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Não tente apagar seus medos, seu ciúme, sua mágoa, sua timidez, seu pessimismo ou seu

humor deprimido – você só reforçará o que mais detesta e fará com que o fenômeno do
Registro Automático da Memória (RAM) sedimente as janelas traumáticas, ou killer. O Homo
sapiens não tem como anular os arquivos de sua memória por vontade consciente. Mas ele
pode e deve reeditar as janelas killer, enxertando novas experiências nos focos de tensão, ou
seja, quando elas estão abertas, patrocinando a claustrofobia, a fobia social, a impulsividade, a
ansiedade, a timidez ou o ciúme. O papel principal do ser humano é dirigir o script de sua
história, e isso não inclui apagar o passado, mas sim reeditá-lo no presente. A cada crise,
renova-se a esperança; a cada frustração, introduzem-se novas ideias; a cada lágrima, irriga-se
a sabedoria. Só se muda a história escrevendo outra, e não anulando a anterior. Reciclar o lixo
da memória (pensamentos perturbadores, humor deprimido, timidez e insegurança) no exato
momento em que ele aparece é uma atitude inteligentíssima para quem quer gerir a emoção.
É surpreendente observar quanto o ser humano é intolerante com o lixo físico e tolerante com
o lixo psíquico; não suporta alimentos espalhados pela cozinha, papéis e outros objetos
dispersos pela sala ou escritório, porém suporta o lixo que acumula no território da emoção.
Além de reeditar a memória, é importante construir janelas light ao redor do núcleo
traumático. Quando a janela killer não está aberta, ou seja, se está fora de uma crise de
pânico, de um episódio de fobia, sem sentimento de culpa ou humor deprimido, o Eu atua
discutindo e debatendo com seus fantasmas mentais, criticando e indagando o fundamento
destes, enfim, dando um choque de lucidez. Desse modo, torna-se um engenheiro de janelas
light ao redor do núcleo traumático. Quando entramos nesse núcleo doentio ou killer, quando
construímos em sua fronteira arquivos saudáveis, o Eu facilmente retoma seu papel de autor
de sua história e gestor de sua emoção. Essa ferramenta poderosa é praticamente
desconhecida ao redor do mundo. Ela se chama “mesa-redonda do Eu”. Um Eu que não faz
uma mesa-redonda não tem um autodiálogo com os atores que controlam sua mente e,
portanto, não saberá jamais dirigi-la. Todas as faculdades, não só as de psicologia, sociologia,
pedagogia, bem como as escolas de ensino médio e fundamental, deveriam ensinar a
ferramenta mesa-redonda do Eu a seus alunos. Por não estudá-la, a humanidade está
adoecendo rapidamente no território da emoção. Vamos discutir melhor esse ponto quando
estudarmos os papéis da memória como fundamento da gestão psíquica. Fazer a mesa-
redonda do Eu e/ou reeditar as janelas killer no silêncio de nossa mente são técnicas vitais
para sermos líderes de nós mesmos. Elas são fundamentais na psicoterapia, tanto para o
tratamento de transtornos emocionais quanto para sua prevenção. Cultivam os jardins da
memória e reciclam o lixo psíquico. Você transforma seu lixo emocional em adubo? Tem sido
um jardineiro de janelas saudáveis nos solos da memória?

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