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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.

D Clínica Médica - Volume 5 2

VÍDEO DE INTRODUÇÃO

Grandes Síndromes
Endócrinas

Diagnóstico Diferencial Seção 3


(Hypothesis) Distúrbios do Metabolismo Mineral
(Distúrbios do Cálcio, Fosfato e Magnésio)
Grandes Síndromes Endócrinas Parte I – Distúrbios do Cálcio
Introdução Metabolismo do Cálcio
Paratormônio (PTH)
Seção 1 Vitamina D
Síndromes Tireoidianas Calcitonina
Parte I – Conceitos Gerais Hipercalcemia
Anatomia e Fisiologia Tireoidiana
Hipocalcemia
Avaliação da Função Tireoidiana
Parte II – Distúrbios do Fosfato e Magnésio
Avaliação da Anatomia Tireoidiana
Distúrbios do Fosfato
Distúrbios da Tireoide
Parte II – Hipertireoidismo e Tireotoxicose Hipofosfatemia (P < 2,5 mg/dl)
Definição Hiperfosfatemia (P > 4,5 mg/dl)
Manifestações Clínicas Distúrbios do Magnésio
Etiologia Hipomagnesemia (Mg < 1,5 mg/dl)
Doença de Graves Hipermagnesemia (Mg > 2,5 mg/dl)
Bócio Multinodular Tóxico
Outras Causas de Tireotoxicose Seção 4
Abordagem Geral Doenças da Estrutura Óssea
Casos Especiais Doença de Paget (Osteíte Deformante)
Parte III – Hipotireoidismo
Introdução Seção 5
Manifestações Clínicas Hipófise e Hipotálamo
Etiologia Introdução
Tireoidite de Hashimoto Principais Síndromes do Sistema Hipotálamo-Hipófise
Outras Tireoidites Hipopituitarismo
Hipotireoidismo Central Hiperprolactinemia
Abordagem Geral Acromegalia e Gigantismo
Casos Especiais
Parte IV – Bócio
Seção 6
Tumores Neuroendócrinos e Distúrbios
Seção 2
Poliglandulares
Síndromes da Suprarrenal
Parte I – Síndromes do Córtex Suprarrenal Tumores Neuroendócrinos (NETs)
Hipercortisolismo (Síndrome de Cushing) Distúrbios Poliglandulares
Hipocortisolismo
Hiperaldosteronismo MED R3 - CLÍNICA MÉDICA
Síndrome de Virilização
Parte II – Síndromes da Medula Suprarrenal Área de Treinamento M.E.D
Feocromocitoma Questões DE CONCURSOS
Incidentaloma comentários

clínica médica - VOLUME 5


M.E.D - 2017
ç ã o d e f e b r e in ic ia d a h á
r a in v e s ti g a ir o ú n ic o e á
Caso 1 n a d a p a r e p a r c e
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Além de descar tar doenças infecciosas, que outra


doença deve constar obrigatoriamente no diagnóstico
diferencial do quadro febril desta paciente?

Como investigar essa condição?

4
Como iniciar o tratamento dessa paciente?

Caso 2

Dona Selma, 82
anos, hiper tensa
e dislipidêmica, é
encaminhada a um serviço
de home care para
acompanhamento de quadro
demencial. Familiares negam
eventos cerebrovasculares
ou quadros demenciais
na família. Relatam
que ultimamente a paciente vinha se queixando de constipação e de
problemas estéticos pela rarefação de sua sobrancelha, principalmente Dentre as
no terço distal. medicações d
e
uso contínuo
Ao exame físico, nota-se PA 130 x 108 mmHg, FC 55 bpm, utiliza apena
força muscular 3+/5+ nos membros inferiores, com dificuldade s
Losartan,
principalmente para se levantar do leito e subir as escadas de seu sinvastatina
apar tamento.Apresenta ainda edema bilateral de membros inferiores e
AAS.
até raiz da coxa sem presença do sinal do cacifo. Realizou miniexame
do estado mental com resultado de 11 pontos, mostrando déficit
principalmente na área da atenção e de cálculo.
Exames laboratoriais mostram: Hb 10 g/dl; VCM 102fL ; Plaquetas
100.000/mm 3; colesterol total 280 mg/dl; LDL 180 mg/dl; HDL 50
mg/dl; triglicerídeos 150 mg/dl. Realizou TC de crânio recentemente
sem alterações significativas.

Que doença deve entrar obrigatoriamente no diagnóstico diferencial


do déficit cognitivo dessa paciente?

5
Que dados laboratoriais você utilizaria para
esclarecer este diagnóstico?

Qual a principal medida terapêutica e o principal cuidado que


devemos levar em consideração?

Joílson, 58 anos, tabagista inveterado,


por tador de DPOC, usuário de prednisona
C a s o 1 por conta de exacerbações frequentes do
quadro pulmonar é internado por queda da
própria altura seguida de fratura de fêmur
transtrocanteriana. Exames pré-operatórios
mostravam-se sem alterações e o paciente foi encaminhado
para o centro cirúrgico no mesmo dia. Como não tinha
levado sua última receita médica para o hospital, acabou
ganhando a prescrição padrão para os pacientes da
Or topedia. No terceiro dia de pós-operatório, Joílson
passou a apresentar episódio de vômitos, hipotensão
e dor abdominal. Medidas iniciais de reposição
volêmica foram ineficazes e o paciente necessitou
de aminas vasopressoras para o controle da PA.
Exames laboratoriais solicitados chamavam a
atenção pela presença de eosinofilia de 15%.
Em relação a este caso, pergunta-se:

6
Qual o diagnóstico sindrômico desse paciente e a
causa mais provável?

Como tratar esse quadro?

a s o 2
C Qual é a morbidade que justificaria
as alterações laboratoriais e o quadro
de osteoporose apresentados por esta
Dona Le on ard a, 60 an os , dá en trada nodade paciente? Qual é sua principal causa?
ho spi tal po r conta de fra tura na ex tre mi
dis tal do rád io direit o ao se ap oia r ap ós
que da da pró pri a alt ura . À an am nese, e
queixa -se de fra que za mu scu lar, mi algia Nã o
ar tralgi a dif usa há pelo me no s um an o. al
refere qualqu er como rbidade ou uso atu
de me dicamen to s, po rém tem his tó ria dema
ne fro lit íase há 6 meses e câ nce r de ma o
est ágio I tra tad o há 5 an os . Ap ós red uçã
da fra tura e im obiliz aç ão , o res ide nte Qual é o tratamento de escolha
da O r to pe dia , ma is pre ca vid o ap ós as ils on , para esta condição e a sua
intercor rên cia s an ter iores com o Sr. Jo complicação mais comum?
de cid e so lic ita r pa recer am bu lat or ial à ê.
Cl íni ca Mé dica, que é res pond ido po r voc
O ex ame fís ico de dona Le on ard a nã o
evide nc ia qualqu er altera çã o, a nã o ser
pelo an tebraç o direit o im obiliz ad o. Vo cêria is:
de cid e so lic ita r alg uns ex ames lab ora to ro
cá lcio = 11 mg /d l, album ina 4 g/ dl, fó sfomg /
ino rgâ nico = 2 mg /d l, creati nin a = 0,8
dl, PT H = 60 0 pg /m l, 25 (O H) Vitam ina
D = 33 ng /m l. De nsi tometr ia ós sea :
os teo po rose (T -esco re < -2 ,5 DP ).

7
Caso dona Leonarda estivesse assintomática e não tivesse fraturado o
antebraço, ela deveria ser operada mesmo assim? Justifique.

Você pensaria em alguma complicação relacionada ao câncer


de mama neste caso? Por quê?

Prescrição Mulher, 46 anos, casada, dona-de-casa,


dá entrada no PS com quadro de tosse produtiva iniciada
há 2 dias. Encontra-se torporosa, interagindo pouco com
examinador, febril (TAx = 38,9 oC), sudoreica e taquicárdica. PA 140 x 50 mmHg, FC
120 bpm, ritmo cardíaco regular com sopro sistólico pancardíaco. Relato obtido com familiares
revelam acompanhamento prévio, mas sem regularidade com serviço de Endocrinologia de um
hospital universitário por ‘problemas na tireoide’(sic). Ao solicitar que um dos parentes trouxesse
a última receita médica dessa senhora, você observa um papel bem antigo e amassado, contendo
a prescrição de uma droga per tencente à classe das tionamidas. Considerando a urgência do
quadro e a hipótese mais plausível, como seria a prescrição dessa paciente?

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ANAMNESE
ID: Roubôncio Fur tado, sexo masculino, branco, divorciado, deputado federal, 40 anos.
QP: dor de cabeça.
HDA: paciente procurou neurologista esta semana com queixa de cefaleia holocraniana de
moderada intensidade, sem caráter pulsátil, predominantemente matutina e que vem piorando
progressivamente. Vem utilizando anti-inflamatórios analgésicos com melhora parcial da dor; no
entanto, como também é por tador de gastrite (sic) não deseja mais tomar estas medicações.
Relata que a queixa não está associada à presença de auras, náuseas, vômitos ou fotofobia.
HPP: Gastrite enantematosa moderada segundo laudo da EDA realizada por apresentar
epigastralgia. Nega crises convulsivas e episódios semelhantes de cefaleia previamente. Nega
também ser por tador de diabetes, hiper tensão ou qualquer outra doença crônica.
H. Fam: NDN
H. Fis: Refere vida sexual ativa com mesma parceira há 3 anos e utilização rotineira de
inibidores da fosfodiesterase tipo 5, mais “por curiosidade” do que “por necessidade”, como
tenta reforçar na consulta.
H. Soc: Pratica atividade física regular de três a quatro vezes por semana e não consome bebida
alcoólica. Ex-tabagista, parou de fumar há 6 anos e seu consumo foi estimado em torno de 5
maços-ano.

EXAME FÍSICO
Ectoscopia: Paciente se mostra cansado, com olheiras marcantes, sem alterações na
coloração da mucosa ou turgor cutâneo. Sua face tem contornos bem definidos
e levemente acentuados, possivelmente atribuídos a origem germânica de
seus pais. PA 160 x 100 mmHg (média após duas aferições no membro
superior direito, na posição sentada).
ACV: Ritmo cardíaco regular, sem sopros, com a presença apenas de um
som mais abafado e audível com a campânula, precedendo a primeira
bulha cardíaca.
AR e Abdome: sem alterações significativas.
Neurológico: ausência de irritação meningorradicular, mostrando bom
estado mental, com força e equilíbrio preservados, sem alteração da
sensibilidade.
Osteoar ticular: sem alterações significativas, exceto por dor ar ticular no
joelho direito. Chama atenção a flexibilidade do paciente que, aos 40 anos,
ainda é capaz de colocar suas mãos nos pés com facilidade.

EXAMES INICIAIS
Laboratorialmente, você ainda não dispõe de nenhum dado significativo, exceto pelo
relato de um exame admissional há seis meses que revelou hiperglicemia. Dessa forma,
você solicita alguns exames de rotina e se despede do paciente. Quando este segue
pelo consultório, de forma curiosa, o mesmo derruba dois vasos de porcelana chinesa
que estavam no extremo de seus lados direito e esquerdo. Desconfiado, você não toma
como proposital esta reação, mas pelo contrário, termina por estabelecer suas bases
diagnósticas para o caso.

9
Qual sua principal hipótese diagnóstica para esse caso e a principal causa para
este diagnóstico?

Como você confirmaria o diagnóstico


deste paciente?

Quais seriam suas linhas gerais de


tratamento?

Caso Extra
Ramón, 46 anos, acompanhado pelo
serviço de Hepatologia por conta de
hepatite crônica pelo vírus B, começa
a apresentar cansaço e indisposição
após iniciar tratamento antiviral. Esses
sintomas vieram acompanhados de
palpitação e sudorese excessivas, com
grande intolerância ao calor, fazendo
com que o paciente tomasse banho
de piscina no meio da noite. Relata
que o trânsito intestinal também se
alterou nesse período, com maior
frequência de defecação e vem
notando sua pele mais umidificada. Ao
exame físico, observa-se tireoide de
tamanho normal, indolor, sem sopros ou
nódulos palpáveis. PA = 150 x 70 mmHg,
FC = 118 bpm, ritmo regular, aparelho
respiratório sem alterações, reflexo
aquileu vívido bilateralmente. A respeito
desse caso pergunta-se:

10
Qual o diagnóstico sindrômico desse paciente e
qual a causa provável desse quadro?

Como você esperaria encontrar os valores de TSH, T4 livre, T3


livre, captação tireoidiana do iodo (RAIU) e autoanticorpos?

Qual seria a proposta terapêutica para este paciente?

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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 12

Grandes Síndromes
Endócrinas

Introdução

E ste módulo que você recebe


agora versa sobre as grandes
síndromes endócrinas da prática
médica. Durante todo o momento, mantivemos
nossa preocupação em respeitar a proposta
endócrinas (ex.: perda ponderal no hipertireoi-
dismo e diabetes; hipertensão no hipertireoi-
dismo e feocromocitoma etc.).

Para facilitar, partiremos então de “subsín-


do MED de partir das síndromes para o diag- dromes” caracterizadas pela falha de uma
nóstico, e não o inverso. De cara, você perce- ou outra glândula. Assim, serão destacadas
berá que esta fascinante especialidade tem as três principais, constituídas pelas afec-
uma característica bastante peculiar... ções da tireoide, suprarrenal e do metabo-
lismo do cálcio. Temas menos habituais
Em primeiro lugar, muitas vezes não encon- como hipófise, doenças osteometabólicas
traremos sinais e sintomas característicos de e tumores neuroendócrinos também foram
uma síndrome, mas apenas anormalidades abordados nos últimos capítulos de forma
laboratoriais. É o exemplo da hipercalcemia complementar e bastante direcionada para
encontrada ocasionalmente em um paciente a prova de Residência.
com hiperparatireoidismo primário. De fato, as
doenças endócrinas são um pouco diferentes Vamos lembrar apenas que, apesar de tam-
daquelas que habitualmente nos acostuma- bém fazerem parte destas grandes síndromes
mos a lidar, pois não passam de grandes va- endócrinas, não estão incluídos neste capí-
riações do normal. Afinal de contas, todos nós tulo o pâncreas endócrino (tratado em Sín-
precisamos de hormônios tireoidianos. O que drome Metabólica II) e a função reprodutiva
não precisamos é de um excesso ou da au- (abordada no módulo de Ginecologia). O
sência deles. Mas você já viu alguém preci- timo, frequentemente esquecido, também é
sando de um anticorpo antifosfolipídeo ou de um tipo de tecido endócrino, só que especia-
uma placa aterosclerótica??? lizado na maturação de linfócitos T, sendo
abordado nas apostilas de Fraqueza Muscu-
Em segundo, seria impossível falar de apenas lar (Miastenia Gravis) e de Linfadenopatias e
uma síndrome endócrina. As diversas doenças Esplenomegalias.
endócrinas existentes podem dar tudo (hiper-
termia, alteração ponderal, fraturas etc.); da A partir deste momento, seja bem-vindo à mais
mesma forma que diversos sinais e sintomas fantástica indústria química do mundo: nosso
também podem representar várias doenças sistema hormonal!

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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 13

Síndromes Tireoidianas

T ireoide e diabetes são os temas da Endocrinologia que mais caem


nas provas de residência. Você perceberá isso pela atenção dada
a este capítulo em relação aos demais. Aqui, todo o enfoque deve
ser dado às principais alterações endócrinas que podem envolver a
tireoide: hipertireoidismo e tireotoxicose; hipotireoidismo e tireoidites
em geral. Ao final, acrescentamos um tópico para relembrar os bócios
atóxicos que, mesmo sem repercussão hormonal, entram no diagnósti-
co diferencial pelo aumento de volume da glândula. A abordagem do
nódulo e do câncer de tireoide será tratada dentro do módulo de On-
cologia, uma vez que, exceto por acometerem o mesmo sítio anatômico
– a glândula tireoide – a apresentação clínica e o prognóstico são to-
talmente diferentes daqueles observados para as doenças endócrinas.

1 - AVALIAÇÃO TIREOIDIANA: * Doença de Graves = Tireotoxicose + Bócio


Teste funcional mais sensível: TSH. Difuso + Oftalmopatia + Dermopatia.
Dosagem habitual: TSH + T4 livre (T3 na • Diagnóstico: Clínico + marcadores de autoi-
suspeita de tireotoxicose por T3). munidade (TRAb, anti-TPO).
• Tratamento:
Hipertireoidismo (1) Controle dos sintomas = betabloquea-
 T3/T4  TSH dores.
primário
Hipertireoidismo (2) Drogas antitireoidianas: Propiltiouracil
 T3/T4 N ou  TSH (PTU) e Metimazol (MMZ).
secundário
Hipotireoidismo (3) Ablação por radioiodo ou cirurgia (pre-
 T3/T4  TSH
primário paro para cirurgia: antitireoideano, lugol).
Hipotireoidismo Gestantes – Droga preferencial = PTU (1º
 T3/T4 N ou  TSH
secundário/terciário trimestre) e MMZ (2º/3º trimestres). Cirurgia
reservada para casos especiais no 2º trimes-
Outros testes: RAIU, cintilografia, USG, tre. Ablação por radioiodo contraindicada.
biópsia por agulha fina.
Idosos: atentar para o hipertireoidismo apá-
Autorregulação pelo iodo: tico (ex.: fibrilação atrial).
- Efeito Wolff-Chaikoff = Iodo induzindo * Crise tireotóxica: betabloqueador, propil-
hipotireoidismo. tiouracil, iodeto e corticoide.
- Fenômeno de Jod-Basedow = Iodo in-
duzindo hipertireoidismo. 3 - HIPOTIREOIDISMO
2 - TIREOTOXICOSE Grande diagnóstico diferencial = PRIMÁ-
RIO (TSH aumentado) x SECUNDÁRIO
Quadro clínico: olhar fixo característico (TSH baixo).
com retração palpebral, pele quente e lisa,
sudorese excessiva, alterações cardiovas- Quadro clínico: alterações neurológicas
culares (palpitações, PA divergente, taqui- (lentidão de raciocínio, sonolência, deficit
cardia sinusal, ICC de alto débito, exacer- cognitivo, humor deprimido, reflexos lentifi-
bação de angina, arritmias atriais – como cados, parestesias), cardiovasculares (bra-
a FA), neurológicas (nervosismo, labilida- dicardia, hipertensão convergente, derrame
de emocional, hipercinesia, insônia, tremor pericárdico), digestivas (constipação, hipo-
fino das mãos/língua), digestivas (hiperde- motilidade), musculoesqueléticas (fraqueza
fecação, aumento do apetite), musculoes- muscular, miopatia, pseudomiotonia), do
queléticas (fadiga, miopatia, fraqueza proxi- aparelho reprodutor (menorragia, amenor-
mal, desmineralização óssea), do aparelho reia, galactorreia, perda da libido, puberda-
reprodutor (oligomenorreia e amenorreia, de precoce), depressão ventilatória, sinais
perda da libido, disfunção erétil), hiperventi- e sintomas gerais como astenia, intolerân-
lação, intolerância ao calor. cia ao frio, pele seca, edema generalizado,
madarose, cabelos quebradiços, alopecia.
Grande diagnóstico diferencial = TIRE- Principal Causa: Tireoidite de Hashimoto.
OTOXICOSE SEM e COM HIPERTIREOI- Se considerarmos regiões com baixa inges-
DISMO. Principais causas: ta de iodo, esta passa a ser a principal cau-
- Sem hipertireoidismo: Tireoidite, tireotoxi- sa. Se congênito, pensar em disgenesias.
cose factícia. Tratamento: Reposição de Levotiroxina
- Com hipertireoidismo: Graves (principal (T4). Se subclínico, tratar preferencialmen-
causa), BMT, adenoma tóxico. te sintomáticos, dislipidêmicos, cardiopatas,

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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 14

aqueles com maior chance de abrir hipotireoi- quase sempre positivo. Muito associada a
dismo franco (TSH > 10 mU/L e anti-TPO +) outras doenças autoimunes.
e mulheres que estejam grávidas, desejam - Riedel: crônica, fibrosante.
engravidar ou apresentam disfunção ovula- - Pós-parto: 5 a 7% das parturientes, flutuan-
tória e infertilidade. te, 80% permanecem com função normal
dentro de um ano.
* Coma mixedematoso: T4 em altas doses - De Quervain: subaguda, após infecção vi-
(associado ou não a T3), corticoide; suporte. ral. Aumento doloroso da tireoide, disfagia,
sinais sistêmicos, VHS aumentada. Trata-
* Algumas tireoidites de destaque: mento: AAS, AINE, corticoide.
- Hashimoto: crônica, acomete principalmen- - Por drogas: causada principalmente pelo
te mulheres em torno de 60 anos. Anti-TPO lítio e pela amiodarona.

Parte I – Conceitos Gerais

Anatomia e Fisiologia licular (tirócito) contendo coloide em seu inte-


Tireoidiana rior. Entre estes folículos também podem ser
encontradas algumas células parafoliculares
A tireoide – cujo nome provém do grego thyreos ou células “C”.
(escudo) + eidos (forma) – é formada por dois
lobos conectados por um istmo. Encontra-se Estas células são responsáveis pela sínte-
em localização anterior à traqueia, entre a car- se da calcitonina – hormônio que regula a
tilagem cricoide e a fúrcula esternal. A tireoide concentração de cálcio no sangue – de for-
normal pesa entre 12 e 20 gramas, é altamen- ma totalmente desvinculada das funções da
te vascularizada e de consistência macia. própria tireoide.

Para entendermos melhor o funcionamento


da tireoide, vamos rever inicialmente alguns RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
aspectos microscópicos... UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB
Julgue o item seguinte, a respeito da ana-
Inicialmente, poderíamos dizer que, assim tomia e fisiologia humanas. As células C da
como o lóbulo hepático é a “unidade funcional” tireoide são responsáveis pela produção do
do fígado e o néfron, a “unidade funcional” do hormônio calcitonina, atuando como regula-
rim, o folículo tireoidiano também representa- doras no metabolismo do cálcio.
ria a “unidade funcional” da tireoide. a) Certo. b) Errado.

Estes folículos são estruturas arredondadas, São os folículos tireoidianos e seu arsenal
circundadas por uma densa rede de capilares enzimático os grandes responsáveis pela sín-
e compostas por uma camada de epitélio fo- tese dos hormônios!

FIGURA 1B: Corte histológico


do folículo. Observe que entre
FIGURA 1A: Estrutura do Folículo Tireoidiano. estes folículos podem ser en-
contrados pequenos acúmulos
de células parafoliculares ou
células “C” (seta).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 15

Veja abaixo o passo a passo:

Captação de Iodo O iodo proveniente da alimentação é reduzido a iodeto e absorvido no intesti-


no delgado. A tireoide é capaz de captar e concentrar rapidamente quase todo
o iodeto circulante (concentrações 20-40 vezes maior que a do plasma). Esta
captação é realizada por bombas de sódio-iodeto localizadas na membrana
basolateral das células foliculares.
Oxidação, 1) Após sua captação, o iodeto é oxidado em iodo orgânico e ligado à Tireo-
Organificação do globulina, formando produtos conhecidos como MIT (monoiodotirosina) e DIT
Iodeto e Síntese (di-iodotirosina). A tireoglobulina é uma proteína sintetizada pelas células foli-
Hormonal culares e lançada no coloide, onde funciona como um verdadeiro “estoque“ de
hormônios tireoidianos.
2) A união entre os resíduos de MIT e DIT dá origem ao T4 (tetraiodotironina
ou tiroxina) e T3 (tri-iodotironina), ainda dentro da estrutura da tireoglobulina.
Para exercerem seus efeitos, T3 e T4 são “desconectados” da tireoglobulina
por uma reação de proteólise, atravessando depois a membrana basal das
células foliculares para atingir a corrente sanguínea.
3) Estas etapas são dependentes de uma enzima localizada na membrana
apical das células foliculares, a Tireoperoxidase (TPO).
Transporte No plasma, mais de 99% dos hormônios tireoidianos circulam ligados a prote-
ínas, principalmente a globulina ligadora de tiroxina (TBG) – cerca de 80% – e,
em menor proporção, à transtiretina (TBPA) e à albumina.
Metabolismo Na realidade, o T3 (tiroxina) é a forma ativa de hormônio tireoideo, enquan-
(Desiodação to o T4 funciona apenas como um “pré-hormônio”. No entanto, a maior
Periférica) parte do T3 circulante vem da conversão de T4 em T3 a partir de enzimas
conhecidas como desiodases (já que a secreção de T4 pela tireoide é cer-
ca de 20 vezes maior que a de T3). Existem três tipos de desiodases:
Tipo 1 = Tireoide, fígado e rim (pode ser inibida nas doenças sistêmicas, uso
de corticoides, amiodarona, contrastes iodados e deficiência de selênio).
Tipo 2 = Tireoide, hipófise (importante para o feedback negativo dos hormônios
na hipófise).
Tipo 3 = SNC, placenta. A função desta enzima é um pouco diferente, pois ela
inativa o T4 convertendo-o a T3 reverso (T3r, forma inativa). A desiodase tipo
1 seria a responsável pela eliminação do T3 reverso.

No entanto, devemos perceber que o proces- O TSH, por sua vez, exerce efeitos funda-
so de síntese hormonal não se faz ao acaso. mentais na função da glândula tireoide, esti-
Como o funcionamento de todas as nossas mulando:
glândulas, há importantes modos de ajustar e • A síntese da bomba de sódio-iodeto, da ti-
controlar a produção desses hormônios: reoperoxidase e da tireoglobulina.
• A captação de glicose e aminoácidos pelas
Eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide células foliculares.
(FIGURA 3): • O crescimento e proliferação das células
foliculares. É característica a hiperplasia da
No hipotálamo existem neurônios que são tireoide (bócio) em função desse estímulo.
responsáveis pela produção de TRH (Thyrotro-
• A formação de pseudópodes pela membra-
pin-Releasing Hormone / Hormônio Liberador
na apical das células foliculares, aumentan-
de Tireotrofina), hormônio este que atua sobre
do a captura de moléculas de tireoglobulina
a hipófise anterior, estimulando a produção de
no coloide.
TSH (Thyroid-Stimulating Hormone / Hormônio
Estimulador da Tireoide). • O aumento do fluxo sanguíneo da tireoide.

FIGURA 2: Síntese dos hormônios tireoidianos.


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 16

FIGURA 3: Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide.

A somatostatina é um hormônio hipotalâmico tireoidismo? Sim. Em situações de carência


capaz de inibir a liberação de TSH e GH pela de iodo, todas as células foliculares ficam hi-
hipófise. Entretanto, a maior influência nega- per-responsivas ao TSH, levando a um efeito
tiva para a secreção de TSH são os níveis de hipertrófico acentuado com aumento da tireoide.
T3 e T4 séricos, que atuam tanto na hipófise É o caso do bócio endêmico. Nesse caso, como
quanto no hipotálamo. as células estão absolutamente “ávidas” por
essa substância, ao fornecermos iodo, estamos
oferecendo a matéria-prima de que ela tanto
Autorregulação pelo iodo: precisa para sua maquinaria hormonal. E com
isso pode ocorrer o desenvolvimento paradoxal
Todos nós sabemos que a concentração de iodo de hipertireoidismo conhecido como fenômeno
é fundamental para a síntese dos hormônios de Jod-Basedow.
tireoidianos. Mas aqui existem alguns detalhes
a que devemos atentar, pois confundem uma
boa parte dos alunos. Vamos entender o por- Resumindo...
quê. Antes, responda uma pergunta: se dermos O excesso de iodo tende a frear a síntese hor-
iodo a um paciente, como ficará a produção de monal pela tireoide. No entanto, em situações
hormônio tireoidiano? A princípio, pensaríamos de carência de iodo (ex.: bócio endêmico), o
que quanto mais iodo, maior a função da tireoide iodo pode aumentar a síntese por conta da
e quanto menos iodo, menor a função, certo? avidez das células hipertrofiadas da glândula.

Só que não é tão simples assim...


Existe uma particularidade do metabolismo
Efeito Wolff-Chaikoff = Iodo induzindo
da tireoide conhecida como “autorregulação
hipotireoidismo
pelo iodo”. Funciona da seguinte forma: a ex-
Fenômeno de Jod-Basedow = Iodo
posição excessiva ao iodeto bloqueia algumas
induzindo hipertireoidismo
das etapas da síntese hormonal. Devemos
entender isso como um mecanismo de defesa
do organismo para não produzir estados de
tireotoxicose no caso de aumento da concen- Outros fatores:
tração sérica de iodo. Do contrário, o paciente
faria um exame com contraste à base de iodo Os glicocorticoides reduzem a liberação de
e sairia de lá hipertireoideo! Esse mecanismo TRH e, consequentemente, a síntese de
de regulação recebe o nome de efeito Wolff- TSH e inibem a conversão periférica de T4
-Chaikoff. Como veremos mais à frente, é nele em T3. O hormônio de crescimento aumenta
que se baseia o princípio do preparo pré-ope- a conversão de T4 em T3. Os estrogênios
ratório com Lugol (substância rica em iodo) de aumentam a síntese de TBG e podem au-
pacientes com hipertireoidismo. mentar a síntese de TSH quando repostos
em mulheres pós-menopausa. O estado de
Mas será que a administração de iodo pode jejum também é capaz de prejudicar a con-
causar o inverso, ou seja, um estado de hiper- versão de T4 a T3.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 17

Avaliação da Função importantes com o desenvolvimento de testes


Tireoidiana altamente sensíveis para dosagem do TSH e
das formas livres dos hormônios tireoidianos.

A – Dosagem de TSH, T3 e T4 Hipertiroxinemia do eutireoideo:


 Aumento da síntese de TBG: gravidez, he-
patite, porfiria intermitente aguda, drogas
O TSH sérico é o exame mais sensível para (estrogênio, tamoxifeno, raloxifeno, meta-
o diagnóstico da disfunção tireoidiana, e a dona, 5-fluoracil).
compreensão do eixo hipotálamo-hipófise-  Aumento da ligação do T4 à albumina: hi-
-tireoide de retroalimentação é fundamental pertiroxinemia disalbuminêmica familiar*.
para avaliar o significado de seus valores. Nos  Aumento da ligação do T4 à transtiretina:
distúrbios primários (isto é, da própria tireoi- hereditário, tumores neuroendócrinos pan-
de), o TSH sempre varia de forma inversa aos creáticos.
níveis plasmáticos de hormônios tireoidianos, Hipotiroxinemia do eutireoideo:
devido ao feedback negativo exercido por  Aumento do metabolismo do T4: anticonvul-
estes hormônios na hipófise. Nos distúrbios sivantes e rifampicina.
secundários, esse valor é menos confiável,  Redução da síntese de TBG: hepatopatia
podendo estar na faixa de normalidade. grave, androgênios, danazol.
 Perda corporal de TBG: síndrome nefrótica,
Outra característica que deve ser ressaltada enteropatia perdedora de proteína.
são os distúrbios subclínicos. No início de um  Redução da ligação à TBG: salicilatos e
quadro de hipertireoidismo (hipertireoidismo fenitoína em altas doses, furosemida.
subclínico), o T4 livre pode se encontrar na faixa *Doença genética mais comum em hispânicos as-
normal, mas à custa de uma supressão do TSH sociada a mutações na molécula de albumina que
hipofisário (TSH sérico baixo). O inverso tam- facilitam sua ligação ao T4.
bém pode ocorrer no hipotireoidismo subclínico
cuja queda inicial dos hormônios tireoidianos
no soro permite um aumento da produção de  Doença não tireoidiana (síndrome do
TSH, que, na fase precoce pode manter o T4 eutireoideo doente)
livre ainda na faixa normal. O valor normal do
TSH sérico é de 0,5-5 mU/L e atualmente os Condição comum e importante para pacientes
testes estão bastante sensíveis e capazes de internados em unidades intensivas. Nessa si-
detectar medidas abaixo de 0,02 mUI/L. tuação, determinadas citocinas podem inibir as
desiodases tipo 1 (D1) e 2 (D2). Como essas
Embora a medida da concentração total (ligada enzimas fazem a conversão periférica de T4
e não ligada a proteínas) dos hormônios tireoi- em T3, a concentração de T3 está reduzida.
dianos (T3 e T4) seja mais direta e barata, é a Acaba sobrando mais T4 para a desiodase tipo
determinação das suas formas circulantes “livres” 3 (D3) e consequente aumento do T3 reverso
o método mais adequado para se avaliar a função (T3r). Esse aumento ainda é favorecido pela
da tireoide. Isto porque somente as formas que inibição da D1 que cataboliza o T3r. Com a
circulam “livres” têm ação biológica efetiva... Os evolução da doença, cai também a concen-
valores normais costumam variar de acordo com tração de T4. Anteriormente, essa condição
cada laboratório (guarde pelo menos o T4 livre): recebia o nome de “síndrome do eutireoideo
doente”, referindo-se a anormalidades no TSH
T4 total = 5-12 µg/dl T3 total = 70-190 ng/dl e hormônios circulantes, sem disfunção tireoi-
diana. No entanto, esse nome foi substituído
T4 livre = 0,9-2 ng/dl T3 livre = 0,2-0,52 ng/dl
porque há algumas evidências de que esses
indivíduos também tenham algum grau de
A seguir estudaremos os erros mais co- hipotireoidismo central transitório, com redu-
muns na interpretação destes exames: ção do TSH. É possível que essas alterações
sejam uma forma de proteção do organismo
 Função tireoidiana normal, mas com contra o catabolismo excessivo desencadeado
hipotiroxinemia ou hipertiroxinemia nos por algumas doenças. Curiosamente, apesar
exames laboratoriais: deste dado, não há benefício da reposição
hormonal nesses pacientes.
Nestas condições, encontramos um paciente
assintomático com TSH normal e formas livres Na fase de recuperação, é esperado um au-
de T4 e T3 normais, mas com aumento ou mento do TSH. Mas perceba este fato curio-
redução das formas totais de T4. Elas são cau- so! Quem pegar o trem andando nessa fase
sadas principalmente por redução ou elevação de recuperação e não entender o contexto
na concentração das proteínas ligadoras. clínico do paciente pode fazer o diagnóstico
Vimos acima que quase todo hormônio tireoi- errôneo de um hipotireoidismo primário (T3
diano está ligado à proteína, principalmente e T4 reduzidos, com TSH aumentado)... Por-
à TBG. Quando mensuramos a forma total tanto, função tireoidiana não deve ser solici-
desses hormônios, estamos medindo tanto tada para pacientes agudamente enfermos,
a forma livre quanto a forma ligada. Deste a menos que haja suspeita bastante elevada
modo, alterações na quantidade dessas pro- sobre uma doença da tireoide. Nestes casos,
teínas afetam o resultado do valor total destes o ideal é aguardar a estabilização destes exa-
hormônios. Essas condições ficaram menos mes que ocorre geralmente em 1-2 meses.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 18

Resumindo... b) Hipotireoidismo subclínico e a conduta seria


Os testes variam conforme a repetir nova função e iniciar o tratamento caso
gravidade da doença houvesse confirmação do resultado.
Doença leve: T3 reduzido, T3r aumentado, c) Elevação do TSH após doença aguda e a
TSH e T4 normais. conduta seria repetir o TSH em 2-3 meses
Doença moderada: T3 reduzido, T3r au- para posterior avaliação.
mentado, TSH e T4 normais ou reduzidos. d) Completar a investigação com realização
Doença grave: T3, TSH e T4 reduzidos, de ultrassom tireoidiano e captação e mapea-
T3r aumentado. mento da glândula para posterior conduta.
e) Não há elemento para definir o diagnóstico
Recuperação: T3 e T4 reduzidos, T3r e
TSH aumentados.
desta paciente.

Questão difícil, porém muito inteligente.


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Você concorda que se olharmos unicamente
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS para o exame laboratorial (TSH elevado, T4
DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA livre normal) podemos jurar de pés juntos que
Mulher de 54 anos, em terapia hormonal com se trata de um hipotireoidismo subclínico?
estrogênio, consultou por apresentar bócio pe- Mas daí vem o ditado: a clínica é soberana...
queno e difuso. A dosagem de T4 total revelou Esta paciente vem de um pós-operatório re-
8,0 mg/dl (valor de referência: 4,5 a 12 mg/dl), cente e complicado com um quadro infeccio-
e a de TSH, 7,5 mUI/l (valor de referência: 0,4 so. Então o que de fato está ocorrendo é uma
a 4 mUI/I). Neste momento, deve-se: recuperação da doença aguda que, como
a) Iniciar o tratamento com levotiroxina. acabamos de ver, cursa caracteristicamente
b) Realizar ultrassonografia para o diagnóstico. com elevação do TSH. A melhor conduta é
c) Repetir a dosagem de TSH e realizar a de aguardar a recuperação total da paciente e
T4 livre. restabelecimento dos valores laboratoriais
d) Desconsiderar o resultado da dosagem de an- normais que se dá dentro de um a dois me-
ticorpos anti-TPO por não auxiliar no diagnóstico. ses. Resposta: C.
e) Interromper a terapia hormonal com es-
trogênio por ser a causa mais frequente da
alteração apresentada. B – Captação tireoidiana de iodo
radioativo em 24h (RAIU)

Essa paciente apresenta bócio difuso e TSH Consiste na administração de iodo marcado,
elevado, provavelmente configurando um qua- que se mistura uniformemente com o iodeto en-
dro de hipotireoidismo. No entanto, temos T4 dógeno circulante. Após o equilíbrio, mede-se a
normal... seria um quadro subclínico? Tratar ou porcentagem deste iodo que foi absorvido pela
não? Nesse caso, devemos entender que foi a tireoide. O intervalo de tempo entre a adminis-
dosagem de T4 total que se mostrou normal e tração de uma determinada quantidade de iodo
essa dosagem pode ter sido influenciada pelo marcado e a dosagem sérica posterior deve ser
uso de estrogênios. Assim, deveríamos fazer de 24h – após esse tempo, costuma haver um
a dosagem da fração livre do T4, podendo platô. Quanto maior a função da tireoide, maior o
repetir ou não TSH para confirmar que esteja percentual de captação demonstrado pela RAIU
de fato alterado. Resposta: C. (ver a seguir). Seu limite de variação normal é
de 5 a 30% da dose administrada. A RAIU tem
sua principal utilidade na distinção entre hiperti-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 reoidismo e tireotoxicose sem hipertireoidismo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP – (voltaremos a falar disso mais adiante). Outra
RIBEIRÃO PRETO utilidade seria no cálculo da dose ideal de 131I
Mulher, com 48 anos de idade, assintomática e para os procedimentos de radioablação.
sem alterações ao exame físico, exceto obesida-
de, refere cirurgia de cálculo vesical, complicada
por pneumonia hospitalar, tendo recebido alta há
Avaliação da
15 dias. É obesa há vários anos, com dificulda-
Anatomia Tireoidiana
de para perder peso, e foi solicitado exames de
função tireoidiana, abaixo representados: Cintilografia: Visualiza a captação de iodo
marcado pela tireoide. Em geral, é usada para
T4 livre TSH Anticorpo dois objetivos:
antiperoxidase
1,1 9,0 30 a) Determinar o estado funcional de um nódulo
Faixa normal = Faixa normal = Normal = palpável na tireoide.
0,7-1,7 mg/dl 0,3-4,0 mU/ml ≤ 35 U/ml
b) Avaliar marcas no pescoço ou na região
superior do tórax, à procura de tecido ti-
Considere os resultados de exames do qua- reoideo ectópico.
dro acima e formule a hipótese diagnóstica e
a conduta para o caso: USG: Pode determinar se um nódu-
a) Hipotireoidismo subclínico e a conduta seria lo de tireoide é cístico ou sólido, ou
iniciar o tratamento com L-tiroxina em doses mesmo descobrir nódulos pequenos
baixas (25 ug/dia). demais para serem palpados.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 19

Biópsia x Aspiração com Agulha: Como Às vezes, cai de uma forma tão simples
veremos em outro momento, estes testes assim:
são a melhor abordagem para avaliação dos
nódulos tireoidianos. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE – UFRN
Melhor exame a ser solicitado quando se sus-
peita de que o paciente apresenta tireopatia:
a) Ultrassonografia de tireoide.
b) T4 livre.
c) T3 livre.
d) TSH.

O TSH, como vimos, é o exame mais


sensível para avaliar a função tireoidiana,
pois as formas livres de T3 e T4 podem
estar normais nos distúrbios subclínicos.
FIGURA 4: Curvas de captação no indiví- Resposta: D.
duo normal e com hipo ou hipertireoidismo.

Distúrbios da Tireoide

As doenças tireoidianas se caracterizam ba-


sicamente pelo excesso ou deficiência da
síntese hormonal. São os quadros de hiper-
tireoidismo/tireotoxicose e hipotireoidismo.
Algumas situações, no entanto, podem levar
tanto a um estado como outro, associando-se
ainda a quadros febris, dolorosos etc. São as
tireoidites. O que faremos a partir de agora
será revisar detalhadamente cada um des-
ses distúrbios. Como todos os conceitos aqui
FIGURA 5: Exemplo de cintilografia tireoi- relembrados serão fundamentais, caso os
diana. A área vermelha indica maior capta-
ção do traçador (“quente”), a amarela uma tenha pulado ou não os tenha compreendido
captação média (“morna”) e a azul, capta- adequadamente, leia-os novamente até que
ção baixa (“fria”). fiquem bem claros.

Parte II - Hipertireoidismo e Tireotoxicose

Definição Perceberam??? Então, a partir de agora, cui-


dado com a forma com que o examinador
Começaremos pelo tema hipertireoidismo! In- colocará esses conceitos na sua prova, pois
conscientemente você já começa a imaginar pode se tratar de uma armadilha para con-
o que está por vir nas linhas a seguir. Afinal fundi-lo. Como veremos a seguir, a diferença
de contas, não é de hoje que você conhece entre esses dois grupos é muito importante,
inúmeras (talvez a maioria!) das manifesta- podendo definir inclusive o tipo de aborda-
ções associadas ao excesso de hormônio gem a ser adotada.
tireoidiano. No entanto, antes de discutirmos
qualquer manifestação ou condição clínica
associada, gostaríamos que você entendesse Manifestações Clínicas
dois conceitos fundamentais dentro do tema.
Como o próprio título já procura deixar claro, Conceitos devidamente esclarecidos, vamos
hipertireoidismo e tireotoxicose não são ne- começar a pensar na clínica do nosso pacien-
cessariamente sinônimos. Confira a seguir: te. Considerando-se que ele tenha um quadro
de tireotoxicose, que tipo de manifestações
Tireotoxicose: Síndrome clínica decorrente seriam esperadas??
da exposição dos tecidos corporais a altas
concentrações de hormônios tireoidianos. Neste caso, devemos lembrar que os hormônios
Pode ocorrer com a síntese hormonal pela tireoidianos (especificamente o T3) atuam em
glândula e tecidos extratireoidianos, liberação receptores nucleares, estimulando a expressão
após inflamação ou mesmo pela ingestão aci- de determinados genes importantes para:
dental ou iatrogênica de hormônios. • O desenvolvimento normal do Sistema Ner-
voso Central (promove a mielinização das
Hipertireoidismo: Termo reservado apenas fibras nervosas, assim como sua arborização
para as situações em que a tireotoxicose for e ramificação). A deficiência dos hormônios
resultante da produção sustentada de hormô- tireoidianos até o primeiro ano de vida re-
nios pela tireoide. Aqui não vale inflamação sulta em lesão irreversível do SNC, numa
transitória nem tireotoxicose exógena. condição denominada cretinismo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 20

• Favorecer as reações celulares, acelerando • Bom funcionamento da imunidade, fato ob-


o metabolismo basal (consumo de oxigênio) servado na redução da capacidade imune
e promovendo o crescimento. do hipertireoideo.
• Estimular a captação de glicose e aminoáci-
dos pelas células de todo o corpo, além de
favorecerem também as vias de oxidação
da glicose e de síntese proteica.
• Formação de receptores beta para as cate-
colaminas, podendo ser responsáveis, no
hipertireoidismo, por uma síndrome simpá-
tica secundária. O aumento da contratilida-
de e frequência cardíacas (aumentando a
pressão sistólica), associado à diminuição
da resistência vascular periférica por vaso-
dilatação via receptor beta-2 (diminuindo
pressão diastólica), parecem ser os gran-
des responsáveis pelo achado de pressão
arterial divergente em pacientes com hi-
pertireoidismo. O aumento da síntese de
receptores beta também pode justificar a FIGURA 6: Síndrome da Tireotoxicose.
lipólise e a glicogenólise.
• A produção de calor, num fenômeno rela- Como consequência, alguns achados acabam
cionado à sua ação positiva sobre a Na/K por marcar a síndrome de tireotoxicose. Veja
ATPase. na Tabela 1.

Tabela 1 Sinais e sintomas da Síndrome de Tireotoxicose


Olhos Olhar fixo característico com retração palpebral (lid lag).
Pele, cabelo e unha Pele quente e lisa, sudorese excessiva, prurido, cabelo fino e sedoso, eritema
palmar, queda de cabelos, separação da unha do respectivo leito ungueal
(onicólise – unha de Plummer).
Cardiovascular Palpitações, PA divergente, taquicardia sinusal, arritmias atriais (em especial
a fibrilação), sopros sistólicos, hiperfonese de B1, ICC de alto débito, exacer-
bação de condições preexistentes, como angina.
Respiratório Dispneia, hiperventilação, capacidade vital reduzida (fraqueza da musculatura
respiratória), atrito de Means-Lerman (ruído sistólico sobre o segundo espaço
intercostal esquerdo, durante a expiração, resultante do atrito entre a pleura
normal e o pericárdio hiperdinâmico).
Musculoesquelético Fadiga, miopatia, fraqueza proximal, desmineralização óssea, artralgia, pa-
ralisia periódica.
Gastrointestinal Aumento do apetite, hiperdefecação (hiperperistaltismo), dispepsia, náusea,
disfunção hepática.
Neurológico Nervosismo, labilidade emocional, hipercinesia, insônia, tremor fino das mãos/
língua, facilitação para crises convulsivas, hiper-reflexia.
Metabolismo Aumento da taxa metabólica basal, intolerância ao calor, catabolismo aumen-
Intermediário tado (emagrecimento, perda muscular), maior degradação da insulina (piora
do diabetes), lipólise exacerbada.
Hematológico Aumento da eritropoiese e do volume plasmático (hematócrito normal), au-
mento da sensibilidade ao warfarin (catabolismo de fatores dependentes da
vitamina K), esplenomegalia e hiperplasia tímica.
Reprodução Oligomenorreia e amenorreia, perda da libido, disfunção erétil.
Exames Hipercalcemia/calciúria. Hipoproteinemia.
Laboratoriais Elevação de ALT, fosfatase alcalina, enzima conversora de angiotensina e
ferritina.
Redução do colesterol. Microcitose.

Alguns dados que valem ser lembrados: diagnóstico diferencial: intolerância ao calor,
taquicardia com palpitações, tremores, etc.
• Em geral, nos jovens predominam os sinto-
mas nervosos e subjetivos; enquanto nos • A tireotoxicose pode determinar manifestações
idosos, os cardiovasculares e os miopáticos. oculares resultantes da hiperestimulação sim-
pática e que desaparecem após correção da
• A síndrome adrenérgica pela tireotoxicose tireotoxicose, sendo necessária a distinção
pode ser muito semelhante a do feocromo- entre estas manifestações e a oftalmopatia
citoma, tornando este tumor um importante infiltrativa da doença de Graves (ver adiante).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 21

feminino. Dentre as principais causas, a doen-


ça de Graves é a mais frequente (60-80%),
ocorrendo principalmente em mulheres mais
jovens; enquanto o bócio multinodular tóxico
é característico de mulheres mais velhas.

Abaixo estão listadas as principais causas de


tireotoxicose. Didaticamente, elas costumam
ser divididas em tireotoxicose associada e não
associada ao hipertireoidismo.

FIGURA 7: Retração palpebral e olhar Principais Causas de


fixo característico da tireotoxicose – Não Tireotoxicose
confundir com a oftalmopatia da Doença
de Graves! A) Tireotoxicose Associada ao
Hipertireoidismo

ENTENDENDO A TIREOIDE DE Secreção excessiva de TSH


 Adenoma hipofisário (hipertireoidismo
UM JEITO DIFERENTE central)
 Resistência aos hormônios tireoidianos
Vocês já repararam que todas essas mani-
festações são muito semelhantes a uma cri- Estímulo anormal da tireoide
se adrenérgica? Isso mesmo! Exatamente  Doença de Graves
como no feocromocitoma (que abordaremos  Tumores trofoblásticos* (mola hidatiforme)
 Induzida pelo iodo (Jod-Basedow)
mais à frente). Ou até mesmo como nas ma-
nifestações adrenérgicas da hipoglicemia. Tecido tireoideo autônomo
Reparem como é parecido! Se você parar  Adenoma tóxico (doença de Plummer)
e pensar, todas essas manifestações se ca-  Bócio multinodular tóxico
racterizam por uma exacerbação do sistema B) Tireotoxicose Não Associada ao
nervoso simpático, uma crise adrenérgica! A Hipertireoidismo
famosa luta e fuga (aumento do metabolis-
mo com produção de calor, taquicardia, au- Doença inflamatória (rompimento do folículo
mento de hemácias, oligo/amenorreia – não com liberação hormonal)
se pode perder sangue, hiperdefecação –  Tireoidite subaguda
fezes não servem para nada...).  Tireoidite crônica de Hashimoto (fase aguda)
 Uso de amiodarona
Agora, o mais curioso é que, na tireotoxicose, Fonte extratireoidea de hormônio
esses pacientes desenvolvem manifestações  Tireotoxicose factícia** ou exógena
adrenérgicas sem que haja aumento de adre-  Tecido tireoideo ectópico (estroma
nalina e noradrenalina... Vamos repetir: exa- ovariano*** e metástases ativas do carcinoma
cerbação simpática sem aumento de cateco- folicular funcionante)
laminas!!! Como assim? Fácil. É só lembrar * Tumores trofoblásticos = ocorre interação do
que os hormônios tireoidianos induzem a hCG com receptores de TSH. Lembrar que o TSH
síntese de receptores β-adrenérgicos. Com exibe semelhanças estruturais (subunidade alfa)
o excesso desses hormônios, há um aumen- com FSH, LH e hCG.
to do número de receptores, deixando o in- ** Tireotoxicose factícia= utilização de dose
divíduo hipersensível às catecolaminas. excessiva de medicações contendo hormônio
Agora, tem um detalhe. Estamos falando de tireoideo.
receptores β-adrenérgicos!!! E isso explica *** Estroma ovariano (struma ovarii) = neoplasia
tudo. Repare que existe taquicardia, aumen- ovariana rara que contém tecido tireoidiano como
to da pressão sistólica, tendência à fibrilação célula predominante.
atrial ao atuar no receptor β1 do coração. Nos
vasos, atuando em β2, promove vasodilata-
ção, diminuindo a pressão diastólica (pressão Vamos ver agora as características mais mar-
divergente) e, consequentemente, esquen- cantes das principais condições dessa lista.
tando as extremidades. O mais interessante
de tudo é que vocês já sabem disso sem
pensar muito. Querem ver? Como tratamos Doença de Graves
os sintomas da tireotoxicose? Com propra-
nolol (bloqueador β-adrenérgico)! Além disso,
quando chegarmos em hipotireoidismo, a
 Conceito: Doença autoimune da tireoide
situação se inverte. Pouca sensibilidade
adrenérgica em receptor β e, consequente- caracterizada por hipertireoidismo, oftal-
mente, bradicardia e redução da força de mopatia e dermopatia.
contração cardíaca, com queda da pressão
sistólica. Nos vasos, vasoconstricção com  Epidemiologia: Afeta principalmente mu-
aumento da pressão diastólica e extremida- lheres (9:1), entre 20-50 anos, possivel-
des frias e pegajosas... mente pela participação do estrogênio no
sistema imunológico. É a principal causa
de tireotoxicose (60-80%).

Etiologia  Fisiopatologia: Na origem da doença


de Graves temos a participação tanto de
A prevalência do hipertireoidismo na popula- fatores genéticos (HLA-DR, CTLA-4 e
ção chega a 1%, sendo mais comum no sexo PTPN22) como ambientais (tabagismo,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 22

dieta rica em iodo, eventos estressantes e autoimunes da tireoide, intimamente relaciona-


infecções prévias). Como resultado, ocor- das. A longo prazo, 15% dos pacientes com Gra-
re uma doença autoimune relacionada à ves exibem espontaneamente hipotireoidismo.
produção de imunoglobulinas (anticorpos)
capazes de ativar o receptor do TSH (TSI). Obs.2: É importante termos em mente tam-
Na verdade, existem três tipos principais bém a associação de doença de Graves com
de autoanticorpos que podem aparecer na outras desordens autoimunes endócrinas,
doença de Graves: como o diabetes mellitus tipo I e a doença de
Addison – e não endócrinas, como a miastenia
gravis, hepatite crônica ativa, anemia perni-
1- Anticorpos para receptor do TSH na ciosa, artrite reumatoide, lúpus eritematoso
tireoide (trab) sistêmico, síndrome de Sjögren e vitiligo.

Podem estimular ou antagonizar a função do  Manifestação Clínica: O paciente apre-


receptor de TSH. O TSI (imunoglobulina es- sentará sinais inespecíficos de tireotoxicose
timuladora da tireoide) é o principal repre- + sinais específicos da doença de Graves
sentante, estando presente em até 90% dos representados pela tríade:
casos de doença de Graves, sendo responsá-
vel pela estimulação exagerada da glândula (1) Bócio Difuso
e, consequentemente, pelo bócio e hiperti-
reoidismo. Alguns podem ser neutros, não (2) Oftalmopatia
levando necessariamente à hiperfunção da
glândula, mas apenas aumento (bócio), sem (3) Dermopatia infiltrativa
hiperfunção. Outros – ao contrário – levam à
atrofia do tecido tireoidiano. Estes últimos são É importante ressaltar que o curso da doença
os chamados anticorpos bloqueadores do de Graves é imprevisível e que nem todos es-
TSH (TRAb-bloq). Essa variedade é encon- tes sinais precisam estar presentes ao mesmo
trada com menor frequência na doença de tempo. Aliás, é comum que um ou até dois
Graves, estando presentes mais na tireoidite deles não estejam. Uma particularidade em
de Hashimoto, uma desordem comumente relação aos achados clínicos extratireoidianos
associada ao hipotireoidismo como veremos é o fato de seguirem um curso muitas vezes
adiante. A participação exata dos anticorpos independente da doença de base. A oftalmo-
anti-TSH na gênese das manifestações não patia, por exemplo, pode preceder ou suceder
tireoidianas da doença de Graves ainda não o diagnóstico dentro de meses a anos.
se encontra muito clara. Na oftalmopatia,
que está presente em 20-40% dos casos, as Cerca de 25% dos pacientes apresentam remis-
células musculares lisas e, principalmente, são espontânea. Os demais pacientes persistem
os fibroblastos, exibem com certa frequência com a doença, variando o grau de intensidade,
em sua superfície de membrana, antígenos ou apresentam uma forma cíclica, com períodos
algumas vezes muito semelhantes ao recep- de remissão e exacerbação. De uma forma ge-
tor de TSH. Isso produz uma reação cruzada ral, a doença tende a se agravar sem o tratamen-
desses anticorpos, determinando um “ataque” to específico. Após 15 anos de tratamento com
autoimune no tecido retro-ocular e periocular, antitireoidianos, cerca de 15% dos pacientes
com liberação de citocinas pró-inflamatórias chegam a desenvolver hipotireoidismo.
e fibrosantes.
Observe alguns detalhes sobre os achados
específicos na doença de Graves:
2- Anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO)
Bócio Difuso: O bócio tóxico, embora carac-
Esse anticorpo funciona como um marcador teristicamente simétrico e difuso, com textura
universal de doença tireoidiana autoimune, de borracha, pode eventualmente ser assimé-
estando presente em até 80% dos casos de trico e lobular. A presença
doença de Graves e 95% dos casos na tireoi- de sopro audível sobre
dite de Hashimoto. Este anticorpo também a glândula, em geral,
pode estar presente em 10% e 2% das mu- significa que o paciente
lheres e dos homens eutireoideos, respectiva- é tireotóxico. É neces-
mente. Significado?? Risco aumentado de sário se ter cuidado para
disfunção tireoidiana para todos eles... não confundir os frêmitos
venosos ou sopros caro-
tídeos com os de origem
3- Anticorpo antitireoglobulina (anti-Tg) na tireoide.

Pode estar presente na doença de Graves,


revelando simplesmente a presença de com-
Oftalmopatia: Ocorre em cerca de 40%
ponente autoimune. No entanto, é mais im- dos casos da doença de Graves. No entanto,
portante no hipotireoidismo, como veremos nem todos os pacientes com oftalmopatia estão
mais à frente. hipertireoideos (alguns casos são eutireoideos
ou mesmo hipotireoideos, já que a oftalmopatia
Obs.1: Devemos considerar a doença de Gra- pode preceder a instalação do hipertireoidismo).
ves e a doença de Hashimoto como doenças
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 23

Além disso, a evolução


(diferentes daque-
da oftalmopatia pode não
las que ocorrem
guardar relação com a da
na osteoartropatia
doença tireoideana.
pulmonar hiper-
trófica), ocorre em
menos de 1% dos
casos de doença
de Graves e em
geral acompanha a
Com relação aos sinais
dermopatia, num fenômeno geralmente autoli-
clínicos da oftalmopatia,
mitado, denominado Acropaquia da Tireoide.
eles podem ser divididos
em dois componentes: espástico (olhar fixo,
amedrontado) e mecânico (proptose com ple-
gia e oculopatia congestiva caracterizada por
lacrimejamento fácil, sensação de areia nos  Diagnóstico: A primeira etapa é caracterizar
olhos, fotofobia e diplopia). Nos pacientes em laboratorialmente o quadro de tireotoxicose
que o acometimento não seja evidente, exames (TSH reduzido, T4 e T3 livre aumentados),
de imagem como a tomografia computadoriza- lembrando que, nas fases iniciais, podemos
da quase sempre evidenciam alterações. encontrar apenas um TSH suprimido, o que
definiria o hipertireoidismo subclínico.
Quando a exoftalmia evolui rapidamente, ela
se torna a principal preocupação na doença Quando os sintomas típicos de tireotoxicose
de Graves. Pode haver oftalmoplegia exoftál- estão associados a um aumento difuso da
mica, caracterizada pela fraqueza da muscu- tireoide e, particularmente, quando existem
latura ocular e graus variáveis de estrabismo oftalmopatia e dermopatia, o diagnóstico de
e diplopia. A complicação mais temida é a Graves se torna evidente. Por outro lado,
compressão do nervo óptico, capaz de levar nos casos mais brandos, principalmente
à cegueira se não tratada adequadamente. quando não há oftalmopatia, o diagnóstico
Na tentativa de classificar a oftalmopatia de pode se tornar mais difícil, uma vez que os
Graves, a American Thyroid Association criou sintomas de tireotoxicose podem ser simi-
o acrônimo NOSPECS: lares aos de outros distúrbios... A presença
0 = N o signs or symptoms (ausência de sinais de bócio difuso aumenta a probabilidade do
e sintomas) diagnóstico de hipertireoidismo por Graves,
1 = O nly signs, no symptoms (apenas retração mas torna-se necessária uma palpação
palpebral e proptose leve, sem sintomas) cuidadosa para afastar bócio multinodular
2 = S oft tissue involvement (tecidos moles tóxico, adenoma tóxico, ou mesmo tireoidite
afetados, edema periorbital) subaguda, visto que o tratamento desses
3 = P roptosis (proptose > 22 mm) distúrbios é diferenciado.
4 = E xtraocular muscle (diplopia)
A RAIU não costuma ser importante, mas
5 = C orneal involvement (córnea acometida)
pode ajudar a excluir outros quadros de ti-
6 = S ight loss (alteração visual por acometi- reotoxicose, quando os sintomas são menos
mento do nervo óptico) exuberantes. A medida do anti-TPO como
Diagnóstico diferencial: na maioria das vezes, marcador de autoimunidade também pode
trata-se de uma exoftalmia bilateral. Em casos ser útil para o diagnóstico diferencial com ou-
de exoftalmia unilateral devem ser excluídas tras causas de hipertireoidismo. A pesquisa
algumas condições mais raras como neoplasia do anticorpo antirreceptor do TSH (TRAb),
orbital, fístulas carotideocavernosas, trombose por outro lado, apesar de ser mais caracte-
de seio cavernoso, doença infiltrativa e pseu- rística da doença de Graves, não é necessá-
dotumor de órbita.
ria na maioria dos casos. A contraindicação
à RAIU (ex.: gravidez), a avaliação do risco
Dermopatia Infiltrativa: encontrada em de disfunção tireoidiana neonatal e o diag-
menos de 5% dos casos e, em geral, associa- nóstico em pacientes com quadro duvidoso
da à oftalmopatia. Manifesta-se geralmente (ex.: exoftalmia unilateral e função tireoidiana
no dorso das pernas ou dos pés, sendo de- normal) são exemplos de situações nas quais
nominada mixedema pré-tibial, porém pode a pesquisa do TRAb seria necessária. Os
ocorrer em outras áreas, principalmente após títulos de TRAb também podem ser utiliza-
trauma. Ocorre em pacientes com doença de dos com valor prognóstico, indicando maior
Graves passada ou presente, não constituindo chance de recidiva da doença quando for
manifestação de hipertireoidismo. Metade des- interrompido o tratamento antitireoidiano.
sas lesões aparece durante o estágio ativo de
tireotoxicose, e a outra metade somente após
o tratamento. A área acometida, em geral, é RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
bem delimitada em relação à pele normal, e as
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE
lesões são elevadas, espessas, apresentando
FEDERAL DE UBERLÂNDIA – MG
aspecto de placas de casca de laranja – em
Letícia, 39 anos, tem emagrecido mesmo com
alguns casos, podem se confluir. Por vezes há
apetite preservado, além de estar nervosa e
prurido e hiperpigmentação.
intolerante ao calor. Sua tireoide está difusa-
O baqueteamento dos dedos dos pés e das mente aumentada de volume, indolor e com
mãos, com alterações ósseas características sopro audível. Seu nível de TSH é muito baixo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 24

Assinale a alternativa: CORRETA quanto à Dentre as causas de tireotoxicose citadas, a


doença apresentada pela paciente: acropaquia tireoidea é associada com o bócio
a) Tireoidite de Hashimoto. difuso tóxico (ou doença de Graves). É muito
b) Bócio multinodular tóxico. comum a sua ocorrência na presença da oftal-
c) Tireoidite linfocítica. mopatia e da dermopatia. A acropaquia nada
d) Doença de Graves. mais é do que uma forma de baqueteamento
e) Tireoidite viral. digital que ocorre em < 1% dos pacientes com
a doença de Graves. Ela tem uma relação tão
Letícia tem um bócio difuso tóxico, isto é, sua forte com a dermopatia que, na sua ausência,
tireoide está aumentada e claramente hiperes- outra causa de baqueteamento deve ser pes-
timulada, produzindo hormônio em excesso. quisada em um paciente com doença de Gra-
Podemos afirmar isso porque o TSH está su- ves sem comprometimento cutâneo e orbital
primido (feedback negativo sobre o eixo hipo- concomitante. Alternativa C correta.
tálamo-hipofisário), e porque a paciente tem
sintomas de hipertireoidismo (perda ponderal
involuntária, nervosismo, intolerância ao calor). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
O sopro cervical anterior denota a hipervascu- FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
larização da glândula, o que é condizente com HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
a hiperestimulação da mesma. A causa mais O mixedema pré-tibial é manifestação tardia
comum de tireotoxicose por hipertireoidismo da seguinte patologia:
primário, acometendo particularmente pacien- a) Síndrome nefrótica.
tes jovens do sexo feminino, é a famosa doen- b) Cirrose hepática.
ça de Graves, uma doença mediada por au- c) Hipertireoidismo.
toanticorpos que ativam o receptor de TSH, d) Hipotireoidismo.
causando estimulação direta da glândula mes-
mo na ausência do TSH. Resposta: D. Cuidado para não fazer uma confusão de
termos... O termo “mixedema”, de um modo
geral, é usado como sinônimo da síndrome clí-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 nica do HIPOtireoidismo, uma vez que um dos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE principais sinais clínicos desta condição é de-
SANTA MARIA – RS corrente do acúmulo de glicosaminoglicanos na
A manifestação que se restringe à doença de derme (os quais retêm água e dão o típico as-
Graves, não ocorrendo com outras causas de pecto de pele “infiltrada”). Contudo, quando
hipertireoidismo, é a: falamos de “mixedema pré-tibial” estamos nos
a) Retração palpebral. referindo a um termo clássico empregado na
b) Fibrilação atrial. descrição de um dos sinais tardios mais espe-
c) Fraqueza muscular. cíficos da DOENÇA DE GRAVES (principal
d) Exoftalmia. causa de HIPERtireoidismo): é a chamada “der-
e) Hiper-reflexia. mopatia de Graves”, que acomete preferencial-
mente as regiões pré-tibiais e cursa visualmen-
Existem manifestações peculiares que, te com um aspecto que “lembra” a infiltração
quando encontradas num paciente com tireo- cutânea do HIPOtireoidismo (mixedema), mas
toxicose por hipertireoidismo primário, permi- que não raro apresenta também sinais inflama-
tem um diagnóstico clínico de doença de tórios locais... Em outras palavras, trata-se
Graves, por só ocorrerem nesta condição! São apenas de um termo antigo, que não se refere
elas: (1) oftalmopatia de Graves, caracteriza- ao mixedema do hipotireoidismo. Resposta: C.
da por exoftalmia; (2) dermopatia de Graves,
caracterizada pela formação de placas infiltra-
das geralmente na região pré-tibial das pernas; RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
(3) acropaquia de Graves. As opções de res- UNIVERSIDADE FEDERAL
posta citam pelo menos uma dessas lesões: DE SÃO PAULO – UNIFESP
exoftalmia. Cumpre ressaltar outro conceito Mulher de 24 anos queixa-se de nervosismo,
interessante: a retração palpebral é um acha- taquicardia, queda de cabelos e emagrecimen-
do relacionado à tireotoxicose em si, apare- to de 5 kg nos últimos 2 meses. Os achados
cendo, de forma isolada, em pacientes sem que melhor ajudariam na confirmação da
oftalmopatia de Graves, logo, não é específica doença de Basedow-Graves são:
da doença de Graves como a exoftalmia. Res- a) Ultrassonografia de tireoide com nódulo
posta certa: D. misto em terço superior do lobo tireoidiano
esquerdo, cintilografia com hipercaptação lo-
calizada em terço superior do lobo tireoidiano
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 esquerdo e T4 livre elevado.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO b) Bócio difuso, exoftalmo, sopro tireoidiano e
PEDRO ERNESTO – UERJ T4 livre elevado.
Na avaliação de paciente jovem com tireotoxi- c) Anticorpos antiperoxidase e antitireoglobu-
cose, a presença de baqueteamento digital lina positivos, pele seca e TSH elevado.
sugere a presença da seguinte condição clínica: d) Exoftalmo, anticorpo antirreceptor de TSH
a) Struma ovarii. (TRAB) positivo, TSH elevado e T4 livre baixo.
b) Coriocarcinoma. e) Nódulo doloroso palpável em região cervi-
c) Bócio difuso tóxico. cal, TSH suprimido e baixa captação de iodo
d) Doença de Plummer. radioativo pela tireoide.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 25

Em termos laboratoriais, o que caracteriza a Tioureias (Tionamidas)


doença de Graves é a presença de T4 livre
aumentado e TSH suprimido (hipertireoidismo Mecanismo de Ação: Inibem a tireoperoxida-
primário), além do autoanticorpo “TRAb” posi- se e, consequentemente, a organificação do
tivo na maioria dos casos. Um outro nome da iodo e acoplamento dos resíduos de MIT e DIT
doença – mais descritivo e informativo – é “bó- na formação de T3 e T4. Ou seja, seu efeito
cio difuso tóxico”. O motivo é que a imensa ocorre pela inibição da síntese de hormônio
maioria dos casos (cerca de 97%) apresenta tireoideo. Outro efeito possível é a imunos-
bócio indolor, simétrico e de consistência firme. supressão, que atuaria no mecanismo de
O estímulo crônico à glândula resulta em hiper- autoimunidade da doença tireoidiana. Como
vascularização, o que pode ser perceptível ao bloqueiam apenas a síntese de novos hormô-
exame físico pela presença de frêmito e sopro nios, aqueles que já haviam sido produzidos
na região cervical anterior (hiperfluxo de sangue e estavam estocados continuam ganhando a
no parênquima hipertrofiado). Além do bócio circulação nas 3-8 semanas subsequentes.
difuso e indolor, são caracteres clínicos clássi-
cos da doença de Graves a presença de oftal- São duas as drogas disponíveis:
mopatia e dermopatia. O encontro desses co-
memorativos num paciente com tireotoxicose Propiltiouracil
por hipertireoidismo virtualmente define um (Propiltiouracil®, comp. 100 mg)
diagnóstico de Graves. Resposta letra B. Dose de ataque (4-8 semanas):
300-600 mg/dia, em 3 tomadas.
Manutenção: 50-100 mg/dia, em 2 tomadas.
 Tratamento: Existem três abordagens pos- Metimazol
síveis, consistindo no controle sintomático, (Tapazol , comp. de 5 e 10 mg)
®
no uso de antitireoidianos e na destruição Dose de ataque (4-8 semanas): 40 mg/dia,
(ablação) do tecido tireoidiano. Os agentes em 1-2 tomadas.
antitireoidianos costumam ser os favoritos Manutenção: 2,5-10 mg/dia, em 1 tomada.
na Europa, no Japão e em vários centros
brasileiros; enquanto a radioablação é uti- Em casos especiais, as drogas também po-
lizada preferencialmente nos EUA. dem ser administradas pela via retal.

1) Controle Sintomático E quem é melhor: propiltiouracil ou meti-


mazol?
Betabloqueadores:
O propiltiouracil apresenta algumas vantagens
São usados como terapia coadjuvante no contro- sobre o metimazol:
le dos sintomas adrenérgicos da crise de tireoto-
xicose. A maior utilidade se dá quando acabamos • Em doses maiores (> 600 mg/dia) determina
de iniciar a terapia antitireoidiana, mas ainda também a inibição da conversão periférica
aguardamos a resposta... Eles podem ser utili- de T4 em T3, sendo preferível nos casos
zados também como drogas isoladas nos efeitos mais graves.
transitórios das tireoidites ou em associação com
as demais drogas, nas crises tireotóxicas graves • Menor passagem pela barreira placentária,
(pois inibem parcialmente a conversão periférica sendo o agente de escolha em gestantes no
de T4 em T3). As manifestações que mais res- primeiro trimestre. Contudo essa preferên-
pondem são palpitações, taquiarritmias, tremor e cia cai nos meses consecutivos, pelo risco
ansiedade. Perda de peso, intolerância ao calor de lesão hepática.
e fadiga não respondem à medicação. O pro-
pranolol é a droga classicamente mais utilizada, Por outro lado, o metimazol possui outras
embora o metoprolol e o atenolol também sejam vantagens sobre o propiltiouracil:
opções. Como sempre, devemos nos atentar
para as contraindicações da droga (claudicação • Pode ser utilizado em dose única diária (pos-
intermitente, broncoespasmo, etc.). sui maior meia-vida).

Propranolol – 20-60 mg VO 6/6h - 8/8h • Tem custo mensal até 70% mais barato.

Atualmente, a tendência é considerar o MMZ


2) Agentes Antitireoidianos como uma droga mais segura que o PTU, tor-
nando-se assim a primeira escolha. O PTU
O emprego destes agentes determina um fica como tratamento de segunda linha, ex-
bloqueio químico à síntese hormonal, cujo ceto em gestantes no primeiro trimestre, pa-
efeito só se mantém enquanto o medicamento cientes em crise tireotóxica e alérgicos ou in-
estiver sendo administrado ou até que ocorra tolerantes ao MMZ.
remissão espontânea. Dessa forma, eles são
eficazes numa fase aguda de tireotoxicose,
mas não conseguem prevenir sua recidiva em Como devemos acompanhar o resultado
períodos subsequentes. Os principais agentes do tratamento?
utilizados são: tioureias (tionamidas); iodeto;
corticoides e betabloqueadores. Os efeitos do MMZ e PTU tornam-se mais sig-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 26

nificativos após cerca de 10 a 15 dias de trata- tiouracil ou metimazol) em caso de febre e/ou
mento, uma vez que essas drogas não agem surgimento de dor de garganta, uma vez que a
sobre o hormônio já produzido e estocado na amigdalite é uma das primeiras manifestações
glândula. Após cerca de quatro semanas de de agranulocitose. A internação hospitalar
tratamento, novos exames devem ser solicita- imediata, em caso de agranulocitose confir-
dos e a dose da medicação aumentada, caso mada, e o início de antibioticoterapia de amplo
o paciente persista com hipertireoidismo. É espectro, em caso de febre associada, devem
importante se ter em mente que o TSH leva ser recomendados. Nestes casos as drogas
em torno de três meses para normalizar, pois antitireoidianas devem ser suspensas e não
os tireotrofos se encontram atrofiados e levam mais reintroduzidas, estando contraindicadas.
um certo tempo para recuperarem a sua fun- A conduta para o hipertireoidismo passa a ser
ção. Portanto deve-se monitorar a função ti- a radioablação com iodo...
reoidiana pelo T4 livre. A meta é o eutireoidis-
mo (T4 livre entre 0,9-2 ng/dl).
Quais são os doentes que respondem me-
lhor ao tratamento?
Por quanto tempo devemos manter o tra-
tamento? Aqueles com hipertireoidismo subclínico, glân-
dula pequena e sem oftalmopatia ativa.
Se a estratégia é manter a tionamida até a re-
missão do estado de hipertireoidismo, apesar E se a doença recidivar?
de não existir um período rígido, pré-definido,
em geral recomenda-se o tratamento por até Frente a uma recidiva, até pode ser tentado
1-2 anos. Precisamos lembrar que a doença mais um curso de terapia com drogas antiti-
não foi necessariamente curada e que cerca reoidianas, embora, nesta situação, a conduta
de 50% dos pacientes remitem... Por volta de mais recomendada seja a ablação da tireoide
75% das remissões ocorrem durante os seis com administração de iodo radioativo.
primeiros meses após a suspensão da droga
e 90% são observadas em um período de dois
anos. Após o tratamento, o paciente deve ser RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
avaliado pelo menos anualmente. INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
O pior efeito colateral do metimazol, é:
Quais são os principais efeitos adversos a) Câncer de pâncreas.
das Tionamidas? b) Acidente vascular cerebral.
c) Aplasia de medula óssea.
Os efeitos adversos são mais comuns em d) Leucemia mieloide aguda.
indivíduos acima dos 40 anos, naqueles que e) Cetoacidose diabética.
reiniciam tratamento após uso descontínuo
de propiltiouracil e em pacientes que fazem Dentre os efeitos adversos das tionamidas,
uso de mais de 30 mg/dia de metimazol. Os o mais temido consiste na agranulocitose, que
efeitos colaterais das tionamidas ocorrem com ocorre em menos de 1% dos pacientes, sendo
maior frequência nos primeiros seis meses de de instalação súbita, caracterizada pelo apa-
terapia. Veja os principais efeitos adversos do recimento de neutropenia grave por aplasia
uso das tionamidas: medular! Alternativa C correta.

Leves: rash cutâneo, urticária, febre e artral-


gia (5%). Iodeto:

Graves: hepatite medicamentosa com o PTU; O iodeto administrado diminui a sensibilidade


colestase com o MMZ; vasculite ANCA po- da tireoide ao TSH. Como já vimos, esse efeito
sitivo; alterações hematológicas do tipo leu- é chamado de autorregulação pelo iodo, ou
copenia, trombocitopenia e agranulocitose efeito de Wolff-Chaikof. Assim, além de inibir
(neutropenia grave, ou seja, < 500/mm3). a síntese dos hormônios tireoideos, ele inibe
também a liberação desses hormônios pela
O hipotireoidismo também pode ser uma com- glândula hiperfuncionante (visto que o TSH
plicação da terapia antitireoidiana. O aumento é fundamental para todos os processos). Os
de volume da glândula durante a terapia e um efeitos do iodeto quanto à melhora da sin-
aumento supranormal do TSH nos faz pensar tomatologia ocorrem com maior rapidez do
nessa condição. Nesses casos uma redução que os proporcionados pelas tioureias, que
na dosagem do PTU ou MMZ é recomendada. inibem apenas síntese hormonal. Isso ocorre
porque as tioureias inibem a organificação de
iodo – e, em consequência, a síntese de novo
A agranulocitose desenvolve-se de maneira hormônio – mas não conseguem impedir que
súbita e acomete até 0,5% dos pacientes, sen- a tireoglobulina já iodada do coloide seja cap-
do a complicação mais temida. A solicitação de tada, degradada e liberada na forma de T3 e
leucogramas seriados parece não influenciar T4. Indicações:
no diagnóstico justamente devido à natureza
súbita desta condição. Devemos recomendar • após radioablação: é útil no controle da tireo-
aos pacientes que suspendam a droga (propil- toxicose após administração de 131I, durante
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 27

o período em que o efeito terapêutico do iodo americanos a terapia ablativa de escolha. É


radioativo ainda não se fez sentir. um tratamento eficaz, resolvendo até 80% dos
casos com apenas uma dose. A remissão pode
• preparo para tireoidectomia: deve ser ad- ocorrer em até seis meses e só a partir de então
ministrado 7-10 dias antes da realização de é que podemos julgar os resultados da primeira
uma cirurgia ablativa de tireoide, no sentido dose e optar ou não por uma segunda.
de reduzir seu tamanho e vascularização.
 Dose: Não é algo tão importante para as pro-
• auxiliar no controle da crise tireotóxica grave. vas, mas a título de curiosidade... Como não
há benefício comprovado do cálculo da dose
As formas de iodeto no mercado são: ideal pela dosimetria (baseado no tamanho
do bócio e na captação do iodo-131 em 24h),
Lugol (6 mg/gota) – 5 gotas 8/8h a dose é fixada por muitos arbitrariamente
em torno de 8 mCi, embora possa variar
Solução Saturada de entre 5 e 15 mCi. A recidiva é mais comum
Iodeto de Potássio (SSKI) em homens, com menos de 40 anos.
(38 mg/gota) – 2 ou 3 gotas 12/12h
 Complicações:

Corticoides: • A principal é o desenvolvimento de hipoti-


reoidismo, numa frequência tempo-depen-
Atuam como imunossupressores e inibidores dente (metade dos pacientes desenvolve
da secreção glandular e da conversão periférica hipotireoidismo dentro dos dez primeiros
de T4 a T3, devendo fazer parte de um esque- anos de tratamento). Daí a necessidade de
ma terapêutico quando o alívio da tireotoxicose se acompanhar o T4 livre e o TSH do pacien-
se torna urgente (ver “crise tireotóxica”). te pelo resto da vida. Uma vez deflagrado, o
hipotireoidismo pode ser tratado sem maiores
Dexametasona 8 mg/dia problemas, com a reposição de levotiroxina,
mantendo-se o eutireoidismo. Em função
disso, alguns especialistas utilizam grandes
Outras medidas: doses de iodo radioativo para assegurar
alívio da tireotoxicose e, a seguir, colocam
Como vimos, os betabloqueadores são utiliza- os pacientes num esquema de reposição
dos principalmente no controle dos sinais adre- permanente de hormônio tireoidiano.
nérgicos. Uma particularidade é que apenas o
propranolol (e não os outros betabloqueadores) • A tireoidite por irradiação constitui uma
pode também inibir a conversão do T4 em T3... complicação ocasional do tratamento com
Outras medidas “heroicas” que servem, sobre- iodo radioativo. Quando presente, em geral,
tudo, aos que apresentaram reações alérgicas aparece dentro de uma semana após início
às tionamidas incluem administração de carbo- do tratamento, sendo caracterizada pela
nato de lítio (inibidor da liberação hormonal) e liberação de quantidades excessivas de
de colestiramina (liga-se ao T4 e impede sua hormônios (pré-formados) no sangue. Nes-
reabsorção pelo ciclo entero-hepático nos ca- se caso, há o risco de crise tireotóxica por
sos suspeitos de intoxicação exógena). lesão actínica da tireoide. Por essa razão,
aconselha-se, pelo menos nos idosos ou
cardiopatas, o tratamento com drogas antiti-
3) Destruição (Ablação) de reoidianas por pelo menos um mês antes da
Tecido Tireoidiano aplicação do radiofármaco, seguida de sua
suspensão pelo menos dois dias antes da
A ablação do tecido tireoideo, que pode ser aplicação (idealmente 3-4 dias no caso do
obtida tanto cirurgicamente quanto pelo em- MMZ e 4-7 dias para o PTU), a fim de facilitar
prego de iodo radioativo, leva à limitação da a captação do iodo radioativo. O tratamento
produção hormonal de forma definitiva. Apesar da tireoidite deve ser feito com AINEs.
de esses métodos serem mais eficazes na
prevenção de crises posteriores, já que deter- • A oftalmopatia pode ser exacerbada durante
minam alterações irreversíveis da tireoide, há a terapia com radioiodo, principalmente nos
risco considerável para o desenvolvimento de tabagistas. Desta forma, existem protocolos
hipotireoidismo, seja logo após sua realização, que recomendam o início de prednisona
seja com o passar dos anos. 0,4-0,5 mg/kg 2-3 dias antes do radioiodo
e a manutenção da dose por um mês, com
retirada gradual nos dois meses seguintes.
A – Ablação com Iodo Radioativo
(Iodo-131)  Contraindicações: A gravidez e o aleita-
mento materno são contraindicações ab-
O iodo radioativo é uma opção relativamente solutas ao emprego deste método, assim
simples de tratamento, uma vez que é eficaz e como grandes bócios retroesternais, devido
econômico, sendo capaz de produzir os efeitos ao risco de tireoidite. Mulheres tratadas com
ablativos da cirurgia, sem suas complicações iodo radioativo devem evitar a gravidez até
inerentes (ex.: lesão das paratireoides). O 131I que o eutireoidismo seja confirmado por 3-6
tem sido considerado pelos endocrinologistas meses após o procedimento.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 28

 Isolamento: pacientes submetidos ao trata- procedimento deve ser realizado somente


mento são fontes potenciais de contamina- no segundo trimestre.
ção para seus contactantes pela saliva, pela
urina ou pela radiação emitida pelo pescoço. Indicações relativas: fumantes com oftal-
Eles devem ser orientados a evitar relações mopatia moderada a grave; pacientes que
sexuais, não dividir utensílios, e evitar con- desejam rápido controle da doença e baixa
tato prolongado com crianças e gestantes aderência ao uso da medicação.
por uma semana.
 Técnica: a tireoidectomia subtotal ou o
 Seguimento: Após cinco dias da aplicação procedimento quase total (near total) são
do iodo-131, as medicações antitireoidianas os mais empregados.
e os betabloqueadores costumam ser reini-
ciadas e mantidas por alguns meses, uma • Na primeira modalidade, pode-se deixar
vez que o hipertireoidismo persiste durante cerca de 2 g de tecido tireoidiano de cada
oito a doze semanas após a ablação com lado (4-7 g no total), e realização de istmec-
iodo radioativo. A melhora da tireotoxicose é tomia (lembrar que a tireoide de um adulto
evidente em cerca de quatro a cinco sema- pesa de 12 a 20 gramas) – esta é a tireoi-
nas e, como já dito, 80% dos indivíduos são dectomia subtotal bilateral. Ou então, reali-
curados com dose única. Hipertireoidismo za-se a lobectomia de um lado, deixando a
persistente pode ser tratado com um novo subtotal para o lado oposto (procedimento
curso de radioiodo após seis meses. de Hartley-Dunhill). Os resultados são se-
melhantes em ambos os procedimentos,
mas o último está associado a menos com-
O aluno pergunta... plicações e a reoperação, caso necessária,
E o risco de câncer no tratamento demandaria apenas a abordagem por um
com radioiodo, existe mesmo?? lado da região cervical (o que é óbvio, já
que sobrou tireoide apenas de um lado).
Estudos de longo prazo não mostraram risco
de neoplasia tireoidiana ou outras malignida-
• Na tireoidectomia quase total uma lobecto-
des em adultos. Em crianças e adolescentes
mia é realizada com istmectomia e apenas
esse tema é mais controverso, desde a ocor-
uma quantidade muito pequena de tecido
rência de carcinomas nos expostos à radiação
glandular do lobo contralateral, na tentativa
no desastre de Chernobyl (1986). Um estudo
de manter um mínimo de função, é deixada.
prospectivo com 98 pacientes abaixo de 20
Essa cirurgia estaria mais indicada naqueles
anos de idade, não observou aumento na in-
com oftalmopatia grave, reações graves às
cidência de malignidades após 36 anos de
drogas antitireoidianas; recusa à realização
seguimento, sugerindo a segurança do proce-
de iodo radioativo e câncer coexistente.
dimento mesmo nos pacientes mais jovens.
Mesmo assim, muitos autores ainda preferem
Obs.: Veremos mais detalhes das cirurgias
não utilizar a terapia com radioiodo nos pa-
de tireoide no Boletim Operatório e quando
cientes muito jovens, especialmente nos me-
estudarmos as neoplasias da glândula no
nores de 10-15 anos.
módulo de Oncologia.

 Preparo Pré-Operatório
B – Cirurgia
• Uso adequado de PTU ou metimazol é
Antes da introdução do iodo radioativo, a tireoi- mandatório nas seis semanas que antece-
dectomia subtotal era a forma clássica de terapia dem à cirurgia.
ablativa. No entanto, as indicações atualmente
estão cada vez mais reduzidas, devido às com- • Iodeto de potássio, veiculado pela solu-
plicações relacionadas a este procedimento. ção de Lugol (3-5 gotas VO 8/8h), deve
ser iniciado cerca de 7-10 dias antes da
 Indicações: cirurgia. Esta terapia tem como objetivo
diminuir a vascularização da glândula e
• Pacientes que não controlam a doença facilitar o ato cirúrgico.
com tionamidas ou não as toleram e que
recusam o 131I.  Complicações: O índice de complicações
varia conforme a experiência e a habilidade
• Doença com bócio volumoso causando de- da equipe cirúrgica. Um trabalho realizado
formidade estética ou comprimindo traqueia mostrou a seguinte taxa de complicações
e trazendo desconforto. em pacientes com doença de Graves:

• Suspeita de neoplasia tireoidiana subjacente • Hipertireoidismo recorrente (2%).


(nódulo frio confirmado por punção aspirati-
va). A diferença é que, no caso de neoplasia, • Paralisia da corda vocal transitória (2,5%)
utilizam-se outras técnicas cirúrgicas como e permanente (0,3%).
a tireoidectomia parcial e a total.
• Hipocalcemia pós-operatória > 7 dias (3,7%).
• Grávidas com hipertireoidismo grave não
controlado por drogas antitireoidianas. O • Hipoparatireoidismo permanente (0,6%).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 29

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


O aluno pergunta... PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
Ok, agora eu sei todas as formas de Com relação às condutas no perioperatório de
tratamento da doença de Graves... tireoidectomia em paciente com diagnóstico de
Mas, quando o paciente estiver na minha hipertireoidismo, assinale a afirmativa ERRADA:
frente, como escolher a melhor abordagem? a) Manter o uso de soluções iodadas por via
oral no pré-operatório pode reduzir o fluxo
Não existe uma “receita de bolo” aqui. O im-
sanguíneo, a friabilidade e o sangramento da
portante é que você perceba que cada forma
tireoide no peroperatório.
de tratamento possui suas indicações e con-
b) Está contraindicado o uso de iodo por via
traindicações, vantagens e desvantagens e
oral no pré-operatório de tireoidectomia em
devem ser pesadas em cada caso. Algumas
paciente com bócio nodular tóxico.
regras costumam ser seguidas.
c) Na presença de tireotoxicose, é necessário
• De uma forma geral, costuma-se tentar administrar drogas antitireoideanas, betablo-
primeiro a terapia antitireoidea com PTU queadores e glicocorticoides antes da tireoi-
ou MMZ. A terapia ablativa costuma estar dectomia.
indicada nos casos de: recidiva ou recaí- d) Soluções iodadas e tionamida devem ser
da após tratamento medicamentoso; bócio mantidas por, pelo menos, cinco dias após a
volumoso; toxicidade medicamentosa; não tireoidectomia.
aderência ao tratamento.
• No caso de optarmos pela terapia ablativa, Vamos resumir esse tema: o preparo tem
o iodo radioativo é melhor para pacientes duas etapas: 1) Antitireoideanos (METIMA-
idosos ou com risco cirúrgico elevado e para ZOL/PTU): seis semanas antes – necessários
aqueles que já foram submetidos à cirurgia a todos os pacientes com sintomas de hiper-
da tireoide. A cirurgia está indicada para tireoidismo. Função: controle clínico das re-
pacientes mais jovens, bócio volumoso percussões hemodinâmicas. Previne a tem-
(compressão ou efeitos cosméticos), pa- pestade tireoideana. 2) Iodeto de potássio
cientes que não queiram se submeter à (LUGOL) – pelo menos 7-10 dias antes – pre-
radioatividade, gestantes alérgicas aos paro do paciente com DOENÇA DE GRAVES.
antitireoidianos e na coexistência de lesão Função: reduz a vascularização da glândula
sugestiva de malignidade. + redução do sangramento intraoperatório +
aumento da consistência = facilidade técnica.
Agora ficou fácil! A única alternativa incorreta
Conduta nos Achados Associados é a letra D, pois afirma que tais drogas devem
ser mantidas por cinco dias após a cirurgia.
1- Tratamento da Oftalmopatia
Não faz sentido manter uma droga que é usa-
As formas brandas necessitam apenas de terapia
da apenas para facilitar o ato operatório por
de suporte com colírio de metilcelulose (lágrima
cinco dias APÓS a cirurgia! OBS.: apesar de
artificial) e uso de óculos escuros. O tabagismo
não ser CONTRAINDICADO, não existe be-
deve ser interrompido já que se trata de um fator
nefício algum em postergar uma cirurgia por
associado à doença de Graves, especialmente
seis semanas para controle sintomático, ou
à oftalmopatia. A cabeceira elevada durante o
ainda mais duas semanas para o preparo com
sono e o emprego de diuréticos para reduzir o
lugol, quando o diagnóstico é de nódulo único
edema de estruturas periorbitárias são medidas
tóxico, já que os sintomas são muito mais
que trazem bons resultados.
brandos e o procedimento cirúrgico não apre-
Nos quadros moderados a graves, encontra-se senta tanta dificuldade, se comparado à doen-
indicada a corticoterapia. A radioterapia orbitária, ça de Graves. Melhor resposta, letra D!
apesar de ser utilizada há algum tempo, ainda
tem seus benefícios questionados. Para as for-
mas moderadas, utiliza-se um curso de predni- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
sona em doses imunossupressoras de 60-80 UNIVERSIDADE ESTADUAL
mg/dia, por período de duas a quatro semanas. PAULISTA – UNESP
Nos quadros mais graves (inflamação grave Mulher de 42 anos, com doença de Graves há
com compressão do nervo óptico, quemose ou 3 anos, faz uso de metimazol 40 mg/dia e não
ulceração da córnea), pulsoterapia com metil- apresenta sintomas de tireotoxicose. Exame
prednisolona seguida de dose de manutenção físico: calma, FC 82 bpm, PA 138 x 84 mmHg,
oral de prednisona tem sido utilizada com fre- apresenta aumento moderado e difuso à palpa-
quência. Após a estabilização da doença ocular, ção da tireoide. Exames laboratoriais: TSH 0,01
uma cirurgia de descompressão da órbita pode (nl: 0,9 a 4,1) e T4 livre 1,72 (nl:0,8-1,8), TRAB
ser indicada, para correção da diplopia e outras e anti-TPO positivos. A melhor conduta é:
alterações crônicas. Além dessas modalidades, a) Introduzir betabloqueador, iodo frio (iodeto
a oftalmopatia tem demonstrado estabilização ou de potássio) e corticosteroide.
melhora após realização de tireoidectomia total. b) Indicar cirurgia, devido ao risco eminente
2- Tratamento da Dermopatia de crise tireotóxica.
c) Indicar iodoterapia radiativa, pois ainda não
O tratamento da dermopatia pode ser feito
houve controle da doença.
com uso tópico de glicocorticoide de alta
d) Aumentar a dose do metimazol e aguardar
potência. A terapia com octreotide tem sido
a melhora laboratorial.
recomendada por alguns autores, com resul-
e) Manter medicação, pois a doença de Gra-
tados aparentemente benéficos. A remoção
ves apresenta grande taxa de remissão.
cirúrgica não é recomendada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 30

Paciente em uso de dose alta de metimazol, manece normal – ou seja, a paciente não
muito acima da dose de manutenção usual. desenvolve hipertireoidismo. Dessa forma,
Os 40 mg/dia que esta paciente está receben- concluímos que a assertiva A é incorreta.
do costumam corresponder à dose máxima de Quanto às demais assertivas:
ataque, que usamos apenas nas primeiras
semanas de tratamento. Ou seja, não temos - Estamos diante de um caso clássico de ti-
como aumentar mais a dose do metimazol. reotoxicose, provavelmente causada por hi-
Ainda assim a paciente apresenta redução pertireoidismo (causa mais provável: doença
importante do TSH, embora o T4 livre esteja de Graves).
na faixa superior de normalidade. O TSH de-
mora em torno de três meses para normalizar - O tabaco está associado à piora da oftal-
com o tratamento, pois os tireotrofos se en- mopatia de Graves.
contram atrofiados e levam um certo tempo
para recuperarem a sua função. Contudo, - A agranulocitose, após o uso de uma tio-
considerando uma paciente que já está em namida, que ocorre em 0,5% dos pacientes,
tratamento há três anos, o TSH já deveria es- contraindica a reutilização de qualquer fárma-
tar na faixa normal. Dessa forma, considera- co da classe. Nesses casos, a conduta para
mos que há falha ao tratamento com droga o hipertireoidismo passa a ser a radioablação
antitireoidiana (o que ocorre em 50% dos com iodo ou a cirurgia.
casos) e devemos partir para outra forma de
tratamento, como radioiodo ou cirurgia, com
preferência para a primeira (a não ser que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
houvesse bócio volumoso, gestação ou sus- ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
peita de neoplasia, por exemplo, situações nas RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS
quais a escolha seria a cirurgia). Não há ne- Constitui indicação para tireoidectomia subto-
cessidade de betabloqueador, corticoide ou tal no hipertireoidismo, EXCETO:
outras medidas para controle da tireotoxicose a) Bócio proeminente.
simplesmente, pois não há sintomas de tireo- b) Bócio multinodular com baixa captação de
toxicose! Logo, melhor resposta: Letra C. iodo radioativo.
c) Gravidez.
d) Bócio pequeno em pessoas aderentes ao
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 tratamento.
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG e) Bócio induzido por amiodarona.
Paciente de 32 anos, solteira, professora, vem
à consulta com queixa de perda de 3 kg no Mesmo não utilizando o livro debaixo do
último mês, apesar de alimentar-se bem. Na braço, com as indicações clássicas de ci-
última semana, teve episódios de palpitações rurgia, podemos acertar esta questão. Na-
taquicárdicas em repouso, o que a preocupou turalmente, bócios pequenos em pessoas
muito. É fumante desde os 12 anos de idade que aderem ao tratamento para o hipertireoi-
(3 maços/dia) e não faz uso de bebida alcoóli- dismo não indicarão cirurgia, pois a doença
ca. É nulípara e usa etinilestradiol + norgestrel pode ser controlada por terapia farmaco-
como contraceptivo oral. Os familiares (pais e lógica. Isso já seria suficiente para acertar
dois irmãos) são saudáveis. Ao exame: P = 55 a questão. Resposta: D. Bócios grandes e
kg; E = 1,69 m; PA = 145/76 mmHg; FC = 96 multinodulares são indicação de cirurgia e a
bpm. Corada, sem edemas, tireoide com au- gestação não contraindica. A dúvida maior
mento leve e difuso, indolor e sem frêmitos. aqui seria em relação à tireoidectomia na
Tremor fino das extremidades. Pele macia e tireotoxicose induzida pela amiodarona. Cer-
quente. Exoftalmia bilateral moderada, hipere- tamente não se trata da terapia de escolha,
mia conjuntival e piscar frequente. Com relação como veremos mais à frente, mas pode ser
ao caso acima é correto afirmar, EXCETO: uma opção terapêutica nos casos resistentes
a) A utilização de contraceptivos orais pode ao tratamento medicamentoso.
determinar redução dos níveis do T4 total.
b) O diagnóstico mais provável é de tireotoxi-
cose secundária ao hipertireoidismo. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
c) O tabaco contribuiu para a piora do prog- UNIVERSIDADE FEDERAL DE
nóstico da oftalmopatia. SÃO PAULO – UNIFESP
d) Se a paciente vier a utilizar-se do propiltiou- Mulher, com 30 anos de idade, há 2 meses
racil e tiver leucopenia grave, metimazol não apresenta quadro de palpitações, insônia, irri-
constitui opção terapêutica. tabilidade, aumento do número de evacuações
e perda de peso. Ao exame físico: bom estado
A Tiroxina (T4) é o principal hormônio ti- geral, descorada +/4+, tireoide aumentada 3
reoidiano e circula na corrente sanguínea vezes, sem nódulo palpável. Tem hiperemia
essencialmente na forma complexada a pro- conjuntival, edema e retração de pálpebras.
teínas carreadoras. Contudo, somente a Ausculta cardíaca normal, frequência cardíaca
porção livre (não ligada) de T4 é responsá- de 116bpm e PA 135 x 85 mmHg. Tremor de
vel pela ação biológica. Durante o uso de extremidades presente. Exames laboratoriais:
contraceptivos contendo estrogênio, ocorre TSH <0,03 µm/l (VN: 0,5 a 4,5); t4 livre 4,2
aumento dos níveis totais de T3 e T4 devido ng/dl (VN:0,7 a 1,5). Hemoglobina 11,2 g%,
ao aumento da TBG – globulina de ligação leucócitos 6200, plaquetas 180.000. Cintilo-
ao hormônio tireoidiano – mas o T4 livre per- grafia de tireoide com captação difusamente
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 31

aumentada. Qual a hipótese diagnóstica e a atrapalhem o efeito residual do iodo radioativo.


conduta neste momento? Resposta: E.
a) Doença de Graves, radioterapia e betablo-
queador.
b) Doença de Graves, metimazol e radioterapia.
c) Doença de Graves, metimazol e betablo- Bócio Multinodular Tóxico
queador.
d) Bócio multinodular tóxico, metimazol e be-
tabloqueador.
e) Bócio multinodular tóxico, radioterapia e
betabloqueador.

Mulher com sintomas de tireotoxicose clás-


sicos e mais arrastados (início há dois meses)
nos fazem sempre pensar em doença de Gra- FIGURA 8
ves. Está taquicárdica e tem tremor o que exigi-
rá nesse momento o controle sintomático com
betabloqueadores. Além disso, numa paciente  Conceito: Presença de múltiplos nódulos
jovem como esta, a primeira escolha no trata- autônomos e hiperfuncionantes. O nome
mento costuma ser o uso de MMZ. Resposta: C. tóxico vem justamente da elevação dos
hormônios tireoidianos.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008  Epidemiologia: Ocorre principalmente em


ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA mulheres acima de 50 anos que já apre-
DO CEARÁ – ESPCE sentavam bócio multinodular atóxico (sem
Iodoterapia radioativa está indicada para: alteração hormonal) e vivem em áreas de
a) Idosos com hipertireoidismo moderado. deficiência de iodeto.
b) Pacientes em crise tireotóxica.
c) Gestante com hipertireoidismo grave.  Fisiopatologia: Não existem características
d) Pacientes com nódulos não captantes. patológicas para diferenciar o bócio multino-
e) Pacientes com grande aumento de tireoide. dular atóxico do tóxico, e não existe evidência
de um fator etiológico específico, responsá-
Iodo radioativo está contraindicado para vel pela evolução do bócio atóxico para uma
gestantes e pacientes em crise tireotóxica. O fase tireotóxica – entretanto, essa transição
mesmo se pode dizer para bócios volumosos, envolve a aquisição, por parte de determina-
pelo risco de tireoidite grave. Além disso, pode das áreas da glândula, do que se entende por
piorar a oftalmopatia. Como o procedimento “autonomia funcional”, isto é, uma indepen-
requer a captação do 131I pelo tecido tireoidia- dência da estimulação pelo TSH. Já no início
no, não adianta administrá-lo em casos de do processo, múltiplos focos de autonomia
nódulos não captantes. Por último, trata-se funcional costumam estar presentes....
realmente de uma boa opção entre idosos que
caracteristicamente possuem risco cirúrgico  Clínica: Alguns pacientes apresentam um
mais elevado. Resposta: A. quadro típico de tireotoxicose, mas, na maior
parte das vezes, a gravidade dos sintomas
é muito menor do que na doença de Gra-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ves. Entretanto, o acometimento de órgãos
HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD específicos pode ser bastante importante,
Em relação ao tratamento da doença de Gra- como no caso de acometimento do aparelho
ves, é INCORRETO afirmar que: cardiovascular, com arritmias e ICC. Como o
a) Os efeitos colaterais mais graves dos an- BMT surge a partir do bócio simples, todas
titireoidianos são agranulocitose e hepatite as manifestações deste último geralmente
fulminante. são encontradas. Na maioria dos pacien-
b) Os betabloqueadores são utilizados no tes, a tireoide está nitidamente aumentada
controle dos sintomas adrenérgicos. no exame físico e os pacientes costumam
c) O hipertireoidismo pode persistir por 2 a procurar o médico em função dos sintomas
3 meses antes que o iodo radioativo exerça compressivos (disfagia, dispneia, etc.). No
seu efeito. BMT é comum a extensão retroesternal da
d) A dose de I131 varia de 5 a 15 mci. tireoide, o que pode ser demonstrado pe-
e) Os antitireoidianos podem ser suspensos dindo-se ao paciente que eleve os braços:
no dia do tratamento com iodo radioativo. ocorre distensão jugular e sufusão facial,
Existe preparo para terapia com iodo ra- num fenômeno conhecido como sinal de
dioativo? Sim! A ideia é prevenir a liberação Pemberton. Outro dado semiológico des-
de hormônios tireoidianos após a radioabla- crito nestes bócios ditos “mergulhantes” é
ção. Esse preparo é primordial para pacientes a impossibilidade de palpação da fúrcula
idosos com doença isquêmica do miocárdio. esternal (ocupada pela tireoide).
Normalmente os agentes antitireoidianos são
iniciados por pelo menos um mês antes da  Diagnóstico: É feito pela cintilografia ti-
aplicação e retiradas no máximo dois dias reoidiana, que mostrará o clássico padrão
antes do procedimento. Elas serão reintrodu- de múltiplos nódulos de captação variá-
zidas apenas sete dias depois para que não vel, com alguns hipercaptantes (nódulos
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 32

“quentes”). Geralmente encontramos TSH comum a tireotoxicose por T3 e o tratamento


baixo, T4 aumentado ou no limite superior de escolha é com cirurgia, sendo a ablação
da normalidade e T3 aumentado. com radioiodo uma alternativa em pacientes
mais velhos sob risco cardiovascular elevado.
Resposta: C.

Outras Causas de Tireotoxicose

Adenoma Tóxico (Doença


de Plummer)

FIGURA 9: O sinal de Pemberton: Observe


 Conceito: Hipertireoidismo causado por
a congestão facial após a elevação dos nódulo solitário e autônomo que produz
braços. quantidades excessivas de hormônio tireoi-
diano, independente do estímulo do TSH.

