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VÍDEO DE INTRODUÇÃO
Grandes Síndromes
Endócrinas
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Como iniciar o tratamento dessa paciente?
Caso 2
Dona Selma, 82
anos, hiper tensa
e dislipidêmica, é
encaminhada a um serviço
de home care para
acompanhamento de quadro
demencial. Familiares negam
eventos cerebrovasculares
ou quadros demenciais
na família. Relatam
que ultimamente a paciente vinha se queixando de constipação e de
problemas estéticos pela rarefação de sua sobrancelha, principalmente Dentre as
no terço distal. medicações d
e
uso contínuo
Ao exame físico, nota-se PA 130 x 108 mmHg, FC 55 bpm, utiliza apena
força muscular 3+/5+ nos membros inferiores, com dificuldade s
Losartan,
principalmente para se levantar do leito e subir as escadas de seu sinvastatina
apar tamento.Apresenta ainda edema bilateral de membros inferiores e
AAS.
até raiz da coxa sem presença do sinal do cacifo. Realizou miniexame
do estado mental com resultado de 11 pontos, mostrando déficit
principalmente na área da atenção e de cálculo.
Exames laboratoriais mostram: Hb 10 g/dl; VCM 102fL ; Plaquetas
100.000/mm 3; colesterol total 280 mg/dl; LDL 180 mg/dl; HDL 50
mg/dl; triglicerídeos 150 mg/dl. Realizou TC de crânio recentemente
sem alterações significativas.
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Que dados laboratoriais você utilizaria para
esclarecer este diagnóstico?
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Qual o diagnóstico sindrômico desse paciente e a
causa mais provável?
a s o 2
C Qual é a morbidade que justificaria
as alterações laboratoriais e o quadro
de osteoporose apresentados por esta
Dona Le on ard a, 60 an os , dá en trada nodade paciente? Qual é sua principal causa?
ho spi tal po r conta de fra tura na ex tre mi
dis tal do rád io direit o ao se ap oia r ap ós
que da da pró pri a alt ura . À an am nese, e
queixa -se de fra que za mu scu lar, mi algia Nã o
ar tralgi a dif usa há pelo me no s um an o. al
refere qualqu er como rbidade ou uso atu
de me dicamen to s, po rém tem his tó ria dema
ne fro lit íase há 6 meses e câ nce r de ma o
est ágio I tra tad o há 5 an os . Ap ós red uçã
da fra tura e im obiliz aç ão , o res ide nte Qual é o tratamento de escolha
da O r to pe dia , ma is pre ca vid o ap ós as ils on , para esta condição e a sua
intercor rên cia s an ter iores com o Sr. Jo complicação mais comum?
de cid e so lic ita r pa recer am bu lat or ial à ê.
Cl íni ca Mé dica, que é res pond ido po r voc
O ex ame fís ico de dona Le on ard a nã o
evide nc ia qualqu er altera çã o, a nã o ser
pelo an tebraç o direit o im obiliz ad o. Vo cêria is:
de cid e so lic ita r alg uns ex ames lab ora to ro
cá lcio = 11 mg /d l, album ina 4 g/ dl, fó sfomg /
ino rgâ nico = 2 mg /d l, creati nin a = 0,8
dl, PT H = 60 0 pg /m l, 25 (O H) Vitam ina
D = 33 ng /m l. De nsi tometr ia ós sea :
os teo po rose (T -esco re < -2 ,5 DP ).
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Caso dona Leonarda estivesse assintomática e não tivesse fraturado o
antebraço, ela deveria ser operada mesmo assim? Justifique.
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ANAMNESE
ID: Roubôncio Fur tado, sexo masculino, branco, divorciado, deputado federal, 40 anos.
QP: dor de cabeça.
HDA: paciente procurou neurologista esta semana com queixa de cefaleia holocraniana de
moderada intensidade, sem caráter pulsátil, predominantemente matutina e que vem piorando
progressivamente. Vem utilizando anti-inflamatórios analgésicos com melhora parcial da dor; no
entanto, como também é por tador de gastrite (sic) não deseja mais tomar estas medicações.
Relata que a queixa não está associada à presença de auras, náuseas, vômitos ou fotofobia.
HPP: Gastrite enantematosa moderada segundo laudo da EDA realizada por apresentar
epigastralgia. Nega crises convulsivas e episódios semelhantes de cefaleia previamente. Nega
também ser por tador de diabetes, hiper tensão ou qualquer outra doença crônica.
H. Fam: NDN
H. Fis: Refere vida sexual ativa com mesma parceira há 3 anos e utilização rotineira de
inibidores da fosfodiesterase tipo 5, mais “por curiosidade” do que “por necessidade”, como
tenta reforçar na consulta.
H. Soc: Pratica atividade física regular de três a quatro vezes por semana e não consome bebida
alcoólica. Ex-tabagista, parou de fumar há 6 anos e seu consumo foi estimado em torno de 5
maços-ano.
EXAME FÍSICO
Ectoscopia: Paciente se mostra cansado, com olheiras marcantes, sem alterações na
coloração da mucosa ou turgor cutâneo. Sua face tem contornos bem definidos
e levemente acentuados, possivelmente atribuídos a origem germânica de
seus pais. PA 160 x 100 mmHg (média após duas aferições no membro
superior direito, na posição sentada).
ACV: Ritmo cardíaco regular, sem sopros, com a presença apenas de um
som mais abafado e audível com a campânula, precedendo a primeira
bulha cardíaca.
AR e Abdome: sem alterações significativas.
Neurológico: ausência de irritação meningorradicular, mostrando bom
estado mental, com força e equilíbrio preservados, sem alteração da
sensibilidade.
Osteoar ticular: sem alterações significativas, exceto por dor ar ticular no
joelho direito. Chama atenção a flexibilidade do paciente que, aos 40 anos,
ainda é capaz de colocar suas mãos nos pés com facilidade.
EXAMES INICIAIS
Laboratorialmente, você ainda não dispõe de nenhum dado significativo, exceto pelo
relato de um exame admissional há seis meses que revelou hiperglicemia. Dessa forma,
você solicita alguns exames de rotina e se despede do paciente. Quando este segue
pelo consultório, de forma curiosa, o mesmo derruba dois vasos de porcelana chinesa
que estavam no extremo de seus lados direito e esquerdo. Desconfiado, você não toma
como proposital esta reação, mas pelo contrário, termina por estabelecer suas bases
diagnósticas para o caso.
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Qual sua principal hipótese diagnóstica para esse caso e a principal causa para
este diagnóstico?
Caso Extra
Ramón, 46 anos, acompanhado pelo
serviço de Hepatologia por conta de
hepatite crônica pelo vírus B, começa
a apresentar cansaço e indisposição
após iniciar tratamento antiviral. Esses
sintomas vieram acompanhados de
palpitação e sudorese excessivas, com
grande intolerância ao calor, fazendo
com que o paciente tomasse banho
de piscina no meio da noite. Relata
que o trânsito intestinal também se
alterou nesse período, com maior
frequência de defecação e vem
notando sua pele mais umidificada. Ao
exame físico, observa-se tireoide de
tamanho normal, indolor, sem sopros ou
nódulos palpáveis. PA = 150 x 70 mmHg,
FC = 118 bpm, ritmo regular, aparelho
respiratório sem alterações, reflexo
aquileu vívido bilateralmente. A respeito
desse caso pergunta-se:
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Qual o diagnóstico sindrômico desse paciente e
qual a causa provável desse quadro?
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 12
Grandes Síndromes
Endócrinas
Introdução
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 13
Síndromes Tireoidianas
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 14
aqueles com maior chance de abrir hipotireoi- quase sempre positivo. Muito associada a
dismo franco (TSH > 10 mU/L e anti-TPO +) outras doenças autoimunes.
e mulheres que estejam grávidas, desejam - Riedel: crônica, fibrosante.
engravidar ou apresentam disfunção ovula- - Pós-parto: 5 a 7% das parturientes, flutuan-
tória e infertilidade. te, 80% permanecem com função normal
dentro de um ano.
* Coma mixedematoso: T4 em altas doses - De Quervain: subaguda, após infecção vi-
(associado ou não a T3), corticoide; suporte. ral. Aumento doloroso da tireoide, disfagia,
sinais sistêmicos, VHS aumentada. Trata-
* Algumas tireoidites de destaque: mento: AAS, AINE, corticoide.
- Hashimoto: crônica, acomete principalmen- - Por drogas: causada principalmente pelo
te mulheres em torno de 60 anos. Anti-TPO lítio e pela amiodarona.
Estes folículos são estruturas arredondadas, São os folículos tireoidianos e seu arsenal
circundadas por uma densa rede de capilares enzimático os grandes responsáveis pela sín-
e compostas por uma camada de epitélio fo- tese dos hormônios!
No entanto, devemos perceber que o proces- O TSH, por sua vez, exerce efeitos funda-
so de síntese hormonal não se faz ao acaso. mentais na função da glândula tireoide, esti-
Como o funcionamento de todas as nossas mulando:
glândulas, há importantes modos de ajustar e • A síntese da bomba de sódio-iodeto, da ti-
controlar a produção desses hormônios: reoperoxidase e da tireoglobulina.
• A captação de glicose e aminoácidos pelas
Eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide células foliculares.
(FIGURA 3): • O crescimento e proliferação das células
foliculares. É característica a hiperplasia da
No hipotálamo existem neurônios que são tireoide (bócio) em função desse estímulo.
responsáveis pela produção de TRH (Thyrotro-
• A formação de pseudópodes pela membra-
pin-Releasing Hormone / Hormônio Liberador
na apical das células foliculares, aumentan-
de Tireotrofina), hormônio este que atua sobre
do a captura de moléculas de tireoglobulina
a hipófise anterior, estimulando a produção de
no coloide.
TSH (Thyroid-Stimulating Hormone / Hormônio
Estimulador da Tireoide). • O aumento do fluxo sanguíneo da tireoide.
Essa paciente apresenta bócio difuso e TSH Consiste na administração de iodo marcado,
elevado, provavelmente configurando um qua- que se mistura uniformemente com o iodeto en-
dro de hipotireoidismo. No entanto, temos T4 dógeno circulante. Após o equilíbrio, mede-se a
normal... seria um quadro subclínico? Tratar ou porcentagem deste iodo que foi absorvido pela
não? Nesse caso, devemos entender que foi a tireoide. O intervalo de tempo entre a adminis-
dosagem de T4 total que se mostrou normal e tração de uma determinada quantidade de iodo
essa dosagem pode ter sido influenciada pelo marcado e a dosagem sérica posterior deve ser
uso de estrogênios. Assim, deveríamos fazer de 24h – após esse tempo, costuma haver um
a dosagem da fração livre do T4, podendo platô. Quanto maior a função da tireoide, maior o
repetir ou não TSH para confirmar que esteja percentual de captação demonstrado pela RAIU
de fato alterado. Resposta: C. (ver a seguir). Seu limite de variação normal é
de 5 a 30% da dose administrada. A RAIU tem
sua principal utilidade na distinção entre hiperti-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006 reoidismo e tireotoxicose sem hipertireoidismo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP – (voltaremos a falar disso mais adiante). Outra
RIBEIRÃO PRETO utilidade seria no cálculo da dose ideal de 131I
Mulher, com 48 anos de idade, assintomática e para os procedimentos de radioablação.
sem alterações ao exame físico, exceto obesida-
de, refere cirurgia de cálculo vesical, complicada
por pneumonia hospitalar, tendo recebido alta há
Avaliação da
15 dias. É obesa há vários anos, com dificulda-
Anatomia Tireoidiana
de para perder peso, e foi solicitado exames de
função tireoidiana, abaixo representados: Cintilografia: Visualiza a captação de iodo
marcado pela tireoide. Em geral, é usada para
T4 livre TSH Anticorpo dois objetivos:
antiperoxidase
1,1 9,0 30 a) Determinar o estado funcional de um nódulo
Faixa normal = Faixa normal = Normal = palpável na tireoide.
0,7-1,7 mg/dl 0,3-4,0 mU/ml ≤ 35 U/ml
b) Avaliar marcas no pescoço ou na região
superior do tórax, à procura de tecido ti-
Considere os resultados de exames do qua- reoideo ectópico.
dro acima e formule a hipótese diagnóstica e
a conduta para o caso: USG: Pode determinar se um nódu-
a) Hipotireoidismo subclínico e a conduta seria lo de tireoide é cístico ou sólido, ou
iniciar o tratamento com L-tiroxina em doses mesmo descobrir nódulos pequenos
baixas (25 ug/dia). demais para serem palpados.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 19
Biópsia x Aspiração com Agulha: Como Às vezes, cai de uma forma tão simples
veremos em outro momento, estes testes assim:
são a melhor abordagem para avaliação dos
nódulos tireoidianos. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE – UFRN
Melhor exame a ser solicitado quando se sus-
peita de que o paciente apresenta tireopatia:
a) Ultrassonografia de tireoide.
b) T4 livre.
c) T3 livre.
d) TSH.
Distúrbios da Tireoide
Alguns dados que valem ser lembrados: diagnóstico diferencial: intolerância ao calor,
taquicardia com palpitações, tremores, etc.
• Em geral, nos jovens predominam os sinto-
mas nervosos e subjetivos; enquanto nos • A tireotoxicose pode determinar manifestações
idosos, os cardiovasculares e os miopáticos. oculares resultantes da hiperestimulação sim-
pática e que desaparecem após correção da
• A síndrome adrenérgica pela tireotoxicose tireotoxicose, sendo necessária a distinção
pode ser muito semelhante a do feocromo- entre estas manifestações e a oftalmopatia
citoma, tornando este tumor um importante infiltrativa da doença de Graves (ver adiante).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 21
Propranolol – 20-60 mg VO 6/6h - 8/8h • Tem custo mensal até 70% mais barato.
nificativos após cerca de 10 a 15 dias de trata- tiouracil ou metimazol) em caso de febre e/ou
mento, uma vez que essas drogas não agem surgimento de dor de garganta, uma vez que a
sobre o hormônio já produzido e estocado na amigdalite é uma das primeiras manifestações
glândula. Após cerca de quatro semanas de de agranulocitose. A internação hospitalar
tratamento, novos exames devem ser solicita- imediata, em caso de agranulocitose confir-
dos e a dose da medicação aumentada, caso mada, e o início de antibioticoterapia de amplo
o paciente persista com hipertireoidismo. É espectro, em caso de febre associada, devem
importante se ter em mente que o TSH leva ser recomendados. Nestes casos as drogas
em torno de três meses para normalizar, pois antitireoidianas devem ser suspensas e não
os tireotrofos se encontram atrofiados e levam mais reintroduzidas, estando contraindicadas.
um certo tempo para recuperarem a sua fun- A conduta para o hipertireoidismo passa a ser
ção. Portanto deve-se monitorar a função ti- a radioablação com iodo...
reoidiana pelo T4 livre. A meta é o eutireoidis-
mo (T4 livre entre 0,9-2 ng/dl).
Quais são os doentes que respondem me-
lhor ao tratamento?
Por quanto tempo devemos manter o tra-
tamento? Aqueles com hipertireoidismo subclínico, glân-
dula pequena e sem oftalmopatia ativa.
Se a estratégia é manter a tionamida até a re-
missão do estado de hipertireoidismo, apesar E se a doença recidivar?
de não existir um período rígido, pré-definido,
em geral recomenda-se o tratamento por até Frente a uma recidiva, até pode ser tentado
1-2 anos. Precisamos lembrar que a doença mais um curso de terapia com drogas antiti-
não foi necessariamente curada e que cerca reoidianas, embora, nesta situação, a conduta
de 50% dos pacientes remitem... Por volta de mais recomendada seja a ablação da tireoide
75% das remissões ocorrem durante os seis com administração de iodo radioativo.
primeiros meses após a suspensão da droga
e 90% são observadas em um período de dois
anos. Após o tratamento, o paciente deve ser RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
avaliado pelo menos anualmente. INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
O pior efeito colateral do metimazol, é:
Quais são os principais efeitos adversos a) Câncer de pâncreas.
das Tionamidas? b) Acidente vascular cerebral.
c) Aplasia de medula óssea.
Os efeitos adversos são mais comuns em d) Leucemia mieloide aguda.
indivíduos acima dos 40 anos, naqueles que e) Cetoacidose diabética.
reiniciam tratamento após uso descontínuo
de propiltiouracil e em pacientes que fazem Dentre os efeitos adversos das tionamidas,
uso de mais de 30 mg/dia de metimazol. Os o mais temido consiste na agranulocitose, que
efeitos colaterais das tionamidas ocorrem com ocorre em menos de 1% dos pacientes, sendo
maior frequência nos primeiros seis meses de de instalação súbita, caracterizada pelo apa-
terapia. Veja os principais efeitos adversos do recimento de neutropenia grave por aplasia
uso das tionamidas: medular! Alternativa C correta.
Preparo Pré-Operatório
B – Cirurgia
• Uso adequado de PTU ou metimazol é
Antes da introdução do iodo radioativo, a tireoi- mandatório nas seis semanas que antece-
dectomia subtotal era a forma clássica de terapia dem à cirurgia.
ablativa. No entanto, as indicações atualmente
estão cada vez mais reduzidas, devido às com- • Iodeto de potássio, veiculado pela solu-
plicações relacionadas a este procedimento. ção de Lugol (3-5 gotas VO 8/8h), deve
ser iniciado cerca de 7-10 dias antes da
Indicações: cirurgia. Esta terapia tem como objetivo
diminuir a vascularização da glândula e
• Pacientes que não controlam a doença facilitar o ato cirúrgico.
com tionamidas ou não as toleram e que
recusam o 131I. Complicações: O índice de complicações
varia conforme a experiência e a habilidade
• Doença com bócio volumoso causando de- da equipe cirúrgica. Um trabalho realizado
formidade estética ou comprimindo traqueia mostrou a seguinte taxa de complicações
e trazendo desconforto. em pacientes com doença de Graves:
Paciente em uso de dose alta de metimazol, manece normal – ou seja, a paciente não
muito acima da dose de manutenção usual. desenvolve hipertireoidismo. Dessa forma,
Os 40 mg/dia que esta paciente está receben- concluímos que a assertiva A é incorreta.
do costumam corresponder à dose máxima de Quanto às demais assertivas:
ataque, que usamos apenas nas primeiras
semanas de tratamento. Ou seja, não temos - Estamos diante de um caso clássico de ti-
como aumentar mais a dose do metimazol. reotoxicose, provavelmente causada por hi-
Ainda assim a paciente apresenta redução pertireoidismo (causa mais provável: doença
importante do TSH, embora o T4 livre esteja de Graves).
na faixa superior de normalidade. O TSH de-
mora em torno de três meses para normalizar - O tabaco está associado à piora da oftal-
com o tratamento, pois os tireotrofos se en- mopatia de Graves.
contram atrofiados e levam um certo tempo
para recuperarem a sua função. Contudo, - A agranulocitose, após o uso de uma tio-
considerando uma paciente que já está em namida, que ocorre em 0,5% dos pacientes,
tratamento há três anos, o TSH já deveria es- contraindica a reutilização de qualquer fárma-
tar na faixa normal. Dessa forma, considera- co da classe. Nesses casos, a conduta para
mos que há falha ao tratamento com droga o hipertireoidismo passa a ser a radioablação
antitireoidiana (o que ocorre em 50% dos com iodo ou a cirurgia.
casos) e devemos partir para outra forma de
tratamento, como radioiodo ou cirurgia, com
preferência para a primeira (a não ser que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
houvesse bócio volumoso, gestação ou sus- ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
peita de neoplasia, por exemplo, situações nas RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS
quais a escolha seria a cirurgia). Não há ne- Constitui indicação para tireoidectomia subto-
cessidade de betabloqueador, corticoide ou tal no hipertireoidismo, EXCETO:
outras medidas para controle da tireotoxicose a) Bócio proeminente.
simplesmente, pois não há sintomas de tireo- b) Bócio multinodular com baixa captação de
toxicose! Logo, melhor resposta: Letra C. iodo radioativo.
c) Gravidez.
d) Bócio pequeno em pessoas aderentes ao
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 tratamento.
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG e) Bócio induzido por amiodarona.
Paciente de 32 anos, solteira, professora, vem
à consulta com queixa de perda de 3 kg no Mesmo não utilizando o livro debaixo do
último mês, apesar de alimentar-se bem. Na braço, com as indicações clássicas de ci-
última semana, teve episódios de palpitações rurgia, podemos acertar esta questão. Na-
taquicárdicas em repouso, o que a preocupou turalmente, bócios pequenos em pessoas
muito. É fumante desde os 12 anos de idade que aderem ao tratamento para o hipertireoi-
(3 maços/dia) e não faz uso de bebida alcoóli- dismo não indicarão cirurgia, pois a doença
ca. É nulípara e usa etinilestradiol + norgestrel pode ser controlada por terapia farmaco-
como contraceptivo oral. Os familiares (pais e lógica. Isso já seria suficiente para acertar
dois irmãos) são saudáveis. Ao exame: P = 55 a questão. Resposta: D. Bócios grandes e
kg; E = 1,69 m; PA = 145/76 mmHg; FC = 96 multinodulares são indicação de cirurgia e a
bpm. Corada, sem edemas, tireoide com au- gestação não contraindica. A dúvida maior
mento leve e difuso, indolor e sem frêmitos. aqui seria em relação à tireoidectomia na
Tremor fino das extremidades. Pele macia e tireotoxicose induzida pela amiodarona. Cer-
quente. Exoftalmia bilateral moderada, hipere- tamente não se trata da terapia de escolha,
mia conjuntival e piscar frequente. Com relação como veremos mais à frente, mas pode ser
ao caso acima é correto afirmar, EXCETO: uma opção terapêutica nos casos resistentes
a) A utilização de contraceptivos orais pode ao tratamento medicamentoso.
determinar redução dos níveis do T4 total.
b) O diagnóstico mais provável é de tireotoxi-
cose secundária ao hipertireoidismo. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
c) O tabaco contribuiu para a piora do prog- UNIVERSIDADE FEDERAL DE
nóstico da oftalmopatia. SÃO PAULO – UNIFESP
d) Se a paciente vier a utilizar-se do propiltiou- Mulher, com 30 anos de idade, há 2 meses
racil e tiver leucopenia grave, metimazol não apresenta quadro de palpitações, insônia, irri-
constitui opção terapêutica. tabilidade, aumento do número de evacuações
e perda de peso. Ao exame físico: bom estado
A Tiroxina (T4) é o principal hormônio ti- geral, descorada +/4+, tireoide aumentada 3
reoidiano e circula na corrente sanguínea vezes, sem nódulo palpável. Tem hiperemia
essencialmente na forma complexada a pro- conjuntival, edema e retração de pálpebras.
teínas carreadoras. Contudo, somente a Ausculta cardíaca normal, frequência cardíaca
porção livre (não ligada) de T4 é responsá- de 116bpm e PA 135 x 85 mmHg. Tremor de
vel pela ação biológica. Durante o uso de extremidades presente. Exames laboratoriais:
contraceptivos contendo estrogênio, ocorre TSH <0,03 µm/l (VN: 0,5 a 4,5); t4 livre 4,2
aumento dos níveis totais de T3 e T4 devido ng/dl (VN:0,7 a 1,5). Hemoglobina 11,2 g%,
ao aumento da TBG – globulina de ligação leucócitos 6200, plaquetas 180.000. Cintilo-
ao hormônio tireoidiano – mas o T4 livre per- grafia de tireoide com captação difusamente
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 31
a ser realizado, visto que se o seu valor estiver pele quente, úmida e sedosa, cabelos finos,
dentro da normalidade, podemos assegurar tremor fino ao estender as mãos, frequência
que o paciente não possui hipertireoidismo cardíaca de 110 bpm e hiper-reflexia tendinosa.
primário. Caso o TSH venha baixo, aí solicita- Nos exames complementares dessa paciente,
mos T3 e T4, para complementar a investiga- é mais provável que se encontre:
ção. Isto tanto é verdade, que alguns laborató- a) T3 baixo.
rios fazem a pesquisa automática do T3 e do b) T4 baixo.
T4 frente a um TSH reduzido. c) T4 livre baixo.
Considere que a principal hipótese diagnósti- d) TSH baixo.
ca foi confirmada. Cite a(s) conduta(s) tera- e) Captação de iodo baixa.
pêutica(s) indicada(s) ao caso.
O que define laboratorialmente tanto o hi-
Gabarito oficial: Propiltiouracil ou metimazol
pertireoidismo quanto a tireotoxicose? TSH
ou radioiodoterapia ou tireoidectomia. Beta-
reduzido! É claro que no hipertireoidismo cen-
bloqueador.
tral a coisa muda de figura, mas são distúrbios
muito raros. Resposta: D.
Caso a hipótese de doença de Graves seja
confirmada, devemos planejar a instituição do
tratamento. Em primeiro lugar, devemos con-
trolar os sintomas relacionados à hiperativação Segundo Passo:
adrenérgica, através da prescrição de beta- Identificar e tratar a causa da tireotoxi-
bloqueadores (propranolol ou atenolol). O cose
propranolol ainda possui o benefício de inibir
a conversão periférica de T4 em T3.
Após confirmado o quadro de tireotoxicose, o
Mas em relação ao tratamento da doença de próximo passo é definir a causa exata (Algorit-
Graves em si, existem três estratégias tera- mo 2). Este fato é de fundamental importância
pêuticas disponíveis: porque a estratégia terapêutica a ser utilizada
• Drogas antitireoidianas (metimazol ou pro- depende da causa de base do distúrbio. O
piltiouracil) até a remissão; bócio multinodular tóxico, por exemplo, não
• Radioablação com iodo radioativo; regride apenas com o uso de antitireoidianos
• Cirurgia (tireoidectomia subtotal). como pode ocorrer na doença de Graves. Por
outro lado, a tireotoxicose decorrente das ti-
Nos EUA a terapia de primeira escolha consis- reoidites é de caráter transitório, sendo neces-
te na ablação por iodo radioativo, enquanto que sário apenas alívio temporário dos sintomas.
na Europa e América do Sul, o uso das drogas
antitireoidianas ainda é a primeira opção. Na prática, o grande diagnóstico diferencial se
dá entre a tireotoxicose sem hipertireoidismo
(principalmente as tireoidites) e com hiperti-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 reoidismo (doença de Graves).
