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SUMÁRIO

1. Introdução..................................................................... 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
3. Etiologia e Patogênese............................................. 3
4. Quadro clínico............................................................... 7
5. Exames Complementares.....................................10
6. Diagnóstico.................................................................14
7. Tratamento..................................................................14
Referências Bibliográficas..........................................21
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 3

1. INTRODUÇÃO velhecimento, prevalência da infecção


pelo Helicobacter pylori (relação entre a
A doença do refluxo gastroesofágico
bacteria e a DRGE não é controversa na
(DRGE) é uma patologia que apresenta
literatura) e hábitos de vida são fatores
alta prevalência e é caracterizada pela
que explicam as grandes diferenças da
presença de sintomas relacionados à
prevalência da doença entre os países e
presença de refluxo de conteúdo eso-
continentes. Esses fatores de risco serão
fágico no esôfago, que pode ou não ser
melhor explicados adiante.
acompanhado de alterações na muco-
sa esofágica. Através da endoscopia
digestiva alta (EDA) essa doença pode HORA DA REVISÃO!
ser dividida em Esofagite Erosiva, ca- Helicobacter pylori é uma bactéria es-
racterizada por pequenas lesões ero- piroqueta GRAM negativa, associada
exclusivamente a mucosa gástrica. Seu
sivas na região da mucosa esofágica gênero vem por conta do seu formato
acometida pelo refluxo, ou Doença do de hélice e esse seu formato a ajuda a
Refluxo Gastroesofágico Não-Erosiva, penetrar mais facilmente a mucosa gás-
trica. Existem diversas outras espécies
quando a mucosa esofágica parece do gênero helicobacter que foram en-
intacta à EDA, no entanto o paciente contradas em outro mamíferos. Algu-
apresenta refluxo e sintomas de DRGE. mas delas, foram encontrada no fígado e
associadas com lesão hepática, embora
esse fenômeno nunca tenha sido relata-
CONCEITO! A presença de refluxo do do em humano.
conteúdo gástrico por si só não configu-
ra diagnóstico de DRGE. A DRGE é uma
condição em que o refluxo está associa- 3. ETIOLOGIA E
do a sintomas significativos.
PATOGÊNESE

2. EPIDEMIOLOGIA HORA DA REVISÃO!

A prevalência da DRGE é alta, o que a Fisiologicamente, o esôfago apresenta


função de impulsionar o alimento da boca
torna uma das principais causas de bus- para o estômago e proteger as vias aé-
ca ao atendimento primário por quei- reas durante a deglutição, possuindo es-
xas gastrointestinais e também um dos fíncteres esofágicos (superior e inferior)
para proteção das secreções gástricas.
principais motivos de consultas com os
Durante a deglutição, ocorre o peristaltis-
gastroenterologistas. Estima-se que a mo primário após passagem pelo Esfinc-
prevalência da doença está entre 18,1- ter Esofágico Superior (EES), desencade-
27,8% na América do Norte, 8,8-25,9% ando o peristaltismo secundário durante
movimento do bolo pela extensão do esô-
na Europa, 2,5-7,8% na região Leste fago. Esse mecanismo natural pode ser
da Ásia, 11,6% na Austrália e 23% na afetado por diversos fatores, como dro-
América do Sul. Diversos fatores, como gas, hormônios e ações mecânicas.
obesidade, uso de medicamentos, en-
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 4

ca desde que não seja acompanhada


por sintomas e nem por alterações en-
doscópicas. O refluxo fisiológico cos-
tuma ocorrer em pequena quantidade
e principalmente após as refeições. A
presença de refluxo esofágico durante
o sono é indicativa de refluxo esofági-
co patológico, sugerindo DRGE.

