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Discussão:
Mesmo sem antecedentes psiquiátricos, a paciente abre um quadro clássico de reação aguda ao estresse,
o que é compreensível após um evento traumático dessa magnitude. Além disso, observa-se a instalação
processual de um transtorno de pânico com agorafobia.
Adicionalmente, é mandatório levarmos em consideração um episódio de violência sexual como um
evento clinicamente relevante, de modo que dele podem resultar infecções sexualmente transmissíveis
(ISTs) e gravidez.
Por fim, ainda não é claro se os sintomas físicos de queda de cabelo, bruxismo, perda ponderal e dis-
creto tremor de repouso em mãos são em decorrência do próprio transtorno de pânico ou representam a
instalação de uma doença clínica da tireoide. É mister lembrar que as doenças psiquiátricas são, invaria-
velmente, diagnósticos de exclusão.
Resposta:
• Hipóteses diagnósticas psiquiátricas: reação aguda ao estresse (CID 10: F43.0) e transtorno de
pânico (CID 10: F41.0).
• Hipótese diagnóstica não psiquiátrica: violência sexual (CID 10: Y05) e hipertireoidismo (CID 10:
E05).
Nardi AE, Silva AG, Quevedo J, organizadores. Tratado de psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 2022.
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2 CAP. 16 EXAMES DE LABORATÓRIO EM PSIQUIATRIA
Discussão:
É importante oferecer a essa paciente um espaço de acolhimento e explicar para ela o motivo da solicitação
de cada um desses exames, principalmente o exame de HIV. É preciso que a paciente saiba sobre a possível
janela imunológica da transmissão do HIV. Além disso, caso haja alguma alteração dos níveis de TSH e
T4 livre, é preciso encaminhar a paciente para uma investigação com endocrinologista. A solicitação do
beta-HCG quatro meses após o evento justifica-se se o ciclo menstrual da paciente estiver irregular e/ou
se ela estiver sexualmente ativa e não fazendo uso de métodos contraceptivos. A solicitação de eletrólitos,
funções metabólica, renal e hepática, hemograma e coagulograma entram em um contexto de conhecer
globalmente a saúde da paciente.
Resposta:
Sim, é necessário proceder-se a uma análise laboratorial. Pensando-se tanto na exposição sexual, quanto
nos sintomas clínicos apresentados, bem como na possível introdução de um tratamento psiquiátrico, é
preciso solicitar:
• Alguns exames gerais podem ser solicitados dependendo da disponibilidade de recursos e medica-
ções a serem introduzidas, como função renal, hepática, coagulograma e eletrólitos.
• Outros exames são mais mandatórios para investigação de causa orgânica e agravos decorrentes
da violência sexual: hemograma; funções metabólicas (perfil lipídico e glicemia de jejum); função
tireoidiana (TSH e T4 livre); beta-HCG; sorologias para HIV, sífilis, hepatite B (incluindo anti-HBs)
e hepatite C.
• Apesar de não ser um exame laboratorial senso estrito, podemos solicitar também um eletrocar-
diograma de repouso, para avaliação da taquicardia e dos paroxismos autonômicos.
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CAP. 16 EXAMES DE LABORATÓRIO EM PSIQUIATRIA 3
Discussão:
Refratário a dois antipsicóticos atípicos utilizados em doses terapêuticas e em um contexto em que a to-
mada regular das medicações está assegurada, o caso clínico 2 configura uma indicação de clozapina. Tais
pacientes refratários aos tratamentos antipsicóticos para esquizofrenia são justamente os que mais se be-
neficiam da terapêutica com clozapina.
Antes de se iniciar o tratamento, o médico fez certo em solicitar os exames já descritos, posto que a
nova medicação pode, além de alterar a crase sanguínea (levando ao risco de neutropenia), piorar a hi-
perlipidemia, favorecer mais ganho ponderal, entre outros riscos clínicos (sedação, sialorreia, etc.). Além
disso, o tratamento à base de clozapina, principalmente em sua introdução, demanda muito pragmatismo
e organização. Tais aspectos podem faltar no paciente com esquizofrenia refratária. Assim sendo, a família
ou alguma instituição de saúde deve responsabilizar-se pela garantia de que o paciente tomará a medica-
ção na posologia indicada, além de realizar os exames necessários conforme solicitado.
Na presente consulta, deve-se também orientar mudanças de estilo de vida (com vistas a reduzir o ris-
co metabólico) e garantir a compreensão por parte do paciente e seus pais a respeito dos riscos envolvidos
no tratamento, bem como dos potenciais benefícios.