 Tratamento: Como não ocorre remissão  Fisiopatologia: Está relacionada a muta-


espontânea no BMT, as drogas antitireoidia- ções somáticas ativadoras do TSH-R e na
nas em associação com betabloqueadores, proteína G.
apesar de controlarem temporariamente
sintomas da tireotoxicose, não são capa-  Diagnóstico: A maioria apresenta diâmetro
zes de levar à resolução do quadro. Sendo maior que 3 cm antes de levar ao hipertireoi-
assim, a terapia de escolha passa a ser ci- dismo e pode ser identificada à palpação.
rurgia ou radioiodo. No entanto, é prudente Como já foi dito, pode ser uma das causas
iniciar com agentes antitireoidianos antes de tireotoxicose por T3. A cintilografia con-
de uma dessas modalidades, a fim de evitar firma a presença de uma lesão “quente”
exacerbação da tireotoxicose. e deve ser o exame a ser solicitado após
constatação do hipertireoidismo. O risco de
O tratamento cirúrgico com tireoidectomia malignidade é praticamente nulo e não há
subtotal é o tratamento de escolha no BMT, necessidade de realização de PAAF.
principalmente pelo método de Hartley-Du-
nhill, que já comentamos anteriormente. O  Tratamento: Radioiodo é geralmente o tra-
radioiodo mesmo que efetivo, está associa- tamento de escolha, sendo, no entanto, a
do ao reaparecimento de novos focos autô- cirurgia (lobectomia + istmectomia) o trata-
nomos e seria reservado para os pacien­tes mento preferencial para pacientes jovens e
idosos com risco cardíaco elevado. Nesse com nódulos muito grandes. Atualmente, a
caso, devem estar excluídas manifestações utilização de múltiplas injeções (> 5 aplica-
obstrutivas pelo bócio e a possibilidade de ções) de etanol sobre o nódulo, assim como
neoplasia. Doses maiores que as usadas a ablação por radiofrequência, guiadas por
em Graves são utilizadas, pois a captação USG, têm obtido grande sucesso.
é mais baixa no BMT.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 Tireoidites


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE
PORTO ALEGRE – HCPA Conjunto de doenças caracterizadas pela
Homem de 68 anos queixa-se de perda de peso inflamação da glândula tireoide que podem
e depressão. Ao exame, identifica-se aumento oscilar desde o eutireoidismo até o hipo ou hi-
do volume da tireoide, com múltiplos nódulos de pertireoidismo. Como o principal representante
tamanhos variados e provável extensão subester- é a tireoidite de Hashimoto, causa clássica de
nal. Sobre este caso, assinale a assertiva correta. hipotireoidismo, as tireoidites serão abordadas
a) Os anticorpos contra o receptor do TSH junto com este tema.
(TRAb) provavelmente são positivos.
b) Os níveis de T4 deverão estar mais elevados
do que os de T3. hipertireoidismo Secundário/
c) Os níveis de TSH provavelmente estão su- Terciário
primidos.
d) O tratamento definitivo mais indicado é admi- Neste grupo, incluem-se principalmente os
nistração de carbimazol por 12 meses. adenomas hipofisários produtores de TSH,
e) A cintilografia de tireoide mostrará redução que respondem por menos de 1% dos tumores
generalizada da distribuição de iodo radioativo. hiperfuncionantes da hipófise. Costumam se
apresentar como macroadenomas (> 1 cm),
Vamos entender que pelas opções e pela podem vir acompanhados de outras síndro-
presença de perda ponderal associada ao bócio mes hiperfuncionantes (ex.: prolactinoma)
multinodular, o examinador quis cobrar sobre o ou de pan-hipopituitarismo e o diagnóstico
hipertire­oidismo. Em se tratando de um bócio se faz com exames de imagem e a elevação
multinodular tóxico, não há porque esperar ele- dos níveis da subunidade alfa do TSH. Mais
vação de TRAb, nem redução generalizada da detalhes sobre os tumores hipofisários serão
captação. Como já foi dito, nesses casos é mais estudados no final da apostila.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 33

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 xicose por T3 confirmado labo­ratorialmente, o


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE que nos faz colocar a doença de Graves como
JANEIRO – UERJ uma das hipóteses diagnósticas. No entanto,
Homem de 65 anos relata vários episódios de em uma mulher jovem que chega com estas
taquicardia nos últimos meses. Procurou um queixas, não podemos descartar a hipótese de
clínico geral que identificou nódulo cervical. A tireotoxicose sem hipertireoidismo como ocorre
ultrassonografia evidencia nódulo de 4,5 cm no nas tireoidites e na tireotoxicose factícia. E qual
lobo esquerdo. Foi solicitada uma cintigrafia da seria o melhor exame para diferenciar a tireo-
tireoide, cujo resultado evidenciou nódulo hi- toxicose “com” da tireotoxicose “sem” hiperti-
perfuncionante. O diagnóstico é de doença de: reoidismo? O teste da captação do iodo em 24
a) Graves. horas (RAIU)! E não confunda este exame com
b) Hürthle. a cintilografia, um teste de maior utilidade na
c) Plummer. avaliação anatômica (ex.: nódulo tireoidiano).
d) Hashimoto. Na tireotoxicose factícia, como a glândula está
O hipertireoidismo na doença de Plummer inibida pela ingestão exógena de hormônio, a
(adenoma tóxico) é ocasionado pela produção captação com radioiodo é baixa, bem como os
exagerada de hormônios tireoidianos, a partir níveis séricos de tireoglobulina (que na tireoidite
de áreas autônomas presentes nas lesões estarão elevados). Resposta: D.
uni ou multinodulares do tecido tireoidiano. A
evolução natural da doença é caracterizada
primeiramente pelo aparecimento do tecido RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
autônomo, por mutação no receptor de TSH, SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SÃO
que fica ativado constitutivamente e inicia, PAULO
então, a produção de hormônios independen- Mulher de 25 anos, apresenta quadro de an-
temente do estímulo normal do TSH. À medida siedade, insônia, palpitação e emagrecimento.
que este tecido vai crescendo, a quantidade Os exames revelam TSH < 0,01 mcU/ml, ve-
hormônio secretada se eleva e inicia processo locidade de hemossedimentação de 3 mm/h,
de supressão do TSH endógeno; em conse- tireoide homogênea e de tamanho normal à
quência, os tecidos normais da glândula dei- ultrassonografia e captação tireoidiana de iodo
xam de funcionar e toda a produção hormonal radioativo de 1%. Dos dados abaixo o mais
é dependente do nódulo ou nódulos autôno- provável nessa paciente é:
mos. Posteriormente, esta vai aumentando e a) Alargamento de sela túrcica.
surge a tireotoxicose. Resposta letra C. b) História de uso crônico de levotiroxina.
c) Presença de exoftalmo.
d) Título elevado de anticorpo antiperoxidase.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 e) Título elevado de anticorpo antirreceptor de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – tireotrofina.
UFPR
Paciente do sexo feminino, 34 anos de ida- O quadro clínico/laboratorial descrito é mui-
de, com queixas de palpitações e ansiedade. to sugestivo de hipertireoidismo exógeno. Tra-
Durante o exame físico apresentou PA = 120 ta-se de paciente jovem, com sinais de tireoto-
x 80 mmHg, Pulso = 96, T = 36,2ºC, discreto xicose, com supressão do TSH, VHS normal
tremor de extremidades, tireoide 30 gramas, (afastando atividade inflamatória/tireoidite),
fibroelástica. Exames laboratoriais: TSH = 0,01 sem bócio (o que torna menos provável doen-
mU/L (normal = 0,4 a 4,0); T4 livre = 0,4 ng/dl ça de Graves) e com glândula hipocaptante na
(normal = 0,89 a 1,80); e T3 total = 300 ng/dl cintilografia. Nesta condição não costuma haver
(normal = 70 a 200). De acordo com o quadro exoftalmia associada. A baixa concentração de
acima, assinale a alternativa correta. tireoglobulina sela o diagnóstico, portanto a
a) O diagnóstico mais provável é de doença única resposta possível é o item B.
de Graves, e o TRAb (anticorpo antirreceptor
de TSH) seria o melhor exame para definir o
diagnóstico. Abordagem Geral
b) A cintilografia de tireoide ajudaria para con-
firmar o diagnóstico de doença de Graves, Trazendo para o nosso dia a dia, imagine o
estando indicada apenas se esse for o diag- cenário clínico a seguir.
nóstico mais provável.
c) A tireotoxicose factícia, tireoidite silenciosa Cenário 01
e tireoidite de Quervain também devem ser Uma jovem de 28 anos chega ao seu con-
investigadas, e nesses casos, a captação de sultório queixando-se do aparecimento de
radioiodo estará elevada. palpitações e tremor nas mãos iniciado há
d) Um diagnóstico provável é de tireotoxicose alguns meses e com piora progressiva, as-
factícia, e nesse caso a captação com radioio-
sociados à perda ponderal (apesar de uma
do e os níveis séricos de tireoglobulina estarão
alimentação normocalórica) e que mostra
diminuídos.
ao exame físico uma pele quente e úmida.
e) Um diagnóstico provável é de tireoidite de
O que primeiro lhe surge como hipótese
Quervain, e nesse caso, a dor local e os ní-
veis séricos reduzidos de tireoglobulina são diagnóstica??? Certamente, a possibilidade
patognomônicos. de uma síndrome de tireotoxicose, não é?!
Então, visualizando o caso desta paciente,
Agora temos um quadro clássico de tireoto- qual seria a sua conduta?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 34

Primeiro Passo: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


Confirmar o estado de tireotoxicose FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
Paciente apresentando bócio difuso, oftalmo-
Após um quadro suspeito de tireotoxicose, de- patia, dermopatia, tremor fino, nervosismo,
vemos solicitar a dosagem de TSH e T4 livre. insônia e taquicardia. Na avaliação laborato-
O estado de tireotoxicose é confirmado com a rial, espera-se encontrar:
elevação do T4 livre e redução do TSH. Even- a) TSH suprimido, T3 e T4 livre suprimidos.
tualmente (5% dos casos), o hipertireoidismo b) TSH elevado, T3 e T4 livre suprimidos.
pode se manifestar apenas com elevação do c) TSH suprimido, T3 e T4 livre elevados.
T3, caracterizando a Tireotoxicose-T3 (TSH su- d) TSH elevado, T3 e T4 livre elevados.
primido, T4 normal e T3 elevado). Este achado
é mais característico das regiões carentes em Temos aqui um paciente com síndrome
iodo e portadores de doença de Graves (fase tireotóxica. Observamos sinais e sintomas
inicial) ou nódulo hiperfuncionante... decorrentes de hiperatividade adrenérgica
– tremor fino e taquicardia – acompanhados
Uma situação particular ocorre nas fases de estigmas clássicos: bócio difuso, oftalmo-
iniciais em que existe a redução do TSH, patia. Sabemos que a doença de Basedow-
mas com valores de T4 livre ainda normais -Graves apresenta-se aqui de sua forma mais
(hipertireoidismo subclínico). Outro caso de clássica. Nessa condição, há elevação de
destaque é o hipertireoidismo central. Nesse hormônios tireoidianos de forma primária
caso, a elevação de hormônios tireoidianos se acompanhando a elevação do T3 e do T4;
deve à hiperprodução de TSH pela hipófise ocorre um feedback negativo na hipófise que,
(adenoma hipofisário). Nessas situações, po- por conseguinte, reduz a liberação de TSH.
demos encontrar TSH normal ou aumentado Resposta correta: Letra C.
e frações livres de T4 e T3 aumentadas. Veja
o Algoritmo 1 na página seguinte.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP –
Saiba Mais! ACESSO DIRETO DISCURSIVA
Resistência Generalizada aos Mulher de 36 anos de idade procura o ambu-
Hormônios Tireoidianos latório de clínica geral com queixa de falta de
Indivíduos com esta rara síndrome são em ge- memória e dificuldade de concentração há 4
ral eutireoideos, embora possam apresentar meses. Durante o período, refere perda de 6
alterações nos níveis hormonais. Mas como kg, equivalente a 12% de seu peso, além de
isto acontece? Vamos com calma... A resis- dificuldade para dormir e palpitações. Nega
tência aos hormônios tireoidianos ocorre em dispneia, dor torácica ou síncope no período.
todos os tecidos do organismo, incluindo hipo- Nega tabagismo, etilismo ou uso de drogas
tálamo e hipófise. Como a fração de T4 livre é ilícitas. Não têm doenças prévias conhecidas
incapaz de exercer efeito de retroalimentação e não faz uso de medicamentos. No exame
negativa sobre o hipotálamo e sobre a hipó- clínico, regular estado geral, hidratada, corada,
fise, estas glândulas na ausência de inibição acianótica, eupneica. Pressão arterial = 170 x
trabalham produzindo níveis elevados de TRH 60 mmHg, frequência cardíaca = 132 bpm,
e TSH. O estímulo à tireoide é tamanho, que frequência respiratória = 20 ipm, saturação de
acaba levando também a um aumento dos O2 em ar ambiente = 99%. Ausculta cardíaca:
níveis hormonais. Esta elevação nos níveis
bulhas taquicárdicas normofonéticas em dois
de hormônio tireoidiano acaba, em muitos
tempos, sem sopros. Semiologia pulmonar,
pacien­tes, vencendo a resistência tecidual.
abdominal e de membros sem alterações. Traz
Eventualmente encontramos indivíduos com eletrocardiograma, realizado na última sema-
hipotireoidismo. O laboratório é um tanto na, evidenciando FA de alta resposta. Cite o
quanto curioso: encontramos TSH, T4 livre, exame que confirma a principal hipótese diag-
T4 total e T3 elevados. nóstica para o caso.

Gabarito oficial: TSH; Caso a resposta seja


hormônios tireoidianos ou T3 ou T4.

Frente a uma paciente jovem que se apresen-


ta com quadro insidioso caracterizado por in-
sônia, dificuldade de concentração, hipertensão
arterial divergente e palpitações, as quais mos-
traram ser decorrente de uma fibrilação atrial,
é obrigatório pensarmos em tireotoxicose como
a principal hipótese diagnóstica. E qual a prin-
cipal causa de tireotoxicose no nosso meio? A
doença de Graves, responsável por 60-80%
dos casos. Neste contexto, qual deve ser nos-
so primeiro passo na investigação diagnóstica?
Algoritmo 1: Investigação inicial da tireoto- A avaliação da função tireoidiana, sendo que a
xicose. pesquisa do TSH consiste no primeiro exame
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 35

a ser realizado, visto que se o seu valor estiver pele quente, úmida e sedosa, cabelos finos,
dentro da normalidade, podemos assegurar tremor fino ao estender as mãos, frequência
que o paciente não possui hipertireoidismo cardíaca de 110 bpm e hiper-reflexia tendinosa.
primário. Caso o TSH venha baixo, aí solicita- Nos exames complementares dessa paciente,
mos T3 e T4, para complementar a investiga- é mais provável que se encontre:
ção. Isto tanto é verdade, que alguns laborató- a) T3 baixo.
rios fazem a pesquisa automática do T3 e do b) T4 baixo.
T4 frente a um TSH reduzido. c) T4 livre baixo.
Considere que a principal hipótese diagnósti- d) TSH baixo.
ca foi confirmada. Cite a(s) conduta(s) tera- e) Captação de iodo baixa.
pêutica(s) indicada(s) ao caso.
O que define laboratorialmente tanto o hi-
Gabarito oficial: Propiltiouracil ou metimazol
pertireoidismo quanto a tireotoxicose? TSH
ou radioiodoterapia ou tireoidectomia. Beta-
reduzido! É claro que no hipertireoidismo cen-
bloqueador.
tral a coisa muda de figura, mas são distúrbios
muito raros. Resposta: D.
Caso a hipótese de doença de Graves seja
confirmada, devemos planejar a instituição do
tratamento. Em primeiro lugar, devemos con-
trolar os sintomas relacionados à hiperativação Segundo Passo:
adrenérgica, através da prescrição de beta- Identificar e tratar a causa da tireotoxi-
bloqueadores (propranolol ou atenolol). O cose
propranolol ainda possui o benefício de inibir
a conversão periférica de T4 em T3.
Após confirmado o quadro de tireotoxicose, o
Mas em relação ao tratamento da doença de próximo passo é definir a causa exata (Algorit-
Graves em si, existem três estratégias tera- mo 2). Este fato é de fundamental importância
pêuticas disponíveis: porque a estratégia terapêutica a ser utilizada
• Drogas antitireoidianas (metimazol ou pro- depende da causa de base do distúrbio. O
piltiouracil) até a remissão; bócio multinodular tóxico, por exemplo, não
• Radioablação com iodo radioativo; regride apenas com o uso de antitireoidianos
• Cirurgia (tireoidectomia subtotal). como pode ocorrer na doença de Graves. Por
outro lado, a tireotoxicose decorrente das ti-
Nos EUA a terapia de primeira escolha consis- reoidites é de caráter transitório, sendo neces-
te na ablação por iodo radioativo, enquanto que sário apenas alívio temporário dos sintomas.
na Europa e América do Sul, o uso das drogas
antitireoidianas ainda é a primeira opção. Na prática, o grande diagnóstico diferencial se
dá entre a tireotoxicose sem hipertireoidismo
(principalmente as tireoidites) e com hiperti-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 reoidismo (doença de Graves).
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
DO CEARÁ – ESPCE
Mulher de 28 anos, com história de nervosismo, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL = TIREO-
choro fácil, dificuldade para dormir e palpitação. TOXICOSE SEM HIPERTIREOIDISMO x TI-
Ao exame, apresenta-se irrequieta, logorreica, REOTOXICOSE COM HIPERTIREOIDISMO

Algoritmo 2
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 36

Para diferenciar estas condições utilizamos  Suspeita de doença de Graves = anticor-


dados clínicos e de exame complementar. Os pos antiperoxidase (anti-TPO) e antirre-
principais dados estão a seguir: ceptor de TSH (TRAb).

Dados Clínicos:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
Uma grande pista para definir a causa da HOSPITAL DAS CLÍNICAS
tireotoxicose é observar a duração dos sinto- DE PORTO ALEGRE – RS
mas. Na doença autoimune há uma liberação Paciente de 28 anos consultou por emagreci-
lenta de hormônios para a circulação, enquan- mento (2 kg em 3 semanas), palpitações e into-
to nas inflamações há uma liberação mais lerância ao calor. Ao exame físico, a frequência
súbita e em maior quantidade. Desta forma, cardíaca era de 120 bpm, a pele estava quente
pacientes com doença de Graves tendem a e a tireoide palpável, sem aumento de volume
apresentar sintomas há alguns meses, que ou nódulos. Não havia sopro à ausculta nem
aumentam progressivamente até que ficam sinais de oftalmopatia ou lesões na pele. Os
muito inconvenientes e o fazem procurar o exames laboratoriais mostram TSH de 0,07 UI/
médico. Nas tireoidites, os pacientes costu- ml (valor de referência (VR): 0,27 - 4,2 UI/ml),
mam saber uma data precisa para o início dos T4 total de 16,2 µg/dl (VR: 5,1 - 14,1 µg/dl) T3
sintomas, que geralmente não têm mais de total de 210 ng/dl (VR: 80-200 ng/dl) e captação
30 dias. Além da cronologia dos sintomas, a de iodo em 24h < 1% (VR: 15% - 35%). Com
possibilidade de tireotoxicose exógena (ex.: base no quadro, considere as assertivas abaixo.
tireotoxicose factícia) deve ser investigada
na coleta da anamnese. Por último, o exame l - Não se pode avaliar o caso sem a dosagem
físico também é fundamental para auxiliar na de anticorpos contra o receptor de TSH
distinção entre o aumento difuso ou nodular (TRAb).
da tireoide. A ausência de tireoide palpável
também pode sugerir a existência de uma fon- ll - O quadro é compatível com tireotoxicose.
te extratireoidea de hormônio: tecido tireoideo
ectópico ou a autoadministração de hormônio lll - Tireoidite subaguda e ingestão de hormô-
(tireotoxicose factícia). nios tireoidianos são hipóteses diagnósticas a
serem consideradas.
Exames Complementares:
Quais são corretas?
De uma forma geral, na tireotoxicose por doen- a) Apenas l.
ça de graves e no bócio nodular tóxico, o T3 b) Apenas ll.
livre tende a estar mais elevado que o T4 livre. c) Apenas lll.
A elevação mais acentuada do T4 livre fala a d) Apenas ll e lll.
favor da tireoidite subaguda e do hipertireoidis- e) l, ll e lll.
mo induzido pelo iodo. No entanto, o grande
exame diferencial é o padrão de captação do Temos um paciente que apresenta sintomas
iodo radioativo (RAIU). No hipertireoidismo, a compatíveis com tireotoxicose (perda ponderal
captação está elevada (35-95%); na tireoidi- involuntária, taquiarritmia e intolerância ao calor),
te, bastante reduzida. É rara a existência de o que foi confirmado por evidências laboratoriais
tecido tireoideo ectópico produzindo tireotoxi- de excesso de hormônio tireoidiano circulante
cose. Nesta situação, a RAIU está diminuída (T3 e T4 aumentados, TSH suprimido)... É mui-
(0-5%) devido à inibição do TSH e o tecido to importante não esquecer as diferenças en-
ectópico em geral pode ser encontrado pela tre tireotoxicose e hipertireoidismo... O termo
cintilografia. Do ponto de vista fisiológico, a “tireotoxicose” descreve a síndrome clínica se-
tireotoxicose factícia se assemelha à induzida cundária ao excesso de hormônio tireoidiano,
por tecido ectópico e a tireoide também se enquanto “hipertireoidismo” se refere tão somen-
apresenta suprimida (0-2%). A USG da tireoide te a um dos mecanismos causadores da tireo-
pode complementar o exame físico, sendo o toxicose – o excesso de produção de hormônio
achado de nódulos no exame, uma indicação pela própria glândula tireoide! Lembre-se que a
para associar a cintilografia à RAIU. tireotoxicose pode ter outras causas, como as
tireoidites agudas e subagudas (a lesão inflama-
Outros exames que podem ser solicitados: tória no parênquima promove liberação do hor-
mônio pré-formado que estava estocado nos
 Suspeita de tireoidite subaguda = hemo- folículos coloides) e a famosa tireotoxicose fac-
grama e VHS. tícia (ingestão de excesso de hormônio tireoidia-
no, o que aumenta tanto o T4 quanto o T3). Em
 Suspeita de tireotoxicose factícia = ti- ambas as condições citadas há um excesso de
reoglobulina. Em casos de tireotoxicose hormônio circulante – responsável pela sintoma-
decorrente de hiperfunção da glândula tologia apresentada – que reduz diretamente
tireoide ou de tireoidite subaguda, a ti- (feedback negativo) a secreção hipofisária de
reoglobulina está elevada e nos casos de TSH. Com a baixa do TSH, as células dos folí-
tireotoxicose factícia está baixa. culos tireoidianos perdem o principal estímulo
para a captação de iodo, e por este motivo, a
 Suspeita de mola hidatiforme ou coriocar- captação de iodo radioativo (RAIU - RadioActive
cinoma = beta-hCG. Iodine Uptake) encontra-se abolida... Este dado
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 37

foi crucial para mostrar que NÃO HÁ HIPERTI- Conclusão do Cenário 01


REOIDISMO NESTE CASO, apenas tireotoxi- Síndrome de Tireotoxicose
cose!!! Em vista desta consideração, está des- Você se lembra daquela paciente de 28 anos
cartada a possibilidade de doença de Graves com síndrome de tireotoxicose que pedimos
(uma causa de hipertireoidismo), sendo desne- para você imaginar logo no início deste tó-
cessária a pesquisa do TRAb (sabemos de pico? E aí, qual seria a nossa abordagem
antemão que este marcador será negativo, en- para ela? Inicialmente, deveríamos solicitar
tão, para que solicitá-lo?)... a dosagem TSH e T4 livre. A dosagem de T3
seria considerada em caso de TSH suprimido
Assim, resposta correta: D. com T4 normal (para avaliar a possibilidade
de tireotoxicose por T3). Confirmado o esta-
do de tireotoxicose, o próximo passo seria
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 diferenciar tireotoxicose associada ou não ao
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO hipertireoidismo. Especialmente diferenciar
PRESIDENTE DUTRA – MA entre doença de Graves e tireoidite. Após
Numa mulher de 30 anos, foram evidenciados definição diagnóstica, estabeleceríamos as
os seguintes achados: TSH: 0,001 mlU/L linhas de tratamento apropriadas.
(VR: 0,3 - 0,5); T3: 300 ng/dL (VR: 70-200);
T4 livre: 0,30 ng/dL (VR:0,7 -1,8); captação de
iodo radioativo/ 24 horas: 3% (VR: 15-30%). Casos Especiais
Ultrassonografia de tireoide evidenciou nódu-
lo misto 0,5 mm no lobo direito. Qual a hipó- Cenário 02
tese diagnóstica MAIS PROVÁVEL? Imagine agora que, ao solicitar outros exa-
a) Doença de Plummer. mes laboratoriais para essa paciente, fosse
b) Tireotoxicose factícia por ingestão de T3. detectada uma elevação do beta-hCG e a
c) Tiroidite aguda. ultrassonografia transvaginal indicasse uma
d) T3 toxicose. gestação de doze semanas. A sua aborda-
e) Bócio multinodular tóxico. gem mudaria neste caso?

O perfil bioquímico apresentado não faz


qualquer sentido fisiologicamente falando. A A condução do hipertireoidismo na gestante
tireoide secreta predominantemente T4, o qual exige que relembremos alguns conceitos sobre
é convertido, nos tecidos, a T3, sendo este a as alterações características da função tireoi-
forma biologicamente ativa. Como é possível diana nesta fase...
então haver TSH suprimido, T4 reduzido e T3
aumentado? TSH suprimido e T4 reduzido A primeira dificuldade já começa no diagnósti-
são indícios de intoxicação exógena pela tiro- co clínico, uma vez que certas manifestações
xina. Ora, se o T3 estiver aumentado nesta podem aparecer tanto na tireotoxicose quanto
situação, fica evidente que a paciente está na gravidez normal (ex.: vômitos e palpita-
tomando doses excessivas de T3 puro, isto é, ções). Em segundo, os próprios exames com-
trata-se de uma tireotoxicose factícia pelo T3. plementares também podem confundir, graças
Resposta certa: B. a duas principais alterações decorrentes da
gravidez normal:

1) aumento da TBG – efeito mediado pelo es-


O aluno pergunta... trogênio, quase dobrando a concentração
No algoritmo está escrito que sérica da TBG e que eleva consequente-
no Hipertireoidismo induzido mente as concentrações totais de T3 e T4
pelo Iodo, a RAIU mostrará bai- (mas não as frações livres!).
xa captação do iodo... Não seria alta?
2) estímulo do TSH-R (receptor do TSH) –
Temos uma questão bem interessante, pois efeito mediado pela hCG (gonadotrofina
nenhum livro se propõe a explicar este proces-
coriônica), com pico na 10ª a 12ª semanas,
so. Mas podemos organizar um raciocínio ló-
fazendo com que as frações livres de T3 e
gico para tentar explicar este fenômeno. Vamos
T4 se elevem discretamente, mas geral-
imaginar então: alguns pacientes submetidos
mente dentro da faixa normal, com redução
a uma fonte exógena de iodo, devido ao famo-
so efeito Jod-Basedow, acabam por utilizá-lo transitória dos níveis de TSH (hipertireoidis-
nos tireotrofos e, consequentemente, desen- mo subclínico transitório – 10 a 20%).
volver um quadro de tireotoxicose. Passado
algum tempo, os tireotrofos já terão capturado
todo o iodo de que precisam para seu metabo- Conceito
lismo e não conseguirão mais captar nenhum O que está sendo dito é que, na gravidez nor-
outro. É como se fosse uma acidose tubular mal, os sintomas e os exames laboratoriais
renal tipo II, em que por um defeito tubular podem atrapalhar completamente a interpre-
proximal, o bicarbonato excede o seu limiar de tação se não conhecermos esses fatos!
reabsorção e começa a ser perdido pela urina.
Da mesma forma, para estes pacientes, ao
fazermos uma RAIU, o iodo fornecido pelo Fora isso, não tem mais nenhuma grande no-
exame não conseguirá mais ser captado e o vidade. Como ocorre na mulher não grávida, a
paciente terá então uma “baixa captação”. gestante também pode apresentar hipertireoi-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 38

dismo, sendo a doença de Graves a principal bloqueadores possam reduzir o crescimento


causa. O diagnóstico nesses casos se dá pelo intrauterino, são necessários para o controle
aumento dos níveis de T4 livre com TSH bem sintomático das gestantes com tireotoxicose.
reduzido (< 0,01 mUI/ml). Mas como a captação Observe que a gestação não é uma contrain-
do iodo em 24 horas é um teste contraindicado, dicação absoluta ao uso dos betabloqueado-
muitas vezes não é possível fazer o diagnóstico res. Então, estamos diante de uma situação
exato da causa do hipertireoidismo. em que é necessário avaliar a relação custo
x benefício dessa droga.
Mas será que devemos tratar esses casos?
RESUMINDO:
Sim. Pois o hipertireoidismo está associado a
um risco aumentado de abortamento espon- • Primeiro trimestre: PTU.
tâneo, prematuridade, baixo peso ao nascer
e toxemia. • Segundo e terceiro trimestres: MMZ.

Como tratar? E quanto ao recém-nascido?

Durante muito tempo, o propiltiouracil foi con- A síntese hormonal nesta fase é bem pequena
siderado o fármaco de primeira linha para o até a 18ª a 20ª semana, quando passa a se
tratamento do hipertireoidismo na gestação, elevar gradativamente. Quando nascem, apre-
principalmente devido aos efeitos teratogêni- sentam TSH elevado e T3 e T4 livres baixos.
cos relacionados ao uso do metimazol (aplasia Logo após o nascimento, o TSH faz um pico a
cutânea e atresia de coanas). Porém, as cres- 50-80 mU/L e depois retorna a 10-15 um/L.
centes evidências de insuficiência hepática Nesse tempo, a concentração de T3 e T4 au-
relacionada ao uso do propiltiouracil e o fato menta e fica pouco acima dos valores normais.
de que as complicações teratogênicas relacio-
nadas ao uso do metimazol seriam limitadas Com relação ao fluxo placentário, 20-50% do
ao primeiro trimestre, fizeram com que, desde hormônio tireoidiano circulante é capaz de
2010, tanto o FDA como a American Thyroid atravessar a placenta; enquanto pouco TSH o
Association passassem a recomendar o uso faz. Passam pelo cordão placentário também
do propiltiouracil apenas nos primeiros três o TRH (podendo, inclusive, ser administrado
meses de gestação, devendo ser trocado por de forma exógena para estimular o TSH fetal)
dose equivalente do metimazol após esse e anticorpos contra receptor de TSH responsá-
período. Para o controle da função tireoidiana, veis por quadros autoimunes. Em até 5% dos
permite-se a manutenção de um perfil hormo- casos, os anti­corpos anti-TSH estimulantes
nal compatível com leve hipertireoidismo, com (TRAb) podem passar a barreira placentária e
o objetivo de se evitar o surgimento de hipoti- causar tireotoxicose fetal ou tireotoxicose
reoidismo fetal. Todavia, o feto deve ser cons- neonatal. O tratamento é feito com propiltiou-
tantemente monitorizado com intuito de se racil dado à própria gestante (na fetal) ou ao
identificar sinais de tireotoxicose fetal. recém-nato.

E as demais modalidades de tratamento?


Quais posso usar na gestante? Mais questões...

A ablação com iodo está contraindicada e RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


a cirurgia não costuma ser necessária, em- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
bora o melhor período para realizá-la fosse DE PORTO ALEGRE – RS
o segundo trimestre. A gravidez, pela sua Mulher de 30 anos, portadora de bócio difuso
ação imunomoduladora, tende a apresentar tóxico volumoso (Doença de Graves), em
melhora da atividade antitireoidiana. Aliada tratamento com metimazol 10 mg/dia, procu-
à elevação da TGB e ao aumento de formas ra o médico com queixa de amenorreia e com
ligadas de hormônio tireoidiano, ocorre uma teste de gravidez (BHCG) positivo. Qual tra-
tendência à melhora da doença, principalmen- tamento mais indicado para hipertireoidismo
te no segundo e no terceiro trimestres, em até e gravidez?
dois terços das gestantes. Muitas vezes, é a) Continuar com metimazol 10 mg/dia.
possível, inclusive, a suspensão do antitireoi- b) Suspender metimazol e substituir por pro-
diano. Em contrapartida, no puerpério, com o piltiouracil até o final do 1º trimestre.
declínio da atividade imunossupressora e a c) Substituir metimazol por propiltiouracil até
exacerbação da imunidade humoral, há uma o final do 2º trimestre.
tendência à reativação do quadro clínico de d) Tratamento com radioiodo ¹³¹ I.
hipertireoidismo, principalmente após o 3º mês e) Tireoidectomia imediata.
pós-parto, necessitando dos antitireoidianos
para o controle adequado. O aleitamento ma- Em gestantes com hipertireoidismo, a droga
terno é seguro com doses baixas. Depois do preferencial durante o primeiro trimestre é o
parto, deve-se trocar a medicação de volta propiltiouracil, devido a sua menor passagem
para o PTU, pois é menos excretado no leite. pela barreira placentária, sendo o agente de
escolha em gestantes neste período da ges-
E o betabloqueador? Posso usar? tação. Contudo essa preferência cai nos me-
ses consecutivos, pelo risco de lesão hepática,
Neste caso, embora saibamos que os beta- quando a preferência passa a ser o metimazol
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 39

(2º/3º trimestres). Ou seja, o tratamento de atualmente, ele fica restrito ao primeiro trimes-
gestantes do hipertireoidismo deve ser reali- tre devido ao risco de lesão hepática, sendo
zado com propiltiouracil durante o primeiro substituído pelo MMZ a partir de então.
semestre e metimazol no restante da gesta-
ção. Se a paciente está em uso do metimazol, III incorreto: este item se refere ao próximo
deve ter a medicação trocada por PTU duran- capítulo, mas já vamos adiantar que o desen-
te o primeiro trimestre e, após este período, volvimento de hipotireoidismo franco (redução
voltar a receber metimazol. Gabarito opção B. de T4 e T3) é pouco comum na gravidez, já
que grande parte dessas mulheres não ovulam
(e, portanto, não conseguem engravidar) e
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 também porque o hipotireoidismo é uma causa
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – importante de perda fetal. Em todo caso, não
HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG é o nível TOTAL que vai fazer diagnóstico.
Mulher, 26 anos, recebe o diagnóstico de Resposta: B.
doença de Graves na quarta semana de gra-
videz. O tratamento eficaz inclui:
a) Iodorradioativo, com a finalidade de ablação RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
da glândula. HOSPITAL DO SERVIDOR
b) Betabloqueadores, visando normalização PÚBLICO MUNICIPAL – HSPM
da pressão arterial e provas de função tireoi- Mulher de 25 anos de idade, asmática, procura
diana normais. assistência médica devido a atraso menstrual,
c) Propiltiouracil, com o intuito de manter as nervosismo, palpitação e insônia. O exame
provas de função tireoidianas acima do normal. físico mostra bócio difuso e taquicardia. Labo-
d) Metimazol, visando provas de função tireoi- ratorialmente detecta-se TSH < 0,01 uU/ml e
diana normais. beta-HCG positivo. Os exames mais indicados
para definir a etiologia do quadro e a primeira
Como tratar as gestantes hipertireoideas? escolha terapêutica são, respectivamente:
Iniciamos com PTU no primeiro trimestre, po- a) Cintilografia de tireoide e propiltiouracil.
dendo manter um estado de leve hipertireoi- b) Anticorpo antirreceptor de tireotrofina e
dismo, para evitar o hipotireoidismo fetal. A propiltiouracil.
partir do segundo trimestre, a recomendação c) Cintilografia de tireoide e propranolol.
atual é de que seja trocado pelo MMZ, se d) T4 livre e metimazol.
houver necessidade de manter o tratamento. e) Anticorpo antirreceptor de tireotrofina e
A ablação com iodo radioativo está totalmente propranolol.
contraindicada. Resposta: C.
Um TSH < 0,01 mUI/ml com essa sintoma-
tologia define o quadro de hipertireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 Como há presença de bócio difuso, nem seria
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO preciso solicitar o teste de captação do iodo em
RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS 24 horas para definir o diagnóstico. O caso em
Considere as afirmativas que seguem , em questão se trata de doença de Graves! Além
relação às doenças da tireoide na gestação: do mais, essa mulher está grávida (beta-hCG
I - A tireotoxicose gestacional transitória é a positivo) e, portanto, este teste está totalmente
alteração mais frequente, é autoimune e ocor- contraindicado. A dosagem de autoanticorpos
re um aumento do T4 livre, com TSH normal. pode ser solicitada, mas não é obrigatória e
II - A doença de Graves requer tratamento com mesmo que o diagnóstico não seja conclusi-
propiltiouracil e está associada com complica- vo, não importa. Iniciaremos assim mesmo o
ções maternofetais, como aborto espontâneo, tratamento com propiltiouracil. Resposta: B.
hipertensão arterial e hipertireoidismo neonatal.
III - O hipotireoidismo tem como causa mais
comum a tireoidite de Hashimoto e o diagnós- Conclusão do Cenário 02
tico será feito com T3 e T4 total diminuídos. Tireotoxicose e Gestação
Qual alternativa está correta? Considerando-se que a paciente seja portado-
a) Apenas I. d) Apenas I e II. ra de hipertireoidismo e esteja grávida, o trata-
b) Apenas II. e) Apenas I e III. mento de escolha passa a ser o propiltiouracil
c) Apenas III. (1º trimestre) e metimazol (2º/3º trimestres). O
não tratamento desta condição expõe tanto a
Vejamos as opções: gestante como o feto a algumas complicações
como toxemia e tireotoxicose neonatal. Para
I incorreto: a tireotoxicose gestacional transitó- investigar a causa, além dos dados clínicos,
ria não é autoimune e nem ocasiona aumento podemos solicitar a dosagem de TRAb. Os tí-
das frações livres de T4, mas só o T4 total pelo tulos deste anticorpo podem inclusive predizer
aumento da TBG mediado pelo estrogênio. O a chance de tireotoxicose neonatal.
TSH pode vir reduzido (entre 0,1 e 0,4 mUi/
ml) enquanto houver elevação da hCG, daí o
nome de tireotoxicose subclínica transitória. Cenário 03
Imagine um senhor de 62 anos, previamente
II correto: como vimos, o tratamento deve ser hígido, que se apresente no pronto-socorro
realizado com propiltiouracil devido ao risco com palpitações e pulso irregular de início
de complicações maternas e fetais. Contudo, abrupto, com um ECG diagnóstico de fibrila-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 40

ção atrial. Dentre os exames que traz, você Cenário 04


observa um ecocardiograma mostrando câ- Você está numa unidade de cuidados intensi-
maras cardíacas de dimensões preservadas. vos quando lhe é solicitada uma vaga para in-
Do que não podemos nos esquecer? ternação de uma mulher de 48 anos, em coma,
que há dois dias apresenta febre, disúria e dor
lombar. A paciente é portadora de doença de
Do Hipertireoidismo Apático! Este termo Graves há dois anos, mas não faz tratamento
regular. Considerando-se exames de imagem,
define a tireotoxicose em alguns idosos. Nes-
ECG, glicemia e eletrólitos normais, do que
ta faixa etária, as manifestações adrenérgicas devemos suspeitar imediatamente?
(agitação, nervosismo, etc.) não se encontram
presentes, dando lugar a alterações cardio-
vasculares (surgimento de uma fibrilação atrial Estamos tratando agora de um quadro gravíssi-
e/ou insuficiência cardíaca refratárias ao tra- mo, que pode ser observado na emergência ou
tamento) e a sintomas como astenia, fraqueza numa UTI. É a crise tireotóxica (também conhe-
muscular intensa e depressão grave, além de cida como tempestade tireoidiana). Trata-se de
perda ponderal. Em alguns casos, o diagnós- uma exacerbação do estado de hipertireoidismo
tico clínico da tireotoxicose torna-se extrema- que põe em risco a vida dos pacientes. A síndro-
mente difícil. me, quando não reconhecida e tratada, é fatal.
Mesmo com a terapia adequada, encontramos
índices de mortalidade em torno de 30%.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP Há algumas décadas, a tempestade tireoidiana
Hipertireoidismo no idoso apresenta como era diagnosticada com maior frequência em
característica: pacientes hipertireoideos não preparados de
a) Atingir 5% da população idosa. forma correta para cirurgia da glândula. Atual-
b) Não ter relação com medicamentos à base mente, com o conhecimento da necessidade
de iodo. de um preparo adequado, a crise cirúrgica é
c) Arritmias ventriculares agudas. um evento raro.
d) Predomínio da forma mascarada ou apática.
e) A não resposta ao tratamento com iodo ra- Em grande parte dos casos é a crise clínica
dioativo. que precipita essa emergência endócrina,
sendo mais frequentemente encontrada em
Não há dúvida do que marcar. É o hiperti- pacientes com doença de Graves.
reoidismo apático! Resposta: D.
 Principais fatores precipitantes:

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 Infecções, cirurgia (tireoidiana e não tireoi-


FUNDAÇÃO ESCOLA DE diana), trauma à glândula tireoide, terapia
SERVIÇO PÚBLICO – FESP com iodo radioativo, suspensão de drogas
Homem de 78 anos vai ao endocrinologista e antitireoidianas, uso de amiodarona, inges-
é diagnosticado hipertireoidismo. O grupo de tão de hormônios tireoidianos, insuficiência
sintomas que indicou esse diagnóstico é: cardíaca, toxemia da gravidez, hipoglice-
a) Tremor, amnésia e fácies bovina. mia, parto, estresse emocional importante,
b) Fibrilação atrial, confusão e fraqueza. embolia pulmonar, acidente vascular ence-
c) Constipação, anemia e ataxia. fálico, cetoacidose diabética.
d) Cansaço, adinamia e apraxia.
 Patogênese:
Novamente os sintomas característicos
do hipertireoidismo no idoso... Não espere Em certas condições desencadeantes (ex.:
encontrar ansiedade, sudorese excessiva trauma à glândula tireoide), o nível hormo-
ou exoftalmia nestes pacientes para fazer o nal de fato pode se elevar bastante e ser
diagnóstico. Resposta: B. o principal fator causal. Mas ao contrário
do que se possa imaginar, na tempestade
tireoidiana geralmente os níveis hormonais
Conclusão do Cenário 03 totais não são mais altos quando compa-
Hipertireoidismo em idosos rados com a tireotoxicose não complicada.
A grande mensagem aqui é: “em todo pacien- Mas então por que as manifestações clíni-
te com ICC ou arritmias graves e inexplica- cas são mais graves?
das (em especial se forem de origem atrial),
deve ser pesquisada a possibilidade de tire- Existem duas explicações:
otoxicose”. Nos idosos, esses são achados
característicos do hipertireoidismo “apático”. (1) Aumento das catecolaminas e seus re-
ceptores: Os níveis de catecolamina estão
muito elevados na crise tireotóxica, por
curiosidade conta da condição de estresse desenca-
A fibrilação atrial associada aos estados de deante, bem como o número de receptores
tireotoxicose ocorre comumente em maiores catecolaminérgicos no coração, cérebro e
de 50 anos. Em metade desses pacientes, o outros tecidos. Portanto, ainda que mante-
simples tratamento do estado tireotóxico é nha os mesmos níveis, o efeito hormonal
suficiente para reverter a FA. encontra-se bem mais pronunciado.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 41

(2) Aumento súbito dos níveis de T4 livre: tireotóxica. Confusão, delirium, agitação
A velocidade com que o hormônio livre se e psicose franca podem evoluir para
eleva tem maior relação com a gravidade obnubilação, estupor e coma. Outros
do quadro clínico do que com o valor ab- sinais e sintomas clássicos são: febre
soluto propriamente dito. Veja por que os alta (até 41ºC), insuficiência cardíaca
níveis de T4 livre podem se elevar muito de alto débito, hipertensão com PA diver-
rápido na crise tireotóxica: gente, taquicardia acentuada, fibrilação
atrial aguda, icterícia (com eventual in-
1) Diminuição súbita da proteína de trans- suficiência hepática), sudorese intensa,
porte hormonal. Este fenômeno tem diarreia, náusea e vômitos. O choque
sido observado em pós-operatórios. hiperdinâmico (semelhante ao séptico,
mas com componente cardiogênico) tem
2) Formação de inibidores da ligação hor- sido descrito. Dor abdominal e abdome
monal à proteína de transporte. agudo, status epilepticus e insuficiência
renal aguda por rabdomiólise são apre-
3) Liberação excessiva de hormônio pela sentações raras.
glândula, saturação dos sítios nas
proteínas de transporte e maior fração
livre disponível. Confirmando o diagnóstico de crise
tireotóxica
 Clínica:
Inúmeros diagnósticos diferenciais podem si-
Os pacientes, com frequência, têm os mular um quadro de crise tireotóxica: sepse,
mesmo achados da tireotoxicose, porém disfunção hepática, insuficiência renal, cetoa-
tão exacerbados que levam à disfunção cidose diabética, doença cerebrovascular, etc.
orgânica cerebral, cardíaca, etc. As ma- Para facilitar a abordagem desses pacientes,
nifestações neurológicas são as mais alguns critérios diagnósticos foram desenvol-
importantes para caracterizar a crise vidos. Veja a seguir:

Temperatura Pontos Taquicardia Pontos


(oC) (bpm)
37,2-37,7 5 99-109 5
37,8-38,2 10 110-119 10
38,3-38,8 15 120-129 15
38,9-39,3 20 130-139 20
39,4-39,9 25 > 139 25
> 40 30
Efeitos no SNC Insuficiência cardíaca congestiva

Leve 10 Leve 5
• Agitação • Edema podal
Moderado 20 Moderada 10
• Delírio, psicose, • Roncos pulmonares bibasais
letargia extrema
Grave 30 Grave 15
• Convulsões, coma • Edema pulmonar
• Fibrilação atrial

Disfunção hepática e História de causa precipitante


gastrointestinal
Moderada 10 Negativa 0
• Diarreia, náuseas,
vômitos, dor abdominal
Grave 20 Positiva 10
• Icterícia de causa
indefinida
Interpretação:
> 44 pontos: crise tireotóxica
25-44: crise tireotóxica iminente
< 25: tireotoxicose não complicada
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 42

Resumindo... a) os pacientes com crise tireotóxica pos-


Esta não é uma daquelas tabelas para você suem uma produção e degradação ace-
decorar, mas para assimilar os pontos mais lerada do cortisol endógeno;
importantes. Perceba que atender um pa- b) os indivíduos com tempestade tireoi-
ciente com fibrilação atrial, fator precipitante diana possuem níveis de cortisol ina-
e com delírio já pontua 50 pontos... isso sem propriadamente normais para o grau de
contar com temperatura, frequência cardíaca estresse metabólico apresentado;
e sintomas gastrointestinais! c) pode existir insuficiência suprarrenal
associada à doença de Graves (síndro-
me autoimune do tipo II).
 Tratamento:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
Requer abordagem em unidades de cui- HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD
dados intensivos. O reconhecimento e o Uma paciente de 30 anos, de aspecto ema-
tratamento da condição precipitante (in- grecido é atendida com quadro de taquicardia,
fecção, por exemplo) são essenciais. febre e confusão mental, seguida por convul-
sões. Familiares relatam histórico de “doença
As principais drogas empregadas são: da tireoide”.
Em relação a este caso, assinale a opção
(1) Propiltiouracil em doses altas (500-1000 correta.
mg de ataque + 250 mg a cada 4h) por a) O diagnóstico de crise tireotóxica está des-
via oral, por sonda nasogástrica ou até cartado pela presença de febre.
mesmo pelo reto. O metimazol (30 mg b) Os agentes antitireoidianos estão indicados
12/12h) também pode ser utilizado, mas em altas doses.
o PTU costuma ser preferido por inibir a c) O uso de glicocorticoides pode provocar
conversão periférica de T4 em T3. sepse fulminante.
d) Não se deve administrar solução de iode-
(2) Iodo (após uma hora da dose de propiltiou- to porque as manifestações sistêmicas se
racil) na forma de solução saturada de iodeto agravarão.
de potássio (Solução de Lugol 10 gotas VO e) O uso de betabloqueadores deve ser evi-
8/8h ou SSKI 5 gotas 6/6h) ou ácido iopa- tado pela possibilidade de desencadear insu-
noico (0,5 mg 12/12h). O iodeto bloqueia ficiência cardíaca.
a liberação e a organificação do iodo para
novos hormônios (efeito Wolff-Chaikoff). Se Taquicardia, febre e confusão mental num
possível, esperar 1h após a administração paciente com doença tireoidiana, no que deve-
do propiltiouracil, para que o iodo não piore mos pensar? Certamente na crise tireotóxica,
ainda mais a crise, ao ser utilizado como sendo indicada a utilização de antitireoidianos
matéria-prima para a produção de hormônio em altas doses. Resposta: B.
tireoidiano (efeito Jod Basedow).

(3) Propranolol: intravenoso na dose de 2 mg Conclusão do Cenário 04


a cada 4 horas OU via oral 60-80 mg a cada
Crise de Tireotoxicose
4h. Altas doses da droga inibem a desiodase
tipo 1 (conversão periférica de T4 em T3). Em paciente com história de tratamento
irregular para doença de Graves que de-
Alternativo: Diltiazem 30-60 mg a cada 4-6h. senvolve quadro de confusão mental após
intercorrência clínica (neste caso uma infec-
(4) Dexametasona: 2 mg IV a cada 6h (alter- ção), devemos descartar a hipótese de crise
tireotóxica. Os critérios de Burch podem ser
nativa: hidrocortisona 300 mg + 100 mg IV
úteis nesses casos. Em seguida, deve ser
de 8/8h). Os glicocorticoides em altas doses
estabelecido pronto atendimento com me-
também inibem a desiodase tipo 1 (conver-
didas de suporte, antitireoidianos, iodeto,
são periférica de T4 em T3). Outras razões
betabloqueadores e corticoide.
para prescrevermos essas drogas incluem:

Parte III - Hipotireoidismo

Introdução zado pela tireoidite de Hashimoto. No entanto,


outras condições devem ser lembradas, entre
Agora passaremos ao estudo do distúrbio elas as demais tireoidites.
funcional mais comum da glândula tireoide: o
hipotireoidismo. A frequência dessa condição,
bem como as principais causas relacionadas, Manifestações Clínicas
dependem em parte da população estudada.
De forma geral, veremos que o componente Veja abaixo as principais manifestações do
autoimune predomina mais uma vez, simboli- hipotireoidismo:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 43

Neurológicas Lentidão de raciocínio, sono- derrames cavitários do hipotireoidismo. Po-


lência, deficit cognitivo (pseu- demos encontrar derrame pleural, ascite
dodemência), humor deprimido, e, principalmente, derrame pericárdico.
reflexos lentificados, parestesia, Este último, apesar de muitas vezes ser vo-
síndrome do túnel do carpo. lumoso, raramente leva ao tamponamento
Cardiovascu- Bradicardia, hipertensão con- devido ao seu lento acúmulo.
lares vergente, derrame pericárdico.
 A diminuição da densidade dos receptores
Respiratórias Depressão do impulso ventila- beta no coração acaba levando a uma re-
tório (retenção de CO2), derra-
dução da frequência cardíaca e da contra-
me pleural.
tilidade miocárdica. Esta última alteração é
Gastrointesti- Constipação, hipomotilidade,
nais ascite, ganho ponderal com
responsável pela queda do volume sistólico
redução do apetite. e consequente redução da pressão arterial
Musculoes- Fraqueza muscular, miopatia, sistólica. O aumento da responsividade alfa-
queléticas pseudomiotonia (contração sus- -adrenérgica nos vasos periféricos ocasiona
tentada à percussão muscular). elevação da pressão arterial diastólica (o
Reprodução Menorragia, amenorreia, galac- hipotireoideo tem PA convergente) e desvio
torreia, perda da libido, puber- do sangue da pele para órgãos nobres, em
dade precoce. uma tentativa de proteger o organismo contra
Outros Intolerância ao frio, pele seca, a hipotermia.
sintomas madarose, cabelos quebradi-
ços, alopecia, rouquidão.  Os altos níveis de TRH hipotalâmico no hi-
Laboratoriais Aumento de enzimas muscula- potireoidismo primário levam a aumento da
res, homocisteína e prolactina; prolactina. A consequência deste fenômeno
hiponatremia, hipoglicemia, inclui alterações menstruais (menorragia e
anemia multifatorial (normo ou
depois amenorreia), galactorreia em al-
macrocítica), dislipidemia (hi-
percolesterolemia).
guns casos e perda da libido.

Algumas observações importantes: Etiologia

 A demência hipotireoidea é uma causa clás- A principal causa de hipotireoidismo em todo


sica de demência reversível no idoso. Sendo o mundo é a deficiência de iodo. Nas re-
assim, antes de dizermos que um paciente é giões com ingesta adequada de iodo (incluin-
portador de doença de Alzheimer, por exem- do o Brasil), as principais são tireoidite de
plo, devemos solicitar, entre outros exames, Hashimoto e iatrogênica (tratamento do
a dosagem do TSH. hipertireoidismo). O hipotireoidismo central
responde por menos de 1% dos casos.
Além de pele seca, o paciente hipotireoideo
pode apresentar depósito difuso na derme de Vejamos o quadro abaixo com as principais
mucopolissacarídeo, condição denominada causas de hipotireoidismo de acordo com a
de mixedema. Este depósito pode levar a origem do distúrbio:
edema generalizado, sem cacifo. Não pode-
mos, de jeito nenhum, confundir com o “mi- Causas de hipotireoidismo
xedema pré-tibial” da doença de Graves! No
hipotireoidismo, ainda chama muitas vezes a Hipotireoidismo Primário
atenção um edema em torno das pálpebras; Tecido Tireoidiano Hipofuncionante
madarose (perda do terço distal das sobran-  Destruição autoimune (tireoidite de Hashi-
celhas), diminuição da temperatura e turgor moto).
cutâneos e uma pele amarelada por acúmulo  Destruição por lesão iatrogênica (terapia
de carotenos (com conjuntivas normais) são com 131I; tireoidectomia, radiação externa).
outros achados dermatológicos.  Destruição tecidual por processo infiltrati-
vo (hemocromatose, esclerodermia, ami-
 Anemia é encontrada em graus variados e loidose, tireoidite fibrosante de Riedel).
pode ser multifatorial. A diminuição do con-
 Agenesia congênita.
sumo de oxigênio no estado hipotireoideo
acaba levando a uma diminuição da eritro- Distúrbios na síntese hormonal
poietina e anemia, que pode ser normocí-  Deficiência de iodeto (bócio endêmico).
tica ou discretamente macrocítica. Outras  Defeitos enzimáticos congênitos.
condições que podem contribuir para anemia  Drogas: tionamidas, amiodarona, lítio,
incluem diminuição da absorção de ácido fó- aminoglutetimida (inibidor de aromatase),
lico, redução da absorção de ferro e redução interleucinas, interferon-alfa.
na absorção de cobalamina quando temos  Disgenesia (aplasia, hipoplasia, glândula
gastrite crônica atrófica autoimune (anemia ectópica).
perniciosa) associada.
 Defeito na biossíntese da tiroxina.
 A diminuição do ritmo de drenagem linfática  Passagem transplacentária de anticorpos
ocasiona, em alguns pacientes, os famosos maternos bloqueadores do TSH.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 44

Hipotireoidismo Central imunológica voltada para uma série de


antígenos tireoidianos, utilizando tanto a
 Hipofisário: neoplasia, irradiação, cirurgia,
via celular (citotoxidade principalmente por
necrose pós-parto (síndrome de Sheehan),
linfócitos CD8+) quanto à via humoral – os
infiltração (hemocromatose, BK, fungo),
autoanticorpos. Um ou mais autoanticorpos
hipofisite linfocítica.
tireoidianos são encontrados em virtual-
 Hipotalâmico: tumores (linfoma, germinoma,
mente todos os pacientes.
glioma), irradiação, inflamação (sarcoidose,
vasculite).
Os principais autoanticorpos estão listados
 Deficiência congênita de TSH/TRH. abaixo:
Hipotireoidismo Transitório
 Tireoidite subaguda. • Antitireoperoxidase (TPO) – 95-100%
dos casos
Resistência aos hormônios tireoidianos
•Uma causa raríssima de hipotireoidismo • Antitireoglobulina
é a síndrome de resistência generalizada
aos hormônios tireoidianos. Os pacientes • Antirreceptor de TSH
com esse distúrbio apresentam um defeito
na sequência de aminoácidos do receptor • Antitransportador de Iodo
nuclear de hormônio tireoidiano, fenômeno
que ocasiona uma diminuição da ligação Os anticorpos Antitireoperoxidase (anti-
do T3. No entanto, essa resistência tecidual -TPO) e Antitireoglobulina são aqueles que
generalizada acaba sendo vencida por um estão quase sempre presentes (95-100% dos
excesso de síntese e secreção hormonal, o casos), enquanto os Antirreceptores de TSH e
que leva a maioria dos indivíduos a apresentar o Antitransportador de iodo são positivos em
sintomas discretos de hipotireoidismo ou apenas 15-20% dos pacientes. O anticorpo
mesmo ser assintomática. antirreceptor de TSH bloqueador age inibindo
este receptor e, portanto, inibindo a ação do
TSH na glândula. Este grupo de pacientes
geralmente apresenta uma tireoide atrófi-
ca, impalpável, em contraste com a tireoide
significativamente aumentada (bócio) que
ocorre em 75% dos pacientes. Na doença
de Graves, como vimos, existem anticorpos
antirreceptores de TSH do tipo estimulantes.
Por isso, estes pacientes apresentam bócio
e hipertireoidismo.

Obs.: Alguns pacientes com tireoidite crônica


autoimune podem ter os dois tipos de anticor-
pos antirreceptores de TSH, predominando em
momentos diferentes da doença. Nesse caso,
serão alternadas fases de hipotireoidismo com
fases de hipertireoidismo (Hashitoxicose).

Figura 10: Síndrome do Hipotireoidismo. Na imagem histológica, encontramos uma


glândula infiltrada por linfócitos, que levam à
destruição da arquitetura dos folículos tireoi-
dianos e à formação de centros germinativos.
Tireoidite de Hashimoto Em pacientes com bócio podemos encontrar
áreas correspondentes a nódulos.

 Conceito: Destruição autoimune da glân-


dula tireoide mediada principalmente por
células T.

 Epidemiologia: A tireoidite de Hashimoto


– também descrita como tireoidite crônica
autoimune ou tireoidite linfocítica crônica
– é a causa mais comum de doença au-
toimune da tireoide e de hipotireoidismo.
Afeta mais frequentemente mulheres (5:1) e
a prevalência aumenta com a idade, sendo
a idade média do diagnóstico 60 anos. Figura 11: Infiltrado linfocítico na doen-
ça de Graves.
 Fisiopatogenia: A etiologia é desconheci-
da. No entanto, existem fatores genéticos
(HLA-DR3, DR4 e DR5 e CTLA-4) e ad-  Quadro Clínico: A fase inicial da doença
quiridos (ingesta de altas doses de iodo) cursa com a elevação transitória (semanas
associados. O resultado final é uma reação a meses) dos hormônios tireoidianos, even-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 45

tualmente levando à tireotoxicose clinica- (em títulos geralmente superiores a 1:1.600)


mente manifesta (Hashitoxicose). Como na e, em segundo lugar, o anticorpo antiti-
maioria dos casos a elevação hormonal é reoglobulina. Em casos duvidosos, como
subclínica, essa fase passa despercebida. quando há um aspecto nodular, pode ser
A segunda fase da doença é o hipotireoidis- necessária a biópsia tireoidiana para fechar
mo subclínico, caracterizado pela elevação o diagnóstico. O achado característico é o
dos níveis de TSH, sem ainda haver que- de um infiltrado linfocítico folicular no pa-
da do T3 ou T4 séricos abaixo do valor de rênquima tireoidiano, com graus variados
referência. A evolução para a terceira fase de degeneração e fibrose.
da doença – o hipotireoidismo clinicamente
manifesto – ocorre, em média, na taxa de  Tratamento: Não há tratamento específico
5% ao ano. para a tireoidite de Hashimoto. A conduta é
a reposição adequada de hormônio tireoi-
O bócio surge paulatinamente em 75% dos diano ad eternum. O ajuste deve ser feito
pacientes, decorrente do efeito trófico do TSH de acordo com o TSH sérico. Para todas
no tecido folicular remanescente. Geralmente, as formas de hipotireoidismo (primário e
o aspecto é de bócio difuso e heterogêneo, secundário), o tratamento consiste na ad-
porém, algumas vezes, pode ter um aspecto ministração de dose única diária de levoti-
multinodular. Em 20-25% dos casos, não há roxina 1,6 µg/kg/dia (100-150 µg/dia), em
bócio e a tireoide pode até mesmo estar redu- jejum, pela manhã (idealmente 30 minutos
zida de tamanho (forma atrófica). Os sinais e antes do café da manhã). Pacientes sub-
sintomas do hipotireoidismo passam a carac- metidos à cirurgia ou à radioablação com
terizar o quadro clínico. iodo costumam necessitar de doses menos
elevadas que os portadores de tireoidite de
Hashimoto, tendo em vista a presença de
Outros detalhes: alguma função residual no primeiro caso.

• Não é infrequente a associação da tireoi-


dite de Hashimoto com outras doenças Como iniciar e qual o objetivo do tratamento?
autoimunes. A adrenalite autoimune, a
ooforite autoimune com menopausa preco- Nos pacientes com menos de 60 anos, sem
ce e o diabetes mellitus tipo I ocasionado doença coronariana, podemos iniciar a repo-
por anticorpos anticélulas das ilhotas são sição hormonal com 50 a 100 µg/dia de le-
algumas doenças endócrinas autoimunes votiroxina – o famoso Puran®, que também é
que podem acompanhar pacientes com vendido com outros nomes comerciais como
Hashimoto na síndrome poliglandular au- Euthyrox®, Synthroid® e, mais recentemente,
toimune tipo II. Outras condições incluem como medicamento genérico. Em idosos ou
vitiligo, anemia perniciosa, hepatite crônica em coronariopatas, devemos prescrever uma
autoimune, etc. dose inicial menor de levotiroxina (12,5 a 25
µg/dia), com incrementos da mesma dosagem,
• A administração de iodo exógeno (seja por a cada quatro a seis semanas até alcançarmos
aumento agudo da ingestão, seja pela ex- a dose ideal. Caso o paciente com doença co-
posição a substâncias contendo iodo, como ronária manifeste dor isquêmica que impeça o
contrastes radiológicos, xaropes antitussí- aumento lento e progressivo na dose de levo-
genos e a amiodarona) pode desencadear tiroxina, encontra-se indicada, inicialmente, a
hipotireoidismo manifesto em pacientes revascularização miocárdica através de angio-
com tireoidite subclínica, devido ao efeito plastia coronariana transluminal percutânea.
de Wolff-Chaikoff.
No hipotireoidismo primário, o objetivo é man-
• Está comprovado que a tireoidite de Hashi- ter os valores do TSH inferiores à metade dos
moto aumenta significativamente o risco níveis de referência do laboratório, ou seja, en-
de linfoma de tireoide. A suspeita do linfo- tre 1,0-2,0 mU/L. No entanto, o TSH só deve
ma deve ser feita quando houver aumento ser dosado a partir de 4-6 semanas (algumas
súbito ou localizado do bócio e/ou sinto- referências falam em dois meses) após o iní-
mas compressivos. cio da reposição, já que a redução do mesmo
é lenta. Caso os valores do TSH que objetiva-
• O que é a encefalopatia de Hashimoto? mos não sejam alcançados, aumentamos gra-
Síndrome rara que acomete indivíduos dualmente a tiroxina em 12,5 a 25 µg/semana
portadores de anti-TPO, levando à mio- (não confunda, nos idosos e coronariopatas
clonia, confusão mental e coma, sem uma esse aumento é mensal!). Cada vez que alte-
relação direta com a tireoidite autoimune ramos a dose, o ideal é dosarmos o TSH séri-
ou hipotireoidismo. O EEG revela atividade co. Uma vez ajustada a dose, o TSH deve ser
de onda lenta. As manifestações costumam checado anualmente (podendo passar para
responder ao uso de esteroides. intervalos de dois a três anos posteriormente).

 Diagnóstico: É feito com base na associa- Não devemos nos surpreender com pa-
ção de um quadro clínico compatível, ou seja, cientes que mantêm os sintomas mesmo
bócio e hipotireoidismo, com o achado de ní- após redução do TSH, pois muitos só apre-
veis aumentados de autoanticorpos tireoidia- sentam melhora completa após 3-6 meses
nos, especialmente o anticorpo anti-TPO com o TSH no “alvo”.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 46

Obs.: Embora o subtratamento seja uma prá- necessária do hormônio. Nesses casos, se
tica comum, reparem que ao deixar o nosso não estivermos atentos para essa interação,
paciente com subdose de hormônio tireoidiano, o início da reposição hormonal pode condu-
estamos também expondo-o a todos os efeitos zir ao subtratamento (quando administramos
deletérios do hipotireoidismo ao longo do tem- uma dose menor do que o paciente necessita)
po, inclusive uma piora significativa da própria ou à tireotoxicose (quando a dose administra-
coronariopatia por hipertensão e dislipidemia. da é exagerada). Veja os principais exemplos
a seguir:

No hipotireoidismo secundário, não há como Aumentam dose Diminuem dose


monitorizar com os níveis de TSH, mas apenas necessária necessária
com a fração livre de T4, duas a quatro semanas Diminuem absorção da Ingestão factícia.
após o tratamento, objetivando níveis superiores tiroxina: Doença disab-
à metade dos níveis de referência do laboratório. sortiva, sulfato ferroso,
carbonato de cálcio, hi-
Existe ainda um pequeno subgrupo de pa- dróxido de alumínio, su-
cientes que, mesmo com exames laboratoriais cralfato, colestiramina,
evidenciando a correção do hipotireoidismo proteína da soja.
(redução do TSH aos níveis ideais), ainda Aumentam metabolismo Envelhecimento.
mantêm queixas clínicas compatíveis com a da tiroxina: Gravidez*,
disfunção da tireoide. Nesses casos, pode ser drogas (fenitoína, feno-
aumentada ainda mais a dose de levotiroxina barbital, carbamazepi-
ou associada à reposição de T3 (forma ativa na, rifampicina), síndro-
do hormônio), embora esta última prática não me nefrótica, reposição
tenha se mostrado vantajosa, de acordo com de estrogênios.
os últimos estudos. Além disso, a meia-vida do Troca da marca do medi- Troca da marca do
T3 é mais curta, necessitando de administração camento** (a bioequiva- medicamento.
várias vezes ao dia – enquanto isso, a meia- lência das formulações é
-vida do T4 é de uma semana. semelhante, mas a biodis-
ponibilidade é diferente).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 Falta de aderência ao Função residual
SECRETARIA DE SAÚDE DA SAÚDE DO tratamento. tireoidiana.
MARANHÃO – MA * Na gravidez, a dose necessária pode aumentar em
Mulher de 50 anos, assintomática, apresenta até 75% por conta da metabolização do hormônio pela
níveis séricos de T4-livre 0,1 ng/dl (valores placenta.
normais: 0,5 a 1,5 ng/dl), TSH 41,0 mUI/ml ** O paciente é aconselhado a evitar a troca da formu-
lação de levotiroxina, durante o tratamento, para evitar
(valores normais: 0,5 a 5,0 mUI/ml) e anti-
grandes flutuações na biodisponibilidade do hormônio.
-PO 410 UI/L (valores normais: menores que
35 UI/L). O diagnóstico e a conduta inicial são:
a) Hipotireoidismo primário por tireoidite de Agora observem uma situação curiosa e
Riedel e ultrassonografia de tireoide. corriqueira da prática... Paciente tomando
b) Hipotireoidismo central e ressonância mag- uma boa dose de levotiroxina (ex.: 150 µg/
nética de hipófise. dia), mas com TSH que não reduz! Ou ainda,
c) Hipotireoidismo primário por tireoidite au- níveis de TSH que vivem oscilando. No que
toimune e glicocorticoide. pensar: disabsorção, interação medicamen-
d) Hipotireoidismo por tireoidite subaguda e tosa??? Claro, mas em primeiro lugar, falta
glicocorticoide. de aderência ao tratamento. Caracteristica-
e) Hipotireoidismo primário por tireoidite de mente são pacientes que apenas se lembram
Hashimoto e levotiroxina. de tomar o remédio próximo às consultas. O
resultado é um T4 alto ou normal, com TSH
A presença de T4 livre baixo associado elevado, já que a recuperação dos níveis do
ao TSH elevado define a presença de hipo- TSH é muito mais gradual.
tireoidismo primário. Já o anti-TPO positivo
em altos títulos é compatível com a principal
causa de hipotireoidismo primário em nosso RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
meio: a tireoidite de Hashimoto, doença de INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVI-
mecanismo autoimune. Uma vez estabelecido DORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS –
o diagnóstico, devemos iniciar o tratamento IPSEMG
com levotiroxina, acompanhando os níveis Considerando-se a tireoide de Hashimoto, é
de TSH inicialmente a cada 4-6 semanas, até INCORRETO afirmar que:
escalonarmos a dose da droga até o alvo para a) A maioria dos pacientes se queixam de dor
o paciente. Alternativa E correta. cervical.
b) Esse distúrbio é mais comum em mulheres.
c) Esse distúrbio se apresenta, geralmente,
Para concluir, que fatores podem interferir com bócio difuso endurecido.
com a reposição de levotiroxina? d) Os anticorpos antitireoidianos são positivos
em mais de 90% dos pacien­tes.
A efetividade da levotiroxina sofre a influência
de diversos fatores que podem promover tan- A tireoidite de Hashimoto é a principal cau-
to um aumento como uma redução da dose sa de hipotireoidismo em nosso meio, sendo
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 47

mais comum em mulheres, apresentando- multinodular tóxico. Não raramente é insti-


-se em 75% dos casos com bócio difuso e tuído tratamento inadequado... A tireoidite
com anti-TPO positiva em mais de 95% dos subaguda pode permanecer por vários me-
pacientes. Fica fácil então marcar a letra ses, mas acabará por desaparecer espon-
A. Como veremos mais adiante, a tireoidite taneamente, com um retorno da arquitetura
dolorosa fala a favor de tireoidite supurativa, e função tireoidea normal. Assim, como se
actínica ou granulomatosa subaguda, mas trata de uma doença autolimitada, o trata-
não de Hashimoto. mento deve ser sintomático (AINEs ou AAS).
Nos casos mais graves, pode ser necessário
o uso de corticosteroides. Alguns pacientes
desenvolvem hipotireoidismo transitório
Outras Tireoidites após a resolução da tireoidite, e pode haver
necessidade de reposição hormonal.
De uma forma geral, o termo tireoidite é vá-
lido para qualquer condição que curse com
inflamação da glândula tireoide. Os principais
tipos são: doença de Hashimoto, tireoidite
granulomatosa subaguda, tireoidite pós-parto,
tireoidite linfocítica subaguda e tireoidite indu-
zida por drogas (amiodarona, interferon-alfa,
interleucina-2 e lítio).

Todas essas condições podem se apresen-


tar com estado eutireoideo, tireotóxico (pelo
rompimento dos folículos e extravasamento
hormonal) ou um período transitório de hipo-
tireoidismo. Tireoidites crônicas, como a de
Hashimoto, podem levar à destruição arquite- • Cerca de 1% dos pacientes que foram sub-
tural e ao hipotireoidismo permanente. metidos à terapia com radioiodo desenvol-
ve tireoidite entre cinco a dez dias após o
procedimento. Os quadros são dolorosos
E como diferenciar as principais formas de e tireotoxicose transitória pode ocorrer. A
tireoidite? tireoidite também pode ser oriunda da ir-
radiação para neoplasias da cabeça e do
Duas características fundamentais nos ajudam pescoço. O tratamento se faz com AINEs
a raciocinar com relação à causa da tireoidite: e, raramente, prednisona 40-60 mg/dia.
o tempo de evolução e a presença ou não de
dor na tireoide. Obviamente, como tudo na Me- • Cerca de 5 a 7% das parturientes desen-
dicina, não são regras absolutas, mas auxiliam volvem tireoidite pós-parto, provavelmente
bastante numa questão de prova. Observe como consequência de um processo au-
com muita atenção algumas características toimune. A maior parte (80%) permanece
gerais a seguir, pois elas frequentemente são com a função normal após um ano; as de-
cobradas em prova: mais podem flutuar entre hipo e hipertireoi-
dismo. A lesão é caracteristicamente indolor
• A tireoidite granulomatosa (De Quervain) e a VHS se mantém normal. O tratamento é
surge algumas semanas após uma in- apenas sintomático com betabloqueadores.
fecção viral. Caracteriza-se por aumento 30-50% das mulheres desenvolvem hipoti-
(2-3 vezes) muito doloroso da tireoide, reoidismo permanente dentro de nove anos.
associado a sinais e sintomas sistêmicos,
como febre e mal-estar. A queixa de dor no • Tireoidite linfocítica subaguda é semelhante
pescoço ou disfagia faz da faringite muitas à tireoidite pós-parto na ausência de gravi-
vezes o primeiro diagnóstico. Os sintomas dez. É mais comum na mulher e áreas com
de hipertireoidismo em geral estão presen- deficiência de iodo.
tes na fase inicial. Além do aumento de T3
e T4 e da redução do TSH, dois achados • Existem dois tipos principais de tireoidite
laboratoriais são característicos: aumento crônica: a doença de Hashimoto e a tireoi-
da VHS e diminuição da RAIU. Já em uma dite esclerosante de Riedel. Esta última é
fase mais tardia, T3 e T4 estão reduzidos, um distúrbio raro, caracterizado por fibrose
e TSH aumentado. Observe na figura a do parênquima e dos tecidos circundantes
seguir a evolução de caso de uma tireoi- (músculos), levando ao endurecimento do
dite de De Quervain, na qual é esperada pescoço e hipotireoidismo. O comprometi-
normalização da função tireoideana e da mento da traqueia pode originar dispneia
VHS após cerca de quatro meses desde a e exigir cirurgia. Clinicamente, a tireoidite
instalação da tireoidite. de Riedel pode estar associada à colangi-
te esclerosante e à fibrose retroperitoneal.
• O diagnóstico da fase tireotóxica da doença Pode ser difícil diferenciar a tireoidite de
é muito difícil nos pacientes que não desen- Riedel da neoplasia de tireoide.
volvem dor... Nesses casos, comumente,
a suspeita diagnóstica inicial recai sobre a • Quanto às drogas, precisamos ficar atentos
doença de Graves ou mesmo sobre o bócio especialmente para o lítio e a amiodarona:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 48

(1) Carbonato de Lítio caso, drogas antitireoidianas, perclorato


de potássio, corticoides e lítio podem ser
Trata-se de um fármaco empregado com
utilizados. A melhor medida, a longo prazo,
frequência no tratamento da desordem
no entanto, é a tireoidectomia quase total,
bipolar. Ele pode ser responsável por:
a ser realizada naqueles pacientes com
 Tireoidite destrutiva cursando com hipo risco cirúrgico permissivo.
ou hipertireoidismo.
 Inibição da reação de acoplamento da MIT
e DIT e a secreção de T4 e T3 da glân- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
dula tireoidiana com o desenvolvimento UNIVERSIDADE FEDERAL
de bócio e hipotireoidismo, sendo este na DE SÃO PAULO – SP
maioria das vezes subclínico. Esse é um Mulher de 75 anos de idade, hipertensa, dia-
dos fundamentos para que o lítio possa bética em uso de losartan 50 mg dia e metfor-
ser prescrito no controle da tireotoxicose mina 2 g/dia há um ano vem com fibrilação
em pacientes com doença de Graves que
atrial que foi tratada com amiodarona 200 mg
desenvolveram efeitos adversos graves
e tentativa de cardioversão elétrica sem su-
com o uso de tionamidas.
cesso. A paciente se manteve em fibrilação
 Aumento da concentração de autoanti- atrial e, há 3 meses passou a apresentar apa-
corpos em pacientes com tireoidite au- tia, ganho de peso e constipação. A paciente
toimune, facilitando o desenvolvimento sempre foi independente para as atividades
de hipotireoidismo.
diárias. Em relação a este caso responda:
Qual a sua principal hipótese diagnóstica para
(2) Amiodarona este quadro clínico de 3 meses e qual a sua
provável etiologia?
Trata-se de uma droga importante para o
tratamento de arritmias ventriculares e su-
praventriculares, que contém 39% de sua GABARITO: Hipotiroidismo induzido por amio-
composição baseada no iodo. Por ser uma darona. GABARITO PÓS UNIFESP: Hipotiroi-
droga de depósito, níveis elevados de iodo dismo induzido por amiodarona.
podem permanecer na circulação até seis
meses após interrupção do fármaco. Pode Como a amiodarona é uma das drogas mais
ocasionar três efeitos principais: associadas à disfunção tireoideana, todo pa-
 Supressão aguda e transitória da função ciente que faz ou fez uso deste antiarrítmico
tireoidiana pela sobrecarga de iodo (efeito deve ter um baixo limiar de suspeição diag-
Wolff-Chaikoff), inibição das desiodases e nóstica para problemas tireoideanos diante de
antagonismo parcial dos receptores dos sinais e sintomas condizentes com tal possi-
hormônios tireoidianos. A tendência é que bilidade. É o caso da nossa paciente, que há
a função volte ao normal após adaptação um ano foi exposta à amiodarona, e há três
da glândula a estas alterações iniciais. meses vem evoluindo com apatia, ganho de
 Hipotireoidismo: ocorre em até 13% dos peso e constipação (achados relativamente
pacientes que fazem uso de amiodarona inespecíficos que, quando presentes em con-
em áreas com grande ingesta de iodo, junto num mesmo paciente, ainda mais numa
provavelmente por uma incapacidade mulher idosa, devem nos fazer pensar em
da glândula em “escapar” do efeito da hipotireoidismo). Sabemos que a amiodarona
sobrecarga de iodo. Não é necessária a pode provocar tanto hipo quanto hipertireoi-
suspensão da droga, mas apenas a repo- dismo, dependendo do fator predisponen-
sição hormonal e a monitorização do TSH te! No caso do HIPOtireoidismo, o mecanismo
destes pacientes. fisiopatogênico geralmente é o seguinte: a
 Tireotoxicose: ocorre em 10% de indiví- amiodarona é uma molécula que contém mui-
duos que vivem em áreas de baixa ingesta to iodo em sua estrutura. Quando o paciente
de iodo e em cerca de 2% de pacientes toma amiodarona, ele expõe suas células fo-
que residem em áreas geográficas com liculares tireoideanas a uma grande “carga”
ingesta normal a elevada. Existem duas súbita de iodo. Fisiologicamente, as células
formas descritas: na tipo I observa-se uma foliculares “se defendem” deste excesso de
anormalidade tireoidiana subjacente (Gra- iodo da seguinte forma: “desligando” a capta-
ves subclínico, bócio nodular), a síntese ção de iodo pelos canais da membrana plas-
excessiva de hormônio se deve ao efeito mática, além de “desligar” também as enzimas
do iodo (fenômeno de Jod-Basedow) e a que organificam e incorporam o iodo ao hor-
cintilografia usualmente demonstra cap- mônio que será estocado no coloide folicular.
tação do 131I. Na tireotoxicose induzida
Todo este processo é conhecido como efeito
do tipo II existe ativação lisossomal pela
de Wolff-Chaikoff. O efeito de Wolff-Chaikoff
droga, fenômeno que leva a uma tireoi-
é transitório quando a glândula é saudável,
dite destrutiva. As formas leves do tipo II
podem se resolver espontaneamente ou porém, se já existir previamente algum distúr-
levar ao hipotireoidismo. Por predominar bio tireoideano – como a tireoidite de Hashi-
uma variedade de tireoidite, a captação moto, por exemplo – o efeito de Wolff-Chaikoff
do 131I costuma estar baixa ou ausente. Na tende a ser mais prolongado ou permanente,
tireotoxicose, caso seja possível, a droga e a célula folicular não consegue mais “esca-
deve ser suspensa. De qualquer forma, a par” daquela inibição da captação e síntese
interrupção da droga, a curto prazo, não de hormônio tireoideano que foi induzida pela
acarretará mudanças significativas por se carga aguda de iodo. Muitas vezes o paciente
tratar de uma droga de depósito. Neste não era hipotireóideo, isto é, seu Hashimoto
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 49

estava numa fase subclínica, mas a persistên- hormônio se esgotam e a glândula não produz
cia do efeito de Wolff-Chaikoff acaba desen- mais hormônio novo, fazendo os múltiplos
cadeando franco hipotireoidismo com o passar órgãos e tecidos do corpo começarem a dar
do tempo, pois as reservas endógenas do sinais de carência do hormônio tireoideano!

TIREOIDITES
Tipo Evolução Causa Função RAIU Anti-TPO
Tireoidiana
Dolorosa
Supurativa Aguda Bacteriana Normal Normal Ausente
Trauma Aguda Destruição Variável < 5% Ausente
Irradiação do
parênquima
Granulomatosa Subaguda Viral Variável < 5% Baixo ou
(células gigantes ou ausente
De Quervain)

Indolor
Induzida por droga
Amiodarona Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa Ausente
subaguda
Interferon-alfa Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa 5-10%
subaguda
Interleucina-2 Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa < 10%
subaguda
Lítio Aguda ou Autoimune Hiper ou hipo Baixa 33%
subaguda
Pós-parto Subaguda Autoimune Variável < 5% Altos títulos,
persistente
Linfocítica subaguda Subaguda Autoimune Variável < 5% Presente, per-
(tireoidite esporádica sistente
silenciosa)
Doença de Hashimoto Crônica Autoimune Normal ou hipo Normal ou Altos títulos,
baixa persistente
Riedel Crônica Fibrose Normal ou baixa Normal ou Presente
baixa

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 ção autolimitada, o tratamento seria com base


HOSPITAL CENTRAL DA nos AINEs. Em todo caso, nos casos mais
POLÍCIA MILITAR – HCPM graves (o que não é muito bem a situação),
Mulher de 33 anos procura o ambulatório de pode ser necessário o uso de corticosteroides.
clínica médica do HCPM referindo insônia, Melhor resposta: E.
palpitação e ansiedade excessiva. Apresenta
ao exame físico taquicardia sinusal (FC = 110
bpm) e tremor fino de extremidades. Os exa- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
mes mostram TSH de 0,2 (VR = 0,5-5 mUI/ PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
ml), VHS de 100 mm/h e captação de iodo Mulher 55 anos procura atendimento com rela-
radioativo em 24 horas de 2%. A melhor con- to de fadiga, pele seca, constipação intestinal
duta terapêutica é? e dor grandes e pequenas articulações, sem
a) Propiltiouracil e aspirina. sinais de artrite. Ela tem passado de fibrilação
b) Propiltiouracil e prednisona. atrial, tendo sido submetida cardioversão elé-
c) Propranolol e metimazol. trica há 5 anos, com sucesso. Desde então,
d) Metimazol e aspirina. em uso de amiodorona, 300 mg/dia. Ao exame,
e) Propranolol e prednisona. único achado positivo é hipertensão diastólica.
Assinale a alternativa que mantém o exame
complementar que mais provavelmente defi-
Temos um quadro típico de tireoidite pós- nirá o diagnóstico desta paciente.
-viral ou tireoidite de De Quervain. Observe a a) Fator reumático.
síndrome de tireotoxicose associada à redu- b) Anticorpo antinuclear.
ção do TSH e à elevação importante da VHS. c) TSH.
A RAIU encontra-se inferior a 5%, sinalizando d) Globulinas séricas.
que a tireoide está produzindo pouco hormô-
nio, ou seja, não estamos diante de um caso Observe o quadro sugestivo de hipotireoi-
de hipertireoidismo. Para o controle sintomáti- dismo em paciente usuária crônica de amio-
co das palpitações faremos o betabloqueador. darona, restando como única opção de res-
Para a tireoidite especificamente, uma condi- posta a letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 50

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 d) Tireoidectomia parcial.


SECRETARIA ESTADUAL
DE SAÚDE – SES RJ Paciente HIV positivo com quadro sugestivo
Uma mulher de 32 anos queixa-se de dor de de tireoidite supurativa aguda (tireoide dolo-
garganta, odinofagia e episódios de febre na rosa, início nas últimas 48 horas, leucocitose
última semana. Ao exame, apresenta orofa- com desvio para a esquerda). Para completar
ringe normal e pequeno aumento da tireoide, uma questão clássica de prova, só faltou co-
que está levemente dolorosa. Relata quadro locar VHS aumentado. Alguma dúvida sobre
gripal há três semanas. Exames revelam Hb o próximo passo??? Resposta: C.
= 12,5 g/dl, leucócitos = 15.000 cels/mm3
(0/0/1/65/30/4), VHS = 50 mm na 1ª hora,
TSH = 0,2 uUI/ml. Anticorpos antitireoidianos RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
negativos. Baseado na principal hipótese diag- UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
nóstica, o tratamento, neste momento, deve A amiodarona é um benzofibrato iodado que
ser feito com: contém 75 mg de iodo por comprimido. Na
a) Ácido acetilsalicílico. tireoide, ela exerce a seguinte ação:
b) Iodo radioativo. a) Aumenta a conversão de T4 para T3.
c) Propiltiouracil. b) Pode induzir a disfunção tireoidiana (ti-
d) Levotiroxina. reotoxicose ou hipotireoidismo) em 2 a 24%
dos pacientes.
Novamente temos aqui um quadro de tireoi- c) Tende a diminuir o TSH, no início do tra-
dite (aumento + dor na tireoide + VHS) que tamento.
segue um quadro de provável infecção viral d) Aumenta a captação tissular dos hormô-
orofaríngea. Ou seja, tireoidite subaguda (De nios tireoidianos.
Quervain). Qual é a nossa conduta? Anti-in-
flamatórios... Resposta: A. Foi como acabamos de ver. A amiodarona
pode levar tanto ao hipotireoidismo como o hi-
pertireoidismo. Em relação ao hipotireoidismo,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 ela reduz a conversão periférica de T4 em T3
HOSPITAL DO SERVIDOR (inibição competitiva da desiodase tipo 1 pela
PÚBLICO MUNICIPAL – HSPM semelhança com a molécula de tiroxina), reduz
Mulher de 30 anos procura ambulatório de a ação tissular dos hormônios tireoidianos (re-
clínica geral referindo palpitação, nervosis- duzindo a ligação do hormônio com seu recep-
mo e insônia há 2 semanas. Ao exame físico tor nuclear) e pode fazer efeito Wolff-Chaikoff
apresenta tremor fino de extremidades e pulso pela sobrecarga de iodo. Com isso, tende a
rítmico de 120 bpm. Os exames mostram TSH apresentar valores elevados de TSH no início
diminuído, VHS de 100 mm/h e captação de do tratamento. Em relação ao hipertireoidismo,
iodo radioativo em 24 horas de 2%. A melhor ela pode fazer efeito Jod-Basedow pela sobre-
conduta terapêutica é prescrever: carga de iodo (tireotoxicose tipo 1) ou tireoidite
a) Metimazol e aspirina. destrutiva (tireotoxicose tipo 2). Resposta: B.
b) Propranolol e metimazol.
c) Propranolol e prednisona.
d) Propiltiouracil e prednisona. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
e) Propiltiouracil e aspirina. COMISSÃO ESTADUAL DE RESidência
MÉDICA DO AMAZONAS – CERMAM
Em se tratando de uma provável tireoidite A tireotoxicose está associada a todas as
subaguda (VHS aumentada, captação reduzi- abaixo, exceto:
da), o tratamento é sintomático. Resposta: C. a) Doença de Graves.
b) Bócio multinodular tóxico.
c) Tireoidite de Riedel.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 d) Adenoma funcionante.
INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA – IFF
Cecílio tem 23 anos, é motorista de ônibus e A tireoidite de Riedel é uma doença crônica e
descobriu ser soropositivo para o HIV há dois fibrosante da tireoide que acomete principalmen-
anos, optando por não realizar tratamento em te mulheres (4:1) entre 30 e 60 anos de idade.
virtude da ausência de sintomas. Chegou para Cerca de 1/3 dos pacientes podem apresentar
atendimento na emergência com quadro clíni- hipotireoidismo em virtude de um acometimento
co de dor em região cervical anterior, referida extenso da tireoide. Em todo caso, tireotoxicose
por vezes na garganta e nos ouvidos, de início não é esperada. As outras opções são causas
há 48 horas. Ao exame clínico você identifica clássicas de hipertireoidismo.
eritema nesta região onde se palpa bócio ti- Resposta: C.
reoidiano, assimétrico, maior à esquerda. Os
resultados dos exames laboratoriais solicitados
revelam Htº: 40%, Hb: 12 g/dl, 13.000 leucóci- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
tos/ml com 16% de bastões, 15.000 plaquetas/ UNIVERSIDADE DO ESTADO
ml, T4 livre e TSH normais. A conduta mais DO RIO DE JANEIRO – UERJ
adequada para Cecílio, neste momento, é: Um paciente que desenvolve tireoidite com o
a) Aspirina. uso de amiodarona deve, além da suspensão
b) Corticosteroide. da droga, ser tratado com:
c) Antibioticoterapia. a) Metimazol.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 51

b) Propiltiouracil. tumores hipofisários e seu tratamento (irra-


c) Glicocorticoides. diação de adenomas), bem como a necrose
d) Iodeto de potássio. hipofisária pós-parto (síndrome de Sheehan).
Mas não há dúvidas, para este módulo deve-
Devemos tomar cuidado com esta questão. mos nos concentrar mesmo é no distúrbio mais
Estamos falando de uma tireoidite por amio- comum: o hipotireoidismo primário.
darona e, portanto, tireotoxicose tipo II. Nesse
caso, as lesões foliculares são semelhantes às
observadas em outras formas de tireoidite e Abordagem Geral
o tratamento consiste na suspensão da droga
e utilização de glicocorticoides. Mas, atenção: Para começarmos nossa discussão prática
se fosse uma tireotoxicose tipo I (pelo exces- sobre hipotireoidismo, vamos imaginar agora
so de iodo), o tratamento deveria incluir uma este cenário clínico:
tionamida, sendo o propiltiouracil preferível ao
metimazol porque, adicionalmente ao bloqueio Cenário 01
tireoidiano, reduz a conversão periférica de T4
Dona Olinda, 52 anos, vem à consulta médica
em T3. Resposta: C.
se queixando de adinamia, ganho ponderal
e intolerância ao frio. Nega qualquer doença
prévia. O familiar que a acompanha diz que a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 paciente vem apresentando também alguns
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA – UNIFESP problemas na memória e no cálculo, com
O amiodarone é um agente antirrítmico tipo lentificação do raciocínio. Como conduzir
III utilizado. Sua estrutura está relacionada este caso?
à estrutura dos hormônios tireoidianos e
contém 39% de iodo. Assinale a alternativa
INCORRETA: Primeiro Passo:
a) O amiodarone pode causar hipotireoidismo Confirmar o estado de hipotireoidismo
em pacientes suscetíveis ao efeito inibitório
do iodo. Nesse caso, devemos confirmar a presença
b) A suspensão do amiodarone rapidamente do hipotireoidismo, solicitando a dosagem
reverte a disfunção tireoidiana induzida pela de TSH e T4 livre (Algoritmo 3). Aqui há uma
droga. particularidade em relação ao hipertireoidismo.
c) O amiodarone pode causar queda nos ní- Vamos lembrar que na hiperfunção da tireoide,
veis de T4 devido ao efeito Wolff-Chaikoff. 5% dos pacientes podem apresentar tireoto-
d) O amiodarone pode causar tireotoxicose por xicose por T3 e, por isso, em determinados
um mecanismo similar ao da tireoidite. casos (TSH reduzido, T4 normal) faz sentido
e) O amiodarone pode causar tireotoxicose solicitar a dosagem de T3 livre. Já no caso do
em paciente com bócio multinodular. hipotireoidismo, o T3 se reduz apenas quan-
do o T4 já está reduzido. Dessa forma, não é
Como vimos, a amiodarona provoca mais necessário solicitar a dosagem da forma livre
frequentemente hipotireoidismo. Esse fenôme- de T3, mas apenas do T4.
no acontece principalmente em indivíduos que
possuem uma doença autoimune (tireoidite de A partir desses resultados, podemos caracterizar
Hashimoto) de base e o principal mecanismo é o hipotireoidismo em grupos principais: primário
o efeito Wolff-Chaikoff. Até 13% dos indivíduos (se distúrbio tireoidiano), secundário ou terciário
que fazem uso da droga podem apresentar hi- (se distúrbio hipofisário ou hipotalâmico). Em
potireoidismo com o decorrer do tempo (subclí- todos eles a fração livre de T4 e T3 estará redu-
nico ou clínico). Mas é importante lembrarmos zida, confirmando o quadro de hipotireoidismo.
também que a droga pode levar à tireotoxicose A diferença fica para os níveis de TSH. No hi-
por dois mecanismos. Um deles é o fenômeno potireoidismo primário, como é a glândula que
de Jod Basedow, principalmente em pacientes está hipofuncionante, a redução de T4 e T3 livres
que possuem bócio multinodular tóxico e estão é acompanhada da elevação compensatória
ainda assintomáticos e não sabem que pos- dos níveis de TSH. No hipotireoidismo central
suem a doença (idosos, mais comumente) e o (secundário e terciário), como o problema é no
outro mecanismo é através de uma tireoidite, próprio sistema hipotálamo-hipófise, a concen-
que leva à tireotoxicose por distúrbio de arma- tração de TSH também estará reduzida.
zenamento do hormônio. Agora, uma pergunta
que muitos médicos se fazem: Suspendendo IMPORTANTE: No caso do hipotireoidismo
a amiodarona, demora muito para a tireoide primário, devemos entender que, inicialmente,
readquirir sua função normal? Realmente existe pode existir uma elevação isolada do TSH com
uma demora, pois a amiodarona é uma droga T4 livre ainda no limite inferior da normalidade.
de depósito. Desta forma, a palavra rapidamen- Na verdade, esses níveis de T4 já estão redu-
te torna errada a opção B. zidos, mas como a hipófise elevou a produção
de TSH para compensar o deficit hormonal, o
T4 ainda se mantém na faixa de normalidade.
Esta condição é chamada de hipotireoidismo
Hipotireoidismo Central subclínico (ver adiante). No entanto, com o
passar do tempo, ocorre redução do T4 e pos-
O hipotireoidismo central (secundário ou teriormente do T3, configurando um quadro de
terciário) tem como causas mais comuns os hipotireoidismo franco.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 52

Veja o Algoritmo abaixo RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006


ASSOCIAÇÃO MÉDICA
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 PARANAENSE – AMP
UNIVERSIDADE FEDERAL Abaixo estão presentes critérios essenciais
DE SÃO PAULO – SP para o diagnóstico de hipotireoidismo e mi-
Mulher, 35 anos de idade é trazida pela mãe xedema, assinale a alternativa INCORRETA:
para consulta médica, pois a mesma acha que a) Fadiga, intolerância ao frio, constipação,
a filha está com depressão. Refere dormir bem mudanças no peso, depressão, menorragia.
à noite. Nega perda do interesse pelas ativi- b) Pele seca, bradicardia, reflexos lentificados.
dades rotineiras, tristeza ou choro fácil. Está c) Anemia, hiponatremia.
previamente hígida e não faz uso de medica- d) T4 e captação de radioiodo na cintilografia
ções. ISDA: queda de cabelos, unhas quebra- comumente baixa.
diças, pele seca, obstipação intestinal e sono- e) TSH suprimido em mixedema primário.
lência diurna. Ao exame físico: PA = 120 x 90
mmHg, FC = 55 bpm, bom estado geral, hipo- Bem simples. Sabemos que no hipotireoidis-
corada, edema periorbitário discreto, edema mo primário o TSH está elevado por não sofrer
MMII 1+/4+, pele descamativa e fria. Qual o feedback negativo dos hormônios tireoidianos.
exame essencial para confirmar o diagnóstico Resposta: E.
desta paciente?

GABARITO OFICIAL: TSH e T4 livre. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002


GABARITO PÓS-UNIFESP: ANULADA UNIVERSIDADE FEDERAL
O hipotireoidismo é caracterizado por um am- FLUMINENSE – UFF
plo leque de manifestações clínicas, com des- Mulher branca, 42 anos, com queixas de rouqui-
taque para as alterações neurológicas (lenti- dão, sonolência, sensação exagerada ao frio e
dão de raciocínio, sonolência, deficit cognitivo, reflexo aquileu lentificado. Apresentava T3 bai-
humor deprimido, reflexos lentificados, pares- xo, T4 baixo, TSH indosável. Não respondeu à
tesias), cardiovasculares (bradicardia, hiper- estimulação ao TRH. Provavelmente apresenta:
tensão convergente, derrame pericárdico), a) Hipotireoidismo primário.
digestivas (constipação, hipomotilidade) e b) Hipotireoidismo secundário.
musculoesqueléticas (fraqueza muscular, mio- c) Hipotireoidismo terciário.
patia, pseudomiotonia), além de sinais e sin- d) Resistência periférica aos hormônios tireoi-
tomas gerais como astenia, intolerância ao dianos.
frio, pele seca, edema generalizado, madaro- e) Síndrome do T3 reverso.
se, cabelos quebradiços, alopecia, rouquidão.
Face ao exposto, temos que classificar esta O enunciado descreve uma paciente com
paciente como provável portadora de hipoti- hipotireoidismo, alguém duvida disto? Porém
reoidismo, devendo ser solicitada, em primei- seu TSH é indosável, o que, de cara, nos faz
ro lugar, a dosagem de TSH para confirmação pensar em hipotireoidismo central. Se fosse
diagnóstica. A questão foi anulada por um erro um distúrbio primário da tireoide, pelo contrá-
de português da banca, que solicitou “O EXA- rio, ele estaria elevado. Resta apenas uma
ME ESSENCIAL”, no singular, mas divulgou dúvida: É hipotireoidismo hipofisário (secun-
como gabarito dois exames, TSH e T4 livre. dário) ou hipotalâmico?

Algoritmo 3
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 53

Então, aprenda mais um conceito! Um teste níveis séricos de TSH vão aumentar. Em caso
empregado para esses casos é o de estimu- de doença hipofisária não haverá resposta ao
lação pelo TRH. Administra-se ao paciente TRH ou somente uma resposta parcial.
o TRH sintético e observa-se a resposta do
TSH. Observem que o estímulo pelo TRH não gerou
resposta hipofisária. Qual será a nossa con-
Caso a doença esteja no hipotálamo, signi- clusão? A doença está na hipófise, portanto,
fica que a hipófise está íntegra e vai haver hipotireoidismo secundário. Agora não resta
resposta tardia à infusão de TRH, ou seja, os mais dúvida. Resposta: B.

Algoritmo 4

Segundo Passo: 0,5 ng/dl (VR: 0,8-2,0); TSH: 5,3 mU/L (VR:
Identificar e tratar a 0,7-5,7). Baseado nestes achados, o próximo
causa de hipotireoidismo
procedimento diagnóstico mais adequado é:
a) Dosagem de Anticorpos antitiroperoxidase
e antitiroglobulina.
No caso do hipotireoidismo, o grande diagnós- b) Ultrassonografia da glândula tireoide.
tico diferencial se dá entre as formas primária c) Mapeamento e captação tireoidiana.
e secundária. A forma secundária é bem me- d) Avaliação global da função hipofisária.
nos comum, e o diagnóstico se faz por exame
de imagem e pela avaliação de hipofunção Repare nas opções: três delas se referem a
em outras glândulas dependentes do sistema possíveis investigações de distúrbios diretamen-
hipotálamo-hipófise. Após a confirmação labo- te relacionados com a glândula tireoide. No
ratorial do hipotireoidismo primário, o próximo entanto, repare que o problema é na estimulação
passo é solicitar a pesquisa de anticorpos anti- a essa glândula e não na própria. Podemos
-TPO. Devemos ressaltar apenas que 10% dos afirmar isso na medida em que temos um T4
pacientes com diagnóstico histológico de tireoi- abaixo da normalidade, mas o mecanismo de
dite autoimune não mostram autoanticorpos na feedback não está fazendo com que haja eleva-
circulação. Veja o Algoritmo 4, proposto para ção proporcional do hormônio estimulante (TSH).
investigação da causa do hipotireoidismo. Neste sentido, é imperioso que investiguemos
o eixo central que proporcionaria um aumento
de TSH e, provavelmente, conseguiria compen-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 sar a queda de função da glândula, mantendo,
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO num primeiro momento, os níveis hormonais
PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO adequados. Gabarito: letra D.
Menina, 11 anos de idade. HMA: apresenta fa-
diga, constipação intestinal, queda do rendimen-
to escolar e redução do ritmo de crescimento há Residência Médica – 2007
cerca de 1 ano. ES: Na avaliação da função ti- Hospital Central
reoidiana foi observado: T4 total: 4,8 mcg/dl da Aeronáutica – HCA
(Valor de referência - VR: 6,4-13,3); T4 Livre: No ambulatório, uma mulher de 42 anos quei-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 54

xa-se de leve aumento do pescoço. Durante Aqui estamos diante de outra situação: uma
seu exame físico: bom estado geral, febril, paciente assintomática e com a função tireoi-
glândula tireoide palpável, aumentada, lisa, diana normal, exceto por uma elevação do
borrachosa e indolor. Provas de função tireoi- TSH. Trata-se do hipotireoidismo subclíni-
diana: T4, T4 livre e T3 são normais, mas o co! Conforme comentamos mais acima, no
TSH está levemente aumentado. Qual o diag- hipotireoidismo primário pode existir, inicial-
nóstico mais provável? mente, uma elevação isolada do TSH com T4
a) Deficiência de iodo. livre ainda no limite inferior da normalidade.
b) Câncer de tireoide. Na verdade, os níveis de T4 já estão reduzi-
c) Tireoide de Hashimoto. dos, mas como a hipófise elevou a produção
d) Doença de Graves. de TSH para compensar o deficit hormonal, o
e) Bócio multinodular. T4 ainda se mantém na faixa de normalidade.

O que temos aqui é uma paciente com la-


boratório e achados clínicos compatíveis com Mas afinal de contas, devemos ou não tra-
hipotireoidismo subclínico (TSH elevado e T4 tar o hipotireoidismo subclínico?
livre normal). Neste caso, principalmente por
se tratar de uma mulher, entre 2ª e 4ª déca- Este é um tema bastante controverso e as
das de vida, devemos pensar em tireoidite de recomendações são diferentes entre as princi-
Hashimoto. Resposta: C. pais referências. O que se sabe é que o trata-
mento seria válido para aqueles com sintomas
não específicos, grande chance de iniciar um
Residência Médica – 2007 quadro de hipotireoidismo franco (TSH > 10
Hospital Central mU/L e altos títulos de anti-TPO) e dislipidê-
da Aeronáutica – HCA micos sob risco de doença aterosclerótica.
Quais exames laboratoriais deveriam ser feitos
para confirmar o diagnóstico do paciente no Sendo assim, as principais indicações de tra-
caso acima? tamento atualmente são:
a) Repetição dos testes de função tireoidiana.
b) Ultrassonografia da tireoide. a) Sintomático (diminuição da tolerância ao
c) Cintilografia de tireoide. exercício, fadiga, constipação, depressão,
d) Teste de anticorpos antitireoidicos. etc.). Em idosos, deve-se atentar para a
e) Hemograma e VHS. dose, já que hipertratamento é comum nes-
ta faixa etária.
Muito fácil: na suspeita de Hashimoto, pe-
dimos a dosagem de autoanticorpos como o b) Hipercolesterolemia e/ou evidência de
anti-TPO. Resposta: D. doença cardíaca.

c) Alta probabilidade de progredir para hipo-


Conclusão do Cenário 01 tireoidismo franco: TSH > 10 mU/L e anti-
Hipotireoidismo -TPO positivo (algumas referências só re-
Temos uma senhora de 52 anos com achados
comendam em caso de altos títulos).
sugestivos de hipotireoidismo. Após a confir-
mação laboratorial da disfunção tireoidiana e d) Mulheres com hipotireoidismo subclínico
da etiologia mais comum (excluindo os locais que estejam grávidas, desejam engravidar
com deficiência de iodo) que é a tireoidite de ou apresentem disfunção ovulatória e infer-
Hashimoto – anti-TPO positivo – o próximo tilidade: em gestantes geralmente utiliza-
passo é iniciar a reposição de levotiroxina e mos como pontes de corte para o tratamen-
ajustar a dose conforme seguimento pelos to TSH > 2,5 mU/L (primeiro trimestre) ou >
valores de TSH. A princípio, a ausência de 3 mU/L (segundo e terceiro trimestres).
coronariopatia nos permite começar a repo-
sição com as dose usuais de 50-100 µg/dia. O objetivo do tratamento com reposição de
T4 é reduzir o TSH ao valor normal. Caso o
tratamento não seja iniciado, o paciente deve
Casos Especiais ter a função tireoidiana avaliada anualmente.

Cenário 02 Vamos ver estas questões simples sobre


Agora imagine outra senhora de 52 anos
hipotireoidismo subclínico:
apresentando-se de uma forma um pouco
diferente. Na verdade, não existe nenhuma RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
queixa objetiva. Como vem se sentindo ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP
pouco disposta para as atividades cotidia- Define-se “hipotireoidismo subclínico” como a
nas, ela vem à consulta para fazer exames situação clínica em que:
de rotina. Nesse momento, você detecta a) O paciente apresente sintomas mínimos de
TSH elevado, T4 e T3 normais, colesterol hipotireoidismo.
total de 250 mg/dl, LDL 170 mg/dl e triglice- b) O paciente apresente bócio pequeno.
rídeos de 160 mg/dl. A condução do caso c) O paciente apresente dosagem de TSH
é a mesma? maior que 10 mUI/ml.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 55

d) O paciente seja assintomático e apresente e a dosagem do anticorpo antitireoperoxidase


níveis normais de hormônios tireoidianos, em- (TPO) foi de 105 U/L (valor de referência: =
bora tenha níveis de TSH elevados. 35U/L). A conduta correta em relação à corre-
e) O paciente tome doses baixas de hormônio ção da alteração hormonal de Moema é:
tireoidiano. a) Dosar T4 total e tireoglobulina.
b) Iniciar reposição de levotiroxina.
Hipotireoidismo subclínico é definido labo- c) Suspender a reposição hormonal.
ratorialmente pela elevação exclusiva do TSH d) Repetir a dosagem do TSH em um ano.
com T4-livre normal. O paciente com hipoti-
reoidismo subclínico pode ser assintomático Uma vez que a paciente apresenta hiper-
ou ter sintomas vagos e inespecíficos para colesterolemia, existe indicação de tratamen-
hipotireoidismo. Apesar de o nome ser “sub- to do hipotireoidismo subclínico neste caso.
clínico”, a definição desta patologia é labora- Resposta opção B.
torial! Resposta opção D.