ATENÇÃO! A presença de refluxo por si


só não significa diagnóstico de DRGE.
Existem também pacientes com DRGE
assintomáticos, porém com alterações
importantes visíveis através da EDA, com
Figura 1: Anatomia do esôfago
esofagite erosive e até mesmo Esôfago de
Barrett – uma metaplasia do epitélio esca-
moso do esôfago por epitélio colunar, cau-
Existem diversos mecanismos que
sada pelo refluxo que resulta em agres-
isoladamente ou em conjunto podem sões repetidas em à mucosa esofágica.
provocar a DRGE. A presença de reflu-
xo esofágico por si só não é patológi-

SAIBA MAIS!
Esôfago de Barrett é o nome dado a metaplasia – substituição de um tipode tecido por outro
– do espitélio estratificado e o escamoso do esôfago por epitélio colunar com células intesti-
nalizadas ou mistas, na extensão de qualquer porção do esôfago. É proveniente da exposição
da musoca esofágica ao conteúdo gástrico, independentemente de pH.
A presença do Esôfago de Barrett apresenta o risco aumentado de 30 a 125 vezes a incidên-
cia de Adenocarcinoma de Esôfago quando comparado à população normal.

As alterações que ocorrem na pare- mostram a presença de infiltrado de


de esofágica não são decorrência do leucócitos (predominantemente linfó-
mero efeito químico da secreção áci- citos) em camadas mais profundas do
da no esôfago. Há indícios que na ver- epitélio, e não na camada superficial
dade a lesão decorrente da DRGE é que tem contato direto com o ácido.
mediada através de citocinas, o que é Dessa forma, a secreção ácida exer-
corroborado pelo estudo anatomopa- ceria efeito indireto, mediado através
tológico dos tecidos acometidos, que do desencadeamento de uma reação
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inflamatória crônica na mucosa do tam mais episódios de relaxamento do


esôfago. EEI do que pacientes saudáveis, e fre-
A presença de diversas alterações quentemente esse relaxamento dura
pode favorecer o aumento do volume mais do que o normal (mais do que 10
de secreção gástrica que reflui para o segundos). Por fim, alterações anatô-
esôfago, resultando em um processo micas, sendo uma das principais a her-
chamado incompetência gastroesofá- nia de hiato esofágico, contribuem para
gica. Esse processo pode ocorrer atra- o refluxo em uma pequena parcela dos
vés de diferentes mecanismos como: pacientes DRGE.
hipotonia do esfíncter esofágico inferior Diversos outros mecanismos contri-
(EEI), relaxamentos transitórios do es- buem também para o estabelecimento
fíncter esofágico inferior e alterações da doença, como a redução da eficácia
anatômicas da junção gastroesofágica. do esvaziamento esofágico que ten-
de a ocorrer com o envelhecimento, o
Mal funcionamento do EEI que mantém o conteúdo do refluxo em
contato por mais tempo com a mucosa
Obesidade
esofágica. Isso pode ocorrer por redu-
ção da produção de saliva ou por alte-
rações da peristalse esofágica.
Tabagismo
Os principais fatores de risco para a
DRGE são obesidade, gravidez, her-
Comida
nia de hiato, dieta inadequada e uso
de alguns fármacos. A obesidade pa-
Medicamentos rece contribuir com o DRGE ao au-
mentar a pressão intra-abdominal,
Acredita-se que alguns pacientes com resultando em uma alteração do gra-
DRGE apresentam uma redução do diente de pressão da junção gastro-
tônus do EEI, o que aumentaria o vo- esofágica. O mecanismo da gravidez
lume de refluxo gastroesofágico. Di- é semelhante ao da obesidade, em
versos fatores podem contribuir para a virtude da presença do útero graví-
redução do tônus do EEI, como sobre- dico comprimindo as outras vísceras.
distensão gástrica, tabagismo e o con- Alimentos gordurosos, cafeína, cho-
sume de certos alimentos. Por sua vez, colate e fármacos como anticolinérgi-
o relaxamento transitório do EEI parece cos, bloqueadores do canal de cálcio,
ser um dos principais mecanismos re- benzodiazepínicos, antidrepressivos
lacionados ao aumento do refluxo nos tricíclicos e muitos outros são asso-
pacientes com DRGE. Eles apresen- ciados ao desenvolvimento de DRGE
ao predispor à hipotonia do EEI.
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ETIOLOGIA E PATOGÊNESE

Infiltrado leucocitário em
camadas mais profundas
Distensão gástrica

Mediação de citocinas Tabagismo

Hipotonia do EEI
Alimentação

Incompetência Relaxamentos
Patogênese Medicação
gastroesofágica transitórios do EEI