Ao logo do tratamento, mais exames podem ser necessários. Além da rotina de hemogramas, o pa-
ciente deve coletar, de maneira periódica, o perfil metabólico (colesterol e glicemia de jejum) e funções
hepática e tireoidiana.
É válido lembrar mais três aspectos importantes:
• Em associação com valproato de sódio, a clozapina pode tanto favorecer trombocitopenia quanto
lesões a enzimas hepáticas. Em contrapartida, o valproato pode prevenir convulsões, bem como
mioclonias decorrentes do uso da clozapina.
• Como bom instrumento para avaliar a posologia prescrita, o paciente pode coletar dosagens séri-
cas de clozapina ao longo do tratamento, dependendo da resposta clínica.
• Pacientes tabagistas ativos, que fumam mais do que sete cigarros ao dia, podem precisar de doses
maiores da clozapina, já que essa quantidade de cigarros já é suficiente para induzir a enzima 1A2
do citocromo p450.1 Em contrapartida, o uso da clozapina é capaz de reduzir significativamente o
consumo de cigarros por dia de pacientes esquizofrênicos.
Resposta:
Iniciar o tratamento com clozapina e solicitar hemograma semanalmente nos primeiros seis meses.
Discussão:
Garantida a estabilidade clínica do paciente, está indicada a reintrodução da clozapina, posto que houve
boa resposta terapêutica por parte do paciente. Uma vez que ele se encontra ainda internado em leito de
hospital geral, é válido ser cauteloso e aumentar a frequência da coleta de hemogramas até que o paciente
tenha condições clínicas e psiquiátricas de receber alta hospitalar.
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Mesmo que no curso da covid-19 tivesse havido um episódio de leucopenia, tal evento não necessaria-
mente iria contraindicar a reintrodução da clozapina, e seria mais um motivo para reintroduzir a medica-
ção enquanto o paciente ainda estivesse internado.
Resposta:
Iniciar o tratamento com clozapina com paciente ainda internado em leito de hospital geral e solicitar he-
mograma diariamente nos primeiros dias. Depois, fazer seguimento laboratorial ambulatorial como se o
paciente estivesse começando de novo o tratamento, ou seja, hemogramas semanais por seis meses.
Referência:
1. Meyer JM, Stahl SM. The clozapine handbook. New York, NY: Cambridge University; 2019.
1. Com base neste relato de caso, quais as principais hipóteses diagnósticas que devem ser
levantadas ao término da primeira avaliação?
Discussão:
Trata-se de um quadro agudo de confusão mental, associado a elementos que permitem supor agitação e
inquietação, com desorganização do comportamento, sem rebaixamento do nível de consciência. O relato
recente de diarreia e os tremores observados ao exame são dados importantes. É necessário atentar para
o fato de tratar-se de uma paciente psiquiátrica de longa data, em troca recente de medicação. O quadro
confusional com desorientação alopsíquica não fala a favor de uma descompensação do quadro de base,
mas, sim, de delirium hiperativo. Corroboram esta hipótese a idade da paciente, relato de imobilidade e
redução de ingesta hídrica e alimentar recentes (relatados pelo acompanhante e observados pelo médico:
emagrecimento e desidratação 2+/4+) e diarreia. É necessário abrir o leque de possibilidades diagnósticas
para prosseguir na investigação da causa de delirium. No entanto, é possível supor como fator causal a in-
toxicação por lítio, que pode cursar com tremores, diarreia, taquiarritmias, e confusão mental.
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Resposta:
• Delirium hiperativo a esclarecer;
• Intoxicação por lítio;
• Transtorno bipolar (de base).
2. Quais exames complementares não podem ser dispensados para prosseguir no manejo
do caso?
Discussão:
Em relação às hipóteses iniciais, é indispensável solicitar rastreio infecto-metabólico completo, para in-
vestigação das causas de delirium: hemograma, eletrólitos, urina I, provas de função hepática e renal, glice-
mia, provas de atividade inflamatória e sorologias para hepatites, HIV e sífilis. Demais exames podem ser
solicitados, conforme suspeitas da equipe de clínica médica (neuroimagem, USG abdome total, culturas de
sangue e urina, etc.). Quanto à provável intoxicação por lítio, deve-se solicitar obrigatoriamente litemia,
função renal, função tireoidiana e eletrocardiograma.
