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Departamento de Psicologia

HIPOCONDRIA: UMA VISÃO HISTÓRICA, PSIQUIÁTRICA E


PSICANALÍTICA

Alunas: Isabella Domiciano e Renata Naylor


Orientadora: Maria Isabel Fortes

Introdução
Foi feito um estudo bibliográfico sobre hipocondria, mapeando alguns pontos relevantes
nas áreas da história, psiquiatria e psicanálise.

Metodologia
Utilizamos a modalidade de pesquisa de Reflexão Teórica, centrada na revisão
bibliográfica de vários artigos acadêmicos que tratam o tema. A análise dos pontos recolhidos
deste estudo foi feita pelo método psicanalítico de pesquisa, ou seja, analisamos estes resultados
utilizando as ferramentas metapsicológicas para a compreensão da doença.

Resultados e conclusões
No trabalho feito por nossa pesquisa, observamos como a hipocondria revelou um
caminho que o homem percorreu para entender seu corpo e sofrimento ao longo dos tempos.
As representações da hipocondria na história podem ajudar a compreender como o lugar e a
função da queixa corporal dos pacientes sofreu transformações, afirmando a qualidade
indissociável que há entre o somático e o psíquico [1].
Desde a Antiguidade, quando as enfermidades humanas tinham caráter sobrenatural,
passando pela teoria dos humores de Hipócrates, a influência do pensamento religioso na Idade
Média, até chegar ao movimento de racionalização progressiva, com início no séc. XVII em
que se busca sua causa no real do organismo, a hipocondria oscilou ao sabor das épocas,
passando dos humores aos vapores até as paixões e as razões [1].
O caminho que levou ao surgimento da psicopatologia e da psiquiatria foi marcado por
notável preconceito diante dos pacientes hipocondríacos. Os hipocondríacos eram considerados
possuidores de uma doença imaginária [1]. Tal doença, neste contexto, seria percebida de forma
ridicularizada e caricaturada e seu sofrimento, diminuído.
No contexto atual, marcado por definições presentes nos manuais diagnósticos, foi
possível observar que o dilema diagnóstico da hipocondria que marcou sua história ainda se faz
presente.
O DSM-IV situava o transtorno hipocondríaco na classe de transtornos somatoformes ,
que classifica situações em que o paciente, apesar de receber garantias médicas e avaliações
apropriadas, temeria estar com uma doença grave ao interpretar de forma errada seus sintomas
e funções corporais [2]. Aqui, percebe-se a importância, para o diagnóstico, de que as queixas
não tivessem uma explicação médica correspondente.
O DSM-V irá extinguir a classe de Transtornos Somatoformes, ficando a hipocondria
absorvida pelos Transtornos com Sintomas Somáticos ou Transtornos de Ansiedade de Doença
[3]. A exclusão do termo hipocondria teria ocorrido devido ao caráter pejorativo com que este
diagnóstico era recebido pelo médicos [3].
Ao longo da pesquisa, procuramos compreender melhor o que os autores chamam de
“caráter pejorativo” da hipocondria. Nossas discussões nos conduziram à seguinte hipótese: tal
diagnóstico ensurdece o médico pelo caráter imaginário e não orgânico da doença. Ao retirar o
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termo, foi dada paradoxalmente uma positividade ao sofrimento “real” sentido pelo paciente.
O termo teria sido abolido, segundo esta nossa hipótese, para que o sofrimento fosse positivado.
A partir do novo manual há, assim, uma mudança de perspectiva. Se antes os sintomas
eram descritos pela sua negatividade [3] - o hipocondríaco era aquele que sofria sem uma devida
explicação médica, hoje, as queixas e sofrimentos corporais apresentados podem ser entendidos
como reais e validáveis pela medicina, ampliando o espaço para a escuta do médico e
acolhimento do sujeito.
Ao seguirmos a visão psicanalítica de Freud, entendemos que o aparelho psíquico tem
como função primordial ligar e dominar as excitações que podem ser sentidas como
desprazerosas ou gerarem efeitos patogênicos [1]. A elaboração psíquica atua no desvio interno
de excitações que não são capazes, ou desejáveis para o momento, de uma direta descarga
externa [4].
Os investimentos direcionados a libido do objeto e a libido do Eu podem ser avançados e
novamente recuados conforme a necessidade vigente, caracterizando a balança libidinal. Ocorre
assim uma oposição entre libidos – libido do eu e libido do objeto -, de modo que quanto mais
se emprega energia em uma, mais a outra fica empobrecida [4].
Desta forma, o adoecimento hipocondríaco seria o resultado de um desprendimento da
libido em relação aos objetos. A retirada da libido de seus objetos é mais notável do que o
afastamento do interesse egoísta em relação ao mundo exterior, abrindo caminho para o
entendimento da hipocondria, na qual um órgão ocupa a atenção do Eu sem que aquele esteja
doente do ponto de vista da percepção médica [5].
Na hipocondria, observa-se que o processo de adoecimento e formação de sintomas está
ligado ao represamento da libido do Eu, sendo este sentido como desprazeroso devido à alta
carga de tensão que acarreta. A enfermidade surge quando o doente deixa de investir no meio
externo para concentrar apenas em si mesmo os seus investimentos libidinais. Neste abandono
pelas coisas do mundo, na medida em que não dizem respeito ao seu sofrimento, ocorre a
sobrecarga do Eu, resultando por fim no desequilíbrio da balança libidinal. A busca da cura
vem pela tentativa de restauração do equilíbrio perdido, a que devemos as manifestações da
doença [4].

Referências
1 - VOLICH , R. M. Hipocondria: impasses da alma, desafios do corpo. 3 ed. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2015. 360p.
2 - DIB, Monica; VALENCA, Alexandre M.; NARDI, Antonio Egidio. Transtorno de pânico
e hipocondria. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 55, n. 1, p. 82-84, 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-
20852006000100013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 Jun 2017.
3 - ARAUJO, Álvaro Cabral; LOTUFO NETO, Francisco. A nova classificação Americana
para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo, v. 16, n.
1, p. 67-82, 2014. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452014000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 jun. 2017.
4 – FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros
textos (1914-1916) – Introdução ao narcisismo. Obras Completas, vol.12. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
5 - FREUD, Sigmund. Conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917) - A teoria da
libido e o narcisismo. Obras Completas, vol.13. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

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