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STATUS

ASMÁTICO

Dra Nilza Mussagy


Pediatra e intensivista

Dezembro de 2021
INTRODUÇÃO
 Asma é a doença crónica mais comum na infância, afectando
cerca de 20% das crianças.

 Cerca de 339 milhões de pessoas sofrem de Asma em todo o


mundo. Destas menos de metade estão controladas e 60% são
crianças. Dados de 2018.

 Portadores de asma grave não controlada procuram 15 vezes


mais os serviços de emergência médica e são hospitalizados 20
vezes mais que os asmáticos moderados.
BREVE HISTORIAL
 A 1a descrição da crise de
Asma foi feita pelo físico
Grego Aretaeus da
Cappadócia. A palavra
“asma” provém da palavra
grega “aazein” que
significa “ofegante”.
PREVALÊNCIA

OMS 2018
DEFINIÇÃO
 Asma: é uma doença inflamatória crónica associada à
hiperreatividade das vias aéreas.

 Crise asmática: é um episódio agudo de obstrução do


fluxo aéreo que ocorre devido ao quadro de inflamação
crónica e hipersensibilidade de vias aéreas.

 Status asmático: crise asmática que não melhora após o


uso de broncodilatores e corticóide.
FACTORES DESENCADEANTES
 IVRS
 Alergenos (pólen,
ácaros,etc)
 Tabagismo passivo

 Poluentes

 Exercício físico

 Medicamentos (AINE’s,
ß-bloqueadores, AAS)
 Stress ou emoções fortes
FISIOPATOLOGIA
DIAGNÓSTICO
 Clínica –tosse recorrente, seca, com sibilos (++
expiratórios) e dispneia, podendo ser precedida de
resfriado.

 Antecedentes –história pessoal e familiar de


atopia/asma.

 Grupo etário – rara antes de 1 ano de idade.


ABORDAGEM
 Anamnese:

 Crise actual- duração dos sintomas, factores


desencadeantes e medicamentos em uso.

 Crise anterior- data, nr de crises neste ano e


internamentos por Asma e melhor Peak flow.

Grau de recomendação C
ABORDAGEM
 Exame físico:
 Nível de consciência e capacidade de
falar
 Cianose
 Uso da musculatura acessória

Grau de recomendação C
SCORE DE GRAVIDADE: ESCALA DE WOOD-DOWNES

 Menor de 5: Crise leve


 De 5-6: Crise moderada
 De 7 para cima: Crise grave
0 1 2
Cianose Nenhuma Em ar ambiente Com O2 a 40%
Murmúrio Normal Desigual/ausente Diminuído
vesicular
Uso de músculos Nenhum Moderado Máximo
acessorios

Sibilos Nenhum Moderado Acentuado


expiratórios
Função cerebral Normal Deprimido/agitado Coma
Clínica/ Leve-moderada Grave Muito grave
Laboratorial
Impressão geral Sem alterações Palidez Cianose/Suderese
CLASSIFICAÇÃO DE EXACERBAÇÃO
Estado mental Normal Agitado/Irritado Confusão/Torpor
Dispneia Ausente/Leve Moderada Grave
Fala Frases completas, Frases pausadas, choro Ausente ou
choro forte curto, dificuldades na dificuldades de
alimentação alimentação

Esforço Ausente/leve Moderado/acentuado Acentuado/ausente


respiratório
Sibilos Leve/moderados Intensos e bifásicos Ausentes
expiratórios
FR Normal ou ↑ ↑↑ ↑↑↑ ou ↓
FC Normal ou ↑ ↑↑ ↑↑↑ ou ↓
SatO2 >95% 91-95% <ou=90%
pO2 Normal ~60mmHg <60mmHg
pCO2 <45mmHg <45mmHg >45mmHg
EXAMES COMPLEMENTARES
 Rx de tórax indicado se:
 Suspeita de Pneumotórax ou enfisema mediastinal
 Má resposta ao tratamento ou necessidade de ventilação
mecânica
 Febre+infecção suspeita

Grau de recomendação A
EXAMES COMPLEMENTARES

 Hemograma e proteína C reativa (se suspeita de


infecção)
 Gasometria arterial (inicialmente alcalose e depois
acidose respiratória)
 Pico de fluxo expiratório
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
COMORBIDADES
 Refluxo gastroesofágico
 Obesidade

 Rinite alérgica

 Disfunção de cordas vocais

 Rinossinusite crônica

 Polipose nasal

 Ansiedade

 Depressão

 Apneia do sono

 DPOC

 Aspergilose broncopulmonar alérgica

 Bronquiectasias
TRATAMENTO
 Tratamento chave:
 Broncodilatadores
 Corticóides

o Vias de administração:
 Inalatória
 Oral
 Endovenosa
VIA INALATÓRIA
 A melhor para o tratamento da Asma
 Usa menores doses e tem menos efeitos colaterais