Discussão:
Trata-se de valor compatível com diagnóstico de intoxicação por lítio. Neste nível, é necessário classificar
a intoxicação como grave. A intoxicação por si só pode explicar o quadro confusional no contexto de sinto-
mas neurológicos, além dos tremores e a história de diarreia nos dias que antecederam a ida ao serviço de
emergência. De outra forma, o quadro de delirium hiperativo pode ser explicado pela intoxicação por lítio,
sobretudo por tratar-se de paciente idosa, com estado geral prejudicado (desidratação, emagrecimento,
imobilidade recente).
Resposta:
Intoxicação por lítio grave é a hipótese confirmada, inicialmente, podendo explicar o quadro confusional
por sintoma direto dos elevados níveis séricos do fármaco, ou como fator predisponente de delirium em
paciente com idade superior aos 60 anos.
Discussão:
Em se tratando de um caso de TB, é adequado que a tentativa de tratamento de episódio depressivo deva se
basear, inicialmente, no uso de estabilizadores de humor. No caso em questão, como a paciente já estava
em uso de 1.000 mg/dia de divalproato, a substituição deste por lítio poderia ser uma conduta razoável.
No entanto, vale observar que a faixa etária da paciente (idade superior a 60 anos) e seu estado geral (a
princípio, piorado após o início do quadro depressivo) são dados que alertam para maior probabilidade
de intoxicação por lítio ou de efeitos colaterais graves (mesmo na ausência de intoxicação), como nefroto-
xicidade. Além disso, as diretrizes e evidências recomendam, amplamente, que a introdução de lítio seja
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acompanhada de investigação da função renal e tireoidiana, além de dosagem inicial da litemia após cinco
dias da introdução e de qualquer ajuste de dose do fármaco, o que não ocorreu, segundo o relato do filho.
Observar que foi orientado escalonamento por conta própria até dose alta do fármaco (1.200 mg/dia).
Resposta:
Seria importante pensar em outras possibilidades farmacológicas que não o lítio, nessa situação. Ao in-
troduzir o lítio, exames de função renal, tireoidiana e litemia deveriam ter sido solicitados. O aumento de
dose deveria ter sido mais parcimonioso, com dosagens seriadas de litemia, a cada aumento. O retorno
para avaliação clínica da paciente e sua adequação à nova medicação instituída poderia ocorrer em menos
de um mês. Essas condutas reduziriam o risco de intoxicação por lítio.
1. Qual a hipótese diagnóstica principal a ser levantada para o caso? Quais elementos do
enunciado corroboram esta hipótese?
Discussão:
Trata-se, seguramente, de um caso de catatonia. A catatonia é uma síndrome psiquiátrica grave caracteri-
zada, sobretudo, por negativismo passivo importante e imobilidade ou lentificação psicomotora extrema.
Corroboram esta hipótese a descrição de como o paciente foi encontrado na casa, o fato de estar vígil, po-
rém, não contactuante, o estupor e a flexibilidade cérea.
Resposta:
Hipótese diagnóstica: catatonia a esclarecer. Corroboram: passividade, imobilidade, negativismo, estupor
e flexibilidade cérea.
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CAP. 16 EXAMES DE LABORATÓRIO EM PSIQUIATRIA 7
Discussão:
Trata-se de um quadro psiquiátrico grave de início abrupto, em paciente previamente hígido, sem relatos
anteriores de tratamento psiquiátrico. Isso justifica a necessidade de esclarecimento diagnóstico, com des-
carte de causas orgânicas para a apresentação sintomática. No caso da catatonia, é necessário frisar que
as primeiras hipóteses devem ser afecções neurológicas, estando as causas psiquiátricas colocadas como
diagnósticos de exclusão. A catatonia de início agudo pode estar relacionada a atividade epilética não con-
vulsiva, neuroinfecções, encefalites autoimunes e neoplasias do sistema nervoso central (SNC).
Resposta:
Sim. Caso psiquiátrico agudo, apresentado na forma de catatonia, sendo imperativa a investigação neuro-
lógica.
Discussão:
No caso da catatonia, deve-se descartar, neurologicamente, atividade epilética, alterações estruturais (p.
ex., neoplasias) em SNC e neuroinfecção. Tomografia computadorizada ou ressonância nuclear do crânio
são necessárias para investigar hipóteses neoplásicas e neuroinfecciosas (por identificação de danos es-
truturais secundários à neuroinfecção). Eletroencefalograma é indicado para avaliação de atividade epi-
léptica. Sorologias e hemograma completo, com provas de atividade inflamatória, podem trazer dados que
aumentem a suspeita de infecção do SNC. Análise laboratorial do líquido cerebrospinal (LCS) é funda-
mental para investigar ou confirmar neuroinfecção ou encefalite autoimune (com pesquisas de anticorpos
específicos).
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