Conclusão do Cenário 02
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Hipotireoidismo subclínico
COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA
Esta paciente tem hipotireoidismo subclínico
MÉDICA DO AMAZONAS – AM
e, apesar de assintomática, deve também ser
Uma mulher de 40 anos de idade, não fuman-
submetida à reposição de levotiroxina por
te e sem histórico familiar de doenças corona- apresentar dislipidemia.
rianas, submeteu-se a exames de rotina que
revelaram os seguintes resultados: Colesterol
total = 290 mg/dl; Colesterol LDL = 210 mg/dl; Cenário 03
Colesterol HDL = 45 mg/dl; Triglicerídios = 160 Numa verdadeira epidemia de senhoras de
mg/dl e Glicemia de jejum = 98 mg/dl. 52 anos, mais uma chega para ser atendida
A paciente, cujo índice de massa corpórea por você. Dessa vez, não no consultório,
(IMC) era de 26 kg/cm2, foi orientada a seguir mas no pronto-socorro em que você dá
uma dieta hipolipídica e a aumentar sua ativi- plantões no fim de semana. Ela se apre-
dade física. Três meses após, seu IMC era de senta confusa, com a pele bastante fria e
24,8 kg/cm2 e novos exames mostraram: Co- bradicárdica. À gasometria arterial, nota-
lesterol total = 253 mg/dl; Colesterol LDL = 180 -se importante acidose respiratória com
mg/dl; Colesterol HDL = 45 mg/dl e Triglicerí- PCO2 de 60 mmHg. O glicosímetro indica
dios = 140 mg/dl. Foi também avaliada a fun- o valor de 30 mg/dl. Você solicita a repo-
ção tireoidiana que mostra um TSH = sição de glicose e inicia os procedimentos
16 mcUI/ml (VN = 0,3 - 5) e T4 livre = 0,6 ng/dl para intubação orotraqueal. O único dado
(VN = 0,8 - 1,9). Qual a melhor conduta para disponível é que a paciente é portadora de
este caso? tireoidite de Hashimoto, mas que não vem
a) Iniciar fenofibrato ou ciprofibrato. utilizando Levotiroxina adequadamente há
b) Iniciar L-tiroxina. três meses, desde que seu marido faleceu.
c) Iniciar L-tiroxina + uma estatina. O que pensar deste caso?
d) Apenas insistir nas medidas não farmaco-
lógicas.
e) Iniciar uma estatina. Se o extremo do hipertireoidismo é a crise tireo-
tóxica, podemos considerar o extremo do hipoti-
Estamos diante de um quadro de hipotireoi- reoidismo o coma mixedematoso! Trata-se de
dismo (TSH aumentado + T4 livre reduzido). um distúrbio mais comum em mulheres idosas
Apesar de a paciente ser assintomática do nos meses de inverno. Existe frequentemente
ponto de vista clínico, existe uma alteração uma história de hipotireoidismo prévio, muitas
metabólica que provavelmente não irá melho- vezes com reposição hormonal realizada de
rar enquanto a carência de hormônio tireoidia- forma irregular pela paciente. Os principais fato-
no não for corrigida: a hipercolesterolemia. res precipitantes são as infecções respiratórias
Logo, há total indicação de se iniciar reposição (pneumonias) e do trato urinário, administração
hormonal com levotiroxina. Resposta certa: B. de sedativos, IAM, ICC, AVE e agravamento de
uma condição clínica preexistente. As princi-
pais alterações incluem prejuízo importante das
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 funções do sistema nervoso central somado à
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA descompensação cardiovascular e respiratória.
Moema tem 56 anos e realiza terapia de re- O reconhecimento desta condição pelo clínico
posição hormonal com levonorgestrel e pro- e pelo intensivista é prejudicado pelo início insi-
gesterona. Encontra-se assintomática e não dioso e por sua incidência relativamente baixa.
apresenta alterações ao exame físico. Durante
realização de exames laboratoriais de rotina, O hormônio tireoidiano, através da ativação da
foi constatado colesterol total igual a 286 mg/dl, Na+/K+ ATPase, aumenta o consumo de oxi-
colesterol LDL de 197 mg/dl, colesterol HDL gênio nos tecidos, sendo um dos responsáveis
igual a 45 mg/dl e triglicerídios de 220 mg/dl. pela elevação da taxa metabólica basal. Na
O TSH se mostrou elevado em duas dosagens diminuição importante de seus níveis, existe
distintas: 9 mU/L e 9,2 mU/L (valor de refe- uma tendência comprovada à hipotermia. Essa
rência: 0,5 a 4,7 mU/L). O T4 livre foi igual a alteração não se encontra presente em todos
1,8 ng/ml (valor de referência: 0,8 a 2,7 ng/ml) os pacientes no coma mixedematoso, mas,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 56

quando encontrada, é bastante sugestiva. A tireoidismo. A diminuição da taxa de filtração


manifestação respiratória mais grave em um glomerular, somada à diminuição da excreção
paciente com hipotireoidismo é a diminuição de água livre e redução da reabsorção de
do drive ventilatório, fenômeno que pode levar sódio pelo néfron, promove uma tendência à
à retenção de CO2 e à hipoxemia por hipoven- hiponatremia, que pode se agravar. Alguns pa-
tilação alveolar. Estas alterações, sobretudo a cientes apresentam elevação inapropriada do
hipercapnia, são capazes de ocasionar coma. ADH a despeito da osmolaridade sérica baixa.
A disfunção neuromuscular agrava ainda mais
esses distúrbios. Os pacientes com coma mixedematoso po-
dem desenvolver hipoglicemia. A diminuição
Principais alterações dos hormônios tireoidianos pode induzir uma
clínicas e laboratoriais maior sensibilidade à insulina...
do coma mixedematoso
A vasoconstrição descrita antes reduz o volu-
(1) Diminuição do nível de consciência me sanguíneo em até 20% e os baixos níveis
(2) Hipoventilação de eritropoietina diminuem o hematócrito em
(3) Hipotermia 30%. Além disso, uma anemia macrocítica por
(4) Bradicardia carência de vitamina B12 pode estar presente
(associação de anemia perniciosa). Leucope-
(5) Hiponatremia
nia e diminuição dos granulócitos são altera-
(6) Hipoglicemia ções também encontradas.
(7) Infecção associada

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012


Outras causas de prejuízo na função venti- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SP
latória são o edema mixedematoso das vias Mulher de 55 anos, portadora de tireoidite de
aéreas superiores e a obstrução por macro- Hashimoto, em uso irregular de levotiroxina,
glossia. A pneumonia bacteriana encontra-se é internada com pielonefrite e quadro típico de
presente na maioria dos pacientes com coma coma mixedematoso. É provável o encontro
mixedematoso, sendo o principal fator precipi- nesta paciente de:
tante. O hipotireoidismo aumenta a responsivi- a) Reflexos exaltados e aumento de CPK.
dade alfa-adrenérgica, fenômeno que explica b) Hipernatremia e hipotermia.
o desvio de sangue da pele para tentar manter c) Hiperglicemia e baixa voltagem difusa ao
a temperatura central do organismo (levando a eletrocardiograma.
uma pele fria e pálida). Ao mesmo tempo exis- d) Hipocortisolismo e hipercapnia.
te uma diminuição na densidade de receptores e) Bradicardia e hipertensão arterial.
beta, o que explica a bradicardia, diminuição
do volume sistólico e débito cardíaco. Questão que gerou alguma polêmica na
época da prova. Para acertá-la, você deve
Este aumento da resposta alfa-adrenérgica perceber que estamos diante de um caso de
com a diminuição do débito cardíaco explica COMA MIXEDEMATOSO, ou seja, o extremo
a hipertensão diastólica observada no hipo- do hipotireoidismo. Esta condição geralmente

Tratamento do Coma Mixedematoso


(1) Levotiroxina Reposição imediata de hormônios tireoidianos. A levotiroxina (T4) venosa
em altas doses é administrada em um bolus de 500 µg e continuada em uma dose de 50
a 100 µg/dia. O uso de Liotironina (T3), na dose de 10 a 25 µg a cada 8-12
horas, em combinação com levotiroxina, é recomendado por muitos auto-
res, uma vez que existe geralmente um prejuízo na conversão periférica
de T4 em T3 nos pacientes em coma mixedematoso. Contudo, existe risco
de arritmias com o uso de altas doses de T3.
(2) Hidrocortisona Os esteroides são recomendados no coma mixedematoso para evitar o
Venosa surgimento de uma crise adrenal como consequência de um aumento do
metabolismo com a reposição hormonal. Este fenômeno pode ser encon-
trado em pacientes com insuficiência suprarrenal autoimune associada ao
hipotireoidismo (muito comum) e nos raros indivíduos com hipopituitarismo
e hipotireoidismo (secundário) presentes. A hidrocortisona é administrada
na dose de 100 mg seguida de 50 mg a cada 6h.
(3) Suporte Através de ventilação mecânica. A miopatia do hipotireoidismo pode pro-
Respiratório longar e dificultar o desmame do respirador.
(4) Correção da Utiliza-se glicose hipertônica e dieta enteral.
Hipoglicemia
(5) Correção da Restrição hídrica ou emprego de salina hipertônica.
Hiponatremia
(6) Aquecimento Utilização de cobertores térmicos. Deve-se tomar cuidado para não induzir
o choque por vasodilatação.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 57

é precipitada por intercorrências clínicas como mente devido à diminuição de capacidade de


infecções, AVE, IAM e uso de sedativos em resposta ventilatória a hipóxia e à hipercapnia.
pacientes com hipotireoidismo prévio, geral-
mente tratado com subdoses de levotiroxina. Uma questão que descreve com detalhes o
Embora, como foi lembrado por muitos alunos tratamento do coma mixedematoso. Atenção,
à época, o hipotireoidismo possa se manifes- pois muitas questões que falam sobre esse
tar com hipertensão e bradicardia, no coma assunto têm a mania de tentar nos “pegar”
mixedematoso, que é o objeto da questão, o com afirmativas do tipo “...a dose de reposição
mais comum é a hipotensão arterial. Esta con- inicial do hormônio tireoidiano não deve ser tão
dição geralmente se manifesta ainda com alta assim...” Tomem cuidado, uma vez que a
redução do nível de consciência, hipoventila- dose DEVE ser alta mesmo! Para nos garan-
ção (causando hipercapnia, ou seja, retenção tirmos contra uma possível falência adrenal,
de CO2), hipotermia, hiponatremia e hipogli- administramos ainda hidrocortisona na dose
cemia (ocorre redução da reserva adrenal, de 50 mg a cada seis horas. Resposta: A.
causando hipocortisolismo). Os reflexos estão
reduzidos, o ECG apresenta baixa voltagem
e ocorre aumento da CPK. Além do suporte, Conclusão do Cenário 03
o tratamento é realizado com levotiroxina em Coma mixedematoso
altas doses (preferencialmente intravenosa) e Numa senhora de 52 anos com história pré-
hidrocortisona. Assim, a única opção que se via de tireoidite de Hashimoto que chega à
“encaixa” é a letra D. Emergência apresentando confusão mental,
pele fria e bradicardia é obrigatório pensar em
coma mixedematoso. Além de excluir outras
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 condições (AVE, IAM, hipoglicemia), estabe-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBU- lecer medidas de suporte e tratar infecções
CO – UFPE concomitantes, deve ser iniciada prontamen-
No tratamento de um paciente com o diagnós- te reposição de altas doses de levotiroxina
tico de coma mixedematoso, estão incluídas mais corticoterapia.
todas as etapas abaixo, EXCETO:
a) Correção da hiponatremia com restrição
hídrica. Cabe lembrar que as alterações clínicas
b) Instituir ventilação assistida ou mecânica. comentadas até agora são encontradas
c) Administrar levotiroxina e/ou tri-iodotironina principalmente no adulto. Contudo, a doen-
precocemente, por via injetável ou por sonda ça pode acometer crianças e neonatos.
nasogástrica.
d) Utilizar compressas e toalhas úmidas sobre Veja a seguir:
a superfície corporal e, se necessário, admi-
nistrar dipirona ou paracetamol. Hipotireoidismo Congênito
 A causa mais comum de hipotireoidismo
De todas as medidas citadas, a opção D é congênito (85% dos pacientes) inclui as
claramente a incorreta. Além da repo­sição de diversas formas de disgenesia tireoidia-
levotiroxina e hidrocortisona, dentre os cuida- na (agenesia, hipoplasia e tireoide ectó-
dos gerais podemos citar: suporte respirató- pica). Erros inatos na síntese de tiroxina
rio, rastreamento, correção da hiponatremia; e a transmissão, por via transplacentária,
correção da hipoglicemia; e AQUECIMENTO de anticorpos maternos bloqueadores dos
mediante cobertores, com objetivo de se receptores do TSH, respondem por 10% e
corrigir a HIPOTERMIA (e não hipertermia) 5% do restante dos casos, respectivamente.
característica da doença.
 A agenesia da tireoide responde por cerca
de um terço dos casos de disgenesia tireoi-
diana; neste caso, o tecido tireoidiano não
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 pode ser localizado com o uso de cintilo-
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTA- grafia com radionuclídeos. Nos dois terços
DUAL – SP restantes, encontramos remanescentes de
Em relação ao coma mixedematoso, assinale tecido em região cervical (hipoplasia) ou
a alternativa incorreta. fora dela, como na base da língua e região
a) Deve iniciar-se o tratamento com doses subioide (tireoide ectópica). A forma mais
muito baixas de LT4 para evitar a insuficiência comum de disgenesia tireoidiana é a glân-
adrenal. dula ectópica. Em alguns casos o tecido
b) A diminuição do T3 intracelular resulta em tireoidiano ectópico é capaz de fornecer ní-
diminuição do inotropismo e cronotropismo, veis adequados de hormônio tireoidiano por
diminuição da sensibilidade aos estímulos muitos anos, já em outros pacientes, este
adrenérgicos, diminuição do ritmo cardíaco e tecido pode produzir hormônios em níveis
vasoconstrição generalizada. insuficientes e levar ao hipotireoidismo na
c) A absorção das medicações orais está di- primeira infância. O tecido ectópico sob es-
minuída (devido a íleo) e devem ser adminis- tímulo do TSH pode aumentar de tamanho
tradas por via intravenosa (IV). e as crianças eventualmente chegam ao
d) A restrição de água é necessária para corri- pediatra com massas crescendo em base
gir a hiponatremia, bem como a infusão de gli- de língua ou na linha média do pescoço.
cose IV para evitar uma possível hipoglicemia.  A maioria dos RN com hipotireoidismo
e) Ocorre retenção de CO2 e hipóxia, principal- congênito é assintomática ao nascimento.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 58

Essa regra se aplica mesmo às crianças


com agenesia da glândula tireoidiana, pois O aluno pergunta...
alguma quantidade de T4 materno ainda Por que há aumento da CPK no
circula no sangue do RN. Na maioria das coma mixedematoso?
vezes, o diagnóstico é estabelecido pelo
teste de triagem (teste do pezinho). Na verdade o aumento da CPK não ocorre
apenas no coma mixedematoso, e sim no
Obs.: Quando não se utilizava o teste de hipotireoidismo de forma geral, uma vez que
triagem, muitos pediatras observavam os o hipotireoidismo é causa de miopatia. Embora
sintomas do hipotireoidismo no decorrer de sua patogênese não seja completamente
algumas semanas de vida. Estes incluíam compreendida, a deficiência de T4 leva a
persistência da icterícia fisiológica, macro- anormalidades na glicogenólise e no
glossia (FIGURA 12), fontanelas anterior e metabolismo oxidativo mitocondrial, levando
posterior abertas, choro pouco frequente, à atrofia das fibras musculares do tipo II,
sono excessivo, engasgos durante a ma- devido à redução no suprimento de glicose.
mada, pouco interesse em mamar, abdome Contudo, mesmo em pacientes com
volumoso com hérnia umbilical, pulso lento, hipotireoidismo sem miopatia, já foi observado
cardiomegalia, derrame pericárdico (usual- aumento da CPK, o que acredita-se que possa
mente assintomático) e anemia macrocítica ocorrer também por aumento da permeabilidade
refratária a tratamento com hematínicos. dos miócitos e redução do clearance de CPK.

Embora não seja uma apostila de Pediatria,


não custa nada rever algumas questões:

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
Figura 12: Recém-Nascidos com Hipoti-
reoidismo Congênito. Reparem a Macro- Criança com 30 dias de vida comparece à
glossia. consulta e evidencia-se teste do pezinho alte-
rado (positivo) para hipotireoidismo. Qual a
Hipotireoidismo na Infância correta abordagem clínica para essa criança?
 O hipotireoidismo adquirido na infância a) Solicitar dosagens séricas de TSH e T4 livre.
tem como principal causa a tireoidite de b) Repetir o teste do pezinho antes de novos
Hashimoto. A primeira manifestação é a de- exames.
saceleração do crescimento. A maturação c) Iniciar tratamento e referenciar para centro
óssea é retardada. Adolescentes podem especializado.
exibir retardo puberal enquanto crianças d) Solicitar dosagem do T4 livre em amostra
podem apresentar uma pseudopuberdade de papel de filtro.
precoce. Esta última tem a seguinte ex-
plicação: os níveis elevados de TSH (em Existem duas alternativas para o procedi-
casos de hipotireoidismo primário) atuam mento de triagem neonatal do hipotireoidismo
nos receptores do hormônio folículo-es- congênito: - Alternativa 1: medida do Hormônio
timulante (FSH) e causam aumento das Estimulante da Tireoide (TSH) em amostras
mamas, em meninas, e macro-orquidismo, de sangue colhidas em papel-filtro (teste do
em meninos. Alguns pacientes podem pezinho). Em caso de TSH > 20 mUI/L, deve-
apresentar hiperprolactinemia e galactor- mos solicitar nova amostra para dosar TSH e
reia. Com o hipotireoidismo crônico de T4 no soro. - Alternativa 2: medida de T4, se-
longa duração, a hiperplasia da hipófise guida de medida de TSH na mesma amostra
(constantemente estimulada pela queda quando o T4 é menor que o percentil 10. No
dos hormônios tireoidianos) pode causar
Programa de Triagem Neonatal, os resultados
perturbações visuais e cefaleia.
de rastreamento positivos devem sempre ser
seguidos de dosagem de T4 (total ou livre) e
de TSH em amostra de sangue venoso, obtida
com a maior brevidade possível, para confir-
O aluno pergunta... mação diagnóstica. A realização dos exames
nesta sequência permite a detecção da maio-
Não entendi como o aumento do ria dos casos. Resposta: letra A.
metabolismo basal (ao repor T4) pode
predispor a crise adrenal!
O aumento do metabolismo basal causado RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
pela reposição de T4 aumenta a necessidade UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ –
de cortisol, que é um hormônio que promove UFPR
a gliconeogênese, glicogenogênese e inibe a A causa mais comum de hipotireoidismo
captação periférica de glicose. Por essa razão, congênito é:
pacientes com insuficiência suprarrenal a) Agenesia de tireoide.
autoimune associada ao hipotireoidismo b) Tireoidite de Hashimoto.
podem apresentar crise adrenal no início da c) Deficiência de iodo.
reposição de T4, pois não conseguem suprir d) Tireoide ectópica.
esse aumento na demanda de cortisol. e) Defeito de organificação do iodo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 59

No hipotireoidismo congênito, são as dis- a) Retardo do desenvolvimento neurológico.


genesias, entre elas, principalmente a tireoide b) Desaceleração do crescimento.
ectópica. Resposta: D. c) Sonolência.
d) Queda de cabelos e “unhas fracas”.
Só para constar: Nas crianças, adultos e e) Constipação crônica.
adolescentes a principal causa é a tireoidite
de Hashimoto. Quando a questão perguntar O retardo do desenvolvimento neurológico
sobre “o mundo todo” ou “considerando-se ocorre caracteristicamente no hipotireoidismo
países com baixa ingestão de iodo”, lembre congênito, recebendo o nome de cretinismo.
que o Harrison coloca a deficiência do iodo Destacamos como principais manifestações:
como principal causa. retardo mental, frequente surdo-mudez, ca-
racterístico inchaço em face e mãos e sinais
neurológicos de anormalidades dos tratos
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 piramidal e extrapiramidal. No hipotireoidismo
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO adquirido da infância, o que mais chama a
SANTO – UFES atenção é a desaceleração do crescimento.
Dentre as características abaixo citadas, qual Outros sinais como sonolência, constipação e
a que NÃO se aplica ao hipotireoidismo ad- queda de cabelos também podem fazer parte
quirido? do quadro. Resposta: A.

Parte IV - Bócio

 Conceito: O termo bócio se refere a qual- qual devemos pensar na possibilidade de


quer aumento de tamanho da tireoide. Ele neoplasia.
pode se apresentar de formas diferentes,
entre elas a difusa, uninodular ou multino-  Diagnóstico: Realizado por exame físi-
dular. Além disso, podem ser classificados co associado a exames laboratoriais e
em tóxicos, quando associados à elevada de imagem. O habitual é a presença de
produção normal (ex.: Graves e BMT) ou provas hormonais inalteradas ou níveis
atóxicos. de T4 discretamente reduzidos. PAF é
recomendada naqueles que tenham um
 Causas: Como já falamos dos bócios tó- nódulo dominante, aumentado de tama-
xicos, vamos aproveitar, nesse momento, nho ou associado à dor. A TC nos ajuda
para lembrar as principais causas de bócio a determinar a extensão do bócio, sendo
atóxico, que são: importante na abordagem de quadros de
sintomatologia obstrutiva.
- Endêmico: deficiência de iodo na dieta,
alimentos bociogênicos (mandioca, alface).  Tratamento: A maioria não requer trata-
mento. Naqueles com bócios volumosos,
- Drogas: iodeto, amiodarona, lítio. faz-se a reposição com levotiroxina para
inibir o estímulo ao TSH. Logicamente, nos
- Tireoidite: subaguda e crônica (Hashimoto). bócios endêmicos, o grande tratamento
será corrigir a deficiência de iodo da die-
- Familiar: defeitos enzimáticos na síntese ta. Tratamento cirúrgico (tireoidectomia
hormonal. subtotal) fica reservado para aqueles em
que o bócio permaneça crescendo mesmo
- Neoplásico: adenomas e carcinomas. com a terapia supressora com T4; apre-
sentem sintomas obstrutivos ou extensão
- Resistência ao hormônio tireoidiano. subesternal; suspeita de malignidade ou
importante repercussão estética.
 Fisiopatologia: A grande maioria desses
bócios ocorre pela estimulação do TSH.
Essa estimulação seria ocasionada prima- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
riamente por uma síntese inadequada de ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
hormônios tireoidianos e até mesmo por A deficiência de iodo leva ao Bócio, que é o
outros fatores de crescimento. aumento clinicamente significativo da tireoide.
O tamanho da tireoide avaliado por verificação
 Manifestações clínicas: Os pacientes clínica (visualização e palpação) pode ser
costumam ser assintomáticos, queixando- classificado segundo as especificações:
-se apenas de desconforto cervical. Com a a) Grau 0 – tamanho normal; Grau I – Visível
progressão do bócio, sintomas obstrutivos com o pescoço em extensão; Grau II – Visível
podem surgir, como disfagia, dispneia, pi- com o pescoço em posição normal; Grau III
garros recorrentes. O sinal de Pemberton, – Tireoide com saculações.
que já comentamos no BMT, também pode b) Grau 0 – tamanho normal; Grau I – Visível
aparecer aqui nos bócios subesternais. com o pescoço em extensão; Grau II – Visível
Raramente ocorre disfonia, situação na com o pescoço em posição normal; Grau III
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 60

– Tireoide com calcificações. os aumentos da tireoide em graus: Grau 0 –


c) Grau 0 – tamanho normal; Grau I – Visível ausência de tecido tireoidiano palpável ou, se
com o pescoço em extensão; Grau II – Visível palpável, menor que a falange distal do polegar
com o pescoço em posição normal; Grau III – do indivíduo examinado; Grau Ia – tireoide pal-
Tireoide volumosa, com temperatura elevada. pável cujos lobos laterais sejam maiores que a
d) Grau 0 – tamanho normal; Grau I – Visível falange distal do polegar do indivíduo que está
com o pescoço em extensão; Grau II – Visível sendo examinado; Grau Ib – tireoide visível à
com o pescoço em posição normal; Grau III deglutição com o pescoço em extensão; Grau
– Tireoide volumosa, com pulsatilidade. II – tireoide visível à deglutição com o pescoço
e) Grau 0 – tamanho normal; Grau I – Visível em posição normal. Grau III – tireoide visível à
com o pescoço em extensão; Grau II – Visível distância. Resposta correta – letra E.
com o pescoço em posição normal; Grau III
– Tireoide volumosa, notada de qualquer ân-
gulo de observação e até a certa distância. Antes de fecharmos este importante
capítulo, uma observação: os tumores da
Aprenda com a questão! Para definição de tireoide e a abordagem dos nódulos
bócio, considera-se o critério recomendado pela tireoidianos serão tema de um capítulo
Organização Mundial de Saúde, que classifica específico no módulo de Oncologia do MED.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 61

Síndromes da Suprarrenal

M uitos alunos se queixam da dificuldade em entender a


glândula suprarrenal e seus distúrbios. Você sabe o motivo?
É justamente porque esta glândula não existe! Ficou espantado?
Tudo bem... Mas antes de puxar os cabelos, entenda o que queremos
dizer. O que não existe é UMA ÚNICA glândula suprarrenal, mas sim
DUAS glândulas dentro de uma só, com funções e produtos totalmente
distintos. Melhorou alguma coisa? Então vamos relembrar a estrutura
do que chamamos glândula suprarrenal para entendermos melhor.

A GLÂNDULA SUPRARRENAL corticoides, adrenalite autoimune e infec-


Córtex: síntese de mineralocorticoides, ções (lembrar BK).
glicocorticoides e androgênios. - Diagnóstico: confirmar insuficiência (teste
Medula: síntese de catecolaminas. de estimulação rápida com ACTH) e dosar
ACTH (alto = ISR primária ou doença de
Síndromes Relacionadas ao Córtex Addison, baixo = ISR secundária/terciária).
Ver algoritmo.
(1) Cortisol
- Tratamento: além da doença de base, re-
Hipercortisolismo (síndrome de Cushing):
posição de glicocorticoide (hidrocortisona)
- Principais manifestações: obesidade tron- e mineralocorticoides (fludrocortisona).
cofacial (centrípeta) associada a extremida-
* Atentar para a crise addisoniana.
des finas e consumidas, fraqueza muscular
proximal, osteoporose, hipertensão arterial, (2) Mineralocorticoides
glaucoma, catarata, euforia, mania, irritabili- Hiperaldosteronismo Primário:
dade, labilidade emocional, depressão, psi- - Clínica: Hipertensão diastólica, refratária,
cose, insônia, redução da libido, impotência sem edema + Hipocalemia + Alcalose me-
em homens, redução do crescimento, even- tabólica.
tos tromboembólicos, leucocitose (às custas - Causas mais comuns: hiperplasia adrenal
de neutrófilos), linfopenia, eosinopenia. idiopática; adenoma produtor de aldoste-
- Principais causas: iatrogênica, doença de rona (síndrome de Conn).
Cushing (secundária a adenoma hipofisá- - Tratamento: hiperplasia = antagonista da al-
rio), secreção ectópica de ACTH e produ- dosterona; adenoma = cirurgia.
ção autônoma pela suprarrenal (tumor ou
(3) Androgênios
hiperplasia).
Síndromes Virilizantes:
- Diagnóstico: confirmar estado de hiper-
cortisolismo e diferenciar causas ACTH- - Principal: deficiência de 21-hidroxilase.
-dependentes x ACTH-independentes (ver Síndromes Relacionadas À MEDULA
algoritmo).
(1) Feocromocitoma e paragangliomas
- Tratamento: depende da causa. Na síndro-
me de Cushing, o tratamento de escolha é Regra dos “10”: 10% bilaterais, malignos,
a ressecção transesfenoidal do microade- extra-adrenais, pediátricos, familiares.
noma. - Tríade clássica = cefaleia + sudorese in-
tensa + palpitação.
Hipocortisolismo: - Diagnóstico: confirmar aumento de cateco-
-Principais manifestações: fadiga, anorexia, laminas (escolha: dosagem de catecolami-
dor abdominal, avidez por sal, náusea, vô- nas e metanefrinas na urina) → localizar tu-
mitos, perda ponderal, hipotensão postu- mor (TC, RM ou cintilografia com 123I-MIBG).
ral, hiperpigmentação cutaneomucosa (na - Tratamento: adrenalectomia (após controle
insuficiência primária), hipoglicemia, hipo- da PA com alfa e betabloqueadores).
natremia, hipercalemia, hipercalcemia, eo-
sinofilia. INCIDENTALOMA
- Principais causas: suspensão abrupta de Maioria adenomas não funcionantes.

13
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 62

As glândulas suprarrenais são duas pequenas sentação clínica: as síndromes corticais e as


estruturas que se situam logo acima dos rins, medulares.
pesando cerca de 6-8 g nos adultos. O que
está por dentro dessa estrutura, no entanto,
é o que mais importa. No seu interior, existem
duas camadas distintas, inclusive em sua ori-
gem embriológica: córtex e medula.

Observe, no entanto, que elas não são ape-


nas duas camadas que se diferem, mas sim
duas verdadeiras glândulas dentro de uma
só. O córtex é responsável pela síntese dos
hormônios esteroidais, enquanto a medula,
pela síntese de catecolaminas. Dessa forma,
abordaremos as síndromes suprarrenais em FIGURA 1: Glândula suprarrenal e suas
dois grupos semelhantes aos de sua apre- duas camadas independentes.

Parte I - Síndromes do Córtex Suprarrenal

O primeiro conceito que devemos ter é o de E como é regulada a síntese desses hor-
que a grande função do córtex suprarrenal mônios esteroides?
é sintetizar os hormônios esteroides, subs-
tâncias derivadas do colesterol (endógeno e Este processo é um pouco diferente daquele
exógeno). Existem três tipos principais destes que ocorre na glândula tireoide, já que difere
hormônios: mineralocorticoides (aldosterona, para cada tipo de hormônio produzido.
desoxicorticosterona), glicocorticoides (cor-
tisol, corticosterona) e androgênios suprar- Veja o quadro abaixo:
renais (androstenediona, DHEA e S-DHEA).

Agora vamos raciocinar: se todos eles de- Hormônio Mecanismo


pendem do colesterol como precursor, o Regulador
que faz com que uma parte do colesterol se A) Mineralocorticoi- Hipercalemia e angioten-
transforme em mineralocorticoides e a ou- des sina II estimulam a pro-
tra em corticoides e androgênios? Simples, dução de aldosterona.
as enzimas responsáveis pela formação de O estímulo pelo ACTH é
mínimo.
cada um deles não estão distribuídas de
B) Glicocorticoides O ACTH (hormônio adre-
maneira semelhante por todo o córtex. E
nocorticotrópico) é o prin-
aqui vamos relembrar um segundo conceito. cipal estímulo à síntese
Histologicamente, o córtex pode ser dividido do cortisol. O estímulo ao
em três zonas: glomerulosa, fasciculada e ACTH é feito por um hor-
reticular. Cada zona possui predominância mônio hipotalâmico - o
de uma determinada enzima e é responsável CRH (hormônio liberador
pela síntese de um tipo específico de hor- de corticotropina) e pela
mônio. Veja na FIGURA 3. vasopressina. O cortisol
exerce feedback negati-
vo sobre a liberação de
ACTH e CRH, num pro-
cesso semelhante ao que
ocorre no controle dos
hormônios tireoidianos.
C) Androgênios Não se conhece o meca-
adrenais nismo exato sobre a regu-
lação destes hormônios,
com exceção de que se
reduzem com a idade.

Abordados estes aspectos principais da


fisiologia do córtex suprarrenal, vamos
analisar os principais cenários clínicos em
FIGURA 2: Síntese de Esteroides. que podem aparecer.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 63

FIGURA 3: Desenho esquemático da estrutura da suprarrenal.

Hipercortisolismo (Síndrome de Cushing)

Manifestações Clínicas vértebras) podendo levar à osteoporose.


Inibe também a absorção intestinal de cál-
Para entendermos a síndrome do hiper- cio e aumenta a excreção renal do íon.
cortisolismo, vamos rever como atuam os
glicocorticoides...  Hemodinâmica: hipertensão arterial por
efeitos vasculares e renais, pois favorece a
 Metabolismo Intermediário: como vimos atividade das catecolaminas e da angio-
na apostila de Síndrome Metabólica 2, o tensina II e promove retenção de sódio no
cortisol é um dos grandes hormônios con- néfron distal (efeito mineralocorticoide). No
trainsulínicos, atuando no catabolismo dos rim, ainda aumenta a taxa de filtração glo-
macronutrientes e levando à hiperglicemia. merular e a perda de água livre, antagoni-
Ele promove a gliconeogênese, glicogeno- zando o efeito do ADH.
gênese, inibe a captação periférica de gli-
cose, facilita a atividade do glucagon, esti-  Sistema Imunológico e resposta infla-
mula a lipólise e a quebra de proteínas. matória: são inibidores tradicionais do sis-
tema imunológico e inflamatório (e, por
 Obesidade visceral: apesar de ser um isso, muito utilizados nas doenças autoimu-
hormônio catabólico, leva paradoxalmen- nes). Promovem redistribuição dos linfóci-
te ao acúmulo de gordura abdominal. O tos e eosinófilos do sangue periférico para
motivo é a expressão muito maior, tanto baço, linfonodos e medula óssea, levando
do receptor para glicocorticoide como da à redução na contagem dessas células no
enzima formadora de cortisol, no omento sangue periférico. Inibem a produção de
do que no restante do tecido subcutâneo. citocinas (TNF-alfa, IL-1, IL-6 e IL-2), a
O resultado é a obesidade troncofacial transformação de monócitos em macrófa-
(centrípeta) associada a extremidades gos e a produção de anticorpos pelos linfó-
finas e consumidas. citos B. Por fim, aumentam a quantidade
de neutrófilos na circulação, a única série
 Pele e subcutâneo: também sofrem as al- que aumenta. Os mecanismos principais
terações decorrentes do catabolismo pro- são a demarginação (desprendimento do
teico – fragilidade capilar, predisposição endotélio para a corrente sanguínea) e a
a equimoses e petéquias, cicatrização liberação de células maduras pela medula
dificultada, estrias violáceas. A cor violá- óssea. Ou seja: leucocitose (às custas
cea das estrias nada mais é do que a cor de neutrófilos), linfopenia, eosinopenia.
dos vasos cutâneos sob o fino revestimen-
to da estria.  Olho e SNC: aumentam a pressão intrao-
cular (predispondo ao glaucoma) e inter-
 Sistema musculoesquelético: graças ao ferem na composição do cristalino (favore-
catabolismo proteico, desenvolve-se atro- cendo a catarata). No SNC, atuam em re-
fia e fraqueza muscular proximal. ceptores associados ao humor, vontade,
cognição e apetite, podendo levar à eufo-
 Osso e Metabolismo Mineral: inibe ativi- ria, mania, irritabilidade, labilidade emo-
dade osteoblástica e leva à redução na cional, depressão, psicose, insônia nos
densidade dos ossos trabeculares (ex.: estados de hipercortisolismo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 64

 Crescimento e Desenvolvimento: apesar Estão ficando raras, mas ainda existem ques-
de fundamental para o desenvolvimento de tões tão simples como essas.
diversos órgãos no período embrionário e
fetal (ex.: pulmão), o excesso de glicocorti- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
coides pode inibir o crescimento das FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
crianças graças a sua atuação catabólica. HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
Uma jovem, 20 anos de idade, apresenta his-
 Outros efeitos: No sistema endócrino, ini- tória de aumento de peso (adiposidade cen-
be a liberação hipofisária do TSH e das go- tral), fraqueza, irritabilidade, amenorreia, es-
nadotrofinas pela hipófise, bem como a trias, hirsutismo, hipertensão arterial, intole-
conversão periférica do T4 em T3. São alte- rância à glicose. A hipótese diagnóstica a ser
rações marcantes a redução do libido, a considerada:
impotência em homens e, em mulheres, a a) Síndrome de Cushing.
amenorreia. No trato gastrointestinal au- b) Doença de Addison.
menta o risco de úlcera péptica e pancrea- c) Síndrome de ovários policísticos.
tite. Além disso, esses pacientes apresen- d) Feocromocitoma.
tam hipercoagulabilidade, com risco au-
mentado de eventos tromboembólicos. A presença de hirsutismo, ganho de peso e
intolerância à glicose em paciente jovem po-
deria até nos levar a pensar em SOP e doen-
Prevalência das
ça de Cushing como possíveis diagnósticos
manifestações clínicas da diferenciais. Porém, o quadro clínico é muito
síndrome de Cushing mais rico que o encontrado habitualmente na
(Harrison, 19ª edição) SOP, com outros achados que não são com-
Achado Percentual patíveis com este diagnóstico. Porém, se pen-
(%) sarmos no caso como um todo, com: adiposi-
Obesidade ou ganho de peso 80 dade central, intolerância à glicose, hiperten-
(> 115% do peso ideal) são secundária, estrias violáceas, fraqueza e
Pele fina 80 hirsutismo, fica óbvio o diagnóstico de hiper-
Fácies em lua cheia 75 cortisolismo, representado pela opção A. As
Hipertensão 75
opções B e D seriam hipóteses absurdas para
o quadro clínico descrito.
Estrias violáceas 65
Hirsutismo 65
Alterações menstruais 60 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
(geralmente amenorreia) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR
Pletora 60 Em pacientes que usam corticoides cronica-
Intolerância à glicose 55 mente, podem acontecer as seguintes mani-
Impotência 55 festações metabólicas:
Miopatia proximal 50 a) Hiperlipidemia, hiperpotassemia e hipercal-
cemia.
Obesidade central 50
b) Hiperlipidemia, hiperpotassemia e osteopo-
Acne 45
rose.
Fragilidade capilar 45 c) Hipocolesterolemia, hipopotassemia e hi-
Alterações mentais 45 pocalcemia.
Osteoporose 40 d) Hipocolesterolemia, hiperpotassemia e os-
Edema de MMII 30 teoporose.
Hiperpigmentação 20 e) Hiperlipidemia, hipopotassemia e osteopo-
rose.
Alcalose hipocalêmica 15
Diabetes mellitus 15 Sabemos que o uso crônico de corticoides
acarreta um grande impacto do ponto de vista
metabólico, levando ao surgimento da chama-
da síndrome de Cushing iatrogênica. Dentre
as alterações metabólicas observadas, pode-
mos citar: intolerância à glicose, dislipidemia
(aumento da síntese hepática de VLDL), alca-
lose metabólica, hipocalemia (os corticoides
levam a uma perda urinária de potássio), os-
teoporose (corticoides reduzem a formação
óssea e aumentam a reabsorção), amenorreia,
dentre outras. Alternativa E correta.

Etiologia

A causa mais comum da síndrome de Cushing


é a iatrogênica, pela administração de glico-
FIGURA 4: Alguns achados característi- corticoides nas mais diversas situações clí-
cos da síndrome. nicas (síndrome de Cushing exógeno). Uma
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 65

causa mais rara seria a utilização de ACTH Doença de Cushing


(< 1%). Excluindo estas possibilidades (o que
se faz facilmente pela história clínica), passa-  Conceito: Adenoma hipofisário secretor
mos a dividir as causas de hipercortisolismo de ACTH.
em dois grandes grupos: ACTH-dependente
e ACTH-independente.  Epidemiologia: Sexo feminino (4:1), iní-
cio entre 15-50 anos. Principal causa de
No primeiro grupo, estão as condições que síndrome de Cushing endógena, respon-
dependem da concentração aumentada de de por cerca de 75% dos casos.
ACTH para a estimulação das suprarrenais,
como no caso dos tumores hipofisários e da  Clínica: doença de progressão lenta e
secreção ectópica. Nesse caso, esperam-se gradual, com vários anos de sintomas an-
valores aumentados do ACTH. tes do diagnóstico. O achado mais co-
mum é de um microadenoma hipofisário
No segundo grupo, estão as doenças autôno- (< 10 mm de diâmetro), que ocorre em
mas das suprarrenais que, pelo contrário, ini- pelo menos 90% dos casos. Os macroa-
bem a secreção de ACTH pela produção au- denomas (> 10 mm) são encontrados em
mentada de cortisol (mecanismo de feedback 5-10% dos pacientes. Na doença de
negativo). Cushing, encontramos hiperplasia bilate-
ral das adrenais.
Veja a seguir essas condições. Existem dis-
crepâncias estatísticas entre o Harrison e o  Diagnóstico: Exame de imagem (ex.:
Cecil, as duas principais referências de Clínica TC/RM de sela túrcica). Alguns microa-
Médica, que vamos expor no decorrer do texto. denomas não são detectáveis à resso-
nância.
Causas de Hipercortisolismo
Endógeno  Tratamento: Ressecção transesfenoidal
do microadenoma é o tratamento de esco-
Diagnóstico lha, podendo levar à cura do hipercortiso-
ACTH-Dependen- ACTH-Independente lismo em até 80% dos casos. Quanto
te (80-90%) (10%) maior é a área de ressecção cirúrgica,
 Doença de  Adenoma Adrenal maior é o sucesso, embora também au-
Cushing (75%) (5-10%) mente a chance de infertilidade. Confira
 Síndrome de  Carcinoma Adrenal (1%) alguns detalhes deste procedimento no
ACTH ectópico  Hiperplasia micronodu- Boletim Operatório. Na criança, a doença
(10-15%) lar pigmentosa primária se apresenta de forma mais agressiva e o
 Síndrome do (rara – esporádica ou as- resultado da cirurgia pode não ser tão bom
CRH ectópico sociada ao complexo de
quanto nos adultos. Em caso de falha ci-
(rara) Carney)
rúrgica ou recidiva da doença, os pacien-
 Hiperplasia macronodu-
lar autônoma (rara)
tes podem ser submetidos a novo proce-
dimento cirúrgico (desta vez uma hipofi-
 Síndrome de McCune-
-Albright (rara) sectomia anterior total ou adrenalectomia
bilateral). Outra opção, principalmente nas
pacientes em que a fertilidade seja um as-
pecto importante, é a radioterapia asso-
Cuidado com o “jogo de palavras”! ciada à terapia clínica com inibidores da
Preste bastante atenção para não esteroidogênese (mitotano, metirapona,
confundir a síndrome de Cushing, aminoglutetimida, cetoconazol). O pa-
que é um termo genérico para hi- sereotide, um análogo da somatostatina,
percortisolismo, com a doença de e a mifepristona, um antagonista competi-
Cushing, que corresponde ao ade- tivo do cortisol, também são drogas úteis.
noma hipofisário produtor de ACTH
A radioterapia, mesmo não recomendada
e é uma das causas da síndrome
como tratamento inicial, é capaz de curar
de Cushing. Vamos conferir a se-
até 15% dos casos recidivados. É impor-
guir as principais características de
tante lembrar que esses pacientes geral-
algumas dessas condições.
mente necessitam de reposição de corti-

Um pouco de história
O médico norte-americano Harvey Cushing, professor da Universidade
de Harvard, considerado “o pai da Neurocirurgia moderna”, foi quem
primeiro descreveu o hipercortisolismo decorrente de um adenoma
hipofisário secretor de ACTH, em 1912, publicando posteriormente o
artigo “The basophil adenomas of the pituitary body and their clinical
manifestations (pituitary basophilism)” em 1932. Por essa razão, acabou
homenageado com os epônimos referentes ao estado de hipercortisolismo
(síndrome de Cushing) e ao próprio adenoma hipofisário que acabara de
Selo comemorativo
estudar (doença de Cushing). Outra contribuição marcante deste
homenageando Dr. renomado neurocirurgião foi a descrição do reflexo de Cushing, presente
Cushing, EUA, 1988. em pacientes com hipertensão intracraniana.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 66

coide por até um ano após a cirurgia, pois pofisário preexistente. Tal síndrome foi descri-
a produção hormonal da hipófise rema- ta pela primeira vez em 1955 e recebeu o
nescente está temporariamente suprimida nome de síndrome de Nelson a partir de es-
(praticamente toda a produção de ACTH tudos publicados por este autor, sobre a de-
era originada do adenoma), levando a in- terminação de ACTH e crescimento de tumor
suficiência adrenal transitória. hipofisário após adrenalectomia. Assim, o
paciente que melhor se encaixa neste diag-
A adrenalectomia bilateral com reposição nóstico é o descrito na opção B, com hemia-
crônica de esteroides é a opção curativa nopsia bitemporal decorrente da compressão
final na doença de Cushing, podendo ser do quiasma, cefaleia (pelo efeito de massa) e
realizada por técnica laparoscópica. Uma o dado cirúrgico prévio.
das complicações conhecidas deste pro-
cedimento é a síndrome de Nelson (ob-
servada em até 42% dos casos). Nessa Secreção Ectópica de ACTH
síndrome, graças à perda do feedback
negativo pelo cortisol, ocorre crescimen-  Conceito: Secreção de ACTH por tumores
to do tumor hipofisário, com níveis eleva- neuroendócrinos (é uma síndrome para-
dos de ACTH, hiperpigmentação cutânea neoplásica!).
e, eventualmente, sinais neuro-oftalmo-
lógicos (ex.: compressão do quiasma óp-  Epidemiologia: Responde por até 15%
tico) por extensão local do tumor. O trata- dos casos da síndrome de Cushing. A
mento consiste em nova cirurgia hipofi- síndrome é mais comum em homens en-
sária ou radioterapia (especialmente nas tre os 40-60 anos; também é mais co-
crianças). A irradiação profilática da hipó- mum nos carcinomas do que nos sarco-
fise pode prevenir a síndrome de Nelson. mas ou linfomas – as fontes principais
são os tumores de pulmão, pâncreas e
Uma forma mais moderna de abordagem timo. A causa mais frequente é o carcino-
cirúrgica – a radiocirurgia Gamma Knife ma de pequenas células do pulmão (oat
– tem mostrado bons resultados. Para re- cell), segundo a maioria das referências,
duzir a incidência ou, pelo menos, retar- incluindo o Cecil. Porém, fique de olho se
dar o desenvolvimento da síndrome de aparecer algo diferente na sua prova,
Nelson, recomenda-se a irradiação pré- pois na última edição do Harrison encon-
via da hipófise. tramos a informação de que a principal
fonte de secreção ectópica de ACTH se-
 Complicações: insuficiência adrenal riam os tumores carcinoides ocultos,
transitória, diabetes insipidus, insuficiên- mais frequentemente os brônquicos.
cia gonadal e deficiência de TSH.
Tumores associados à secreção
ectópica de ACTH
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Carcinoma pulmonar de pequenas células
Dos pacientes abaixo descritos, o principal (oat cell)
candidato ao diagnóstico de Síndrome de Nel- Carcinoide brônquico
son é: Carcinoide tímico
a) Paciente de 38 anos, sexo masculino, com Tumores pancreáticos
náuseas, perda ponderal e escurecimento da Feocromocitoma
pele nos últimos meses. Carcinoma medular da tireoide
b) Paciente de 50 anos, com hemianopsia Raramente no Ca de ovário, próstata,
bitemporal de início recente e cefaleia severa, mama, tireoide, rim, glândulas salivares,
diária, após adrenalectomia bilateral para Sín- testículos, vesícula
drome de Cushing.
c) Paciente de 28 anos com galactorreia e ir-  Clínica: o protótipo é o carcinoma de pe-
regularidade menstrual associadas à fraqueza quenas células, cuja evolução rápida e
muscular proximal, obesidade centrípeta e geralmente fatal muitas não permite o
estrias violáceas. desenvolvimento de todos os sinais clás-
d) Paciente com hiperpigmentação cutânea sicos da síndrome de Cushing. Altera-
anos após tratamento de micose sistêmica ções como hipertensão, alcalose, hiper-
com antifúngicos por longo período. glicemia, hipocalemia e edema são mais
e) Paciente do sexo masculino, de 33 anos, comuns nos pacientes com secreção ec-
com hemianopsia bitemporal de início súbito, tópica de ACTH que naqueles com ade-
acompanhado de cefaleia severa e náuseas noma hipofisário secretor de ACTH.
e vômitos, 15 dias após o início de cabergoli-
na para tratamento de hiperprolactinemia.  Diagnóstico: Exame de imagem (ex.: TC
de tórax).
A síndrome de Nelson é uma entidade clí-
nica que se desenvolve após adrenalectomia  Tratamento: Depende do tumor asso-
bilateral para o tratamento de Síndrome de ciado à secreção ectópica. Nos casos
Cushing e se caracteriza por quadro de hiper- de tumores ressecáveis (ex.: carcinoide
pigmentação cutânea, níveis elevados de brônquico), a cirurgia pode levar à cura do
ACTH plasmático e crescimento de tumor hi- hipercortisolismo. No caso do oat cell, de-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 67

vido ao péssimo prognóstico da doença de adrenal. Com o tempo, esses nódulos se


base quando relacionada a esta síndrome tornariam autônomos e ocorreria regres-
paraneoplásica (sobrevida de 1-3 meses), são do tumor hipofisário. O tratamento de
o tratamento é basicamente paliativo com escolha é a adrenalectomia bilateral.
inibidores da síntese de esteroides. Os
fármacos mais utilizados são o cetocona- • Hiperplasia micronodular pigmento-
zol, a metirapona e a aminoglutetimida. sa primária: forma rara de síndrome de
Alguns pacientes podem se beneficiar da Cushing, em que são encontrados peque-
adrenalectomia bilateral. nos nódulos adrenais pigmentados. Pode
vir isolada ou fazer parte do “Complexo de
Carney”, que inclui mixomas atriais, schwa-
Produção Autônoma pela nomas, acromegalia, tumores testiculares
Suprarrenal e lesões cutâneas pigmentadas do tipo
sarda. A adrenalectomia bilateral é curativa.
 Conceito: Produção de cortisol por doença
primária do córtex da adrenal. As principais • Síndrome de McCune-Albright: mutação
causas incluem o adenoma e o carcinoma da proteína G que mimetiza uma estimu-
da adrenal. lação contínua do ACTH na adrenal. As
principais manifestações são puberdade
 Epidemiologia: Representam cerca de 10- precoce e acromegalia, ocorrendo síndro-
20% dos casos de síndrome de Cushing. me de Cushing numa proporção menor.

• Adenomas: lesões pequenas (< 3 cm) que


cursam com sintomas brandos e progres- Abordagem Geral
sivos.

O tratamento se baseia na remoção cirúrgica Cenário 01


do tumor através de uma adrenalectomia Imagine uma paciente de 30 anos que che-
unilateral. gue ao seu ambulatório com achados bem
característicos e que você já os perceba
- Lesões < 6 cm: adrenalectomia laparos- desde a entrada dela pela porta. Ao cumpri-
cópica. mentá-la, é nítida a presença de obesidade
de aspecto centrípeto e de fácies de “lua
- Lesões > 6 cm (ou suspeita de carcinoma): cheia”. O rosto é permeado por acnes e
muitas de suas sequelas. Pela blusa aper-
acesso anterior.
tada e de barriga sobressalente, saltam aos
olhos estrias violáceas. Para completar, a
• Carcinomas: lesões geralmente gran-
paciente tem níveis pressóricos elevados
des (> 6 cm), que podem vir associadas e aumento da glicemia capilar detectado
a sinais de virilização (hiperprodução de hoje mesmo pelo glicosímetro do posto de
androgênios). Deve-se proceder à adre- saúde. Qual o diagnóstico sindrômico?
nalectomia por acesso cirúrgico anterior.
Metástases hepáticas e pulmonares le-
vam a maior parte dos pacientes a óbito Sem dúvida alguma, essa paciente traz al-
dentro dos três primeiros anos após o terações clássicas do excesso de cortisol
diagnóstico. Nesses casos, pode ser utili- (hipercortisolismo ou síndrome de Cushing).
zado o mitotano (inibidor da síntese de es- Como conduziríamos esse caso? Inicial-
teroides) na dose de 6-12 g VO/dia, em 3-4 mente, devemos excluir o que é simples e
tomadas. Os principais efeitos adversos rápido: a síndrome de Cushing exógena, que
são gastrointestinais (diarreia, náuseas, pode ser pela administração terapêutica em
vômitos) e depressão, sendo necessária condições não endócrinas ou mesmo pela
a reposição de glicocorticoides para todos utilização proposital (síndrome de Cushing
os pacientes. factícia). Cabe lembrar que mesmo a utiliza-
ção de corticoides tópicos e inalatórios pode
Aqui temos uma outra discordância entre causar a síndrome. Bem como o progestá-
Harrison e Cecil. Enquanto o primeiro colo- geno acetato de megestrol, que possui ativi-
ca a frequência do adenoma adrenocortical dade glicocorticoide intrínseca, ou cremes e
entre cinco e dez vezes superior à do carci- preparações herbais que possuam corticoide
noma adrenocortical, o Cecil traz frequência em suas fórmulas.
semelhante entre ambas as condições.
Após poucos segundos, excluídas essas con-
A reposição de glicocorticoides é recomenda- dições, podemos partir para nossa investiga-
da em todo o paciente que vai se submeter ção habitual.
a adrenalectomia, uni ou bilateral, para o
tratamento da síndrome de Cushing.
Primeiro passo:
• Hiperplasia macronodular autônoma: Confirmar a Síndrome de Cushing
possui ainda etiologia pouco definida, sen-
do creditada inicialmente a um adenoma Suspeitado o estado de hipercortisolismo, o
hipofisário, cujo estímulo leva à formação próximo passo é confirmá-lo laboratorialmente.
de alguns nódulos hiperplásicos no córtex Aqui temos uma particularidade. Quando que-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 68

remos diagnosticar o diabetes, basta fazer a concentração do hormônio na circulação, a


dosagem da glicemia plasmática de jejum. O capacidade da proteína ligadora do cortisol
mesmo ocorre para a dosagem de T4 na disfun- (CBG) é excedida e mais cortisol passa a ser
ção tireoidiana. Mas será que basta dosar o filtrado pelo rim e aparecer na urina. Na síndro-
cortisol plasmático para fazermos o diagnóstico me de Cushing, a dosagem deve estar pelo
de síndrome de Cushing? A resposta é não! menos três vezes superior aos valores de refe-
rência do laboratório. Esta medida tem sensibi-
E os principais motivos são: lidade de 95% e especificidade próxima a 100%.
Para aumentar a acurácia do exame, devem ser
• A secreção fisiológica de CRH e ACTH é solicitadas, pelo menos, três amostras.
pulsátil e, por isso, os níveis plasmáticos de
cortisol oscilam bastante no tempo.
Método 03: Cortisol salivar
• No indivíduo normal, o nível de cortisol res- noturno (à meia-noite)
peita o ciclo sono-vigília, sendo máximo por
volta das 8:30h da manhã e baixo ou inde- A saliva não contém CBG e, por isso é uma
tectável à meia-noite. Na síndrome de fonte mais confiável e prática para a dosagem
Cushing, há perda do padrão circadiano dos do hormônio. Os valores são padronizados por
níveis plasmáticos de cortisol, com grande cada laboratório. Geralmente, níveis acima de
elevação dos seus valores à meia-noite. 130 nmol/l apresentam alta sensibilidade e es-
pecificidade para o diagnóstico da síndrome.
• Mais de 90% do cortisol sérico está ligado a
uma proteína (CBG) e, portanto, sofre influên-
cia de outras condições como a gravidez. Além E agora, acabou? Está confirmada a sín-
disso, não há um teste para a forma livre do drome??
cortisol disponível na rotina, como existe na
disfunção tireoidiana. Calma... Ainda não! Na verdade, os testes
que acabamos de estudar são mais impor-
•Fatores estressantes como a punção venosa, tantes para excluir a síndrome do que diag-
doença aguda e a própria internação hospi- nosticar (ex.: teste da supressão com 1 mg
talar podem elevar os níveis de cortisol. e cortisol matinal menor que 2 µg/dl exclui a
síndrome). Sabem por quê? Estes achados
Dessa forma, três métodos foram desenvolvi- laboratoriais também podem se reproduzir
dos para confirmação da síndrome de Cushing. em pacientes com algumas doenças que si-
Não há nenhum consenso fechado e podemos mulam o hipercortisolismo, sendo chamados
utilizar qualquer um deles. O ideal é utilizar pelo de pseudossíndrome de Cushing. As prin-
menos dois testes inicialmente, pois o diagnós- cipais condições associadas são: depressão;
tico da síndrome será dado quando os dois obesidade; estresse prolongado e alcoolismo.
forem anormais. Na presença de condições associadas à
pseudo-Cushing, uma opção seria tratar o
distúrbio primeiro (ex.: interromper etilismo)
Método 01: Teste da supressão com e depois fazer nova medida.
baixa dose (1 mg) de Dexametasona

Saiba Mais!
Este teste utiliza o mecanismo de feedback
negativo do próprio corticoide sobre o eixo hi- Outros testes menos utilizados...
potálamo-hipófise-adrenal. Consiste na admi- Laboratorialmente, uma das formas de fa-
nistração de 1 mg de dexametasona, via oral, zer esse diagnóstico diferencial para pseu-
entre as 11 horas da noite e a meia-noite, se- do-Cushing seria o teste de dexametaso-
guido da medida do cortisol plasmático entre na com 2 mg em 2 dias (0,5 mg, 6/6h, por
as 8 e 9 horas da manhã do dia seguinte. Nor- 48 horas) seguido da dosagem do cortisol
malmente, seria esperada uma supressão do após a primeira e a última dose. Em teo-
eixo e um cortisol matutino reduzido. Tradicio- ria, teríamos uma inibição mais adequada e
nalmente, na síndrome de Cushing, teremos melhor avaliação da resposta do eixo. Na-
turalmente, com esta dose, seria esperada
um cortisol acima de 2 µg/dl (ou 50 nmol/l).
uma queda importante do cortisol sérico.
Atualmente, algumas referências têm sugerido
Assim, fechamos o diagnóstico da síndro-
um ponto de corte ainda menor (1,8 µg/dl).
me de Cushing, quando a queda não é tão
acentuada, mais especificamente quando
O teste da supressão com baixa dose de dexa- ela é menor que 5 µg/dl. Contudo, esse tes-
metasona apresenta até 30% de exames falso- te possui baixa especificidade e vem sendo
-positivos, não devendo ser usado isoladamente pouco utilizado.
como critério para síndrome de Cushing, neces-
Alguns autores, após esse teste, ainda citam
sitando de, pelo menos, outro exame adicional.
a administração de CRH (hormônio liberador
de corticotropina) para completar a avaliação.
Nos pacientes com síndrome de Cushing,
Método 02: Cortisol livre esse estímulo levaria a uma resposta exage-
urinário das 24 horas
rada, mesmo num eixo suprimido pela dexa-
metasona (>1,4 µg/dl). Uma última alternati-
Trata-se de uma forma indireta de dosar o cor- va seria ainda a dosagem do cortisol à meia-
tisol livre do plasma. À medida que cresce a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 69

-noite em pacientes acordados... Mas isto já abdome para identificação. A apresentação


passa a ser muito rodapé de livro de Endocri- é geralmente de uma massa unilateral (a
nologia... Vamos voltar nosso foco para o que inibição do ACTH pelo excesso de esteroi-
é mais importante. Se você está achando des promove atrofia do restante de tecido da
confuso, não se desespere, mais à frente suprarrenal que não está hiperfuncionante).
organizaremos os dados num algoritmo e O achado de lesão bilateral deve levantar a
vai ficar mais fácil...
suspeita daquelas causas raras e de nome
difícil que você encontra na tabela (hiper-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 plasia micronodular pigmentosa primária
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA – isolada ou associada ao Complexo de
AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP Carney, hiperplasia macronodular autônoma
Em relação ao cortisol, assinale a alternativa e síndrome de McCune-Albright). Falam a
incorreta: favor de carcinoma lesões grandes (> 6 cm)
a) É fabricado pela zona fasciculada das su- e associadas à síndrome de virilização. Por
prarrenais. este fato, a dosagem urinária de 17-cetoes-
b) O comando de fabricação se dá pelo ACTH teroides e sulfato de DHEA (androgênio da
(adenohipófise). suprarrenal) também é recomendada.
c) A secreção apresenta ritmo circadiano, com
pico às 16h.  ACTH normal-alto (> 5 pg/ml, especial-
d) Até o primeiro ano de vida não há ritmo mente acima de 20 pg/ml): neste caso,
circadiano. nossas hipóteses passam a ser doença de
e) A metabolização ocorre no fígado e seus Cushing (adenoma hipofisário, maioria dos
metabolitos têm excreção renal. casos) ou secreção ectópica. Como dife-
renciá-las??? Uma das formas seria pela
A glândula adrenal é composta por dois detecção do tumor hipofisário por exame de
tecidos endócrinos – a medula e o córtex. O imagem. No entanto, cerca de 10% dos mi-
córtex adrenal divide-se em zona glomerulo- croadenomas não são detectados, mesmo
sa, zona reticular e zona fasciculada, sendo com a ressonância magnética. Assim, outra
esta última a maior delas, ocupando 75% de boa forma de diferenciar estas condições
todo o córtex e a responsável pela produção seria através do teste de supressão com al-
de cortisol. O ritmo de secreção diária de tas doses de dexametasona (2 mg VO 6/6h
cortisol é acarretado pela variação na ampli- por 48h). A produção de cortisol pelo tumor
tude dos pulsos de ACTH. Os pulsos tanto ectópico não sofre qualquer tipo de supres-
de ACTH quanto de cortisol ocorrem a cada são com esta droga, ao contrário do que
30-120 minutos, são mais altos ao despertar ocorre com o tumor hipofisário. Pensando
e baixos no fim da tarde e à noite. A metabo- em tumor ectópico (ex.: oat cell), o paciente
lização do cortisol é efetuada nos hepatócitos deve prosseguir investigação com exames
e os metabólitos derivados são excretados direcionados (ex.: TC de tórax).
do organismo através dos rins. No recém-
-nascido, a ciclagem do sono obedece a um
ritmo ultradiano (mais curto). A partir do pri- Obs.: Se todos esses testes ainda forem in-
meiro mês de vida, inicia a adaptação do conclusivos (RM normal ou ausência de su-
ritmo circadiano (como nos adultos), que só pressão com a dexametasona), o melhor
estará totalmente desenvolvido após o pri- exame para distinguir definitivamente síndro-
meiro ano. Gabarito opção C. me de Cushing de ACTH ectópico é o catete-
rismo do seio petroso inferior pós-estímulo
com CRH. Mede-se o ACTH do seio, compa-
Segundo passo: rando-o com o venoso periférico. Se a razão
Identificar e tratar a causa do for superior a 2 (nas medidas de base) ou
Hipercortisolismo superior a 3 (entre dois e cinco minutos após
o estímulo com CRH), o diagnóstico é de
Uma vez estabelecido o estado de hipercor- doença de Cushing por microadenoma. Se
tisolismo, o próximo passo é definir a causa inferior a 1,4, o diagnóstico é ACTH ectópico.
deste distúrbio a partir da dosagem do ACTH
plasmático (ACTH-dependente X ACTH-
-independente). O aluno pergunta...
Na maioria das investigações de
A principal causa de síndrome de Cushing é síndrome de Cushing, terminarei
iatrogênica. Excluindo as causas exógenas, fazendo um exame de imagem de sela túr-
a doença de Cushing passa a ser a principal cica (para investigação de adenoma hipofi-
causa, com cerca de 70% dos casos. sário) ou de abdome (para investigação de
alterações nas adrenais). Não seria melhor
começar a investigação por esses exames
Interpretação do ACTH e poupar o paciente de todos os exames
laboratoriais descritos na apostila?
 ACTH baixo/indetectável (< 5 pg/ml): di- A resposta é não, pois nódulos hipofisários e
recionam o diagnóstico para as doenças adrenais não funcionantes são relativamente
primárias da suprarrenal, principalmente comuns na população, provavelmente bem
o adenoma e o carcinoma. Esses pacientes mais comuns que adenomas secretores de
devem ser submetidos a uma TC ou RM de ACTH ou de cortisol... Dessa forma, iniciar a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 70

nossa investigação por esses exames aumen- Conclusão do Cenário 01


ta consideravelmente o risco de chegarmos a Hipercortisolismo
um diagnóstico errado! Assim, devemos pri- (Síndrome de Cushing)
meiramente direcionar o nosso raciocínio diag-
nóstico, confirmando se realmente há excesso Temos uma paciente com achados clássicos
de cortisol (através dos testes de rastreamen- da síndrome de Cushing. Excluída a possi-
to) e posteriormente qual a origem deste ex- bilidade de causa exógena (mais comum),
cesso (se dependente ou não de ACTH), antes devemos confirmar a presença da síndrome
de passarmos aos exames de imagem. – associando dois testes de rastreamento –
e, em seguida, definir a causa, pela dosagem
do ACTH. Após esses passos, o tratamento
Para resumir, veja o Algoritmo 1 para inves-
é planejado com base na doença de base.
tigação da síndrome de Cushing. Nessa paciente, pelo sexo e idade, a doen-
ça de Cushing seria uma provável hipótese
Realizar um dos testes de rastreamento: diagnóstica, resultando possivelmente em
• Cortisol urinário de 24h uma ressecção transfenoidal de microade-
• Teste de supressão com a dexametasona noma hipofisário.
• Cortisol salivar noturno
Descartar pseudo-Cushing

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008


Confirmação da Síndrome de Cushing UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE – UFF
ACTH
Na doença de Cushing, é correto afirmar que:
a) O cortisol livre dosado na urina de 24 horas
Suprimido Normal ou alto é um exame útil para avaliar a presença de
hipercortisolismo.
b) O tumor hipofisário com metástases é a
TC/RMN de • Teste com altas doses de causa mais frequente da doença em idade
abdome dexametasona mostrando
supressão > 50% do cortisol avançada.
• RMN de sela túrcica
c) O ACTH suprimido confirma a doença.
d) A dosagem da prolactina define a diferença
NÃO SIM entre doença hipofisária ou de suprarrenal,
estando aumentada nos tumores hipofisários.
Inconclusivos e) A presença de osteoporose indica a origem
Doença de do hipercortisolismo pela suprarrenal.
ACTH ectópico Cushing
Nem era preciso conhecer tantos detalhes
para acertar essa questão... Resposta: A. As
Cateterismo do seio petroso inferior
Algoritmo 1
demais opções são completamente absurdas
pelo que acabamos de estudar.

HIPOCORTISOLISMO

Manifestações Clínicas tese de hipocortisolismo a hiperpigmentação


cutaneomucosa, que estudaremos com de-
Geralmente observamos um paciente com talhes mais adiante. Chamam atenção as se-
queixa de fadiga, anorexia, náusea e vômitos, guintes alterações laboratoriais: hipoglicemia,
além de perda ponderal. Podem se encontrar hiponatremia, hipercalemia, hipercalcemia, eo-
discretamente hipotensos, ou com hipotensão sinofilia. Por enquanto, observe a prevalência
postural. Chama especial atenção para a hipó- dos principais sintomas no hipocortisolismo.

Sintomas Frequência
Fadiga, perda de energia 99%
Hiperpigmentação cutânea 98%
Perda ponderal 97%
Anorexia, náuseas e vômitos 90%
Hipotensão 87%
Pigmentação de mucosa 82%
Dor Abdominal 34%
Avidez por sal 22%
Diarreia 20%
Constipação 19%
Síncope 16%
Vitiligo* 9%
*Associado à adrenalite autoimune.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 71

FIGURA 5: Principais alterações clínico-laboratoriais na insuficiência adrenal.

Alguns dados importantes: va, linhas da palma da mão, leito ungueal,


mamilos, aréolas, em áreas expostas ao
• Insuficiência primária (doença de Addi- sol e em locais sujeitos a pressões, como
son): como a lesão se dá no córtex adre- dedos dos pés, cotovelos e joelhos, cica-
nal, fica difícil ela acometer apenas uma trizes recentes. Já na insuficiência adrenal
das camadas sem afetar as demais. Como secundária, pela falta de ACTH, o paciente
resultado, espera-se em alguns casos, a fica com a pele mais pálida – o Harrison
deficiência tanto de glicocorticoides como descreve como “cor de alabastro”.
de mineralocorticoides.

• Insuficiência secundária e terciária (Cen-


tral): como o problema é no sistema hipo-
tálamo-hipófise, é comum a associação
com deficiência de outras glândulas que
também recebem estímulo deste sistema
(ex.: tireoide). Além disso, como as adre-
nais a princípio estão intactas e o ACTH é
muito mais importante para o controle da
síntese do cortisol que dos mineralocorti-
coides, não são esperadas alterações sig-
nificativas para os mineralocorticoides (que
dependem mais do sistema renina-angio-
tensina), não sendo encontradas hipona- FIGURA 6: Hiperpigmentação cutânea na
insuficiência adrenal primária.
tremia e hiperpotassemia.

• Hiperpigmentação cutaneomucosa: • A apresentação da insuficiência adrenal


achado mais clássico achado da insuficiên- crônica difere da aguda (ver adiante). Na
cia adrenal primária!!! Vamos lembrar que crônica, é mais comum a presença de uma
na doença primária, ocorre um aumento do história prolongada de mal-estar, fadiga,
ACTH e uma das funções deste hormônio é anorexia, perda de peso, artralgia, hiper-
estimular o receptor melanocortina-1 (res- pigmentação. Na aguda, predominam hi-
ponsável pela síntese de melanina). Locais potensão ortostática, febre, dor abdominal,
característicos: em torno dos lábios, gengi- agitação, confusão mental e choque.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 72

2, associada à adrenalite autoimune) só po-


O aluno pergunta... dem vir associados à insuficiência adrenal
Na doença de Addison, temos um primária – doença de Addison. A hipogli-
aumento do ACTH que estimula os cemia ocorre principalmente em crianças.
receptores melanocortina-1, o que leva a No entanto, fraqueza e emagrecimento são
uma maior produção de melanina e con- achados gerais da insuficiência adrenal...
sequente hiperpigmentação cutaneomu- Resposta: B.
cosa, isso eu já entendi. Porém, quando
estudamos o quadro clínico dos pacientes
que têm hipercortisolismo secundário (do- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
ença de Cushing ou produção ectópica de UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ACTH), que também têm ACTH elevado, ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO
não aparece como um sinal típico a hiper- Na insuficiência adrenal primária são comu-
pigmentação cutaneomucosa, por quê? O mente encontradas as seguintes alterações
mecanismo não seria o mesmo, o ACTH laboratoriais:
sérico elevado? a) Hiponatremia, hiperpotassemia, hiperglice-
Excelente pergunta!!! Na verdade, apesar dos mia.
livros mais tradicionais de Clínica Médica não b) Eosinofilia, hipocalcemia e hiponatremia.
descreverem em detalhes, quando buscamos c) Hipercalcemia, hiperglicemia e hiperpotas-
referências mais específicas sobre alterações semia.
dermatológicas na síndrome de Cushing, a d) Hiponatremia, hipopotassemia, hipocalce-
hiperpigmentação também existe. Aliás, o mia.
ACTH é conhecido como o principal hormônio e) Hiperpotassemia, hipercalcemia, hipogli-
associado à pigmentação em seres humanos. cemia.
Esta manifestação ocorre mais em pacientes
com quadros ectópicos – como você mesmo Vamos aproveitar essa questão para en-
já esperava pelos altos níveis – e um pouco
tender melhor dois distúrbios associados à
menos nos quadros secundários da hipófise.
insuficiência adrenal: hipoglicemia e hipercal-
Só não é esperada nos quadros primários, em
cemia. Em relação à hipercalcemia, partici-
que o ACTH está inibido. Ela pode ser
pam múltiplos fatores, incluindo aumento da
generalizada, porém é mais comum nas áreas
expostas à luz solar ou de trauma/fricção reabsorção óssea (por estímulo da tireoide,
crônicos. Um dado bem característico é que normalmente inibida pelo cortisol), depleção
as cicatrizes que se formam nesses pacientes do volume intravascular, aumento da reab-
são bastante hiperpigmentadas. sorção tubular proximal e hemoconcentração.
Quanto à hipoglicemia, ela se deve principal-
mente à perda do efeito contrainsulínico do
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 cortisol e da epinefrina.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA Resposta: E.
Zuleika tem 62 anos e encontra-se em pós-
-operatório imediato de colectomia esquerda.
Apresenta quadro clínico sugestivo de insu- Etiologia
ficiência suprarrenal aguda confirmado com
exames complementares. Nesse caso os Veja na tabela a seguir as principais causas
achados laboratoriais revelam: de insuficiência suprarrenal.
a) Hipocreatinemia.
b) Hipernatremia. Assim como fizemos no hipercortisolismo,
c) Hipercalemia. aqui elas também podem ser classificadas de
d) Alcalose. acordo com o ACTH:

São várias as questões desse tipo. Res-


posta C. I – Insuficiência Suprarrenal
Primária (doença de Addison) –
ACTH elevado
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 1) Destruição anatômica da glândula
INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA  Adrenalite autoimune (associada ou não à
DOS SERVIDORES DO ESTADO síndrome poliglandular).
DE MINAS GERAIS – IPSEMG  Infecções: Tuberculose, hanseníase, sífilis,
Entre as manifestações abaixo relacionadas, micoses sistêmicas (paracoccidioidomicose,
assinale a que é comum, tanto na insuficiência histoplasmose), CMV e HIV.
 Doenças infiltrativas: Metástases (pulmão,
adrenal primária, quanto na secundária.
mama, rim), linfomas, amiloidose.
a) Hiponatremia e hiperpotassemia.  Infarto/hemorragia (trauma, sepse, cirurgia,
b) Fraqueza e emagrecimento. anticoagulantes, síndrome antifosfolipídio).
c) Hiperpigmentação de dobras cutâneas e  Remoção cirúrgica: Adrenalectomia bilateral.
mucosas. 2) Hiperplasia suprarrenal congênita
d) Hipoglicemia em adultos e vitiligo associado.
3) Inibidores enzimáticos (ex.: metirapona,
cetoconazol, aminoglutetimida) e metaboliza-
Deficiência de mineralocorticoides (le-
dores do cortisol (ex.: rifampicina).
vando à hiponatremia e à hiperpotassemia),
hiperpigmentação e vitiligo (componentes 4) Adrenoleucodistrofias
da síndrome poliglandular autoimune tipo 5) Hipoplasia suprarrenal congênita
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 73

6) Insuficiência suprarrenal do paciente RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007


crítico UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
7) Síndromes de resistência ao ACTH A síndrome poliglandular autoimune tipo II
(SPGA II),
II – Insuficiência Suprarrenal a) Apresenta candidíase mucocutânea crônica
Secundária/Terciária – ACTH em 1/3 dos casos.
reduzido b) Ocorre principalmente em crianças.
1) Supressão do eixo hipotálamo-hipofisário c) Tem na doença de Addison o seu distúrbio
endócrino mais assíduo.
 Glicocorticoides exógenos, pós-tratamento
d) Tem a Diabetes Mellitus 2 como um dos
da síndrome de Cushing.
seus componentes.
2) Hipopituitarismo
 Congênito. Simples. 100% dos pacientes com síndro-
 Adquirido (síndrome de Sheehan, tumores me poliglandular autoimune tipo II apresen-
hipofisários e hipotalâmicos, apoplexia hipofi- tam adrenalite autoimune, que também é a
sária, hipofisite linfocítica, etc.). primeira manifestação da síndrome em 50%
Obs.: Um dado que sempre confunde os alunos. A dos casos.
doença de Cushing é uma causa secundária (hipo- Resposta: C.
fisária) de hipercortisolismo. A doença de Addison é
uma causa primária (adrenal) de hipocortisolismo.
Tome cuidado com esses epônimos!
2) Tuberculose e Infecções Fúngicas

A tuberculose adrenal é a segunda causa


Insuficiência Suprarrenal mais importante de insuficiência primária,
Primária (Doença de Addison) assumindo particular importância em países
subdesenvolvidos, resultante da disseminação
Agora que você já leu com bastante atenção hematogênica do bacilo. A TC evidencia adre-
a tabela que traz as principais causas de in- nal aumentada de tamanho com calcificações
suficiência adrenal, escolhemos algumas cau- em 50% dos casos. Na maioria das vezes, a
sas de ISR primária para discutirmos com função não retorna ao normal, mesmo após o
maior detalhamento. tratamento efetivo. Infecções fúngicas disse-
minadas, como histoplasmose, blastomicose,
coccidioidomicose e paracoccidioidomicose,
1) Adrenalite Autoimune podem causar quadro semelhante.

Principal causa de insuficiência primária, con-


siste na destruição autoimune da glândula pela 3) Infecção pelo HIV
ação tanto da imunidade humoral (autoanticor-
pos) quanto da celular (linfócitos citotóxicos). Todo paciente infectado pelo HIV deve ser
É mais comum no sexo feminino e pode ser considerado de alto risco para insuficiência
do tipo esporádica ou compor as síndromes adrenal. Pacientes com SIDA apresentam
poliglandulares autoimunes. Vamos relembrar acometimento principalmente pelo CMV, mas
estas síndromes no quadro a seguir. também podem ser decorrentes de outras in-
fecções (micobactérias atípicas, criptococo),
A doença ocorre em fases: aumento da ativida- drogas (rifampicina, cetoconazol) ou metásta-
de de renina plasmática (sugerindo que a doen- ses (sarcoma de Kaposi, linfomas).
ça começa pela zona glomerulosa)  redução
no teste de estimulação com ACTH (disfunção
da zona fasciculada após alguns meses)  4) Outros
redução do cortisol sérico e sintomas.
 Infarto bilateral da adrenal: Por hemorra-
gia ou trombose de veia adrenal. Uma causa
Síndromes Poliglandulares clássica de hemorragia adrenal é a síndro-
Autoimunes me de Waterhouse-Friderichsen (sepse por
Síndrome tipo I: Insuficiência adrenal + can- gram-negativos). Embora tradicionalmente
didíase mucocutânea + hipoparatireoidismo: associada à meningococemia, outro pató-
 Ocorre na infância. geno bastante associado é a Pseudomonas
 Outros achados: hepatite autoimune, aeruginosa.
anemia perniciosa, alopecia, hipotireoidismo
primário e hipogonadismo primário.
Síndrome tipo II (síndrome de Schmidt):  Pacientes críticos: Em pacientes críticos
Insuficiência adrenal (100%) + doença tireoi- é observado hipoadrenalismo funcional,
diana autoimune (60%) + diabetes mellitus caracterizado por uma resposta cortisólica
tipo 1 (50%). inadequada à sepse. Como mensurar e
 É a mais comum, ocorre em adultos. tratar essa disfunção ainda não é consen-
 Outros achados: hipogonadismo primário, so, de qualquer forma, é preconizado que
vitiligo, anemia perniciosa, alopecia, mias- pacientes em choque séptico recebam
tenia gravis, hipopituitarismo. hidrocortisona, conforme estudaremos em
breve no módulo de Terapia Intensiva.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 74

 Neoplasia metastática: O principal sítio RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013


de metástases para adrenal é o Ca de pul- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – BAHIA
mão, no entanto, a insuficiência adrenal é Paciente, sexo masculino, 25 anos de idade,
incomum porque é necessário que mais de com história de perda de peso, astenia e quadro
90% do córtex adrenal seja afetado. depressivo, há cerca de três anos. Admitido em
hospital com quadro de vômitos e dor abdomi-
 Fármacos: Podem induzir insuficiência nal. Familiares relatam quadro de alteração do
particularmente em pacientes com baixa comportamento e fraqueza de membros infe-
reserva adrenal. Dividimos em dois grupos riores (paraparesia) associado à disfunção
principais: esfincteriana. Avaliação laboratorial evidenciou
glicose: 65 mg/dl, sódio: 124 mEq/L, potássio:
- Inibem a biossíntese de cortisol (inibidores 5,8 mEq/L.
enzimáticos): etomidato, cetoconazol, flu- A principal suspeita diagnóstica para justificar
conazol, metirapona, aminoglutetimida, a admissão hospitalar é:
mitotano, suramina. a) Adrenoleucodistrofia.
b) Infecção do sistema nervoso central.
- Aceleram o metabolismo do cortisol (e dos c) Mielite transversa.
corticoides sintéticos): fenitoína, barbitúri- d) Compressão medular.
cos, mitotano, rifampicina. e) Neuropatia periférica.

A adrenoleucodistrofia é uma desordem da


 Hiperplasia Adrenal Congênita: Como betaoxidação que leva ao acúmulo de ácidos
veremos adiante, trata-se de um grupo graxos de cadeia longa e que pode se mani-
de doenças resultantes da deficiência de festar através de alguns fenótipos. As anor-
alguma das enzimas fundamentais para malidades da doença afetam primariamente o
a síntese de esteroides, principalmente sistema nervoso, o córtex da suprarrenal e as
a 21-hidroxilase. A ausência da enzima células de Leydig nos testículos. Uma das
leva, entre outras alterações, ao hipo- apresentações da doença é a chamada adre-
cortisolismo e hiperplasia da glândula nomieloneuropatia, ocorrendo em homens
mediada pelo ACTH. adultos com média de idade em torno dos 28
anos, manifestando-se através de paraparesia
 Adrenoleucodistrofia: Doença rara ligada espástica e disfunção esfincteriana, sendo que
ao cromossomo X (1:25.000) ocasionada a grande maioria dos pacientes possui insufi-
pela deficiência da proteína transportadora ciência adrenal. Aproximadamente 45% dos
de Acil-coenzima A e consequente acúmulo pacientes irão apresentar alterações da função
de ácidos graxos de cadeia longa princi- cerebral, representada basicamente por anor-
palmente na adrenal e no sistema nervoso malidades da cognição e do comportamento.
central. O tratamento consiste numa com- Logo, diante de um paciente masculino, jovem,
binação capaz de reduzir a concentração com sinais de insuficiência adrenal (hipoglice-
desses ácidos graxos chamada de Óleo de mia, hiponatremia, hipercalemia, vômitos, dor
Lorenzo. E quando pensar em adreno- abdominal), alterações do comportamento,
leucodistrofia? Paciente jovem do sexo além de paraparesia e alterações esfincteria-
masculino com sinais de hipocortisolismo nas, é OBRIGATÓRIO pensarmos em adre-
e distúrbios neurológicos, como espastici- noleucodistrofia!
dade de membros inferiores e/ou distúrbios
das funções vesical e sexual. A mielite transversa, apesar de cursar com
paraparesia espástica e disfunção esfincte-
riana, não justifica por si só os achados de
Mais uma dica de DVD do Medgrupo! insuficiência adrenal e os sintomas relacio-
nados às alterações de comportamento.
“Óleo de Lorenzo” é um
filme comovente baseado Alternativa A correta.
em fatos reais, lançado
em 1992, cuja história se
passa com um menino Insuficiência Suprarrenal
que recebe o diagnóstico secundária e terciária
de adrenoleucodistrofia.
(Central)
Seus pais, frustrados com
a falta de medicamentos,
A principal causa é a supressão do eixo por gli-
resolveram se aprofundar
cocorticoides exógenos. Com a suspensão
no assunto quando desenvolvem então um
óleo terapêutico – o óleo de Lorenzo! Apenas abrupta dos mesmos, os sintomas se desenvol-
por curiosidade, o paciente em questão que vem dentro de 48 horas, sendo que o eixo hipo-
motivou o filme – Lorenzo Adone – morreu ape- tálamo-hipófise pode levar até 18 meses para
nas aos 30 anos (a expectativa de vida para se recuperar. A supressão depende da dose,
esses pacientes era de cerca de dez anos) em duração e do intervalo de administração do cor-
2008, por broncoaspiração. ticoide. Doses fisiológicas dificilmente levam à
supressão do eixo (prednisona 5 mg/dia;
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 75

0,3-0,5 mg de dexametasona) e uma dose utilizar testes que avaliam diretamente a capa-
única matutina é menos supressora do que a cidade hipofisária de secretar ACTH. Os dois
dividida ao longo do dia. Altas doses costu- principais estão descritos abaixo:
mam levar à inibição do eixo após três sema-
nas de administração. O tratamento da sín-  Teste de tolerância à insulina: consiste na
drome de Cushing através da ressecção de dosagem do cortisol basal, 30 a 60 minutos
tumores adrenais ou hipofisários também pode após a administração da insulina regular na
levar à insuficiência adrenal, geralmente tran- dose de 0,05 U/kg por via venosa. Este teste
sitória, uma vez que os altos níveis de cortisol baseia-se no fato de que a hipoglicemia in-
sérico suprimem o eixo hipotálamo-hipófise da duz uma resposta de estresse do sistema do
mesma forma que o corticoide exógeno. sistema nervoso central, aumenta a libera-
ção do CRH e, consequentemente, a secre-
Outras causas de insuficiência central são ção de ACTH e cortisol. A resposta normal
menos comuns e incluem: necrose hipofisária do cortisol plasmático é um incremento > 8
pós-parto (síndrome de Sheehan); tumores mg/dl e um pico > 18 mg/dl. Uma resposta do
pituitários e hipotalâmicos, bem como o trata- cortisol normal exclui insuficiência adrenal e
mento destes através de cirurgia ou radiote- baixa reserva pituitária. É necessário que a
rapia. Na hipofisite linfocítica, a deficiência de glicemia caia para menos de 40 mg/dl para
ACTH é a alteração hormonal mais comum. uma interpretação adequada do teste.

Este teste está contraindicado em pacientes


Abordagem Geral idosos, pacientes que apresentem doen-
ça cardiovascular ou cerebrovascular, ou
Observe este cenário clínico: patologias que cursem com convulsões.
Nestes casos, deve-se optar pelo teste da
Cenário 02 metirapona.
Paciente de 32 anos, sexo feminino, procura
atendimento médico com queixa de astenia,  Teste de metirapona: a metirapona bloqueia
anorexia e dor abdominal iniciada há cerca a síntese do cortisol, inibindo a enzima 11b-hi-
de quatro meses, acompanhados por náusea droxilase, que converte o 11-desoxicortisol em
e vômitos nas últimas semanas. Refere que cortisol. Isso estimula a secreção do ACTH
também vem notando alteração na coloração que, por sua vez, estimula a secreção do
da pele do leito ungueal e dos mamilos, além
11-desoxicortisol, assim como a concentração
de perda ponderal não quantificada. Exames
laboratoriais normais, exceto por sódio de 115
urinária dos 17-hidroxicorticosteroides. Admi-
mEq/L e potássio de 6,5 mEq/L. No que você nistra-se 30 mg/kg à meia-noite e dosa-se o
deve obrigatoriamente pensar? 11-desoxicortisol e ACTH na manhã seguinte.
Uma resposta normal consiste em um nível
de 11-desoxicortisol > 7 mcg/dl e um ACTH
Primeiro passo: > 100 pg/ml. Valores menores confirmam a
Confirmar a Insuficiência Suprarrenal insuficiência adrenocortical.

O teste “padrão-ouro” para o diagnóstico de in-


suficiência adrenal é o teste de estimulação Segundo passo:
rápida com ACTH ou teste de cosintropina. Identificar a Causa Específica do
Este exame consiste na administração de uma Hipocortisolismo
dose suprafisiológica (250 µg) de ACTH sin-
tético (cosintropina) intravenosa ou intramus- Vimos acima que alguns dados clínicos (hi-
cular a qualquer hora do dia e a dosagem do perpigmentação, deficiências hormonais
cortisol após 30-60 minutos. O esperado é um associadas, hipercalemia-hiponatremia) são
aumento na produção de cortisol (acima de 20 muito importantes para o diagnóstico dife-
µg/dl). Valores abaixo desse limite confirmam rencial das causas de insuficiência adrenal.
um quadro de insuficiência adrenal. Laboratorialmente, este diagnóstico começa
pela dosagem do ACTH.

Apenas mais um detalhe. Acabamos de dizer Na insuficiência adrenocortical primária (doen-


que valores abaixo deste limite confirmam ça de Addison), como não há produção de cor-
a insuficiência adrenal. Perfeito! Mas será tisol para estabelecer um feedback negativo
que essa regra também vale para os valores sobre a hipófise, é esperado um aumento do
normais?? Não necessariamente... pois não ACTH (>50 pg/ml). Na insuficiência secundária
excluiria alguns casos de insuficiência adre- ou terciária, como o deficit é na própria fonte
nal secundária parcial. Isso ocorre nas situa- do ACTH – a hipófise – o ACTH pode estar
ções em que a adrenal não está totalmente normal ou reduzido.
atrófica e ainda consegue responder a algum
estímulo pelo ACTH. A insuficiência adrenal secundária/terciária é
mais comum que a primária, sendo a suspen-
Portanto, quando houver forte suspeita de in- são abrupta de corticoide exógeno a principal
suficiência adrenal, mas os exames estiverem causa. Dentre as causas de insuficiência pri-
inalterados (ex.: teste de estimulação rápida mária, destacam-se a adrenalite autoimune
com ACTH negativo, ACTH normal), podemos (70-90%) e a tuberculose (7-20%).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 76

Veja esse algoritmo final para facilitar seu entendimento:

Teste de estimulação rápida com ACTH

Normal Indeterminado Cortisol baixo (< 20 µg/dl)

Com Insuficiência Adrenal


Sem Insuficiência • Teste de tolerância à
Adrenal insulina ACTH Normal ou baixo
ACTH alto
• Teste da metirapona
Sem Insuficiência
Adrenal Insuficiência Insuficiência Se-
Primária cundária ou Terciá-
Com Insuficiência ria (Central)
Adrenal

O aluno pergunta... Exame físico: PA sentado = 90 x 62 mmHg; PA


em pé = 70 x 58 mmHg; FC= 74 bpm; Oximetria
Já entendi que para confirmação de pulso = 96% (em ar ambiente); corado; hi-
da insuficiência suprarrenal o “padrão- dratado. Pulmões: murmúrio vesicular presen-
-ouro” é o teste de estimulação rápida com te sem ruídos adventícios. Coração: bulhas
ACTH. De acordo com o algoritmo, uma vez
rítmicas normofonéticas sem sopros. Membros
realizado o teste e dosado o cortisol estaria
inferiores: ausência de edema. Exames labo-
confirmada a insuficiência suprarrenal
ratoriais: Na sérico = 121 mEq/L; K sérico =
com níveis de cortisol < 20 mcg/dl. Porém,
5,4 mEq/L; glicemia= 67 mg/dl; creatinina sé-
minha dúvida é: este teste sendo positivo,
também já posso considerar o paciente rica = 1,2 mg/dl e ureia sérica = 42 mg/dl. O
portador de insuficiência adrenal primária? DIAGNÓSTICO É:
a) Insuficiência renal crônica.
Meu pensamento: se eu estou fornecendo b) Insuficiência suprarrenal primária crônica.
o ACTH e a glândula suprarrenal produz c) Hiperaldosteronismo primário.
pouco cortisol, é porque o problema é na d) Hipercortisolismo primário.
própria glândula. Se fosse secundário, o
ACTH exógeno “corrigiria” o problema e
Na insuficiência renal crônica avançada
teríamos um cortisol > 20 mcg/dl após es-
(sintomática) esperamos sempre a existência
timulação com ACTH. Ou não?
de franca azotemia (aumento das escórias
Boa pergunta! Contudo, devemos ressaltar nitrogenadas). No hiperaldosteronismo primá-
que não é assim que ocorre na prática, pois, rio, que estudaremos ainda nesta apostila, o
nos casos de insuficiência adrenal secundária paciente tem HIPOcalemia espontânea e gra-
e terciária, as adrenais atrofiam pela falta do ve hipertensão arterial secundária. No hiper-
estímulo do ACTH! Assim, não necessariamente cortisolismo, além de hipertensão, espera-se
o teste de estimulação rápida com ACTH fará também – e principalmente – a existência de
com que esses pacientes apresentem cortisol importante hiperglicemia. Ora, na insuficiência
sérico acima de 20 mcg/dl! Dessa forma,
adrenal, tudo o que foi descrito pode ser en-
apenas os pacientes com insuficiência adrenal
contrado: sintomas gerais como fadiga, náu-
secundária de instalação recente (< 2
seas e indisposição, perda ponderal, hipoten-
semanas) costumam apresentar produção
são arterial (com forte componente ortostáti-
“normal” de cortisol após o estímulo com
ACTH, pois as adrenais ainda não atrofiaram. co), hiponatremia, hipercalemia (ou tendência
ao aumento do K+ sérico) e hipoglicemia (ou
tendência). Ele não cita aí, mas é importante
lembrar que também pode haver eosinofilia no
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 hemograma... Resposta certa: B.
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
DA UNIVERSIDADE ESTADUAL
DE CAMPINAS – SP RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
Homem, 57 anos, negro, há 7 meses refere HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
mal-estar, cansaço fácil, fadiga, náuseas, dimi- DE JUNDIAÍ – SP
nuição do apetite e emagrecimento de 5 kg no Jardineiro de 60 anos refere cansaço e fadiga
período. Está em tratamento regular para hi- nos últimos 2 anos, mesmo tendo utilizado vá-
pertensão arterial sistêmica com betabloquea- rios tipos de vitaminas prescritas pelos médi-
dor e inibidor de enzima conversora de angio- cos. Há 2 meses apresenta tonturas posturais
tensina. É diabético em uso de insulina há 6 acompanhadas de escurecimento visual e
anos. Procurou o Pronto-Socorro, por duas poliúria. Há 3 dias se queixa de vômitos e diar-
vezes, pois sua pressão estava muito baixa e reia. Ao exame clínico encontra-se em MEG,
desmaiou, sendo orientado a suspender o ini- desidratado ++/4, FC: 104 spm, PA: 80 x 60
bidor de enzima conversora de angiotensina. (sentado) e PA: 110 x 70 (deitado), com mácu-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 77

las hipercrômicas na mucosa oral. Tem exames riscos de suspensão abrupta da medicação
complementares que mostram: hemoglobina: e de que a dose deve ser dobrada em condi-
15,2 g/dl, leucócitos: 18.600/mm³ (43% de lin- ções de estresse (infecção, trauma, diarreia,
fócitos e 10% de eosinófilos), velocidade de etc), bem como dos efeitos adversos do uso
hemossedimentação: 126 mm, sódio: excessivo de medicação (ex.: gastrite, hipo-
128 mEq/L, potássio: 5,8 mEq/L, glicemia: 56 calemia, hipertensão).
mg/dl, ureia: 68 mg/dl, creatinina: 1,2 mg/dl,
TSH: 3,2 uUI/ml. Qual é o diagnóstico desse Muitos endocrinologistas recomendam que
paciente e como podemos confirmá-lo? esses pacientes usem um bracelete ou
a) Disautonomia por neuropatia periférica, cordão que deixe explícito sua condição de
eletroneuromiografia de membros inferiores. portador de insuficiência adrenal e de usuá-
b) Síndrome da sela túrcica vazia, ressonância rio crônico de corticoide. Essa atitude é bem
nuclear magnética do crânio. prática para situações de emergência como
c) Insuficiência adrenal primária, dosagem de o politrauma.
cortisol e ACTH.
d) Hiperaldosteronismo primário (S. de Conn),  Farmacológico: está baseado na reposição
dosagem de aldosterona. fisiológica de glicocorticoides e mineralocor-
e) Sepse grave por infecção intestinal, copro- ticoides, pela administração de:
cultura e hemocultura.
– Hidrocortisona 15-25 mg/dia, divididas
Paciente de 60 anos com histórico de as- em duas ao dia. A dose da manhã (2/3 da
tenia, hipotensão e hiperpigmentação em dose total) deve ser tomada logo ao acor-
mucosa oral, além de vômitos e diarreia. dar. O restante da dose é tomado ao final
Quadro inespecífico? Vamos um pouco mais da tarde. O melhor parâmetro para saber
adiante: leucocitose com eosinofilia, aumen- se a dose está adequada é a avaliação clí-
to da VHS, hipoglicemia, hiponatremia, hiper- nica (melhora dos sintomas), pois medidas
calemia. Função renal e TSH normais. O que do cortisol não são confiáveis e o ACTH
conjuga todos os achados clínicos aos labo- pode permanecer elevado na insuficiência
ratoriais? Certamente é a insuficiência adre- adrenal primária. O monitoramento da dose
nal! A banca realmente facilitou e colocou de hidrocortisona é feito através de dados
diversos achados laboratoriais que nos levam clínicos (objetivando reestabelecimento da
ao diagnóstico. O teste padrão-ouro para o PA, ganho de peso e desaparecimento dos
diagnóstico de insuficiência adrenal é o teste sintomas atribuídos ao hipocortisolismo).
de estimulação rápida com ACTH. Este exa-
me consiste na administração de uma dose – Fludrocortisona (ação mineralocorticoi-
suprafisiológica de ACTH sintético, IV ou IM, de): 0,05-0,1 mg/dia. A dose é ajustada
a qualquer hora do dia e a dosagem do cor- até que se estabeleça pressão arterial,
tisol após 30-60 minutos. O esperado é um eletrólitos e atividade da renina plasmáti-
aumento na produção de cortisol (acima de ca normais. Em locais muito quentes, pode
20 µg/dl). Valores abaixo desse limite confir- ser necessário aumentar a dose no verão.
mam um quadro de insuficiência adrenal. Gestantes também podem precisar de do-
Uma vez confirmada a insuficiência, a dosa- ses maiores (a progesterona possui efeito
gem do ACTH nos ajuda a diferenciar entre antimineralocorticoide).
insuficiência adrenal primária (ACTH elevado)
e secundária ou terciária (ACTH normal ou – Como os pacientes também podem ter
reduzido). A dica da etiologia da insuficiência deficiência de DHEA, a reposição deste
adrenal está no início do enunciado: jardinei- androgênio na dose de 50 mg/dia pode
ro, profissão de risco para o desenvolvimen- melhorar o bem-estar, depressão, ansie-
to de paracoccidioidomicose (estudaremos dade, fadiga, interesse sexual e densida-
esta micose com mais detalhes em outra de óssea (nas mulheres).
apostila do MED).
Resposta letra C. Conclusão do Cenário 02
Insuficiência Suprarrenal
Crônica
Terceiro passo: Temos uma paciente com manifestações
Tratamento Geral do Hipocortisolismo clínicas e laboratoriais de hipocortisolismo.
Crônico O primeiro passo é confirmar esse dado. A
história clínica deve pesquisar exaustiva-
mente a possibilidade de suspensão abrup-
Além do tratamento específico para as situa-
ta de glicocorticoides. A abordagem começa
ções identificadas (ex.: tuberculose), temos de
pelo teste rápido de estimulação com ACTH.
considerar o tratamento geral para a síndrome
Uma vez confirmada a insuficiência adrenal,
do hipocortisolismo. Ele pode ser dividido: as causas devem ser divididas de acordo
com os valores do ACTH. Tratamento para
 Não farmacológico: esse é um dos pou- a causa de base, se possível, e reposição
cos casos em que o médico recomenda o de glicocorticoide e mineralocorticoides são
acréscimo de sal à refeição... Além disso, os estratégias fundamentais para a paciente.
pacientes devem ser orientados quanto aos
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 78

Situação Especial Tratamento da Crise


Adrenal Aguda

Cenário 03 Reposição de Glicocorticoides


Imagine que a mesma paciente retornasse ao 1- Administrar hidrocortisona, 100 mg EV de
hospital para nova internação hospitalar, dentro 6/6h, durante 24 horas ou após a primeira
de duas semanas, devido a uma pneumonia dose de 100 mg, começar infusão contínua
comunitária. Ao exame, apresenta-se confusa, de 10 mg/h.
com hipertermia e PA de 70 x 50 mmHg que não
responde mesmo após reposição volêmica ex- 2- Reduzir a dose para 50 mg EV de 6/6 horas,
cessiva e associação de drogas vasopressoras. quando o paciente se estabilizar.
Como conduzir este caso? 3- No quarto ou quinto dia iniciar terapia de
reposição e acrescer fludrocortisona, con-
forme a necessidade.
Não é difícil perceber que agora temos a mes-
ma paciente (previamente diagnosticada como 4- Caso as complicações persistam, as doses
portadora de hipocortisolismo) numa situação de hidrocortisona devem ser aumentadas
muito mais grave, pois se trata de um quadro de para 200-400 mg/dia.
insuficiência adrenal aguda (crise addisoniana) Medidas de Apoio
desencadeada por uma infecção (pneumonia)!
1- Corrigir a depleção de volume, desidrata-
As principais situações que levam a este qua-
ção, distúrbios eletrolíticos e hipoglicemia.
dro são: suspensão abrupta dos glicocorticoi-
des, infecções, cirurgia, trauma, etc. 2- Tratar infecção ou outros fatores precipi-
tantes.
Veja no quadro as formas de apresentação
que nos devem sempre lembrar a crise ad-
disoniana e o tratamento a ser estabelecido
nessas ocasiões. Mais algumas questões.

Formas de apresentação da RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


Crise Addisoniana FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
DA UNIVERSIDADE ESTADUAL
 Desidratação, hipotensão ou choque refra- DE CAMPINAS – SP
tário e desproporcional à doença de base Mulher, 28a, portadora de lúpus eritematoso
 Náuseas e vômitos com história de perda sistêmico há 10 anos, chega ao pronto-socor-
ponderal e anorexia ro com história de febre há 4 dias, associa-
 Falso abdome agudo da à disúria e polaciúria. Exame físico: PA =
 Hipoglicemia e hipertermia inexplicadas 100x70 mmHg (deitada) e PA = 70x40 mmHg
 Hiponatremia, hipercalemia, azotemia, hi- (em pé), FC = 110 bpm; sonolenta, desidra-
percalcemia, eosinofilia tada e fascies cushingoide. Ausculta cardía-
 Hiperpigmentação ou vitiligo ca e pulmonar normais. Exames laborato-
 Outras deficiências endócrinas autoimunes riais: Na = 128 mEq/L; K = 5,8 mEq/L; U =
(hipotireoidismo, insuficiência gonadal) 42 mg/dl; CR = 1,2 mg/dl; hemograma: Hb =
10,1 mg/dl, leucócitos = 4.320/mm3 e plaque-
tas = 232.000/mm3. A CONDUTA IMEDIATA É:
Última pergunta: na abordagem imediata, o a) Furosemida, insulina, glicose e inalação
paciente também precisa receber minera- com ß2-agonista.
locorticoides junto com a hidrocortisona? b) Hidrocortisona.
c) Ciprofloxacina.
A resposta é não... Com a utilização de do- d) Solução salina hipertônica a 3%.
ses de hidrocortisona acima de 50-100 mg,
um efeito mineralocorticoide já é esperado, Temos aqui uma paciente lúpica, imunos-
não havendo necessidade de reposição de suprimida, provável usuária de corticoide (fas-
fludrocortisona. Esta, no entanto, passa a ser cies cushingoide) com uma síndrome infeccio-
necessária após a resolução do quadro e a re- sa sugestiva de infecção do trato urinário. Ao
dução na dose do glicocorticoide. Quando a exame físico, chama a atenção a hipotensão
dose de hidrocortisona for inferior a 50 mg/dia, postural. Nos exames laboratoriais temos hi-
recomenda-se o início da fludrocortisona. ponatremia, com hiperpotas­semia, com a fun-
ção renal praticamente normal. Diante disto,
no que devemos pensar obrigatoriamente? In-
Conclusão do Cenário 03
suficiência suprarrenal aguda. Esta condição
Crise Addisoniana
é uma emergência médica que uma vez re-
A paciente, sabidamente portadora de insufi- conhecida, deve ser tratada de imediato com
ciência adrenal crônica, apresenta agora um
a reposição de hidrocortisona que proverá a
quadro agudo desencadeado por processo
reposição de glicocorticoides e mineralocorti-
infeccioso. Trata-se de uma emergência clí-
coides. As medidas de controle da hiperpotas-
nica bastante frequente entre estes pacien-
semia (descritas na letra A) não têm tanta ur-
tes e que deve ser amplamente combatida a
partir da prevenção e da utilização imediata gência. Da mesma maneira, não está indicado
de glicorticoides. agora o uso de solução salina hipertônica (le-
tra D) para correção da hiponatremia. Mas e
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 79

quanto à opção C? Vejam que a questão quis tava obesidade central, face em lua, acne,
fazer uma pegadinha... Apesar da febre e da estrias, taquicardia e hipotensão ortostática.
taquicardia, a paciente está com um estado Além de pesquisar foco infeccioso e de dosar
geral regular, com exames laboratoriais tam- glicemia, a conduta é:
bém pouco expressivos. O antibiótico, portan- a) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
to, seria administrado apenas após a coleta lógico e reposição endovenosa de glicocorti-
de urinocultura e hemoculturas o que levaria coide (hidrocortisona). A dosagem plasmática
mais tempo. Já o corticoide tem de ser admi- de sódio e potássio pode não auxiliar, pois
nistrado de IMEDIATO. Resposta: B. distúrbios eletrolíticos (hiponatremia e hiper-
calemia) são incomuns.
Apenas uma observação: na insuficiência b) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
suprarrenal secundária, como parece ser o lógico, coloide e aminas simpaticomiméticas
caso apresentado (usuária crônica de corti- e reposição endovenosa de glicocorticoide
coide), geralmente não encontramos alguns (hidrocortisona). A dosagem plasmática de
achados comuns da insuficiência suprarre- sódio e potássio é indispensável, pois distúr-
nal primária, como hiperpigmentação e de- bios eletrolíticos (hiponatremia e hipercalemia)
sidratação. A hipotensão, quando ocorre, é são comuns.
discreta. Pode até existir hiponatremia, mas c) Hidratação endovenosa com soro glicosado
não hipercalemia. A hipoglicemia geralmen- (pode ter hipoglicemia) e reposição endoveno-
te é o dado mais proeminente. Contudo, sa com glicocorticoide potente (dexametasona).
como você pode observar, tanto esta quanto Dosagem plasmática de sódio e potássio pode
outras questões da apostila relatam casos não auxiliar, pois distúrbios eletrolíticos (hipo-
típicos de insuficiência adrenal secundária natremia e hipercalemia) são incomuns.
(geralmente usuários crônicos de corticoide d) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
que param o tratamento ou aumentam a ne- lógico e reposição endovenosa de glicocorti-
cessidade endógena de cortisol) e trazem, coide potente (dexametasona). Dosagens
erradamente, pacientes francamente hipo- plasmáticas de sódio e potássio são indispen-
tensos e com hipercalemia! Contudo, como sáveis, pois distúrbios eletrolíticos (hiponatre-
essas questões costumam cobrar mais a mia e hipercalemia) são comuns.
conduta do que a diferenciação em insufi-
ciência adrenal primária ou secundária, na Questão bastante semelhante à anterior,
maioria das vezes esse erro conceitual não porém a USP-RP não caiu no mesmo erro da
interfere em nada no nosso raciocínio. Ou Unicamp! Insuficiência suprarrenal secundária
seja, mesmo essa questão trazendo um geralmente não cursa com distúrbio hidroele-
conceito errado em seu enunciado, ele não trolítico! Resposta certa letra A.
interfere diretamente com o gabarito. Seja
crítico, mas não “brigue com a questão”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Zuleika tem 62 anos e encontra-se em pós-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE -operatório imediato de colectomia esquerda.
DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA Apresenta quadro clínico sugestivo de insu-
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP ficiência suprarrenal aguda confirmado com
Mulher, 25 anos de idade, com diagnóstico de exames complementares. Zuleika deve rece-
anemia hemolítica recebeu prednisona 60 mg/ ber de imediato o medicamento:
dia. Após quatro meses de uso, ela suspendeu a) Fludrocortisona. c) Dexametasona.
a medicação e, cinco dias após, passou a b) Hidrocortisona. d) Cositropina.
apresentar quadro de fraqueza, náuseas, vô-
mitos, dor abdominal, agitação e confusão Complementando uma questão que fizemos
mental. No atendimento de urgência, apresen- há pouco. Resposta B.

Saiba Mais!
Uso Prático de Corticoides Você será capaz de entender todas essas per-
guntas e outras, com conceitos muito simples
Você já se perguntou o
e básicos que já ouvimos falar, mas que ficaram
porquê de utilizarem a
perdidos naquelas aulas instigantes, cativan-
prednisona como cor-
tes, depois do almoço durante a faculdade...
ticoide de escolha em
reumato? Ou a pred- Mas vamos lá... Vejamos o que mais importan-
nisolona em crianças te temos de saber sobre esta classe de drogas
ou hepatopatas... A para efetuar a melhor escolha no dia-a-dia.
hidrocortisona pelos Tudo começa pelo conhecimento dos princi-
neurologistas... São pais corticoides disponíveis. Estes se diferem
muitas perguntas!!! pelas propriedades farmacocinéticas que po-
Agora, existe res- dem ser “retenção hidrossalina” ou “efeitos
posta para isso ou é anti-inflamatórios”. O efeito sobre “metabolis-
mais um achismo, um aprendi- mo dos carboidratos” tende a acompanhar os
zado de “orelhada” ou apenas uma “opi- “efeitos anti-inflamatórios”. Veja a tabela ex-
nião de especialistas”? traída do Goodman.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 80

Saiba Mais! (CONT.)