Outras causas
(mais raras)
Alterações anatômicas da
junção gastroesofágica
Obesidade/Gravidez Hérnia de hiato

Aumento pressão
intra-abdominal

Alteração gradiente
pressão da junção
gastroesofágica
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4. QUADRO CLÍNICO Sintomas como rouquidão e tosse


são resultado da exposição da laringe
A queixa típica dos pacientes com
ao refluxo ácido da DRGE, causando
DRGE é dor, retroesternal, em quei-
irritação e edema nas cordas vocais,
mação, normalmente de modera-
o que desencadeia o reflexo da tosse
da intensidade e ocorrendo mais no
e causa rouquidão. A sialorreia pode
período pós-prandial. Deve-se sus-
ser um reflexo da presença de conte-
peitar de DRGE em pacientes que
údo ácido na boca do paciente.
apresentam esse quadro álgico duas
vezes ou mais por semana. Associa- O quadro de tosse crônica e seca
do a isso, o outro sintoma mais carac- pode ser confundida principalmente
terístico da DRGE é a regurgitação de com condições alérgicas como asma
secreção ácida em pequeno volume, e rinite alérgica com gotejamento na-
que pode ser sentida pelo paciente sal. Para excluir outros diagnósticos,
na hipofaringe ou até mesmo chegar deve-se investigar minuciosamente
até a boca. Sintomas menos frequen- na amnese fatores ligados a tosse
tes são disfagia, sialorreia, odinofagia, • Relação postural
tosse, rouquidão e náuseas.
• Relação alimentação
• Outros sintomas como dor/des-
conforto abdominal
• História negativa de sibilo ou asma
na família
• Ausência de rouquidão ou estridor
• Melhora do sintoma com o teste
terapêutico

SE LIGA! Teste terapêutico: indicado


para pacientes com idade < 40 anos com
manifestações típicas, frequência < 2x/
semana, sem manifestações de alarme
e tempo de história por tempo inferior
a 4 semanas. A adotada conduta diag-
Figura 2: Imagem mostra a área onde é referida nor- nóstica inicial terapêutica com inibidores
malmente a dor e incômodo dos pacientes com DRGE. de bomba protônica (IBP) e observada
Disponível em: https://www.washingtonpost.com/ resposta, a resposta satisfatória confir-
national/health-science/heartburn-may-signal-a-chro- ma diagnóstico. O CBDRGE recomenda
nic-condition-gastroesophageal-reflux-disease-or-
realização do exame endoscópico prévio
-gerd/2012/08/27/b56ddfb4-b63b-11e1-9e4c-5a6a-
137d65e1_story.html para exclusão de outras causas.
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ções que algumas vezes podem até


SE LIGA! Fique atento! O quadro de dor
torácica retroesternal em queimação
estar presentes em casos de DRGE,
também pode ser causado por isquemia no entanto, esses achados se corre-
cardíaca! Por isso é muito importante fi- lacionam com risco aumentado de
car atento aos sintomas desencadeantes presença de neoplasia do TGI. Esses
e associados ao quadro. Pacientes que
relatam dor retroesternal, desencadea- sintomas são:
da pelo esforço que melhora ao repouso
• Queixa de dispepsia iniciada em
devem te fazer suspeitar de angina es-
tável. Até mesmo pacientes com quadro paciente com mais de 60 anos
de infarto agudo do miocárdio podem se
apresentar na emergência com queixa • Evidência de sangramento gas-
de dor retroesternal em queimação, usu- trointestinal
almente não associada à alimentação,
que pode irradiar para pescoço, dorso ou • Anemia ferropriva
membros superiores e estar associada a
diaforese, dispneia, náuseas e vômitos. • Anorexia
Tenha sempre em mente a possibilida-
• Disfagia (principalmente se de ca-
de tanto de Síndrome coronariana Agu-
da quanto de DRGE nos pacientes que ráter progressive)
apresentam quadro álgico com essas
características, e busque sempre excluir • Perda de peso não intencional
primeiro o diagnóstico mais grave: infar-
• Odinofagia
to agudo do miocárdio.
• Vômitos persistentes
• História familiar de câncer do trato
gastrointestinal
Existem sinais de alarme em pacien-
tes com diagnóstico ou suspeita de O exame físico não costuma ser de
DRGE. A presença desses sinais deve grande auxílio na investigação de pa-
levantar o alerta para presença de cientes com DRGE, normalmente se
malignidade, principalmente no trato apresentando sem alterações.
gastrointestinal superior. São altera-
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QUADRO CLÍNICO