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
DO CEARÁ – ESPCE
Mulher de 28 anos, com história de nervosismo, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL = TIREO-
choro fácil, dificuldade para dormir e palpitação. TOXICOSE SEM HIPERTIREOIDISMO x TI-
Ao exame, apresenta-se irrequieta, logorreica, REOTOXICOSE COM HIPERTIREOIDISMO
Algoritmo 2
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 36
Dados Clínicos:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
Uma grande pista para definir a causa da HOSPITAL DAS CLÍNICAS
tireotoxicose é observar a duração dos sinto- DE PORTO ALEGRE – RS
mas. Na doença autoimune há uma liberação Paciente de 28 anos consultou por emagreci-
lenta de hormônios para a circulação, enquan- mento (2 kg em 3 semanas), palpitações e into-
to nas inflamações há uma liberação mais lerância ao calor. Ao exame físico, a frequência
súbita e em maior quantidade. Desta forma, cardíaca era de 120 bpm, a pele estava quente
pacientes com doença de Graves tendem a e a tireoide palpável, sem aumento de volume
apresentar sintomas há alguns meses, que ou nódulos. Não havia sopro à ausculta nem
aumentam progressivamente até que ficam sinais de oftalmopatia ou lesões na pele. Os
muito inconvenientes e o fazem procurar o exames laboratoriais mostram TSH de 0,07 UI/
médico. Nas tireoidites, os pacientes costu- ml (valor de referência (VR): 0,27 - 4,2 UI/ml),
mam saber uma data precisa para o início dos T4 total de 16,2 µg/dl (VR: 5,1 - 14,1 µg/dl) T3
sintomas, que geralmente não têm mais de total de 210 ng/dl (VR: 80-200 ng/dl) e captação
30 dias. Além da cronologia dos sintomas, a de iodo em 24h < 1% (VR: 15% - 35%). Com
possibilidade de tireotoxicose exógena (ex.: base no quadro, considere as assertivas abaixo.
tireotoxicose factícia) deve ser investigada
na coleta da anamnese. Por último, o exame l - Não se pode avaliar o caso sem a dosagem
físico também é fundamental para auxiliar na de anticorpos contra o receptor de TSH
distinção entre o aumento difuso ou nodular (TRAb).
da tireoide. A ausência de tireoide palpável
também pode sugerir a existência de uma fon- ll - O quadro é compatível com tireotoxicose.
te extratireoidea de hormônio: tecido tireoideo
ectópico ou a autoadministração de hormônio lll - Tireoidite subaguda e ingestão de hormô-
(tireotoxicose factícia). nios tireoidianos são hipóteses diagnósticas a
serem consideradas.
Exames Complementares:
Quais são corretas?
De uma forma geral, na tireotoxicose por doen- a) Apenas l.
ça de graves e no bócio nodular tóxico, o T3 b) Apenas ll.
livre tende a estar mais elevado que o T4 livre. c) Apenas lll.
A elevação mais acentuada do T4 livre fala a d) Apenas ll e lll.
favor da tireoidite subaguda e do hipertireoidis- e) l, ll e lll.
mo induzido pelo iodo. No entanto, o grande
exame diferencial é o padrão de captação do Temos um paciente que apresenta sintomas
iodo radioativo (RAIU). No hipertireoidismo, a compatíveis com tireotoxicose (perda ponderal
captação está elevada (35-95%); na tireoidi- involuntária, taquiarritmia e intolerância ao calor),
te, bastante reduzida. É rara a existência de o que foi confirmado por evidências laboratoriais
tecido tireoideo ectópico produzindo tireotoxi- de excesso de hormônio tireoidiano circulante
cose. Nesta situação, a RAIU está diminuída (T3 e T4 aumentados, TSH suprimido)... É mui-
(0-5%) devido à inibição do TSH e o tecido to importante não esquecer as diferenças en-
ectópico em geral pode ser encontrado pela tre tireotoxicose e hipertireoidismo... O termo
cintilografia. Do ponto de vista fisiológico, a “tireotoxicose” descreve a síndrome clínica se-
tireotoxicose factícia se assemelha à induzida cundária ao excesso de hormônio tireoidiano,
por tecido ectópico e a tireoide também se enquanto “hipertireoidismo” se refere tão somen-
apresenta suprimida (0-2%). A USG da tireoide te a um dos mecanismos causadores da tireo-
pode complementar o exame físico, sendo o toxicose – o excesso de produção de hormônio
achado de nódulos no exame, uma indicação pela própria glândula tireoide! Lembre-se que a
para associar a cintilografia à RAIU. tireotoxicose pode ter outras causas, como as
tireoidites agudas e subagudas (a lesão inflama-
Outros exames que podem ser solicitados: tória no parênquima promove liberação do hor-
mônio pré-formado que estava estocado nos
Suspeita de tireoidite subaguda = hemo- folículos coloides) e a famosa tireotoxicose fac-
grama e VHS. tícia (ingestão de excesso de hormônio tireoidia-
no, o que aumenta tanto o T4 quanto o T3). Em
Suspeita de tireotoxicose factícia = ti- ambas as condições citadas há um excesso de
reoglobulina. Em casos de tireotoxicose hormônio circulante – responsável pela sintoma-
decorrente de hiperfunção da glândula tologia apresentada – que reduz diretamente
tireoide ou de tireoidite subaguda, a ti- (feedback negativo) a secreção hipofisária de
reoglobulina está elevada e nos casos de TSH. Com a baixa do TSH, as células dos folí-
tireotoxicose factícia está baixa. culos tireoidianos perdem o principal estímulo
para a captação de iodo, e por este motivo, a
Suspeita de mola hidatiforme ou coriocar- captação de iodo radioativo (RAIU - RadioActive
cinoma = beta-hCG. Iodine Uptake) encontra-se abolida... Este dado
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 37
Durante muito tempo, o propiltiouracil foi con- A síntese hormonal nesta fase é bem pequena
siderado o fármaco de primeira linha para o até a 18ª a 20ª semana, quando passa a se
tratamento do hipertireoidismo na gestação, elevar gradativamente. Quando nascem, apre-
principalmente devido aos efeitos teratogêni- sentam TSH elevado e T3 e T4 livres baixos.
cos relacionados ao uso do metimazol (aplasia Logo após o nascimento, o TSH faz um pico a
cutânea e atresia de coanas). Porém, as cres- 50-80 mU/L e depois retorna a 10-15 um/L.
centes evidências de insuficiência hepática Nesse tempo, a concentração de T3 e T4 au-
relacionada ao uso do propiltiouracil e o fato menta e fica pouco acima dos valores normais.
de que as complicações teratogênicas relacio-
nadas ao uso do metimazol seriam limitadas Com relação ao fluxo placentário, 20-50% do
ao primeiro trimestre, fizeram com que, desde hormônio tireoidiano circulante é capaz de
2010, tanto o FDA como a American Thyroid atravessar a placenta; enquanto pouco TSH o
Association passassem a recomendar o uso faz. Passam pelo cordão placentário também
do propiltiouracil apenas nos primeiros três o TRH (podendo, inclusive, ser administrado
meses de gestação, devendo ser trocado por de forma exógena para estimular o TSH fetal)
dose equivalente do metimazol após esse e anticorpos contra receptor de TSH responsá-
período. Para o controle da função tireoidiana, veis por quadros autoimunes. Em até 5% dos
permite-se a manutenção de um perfil hormo- casos, os anticorpos anti-TSH estimulantes
nal compatível com leve hipertireoidismo, com (TRAb) podem passar a barreira placentária e
o objetivo de se evitar o surgimento de hipoti- causar tireotoxicose fetal ou tireotoxicose
reoidismo fetal. Todavia, o feto deve ser cons- neonatal. O tratamento é feito com propiltiou-
tantemente monitorizado com intuito de se racil dado à própria gestante (na fetal) ou ao
identificar sinais de tireotoxicose fetal. recém-nato.
(2º/3º trimestres). Ou seja, o tratamento de atualmente, ele fica restrito ao primeiro trimes-
gestantes do hipertireoidismo deve ser reali- tre devido ao risco de lesão hepática, sendo
zado com propiltiouracil durante o primeiro substituído pelo MMZ a partir de então.
semestre e metimazol no restante da gesta-
ção. Se a paciente está em uso do metimazol, III incorreto: este item se refere ao próximo
deve ter a medicação trocada por PTU duran- capítulo, mas já vamos adiantar que o desen-
te o primeiro trimestre e, após este período, volvimento de hipotireoidismo franco (redução
voltar a receber metimazol. Gabarito opção B. de T4 e T3) é pouco comum na gravidez, já
que grande parte dessas mulheres não ovulam
(e, portanto, não conseguem engravidar) e
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 também porque o hipotireoidismo é uma causa
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – importante de perda fetal. Em todo caso, não
HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG é o nível TOTAL que vai fazer diagnóstico.
Mulher, 26 anos, recebe o diagnóstico de Resposta: B.
doença de Graves na quarta semana de gra-
videz. O tratamento eficaz inclui:
a) Iodorradioativo, com a finalidade de ablação RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
da glândula. HOSPITAL DO SERVIDOR
b) Betabloqueadores, visando normalização PÚBLICO MUNICIPAL – HSPM
da pressão arterial e provas de função tireoi- Mulher de 25 anos de idade, asmática, procura
diana normais. assistência médica devido a atraso menstrual,
c) Propiltiouracil, com o intuito de manter as nervosismo, palpitação e insônia. O exame
provas de função tireoidianas acima do normal. físico mostra bócio difuso e taquicardia. Labo-
d) Metimazol, visando provas de função tireoi- ratorialmente detecta-se TSH < 0,01 uU/ml e
diana normais. beta-HCG positivo. Os exames mais indicados
para definir a etiologia do quadro e a primeira
Como tratar as gestantes hipertireoideas? escolha terapêutica são, respectivamente:
Iniciamos com PTU no primeiro trimestre, po- a) Cintilografia de tireoide e propiltiouracil.
dendo manter um estado de leve hipertireoi- b) Anticorpo antirreceptor de tireotrofina e
dismo, para evitar o hipotireoidismo fetal. A propiltiouracil.
partir do segundo trimestre, a recomendação c) Cintilografia de tireoide e propranolol.
atual é de que seja trocado pelo MMZ, se d) T4 livre e metimazol.
houver necessidade de manter o tratamento. e) Anticorpo antirreceptor de tireotrofina e
A ablação com iodo radioativo está totalmente propranolol.
contraindicada. Resposta: C.
Um TSH < 0,01 mUI/ml com essa sintoma-
tologia define o quadro de hipertireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 Como há presença de bócio difuso, nem seria
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO preciso solicitar o teste de captação do iodo em
RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS 24 horas para definir o diagnóstico. O caso em
Considere as afirmativas que seguem , em questão se trata de doença de Graves! Além
relação às doenças da tireoide na gestação: do mais, essa mulher está grávida (beta-hCG
I - A tireotoxicose gestacional transitória é a positivo) e, portanto, este teste está totalmente
alteração mais frequente, é autoimune e ocor- contraindicado. A dosagem de autoanticorpos
re um aumento do T4 livre, com TSH normal. pode ser solicitada, mas não é obrigatória e
II - A doença de Graves requer tratamento com mesmo que o diagnóstico não seja conclusi-
propiltiouracil e está associada com complica- vo, não importa. Iniciaremos assim mesmo o
ções maternofetais, como aborto espontâneo, tratamento com propiltiouracil. Resposta: B.
hipertensão arterial e hipertireoidismo neonatal.
III - O hipotireoidismo tem como causa mais
comum a tireoidite de Hashimoto e o diagnós- Conclusão do Cenário 02
tico será feito com T3 e T4 total diminuídos. Tireotoxicose e Gestação
Qual alternativa está correta? Considerando-se que a paciente seja portado-
a) Apenas I. d) Apenas I e II. ra de hipertireoidismo e esteja grávida, o trata-
b) Apenas II. e) Apenas I e III. mento de escolha passa a ser o propiltiouracil
c) Apenas III. (1º trimestre) e metimazol (2º/3º trimestres). O
não tratamento desta condição expõe tanto a
Vejamos as opções: gestante como o feto a algumas complicações
como toxemia e tireotoxicose neonatal. Para
I incorreto: a tireotoxicose gestacional transitó- investigar a causa, além dos dados clínicos,
ria não é autoimune e nem ocasiona aumento podemos solicitar a dosagem de TRAb. Os tí-
das frações livres de T4, mas só o T4 total pelo tulos deste anticorpo podem inclusive predizer
aumento da TBG mediado pelo estrogênio. O a chance de tireotoxicose neonatal.
TSH pode vir reduzido (entre 0,1 e 0,4 mUi/
ml) enquanto houver elevação da hCG, daí o
nome de tireotoxicose subclínica transitória. Cenário 03
Imagine um senhor de 62 anos, previamente
II correto: como vimos, o tratamento deve ser hígido, que se apresente no pronto-socorro
realizado com propiltiouracil devido ao risco com palpitações e pulso irregular de início
de complicações maternas e fetais. Contudo, abrupto, com um ECG diagnóstico de fibrila-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 40
(2) Aumento súbito dos níveis de T4 livre: tireotóxica. Confusão, delirium, agitação
A velocidade com que o hormônio livre se e psicose franca podem evoluir para
eleva tem maior relação com a gravidade obnubilação, estupor e coma. Outros
do quadro clínico do que com o valor ab- sinais e sintomas clássicos são: febre
soluto propriamente dito. Veja por que os alta (até 41ºC), insuficiência cardíaca
níveis de T4 livre podem se elevar muito de alto débito, hipertensão com PA diver-
rápido na crise tireotóxica: gente, taquicardia acentuada, fibrilação
atrial aguda, icterícia (com eventual in-
1) Diminuição súbita da proteína de trans- suficiência hepática), sudorese intensa,
porte hormonal. Este fenômeno tem diarreia, náusea e vômitos. O choque
sido observado em pós-operatórios. hiperdinâmico (semelhante ao séptico,
mas com componente cardiogênico) tem
2) Formação de inibidores da ligação hor- sido descrito. Dor abdominal e abdome
monal à proteína de transporte. agudo, status epilepticus e insuficiência
renal aguda por rabdomiólise são apre-
3) Liberação excessiva de hormônio pela sentações raras.
glândula, saturação dos sítios nas
proteínas de transporte e maior fração
livre disponível. Confirmando o diagnóstico de crise
tireotóxica
Clínica:
Inúmeros diagnósticos diferenciais podem si-
Os pacientes, com frequência, têm os mular um quadro de crise tireotóxica: sepse,
mesmo achados da tireotoxicose, porém disfunção hepática, insuficiência renal, cetoa-
tão exacerbados que levam à disfunção cidose diabética, doença cerebrovascular, etc.
orgânica cerebral, cardíaca, etc. As ma- Para facilitar a abordagem desses pacientes,
nifestações neurológicas são as mais alguns critérios diagnósticos foram desenvol-
importantes para caracterizar a crise vidos. Veja a seguir:
Diagnóstico: É feito com base na associa- Não devemos nos surpreender com pa-
ção de um quadro clínico compatível, ou seja, cientes que mantêm os sintomas mesmo
bócio e hipotireoidismo, com o achado de ní- após redução do TSH, pois muitos só apre-
veis aumentados de autoanticorpos tireoidia- sentam melhora completa após 3-6 meses
nos, especialmente o anticorpo anti-TPO com o TSH no “alvo”.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 46
Obs.: Embora o subtratamento seja uma prá- necessária do hormônio. Nesses casos, se
tica comum, reparem que ao deixar o nosso não estivermos atentos para essa interação,
paciente com subdose de hormônio tireoidiano, o início da reposição hormonal pode condu-
estamos também expondo-o a todos os efeitos zir ao subtratamento (quando administramos
deletérios do hipotireoidismo ao longo do tem- uma dose menor do que o paciente necessita)
po, inclusive uma piora significativa da própria ou à tireotoxicose (quando a dose administra-
coronariopatia por hipertensão e dislipidemia. da é exagerada). Veja os principais exemplos
a seguir:
estava numa fase subclínica, mas a persistên- hormônio se esgotam e a glândula não produz
cia do efeito de Wolff-Chaikoff acaba desen- mais hormônio novo, fazendo os múltiplos
cadeando franco hipotireoidismo com o passar órgãos e tecidos do corpo começarem a dar
do tempo, pois as reservas endógenas do sinais de carência do hormônio tireoideano!
TIREOIDITES
Tipo Evolução Causa Função RAIU Anti-TPO
Tireoidiana
Dolorosa
Supurativa Aguda Bacteriana Normal Normal Ausente
Trauma Aguda Destruição Variável < 5% Ausente
Irradiação do
parênquima
Granulomatosa Subaguda Viral Variável < 5% Baixo ou
(células gigantes ou ausente
De Quervain)
Indolor
Induzida por droga
Amiodarona Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa Ausente
subaguda
Interferon-alfa Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa 5-10%
subaguda
Interleucina-2 Aguda ou Inflamação Hiper ou hipo Baixa < 10%
subaguda
Lítio Aguda ou Autoimune Hiper ou hipo Baixa 33%
subaguda
Pós-parto Subaguda Autoimune Variável < 5% Altos títulos,
persistente
Linfocítica subaguda Subaguda Autoimune Variável < 5% Presente, per-
(tireoidite esporádica sistente
silenciosa)
Doença de Hashimoto Crônica Autoimune Normal ou hipo Normal ou Altos títulos,
baixa persistente
Riedel Crônica Fibrose Normal ou baixa Normal ou Presente
baixa
Algoritmo 3
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 53
Então, aprenda mais um conceito! Um teste níveis séricos de TSH vão aumentar. Em caso
empregado para esses casos é o de estimu- de doença hipofisária não haverá resposta ao
lação pelo TRH. Administra-se ao paciente TRH ou somente uma resposta parcial.
o TRH sintético e observa-se a resposta do
TSH. Observem que o estímulo pelo TRH não gerou
resposta hipofisária. Qual será a nossa con-
Caso a doença esteja no hipotálamo, signi- clusão? A doença está na hipófise, portanto,
fica que a hipófise está íntegra e vai haver hipotireoidismo secundário. Agora não resta
resposta tardia à infusão de TRH, ou seja, os mais dúvida. Resposta: B.
Algoritmo 4
Segundo Passo: 0,5 ng/dl (VR: 0,8-2,0); TSH: 5,3 mU/L (VR:
Identificar e tratar a 0,7-5,7). Baseado nestes achados, o próximo
causa de hipotireoidismo
procedimento diagnóstico mais adequado é:
a) Dosagem de Anticorpos antitiroperoxidase
e antitiroglobulina.
No caso do hipotireoidismo, o grande diagnós- b) Ultrassonografia da glândula tireoide.
tico diferencial se dá entre as formas primária c) Mapeamento e captação tireoidiana.
e secundária. A forma secundária é bem me- d) Avaliação global da função hipofisária.
nos comum, e o diagnóstico se faz por exame
de imagem e pela avaliação de hipofunção Repare nas opções: três delas se referem a
em outras glândulas dependentes do sistema possíveis investigações de distúrbios diretamen-
hipotálamo-hipófise. Após a confirmação labo- te relacionados com a glândula tireoide. No
ratorial do hipotireoidismo primário, o próximo entanto, repare que o problema é na estimulação
passo é solicitar a pesquisa de anticorpos anti- a essa glândula e não na própria. Podemos
-TPO. Devemos ressaltar apenas que 10% dos afirmar isso na medida em que temos um T4
pacientes com diagnóstico histológico de tireoi- abaixo da normalidade, mas o mecanismo de
dite autoimune não mostram autoanticorpos na feedback não está fazendo com que haja eleva-
circulação. Veja o Algoritmo 4, proposto para ção proporcional do hormônio estimulante (TSH).
investigação da causa do hipotireoidismo. Neste sentido, é imperioso que investiguemos
o eixo central que proporcionaria um aumento
de TSH e, provavelmente, conseguiria compen-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 sar a queda de função da glândula, mantendo,
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO num primeiro momento, os níveis hormonais
PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO adequados. Gabarito: letra D.
Menina, 11 anos de idade. HMA: apresenta fa-
diga, constipação intestinal, queda do rendimen-
to escolar e redução do ritmo de crescimento há Residência Médica – 2007
cerca de 1 ano. ES: Na avaliação da função ti- Hospital Central
reoidiana foi observado: T4 total: 4,8 mcg/dl da Aeronáutica – HCA
(Valor de referência - VR: 6,4-13,3); T4 Livre: No ambulatório, uma mulher de 42 anos quei-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 54
xa-se de leve aumento do pescoço. Durante Aqui estamos diante de outra situação: uma
seu exame físico: bom estado geral, febril, paciente assintomática e com a função tireoi-
glândula tireoide palpável, aumentada, lisa, diana normal, exceto por uma elevação do
borrachosa e indolor. Provas de função tireoi- TSH. Trata-se do hipotireoidismo subclíni-
diana: T4, T4 livre e T3 são normais, mas o co! Conforme comentamos mais acima, no
TSH está levemente aumentado. Qual o diag- hipotireoidismo primário pode existir, inicial-
nóstico mais provável? mente, uma elevação isolada do TSH com T4
a) Deficiência de iodo. livre ainda no limite inferior da normalidade.
b) Câncer de tireoide. Na verdade, os níveis de T4 já estão reduzi-
c) Tireoide de Hashimoto. dos, mas como a hipófise elevou a produção
d) Doença de Graves. de TSH para compensar o deficit hormonal, o
e) Bócio multinodular. T4 ainda se mantém na faixa de normalidade.
Conclusão do Cenário 02
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Hipotireoidismo subclínico
COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA
Esta paciente tem hipotireoidismo subclínico
MÉDICA DO AMAZONAS – AM
e, apesar de assintomática, deve também ser
Uma mulher de 40 anos de idade, não fuman-
submetida à reposição de levotiroxina por
te e sem histórico familiar de doenças corona- apresentar dislipidemia.
rianas, submeteu-se a exames de rotina que
revelaram os seguintes resultados: Colesterol
total = 290 mg/dl; Colesterol LDL = 210 mg/dl; Cenário 03
Colesterol HDL = 45 mg/dl; Triglicerídios = 160 Numa verdadeira epidemia de senhoras de
mg/dl e Glicemia de jejum = 98 mg/dl. 52 anos, mais uma chega para ser atendida
A paciente, cujo índice de massa corpórea por você. Dessa vez, não no consultório,
(IMC) era de 26 kg/cm2, foi orientada a seguir mas no pronto-socorro em que você dá
uma dieta hipolipídica e a aumentar sua ativi- plantões no fim de semana. Ela se apre-
dade física. Três meses após, seu IMC era de senta confusa, com a pele bastante fria e
24,8 kg/cm2 e novos exames mostraram: Co- bradicárdica. À gasometria arterial, nota-
lesterol total = 253 mg/dl; Colesterol LDL = 180 -se importante acidose respiratória com
mg/dl; Colesterol HDL = 45 mg/dl e Triglicerí- PCO2 de 60 mmHg. O glicosímetro indica
dios = 140 mg/dl. Foi também avaliada a fun- o valor de 30 mg/dl. Você solicita a repo-
ção tireoidiana que mostra um TSH = sição de glicose e inicia os procedimentos
16 mcUI/ml (VN = 0,3 - 5) e T4 livre = 0,6 ng/dl para intubação orotraqueal. O único dado
(VN = 0,8 - 1,9). Qual a melhor conduta para disponível é que a paciente é portadora de
este caso? tireoidite de Hashimoto, mas que não vem
a) Iniciar fenofibrato ou ciprofibrato. utilizando Levotiroxina adequadamente há
b) Iniciar L-tiroxina. três meses, desde que seu marido faleceu.
c) Iniciar L-tiroxina + uma estatina. O que pensar deste caso?
d) Apenas insistir nas medidas não farmaco-
lógicas.
e) Iniciar uma estatina. Se o extremo do hipertireoidismo é a crise tireo-
tóxica, podemos considerar o extremo do hipoti-
Estamos diante de um quadro de hipotireoi- reoidismo o coma mixedematoso! Trata-se de
dismo (TSH aumentado + T4 livre reduzido). um distúrbio mais comum em mulheres idosas
Apesar de a paciente ser assintomática do nos meses de inverno. Existe frequentemente
ponto de vista clínico, existe uma alteração uma história de hipotireoidismo prévio, muitas
metabólica que provavelmente não irá melho- vezes com reposição hormonal realizada de
rar enquanto a carência de hormônio tireoidia- forma irregular pela paciente. Os principais fato-
no não for corrigida: a hipercolesterolemia. res precipitantes são as infecções respiratórias
Logo, há total indicação de se iniciar reposição (pneumonias) e do trato urinário, administração
hormonal com levotiroxina. Resposta certa: B. de sedativos, IAM, ICC, AVE e agravamento de
uma condição clínica preexistente. As princi-
pais alterações incluem prejuízo importante das
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 funções do sistema nervoso central somado à
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA descompensação cardiovascular e respiratória.
Moema tem 56 anos e realiza terapia de re- O reconhecimento desta condição pelo clínico
posição hormonal com levonorgestrel e pro- e pelo intensivista é prejudicado pelo início insi-
gesterona. Encontra-se assintomática e não dioso e por sua incidência relativamente baixa.
apresenta alterações ao exame físico. Durante
realização de exames laboratoriais de rotina, O hormônio tireoidiano, através da ativação da
foi constatado colesterol total igual a 286 mg/dl, Na+/K+ ATPase, aumenta o consumo de oxi-
colesterol LDL de 197 mg/dl, colesterol HDL gênio nos tecidos, sendo um dos responsáveis
igual a 45 mg/dl e triglicerídios de 220 mg/dl. pela elevação da taxa metabólica basal. Na
O TSH se mostrou elevado em duas dosagens diminuição importante de seus níveis, existe
distintas: 9 mU/L e 9,2 mU/L (valor de refe- uma tendência comprovada à hipotermia. Essa
rência: 0,5 a 4,7 mU/L). O T4 livre foi igual a alteração não se encontra presente em todos
1,8 ng/ml (valor de referência: 0,8 a 2,7 ng/ml) os pacientes no coma mixedematoso, mas,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 56
Parte IV - Bócio
Síndromes da Suprarrenal
13
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 62
O primeiro conceito que devemos ter é o de E como é regulada a síntese desses hor-
que a grande função do córtex suprarrenal mônios esteroides?
