uma expressão facial de
medo e apontará que a pessoa está feliz, com fome, ou qualquer outra coisa diferente de medo. A amígdala é
a região no lobo temporal logo abaixo do córtex e que está conectada à pontinha do hipocampo. Há também
outras regiões relacionadas com agressividade, como hipotálamo e hipocampo.

Aprendizado
Como sabemos que realmente aprendemos algo? Só realmente saberemos quando posteriormente acessarmos
essa memória. O aprendizado não resulta em um comportamento aparente, como quando estamos lendo um
livro ou assistindo uma aula - será que pessoa olhando externamente seria capaz de dizer que realmente
estamos aprendendo? Na verdade, não, e só vamos detectar o aprendizado depois quando a memórias for
acessada. Existem dois tipos de aprendizado, o associativo e o não associativo. O exemplo dos cães de Pavlov
é o mais clássico quando falamos de aprendizado associativo. É o aprendizado que ocorre quando dois estilos
estão associados um ao outro. Nesse experimento Pavlov simultaneamente oferecia comida aos cães e tocava
um sino. Depois de um tempo os cães começaram a associar a campainha a comida, e se escutassem apenas o
sino eles já começavam a salivar. O aprendizado não associativo envolve um estímulo único. Ele inclui a
habituação e a sensibilização. A habituação é a redução da resposta frente a estímulos não nocivos que se
repetem várias vezes. É quando aprendemos a ignorar o estímulo que não é significativo para nós, como
quando ignoramos as conversas paralelas num ônibus. Na primeira vez que isso acontece, podemos notar e se
irritar com o barulho, mas quando isso acontece repetidamente nós aprendemos a ignorar aqueles sons. Então
a gente aprende a ignorar estímulos que não são importantes para nós. A sensibilização, que também está
relacionada com aprendizado não associativo, é o oposto da habituação. A sensibilização acontece diante de
um estímulo nocivo/ameaçador e a resposta subsequente – quando formos expostos novamente aquele
estímulo - vai ser exacerbada. Um exemplo é quando comemos camarão estragado e, diante desse estímulo
nocivo, vamos passar mal só de pensar. Tanto a habituação quanto a sensibilização nos permitem sobreviver
e permitem que a gente viva a melhor no ambiente que a gente estamos.

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