Retroesternal

Epigástrica

Regurgitação ácida em Geralmente até


Queimação Dor
pequeno volume hipofaringe

Moderada intensidade
QUADRO
CLÍNICO
Pós-prandial

Sinais de alarme Exposição da


Tosse
(pensar em malignidade) faringe ao refluxo

Rouquidão
Inicio > 60 anos Perda de peso

História familiar de
Sangramento TGI
CA em TGI Diagnóstico diferencial:
• Relação postural
• Relação com alimentação
Anemia ferropriva Odinofagia • Dor/desconforto abdominal
• História negativa de atopia familiar
• Ausência de estridor
• Melhora com teste terapêutico
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5. EXAMES • História familiar de adenocarcino-


COMPLEMENTARES ma esofágico ou de esôfago de
Barrett
Os exames complementares não
são necessários em todos os pacien- • História de tabagismo
tes com diagnóstico ou suspeita de
DRGE, mas pode ser úteis como for-
ma de auxiliar a formulação diagnós-
tica em pacientes com quadros não
típicos e avaliar complicações. Um
dos principais exames complementa-
res usado na avaliação da DRGE é a
Endoscopia Digestiva Alta.
Endoscopia Digestiva Alta (EDA):
A EDA pode ser utilizada em pacien-
tes com suspeita de DRGE que não
apresentam resposta satisfatória
após início do tratamento, para aque-
les com fatores de risco para esôfago
de Barrett e para os pacientes com Figura 3: A ilustração mostra a imagem endoscópica
do esôfago de Barrett. A região mais escurecida ao
os sinais de alarme para presença de redor do EEI representa a área de metaplasia. Dispo-
malignidade que foram citados ante- nível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Es%C3%B4fa-
go_de_Barrett
riormente
Pacientes com história de DRGE há Apenas cerca de 30% dos pacientes
mais de 5 anos e mais de 2 dos se- com DRGE que não iniciaram trata-
guintes fatores de risco apresentam mento apresentarão alterações ma-
risco elevado de desenvolver esôfago croscópicas sugestivas de esofagite
de Barrett, apresentando indicação na endoscopia digestiva alta, e há
para realização de EDA: pouca ou nenhuma correlação entre
• Idade acima dos 50 anos a gravidade dos sintomas e a pre-
sença de lesões na EDA, isso explica
• Sexo masculino porque ela só deve ser solicitada em
• Caucasianos pacientes com indicações criteriosas.
No entanto, 2/3 dos pacientes com
• Obesidade
suspeita de DRGE e sem alterações
• Hérnia de hiato macroscópicas na EDA, apresentam
alterações histológicas como a pre-
• Refluxo noturno
sença de infiltrado inflamatório. É
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 11