é sintetizar os hormônios esteroides, subs-
tâncias derivadas do colesterol (endógeno e Este processo é um pouco diferente daquele
exógeno). Existem três tipos principais destes que ocorre na glândula tireoide, já que difere
hormônios: mineralocorticoides (aldosterona, para cada tipo de hormônio produzido.
desoxicorticosterona), glicocorticoides (cor-
tisol, corticosterona) e androgênios suprar- Veja o quadro abaixo:
renais (androstenediona, DHEA e S-DHEA).
Crescimento e Desenvolvimento: apesar Estão ficando raras, mas ainda existem ques-
de fundamental para o desenvolvimento de tões tão simples como essas.
diversos órgãos no período embrionário e
fetal (ex.: pulmão), o excesso de glicocorti- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
coides pode inibir o crescimento das FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
crianças graças a sua atuação catabólica. HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
Uma jovem, 20 anos de idade, apresenta his-
Outros efeitos: No sistema endócrino, ini- tória de aumento de peso (adiposidade cen-
be a liberação hipofisária do TSH e das go- tral), fraqueza, irritabilidade, amenorreia, es-
nadotrofinas pela hipófise, bem como a trias, hirsutismo, hipertensão arterial, intole-
conversão periférica do T4 em T3. São alte- rância à glicose. A hipótese diagnóstica a ser
rações marcantes a redução do libido, a considerada:
impotência em homens e, em mulheres, a a) Síndrome de Cushing.
amenorreia. No trato gastrointestinal au- b) Doença de Addison.
menta o risco de úlcera péptica e pancrea- c) Síndrome de ovários policísticos.
tite. Além disso, esses pacientes apresen- d) Feocromocitoma.
tam hipercoagulabilidade, com risco au-
mentado de eventos tromboembólicos. A presença de hirsutismo, ganho de peso e
intolerância à glicose em paciente jovem po-
deria até nos levar a pensar em SOP e doen-
Prevalência das
ça de Cushing como possíveis diagnósticos
manifestações clínicas da diferenciais. Porém, o quadro clínico é muito
síndrome de Cushing mais rico que o encontrado habitualmente na
(Harrison, 19ª edição) SOP, com outros achados que não são com-
Achado Percentual patíveis com este diagnóstico. Porém, se pen-
(%) sarmos no caso como um todo, com: adiposi-
Obesidade ou ganho de peso 80 dade central, intolerância à glicose, hiperten-
(> 115% do peso ideal) são secundária, estrias violáceas, fraqueza e
Pele fina 80 hirsutismo, fica óbvio o diagnóstico de hiper-
Fácies em lua cheia 75 cortisolismo, representado pela opção A. As
Hipertensão 75
opções B e D seriam hipóteses absurdas para
o quadro clínico descrito.
Estrias violáceas 65
Hirsutismo 65
Alterações menstruais 60 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
(geralmente amenorreia) HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR
Pletora 60 Em pacientes que usam corticoides cronica-
Intolerância à glicose 55 mente, podem acontecer as seguintes mani-
Impotência 55 festações metabólicas:
Miopatia proximal 50 a) Hiperlipidemia, hiperpotassemia e hipercal-
cemia.
Obesidade central 50
b) Hiperlipidemia, hiperpotassemia e osteopo-
Acne 45
rose.
Fragilidade capilar 45 c) Hipocolesterolemia, hipopotassemia e hi-
Alterações mentais 45 pocalcemia.
Osteoporose 40 d) Hipocolesterolemia, hiperpotassemia e os-
Edema de MMII 30 teoporose.
Hiperpigmentação 20 e) Hiperlipidemia, hipopotassemia e osteopo-
rose.
Alcalose hipocalêmica 15
Diabetes mellitus 15 Sabemos que o uso crônico de corticoides
acarreta um grande impacto do ponto de vista
metabólico, levando ao surgimento da chama-
da síndrome de Cushing iatrogênica. Dentre
as alterações metabólicas observadas, pode-
mos citar: intolerância à glicose, dislipidemia
(aumento da síntese hepática de VLDL), alca-
lose metabólica, hipocalemia (os corticoides
levam a uma perda urinária de potássio), os-
teoporose (corticoides reduzem a formação
óssea e aumentam a reabsorção), amenorreia,
dentre outras. Alternativa E correta.
Etiologia
Um pouco de história
O médico norte-americano Harvey Cushing, professor da Universidade
de Harvard, considerado “o pai da Neurocirurgia moderna”, foi quem
primeiro descreveu o hipercortisolismo decorrente de um adenoma
hipofisário secretor de ACTH, em 1912, publicando posteriormente o
artigo “The basophil adenomas of the pituitary body and their clinical
manifestations (pituitary basophilism)” em 1932. Por essa razão, acabou
homenageado com os epônimos referentes ao estado de hipercortisolismo
(síndrome de Cushing) e ao próprio adenoma hipofisário que acabara de
Selo comemorativo
estudar (doença de Cushing). Outra contribuição marcante deste
homenageando Dr. renomado neurocirurgião foi a descrição do reflexo de Cushing, presente
Cushing, EUA, 1988. em pacientes com hipertensão intracraniana.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 66
coide por até um ano após a cirurgia, pois pofisário preexistente. Tal síndrome foi descri-
a produção hormonal da hipófise rema- ta pela primeira vez em 1955 e recebeu o
nescente está temporariamente suprimida nome de síndrome de Nelson a partir de es-
(praticamente toda a produção de ACTH tudos publicados por este autor, sobre a de-
era originada do adenoma), levando a in- terminação de ACTH e crescimento de tumor
suficiência adrenal transitória. hipofisário após adrenalectomia. Assim, o
paciente que melhor se encaixa neste diag-
A adrenalectomia bilateral com reposição nóstico é o descrito na opção B, com hemia-
crônica de esteroides é a opção curativa nopsia bitemporal decorrente da compressão
final na doença de Cushing, podendo ser do quiasma, cefaleia (pelo efeito de massa) e
realizada por técnica laparoscópica. Uma o dado cirúrgico prévio.
das complicações conhecidas deste pro-
cedimento é a síndrome de Nelson (ob-
servada em até 42% dos casos). Nessa Secreção Ectópica de ACTH
síndrome, graças à perda do feedback
negativo pelo cortisol, ocorre crescimen- Conceito: Secreção de ACTH por tumores
to do tumor hipofisário, com níveis eleva- neuroendócrinos (é uma síndrome para-
dos de ACTH, hiperpigmentação cutânea neoplásica!).
e, eventualmente, sinais neuro-oftalmo-
lógicos (ex.: compressão do quiasma óp- Epidemiologia: Responde por até 15%
tico) por extensão local do tumor. O trata- dos casos da síndrome de Cushing. A
mento consiste em nova cirurgia hipofi- síndrome é mais comum em homens en-
sária ou radioterapia (especialmente nas tre os 40-60 anos; também é mais co-
crianças). A irradiação profilática da hipó- mum nos carcinomas do que nos sarco-
fise pode prevenir a síndrome de Nelson. mas ou linfomas – as fontes principais
são os tumores de pulmão, pâncreas e
Uma forma mais moderna de abordagem timo. A causa mais frequente é o carcino-
cirúrgica – a radiocirurgia Gamma Knife ma de pequenas células do pulmão (oat
– tem mostrado bons resultados. Para re- cell), segundo a maioria das referências,
duzir a incidência ou, pelo menos, retar- incluindo o Cecil. Porém, fique de olho se
dar o desenvolvimento da síndrome de aparecer algo diferente na sua prova,
Nelson, recomenda-se a irradiação pré- pois na última edição do Harrison encon-
via da hipófise. tramos a informação de que a principal
fonte de secreção ectópica de ACTH se-
Complicações: insuficiência adrenal riam os tumores carcinoides ocultos,
transitória, diabetes insipidus, insuficiên- mais frequentemente os brônquicos.
cia gonadal e deficiência de TSH.
Tumores associados à secreção
ectópica de ACTH
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Carcinoma pulmonar de pequenas células
Dos pacientes abaixo descritos, o principal (oat cell)
candidato ao diagnóstico de Síndrome de Nel- Carcinoide brônquico
son é: Carcinoide tímico
a) Paciente de 38 anos, sexo masculino, com Tumores pancreáticos
náuseas, perda ponderal e escurecimento da Feocromocitoma
pele nos últimos meses. Carcinoma medular da tireoide
b) Paciente de 50 anos, com hemianopsia Raramente no Ca de ovário, próstata,
bitemporal de início recente e cefaleia severa, mama, tireoide, rim, glândulas salivares,
diária, após adrenalectomia bilateral para Sín- testículos, vesícula
drome de Cushing.
c) Paciente de 28 anos com galactorreia e ir- Clínica: o protótipo é o carcinoma de pe-
regularidade menstrual associadas à fraqueza quenas células, cuja evolução rápida e
muscular proximal, obesidade centrípeta e geralmente fatal muitas não permite o
estrias violáceas. desenvolvimento de todos os sinais clás-
d) Paciente com hiperpigmentação cutânea sicos da síndrome de Cushing. Altera-
anos após tratamento de micose sistêmica ções como hipertensão, alcalose, hiper-
com antifúngicos por longo período. glicemia, hipocalemia e edema são mais
e) Paciente do sexo masculino, de 33 anos, comuns nos pacientes com secreção ec-
com hemianopsia bitemporal de início súbito, tópica de ACTH que naqueles com ade-
acompanhado de cefaleia severa e náuseas noma hipofisário secretor de ACTH.
e vômitos, 15 dias após o início de cabergoli-
na para tratamento de hiperprolactinemia. Diagnóstico: Exame de imagem (ex.: TC
de tórax).
A síndrome de Nelson é uma entidade clí-
nica que se desenvolve após adrenalectomia Tratamento: Depende do tumor asso-
bilateral para o tratamento de Síndrome de ciado à secreção ectópica. Nos casos
Cushing e se caracteriza por quadro de hiper- de tumores ressecáveis (ex.: carcinoide
pigmentação cutânea, níveis elevados de brônquico), a cirurgia pode levar à cura do
ACTH plasmático e crescimento de tumor hi- hipercortisolismo. No caso do oat cell, de-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 67
Saiba Mais!
Este teste utiliza o mecanismo de feedback
negativo do próprio corticoide sobre o eixo hi- Outros testes menos utilizados...
potálamo-hipófise-adrenal. Consiste na admi- Laboratorialmente, uma das formas de fa-
nistração de 1 mg de dexametasona, via oral, zer esse diagnóstico diferencial para pseu-
entre as 11 horas da noite e a meia-noite, se- do-Cushing seria o teste de dexametaso-
guido da medida do cortisol plasmático entre na com 2 mg em 2 dias (0,5 mg, 6/6h, por
as 8 e 9 horas da manhã do dia seguinte. Nor- 48 horas) seguido da dosagem do cortisol
malmente, seria esperada uma supressão do após a primeira e a última dose. Em teo-
eixo e um cortisol matutino reduzido. Tradicio- ria, teríamos uma inibição mais adequada e
nalmente, na síndrome de Cushing, teremos melhor avaliação da resposta do eixo. Na-
turalmente, com esta dose, seria esperada
um cortisol acima de 2 µg/dl (ou 50 nmol/l).
uma queda importante do cortisol sérico.
Atualmente, algumas referências têm sugerido
Assim, fechamos o diagnóstico da síndro-
um ponto de corte ainda menor (1,8 µg/dl).
me de Cushing, quando a queda não é tão
acentuada, mais especificamente quando
O teste da supressão com baixa dose de dexa- ela é menor que 5 µg/dl. Contudo, esse tes-
metasona apresenta até 30% de exames falso- te possui baixa especificidade e vem sendo
-positivos, não devendo ser usado isoladamente pouco utilizado.
como critério para síndrome de Cushing, neces-
Alguns autores, após esse teste, ainda citam
sitando de, pelo menos, outro exame adicional.
a administração de CRH (hormônio liberador
de corticotropina) para completar a avaliação.
Nos pacientes com síndrome de Cushing,
Método 02: Cortisol livre esse estímulo levaria a uma resposta exage-
urinário das 24 horas
rada, mesmo num eixo suprimido pela dexa-
metasona (>1,4 µg/dl). Uma última alternati-
Trata-se de uma forma indireta de dosar o cor- va seria ainda a dosagem do cortisol à meia-
tisol livre do plasma. À medida que cresce a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 69
HIPOCORTISOLISMO
Sintomas Frequência
Fadiga, perda de energia 99%
Hiperpigmentação cutânea 98%
Perda ponderal 97%
Anorexia, náuseas e vômitos 90%
Hipotensão 87%
Pigmentação de mucosa 82%
Dor Abdominal 34%
Avidez por sal 22%
Diarreia 20%
Constipação 19%
Síncope 16%
Vitiligo* 9%
*Associado à adrenalite autoimune.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 71
0,3-0,5 mg de dexametasona) e uma dose utilizar testes que avaliam diretamente a capa-
única matutina é menos supressora do que a cidade hipofisária de secretar ACTH. Os dois
dividida ao longo do dia. Altas doses costu- principais estão descritos abaixo:
mam levar à inibição do eixo após três sema-
nas de administração. O tratamento da sín- Teste de tolerância à insulina: consiste na
drome de Cushing através da ressecção de dosagem do cortisol basal, 30 a 60 minutos
tumores adrenais ou hipofisários também pode após a administração da insulina regular na
levar à insuficiência adrenal, geralmente tran- dose de 0,05 U/kg por via venosa. Este teste
sitória, uma vez que os altos níveis de cortisol baseia-se no fato de que a hipoglicemia in-
sérico suprimem o eixo hipotálamo-hipófise da duz uma resposta de estresse do sistema do
mesma forma que o corticoide exógeno. sistema nervoso central, aumenta a libera-
ção do CRH e, consequentemente, a secre-
Outras causas de insuficiência central são ção de ACTH e cortisol. A resposta normal
menos comuns e incluem: necrose hipofisária do cortisol plasmático é um incremento > 8
pós-parto (síndrome de Sheehan); tumores mg/dl e um pico > 18 mg/dl. Uma resposta do
pituitários e hipotalâmicos, bem como o trata- cortisol normal exclui insuficiência adrenal e
mento destes através de cirurgia ou radiote- baixa reserva pituitária. É necessário que a
rapia. Na hipofisite linfocítica, a deficiência de glicemia caia para menos de 40 mg/dl para
ACTH é a alteração hormonal mais comum. uma interpretação adequada do teste.
las hipercrômicas na mucosa oral. Tem exames riscos de suspensão abrupta da medicação
complementares que mostram: hemoglobina: e de que a dose deve ser dobrada em condi-
15,2 g/dl, leucócitos: 18.600/mm³ (43% de lin- ções de estresse (infecção, trauma, diarreia,
fócitos e 10% de eosinófilos), velocidade de etc), bem como dos efeitos adversos do uso
hemossedimentação: 126 mm, sódio: excessivo de medicação (ex.: gastrite, hipo-
128 mEq/L, potássio: 5,8 mEq/L, glicemia: 56 calemia, hipertensão).
mg/dl, ureia: 68 mg/dl, creatinina: 1,2 mg/dl,
TSH: 3,2 uUI/ml. Qual é o diagnóstico desse Muitos endocrinologistas recomendam que
paciente e como podemos confirmá-lo? esses pacientes usem um bracelete ou
a) Disautonomia por neuropatia periférica, cordão que deixe explícito sua condição de
eletroneuromiografia de membros inferiores. portador de insuficiência adrenal e de usuá-
b) Síndrome da sela túrcica vazia, ressonância rio crônico de corticoide. Essa atitude é bem
nuclear magnética do crânio. prática para situações de emergência como
c) Insuficiência adrenal primária, dosagem de o politrauma.
cortisol e ACTH.
d) Hiperaldosteronismo primário (S. de Conn), Farmacológico: está baseado na reposição
dosagem de aldosterona. fisiológica de glicocorticoides e mineralocor-
e) Sepse grave por infecção intestinal, copro- ticoides, pela administração de:
cultura e hemocultura.
– Hidrocortisona 15-25 mg/dia, divididas
Paciente de 60 anos com histórico de as- em duas ao dia. A dose da manhã (2/3 da
tenia, hipotensão e hiperpigmentação em dose total) deve ser tomada logo ao acor-
mucosa oral, além de vômitos e diarreia. dar. O restante da dose é tomado ao final
Quadro inespecífico? Vamos um pouco mais da tarde. O melhor parâmetro para saber
adiante: leucocitose com eosinofilia, aumen- se a dose está adequada é a avaliação clí-
to da VHS, hipoglicemia, hiponatremia, hiper- nica (melhora dos sintomas), pois medidas
calemia. Função renal e TSH normais. O que do cortisol não são confiáveis e o ACTH
conjuga todos os achados clínicos aos labo- pode permanecer elevado na insuficiência
ratoriais? Certamente é a insuficiência adre- adrenal primária. O monitoramento da dose
nal! A banca realmente facilitou e colocou de hidrocortisona é feito através de dados
diversos achados laboratoriais que nos levam clínicos (objetivando reestabelecimento da
ao diagnóstico. O teste padrão-ouro para o PA, ganho de peso e desaparecimento dos
diagnóstico de insuficiência adrenal é o teste sintomas atribuídos ao hipocortisolismo).
de estimulação rápida com ACTH. Este exa-
me consiste na administração de uma dose – Fludrocortisona (ação mineralocorticoi-
suprafisiológica de ACTH sintético, IV ou IM, de): 0,05-0,1 mg/dia. A dose é ajustada
a qualquer hora do dia e a dosagem do cor- até que se estabeleça pressão arterial,
tisol após 30-60 minutos. O esperado é um eletrólitos e atividade da renina plasmáti-
aumento na produção de cortisol (acima de ca normais. Em locais muito quentes, pode
20 µg/dl). Valores abaixo desse limite confir- ser necessário aumentar a dose no verão.
mam um quadro de insuficiência adrenal. Gestantes também podem precisar de do-
Uma vez confirmada a insuficiência, a dosa- ses maiores (a progesterona possui efeito
gem do ACTH nos ajuda a diferenciar entre antimineralocorticoide).
insuficiência adrenal primária (ACTH elevado)
e secundária ou terciária (ACTH normal ou – Como os pacientes também podem ter
reduzido). A dica da etiologia da insuficiência deficiência de DHEA, a reposição deste
adrenal está no início do enunciado: jardinei- androgênio na dose de 50 mg/dia pode
ro, profissão de risco para o desenvolvimen- melhorar o bem-estar, depressão, ansie-
to de paracoccidioidomicose (estudaremos dade, fadiga, interesse sexual e densida-
esta micose com mais detalhes em outra de óssea (nas mulheres).
apostila do MED).
Resposta letra C. Conclusão do Cenário 02
Insuficiência Suprarrenal
Crônica
Terceiro passo: Temos uma paciente com manifestações
Tratamento Geral do Hipocortisolismo clínicas e laboratoriais de hipocortisolismo.
Crônico O primeiro passo é confirmar esse dado. A
história clínica deve pesquisar exaustiva-
mente a possibilidade de suspensão abrup-
Além do tratamento específico para as situa-
ta de glicocorticoides. A abordagem começa
ções identificadas (ex.: tuberculose), temos de
pelo teste rápido de estimulação com ACTH.
considerar o tratamento geral para a síndrome
Uma vez confirmada a insuficiência adrenal,
do hipocortisolismo. Ele pode ser dividido: as causas devem ser divididas de acordo
com os valores do ACTH. Tratamento para
Não farmacológico: esse é um dos pou- a causa de base, se possível, e reposição
cos casos em que o médico recomenda o de glicocorticoide e mineralocorticoides são
acréscimo de sal à refeição... Além disso, os estratégias fundamentais para a paciente.
pacientes devem ser orientados quanto aos
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 78
quanto à opção C? Vejam que a questão quis tava obesidade central, face em lua, acne,
fazer uma pegadinha... Apesar da febre e da estrias, taquicardia e hipotensão ortostática.
taquicardia, a paciente está com um estado Além de pesquisar foco infeccioso e de dosar
geral regular, com exames laboratoriais tam- glicemia, a conduta é:
bém pouco expressivos. O antibiótico, portan- a) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
to, seria administrado apenas após a coleta lógico e reposição endovenosa de glicocorti-
de urinocultura e hemoculturas o que levaria coide (hidrocortisona). A dosagem plasmática
mais tempo. Já o corticoide tem de ser admi- de sódio e potássio pode não auxiliar, pois
nistrado de IMEDIATO. Resposta: B. distúrbios eletrolíticos (hiponatremia e hiper-
calemia) são incomuns.
Apenas uma observação: na insuficiência b) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
suprarrenal secundária, como parece ser o lógico, coloide e aminas simpaticomiméticas
caso apresentado (usuária crônica de corti- e reposição endovenosa de glicocorticoide
coide), geralmente não encontramos alguns (hidrocortisona). A dosagem plasmática de
achados comuns da insuficiência suprarre- sódio e potássio é indispensável, pois distúr-
nal primária, como hiperpigmentação e de- bios eletrolíticos (hiponatremia e hipercalemia)
sidratação. A hipotensão, quando ocorre, é são comuns.
discreta. Pode até existir hiponatremia, mas c) Hidratação endovenosa com soro glicosado
não hipercalemia. A hipoglicemia geralmen- (pode ter hipoglicemia) e reposição endoveno-
te é o dado mais proeminente. Contudo, sa com glicocorticoide potente (dexametasona).
como você pode observar, tanto esta quanto Dosagem plasmática de sódio e potássio pode
outras questões da apostila relatam casos não auxiliar, pois distúrbios eletrolíticos (hipo-
típicos de insuficiência adrenal secundária natremia e hipercalemia) são incomuns.
(geralmente usuários crônicos de corticoide d) Hidratação endovenosa com soro glicofisio-
que param o tratamento ou aumentam a ne- lógico e reposição endovenosa de glicocorti-
cessidade endógena de cortisol) e trazem, coide potente (dexametasona). Dosagens
erradamente, pacientes francamente hipo- plasmáticas de sódio e potássio são indispen-
tensos e com hipercalemia! Contudo, como sáveis, pois distúrbios eletrolíticos (hiponatre-
essas questões costumam cobrar mais a mia e hipercalemia) são comuns.
conduta do que a diferenciação em insufi-
ciência adrenal primária ou secundária, na Questão bastante semelhante à anterior,
maioria das vezes esse erro conceitual não porém a USP-RP não caiu no mesmo erro da
interfere em nada no nosso raciocínio. Ou Unicamp! Insuficiência suprarrenal secundária
seja, mesmo essa questão trazendo um geralmente não cursa com distúrbio hidroele-
conceito errado em seu enunciado, ele não trolítico! Resposta certa letra A.
interfere diretamente com o gabarito. Seja
crítico, mas não “brigue com a questão”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Zuleika tem 62 anos e encontra-se em pós-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE -operatório imediato de colectomia esquerda.
DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA Apresenta quadro clínico sugestivo de insu-
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP ficiência suprarrenal aguda confirmado com
Mulher, 25 anos de idade, com diagnóstico de exames complementares. Zuleika deve rece-
anemia hemolítica recebeu prednisona 60 mg/ ber de imediato o medicamento:
dia. Após quatro meses de uso, ela suspendeu a) Fludrocortisona. c) Dexametasona.
a medicação e, cinco dias após, passou a b) Hidrocortisona. d) Cositropina.
apresentar quadro de fraqueza, náuseas, vô-
mitos, dor abdominal, agitação e confusão Complementando uma questão que fizemos
mental. No atendimento de urgência, apresen- há pouco. Resposta B.
Saiba Mais!
Uso Prático de Corticoides Você será capaz de entender todas essas per-
guntas e outras, com conceitos muito simples
Você já se perguntou o
e básicos que já ouvimos falar, mas que ficaram
porquê de utilizarem a
perdidos naquelas aulas instigantes, cativan-
prednisona como cor-
tes, depois do almoço durante a faculdade...
ticoide de escolha em
reumato? Ou a pred- Mas vamos lá... Vejamos o que mais importan-
nisolona em crianças te temos de saber sobre esta classe de drogas
ou hepatopatas... A para efetuar a melhor escolha no dia-a-dia.
hidrocortisona pelos Tudo começa pelo conhecimento dos princi-
neurologistas... São pais corticoides disponíveis. Estes se diferem
muitas perguntas!!! pelas propriedades farmacocinéticas que po-
Agora, existe res- dem ser “retenção hidrossalina” ou “efeitos
posta para isso ou é anti-inflamatórios”. O efeito sobre “metabolis-
mais um achismo, um aprendi- mo dos carboidratos” tende a acompanhar os
zado de “orelhada” ou apenas uma “opi- “efeitos anti-inflamatórios”. Veja a tabela ex-
nião de especialistas”? traída do Goodman.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 80
sobre os demais. Vejamos a seguir dois es- 1-2 semanas, até chegar em 20 mg/dia.
quemas que utilizamos com frequência na 3) Dose < 20 mg/dia: reduzir 1-2.5 mg a cada
prática, de acordo com a dose de prednisona 2-3 semanas.
(ou de seu equivalente) que vinha sendo uti-
lizada pelo paciente. Ambos constam no Esquema intermediário:
Kelley (Tratado de Reumatologia): 1) Reduzir a dose em 5-10 mg a cada 1-2
semanas, até chegar em 20 mg/dia.
Esquema rápido:
2) Dose < 20 mg/dia: reduzir 2,5-5 mg a cada
1) Dose > 40 mg/dia: reduzir 5-10 mg a cada 2-4 semanas, até chegar em 10 mg/dia.
1-2 semanas, até chegar em 40 mg/dia.
3) Dose < 10 mg/dia: reduzir 1 mg a cada 4
2) Dose entre 20-40 mg/dia: reduzir 5 mg a cada semanas, ou 2,5 mg a cada 7 semanas.