Potências e Doses Equivalentes


dos principais corticoides
Potência
Potência anti- Duração da
Composto retentora de Dose
inflamatória ação
sódio
Cortisol 1 1 8-12h 20
Cortisona 0,8 0,8 8-12h 25
Hidrocortisona 1 1 8-12h 20
Prednisona 4 0,8 12-36h 5
Prednisolona 4 0,8 12-36h 5
Metilprednisolona 5 0,5 12-36h 4
Triancinolona 5 0 12-36h 4
Betametasona 25 0 36-72h 0,75
Dexametasona 25 0 36-72h 0,75
Deflazacort 3-5 0 12-30h 5-7

Algumas informações importantes: • Há ainda o deflazacort (não incluído nes-


• Em 1948, tivemos a primeira síntese labo- ta tabela) com potência anti-inflamatória
ratorial de cortisona para que pudesse ser de 3-5, sem retenção de sódio, dose equi-
utilizada de forma terapêutica. Em 1954, valente de 5-7 mg e meia-vida de 12-30h.
começaram a surgir por algumas modifica- Ele estaria associado a uma menor alte-
ções na molécula da cortisona, as forma ração no metabolismo dos carboidratos,
prednisona e a prednisolona com maior metabolismo ósseo (bom para osteoporo-
efeito anti-inflamatório. Daí em diante uma se/diabetes).
série de novos corticoides também foram • Os glicocorticoides são bem tolerados na
desenvolvidos de acordo com a necessi- gravidez.
dade clínica em questão. • Com relação à hipertensão arterial, o que
• Mais utilizados atualmente (5): prednisona, se sabe é que doses de prednisona abaixo
metilprednisolona, prednisolona, dexame- de 10 mg/d têm pouco efeito sobre a pres-
tasona e hidrocortisona. são arterial e que o maior efeito se dá
quando utilizada a pulsoterapia. No entan-
• A hidrocortisona é a forma ativa do cortisol
to, como a absorção da droga ocorre den-
e a preferida pelos neurologistas pela ca-
tro de 30 minutos, é possível que haja um
pacidade de atravessar a barreira hema-
efeito de elevação da PA a curto prazo
toencefálica. Deve ser evitada em cardio-
mesmo. Mas vamos entender, uma situa-
patas, hipertensos e nefropatas pela reten-
ção é a pulsoterapia, em que devemos
ção salina. Pela ação dupla e mais próxima
avaliar a PA com receio de quadros agudos.
da fisiológica, é a droga de escolha na
Outra situação é a introdução da predniso-
insuficiência suprarrenal também. Nestes
na, quando avaliamos a PA para saber se
casos, é comum a necessidade de maior
o paciente é um hipertenso controlado ou
ação mineralocorticoide a longo prazo, o
não, já que a introdução do corticoide pode
que pode ser obtido pela associação com
contribuir a médio e longo prazo para ele-
os mineralocorticoides.
vação desses níveis e para o desenvolvi-
• A prednisona é um fármaco inativo que mento de complicações cardiovasculares.
precisa passar pelo fígado e ser conjugada
• Com relação à cirurgia, deixaremos para o
para dar origem ao metabólito ativo pred-
módulo de Medicina Perioperatória as prin-
nisolona. Em hepatopatas ou crianças (que cipais recomendações.
têm imaturidade da conjugação hepática),
a administração da prednisolona seria pre- • Como já foi dito anteriormente, a utilização
ferível. Para tornar a administração injetá- de doses superiores a 20 mg de prednisona/
vel possível, foi criada a metilprednisolona, dia (ou dose equivalente, de outro corticoide)
já que as outras duas são de apresentação durante pelo menos três semanas pode le-
oral. Esta é a forma preferencial na pulso- var à supressão do eixo hipotálamo-hipófise,
terapia. causando insuficiência adrenal secundária
em caso de suspensão abrupta da droga.
• A metilprednisolona tem também uma cer- Dessa forma, é recomendável a retirada
ta preferência dos pneumologistas em gradual do corticoide (“desmame”). Ainda é
relação à hidrocortisona por motivos não questionável se doses entre 5 e 20 mg de
muito comprovados. Um deles seria o me- prednisona levam à supressão do eixo, mas
nor efeito mineralocorticoide (espolia me- quase todos os médicos acabam também
nos o potássio e evita a fraqueza da hipo- fazendo o esquema de retirada. Alguns au-
calemia). tores preconizam a retirada mesmo em
• Dexametasona/betametasona têm meia- pacientes que estejam utilizando dose de 5
vida maior e, por isso, não devem ser uti- mg! Existem diversos esquemas de desma-
lizadas a longo prazo. me e nenhum demonstrou superioridade
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 81

Saiba Mais! (CONT.)

sobre os demais. Vejamos a seguir dois es- 1-2 semanas, até chegar em 20 mg/dia.
quemas que utilizamos com frequência na 3) Dose < 20 mg/dia: reduzir 1-2.5 mg a cada
prática, de acordo com a dose de prednisona 2-3 semanas.
(ou de seu equivalente) que vinha sendo uti-
lizada pelo paciente. Ambos constam no Esquema intermediário:
Kelley (Tratado de Reumatologia): 1) Reduzir a dose em 5-10 mg a cada 1-2
semanas, até chegar em 20 mg/dia.
Esquema rápido:
2) Dose < 20 mg/dia: reduzir 2,5-5 mg a cada
1) Dose > 40 mg/dia: reduzir 5-10 mg a cada 2-4 semanas, até chegar em 10 mg/dia.
1-2 semanas, até chegar em 40 mg/dia.
3) Dose < 10 mg/dia: reduzir 1 mg a cada 4
2) Dose entre 20-40 mg/dia: reduzir 5 mg a cada semanas, ou 2,5 mg a cada 7 semanas.

Hiperaldosteronismo

Cenário 04 Sistema Renina-Angiotensina


Paciente de 25 anos é internado por conta de  A diminuição do volume sanguíneo circulante
pico hipertensivo, cefaleia e turvação visual. Re- efetivo estimula a liberação de renina pelo
fere que faz acompanhamento de hipertensão aparelho justaglomerular. Além disso, a redu-
arterial há cerca de cinco anos, mas vem tendo ção na filtração glomerular diminui a chegada
dificuldade em controlar os níveis pressóricos de NaCl à mácula densa (porção do túbulo
mesmo após a utilização de três medicamentos. contorcido distal intimamente relacionada ao
Traz últimos exames laboratoriais apresentando aparelho justaglomerular), contribuindo para
potássio de 2,8 mEq/L. o aumento da produção de renina. A renina,
por sua vez, atua sobre o angiotensinogênio,
produzido pelo fígado, e dá origem à angio-
É assim que desconfiamos do hiperaldos- tensina I. Esta substância é transformada
teronismo primário! Um paciente num dos em angiotensina II por ação da ECA (Enzima
extremos de idade apresentando hiperten- Conversora da Angiotensina), especialmente
são arterial de difícil controle e hipocalemia. no endotélio pulmonar. A síntese e liberação
Nada mais. Outros sintomas inespecíficos de aldosterona é estimulada diretamente pela
seriam: fadiga, fraqueza muscular e cãibras angiotensina II.
(relacionadas ao potássio). Tanto é que esse  Resumindo: Em situações de redução do
assunto já foi comentado na apostila “Sín- volume circulante efetivo (ex.: desidratação),
drome Metabólica I”, dentro de Hipertensão ocorre ativação do sistema renina-angiotensina
e, consequentemente, liberação de aldostero-
Arterial, e será novamente comentado junto
na, a fim de aumentar a retenção de sódio e
com os distúrbios eletrolíticos. água pelos rins.

Potássio
Vamos falar rapidamente sobre os minera-  Independente da volemia, altas concentrações
locorticoides... de potássio estimulam diretamente a secreção
de aldosterona pela suprarrenal, aumentando a
Eles são representados principalmente pela exceção urinária do íon. A redução da calemia
aldosterona e, em menor escala, pela Deso- tem efeito inverso.
xicorticosterona (DOC) e corticosterona. São
duas as funções principais destes hormônios:
a regulação do volume do líquido extracelular Etiologia
(dependente da quantidade corporal de sódio
e água) e a regulação do metabolismo do São dois grupos principais:
potássio. Eles agem no tubo coletor cortical,
promovendo para cada sódio reabsorvido, a  (1) Hiperaldosteronismo primário ou
secreção de um potássio ou um hidrogênio hiporreninêmico (aldosterona elevada,
no lúmen tubular. renina baixa). São condições que resul-
tam da produção autônoma de aldosterona
pela suprarrenal. Este aumento leva conse-
FUNÇÃO DA ALDOSTERONA = quentemente a uma redução na produção
REABSORÇÃO DE SÓDIO E de renina, daí o nome hiporreninêmico. As
ÁGUA / EXCREÇÃO DE POTÁSSIO principais causas são o adenoma produtor
E HIDROGÊNIO de aldosterona (aldosteronoma – sín-
drome de Conn) e a hiperplasia adrenal
idiopática. Tradicionalmente (e algumas
O controle da síntese dos mineralocorticoides provas ainda colocam dessa forma) a princi-
se faz por dois mecanismos principais: siste- pal causa seria o adenoma, e, em seguida,
ma renina-angiotensina e níveis séricos de a hiperplasia. No entanto, segundo dados
potássio. O ACTH, diferente do que ocorre no mais recentes, inclusive pela última edição
cortisol, contribui muito pouco para a síntese do Harrison, a hiperplasia ultrapassou o
de mineralocorticoides. adenoma como causa mais comum.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 82

 (2) Hiperaldosteronismo secundário ou raldosteronismo primário confirmado. Outras


hiperreninêmico (aldosterona elevada, variantes de sobrecarga salina seriam a ad-
renina elevada). São condições que resul- ministração VO por 4 dias de fludrocortisona
tam no aumento da aldosterona por hipe- (0,1 mg 6/6 horas) ou ainda por uma dieta rica
rativação do sistema renina-angiotensina. em sal (6-10 g de NaCl por 3-5 dias).
Pode ser tanto por uma síntese aumentada,
primária de renina (raro tumor das células
justaglomerulares), como pela redução do Laboratório: Aldosterona > 15 pg/ml + Ra-
volume circulante efetivo e hipoperfusão zão aldosterona / atividade de renina plas-
renal (hipovolemia, insuficiência cardíaca mática (ARP) ≥ 30 + aldosterona
congestiva, cirrose com ascite, etc.). O obje- > 5 ng/dl após infusão de salina.
tivo deste capítulo obviamente se concentra
no hiperaldosteronismo primário, uma vez
que a forma secundária não é específica da Uma vez confirmado o diagnóstico de hipe-
endocrinologia, mas sim de todos os temas raldosteronismo primário, devemos nos per-
da Medicina Interna. guntar: trata-se de um adenoma produtor de
aldosterona (aldosteronoma – síndrome
de Conn) ou de hiperplasia adrenal idio-
Achados Clínicos / pática? A diferença entre as duas condições
Diagnóstico é fundamental para a definição de conduta.
O diagnóstico diferencial se dá pela TC ou
No hiperaldosteronismo primário, muitos dos ressonância abdominal. Os adenomas são
achados são inespecíficos e podem estar mais encontrados em pacientes do sexo fe-
associados a uma hipertensão de mais difícil minino, de meia-idade, são unilaterais, com
controle (ex.: retinopatia, HVE) ou à própria hi- hipocalemia mais acentuada e concentra-
pocalemia (ex.: cãibras). Um dado interessante ções mais altas de aldosterona. Geralmente
é que com o aumento da reabsorção de sódio medem menos de 2 cm. A hiperplasia idio-
e água pela aldosterona, existe um “mecanis- pática é comum em homens mais velhos, é
mo de escape” desencadeado pela liberação bilateral e cursa com níveis mais baixos de
do peptídeo natriurético atrial que impede a aldosterona. Se o exame de imagem não
formação de edema periférico. Outro fator de for capaz de diferenciar estas condições,
importância seria um fenômeno conhecido podemos então empregar a técnica de do-
como natriurese de pressão. É importante res- sagem da aldosterona nas veias adrenais.
saltar também que a hipocalemia espontânea Após cateterização percutânea transfemo-
está presente em apenas 40% dos pacientes ral, o sangue é coletado para a dosagem de
(principalmente nos adenomas), mas pode se cortisol e aldosterona. O cortisol serve para
tornar mais evidente com o uso de diuréticos. garantir que o cateter esteja posicionado na
mesma altura (nesse caso, a concentração
do cortisol é igual dos dois lados). O passo
Clínica: Hipertensão diastólica, refratária, seguinte é medir a aldosterona. Se a relação
sem edema + Hipocalemia + Alcalose aldosterona/cortisol de um lado for pelo me-
metabólica. nos duas vezes maior que a do lado oposto,
este dado nos indica a presença de latera-
lização da produção de aldosterona, o que
Com relação ao diagnóstico, devemos carac- geralmente corresponde à presença de um
terizar o estado de elevação de aldosterona e adenoma no lado com a maior relação al-
de redução da renina. Como a dosagem pura dosterona/cortisol (mas que também pode
e simplesmente da renina não apresenta boa ocorrer ocasionalmente na hiperplasia). Va-
especificidade para o diagnóstico, utilizamos lores menores e bilateralmente semelhantes
como teste de triagem a relação aldosterona/ estão fortemente associados à hiperplasia.
atividade de renina plasmática. O achado da
relação > 30 ng/dl/ml/h com aldosterona >
15 ng/dl nos sugere o diagnóstico, que deve Tratamento
ser ainda confirmado pela possibilidade de
interferências com algumas situações clínicas • Hiperplasia: tratamento medicamentoso
(betabloqueadores, alfa-metildopa, clonidina, antagonista da aldosterona (espironolacto-
IECA, espironolactona; AINEs; insuficiência na ou amiloride). O eplerenone é uma alter-
renal crônica). Assim, devem ser suspensos nativa com menos efeitos adversos e que
os anti-hipertensivos (se necessário, manter está em estudo para utilização nestes ca-
paciente com alfabloqueador e antagonistas sos, embora já esteja aprovado para ICC.
do cálcio, pois não interferem com o exame) Apenas 20-30% se beneficiam da cirurgia,
por pelo menos duas semanas. A espirono- nas situações em que houver aumento uni-
lactona deve ser suspensa ainda mais preco- lateral da aldosterona, identificado por ca-
cemente - seis semanas. Em seguida, pros- teterização venosa seletiva.
seguimos com administração endovenosa
de SF 0,9% (2 L em 4 horas). Tais pacientes • Adenoma: tratamento cirúrgico (adrena-
não suprimem a produção de aldosterona, lectomia) por ressecção laparoscópica
mesmo com sobrecarga salina. Naqueles (preferencial) ou por via posterior. Na sus-
com concentrações de aldosterona > 5 ng/dl peita de carcinoma, realiza-se abordagem
(não suprimida) temos o diagnóstico de hipe- transabdominal anterior.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 83

Um detalhe: na evolução, a hipocalemia ge- Conclusão do Cenário 04


ralmente melhora, mas a hipertensão arterial Hiperaldosteronismo
pode persistir em 65% dos casos, especial- primário
mente nos homens com mais de 50 anos e Após levantar a hipótese de hiperaldostero-
naqueles com múltiplos nódulos suprarrenais. nismo primário, o próximo passo é confirmá-
-lo através da dosagem de aldosterona e
da relação aldosterona/atividade de renina
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 plasmática. Em seguida, devemos diferenciar
UNIVERSIDADE FEDERAL entre as principais causas que são o adeno-
DO PARANÁ – UFPR ma e a hiperplasia. Esta diferença altera a
Uma mulher de 40 anos de idade é avaliada por conduta terapêutica. É provável que os níveis
hipocalemia, expansão do volume do espaço ex- pressóricos não sejam corrigidos após o tra-
tracelular, hipertensão arterial sistêmica e alca- tamento da doença de base. Portanto, como
lose metabólica. O diagnóstico mais provável é: em qualquer quadro hipertensivo, devemos
a) Insuficiência primária de suprarrenal. ficar atentos para o controle pressórico estrito
b) Abuso de diuréticos. e a prevenção da lesão de órgão-alvo.
c) Hiperaldosteronismo primário.
d) Anorexia nervosa com bulimia.
e) Síndrome de Bartter. Só para completar, e o hipoaldosteronismo?

Embora a síndrome adrenal mineralocorti-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 coide mais característica seja o hiperaldos-
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – teronismo, o hipoaldosteronismo também
HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG pode ser encontrado na prática médica. Ele
Paciente de 30 anos, do sexo feminino, apre- é classificado em dois grupos de acordo com
senta-se com pressão arterial de 200x110 os níveis de renina: Normal/baixa e Elevada.
mmHg, fraqueza muscular e cefaleia. Exames A redução de renina (hipoaldosteronismo
laboratoriais revelam sódio de 142 mEq/l e hiporreninêmico) é a principal causa e não
potássio de 2,3 mEq/l. O método de imagem tem relação com a suprarrenal, ocorrendo em
mais útil para elucidação diagnóstica nesse idosos diabéticos (lesão das células justaglo-
caso é: merulares) ou nas nefropatias tubulointersti-
a) Tomografia computadorizada de crânio. ciais (lesão da mácula densa).
b) Angiorressonância de vasos abdominais.
c) Tomografia computadorizada de abdômen. Obs.: O protótipo desta condição é a acidose
d) Ressonância nuclear magnética de crânio. tubular renal distal (tipo IV), associada à hiper-
calemia e acidose metabólica hiperclorêmica.
Simples. Toda HAS grave em paciente jovem
associada à hipocalemia nos obriga a pensar
em hipertensão secundária por hiperaldostero-
nismo primário. Definido o quadro de hiperaldo RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
primário, o próximo passo é diferenciar entre ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
adenoma e hiperplasia através de um exame RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS
de imagem. Neste caso, a tomografia compu- Homem com 64 anos, diabético tipo II, hiper-
tadorizada é o melhor exame. Resposta: C. tenso, com insuficiência renal fase 4, apre-
senta glicemia de jejum 156 mg/dl, potássio
6,9 mg/dl, bicarbonato 19 mEq/dl, creatinina
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005 1,8 mg/dl, colesterol 220 mg/dl, HDL coles-
UNIVERSIDADE DO ESTADO terol 32 mg/dl e triglicerídios 420 mg/dl. Está
DO RIO DE JANEIRO – UERJ tomando furosemida 40 mg ao dia, nifedipina
O seguinte achado deve estar ausente para 10 mg três vezes ao dia e insulina NPH 20UI.
que se estabeleça o diagnóstico de hiperal- A causa do distúrbio eletrolítico é:
dosteronismo primário: a) Hiperaldosteronismo primário.
a) Hipertensão arterial. b) Hipoaldosteronismo hiporreninêmico.
b) Hipopotassemia. c) Insuficiência renal crônica.
c) Hipernatremia. d) Hipertrigliceridemia.
d) Edema. e) Uso de nifedipina.

Conceito muito importante nessa questão! Por conta da acidose metabólica e da hi-
Apesar da retenção hidrossalina, os pacientes percalemia, muitos marcaram a letra C. Mas
portadores de hiperaldosteronismo primário não como já ressaltamos na outra apostila, nos
apresentam edema. Isto ocorre pelo fenômeno chama a atenção que o paciente está numa
do escape da aldosterona. Por esse fenômeno, fase menos tardia da doença renal (fase 4,
após a retenção de sódio e água por ação da TFG 15-29 ml/min) e sabemos que pacientes
aldosterona, o aumento imediato da pressão com IRC só começam a fazer retenção de
arterial estimula a liberação do peptídeo natriu- potássio nos estágios mais avançados (TFG
rético atrial. Graças a esse peptídeo, o rim do < 5-10 ml/min). No que devemos pensar en-
paciente aumenta a eliminação de sódio e água, tão? No hipoaldosteronismo hiporreninêmico,
impedindo a formação do edema. uma condição encontrada principalmente em
Resposta: D. diabéticos com nefropatia na fase inicial, que
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 84

cursa com degeneração do aparelho justaglo- Lembrete: Hipercalemia desproporcional à


merular e acidose tubular renal tipo IV (acidose redução da função renal = pensar em hipoal-
metabólica, hipercalemia). Resposta B. dosteronismo primário.

Síndrome de Virilização

E quais são as principais doenças da su-


Cenário 05
prarrenal que podem levar ao hiperandro-
Enfermaria de Ginecologia: Mulher de 19 genismo?
anos, profissional circense há dez anos (atu-
ando como a “mulher barbada”), queixando- Hiperplasia adrenal congênita e câncer adrenal.
-se de acne, alteração da voz e infertilidade.
Enfermaria de Pediatria: Recém-nascida, Já falamos de câncer de adrenal dentro da
cinco dias de vida, apresentando vômitos e síndrome de Cushing. Vamos falar agora
desidratação. À ectoscopia, nota-se hipertro- sobre a Hiperplasia Adrenal Congênita.
fia clitoriana e fusão de grandes lábios. Esse tema costuma cair bastante nas pro-
O que essas pacientes têm em comum? vas de Pediatria, por conta da faixa etária
acometida.

Estas pacientes apresentam uma síndrome


de virilização, ou seja, sinais de elevação Hiperplasia Adrenal Congênita
de androgênios. A causa mais comum des-
te achado é a síndrome dos ovários poli-
císticos, ou síndrome de Stein-Leventhal  Conceito: distúrbio autossômico reces-
(70-85% dos casos). Outras condições in- sivo da síntese dos esteroides adrenais,
cluem o hirsutismo idiopático, a síndrome caracterizado por falta de alguma enzima
de resistência insulínica hiperandrogênica fundamental para a síntese do cortisol.
e os tumores ovarianos e adrenais. Nosso A redução do nível de cortisol leva a um
objetivo aqui é apenas lembrar que, por aumento na síntese e liberação de ACTH
serem uma fonte de androgênios, as su- que, por sua vez, estimula a adrenal,
prarrenais também podem estar envolvidas levando à hiperplasia da glândula e um
num quadro de virilização. Nesse caso, as acúmulo de metabólitos intermediários
pacientes geralmente apresentam níveis ele- não alterados pela falta da enzima (an-
vados dos androgênios adrenais (S-DHEA drogênios e mineralocorticoides).
ou androstenediona). O ovário seria outra
fonte de androgênios, sendo a elevação da  Etiologia: A deficiência de 21-hidroxilase
testosterona mais característica. é responsável por 90% dos casos. Reveja
adiante o gráfico da síntese dos hormônios
esteroides.
Quais são os androgênios adrenais?
Como podemos perceber, a 21-hidroxilase
Androstenediona, DHEA (Di-Hidroepiandros- está presente tanto na via glicocorticoide (con-
terona) e S-DHEA (Sulfato de Di-Hidroepian- vertendo a 17-alfa hidroxiprogesterona em
drosterona). 11-desoxicortisol) quanto na via mineralocor-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 85

ticoide (convertendo a progesterona a 11-de- vaginoplastia são utilizadas para as meninas


soxicorticosterona). Se a via não consegue com pseudo-hermafroditismo (ou como se
prosseguir por esses dois caminhos, teremos prefere atualmente – desordem da diferencia-
duas consequências: ção “DDS” sexual do tipo XX para as meninas
e XY para os meninos). Vale a pena lembrar
(1) Deficiência de mineralocorticoides e corti- que a HAC é a causa mais comum de DDS
coides = perda de sal e volume. nas meninas!!!

(2) Aumento dos androgênios = síndrome de Obs.: Veremos com mais detalhes este tema
virilização no sexo feminino e androgeni- no módulo de Pediatria 6 (Síndromes Gas-
zação prematura no masculino. trointestinais).

Outra deficiência menos comum (5-8%) é da E quanto aos antiandrogênicos, não poderiam
11-beta-hidroxilase. Nesta deficiência não ser feitos também? Possivelmente. E isso já
encontramos perda de sal e, pelo contrário, foi testado como alternativa ao tratamento,
ocorre hipertensão arterial graças ao acúmu- mas ainda não tem evidências muito fortes.
lo de desoxicortisol (DOC) que possui efeito O que temos de mais recente foi um ensaio
mineralocorticoide semelhante ao da aldos- clínico que comparou em 28 crianças o trata-
terona. mento tradicional com corticoides em doses
mais elevadas com um alternativo, utilizan-
 Manifestação Clínica: depende da enzima do corticoide em baixa dose, associado à
que se encontra deficiente. Vamos falar flutamida (antiandrogênio). O objetivo seria
unicamente da deficiência de 21 hidroxila- justamente reduzir a dose de corticoide a ser
se que é a mais importante. Existem três feita e, com isso, seus efeitos adversos. Os
formas de apresentação: resultados foram bons no acompanhamento
de dois anos desses pacientes, mas ainda
precisam ser confirmados para serem definiti-
A – Forma Apenas Virilizante vamente inseridos na conduta de rotina.

 Menino: normal ao nascimento, porém sinais


de puberdade precoce aparecem nos primei- C – Forma Não Clássica
ros seis meses. Estes sinais de androgeni- (de Aparecimento Tardio)
zação incluem: aumento do pênis, escroto e
próstata; aparecimento de pelos pubianos; Não ocorre virilização nas meninas ao nas-
surgimento de acne e alteração no timbre da cimento como na forma clássica, mas na in-
voz; músculos bem desenvolvidos e idade fância ou adolescência podendo simular uma
óssea adiantada. Se não diagnosticada, o síndrome do ovário policístico.
fechamento precoce das epífises pode de-
terminar baixa estatura no adulto.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
 Menina: já ao nascimento observamos: hi- UNIVERSIDADE DO ESTADO
pertrofia do clitóris, graus variados de fusão DO PARÁ - BELÉM – PA
labial, desenvolvimento de seio urogenital Lactante de 40 dias de vida, sexo masculino,
(vagina e a uretra numa abertura comum) e apresentando quadro de vômitos incoercí-
pseudo-hermafroditismo. veis, perda ponderal e desidratação impor-
tante, além de hipotensão e livedo reticular
na pele, refratário ao uso de fluidos e cate-
B – Forma Clássica colaminas. Exames laboratoriais evidencia-
Perdedora de Sal ram hiponatremia e hiperpotassemia, além
de ureia elevada, com níveis de creatinina
Corresponde a 75% dos casos que, além plasmática normal para idade. O provável
da forma virilizante, também apresentam diagnóstico é:
deficiência mineralocorticoide. A partir da se- a) Estenose hipertrófica do piloro.
gunda semana, o neonato se apresenta com b) Hiperplasia adrenal congênita.
desidratação, vômitos, perda ponderal, ano- c) Insuficiência renal aguda.
rexia, distúrbios no ritmo cardíaco, cianose d) Sepse.
e dispneia. Sem diagnóstico e tratamento, a e) Geca.
criança evolui para o óbito. Esta condição pode
ser confundida com estenose pilórica. Dentre Estamos diante de um lactente de 40 dias
os exames laboratoriais, encontramos níveis de vida com quadro de vômitos incoercíveis,
séricos elevados de 17-OH progesterona, ní- evoluindo com perda ponderal e desidratação
veis baixos de cortisol e atividade de renina importante. Até então, todas as alternativas
plasmática aumentada (decorrente dos baixos podiam ser possíveis diagnósticos para este
níveis de aldosterona), hiponatremia, hiper- caso clínico. No entanto, a questão nos infor-
calemia, acidose metabólica (diferenciando-a ma dados muito importantes: a presença de
da estenose hipertrófica que faz alcalose), hipotensão refratária ao uso de catecolami-
elevação da ureia. O tratamento consiste na nas e exames laboratoriais evidenciando hi-
reposição de glicocorticoides (hidrocortisona) ponatremia, hiperpotassemia, uremia, porém
e mineralocorticoides (fludrocortisona) por com níveis de creatinina normais. O que pode
toda a vida. Cirurgia de ressecção clitorial e estar acontecendo com esta criança?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 86

A estenose hipertrófica do piloro cursa com Em relação ao caso clínico, assinale a alter-
hipopotassemia, visto que o menor apresen- nativa INCORRETA:
ta desidratação por conta dos vômitos não a) A determinação do sexo genético ou cro-
biliosos. A insuficiência renal aguda obriga- mossômico deve ser realizada rapidamente.
toriamente cursa com elevação da creatinina, b) Está indicada a dosagem plasmática de
o que não ocorreu nesse caso. Quadros de 17 alfa-OH-progesterona e androgênios.
sepse e geca iriam apresentar febre, além do c) O diagnóstico mais provável é de herma-
que ambos iriam ter resposta ao uso de flui- froditismo verdadeiro.
dos e catecolaminas, pois do contrário esta- d) O paciente provavelmente apresenta de-
ríamos diante de um paciente em choque. ficiência de mineralocorticoides.
Desta forma, ficou claro que trata-se de um
lactente com hiperplasia adrenal congênita, Frente a um recém-nato com genitália am-
doença geralmente causada pela deficiência bígua e que no final da segunda semana de
da enzima 21-hidroxilase, que na sua forma vida se apresenta com quadro de hipovolemia
mais grave (perdedora de sal) cursa com grave associada à hiponatremia e à hiperca-
baixos níveis de aldosterona e cortisol, o que lemia persistentes, devemos ter como princi-
explica a hipotensão resistente as catecola- pal hipótese diagnóstica a hiperplasia adrenal
minas. O paciente vai evoluir com perda de congênita (HSC) em sua forma clássica per-
peso, anorexia, vômitos, desidratação, hipo- dedora de sal. A HSC consiste em um distúr-
tensão, hipoglicemia (pela deficiência de bio autossômico recessivo relacionado à
glicocorticoide), hiponatremia e hipercalemia esteroidogênese adrenal, sendo a deficiência
(alteração eletrolítica característica da defi- da enzima 21-hidroxilase a responsável por
ciência de mineralocorticoide). Resposta: 90% dos casos. A 21-hidroxilase está presen-
alternativa B. te tanto na via glicocorticoide (convertendo a
17-a-OH-progesterona em 11-desoxicortisol)
quanto na via mineralocorticoide (converten-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 do a progesterona em 11-desoxicorticostero-
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PONTIFÍCIA na). A deficiência desta enzima pode se
UNIVERSIDADE CATÓLICA – RS apresentar de três formas distintas, baseado
Recém-nascido masculino, com duas sema- no grau de deficit de atividade enzimática:
nas de vida, mamando exclusivamente ao forma clássica virilizante simples, forma clás-
seio materno, apresenta perda de peso, re- sica perdedora de sal (mais comum) e a for-
cusa alimentar, vômitos, desidratação com ma não clássica. A chamada crise adrenal,
Sódio= 120 mEq/L; Potássio = 6,5 mEq/L e que se manifesta geralmente na segunda
glicemia de 40 mg/dl. Qual o diagnóstico mais semana de vida com choque hipovolêmico e
provável desta criança? alterações eletrolíticas, ocorre na forma clás-
a) Filho de mãe diabética. sica perdedora de sal, a qual também está
b) Ingestão insuficiente de leite. associada à virilização de meninas (genitália
c) Hiperplasia adrenal congênita. ambígua ao nascer) e puberdade precoce de
d) Estenose hipertrófica de piloro. meninos. O diagnóstico desta entidade é fei-
e) Alergia à proteína do leite de vaca. to através da mensuração do principal mar-
cador sérico da doença, a 17-a-OH-proges-
Recém-nascido com vômitos, desidratado terona, a qual encontra-se elevada. Logo, a
com hiponatremia, hipercalemia e hipoglice- única alternativa incorreta é a letra C.
mia. Diante deste caso, devemos pensar em
hiperplasia adrenal congênita forma perde-
dora de sal. Esta é uma condição que sempre RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
deve ser lembrada no diagnóstico diferencial FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
de um recém-nascido com quadro de vômitos. HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG
Essa doença é herdada por traço autossômi- Mais de 90% das hiperplasias adrenais con-
co recessivo e o defeito pode afetar várias gênitas são causadas pela deficiência de:
enzimas adrenais implicadas na biossíntese a) 3 - hidroxilase.
do cortisol e, dependendo da enzima envol- b) 11- hidroxilase.
vida, há também deficiência de mineralocor- c) 17- hidroxilase.
ticoides. Na situação clínica descrita no d) 21- hidroxilase.
enunciado, a hiperplasia adrenal congênita
está apresentada com manifestações da for- Resposta direta: D.
ma perdedora de sal decorrente da falta de
cortisol (quadro inicial de vômitos e desidra-
tação) e aldosterona (hiponatremia e hiper- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
calemia). Letra C correta. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO
A hiperplasia virilizante da suprarrenal, forma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 não clássica, tem como principal distúrbio a
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG deficiência da enzima ________ e o tratamen-
Recém-nascido, com 14 dias de vida, com to deve ser iniciado com ____________. As
quadro de genitália ambígua, sem gônadas lacunas serão preenchidas de forma correta,
palpáveis, é admitido no hospital com quadro respectivamente, com a seguinte opção:
de desidratação grave acompanhada de hi- a) 3 beta OH-desidrogenase / deidroepian-
ponatremia e hiperpotassemia persistentes. drosterona.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 87

b) 21 hidroxilase / estrogenioterapia. terona. Onde é que está o problema??? Na


c) 11 beta hidroxilase / 17 hidroxiprogesterona. suprarrenal, numa forma de apresentação
d) 21 hidroxilase / corticoides. tardia da deficiência de 21-hidroxilase (for-
e) 3 beta OH-desidrogenase / estrogeniote- ma não clássica). Muitas dessas pacientes
rapia. acabam recebendo equivocadamente o diag-
nóstico da Síndrome do Ovário policístico
Entre a (B) e a (D), a resposta se define pelo (SOP). Contudo, apesar de ser uma síndro-
tratamento. Resposta D. me virilizante, a SOP não faz elevação da
17-progesterona, como ocorre na deficiência
de 21-hidroxilase. Nela encontraríamos a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 elevação de testosterona livre para explicar
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE o hiperandrogenismo. Resposta: D.
DE SANTA CATARINA – SES – SC
Um recém-nascido com sete dias de vida, sexo
masculino, a termo, com peso de nascimento Conclusão do Cenário 05
de 3200 g, apresenta vômitos desde o terceiro
Síndrome de Virilização
dia de vida. Ao exame físico apresenta: peso
de 2.700 g, desidratado, hipoativo, hipocorado Aventando a adrenal como causa de síndrome
+/4+, anictérico, acianótico; MV presente uni- de virilização para essas pacientes, a primeira
versalmente, sem ruídos adventícios; FR de poderia ser causada pela forma não clássica
44 irp; ritmo cardíaco regular em 2 tempos; FC: da deficiência de 21-hidroxilase e a segunda,
160 bpm; abdome sem hepato ou esplenome- pela forma clássica perdedora de sal.
galia. Os exames laboratoriais demonstram:
Na= 130 mEq/L; K= 5,8 mEq/L; ureia= 15 mg/dl;
creatinina= 0,6 mg/dl; hemograma – Hb de
12 g/dl, Ht de 40%; leucometria de 12.000/mm3 O aluno pergunta...
com 5% de bastões, 50% de linfócitos e 3%
Depois de olhar essa questão da
de eosinófilos. Assinale a alternativa correta,
UFF 2007, fiquei com uma dúvida:
quanto ao diagnóstico mais provável.
a) Sepse neonatal. Na hiperplasia adrenal por deficiência de 21
b) Obstrução intestinal. hidroxilase, etiologia à que a forma tardia per-
c) Refluxo gastroesofágico. tence, o cortisol não deveria estar baixo???
d) Hiperplasia adrenal congênita. Afinal, não é a baixa de cortisol que serve de
e) Estenose hipertrófica de piloro. estímulo para a produção de ACTH na su-
prarrenal e que, pela falta da 21 hidroxilase,
Como acabamos de lembrar, o quadro de deixa de produzir corticoide e passa a produzir
hiperplasia suprarrenal congênita pode fazer androgênio???
diagnóstico diferencial com outras condições Dúvida muito interessante que nos motivou
como a estenose pilórica. Resposta: D. encaminhá-la para um especialista em distúr-
bios endócrinos na infância. Percebam como
uma questão dita “simples”, nem sempre é
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 tão “simples” assim... Há duas hipóteses para
UNIVERSIDADE FEDERAL explicar a questão:
FLUMINENSE – UFF •Uma seria a própria falha do examinador que
Paciente de 20 anos de idade, obesa, apre- se “esqueceu” de colocar o cortisol em níveis
senta oligomenorreia e hirsutismo desde a mais reduzidos, conforme expõem as princi-
puberdade. Sua avaliação endocrinológica pais referências.
laboratorial mostra prolactina normal, TSH •A outra seria realmente com embasamento
normal, cortisol normal e 17-hidroxiprogeste- teórico, mas de grande dificuldade para uma
rona elevada. questão de Residência. Por se tratar de um
O diagnóstico para o quadro é: quadro tardio (não clássico), em sendo a de-
a) Síndrome da sela vazia. ficiência “parcial”, a suprarrenal ainda seria
b) Anovulação crônica hipotalâmica. capaz de produzir um pouco de cortisol e
c) Síndrome dos ovários policísticos. aldosterona, a ponto de permanecerem nos
d) Hiperplasia adrenal na forma tardia. limites inferiores considerados pelo laborató-
e) Cisto de corpo-lúteo. rio como normais. Ainda assim, “sobrariam”
precursores hormonais suficientes (que não
Síndrome de virilização (hirsutismo) numa foram completamente convertidos a cortisol
paciente de 20 anos cuja avaliação labora- e aldosterona) que seriam desviados para a
torial mostra elevação de 17-hidroxiproges- síntese de androgênios.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 88

Parte II – Síndromes da Medula Suprarrenal

Agora mudaremos o foco das nossas síndro- Por ora já é o suficiente. Vamos ao cenário
mes suprarrenais. Lembra quando falamos clínico...
que não existe apenas uma única glândula
suprarrenal, mas DUAS glândulas dentro Cenário 06
de uma só. Abordaremos então a segunda Paciente de 36 anos, bancário, vem sentindo
glândula: a medula suprarrenal, que compõe dificuldade no trabalho por conta de crises
10% do volume da adrenal. Para isso, vamos de cefaleia associadas a palpitação, palidez,
recordar alguns dados... sudorese intensa e picos hipertensivos. Sua
mãe já apresentou episódios semelhantes
A medula suprarrenal apresenta, em seu in- quando descobriu ser portadora de um tumor
terior, células que se caracterizam por apre- na tireoide. Seus amigos dizem que ele está
sentar grande afinidade por sais de cromo, apenas estressado e que precisa de férias...
daí serem chamadas células cromafins. Elas
se diferenciam de todas as outras células da
suprarrenal por serem as únicas a exibir um Está claro que este paciente apresenta uma
aparato enzimático capaz de sintetizar as fa- síndrome adrenérgica. Diversas condições
mosas catecolaminas do nosso organismo, entrariam neste diagnóstico diferencial, des-
sendo a epinefrina (adrenalina) e a norepine- de hiperfunção tireoidiana até transtorno do
frina (noradrenalina) as principais. O feocro- pânico. O relato de paroxismos de cefaleia,
mocitoma, em última análise, nada mais é do palpitação e hipertensão, no entanto, no faz
que um tumor das células cromafins. pensar numa condição especial: o feocromo-
citoma, uma neoplasia das células cromafins...
No entanto, elas não aparecem apenas na
medula!!! Ainda na fase embrionária, algu-
mas células precursoras da crista neural tam- Feocromocitoma
bém se dirigem para formar coleções (para-
gânglios), situadas ao lado da aorta. O maior
desses paragânglios se encontra no nível da Conceito
artéria mesentérica inferior e se chama órgão
de Zuckerkandl. E agora, os tumores dessas O feocromicotoma é uma neoplasia rara
células cromafins fora das suprarrenais rece- das células cromafins (incidência de 2-8 ca-
bem o nome de paragangliomas. sos/1.000.000 de pessoas por ano), sem pre-
ferência por sexo e maior predomínio entre
Mas será que os produtos das células cromafins 20-50 anos. Embora pareçam mais frequen-
de ambos os locais (medula e paragânglios) são tes nas provas, apenas 0,1% dos casos de
os mesmos?? Não e isso talvez seja o mais hipertensão arterial são secundários a feo-
interessante de tudo! Apenas a medula tem cromocitomas. Cerca de 90% dos tumores
capacidade de secretar adrenalina e noradre- são benignos, unilaterais e localizados na
nalina. Os gânglios apenas podem produzir a suprarrenal. O órgão de Zuckerkandl, já des-
noradrenalina... E o porquê? Simples, normal- crito, é a localização mais comum dos feocro-
mente a primeira catecolamina produzida é a mocitomas extra-adrenais (paragangliomas).
noradrenalina e isso qualquer célula cromafim
pode fazer. A diferença é que a enzima que Quanto à origem, eles podem ser esporádicos
converte a norepinefrina em epinefrina (fenileta- ou familiares (10%). Estes últimos são geral-
nolamina N-metiltransferase) precisa do cortisol mente bilaterais e todos distúrbios autossômi-
como cofator para poder agir. Daí entendemos cos dominantes.
que só um ambiente rico em cortisol pode levar
à produção de adrenalina. E onde encontrare- Observe as condições hereditárias associa-
mos esse ambiente?? Apenas na suprarrenal, das. A maioria delas será vista com mais de-
o que justifica a presença de adrenalina no talhes nos módulos de Cefaleias e Oncologia:
feocromocitoma, mas não no paraganglioma.

Veja esta questão para começarmos: Principais distúrbios


hereditários relacionados
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 ao feocromocitoma
UNIVERSIDADE DO ESTADO
I- Neoplasias Endócrinas Múltiplas (NEM)
DO RIO DE JANEIRO – UERJ
Homem de 34 anos refere diagnóstico de  NEM 2 A (síndrome de Sipple): feocromo-
paraganglioma funcionante de mediastino citoma + carcinoma medular da tireoide +
hiperparatireoidismo primário
posterior. Na avaliação laboratorial, quando
comparado ao feocromocitoma de suprarrenal,  NEM 2 B: feocromocitoma + carcinoma
esta lesão apresenta nível sérico normal de: medular da tireoide + neuromas de mucosa
a) Cortisol. c) Noradrenalina. e fenótipo marfanoide
b) Adrenalina. d) Ácido vanilmandélico. II - Síndrome de Von-Hippel-Lindau
III - Neurofibromatose tipo 1 (doença de
É justamente o que acabamos de ver. Res- Von Recklinghausen)
posta: B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 89

IV - Síndrome de Sturge-Weber (angio- ma vesical), palidez, palpitação, tremor e


matose encéfalo-trigeminal) perda ponderal.
V - Esclerose tuberosa
Algumas observações importantes:
VI - Síndrome de Carney
VII - Síndrome do paraganglioma e do • A hiperglicemia é explicada pelo efeito
feocromocitoma familiares (mutação alfa-adrenérgico inibidor da liberação de
nos genes SDHB, SDHC e SDHD) insulina.

• A apresentação das crises é bastante dife-


Classicamente, sempre devemos nos lembrar rente entre diversos pacientes, no entanto,
da apresentação do feocromocitoma por uma um tipo de crise costuma se repetir no mes-
regra mnemônica, a famosa “regra dos 10”. mo paciente. Elas costumam apresentar
palpitação (sensação de o coração querer
REGRA DOS “10” DO sair do peito), palidez, tremor, cefaleia e
FEOCROMOCITOMA sudorese intensa.
 10% Dos tumores são malignos
 10% Dos tumores são bilaterais • As crises podem ser espontâneas ou de-
 10% Dos tumores são extra-adrenais (para- sencadeadas por mudança postural, ansie-
gangliomas) dade, medicações (metoclopramida, anes-
 10% Dos tumores são pediátricos tésicos), exercício, aumento da pressão
 10% Dos tumores são familiares (atualmente intra-abdominal (ex.: defecação).
este número parece ser maior)
• A hipertensão é sustentada em 50% dos
casos e paroxística em 30%. No restante,
a pressão é normal.
Manifestações Clínicas
• Apesar de o feocromocitoma ser carac-
Os achados do feocromocitoma podem ser teristicamente uma causa de hipertensão
divididos em paroxísticos ou crônicos: arterial (secundária), vale ressaltar que
estes pacientes são bastante hipovolêmi-
cos, devido à constricção de todo o sistema
 Paroxísticos (20 minutos em média) vascular. Por isso, fazem frequentemente
hipotensão postural e podem evoluir para o
• Tríade clássica = cefaleia + sudorese inten- choque, que só responde bem à reposição
sa + palpitação. volêmica vigorosa.

• Ansiedade, sensação de morte iminente, • A piora da hipertensão arterial com o uso de


dispneia, dor torácica e epigastralgia, hiper- antagonistas beta-adrenérgicos é uma impor-
tensão, náuseas e vômitos, palidez, tremor. tante pista para o diagnóstico e se deve ao
bloqueio do estímulo beta-2 de vasodilatação
muscular; de forma inversa, a utilização de
 Crônicos antagonistas alfa-adrenérgicos está relacio-
nada com queda dramática da PA.
• Ansiedade, sensação de morte iminente,
mãos frias, ICC (dilatada ou hipertrófica), Obs.: Além das catecolaminas, o tumor pode
constipação, sudorese intensa, dispneia, secretar produtos biologicamente ativos tais
fadiga, febre, dor torácica e epigastralgia, como: DOPA, dopamina, neuropeptídios,
retinopatia, cefaleia, hiperglicemia, hiper- encefalinas, VIP, eritropoietina, renina,
tensão, náuseas e vômitos, hipotensão ACTH, PTH e interleucina-6, modificando
ortostática, hematúria indolor (paraganglio- o quadro clínico de maneira significativa.

FIGURA 7: Localização típica dos feocromocitomas (medula adrenal), paraganglio-


mas e paragangliomas cervicais.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 90

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Após a suspeita clínica, o diagnóstico do


FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS feocromocitoma é feito em dois passos:
DA UNIVERSIDADE ESTADUAL
DE CAMPINAS – SP
Mulher, 32a, queixa-se de episódios de ce- Primeiro passo:
faleia, palpitações e sudorese. Exame físico: Diagnóstico Bioquímico
nódulo tireoidiano em lobo esquerdo. Traz
tomografia computadorizada de abdome que Como se trata de um tumor hipersecretor
mostrou massas adrenais bilaterais, medindo de catecolaminas (norepinefrina, epinefrina
10 cm de diâmetro à direita e 5 cm à esquer- e também dopamina), o primeiro passo é
da. O DIAGNÓSTICO TireoidianO A SER provar que elas estão em grande quantida-
DESCARTADO É: de, seja na circulação, seja na urina. Esta é
a) Doença de Plummer. a dosagem das catecolaminas fracionadas.
b) Carcinoma folicular de tireoide. Mas devemos lembrar que as catecolaminas
c) Doença de Graves. são ainda metabolizadas em metanefrinas
d) Carcinoma medular de tireoide. (metanefrina e normetanefrina). Uma enzi-
ma localizada na membrana mitocondrial
Temos uma mulher jovem com massas adre- (monoamino oxidase – MAO) transforma,
nais extensas (que por si só já falam a favor de por último, estes resíduos em ácido vanil-
neoplasia) e que, concomitantemente, apresen- mandélico (VMA) e todos estes metabólitos
ta episódios de cefaleia, palpitação e sudorese, também podem ser dosados.
o que, CLINICAMENTE, sugere fortemente o
diagnóstico de feocromocitoma.
Mas qual seria o melhor teste a ser reali-
Concomitante a isso, o enunciado da questão zado?
relata a presença de um nódulo tireoidiano. Ora,
o que isso tem a ver com o feocromocitoma? Vamos trazer o que acabamos de dizer para o
Simples... A associação clássica feocromocito- dia a dia. Na prática, temos disponíveis:
ma + Carcinoma Medular de Tireoide (CMT) na
NEM 2A (que ainda podem ser acompanhados • Urina de 24h: catecolaminas, metanefrinas
por hiperparatireoidismo). Cerca de 20% dos e ácido vanilmandélico (VMA)
CMT estão associados à NEM 2A! E outro pon-
to sugestivo nesta paciente: o feocromocitoma, • Plasma: catecolaminas e metanefrinas
nesse caso, costuma ser bilateral, ocorrendo
na segunda e terceira décadas de vida. Inicialmente, o importante é perceber que não
existe um teste perfeito! Na verdade, devido
às diferenças na sensibilidade e especifici-
Diagnóstico dade de cada um deles, existem protocolos
distintos para avaliação do feocromocitoma,
Embora pareça mais frequente nas provas, que variam de acordo com a referência.
o feocromocitoma é responsável por ape-
nas 0,1% dos casos de hipertensão e, por- De forma geral, podemos dizer que, o teste
tanto, a sua pesquisa deve ser baseada no inicial costuma ser a urina de 24h, com a
grau de suspeição. Uma série recente mos- dosagem de metanefrinas fracionadas e ca-
trou que apenas 1 dentre 300 pacientes in- tecolaminas (S=98% e E=98%). O ideal seria
vestigados confirmavam o diagnóstico de sempre a combinação de dois métodos e que
feocromocitoma. cada um fosse repetido duas vezes, pelo me-
nos. Isso porque grandes variações temporais
Vamos ver os dados mais sugestivos: na secreção e alguns tumores não secretam
o hormônio ativo, mas apenas os metabólitos.
Dados que nos fazem pensar Considera-se positivo quando ocorre a eleva-
em feocromocitoma: ção duas vezes acima do limite normal.
 Paroxismos de cefaleia, palpitação não
relacionada ao exercício, tremor, palidez e Recentemente, mostrou-se que a dosagem
sudorese profusa. de metanefrinas fracionadas plasmáticas
 Hipertensão refratária, de início precoce seria o método mais sensível (quase 100%)
ou associada ao diabetes. e, portanto uma opção nesse momento. Va-
 Síndrome familiar predisponente. lores normais de metanefrinas plasmáticas
excluem o diagnóstico de feocromocitoma.
 História familiar de feocromocitoma.
Contudo, como a especificidade é mais baixa
 História de tumor de estroma gástrico ou (85%), a recomendação seria a solicitação de
pulmonar (tríade de Carney: leiomiossar-
metanefrinas fracionadas no plasma quando
coma gástrico + condroma pulmonar + pa-
houver suspeição elevada (história de res-
raganglioma).
secção prévia de feocromocitoma e sintomas
 Massa adrenal descoberta acidentalmen- paroxísticos recorrentes, história familiar, sín-
te (incidentaloma). drome genética predisponente, incidentaloma
 Resposta pressórica durante anestesia, compatível com feocromocitoma). Consiste
cirurgia ou angiografia. em um bom exame nas crianças também,
 Cardiomiopatia dilatada idiopática. pela dificuldade na coleta da urina de 24h.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 91

diagnóstico do feocromocitoma... Mais clássico impossível...


Paroxismos de cefaleia e rubor e hipertensão
Testagem inicial: dosagem de catecolami-
lábil associada à diabetes nos fazem pensar
nas e metanefrinas na urina.
sempre em feocromocitoma.
Mais sensível: metanefrina plasmática fra-
Qual o próximo passo?
cionada (recomendada quando alto índice
Dosar as catecolaminas e metanefrinas uri-
de suspeição e em crianças).
nárias!

Existe alguma recomendação especial para Segundo passo:


a realização desses exames? localizar o feocromocitoma

Sim. A coleta de catecolaminas plasmáticas Esse passo é fundamental para o tratamento


deve ser sempre em repouso. Na urina de cirúrgico e pode ser feito com a tomografia
24h, para checar se o exame foi coletado ou ressonância magnética do abdome. As
adequadamente, a creatinina urinária deve ser alterações compatíveis com feocromocitoma
solicitada em paralelo. Além disso, algumas são: lesão hipercaptante de contraste na TC,
medicações podem interferir no valor das ca- hiperintensidade do sinal em T2 na RM, al-
tecolaminas e seus metabólitos e devem ser terações císticas ou hemorrágicas, lesão > 4
interrompidas duas semanas antes do exame. cm. Se os exames de imagem forem normais,
As principais são: mostrarem lesão > 10 cm ou identificarem um
paraganglioma, está indicada a cintilografia
• Antidepressivos tricíclicos com metaiodobenzilguanidina (123I-MIBG) que
apresenta sensibilidade de 80% e especifici-
• Paracetamol dade de 99%. As lesões > 10 cm têm maior
risco de serem malignas e a identificação de
• Betabloqueadores (boas opções para con- um paraganglioma indica a possibilidade de
trole hipertensivo seriam antagonistas de tumor em outros paragânglios.
cálcio e bloqueadores alfa 1)

• Levodopa

• Descongestionantes contendo agonistas


adrenérgicos

• Agentes psicoativos (anfetaminas, cocaína,


LSD, buspirona, benzodiazepínicos, inibido-
res da MAO)

• Etanol

• Diuréticos

• Metildopa

• Reserpina

• Suspensão da clonidina FIGURA 8: Feocromocitoma à esquerda


evidenciado por cintilografia com me-
taiodobenzilguanidina (primeira seta). Na
seta abaixo, pequeno paraganglioma. A
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 captação em parótidas, tireoide, fígado
HOSPITAL CENTRAL DA e bexiga é fisiológica.
POLÍCIA MILITAR – HCPM
Mulher de 32 anos procura um cardiologis-
ta por estar apresentando hipertensão lábil RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
acompanhada de cefaleia, palpitações e rubo- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
rização intermitentes. Alega não conseguir fa- ANTÔNIO PEDRO – RJ
zer uso da medicação anti-hipertensiva devido A cintilografia com metaiodobenzilguanidina
à baixa tolerância, com hipotensão durante o pode ser útil na localização pré-operatória de:
dia. Alega que iniciou uso recente de metfor- a) Carcinoma medular da tireoide.
mina após constatação de pré-diabetes. b) Feocromocitoma.
Diante deste quadro clínico é mais apropriado: c) Insulinoma.
a) Iniciar tratamento com diuréticos tiazídicos d) Gastrinoma.
em baixas doses. e) Vipoma.
b) Teste com administração do hormônio de
liberação da cortico­tropina (CRH). Dentre as opções onde melhor indicaríamos
c) Dosagem sérica dos hormônios tireoidianos. a cintilografia com metaiodo­benzilguanidina?
d) Dosar as catecolaminas urinárias. Rapidamente, relembrando que o feocromo-
e) Prescrever um betabloqueador para con- citoma é uma neoplasia das células cromafins,
trole dos sintomas. de ocorrência rara. Identificar sua localização
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 92

é fundamental para o planejamento cirúrgico. liberada para restaurar o volume intravas-


Na grande maioria dos casos, o tumor é intra- cular depletado.
-abdominal e poderá ser identificado pela to-
mografia computadorizada ou ressonância  O betabloqueador deve ser iniciado somen-
magnética. A cintilografia com 131-1 metaio- te após o bloqueio alfa ser obtido.
dobenzilguanidina (MIBG) é recomendada
quando todos os outros exames falham em  Outros agentes que podem ser utilizados
identificar o sítio tumoral. Trata-se de uma incluem o prazosin (bloqueador alfa-1), blo-
molécula análoga das catecolaminas, sendo queador de canal de cálcio e a metirosina
captada pelo tumor, porém sem efeito farma- (inibidor tirosina hidroxilase).
cológico. Tudo mais claro agora.
Gabarito opção “B”.  O ideal é que a PA esteja em níveis inferiores
a 160 x 90 mmHg para a cirurgia.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Obs.: A utilização de betabloqueadores sem


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO a administração prévia de um alfabloqueador
PEDRO ERNESTO – UERJ pode induzir grande elevação da pressão
Diferentes esquemas anti-hipertensivos não arterial, ao deixar a vasoconstricção pelos
conseguiam paliar a nucalgia que enervava receptores alfa ocorrer sem antagonismo.
um senhor de 48 anos. Contribuindo para
agravar a situação, ele vivia sob constante
estresse e usava descongestionantes nasais.
Por fim, concluiu-se haver uma hipertensão Controle Operatório:
arterial passível de tratamento cirúrgico e, no
rol de exames efetuados, o que mais prova- As elevações intraoperatórias da PA são tra-
velmente contribuiu de modo direto para con- tadas geralmente com fentolamina, nitroprus-
firmar paraganglioma foi: siato de sódio intravenoso ou nicardipina.
a) Cintigrafia corporal com metaiodobenzilgua-
nidina.
b) Radioimunoensaio para androstenediona Controle Pós-Operatório:
sérica.
c) Dosagem de aldosterona em urina de 24h.  Os principais problemas no pós-operatório
d) Teste de supressão da dexametasona. são:
• Hipotensão: resulta de hipovolemia e res-
O paraganglioma é o feocromocitoma de ponde à infusão de solução salina.
localização extra-adrenal. Os sítios extra-a- • Hipertensão: pode resultar dos níveis ainda
drenais mais frequentes do feocromocitoma presentes de catecolaminas circulantes, da
são o órgão de Zuckerkandl, um agrupamen- presença de tumor residual ou dano renal
to de células cromafins localizado ao lado prévio. A determinação das catecolaminas
da aorta próximo à bifurcação das ilíacas, à urinárias duas semanas após a retirada do
região cervical ou ao mediastino. O melhor tumor geralmente define a presença de tu-
exame para a localização e avaliação fun- mor residual ou metástase. Os locais mais
cional do feocromocitoma é a cintilografia comuns de metástases incluem os linfono-
com MIBG. dos, fígado e osso.

 Seguimento: Os pacientes devem fazer do-


Tratamento sagem anual de catecolaminas e metanefri-
nas urinárias ou de metanefrinas fracionadas
Consiste na ressecção cirúrgica (adrena- no plasma.
lectomia) completa do feocro­m ocitoma.
Atualmente, a abordagem preferencial para
tumores < 5-8 cm é laparoscópica. A explo- Feocromocitoma maligno:
ração abdominal anterior mediana seria a
escolha para os paragangliomas. A cirurgia Corresponde a cerca de 10% dos tumores,
está associada a taxas de sobrevida sendo definido pela presença de metástases
excelentes (98-100%) e é capaz de à distância (sítios mais comuns: pulmão, osso,
curar a hipertensão. fígado). A sobrevida em cinco anos é de
30-60%. Quimioterapia, terapia com alvo mo-
lecular e radioterapia possuem valor limitado
Controle Pré-Operatório da Pressão no tratamento desses pacientes. A terapia com
Arterial: 123
I-MIBG é outra opção.

 Bloqueio alfa adrenérgico 10-14 dias an-


tes do procedimento cirúrgico. A droga Mais questões para treinarmos!
de escolha é a fenoxibenzamina oral (um
bloqueador alfa não seletivo). Iniciam-se RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
doses de 5-10 mg a cada 8-12 horas, com INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA
incrementos de 10 mg, até uma dose de AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
60-90 mg/dia (divididos em três tomadas). Em um paciente com neoplasia múltipla en-
Neste período a ingesta de sódio deve ser dócrina que engloba o câncer medular da ti-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 93

reoide, tumor funcionante de suprarrenal e de à cirurgia para retirada do feocromocitoma


paratireoide, o tratamento cirúrgico deve ser evoluíram com complicações pré-operatórias,
iniciado por: sendo a hipertensão a mais prevalente delas.
a) Tireoidectomia. (D correta). Alternativa A correta.
b) Suprarrenalectomia.
c) Paratireoidectomia.
d) Hipofisectomia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
e) Tireoidectomia com paratireoidectomia. UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO – UFRJ
Em primeiro lugar, temos de entender que No pré-operatório de paciente com feocromo-
o enunciado está se referindo à síndrome de citoma está indicado:
neoplasias endócrinas múltiplas conhecida a) Suspender ß-bloqueador 24h antes da ci-
como NEM tipo II (síndrome de Sipple), no rurgia.
caso a NEM 2a. Vamos lembrar que ela é b) Iniciar bloqueio alfa-adrenérgico.
marcada pela presença de hiperparatireoidis- c) Controlar PA com nitroprussiato de sódio.
mo primário, feocromocitoma e carcinoma d) Uso de diurético para reduzir hipovolemia.
medular de tireoide. Quanto ao tratamento
cirúrgico, devemos ter como conceito que deve O feocromocitoma, um tumor produtor de
ser iniciado pela remoção do tumor das célu- catecolaminas habitualmente localizado na
las cromafins da medula da suprarrenal – o suprarrenal, é uma das principais causas en-
feocromocitoma – visto que seus disparos dócrinas de hipertensão arterial secundária.
adrenérgicos podem provocar picos hiperten- O tratamento destes pacientes é cirúrgico.
sivos capazes de prejudicar as outras cirur- Na ausência de um preparo pré-operatório
gias, caso fossem realizadas antes da suprar- adequado, o ato anestésico e a manipulação
renalectomia (que é sinônimo de adrenalecto- da neoplasia podem levar a níveis de Pres-
mia). Resposta: letra B. são Arterial (PA) ameaçadores à vida. Desta
forma, um conjunto de intervenções farmaco-
lógicas torna-se essencial para que o pacien-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 te sobreviva à cirurgia! Na abordagem inicial,
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG os bloqueadores alfa-adrenérgicos são con-
GEP, 28 anos, sexo feminino, cabeleireira, siderados a principal classe de drogas a ser
começou com palpitações, cefaleia e sudo- empregada. A fenoxibenzamina deve ser ini-
rese. Sua pressão arterial apresentou picos ciada cerca de duas semanas no pré-opera-
esporádicos de elevação e, mais recentemen- tório, para o controle da PA e para expansão
te, se mantém permanentemente elevada. do volume sanguíneo, que usualmente está
Exame ultrassonográfico mostrou nódulo de contraído. O início de betabloqueadores só é
2,5 cm em glândula suprarrenal esquerda. permitido quando o bloqueio dos receptores
Em relação a este caso assinale a afirmativa alfa estiver completo, caso contrário, a ini-
ERRADA: bição dos receptores beta2-vasculares (que
a) A dosagem do Ácido Vanilmandélico (VMA) estimulam vasodilatação) sem um alfa blo-
urinário é o teste mais sensível para o diag- queio adequado, pode piorar a hipertensão. É
nóstico. importante frisarmos que o betabloqueio visa
b) O médico deve pedir teste de excreção de principalmente os receptores beta1, mas os
metanefrinas e catecolaminas livres na urina receptores beta2 acabam também bloquea-
de 24 horas. dos, o que não tem importância caso o blo-
c) O tratamento inicial deve ser feito com dro- queio alfa esteja completo. Em geral, o beta-
gas bloqueadoras alfa-adrenérgicas. bloqueador é iniciado aproximadamente dois
d) Se indicado o tratamento cirúrgico, no pe- a três dias antes da cirurgia. Sendo assim, a
roperatório é comum o aparecimento de hiper- resposta correta é a opção (B).
tensão súbita e arritmia cardíaca.

Sabendo que estamos diante de um pro- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


vável feocromocitoma, vamos analisar as UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB
alternativas da questão: a) O teste “consa- Considere que uma mulher de 46 anos de
grado” como mais sensível para o diagnósti- idade procurou avaliação médica por ter apre-
co é a dosagem de metanefrinas e de cate- sentando nódulo tireoidiano e surtos de palpi-
colaminas urinárias livres. Embora alguns tação, ansiedade, cefaleia e inquietação. Na
estudos recentes tenham apontado para as investigação, foi diagnosticada neoplasia en-
metanefrinas fracionadas plasmáticas como dócrina múltipla do tipo 2 (NEM-2). A respeito
mais sensível, certamente o VMA não é o dessa endocrinopatia julgue o item seguinte.
mais sensível. (A incorreta); b) Tal método é O feocromocitoma que ocorre em pacientes
realmente o teste de screening de escolha. com NEM-2 tem sua localização quase sem-
(B correta); c) O tratamento cirúrgico é o úni- pre na medula adrenal e produz tipicamente
co tratamento definitivo. Contudo, antes da epinefrina.
cirurgia devemos submeter o paciente a um a) Certo. b) Errado.
preparo pré-operatório que consiste inicial-
mente na administração de bloqueadores Como vimos, a maioria dos feocromocito-
alfa-adrenérgicos e posteriormente em beta- mas se localizam na medula da suprarrenal
bloqueadores. (C correta); d) Um estudo (apenas 10% são extra-adrenais) e os rela-
mostrou que 32% dos pacientes submetidos cionados à NEM-2 costumam ser bilaterais. E
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 94

o que tipicamente eles produzem na suprar- d) Iniciar betabloqueador precocemente.


renal, diferenciando-os dos paragangliomas?
Epinefrina! Assertiva Correta. Dentre as medidas citadas, a única correta
é não restringir a ingestão de sal. Lembre-se
de que, apesar de apresentarem hipertensão,
estes pacientes só o fazem à custa de uma in-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 tensa vasoconstricção. Conforme esses vasos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE se restabelecem, passa a prevalecer o estado
SANTA CATARINA – UFSC hipovolêmico (os vasos estão contraídos, mas
O feocromocitoma é um tumor de células vazios!). Sendo assim, restringir sal da dieta
cromafins que tipicamente causa sinais e poderia conduzir a um choque hipovolêmico.
sintomas de descarga adrenérgica, respon- Resposta: C.
dendo por aproximadamente 0,1 a 0,2% dos
casos de hipertensão arterial sistêmica. Sua Conclusão do Cenário 06
tríade clássica de apresentação consiste de
palpitações episódicas, diaforese e cefaleia.
Síndrome Adrenérgica -
Feocromocitoma
Em relação a este tumor, é correto afirmar
(“Regra dos Dez”): Esse paciente tem dois dados importantes
a) 10% são unilaterais. para suspeição do feocromocitoma: paro-
b) 10% são benignos. xismos de cefaleia, sudorese e palpitação e
c) 10% são adrenais (gangliomas). história familiar de predisposição (carcinoma
medular de tireoide – NEM 2A e 2B). Portanto,
d) 10% ocorrem na faixa pediátrica.
ele merece investigação para feocromocito-
e) 10% cursam com elevação da P.A.
ma. A estratégia inicial seria a dosagem de
catecolaminas e metanefrinas na urina. Re-
Essa questão utiliza a famosa “regra dos
sultados inconclusivos, apesar de forte índice
10” do feocromocitoma. O problema é que o de suspeição, nos levariam também a solici-
examinador, de uma forma EXTREMAMENTE tar a dosagem plasmática de metanefrinas.
maldosa, tentou confundir os alunos colocando Confirmada a síndrome catecolaminérgica, o
10% em todas as opções. Dica: para que você próximo passo seria localizar o tumor e progra-
não se confunda, o que você deve gravar é o mar a cirurgia. O preparo pré-operatório deve
padrão habitual do feocromocitoma. Exemplo: ser iniciado uma a duas semanas antes do
reconhecer que o feocromocitoma é geralmente procedimento com bloqueio alfa-adrenérgico
unilateral, benigno, esporádico, localizado na seguido de bloqueio beta-adrenérgico.
suprarrenal e de ocorrência em adultos. Ou seja,
é o inverso dessas condições que representa
a regra dos 10%. Se o tumor é geralmente uni-
lateral, só 10 % são bilaterais; se é geralmente Incidentaloma
benigno, só 10% são malignos e assim por
diante... Era possível descartar também a letra
E já que bem mais do que 10% dos pacientes Conceito
fazem hipertensão também. Resposta: D.
Incidentaloma é o nome dado ao encontro de
nódulos ou massas suprarrenais (≥ 1 cm) du-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 rante exames radiológicos de rotina, sem que
UNIVERSIDADE DO ESTADO a investigação de uma doença da glândula
DO RIO DE JANEIRO – UERJ fosse a indicação do exame (ex.: durante a
Luzia tem 29 anos e apresenta aspecto mar- avaliação de uma dor abdominal inespecífica).
fanoide, neuromas mucosos de distribuição
centrofacial, ganglioneuromatose gastrointes-
tinal, carcinoma medular de tireoide e feocro- Etiologia
mocitoma. O diagnóstico mais provável é:
a) Neurofibromatose. A principal causa é o adenoma da suprarre-
b) Neoplasia endócrina múltipla 1. nal (adenoma adrenocortical), na maioria das
c) Neoplasia endócrina múltipla 2A. vezes não funcionante. O problema é que al-
d) Neoplasia endócrina múltipla 2B. gumas condições fundamentais devem ser
afastadas, a exemplo do carcinoma adreno-
Basta saber a configuração das formas cortical, do feocromocitoma e de implantes
familiares associadas ao feocromocitoma. metastáticos.
Resposta: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 Que lesão maligna é mais frequentemente
UNIVERSIDADE DO ESTADO encontrada na adrenal?
DO RIO DE JANEIRO – UERJ a) Sarcoma adrenal.
No tratamento da hipertensão arterial de um b) Adenocarcinoma adrenal.
paciente com feocromocitoma, constitui-se c) Feocromocitoma maligno.
uma medida adequada: d) Câncer metastático (de outros órgãos).
a) Não utilizar prazosin.
b) Não empregar nifedipina. A lesão maligna mais comum nas suprarre-
c) Não restringir a ingestão de sal. nais é a metástase e o câncer de pulmão é a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 95

principal origem das metástases para suprar- câncer pulmonar. Como as lesões benignas
renal, mas também podem ser relacionados a das suprarrenais são entidades freqüentes
Ca de mama, pâncreas ou colorretal. Com a (estima-se que 1 a 8% da população acima de
indicação mais frequente da tomografia para 60 anos seja portadora de crescimentos benig-
estadiamento, massas adrenais foram encon- nos da supra-renal), há necessidade de dife-
tradas em cerca de 10% dos pacientes com renciação entre metástase e incidentaloma.

Principais causas de massa adrenal unilateral


BENIGNAS Adenoma adrenocortical
- Não funcionante 60-85%
- Produtor de cortisol 5-10%
- Produtor de aldosterona 2-5%
Feocromocitoma 5-10%
Mielolipoma < 1%
Ganglioneuroma < 0,1%
Hemangioma < 0,1%
Cisto < 1%
Hematoma/infarto hemorrágico < 1%
INDETERMINADA Oncocitoma < 1%
MALIGNAS Carcinoma adrenocortical 2-5%
Feocromocitoma maligno < 1%
Neuroblastoma < 0,1%
Linfomas < 1%
Metástases (principais: pulmão, mama) 15%

Abordagem coeficiente de atenuação aumentado à TC


(> 20 HU), desaparecimento tardio do con-
A ideia aqui é saber quando devemos traste (delayed washout). Nestes casos, a
ou não prosseguir a investigação à ressecção cirúrgica deve ser indicada, já
procura de lesões mais graves rela- que a biópsia por agulha fina não é capaz
cionadas ao incidentaloma. Observe de diferenciar o tumor maligno do benigno
os passos: (além de aumentar o risco de dissemina-
ção em caso de carcinoma).
1) Excluir a possibilidade de implante me-
tastático na glândula, a partir da pesquisa Resumindo...
na história clínica de alguma malignida- A grande pergunta: o incidentaloma é ou
de. Caso exista, uma biópsia por agulha não funcionante?
fina guiada por TC estaria indicada, para
Se funcionante, procede-se à adrenalecto-
confirmar que realmente se trata de uma
mia. Se não funcionante, avaliar tamanho
metástase (esta é uma das poucas indi-
e características radiológicas. Se ≥ 4 cm ou
cações de punção de um nódulo adre-
apresentar características de malignidade, a
nal!). A biópsia, no entanto, é inconclusi- cirurgia também está indicada. Tumores com
va na metade dos casos. O seu principal < 4 cm e sinais radiológicos de benignidade
valor está na diferenciação entre doença levam a um novo exame dentro de 3-6 meses
metastática, adenoma e doenças infec- e seguimento um ano depois.
ciosas e inflamatórias. Devido ao risco de
crise adrenérgica, não deve ser realizada
nos casos suspeitos de feocromocitoma. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
Também deve ser evitada em casos sus- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI-
peitos de carcinoma adrenocortical, devi- DADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – SC
do ao risco de disseminação do tumor. Assinale a alternativa que responde COR-
RETAMENTE à pergunta abaixo. Nas mas-
2) Excluir a possibilidade de feocromocitoma sas de glândula suprarrenal descoberta in-
e síndrome de Cushing a partir da dosa- cidentalmente, incidentaloma, por métodos
gem de metanefrinas plasmáticas e teste de imagem, com mais de cinco centímetros,
de supressão com a dexametasona (ou qual seria a melhor conduta?
cortisol urinário, ou salivar). a) Acompanhamento com método de imagem
(TC).
3) Excluir outras síndromes suprarrenais, na b) Tratamento cirúrgico.
presença de clínica sugestiva: Hiperaldos- c) Laparoscopia diagnóstica.
teronismo (HAS) ou hiperandrogenismo d) Arteriografia seletiva.
(virilização). e) PET-Scan.

4) Avaliar a possibilidade de carcinoma pe- A imensa maioria dos incidentalomas de


las características radiológicas. Maior adrenal são adenomas não funcionais, não
chance: lesões > 4-6 cm, heterogêneas, devendo ser motivo de desespero para quem
margens irregulares, calcificação visível, tenha tal diagnóstico de imagem isolado. Por
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 96

isso, raramente é indicado tratamento cirúrgico, c) Indicar cirurgia por videolaparoscopia.


salvo os casos de constatação de tumores fun- d) Dosar metanefrinas urinárias, cortisol livre
cionais, como Cushing, feocromocitoma e al- urinário, ACTH sérico, aldosterona sérica e
dosteronoma, origem metastática ou neoplási- atividade de renina plasmática, casos normais,
ca primária. Para chegar a tais diagnósticos, acompanhamento clínico, com repetição da
existem diversos parâmetros laboratoriais e de tomografia em 6 meses.
imagem, sendo o tamanho maior do que 4 cm e) Indicar cirurgia por laparotomia por ser su-
um importante fator de risco. Devido a isso, ao gestivo de carcinoma.
contrário do que é visto na grande maioria dos
casos, nessa questão em específico, devemos Os incidentalomas adrenais, quando maio-
indicar tratamento cirúrgico por se tratar de um res que 4 cm, já apresentam indicação cirúr-
tumor com mais de 4 cm. Gabarito letra B. gica. As lesões menores devem ser subme-
tidas a screening para pesquisa de produção
hormonal através da dosagem de metanefri-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 nas urinárias, dosagem de ACTH e pesquisa
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE de atividade de renina e aldosterona sérica.
DO ESTADO DE PERNAMBUCO – PE Caso positivo deve ser tratado cirurgicamen-
Homem de 65 anos numa consulta de rotina te, preferencialmente por via laparoscópica.
descobre, na tomografia de abdômen, um Caso negativo, devemos repetir o exame de
nódulo de adrenal de 1,8 x 1,2 cm. O pacien- imagem dentro de 3-6 meses. Melhor respos-
te é hipertenso há 5 anos. Todas as alterna- ta letra D.
tivas abaixo apresentam exames de screening
para um adenoma funcionante de adrenal,
EXCETO: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
a) Relação aldosterona/renina sérica. UNIVERSIDADE DO ESTADO
b) Teste da supressão de cortisol pós 1 mg de DO RIO DE JANEIRO – UERJ
dexametasona. A principal razão para que NÃO se realize a
c) Metanefrinas urinárias. punção guiada por TC de massa suprarrenal
d) Ácido Vanilmandélico (VMA) sérico. em um paciente com suspeita de feocromo-
e) Cortisol urinário das 24 horas. citoma é:
a) Crise hipertensiva fatal.
Perante o achado de um incidentaloma su- b) Imprecisão da citologia.
prarrenal, independentemente da presença ou c) Hematoma retroperitoneal.
não de possíveis manifestações associadas a d) Prejuízo da abordagem cirúrgica.
possíveis diagnósticos específicos, recomenda-
-se um screening bioquímico mínimo, com
dosagem dos principais hormônios produzidos RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
por esta glândula... O objetivo é determinar se UNIVERSIDADE FEDERAL DO
o tumor é funcionante ou não... Em se tratando RIO DE JANEIRO – UFRJ
da possibilidade de feocromocitoma (tumor das Marília, 54 anos, com cisto de ovário, realizou
células da medula adrenal produtoras de cate- tomografia computadorizada de abdome. O
colaminas e seus metabólitos) o teste de esco- exame revelou nódulo sólido de 4 cm na glân-
lha é a dosagem de metanefrinas urinárias, e dula suprarrenal direita. A paciente é obesa
não do ácido vanilmandélico! Todos os demais e hipertensa de difícil controle; usa enalapril,
testes citados aqui são válidos, Resposta: D. betabloqueador e hidroclorotiazida.
A conduta em relação ao nódulo na suprar-
renal é:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 a) Rastreamento hormonal para síndrome de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO Cushing; feocromocitoma, hiperaldosteronis-
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO mo primário e síndrome virilizante.
Paciente de 35 anos de idade, com passado b) Suprarrenalectomia direita, dispensando
de esplenectomia por lesão por projétil de rastreamento hormonal.
arma de fogo, apresenta dor abdominal em c) Suprarrenalectomia direita duas semanas
flanco esquerdo e é submetido à tomografia após a associação de alfabloqueador.
computadorizada de abdômen que identifica d) Cintigrafias com metaiodobenzilguanidina
lesão sólida, regular de 2,5 cm na suprarrenal e Iodo-colesterol.
esquerda. Não apresenta outras doenças. O
que deverá ser feito? Respostas: A e A.
a) Dosar ácido vanilmandélico na urina e, se No nódulo de suprarrenal, a grande ideia é
negativo, acompanhar clinicamente. descartar a possibilidade de tumor hiperfun-
b) Pesquisar doença de Conn, feocromocitoma cionante ou câncer.
e doença de Addison, em caso negativo acom- Cabe lembrar que, caso a suspeita seja sobre
panhar clinicamente e repetir tomografia em feocromocitoma, a biópsia guiada por TC tor-
6 meses. na-se contraindicada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 97

Distúrbios do Metabolismo Mineral


(distúrbios do cálcio, fosfato e magnésio)

E ste capítulo é mais um dos diferenciais do módulo de Sín-


dromes Endócrinas do MED! Tradicionalmente, em diversos
livros de referência ou na própria disciplina de Endocrino-
logia da faculdade, sempre é separado um espaço para tratar
especificamente dos distúrbios das glândulas paratireoides (hiper-
paratireoidismo ou hipoparatireoidismo). O problema é que, dessa
forma, as paratireoides são tratadas como se tivessem uma função
exclusiva e independente, a exemplo de outras glândulas como a ti-
reoide ou as camadas da suprarrenal. Mas não têm! E é nesse ponto
que os alunos se complicam. Vamos entender o porquê.

REGULAÇÃO DO METABOLISMO MINERAL


2- Clearance de creatinina (calculado) < 60
(1) Paratireoides (PTH) ml/min.
(2) Rim 3- Declínio da massa óssea (T-escore < -2,5
(3) Osso DP) e/ou fratura prévia por fragilidade.
(4) Intestino 4- Idade < 50 anos.
(5) Células parafoliculares
Hipercalcemia da malignidade: PTH muito
A- HIPERCALCEMIA baixo!
Pergunta que você tem que se fazer na *Tratamento da crise hipercalcêmica: (1) Hi-
hipercalcemia: dratação venosa vigorosa; (2) Furosemida
A hipercalcemia é decorrente do hiperpa- (só após hidratação, questionável); (3) Inibi-
ratireoidismo ou de uma malignidade? dores da reabsorção óssea (bisfosfonatos,
Ambulatorial = Mais comum é o hiperpara- calcitonina); (4) Outros: glicocorticoides, he-
tireoidismo primário (produção autônoma de modiálise (em casos selecionados).
PTH por uma ou mais glândulas paratireoi-
des); Internado = mais comum é a neoplasia B- HIPOCALCEMIA
(mecanismo humoral – produção de PTHrP Manifestações clássicas: sinais de Chvostek
– ou osteolítico local). e Trousseau.

Hiperparatireoidismo Primário: Pergunta que você tem que se fazer na


- Principal causa: adenoma de paratireoide. hipocalcemia:
- Associações clássicas: NEM1 e NEM2A. A hipocalcemia é decorrente do hipoparati-
- Diagnóstico: hipercalcemia + elevação do reoidismo ou da deficiência de vitamina D?
PTH. Maioria ASSINTOMÁTICA no momen- - Hipoparatireoidismo: PTH reduzido ou
to do diagnóstico! indetectável, HIPOcalcemia, HIPERfos-
- Tratamento: cirurgia para pacientes sinto- fatemia.
máticos. Atentar para as indicações de ci- - Deficiência de vitamina D: PTH normal ou
rurgia nos assintomáticos: aumentado, HIPOcalcemia, HIPOfosfate-
1- Cálcio sérico > 1 mg/dl acima do limite mia, 25(OH) vitamina D diminuída.
normal.

O que precisamos entender desde já é que as do cálcio ou do fosfato e estas glândulas entra-
paratireoides, na verdade, fazem parte de um rão no diagnóstico diferencial junto com as do-
intrincado controle do metabolismo mineral que enças ósseas, intestinais, renais... Portanto, a
envolve a regulação do cálcio, fosfato e parte mensagem é: não pense apenas em distúrbios
do magnésio. Neste sistema metabólico, partici- da paratireoide isoladamente! Pense primeiro
pam além das PARATIREOIDES, também RIM, em distúrbios do metabolismo mineral em que
OSSO, INTESTINO e as células parafoliculares a hipo ou a hiperfunção das paratireoides seja
da tireoide, produtoras de calcitonina. Ou seja, uma das causas possíveis.
com exceção das questões diretas sobre os
distúrbios das paratireoides (ex.: qual a princi- Mas vamos começar entendendo este
pal causa de hiperparatireoidismo...), todas as módulo pela distribuição e função destes
demais darão um caso clínico com um distúrbio principais minerais no nosso organismo.

97
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 98

Distribuição corporal dos minerais


Compartimento
Mineral Osso Extracelular Intracelular
Cálcio 99% 0,1% 1%
Fosfato 85% 0,3% 15%
Magnésio 54% 1% 45%

Funções dos minerais no organismo


Mineral Função
Cálcio Estrutura óssea
Reações bioquímicas
Cascatas de sinalização
Contração muscular
Fosfato Estrutura óssea
Principal ânion intracelular
Transporte e armazenamento de energia
Reações bioquímicas
Substância tampão
Magnésio Estrutura óssea (bem menos que cálcio e fosfato)
Reações bioquímicas
Regulação do cálcio e do potássio

Conclusão
A maior parte dos minerais (principalmente cálcio e fosfato) se
encontra no osso, que se torna, portanto, um grande reservatório
para o controle da concentração desses minerais no plasma. Se
a concentração for baixa, eles liberam minerais para a circulação.
Se for alta, eles os retiram de lá.

Parte I – Distúrbios do Cálcio

Metabolismo do Cálcio

De uma forma didática, podemos dizer que as  No osso – atua em receptores presentes nos
paratireoides seriam as “maestrinas” desse osteoblastos que liberam citocinas capazes
sistema. Mas aqui não existe um eixo hipotála- de estimular os osteoclastos. Como veremos
mo-hipófise – paratireoide!!! Como dissemos mais à frente, estas são as células ósseas
no início do capítulo, a regulação desses mi- responsáveis pela reabsorção óssea e libe-
nerais faz parte de um sistema bem articulado ração de cálcio para a circulação.
entre osso, rim, paratireoide, intestino e células
parafoliculares. E essa articulação é mediada Por outro lado, a regulação da síntese do PTH
por três hormônios principais: paratormônio, é realizada pelo cálcio ionizado, através de
vitamina D e calcitonina. sensores (receptores) de cálcio presentes nas
próprias paratireoides. Vamos lembrar que, na
circulação, metade do cálcio se encontra ligada
Paratormônio (PTH) à albumina e alguns ânions, e a outra metade
livre no plasma (fração ionizada). A lógica é:
No total, são quatro as glândulas paratireoi- a hipercalcemia reduz a síntese do PTH, en-
des, que se encontram literalmente coladas quanto a hipocalcemia aumenta a síntese do
à cápsula posterior de cada pólo da tireoi- hormônio. Outra forma de regulação do PTH
de e que são responsáveis pela síntese do é pela vitamina D, que também é responsável
paratormônio (PTH). Este hormônio age por um feedback negativo com as paratireoides,
basicamente de três formas para aumentar inibindo a produção do hormônio. Por último,
a calcemia: pode participar também desta regulação o mag-
nésio, em que tanto as baixas quanto as altas
 No rim – aumenta a reabsorção de cálcio no concentrações do íon inibem as paratireoides.
túbulo distal e a excreção de fosfato e bicarbo-
nato no túbulo proximal. É o rim que realiza os
ajustes mais rápidos da concentração do cálcio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
 No intestino – influência indireta através da RIO DE JANEIRO – RJ
vitamina D, aumentando a absorção de cálcio Uma das ações fisiológicas do paratormônio
e fósforo. (PTH) é:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 99

a) Diminuir a calcemia. para liberar o cálcio ali estocado; (2) aumento


b) Estimular a formação óssea. da reabsorção renal do cálcio filtrado; (3) au-
c) Aumentar a fosfatúria. mento da absorção intestinal de cálcio, através
d) Inibir a conversão de 25-hidroxivitamina D do estímulo à conversão da vitamina D inativa
em 1,25-diidroxivitamina D. (25-hidroxivitamina D) em sua forma ativa
(1,25-didroxivitamina D), para que esta au-
O paratormônio (PTH) é um hormônio pro- mente a absorção intestinal de cálcio. Uma
duzido pelas glândulas paratireoides que tem vez que o PTH é um hormônio hipercalcemian-
a função primordial de controlar os níveis sé- te, um problema em potencial de sua ação
ricos de cálcio. Assim, na medida em que o seria a possibilidade de levar à precipitação
cálcio sérico tende a se reduzir, os níveis de de fosfato de cálcio insolúvel nos tecidos! A
paratormônio aumentam, agindo para manter fim de evitar esta complicação, outro efeito
a calcemia dentro da normalidade. Como o que o PTH exerce é o aumento na eliminação
PTH faz isso? Os mecanismos são múltiplos: corporal de fosfato, aumentando, principal-
(1) aumento na reabsorção da matriz óssea mente, a fosfatúria. Resposta certa: C.

Figura 1: Paratireoides – Efeito central na regulação do cálcio.

Figura 2: Regulação do Metabolismo Mineral.


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 100

Vitamina D ção de cálcio e fósforo, em menor escala.


No osso, o calcitriol possui uma ação ainda
O nosso organismo conta com duas fontes não muito bem explicada, provavelmente um
de vitamina D: uma é a pele, por ação de efeito permissivo na reabsorção óssea esti-
raios ultravioletas, e a outra a dieta. Ainda mulada pelo PTH.
são necessárias duas reações de hidroxila-
ção (no fígado e no rim) para que a vitami-
na D se transforme em sua forma ativa – a Calcitonina
1,25-(OH)2D3 – calcitriol. A segunda hidro-
xilação, dependente da enzima renal alfa-1- Secretada pelas células parafoliculares da
-hidroxilase, está sujeita a forte controle pe- tireoide (células C) tem seu papel no metabo-
las concentrações do PTH e do fosfato. Em lismo do cálcio ainda não muito bem definido.
vigência de hipocalcemia, o PTH estimula Seu efeito se dá diretamente sobre o cálcio,
a atividade da alfa-1-hidroxilase nos rins. O inibindo a reabsorção óssea e promovendo
mesmo ocorre em caso de hipofosfatemia. ação hipocalcemiante. É o cálcio também que
regula as concentrações do hormônio.
O efeito da vitamina D é basicamente intes-
tinal, através de receptores localizados no Revisados esses tópicos fundamentais, va-
intestino delgado, promovendo maior absor- mos começar nosso estudo direcionado...

HIPERCALCEMIA

Manifestações Clínicas cálcio podem gerar vasoconstricção renal


e redução da taxa de filtração glomerular.
As manifestações da hipercalcemia dependem Elevações crônicas conduzem à calcificação,
de dois fatores principais: o grau de hipercalce- degeneração e necrose de células tubulares
mia e a rapidez com que se elevam os níveis (nefrocalcinose) e lesão renal progressiva.
de cálcio. Vamos rever as alterações clínicas
esperadas nesta síndrome:  Sintomas graves do SNC são mais comuns na
hipercalcemia grave (> 16 mg/dl) e em idosos.

Sistema Ansiedade, depressão; disfunção  Hipertensão pode ocorrer tanto pela insufi-
nervoso cognitiva; alteração da personali-
ciência renal quanto pela vasoconstricção
central dade; confusão mental.
induzida pelo cálcio.
Gastroin- Hipomotilidade intestinal e cons-
testinal tipação; anorexia; pancreatite;
úlcera péptica.  O acometimento articular característico do
hiperparatireoidismo primário é a condrocal-
Rim Insuficiência renal aguda e crô-
nica; acidose tubular renal tipo cinose (depósito de pirofosfato de cálcio na
1 (distal); poliúria, desidratação, cartilagem articular nos meniscos), que pode
diabetes insipidus nefrogênico; resultar em pseudogota em 25% dos casos. O
nefrolitíase. achado de cristais com birrefringência positiva
Cardiovas- Hipertensão; encurtamento do à artrocentese confirmam o diagnóstico.
cular intervalo QT; calcificação valvular;
hipersensibilidade aos digitais. Não confundir! Na hipercalcemia ocorre...
Músculo Fraqueza muscular; pseudogota e  No rim: poliúria
esquelético condrocalcinose.  No intestino: constipação
Olho Deposição corneana (ceratopatia
em banda) – raro.
Veja estas questões clássicas sobre as
manifestações da hipercalcemia:
 Os distúrbios gastrointestinais estão associa-
dos à redução do tônus da musculatura lisa RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
e da função autonômica alterada. O cálcio UNIVERSIDADE FEDERAL
também estimula a secreção de gastrina e DE SÃO PAULO – UNIFESP
a úlcera péptica foi descrita em 15-20% dos Paciente com câncer de mama chega no
pacientes com hiperparatireoidismo primário. pronto-socorro com quadro de confusão men-
O cálcio pode ainda ativar o tripsinogênio e tal, letargia, poliúria, polidipsia e desidratada.
se depositar no ducto pancreático, levando Tem ECG com QT curto. O diagnóstico mais
raramente à pancreatite aguda. provável desta doente é:
a) SIADH.
 A nefrolitíase é causada pela hipercalciúria b) Hipercalcemia.
e pelo aumento na produção de calcitriol no c) Diabetes insipidus.
hiperparatireoidismo primário. Hipercalcemia d) Síndrome de lise tumoral.
crônica leva a uma perda na capacidade de e) Coma hiperosmolar não cetótico.
concentração da urina (isostenúria), levan-
do à poliúria e polidipsia em até 20% dos Quadro clássico de ECG com QT curto em
pacientes. Pode causar também acidose paciente sob risco de hipercalcemia, como
tubular renal distal. Elevações agudas do veremos a seguir. Resposta letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 101

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 Hiperparatireoidismo Primário


UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO – UERJ  Conceito: distúrbio do metabolismo do cálcio
Dos achados abaixo, o que não está associado causado pela produção autônoma de PTH
ao quadro clínico da hipercalcemia é: por uma ou mais glândulas paratireoides.
a) Diarreia.
b) Depressão.  Epidemiologia: é uma endocrinopatia que
c) Litíase renal. surpreende por ser mais comum do que se
d) Diabetes insipidus. imagina (perdendo apenas para o diabetes
e as doenças da tireoide). Incidência de
Outra questão sem dificuldade. A hipomo- 1:500-1.000 que aumenta com a idade,
tilidade intestinal domina o quadro levando à sendo mais comum no sexo feminino (3:1)
constipação, sendo que algumas séries colo- após os 50 anos.
cam esta alteração como o sintoma gastroin-
testinal mais comum da hipercalcemia.
Resposta: A. para gravar!!!
Hiperparatireoidismo primário é uma
doença da mulher pós-menopausa.
Etiologia

Como as paratireoides apresentam função  Etiologia: pode ser esporádica ou associa-


central no controle do cálcio, uma forma da a uma síndrome familiar.
bastante útil de classificar as causas de hi-
percalcemia consiste em dividi-las em dois Causas de Hiper- Frequência
grandes grupos: paratireoidismo
Primário
Dependente Independente Adenoma solitário (foco 80-85%
do PTH do PTH autônomo)
Aumento difuso das 10-15%
No primeiro grupo, o PTH está aumentado ou paratireoides*
no limite superior da normalidade. No segundo Carcinoma 0,5%
grupo, cuja detecção laboratorial se faz com
mais precisão, o PTH está caracteristicamente
reduzido (< 25 pg/ml). Veja abaixo as principais *No aumento difuso das quatro glândulas
causas de hipercalcemia: paratireoides, é extremamente comum a
relação com a Neoplasia Endócrina Múlti-
causas de hipercalcemia pla (NEM). Os três tipos principais dessas
Dependente de PTH síndromes genéticas autossômicas e domi-
 Hiperparatireoidismo primário nantes estão abaixo. Das três, a NEM 1 e a
 Hiperparatireoidismo secundário e terciário NEM 2A estão associadas ao hiperparatire­
da insuficiência renal oidismo primário, sendo este distúrbio muito
 Hipercalcemia hipocalciúrica familiar
mais importante na forma NEM1.
 Hipercalcemia induzida pelo lítio
Independente de PTH
 Neoplasias malignas NEM 1: Hiperparatireoidismo primário + Tu-
- Humoral (proteína relacionada ao mores endócrinos do pâncreas (ex.: gastrino-
PTH – PTHrP) ma) + Tumores hipofisários (ex.: prolactinoma)
- Local (osteolítica)
NEM 2A: Carcinoma medular de tireoide + Fe-
 Doenças granulomatosas e linfoma ocromocitoma + Hiperparatireoidismo primário
 Endocrinopatias
(Hipertireoidismo, Insuficiência adrenal, NEM 2B: Carcinoma medular de tireoide +
Feocromocitoma, VIPoma) Feocromocitoma + Neuromas mucosos
 Medicações
- Intoxicação por vitamina A e D
- Diuréticos tiazídicos
- Aminofilina RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
- Vitamina A UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB
- Tamoxifeno
Uma mulher de 28 anos de idade procurou o
- Nutrição parenteral total
ambulatório de clínica médica, relatando que
Diversas
há um mês vem apresentando fadiga e fra-
- Síndrome leite-álcali
queza. Seu exame clínico estava nos limites
- Doença de Jansen (receptor mutante de PTH)
normais. Nos exames laboratoriais realizados
- Imobilização destacaram-se: cálcio sérico ionizado de 8,2
- Toxicidade por alumínio
mg/dl (valores de referência: entre 4,6 mg/dl
- Rabdomiólise (fase de recuperação)
- Lúpus eritematoso sistêmico e 5,0 mg/dl); paratormônio = 96 pg/ml (valo-
- Hiperplasia mamária res de referência: entre 11 pg/ml e 54 g/ml)
e albumina sérica normal. Com base nesses
dados, julgue os itens a seguir.
Vamos ver a seguir alguns detalhes sobre as A hiperplasia (de duas ou mais) glândulas
principais condições que cursam com hiper- paratireoides é a causa mais frequente dessa
calcemia: doença.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 102

a) CERTO. 2) Cistos ósseos e tumores marrons de ossos


b) ERRADO. longos.

Resposta: B. Acabamos de ver que é o 3) Coluna em “Rugger Jersey”


adenoma solitário.
4) Osteoporose e fraturas

 Manifestação Clínica: representadas pela A osteíte fibrosa cística, apesar de caracte-


síndrome de hipercalcemia que estudamos rística, é pouco frequente (< 5%). No entanto,
anteriormente. perda de massa óssea é observada em até
25% dos casos, principalmente do osso cor-
tical. Por isso, são mais comuns as fraturas
Alguns detalhes sobre o do antebraço do que da coluna ou do quadril.
hiperparatireoidismo primário:
 Alguns trabalhos têm mostrado associação
 A maior parte dos pacientes (70%) estão entre hiperparatireoidismo e doença car-
assintomáticos no momento do diagnóstico diovascular. O elo entre essas condições
e a suspeita pode se dar apenas por níveis seria a resistência insulínica e a elevação
aumentados de cálcio. da interleucina-6.

 A complicação mais comum é a nefrolitíase,  A fraqueza muscular costuma ser o sinto-


principalmente por cálculos de oxalato de ma mais comum do hiperparatireoidismo
cálcio. A função renal costuma permanecer primário (70%), seguida pela mialgia e pela
estável. artralgia (54%).

 A apresentação esquelética característica é  Embora valores muito aumentados de cálcio


a osteíte fibrosa cística, decorrente de um sérico não sejam esperados, uma pequena
estímulo exagerado à reabsorção óssea parcela dos pacientes pode se apresentar com
pelo PTH e composta por: uma crise hipercalcêmica aguda (“crise hiper-
paratireoide”). Nesses casos, a desidratação
1) Reabsorção óssea subperiosteal, prin- é regra e vem associada a uma alteração do
cipalmente das falanges distais e crânio estado mental. Mais adiante, abordaremos um
(lesão em “sal e pimenta”). cenário clínico de crise hipercalcêmica.

Figura 3A e B: Reabsorção subperiosteal das Figura 4: Tumor "marrom".


falanges e do crânio.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 c) Doença de Paget.


FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS d) Neoplasia metastática.
DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
CAMPINAS – SP Temos uma paciente idosa que apresenta
Mulher, 78a, queixa-se de dor em região sinais e sintomas arrastados, relativamente
lombar e fraqueza em membros inferiores inespecíficos, mas que em face das alterações
há 1 ano, acompanhada de emagrecimento laboratoriais observadas permitem uma forte
e cansaço. Há 3 meses apresentou piora suspeição diagnóstica: reparem que existe
importante do quadro. Exame físico: PA = hipercalcemia com níveis de PTH inapropria-
132 x 74 mmHg, peso = 41 kg, altura = 1,61 damente aumentados, isto é, temos um qua-
m. Exame neurológico: diminuição global da dro clinicolaboratorial altamente sugestivo de
força muscular. Exames laboratoriais séricos: secreção autônoma de PTH por uma ou mais
cálcio = 12,2 mg/dl, fósforo inorgânico = 2,1 paratireoides, um hiperparatireoidismo primá-
mg/dl, creatinina = 1,1 mg/dl, PTH = 580 pg/ rio (que na maioria das vezes se associa a um
ml, 25(OH) Vitamina D = 31 ng/ml. Radiogra- adenoma isolado dessa glândula). Os níveis
ma dos ossos: osteoporose intensa em coluna de fósforo estão abaixo do normal, conforme
lombar e ossos longos, com fratura de ísquio seria esperado na vigência de excesso de
à direita. O DIAGNÓSTICO É: PTH (pelo aumento da fosfatúria). Os níveis
a) Osteomalacia carencial. normais de 25-hidroxi vitamina D (> 30 ng/ml)
b) Hiperparatireoidismo primário. descartam a possibilidade de osteomalácia
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 103

carencial (hipovitaminose D, comum em ido- Outros achados:


sos), enquanto tanto a doença de Paget como
as neoplasias metastáticas não cursam com • Hipofosfatemia (efeito fosfatúrico do PTH)
elevação do PTH. Resposta certa: B. – mas pode se encontrar na faixa normal,
principalmente em casos de disfunção renal
concomitante.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 • Acidose metabólica hiperclorêmica leve (efei-
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO to bicarbonatúrico do PTH).
GRANDE DO SUL – RS • Elevação da fosfatase alcalina (doença ós-
Em pacientes que desenvolvem hiperpara- sea franca).
tireoidismo primário, a apresentação clínica Uma vez estabelecido o diagnóstico de hi-
mais frequente é: perparatireoidismo primário, o paciente deve
a) Úlcera péptica. ser pesquisado para a presença de disfunção
b) Osteíte fibrosa. orgânica com: USG renal ou TC (nefrolitíase),
c) Assintomática. densitometria óssea, cálcio urinário nas 24
d) Nefrolitíase. horas e eletromiografia (miopatia).
e) Alterações de comportamento.
Conceito
O hiperparatireoidismo primário é um dis-
túrbio do metabolismo do cálcio causado pela Todo paciente adulto com hipercalcemia
crônica, leve a moderada (Ca < 11 mg/dl),
produção autônoma de PTH por uma ou mais
assintomática ou oligossintomática, deve ter
glândulas paratireoides, sendo sua causa como primeira hipótese diagnóstica o hiper-
mais frequente (80-85% dos casos) o adeno- paratireoidismo primário.
ma solitário dessa glândula. É uma doença
mais comum em mulheres pós-menopausa. A
apresentação clínica mais comum é a forma
ASSINTOMÁTICA (70%) e a suspeita se dá O PTH causa acidose metabólica
por níveis aumentados de cálcio com eleva- de duas formas: uma, estimulando
ção de PTH. Quando os sintomas estão pre- a perda de bicarbonato, o que seria
sentes, o mais comum é a fraqueza muscular mais proximal (ATR tipo II). A outra,
(70%), seguida pela mialgia e pela artralgia. A a partir da hipercalcemia crônica
complicação mais comum é a nefrolitíase por que é uma das causas de ATR dis-
cálculos de oxalato de cálcio. A apresentação tal (tipo I).
esquelética característica é a osteíte fibrosa
cística, decorrente de um estímulo exagerado
à reabsorção óssea pelo PTH, porém essa  Tratamento:
manifestação é rara (< 5%). Portanto, resposta
correta: LETRA C. Como a principal causa é o adenoma solitá-
rio, o tratamento de escolha consiste na retira-
da cirúrgica deste adenoma hipersecretor de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 PTH (paratireoidectomia). A cirurgia está sem-
UNIVERSIDADE FEDERAL pre indicada nos pacientes sintomáticos. Esta
FLUMINENSE – UFF pode ser realizada pela técnica clássica (pa-
A forma mais comum de apresentação do hi- ratireoidectomia bilateral sob anestesia geral)
perparatireoidismo primário é: ou, para evitar a exploração cervical bilateral,
a) Fratura óssea espontânea. atualmente tem sido utilizada uma abordagem
b) Hipercalcemia assintomática. minimamente invasiva (técnica preferida), sob
c) Cálculo renal. anestesia local, através da pesquisa prévia do
d) Calcificação de partes moles. foco autônomo pela cintilografia com 99mTc-
e) Catarata. -sestamibi (mais utilizado, sensibilidade > 80%),
ultrassonografia (geralmente em combinação
Para não esquecer: resposta letra B. com a cintilografia), TC ou RM (as duas últi-
mas boas para localização de tumor ectópico).
O PTH intraoperatório também pode ser utili-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 zado para avaliar a efetividade da cirurgia (es-
UNIVERSIDADE DO ESTADO pera-se uma queda maior ou igual a 50% após
DO RIO DE JANEIRO – UERJ dez minutos da ressecção). Vale ressaltar que
Em um paciente com hiperparatireoidismo até 10% desses adenomas apresenta localiza-
primário, o sintoma mais frequente é: ção ectópica, isto é, fora das paratireoides (ex.:
a) Artralgia. timo, tireoide, pericardio, atrás do esôfago...)
b) Miastenia.
c) Cólica nefrética. No caso de hiperplasia das quatro glându-
d) Constipação intestinal. las, esta técnica não é possível. Assim, duas
estratégias seriam utilizadas: (1) retirar três
É a fraqueza muscular, seguida pela mialgia glândulas e metade da outra e (2) realizar
e pela artralgia... Resposta: B. paratireoidectomia total e implantar parte de
uma glândula na musculatura do antebraço.

 Diagnóstico: Hipercalcemia + Elevação do Um detalhe: em pacientes com tumor asso-


PTH. ciado a NEM 1, o hiperparatireoidismo deve
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 104

ser corrigido antes do gastrinoma, já que os qualquer uma dessas duas classes de dro-
níveis de gastrina tendem a se reduzir após a gas. A hidratação e a atividade física seriam
paratireoidectomia. duas medidas benéficas.

E as complicações da cirurgia?