importante também levar em conta 5mm, mas não grande o suficiente


que essas alterações não apresen- para abranger toda extensão en-
tam alta especificidade para DRGE, tre duas subsequentes dobras das
e podem estar presentes em outras mucosa esofágica.
doenças esofágicas como a esofagi-
• Los Angeles C: Uma rupture que
te eosinofílica.
abrange toda a extensão entre
No caso específico da esofagite eosi- duas dobras subsequentes da mu-
nofílica, trata-se de uma doença que cosa esofágica, no entanto, a lesão
faz parte do diagnóstico diferencial não é afeta toda ¾ da circunferên-
de pacientes com quadro compatível cia da mucosa esofágica.
com DRGE, no entanto ela não é re-
lacionada com a presença de refluxo, • Los Angeles D: Lesão que abrange
mas sim com a inflamação da pare- ao menos ¾ da circunferência da
de do esôfago que pode ocorrer em mucosa esofágica.
pacientes atópicos. O quadro clínico
normalmente se apresenta através
de sintomas que possuem interces-
são com a DRGE, como disfagia e dor
retroesternal. Frequentemente esses
pacientes são tratados empiricamen-
te para DRGE, mas não apresentam
a melhora esperada e só descobrem
a etiologia do seu problema quando é
realizada EDA, coleta de material da
parede esofágica e anatomopatológi-
Figura 4; Exemplo da imagem de uma lesão por eso-
ca do tecido biopsiado fagite erosiva grau C de Los Angeles. Disponível em:
https://endoscopiaterapeutica.com.br/classificacao/clas-
Em caso de esofagite erosiva docu- sificacao-de-los-angeles-2/
mentada na EDA, a gravidade deve
ser classificada. Um dos principais
escores utilizados com esse intuito é Avaliação do pH esofágico: Esse
a Classificação de Los Angeles, que exame é útil para confirmar o diag-
classifica a esofagite em graus de A nóstico de DRGE em pacientes com
a D. quadro clínico atípico e ausência
de alterações sugestivas na EDA, e
• Los Angeles A: Uma ou mais rup- também para acompanhar a eficácia
turas na mucosa esofágica ≤ 5mm. do tratamento. É utilizado um cate-
• Los Angeles B: No mínimo um pon- ter com sensor de pH, passado por
to de ruptura esofágica medindo > via nasal até a mucosa esofágica. Lá
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esse sensor é utilizado para avaliar Manometria esofágica: Deve ser


o pH das secreções que recobrem a utilizada nos pacientes com suspeita
mucosa esofágica, principalmente na de DRGE com quadro clínico atípico
sua porção distal. Pode ser útil para e sem alterações na EDA. Esse tes-
detector casos incomuns de refluxo te é utilizado para avaliar a peristalse
alcalino, que também pode ser lesivo esofágica e o tônus do EEI, sendo im-
à mucosa esofágica. O teste normal- portante para realizar o diagnóstico
mente dura 24 horas e apresenta alta diferencial com doenças motoras do
sensibilidade e especifidade para o esôfago.
diagnóstico de DRGE.
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EXAMES COMPLEMENTARES

Alterações
microscópicas A – Uma ou mais
frequentes, pouco rupturas ≤ 5mm
específicas

Apenas 30% B – ≥1 ruptura > 5


apresentarão alterações mm. Não abrange
macroscópicas de toda extensão entre 2
esofagite erosiva dobras de mucosa
Endoscopia digestiva alta
C – ≥1 ruptura
DRGE > 5 anos e
que abrange toda
fatores de risco para
extensão entre 2
esôfago de Barrett
dobras de mucosa

D – Lesão que
Exames Classificação Esofagite abrange ao menos ¾
complementares erosiva (Los Angeles) da circunferência da
Quadro clínico atípico, mucosa esofágica
sem alterações na DRGE

Manometria esofágica pH esofágico

Cateter gástrico via nasal


Avalia neuromotricidade
com sensor de pH

Ausência de alterações
Peristalse esofágica
sugestivas na EDA

Confirmar diagnóstico
Tônus do EEI
em quadros atípicos
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6. DIAGNÓSTICO co cardiovascular e dor associada