Hiperaldosteronismo
Potássio
Vamos falar rapidamente sobre os minera- Independente da volemia, altas concentrações
locorticoides... de potássio estimulam diretamente a secreção
de aldosterona pela suprarrenal, aumentando a
Eles são representados principalmente pela exceção urinária do íon. A redução da calemia
aldosterona e, em menor escala, pela Deso- tem efeito inverso.
xicorticosterona (DOC) e corticosterona. São
duas as funções principais destes hormônios:
a regulação do volume do líquido extracelular Etiologia
(dependente da quantidade corporal de sódio
e água) e a regulação do metabolismo do São dois grupos principais:
potássio. Eles agem no tubo coletor cortical,
promovendo para cada sódio reabsorvido, a (1) Hiperaldosteronismo primário ou
secreção de um potássio ou um hidrogênio hiporreninêmico (aldosterona elevada,
no lúmen tubular. renina baixa). São condições que resul-
tam da produção autônoma de aldosterona
pela suprarrenal. Este aumento leva conse-
FUNÇÃO DA ALDOSTERONA = quentemente a uma redução na produção
REABSORÇÃO DE SÓDIO E de renina, daí o nome hiporreninêmico. As
ÁGUA / EXCREÇÃO DE POTÁSSIO principais causas são o adenoma produtor
E HIDROGÊNIO de aldosterona (aldosteronoma – sín-
drome de Conn) e a hiperplasia adrenal
idiopática. Tradicionalmente (e algumas
O controle da síntese dos mineralocorticoides provas ainda colocam dessa forma) a princi-
se faz por dois mecanismos principais: siste- pal causa seria o adenoma, e, em seguida,
ma renina-angiotensina e níveis séricos de a hiperplasia. No entanto, segundo dados
potássio. O ACTH, diferente do que ocorre no mais recentes, inclusive pela última edição
cortisol, contribui muito pouco para a síntese do Harrison, a hiperplasia ultrapassou o
de mineralocorticoides. adenoma como causa mais comum.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 82
Conceito muito importante nessa questão! Por conta da acidose metabólica e da hi-
Apesar da retenção hidrossalina, os pacientes percalemia, muitos marcaram a letra C. Mas
portadores de hiperaldosteronismo primário não como já ressaltamos na outra apostila, nos
apresentam edema. Isto ocorre pelo fenômeno chama a atenção que o paciente está numa
do escape da aldosterona. Por esse fenômeno, fase menos tardia da doença renal (fase 4,
após a retenção de sódio e água por ação da TFG 15-29 ml/min) e sabemos que pacientes
aldosterona, o aumento imediato da pressão com IRC só começam a fazer retenção de
arterial estimula a liberação do peptídeo natriu- potássio nos estágios mais avançados (TFG
rético atrial. Graças a esse peptídeo, o rim do < 5-10 ml/min). No que devemos pensar en-
paciente aumenta a eliminação de sódio e água, tão? No hipoaldosteronismo hiporreninêmico,
impedindo a formação do edema. uma condição encontrada principalmente em
Resposta: D. diabéticos com nefropatia na fase inicial, que
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 84
Síndrome de Virilização
(2) Aumento dos androgênios = síndrome de Obs.: Veremos com mais detalhes este tema
virilização no sexo feminino e androgeni- no módulo de Pediatria 6 (Síndromes Gas-
zação prematura no masculino. trointestinais).
Outra deficiência menos comum (5-8%) é da E quanto aos antiandrogênicos, não poderiam
11-beta-hidroxilase. Nesta deficiência não ser feitos também? Possivelmente. E isso já
encontramos perda de sal e, pelo contrário, foi testado como alternativa ao tratamento,
ocorre hipertensão arterial graças ao acúmu- mas ainda não tem evidências muito fortes.
lo de desoxicortisol (DOC) que possui efeito O que temos de mais recente foi um ensaio
mineralocorticoide semelhante ao da aldos- clínico que comparou em 28 crianças o trata-
terona. mento tradicional com corticoides em doses
mais elevadas com um alternativo, utilizan-
Manifestação Clínica: depende da enzima do corticoide em baixa dose, associado à
que se encontra deficiente. Vamos falar flutamida (antiandrogênio). O objetivo seria
unicamente da deficiência de 21 hidroxila- justamente reduzir a dose de corticoide a ser
se que é a mais importante. Existem três feita e, com isso, seus efeitos adversos. Os
formas de apresentação: resultados foram bons no acompanhamento
de dois anos desses pacientes, mas ainda
precisam ser confirmados para serem definiti-
A – Forma Apenas Virilizante vamente inseridos na conduta de rotina.
A estenose hipertrófica do piloro cursa com Em relação ao caso clínico, assinale a alter-
hipopotassemia, visto que o menor apresen- nativa INCORRETA:
ta desidratação por conta dos vômitos não a) A determinação do sexo genético ou cro-
biliosos. A insuficiência renal aguda obriga- mossômico deve ser realizada rapidamente.
toriamente cursa com elevação da creatinina, b) Está indicada a dosagem plasmática de
o que não ocorreu nesse caso. Quadros de 17 alfa-OH-progesterona e androgênios.
sepse e geca iriam apresentar febre, além do c) O diagnóstico mais provável é de herma-
que ambos iriam ter resposta ao uso de flui- froditismo verdadeiro.
dos e catecolaminas, pois do contrário esta- d) O paciente provavelmente apresenta de-
ríamos diante de um paciente em choque. ficiência de mineralocorticoides.
Desta forma, ficou claro que trata-se de um
lactente com hiperplasia adrenal congênita, Frente a um recém-nato com genitália am-
doença geralmente causada pela deficiência bígua e que no final da segunda semana de
da enzima 21-hidroxilase, que na sua forma vida se apresenta com quadro de hipovolemia
mais grave (perdedora de sal) cursa com grave associada à hiponatremia e à hiperca-
baixos níveis de aldosterona e cortisol, o que lemia persistentes, devemos ter como princi-
explica a hipotensão resistente as catecola- pal hipótese diagnóstica a hiperplasia adrenal
minas. O paciente vai evoluir com perda de congênita (HSC) em sua forma clássica per-
peso, anorexia, vômitos, desidratação, hipo- dedora de sal. A HSC consiste em um distúr-
tensão, hipoglicemia (pela deficiência de bio autossômico recessivo relacionado à
glicocorticoide), hiponatremia e hipercalemia esteroidogênese adrenal, sendo a deficiência
(alteração eletrolítica característica da defi- da enzima 21-hidroxilase a responsável por
ciência de mineralocorticoide). Resposta: 90% dos casos. A 21-hidroxilase está presen-
alternativa B. te tanto na via glicocorticoide (convertendo a
17-a-OH-progesterona em 11-desoxicortisol)
quanto na via mineralocorticoide (converten-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 do a progesterona em 11-desoxicorticostero-
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PONTIFÍCIA na). A deficiência desta enzima pode se
UNIVERSIDADE CATÓLICA – RS apresentar de três formas distintas, baseado
Recém-nascido masculino, com duas sema- no grau de deficit de atividade enzimática:
nas de vida, mamando exclusivamente ao forma clássica virilizante simples, forma clás-
seio materno, apresenta perda de peso, re- sica perdedora de sal (mais comum) e a for-
cusa alimentar, vômitos, desidratação com ma não clássica. A chamada crise adrenal,
Sódio= 120 mEq/L; Potássio = 6,5 mEq/L e que se manifesta geralmente na segunda
glicemia de 40 mg/dl. Qual o diagnóstico mais semana de vida com choque hipovolêmico e
provável desta criança? alterações eletrolíticas, ocorre na forma clás-
a) Filho de mãe diabética. sica perdedora de sal, a qual também está
b) Ingestão insuficiente de leite. associada à virilização de meninas (genitália
c) Hiperplasia adrenal congênita. ambígua ao nascer) e puberdade precoce de
d) Estenose hipertrófica de piloro. meninos. O diagnóstico desta entidade é fei-
e) Alergia à proteína do leite de vaca. to através da mensuração do principal mar-
cador sérico da doença, a 17-a-OH-proges-
Recém-nascido com vômitos, desidratado terona, a qual encontra-se elevada. Logo, a
com hiponatremia, hipercalemia e hipoglice- única alternativa incorreta é a letra C.
mia. Diante deste caso, devemos pensar em
hiperplasia adrenal congênita forma perde-
dora de sal. Esta é uma condição que sempre RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
deve ser lembrada no diagnóstico diferencial FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
de um recém-nascido com quadro de vômitos. HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG
Essa doença é herdada por traço autossômi- Mais de 90% das hiperplasias adrenais con-
co recessivo e o defeito pode afetar várias gênitas são causadas pela deficiência de:
enzimas adrenais implicadas na biossíntese a) 3 - hidroxilase.
do cortisol e, dependendo da enzima envol- b) 11- hidroxilase.
vida, há também deficiência de mineralocor- c) 17- hidroxilase.
ticoides. Na situação clínica descrita no d) 21- hidroxilase.
enunciado, a hiperplasia adrenal congênita
está apresentada com manifestações da for- Resposta direta: D.
ma perdedora de sal decorrente da falta de
cortisol (quadro inicial de vômitos e desidra-
tação) e aldosterona (hiponatremia e hiper- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
calemia). Letra C correta. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO
A hiperplasia virilizante da suprarrenal, forma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 não clássica, tem como principal distúrbio a
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG deficiência da enzima ________ e o tratamen-
Recém-nascido, com 14 dias de vida, com to deve ser iniciado com ____________. As
quadro de genitália ambígua, sem gônadas lacunas serão preenchidas de forma correta,
palpáveis, é admitido no hospital com quadro respectivamente, com a seguinte opção:
de desidratação grave acompanhada de hi- a) 3 beta OH-desidrogenase / deidroepian-
ponatremia e hiperpotassemia persistentes. drosterona.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 87
Agora mudaremos o foco das nossas síndro- Por ora já é o suficiente. Vamos ao cenário
mes suprarrenais. Lembra quando falamos clínico...
que não existe apenas uma única glândula
suprarrenal, mas DUAS glândulas dentro Cenário 06
de uma só. Abordaremos então a segunda Paciente de 36 anos, bancário, vem sentindo
glândula: a medula suprarrenal, que compõe dificuldade no trabalho por conta de crises
10% do volume da adrenal. Para isso, vamos de cefaleia associadas a palpitação, palidez,
recordar alguns dados... sudorese intensa e picos hipertensivos. Sua
mãe já apresentou episódios semelhantes
A medula suprarrenal apresenta, em seu in- quando descobriu ser portadora de um tumor
terior, células que se caracterizam por apre- na tireoide. Seus amigos dizem que ele está
sentar grande afinidade por sais de cromo, apenas estressado e que precisa de férias...
daí serem chamadas células cromafins. Elas
se diferenciam de todas as outras células da
suprarrenal por serem as únicas a exibir um Está claro que este paciente apresenta uma
aparato enzimático capaz de sintetizar as fa- síndrome adrenérgica. Diversas condições
mosas catecolaminas do nosso organismo, entrariam neste diagnóstico diferencial, des-
sendo a epinefrina (adrenalina) e a norepine- de hiperfunção tireoidiana até transtorno do
frina (noradrenalina) as principais. O feocro- pânico. O relato de paroxismos de cefaleia,
mocitoma, em última análise, nada mais é do palpitação e hipertensão, no entanto, no faz
que um tumor das células cromafins. pensar numa condição especial: o feocromo-
citoma, uma neoplasia das células cromafins...
No entanto, elas não aparecem apenas na
medula!!! Ainda na fase embrionária, algu-
mas células precursoras da crista neural tam- Feocromocitoma
bém se dirigem para formar coleções (para-
gânglios), situadas ao lado da aorta. O maior
desses paragânglios se encontra no nível da Conceito
artéria mesentérica inferior e se chama órgão
de Zuckerkandl. E agora, os tumores dessas O feocromicotoma é uma neoplasia rara
células cromafins fora das suprarrenais rece- das células cromafins (incidência de 2-8 ca-
bem o nome de paragangliomas. sos/1.000.000 de pessoas por ano), sem pre-
ferência por sexo e maior predomínio entre
Mas será que os produtos das células cromafins 20-50 anos. Embora pareçam mais frequen-
de ambos os locais (medula e paragânglios) são tes nas provas, apenas 0,1% dos casos de
os mesmos?? Não e isso talvez seja o mais hipertensão arterial são secundários a feo-
interessante de tudo! Apenas a medula tem cromocitomas. Cerca de 90% dos tumores
capacidade de secretar adrenalina e noradre- são benignos, unilaterais e localizados na
nalina. Os gânglios apenas podem produzir a suprarrenal. O órgão de Zuckerkandl, já des-
noradrenalina... E o porquê? Simples, normal- crito, é a localização mais comum dos feocro-
mente a primeira catecolamina produzida é a mocitomas extra-adrenais (paragangliomas).
noradrenalina e isso qualquer célula cromafim
pode fazer. A diferença é que a enzima que Quanto à origem, eles podem ser esporádicos
converte a norepinefrina em epinefrina (fenileta- ou familiares (10%). Estes últimos são geral-
nolamina N-metiltransferase) precisa do cortisol mente bilaterais e todos distúrbios autossômi-
como cofator para poder agir. Daí entendemos cos dominantes.
que só um ambiente rico em cortisol pode levar
à produção de adrenalina. E onde encontrare- Observe as condições hereditárias associa-
mos esse ambiente?? Apenas na suprarrenal, das. A maioria delas será vista com mais de-
o que justifica a presença de adrenalina no talhes nos módulos de Cefaleias e Oncologia:
feocromocitoma, mas não no paraganglioma.
• Levodopa
• Etanol
• Diuréticos
• Metildopa
• Reserpina
principal origem das metástases para suprar- câncer pulmonar. Como as lesões benignas
renal, mas também podem ser relacionados a das suprarrenais são entidades freqüentes
Ca de mama, pâncreas ou colorretal. Com a (estima-se que 1 a 8% da população acima de
indicação mais frequente da tomografia para 60 anos seja portadora de crescimentos benig-
estadiamento, massas adrenais foram encon- nos da supra-renal), há necessidade de dife-
tradas em cerca de 10% dos pacientes com renciação entre metástase e incidentaloma.
O que precisamos entender desde já é que as do cálcio ou do fosfato e estas glândulas entra-
paratireoides, na verdade, fazem parte de um rão no diagnóstico diferencial junto com as do-
intrincado controle do metabolismo mineral que enças ósseas, intestinais, renais... Portanto, a
envolve a regulação do cálcio, fosfato e parte mensagem é: não pense apenas em distúrbios
do magnésio. Neste sistema metabólico, partici- da paratireoide isoladamente! Pense primeiro
pam além das PARATIREOIDES, também RIM, em distúrbios do metabolismo mineral em que
OSSO, INTESTINO e as células parafoliculares a hipo ou a hiperfunção das paratireoides seja
da tireoide, produtoras de calcitonina. Ou seja, uma das causas possíveis.
com exceção das questões diretas sobre os
distúrbios das paratireoides (ex.: qual a princi- Mas vamos começar entendendo este
pal causa de hiperparatireoidismo...), todas as módulo pela distribuição e função destes
demais darão um caso clínico com um distúrbio principais minerais no nosso organismo.
97
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 98
Conclusão
A maior parte dos minerais (principalmente cálcio e fosfato) se
encontra no osso, que se torna, portanto, um grande reservatório
para o controle da concentração desses minerais no plasma. Se
a concentração for baixa, eles liberam minerais para a circulação.
Se for alta, eles os retiram de lá.
Metabolismo do Cálcio
De uma forma didática, podemos dizer que as No osso – atua em receptores presentes nos
paratireoides seriam as “maestrinas” desse osteoblastos que liberam citocinas capazes
sistema. Mas aqui não existe um eixo hipotála- de estimular os osteoclastos. Como veremos
mo-hipófise – paratireoide!!! Como dissemos mais à frente, estas são as células ósseas
no início do capítulo, a regulação desses mi- responsáveis pela reabsorção óssea e libe-
nerais faz parte de um sistema bem articulado ração de cálcio para a circulação.
entre osso, rim, paratireoide, intestino e células
parafoliculares. E essa articulação é mediada Por outro lado, a regulação da síntese do PTH
por três hormônios principais: paratormônio, é realizada pelo cálcio ionizado, através de
vitamina D e calcitonina. sensores (receptores) de cálcio presentes nas
próprias paratireoides. Vamos lembrar que, na
circulação, metade do cálcio se encontra ligada
Paratormônio (PTH) à albumina e alguns ânions, e a outra metade
livre no plasma (fração ionizada). A lógica é:
No total, são quatro as glândulas paratireoi- a hipercalcemia reduz a síntese do PTH, en-
des, que se encontram literalmente coladas quanto a hipocalcemia aumenta a síntese do
à cápsula posterior de cada pólo da tireoi- hormônio. Outra forma de regulação do PTH
de e que são responsáveis pela síntese do é pela vitamina D, que também é responsável
paratormônio (PTH). Este hormônio age por um feedback negativo com as paratireoides,
basicamente de três formas para aumentar inibindo a produção do hormônio. Por último,
a calcemia: pode participar também desta regulação o mag-
nésio, em que tanto as baixas quanto as altas
No rim – aumenta a reabsorção de cálcio no concentrações do íon inibem as paratireoides.
túbulo distal e a excreção de fosfato e bicarbo-
nato no túbulo proximal. É o rim que realiza os
ajustes mais rápidos da concentração do cálcio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
No intestino – influência indireta através da RIO DE JANEIRO – RJ
vitamina D, aumentando a absorção de cálcio Uma das ações fisiológicas do paratormônio
e fósforo. (PTH) é:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 99
HIPERCALCEMIA
Sistema Ansiedade, depressão; disfunção Hipertensão pode ocorrer tanto pela insufi-
nervoso cognitiva; alteração da personali-
ciência renal quanto pela vasoconstricção
central dade; confusão mental.
induzida pelo cálcio.
Gastroin- Hipomotilidade intestinal e cons-
testinal tipação; anorexia; pancreatite;
úlcera péptica. O acometimento articular característico do
hiperparatireoidismo primário é a condrocal-
Rim Insuficiência renal aguda e crô-
nica; acidose tubular renal tipo cinose (depósito de pirofosfato de cálcio na
1 (distal); poliúria, desidratação, cartilagem articular nos meniscos), que pode
diabetes insipidus nefrogênico; resultar em pseudogota em 25% dos casos. O
nefrolitíase. achado de cristais com birrefringência positiva
Cardiovas- Hipertensão; encurtamento do à artrocentese confirmam o diagnóstico.
cular intervalo QT; calcificação valvular;
hipersensibilidade aos digitais. Não confundir! Na hipercalcemia ocorre...
Músculo Fraqueza muscular; pseudogota e No rim: poliúria
esquelético condrocalcinose. No intestino: constipação
Olho Deposição corneana (ceratopatia
em banda) – raro.
Veja estas questões clássicas sobre as
manifestações da hipercalcemia:
Os distúrbios gastrointestinais estão associa-
dos à redução do tônus da musculatura lisa RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
e da função autonômica alterada. O cálcio UNIVERSIDADE FEDERAL
também estimula a secreção de gastrina e DE SÃO PAULO – UNIFESP
a úlcera péptica foi descrita em 15-20% dos Paciente com câncer de mama chega no
pacientes com hiperparatireoidismo primário. pronto-socorro com quadro de confusão men-
O cálcio pode ainda ativar o tripsinogênio e tal, letargia, poliúria, polidipsia e desidratada.
se depositar no ducto pancreático, levando Tem ECG com QT curto. O diagnóstico mais
raramente à pancreatite aguda. provável desta doente é:
a) SIADH.
A nefrolitíase é causada pela hipercalciúria b) Hipercalcemia.
e pelo aumento na produção de calcitriol no c) Diabetes insipidus.
hiperparatireoidismo primário. Hipercalcemia d) Síndrome de lise tumoral.
crônica leva a uma perda na capacidade de e) Coma hiperosmolar não cetótico.
concentração da urina (isostenúria), levan-
do à poliúria e polidipsia em até 20% dos Quadro clássico de ECG com QT curto em
pacientes. Pode causar também acidose paciente sob risco de hipercalcemia, como
tubular renal distal. Elevações agudas do veremos a seguir. Resposta letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 101
ser corrigido antes do gastrinoma, já que os qualquer uma dessas duas classes de dro-
níveis de gastrina tendem a se reduzir após a gas. A hidratação e a atividade física seriam
paratireoidectomia. duas medidas benéficas.
E as complicações da cirurgia?
achar que se trata de uma causa rara... Mas e)O carcinoma da paratireoide é causa comum
não é! A síndrome foi descrita para indiví- de hiperparatireoidismo primário.
duos que tomavam uma grande quantidade
de leite (que contém carbonato de cálcio e é Existe um conceito muito cobrado em prova
enriquecido com vitamina D) e bicarbonato que a hipercalcemia secundária a neoplasias
de sódio para o tratamento da úlcera péptica. malignas não eleva o PTH “verdadeiro”; seja
Hoje, ela está mais associada aos prepara- pelo fato de quase todas as neoplasias indu-
dos utilizados no tratamento da osteoporose zirem o fenômeno hipercalcêmico por lesões
e da hiperfosfatemia da doença renal crônica. osteolíticas, seja por liberarem o PTHrp. A
alternativa letra A está incorreta, pois a hiper-
Estes pacientes apresentam a tríade: hiper- plasia das paratireoides não é um fenômeno
calcemia + alcalose metabólica + insuficiên- raro, respondendo por cerca de 15% dos ca-
cia renal. Vamos entender esse distúrbio... sos de hiperparatireoidismo primário, segundo
Além da fosfatúria, o PTH também promove o Harrison. A letra B não faz sentido, porque
bicarbonatúria, levando à acidose metabólica a hiperfunção da paratireoide é o próprio hi-
hiperclorêmica. Quando esses componentes perparatireoidismo ao qual o enunciado fez
contendo cálcio são ingeridos, pode haver su- referência... A letra D é também incorreta por-
pressão do PTH, o que conduziria à retenção que o PTH apresenta efeito fosfatúrico, indu-
renal de bicarbonato e alcalose metabólica. zindo hipofosfatemia. A letra E está errada
porque o carcinoma de paratireoide é um
causa incomum de hiperparatireoidismo. Por-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 tanto, melhor resposta, item C.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ
Mulher de 48 anos, com diagnóstico prévio de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
câncer de mama é admitida devido a quadro INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS SERVI-
de letargia, anorexia, fraqueza e episódios de DORES DO ESTADO DE MG – IPSEMG
confusão mental. O exame neurológico não É INCORRETO afirmar que PTH elevado é
evidencia deficit focal algum, nem rigidez de encontrado:
nuca. No eletrocardiograma existe encurta- a) Na hipercalcemia hipocalciúrica benigna
mento do intervalo QT. O diagnóstico mais familiar.
provável é de: b) Na insuficiência renal crônica.
a) Hipercalcemia. c) Na síndrome de leite e alcalinos.
b) Hiperpotassemia. d) No raquitismo.
c) Hipomagnessemia.
d) Metástase cerebral. No único desses distúrbios que não se ca-
e) Carcinomatose meníngea. racteriza por hiperparatireoidismo... A síndro-
me leite-álcali. Resposta: C.
A hipercalcemia é encontrada em até
20-30% dos portadores de neoplasias malig-
nas, sendo uma manifestação geralmente tar- Abordagem Geral
dia, geralmente associada à presença de me-
tástases ósseas. Muitas vezes a hipercalcemia
apresenta-se como a primeira manifestação Imagine a situação clínica abaixo:
clinicolaboratorial de uma metástase óssea,
como parece ter ocorrido no caso em tela. Cenário 01
Mulher de 50 anos queixando-se de fraqueza
Dentre as manifestações clínicas, encontra- muscular, constipação e poliúria, é internada
mos fraqueza, mialgia, vômitos, poliúria e na unidade de Clínica Médica para investi-
confusão mental (nos casos graves). O en- gação diagnóstica. Na admissão, realizou
curtamento do intervalo QT é o sinal eletro- ECG mostrando encurtamento do intervalo
cardiográfico mais característico. QT. Dentre os exames laboratoriais, chama
a atenção a presença de um cálcio total de
Dessa forma, resposta letra A. 11,5 mg/dl. Como abordar este caso?
me nefrótica podem alterar a concentração a questão te dará uma história que indique
desta proteína. Como consequência, haverá algum dado específico.
alteração também no valor do cálcio total.
Como proceder nesses casos? Nesse caso, a dosagem sérica dos metabó-
litos da vitamina D (calcitriol e calcidiol) pode
1) Dosar apenas a fração ionizada. Os níveis ser utilizada. A elevação destes metabólitos
plasmáticos de albumina não influem na indicaria principalmente intoxicação pela vita-
concentração de cálcio ionizado. mina D ou produção extrarrenal de vitamina
D (linfoma, doenças granulomatosas).
2) Dosar o cálcio total e corrigir o valor pela
albumina. A cada redução de 1 g/L da al- Uma causa que tem ganhado importância na
bumina, ocorre a redução de 0,8 mg/dl na prática clínica é a síndrome leite-álcali relaciona-
concentração do cálcio. Portanto, a fórmula da ao uso corriqueiro de carbonato de cálcio no
a ser utilizada é: tratamento da osteoporose e da hiperfosfatemia
da insuficiência renal crônica (ver abaixo).