Com relação às complicações da cirurgia, elas


dependem da experiência do serviço. Locais
habilitados apresentam morbimortalidade <
3%, com melhora dos sintomas e da calcemia
em cerca de 95% dos casos. As principais
complicações são:
Figura 5: Localização do adenoma da pa-
ratireoide pela cintilografia e pela USG. • Hipocalcemia pós-operatória: com exceção
da falha terapêutica, trata-se da complicação
mais comum. Após 24-48h, é esperada uma
Mas e se o paciente estiver assintomático? queda do cálcio sérico para valores normais
baixos ou levemente baixos durante 3-5 dias
Esta é uma situação cada vez mais frequen- (tempo que o tecido glandular remanescente,
te em virtude dos casos serem identificados que estava inibido pela hipercalcemia anterior
de uma forma mais precoce (hipercalcemia à cirurgia, leva para se recuperar). A hipocal-
assintomática). A última diretriz americana, cemia pode ser acentuada pela “síndrome do
reproduzida pelo Harrison, traz as recomen- osso faminto”, que continua a retirar grandes
dações de paratireoidectomia em pacientes concentrações de cálcio da circulação, mes-
assintomáticos listadas a seguir. Recomen- mo após a paratireoidectomia.
damos que você as memorize!
• Hipocalcemia permanente: duração maior
Indicações de que 6 meses, em casos de paratireoidec-
Paratireoidectomia nos tomia total ou lesão irreversível do tecido
portadores Assintomáticos de remanescente.
hiperparatireoidisimo primário
1- Cálcio sérico > 1 mg/dl acima do limite • Rouquidão: lesão do nervo laríngeo recor-
normal. rente.
2- Clearance de creatinina (calculado) < 60
ml/min. • Sangramento cervical.
3- Calciúria > 400 mg na urina de 24 horas,
ou nefrolitíase ou nefrocalcinose eviden- • Hipertireoidismo: pode persistir por até 3
ciados por RX, US ou TC (indicação au- meses depois da cirurgia, embora a maioria
sente no Harrison). retorne ao normal em 12 dias.
4- Declínio da massa óssea (T-escore < -2,5
DP na coluna, rádio distal ou quadril) e/
ou fratura vertebral prévia. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
5- Idade < 50 anos. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE
CATÓLICA – PUC – RS
Mulher, 41 anos, na menacme, relata calculose
É interessante lembrarmos que, não se optan- renal recente. Densitometria óssea evidencia
do pelo tratamento cirúrgico, esses pacientes osteoporose. Avaliação laboratorial revela hi-
devem permanecer sob acompanhamento percalcemia e hipofosfatemia. Dentre os exa-
regular, com medidas anuais do cálcio sérico, mes abaixo, qual é o mais importante para o
da creatinina sérica e densitometria óssea. planejamento terapêutico da paciente?
Não é necessário solicitar urina de 24 horas, a) Cintilografia de paratireoides.
uma vez que o clearance de creatinina pode b) Ecografia da região cervical.
ser estimado pela equação de Cockcroft-Gault. c) Tomografia computadorizada de região
cervical.
d) PET-CT.
Se o paciente está assintomático e não e) Arteriografia.
possui indicação cirúrgica, ou recusa a ci-
rurgia, ou não pode ser operado por algum Pelo quadro clínico apresentado (nefrolitíase,
motivo, o que fazer? Apenas observar? osteoporose, hipercalcemia, hipofosfatemia)
nossa primeira hipótese diagnóstica é o hiper-
Não existe benefício comprovado de ne- paratireoidismo por adenoma de paratireoide.
nhum tratamento clínico para esses pacien- Pelas manifestações, já existe indicação cirúr-
tes. Os bisfosfonatos aumentam a densida- gica e sabemos que atualmente a preferência
de óssea, sem reduzir a secreção de PTH, tem sido pela abordagem cervical unilateral.
enquanto os calcimiméticos (Cinacalcet) Para isso, torna-se necessária a avaliação pré-
reduzem a secreção de PTH e a calcemia, -operatória não invasiva, sendo a mais utilizada
sem melhorar a densidade óssea. Contudo, a cintilografia com 99mTc-sestamibi.
não há recomendações claras para uso de Resposta: A.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 105

Hiperparatireoidismo ao PTH). Os principais exemplos são: Car-


Secundário e Terciário cinoma epidermoide do pulmão, cabeça e
pescoço, esôfago e cérvix uterino; carcino-
Sabemos que na insuficiência renal, temos ma de células renais e carcinoma de células
uma queda nos níveis de vitamina D resul- transicionais.
tando em hipocalcemia e hiperparatireoidismo
secundário, que tenta compensar elevando 2) Hipercalcemia local osteolítica, provo-
os níveis de cálcio. No entanto, apesar da cada por produção local de citocinas (IL-1,
elevação do PTH nessas situações, o cálcio IL-3, IL-6, MIP-1alfa), que ativam osteoclastos
permanece baixo ou no limite inferior da nor- e reabsorção óssea. Os grandes exemplos
malidade. Para pacientes que desenvolvam são o mieloma múltiplo e câncer de mama.
um hiperparatireoidismo secundário grave e
prolongado, o estímulo trófico permanente Algumas referências apontam ainda uma ter-
sobre a glândula pode permitir a formação de ceira causa, bem menos comum, que seria a
tecido autônomo produtor de PTH gerando secreção de vitamina D ativa ou calcitriol,
hipercalcemia (hiperparatireoidismo terciário). presente em alguns linfomas.
O tratamento será revisto na apostila de Sín-
drome Urêmica.
É necessário dosarmos o PTH?

Hipercalcemia Hipocalciúrica Sim, para fazer o diagnóstico diferencial com


Familiar o hiperparatireoidismo primário que apresenta
prevalência elevada na população, o que inclui
Doença autossômica dominante decorrente de pacientes oncológicos. Nos pacientes com hi-
um defeito no “sensor de cálcio” que existe nas percalcemia de causa neoplásica, o PTH “ver-
paratireoides. Devido a este defeito, o cálcio dadeiro” está caracteristicamente muito baixo.
da circulação deixa de inibir adequadamente a
produção de PTH e o resultado é uma elevada E a PTHrP, devo dosar?
reabsorção renal do íon (hipocalciúria) associa-
da à hipercalcemia. Não há indicação de trata- Não. Apenas no caso de o paciente apresen-
mento e a principal preocupação é diferenciar tar tumor benigno ou que não seja normalmen-
esta condição do hiperparatireoidismo primário. te associado à hipercalcemia.
Característica-chave: crianças ou adolescentes
com hipercalcemia assintomática.
Conceito
Em todo paciente hospitalizado ou com idade
Hipercalcemia Induzida > 60 anos e que apresente hipercalcemia,
pelo Lítio devemos pensar em malignidade até que se
prove o contrário.
Esta é uma droga diferenciada das demais...
Da mesma forma que ocorre na hipercalcemia
hipocalciúrica familiar, ela inibe o sensor de Outras Causas
cálcio e seu efeito regulatório sobre a parati-
reoide, levando à hipercalcemia. A dosagem do  Linfoma e Doenças Granulomatosas: (sar-
PTH está normal ou levemente elevada. Essas coidose, tuberculose, han­seníase, criptoco-
alterações melhoram com a suspensão do lítio. cose, histoplasmose, CMV, granulomatose
de Wegener): causam hipercalcemia devido
à produção autônoma de vitamina D. Hiper-
Conceito
fosfatemia também pode ocorrer, levando ao
O carbonato de lítio atua tanto na tireoide (hipo aumento do duplo produto cálcio x fosfato e
e hipertireoidismo) quanto na paratireoide (hi- nefrocalcinose.
percalcemia).
 Intoxicação pela vitamina D e vitamina A: é
a hipercalcemia de quem utiliza suplementos
Neoplasias Malignas vitamínicos!!! Ocorre pela utilização desne-
cessária de suplementos contendo vitamina
É a principal causa de hipercalcemia em D e vitamina A. No caso da vitamina D, o pa-
pacientes hospitalizados, ocorrendo em ciente evolui com hipercalcemia sintomática e
20-30% dos doentes oncológicos. A hipercal- hiperfosfatemia, e o diagnóstico é confirmado
cemia é uma manifestação geralmente tardia pelos níveis elevados da 25 (OH) vitamina
e o paciente comumente já possui sinais e D. A intoxicação pela vitamina A pode levar
sintomas da neoplasia de base no diagnós- à hipercalcemia por aumento da reabsorção
tico. O tema será estudado em detalhes no óssea. O tratamento de ambas as condições
capítulo de Emergências Oncológicas da consiste na suspensão do suplemento, asso-
apostila de Oncologia. ciada ao uso de corticoides.

Deve ser dividida em dois grupos:  Síndrome Leite-Álcali: é a hipercalcemia


da vovó que toma carbonato de cálcio para
1) Hipercalcemia humoral, resultante da osteoporose ou do renal crônico... Muitos
produção de PTHrP (proteína relacionada que nunca ouviram falar neste nome podem
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 106

achar que se trata de uma causa rara... Mas e)O carcinoma da paratireoide é causa comum
não é! A síndrome foi descrita para indiví- de hiperparatireoidismo primário.
duos que tomavam uma grande quantidade
de leite (que contém carbonato de cálcio e é Existe um conceito muito cobrado em prova
enriquecido com vitamina D) e bicarbonato que a hipercalcemia secundária a neoplasias
de sódio para o tratamento da úlcera péptica. malignas não eleva o PTH “verdadeiro”; seja
Hoje, ela está mais associada aos prepara- pelo fato de quase todas as neoplasias indu-
dos utilizados no tratamento da osteoporose zirem o fenômeno hipercalcêmico por lesões
e da hiperfosfatemia da doença renal crônica. osteolíticas, seja por liberarem o PTHrp. A
alternativa letra A está incorreta, pois a hiper-
Estes pacientes apresentam a tríade: hiper- plasia das paratireoides não é um fenômeno
calcemia + alcalose metabólica + insuficiên- raro, respondendo por cerca de 15% dos ca-
cia renal. Vamos entender esse distúrbio... sos de hiperparatireoidismo primário, segundo
Além da fosfatúria, o PTH também promove o Harrison. A letra B não faz sentido, porque
bicarbonatúria, levando à acidose metabólica a hiperfunção da paratireoide é o próprio hi-
hiperclorêmica. Quando esses componentes perparatireoidismo ao qual o enunciado fez
contendo cálcio são ingeridos, pode haver su- referência... A letra D é também incorreta por-
pressão do PTH, o que conduziria à retenção que o PTH apresenta efeito fosfatúrico, indu-
renal de bicarbonato e alcalose metabólica. zindo hipofosfatemia. A letra E está errada
porque o carcinoma de paratireoide é um
causa incomum de hiperparatireoidismo. Por-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 tanto, melhor resposta, item C.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ
Mulher de 48 anos, com diagnóstico prévio de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
câncer de mama é admitida devido a quadro INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVI-
de letargia, anorexia, fraqueza e episódios de DORES DO ESTADO DE MG – IPSEMG
confusão mental. O exame neurológico não É INCORRETO afirmar que PTH elevado é
evidencia deficit focal algum, nem rigidez de encontrado:
nuca. No eletrocardiograma existe encurta- a) Na hipercalcemia hipocalciúrica benigna
mento do intervalo QT. O diagnóstico mais familiar.
provável é de: b) Na insuficiência renal crônica.
a) Hipercalcemia. c) Na síndrome de leite e alcalinos.
b) Hiperpotassemia. d) No raquitismo.
c) Hipomagnessemia.
d) Metástase cerebral. No único desses distúrbios que não se ca-
e) Carcinomatose meníngea. racteriza por hiperparatireoidismo... A síndro-
me leite-álcali. Resposta: C.
A hipercalcemia é encontrada em até
20-30% dos portadores de neoplasias malig-
nas, sendo uma manifestação geralmente tar- Abordagem Geral
dia, geralmente associada à presença de me-
tástases ósseas. Muitas vezes a hipercalcemia
apresenta-se como a primeira manifestação Imagine a situação clínica abaixo:
clinicolaboratorial de uma metástase óssea,
como parece ter ocorrido no caso em tela. Cenário 01
Mulher de 50 anos queixando-se de fraqueza
Dentre as manifestações clínicas, encontra- muscular, constipação e poliúria, é internada
mos fraqueza, mialgia, vômitos, poliúria e na unidade de Clínica Médica para investi-
confusão mental (nos casos graves). O en- gação diagnóstica. Na admissão, realizou
curtamento do intervalo QT é o sinal eletro- ECG mostrando encurtamento do intervalo
cardiográfico mais característico. QT. Dentre os exames laboratoriais, chama
a atenção a presença de um cálcio total de
Dessa forma, resposta letra A. 11,5 mg/dl. Como abordar este caso?

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


UNIVERSIDADE FEDERAL Primeiro passo:
FLUMINENSE – UFF Corrigindo os valores do cálcio total
Quanto ao hiperparatireoidismo, pode-se afir-
mar que: Estamos diante de uma paciente com ní-
a) A hiperplasia de uma paratireoide é causa veis elevados de cálcio total. Vamos ape-
rara. nas relembrar que o cálcio que realmente
b) A sua maior causa é a hiperfunção da pa- importa é a fração ionizada e que o cálcio
ratireoide. total, na verdade, é uma medida indireta
c) A hipercalcemia tumoral se apresenta com da concentração do cálcio ionizado. No
PTH baixo e cálcio elevado. entanto 40-45% do cálcio plasmático estão
d)O hiperparatireoidismo primário se caracte- ligados à albumina, e alguns fatores, como
riza por PTH, cálcio e fósforo elevados. a desnutrição grave, hepatopatia ou síndro-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 107

me nefrótica podem alterar a concentração a questão te dará uma história que indique
desta proteína. Como consequência, haverá algum dado específico.
alteração também no valor do cálcio total.
Como proceder nesses casos?  Nesse caso, a dosagem sérica dos metabó-
litos da vitamina D (calcitriol e calcidiol) pode
1) Dosar apenas a fração ionizada. Os níveis ser utilizada. A elevação destes metabólitos
plasmáticos de albumina não influem na indicaria principalmente intoxicação pela vita-
concentração de cálcio ionizado. mina D ou produção extrarrenal de vitamina
D (linfoma, doenças granulomatosas).
2) Dosar o cálcio total e corrigir o valor pela
albumina. A cada redução de 1 g/L da al-  Uma causa que tem ganhado importância na
bumina, ocorre a redução de 0,8 mg/dl na prática clínica é a síndrome leite-álcali relaciona-
concentração do cálcio. Portanto, a fórmula da ao uso corriqueiro de carbonato de cálcio no
a ser utilizada é: tratamento da osteoporose e da hiperfosfatemia
da insuficiência renal crônica (ver abaixo).
Cálcio corrigido = Cálcio sérico + 0,8 X
(Albumina normal – Albumina do paciente) Conclusão do Cenário 01
Síndrome Hipercalcêmica
Temos uma mulher de 50 anos com síndrome
Valores normais: hipercalcêmica a esclarecer. Neste momento,
Cálcio total = 8,5-10,5 mg/dl devemos diferenciar principalmente entre um
Cálcio ionizado = 4,5-5,5 mg/dl quadro de hiperparatireoidismo primário e
malignidades. Esta etapa se faz pela dosa-
gem do PTH sérico. Pelo fato de a paciente
Segundo passo: estar assintomática e não apresentar evidên-
Identificar e tratar a cia de outro acometimento por uma possível
causa da hipercalcemia neoplasia, a hipótese de hiperparatireoidismo
primário é mais forte. Com a exclusão destas
Antes de se assustar com a grande lista de causas principais, seguiremos para outras
causas que acabamos de ver, aqui vai uma menos comuns como a intoxicação pela vi-
sugestão! A grande pergunta que você tem tamina D e a síndrome leite-álcali.
que se fazer na hipercalcemia é: trata-se de
um quadro de hiperparatireoidismo ou de
uma malignidade? Situação Especial

O hiperparatireoidismo primário e as malig- Para concluirmos a abordagem da hipercalce-


nidades respondem por 90% dos casos de mia, observe este cenário:
hipercalcemia. Assim, este também deve ser
seu grande diagnóstico diferencial dentro da Cenário 02
síndrome hipercalcêmica.
Veja alguns dados que podem lhe ajudar neste Mulher de 58 anos, com história de câncer
diagnóstico diferencial: de mama ressecado há dois anos, no mo-
mento em hormonioterapia adjuvante, com-
 De uma forma geral, as neoplasias não costu- parece a consulta ambulatorial de rotina
mam abrir o quadro com hipercalcemia, pois queixando-se de lombalgia, fadiga e poliúria,
sendo internada na enfermaria de Clínica
nesse estágio é comum já apresentarem al-
Médica por conta de desidratação. Enquanto
gum outro sintoma relativo ao tumor primário
são coletados exames laboratoriais de ad-
ou a possíveis metástases. Dessa forma, a
missão, desenvolve crises convulsivas toni-
apresentação de hipercalcemia num paciente
coclônicas generalizadas. Dentre os exames
saudável deve direcionar a suspeita para o laboratoriais, a grande alteração é o valor
hiperparatireoidismo primário. sérico corrigido do cálcio de 16 mg/dl. Radio-
grafia da coluna vertebral mostra fratura pa-
- Ambulatorial = Hiperparatireoidismo tológica de L1-L2-L4. Qual a conduta diante
primário deste caso?

- Internado = Neoplasia
Agora estamos diante de uma emergência mé-
 O hiperparatireoidismo primário está geral- dica: a crise hipercalcêmica! Trata-se de uma
mente associado a formas leves e limítrofes situação muito mais comum na hipercalcemia
de hipercalcemia (cálcio corrigido até 11 mg/ de origem neoplásica do que no hiperparati-
dl). Já valores acima de 13 mg/dl são mais reoidismo primário, já que neste último exem-
comuns nas malignidades. plo os níveis de cálcio não costumam se elevar
tanto. Para o controle da hipercalcemia, além
Se não for nenhum desses casos, entra- do tratamento da doença de base, devemos
mos num emaranhado de causas, em que iniciar as “5 medidas” descritas abaixo:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 108

As 5 Medidas Contra A Crise  Zolendronato: tem se tornado o agente de pri-


Hipercalcêmica meira escolha pela potência mais elevada que
o Pamidronato e pelo tempo de administração
1) Hidratação venosa com soro mais conveniente (5-15 minutos x 2 horas).
fisiológico 0,9%
• Dose usual: 4 a 8 mg IV em 15 minutos.
 Dose: 300 ml/h (2-4 L/dia), mantendo dé-
bito urinário de 100-150 ml/h. Atenção nos  Ibandronato: segundo trabalhos recentes, é
casos de cardiopatas ou insuficiência renal tão eficaz quanto o pamidronato, podendo ser
aguda oligúrica. considerado no tratamento da hipercalcemia.

 Fundamento: MUITO IMPORTANTE! Poliú- • Dose usual: 2 a 4 mg IV.


ria e vômitos levam estes pacientes frequen-
temente à desidratação. Como a reabsorção  Clodronato e Etidronato: drogas mais
de cálcio (néfron proximal e alça de Henle) antigas, com baixa potência em relação às
ocorre junto com a reabsorção de sódio, nos anteriores. Utilizadas apenas em caso de
estados de desidratação e hipovolemia, a indisponibilidade das demais.
avidez renal por sal e água acentua a reab-
sorção de sódio e cálcio, agravando ainda  Risendronato: segue em estudos clínicos. A
mais a hipercalcemia. Em pacientes com grande vantagem seria a possibilidade de ad-
cálcio sérico corrigido até 12 mg/dl, apenas ministração oral. No entanto, nem este nem o
a hidratação venosa costuma ser suficiente alendronato (outro bifosfonado administrado
para sua correção. por via oral) são validados para o tratamento
da hipercalcemia.
Dessa forma, a recuperação volêmica com
solução salina leva a maior excreção renal de
Obs. 1: Os bisfosfonatos também podem ser
sódio e, consequentemente, de cálcio.
utilizados de forma profilática. De acordo com
alguns estudos, a injeção mensal de pami-
dronato reduziu a incidência de hipercalce-
2) Furosemida mia grave e o risco de fraturas patológicas e
de compressão medular em pacientes com
 Dose: Não existe dose padronizada. Atentar metástase óssea lítica.
para as perdas volêmicas e hidroeletrolíticas
associadas. Alguns autores não consideram Obs. 2: A necrose avascular da mandíbula foi
essa etapa fundamental após o advento descrita como efeito adverso do uso crônico
dos bisfosfonatos e da calcitonina, já que o de bisfosfonatos, principalmente intraveno-
benefício foi observado num estudo antigo sos, sendo o zolendronato o mais associa-
utilizando altas doses de furosemida. Caso do. O risco parece maior em pacientes com
decida-se pelo seu uso, o mais importante higiene oral precária, próteses (dentaduras)
é só iniciar o diurético após o restabe- mal adaptadas, doença periodontal extensa
lecimento da volemia – lembre que esses e naqueles que são submetidos a extração
pacientes geralmente chegam hipovolêmicos dentária durante o uso do bisfosfonato.
à emergência!
Obs. 3: Os bisfosfonatos só iniciam sua ação
 Fundamento: O uso de diuréticos de alça 24-48 horas após a infusão. Além da hidra-
aumenta a excreção renal de cálcio. tação venosa, a calcitonina, droga de efeito
rápido, pode ajudar a controlar a calcemia até
o início do efeito dos bisfosfonatos.
3) Inibidores da reabsorção óssea

Existem dois agentes principais para esta fi-  Calcitonina: peptídeo hormonal de efeito
nalidade: os bisfosfonatos (ou bifosfonados, oposto ao PTH (hipocalcemiante) por ini-
ambas as grafias são aceitas) e a calcitonina. bir os osteoclastos e aumentar a excreção
Drogas como o nitrato de gálio e a plicamicina renal de cálcio. O início de ação é rápido –
praticamente não são mais usadas por conta em torno de 4 horas – porém o seu efeito é
da eficácia das primeiras. Os mais utilizados, limitado (redução de 1-2 mg/dl) e transitório
na prática, são os bisfosfonatos. Estas drogas (48 horas) por conta do desenvolvimento de
inibem a atividade dos osteoclastos (como taquifilaxia. Pode ser utilizada nas hipercal-
análogos dos fosfatos inorgânicos, “grudam” cemias mais graves, junto com a hidratação
na superfície dos cristais de fosfato de cálcio e venosa, enquanto se espera por um efeito
impedem a liberação de cálcio). Os fármacos mais sustentado dos bisfosfonatos.
disponíveis nesta classe são:
• Dose: 4 U/kg, IM ou SC de 12/12h, podendo
 Pamidronato: agente tradicionalmente mais chegar a 8 U/kg SC de 6/6h.
utilizado.

• Dose usual: 60 a 90 mg IV em 2 horas. A 4) Glicocorticoides


dose não deve ser repetida durante pelo
menos sete dias. O efeito da droga perma- Atuam aumentando a excreção renal de cálcio
nece em média por 15 dias. e reduzindo a absorção intestinal do mesmo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 109

Não são úteis para os quadros de hiperpara- utilizada após o restabelecimento da volemia,
tireoidismo, mas apenas para algumas malig- aumenta a diurese e a calciúria, podendo ser
nidades (efeito antitumoral no mieloma, leuce- usada nos casos inicialmente refratários à HV.
mia, doença de Hodgkin) e doenças que cur- Melhor resposta, portanto, opção B.
sam com aumento da vitamina D (intoxicação
exógena, doenças granulomatosas, linfoma).
Neste caso, reduzem também a produção de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
calcitriol pelas células mononucleares ativadas HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
do pulmão e dos linfonodos. LAURO VANDERLEI – PB
Sobre as hipercalcemias, assinale a assertiva
 Prednisona: 40-100 mg/dia, em quatro doses. FALSA.
a) A elevação dos níveis séricos de cálcio é
característico do hiperparatireoidismo.
5) Hemodiálise b) Pode ocorrer em patologias outras como
Sarcoidose, Hipertireoidismo, neoplasias com
Efetiva no tratamento da hipercalcemia, mas metástases ósseas.
utilizada como último recurso, sobretudo naque- c) Nos casos graves, causa tetania latente
les em que a hidratação vigorosa não é possível (sinal de Chvostek e de Trousseau presentes)
(cardiopatas e insuficiência renal). Caso não ou até tetania franca, com espasmos e cãibras
seja disponível a hemodiálise, uma alternativa dos músculos.
seria a infusão de fosfato venoso, sabendo-se d) Um dos tratamentos de emergência é a hi-
que o risco de hipocalcemia é altíssimo. dratação ampla com solução salina associada
a doses elevadas de furosemida intravenosas.
Conclusão do Cenário 02 e) A calcitonina é um dos agentes hipocalce-
miantes de ação mais rápida, sendo muito
Crise Hipercalcêmica seguro, porém com menor potência que a
Temos uma mulher de 58 anos com hiper- mitramicina.
calcemia aguda sintomática provavelmente
associada à ação osteolítica de metástases Vamos analisar as assertivas:
do câncer de mama. O próximo passo é ini- Letra A – É verdadeira. O hiperparatireoidismo
ciar hidratação venosa com soro fisiológico e primário e a hipercalcemia da malignidade são
bifosfonados, principalmente o zolendronato as causas mais comuns de hipercalcemia.
ou o pamidronato. Se houver disponibilidade,
a calcitonina também deve ser administrada. Letra B – É verdadeira. Todas as doenças ci-
Após a hidratação adequada da paciente, tadas podem cursar com hipercalcemia.
podemos associar também diuréticos de alça Letra C – É incorreta. Na verdade, essas são
ao esquema terapêutico. manifestações clínicas da hipocalcemia, que
estudaremos a seguir.
Letra D – É correta. Um dos pilares do trata-
Veja estas questões: mento da hipercalcemia de qualquer etiologia
é a hidratação venosa vigorosa (restaurando o
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 volume intravascular depletado) e a manuten-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ção do débito urinário elevado, aumentando a
PEDRO ERNESTO – RJ excreção de cálcio e evitando a injúria aos túbu-
Um paciente de 55 anos foi investigado devi- los renais. O uso de furosemida é controverso!
do à hipercalcemia que se mostrou PTH de- Letra E – É correta. A calcitonina atua ini-
pendente. Os exames de imagem revelaram bindo a reabsorção óssea por interferir na
aumento de uma paratireoide, e ele foi inter- função dos osteoclastos, além de promover
nado para realizar ressecção da glândula a excreção urinária. Seu início de ação se dá
acometida. Após hidratação venosa com soro em 4 a 6 horas, com duração do seu efeito
fisiológico a 0,9%, seu cálcio sérico permane- por cerca de 48 horas. A mitramicina tem seu
cia elevado. Nessa situação, a redução da início com 8 a 12 horas após a administração.
calcemia pode ser intensificada com o uso de: Pode cursar com trombocitopenia, hepato e
a) Vitamina D. nefrotoxicidade, sendo muito pouco utilizada
b) Furosemida. atualmente.Embora a opção D seja contestá-
c) Clortalidona. vel, a letra C está claramente errada, sendo
d) Carbonato de lítio. o gabarito da questão.

Temos um paciente com hiperparatireoidismo


primário que é internado com hipercalcemia.
Ora, a base do tratamento da hipercalcemia é RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
a hidratação venosa, pois quase todos os pa- UNIVERSIDADE FEDERAL DO
cientes com hipercalcemia estão hipovolêmi- RIO DE JANEIRO – UFRJ
cos, devido à poliúria e aos vômitos. A simples Helena, 57 anos, com câncer de mama e me-
restauração do débito cardíaco, com hidratação tástases ósseas. É admitida na emergência
oral nos casos leves ou endovenosa nos casos com desorientação e desidratação. A TC de
mais graves, aumenta a taxa de filtração glo- crânio foi normal e os exames laboratoriais
merular e consequentemente a calciúria. Ge- revelaram cálcio sérico corrigido de 14ng/ml.
ralmente objetivamos manter um débito uriná- Além de hidratação venosa com solução sali-
rio entre 100 e 150 ml/h. A furosemida, quando na, a medicação adequada é:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 110

a) Bifosfonato. de PTH (PTH = 80, VN até 65). Demais exa-


b) Corticosteroides. mes: cálcio sérico 8,5; fósforo sérico 3,5; al-
c) Fósforo quelado. bumina sérica e cálcio urinário normais. A
d) Diuréticos de alça. conduta inicial é:
a) Dosar vitamina D plasmática.
Paciente muito parecida com a do nosso b) Solicitar cintilografia com sestamibi.
cenário clínico. Como acabamos de ver, os c) Encaminhar para paratireoidectomia.
bifosfonados são os agentes mais potentes d) Iniciar terapia de reposição hormonal.
para a hipercalcemia e devem ser iniciados
juntamente com a hidratação vigorosa com Idosa portadora de osteoporose com PTH
solução salina isotônica. Como se trata de um sérico aumentado, porém cálcio e fosfato nor-
mecanismo local osteolítico, os corticoides não mais (como não há medida da albumina, va-
serão eficazes. Os diuréticos de alça podem mos presumir que esse cálcio sérico esteja
ser utilizados, embora não sejam fundamen- normal). É possível que estejamos diante de
tais. A utilização de fósforo quelado foi uma um caso de hiperparatireoidismo primário?
prática utilizada durante muito tempo, mas de- Sim, embora não seja comum, o hiperparati-
vido aos seus efeitos adversos foi substituída reoidismo normocalcêmico existe e está as-
após o advento dos bifosfonados. Resposta: A. sociado principalmente à deficiência de vita-
mina D - para entender o que ocorre nesta
condição, basta observarmos como o PTH age
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 para aumentar a calcemia:
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP
M.J.S, 50 anos, sexo feminino, dá entrada no - Retirando cálcio do osso (causando redução
PS de madrugada com clínica de náuseas, da densidade óssea)
vômitos, fraqueza e tremores. A paciente é
portadora de câncer de mama e encontra-se - Aumentando a reabsorção renal de cálcio
em tratamento quimioterápico por apresentar
múltiplas metástases ósseas e metástase em - Estimulando a produção de vitamina D ativa
pulmão direito. Ao exame físico encontra-se através da enzima 1alfa-hidroxilase (que leva-
nitidamente desidratada, letárgica, confusa, rá, por exemplo, ao aumento da absorção
eupneica, afebril. CPP: diminuição de MV intestinal de cálcio)
em base pulmonar direita. BC arrítmicas
normofonéticas sem sopros. Paciente mas- Se há falta de vitamina D, um dos mecanismos
tectomizada à direita; ausência de sinais de pelos quais o PTH leva à hipercalcemia falha,
recidiva em plastrão ou linfonodomegalia e o distúrbio eletrolítico pode se manifestar
locorregional. Exame do abdômen sem parti- apenas após a reposição da vitamina. Por essa
cularidades. História de HAS em uso de diu- razão, muitos autores preconizam a dosagem
rético tiazídico e captopril. Relatam início do de vitamina D ativa em todo paciente com pro-
quadro agudo há 20 horas. Qual a hipótese vável hiperparatireoidismo primário, repondo a
diagnóstica mais provável? vitamina em caso de níveis baixos (< 20 ng/ml),
a) Síndrome da veia cava superior. antes de qualquer decisão quanto ao tratamen-
b) Síndrome de Claude Bernard-Horner. to (incluindo cirurgia). Isso é feito já que a sim-
c) Síndrome da lise tumoral. ples reposição de vitamina D pode, por exem-
d) Síndrome hipercalcêmica. plo, aumentar a densidade óssea. Esta reposi-
e) Síndrome da compressão medular. ção deve ser cautelosa, a fim de não precipitar
hipercalcemia. Resposta letra A.
É claro que fica mais simples fazer esta
questão quando ela está no capítulo de dis-
túrbios do cálcio. No entanto, a dificuldade RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
dela é mínima. Paciente com tumor de mama UNIVERSIDADE FEDERAL DO
e metástase óssea, clínica de hipercalcemia RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
(desidratação, vômitos, fraqueza, confusão Paciente do sexo feminino, 68 anos, assinto-
mental, hipertensão) e usuária de tiazídicos. mática, com antecedentes de hipertensão
No que mais podemos pensar? Apenas numa arterial e câncer de mama há cerca de nove
síndrome hipercalcêmica. Resposta: D. anos, quando foi submetida à mastectomia
esquerda radical, além de quimioterapia e
radioterapia adjuvantes. Não houve evidências
Você já deve ter percebido que as questões de recidiva até o momento. Está em uso de
sobre hipercalcemia geralmente não são difí- losartan 50 mg/dia e anlodipino 5 mg/dia. Vem
ceis, e muitas se repetem ano após ano. Antes para a consulta com os seguintes exames:
de fechar o tema, vamos, porém, passar al- hemoglobina = 13,2; hematócrito = 39%; leu-
guns conceitos adicionais com duas questões cócitos = 6600 (diferencial normal); plaquetas
mais difíceis: = 234.000; creatinina = 0,9 mg/dl (VR =
0,5-1,3); Na = 141 (VR = 135-145); K = 4,8
(VR = 3,5-5,0); cálcio total = 11,8 (VR = 8,8-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 11); fósforo = 3,1 (VR = 2,5-4,5); proteínas
UNIVERSIDADE FEDERAL DO totais = 6,2 mg/dl; albumina = 4,0 mg/dl; cálcio
RIO DE JANEIRO – UFRJ urinário 24h = 220,0 mg/24h (VR = 150-300).
Mulher, 75 anos, com diagnóstico de osteopo- Repetiu exame, o que revelou cálcio total =
rose, procura atendimento devido a aumento 12,0 (VR = 8,8-11), além de PTH intacto = 74,2
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 111

(VR = 33-75). A principal hipótese diagnóstica paratireoidismo primário o PTH é normal (ge-
para essa paciente é: ralmente no limite superior da normalidade).
a) Mieloma múltiplo. No entanto, devemos lembrar que esse PTH
b) Hiperparatireoidismo primário. está inapropriadamente elevado para o grau
c) Hipercalcemia da malignidade. de hipercalcemia (deveríamos ter um PTH
d) Intoxicação por vitamina D. baixo na presença de hipercalcemia!). Ou seja,
é como se tivéssemos um PTH “inapropriada-
Vamos aprender com a questão... Temos mente elevado”. O que ocorre? Inicialmente,
uma paciente de 68 anos com hipercalcemia o PTH realmente está aumentado pela doen-
e PTH no limite superior da normalidade se- ça, causando hipercalcemia... só que esta, por
gundo os dados da questão, sem outros acha- sua vez, reduz o PTH, podendo trazê-lo de
dos laboratoriais. A grande dúvida ficou entre volta para a faixa normal. Outro ponto a ser
as opções B e C, e muitos alunos deixaram considerado é que a hipofosfatemia ocorre em
de marcar hiperparatireoidismo primário devi- cerca de metade dos casos de hiperpara pri-
do ao PTH e fósforo normais! Erraram! Esco- mário, ou seja, também não podemos excluir
lha de muitos candidatos, a hipercalcemia da este diagnóstico baseados em um fósforo
malignidade (por produção ectópica de PTH sérico normal. Assim, não há nenhum dado na
ou invasão óssea estimulando atividade oste- questão que exclua a hipótese de hiperpara-
oclástica) geralmente com PTH MUITO BAI- tireoidismo primário, que é, de fato, a melhor
XO, já que a síntese e a liberação deste hor- hipótese diagnóstica dentre as apresentadas
mônio estão inibidas na presença de hipercal- (resposta letra B). Reveja, mais uma vez, os
cemia. Ou seja, o PTH sérico fornecido pela conceitos passados no início do capítulo:
questão, no limite superior da normalidade
(“mais para alto do que para baixo”) é um for- - Na hipercalcemia “dependente do PTH”
te dado CONTRA o diagnóstico de hipercal- (ex.: hiperpara primário), o PTH está aumen-
cemia da malignidade! tado ou no limite superior da normalidade.

E o hiperpara primário? O PTH não deveria - Na hipercalcemia “independente do PTH”


estar aumentado??? Um ponto que deve ser (ex.: malignidade), o PTH está caracteristi-
ressaltado é que em 10% dos casos de hiper- camente bastante reduzido (<<< 25 pg/ml).

HIPOCALCEMIA

Manifestações Clínicas crônica: alterações dentárias, catarata, cal-


cificação dos gânglios da base e distúrbios
Vejamos abaixo algumas características da extrapiramidais. A alcalose tanto metabólica
hipocalcemia... quanto respiratória pode piorar a hipocalce-
mia, pois o pH alcalino aumenta a afinidade
 O aumento da excitabilidade neuromuscular do cálcio pela albumina, reduzindo a fração
caracteriza as principais manifestações da ionizada do cálcio.
síndrome, representadas por um achado tí-
pico: a tetania – uma contratura mantida ou
prolongada. A tetania é mais comum quando
o cálcio estiver abaixo de 7-7,5 mg/dl. Os
sintomas podem ser sensitivos ou motores,
leves (parestesias periorais, formigamentos
e cãibras) ou graves (espasmos carpopedais,
laringoespasmo, convulsões).

 Alguns pacientes não fazem tetania espon-


tânea, mas apresentam tetania latente, isto
é, que aparecem com algumas manobras:

1) Sinal de Trousseau – espasmo


cárpico (adução do polegar + flexão
das metacarpofalangeanas e extensão
das interfalangeanas) após insuflação do man-
guito 20 mmHg acima da PA sistólica (e esse
valor caiu na prova prática da Santa Casa de
São Paulo em 2011!!!) durante três minutos. Figura 6

2) Sinal de Chvostek – contração dos mús-


culos faciais ipsilaterais após percussão do Mais simples impossível!
nervo facial abaixo do arco zigomático.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
 Hipocalcemia aguda: tetania, hipotensão, SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SP
papiledema e convulsões. Hipocalcemia É correta a comparação entre os achados
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 112

clínicos e laboratoriais dos distúrbios das pa- Vejamos algumas características dessas do-
ratireoides: enças:
a) Hiperparatireoidismo - tetania / hipoparati-
reoidismo - osteoporose.
b) Hiperparatireoidismo - catarata / hipopara- Hipoparatireoidismo
tireoidismo - poliúria.
c) Hiperparatireoidismo - calcificações intra-  Conceito: Insuficiência da paratireoide em
cranianas / hipoparatireoidismo - obstipação secretar PTH, levando à hipocalcemia.
intestinal.
d) Hiperparatireoidismo - nefrolitíase / hi-  Etiologia: A causa mais comum é a des-
poparatireoidismo - sinal de Chvostek. truição cirúrgica das paratireoides, princi-
e) Hiperparatireoidismo - parestesias / hipopa- palmente após as tireoidectomias (1-2%).
ratireoidismo - encurtamento do intervalo QTc. A exposição à irradiação cervical durante
a infância é fator de risco para o desenvol-
vimento de hipoparatireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL  Outras condições incluem:
FLUMINENSE – UFF
O sinal de Chvostek e o de Trousseau fazem • Idiopática (raro distúrbio genético).
parte das manifestações clínicas da:
a) Hipercalcemia. • Síndrome poliglandular autoimune tipo
b) Hipernatremia. 1 (abordada no capítulo de suprarrenal).
c) Hipopotassemia. Associação com adrenalite autoimune e
d) Hipocalcemia. candidíase mucocutânea.
e) Hiperpotassemia.
• Sobrecarga de ferro (hemocromatose) e
cobre (doença de Wilson).
Etiologia
• Síndrome de Di George: rara anomalia
De uma forma geral, podemos dividir os qua- congênita caracterizada por aplasia ou
dros de hipocalcemia em dois grupos a partir hipoplasia do timo (levando à imunodefi-
da dosagem do PTH: ciência celular grave) e das para­tireoides
(1) Hipoparatireoidismo (PTH reduzido ou (levando ao hipoparatireoidismo), frequen-
indetectável) temente associa­da à malformação car-
diovascular. O óbito é precoce, devido a
(2) Paratireoide normal (PTH normal ou
infecções oportunistas, hipocalcemia com
elevado)
convulsões e complicações cardíacas.

Causas de hipocalcemia • Nas formas graves de hipomagnesemia


Hipoparatireoidismo (Mg < 1,0 mg/dl), a secreção de PTH
 Remoção cirúrgica (tireoidectomia, parati- também está prejudicada. Para piorar, a
reoidectomia, cirurgia cervical radical). hipomagnesemia ainda induz a uma resis-
 Doença infiltrativa (hemocromatose, doen- tência à ação do PTH. Conclusão: a hi-
ça de Wilson, metástases). pomagnesemia deve ser sempre excluída
 Irradiação. quando estivermos diante de um quadro
 Congênito: Idiopático, síndrome poliglandu- de hipocalcemia. (OBS.: valor normal do
lar autoimune tipo1, síndrome de DiGeorge. magnésio = 1,5-2,5 mg/dl).
 Hipomagnesemia (funcional).
Pseudo-hipoparatireoidismo (Resistência
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
ao PTH)
HOSPITAL SÃO JOSÉ DO AVAÍ – HSJA
Paratireoide Normal Que deficiência dos eletrólitos, abaixo, resulta
1) Distúrbios relacionados à vitamina D em um hipoparatireoidismo transitório?
• Deficiência (dieta, má absorção, perda a) Magnésio. c) Potássio.
acentuada). b) Fósforo. d) Zinco.
• Metabolismo alterado (reações de hidro-
xilação). Resposta: A. Esta é sem dificuldade, mas
• Resistência à vitamina D. veja abaixo como é muito particular a partici-
2) Outros distúrbios pação do magnésio na hipocalcemia...
• Quelação: hiperfosfatemia (rabdomiólise,
insuficiência renal crônica, fosfato exó-
geno), transfusões maciças (ligação com RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
citrato), drogas (foscarnet). UNIVERSIDADE DO ESTADO
• Doente crítico: sepse e pancreatite aguda. DO RIO DE JANEIRO – UERJ
• Depósito excessivo no esqueleto: síndrome Uma gestante com pré-eclâmpsia vinha sendo
“do osso faminto” (pós-paratireoidectomia), tratada com sulfato de magnésio quando um
metástase osteoblástica (mama e próstata). exame revelou nível sérico de magnésio de
• Infecção pelo HIV (terapia antirretroviral). 10,2 mEq/L. Neste momento, poderia ser tam-
• Neonatal (prematuridade, asfixia, hiperpa- bém esperada a seguinte alteração eletrolítica:
ratireoidismo materno). a) Hiponatremia.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 113

b) Hipocalcemia. to, dosagem do PTH e cálcio sérico.


c) Hiperfosfatemia. b) Hipoparatireoidismo, resultado do manuseio
d) Hiperpotassemia. cirúrgico. Deve ser iniciada, de imediato, re-
posição de cálcio, via endovenosa.
Resposta B. Neste ponto você certamente c) Hipopotassemia aguda, pelo manuseio pré-
irá questionar: Mas não é a hipomagnesemia -operatório. Deve ser iniciada, de imediato,
que causa hipocalcemia por inibir a secreção reposição de potássio, via endovenosa.
do PTH?? Mais um conceito para você: A hi- d) Quadro conversivo em paciente com trans-
permagnesemia grave (geralmente ocasionada torno mental. Deve ser iniciado, de imediato,
por administração excessiva de sulfato de mag- benzodiazepínico endovenoso.
nésio em gestantes com eclâmpsia) também
pode suprimir a secreção de PTH, levando à Esse tipo de questão é clássico de prova!
hipocalcemia. Ou seja, tanto a hipo quanto a Todo ano, alguma banca de clínica médica
hipermagnesemia podem levar à hipocalcemia! questiona sobre isso. Bom, lembrando da ana-
tomia, sabemos que as glândulas paratireoides
possuem grande proximidade com a tireoide
 Manifestação Clínica: Síndrome de hipo- (se relacionam diretamente com sua cápsula)
calcemia. e uma complicação muito comum nas tireoi-
dectomias é a retirada inadvertida das parati-
 Diagnóstico: Hipocalcemia + Hiperfosfate- reoides durante o ato cirúrgico. Quais são as
mia + níveis baixos ou indetectáveis (< 10 manifestações clínicas de um hipoparatireoi-
pg/ml) de PTH. dismo agudo? • Parestesias nas extremidades
e região perioral; • Cãibras musculares; • La-
 Tratamento da hipocalcemia aguda: Glu- ringoespasmo; • Convulsões generalizadas. A
conato de cálcio 1-2 g IV em 10-20 minutos causa desses sintomas é a hipocalcemia gra-
ve. O tratamento das formas graves baseia-se
 Tratamento da hipocalcemia crônica: na reposição endovenosa de gluconato de
Consiste na reposição de: cálcio 1-2 g em 10-20 minutos. Portanto, a
única alternativa possível é a opção B.
(1) Cálcio elementar 1-3 g/dia. Existem várias
formulações, sendo a mais utilizada a de
carbonato de cálcio VO deve ser 1-2 g/dia. Pseudo-hipoparatireoidismo

(2) Vitamina D 50.000/dia por 2-3 semanas Trata-se de um distúrbio raro que se inicia
e depois a mesma dose mensalmente. na infância, caracterizado por ausência de
Observe que se trata de uma dose muito resposta ao PTH nos ossos e no rim. Nessa
superior à dose fisiológica de 200-400U/ situação, teremos hipocalcemia e hiperfosfa-
dia. Quando se necessita de um efeito temia. Como resposta à resistência periférica,
mais rápido, a opção é a reposição direta as paratireoides se hipertrofiam e produzem
do metabólito ativo da vitamina D, o calci- mais PTH (> 65 pg/ml). Existem duas formas
triol, na dose 0,5-1 µg/dia. de pseudo-hipoparatireoidismo separadas
de acordo com o mecanismo de resistência
hormonal. A mais importante delas, a forma
Qual o cuidado que se precisa ter com a 1A, refere-se aos pacientes com uma condi-
reposição nesses doentes? ção chamada osteodistrofia hereditária de
Albright (síndrome caracterizada por baixa
Como há deficiência do PTH, a reabsorção estatura, obesidade, face redonda, pescoço
de cálcio também está prejudicada e com o curto e braquidactilia).
retorno dos níveis séricos do cátion, pode
ocorrer hipercalciúria e nefrolitíase. Por isso,
recomenda-se a manutenção do cálcio no Distúrbios Relacionados
limite inferior (8,5-9,2 mg/dl) e a dosagem da à Vitamina D (Raquitismo/
excreção urinária de cálcio e do PTH após Osteomalácia)
2-4 semanas do início do tratamento. O uso
de diuréticos tiazídicos pode ajudar a reduzir Basicamente, podemos dizer que são três os
a excreção urinária de cálcio. distúrbios principais:

(1) Deficiência de vitamina D: Como só exis-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 tem duas fontes (pele e dieta), a deficiência
UNIVERSIDADE DO ESTADO pode ocorrer por Exposição solar inadequa-
DO RIO DE JANEIRO – UERJ da, dieta insuficiente ou má-absorção intes-
Mulher de 50 anos, com transtorno ansioso- tinal. Outra via seria uma perda acentuada
-depressivo em acompanhamento clínico há da vitamina D por anticonvulsivantes.
longa data, foi submetida à tireoidectomia. No
pós-operatório apresenta cãibras e pareste- (2) Metabolização inadequada: Vimos que
sias que evoluem para quadro convulsivo. a vitamina D precisa sofrer reações de hi-
Neste caso, o raciocínio causal e probabilísti- droxilação no fígado e no rim para chegar
co orientam que se trata de: à sua forma ativa 1,25(OH)2D3. No fígado,
a) Hiperparatireoidismo, resultado do manu- este defeito pode ser congênito, desenca-
seio cirúrgico. Deve ser solicitada, de imedia- deado pela isoniazida ou mais raramente
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 114

atribuído a uma hepatopatia grave. No rim,  Tratamento:


esta alteração ocorre principalmente na in-
suficiência renal, mas também em alguns (1) Deficiência de Vitamina D – Vitamina
distúrbios congênitos. D 50.000/dia por 2-3 semanas e depois
a mesma dose mensalmente. Observe
(3) Resistência: Ocorre por uma mutação no que se trata de uma dose muito superior
gene do receptor da forma ativa 1,25(OH)2D3. à dose fisiológica de 200-400U/dia.
Uma característica peculiar é o aumento dos
níveis de 1,25(OH)2D3. (2) Metabolização inadequada / Resistên-
cia à vitamina D – Como há prejuízo na
 Diagnóstico: No início deste capítulo já conversão de 25 (OH) vitamina D em 1,25
destacamos a importância da vitamina D na (OH)2 vitamina D ou no efeito da forma
regulação do metabolismo do cálcio e do ativa sobre seu receptor, a administração
fosfato. A função principal deste hormônio direta do calcitriol é preferencial.
seria aumentar a absorção intestinal de
cálcio e de fósforo. Portanto, na deficiência
de vitamina D, as alterações laboratoriais RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
esperadas são HIPOcalcemia + HIPOfos- (ACESSO DIRETO 1)
fatemia. A hipocalcemia, por sua vez, es- HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ
timula a secreção de PTH, que, portanto, Mulher idosa, 70 (setenta) anos, retorna à
encontra-se em níveis elevados, muitas consulta geriátrica com exames complemen-
vezes retornando a calcemia para níveis tares, que apresentam dosagem de vitamina
normais ou no limite inferior da normali- D de 15 ng/ml. Qual deve ser a conduta do
dade. O aumento do PTH contribui ainda médico nesta situação?
mais para a hipofosfatemia, pelo seu efeito a) Reposição oral com 800 UI/dia de vitamina
fosfatúrico. A deficiência de vitamina D é D, por um mês, repetindo os exames após
confirmada pelos baixos níveis séricos de esse período.
25 (OH) vitamina D (normal = 30-100 ng/ b) Reposição injetável com 5000 UI/ semana
ml). Podemos dizer: os níveis de 25 (OH) por seis meses, seguida de reposição oral
vitamina D são um reflexo preciso do for- com 600 UI diariamente.
necimento de vitamina D! c) Reposição oral com 50.000 UI /semana,
durante seis a oito semanas, seguida de
Vamos lembrar o que chama a atenção nes- reposição oral com 800 UI diariamente.
sas condições: a fraqueza muscular proximal d) Orientar a paciente a tomar sol diaria-
e a osteopatia. Quando ocorre na criança, mente, durante vinte minutos.
recebe o nome de raquitismo; no adulto, o e) Reposição oral com 1000 UI uma vez na
termo é osteomalácia. semana, por seis meses.
Deformidades clássicas do raquitismo:
 abaulamento do osso frontal De maneira geral, quando a 25(OH)D – me-
 sulco de Harrison (colapso lateral das pa- tabólito utilizado para mensuração sistêmica
redes torácicas) de vitamina D – está muito abaixo do dese-
 rosário raquítico (abaulamentos na região jado (abaixo de 20 ng/mL), o esquema de
anterior dos arcos costais) ataque é necessário para repor os estoques
 arqueamento do fêmur e da tíbia corporais. O esquema mais utilizado atual-
Na osteomalácia, temos osteopenia difusa, mente é de 50.000 UI/semana (ou 7.000 UI/
colapso vertebral e a pseudofratura ou zona dia) de vitamina D por seis a oito semanas.
de Looser (FIGURA 7 – linhas de osteopenia Caso a meta de 25(OH)D não tenha sido
perpendiculares à diáfise de um osso longo atingida, um novo ciclo pode ser proposto.
ou pélvico). Essas linhas parecem fraturas, Como pode existir uma variação individual
mas são, na verdade, achados da matriz ós- na resposta ao tratamento, a reavaliação
sea pouco mineralizada. dos valores plasmáticos após cada ciclo
mostra-se ideal, especialmente nos casos
de deficiências mais graves, até que a meta
seja alcançada. Após esse período, a dose
de manutenção deve ser instituída e varia
de acordo com a faixa etária e com as con-
dições concomitantes. Para uma paciente de
70 anos sem fatores de risco para deficiên-
cia de vitamina D, uma dose de 800 UI/dia
é suficiente. A reposição é feita por via oral.
Resposta correta: LETRA C. Observe que o
esquema de ataque do paciente com defi-
ciência de vitamina D assintomática (50.000
UI/semana por 6-8 semanas) é diferente do
esquema de ataque do paciente com doença
óssea secundária à deficiência de vitamina
D que acabamos de estudar (50.000 UI/dia
Figura 7: Zona de Looser. durante 2-3 semanas).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 115

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 da acuidade visual e lesão eczematosa na


FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – superfície extensora do antebraço. O ECG
HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG mostra aumento do intervalo QT. Ao checar
O raquitismo e a osteomalácia são doenças os exames deste paciente, temos um cálcio
caracterizadas por deficiência na mineraliza- de 7,0 mg/dl. Será que estes dados são com-
ção óssea ou das cartilagens. No raquitismo, patíveis com este valor do cálcio?
a deficiência na mineralização compromete as
cartilagens de crescimento. Já na osteomalá-
cia, há deficiência na mineralização do osso
Primeiro passo:
cortical e trabecular. Assim, enquanto adul-
tos podem apresentar apenas osteomalácia, Corrigir os valores do cálcio total
crianças apresentam tanto raquitismo como
osteomalácia. A causa mais comum destas OBS: O primeiro passo é sempre confirmar a
patologias está ligada à deficiência de: redução do cálcio iônico. Se os níveis de albu-
a) Ácido fólico. c) Vitamina D. mina forem normais, o cálcio total é capaz de
b) Niacina. d) Vitamina E. representar com segurança os níveis do cálcio
ionizado. Do contrário, devemos utilizar a dosa-
gem da fração ionizada ou a fórmula de correção
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 vista anteriormente. Na dúvida, repita o exame.
INSTITUTO JOSÉ FROTA – IJF
Paciente do sexo feminino, 30 anos, foi sub-
Segundo passo:
metida a uma tireoidectomia total por carci-
noma papilífero. Doze horas após a cirurgia, Identificar e tratar a causa da hipocalcemia
apresentou parestesias e espasmos mus-
culares e, em seguida, convulsão. O mais Mas para facilitar, a pergunta que você tem
provável diagnóstico é: que se fazer na hipocalcemia é: trata-se de
a) Hipomagnesemia. um quadro de hipoparatireoi­dismo ou de
b) Hiponatremia severa. deficiência de vitamina D?
c) Hipocalcemia.
d) Hipotireoidismo. Assim, além do PTH, a dosagem do fosfato e
da 25(OH) vitamina D também podem auxiliar
Não há dúvida. Estamos falando da principal no diagnóstico. Esta última é um dos metabó-
causa de hipoparatireoidismo, o pós-cirúrgico. litos da vitamina D que surge após a primeira
O resultado é a hipocalcemia, na maioria reação de hidroxilação (hepática). A sua dosa-
das vezes, transitória. O hipoparatireoidismo gem é melhor do que a da forma ativa, porque
permanente só ocorre nos casos de lesão ocorre no plasma numa concentração 1.000
acidental irreversível ou de lesão vascular. vezes maior. Se não for nenhum desses casos,
Resposta: C. entramos no chamado “outros distúrbios”. E
nesse caso, a história vai ter que indicar algum
dado (ex.: transfusão maciça).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR MG – HPM Conclusão do Cenário 03
Paciente após hemotransfusão volumosa ini-
Síndrome Hipocalcêmica
ciou com quadro de parestesia perioral, cãi-
bras, convulsões, arritmia cardíaca e espasmo Temos um paciente de 63 anos com hipo-
carpo pedal após insuflação de manguito no calcemia crônica pós-tireoidectomia. Neste
braço acima da pressão sistólica. caso, a origem da hipocalcemia está explícita
Qual distúrbio hidroeletrolítico está associado e se deve à principal causa de hipoparatireoi-
a estes sintomas? dismo que é o pós-cirúrgico. Basta apenas
a) Hiperpotassemia. c) Hiponatremia. iniciarmos a reposição de cálcio e de vitamina
b) Hipocalcemia. d) Hipomagnesemia. D, com monitorização do cálcio sérico, PTH e
calciúria. O objetivo deve ser a manutenção
Também sem maiores dificuldades... Sabe- do cálcio entre 8,5 e 9,2 mg/dl.
mos que o citrato compõe as bolsas de sangue
e que, em hemotransfusões maciças (ex.: trau-
ma vascular), ele pode atuar como importante Situação Especial
quelante do cálcio, reduzindo drasticamente
seus níveis séricos. Resposta: B. Para concluirmos a abordagem da hipocalce-
mia, observe este cenário:

Abordagem Geral Cenário 04


Jovem de 28 anos chega à emergência após
Imagine o cenário clínico abaixo... briga em boate, quando foi atingido por um
projétil de arma de fogo cursando com ruptu-
Cenário 03 ra de artéria femoral e choque hipovolêmico.
Senhor de 63 anos de idade, com história Após medidas de ressuscitação volêmica e
de tireoidectomia há cinco anos, vem se hemotransfusão de oito bolsas de sangue, o
queixando de cãibras e parestesias nos paciente começou a apresentar tetania e con-
membros inferiores. Durante a revisão de vulsões tonicoclônicas generalizadas. Cálcio
sinais e sistemas você nota também redução sérico de 6 mg/dl. Como abordar este caso?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 116

Cálcio de 6 mg/dl????? Paciente sintomáti- diluído no soro de hidratação. Checar ini-


co??? Trata-se de uma situação emergencial cialmente a função renal. Os reflexos tendi-
e o tratamento consiste na reposição venosa nosos profundos podem ser utilizados para
de gluconato de cálcio. avaliar a taxa de reposição do magnésio e
reflexos abolidos indicam que a reposição
 Dose inicial: Gluconato de cálcio 1-2 g deve ser interrompida.
(1-2 ampolas de 10 ml a 10%) IV em 10-20
minutos.
Conclusão do Cenário 04
 Dose de manutenção: infusão contínua Hipocalcemia Grave
com uma solução contendo 6 g (60 ml) de
gluconato de cálcio em 500 ml de soro gli- Estamos diante de uma hipocalcemia agu-
cosado 5%, correndo-se a 0,5-1,5 mg/kg/h. da sintomática pós-transfusional. Devemos
ficar atentos para essa condição toda vez
Os níveis de cálcio costumam se estabilizar
que um paciente abre sinais sugestivos de
nas primeiras seis horas de reposição.
hipocalcemia, após receber diversas bolsas
de hemoconcentrado. Como vimos, o trata-
 Reposição de magnésio (em caso de
mento consiste principalmente na reposição
hipomagnesemia associada): 1-2 g de de gluconato de cálcio e sulfato de magnésio
sulfato de magnésio (1-2 ampolas a 10%) quando necessário (magnésio baixo é causa
em 15 minutos, seguido da infusão contínua de hipocalcemia refratária).
de 6 g/24h (6 ampolas a 10% em 24 horas),

Parte II – Distúrbios do Fosfato e Magnésio

DISTÚRBIOS DO FOSFATO metabólica, hemólise e comprometimento da


função leucocitária.

Hipofosfatemia (P < 2,5 mg/dl)  Crônica: raquitismo/osteomalácia e a fraque-


za muscular proximal.
Mecanismos principais
Tratamento
 Redistribuição interna: o fosfato é consu-
mido pela glicólise celular e, por isso, a admi-  Infusão venosa cuidadosa de fosfato.
nistração de insulina durante o tratamento da Grande risco = hipocalcemia aguda sinto-
cetoacidose diabética é uma importante causa mática e a precipitação de fosfato de cálcio
de hipofosfatemia (reveja na apostila de Sín- nos tecidos. Utiliza-se o fosfato ácido de
drome Metabólica II). Além disso, o organismo potássio, com uma diluição mínima de 0,5
geralmente está depletado de fosfato pela g em 500 ml de soro. A dose preconizada é
poliúria osmótica. Na alcalose respiratória, 2 g em 24h. Quando possível, dá-se prefe-
o aumento do pH intracelular estimula uma rência para a reposição oral. Nos pacientes
enzima chave da glicólise – a fosfofrutoquina- gravemente expoliados, recomenda-se 3 g/
se – aumentando o consumo de fosfato. dia de fosfato nos primeiros três dias.

 Redução da absorção intestinal: inges-


tão de mínima quantidade diária de fosfato Hiperfosfatemia (P > 4,5 mg/dl)
(< 100 mg/dia), doenças disabsortivas com
esteatorreia e o uso crônico de quelantes de Mecanismos principais
fosfato (ex.: antiácidos a base de magnésio
ou alumínio e o carbonato de cálcio) são
exemplos importantes.  Liberação celular: inclui a rabdomiólise,
trauma muscular extenso, terapia citotóxica
 Perda renal: Lembrar sempre o hiperparati- para tumores agressivos (lise tumoral), hipo-
reoidismo primário e o hiperparatireoidismo termia grave.
secundário à deficiência de vitamina D. A  Retenção renal: insuficiência renal aguda
síndrome de Fanconi (disfunção tubular pro- ou crônica, o hipoparatireoidismo, no pseu-
ximal) também deve ser lembrada, associada do-hipoparatireoidismo e em pequeno grau,
ao mieloma múltiplo e uma deficiência na no hipotireoidismo.
reabsorção tubular de glicose (glicosúria),  Pseudo-hiperfosfatemia: o sangue hemo-
aminoácidos (aminoacidúria), bicarbonato lisado durante a coleta contém altos níveis
(bicarbonatúria) e fosfato (fosfatúria). de potássio e fosfato, podendo levar à falsa
interpretação do nível sérico destes ânions.

Manifestações clínicas
Manifestações clínicas
 Agudas: encefalopatia metabólica, fraqueza
muscular generalizada, disfunção miocárdi- A principal é a hipocalcemia aguda sintomá-
ca, rabdomiólise, hipóxia tecidual, acidose tica, que pode se manifestar com tetania e
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 117

convulsões. O fosfato rapidamente se liga logias são semelhantes e pelo fato de a


ao cálcio sérico, formando complexos que se hipomagnesemia ter um efeito caliurético
precipitam nos tecidos moles. (aumenta a excreção renal de potássio). A
hipomagnesemia, conforme vimos, também
pode estar associada ao hipoparatireoidis-
Tratamento mo e hipocalcemia.

Soro fisiológico ou hemodiálise (nos casos de


insuficiência renal). O uso de quelantes do Tratamento
fosfato da dieta (ex.: hidróxido de alumínio)
também pode ser usado a curto prazo.
 Reposição IV de sulfato de magnésio na
dose de 1-2 g (1-2 ampolas a 10%) em 15
Distúrbios do Magnésio minutos, seguido da infusão contínua de 6
g/24h (6 ampolas a 10% em 24h), diluído no
Hipomagnesemia (Mg < 1,5 mg/dl) soro de hidratação. Para repor os estoques
celulares depletados, a infusão deve ser
Mecanismos mantida por 3-7 dias.

Hipermagnesemia (Mg > 2,5 mg/dl)


 Redução da absorção intestinal: baixa
ingestão, síndromes disabsortivas com es-
teatorreia. Mecanismos
 Perda renal: uso de diuréticos e drogas ne-
frotóxicas (ex.: aminoglicosídeos e a anfote-  Retenção renal (insuficiência renal)
ricina B).
 Administração excessiva de magnésio exó-
Obs.: O alcoolismo pode causar hipomagne- geno (no tratamento da eclâmpsia ou da pré-
semia tanto pela ingestão baixa como pelo -eclâmpsia de alto risco).
aumento da excreção renal de magnésio por
efeito direto do etanol.
Manifestações clínicas
Manifestações clínicas
A intoxicação pelo magnésio começa a dar sinais
e sintomas assim que a magnesemia torna-se
Relacionadas ou não à hipocalemia/hipocal- maior que 4,5 mg/dl. Inicialmente o paciente de-
cemia. Incluem fraqueza, anorexia, vômitos, senvolve hiporreflexia tendinosa. O agravamento
tetania, convulsões, arritmias atriais e ventri- da hipermagnesemia pode levar à arreflexia,
culares, principalmente quando associado à fraqueza muscular, bradipneia e até mesmo à
hipocalemia. O ECG pode mostrar aumento parada respiratória e cardíaca.
do PR.

Tratamento
Conceito
A depleção de magnésio está muito associa-  Gluconato de cálcio 1-2 g IV (o cálcio funcio-
da à depleção de potássio, já que as etio-
na como “antídoto” do magnésio).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 118

Doença da Estrutura Óssea

A cabamos de ver dentro dos distúrbios do Metabolismo Mineral


que o osso é uma estrutura central na regulação do cálcio,
fosfato e magnésio, na medida em que se trata do principal
reservatório destes íons. Mas certamente esse não é o único nem
o principal papel deste tecido. Sabemos muito bem que os ossos se
prestam, sobretudo para a movimentação e sustentação do corpo humano.
E, dentro desse papel, eles precisam ficar em constante transformação
para se adaptarem ao reparo das microfraturas e à sobrecarga das forças
mecânicas a que são submetidos no dia a dia. No entanto, Algumas doenças
afetam de tal maneira esta estrutura, que podem levar ao desenvolvimento
de fraturas ou deformidades ósseas importantes, com graves consequências
para o paciente. Neste módulo, selecionamos uma condição frequentemente
lembrada em provas de Residência: a Doença de Paget. A Osteoporose,
que caracteristicamente é a mais importante doença da estrutura óssea,
será vista com todos os detalhes nas aulas de Ginecologia, devido à sua
maior prevalência em mulheres com deficiência estrogênica.

Figura 1A): Estrutura óssea normal.

Figura 1B): O osso é um tecido extremamente dinâmico, vivendo, a todo


momento, processos de formação e reabsorção comandados, respecti-
vamente, por dois grupos celulares: osteoblastos e osteoclastos. Os
osteoblastos, após a secreção de matriz óssea rica em fibras colágenas,
transformam-se em osteócitos - as principais células do osso. Os osteo-
clastos ativos são células multinucleadas formadas pela formação de
pré-osteoclastos e células mononucleadas.

118
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 119

Doença de Paget com base do triângulo localizada na região da


(OSTEÍTE DEFORMANTE) testa. Um paciente idoso com as característi-
cas acima é portador de:
Conceito a) Hipotireoidismo.
b) Acromegalia.
c) Doença de Paget.
Doença óssea focal ocasionada por um ex- d) Doença de Parkinson.
cessivo remodelamento ósseo, seguido da
Trata-se da descrição clássica da deformi-
formação de um osso estruturalmente desor-
dade craniana que costuma apresentar alar-
ganizado e predisposto a fraturas e deformida-
gamento principalmente das regiões occipitais
des. E o que levaria a este remodelamento
e frontais.
excessivo? Ninguém sabe com certeza. Pro-
Resposta C.
vavelmente estão relacionados mecanismos
genéticos e virais.
Um pouco de história
Quem tem mais chance de ter a doença? O quadro "Uma Mulher Velha", popularmente
conhecido como "A Duquesa Feia", é a obra mais
Homens europeus (Alemanha, França e In- famosa do pintor flamengo (região atualmente
glaterra), principalmente a partir dos 40 anos, pertencente à Bélgica) Quentin Matsys, tendo
com história familiar positiva. sido provavelmente pintado em 1513. Durante
séculos, questionou-se o significado da obra e
quem seria a modelo retratada. Até Leonardo
Clínica da Vinci, contemporâneo de Matsys, utilizou
o quadro como inspiração para uma de suas
A maior parte dos pacientes é assintomática e obras (à direita). Recentemente sugeriu-
o diagnóstico costuma ser feito por elevação -se que a pintura retrata uma pessoa portadora
casual dos níveis da fosfatase alcalina ou por da doença de Paget, mais de 300 anos antes
da descrição da mesma.
alterações em um exame radiográfico. Para
os sintomáticos, os principais achados são
dor e deformidades ósseas nas regiões
acometidas, principalmente quadril, coluna
vertebral, crânio e ossos longos. As fraturas e
os tumores (osteosarcoma) são as principais
complicações associadas à lesão pela doença
de Paget, cuja principal característica histoló-
gica é a alteração do osso lamelar.

Diagnóstico

Como se trata de uma doença com remodela-


Figura 2: Deformidades em ossos longos e mento ósseo excessivo, encontramos eleva-
no crânio encontradas na doença de Paget. ção tanto de marcadores de formação óssea
(fosfatase alcalina) como de reabsorção (hi-
droxiprolina urinária). Caracteristicamente,
Outras complicações esperadas seriam: o cálcio sérico vem normal (já que o cálcio
mobilizado é prontamente utilizado na cons-
 Neurológicas: (a deformidade óssea faz trução de novo osso) e sua elevação deve
compressão de nervos ou vasos sanguíne- levantar a suspeita de outra condição, como
os): uma das queixas mais comuns é a perda o hiperparatireoidismo primário. A elevação
auditiva pela compressão do 8º par. Paralisia do cálcio pode ser observada em casos de
facial e distúrbios visuais também podem ser imobilização prolongada, por um predomínio
encontrados. da reabsorção em detrimento da formação
óssea nessa situação.
 Cardiológicas: insuficiência cardíaca de alto
débito; calcificação e estenose de valva aór- A cintilografia óssea é o melhor exame para
tica; alterações na condutibilidade cardíaca. identificação das lesões ósseas pela doença,
a partir do achado de lesões focais e hipercap-
tantes (quentes). O principal diagnóstico dife-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 rencial se faz com a presença de metástases
INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS ósseas blásticas. A radiografia traz informa-
SERVIDORES DO ESTADO DE MG ções adicionais ao avaliar a presença de
A cabeça parece maior do que o normal e lesões articulares, fraturas associadas e pre-
grosseiramente assume uma forma triangular sença de deformidades na região.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 120

Conceito RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


HOSPITAL CENTRAL DA POLÍCIA MILITAR
A doença de Paget deve sempre chamar a – HCPM
atenção num paciente mais velho, com ele- Quanto à fisiopatologia da doença de Paget,
vação da fosfatase alcalina, mas sem doença podemos afirmar que:
colestática.
a) Ocorre perda óssea por alteração na remo-
delagem.
b) Substituição do tecido ósseo por um tecido
Tratamento fibro-hialino.
c) Ocorre deficiência na mineralização do
A indicação de tratamento se faz principal- osso.
mente para os pacientes sintomáticos, obje- d) A reabsorção óssea está aumentada, segui-
tivando-se o controle dose sintomas (ex.: dor da por um aumento da formação óssea.
óssea, compressão nervosa) e a prevenção de e) Há mutação no gene da osteocalcina levan-
complicações como as fraturas. As principais do a uma quantidade excessiva de mineral em
drogas a serem utilizadas são as inibidoras relação à matriz.
da atividade de osteoclastos (bifosfonados e
calcitonina). Dentre estas, um esquema tradi- Exatamente como discutimos! A doença
cional é a utilização de Pamidronato 60 mg de Paget é uma condição óssea focal gerada
IV, a cada 12-18 meses. Nos pacientes com por remodelamento ósseo excessivo, seguido
doença grave, a escolha é o ácido zoledrônico da formação de um osso estruturalmente de-
5 mg IV. O Alendronato 40 mg/dia seria uma sorganizado e que apresenta mais fraturas e
alternativa a utilizar a via oral. Além da me- deformidades. O motivo? Apesar da incerteza,
lhora nos sintomas, o resultado do tratamento provavelmente mecanismos genéticos e virais.
pode ser verificado por uma queda nos níveis Resposta: D.
da fosfatase alcalina, que deve ser medida
mensalmente até estabilização do quadro e,
em seguida, a cada 6-12 meses.
A doença de Paget da mama cor-
Para os pacientes assintomáticos, algumas responde a um carcinoma ductal
das indicações de tratamento seriam: da mama que infiltra a epiderme da
região do mamilo e aréola, causando
• Indício de doença moderadamente ativa (fos- intenso prurido e levando à ulceração
fatase alcalina 3-4 vezes acima do valor de da pele. Ainda são descritas “doen-
ças de Paget” na vulva e no pênis.
referência);
Nenhuma delas tem a ver, portanto,
com a doença de Paget do osso que
• Doença craniana extensa;
acabamos de estudar, a não ser que
todas foram descritas pelo patologis-
• Doença tibial e femoral em progressão; ta e cirurgião inglês James Paget no
século XIX. Paget é conhecido como
• Profilaxia de sangramento antes de cirurgias um dos fundadores da Patologia, ao
eletivas, visando à redução da vasculariza- lado de Rudolf Virchow.
ção no local.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 121

Hipófise e Hipotálamo

A qui vale a máxima de que “tamanho não é documento!”. A


hipófise, ou pituitária, mede em torno de 1cm2, mas incrivel-
mente tem a capacidade de regular, junto com o hipotálamo,
todas as demais glândulas endócrinas do organismo, a exemplo
da tireoide, suprarrenal e gônadas. Assim, as Doenças hipofisárias
e hipotalâmicas podem levar tanto à hipo como à hiperfunção destas
mesmas glândulas.

No entanto, por ser um tema menos frequente nas provas de resi-


dência – já que é vivenciado muito mais pelo endocrinologista do que
pelos generalistas – direcionaremos nossa discussão da forma mais
objetiva possível, com foco nas questões que mais têm caído sobre o
tema nos últimos anos...

Figura 1: Estrutura anatômica da hipófise.

121
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 122

Introdução  Neuro-hipófise: este segmento, na verda-


de, é um grande armazenador de hormônios
Antes de falarmos especificamente dos dis- produzidos no hipotálamo (nos núcleos
túrbios que possam acometer a função da supraóptico e paraventriculares) e que che-
hipófise, precisamos relembrar alguns concei- gam à hipófise através de seus axônios que
tos fundamentais... Conceitos sem os quais também percorrem o interior do infundíbulo
não conseguiríamos entender por que, na hipofisário. Esses hormônios são represen-
verdade, não existe apenas uma síndrome tados pelo ADH e a ocitocina. Veremos mais
hipofisária, mas vários subtipos, com carac- adiante, em outro módulo do MED, que o
terísticas clínicas diferentes, de acordo com ADH é o hormônio responsável pela regula-
a porção acometida da glândula. ção da osmolaridade dos fluidos corporais.
A ocitocina, por sua vez, é um hormônio
Para isso, inicialmente devemos nos lembrar principalmente ligado à amamentação.
de que a hipófise se situa no interior da célula
túrcica, na base do cérebro, onde é dividida Dessa forma, com base na porção acometida
anatomicamente em dois lobos (FIGURA 1). do sistema hipotálamo-hipófise, teremos a
São eles: anterior (adeno-hipófise) e posterior hipo ou hiperprodução de determinados hor-
(neuro-hipófise). Cada um desses lobos possui mônios, sendo o hipopituitarismo e a hiperpro-
células responsáveis pela síntese de hormô- lactinemia as principais síndromes endócrinas
nios que irão regular as demais glândulas. Veja resultantes. Então será nelas o nosso enfoque!
abaixo quais são eles:

 Adeno-hipófise: contém células responsá- Principais Síndromes


veis pela síntese e liberação dos hormônios do Sistema
abaixo. Hipotálamo-Hipófise

Hormônio Regulação
GH (hormônio Crescimento e
Hipopituitarismo
do crescimento) estatura
Prolactina Lactação Conceito
TSH (tireotrofina) Tireoide
ACTH (corticotrofina) Suprarrenal Trata-se da síndrome de insuficiência par-
cial ou completa de um ou mais produtos da
LH (hormônio Gônadas
hipófise anterior. Embora comumente seja
luteinizante)
empregado o termo pan-hipopituitarismo, a
FSH (hormônio Gônadas hipofunção pituitária costuma ser seletiva e
folículo-estimulante) não de toda glândula em si, variando de acor-
do com o tipo celular mais envolvido. A ordem
de acometimento mais comum é: GH > FSH
Estes hormônios, por sua vez, são regu- > LH > TSH > ACTH > PRL.
lados por fatores que vêm do hipotálamo,
denominados fatores hipofisiotrópicos. Eles
chegam à hipófise através do infundíbulo Causas
(haste hipofisária) conduzidos por um efi-
ciente sistema vascular conhecido como Pode ter origem no hipotálamo ou hipófise,
sistema porta-hipofisário. de causa genética ou adquirida. As principais
causas são os tumores hipofisários e a síndro-
São eles: me resultante do tratamento tumoral (76%),
seguida pelos tumores extrapituitários, como
o craniofaringioma (13%). Veja as principais
GHRH – hormônio liberador de GH
causas de hipopituitarismo:
TRH – hormônio liberador de tireotrofina*
CRH – hormônio liberador de corticotrofina Hipófise
GnRH – hormônio liberador de gonado- Lesões com efeito de massa: adenoma,
trofinas (LH e FSH) cisto, metástase
Cirurgia
Irradiação
*Também responsável pela liberação de pro- Doenças infiltrativas: hemocromatose,
lactina. No entanto, o grande estímulo do hipo- sarcoidose, histiocitose X, hipofisite
tálamo sobre a prolactina é inibitório, a partir linfocítica
da produção de dopamina. Você certamente Infarto hipofisário (síndrome de Sheehan)
já escutou aquela história de que se cortásse- Apoplexia pituitária (hemorragia aguda)
mos o pedículo hipofisário, todos os hormônios Doenças genéticas
destas glândulas se reduziriam, exceto pela Sela túrcica vazia
prolactina, que perderia o tônus inibitório que
Trauma
vem do hipotálamo...
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 123

Hipotálamo A reposição de GH em adultos permanece


como assunto controverso. Apesar de alguns
Lesões com efeito de massa: craniofarin-
estudos mostrarem melhora na massa mus-
giomas, metástase (mama)
cular e no bem-estar, existem considerações
Irradiação
sobre os possíveis efeitos deletérios a longo
Doenças infiltrativas: sarcoidose, histioci-
prazo deste hormônio, principalmente meta-
tose X
bólicos e neoplásicos.
Infecções: meningite tuberculosa

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016


Manifestações Clínicas HOSPITAL INFANTIL VARELA
SANTIAGO – RN
Os achados clínicos corresponderão ao deficit Paciente do sexo feminino, 37 anos, vai à
hormonal principal. Como a deficiência de GH é consulta com queixas de redução da libido,
a mais comum, o deficit de crescimento é uma atrofia mamária, ganho de peso, fala arrastada
manifestação característica, principalmente nas e astenia intensa. Os achados do exame físico:
crianças. Em adultos, o quadro de hipogona- Mamas atróficas, anasarca (+/4+) e redução
dismo pela falta de LH/FSH tende a dominar a da pilificação genital. Traz alguns exames la-
apresentação. boratoriais que revelam um T4 livre baixo, TSH
no limite inferior, cortisol basal baixo mesmo
 Deficiência de GH: apresenta-se principal- após estimulação com ACTH, testosterona
mente por baixa estatura na criança. No adul- baixa e FSH e LH nos limites inferiores. Qual
to, encontramos redução da massa muscular o exame mais apropriado para elucidar a do-
e densidade mineral óssea e aumento da ença de base?
gordura corporal; aumento do LDL; sensa- a) Cintilografia de tireoide.
ção de mal-estar; elevação de marcadores b) Tomografia de abdome.
inflamatórios e doença cardiovascular. c) Ressonância magnética de crânio.
d) Teste da pituitária anterior.
 Deficiência de gonadotropinas: Em mu- e) Doppler de MMII.
lheres, teremos disfunção ovariana asso-
ciada à infertilidade e secreção reduzida de No caso em tela observa-se a deficiência
estradiol (oligo/amenorreia; vagina pouco de múltiplos hormônios hipofisários, sugerindo
lubrificada; fadiga; flushes). Em homens, disfunção primária da hipófise e/ou do hipo-
teremos a disfunção testicular acompanha- tálamo: (1) T4 livre baixo com TSH inapropria-
da de infertilidade e redução na secreção damente normal, indicando hipotireoidismo
de testosterona (pouca disposição, redução central; (2) ausência de resposta do córtex
da libido). Em crianças, atraso puberal. adrenal (cortisol baixo) após estimulação com
ACTH exógeno, indicando que a carência pro-
 Deficiência de TSH/ACTH: quadro de hi- longada de ACTH endógeno pode ter causado
potireoidismo e hipocortisolismo (respecti- uma atrofia do córtex adrenal; (3) hormônio
vamente). sexual baixo com gonadotrofinas inapropria-
damente normais, indicando hipogonadismo
 Deficiência de prolactina: rara, levando central... A atrofia mamária sugere ainda a
basicamente à incapacidade de amamentar existência de baixos níveis de prolactina, outro
no puerpério (agalactia). hormônio naturalmente produzido na hipófise!
Ora, o quadro é característico de hipopituita-
Nos casos de hipopituitarismo associado a le- rismo, e o próximo passo é solicitar um exame
sões com efeito de massa, podemos observar de neuroimagem da região hipotalâmico-hipo-
também cefaleia e alterações visuais (lembre-se fisária para maiores esclarecimentos, tendo
da proximidade entre quiasma óptico e hipófise). em mente que a principal etiologia para esse
distúrbio são os tumores daquela região (ex.:
adenoma hipofisário, craniofaringioma, etc).
Diagnóstico Resposta certa: C.

Podemos utilizar testes isolados de base


(IGF-1, testosterona, estradiol, DHEA-S, T4 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
livre) e dinâmicos. Estes servem para avaliar UNIVERSIDADE FEDERAL
a reserva hipofisária, sendo o “megateste” DO PARANÁ – UFPR
(teste combinado) o mais utilizado. Ele é Paciente de 43 anos, sexo feminino, encami-
realizado pela dosagem de GH, LH/FSH e nhada com adinamia, lentificação psicomotora
TSH/PRL antes e após 15-30-45-60-90 minutos e depressão, apresenta tosse com escarro
após a infusão intravenosa de insulina regular amarelado há sete dias. Durante o exame,
(0,05-0,1U/kg), GnRH (100 mcg) e TRH apresentou PA de 90 x 60 mmHg e rarefação
(200 mcg). de pelos pubianos. Os familiares relataram
uma história prévia de complicação obstétrica
Tratamento hemorrágica há sete anos e amenorreia desde
então. Traz um exame de TSH de 5,5 (0,4 a
Consiste na reposição dos principais deficits 5 mU/L) e apresenta uma glicemia de 45 mg/
hormonais, representados pela insuficiência dl. Trata-se provavelmente de:
suprarrenal, hipotireoidismo e hipogonadismo. a) Insuficiência adrenal secundária a tuberculose.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 124

b) Necrose hipofisária pós-parto (Sheehan). adiantar, hemianopsia é a perda de metade


c) Hipotireoidismo autoimune. de um campo visual. No caso de compressão
d) Apoplexia hipofisária de prolactinoma. do quiasma óptico, são afetadas as fibras que
e) Adrenalite autoimune. cruzam, justamente as responsáveis pelos
campos visuais temporais: neste caso, obser-
O hipopituitarismo pode ser decorrente de vamos hemianopsia bitemporal. Resposta: E.
um problema hipofisário ou hipotalâmico; con-
gênito ou adquirido. A causa mais comum é a
adquirida por efeito de massa do adenoma hi- Hiperprolactinemia
pofisário. Outras causas importantes incluem a
síndrome da sela vazia (defeito no diafragma
da sela túrcica, com estiramento do pedículo hi- Conceito
pofisário e achatamento da hipófise), apoplexia
hipofisária (hemorragia seguida de necrose Trata-se da síndrome mais frequente do eixo
pituitária) e a síndrome de Sheehan (necrose hipotálamo-hipófise, caracterizada por exces-
hipofisária periparto). Neste caso, temos um so na secreção da prolactina pelos lactotrofos.
quadro clássico da síndrome de Sheehan, em
que uma complicação obstétrica (geralmente
hemorragia uterina seguida de hipovolemia) Causas
leva a um infarto hipofisário. A manifestação
mais comum é a subaguda, demonstrada pela Pode ser fisiológica, por drogas ou patológica.
dificuldade para lactação. Amenorreia e sinto- Veja abaixo as principais condições:
mas de insuficiência adrenal e hipotireoidismo
costumam se desenvolver gradualmente.  Fisiológica: gravidez, lactação, atividade
Resposta: B. física, estresse, estímulo mamário, sono.

 Drogas: haloperidol, metoclopramida, me-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 tildopa, antagonistas H2, antidepressivos
UNIVERSIDADE DO ESTADO tricíclicos, inibidores da recaptação de se-
DO RIO DE JANEIRO – UERJ rotonina, opioides, verapamil, estrogênios.
Paciente portador de anemia falciforme inicia
quadro há quatro dias de cefaleia, queda do ní-  Patológica: adenoma hipofisário (prolac-
vel de consciência e diplopia; seu exame físico tinoma) e demais lesões hipofisárias e hi-
mostra hipotensão arterial, rigidez de nuca e potalâmicas, hipotireoidismo, insuficiência
paralisia do III nervo craniano. Exames labora- renal crônica, cirrose, macroprolactinemia,
toriais mostram hemograma normal, glicemia ovário policístico, convulsões.
de 50 mg/dl, ureia e creatinina normais com
sódio de 136 mEq/L e potássio de 5,9 mEq/L; A principal causa de hiperprolactinemia pa-
gasometria arterial é normal. Após reposição tológica é o prolactinoma – tumor hipofisário
de dois litros de solução fisiológica e uso de mais comum – principalmente sob a forma de
noradrenalina venosa, os níveis tensionais não microprolactinomas (≤ 10 mm).
sofrem alterações relevantes. O diagnóstico
mais provável para este paciente é:
a) Apoplexia hipofisária. Manifestações Clínicas
b) Trombose de seio venoso.
c) Hemorragia subaracnoide. A prolactina tem por efeito a inibição gonadal e
d) Hipertensão intracraniana benigna. estímulo à lactação. Como resultado teremos
principalmente oligo/amenorreia e galactorreia
Trata-se de um sangramento intracraniano nas mulheres, bem como impotência, galactor-
certamente, porém acompanhado de sinais de reia e ginecomastia nos homens. Perda da libi-
hipoadrenalismo (hipotensão arterial refratária, do, osteoporose e rarefação de pelos corporais
hipoglicemia, hipercalemia). Como encaixar (homens) também podem ser encontrados.
estes dados?? No sangramento associado à
necrose hipofisária. Resposta A.
Diagnóstico

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008  Dosagem sérica de Prolactina


UNIVERSIDADE ESTADUAL (PRL): o valor normal vai de 5 a 20
DE LONDRINA – UEL ng/ml. Valores entre 20-200 ng/ml
Qual o defeito de campo visual que um pacien- podem ser encontrados em qualquer uma
te com adenoma hipofisário, com compressão das causas de hiperprolactinemia, sendo o
do quiasma óptico, apresentará na fase inicial? prolactinoma a causa mais comum a partir
a) Hemianopsia homônima. de 100 ng/ml e praticamente absoluta com
b) Quadrantanopsia homônima. valores acima de 200 ng/ml.
c) Hemianopsia binasal.
d) Cegueira total de um olho. Alguns cuidados devem ser tomados na inter-
e) Hemianopsia heterônima bitemporal. pretação dos resultados:

Este conceito será discutido no módulo de (1) efeito gancho (hook effect): ocorre quan-
Deficit Neurológico Focal e Difuso. Só para do níveis muito altos de PRL (> 2.000 ng/ml)
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 125

identificados num paciente com tumor hipofi- última opção terapêutica, reservada princi-
sário são capazes de falsear ensaios imunor- palmente para o controle de tumores de cres-
radiométricos e dar a falsa impressão de que cimento mais agressivo que não respondam
a PRL está baixa. Para contornar a situação, aos fármacos e não sejam operáveis (ou que
devemos fazer a diluição do soro em 1:100 e tenham apresentado recidiva após cirurgia).
repetir o teste.

(2) macroprolactinemia: deve ser pesquisada


nos casos de hiperprolactinemia assintomá-
tica, pois se trata de uma isoforma da PRL, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
com baixa bioatividade (pouca importância HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
fisiológica), mas que pode ser captada pelos Uma mulher de 28 anos desenvolve amenor-
testes usuais e elevar o valor sérico da PRL. reia, galactorreia e dificuldades visuais. Na
avaliação endócrina, a prolactina é de 300 ng
 Ressonância Magnética (RM): indicada e a RM mostra lesão selar com expansão su-
sempre que for detectada hiperprolactine- prasselar até o quiasma óptico. O tratamento
mia sintomática para investigar a causa indicado para o caso é:
subjacente e avaliar a relação anatômica a) Agonista dopaminérgico.
dos adenomas com as estruturas que o b) Ressecção transesfenoidal.
circundam. c) Ressecção através craniotomia.
d) Antagonista dopaminérgico.
e) Radioterapia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO Estamos diante de uma paciente com clí-
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ nica de hiperprolactinemia (amenorreia +
Mulher procura atendimento médico devido à galactorreia + dosagem aumentada de pro-
amenorreia, galactorreia e infertilidade. A al- lactina) cuja etiologia seria um macroadenoma
teração laboratorial mais esperada para a si- hipofisário secretor de prolactina causando
tuação descrita seria o aumento dos níveis compressão do quiasma óptico, o que comu-
séricos do(a): mente leva a um quadro de hemianopsia bi-
a) Cortisol. temporal (compatível com a descrição da
b) Insulina. ressonância). Apesar da presença de sinto-
c) Estrogênio. mas neurológicos compressivos, o tratamen-
d) Testosterona. to do macroadenoma com sintomas neuroló-
e) Prolactina. gicos, INICIALMENTE, é feito com agonistas
dopaminérgicos (mesma dose prescrita para
A hiperprolactinemia é uma situação que microadenomas) independente do tamanho
tem diversas causas, dentre as quais temos do prolactinoma e das sequelas neurológicas
fisiológicas, como a gravidez e lactação e as presentes. A cirurgia não é indicada inicial-
patológicas, como é o caso dos prolactinomas, mente pois tais drogas são extremamente
do hipotireoidismo... Suas consequências são eficazes e o tratamento cirúrgico é acompa-
muito bem conhecidas: estimula a lactação, nhado por risco considerável de insucesso
levando à galactorreia; inibe o eixo hipotálamo- (mais de 50% dos macroadenomas recidi-
-hipófise-ovário, determinando anovulação e, vam), além do risco de complicações locais.
portanto, amenorreia e infertilidade. Caso, não haja resposta com o tratamento
Os demais hormônios isoladamente não po- farmacológico (persistência de níveis altos de
deriam causar tais sinais e sintomas, e, por prolactina ou ausência de redução do tama-
isso, resposta certa: Letra E. nho do prolactinoma ou persistência do qua-
dro clínico), a ressecção transesfenoidal
passa a estar indicada.
Tratamento Letra A correta.

Caso a causa da hiperprolactinemia seja um


fármaco, este deve ser suspenso, se possí- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
vel. Outras condições que cursem com hiper- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS –
prolactinemia devem ser tratadas. PERNAMBUCO
Das alternativas abaixo, qual o tumor hipofi-
Em relação ao tratamento dos prolactinomas, sário funcionante mais comum?
os agonistas dopaminérgicos (carbegolina, a) Secretor de GH.
bromocriptina) são as drogas de escolha, pre- b) Secretor de ACTH.
ferencialmente a carbegolina, por apresentar c) Secretor de LH.
menos efeitos adversos. Essas drogas são d) Secretor de TSH.
mantidas por longo prazo (1-2 anos). A cirur- e) Secretor de prolactina.
gia transfenoidal está indicada na resistên-
cia aos agonistas dopaminérgicos (ou na fal- Questão simples e conceitual. Os tumores
ta de aderência ao tratamento) associada a “funcionantes” são aqueles que produzem
apoplexia com sintomas neuroftalmológicos. hormônios como o tecido glandular normal,
Os pacientes que mais se beneficiam são os exercendo o mesmo efeito endócrino nos
portadores de tumores pequenos e não inva- seus tecidos alvos. Estatisticamente, o pro-
sivos (PRL < 200 ng/ml). A radioterapia é a lactinoma (adenoma hipofisário produtor de
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 126

prolactina) é o tipo histológico mais comu- e) O prolactinoma é a segunda causa mais


mente encontrado. frequente de hiperprolactinemia não fisiológi-
Resposta: E. ca, devendo sempre ser investigado na pre-
sença de hiperprolactinemia não explicada por
outros motivos (causas fisiológicas e uso de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 fármacos). (Alternativa E INCORRETA). Res-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO posta: Letra E.
OESTE DO PARANÁ – PR
Mulher, 21 anos, solteira, fez consulta gineco-
lógica de rotina quando foi solicitado uma RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
dosagem de prolactina com resultado de 74 UNIVERSIDADE FEDERAL
ng/ml (normal: 2,8 a 29,2 ng/ml). Refere atra- DO PARANÁ – UFPR
so menstrual no último mês. Qual a afirmativa Qual o adenoma de hipófise mais frequente
INCORRETA com relação à abordagem deste e qual a orientação terapêutica inicial mais
quadro? utilizada?
a) B-HCG deve ser solicitado se a paciente a) Adenoma secretor de GH - radiocirurgia.
referir vida sexual ativa. b) Adenoma não funcionante - cirurgia e ra-
b) Macroprolactinemia pode ser a causa da dioterapia.
alteração laboratorial, especialmente se a pa- c) Adenoma secretor de prolactina - agonista
ciente negar uso de medicamentos e não dopaminérgico.
apresentar outros sinais de hiperprolactinemia. d) Prolactinoma - cirurgia transfenoidal.
c) Dosagem de TSH é importante, pois até e) Adenoma secretor de ACTH - ketoconazol.
20% dos casos de hipotireoidismo primário
podem cursar com hiperprolactinemia.
O adenoma de hipófise é a causa mais co-
d) Uma possibilidade diagnóstica são ovários
mum tanto da hipo quanto da hiperfunção da
policísticos, que cursam com valores elevados
hipófise. E o prolactinoma é o principal tipo
de prolactina em até 1/3 das mulheres.
histológico de adenoma hipofisário. Ele pode
e) Prolactinoma é uma possibilidade diagnós-
ser classificado em microadenoma (≤ 10 mm)
tica que não deve ser considerada.
e macroadenoma (> 10 mm). A forma mais
comum é o microadenoma, principalmente
Vamos analisar as alternativas separada-
no sexo feminino, na faixa etária entre 20-40
mente:
anos. O tratamento de escolha para esses
tumores se dá com a utilização de agonistas
a) Dividem-se as causas de hiperprolactinemia
dopaminérgicos. Acabamos de ver que a do-
em fisiológicas e não fisiológicas. As causas
pamina é um neurotransmissor hipotalâmico
fisiológicas cursam com prolactina < 50-100
responsável pela inibição da prolactina... Os
mg/ml, exceto uma: a GESTAÇÃO! Logo, se
grandes exemplos de droga são a bromo-
esta paciente que está em vigência de um
criptina e carbegolina. O procedimento ci-
atraso menstrual, possuir vida sexual ativa, a
rúrgico fica reservado para os pacientes que
gravidez deve ser considerada, sendo a do-
não toleram a droga ou são refratários, sendo
sagem de um beta-HCG uma conduta total-
a via preferencial de abordagem a transes-
mente apropriada. (Alternativa A correta).
fenoidal. Resposta: C.
b) Dentre as causas não fisiológicas de hiper-
prolactinemia, o uso de fármacos é sem dúvi-
da alguma o mais importante. Em segundo RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
lugar seriam os chamados prolactinomas. UNIVERSIDADE FEDERAL
Contudo na ausência do uso de fármacos e DO PARANÁ – UFPR
de sinais sugerindo prolactinomas, doenças São fatores estimulantes que modulam a libe-
endócrinas, acromegalia, uma das hipóteses ração de prolactina e que podem resultar em
a ser aventada é a chamada Macroprolactine- hiperprolactinemia, EXCETO:
mia, entidade na qual a molécula de prolactina a) Peptídeo intestinal vasoativo.
é maior do que o usual, reduzindo o seu cle- b) Encefalinas.
arance fisiológico. (Alternativa B correta). c) Somatostatina.
d) Betaendorfinas.
c) Sabidamente o hipotireoidismo primário está e) 17 betaestradiol.
associado à hiperprolactinemia (geralmente
de grau leve), por conta do aumento da secre- Vamos aumentar nossos conhecimentos
ção de TRH, o que justifica a amenorreia e a sobre o tema... Além de TRH e dopamina exis-
galactorreia presente no quadro clínico dos tem outros fatores também associados. São
pacientes hipotireoideos. Tal alteração labora- fatores liberadores de prolactina: hormônio
torial costuma ser observada em 20-50% dos de liberação da tireotrofina (TRH), hormônio
casos. (Alternativa C correta). de liberação da gonadotrofina (GnRH), 17
betaestradiol, serotonina, histamina, peptídio
d) A síndrome dos ovários policísticos também intestinal vasoativo, substância P, encefalinas,
consiste em uma importante causa de hiper- betaendorfinas e opioides. São fatores inibido-
prolactinemia, visto que os estrogênios esti- res da prolactina: ácido gama-aminobutírico,
mulam os lactrofos da hipófise a produzir ácido piroglutâmico, dopamina e somatosta-
prolactina. (Alternativa D correta). tina. Resposta: C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 127

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 e outros tecidos periféricos. Este é um cofator


UNIVERSIDADE FEDERAL do GH, estritamente necessário em diversas
FLUMINENSE – UFF de suas ações teciduais.
Paciente de 32 anos vai ao ginecologista de
rotina. O exame clínico nada apresenta e ela A incidência anual é de 3-4 casos/milhão e a
não tem queixas relevantes. O resultado dos idade média do diagnóstico é 40 a 45 anos,
exames mostra uma prolactina de 98 ng/d com prevalência maior em homens. Como é
(valor normal até 25 ng/d). O procedimento uma doença lentamente progressiva, os pa-
inicial indicado é: cientes costumam levar até dez anos desde a
a) Avaliar possível gestação ou uso de drogas. instalação da doença até o diagnóstico.
b) Dosar TSH, FSH, LH, GH e ACTH, com o
objetivo de afastar a síndrome de Sheehan.
c) Indicar cirurgia por via transesfenoidal, pois Causas
o nível de prolactina sugere tumor hipofisário.
d) Indicar quimioterapia. Na maioria dos portadores de acromegalia, a
e) Pedir uma tomografia ou ressonância doença resulta de um adenoma hipofisário se-
magnética da sela turca para afastar tumor cretor de GH. Mais comumente são macroade-
hipofisário. nomas, de forma que o paciente também pode
apresentar sintomas compressivos na abertura
O diagnóstico do prolactinoma se faz com a do quadro (cefaleia, hemianopsia bilateral).
associação dos achados clínicos e elevação dos
níveis de prolactina. Na mulher é esperado prin- Em 20-25% dos casos, a síndrome resulta de
cipalmente o desenvolvimento de amenorreia e um adenoma misto, secretor de GH e prolactina.
galactorreia. Nos homens, impotência e perda
da libido tendem a dominar o quadro. Quanto Raramente, pode resultar de adenomas de
aos níveis de prolactina, eles geralmente se mamossomatrofos, produção ectópica de GH
encontram acima de 100 ng/ml (Normal = 5-20 (tumores carcinoides e Ca de pâncreas, ová-
ng/ml). Exames diagnósticos como a TC ou RM rio e pulmão, dentre outros) ou mesmo como
de sela túrcica também são utilizados. No en- doença secundária à hiperprodução de GHRH
tanto, para valores entre 25-100 ng/ml, devemos pelo hipotálamo.
obrigatoriamente pensar em causas fisiológicas
e drogas associadas. Nesta paciente, sem sin-
tomas e com prolactina elevada (mas menor Manifestações Clínicas
que 100ng/ml!), devemos descartar inicialmente
essas condições para, em seguida, pensarmos Nas crianças e adolescentes, o excesso de
em condições patológicas. Resposta: A. GH causa uma síndrome chamada gigantis-
mo, que leva a um crescimento desproporcio-
nal ao seu alvo genético. Os casos mais inte-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 ressantes são os de gêmeos univitelinos,
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE quando apenas um desenvolve a síndrome e
DO SUL – AMRIGS fica nítida a diferença de tamanho entre ambos
Pode(m) aumentar a produção de prolactina: devido ao excesso de GH e IGF-1 circulante.
I - metildopa.
II - propralonol. Nos adultos, a placa epifisária já se encontra
III - cimetidina. fechada, assim as manifestações proeminen-
IV - ergotamina. tes incluem alterações craniofaciais, de extre-
Qual alternativa está correta? midades e viscerais, na conhecida síndrome
a) Apenas I. denominada acromegalia. É esta doença que
b) Apenas I, II e III. esmiuçaremos nas linhas a seguir.
c) Apenas I e III. As manifestações clínicas na acromegalia
d) Apenas II e IV. são decorrentes de efeito direto do GH e
e) Apenas IV. também mediadas por fator de crescimento
insulina-símile tipo 1 (IGF-1) e, ocasional-
Questão para fazer com a lista do lado. Me- mente, pela própria massa tumoral (cefaleia
tildopa é droga clássica, cimetidina como os e hemianopsia bitemporal).
demais antagonistas H2 também. Excluímos
então as opções II e IV. Resposta: C. Dentre as manifestações mais clássicas do
excesso de GH e IGF-1, podemos citar a ma-
crognatia, o aumento exagerado de mãos e
Acromegalia E Gigantismo pés e a hipertrofia de tecidos moles.

O fácies acromegálico é bastante caracterís-


Conceito tico. Temos um paciente com bossas frontais,
aumento da mandíbula (macrognatia), o que
Trata-se da síndrome resultante da exposição, resulta na protrusão da mesma para frente
em longo prazo, a elevados níveis do hormô- (prognatismo) e no aumento do espaço entre
nio de crescimento (GH). Contudo, o GH atua, os dentes da arcada inferior. Língua, nariz e
principalmente, através da liberação de um lábios também encontram-se comumente au-
outro hormônio, denominado IGF-1 (fator de mentados. A voz geralmente é abafada e res-
crescimento insulina-símile tipo 1), pelo fígado sonante, devido ao edema das cordas vocais.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 128

Figura clássica:
Gêmeos univitelinos, sendo um deles portador de gigantismo
desde a adolescência (NEJM, 1999).

As alterações de extremidades são caracterís-


ticas. Ocorre aumento progressivo do calibre
dos dedos (dificultando o uso de anéis e luvas),
síndrome do túnel do carpo, aumento do nú-
mero do calçado e também do coxim calcâneo.

São comuns também manifestações articu-


lares (artrite de mãos, pés, quadril e joelho,
semelhante à osteoartrose, cifose) e cutâne-
as (aumento de pregas cutâneas, de glându-
las sebáceas – causando oleosidade da pele
– e hiperidrose).

Contudo, órgãos e tecidos internos também


podem aumentar de tamanho. Em até 1/3 dos Típico fácies
pacientes encontramos hipertrofia ventricular acromegálico
esquerda, podendo se manifestar com insufi-
ciência cardíaca diastólica e arritmias. A hiper-
tensão arterial é outro achado clássico. Diagnóstico

A apneia do sono é outra complicação comum O principal exame de triagem é o IGF-1 sé-
e geralmente decorre do crescimento do tecido rico, uma vez que a secreção do GH é pulsá-
retronasal da nasofaringe, mas também pode til e, portanto, menos confiável. Uma vez ele-
ser causada por distúrbio central do sono. vado o IGF-1, partimos para o exame confir-
matório da hipersecreção de GH, que seria o
O diabetes mellitus é comum, sendo causado teste de supressão com glicose.
pelo efeito hiperglicemiante do GH.
Bem, você já deve ter percebido que uma doen- Como funciona esse teste? Mais um feedback,
ça que aumenta significativamente o risco de um dos últimos da apostila! Sabemos que a
hipertensão, diabetes, apneia do sono e HVE glicose suprime fisiologicamente a produção
não tinha como resultar em prognóstico muito de GH. Contudo, na acromegalia, essa supres-
bom, não é? Pois é isso mesmo: a acromegalia são não ocorre – o GH permanece elevado!
provoca um aumento de até três vezes na mor- Assim, realizamos um teste semelhante ao
talidade, principalmente por eventos como IAM, TOTG com 75 g de glicose, só que, em vez
AVE e ICC. Estima-se que a expectativa de vida de medirmos a glicemia 1 e 2 horas após a
de pacientes com acromegalia seja até dez anos carga oral de glicose, dosamos o GH.
inferior à da população sem a doença.
Na acromegalia, o GH permanece em níveis
Além disso, é interessante ressaltar o risco superiores a 0,4 µg/l após a carga de glicose
aumentado de pólipos adenomatosos de có- e em 20% dos pacientes chega até a aumen-
lon-reto (1/3 dos pacientes) e, consequente- tar em relação aos níveis pré-glicose, ou seja,
mente, de câncer colorretal. uma resposta paradoxal.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 129

Outro teste semelhante pode ser realizado idade), o teste seguinte é a supressão do GH
com TRH, que, em situações normais, também entre uma e duas horas após administração
inibiria a produção do GH. Contudo, em 50% de 75 g de glicose, caso o GH não seja supri-
dos pacientes com acromegalia, observamos mido para menos de 0,4 mcg/L estamos dian-
aumento do GH após administração de TRH. te de um caso de acromegalia confirmado
laboratorialmente.
Como já vimos, em 20-25% dos casos a sín-
drome resulta de um adenoma misto, secretor
de GH e prolactina. Ou seja, frente a um caso Tratamento
confirmado de acromegalia, a prolactina tam-
bém deve ser dosada. O tratamento objetiva controlar a hipersecreção
de GH e IGF-1, eliminando ou interrompendo o
Por fim, resta-nos encontrar o tumor e plane- crescimento do tumor, além de melhorar as co-
jar o tratamento, e para isso o melhor exame morbidades, restaurar as taxas de mortalidade
é a ressonância magnética da sela túrcica. para o normal e preservar a função hipofisária.

A ressecção cirúrgica transesfenoidal é o


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 tratamento padrão dos adenomas hipofisários
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA secretores de GH. Nos microadenomas a taxa
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ de cura chega a 70%, enquanto nos macroa-
Homem de 47 anos comparece com dispneia denomas é de 50%. Após a cirurgia, espera-se
aos moderados esforços e parestesias nas normalização dos níveis de GH em cerca de
mãos. Tem diagnóstico de diabetes e hiper- uma hora e do IGF-1 em três a quatro dias. O
tensão há 5 anos. Durante o interrogatório por hipopituitarismo se manifesta em até 15% dos
órgãos, o médico descobre crescimento dos pacientes operados e cerca de 10% dos pa-
pés e mãos, hiper-hidrose, ronco e mudança cientes apresentam recidiva da doença.
da voz. No exame físico, há quarta bulha,
prognatismo e macroglossia. Em pacientes que não sejam candidatos à
Qual dos exames abaixo deve ser usado como cirurgia ou que estejam francamente sintomá-
“screening” para o diagnóstico desse paciente? ticos, podemos utilizar análogos da soma-
a) Imunofixação sérica e urinária. tostatina (ex.: octreotide), objetivando redu-
b) Dosagem do hormônio do crescimento (GH). ção de tamanho. Essas drogas atuam nos
c) Dosagem do índice de saturação da trans- receptores SSTR2 e SSTR5 presentes nos
ferrina. tumores secretores de GH. Da mesma forma,
d) Dosagem do hormônio estimulante da ti- em casos de tumores muito grandes existe o
reoide (TSH). benefício da utilização desses fármacos no
e) Dosagem do fator de crescimento “insulina- pré-operatório com o intuito de facilitar a cirur-
-like” 1(IGF-1). gia. Outra indicação de uso é nos casos não
curados após a cirurgia. A eficácia dessas
A abordagem diagnóstica do paciente com drogas é de 75-90%, porém trata-se de um
suspeita de acromegalia inclui dosagens ba- tratamento de alto custo.
sais e testes endócrinos que comprovem o
excesso de GH, através de dosagens diretas A radioterapia também é uma opção de tra-
do GH e/ou de fatores circulantes GH-depen- tamento, porém seu resultado é mais lento
dentes, cujo melhor exemplo é o fator de cres- (pode levar até 15 anos para obtenção da
cimento insulina-símile-1 (IGF-1). resposta bioquímica) e a taxa de hipopituita-
rismo subsequente é elevada. Além disso, a
A principal questão é que a secreção hipofisá- irradiação é relativamente ineficaz para a nor-
ria de GH é pulsátil, razão pela qual um resul- malização dos níveis de IGF-1.
tado baixo não tem poder para excluir o diag-
nóstico de acromegalia (característica que Em pacientes que não são controlados com
seria desejável num teste para screening). nenhuma das opções de tratamento anterio-
res, temos como opções os antagonistas dos
Por essa razão o IGF-1 é o teste diagnóstico receptores de GH (pegvisomanto) e os ago-
de escolha para screening. Uma vez elevado nistas dopaminérgicos em altas doses (bro-
(o ponto de corte varia de acordo com sexo e mocriptina e cabergolina).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 130

Tumores Neuroendócrinos e
Distúrbios Poliglandulares

A o avaliarmos o sistema endócrino, é bastante comum nos re-


ferirmos a situações ditas benignas, isto é, não neoplásicas
como hipotireoidismo, diabetes mellitus e hiperparatireoidismo.
Contudo, existem sim neoplasias do sistema endócrino e elas
devem ser conhecidas.