ao esforço, devem realizar exames
Pacientes com a queixa típica de des-
como eletrocardiograma e teste ergo-
conforto retroesternal em queima-
métrico (caso se suspeite de doença
ção que ocorre mais de duas vezes
coronariana crônica) para excluir dor
por semana, ocorre mais no período
de origem isquêmica. Diversas outras
pós-prandial e é associado a regur-
doenças também apresentam sobre-
gitação de conteúdo ácido podem ter
posição de sintomas com a DRGE. Pa-
diagnóstico presumido de DRGE sem
cientes com queixas típicas de DRGE
a realização de exames complemen-
podem apresentar na verdade outras
tares e iniciar tratamento para inibir a
doenças esofágicas como esofagite
secreção ácida e reduzir os sintomas.
infecciosa ou esofagite eosinofílica.
Para aqueles pacientes com fato-
Pacientes que se queixam de disfagia
res de risco para esôfago de Barrett,
podem apresentar na verdade este-
sinais de alarme, queixas atípicas
noses esofágicas, tumores esofági-
(como queimação retroesternal não
cos ou alterações da motilidade do
relacionada com a alimentação e sem
esôfago, por isso a avaliação desses
regurgtação) ou com falha do trata-
pacientes com EDA é essencial.
mento, existe indicação da realização
dos exames complementares previa-
mente citados. 7. TRATAMENTO
O tratamento depende da gravidade
SE LIGA! O diagnóstico da DRGE é clí- do quadro, frequência dos sintomas
nico! Em muitos casos, exames comple-
mentares, principalmente a EDA, são e da presença de esôfago de Barrett
úteis para guiar o tratamento ou sanar ou de esofagite erosiva associada aos
dúvidas diagnósticas, no entanto, pa- sintomas. O principal mecanismo do
cientes com quadro clínico sugestivo
(desconforto retroesternal em queima-
tratamento conservador da DRGE é a
ção associado a regurgitação de conte- terapia anti-ácida, que busca inibir a
údo ácido), podem iniciar o tratamento secreção ácida do estômago, reduzin-
para DRGE sem nenhum exame com- do assim a lesão induzida pelo ácido
plementar, exceto nos casos de indica-
ção de EDA supracitados. que ocorre na parede esofágica. Em
caso de alterações anatômicas ou de
refratariedade ao tratamento, é pos-
sível também agir buscando reduzir o
Diagnóstico diferencial: Como foi próprio refluxo, através de fármacos
dito previamente, pacientes com ou tratamento cirúrgico.
queixas de dor retroesternal em Independente da gravidade dos sin-
queimação que apresentam alto ris- tomas, deve ser recomendado me-
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 15

didas ambientais para controle e clorídrico. Uma das principais drogas


melhora dos sintomas. O controle dessa classe é a ranitidina, que pode
ambiental é fundamental para o con- ser iniciada na dose de 75mg. Em
trole da doença, pois otimiza o fun- caso de ausência de melhora dos sin-
cionamento e fisiologia local, evitan- tomas com o uso da ranitidina 75mg
do estímulo maléficos. Semelhante a por 4 semanas, associada a anti-á-
doenças como diabetes, hipertensão cidos nos momentos dos sintomas
e asma, o DRGE exige compartilha- e mudança dos hábitos alimentares,
mento da responsabilidade com o pa- cessação do etilismo e tabagismo, a
ciente, este sendo responsável pela dose pode ser aumentada para 75mg
mudança dos hábitos de vida 2 vezes ao dia.
Elevação da cabeceira da cama (pelo menos
15cm)
SE LIGA! Os antagonistas do receptor
Evitar alimentos gordurosos, com cafeína, gaso- H2 da histamina são drogas efetivas
sos, derivados do chocolate e bebidas alcóolicas no tratamento da DRGE, no entanto
Evitar deitar-se antes de 2h após uma refeição elas apresentam uma taxa elevada de
Evitar ingesta de grandes quantidades de alimen-
recorrência dos sintomas com uso pro-
tos por vez
longado. Isso ocorre porque a histamina
é apenas um dos mecanismos de sinali-
Cessação do tabagismo
zação celular para produção de secreção
Reduz do peso se fatores de risco como obesida- ácida no estômago. Com a inibição des-
de estiverem presentes sa via celular, outras vias, como a via de-
Tabela 1: Controle ambientas para a DRGE pendente da ação da gastrina, são mais
ativadas, levando novamente a elevação
da produção ácida com o tempo e, con-
DRGE com sintomas leves que sequentemente, retorno dos sintomas.
ocorrem 2 vezes ou menos por
semana
Se ainda assim o paciente não apre-
Para esses pacientes, o tratamento
sentar melhora, deve ser iniciado um
pode ser iniciado com anti-histamí-
inibidor da bomba de prótons, droga
nicos que agem no receptor H2 em
que inibe a bomba de H+, bloquean-
baixas doses, associados ao uso de
do diretamente a bomba responsável
anti-ácidos (como carbonato de cál-
pela secreção ácida das células parie-
cio e hidróxido de alumínio) em caso
tais. Essas drogas apresentam maior
de sintomas de DRGE. A histamina
eficácia na inibição da secreção gás-
age nas células parietais e é respon-
trica do que os inibidores do receptor
sável por uma das vias de sinalização
H2, e apresentam maior eficácia tera-
celular que induz a secreção ácida
pêutica. A droga mais acessível des-
de HCl no estômago. Com a inibi-
sa classe é o omeprazole, que pode
ção dessa via metabólica, há acen-
ser iniciado na dose de 10mg ao dia,
tuada redução da secreção de ácido
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 16