Cálcio corrigido = Cálcio sérico + 0,8 X
(Albumina normal – Albumina do paciente) Conclusão do Cenário 01
Síndrome Hipercalcêmica
Temos uma mulher de 50 anos com síndrome
Valores normais: hipercalcêmica a esclarecer. Neste momento,
Cálcio total = 8,5-10,5 mg/dl devemos diferenciar principalmente entre um
Cálcio ionizado = 4,5-5,5 mg/dl quadro de hiperparatireoidismo primário e
malignidades. Esta etapa se faz pela dosa-
gem do PTH sérico. Pelo fato de a paciente
Segundo passo: estar assintomática e não apresentar evidên-
Identificar e tratar a cia de outro acometimento por uma possível
causa da hipercalcemia neoplasia, a hipótese de hiperparatireoidismo
primário é mais forte. Com a exclusão destas
Antes de se assustar com a grande lista de causas principais, seguiremos para outras
causas que acabamos de ver, aqui vai uma menos comuns como a intoxicação pela vi-
sugestão! A grande pergunta que você tem tamina D e a síndrome leite-álcali.
que se fazer na hipercalcemia é: trata-se de
um quadro de hiperparatireoidismo ou de
uma malignidade? Situação Especial
- Internado = Neoplasia
Agora estamos diante de uma emergência mé-
O hiperparatireoidismo primário está geral- dica: a crise hipercalcêmica! Trata-se de uma
mente associado a formas leves e limítrofes situação muito mais comum na hipercalcemia
de hipercalcemia (cálcio corrigido até 11 mg/ de origem neoplásica do que no hiperparati-
dl). Já valores acima de 13 mg/dl são mais reoidismo primário, já que neste último exem-
comuns nas malignidades. plo os níveis de cálcio não costumam se elevar
tanto. Para o controle da hipercalcemia, além
Se não for nenhum desses casos, entra- do tratamento da doença de base, devemos
mos num emaranhado de causas, em que iniciar as “5 medidas” descritas abaixo:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 108
Existem dois agentes principais para esta fi- Calcitonina: peptídeo hormonal de efeito
nalidade: os bisfosfonatos (ou bifosfonados, oposto ao PTH (hipocalcemiante) por ini-
ambas as grafias são aceitas) e a calcitonina. bir os osteoclastos e aumentar a excreção
Drogas como o nitrato de gálio e a plicamicina renal de cálcio. O início de ação é rápido –
praticamente não são mais usadas por conta em torno de 4 horas – porém o seu efeito é
da eficácia das primeiras. Os mais utilizados, limitado (redução de 1-2 mg/dl) e transitório
na prática, são os bisfosfonatos. Estas drogas (48 horas) por conta do desenvolvimento de
inibem a atividade dos osteoclastos (como taquifilaxia. Pode ser utilizada nas hipercal-
análogos dos fosfatos inorgânicos, “grudam” cemias mais graves, junto com a hidratação
na superfície dos cristais de fosfato de cálcio e venosa, enquanto se espera por um efeito
impedem a liberação de cálcio). Os fármacos mais sustentado dos bisfosfonatos.
disponíveis nesta classe são:
• Dose: 4 U/kg, IM ou SC de 12/12h, podendo
Pamidronato: agente tradicionalmente mais chegar a 8 U/kg SC de 6/6h.
utilizado.
Não são úteis para os quadros de hiperpara- utilizada após o restabelecimento da volemia,
tireoidismo, mas apenas para algumas malig- aumenta a diurese e a calciúria, podendo ser
nidades (efeito antitumoral no mieloma, leuce- usada nos casos inicialmente refratários à HV.
mia, doença de Hodgkin) e doenças que cur- Melhor resposta, portanto, opção B.
sam com aumento da vitamina D (intoxicação
exógena, doenças granulomatosas, linfoma).
Neste caso, reduzem também a produção de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
calcitriol pelas células mononucleares ativadas HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
do pulmão e dos linfonodos. LAURO VANDERLEI – PB
Sobre as hipercalcemias, assinale a assertiva
Prednisona: 40-100 mg/dia, em quatro doses. FALSA.
a) A elevação dos níveis séricos de cálcio é
característico do hiperparatireoidismo.
5) Hemodiálise b) Pode ocorrer em patologias outras como
Sarcoidose, Hipertireoidismo, neoplasias com
Efetiva no tratamento da hipercalcemia, mas metástases ósseas.
utilizada como último recurso, sobretudo naque- c) Nos casos graves, causa tetania latente
les em que a hidratação vigorosa não é possível (sinal de Chvostek e de Trousseau presentes)
(cardiopatas e insuficiência renal). Caso não ou até tetania franca, com espasmos e cãibras
seja disponível a hemodiálise, uma alternativa dos músculos.
seria a infusão de fosfato venoso, sabendo-se d) Um dos tratamentos de emergência é a hi-
que o risco de hipocalcemia é altíssimo. dratação ampla com solução salina associada
a doses elevadas de furosemida intravenosas.
Conclusão do Cenário 02 e) A calcitonina é um dos agentes hipocalce-
miantes de ação mais rápida, sendo muito
Crise Hipercalcêmica seguro, porém com menor potência que a
Temos uma mulher de 58 anos com hiper- mitramicina.
calcemia aguda sintomática provavelmente
associada à ação osteolítica de metástases Vamos analisar as assertivas:
do câncer de mama. O próximo passo é ini- Letra A – É verdadeira. O hiperparatireoidismo
ciar hidratação venosa com soro fisiológico e primário e a hipercalcemia da malignidade são
bifosfonados, principalmente o zolendronato as causas mais comuns de hipercalcemia.
ou o pamidronato. Se houver disponibilidade,
a calcitonina também deve ser administrada. Letra B – É verdadeira. Todas as doenças ci-
Após a hidratação adequada da paciente, tadas podem cursar com hipercalcemia.
podemos associar também diuréticos de alça Letra C – É incorreta. Na verdade, essas são
ao esquema terapêutico. manifestações clínicas da hipocalcemia, que
estudaremos a seguir.
Letra D – É correta. Um dos pilares do trata-
Veja estas questões: mento da hipercalcemia de qualquer etiologia
é a hidratação venosa vigorosa (restaurando o
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 volume intravascular depletado) e a manuten-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ção do débito urinário elevado, aumentando a
PEDRO ERNESTO – RJ excreção de cálcio e evitando a injúria aos túbu-
Um paciente de 55 anos foi investigado devi- los renais. O uso de furosemida é controverso!
do à hipercalcemia que se mostrou PTH de- Letra E – É correta. A calcitonina atua ini-
pendente. Os exames de imagem revelaram bindo a reabsorção óssea por interferir na
aumento de uma paratireoide, e ele foi inter- função dos osteoclastos, além de promover
nado para realizar ressecção da glândula a excreção urinária. Seu início de ação se dá
acometida. Após hidratação venosa com soro em 4 a 6 horas, com duração do seu efeito
fisiológico a 0,9%, seu cálcio sérico permane- por cerca de 48 horas. A mitramicina tem seu
cia elevado. Nessa situação, a redução da início com 8 a 12 horas após a administração.
calcemia pode ser intensificada com o uso de: Pode cursar com trombocitopenia, hepato e
a) Vitamina D. nefrotoxicidade, sendo muito pouco utilizada
b) Furosemida. atualmente.Embora a opção D seja contestá-
c) Clortalidona. vel, a letra C está claramente errada, sendo
d) Carbonato de lítio. o gabarito da questão.
(VR = 33-75). A principal hipótese diagnóstica paratireoidismo primário o PTH é normal (ge-
para essa paciente é: ralmente no limite superior da normalidade).
a) Mieloma múltiplo. No entanto, devemos lembrar que esse PTH
b) Hiperparatireoidismo primário. está inapropriadamente elevado para o grau
c) Hipercalcemia da malignidade. de hipercalcemia (deveríamos ter um PTH
d) Intoxicação por vitamina D. baixo na presença de hipercalcemia!). Ou seja,
é como se tivéssemos um PTH “inapropriada-
Vamos aprender com a questão... Temos mente elevado”. O que ocorre? Inicialmente,
uma paciente de 68 anos com hipercalcemia o PTH realmente está aumentado pela doen-
e PTH no limite superior da normalidade se- ça, causando hipercalcemia... só que esta, por
gundo os dados da questão, sem outros acha- sua vez, reduz o PTH, podendo trazê-lo de
dos laboratoriais. A grande dúvida ficou entre volta para a faixa normal. Outro ponto a ser
as opções B e C, e muitos alunos deixaram considerado é que a hipofosfatemia ocorre em
de marcar hiperparatireoidismo primário devi- cerca de metade dos casos de hiperpara pri-
do ao PTH e fósforo normais! Erraram! Esco- mário, ou seja, também não podemos excluir
lha de muitos candidatos, a hipercalcemia da este diagnóstico baseados em um fósforo
malignidade (por produção ectópica de PTH sérico normal. Assim, não há nenhum dado na
ou invasão óssea estimulando atividade oste- questão que exclua a hipótese de hiperpara-
oclástica) geralmente com PTH MUITO BAI- tireoidismo primário, que é, de fato, a melhor
XO, já que a síntese e a liberação deste hor- hipótese diagnóstica dentre as apresentadas
mônio estão inibidas na presença de hipercal- (resposta letra B). Reveja, mais uma vez, os
cemia. Ou seja, o PTH sérico fornecido pela conceitos passados no início do capítulo:
questão, no limite superior da normalidade
(“mais para alto do que para baixo”) é um for- - Na hipercalcemia “dependente do PTH”
te dado CONTRA o diagnóstico de hipercal- (ex.: hiperpara primário), o PTH está aumen-
cemia da malignidade! tado ou no limite superior da normalidade.
HIPOCALCEMIA
clínicos e laboratoriais dos distúrbios das pa- Vejamos algumas características dessas do-
ratireoides: enças:
a) Hiperparatireoidismo - tetania / hipoparati-
reoidismo - osteoporose.
b) Hiperparatireoidismo - catarata / hipopara- Hipoparatireoidismo
tireoidismo - poliúria.
c) Hiperparatireoidismo - calcificações intra- Conceito: Insuficiência da paratireoide em
cranianas / hipoparatireoidismo - obstipação secretar PTH, levando à hipocalcemia.
intestinal.
d) Hiperparatireoidismo - nefrolitíase / hi- Etiologia: A causa mais comum é a des-
poparatireoidismo - sinal de Chvostek. truição cirúrgica das paratireoides, princi-
e) Hiperparatireoidismo - parestesias / hipopa- palmente após as tireoidectomias (1-2%).
ratireoidismo - encurtamento do intervalo QTc. A exposição à irradiação cervical durante
a infância é fator de risco para o desenvol-
vimento de hipoparatireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL Outras condições incluem:
FLUMINENSE – UFF
O sinal de Chvostek e o de Trousseau fazem • Idiopática (raro distúrbio genético).
parte das manifestações clínicas da:
a) Hipercalcemia. • Síndrome poliglandular autoimune tipo
b) Hipernatremia. 1 (abordada no capítulo de suprarrenal).
c) Hipopotassemia. Associação com adrenalite autoimune e
d) Hipocalcemia. candidíase mucocutânea.
e) Hiperpotassemia.
• Sobrecarga de ferro (hemocromatose) e
cobre (doença de Wilson).
Etiologia
• Síndrome de Di George: rara anomalia
De uma forma geral, podemos dividir os qua- congênita caracterizada por aplasia ou
dros de hipocalcemia em dois grupos a partir hipoplasia do timo (levando à imunodefi-
da dosagem do PTH: ciência celular grave) e das paratireoides
(1) Hipoparatireoidismo (PTH reduzido ou (levando ao hipoparatireoidismo), frequen-
indetectável) temente associada à malformação car-
diovascular. O óbito é precoce, devido a
(2) Paratireoide normal (PTH normal ou
infecções oportunistas, hipocalcemia com
elevado)
convulsões e complicações cardíacas.
(2) Vitamina D 50.000/dia por 2-3 semanas Trata-se de um distúrbio raro que se inicia
e depois a mesma dose mensalmente. na infância, caracterizado por ausência de
Observe que se trata de uma dose muito resposta ao PTH nos ossos e no rim. Nessa
superior à dose fisiológica de 200-400U/ situação, teremos hipocalcemia e hiperfosfa-
dia. Quando se necessita de um efeito temia. Como resposta à resistência periférica,
mais rápido, a opção é a reposição direta as paratireoides se hipertrofiam e produzem
do metabólito ativo da vitamina D, o calci- mais PTH (> 65 pg/ml). Existem duas formas
triol, na dose 0,5-1 µg/dia. de pseudo-hipoparatireoidismo separadas
de acordo com o mecanismo de resistência
hormonal. A mais importante delas, a forma
Qual o cuidado que se precisa ter com a 1A, refere-se aos pacientes com uma condi-
reposição nesses doentes? ção chamada osteodistrofia hereditária de
Albright (síndrome caracterizada por baixa
Como há deficiência do PTH, a reabsorção estatura, obesidade, face redonda, pescoço
de cálcio também está prejudicada e com o curto e braquidactilia).
retorno dos níveis séricos do cátion, pode
ocorrer hipercalciúria e nefrolitíase. Por isso,
recomenda-se a manutenção do cálcio no Distúrbios Relacionados
limite inferior (8,5-9,2 mg/dl) e a dosagem da à Vitamina D (Raquitismo/
excreção urinária de cálcio e do PTH após Osteomalácia)
2-4 semanas do início do tratamento. O uso
de diuréticos tiazídicos pode ajudar a reduzir Basicamente, podemos dizer que são três os
a excreção urinária de cálcio. distúrbios principais:
Manifestações clínicas
Manifestações clínicas
Agudas: encefalopatia metabólica, fraqueza
muscular generalizada, disfunção miocárdi- A principal é a hipocalcemia aguda sintomá-
ca, rabdomiólise, hipóxia tecidual, acidose tica, que pode se manifestar com tetania e
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 117
Tratamento
Conceito
A depleção de magnésio está muito associa- Gluconato de cálcio 1-2 g IV (o cálcio funcio-
da à depleção de potássio, já que as etio-
na como “antídoto” do magnésio).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 118
118
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 119
Diagnóstico
Hipófise e Hipotálamo
121
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 122
Hormônio Regulação
GH (hormônio Crescimento e
Hipopituitarismo
do crescimento) estatura
Prolactina Lactação Conceito
TSH (tireotrofina) Tireoide
ACTH (corticotrofina) Suprarrenal Trata-se da síndrome de insuficiência par-
cial ou completa de um ou mais produtos da
LH (hormônio Gônadas
hipófise anterior. Embora comumente seja
luteinizante)
empregado o termo pan-hipopituitarismo, a
FSH (hormônio Gônadas hipofunção pituitária costuma ser seletiva e
folículo-estimulante) não de toda glândula em si, variando de acor-
do com o tipo celular mais envolvido. A ordem
de acometimento mais comum é: GH > FSH
Estes hormônios, por sua vez, são regu- > LH > TSH > ACTH > PRL.
lados por fatores que vêm do hipotálamo,
denominados fatores hipofisiotrópicos. Eles
chegam à hipófise através do infundíbulo Causas
(haste hipofisária) conduzidos por um efi-
ciente sistema vascular conhecido como Pode ter origem no hipotálamo ou hipófise,
sistema porta-hipofisário. de causa genética ou adquirida. As principais
causas são os tumores hipofisários e a síndro-
São eles: me resultante do tratamento tumoral (76%),
seguida pelos tumores extrapituitários, como
o craniofaringioma (13%). Veja as principais
GHRH – hormônio liberador de GH
causas de hipopituitarismo:
TRH – hormônio liberador de tireotrofina*
CRH – hormônio liberador de corticotrofina Hipófise
GnRH – hormônio liberador de gonado- Lesões com efeito de massa: adenoma,
trofinas (LH e FSH) cisto, metástase
Cirurgia
Irradiação
*Também responsável pela liberação de pro- Doenças infiltrativas: hemocromatose,
lactina. No entanto, o grande estímulo do hipo- sarcoidose, histiocitose X, hipofisite
tálamo sobre a prolactina é inibitório, a partir linfocítica
da produção de dopamina. Você certamente Infarto hipofisário (síndrome de Sheehan)
já escutou aquela história de que se cortásse- Apoplexia pituitária (hemorragia aguda)
mos o pedículo hipofisário, todos os hormônios Doenças genéticas
destas glândulas se reduziriam, exceto pela Sela túrcica vazia
prolactina, que perderia o tônus inibitório que
Trauma
vem do hipotálamo...
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 123
Este conceito será discutido no módulo de (1) efeito gancho (hook effect): ocorre quan-
Deficit Neurológico Focal e Difuso. Só para do níveis muito altos de PRL (> 2.000 ng/ml)
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 125
identificados num paciente com tumor hipofi- última opção terapêutica, reservada princi-
sário são capazes de falsear ensaios imunor- palmente para o controle de tumores de cres-
radiométricos e dar a falsa impressão de que cimento mais agressivo que não respondam
a PRL está baixa. Para contornar a situação, aos fármacos e não sejam operáveis (ou que
devemos fazer a diluição do soro em 1:100 e tenham apresentado recidiva após cirurgia).
repetir o teste.
Figura clássica:
Gêmeos univitelinos, sendo um deles portador de gigantismo
desde a adolescência (NEJM, 1999).
A apneia do sono é outra complicação comum O principal exame de triagem é o IGF-1 sé-
e geralmente decorre do crescimento do tecido rico, uma vez que a secreção do GH é pulsá-
retronasal da nasofaringe, mas também pode til e, portanto, menos confiável. Uma vez ele-
ser causada por distúrbio central do sono. vado o IGF-1, partimos para o exame confir-
matório da hipersecreção de GH, que seria o
O diabetes mellitus é comum, sendo causado teste de supressão com glicose.
pelo efeito hiperglicemiante do GH.
Bem, você já deve ter percebido que uma doen- Como funciona esse teste? Mais um feedback,
ça que aumenta significativamente o risco de um dos últimos da apostila! Sabemos que a
hipertensão, diabetes, apneia do sono e HVE glicose suprime fisiologicamente a produção
não tinha como resultar em prognóstico muito de GH. Contudo, na acromegalia, essa supres-
bom, não é? Pois é isso mesmo: a acromegalia são não ocorre – o GH permanece elevado!
provoca um aumento de até três vezes na mor- Assim, realizamos um teste semelhante ao
talidade, principalmente por eventos como IAM, TOTG com 75 g de glicose, só que, em vez
AVE e ICC. Estima-se que a expectativa de vida de medirmos a glicemia 1 e 2 horas após a
de pacientes com acromegalia seja até dez anos carga oral de glicose, dosamos o GH.
inferior à da população sem a doença.
Na acromegalia, o GH permanece em níveis
Além disso, é interessante ressaltar o risco superiores a 0,4 µg/l após a carga de glicose
aumentado de pólipos adenomatosos de có- e em 20% dos pacientes chega até a aumen-
lon-reto (1/3 dos pacientes) e, consequente- tar em relação aos níveis pré-glicose, ou seja,
mente, de câncer colorretal. uma resposta paradoxal.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 129
Outro teste semelhante pode ser realizado idade), o teste seguinte é a supressão do GH
com TRH, que, em situações normais, também entre uma e duas horas após administração
inibiria a produção do GH. Contudo, em 50% de 75 g de glicose, caso o GH não seja supri-
dos pacientes com acromegalia, observamos mido para menos de 0,4 mcg/L estamos dian-
aumento do GH após administração de TRH. te de um caso de acromegalia confirmado
laboratorialmente.
Como já vimos, em 20-25% dos casos a sín-
drome resulta de um adenoma misto, secretor
de GH e prolactina. Ou seja, frente a um caso Tratamento
confirmado de acromegalia, a prolactina tam-
bém deve ser dosada. O tratamento objetiva controlar a hipersecreção
de GH e IGF-1, eliminando ou interrompendo o
Por fim, resta-nos encontrar o tumor e plane- crescimento do tumor, além de melhorar as co-
jar o tratamento, e para isso o melhor exame morbidades, restaurar as taxas de mortalidade
é a ressonância magnética da sela túrcica. para o normal e preservar a função hipofisária.
Tumores Neuroendócrinos e
Distúrbios Poliglandulares
Você se lembra em quais capítulos do MED Com exceção do insulinoma, são tumores
esse tema já apareceu?? geralmente malignos, sendo a presença de
metástase hepática o principal fator associa-
Vamos recordar então... Por definição, são do a mau prognóstico.
tumores originários de células neuroendócri-
nas difusamente distribuídas pelo organismo Saiba Mais!
(principalmente no trato gastrointestinal) e
Outros fatores de mau prognóstico dos PETs
que, por uma hipersecreção de seus produ-
incluem metástase linfonodal, profundidade da
tos, desenvolvem síndromes clínicas carac-
invasão, características histológicas (diferen-
terísticas. Eles podem ser divididos princi-
ciação, taxa mitótica, índice de crescimento,
palmente em tumores carcinoides e tumores
densidade de vasos, VEGF e expressão da
endócrinos do pâncreas (PETs). Outros tumo-
metaloproteinase CD10), elevação de fosfata-
res como feocromocitoma, paraganglioma e
se alcalina, achados da citometria de fluxo (ex.:
carcinoma medular da tireoide (vistos nesta
aneuploidia), sexo feminino, hiperexpressão
mesma apostila!), embora não possuam a
do oncogene h-ras ou p53, ausência de asso-
mesma origem na crista neuroectodérmica,
ciação com NEM-1 e altos níveis de marcado-
costumam ser estudados no mesmo grupo
res tumorais (cromogramina A, gastrina).
dadas algumas semelhanças.
Resumindo...
Neste ano, os mais importantes tumores neu- Observe a seguir os aspectos mais importan-
roendócrinos que vimos foram: tes sobre esses tumores:
-Tumor carcinoide (síndrome diarreica).
INSULINOMA
-Tumores Endócrinos do Pâncreas (PETs):
Gastrinoma (síndrome disfágica e dispépti- O QUE PRECISO ENTENDER SOBRE O
ca) e VIPoma (síndrome diarreica). TUMOR?
Como o nome já diz, trata-se de um tumor
caracterizado pela produção excessiva de
Mas estes não são os únicos. Faltaram três
insulina. E qual a consequência que dominará
PETs importantes para as provas: insulino- o quadro desses pacientes? Hipoglicemia!
ma, glucagonoma e somatostatinoma. Vamos Então devemos ter o insulinoma como diag-
aproveitar, portanto, para comentar um pouco nóstico diferencial dos quadros de hipoglice-
sobre eles também. mia, ao lado do uso inadequado de insulina/
hipoglicemiantes orais; doença hepática
Os PETs (também chamados de tumores de grave; alcoolismo; desnutrição; drogas (qui-
ilhotas pancreáticas) podem ser funcionais ou nina, pentamidina, SMX/TMP, neurolépticos)
não funcionais (quando sintomas são originá- e outros tumores extrapancreáticos.
rios apenas por compressão, sem secreção O QUE PRECISO GUARDAR NA PROVA
hormonal) e podem ocorrer apenas no pân- SOBRE O TUMOR?
creas ou em sítios extrapancreáticos. Os mais
IDADE: 40-50 anos.
comuns são o insulinoma e o gastrinoma.
130
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 131
d) Ganho de peso, glicemia inferior a 50 mg/ pacientes recebe o diagnóstico já com me-
dl e sintomas de hipoglicemia. tástases hepáticas. O Eritema Necrolítico
e) Sintomas de hipoglicemia, peptídeo C ele- Migratório (ENM) e a perda ponderal são as
vado e glicemia inferior a 40 mg/dl. manifestações mais frequentes, encontradas
em até 70% dos casos no momento do diag-
Aprenda com a questão: a tríade de Whipple nóstico!!! O ENM começa pelo surgimento de
– sintomas de hipoglicemia, glicose sérica abai- placas ou pápulas eritematosas anulares,
xo de 50 mg/dl e melhora dos sintomas com a geralmente em áreas periorificiais e intertri-
administração venosa de glicose – é associada ginosas, que em questão de 1-2 semanas
à presença de insulinoma. Lembrar que algumas evoluem com aumento de sua extensão e
situações clínicas podem simular a síndrome, coalescência (isto é, as placas se juntam),
como uso de agentes hipoglicemiantes e a hipo- apresentando induração central, formação de
glicemia reativa, que pode ocorrer algumas horas bolhas, erosão e descamação. As áreas afe-
após refeições com alto teor de carboidratos. tadas são tipicamente pruriginosas e costu-
mam doer bastante... A biópsia (que deve ser
realizada nos bordos da lesão) revela a pre-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 sença de necrólise das camadas superficiais
UNIVERSIDADE FEDERAL DO da epiderme, ou seja, separação dessas
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO camadas daquelas mais basais. Também
Em relação aos glucagonomas, é correto afir- observamos infiltrados linfocíticos perivascu-
mar que: lares... Acredita-se que a patogênese dessa
a) Geralmente são tumores benignos. lesão cutânea deva-se a uma alteração me-
b) Podem apresentar dermatite necrolítica tabólica peculiar ao glucagonoma: a hipoa-
migratória. minoacidemia. Os aminoácidos plasmáticos
c) Apresenta a maioria níveis plasmáticos de encontram-se reduzidos nesta doença porque
glucagon abaixo de 100 pg/ml. o fígado, estimulado pelos altos níveis de
d) Os doentes com essa doença, em geral, glucagon (geralmente > 500 pg/ml), ativa de
apresentam hiperaminoacidemia. forma exagerada as vias de gliconeogênese,
e) Ocorre com maior frequência na 3ª década consumindo aminoácidos para a formação de
de vida e no sexo masculino. glicose (o que justifica o surgimento de dia-
betes mellitus). Sabemos que a faixa etária
A maioria dos glucagonomas é maligna! típica inicia-se na QUINTA década de vida (>
Algumas séries referem que até 82% dos 40 anos). Logo, resposta: B.
SOMATOSTATINOMA
O QUE PRECISO ENTENDER SOBRE O dominam a hiperglicemia, a dismotilidade da
TUMOR? vesícula e a redução da secreção pancreática
rica em enzimas.
Como o nome já diz, trata-se de um tumor
caracterizado pela produção excessiva de
O QUE PRECISO GUARDAR NA PROVA
somatostatina. E o que esse hormônio pro-
SOBRE O TUMOR?
duzido principalmente pelas células delta do
pâncreas faz? INIBIÇÃO! Inibe a secreção de IDADE: 50 anos.
insulina e glucagon, GH, TSH e hormônios QUADRO CLÍNICO: diabetes + colelitíase
gastrointestinais (gastrina, colecistoquinina, + diarreia com esteatorreia.
secretina, VIP)! Embora a maioria dos tumo- Obs.: os sintomas mais comuns são dor ab-
res não sejam funcionais, quando a síndrome dominal e perda ponderal, já que a maioria
do somatostatinoma ocorre (10% - principal- dos tumores não é funcional, manifestando-
mente nos de localização pancreática), pre- -se por crescimento local. Contudo, para a
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 133
prova, você deve memorizar a tríade do pâncreas) e geralmente grande (4,5 cm) e
somatostatinoma que acabamos de colocar. solitária. O restante se encontra no duode-
DIAGNÓSTICO: na maioria das vezes, no (região ampolar e periampolar), fígado,
por acidente, durante colecistectomia ou cólon e reto. A maioria é maligna.
endoscopia. Levanta-se a suspeita quando TRATAMENTO: Nos que não possuem me-
se identificam corpos psamomatosos na bi- tástases disseminadas (< 25%) = cirurgia.