Outro quadro que foge do comum em relação aos distúrbios endó-


crinos é o acometimento de várias glândulas em um mesmo quadro.
Já citamos alguns exemplos nos capítulos anteriores, mas deixamos
este espaço para organizar as principais condições.

Então vamos começar, abordando os principais conceitos de cada uma


dessas condições com o que realmente importa para as provas.

Tumores Neuroendócrinos (NETs)

Você se lembra em quais capítulos do MED Com exceção do insulinoma, são tumores
esse tema já apareceu?? geralmente malignos, sendo a presença de
metástase hepática o principal fator associa-
Vamos recordar então... Por definição, são do a mau prognóstico.
tumores originários de células neuroendócri-
nas difusamente distribuídas pelo organismo Saiba Mais!
(principalmente no trato gastrointestinal) e
Outros fatores de mau prognóstico dos PETs
que, por uma hipersecreção de seus produ-
incluem metástase linfonodal, profundidade da
tos, desenvolvem síndromes clínicas carac-
invasão, características histológicas (diferen-
terísticas. Eles podem ser divididos princi-
ciação, taxa mitótica, índice de crescimento,
palmente em tumores carcinoides e tumores
densidade de vasos, VEGF e expressão da
endócrinos do pâncreas (PETs). Outros tumo-
metaloproteinase CD10), elevação de fosfata-
res como feocromocitoma, paraganglioma e
se alcalina, achados da citometria de fluxo (ex.:
carcinoma medular da tireoide (vistos nesta
aneuploidia), sexo feminino, hiperexpressão
mesma apostila!), embora não possuam a
do oncogene h-ras ou p53, ausência de asso-
mesma origem na crista neuroectodérmica,
ciação com NEM-1 e altos níveis de marcado-
costumam ser estudados no mesmo grupo
res tumorais (cromogramina A, gastrina).
dadas algumas semelhanças.

Resumindo...
Neste ano, os mais importantes tumores neu- Observe a seguir os aspectos mais importan-
roendócrinos que vimos foram: tes sobre esses tumores:
-Tumor carcinoide (síndrome diarreica).
INSULINOMA
-Tumores Endócrinos do Pâncreas (PETs):
Gastrinoma (síndrome disfágica e dispépti- O QUE PRECISO ENTENDER SOBRE O
ca) e VIPoma (síndrome diarreica). TUMOR?
Como o nome já diz, trata-se de um tumor
caracterizado pela produção excessiva de
Mas estes não são os únicos. Faltaram três
insulina. E qual a consequência que dominará
PETs importantes para as provas: insulino- o quadro desses pacientes? Hipoglicemia!
ma, glucagonoma e somatostatinoma. Vamos Então devemos ter o insulinoma como diag-
aproveitar, portanto, para comentar um pouco nóstico diferencial dos quadros de hipoglice-
sobre eles também. mia, ao lado do uso inadequado de insulina/
hipoglicemiantes orais; doença hepática
Os PETs (também chamados de tumores de grave; alcoolismo; desnutrição; drogas (qui-
ilhotas pancreáticas) podem ser funcionais ou nina, pentamidina, SMX/TMP, neurolépticos)
não funcionais (quando sintomas são originá- e outros tumores extrapancreáticos.
rios apenas por compressão, sem secreção O QUE PRECISO GUARDAR NA PROVA
hormonal) e podem ocorrer apenas no pân- SOBRE O TUMOR?
creas ou em sítios extrapancreáticos. Os mais
IDADE: 40-50 anos.
comuns são o insulinoma e o gastrinoma.

130
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 131

QUADRO CLÍNICO: neuroglicopenia solitários que ocorrem principalmente na


(confusão mental, cefaleia, escotomas) + cauda e raramente extrapancreáticos. Cer-
resposta adrenérgica (sudorese, tremor, ca de 50-80% são malignos.
palpitação). TRATAMENTO: Como a maioria já apresen-
DIAGNÓSTICO: Teste com jejum de 72h ta metástases hepáticas, o objetivo princi-
seguido pela dosagem reduzida de glicose pal não é a ressecção, mas o controle da
(≤ 45 mg/dl), acompanhada de elevação doença com octreotide (melhora todos os
do peptídeo C (> 0,6ng/ml) e da insulina (> achados com exceção da hiperglicemia).
3 μU/ml). Faz diagnóstico diferencial com
outras causas raras de hiperinsulinemia
endógena (nesidioblastose/hipertrofia de
células da ilhota; hipoglicemia por secreta- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
gogos e hipoglicemia autoimune). Os anti- SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
-corpos anti-insulina não estão presentes. MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
CARACTERÍSTICAS TUMORAIS: São Mulher de 25 anos, IMC 30 kg/m2, chega ao
geralmente tumores pequenos (< 2 cm), seu consultório referindo episódios de sudo-
solitários e benignos, distribuídos por todo rese, agitação com obnubilação e desmaios
o pâncreas, sendo raros os sítios ectópi- quando foram constatados baixos níveis gli-
cos (não pancreáticos). cêmicos. Refere esses sintomas há bastante
TRATAMENTO: Apenas 10% são malig- tempo, mas eram atribuídos à “crise nervosa”.
nos. Assim, após localização do tumor Nos episódios de desmaios, houve necessi-
com exame de imagem (TC, RM, USG), dade da administração de glicose EV que
o próximo passo é a cirurgia (cura em reverteu a sintomatologia. Ao exame: obesi-
até 95% dos casos). Antes da cirurgia, a dade grau 1, certo grau de deficit cognitivo.
hipoglicemia é controlada com pequenas Nega uso de medicações. Quais os resultados
refeições e uso de diazóxido (inibe libera- prováveis dos exames dessa paciente em
ção de insulina). Outras opções seriam: jejum prolongado?
verapamil, fenitoína, octreotide. Nos tumo- a) Glicose sérica inferior a 60 mg/dL e níveis
res malignos, o tratamento começa com elevados de sulfonilureia na urina.
octreotide (análogo da somatostatina) e b) Glicose sérica inferior a 50 mg/dL, com bai-
prossegue com quimioembolização ou xo nível de proinsulina sérica e alta dosagem
embolização de artéria hepática. de peptídeo C.
c) Glicose sérica superior a 120 mg/dL, com
alto nível de insulina sérica e baixa dosagem
GLUCAGONOMA de peptídeo C.
O QUE PRECISO ENTENDER SOBRE O d) Glicose sérica inferior a 50 mg/dL, com alto
TUMOR? nível de insulina sérica e relação insulina/ gli-
Como o nome já diz, trata-se de um tumor cose maior que 0,4.
caracterizado pela produção excessiva de
glucagon. Isto vai nos fazer lembrar de uma Hipoglicemias recorrentes e inexplicadas,
situação em que o glucagon está proporcio- num paciente obeso, devem nos fazer consi-
nalmente mais elevado que a insulina... Isso derar a hipótese diagnóstica de insulinoma,
mesmo, semelhante ao DM! Então o paciente um tumor de células beta pancreáticas secre-
terá hiperglicemia - justamente o inverso do tor de insulina. A secreção de insulina pelo
insulinoma. Além disso, terá uma alteração tumor é autônoma, isto é, ela se mantém
dermatológica marcante. constante a despeito dos níveis glicêmicos, o
que, obviamente, gera uma tendência à hipo-
O QUE PRECISO GUARDAR NA PROVA glicemia, evitada, na maior parte do tempo,
SOBRE O TUMOR? pelo aumento da ingesta calórica por parte do
IDADE: 40-70 anos. paciente (o qual, por este motivo, acaba en-
QUADRO CLÍNICO: dermatite (eritema gordando, até porque a insulina é um hormô-
necrolítico migratório) + diabetes + perda nio anabolizante). Assim, laboratorialmente, o
ponderal + anemia. paciente apresenta glicose sérica reduzida,
* Dermatite (ver imagem na página se- com elevados níveis de insulina sérica. A re-
guinte): começa por um eritema anular na lação insulina/glicose se mostra inapropriada-
região intertriginosa ou periorificial, prin- mente alta. Resposta certa: D.
cipalmente na virilha e no glúteo. Depois
cresce e assume forma bolhosa, com ruptu-
ra e aparecimento de áreas de erosão, que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
podem aumentar ou regredir. Acredita-se HOSPITAL DAS CLÍNICAS
que seja causada pela intensa hipoamino- DO PARANÁ – UFPR
acidemia associada ao glucagonoma. A tríade de Whipple compõe-se de:
DIAGNÓSTICO: elevação do glucagon (> a) Sintomas de hipoglicemia desencadeados
1.000 ng/L). por exercício físico, glicemia inferior a 40 mg/
Outras causas de elevação do glucagon dl e ganho de peso.
(até 500 ng/L): insuficiência renal; pancre- b) Sintomas de hipoglicemia que melhoram
atite aguda; hipercortisolismo; insuficiência com administração de glicose e glicemia infe-
hepática; jejum prolongado e familiar. rior a 50 mg/dl.
CARACTERÍSTICAS TUMORAIS: São c) Insulina sérica superior a 05 mU/ml, glicemia
geralmente tumores grandes (5-10 cm), inferior a 40 mg/dl e sintomas de hipoglicemia.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 132

d) Ganho de peso, glicemia inferior a 50 mg/ pacientes recebe o diagnóstico já com me-
dl e sintomas de hipoglicemia. tástases hepáticas. O Eritema Necrolítico
e) Sintomas de hipoglicemia, peptídeo C ele- Migratório (ENM) e a perda ponderal são as
vado e glicemia inferior a 40 mg/dl. manifestações mais frequentes, encontradas
em até 70% dos casos no momento do diag-
Aprenda com a questão: a tríade de Whipple nóstico!!! O ENM começa pelo surgimento de
– sintomas de hipoglicemia, glicose sérica abai- placas ou pápulas eritematosas anulares,
xo de 50 mg/dl e melhora dos sintomas com a geralmente em áreas periorificiais e intertri-
administração venosa de glicose – é associada ginosas, que em questão de 1-2 semanas
à presença de insulinoma. Lembrar que algumas evoluem com aumento de sua extensão e
situações clínicas podem simular a síndrome, coalescência (isto é, as placas se juntam),
como uso de agentes hipoglicemiantes e a hipo- apresentando induração central, formação de
glicemia reativa, que pode ocorrer algumas horas bolhas, erosão e descamação. As áreas afe-
após refeições com alto teor de carboidratos. tadas são tipicamente pruriginosas e costu-
mam doer bastante... A biópsia (que deve ser
realizada nos bordos da lesão) revela a pre-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 sença de necrólise das camadas superficiais
UNIVERSIDADE FEDERAL DO da epiderme, ou seja, separação dessas
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO camadas daquelas mais basais. Também
Em relação aos glucagonomas, é correto afir- observamos infiltrados linfocíticos perivascu-
mar que: lares... Acredita-se que a patogênese dessa
a) Geralmente são tumores benignos. lesão cutânea deva-se a uma alteração me-
b) Podem apresentar dermatite necrolítica tabólica peculiar ao glucagonoma: a hipoa-
migratória. minoacidemia. Os aminoácidos plasmáticos
c) Apresenta a maioria níveis plasmáticos de encontram-se reduzidos nesta doença porque
glucagon abaixo de 100 pg/ml. o fígado, estimulado pelos altos níveis de
d) Os doentes com essa doença, em geral, glucagon (geralmente > 500 pg/ml), ativa de
apresentam hiperaminoacidemia. forma exagerada as vias de gliconeogênese,
e) Ocorre com maior frequência na 3ª década consumindo aminoácidos para a formação de
de vida e no sexo masculino. glicose (o que justifica o surgimento de dia-
betes mellitus). Sabemos que a faixa etária
A maioria dos glucagonomas é maligna! típica inicia-se na QUINTA década de vida (>
Algumas séries referem que até 82% dos 40 anos). Logo, resposta: B.

Eritema necrolítico migratório.

SOMATOSTATINOMA
O QUE PRECISO ENTENDER SOBRE O dominam a hiperglicemia, a dismotilidade da
TUMOR? vesícula e a redução da secreção pancreática
rica em enzimas.
Como o nome já diz, trata-se de um tumor
caracterizado pela produção excessiva de
O QUE PRECISO GUARDAR NA PROVA
somatostatina. E o que esse hormônio pro-
SOBRE O TUMOR?
duzido principalmente pelas células delta do
pâncreas faz? INIBIÇÃO! Inibe a secreção de IDADE: 50 anos.
insulina e glucagon, GH, TSH e hormônios QUADRO CLÍNICO: diabetes + colelitíase
gastrointestinais (gastrina, colecistoquinina, + diarreia com esteatorreia.
secretina, VIP)! Embora a maioria dos tumo- Obs.: os sintomas mais comuns são dor ab-
res não sejam funcionais, quando a síndrome dominal e perda ponderal, já que a maioria
do somatostatinoma ocorre (10% - principal- dos tumores não é funcional, manifestando-
mente nos de localização pancreática), pre- -se por crescimento local. Contudo, para a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 133

prova, você deve memorizar a tríade do pâncreas) e geralmente grande (4,5 cm) e
somatostatinoma que acabamos de colocar. solitária. O restante se encontra no duode-
DIAGNÓSTICO: na maioria das vezes, no (região ampolar e periampolar), fígado,
por acidente, durante colecistectomia ou cólon e reto. A maioria é maligna.
endoscopia. Levanta-se a suspeita quando TRATAMENTO: Nos que não possuem me-
se identificam corpos psamomatosos na bi- tástases disseminadas (< 25%) = cirurgia.
ópsia. O diagnóstico requer níveis elevados Nos tumores irressecáveis, os sintomas são
da somatostatina (> 160 pg/ml). controlados com octreotide (curiosamente,
CARACTERÍSTICAS TUMORAIS: Metade o análogo da somatostatina também inibe
é pancreática (principalmente na cabeça do a secreção de somatostatina).

A Cromogranina A (CgA) sérica é de sintomas compatíveis com hipoglicemia,


um marcador tumoral que se en- confusão mental e/ou obnubilação. Gabarito
contra aumentado em cerca de letra B.
80% dos tumores neuroendócrinos,
podendo ser utilizada para controle
durante e após o tratamento. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
ANTÔNIO PEDRO – RJ
Níveis séricos elevados de peptídeo C podem
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 ser encontrados na presença de:
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO a) Insulinoma.
ANTÔNIO DE MORAES – ES b) Vipoma.
Qual é o tumor pancreático funcionante de c) Gastrinoma.
origem neuroendócrina mais comum? d) Glucagonoma.
a) Gastrinoma. e) Somatostinoma.
b) Insulinoma.
c) Glucagonoma. O peptídeo C é uma molécula cossecretada
d) Vipoma. com a insulina pelas células beta das ilhotas
e) Feocromocitoma. pancreáticas. Logo, serve como marcador da
secreção endógena de insulina, servindo, por
No Sabiston, logo no início da descrição conseguinte, como marcador tumoral do insu-
deste tumor temos: o insulinoma é o tumor linoma uma neoplasia das células beta que
funcionante mais comum do pâncreas e os cursa com hiperinsulinemia “verdadeira” e
pacientes afetados apresentam um quadro hipoglicemia. Resposta certa: A.

Distúrbios Poliglandulares

Existem situações na Endocrinologia em que Síndromes Poliglandulares


os distúrbios glandulares não aparecem de Autoimunes
forma isolada, mas em conjunto. E não se trata Síndrome tipo I: Insuficiência adrenal + candi-
de puro acaso, mas por uma predisposição díase mucocutânea + hipoparatireoidismo
genética. Sendo assim, torna-se fundamental  ocorre na infância;
o reconhecimento dessas condições já que o  outros achados: hepatite autoimune, anemia
aparecimento da primeira deve motivar a in- perniciosa, alopecia, hipotireoidismo primário
vestigação da segunda endocrinopatia, bem e hipogonadismo primário;
como um possível rastreamento familiar. Além Síndrome tipo II (síndrome de Schmidt):
disso, mudanças no tratamento podem surgir Insuficiência adrenal (100%) + doença tireoi-
quando elas aparecem combinadas. diana autoimune (60%) + diabetes mellitus tipo
1 (50%).
E que situações seriam essas? A maioria já foi  é a mais comum, ocorre em adultos;
falada ao longo do capítulo, a exemplo da neo-  outros achados: hipogonadismo primário, vi-
tiligo, anemia perniciosa, alopecia, miastenia
plasia endócrina múltiplas. No entanto, coloca-
gravis, hipopituitarismo.
remos aqui novamente para reforçar o conceito!

Neoplasias Endócrinas
Múltiplas Novidades
NEM 1: Hiperparatireoidismo primário + Tumo-
res endócrinos do pâncreas (ex.: gastrinoma) Recentemente, duas drogas se mostraram
+Tumores hipofisários (ex.: prolactinoma). efetivas no aumento da sobrevida dos pacien-
NEM 2A: Carcinoma medular de tireoide + Fe- tes com tumores neuroendócrinos bem dife-
ocromocitoma + Hiperparatireoidismo primário. renciados e avançados: sunitinib e everolimus.
NEM 2B: Carcinoma medular de tireoide + Fe-
Os estudos conduzidos foram publicados no
ocromocitoma + Neuromas mucosos. New England Journal of Medicine.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 134

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 mos os tumores carcinoides (do tipo intestinal


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC anterior) e os tumores da cortical da suprar-
Assinale a alternativa CORRETA. A neoplasia renal (geralmente não funcionais).
endócrina múltipla do tipo I acomete primaria-
mente os seguintes órgãos: Após essa breve revisão, podemos concluir
a) Hipófise, paratireoide e pâncreas. que a alternativa que responde o enunciado
b) Hipófise, fígado e pulmão. é a letra A.
c) Tireoide, fígado e paratireoide.
d) Pulmão, tireoide e paratireoide.
e) Rim, paratireoide e hipófise.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
A neoplasia endócrina múltipla do tipo I UNIVERSIDADE DO ESTADO
(também chamada de síndrome de Wermer) DO RIO DE JANEIRO – UERJ
é uma entidade herdada como um traço au- Uma paciente refere que, nos últimos dois
tossômico dominante e é caracterizada pela meses, apresentou episódios de sudorese,
presença de neoplasias das glândulas para- tonteira e confusão mental. Relata também
tireoides, tumores enteropancreáticos, ade- dor epigástrica em queimação. Foram solici-
nomas da hipófise anterior e outros tumores tados exames laboratoriais, que revelaram
neuroendócrinos com uma penetrância vari- cálcio 11,00, potássio 4,5, sódio 135, glicose
ável. O hiperparatireoidismo primário é a 60, PTH 500. A TC de abdome identificou lesão
manifestação mais comum de NEM1 (com de 1,0 cm na cabeça do pâncreas sem linfo-
uma penetrância estimada de 95%-100%), nodomegalias regionais, sugerindo insulino-
além de ser a alteração mais precoce da sín- ma. Para se confirmar o diagnóstico de NEM
drome na maioria dos pacientes. Dentre os 1, é necessário o comprometimento de, pelo
tumores enteropancreáticos (segunda mani- menos, dois de três tecidos endócrinos: a pa-
festação mais comum da síndrome), os gas- ratireoide, o pâncreas endócrino e o (a):
trinomas são os mais comumente observados a) Cólon. c) Hipófise.
e resultam na chamada síndrome de Zollin- b) Tireoide. d) Suprarrenal.
ger-Ellison. Os tumores hipofisários ocorrem
em aproximadamente 30% dos pacientes, e Mais uma vez, memorize as características
são representados geralmente pelos prolac- das NEM! Questão certa em prova! Para quem
tinomas. Dentre os achados mais raros, te- decorou o quadro, resposta fácil, letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 135

Boletim Operatório 1

N ão é a primeira vez que você encontra ao longo de um texto


a menção às famosas cirurgias de tireoidectomia... Mas temos
quase certeza de que diversos conceitos, desde a graduação,
são meramente decorados, sem que se entenda verdadeiramente a base
anatômica e os fundamentos dessa cirurgia tão fascinante! E como gravar
também as complicações se as etapas da cirurgia são desconhecidas?

Por isso mesmo, convidamos você para aproveitar essa oportunidade


para entender de vez por que e como essas complicações podem ocorrer!
Descreveremos a seguir detalhadamente os tempos de uma tireoidectomia.
Mesmo que não goste de anatomia, abordaremos o tema de uma maneira
leve, para você deixar de lado o preconceito com o tema. Vamos começar!

 Diagnóstico: doença multinodular extensa, Graves, Neoplasia de


tireoide com critérios de malignidade
 Procedimento: tireoidectomia total
 Anestesia: geral

Tempos Cirúrgicos

Comentário inicial:
Em cirurgias com campo reduzido, como a cirurgias no pescoço, o posicionamento do pa-
ciente adquire uma importância especial, já que ele isoladamente pode permitir uma ampli-
tude muito maior para que o cirurgião consiga manipular as estruturas anatômicas e seus
instrumentos. Assim, antes de se iniciar o procedimento, é importante ter o cuidado de
colocar um apoio entre as escápulas do paciente (ex.: um campo dobrado), bem como um
coxim (travesseiro em “doughnut”) na nuca do paciente. Eles permitirão que o pescoço do
paciente permaneça estendido durante a operação, maximizando o campo.

É válido ainda lembrar que, após o bloqueio neuromuscular há uma boa oportunidade de
realizar uma ultrassonografia do pescoço com a musculatura relaxada.

135
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 136

(1) O procedimento começa com uma incisão bem definidos. Essa anatomia permite que
transversa no pescoço, cerca de dois “dedos” o cirurgião faça uma dissecção romba entre
acima da fúrcula esternal ou 1 cm abaixo da os planos fasciais e afaste as estruturas sem
cartilagem cricoide. Essa incisão, conhecida que haja necessidade de cortá-las, evitando o
como colar de Kocher, possui 4 a 5 cm de ex- sangramento. Dessa maneira, a borda medial
tensão e vai de um músculo esternocleidomas- do m. esterno-hiodeo é identificada e incisada.
toideo (ECOM) a outro. Em sua profundidade, O espaço posterior a este músculo sofre uma
ela deve englobar todo tecido subcutâneo e dissecção romba (ex.: cabo do bisturi). Nesse
platisma, atingido um plano bem abaixo des- momento, será possível ver o m. esternotireoi-
se músculo. Note que a incisão obedece às deo, profundo e lateral ao músculo anterior. O
linhas de Langer e promove bons resultados mesmo procedimento é repetido, permitindo
estéticos, sobretudo quando colocada sobre que ambos os músculos e a fáscia que recobre
linhas naturais da pele. a tireoide sejam afastados (com um afastador
simples, ex.: Farabeuf), expondo as estruturas
(2) Abaixo do plano do platisma existe um mais profundas do pescoço anterior.
plano fascial avascular. Inicia-se uma dissec-
ção (romba ou com próprio bisturi) para cima, (4) Com a tração lateral da musculatura, po-
em direção à cartilagem tireoide, e para baixo, dem ser identificados o lobo da tireoide, seu
até a fúrcula esternal. Nesse plano serão logo istmo, a bainha, a carotídea lateralmente e,
visualizadas as veias jugulares anteriores. Se do lado esquerdo, o esôfago. O primeiro vaso
houver qualquer ramo que comunique ambas tireoidiano a ser visualizado é a veia tireoidiana
e cruze a linha média, ele deverá ser ligado e média. Ela deve ser ligada e seccionada para
seccionado. Agora que já temos um campo melhor manipulação da glândula.
cirúrgico adequado, um afastador de Mahorner
é colocado em posição para manter exposição (5) Para remover a tireoide do seu leito é ne-
constante das estruturas cervicais. cessário, antes, ligar as artérias responsáveis
pela sua vascularização. Você lembra quais
(3) Se você se lembra vagamente da anato- são elas? A artéria tireoidea superior, ramo da
mia do pescoço, perceberá que, como a dis- carótida externa, e a. tireoidea inferior, ramo
secção feita até o momento, será impossível da a. subclávia. Mas a ligadura dessas artérias
de alcançar a tireoide. Isso porque a glândula não é um processo simples. Acompanhando a
está recoberta pela musculatura infra-hioide primeira nós temos o nervo laríngeo superior,
do pescoço. Dois músculos em especial se responsável pela motricidade do m. cricoti-
interpõem entre o cirurgião e a tireoide: o m. reoideo. Passando próximo à artéria tireoidea
esterno-hioideo e o m. esternotireoideo. Então inferior está o nervo laríngeo recorrente, que
é só cortar? Não exatamente. Perceba que as inverva todo o restante dos músculos da larin-
cirurgias no pescoço são cirurgias em que não ge. Logo, o ponto mais desafiador da cirurgia é
há muito sangramento. Isso se deve a um mo- separar a vascularização da tireoide dos ner-
tivo: os planos fasciais e musculares são muito vos, sem que nenhuma lesão seja provocada.

Afastador de Mahoner

Dissecção romba com cabo do bisturi e gaze, seguida de dissecção do limite


inferior com bisturi.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 137

Dissecção romba e afastamento do m. esterno-hiodeo.

Dissecção romba e afastamento do m. esternotireoideo e fáscia profunda.

A dissecção é iniciada pelo pólo superior da


glândula. Tração lateral e para baixo é aplica-
da com uma pinça para melhor visualização. A
dissecção começa posterior ao pólo superior,
separando-o do músculo cricotireoideo e sua
respectiva artéria. Como na maioria das ve-
zes (75-80%) o nervo laríngeo externo (ramo
motor do laríngeo superior) corre diretamente
para esse músculo, essa manobra evita sua
ligadura inadvertida. Para maior precaução,
uma Kelly curva pode ser deixada separando
as estruturas. Após, os ramos terminais da
a. tireoidea superior são “esqueletizados”,
ligados e seccionados próximos da glândula,
a fim de evitar que os ramos que vão para as
paratireoides e o nervo laríngeo não sejam
ligados conjuntamente.

As veias tireoideas superiores passam pelo


mesmo procedimento. O pólo superior é cui-
dadosamente separado do tecido gorduroso
redundante adjacente, área onde normal-
mente se encontra a paratireoide. É comum
que o cirurgião não consiga diferenciar esse
tecido gorduroso de tecido tireoidiano, o que
provoca a extração das paratireoides junto
com o lobo da glândula. E para piorar, as
paratireoides frequentemente possuem loca-
lização ectópica e número variável, assim o
cirurgião nunca tem certeza se as retirou junto
com a tireoide, se elas são ectópicas, se não
existem naquela localização ou se retirou uma
glândula supranumerária.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 138

(6) Nesse momento a atenção é voltada Nas tireoidectomias quase-totais (“near total”),
para artéria tireoidea inferior. A glândula é a primeira lobectomia é realizada como des-
tracionada no sentido medial, expondo sua crito. A lobectomia contralateral poupará as
face posterior, e , consequentemente, o sulco regiões próximas às paratireoides e ao nervo
traqueoesofágico e o ligamento de Berry. Uma laríngeo recorrente, deixando apenas 1 g
dissecção mínima da artéria é realizada. A (aproximadamente 1 cm) de parênquima re-
continuidade da cirurgia fica impossibilitada se manescente. Evidentemente, há menor chan-
o nervo laríngeo recorrente não for localizado. ce de lesão nervosa e retirada acidental das
Em seu trajeto normal, o nervo sobe pelo sulco paratireoides nesse lado. No procedimento
traqueoesofágico, posteriormente (80%) ou an- subtotal, ambos os pólos superiores e inferio-
teriormente (20%) à artéria tireoidea inferior. Se res são poupados com uma margem maior,
o nervo não for visualizado nessa localização, restando uma média de 2 a 3 g de parênquima
áreas mais inferiores do pescoço devem ser bilateralmente. Nesse tipo de cirurgia a des-
exploradas à procura de sua origem. Com os vantagem (ou vantagem secundária em alguns
mesmos propósitos que a. tireoide superior, casos...) é a própria permanência de tecido
aqui as artérias e veias também são esqueleti- tireoidiano no local. Existe ainda uma variação
zadas, ligadas e seccionadas próximas de sua da tireoidectomia subtotal conhecida como
inserção na glândula. O pólo inferior é separa- cirurgia de Hartley-Dunhill em que é realizada
do cuidadosamente dos tecidos adjacentes e através de uma lobectomia com istmectomia.
da glândula paratireoide. O lobo contralateral é retirado deixando uma
quantidade maior de parênquima remanes-
cente (4 g).

(7) Com o lobo desvascularizado, chegou a (9) Com o procedimento terminado, o cirur-
hora de retirá-lo. A tração medial é continua- gião buscará fontes ainda sangrantes e revi-
da, de forma que a clivagem aconteça na face sará a hemostasia do campo. Após lavagem
posterior da tireoide. O primeiro passo desse com soro fisiológico, os músculos infra-hio-
tempo cirúrgico é a identificação do ligamento deos são aproximados com pontos simples de
de Berry. O nervo laríngeo recorrente segue fio inabsorvível. O mesmo é realizado com o
seu curso exatamente por baixo do mesmo. platisma e o subcutâneo. A pele pode ser fe-
Assim, é necessário uma secção cuidadosa chada com sutura intradérmica, para melhores
dessa área. Se houver sangramento, a he- resultados estéticos já que a região anterior
mostasia é realizada com ligaduras ou com- do pescoço não possui uma tensão cutânea
pressas, pois mesmo isoladamente o calor do elevada. As cirurgias de tireoide raramente
eletrocautério pode lesar o nervo. Uma vez necessitam de drenagem.
que incisão passe esse ponto, ela é continua­
da em direção ao istmo.

(8) Assim que o lobo e o istmo estiverem


livres, eles serão seccionados com bisturi e a
hemostasia da glândula é realizada com liga-
duras dos vasos mais calibrosos. Se a cirurgia
fosse uma lobectomia, esse seria o último tem-
po cirúrgico. No caso da tireoidectomia total,
todos os tempos cirúrgicos são repetidos no
lobo contralateral.

E as tireoidectomias subtotais e quase


totais?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 139

Boletim Operatório 2

A pós a leitura da apostila, sabemos que a base conceitual formada


sobre o manejo pré-operatório do feocromocitoma e de outras
patologias da suprarrenal estará solidificada. No entanto, quando
se trata de anatomia da glândula e do seu manejo cirúrgico, o
conhecimento pode não estar no mesmo nível... Isso em grande parte
pelo deficit de conhecimento anatômico, já que pequenos detalhes
da glândula suprarrenal foram provavelmente esquecidos nos primeiros
períodos da faculdade, junto com a biofísica, histologia e embriologia! Mas
você vai perceber agora, que não são necessários profundos conhecimentos
anatômicos para o bom entendimento da técnica da adrenalectomia
laparoscópica. Vamos revisitar seu conceito de forma clara e abrangente.
Aprenda um pouco mais sobre esse procedimento fabuloso!

 Diagnóstico: aldosteronoma, cushing (hiperplasia adrenal,


adenoma), feocromocitoma, adenoma cortical não funcionante
(> 4-5 cm ou aspecto radiográfico atípico).
 Procedimento: adrenalectomia videolaparoscópica.
 Anestesia: geral.

Tempos Cirúrgicos

Comentário inicial: trico ou orogástrico. Você irá notar que a


A abordagem das massas benignas de su- cirurgia possui um campo reduzido e que a
prarrenal vem sendo realizada com sucesso distensão gástrica pode dificultar ainda mais
pelo procedimento videolaparoscópico. Além a vida do cirurgião, sobretudo nas cirurgias
de reduzir o tempo de hospitalização e a dor à esquerda. No caso de abordagem de um
pós-operatória, ele leva a uma menor perda feocromocitoma, pressupõe-se que o pa-
sanguínea, bem como a uma taxa de com- ciente possua um acesso venoso central e
plicações muito menor. É importante lembrar monitorização invasiva da pressão arterial.
que a despeito dos benefícios, essa técnica O paciente deve estar completamente “na
deve ser contraindicada nos casos de grandes mão” do anestesista.
tumores ou neoplasias localmente invasivas. • O posicionamento adequado deve ser atin-
gindo com ajuda de calços e travesseiros do
Ressaltamos ainda que, durante a manipu- tipo “bean bag” (o famoso “puff”). O paciente
lação das adrenais, o anestesista não tem é deitado em decúbito lateral, com lado a
“descanso”. Ele deve ficar atento todo tempo, ser abordado para cima, de forma que a 10ª
buscando instabilidade hemodinâmica e com costela fique sobre a dobradura da mesa.
drogas intravenosas prontas para infusão, Os braços do paciente ficam estendidos e
como α- e β- bloqueadores e aminas vasoati- elevados. O posicionamento é assegurado
vas. A atenção é redobrada durante o manejo por meio de faixas. Deve-se atentar para
dos feocromocitomas. que todas as proeminências ósseas sejam
acolchoadas e não haja compressões ner-
A adrenalectomia é um procedimento exigente vosas. A cicatriz umbilical (marco anatômico
com relação ao preparo e ao posicionamento importante) não poderá ser ocultada pelos
do paciente na sala de cirurgia. Vamos rever apoios. A degermação do paciente é realiza-
com atenção os principais pontos: da da linha mamilar até o púbis e da cicatriz
• Após a indução da anestesia geral em umbilical até a linha mediana do dorso. Os
decúbito dorsal, é iniciado o preparo do campos são colocados e a mesa é fletida na
paciente. Além da cateterização urinária, altura do quadril, aumentando a distância
deverá ser passado um cateter nasogás- entre a asa ilíaca e o gradil costal.

139
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 140

Comentário inicial:
Por que o posicionamento é importante?

Conforme já foi explicitado, o campo cirúrgico é muito pequeno. Como estamos falando de uma
cirurgia laparos­cópica, não podemos utilizar múltiplos afasta­dores. Dessa maneira, o cirurgião
contará com a gravidade como um afas­tador. Com esse objetivo, ele pode modificar a diversas
vezes posição do leito para obter uma melhor visualiza­ção. As posições mais buscadas são o
decúbito de Trendelenburg, Trendelenburg invertido, inclinação para frente e inclinação para trás.

Adrenalectomia esquerda realizada com somente 3 trocartes dependen-


do da habilidade do cirurgião.
(1) Para se iniciar o pneumoperitônio, o sí-
tio de escolha de incisão do trocarte é a linha
axilar média, há cerca de dois centímetros do
gradil costal. A insuflação do abdome pode ser
realizada tanto pela técnica de Veress ou de
Hasson (mais detalhes no boletim operatório
da apostila de síndrome ictérica). Os trocartes
seguintes são inseridos na linha axilar poste-
rior, linha axilar anterior e 5 cm anteriormente
à linha axilar anterior, sempre mantendo uma
distância segura do gradil costal. Excepcio-
Posicionamento dos trocartes
nalmente, a adrelectomia esquerda pode ser
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 141

(2) Para acessar a glândula suprarrenal calibrosos é realizada uma ligadura como a
esquerda, o primeiro grande obstáculo é o da veia suprarrenal.
baço. Ele está preso à parede abdominal por
aderências, preso ao diafragma pelo ligamen- (4) Com a veia suprarrenal ligada, a glândula
to esplenodifragmático e preso ao rim pelo sofrerá uma enucleação convencional. Ela é
ligamento esplenorrenal. Apesar de descri- descolada circunferencialmente do seu leito
tas separadamente, essas estruturas são na com o auxílio do eletrocautério em gancho,
realidade uma reflexão peritoneal contínua, num processo bem parecido com a colecis-
e quando a primeira for incisada, tudo o que tectomia. A glândula pode estar envolta por
o cirurgião precisa fazer é seguir no mesmo muita gordura perinéfrica. Não há problemas
plano da linha de corte. Ao “libertar” o baço, de ressecar pedaços dessa gordura conjun-
ele é jogado para frente por um afastador do tamente. Na verdade, é melhor fazê-lo do que
tipo leque, em direção ao umbigo, juntamente deixar para trás algum fragmento da glândula.
com a cauda do pâncreas que está aderida ao
seu hilo. Essa manobra permitirá a visualiza- (5) Retirada do seu leito, a glândula (com ou
ção do rim esquerdo, da veia renal esquerda sem tumor) é manipulada pela gordura periné-
e glândula adrenal ipsilateral. Caso a flexura frica aderida, colocada em saco impermeável
esplênica do cólon esteja atrapalhando a cirur- (uma luva estéril quando não há outro recurso)
gia, ela pode ser mobilizada para baixo após e retirada do abdome. Os planos musculares
a secção do ligamento esplenocolônico. são fechados com suturas de tensão duradou-
ra (de preferência fios inabsorvíveis) e a pele
(3) Já achamos a adrenal, agora é só res- com pontos intradérmicos ou ponto simples.
secar certo? Depende... Imagine que você Geralmente, não há necessidade de drena-
esteja manipulando um feocromocitoma. A gem, à exceção dos casos que existe lesão
cada aperto que você faz na glândula, uma pancreática evidente.
quantidade imensa de catecolaminas é jogada
na circulação, provocando hipertensão e ins-
tabilidade hemodinânica. Se você não gosta
do anestesista, esse é a técnica de escolha!
Brincadeiras a parte, como poderíamos evi-
tar essa situação? Simples: ligando a veia
suprarrenal. Assim, por mais que a glândula
fosse pressionada, as catecolaminas não cai-
riam na circulação. Apesar das complicações
citadas, existem ainda autores que advogam
a ressecção da glândula antes da ligadura
da veia, já que essa última poderia provocar
congestão tecidual e maior dificuldade de
manipulação. Esse tipo de abordagem é rea-
lizado mais seguramente quando não se trata Adrenalectomia Direita
de um feocromocitoma.
(1) Nesse lado, o maior obstáculo para vi-
Como achar a veia suprarrenal esquerda? sualização da adrenal será o lobo direito do
fígado. Dessa forma, ele terá que ser deslo-
Existem algumas maneiras descritas. A mais cado anteriormente. Como? O fígado é preso
popular e possivelmente a mais fácil, é busca no diafragma por duas reflexões peritoneais
pela veia frênica inferior esquerda. Hã? Isso conhecidas como ligamentos triangulares do
mesmo. Essa veia é tributária direta da veia fígado (direito e esquerdo). O ligamento trian-
suprarrenal esquerda. Portanto, se seguirmos gular direito é seccionado, o que permitirá que
seu trajeto encontraremos o que procuramos. um afastador desloque o fígado para o lado
Onde achamos essa veia? Basta afastar o rim e para frente, em direção à cicatriz umbilical.
e a adrenal esquerdas do baço e da cauda do Essa manobra permitirá a visualização do rim
pâncreas, como se estivéssemos abrindo um direito, glândula adrenal e da veia cava inferior.
livro. A veia frênica inferior aparecerá ao fun-
do, como se fosse o marcador de página do
livro. Agora é dissecar e seguir o seu trajeto
até a veia suprarrenal. Quando encontramos
a mesma, ela é ligada com grampos de metal
e seccionada, ou mesmo grampeada direta-
mente com grampeador vascular.

E as artérias suprarrenais? São três, não?

Sim, ramos superiores (vindos das aa. frêni-


cas inferiores), médios (da aorta) e inferio-
res (da a. renal). Bom, não é necessário se
preocupar diretamente com essas artérias já
que normalmente os ramos são muito finos e
são hemostasiados diretamente com eletro-
coagulação. Para ramos eventualmente mais
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 142

(2) Assim, como no procedimento contra- aberto. A veia é encontrada geralmente na


lateral, o próximo passo é a busca pela veia parte mais medial da glândula, entre a mesma
adrenal. Como ela drena diretamente para e a veia cava. Ela é ligada com clipes e sec-
a veia cava inferior, o peritônio que recobre cionada (grampeador vascular também pode
essa última é dissecado com o eletrocautério ser utilizado).
em gancho. O espaço entre a cava inferior
e a adrenal é cuidadosamente dissecado. A (3) A exemplo da adrenalectomia esquerda,
veia suprarrenal direita costuma ser calibrosa aqui a glândula é enucleada da mesma ma-
e curta. Dessa maneira, sua lesão durante o neira (cauterizando-se os ramos arteriais) e
procedimento é de difícil hemostasia e cos- colocada no coletor. O fechamento também
tuma levar à conversão para o procedimento não apresenta diferenças.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 143

Boletim Operatório 3

P oucos já tiveram o desprazer de explicar para seu paciente que


ele terá que ser submetido a uma adenomectomia transesfenoidal.
Mas aqueles que já passaram por essa situação têm uma experiência
inesquecível gravada em sua memória: “Como doutor? Minha doença
é de hormônio e você quer operar o meu nariz?”. Parece ser uma tarefa
árdua, mesmo para os que dominam o procedimento...

E você? Sabe descrever a cirurgia mesmo que seja durante um Round no


internato? Dificilmente, pois as principais bibliografias omitem a técnica
cirúrgica e tempos empregados no procedimento. Vamos agora rever
os principais aspectos cirúrgicos, sempre fornecendo um embasamento
anatômico para que você consiga realmente entender as etapas da cirurgia.

Conceitos Anatômicos

Como todo procedimento com campo reduzi- Pensando calmamente: se hipófise é extra-
do, a adenomectomia transesfenoidal exige -aracnoidal, os tumores não invasivos da
conhecimento de alguns detalhes anatômi- mesma (macro e microadenomas) também
cos. Para que a operação seja efetuada, é serão extra-aracnoidais. Isso mostra ao neu-
fundamental que cirurgião saiba se orientar rocirurgião que existe um limite importante
por pequenos pontos de reparo anatômicos. para sua dissecção: a meninge aracnoide, que
Assim, três são os principais conceitos que não deve ser ultrapassada. Ela deve funcionar
todo neurocirurgião deve saber: como um escudo, entre o campo cirúrgico e
espaço subaracnoide, impedindo vazamentos
1- A hipófise é uma estrutura de líquor e lesão de vasos importantes.
extra-aracnoidal
2 - A hipófise se encontra
Você está cansado de saber que todas as na linha média, envolta por
estruturas nobres.
estruturas do sistema nervoso central estão
cobertas por três meninges: a dura-máter,
aracnoide e pia-máter. No entanto, a hipófise A localização da hipófise é extremamente
é uma exceção à regra. Ela fica localizada na delicada. Lateralmente a ela encontram-se o
sela do osso esfenoidal e apenas sua parte su- seio cavernoso, o joelho da carótida interna,
perior é coberta pele aracnoide. Isso acontece os nervos oculomotor, abducente, troclear e
porque uma indentação da dura-máter barra raiz oftálmica do trigêmeo. Assim qualquer
a progressão da aracnoide. Essa projeção é dissecção lateral descuidada pode acabar em
conhecida como diafragma da sela. complicações gravíssimas. Como todas essas
estruturas estão juntas ou mesmo dentro do
seio cavernoso, este deve ser considerado
No que esse conhecimento pode ajudar? como limite lateral das dissecções hipofisárias.

143
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 144

3 - É importante reconhecer -se a um prolongamento da aracnoide. A iden-


a hipófise residual, tificação e preservação da mesma é essencial
principalmente durante a para evitar que complicações relacionadas ao
retirada de macroadenomas. pan-hipopituitarismo aconteçam.

Pode parecer óbvio que a retirada da hipófise re-  Diagnóstico: adenoma secretor de
sidual resulte em pan-hipopituitarismo pós-ope- hipófise
ratório, mas reconhecer a glândula durante a
 Procedimento: adenomectomia
retirada de um macroadenoma é outra história...
transesfenoidal
Em grande parte dos casos a hipófise original é
tão espremida que acaba se tornando uma “fina”  Anestesia: geral
camada ao redor do adenoma, assemelhando-

Tempos Cirúrgicos

Comentário inicial:
A adenomectomia transesfenoidal é uma cirurgia em que a observação dos pequenos detalhes
é fundamental para que todo o procedimento transcorra corretamente. Assim, mesmo pequenos
desvios de técnica podem levar ao insucesso do procedimento. Grande parte da preparação
do paciente consiste no posicionamento minucioso:
Em decúbito dorsal, o ombro do paciente deve repousar no canto superior direito da mesa com
a cabeça ficando apoiada em uma cabeceira flexível (suporte em ferradura de Mayfield). A regu-
lação do leito deve deixar a cabeça mais alta que os pés (posição de Trendelenburg invertida).
Essa conformação diminui a pressão venosa intracraniana, permitindo melhor drenagem pelos
seios sigmoides bem como uma drenagem direta do sangramento do sítio cirúrgico. A cabeça
é flexionada cerca de 20º para esquerda, aproximando a orelha do ombro esquerdo. O dorso
do nariz deve ficar paralelo ao chão. Esses ajustes permitem que o cirurgião olhe diretamente
para o fundo da cavidade nasal (seio esfenoide), sem que haja necessidade de debruçar-se
sobre o paciente. Como a cabeça não está fixa na mesa de operação, o cirurgião pode alterar
sua posição durante o procedimento para buscar uma melhor visualização do campo.
No procedimento são degermadas pele da face e do abdome inferior. Abdome inferior? Sim,
parte da cirurgia pode demandar enxertos de aponeurose ou gordurosos. Assim é conveniente
que essa região já esteja pronta para uma abordagem cirúrgica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 145

(1) O primeiro tempo da cirurgia consiste na para o lado da narina contralateral por uma
dissecção do trajeto na cavidade nasal até a espátula. Com essa manobra a junção da par-
face ventral do seio esfenoide (face rostral do te óssea com a cartilaginosa do septo ficará
esfenoide) seja vista. Existem duas principais visível. Repare que o campo da cirurgia se
vias de acesso. A mais recente e mais utiliza- limita a uma narina somente!
da é a via rinoseptal. Para sua realização,
uma incisão em J é feita na mucosa septal e (3) O septo cartilaginoso é incisado na sua
o plano, entre o septo e a mucosa respiratória, junção com o septo ósseo. A parte contrala-
é dissecado com uma estrutura romba (p.ex.: teral da parede óssea ficará visível. A mucosa
bisturi cabo 3 sem lâmina). Um túnel é con- sobre esse lado do septo é incisada e afastada
feccionado em direção ao fundo da cavidade do septo até que a face rostral do esfenoide
nasal, até que a face rostral do esfenoide seja esteja visível, à semelhança do procedimento
localizada. A seguir, um novo túnel é feito contralateral. Com o septo ósseo descolado
inferiormente e paralelo ao primeiro. Poste- de ambos os lados, a parte superior do vô-
riormente os dois são ligados, descolando-se mer é retirada, expondo completamente o
completamente a mucosa do septo. osso esfenoide. Deve-se ter atenção nesse
momento para que a lâmina do etmoide não
seja mobilizada, o que aumentaria o risco de
fratura da lâmina cribiforme e liquorreia. A
parte do septo retirada é preservada para o
fechamento da cirurgia. Com o campo livre,
um rinoscópio bivalve é inserido até o fim da
cavidade permitindo o afastamento constante
das paredes.

A outra abordagem, apesar de não ser a mais


comum, é certamente a mais famosa. Trata-
-se da via ororrinosseptal. Nessa via o lábio
superior é descolado da maxila por dissecção
com bisturi. A seguir o septo é visualizado e
sua mucosa é descolada em túnel, da mesma
forma que o procedimento anterior.

(2) O próximo passo é aumentar o campo


cirúrgico. Para isso remover o septo nasal do
caminho. Como???

Lembre que o septo nasal é formado por 3 Como o cirurgião faz para visualizar todo
estruturas: lâmina do etmoide (superiormente), o procedimento?
cartilagem septal (anteriormente) e o vômer
(inferiormente). Através de um endoscópio ou da visualização
direta através de lentes (microcirurgia).

(4) Com o campo pronto, é dado início à dis-


secção das camadas até a hipófise. Primeira-
mente, a mucosa do fundo da cavidade nasal
é rebatida, permitindo a visualização do rostro
do osso esfenoide propriamente dito. Os óstios
do seio esfenoidal já podem ser visualizados
nesse momento da cirurgia (lembre que o seio
esfenoidal drena para cavidade nasal). Para
certificar-se que está no lugar correto, cirurgião
pode lançar mão tanto dos aparelhos de estereo-
taxia, quanto de uma fluoroscopia peroperatória.
Nesse momento, a parte óssea do rostro do es-
A cartilagem septal é enfraquecida com uma fenoide é removida através da inserção de uma
incisão de bisturi em sua base e deslocada pinça de Kerrison pelos óstios do esfenoide.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 146

Pinça de Kerrison

(5) A retirada do rostro do esfenoide permite A partir daqui, dois tipos de cirurgia são pos-
a visualização do septo do seio esfenoidal, síveis:
bem como sua mucosa. A correlação da po-
sição do septo com exames de imagem pré- Remoção de microadenomas
vios (RNM, TC) permite uma orientação mais
adequada sobre a anatomia do paciente. O Os microadenomas geralmente são visíveis e
septo e a mucosa também são retirados com facilmente delimitados. O cirurgião consegue
a pinça, deixando o fundo da sela do esfenoide facilmente encontrar o plano de clivagem entre
(sela turca) evidente. o nódulo e o tecido normal. O início da dissec-
ção é efetuado com uma lâmina 11 e prossegui-
(6) O fundo da sela costuma estar erodido do cranialmente com uma cureta. Quando não
e fino nos macroadenomas. Nos microade- é visualizado diretamente, deve-se procurar o
nomas encontramos uma espessura normal. microadenoma em regiões da hipófise que pos-
Ele é retirado delicadamente com emprego suem aparência modificada, como alterações
de martelo e de cinzel cirúrgicos associados de coloração ou mudanças de textura, para
à dissecção com pinça Kerrison. Nesse mo- efetuar a incisão. Um cuidado que o cirurgião
mento será possível visualizar a dura-máter deve ter na extração dos microadenomas é a
recobrindo a hipófise. remoção da pseudocápsula, uma mistura tecido
adenomatoso com células hipofisárias normais
(7) A dura-máter é incisada em “X” por um comprimidas. O confundimento dessa estrutura
bisturi simples cabo 3 com lâmina 15. A hipó- com uma cápsula real e a sua não extração
fise é visualizada imediatamente. pode levar à recidiva do adenoma.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 147

Remoção de macroadenomas lhante à membrana aracnoide, que nada mais é


do que a hipófise residual. Na medida em que o
Os macroadenomas estão comprimidos na sela, adenoma é descolado, a glândula converge su-
espremendo a hipófise residual e muitas vezes periormente, recuperando seu formato original.
extravasando pelo diafragma da sela para o es- O descolamento é realizado até que o limite da
paço suprasselar. A melhor manobra para sua membrana aracnoide seja localizado. A perda
extração é a sua descompressão. Ela é atingida desse plano implica a invasão inadvertida do
pelo descolamento do adenoma da camada espaço subaracnoidal. A parte inferior é desco-
de dura-máter que recobre a sela turca. Ele é lada e por último a parte ântero-superior. Essa
realizado em todos os sentidos. Nos lados, até sequência leva o adenoma a pender para trás,
que os seios cavernosos sejam visualizados. permitindo acesso a sua extensão suprasselar.
Anteriormente, até uma estrutura fina, seme- A enucleação é, então, finalizada.

(8) A técnica de fechamento possui inúmeras


variações. Se houver vazamento de líquor para
a região selar é comum confeccionar um patch
de gordura ou aponeuroses. A sela é fechada
com pedaço de septo nasal anteriormente re-
movido. O seio esfenoidal é preenchido com
gordura ou gelfoam e fechado ou não com uma
membrana sintética. O septo cartilaginoso e a
mucosa são reduzidos para a posição original e
a mucosa é inspecionada em busca de lesões.
Após lavagem com solução fisiológica, tampões
nasais são colocados – estes serão retirados
no primeiro ou segundo dia de pós-operatório.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 148

MED R3
Clínica Médica

Veremos aqui mais um tema bastante comum para o R3: as síndromes


endócrinas. Como não podia deixar de ser, tireoide continua sendo a
grande estrela. Lembre-se de que não está nesse módulo, mas outro
tópico relacionado – diabetes – cai bastante também (ver módulo de
Síndrome metabólica II). No mais, você perceberá que, como sempre,
teremos algumas questões mais difíceis, outras muito fáceis.

SEÇÃO 1 – TIREOIDE SEÇÃO 2 – SUPRARRENAL

 Esse tópico cai bastante, assim como nos  A síndrome de Cushing e a insuficiência
concursos de acesso direto. As questões adrenal, assim como o feocromocitoma
mais difíceis são as de anatomia da prova e sua ressecção cirúrgica, são sempre
de Cirurgia Geral. O Boletim Operatório temas “quentes” para as provas de R3.
irá ajudá-los a entender mais alguns as- Acrescentamos ainda nesse tópico um
pectos práticos das tireoidectomias. quadro sobre esteroides anabolizantes.

Saiba mais: Uso de Hormônios Anabolizantes


Cai, sobretudo, nas provas para R3, cujo conhecimento explo-
rado costuma ser um pouco mais avançado. Sabemos que, nos
últimos anos, vem crescendo bastante o uso dessas drogas,
inclusive entre adolescentes, seja para benefício na performan-
ce de atletas, seja por motivos estéticos.

Mas afinal, o que são mesmo esses hormônios?


Quando utilizamos o termo anabolizantes estamos nos referin-
do basicamente aos esteroides de função anabólica, cuja função
é simular a ação dos hormônios sexuais masculinos (testoste-
rona e di-hidrotestosterona). Daí serem também chamados de
esteroides anabólicos-androgênicos (do inglês, AAS). Eles são
compostos pelos ésteres de testosterona (enantato, cipionato – uso IV), androgênios 17-alfa-
-alquilados (metiltestosterona, fluoximesterona – uso VO), precursores andrógenos (andros-
tenediona, DHEA).

Quais os efeitos dessas drogas?


Eis um tema bastante atual e que tem tudo para ser cada vez mais frequente nas provas!
Sobretudo nas do R3, cujo conhecimento explorado costuma ser um pouco mais avançado.
Sabemos que, nos últimos anos, vem crescendo bastante o uso dessas drogas, inclusive
entre adolescentes, seja para benefício na performance de atletas, seja por motivos estéticos.

148
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 149

EFEITOS ANABÓLICOS: Aumentam concentração de testosterona sérica, massa magra e


força muscular.

EFEITOS ADVERSOS:
- Supressão da função testicular (por inibir a liberação de gonadotropinas, com redução da
espermatogênese e da fertilidade).
- Ginecomastia (pela conversão da testosterona a estradiol pela ação das aromatases).
- Eritrocitose (por estimulação direta da eritropoese).
- Hepatotoxicidade (apenas com agentes orais 17-alfa-alquilados, levando à hepatotoxicida-
de, colestase, peliose hepática).
- Distúrbios psicológicos (distúrbios do humor e do comportamento).
- Doença cardiovascular (efeito incerto, possivelmente associado à hipertensão e HVE).
- Dislipidemia (redução da HDL e aumento da LDL, especialmente com agentes orais 17-alfa-
-alquilados).
- Ativação das vias de coagulação (embora seja incerto o risco de trombose).
- Virilização (hirsutismo, acne, aumento do clitóris, alteração da voz).
- Interrupção do crescimento (fusão precoce da epífise na adolescência).
- Infecções (devido às injeções).

Observe como este tema já apareceu:

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – HPM-MG
Marque a alternativa CORRETA. O uso de esteroides anabolizantes tem sido utilizado pelos
adolescentes como culto ao corpo ideal. Qual efeito colateral é encontrado com seu uso abu-
sivo?
a) Variação de humor.
b) Maturação esquelética tardia.
c) Anemia.
d) Aumento de HDL (colesterol bom).

Com um pouco de conhecimento, já podemos acertar essa questão avaliada como “muito
difícil” em seu ano. O que ocorrem são: maturação precoce, eritrocitose e redução de HDL
(B, C e D excluídas).
Resposta: A.

SEÇÃO 3 – METABOLISMO MINERAL

 Muitas questões sobre fisiologia são encontradas dentro deste tópico! Não podemos pular
este assunto... Depois, viria o hiperparatireoidismo e seu tratamento cirúrgico.

SEÇÃO 4 – METABOLISMO ÓSSEO

 O que mais observamos de importante foram questões de osteoporose e seus fatores de


risco, que serão abordados em Ginecologia. Mas lembrem-se na hora de estudar: doença
de Paget é sempre um tema possível dentro deste tópico.

SEÇÃO 5 – HIPÓFISE

 Como nas provas de acesso direto, quando caem, predominam as questões sobre a hi-
perprolactinemia.

SEÇÃO 6 – TUMORES NEUROENDÓCRINOS

 Também pode aparecer, embora, assim como nas provas para R1, não sejam temas frequentes.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 150

Questões R3 – Clínica Médica

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 o fator precipitante (infecção por exemplo).


(R3 CLÍNICA MÉDICA) Traremos com: (1) propiltiuracil em altas doses
FACULDADE DE CIÊNCIAS por via oral ou retal, uma droga anti-tireoidia-
MÉDICAS DA UNICAMP – SP na que inibe a síntese hormonal e também a
Mulher, 75 anos, sem antecedentes mórbidos conversão periférica de T4 em T3; (2) Iodo,
relevantes queixa de fraqueza, humor depri- feito UMA HORA APÓS o propiltiuracil, blo-
mido e constipação intestinal há seis meses. queando a liberação e organificação do iodo
Há uma semana apresentou queda da própria (efeito Wolff-Chaikoff); (3) propranolol, para
altura e fratura de colo do fêmur D. Exames reduzir os sintomas adrenérgicos. Em altas
laboratoriais: Cálcio = 1,75 mmol/l, fósforo = doses também inibe a conversão periférica de
2,0 mg/dl, creatinina = 0,8 mg/dl, PTH = T4 em T3; (4) dexametasona venosa, que
210 pg/ml e dosagem de 25 OH-Vitamina D = também inibem esta conversão periférica e
32 ng/ml. Qual deve ser o diagnóstico e que compensam a degradação acelerada de cor-
exame é necessário para a confirmação? ticoides da crise tireotóxica. Apenas a com-
a) Osteoporose, densitometria óssea de dois pensação da tempestade tireotóxica pode
segmentos. compensar bastante a insuficiência cardíaca
b) Hiperparatireoidismo secundário à deficiên- de alto débito presente no caso, mas diuréticos
cia de Vitamina D, densitometria óssea. podem ser necessários.
c) Hiperparatireoidismo primário, cintilografia
de paratireoides.
d) Hiperparatireoidismo, densitometria óssea. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
(R3 CLÍNICA MÉDICA)
Hipercalcemia (Ca iônico > 1.32 mmol/l), INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
com hipofosfatemia (< 2,5 mg/dl) e PTH ele- SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
vado (> 65 pg/ml): este quadro laboratorial Em um paciente com suspeita de hipotireoi-
permite o pronto diagnóstico de hiperparati- dismo, assinale a alternativa correta:
reoidismo primário! Os sintomas neurastêni- a) Se duas dosagens consecutivas de TSH
cos e a constipação intestinal representam estiverem normais, pode-se afastar o diagnós-
justamente as principais manifestações clíni- tico de hipotireoidismo.
cas dessa síndrome. Ora, o diagnóstico está b) Se apresentar hipernatremia, esse diagnós-
dado, mas a conduta propedêutica terminou? tico é mais provável, pois é observado em
Não... É preciso fazer imagem das paratireoi- pacientes com hipotireoidismo severo.
des, a procura de um tumor em uma ou mais c) A creatinofosfoquinase geralmente está
glândulas (principal etiologia = adenoma de diminuída em pacientes que apresentam TSH
paratireoide). A cintilografia com Tc-sestami- muito aumentado.
bi é o melhor método para localizar tecido d) Se o hipotireoidismo for secundário, nunca
paratireoideano hiperfuncionante! Resposta se deve guiar pelo TSH para repor o hormônio
certa: C. tireoidiano.
e) Na paciente com tireoidite de Hashimoto com
TSH muito aumentado, a prolactina está geral-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 mente baixa. Isto explica a infertilidade obser-
(R3 CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA) vada nesses casos.
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
DA UNICAMP – SP No caso de hipotireoidismo central (secun-
Mulher de 25 anos tem perda ponderal de dário ou terciário) o controle da dose de levo-
12 kg nos últimos três meses, palpitações, tre- tiroxina não é feito com a dosagem de TSH, e
mores, ansiedade e insônia. Usa, irregularmen- sim pelos níveis de T4 livre (Letra D correta).
te, metimazol 10 mg/dia há um mês. Há três O hipotireoidismo central ocorre exatamente
dias, apresenta vômitos, dispneia aos mínimos por problemas na síntese de TRH ou TSH,
esforços e edema de membros inferiores. Exa- explicando porque teremos um TSH baixo ou
me físico: agitada, desorientada temporo- inapropriadamente normal, em face a um T4
-espacialmente, icterícia 2+/4+, desidratada livre que está sempre baixo. (Letra A incorre-
1+/4+, FC = 140 bpm, PA = 70 x 00 mmHg, pele ta). No hipotireoidismo podemos ter hipona-
quente, estertores creptantes nas bases pul- tremia, pela menor depuração de água livre.
monares, turgência jugular, hepatomegalia e (Letra B incorreta). Pacientes com TSH muito
edema de membros inferiores simétricos e frio aumentado (hipotireoidismo grave) podem
até joelhos. Como deve ser tratada a paciente? fazer miopatia, com mialgia, fraqueza e au-
mento de creatinofosfoquinase (Letra C incor-
Como tratamos a crise tireotóxica (tempes- reta). O TRH (hipotalâmico), elevado nos ca-
tade tireoidiana)? Trata-se de uma condição sos de hipotireoidismo primário, estimula a
muito grave e que requer um alto grau de síntese de outros hormônios hipofisários além
suspeição para o diagnóstico, devendo ser do TSH, tais como a prolactina e as gonado-
internada em unidade intensiva e investigado trofinas (Letra E incorreta). Gabarito: D.

150
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 151

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 Logo, a calcemia real da paciente gira em


(R3 CLÍNICA MÉDICA) torno de 11,4 mg/dl, ou seja, existe hipercal-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO cemia (> 10,5 mg/dl). Como o PTH está normal
PEDRO ERNESTO – RJ (entre 10-65 pg/ml), qual deve ser a etiologia
Uma paciente de 56 anos recebeu o diagnós- do quadro? Paciente idosa, hipoalbuminêmica,
tico de doença de Addison, tendo iniciado inflamada. Isso pode ser câncer, e neste caso
suplementação com prednisona 5 mg pela teríamos uma síndrome paraneoplásica de
manhã e 2,5 mg à noite. Persistiu queixando- hipercalcemia humoral do câncer, condição
-se de hipotensão e tonteira postural, mesmo causada pela secreção tumoral de PTHrp
após aumentar a ingestão de sal. A melhor (peptídeo relacionado ao PTH = uma molécu-
conduta, nessa circunstância, é: la ‘’truncada’’ que exerce o efeito biológico
a) Adicionar fludrocortisona. semelhante ao do PTH, porém, não é detec-
b) Dobrar a dose da prednisona. tada pelos ensaios laboratoriais de dosagem
c) Substituir a prednisona por dexametasona. do PTH intacto). O tratamento se baseia em
d) Inverter a dose da manhã (5 mg) com a hiper-hidratação, diureticoterapia de alça e uso
dose da noite (2,5 mg). de bisfosfonado, lembrando que a hidratação
é a grande prioridade num primeiro momento.
A doença de Addison é a insuficiência su- Logo, melhor resposta: B.
prarrenal primária, sendo que a adrenalite
autoimune corresponde a cerca de 85% dos
casos, sendo a maioria dos casos restantes RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
decorrentes de tuberculose, no Brasil. As ma- (R3 CIRURGIA GERAL)
nifestações da doença de Addison refletem a HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
deficiência de glicocorticoides (astenia, perda DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
de peso, anorexia, náuseas e vômitos, hipo- Mulher, 67 anos, com história de dor epigástri-
tensão, hipoglicemia e eosinofilia), de minera- ca tipo queimação, e nefrolitíase diagnosticada
locorticoides (avidez por sal, hipovolemia, hi- há três meses. Há duas semanas apresentou
potensão, hipotensão ortostática, hiponatre- fratura de rádio direito após queda da própria
mia, hipercalemia e acidose metabólica leve), altura. Exames laboratoriais: PTH: 255 pg/dl
e de androgênios (redução da pilificação axilar (VR: 8 - 69 pg/dl); cálcio total: 11,1 mg/dl (VR:
e corporal em mulheres). Alguns pacientes 8,5 - 10,5 mg/dl); creatinina: 0,7 mg/dl (0,6 -
com Addison podem ser tratados apenas com 1,3 mg/dl); 25-di-hidroxi, vitamina D: 32 ng/ml
glicocorticoides e ingesta adequada de sal. (30 - 50 ng/ml). Quanto ao diagnóstico, pode-se
Mas nosso paciente permanece com hipoten- afirmar que a paciente apresenta:
são postural mesmo após estas medidas. É a a) Hiperparatireoidismo primário causado mais
falta dos mineralocorticoides! Usamos a fludro- provavelmente por um adenoma de paratireoide.
cortisona (Florinefe), na dose de 0,1 mg/dia. A b) Hiperparatireoismo secundário decorrente
necessidade de aumento da dose evidencia-se de deficiência de vitamina D, compensada.
por hipotensão, hipotensão ortostática e hiper- c) Hiperparatireoidismo terciário decorrente de
calemia, enquanto a hipertensão, hipocalemia hiperplasia de paratireoide associada a neo-
e edema implicam a redução da dose! Gaba- plasia endócrina múltipla do tipo I.
rito: A. d) Apesar de raro, os achados clínicos e labo-
ratoriais são compatíveis com o diagnóstico
de câncer de paratireoide.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
(R3 CLÍNICA MÉDICA) Temos hipercalcemia, com manifestações
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP de hipercalcemia (Osteoporose, dispepsia e
Mulher de 56 anos, sem comorbidades, apre- nefrolitíase), e elevação do paratormônio
senta há 1 semana constipação intestinal e (PTH)! A função renal é normal, inclusive com
confusão mental. Cálcio sérico 9,8 mg/dl, níveis séricos satisfatórios de vitamina D, des-
albumina sérica 1,8 mg/dl, PCR 30 mg/dl e cartando o hiperparatireoidismo secundário à
PTH 30 pg/ml. A hipótese diagnóstica mais doença renal crônica, ou puramente pelo ra-
provável e a adequada conduta inicial são, quitismo (deficiência de vitamina D)! Nesses
respectivamente: casos o primeiro achado é a queda da vitami-
a) Hipercalcemia associada à malignidade; na D! O hiperparatireoidismo terciário ocorre
hiper-hidratação, furosemida e solicitação de em pacientes com hiperpara secundário grave
marcadores tumorais. e prolongado, que pode ocorrer em alguns
b) Hipercalcemia associada à malignidade; pacientes com síndrome urêmica... O estímu-
hiper-hidratação e solicitação de PTHrp. lo trófico permanente sobre a glândula permi-
c) Hipervitaminose D; hiper-hidratação, furo- te a formação de tecido autônomo produtor de
semida, bifosfonados e dosagem de vitamina PTH. O hiperpara primário predomina no sexo
D sérica. feminino (2:1) e em > 40 anos, sendo definido
d) Hipervitaminose D; hiper-hidratação e do- como a produção autônoma de PTH pelas
sagem de vitamina D sérica. paratireoides, mesmo em vigência de hiper-
calemia, sem o feedback negativo fisiológico...
Devido à existência de hipoalbuminemia, O ADENOMA solitário da glândula perfaz
temos que ‘’corrigir’’ o cálcio sérico medido. 80-90% dos casos de hiperpara primário, sen-
Vamos relembrar? Para cada 1 g/dl de queda do assintomático em 60-80% dos casos! Den-
da albumina em relação à média normal tre as manifestações podemos citar, em ordem
(4 g/dl), somamos 0,8 mg/dl ao cálcio medido. decrescente de frequência: fraqueza muscular,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 152

mialgia, artralgia, constipação, nefrolitíase, Vamos as correções! Letra A: a tireotoxicose


poliúria, distúrbios psiquiátricos, úlcera pépti- é definida como “qualquer estado clínico resul-
ca, doença óssea e pancreatite! Gabarito: A! tante do excesso de hormônios da tireoide”,
seja ou não por hiperfunção da glândula... já o
hipertireoidismo é definido como “hiperfunção
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 da glândula tireoide”, ou seja, aumento na pro-
(R3 ENDOCRINOLOGIA) dução e liberação dos hormônios da tireoide,
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO podendo ou não levar a tireotoxicose. Letra B:
RIO GRANDE DO SUL – RS no bócio multinodular atóxico, o paciente é eu-
Sobre a Síndrome de Cushing, é INCORRETO tireoideo. Letra D: o bócio é simplesmente “o
afirmar que: aumento da glândula tieroide”, sem valores de
a) A causa mais comum de hipercortisolismo aumento pré-definidos. Letra E: a reposição
é exógena, devido ao uso de glicocorticoides. com levotiroxina ou iodo visam a regressão do
b) A síndrome de Cushing endógena é causa- bócio! Tal regressão é mais intensa quanto
da, na maioria dos casos, por adenomas hi- menor for o tempo de evolução do bócio, devi-
pofisários produtores de ACTH. do ao menor grau de fibrose. A fibrose dificulta,
c) A doença de Cushing, ao contrário da sín- e por vezes impede o bócio de regredir! Res-
drome ectópica de ACTH, predomina no sexo posta certa e autoexplicativa: C!
feminino.
d) Leucocitose é uma manifestação hemato-
lógica do hipercortisolismo. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
e) Hiperpigmentação, miopatia proximal, hi- (R3 CLÍNICA MÉDICA)
pertensão e hipocalemia são achados suges- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
tivos de hipercortisolismo adrenal. PRESIDENTE DUTRA – MA
Em relação às causas de deficiência de vita-
A hiperpigmentação cutaneomucosa, que mina D, marque a INCORRETA:
pode estar presente em pacientes com síndro- a) Cirurgia bariátrica.
me de Cushing, NÃO SE DEVE aos altos níveis b) Uso de anticonvulsivantes.
de corticoide! Ela só acontece se houver au- c) Mieloma múltiplo.
mento do ACTH, que gera a secreção de hor- d) Síndrome de má absorção.
mônio melanotrófico + efeito direto do ACTH e) Uso de orlistat (inibidor da lipase pancreática).
nos melanócitos... Inclusive as áreas expostas
ao sol, tendem a ser mais afetadas pelo escu- Condições que promovem má-absorção in-
recimento da pele. Como sabemos nem sempre testinal de gorduras, como as letras A, D e E,
haverá aumento de ACTH na Sd de Cushing... são causas clássicas de deficiência de vitamina
Nesses casos teremos a “Sd de Cushing ACTH D. O uso de drogas indutoras do citocromo
independente”... são exemplos: a hiperprodução P450, como grande parte dos anticonvulsivan-
de cortisol pela adrenal, e o Cushing exógeno. tes antigos, aumenta o catabolismo dessa vita-
As letras A, B, C e D são corretas e autoexpli- mina, predispondo, também, a sua deficiência.
cativas... Na letra E, exceto pela hiperpigmen- Enfim, não há relação direta entre mieloma
tação todos os outros achados são pertinentes múltiplo e deficiência de vitamina D! O paciente
ao hipercortisolismo. A questão pede a opção até pode evoluir com deficiência dessa vitamina
INCORRETA. Resposta certa : E! se o mieloma levar ao estado de rins terminais
(a DRC avançada é causa de deficiência de vit.
D, por redução da biossíntese renal de precur-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 sores da vitamina). Contudo, isoladamente, a
(R3 ENDOCRINOLOGIA) letra C não é uma causa. Logo, resposta certa:
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO C. Obs.: a banca não liberou gabarito.
RIO GRANDE DO SUL – RS
Assinale a alternativa CORRETA sobre a dis-
função tireoidiana: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
a) Tireotoxicose e hipertireoidismo são sinô- (R3 CIRURGIA) UNIVERSIDADE FEDERAL
nimos para excesso de produção de hormô- DE SÃO PAULO – SP
nios tireoidianos. O hiperparatireoidismo é a terceira afecção
b) A maioria dos pacientes com bócio multino- endócrina mais comum após diabetes e do-
dular atóxico é assintomática e apresenta ença tireoidiana. Sobre o diagnóstico do hi-
discreta elevação nos níveis de TSH. perparatireoidismo primário, assinale a alter-
c) Dentre os fatores que alteram a função ti- nativa correta.
reoidiana na gestação, temos o aumento do a) A principal forma de diagnóstico é clínico,
beta-hCG que leva à estimulação do TSH-R, com alterações ósseas, cálculos renais e des-
ao aumento do metabolismo dos hormônios conforto abdominal.
tireoidianos pela placenta e a maior excreção b) O diagnóstico diferencial é com doenças
urinária de iodo. ósteo-metabólicas e síndromes paraneoplási-
d) Bócio é definido, de uma forma arbitrária, cas, e não há nenhuma relação com deficiên-
como um lobo lateral com um volume maior cia de vitamina D.
que o polegar do examinador. c) A suspeita de carcinoma de paratireoide
e) O iodo ou a reposição de hormônios tireoi- sempre deve ser considerada, já que os pa-
dianos induzem uma regressão variável do cientes geralmente são assintomáticos.
bócio endêmico, independente de seu tempo d) A principal forma de diagnóstico é laborato-
de evolução. rial, com dosagem dos níveis de cálcio e PTH.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 153

e) A deficiência de vitamina D é causa de au- bem como neurológicos, podem ter alguns
mento de PTH, mas sua reposição não é ne- diagnósticos diferenciais, que na verdade po-
cessária para diagnóstico da doença. dem coexistir, sendo os fatores precipitantes
da crise, a qual é mais comum na doença de
O hiperparatireoidismo primário é mais co- Graves... Se nos deparássemos na vida com
mum em mulheres pós-menopausa. A apre- um caso como nosso paciente 1: confusão
sentação clínica é variável: mental aguda e hipertensão, num paciente
- Assintomático (50-80% dos casos); com FA, será que valorizaríamos o bócio?
- litíase renal de repetição (20%); Certamente poderia tratar-se de um AVEi por
- envolvimento ósseo intenso e osteíte fibrosa exemplo! A causa mais comum de descom-
cística (30%); pensação, que deve ser ativamente pesquisa-
- síndrome neuropsiquiátrica, depressão, con- da e tratada, é a infecção... Mas outras como
fusão mental (2-3%). TEP, IAM, hipoglicemia, suspensão das dro-
A principal forma de diagnóstico é laboratorial gas anti tireoideanas, IC e trauma da glându-
quando, por exemplo, é encontrado valores la podem estar por trás da síndrome. Relem-
de cálcio alterados em rotina de exames ge- brando os pilares do tratamento desse quadro
rais. O tratamento é feito baseado nos sinto- grave... (1) CTI (mortalidade pode chegar a
mas ou na presença de alterações. 30% mesmo quando adequadamente trata-
da!); (2) Propiltiouracil (PTU): preferível ao
metimazol por inibir a conversão periférica de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 T4 em T3; (3) Iodo: que efeito queremos pro-
(R3 CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA) duzir nesse caso? Wolff-Chaikoff ou Jod Ba-
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP sedow? Obviamente o primeiro! Para isso,
São admitidos no pronto-socorro dois pacien- precisamos esperar 1 hora da administração
tes com confusão mental aguda e bócio difuso, do PTU, havendo então bloqueio da liberação
além das alterações clínicas abaixo: Paciente e organificação do iodo. Caso contrário pode-
I: hipertermia, diarreia, hipertensão arterial e remos estar fornecendo material para mais
fibrilação atrial ao eletrocardiograma. Pacien- síntese hormonal (Jod Basedow)!; (4) Propra-
te II: bradicardia, hipotensão, hipotermia e nolol: além de bloquear a grande ação cate-
complexos diminuídos ao eletrocardiograma. colaminérgica, também inibe a conversão de
Qual a principal hipótese diagnóstica para este T4 em T3; (5) Dexametasona: além da inibição
momento clínico em cada um dos pacientes? da desiodase I (T4 -> T3), atua corrigindo uma
insuficiência adrenal relativa, comum desses
GABARITO: pacientes.
Paciente 1: crise tireotóxica (ou tempestade No outro extremo das disfunções tireoideanas,
tireoideana). temos o coma mixedematoso (paciente II).
Paciente 2: coma mixedematoso. Infecção e AVE, além da descompensação de
Está claro que o bócio pode ocorrer tanto no uma doença clínica subjacente devem ser
hipo como no hipertireoidismo não é mesmo? pesquisadas! Os pilares de seu tratamento
No hipo por elevação do TSH e no hiper por são: (1) CTI, suporte ventilatório (hipoventila-
ação direta de anticorpos no receptor de TSH ção e carbonarcose contribuindo para o coma)
(considerando a doença de Graves, causa e aquecimento; (2) Levotiroxina IV; (3) Corre-
mais comum de hipertireoidismo). ção de Hipoglicemia e Hiponatremia; (4) Hi-
Então, temos dois paciente com confusão drocortisona IV (com a reposição hormonal e
mental aguda e bócio difuso, porém o primei- consequente aumento metabólico pode haver
ro esbanja sinais de hipertireoidismo (acele- insuficiência adrenal).
ração metabólica, com aumento da PA, FC e Ufa! Após um resumão dessas graves condi-
temperatura) e o segundo de hipo (redução ções médicas concluímos que os GLICOCOR-
da taxa metabólica com bradicardia, hipoten- TICOIDES são usados em ambas, responden-
são e hipotermia). Assim fica tranquilo. do a questão!

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015


(R3 CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA) (R3 ENDOCRINOLOGIA)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
São admitidos no pronto-socorro dois pacien- RIO GRANDE DO SUL – RS
tes com confusão mental aguda e bócio difuso, Paciente feminina, 39 anos, com histórico fa-
além das alterações clínicas abaixo: Paciente miliar de doença tireoidiana, apresenta-se com
I: hipertermia, diarreia, hipertensão arterial e quadro de irritabilidade, palpitações, intolerân-
fibrilação atrial ao eletrocardiograma. Pacien- cia ao calor, insônia e tremor de extremidades.
te II: bradicardia, hipotensão, hipotermia e Relata perda ponderal recente de 3 kg e men-
complexos diminuídos ao eletrocardiograma. ciona episódio viral há 2 semanas, com sen-
Qual a classe de medicamento que constará sação de dor na garganta e febre. Dentre os
obrigatoriamente de ambas as prescrições? exames abaixo, qual o que melhor auxiliaria
na investigação etiológica desse caso?
Gabarito: corticosteroide. a) Ecografia de tireoide.
Para diagnosticarmos uma crise tireotóxica, b) Cintilografia de tireoide.
precisamos ter um alto grau de suspeição! Isso c) Cintilografia de tireoide com captação de
porque os sinais e sintomas hipercinéticos, iodo em 24h.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 154

d) Dosagem de iodúria de 24h. rações de campo visual são manifestações


e) Tomografia computadorizada de região cer- clínicas possíveis dos prolactinomas. Quais
vical sem o uso de contraste iodado. estão corretas?
a) Apenas I e II.
Não há dúvidas de que a paciente em ques- b) Apenas III e IV.
tão apresenta um quadro clínico compatível c) Apenas I, II e IV.
com tireotoxicose (intolerância ao calor, irrita- d) Apenas II, III e IV.
bilidade, tremor de extremidades...). No entan- e) I, II, III e IV.
to, um dado que nos auxilia (e muito!) na inves-
tigação etiológica, é o fato de a paciente ter I.Correta: em toda amenorreia secundária,
apresentado um quadro viral caracterizado por a primeira conduta é a exclusão de gravidez.
dor na garganta e febre alguns dias antes do Mesmo em pacientes com histórico de hiper-
início dos sintomas, tornando a tireoidite suba- prolactinemia, dependendo do fator que esta
guda a nossa principal hipótese diagnóstica. ocasionando o aumento da prolactina (ex.:
Neste contexto, a cintilografia de tireoide mos- stress), podem ocorrer a regulação e norma-
trando uma baixa captação de iodo (< 1-3%) lização dos níveis plasmáticos da PRL, poden-
praticamente fecha o diagnóstico. do ocorrer a ovulação.
Alternativa C correta. II. Correta: a secreção da prolactina é pulsátil
e está relacionada com a secreção de dopami-
na. Quando há queda nos níveis de dopamina,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 há liberação da prolactina. Portanto, a dopami-
(R3 ENDOCRINOLOGIA) na é o fator inibidor da síntese de prolactina.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO III. Incorreta: o hormônio tireotrófico é um dos
RIO GRANDE DO SUL – RS principais estimuladores da síntese de prolac-
NÃO fazem parte dos achados clínicolabora- tina, portanto, quando há hipotireoidismo,
toriais da insuficiência adrenal primária: poderá haver hiperprolactinemia. Logo, a in-
a) Hipopigmentação mucocutânea e espleno- vestigação da função tireoidiana é fundamen-
megalia. tal nos casos de hiperprolactinemia.
b) Hipotensão ortostática e choque. IV. Correta: o quadro clínico dos prolactinomas
c) Perda de peso, fadiga e anorexia. hipofisários é marcado por galactorreia, oligo/
d) Anemia normocítica/normocrômica e eosi- amenorreia, podendo ocorrer alterações no
nofilia. campo visual e cefaléia dependendo do tama-
e) Perda de função renal e hiponatremia. nho do tumor.
Portanto, reposta correta I, II e IV. Gabarito
Todas as alternativas trazem achados letra C.
clínico-laboratoriais típicos da insuficiência
adrenal primária, exceto a letra A, visto que
a HIPERpigmentação mucocutânea é que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
consiste em uma das características mais (R3 PEDIATRIA)
marcantes da insuficiência adrenal primária. FACULDADE DE CIÊNCIAS
A deficiência de cortisol leva a um aumento MÉDICAS DA UNICAMP – SP
da produção de pro-opiomelanocortina, um Adolescente de 12 anos, sexo masculino, é
pró-hormônio, que é clivado em hormônios encaminhado para avaliação de hipertensão
biologicamente ativos (ACTH e MSH - hor- arterial. Os pais relatam que a hipertensão foi
mônio estimulante de melanócitos). O aumen- detectada há três meses. O paciente vem
to do MSH eleva a síntese de melanina, apresentando cefaleia, palpitações, tontura e
causando hiperpigmentação. dor abdominal. Houve um único episódio de
A esplenomegalia, bem como hiperplasia de vômito. Os pais descrevem um bom apetite,
tecido linfóide, eventualmente pode ser ob- mas o adolescente perdeu três quilos nesse
servada em pacientes com insuficiência adre- período. Nesta manhã, apresentou episódio
nal primária. súbito de perda de consciência enquanto jo-
Alternativa A correta. gava futebol. Exame físico (uma hora após o
episódio): letárgico, t.ax: 37ºC, FC: 124 bpm,
FR: 20 irpm, PA: 192/124 mmHg, estertores
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 crepitantes nas bases pulmonares e hepato-
(R3 CARDIOLOGIA) megalia moderada. ESTE QUADRO SUGERE:
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO a) Aldosteronismo primário.
RIO GRANDE DO SUL – RS b) Coarctação da aorta.
Em relação à síntese e secreção de prolactina, c) Hipertireoidismo.
considere as seguintes assertivas: I. A gesta- d) Feocromocitoma.
ção deve ser sempre considerada nas mulhe-
res em idade fértil com hiperprolactinemia. II. Pessoal, vamos lá: temos um adolescente
O controle da secreção de prolactina ocorre de 12 anos que apresenta hipertensão arterial
predominantemente por mecanismo inibitório, – o que não é um achado comum nessa faixa
sendo a dopamina o principal regulador. III. A etária, obviamente. O quadro de um adoles-
avaliação da função tireoidiana não faz parte cente com hipertensão grave quase sempre
da investigação etiológica da hiperprolactine- significa hipertensão secundária. O que chama
mia. IV. Galactorreia, oligo/amenorreia, infer- especial atenção neste caso é a presença de
tilidade, diminuição da libido, cefaleia e alte- cefaleia associada a queixas como palpitação,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 155

tontura, perda de consciência, vômitos. A RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014


apresentação das crises adrenérgicas do fe- (R3 CLÍNICA MÉDICA)
ocromocitoma é bastante variável entre diver- H.U. BETTINA FERRO DE
sos pacientes, no entanto, um tipo de crise SOUZA/JOÃO BARROS BARRETO – PA
costuma se repetir no mesmo paciente. Elas O marcador indicado para acompanhamento
costumam apresentar palpitação (sensação da atividade da doença de Paget dos ossos é:
de o coração querer sair do peito), associada a) Fosfatase alcalina.
a achados como palidez, tremor, cefaleia e b) Cálcio urinário.
sudorese intensa. Os pacientes com feocro- c) Osteocalcina.
mocitoma são bastante hipovolêmicos, devido d) Propetídeo do colágeno tipo I.
à constricção de todo o sistema vascular. Por e) Hidroxiprolina urinária.
isso, fazem frequentemente hipotensão pos-
tural e podem evoluir para o choque, que só A Doença de Paget óssea é caracterizada
responde bem à reposição volêmica vigorosa por um aumento da remodelação óssea, resul-
– o que parece ter acontecido com este pa- tando em anormalidade da arquitetura óssea.
ciente. Hipótese diagnóstica mais provável, Pode ser diagnosticada através de exames
portanto, feocromocitoma – opção D. radiológicos, cintilografia e exames bioquími-
cos. O tratamento tem como objetivo restau-
rar o metabolismo ósseo normal, alívio da dor
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 óssea e prevenção das complicações futuras,
(R3 CLÍNICA MÉDICA) em particular as deformidades ósseas, fratu-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO ras e compressão de estruturas nervosas.
Considerando-se as diversas etiologias de ti- No seguimento dos pacientes com doença
reotoxicose, a correlação entre os exames la- de Paget, considera-se remissão quando são
boratoriais, a cintilografia tireoidiana e a res- atingidos níveis normais dos marcadores bio-
pectiva causa é a seguinte: químicos, notadamente a FOSFATASE AL-
a) Tireoidite subaguda – TSH suprimido; T3 e CALINA, e remissão parcial quando há que-
T4 livre altos; captação de I-131 na cintilogra- da de mais de 75%, 3 a 6 meses após o início
fia tireoidiana < 1%. do tratamento.
b) Doença de Graves – TSH suprimido; T3 e Logo, gabarito letra A.
T4 livre altos; captação normal ou normal/
baixa de I-131 na cintilografia tireoidiana.
c) Struma ovarii – TSH suprimido; T3 e T4 livre RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
altos; captação tireoidiana elevada de I-131 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP – R3
na cintilografia. – CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA
d) Tirotoxicose factícia – TSH suprimido; T3 e Homem de 43 anos vem com queixa de ano-
T4 livre altos; captação elevada de I-131 na rexia, náusea, perda de 8 kg e fadiga intensa
cintilografia tireoidiana. há 2 anos. Refere tratamento para tuberculo-
se pulmonar há 5 anos com esquema tríplice
Boa questão para revisarmos os resultados por 6 meses. Exame clínico: letárgico, PA =
dos exames de cintilografia tireoideana em 90 x 50 mmHg, FC = 98 bpm, peso = 63 kg
divesas situações! (IMC = 21 kg/m²) com hiperpigmentação cutâ-
nea e em mucosa oral. Exames laboratoriais:
Na tireoidite subaguda, os sintomas de hiper- hemoglobina = 10,2 g/dl; sódio = 129 mEq/L;
tireoidismo em geral estão presentes na fase potássio = 5,7 mEq/L; creatinina = 0,9 mg/dl;
inicial. Além do aumento de T3 e T4 e da ureia = 60 mg/dl; albumina = 3,1 g/dl.
redução do TSH, dois achados laboratoriais
são característicos: aumento da VHS e dimi- Qual a principal hipótese diagnóstica?
nuição da RAIU (já que não há hipertireioi-
dismo de fato - aumento da produção hormal). Gabarito: insuficiência adrenal crônica ou
Opção A correta. doença de Addison.

Na doença de Graves, causa clássica de hi- Observe o quadro clínico marcado por perda
pertireoidismo (aumento da produção glandu- ponderal, anorexia, fadiga e hipotensão arte-
lar de hormônios), o que causa marcante rial. Pode até parecer inespecífico a princípio,
aumento na captação de I-131 na cintilografia mas começa a mudar quando é mencionada
tireoidiana. Além disso, encontramos, além do a hiperpigmentação cutaneomucosa caracte-
aumento de T3 e T4, da redução do TSH. rística da doença de Addison. Solicitados os
Opção B errada. exames laboratoriais, eles também são favo-
ráveis a este diagnóstico, evidenciando hipo-
No struma ovarii e na tireotoxicose factícia, natremia e hipercalemia.
temos tireotoxicose sem aumento na produção
endógena de hormônios tireoideanos pela Como confirmar a hipótese diagnóstica?
hipófise! Ou seja, tireotoxicose não associada
ao hipertireoidismo. Assim, os resultados es- Gabarito: cortisol basal / ACTH / TC de ab-
perados são semelhantes à tireoidite subagu- dome superior.
da: TSH suprimido; T3 e T4 livre altos; capta-
ção de I-131 na cintilografia tireoidiana < 1%. Em primeiro lugar, devemos confirmar o hi-
Opções C e D erradas. pocortisolismo, sendo o teste ‘padrão-ou-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 156

ro’ para o teste de estimulação rápida com RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013


ACTH ou teste de cosintropina. Este exame SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO
consiste na administração de uma dose su- PAULO – R3 – CIRURGIA GERAL
prafisiológica (250 µg) de ACTH sintético Paciente no 2º dia de pós-operatório de tireoi-
(cosintropina) intravenosa ou intramuscu- dectomia total por bócio multinodular apre-
lar a qualquer hora do dia e a dosagem do sentou crise leve de laringoespasmo. Ao exa-
cortisol após 30-60 minutos. Na insuficiên- me clínico constata-se a presença de sinal de
cia adrenal, o cortisol permanece abaixo de Chvostek e de Trousseau. O eletrocardiogra-
20 µg/dl. Logo, não concordamos com o ga- ma revela prolongamento no segmento QT.
barito que mencionou apenas “cortisol ba- Qual a melhor opção terapêutica inicial?
sal”. De resto, nos parece OK: na insuficiên- a) Gluconato de cálcio.
cia adrenal primária, o ACTH está elevado b) Sulfato de magnésio.
(e causa a hiperpigmentação já observada c) Hidralazina.
nesta paciente), na secundária está reduzido d) Broncodilatador inalatório e corticoide en-
(é esta mesmo a causa do hipocortisolismo). dovenoso.
Por fim, a TC de abdome seria interessan- e) Bicarbonato de sódio.
te uma vez confirmado o diagnóstico de ISR
primária: na adrenalite autoimune (principal A hipocalcemia é uma complicação temi-
causa) temos atrofia do órgão, enquanto na da da tireoidectomia, quando ocorre a remo-
tuberculose (segunda causa mais importan- ção iatrogênica das paratireoides. A redução
te) encontramos geralmente as adrenais au- do PTH circulante leva à hipocalcemia, que
mentadas e com calcificações. se manifesta através da tetania - contratura
muscular prolongada. Os sintomas podem
Em se confirmando a principal hipótese, qual ser sensitivos ou motores, leves (parestesias
o tratamento indicado para este paciente? periorais, formigamentos e cãibras) ou gra-
ves (espasmos carpopedais, laringoespasmo,
Gabarito: acetato de cortisona ou predni- convulsões). Além disso, existem dois sinais
sona oral / fludrocortisona oral. clássicos que são pesquisados nos pacientes
com hipocalcemia, Trusseau (espasmo cárpi-
O tratamento farmacológico é baseado na co após insuflação do manguito do esfingmo-
reposição fisiológica de glicocorticoides e manômetro 20 mmHg acima da PA sistólica
mineralocorticoides, pela administração de durante 3 minutos) e Chvostek (contração dos
hidrocortisona 20-30 mg/dia, duas vezes ao músculos faciais ipsilaterais após percussão
dia (ou droga equivalente) e fludrocortisona do nervo facial abaixo do arco zigomático).
(ação mineralocorticoide) 0,05-0,1 mg/dia.
O tratamento da hipocalcemia aguda deve
consistir na reposição rápida de cálcio, atra-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 vés do Gluconato de cálcio 1-2 g IV (10-20 ml
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO da solução a 10%) infundido durante 10-20
PEDRO ERNESTO – UERJ – minutos. Resposta opção A.
R3 – CIRURGIA GERAL
Um dos tratamentos do bócio difuso tóxico é
a radioterapia com I131 (iodo radioativo). No RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
entanto, há uma CONTRAINDICAÇÃO relati- ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – R3 –
va a este tipo de controle do bócio e da sín- CLÍNICA MÉDICA
drome por ele causada nos casos de: Paciente de 30 anos relata seis dias de evolu-
a) Mulher em período gestacional. ção de mal-estar geral, dor em região cervical
b) Mulher em período de lactação. e febre. Ao exame apresenta-se taquicárdica,
c) Nódulo suspeito de malignidade. com tireoide dolorosa à palpação, aumenta-
d) Homem com exoftalmia acentuada. da difusamente e endurecida. Considerando
a hipótese diagnóstica mais provável para o
A gravidez e o aleitamento materno são caso, qual é a assertiva que contém hipóte-
contraindicações absolutas à iodoterapia, as- se diagnóstica, exame complementar e trata-
sim como grandes bócios retroesternais, de- mento corretos?
vido ao risco de tireoidite. Mulheres tratadas a) Doença de Graves, anticorpo antirreceptor
com iodo radioativo devem evitar a gravidez de TSH positivo, metimazol.
até que o eutireoidismo seja confirmado por b) Tireoidite de De Quervain, VHS e T4 livre
3-6 meses após o procedimento. Nódulos sus- elevados, naproxeno.
peitos de malignidade devem ser abordados c) Tireoidite de Hashimoto, antitireoperoxida-
cirurgicamente, ou seja, a suspeita de maligni- se positivo, levotiroxina.
dade também contraindica a iodoterapia. Por d) Tireoidite subaguda, cintilografia com cap-
fim, a oftalmopatia pode ser exacerbada du- tação aumentada, corticosteroides.
rante a terapia com radioiodo, principalmente e) Câncer anaplásico de tireoide, biópsia,
nos tabagistas (existem protocolos que reco- combinação de cirurgia, radioterapia e qui-
mendam o início de prednisona para minimi- mioterapia.
zar esse risco), mas a oftalmopatia não é uma
contraindicação absoluta, e sim relativa à io- Estamos diante de um quadro bastante
doterapia. Resposta, portanto, opção D. característico: tireoide aumentada, dolorosa,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 157

associada à febre, mal estar e sinais clínicos d) Hipocalcemia e sinal de Chvostek.


compatíveis com tireotoxicose (taquicardia). e) Hipocalcemia e sinal de Lasegue.
Tais achados são bastante característicos da
tireoidite granulomatosa ou tireoidite de De- Fácil. O hipoparatireoidismo é a complica-
Quervain, que costuma surgir algumas sema- ção pós-operatória mais comum após uma ti-
nas após uma infecção viral. Caracteriza-se reoidectomia, ocorrendo, em algum grau, em
por aumento muito doloroso da tireoide, asso- até 20% dos pacientes, de forma transitória.
ciado a sinais e sintomas sistêmicos, como fe- Felizmente, em < 2-3% somente, ele ocorre de
bre e mal-estar. Os sintomas de hipertireoidis- forma definitiva... O mecanismo é a lesão das
mo em geral estão presentes na fase inicial. paratireoides durante as cirurgias de tireoidec-
Dois achados laboratoriais são característi- tomia total, sendo que numa minoria das vezes
cos: aumento da VHS e diminuição da RAIU. as 4 paratireoides acabam sendo inadvertida-
Inicialmente temos aumento de hormônios ti- mente removidas (daí os casos de hipopara
reoideanos (liberados pela glândula durante a definitivo). A consequência clínica da lesão pa-
fase tireotóxica da doença). Já em uma fase ratireoidiana é a HIPOCALCEMIA aguda, que
mais tardia, T3 e T4 estão reduzidos, e TSH clinicamente se manifesta por sintomas neuro-
aumentado. Trata-se de uma doença autolimi- musculares irritativos (ex.: dormência perioral
tada e o tratamento deve ser sintomático (AI- e de extremidades + espasmos musculares
NEs ou AAS). Nos casos mais graves, pode como observado pelo sinal de Trousseau ou
ser necessário o uso de corticosteroides. espasmo carpal induzido por isquemia). Casos
mais graves evoluem com tetania generalizada
e até mesmo laringo e broncoespasmo e con-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 vulsões tonicoclônico generalizadas. Casos
COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA extremos apresentam alterações eletrocardio-
MÉDICA DO MATO GROSSO DO SUL – R3 gráficas (ex.: alargamento do intervalo QT) e
– CLÍNICA MÉDICA risco de taquiarritmias ventriculares malignas.
Mulher, 48 anos, com alterações somáticas Resposta certa: B.
crônicas como espessamento de lábio, sudo-
rese excessiva, voz rouca, artralgia, macro-
glossia, prognatismo, hiperosteose frontal, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
aumento das extremidades e hipertensão ar- HOSPITAL DO CÂNCER – INSTITUTO
terial. Com este quadro clínico, qual exame DO CÂNCER DO CEARÁ – R3 –
laboratorial confirmaria a hipótese diagnósti- CLÍNICA MÉDICA
ca mais provável? Paciente comparece ao consultório com exa-
a) Ressonância magnética sem contraste. mes revelando T4 total elevado com TSH e T4
b) Teste de tolerância à glicose. livre normais. Qual dos itens abaixo pode ser
c) Dosagem do ACTH plasmático. a causa dessa alteração?
d) Cintilografia adrenal. a) Uso de contraceptivo oral.
e) GH após supressão com glicose. b) Uso de fenitoína.
c) Síndrome nefrótica.
Paciente com quadro clínico altamente su- d) Uso de carbamazepina.
gestivo de acromegalia deve ser triada com e) Doença de Graves.
a dosagem do IGF-1 sérico. Este exame,
caso aumentado, nos remeterá ao teste de Aumentos do T4 total (livre + conjugado a
supressão do GH com glicose, que confirma- proteínas), na vigência de TSH e T4 livre nor-
rá o diagnóstico de acromegalia neste caso. mais, indicam que existe aumento da globuli-
Resposta: E. na ligadora de tiroxina (TBG)! Uma das causas
mais frequentemente encontradas na prática
para este achado é o uso de contraceptivos
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 orais, pois os estrógenos exercem este efeito
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – no organismo feminino... O uso de fenitoína
R3 – CIRURGIA GERAL e carbamazepina reduz a produção de TBG,
Uma paciente com 43 anos de idade foi sub- ao passo que na síndrome nefrótica os níveis
metida à tireoidectomia total por apresen- de TBG caem devido à perda urinária desta
tar carcinoma papilífero. Evoluiu no terceiro proteína (em todas essas situações o T4 livre,
dia pós-operatório confusa, ansiosa e com biologicamente ativo, mantém seus níveis es-
dormência perioral e nos dedos. Foi aferida táveis)... Na doença de Graves (principal cau-
sua pressão arterial, inflando-se a uma pres- sa de hipertireoidismo), o T4 livre está aumen-
são maior que a pressão sistólica, cerca de tado e o TSH diminuído... Resposta certa: A.
20 mmHg, obtendo-se espasmo carpal (fle-
xão do pulso e articulações metacarpofalan-
geanas, extensão das interfalanges distais RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
e articulações interfalangeanas proximais e HOSPITAL SÃO JOSÉ DE JOINVILLE – SC
adução do polegar e dedos). O distúrbio ele- – R3 – MEDICINA INTENSIVA
trolítico encontrado e o sinal obtido pela ma- Seu paciente está apresentando fraqueza
nobra pressórica são, respectivamente: acentuada, náuseas, vômitos, perda de peso,
a) Hipercalcemia e sinal de Chvostek. poliúria, dor abdominal, letargia e confusão
b) Hipocalcemia e sinal de Trousseau. mental. O ECG mostra intervalo Q-T encurta-
c) Hipercalcemia e sinal de Trousseau. do e desaparecimento do segmento ST. Para
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 158

confirmar sua hipótese diagnóstica, devemos relação aos hormônios do eixo hipófise-hipo-
solicitar a dosagem de: tálamo, a principal alteração é uma HIPERA-
a) Cálcio. TIVAÇÃO deste eixo! Ocorre, por exemplo,
b) Glicose. aumento da prolactina (hiperprolactinemia
c) Amilase. levando à amenorreia e à infertilidade). Lem-
d) Proteinúria. bre-se que a dosagem de hormônios tireoi-
e) Proteína C reativa. dianos é um dos passos iniciais do algoritmo
diagnóstico da hiperprolactinemia... O PTH,
Fraqueza, náuseas, vômitos, dor abdomi- assim como a vitamina D, pode sofrer um dis-
nal e perda ponderal são manifestações ines- creto AUMENTO nos quadros de hipotireoi-
pecíficas que acompanham uma lista enor- dismo, o que justifica a hipercalcemia (leve)
me de doenças, refletindo o acometimento observada em alguns casos. Porém, os ní-
direto ou indireto do tubo digestivo... Quan- veis de homocisteína AUMENTAM no hipoti-
do associamos a este quadro os achados reoidismo... Resposta certa: B.
de poliúria (refletindo acometimento renal) e
letargia/confusão mental (envolvimento do
SNC), temos um quadro mais indicativo de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
uma importante alteração da homeostase, o HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – R3
que é perfeitamente compatível com a hipóte- – CLÍNICA MÉDICA
se de distúrbio hidroeletrolítico. A grande pista Uma paciente do sexo feminino, de 28 anos,
então, fornecida pelo enunciado, está no ele- é encaminhada para investigação de hiper-
trocardiograma: o encurtamento do intervalo prolactinemia. Refere ciclos menstruais re-
QT é um sinal associado a poucas causas. gulares e depressão diagnosticada há dois
Dos distúrbios hidroeletrolíticos, aquele que anos, em uso de fluoxetina 20 mg/dia. Nega
responde por este achado é a hipercalcemia! cefaleia e perda visual. Ao exame físico, ga-
Guarde a seguinte regra: “o intervalo QT é in- lactorreia bilateral à expressão, campimetria
versamente proporcional ao cálcio”... Quanto visual por confrontação normal, FC: 80 bpm,
maior a calcemia, MENOR o intervalo QT, e PA: 110 x 70 mmHg. Em exames: prolactina
vice-versa... No encurtamento de QT, pode = 55,0 ng/dl (VR: 15 - 33), TSH = 2,0 U/L (0,5
ocorrer o achatamento ou desaparecimento - 5,0) T4 = livre 1,0 ng/dl (0,8 - 1,8), beta-hCG
do segmento ST... Resposta certa: A. = negativo. A conduta, nesse caso, é:
a) Associar bromocriptina.
b) Pedir pesquisa de macroprolactinemia (an-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 ticorpos antiprolactina).
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA c) Retirar fluoxetina e introduzir bromocriptina.
FERRO DE SOUZA/JOÃO BARROS d) Trocar fluoxetina por venlafaxina.
BARRETO – PA – R3 – CLÍNICA MÉDICA
Pacientes com hipotireoidismo descompen- Aumentos de prolactina inferiores a
sado podem apresentar várias alterações 100 ng/dl geralmente são de causa medica-
metabólicas. A alternativa que apresenta tais mentosa. A ausência de cefaleia ou alterações
alterações é: no campo visual (indícios de comprometimen-
a) DHL aumentado, HDL colesterol aumenta- to do quiasma óptico, por expansão tumoral
do e triglicerídeos aumentados. da hipófise) corrobora este diagnóstico falando
b) Prolactina aumentada, colesterol total au- contra a possibilidade de prolactinoma... A ava-
mentado e CPK aumentada. liação laboratorial básica descartou as outras
c) Colesterol total diminuído, triglicerídeos duas principais causas de hiperprolactinemia:
diminuídos e transaminases aumentadas. gravidez (é claro) e hipotireoidismo... Ora, os
d) PCR ultrassensível aumentada, bilirrubina in- inibidores seletivos de recaptação de serotoni-
direta aumentada e LDL colesterol aumentado. na (como a fluoxetina) se associam a discretos
e) PTH aumentado, homocisteína diminuída aumentos da prolactina! A literatura, no entan-
e colesterol total aumentado. to, afirma que tal classe de fármacos raramen-
te promove hiperprolactinemia significativa
A principal perturbação lipêmica decorren- (ex.: a ponto de gerar galactorreia). Contudo,
te da carência de hormônio tireoidiano é o na ausência de resposta melhor (ex.: não há
aumento do LDL-colesterol, por diminuição indicação de bromocriptina, não há indício de
na síntese de receptores hepáticos de LDL macroprolactinemia, uma vez que nesta condi-
que removem esta fração lipídica do sangue. ção não ocorre galactorreia), marcamos aqui a
Os triglicerídeos também aumentam no pa- letra D... Lembre-se: na “macroprolactinemia”,
ciente hipotireoideu, mas o HDL permanece existe um aumento de moléculas de prolactina
em níveis normais. Todavia, não poderíamos glicosiladas que circulam “agregadas” e, por
marcar aqui a letra D, uma vez que não há isso, têm uma menor taxa de filtração, aumen-
aumento de PCR (proteína C-reativa) no hi- tando seus níveis séricos (B errada)...
potireoidismo! Por outro lado, perceba que
não está errado afirmar que o “colesterol to-
tal” (somatório das frações HDL, LDL e VLDL) RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
aumenta nesta doença... No hipotireoidismo HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – R3
também ocorre um processo de miopatia. Por – CLÍNICA MÉDICA
conseguinte, marcadores de necrose muscu- Uma paciente de 28 anos é encaminhada
lar costumam apresentar níveis séricos au- pelo ginecologista com queixa de nervosis-
mentados (CPK, aldolase, LDH e TGO)... Em mo e insônia. Essa paciente não possui an-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 159

tecedentes patológicos e faz contracepção ganismo que produz o corticosteroide em ex-


hormonal oral há dois anos. Seu exame fí- cesso. Dentre estas causas, a mais comum
sico não evidenciou anormalidades e os re- é a doença de Cushing, que corresponde à
sultados dos exames laboratoriais foram: T3 presença de um adenoma hipofisário produ-
= 200 µg/dl (N = 70 a 200 µg/dl) e T4 to- tor de ACTH (geralmente um microadenoma)
tal = 15 µg/dl (N = 5 a 12 µg/dl), T4 livre = levando ao estado de hipercortisolismo. Des-
1,1 ng/dl (VR: 0,7- 1,5) e TSH = 2.8 mUI/ml sa forma, sabendo que síndrome e doença
(N = 0,4 a 4.0 mUI/ml). O diagnóstico mais de Cushing não são sinônimos, você percebe
provável, nesse caso, é: facilmente que a resposta é a opção A.
a) Resistência hipofisária ao T4 e T3.
b) Hashitoxicose.
c) Hipertireoidismo subclínico. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
d) Produção excessiva de TBG (globulina li- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO
gadora dos hormônios tireoidianos). PEDRO – RJ – R3 – CLÍNICA MÉDICA
Com relação à insuficiência suprarrenal se-
Existe um excesso de hormônio tireoidiano cundária, é correto afirmar que:
biologicamente ativo que permita atribuir os a) A causa mais frequente é a doença autoi-
sintomas inespecíficos de “nervosismo” e “in- mune na hipófise.
sônia” a uma eventual tireotoxicose??? Não, b) A deficiência de mineralocorticoides é se-
não existe, o T4 LIVRE está normal. O T3 está melhante à encontrada na doença de Addison.
também dentro da faixa de normalidade... c) A terapia com glicocorticoides requer uma
Logo, não há tireotoxicose! O TSH também quantidade muito maior do que a usada na
está normal (não suprimido), enfim, não há doença de Addison.
um quadro de hipertireoidismo aqui!!! Mas... E d) A causa mais frequente é a deficiência do
o T4 total??? Nossa, ele está um pouco acima CRH por doença autoimune.
da faixa normal... E daí? O que importa para e) Quase não há deficiência de mineralocor-
a fisiologia é o hormônio livre, não o total (li- ticoides.
vre + ligado a proteínas). Revendo a história
da paciente, encontramos um fator clássico Na insuficiência adrenal primária, o “proble-
que justifica um discreto aumento na produ- ma” está nas próprias suprarrenais. Assim,
ção de TBG (globulina ligadora de tiroxina): a a produção tanto de glicocorticoides quanto
exposição aos hormônios sexuais femininos! de mineralocorticoides está prejudicada. A
Lembre-se, inclusive, que uma das alterações principal causa é a adrenalite autoimune. Na
fisiológicas do organismo materno produzidas insuficiência adrenal secundária, as suprar-
por estes hormônios é o aumento da capa- renais estão normais, mas falta o estímulo
cidade de carregar tiroxina no sangue, sem do ACTH sérico. Como o ACTH é muito mais
alterar os níveis séricos de hormônio livre que importante para o controle da síntese do cor-
influenciam na saúde da mãe... A maior quan- tisol do que dos mineralocorticoides, não são
tidade de T4 total carreada permite fornecer esperadas alterações significativas para os
uma parte desse hormônio (no caso da gesta- mineralocorticoides nesta condição. A princi-
ção) ao feto em desenvolvimento... Resposta pal causa do distúrbio secundário, como sa-
certa: D. bemos, é a suspensão abrupta da medica-
ção em paciente usuário crônico de corticos-
teroide, já que esses pacientes possuem, por
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 mecanismo de feedback, supressão do eixo
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO hipotálamo-hipofisário. Resposta letra E.
PEDRO – RJ – R3 – CLÍNICA MÉDICA
No que concerne à doença de Cushing por
produção endógena, sabe-se que: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
a) A maioria dos casos ocorre por produção HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO
excessiva de ACTH. PEDRO – RJ – R3 – CIRURGIA GERAL
b) A incidência no sexo masculino é cinco ve- Níveis séricos elevados de peptídeo C estão
zes maior do que no feminino. presentes em portadores de:
c) Os tumores hipofisários que produzem a) Glucagonoma.
ACTH são, em sua maioria, macroadenomas. b) Gastrinoma.
d) É forma sinônima de síndrome de Cushing. c) Vipoma.
e) A maioria dos casos de produção ectópica d) Insulinoma.
de ACTH ocorre por tumores pancreáticos. e) Somastostinoma.