porém existem diversos outros repre- girem sintomas após 8 semanas de


sentantes mais caros e com eficácia tratamento com dose otimizada. Se
ligeiramente melhor como lanoprazol, esses pacientes continuarem sem
pantoprazol e esomeprazol. Uma vez sintomas em uso da dose minima
que o tratamento ideal (aquele que dos IBP, então é feita a substituição
controla os sintomas do seu paciente) por inibidores do receptor H2, e caso
foi alcançado, ele deve ser mantido o paciente continue sem sintomas na
por ao menos 8 semanas. dose mínima dessas drogas, então
pode ser realizada a retirada total da
farmacoterapia.
DRGE com sintomas persistentes
ou associada a esofagite erosiva Os pacientes com esofagite erosiva
grave (classe C e D de Los Angeles)
Nesses pacientes, busca-se iniciar ou esôfago de Barrett são exceções.
o tratamento desde o início com ini- Nesses pacientes, o tratamento com
bidores de bombas de prótons (IBP) IBP em dose otimizada deve ser man-
em dose otimizada, reduzindo a dose tido mesmo na ausência de sintomas.
desses fármacos enquanto não sur-

SAIBA MAIS!
O esôfago de Barrett é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do adeno-
carcinoma esofágico, tumor que apresenta alta morbimortalidade e configure hoje o tipo mais
comum de câncer esofágico nos Estados Unidos. Em decorrência desse risco, e da alta proba-
bilidade de recorrência, recomenda-se a manutenção do tratamento com IBP nesses pacien-
tes, mesmo quando assintomáticos. Evidências sugerem que a manutenção dos IBPs nesses
pacientes pode reduzir o risco de câncer e deve ser realizada também avaliação através de
EDA a cada 6 ou 12 meses. Se você deseja saber mais sobre isso, separamos aqui uma re-
visão da literature para você: Spechler, S. and Souza, R. (2014). Barrett’s Esophagus. New
England Journal of Medicine, 371(9), pp.836-845.

BH2 IBP DRGE refratária ao tratamento


Ranitidina Omeprazol 20-40mg/ com IBP
Tratamento agudo: dia,4 semanas.
50mg, 2x/dia, 8-12 Nos pacientes que apresentam sin-
semanas. tomas refratários ao tratamento com
IBPs, o tratamento deve ser guiado
pela presença ou não de refluxo ácido
pela availação do pH esofágico. Em
caso de persistência de refluxo ácido,
pode ser então adicionado o algina-
DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 17

to de sódio. Os inibidores do receptor ções) e pode ser aumentado até a


H2 também podem ser adicionados dose de 20mg 3 vezes ao dia. Por
aos IBPs, seja em associação ou não apresentar ação no Sistema nervosa
com o alginate de sódio. Porém, a efe- central, essa droga apresenta muitos
tividade dos inibidores H2 é reduzida efeitos colaterais como sonolência,
drasticamente com o uso crônico. tontura e tremores. Seu uso deve ser
O baclofeno, uma droga que age no mantido por no mínimo 4 semanas
Sistema nervosa atuando como ago- para avaliar a responsividade do pa-
nista do receptor GABA exibe eficá- ciente à essa droga.
cia na redução do refluxo. Essa droga Para pacientes que apresentam sin-
age especificamente contra o refluxo, tomas incongruentes com a lesão vi-
e não contra a acidez da secreção sível na EDA, é possível que haja hi-
gástrica, no entanto faltam estudos persensibilidade visceral, causando
de qualidade que comprovem a efi- hiperalgesia. Esses pacientes podem
cácia dessa droga como adjuvante apresentar boa resposta ao tratamen-
aos IBPs no tratamento da DRGE. Ele to com moduladores da dor como an-
deve ser iniciado na dose de 5mg, tidepressivos tricíclicos (nortriptilina)
duas vezes ao dia (antes das refei- ou inibidores da recaptação da sero-
tonina (fluoxetina).
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FLUXOGRAMA ILUSTRANDO O TRATAMENTO DA DRGE – HISTÓRIA CLÍNICA DE DRGE