ópsia. O diagnóstico requer níveis elevados Nos tumores irressecáveis, os sintomas são
da somatostatina (> 160 pg/ml). controlados com octreotide (curiosamente,
CARACTERÍSTICAS TUMORAIS: Metade o análogo da somatostatina também inibe
é pancreática (principalmente na cabeça do a secreção de somatostatina).
Distúrbios Poliglandulares
Neoplasias Endócrinas
Múltiplas Novidades
NEM 1: Hiperparatireoidismo primário + Tumo-
res endócrinos do pâncreas (ex.: gastrinoma) Recentemente, duas drogas se mostraram
+Tumores hipofisários (ex.: prolactinoma). efetivas no aumento da sobrevida dos pacien-
NEM 2A: Carcinoma medular de tireoide + Fe- tes com tumores neuroendócrinos bem dife-
ocromocitoma + Hiperparatireoidismo primário. renciados e avançados: sunitinib e everolimus.
NEM 2B: Carcinoma medular de tireoide + Fe-
Os estudos conduzidos foram publicados no
ocromocitoma + Neuromas mucosos. New England Journal of Medicine.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 134
Boletim Operatório 1
Tempos Cirúrgicos
Comentário inicial:
Em cirurgias com campo reduzido, como a cirurgias no pescoço, o posicionamento do pa-
ciente adquire uma importância especial, já que ele isoladamente pode permitir uma ampli-
tude muito maior para que o cirurgião consiga manipular as estruturas anatômicas e seus
instrumentos. Assim, antes de se iniciar o procedimento, é importante ter o cuidado de
colocar um apoio entre as escápulas do paciente (ex.: um campo dobrado), bem como um
coxim (travesseiro em “doughnut”) na nuca do paciente. Eles permitirão que o pescoço do
paciente permaneça estendido durante a operação, maximizando o campo.
É válido ainda lembrar que, após o bloqueio neuromuscular há uma boa oportunidade de
realizar uma ultrassonografia do pescoço com a musculatura relaxada.
135
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 136
(1) O procedimento começa com uma incisão bem definidos. Essa anatomia permite que
transversa no pescoço, cerca de dois “dedos” o cirurgião faça uma dissecção romba entre
acima da fúrcula esternal ou 1 cm abaixo da os planos fasciais e afaste as estruturas sem
cartilagem cricoide. Essa incisão, conhecida que haja necessidade de cortá-las, evitando o
como colar de Kocher, possui 4 a 5 cm de ex- sangramento. Dessa maneira, a borda medial
tensão e vai de um músculo esternocleidomas- do m. esterno-hiodeo é identificada e incisada.
toideo (ECOM) a outro. Em sua profundidade, O espaço posterior a este músculo sofre uma
ela deve englobar todo tecido subcutâneo e dissecção romba (ex.: cabo do bisturi). Nesse
platisma, atingido um plano bem abaixo des- momento, será possível ver o m. esternotireoi-
se músculo. Note que a incisão obedece às deo, profundo e lateral ao músculo anterior. O
linhas de Langer e promove bons resultados mesmo procedimento é repetido, permitindo
estéticos, sobretudo quando colocada sobre que ambos os músculos e a fáscia que recobre
linhas naturais da pele. a tireoide sejam afastados (com um afastador
simples, ex.: Farabeuf), expondo as estruturas
(2) Abaixo do plano do platisma existe um mais profundas do pescoço anterior.
plano fascial avascular. Inicia-se uma dissec-
ção (romba ou com próprio bisturi) para cima, (4) Com a tração lateral da musculatura, po-
em direção à cartilagem tireoide, e para baixo, dem ser identificados o lobo da tireoide, seu
até a fúrcula esternal. Nesse plano serão logo istmo, a bainha, a carotídea lateralmente e,
visualizadas as veias jugulares anteriores. Se do lado esquerdo, o esôfago. O primeiro vaso
houver qualquer ramo que comunique ambas tireoidiano a ser visualizado é a veia tireoidiana
e cruze a linha média, ele deverá ser ligado e média. Ela deve ser ligada e seccionada para
seccionado. Agora que já temos um campo melhor manipulação da glândula.
cirúrgico adequado, um afastador de Mahorner
é colocado em posição para manter exposição (5) Para remover a tireoide do seu leito é ne-
constante das estruturas cervicais. cessário, antes, ligar as artérias responsáveis
pela sua vascularização. Você lembra quais
(3) Se você se lembra vagamente da anato- são elas? A artéria tireoidea superior, ramo da
mia do pescoço, perceberá que, como a dis- carótida externa, e a. tireoidea inferior, ramo
secção feita até o momento, será impossível da a. subclávia. Mas a ligadura dessas artérias
de alcançar a tireoide. Isso porque a glândula não é um processo simples. Acompanhando a
está recoberta pela musculatura infra-hioide primeira nós temos o nervo laríngeo superior,
do pescoço. Dois músculos em especial se responsável pela motricidade do m. cricoti-
interpõem entre o cirurgião e a tireoide: o m. reoideo. Passando próximo à artéria tireoidea
esterno-hioideo e o m. esternotireoideo. Então inferior está o nervo laríngeo recorrente, que
é só cortar? Não exatamente. Perceba que as inverva todo o restante dos músculos da larin-
cirurgias no pescoço são cirurgias em que não ge. Logo, o ponto mais desafiador da cirurgia é
há muito sangramento. Isso se deve a um mo- separar a vascularização da tireoide dos ner-
tivo: os planos fasciais e musculares são muito vos, sem que nenhuma lesão seja provocada.
Afastador de Mahoner
(6) Nesse momento a atenção é voltada Nas tireoidectomias quase-totais (“near total”),
para artéria tireoidea inferior. A glândula é a primeira lobectomia é realizada como des-
tracionada no sentido medial, expondo sua crito. A lobectomia contralateral poupará as
face posterior, e , consequentemente, o sulco regiões próximas às paratireoides e ao nervo
traqueoesofágico e o ligamento de Berry. Uma laríngeo recorrente, deixando apenas 1 g
dissecção mínima da artéria é realizada. A (aproximadamente 1 cm) de parênquima re-
continuidade da cirurgia fica impossibilitada se manescente. Evidentemente, há menor chan-
o nervo laríngeo recorrente não for localizado. ce de lesão nervosa e retirada acidental das
Em seu trajeto normal, o nervo sobe pelo sulco paratireoides nesse lado. No procedimento
traqueoesofágico, posteriormente (80%) ou an- subtotal, ambos os pólos superiores e inferio-
teriormente (20%) à artéria tireoidea inferior. Se res são poupados com uma margem maior,
o nervo não for visualizado nessa localização, restando uma média de 2 a 3 g de parênquima
áreas mais inferiores do pescoço devem ser bilateralmente. Nesse tipo de cirurgia a des-
exploradas à procura de sua origem. Com os vantagem (ou vantagem secundária em alguns
mesmos propósitos que a. tireoide superior, casos...) é a própria permanência de tecido
aqui as artérias e veias também são esqueleti- tireoidiano no local. Existe ainda uma variação
zadas, ligadas e seccionadas próximas de sua da tireoidectomia subtotal conhecida como
inserção na glândula. O pólo inferior é separa- cirurgia de Hartley-Dunhill em que é realizada
do cuidadosamente dos tecidos adjacentes e através de uma lobectomia com istmectomia.
da glândula paratireoide. O lobo contralateral é retirado deixando uma
quantidade maior de parênquima remanes-
cente (4 g).
(7) Com o lobo desvascularizado, chegou a (9) Com o procedimento terminado, o cirur-
hora de retirá-lo. A tração medial é continua- gião buscará fontes ainda sangrantes e revi-
da, de forma que a clivagem aconteça na face sará a hemostasia do campo. Após lavagem
posterior da tireoide. O primeiro passo desse com soro fisiológico, os músculos infra-hio-
tempo cirúrgico é a identificação do ligamento deos são aproximados com pontos simples de
de Berry. O nervo laríngeo recorrente segue fio inabsorvível. O mesmo é realizado com o
seu curso exatamente por baixo do mesmo. platisma e o subcutâneo. A pele pode ser fe-
Assim, é necessário uma secção cuidadosa chada com sutura intradérmica, para melhores
dessa área. Se houver sangramento, a he- resultados estéticos já que a região anterior
mostasia é realizada com ligaduras ou com- do pescoço não possui uma tensão cutânea
pressas, pois mesmo isoladamente o calor do elevada. As cirurgias de tireoide raramente
eletrocautério pode lesar o nervo. Uma vez necessitam de drenagem.
que incisão passe esse ponto, ela é continua
da em direção ao istmo.
Boletim Operatório 2
Tempos Cirúrgicos
139
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 140
Comentário inicial:
Por que o posicionamento é importante?
Conforme já foi explicitado, o campo cirúrgico é muito pequeno. Como estamos falando de uma
cirurgia laparoscópica, não podemos utilizar múltiplos afastadores. Dessa maneira, o cirurgião
contará com a gravidade como um afastador. Com esse objetivo, ele pode modificar a diversas
vezes posição do leito para obter uma melhor visualização. As posições mais buscadas são o
decúbito de Trendelenburg, Trendelenburg invertido, inclinação para frente e inclinação para trás.
(2) Para acessar a glândula suprarrenal calibrosos é realizada uma ligadura como a
esquerda, o primeiro grande obstáculo é o da veia suprarrenal.
baço. Ele está preso à parede abdominal por
aderências, preso ao diafragma pelo ligamen- (4) Com a veia suprarrenal ligada, a glândula
to esplenodifragmático e preso ao rim pelo sofrerá uma enucleação convencional. Ela é
ligamento esplenorrenal. Apesar de descri- descolada circunferencialmente do seu leito
tas separadamente, essas estruturas são na com o auxílio do eletrocautério em gancho,
realidade uma reflexão peritoneal contínua, num processo bem parecido com a colecis-
e quando a primeira for incisada, tudo o que tectomia. A glândula pode estar envolta por
o cirurgião precisa fazer é seguir no mesmo muita gordura perinéfrica. Não há problemas
plano da linha de corte. Ao “libertar” o baço, de ressecar pedaços dessa gordura conjun-
ele é jogado para frente por um afastador do tamente. Na verdade, é melhor fazê-lo do que
tipo leque, em direção ao umbigo, juntamente deixar para trás algum fragmento da glândula.
com a cauda do pâncreas que está aderida ao
seu hilo. Essa manobra permitirá a visualiza- (5) Retirada do seu leito, a glândula (com ou
ção do rim esquerdo, da veia renal esquerda sem tumor) é manipulada pela gordura periné-
e glândula adrenal ipsilateral. Caso a flexura frica aderida, colocada em saco impermeável
esplênica do cólon esteja atrapalhando a cirur- (uma luva estéril quando não há outro recurso)
gia, ela pode ser mobilizada para baixo após e retirada do abdome. Os planos musculares
a secção do ligamento esplenocolônico. são fechados com suturas de tensão duradou-
ra (de preferência fios inabsorvíveis) e a pele
(3) Já achamos a adrenal, agora é só res- com pontos intradérmicos ou ponto simples.
secar certo? Depende... Imagine que você Geralmente, não há necessidade de drena-
esteja manipulando um feocromocitoma. A gem, à exceção dos casos que existe lesão
cada aperto que você faz na glândula, uma pancreática evidente.
quantidade imensa de catecolaminas é jogada
na circulação, provocando hipertensão e ins-
tabilidade hemodinânica. Se você não gosta
do anestesista, esse é a técnica de escolha!
Brincadeiras a parte, como poderíamos evi-
tar essa situação? Simples: ligando a veia
suprarrenal. Assim, por mais que a glândula
fosse pressionada, as catecolaminas não cai-
riam na circulação. Apesar das complicações
citadas, existem ainda autores que advogam
a ressecção da glândula antes da ligadura
da veia, já que essa última poderia provocar
congestão tecidual e maior dificuldade de
manipulação. Esse tipo de abordagem é rea-
lizado mais seguramente quando não se trata Adrenalectomia Direita
de um feocromocitoma.
(1) Nesse lado, o maior obstáculo para vi-
Como achar a veia suprarrenal esquerda? sualização da adrenal será o lobo direito do
fígado. Dessa forma, ele terá que ser deslo-
Existem algumas maneiras descritas. A mais cado anteriormente. Como? O fígado é preso
popular e possivelmente a mais fácil, é busca no diafragma por duas reflexões peritoneais
pela veia frênica inferior esquerda. Hã? Isso conhecidas como ligamentos triangulares do
mesmo. Essa veia é tributária direta da veia fígado (direito e esquerdo). O ligamento trian-
suprarrenal esquerda. Portanto, se seguirmos gular direito é seccionado, o que permitirá que
seu trajeto encontraremos o que procuramos. um afastador desloque o fígado para o lado
Onde achamos essa veia? Basta afastar o rim e para frente, em direção à cicatriz umbilical.
e a adrenal esquerdas do baço e da cauda do Essa manobra permitirá a visualização do rim
pâncreas, como se estivéssemos abrindo um direito, glândula adrenal e da veia cava inferior.
livro. A veia frênica inferior aparecerá ao fun-
do, como se fosse o marcador de página do
livro. Agora é dissecar e seguir o seu trajeto
até a veia suprarrenal. Quando encontramos
a mesma, ela é ligada com grampos de metal
e seccionada, ou mesmo grampeada direta-
mente com grampeador vascular.
Boletim Operatório 3
Conceitos Anatômicos
Como todo procedimento com campo reduzi- Pensando calmamente: se hipófise é extra-
do, a adenomectomia transesfenoidal exige -aracnoidal, os tumores não invasivos da
conhecimento de alguns detalhes anatômi- mesma (macro e microadenomas) também
cos. Para que a operação seja efetuada, é serão extra-aracnoidais. Isso mostra ao neu-
fundamental que cirurgião saiba se orientar rocirurgião que existe um limite importante
por pequenos pontos de reparo anatômicos. para sua dissecção: a meninge aracnoide, que
Assim, três são os principais conceitos que não deve ser ultrapassada. Ela deve funcionar
todo neurocirurgião deve saber: como um escudo, entre o campo cirúrgico e
espaço subaracnoide, impedindo vazamentos
1- A hipófise é uma estrutura de líquor e lesão de vasos importantes.
extra-aracnoidal
2 - A hipófise se encontra
Você está cansado de saber que todas as na linha média, envolta por
estruturas nobres.
estruturas do sistema nervoso central estão
cobertas por três meninges: a dura-máter,
aracnoide e pia-máter. No entanto, a hipófise A localização da hipófise é extremamente
é uma exceção à regra. Ela fica localizada na delicada. Lateralmente a ela encontram-se o
sela do osso esfenoidal e apenas sua parte su- seio cavernoso, o joelho da carótida interna,
perior é coberta pele aracnoide. Isso acontece os nervos oculomotor, abducente, troclear e
porque uma indentação da dura-máter barra raiz oftálmica do trigêmeo. Assim qualquer
a progressão da aracnoide. Essa projeção é dissecção lateral descuidada pode acabar em
conhecida como diafragma da sela. complicações gravíssimas. Como todas essas
estruturas estão juntas ou mesmo dentro do
seio cavernoso, este deve ser considerado
No que esse conhecimento pode ajudar? como limite lateral das dissecções hipofisárias.
143
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 144
Pode parecer óbvio que a retirada da hipófise re- Diagnóstico: adenoma secretor de
sidual resulte em pan-hipopituitarismo pós-ope- hipófise
ratório, mas reconhecer a glândula durante a
Procedimento: adenomectomia
retirada de um macroadenoma é outra história...
transesfenoidal
Em grande parte dos casos a hipófise original é
tão espremida que acaba se tornando uma “fina” Anestesia: geral
camada ao redor do adenoma, assemelhando-
Tempos Cirúrgicos
Comentário inicial:
A adenomectomia transesfenoidal é uma cirurgia em que a observação dos pequenos detalhes
é fundamental para que todo o procedimento transcorra corretamente. Assim, mesmo pequenos
desvios de técnica podem levar ao insucesso do procedimento. Grande parte da preparação
do paciente consiste no posicionamento minucioso:
Em decúbito dorsal, o ombro do paciente deve repousar no canto superior direito da mesa com
a cabeça ficando apoiada em uma cabeceira flexível (suporte em ferradura de Mayfield). A regu-
lação do leito deve deixar a cabeça mais alta que os pés (posição de Trendelenburg invertida).
Essa conformação diminui a pressão venosa intracraniana, permitindo melhor drenagem pelos
seios sigmoides bem como uma drenagem direta do sangramento do sítio cirúrgico. A cabeça
é flexionada cerca de 20º para esquerda, aproximando a orelha do ombro esquerdo. O dorso
do nariz deve ficar paralelo ao chão. Esses ajustes permitem que o cirurgião olhe diretamente
para o fundo da cavidade nasal (seio esfenoide), sem que haja necessidade de debruçar-se
sobre o paciente. Como a cabeça não está fixa na mesa de operação, o cirurgião pode alterar
sua posição durante o procedimento para buscar uma melhor visualização do campo.
No procedimento são degermadas pele da face e do abdome inferior. Abdome inferior? Sim,
parte da cirurgia pode demandar enxertos de aponeurose ou gordurosos. Assim é conveniente
que essa região já esteja pronta para uma abordagem cirúrgica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 145
(1) O primeiro tempo da cirurgia consiste na para o lado da narina contralateral por uma
dissecção do trajeto na cavidade nasal até a espátula. Com essa manobra a junção da par-
face ventral do seio esfenoide (face rostral do te óssea com a cartilaginosa do septo ficará
esfenoide) seja vista. Existem duas principais visível. Repare que o campo da cirurgia se
vias de acesso. A mais recente e mais utiliza- limita a uma narina somente!
da é a via rinoseptal. Para sua realização,
uma incisão em J é feita na mucosa septal e (3) O septo cartilaginoso é incisado na sua
o plano, entre o septo e a mucosa respiratória, junção com o septo ósseo. A parte contrala-
é dissecado com uma estrutura romba (p.ex.: teral da parede óssea ficará visível. A mucosa
bisturi cabo 3 sem lâmina). Um túnel é con- sobre esse lado do septo é incisada e afastada
feccionado em direção ao fundo da cavidade do septo até que a face rostral do esfenoide
nasal, até que a face rostral do esfenoide seja esteja visível, à semelhança do procedimento
localizada. A seguir, um novo túnel é feito contralateral. Com o septo ósseo descolado
inferiormente e paralelo ao primeiro. Poste- de ambos os lados, a parte superior do vô-
riormente os dois são ligados, descolando-se mer é retirada, expondo completamente o
completamente a mucosa do septo. osso esfenoide. Deve-se ter atenção nesse
momento para que a lâmina do etmoide não
seja mobilizada, o que aumentaria o risco de
fratura da lâmina cribiforme e liquorreia. A
parte do septo retirada é preservada para o
fechamento da cirurgia. Com o campo livre,
um rinoscópio bivalve é inserido até o fim da
cavidade permitindo o afastamento constante
das paredes.
Lembre que o septo nasal é formado por 3 Como o cirurgião faz para visualizar todo
estruturas: lâmina do etmoide (superiormente), o procedimento?
cartilagem septal (anteriormente) e o vômer
(inferiormente). Através de um endoscópio ou da visualização
direta através de lentes (microcirurgia).
Pinça de Kerrison
(5) A retirada do rostro do esfenoide permite A partir daqui, dois tipos de cirurgia são pos-
a visualização do septo do seio esfenoidal, síveis:
bem como sua mucosa. A correlação da po-
sição do septo com exames de imagem pré- Remoção de microadenomas
vios (RNM, TC) permite uma orientação mais
adequada sobre a anatomia do paciente. O Os microadenomas geralmente são visíveis e
septo e a mucosa também são retirados com facilmente delimitados. O cirurgião consegue
a pinça, deixando o fundo da sela do esfenoide facilmente encontrar o plano de clivagem entre
(sela turca) evidente. o nódulo e o tecido normal. O início da dissec-
ção é efetuado com uma lâmina 11 e prossegui-
(6) O fundo da sela costuma estar erodido do cranialmente com uma cureta. Quando não
e fino nos macroadenomas. Nos microade- é visualizado diretamente, deve-se procurar o
nomas encontramos uma espessura normal. microadenoma em regiões da hipófise que pos-
Ele é retirado delicadamente com emprego suem aparência modificada, como alterações
de martelo e de cinzel cirúrgicos associados de coloração ou mudanças de textura, para
à dissecção com pinça Kerrison. Nesse mo- efetuar a incisão. Um cuidado que o cirurgião
mento será possível visualizar a dura-máter deve ter na extração dos microadenomas é a
recobrindo a hipófise. remoção da pseudocápsula, uma mistura tecido
adenomatoso com células hipofisárias normais
(7) A dura-máter é incisada em “X” por um comprimidas. O confundimento dessa estrutura
bisturi simples cabo 3 com lâmina 15. A hipó- com uma cápsula real e a sua não extração
fise é visualizada imediatamente. pode levar à recidiva do adenoma.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 147
MED R3
Clínica Médica
Esse tópico cai bastante, assim como nos A síndrome de Cushing e a insuficiência
concursos de acesso direto. As questões adrenal, assim como o feocromocitoma
mais difíceis são as de anatomia da prova e sua ressecção cirúrgica, são sempre
de Cirurgia Geral. O Boletim Operatório temas “quentes” para as provas de R3.
irá ajudá-los a entender mais alguns as- Acrescentamos ainda nesse tópico um
pectos práticos das tireoidectomias. quadro sobre esteroides anabolizantes.
148
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 149
EFEITOS ADVERSOS:
- Supressão da função testicular (por inibir a liberação de gonadotropinas, com redução da
espermatogênese e da fertilidade).
- Ginecomastia (pela conversão da testosterona a estradiol pela ação das aromatases).
- Eritrocitose (por estimulação direta da eritropoese).
- Hepatotoxicidade (apenas com agentes orais 17-alfa-alquilados, levando à hepatotoxicida-
de, colestase, peliose hepática).
- Distúrbios psicológicos (distúrbios do humor e do comportamento).
- Doença cardiovascular (efeito incerto, possivelmente associado à hipertensão e HVE).
- Dislipidemia (redução da HDL e aumento da LDL, especialmente com agentes orais 17-alfa-
-alquilados).
- Ativação das vias de coagulação (embora seja incerto o risco de trombose).
- Virilização (hirsutismo, acne, aumento do clitóris, alteração da voz).
- Interrupção do crescimento (fusão precoce da epífise na adolescência).
- Infecções (devido às injeções).
Com um pouco de conhecimento, já podemos acertar essa questão avaliada como “muito
difícil” em seu ano. O que ocorrem são: maturação precoce, eritrocitose e redução de HDL
(B, C e D excluídas).
Resposta: A.
Muitas questões sobre fisiologia são encontradas dentro deste tópico! Não podemos pular
este assunto... Depois, viria o hiperparatireoidismo e seu tratamento cirúrgico.
SEÇÃO 5 – HIPÓFISE
Como nas provas de acesso direto, quando caem, predominam as questões sobre a hi-
perprolactinemia.
Também pode aparecer, embora, assim como nas provas para R1, não sejam temas frequentes.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 150
150
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 151
e) A deficiência de vitamina D é causa de au- bem como neurológicos, podem ter alguns
mento de PTH, mas sua reposição não é ne- diagnósticos diferenciais, que na verdade po-
cessária para diagnóstico da doença. dem coexistir, sendo os fatores precipitantes
da crise, a qual é mais comum na doença de
O hiperparatireoidismo primário é mais co- Graves... Se nos deparássemos na vida com
mum em mulheres pós-menopausa. A apre- um caso como nosso paciente 1: confusão
sentação clínica é variável: mental aguda e hipertensão, num paciente
- Assintomático (50-80% dos casos); com FA, será que valorizaríamos o bócio?
- litíase renal de repetição (20%); Certamente poderia tratar-se de um AVEi por
- envolvimento ósseo intenso e osteíte fibrosa exemplo! A causa mais comum de descom-
cística (30%); pensação, que deve ser ativamente pesquisa-
- síndrome neuropsiquiátrica, depressão, con- da e tratada, é a infecção... Mas outras como
fusão mental (2-3%). TEP, IAM, hipoglicemia, suspensão das dro-
A principal forma de diagnóstico é laboratorial gas anti tireoideanas, IC e trauma da glându-
quando, por exemplo, é encontrado valores la podem estar por trás da síndrome. Relem-
de cálcio alterados em rotina de exames ge- brando os pilares do tratamento desse quadro
rais. O tratamento é feito baseado nos sinto- grave... (1) CTI (mortalidade pode chegar a
mas ou na presença de alterações. 30% mesmo quando adequadamente trata-
da!); (2) Propiltiouracil (PTU): preferível ao
metimazol por inibir a conversão periférica de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 T4 em T3; (3) Iodo: que efeito queremos pro-
(R3 CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA) duzir nesse caso? Wolff-Chaikoff ou Jod Ba-
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP sedow? Obviamente o primeiro! Para isso,
São admitidos no pronto-socorro dois pacien- precisamos esperar 1 hora da administração
tes com confusão mental aguda e bócio difuso, do PTU, havendo então bloqueio da liberação
além das alterações clínicas abaixo: Paciente e organificação do iodo. Caso contrário pode-
I: hipertermia, diarreia, hipertensão arterial e remos estar fornecendo material para mais
fibrilação atrial ao eletrocardiograma. Pacien- síntese hormonal (Jod Basedow)!; (4) Propra-
te II: bradicardia, hipotensão, hipotermia e nolol: além de bloquear a grande ação cate-
complexos diminuídos ao eletrocardiograma. colaminérgica, também inibe a conversão de
Qual a principal hipótese diagnóstica para este T4 em T3; (5) Dexametasona: além da inibição
momento clínico em cada um dos pacientes? da desiodase I (T4 -> T3), atua corrigindo uma
insuficiência adrenal relativa, comum desses
GABARITO: pacientes.
