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Guia do Episódio de Cuidado

Crise Asmática em Crianças e Adolescentes -


Diretrizes para o diagnóstico e tratamento

1. DEFINIÇÃO
Episódios caracterizados por um aumento progressivo dos sintomas de dispneia, tosse, sibilos, sensação de aperto
no peito e diminuição progressiva da função pulmonar, representando uma alteração no estado basal do paciente
que exige uma mudança no tratamento. As exacerbações podem ocorrer em pacientes com diagnóstico prévio de
asma ou, ocasionalmente, como a primeira apresentação da doença.

2. DIAGNÓSTICO E EXAMES ADICIONAIS

O diagnóstico é eminentemente clínico: presença de sintomas respiratórios como dispneia, tosse, sensação de aperto
no peito, associados a um quadro de broncoespasmo.
Na avaliação inicial, anamnese e exame físico devem incluir:
- início dos sintomas e causa (se conhecida);
- histórico de hospitalização, intubação orotraqueal e ventilação mecânica;
- uso atual ou recente de corticosteroides;
- uso de medicações de resgate;
- sinais vitais (temperatura, frequência respiratória, frequência cardíaca e pressão arterial), nível de consciência, uso
de musculatura acessória;
- fatores complicadores (anafilaxia, pneumonia, atelectasias);
- outras condições que podem explicar dispneia aguda (aspiração de corpo estranho, obstrução laríngea, insuficiência
cardíaca).

Indicação de exames complementares


Oximetria de pulso: medidas seriadas auxiliam na avaliação da gravidade e resposta.
Exames laboratoriais: não são necessários na maioria dos pacientes e não devem atrasar o início do tratamento da
crise.
Radiografia de tórax: não é recomendada rotineiramente, a menos que paciente não responda ao tratamento inicial
ou haja suspeita de complicações cardiopulmonares (pneumonia, pneumotórax, atelectasia, pneumomediastino,
aspiração de corpo estranho etc). Podem estar relacionados com alterações radiológicas: febre, ausência de história
familiar de asma, achados localizados no exame físico pulmonar.
Gasometria arterial (PaCO2): deve ser considerada em pacientes com crises graves que não respondem ao
tratamento inicial ou estão deteriorando. Fadiga e sonolência sugerem que pCO2 pode estar aumentando. PaO2<60
mmHg e PaCO2 normal ou aumentada (especialmente >45 mmHg) indicam insuficiência respiratória.

3. ESCORE DE RISCO

LEVE MODERADA GRAVE


Sintomas
Falta de ar Andando Falando Em repouso
Lactente Dificuldade de se Para de se alimentar
alimentar
Fala em Frases completas Frases entrecortadas Palavras
Estado mental Normal Normal/alterado Alterado
Achados clínicos
Frequência respiratória Normal/aumentada Aumentada Aumentada
(FR)*
Sibilos Moderado, final da Intenso, durante expiração Intenso, inspiratório e
expiração expiratório
Dispneia Leve/ausente Moderada Intensa
Frequência cardíaca Normal Aumentada Muito aumentada
Avaliação funcional
Sat O2 em ar ambiente >95% 91 – 95% ≤90%
PaO2 Normal ≥60 mmHg <60 mmHg
PaCO2 Normal <42 mmHg ≥42 mmHg
*Idade FR normal FC normal
<2 meses <60 ipm <180 bpm
2-12 meses <50 ipm <160 bpm
1-5 anos <40ipm <120 bpm
6-8 anos <30 ipm <110 bpm
4. INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO E ALOCAÇÃO ADEQUADA

Critérios para internação Critérios para conversão para terapia oral

Presença de sinais de insuficiência respiratória mantida após Assim que o paciente tolerar a administração do
tratamento inicial (dispneia, uso de musculatura acessória, corticoide por via oral (prednisona via oral tem
efeito equivalente ao da metilprednisolona
hipoxemia).
endovenosa).
Critérios para internação em UTI

Crises moderadas ou graves, que evoluem sem resposta às medidas


iniciais e/ou com deterioração clínica. Critérios de alta

Paciente com boa resposta ao tratamento


inicial, sem desconforto respiratório e Sat O2
>94%. A criança deve estar sem desconforto e
em ar ambiente.

5. TRATAMENTO

Tratamento inicial
• Inalação com broncodilatadores de ação rápida, preferencialmente inalador dosimetrado (MDI) com máscara e espaçador.
• Início precoce de corticosteroides na crise grave e na crise leve em > 6 anos.
• Suplementação de oxigênio de acordo com a gravidade da crise e resposta às medidas iniciais .

Duração do Tratamento
• Salbutamol inalatório 4 a 6x/dia por 5 dias.
• Corticoide oral por 5 dias (se recebeu no atendimento).

Indicação de exames de controle durante o tratamento:


• Não há.

Indicação de retorno ambulatorial, exames no retorno:


• Reavaliação ambulatorial com pediatra após 48 horas. Exames de acordo com o médico assistente.

• MEDICAÇÕES UTILIZADAS NO CONTROLE DA CRISE ASMÁTICA GRAVE NO PRONTO SOCORRO

Medicação Dose

Salbutamol aerossol (100 mcg/dose) 4-8 jatos a cada 20 min 3 vezes (inicial). Repetir conforme
necessidade.