Em primeiro lugar, atenção: a síndrome A dosagem do peptídeo C serve principal-


de Cushing corresponde ao quadro clínico mente para diferenciar a hipoglicemia por
característico do estado de hipercortisolismo uso de insulina exógena do insulinoma (e das
(obesidade centrípeta, fácies em lua cheia, outras causas – raras – de hiperinsulinemia
estrias violáceas, etc). A causa mais comum endógena). A insulina endógena é produzida
da síndrome de Cushing é a iatrogênica, como pró-insulina, originando o peptídeo C e
pela administração de glicocorticoides nas a própria insulina após a clivagem da molé-
mais diversas situações clínicas (síndrome cula. Dessa forma, o peptídeo C está aumen-
de Cushing exógena). Depois, vêm as causas tado apenas quando o excesso de insulina é
de Cushing endógeno, na qual é o próprio or- endógeno! Resposta letra D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 160

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 saber o que poderá ser feito. Qual a aborda-
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – gem mais apropriada nesse momento?
R3 – CLÍNICA MÉDICA a) Administrar carbonato de cálcio, 1-2 g/dia.
A tireotoxicose é definida como o estado de b) Administrar gluconato de cálcio, 200 mg (2
excesso de hormônios tireoidianos e não é o ampolas).
mesmo que hipertireoidismo, o qual represen- c) Administrar vitamina D.
ta o resultado de uma função tireoidiana ex- d) Checar nível de albumina.
cessiva. A esse respeito, assinale a alternativa e) Chegar nível de magnésio.
que não constitui causa de tireotoxicose.
a) Bócio multinodular atóxico. Questão básica, porém extremamente
b) Doença de Graves. importante na prática médica! Em indivídu-
c) Adenoma tóxico. os normais, cerca de metade do cálcio total
d) Metástases funcionantes do carcinoma de encontra-se ionizado (fração biologicamente
tireoide. ativa), enquanto o restante fica ligado prin-
e) Tireoidite subaguda. cipalmente à albumina. O ideal seria medir
sempre o cálcio iônico (fração ativa), mas em
Questão muito simples. O bócio multinodu- muitos laboratórios isso não é possível, e me-
lar ATÓXICO, como o próprio nome diz, é a de-se apenas o cálcio total, como foi o caso.
única condição listada que não causa tireoto- Só que, quando ocorre hipoalbuminemia, a
xicose. Resposta letra A. tendência é aumentar a fração de cálcio io-
nizado e diminuir o cálcio ligado à albumina.
Assim, um indivíduo com cálcio sérico de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 10 mg/dl geralmente tem cálcio iônico normal
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – (entre 4,4 e 5,2 mg/dl), mas, se ele tiver hipo-
R3 – MEDICINA INTENSIVA albuminemia, o cálcio iônico pode estar ele-
Um paciente masculino com 45 anos de ida- vado – assim, esse paciente pode apresentar
de apresentava hipertensão arterial refratária manifestações de hipercalcemia mesmo com
a tratamento convencional. Evoluiu com pal- cálcio sérico total normal, já que o cálcio iôni-
pitações, taquicardia e fadiga. A investigação co (ativo) está aumentado.
diagnóstica mostrou que a sintomatologia era Como vamos estimar isso, se eu só tiver
decorrente do excesso de catecolaminas, su- como dosar o cálcio total? Existe uma regra
gerindo feocromocitoma, que não foi identifi- básica na qual, para cada grama de albumi-
cado nos exames de imagem. As possíveis na sérica abaixo de 4 g/dl, devemos somar
localizações extra-adrenais do feocromocito- 0,8 mg/dl ao cálcio total – o resultado é o “cál-
ma (paragangliomas) podem estar mais fre- cio corrigido”. Assim, se o paciente tem cálcio
quentemente em: corrigido alto, deve ser tratado como portador
a) Paragânglios perirrenais, órgão de Zu- de hipercalcemia.
ckerkandl e bexiga.
b) Órgão de Zuckerkandl, bexiga e fígado. No caso apresentado, o paciente é hepato-
c) Bexiga, paragânglios perirrenais e duodeno. pata, e pode muito bem ter albumina sérica
d) Paragânglios carotídeos, ceco e tórax. baixa: Vamos supor que a albumina seja de
e) Pescoço, baço e bexiga. 2 g/dl, ou seja, 2 g/dl abaixo de 4. Devemos
somar 0,8 x 2 (1,6) ao cálcio total (7) = cálcio
O órgão de Zuckerkandl é a localização corrigido de 8,6 mg/dl. Neste caso, por exem-
mais comum dos feocromocitomas extra- plo, esse paciente não deveria ser considera-
-adrenais, além disso outras possíveis topo- do portador de hipercalcemia. Logo, a primei-
grafias incluem paragânglios perirrenais e ra coisa a fazer ao checar um resultado de
bexiga. Resposta letra A. cálcio TOTAL é sua correção pela albumina
sérica. Resposta letra D.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
CE – R3 – GASTROENTEROLOGIA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ –
Uma enfermeira liga para você para per- R3 – CIRURGIA GERAL
guntar sobre um nível baixo de cálcio. Ela Sobre o feocromocitoma, assinale a alternati-
está preocupada com um dos pacientes do va INCORRETA:
seu serviço, homem, 48 anos, etilista, admi- a) São tumores que surgem na medula da
tido após ter sido encontrado torporoso na suprarrenal.
rua. Seu estado mental tem melhorado com b) São bilaterais em 10% dos casos.
a reposição de lactulose e alta hospitalar c) Acomete mais mulheres do que homens.
está planejada para amanhã. T: 37oC; PA: d) O órgão de Zuckerkandl é a localização
148/80 mmHg; pulso: 62/min e FR: 20/min. extrassuprarrenal mais comum.
Paciente esta alerta e orientado. Exame re- e) São tumores raros e produtores de cateco-
velou numerosas telangiectasia do tipo ara- laminas.
nha vascular, ginecomastia leve e hepatoes-
plenomegalia. Macicez móvel e edema em O feocromocitoma é uma neoplasia rara (2
MMII 2+ bilateralmente também presentes. casos por 1.000.000 de habitantes), oriunda
A enfermeira está preocupada, porque o cál- de células cromafins (localizadas principal-
cio total do paciente é 7,0 mg/dl e ela quer mente na medula suprarrenal, mas também
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 161

em outros tecidos como o chamado ‘órgão de “Jogo rápido” sobre os insulinomas: são
Zuckerkandl’ - agrupamento periaórtico de cé- geralmente tumores pequenos (< 2 cm), soli-
lulas cromafins). Sabemos que as células cro- tários e esporádicos, ou seja, não associados
mafins são produtoras, entre outros fatores, de às NEM. Apenas 10% são malignos, sendo
catecolaminas. Cerca de 10% dos casos são possível, nos demais casos, uma ressecção
bilaterais (‘regra dos 10’). O feocromocitoma mais econômica, como uma enucleação.
incide de forma semelhante entre os sexos, Dessa forma, melhor resposta letra D.
sem predomínio de um sobre o outro.
Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO PAULO –
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIFESP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – Paciente no segundo dia de pós-operatório
R3 – CIRURGIA GERAL de tireoidectomia subtotal evoluiu com hipo-
Ainda sobre feocromocitomas, assinale a al- tensão arterial, estridor e confusão mental.
ternativa INCORRETA: Esse quadro clínico é decorrente de:
a) Hipertensão arterial é o sintoma mais comum. a) Hipocalemia. d) Hipernatremia.
b) A excreção renal elevada de catecolami- b) Hipercalcemia. e) Hiponatremia.
nas e de seus metabólitos é condição sine c) Hipocalcemia.
qua non.
c) O ácido vanilmandélico urinário é o exame A questão entrou em tireoide, mas a com-
mais específico. plicação não veio exatamente de um proble-
d) A TC e a RNM são os métodos de escolha ma dela. Afinal, qual o distúrbio eletrolítico que
para localizar o feocromocitoma. pode surgir como complicação de uma tireoi-
e) O feocromocitoma maligno pode disseminar- dectomia??? É A HIPOCALCEMIA!!! Ela pode
-se para o fígado, pulmões e ossos. ser transitória ou permanente, sendo ocasio-
nada por lesão das paratireoides / retirada
A hipertensão arterial sistêmica é a manifes- inadvertida das glândulas. Uma hipocalcemia
tação mais comum do feocromocitoma, sendo transitória ocorre em até 20% dos casos; hipo-
causada pela produção paraneoplásica de ca- paratireoidismo permanente ocorre em menos
tecolaminas pelo tumor, as quais podem ser de 2% deles, sendo mais comum em pacien-
diretamente mensuradas (sangue e ou urina), tes que necessitaram de ressecção dos linfo-
bem como seus metabólitos (condição essen- nodos da cadeia central. Resposta: C.
cial para a confirmação diagnóstica). Após
suspeita clínica e demonstração laboratorial do
excesso de catecolaminas e/ou seus metabó- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
litos, o passo seguinte consiste na localização UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
da lesão! Para tanto, exames de imagem do – UNIFESP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
abdome (TC ou RNM) são considerados mé- O preparo pré-operatório do paciente com feo-
todos de primeira linha (lembre-se: 90% dos cromocitoma deve ser iniciado com:
feocromocitomas estão na suprarrenal, e 10% a) Bloqueadores alfa-adrenérgicos.
fora dela, em geral no órgão de Zuckerkandl- b) Nitroprussiato de sódio.
-paragangliomas)... Cerca de 10% dos casos c) Alfametil tirosina.
são malignos (‘regra dos 10 do feocromocito- d) Restrição hídrica.
ma’), assumindo a doença um curso progressi- e) Bloqueadores beta-adrenérgicos.
vo e metastático, podendo se disseminar para
fígado, pulmões e esqueleto... Enfim, de todos Detalhes importantes sobre a terapia cirúr-
os metabólitos de catecolaminas que podem gica do feocromocitoma e de outros tumores
ser dosados, o ácido vanilmandélico urinário das suprarrenais estão no Boletim Operató-
é o que apresenta menor acurácia, possuindo rio. Não deixe de ler! Aqui, a questão é bem
tanto uma baixa sensibilidade quanto uma bai- mais direta... Como sabemos, o passo inicial
xa especificidade... seria o bloqueio alfa-adrenérgico 10-14 dias
Resposta certa: C. antes com fenoxibenzamina ou prazosin. O
betabloqueador deve ser iniciado somente
após o bloqueio alfa ser obtido. Isso porque a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 utilização de betabloqueadores sem a admi-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – R3 – nistração prévia de um alfabloqueador pode
CIRURGIA GERAL induzir grande elevação da pressão arterial,
Sobre os insulinomas, assinale a alternativa ao deixar a vasoconstricção pelos receptores
correta. alfa ocorrer sem antagonismo. Resposta A.
a) A maioria dos insulinomas está relaciona-
da à síndrome das Neoplasias Endócrinas
Múltiplas tipo 1 (NEM 1). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) Localizam-se usualmente na cabeça do UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
pâncreas. – UNIFESP – R3 – CLÍNICA MÉDICA
c) A enucleação está contraindicada devendo- Nos exames laboratoriais em osteomalácia por
se proceder à ressecção pancreá­ tica, tanto deficiência da vitamina D, pode-se observar:
proximal ou distal, para a cura. a) Cálcio e fósforos normais ou reduzidos,
d) Uma minoria, em torno de 10%, apresenta fosfatase alcalina aumentada, dosagem 25
natureza maligna. (OH) vit D reduzida, PTH aumentado.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 162

b) Cálcio e fósforos normais ou reduzidos, de estrogênio e progesterona inibem a lac-


fosfatase alcalina reduzida, dosagem de 25 tação, e que a queda desses hormônios no
(OH) vit D aumentado, PTH aumentado. período pós-parto ‘libera’ o tecido mamário
c) Cálcio e fósforos normais ou reduzidos, para responder funcionalmente aos efeitos
fosfatase alcalina aumentada, 25 (OH) vit D da PRL e da ocitocina. Contudo, para ocorrer
reduzida, PTH reduzido. produção de PRL nos lactotrofos hipofisários,
d) Cálcio e fósforos aumentados, fosfatase é preciso um efeito ‘permissivo’ do estrogê-
alcalina aumentada, 25 (OH) vit D aumenta- nio (o estrogênio estimula a proliferação dos
da, PTH aumentado. lactotrofos) e, por isso, na pós-menopausa a
e) Cálcio e fósforo estão sempre diminuídos deficiência de estrogênio leva a uma redução
e a vitamina D pode estar normal ou reduzi- na síntese de prolactina. Resposta: B.
da, independente do PTH.

Os achados laboratoriais deste quadro in- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


cluem: cálcio e fósforo normais ou reduzidos UNIVERSIDADE FEDERAL DE
(a absorção intestinal fica diminuída); PTH SÃO PAULO – UNIFESP – R3 –
aumentado (a hipocalcemia estimula as pa- CLÍNICA MÉDICA
ratireoides a produzir PTH, que tenta mobi- São causas de hipocalcemia acompanhadas
lizar o cálcio no osso); FA elevada (devido à de hiperparatireoidismo secundário, exceto:
reabsorção óssea promovida pelo PTH) e, a) Deficiência de vitamina D.
obviamente, 25 (OH) vitamina D reduzida. b) Uso de medicamentos como quelantes de
Resposta: A. cálcio, bifosfonatos e cetaconazol.
c) Resistência à ação do hormônio da parati-
reoide (PTH).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 d) Resistência à vitamina D.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO e) Hipermagnesemia.
PAULO – UNIFESP – R3 – CLÍNICA MÉDICA
Em relação à prolactina, pode-se afirmar, ex- Hipocalcemia cai menos que a “hiper”, mas
ceto, que: também aparece. Vamos recordar que o hi-
a) O hipotálamo exerce um controle predo- perparatireoidismo secundário é a hiperfun-
minantemente inibitório sobre a secreção da ção das glândulas paratireoides em resposta
prolactina. a uma alteração do sistema de regulação en-
b) Os valores de prolactina aumentam na tre as glândulas e os níveis de cálcio, fósforo e
menopausa em consequência da redução vitamina D. Deste modo, ocorre em situações
do estrogênio. onde há deficiência ou resistência à vitamina
c) A hiperprolactinemia persistente no homem D, resistência à ação do PTH e alguns esta-
acarreta queda na testosterona circulante. dos hipocalcêmicos (ex.: quelantes, bifosfo-
d) A secreção de prolactina é pulsátil e variá- natos e cetoconazol). As principais situações
vel, com valores maiores durante o sono. associadas ao hiperpara secundário são a
e) A hiperprolactinemia persistente reduz a insuficiência renal crônica e a deficiência de
secreção de GnRH. vitamina D! A hipermagnesemia pode gerar
um quadro de hipocalcemia. Entretanto, este
Questão que exige alguns conceitos de fi- quadro é secundário à inibição da secreção
siologia... Sabemos que os lactotrofos hipofi- de PTH pelas paratireoides. Portanto, a hi-
sários secretariam prolactina continuamente permagnesemia não é uma causa de hipo-
não fosse o tônus inibitório promovido pela calcemia associada ao hiperparatireoidismo
secreção hipotalâmica de dopamina. Tanto é secundário. Resposta: E.
assim que, quando algum fator dificulta a che-
gada da dopamina pelo sistema porta-hipofi-
sário (ex.: um tumor de hipófise que compri- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
me a circulação na haste pituitária), os níveis UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
de prolactina aumentam! (A correta). Um dos – UNIFESP – R3 – CLÍNICA MÉDICA
principais efeitos da hiperprolactinemia é a Paciente, 20 anos, feminino, veio ao pronto-
inibição da secreção hipotalâmica de GnRH. -socorro queixando-se de formigamento no
Lembre-se de que se a mãe está amamen- corpo, parestesia perioral e mãos endure-
tando (PRL elevada), é preciso poupar toda cidas, após ter brigado com o namorado. O
a energia e ela não deve engravidar (a PRL exame neurológico é normal, exceto tetania
inibe fisiologicamente o eixo hipotalâmico-hi- nas mãos. As alterações neurológicas nesse
pofisário-gonadal). Na hiperprolactinemia pa- paciente se devem à:
tológica (ex.: adenoma hipofisário), o mesmo a) Distúrbio psiquiátrico grave.
tipo de inibição também ocorre, inclusive no b) Diminuição temporária de um cátion no
sexo masculino! Assim, hiperprolactinemia sangue.
numa mulher costuma gerar oligoamenor- c) Acidose respiratória.
reia, e no homem ocorre deficiência de este- d) Transtorno factício.
roides gonadais, cujas principais manifesta- e) Transtorno psicogênico.
ções clínicas são a infertilidade e a perda da
libido/impotência. A secreção de PRL é pulsá- Você consegue definir o que aconteceu
til e variável, aumentando com situações de nesta situação comum das emergências?
estresse, sono, estimulação da parede torá- Pelo que vimos no módulo, temos a clínica de
cica e na gravidez. Sabemos que altos níveis hipocalcemia, todos devem concordar. Mas
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 163

de onde ela veio??? Aí é que está a graça da assim como valores altos de testosterona. No
questão. A alcalose pode precipitar sintomas caso desta paciente, ainda temos uma TC que
de hipocalcemia... O cálcio ionizado sofre uma confirma a presença de uma massa na to-
importante influência do pH plasmático: em si- pografia da glândula. Com isso, fechamos o
tuações de pH alcalino, a avidez da albumina diagnóstico de um carcinoma adrenocortical.
pelo cálcio aumenta, diminuindo assim os ní- O tratamento destes tumores envolve: cirurgia,
veis da fração ionizada (livre), a responsável o único tratamento potencialmente curativo e
pelos efeitos do cálcio. Uma alcalose respi- drogas adrenocorticolíticas como o mitotano.
ratória pode ser causada por uma hiperventi- O mitotano é utilizado em pacientes onde a ci-
lação pulmonar psicogênica, muito frequente rurgia foi incompleta, não foi possível de ser
após uma crise de ansiedade ou angústia. Foi realizada (pacientes com metástases à distân-
exatamente o que aconteceu aqui. A opção E cia ou com invasão de estruturas adjacentes
não está de todo errada, mas ela é só a ori- como rim, pâncreas, fígado, baço, diafragma e
gem do problema orgânico (hipocalcemia) que grandes vasos) ou contraindicada. O tratamen-
ocorreu. Melhor resposta: B. to adjuvante de rotina com mitotano e radiote-
rapia ainda são controversos. Resposta: B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
PEDRO – UFF – R3 – CLÍNICA CIRÚRGICA HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ –
Os hormônios produzidos na hipófise poste- HC-UFPR – R3 – CIRURGIA GERAL
rior são: No caso do carcinoma da glândula suprarre-
a) ACTH e ocitocina. nal, é INCORRETO afirmar:
b) Vasopressina e hormônio luteinizante. a) Os carcinomas são funcionantes em 80%
c) Vasopressina e ACTH. dos casos, podendo causar a síndrome de
d) Vasopressina e ocitocina. Cushing.
e) Ocitocina e hormônio luteinizante. b) No momento do diagnóstico, a maioria dos
pacientes se apresenta com doença avançada.
Questão bem direta e específica. Os dois c) O tratamento cirúrgico de escolha é a adre-
hormônios da neuro-hipófise são ADH (vaso- nalectomia por via laparoscópica.
pressina) e ocitocina. Resposta: D. d) A tomografia abdominal é o exame de ima-
gem de primeira linha para a investigação.
e) As metástases ocorrem mais frequente-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 mente para pulmão (71%), linfonodos (68%),
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – fígado (42%) e ossos (26%).
HC-UFPR – R3 – PEDIATRIA
Paciente com 2 anos de idade, sexo femi- Vamos analisar as alternativas:
nino, apresentando puberdade precoce. Ao
exame físico apresenta peso e estatura > 75° A CORRETA: Estes carcinomas são funcio-
percentil, PA = 150 x 100 mmHg, acne, co- nantes em 60-80% dos casos, podendo se-
medões, buço, voz grave, hiperemia malar, cretar glicocorticoides (causando síndrome
pilificação pubiana, clitoromegalia. Os exa- de Cushing em até 45% dos casos), glico-
mes laboratoriais demonstram DHEA-S = corticoides + androgênios (45% dos casos),
8.500 ng/ml, testosterona = 600 ng/ml, cortisol = androgênios isolados (10% dos casos) e ra-
30 ng/ml, tomografia de tórax e crânio normal, ramente aldosterona.
tomografia de abdome = massa na topografia
da glândula adrenal direita, heterogênea, me- B CORRETA: Grande parte dos diagnósticos é
dindo 8 x 5 x 4 cm. Ecodoppler afasta trombo realizada em estágios avançados da doença,
de veia cava inferior, assim como ecocardio- onde já existe invasão local ou metástases que
grama demonstra cavidades cardíacas sem impossibilitam o tratamento cirúrgico curativo.
envolvimento tumoral.
O tratamento inicialmente proposto é: C ERRADA: O tratamento cirúrgico deste tu-
a) Radioterapia pré-operatória, para evitar mor é realizado através de uma excisão em
ruptura tumoral. bloco, com retirada do tumor, linfonodos e ór-
b) Cirurgia, pois é o tratamento curativo para gãos acometidos. A cirurgia é realizada por
carcinoma de suprarrenal. via aberta geralmente por uma incisão sub-
c) Mitotano pré-operatório e cirurgia 3 meses costal generosa ou toracoabdominal.
após.
d) Corticoterapia para inibir a produção hor- D CORRETA: Os carcinomas costumam ser
monal pelo tumor. maiores que 4 cm (os adenomas geralmente
e) Cirurgia precedida de radioterapia. são menores que 4 cm) e podem ser diagnos-
ticados pela TC. A RNM é melhor para avaliar
Temos aqui uma criança com puberdade a presença de invasão local e envolvimento
precoce, que se define pela presença de ca- da veia cava inferior.
racteres sexuais secundários antes dos 8 anos
de idade nas meninas (ou menarca antes dos E CORRETA: Envolvimento metastático é re-
10) e antes dos 9 anos nos meninos. Na ava- latado em até 75% dos casos diagnosticados
liação destes quadros, algumas dosagens la- e os principais locais realmente são esses.
boratoriais são importantes. O S-DHEA eleva-
do, por exemplo, sugere um tumor suprarrenal, Resposta: Letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 164

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 operações podem cursar com complicações


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ tanto transoperatórias quanto pós-operató-
HC – UFPR – R3 – CLÍNICA MÉDICA rias. Considerando as complicações associa-
Paciente do sexo feminino, 35 anos, procu- das às operações na tireoide, julgue os pró-
ra o médico com sintomas de irritabilidade, ximos itens:
palpitação e cansaço. Ao exame físico, a Para evitar lesões do nervo laríngeo recor-
paciente apresenta taquicardia, pele quen- rente, é importante considerar que, em 0,5%
te e úmida, retração de pálpebras e bócio a 1,5% dos pacientes, o nervo não é recor-
doloroso à palpação. Exames laboratoriais: rente e se dirige diretamente, no sentido me-
TSH = 0,01 UI/ml (valor normal = 0,4 a 4,0); dial, do vago à laringe.
T4 livre = 4,2 ng/dl (valor normal = 0,8 a
1,8) e T3 total = 500 ug/dl (valor normal = Vamos começar esta sequência da UNB...
80 a 200). Sobre esse quadro, assinale a Temos aqui uma questão de anatomia, tema
alternativa correta. adorado por todos! O nervo laríngeo re-
a) A ecografia de tireoide é o método de escolha corrente é ramo do nervo vago, relaciona-
no diagnóstico diferencial das tireotoxicoses. do principalmente à fonação. Eles seguem
b) A tireoglobulina sérica está reduzida na ti- em direção ao tórax até se curvarem (daí o
reoidite subaguda. nome “recorrente”) em estruturas diferentes
c) As tireoidites subagudas são causadas por para cada lado. O nervo laríngeo recorren-
infecção bacteriana ou viral. te direito passa por debaixo da artéria sub-
d) A relação T3/T4 é maior na tireoidite subagu- clávia direita, ao nível de T1/T2. O nervo
da do que na doença de Graves. laríngeo recorrente esquerdo passa por de-
e) A cintilografia de tireoide é o método mais baixo da alça da aorta, ao nível da vértebra
confiável no diagnóstico diferencial das tireo- T4/T5. Ambos os nervos continuam seu traje-
toxicoses. to, agora em ascensão, se dirigindo para face
póstero-medial da glândula tireoide e sobem
Questão que não requer nenhum conceito no sulco traqueoesofágico em direção aos
avançado para acertá-la. A ultrassonografia músculos intrínsecos da laringe. Um detalhe:
da tireoide pode até ajudar na diferenciação eles ascendem de cada lado da traqueia, la-
de um quadro de tireotoxicose (por exem- teralmente ao ligamento de Berry (ligamento
plo, pode demonstrar aumento da vascula- suspensor da glândula tireoide). Mais outro:
rização em algumas tireoidites), mas não é em 0,5 a 1,5% dos casos, o nervo laríngeo
o método de escolha para esta finalidade recorrente pode ter um trajeto “não recorren-
(A errada). Continuando, na tireoidite su- te”, podendo sair do nervo vago com trajeto
baguda (tireoidite dolorosa causada direta- direto em direção à laringe. Item correto.
mente ou indiretamente por infecção viral),
encontramos tireoglobulina elevada, além Considerando as complicações associadas às
de T4 e T3 elevados, devido à liberação dos operações na tireoide, julgue os próximos itens:
estoques destas substâncias pela glândula
inflamada. O T3 não está tão elevado quan- Hipocalcemia associada à tireoidectomia to-
to na Doença de Graves (basta lembrar que tal ocorre em torno de 5% dos casos e cerca
o hormônio mais produzido e, portanto, mais de 80% deles se resolvem em doze meses.
estocado na glândula é o T4) – (B e C er-
radas). Em condições de hipertireoidismo, Vamos às nossas referências de provas...
como a Doença de Graves, há uma estimu- Como consta exatamente no Sabiston, a hipo-
lação da desiodase tipo 1 (que transforma calcemia pós-tireoidectomia surge em aproxi-
T4 em T3) e, por isso, temos uma relação madamente 5% dos casos, com resolução de
T3/T4 maior (D errada). Ficamos, então, 80% dos casos em 1 ano. O tratamento com
com a opção E. Um detalhe apenas: a cin- gluconato de cálcio intravenoso estaria indica-
tilografia da tireoide geralmente é realizada do nos casos de hipocalcemia aguda sintomá-
juntamente com a captação, mas são duas tica! Outras complicações importantes de uma
etapas distintas. A cintilografia demonstra a tireoidectomia são: lesão dos nervos laríngeos
imagem da glândula, enquanto que a capta- recorrente e laríngeo superior, sangramentos
ção quantifica a função da glândula. O exa- e hematomas. Item correto.
minador deixou a desejar em relação a esse
conceito... Mas vamos entender a ideia. A O suprimento arterial da tireoide é feito por
captação tireoidiana (RAIU) é o principal quatro artérias principais, duas superiores e
exame para diferenciar os casos de tireoto- duas inferiores, sendo as superiores, na maio-
xicose. Nos quadros de hipertireoidismo: au- ria das vezes, ramos diretos da artéria caróti-
mento da captação difusa da glândula; nos da interna.
casos de tireoidite: captação está diminuída
(< 5%). Melhor resposta: E. O suprimento arterial da tireoide é feito por
quatro artérias principais, duas superiores e
duas inferiores. As artérias tireoideas supe-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 riores são ramos da carótida externa, imedia-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA tamente acima da bifurcação da carótida co-
UNB – R3 – CIRURGIA GERAL mum; já as artérias inferiores são ramos do
A tireoide é sede de diversas afecções que tronco tireocervical da artéria subclávia. Item
necessitam de tratamento cirúrgico. Essas errado.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 165

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 ções que podem alterar os valores de corti-


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – R3 sol plasmático por aumento ou redução da
CLÍNICA MÉDICA CBG, a principal proteína transportadora de
Uma paciente do sexo feminino, com 46 cortisol (cerca de 90% do cortisol encontra-
anos, apresentava manifestações clínicas -se ligado a esta proteína). São causas de
de hipertireoidismo, com dosagem de TSH CBG aumentada: hiperestrogenismo (gra-
diminuído, T4 livre normal e T3 livre aumen- videz, uso de ACO, etc); hipertireoidismo e
tado, em relação aos valores de referência. DM. São causas de CBG diminuída: hipoti-
Essas características podem ser vistas em reoidismo; deficiência proteica (doença he-
todos os tipos de hipertireoidismo, mas a pática grave, síndrome nefrótica, etc) e de-
maioria dos pacientes tem: ficiência familiar de CBG. Dentre as opções
a) Doença de Graves ou bócio multinodular listadas, ficaremos com a opção C.
tóxico.
b) Tireoidite subaguda ou uma doença não
tireoidiana. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
c) Hipertireoidismo induzido por iodo ou por INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC
amiodarona. ICC – R3 – CIRURGIA
d) Adenoma tóxico ou hipertireoidismo indu- Dentro das patologias benignas da tireoide,
zido por amiodarona. podemos citar os distúrbios do metabolismo
e) Tireoidite subaguda ou bócio multinodular como o hipotireoidismo. Sobre essa patolo-
tóxico. gia, é INCORRETO afirmar que:
a) Está associado a um decréscimo da pro-
Questão de frequência... A causa mais co- dução de T3 e T4 na glândula, embora pos-
mum de hipertireoidismo na população geral sam também ocorrer estados de limitada ati-
é a doença de Graves e, em idosos, o bócio vidade na periferia.
multinodular tóxico. Resposta: A. b) A ingestão insuficiente de iodo em países
subdesenvolvidos explica a grande quantida-
de de estados hipotireoideos. Já nos países
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 desenvolvidos, as principais causas são a ti-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – R3 reoidite de Hashimoto e a ablação cirúrgica
MEDICINA INTENSIVA da glândula.
A insuficiência adrenal é ocorrência comum c) Outras causas mais raras de hipotireoidismo
nos quadros sépticos. Qual das condições referem-se aos defeitos hereditários da síntese
abaixo não pode ser imputada como causa- de hormônio, ação medicamentosa e hipoplasia
dora de insuficiência adrenal na sepse? ou agenesia da tireoide.
a) Ação direta ou indireta de agentes infec- d) Acompanhando as alterações fisiológicas
ciosos. em resposta à deficiência de iodo, ocorre
b) Indução por fármacos, como etomidato e uma diminuição difusa da glândula por uma
cetoconazol. resposta hipotrófica dos folículos tireoidianos
c) Indução por nutrição enteral ou nutrição e aumento dos espaços foliculares.
parenteral sem glutamina. e) À medida que a deficiência de iodo torna-
d) Hemorragia – distúrbio da coagulação, como -se mais grave, os folículos podem se tornar
na síndrome de Waterhouse-Friderichsen. inativos e distendidos pelo coloide, levando,
e) Diminuição da liberação de corticotrofina, em alguns casos, à necrose, retração, he-
inibida pelas citocinas liberadas durante a morragia e retração fibrosa.
sepse.
Questão conceitual para começarmos...
Revendo a lista de causas de insuficiência Muitos não gostam, mas não tem jeito: caem!
suprarrenal, podemos perceber que terapia Então vamos analisar nossas alternativas:
nutricional não faz parte dela, ao contrário
das demais opções. Resposta: C. A CORRETA: o hipotireoidismo é uma síndro-
me justamente ocasionada por síntese e se-
creção insuficiente de hormônios tireoidianos
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 (T3 e T4) ou ação inadequada destes hormô-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – R3 nios na periferia.
CLÍNICA MÉDICA
Hipercortisolismo sem síndrome de Cushing B CORRETA: a tireoidite de Hashimoto é a
pode ser observado nas condições abaixo, principal causa de hipotireoidismo em áreas
EXCETO em: suficientes em iodo! Outra causa frequente
a) Anorexia nervosa. de hipotireoidismo é a iatrogênica, decorrente
b) Alcoolismo crônico. de tireoidectomia total ou subtotal, irradiação
c) Hipotireoidismo. cervical para tratamento de cânceres ou de
d) Gravidez. tratamento com iodo radioativo. A deficiência
de iodo é a principal causa de hipotireoidismo
Como vimos neste módulo, algumas si- no mundo todo, sendo comum em regiões
tuações podem falsear a avaliação da sín- como a África e em regiões montanhosas.
drome de Cushing, sendo conhecidas como
pseudo-Cushing, entre elas: obesidade, C CORRETA: drogas como o metimazol e o
depressão, alcoolismo crônico, estresse propiltouracil, utilizadas no tratamento do hi-
prolongado. Existem ainda algumas situa- pertireoidismo, podem gerar hipotireoidismo.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 166

A amiodarona gera hipotireoidismo através em muito, utiliza conceitos clínicos e questões


do efeito Wolff-Chaikoff (excesso de iodo ini- que mais parecem de acesso direto. Essa é
bindo a organificação dos hormônios tireoi- mais um exemplo.
dianos). O carbonato de lítio e a etionamida
(utilizada no tratamento da tuberculose) tam- Vejamos mais uma vez as alternativas:
bém estão associados ao desenvolvimento
de hipotireoidismo. Agenesia ou hipoplasia A ERRADA: a inflamação gerada pela doen-
da tireoide e defeitos de biossíntese dos hor- ça, em sua fase inicial, pode cursar com ele-
mônios tireoidianos são causas de hipotireoi- vação transitória dos hormônios tireoidianos,
dismo que se manifestam precocemente – hi- que eventualmente levaria a um quadro de ti-
potireoidismo neonatal. reotoxicose clínica (Hashitoxicose). A doença
evolui mesmo é para um hipotireoidismo, ini-
D ERRADA: a deficiência de iodo gera uma cialmente subclínico e, posteriormente, franco.
redução na síntese de hormônios tireoidia-
nos, que por um mecanismo de feedback, B ERRADA: a tireoidite granulomatosa suba-
leva ao aumento do TSH. O TSH é um hor- guda (Tireoidite de De Quervain) é um qua-
mônio que possui EFEITO TRÓFICO sobre dro de tireotoxicose que tem início de forma
a glândula, levando à hipertrofia das células aguda, por volta da segunda semana após
foliculares, que se tornam mais cilíndricas e uma infecção viral comum, em que o pacien-
volumosas. O TSH também promove um au- te se queixa de dor na região cervical anterior
mento da vascularização da tireoide. e apresenta VHS muito elevado, sendo mais
comum no sexo feminino.
E CORRETA: Com a progressão da deficiên-
cia de iodo, à hipertrofia das células folicula- C ERRADA: a tireoidite aguda piogênica é
res pode levar à necrose, hemorragia e retra- uma condição rara, já que o alto conteúdo de
ção fibrosa. iodo, a presença de cápsula tireoidiana, a rica
vascularização sanguínea e drenagem linfáti-
Resposta: D. ca tornam a tireoide relativamente resistente a
infecções. Quando ocorre, é mais comumen-
te causada por bactérias (Streptococcus, Sta-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 phylococcus, etc.). O quadro clínico é caracte-
INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC rizado por febre alta, dor cervical anterior com
ICC – R3 CIRURGIA presença de sinais flogísticos, além de toxe-
Uma das patologias mais comuns da tireoi- mia. A função tireoidiana geralmente é normal.
de são as tireoidites, processos inflamatórios
que levam a alterações do funcionamento da D CORRETA: a tireoidite fibrosante de Riedel é
glândula. Sobre essas patologias, é corre- uma forma rara de tireoidite que acomete indi-
to afirmar que: víduos entre a quarta e sexta década de vida,
a) A tireoidite de Hashimoto é um complexo principalmente as mulheres. A característica da
fenômeno imunológico, resultando em altera- doença é uma fibrose que envolve a glândula
ções da função da célula tireoidiana, estimu- tireoide e estruturas adjacentes. Clinicamente,
lando a formação de T3 e T4 e consequente temos uma glândula endurecida que infiltra os
hipertireoidismo. tecidos adjacentes (esôfago, traqueia, nervo la-
b) A tireoidite subaguda é um processo infla- ríngeo recorrente), levando à disfagia, dispneia.
matório mais comum em crianças onde ocor-
re uma tumefação indolor e raramente está E ERRADA: item malicioso! A tireoidite de
associada à febre ou fadiga. A sua causa ain- Hashimoto (tireoidite crônica autoimune) leva
da não é conhecida. à formação de imunocomplexos e comple-
c) A tireoidite supurativa aguda é um fenôme- mento na membrana basal das células folicu-
no comum, resultante de uma infecção viral lares, e não das parafoliculares.
que acomete os dois lobos tireoidianos e fre-
quentemente à perda da função, levando ao
quadro de hipotireoidismo clínico. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
d) A tireoidite de Riedel é uma doença rara INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC
que se manifesta como um processo inflama- ICC – R3 – CIRURGIA
tório crônico envolvendo toda a tireoide. Po- Sobre a fisiologia das paratireoides e ação
dem ocorrer sintomas de grande desconforto dos hormônios reguladores do cálcio, assina-
devido à extensão para a traqueia, esôfago e le o item correto.
nervo laríngeo, levando a sintomas de obs- a) No esqueleto, o paratormônio inibe a libe-
trução das vias aéreas ou disfagia. ração de cálcio não só por um processo de
e) Na tireoidite de Hashimoto, ocorre a for- transporte ativo, como pela influência de en-
mação de complexo imune e de complemen- zimas lisossômicas e hidrolíticas.
to na membrana basal das células parafoli- b) A vitamina D estimula a reabsorção do cálcio
culares causando alterações na absorção de no rim e inibe o transporte de cálcio nos ossos.
cálcio pelos osteoclastos. c) A calcitonina estimula a reabsorção de cál-
cio e fosfato, tanto nos ossos como nos rins.
Observem que, às vezes, faz-se um mis- d) Nem o paratormônio nem a calcitonina pos-
tério muito grande sobre a prova do R3 de suem efeito direto no intestino. Já a vitamina
Cirurgia Geral. Pois saibam que essa prova, D, estimula a absorção do cálcio e do fosfato.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 167

e) O paratormônio inibe a hidroxilação da b) Prednisona.


25-hidroxivitamina D em 1,25-hidroxivitamina c) Metimazol.
D, consequentemente inibindo a absorção do d) Metimazol com propranolol.
cálcio no intestino. e) Iodo radioativo.

Pelo que acabamos de discutir, a única opção A questão foi um pouco infeliz, pois deve-
correta é o item D, pois o calcitriol age aumen- ria colocar no enunciado “tireotoxicose” em
tado a absorção intestinal de cálcio e fósforo. vez de “hipertireoidismo”. Fazer o quê? Te-
mos que acertá-la! E ela não é difícil. Se o
problema é tireoidite, não há porque utilizar
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 antitireoidianos ou terapia ablativa. O grande
INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC tratamento é sintomático, sendo o betablo-
ICC – R3 – CIRURGIA queador uma excelente opção. Resposta: A.
Níveis elevados de aldosterona plasmática
circulante levam ao quadro de hipertensão e
hipocalemia. O hiperaldosteronismo pode ser RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
primário, devido a uma hipersecreção autô- HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 –
noma de aldosterona com supressão de reni- CLÍNICA MÉDICA
na, ou secundária, como resultado do aumen- Mulher, 25 anos, queixa-se de emagrecimen-
to dos níveis de renina plasmática. Partindo to involuntário, irritabilidade, insônia e palpita-
desses dados, qual das afirmações abaixo é ções há 30 dias. Apresenta aumento da glân-
INCORRETA? dula tireoide à custa do lobo D, onde se palpa
a) O hiperaldosteronismo primário é duas nódulo de 1 cm, indolor. Há discreta retração
vezes mais comum em mulheres do que em palpebral bilateral, sem exoftalmia. Exames
homens, entre 30 e 50 anos. A causa mais subsidiários: T3 total e T4 livre aumentados,
comum é um adenoma adrenal produtor. TSH suprimido. A captação do iodo radioati-
b) O hiperaldosteronismo secundário é uma vo pela tireoide em 24 horas é de 2%. O diag-
resposta fisiológica do sistema renina-angio- nóstico mais provável é:
tensina a uma estenose de artéria renal, in- a) Bócio difuso tóxico (doença de Graves).
suficiência cardíaca congestiva ou mesmo a b) Bócio nodular tóxico (doença de Plummer).
uma gravidez normal. c) Tireotoxicose factícia por ingestão de T3.
c) Os principais objetivos da avaliação diag- d) Tireoidite granulomatosa subaguda.
nóstica do paciente suspeito são: estabele- e) Tireoidite silenciosa (“hashitoxicose”).
cer bioquimicamente a presença de hiperal-
dosteronismo e distinguir entre um adenoma Vamos analisar por exclusão... Inicialmen-
adrenal produtor (cirúrgico) e uma hiperplasia te, a ausência de exoftalmia, bócio difuso e
cortical idiopática (medicamentosa). a captação tireoidiana baixa falam contra o
d) A remoção cirúrgica de um adenoma se- diagnóstico da doença de Graves (A excluí-
cretor de aldosterona resulta em resolução da). O adenoma tóxico (doença de Plummer)
da hipocalemia em 100% dos casos e em ocorre em nódulos geralmente maiores que
melhora da hipertensão em mais de 90%. 3 cm. Um nódulo de 1 cm não possui autono-
e) Nos casos de hiperplasia idiopática com mia e hipersecreção de hormônios tireoidia-
hipocalemia sintomática refratária à terapia nos (B excluída). A tireotoxicose factícia gera
com espironolactona, amilorida, bloqueado- tireotoxicose com captação de iodo radioati-
res de canal de cálcio ou tiazídicos, não há vo baixa ou ausente e TSH suprimido. Até aí
indicação de adrenalectomia. tudo bem! O T4L e o T3L dependem do tipo
de hormônio administrado. Quando o hormô-
As opções A, B, C estão corretas e autoex- nio é o T4, encontramos níveis elevados de
plicativas. Quanto à opção D, realmente a re- T4L e níveis suprimidos de T3. Na ingestão
solução da hipocalemia é regra e a hiperten- de T3, temos um T3L elevado e um T4 supri-
são melhora... Mas pode persistir em 65% dos mido (C excluída). A tireoidite granulomatosa
casos, especialmente nos homens com mais subaguda (tireoidite de De Quervain) é uma
de 50 anos e naqueles com múltiplos nódulos tireotoxicose que se inicia por volta da segun-
suprarrenais. Por último, os pacientes com da semana após uma infecção viral comum,
Hiperplasia Adrenal Idiopática devem SIM ser em que o paciente se queixa de dor na região
tratados, inicialmente, com medicamentos, cervical anterior e apresenta VHS muito ele-
sendo a droga recomendada a espironolac- vada (D excluída). Por último, ficamos com a
tona! Entretanto, nos casos de hipocalemia letra E. A tireoidite silenciosa ou indolor é uma
refratária, o tratamento cirúrgico encontra-se variante da tireoidite de Hashimoto, onde te-
indicado. Resposta: E. mos uma fase inicial de tireotoxicose (deno-
minada por alguns de hashitoxicose) seguido
de um período de hipotireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL DO CÂNCER – INSTITUTO DO
CÂNCER DO CEARÁ – HC – ICC – R3 – RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
CLÍNICA MÉDICA HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 –
Assinale a melhor opção terapêutica no CIRURGIA
manejo do hipertireoidismo associado à ti- Mulher, 55 anos, assintomática, após 2 episó-
reoidite linfocítica subaguda: dios de cólica renal, apresenta hipercalcemia
a) Propranolol. e aumento considerável dos níveis de PTH.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 168

Ecografia da região cervical sugere aumento d) Os níveis de fosfoquinase (CK) e de


de volume da paratireoide inferior E. Em re- lactato encontram-se elevados.
lação a este caso, são apresentadas as afir-
mativas abaixo: O coma mixedematoso é um quadro de
I. Adenoma único de paratireoide é a causa hipotireoidismo grave que cursa com altera-
mais comum deste provável hiperparatireoi- ção do estado mental, hipotermia e sinais de
dismo primário. descompensação cardiorrespiratória. Os prin-
II. O melhor exame para localização e diag- cipais achados clínicos e laboratoriais são:
nóstico desta lesão é tomografia computado- (1) Diminuição do nível de consciência; (2) Hi-
rizada de região cervical. poventilação; (3) Hipotermia; (4) Bradicardia;
III. O tratamento mais eficaz para esta situa- (5) Hiponatremia, que é dilucional e decorrente
ção clínica é paratireoidectomia. da retenção primária de água livre pelos rins,
Qual é a alternativa correta? decorrente de uma menor taxa de filtração glo-
a) Apenas I. d) Apenas III. merular e de uma maior liberação de ADH que
b) Apenas I e III. e) I, II e III. ocorre no hipotireoidismo; (6) Hipoglicemia; e
c) Apenas II. (7) Infecção associada, que é um fator preci-
pitante. Este quadro é mais comum em idosos
Sem dificuldades, podemos excluir a op- e pacientes que descontinuaram o tratamento
ção II. Vamos lembrar que a localização das do hipotireoidismo. Outros fatores precipitan-
paratireoides não é necessária para a confir- tes incluem: uso de sedativos, AVE, trauma e
mação diagnóstica do hiperparatireoidismo, piora de uma doença clínica (ex.: infecções).
devendo ser solicitada em pacientes com re- Laboratorialmente, encontramos níveis bas-
corrência após cirurgia ou antes da cirurgia, tante reduzidos de T4 e T3 e elevados de TSH,
na tentativa de localizar previamente as glân- mas não há correlação entre os níveis séricos
dulas comprometidas e abreviar a duração do TSH e a gravidade da doença! A CPK está
do procedimento (principalmente nos casos elevada devido à miopatia e o lactato também
em que dificuldades no ato cirúrgico sejam está elevado! A maior retenção hídrica estimu-
antecipadas ou em pacientes de alto risco). la os barorreceptores atriais, liberando fator
O melhor exame para localização das para- natriurético atrial e, consequentemente, au-
tireoides seria a cintilografia com Sestamibi. mentando a excreção de sódio urinário. Um
Resposta: D. processo semelhante à SIAD. Resposta: D.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 – HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – R3
CLÍNICA MÉDICA CLÍNICA MÉDICA
Homem, 26 anos, com HAS refratária, hipo- O rastreamento do hipotireoidismo durante a
potassemia e excesso de potássio na urina gravidez deve ser realizado por meio das do-
de 24 horas, apresenta provavelmente: sagens séricas de:
a) Estenose de artéria renal. a) T3 e T4 totais e tireoglobulina.
b) Feocromocitoma. b) T4 livre, TSH e anticorpos antitireoidianos.
c) Hiperplasia unilateral da adrenal. c) T3 reverso, TSH e prolactina.
d) Hipertensão arterial sistêmica primária. d) Anticorpos antiperoxidase e antitireoglobulina.
e) Adenoma unilateral da adrenal.
Não há muito o que inventar aqui... Pes-
HAS + hipocalemia = pensar sempre em quisa de hipotireoidismo durante a gravidez é
hiperaldosteronismo (1º ou 2º) e efeito de realizado, como em outros casos, a partir da
diurético (hipocalemia mais discreta). Dentre dosagem sérica de TSH, T4L e anticorpos an-
estas condições, a que mais faz hipocalemia titireoidianos. Na presença de níveis de TSH
é o hiperaldosteronismo primário. Resposta: acima de 4 mUI/ml, independente ou não da
E. Apenas para acrescentar outras causas presença de autoimunidade, suspeita-se de
menos comuns da associação hipertensão + hipotireoidismo. Deve-se, então, iniciar a re-
hipocalemia: síndrome de Cushing, algumas posição com levotiroxina e acompanhamento
formas de hiperplasia adrenal congênita, sín- da função tireoidiana durante a gestação e
drome de Liddle, raros tumores secretores após o parto. No caso de autoimunidade po-
de renina, ingestão de substâncias que con- sitiva, levam-se em conta os níveis do TSH.
tenham alcaçuz. Se o TSH for < 2, a reposição de levotiroxina
não é necessária, devendo-se repetir a do-
sagem no final do segundo trimestre; se o
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 TSH estiver entre 2 e 4, o tratamento deve
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – R3 – ser considerado. Resposta: B.
CLÍNICA MÉDICA
Sobre o coma mixedematoso, é correto
afirmar que: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
a) A hipernatremia é secundária à desidratação. ALIANÇA SAÚDE – PUC – PR –
b) A fração de ejeção do sódio urinário en- R3 – CLÍNICA MÉDICA
contra-se muito reduzida. Paciente masculino que apresenta excesso
c) Os níveis de TSH são muito elevados de prolactina plasmática. Considerando esse
e correspondem diretamente à gravidade do quadro, quais das afirmativas abaixo estão
estado clínico. INCORRETAS?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 169

a) Ocorre uma inibição da liberação hipotalâ- transmissão autossômica dominante, decor-


mica de LHRH pelo excesso de prolactina, o rentes da ativação ou inativação de genes en-
que gera hipogonadismo no sexo feminino; volvidos na regulação da proliferação celular.
impotência e infertilidade no sexo masculino. As NEM se caracterizam pela ocorrência de
b) No sexo masculino, a manifestação clínica tumores envolvendo duas ou mais glândulas
mais comum é a ginecomastia, seguida de endócrinas em um mesmo paciente. O termo
galactorreia. múltiplo também serve para caracterizar a ten-
c) A prolactina sérica pode estar elevada em dência de multicentricidade do tumor dentro
pacientes acromegálicos em cerca de 25-45%. do mesmo órgão. Resposta: B.
d) Os microprolactinomas são mais frequen-
tes em mulheres e os macroprolactinomas NEM 1 Transmis- Hiperparatireoidismo
mais comuns no sexo masculino. (Síndrome são autos- primário (90 a 100%)
e) O nível de prolactina encontrado num tu- de Wermer) sômica do- + tumor das ilhotas
mor está intimamente relacionado com o ta- minante pancreáticas (Gastri-
manho do adenoma; macroadenomas produ- nomas 40%; Insulino-
mas 10 a 35%; Glu-
zem níveis geralmente acima de 200 ng/ml.
cagoma 5%; VIPoma
2%) + Adenomas hi-
A hiperprolactinemia é a síndrome de hi- pofisários (10 a 60%)
persecreção hormonal da prolactina e é a + Tumores do córtex
síndrome hipofisária de hipersecreção mais adrenal (adenomas
comum! Dentre as causas patológicas de hi- em 20 a 40%) + Tu-
perprolactinemia, destacamos os prolactino- mores carcinoides +
mas, que são os tumores hipofisários (ade- Lipomas + Angiofibro-
nomas) produtores de prolactina. Quando mas + Colagenomas.
NEM 2A Transmis- CMT (90%) + Feocro-
são menores que 10 mm, são denominados
são autos- mocitoma (40 a 50%)
de microadenomas (o tipo mais comum!) e
sômica do- + Hiperparatireoidismo
quando maiores que 10 mm, macroadeno- minante primário (10 a 35%).
mas. Os microadenomas são mais comuns NEM 2B Transmis- CMT (>90%) + Feocro-
no sexo feminino, enquanto que os macroa- são autos- mocitoma (40 a 50%)
denomas no sexo masculino! A clínica varia sômica do- + Hábito marfanoide
de acordo com o sexo acometido. Nas mulhe- minante (>95%) + Neuromas de
res temos: amenorreia, galactorreia, dispa- mucosa (quase 100%).
reunia e perda da libido; nos homens temos:
disfunção erétil, perda da libido, infertilidade
e, raramente, ginecomastia e galactorreia. Se RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
houver efeito de massa no SNC, ocorrem ce- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE
faleia e distúrbios visuais. Os níveis de pro- LOPES – UFRN – R3 – ENDOCRINOLOGIA
lactina sérica se relacionam com o tamanho Paciente de 36 anos, sexo feminino, enca-
do tumor. Geralmente, nos microprolactino- minhada ao serviço de endocrinologia devi-
mas temos prolactina < 200 ng/ml; enquanto do à macroadenoma hipofisário. Vem com
que nos macroprolactinomas, a prolactina é queixas de amenorreia há cerca de 18 me-
> 200 ng/ml. Causas de hiperprolactinemia ses, além de constipação, fraqueza mus-
não tumorais cursam com níveis menores de cular e sonolência. Nega alterações visu-
prolactina: menores que 50 ng/ml nas cau- ais. Ao exame: sem estigmas de Cushing
sas fisiológicas (com exceção da gravidez), ou acromegalia. Ausência de galactorreia.
< 150 quando secundária ao uso de drogas. Teste de confrontação visual normal. PA =
Outras massas hipofisárias (como o adeno- 100 x 60 sentada e 90 x 50 em pé. A resso-
ma produtor de GH, que causa acromegalia) nância magnética da hipófise revelou massa
e parasselares também podem causar hiper- medindo 2,5 cm x 2,0 cm x 2,0 cm, em re-
prolactinemia, ou por produção aumentada gião selar, com pequena extensão supras-
(tumores cossecretores) ou por compressão selar, sem contato com o quiasma óptico, e
da haste hipotálamo-hipofisária (com a haste com aumento do sinal após administração
comprimida chega menos dopamina na hipó- do gadolíneo. Os exames revelaram: hemo-
fise, um inibidor da secreção de prolactina). grama, creatinina e enzimas hepáticas nor-
Resposta: B. mais; TSH = 0,4 (VR = 0,4-4,0); T4L = 0,5
(VR = 0,8-1,7); Cortisol às 8 h = 2,5 (VR =
5,0-16,0); LH = 2,2 (VR = 2,0-10,0); FSH =
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 3,8 (VR = 3,5-19,0); Estradiol < 20 (VR =
ALIANÇA SAÚDE – PUC – PR 25-250); Prolactina = 1200 (VR = 2,5-18,0);
R3 – CIRURGIA IGF-1 = 117 (VR = 113-297). Nesse caso, o
A Neoplasia Endócrina Múltipla (NEM) 1 in- tratamento específico recomendado para o
clui diversas alterações, EXCETO: tumor hipofisário é:
a) Hiperparatireoidismo. a) Cirurgia transesfenoidal.
b) Feocromocitoma. b) Cabergolina via oral.
c) Neoplasia da pituitária. c) Cirurgia transcraniana.
d) Neoplasia pancreática. d) Radioterapia.
e) Neoplasia da paratireoide.
A questão apresenta uma paciente com
As Neoplasias Endócrinas Múltiplas (NEM) hiperprolactinemia e um macroadenoma. Ini-
são síndromes genéticas raras, geralmente de cialmente o tratamento é clínico com a menor
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 170

dose possível de bromocriptina ou cabergoli- a produção de PTH e geralmente causando


na. Na ausência de resposta está indicada ci- sintomas (dor óssea). Além disso, faltam ou-
rurgia transesfenoidal. Cerca de 2/3 dos ma- tros dados característicos da doença, como
croprolactinomas regridem com o tratamento anemia, insuficiência renal e hiperglobuline-
clínico. A cabergolina é considerada atual- mia. Ficamos, portanto, com o diagnóstico de
mente a droga de escolha para tratamento hiperparatireoidismo primário! Mas e o PTH,
da hiperprolactinemia. Deve ser iniciada na não deveria estar aumentado??? Um ponto
dose de 0,25 mg, duas vezes por semana, que deve ser ressaltado é que em 10% dos
com aumento progressivo até a dose efetiva. casos de hiperparatireoidismo primário o PTH
Os efeitos adversos são tonturas, hipotensão é normal (geralmente no limite superior da
postural, náuseas e vômitos, porém em me- normalidade). No entanto, devemos lembrar
nor intensidade e frequência. Resposta: B. que esse PTH está elevado para o grau de
hipercalcemia (deveríamos ter um PTH bai-
xo na presença de hipercalcemia!). Ou seja,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 no caso desta paciente é como se tivésse-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE mos um PTH “inapropriadamente elevado”!
LOPES – UFRN – R3 – ENDOCRINOLOGIA Resposta: C.
Paciente do sexo feminino, 68 anos, assin-
tomática, com antecedentes de hipertensão
arterial e câncer de mama há cerca de nove RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
anos, quando foi submetida à mastectomia HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO
esquerda radical, além de quimioterapia e ra- GROSSO DO SUL – UFMS – R3 –
dioterapia adjuvantes. Não houve evidências CLÍNICA MÉDICA
de recidiva até o momento. Está em uso de lo- Assinale a alternativa INCORRETA com rela-
sartan 50 mg/dia e anlodipino 5 mg/dia. Vem ção à Tireoidite Subaguda (TSA).
para a consulta com os seguintes exames: a) Os níveis de T3 não costumam estar tão
hemoglobina = 13,2; hematócrito = 39%; leu- elevados como na doença de Graves.
cócitos = 6.600 (diferencial normal); plaque- b) Os níveis de tireoglobulina costumam es-
tas = 234.000; creatinina = 0,9 mg/dl (VR = tar elevados e os títulos de anticorpos usual-
0,5-1,3); Na+ = 141 (VR = 135-145); K+ = 4,8 mente são negativos.
(VR = 3,5-5,0); cálcio total = 11,8 (VR = 8,8- c) O diagnóstico diferencial da TSA inclui a
11); fósforo = 3,1 (VR = 2,5-4,5); proteínas to- tireoidite aguda e hemorragia para o interior
tais = 6,2 mg/dl; albumina = 4,0 mg/dl; cálcio de um nódulo.
urinário 24h = 220,0 mg/24h (VR = 150-300). d) Todos os pacientes necessitam de esteroi-
Repetiu exame, o que revelou cálcio total = des como agentes anti-inflamatórios, mesmo
12,0 (VR = 8,8-11), além de PTH intacto = em doses pequenas.
74,2 (VR = 33-75). A principal hipótese diag- e) Tionamidas não têm papel no tratamento
nóstica para essa paciente é: da TSA.
a) Hipercalcemia da malignidade.
b) Mieloma múltiplo. A Tireoidite subaguda granulomatosa (Ti-
c) Hiperparatireoidismo primário. reoidite de DeQuervain) é decorrente de um
d) Intoxicação por vitamina D. efeito direto ou indireto de uma infecção vi-
ral sobre a glândula tireoide. O quadro surge
Questão difícil! Temos uma paciente de 68 cerca de 1 a 3 semanas após uma infecção
anos com passado de câncer de mama apre- viral e a tireotoxicose é explicada pelo pico
sentando hipercalcemia... Qual será a causa transitório de liberação do hormônio pré-for-
deste distúrbio??? A hipercalcemia da ma- mado que estava estocado dentro da glân-
lignidade (por produção ectópica de PTH ou dula. Como se estoca mais T4, os níveis de
invasão óssea estimulando atividade osteo- T3 não costumam estar tão elevados quan-
clástica) geralmente cursa com PTH baixo, to na doença de Graves. O diagnóstico, por
já que a síntese e liberação deste hormônio sua vez, geralmente é clínico, sendo que
está inibida na presença de hipercalcemia. nos casos duvidosos solicitamos hemogra-
Ou seja, o PTH sérico fornecido pela questão, ma (que pode demonstrar leucocitose dis-
no limite superior da normalidade (“mais para creta), VHS (que geralmente é elevada) e
alto do que para baixo”) é um forte dado CON- dosagem dos hormônios tireoidianos. A cap-
TRA este diagnóstico! No caso do câncer de tação tireoidiana está ausente ou diminuída!
mama, a hipercalcemia está comumente as- A tireoglobulina pode estar elevada devido
sociada a metástases para a coluna vertebral, à liberação dos estoques na glândula infla-
e esta paciente não apresenta sintomas, nem mada. Marcadores de autoimunidade estão
outras alterações laboratoriais (como anemia ausentes. Devem ser excluídas tireoidites
por invasão medular), outro dado que fala for- agudas e supurativas, bem como dor asso-
temente contra o diagnóstico de hipercalce- ciada à hemorragia intranodular. O objetivo
mia “neoplásica”. Na intoxicação por vitamina do tratamento é a melhora sintomática, de-
D esperaríamos encontrar PTH reduzido (ini- vendo ser realizado com anti-inflamatórios
bido pela vitamina D) e fosfato sérico elevado não esteroidais ou aspirina. Os casos mais
(pelo aumento da absorção intestinal - efeito graves podem necessitar da administração
direto da vitamina D - e pela inibição do PTH), de corticoides (prednisona 40 a 60 mg/dia
nenhum dos dois presentes no caso apresen- com redução gradativa até suspensão em 6
tado. Na hipercalcemia pelo mieloma múltiplo semanas). Durante a fase de tireotoxicose
temos destruição óssea, também suprimindo pode ser necessário o uso de betabloquea-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 171

dores para alívio dos sintomas. O tratamento que não possui ação, mas é detectada pe-
com as tionamidas não tem benefício, já que los exames. Resposta: E.
a tireotoxicose não é causada por excesso
de produção de hormônios. Resposta: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 GROSSO DO SUL – UFMS – R3 –
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO CLÍNICA MÉDICA
GROSSO DO SUL – UFMS – R3 – Homem de 76 anos de idade apresenta bra-
CLÍNICA MÉDICA dicardia. Tem doença arterial coronariana, e
Paciente feminina, de 43 anos, encaminha- sofreu angioplastia com stent há dois meses
da por adinamia, lentificação psicomotora e com restabelecimento bem sucedido do fluxo
sintomas depressivos. Apresentando tosse, sanguíneo. Não tem mais angina, mas está
com escarro amarelado, há 7 dias. Ao exame preocupado com sua frequência cardíaca
físico, PA 90/60 mmHg e rarefação de pelos baixa. Sua dose de atenolol foi reduzida de
pubianos.Os familiares referiam história pré- 50 mg/dia para 12,5 mg/dia, mas a bradicardia
via de complicação obstétrica hemorrágica significativa persiste. A revisão dos diversos
há 7 anos e amenorreia, desde então. Exa- sistemas não apresenta alterações dignas de
mes laboratoriais: TSH 8,0 (0.45-4,5 mUI/L), nota. Ao exame físico, a frequência cardíaca
T4L 0.3 mg/dl (0,6-1,7 mg/dl) e glicemia é de 42 batimentos por minuto e regular, e a
45 mg/dl. Trata-se, provavelmente, de: pressão arterial é de 144/82 mmHg. O exame
a) Insuficiência adrenal secundária a tuber- da cabeça, olhos, ouvidos, nariz e garganta
culose. são normais para a idade, e o exame do pes-
b) Hipotireoidismo autoimune. coço não mostra bócio, sopros ou adenopa-
c) Hipotireoidismo autoimune e insuficiência tias. Ausculta pulmonar é normal e o exame
adrenal autoimune. cardíaco não revela sopros ou atritos. A aná-
d) Adrenalite autoimune. lise laboratorial mostrou TSH de 38,6 mUI/L
e) Necrose hipofisária pós-parto. (0,45-4,5 mUI/L). Que esquema terapêutico
com hormônio tireoidiano deve ser iniciado
Observem como é bem característica nesse paciente?
essa questão! A paciente possui uma his- a) Iniciar o tratamento com T3 e, depois de
tória de complicação obstétrica há aproxi- compensado o hipotireoidismo, migrar para a
madamente 7 anos, com desenvolvimento levotiroxina sódica.
de amenorreia deste então. Além disso, b) Levotiroxina sódica 25 mg/dia por duas sema-
apresenta alterações clínicas e laborato- nas, aumentando a dose para 37,5 mg/dia por
riais compatíveis com pan-hipopituitarismo: mais duas semanas e, depois, para 50 mg/dia e
déficit de LH/FSH levando à amenorreia e medir novamente o TSH sérico após seis sema-
diminuição da pilificação; déficit de TSH, nas nessa dosagem.
gerando hipotireoidismo e déficit de ACTH, c) Levotiroxina sódica 100 mg/dia, medir o
gerando sintomas de insuficiência adrenal TSH sérico em seis semanas.
(adinamia, hipotensão e hipoglicemia). Nes- d) Internar o paciente em leito monitorizado
te caso, a principal hipótese diagnóstica é a para infusão intravenosa de T4, com monito-
síndrome de Sheehan, caracterizada por in- rização cardíaca cuidadosa.
farto hipofisário decorrente de grande perda e) Está formalmente contraindicada a reposi-
sanguínea durante o parto, principalmente ção de T4, no caso apresentado.
durante complicações obstétricas (o desco-
lamento prematuro de placenta é a causa Este paciente tem hipotireoidismo labora-
mais comum). Na gestação a hipófise está torialmente definido (TSH elevado) cuja gran-
aumentada e apresenta maiores necessida- de repercussão é um distúrbio do ritmo, algo
des metabólicas e, portanto, torna-se mais muito característico em idosos. Teremos de
sensível à diminuição do fluxo sanguíneo. iniciar reposição hormonal com levotiroxina
Você deve estar se perguntando, e o TSH, (A e E erradas), ambulatorialmente (D erra-
não deveria estar baixo??? Sim, na maioria da), mas de forma extremamente cautelosa
dos casos de hipotireoidismo total encon- (C errada), já que se trata de um coronario-
traremos níveis baixos de TSH; Entretanto, pata. A melhor reposta é o crescimento gra-
em algumas ocasiões podem-se evidenciar dual da dose conforme a avaliação clínica
níveis normais ou altos de TSH. A explica- do paciente. Um grande lema da geriatria é:
ção é a seguinte: a hipófise pode secretar “Start low and grow slow” (começar baixo e
uma forma biologicamente inativa de TSH, progredir vagarosamente!). Resposta: B.
175 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP 5 – São complicações da tireoidectomia total, EXCETO:
<p> </p> <p> </p>

1 – Dentre as doenças apresentadas nas alternativas


<p> </p> <p> a) Lesão do nervo laríngeo recorrente.
abaixo, assinale aquela que NÃO causa hipercalcemia: </p> b) Sangramento.
a) Insuficiência adrenal primária. c) Hipercalcemia.
b) Feocromocitoma. d) Hipocalcemia.
c) Hipertireoidismo.
d) Hipogonadismo hipergonadotrófico.
e) Sarcoidose. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
(ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO NACIONAL
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 DE TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA – RJ
(ACESSO DIRETO 1) 6 – A causa mais comum de insuficiência da tireoide é:
<p> </p> <p> </p>

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO a) Ablação cirúrgica.


PEDRO ERNESTO – RJ b) Tireoide viral.
2 – Uma paciente de 63 anos foi atendida com aumen-
<p> </p> <p> c) Tratamento radioativo da tireoide.
to da região cervical anterior, cansaço, sono excessivo, d) Tireoide de Hashimoto.
intolerância ao frio, constipação, alopecia e síndrome do e) Tireoide bacteriana.
túnel do carpo bilateral. O exame da pele poderá revelar
os seguintes achados, EXCETO: </p>

a) Aumento da umidade. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


b) Coloração amarelada. (ACESSO DIRETO 1)
c) Hiperceratose. FUNDAÇÃO JOÃO GOULART
d) Palidez. HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
7 – Em relação ao hipertireoidismo, é CORRETO afirmar que:
<p> </p> <p> </p>

a) A doença de Graves é uma patologia autoimune.


RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 b) O nódulo tireoidiano tóxico é a principal causa de hiper-
(ACESSO DIRETO 1) tireoidismo.
HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – SP c) Uma vez tratado o hipertireoidismo da doença de Graves,
3 – Paciente, sexo feminino, 42 anos, apresenta emagrecimento
<p> </p> <p> há regressão imediata da exoftalmia.
importante, sem anorexia, taquicardia, hipertensão limítrofe, d) A cirurgia é o tratamento de escolha para a doença de
exoftalmia e bócio liso indolor. Seu nível de TSH é muito bai- Graves, devendo o hipertireoidismo estar controlado pre-
xo. O diagnóstico mais provável é: </p> viamente.
a) Doença de Graves.
b) Bócio multinodular tóxico.
c) Tireoidite de Hashimoto. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
d) Tireoidite linfocítica. (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
SUL FLUMINENSE – RJ
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 8 – Mulher de 55 anos com quadro de fadiga, fala arras-
<p> </p> <p>

(ACESSO DIRETO 1) tada, constipação, ganho de peso e rosto infiltrado é diag-


HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ nosticada como portadora de hipotireoidismo autoimune.
4 – A hipocalcemia pode se manifestar por vários achados
<p> </p> <p> Seu médico inicia reposição com levotiroxina diária por via
clínicos. Um dos sinais comumente encontrados é carac- oral. Aponte o parâmetro a ser utilizado no ajuste da dose
terizado pela contração dos músculos faciais ipsilaterais terapêutica para se alcançar estado eutireóideo. </p>

após percussão do nervo facial abaixo do arco zigomáti- a) Dosagens sanguíneas de T3 e T4.
co. Assinale abaixo a alternativa que contém este sinal: </p> b) Níveis sanguíneos de TSH.
a) Sinal de Chvostek. c) Regularização do trânsito intestinal.
b) Sinal de Trousseau. d) Melhora na resposta do reflexo aquileu.
c) Sinal de Sacks. e) Normalização dos níveis séricos de antiperoxidase ti-
d) Sinal de Rolissomo. reoidiana.
176 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 lhora dos sintomas cognitivos e depressivos.


(ACESSO DIRETO 1) c) O tratamento deve ser iniciado após confirmar o valor
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR de TSH.
9 – Paciente do sexo feminino, 40 anos, procura assis-
<p> </p> <p> d) O tratamento só deve ser iniciado após correção da
tência médica devido a dor de garganta de início há 1 anemia.
semana. Refere episódio de infecção das vias aéreas su- e) A paciente não deve ser tratada.
periores há 20 dias. Exame físico com oroscopia normal,
ausência de linfonodomegalia cervical e palpação da tireoi-
de dolorosa. Exame laboratorial com discreta leucocitose RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
e VHS (eritrossedimentação) 88 mm. Qual o provável diag- (ACESSO DIRETO 1)
nóstico desse paciente? </p> HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
a) Doença de Graves. DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
b) Faringite aguda estreptocócica. 12 – Em um plantão você é chamado para avaliar um me-
<p> </p> <p>

c) Faringite aguda viral. nino com 9 dias apresentando vômitos há 3 dias, perda
d) Tireoidite subaguda (De Quervain). de peso e queda do estado geral. Este recém-nascido ha-
e) Tireoidite de Hashimoto. via tido alta da maternidade com 2 dias de vida, em bom
estado geral, após o nascimento por parto a termo sem
intercorrências, com peso de 3.230 gramas e Apgar 8/10.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 O exame físico inicial demonstrou um paciente em regu-
(ACESSO DIRETO 1) lar estado geral, desidratado, emagrecido, taquicárdico e
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR hipoativo. Além destas alterações, chamou atenção a pre-
10 – Paciente, 34 anos de idade, sexo feminino, apresenta
<p> </p> <p> sença de hipospádia e criptorquidia. Entre outros exames
alteração da função tireoidiana em exames de rotina soli- laboratoriais solicitados, chamou atenção o resultado dos
citados pelo ginecologista. Os exames mostraram: TSH eletrólitos e da glicemia (Na = 123 mEq/L; K = 6,9 mEq/L;
6,7 mU/L (normal: 0,45 a 4,5) e T4 livre 1,0 ng/dl (normal: 0,7 Glicemia = 45 mg/dl). De acordo com os dados apresen-
a 1,5). Está completamente assintomática e não usa qual- tados acima, qual seria a medida terapêutica mais eficaz
quer medicação. Três meses mais tarde, repete os exames, direcionada à doença de base deste paciente? </p>

que mostram: TSH 8,4 mU/L, T4 livre 0,9 ng/dl e anti-TPO a) Expansão volêmica rápida com solução salina.
85 U/mL (normal: < 15). b) Antibioticoterapia.
Sobre a situação descrita, considere as afirmativas a seguir: c) Hidrocortisona.
I. O médico já deveria ter tomado uma conduta imedia- d) Aminas vasoativas.
tamente após os primeiros exames, sem necessidade de
repeti-los.
II. A etiologia mais provável desse quadro, diante das ca- RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
racterísticas apresentadas, é a doença de Graves. (ACESSO DIRETO 1)
III. Deve-se considerar tratamento devido ao maior risco de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
progressão para hipotireoidismo franco. PEDRO ERNESTO – RJ
IV. Ingestão aumentada de iodo constitui um fator de risco 13 – Homem de 62 anos procura atendimento médico em
<p> </p> <p>

para progressão do hipotireoidismo franco. função de cansaço, adinamia e lombalgia. Ao exame físico,
Assinale a alternativa CORRETA. </p> o paciente se encontra em razoável estado geral, corado,
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. hidratado, acianótico, anictérico e afebril; está taquicárdico
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. (110 bpm), com pressão de pulso aumentada, edema de
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. membros inferiores 2+/4+ e com a manobra de Patrick evi-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. denciando dor ao início do movimento bilateralmente; o to-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. que retal revela a presença de próstata pouco aumentada
de tamanho e com superfície lisa; o restante do exame físi-
co é normal. Uma radiografia panorâmica de bacia mostra a
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 coexistência de lesões líticas e escleróticas afetando todos
(ACESSO DIRETO 1) os ossos da pelve, e uma radiografia de coluna lombar re-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO vela lesões escleróticas afetando os corpos vertebrais de
PRESIDENTE DUTRA – MA L2 e L4, tendo um deles aspecto “em moldura”, e o outro
11 – Mulher, 80 anos, apresenta alterações cognitivas e
<p> </p> <p> de “vértebra em marfim”. A atual dosagem sérica de PSA
sintomas depressivos há 6 meses, hipertensa e diabética total é de 5,8 ng/dl (a anterior, realizada 12 meses antes,
em uso de metformina, insulina e enalapril. Durante a in- era de 5,4 ng/dl), e a relação PSA livre/PSA total é de 0,35.
vestigação, foi detectada anemia (Hb: 10,6 g/dl). Função A dosagem de fosfatase alcalina sérica é de 1.200 UI/L.
renal e hepática normais. TSH: 8,8 mUI/L (VR: 0,4 - 4,0) A dosagem sérica de 25-hidroxivitamina D é de 20 ng/ml
e T4 livre 1,4 ng/dl (VR: 0,8 - 1,9), anti-TPO: 38 U/mL (re- (50 nmol/l). O diagnóstico mais provável para esse paciente é: </p>

ferência < 35,0). Qual afirmativa é a CORRETA? </p> a) Doença de Paget óssea poliostótica.
a) A paciente apresenta hipotireoidismo subclínico e deve b) Câncer de próstata metastático.
ser tratada com levotiroxina, especialmente pela presença c) Osteodistrofia renal.
de anti-TPO positivo. d) Hipervitaminose D.
b) O tratamento com levotiroxina está indicado para me-
177 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 b) Úlcera péptica perfurada.


(ACESSO DIRETO 1 c) Neoplasia endócrina múltipla.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO d) Criptorquidia.
PEDRO ERNESTO – RJ
14 – Um menino de seis anos de idade tem diagnóstico de
<p> </p> <p>

abscesso periamigdaliano firmado há cinco dias, quando RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


iniciou o uso de clavulanato de amoxicilina, sendo sub- (ACESSO DIRETO 3)
metido à drenagem cirúrgica do abscesso periamigdaliano PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
há 72 horas. Desde esse dia, houve regressão da febre e 17 – Em relação ao hipertireoidismo, assinale a alterna-
<p> </p> <p>

melhora da aceitação da alimentação até 24 horas atrás, tiva ERRADA. </p>

quando surgiram astenia intensa e hipotensão postural. O a) A tiroxina pode determinar o aparecimento de caquexia
exame físico mostra: PA = 80 x 50 mmHg; FC = 128 bpm; grave.
FR = 28 irpm; sem tiragem; SatO2 = 98% e acentuada adi- b) Alguns pacientes com hipertireoidismo podem desen-
namia. Na anamnese são relatados episódios recorrentes volver hipotireoidismo espontaneamente.
de taquidispneia e sibilância, tendo sido diagnosticada as- c) Está formalmente contraindicado o uso de solução de
ma desde os três anos de idade, e o último episódio de iodo - Lugol - em paciente em crise tireotóxica.
crise ocorreu há 45 dias, exigindo hospitalização por cinco d) Nos testes de supressão de T3 os pacientes hiperti-
dias durante os quais foi medicado com metilprednisolona reoideos não conseguem suprimir a captação tireoide do
IV e salbutamol inalatório. Recebeu alta hospitalar com radiofármaco quando recebem T3 exógeno.
prescrição de prednisolona oral e salbutamol inalatório por
mais cinco dias. A mãe do paciente refere que, por conta
própria, manteve o uso de prednisolona por via oral até RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
o início do quadro atual. O nível plasmático de cortisol, (ACESSO DIRETO 1)
após a administração intravenosa de 0,5 mcg de ACTH, HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS
foi de 8 mcg/dl. Nesse caso, o tratamento medicamentoso 18 – Em relação à Insuficiência Adrenal (IA), considere as
<p> </p> <p>

imediato deve ser: </p> seguintes afirmativas:


a) Fludrocortisona oral. I. Um pico de cortisol sérico superior a 20 mcg/dl após in-
b) Vancomicina intravenosa. jeção intravenosa de tetracosactídeo exclui o diagnóstico
c) Hidrocortisona intravenosa. de IA secundária.
d) Hidrocortisona intravenosa e fludrocortisona oral. II. O uso de fludrocortisona se faz necessário apenas na
IA primária.
III. A presença de vitiligo aponta para o diagnóstico de IA
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 secundária.
(ACESSO DIRETO 1) Está/Estão CORRETA (S) a (s) afirmativa (s): </p>

FUNDAÇÃO JOÃO GOULART a) I, apenas. d) I e II, apenas.


HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ b) II, apenas. e) I, II e III.
15 – Paciente com quadro clínico de anemia, glossite e
<p> </p> <p> c) III, apenas.
eritema migratório necrolítico é possível portador de: </p>

a) Vipoma.
b) Glucagonoma. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
c) Somatostatinoma. (ACESSO DIRETO 1)
d) Síndrome de Zollinger-Ellison. SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE
DE CURITIBA – PR
19 – Assinale a alternativa INCORRETA quanto à hiper-
<p> </p> <p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 calcemia. </p>

(ACESSO DIRETO 1) a) O hiperparatireoidismo primário e a hipercalcemia asso-


FUNDAÇÃO JOÃO GOULART ciada à malignidade são responsáveis por cerca de 90%
HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ dos casos.
16 – Paciente de 12 anos de idade, sexo masculino, é
<p> </p> <p> b) A hipercalcemia maligna está associada à produção ec-
trazido à emergência com queixa de lombalgia de forte tópica de paratormônio pelo tumor e por isso encontramos
intensidade à esquerda, além de dor testicular do mesmo valores elevados de PTH sérico nesta condição clínica.
lado. Durante a anamnese, sua mãe reclamou que o filho c) A hipercalcemia decorrente do hiperparatireoidismo é
sempre se queixa de dor “no estômago”. O exame físico comumente acompanhada de hipofosfatemia sérica.
do abdome foi inespecífico. Constatou-se presença do d) Nas doenças granulomatosas, o mecanismo de hiper-
sinal de Giordano do lado esquerdo e, à palpação, o tes- calcemia está associado ao aumento da conversão de
tículo esquerdo era indolor, mas aparentava ter tamanho 25-OH vitamina D em 1,25-(OH)2 vitamina D.
diminuído para a idade. Há motivo para preocupação, pois e) O tratamento da hipercalcemia sintomática é baseado
se pode estar diante do seguinte diagnóstico: </p> em reposição volêmica, diuréticos de alça e bisfosfonato.
a) Pancreatite aguda.
178 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
SECRETARIA MUNICIPAL UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – PA
DA SAÚDE DE CURITIBA – PR 22 – Paciente de 27 anos de idade, sexo feminino, puerpé-
<p> </p> <p>

20 – Paciente masculino de 56 anos chega ao pronto aten-


<p> </p> <p> rio recente (parto há 4 semanas do primeiro filho), evoluindo
dimento com queixa de fadiga, astenia, tontura ao levantar há cerca de 10 dias com aumento de volume cervical; há 1
e perda ponderal não aferida com duração de algumas dia evoluindo com palpitações e tremores de extremidades,
semanas. No exame físico, encontra-se corado, desidra- sem febre. Ao exame físico: mau estado geral, ansiosa, co-
tado, eupneico, frequência cardíaca: 108 bpm, pressão rada; pressão arterial: 150 x 90 mmHg; frequência cardíaca:
arterial deitado: 110 x 70 mmHg e sentado: 90 x 60 mmHg, 116 bpm; tireoide: tamanho aumentado e indolor à palpa-
auscultas cardíaca e pulmonar dentro da normalidade. ção; ausculta pulmonar com estertores em bases; ausculta
Exames laboratoriais mostram; sódio sérico: 132 mEq/L, cardíaca: bulhas cardíacas normofonéticas, ritmo cardíaco
potássio sérico: 5,9 mEq/L, creatinina: 1,8 mg/dl, ureia regular em 2 tempos, sopro sistólico +1/+4 em foco tricús-
96 mg/dl, hemograma dentro da normalidade. Quanto ao pide; abdome: fígado palpável a 3 cm do rebordo costal di-
caso, assinale a alternativa CORRETA. </p> reito; membros inferiores: edema +2/+4, pulsos presentes
a) Paciente com quadro de insuficiência adrenal. Iniciar e simétricos, panturrilhas livres. Exames complementares
reposição volêmica e hidrocortisona. = USG de tireoide: glândula difusamente aumentada; cinti-
b) Paciente com quadro de hiponatremia hipovolêmica lografia da tireoide: captação diminuída; tireoglobulina: ele-
sintomática. Deve-se iniciar correção com solução salina vada; Anti-TPO (Tireoperoxidase): elevada; TSH: diminuído;
hipertônica a 3%. T4 livre e T3: aumentados. A medicação mais indicada para
c) Paciente com quadro de choque hipovolêmico. Iniciar o controle dos sintomas desta paciente é: </p>

reposição volêmica vigorosa e antibiótico de amplo es- a) Propiltiouracil. d) Prednisona.


pectro na primeira hora. b) Metimazol. e) Levotiroxina.
d) Paciente com quadro de insuficiência adrenal. Iniciar c) Propranolol.
reposição volêmica, hidrocortisona e fludrocortisona.
e) Paciente com quadro de insuficiência adrenal. Solici-
tar coleta de cortisol imediata antes de iniciar as medidas RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
clínicas para compensação. (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
LAURO VANDERLEI – PB
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 23 – Homem, 25 anos, relata que há 6 meses apresenta-se
<p> </p> <p>

(ACESSO DIRETO 1) com astenia, anorexia, episódios sincopais, com tendência


SECRETARIA DE SAÚDE à hipotensão arterial e hipoglicemias. Houve perda de 10 kg
DA SAÚDE DO MARANHÃO – MA neste período, e notou a pele mais escura desde então. Foi
21 – Paciente 43 anos, hipertenso e sem demais comorbi-
<p> </p> <p> internado na UTI há 6 horas com hipotensão arterial e hipo-
dades internado na enfermaria com quadro de sepse por perfusão tecidual após submeter-se a uma apendicectomia
foco pulmonar, apresentando TSH discretamente reduzido não complicada, que não respondem ao uso de antibióti-
e T4 livre reduzido. É CORRETO afirmar: </p> cos, hidratação intensa e drogas vasoativas. Qual seria a
a) Deve-se começar levotiroxina imediatamente, uma vez conduta mais adequada com a sua respectiva justificativa? </p>

que o paciente está em sepse e, deste modo, necessita a) Iniciar anticoagulação plena com heparina, visto que tra-
de um metabolismo mais acelerado para otimizar sua res- ta-se de uma embolia pulmonar que instalou-se após uma
posta clínica. cirurgia abdominal.
b) Não se deve tratá-lo com levotiroxina, pois trata-se de b) Mudar o esquema antibiótico visando Gram-negativos e
síndrome do eutireóideo doente, podendo nesse caso do- anaeróbios, já que se trata de uma sepse abdominal.
sar T3 reverso endossar o diagnóstico. c) Iniciar esquema antirretroviral, e solicitar Elisa para HIV,
c) Não se deve tratá-lo com levotiroxina uma vez que ela visto que trata-se de paciente com provável AIDS.
predispõe ao supercrescimento bacteriano por servir de d) Fazer corticoides intravenosos em doses baixa (hidro-
substrato energético para as bactérias. cortisona 100 mg IV 6/6 horas) e hidratação intensa com
d) Deve-se administrar levotiroxina, uma vez que pode soro fisiológico, visto que se trata de crise adrenal, a qual
se tratar de hipertensão secundária pelo hipotireoidismo. deverá ser investigada à posteriori.
e) Administrar metade da dose inicial prevista de levotiro- e) Iniciar anfotericina B, pois trata-se de uma provável sepse
xina, evitando assim maiores interações medicamentosas de etiologia fúngica, como complicação tardia de cirurgia
com os antibióticos em uso. abdominal.
179 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 sentava-se deprimida e emagrecida com hiperpigmen-


(ACESSO DIRETO 1) tação na face, linhas interdigitais da palma das mãos
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – PI e nos lábios. A pressão arterial era de 80 x 44 mmHg,
24 – Paciente com suspeita de tireotoxicose se apresenta
<p> </p> <p> o pulso era de 110 bpm e não tinha febre. A ausculta
com febre há 3 dias, cervicalgia anterior com irradiação para cardíaca e pulmonar eram normais. A palpação abdo-
ouvido direito, tireoide de dimensões aumentadas à custa minal era normal, o baço e o fígado não eram palpá-
de lobo direito (peso estimado 28 gramas, valor de referên- veis. Os exames laboratoriais revelaram: hemoglobina:
cia até 16 gramas). Laboratório com TSH de 0,002 mUI/L 12.8 g/dl, leucócitos: 7.4 x 10/L com 42% de linfócitos e
(0,34–5,6 mIU/L), T4 livre 3,2 ng/dl (0,6-1,8 ng/dl). Cintilo- 49% de neutrófilos, 5% de eosinófilos, 4% de monócitos
grafia de tireoide que não revelou tecido iodocaptante. Qual e 0% de basófilos, plaquetas: 264 x 10/L. Velocidade de
hipótese diagnóstica mais provável neste caso e medicação sedimentação na 1º hora: 11 mm (Westergreen), pro-
possível para terapia, respectivamente? </p> teína C-reativa: negativa, sódio: 135 mmol/L, potássio
a) Tireoidite de Hashimoto e propiltiouracil. 6.8 mmol/L; cálcio: 10.1 mg/dl; magnésio: 1.81 mg/dl; fós-
b) Uso de ácido triiodotiroacético e metimazol. foro: 6.66 mg/dl; glicose: 80 mg/dl, ureia: 22.1 mg/dl, crea-
c) Tireoidite aguda e prednisona. tinina: 0.68 mg/dl, AST: 60 U/L, ALT: 47 U/L, bilirrubina
d) Tireoidite subaguda e prednisona. total: 0.7 mg/dl. O estudo da coagulação do sangue era
e) Doença de Graves e metimazol. normal. ACTH: 2302.0 pg/ml (normal: 7.0-51); cortisol (ma-
nhã e tarde): < 0.2 mg/dl (normal: 4.3-22.4); aldosterona:
indetectável (normal: 10-160 pg/ml); renina: 969.0 pg/ml
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 (normal: 3.6-20.1 pg/ml). Baseado na história clínica aci-
(ACESSO DIRETO 1) ma, qual o diagnóstico MAIS PROVÁVEL da paciente? </p>

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO a) Síndrome de Cushing. d) Tireoidite de Hashimoto.


ONOFRE LOPES UFRN – RN b) Feocromocitoma. e) Síndrome de Sheehan.
25 – Mulher de 24 anos, com história de asma brônquica
<p> </p> <p> c) Doença de Addison.
e doença celíaca, em uso de beclometasona e formote-
rol por via inalatória e dieta sem glúten, procura atendi-
mento médico devido a queixas de palpitações, tremores RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
de extremidades, insônia e perda de 8 kg nos últimos 3 (ACESSO DIRETO 1)
meses. No exame físico, apresenta: ACV – RCR sem so- INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
pros, FC: 118 bpm; PA: 140 x 70 mmHg, tremores finos SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
de extremidades superiores, reflexos aquileu e patelar 27 – Em um paciente com neoplasia múltipla endócrina
<p> </p> <p>

exacerbados, hiperemia conjuntival importante, quemo- que engloba o câncer medular da tireoide, tumor funcio-
se e proptose bilaterais. Realizada a palpação da tireoi- nante de suprarrenal e de paratireoide, o tratamento ci-
de, constataram-se dimensões aumentadas, consistência rúrgico deve ser iniciado por: </p>

fibroelástica, sem nódulos palpáveis, sem sopros. Além a) Tireoidectomia.


disso, a paciente apresenta-se eupneica, corada e orien- b) Suprarrenalectomia.
tada. Os resultados de seus exames laboratoriais foram: c) Paratireoidectomia.
TSH: < 0,05 (VR: 0,4-4,0), T4L: 4,2 (VR: 0,7-1,8), T3T: 311 d) Hipofisectomia.
(VR: 110-260). Para essa paciente, a conduta adequada e) Tireoidectomia com paratireoidectomia.
é iniciar tratamento com: </p>

a) Propiltiouracil oral para administrar radioiodo.


b) Propranolol oral para administrar radioiodo. RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
c) Propranolol oral e internar para tireoidectomia. (ACESSO DIRETO 1)
d) Prednisona oral e metimazol. UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO – RJ
28 – Mulher, 33 anos, com obesidade centrípeta, diabetes e
<p> </p> <p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) de difícil controle. Refere
(ACESSO DIRETO 1) também fratura patológica de coluna no último ano. Informa
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL que durante investigação de HAS secundária foi detectado
DO TOCANTINS – TO nódulo 2,5 cm em adrenal direita. Exames laboratoriais: cor-
26 – Paciente de 21 anos, sexo feminino, foi admitida em
<p> </p> <p> tisol pós 1 mg de dexametasona = 8 µg/dl; duas dosagens
serviço de clínica médica com astenia, anorexia, emagre- de cortisol salivar noturno elevadas (> 3x limite superior da
cimento de cerca de 5 kg, hipotensão, dores abdominais normalidade); ACTH = 30 ng/ml. O próximo passo é: </p>

e hiperpigmentação, com 2 meses de evolução. Nos an- a) Teste Liddle 2.


tecedentes pessoais não havia história de tuberculose, b) Adrenalectomia direita.
trauma ou cirurgia. Negava hábitos alcoólicos, drogas c) Cateterismo de seio petroso.
ou qualquer outra medicação. Os antecedentes fami- d) Ressonância de sela túrcica.
liares eram irrelevantes. Na admissão, a doente apre-
180 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 talmia moderada. Não existem outras alterações dignas de
(ACESSO DIRETO 2) nota. Diante deste quadro sua hipótese diagnóstica princi-
UNIVERSIDADE FEDERAL pal, a hipótese diagnóstica secundária a ser descartada e
DO RIO DE JANEIRO – RJ condutas propedêutica e terapêutica são, respectivamente: </p>

29 – A elevação de fosfatase alcalina, com provas de


<p> </p> <p> a) Doença de Plummer; câncer da tireoide; provas de
função hepática, cálcio e fósforo normais, em homem na função tireoidiana, ultrassonografia, cintilografia e punção
terceira idade, sugere: </p> por agulha fina com citologia; tratamento para compensa-
a) Osteossarcoma. ção clínica com propiltiouracil e propranolol; lobectomia
b) Hiperparatireoidismo. com istmectomia.
c) Doença de Paget. b) Doença de Hashimoto; doença de Plummer; provas de
d) Mieloma múltiplo. função tireoidiana, cintilografia e punção por agulha fina
com biópsia; tratamento com levotiroxina.
c) Bócio nodular atóxico; doença de Graves; provas de
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 função tireoidiana, cintilografia e punção por agulha fina
(ACESSO DIRETO 1) com biópsia; tratamento com levotiroxina.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO d) Adenoma tóxico; doença de Graves; provas de função
PEDRO ERNESTO – RJ tireoidiana, cintilografia e punção por agulha fina com bióp-
30 – Norma, 43 anos, está sendo submetida à investiga-
<p> </p> <p> sia; tratamento com iodo radioterapia.
ção diagnóstica em função de obesidade centrípeta, hi- e) Doença de Graves; doença de Hashimoto; exames de
pertensão arterial sistêmica grau I, diabetes mellitus se- <em> </em> função tireoidiana, anticorpos TRAB e TPO, ultrassonogra-
cundário e equimoses superficiais nos membros, haven- fia e cintilografia; tireoidectomia total.
do a hipótese diagnóstica de síndrome de Cushing. Está
realizando exames de imagem e dosagens hormonais.
Sobre a investigação diagnóstica de pacientes em que se RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
contempla a possível presença da síndrome de Cushing, (ACESSO DIRETO 1)
pode-se afirmar: </p> UNIVERSIDADE FEDERAL
a) Pacientes com incidentalomas de adrenal devem sem- DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ
pre ser avaliados quanto a possível presença de síndrome 33 – Você trabalha em uma Unidade de Pronto Atendi-
<p> </p> <p>

de Cushing. mento (UPA) e atende a um homem de 29 anos, que se


b) Substâncias como álcool e medicamentos não atrapa- queixa de dor torácica com a sensação de morte iminente
lham a interpretação dos testes de avaliação para a sín- que se relaciona com crises hipertensivas com altos ín-
drome de Cushing. dices de pressões sistólicas e diastólicas, intensa taqui-
c) Quando é causada por adenoma hipofisário, a síndro- cardia e cefaleia. Estes sintomas começaram há quatro
me está mais comumente associada à presença de um meses e desde então vêm se repetindo mais frequente-
macroadenoma. mente e com maior intensidade. Refere que o exercício
d) A sua principal causa é a hiperplasia adrenal primária, físico desencadeia estes picos hipertensivos. Ao exame
em que as glândulas se revelam difusamente aumenta- físico encontra-se algo ruborescido, desidratado, com dor
das de tamanho. à palpação das panturrilhas, sem massas palpáveis no
abdome, sem linfadenomegalias cervicais, axilares ou in-
guinais. Vem fazendo uso de captopril 100 mg/dia, que
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 na maior parte do tempo mantém a pressão controlada,
(ACESSO DIRETO 1) mas não evita os picos hipertensivos e suas crises. Exa-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO mes complementares mostram que hemograma, glicemia,
ANTÔNIO PEDRO – RJ uremia, creatinemia, eletrólitos e uma gasometria arterial
31 – A cintilografia com Meta-Iodo-Benzil-Guanidina pode
<p> </p> <p> estão normais. Assim como uma telerradiografia do tórax
ser útil na localização pré-operatória de: </p> em PA e Perfil. Diante deste quadro clínico, sua hipótese
a) Carcinoma medular da tireoide. diagnóstica, conduta propedêutica e conduta terapêutica,
b) Feocromocitoma. respectivamente, são: </p>

c) Insulinoma. a) Hiperparatireoidismo primário; dosagem do PTH, cinti-


d) Gastrinoma. lografia das paratireoides e exérese da paratireoide com-
e) Vipoma. prometida.
b) Insulinoma; dosagem de insulina e ressonância nu-
clear magnética do pâncreas e pancreatectomia subtotal
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 ou enucleação do tumor.
(ACESSO DIRETO 1) c) Feocromocitoma; dosagem de epinefrinas, ácido va-
UNIVERSIDADE FEDERAL nilmandélico e tomografia computadorizada das suprar-
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ renais e adrenalectomia.
32 – No seu ambulatório, você examina uma paciente com
<p> </p> <p> d) Síndrome de Cushing; dosagem de cortisol e ACTH
23 anos, que se queixa de nervosismo, agitação, queda de e adrenalectomia.
cabelos e emagrecimento. Ao exame físico, constata que e) Hiperaldosteronismo primário; dosagem da aldoste-
a paciente está taquicárdica com 120 bpm. Apresenta tu- rona, tomografia computadorizada das suprarrenais e
moração anterior no pescoço, que a palpação sugere um adrenalectomia.
aumento difuso da glândula tireoide e expressa uma exof-
181 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 dutível, com aumento de fenda palpebral à direita. A prin-
(ACESSO DIRETO 1) cipal hipótese diagnóstica e condutas investigativas são,
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP respectivamente: </p>

34 – Mulher de 34 anos de idade, queixa-se de episódios


<p> </p> <p> a) Linfoma orbitário; ressonância magnética e biópsia ex-
de palpitações, tremores e insônia há 4 meses. Relata cisional.
irregularidade menstrual há 10 meses, com DUM há 10 b) Meningioma; tomografia computadorizada e biópsia.
dias. Nega outras queixas. Ao exame clínico apresenta c) Oftalmopatia de Basedow-Graves; tomografia compu-
frequência cardíaca de 120 bpm, rítmica, pressão arterial: tadorizada e dosagens hormonais.
158 x 97 mmHg, extremidades quentes e com tremor fino d) Tromboflebite do seio cavernoso; ressonância magné-
apresentando placa infiltrativa pré-tibial, não depressível, tica e angioplastia.
o restante do exame clínico está sem alterações e o eletro- e) Fístula carótido-cavernosa; ressonância magnética e
cardiograma está abaixo. Figura apresentando placa infil- ecodoppler de carótida.
trativa pré-tibial. Qual deve ser a conduta medicamentosa
para a paciente, considerando que a principal hipótese
diagnóstica foi confirmada? </p> RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
(ACESSO DIRETO 2)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE TERESÓPOLIS
COSTANTINO OTTAVIANO – RJ
36 – Com relação ao hipotireoidismo congênito, é COR-
<p> </p> <p>

RETO afirmar que: </p>

a) O teste de triagem neonatal diagnostica apenas o hi-


potireoidismo primário.
b) O teste de triagem neonatal identifica apenas hipoti-
reoidismo central.
c) Pode se manifestar até os 8 anos de idade.
d) O teste de triagem identifica hipotireoidismo de origem
autoimune.
e) Geralmente é sintomático nos primeiros 30 dias de vida.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – MG
37 – Marina, 55 anos, queixa-se de cansaço, queda de
<p> </p> <p>

cabelo, pele seca, dificuldade de concentração e me-


mória precária. Ao exame clínico: tireoide não palpável.
Exames complementares: TSH elevado, T4 livre bai-
xo, anticorpos contra peroxidase tireoidiana presentes.
A hipótese diagnóstica é de tireoidite de Hashimoto. Assi-
nale a alternativa INCORRETA. </p>

a) O hipotireoidismo autoimune é mais comum no sexo fe-


minino, com prevalência aumentando com a idade.
a) Propiltiouracil e furosemida. b) Existe acentuada infiltração linfocítica da glândula, com
b) Furosemida e digoxina. formação de centros germinativos, atrofia folicular e fibrose.
c) Carvedilol e espironolactona. c) A destruição das células tireoidianas é mediada princi-
d) Propranolol e tapazol. palmente por linfócitos T CD8+ desencadeando necrose
e) Digoxina e hidroclorotiazida. induzida por perforinas e apoptose por granzima B.
d) Os anticorpos contra tireoglobulina e peroxidase tireoi-
diana são os responsáveis no mecanismo etiopatogênico
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 da tireoidite.
(ACESSO DIRETO 1) e) Está indicada a reposição hormonal com levotiroxina. O
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP TSH deve ser monitorizado cerca de dois meses após o
35 – Mulher de 30 anos, portadora de artrite reumatoide,
<p> </p> <p> início do tratamento.
há um ano apresenta exoftalmia axial, assimétrica e re-
182 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 b) Cortisol urinário livre (3 amostras) e ACTH plasmático.


(ACESSO DIRETO 1) c) Cortisol urinário livre (3 amostras) ou cortisol salivar às
HOSPITAL DAS CLÍNICAS 23 horas (3 amostras) ou teste de supressão com 1 mg
DE PORTO ALEGRE – RS de dexametasona.
38 – Assinale a alternativa que preenche, correta e respec-
<p> </p> <p> d) Cortisol urinário livre (3 amostras) e teste da supressão
tivamente, as lacunas do caso abaixo. Paciente realizou com 8 mg de dexametasona.
tireoidectomia total por nódulo de tireoide suspeito de neo-
plasia maligna. Retornou ao pronto atendimento 1 dia após
a alta com queixas de parestesias periorais e cãibras nos RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
membros inferiores. Ao exame físico, o teste de ____foi po- (ACESSO DIRETO 1)
sitivo, sugerindo _____, cujo tratamento deve incluir _____ . </p> UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI
41 – Considere o caso: paciente, sexo feminino, 45 anos,
<p> </p> <p>

apresenta quadro de hipertensão arterial sistêmica grave


e refratária ao tratamento habitual, evoluindo com hipoca-
lemia mantida nos exames complementares e tumoração
abdominal. O método de investigação inicial recomendado
para este caso é: </p>

a) Aldosterona plasmática e potássio sérico.


b) Ultrassonografia doppler das artérias renais.
c) Dosagem de catecolaminas plasmáticas.
a) Trousseau - hipotireoidismo - levotiroxina. d) Relação de aldosterona plasmática e atividade plasmá-
b) Trousseau - hipoparatireoidismo - cálcio. tica de renina.
c) Chvostek - hipotireoidismo - cálcio. e) Renina plasmática e aldosterona urinária de 24h.
d) Chvostek - hipoparatireoidismo - cálcio.
e) Maragnon - hipotireoidismo - levotiroxina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
(ACESSO DIRETO 1) DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR 42 – Mulher, 75 anos de idade, hipertensa e dislipidêmica
<p> </p> <p>

39 – Mulher, 81 anos, desconforto à deglutição, sensação


<p> </p> <p> há 15 anos, com infarto agudo do miocárdio há 10 anos.
de taquicardia, aumento do volume do pescoço, não sabe HMA: apresenta cansaço progressivo, sonolência, fraque-
há quanto tempo. À palpação, foi identificado um bócio za muscular generalizada, constipação e ganho de 8 kg nos
multinodular com aproximadamente 130 gramas. Níveis últimos 4 meses. Está em uso de sinvastatina (20 mg/dia),
séricos de TSH = 0,01 IU/ml e T4 livre = 1,45 ng/ml (0,9 a ácido acetilsalicílico (100 mg/dia), anlodipino (5 mg/dia) e
1,8). A partir desses dados, é CORRETO afirmar: </p> losartana (25 mg/dia). EF: BEG, descorada +/4, hidrata-
a) Nessa paciente podemos afastar o quadro de tireotoxi- da, eupneica, anictérica. Peso = 88 kg; estatura = 167 cm.
cose, pois esses valores são normais em sua faixa etária. IMC = 31,6 kg/m². Bulhas rítmicas, normofonéticas, sem
b) Se ela tiver um nódulo autônomo, ele será hipocaptan- sopro. FC = 64 bpm, PA = 120 x 80 mmHg. Edema de
te à cintilografia. membros inferiores +/4. ES: Creatinina = 1,1 mg/dl; ureia =
c) Essa paciente tem um hipertireoidismo subclínico. 32 mg/dl; Na+ = 137 mEq/L; K+ = 4,7 mEq/L; glicemia jejum
d) Ultrassom de tireoide esclareceria o diagnóstico nesse = 82 mg/dl; TSH = 172 µUl/ml; T4 livre = 0,5 ng/dl; colesterol
caso e afastaria a hipótese de malignidade. total = 178 mg/dl; triglicérides = 148 mg/dl; HDL-C =
e) Hipotireoidismo de causa central não pode ser afasta- 35 mg/dl; LDL = 114 mg/ml; ALT = 55 UI/ml (normal < 38);
do nesse caso. AST = 41 UI/ml (normal < 38); gama GT = 32 UI/ml (normal
< 50). Qual é a abordagem terapêutica medicamentosa
mais apropriada? </p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 a) Levotiroxina 25 µg/dia; com aumento progressivo da


(ACESSO DIRETO 1) dose.
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO b) Levotiroxina 100 µg/dia; associar furosemida 25 mg/dia.
40 – Qual a melhor opção para rastreio de síndrome de
<p> </p> <p> c) Levotiroxina 100 µg/dia; e aumentar a dose da sinvas-
Cushing? </p> tatina para 40 mg/dia.
a) ACTH plasmático (2 dosagens) e ressonância magné- d) Levotiroxina 25 µg/dia; suspender a sinvastatina.
tica de hipófise.
183 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 b) Mamografia de alta resolução.