Paciente 1: crise tireotóxica (ou tempestade No outro extremo das disfunções tireoideanas,
tireoideana). temos o coma mixedematoso (paciente II).
Paciente 2: coma mixedematoso. Infecção e AVE, além da descompensação de
Está claro que o bócio pode ocorrer tanto no uma doença clínica subjacente devem ser
hipo como no hipertireoidismo não é mesmo? pesquisadas! Os pilares de seu tratamento
No hipo por elevação do TSH e no hiper por são: (1) CTI, suporte ventilatório (hipoventila-
ação direta de anticorpos no receptor de TSH ção e carbonarcose contribuindo para o coma)
(considerando a doença de Graves, causa e aquecimento; (2) Levotiroxina IV; (3) Corre-
mais comum de hipertireoidismo). ção de Hipoglicemia e Hiponatremia; (4) Hi-
Então, temos dois paciente com confusão drocortisona IV (com a reposição hormonal e
mental aguda e bócio difuso, porém o primei- consequente aumento metabólico pode haver
ro esbanja sinais de hipertireoidismo (acele- insuficiência adrenal).
ração metabólica, com aumento da PA, FC e Ufa! Após um resumão dessas graves condi-
temperatura) e o segundo de hipo (redução ções médicas concluímos que os GLICOCOR-
da taxa metabólica com bradicardia, hipoten- TICOIDES são usados em ambas, responden-
são e hipotermia). Assim fica tranquilo. do a questão!
Na doença de Graves, causa clássica de hi- Observe o quadro clínico marcado por perda
pertireoidismo (aumento da produção glandu- ponderal, anorexia, fadiga e hipotensão arte-
lar de hormônios), o que causa marcante rial. Pode até parecer inespecífico a princípio,
aumento na captação de I-131 na cintilografia mas começa a mudar quando é mencionada
tireoidiana. Além disso, encontramos, além do a hiperpigmentação cutaneomucosa caracte-
aumento de T3 e T4, da redução do TSH. rística da doença de Addison. Solicitados os
Opção B errada. exames laboratoriais, eles também são favo-
ráveis a este diagnóstico, evidenciando hipo-
No struma ovarii e na tireotoxicose factícia, natremia e hipercalemia.
temos tireotoxicose sem aumento na produção
endógena de hormônios tireoideanos pela Como confirmar a hipótese diagnóstica?
hipófise! Ou seja, tireotoxicose não associada
ao hipertireoidismo. Assim, os resultados es- Gabarito: cortisol basal / ACTH / TC de ab-
perados são semelhantes à tireoidite subagu- dome superior.
da: TSH suprimido; T3 e T4 livre altos; capta-
ção de I-131 na cintilografia tireoidiana < 1%. Em primeiro lugar, devemos confirmar o hi-
Opções C e D erradas. pocortisolismo, sendo o teste ‘padrão-ou-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 156
confirmar sua hipótese diagnóstica, devemos relação aos hormônios do eixo hipófise-hipo-
solicitar a dosagem de: tálamo, a principal alteração é uma HIPERA-
a) Cálcio. TIVAÇÃO deste eixo! Ocorre, por exemplo,
b) Glicose. aumento da prolactina (hiperprolactinemia
c) Amilase. levando à amenorreia e à infertilidade). Lem-
d) Proteinúria. bre-se que a dosagem de hormônios tireoi-
e) Proteína C reativa. dianos é um dos passos iniciais do algoritmo
diagnóstico da hiperprolactinemia... O PTH,
Fraqueza, náuseas, vômitos, dor abdomi- assim como a vitamina D, pode sofrer um dis-
nal e perda ponderal são manifestações ines- creto AUMENTO nos quadros de hipotireoi-
pecíficas que acompanham uma lista enor- dismo, o que justifica a hipercalcemia (leve)
me de doenças, refletindo o acometimento observada em alguns casos. Porém, os ní-
direto ou indireto do tubo digestivo... Quan- veis de homocisteína AUMENTAM no hipoti-
do associamos a este quadro os achados reoidismo... Resposta certa: B.
de poliúria (refletindo acometimento renal) e
letargia/confusão mental (envolvimento do
SNC), temos um quadro mais indicativo de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
uma importante alteração da homeostase, o HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – R3
que é perfeitamente compatível com a hipóte- – CLÍNICA MÉDICA
se de distúrbio hidroeletrolítico. A grande pista Uma paciente do sexo feminino, de 28 anos,
então, fornecida pelo enunciado, está no ele- é encaminhada para investigação de hiper-
trocardiograma: o encurtamento do intervalo prolactinemia. Refere ciclos menstruais re-
QT é um sinal associado a poucas causas. gulares e depressão diagnosticada há dois
Dos distúrbios hidroeletrolíticos, aquele que anos, em uso de fluoxetina 20 mg/dia. Nega
responde por este achado é a hipercalcemia! cefaleia e perda visual. Ao exame físico, ga-
Guarde a seguinte regra: “o intervalo QT é in- lactorreia bilateral à expressão, campimetria
versamente proporcional ao cálcio”... Quanto visual por confrontação normal, FC: 80 bpm,
maior a calcemia, MENOR o intervalo QT, e PA: 110 x 70 mmHg. Em exames: prolactina
vice-versa... No encurtamento de QT, pode = 55,0 ng/dl (VR: 15 - 33), TSH = 2,0 U/L (0,5
ocorrer o achatamento ou desaparecimento - 5,0) T4 = livre 1,0 ng/dl (0,8 - 1,8), beta-hCG
do segmento ST... Resposta certa: A. = negativo. A conduta, nesse caso, é:
a) Associar bromocriptina.
b) Pedir pesquisa de macroprolactinemia (an-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 ticorpos antiprolactina).
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA c) Retirar fluoxetina e introduzir bromocriptina.
FERRO DE SOUZA/JOÃO BARROS d) Trocar fluoxetina por venlafaxina.
BARRETO – PA – R3 – CLÍNICA MÉDICA
Pacientes com hipotireoidismo descompen- Aumentos de prolactina inferiores a
sado podem apresentar várias alterações 100 ng/dl geralmente são de causa medica-
metabólicas. A alternativa que apresenta tais mentosa. A ausência de cefaleia ou alterações
alterações é: no campo visual (indícios de comprometimen-
a) DHL aumentado, HDL colesterol aumenta- to do quiasma óptico, por expansão tumoral
do e triglicerídeos aumentados. da hipófise) corrobora este diagnóstico falando
b) Prolactina aumentada, colesterol total au- contra a possibilidade de prolactinoma... A ava-
mentado e CPK aumentada. liação laboratorial básica descartou as outras
c) Colesterol total diminuído, triglicerídeos duas principais causas de hiperprolactinemia:
diminuídos e transaminases aumentadas. gravidez (é claro) e hipotireoidismo... Ora, os
d) PCR ultrassensível aumentada, bilirrubina in- inibidores seletivos de recaptação de serotoni-
direta aumentada e LDL colesterol aumentado. na (como a fluoxetina) se associam a discretos
e) PTH aumentado, homocisteína diminuída aumentos da prolactina! A literatura, no entan-
e colesterol total aumentado. to, afirma que tal classe de fármacos raramen-
te promove hiperprolactinemia significativa
A principal perturbação lipêmica decorren- (ex.: a ponto de gerar galactorreia). Contudo,
te da carência de hormônio tireoidiano é o na ausência de resposta melhor (ex.: não há
aumento do LDL-colesterol, por diminuição indicação de bromocriptina, não há indício de
na síntese de receptores hepáticos de LDL macroprolactinemia, uma vez que nesta condi-
que removem esta fração lipídica do sangue. ção não ocorre galactorreia), marcamos aqui a
Os triglicerídeos também aumentam no pa- letra D... Lembre-se: na “macroprolactinemia”,
ciente hipotireoideu, mas o HDL permanece existe um aumento de moléculas de prolactina
em níveis normais. Todavia, não poderíamos glicosiladas que circulam “agregadas” e, por
marcar aqui a letra D, uma vez que não há isso, têm uma menor taxa de filtração, aumen-
aumento de PCR (proteína C-reativa) no hi- tando seus níveis séricos (B errada)...
potireoidismo! Por outro lado, perceba que
não está errado afirmar que o “colesterol to-
tal” (somatório das frações HDL, LDL e VLDL) RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
aumenta nesta doença... No hipotireoidismo HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – R3
também ocorre um processo de miopatia. Por – CLÍNICA MÉDICA
conseguinte, marcadores de necrose muscu- Uma paciente de 28 anos é encaminhada
lar costumam apresentar níveis séricos au- pelo ginecologista com queixa de nervosis-
mentados (CPK, aldolase, LDH e TGO)... Em mo e insônia. Essa paciente não possui an-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 159
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 saber o que poderá ser feito. Qual a aborda-
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – gem mais apropriada nesse momento?
R3 – CLÍNICA MÉDICA a) Administrar carbonato de cálcio, 1-2 g/dia.
A tireotoxicose é definida como o estado de b) Administrar gluconato de cálcio, 200 mg (2
excesso de hormônios tireoidianos e não é o ampolas).
mesmo que hipertireoidismo, o qual represen- c) Administrar vitamina D.
ta o resultado de uma função tireoidiana ex- d) Checar nível de albumina.
cessiva. A esse respeito, assinale a alternativa e) Chegar nível de magnésio.
que não constitui causa de tireotoxicose.
a) Bócio multinodular atóxico. Questão básica, porém extremamente
b) Doença de Graves. importante na prática médica! Em indivídu-
c) Adenoma tóxico. os normais, cerca de metade do cálcio total
d) Metástases funcionantes do carcinoma de encontra-se ionizado (fração biologicamente
tireoide. ativa), enquanto o restante fica ligado prin-
e) Tireoidite subaguda. cipalmente à albumina. O ideal seria medir
sempre o cálcio iônico (fração ativa), mas em
Questão muito simples. O bócio multinodu- muitos laboratórios isso não é possível, e me-
lar ATÓXICO, como o próprio nome diz, é a de-se apenas o cálcio total, como foi o caso.
única condição listada que não causa tireoto- Só que, quando ocorre hipoalbuminemia, a
xicose. Resposta letra A. tendência é aumentar a fração de cálcio io-
nizado e diminuir o cálcio ligado à albumina.
Assim, um indivíduo com cálcio sérico de
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 10 mg/dl geralmente tem cálcio iônico normal
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – DF – (entre 4,4 e 5,2 mg/dl), mas, se ele tiver hipo-
R3 – MEDICINA INTENSIVA albuminemia, o cálcio iônico pode estar ele-
Um paciente masculino com 45 anos de ida- vado – assim, esse paciente pode apresentar
de apresentava hipertensão arterial refratária manifestações de hipercalcemia mesmo com
a tratamento convencional. Evoluiu com pal- cálcio sérico total normal, já que o cálcio iôni-
pitações, taquicardia e fadiga. A investigação co (ativo) está aumentado.
diagnóstica mostrou que a sintomatologia era Como vamos estimar isso, se eu só tiver
decorrente do excesso de catecolaminas, su- como dosar o cálcio total? Existe uma regra
gerindo feocromocitoma, que não foi identifi- básica na qual, para cada grama de albumi-
cado nos exames de imagem. As possíveis na sérica abaixo de 4 g/dl, devemos somar
localizações extra-adrenais do feocromocito- 0,8 mg/dl ao cálcio total – o resultado é o “cál-
ma (paragangliomas) podem estar mais fre- cio corrigido”. Assim, se o paciente tem cálcio
quentemente em: corrigido alto, deve ser tratado como portador
a) Paragânglios perirrenais, órgão de Zu- de hipercalcemia.
ckerkandl e bexiga.
b) Órgão de Zuckerkandl, bexiga e fígado. No caso apresentado, o paciente é hepato-
c) Bexiga, paragânglios perirrenais e duodeno. pata, e pode muito bem ter albumina sérica
d) Paragânglios carotídeos, ceco e tórax. baixa: Vamos supor que a albumina seja de
e) Pescoço, baço e bexiga. 2 g/dl, ou seja, 2 g/dl abaixo de 4. Devemos
somar 0,8 x 2 (1,6) ao cálcio total (7) = cálcio
O órgão de Zuckerkandl é a localização corrigido de 8,6 mg/dl. Neste caso, por exem-
mais comum dos feocromocitomas extra- plo, esse paciente não deveria ser considera-
-adrenais, além disso outras possíveis topo- do portador de hipercalcemia. Logo, a primei-
grafias incluem paragânglios perirrenais e ra coisa a fazer ao checar um resultado de
bexiga. Resposta letra A. cálcio TOTAL é sua correção pela albumina
sérica. Resposta letra D.
em outros tecidos como o chamado ‘órgão de “Jogo rápido” sobre os insulinomas: são
Zuckerkandl’ - agrupamento periaórtico de cé- geralmente tumores pequenos (< 2 cm), soli-
lulas cromafins). Sabemos que as células cro- tários e esporádicos, ou seja, não associados
mafins são produtoras, entre outros fatores, de às NEM. Apenas 10% são malignos, sendo
catecolaminas. Cerca de 10% dos casos são possível, nos demais casos, uma ressecção
bilaterais (‘regra dos 10’). O feocromocitoma mais econômica, como uma enucleação.
incide de forma semelhante entre os sexos, Dessa forma, melhor resposta letra D.
sem predomínio de um sobre o outro.
Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO PAULO –
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIFESP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ – Paciente no segundo dia de pós-operatório
R3 – CIRURGIA GERAL de tireoidectomia subtotal evoluiu com hipo-
Ainda sobre feocromocitomas, assinale a al- tensão arterial, estridor e confusão mental.
ternativa INCORRETA: Esse quadro clínico é decorrente de:
a) Hipertensão arterial é o sintoma mais comum. a) Hipocalemia. d) Hipernatremia.
b) A excreção renal elevada de catecolami- b) Hipercalcemia. e) Hiponatremia.
nas e de seus metabólitos é condição sine c) Hipocalcemia.
qua non.
c) O ácido vanilmandélico urinário é o exame A questão entrou em tireoide, mas a com-
mais específico. plicação não veio exatamente de um proble-
d) A TC e a RNM são os métodos de escolha ma dela. Afinal, qual o distúrbio eletrolítico que
para localizar o feocromocitoma. pode surgir como complicação de uma tireoi-
e) O feocromocitoma maligno pode disseminar- dectomia??? É A HIPOCALCEMIA!!! Ela pode
-se para o fígado, pulmões e ossos. ser transitória ou permanente, sendo ocasio-
nada por lesão das paratireoides / retirada
A hipertensão arterial sistêmica é a manifes- inadvertida das glândulas. Uma hipocalcemia
tação mais comum do feocromocitoma, sendo transitória ocorre em até 20% dos casos; hipo-
causada pela produção paraneoplásica de ca- paratireoidismo permanente ocorre em menos
tecolaminas pelo tumor, as quais podem ser de 2% deles, sendo mais comum em pacien-
diretamente mensuradas (sangue e ou urina), tes que necessitaram de ressecção dos linfo-
bem como seus metabólitos (condição essen- nodos da cadeia central. Resposta: C.
cial para a confirmação diagnóstica). Após
suspeita clínica e demonstração laboratorial do
excesso de catecolaminas e/ou seus metabó- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
litos, o passo seguinte consiste na localização UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
da lesão! Para tanto, exames de imagem do – UNIFESP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
abdome (TC ou RNM) são considerados mé- O preparo pré-operatório do paciente com feo-
todos de primeira linha (lembre-se: 90% dos cromocitoma deve ser iniciado com:
feocromocitomas estão na suprarrenal, e 10% a) Bloqueadores alfa-adrenérgicos.
fora dela, em geral no órgão de Zuckerkandl- b) Nitroprussiato de sódio.
-paragangliomas)... Cerca de 10% dos casos c) Alfametil tirosina.
são malignos (‘regra dos 10 do feocromocito- d) Restrição hídrica.
ma’), assumindo a doença um curso progressi- e) Bloqueadores beta-adrenérgicos.
vo e metastático, podendo se disseminar para
fígado, pulmões e esqueleto... Enfim, de todos Detalhes importantes sobre a terapia cirúr-
os metabólitos de catecolaminas que podem gica do feocromocitoma e de outros tumores
ser dosados, o ácido vanilmandélico urinário das suprarrenais estão no Boletim Operató-
é o que apresenta menor acurácia, possuindo rio. Não deixe de ler! Aqui, a questão é bem
tanto uma baixa sensibilidade quanto uma bai- mais direta... Como sabemos, o passo inicial
xa especificidade... seria o bloqueio alfa-adrenérgico 10-14 dias
Resposta certa: C. antes com fenoxibenzamina ou prazosin. O
betabloqueador deve ser iniciado somente
após o bloqueio alfa ser obtido. Isso porque a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 utilização de betabloqueadores sem a admi-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – R3 – nistração prévia de um alfabloqueador pode
CIRURGIA GERAL induzir grande elevação da pressão arterial,
Sobre os insulinomas, assinale a alternativa ao deixar a vasoconstricção pelos receptores
correta. alfa ocorrer sem antagonismo. Resposta A.
a) A maioria dos insulinomas está relaciona-
da à síndrome das Neoplasias Endócrinas
Múltiplas tipo 1 (NEM 1). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) Localizam-se usualmente na cabeça do UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
pâncreas. – UNIFESP – R3 – CLÍNICA MÉDICA
c) A enucleação está contraindicada devendo- Nos exames laboratoriais em osteomalácia por
se proceder à ressecção pancreá tica, tanto deficiência da vitamina D, pode-se observar:
proximal ou distal, para a cura. a) Cálcio e fósforos normais ou reduzidos,
d) Uma minoria, em torno de 10%, apresenta fosfatase alcalina aumentada, dosagem 25
natureza maligna. (OH) vit D reduzida, PTH aumentado.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 162
de onde ela veio??? Aí é que está a graça da assim como valores altos de testosterona. No
questão. A alcalose pode precipitar sintomas caso desta paciente, ainda temos uma TC que
de hipocalcemia... O cálcio ionizado sofre uma confirma a presença de uma massa na to-
importante influência do pH plasmático: em si- pografia da glândula. Com isso, fechamos o
tuações de pH alcalino, a avidez da albumina diagnóstico de um carcinoma adrenocortical.
pelo cálcio aumenta, diminuindo assim os ní- O tratamento destes tumores envolve: cirurgia,
veis da fração ionizada (livre), a responsável o único tratamento potencialmente curativo e
pelos efeitos do cálcio. Uma alcalose respi- drogas adrenocorticolíticas como o mitotano.
ratória pode ser causada por uma hiperventi- O mitotano é utilizado em pacientes onde a ci-
lação pulmonar psicogênica, muito frequente rurgia foi incompleta, não foi possível de ser
após uma crise de ansiedade ou angústia. Foi realizada (pacientes com metástases à distân-
exatamente o que aconteceu aqui. A opção E cia ou com invasão de estruturas adjacentes
não está de todo errada, mas ela é só a ori- como rim, pâncreas, fígado, baço, diafragma e
gem do problema orgânico (hipocalcemia) que grandes vasos) ou contraindicada. O tratamen-
ocorreu. Melhor resposta: B. to adjuvante de rotina com mitotano e radiote-
rapia ainda são controversos. Resposta: B.
Pelo que acabamos de discutir, a única opção A questão foi um pouco infeliz, pois deve-
correta é o item D, pois o calcitriol age aumen- ria colocar no enunciado “tireotoxicose” em
tado a absorção intestinal de cálcio e fósforo. vez de “hipertireoidismo”. Fazer o quê? Te-
mos que acertá-la! E ela não é difícil. Se o
problema é tireoidite, não há porque utilizar
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 antitireoidianos ou terapia ablativa. O grande
INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – HC tratamento é sintomático, sendo o betablo-
ICC – R3 – CIRURGIA queador uma excelente opção. Resposta: A.
Níveis elevados de aldosterona plasmática
circulante levam ao quadro de hipertensão e
hipocalemia. O hiperaldosteronismo pode ser RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
primário, devido a uma hipersecreção autô- HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 –
noma de aldosterona com supressão de reni- CLÍNICA MÉDICA
na, ou secundária, como resultado do aumen- Mulher, 25 anos, queixa-se de emagrecimen-
to dos níveis de renina plasmática. Partindo to involuntário, irritabilidade, insônia e palpita-
desses dados, qual das afirmações abaixo é ções há 30 dias. Apresenta aumento da glân-
INCORRETA? dula tireoide à custa do lobo D, onde se palpa
a) O hiperaldosteronismo primário é duas nódulo de 1 cm, indolor. Há discreta retração
vezes mais comum em mulheres do que em palpebral bilateral, sem exoftalmia. Exames
homens, entre 30 e 50 anos. A causa mais subsidiários: T3 total e T4 livre aumentados,
comum é um adenoma adrenal produtor. TSH suprimido. A captação do iodo radioati-
b) O hiperaldosteronismo secundário é uma vo pela tireoide em 24 horas é de 2%. O diag-
resposta fisiológica do sistema renina-angio- nóstico mais provável é:
tensina a uma estenose de artéria renal, in- a) Bócio difuso tóxico (doença de Graves).
suficiência cardíaca congestiva ou mesmo a b) Bócio nodular tóxico (doença de Plummer).
uma gravidez normal. c) Tireotoxicose factícia por ingestão de T3.
c) Os principais objetivos da avaliação diag- d) Tireoidite granulomatosa subaguda.
nóstica do paciente suspeito são: estabele- e) Tireoidite silenciosa (“hashitoxicose”).
cer bioquimicamente a presença de hiperal-
dosteronismo e distinguir entre um adenoma Vamos analisar por exclusão... Inicialmen-
adrenal produtor (cirúrgico) e uma hiperplasia te, a ausência de exoftalmia, bócio difuso e
cortical idiopática (medicamentosa). a captação tireoidiana baixa falam contra o
d) A remoção cirúrgica de um adenoma se- diagnóstico da doença de Graves (A excluí-
cretor de aldosterona resulta em resolução da). O adenoma tóxico (doença de Plummer)
da hipocalemia em 100% dos casos e em ocorre em nódulos geralmente maiores que
melhora da hipertensão em mais de 90%. 3 cm. Um nódulo de 1 cm não possui autono-
e) Nos casos de hiperplasia idiopática com mia e hipersecreção de hormônios tireoidia-
hipocalemia sintomática refratária à terapia nos (B excluída). A tireotoxicose factícia gera
com espironolactona, amilorida, bloqueado- tireotoxicose com captação de iodo radioati-
res de canal de cálcio ou tiazídicos, não há vo baixa ou ausente e TSH suprimido. Até aí
indicação de adrenalectomia. tudo bem! O T4L e o T3L dependem do tipo
de hormônio administrado. Quando o hormô-
As opções A, B, C estão corretas e autoex- nio é o T4, encontramos níveis elevados de
plicativas. Quanto à opção D, realmente a re- T4L e níveis suprimidos de T3. Na ingestão
solução da hipocalemia é regra e a hiperten- de T3, temos um T3L elevado e um T4 supri-
são melhora... Mas pode persistir em 65% dos mido (C excluída). A tireoidite granulomatosa
casos, especialmente nos homens com mais subaguda (tireoidite de De Quervain) é uma
de 50 anos e naqueles com múltiplos nódulos tireotoxicose que se inicia por volta da segun-
suprarrenais. Por último, os pacientes com da semana após uma infecção viral comum,
Hiperplasia Adrenal Idiopática devem SIM ser em que o paciente se queixa de dor na região
tratados, inicialmente, com medicamentos, cervical anterior e apresenta VHS muito ele-
sendo a droga recomendada a espironolac- vada (D excluída). Por último, ficamos com a
tona! Entretanto, nos casos de hipocalemia letra E. A tireoidite silenciosa ou indolor é uma
refratária, o tratamento cirúrgico encontra-se variante da tireoidite de Hashimoto, onde te-
indicado. Resposta: E. mos uma fase inicial de tireotoxicose (deno-
minada por alguns de hashitoxicose) seguido
de um período de hipotireoidismo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL DO CÂNCER – INSTITUTO DO
CÂNCER DO CEARÁ – HC – ICC – R3 – RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
CLÍNICA MÉDICA HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 –
Assinale a melhor opção terapêutica no CIRURGIA
manejo do hipertireoidismo associado à ti- Mulher, 55 anos, assintomática, após 2 episó-
reoidite linfocítica subaguda: dios de cólica renal, apresenta hipercalcemia
a) Propranolol. e aumento considerável dos níveis de PTH.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 5 168
dores para alívio dos sintomas. O tratamento que não possui ação, mas é detectada pe-
com as tionamidas não tem benefício, já que los exames. Resposta: E.
a tireotoxicose não é causada por excesso
de produção de hormônios. Resposta: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 GROSSO DO SUL – UFMS – R3 –
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO CLÍNICA MÉDICA
GROSSO DO SUL – UFMS – R3 – Homem de 76 anos de idade apresenta bra-
CLÍNICA MÉDICA dicardia. Tem doença arterial coronariana, e
Paciente feminina, de 43 anos, encaminha- sofreu angioplastia com stent há dois meses
da por adinamia, lentificação psicomotora e com restabelecimento bem sucedido do fluxo
sintomas depressivos. Apresentando tosse, sanguíneo. Não tem mais angina, mas está
com escarro amarelado, há 7 dias. Ao exame preocupado com sua frequência cardíaca
físico, PA 90/60 mmHg e rarefação de pelos baixa. Sua dose de atenolol foi reduzida de
pubianos.Os familiares referiam história pré- 50 mg/dia para 12,5 mg/dia, mas a bradicardia
via de complicação obstétrica hemorrágica significativa persiste. A revisão dos diversos
há 7 anos e amenorreia, desde então. Exa- sistemas não apresenta alterações dignas de
mes laboratoriais: TSH 8,0 (0.45-4,5 mUI/L), nota. Ao exame físico, a frequência cardíaca
T4L 0.3 mg/dl (0,6-1,7 mg/dl) e glicemia é de 42 batimentos por minuto e regular, e a
45 mg/dl. Trata-se, provavelmente, de: pressão arterial é de 144/82 mmHg. O exame
a) Insuficiência adrenal secundária a tuber- da cabeça, olhos, ouvidos, nariz e garganta
culose. são normais para a idade, e o exame do pes-
b) Hipotireoidismo autoimune. coço não mostra bócio, sopros ou adenopa-
c) Hipotireoidismo autoimune e insuficiência tias. Ausculta pulmonar é normal e o exame
adrenal autoimune. cardíaco não revela sopros ou atritos. A aná-
d) Adrenalite autoimune. lise laboratorial mostrou TSH de 38,6 mUI/L
e) Necrose hipofisária pós-parto. (0,45-4,5 mUI/L). Que esquema terapêutico
com hormônio tireoidiano deve ser iniciado
Observem como é bem característica nesse paciente?
essa questão! A paciente possui uma his- a) Iniciar o tratamento com T3 e, depois de
tória de complicação obstétrica há aproxi- compensado o hipotireoidismo, migrar para a
madamente 7 anos, com desenvolvimento levotiroxina sódica.
de amenorreia deste então. Além disso, b) Levotiroxina sódica 25 mg/dia por duas sema-
apresenta alterações clínicas e laborato- nas, aumentando a dose para 37,5 mg/dia por
riais compatíveis com pan-hipopituitarismo: mais duas semanas e, depois, para 50 mg/dia e
déficit de LH/FSH levando à amenorreia e medir novamente o TSH sérico após seis sema-
diminuição da pilificação; déficit de TSH, nas nessa dosagem.
gerando hipotireoidismo e déficit de ACTH, c) Levotiroxina sódica 100 mg/dia, medir o
gerando sintomas de insuficiência adrenal TSH sérico em seis semanas.