Sintomas típicos • Pirose Manifestações atípicas


Sem sinais de alarme • Regurgitação Presença de sinais de alarme
• Disfagia Duração maior que 4-8sem
• Dor precordial

Terapia empírica – IBP • Desgaste do esmalte dentário


por 2 semanas 1x dia • Irritação na garganta
• Rouquidão
• Sinusite crônica
• Tosse seca
Medidas coportamentais • Broncoespasmo
EDA
+ IBP 4-8sem 2x dia Persistência dos
sintomas

Normal Esofagite leve Esofagite moderada Esofagite grave

Manometria Medidas
Medidas coportamentais +
coportamentamentais +
IBP 4-8sem dose dupla
IBP 4-8sem dose padrão
pHmetria

Pesquisa de refluxo não ácido


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Procedimentos cirúrgicos para no tratamento da DRGE, no entanto


tratamento da DRGE não há ainda resultados consistentes
sobre a eficácia desses tratamentos à
Pacientes que mantém queixas e le-
longo prazo.
sões na EDA apesar de terapia medi-
camentosa otimizada podem realizar
tratamento cirúrgico ou endoscópico.
O procedimento cirúrgico de escolha
na maioria dos casos é a fundoplica-
tura de Nissen por via laparoscópica.
Nesse procedimento, o cirurgião utili-
za o próprio fundo gástrico como uma
segunda válvula anti-refluxo, passan-
do-o ao redor da cárdia.
Novas opções são os procedimentos Figura 5: Fundoplicadura de Nissen é uma das for-
endoscópicos, seja por radiofrequên- mas de cirurgia anti-refluxo. Nela, o fundo gástrico é
rotacionado ao redor do esôfago, criando uma válvula
cia ou pela fundoplicatura endoscó- de reforço que impede o retorno do conteúdo gástrico.
pica. Esses tratamentos são novos, Fonte da imagem: http://centroendoscoquirurgico.com/
cirugia-general-y-laparoscopica/cirugia-antirreflujo-fun-
e aparentam apresentar boa eficácia duplicatura acesso em 09/12/2019 às 18:20
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MAPA RESUMO

↑ pressão intra-abdominal
Pirose Fatores predisponentes
Hérnia de hiato
Regurgitação Típicos Hipotonia EEI

Tosse seca Atípicos Relaxamento transitório EEI

Dor precordial
Sintomas Causas
Rouquidão

Desgaste do esmalte dentário


DRGE
Halitose

Diagnóstico Tratamento
Alimentação

Clínico + terapêutico Cirúrgico Elevar cabeceira

EDA Comportamental Fumo e obesidade

Phmetria esofágica Medicamentoso Bloq. Receptor de H2

Manometria esofágica Inibores da Bomba de prótons


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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Longo, DL et al. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 20th ed. New York: McGraw-Hill,
2018
Boeckxstaens G, El-Serag HB, Smout AJ, Kahrilas PJ. Symptomatic reflux disease: the present,
the past and the future. Gut 2014; 63:1185.
Spechler, S. and Souza, R. (2014). Barrett’s Esophagus.  New England Journal of Medicine,
371(9), pp.836-845.
Kahrilas PJ. Pathophysiology of reflux esophagitis. UpToDate.
Vege SS Medical management of gastroesophageal reflux disease in adults. UpToDate.
SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saun-
ders. Elsevier
MARTINS, M. A.; CARRILHO, F. J.; ALVES, V. A. F.; CASTILHO, E. A.; CERRI, G. G. Clínica Mé-
dica, volume 4: doenças do aparelho digestivo, nutrição e doenças nutricionais. 2. ed. Barueri,
Sp: Manole Ltda, 2016. 7 v.
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