Salbutamol sol. Inalação (5 mg/mL) 0,15 mg/kg, máximo 1mL, a cada 20 min 3 vezes (inicial).
Repetir conforme necessidade.

Brometo de Ipratropio sol. Inalação (0,25 mg/mL) <12 anos – 0,25 mg (20 gotas) a cada 20 min 3 vezes.
>12 anos- 0, 5 mg (40 gotas) a cada 20 min 3 vezes.

Brometo de Ipratrópio aerossol (20 mcg/dose) <12 anos – 4 jatos a cada 20 min 3 vezes.
>12 anos- 8 jatos a cada 20 min 3 vezes.

Corticóide sistêmico (prednisona/prednisolona VO ou 1-2 mg/kg/dia (máximo 40 mg/dia para <12 anos e 50 mg/dia
metilprednisolona EV) para 12-17 anos) a cada 12-24h.

Sulfato de Magnésio Dose inicial sugerida: 50 mg/kg EV) infundido em 20 min. Se


necessário completar para 75 mg/kg (máximo 2 g).

Salbutamol EV (0,5 mg/mL) Ataque: 10 mcg/kg EV.


Manutenção 0,1 a 1 mcg/kg/min EV (máximo 5 mcg/kg/min).

6. INDICADORES DE QUALIDADE

Total de prescrições de beta-2 agonista via inalador dosimetrado com espaçador (MDI) em relação ao total de casos de exacerbação de
asma leve e moderada atendidos nas UPAs.
7 . FLUXOGRAMA

Avaliação inicial: anamnese, exame físico, sinais vitais e oximetria.


Classificação de Gravidade:

LEVE MODERADA GRAVE


Salbutamol 400-800 mcg 3x a Manter SatO2>94% Manter SatO2>94% : avaliar máscara
cada 20’ Salbutamol 400-800 mcg 3x a cada 20’ não reinalante/ CNAF <10 kg: 2 L/kg;
Corticoide VO se >6 anos Corticoide VO (1-2 mg/kg/dia) >10 kg: 1 L/kg)
(1-2 mg/kg/dia) Considerar brometo de ipratrópio Salbutamol 400-800 mcg 3x a cada 20’
(80-160 mcg 3x a cada 20’) Brometo de ipratrópio 80-160 mcg 3x
a cada 20’
Corticoide VO (1-2 mg/kg/dia)
Considerar sulfato de magnésio 50-75
mg/kg

Reavaliação e reclassificação após início do tratamento

BOA RESPOSTA:
SatO2>94% SEM RESPOSTA:
Sem desconforto respiratório Desconforto respiratório grave
RESPOSTA INCOMPLETA: Confusão mental/sonolência
Sem melhora da oximetria Sat<90%
Mantém desconforto respiratório

SALA DE EMERGÊNCIA/UTI
Manter Sat>94%
Salbutamol a cada 30-60 min
OBSERVAÇÃO PEDIÁTRICA (máx. 4h) Sulfato de Magnésio se já não
Manter Sat>94% realizado
Salbutamol a cada 30-60 min Considerar salbutamol EV (ataque
Corticoide se já não realizado 10mcg/kg e manutenção 0,1-1
Considerar Sulfato de magnésio mcg/kg/min)
Considerar cateter nasal de alto
fluxo
Considerar heliox
Considerar VNI /IOT com SRI se
deterioração clínica

ALTA HOSPITALAR

Reavaliação clínica periódica

RESPOSTA INCOMPLETA:
Internação Hospitalar SEM RESPOSTA/DETERIORAÇÃO
Manter salbutamol 3/3h e corticóide CLÍNICA
Manter SatO2>94%

BOA RESPOSTA
SatO2 >95%
8. GLOSSÁRIO

EV: endovenosa PaO2: pressão parcial arterial de oxigênio


IOT: intubação orotraqueal PaCO2: pressão parcial arterial de gás carbônico
Sat: saturação VNI: ventilação não-invasiva
VO: via oral

Referências

[1] Global Initiative for asthma -GINA 2020, Scottish Intercollegiate guideline Network and British Thoracic society 2019 .
[2] Global Initiative for asthma (GINA).
[3] Scottish Intercollegiate guideline Network and British Thoracic society.
[4] J Bras Pneumol 2006; 32 Suppl 7:S447-74.
[5] Allergy 2008;63:5-34.
[6] Paediatric Child Health 2012;17 (5): 251-56.
[7] J Pediatr Pharmacol Ther 2013, 18 (2): 88-104.
[8] Stenson EK, Tchou MJ, Wheeler DS. Management of acute asthma exacerbations. Curr Opin Pediatr. 2017 Jun;29(3):305-310.

Código Elaborador: Revisor: Aprovador: Data de Elaboração: Data de Aprovação:


Documento: Beni Morgenstern Gaby Cecilia Haggeas Da Silveira 08/02/2022 08/02/2022
CPTW 168.2 Viviane Mauro Corrêa Yupanqui Fernandes
Meyer Guerra
Johnny de Lima Gomes Barboza

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