(adinamia, hipotensão e hipoglicemia). Nes- d) Internar o paciente em leito monitorizado
te caso, a principal hipótese diagnóstica é a para infusão intravenosa de T4, com monito-
síndrome de Sheehan, caracterizada por in- rização cardíaca cuidadosa.
farto hipofisário decorrente de grande perda e) Está formalmente contraindicada a reposi-
sanguínea durante o parto, principalmente ção de T4, no caso apresentado.
durante complicações obstétricas (o desco-
lamento prematuro de placenta é a causa Este paciente tem hipotireoidismo labora-
mais comum). Na gestação a hipófise está torialmente definido (TSH elevado) cuja gran-
aumentada e apresenta maiores necessida- de repercussão é um distúrbio do ritmo, algo
des metabólicas e, portanto, torna-se mais muito característico em idosos. Teremos de
sensível à diminuição do fluxo sanguíneo. iniciar reposição hormonal com levotiroxina
Você deve estar se perguntando, e o TSH, (A e E erradas), ambulatorialmente (D erra-
não deveria estar baixo??? Sim, na maioria da), mas de forma extremamente cautelosa
dos casos de hipotireoidismo total encon- (C errada), já que se trata de um coronario-
traremos níveis baixos de TSH; Entretanto, pata. A melhor reposta é o crescimento gra-
em algumas ocasiões podem-se evidenciar dual da dose conforme a avaliação clínica
níveis normais ou altos de TSH. A explica- do paciente. Um grande lema da geriatria é:
ção é a seguinte: a hipófise pode secretar “Start low and grow slow” (começar baixo e
uma forma biologicamente inativa de TSH, progredir vagarosamente!). Resposta: B.
175 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017
após percussão do nervo facial abaixo do arco zigomáti- a) Dosagens sanguíneas de T3 e T4.
co. Assinale abaixo a alternativa que contém este sinal: </p> b) Níveis sanguíneos de TSH.
a) Sinal de Chvostek. c) Regularização do trânsito intestinal.
b) Sinal de Trousseau. d) Melhora na resposta do reflexo aquileu.
c) Sinal de Sacks. e) Normalização dos níveis séricos de antiperoxidase ti-
d) Sinal de Rolissomo. reoidiana.
176 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017
c) Faringite aguda viral. nino com 9 dias apresentando vômitos há 3 dias, perda
d) Tireoidite subaguda (De Quervain). de peso e queda do estado geral. Este recém-nascido ha-
e) Tireoidite de Hashimoto. via tido alta da maternidade com 2 dias de vida, em bom
estado geral, após o nascimento por parto a termo sem
intercorrências, com peso de 3.230 gramas e Apgar 8/10.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 O exame físico inicial demonstrou um paciente em regu-
(ACESSO DIRETO 1) lar estado geral, desidratado, emagrecido, taquicárdico e
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR hipoativo. Além destas alterações, chamou atenção a pre-
10 – Paciente, 34 anos de idade, sexo feminino, apresenta
<p> </p> <p> sença de hipospádia e criptorquidia. Entre outros exames
alteração da função tireoidiana em exames de rotina soli- laboratoriais solicitados, chamou atenção o resultado dos
citados pelo ginecologista. Os exames mostraram: TSH eletrólitos e da glicemia (Na = 123 mEq/L; K = 6,9 mEq/L;
6,7 mU/L (normal: 0,45 a 4,5) e T4 livre 1,0 ng/dl (normal: 0,7 Glicemia = 45 mg/dl). De acordo com os dados apresen-
a 1,5). Está completamente assintomática e não usa qual- tados acima, qual seria a medida terapêutica mais eficaz
quer medicação. Três meses mais tarde, repete os exames, direcionada à doença de base deste paciente? </p>
que mostram: TSH 8,4 mU/L, T4 livre 0,9 ng/dl e anti-TPO a) Expansão volêmica rápida com solução salina.
85 U/mL (normal: < 15). b) Antibioticoterapia.
Sobre a situação descrita, considere as afirmativas a seguir: c) Hidrocortisona.
I. O médico já deveria ter tomado uma conduta imedia- d) Aminas vasoativas.
tamente após os primeiros exames, sem necessidade de
repeti-los.
II. A etiologia mais provável desse quadro, diante das ca- RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
racterísticas apresentadas, é a doença de Graves. (ACESSO DIRETO 1)
III. Deve-se considerar tratamento devido ao maior risco de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
progressão para hipotireoidismo franco. PEDRO ERNESTO – RJ
IV. Ingestão aumentada de iodo constitui um fator de risco 13 – Homem de 62 anos procura atendimento médico em
<p> </p> <p>
para progressão do hipotireoidismo franco. função de cansaço, adinamia e lombalgia. Ao exame físico,
Assinale a alternativa CORRETA. </p> o paciente se encontra em razoável estado geral, corado,
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. hidratado, acianótico, anictérico e afebril; está taquicárdico
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. (110 bpm), com pressão de pulso aumentada, edema de
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. membros inferiores 2+/4+ e com a manobra de Patrick evi-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. denciando dor ao início do movimento bilateralmente; o to-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. que retal revela a presença de próstata pouco aumentada
de tamanho e com superfície lisa; o restante do exame físi-
co é normal. Uma radiografia panorâmica de bacia mostra a
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 coexistência de lesões líticas e escleróticas afetando todos
(ACESSO DIRETO 1) os ossos da pelve, e uma radiografia de coluna lombar re-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO vela lesões escleróticas afetando os corpos vertebrais de
PRESIDENTE DUTRA – MA L2 e L4, tendo um deles aspecto “em moldura”, e o outro
11 – Mulher, 80 anos, apresenta alterações cognitivas e
<p> </p> <p> de “vértebra em marfim”. A atual dosagem sérica de PSA
sintomas depressivos há 6 meses, hipertensa e diabética total é de 5,8 ng/dl (a anterior, realizada 12 meses antes,
em uso de metformina, insulina e enalapril. Durante a in- era de 5,4 ng/dl), e a relação PSA livre/PSA total é de 0,35.
vestigação, foi detectada anemia (Hb: 10,6 g/dl). Função A dosagem de fosfatase alcalina sérica é de 1.200 UI/L.
renal e hepática normais. TSH: 8,8 mUI/L (VR: 0,4 - 4,0) A dosagem sérica de 25-hidroxivitamina D é de 20 ng/ml
e T4 livre 1,4 ng/dl (VR: 0,8 - 1,9), anti-TPO: 38 U/mL (re- (50 nmol/l). O diagnóstico mais provável para esse paciente é: </p>
ferência < 35,0). Qual afirmativa é a CORRETA? </p> a) Doença de Paget óssea poliostótica.
a) A paciente apresenta hipotireoidismo subclínico e deve b) Câncer de próstata metastático.
ser tratada com levotiroxina, especialmente pela presença c) Osteodistrofia renal.
de anti-TPO positivo. d) Hipervitaminose D.
b) O tratamento com levotiroxina está indicado para me-
177 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017
quando surgiram astenia intensa e hipotensão postural. O a) A tiroxina pode determinar o aparecimento de caquexia
exame físico mostra: PA = 80 x 50 mmHg; FC = 128 bpm; grave.
FR = 28 irpm; sem tiragem; SatO2 = 98% e acentuada adi- b) Alguns pacientes com hipertireoidismo podem desen-
namia. Na anamnese são relatados episódios recorrentes volver hipotireoidismo espontaneamente.
de taquidispneia e sibilância, tendo sido diagnosticada as- c) Está formalmente contraindicado o uso de solução de
ma desde os três anos de idade, e o último episódio de iodo - Lugol - em paciente em crise tireotóxica.
crise ocorreu há 45 dias, exigindo hospitalização por cinco d) Nos testes de supressão de T3 os pacientes hiperti-
dias durante os quais foi medicado com metilprednisolona reoideos não conseguem suprimir a captação tireoide do
IV e salbutamol inalatório. Recebeu alta hospitalar com radiofármaco quando recebem T3 exógeno.
prescrição de prednisolona oral e salbutamol inalatório por
mais cinco dias. A mãe do paciente refere que, por conta
própria, manteve o uso de prednisolona por via oral até RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
o início do quadro atual. O nível plasmático de cortisol, (ACESSO DIRETO 1)
após a administração intravenosa de 0,5 mcg de ACTH, HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS
foi de 8 mcg/dl. Nesse caso, o tratamento medicamentoso 18 – Em relação à Insuficiência Adrenal (IA), considere as
<p> </p> <p>
a) Vipoma.
b) Glucagonoma. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
c) Somatostatinoma. (ACESSO DIRETO 1)
d) Síndrome de Zollinger-Ellison. SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE
DE CURITIBA – PR
19 – Assinale a alternativa INCORRETA quanto à hiper-
<p> </p> <p>
que o paciente está em sepse e, deste modo, necessita a) Iniciar anticoagulação plena com heparina, visto que tra-
de um metabolismo mais acelerado para otimizar sua res- ta-se de uma embolia pulmonar que instalou-se após uma
posta clínica. cirurgia abdominal.
b) Não se deve tratá-lo com levotiroxina, pois trata-se de b) Mudar o esquema antibiótico visando Gram-negativos e
síndrome do eutireóideo doente, podendo nesse caso do- anaeróbios, já que se trata de uma sepse abdominal.
sar T3 reverso endossar o diagnóstico. c) Iniciar esquema antirretroviral, e solicitar Elisa para HIV,
c) Não se deve tratá-lo com levotiroxina uma vez que ela visto que trata-se de paciente com provável AIDS.
predispõe ao supercrescimento bacteriano por servir de d) Fazer corticoides intravenosos em doses baixa (hidro-
substrato energético para as bactérias. cortisona 100 mg IV 6/6 horas) e hidratação intensa com
d) Deve-se administrar levotiroxina, uma vez que pode soro fisiológico, visto que se trata de crise adrenal, a qual
se tratar de hipertensão secundária pelo hipotireoidismo. deverá ser investigada à posteriori.
e) Administrar metade da dose inicial prevista de levotiro- e) Iniciar anfotericina B, pois trata-se de uma provável sepse
xina, evitando assim maiores interações medicamentosas de etiologia fúngica, como complicação tardia de cirurgia
com os antibióticos em uso. abdominal.
179 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017
exacerbados, hiperemia conjuntival importante, quemo- que engloba o câncer medular da tireoide, tumor funcio-
se e proptose bilaterais. Realizada a palpação da tireoi- nante de suprarrenal e de paratireoide, o tratamento ci-
de, constataram-se dimensões aumentadas, consistência rúrgico deve ser iniciado por: </p>
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) de difícil controle. Refere
(ACESSO DIRETO 1) também fratura patológica de coluna no último ano. Informa
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL que durante investigação de HAS secundária foi detectado
DO TOCANTINS – TO nódulo 2,5 cm em adrenal direita. Exames laboratoriais: cor-
26 – Paciente de 21 anos, sexo feminino, foi admitida em
<p> </p> <p> tisol pós 1 mg de dexametasona = 8 µg/dl; duas dosagens
serviço de clínica médica com astenia, anorexia, emagre- de cortisol salivar noturno elevadas (> 3x limite superior da
cimento de cerca de 5 kg, hipotensão, dores abdominais normalidade); ACTH = 30 ng/ml. O próximo passo é: </p>
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 talmia moderada. Não existem outras alterações dignas de
(ACESSO DIRETO 2) nota. Diante deste quadro sua hipótese diagnóstica princi-
UNIVERSIDADE FEDERAL pal, a hipótese diagnóstica secundária a ser descartada e
DO RIO DE JANEIRO – RJ condutas propedêutica e terapêutica são, respectivamente: </p>
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 dutível, com aumento de fenda palpebral à direita. A prin-
(ACESSO DIRETO 1) cipal hipótese diagnóstica e condutas investigativas são,
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP respectivamente: </p>
pitantes em base esquerda, bulhas arrítmicas, normofo- dia de vida, com quadro de vômito, desidratação, hi-
néticas, presença de sopro protossistólico suave em foco percalemia e histórico de baixo ganho ponderal. O exa-
mitral, sem irradiação. Ausência de visceromegalias, ede- me genital mostrava aumento de clitóris, fusão de pre-
ma maleolar 1+/4+. ECG: gas labioescrotais, que se encontravam pigmentadas
e sem gônadas palpáveis. O USG pélvico mostrou estrutu-
ras müllerianas. Havia histórico de amniocentese, devido
à idade materna avançada. Resultado do cariótipo fetal
46, XX. Diante dos resultados apresentados, o diagnóstico
provável, o exame que pode estar alterado e a conduta
imediata, respectivamente, são: </p>
b) Hipotalâmico - IGF-1 (Insulin-like Growth Factor 1) - fermaria de clínica médica com queixas de astenia, ano-
elevado. rexia, emagrecimento de 6 kg, hipotensão, dores abdo-
c) Hipofisário - GH à meia-noite - elevado. minais e hiperpigmentação cutânea, com 02 meses de
d) Hipotalâmico - GH após sobrecarga oral de glicose - evolução. Não apresentava antecedentes de etilismo e
suprimido. tuberculose. Na admissão, apresentava hiperpigmentação
e) Hipofisário - IGF-1 - reduzido. na face, linhas interdigitais da palma das mãos e lábios.
PA: 80/44 mmHg, FC: 110 bpm, afebril. Exames laboratoriais:
Hb: 12 g/dl; leucócitos: 7400 mm³; plaquetas: 26800 mm³;
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 VHS: 11; PCR: negativo; Na: 128 mmol/L; K: 6,8 mmol/L;
(ACESSO DIRETO 1) ureia: 34 mg/dl, creatina: 1,9 mg/dl. Com relação ao caso
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR clínico é correto afirmar, EXCETO: </p>
O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de RE- pressão da adeno-hipófise normal.
SIDÊNCIA MÉDICA 2013 (ACESSO DIRETO 1) FUNDAÇÃO d) Os papilomas cutâneos são marcadores da presença de
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – TO. Ques- pólipos colônicos.
tões 51 e 52 a seguir: e) O tratamento farmacológico primário de escolha seria
com agonista dopaminérgico tipo cabergolina.
Paciente do sexo masculino, 42 anos, com queixa crônica de
hiper-hidrose difusa, artralgias, fadiga e cefaleia. HAS diagnos-
ticada há 10 anos e compensada com losartana 100 mg/dia. RESIDÊNCIA MÉDICA 2012
Ao exame físico apresenta: IMC = 21. Face com acentuação (ACESSO DIRETO 1)
dos malares, prognatismo e diastemas. Pele espessada com HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
papiloma cutâneo em dorso e coxa direita. Quirodáctilos tipo DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
“salsicha”. Hepatomegalia indolor discreta. Bócio difuso (2x 53 – Homem, 45 anos de idade, lavrador, dá entrada em
<p> </p> <p>
VR). Exames iniciais: Ecocardiograma = cardiomegalia com Unidade de Emergência com quadro de náuseas, vômitos,
hipertrofia concêntrica de VE e FE = 78%; FAN = não reagen- dor abdominal e diarreia há 6 horas. Há 2 meses, tem per-
te; USG abdome = hepatomegalia e esteatose leve. Resso- da de peso e astenia, odinofagia, tosse com expectoração,
nância crânio/sela turca com nódulo 1,5 cm hipocaptante em cansaço aos esforços, lesões orais e cutâneas. Ao exame
adeno-hipófise envolvendo seio cavernoso esquerdo e des- físico, encontra-se em regular estado geral, desidratado
vio de haste hipofisária. TSH = 2,1 mcUI/ml (VR = 0,35-4,2); +/4, descorado +/4, dispneico, febril, acianótico, anictérico.
T4L = 0,6 ng/dl (0,8–1,76); HGH basal = 20 ng/ml; Orofaringe: hiperemia intensa. Pele: hiperpigmentação de
Prolactina = 30 ng/dl (VR até 16 ng/dl); IGF-1 acima do VR dobras e úlcera que atingia amplamente a região supra-
para idade. labial e se estendia a mucosa nasal, destruindo parcial-
mente a columela. Adenomegalia em cadeias cervicais.
Pulso = 96 bpm, PA decúbito = 90 x 60 mmHg, PA ortos-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 tase = 60 x 40 mmHg. Ausculta pulmonar: estertores finos
(ACESSO DIRETO 1) em ambos os pulmões, abdome escavado, difusamen-
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE te doloroso à palpação, sem dor à descompressão brus-
FEDERAL DO TOCANTINS – TO ca. Exames subsidiários: glicemia: 75 mg/dl; creatinina:
51 – O diagnóstico principal do caso clínico acima é:
<p> </p> <p> </p> 1,1 mg/dl; ureia: 34 mg/dl; sódio: 130 mEq/L; potássio:
a) Macroprolactinoma funcionante. 6,4 mEq/L; Hb: 10 g/dl; Ht: 28%; GB: 13.000; neutrófilos:
b) Incidentaloma hipofisário com hipotireoidismo primário. 65%; linfócitos: 24%; eosinófilos: 8%. Detalhes da região
c) Somatotropinoma hipotalâmico. supralabial e aberturas das fossas nasais e radiografia de
d) Acromegalia por macroadenoma hipofisário. tórax: Para o quadro agudo, a conduta inicial que deve
e) Acromegalia por microadenoma hipofisário. ser associada à hidratação endovenosa é: </p>
INCORRETA: </p>
a) Os corticoides estão contraindicados pelo risco de hi- intensiva com sepse em consequência de pneumonia, com
perglicemia, miopatia e hipertensão arterial. necessidade de ventilação mecânica devido à hipotensão
b) Febre é muito comum. e falência respiratória. Ele é tratado adequadamente com
c) Caracterizada por TSH suprimido e T3 e T4 elevados. ressuscitação volêmica, vasopressor e antibióticos, sendo
d) É fundamental tratar o fator precipitante. extubado no quinto dia. Neste dia apresentava pressão ar-
terial = 110/75 mmHg, frequência respiratória = 16 irpm, sem
outros achados significativos. Como o laboratório da admis-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 são mostrou hiponatremia, foram solicitados exames subse-
(ACESSO DIRETO 1) quentes que chegaram no quinto dia de internação: TSH =
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – 0,23 mU/L (VR = 0,35–5,5 mU/L), T4 livre = 0,9 ng/l (VR =
BAHIA – BA 0,87– 1,56 ng/L),T3 Livre = 0,4 ng/L (VR = 2,3 a 4,2 ng/l).
55 – Recém-nascido, no quinto dia de vida, apresenta ina-
<p> </p> <p> Cortisol das 8h da manhã = 828 nmol/l (VR: 138–690 nmol/l).
petência, letargia, vômito, diarreia, desidratação e perda Com base nos dados acima, o passo seguinte deve ser: </p>
a) Tomografia de abdome.
b) Cintilografia de tireoide. RESIDÊNCIA MÉDICA 2012
c) Teste combinado da pituitária anterior. (ACESSO DIRETO 1)
d) Ressonância nuclear magnética de encéfalo. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
DE SANTA CATARINA – SC
60 – Paciente, 29 anos, sexo feminino, consulta por
<p> </p> <p>
secretor de ACTH), que corresponde a 70% desses casos. taloma (tumor adrenal encontrado “por acidente” quando
</em>
A hiperplasia adrenal primária responde apenas por 1% da realização de exames de imagem por outros motivos)
dos casos em adultos - D ERRADA. Em cerca de 90% das deve ser investigado com dosagens hormonais a fim de
vezes, o tumor responsável pela doença de Cushing é um descartar a possibilidade de feocromocitoma, aldoste-
MICROadenoma (< 1 cm) - C ERRADA. O uso de álcool ronoma ou adenoma secretor de cortisol, mesmo que o
interfere na investigação laboratorial de hipercortisolismo, paciente seja oligo/assintomático do ponto de vista endocri-
pois a própria ingesta etílica é uma causa de hipercortiso- nológico. Sabe-se que, às vezes, esses tumores secretam
lismo leve a moderado. O uso de certos medicamentos quantidades subclínicas de hormônio. Resposta certa: A. </p>
206 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 5/2017
que é simples e rápido: a síndrome de Cushing exógena, hipercortisolismo ACTH-independente. Por outro lado, no
que pode ser pela administração terapêutica em condi- hipercortisolismo por adenoma hipofisário ou secreção
ções não endócrinas ou mesmo pela utilização propo- ectópica de ACTH, é o próprio ACTH, aumentado, que
sital (síndrome de Cushing factícia). Não há qualquer estará levando à hiperprodução de cortisol pela adrenal.
relato de uso de corticosteroides. O próximo passo é Dessa forma, se temos uma paciente jovem (33 anos)
documentar o hipercortisolismo, ou seja, a síndrome de com hipercortisolismo e ACTH > 5 ng/ml a causa mais
Cushing. Temos 3 exames principais utilizados com esta comum é a presença de um adenoma hipofisário hiper-
finalidade: - teste de supressão com baixa dose (1 mg) de secretor de ACTH (doença de Cushing), o que demanda
dexametasona; - cortisol livre urinário em 24h; - cortisol a realização de uma ressonância de sela túrcica. Embora
salivar noturno. O teste da supressão com baixa dose de a questão relate a presença de um nódulo adrenal, isso
dexametasona não deve ser usado isoladamente como foi uma “pegadinha” da banca, já que estamos diante de
critério para síndrome de Cushing, necessitando de, pelo um caso de hipercortisolismo ACTH-dependente, ou seja,
menos, outro exame adicional. Neste caso, temos dois este nódulo adrenal provavelmente é um incidentaloma,
exames sugestivos de hipercortisolismo: um é o teste de um nódulo não funcionante. </p>
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descreve um caso compatível com acromegalia: (1) Alte- a questão não mencione o teste diagnóstico de escolha
rações craniofaciais, como prognatismo (aumento da (teste de supressão com glicose), realmente não temos
mandíbula) e acentuação de malares, (2) Alterações de outra hipótese diagnóstica mais plausível. A elevação da
extremidades, como o aumento do calibre dos dedos; prolactina também pode ser encontrada na acromegalia. A
(3) Manifestações cutâneas, como hiper-hidrose; (4) Mani- diferenciação que resta é com relação ao tipo de adenoma
festações cardiovasculares, como HAS e cardiomegalia. hipofisário: microadenoma é inferior a 1 cm e macroade-
A avaliação hormonal corrobora o diagnóstico, pois há noma é superior a este valor. Resposta certa: letra D. </p>
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pelo enunciado, até prova em contrário deve ser consi- paciente apresentar hipercarotenemia) ou escurecida (se
<em> </em>
hipótese diagnóstica, na insuficiência adrenal primária encontra-se prejudicado) e é responsável pela hiperpigmen-
(ou doença de Addison). Atualmente, a principal causa tação cutânea. O exame mais importante para confirmar
de doença de Addison é a chamada adrenalite autoimune a existência de insuficiência adrenal consiste no teste de
(responsável por 75-85% dos casos), que, quando asso- estimulação rápida com ACTH (teste da cosintropina).
ciada a outros distúrbios autoimunes (endócrinos e não Resposta: letra C.
</p>
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TSH ≥ 10
Gravidez ou planejamento de Gravidez
Manifestações atribuíveis à deficiência hormonal como dislipidemia e depressão. Alguns
consideram que níveis muito altos de anti-TPO também representam indicação terapêutica
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50 Comentário
<p> </p> Bócio difuso doloroso
<p> toxicose associada, pelo “vazamento” de hormônio
(lembrando que bócio é qualquer aumento da tireoide), pré-formado a partir dos estoques intrafoliculares.
de início recente, associado a marcadores inflama- O diagnóstico é feito em bases clínicas, considerando
tórios aumentados (leucocitose e VHS alto), princi- justamente os dados apresentados. A biópsia, no entanto,
palmente em um paciente com história de infecção é o método padrão-ouro, indicado em casos de dúvida. O
viral inespecífica nas últimas semanas (ex.: IVAS), achado típico é a inflamação granulomatosa (granulomas
são achados que direcionam nosso raciocínio para o não caseosos) do parênquima. O tratamento consiste
diagnóstico de tireoidite subaguda, também chamada
<strong> no uso de AINEs, e a resolução tende a ser espontânea
de tireoidite De Quervain . Pode ou não haver tireo-
<em> </em> dentro de 2-8 semanas. Resposta certa: D. </p>
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