 Os efeitos colaterais são locais e não sistémicos

 Início de acção mais rápido, do que a via oral

 O tamanho das partículas deve ser de 2-5μm


VIA INALATÓRIA
 Inaladores pMD (bombinhas)
 Espaçadores

 Inaladores de pó seco

 Nebulizadores
VIA ORAL
 Dose maior que a via inalatória e portanto com mais
efeitos colaterais sistémicos
VIA PARENTERAL
 Efeitos colaterais são frequentes devido a altas
concentrações plasmáticos do fármaco.
BRONCODILATADORES
 Promovem relaxamento do músculo liso e causam
reversão imediata da obstrução da via aérea

 Pertencem a 3 classes:
 ß2 adrenérgicos agonistas
 Anticolinérgicos
 Metilxantinas
ẞ2 ADRENÉRGICOS
 Salbutamol: início em <5min, efeito dura 3-6h. Via oral,
inalatória e EV
 Formoterol (início + rápido) e Salmeterol: efeito dura
>12h, via inalatória, em combinação com corticóides
(Fluticasona/Budesonida)
 Efeitos Colaterais (EC): ++ VO/EV. Tremores,
taquicardia/palpitações, hipocalemia, agitação,
hiperglicemia, hipoxemia e aumento de lactato.
ANTICOLINÉRGICOS
 Brometo de Ipratrópio:
início em 30-60min, dura
6-8h, via inalatória
 Existe em associação com
Salbutamol
 EC: secura da boca
METILXANTINAS
 Inibidores nao selectivos da Fosfodiesterase
METILXANTINAS

 EC: náuseas e vómitos,


cefaleia, epigastralgia,
poliúria, arritmias e
convulsões
SULFATO DE MAGNÉSIO
 Inibe a entrada de cálcio no músculo, gerando
relaxamento do músculo brônquico, menor liberação de
histamina e de acetilcolina.
 EC: hipotensão, fraqueza muscular e arritmias.
CORTICÓIDES
CORTICÓIDES
 VO, EV, Hidrocortisona
início mais rápido 5-6h
ANTAGONISTAS DOS LEUCOTRIENOS
 montelucaste
ANTAGONISTAS DOS LEUCOTRIENOS
 EC: disfunção hepática,
síndrome de Churh-
Strausss
TRATAMENTO DE 1ª LINHA
 Salbutamol spray (100µg/jato): 1 jato/4Kg. Max: 10
jatos/dose.

 Salbutamol (5mg/mL): 0,15 mg/kg (0,03ml/Kg). Max: 5


mg/dose.

Fazer ataque de 15/15min 3x e depois manutenção de 1/1h


ou 2/2h ou 3/3h ou 4/4h ou 6/6h

Grau de recomendação A
TRATAMENTO DE 1ª LINHA
 Metilprednisolona: 2mg/Kg e depois 1mg/Kg de 6/6h. Max
60mg/dose.

 Hidrocortisona: 10mg/Kg e depois 5mg/Kg de 6/6h. Max


200mg/dose.

 Prednisona ou Prednisolona: 1-2mg/Kg/dia, 1-2x/dia. Max


40mg/dose.

Não há diferença no tempo de acção entre via EV ou oral.

Grau de recomendação A
TRATAMENTO DE 2ª LINHA
 Brometo de Ipratrópio solução para nebulização (0,25 mg/2mL ou
0,5mg/2ml)
 < 10 kg: 0,125 mg
 10-20 kg: 0,250 mg
 > 20Kg: 0,50 mg

 Brometo de Ipratrópio spray (0,020 mg/jato)


 < 5 anos: 2 jatos/dose
 > 5 anos: 4 jatos/dose
 Adolescentes: 4-8 jatos/dose

Fazer ataque (com Salbutamol) de 15/15min 3x e depois manutenção


de 4/4h ou 6/6h
TRATAMENTO 3ª LINHA
 Aminofilina ataque 5-6mg/Kg EV em 20-30min e depois
manutenção 3mg/Kg de 8/8h
TRATAMENTO DE 4ª LINHA
Sulfato de magnésio 50% (500mg/mL): 25-75
mg/kg/dose. (Máximo: 2 g)
- Diluir a uma concentração de 60 mg/mL (máximo 200
mg/mL)
- Infusão lenta (45-60min)
TRATAMENTO DE 5ª LINHA
Para os cuidados intensivos:
 Salbutamol intravenoso 10-15mcg/Kg em 10min e
depois 0,2-8mcg/Kg/min
 Aminofilina EV em infusão contínua 0,5-1mg/Kg/h