(ACESSO DIRETO 1) c) Eletroforese de proteínas séricas.
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS d) Atividade da enzima conversora de angiotensina.
DA UNICAMP – SP
43 – Mulher, 81a, hipertensa há 22 anos, em uso regular
<p> </p> <p>

de captopril, com bom controle pressórico, previamente RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


assintomática, queixa-se de intolerância progressiva ao (ACESSO DIRETO 1)
esforço no último mês, associada à batedeira e sensa- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
ção de ansiedade. Exame físico: PA = 158 x 84 mmHg, PEDRO ERNESTO – RJ
FC = 143 bpm, T = 37,2ºC, FR = 24 irpm, estertores cre- 45 – Um recém-nascido foi admitido no berçário no 9º
<p> </p> <p>

pitantes em base esquerda, bulhas arrítmicas, normofo- dia de vida, com quadro de vômito, desidratação, hi-
néticas, presença de sopro protossistólico suave em foco percalemia e histórico de baixo ganho ponderal. O exa-
mitral, sem irradiação. Ausência de visceromegalias, ede- me genital mostrava aumento de clitóris, fusão de pre-
ma maleolar 1+/4+. ECG: gas labioescrotais, que se encontravam pigmentadas
e sem gônadas palpáveis. O USG pélvico mostrou estrutu-
ras müllerianas. Havia histórico de amniocentese, devido
à idade materna avançada. Resultado do cariótipo fetal
46, XX. Diante dos resultados apresentados, o diagnóstico
provável, o exame que pode estar alterado e a conduta
imediata, respectivamente, são: </p>

a) Hiperplasia congênita de suprarrenal, dosagem de


17-hidroxiprogesterona e reposição volumétrica e mine-
ral glicocorticoide.
b) Hiperplasia congênita de suprarrenal, dosagem de
17-hidroxiprogesterona e reposição glicocorticoide.
c) Hermafroditismo, pesquisa de SRY e cirurgia reparadora.
d) Disgenesia gonadal, pesquisa de SRY e gonadectomia.

A INVESTIGAÇÃO INICIAL É: </p>

a) Dosagem de TSH e T4 livre. RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


b) Monitorização ambulatorial da pressão arterial. (ACESSO DIRETO 1)
c) Teste ergométrico. PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
d) Cintilografia miocárdica. 46 – S.G.P., 48 anos, sexo masculino, operário, ao sub-
<p> </p> <p>

meter-se a exame periódico na firma apresentou elevação


dos níveis séricos de cálcio. É praticamente assintomático,
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 fazendo uso somente de diurético tiazídico para controle
(ACESSO DIRETO 1) de hipertensão arterial leve. Em relação a este caso, as-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO sinale a afirmativa ERRADA: </p>

PEDRO ERNESTO – RJ a) A origem mais provável desta hipercalcemia é adenoma


44 – Mulher de 28 anos, em tratamento para depressão
<p> </p> <p> único de paratireoide.
há um ano com venlafaxina, procura seu médico por iní- b) Deve ser realizada a dosagem do PTH (Hormônio Pa-
cio recente de constipação intestinal. Havia relato de in- ratireoidiano) para diferenciação de hipercalcemia indu-
ternação há 18 meses por ureterolitíase, sendo realizado zida pelo tiazídico.
implante de cateter de duplo J. Seu exame físico é normal c) Deve ser solicitada a dosagem de fosfato que, se ele-
e a avaliação laboratorial inicial mostra hematócrito: 42%; vada (hiperfosfatemia), sela o diagnóstico de hiperparati-
ureia: 24 mg/dl; potássio: 4,7 mEq/L; cálcio: 11,8 mg/dl e reoidismo primário.
fósforo: 2,1 mg/dl. Frente a esses dados, o próximo exa- d) Se confirmado o hiperparatireoidismo primário, o único
me a ser solicitado deve ser: </p> tratamento efetivo é a cirurgia.
a) Dosagem de paratormônio.
184 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 esquerdo. Sua mãe realizou acompanhamento pré-na-


(ACESSO DIRETO 1) tal irregular, mas nega intercorrências durante a gesta-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS ção. Refere ter tido diagnóstico de doença de Graves há
DE PORTO ALEGRE – RS cerca de 10 anos, a qual foi tratada com iodo radioativo,
47 – Analise a tabela abaixo, que contém dados relativos
<p> </p> <p> tendo evoluído com hipotireoidismo e fazendo, desde en-
à prevalência de manifestações clínicas de determinada tão, reposição de levotiroxina. Considerando a hipótese
doença, e a figura que reproduz o aspecto usual da fácies diagnóstica mais provável, assinale a conduta terapêutica
e da mão de pacientes acometidos. Assinale a alternativa apropriada para o caso. </p>

que preenche, correta e respectivamente, as lacunas da a) Reposição de tiroxina na dose de 10 a 15 µg/kg/dia.


frase abaixo. A causa mais comum deste quadro clínico é b) Propranolol 1 a 2 mg/kg/dia e solução de lugol, 1 gota 8/8h.
a presença de um tumor __________ . Para confirmar a c) Gluconato de cálcio 10%, 100 a 200 mg/kg, por infusão
etiologia, a avaliação hormonal deve incluir dosagem de endovenosa em 10 a 15 minutos.
__________, que se mostrará __________ . d) Fenobarbital endovenoso, em dose de ataque de 20 mg/kg,
seguido de dose de manutenção de 5 mg/kg a cada 24 horas.
Prevalência de manifestações clínicas e) Ampicilina 300 mg/kg/dia e gentamicina 4 mg/kg/dia, por
da doença em amostra de 89 pacientes via endovenosa.
de hospital terciário brasileiro
Manifestação Prevalência (%)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
Aumento de extremidades 99
(ACESSO DIRETO 1)
Alterações craniofaciais 81 ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
Artralgias 59 49 – Paciente de 30 anos relata seis dias de evolução de
<p> </p> <p>

Hiperidrose 74 mal-estar geral, dor em região cervical e febre. Ao exame,


Síndrome do túnel do carpo 29 apresenta-se taquicárdica, com tireoide dolorosa à palpa-
Pólipo intestinal 31 ção, aumentada difusamente e endurecida. Considerando
Adenocarcinoma intestinal 0 a hipótese diagnóstica mais provável para o caso, qual
Diabetes melito ou 53 é a assertiva que contém hipótese diagnóstica, exame
complementar e tratamento CORRETOS?
intolerância à glicose
</p>

a) Doença de Graves, anticorpo antirreceptor de TSH


Hipertensão arterial 58
positivo e metimazol.
Adaptado de: Donangelo et al., Arq. Bras. Endocri-
b) Tireoidite de De Quervain, VHS, T4 livre elevados e
nol Metab, 2003.
naproxeno.
c) Tireoidite de Hashimoto, antitireoperoxidase positivo
e levotiroxina.
d) Tireoidite subaguda, cintilografia com captação au-
mentada e corticosteroides.
e) Câncer anaplásico de tireoide, biópsia, combinação
de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
a) Hipofisário - GH (Hormônio do Crescimento) após so- PRESIDENTE DUTRA – MA
brecarga oral de glicose - não suprimido. 50 – Paciente, 24 anos, sexo feminino, admitida na en-
<p> </p> <p>

b) Hipotalâmico - IGF-1 (Insulin-like Growth Factor 1) - fermaria de clínica médica com queixas de astenia, ano-
elevado. rexia, emagrecimento de 6 kg, hipotensão, dores abdo-
c) Hipofisário - GH à meia-noite - elevado. minais e hiperpigmentação cutânea, com 02 meses de
d) Hipotalâmico - GH após sobrecarga oral de glicose - evolução. Não apresentava antecedentes de etilismo e
suprimido. tuberculose. Na admissão, apresentava hiperpigmentação
e) Hipofisário - IGF-1 - reduzido. na face, linhas interdigitais da palma das mãos e lábios.
PA: 80/44 mmHg, FC: 110 bpm, afebril. Exames laboratoriais:
Hb: 12 g/dl; leucócitos: 7400 mm³; plaquetas: 26800 mm³;
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 VHS: 11; PCR: negativo; Na: 128 mmol/L; K: 6,8 mmol/L;
(ACESSO DIRETO 1) ureia: 34 mg/dl, creatina: 1,9 mg/dl. Com relação ao caso
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR clínico é correto afirmar, EXCETO: </p>

48 – Recém-nascido com 37 semanas de idade gestacio-


<p> </p> <p> a) As características clínicas e laboratoriais são compatí-
nal, peso de nascimento 2250 gramas, escore de Apgar veis com insuficiência adrenal primária.
de 7 e 9 no 1° e 5° minutos, respectivamente. Nasceu de b) Os níveis séricos de ACTH estarão elevados.
parto vaginal, com rotura de membranas amnióticas no c) A hiperpigmentação cutânea e em mucosas não apre-
ato. Encontra-se com 40 horas de vida e apresenta irri- senta relação com o ACTH.
tabilidade, recusa alimentar e tremores de extremidade. d) Quando associado a outras doenças autoimunes carac-
Ao exame físico: agitado, reflexo de Moro espontâneo e teriza síndrome poliglandular e a principal causa é adre-
clônus ao manuseio. Temperatura axilar: 38,4ºC, frequên- nalite autoimune.
cia cardíaca: 200 bpm, frequência respiratória: 56 irpm. e) O teste de estimulação adrenal com ACTH semissinté-
Ausculta respiratória e cardíaca normais, fígado a 5 cm tico é usado como método diagnóstico.
do rebordo costal direito, baço a 3 cm do rebordo costal
185 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de RE- pressão da adeno-hipófise normal.
SIDÊNCIA MÉDICA 2013 (ACESSO DIRETO 1) FUNDAÇÃO d) Os papilomas cutâneos são marcadores da presença de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – TO. Ques- pólipos colônicos.
tões 51 e 52 a seguir: e) O tratamento farmacológico primário de escolha seria
com agonista dopaminérgico tipo cabergolina.
Paciente do sexo masculino, 42 anos, com queixa crônica de
hiper-hidrose difusa, artralgias, fadiga e cefaleia. HAS diagnos-
ticada há 10 anos e compensada com losartana 100 mg/dia. RESIDÊNCIA MÉDICA 2012
Ao exame físico apresenta: IMC = 21. Face com acentuação (ACESSO DIRETO 1)
dos malares, prognatismo e diastemas. Pele espessada com HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
papiloma cutâneo em dorso e coxa direita. Quirodáctilos tipo DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
“salsicha”. Hepatomegalia indolor discreta. Bócio difuso (2x 53 – Homem, 45 anos de idade, lavrador, dá entrada em
<p> </p> <p>

VR). Exames iniciais: Ecocardiograma = cardiomegalia com Unidade de Emergência com quadro de náuseas, vômitos,
hipertrofia concêntrica de VE e FE = 78%; FAN = não reagen- dor abdominal e diarreia há 6 horas. Há 2 meses, tem per-
te; USG abdome = hepatomegalia e esteatose leve. Resso- da de peso e astenia, odinofagia, tosse com expectoração,
nância crânio/sela turca com nódulo 1,5 cm hipocaptante em cansaço aos esforços, lesões orais e cutâneas. Ao exame
adeno-hipófise envolvendo seio cavernoso esquerdo e des- físico, encontra-se em regular estado geral, desidratado
vio de haste hipofisária. TSH = 2,1 mcUI/ml (VR = 0,35-4,2); +/4, descorado +/4, dispneico, febril, acianótico, anictérico.
T4L = 0,6 ng/dl (0,8–1,76); HGH basal = 20 ng/ml; Orofaringe: hiperemia intensa. Pele: hiperpigmentação de
Prolactina = 30 ng/dl (VR até 16 ng/dl); IGF-1 acima do VR dobras e úlcera que atingia amplamente a região supra-
para idade. labial e se estendia a mucosa nasal, destruindo parcial-
mente a columela. Adenomegalia em cadeias cervicais.
Pulso = 96 bpm, PA decúbito = 90 x 60 mmHg, PA ortos-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 tase = 60 x 40 mmHg. Ausculta pulmonar: estertores finos
(ACESSO DIRETO 1) em ambos os pulmões, abdome escavado, difusamen-
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE te doloroso à palpação, sem dor à descompressão brus-
FEDERAL DO TOCANTINS – TO ca. Exames subsidiários: glicemia: 75 mg/dl; creatinina:
51 – O diagnóstico principal do caso clínico acima é:
<p> </p> <p> </p> 1,1 mg/dl; ureia: 34 mg/dl; sódio: 130 mEq/L; potássio:
a) Macroprolactinoma funcionante. 6,4 mEq/L; Hb: 10 g/dl; Ht: 28%; GB: 13.000; neutrófilos:
b) Incidentaloma hipofisário com hipotireoidismo primário. 65%; linfócitos: 24%; eosinófilos: 8%. Detalhes da região
c) Somatotropinoma hipotalâmico. supralabial e aberturas das fossas nasais e radiografia de
d) Acromegalia por macroadenoma hipofisário. tórax: Para o quadro agudo, a conduta inicial que deve
e) Acromegalia por microadenoma hipofisário. ser associada à hidratação endovenosa é: </p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


(ACESSO DIRETO 1)
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE
FEDERAL DO TOCANTINS – TO
52 – Sobre o caso clínico acima, assinale a alternativa
<p> </p>

INCORRETA: </p>

a) A adenomectomia transesfenoidal ou cirurgia de Debulking a) Itraconazol.


é aconselhável neste caso, podendo ser precedida ou com- b) Ceftriaxona.
plementada posteriormente com tratamento farmacológico. c) Hidrocortisona.
b) A hiperprolactinemia pode ser decorrente do “efeito haste”. d) Pericardiocentese.
c) Pode ocorrer hipopituitarismo parcial reversível por com-
186 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 RESIDÊNCIA MÉDICA 2012


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 2)
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE H.U. BETTINA FERRO
RIO DE JANEIRO – RJ DE SOUZA/JOÃO BARROS BARRETO – PA
54 – Sobre a crise tireotóxica podemos afirmar, EXCETO:
<p> </p> <p> </p> 58 – Um homem de 75 anos é admitido na unidade de terapia
<p> </p> <p>

a) Os corticoides estão contraindicados pelo risco de hi- intensiva com sepse em consequência de pneumonia, com
perglicemia, miopatia e hipertensão arterial. necessidade de ventilação mecânica devido à hipotensão
b) Febre é muito comum. e falência respiratória. Ele é tratado adequadamente com
c) Caracterizada por TSH suprimido e T3 e T4 elevados. ressuscitação volêmica, vasopressor e antibióticos, sendo
d) É fundamental tratar o fator precipitante. extubado no quinto dia. Neste dia apresentava pressão ar-
terial = 110/75 mmHg, frequência respiratória = 16 irpm, sem
outros achados significativos. Como o laboratório da admis-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 são mostrou hiponatremia, foram solicitados exames subse-
(ACESSO DIRETO 1) quentes que chegaram no quinto dia de internação: TSH =
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – 0,23 mU/L (VR = 0,35–5,5 mU/L), T4 livre = 0,9 ng/l (VR =
BAHIA – BA 0,87– 1,56 ng/L),T3 Livre = 0,4 ng/L (VR = 2,3 a 4,2 ng/l).
55 – Recém-nascido, no quinto dia de vida, apresenta ina-
<p> </p> <p> Cortisol das 8h da manhã = 828 nmol/l (VR: 138–690 nmol/l).
petência, letargia, vômito, diarreia, desidratação e perda Com base nos dados acima, o passo seguinte deve ser: </p>

de peso. O exame revela paciente desidratado, taquip- a) Ressonância magnética do crânio.


neico, ausculta cardiopulmonar normal, genitália feminina b) Repetição de testes tireoidianos em 4 a 8 semanas.
com hipertrofia de clitóris. Os exames laboratoriais reve- c) Levotiroxina 25 mcg/dia e controle laboratorial com 3
laram hiponatremia, hipercalemia e acidose metabólica. semanas.
O diagnóstico mais provável é: </p> d) Propiltiouracil 200 mg 8/8h e controle laboratorial com
a) Hiperplasia adrenal congênita. 3 semanas.
b) Septicemia. e) Ultrassonografia da tireoide, antes de decidir pelo tra-
c) Toxoplasmose congênita. tamento.
d) Herpes neonatal.
e) Síndrome HTLV.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
(ACESSO DIRETO 1) 59 – Em relação à hipercalcemia, assinale a alternativa
<p> </p> <p>

SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA CORRETA: </p>

MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE a) A hipercalcemia determina hipervolemia.


56 – Mulher de 38 anos comparece para consulta com qua-
<p> </p> <p> b) Os sintomas de hipercalcemia são altamente específi-
dro de redução da libido, atrofia mamária, ganho de pe- cos, dispensando a dosagem da calcemia.
so, fala arrastada e astenia intensa. Exame físico: mamas c) A alteração eletrocardiográfica mais comum é o prolon-
atróficas, anasarca (+/4+) e redução da pilificação genital. gamento do intervalo QT.
Uma avaliação laboratorial mostra T4 livre baixo, TSH no d) É comum a ocorrência de alterações neurológicas: con-
limite inferior, cortisol basal 05 mcg/dl após estimulação fusão, torpor e coma.
com ACTH (valor de referência > 18 mcg/dl), testosterona e) As manifestações clínicas ocorrem apenas quando a
baixa e FSH e LH nos limites inferiores. Qual o exame mais calcemia é > 18 mg/dl.
provavelmente revelará a causa da sua doença? </p>

a) Tomografia de abdome.
b) Cintilografia de tireoide. RESIDÊNCIA MÉDICA 2012
c) Teste combinado da pituitária anterior. (ACESSO DIRETO 1)
d) Ressonância nuclear magnética de encéfalo. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
DE SANTA CATARINA – SC
60 – Paciente, 29 anos, sexo feminino, consulta por
<p> </p> <p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 apresentar astenia, perda de peso e dor abdominal


(ACESSO DIRETO 2) associada a náuseas e vômitos eventuais. Refere ul-
CENTRO DE REABILITAÇÃO timamente ter adquirido o hábito incomum de beber
E READAPTAÇÃO – GO o líquido de conservas. Nega uso de medicações ou
57 – Lactente, 4 meses, amamentada ao seio materno, apre-
<p> </p> <p> doenças prévias. Ao exame físico, a pressão arterial
senta dificuldade de sucção. É constipada, não sustenta a é de 100/65 mmHg e a ausculta cardíaca e pulmonar
cabeça, não sorri e dorme muito. Nasceu de parto domiciliar, são normais. O abdome é inocente. Ao exame da pele,
não realizou testes neonatais de triagem nem vacinas. O peso possui hiperpigmentação cutânea nas pregas palmares
de nascimento foi em torno de 4 kg, teve icterícia na face e e na mucosa da cavidade oral. Considerando o diag-
tronco durante todo o 1° mês de vida, mas não foi tratada. Ao nóstico mais provável para quadro descrito, assinale
exame, a pele é fria e seca, a boca entreaberta, a fontanela a alternativa que apresenta os achados laboratoriais
anterior ampla; está hipoativa, hipotônica, e apresenta hérnia que são esperados: </p>

umbilical de 2 cm de diâmetro. Qual a hipótese diagnóstica a) Hiponatremia, hipocalemia e eosinofilia.


mais provável para esta criança? </p> b) Hiponatremia, hipercalemia e hipoglicemia.
a) Encefalopatia bilirrubínica. d) Síndrome de Gilbert. c) Hipernatremia, hipercalemia e hiperglicemia.
b) Hipovitaminose B. e) Hipovitaminose A. d) Hipernatremia, hipocalemia e hipoglicemia.
c) Hipotireoidismo congênito. e) Hipercalemia, eosinofilia e hiperglicemia.
187 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

1 Comentário Na tireotoxicose, o excesso de hor-


<p>
/p>

< <p> da tireoide) - B CORRETA. Quando o hipertireoidismo é


mônio tireoidiano aumenta a taxa metabólica basal, e isso causado por uma condição que faz com que a glândula
pode causar um quadro de caquexia (síndrome consump- fique hiperfuncionante de forma “autônoma”, os testes
tiva) - A CORRETA. A principal causa de hipertireoidismo de supressão do eixo hipotálamo-hipofisário-tireoidiano
na prática é a doença de Graves, uma doença autoimune simplesmente não tem qualquer efeito positivo, ou seja, a
marcada pelo aparecimento de anticorpos antitireoide, glândula continua “trabalhando” na síntese de mais hormô-
principalmente o TRAb (antirreceptor de TSH). Outros nio, e por isso, a captação de iodo radioativo permanece
autoanticorpos também aparecem, como o anti-TPO. elevada - D CORRETA. Uma carga aguda de iodo (ex.:
Isso pode ser entendido da seguinte forma: existe uma através da administração oral de lugol) consegue tornar
agressão ao parênquima da glândula, que, com o tempo, a glândula menos “friável” de forma transitória. Tal efeito
pode levar à sua destruição. De fato, alguns portadores é vantajoso quando se pretende ressecar o parênquima
de doença de Graves evoluem, com o passar dos anos, tireoidiano: uma glândula hiperfuncionante tende a ser
de um quadro de hipertireoidismo para o hipotireoidismo também hipervascularizada, ou seja, apresenta maior ris-
espontaneamente, isto é, de forma independente do uso co de sangramento perioperatório. O lugol diminui esse
de drogas antitireoidianas (ex.: a suspensão dessas dro- risco, facilitando a realização de procedimentos cirúrgicos.
gas não altera o quadro clínico de insuficiência endócrina Resposta certa: C. </p>
188 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

2 Comentário Estamos diante de uma situação


<p> </p> <p> mento intrauterino e aceleração da maturidade óssea.
incomum na prática pediátrica e neonatal: o hipertireoi-
<em> Nesse caso, o tratamento será voltado para causa básica,
dismo neonatal . Não há dúvidas sobre o diagnóstico
</em> com Propiltiouracil (PTU), 5-10 mg/kg/dia, via oral, a cada
(cujas manifestações clínicas clássicas estão eviden- oito horas, ou solução de lugol ou KI a 10%, administrado
ciadas no enunciado), encaminhado pela banca quando na dose de uma gota a cada oito horas. Aguarda-se até 48
fala sobre o uso de tiroxina, em uma mãe portadora de horas para se ajustar a dose em casos não responsivos
doença de Graves. Na doença de Graves materna, a e o reajuste de doses deverá ser feito embasado nos
passagem placentária de anticorpos para receptores exames laboratoriais, que deverão ser feitos pelo menos
de TSH desde o início da gestação pode causar hiperti- uma vez por mês. Quando for alcançado o eutireoidismo,
reoidismo fetal e neonatal. No feto, o diagnóstico pode suspendem-se os iodetos, mantendo-se apenas o PTU.
ser suspeitado através da presença de bócio, visível Associa-se a este tratamento o propranolol 2 mg/kg/dia
no ultrassom, pela frequência cardíaca maior do que para controlar a resposta simpática exacerbada nesses
160 bpm, diminuição da motilidade, retardo do cresci- casos. Resposta: letra B. </p>
189 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

3 Comentário A única alternativa capaz de explicar


<p> </p> <p> da conjugação da bilirrubina. Ainda no primeiro mês,
todas as manifestações apresentadas por essa criança surgem outras manifestações, como dificuldade para se
é o hipotireoidismo congênito. Repare que a “pista” para alimentar, sonolência e engasgos. A constipação também
pensarmos nesta possibilidade surge logo no início do é outro achado possível. Outra característica típica é
enunciado, quando é dito que não foram realizados a descrição de hérnia umbilical. Quando o diagnóstico
testes de triagem neonatal. O hipotireoidismo congênito não é estabelecido, a doença progride e por volta dos
é uma das condições pesquisadas no “teste do pezinho”. três/seis primeiros meses de vida o quadro está bem
O motivo da inclusão deste exame na triagem universal desenvolvido, com atraso no desenvolvimento físico e
de todos os recém-nascidos é justamente evitarmos psicomotor. A encefalopatia bilirrubínica tem manifesta-
que a doença chegue ao ponto que chegou neste caso. ções clínicas bem evidentes ainda nos primeiros dias de
O hipotireoidismo congênito costuma ser assintomático vida; na fase aguda da encefalopatia há tipicamente um
ao nascimento, mesmo quando há agenesia tireoidiana quadro que se inicia com hipotonia, mas que evolui com
completa, em função da passagem transplacentária de hipertonia e mesmo opistótono. Não há nada na história
hormônio materno. Uma das primeiras manifestações que aponte para isso. Além disso, as demais alterações,
da doença pode ser o prolongamento da icterícia fisio- como a constipação e a hérnia, não são explicadas por
lógica, por retardo no processo de amadurecimento esse diagnóstico. Resposta: letra C.</p>
190 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

4 Comentário No teste do pezinho (realizado


<p> </p> <p> <em> </em> talâmica ou hipofisária, isto é, hipotireoidismo secundário
entre 3-30 dias de vida através da coleta de gotas de ou terciário). Por outro lado, com a segunda estratégia
sangue por punção do calcanhar, fixadas em papel filtro citada, muitos casos de hipotireoidismo central que cursam
especial), diversas condições congênitas que prejudicam o com TSH inapropriadamente “dentro da faixa normal” (isto
desenvolvimento infantil podem ser facilmente detectadas. é, perante um T4 livre reduzido) acabam sendo perdidos.
Uma delas é o hipotireoidismo congênito , uma condição
<strong> </strong> Assim, a melhor resposta aqui é a letra A, ainda que exista
geralmente relacionada à hipo/agenesia da tireoide, isto uma forma especial de realização do teste do pezinho que
é, na maioria das vezes, um quadro de hipotireoidismo <em> permita a detecção do hipotireoidismo congênito primário
primário (falência da glândula). O teste do pezinho pode
</em> ou “central”. As demais estão erradas de qualquer modo:
ser feito de duas formas: (1) dosando inicialmente apenas em geral o hipotireoidismo congênito não acarreta mani-
o T4 livre, com acréscimo da dosagem de TSH na mesma festações nos primeiros dias de vida, pois o feto ainda
amostra caso o T4 livre esteja baixo; (2) dosando inicial- possui hormônio tireoidiano oriundo da mãe; o teste
mente apenas o TSH, com acréscimo da dosagem de T4 do pezinho não dosa anticorpos antitireoide, logo, não
livre na mesma amostra caso o TSH esteja muito alto. A pode fazer o diagnóstico de hipotireoidismo autoimune;
primeira estratégia citada representa o padrão utilizado, por sabemos que a doença não reconhecida e tratada em
exemplo, nos EUA. Com ela, pode-se diagnosticar tanto o geral já se expressa de forma completa por volta de 3-6
hipotireoidismo primário quanto o “central” (disfunção hipo- meses de vida. Resposta certa: A. </p>
191 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

5 Comentário As melhores opções para o rastreio


<p> </p> <p> Para aumentar a acurácia do exame, devem ser solici-
da síndrome de Cushing são: teste da supressão com tadas, pelo menos, três amostras. Já o cortisol salivar em
baixa dose (1 mg) de dexametasona, cortisol livre urinário níveis acima de 5 nmol/l apresenta 100% de sensibilidade
das 24 horas e cortisol salivar noturno. No primeiro, o e 96% de especificidade para o diagnóstico da síndrome
paciente recebe 1 mg de dexametasona, via oral, à meia- de Cushing. A dosagem noturna é preferível, pois acres-
-noite, seguido da medida do cortisol plasmático entre as 8 centa em sensibilidade ao exame, já que, na síndrome
e 9 horas da manhã do dia seguinte. Normalmente, seria de Cushing, há perda do padrão circadiano dos níveis
esperada uma supressão do eixo e um cortisol matutino plasmáticos de cortisol, com grande elevação dos seus
reduzido. Tradicionalmente, na síndrome de Cushing, valores à meia-noite (horário no qual esperaríamos um
teremos um cortisol acima de 2 µg/dl. Com relação ao cortisol baixo). Uma vez estabelecido o estado de hiper-
cortisol urinário de 24 horas, na síndrome de Cushing, a cortisolismo através de pelo menos um dos exames acima,
dosagem está acima de 50 µg/dia (> 140 nmol/dia), ou o próximo passo é definir a causa deste distúrbio a partir
três vezes acima do valor de referência. Esta medida tem da dosagem do ACTH plasmático (ACTH-dependente x
sensibilidade de 95% e especificidade próxima a 100%. ACTH-independente). Melhor resposta: letra C. </p>
192 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

6 Comentário Estamos diante de um quadro de


<p> </p> <p> elevada carga de ACTH de forma súbita, uma resposta
HIPOPITUITARISMO, uma vez que diversos hormônios “subnormal” é esperada. Pois bem, que tipo de exame é
secretados pela adeno-hipófise encontram-se deficientes. considerado imprescindível na investigação ETIOLÓGICA
Talvez alguns tenham ficado em dúvida com relação a de um quadro de hipopituitarismo de instalação lenta?
este diagnóstico devido à ausência de resposta adrenal à Com certeza é algum exame de neuroimagem capaz de
estimulação pelo ACTH exógeno (teste da cosintropina), visualizar a hipófise e estruturas relacionadas (ex.: hipo-
mas a explicação para esta aparente “contradição” é tálamo). Agora, dentre os exames de neuroimagem, qual
muito simples: é característico dos quadros de hipopitui- é considerado o mais acurado para delinear esta delicada
tarismo prolongado que o tecido adrenal sofra importante região do SNC? Sem dúvida é a ressonância magnética.
atrofia. Assim, mesmo que a adrenal seja exposta a uma Resposta certa: letra D.</p>
193 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

7 Comentário A figura já sugere fortemente o


<p> </p> <p> produz? O GH (Hormônio do Crescimento). O teste de
diagnóstico: aumento de extremidade + fácies “acrome- rastreio para a acromegalia é o IGF-1 sérico, uma vez que
gálica”. De que doença estamos falando? Com certeza a secreção do GH é pulsátil e, portanto, menos confiável.
da ACROMEGALIA (cujos comemorativos clínicos são Demonstrando um IGF-1 aumentado, partimos para o
citados na tabela do enunciado). Qual é a principal etio- exame confirmatório da hipersecreção de GH, que seria
logia da acromegalia na prática? É a presença de um o teste de supressão com glicose, que objetiva a detecção
tumor de adeno-hipófise, mais especificamente, um tumor de produção autônoma de GH não suprimida após sobre-
das células somatotróficas. Que hormônio este tumor carga de glicose. Resposta certa: A.</p>
194 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

8 Comentário O “xis da questão” neste caso é a


<p> </p> <p> e pruriginoso. Um processo semelhante pode ocorrer em
presença de eritema necrolítico migratório, já que glossite mucosas, originando glossite. A biópsia (que deve ser reali-
e anemia são manifestações inespecíficas. Contudo, o zada nos bordos da lesão) revela a presença de necrólise
referido eritema é uma manifestação típica do glucago- das camadas superficiais da epiderme, ou seja, separação
noma. É um tipo de rash que inicia-se em áreas intertrigi-
<em> </em> dessas camadas daquelas mais basais. Também obser-
nosas e periorificiais (especialmente em região inguinal e vamos infiltrados linfocíticos perivasculares. Acredita-se
nádegas) e progressivamente se torna elevado, formando que a patogênese dessa lesão cutânea deve-se a uma
bolhas que rompem, e no processo de cicatrização deixam alteração metabólica peculiar ao glucagonoma: a hipoa-
lesões hiperpigmentadas residuais. Geralmente é doloroso minoacidemia. Resposta: B. </p>
195 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

9 Comentário Estamos diante de uma idosa,


<p> </p> <p> pela paciente. Sabemos que o tratamento do hipoti-
coronariopata, que se apresenta com um quadro clínico reoidismo consiste na reposição hormonal através da
caracterizado por cansaço progressivo, sonolência, administração de dose única diária de levotiroxina.
fraqueza muscular, ganho de peso e constipação A dose inicial em um adulto jovem saudável é de
intestinal. Analisando seus exames laboratoriais, o 1,6-1,8 µg/kg/dia. Já em pacientes com mais de 60
que chama a atenção, além do perfil lipídico alterado? anos de idade, a dose inicial deve ser de no máximo
Um TSH elevado (172 µUI/ml) e um T4L reduzido 50 µg/dia, enquanto que, em pacientes cardiopatas graves,
(0,5 ng/dl); logo, estamos frente a um hipotireoidismo a dose inicial deve ser de 12,5-25 µg/dia, com incre-
franco, o qual justifica todos os sintomas apresentados mentos mensais de 12,5-25 µg. Alternativa A CORRETA. </p>
196 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

10 Comentário Estamos diante de uma idosa


<p> </p> <p> QRS estreito, RR irregular). Ora, na investigação inicial
hipertensa previamente bem controlada que, no último da FA, principalmente em pacientes idosos, é manda-
mês, vem evoluindo com descompensação cardíaca tório avaliar a função tireoidiana, pois o hipertireoidismo
progressiva (sinais e sintomas de insuficiência cardíaca pode se manifestar com poucos sinais e sintomas nesta
congestiva, como intolerância ao esforço, congestão faixa etária (às vezes, o paciente tem apenas FA - no
pulmonar e edema periférico). Ao exame, constatam-se caso em tela, além de FA existe ansiedade e hiper-
sinais de hiperadrenergismo (taquiarritmia, ansiedade) termia discreta). Vale lembrar que a principal etiologia
e hipermetabolismo (aumento da temperatura corporal), de hipertireoidismo em idosos é o bócio multinodular,
estabelecendo-se pelo eletrocardiograma o diagnóstico que deverá ser investigado após confirmação da tireo-
de fibrilação atrial (taquicardia sem onda p ou onda f,
<em> </em> toxicose. Resposta certa: A. </p>
197 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

11 Comentário A questão trata do tratamento


<p> </p> <p> aumentado de pólipos adenomatosos de cólon e reto
de um macroadenoma de hipófise produtor de GH (1/3 dos pacientes) e, consequentemente, de câncer
causando uma acromegalia. A prolactina elevada pode colorretal. Além disso, muitas vezes esses adenomas
ocorrer nesta situação pelo chamado efeito haste, estão associados à presença de papilomas cutâneos. O
isto é, os tumores intrasselares podem comprimir tratamento cirúrgico é o mais recomendado (ressecção
a haste hipofisária, comprometendo o sistema cirúrgica transesfenoidal). Naturalmente, um agonista
porta-hipofisário. Isso impede que a dopamina alcance dopaminérgico (como bromocriptina e cabergolina)
o lactotrofo (célula que produz prolactina pela hipó- pode conseguir reduzir a secreção da prolactina, mas
fise), no qual exercia um efeito inibitório: a ausência NÃO É O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DE
desse efeito justifica a hiperprolactinemia. Outro PRIMEIRA ESCOLHA. O tratamento farmacológico de
motivo seria o fato de até 25% dos casos de acrome- escolha consiste no uso de análogos de somatostatina
galia se associarem a adenomas mistos, secretores (como octreotide e lanreotide) que inibem a secreção
de GH e prolactina. É interessante ressaltar o risco do GH. Resposta a ser marcada: letra E. </p>
198 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

12 Comentário A Hiperplasia Adrenal Congênita


<p> </p> <p> <strong> xiprogesterona), com prejuízo da síntese de cortisol
(HAC) representa um grupo de distúrbios autossômicos e aldosterona, hormônios deficientes nas formas mais
recessivos que culminam em diferentes tipos de defeito na graves da doença com depleção de sal. O quadro clínico
biossíntese do cortisol. A deficiência de cortisol aumenta é como o descrito no enunciado: perda ponderal, anorexia,
a produção de ACTH que, por sua vez, induz uma hiper- vômitos e desidratação. Como se trata de um bebê do
plasia adrenocortical e superprodução de metabólitos sexo feminino (cariótipo XX), a exposição a altos níveis de
intermediários. Dependendo da fase enzimática que androgênios (a 17-hidroxiprogesterona é desviada para a
está em falha, poderão se manifestar sinais, sintomas e via de biossíntese dos androgênios, convertidas ao final
achados laboratoriais de deficiência ou excesso de mine- em testosterona) gera masculinização da genitália, como
ralocorticoides e androgênios. Nos meninos afetados, descrito no nosso paciente. O tratamento desta afecção
teremos virilização incompleta ou puberdade prematura; deve envolver, de imediato, a reposição volumétrica - não
nas meninas, virilização ou infantilismo sexual. Sabemos pode faltar, dada a desidratação; além da reposição de
que em 90% dos casos a deficiência é de 21-hidroxi- mineralocorticoides, fundamental nas formas perdedoras
lase (enzima que hidroxila a progesterona e a 17-hidro- de sal da doença. Resposta, portanto, letra A. </p>
199 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

13 Comentário A hipercalcemia pode ser obser-


<p> </p> <p> pode ser vista em aproximadamente 20% dos pacientes,
vada em alguns pacientes com crise addisoniana pela uma vez que o excesso de hormônio tireoidiano pode
interação de múltiplos fatores, tais como aumento da induzir a reabsorção de cálcio. Doenças granulomatosas,
reabsorção óssea, aumento da reabsorção de cálcio no como a sarcoidose, podem ocasionar hipercalcemia pela
túbulo contorcido proximal, contração do volume intra- produção de 1,25-di-hidroxivitamina D, bem como em
vascular, dentre outros. No feocromocitoma, apesar de pacientes com linfoma. Já o hipogonadismo hipergo-
rara, a hipercalcemia pode ocorrer pela produção tumoral nadotrófico não configura uma causa de hipercalcemia.
de PTHrP. No caso do hipertireoidismo, a hipercalcemia Resposta: letra D.</p>
200 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

14 Comentário Vamos analisar as alternativas:


<p> </p> <p> d) Alternativa pegadinha! Sabemos que a presença de
a) A média etária em que o diagnóstico de tireoidite de autoanticorpos na tireoidite de Hashimoto é extremamente
Hashimoto é feito gira em torno dos 60 anos, sendo que a frequente, mas o seu papel na PATOGÊNESE é apenas
prevalência da doença aumenta com a idade. Em relação secundário. Para corroborar o que foi dito, aí vai uma
ao sexo, costuma ocorrer 5x mais em mulheres do que em passagem do Harrison, que diz o seguinte: “Os anticorpos
homens (alternativa A correta). b) Na tireoidite de Hashi- contra tireoglobulina e TPO são marcadores clinicamente
moto, existe infiltração linfocítica acentuada da tireoide úteis da autoimunidade tireoidiana, PORÉM QUALQUER
com formação de centros germinativos, atrofia dos folí- EFEITO PATOGÊNICO SE RESTRINGE A UM PAPEL
culos tireoidianos acompanhada por metaplasia oxifílica, SECUNDÁRIO na amplificação e resposta autoimune
ausência de coloide e fibrose ligeira a moderada (alterna- permanente”. Uma prova disso é que a passagem dos
tiva B correta). c) A destruição das células tireoidianas é autoanticorpos pela placenta não exerce qualquer tipo
mediada principalmente pelas células T citotóxicas CD8+, de efeito sobre a tireoide fetal, o que sugere que a lesão
que destroem seus alvos pela necrose celular induzida mediada pela célula T é fundamental para iniciar o dano
por perforina ou apoptose induzida pela granzima B. Além autoimune à tireoide (alternativa D incorreta). e) Alterna-
disso, a produção local de citocinas pelas células T, como o tiva também retirada do Harrison, no qual encontramos o
TNF-alfa, interleucina-1 e interferon-gama, pode tornar as seguinte: “As respostas ao TSH são graduais, devendo
células tireoidianas mais suscetíveis à apoptose mediada ser medidas cerca de dois meses após ser instituído o
pelos receptores da morte, como o FAS, ativados por seus tratamento ou após qualquer modificação na posologia
respectivos ligantes nas células T (alternativa C correta). de levotiroxina” (alternativa E correta). Resposta: letra D. </p>
201 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

15 Comentário Dentre as opções, onde melhor


<p> </p> <p> computadorizada ou ressonância nuclear magnética. A
indicaríamos a cintilografia com Meta-Iodo-Benzil-Guani- cintilografia com 131-1 Meta-Iodo-Benzil-Guanidina (MIBG)
dina? Rapidamente, relembrando que o feocromocitoma é é recomendada quando todos os outros exames falham
uma neoplasia das células cromafins, de ocorrência rara. em identificar o sítio tumoral. Trata-se de uma molécula
Identificar sua localização é fundamental para o planeja- análoga das catecolaminas, sendo captada pelo tumor,
mento cirúrgico. Em cerca de 95% dos casos, o tumor é porém sem efeito farmacológico. Tudo mais claro agora.
intra-abdominal e poderá ser identificado pela tomografia Gabarito: opção B.</p>
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16 Comentário Diante de um paciente com


<p> </p> <p> representada pela tireoidite infecciosa, que geralmente
quadro suspeito de tireotoxicose (confirmado laboratorial- cursa com flogose importante, formação de abscesso (o
mente), apresentando febre, cervicalgia anterior, aumento qual é facilmente identificado pelo US) e quase sempre
tireoidiano assimétrico e com cintilografia sem captação cursa com perfil hormonal normal. Em relação ao trata-
de iodo, praticamente fechamos o diagnóstico de tireoi- mento, este costuma ser focado em aliviar a dor, sendo
dite granulomatosa subaguda. Muitos ficaram tentados geralmente baseado no uso de anti-inflamatórios não
a marcar tireoidite aguda, pelo tempo de evolução dos esteroidais ou de corticoides sistêmicos. Pacientes que
sintomas, o que é errado, pois os sintomas da tireoidite desenvolvem sintomas adrenérgicos relacionados à
subaguda podem aparecer tanto de forma gradual como tireotoxicose podem se beneficiar de betabloqueadores.
súbita! O importante é lembrar que a tireoidite aguda é Alternativa D CORRETA. </p>
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17 Comentário A história clínica deste caso —


<p> </p> <p> + vômitos, (2) hipotensão postural, (3) hipoglicemia,
muito bem elaborada, diga-se de passagem — sugere (4) hiponatremia e hipercalemia, (5) eosinofilia. Tudo isso
muito uma infecção fúngica invasiva (“micose profunda”), sobreposto a um quadro que — além de alterações suges-
tal como a histoplasmose ou a paracoccidioidomicose,
<em> </em> <em> </em> tivas da presença de infecção fúngica crônica — também
ambas comuns no meio rural. Logo, apenas pela história apresenta perda ponderal, astenia e hiperpigmentação
clínica não temos como confirmar o diagnóstico etiológico, em dobras cutâneas (sinais de possível falência insidiosa
e antes de prescrever o tratamento antifúngico de escolha prévia da glândula suprarrenal). As micoses profundas são
(itraconazol na paracoccidioidomicose e anfotericina B na
<em> </em> doenças multissistêmicas, que podem levar à destruição
histoplasmose), é preciso identificar o agente causal. A de ambas as glândulas suprarrenais. Ora, no decorrer
questão está pedindo, inclusive, a conduta imediata que da evolução de uma micose profunda crônica, a reserva
deve ser tomada perante o quadro AGUDO de descom- adrenal pode ser paulatinamente destruída, até chegar
pensação do doente. Seja qual for o diagnóstico etiológico ao ponto em que uma crise addisoniana subitamente se
deste caso, pelo curso evolutivo podemos afirmar que se instale. O tratamento imprescindível, então, é, sem dúvida,
trata de uma condição crônica. Pois bem, o quadro agudo, a reposição dos hormônios perdidos na falência do córtex
que fez com que o paciente buscasse o hospital, prova- adrenal, o que na prática pode ser levado a cabo pela
velmente está mais relacionado com uma das complica- administração endovenosa de HIDROCORTISONA (um
ções das micoses profundas que citamos: a insuficiência glicocorticoide com bom efeito mineralocorticoide). A repo-
adrenal, que pode gerar a chamada crise addisoniana <em> </ sição do hormônio deve acompanhar a reposição volêmica
(insuficiência suprarrenal aguda). Repare a combinação
em> com solução salina fisiológica até que a hemodinâmica do
de dados que o paciente apresenta: (1) dor abdominal paciente se estabilize. Resposta certa: C. </p>
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18 Comentário Uma elevação isolada da fosfa-


<p> </p> <p> uma elevação isolada de fosfatase alcalina, mas é uma
tase alcalina em um homem, saudável, a partir da 4ª condição mais comumente vista em jovens e crianças.
década de vida, fala muito a favor de doença de Paget No hiperparatireoidismo, a elevação da fosfatase óssea
do osso. Trata-se de uma condição em que o metabo- ocorre em conjunto com o aumento do cálcio e redução do
lismo ósseo está aumentado (osteoclastos e osteoblastos) fósforo, pois o PTH elevado causa uma reabsorção óssea
cronicamente, causando uma destruição progressiva desbalanceada. Mieloma múltiplo cursa com alteração das
dos ossos com reconstrução posterior desorganizada. provas de função hepática, hipercalcemia, anemia etc. Não
Os principais sítios afetados são as vértebras, ossos se esqueçam: “Fosfatase alcalina elevada e mais nada =
longos, pelve e crânio. No osteossarcoma pode existir doença de Paget”. Gabarito: letra C.</p>
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19 Comentário Vamos de baixo pra cima? Afas-


<p> </p> <p> (como os glicocorticoides exógenos, é claro) também inter-
tada a etiologia iatrogênica (reposição exógena de glico- fere nessa investigação, ao promover supressão do eixo
corticoides), a principal causa de síndrome de Cushing hipotálamo-hipofisário-adrenal (com consequente redução
é a própria doença de Cushing (adenoma hipofisário
<strong> </strong> do ACTH) - B ERRADA. Enfim, sabemos que todo inciden-<em>

secretor de ACTH), que corresponde a 70% desses casos. taloma (tumor adrenal encontrado “por acidente” quando
</em>

A hiperplasia adrenal primária responde apenas por 1% da realização de exames de imagem por outros motivos)
dos casos em adultos - D ERRADA. Em cerca de 90% das deve ser investigado com dosagens hormonais a fim de
vezes, o tumor responsável pela doença de Cushing é um descartar a possibilidade de feocromocitoma, aldoste-
MICROadenoma (< 1 cm) - C ERRADA. O uso de álcool ronoma ou adenoma secretor de cortisol, mesmo que o
interfere na investigação laboratorial de hipercortisolismo, paciente seja oligo/assintomático do ponto de vista endocri-
pois a própria ingesta etílica é uma causa de hipercortiso- nológico. Sabe-se que, às vezes, esses tumores secretam
lismo leve a moderado. O uso de certos medicamentos quantidades subclínicas de hormônio. Resposta certa: A. </p>
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20 Comentário Questão clássica de prova e


<p> </p> <p> vasos tireoidianos. Quando todas são ressecadas, ocorre
IMPORTANTÍSSIMA em relação às recomendações a hipocalcemia refratária e persistente, mas na grande
pós-operatórias de tireoidectomias. A pergunta central maioria dos casos ocorre a isquemia transitória das glân-
é: “Qual é a complicação mais frequente após tireoidec- dulas remanescentes, causando a hipocalcemia transitória,
tomia?” R: HIPOCALCEMIA TRANSITÓRIA. Ao contrário com cãibras, parestesia perioral e sinais de Chvostek e
do que muitos pensam, a lesão dos nervos laríngeo recor- Trousseau positivos. - Chvostek: contração dos músculos
rente e laríngeo superior não é a complicação mais comum faciais à percussão do nervo facial; - Trousseau: espasmo
dessas cirurgias. Só quem participou de uma cirurgia de carpopedal induzido pela insuflação do manguito acima da
tireoide entende o quanto é complicado diferenciarmos PAS por 3 minutos. Por isso, muitos cirurgiões optam pela
paratireoide, linfonodo e gordura. Por isso, não raramente, alta com reposição profilática de cálcio oral (carbonato de
alguma paratireoide pode acabar sendo ressecada junto cálcio ou citrato de cálcio), deixando a terapia parenteral
com a tireoide, e as poupadas costumam ficar isquêmicas, com gluconato de cálcio para pacientes internados com
pois sua vascularização era em grande parte originada dos sintomas agudos e calcemia < 7,5. Melhor resposta: letra B. </p>
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21 Comentário Vamos fazer esta questão por


<p> </p> <p> de síndrome da Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 1 (NEM
partes. Primeiramente, o que devemos pensar diante tipo 1), a qual consiste em uma desordem autossômica
de um quadro caracterizado por lombalgia de instalação dominante, em que ocorre predisposição a tumores de
aguda, de forte intensidade, com Giordano positivo? Que paratireoide (levando a hiperparatireoidismo), de hipófise
estamos diante de uma ureterolitíase! Em segundo lugar, (como o prolactinoma) e de células das ilhotas pancreá-
observa-se uma redução do tamanho testicular desse ticas (como o gastrinoma). Sabendo que o hiperparati-
paciente, o que pode corresponder a um caso de hipogo- reoidismo pode se manifestar através de nefrolitíase de
nadismo! Em terceiro lugar, o mesmo paciente possui uma repetição, que o prolactinoma pode ocasionar hipogona-
história de epigastralgia recorrente, o que pode nos sugerir dismo hipogonadotrófico e que o gastrinoma pode causar
a presença de ulcerações pépticas! Assim, “juntando as múltiplas ulcerações pépticas, a hipótese de NEM tipo 1
peças do quebra-cabeça”, temos que pensar na hipótese torna-se bastante pertinente. Alternativa C correta. </p>
208 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

22 Comentário Pacientes agudamente


<p> </p> <p> normais de T4 e TSH. A magnitude da queda do T3,
enfermos, em particular nos contextos associados a inclusive, possui correlação direta com a gravidade da
níveis elevadíssimos de secreção de citocinas pró-in- doença de base. Dado curioso é que na SED também
flamatórias (ex.: sepse), costumam desenvolver o que podemos observar um aumento dos níveis séricos de
se convencionou chamar de Síndrome do Eutireoideo
<em> rT3 (“T3 reverso”). A explicação é a seguinte: na SED
Doente (SED), isto é, laboratorialmente existem alte-
</em> ocorre uma diminuição na atividade da desiodase tipo
rações importantes nos níveis de hormônios tireoi- 1, enzima que converte o T4 livre em T3 nos tecidos
dianos, mas tais alterações não são causadas por um periféricos. Logo, ocorre uma “sobra” de T4 livre na
transtorno primário da glândula, e sim pelos efeitos da medida em que menos T3 é sintetizado, e este T4 livre
“tempestade de citocinas” presente no meio interno “excessivo” é convertido em rT3. Acontece que a desio-
naquele momento. Por este motivo, recomenda-se dase tipo 1 também degrada o rT3. Por conseguinte, na
evitar a solicitação de dosagens dos hormônios tireoi- SED o T3 costuma estar baixo, mas ocorre um aumento
dianos neste tipo de paciente, exceto se houver uma do rT3! Para esclarecer se existe ou não tireoidopatia,
forte suspeita de tireoidopatia associada! O padrão a alternativa mais fidedigna é a repetição da dosagem
mais frequente de SED corresponde ao achado de T3 de hormônios entre 4 a 8 semanas após a resolução
total e livre reduzido (síndrome do T3 baixo) com níveis do estado crítico inicial. Resposta certa: B.</p>
209 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

23 Comentário Presença de onda P, QRS atípico,


<p> </p> <p> brasileiros; enquanto a radioablação é utilizada prefe-
RR regular, FC em torno de 120 bpm. Estamos diante de rencialmente nos EUA. Nesta questão são consideradas
uma típica taquicardia sinusal. E o quadro clínico desta apenas as drogas antitireoidianas, que são metimazol e
paciente (palpitações, tremores, insônia), associado ao propiltiouracil, presentes nas opções A e D. Além disso,
encontro de mixedema pré-tibial, nos dá o diagnóstico: uma vez que esta paciente apresenta taquicardia sinusal
esta é uma portadora de doença de Basedow-Graves, que sintomática, um betabloqueador deve ser usado como
predomina justamente em mulheres jovens. Existem três terapia coadjuvante no controle dos sintomas adrenér-
abordagens possíveis, consistindo no controle sintomático, gicos da crise de tireotoxicose. A maior utilidade se dá
no uso de antitireoidianos e na destruição (ablação) do quando acabamos de iniciar a terapia antitireoidiana, mas
tecido tireoidiano. Os agentes antitireoidianos costumam ainda aguardamos a resposta. Dessa forma, única opção
ser os favoritos na Europa, no Japão e em vários centros correta: letra D.
</p>
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24 Comentário A tempestade tireoidiana ou crise


<p> </p> <p> midades e extremidades quentes e úmidas. O manejo
tireotóxica é uma rara e potencialmente fatal exacer- requer monitorização e suporte intensivos, identificação
bação do hipertireoidismo, acompanhada de febre, de- <em> e tratamento das causas precipitantes, além de medidas
lirium , agitação, ansiedade, psicose, convulsão, estupor,
</em> para redução da síntese dos hormônios tireoidianos.
coma, vômitos, diarreia, dor abdominal, e insuficiência Altas doses de propiltiouracil devem ser feitas via oral
hepática com icterícia. A mortalidade devido à insufi- ou via sonda nasogástrica ou via retal, sendo o antiti-
ciência cardíaca com colapso cardiovascular, arritmia reoidiano de escolha por conta de sua propriedade de
ou hipertermia chega a 30%, mesmo com tratamento. bloquear a conversão periférica de T4 em T3. Uma hora
Ela é precipitada geralmente por doença aguda (doença após o início do propil, o iodo deve ser administrado
cerebrovascular, infecção, trauma, cetoacidose diabé- via oral para bloquear a síntese hormonal via efeito de
tica, etc.), cirurgia (especialmente da tireoide), ou trata- Wolff-Chaikoff. Propranolol também deve ser adminis-
mento com radioiodo em paciente com hipertireoidismo trado para reduzir a taquicardia e as outras manifesta-
não tratado ou parcialmente tratado. Apesar de a crise ções adrenérgicas. E este é o betabloqueador de escolha,
tireotóxica poder se desenvolver em pacientes com pois, em altas doses, bloqueia a conversão periférica de
hipertireoidismo de longa data não tratados (Graves, T4 em T3, além de ser de fácil manejo. Outras terapias
bócio multinodular tóxico ou doença de Plummer), é incluem o glicocorticoide (também reduz a conversão de
geralmente precipitada por um evento agudo, como T4 em T3, tem efeito direto na etiologia autoimune da
cirurgia tireoidiana ou não tireoidiana, trauma, infecção, doença de Graves ‒ se for o caso ‒ e também previne
administração aguda de iodo (ex.: exame contrastado) insuficiência adrenal), antibióticos, se a infecção estiver
ou parto. O laboratório é característico do hipertireoi- presente, resfriamento, oxigenoterapia e hidratação
dismo (lembre: hiperfunção da glândula! Não confunda venosa. Outra opção discutível é o lítio. Dado o exposto,
com tireotoxicose. Hipertireoidismo é a hiperfunção da vamos analisar as alternativas: A) Incorreta. Como
glândula tireoide!) com supressão do TSH e elevação vimos acima, os corticoides podem ser considerados
significativa de T3 e T4. Às vezes, a elevação não é como terapia adjuvante; B) Correta. Febre é um sintoma
pronunciada, o que depende do grau de hipertireoidismo comum nesses casos; C) Correta. Esse é o laboratório
de base, não sendo elemento-chave para o diagnóstico. clássico! D) Correta. Além de tratar a própria crise,
O exame físico pode revelar achados de bócio, oftalmo- devemos sempre identificar e tratar o fator precipitante.
patia (de Graves), retração palpebral, tremor de extre- Melhor resposta, item A. </p>
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25 Comentário Temos um paciente com hiper-


<p> </p> <p> aldosterona/atividade de renina plasmática. São exames de
tensão arterial e hipocalemia. Essa combinação, quando rastreamento compatíveis com hiperaldosteronismo: relação
aparecer na sua prova (ou na sua enfermaria, ou consultório) aldosterona/atividade de renina plasmática > 30 ng/dl/ml/h
deve sugerir sempre o diagnóstico de hiperaldosteronismo com aldosterona > 15 ng/dl. Ultrapassada esta primeira etapa,
primário, em que a produção aumentada da aldosterona leva o diagnóstico deve ser confirmado através da determinação
à espoliação do potássio. Essa hiperprodução de aldosterona da aldosterona após sobrecarga de sal realizada pela admi-
pode se dever à hiperplasia glandular, adenoma, carcinoma nistração intravenosa de SF 0,9% (2 L em 4 horas) ou pela
ou doenças genéticas. Com relação ao diagnóstico desta administração via oral, durante quatro dias, de acetato de
condição, devemos caracterizar o estado de elevação de fludrocortisona (0,1 mg 6/6 horas), além de dieta rica em
aldosterona e de redução da renina. Uma vez que a dosagem sal. Pacientes com concentrações de aldosterona > 5 ng/dl
pura e simples da renina não apresenta boa especificidade (não suprimida) têm o diagnóstico de hiperaldosteronismo
para o diagnóstico, utilizamos como teste de triagem a relação primário confirmado. </p>
212 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

26 Comentário As duas principais etiologias


<p> </p> <p> de fosfato sérico estão baixos, e o fosfato urinário está
de hipercalcemia (responsáveis pela maioria dos casos alto, já que o PTH é um hormônio com efeito “fosfatúrico”
na prática) são o hiperpara primário e a hipercalcemia - C correta. Doenças granulomatosas podem ocasionar
humoral do câncer - A correta. Nesta última condição, o hipercalcemia pelo aumento da conversão da vit. D em
principal mecanismo é a síntese tumoral de PTH-rp, ou sua forma ativa (1,25-di-hidroxivitamina D) - D correta. O
“peptídeo relacionado ao PTH”, uma molécula de PTH tratamento inicial da hipercalcemia grave e sintomática
“truncada”, que não corresponde ao PTH original. Logo, consiste em hidratação venosa vigorosa, diureticoterapia
tais doentes apresentam hipercalcemia com PTH intacto de alça (efeito calciúrico) e bisfosfonatos - E correta.
suprimido - B incorreta. No “hiperpara” primário, os níveis Resposta certa: B. </p>
213 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

27 Comentário TSH aumentado + T4 livre normal,


<p> </p> <p> as controvérsias com relação ao tratamento do hipotireoi-
ou seja, estamos frente a um quadro de hipotireoidismo <em> dismo subclínico em idosos (algumas evidências sugerem
subclínico. Ora, existem, neste caso, duas indicações para
</em> aumento no risco cardiovascular com o tratamento do
o tratamento do hipotireoidismo subclínico com reposição hipo subclínico em pacientes com mais de 70 anos de
de levotiroxina: (1) manifestações neuropsiquiátricas, idade). Porém, modernamente, tem sido recomendado
como disfunção cognitiva e sintomas depressivos; (2) que quando o TSH está acima de 8 mU/L nesse tipo de
níveis aumentados de anti-TPO. A banca havia dado como doente, na presença das indicações clássicas que citamos,
gabarito inicial a letra E (não tratar a paciente), haja vista o tratamento deve ser iniciado. Logo, resposta certa: A. </p>
214 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

28 Comentário Estamos diante de uma paciente


<p> </p> <p> supressão evidenciando cortisol acima de 2 µg/dl (em
com manifestações típicas de hipercortisolismo (obesi- um paciente normal, esperaríamos um cortisol baixo,
dade centrípeta, hiperglicemia e hipertensão), além suprimido após a dose noturna de dexametasona); e o
de relato de fratura patológica recente - o que, conve- outro, o cortisol salivar noturno elevado. O passo seguinte
nhamos, não é comum em uma mulher de 33 anos, é detectar a causa do hipercortisolismo, se ACTH-inde-
mas devemos lembrar que o excesso de cortisol inibe pendente (ACTH reduzido) ou ACTH-dependente (ACTH
a atividade osteoblástica e leva à redução na densidade normal ou aumentado). Vamos relembrar: se é a própria
dos ossos trabeculares (ex.: vértebras), podendo levar adrenal que está causando o aumento da produção de
à osteoporose. Além disso, inibe também a absorção cortisol (devido a um adenoma ou carcinoma do órgão, por
intestinal de cálcio e aumenta a excreção renal do íon. O
<em> exemplo), a produção de ACTH pela hipófise será reduzida
que fazer em seguida? Inicialmente, devemos excluir o
</em> por mecanismo de feedback. Assim, teremos um caso de
<em> </em>

que é simples e rápido: a síndrome de Cushing exógena, hipercortisolismo ACTH-independente. Por outro lado, no
que pode ser pela administração terapêutica em condi- hipercortisolismo por adenoma hipofisário ou secreção
ções não endócrinas ou mesmo pela utilização propo- ectópica de ACTH, é o próprio ACTH, aumentado, que
sital (síndrome de Cushing factícia). Não há qualquer estará levando à hiperprodução de cortisol pela adrenal.
relato de uso de corticosteroides. O próximo passo é Dessa forma, se temos uma paciente jovem (33 anos)
documentar o hipercortisolismo, ou seja, a síndrome de com hipercortisolismo e ACTH > 5 ng/ml a causa mais
Cushing. Temos 3 exames principais utilizados com esta comum é a presença de um adenoma hipofisário hiper-
finalidade: - teste de supressão com baixa dose (1 mg) de secretor de ACTH (doença de Cushing), o que demanda
dexametasona; - cortisol livre urinário em 24h; - cortisol a realização de uma ressonância de sela túrcica. Embora
salivar noturno. O teste da supressão com baixa dose de a questão relate a presença de um nódulo adrenal, isso
dexametasona não deve ser usado isoladamente como foi uma “pegadinha” da banca, já que estamos diante de
critério para síndrome de Cushing, necessitando de, pelo um caso de hipercortisolismo ACTH-dependente, ou seja,
menos, outro exame adicional. Neste caso, temos dois este nódulo adrenal provavelmente é um incidentaloma,
exames sugestivos de hipercortisolismo: um é o teste de um nódulo não funcionante. </p>
215 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

29 Comentário O quadro previamente exis-


<p> </p> <p> cortisol, precisam ter seus níveis aumentados para contra-
tente é característico de falência adrenal primária . O
<strong> </strong> balançar os efeitos inflamatórios induzidos pelo próprio
carro-chefe das manifestações clínicas são os sinais e trauma. Como o paciente tem falência adrenal primária
sintomas de hipocortisolismo (hipotensão, hipoglicemia
<em> </em> (destruição do córtex adrenal, local onde o cortisol é
e perda ponderal), com o paciente manifestando também produzido), este componente da REMIT não acontece,
a típica hiperpigmentação cutânea, secundária à hipe-
<em> </em> e sobrevém um súbito agravamento do hipocortisolismo,
rativação dos corticotrofos na adeno-hipófise (que além quer dizer: em face da atual necessidade de altos níveis
de ACTH secretam também hormônio melanotrófico). O de cortisol, o pouco cortisol que o paciente ainda consegue
paciente apresentou uma intercorrência cirúrgica aguda produzir torna-se proporcionalmente mais insuficiente.
e, a despeito de não ter havido complicações, isso desen- A conduta consiste na administração de altas doses de
cadeou uma crise addisoniana aguda, já que não foi feita hidrocortisona, um corticoide exógeno que possui ação
profilaxia com glicocorticoide perioperatório. A explicação glicocorticoide e mineralocorticoide também. Espera-se
é a seguinte: o trauma cirúrgico-anestésico sabidamente que, com isso ele passe a responder ao volume e drogas
desencadeia a REMIT (Resposta Endócrino-Metabólica- vasoativas, sendo essa resposta, em geral, rápida e satis-
-Imunológica ao Trauma). Na REMIT, hormônios, como o fatória. Resposta certa: D.</p>
216 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

30 Comentário O pico de cortisol superior a


<p> </p> <p> “ludrocortisona”, e sim FLUDROcortisona! Esta substância
20 mcg/dl após estimulação com tetracosactídeo (um dos - que é um análogo de mineralocorticoide - só está indi-
nomes da cosintropina, ou ACTH sintético) exclui apenas cada nos casos de IA PRIMÁRIA, pois, como já dissemos,
o diagnóstico de IA PRIMÁRIA! Na IA primária o córtex nesta situação todo o córtex adrenal encontra-se destruído,
adrenal encontra-se destruído, e mesmo com estimulação incluindo a zona glomerulosa responsável pela síntese e
pela cosintropina o cortisol não consegue ser produzido e secreção de aldosterona! Na IA “secundária” apenas o
liberado! Na IA “secundária”, por outro lado, o córtex está cortisol tem sua síntese e liberação inibidas, sem prejuízo
íntegro (o que falha é o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal), aos demais hormônios produzidos nas adrenais, como
e por isso, ele PODE vir a ser adequadamente estimulado, aldosterona e esteroides sexuais – a afirmativa II foi consi-
desde que a duração da IA secundária não seja muito derada correta, embora o nome da droga esteja com erro
prolongada (pois, de outro modo, poderia ocorrer a atrofia
<em> </ de digitação! O vitiligo é uma das condições associadas à
do córtex adrenal, o que funciona como a sua destruição
em> síndrome de IA primária de etiologia autoimune - afirmativa
simulando uma IA primária) - afirmativa I incorreta. Não é III incorreta. Resposta: B.
</p>
217 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

31 Comentário No caso em tela, temos o


<p> </p> <p> de ACTH). Nesse sentido, é fundamental e urgente a
evento adverso mais temido e esperado em relação ao administração de hormônio exógeno, com bom efeito
uso prolongado dos corticosteroides: a supressão do glicocorticoide e mineralocorticoide para evitar complica-
eixo hipotálamo-hipofisário, caracterizando insuficiência ções ainda mais graves no caso (poderiam levar a choque
adrenal aguda. Observem que este paciente, após mais circulatório grave), com retirada gradual da medicação
de um mês utilizando prednisolona sem indicação médica após a dose intravenosa inicial. A droga de escolha é a
(deveria ter utilizado o corticoide durante apenas 5 dias hidrocortisona, que deve ser aplicada via intravenosa.
após a alta), tem a medicação subitamente suspensa Não é necessário associar fludrocortisona, pois a hidro-
por conta de uma outra internação hospitalar. Passa a cortisona em altas doses possui bom efeito mineralocor-
apresentar adinamia e hipotensão postural caracterís- ticoide. A fludrocortisona poderia ser usada como droga
ticas dessa síndrome, que é confirmada pelo valor baixo de manutenção, mas isso geralmente não se aplicará,
de cortisol após estímulo com ACTH (o normal seria um a não ser que o quadro de insuficiência adrenal não se
cortisol sérico > 20 mcg após estimulação com 0,5 mcg resolva após a abordagem inicial. Melhor resposta: C. </p>
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32 Comentário Em primeiro lugar, a questão


<p> </p> <p> elevação de IGF-1 (teste de screening de escolha). Embora
<em> </em>

descreve um caso compatível com acromegalia: (1) Alte- a questão não mencione o teste diagnóstico de escolha
rações craniofaciais, como prognatismo (aumento da (teste de supressão com glicose), realmente não temos
mandíbula) e acentuação de malares, (2) Alterações de outra hipótese diagnóstica mais plausível. A elevação da
extremidades, como o aumento do calibre dos dedos; prolactina também pode ser encontrada na acromegalia. A
(3) Manifestações cutâneas, como hiper-hidrose; (4) Mani- diferenciação que resta é com relação ao tipo de adenoma
festações cardiovasculares, como HAS e cardiomegalia. hipofisário: microadenoma é inferior a 1 cm e macroade-
A avaliação hormonal corrobora o diagnóstico, pois há noma é superior a este valor. Resposta certa: letra D. </p>
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33 Comentário Vamos analisar as alternativas


<p> </p> <p> piorar em um primeiro momento, fato observado quando
da questão: a) A doença de Graves, principal causa de escolhemos a ablação com radioiodo como modalidade
hipertireoidismo, tendo como mecanismo patogênico prin- terapêutica (INCORRETA). d) As terapias consideradas de
cipal a produção de autoanticorpos contra os receptores primeira linha para o manejo da doença de Graves são o
de tireotrofina, ativando estes, levando a secreção de uso de tionamidas e a ablação com radioiodo, sendo esta
hormônios tireoidianos e ao crescimento da glândula tireoi- última a modalidade de tratamento definitiva de escolha
diana (CORRETA). b) A principal causa de hipertireoidismo (visando atingir o estado eutireoidiano mais rapidamente)
é a doença de Graves (INCORRETA). c) Dependendo para mulheres não grávidas de acordo com as diretrizes
do tipo de tratamento iniciado, a oftalmopatia pode vir a americana (INCORRETA). Alternativa A correta. </p>
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34 Comentário A principal causa de hipotireoidismo


<p> </p> <p> infiltrativos (hemocromatose, esclerodermia, amiloidose).
em todo o mundo é a ingestão insuficiente de iodo. Tanto O hipotireoidismo central responde por menos de 1% dos
sua falta como seu excesso podem provocar baixa produção casos. Dessa forma, apesar de a questão ter perguntado a
de hormônio tireoidiano. Nas regiões com ingesta adequada causa mais comum de hipotireoidismo de maneira abran-
de iodo (incluindo o Brasil), a causa mais frequente é a gente, não encontramos a deficiência de iodo entre as alter-
tireoidite crônica autoimune de Hashimoto. Outras etiologias nativas, sendo a melhor resposta dentre as apresentadas
são a iatrogênica (tireoidectomia, radioablação, radiação – e a causa mais comum no nosso meio – a tireoidite de
externa), drogas (tionamidas, amiodarona, lítio) e processos Hashimoto. Resposta: D. </p>
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35 Comentário A reposição hormonal no hipo-


<p> </p> <p> que só devem ser dosados a partir de 4-6 semanas de
tireoidismo é realizada com a levotiroxina (T4), que em tratamento, pois a queda é lenta. O objetivo é que o TSH
pacientes jovens, sem comorbidades, pode ser realizada esteja na faixa normal de referência do laboratório (cerca
na dose de 1,6 mcg/kg/dia. Em pacientes mais velhos, de 0,5-5,0 mU/L), porém, caso o paciente permaneça com
deve-se iniciar com doses menores (25-50 mcg/dia). Os sintomas de hipotireoidismo e o TSH esteja próximo aos
sintomas começam a melhorar em cerca de 2 semanas, valores superiores de normalidade ou acima do normal, é
embora em pacientes com quadros graves de hipotireoi- recomendado aumentar a dose do hormônio objetivando
dismo, a recuperação total possa levar meses. A levotiro- alcançar valores de TSH inferiores à metade do normal.
xina é ajustada pelos níveis de TSH séricos (B correta), Gabarito: letra B.
</p>
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36 Comentário Qualquer enfermidade aguda


<p> </p> <p> também podem ser encontrados. Além disso, ocorre tanto
grave pode acarretar anormalidades nos níveis circu- uma produção aumentada como uma depuração reduzida
lantes de TSH ou dos hormônios tireoidianos na ausência do T3 reverso, o que acaba auxiliando no diagnóstico,
de doença subjacente da tireoide (por conta da libe- o qual costuma ser puramente presuntivo em virtude
ração de citocinas, principalmente a interleucina 6), o do contexto clínico e do perfil hormonal do paciente. No
que chamamos de síndrome do eutireóideo doente (ou fim das contas, é a resolução dos resultados dos testes
síndrome do enfermo eutireoidiano). Por conta disso, a associada à melhora clínica que poderá estabelecer o
não ser que a suspeita de doença tireoidiana seja impor- diagnóstico. A conduta, nesses casos, consiste apenas
tante, os testes de função da tireoide devem ser evitados em monitorar as provas de função tireoidiana durante a
em pacientes agudamente graves. Apesar do padrão evolução do paciente, sem administração de hormônio
hormonal mais comum da síndrome do eutireóideo doente tireoidiano, a não ser que existam evidências na história
ser caracterizado por uma redução dos níveis de T3 total e ou achados clínicos compatíveis com hipotireoidismo.
livre, com níveis normais de TSH e T4 livre, outros padrões Alternativa B CORRETA. </p>
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37 Comentário A evolução ao longo de 1


<p> </p> <p> que esses doentes caracteristicamente apresentam (taqui-
semana, a presença de febre + mal-estar geral (sinais cardia, tremor, ansiedade e insônia, com T4 livre aumen-
e sintomas inflamatórios sistêmicos), e a dor em região tado) é resultante da destruição subaguda dos folículos
cervical anterior (por conta de uma tireoide aumen- tireoidianos repletos de hormônio pré-formado, hormônio
tada, de consistência endurecida e dolorosa), nos esse que acaba sendo indevidamente liberado na corrente
fazem pensar na famosa tireoidite de De Quervain , ou
<strong> </strong> sanguínea. Repare que não há produção aumentada de
tireoidite subaguda. A doença de Graves é uma doença
<em> </em> hormônio (isto é, não há HIPERTIREOIDISMO)! Logo, a
de evolução mais lenta e que cursa com bócio difuso cintilografia de tireoide apresenta captação reduzida (geral-
indolor, além de achados periféricos característicos (ex.: mente < 2% em 24h). Passadas 2-8 semanas (tempo sufi-
oftalmopatia e/ou dermopatia de Graves). A tireoidite de ciente para esgotar o estoque de hormônio pré-formado),
Hashimoto é uma forma muito crônica de tireoidite, que o quadro de tireotoxicose se resolve espontaneamente,
não se manifesta de maneira tão rápida nem tampouco e o paciente evolui com sinais e sintomas de hipotireoi-
com bócio doloroso. O Ca de tireoide “anaplásico” dismo. Felizmente, a deficiência na capacidade de síntese
é uma doença incomum, porém típica de pessoas idosas de hormônio tireoidiano também é transitória na tireoidite
(> 60 anos) sendo absolutamente improvável numa mulher de De Quervain, com retomada da produção, na maioria
com 30 anos de idade. Na tireoidite de De Quervain, uma dos pacientes, dentro de 1 mês. O tratamento do quadro
das grandes marcas diagnósticas é o aumento da VHS inflamatório doloroso é feito com AAS ou AINES, sendo
(Velocidade de Hemossedimentação) - reflexo do estado o naproxeno a droga tradicionalmente indicada. Casos
inflamatório sistêmico induzido por um processo autoimune refratários podem ser tratados com corticoide sistêmico.
com foco na glândula tireoide. O quadro de tireotoxicose Resposta: B. </p>
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38 Comentário A doença de Paget óssea é


<p> </p> <p> elevação casual dos níveis da fosfatase alcalina ou
uma desordem do metabolismo esquelético de etio- por alterações em um exame radiográfico. Para os
logia desconhecida, que predomina em indivíduos com sintomáticos, os principais achados são dor e deformi-
mais de 40 anos de idade, brancos, e parece afetar dades ósseas nas regiões acometidas, principalmente
ambos os sexos com a mesma frequência. Trata-se de quadril, coluna vertebral, crânio e ossos longos. Como o
um distúrbio focal, no qual certas partes do esqueleto paciente em questão pertence ao grupo etário típico do
passam a apresentar um turn over (remodelamento)
<em> </em> Paget, fica mais claro o diagnóstico. O câncer de prós-
ósseo acelerado, com aumento local da neoformação tata poderia causar alguma dúvida, afinal se trata de
óssea. Esse osso “novo” possui estrutura anômala e, homem idoso, mas existem fatores que falam CONTRA
por isso, é frágil, propenso à deformação e fratura. tal hipótese: PSA < 10 (doença metastática raramente
As principais alterações que sugerem o diagnóstico cursa com PSA total < 10), PSA livre > 25%, velocidade
são aumentos isolados da fosfatase alcalina (enzima de crescimento do PSA < 0,75 ng/ml/ano e presença
secretada por osteoblastos, que estão hiperativados de lesões líticas e não blásticas, que são as típicas do
no processo de remodelamento ósseo) e alterações Ca de próstata metastático. Dessa forma, o diagnóstico
radiográficas focais típicas. A maior parte dos pacientes MAIS PROVÁVEL para este paciente é apresentado
é assintomática e o diagnóstico costuma ser feito por pela opção A - doença de Paget. </p>
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39 Comentário Temos uma paciente do sexo


<p> </p> <p> característico da doença de Graves é o antirreceptor do
feminino, com sintomas característicos de tireotoxicose TSH (TRAb), cuja pesquisa não é necessária na maioria
(emagrecimento sem anorexia, taquicardia, hipertensão) das vezes, uma vez que o diagnóstico baseia-se em
associado a níveis reduzidos do TSH (supressão do eixo achados clínicos acompanhados de dosagem hormonal.
hipotálamo-hipofisário pelo excesso de hormônio tireoi- Todas as demais alternativas são causas de tireotoxicose.
diano). Qual a principal causa de hipertireoidismo em O bócio multinodular tóxico produz de maneira autônoma
adultos? A doença de Graves, uma doença autoimune da hormônio tireoidiano, levando a sintomas de tireotoxicose,
tireoide, mais comum em mulheres (9:1), entre 20-50 anos, sendo uma causa de hipertireoidismo mais comum em
marcada por sinais específicos como o bócio difuso, oftal- idosos. Tanto a tireoidite de Hashimoto como a tireoidite
mopatia e dermopatia infiltrativa, estando os dois primeiros linfocítica podem apresentar-se inicialmente com um
presentes na paciente da questão. O anticorpo anti-TPO período transitório de tireotoxicose. Porém, em todos os
(Tireoperoxidase) está presente em 80% dos casos, sendo casos, a presença de oftalmopatia fala mais a favor de
um marcador de doença tireoidiana autoimune. O anticorpo doença de Graves. Portanto, resposta correta: A. </p>
226 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

40 Comentário Uma mulher idosa que apresenta


<p> </p> <p> que com o tempo pode se tornar hiperceratótica, prin-
bócio, síndrome do túnel do carpo bilateral e todas as cipalmente nas regiões de dobra e extremidades; 2 -
demais manifestações clínicas referentes a um quadro Mudança de tonalidade, podendo a pele adquirir uma
de lentificação geral do metabolismo, conforme descrito tonalidade pálida (anemia associada), amarelada (se o
<em> </em> <em> </em>

pelo enunciado, até prova em contrário deve ser consi- paciente apresentar hipercarotenemia) ou escurecida (se
<em> </em>

derada como portadora de hipotireoidismo . A questão


<em> </em> houver falência adrenal associada); 3 - Pelos ressecados
quer saber de você qual das características citadas e escassos, com queda acentuada; 4 - Unhas frágeis
não faz parte das alterações cutâneas esperadas da e quebradiças; 5 - Mixedema (edema subcutâneo sem
síndrome de hipotireoidismo. Vamos recordar como fica cacifo); 6 - Pode haver vitiligo associado (na tireoidite
a pele desses pacientes? As principais alterações são: de Hashimoto). Enfim, como deu para perceber, a única
1 - Pele seca (pela diminuição na produção de suor), opção viável aqui é a letra A.
</p>
227 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

41 Comentário O quadro descrito é bastante suges-


<p> </p> <p> xilase, que é responsável pela conversão de progeste-
tivo de Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) em sua forma rona e 17-OH-progesterona em 11-desoxicorticosterona
clássica perdedora de sal. A grande dica para pensarmos e 11-desoxicortisol, levando à produção de aldosterona e
no diagnóstico é a associação da desidratação com alte- cortisol. Na forma perdedora de sal, há deficiência desses
rações eletrolíticas que sugerem hipoaldosteronismo. dois hormônios. Os precursores que se acumulam são
Se não bastasse isso, temos ainda a descrição de virili- desviados para a síntese de androgênios e, por isso,
zação da genitália o que, por si só, já deve apontar para temos os sinais de virilização em uma menina. O mais
esse diagnóstico. Nesta condição temos uma desordem comum é que as manifestações tenham início um pouco
na esteroidogênese da glândula adrenal. Em mais de 90% mais tarde, mas ainda assim este é o único diagnóstico
dos casos de HAC existe deficiência da enzima 21-hidro- listado que justifica as alterações descritas.
</p>
228 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

42 Comentário De acordo com o quadro clínico,


<p> </p> <p> nóstico é facilitado pela presença dos sinais virilizantes
não podemos deixar de pensar em um caso de Hiper- que, neste caso, levaram a um diagnóstico equivocado
plasia Adrenal Congênita (HAC), evoluindo com insufi- de um menino com malformações de órgãos sexuais.
ciência adrenal. Na forma perdedora de sal da HAC, o Trata-se, provavelmente, de uma menina com a genitália
comprometimento da secreção, tanto do cortisol quanto bastante virilizada. Este quadro representa uma urgência
da aldosterona, leva à contínua perda de sal, que pode médica e o tratamento deve ser prontamente iniciado
se manifestar ainda nos primeiros dias de vida através com administração intravenosa de volume e reposição
da falta de ganho ponderal ou perda de peso exces- de corticosteroide com hidrocortisona em dose alta
siva, vômitos, diarreia, irritabilidade, hipertermia e recusa (não sendo necessário, inicialmente, o uso de fludro-
alimentar. Se não reconhecido a tempo, pode evoluir para cortisona, já que a hidrocortisona em altas doses possui
quadro de insuficiência adrenocortical aguda com desi- efeito mineralocorticoide). O tratamento crônico consiste
dratação, desnutrição, má perfusão periférica, gemência na reposição oral de glicocorticoides (hidrocortisona)
e respiração acidótica. Com frequência os pacientes e mineralocorticoides (fludrocortisona) por toda a vida.
apresentam também acidose metabólica, hiponatremia Como a questão menciona a terapêutica direcionada a
e hipercalemia. Nos pacientes do sexo feminino, o diag- doença de base, a melhor resposta é a opção C. </p>
229 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

43 Comentário Esta paciente tem flagrantes


<p> </p> <p> acaba liberando na circulação excesso dos hormônios
sintomas do excesso de hormônios tireoidianos circu- tireoidianos, e que, num determinado momento evolui
lantes: a tireotoxicose. Nesse caso, não podemos estar para hipotireoidismo (já que as células produtoras de
diante de um adenoma atóxico, já que nesta condição hormônio acabam sendo destruídas). Como diferenciar?
não há excesso de hormônios (o nome já diz: atóxico, Não vemos exoftalmia na Hashitoxicose. Dentre os
ou sem tireotoxicose). A doença de Plummer é caracte- exames diagnósticos, é claro que solicitaremos TSH, T4
rizada pela presença de NÓDULO tireoidiano hiperfun- livre e anticorpos para as duas doenças, como o TRAB
cionante (não visto neste caso, o que estamos vendo é e o anti-TPO. Cintilografia pode mostrar a hipercaptação
uma TUMORAÇÃO, muito mais compatível com aumento de iodo difusa que acontece na doença de Graves e a
difuso da glândula - letras A e D incorretas). A grande ultrassonografia verifica a presença eventual de nódulos
hipótese diagnóstica para nossa paciente fica com a não visíveis a olho nu. Uma das condutas terapêuticas
doença de Graves, já que nela encontraremos sintomas utilizadas é a tireoidectomia total, que é definitiva. De
e sinais de tireotoxicose associados à exoftalmia. A sua longe, sabemos que a cirurgia é raramente utilizada,
dúvida poderia ser: mas e a Hashitoxicose? A Hashito- mas como há uma tumoração no pescoço que inclusive
xicose é uma situação em que há destruição das células pode estar causando prejuízo estético, a cirurgia pode
foliculares da glândula por etiologia autoimune que ser realizada. Resposta certa: letra E.</p>
230 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

44 Comentário A causa mais comum de hiper-


<p> </p> <p> de PTH promove fosfatúria, esperando-se, no hiperpara
calcemia assintomática é o hiperparatireoidismo primário,
<em> primário, o encontro de HIPOfosfatemia (C incorreta).
que em geral é secundário à existência de um adenoma O único tratamento definitivo do hiperpara primário é
único de paratireoide (A correta). O diagnóstico desta a ressecção cirúrgica da glândula hiperprodutora (D
condição é inicialmente investigado pela demonstração correta). Vale lembrar que tiazídicos (por inibirem a
de níveis inapropriadamente altos de PTH na vigência excreção renal de cálcio) raramente podem causar hiper-
de hipercalcemia (B correta). Sabemos que o excesso calcemia. Resposta certa: C.</p>
231 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

45 Comentário Os sinais e sintomas descritos são


<p> </p> <p> também o hormônio melanotrófico em excesso. O fato é
sugestivos de falência adrenal primária, isto é, insuficiência
<em> </em> que tudo isso foi documentado por dosagens hormonais:
adrenal pela destruição do córtex da glândula. Dizemos o ACTH está absurdamente alto em face de um hipo-
pois: (1) há sinais e sintomas de hipocortisolismo, como cortisolismo absoluto, e a relação aldosterona/renina
astenia, anorexia, perda ponderal e hipotensão arterial; (2) confirma o hipoaldosteronismo. As causas mais comuns
há sinais e sintomas de hipoaldosteronismo, como todos de falência adrenal primária são a adrenalite autoimune
os já citados e hipercalemia; (3) há sinais de hiperativação (doença de Addison) e a tuberculose. A paciente não tem
dos corticotrofos da adeno-hipófise, como a hiperpigmen- história prévia de TB e, em geral, para fazer insuficiência
tação cutânea. Lembre-se de que quando estas células adrenal a tuberculose geralmente tem que ser grave e
aumentam a secreção de ACTH, elas acabam secretando disseminada. Logo, resposta certa: C. </p>
232 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

46 Comentário A contração dos músculos faciais


<p> </p> <p> cíficas, como o sinal de Chvostek e Trousseau - espasmo
ipsilaterais após percussão do nervo facial abaixo do arco cárpico após insuflação do manguito 20 mmHg acima da
zigomático corresponde ao sinal de Chvostek. Lembre-se pressão arterial sistólica durante 3 minutos. Outros sintomas
que a hipocalcemia manifesta-se clinicamente como aumento comuns da hipocalcemia são alterações sensitivas ou motoras
da excitabilidade neuromuscular, sendo achados comuns a leves (parestesias periorais, formigamentos e cãibras) ou
tetania, uma contratura muscular mantida ou prolongada. graves (espasmos carpopedais, laringoespasmo e convul-
A tetania pode ser latente e aparecer com manobras espe- sões). Resposta: A. </p>
233 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

47 Comentário Diante de uma paciente jovem que


<p> </p> <p> endócrinos) compõem as chamadas “síndromes poliglan-
se apresenta com quadro de astenia, dores abdominais, dulares autoimunes”. Como o problema está localizado na
hipotensão arterial, hiperpigmentação cutânea, hiponatremia glândula adrenal, a hipófise passa a produzir mais ACTH
e hipercalemia, somos obrigados a pensar, como primeira (já que o feedback negativo entre a adrenal e a hipófise
<em> </em>

hipótese diagnóstica, na insuficiência adrenal primária encontra-se prejudicado) e é responsável pela hiperpigmen-
(ou doença de Addison). Atualmente, a principal causa tação cutânea. O exame mais importante para confirmar
de doença de Addison é a chamada adrenalite autoimune a existência de insuficiência adrenal consiste no teste de
(responsável por 75-85% dos casos), que, quando asso- estimulação rápida com ACTH (teste da cosintropina).
ciada a outros distúrbios autoimunes (endócrinos e não Resposta: letra C.
</p>
234 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

48 Comentário TSH alto com T4 livre normal


<p> </p> <p> autoriza, segundo alguns autores, o início do trata-
em paciente sem sintomas são achados que estabe- mento com vistas à prevenção da evolução do quadro.
lecem o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico . O
<em> </em> Em geral, o mecanismo etiopatogênico do hipo subclínico
hipo subclínico requer intervenção terapêutica somente é uma tireoidite crônica lentamente progressiva, que acaba
nas situações descritas na tabela abaixo. Logo, podemos culminando em franco hipotireoidismo. Por se tratar de
constatar que na primeira avaliação não havia indicação um quadro de tireoidite, existe risco de ocorrer o efeito
de tratamento, porém, na segunda visita do paciente Wolff-Chaikoff (hipotireoidismo induzido por um excesso
encontramos um anti-TPO bastante aumentado, o que na ingestão de iodo). Resposta certa: C.

Indicações de Tratamento do Hipotireoidismo Subclínico

TSH ≥ 10
Gravidez ou planejamento de Gravidez
Manifestações atribuíveis à deficiência hormonal como dislipidemia e depressão. Alguns
consideram que níveis muito altos de anti-TPO também representam indicação terapêutica
235 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

49 Comentário Este é o quadro clássico de Insu-


</p> <p> de conservas? Alguém aqui já experimentou beber a água
ficiência Suprarrenal (ISR): hipotensão arterial, anorexia, de um vidro de azeitonas, por exemplo? Provavelmente
astenia, náuseas/vômitos e perda ponderal. O laboratório não, pois o que mais tem ali é SAL! Só que esse hábito
desses pacientes geralmente aponta hipoglicemia, hipo- pouco comum, no caso apresentado, pode levar a uma
natremia, hipercalemia, eosinofilia e hipercalcemia, alte- melhora discreta do quadro clínico, já que o paciente, ao
rações típicas da deficiência de corticosteroides e mine- ingerir sal, está aumentando sua natremia e possivelmente
ralocorticoides no organismo. A hiperpigmentação sugere até contribuindo para a elevação de sua PA, já que a
insuficiência adrenal PRIMÁRIA, cuja principal causa é deficiência de mineralocorticoides (isto é, aldosterona)
a adrenalite autoimune, ou doença de Addison. Por que observada na ISR é a principal responsável pela hipo-
essa hiperpigmentação mesmo? A ISR primária cursa com natremia e hipotensão arterial observadas. Uma última
excesso de ACTH no intuito de (tentar) fazer funcionar as observação: a PICA característica das anemias carenciais
glândulas adrenais disfuncionantes (feedback). Só que o
<em> </em> não cursa com avidez por sal, e em um quadro de anemia
ACTH também atua sobre os receptores melanocortina-1, carencial + parasitose não há hiperpigmentação cutânea.
estimulando a síntese de melanina. E o fato de beber água Única resposta correta, portanto, letra B.
</p>
236 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

50 Comentário
<p> </p> Bócio difuso doloroso
<p> toxicose associada, pelo “vazamento” de hormônio
(lembrando que bócio é qualquer aumento da tireoide), pré-formado a partir dos estoques intrafoliculares.
de início recente, associado a marcadores inflama- O diagnóstico é feito em bases clínicas, considerando
tórios aumentados (leucocitose e VHS alto), princi- justamente os dados apresentados. A biópsia, no entanto,
palmente em um paciente com história de infecção é o método padrão-ouro, indicado em casos de dúvida. O
viral inespecífica nas últimas semanas (ex.: IVAS), achado típico é a inflamação granulomatosa (granulomas
são achados que direcionam nosso raciocínio para o não caseosos) do parênquima. O tratamento consiste
diagnóstico de tireoidite subaguda, também chamada
<strong> no uso de AINEs, e a resolução tende a ser espontânea
de tireoidite De Quervain . Pode ou não haver tireo-
<em> </em> dentro de 2-8 semanas. Resposta certa: D. </p>
237 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

51 Comentário As principais complicações


<p> </p> <p> sua lesão inflamatória (“hipopara” transitório). 3) Sangra-
pós-operatórias de uma tireoidectomia total são: 1) Lesão mento - “sangue que baba” no leito de ressecção da glân-
do nervo laríngeo recorrente - quando unilateral provoca dula tireoide, podendo levar ao hematoma compressivo
disfonia, quando bilateral provoca insuficiência respira- da via aérea (uma verdadeira emergência pós-operatória,
tória aguda, pela adução (“fechamento”) das duas cordas com ameaça à patência da traqueia). Como deu pra
vocais. 2) Hipoparatireoidismo e consequente HIPOcal- perceber, não há motivo para o paciente evoluir com
cemia - devido à ressecção inadvertida das glândulas HIPERcalcemia no pós-operatório de uma tireoidectomia
paratireoides (“hipopara” permanente), ou então pela total, pelo contrário. Resposta certa: C. </p>
238 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

52 Comentário Primeiramente, vamos esclarecer


<p> </p> <p> bral, mas não proptose e edema). Diante de uma prop-
que exoftalmia assimétrica não é o mesmo que unilateral. tose unilateral, é mandatório o diagnóstico diferencial com
Ou seja, estamos diante de um paciente com exoftalmia formações orbitárias expansivas, apesar da oftalmopatia
bilateral, maior à direita! Em segundo lugar, temos que de Graves também poder ser unilateral. Como no enun-
lembrar daquela famosa frase que diz que “as doenças ciado da questão não são citados sinais e sintomas de
autoimunes andam juntas!”. Logo, diante de um paciente hiperfunção tireoidiana, a tomografia computadorizada
com artrite reumatoide, o surgimento de exoftalmia de pode nos auxiliar ao mostrar edema dos músculos extrao-
instalação insidiosa, bilateral e assimétrica nos sugere culares e aumento da gordura retro-orbitária. Além disso,
a presença de doença de Graves (lembrando que outras
<strong> </strong> a dosagem hormonal é fundamental para documentarmos
causas de hipertireoidismo podem causar retração palpe- o estado de tireotoxicose! Alternativa C correta. </p>
239 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017

53 Comentário O que pensar diante de uma


<p> </p> <p> dos casos) e uma cintilografia com captação diminuída
paciente que se apresenta em um puerpério recente, com (geralmente < 1%), fecham o diagnóstico. O tratamento da
bócio de instalação rápida associado a sinais e sintomas fase hipertireóidea consiste no controle sintomático com
de hipertireoidismo (incluindo uma provável insuficiência betabloqueadores, devendo priorizar o uso de propranolol,
cardíaca de alto débito, cursando com congestão pulmonar devido a sua menor eliminação no leite materno. Não há
e sistêmica)? É claro que estamos diante de uma TIREOI- indicação de se iniciar tionamidas nem ablação com iodo
DITE PÓS-PARTO. A tireoidite pós-parto consiste em na fase hipertireóidea da tireoidite pós-parto. Pacientes
um fenômeno de origem autoimune que geralmente se que cursam com hipotireoidismo sintomático, devem ser
inicia em 1-4 meses após o parto, podendo se manifestar tratadas com levotiroxina. Em relação ao prognóstico, a
através de hipertireoidismo isolado (20-40% dos casos), maioria das pacientes volta ao estado eutireóideo em um
hipotireoidismo isolado (40-50% dos casos) ou da forma ano; no entanto, cerca de 30% das mulheres não se recu-
“clássica”, na qual, após uma fase de hipertireoidismo, que peram da fase de hipotireoidismo. Além disso, sabemos
dura 2-8 semanas, surge o hipotireoidismo, que persiste que as pacientes que desenvolvem hipotireoidismo tran-
por 2 semanas a seis meses, seguido de recuperação da sitório durante a tireoidite possuem risco aumentado de
função tireoidiana (20-30% dos casos). O quadro clínico desenvolver hipotireoidismo permanente no futuro (30-50%
da paciente associado a um T4 livre aumentado, um em nove anos), devendo seguir acompanhamento com
TSH suprimido, anti-TPO positivo (presente em 60-80% dosagem de TSH periódica. Alternativa C CORRETA. </p>
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54 Comentário O hiperparatireoidismo costuma


<p> </p> <p> humor (depressão), histórico de nefrolitíase e constipação.
apresentar-se clinicamente “silencioso”, como descrito no O cálcio está discretamente aumentado e o fósforo um
caso clínico do enunciado – uma série de manifestações pouco abaixo do limite inferior (ele pode estar normal, prin-
aparentemente inespecíficas, sem muita relação entre os cipalmente na insuficiência renal). Diante deste cenário,
órgãos e sistemas acometidos. Uma vez que solicitamos devemos suspeitar de hiperparatireoidismo primário e
a dosagem do cálcio sérico e constatamos o aumento solicitar a pesquisa do paratormônio (molécula intacta do
do mesmo, identificamos uma série de manifestações PTH). Caso venha aumentado, está fechado o diagnóstico.
clínicas sugestivas de hipercalcemia, como alteração do Resposta correta: letra A. </p>
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55 Comentário As questões sobre insuficiência


<p> </p> <p> se o principal hormônio que está faltando no doente não
adrenal são quase sempre idênticas. Os enunciados for imediatamente reposto: glicocorticoide, de preferência
geralmente são longos, descrevendo múltiplos sinais e uma formulação que também possua ação mineralocor-
sintomas que refletem a existência de hipocortisolismo ticoide, como a hidrocortisona, por exemplo. Diante de
(fadiga, astenia e hipotensão) e hipoaldosteronismo (as um quadro clínico típico, tal abordagem deve ser feita de
mesmas manifestações já citadas mais hiponatremia forma empírica, ainda mais perante um doente “instável”.
e hipercalemia). A azotemia observada aqui provavel- Vale lembrar que os glicocorticoides exercem efeito
mente é secundária à grave hipovolemia que o paciente “permissivo” na vasculatura periférica, isto é, os vasos
apresenta em decorrência do hipoaldosteronismo. Que <em> só serão sensíveis às catecolaminas se tiverem sido
conduta deve ser tomada? Repor volume IV e iniciar
</em> previamente estimulados com glicocorticoide. Resposta
aminas vasoativas serão medidas totalmente ineficazes certa: A.
</p>
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56 Comentário Pacientes hipertensos portadores


<p> </p> <p> sangue do paciente, determinando vasoconstrição e taqui-
de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) essencial não cardia, sendo que ambos elevam a pressão arterial. Fora
costumam ter qualquer sintomatologia associada aguda- dos períodos em que não há liberação maciça dessas
mente à hipertensão arterial como a que é mostrada neste substâncias, nada sente o doente. A investigação diag-
caso, a não ser em casos de lesão de órgão-alvo. Além nóstica conta com exames de triagem, como é a dosagem
disso, a idade do paciente indica necessidade de procurar das metanefrinas urinárias. Além disso, podemos lançar
causas secundárias de HAS (menos que trinta e mais mão também da dosagem de ácido vanilmandélico (meta-
que cinquenta anos). Qual seria, então, a grande possi- bólito das catecolaminas mais famosas) e, caso positiva a
bilidade neste caso? Ora, nosso paciente tem momentos triagem, a tomografia de abdome (ou ressonância) atesta
de elevação aguda da pressão arterial acompanhada de a presença do tumor. A conduta deverá ser a adrenalec-
INTENSA TAQUICARDIA E CEFALEIA! Já fez o link? O <em> </em> tomia. Atenção: no pré-operatório, iniciamos o controle da
nosso amigo parece ter feocromocitoma! O que acontece pressão arterial com alfabloqueadores e, posteriormente
nessa doença é liberação aguda de catecolaminas no adicionamos o betabloqueador. Resposta certa: letra C. </p>
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57 Comentário Temos uma paciente com um


<p> </p> <p> de primeira linha. No entanto, a nossa paciente possui
quadro clínico altamente compatível com tireotoxicose uma contraindicação formal ao uso de betabloquea-
(palpitações + tremor fino de extremidades + insônia + dores: asma brônquica. O carro-chefe do tratamento
perda ponderal + exacerbação de reflexos profundos), consiste nos agentes antitireoidianos, representados
no qual a doença de Graves (autoimune) aparenta ser pela metimazol e pelo propiltiouracil. Dentre os dois,
a responsável, não só pelo fato de consistir na prin- o metimazol é considerado o tratamento de primeira
cipal causa de hipertireoidismo (sobretudo em mulheres escolha, por conta da hepatotoxicidade associada ao
jovens), mas também pela presença de oftalmopatia uso do propiltiouracil, e também pelo fato do metimazol
infiltrativa manifestando-se através de proptose! O ser uma droga 70% mais barata e de administração única
perfil hormonal apenas confirma o estado hipertireóideo, diária. A ablação com radioiodo é uma alternativa ao
mostrando um TSH suprimido e T4 livre e T3 aumen- uso de agentes antitireoidianos (nos EUA é considerado
tados. A partir daí temos que fazer algumas conside- tratamento de escolha), mas deve ser feito com cuidado
rações a respeito do tratamento de um paciente com em pacientes com oftalmopatia, podendo exacerbá-la.
doença de Graves. Sabemos que os betabloqueadores Além do controle sintomático e da doença tireoidiana em
são drogas utilizadas no tratamento coadjuvante do si, o início de corticoides sistêmicos por duas a quatro
paciente com tireotoxicose, com o objetivo de controlar semanas é necessário por conta da oftalmopatia. Logo,
os sintomas adrenérgicos, sendo o propranolol a droga alternativa D CORRETA. </p>
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58 Comentário Em primeiro lugar, temos de


<p> devemos ter como conceito que deve ser iniciado pela
entender que o enunciado está se referindo à síndrome remoção do tumor das células cromafins da medula
de Neoplasias Endócrinas Múltiplas conhecida como da suprarrenal ‒ o feocromocitoma ‒ visto que seus
NEM tipo II (síndrome de Sipple), no caso a NEM IIa. disparos adrenérgicos podem provocar picos hiper-
Vamos lembrar que ela é marcada pela presença de tensivos capazes de prejudicar as outras cirurgias,
hiperparatireoidismo, feocromocitoma e carcinoma caso fossem realizadas antes da suprarrenalectomia.
medular de tireoide. Quanto ao tratamento cirúrgico, Resposta: letra B.
</p>
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59 Comentário O dado mais objetivo que temos


<p> discutimos, a dificuldade na ingestão é algo mecânico, não
dessa paciente é que ela possui um bócio multinodular. A vale; e a taquicardia é muito discreta, quando comparada
dúvida a partir desse momento seria definir se ele se trata com perda ponderal, intolerância ao calor e todo aquele
de um bócio tóxico ou atóxico, isto é, com algum nódulo quadro florido do hipertireoidismo que conhecemos.
produtor ou não de hormônios. O primeiro parâmetro que Com base nisso, vamos avaliar os itens das questões:
podemos utilizar para esta definição é a história clínica. A) INCORRETA. O valor do TSH não está normal, pois varia
Desconforto à deglutição é um achado meramente mecâ- entre 0,5-5 mU/ml. Possivelmente o T3 também está alte-
nico que não pode ser atribuído à tireotoxicose, porém, a rado, embora não tenha sido mencionado. B) INCORRETA.
sensação de taquicardia – provavelmente relatada como Se ela tiver um nódulo autônomo, que funcione indepen-
palpitação – poderia ser uma manifestação discreta. Em dentemente, ele se mostrará “quente” à cintilografia, ou
seguida, utilizaríamos o parâmetro hormonal: aqui temos seja, hipercaptante. C) CORRETA (ou o melhor a marcar).
um TSH bem suprimido (< 0,5 mU/ml), com T4L normal. Embora a possibilidade de T3-tireotoxicose não esteja
Isso nos apontaria para um hipertireoidismo subclínico. descartada, com os dados oferecidos, o autor nos dire-
Além disso, cabe lembrar que seria fundamental solicitar ciona realmente para um hipertireoidismo subclínico.
T3L para afastar a possibilidade de T3-tireotoxicose, que D) INCORRETA. A USG apenas confirmaria a presença dos
é mais comum na doença de Graves (sobretudo na fase nódulos, mas não conseguiria definir se eles são funcio-
inicial) e de um nódulo hiperfuncionante. O próximo passo nantes ou não – quem faz isso é a cintilografia. Além disso,
seria ter acesso a uma cintilografia que definiria de vez se mesmo fazendo análises do tipo (tamanho, consistência
o (s) nódulo (s) é (são) ou não captante (s). Resumindo, e vascularização), apenas com a biópsia destes nódulos
trata-se provavelmente de uma idosa com quadro de poderíamos afastar a hipótese de malignidade. E) INCOR-
hipertireoidismo subclínico devido a um bócio multinodular RETA. O hipotireoidismo central teria níveis baixos tanto
tóxico ou até mesmo uma T3-tireotoxicose (esta ainda de TSH, quanto de T4. Além disso, não teriam relação
precisa ser descartada). Estes quadros típicos do idoso, com a taquicardia e os múltiplos nódulos palpáveis. Ou
quando só encontramos esparsas manifestações cardio- seja, não deve ser uma doença que conste no diagnóstico
vasculares, também são chamados de hipertireoidismo diferencial do caso (pode sim ser afastada). Seria uma
apático. Alguns alunos na ocasião questionaram o termo grande surpresa se ela tivesse além do bócio, uma doença
“subclínico” já que ela tinha achados clínicos. Mas como central que apenas se manifestasse agora aos 81 anos. </p>
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60 Comentário Vamos analisar cada assertiva:


<p> </p> <p> cialmente se a elevação é crônica); podendo se apresentar
Letra A: a hipercalcemia não determina hipervolemia, e sim com poliúria, polidpsia, constipação, náuseas e anorexia,
hipovolemia, pois uma das suas manifestações clínicas, quando a hipercalcemia é moderada (12 a 14 mg/dl); e, se
quando ocorre elevação aguda de seus níveis séricos, é grave, especialmente se a elevação é aguda, surgem os
justamente poliúria, polidipsia (decorrentes da perda da sintomas neurológicos (fraqueza muscular, dificuldade de
capacidade de concentração no túbulo distal, levando ao <em> concentração, confusão mental, estupor e coma). Letra C:
diabetes insipidus nefrogênico) e desidratação, que acar-
</em> Pelo contrário, o intervalo QT é encurtado, o que reflete o
retam hipovolemia! E a hipovolemia exacerba os sintomas da encurtamento do potencial de ação do miocárdio! Letra D:
hipercalcemia. Letra B: Os sintomas não são específicos e Correta, segundo o que acabamos de comentar na letra B.
variam com o grau de hipercalcemia e a tolerância individual, Letra E: Incorreta, segundo o que acabamos de comentar
podendo o paciente ser assintomático (< 12 mg/dl, espe- na letra B.
</p>
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