 Ventilação não invasiva

 Ventilação mecânica
CRITÉRIOS DE INTERNAMENTO NA UCIP
 Paragem cárdio-respiratória, instabilidade hemodinâmica
ou insuficiência respiratória (pO2<60 ou pCO2>40)
 Uso de musculatura acessória: mais de 1

 Deterioração do nível de consciência

 Necessidade de ventilação invasiva ou não invasiva,


inalações frequentes, Salbutamol EV e monitorização
contínua.
CRITÉRIOS DE INTUBAÇÃO
 Fadiga respiratória
 Alteração do nível de consciência

 Bradicardia ou sinais de baixo débito cardíaco

 Acidose respiratória

 pCO2>55 ou aumento 5mmHg/h

 pO2<60 com FiO2: 1


LEMBRETES
 Considerar fisioterapia respiratória desde a entrada.
 Considerar antibióticos e antiviral se não houver melhora
apesar do tratamento efectuado. Macrólidos
(Azitromicina ou Claritromicina) e Oseltamivir.
 Heliox (70%: 30%).

 Manter SatO2>91%- O2 pela cânula nasal ou máscara


facial
 Dar alta com profiláctico e controle em 48h.
CARDEX DA UCIP
 Aerossol de Duolin de 4/4h  Oseltamivir
 Hidrocortisona 5x4 ou
Prednisolona 1x2
 Aminofilina 0,5-1mg/Kg/h

 Sulfato de Mg 50-75x3 Peso Dose


 Azitromicina 10x1 < 15 Kg 30mg x 2
 Ceftriaxona 50x2 > 15Kg- 45mg x 2
23Kg
 Oseltamivir de acordo com >23-40Kg 60mgx2
a idade >40Kg 75mgx2
 Omeprazol 1x2

 Montelucaste em crianças
ESCOLHA DO PROFILÁCTICO
 Avaliação do controle dos sintomas
 Fatores de risco

 Capacidade de usar o dispositivo de forma correta e


custo)
 Preferência do paciente pelo dispositivo inalatório,

 Disponibilidade do medicamento
PROFILAXIA EM MENORES DE 6 ANOS
PROFILAXIA DOS 6-11 ANOS
PROFILAXIA MAIORES DE 12 ANOS
CONTROLE AMBIENTAL
 Evitar tapetes e cortinas/ lava-las 1x/semana
 Evitar varrer o chão, mas sim, passer um pano húmido

 Evitar cera, perfumes e amaciantes de roupa

 Evitar peluches

 Evitar insuficiência de vitamina D na gestante asmática


COVID E ASMA
 Asmáticos não têm maior risco de contrair COVID-19
 Asmáticos bem controlados com Asma leve-moderada,
não têm maior risco de COVID grave
 Asmáticos bem controlados não têm risco maior de
morte, mas os que tiveram crise e usaram corticóide
recente tem
 Evitar fazer nebulizações, pra reduzir o risco de
disseminação
 Fazer um intervalo de 14 dias entre a vacina de Influenza
e COVID
BIBLIOGRAFIA
Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020

Manejo das exacerbações da asma na população pediátrica: uma revisão sistemática. Sara Manti , et al. European
Respiratory Review 2021 30: 200367; DOI:10.1183 / 16000617.0367-2020

Guiaprático de abordagem da criança e do adolescente com asma grave: Documento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e
Imunologia e Sociedade Brasileira de Pediatria. Herberto J. Chong-Neto, et al. Submetido em: 06/01/2020, aceito em: 15/01/2020.
Arq Asma Alerg Imunol. 2020;4(1):3-34
A pocket guide for health profesionals,GINA 2019

GLOBAL ASTHMA REPORT, 2018. Acessado em 11 de Dezembro através do endereço:​https://​


www.globalasthmareport.org​.

GLOBAL INITIATIVE FOR ASTHMA. Acessado em 11 de Dezembro através do endereço:​https://ginasthma.org

Luciana Indinnimeo et al, Guideline on management of the acute asthma attack in children by Italian Society of
Pediatrics, . Italian Journal of Pediatrics 2018.

Asthma:
diagnosis, monitoring and chronic asthma management NICE guideline Published: 29 November 2017
www.nice.org.uk/guidance/ng80

Steven L. Shein, et al, Tratamento atual de crianças com asma crítica e quase fatal, Revista Brasileira de Terapia
Intensiva. 2016
OBRIGADA

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